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ENGENHARIA ECONOMICA E DESENVOLVIMENTO YOSHIAKI NAKANO "O homem começa a compreender que deve plane- jar o conjunto de sua sociedade e não, apenas partes dela, e que além disso, no curso do planejamento, deve moS't$r -certe preocupeçêo pelo destino do todo." - KARL MANNHEIM. A característica mais notável da atividade econômica de nossa época é a imensa luta que as nações subdesenvol- vidas vêm realizando para eliminar o seu atraso econômico. Essa luta é bastante diferente daquela enfrentada peles países desenvolvidos na época do capitalismo clássico. Hoje, não se trata mais de simples desenvolvimento ou crescimento econômico, mas da eliminação do atraso em relação aos países desenvolvidos. Com efeito, o desenvolvimento econômico dessas áreas pro- cessa-se, não só numa época bastante diferente, mas em condições concretas bastante diversas, onde não se pode esperar que empresários "schumpeterianos" repitam a história daqueles que fizeram o desenvolvimento "natural" do capitalismo. Êsse desenvolvimento "natural" se fêz com os homens de negócios decidindo, individualmente, a sua política de in- vestimento, guiados pelo mecanismo do mercado. Nessas condições, a fôrça impulsionadcra do desenvolvi- mento derivava da esfera da oferta. Nas regiões subde- YOSHIAKI NAKANO - Aluno do Curso de Graduação da Escola de Admínis- tração de Emprêsas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargàs.

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ENGENHARIA ECONOMICAE DESENVOLVIMENTO

YOSHIAKI NAKANO

"O homem começa a compreender que deve plane-jar o conjunto de sua sociedade e não, apenas partesdela, e que além disso, no curso do planejamento,deve moS't$r -certe preocupeçêo pelo destino dotodo." - KARL MANNHEIM.

A característica mais notável da atividade econômica denossa época é a imensa luta que as nações subdesenvol-vidas vêm realizando para eliminar o seu atraso econômico.Essa luta é bastante diferente daquela enfrentada pelespaíses desenvolvidos na época do capitalismo clássico.Hoje, não se trata mais de simples desenvolvimento oucrescimento econômico, mas da eliminação do atraso emrelação aos países desenvolvidos.

Com efeito, o desenvolvimento econômico dessas áreas pro-cessa-se, não só numa época bastante diferente, mas emcondições concretas bastante diversas, onde não se podeesperar que empresários "schumpeterianos" repitam ahistória daqueles que fizeram o desenvolvimento "natural"do capitalismo.

Êsse desenvolvimento "natural" se fêz com os homens denegócios decidindo, individualmente, a sua política de in-vestimento, guiados pelo mecanismo do mercado.

Nessas condições, a fôrça impulsionadcra do desenvolvi-mento derivava da esfera da oferta. Nas regiões subde-

YOSHIAKI NAKANO - Aluno do Curso de Graduação da Escola de Admínis-tração de Emprêsas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargàs.

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senvolvidas, a realidade nos tem mostrado que o processose inverteu, isto é, os elementos mais característicos estãosituados do lado da demanda.

É a "ampliação dos horizontes" reforçada pela pressão dasnecessidades, transfiguradas em movimentos sociais, quetem originado ou acelerado o processo de desenvolvimento.

Por outro lado, nesses países o desenvolvimento é, emgrande parte, um processo de organização, já que os pa-drões técnicos da produção são transferidos dos países de-senvolvidos para os que se encontram em fase de desen-volvimento.

Nesse contexto, as emprêsas privadas têm-se mostradobastante débeis para atender à demanda social e à neces-sidade de organização.

Êste trabalho procura elaborar uma teoria explicativadessa debilidade e estabelecer outras alternativas possíveis.

ENGENHARIA, ECONOMIA E ENGENHARIA ECONÔMICA

Na História Humana o "fator limitativo" tem sido predo-minantemente material. O seu principal problema aindaé o Desenvolvimento Econômico, isto é, a superação dêssefatcr limitativo", cem o que o Hcmem pcderá entrarnuma nova fase de sua evolução.

Nessa luta, a Engenharia procura uma solução, tentandocontrolar e dirigir as fôrças físicas e materiais da Naturezaem benefício do Homem; a economia estudando os as-pectos sociais de produção e distribuição. Temos, por-tanto, a Engenharia procurando a eficiência tecnológicae a Economia procurando a eficiência econômica.

Da integração dessas duas ciências temos a EngenhariaEconômica que procura harmonizar a eficiência tecnoló-gica com a eficiência econômica. Em outros têrmos, aEngenharia Econômica procura subordinar a técnica deprodução, desenvolvida pela Engenharia, aos fins da ativi-dade econômica do Homem. Leva, assim, em consideração

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a maneira de satisfazer as necessidades humanas e o seucusto em satisfazê-las.

De fato, em qualquer estudo de um projeto particular deEngenharia, surge mais de uma alternativa tecnicamenteviável. Uma análise econômica tornar-se-á necessária paraavaliar e determinar qual das métodos alternativos deexecução é o mais desejável.

Segundo THUESEN, as funções da Engenharia Econômicaresumem-se em: 1

• Determinar o objetivo.

Determinar os fatôres e meios estratégicos.

Avaliar as alternativas de engenharia.••• Interpretar o significado econômico dos projetos deengenharia.

• Assistir no prccesso decisório.

