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Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado Ano V – N.º 21 Janeiro/Fevereiro/Março 2004 – Publicação trimestral – Preço 4,48 (IVAincluído) Energia e património Centrais Hidroeléctricas do Douro Internacional A Turbina da Moagem “A Nabantina de Tomar” Restauro e Reabilitação de um Moinho de Maré

Energia e património - GECoRPA · vaguarda do património concelhio e as pressões do negócio imobiliário. As câmaras do Seixal e do Montijo são disso um bom exemplo. Graças

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Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado

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Energia epatrimónio

Centrais Hidroeléctricas do Douro InternacionalA Turbina da Moagem “A Nabantina de Tomar”Restauro e Reabilitação de um Moinho de Maré

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Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 2004

Tema de Capa:

Reconhecida pelo Ministério da Cultura como “publicação de manifesto interesse cultural”,ao abrigo da Lei do Mecenato.

N.º 21 - Janeiro/Fevereiro/Março 2004Propriedade e edição:GECoRPA – Grémio das Empresas deConservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenação: Cátia MarquesConselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar,Miguel Brito Correia, Teresa de Campos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número: A. Jaime Martins, Cátia Marques, Deolinda Folgado, Fátima Fernandes, João Varandas, Joel David Simões Ribeiro,Jorge Custódio, José Manuel Alho, José Maria Lobo de Carvalho, Manuela Galhardo, Manuel Lapão, Maria João Martinho, Michele Cannatà,Miguel Brito Correia, Nuno Teotónio Pereira,Paula Monteiro, Paulo Oliveira Ramos, Pedro Silva, Tiago Ribeiro, Tiago Saraiva, V. Cóias e Silva.Design gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: Onda Grafe – Artes Gráficas, Ld.ªRua da Serra, n.º 1 – A-das-Lebres 2670-791 S.to. Antão do TojalDistribuição: Distribuidora Bertrand

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548ISSN: 1645-4863Tiragem: 2000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

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Ficha Técnica

44CONSULTÓRIO GECoRPA

42PERFIL DE EMPRESA

PROJECTOS & ESTALEIROSRestauro e Reabilitação

Moinho de Maré do Cais das Faluas no Montijo

(Joel David Simões Ribeiro)

31DIVULGAÇÃO/RECORTES DE IMPRENSACâmara Municipal de LisboaConservar e restaurar com qualidade

32AS LEIS DO PATRIMÓNIOIsenções Fiscais em Matéria de Reabilitação Urbana(A. Jaime Martins)

37AGENDA

34NOTÍCIAS

2EDITORIAL

4REFLEXÕES

Lisboa Reiluminada(Tiago Saraiva)

12CRÓNICA

A Torre de Belém e a Fábrica do GásContra o gasómetro, marchar, marchar

(Paulo Oliveira Ramos)

18PATRIMÓNIO INDUSTRIAL

Fábrica Nacional de MuniçõesSalvaguarda de uma caldeira

Babcock & Wilcox(Deolinda Folgado)

6OPINIÃO

Energia e Ambiente – Como conciliá-losno processo de sustentabilidade?

(José Manuel Alho)

20PROJECTOS & ESTALEIROS

Paços do Concelho da C. M. de CascaisDar nova vida a uma arte antiga

(Pedro Silva)

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PROJECTOS & ESTALEIROSSantuário e Igreja Paroquial de

Nossa Senhora de BrotasRestaurar peça a peça

(João Varandas)

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40ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOFumo Negro/Fumo Branco(Manuel Lapão)

38VIDA ASSOCIATIVA

39ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOContadores Indo-Portugueses: um luxo asiático para português ver(Cátia Marques)

43OPINIÃOErros que não passaram do papel ou os perigos dos “arquitectos-estrela”(V. Cóias e Silva)

45e-pedra e calA quantos kilowatts equivale um boi(José Maria Lobo de Carvalho)

46LIVRARIA

49ASSOCIADOS GECoRPA

52PERSPECTIVASElectrificação e Arquitectura Património arquitectónico nascido da luz(Nuno Teotónio Pereira)

Capa

A portentosa nave dos alternadores da central de Miranda do Douro (foto Alvão)

Energia e Património

8CASO DE ESTUDO

A Turbina da Moagem “A Nabantina em Tomar”

(Jorge Custódio)

INVESTIGAÇÃOCentrais Hidroeléctricas do

Douro Internacional (Michele Cannatà e Fátima Fernandes)

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PROJECTOS & ESTALEIROSCasa Estúdio Carlos Relvas, Golegã

(A. Ludgero Castro)

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PROJECTOS & ESTALEIROSMuseu da Electricidade

Diagnóstico ao reservatório de combustível(Tiago Ribeiro)

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30DIVULGAÇÃOA Energia dos Moinhos(Miguel Brito Correia)

01-01 Ficha+Sum.qxp 2/3/07 10:22 PM Page 1

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EDITORIAL

Para satisfazer o seu apetite insaciável por energia, as sociedades ditas mais avançadas têm vindo a construir,sobretudo a partir da Revolução Industrial, infra-estruturas que se tornaram notáveis pelo seu carácter ino-vador, pela engenhosidade da sua concepção ou, simplesmente, pela imponência das suas dimensões. Mui-tas dessas obras constituem, hoje, importantes testemunhos históricos e merecem, por isso, ser preservadaspara o futuro.Somam-se a este património muitas outras construções que nos chegam de um passado mais longínquo,igualmente motivadas pela necessidade de aproveitar as fontes de energia existentes na natureza para execu-tar mais facilmente tarefas árduas, como a moagem de cereais.Quando se fala das torres de Alcântara, em Lisboa, por exemplo, poucos nos lembramos que ali havia, aindano princípio do séc. XIX, um braço do Tejo, uma ribeira, um moinho de maré com a respectiva caldeira e umaponte de pedra com uma estátua de S. João Nepomuceno. Parte disso ainda lá estará, sob toneladas de entu-lho. Uma possível alternativa às torres poderia ser a recuperação desses elementos e a adaptação a terciário ea habitação dos velhos edifícios industriais que existem à volta. Mas, embora enriquecesse a cidade, isso nãosatisfaria, obviamente, a sofreguidão dos promotores.Felizmente, noutros locais, algumas autarquias têm tido mais sucesso em encontrar o equilíbrio entre a sal-vaguarda do património concelhio e as pressões do negócio imobiliário. As câmaras do Seixal e do Montijosão disso um bom exemplo. Graças à sua sensibilidade e inteligência, estão hoje preservados bens culturaiscomo o Moinho de Maré de Corroios, mandado construir inicialmente por D. Nuno Álvares Pereira, em 1404,e outras obras idênticas se lhe seguirão.Como temos vindo a dizer ao longo dos cinco anos que a Pedra & Cal leva de publicação, património não sãosó igrejas e castelos. Haja, a todos os níveis do Estado, mas sobretudo nas autarquias locais, quem tenha a lu-cidez de o proteger. E não será só por razões sentimentais: é que, para quem pensa em visitar-nos, um antigomoinho de maré vale mais do que as (hipotéticas) torres de Alcântara.

V. Cóias e Silva

Património, energia e… torres em Alcântara

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GECoRPA

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Quadro de Honra

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.aConservação e Restauro do

Património Arquitectónico, Ld.a

Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.a

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Os guias turísticos repetem-se: quem quei-ra conhecer Lisboa tem de perder-se pelastortuosas ruas de Alfama e da Mouraria,subir ao panorama do Castelo, deixar-seimpregnar pelo aroma intelectual do caféda Brasileira, apanhar o eléctrico até Belém.Os percursos variam em função do interes-se e da resistência do visitante, mas a me-lancolia e a saudade, asseguram os guias,são uma constante em cada recanto da ci-dade. Para aqueles que não dispensam umpouco de cultura local, o fado, a poesia e,até mesmo, o cinema encarregam-se de re-produzir a atmosfera típica da capital.Segundo José Cardoso Pires no seu Lisboa,Livro de Bordo, estamos perante “cenários decatálogo”. Esses velhos tours e panoramassão incapazes de dar conta da construçãode uma área metropolitana de mais de doismilhões e meio de melancólicos e saudosis-tas, que, segundo as previsões da ONU, tempor destino converter-se na terceira maiorconcentração urbana de toda a Europa.Neste texto propõem-se novas formas de

iluminar a leitura da cidade por meio de trêsmarcos urbanos situados ao longo do pas-seio ribeirinho: a fábrica de gás da Boavista,a Central Tejo de Belém e a Torre de Desti-lação da Sacor na Expo’98. As três fazemparte do património energético da capital,mas a sua eleição não quer apenas ilustrardiferentes épocas da história de Lisboa, poispretende-se que sejam reconhecidas comopontos de passagem obrigatórios para en-tender essas mesmas épocas.Afábrica da Companhia Lisbonense de Ilu-minação a Gás foi criada, em 1847, em ple-no coração do bairro industrial por ex-celência da Lisboa da segunda metade doséc. XIX: a Boavista, que se estende desde oCais do Sodré até Santos. Aeleição não sur-preende, pois a localização junto ao Tejonão só facilitava o abastecimento de carvão,a matéria-prima mais importante, comopermitia ainda a subida do gás a todas ascotas da cidade. Os accionistas da Com-panhia, que decidiram investir numa ino-vadora rede de iluminação pública como

forma de rentabilizar as suas minas decarvão, lucravam ainda com a presença do-minante na zona da indústria metalúrgica,grande consumidora do coque produzidonos fornos da fábrica de gás. Mas a verdadeé que falamos de uma relação simbiótica,pois eram as fundições locais como a Vul-cano ou a de José Pedro Collares que forne-ciam as tubagens da rede de gás. Em1856/57, já se tinham instalado 10 558 can-deeiros em fábricas e casas particulares, pa-ra além de outros 1700 em teatros e casas deespectáculos. Era, então, a partir da Boavis-ta que se animavam as tertúlias, cafés e tea-tros do Chiado.Olhar hoje para a devoluta fachada da fá-brica de gás da Avenida 24 de Julho, devol-ve-nos não só a intensidade da vida indus-trial dominada pelo ferro e carvão do séc.XIX, como a inebriante atmosfera dossalões iluminados a gás do Chiado, coraçãoda vida cultural lisboeta. E, se soubermosolhar atentamente, o mais certo é começar-mos a estranhar o estilo neogótico escolhi-

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REFLEXÕES

Lisboa ReiluminadaContrariando os tradicionais percursos turísticos, propõe-se aqui uma outra forma de olhar e ler acidade. Os “guias” escolhidos para este passeio são três marcos do património energético lisboeta,situados ao longo do passeio ribeirinho: a Fábrica de Gás da Boavista, a Central Tejo de Belém e aTorre de Destilação da Sacor na Expo’98.

Telm

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Tema de Capa

A fábrica de gás devolve-nos a Lisboa industrial do ferro e docarvão (Descarga de carvão na avenida 24 de julho, para a pro-dução de gás. Joshua Benoliel, c. 1900)

Central Tejo, a Fábrica Monumento

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do para dar acolhimento às ruidosas e po-luentes operações de produção de gás. So-lução curiosa esta de amenizar o impactedas máquinas recorrendo à arquitecturahistoricista, uma opção que teria o seu au-ge no neomanuelino da Estação do Rossio.As fornalhas e as retortas da fábrica per-diam assim o seu carácter ameaçador, emconsonância com o espírito aprazível dospasseios da nova avenida ganha ao rio.No entanto, outras sensibilidades acaba-riam por ganhar o coração dos lisboetas. Osfotógrafos mostravam a beleza dos novosespaços fabris da capital que conquistavamlugar nos catálogos entre imagens de vene-ráveis conventos ou vistas panorâmicas ti-radas desde o castelo. As fábricas assu-miam-se como objectos dignos de admi-ração estética, perdendo progressivamenteanecessidade de se esconderem atrás de fa-chadas apaziguadoras. E é difícil encontrarmelhor exemplo dessas fábricas-monu-mento do que a Central Tejo, instalada emBelém a partir de 1911 para a produção deelectricidade. No virar do século, a electricidade ganhavadefinitivamente a primazia sobre o gás co-mo fonte de iluminação, impondo-se tam-bém sobre o carvão como energia motrizna indústria. A fábrica de Belém foi cres-cendo progressivamente em função do au-mento da procura. Em 1940, as suas caldei-ras e turbinas serviam uma rede de distri-buição que chegava a cerca de 125 mil con-sumidores. Se as dimensões fabris muda-ram radicalmente relativamente à Boavis-ta, os efeitos faziam-se sentir a escalas cada

vez mais pequenas. Os artistas mais van-guardistas participavam em campanhasgráficas que publicitavam a entrada daelectricidade no quotidiano dos lisboetas,promovendo a venda de lâmpadas, ven-toinhas, esquentadores, aspiradores, frigo-ríficos e ferros de engomar. Aglória tecnológica é efémera e, a partir doinício da década de 50, a Central Tejo torna--se num complexo obsoleto face à nova cen-tral hidroeléctrica de Castelo de Bode. Con-tribuindo para a decadência industrial dazona ocidental de Lisboa, a exposição domundo português de 1940 obrigara a des-locar a fábrica de gás, depósitos de gasolinae armazéns para o extremo oriental da ci-dade. Belém reinventava-se sob o signo dapropaganda colonial, trocando a sua iden-tidade de produção de energia pela con-dição de parque temático dos descobri-mentos. Uma troca de identidades que serepetiria meio século mais tarde por oca-sião da Expo’98. Convém, no entanto, nãoceder às comparações fáceis. Quem se pas-seia hoje entre os pavilhões da Expo’98 po-de esquecer por momentos as lixeiras queaí existiam ou a gigantesca refinaria da Sa-cor, instalada em 1940. Mas a conservaçãoda torre de destilação desta última preser-va a memória do local e só é preciso algumaimaginação para prolongar os tubos por to-do o recinto, reinventando a arquitecturacaracterística das grandes instalações quí-micas. Pode argumentar-se que as actividades quehoje se desenvolvem à volta da evocadoratorre pouco têm que ver com a produção de

combustíveis para alimentar o país. Mas,ao contrário do exemplo de Belém, petrifi-cada num espaço destinado a rememoraras glórias passadas, o presente da Expo’98é feito também de empresas que mantêmas características produtivas da zona. Tal-vez o texto possa parecer demasiado ingé-nuo perante a especulação imobiliáriaapostada em fazer do recinto um dormitó-rio de luxo. Mas aqui pretende-se afirmarque a cidade não é feita apenas de melan-cólicas vistas para um Tejo com margensocupadas exclusivamente por espaços lú-dicos. O turista do início do texto sentia-seatraído, e com razão, por visões poéticasque fizeram de Lisboa uma das cidadesmais sedutoras e enigmáticas da Europa.Mas só perante a antiga fachada da fábricada Boavista poderá perceber o enjoo e a per-turbação produzidos pelo gás no sensívelCesário Verde do Sentimento dum Ociden-tal. E talvez nenhum outro monumento dacapital seja tão apropriado ao verbo exalta-do e futurista da Ode Triunfal como a Cen-tral Tejo. Na verdade, já todos estamos fa-miliarizados com o jogo esquivo dos hete-rónimos de Pessoa e sabemos que o maqui-nismo de Álvaro de Campos não contradizo Quinto Império da Mensagem. O mauso-léu escolhido para depositar os restos dopoeta foram os Jerónimos, mas nenhumbom lisboeta se escandalizaria se fosse aCentral Tejo a fazer de panteão.

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REFLEXÕESTema de Capa

TIAGO SARAIVA, Doutorado em História da Ciênciapela Universidade Autónoma de Madrid

Campanha Publicitária, 1937 Belém, entre a memória do império e a produção de energia(Eduardo Portugal, c. 1938)

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Tema de Capa

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OPINIÃO

O “sucesso” da nossa civilização tem es-tado associado à capacidade que o Ho-mem tem demonstrado em descobrir eutilizar os recursos que a Natureza colocaà sua disposição.Esta relação Homem-Natureza é bem vi-sível nas paisagens que fomos construin-do, nos modelos de organização social ecultural estabelecidos, e nas dinâmicasprodutivas incrementadas.O impacte da actividade humana temcrescido de modo exponencial, numa re-lação directamente proporcional com oaumento populacional e o domínio de no-vas e mais poderosas tecnologias e, destaevolução, têm resultado problemas gra-ves para o ambiente:População mundial – quadruplicou noúltimo século (em 2000, a populaçãomundial era de 6100 milhões de habitan-tes, contra os 1600 milhões do início do sé-culo);Desertificação e solos degradados – as-sociados a fenómenos de inundações, se-cas, erosão, salinização, desertificação epressão populacional são os principais

adversários de 815 milhões de pessoasmal nutridas no mundo;Água – apesar de ser um recurso funda-mental, mais de mil milhões de pessoasainda não têm acesso a água potável nes-te início de século e a contaminação derios e aquíferos, a seca, o excesso de con-sumo e as chuvas ácidas agravam aindamais as expectativas;Destruição da biodiversidade – o planetaperdeu 2,4% das florestas entre 1990 e 2001e estima-se que todos os anos o Homemdestrói 0,2% das espécies do planeta;Aquecimento global e alterações climá-ticas – a poluição atmosférica e emissãode gases responsáveis pelo “efeito de es-tufa” e pela destruição da camada de ozo-no estão a provocar o aumento da tempe-ratura média da terra, e a provocar alte-rações drásticas no clima. Os EUAprodu-zem 25% destas emissões, sendo respon-sáveis por 36% das emissões de CO2,quando a Europa emite 24,2%.Nesta dinâmica, o domínio de fontes deenergia tem um papel crucial e o seu im-pacte é assustador na sua relação com a

exploração dos recursos naturais e com osproblemas ambientais, nomeadamentena sua ligação com o efeito de estufa e al-terações climáticas, e destruição de biodi-versidade.A dependência exagerada relativamenteaos combustíveis fósseis leva-nos a ter deconsiderar outras energias alternativas,com menores impactes e, sobretudo, comgarantias de sustentabilidade, nomeada-mente a hidroeléctrica, a eólica ou a so-lar... A União Europeia assume como me-ta, até 2010, a produção de 39% da energiaa partir de fontes renováveis.Esta predisposição poderia levar-nos apensar que estão resolvidos os proble-mas, no entanto, outros se colocam ao ní-vel dos seus reais impactes! A utilizaçãodas fontes renováveis também produzimpactes negativos na paisagem, nos ha-bitats, na biodiversidade e nos ciclos na-turais.A dimensão dos impactes ambientais va-ria em função do tipo de estruturas, sen-do estes mais notórios na paisagem. Noentanto, também são relevantes – e por is-

Energia e ambiente

Como conciliá-los noprocesso de sustentabilidade?O Homem ao longo da sua existência na Terra tem mantido uma relação intrínseca com os recursosnaturais, utilizando-os e modelando-os aos seus interesses e à satisfação das suas necessidades, numprocesso dinâmico e nem sempre harmonioso.

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Tema de Capa

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OPINIÃO

so mesmo a ter em conta – quer no que re-presentam em termos de perdas e alte-rações de habitats, e consequentes impli-cações na diversidade biológica, quer naalteração dos ciclos de factores ambien-tais, como a água ou o solo. As próprias comunidades humanas sãotambém afectadas, na sua estrutura eco-nómica e social, ao serem criadas novasdinâmicas nas fases de construção e tam-bém de exploração das novas estruturasenergéticas.Por outro lado, as novas estruturas permi-tem, em certas situações, oportunidadesde criação de novas obras de arte que a nos-sa cultura certamente integrará enquanto

Património Cultural, como aconteceu comestruturas similares no passado.Novas valências, para além da energéti-ca, se associam a estas estruturas, nomea-damente na perspectiva turística.

Que fazer perante um cenário de tão fortes contradições?Não sendo simples uma resposta, há queencontrá-la sustentada em argumentostécnicos e científicos que, para cada caso,estabeleçam e definam uma séria ava-liação dos prejuízos e das vantagens parao ambiente e para a sustentabilidade, ouseja, sujeitar as intenções a Avaliação deImpacte Ambiental.

