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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA ENRIQUECIMENTO TRABALHO-FAMÍLIA: EFEITO MEDIADOR NA RELAÇÃO ENTRE PERCEÇÃO DE SUPORTE ORGANIZACIONAL E COMPROMISSO AFETIVO Joana Filipa Marreiros dos Santos MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Seção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações)

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

ENRIQUECIMENTO TRABALHO-FAMÍLIA: EFEITO

MEDIADOR NA RELAÇÃO ENTRE PERCEÇÃO DE

SUPORTE ORGANIZACIONAL E COMPROMISSO

AFETIVO

Joana Filipa Marreiros dos Santos

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Seção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das

Organizações)

Ano

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

ENRIQUECIMENTO TRABALHO-FAMÍLIA: EFEITO

MEDIADOR NA RELAÇÃO ENTRE PERCEÇÃO DE

SUPORTE ORGANIZACIONAL E COMPROMISSO

AFETIVO

Joana Filipa Marreiros dos Santos

Dissertação orientada pela Prof. Doutora Maria José Chambel

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Seção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das

Organizações)

Ano

Índice

Resumo ………………………………………………………………………….………….. 1

Abstract ………………………………………...…………………………...…..………….. 1

Agradecimentos …………..…………………...………………………………..………….. 2

Introdução ……………………...………………………………………………..……….... 3

Perceção de suporte organizacional e compromisso afetivo …………......…................….. 5

Perceção de suporte organizacional e enriquecimento trabalho-família …........………..... 8

Enriquecimento trabalho-família enquanto mediador da relação entre perceção de suporte

organizacional e compromisso afetivo …………………...…………...........................…... 10

Método …………..……………...………………………….…………..………..………... 12

Amostra ………..………………………….………………..………..……………….....…. 12

Procedimento ……………....………………..……………..…...…………………..…..…. 12

Medidas ……………...…………………….……………....……...……………..……..…. 13

Análise de dados ……...………………..….……………..………...……………….…..…. 14

Resultados …………..……..…...………………...….….………………………………... 14

Discussão …………..…..…..…...…………...….……….………………………………... 19

Limitações ……...………………..….…..……..………..………...………………...…..…. 20

Implicações para a Gestão de Recursos Humanos …….....…………..…………….…..…. 21

Referências bibliográficas …………..……..……....…………………...………………... 23

1

Resumo

O presente estudo investiga o papel mediador do enriquecimento trabalho-família na

relação entre a perceção de suporte organizacional e o compromisso afetivo. Os dados foram

obtidos mediante a participação de uma amostra de colaboradores portugueses (N=1885) de

uma instituição bancária. Os resultados puderam corroborar as três hipóteses colocadas: foi

verificada uma relação positiva entre a perceção de suporte organizacional e o compromisso

afetivo; perceção de suporte organizacional e enriquecimento trabalho-família; tal como a

existência de uma mediação parcial. Foi concluído que a perceção de suporte organizacional é

necessária para existir um sentimento de compromisso afetivo para com a organização, relação

que é, em parte, explicada pelo enriquecimento trabalho-família. Por fim, tecem-se algumas

considerações relativas a limitações do presente estudo e sugerem-se implicações práticas para

a gestão de Recursos Humanos.

Palavras-chave: enriquecimento trabalho-família; perceção de suporte organizacional;

compromisso afetivo.

Abstract

The present study aims to research the mediating role of work-family enrichment in the

relationship between perceived organizational support and affective commitment. The data was

gathered through the participation of a sample of Portuguese employees (N = 1885) of a bank.

The results corroborated the three suggested hypotheses: a positive relationship between

perceived organizational support and affective commitment; a positive relationship between the

perception of organizational support and work-family enrichment; and the was seen as the

existence of a partial mediation. It was concluded that the perception of organizational support

is necessary to exist a sense of affective commitment to the organization, a relationship which

is partly explained by work-family enrichment. Finally, some considerations related with

limitations of the present investigation are weaved and practical implications for the

management of Human Resources are suggested.

Keywords: work-family enrichment; perception of organizational support; affective

commitment.

2

Agradecimentos

À Doutora Maria José Chambel pela disponibilidade total em responder às minhas

dúvidas, pela orientação científica demonstrada ao longo da investigação e sobretudo, ao

incentivo à sua concretização.

Aos meus pais, pela confiança em mim depositada e por me terem dado liberdade para

traçar o meu sonho. Sem vocês, nada disto seria possível.

A todos os meus amigos que caminharam comigo neste longo percurso. Um especial

agradecimento à Diana e à Ana Afonso, pela amizade e preocupação. Ao Helder, pela amizade

e disponibilidade demonstrada ao longo destes 5 anos, e em especial pela paciência na análise

estatística.

A ti Nuno, por teres estado sempre ao meu lado em todos os momentos, pelo

companheirismo, pela paciência, pelas ausências, por acreditares em mim e sobretudo, por me

fazeres acreditar em mim!

À Direção de Recursos Humanos da Associação Nacional das Farmácias, ao Drº João

Ribeiro, à Joana Nobre, à Sandra Neto e ao Bruno Santos, pela experiência enriquecedora que

me proporcionaram, pelo apoio e sobretudo pelo crescimento profissional e pessoal.

A todos os que de alguma forma contribuíram para que tudo isto fosse possível,

Muito Obrigada.

3

Introdução

Nas últimas décadas tem-se assistido a constantes mudanças sociais, quer ao nível da

estrutura das famílias, quer da composição da força de trabalho. Assim, o aumento da entrada

da mulher no mundo laboral, devido a alterações nos papéis de género, o número crescente de

famílias monoparentais e os casais de dupla carreira, assumem-se como marcos destas

mudanças (Allen, 2001; Bianchi & Milkie, 2010; Grzywacz & Marks, 2000). Neste contexto,

os trabalhadores passaram a assumir novas responsabilidades nas esferas laboral e familiar,

deparando-se com o desafio de equilibrar o seu envolvimento nestes diferentes papéis (Clark,

2001; Frone, Yardley & Markel, 1997; Grzywacz & Marks, 2000).