Tôdas essas funções podem ser resumidas como "o estudoda rentabilidade comparada de alternativas"." Realmente,o tema central da Engenharia Econômica se resume emavaliar quantitativamente as alternativas da Engenhariaem têrmos de rentabilidade e custo econômico.

Cemo as rendas e os custos de um investimento se desen-volvem em formas físicas e em períodos diversos, para'efeito de comparação e avaliação econômica, temos quetornar homogêneos êsses fluxos de rendas e· custos. Paraisso, a Engenharia Ecenômica emprega a unidade mone-tária e os juros. GRANT assim se manifesta a respeito: 3

• Os projetos devem ser avaliados com base em seusfluxos monetários.

1) H. G. THUESEN, En~ineerin~ Economy, Nova Iorque: Prentice HaU,Tnc., 1950.

2) CLAUDE MACHUNE, "Análise de Investimento e Inflação", Revista deAdministração de Emprêsas, Rio de Janeiro - GB, vol. 6, n,? 18,março de 1966, pág. 99.

3) EUGENE L. GRANT, Principles oi En~ineerin~ Eccnomy, Nova Iorque:The Ronald Press Company, 1~50.

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• Tais fluxos devem ser descontados de maneira a atri-buir-se um valor maior à produção obtida no princípio davida do projeto, de que a obtida em etapas posteriores,e as despesas que se efetuarem mais cedo na vida do pro-jeto devem ser consideradas menos desejáveis do que asposteriores.

• A avaliação de um projeto deve ser feita em têrmosda melhor alternativa, e não em têrmos absolutos.I. OSprojetos devem ser formulados através do cotejo dediversas alternativas, até que tenham sido esgotadas tôdasas alternativas promissoras imagináveis. Não será demaisexagerar-se a importância dessa orientação.

De posse dêsses conceitos, a Engenharia Econômica de-senvolveu diversos métodos, sendo osmais usados, segundoo Prof. CLAUDE MACHLINE, o método de depreciaçãolinear e juros simples, o. método do custo anual e o métododo valor atual.'

Método do Custo Anual

Os custos totais de um investimento são constituídos porum desernbôlso inicial e por uma série de desembolsosque fazemos anualmente durante tôda a vida útil do in-vestimento. Neste método, transformamos o investimentoinicial em parcelas anuais iguais, obtendo-se assim o seucusto anual, dado o número de anos de vida útil do inves-timento e, a taxa de rentabilidade desejada. Essa conver-são. em parcelas anuais iguais é feita utilizando-se a se-guinte fórmula: 5

i( 1+ i)n

(l+i)n - 1C(f.r.c.)

4) Para um estudo mais minucioso pode-soe consuitar: CLAUDE MACHLlNE,Análise Econômica dos Investimentos, mimeografado, em 1964. Veja-setambém: EUGENE L. GRANT, op, cit.; H. G. THUESEN. op. cit.,; eCLARENCE F. BULLINGER, Engineering Economic Analysi«, Nova Iorque;'McGraw-Hill Book Compeny , 1950.

5) (Er.c.) Ietor de recupeusçêo de capital pode ser obtido nas tábuasfinanceiras. Ver CLAUDE MACHLINE, op, cit., págs, 101 a 125.

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Onde, o investimento inicial C é convertido em uma sériede parcelas anuais P, sendo n o período de vida útil doinvestimento e i a taxa de rentabilidade desejada.

Quando existe um valor residual de investimento, afórmula do custo anual do investimento é:

P = (C - L). (f. r .c .) + Li.

Isto é, o valor residual L é subtraído do valor inicial doinvestimento C e os juros simples sôbre L são acres-centados.

Método de Depreciação Linear e Juros Simples

Neste método, o custo anual do investimento é calculadoem têrmos de depreciação linear, isto é, dividindo-se sim-plesmente o investimento pelo número de anos de sua vidaútil. O valor remanescente do investimento decresce, por-tanto, linearmente de ano a ano. Os juros sôbre o inves-timento, ou seja, a taxa de retôrno desejada é calculadasôbre êsses valôres remanescentes do investimento. Assim,as parcelas anuais são desiguais, pois vão decrescendoem progressão aritmética. Para obtermos o custo equiva-lente anual tomamos a média da progressão aritmética

Cicujo primeiro têrmo é Ci e p último -, isto é:

n

Ci (n + 1)

2 n

cque somado à depreciação linear _., nos dá o custo equi-

nvalente anual do investimento:

+ (n + 1)= C [~ + l' (n + 1) ] = C(f.r.c.).n n 2n

C Ci

n 2

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Método do Valor Atual

Nos dois métodos anteriores, o cálculo era feito em têrmosdo valor anual. Neste método tornamos homogêneos osvalôres em têrmos de investimento inicial, isto é, transfe-rimos para o momento presente todos os desembolsosanuais, obtendo-se assim um equivalente único. Descon-tamos, então, os valôres futuros a uma taxa de rentabili-dade desejada, que é dada pela seguinte fórmula: 6

(1 + i) - 1C=P-----

i(l + i)"P (f.v.p.).

Onde, C é o valor atualizado de uma série de parcelas P,a uma taxa de rentabilidade i em função de período n.

ENGENHARIA ECONÔMICA NA EMPR1tSA E DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento dos métodos de Engenharia Econômicaestá intimamente ligado à origem e à evolução da emprêsamoderna. MAx WEBER em seu estudo sôbre a origem docapitalismo mcderno via como premissa para sua existên-cia a "contabilidade racional do capital como norma paratôdas as grandes emprêsas lucrativas que se ocupam dasatisfação das necessidades quotidianas".'