Será em sede deste instrumento, funda-mental para a política pública de ambiente,que se devem decidir as melhores opçõespara a conservação dos recursos e para asustentabilidade da nossa qualidade de vi-da. Esta decisão deve sempre ter em contaa opinião dos cidadãos num processo aber-to e dinâmico de Participação Pública numexercício de Democracia Ambiental. Afinalo que está em causa é o nosso futuro, e estemerece o nosso respeito!!!

JOSÉ MANUEL ALHO,Presidente da Direcção Nacional da LPN(Liga para a Protecção da Natureza)

Alqueva Alqueva

Parque eólico Termoeléctrica

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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O Homem captou-a do Universo e do-mou-a pela força do génio. O mito de Pro-meteu explica o roubo do fogo sagradodos deuses, que as sociedades humanastransmitiram umas às outras por meio doprogresso técnico. Da descoberta do fogoà fusão nuclear houve aquisição contínuadas soluções energéticas postas ao serviçodas culturas e civilizações. Inicialmente,o Homem enquanto energia e medida detodas as coisas, depois o aproveitamentoda energia dos animais, das forças da na-tureza, dos combustíveis sólidos e líqui-dos, da radioactividade. No processo histórico da evolução dasenergias, o Homem usou e deitou fora. Olixo das civilizações não deixa de ser ener-gia e, hoje, as capacidades de mudançaenergética de um sociedade democráticarevelam-se pela alteração dos paradig-mas da organização da produção. A en-genharia de processo, posta em movi-mento pelo desenvolvimento da químicana época industrial, abriu novos horizon-tes ao modelo experimentado pela 1.ª Re-volução Industrial. As recentes aquisições

da genética vieram criar novos potenciaisenergéticos, que estão a revolucionar aelectrónica, a relojoaria e as telecomuni-cações. A ciência ganhou definitivamenteum lugar na criação das energias, aproxi-mando-as dos saberes do Universo. As diferentes etapas da produção da ener-gia nas sociedades históricas incorpora-ram-se em património tecnológico, em ar-quitecturas singulares, em documentaçãoe transmissão de conhecimento. O patri-mónio das experiências energéticas dahumanidade, sobretudo as suas ex-pressões materiais, desapareceu com otempo. Ressurge, de vez em quando, so-bre a forma de vestígio arqueológico edesde logo incorporado nessa categoria.Pode ter a forma de ferramentas – naacepção de utensílios materiais que alte-ram a resistência dos corpos ou dirigemas capacidades da energia humana, comosão as marretas manuais utilizadas nasminas. Os engenhos são uma crisálida das fábri-cas mecânicas. Contêm em síntese, na suaestrutura, a energia assumida como força

motriz e o aparelho produtor, sempre as-sociado a essa mesma fonte por meio detransmissão mecânica. Na roda de Cou-lomb (1), o peso e o movimento do homemé a energia, destinada a ser aplicada a di-versas finalidades. Roda, parafuso, peso,elástico, oscilador, mola, manivela, biela– elementos da história da mecânica dohelenismo ao medievalismo – quanto re-velam de contribuição anónima na pro-dução da energia?Engenhos hidráulicos e eólicos, vazadasem arquitecturas vernáculas, persistemainda em Portugal, a maioria esperando oinventário, alguns a classificação cultu-ral. Muito poucos são de origem medie-val. Outros são exemplos interessantes desistemas complexos de aproveitamentoenergético, como é o caso dos moinhos demaré, em que a caldeira contém a energiapotencial – água represada na maré – coma qual se accionam uns tantos motores (ro-dízios), na vazante. Entre os antigos engenhos eólicos figura-va o moinho português, nada compará-vel ao tradicional moinho de velas de pa-

Energia e património

A turbina da moagem “A Nabantina em Tomar”A energia é o património do Universo. Tem formas variadas em diferentes escalas. Pode ser quími-ca, física, biológica. Materializar-se na fusão do átomo. Transmitir-se por condutores eléctricos,potenciar-se em hulha branca, incorporar-se nas mudanças da pressão atmosférica.

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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no de características mediterrânicas quese impôs na paisagem continental, entreos meados do séc. XVII e a publicação dalegislação coerciva contra as farinhas tra-dicionais. Podemos afirmar que o moi-nho português de pás de madeira hori-zontais, ainda sobrevivente em pleno Re-nascimento, se extinguiu sem deixar ves-tígios aparentes.É que, outrora, as energias não eram preo-cupação para as sociedades, senão noponto da descoberta e da conservação. Aadopção de uma nova energia não pres-supunha de imediato o desaparecimentodas restantes formas em curso. O ritmo daevolução era lento. A protecção das “ca-sas da energia” não se colocava com ob-jectivo cultural. Nem se constituiu comoaspecto central das preocupações de sal-vaguarda e conservação do patrimóniocultural até ao fim da II Guerra Mundial,com raras excepções.A Revolução Industrial implicou, no en-tanto, o boom das “casas da energia”.Aliás, o conceito de “casa das máquinas”espalhou-se entre os países da industria-

lização, como sinónimo de crescimento.Afábrica era uma organização ou sistemade trabalho que reunia máquinas e operá-rios num espaço extenso, articulados e de-pendentes de um motor central. Esta nova realidade implicava inovaçãonas energias naturais, sobretudo nas de-pendentes da força cinética da água e a in-venção de outras, como a energia a vapor,a gás e a diesel, as designadas “energiasnão renováveis”. A valorização do patri-mónio industrial em Portugal permitiu,apesar da omissão das políticas patrimo-niais do Estado, salvaguardar algunsexemplares de máquinas a vapor e, sobre-tudo, de caldeiras a vapor de diferentes ti-pos e marcas, entre outras a nova-iorqui-na, Babcock & Wilcox.As marcas de estruturas hidráulicas amontante e a jusante de rodas e turbinashidráulicas constituem um acervo técni-co de algum significado patrimonial emterritório português. Estamos a falar deaçudes, de levadas e canais. Em geral, asrodas hidráulicas desapareceram, porqueas próprias unidades fabris se actualiza-

ram em termos energéticos, à medida queos equipamentos exigiram maiores quan-tidades de força motriz. Persistem aindaalgumas turbinas, poucas destinadas àprodução de energia mecânica, a maioriaacoplada a alternadores e grupos eléctri-cos. Em Tomar, o projecto de conservação, va-lorização e musealização da Levada daRibeira da Vila, implica a salvaguarda doAçude dos Frades, do canal, da turbinamecânica e da central eléctrica mista. Aturbina foi o motor da moagem d’ANa-bantina, uma fábrica de farinhas monta-da pelo sistema americano (2), construídapor Francisco A. Cristóvão Pinheiro, emAbril de 1883. Trata-se de uma turbina axial, dita parale-la, de eixo vertical, comum ao tipo das tur-binas Fontaine. A empresa que procedeuà sua montagem foi a casa parisiense da“viúva Teisset”, Teisset V.vé, Brault &Chapron, de Chartres, em 16 de Agostode 1902. Brault e Teisset haviam aper-feiçoado a turbina de Pierre Fontaine-Ba-ron (1.ª patente – 1836) e desenvolvido no-

A roda hidráulica vertical da moagem A Nabantina, cerca de 1890. Foto de Silva Magalhães, Tomar

A Fábrica de moagem A Nabantina, de J. Torres Pinheiro, por altura daintrodução da turbina, Foto Casa Havaneza, Tomar

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

vos aspectos da turbina americana de Ja-mes Francis, estabelecida em Lowell (3).A turbina encontra-se numa “casa deenergia”, de alvenaria simples, envolven-do uma conduta própria ligada ao recep-tor hidráulico (de coroas fixa e móvel),proporcionando uma queda de água dedois metros e funcionando pelo seu peso,para viabilizar uma potência aproximadade 90 C/V. A rotação é controlada por umregulador Watt, adaptado à energia hi-dráulica. A rotação por impulsão das pásda turbina faz mover uma árvore motora,cujo eixo é perpendicular à máquina. Umveio horizontal e um volante transmiteme distribuem a força motriz pelos dois pi-sos. No piso térreo fazem operar seis pa-res de mós, a maioria de origem francesa,das reputadas pedreiras de Ferté-sous-Jouarre. Este motor, mandado construir por Joa-quim Torres Pinheiro, filho do fundador,substituiu a roda hidráulica vertical dasorigens d’A Nabantina (4). A mudançaenergética enquadra-se numa introduçãomais generalizada de turbinas no rio

Nabão, nomeadamente na Fábrica doPrado, na Companhia de Fiação e no La-gar do próprio proprietário da moagem,situado na Horta de el-rei. O nascimento da turbina hidráulica en-contra-se associado ao desenvolvimentoda matemática e da mecânica dos séculosXVIII e XIX. Representa uma alternativa àenergia a vapor, sobretudo como conse-quência do aproveitamento de pequenasquedas de água e da “hulha branca” re-presada nas montanhas. Desconhecidasno século XVIII, as turbinas hidráulicasacabaram por revolucionar a produçãoindustrial e assumiram um protagonismoevidenciado nas centrais hidroeléctricasdo século XX. Na região de Tomar, a cen-tral do Castelo do Bode é um testemunhodo significado da turbina na era da elec-tricidade.O motor da Nabantina, embora traduzaapenas um caso singelo da Energia do Uni-verso, vazada em território português, se-rá, muito em breve, um testemunho do pa-trimónio industrial salvaguardado e recu-perado, apesar das fragilidades e extinção

que, por todos os lados, correm os vestí-gios das diferentes etapas do desenvolvi-mento tecnológico e das “casas da energia”existentes em Portugal.

Notas:1 – Roda conhecida na Antiguidade para potenciar aforça motriz humana de escravos e prisioneiros. So-freu aperfeiçoamentos nos séculos XVIII e XIX, devi-do aos estudos de Coulomb (1736-1806).2 – Os denominados moinhos automáticos america-nos foram inventados por Oliver Evans (1755-1819),um engenheiro inglês que se estabeleceu em RedclayCreek, EUA. O seu conceito de moinho envolve o sis-tema de fábrica (com energia central) e a introduçãode mecanismos simples (roda, parafuso de Arquime-des, plano inclinado e nora), associados em cadeia deprodução em contínuo (implicando redução de mão-de-obra e baixa do custo da farinha). Esta tecnologiafoi introduzida em Tomar pelo engenheiro francês LeMoine, conhecedor dos seus efeitos na moagem fran-cesa contemporânea.3 – Cf. LAVERGNE, Gérard – Les Turbines, 2ª éd., Pa-ris, s/d. 4 – A força motriz da roda foi variável, entre 15 C/V(1888) e 35 C/V (1895).

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JORGE CUSTÓDIO, Director do Convento de Cristo

Planta e corte da casa da turbina do moinho

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CRÓNICA

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Em parte significativa das páginas queconstituem O Culto da Arte em Portugal,Ramalho Ortigão enumerou vários aten-tados aos “monumentos artísticos danação”, destacando o ataque da Fábricade Gás – vulgo gasómetro – à Torre de S.Vicente de Belém: “Finalmente ao lado daTorre de Belem, o mais peregrino entre osmais bellos monumentos da nossa architectu-ra, estabelece-se o gasómetro da companhia deilluminação a gaz. A esbelta silhueta rendil-hada do mais suggestivo padrão da nossa glo-ria militar e maritima, já não emerge da areialoura do Restello, em deslumbradora apothe-ose... [Agora] a Torre de Belem emparceira-secom a chaminé do mais vil e sordido barracão,a qual sacrilegamente a cuspinha e enodôacom salivadas de um fumo espesso, gordorosoe indelevel, como se a incomparavel joia d’es-se marmore, que o sol portuguez carinhosa-mente sobredourara pelos afagos de tres secu-los, houvesse sido tão subtilmente cinzeladapelos artistas manoelinos para escarrador demariolas, por cima do qual todavia ainda al-gumas vezes, em dias de gala, se desfralda etremula o pavilhão das quinas, mascarrado de

carvão como um chéché de entrudo” (1) (Figu-ra 1).O texto de Ramalho, estampado em 1896,dava corpo a um embate nascido uma dé-cada antes quando a C.M.L. permitiu quese erguesse bem junto da Torre de Belém areferida unidade industrial, combate queacompanharemos neste artigo só até fi-nais de Oitocentos mas que, vergonhosa-mente, se prolongaria até meados do sé-culo XX. Na origem dessa construção es-teve o Concurso para a Illuminação a Gazda Cidade de Lisboa, publicitado emAbril de 1887, que implicou a construçãode um vasto complexo fabril que O Occi-dente reproduziu num dezenho do naturalpor L. Freire. Essa imagem (Figura 2) mos-tra-nos uma vista geral do empreendi-mento em que ressalta, num primeiro pla-no sobre a esquerda, um avantajado gasó-metro, os edifícios da sala de emissão e osdepuradores; sobre a direita, num segun-do plano, ao centro, os condensadores“Walker”, o edifício dos fornos, os scrub-bers e uma chaminé fumegante e, em der-radeiro plano, quase imperceptíveis, três

ameias, duas guaritas e um “pavilhão dasquinas” tremulando. Era a Torre de Belémvisível a partir da avenida da Índia... An-tes de avançarmos lembremos que os aler-tas repetidos até finais do século XIX, porartistas, arqueólogos, jornalistas e viajan-tes estrangeiros contra o duplo atentado –artístico e ambiental – de que a Torre deBelém era vítima, foram quase sempre ig-noradas pelos decisores políticos – locaise nacionais – e, mais gravemente, tambémpor alguns agentes da causa patrimonial,como o Conselho dos Monumentos Na-cionais, de que se disse mais tarde: “Quefizera, que fazia, que faria? Oh! Podiam per-correr-se todos os tempos do verbo fazer que oConselho não se mexia” (2).(Figura 3) Cronologicamente, quanto sa-bemos, o primeiro “manifesto” contra aFábrica de Gás foi o desenho “O Novo Ga-zometro”, de Rafael Bordalo Pinheiro, es-tampado nos Pontos nos ii em 1888 com aseguinte legenda: “Aspecto que a tôrre deBelem – um dos mais primorosos monumen-tos nacionaes – vae presentear aos estrangei-ros que entram a barra. Um gazometro entre a

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A Torre de Belém e a Fábrica do GásContra o gasómetro, marchar, marcharA instalação da Fábrica do Gás junto à Torre de Belém teve, desde o início, uma forte contestação devários quadrantes da sociedade portuguesa. Mas, apesar das vozes que se erguiam contra o atenta-do artístico e ambiental, continuou a perturbar a beleza de um mais emblemáticos monumentos deLisboa ainda por muito tempo.

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CRÓNICATema de Capa

torre de Belem e o convento dos Jeronymos, é,sobre um cumulo de boa administração cama-raria, um cumulo de bom gosto artistico”.(Figura 4) Rafael Bordalo Pinheiro voltouao ataque em Agosto de 1891, ora n’ O An-tonio Maria, com um “Abaixo assignado”dirigido ao “sr. ministro da instrucção pu-blica e bellas artes” que rezava assim: “Osredactores, collaboradores, leitores e não leito-res do Antonio Maria teem a honra de ponde-rar ao sr. ministro da instrucção publica e be-llas artes que, visto as companhias do gaz se-rem agora uma só e não necessitarem de tantosgazometros, seria decoroso para o paiz libertara torre de Belem da vergonhosa visinhançacom que a dotaram a estupidez e a gananciados srs. Argentarios”.

A liderar a imprensa quotidiana alfacinhaesteve o Diario Illustrado. Em plenas obrasde construção da fábrica publicou um pri-meiro artigo onde, a terminar, não deixoude referir que “a torre de Belem tão elegante eadmirada dos estrangeiros que passam pelonosso porto, perderia muito da sua beleza aus-tera, confundindo-se no horizonte com as con-tiguas e fumarentas chaminés, que vistas dorio pareceriam, em algumas direcções, saidasda propria torre!” (3) (Figura 5). No númerode 29 de Dezembro de 1888, depois dequestionar “Que lucra a cidade com este revi-ramento, com esta desordem, com esta des-truição? Dizem que vae ter o que já tem: gaz”,o redactor enveredou por uma perspecti-va patrimonial: “Deixemos, porém, outra vez

o dizemos, deixemos esta derrocada, que fallapor si, e contra a qual é geral a indignação, ve-jamos a questão sob outro aspecto, que signifi-ca ou revela nem mais nem menos do que umattentado contra um monumento nacional”.Para o autor do texto “veiu a nova compa-nhia do gaz, que não tem privilegios nem gozade favores, e edificou ao lado d’este monumen-to o seu gazometro. E foram os que a chamaramá vida quem lhes disse: o melhor local é ali.”O articulista, lembrando o coro de lamen-tações que grassava na capital, concluiu:“Infelizmente, porém, apesar d’esses protestostriumphara o vandalismo, porque a nova com-panhia, não deixando pedra sobre pedra, conti-nuará a alastrar de ruinas as ruas da cidade,continuará a investir com os monumentos, até

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Figura 1. Gazomètre télescopique à cuve métallique, CML - Arquivo Alto da Eira

Figura 2. Occidente, 21 de Maio de 1889

Figura 3. Pontos nos ii, 16 de Novembro de 1888

Figura 4. O Antonio Maria, 28 de Agosto de 1891

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CRÓNICA

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Tema de Capa

que lhe dê na cabeça exproprialos tambem porsua utilidade, que é uma utilidade muito maiordo que a maior que até agora se conhecia, a facede todos os principios e de todos os codigos, autilidade publica” (4) . Posteriormente, o Dia-rio Ilustrado para além de lembrar a ideiaque vinha de 1840 de transformar a Torrede Belém em museu – a exemplo do que sefizera na Torre de Londres – relevou o di-reito (dos leitores) à indignação: “Se algu-ma vez correu ao brio nacional, ao gosto publi-co, e á missão dos governos o dever de se levan-tarem contra um attentado em que a historia,as tradições, a arte, tudo quanto possa haver demais caro a um povo seja ao mesmo tempo af-frontado e vilipendiado, é esta!” (5) .Até ao fim de Oitocentos, outras vozes selevantaram na excomunhão do gasóme-tro: Ramalho, já citado, mas também oprolífero Sousa Viterbo escrevendo lapi-darmente num editorial do Diário de Notí-cias em 1896: “Nos annaes do vandalismo ar-tistico não conhecemos attentado que se lhepossa comparar”; e, mais à frente: “uma es-perança nos resta, ainda que longinqua, e essadepositamo-la ardentemente nos progressosque estão fazendo os diversos systemas de illu-minação, sobretudo a electricidade. Ceci tueracela. Que a electricidade mate quanto antes ogaz, e que o gazometro, como inutil, como ob-jecto duma archeologia repugnante, como umparasita detestavel, como um invejoso perver-so, caia aos pedaços, cheio de ferrugem, cheiode lepra, carcomido, andrajoso, como troncofulminado pelo raio de Deus!” (6). Quatro

anos antes, já Júlio de Castilho, o mestreolisipógrafo, constatara: “O que se vê,quando se analizam quaisquer obras em Lis-boa, é o desprêso constante do belo [...] em-plastra-se com um cilindro colossal de ferro,chamado gasómetro, uma das maravilhas daarquitectura essencialmente portuguesa, aTôrre de Belém” (7). Também alguns par-lamentares maçons, como FernandoLarcher, se manifestaram então: “Hoje, ogracioso fundo de airosas casinhas e verde-jantes collinas, sobre as quaes recaía tão pit-torescamente o brando perfil da historicafortaleza, foi substituido pela ironica pers-pectiva de um informe e abjecto gazometro;o lindo e doirado areal, que tão docementeesbatia as arestas vivas da cantaria esculpi-da, acha-se transformado n’um mixto infor-me e negra confusão de poeiras pretas, par-dacentas cinzas, escuro alcatrão e sujo tijo-lo; finalmente, para cumulo da degaradação,a fina transparencia da atmosphera que en-volvia e fazia realçar aquelle delicioso con-juncto, vê-se agora perpetuamente conspur-cada por densa nuvem de gorduroso fumo.E, infelizmente, ainda não é tudo. Os espes-sos rolos de fumo saíndo ás golfadas pelasbôcas das chaminés, alem de tisnarem a de-licada patina originada pelo tempo, exer-cem, combinados com os agentes atmosphe-ricos, uma acção corrosiva sobre os materia-es de que é construida a malfadada torre; enão será, portanto, para admirar se dentroem breves annos, estiver completamenteobliterado esse monumento, que representa

indubitavelmente, um dos melhores cantosda epopeia portugueza” (8).Para terminar, lembrem-se os testemu-nhos dos viajantes estrangeiros, como ode Madame Adam (Juliette Lamber), quenão deixou de se referir à situação da Tor-re de Belém ao falar dos “espiritos do mal,torpemente invejosos e cheios de ciume, ha-viam se lentamente colligado contra a Torreda Belleza. Negros, vomitando fumo de envol-ta com a sua baba pestillente, espalharam napura atmosphera da terra, uma densa chuvaque feria como dardos agudissimos os finosarabesco, empastando-os e abastardando-os, eafeiando assim a torre” (9).

