12
A História da Inspeção de Equipamentos José Antonio Pereira Chainho ÍNDICE Assunto Página 1 – Introdução 2 2 – Revolução industrial: a gestação. 2 3 – Início do século XX: o nascimento 3 4 – No Brasil: a tropicalização 6 5 – Evolução 9 6 – Regulamentação 11 7 – Bibliografia 12 “Sus hijos, ya no podemos, olvidar nuestro passado. Tenemos muchas heridas, y sueños postergados. Nada nos regalaran, hemos pagado muy caro. Quien se equivoca y no aprende, vuelve estar equivocado.” Violeta Parra

END ASME Caldeira Historia

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: END ASME Caldeira Historia

A História da Inspeção de Equipamentos José Antonio Pereira Chainho

ÍNDICE

Assunto Página

1 – Introdução 2 2 – Revolução industrial: a gestação. 2 3 – Início do século XX: o nascimento 3 4 – No Brasil: a tropicalização 6 5 – Evolução 9 6 – Regulamentação 11

7 – Bibliografia 12

“Sus hijos, ya no podemos,

olvidar nuestro passado. Tenemos muchas heridas,

y sueños postergados.

Nada nos regalaran, hemos pagado muy caro.

Quien se equivoca y no aprende, vuelve estar equivocado.”

Violeta Parra

Page 2: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 2/12

1 – INTRODUÇÃO

Este trabalho foi elaborado para ser apresentado no I Encontro Técnico do Colégio Integral em São Mateus do Sul – Paraná em 26/11/2011. Acreditamos que a perspectiva histórica proporciona uma visão mais clara do papel da inspeção de equipamentos nas organizações, de suas tendências, oferecendo subsídios para decisões estratégicas que a afeta.

2 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – A GESTAÇÃO

A necessidade e o nascimento da Inspeção de Equipamentos foi um dos inúmeros desdobramentos da Revolução Industrial. Durante este período, que se estendeu desde a segunda metade do século XVIII até o final do século XIX, ocorreram profundas mudanças econômicas e sociais, decorrentes da implantação de novas tecnologias de produção que substituíram a tração animal e o artesanato. Marcam esta época de enormes saltos tecnógi-cos, o desenvolvimento de caldeiras, das máquinas a vapor, da siderurgia, usinagem dos metais, equipamentos para indústria têxtil, transporte ferroviário e naval a vapor.

Figura 1 – Primeira máquina a vapor (James Watt)

Estas mudanças iniciaram por volta de 1770 na Inglaterra, que já possuía grandes re-servas de carvão, estradas e navegação desenvolvidas. Somente após cerca de meio sé-culo é que a Revolução Industrial se propagou pelo restante da Europa e para os Estados Unidos.

Entre outras transformações sociais importantes, estas mudanças fizeram surgir duas novas classes: a dos empresários (capitalistas) e dos trabalhadores (burguesia), sem que fossem abandonadas as antigas práticas trabalhistas. As condições de trabalho eram pés-simas, com jornadas de até 15h, muita insegurança, exploração de menores e remuneração abaixo do mínimo necessário para subsistência. Foi uma época de enormes conflitos capi-tal-trabalho com profundas perdas de ambas as partes. Em 1833 foi fundado na Inglaterra o primeiro sindicato (“trade union”) de trabalhadores, um dos marcos do nascimento do direito trabalhista, regulamentado hoje no Brasil parcialmente pela lei 6514 que por sua vez se desdobra na Norma Regulamentadora no. 13 (Caldeiras e Vasos de Pressão) do M.T.E, tão familiar para todos que atuam na área de inspeção.