Diversos investigadores têm demonstrado interesse nesta temática, dado que a forma

como os trabalhadores gerem os seus papéis de trabalho e de família têm grandes implicações

para o bem-estar, desempenho no trabalho e funcionamento familiar (Gareis, Barnett, Ertel &

Berkman, 2009). Assim, dificuldades em gerir estes papéis sociais fundamentais podem ser

uma fonte de stress, afetando a saúde geral e o bem-estar (Frone, 2003).

Apesar da investigação existente sobre a dinâmica entre a família e o trabalho estar mais

focada nas evidências do conflito entre este dois domínios, existem também evidências que

revelam benefícios que advém da conjugação entre a família e o trabalho, reconhecendo esses

mesmos benefícios como compensadores das possíveis dificuldades (Grzywacz & Marks,

2000). Assim, a perspetiva do conflito é definida como “uma forma de conflito inter-papel no

qual as pressões de papel dos domínios do trabalho e da família são mutuamente incompatíveis

em algum aspeto” (Greenhaus & Beutell, 1985, p. 77). Por outro lado, a perspetiva dos

benefícios, denominada enriquecimento trabalho-família, inclui a noção de que a “extensão

para a qual a participação na família (trabalho) torna-se mais fácil em virtude das experiências,

aptidões e oportunidades ganhas ou desenvolvidas no trabalho (família) (Frone, 2003, p. 145).

Em resposta à necessidade que os trabalhadores têm em equilibrar os papéis da vida

profissional e da vida familiar, as organizações têm implementado políticas, normalmente

referidas como “amigas da família”, no sentido de facilitar a gestão das responsabilidades dos

trabalhadores nos diferentes domínios da sua vida (Aryee, Srinivas & Tan, 2005; Lobel &

Kossek, 1996; Frone, 2003). Desta forma, a motivação dos empregadores para a implementação

destas práticas baseia-se na premissa de que irão alcançar uma vantagem competitiva ao

conseguirem atrair e reter uma força de trabalho mais envolvida e dedicada (Allen, 2001;

Casper & Buffardi, 2004). Assim, procuram potenciar comportamentos e atitudes desejáveis

para uma maior produtividade dos colaboradores (p.e., compromisso organizacional e redução

4

do absentismo), mostrando que se preocupam com eles (Allen, 2001; Behson, 2005; Casper &

Buffardi, 2004; Thompson, Beauvais & Lyness, 1999).

Denota-se um aumento significativo de estudos empíricos neste âmbito nos últimos

anos, de referir a revisão de Chang, McDonald e Burton (2010), que inclui 245 estudos sobre a

gestão da interface trabalho-família, dos quais 172 foram publicados entre 2004 e 2006.

Na última década a investigação tem dado maior atenção às políticas de apoio à

conciliação trabalho-família e ao seu impacto nos comportamentos e atitudes dos colaboradores

face ao trabalho e à família (Bianchi & Milkie, 2010). Porém, existem estudos que revelam que

apenas a disponibilização destes benefícios pode ter um efeito relativamente pequeno nas

atitudes e experiências no trabalho (Allen, 2001; Behson, 2005; Grandey, Cordeiro & Michael,

2007; Thompson, Beauvais & Lyness, 1999). Pelo contrário, as perceções dos trabalhadores

sobre o grau em que a sua organização suporta a utilização dos benefícios “amigos da família”,

verificou-se como estando positivamente mais relacionado com as atitudes e experiências no

trabalho, como a satisfação com o trabalho.

É neste âmbito que surge a presente investigação, com o intuito de contribuir para um

melhor entendimento do construto enriquecimento trabalho-família, relacionando-o com

variáveis como a perceção de suporte organizacional e compromisso afetivo, sendo relevante

para que as organizações reflitam sobre quais as práticas mais necessárias para que os seus

colaboradores possam integrar com eficácia o domínio familiar e profissional.

Desta forma, este estudo acrescenta conhecimento à literatura existente neste domínio,

pois procura averiguar o papel mediador que o enriquecimento trabalho-família pode ter na

relação entre a perceção de suporte organizacional e o compromisso afetivo.

5

Perceção de suporte organizacional e compromisso afetivo

A Teoria do Suporte Organizacional supõe que os colaboradores desenvolvem crenças

globais relativamente à valorização que a organização faz das suas contribuições e à

demonstração de preocupações com o bem-estar dos mesmos (Eisenberger, Huntington,

Hutchison & Sowa, 1986; Eisenberger & Stinglhamber, 2011; Rhoades & Eisenberger, 2002;

Shore & Tetrick, 1991). Importa referir que, na base da Teoria do Suporte Organizacional estão

conceitos como a troca social e a norma da reciprocidade. A Teoria da Troca Social prevê a

entrada numa relação com o intuito de maximizar os recursos ganhos (Blau, 1964, cit. por

Eisenberger & Stinglhamber, 2011). No entanto, a norma da reciprocidade, compreende a

obrigação de dar algo em troca à organização, recompensando-a através de comportamentos

positivos relacionados com o trabalho ou com um aumento do compromisso afetivo para com

a mesma, ajudando a atingir os objetivos organizacionais. Assim, os colaboradores que

percebem um nível elevado de suporte organizacional aceitam esta norma (Eisenberger et al.,

1986; Gouldner, 1960, cit. por Eisenberger & Stinglhamber, 2011). Tanto a troca social como

a norma da reciprocidade, quando aplicados ao contexto organizacional permitem compreender

que o desenvolvimento da perceção de suporte organizacional é acentuado pela tendência dos

colaboradores em atribuírem características humanas à organização à qual pertencem,

formando assim crenças globais sobre o quanto a organização se preocupa com eles e os

valoriza (Eisenberger et al., 1986).

