Enfermeiro Como Educador

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  • Parte Um

    Perspectivas em Ensino e

    Aprendizagem

  • 1Panorama da Educao no Cuidado em SadeSusan B. BastableFundamentos histricos do papel de

    educador dos enfermeirosTendncias sociais, econmicas e polticas

    intervenientes no cuidado em sadePropsitos, objetivos e benefcios da

    educao de clientes e da equipe de enfermagem

    Processo educativo defi nido

    Papel do enfermeiro como educadorBarreiras ao ensino e obstculos

    aprendizagemFatores interferentes na habilidade de ensinoFatores interferentes na habilidade de

    aprenderQuestes sobre o ensino e a aprendizagemO estado da arte

    DESTAQUES DO CAPTULO

    PALAVRAS-CHAVE

    Processo educativo Ensino/instruo Aprendizagem Educao do paciente

    Educao da equipe de enfermagem Barreiras ao ensino Obstculos aprendizagem

    OBJETIVOS

    Aps terminar este captulo, o leitor ser capaz de:

    1. Discutir a evoluo do papel de educador dos enfermeiros. 2. Reconhecer tendncias que afetam o sistema de cuidado em sade em geral e a prtica

    de enfermagem em particular. 3. Identifi car os propsitos, os objetivos e os benefcios da educao dos clientes e da equipe

    de enfermagem. 4. Comparar o processo de educao com o processo de enfermagem. 5. Defi nir os termos processo educativo, ensino e aprendizagem. 6. Identifi car as razes que fazem da educao dos clientes e da equipe um importante dever

    dos profi ssionais de enfermagem. 7. Discutir as barreiras ao ensino e os obstculos aprendizagem. 8. Formular questes que os enfermeiros no papel de educadores devem fazer sobre o

    processo de ensino-aprendizagem.

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    A educao para o cuidado em sade hoje tanto dos pacientes quanto dos estudantes e da equipe um tpico de mximo interesse para todos os enfermeiros, independente-mente de suas reas de atuao. Ensinar um dos principais aspectos do papel desse profi ssional (Carpenter e Bell, 2002). Segun-do as tendncias atuais do cuidado em sa-de, essencial que o cliente seja preparado para assumir a responsabilidade de autocui-dado, alm de ser imperativo aos enfermei-ros sua responsabilidade, em seus locais de trabalho, pela oferta de cuidado de alta qua-lidade. Focam-se, dessa forma, resultados que demonstrem at que ponto os pacientes e seus cuidadores adquirem conhecimentos e habilidades essenciais para o cuidado in-dependente, e os enfermeiros e estudantes adquirem os conhecimentos e as habilidades atuais, necessrios para prestar cuidado com-petente e confi vel ao consumidor nos diver-sos campos de atuao.

    No contexto do cuidado em sade, o au-mento da necessidade de enfermeiros que ensinem e ajudem os outros a aprender contnuo (Carpenter e Bell, 2002). Devido s mudanas que ocorrem rapidamente no sistema de sade, esses profi ssionais esto em meio a uma demanda crescente, muito complexa e em constante oscilao (Gilles-pie e McFetridge, 2006). Desse modo, os enfermeiros no papel de educadores devem entender as foras, tanto histricas quanto atuais, que tm infl uenciado as responsabili-dades de sua prtica.

    Um dos propsitos deste captulo apre-sentar a evoluo histrica do ensino como parte do papel profi ssional do enfermeiro. Ademais, oferece-se uma perspectiva das ten-dncias atuais do cuidado em sade que con-sideram a educao aos clientes uma funo altamente visvel e necessria da oferta do cui-dado. Tambm so contemplados os esforos contnuos em educao continuada, essenciais

    para que o avano das competncias prticas do pessoal de enfermagem seja assegurado.

    Alm do mais, este captulo lana luz so-bre os propsitos, as metas e os benefcios do processo de ensino e aprendizagem; foca a fi losofi a da parceria enfermeiro-paciente nes-se processo; compara o processo de educa-o ao de enfermagem; identifi ca barreiras ao ensino e obstculos aprendizagem; e desta-ca as pesquisas atuais relacionadas educa-o de pacientes, bem como de estudantes e equipe. O tema principal aqui abordado o papel global do enfermeiro no ensino e na aprendizagem, independentemente do tipo de pblico. O enfermeiro deve, como pr--requisito bsico, compreender os princpios e os processos do ensino e da aprendizagem para assumir as responsabilidades de sua pr-tica profi ssional com efi cincia e efi ccia.

    Fundamentos histricos do papel de educador dos enfermeiros

    H muito tempo a educao de pacientes considerada um dos principais componen-tes do cuidado padro disponibilizado pelos enfermeiros. O papel de educador desses profi ssionais est profundamente atrelado ao crescimento e ao desenvolvimento de sua pro-fi sso. Desde a metade do sculo XIX, quando a enfermagem foi reconhecida pela primeira vez como disciplina independente, a respon-sabilidade pelo ensino reconhecida como um importante papel do profi ssional enquanto cuidador. As aes de ensino, empreendidas pelos enfermeiros, no tm enfatizado apenas o cuidado ao doente e a promoo da sade da populao, mas tambm a educao de outros enfermeiros para a prtica profi ssional.

    Florence Nightingale, a fundadora da enfermagem moderna, foi um grande exem-plo de educadora. No s desenvolveu a pri-meira escola de enfermagem, como tambm

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    dedicou grande parte de sua carreira ao en-sino de enfermeiros, mdicos e agentes de sade acerca da importncia de condies apropriadas em hospitais e moradias para melhorar a sade das pessoas. Alm disso, enfatizou a importncia de ensinar aos pa-cientes a necessidade de nutrio adequada, ar fresco, exerccio e higiene pessoal para melhorar seu bem-estar. Nos primeiros anos do sculo XX, os enfermeiros da sade p-blica nos Estados Unidos compreenderam claramente o signifi cado de seu papel como orientadores na preveno de doenas e na manuteno da sade da sociedade (Cha-chkes e Christ, 1996).

    Por dcadas, ento, o ensino de pacien-tes tem sido reconhecido como uma funo parte da enfermagem; os enfermeiros tm por costume educar pacientes, famlias e colegas. A partir dessa tradio, expandiram tal prti-ca para incluir os amplos conceitos de sade e enfermidade (Glanville, 2000).

    Em 1918, a National League of Nur-sing Education (NLNE) nos Estados Unidos (atualmente, National League for Nursing NLN)* observou a importncia de o ensino em sade ser uma funo da enfermagem. Duas dcadas depois, essa organizao re-conheceu os enfermeiros como agentes na promoo da sade e na preveno de doen-as em todos os campos de sua prtica (Na-tional League of Nursing Education, 1937). Por volta de 1950, determinou o contedo do currculo do curso de enfermagem, a fi m de preparar os enfermeiros para assumir o papel de professores. Mais recentemente, a NLN desenvolveu o primeiro exame para certifi car o enfermeiro educador (National League for Nursing, 2006) com o objetivo de aumentar

    a visibilidade da formao acadmica do en-fermeiro educador como uma disciplina de prtica profi ssional avanada com campo de atuao defi nido (Klestzick, 2005, p. 1).