De fato; somente com a origem da emprêsa moderna, ondeo trabalho passa a ser pago em têrmos de salários mone-tários e a atividade econômica visa à obtenção do lucrocomo fim único e exclusivo, o custo de produção passaa desempenhar papel fundamental, e surge a possibilidadee a necessidade de medir o fim e os meios dessa atividade.Todos êsses fatôres convergem para dar um caráter deatividade racional à emprêsa, no sentido weberiano. Dessaforma, passa-se à consideração do fim e dos meios daatividade econômica sob seu aspecto quantitativo, expri-

6) (f.v.p.) fator de valor presente pede ser obtido nas tábuas financeiras.Ver CLAUDE MACHLINE, op. cit ..

7) MAX WEBER, História Económica General, México: Fundo de CulturaEconómica, 1961, pág. 237.

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mindo-se em unidades de medida uniforme: a unidademonetária. A Engenharia Econômica é uma expressãodessa racionalidade que caracteriza a emprêsa moderna.

Num sistema de organização da produção, onde o custoda produção assumia um papel fundamental, o que induziaa um progressivo aperfeiçoamento da técnica de produção,era necessário desenvolver uma metodologia que permi-tisse subordinar essa tecnologia ao fim da emprêsa que éobter lucro, conseguindo dessa forma uma integração-na própria emprêsa - dos meios ao fim. Dêsse modo, aEngenharia Econômica passa a ser cada vez mais utilizadaà medida que se desenvolve na emprêsa moderna a neces-sidade da racionalização.

Seria de se esperar que se tôdas as emprêsas fôssem obri-gadas a agir racionalmente para alcançar seus objetivos,todo o sistema econômico também se portasse racional-mente. Nem sempre, porém, o axioma matemático quenos diz que o todo é igual à soma das suas partes é verda-deiro. Devido ao caráter limitado dessa racionalidade, quesó respeita a cada emprêsa isoladamente, a sociedade comoconjunto não é levada a se comportar racionalmente.

A teoria econômica ortcdoxa nos diz que se as decisõesindividuais fôssem tomadas de acôrdo com o critério dolucro máximo, produziria também satisfação máxima paratôda a sociedade, se as leis da oferta e da procura fun-cionassem livremente e houvesse divisibilidade perfeita detodos os fatôres. Isso sucederia porque nessas condiçõesas emprêsas individuais intercambiariam os fatôres atéque o valor da produção marginal de cada emprêsa fôsseigual em tôdas as direções; isto é, o valor do produto mar-ginal do fator é o mesmo em cada um de seus usos. Nesteponto, o produto marginal privado seria igual ao produtomarginal social. Há boas razões que põem em dúvida ospressupostos e as conclusões da teoria do equilíbrio:

• As imperfeições do mercado, resultantes da existênciadas indivisibilidades dos monopólios e do Govêrno queintervém.

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~ A interdependência das atividades econômicas, isto é,um investimento numa indústria pode tornar mais lucra-tivo um outro investimento em outras indústrias, isto é,os lucros de uma emprêsa podem ser afetados pelas açõesde outra sem compensação de uma sôbre cutra, consti-tuindo êsses lucros as economias externas (ou deseco-nomias ),"

• Os desequilíbrios na utilização dos fatôres pela exis-tência de subemprego ou desemprêgo aparente ou disfar-çado, e escassez de fatôres como divisas estrangeiras e ca-pital, fato comum nos países subdesenvolvidos."

A existência das indivisibilidades leva o empresário a pro-duzir mais ou menos do que a quantidade em que seucusto marginal igualaria a receita marginal, ou seja, forado ponto de equilíbrio onde seus lucros seriam máximos.Portanto, quando ocorre a indivisibilidade, a sociedadecomo um todo já não operará otimamente. Outra situaçãoem que o conflito entre o privado e o social se torna maispatente é quando se consideram as economias externas.Como vimos acima, existem economias externas quandouma emprêsa presta um benefício a outra livremente, istoé, sem compensação. É o caso em que "um .investimentonuma indústria leva a uma expansão de sua capacidadecom diminuição dos preços de seus produtos e a concomi-tante elevação dos preços dos fatôres utilizados pelamesma. A diminuição do preço do produto beneficia aosseus usuários e a elevação dos preços dos fatôres beneficiaaos vendedores. Quando êsses benefícios se dirigem àsemprêsas, em forma de lucro, são economias externas.Lõgicamente, êsses lucros que constituem as economias

8) TlBOR SClTOVSKY,"Dois Conceitos das Economias Externas", The Jour-nEi>1 oi PoliticaI Economy, abril de 1954, reproduzido em A. N. Agar-wala & S. P. Singh (org.) La Economia del Subdesarrollo, Madrid:Tecncs, 1963, pág.s 248 a 258. Ver também P. N. ROSENSTEIN-RoDAN,"Problemas da Industrialização do Leste e Sudeste Europeu", The Eco-nomie Journal, junho-setembro de 1943.

9) Ver JAN TINBERGEN, Programação para o Desenvolvimento, Rio deJaneiro - GB, Fundação Gotúlio Vargas, 1964, pág. 91. Ver tambémR. S. ECKAUS, "O Problema, das Propcrções Fatoriais nas RegiõesSubdesenvolvidas", The American Economic Review, setembro de 1955.