Da mesma forma, Levinson (1965) refere que, muitas vezes, as ações praticadas por

agentes da organização são consideradas como indícios da intenção da organização e não como

uma ação de um indivíduo em particular, e portanto, um tratamento mais favorável ou

desfavorável será indicativo do comportamento da organização para consigo (Eisenberger,

Cummings, Armeli & Lynch, 1997; Rhoades, Eisenberger & Armeli, 2001). Assim, na medida

em que os colaboradores sentem que a organização os apoia, estes irão ter mais confiança nela,

e tal como Shore e Shore (1995) referem, quando os colaboradores têm uma alto nível de

perceção de suporte organizacional, estão mais motivados em se envolverem em

comportamento de cidadania organizacional, realizando tarefas que vão além do que está

inerente à sua função, com o intuito último de beneficiar a organização.

É então possível compreender que alguns estudos tenham mostrado que o apoio

organizacional conduz a um maior desempenho e a uma diminuição de comportamentos de

ausência como o turnover e o absentismo (Eisenberger, Fasolo & Davis-LaMastro, 1990;

Mathieu & Zajac, 1990). Pode-se concluir que, a perceção de suporte organizacional dos

6

colaboradores regula o nível de compromisso que estes têm para com a organização de que são

membros. Neste sentido, pode-se definir o conceito de compromisso organizacional como o

laço que caracteriza a ligação dos indivíduos à organização à qual pertencem, o que torna menos

provável que estes abandonem voluntariamente a organização (Meyer & Allen, 1991). A

abordagem multidimensional de Allen e Meyer (Allen & Meyer, 1990; Meyer & Allen, 1984)

define o compromisso organizacional como o estado psicológico que vincula a relação de um

colaborador com a organização em que este trabalha. De acordo com este modelo, existem três

dimensões que compõem o compromisso organizacional, denominadas compromisso

organizacional afetivo, compromisso organizacional de continuidade e o compromisso

organizacional normativo. O compromisso organizacional afetivo consiste no grau em que o

colaborador se sente emocionalmente ligado, identificado e envolvido na organização (Meyer,

Allen & Smith, 1993). O compromisso organizacional de continuidade diz respeito ao grau em

que o colaborador se mantém ligado à organização devido ao reconhecimento de custos

associados com a saída da mesma ou devido à ausência de alternativas de emprego (Meyer,

Allen & Smith, 1993). O compromisso organizacional normativo consiste no grau em que o

colaborador possui um sentido de obrigação de permanecer na organização (Meyer, Allen &

Smith, 1993).

Para este estudo, será dado uma maior relevância ao compromisso organizacional

afetivo, dado o seu maior caráter preditivo com um maior número de variáveis, tais como o

nível de desempenho, turnover, absentismo e stress no trabalho (Meyer & Allen, 1991; Meyer,

Stanley, Herscovitch & Topolnytsky, 2002; Riketta, 2002). Esta ligação emocional sentida pelo

colaborador para com a organização pode surgir em diversas situações, tais como quando este

se sente respeitado e apoiado de uma forma justa pela organização, quando se sente satisfeito

com o trabalho que realiza, quando os seus objetivos são concordantes com os da organização,

entre outros (Allen & Meyer, 1996).

Tendo em linha de conta a norma da reciprocidade, as perceções que os colaboradores

formam em relação ao apoio organizacional, originam sentimentos de obrigação como afiliação

e lealdade organizacional, o que irá levar a um melhor desempenho no exercício das suas

funções e, consequentemente, a elevados níveis de compromisso para com os objetivos da

organização (Eisenberger et al., 1986, 1990a, 2001b; Tansky & Cohen, 2001).

É vasta a literatura que refere a perceção de suporte organizacional como um forte

preditor e antecedente do compromisso organizacional afetivo do colaborador para com a

organização, salientando a relação positiva entre estes dois conceitos (e.g. Eisenberger et al.,

7

1986, 1990, 2001; Hutchinson, 1997; Liu, 2009; Meyer, Stanley, Herscovitch & Topolnytsky,

2002; Randall, Cropanzano, Bormann, & Birjulin, 1999; Rhodes & Eisenberger, 2002).

Armeli, Eisenberger, Fasolo e Lynch (1998) e mais recentemente, Lee e Peccei (2007)

constataram que a ligação entre perceção de suporte organizacional e compromisso

organizacional afetivo se instituía com base na satisfação de necessidades sócio emocionais

(e.g. estima e afiliação) e em termos de reciprocidade e troca social, fazendo com que os

indivíduos se liguem mais emocionalmente à organização, levando-os a identificaram-se com

a mesma.

De acordo com o suporte teórico apresentado e de forma a replicar a relação encontrada

entre os conceitos em estudo, formula-se a seguinte hipótese:

Hipótese 1: A perceção de suporte organizacional por parte dos colaboradores está

positivamente relacionada com o compromisso organizacional afetivo demonstrado pelos

mesmos para com a organização.