    Da mesma forma, a American Nurses Association h anos tem emitido declaraes sobre funes, normas e qualifi caes para a prtica da enfermagem, segundo as quais o ensino de pacientes um elemento-chave. Alm disso, o International Council of Nur-ses (ICN) tem defendido, h bastante tempo, que o papel do enfermeiro como educador um componente essencial da oferta de assis-tncia em enfermagem.**

    Hoje, todos as legislaes estaduais (EUA) referentes enfermagem incluem o ensino no mbito das responsabilidades da prtica do en-fermeiro. Espera-se, conforme mandato legis-lativo, que esse profi ssional fornea instrues sufi cientes aos receptores de seus cuidados para ajud-los a manter excelentes bem-estar e tratamento de doenas. A carreira de enferma-gem com frequncia torna a efi cacia do ensino como uma medida de excelncia da prtica (Rifas, Morris e Grady, 1994). Educando pa-cientes e suas famlias, bem como funcion-rios da sade, os enfermeiros podem alcanar a meta profi ssional de oferecer cuidado de alta qualidade, com economia e segurana.

    J em 1993, a Joint Comission (JC), an-teriormente Joint Commission on Accredita-tion of Healthcare Organizations (JCAHO), estabeleceu normas para a educao de pa-cientes por reconhecer a importnca de sua educao por enfermeiros. Essas normas, co-nhecidas como mandatos, descrevem os tipos e os nveis de cuidado, tratamento e servios que devem ser disponibilizados pelas agncias ou organizaes para obteno de acreditao.

    * N. de T. No Brasil, a educao em enferma-gem tem sido objeto de anlises, desde 1926, no mbito da Associao Brasileira de Enfer-magem (ABEn).

    ** N. de T. No Brasil, a funo educativa do enfer-meiro est defi nida na Resoluo CNE/CES n 3/2001, que estabelece as diretrizes curriculares nacionais para o curso de enfermagem.

  • 28 Susan B. Bastable

    A exigncia de tais padres causou impacto nos responsveis pelos servios de enferma-gem, que deram maior nfase nas atividades de educao de equipe nas unidades clnicas para melhorar as intervenes do cuidado em enfermagem, a fi m de alcanar os resultados esperados pelos clientes (Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations, 2001). Os enfermeiros alcanaro resultados positivos no cuidado por meio de atividades de ensino centradas no paciente e orientadas famlia.

    Recentemente, a Joint Commission am-pliou suas expectativas; agora, inclui uma abordagem multidisciplinar da educao dada ao paciente e torna imprencidvel a evi-dncia de que os pacientes e seus entes que-ridos participem do cuidado e da tomada de conscincia e que entendam o que lhes foi ensinado. Essa condio revela que os cuida-dores devem considerar o grau de letramento, a escolaridade, as habilidades de linguagem e a cultura de cada cliente durante o processo educativo (Cipriano, 2007; Davidhizar e Bro-wnson, 1999; JCAHO, 2001).

    Alm disso, a Patients Bill of Rights, de-senvolvida inicialmente na dcada de 1970 pela American Hospital Association, foi adotada na-cionalmente nos Estados Unidos. Essa carta estabelece os parmetros para assegurar que os pacientes recebam informaes completas e atuais concernentes a seus diagnsticos, trata-mentos e prognsticos em termos que possam ser razoavelmente compreendidos.

    A Pew Health Professions Commission (1995), infl uenciada pelas mudanas drs-ticas envolvendo o cuidado, publicou um amplo conjunto de competncias que, como se acreditava, marcariam o sucesso dos pro-fi ssionais de sade do sculo XXI. Logo em seguida, em 1998, a comisso publicou um relatrio como guia para a prtica profi ssional de sade no novo milnio. Numerosas reco-mendaes, especfi cas profi sso de enfer-meiro, foram propostas. Mais da metade trata

    da importncia da educao do paciente e da equipe e do papel do enfermeiro como edu-cador. Essas recomendaes para a prtica de enfermagem incluem a necessidade de:

    promover cuidado clinicamente compe- tente ao pblico;envolver os pacientes e seus familiares no processo de tomada de conscincia quanto s intervenes em sade;providenciar, aos pacientes, educao e aconselhamento sobre questes ticas;expandir o acesso pblico ao cuidado efi caz;assegurar cuidado apropriado e econmi- co ao consumidor; epromover a preveno de doenas e estilos de vida saudveis para todas as pessoas.

    Em 2006, o Institute for Healthcare Im-provement anunciou a campanha 5 Million Lives, que tem como objetivo reduzir os 15 milhes de incidentes por ano causados por erro mdico nos hospitais dos Estados Uni-dos. Essa campanha ambiciosa tem muitas implicaes para o ensino ao paciente e sua famlia, bem como para os profi ssionais e es-tudantes de enfermagem, que podem melho-rar o cuidado para reduzir acidentes, salvar vidas e diminuir custos (Berwick, 2006).

    Outra iniciativa recente foi a formao da Sullivan Alliance, organizao que busca recrutar e capacitar os enfermeiros atuantes a oferecer cuidado culturalmente competente ao pblico. O cuidado efetivo e a educao em sade dos pacientes e suas famlias dependem de uma base cientfi ca slida e de conscincia cultural, considerando-se a sociedade cada vez mais diversa. A meta aumentar a heterogenei-dade racial e cultural de docentes, estudantes e profi ssionais de enfermagem, que sero sen-sveis s necessidades dos clientes de diversas procedncias (Sullivan e Bristow, 2007).

    Para que se alcancem as metas e se aten-dam s expectativas dessas diferentes organi-zaes, necessrio um direcionamento nos

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    esforos educativos. Desde a dcada de 1980, o papel do enfermeiro como educador passou por uma mudana de paradigma, envolvendo o que j foi uma abordagem baseada na doena para uma abordagem mais voltada preven-o. Em outras palavras, o objetivo atual ensinar para a promoo e a manuteno da sade. A educao, antes integrante dos pla-nos da alta hospitalar, passou a ser parte do plano integral de cuidado em sade, por meio da oferta contnua de cuidado (Davidhizar e Brownson, 1999).

    Como descrito por Grueninger (1995), essa transio para o ser saudvel acarretou uma progresso da educao ao paciente vol-tada doena para a educao voltada pre-veno; e dessa ltima at a mais recente: sade (p. 53). Essa nova abordagem mudou o papel do enfermeiro de curador sbio para o de orientador especialista e, posteriormen-te, para o de facilitador de mudanas. Em vez do objetivo tradicional de simplesmente divulgar a informao, o profi ssional enfatiza a capacitao do paciente em usar seu poten-cial, habilidade e recursos para a coletividade (Glanville, 2000).

    Alm disso, o educador atual deve trei-nar o treinador, ou seja, preparar o pessoal de enfermagem por meio de educao con-tinuada, programas de trabalho e desenvol-vimento de pessoal para manter e aprimo-rar suas habilidades clnicas e de ensino. essencial que o profi ssional de enfermagem esteja efetivamente preparado para prestar servios educativos que atendam s neces-sidades de muitos indivduos e grupos, em diferentes circunstncias, nos diversos cam-pos da prtica. A chave para o sucesso da nossa profi sso est no fato de os enfermei-ros ensinarem outros enfermeiros. Somos os educadores primrios de nossos colegas de profi sso e de outros profi ssionais da rea da sade (Donner, Levonian e Slutsky, 2005). Alm disso, a demanda por educadores de estudantes de enfermagem sempre alta.

    Outra funo muito importante do en-fermeiro como educador servir de instrutor clnico de estudantes durante a prtica. Para assegurar que os estudantes de enfermagem alcancem os resultados esperados de sua aprendizagem, muitos enfermeiros atuam como preceptores clnicos e tutores. Entre-tanto, as evidncias indicam que esses pro-fi ssionais, na atuao clnica e na acadmica, sentem-se incompetentes como mentores e orientadores devido pobre preparao para seu papel de professores. Esse desafi o de relacionar a teoria aprendida em sala de aula com a prtica requer que os enfermeiros estejam no s atualizados quanto s habili-dades clnicas e s inovaes da prtica, mas tambm que possuam conhecimento e habi-lidades relativos aos princpios de ensino e aprendizagem. No entanto, saber fazer no o mesmo que saber ensinar. O papel do edu-cador clnico dinmico e requer que o pro-fessor engaje ativamente os estudantes para que se tornem profi ssionais competentes e cuidadosos (Gillespie e McFetridge, 2006).