Os equipamentos não eram submetidos a condições muito críticas (7kgf.cm2 e 400oC) mas mesmo assim registraram-se graves acidentes nos Estados Unidos na segunda fase da Revolução Industrial.Por exemplo:

no ano de 1880 ocorreram 170 explosões de caldeiras causando 259 mortes em 1887 ocorreram 198 explosões de caldeias causando 652 mortes

Page 3: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 3/12

abril 1865: explosão de quatro caldeiras do navio Sultana em Memphis causando a morte de 1700 passageiros

janeiro de 1865: explosão da caldeira do navio Steamer Eclipse que provocou a mor-te de 29 soldados do batalhão de artilharia de Indiana;

No início da Revolução Industrial os acidentes eram agravados pelo fato das caldeiras serem do tipo flamotubular. A ruptura do casco liberava grande quantidade de energia in-tensificando os danos decorrentes da explosão. Esta enorme insegurança chegou a amea-çar a prosperidade que os avanços tecnológicos vinham proporcionando e a Revolução In-dustrial só sobreviveu graças a duas realizações:

projeto e produção das caldeiras aquatubulares com menor potencial de danos em caso de acidentes;

utilização de válvula de segurança, que havia sido inventada em 1680 por Denis Pa-pin.

Fig 2 - Trevithick Boiler (flamotubular) - 1804

Fig 3 - Uma das primeiras caldeiras aquatubulares - 1877

2 – INÍCIO DO SÉCULO XX – O NASCIMENTO

O final do século XIX e o início do Século XX foi um período de grande prosperidade que se alastrou pela França, Alemanha, Itália, Bélgica, Japão e particularmente nos Estados Unidos que haviam sido unificados ao final da Guerra Civil (1865). O grande crescimento econômico e os preparativos para Primeira Guerra Mundial aumentaram muito a demanda por produtos químicos em geral, particularmente os derivados de petróleo. Foi necessário desenvolver processos produtivos mais eficientes e de maior capacidade que impuseram aos equipamentos condições cada vez mais severas, tanto do ponto de vista físico (pressão

Page 4: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 4/12

e temperatura) quanto químico (corrosividade). Como as tecnologias de projeto, fabricação e materiais não acompanharam este desenvolvimento aumentaram muito, nesta época, fa-lhas e acidentes provocados por más condições físicas de equipamentos, particularmente de caldeiras. No portal da Associação Norte-americana de Engenheiros Mecânicos (ASME) – asme.org – encontramos dados interessantes:

no período de 1870 a 1910 ocorreram nos Estados Unidos 10.000 explosões de cal-deiras (média de 250/ano). Nos anos seguintes foram registradas de 1300 a 1400 explosões anualmente.

nesta mesma época acidentes provocados por caldeiras causavam a morte de 50.000 pessoas e feriam outros 2 milhões anualmente.

Como é comum em situações de grande comoção social como esta, ficaram evidentes, para toda a sociedade daquela época, duas grandes necessidades:

regulamentar o projeto e a fabricação de equipamentos pressurizados, particular-mente de caldeiras;

capacitar técnicos para controlar a qualidade e a deterioração destes equipamentos.

Um marco histórico da mencionada regulamentação foi a criação do primeiro código es-tadual norte-americano de projeto e fabricação de caldeiras em 1908. Esta iniciativa pioneira foi tomada em decorrência de acidente que ocorrera numa fabrica de calçados localizada na cidade de Brockton estado de Massachussets, USA em março 1905. A caldeira que explo-diu atravessou o teto de dois andares e foi pousar numa residência próxima.

Figura 4 – Final da trajetória de uma caldeira

Figura 5 – Groover Co. Shoe Factory – Brockton, Ma antes do acidente

Page 5: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 5/12

Figura 6 – Groover Co. Shoe Factory após o acidente

58 pessoas morreram e 117 ficaram feridas neste acidente.

Em seguida Ohio (1910), outros nove estados e 19 regiões metropolitanas publicaram seus próprios códigos o que gerou enormes dificuldades devidas à falta de padronização. Em 1911 a Associação Norte-americana de Engenheiros Mecânicos (ASME), fundado em 1880, criou uma comissão com a incumbência de unificar todos estes documentos, missão que foi cumprida com sucesso. Em 1914, em memorável reunião, foi aprovada a Seção I do seu largamente reconhecido “Boiler and Pressure Vessels Code” (Código de Caldeiras e Vasos de Pressão) que regulamenta (não por acaso) o projeto e construção de Caldeiras.

