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ENSAIO ACADÉMICO
OS VALORES ÉTICOS NO COMBATE A CORRUPÇÃO NA EDUCAÇÃO
EM MOÇAMBIQUE.
Por: Marli Maria e Silva - Cuamba - Niassa - Moçambique
2010.
1. Introdução
A corrupção é uma crise social que também está patente na educação e é do conhecimento
da sociedade em geral. Ela se manifesta das seguintes maneiras: através de pessoas que abusam
de funções ou cargos para adquirirem benefícios de forma ilegal e também daquelas pessoas que
não exercem tais ocupações, mas que subornam para conseguirem algo em troca: o caso de
estudantes, pais e encarregados.
A escola é considerada uma organização que exerce um papel fundamental na construção
de uma sociedade sã e idónea, pois ela prepara os cidadãos para o desempenho das mais variadas
profissões. Este papel leva-nos a confiar que a escola contribui no desenvolvimento dos valores
éticos do cidadão e da sociedade em geral. Ela pode exercer e ensinar alguns valores morais e
humanos aos seus educandos. Porém, existem algumas situações em que a escola deixa a desejar
no que se refere a vivência destes valores e se torna um cenário em que os seus intervenientes são
envolvidos em actos de corrupção.
Assim, este ensaio académico pretende trazer uma reflexão sobre como é que os valores
éticos podem ajudar a combater a corrupção na educação. Portanto, este estudo tem por objectivo
principal analisar os valores éticos como uma possibilidade para combater a corrupção na escola.
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A importância deste estudo consiste em sustentar que se todos os intervenientes da escola
conhecessem e adoptassem alguns valores éticos, eles não seriam corruptos e nem se deixariam
corromper, pois viveriam de acordo com os princípios éticos e morais no combate à corrupção.
De acordo com dados referentes sobre a corrupção, percebe-se que se torna difícil acabar
com este malefício. Porém, pode-se reduzir ou combatê-lo. Assim o trabalho pretende reflectir as
possibilidades de combater a corrupção através do conhecimento e adopção de alguns valores
éticos.
Este trabalho é interessante como instrumento de reflexão e aprofundamento, pois trata de
duas vertentes actuais que não podem ficar esquecidas: a ética e a corrupção.
2. Marco Teórico
A corrupção é um fenómeno que destrói e prejudica o desenvolvimento socio-económico
e político da sociedade. Portanto, este malefício precisa ser combatido para que não traga
consequências desastrosas.
Acredita-se que a promoção dos valores éticos é um forte aliado no combate à corrupção.
Nesta vertente, encontram-se duas teses que divergem entre si sobre a importância dos valores
como contributo para a erradicação da corrupção:
A primeira tese afirma que “A crise de valores na sociedade atenua os efeitos dos valores
éticos no combate à corrupção”. A segunda dá-se a partir de um questionamento, “Podem ou não
os valores éticos ajudar no combate à corrupção?” Pergunta esta que será respondida ao longo do
presente trabalho.
Como fundamentação da primeira tese abordada, encontramos o artigo “Crepúsculo do
dever à Valsa das Éticas”1
de Cristina Beckert que aborda a situação actual da sociedade que é
1 O título é a junção dos títulos das Obras de G. Lipovetsky ( O crepúsculo do dever) e de A. Etchegoyen (A valsa das éticas).
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marcada por uma crise em que a ética não é uma excepção, sendo ela também afectada no seu
cariz deontológico.
Para a autora, a dissonância entre o campo individual e universal dá origem à crise
simultânea da moral e da democracia. Uma vez que o homem2 como sujeito racional estar mais
voltado para sua individualidade do que para a colectividade.
Resta-nos, pois, tentar perscrutar as razões que presidiram ao fracasso do ideal
iluminista de uma moral universal e racional (...). No projecto de emancipação
das Luzes, a razão assume o papel fundador e legitimador de todos os discursos,
ocupando o lugar deixado vago pela figura de Deus, de tal modo que uma moral
racional e laica, suportada pelos ideais da revolução francesa, vem substituir a
moral religiosa fundada na fé. (BECKERT, 2010, p. 1)
Entende-se aqui que a procedência da crise de valores consiste no facto da racionalidade
ter tomado o lugar da religiosidade como premissa orientadora para o comportamento dos
indivíduos.
Beckert (2010, p. 2), diz que “a normatividade racional levada ao extremo deu lugar a
uma razão paranóica”. Portanto, segundo a autora, não é a que a razão ou a racionalidade em si
seja algo ruim, mas o seu exagero é que não traz uma experiência positiva.