    Tendncias sociais, econmicas e polticas intervenientes no cuidado em sade

    Alm dos padres legais e profi ssionais pro-postos por diversas organizaes e agncias, muitas tendncias sociais, econmicas e po-lticas que afetam nacionalmente a sade pblica chamaram a ateno para o papel do enfermeiro como educador e para a importn-cia da educao da equipe e da clientela. A seguir, so apresentadas algumas das foras signifi cativas que infl uenciam a prtica da en-fermagem em particular e o sistema de sa-de em geral (Birchenall, 2000; Bodenheimer, Lorig, Holman e Grumbach, 2002; Cipriano, 2007; DeSilets, 1995; Glanville, 2000; U.S. Departament of Health and Human Services, 2000; Zikmund-Fisher, Sarr, Fagerlin e Ubel, 2006):

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    O governo federal (EUA) publicou Healthy People 2010: Understanding and Improving Health, um documento que prope, para o futuro, metas e objetivos nacionais em sade. Por exemplo, desenvolvimento de programas efetivos de educao para a sa-de a fi m de auxiliar os indivduos a reco-nhecerem e modifi carem comportamentos de risco, a adotarem ou manterem prticas saudveis e a fazerem o uso apropriado dos servios de sade disponveis. Alcanar essas prioridades nacionais reduziria visi-velmente os custos em sade, preveniria o estabelecimento prematuro de doenas e defi cincias e ajudaria os indivduos a levarem vidas mais produtivas e saudveis. Os enfermeiros, como o maior grupo de profi ssionais de sade, desempenham uma importante funo, que faz uma grande diferena, ao ensinar clientes a adotar e manter estilos de vida saudveis.O crescimento das operadoras de planos de sade resultou em mudana no reem-bolso pelos servios de sade. Tem sido dada maior nfase na medio de resul-tados, muitos dos quais podem ser alcan-ados basicamente por meio da educao dos clientes para a sade.Os profi ssionais da sade esto reconhe- cendo os valores econmicos e sociais do atendimento a escolas, comunidades e locais de trabalho a fi m de providenciar educao para preveno de doenas e promoo da sade.Os polticos e os administradores de sa- de reconhecem a importncia da educa-o para alcanar a meta econmica de reduo de altos custos dos servios de sade. A nfase poltica est na produti-vidade, na competitividade no mercado de trabalho e nas medidas de conteno de gastos nos servios de sade.Os profi ssionais de sade esto cada vez mais preocupados com reclamaes de impercia e aes disciplinares por incom-

    petncia. Por isso, a educao continuada, tanto por mandato legislativo quanto por exigncia da empresa empregadora, est em primeiro plano como resposta ao de-safi o de assegurar a competncia dos pro-fi ssionais. Essa uma forma de transmitir novos conhecimentos e habilidades, bem como de reforar ou reavivar os adquiri-dos previamente, visando ao crescimento contnuo do pessoal de enfermagem.Os enfermeiros continuam a defi nir seu papel profi ssional, corpo terico, mbito prtico e especialidade, tendo a educao de seus clientes como o cerne da prtica de enfermagem.As pessoas esto exigindo maior conhe- cimento e habilidades para cuidarem de si prprias e prevenirem doenas. A de-manda por informao em sade tende a aumentar, conforme as pessoas fi cam mais cientes de suas necessidades e de-sejam maior entendimento sobre seus tratamentos e suas metas. A busca pelas responsabilidades e pelos direitos dos consumidores, que comeou nos anos 1990, continua no sculo XXI.Tendncias demogrfi cas, particularmen- te o envelhecimento populacional, enfa-tizam a necessidade de autoconfi ana e de manuteno de um estado saudvel ao longo da expectativa de vida aumentada. Como a populao maior de 65 anos dos Estados Unidos vem aumentando drasti-camente, em 20 a 30 anos, as necessida-des de sade da gerao baby boom, da era ps-Segunda Guerra Mundial, sero maiores medida que seus membros li-dem com doenas degenerativas e outros efeitos do processo de envelhecimento.As doenas hoje reconhecidas por esta- rem relacionadas ao estilo de vida e por serem passveis de preveno por inter-veno educativa esto entre as maio-res causas de morbidade e mortalidade. Alm disso, milhes de incidncias de

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    erro mdico acontecem anualmente nos hospitais estadunidenses, tornando im-perativo que clientes, enfermeiros e es-tudantes sejam educados sobre medidas preventivas para que esses incidentes se-jam reduzidos (Berwick, 2006).O aumento de condies crnicas e in- curveis requer que os indivduos e suas famlias tornem-se participantes bem--informados para gerenciar suas prprias enfermidades. A educao do paciente pode facilitar as respostas adaptativas de um indivduo doena.A tecnologia avanada est aumentando a complexidade do cuidado e do tratamento em ambientes domsticos e comunitrios. A alta hospitalar, mais rpida, e o maior n-mero de procedimentos realizados no aten-dimento ambulatorial esto forando os pacientes a se sentirem mais autoconfi an-tes na manuteno de sua prpria sade. A educao destes necessria para ajud--los a seguir adiante, de modo independen-te, em atividades de autogesto.Os profi ssionais provedores da sade es- to tornando-se cada vez mais conscientes de que os conhecimentos do cliente sobre sade so essenciais para que os resulta-dos desta melhorem nacionalmente. Os enfermeiros devem ter a certeza de que atendem s necessidades educativas de seus clientes para que estes entendam, de forma adequada, as informaes necess-rias para sua independncia em atividades de autocuidado na promoo, na manu-teno e na recuperao de sua sade.Existe a crena, por parte dos enfermeiros e de outros provedores da sade, a qual sustentada por pesquisas, de que a educa-o dada ao cliente melhora sua adeso ao tratamento mdico e, consequentemente, sua sade e seu bem-estar. O melhor en-tendimento, pelos clientes e por suas fa-mlias, dos planos de tratamento aumenta a cooperao, a tomada de conscincia, a

    satisfao e a independncia dos regimes teraputicos. A educao para a sade capacita os pacientes a solucionarem, de modo independente, problemas encontra-dos fora dos ambientes hospitalares bem protegidos, aumentando sua autonomia.Um nmero crescente de grupos de au- toajuda apoia clientes no atendimento de suas necessidades fsicas e psicossociais. O sucesso desses grupos de apoio e dos programas de mudanas comportamen-tais depende do papel do enfermeiro como educador e conselheiro.

    O enfermeiro reconhece a necessidade de desenvolver suas habilidades de ensino para acompanhar o ritmo das demandas de educa-o dos pacientes e da equipe. Enquanto con-tinuam a defi nir seu papel, seu corpo terico, seu mbito de atuao e sua especializao profi ssional, os enfermeiros percebem, mais do que nunca, que sua funo de educadores fundamental para a prtica da enfermagem e que, alm disso, deveria haver uma abor-dagem muito mais ampla como parte de seu campo profi ssional. Esses profi ssionais esto em uma posio-chave para ministrar a educa-o em sade. Eles so os provedores de sa-de que tm o contato mais contnuo com os clientes, usualmente as fontes mais acessveis de informao, alm dos profi ssionais da sa-de mais confi veis. Nas pesquisas de opinio Gallup, realizadas desde 1999, os enfermeiros continuam ocupando o primeiro lugar em ho-nestidade e tica entre 45 profi sses (Mason, 2001; McCafferty, 2002; Saad, 2006).