Notas:1 – Ramalho Ortigão, O Culto da Arte em Portugal, Lis-boa, Antonio Maria Pereira, 1896, pp. 84-85. 2 – Manuel Monteiro, Defeza d’um Castello Medieval.Depoimento d’um Combatente, 1906, p. 443.3 – Diario Illustrado, 14 de Junho de 1888, p.2. 4 – Idem, 29 de Dezembro de 1888.5 – Idem, 1 de Janeiro de 1889.6 – Diario de Notícias, 17 de Setembro de 1896, p. 1.7 – Júlio de Castilho, A Ribeira de Lisboa, vol. V, Lisboa,CML, 1944, p. 171 [1ª ed. 1892].8 – Sessão de 27 de Janeiro de 1897, in Diario da Cama-ra dos Dignos Pares do Reino, pp. 82-83.9 – Publicado no jornal O Seculo, republicado no Bole-tim da RAACAP, 3ª série, tomo VIII, nº 12, Anno 1900,pp. 183-184.

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PAULO OLIVEIRA RAMOS, Professor Auxiliar da Universidade Aberta

Figura 5. Plano hidrografico do Porto de Lisboa [...] 1930 a 1932 (col. particular)

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INVESTIGAÇÃOTema de Capa

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João Archer de Carvalho (1928), ManuelNunes de Almeida (1924) e Rogério Ra-mos (1927/1976), constituíram o grupohistórico dos arquitectos da Hidroeléctri-ca do Douro que, ainda antes da publi-cação dos resultados do inquérito à Arqui-tectura Popular em Portugal e, antes mes-mo de uma consolidada referência à lin-guagem e materiais da tradição por parteda cultura arquitectónica portuguesa, ex-perimentam concretamente com as suasobras as extraordinárias possibilidadesformais da conjugação do moderno com atradição local. No espaço de cerca de um decénio (de 1953ao início dos anos 60), estes três jovens ar-quitectos, ao introduzirem no grupo dosengenheiros da Hidroeléctrica do Douro anecessidade de discutir e decidir as

questões da intervenção no território des-de o âmbito da disciplina da arquitectura,puseram em prática uma metodologiaprojectual que reconhece à componentearquitectónica e artística a importânciaprimária da intervenção urbana, desde afase inicial dos processo de transformaçãoambiental e de formalização dos espaçosconstruídos. O isolamento físico, político e cultural daregião, manteve fora do debate arquitec-tónico, durante cerca de 40 anos, este ex-traordinário e importantíssimo episódioda arquitectura moderna portuguesa, quedevidamente divulgado poderia ter pro-duzido resultados ulteriores. O primeiro Plano Quinquenal de Desen-volvimento (1953/58), no qual um dos ob-jectivos prioritários é o aumento da pro-

dução de energia hidroeléctrica, constituia ocasião de base para a construção desteesplêndido acontecimento arquitectónico. É elaborado um programa de intervençãoarticulado em duas fases: período de cons-trução e período de gestão. A localizaçãocoincide com uma das áreas mais atrasa-das do país. Condição difícil, dada a faltade infra-estruturas e mão-de-obra qualifi-cada. São estas as premissas para construirem pouco tempo modernas estruturas deprodução de energia e para criar con-dições atractivas para instalar a nova co-munidade. Em Picote, onde se iniciaram os trabalhos,as primeiras intervenções consistiram narealização de infra-estruturas para insta-lar as famílias do pessoal que iria traba-lhar na construção. Isto é, casas e serviços

Património arquitectónico moderno

Centrais hidroeléctricasdo Douro InternacionalAs três centrais hidroeléctricas realizadas nos anos 50/60, próximo da fronteira Portugal-Espanhano ponto onde o rio Douro entra em território português, constituem um acontecimento excepcionalna história da arquitectura moderna e contemporânea a nível nacional e internacional.

Capela de Picote 1955 – Arq.º Manuel Nunes de Almeida – Vista da zona de entrada (Foto de época – Alvão)

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INVESTIGAÇÃO

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Tema de Capa

de apoio a cerca de 5000 pessoas. Traçam--se estradas, constroem-se casas provisó-rias, realiza-se a estação de tratamento deágua, elabora-se o plano urbanístico paraas estruturas definitivas.É dada particular atenção aos aspectospaisagísticos e ambientais. São plantadasnovas espécies arbóreas que passam a in-tegrar as existentes e as plataformas natu-rais do terreno são utilizadas para a locali-zação das estruturas residenciais, tendocomo objectivo não só a máxima fruiçãoda paisagem mas também evitar, em ter-mos económicos, inúteis e destrutivos mo-vimentos de terras. Os arquitectos entrevêem a possibilidadede realizar uma das grandes aspiraçõesdo movimento moderno: “da colher à ci-dade”. É a fase da procura de identidade e da crí-tica ao funcionalismo e ao estilo interna-cional. Tenta-se conjugar a tradição e o mo-derno para obter novos e coerentes efeitosexpressivos. Materiais antigos encontram-

-se com os novos para gerar formas lógicase funcionais capazes de enriquecer a quali-dade espacial. O betão, o ferro e o vidro po-dem conviver e relacionar-se com o grani-to, a ardósia e a madeira. A nova tecnolo-gia propõe-se superar os limites que a eco-nomia e as condicionantes locais impõem.Aenergia eléctrica assumida como símbo-lo vital moderno da sociedade em desen-volvimento, com a sua capacidade detransformação (iluminação, aquecimento,força motriz), permite superar os ritmosnaturais. O artifício, mais uma vez, entraem competição com a natureza abrindocaminhos a novas imagens alternativas douniverso das formas.Grandes recursos são investidos na cons-trução destas modernas estruturas produ-tivas. Os arquitectos, conscientes dos no-vos valores desencadeados por estas in-tervenções, exigem que a actuação da dis-ciplina da arquitectura participe integral-mente na concepção e formalização dosespaços. Os quais irão transmitir a mensa-

gem simbólica desta nova dimensão esté-tica, que promete novas formas de liber-tação da escravidão do trabalho e das con-dicionantes naturais.As obras de artes completam, enriqueceme valorizam os novos espaços. Desde o ele-mento escultural natural (a pedra mode-lada pela água colocada nos jardins daPousada de Picote), aos quadros e escultu-ras encomendadas a numerosos artistas. Échamado o mestre Barata Feyo para reali-zar as três esculturas da capela (um Cruci-fixo, uma Nossa Senhora e uma S. Bárba-ra), e o Arq.º Pádua Ramos para realizar osobjectos de culto litúrgico. Para a pousa-da, é encomendado um quadro – A Músi-ca – ao pintor Júlio Resende e uma escul-tura ao escultor Gustavo Bastos. O mobi-liário é desenhado peça por peça, desde apia baptismal da capela à cruzeta do guar-da-roupa da pousada.Em Miranda do Douro, a presença de umcentro urbano preexistente constitui maisuma condicionante com a qual os arquitec-

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Pousada de Picote –1954 – Arq.º Rogério Ramos Vista da fachada Sul (Foto Cannatà & Fernandes)

Estação de tratamento de água de Bemposta – 1959

– Arq.º Rogério Ramos (Foto Cannatà & Fernandes)

Edifício de Comando de Bemposta – 1960 – Arq.º João Archer de Carvalho (Foto de época – Alvão)

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INVESTIGAÇÃOTema de Capa

tos se confrontam. Miranda é uma peque-na cidade rica de monumentos históricos,mas com insuficientes equipamentos ur-banos. Além de se construírem os serviçosprimários para o pessoal directamente li-gado à construção, são realizados, quasecomo se tratasse de uma indemnização àcidade, um conjunto de infra-estruturas eequipamentos para toda a comunidade. A central subterrânea de Miranda é, semdúvida, das três, a que apresenta umacomplexidade construtiva e espacial maisrica. Funcionalidade, plasticidade, econo-mia e integração de elementos dirigidos àconcretização de melhores condição detrabalho são os elementos do projecto. Umgrande volume caracterizado pelos mate-riais construtivos, pela tipologia de ilumi-nação artificial e pelo desenho dos ele-mentos estruturais.Bemposta é o último dos aproveitamentosdo Douro Internacional a realizar na zonaatribuída a Portugal. A linguagem e a vo-lumetria das casas definitivas para o pes-

soal especializado são o resultado de umagrande investigação da articulação volu-métrica e tipológica do conjunto e da ati-tude adoptada no estudo de integraçãodestas com o terreno, construindo destemodo soluções inovadoras no modo dehabitar em Portugal.A estação de tratamento de água, com osdois cilindros em betão, representa umaobra de síntese volumétrica de grande va-lor arquitectónico quer pela sua inserçãona paisagem, quer pelo uso do betão apa-rente, quer pela integração das infra-es-truturas no espaço arquitectónico, como éo caso do sistema de aquecimento na es-trutura da caixilharia de aço. Adecisão do Instituto Português do Patri-mónio Arquitectónico de abrir, em Maiode 2002, um procedimento para a classifi-cação do Conjunto da Barragem de Picotecomo património confirma a importânciae a qualidade das intervenções que, porquase 50 anos, ficaram fora dos circuitosculturais.

Reconhecer o valor do conjunto e não só dealguns edifícios permite acrescentar à qua-lidade arquitectónica destes a grande qua-lidade urbanística e paisagística, consti-tuindo uma referência incontornável pelasdisciplinas com intervenção no território ena relação artifício/natureza.

Bibliografia:– ABITARE n.º 338, Março 1995.– Confidências para o exílio n.º 4, Novembro 1995– CANNATÀ, Michele, FERNANDES, Fátima, Moder-no Escondido, Arquitectura das Centrais Hidroeléctricasdo Douro 1953-1964, Picote. Miranda. Bemposta, FAUPpublicações, Porto, 1997.– BEKER, A., TOSTÕES, A., WANG, W., Arquitectura doSéculo XX – Portugal, Alemanha, Portugal , Frankfurt 97,SA, Lisboa, Deutsches Architetkur-Museum, Frank-furt am main, Prestel-Verlag, München-New York,1998.

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MICHELE CANNATÀ e FÁTIMA FERNANDES, Arquitectos

Central subterrânea de Picote – 1954 – Arq.º João Archer de Carvalho (Foto de época – Alvão)

Central subterrânea de Miranda do Douro – 1958 – Arq.º João Archer de Carvalho (Foto EDP)

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PATRIMÓNIO INDUSTRIAL

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Tema de Capa

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Encerrou-se mais um ciclo industrial, tec-nológico, histórico e, sem dúvida, cultu-ral, com o fecho de uma das muitas fábri-cas que acrescem as estatísticas do vazio,sem que uma certa desejável e saudávelinquietude se vislumbrasse no rotineiroquotidiano dos portugueses. A produçãoindustrial interrompeu-se no ano de 2002,encerrando definitivamente um ano maistarde. Não se trata, contudo, do fecho demais uma unidade industrial, antes secumpriu o fim do desígnio de uma longatradição na área do fabrico de armas, mu-nições e pólvora das fábricas pertencen-tes ao Estado Português, actividade rema-nescente da fase hercúlea da primeira uni-dade produtiva mandada instalar por D.Manuel I, a Fundição de Canhões da Por-ta da Cruz.Sucessivamente, no final do séc. XX, as-sistiu-se ao fecho (1) da Fábrica de Pólvorade Barcarena, da Fábrica de Pólvora deChelas, da Fábrica de Material de Guerrade Braço de Prata (2) e, finalmente, da IN-DEP – antiga Fábrica Nacional de Mu-nições, localizada em Moscavide. A INDEP subsistiu in situ uma caldeira avapor de inícios de novecentos. Sendo es-

ta fábrica de Moscavide da década de 50 (3),inserida na lógica da industrialização daLisboa Oriental, seria de supor que o equi-pamento tecnológico fosse de uma ge-ração técnica coetânea. Só que a sua histó-ria é indissociável da da Fábrica da Pólvo-ra de Chelas. A maioria da maquinaria daFábrica Nacional de Munições é oriundada fábrica de Chelas, tendo constituídomesmo o seu arranque funcional. Só maistarde (c. 1965) se procedeu à aquisição deuma nova linha – 2.ª fase –, e nos anos 90adquiriu-se uma das melhores linhas pro-dutivas do mundo, correspondendo à 3.ª eúltima fase fabril.Em Moscavide produziam-se muniçõesde armas ligeiras para uso militar e civil,elos, lâminas carregadoras. Nos anos de1960-70, trabalharam lá cerca de 3000 pes-soas. A produção do vapor é um processoimprescindível para o fabrico das mu-nições, prendendo-se com a obtenção dacaixa da bala. O vapor é necessário paraos processos quentes da decapagem e de-sengorduramento da cupela de latão, as-sim como durante as fases do fabrico dacaixa da bala. As cupelas de latão reco-ziam num forno eléctrico, decapavam nu-

ma solução de água quente, a 5% de ácidosulfúrico, secavam numa estufa e a seguiriam para uma prensa – processo repetidotrês a quatro vezes. A caldeira aquecia aágua e o ácido sulfúrico dos tanques a80ºC onde mergulhavam as cupelas.Nesta geração tecnológica, a caldeira a va-por assume uma função insubstituível naobtenção deste produto intermédio da ba-la, o que justifica a sua transferência da fá-brica de Chelas para Moscavide, acom-panhando a linha de produção.Mas esta caldeira não se destaca apenas pe-la sua imprescindível função no processode fabrico. Trata-se também de um equi-pamento de energia com quase um século(4) e representante de uma das principais ca-sas fabricantes, ligadas à própria revo-lução industrial americana, e indissociá-

Fábrica Nacional de Munições Salvaguarda de uma caldeiraBabcock & WilcoxApós uma longa tradição na área do fabrico de armas, muniçõese pólvora, o nosso país viu encerrar recentemente a última unida-de produtiva nesta área: a Fábrica Nacional de Munições. Aí seencontra uma caldeira Babcock & Wilcox, um equipamento degrande valor estético, tecnológico e histórico que merece ser des-tacado e preservado.

Caldeira Babcock & Wilcox da Fábrica Nacional de Munições

18-19 Património Ind.qxp 2/3/07 11:55 PM Page 18

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PATRIMÓNIO INDUSTRIALTema de Capa

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veis do fabrico do vapor para força motrizdas várias indústrias da primeira geração.Acasa Babcock & Wilcox resultou da fusãode duas empresas familiares, em 1867, deengenheiros construtores de caldeiras,oriundos da Nova Inglaterra e de NovaIorque, tendo constituído uma das marcasde referência que produziu para todo omundo, sendo conhecida como a mais se-gura, a mais económica e a mais durável.A caldeira Babcock & Wilcox, da INDEP,encontra-se inserida em maciço de alve-naria de tijolo vermelho, destacando-se oremate relevado e geometrizado dos tijo-los, particularidade próxima à de algunsedifícios industriais, como o caso da fá-brica de massas Napolitana (5), de 1908. Éuma caldeira multitubular, sistema utili-zado para aquecer a água, a partir de umafornalha, que ao circular nas tubagens setransformava em vapor. O vapor ao atin-gir a pressão máxima era conduzido à

distância por tubagens para as funçõesacima requeridas. Esta caldeira corres-ponde ao modelo disponibilizado para omercado depois da Exposição Universalde Paris de 1889, pertencendo já à segun-da geração das caldeiras Babcock & Wil-cox, que constitui uma estabilização datécnica e da disposição das peças que acompõem no seu interior.Impondo-se pela sua feição estética, a cal-deira da INDEP simboliza, também, umaetapa tecnológica importante para o de-senvolvimento da própria revolução in-dustrial e uma memória imperdível paraas fábricas de Chelas e de Moscavide.

Notas:1 – A Fundição de Canhões da Porta da Cruz corres-ponde à área onde, actualmente, se localiza o MuseuMilitar, encontrando-se preservado o local da fun-dição de canhões. Dos vários hectares ocupados pelaFábrica de Pólvora de Barcarena, salvaguardou-se umnúcleo fabril inicial refuncionalizado em Museu daPólvora Negra, pertencente à Câmara Municipal deOeiras. Da Fábrica de Material de Guerra de Braço de

Prata subsistiu, espantosamente, o edifício adminis-trativo, o menos importante do ponto de vista arqui-tectónico e patrimonial, longe de representar a perdainsubstituível de toda a área fabril demolida para darlugar ao programa habitacional do arquitecto RenzoPiano, sem antes se ter feito um estudo rigoroso da-quela cidade industrial, podendo-se em alguns casoster integrado um ou outro edifício se tivesse havidoum inteligente plano de reconversão de todo o terri-tório produtivo. Estamos a excluir desta nota toda amaterialidade móvel e arquivística inerente ao pro-cesso de fabrico e à própria laboração. Da Fábrica daPólvora de Chelas urge manter e preservar a CentralGeradora Krupp.2 – FOLGADO, Deolinda, CUSTÓDIO, Jorge – Ca-minho do Oriente. Guia do Património Industrial, Lisboa:Livros Horizonte, 1999.3 – Informação obtida por entrevista oral a um quadrotécnico da empresa.4 – O desenho técnico da caldeira refere-nos um en-saio datado de 5-5-1906.5 – A Napolitana foi projectada por Vieillard & Tou-zet, em 1908, e uma das suas particularidades arqui-tectónicas prende-se com maximização dos efeitos es-téticos da utilização do tijolo sílico-calcário.

Desenho da Caldeira Babcock & Wilcox. Foto Henrique Ruas, 2004

Entrada da INDEP. Foto Deolinda Folgado, 2003

DEOLINDA FOLGADO,IPPAR – Departamento de Estudos

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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Tratam-se de painéis de azulejos policro-máticos representando imagens de san-tos, intercalados com outros com motivosdecorativos.Inicialmente, foi realizado um levanta-mento gráfico dos diversos painéis paraavaliar o estado físico dos azulejos e asrespectivas patologias de modo a melho-rar a intervenção (podem observar-se al-guns exemplos de levantamentos gráfi-cos e fotografias correspondentes).De um modo geral, os painéis encontram-se com sujidades de origem orgânica einorgânica. Para se proceder à limpeza dassuperfícies vidradas têm sido utilizadosmétodos por via mecânica e húmida: bistu-ri e algodão com solução de água e teepol.

Os espaçamentos das juntas são finos eapresentam-se bastante enegrecidos, pe-lo que os betumes estão a ser removidos,sendo repostos com argamassas tradicio-nais à base de cal e areia fina de modo aproteger o interior do painel.Dado que alguns azulejos se encontramtrocados, estes serão retirados com o au-xílio de bisturi e espátulas, sendo repos-tos nos devidos locais com prévia pica-gem da parede e execução de uma arga-massa tradicional de assentamento à basede cal e areia. Os azulejos em falta serãomanufacturados seguindo métodos tra-dicionais e o seu assentamento será idên-tico ao anteriormente descrito.As falhas no vidrado, que alguns azulejos

apresentam, serão devidamente isoladascom uma solução de Paraloid B72 diluídaem acetona, a fim de receber material depreenchimento. Uma vez que se tratamde painéis exteriores será utilizado milli-put superfine white, por ser mais resis-tente. A integração cromática será efec-tuada com tintas acrílicas e posterior iso-lamento com Paraloid B72, de modo aproteger devidamente o restauro dos pai-néis de azulejos.

