enfrentamento contemporaneo da questao social

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A FUNCIONALIDADE DO TERCEIRO SETOR E DAS ONGS NO CAPITALISMO CONTEMPORNEO: O DEBATE SOBRE SOCIEDADE CIVIL E FUNO SOCIAL Janana Lopes do Nascimento DuarteRESUMO ________________________________________________________________________________________________ A dinmica de reordenamento capitalista impe estratgias de consenso que consolidam as modificaes sciohistricas de interesse do capital ps-1970. Tais modificaes redefinem um padro de respostas s expresses da questo social que interfere no acesso aos direitos e ratifica a interveno do terceiro setor e das ONGs no campo social. O discurso ideolgico que fundamenta tais alteraes aponta para o incentivo participao da sociedade civil e para a crise do Estado. Numa perspectiva crtica e dialtica, o presente artigo busca debater: a) as tendncias do terceiro setor, particularizando sua identificao com a categoria sociedade civil; e b) a alterao da funo social das ONGs no processo de desresponsabilizao do Estado com as expresses da questo social. Palavras-Chave: Contra-reforma do Estado, terceiro setor, ONGs, sociedade civil.

O ENFRENTAMENTO CONTEMPORNEO DA QUESTO SOCIAL

A conjuntura mundial contempornea configura-se a partir de um conjunto de alteraes ocorridas nas sociedades capitalistas conduzidas pelo projeto neoliberal, as quais resultam da necessidade do capital de reestruturar-se nas esferas da produo e da reproduo social, em pases de capitalismo central e perifrico, incluindo nestes ltimos o Brasil. A partir de 1970 o padro de produo e acumulao capitalista entra em crise, visto que no mais responde s necessidades e aos interesses do capital de altas taxas de lucro e manuteno de sua hegemonia1. Como alternativa, o capital inicia um amplo processo de reestruturao, com vistas recuperao do seu ciclo reprodutivo e acumulativo, utilizando-se de estratgias em trs dimenses que se articulam: a reestruturao produtiva, as transformaes na rbita do trabalho e a reforma ou contra-reforma do Estado. Tais estratgias engendram um conjunto de transformaes scio-histricas que incidem de modo particular na relao Estado e Sociedade. Sobre esta relao, destaca-se a transferncia de responsabilidades com o enfrentamento das expresses da questo social para o mercado e o chamado terceiro setor em detrimento do Estado, acarretando um processo de profundas modificaes nas respostas contemporneas s seqelas sociais.

Mestre em Servio Social pela UFRN.

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A reforma ou contra-reforma caracteriza-se por um processo de reordenamento do Estado, a partir dos interesses do capital, em oposio garantia de direitos sociais via polticas sociais pblicas. No Brasil, o Estado, parceiro do capital, implementa aes polticas, econmicas e sociais sem alterar a essncia da sociedade burguesa capitalista, uma vez que vai contra as conquistas sociais da classe trabalhadora (BEHRING, 2003). A contra-reforma, segundo Behring (2003), tem impacto regressivo e destrutivo, bem como obstaculiza a agenda radicalmente progressista e democrtica demarcada pelos movimentos sociais e dos trabalhadores desde 1980. Portanto, a contra-reforma do Estado significa a materializao de alteraes regressivas nos direitos da classe trabalhadora; isto porque:

As polticas neoliberais comportam algumas orientaes/condies que se combinam, tendo em vista a insero de um pas na dinmica do capitalismo contemporneo, marcada pela busca de rentabilidade do capital por meio da reestruturao produtiva e da mundializao: atratividade, adaptao, flexibilidade e competitividade (BEHRING, 2003, p. 59).

De forma mais contundente, a partir da dcada de 1990, a poltica neoliberal minimiza consideravelmente a interveno do Estado na rea social, apela para a participao da chamada sociedade civil na execuo de polticas sociais e abre espao para o capital financeiro internacional, alm de estimular um discurso ideolgico de ineficincia, corrupo, desperdcio em torno de tudo o que estatal, enquanto o privado aparece como sinnimo de eficincia, probidade, austeridade (BORN, 1995). um processo que desconsidera direitos e minimiza o Estado para as necessidades do trabalho e maximiza para os interesses do capital, ou seja, subordina os direitos sociais lgica do mercado e da solidariedade transclassista2, inaugurando um novo quadro de respostas s expresses da questo social: a precarizao das polticas sociais de responsabilidade do Estado e a privatizao, esta ltima atravs da re-mercantilizao e da re-filantropizao dos servios sociais. Este processo o que Montao (2003, p. 185) caracteriza como:

[...] alterao de um padro de resposta social questo social (tpica do Welfare State), com a desresponsabilizao do Estado, a desonerao do capital e a autoresponsabilizao do cidado e da comunidade local para esta funo.

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As polticas sociais (universais) inseridas na concepo de direito social so acusadas de gerarem a crise dos fundos pblicos e constiturem-se em mau-investimento, em atividades burocrticas e sem retorno. Vale salientar que o que fundamenta tal postura a cultura da crise, na qual a burguesia internacional necessita reciclar e alargar o seu domnio, mediante a construo de uma cultura poltica capaz de reelaborar as bases da sua hegemonia (MOTA, 2000, p. 96). Esse o discurso colocado para legitimar a precarizao das polticas sociais sob a responsabilidade do Estado. Como uma das solues crise capitalista, o neoliberalismo aponta o retorno ao mercado, reduzindo a interveno estatal em reas e atividades voltadas para o social. A estratgia dos governos neoliberais, como o do Brasil, alterar a orientao das polticas sociais, subordinando-as aos interesses econmicos e polticos, atravs da: a) privatizao via mercado ou sociedade, representada, esta ltima, pelo terceiro setor; b) focalizao, com polticas dirigidas exclusivamente aos grupos com carncias pontuais (os mais pobres entre os mais pobres); e c) descentralizao administrativa, ou seja, desconcentrao financeira e executiva, mantendo o poder decisrio centralizado. Este quadro define uma estratgia precria de enfrentamento da questo social por parte do Estado, em que se busca a descaracterizao e anulao da condio de direito das polticas sociais, ou seja, a desconstruo do carter de universalidade e igualdade de acesso, j que tais concepes no atendem aos interesses contemporneos do capital mundializado. H uma tendncia de naturalizar a questo social, transformando suas manifestaes em objeto de programas assistenciais focalizados de combate pobreza3 ou em expresses da impossibilidade dos indivduos de superar seus desafios, isto , a culpabilizao do trabalhador. As respostas questo social, via polticas sociais pblicas, deixam de ser objeto de uma ao sistemtica do Estado com aes universais que garantam direitos sociais, sendo nas palavras de Iamamoto (2001, p. 16), transferida eventual solidariedade dos cidados, isto , s sobras de seu tempo e de sua renda.