    Propsitos, objetivos e benefcios da educao de clientes e da equipe de enfermagem

    O propsito da educao de pacientes au-mentar sua competncia e sua confiana para a autogesto. Objetiva-se aumentar sua

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    responsabilidade e sua independncia para o autocuidado. Tais metas podem ser alcan-adas pelo apoio adequado aos pacientes por meio de sua transio de invlidos para autos-sustentveis quanto administrao de seu prprio cuidado; de receptores dependentes a participantes envolvidos no processo de cuidado; e de ouvintes passivos a aprendizes ativos. Uma abordagem educativa interativa e parceira propociona, ao cliente, a oportunida-de de explorar e expandir suas habilidades de autocuidado (Cipriano, 2007).

    A ao individual mais importante dos en-fermeiros como cuidadores preparar os pa-cientes para o autocuidado. Se eles no conse-guem manter ou melhorar seu estado de sade de modo independente quando no possuem auxlio, falhamos em ajud-los a alcanar seu prprio potencial (Glanville, 2000). Os bene-fcios da educao aos clientes so muitos. A efi ccia do ensino realizado pelo enfermeiro tem demonstrado potencial para:

    aumentar a satisfao do consumidor; melhorar a qualidade de vida; assegurar a continuidade do cuidado; diminuir a ansiedade do cliente; reduzir efetivamente as complicaes de enfermidades e a incidncia de doenas;promover adeso aos planos do tratamen- to mdico;maximizar a independncia no desempe- nho de atividades da vida diria; eestimular e fortalecer os consumidores a se tornarem ativamente envolvidos no planejamento de seu cuidado.

    Como muitos problemas e necessidades de sade so tratados no lar, de fato, h uma necessidade de as pessoas serem educadas para cuidarem de si prprias tanto para fi carem como para permanecerem bem. A enfermidade um processo natural da vida, assim tambm a habilidade humana de aprendizagem. Junto a essa habilidade, h a curiosidade natural que permite s pessoas

    perceberem novas e difceis situaes como desafi os, mais do que como derrotas. Como Orr (1990) observou: a enfermidade pode tornar-se uma oportunidade educativa... um momento de aprendizagem quando a sade debilitada repentinamente encoraja [o pa-ciente] a tomar uma atitude mais ativa em seu cuidado (p. 47). Essa observao per-manece relevante ainda hoje.

    Inmeros estudos revelam que clientes informados aderem com mais facilidade ao tratamento mdico, encontram formas ino-vadoras de enfrentar a doena e so menos suscetveis a complicaes. Sobretudo, fi -cam mais satisfeitos com o cuidado quando recebem informaes adequadas sobre como se cuidarem. Uma das reclamaes mais fre-quentemente citadas por clientes, em casos de litgio, que no estavam informados de forma adequada (Reising, 2007).

    Assim como necessrio ensinar os clien-tes para ajud-los a se tornarem participantes e receptores de cuidados informados a fi m de atingirem a independncia no autocuidado, tambm preciso que os enfermeiros atuan-tes tenham acesso a informaes atualizadas para, antes de mais nada, melhorarem sua prtica. O propsito da educao da equipe e dos estudantes de enfermagem aumentar a competncia e a confi ana dos profi ssionais para que desempenhem, de forma indepen-dente, a funo de provedores de cuidado ao consumidor. O objetivo de nossos esforos educativos melhorar a qualidade do cuidado oferecido pelos enfermeiros, os quais desem-penham um importante papel na melhora da sade da nao e reconhecem a relevncia da aprendizagem ao longo da vida para manter seus conhecimentos e suas habilidades atua-lizados (DeSilets, 1995).

    Por outro lado, os enfermeiros no papel de educadores benefi ciam-se com o aumento da satisfao profi ssional, quando reconhe-cem que suas aes educativas podem esta-belecer relaes teraputicas com os clientes

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    e aumentar a autonomia paciente-enfermei-ro, com maior responsabilidade na prtica e oportunidade de criar mudanas que real-mente faam a diferena na vida dos outros.

    Nosso propsito primordial como educa-dores, portanto, deve ser o de dar suporte aos clientes, instruir a equipe de enfermagem e servir de professores e preceptores clnicos aos estudantes de enfermagem. Devemos va-lorizar nosso papel de educadores e fazer dele uma prioridade para nossos clientes, colegas e futuros membros da equipe.

    Processo educativo defi nido

    O processo educativo um curso de ao sistemtico, sequencial, lgico, planejado e com base cientfi ca que consiste de duas operaes interdependentes principais: o en-sino e a aprendizagem. Esse processo forma um ciclo contnuo que tambm envolve dois agentes interdependentes: o educador e o aprendiz. Juntos, desempenham seus papis, cujo resultado leva a mudanas de comporta-mento mutuamente desejadas. Tais mudan-as devem ser cultivadas no aprendiz e, por sua vez, reconhecidas e cultivadas pelo pro-fessor. Portanto, esse processo de educao a base para uma abordagem participativa e compartilhada do ensino e da aprendizagem (Carpenter e Bell, 2002).

    O processo educativo sempre foi com-parado ao processo de enfermagem acerta-damente, porque andam lado a lado, embora tenham diferentes metas e objetivos. Ambos os processos fornecem uma base racional para a prtica de enfermagem mais do que uma base intuitiva. Ambos consistem dos elementos bsicos de anlise, planejamen-to, implementao e avaliao; entretanto, o processo de enfermagem est centrado no planejamento e na implementao do cuidado baseado na anlise e no diagnsti-co das necessidades fsicas e psicossociais do paciente, enquanto foca o planejamento

    e a implementao do ensino baseado na anlise e na priorizao das necessidades de aprendizagem do cliente, sua prontido em aprender e sua forma de aprendizagem (Carpenter e Bell, 2002). Os resultados do processo de enfermagem so alcana-dos quando as necessidades fsicas e psi-cossociais do cliente so atendidas. Os do processo educativo, por sua vez, so alcan-ados quando ocorrem mudanas no conhe-cimento, nas atitudes e nas habilidades do indivduo. Ambos os processos esto em an-damento, sendo que a anlise e a avaliao continuamente redirecionam suas fases de planejamento e implementao. Se os resul-tados mutuamente esperados dos processos no so alcanados, conforme determinado pela avaliao, ento o processo educativo ou o de enfermagem podem e devem ter recomeados a anlise, o planejamento e a implementao (Fig. 1.1).

    preciso observar que o ato real de ensi-nar ou instruir meramente um componente do processo educativo. Ensino e instruo, termos em geral usados como sinnimos, so intervenes deliberadas que envolvem a par-tilha de informaes e experincias para que sejam alcanados os resultados pretendidos pelo aprendiz nos domnios cognitivo, afe-tivo e psicomotor, de acordo com um plano educativo. Esses dois termos, normalmente, designam atividades formais, estruturadas, organizadas e preparadas com dias de antece-dncia, mas que tambm podem ser desem-penhadas informalmente e sem planejamento durante conversas ou encontros casuais com o aprendiz. Tanto formais quanto informais, planejadas com antecedncia ou espontne-as, as atividades de ensino e instruo so, todavia, atos deliberados e conscientes que visam a produzir a aprendizagem (Carpenter e Bell, 2002).

    O fato de o ensino e a instruo serem in-tencionais no signifi ca necessariamente que sejam tarefas extensas e complexas; so, na

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    verdade, aes conscientes por parte do pro-fessor em resposta necessidade de apren-dizagem de um indivduo. Os sinais de que algum tem necessidade de aprender podem ser percebidos na forma de um pedido verbal, uma pergunta, um olhar confuso ou interroga-tivo, olhos arregalados ou gestos de frustrao ou derrota. Em sentido mais amplo, portanto, o ensino uma estratgia verstil que pode ser aplicada na preveno, na promoo, na manuteno ou na modifi cao de diversos tipos de comportamentos de um aprendiz que receptivo, motivado e adequadamente informado (Duffy, 1998).