Paços do Concelho da C. M. de Cascais

Dar nova vida a uma arte antigaOs painéis de azulejos das fachadas do edifício dos Paços doConcelho da Câmara Municipal de Cascais têm vindo a seralvo de obras de conservação e reabilitação. A empreitadafoi adjudicada à MIU – Gabinete Técnico de Engenharia,Ld.ª, que conta ainda com o apoio técnico de uma empresaespecializada neste ramo.

PEDRO SILVA,Engenheiro Civil, MIU, Ld.ª

Fachada Principal dos Paços do Concelhoda Câmara Municipalde Cascais

Painel de S. Sebastião

Levantamento gráfico e fotografia do painelantes da intervenção

Painel de Sto. António

Levantamento gráfico efotografia do painel antesda intervenção

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Tema de Capa

O edifício do moinho tem um único pisode planta rectangular, com o eixo maiororientado segundo a direcção NE-SW ecom dimensões de aproximadamente22x6,30 m. Dispondo de seis moendas euma ampla caldeira, terá sido, à sua épo-ca, um dos maiores engenhos de moagemde cereal na zona do Montijo.Com a intenção de salvaguardar o exis-tente do moinho do Cais das Faluas e de otornar acessível à comunidade, a CâmaraMunicipal do Montijo adquiriu-o duranteos anos 90, passando o moinho a consti-tuir uma referência fundamental do PlanoEstruturante da Zona Ribeirinha. A frente ribeirinha urbana está localizadanuma área de grande potencial paisagísti-co e a Câmara pretende, com este plano,alterar radicalmente a “imagem” da cida-de, não só pela requalificação da própriaárea de intervenção, como também pelavalorização dos espaços construídos, noqual se insere o moinho de maré.

Situação existentePresentemente, o moinho encontra-se emavançado estado de degradação, como re-

sultado das agressões marítimas e tempo-rais a que tem sido sujeito desde a cessaçãoda actividade moageira e consequenteabandono e esquecimento. As paredes que se mantêm (fachada No-roeste) são em alvenaria de pedra apare-lhada no embasamento e em alvenaria depedra irregular argamassada no desen-volvimento em altura. Em alguns dos vãosque ainda restam existem cantarias deguarnecimento em pedra calcária. O alça-do Sudeste, por ser o mais exposto, apre-senta-se totalmente destruído, não sendovisível o arranque das paredes periféricasdo embasamento do moinho. No interior do moinho, as estruturas hi-dráulicas que permitem o escoamento eaproveitamento da água (canais de escoa-mento, nichos e rodízios) encontram-se to-talmente danificadas por deslocações ealuimento de pedras, assim como pela la-vagem das juntas entre pedras que perma-necem ainda na sua posição original. Tam-bém a caldeira se encontra muito assorea-da, assim como a cala de ligação ao canaldo rio, resultado da sedimentação acumu-lada pela paragem prolongada do moinho.

IntervençãoNesta intervenção pretende-se recuperartodo o edifício, incluindo a componenteestrutural que se encontra bastante debili-tada. Uma vez que a causa da destruição domoinho foi a acção continuada das marés,agravada nos últimos anos pela forte on-dulação provocada pelo tráfego das em-barcações (em particular, das novas em-barcações da Transtejo), a intervençãoagora em curso tem como objectivo dotá--lo da capacidade de suportar estas acções,pelo que, para além da sua reconstrução, asua estrutura será também reforçada.Assim, a consolidação do maciço de fun-dação do moinho consiste, essencialmen-te, no desmonte das alvenarias cujas pe-dras se encontrem deslocadas ou fragili-zadas e na reconstrução do embasamentode pedra até à cota do piso térreo do edifí-cio, incluindo nichos e canais das estrutu-ras hidráulicas do moinho. Ao nível da base das fundações (cota -4,00m), será executado um recalce através decortinas de microestacas em todo o períme-tro, com um comprimento médio de 9,00 m,

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Restauro e reabilitaçãoMoinho de maré do Cais das Faluas no MontijoSituado na frente ribeirinha urbana do Montijo, junto ao antigo cais da Transtejo, a construção domoinho de maré do Cais das Faluas data dos princípios do séc. XVIII. Recentemente, a câmara muni-cipal desta cidade promoveu um concurso para a sua reabilitação e recuperação. A STAP, S. A. foi aempresa escolhida para a missão.

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PROJECTOS & ESTALEIROSTema de Capa

as quais serão coroadas através de uma vi-ga de encabeçamento em betão armado (verFiguras 1 e 2). Com esta solução pretende-se assegurar o travamento do maciço, porforma a impedir assentamentos diferen-ciais e ou rotação das paredes do edifício.O preenchimento do volume interior,compreendido entre as alvenarias do em-basamento e a das estruturas hidráulicasdo moinho, será efectuado com um betãocelular de inertes de argila expandida e

areia aglomerados com calda de cimento.Ao nível do piso térreo será executado umnovo pavimento, composto por uma pri-meira camada de enrocamento (com cercade 0,15 m de espessura) e por uma camadaintermédia de massame armado com rededo tipo malhasol galvanizada e revesti-mento final em lajedo de pedra calcária serrada, de maneira a minimizar o efeitode eventuais humidades ascendentes porcapilaridade.

Em relação às alvenarias haverá que dis-tinguir as alvenarias existentes (e a man-ter) das novas a executar.As alvenarias no-vas serão executadas em tijolo cerâmicovazado, sendo de salientar o seu reforçoatravés do preenchimento do espaço com-preendido entre os panos exterior e inte-rior com microbetão armado com malhade metal distendido galvanizado.Relativamente à cobertura, trata-se deuma estrutura porticada de asnas triangu-

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Fase de construção da ensecadeira

Moinho de maré do Cais das Faluas. Aspecto geral do estado deconservação do moinho antes da intervenção (Agosto de 2003)

Vista interior do moinho antes do início dos trabalhos (Agosto de2003)

Figura 1. Projecto de intervenção. Corte transversal do edifício

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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Tema de Capa

lares em madeira de casquinha que irá re-ceber o forro, isolamento térmico, subte-lha, ripado e revestimento com telha cerâ-mica romana. Existem três tipos de asnas,diferenciadas pela sua estrutura e geome-tria, sendo em todas elas utilizadas cha-pas metálicas aparafusadas para assegu-rar as ligações.

Para dar início aos trabalhosde reconstrução do moinhofoi necessário ultrapassar osdiversos obstáculos queuma obra desta naturezaimplica. Pese embora aevidência da existência des-tas condicionantes, os ele-mentos apresentados a con-curso eram totalmenteomissos, não prevendoqualquer trabalho prepara-tório para permitir a reali-zação da obra. Em resumo,apenas se listam as princi-pais condicionantes: falta de acessos até ao localda obra; inexistência de es-

paço para estaleiro junto ao moinho;a localização das principais frentes da

obra abaixo do nível do rio ou em zonasubmersa pela maré; as amplas esca-vações envolventes ao moinho em mate-riais de natureza lodosa; o elevado pesodos blocos de pedra. Como forma de as ultrapassar, foram exe-

cutados alguns trabalhos preparatórios,nomeadamente a construção de uma en-secadeira que permitisse isolar o moinhoda acção das águas do rio e que constituís-se, em simultâneo, um acesso e área deapoio à execução da obra. Esta ensecadei-ra apresenta duas zonas distintas: a zonacoincidente com os antigos diques da cal-deira do moinho, que foram aproveitadose reconstituídos, e a zona nova de aterroprovisório a delimitar toda a frente mari-nha do moinho (alçado Sudoeste). Naconstrução da ensecadeira foi utilizado omaterial lodoso consolidado existente nointerior da caldeira, tradicionalmente de-signado por “salão”, o que permitiu con-servar a genuinidade dos muros e contri-buir para a limpeza e desassoreamentodesta parte da obra.

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JOEL DAVID SIMÕES RIBEIRO, Eng.º Civil (IST), Director da DelegaçãoCentro da STAP, S. A.

Figura 3. Zona de intervenção

Figura 2. Projecto de intervenção. Planta do edifício

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PROJECTOS & ESTALEIROS

Composta por nave, torre sineira, abside,sacristia e quatro capelas colaterais, aigreja encontra-se revestida no interior aazulejo de padrão tapetado polícromo,azul, amarelo e branco, limitado na naveem altura por cornija horizontal transitó-ria do arranque das abóbadas. Na capelalocalizada a NE encontram-se painéis fi-gurativos de temática iconográfica da eu-caristia, sendo ainda de destacar (na igre-ja) a existência de três frontais de altar,dois interiores e um exterior, este de temadesconhecido devido ao avançado estadode degradação.O conjunto azulejar é composto por cercade 17 000 azulejos (de aproximadamente13,5x13,5 cm) que apresentavam um esta-do de conservação muito fragilizado, ca-racterizado pelo elevado grau de sujida-de das superfícies vidradas, manchas eenegrecidos, inúmeras fissuras, vidradosdestacados, fracturas, lacunas, presençade sais, fungos e eflorescências. Em zonascríticas, as argamassas de assentamentotinham perdido a sua função, originandouma reduzida aderência ao suporte e po-tenciando o risco de queda.Os trabalhos de conservação e restauro ti-veram início com um registo gráficoexaustivo onde foi interpretada a totali-dade dos azulejos, a sua localização e es-tado de conservação, evidenciando a na-tureza das anomalias de que padeciam. O levantamento foi sustentado por um re-gisto fotográfico do estado de conser-

vação inicial, actualizado ao longo do de-correr da intervenção. Nesta fase, foramigualmente recolhidas amostras das arga-massas e chacota, para posteriores análi-ses laboratoriais e identificação dos iõesde sais solúveis: Cl -, I -, SO4

2-, NO3.Nos azulejos que se encontravam desta-cados do suporte, procedeu-se imediata-mente à aplicação de um facing, técnicacomposta por colagem de gaze com resi-na de emulsão acrílica. Após uma cuida-da remoção das argamassas do tardoz dosazulejos com ferramentas de precisão,procedeu-se igualmente à remoção dasargamassas das paredes de alvenaria eposterior tratamento da superfície.Foi elaborado um levantamento dospadrões, vidrados e corpo cerâmico, paramanufactura de azulejos segundo as téc-nicas tradicionais, visando a substituiçãode elementos em falta ou irrecuperáveis.Estes elementos foram posteriormente as-sentes em conjunto com os originais, re-correndo a argamassas de cal e areia.Nos casos em que os azulejos não apresen-tavam risco de queda, e quando possível,optou-se pela consolidação do suporteatravés da injecção de ligante entre juntas.O tratamento efectuado na generalidadedo conjunto, consoante as anomalias de-tectadas, foi caracterizado pelas seguin-tes actividades: Remoção das argamassasfendilhadas; Facing das arestas e superfí-cies vidradas; Aplicação de um fungici-da/pesticida em zonas pontuais; Dessali-

nização in situ dos azulejos e superfíciesafectadas por sais; Remoção de sujidadesorgânicas e inorgânicas; Colagem e con-solidação dos azulejos; Fechamento doespaçamento entre juntas; Preenchimen-to de lacunas e falhas de vidrado; Reinte-gração cromática dos preenchimentos; E,por fim, a aplicação de uma película pro-tectora.

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JOÃO VARANDAS,Engenheiro Civil, Director da Monumenta, Ld.ª

Santuário e Igreja Paroquial de Nossa Senhora de BrotasRestaurar peça a peçaAactual estrutura da Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Brotas,originária de 1535, sofreu alterações no decorrer do séc. XVII coma remodelação da fachada e a criação de revestimentos cerâmicosno seu interior e exterior. Recentemente, estes foram alvo de umaminuciosa intervenção, que esteve a cargo da Monumenta, Ld.ª.

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A estrutura cilíndrica do reservatório écomposta por chapas metálicas, que resis-tem aos impulsos hidrostáticos, sendo asua cobertura suportada por torres em tre-liça metálica, dispostas uma no centro e asrestantes no seu perímetro interior. Na en-volvente do reservatório existe um tanquecircular (bacia de retenção) constituído porparedes de betão armado e laje em ensolei-ramento geral, fundada directamente so-bre o terreno.Os trabalhos de inspecção e ensaios desen-volvidos pela Oz, Ld.ª visaram a avaliaçãosumária do estado de conservação da estru-tura de betão armado do reservatório (ver QuadroA).

Conclusões da análise dos resultados dos ensaiosNas zonas com delaminação de betão, o re-cobrimento das armaduras é, em geral, in-

ferior aos limites regulamentares.Na generalidade das zonas ensaiadas, afrente de carbonatação no betão ainda nãoatingiu o nível das armaduras, embora seencontre próxima nos pontos com menorrecobrimento. Não foi detectada contaminação significati-va por cloretos. Os resultados dos ensaios de compressãoregistaram dispersão reduzida e revelaramum betão de elevada resistência.O resultado do ensaio de tracção realizadosobre o provete metálico revelou um açocom rotura frágil e de baixo módulo de elas-ticidade.Os valores da espessura da laje da bacia deretenção, detectados através do ensaio deimpacto eco, foram inferiores aos valoresindicados no projecto, contudo não foramdetectadas descontinuidades importantesnas zonas ensaiadas.

Os resultados da medição da taxa de cor-rosão das armaduras em todas as zonas en-saiadas, indicam um nível de corrosão mui-to baixo, podendo-se considerar todas aszonas de ensaio como catódicas, contudo,na sua vizinhança, existem zonas em pro-cesso de corrosão acompanhadas de dela-minação do betão (anódicas). Tal situaçãosugere a ocorrência de “pilhas”.

Diagnóstico das anomaliasAs anomalias detectadas na face interior domuro da bacia de retenção são, designada-mente, corrosões de armaduras acompa-nhadas por delaminação de betão. Em al-gumas zonas com exposição de armaduras,verifica-se redução apreciável da sua secçãoresistente. De salientar ainda a ocorrênciade manchas de humidade associadas a zo-nas onde o betão apresenta segregação. Naface exterior do muro e laje da bacia de re-

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Museu da ElectricidadeDiagnóstico ao reservatóriode combustívelO reservatório do Museu da Electricidade foi construído em meados do século passado, com a fina-lidade de armazenar combustível (nafta ou fuelóleo) para alimentação das caldeiras da Central Tejo,localizada junto ao rio, em Belém. Integrado no projecto de renovação do museu, a Oz, Ld.ª desen-volveu um estudo sobre o seu estado de conservação.

Ensaio

Ensaios de rotura à compressão sobre carotesEnsaio de tracção sobre provete de açoEnsaios de impacto eco

Detecção de armaduras e medição do recobrimento com um pacómetro

Avaliação do risco de corrosão activa das armaduras através da medição de potenciais eléctricosDeterminação da profundidade da frente de carbonatação dos betõesDeterminação do teor de cloretos presente na massa do betão a diferentes profundidades

Objectivo

Determinação fiável da resistência actual dos betõesDeterminação da resistência do açoMedição da espessura da laje da bacia de retenção. Detecção de descontinuidades no interior da secção da lajeVerificação do cumprimento do projecto. Avaliação da durabilidade(corrosão de armaduras)Avaliação da durabilidade (corrosão de armaduras)

Avaliação da durabilidade (corrosão de armaduras)Avaliação da durabilidade (corrosão de armaduras)

QUADRO A

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tenção não foram detectadas anomalias im-portantes, durante a inspecção.O mecanismo de deterioração em curso es-tá associado à corrosão electroquímica dasarmaduras, sendo a origem deste processo,muito provavelmente, a despassivação re-sultante, principalmente, da migração dosagentes agressivos para o interior dassecções de betão, favorecida pela agressivi-dade do meio que rodeia a estrutura, pelaocorrência de algumas zonas onde o betãoapresenta segregação, e pela adopção dedisposições construtivas inadequadas, no-meadamente, falta de protecção superficiale insuficiente recobrimento das armaduras.A corrosão das armaduras é acompanhadade delaminação do betão nos pontos commenor espessura da camada de recobri-mento, conduzindo à perda de aderênciadas armaduras ao betão, com a consequen-te perda de resistência estrutural.

Proposta de intervençãoTorna-se importante aplicar medidas cor-rectivas com vista à solução das anomaliasdetectadas, destacando-se as seguintes:Selagem das zonas que apresentam infil-

trações com injecção de resinas de poliure-tano.Reparação das zonas delaminadas, consis-tindo no saneamento de todo o betão solto,tratamento e reposição das armaduras sem-pre que necessário e aplicação de argamas-sas de reparação pré-doseadas de retracçãocompensada, respeitando os recobrimen-tos regulamentares.Protecção das superfícies de betão expostascom pintura acrílica.

ConclusõesAreparação eficaz dos problemas dos edifí-cios e outras estruturas carece de um dia-gnóstico correcto, baseado em inspecções eensaios, a efectuar por empresas especialis-tas antes de se proceder a qualquer inter-venção de reabilitação.As anomalias relacionadas com corrosão dearmaduras e infiltrações, detectadas na es-trutura estudada, carecem de metodologiasespecíficas de reparação que, em geral, nãosão ainda bem conhecidas dos empreiteirosgeneralistas, mais familiarizados com aconstrução de obras novas. Deste modo, re-comenda-se que este tipo de intervenções

seja efectuado por empresas com curricu-lum na área da reabilitação.De salientar a importância da realização deinspecções periódicas aos edifícios e outrasestruturas, devendo estas estar inseridasem planos de manutenção especificamenteelaborados.Estas inspecções visam não só a garantia damanutenção das necessárias condições desegurança e de utilização dos edifícios e ou-tras estruturas como, também, alcançarsubstanciais economias em eventuais repa-rações que venham a ser necessárias.

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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TIAGO RIBEIRO,Engenheiro Civil, Oz, Ld.ª

Vista exterior do reservatório e bacia de retenção

Exemplo de uma das zonas de ensaios (conjunto de ensaios realizados numa mesma zona)

Amostras extraídas para ensaios de avaliação da resistência mecânica

Ecrã do computador, com o resultado do ensaio de impacto eco

Vista interior da bacia de retenção Corrosão de armaduras com delaminação de betão

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Tema de Capa

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Apesar da sua aparente simplicidade defuncionamento, os moinhos são um pro-dígio da tecnologia se considerarmos o ar-caísmo da sociedade pré-industrial queos criou. Em Portugal existiam em funcio-namento, desde a antiguidade até ao séc.XX, e sem contar com os sistemas primiti-vos de moagem (trituradores e mós ma-nuais), dois tipos básicos de moinhos: osde água e os de vento (1).Entre os moinhos accionados pela ener-gia da água em movimento, distinguem--se os de roda horizontal e os de roda ver-tical (só a estes se chamam azenhas), po-dendo os de roda horizontal ser de rodí-zio ou de rodete submerso e os de rodavertical ser de propulsão superior ou depropulsão média ou inferior. Entre osmoinhos de água, há os que utilizam aforça motriz da corrente dos rios e os queutilizam a força da maré vazante, em quea água provém de reservatórios (caldei-ras) que se enchem na maré alta e se esva-ziam na maré baixa. Quanto aos moinhos de vento, podemdistinguir-se os fixos, de torre (em queapenas o tejadilho é móvel) e os girató-rios, em que todo o edifício pode girar so-

bre duas rodas em torno de um eixoexcêntrico. Os moinhos fixos são cónicose geralmente construídos em alvenaria,tendo um mastro com velas cujo movi-mento rotativo se transmite por uma rodadentada (entrosga) ao carrete, sendo a ro-tação deste último que provoca o movi-mento das mós que trituram o cereal.O estudo dos moinhos, denominado mo-linologia – termo inventado por João Mi-guel Santos Simões (1907-1973) no iníciodos anos 1960 –, teve início em meados doséc. XX, numa altura em que estes co-meçaram a desaparecer para dar lugar àsmoagens industriais. Para promover oconhecimento dos moinhos e a sua pre-servação foi fundada, em 1964, a Asso-ciação Portuguesa dos Amigos dos Moi-nhos. Ao organizar o I Simpósio Interna-cional de Molinologia, no ano seguinteem Cascais, esta associação impulsionoua criação da Sociedade Internacional deMolinologia (TIMS – The InternationalMolinological Society). Portugal, emborafundador da TIMS em 1965, só 30 anos de-pois formou uma secção nacional, que es-te ano, de 25 de Setembro a 2 de Outubro,organizará o XI Simpósio Internacional

de Molinologia. A TIMS promove não sósimpósios quadrienais em países diferen-tes mas também viagens de estudo, aedição de uma revista científica semestral(International Molinology, desde 1974), apublicação de monografias, e fundou jáum arquivo internacional sobre moinhos(www.millarchive.org).