As propostas neoliberais em relao ao papel do Estado na esfera da proteo social so propostas reducionistas, onde a Assistncia passa a ser para as situaes extremas, portanto, com alto grau de seletividade, e direcionada aos estritamente pobres, atravs de uma ao humanitria coletiva [...] Ou seja: uma poltica social que passa a ser pensada de modo residual, apenas para complementar o que no se

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conseguiu via mercado ou ainda atravs de recursos familiares e/ou da comunidade (YAZBEK, 1996, p. 42).

Essas orientaes conduzem a um processo de precarizao das polticas sociais estatais, reduzindo significativamente a prestao de servios sociais em quantidade, qualidade e variabilidade. Tal processo permite que amplos segmentos da populao sejam precariamente atendidos, expandindo o quadro de pobreza e misria, bem como aprofundando a desigualdade social4, uma vez que a demanda amplia em propores gigantescas e as respostas so cada vez mais pontuais e seletivas. Ao mesmo tempo, como j foi assinalado, h um movimento de privatizao das respostas s expresses da questo social que se caracteriza, por um lado, na progressiva mercantilizao do atendimento das necessidades sociais (IAMAMOTO, 2001, p. 24), como por exemplo, nos servios de sade, nos planos de previdncia social privados e na educao universitria, assim como, por outro, na re-filantropizao do social. Na lgica da mercantilizao, conforme Montao (2003), os servios so de qualidade para quem pode pagar e, por isso, so lucrativos para o capital, ou seja, constituem-se em um novo espao de acumulao. No projeto neoliberal necessrio transformar o social em espao mercantil, com destaque para a previdncia, a sade e a educao, para o financiamento da acumulao capitalista em mais um de seus momentos de crise. A outra via de privatizao das polticas sociais, mais precisamente com a poltica de Assistncia Social (no rentvel para o capital), a re-filantropizao a partir da transferncia de responsabilidade do Estado com as expresses da questo social para as organizaes do chamado terceiro setor. Para Yazbek (2004), a filantropia no Brasil no uma novidade na trajetria das polticas sociais. Contudo, nos ltimos anos, esta, alm de se diversificar em relao s tradicionais prticas filantrpicas, vem assumindo uma posio de crescente relevncia no incipiente sistema de proteo social do pas (YAZBEK, 2004, p. 17). A re-filantropizao, mascara o novo para preservar o velho, transforma direitos em ajuda, em favor, em ao solidria, em participao da sociedade civil organizada, ou seja, em aes que terminam por ampliar a desigualdade.

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No por acaso isso acontece. Constitui estratgia hegemnica do capital, uma vez que tal prtica contempornea retrata a desconstruo de direitos sociais e fundamenta-se na ideologia da solidariedade e na proposta de aliana entre as classes, sem distino de interesses scio-polticos. Materializa-se na expanso do terceiro setor e na lgica de um conjunto de organizaes e iniciativas privadas atuando em benefcio pblico (a publicizao5); aes polticas e ideolgicas que desconsideram direitos sociais e ocultam o conflito histrico entre capital e trabalho. Segundo Montao (2003), a privatizao das polticas sociais (re-mercantilizao e refilantropizao) caracteriza um trato descoordenado, pontual e pulverizado das expresses da questo social e no uma concepo de direito e de universalidade de acesso. Entende-se que a privatizao das polticas sociais um dos caminhos de reordenamento do capital para superao da sua crise de acumulao. Isto porque em tempos de Reforma do Estado, h a transferncia das polticas sociais para a esfera privada, privatizando o acesso e o servio, muito distante da concepo de polticas sociais como direito social para cobrir parte do que retirado como maisvalia da classe trabalhadora. Por isso, este momento scio-histrico alarga os limites da desigualdade social, o que se expressa, tanto pela dificuldade de acesso aos servios sociais, como pela ampliao da pobreza e da misria. Assim, o tratamento contemporneo da questo social despolitiza seu reconhecimento na realidade brasileira como expresso das relaes de classe nesta sociabilidade, visto que retira do Estado a responsabilidade histrica com as seqelas sociais originrias do modo de produo capitalista. Constituem-se em aes minimalistas para enfrentar uma questo social maximizada (NETTO, 2006 , p. 45). neste cenrio que o terceiro setor e as ONGs se proliferam e assumem posio estratgica no enfrentamento da questo social, com nfase na dcada de 1990.

TERCEIRO SETOR E SOCIEDADE CIVIL: DESAFIOS REFLEXO CRTICA E DIALTICA Na atualidade, o debate sobre o fenmeno terceiro setor bastante polmico, gerando entendimentos divergentes que interferem nas estratgias de enfrentamento da questo social. H duas tendncias que prevalecem na contemporaneidade, cujas direes se distinguem e se articulam

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a projetos societrios diferentes: uma tendncia dominante ou conservadora e outra tendncia crtica e de totalidade, que busca a essncia do fenmeno a partir das mltiplas determinaes que o envolvem6. Na tendncia dominante ou conservadora o terceiro setor seria formado pela sociedade civil organizada para responder/intervir no contexto das expresses da questo social. O discurso apresentado que nem o Estado, nem o mercado do conta dos inmeros problemas sociais crescentes da atualidade, sendo a sociedade civil forada a intervir no social, apresentando como princpios os valores do voluntarismo e da solidariedade. De acordo com Fernandes (1994b), um dos autores mais significativos da tendncia dominante/conservadora, o terceiro setor seria uma alternativa de resposta questo social, uma terceira via ou uma terceira possibilidade. Fernandes (1994b, p. 19) explica:Surge no mundo um terceiro personagem. Alm do Estado e do mercado, h um terceiro setor. No-goververnamental e no-lucrativo, , no entanto, organizado, independente, e mobiliza particularmente a dimenso voluntria do comportamento das pessoas. As relaes entre o Estado e o mercado, que tm dominado a cena pblica, ho de ser transformadas pela presena desta terceira figura as associaes voluntrias.