    A aprendizagem defi nida como uma mudana no comportamento (conhecimen-to, atitudes e/ou habilidades) que pode ser observada ou medida e que ocorre a qual-quer momento ou em qualquer lugar como resultado da exposio a um estmulo am-biental. A aprendizagem a ao pela qual o conhecimento, as habilidades e as atitu-des so consciente ou inconscientemente adquiridas de modo que o comportamento alterado de alguma maneira (ver Cap. 3).

    O sucesso do empenho do educador enfer-meiro em ensinar medido no por quanto contedo tenha sido ministrado, mas, prin-cipalmente, pelo quanto a pessoa aprendeu (Musinski, 1999).

    Especifi camente, educao dos pacientes consiste no processo de auxiliar as pessoas a aprenderem comportamentos relacionados sade que possam ser incorporados vida diria com o objetivo de otimizar a sade e a independncia no autocuidado. Educao da equipe de enfermagem, em contraste, refere-se ao processo de infl uenciar o comportamento de enfermeiros pela produo de mudanas em seus conhecimentos, suas atitudes e suas habilidades, visando a auxili-los a manter e melhorar suas competncias para a promo-o do cuidado de qualidade ao consumidor. A educao, tanto dos pacientes quanto da equipe, envolve o estabelecimento de uma relao entre o aprendiz e o educador, de modo que as necessidades de informao do aprendiz (cognitivas, afetivas e psicomotoras) possam ser atendidas por meio do processo de educao (ver Cap. 10).

    Processo de enfermagem Processo educativo

    Avaliar as necessidades fsicas e psicolgicas

    Desenvolver plano de cuidadobaseado no estabelelcimento deobjetivos mtuos para atender asnecessidades individuais

    Executar intervenes de cuidadoem enfermagem usandoprocedimentos padronizados

    Determinar resultados fsicose psicolgicos

    ANLISE

    PLANEJAMENTO

    IMPLEMENTAO

    AVALIAO

    Averiguar as necessidades,os estilos e a prontidopara a aprendizagem

    Desenvolver planos de ensinobaseados em resultadoscomportamentais mutuamentepredeterminados para atender anecessidades individuais

    Desempenhar o ato de ensinar usandomtodos e ferramentas instrucionaisespecficas

    Determinar mudanas comportamentais(resultados) no conhecimento, nasatitudes e nas habilidades.

    Figura 1.1 Processo educativo paralelo ao processo de enfermagem.

  • O Enfermeiro como Educador 35

    Um paradigma que pode ser usado para auxiliar o enfermeiro a organizar e executar o processo educativo o modelo ASSURE* (Rega, 1993), que consiste em:

    avaliar o aprendiz; estabelecer os objetivos; selecionar os mtodos e os materiais edu- cativos;usar os mtodos e os materiais educativos; requisitar o desempenho do aprendiz; e avaliar o plano de ensino e revis-lo con- forme a necessidade.

    Papel do enfermeiro como educador

    Por muitos anos, as organizaes que gover-nam e infl uenciam a atuao dos enfermeiros identifi caram o ensino como uma responsabili-dade essencial de todos esses profi ssionais no cuidado de clientes doentes ou sos. Para os enfermeiros cumprirem o papel de educadores, seu pblico pode ser composto por pacientes e seus familiares, estudantes e membros da equi-pe de enfermagem ou, inclusive, pelo quadro de funcionrios de outra agncia; alm disso devem ter uma fundamentao slida nos prin-cpios do ensino e da aprendizagem.

    Mandatos legais e de acreditao, bem como padres da prtica profi ssional de enfer-magem, tornaram o papel de educador parte integrante do cuidado de alta qualidade a ser promovido por todos os enfermeiros licencia-dos nos Estados Unidos, independentemente de seu nvel de preparao. Assim sendo, imperativo que se examinem as expectativas

    atuais do papel educativo dos enfermeiros, sem distino quanto a sua formao profi ssional. Tal papel no fundamentalmente constitudo pelo ensino, mas pela promoo da aprendi-zagem e de um ambiente adequado para que esta ocorra assim, d-se a oportunidade para o ensino em vez de esperar que este se estabe-lea (Wagner e Ash, 1998). Alm disso, o papel do enfermeiro como professor de pacientes e de suas famlias, da equipe de enfermagem e de estudantes certamente deve surgir de uma fi losofi a participativa. O educando no pode ser obrigado a aprender; entretanto, uma abor-dagem educativa efi caz envolve ativamente os aprendizes no processo educativo (Bodenhei-mer et al., 2002).

    Embora, por lei, todos os enfermeiros possam ensinar, poucos sequer tiveram prepa-rao formal relativa aos princpios de ensino e aprendizagem (Donner et al., 2005). Como ser visto neste livro, h muito conhecimento e muitas habilidades a serem adquiridos para que se possa desempenhar o papel de educador com efi cincia e efi ccia. Apesar de todos os enfermeiros serem capazes de exercer a funo de disseminadores de informao, necessrio adquirir as habilidades de facilitadores do pro-cesso de aprendizagem (Musinski, 1999). Con-sideremos as seguintes questes propostas:

    O enfermeiro est adequadamente prepa- rado para analisar as necessidades e os es-tilos de aprendizagem e a prontido para aprender?O enfermeiro pode determinar se a infor- mao recebida e entendida?O enfermeiro capaz de tomar as medi- das necessrias para revisar apropriada-mente a abordagem educativa feita se a informao fornecida no for compreen-dida pelo paciente?O enfermeiro compreende a necessida- de de transio do papel de educador transmissor de contedo para o papel de gerente de processo? Do controle para a

    * N. de T. ASSURE um acrstico composto pelas iniciais dos seis passos descritos no mto-do (Analyze learners; State the objective; Selected method, media and materials; Use them; Require learning participation; Evaluate and revise); alm disso, um verbo da lngua inglesa que signifi ca assegurar, garantir ou afi rmar.

  • 36 Susan B. Bastable

    liberao do aprendiz? Da transio entre ser um professor para ser um facilitador (Musinski, 1999)?

    Um crescente conjunto de evidncias su-gere que a educao efetiva e a participao do aprendiz andam lado a lado. O enfermeiro deve agir como um facilitador, criando um ambiente voltado aprendizagem, que motive e possibi-lite o indivduo a querer aprender (Musinski, 1999). A anlise das necessidades de aprendi-zagem, a concepo de um plano de ensino, o implemento de mtodos e materiais educati-vos, e a avaliao do ensino e da aprendizagem devem incluir a participao tanto do educa-dor quanto do aprendiz. Dessa forma, a nfa-se na facilitao da aprendizagem a partir de uma abordagem no diretiva prefervel a uma abordagem didtica do ensino (Knowles, Hol-ton e Swanson, 1998; Musinski, 1999; Mange-na e Chabeli, 2005; Donner et al., 2005).

    Os professores no se consideram mais simples transmissores de contedo. Na ver-dade, o papel de educador mudou da posio tradicional de fornecedor de informaes para o de arquiteto e coordenador de um processo. A alterao de papis, da abordagem tradicio-nal centrada no professor para a centrada no aprendiz, uma mudana de paradigma que requer habilidades de anlise diagnstica das necessidades do educando alm da habilida-de de envolv-lo no planejamento, conect-lo com as fontes de aprendizagem e encoraj-lo em sua iniciativa (Knowles et al., 1998; Man-gena e Chabeli, 2005).