8

Perceção de suporte organizacional e enriquecimento trabalho-família

Apesar da investigação sobre a relação entre o trabalho e a família assentar na visão do

conflito, a qual se refere à situação em que a participação num papel torna difícil a participação

no outro papel (Greenhaus & Beutell,1985), mais recentemente têm-se vindo a adotar uma visão

de enriquecimento desta relação. Deste modo, Greenhaus e Powell (2006, p. 73), adotando a

teoria de Sieber (1974), consideram a existência de “enriquecimento entre o trabalho e a família

quando a extensão das experiências num determinado papel influencia as experiências no outro

papel”. De facto, de acordo com a Teoria do Papel (Kelly & Voydanoff, cit. por Allen, 2001) e

o Modelo da Conservação dos Recursos (Hobfoll, cit. por Allen, 2001), os benefícios

organizacionais de suporte à família devem servir como recursos para os colaboradores

equilibrarem os papéis relacionados ou não relacionados com o trabalho. Neste seguimento, a

participação em vários papéis facilita o acesso a múltiplos benefícios tais como, o acesso a

recursos e a um maior leque de recompensas, e a uma menor pressão num determinado papel

devido ao efeito tampão dos outros papéis (Greenhaus & Powell, 2006). Isto sugere que existe

uma relação bidirecional dado que os recursos, oportunidades de aprendizagem e suporte

ganhos no domínio do trabalho (família) podem ser usados para melhorar o funcionamento e

beneficiar o domínio da família (trabalho) (Aryee, Srinivas & Tan, 2005; Grzywacz & Marks,

2000). Assim, quando os recursos gerados num papel influenciam diretamente e de forma

positiva o desempenho do outro papel, é designado por via instrumental, por outro lado, quando

afeta o desempenho do outro papel de forma indireta através da influência no afeto positivo

estamos presente a via afetiva (Carlson, Kacmar, Wayne & Grzywacz, 2006).

Os resultados que advêm deste modelo de enriquecimento de Greenhaus e Powell

(2006) podem ser divididos nas seguintes três categorias: resultados relacionados com o

trabalho como seja o enriquecimento no trabalho e em fatores relacionados com o local de

trabalho, tais como a satisfação no trabalho, o compromisso afetivo e a redução de intenções de

turnover; resultados não relacionados com o trabalho, isto é, resultados que se relacionam com

a família ou com outros fatores, tais como a satisfação familiar e a satisfação com a vida em

geral; resultados relacionados com a saúde, física e mental (Greenhaus & Powell, 2006).

Estudos de McNall, Nicklin e Masuda (2010) obtiveram relações positivas entre o

enriquecimento e resultados relacionados com o trabalho, tais como a satisfação profissional e

compromisso afetivo, ao mesmo tempo que se encontra relacionado, de forma positiva, com a

satisfação familiar e satisfação com a vida.

9

A perceção de suporte organizacional, como vimos anteriormente, é entendida como a

crença relativamente à valorização que o colaborador recebe por parte da organização, traduzida

em demonstração de preocupação com o seu bem-estar (Eisenberger & Stinglhamber, 2011;

Rhoades & Eisenberger, 2002). Esta perceção deve não só diminuir a influência negativa do

trabalho para a família e facilitar a interação entre estes papéis (Greenhaus & Parasuraman cit.

por Aryee, Srinivas & Tan, 2005), como pode contribuir para um conjunto de sentimentos

positivos que podem ser transportados para a vida familiar. No domínio da transferência de

recursos, interessa ainda acrescentar que a perceção geral de suporte contribui para o

enriquecimento da relação trabalho-família por uma via instrumental, dado que permite o apoio

para atingir objetivos de papel e a manutenção da satisfação geral. Assim, infere-se que estes

mesmos recursos poderão ser importados para outros domínios da vida, tais como a vivência

familiar. Neste sentido, podemos esperar que a perceção de suporte organizacional pode

contribuir para o enriquecimento entre o trabalho e a família.

Diversos estudos têm vindo a demonstrar esta relação dado que os colaboradores que

percecionam um maior apoio por parte da organização são mais felizes no local de trabalho

(Eisenberger, Armeli, Rexwinkel, Lynch & Rhoades, 2001), os que acreditam que contribuem

significativamente para o sucesso da organização (Lee & Peccei, 2007) e os que vivenciam uma

menor interferência do trabalho no plano familiar (Wadsworth & Owens, 2007).

Considerando a literatura apresentada e tendo em conta a perceção de suporte

organizacional pode conduzir à influência positiva da relação trabalho-família (e.g. Grover &

Cooker cit. Allen 2001; Grzywacz & Marks, 2000; Grandey e col. 2007), coloca-se a seguinte

hipótese:

Hipótese 2: A perceção de suporte organizacional por parte dos colaboradores está

positivamente relacionada com a sua perceção de enriquecimento trabalho-família.

10

Enriquecimento trabalho-família enquanto mediador da relação entre perceção de suporte

organizacional e compromisso afetivo

Existem diversos estudos que evidenciam a existência de uma relação positiva entre a

perceção de suporte organizacional e a existência de compromisso afetivo por parte dos

colaboradores. Da mesma forma, alguns estudos revelaram a influência da perceção de suporte

organizacional no enriquecimento trabalho-família. No entanto, o interesse deste estudo passa

por analisar estas três variáveis em simultâneo, por forma a verificar o potencial papel mediador

que o enriquecimento trabalho-família tem na relação entre a perceção de suporte

organizacional e o compromisso afetivo.

Considerando a relação entre a vida profissional e a vida familiar, tem-se verificado que

os indivíduos que beneficiam do enriquecimento entre estes dois domínios revelam um maior

compromisso afetivo para com a organização à qual pertencem.

Alguns autores já verificaram a existência desta relação, mais concretamente Wayne,

Randel e Stevens (2006) no seu estudo utilizaram uma amostra de 167 colaboradores (114

mulheres e 53 homens) de uma empresa de seguros nos Estados Unidos onde foi avaliada a

relação individual (identidade do trabalho e da família), a família e os antecedentes

organizacionais do enriquecimento trabalho-família. Estes autores concluíram que a identidade

com o trabalho prediz significativamente e positivamente o compromisso. Estas evidências

podem ser explicadas pelo facto dos colaboradores entenderem que as suas chefias apoiam as

suas tentativas para equilibrar o trabalho e a família, conduzindo a um maior compromisso

afetivo por parte destes.