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externas devem ser levados em conta quando se realizamdecisões de investimento. Conclui-se, portanto, quequando um investimento origina economias externas, suarentabilidade privada está abaixo de sua desejabilidadesocial".10

Finalmente, temos o caso em que o custo privado nãoequivale ao custo social. Isso ocorre nas regiões onde hádesequilíbrios estruturais na utilização dos fatôres comoveremos adiante.

Diante disso, a conclusão que podemos tirar é que a apli-cação pelas emprêsas individuais da Engenharia Econô-mica na seleção de investimento, visando ao lucro máximo,não conduz a sociedade como um todo a utilizar otima-mente os fatôres. Êsse critério pode provocar desperdíciosde fatôres ou contrariar os interêsses da sociedade.

Todavia, a sua contribuição para a sociedade que dependeda eficiência de cada uma das emprêsas é inegável. Naverdade, todo o desenvolvimento da época do capitalismoclássico se fêz nesses têrmos, onde os "empresários schum-peterianos" eram levados a inovar e reduziam seus custospara garantir o lucro. Mesmo hoje, nos países altamentedesenvolvidos, êsse critério de maximizar os lucros, mesmoque não seja satisfatório, é o critério razoável, já que ascondições de mercado não são tão distantes do modêloteórico como ocorre nos países subdesenvolvidos.

ENGENHARIA ECONÔMICA DO PONTO DE VISTADO DESENVOLVIMENTO

Vimos que se a economia estivesse em equilíbrio e emregime de concorrência perfeita, a produtividade marginalprivada seria a mesma em todos os setores e conseqüente-mente igual à produtividade marginal social. Nesse casoo mecanismo de preços seria um guia perfeito para a de-cisão sôbre os investimentos, e levaria a uma ótima utili-zação dos fatôres. Nessa situação podemos dizer que os

10) TIBO SCITOVSKY, op. cit., págs. 252 a 255.

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empresários utilizariam os métodos de engenharia eccnô-mica na seleção de investimentos.

Isso não reflete a realidade, principalmente nas economiassubdesenvolvida's. Nessas economias, devido às causasacima citadas, os preços não refletem as informações ne-cessárias, surgindo então a necessidade de dispositivos in-dicadores adicionais."

Se os investimentos fôssem realizados de acôrdo com umaprogramação ampla, de modo a eliminar as impropriedadesdo mercado como mecanismo regulador, deveria esperar-seuma eficiência muito maior de todo. o sistema econômicoe o desenvolvimento seria muito mais acelerado.

Daí a concordância geral quanto à necessidade da progra-mação, mesmo que haja profundas divergências quantoà sua natureza e amplitude. Se pretendemos por meio daprogramação, dar maior racionalidade à totalidade dosistema econômico,dois aspectos são sempre fundamentaisqualquer que seja o seu tipo e o seu alcance:

•Estabelecer os objetivos.

Estabelecer os meios para alcançar os objetivos.

Quanto aos objetives, apesar de tôdas as restrições quepodem ser apresentadas, é necessário tornar como pontode partida que a renda per capita é o índice mais apro-priado que possuímos para medir o bem-estar social, oque nos permite aceitar a maximizaçâo da Renda Na-cional como um objetivo fundamental; e os investimentosconstituem os instrumentes essenciais para alcançar êsseobjetivo,

Logo, a análise do investimento de um ponto de vistasocial, é de fundamental importância para o desenvolvi-mento econômico. No raciocínio acima, bastante simpli-ficado, a avaliação social do investimento, ou seja a sua

11) P. N. ROSENSTEIN-RoDAN, Notas sôbre a Teoria do Grande Impulso,em Howard S. Ellis (org.), Desenvolvimento Econômico para a Américl3LE;..tir.J3, Rio: Fundo de Cultura, 1964, págs, 74 a 86.

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produtividade social, seria tomada como o efeito dêsseinvestimento sôbre a Renda Nacional.

Os Métodos de Engenharia Econômica do Ponto de Vistado Desenvolvimento

Do ponto de vista do desenvolvimento econômico,a análisede investimentos consiste numa apreciação comparativadas alternativas possíveis a fim de determinar a que trarámaiores benefícios à coletividade em relação ao complexode recursos empregados.

Bàsicamente, o problema consiste em definir e especificaro que se entende por êsses benefícios e complexo derecursos, e escolher um método de cálculo. O resultadodêsse cálculo é geralmente expresso por um coeficientenumérico, que de modo genérico pode ser definido comoum quociente entre os "benefícios" que se obtêm da exe-cução do projeto que se procura maximizar, e o "complexode recursos" empregados, que se procura minimizar.

Logo, êsse coeficiente é. uma medida de produtividade,tomada no sentido da produção (ou qualquer outro re-sultado) que 'se obtêm por unidade de recursos ou con-junto de recursos empregados. E a diferença entre osinúmeros critérios existentes resulta da produtividade quese quer expressar, isto é, do que 'Secoloca no numeradore no denominador da fração. Geralmente, 00 que se fazé medir a produtividade do recurso escasso, capital, divi-sas estrangeiras, mão-de-obra etc., procurando sempremaximizar os seus efeitos. Mas como qualquer processoprodutivo requer a utilização de mais de um recurso, éinteressante levar em consideração a produtividade docomplexo de recursos empregados. Por outro lado, quantoaos efeitos oriundos da aplicação dêsses recursos, que sãoquantificados no numerador, podem ser medidos de váriasmaneiras: valor global da produção, valor adicionado naprodução, efeito sôbre o balanço de pagamentos, efeitosôbre o nível de emprêgo etc., resultando daí a diversi-dade de critérios. Mais adiante apresentamos dois dêsses

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critérios, de forma bastante sucinta, onde essa diversidadepoderá ser melhor visualizada.