Figura 7 – Reunião na qual foi aprovada a Seção I do Código ASME (114 páginas)

A de segunda necessidade mencionada anteriormente (capacitação de profissionais para controlar a qualidade e a deterioração de caldeiras e vasos) foi atendida com a funda-ção, em 1919 da Comissão Nacional de Inspetores de Caldeiras e Vasos de Pressão, “Nati-onal Board”. Esta comissão era composta de representantes de todos os estados america-nos e conta hoje também com a participação das províncias do Canadá e do México. Na-quela época, apesar da unificação dos códigos de projeto, caldeiras cuja fabricação era con-tratada por determinada empresa, só podia ser aprovada por inspetor do mesmo estado, o que causava naturais dificuldades. A missão inicial do “National Board” foi de capacitar e certificar pessoal para inspeção de caldeiras promovendo a uniformidade de critérios e me-nor necessidade de deslocamentos. Desde então o National Board passou a promover trei-namento, certificação de pessoal, manter um cadastro das caldeiras e vasos de pressão ins-

11991144

Page 6: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 6/12

talados nos Estados Unidos e Canadá, homologar dispositivos de segurança e a publicar de seu tradicional Código de Inspeção de Caldeiras e Vasos de Pressão.

Estes dois importantíssimos fatos históricos (publicação da seção I do código ASME e fun-dação do National Board) certamente simbolizam o nascimento da Inspeção de Equipa-mentos.

O gráfico mostrado na figura 8 mostra o forte impacto destes dois acontecimentos na ocorrência de explosões de caldeiras, a despeito do aumento da criticidade de suas condi-ções operacionais (linha azul) e da quantidade de equipamentos instalados.

Figura 8 – Impacto da seção I do código ASME e da fundação do National Board

3 – NO BRASIL – A TROPICALIZAÇÃO

Em 1950 foi inaugurada no Brasil sua primeira grande refinaria de petróleo em Mataripe Bahia, a Refinaria Landulfo Alves (RLAM). Em 1954 entrou em operação a Refinaria Presi-dente Bernardes de Cubarão (RPBC). As duas eram responsáveis pelo suprimento de qua-se todo o mercado brasileiro de derivados de petróleo cabendo a maior parte (~80%) à RPBC. Depois de quatro anos de operação ocorreu um grande acidente na refinaria de Cu-batão, que provocou a morte de três pessoas, causou enormes danos às instalações, che-gando a comprometer o suprimento do mercado. O monopólio estatal do petróleo passou a ser mais questionado, abalando até sobrevivência da Petrobrás que havia sido criada ha apenas 4 anos.

A causa foi a corrosão de um pequeno trecho (~60cm) de tubulação de 6” que havia si-do confeccionado em aço carbono em lugar do material especificado no projeto: aço liga 5%Cr 0,5%Mo, perfeitamente adequado para as condições às quais seria submetido. A tu-bulação operava com nafta, um hidrocarboneto leve e volátil, a aproximadamente 500oC e 20kgf/cm2 de pressão. Após quatro anos de operação o tal trecho encontrava-se com es-pessura muito reduzida chegando a perfurar em algum ponto. Três pessoas foram designa-das para verificar o que estava acontecendo. Logo após a retirada do isolamento térmico do local onde havia sido observado vazamento, a linha sofreu ruptura brusca que provocou in-cêndio de grandes proporções e enormes danos.

Page 7: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 7/12

Figura 9 – Situação da linha de entrada de carga da torre fracionadora no instante do acidente

Figura 10 – Cenas do acidente mostrando a enorme diferença de resistência à corrosão dos dois materiais.