Adicionalmente, o estudo de McNall, Nicklin & Masuda (2010) fornece uma revisão

quantitativa da relação de enriquecimento trabalho-família, tomando como ponto de referência

o Modelo de Enriquecimento de Greenhaus e Powell (2006). Este estudo concluiu que as

direções do enriquecimento (trabalho-família e família-trabalho) se relacionam positivamente

com resultados associados ao trabalho, especificamente com o compromisso afetivo.

Tal como referido anteriormente, tem igualmente sido realizada alguma investigação

para estudar a influência da perceção do suporte organizacional no enriquecimento trabalho –

família. Num estudo desenvolvido nos Estados Unidos da América com uma amostra de

homens e mulheres, Grzywacz e Marks (2000) verificaram que o suporte organizacional

estabelece correlações robustas com o enriquecimento trabalho – família. Assim sendo, é de

esperar que as perceções de suporte organizacional facilitem a integração entre o trabalho e a

família.

11

De acordo com os estudos apresentados, na medida em que a perceção de suporte

organizacional se correlaciona com a existência de compromisso afetivo por parte dos

colaboradores e com o enriquecimento trabalho-família, é de esperar que esta última variável

possa ter um papel mediador nesta relação.

Deste modo, coloca-se a seguinte hipótese:

Hipótese 3: O enriquecimento trabalho-família medeia a relação entre a perceção de

suporte organizacional por parte dos colaboradores e o compromisso organizacional afetivo

demonstrado pelos mesmos para com a organização.

12

Método

O objetivo deste estudo é analisar a relação enriquecimento trabalho-família. Mais

especificamente, pretende-se analisar a relação positiva existente entre a perceção de suporte

organizacional e o compromisso organizacional afetivo, bem como desta na perceção de

enriquecimento trabalho-família. Também pretende analisar o papel mediador que o

enriquecimento trabalho-família tem na relação entre a perceção de suporte organizacional e o

compromisso afetivo.

Amostra

Os dados para este estudo foram recolhidos junto de uma amostra constituída por

colaboradores (N=1885) de uma instituição bancária portuguesa em Portugal. Os participantes

deste estudo incluíam toda a estrutura organizacional, desde as sucursais até aos serviços

centrais, dos quais cerca de 57,5% são do sexo masculino e 42,5% do sexo feminino.

Relativamente à sua situação profissional, 12,1% estão vinculados à organização há menos de

5 anos, 20,4% estão há entre 5 e 10 anos, 33,4% estão há entre 10 e 20 anos, e 34% estão há

entre 20 e 30 anos. Ao nível da unidade orgânica, de destacar as mais significativas, em que

17,5% dos participantes tinham a função de técnico, 14,4% a função de assistente de vendas,

11,4% a função de gerente e 10% a função de diretor.

Procedimento

Os dados para o presente estudo foram recolhidos no âmbito de um projeto mais amplo

acerca dos riscos psicossociais, no qual a Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa

foi contactada pelo Responsável do Departamento de Saúde Ocupacional, a fim de elaborar o

estudo no âmbito do stress e bem-estar dos colaboradores da entidade bancária, no qual a

docente Maria José Chambel coordenou a investigação, criando assim um questionário com dez

conjuntos de itens, que avaliavam diferentes variáveis. No presente estudo apenas vão ser

analisadas as variáveis com interesse para o objetivo do mesmo.

O questionário foi disponibilizado online, na plataforma surveymonkey, durante 20 dias,

sendo que foi garantida a confidencialidade e anonimato das respostas. Como variável

demográfica, foi recolhida a variável tempo no banco, sexo e unidade orgânica.

Após a recolha dos dados dos questionários, estes serviram de base para a construção

de um relatório apresentado à Direção de Recursos Humanos da empresa, servindo de suporte

13

aos ajustamentos ao nível da gestão de recursos humanos, tendo em vista a melhoria dos índices

de satisfação e bem-estar dos seus colaboradores.

Medidas

Perceção de Suporte Organizacional. Recorreu-se a versão reduzida do instrumento Perceived

Organizational Support Survey de Eisenberger et al. (1986), previamente utilizado em Chambel

e Sobral (2011). A escala é composta por 8 itens (e.g. “O Banco disponibiliza-se para me ajudar

quando tenho um problema” ou “O Banco preocupa-se bastante com o meu bem-estar”),

apresentando uma consistência interna (Alfa de Cronbach) de = 0.83. Os itens foram

pontuados pelos respondentes numa escala de 7 pontos, em que 1 (Discordo Totalmente) até 7

(Concordo Totalmente). Desta forma, quando mais elevados forem os valores das respostas a

cada item da escala, maior é a perceção de suporte organizacional que o colaborador tem.

Compromisso Organizacional Afetivo. Para medir o compromisso organizacional afetivo dos

colaboradores para com a organização na qual trabalham, utilizou-se a escala de Meyer, Allen

& Smith (1993), utilizada em estudos anteriores por Chambel e Castanheira (2012). Esta escala

é composta por 6 itens (e.g. “O Banco tem um elevado significado pessoal para mim” ou numa

escala invertida “Eu não me sinto como “fazendo parte desta família” no banco”, com uma

consistência interna (Alfa de Cronbach) de = 0.85. Os itens foram pontuados pelos

respondentes numa escala de 7 pontos, em que 1 (Discordo Totalmente) até 7 (Concordo

Totalmente). Assim, quanto mais elevada for a resposta dos colaboradores maior é a ligação

que sentem para com a organização.