Ainda segundo Fernandes (1994b, p. 21), o conceito (terceiro setor) denota um conjunto de organizaes e iniciativas privadas que visam produo de bens e servios pblicos, no geram lucros e respondem a necessidades coletivas; ou seja, inmeras aes de indivduos, grupos e instituies que tm como fim suprir necessidades coletivas. Na verdade, Fernandes (1994b, p. 127) afirma que a idia de um terceiro setor supe um primeiro e um segundo (respectivamente o Estado e o mercado), no qual o terceiro setor assumiria responsabilidades sociais que estariam, na lgica dominante, fora da competncia dos outros setores, caracterizando-se como sociedade civil organizada. Por isso, Fernandes (1994a, p. 3) define o terceiro setor como um:

[...] composto de organizaes sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela nfase na participao voluntria, num mbito no governamental, dando continuidade s prticas tradicionais da caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para outros domnios, graas, sobretudo, incorporao do conceito de cidadania e de suas mltiplas manifestaes na sociedade civil.

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Percebe-se, nesta tendncia, que h uma identificao entre os entendimentos de sociedade civil e terceiro setor, como se fossem sinnimos. No Brasil, a Lei 9.790 de 23 de maro de 1999 (BRASIL, 1999), regulamenta as organizaes da sociedade civil. Segundo o artigo 1 desta lei, podem qualificar-se como Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico as pessoas jurdicas de direito privado, sem fins lucrativos. Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurdica de direito privado que no distribui, entre os seus scios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou lquidos, dividendos, bonificaes, participaes ou parcelas do seu patrimnio, auferidos mediante o exerccio de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecuo do respectivo objeto social. Tal regulamentao brasileira exemplifica como o fenmeno do terceiro setor reconhecido e legitimado no pas, percebido com certa positividade e estimulado legalmente. Por outro lado, o artigo 2 dessa mesma lei desqualifica como Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico: as sociedades comerciais; os sindicatos, as associaes de classe ou de representao de categoria profissional; as instituies religiosas ou voltadas para a disseminao de credos, cultos, prticas e vises devocionais e confessionais; as organizaes partidrias e assemelhadas, inclusive suas fundaes; as entidades de benefcio mtuo destinadas a proporcionar bens ou servios a um crculo restrito de associados ou scios; as entidades e empresas que comercializam planos de sade e assemelhados; as instituies hospitalares privadas no gratuitas e suas mantenedoras; as escolas privadas dedicadas ao ensino formal no gratuito e suas mantenedoras; as Organizaes Sociais; as cooperativas; as fundaes pblicas; as fundaes, sociedades civis ou associaes de direito privado, criadas por rgo pblico ou por fundaes pblicas; as organizaes creditcias que tenham qualquer tipo de vinculao com o sistema financeiro nacional a que se refere o art. 192 da Constituio Federal. O artigo 2 supracitado demonstra certa controvrsia na identificao de sociedade civil e terceiro setor, visto que esse ltimo legalmente no abrange todas as organizaes da sociedade. Portanto, a real caracterizao da sociedade civil bem mais ampla, complexa e contraditria que o entendimento de terceiro setor na tendncia dominante/conservadora. Como afirma Tonet (1997), o conceito atual de sociedade civil remete a uma polarizao entre interesses conservadores e interesses progressistas, em que a considerada nova sociedade civil

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torna-se sinnimo de um espao onde residem os autnticos direitos civis e polticos [...] (TONET, 1997, p.34), no qual esto presentes as concepes de participao e de oposio ao Estado. H nessa verso liberal de sociedade civil uma desarticulao dos nexos mais profundos do todo social (TONET, 1997, p. 37). Vale lembrar que as contradies da sociabilidade capitalista so o solo privilegiado no qual se compe e se sustenta a sociedade civil. Por isso, necessrio situar a sociedade civil no cerne da luta de classes da atualidade e considerar que o momento poltico, a democracia, a cidadania isolados das outras dimenses da totalidade scio-histrica no se constituem como central no debate; o essencial a perspectiva da luta pela emancipao humana, ou seja, pela liberdade do homem para alm das amarras do capital, numa vida plena de sentidos e realizaes.

certo que em determinados momentos, em determinadas situaes concretas, a luta pela democracia, pelos direitos civis, pode ser um passo importante na transformao da sociedade. Mas a preciso ver, em cada caso, como esta luta pela democracia pode se articular efetivamente com a emancipao da humanidade (TONET, 1997, p. 39).

Assim, a tendncia dominante/conservadora desconsidera as condies scio-histricas contemporneas de crise do capital e de busca de sua hegemonia, mistificando a realidade a partir de um debate no crtico que valoriza uma possvel unio entre as classes e um discurso de democracia e cidadania nos limites do capitalismo. O conflito, as diferenas de interesses, a heterogeneidade fundantes da sociedade civil/burguesa, composta por classes que divergem social, poltica e economicamente, faces que perpassam o terceiro setor, so encobertas pelo discurso atraente da solidariedade, do voluntariado em defesa explcita do capitalismo mundializado. De acordo com Gusmo (2000, p. 108), o discurso dominante tem uma motivao:

Na perspectiva neoliberal de Reforma do Estado, a solidariedade da sociedade civil fundamental, pois graas a ela o Estado e o governo podem livrar-se das presses e do nus de agirem historicamente de forma deficiente no espao gigantesco das desigualdades sociais, ao mesmo tempo em que seus compromissos se estruturam cada vez mais com os da acumulao.

A aproximao entre a sociedade civil e o terceiro setor, ou seja, sua sobreposio na atualidade tem uma funcionalidade poltica e ideolgica com a conjuntura de reordenamento