Figura 11 – Destruição provocada pelo acidente

O impacto deste acidente foi muito grande não só pelo seu aspecto trágico, mas tam-bém por representar uma ameaça à sobrevivência da Petrobrás. A partir de então o papel da Inspeção de Equipamentos passou a ser mais bem compreendido e foram alocados re-cursos necessários para uma atuação mais efetiva. Sob a gerência de Abary Peniche, o ór-gão de Inspeção de Cubatão se desenvolveu muito e serviu de modêlo para a RLAM, para os setores de transporte, prospecção e produção de petróleo, bem como para as demais re-

Page 8: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 8/12

finarias que foram construídas desde então. Na década de 1980 a Petrobrás passou a in-vestir no setor petroquímico, que também absorveu esta tecnologia e assim se disseminou por todo o país.

Estes acontecimentos sem dúvida marcaram o nascimento da Inspeção de Equipamentos no setor industrial brasileiro caracterizando Cubatão como sua manjedoura.

O acidente sofrido pelo piloto Ayrton Senna em maio de 1994 foi causado pela fratura de uma extensão da coluna de direção de seu carro. Esta modificação foi feita através da soldagem de um prolongamento, mostrado na figura 13, que possuía um entalhe severo qual deu origem a uma trinca de fadiga. Esta descontinuidade se propagou durante diversas corridas até atingir dimensões críticas no Grande Prêmio de Ímola, provocando sua fratura final brusca. O Aytron perdeu o controle do seu Williams na entrada da curva Tamburello, se chocou com um muro o que causou sua morte.

Este fato mostra, não só a importância da inspeção de equipamentos no setor de transpor-tes como também a necessidade de um rigoroso controle de modificações de projeto e de reparos.

Figura 12 – Destroços do carro do Senna

Figura 13 – Ilustração da causa do acidente

Paralelamente ao desenvolvimento da Inspeção na área industrial também surgiu a ati-vidade de inspeção de equipamentos e veículos destinados ao transporte de produtos peri-gosos. Nos Estados Unidos existe extensa regulamentação compulsória publicada pelo Mi-nistério dos Transportes (Department of Transportation - DOT). Na Europa existem normas semelhantes (ADR) publicadas pela ONU - Economic Commission for Europe Inland Trans-port Committee. No Brasil a inspeção de equipamentos e veículos destinados ao transporte

Page 9: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 9/12

de produtos perigosos é objeto da lei federal 5966/73 que se desdobra em cerca de 30 Re-gulamentos Técnicos da Qualidade (RTQs) publicados pelo Inmetro.

Esta perspectiva histórica deixa muito clara a verdadeira razão de existência da Inspeção de Equipamentos: a necessidade, econômica e principalmente social, de SEGURANÇA. Para satisfazer esta necessidade é absolutamente indispensável a atuação de uma equipe tecnicamente preparada para controlar as condições físicas dos equipamentos pressuriza-dos.

4 – EVOLUÇÃO

Nos primórdios a inspeção de equipamentos utilizava técnicas muito primitivas que iam pouco além da inspeção visual e teste de martelo. Com o surgimento do National Board a tecnologia de inspeção se desenvolveu e começou a se consolidar na forma de práticas re-comendadas, normas e procedimentos. A inspeção deixou de apenas a fiscalizar o cumpri-mento dos códigos de projeto passando a exercer também o controle de deterioração dos equipamentos, área de ação que mais a caracteriza atualmente.

Após a primeira Guerra Mundial (1914-18) houve uma forte expansão da indústria au-tomobilística, aumentando ainda mais a demanda por derivados de petróleo. Foram desen-volvidos, neste período, processos de craqueamento que transformam resíduos oleosos pe-sados em derivados leves, de maior valor agregado. Nesta mesma época foram descober-tas novas reservas de petróleo com maiores teores de impurezas corrosivas o que tornou ainda mais necessário o controle dos danos aos quais os equipamentos eram submetidos em serviço. Foi necessário o desenvolvimento de novos materiais, aperfeiçoamento de pro-jeto e das técnicas de fabricação dos equipamentos. Os equipamentos passaram a ser submetidos a condições cada vez mais severas gerando novos desafios para a inspeção de equipamentos. Foram sendo introduzidas técnicas de inspeção menos primitivas, como por exemplo, o uso de calibres pinça, calibre de inspetor (“inspector gage”), micrometros de pro-fundidade e líquido penetrante.