Enriquecimento Trabalho-Família. Com o objetivo de medir a relação entre o trabalho e a

família dos colaboradores, recorreu-se a uma escala de 9 itens, utilizada anteriormente por

Chambel (2012), tendo sido baseada no estudo de Carlson, Kacmar, Wayne & Gryzwacz

(2006). Os itens foram pontuados pelos respondentes numa escala de 5 pontos, em que 1

(Discordo Totalmente) até 5 (Concordo Totalmente). Nesta escala, itens que apresentem valores

mais elevados representam que o colaborador perceciona que o seu envolvimento no trabalho

permite a aquisição de recursos que podem ser transferidos para a esfera familiar, tais como “O

meu envolvimento com o meu trabalho ajuda-me a sentir preenchido(a) como pessoa e isto

ajuda-me a ser um melhor membro da minha família” ou “O meu envolvimento com o meu

trabalho dá-me uma sensação de sucesso e isto ajuda-me a ser um melhor membro da minha

família”. O índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) para este construto é de = 0.94.

14

Análise de dados

Para se proceder à análise dos dados, foi utilizado o programa Statistical Package for

Social Sciences (SPSS). Numa primeira fase, foi realizada uma análise descritiva a fim de se

obter os valores médios e desvio-padrão das respostas às variáveis em estudo, bem como a

análise das correlações de Pearson. Em seguida, procedeu-se a uma análise de regressões

hierárquicas, a fim de se poder analisar as relações entre as variáveis independentes e as

variáveis dependentes, tal como verificar a existência de uma relação de mediação por parte do

enriquecimento trabalho-família na relação entre a perceção de suporte organizacional e

compromisso afetivo.

Resultados

Começou-se por realizar uma análise de correlação de Pearson entre as variáveis suporte

organizacional, compromisso afetivo, enriquecimento trabalho-família e variáveis controlo

(género e tempo na organização). De acordo com o Quadro 1, a variável perceção de suporte

organizacional apresenta uma correlação negativa e significativa com o tempo em que os

indivíduos estão na organização (r = -.06; p<.05). Quanto à variável compromisso afetivo, esta

apresenta uma correlação negativa e significativa com a variável género (r = -.06; p<.05), e uma

correlação positiva e significativa com a variável tempo na organização (r = .10; p<.01). No

que diz respeito à variável enriquecimento trabalho-família, esta correlaciona-se de forma

positiva e significativa com a variável género (r = .06; p<.01), e de forma negativa e

significativa com a variável tempo na organização (r = -.08; p<.01). Os resultados indicam

também que existe: uma correlação significativa e positiva entre a perceção de suporte

organizacional e o compromisso afetivo (r =.43; ρ<.01); uma correlação significativa, forte e

positiva entre a perceção de suporte organizacional e o enriquecimento trabalho-família (r =.57;

p<.01); uma correlação positiva e significativa entre o enriquecimento trabalho-família e o

compromisso afetivo (r= .46; p<.01).

15

Quadro 1. Médias, Desvio Padrão e Correlações das Variáveis

Variáveis M DP 1 2 3 4

1. Género ___ ___

2. Tempo na organização 2.85 1.01 -.14**

3.Percepção de suporte organizacional 4.51 .94 .01 -.06*

4. Compromisso afetivo 5.81 .98 -.06* .10** .43**

5. Enriquecimento trabalho-família 3.31 .75 .65** -.08** .57** .46**

Nota: *ρ<.05; ** ρ<.01

Procedeu-se à realização de uma regressão linear hierárquica com o propósito de testar a

primeira hipótese que considera que, a perceção de suporte organizacional por parte dos

colaboradores está positivamente relacionada com o compromisso organizacional afetivo

demonstrado pelos mesmos para com a organização.

Num primeiro passo introduziram-se as variáveis de controlo, género e tempo na

organização, e no segundo passo introduziu-se a variável independente, perceção de suporte

organizacional (ver Quadro 2).

Quadro 2. Resultado da análise de regressões hierárquicas I

ΔR2

Ajusted

R2

F Β

1º Passo Género

.01** .01 10.76** -.04

Tempo no banco .09**

2º Passo Perceção de suporte

organizacional .20** .20 154.72** .43**

Nota: *ρ<.05; ** ρ<.01

De acordo com a análise deste quadro, a relação da perceção de suporte organizacional

é significativa, contribuindo para explicar 20% da variância do compromisso afetivo (ΔR2

=.20), sendo o valor de beta também significativo (β=.43). Portanto, a hipótese 1 é suportada

pelos dados desta investigação.

Quanto ao impacto das variáveis de controlo no compromisso afetivo, verifica-se que

estas têm um impacto de 1% (ΔR2 =.01), sendo que apenas o beta da variável tempo na

16

organização é significativo (β=.09), mostrando que quanto mais tempo maior o nível desta

atitude.

Para testar a segunda hipótese, que pressupõe que a perceção de suporte organizacional

por parte dos colaboradores está positivamente relacionada com a sua perceção de

enriquecimento trabalho-família, procedeu-se à realização de uma regressão linear hierárquica.

Num primeiro passo introduziram-se as variáveis de controlo, género e tempo na organização,

e no segundo passo introduziu-se a variável independente, perceção de suporte organizacional

(ver Quadro 3).

Quadro 3. Resultado da análise de regressões hierárquicas II

ΔR2

R2

Ajustado

F Β

1º Passo Género

.01** .01 8.78** .05*

Tempo no banco -.08**

2º Passo Perceção do suporte

organizacional .33** .33 314.15** .57**

Nota: *ρ<.05; ** ρ<.01

Analisando este quadro, verifica-se que a perceção de suporte organizacional é

significativa para explicar 33% (ΔR2 =.33), da variância do enriquecimento trabalho-família,

sendo o valor de beta também significativo (β=.57). Portanto, a hipótese 2 é suportada.