    Como j mencionado, o novo paradigma educacional tem como foco a aprendizagem do aprendiz e no o ensino do professor. Isto , o educador torna-se um guia, assistindo o aprendiz em seu esforo para determinar os objetivos e as metas do aprendizado; ambos so parceiros ativos nas tomadas de deciso por meio do processo de aprendizagem. Para aumentar a compreenso, a memorizao e a aplicao da informao, os clientes devem

    estar ativamente envolvidos na experincia de aprendizagem (Kessels, 2003; London, 1995). Glanville (2000) descreve esse movi-mento em ajudar os aprendizes a usar suas prprias habilidades e recursos como trans-ferncia central de poder (p. 58).

    Certamente, a educao do pacien-te requer um esforo colaborativo entre os membros da equipe de sade, na qual todos desempenham um papel mais ou menos im-portante no ensino. No entanto, os mdicos so preparados, em primeiro lugar, para tra-tar, no para tocar (Gilroth, 1990, p. 30). Os enfermeiros, por outro lado, so preparados para uma abordagem holstica da promoo do cuidado. O papel de ensinar uma parte mpar de nosso campo profi ssional. Como os receptores de cuidado sempre respeitaram e confi aram nos enfermeiros para serem seus conselheiros, estes encontram-se em uma posio ideal para esclarecer informaes confusas e distinguir o bom senso do absur-do. Em um sistema de promoo de sade fragmentado, que envolve muitos provedo-res, o enfermeiro serve como coordenador do cuidado. Assegurando a consistncia da informao, esse profi ssional pode apoiar os indivduos em seus esforos para alcanar a meta de uma sade ideal (Donovan e Ward, 2001). Ele tambm pode ajudar seus colegas a adquirirem o conhecimento e as habilidades necessrios promoo do cuidado profi ssio-nal de enfermagem.

    Barreiras ao ensino e obstculos aprendizagem

    Muitos educadores tm dito que a aprendiza-gem de adultos se estabelece no pela inicia-tiva e pela motivao do professor ao processo de aprendizagem, mas pela remoo ou pela reduo de obstculos pelo educador, o que melhora o processo aps seu incio. O educa-dor no deve limitar a aprendizagem s infor-maes pretendidas; deve tornar claramente

  • O Enfermeiro como Educador 37

    possvel potencial para aprendizagem infor-mal, no intencional, que ocorre a cada dia e a cada encontro entre professor e aprendiz (Carpenter e Bell. 2002).

    Infelizmente, o enfermeiro confronta-se com muitas barreiras ao executar suas res-ponsabilidades na educao. Alm disso, o aprendiz tambm encara diversos obstcu-los potenciais que podem interferir em sua aprendizagem. Para os propsitos deste livro, barreiras ao ensino so os fatores que impe-dem a habilidade do enfermeiro de promover servios educacionais, e obstculos aprendi-zagem so os fatores que afetam negativamen-te a habilidade do aprendiz de prestar ateno na informao e process-la.

    Fatores interferentes na habilidade de ensinoA seguir, so listadas as principais barreiras que interferem na habilidade do enfermeiro de executar seu papel de educador (Carpenter e Bell. 2002; Casey, 1995; Chachkes e Christ, 1996; Duffy, 1998; Glanville, 2000; Honan, Krsnak, Petersen e Torkelson, 1988):

    1. A falta de tempo para ensinar citada pelos enfermeiros como a maior barreira a sua capacidade de desempenhar efe-tivamente o papel de educador. A alta precoce do ambiente de internao e ambulatorial com frequncia resulta no contato passageiro entre enfermeiros e pacientes. Alm disso, os horrios e as responsabilidades desse profi ssional so muito exigentes. Encontrar tempo para dispensar ao ensino muito desafi ador, ao se considerar outras demandas e ex-pectativas de trabalho. Em uma pesqui-sa da Joint Commission, 28% dos enfer-meiros alegaram no serem capazes de fornecer informaes necessrias a pa-cientes e suas famlias devido falta de tempo durante seus turnos de trabalho (Stolberg, 2002). Os enfermeiros de-

    vem saber como adotar uma abordagem breve, efi ciente e efi caz na educao do cliente e da equipe, primeiramente pela anlise diagnstica adequada do apren-diz e pelo uso apropriado dos mtodos e das ferramentas instrucionais dispo-nveis. Os planos de alta desempenham um papel ainda mais importante ao as-segurar a continuidade do cuidado em todos os ambientes.

    2. Muitos enfermeiros e outros profi ssio-nais da sade admitem no se sentirem competentes ou confi antes em suas ha-bilidades de ensino. Como citado an-teriormente, embora se espere que os enfermeiros sejam educadores, poucos fi zeram ao menos um curso especfi co sobre os princpios do ensino e da apren-dizagem. Os conceitos de educao do paciente geralmente so integrados por todo o currculo de enfermagem em vez de serem oferecidos em cursos especfi -cos. J em 1965, Pohl descobriu que um tero dos 1.500 enfermeiros entrevista-dos relatou no ter sido preparado para o ensino que estava praticando, enquanto somente um quinto sentiu ter recebido preparao adequada. Quase 30 anos depois, Kruger (1991) questionou 1.230 enfermeiros em cargos assistenciais, administrativos e educativos acerca de suas percepes sobre o nvel de alcan-ce das responsabilidades educacionais e da educao do paciente. Embora os trs grupos acreditem fortemente que a educao da equipe e dos clientes seja responsabilidade bsica dos enfermeiros, a maioria classifi cou como insatisfatria sua habilidade de desempenhar ativida-des como educador. So poucos os estu-dos realizados sobre as percepes dos enfermeiros acerca de seu papel de edu-cador (Trocino, Byers e Peach, 1997). Hoje essa habilidade ainda precisa ser fortalecida na educao de nvel superior,

  • 38 Susan B. Bastable

    mas, felizmente, o interesse e a ateno ao papel de educador vm ganhando um espao signifi cativo nos programas de ps-graduao em enfermagem por todo o pas (nos Estados Unidos).

    3. As caractersticas pessoais do educador enfermeiro so importantes na determi-nao dos resultados da interao ensi-no-aprendizagem. Sua motivao para educar e suas habilidades de ensino so os principais fatores para determinar o sucesso de qualquer atividade educativa (ver Cap. 11).

    4. At recentemente, o pessoal de admi-nistrao e superviso concedia baixa prioridade educao dos pacientes e da equipe. Devido grande nfase dada nas diretrizes da Joint Commission, o nvel de ateno dispensado s necessidades de aprendizagem dos consumidores e dos profi ssionais de sade mudou signifi cati-vamente. Entretanto, a distribuio das verbas para programas educativos perma-nece restrita, podendo interferir na ado-o de estratgias e tcnicas inovadoras que economizem tempo.

    5. Os diferentes ambientes em que os enfer-meiros so solicitados a ensinar nem sem-pre so passveis de execuo do processo de ensino-aprendizagem. Falta de espao, de privacidade, barulho e interferncias frequentes devido ao horrio de tratamen-to do paciente e s demandas de trabalho da equipe so apenas alguns dos fatores que afetam negativamente a capacidade do enfermeiro de se concentrar e interagir efetivamente com os aprendizes.

    6. Defi cincias no reembolso de seguro--sade para apoiar a educao aos pa-cientes relegam o ensino e a aprendiza-gem a um plano abaixo da alta priorida-de. Os servios de enfermagem dentro dos estabelecimentos de sade esto in-cludos nos custos de internao hospi-talar e, portanto, no so especifi camen-

    te reembolsados pelas seguradoras. Na realidade, a educao de pacientes em alguns meios, como no cuidado domici-liar, em geral, no pode ser incorporada como um aspecto legtimo rotina da promoo de cuidado de enfermagem a menos que especifi camente requisitado por um mdico.