Figura 14 – “Inspector gage” usado para medir espessura através de furos feitos propo-sitalmente no casco dos equipamentos

Até então os conhecimentos e a experiência necessários para a execução da inspeção de equipamentos eram transmitidos verbalmente. Somente no final da década de 1930 o Instituto Norte-americano do Petróleo (American Petroleum Institute – API) sentiu a neces-sidade de consolidar e registrar as técnicas e os procedimentos de inspeção utilizados na-quela época. Em maio de 1940 foi criada a Subcomissão de Supervisores de Inspeção de Refinarias com a incumbência de aprimorar procedimentos de inspeção e disseminá-los por todo o setor industrial através de práticas recomendadas. Assim foi iniciada a elaboração das consagradas Guias de Inspeção de Equipamentos do API (API Guide for Inspection of Refinery Equipment) que ao longo do tempo se tranformaram em Normas (Standards) com enorme reconhecimento internacional. Durante a 2ª guerra mundial (1939-45) este trabalho foi paralisado sendo retomado pelo API por solicitação dos militares. Terminada a guerra re-tornou para a esfera civil.

Em maio de 1940 o Instituto Brasileiro do Petróleo também criou a sua Subcomissão de Supervisores de Inspeção de Equipamentos, que, a partir da década de 1960, passou a “tropicalizar” as guias do API, com base na experiência brasileira. Notáveis pioneiros como:

Page 10: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 10/12

Albary E. Peniche, Maurício Latgé, Aldo Dutra, Pedro da Cunha Carvalho, Hans Westpha-len, Haroldo Garrastazu, Guilherme Catrambí, José Barbato e outros (que me perdoem a omissão), participaram desta empreitada.

Figura 15 – Subcomissão de Inspeção de Equipamento do IBP reunida no Rio em foto de setembro de 1964

Em agosto 1961 foi realizado no Rio de Janeiro o Primeiro Seminário do IBP, cujo tema foi corrosão. Em meados da década de 1960 a Subcomissão de Supervisores se desligou da Comissão de Destilação ganhando o “Status” de Comissão de Inspeção de Equipamen-tos. Em seguida promoveu Na Refinaria de Duque de Caxias, RJ o primeiro seminário de inspeção de equipamentos. Desde então estes Seminário tem sido realizados periodica-mente. Neles germinaram e floresceram outras instituições como a ABRACO (Associação Brasileira de Corrosão) em 1968, ABENDI (Associação Brasileira de Ensaios não Destruti-vos) e FBTS (Fundação Brasileira de Tecnolgia de Sodagem), que se associaram ao IBP na promoção do desenvolvimento da atividade de inspeção no Brasil e na America Latina.

Durante a segunda guerra mundial ocorreram grandes avanços tecnológicos de em tempos de paz exigiram muito mais tempo. Logo que estes desenvolvimentos foram libera-dos para aplicações civis serviram de base para criação de novas “ferramentas” de inspe-ção. Surgiram então as técnicas eletromagnéticas, radiográficas, endoscopia e alguns pri-mitivos aparelhos ultra-sônicos que proporcionaram grande avanço para a tecnologia de inspeção, que tem se acelerado desde então.