Quanto ao impacto das variáveis de controlo no enriquecimento trabalho-família,

verifica-se que estas têm um impacto de 1% (ΔR2 =.01), sendo que ambas têm um valor de beta

significativo: género (β=.05) e tempo na organização (β= -.08).

De acordo com Baron & Kenny (1986), existem quatro condições para se verificar um

efeito de mediação, como a pressuposta na terceira hipótese deste estudo – o enriquecimento

entre o trabalho e a família medeia a relação entre a perceção do suporte organizacional e o

commitment afectivo dos trabalhadores para com essa organização. A primeira condição, a

qual indica que a variável independente tem de se relacionar significativamente com a variável

dependente, foi verificada na hipótese 1 (ver Quadro 2). Quanto à segunda condição, a variável

independente deve relacionar-se significativamente com a variável mediadora. É possível

verificar esta condição a partir do teste da hipótese 2 (ver Quadro 3).

17

A fim de se assegurar a terceira condição, é necessário que a variável mediadora se

relacione significativamente com a variável dependente. É possível verificar esta condição a

partir do Quadro 4, o qual demonstra a existência de uma relação significativa entre o

enriquecimento trabalho-família e o compromisso afetivo.

Quadro 4. Resultado da análise de regressões hierárquicas III

ΔR2

R2

Ajustado

F Β

1º Passo Género

.01** .01 10.76** -.04

Tempo no banco .09**

2º Passo Enriquecimento trabalho-

família .23** .23 191.03** .34**

Nota: *ρ<.05; ** ρ<.01

A partir da análise do quadro 4, verifica-se que o enriquecimento trabalho-família é

significativo para explicar o compromisso afetivo dos trabalhadores, contribuindo em 23% para

explicar a variância desta atitude (ΔR2 =.23), sendo o valor de beta também significativo

(β=.34).

A quarta condição implica que ocorra em presença da variável mediadora a variável

independente diminui significativamente a sua associação com a variável dependente

(mediação parcial) ou que se deixe de verificar esta relação (mediação total). A fim de testar

esta quarta condição procedeu-se também à realização de uma regressão linear hierárquica.

Nesta análise numa primeira fase, foram introduzidas as variáveis de controlo, sendo que na

segunda fase foram incluídas a variável independente - perceção de suporte organizacional - e

a variável mediadora - enriquecimento trabalho-família – em simultâneo.

18

Quadro 5. Resultado da análise de regressões hierárquicas IV

ΔR2

Ajusted

R2

F Β

1º Passo Género

.01** .01 10.76** -.04

Tempo no banco .09**

2º Passo Perceção de suporte

organizacional .27** .27 176.18**

.24**

Enriquecimento

trabalho-família .34**

Nota: *ρ<.05; ** ρ<.01

A partir da análise do quadro 5, verifica-se que a perceção de suporte organizacional e

o enriquecimento trabalho-família são significativos, contribuindo para explicar 27% da

variância do compromisso afetivo (ΔR2 =.27), sendo o valor de beta também significativo para

ambas as variáveis: perceção de suporte organizacional (β=.24) e enriquecimento trabalho-

família (β=.34).

Quanto ao impacto das variáveis de controlo no compromisso afetivo, verifica-se que

estas têm um impacto de 1% (ΔR2 =.01), sendo que apenas o beta da variável tempo no banco

é significativo (β=.09).

Desta forma, confirma-se o primeiro cenário, dado que na presença do enriquecimento

trabalho-família, o valor de beta da variável independente perceção de suporte organizacional

diminui significativamente de (β=.43) para (β=.24) (ver Quadros 2 e 5). Para verificar se esta

diminuição é significativa, realizou-se ainda o Teste de Sobel. Este teste comprovou uma

mediação significativa com um valor de Z=15.22 (p<.01). Assim, a partir da análise destes

dados, é possível corroborar parcialmente a hipótese 3.

19

Discussão

Os resultados desta investigação contribuíram para uma compreensão da relação entre

a perceção de suporte organizacional e o compromisso afetivo que os colaboradores sentem

para com a organização, tal como os valores positivos e significativos da variável

enriquecimento trabalho-família na mediação parcial desta relação. De uma forma geral, os

resultados apontam para uma corroboração de todas as hipóteses em estudo.

A hipótese 1 postula a existência de uma relação positiva entre a perceção de suporte

organizacional e o compromisso afetivo que os indivíduos sentem para com a organização.

Assim, a perceção de suporte organizacional relaciona-se com o grau em que o colaborador

perceciona globalmente a organização como agente valorizador das suas contribuições,

demonstrando ainda preocupação com o seu bem-estar (Eisenberger et al., 1986), o qual retorna

para a organização sob a forma de elevados níveis de compromisso organizacional por parte

dos seus colaboradores. Tal como evidenciado em outros estudos anteriores (Armeli, et al.,

1998; Eisenberger et al., 2001; Lee & Peccie, 2007) a relação entre a perceção de suporte

organizacional e o compromisso organizacional afetivo tem como base a satisfação de

necessidades sócio emocionais, a reciprocidade e a troca social, originando sentimentos de

obrigação como afiliação e lealdade organizacional, tornando-os emocionalmente ligados à

organização, fazendo-os sentir como parte da mesma, levando a um melhor desempenho no

exercício das suas funções e, consequentemente, a elevados níveis de compromisso para com

os objetivos da organização. Resultados de estudos empíricos tais como os de Guerrero e

Herrbach (2009), Liu (009) e Rousseau (1995) corroboram a primeira hipótese.

No que respeita à hipótese 2, esta postula a existência de uma relação positiva entre a

perceção de suporte organizacional e o enriquecimento trabalho-família. O presente estudo

também confirma esta hipótese, sendo que resultados de estudos anteriores caminham no

mesmo sentido (McNall, Nicklin & Masuda, 2010).