A mesma autora diz que a tese de Finkeelkraut pode resumir-se na afirmação de que o
nazismo, enquanto pólo aglutinador da crise de valores morais na contemporaneidade, constitui
uma forma paradoxal de loucura, em que a razão se transmuta no seu contrário, isto é, em paixão,
mas numa paixão em que nunca deixa de se ter a si própria como objecto, conferindo uma capa
de moralidade (racionalidade) à violência instituída.
Actualmente a crise de valores também é marcada por uma “paixão desenfreada” do ter,
do poder e do prazer, onde o homem é capaz de fazer qualquer coisa para satisfazer seus desejos
e necessidades, mesmo que para isso tenha que corromper seus princípios morais.
2 Nesse trabalho, a palavra homem engloba tanto o ser masculino, como o feminino.
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Se os valores estão em crise, ou seja, se estão a passar por novos caminhos de definição e
adesão, como esperar que eles possam ajudar a combater à corrupção? Outra questão levantada:
se eles estão perto de se extinguir, como podem ser solução para um problema tão crucial para a
sociedade?
Segundo Beckert (2010), os valores e a ética já não têm mais a mesma força, uma vez que
os indivíduos que eram movidos pela religiosidade ou por um ser superior, hoje, são levados pelo
uso excessivo da razão.
Em confronto com a primeira tese, encontra-se a segunda que faz o seguinte
questionamento: “Podem ou não os valores éticos ajudar no combate à corrupção?”
A obra “Onde está a felicidade?” apresenta a busca incessante do homem para descobrir a
felicidade. Barbosa (2008, p. 30) apresenta possíveis respostas para tal procura e o faz
defendendo que a felicidade existe e que é possível encontrá-la a partir da uma vida marcada por
actos virtuosos.
Na busca pela felicidade, que é o que todo ser humano mais deseja em sua vida, o homem
percebe que ela está dentro de si mesmo e não somente em coisas externas. Esta percepção faz
com que o indivíduo descubra que ao assumir atitudes ou comportamentos (valores éticos) que o
façam sentir-se bem e aos outros, ele está mais próximo da felicidade tão desejada.
Barbosa (2008, p. 72-76) aborda que na pós-modernidade os valores ainda são importantes
para a sociedade e eles não estão “ à beira do precipício”, eles não perderam sua força e são
importantes para o ser humano ser feliz.
De acordo com o questionamento da segunda tese, acredita-se que os valores éticos podem
ajudar a combater à corrupção, pois eles são fundamentais para a busca e o encontro da
felicidade.
“Sócrates compreendia o ponto de partida para a felicidade: fazer o bem e
querer o bem do outro. Para Platão (428/17 - 348/7 a.C.), a felicidade coincide
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com a rectidão de vida, a sabedoria, a virtude, a perfeição. (...) Aristóteles (348 -
322 a.C.) defende que a felicidade é uma actividade da alma, segundo a perfeita
virtude. Ao associar a felicidade à virtude, à vida boa, ao bem supremo, não
exclui a importância de possuir bens materiais...” (BARBOSA, 2008, p. 30)
Segundo os filósofos acima citados, existe uma relação entre a felicidade3 e a virtude
4, ou
seja, por meio de actos virtuosos a pessoa pode ser feliz. Agir conforme as virtudes é negar
qualquer atitude corrupta.
De acordo com Séneca, citado por Barbosa (208, p. 38), “só a virtude garante uma
felicidade duradoira”. Uma pessoa virtuosa é alguém que vivencia alguns valores éticos, tais
como: honestidade, coerência, sinceridade, compromisso, respeito, diálogo, lealdade, justiça,
rectidão, responsabilidade... Portanto, os valores éticos podem ajudar a combater a corrupção,
pois eles não condizem com actos corruptos.
“São Tomás de Aquino diz que a felicidade é possível e está ao alcance de todos os
humanos, mas isso exige uma vida temperada e ordenada por um conjunto de virtudes morais”
(BARBOSA, 2008, p. 60).
Diante das duas teses abordadas anteriormente, escolho a segunda que diz: “Podem ou
não os valores éticos ajudar a combater a corrupção? Portanto, esta será a proposição a ser
defendida.
Há escolas em que a corrupção já foi disseminada através das seguintes formas: suborno,
extorsão sexual, comércio de notas e matrículas, cobranças ilegais de materiais didácticos,
nepotismo nas nomeações e progressões de professores e funcionários, etc.