Notas:1 – Utilizámos a sistematização proposta por ErnestoVeiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pe-reira na incontornável obra Tecnologia Tradicional Por-tuguesa, Sistemas de Moagem, Instituto Nacional de In-vestigação Científica, Centro de Estudos de Etnolo-gia, Lisboa, 1983, p. 97 e 251.

Mais informações: [email protected] e www.timsmills.info

DIVULGAÇÃO

MIGUEL BRITO CORREIA, Arquitecto

Os moinhos são mecanismos de aproveitamento de energias naturais para trituração de cereais comvista ao fabrico de farinhas alimentares.

A energia dos moinhos

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DIVULGAÇÃO/RECORTES DE IMPRENSA

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No passado dia 18 de Dezembro, a Câmara Municipal de Lis-boa apresentou o livro Obras de conservação e restauro arquitec-tónico: condições técnicas especiais na Escola n.º 12, na Rua daRosa n.º 168 (Bairro Alto). Na cerimónia esteve presente o au-tor do livro, Christian Campanella, assim como o coordena-dor da edição portuguesa, João Mascarenhas Mateus, quecontou com a colaboração de uma qualificada equipa de es-pecialistas nacionais: João Appleton, Luís Aires Barros, VítorCóias e Silva, Teresa Nogueira Simões, entre outros.A edição portuguesa, publicada pela Câmara Municipal deLisboa, adaptada à terminologia técnica, normativa e legis-lativa, destina-se a servir de instrumento operativo nas obrasde reabilitação arquitectónica e urbana, constituindo umaobra de referência para uniformização de práticas e exigên-cia de qualidade. Entre outros temas, abrange o tratamentode superfícies pétreas, normas de medição e estruturas embetão armado, estruturas de alvenaria, metálicas e em ma-deira, fundações e tratamento de superfícies.O livro está direccionado para todos os operadores deste sec-tor, em particular, técnicos, administrações locais e empresasde construção e reabilitação, embora também possa servirum proprietário que se confronta com um problema de ma-nutenção do edifício.A oportunidade desta publicação enquadra-se nos objecti-vos prioritários de gestão da CML: valorizar as zonas histó-ricas da cidade, garantindo qualidade de vida dos lisboetas.Este livro está à venda no CIUL – Centro de Informação Ur-bana de Lisboa (Picoas Plaza), na Livraria Municipal (Av. daRepública) e na livraria e site do GECoRPA.

Preocupada em valorizaras zonas históricas da cida-de, a Câmara Municipal deLisboa lançou um livrosobre conservação e res-tauro arquitectónico quepoderá – e deverá – assu-

mir-se como uma obra de referência para todosaqueles que estão ligados a este tipo de obras.

Câmara Municipal de Lisboa

Conservar e restaurar com qualidade

PORTO COM PINTA: UMA OPERAÇÃO PLÁSTICA NA BAIXA DA CIDADE“No terreno há pouco mais de dois anos, o projecto Porto com Pinta já temobra feita no capítulo da recuperação de fachadas. A primeira fase doprojecto está praticamente concluída, a segunda começa agora a darresultados. A Garagem Passos Manuel, o Ateneu Comercial do Porto e asestátuas da Praça da Liberdade são alguns dos próximos beneficiáriosdesta intervenção. Recorrendo a um mecanismo pioneiro de parceriapúblico-privado – as intervenções são conduzidas e supervisionadas pelaAPOR mas financiadas, em partes desiguais, pelos proprietários e por umpatrocinador que recebe como contrapartida a possibilidade que instalargratuitamente uma tela publicitária no edifício em causa.”

In Público, 25 de Janeiro de 2004

ÓBIDOS: CÂMARA PREPARA CANDIDATURA À UNESCO“Dezenas de investigadores, que irão preparar a candidatura de Óbidos aPatrimónio Mundial, estão a ser contratados pela câmara municipal. Asequipas vão-se debruçar sobre a área de intervenção, que se centrará nocentro histórico da vila medieval, e dentro de um mês serão anunciados oscoordenadores do projecto.”

In Público, 23 de Janeiro de 2004

CASAS NOVAS SERÃO VENDIDAS COM MANUAL DE INSTRUÇÕES“É um bilhete de identidade e um manual de instruções ao mesmo tempo.O nome oficial é Ficha Técnica da Habitação e pretende reforçar os direitosdos consumidores à informação e à protecção dos seus interesseseconómicos, no acto em que, porventura, vão adquirir o seu bem maisdispendioso: a sua própria habitação.”

In Público, 23 de Janeiro de 2004

MUNICÍPIOS REABILITAM CENTROS URBANOS“O Governo já aprovou as regras de funcionamento das Sociedades deReabilitação Urbana (SRU), entidades que terão a cargo a requalificaçãodos centros urbanos, sobretudo das zonas históricas. Estas sociedadesserão detidas a cem por cento pelos municípios (podendo o Estado intervir‘excepcionalmente’) e os privados apenas serão chamados, por via deconcurso público, na fase de execução das obras.”

In Diário de Notícias, 20 de Janeiro de 2004

FUNDAÇÃO DA ZONA HISTÓRICA QUER RECUPERAR MAISIMÓVEIS“A Fundação de Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto (FDZHP)está a preparar um plano que visa a consolidação e recuperação deedifícios degradados e que deverá estar concluído no primeiro semestredeste ano.”

In Público, 20 de Janeiro de 2004

BANCO RECUPERA EDIFÍCIOS DEGRADADOS DO SALDANHA“Um conjunto de três edifícios há muito devolutos na Avenida FontesPereira de Melo, ao Saldanha, em Lisboa, vai ser transformado numcomplexo de escritórios que deverá estar concluído dentro de dois anos.(…) O projecto de recuperação, da autoria dos arquitectos Diogo LimaMayer e Rodrigo Vieira da Fonseca, do ateliê Intergaup, prevê amanutenção das fachadas, portões e varandas dos três edifícios que estãovirados para a avenida.”

In Jornal de Notícias, 20 de Janeiro de 2004

IPPAR INTERVÉM DE URGÊNCIA NO MOSTEIRO DE RENDUFE“Após vários avisos das autoridades locais, o IPPAR decidiu intervir noalçado Sul do Mosteiro de Santo André de Rendufe, concelho de Amares,que corre perigo de derrocada. Técnicos do IPPAR já estão no local apreparar uma intervenção para assegurar a estrutura.”

In Jornal de Notícias, 19 de Janeiro de 2004

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 2004

Por operação de “reabilitação urbanísti-ca” entende-se, para este efeito, nos ter-mos do n.º 3 do citado art.º 40º-Ado EBF, aexecução de obras destinadas a recuperare beneficiar uma construção, corrigindotodas as anomalias construtivas, funcio-nais, higiénicas e de segurança acumula-das, que permitam melhorar e adequar asua funcionalidade.A definição de obras de reabilitação urba-nística não é feliz, utilizando desde logo,cumulativa e indevidamente, os conceitosde “recuperar” e “beneficiar”, devendo-seo legislador ter quedado com o “recupe-rar”, para não gerar confusão com o con-ceito de “obra de beneficiação ou recreio”,que são as que não sendo de conservaçãodo imóvel, servem para embelezar ou, co-mo diz a lei, de recreio ao “benfeitor”(art.º216º, n.º 3 do Código Civil).Também não se trilhou o caminho mais correcto quando se abordou a eliminaçãode todas as anomalias, com vista a melho-rar a funcionalidade do imóvel. Mas,então, e a segurança do mesmo? Só inte-ressa a funcionalidade? Deixou-se de foraaquilo que mais deve preocupar a reabili-tação de qualidade: as “casas” são habita-das por pessoas e essas devem estar em se-gurança. Não chega que a casa fique boni-

ta, é necessário que a mesma seja segura.É que, se o que basta para ter o benefício émelhorar a funcionalidade, o legisladorquedou-se com a “reabilitação” cosméticae meramente funcional. Um exemplo dis-so será a criação de uma moderna cozinhae um quarto de banho num imóvel cente-nário, em que o “reabilitante”, para “ga-nhar” espaço para os executar, debilitou aestrutura do prédio ou, pura e simples-mente, não lhe mexeu, permanecendo amesma degradada pelo transcorrer dotempo. Trata-se, sem dúvida, de um ca-minho deveras perigoso. Espera-se, no entanto, que haja da partedas câmaras municipais e do Instituto Na-cional da Habitação – entidades chama-das a certificar a operação de reabilitaçãoque for levada a cabo – alguma exigênciapara além da mera funcionalidade dosedifícios.Excluídas da concessão deste benefício en-contram-se as “obras de conservação ounecessárias” que os proprietários são obri-gados a fazer de oito em oito anos, por for-ma a manter o prédio urbano nas devidascondições habitacionais, próximas dasoriginárias que motivaram a emissão dalicença de habitação.Fora do âmbito da isenção estão também,

como se depreende do que já atrás ficoudito, as “obras de beneficiação pura”, quevisam conferir ao imóvel melhores con-dições e até funcionalidade habitacional,mas sem que se possam considerar obrasde recuperação. Lembremo-nos que amens legislatoris foi a de incentivar a recu-peração de prédios degradados e não pro-mover a beneficiação de prédios recentes,desiderato que, bem vistas as coisas, aténem lhe ficaria mal. Não fosse a perda dereceita que tal provocaria ao erário públi-co, crê-se que o legislador teria ido nessesentido.Já se viu que, para obter o benefício fiscal énecessário que o prédio urbano em apreçoseja objecto de uma “obra de reabilitaçãourbanística”. Posto isto, cabe agora per-guntar, afinal, que benefícios fiscais foramcriados pela Reforma?Nos termos do n.º 1 do art.º 40º-A do EBFficam isentos de imposto municipal sobreimóveis (o novo IMI que substitui a extin-ta CA) pelo período de dois anos, os pré-dios urbanos objecto de reabilitação urba-nística. A isenção abrange o ano daemissão da respectiva licença camarária.Isto é, o prédio está isento de imposto mu-nicipal sobre imóveis (IMI) no ano em quea licença camarária relativa à obra seja

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A reforma da tributação do património inscrita no Decreto-Lei n.º 287/2003, de 12 de Novembro,introduziu algumas alterações ao Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF), aprovado pelo Decreto-Lein.º 215/89, de 01 de Julho, através do aditamento do art.º 40º-A, quando está em causa a aquisição deprédio urbano que venha a ser objecto de reabilitação urbanística.

Isenções fiscais em matéria de reabilitaçãourbana

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NOTÍCIAS

Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 200434

UNESCO

Um novo rumoDurante a XXXII Conferência Geral da UNESCO, em Outubro passado, a comunidade internacionaldeu o seu voto de confiança às orientações imprimidas pelo actual Director-Geral, o japonês KoichiroMatsuura. Começa a ser visível a política de reformas em curso, com a racionalização da “máquina” ad-

ministrativa e uma gestão financeira mais transparente, aliada à avaliação dos resultados da execução programática. Foi também es-ta a ocasião para o regresso dos EUA, o que permite à UNESCO não só uma maior “agilidade”, ao aumentar o seu orçamento para 610milhões de dólares, como reforça o seu carácter de agência multilateral universalista.Esta imagem renovada passa também em grande medida pelo reconhecimento da actualidade do mandato da organização, que con-firmou como pilares políticos da sua intervenção a luta contra o terrorismo e a erradicação da pobreza nas esferas que lhe são próprias– educação, ciência, cultura e comunicação. Estas prioridades configuram, simultaneamente, uma actuação em consonância com osgrandes objectivos de desenvolvimento sustentável perfilhados por todo o sistema das Nações Unidas e têm-se traduzido numa pre-sença no terreno em momentos críticos da agenda mundial, como o Afeganistão ou o Iraque.Outro aspecto marcante da actividade da UNESCO é a sua presença nos 190 Estados-membros através de uma produção normativaque, em boa hora, tem vindo a intensificar-se. Esta Conferência aprovou, entre outros instrumentos: a Convenção para a salvaguardado património imaterial; a Recomendação sobre a destruição intencional do património cultural; a Recomendação sobre o uso do mul-tilinguismo; e o acesso universal ao ciberespaço; a Carta do património digital: a Declaração sobre os dados genéticos humanos e asbases para uma futura Convenção sobre a diversidade cultural e uma outra contra a dopagem no desporto.Cabe agora aos Estados-membros corresponder às expectativas de mudança, demonstrando o seu empenho activo na consecução dosobjectivos definidos no programa que aprovaram para este biénio.

Manuela Galhardo, Comissão Nacional da Unesco

VIII Encontro Nacional de Municípios com Centro HistóricoO VIII Encontro Nacional de Municípios com Centro Histórico ocorreu nos dias 23, 24 e 25 de Outubro de 2003, na cidade Invicta. De-dicado à temática Centros Históricos e Planos de Ordenamento do Território, este encontro teve organização conjunta da AssociaçãoNacional de Municípios com Centro Histórico e da Câmara Municipal do Porto. O número de participantes ascendeu a 120, estando re-presentados muitos municípios, a DGEMN, o IPPAR, CCRs do Norte e Centro, Instituições do Ensino Superior e investigadores. No âmbito do tema central foram expostos os problemas associados à salvaguarda dos centros históricos e do ordenamento do ter-ritório. Das realidades apresentadas salientam-se: a incapacidade de gerir o espaço urbano face às pressões especulativas (cons-trução desenfreada); o despovoamento e desgaste dos centros históricos; a falta de estratégia comum resultante da desarticulaçãoentre os diversos sectores envolvidos; a incompreensão do centro histórico e da sua relação com o espaço urbano circundante e a pe-riferia. Face a este panorama foram apresentadas algumas estratégias de actuação, nomeadamente, o Sistema de Informação Geo-gráfica (SIG) e as suas múltiplas aplicações, as diversas metodologias de inventariação de centros históricos e sua gestão contínua, aactuação dos GTLs (pluridisciplinaridade), a regulamentação do corpus legislativo dos planos de salvaguarda e do património, co-mo formas de resolução destes problemas. Das conclusões extraídas sublinham-se a necessidade de recuperação do edificado em detrimento de novas construções; a im-portância dos centros históricos como factor de ordenamento e desenvolvimento do território, garantindo a fixação da populaçãoresidente e atraindo novos habitantes e o turismo de qualidade como garante da sua sustentabilidade e como estratégia para o seudesenvolvimento; o reforço da cooperação entre a administração central e poder local visando a recuperação dos centros históricos;a urgência na elaboração dos diplomas de desenvolvimento e de regulamentação da Lei do Património Cultural; a articulação dosplanos de reabilitação e salvaguarda e os diversos planos municipais de ordenamento do território. Ficou expressa, neste VIII En-contro, a forte determinação em criar mecanismos adequados de defesa dos centros históricos, respeitando a sua relação intrínsecacom a restante cidade e sua evolução.

Maria João Martinho, Paula Monteiro, Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

Formada na sequência do I Encontro Nacional de Municípios com Centro Histórico, de 5 a 8 de Dezembro de 1987, a Associação Portuguesa de Municípios com CentroHistórico (APMCH) foi oficialmente constituída em 22 de Julho de 1988. Tendo como fundadoras 16 autarquias, conta actualmente com 126 associadas, sendo a segundamaior associação de municípios no país. Promove regularmente encontros nacionais e um prémio de arquitectura, publica uma revista trimestral (a Centros Históricos) edinamiza a celebração do Dia Nacional dos Centros Históricos a 28 de Março. A Câmara de Trancoso assumiu a presidência da Direcção de 1988 a 1994, seguindo-se a deSantarém até 2002, e a de Lamego desde então.

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NOTÍCIAS

Baixa Pombalina candidata à Lista do Património MundialACâmara Municipal de Lisboa promoveu, nos dia 9 e 10 de Outubro de 2003, umasJornadas sobre a importância da Baixa Pombalina para o património mundial, comvista a debater as potencialidades da candidatura desta zona da cidade à prestigia-da lista da UNESCO. Do contributo de dez oradores convidados, ficou clara a ideia

do valor universal excepcional da Baixa lisboeta, mas também do vasto trabalho a desenvolver para reabilitar uma zona que tem vin-do a sofrer visível degradação nos últimos decénios, apesar de algumas tentativas (exemplares, mas pontuais) de recuperação. No en-cerramento das Jornadas, o Presidente da Câmara fez questão de salientar que, independentemente do resultado da candidatura, oExecutivo vai apostar na reabilitação da Baixa, um dos objectivos primordiais do seu mandato. Recorde-se que o GECoRPA organi-zou um encontro sobre a Baixa Pombalina, em Novembro de 2001.

Miguel Brito Correia, Arquitecto

Revista MONUMENTUM está disponível on-lineNa sequência de uma resolução do II Congresso de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos, realizado em Veneza em 1964,o ICOMOS editou, entre 1967 e 1984, uma revista científica sobre intervenção em património intitulada Monumentum. Sabendo quea maioria dos números estão há muito esgotados e que a qualidade dos seus cerca de 270 artigos lhes confere um interesse e até umacerta actualidade merecedora de maior divulgação, o Centro do Documentação do ICOMOS procedeu à digitalização de cada volu-me e à sua disponibilidade on-line no site www.international.icomos.org/monumentum.

Miguel Brito Correia, Arquitecto

Convento de CristoPatrimónio Mundial há 20 anosO Convento de Cristo completou, no passado dia 9 de Dezembro, 20 anos de classificação como Patri-mónio Mundial Cultural. As celebrações incluíram a inauguração de uma exposição de fotografia e da re-cuperação do funcionamento da fonte do claustro principal, uma palestra sobre a UNESCO e a diásporaportuguesa. O evento culminou na sessão solene de entrega do Certificado Património Mundial ao Con-vento de Cristo, na presença do director do Convento do Cristo, do Ministro da Cultura, dos presidentesdo Instituto Português do Património Arquitectónico e da Comissão Nacional da UNESCO.

Miguel Brito Correia, Arquitecto

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NOTÍCIAS

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Novo sistema de reforço estrutural com fibras de carbono pré-esforçadasA Stap S. A., especialista na área da reabilitação de construções existentes, assinou recentemente um protocolo de colaboração com aScherer & Partner, para ser o aplicador exclusivo em Portugal do novo sistema de reforço estrutural com fibras de carbono pré-es-forçadas. Até aqui, os laminados de PRF (plásticos reforçados com fibras) têm vindo a ser aplicados de modo a funcionarem apenascomo armaduras passivas. Neste novo sistema desenvolvido pela S&P, os laminados constituídos por plásticos reforçados com fibrasde carbono são tensionados utilizando equipamento específico. Deste modo, a eficácia do reforço é melhorada. O sistema foi recente-mente objecto de uma primeira aplicação, em colaboração com o Departamento de Engenharia Civil do IST.Foi mais um passo para a Stap, S. A. consolidar a sua posição como PME prestadora de serviços de elevada especialização, com recur-so a tecnologia inovadora. Esta empresa, aliás, dada a especificidade e diversidade das técnicas de intervenção que utiliza, dotou-se, há já alguns anos, de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), baseado nas normas ISO 9000, certificado.

RestauroVirtual

A Oz, Ld.ª iniciou, recentemente, a prestação de um novo serviço – restaurovirtual – que permite a reconstituição do aspecto original de objectos ou cons-truções que carecem de uma representação fidedigna, com fins científicos,didácticos ou informativos. O restauro virtual possibilita visionar tridimen-sionalmente, de forma realista, as construções do passado que, pela acção dosagentes ambientais ou de patologias diversas, perderam, parcialmente ou naquase totalidade, a sua geometria primitiva. Com amplas possibilidades, orestauro virtual permite apoiar as actividades inerentes à recuperação do patri-mónio arquitectónico e arqueológico, assumindo-se como um suporte docu-mental único de grande fidelidade e rigor técnico que contribui, de formadecisiva, para uma compreensão mais profunda do contexto actual e do pas-sado histórico. Trata-se de um avançado e versátil meio de representação, doqual fica aqui o exemplo do corpo principal da igreja do Mosteiro dosJerónimos / da estrutura da Gaiola Pombalina, a resposta técnica para o com-bate anti-sísmico com que os edifícios da Baixa foram dotados após o terra-moto de 1755.