OsEfeitos do InvestimentoUm dos primeiros problemas que qualquer critério deanálise econômica de investimento tem de enfrentar refe-re-se aos próprios efeitos do investimento. Isto é, a reali-zação de um investirriento provoca uma série de efeitoseconômicos sôbre o meio, numa seqüência causal ilimitadaque deve ser devidamente quantificada. Normalmenteuma pessoa pode prever e controlar as conseqüências maisimediatas. Assim, o empresário privado, nas decisões deinvestimento, guia-se pelo lucro que espera obter, isto é,no retôrno sôbre .o capital que êle investe. Dêsse modo,os efeitos menos imediatos ficam totalmente fora de qual-quer consideração.

Os efeitos do investimento podem, então, ser classificadosem dois grupos:'• Efeitos diretos: são os efeitos diretamente ligados aoestado produtivo do investimento.• Efeitos indiretos: são as repercussões sôbre o. meioeconômico provenientes da execução de um investimento.Essas repercussões, tanto, podem ser para trás, criando de-manda adicional de bens ou serviços que consome, comopara a frente, pelos bens ou serviços que passa a oferecer.Dessa maneira, pode dar maiores rendimentos aos seususuários e criar melhores condições para que surjam novasemptêsas. Outra repercussão, muitas vêzes chamada deefeitos secundários, é aquela proveniente da utilização darenda criada pelo investimento. A utilização dessa rendapode traduzir-se em variações de consumo, poupança,maior importação, mais impostos etc.Além dêsses efeitos, há ainda outros de mais difícil quan-tificação que tanto podem ser positivos como negativos.Sãoos efeitos que afetam as condições de vida da popula-ção, transformam os comportamentos, criam uma menta-lidade dinâmica, transferem mão-de-obra rural para ati-

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vidades industriais etc.. Tôda essa gama de efeitos indire-tos constitui o que anteriormente se denominou de eco'-nomias externas.

Preço de Mercado e Custo Social de SubstituiçãoA avaliação de um investimento implica em atribuir aosbens e serviços a êle relacionados uma medida de. valor,que se traduz através do preço. Essa .atribuição de preçotem importância muitas vêzes decisiva na avaliação por-que nem sempre o preço que vigora no mercado é repre-sentativo do valor intrínseco de um bem. Êsse valor in-trínseco é o seu custo social de substituição, OU seja, aquilode que a sociedade deve privar-se para produzir êsse bem.A igualdade entre o preço de mercado e o custo socialpermitiria verificar, se a economia estivesse em equilíbrioe as leis da oferta e procura agissem livremente, além daplena ocupação dos fatôres de produção, completa mobi-lidade e divisibilidade.

Essas condições não vigoram, notadamente nos países sub-desenvolvidos, devido a certos desequilíbrios estruturais,atuação do govêrno, imperfeições rdo mercado etc., queconduzam a uma divergência entre o preço de mercado eoseu custo social. Certas correções precisam; então, ser fei-tas nos preços de mercado para que se possa fazer umaavaliação social de um investimento:

1. Custo Social da Mão-de-Obra. - Nos países subde ..senvolvidos, devido à existência generalizada de desern-prêgo aparente ou disfarçado, o nível de equilíbrio do sa-lário está sensivelmente abaixo dos salários vigentes nomercado. Isso devido à existência de diversos fatôres comoum salário mínimo legal, pressão sindical, contratos cole-tivos de trabalho etc. Assim sendo, se o custo de uminvestimento é uma parcela da Renda Nacional, de quea sociedade deve privar-se para produzi-lo, e se nesse in-vestimento se utiliza mão-de-obra antes desempregada, oseu custo social é nulo, dado que emtes não contribuiapara a formação da Renda Nacional. A determinaçãodêsse custo social é bastante difícil. A solução pragmática.

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usualmente empregada, consiste em tomar o salário médiode todos os trabalhadores não qualificados do país ou re-gião. TINBERGENpropõe que se tome, desde que a mão--de-obra seja abundante, uma certa porcentagem do preçode mercado. 12

2. Taxa de Juros - Outro desequilíbrio freqüente nospaíses subdesenvolvidos é o de nível da taxa de juros.Ê bastante provável que nesses países, devido a disposi-tivos legais, empréstimos pelas instituições financeiras dogovêrno ou internacionais etc., a taxa de equilíbrio do juroesteja acima da taxa de mercado. LOgicamente, o emprê-go da taxa de juros vigente no mercado nos levará a dis-torções e ao emprêgo não racional do fator escasso capital,já que aquela taxa de mercado não reflete o verdadeirocusto.A solução que TINBERGENnos dá é que se pode deduziruma taxa de equilíbrio:

a. "das taxas a que seria possível atrair capital adicional;b. da taxa de rentabilidade marginal dos projetos comas devidas correções para cobrir o risco com a inflaçãose não houver antecedentes, será conveniente, segundo êle,tentar fazer cálculos com 10% ou mais, mesmo que sejasó para analisar os resultados 13.