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capitalista, uma vez que obscurece os conflitos e imobiliza a luta de classes. No discurso neoliberal, segundo Petras (1999, p. 19), o Estado inimigo da democracia e da liberdade e um provedor corrupto e ineficiente de bem-estar social, sendo que em seu lugar a sociedade civil a protagonista da democracia e da melhoria social. Para desvendar o discurso dominante e fazer a crtica, necessria a reflexo da categoria sociedade civil. O momento scio-histrico presente est repleto de velhos conceitos/categorias que so retomados em funo dos interesses dominantes, sem a devida crtica e anlise das mltiplas determinaes, sendo massificados a partir de uma apropriao pelo capital que deturpa as categorias tericas na sua essncia a favor dos seus interesses. Para Netto (2004b, p. 61) nos ltimos vinte anos, tambm no Brasil, observa-se um ntido processo de diluio da carga semntica das categorias tericas empregadas na anlise social [...]. um quadro de frouxido categrica e conceptual e confusionismo (NETTO, 2004b, p. 62) que nos parece funcional ao capital. Na atualidade, como exemplos de tais categorias podem ser citados: a solidariedade, a caridade, a reciprocidade, a filantropia, o voluntariado, bem como o conceito clssico de sociedade civil. Em relao categoria solidariedade interessante para o capital descaracteriz-la na sua essncia crtica, apropriando-se do termo a servio dos seus interesses polticos e ideolgicos. Segundo Petras (1999), a palavra solidariedade tem sido utilizada de forma to indiscriminada que, em vrios contextos, j perdeu o seu significado. Historicamente, a palavra tem relao com a solidariedade interna de classe; no caso particular da classe trabalhadora refere-se unio e luta contra a explorao e a dominao. Petras (1999, p. 39) esclarece:O conceito marxista de solidariedade d nfase solidariedade interna da prpria classe, solidariedade dos grupos oprimidos contra os seus exploradores externos e internos. O ponto mais importante do conceito marxista de solidariedade consiste na ao comum dos mesmos membros de classe que compartilham as mesmas dificuldades econmicas lutando pela melhoria das condies da coletividade.

A solidariedade na atualidade, segundo Gusmo (2000), tem a conotao de uma categoria apoltica e unificadora da sociedade, isenta de interesses e sem ideologias; ou seja, sob a aparncia da convivncia pacfica e da colaborao entre ricos e pobres, a solidariedade neoliberal procura a colaborao dos trabalhadores com os donos do capital, pela via do consentimento na fratura de sua solidariedade e unio (GUSMO, 2000, p. 104). Quanto categoria sociedade civil, para Netto (2004b), poucas categorias tericas foram to desqualificadas, pois sob uma mesma embalagem encontram-se significados diferentes e at mesmoLibertas, Juiz de Fora, v.2, n.2, p. 50 - 72, jul / 2008 ISSN 1980-8518

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conflitantes. De acordo com o autor, a diluio terica da categoria sociedade civil compromete a anlise social e inviabiliza a compreenso de um feixe de relaes nucleares na nossa poca: as relaes entre sociedade civil e Estado, ou seja, compromete o entendimento e a anlise da conjuntura de crise e reestruturao do capital, o desvendamento do estgio atual de destruio de direitos sociais e a crtica ao processo de transferncia de responsabilidades com a questo social para a esfera privada, fato que contribui para o processo de retomada crescente da acumulao e manuteno da hegemonia do capital. Pode-se inferir que obscurece as relaes e os conflitos de classe na contemporaneidade, dificultando a articulao dos trabalhadores na luta por uma sociabilidade para alm do capital. Na busca pelas origens histricas da categoria, retoma-se as reflexes de Karl Marx sobre sociedade civil. Para Marx (1978, p. 129), a sociedade civil constitui-se na totalidade das relaes materiais de vida:

Na produo social da prpria vida, os homens contraem relaes determinadas, necessrias e independentes da sua vontade, relaes de produo estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas foras produtivas materiais. A totalidade destas relaes de produo forma a estrutura econmica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurdica e poltica, e qual correspondem formas sociais determinadas de conscincia. O modo de produo da vida material condiciona o processo em geral de vida social, poltico e espiritual (MARX, 1978, p. 130)7.

Nessa passagem, Marx desvenda a complexa relao Estado e sociedade civil: a sociedade civil a estrutura sobre a qual se articula uma superestrutura de que parte o Estado (NETTO, 2004b, p. 66), ou seja, o Estado uma expresso da sociedade civil. indispensvel o conhecimento rigoroso desta sociedade, visto que as lutas que tm por cenrio a sociedade civil/burguesa rebatem diretamente no Estado. Tal relao (Estado/sociedade civil) compe uma totalidade complexa, porque, segundo Netto (2004b, p. 67), as contradies existentes na sociedade civil, em que operam interesses antagnicos, tensionam mediatamente a totalidade em causa e ativam formas de ao social quando aqueles interesses so tomados como objeto passvel de interveno. Os interesses contraditrios das classes perpassam o universo da sociedade civil, os quais determinam e conformam as aes do Estado. A relao sociedade civil e Estado perpassada pelas7

Este trecho compe o prefcio da obra Para a crtica da economia poltica, datado de 1859. Nesta passagem, Marx afirma que tal resultado geral das suas reflexes serviu-lhe de fio condutor para os estudos sobre o capitalismo.Libertas, Juiz de Fora, v.2, n.2, p. 50 - 72, jul / 2008 ISSN 1980-8518

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contradies de classe que constituem a sociedade capitalista. O que quer dizer que a sociedade civil espao de contradies e antagonismo; espao de luta de classes; estas lutas se efetivam e se direcionam atravs de condutos especficos, geralmente expressos em agncias (instituies e organizaes); mas tambm espao em que as lutas de classes se travam sob formas sociais de conscincia que correspondem aos interesses sociais que so dominantes na mesma sociedade civil (NETTO, 2004b, p. 67). A sociedade civil expressa as complexidades e contradies da sociedade capitalista contempornea. Por isso, compreende-se tal categoria no como homogeneidade, mas como complexidade, diversidade, antagonismo. Montao (2003, p. 274-277) afirma que a sociedade civil espao/arena de lutas, conformada por setores de diversos interesses particulares (fundamentalmente de classe), representando antagonismo e disparidade no seu interior. Desta forma, pensar na sociedade civil como uno resulta em um erro grosseiro de interpretao histrica (MONTAO, 2003, p. 275). O que ocorre no presente momento uma deturpao da categoria sociedade civil, desconsiderando, principalmente, aspectos econmicos e polticos no contexto da sociedade capitalista, isentando-a do conflito e da contradio a ela inerentes; como se constitusse um espao homogneo de interesses, o que permite atender necessidade contempornea do capital de reduo do Estado no tratamento da questo social8. A noo de sociedade civil, utilizada como sinnimo do terceiro setor, cancela a relevncia histrica de tal categoria terica e confunde a trama de relaes e conflitos de classe presentes na sociabilidade do capital. No parece coincidncia que na segunda metade dos anos noventa (sculo XX), o ataque aos direitos sociais prprio da era FHC recorreu ampla e demagogicamente ao mote da defesa da autonomia da sociedade civil (NETTO, 2004b, p. 63). Diante dessas reflexes e em radical divergncia com a tendncia anterior, a tendncia crtica e de totalidade sobre o terceiro setor o compreende como um fenmeno fludo e funcional ao processo de reestruturao do capital, inserido na perspectiva de totalidade e nas contradies da sociedade capitalista contempornea, representando interesses da classe dominante e, assim, caracterizando-se como estratgia de consenso e hegemonia.