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Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 2004

AGENDA

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6.º Fórum Internacional de Urbanismo Organização: URBE – Núcleos Urbanos de Pesquisa e Intervenção

Programa: · Conferência “Metodologias e Estratégias de Intervenção emReabilitação de Edifícios” – 3 e 4 de Abril Auditório da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Re-gional do Algarve, Faro

• Seminário “Gestão e Monitorização da Obra de Reabilitação” – 12 e 13 de Maio. Palácio Nacional de Sintra • Conferência “Ambiente Urbano” – 21 de Junho. Auditório da Sede Nacional da Ordem dos Arquitectos.

Informações: URBE – Núcleos Urbanos de Pesquisa e Intervenção, Rua Conde Redondo, 117-3.º, 1150-104 LisboaTel.: 213 154 276 / Fax: 213 300 495 / E-mail: [email protected]

9.º Conferência Internacional Cidades e Portos

“Modernidade e Identidade dasCidades Portuárias” Organização: Associação Internacional Cidades ePortos (AICP/IACP), em parceria com Área Metro-

politana de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Administração do Porto de LisboaData: 5 a 9 de Julho 2004

Modernidade e Identidade são factores determinantes para o desenvolvimento das ci-dades portuárias no mundo inteiro. Aexigência de modernidade deve assentar na iden-tidade histórica das cidades portuárias. Avalorização do património urbano-portuário,por vezes excepcional, ocupa um lugar de relevo na salvaguarda dessa identidade. En-tre modernidade e identidade, o diálogo cidade-porto é cada vez mais necessário naformulação dos projectos urbanísticos.Temas: Competitividade portuária, modernidade urbana.

Desafios da valorização do património portuário.Que populações para que tipos de habitat, na cidade portuária global?

Informações: Área Metropolitana de Lisboa, Rua Carlos Mayer, n.º 2 - r/c – 1700-102 LisboaTel.: 218 428 570 / Fax: 218 428 577 / N.º Azul: 808 201 952 (custo de chamada local)E-mail: [email protected] / Website: www.aml.pt

Prémio do Património Cultural da União EuropeiaConcurso Europa Nostra 2004

Aassociação Europa Nostra anunciou a abertura de candidaturas para o Prémio do Patri-mónio Cultural da União Europeia/Concurso Europa Nostra 2004, que terminará em 15de Setembro de 2004.As realizações excepcionais no âmbito patrimonial serão recompensadas com seis prémios novalor de 10 000 €cada, e também com medalhas e diplomas dentro das seguintes categorias:• um projecto de restauro excepcional nos domínios do património arquitectónico, paisa-gens culturais, colecções de obras de arte e ou sítios arqueológicos; • um estudo excepcional no domínio do património cultural;• uma contribuição exemplar para a preservação do património por indivíduos ou grupos.Os formulários de candidatura estarão disponíveis a partir de 1 de Março de 2004 no siteda Europa Nostra.

Informações: Laurie Neale, Coordenadora do Prémio do PatrimónioTel.: 317 0 302 4052 / E-mail: [email protected]: www.europanostra.org/lang_en/0260_activities_eu_awards_call_2004.html

X Congresso Internacional sobre a Deterioração e a Conservação da PedraICOMOS 27 Junho a 2 Julho, Estocolmo, Suécia

Como suplemento das apresentaçõescientíficas, alguns oradores convida-dos irão fazer o ponto de situação dealgumas disciplinas específicas. Work-shops irão permitir que conservadores,arquitectos, estudantes e pessoas compoder de decisão discutam assuntosprioritários e implementem teoriascientíficas. Uma discussão de mesa-re-donda irá focar a cooperação entre vá-rias profissões do processo de conser-vação.

Informações: Stockholm Convention Bureau“STONE 2004” P O Box 6911 SE-102 39 Stockholm, Sweden Tel:+46 8 5465 1500Fax: +46 8 5465 1599E-mail: [email protected] Website: www.stocon.se/stone2004

Conferência Científica Internacional “Carta de Veneza 1964-2004-2044?”

22 a 28 de Maio de 2004, Budapeste ePécs (Hungria)

Organizada pela Comissão NacionalHúngara do ICOMOS para celebrar os40 anos da Carta Internacional sobre aConservação e o Restauro de Monu-mentos e Sítios e debater a sua actuali-dade.

Informações: Tel./Fax: 0036 1212 7615 E-mail: [email protected]

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VIDAASSOCIATIVA

3RCONSTRUA: Protocolode cooperação entre oGECoRPAe a ExponorNo passado dia 7 de Janeiro, o GECoRPAe a Ex-ponor assinaram um protocolo de cooperaçãotendo em vista a organização do 1.º Salão Inter-nacional de Restauro, Requalificação e Reabili-tação do Património Construído, que se deno-minará 3RCONSTRUA. Pela primeira vez emPortugal, irá assim realizar-se um salão baliza-do pelos três eixos fundamentais, ou 3 R’s, dorestauro, requalificação e reabilitação.A 3RCONSTRUA integrar-se-á, como sub-salão, no âmbito da CONCRETA, possibilitan-do uma divulgação maximizada dos valorespatrimoniais que o GECoRPA tem como objec-tivo fundamental transmitir. Este salão insere--se, assim, num projecto ambicioso e ímpar a ní-vel nacional, que se traduz na existência em si-multâneo no Europarque e na Exponor de even-tos direccionados para o sector da construção eobras públicas. Será por isso um evento inova-dor e necessário, integrando não só a habitualfunção expositiva, mas também a acção forma-tiva com um seminário internacional. A data da realização está prevista para 27 a 31de Outubro. Poderão expor empresas, asso-ciações, instituições públicas e privadas, revis-tas do sector da conservação, restauro, requali-ficação e reabilitação, sendo que os associadosGECoRPA beneficiarão de condições especiaisde participação.

GECoRPApropõe colaboração à Direcção Geral do Património

Em Novembro passado, o GECoRPAsolicitou uma reunião com a Direcção Geral doPatrimónio tendo em vista explorar e analisar as possibilidades de colaboração entreas duas entidades, no domínio da reabilitação do edificado.Considerando que a iniciativa se justificava pelo facto de a DGP ser detentora de umextenso parque edificado pertencente à administração central, grande parte dele a ne-cessitar de intervenções de reabilitação, o GECoRPA admitiu que se pudessem utili-zar unidades desse parque para pôr em prática projectos-piloto em áreas específicasda reabilitação, através dos quais pudesse ser recolhida informação quanto à viabili-dade de programas de maior fôlego.Durante a entrevista com o Sr. Dr. Francisco Ramalho, Director-Geral do Património,em 3 de Dezembro, o presidente do GECoRPApropôs duas áreas concretas onde po-deria ter lugar uma colaboração em tais moldes: a reabilitação sísmica e a reabilitaçãodita filogénica, isto é, respeitadora das origens do edifício. Em qualquer uma destasáreas, há uma necessidade urgente de se avançar com projectos de demonstração quepossam fornecer informações e servir de exemplo, quer para outras entidades esta-tais, nomeadamente as autarquias, quer para os promotores privados.Em relação à reabilitação sísmica, a proposta do GECoRPA inscreve-se nos esforçosque esta associação tem vindo a desenvolver desde 2001, com a apresentação do Pla-no Nacional para a Redução da Vulnerabilidade Sísmica do Edificado, em colabo-ração com a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica. Quanto à reabilitação filo-génica, justifica-se pela necessidade de divulgação dos princípios e métodos a que sepode recorrer se se pretender que os edifícios de valor histórico não sejam irremedia-velmente desvalorizados através de intervenções de reabilitação demasiadamenteduras e intrusivas.Numa altura em que se anunciam programas de reabilitação de grande amplitude,para o decrépito mas valioso património edificado nacional, o GECoRPAconsiderouoportuno lançar projectos-piloto para divulgar os critérios, metodologias e técnicasque permitam que: as intervenções de reabilitação não sejam meramente cosméticas,mas incluam melhorias ao nível estrutural que se traduzam numa redução da vulne-rabilidade sísmica dos edifícios; os edifícios com valor histórico não sejam desvalori-zados por intervenções demasiadamente “pesadas” e insensíveis, logo atentatóriasdo seu valor enquanto património arquitectónico.

Novos associados GECoRPANo passado mês de Dezembro, o GECoRPAcontou com dois novos associados: Sofran-da, S. A. e Tintas Robbialac, S. A.A Sofranda, S. A. integra-se no ‘Grupo III – Execução dos trabalhos, empreiteiros e sub-empreiteiros’, actuando na área de Construção Civil e Obras Públicas e tendo como umdos seus principais objectivos a reabilitação do património construído protegido. Nesseâmbito, a Sofranda já realizou várias intervenções em obras públicas e particulares, dasquais se destacam as obras relativas ao “Programa de Instalação do Museu Vinho do Por-to”. Esta intervenção passou pela reabilitação geral do interior do espaço, com a recupe-ração de arcadas, abóbadas de tijolo e cantarias e a dotação de infra-estruturas necessá-rias ao funcionamento do Museu. Por sua vez, integrada no ‘Grupo IV – Fabrico e/ou distribuição de produtos e materiais’,a Robbialac, S. A. apresenta uma gama completa de produtos para a renovação de edifí-cios históricos e antigos, e para a pintura e repintura de edifícios recentes, com excepcio-nal resistência aos álcalis e aos agentes atmosféricos. A gama Robbialac para aplicaçãoem fachadas é composta pelos produtos: Armadura A, tinta de solventes baseada em re-sinas de pliolite de acabamento acetinado; Armadura M, tinta de solventes baseada emresinas de pliolite, de acabamento mate; Siloxan, tinta aquosa baseada em resinas siloxâ-nicas de acabamento mate; Antique Silikat, revestimento inorgânico aquoso baseado emresinas de silicato de potássio, de acabamento mate, e ainda o Neutralizador de óxidosde paredes e o Limpador de pedras.

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

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Já em 1713 Rafael Bluteau, no seu Vocabulá-rio Português-Latino, estipulou que o “con-tador de gavetas” era aquele “móvel emque se poem papéis de contas ou qualqueroutra cousa”.O contador será talvez a peça mais emble-mática e representativa do mobiliário in-do-português, dadas as suas raízes nacio-nais e o requinte do tratamento decorativode que se revestiu nas paragens orientais.Esta variante estilística surgiu a partir daencomenda aos artífices indianos, aquan-do do estabelecimento dos portugueses nacosta Oeste da península do Indostão a par-tir de 1498. A encomenda portuguesa demobiliário pautou-se, primeiramente, pe-las necessidades do quotidiano e rapida-mente culminou numa indústria de luxoque servia desejos de ostentação e de apro-priação do exótico por parte dos reinóis. Foium verdadeiro processo de “osmose estéti-ca”, onde a forma do contador reinterpre-tou os modelos originais europeus e a de-coração e os materiais ficaram à responsa-bilidade dos artífices indianos (1). Uma artehíbrida materializou-se, “produto refina-do de uma sociedade luso-oriental verda-deiramente integrada”(2).Deste modo, derivando dos modelos euro-peus, o contador indo-português reinter-preta as formas e a funcionalidade propos-tas pelos famosos contadores alemães(Schränke) e pelos bargueños espanhóis efaz-se difundir na metrópole a partir do séc.

XVI. Assim, distingue-se quer das suas raí-zes estrangeiras quer da tipologia paralelado escritório, por ostentar as gavetas à vis-ta, aparentemente iguais no tamanho e de-coradas com escudetes e espelhos de fecha-dura trabalhados em metal, e pela ausênciado batente que servia à escrita característi-co do bargueño e do escritório. Ao nível es-trutural, o contador foi perdendo a sua au-tonomia, a sua característica eminente-mente “móvel”, ao ganhar maiores di-mensões e uma trempe para se apoiar. Daíque o tardoz não receba decoração e asgualdras permaneçam para lembrar o pri-meiroestatuto desta tipologia. Adecoraçãode embutidos, as esculturas das trempes eo uso de guarnições de metal – as placas detambaca recortadas – distinguiram estaspeças de mobiliário, como outras, num vi-sual exótico que muito agradou o gosto dosreinóis e dos continentais, que as ostenta-vam como sinal de distinção social nas zo-nas nobres das suas casas, cobrindo-as depratas e de porcelanas da China. Esta estética influenciou a produção subse-quente do mobiliário feito em Portugal: ogosto pelas madeiras exóticas, nomeada-mente o pau-preto; o tirar partido estéticoda conjugação de madeiras de diferentestonalidades (nomeadamente no mobiliáriodito indo-açoriano); a preferência peloscontrastes da madeira escura com as placasmetálicas vazadas. Estes são vectores quevão destacar o nosso mobiliário do início

do séc. XVII no âmbito da produção euro-peia de mobiliário. Historiadores de reno-me internacional, como Robert Smith, con-cluem que os contadores seiscentistas, mar-cados que estão pela experiência colonial,foram uma das mais importantes contri-buições portuguesas para a história do mo-biliário de luxo europeu.Estas peças constituem assim um patri-mónio admirável, que é testemunho dahistória mais fecunda de Portugal, a verno Museu Nacional de Arte Antiga, Fun-dação Ricardo Espírito Santo e Silva, Palá-cio Nacional da Ajuda, Palácio de Belém,Fundação Medeiros e Almeida, Paço deSintra e Palácio dos Duques de Bragançaem Vila Viçosa.

Notas:1 – No que diz respeito à sua produção, desde o séc.XVI ao XVIII, a circulação de peças, de formas e de ar-tistas dificulta a determinação específica dos locais deexecução e até mesmo dos seus autores: na Índia ouem Portugal, o mobiliário é feito por artífices indianosou por artesãos portugueses indianizados.2 – R. Moreira, A. Curvelo, “A circulação das formas.Artes portáteis, arquitectura e urbanismo”, in Históriada Expansão Portuguesa, dir. Francisco Bethencourt eKirti Chauduri, Vol. II, Lisboa: Círculo de Leitores,1998, p. 354.

Bibliografia sumária: Obras de Maria Helena Mendes Pinto (1980, 1983,1991, 1999), Maria Helena de Cagigal e Silva (1950,1966) e Bernardo Ferrão (1990).

CÁTIA MARQUES, Historiadora da Arte, Assessora deDirecção do GECoRPA

Contador indo-português com excelentes marchetadosde sissó e marfim sobre teca, e, na trempe, esculturas derequintada execução (Garudas); Séc. XVII; MuseuNacional de Arte Antiga

Contadores Indo-Portugueses Um luxo asiático para português ver

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO

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Tema de Capa

Hoje vimos este mundo à distância física,porque já não se envolve com os nossosdias. Foi todo arrumado nos polígonos ezonas industriais, e a maior distância dasnossas vidas porque os nossos conhecidosjá não trabalham aí, trabalham em qual-quer outro serviço comercial ou terciáriomais perto de nós.A arrumação e especialização da cidadesectorizou o nosso olhar, deixando em se-parado mundos e coisas que na nossa vidanão se separam, como os chamados Cen-tros Históricos, as Zonas Industriais ou asÁreas Residenciais.Outras alternativas existem que não segre-guem o Centro Histórico para lugares em-balsamados de beleza fria, nem as ZonasIndustriais a lugares marginais sem vida,onde se esconde e arruma o feio poluente. Importa pois fixar a ideia de que a cidadeactual deve ser a resposta plural, sem com-plexos, aos diversos problemas que seapresentam. Esta cidade “genérica”, ondenão existe periferia, pode construir-se pordiferença com a cidade “arrumada”, “es-pecializada” e reservada para a represen-tação “monumental”.

Fábrica de Gás da MatinhaA Fábrica de Gás da Matinha representamuito ainda da importância que teve paraa cidade de Lisboa como fornecedora devida.Os anos 40 (séc. XX) – do regresso ao rio e àmonumentalidade de Belém (exposição doMundo Português) – associados ao singu-lar período de planeamento da cidade(Duarte Pacheco/Etienne de Groer), pro-jectaram a localização da nova indústria deprodução de gás de água carburatada paraum lugar mais especializado a oriente. O gás natural e a Expo’98 acabariam porconfigurar o seu destino: o encerramento ea centralidade.Este conjunto, do qual se destacam os “mo-numentais” gasómetros e o singular edifí-cio da fábrica de gás de água carburatada,revela ainda uma possibilidade de leituraglobal do ciclo de fabrico, única em Lisboa,para além do seu valor escultórico de gran-de alcance na paisagem urbana da cidade.Este lugar apresenta-se assim com umadualidade de valores inequívocos: a capa-cidade evocativa e de representação e a ex-traordinária disponibilidade de transfor-

mação profunda, podendo acolher progra-mas complexos e de grande densidade. Os índices de contaminação do subsolo im-plicam trabalhos de grande exigência técni-ca e financeira, sobretudo mantendo in situo essencial das estruturas mais representa-tivas e genuínas deste conjunto. Nada quenão seja já conhecido de outras realizações,algumas delas com enorme sucesso, reali-zadas recentemente na Europa.

Quando os dias de Lisboa ficaram maioresÉ verdade que já vinham ficando maiores,mas a Fábrica de Gás da Matinha contri-buiu decididamente para uma nova vivên-cia da cidade, significando hoje o único re-gisto vivo da fábrica desses dias. Com oabastecimento de gás, as vidas domésticase a vida pública da cidade ganharamvivências novas.Nunca é demais recordar que há “emo-ções” e experiências culturais que só a ci-dade capital pode promover. Seria umexercício interessante, e talvez mobiliza-dor e sinalizador para o país, concertar ovalor de memória e de progresso deste lu-gar com a localização criteriosa de diver-

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O património industrial como energia criativa da cidadeFumo Negro, Fumo BrancoNa cidade industrial sempre balançámos entre a repulsa das fábricas, do fumo negro, da poluição,do ruído, da periferia e a atracção dos seus mecanismos, do seu interesse económico e do seu valorenquanto “fábrica” social. É certo que este mundo nos foi apresentado, por vezes, de forma misera-bilista, mas deixou marcas e criou alavancas que hoje se reflectem nos avanços sociais.

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOTema de Capa

sas valências programáticas. Valências nocampo da investigação científica, ambien-te, energias alternativas, novas tecnolo-gias da cidade como a infra-estruturaçãourbana, articulando sempre de uma for-ma equilibrada outros programas maisconvencionais como a musealização e ahabitação de rendas diversas.Temos hoje um território e uma cidadebem diferente, cem por cento urbana, emque se impõe a “reciclagem” e não a urba-nização. A cidade perdeu habitantes, ter-ciarizou-se, afunilou-se como objecto de

consumo e fruição, perdeu portanto valor.Avida da cidade já não depende do gás queamplia os dias; a sociedade da informaçãoamplia-nos os dias e as noites; as funçõesde dia e de noite começam a esbater-se; avelocidade na substituição/reciclagem departes da cidade impõe-se; pelo que seimpõe também saber guardar “tempos” di-ferentes da cidade, memórias, experiências(que não apenas os monumentos ou a re-dutora presença de uma qualquer peça desinalização simbólica apropriada). Sem es-tes não existe continuidade, diferença e li-

berdade mas sim vulgaridade. É esta aenergia dos nossos tempos e é com toda acidade que se fabrica.Tal como o gás e a electricidade – que emmuito projectou a arquitectura e a cidade –a cultura, os sítios, o património, as artes,as ciências, apresentam-se hoje para as ci-dades, a par das novas tecnologias do co-nhecimento global, como as fábricas da suagrande energia criativa.