3 . Taxa Cambial - Geralmente, os governos intervêmno mercado cambial, seja supervalorizando a taxa de câm-bio para diminuir as importações e incentivar as exporta-ções ou subvalorizando para evitar que o preço das mer-cadorias importadas suba, ou para confiscar parte do lucrodos exportadores. Por isso não obteremos o custo real doinvestimento se usarmos a taxa de câmbio. que vigora nomercado, pois na sua elaboração entram transações comdivisas estrangeiras. Diverses são os tipcs de correção quese propõem. Por exemplo, obtém-se uma taxa aproximadade equilíbrio através da média ponderada das diversas

12) JAN TINBERGEN, op, cit., págs. 84 e seguintes.

13) JAN TINBERGEN, op. cit., pág. 45.

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taxas de câmbio de importação e exportação. Um exem-plo mais complicado é o emprêgo da taxa de câmbio de"paridade", calculada, baseando-se no poder aquisitivodas moedas.4 . Eliminação de Impostos e Subsídios - A inclusão deimpostos e subsídios nos preços de bens e serviços faz comque os preços de venda no mercado não reflitam o seupreço rea1. Deve-se, portanto, eliminar os impostos e sub-sídios, tais como as taxas alfandegárias, impostos sôbrevendas etc.

MÉTODO DE BENEFíCIOS-CUSTOS

.Êsse método foi proposto em sua forma mais integrada esistemática em 1950 pela Federal Inter-Agency RiverBasin Committee nos Estados Unidos, tendo sido recomen-dado especificamente para avaliação de investimentos re-lacionados com o aproveitamento e regularização de baciasfluviais. Desde então, vem tendo larga utilização em di-versos países como a Itália, Holanda, Japão etc., e porinstituições como Banco Mundial ".

Existe certa semelhança entre êsse método e os métodosadotados pelos empresários privados. Porém, como êssemétodo avalia do ponto de vista social, o que se consideranão é o rendimento sôbre o capital investido, mas o au-mento de bens e serviços que. se espera durante tôda avida útil do investimento, inclusive todos os efeitos indire-tos porventura existentes, em relação a soma de todos osseus custos. De fato, se considerássemos apenas os efeitosdiretos do investimento a preços de mercado, jamais in-vestimentos de alta prioridade social como estradas, usinashidrelétricas, água etc., seriam aprovados, pois êsses apre-

14) Inicialmente fei apresentado num relatório da Federal Inter-AgencyCommittee on Water Resources denominado "Propored practices foreconomic analysis of river basin projects", Washington, 1950. No pre-sente trabalho seguimcs as aprerentaçôes de VIT'l'ORIOMARRAMA,Pro-blemas e Técnicas de Programação Econômica, Lisboa: Clássica Editôre,sem data, pág. 177 e seguintes e o Manual de Projetos das NeçõesUnidas, México, 1958.

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sentam um baixo coeficiente benefícios-custos diretos (quepode ser até nulo caso não se venda o bem ou serviçoproduzido ).

Os principais elementos dêsse método podem ser assimdefinidos:

Custos Diretos - São constituídos pelo valor dos bens eserviços empregados na construção, manutenção e funcio-namento do projeto de investimento, durante tôda a suavida útil.

Custos Aseociedos - São os custos que se incorrem parapôr em condições de uso e venda os bens e serviços pro-duzidos. Por exemplo, o agricultor para se beneficiar deum projeto de irrigação, tem de fazer certas despesas aci-ma do normal para aproveitar a terra, como despesas demão-de-obra adicional, fertilizantes etc.

Custos Secunâérioe=« São constituídos do valor dos bense serviços que se utilizarão em conseqüência do investi-mento, excluídos os custos diretos e custos associados. Sãoderivados ou induzidos pelo investimento compreendendoo custo de elaboração posterior dos bens e serviços obtidosdiretamente do investimento.

Benefícios Primários ou Diretos - São constituídos dovalor dos bens ou serviços que se obtém mediante a uti-lização dos recursos compreendidos pelos custos diretos eassociados. Isso equivale ao valor dos bens ou serviçosobtidos diretamente do investimento proposto.

Benefícios Secundários ou Indiretos - São os valôresque se adicionam, além dos benefícios diretos, como re-sultado das atividades adicionais que resultam indireta-mente do investimento pela sua repercussão sôbre o meioeconômico. Por exemplo, maiores lucros das emprêsasque se utilizam dos seus produtos, maior venda das em-prêsas da região em virtude da renda gerada pelo inves-timento, criação de fatôres favoráveis à implantação denovas indústrias etc.

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Benefícios Imponderáveis - São aquêles que não podemser calculados em têrmos monetários, como, por exemplo,o embelezamento da paisagem para fins de turismo, asvariações meteorológicas etc., que tanto podem ser posi-tivos como negativos.

Benefícios Líquidos - São os benefícios, quer primários,quer secundários, deduzidos dos custos associados, isto é,os benefícios primários líquidos são iguais aos benefíciosprimários brutos, menos os custos associados; os benefíciossecundários líquidos são iguais aos benefícios secundáriosbrutos menos os custos associados.