Progressos feitos nas áreas de informática, médica, eletrônica, aerospacial e nuclear tem encontrado poderosas aplicações na Inspeção. Pesquisas desenvolvidas em universi-dades, centros de pesquisa e institutos técnicos nas áreas de materiais, mecânica da fra-tura, análise de tensões, fadiga e fluência também tem se revelado excelentes oportunida-des de crescimento para a atividade de inspeção. A revolução pela Qualidade e o clamor social por mais segurança e cuidados com o meio ambiente, estão exigindo da Inspeção muito esforço nas áreas treinamento e certificação de pessoal, elaboração e qualificação de procedimentos, calibração de aparelhos e instrumentos bem como no controle de docu-mentos e rastreabilidade dos registros. Desenvolveu-se no Brasil um poderoso mercado de serviços de inspeção que oferece não mais apenas mão de obra, mas técnicas muito avan-çadas como Emissão Acústica, TOFT, Phased Array, ondas guiadas, IRIS, radiografia digi-tal, BScan, bem como softwares especializados na programação e registro de inspeção. Chegamos neste ponto a uma parte de nossa história que deverá ser contada pelos nossos descendentes.

Page 11: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 11/12

4 – REGULAMENTAÇÃO

A regulamentação de inspeção de caldeiras e vasos de pressão foi iniciada no Brasil por um profissional dedicado e muito experiente em inspeção de caldeiras, Julio Rabin que trabalhava principalmente com caldeiras de pequeno porte instaladas em pequenas indús-trias, hotéis, hospitais, etc. Preocupado com freqüentes acidentes, dirigiu-se ao Departa-mento Nacional de Higiene e Segurança do Trabalho (DNHST) e conseguiu que fosse publi-cada em 1970, no auge da ditadura militar, a Portaria 20 DNHST, que teve o mérito de tor-nar obrigatória a inspeção anual de caldeiras em todo território nacional. Entretanto como esta norma foi elaborada sem a participação da comunidade que atuava na área de inspe-ção de Equipamentos, ficou muito distante da nossa realidade com pequena possibilidade de ser aplicada (não “saiu da gaveta”).

Em 1977 foi publicada a Lei Ordinária 6514 que introduz alterações na CLT no que se refere a segurança e medicina do trabalho, incluindo dois artigos que tornam obrigatória a inspeção de caldeiras, fornos e recipientes pressurizados. Este documento se desdobrou, no ano seguinte, em 28 Normas Regulamentadoras (entre as quais a NR 13 e NR 14) que foram publicadas por meio da Portaria GM 3214/1978. Esta primeira edição da NR 13 foi fei-ta com base na portaria 20 e tratava apenas de caldeiras. A primeira revisão da NR 13 pu-blicada em 1984 (Portaria SSMT 02/1984) aumentou seu campo de aplicação passando a abranger também vasos de pressão. Estas mudanças não foram suficientes para colocar a NR 13 efetivamente em prática. Em função de acidentes provocados por equipamentos pressurizados em diversas instalações o Ministério do Trabalho formou um Grupo de Tra-balho Tripartite com participação de representantes dos Trabalhadores, das Empresas e do Governo. Foi atribuída a este grupo a incumbência de fazer nova revisão na NR 13, com ob-jetivo de permitir que a mesma pudesse ser efetivamente praticada. O trabalho desta vez foi conduzido de forma muito participativa o que tornou a norma muito mais adequada a nossa realidade e favoreceu sua implementação. Finalmente em 2008 foi publicada por meio da Portaria SIT 57/2008 uma nova revisão da NR 13 que apenas corrige impropriedades de lin-guagem, introduzindo mudanças de conteúdo pouco relevantes.

Nesta época (década de 1980) os órgãos de inspeção de equipamentos e as pessoas que neles atuavam sentiam-se como animais ameaçados de extinção por uma onda de mo-dismos administrativos que vieram no bojo do neoliberalismo. O principal objetivo, nem sempre revelado, era uma cega e drástica diminuição de custos através principalmente da redução de pessoal. Eram projetos de reestruturação organizacional que buscavam reduzir ao mínimo o efetivo próprio mantendo apenas as pessoas diretamente ligadas às atividades “fim” da empresa. Surgiram neste período muitos planos de afastamento voluntário, organi-zação do trabalho em células de produção ou miniplantas, terceirização, sem falar na reen-genharia, a mais cruel de suas faces. A inspeção de equipamentos foi vista como uma das atividades que oferecia melhores oportunidades de redução de pessoal. Muitos dos antigos setores de inspeção (SEIEQs) foram “enxugados”, fragmentados ou tiveram seu “status” re-duzido.