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Segundo Landim (2003), o terceiro setor mais um termo importado que recentemente (dcada de 1990) comea a ser utilizado no Brasil para designar fenmenos e questes referidas a um universo de organizaes da sociedade civil. Para a referida autora, o terceiro setor no um termo neutro, tem procedncia norte-americana, contexto onde o associativismo e o voluntariado fazem parte da cultura poltica e cvica baseada no individualismo liberal [...] (LANDIM, 2003, p. 109). O termo surge nos Estados Unidos, em 1978, por iniciativa do empresrio John D. Rockefeller III e chega ao Brasil por intermdio de um funcionrio da Fundao Roberto Marinho. Montao (2003, p. 53) ratifica as idias de Landim (2003) e afirma que o conceito de terceiro setor foi cunhado por intelectuais orgnicos do capital, sinalizando clara ligao com os interesses de classe, nas transformaes necessrias alta burguesia. O termo terceiro setor est fundamentado na fragmentao da realidade em setores (primeiro setor o Estado, segundo setor o mercado e terceiro setor a sociedade civil), isolando e autonomizando cada um deles, no apresentando uma viso de totalidade social, como se os aspectos econmicos, polticos, sociais e culturais no tivessem uma ntima inter-relao e imbricamento no conjunto da sociedade. Essa compreenso identifica-se com uma viso liberal e funcionalista da sociedade que retira as reflexes econmicas do Estado e despolitiza o mercado e a sociedade civil; como se fosse possvel fragmentar a realidade social. Tal fragmentao da realidade necessria para o momento atual de reestruturao do capital e das suas premissas polticoideolgicas, pois [...] separa os homens de suas determinaes e decompe a totalidade em esferas particulares e cindidas [...] Homens e relaes sociais so tomados como coisas (DIAS, 1997, p. 29); perde-se a historicidade, a totalidade e a perspectiva de contradio para que o terceiro setor possa assumir funcionalidade no cenrio de reestruturao do capital. Com o apoio da mdia e do Estado, o terceiro setor se expande em reas variadas: arte e cultura, educao, sade, assistncia social, lazer, ambientalismo, defesa de direitos especficos, constituindo-se como ao voluntria e mercado de trabalho (muitas vezes precrio) engloba entidades de natureza distinta e origem diversa, tais como: instituies filantrpicas, ONGs, fundaes, voluntariado, empresas cidads, mas com excluso de rgos de natureza poltica, como sindicatos e movimentos sociais (como o Movimento dos Sem Terra MST), com o objetivo de ocultar a luta e os interesses de classes que tecem as relaes na sociedade civil.

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Na verdade, a idia de conflito, de contradio, de campo de foras em luta por hegemonia ou de outras questes que suponham diversificao de interesses e projetos esto razoavelmente ausentes nesses debates, assim como as concepes que questionam um corte radical entre sociedade civil e Estado (LANDIM, 2003, p. 117).

Nas palavras de Montao (2003, p. 22), o terceiro setor no expressaria um setor que homogeneza e minimiza diferenas e sim [...] um novo padro (nova modalidade, fundamento e responsabilidades) para a funo social de dar respostas s expresses da questo social, seguindo os valores da solidariedade voluntria e local, da auto-ajuda e da ajuda mtua, em que a comunidade/sociedade se responsabiliza pela questo social gerada pelo capitalismo. O que ocorre hoje que o terceiro setor utilizado para produzir a idia de que o universo das organizaes sem fins lucrativos uma espcie de panacia que substitui o Estado no enfrentamento das expresses da questo social. ainda incorporado ao senso comum, enquanto termo neutro, indicando apenas um campo plural de associaes e interaes (LANDIM, 2003, p. 110). Na verdade, conforme Paniago (2001), tal fenmeno social busca a socializao dos custos sociais do capitalismo mundializado.

No fundo o que aparece mais provvel que hoje haja uma dupla explorao da classe trabalhadora. Alm de ser a produtora da riqueza que gera os recursos do Estado, ainda tem de se envolver diretamente, atravs dos recursos da comunidade na satisfao de suas necessidades (PANIAGO, 2001, p. 12).

Dessa forma, compartilhando da concepo dos autores crticos, corrobora-se que o terceiro setor tem funcionalidade diante da conjuntura de reestruturao do capital que se desdobra em duas dimenses: a) na contribuio com o processo de redimensionamento do Estado, minimizando sua interveno no enfrentamento das expresses da questo social; e b) na promoo de um clima de aliana e igualdade entre as classes sociais, o que obscurece o conflito e fragiliza a luta e a resistncia dos trabalhadores na contemporaneidade. ONGS E ALTERAO DA FUNO SOCIAL PS-19909

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Nessa conjuntura as ONGs se encontram como expresses do terceiro setor e inseridas na sua lgica e contraditoriedade. Tais organizaes destacam-se, na atualidade, como respostas privadas s expresses da questo social, aparecendo como:

[...] referncia no campo das prticas emergentes proliferando-se e tambm fomentando a cultura das iniciativas autnomas, por fora das instituies governamentais construindo uma antinomia entre eficcia pblica e eficcia privada; em certa medida, surgem no cenrio poltico e cultural, ao lado da tambm revalorizada rede de atividades filantrpicas, a revalorizao do privado, do voluntarismo poltico e do apoliticismo (MOTA, 2000, p. 102).

Cabe ressaltar que o termo Organizao No-Governamental, mais conhecido como ONG, no existe no dicionrio e no definido juridicamente. Segundo Pessoa e Rocha (2003, p. 156), o que existe uma compreenso coletiva, inclusive na doutrina, jurdica, de que ONGs so entidades s quais as pessoas se vinculam por identificao pessoal e/ou profissional, expressando a idia geral de pessoa jurdica de direito privado, sem fins lucrativos e com interesse pblico, tendo como possibilidades no ordenamento jurdico as associaes e as fundaes10. Para o senso comum, o termo surge para identificar um conjunto de instituies que se encontravam fora do mbito das entidades estatais, mas que trabalhavam com algum tipo de projeto na rea social. Outro elemento a considerar no debate sobre as Organizaes No-Governamentais que a sua funo social se altera diante da conjuntura de reestruturao, passando a serem nitidamente teis aos interesses do capital, na medida em que, especialmente na dcada de 1990, ocupam um espao de destaque no enfrentamento da questo social. Entre as dcadas de 70 e 80 do sculo XX, com o suporte financeiro da cooperao internacional11, as ONGs iniciaram o seu processo de expanso, intervindo diretamente no campo poltico, visto que se gestam em pleno regime militar, num contexto em que tenderam a fortalecer a oposio poltica ditadura. Nesse momento, a funo social das ONGs era de parceira dos movimentos sociais, embora recebessem financiamentos de agncias internacionais, sendo coadjuvante fundamental na relao movimento social/populao/Estado, j que contribuam para a organizao interna e articulao de tais movimentos.