Comparação Entre Benefícios e' Custos

Definidos e individualizados os benefícios e os custos parapodermos avaliar se o investimento é econôrnicamenteaceitável, devemcs comparar o fluxo dêsses benefícios ecustos durante tôda a sua vida útil. Como êles se apre-sentam em formas físicas e em períodos diferentes, paratorná-los homogêneos, adotam-se os seguintes critérios:

1 . Preço: O comitê recomenda o uso de preços de mer-cado, que se presume vigorem no momento em que seprocessam os benefícios e os custos. Consideram-se nuloscs efeitos da produção adicional do investimento que estásendo feito sôbre os níveis futuros de preços. O comitêreconhece, em princípio, a necessidade de fazer ajustes aospreços de mercado, mas não lhes dá a devida importância.Devemos lembrar que a sua omissão, em certos casos,pode levar a (;;randesdistorções como já discutimos ante-riormente.

2 . Para eliminar o problema da diferença de períodosem que se desenvolvem os benefícios e os custos usam-se,indiferentemente, os Métodos de Valor Atual ou CustoAnual. •

3. O coeficiente de Avaliação, nesse método, obtém-sepela divisão dos benefícios líquidos do investimento, comofei definido acima, pelo seu custo total.

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A fórmula que se obtém é a seguinte:

(Bd - Co) + (Bi - Cs) + B1mp

Cd + c, + Cs

Onde, Bd - Benefícios diretos

Bi - Benefícios indiretos

Bimp= Benefícios imponderáveis

Cd - Custos diretos

Ca - Custos associados

Cs - Custos secundários.

O QUADRO1 fornece dados relativos a um projeto de irri·gação nos Estados Unidos, onde o cálculo da relação bene-fícios-custos se mostra bastante favorável, principalmente,quando se consideram os benefícios indiretos. Observe-se,ainda, que alguns efeitos imponderáveis foram incluídosno item benefícios públicos. No cálculo do custo equiva-lente anual do investimento, aplicou-se o método do custoanual.

MÉTODO DE CHENERY

Um método mais sofisticado do que o de Benefícios--Custos foi desenvolvido por HOLLIS B. CHENERY15, quemede a produtividade do capital em têrmos de seu efeitosôbre a Renda Nacional.

Segundo CHENERY,para estabelecer um critério de análisede investimento, é preciso observar certas questões queconsidera básicas:

15) HOLLIS B. CHENERY,"The Aplication of Investment Criteria", QuarterlyJournal 01 Economics, fevereiro de 1953, págs. 76 a 96. Seguimostambém os resumes apresentados no Manual de Projetos das NZÇÕ2S

Unidas e JEAN BEGUE,"Sur les Critêres de Choix des Projets Specifiquesd'Jnvestis sement", Tiers-Monde, Tomo VI, n.O 24, outubro-dezembro de1965, págs. 873 a 890.

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QUADRO 1 - Exemplo de Aplicação do Método de Benefícios-CustosBenefícios e custos do desenvolvimento inicial do projeto de

barragem Chief Joseph

(Estados Unidos)

(milhares de dólares)

Benefícios:

Benefícios diretos •••••••••••••••••• 0·' •••• •••••••••••••••509

Benefícios indiretos:

Rewltados do projeto 494

Induzidos pelo projeto 300

Total •••••••••••••••••••••••• 0.0 ••••••••••••794

Benefícios públicos:

Maiores oportunidades de emprêgo 191

Melhoramentos diversos . 61

Benefícios totais da irrigação ~.. 1.555

Dedução por atrasos de utilização . 179

Benefícios líquidos anuais 1.376

Custos:

Investimento líquido da autoridade Federal 5.624

Equivalente Anual dos custos de investimento 154

Custos Anuais de Manutenção e Funcionamento 77

Total aos custos anuais 231

Relação Benefícios-Custos ..................................... 5,95

Relação Benefícios Diretos-Custos 1,94

FONTE: Eckstein, Water resoutce deve/opment: the economias of projectsevelustion, Harvard Uriiversity Press, 1958, pág. 222, citado em VittorioMarrama, Problemas e Técnicas de Programação Econômica, Lisboa: Clássica

Editôra, pág. 195.

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• Nos países subdesenvolvidos, os custos e as lucros pri-vados podem ser muito diferentes dos custos e lucrossociais.

• Para se obter um critério eficiente de investimento énecessário medir a produtividade social, o que exige oencontro de u'a maneira prática de medir a produtividademarginal social e de decidir a partir dessa medida.

• Como os investimentos têm na realidade efeitos bas-tante amplos, os critérios que consideram apenas um efeito- como por exemplo a criação de empregos - podemlevar a conclusões totalmente errôneas. Teôricamente, to-dos os efeitos deviam ser considerados, mas por limitaçõespráticas, CHENERYconsidera somente o efeito sôbre oProduto Nacional e sôbre o saldo do Balanço de Paga-mentos. Chamando assim produto marginal social a quan-tidade: A U = .6.Y r.6.B (onde Y = renda nacional,B = saldo do balanço de pagamentos e r = coeficientede correção).

• CHENERYelimina do valor da produção atribuída aoinvestimento, aos subsídios, às tarifas e aos impostos in-diretos, e recomenda o emprêgo de custos sociais e a con-sideração das economias externas.