Como uma reação natural de preservação, não apenas de seus empregos, mas tam-bém principalmente dos ideais que a Inspeção de Equipamentos representa, a comissão encarregada da revisão de 1994, incluiu nela o Anexo II que trata de Serviços Próprios de Inspeção de Equipamentos (SPIE). Empresas que decidam manter em suas estruturas or-ganizacionais órgãos de Inspeção estruturados de acordo com as diretrizes básicas contidas no referido anexo, podem praticar intervalos de inspeção superiores aos usuais, desde que se submetam a um processo de certificação. A operacionalização da Certificação foi atribu-ída ao Inmetro pela própria NR 13. Um forte incentivo a manutenção dos antigos SEIEQs cujo trabalho evitou tantas perdas não só para as empresas, mas também para toda socie-dade.

No ano de 2001 o Instituto Brasileiro do Petróleo se submeteu a um processo de acre-ditação (credenciamento) e foi aprovado pelo Inmetro para implementar o processo de Cer-

Page 12: END ASME Caldeira Historia

História da Inspeção de Equipamentos

Chainho 12/12

tificação de SPIE em nome do governo brasileiro. Neste mesmo ano foi publicada pelo In-metro a Portaria 16 que detalha os requisitos básicos para certificação de SPIE contidos no anexo, servindo como um documento base para orientar as auditorias de certificação. Em 2009 esta portaria foi revisada tendo se desdobrado na Portarias 349 e 351/2009.

Figura 16 – Os primórdios da certificação de SPIE

Desde que foi implantada a certificação de SPIE tem proporcionado os seguintes bene-fícios:

o papel da Inspeção de Equipamento ficou mais claro para toda a estrutura organiza-cional das empresas;

o sistema de gestão preconizado pela certificação de SPIE tem se mostrado muito e-ficaz e produtivo;

a Inspeção de Equipamentos e os profissionais que nela atuam têm se valorizado muito;

a confiabilidade, e a segurança melhoraram e os prêmios de seguros diminuíram; a rentabilidade líquida das empresas aumentou em decorrência do aumento do fator

operacional.

Neste mesmo ano de 2011 o Brasil acatou a Convenção 174 da Organização Interna-cional do Trabalho, aprovada em julho de 1993, e que trata da prevenção de Acidentes Am-pliados. Estes são ocorrências súbitas envolvendo substâncias perigosas que podem colo-car em grave perigo os trabalhadores da própria empresa, indivíduos da população (que não participam daquela atividade econômica) e o meio ambiente. Foi formado um Grupo de Tra-balho que está identificando as mudanças na legislação brasileira para o seu enquadra-mento na Convenção 174. É muito provável que estes estudos venham a introduzir fortes mudanças na NR 13, NR14, NR Tub, SPIE, etc.

5 - BIBLIOGRAFIA

5.1 – Guia no. 1 do Instituto Brasileiro de Petróleo – Finalidades, atribuições e organização da Inspeção de Equipamentos – Pedro da Cunha Carvalho – 1962I 5.2 – Guide for Inspection of Refinery Equipment, Chapter I, Introduction – American Petro-leum Institute - 1976 5.3 – Os primórdios da Comissão de Inspeção de Equpamentos – portal do IBP: ibp.org.br. 5.4 – The origins of ASME’s Boiler and Pressure vessels code – portal do ASME: asme.org 5.5 – Steam – its generation and use – 40a edição – Babcock&Wilcox 5.6 – 130 years and counting – portal do ASME – asme.org 5.7 – 1905 Boiler Explosion – site da cidade de Brockton, Massachussets: Plymouthcolo-ny.net/brockton 5.8 – Pressure vessels Inspection Safety Code – The Institute of Petroleum London - 1993 5.9 – Boletim do IBP No 19 – 1964