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Nesse perodo no eram as ONGs, mas os movimentos sociais que lutavam contra uma ditadura, contra mecanismos de opresso e explorao, os que se articulavam em torno de interesses especficos como alimentao para creches, cooperativas de consumo, iluminao, saneamento, direitos da mulher, da criana e do adolescente, etc. As ONGs aqui tinham como misso tanto contribuir para a melhor organizao interna como para a articulao entre os movimentos sociais, alm de transferir para estes os recursos captados de organismos estrangeiros (MONTAO, 2003, p.270-271).

principalmente a partir de meados de 1980, com maior nfase na dcada de 90 do sculo XX12, que no Brasil o termo ONG ganha maior visibilidade social com efetiva proliferao das suas organizaes, o que coincide com o momento de insero de tais organizaes na lgica do terceiro setor. Landim (1998) destaca que a partir de 1980 os organismos de cooperao multilateral, como o Banco Mundial, intensificam programas de colaborao com as ONGs, tendo como uma das justificativas explicitadas a sua confiabilidade e eficcia. Ocorre que nesse perodo (fins dos anos 1980 e dcada de 1990), tais organizaes concentram-se no reordenamento da sua gesto e das suas aes em funo da procura de financiamentos de projetos. A busca pela sobrevivncia da organizao via alternativa de fundos pblicos e adequao aos critrios de financiamento das agncias internacionais parece ter certa articulao com o momento scio-histrico de reestruturao capitalista, uma vez que tais organizaes passam a assumir maior parcela da responsabilidade com a questo social. Sem articular tal reordenamento das ONGs totalidade da realidade social, como se tais organizaes estivessem isentas dos interesses de classe contemporneos, Gohn (1998, p. 14-15) afirma que:

As ONGs tiveram que realizar reengenharias internas e externas para sobreviver. As presses sociais e as atividades de militncia passaram para segundo lugar, e as atividades produtivas ganharam centralidade no dia-a-dia das ONGs.

incontestvel a necessidade de profissionalizao das ONGs nesse contexto. Entretanto, no apenas por motivo de sobrevivncia de tais organizaes, mas devido a dinmica de reestruturao do capital que se apropria das ONGs e altera sua funo social em prol dos interesses do capital mundializado, ainda que estas reflexes no estejam presentes no discurso oficial. Tais organizaes adequaram-se lgica do mercado e s exigncias das transformaes do mundo do

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trabalho para assumirem, com qualidade, funo estratgica no enfrentamento da questo social.

Por isso, em fins de 1980 e durante a dcada de 1990, as ONGs tm como condio de existncia e funcionamento a execuo de projetos sociais que se mantm com verba e apoio financeiro de agncias de cooperao internacional, do Estado ou de outras organizaes. Ainda que sem articular com o processo de reestruturao do capital e suas conseqentes alteraes na relao Estado e sociedade na atualidade, Gohn (2003) destaca uma informao relevante: a partir de 1990, o Banco Mundial adota uma postura de dilogo e privilegiamento de aes e parcerias com ONGs, sendo a maioria dos emprstimos do banco voltados para as parcerias com tais organizaes.

Enquanto entre 1973 e 1988 apenas 6% dos projetos financiados pelo banco envolviam ONGs, em 1993 o percentual eleva-se para 1/3 dos financiamentos e logo a seguir em 1994, metade dos projetos de financiamentos aprovados pelo Banco Mundial envolviam ONGs de diferentes tipos e objetivos (GOHN, 2003, p. 16).

impossvel no fazer relao entre o financiamento dos projetos pela cooperao internacional e os interesses envolvidos, uma vez que os critrios e as exigncias para o financiamento, por parte das instituies da cooperao, interferem nas aes, dinmica e lgica das ONGs, comprometendo a autonomia e o critrio de no representatividade de interesses. As Organizaes No-Governamentais tendem (seus integrantes tendo conscincia, ou no) a no ser to espontneas e desvinculadas de utilidades para o capital. atravs das parcerias que as ONGs firmam e garantem sua interveno na questo social, bem como o Estado viabiliza sua proposta de reduo com o social via publicizao13. Na proposta de contra-reforma do Estado a publicizao o caminho legal que possibilita a parceria entre Estado e organizaes sociais (representadas pelas entidades do terceiro setor e pelas ONGs). Isto, porm, no ocorreu por acaso, h um sentido poltico e ideolgico de sedimentao das mudanas necessrias ordem do capital e de amortecedor dos rebatimentos sociais.

medida que cresceu a oposio ao neoliberalismo, no incio dos anos oitenta, os governos europeus e norte-americanos, juntamente com o Banco Mundial, aumentaram a destinao de verbas para as ONGs (PETRAS, 1999, p. 45).

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Nessa lgica, Montao (2003) contesta a fidelidade do termo Organizaes NoGovernamentais, visto que passam a ser financiadas por entidades, muitas destas de carter governamental (nacionais ou internacionais), por meio das citadas parcerias ou da contratao pelo Estado (federal, estadual, municipal) para desempenhar, de maneira terceirizada, as atividades e funes estatais. Pode-se dizer, portanto, que no so to no-governamentais. O autor vai mais alm e questiona a seletividade dos governos na escolha dos projetos e das ONGs aos quais destinar os reduzidos recursos:

O Estado, ao estabelecer parceria com determinada ONG e no com outra, ao financiar uma, e no outra, ou ao destinar recursos a um projeto, e no a outro, est certamente desenvolvendo uma tarefa seletiva, dentro e a partir da poltica governamental, o que leva tendencialmente presena e permanncia de certas ONGs e no outras, e determinados projetos e no outros - aqueles selecionados pelo(s) governo(s) - (MONTAO, 2003, p. 57, grifos do autor).