Quanto à hipótese 3, tal como esperado, o enriquecimento trabalho-família apresenta-se

como uma variável mediadora na relação entre a perceção de suporte organizacional e o

compromisso organizacional afetivo, porém a mediação desta relação foi apenas parcial. Este

tipo de resultado é compreendido à luz dos estudos de Baron & Kenny (1986), dado que a

natureza social do objeto em análise torna difícil que as relações sejam totalmente explicadas

por um mediador. Em concreto, a partir da análise dos resultados, verificou-se que a presença

do mediador enriquecimento trabalho-família faz reduzir o valor explicativo que a perceção de

suporte organizacional tem no compromisso afetivo. Algumas explicações que podem ser

20

apontadas para a diminuição da influência da perceção de suporte organizacional, poderão ser,

numa primeira instância algum nível de sobreposição de conceitos, o que poderá fazer com que

alguns fatores que compõem a perceção de suporte organizacional já estarem a ser considerados

no conceito de enriquecimento trabalho-família. Outra possível explicação prende-se com o

facto de os indivíduos que experienciam enriquecimento trabalho-família de forma plena, se

sentirem independentes e não valorizarem os esforços de preocupação por parte da organização.

No entanto, em conjunto, as variáveis analisadas contribuem para o aumento do poder

explicativo do compromisso afetivo.

No que respeita à análise das variáveis de controlo, verifica-se um resultado

contraditório ao esperado. Assim, o tempo no banco relaciona-se de forma negativa com o

enriquecimento trabalho-família, no entanto, verifica-se que o compromisso afetivo não

acompanha este cenário pois aumenta ao longo do tempo. Assim, de acordo com a teoria de

Meyer & Allen (1991), numa fase inicial de integração numa organização, o compromisso é

instrumental, sendo necessário tempo para que um nível de compromisso afetivo se desenvolva.

Portanto, ao longo do tempo, a importância que o enriquecimento trabalho-família tem para o

compromisso é menor. Num estudo longitudinal, poderá ser analisada outra abordagem

explicativa relacionada com o facto de os colaboradores que se encontram há mais tempo no

banco serem também os que valorizem em menor escala o efeito das práticas de enriquecimento

trabalho-família, devido à sua faixa etária mais avançada.

Assim, a restante percentagem da relação que não é explicada pela mediação, pode ter

origem em relações diretas entre variáveis que não foram consideradas para este estudo, tais

como a cultura de suporte trabalho-família e o design dos postos de trabalho.

No entanto, interessa referir que os resultados deste estudo contribuem para o

aprofundamento da compreensão das variáveis mediadoras envolvidas na relação entre

perceção de suporte organizacional e compromisso afetivo.

Limitações

Este estudo apresenta algumas limitações. Em primeiro lugar aponta-se o facto da

amostra utilizada neste estudo apenas ser de Portugal, o que no futuro poderá dificultar a

generalização de resultados a amostras de outros países, devido às diferenças culturais ao nível

da gestão da relação entre o trabalho-família.

Uma segunda limitação deve-se ao facto do estudo apenas considerar como medida um

único momento temporal. Assim, impossibilita o estabelecimento de relações de causalidade,

sendo assim, apenas é possível fazer inferências dos resultados ao nível da natureza positiva ou

21

negativa das relações analisadas. Porém, existe suporte empírico que justifique a direção das

relações estabelecidas (Eisenberger & Stinglhamber, 2011; Rhoades & Eisenberger, 2002).

Para colmatar esta limitação, sugere-se que em estudos futuros se apliquem estudos

longitudinais que investiguem esta relação.

Uma terceira limitação surge pelo facto do estudo se ter focado numa amostra específica

de profissionais, sugerindo-se assim a aplicação do estudo a amostra de diferentes áreas

laborais, a fim de permitir a generalização dos resultados encontrados.

Implicações para a Gestão de Recursos Humanos

Apesar das limitações do presente estudo, este apresenta implicações práticas para a

Gestão de Recursos Humanos. Assim, reconhece que a existência de práticas de enriquecimento

trabalho-família e a consequente perceção de suporte organizacional tem consequências

positivas na vida dos colaboradores, contribuindo para que haja um aumento do compromisso

organizacional afetivo.

Salienta ainda a importância de equilibrar o domínio trabalho-família, sendo que as

organizações têm um papel fundamental ao suportarem este equilíbrio, tendo repercussões

positivas compromisso dos seus colaboradores. Assim, organizações devem desenvolver

culturas de suporte à relação trabalho-família, transmitindo a mensagem de preocupação para

com os seus colaboradores e investindo na promoção da conciliação entre os vários domínios

da sua vida.

De acordo com a literatura neste domínio, a demonstração de preocupação com os

colaboradores e a consequente perceção por parte dos mesmos, relaciona-se positivamente com

a produtividade das organizações (Muse, Harris, Giles & Field, 2008). Uma explicação para

esta relação poderá ser a perceção de suporte que os colaboradores sentem e o facto de se

comprometerem mais com a organização, ao ponto de terem atitudes positivas como

comportamentos de cidadania organizacional e redução de atitudes negativas como o turnover.

Esta constatação tem importantes implicações para as organizações. Desta forma, de

acordo com o estudo de Muse et al. (2008), aquando do momento de decisão relativamente às

práticas que devem ou não ser disponibilizadas e que despoletam ou não sentimentos

valorizados pelos mesmos, as organizações devem avaliar as perceções que os trabalhadores

têm sobre o valor das práticas que se pretende disponibilizar, através de técnicas como

entrevistas, questionários e focus groups.

22

Em suma, este estudo acaba por mostrar a necessidade de ver os colaboradores como

importantes peças no sucesso da organização, cuidando assim do seu bem-estar físico e mental

por forma a conseguirem uma rentabilização do seu potencial a nível organizacional.

23

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