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MANUEL LAPÃO, Arquitecto

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PERFIL DE EMPRESA

Fundada em 4 de Agosto de 1937, a Construtora Vila Franca começou por dedicar-se essencialmente à execução de trabalhos em car-pintaria mecânica. Após os primeiros anos, alargou gradualmente o seu âmbito de actuação ao sector da construção civil e obras pú-blicas, passando a carpintaria a funcionar como oficina de apoio.Durante mais de 50 anos, os sócios fundadores orientaram os destinos da empresa conferindo-lhe a uma imagem de seriedade e soli-dez. A partir de Novembro de 1989, os dois novos sócios gerentes – ligados ao sector há mais de 20 anos – imprimiram-lhe um novodinamismo e um elevado nível de competência, fruto da sua reconhecida capacidade de gestão e do esforço de investimento realiza-do no incremento e modernização tecnológica do parque de equipamentos.No final de 1999, a empresa construiu um edifício de escritórios, onde centralizou os seus serviços comerciais e técnicos.A Construtora Vila Franca tem vindo a desenvolver a sua actividade de forma sustentada, mantendo um forte ritmo de crescimentodo volume de negócios, consubstanciado na elevada qualidade dos serviços prestados, no alargamento e fidelização da sua carteirade clientes e no esforço de investimento realizado.

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OPINIÃO

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Talvez pouca gente saiba que, nos anos 50,metade do BairroAlto de Lisboa esteve pa-ra ser demolido e rasgado por uma aveni-da que ligaria o Largo Luís de Camões aoPríncipe Real, com prédios novos de um la-do e de outro. Ou que, pela mesma altura, aRibeira-Barredo, no Porto, esteve para serdesmantelada e substituída por novos pré-dios e parques de estacionamento. Paraconvencer os mais incrédulos, vejam-se asfiguras 1 e 2. Felizmente, alguém teve obom senso de despoletar um processo quenos deixaria todos – nós e as futuras ge-rações – irremediavelmente mais pobres.Outros desastres do género não foram tra-vados a tempo, como a demolição do for-te da Junqueira, que existia no local ondehoje estão os pavilhões da FIL, a demo-lição do Palácio de Cristal do Porto, ondehoje está uma alforreca de betão armadoque lhe roubou o nome, ou a destruição demetade da Alta de Coimbra, tecido medie-

vo e renascentista dos mais valiosos dopaís, demolido para fazer a cidade univer-sitária salazarista (1).Infelizmente, ainda existe e prevalece essaescola de “arquitectos-estrela”, que estãoconvencidos que são “pioneiros em terrade conquista” e que vivem num territóriovirgem, onde tudo está por construir (2).A cidade é vista, por eles, como a simplessobreposição de sucessivas modificações eactualizações, pelo que entendem quetambém eles, hoje, têm o direito (ou amissão) de deixar a sua “marca”. Foi as-sim, mas já não é. Hoje sabemos que a ci-dade do passado é mais do que um sim-ples pano de fundo para a celebração daarquitectura do presente. Precisamos, porisso, de uma nova arquitectura, subordi-nada ao existente, mais respeitosa e atentaao tecido urbano pré-existente. Não porrazões meramente sentimentais ou saudo-sistas, mas por razões perfeitamente objec-

tivas e pragmáticas: se queremos que Por-tugal seja um país de turismo, teremos desalvaguardar o nosso património natural ecultural. Ninguém cá virá para ver gran-des avenidas ou torres de betão e vidro.O Estado Novo e os seus “Speer” perten-cem ao passado, mas o risco continua omesmo: se se juntar a ambição desmedidade um promotor imobiliário com a insen-sibilidade iconoclasta de um “arquitecto--estrela”, e com a permissividade populis-ta de um autarca continuam-se a ter todosos ingredientes de uma mistura explosi-va, altamente perigosa para a cidade his-tórica.

Notas:1 – José Aguiar; 2 – Cesare Feiffer.

V. CÓIAS E SILVA, Eng.º Civil, Presidente do GECoRPA

Erros que não passaram do papel ou os perigos dos “arquitectos-estrela”

Figura 1 – Projecto de demolição parcial do Bairro Alto, Lisboa, 1952

Figura 2 – Projecto de demolição total e construção nova da Ribeira- Barredo, Porto, 1954

Ao longo das últimas décadas, as cidades foram alvo de inúmeros projectos que ameaçaram desca-racterizá-las e destruir o seu património histórico e cultural. Alguns deles concretizaram-se, outros– felizmente – foram travados a tempo.

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CONSULTÓRIO GECoRPA

(1) CARLOS MESQUITA, nascido em 1968, engenheiro civil, ramo deestruturas, pelo Instituto Superior Técnico (IST), desenvolveu activida-de de projectista no IST, e no Gabinete de Engenharia de Novas Infra-es-truturas do Exército, entre outras entidades. Desenvolve actividadedesde 1994 na OZ, Ld.ª, onde exerce funções de Director Técnico, naárea de diagnóstico, levantamento e controlo de Qualidade em estrutu-

ras e fundações. Tem várias obras publicadas na área de inspecção, ensaio e diagnós-tico para reabilitação estrutural.

(2) VÍTOR CÓIAS E SILVA, nascido em 1943, engenheiro civil pelo IST,dedica-se à área da reabilitação de edifícios e outras construções há maisde vinte anos. Foi inicialmente funcionário do LNEC, docente universi-tário, e trabalhou, depois, durante vários anos, como projectista. Fundouum conjunto de empresas que operam na área da reabilitação, desde odiagnóstico das anomalias até à intervenção em obra. Promoveu, há al-

guns anos, a criação do GECoRPA e, no âmbito desta, a Pedra & Cal. É autor de váriaspublicações das suas áreas de especialização.

(3) PAULO LUDGERO DE CASTRO, nascido em 1962, licenciado emGestão, frequentou vários seminários e ministrou cursos de conserva-ção e restauro com o apoio do Instituto Português do Património Cul-tural. Constituiu em 1989 a firma CRERE, Ld.ª, que mais tarde se asso-cia à A. Ludgero Castro, Ld.ª, criando assim um grupo especializado nomercado de restauro e conservação de edifícios com destaque na área

dos estuques e pinturas decorativas. Desde então exerce a direcção e a coordenaçãode todas as obras de Conservação e Restauro da empresa, bem como se tornou o im-pulsionador da sua certificação na área de restauro de gessos e estuques ornamentais.

(4) MARIA AMÉLIA DIONÍSIO, nascida em 1970, engenheira de minaspelo IST, é Professora Auxiliar no mesmo Instituto. Doutorou-se em2002 no IST com o estudo “Degradação da pedra em edifícios históricos:o caso da Sé de Lisboa”.Tem participado em vários estudos de conservação de rochas de monu-mentos portugueses dos quais se destaca a Sé de Lisboa, o Altar-Mor doMosteiro dos Jerónimos, o Teatro Romano de Lisboa, a Porta Especiosa e

o Hospital Termal das Caldas da Rainha.É professora de alguns cursos de mestrado em Conservação e Restauro e participouem 2002, no curso financiado pela União Europeia “Science and Technology of the En-vironment for Sustainable Protection of Cultural Heritage”.

O GECoRPA constituiu um grupo técnico de apoio para tentar responder a questões práticas quesurjam durante as diferentes fases do trabalho de conservação do património e da reabilitação doedificado.

Envie as suas questões para:

Consultório GECoRPARua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º1050-170 Lisboa

[email protected]: 213 157 996

Nota: As respostas serão enviadas directa-mente via e-mail, e também posteriormen-te publicadas na Pedra & Cal e no site.

Este grupo de apoio é constituído pelosEngenheiros Carlos Mesquita (1), da OZ,Ld.ª (área de diagnóstico), Vítor Cóias eSilva(2), do GECoRPA (área estrutural),Paulo Ludgero Castro(3), da A. LudgeroCastro, Ld.ª (área de gessos e estuquesornamentais) e Maria Amélia Dioní-sio(4), do Instituto Superior Técnico(IST), para questões relacionadas com apedra. Estes especialistas responderãoàs questões que os nossos leitores en-contrem nas diversas fases de um tra-balho de conservação e reabilitação dopatrimónio arquitectónico e das cons-truções antigas, dando o seu parecer econcorrendo, assim, para a boa práticada actividade. Para outras questões quenão estejam directamente relacionadascom estas áreas, o GECoRPA encarre-gar-se-á, dentro do possível, de procu-rar o especialista indicado para respon-der aos nossos leitores.

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Esta era a fonte de energia reciclável queacordava todas as manhãs renovada paratrabalhar, a que Toffler chamou “bateriasvivas”. Tudo mudou com o aparecimentoda máquina a vapor quando os combustí-veis fósseis passaram a constituir a baseenergética das sociedades industriais. Con-tudo, não deixa de ser interessante que aunidade de potência introduzida por Ja-mes Watt (1736-1819), precisamente o in-ventor da máquina a vapor, seja definidapor cavalo-potência (horsepower) – equi-valente a 745,7 watts – e cavalo-vapor (cv),equivalente a 735,5 watts (2). Lembrei-medesta questão a propósito do conversor his-tórico de energia, que em breve estará dis-ponível no novo site www.historia-ener-gia.com e sobre o qual estou muito curioso.Este site é o resultado de um notável traba-lho de pesquisa sobre a produção, distri-buição e consumo de electricidade em Por-tugal (1890-1973), por iniciativa do Centrode Estudos de História ContemporâneaPortuguesa, do ISCTE, contando com 11 in-vestigadores, sob a direcção do Dr. NunoLuís Madureira. O site encontra-se muitobem desenvolvido, com um grafismo cui-dado e agradável, fácil navegação (dispo-nível também em espanhol e inglês) e apre-senta muita informação sob a forma de ar-tigos, documentação, livros e uma excelen-te listagem de links bastante interessantes.Apesar do seu carácter académico, a infor-mação é destinada a vários públicos (entreoutras coisas, possui palavras cruzadascom a energia como tema de fundo). Im-

porta destacar o exemplo que este trabalhorepresenta quanto à qualidade do trabalhoacadémico desenvolvido por universida-des portuguesas, bem como a sua disponi-bilização pública através do site. Parabéns!Por defeito de formação, associo o tema dahistória da energia ao património indus-trial (assunto que justificaria por si um ar-tigo específico) e, deste modo, chamo aquia atenção para as antigas centrais eléctri-cas, edifícios extraordinários que hoje co-nhecem uma nova valorização, caso daCentral Eléctrica em Lisboa (ver Pedra &Cal n.º 18, e-pedra e cal) ou da Tate Modernem Londres.Em www.tate.org.uk/modern/buildingpoderá conhecer a história da Bankside Po-wer Station desde a sua construção (1947-63), segundo projecto de Sir Giles GilbertScott, até ao fecho das instalações em 1981e a posterior adaptação (1995-2000) da ga-leria de exposições (Tate Modern) pela du-pla de arquitectos suíços Herzog & deMeuron. Neste site poderá conhecer os ar-quitectos, a construção, o financiamento, aenvolvente e ainda visualizar uma des-lumbrante panorâmica a 360º de Londresvista do topo do edifício. Destaco ainda ofacto de Sir Giles Gilbert Scott (para mim,um dos mais interessantes arquitectos in-gleses), autor de obras como a Catedral deLiverpool e das famosas cabines telefóni-cas encarnadas, ter desenhado tambémoutra conhecida central eléctrica: a Batter-sea Power Station, para consulta emwww.thepowerstation.co.uk, um edifício

de impressionante volumetria devido àssuas quatro chaminés, construído entre1933-53 e encerrado em 1982.Se o leitor é daqueles que relaciona energiacom EDPe pensa logo naquelas acções quecomprou nas privatizações então o sitewww.caldeiraodebolsa.com, permite-lheestar atento aos seus investimentos de mo-do descontraído e com algum humor. Paraoutros menos ligados a questões terrenas,aconselho uma visita ao site www.geoci-ties.com/thekidojo onde poderá conhecero conceito do Chi (chinês) ou Ki (japonês),representando a energia existente dentrode nós, manifestação do nosso espírito queemana de um ponto no nosso corpo cha-mado Tan Tien (chinês) ou Hara (japonês)localizado dois centímetros abaixo do um-bigo. Aqui se considera estar o centro daalma, do espírito, do poder e ponto deequilíbrio do corpo humano, como tãobem compreendeu Leonardo Da Vinci noseu famoso desenho Vitruvian Man (1513),a visitar em www.aiwaz.net/Leonardo/vitruvianman.

Notas:1 – Alvin Toffler, A Terceira Vaga, Ed. Presença, Lisboa,1980, p. 292 – Enciclopédia Ilustrada de Ciência e Tecnologia, Ed. Ver-bo, Lisboa, 1983, pp. 139, 579 e 725

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO,Arquitecto, Mestre em Conservação do Património (York). Actualmente, desenvolve o Doutoramento no IST,enquanto bolseiro da FCT

A quantos kiloWatts equivale um boi?“Calcula-se que por alturas da Revolução Francesa, a Europa ia buscar energia a 14 milhões de cavalose 24 milhões de bois.”(1)

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LIVRARIA

Direito do Património Cultural

AlmedinaJosé Casalta NabaisSusana Tavares da SilvaAqui se apresenta uma muito actual compilação de legislação relativa ao direito do património cultural.Com a qual se pretende reunir a legislação básica, bastante dispersa e diversificada, que disciplina esteimportante sector do nosso ordenamento jurídico.O momento é oportuno para uma publicação deste género, uma vez que foi publicada a Lei de Bases daPolítica e do Regime de Protecção e Valorização do Património Cultural, a Lei n.º 107/2001. Preço: 20, 00 euros – Código AL.L.1

Cor e Cidade HistóricaEstudos cromáticos e conservação do património

FAUPJosé Aguiar“As grandes vertentes desta investigação enquadram-se, fundamentalmente, no cruzamento de trêsabordagens fundamentais: o da historiografia urbana; o da análise filológica e morfológico-construtiva daarquitectura; e o das possibilidades tecnológicas da intervenção (conservação, restauro, renovação),privilegiando-se os métodos e técnicas de carácter qualitativo na recolha e análise da informação.”O autor conclui dizendo que um atento estudo da paisagem urbana revela a cor, os seus materiais etecnologias (superfícies, revestimentos, acabamentos) enquanto expressão de uma particular culturamorfológica. Parâmetros que melhor definem a especificidade identitária de um lugar histórico. Preço: 41,00 euros – Código FAUP.E.1

Técnicas Tradicionais de Construção de AlvenariasAutor: João Mascarenhas MateusEdições Livros Horizonte Esta obra, dirigida a arquitectos, engenheiros, historiadores de arte e gestores do património em geral,pretende tornar acessível a Arte de Bem Construir. Atradução é realizada numa linguagem técnica actual eà luz das mais recentes teorias e modelos da conservação e restauro. Conhecer como se construíam osantigos edifícios é indispensável para o seu estudo e conservação.Preço: 40, 00 euros – Código HT.E.4

Património – Estudos n.º 5“Salvaguarda, Memória, Intervenções”

IPPARCoordenação: Manuel Lacerda, Miguel Soromenho, Maria de Magalhães Ramalho, Carla LopesEste número da Património-Estudosprocura dividir o seu importante conjunto de artigos em três temas– salvaguarda, memória, intervenção – que se ligam directamente às acções de conservação, aosestudos sobre o património histórico-cultural e ao restauro, respectivamente, considerando asdiversas tipologias artísticas. Um número ricamente plural, que abarca diversas áreas de interesse.Preço: 12,00 euros – Código: IP.PP.4

O Palácio Nacional de Sintra

IPPAR /ScalaAutor: José Custódio Vieira da SilvaCom as suas origens há vários séculos atrás, o Palácio Nacional de Sintra é dos palácios reais maisimportantes de Portugal, constituindo-se como um raro exemplo de uma estrutura cuja arquitecturamedieval se mantém ainda virtualmente intacta. Com o decorrer dos séculos, os estilos arquitectónicosvariáveis combinaram-se, conferindo-lhe uma atmosfera rica e enigmática, que é capturada nasimagens deste livro. Este trabalho resulta de um estudo de um dos mais eminentes historiadores daarte medieval do país sobre um monumento que é, desde 1983, considerado Património CulturalMundial pela UNESCO.Preço: 13,97 euros – Código IP.E.9

Vídeo do Restauro da Azulejaria do Claustrodo Mosteiro de S. Martinho de Tibães

A. Ludgero Castro, Ld.ª – Conservação e Restauro deEdifícios e MonumentosCoordenação: Miguel Figueiredo, Francisco CabralLocalizado em Mire de Tibães (Braga), o Mosteiro deS. Martinho possui uma arquitectura maneirista ebarroca. Construído entre o séc. XI e XVIII, estárodeado por um conjunto de cercas e fontes que, coma paisagem envolvente, formam um ambiente único eespecial. Desde 1997, a A. Ludgero Castro executa ostrabalhos de conservação e restauro em algumas áreasdo monumento. Este vídeo documenta a intervençãotécnica na azulejaria do claustro do cemitério domosteiro.Preço: 20,00 euros – Código ALC.DOC.01

VIDEO

Vídeo Palácio do Freixo– Conservação e Restauro

A. Ludgero Castro, Ld.ª – Conservação e Restauro deEdifícios e MonumentosCoordenação: Miguel Figueiredo, Francisco CabralAo fim de 50 anos de abandono, a A. Ludgero Castrofoi a responsável pela conservação e restauro doPalácio do Freixo. Após três anos de trabalho, com umcorpo técnico especializado, promoveu-se o restauroglobal de todo o programa estrutural, artístico edecorativo do edifício. Terminada a intervenção, estaempresa devolveu, em toda a sua excelência, o “maisgrandioso e notável palácio” do Porto setecentista, daautoria e risco do arquitecto italiano Nicolau Nazoni.Este vídeo constitui-se como o documento técnico daintervenção.Preço: 20,00 euros – Código ALC.DOC.02

Património e Restauro em Portugal (1920-1995)FAUPMiguel ToméO restauro está tradicionalmente dividido em duas linhas de orientação: restauro enquanto transformação,que é necessário conhecer e documentar, e restauro enquanto manifestação artística.Esta investigação assenta nesta orientação de base, e define-se pelo cruzamento dos dados informativos edocumentais das operações de restauro com a interpretação crítica das mesmas enquanto projecto dearquitectura.Preço: 19,00 euros – Código FAUP.E.1

Novidade

Novidade

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Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 2004

LIVRARIA

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N.º 3, Jul/Ago/Set 1999Tema de Capa:

Património e EconomiaPreço: 3,74 eurosCódigo: P&C.3

N.º 4, Out/Nov/Dez 1999Tema de Capa:

Património Arquitectónico Industrial

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.4 – esgotado

N.º 5, Jan/Fev/Mar 2000Tema de Capa:

Qualificação Profissional e Património Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.5 – esgotado

N.º 6, Abr/Mai/Jun 2000Tema de Capa:

Arqueologia UrbanaPreço: 4,48 euros

Código: P&C.6 – esgotado

N.º 7, Jul/Ago/Set 2000Tema de Capa:

Património Cultural e NaturalPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.7

N.º 8, Out/Nov/Dez 2000Tema de Capa:

Sismos e Património Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.8

N.º 2, Abr/Mai/Jun 1999Tema de Capa:

Reabilitação Urbana.Lisboa é um laboratório.