Esse contexto sinaliza certa funcionalidade de tais organizaes conjuntura de transformaes societrias, inclusive com incentivo e apoio das instituies do capital financeiro. Parece que o capital mundializado se apropria das organizaes a seu favor e, assim, resolve investir como mais uma estratgia para eximir o Estado da responsabilidade histrica com as manifestaes da profunda desigualdade entre burguesia e trabalhadores. por tudo isso que a partir de 1990 as ONGs, determinadas pelo neoliberalismo, alteram sua funo na sociedade e inserem-se na lgica do terceiro setor, uma vez que so chamadas a intervir diretamente na resposta questo social, modificando radicalmente a relao at ento consolidada com os movimentos sociais e aparecendo como entidades parceiras. Ocorre o deslocamento das responsabilidades com as expresses da questo social do Estado para o terceiro setor e para as ONGs14, sem radical contestao e ntido movimento de resistncia. Segundo Montao (2003, p. 272), a ONG, com maiores possibilidades de obteno de recursos e apoio do que o movimento social passa a conquistar maior credibilidade e adeso da populao. Tais organizaes passam a ter mais espao na mdia, maior respaldo e credibilidade, contando inclusive com a populao na condio de voluntrio; instala-se um movimento de positividade e investimento em relao s ONGs em detrimento dos movimentos sociais e da

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garantia de polticas sociais pblicas. Isso se explica porque na dcada de 1990 ocorre uma significativa alterao na relao entre Estado e movimento social, caracterizada por Montao (2003) como uma terceirizao dos movimentos sociais, ou seja, uma relao indireta entre Estado e movimento, intermediada pelas ONGs. Nesse sentido, avaliando a relao ONGs e movimento social, pode-se afirmar que a interveno dessas organizaes est limitada pela execuo de projetos e pela funcionalidade que assumem na realidade contempornea, o que as diferencia do significado scio-poltico dos movimentos sociais15. Vale ressaltar que o alvo das aes nas ONGs no ultrapassar a ordem do capital e os seus pilares de sustentao, como o fim da propriedade privada, o controle dos meios de produo pela classe trabalhadora, a luta pelo trabalho emancipado16 e o fim da explorao do capital sobre o trabalho.

As ONGs do nfase a projetos e no aos movimentos; mobilizam as pessoas para que produzam margem, e no para que lutem pelo controle dos meios bsicos de produo e de riqueza; elas concentram-se na assistncia tcnicofinanceira a projetos e no nas condies estruturais que constituem a vida cotidiana das pessoas.[...] esto ligadas estrutura de colaborao com os doadores e rgos governamentais que subordinam a atividade prtica s polticas de noenfrentamento (PETRAS, 1999, p. 48).

No cerne da reflexo crtica tambm est o discurso da crise do Estado e da eficincia das ONGs no tratamento das expresses da questo social, constituindo terreno frtil para ampliar a credibilidade e as aes das organizaes no campo das desigualdades sociais. H todo um movimento ideolgico e cultural que alicera a funo social das ONGs na atualidade. As condies materiais da crise17 estrutural do capital condicionam alternativa burguesa da deflagrao da cultura da crise, cultura esta que sustenta a contra-reforma do Estado e viabiliza a funcionalidade das ONGs ao processo de reestruturao do capital. Na anlise de Mota (2000, p. 101):

[...] o trao predominante dessa cultura (da crise) a idia de que a crise afeta igualmente toda a sociedade independentemente da classe a que esto agregados os

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sujeitos sociais e, portanto, concluindo-se que a crise exigia consensos e sacrifcios de todos.

No bojo da cultura da crise fundamenta-se a lgica da solidariedade, do voluntariado, da filantropia empresarial em que todos, indistintamente, precisam contribuir, dar a sua parte para a resoluo dos problemas sociais. Nessa lgica os movimentos sociais nos anos 1990 tambm se inserem, aparecendo como de natureza policlassistas, despolitizando a resistncia da classe trabalhadora, em prol de um suposto interesse geral da sociedade de combater a pauperizao no Brasil. Como se no existissem interesses de classe e como se tal ideologia no fizesse parte das estratgias do capital para garantir a sua reestruturao. Mota (2000, p. 102) assegura que na prtica essa dinmica propem uma aliana de classes, amparada na ideologia da solidariedade entre classes antagnicas, no primado da tica e no distributivismo dos excessos. Na verdade, os movimentos sociais tambm so atingidos pelas transformaes scio-histricas contemporneas. Vale salientar, como elemento importante desse contexto, que h uma alterao no processo de luta e resistncia da classe trabalhadora, a partir de 1980/1990, resultado das metamorfoses no mundo do trabalho. As condies objetivas e subjetivas do trabalho (ANTUNES, 2005) fragilizam os trabalhadores, dificultando sua organizao poltica (sindicatos, movimentos sociais e outros), a resistncia e a anlise crtica dos processos sociais em curso. Tudo isso contribui para o processo de desarticulao dos movimentos sociais, promovendo perda de espao poltico diante do cenrio de reestruturao capitalista. Compreende-se que as explicaes so mais profundas e que tm relao estreita com a luta de classes nas ltimas dcadas do sculo XX, sendo assim, primordial buscar as razes das reflexes sobre as ONGs, a partir do lugar que as mesmas ocupam na atualidade, principalmente em sintonia com a conjuntura de transformaes scio-histricas. imprescindvel ressaltar que as ONGs exprimem um espao de contradio, assim como toda a realidade social contraditria e complexa, pois ao mesmo tempo em que tais organizaes se inserem na lgica do terceiro setor e assumem funcionalidade no processo de reestruturao do capital trazem contribuies importantes garantia de direitos sociais, assim como permitem respostas interessantes e criativas s diversas expresses da questo social. O que se enfatiza neste artigo no so as organizaes em si, mas a funo social que exercem no contexto de reestruturao capitalista. O principal no debate desvelar as relaes, os nexos e as mediaes entre o universo

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das ONGs e a conjuntura desfavorvel para a classe trabalhadora com perda de direitos sociais e trabalhistas e os discursos poltico e ideolgico que fundamentam as modificaes necessrias ao capital para manter seus padres de acumulao e hegemonia. As estratgias de consenso legitimam as alteraes necessrias ao momento scio-histrico de reestruturao geral capitalista. Para garantir as mudanas polticas, sociais e econmicas fundamental convencer e fragilizar a classe trabalhadora em torno das reformas de interesse do capital e no do trabalho. Por isso, o discurso de crise do Estado, solidariedade e participao da sociedade civil precisa ser desvelado atravs do terceiro setor. Considera-se essencial refletir criticamente sobre a funcionalidade do conjunto terceiro setor e ONGs na conjuntura do sculo XXI e sobre os seus alicerces ideolgicos, como a identificao com a concepo a-crtica de sociedade civil e a noo de solidariedade transclassista, a fim de contribuir no processo de luta e resistncia da classe trabalhadora s reformas do capital.