    7. Alguns enfermeiros e mdicos questio-nam se a educao do paciente efi caz como um meio de melhorar a sade. Eles consideram que os pacientes criam em-pecilhos ao ensino quando no mostram interesse em mudana de comportamen-to, quando demonstram indisposio em aprender ou quando sua habilidade de aprendizagem questionvel. Cuida-dos com relao coero e violao do livre-arbtrio, com base na crena de que o paciente tem o direito de escolher e que no pode ser forado a concordar, explicam por que alguns profi ssionais sentem-se frustrados em seus esforos para ensinar. A menos que todos os pro-vedores de sade se comprometam com a utilidade da educao do paciente (ou seja, acreditem que esta possa levar a mudanas comportamentais signifi cati-vas e aumento da adeso a tratamentos teraputicos), alguns profi ssionais con-tinuaro a se sentir isentos de suas res-ponsabilidades em providenciar ensino adequado e apropriado aos pacientes.

    8. O tipo de sistema de documentao usa-do pelas agncias de sade tem efeitos na qualidade e na proporo do ensino ao paciente. O ensino tanto formal quan-to informal com frequncia realizado (Carpenter e Bell, 2002), no sendo, po-rm, registrado por escrito devido falta de tempo, falta de ateno aos detalhes e formas inadequadas de registrar as ativi-dades de ensino. Muitos dos formulrios usados para a documentao do ensino esto voltados simples conferncia

  • O Enfermeiro como Educador 39

    dos assuntos contemplados em vez de se permitir a elaborao do que foi real-mente realizado. Alm disso, a maioria dos enfermeiros no reconhece a exten-so nem a profundidade do ensino que desempenham em sua prtica diria. A comunicao entre os provedores de sade sobre o que foi ensinado precisa ser coordenada e apropriadamente dele-gada para que o ensino possa prosseguir de maneira oportuna, agradvel, organi-zada e completa.

    Fatores interferentes na habilidade de aprenderA seguir, esto alguns dos principais obstcu-los que interferem na habilidade do aprendiz em prestar ateno e processar a informao (Glanville, 2000; Weiss, 2003):

    1. Falta de tempo para o aprendizado devido rapidez do cuidado e expectativa de que o cliente aprenda uma grande quantida-de de informao podem desencorajar e frustrar o aprendiz, ameaando sua habi-lidade e sua disposio de aprender.

    2. O estresse causado por doenas agudas e crnicas, a ansiedade e as defi cincias sensoriais dos pacientes so apenas al-guns dos problemas que podem diminuir a motivao do aprendiz e interferir no processo de aprendizagem. Entretanto, deve-se ressaltar que a doena por si s raramente age como um impedimento ao aprendizado. Ao contrrio, geralmente o incentivo do paciente para se engajar no ensino, fazer contato com profi ssio-nais da sade e usar aes positivas para melhorar seu estado de sade.

    3. Difi culdades tanto na leitura e na escri-ta quanto na compreenso funcional de sade por parte dos pacientes so fatores signifi cativos quando se usam instrues escritas e verbais fornecidas pelos pro-vedores da sade. Quase metade da po-

    pulao estadunidense apresenta nveis de leitura e compreenso referentes a at ou abaixo do 8o ou 9o anos do ensino fundamental e uma porcentagem ainda maior formada por analfabetos em sade (ver Cap. 7).

    4. A infl uncia negativa do ambiente hos-pitalar por si s pode causar perda de controle, falta de privacidade e isolamen-to social, o que pode interferir no papel ativo do paciente na tomada de decises sobre sua sade e seu envolvimento no processo de ensino-aprendizagem.

    5. As caractersticas pessoais do aprendiz tm efeitos importantes no grau de al-cance dos resultados comportamentais esperados. A prontido para aprender, a motivao e a adeso ao tratamento mdico, as caractersticas do estgio de desenvolvimento e os estilos de aprendi-zagem so alguns dos principais fatores que infl uenciam o sucesso das ativida-des educativas.

    6. A amplitude e a complexidade das mu-danas comportamentais necessrias po-dem oprimir os aprendizes e dissuadi-los de prestar ateno e concluir objetivos e metas de aprendizagem.

    7. A falta de apoio e de incentivo positivo ao longo do processo, por parte do enfer-meiro e dos familiares, pode bloquear o potencial de aprendizagem.

    8. A negao das necessidades de apren-dizagem, a difi culdade de ajustamento autoridade e a falta de interesse em ser responsvel (locus de controle) so alguns dos obstculos psicolgicos s mudanas comportamentais.

    9. Inconvenincia, complexidade, falta de acessibilidade, fragmentao e desumani-zao do sistema de sade frequentemen-te resultam em frustrao ou abandono dos esforos do aprendiz na participao e na adeso aos objetivos e s metas da aprendizagem.

  • 40 Susan B. Bastable

    Questes sobre o ensino e a aprendizagem

    Para maximizar a efi ccia da educao de equipe/estudantes e de clientes pelo enfer-meiro, necessrio examinar os elementos do processo educativo e o papel desse profi ssio-nal como educador. Em geral, surgem muitas questes relacionadas aos princpios do ensi-no e da aprendizagem. A seguir, esto relacio-nadas algumas questes importantes as quais sero abordadas nos captulos deste livro:

    Como os membros de uma equipe de sa- de podem trabalhar juntos de forma efi caz para coordenar as aes educativas?Quais as questes ticas, legais e econ- micas envolvidas na educao de pacien-tes e da equipe de enfermagem?Que teorias e princpios fundamentam o processo educativo e como podem ser aplicados para mudar o comportamento dos aprendizes?Que ferramentas e mtodos de anlise podem ser usados para determinar as ne-cessidades e os estilos de aprendizagem e a prontido em aprender?Que atributos do aprendiz afetam positi- va e negativamente a habilidade e inte-resse individual em aprender?O que pode ser feito (quantitativa e qua- litativamente) quanto promoo de ser-vios educativos inadequados?Que elementos devem ser considerados no desenvolvimento e na implementao dos planos de ensino?Que mtodos e materiais instrucionais esto disponveis para apoiar as aes educativas?Sob que condies devem ser usados deter- minados mtodos e materiais de ensino?Como pode ser o ensino voltado s ne- cessidades de populaes especfi cas de aprendizes?

    Quais os erros comuns cometidos ao se ensinar?Como o ensino e a aprendizagem podem ser mais bem avaliados?

    O estado da arte

    A literatura sobre educao de equipe de enfermagem e de pacientes extensa, sen-do sua perspectiva fundamentada ou no na pesquisa. A literatura sem fundamentao em pesquisas sobre educao dos pacientes de natureza prescritiva e tende a dar dicas resumidas de como realizar abordagens in-dividualizadas para o ensino e a aprendiza-gem. Uma reviso bibliogrfi ca na internet, por exemplo, revela literalmente milhares de artigos de enfermagem relacionados sade e livros disponveis, gerais ou especfi cos, so-bre ensino e aprendizagem.

    Apesar disso, muitas pesquisas funda-mentadas tem sido realizadas sobre o ensino de populaes especfi cas com relao a di-versas caractersticas, mas s recentemente a ateno se voltou em como ensinar com efi -ccia os que sofrem com doenas crnicas de longo prazo. Muitas outras pesquisas devem ser feitas sobre a relao entre os benefcios da educao de pacientes e seu potencial em aumentar a qualidade de vida, promover uma vida livre de defi cincias, diminuir os custos do cuidado em sade e promover o manejo domiciliar independente por meio de aborda-gens de ensino preventivas. Estudos de casos agudos tendem a focar o preparo do paciente para um procedimento, enfatizando os bene-fcios da informao no alvio da ansiedade e na promoo do conforto psicolgico. As evi-dncias sugerem que o enfrentamento pelos pacientes muito mais efi caz quando so ensinados exatamente sobre o que devem es-perar (Donovan e Ward, 2001; Duffy, 1998; Mason, 2001).