Levando em consideraçâo as questões acima, a fórmulageral que CHENERYapresenta é a seguinte;

X+E-MiPMS = (1)K K

+ r(aBl + B2 + B3)

K

Onde, PMS é a "Produtividade Marginal Social", que éigual ao "incremento médio anual da Renda Nacional",X+E-Mi. L+Md+O·

( - mais "um equivalenteK Kdo balanço de pagamentos" r (aB 1 + B2 + B3)

K

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Os seus símbolos têm os seguintes significados:

K incremento de capital ou investimento;

X aumento do valor da prcdução anual originadopelo investimento, a preços de mercado, depoisde deduzido os impostos, subsídios e tarifas;

E valor adicionado à produção devido às econo-mias externas;

Mi custo das matérias-primas importadas;

L custo da mão-de-obra;

Md custo das matérias-primas nacionais;

O custos fixos e de administração, inclusive depre-ciação;

r unidade de Renda Nacional equivalente ao me-lhoramento do Balanço de Pagamentos em umaunidade, devido ao efeito de supervalorizaçâo ousubvalorizaçâo das taxas de câmbio. Obtém-sesubtraindo a taxa de câmbio real da taxa oficiale dividindo a diferença pela taxa cficial. Assim,r = O quando o balanço de pagamentos está emequilíbrio;

a fator de recuperação de capital (f.r.c.);

B 1 efeito da instalação do projeto sôbre balanço depagamentos (parte do investimento que envol-ve pagamentos em moeda estrangeira);

B2 efeitos diretos do funcionamento do projeto: au-mento de exportação, substituição de importa-ção, necessidades de importação para produçãodos bens em questão, ou redução de importaçãode bens substituíveis pelo bem em questão;

B3 efeitos indiretos do funcionamento do projeto:efeito m multiplicador do funcionamento infla-cionário do consumo e efeito multiplicador docâmbio no saldo de comércio exterior.

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Na fórmula (1) trocando a ordem de seus têrmos temos:

PMSx - (Mi + L + Md + O)

Kr(aBl + B2 + B3)

K

E+ +

K(2)

+

Assim, vê-se que o primeiro têrmo, X - (Mi + L ++ Md + O), representa os lucros, isto é, o- valor da pro-dução menos seus custos, corrigidos pelos impostos, sub-sídíos e tarifas e pelo custo social da mão-de-obra. Osegundo têrmo, E, representa as correções devidas às eco-nomias externas e o terceiro membro representa a corre-ção da taxa de câmbio, em que se procura medir os efeitosde uma possível supervalorização ou subvalorização dataxa cambial.

Fazendo as seguintes substituições na equação (1):

V X + E - Mi

C L + Md + OB aBl + B2 + B3

temos:

V C rBPMS + (3)

K K KOnde,

V = valor bruto da produção, corrigido pelos impostos,subsídios, tarifas e economias externas, excluídos osmateriais importados. É o "valor social agregadointerno";

C custo total dos fatôres nacionais;

B efeito líquido total sôbre o balanço de pagamentos.

Finalmente, a equação (3) pode ser apresentada da se-guinte forma:

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v v c rB

K V Kque é idêntica à equação (3), e nos mostra que a pro-dutividade marginal social é igual a soma do produto da

Vprodutividade do capital - pela porcentagem de lucro

KV C ~----,-- mais o efeito sôbre o balanço de pagamentos -.

V K

PMS = + (4)

A aplicação prática dêsse método encontra dificuldadesmaiores que no método de benefícios-custos, porém, êle ébem mais completo como se pode notar, pois "propõe aavaliação total dcs projetos de investimento, isto é, con-sidera os efeitos ccmbinados; baseia-se na produtividadedo capital e no complexo de recursos; expressa benefíciosdo investimento em têrmos de lucro e efeitos totais, ava-liadas socialmente mediante a inclusão de economiasexternas, do uso da taxa de câmbio de equilíbrio, da eli-minação dos impostos e subsídios e do uso do custo socialde substituição".

Deixamos a conclusão ao próprio. CHENERY que nos diz:"que a margem de erros envolvidos em cálculos dêsse tipo,em países insuficientemente desenvolvidos, pode levar al-guns leitores a duvidar da conveniência de tôda a opera-ção. Todavia, é minha opinião que os obstáculos paraalcançar os resultados desejáveis através das fôrças domercado são tão grandes que êles reduzem o valor socialdo investimento, a menos que se realize um esfôrço paraajustá-los nos cálculos. O método proposto é essencial-mente um esfôrço para fazer tais correções com respeitoà diferença entre a rentabilidade privada e a social".

Exemplo de Aplicações do Método de CHENERY

O próprio CHENERY nos dá diversos exemplos de aplica-ção de seu método em casos concretos. Repreduzimos,a seguir, um dêles que foi apresentado simplificadamenteno Manual de Projetes das Nações Unidas:

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QUADRO 2 - Produtividade Marginal Social em ProjetosIndustriais na Grécia

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Investimento K 17.000 6.75D 2.450 1.450 3.500V

Produtividade do Capital 0,67 0,93 0,74 0,52 0,41KC

Relação Custos-Capital -0,29 0,37 -0,37 -0,11 -0,27K

Efeitos sôbre o balanço derB

Pagamentos -- 0,35 0,07 0,07 ° 0,09K

V-CMargem -- 0,56 0,60 0,49 0,79 0,34

KPMS 0,73 0,63 0,44 0,41 0,23

Pode-se notar, pelo exemplo acima, que a prioridade,adotando-se o critério de CHENERY da "ProdutividadeMarginal Social", cabe à indústria de fertilizantes nitro-genados. Se tivéssemos adotado um critério parcial, como

Va relação - a indústria de cimento teria alta prioridade;

Kse o critério fôsse o efeito sôbre o balanço de pagamentosteriam prioridade os fertilizantes nitrogenados e, final-mente, se o critério fôsse o lucro sôbre as vendas, a priori-dade caberia ao ácido sulfúrico.