ABSTRACT ________________________________________________________________________________________________ The dynamics of the capitalist reordering imposes consensual strategies that consolidate the socio-historical changes in the interest in capital after the 1970s. Such changes redefine a pattern of responses to the expressions of the social issues. This pattern affects the access to social rights and confirms the strength of the third sector and the NGOs to interfere in the social area. The ideological speech that sustains such modifications incites the participation of the civil society and points out a period of crisis of the State. Within a critical and dialectic perspective, this article aims to discuss: a) the tendencies of the third sector, especially its identification with the civil society; b) the change of the social function of the NGOs in the process of evasion of the social matters by the State. Keywords: State reform, third sector, NGOs, civil society.

Notas:

No ensaio sobre a questo meridional, Gramsci realiza uma anlise histrica sobre a diferenciao entre as sociedades do oriente e do ocidente, considerando que as ocidentais detm articulaes mais complexas no seu interior. A discusso sobre hegemonia surge na distino entre a guerra de movimento nas sociedades orientais e a guerra de posio nas sociedades ocidentais, sendo que esta ltima (posio) encerra em si um processo de luta para a conquista da direo

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poltico-ideolgica e do consenso dos setores mais expressivos da populao como caminho para a conquista e conservao do poder. Na realidade, o autor discute nas sociedades ocidentais a forma como as classes se relacionam e exercem suas funes no interior do bloco histrico, indicando a dialtica relao entre estas na busca da dominao (SIMIONATTO, 2004). No resultante de uma solidariedade interna de classe, mas externa, ou seja, entre classes distintas, com interesses conflitantes; como se isso fosse possvel no mundo capitalista. Pode-se perceber que no governo Lus Incio Lula da Silva (gesto 2003-2006 e gesto em curso) h uma efetivao de respostas s manifestaes da questo social atravs de programas de transferncia de renda que seguem os critrios rgidos de seletividade de acesso, sendo apenas includos os setores mais pobres entre os mais pobres, com forte apoio dos organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial. 4 Netto (2006, p. 8) afirma que no Brasil, em mdia, para cada 1 dlar recebido pelos 10% mais pobres, os 10% mais ricos recebem 65,8. Ou seja: os mais ricos se apropriam de uma renda quase 66 vezes maior que os mais pobres. [...] apenas 5.000 famlias, num pas de 180 milhes de habitantes, apropriam-se de um estoque de riqueza equivalente a 2/5 de todo o fluxo de renda gerado pela sociedade no perodo de um ano. Tais famlias embolsam o equivalente a 3% da renda nacional total, com o seu patrimnio representando cerca de 40% do PIB brasileiro. 5 A publicizao, conforme Pereira (1997), significa a transferncia das atividades sociais e cientficas para o campo das entidades pblicas no-estatais, chamadas de organizaes sociais. As entidades [...] pblicas no-estatais so entidades do terceiro setor, sem fins lucrativos, so organizaes no-governamentais, organizaes voluntrias (PEREIRA, 1997,p. 26). 6 Cabe ressaltar que ambas as tendncias so atravessadas pelo movimento contraditrio do real; todavia, conforme o lugar que o terceiro setor ocupa na sociedade contempornea, so visveis as particularidades que diferenciam uma e outra tendncia, sendo assim apresentadas para efeito de exposio. 7 Este trecho compe o prefcio da obra Para a crtica da economia poltica, datado de 1859. Nesta passagem, Marx afirma que tal resultado geral das suas reflexes serviu-lhe de fio condutor para os estudos sobre o capitalismo. 8 A idia de sociedade civil homognea garante um duplo movimento funcional ao capital: econmico, com redirecionamento dos recursos do Estado para o financiamento dos projetos de interesse da burguesia; e ideolgico, pois obscurece a luta de classes e, assim, fragiliza a resistncia da classe trabalhadora. 9 Entende-se aqui funo social no sentido da funcionalidade/utilidade que as ONGs assumem na sociabilidade, conforme as determinaes de um dado momento scio-histrico. 10 Segundo Landim (1998, p. 57), as ONGs preferem a primeira forma (associaes), a qual no implica na existncia de um patrimnio prvio, nem de um instituidor [...]. 11 Corresponde a toda uma rede de bancos (por exemplo, o BIRD) e organizaes no governamentais (igrejas, instituies, associaes, dentre outras) que investem em projetos sociais nos pases de capitalismo perifrico. 12 Conforme pesquisa realizada pela ABONG (2002), constata-se que o maior nmero de ONGs surge entre 1980 e 1990, com 49%, seguida de 32,6% no perodo de 1991 a 2000. Estes dados caracterizam a expanso das organizaes na conjuntura de reestruturao do capital, cuja conduo est sob o comando do projeto neoliberal; e indicam que o enfrentamento da questo social tem se expandido junto s ONGs brasileiras em detrimento da ao estatal. 13 Neste artigo, partilha-se da concepo de Montao (2003) de que a publicizao a denominao ideolgica dada transferncia de questes pblicas da responsabilidade estatal para o chamado terceiro setor (incluindo-se as ONGs) e ao repasse de recursos pblicos para mbito privado. 14 Na tendncia dominante/conservadora as ONGs so reconhecidas como entidades de suporte do Estado no atendimento da questo social, distanciando-se do debate crtico que busca as explicaes para os fenmenos sociais na totalidade da realidade social. 15 Embora os movimentos sociais tambm sejam perpassados por contradies, aqui a referncia aos segmentos que apresentam vnculo com os interesses da classe trabalhadora. 16 Trabalho livre das amarras do capital, sem a explorao dos homens sobre outros homens, trabalho no sentido de criao e recriao da natureza, voltado para o valor de uso e no direcionado pelo valor de troca na sociedade capitalista, ou seja, trabalho concreto e emancipado, na concepo de Karl Marx (1978). 17 Crise no sentido das repercusses geradas pela necessidade do capital de reestruturar-se para manter a hegemonia e aumentar as taxas de lucro.

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