  • O Enfermeiro como Educador 41

    Defi nitivamente, preciso desenvolver mais pesquisas sobre os benefcios dos m-todos de ensino e das ferramentas educati-vas que utilizam novas tecnologias de ensino assistida por computador, modalidades de aprendizagem on-line ou outras de ensino distncia, televiso a cabo e acesso inter-net para dispor informaes sobre sade re-lacionadas educao de pacientes da equi-pe. Essas novas abordagens da informao requerem uma mudana tanto no papel do educador, de professor a facilitador, quanto no do aprendiz, de receptor passivo a recep-tor ativo. Os rpidos avanos na tecnologia de ensino tambm exigem melhor entendi-mento das orientaes e experincias for-madoras do aprendiz (Billings e Kowalski, 2004). Alm disso, a efi ccia do ensino, com vdeo e udio, de aprendizes diferentes em situaes distintas deve ser mais explorada (Kessels, 2003). Dada a incidncia signifi -cativa de baixos ndices de capacidade de leitura e escrita entre os pacientes e seus familiares, outros estudos devem ser reali-zados, comparando o impacto de materiais impressos e audiovisuais, assim como da ins-truo verbal e escrita, sobre a compreenso do aprendiz (Weiss, 2003).

    Questes referentes a sexo, infl uncias socioeconmicas na aprendizagem e estrat-gias de ensino a grupos culturais e populaes com necessidades especiais necessitam de maior explorao. Infelizmente, as fontes de informao da literatura de enfermagem sobre sexo e atributos socioeconmicos do aprendiz so escassas, e as descobertas das pesquisas interdisciplinares sobre a infl uncia do sexo na aprendizagem permanecem inconclusivas.

    Todavia, espera-se que os enfermeiros ensinem populaes diversas, com neces-sidades complexas e habilidades variadas, tanto em ambientes tradicionais como no tradicionais e sem estrutura. Por mais de 30

    anos, os pesquisadores em enfermagem tm estudado como melhor ensinar os pacientes, porm muito mais pesquisas so necessrias (Mason, 2001). Alm disso, poucos estudos examinaram as percepes dos enfermeiros sobre seu papel de educadores na prtica (Trocino et al., 1997). preciso que se es-tabelea uma base terica mais forte para interagirmos com os clientes ao longo de todas as fases da aprendizagem, da aquisio da informao mudana comportamental (Donovan e Ward, 2001, p. 211). Tambm, necessrio dar nfase pesquisa sobre edu-cao na enfermagem para assegurar que a fora de trabalho esteja preparada para um futuro desafi ador e incerto no cuidado em sade (Stevens e Valiga, 1999, p. 278).

    Ademais, dever-se-ia garantir uma inves-tigao mais aprofundada que documentas-se a custo-efetividade das aes educativas na reduo das internaes hospitalares, no decrscimo de reinternaes, na me-lhora da qualidade de vida pessoal e na di-minuio das complicaes de doenas e terapias. Alm disso, dado o nmero de va-riveis que podem interferir no processo de ensino-aprendizagem, estudos adicionais devem ser conduzidos a fi m de examinar os efeitos dos estmulos ambientais, os fatores envolvidos na prontido para aprender e a in-fl uncia dos estilos de aprendizagem na mo-tivao do aprendiz, na adeso ao tratamento, na compreenso e na habilidade de aplicar o conhecimento e as competncias adquiridas. Uma lacuna em particular tem a ver com a falta de informao nos dados de pesquisa sobre como analisar a motivao. Eleanor Ri-chards, autora do Captulo 6 deste livro, pro-pe parmetros para tal anlise da motivao, mas menciona a escassez de informaes que abordam especifi camente esse assunto.

    Embora tenha sido h quase 20 anos que Oberst (1989) delineou as principais questes

  • 42 Susan B. Bastable

    dos estudos de educao do paciente em rela-o avaliao da base de pesquisa existente e criao de estudos futuros, as quatro cate-gorias gerais de problematizao que identifi -cou continuam pertinentes hoje:

    1. Seleo e medio das variveis dependen-tes apropriadas (resultados educativos)

    2. Planejamento e controle de variveis in-dependentes (intervenes educativas)

    3. Controle de variveis mediadoras e inter-venientes

    4. Desenvolvimento e refi namento da base terica da educao

    Resumo

    Os enfermeiros so considerados agentes de informao. So educadores que podem fazer diferena signifi cativa em como os pacientes e seus familiares enfrentam suas doenas, como o pblico se benefi cia da educao vol-tada preveno da doena e promoo da sade e como os estudantes e os enfermeiros ganham competncia e confi ana na prtica por meio de atividades educativas direciona-das a um aprendizado contnuo. Muitos desa-fi os e oportunidades surgem diante dos enfer-meiros educadores na promoo do cuidado medida que avanamos no sculo XXI.

    O ensino est tornando-se cada vez mais importante e visvel medida que os enfer-meiros respondem s tendncias sociais, eco-nmicas e polticas impactantes no cuidado em sade hoje. O principal desafi o desses profi ssionais serem capazes de demons-trar, por meio da pesquisa e da ao, que existem laos defi nitivos entre a educao e os resultados comportamentais positivos do aprendiz. Nesta era de conteno de gastos, regulamentaes governamentais e reforma da sade, os benefcios da educao de clien-tes, equipe e estudantes devem ser esclareci-dos ao pblico, aos provedores de sade, aos empregadores e aos contratantes de seguros de sade. Para serem efi cazes e efi cientes, os enfermeiros devem estar dispostos e serem capazes de trabalhar colaborativamente com outros membros da equipe de sade a fi m de promoverem educao consistente e de alta qualidade ao pblico a que servem.

    A responsabilidade e a justifi cativa para os enfermeiros promoverem o cuidado ao con-sumidor podem ser alcanadas, em parte, por meio da educao baseada em princpios sli-dos de ensino e aprendizagem. A chave para a educao efi caz de nosso pblico aprendiz o entendimento do enfermeiro sobre seu papel de educador e seu comprometimento cont-nuo com esse papel.

  • O Enfermeiro como Educador 43

    1. H quanto tempo o ensino tem sido parte do papel profi ssional do enfermeiro? 2. Qual foi a primeira organizao de enfermagem a reconhecer o ensino em sade

    como uma importante funo na prtica profi ssional? 3. Qual mandato legal universaliza o ensino como responsabilidade dos enfermeiros? 4. Como a American Nurses Association, a National League for Nursing, o

    International Council of Nurses, a American Hospital Association, a Joint Commission e a PEW Commission infl uenciaram o papel e as responsabilidades do enfermeiro como educador?

    5. Que tendncias sociais, econmicas e polticas atuais tornam imperativo que o cliente e a equipe de enfermagem recebam educao adequada?

    6. Quais as semelhanas e as diferenas entre o processo educativo e o processo de enfermagem?

    7. Quais as trs maiores barreiras ao ensino e os trs maiores obstculos aprendizagem?

    8. Quais os fatores em comum que funcionam tanto como barreiras educao e como obstculos aprendizagem?

    9. Qual o estado atual das evidncias, baseadas ou no em pesquisas, referentes educao?

    QUESTES PARA REVISO

    Referncias

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