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.2 – esgotado

N.º 9, Jan/Fev/Mar 2001Tema de Capa:

Salvaguarda de RevestimentosArquitectónicosPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.9

N.º 10, Abr/Mai/Jun 2001Tema de Capa:

Património de BetãoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.10

N.º 11, Jul/Ago/Set 2001Tema de Capa:

Baixa Pombalina: Que Futuro?Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.11

N.º 12, Out/Nov/Dez 2001Tema de Capa:

Intervenções em MuseusPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.12

N.º 13, Jan/Fev/Mar 2002Tema de Capa:

Intervenções em Monumentosde Pedra

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.13

48-48 Livraria.qxp 2/4/07 3:26 PM Page 47

LIVRARIA

Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 200448

N.º 14, Abril/Maio/Jun 2002Tema de Capa:

Pontes que fazem históriaPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.14

N.º 18, Abril/Maio/Jun 2003Tema de Capa:

Água e património construídoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.18

N.º 15, Jul/Agosto/Set 2002Tema de Capa:

Arquitectura MilitarPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.15

N.º 19, Jul/Agosto/Set 2003Tema de Capa:

EN2 - Estrada-PatrimónioPreservando os caminhos

do passadoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.19

N.º 20, Out/Nov/Dez 2003Tema de Capa:

Erros e Defeitos na Reabilitaçãodos Edifícios e na Conservação e

Restauro do Património EdificadoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.20

Nota de Encomenda

Nome Endereço

Código Postal Localidade Telefone Fax

Junto cheque n.º sobre o Banco no valor de ____________________ euros, à ordem do GECoRPA

Data Assinatura

N.º Contribuinte e-mail

Código Título Preço Unitário Desconto (*) Quantidade Valor (**)

(*) Os associados do GECoRPAou assinantes da Revista têm direito a 10% de desconto sobre o valor de cada obra encomendada. Os descontos não são acumuláveis, nem aplicáveis aos números da Pedra&Cal já publicados.(**) Ao valor de cada livro deverão ser acrescentados 2,50 euros para portes de correio. Quando a encomenda ultrapasse as duas obras, os portes de correio fixam-se nos 5,00 euros.Quanto aos números da Pedra&Cal já publicados, são acrescidos de portes de correio, que variam consoante tarifa dos CTT.FORMADE PAGAMENTO: o pagamento deverá ser efectuado através de cheque à ordem de GECoRPA, enviado juntamente com a nota de encomenda para Rua Pedro Nunes , n.º 27, 1.º Esq.º 1050-170 Lisboa.

Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da “Pedra&Cal” (10% de desconto)

Actividade / Profissão

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Total: euros

N.º 16, Out/Nov/Dez 2002Tema de Capa:

Os Caminhos-de-ferrocomo património cultural

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.16

N.º 17, Jan/Fev/Mar 2003Tema de Capa:

Gestão de Qualidade na Conservação

do Património ArquitectónicoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.17

48-48 Livraria.qxp 2/4/07 3:27 PM Page 48

Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 2004

ASSOCIADOS GECoRPA

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PENGEST – Planeamento, Engenharia eGestão, S. A.Edifício Campo Grande, n.º 28 12º Andar – Salas B e B1700-093 LisboaTel.: 217 963 214Fax: 217 963 046e-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Luís Lourenço Gil NunesActividade: Projectos de conservação e restaurodo património arquitectónico; projectos dereabilitação, recuperação e renovação deconstruções antigas; gestão, consultadoria efiscalização.

Grupo II Levantamentos, inspecções e ensaios

OZ – Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªRua Pedro Nunes, 45 – 1º E 1050-170 LisboaTel.: 213 563 371Fax: 213 153 550E-mail: [email protected] Site: www.oz-diagnostico.ptResponsável: Eng.º Carlos Garrido MesquitaActividade: Levantamentos; inspecções eensaios não destrutivos; estudo e diagnóstico.

ERA – Arqueologia – Conservação e Gestão do Património, S. A. Calçada de Santa Catarina, n.º 9 C1495-705 Cruz Quebrada – DafundoTel.: 214 209 750Fax: 214 209 755Responsáveis: Dr. Pedro Simões Braga, Dr. Miguel LagoActividade: Conservação e restauro deestruturas arqueológicas e do patrimónioarquitectónico; inspecções e ensaios;levantamentos.

Grupo III Execução dos trabalhos,

empreiteiros e subempreiteiros

Alfredo & Carvalhido, Ld.ªLugar de FreixoPerre – Viana do Castelo4925-574 PerreTel.: 258 832 072Fax: 258 832 143e-mail: [email protected] Responsável: Sr. Valdemar Coelho RodriguesCarvalhidoActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico; conservação ereabilitação de construções antigas.

A. Ludgero Castro, Ld.ªRua Recarei, 8604465-727 Leça do BalioTel.: 229 511 116Fax: 229 517 517E-mail: [email protected] Responsável: Dr. Paulo Ludgero CastroActividade: Consolidação estrutural; construçãoe reabilitação de edifícios; conservação e restaurode pintura mural.

Grupo I Projecto, fiscalização e consultoria

A. da Costa Lima, Fernando Ho, Francisco Loboe Pedro Araújo – Arquitectos Associados, Ld.ªR. de S. Paulo, 202 – 2º1200-429 LisboaTel.: 213 432 868Fax.: 213 259 553E-mail: [email protected]ável: Arq.º Francisco LoboActividade: Projectos de conservação e restaurodo património arquitectónico; projectos dereabilitação, recuperação e renovação deconstruções antigas; estudos especiais.

Consulmar Açores – Projectistas e Consultores, Ld.ªAvenida Infante D. Henrique, bloco 1 – 5ºE9500-150 Ponta DelgadaTel.: 296 629 590Fax: 296 629 668E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Jorge Kol de CarvalhoActividade: Projecto, consultoria e fiscalização.

Desarcon, Ld.ªR. Borda D’Água da Asseca, nº 9 8800-325 Tavira Tel.: 281 322 404 Fax: 281 322 336 E-mail: [email protected]ável: Arq.º Miguel MertensActividade: Projectos de conservação e restaurodo património arquitectónico; projectos dereabilitação, recuperação e renovação deconstruções antigas; fornecedores delevantamentos, inspecções e ensaios em P.A. e C.A.

ETECLDA – Escritório Técnico de Engenharia Civil, Ld.ªRua Júlio Dinis, 911 – 6º E4050-327 PortoTel.: 226 007 107Fax: 226 095 553E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Manuel Batista BarrosActividade: Fiscalização de obras e projectos;gestão e coordenação de empreendimentos.

LEB – Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªRotunda das Palmeiras Edifício Cascais Office, 1º piso, sala I2645-091 AlcabidecheTel.: 210 331 125/6Fax: 210 331 127E-mail: [email protected]ável: Eng.º Thomaz RipperActividade: Projecto, consultoria e fiscalizaçãona área da reabilitação do patrimónioconstruído.

MC Arquitectos, Ld.ªPraça Príncipe Real, 25 – 3º1250-184 LisboaTel.: 213 219 950 Fax: 213 467 995E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Gastão da Cunha FerreiraActividade: Projectos de arquitectura;levantamentos, estudos e diagnóstico.

Alvenobra – Sociedade de Construções, Ld.ªRua Professor Orlando Ribeiro, 3 – loja A1600-796 LisboaTel: 217 584 734Fax: 217 584 738E-mail: [email protected]ável: Eng.º Jorge Rodrigues TeixeiraActividade: Reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.

AMADOR, Ld.ªAvenida das Escolas, 292520-204 PenicheTel.: 262 782 964Fax: 262 781 873E-mail: [email protected]: www.amadorlda.pt Responsável: Eng.ª Catarina Amador RêgoActividade: Conservação, restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

Antero Santos & Santos, Ld.ªRua da Cafelada, n.º 22Mamodeiro – Aveiro3810-738 N.ª Sr.ª de FátimaTel.:234 948 105Fax.:234 943 924e-mail:[email protected]: www.asantos.ptResponsável: Sr. Mário SantosActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico; reabilitação,recuperação e renovação de construções antigas;instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªLargo João Penha, 356 – 1º D4710-245 BragaTel.: 253 263 614Fax: 253 618 616E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria José CarrilhoActividade: Conservação reabilitação deedifícios; cantarias e alvenarias; pinturas;carpintarias.

Brera – Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªRua Miguel Torga, 2 C – escritório 4.6 – Alfragide2610-086 AmadoraTel.: 214 725 470Fax: 214 725 471E-mail: [email protected] Responsáveis: Eng.º Amílcar Beringuilho eSr. Paulo RaimundoActividade: Construção, conservação ereabilitação de edifícios.

Construções Borges & Cantante, Ld.ªRua António Andrade, 1147, Edifício Andune, 1º Dt.º2815-3000 Charneca da CaparicaTel.: 212 973 131Fax: 212 973 328E-mail:[email protected]ável: Sr. Alberto Rodrigues BorgesActividade: Construção de edifícios;conservação e reabilitação de construçõesantigas.

49-51 Associados+ Pub.qxp 2/4/07 3:29 PM Page 49

ASSOCIADOS GECoRPA

Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 200450

Junqueira 220 – Sociedade de Conservação,Restauro e Arte, Ld.ªRua da Junqueira, 2201300-346 LisboaTel.: 213 639 163Fax: 213 627 840E-mail: [email protected]ável: Sr. Luís Figueira Actividade: Conservação e restauro de pinturas etalha dourada.

Listorres – Sociedade de Construção Civil eComércio, Ld.ªRua Brigadeiro Lino Dias Valente, 82330-103 EntroncamentoTel.: 249 720 030Fax: 249 720 039E-mail: [email protected] Responsável: Prof. Vasco DuarteActividade: Construção e reabilitação deedifícios.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªRua Paulo Renato, 3 r/c C/D2795-147 Linda-a-VelhaTel.: 214 153 520Fax: 214 153 528Responsável: Eng.º Luís RibeiroActividade: Construção e reabilitação deedifícios; consolidação de fundações.

Lourenço, Simões & Reis, Ld.ªRua Luciano Cordeiro, 49 – 1º1169-135 LisboaTel.: 213 542 137Fax: 213 570 001E-mail: [email protected]ável: Eng. Carlos Manuel GranateActividade: Consolidação estrutural.

MELIOBRA – Construção Civil e ObrasPúblicas, Ld.ª Rua das Fontainhas, 33 – C 2700-391 AmadoraTel.: 214 759 000Fax: 214 753 010E-mail: [email protected]ável: Sr. José Pedro Pires CoelhoActividade: Construção, conservação ereabilitação de edifícios.

MIU – Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªRua do Vale de Santo António, 46 – 2º Dto1170-381 LisboaTel.: 218 161 620Fax: 218 161 629E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Artur Correia da Silva e Eng.ºPedro SilvaActividade: Construção, conservação ereabilitação de edifícios; conservação ereabilitação de património arquitectónico;conservação de rebocos, estuques e pinturas.

Monumenta – Conservação e Restauro doPatrimónio Arquitectónico, Ld.ªRua Pedro Nunes, 27 – 1ºD1050-170 LisboaTel.: 213 593 361Fax: 213 153 659E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º João VarandasActividade: Conservação e reabilitação deedifícios; consolidação estrutural; conservaçãode cantarias e alvenarias.

COPC – Construção Civil, Ld.ªRua Cidade de Bafatá, 181800-060 LisboaTel.: 218 537 122Fax: 218 537 162E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Carlos OliveiraActividade: Construção de edifícios;conservação e reabilitação de construçõesantigas; recuperação e consolidação estrutural.

Cruzeta – Escultura e Cantarias, Restauro, Ld.ªRua da República da Bolívia, 97 – 4º Dto1500-545 LisboaTel.: 217 150 370Fax: 219 824 188E-mail: [email protected]ável: Sr. Eduardo Roberto Morezo Telemóvel: 96 709 41 30Actividade: Conservação e reabilitação deconstruções antigas; limpeza e restauro decantarias, alvenarias e estruturas.

CVF – Construtora de Vila Franca, Ld.ªEstrada Nacional nº 10, k/ 137,522695 STª. Iria de AzóiaTel.: 219 533 230Fax: 219 533 239E-mail: [email protected]ável: Sr. Álvaro Reis PereiraActividade: Conservação de rebocos e estuques;consolidação estrutural; carpintarias; reparaçãode coberturas.

ENGIBUILT – Construções, Ld.ª Rua Diamantino Freitas Brás, nº 24 r/c Dto.2615-070 Alverca do RibatejoTel.: 219 582 582Fax: 219 577 627E-mail: [email protected]áveis: Eng.º José A. Martins e Eng.ºMário CunhaActividade: Reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.

GALERIA N.E.T., Ld.ª Rua Cândido de Oliveira, 13 – A, Brandoa2700 AmadoraTel: 214 760 267Fax: 214 760 267Responsável: Sr. Eduardo da Silva RamosActividade: Conservação e restauro de douradosem obras de arte, mobiliário antigo, molduras,etc.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ªEstrada Nacional n.º 3Casal Prioste2070-621 CartaxoTel.: 243 770 045Fax: 243 770 098 E-mail: [email protected]ável: Dr. Carlos Abel Silva DamasActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico; reabilitação,recuperação e renovação de construções antigas;instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Na Esteira, Sociedade de Urbanização eConstruções, Ld.ªCampo Grande, n.º 4, 1.º Esq.º1700-092 LisboaTel.: 217 800 800Fax: 217 964 943E-mail:[email protected]ável: Eng.º Manuel Furtado MendesActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico; reabilitação,recuperação e renovação de construções antigas;instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Pintanova – Pinturas na Construção Civil, Ld.ªRua Amílcar Cabral, 21 B1750-018 LisboaTel.: 217 572 856Fax: 217 577 472E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Vasco Paulino Actividade: Conservação e restauro de rebocos,estuques e cantarias; pinturas.

Poliobra – Construções Civis, Ldª.Rua Afonso de Albuquerque, 8 BSerra do Casal de Cambra2605-192 BelasTel.: 219 809 770Fax: 219 809 779E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Vítor António FarinhaActividade: Construção e reabilitação deedifícios; serralharias e pinturas.

Quinagre – Estudos e Construções, S. A.Rua Hermano Neves, 22 – 4º A1600-477 LisboaTel.: 217 567 570Fax: 217 567 579E-mail: [email protected]ável: Eng.º Joaquim Quintas Actividade: Construção de edifícios; reabilitação;consolidação estrutural.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªAvenida Manuel Alpedrinha, nº 15Reboleira2720-352 AmadoraTel.: 214 998 650Fax: 214 959 780E-mail: [email protected]ável: Eng.º José Moreira dos SantosActividade: Execução de trabalhosespecializados na área do património construídoe instalações especiais.

Sofranda – Empresa de Construção Civil, S. A.Rua Dr. Afonso Cordeiro, 679 – 2.º J4450-007 Matosinhos Tel.: 229 399 210Fax: 229 399 219e-mail:[email protected]ável: Eng.º Luís Almeida e SousaActividade: Conservação e restauro dopatrimónio arquitectónico; reabilitação,recuperação e renovação de construções antigas;instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

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Pedra & Cal n.º 19 Julho . Agosto . Setembro 2003

ASSOCIADOS GECoRPA

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Tecnasol FGE – Fundações e Geotecnia, S. A.R. das Fontainhas, 58Venda Nova2700-391 AmadoraTel.: 214 908 600Fax: 214 747 036e-mail:[email protected]ável: Eng.º Nuno Oliveira LopesActividade: Fundações e geotecnia; conservaçãoe restauro do património arquitectónico;conservação e reabilitação de construçõesantigas.

Grupo IVFabrico e ou distribuição de

produtos e materiais

BLEU LINE – Conservação e Restauro de Obrasde Arte, Ld.ªRua do Alecrim, 111 – 1º Esq1200-016 LisboaTel.: 213 224 461Fax: 213 224 469E-mail: [email protected] Responsável: Dr. José Luís Marques PereiraActividade: Materiais para intervenções deconservação e restauro em construções antigas;conservação de cantarias.

Somafre – Construções, Ld.ªRua Manuel Rodrigues da Silva, 7C – esc.61600-503 LisboaTel.: 217 112 370Fax: 217 112 389 E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos FreireActividade: Construção, conservação ereabilitação de edifícios; serralharias;carpintarias; pinturas.

STAP – Reparação, Consolidação e Modificaçãode Estruturas, S. A.Rua Marquês de Fronteira, nº 8 – 3º D1070-296 LisboaTel.: 213 712 580Fax: 213 854 980E-mail: [email protected] Site: www.stap.pt Responsável: Eng.º José Paulo CostaActividade: Reabilitação de estruturas de betão;consolidação de fundações; consolidaçãoestrutural.

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias deReabilitação Estrutural, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 45, 3.º Dto.1050-170 LisboaTel.: 213 162 929Fax: 213 162 931E-mail: [email protected]ável: Dr.ª Rute SebastiãoActividade: Produção e comercialização demateriais para construção.

Tintas Robbialac, S. A.Manjoeira – Santo Antão do TojalAp. 104 EC Loures2671-901 LouresTel.: 219 739 600Fax: 219 739 694E-mail: [email protected]ável: Dr. João Esteves da FonsecaActividade: Produção e comercialização deprodutos de base inorgânica para aplicações nãoestruturais.

Para mais informações acerca dos associadosGECoRPA e as suas actividades, visite a rubrica “associados” no nosso site www.gecorpa.pt

49-51 Associados+ Pub.qxp 2/4/07 3:31 PM Page 51

Pedra & Cal n.º 21 Janeiro . Fevereiro . Março 2004

Faz agora meio século que um ambiciosoprograma de electrificação, gizado peloministro Ferreira Dias, iria mudar a facedo País no que tocava à produção de ener-gia. Tratou-se da construção de um núme-ro assinalável de barragens nas bacias hi-drográficas com maiores potencialidades,por forma a satisfazer as necessidades deconsumo necessárias à modernização dasociedade portuguesa. Aemergência deste programa e a sua con-cretização, que deu lugar à criação de umpatrimónio edificado, que veio a revelar--se de uma excepcional importância paraa época, tornou-se possível devido à con-juntura histórica que então se viveu. Porum lado, o chamado Estado Novo, regimeconservador tutelado pela ditadura sala-zarista, viu-se obrigado, após a derrotados fascismos na II Guerra Mundial, aabrir-se às exigências do progresso econó-mico e social, fomentando a industriali-zação do país e ultrapassando a tradicio-nal política baseada nas obras públicas, deque havia sido grande impulsionadorDuarte Pacheco. Por outro lado, e no quetocava à expressão arquitectónica, as res-trições impostas pelas autoridades deentão a uma plena assunção duma lingua-gem moderna começavam a abrandar, o

que foi também facilitado por se trataremde construções de carácter técnico, onderevivalismos historicistas ou regionalis-tas, que vieram a ser conhecidas por “por-tuguês suave”, não tinham cabimento.Foi assim que nos complexos construídosno Zêzere, no Cávado-Rabagão e, sobre-tudo, no Douro Internacional surgiram,para além das barragens, toda uma sériede edificações da mais variada índole, co-mo centrais eléctricas, conjuntos residen-ciais, oficinas, escolas, capelas, centros co-merciais, estalagens, etc., que constituemcasos exemplares de arquitectura do quedepois veio a chamar-se o segundo mo-dernismo português. É neste sentido quealguns desses conjuntos constituem hojeum património de inquestionável im-portância.São, sobretudo, notáveis os casos da baciado Cávado-Rabagão e do Douro Interna-cional. No primeiro, cujos projectos se de-vem a Januário Godinho – reconhecido co-mo um dos mais prestigiados arquitectosportuenses dos meados do século – desta-cam-se as centrais de Venda Nova, Sala-monde e Pisões e, ainda, as notáveis esta-lagens destas duas últimas barragens.Mas, no caso do Douro Internacional, comas barragens de Miranda, Picote e Bem-

posta, trata-se de um conjunto verdadei-ramente excepcional que, pela sua si-tuação geográfica periférica, se manteveafastado durante décadas das atenções dacrítica e da historiografia da arquitectura.Há poucos anos, essas obras foram revela-das através de um livro intitulado Moder-no Escondido, da autoria de Michele Can-natá e Fátima Fernandes, e editado pelaFaculdade de Arquitectura da Universi-dade Porto. Aí se podem contemplar osmagníficos estudos e projectos da autoriados arquitectos Archer de Carvalho, Nu-nes de Almeida e Rogério Ramos, feitosem estreita colaboração com os engenhei-ros da Hidroeléctrica do Douro. Desde asábia implantação nos difíceis terrenos emescarpa, à articulação dos vários edifíciose equipamentos, de uma linguagem ras-gadamente moderna, e ao desenho cuida-do dos interiores e mobiliário, estes con-juntos, com destaque para o de Picote,constituem um património de grande coe-rência e altíssimo valor no quadro da ar-quitectura portuguesa do séc. XX.

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PERSPECTIVAS

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA, Arquitecto

Electrificação e arquitecturaPatrimónio nascido da luz

A portentosa nave dos alternadores da central de Miranda do Douro (foto Alvão)

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