A corrupção no Sector da Educação em Moçambique é uma realidade
incontestável. A corrupção de parentes que pagam subornos aos professores para
que os seus filhos transitem de classe é inclusivamente usada quando as pessoas
são chamadas a definir o que é corrupção. (MOSSE e CORTEZ, 2006)5
3 Qualidade ou estado de feliz, bom êxito, sucesso. 4 É a disposição firme e constante para a prática do bem, força moral. 5 Texto extraído da Internet. As páginas destes autores não são numeradas.
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O que motiva uma pessoa a adoptar atitudes corruptas? Poderia se obter as seguintes
respostas: a ambição, o egoísmo, o orgulho... Insistiria ainda na pergunta: por detrás de tudo isso,
o que um corrupto mais deseja? Acredita-se que no fundo esta pessoa procura a felicidade, ou
seja, ser feliz satisfazendo as suas necessidades. Porém ela pode realizar-se assumindo uma
postura ética. Uma vez que os valores éticos quando vivenciados trazem uma sensação de bem-
estar, em que a pessoa sente-se feliz por praticar o que é correcto e justo segundo os seus
princípios e as normas ditadas pela sociedade. Portanto, defende-se que os valores éticos podem
ajudar a combater a corrupção no contexto escolar, porque eles não perderam sua importância
como contributo para a construção de uma sociedade melhor.
Duas ideias envolvem esta crença: a primeira é que uma pessoa que vive de acordo com
os princípios éticos e morais é alguém realizado (que está feliz ou que busca a felicidade) e a
segunda é que um indivíduo que conhece e adopta os princípios éticos e morais não adoptará
atitudes corruptas.
Para dar credibilidade a tese defendida de que os valores éticos podem ajudar a combater
a corrupção no contexto escolar, são apresentados os seguintes argumentos:
1. Uma pessoa ética é alguém feliz.
Não se pode dizer com precisão o que é ser feliz, pois cada pessoa tem seus parâmetros
para definir o que significa felicidade. Entretanto, em comum, estas pessoas acreditam estar
felizes quando se sentem bem, animadas e dispostas a viver com optimismo.
Segundo Barbosa (2008, p. 21), “para uns, ser feliz é ter tudo o que se quer (...) para
outros ser feliz é viver na igualdade e na solidariedade e é resultado do esforço comum”.
A pessoa ética que diariamente procura viver de acordo com os seus princípios é alguém
que tem mais possibilidades de sentir-se feliz por um período maior, pois é um indivíduo que
conscientemente ou até inconscientemente tem boas ações e estas de alguma maneira retornam
positivamente a ela.
12
Para o Dr. Abdul Carimo, fundador da Ética Moçambique, a promoção de valores
sociais que possam fundamentar e orientar a acção pública é importante na luta contra a
corrupção, bem como a promoção de reformas com base humana e moral. (Ética Moçambique,
2001, p. 7)
De acordo com Augustín, citado em Cortina (1997, p.104), a ética da felicidade que se
preze deve ser ao mesmo tempo, uma ética de responsabilidade.
A ética de responsabilidade seria o compromisso de assumir com seriedade e lealdade
qualquer trabalho que lhe seja solicitado, bem como corresponder às expectativas do que desejam
de si.
Ser responsável é assumir com coerência o que se deseja para ser feliz. A
responsabilidade afasta qualquer acto de irresponsabilidade que possa trazer infelicidade ou dano
moral a si mesmo e a outra pessoa.
Um educador responsável não irá falhar para com o seu compromisso de educar com
empenho e respeito os educandos e nem fará parte do quadro dos actores corruptos.
Professores, estudantes, encarregados de educação, funcionários escolares de
escritórios, directores de escola, dirigentes superiores, têm uma ligação com as
práticas de suborno e extorsão sexual, com a manipulação das regras de
procurement e a distribuição de bolsas de estudo a familiares (...) Na captação da
dinâmica das relações que se estabelecem entre estes actores, a distinção entre o
actor passivo e o activo aparece muito ténue. Os actores podem estar do lado da
procura e da oferta. Esse posicionamento varia consoante as situações,
nomeadamente tendo em conta a época do ano em que se está. (MOSSE e
CORTEZ, 2006)
2. Conhecer a ética e alguns dos seus valores é o primeiro passo a ser dado no
empreendimento do combate à corrupção.
O cenário da corrupção é preparado no início do ano lectivo pelos seus actores que com
esperteza envolvem outras pessoas para poderem alcançar seus objectivos. Pode-se afirmar que
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os corruptos conhecem com segurança as artimanhas necessárias para obterem o que desejam.
Portanto, o “conhecimento” é um elemento importante para o comportamento do homem na sua
prática para o bem ou para o mal.
O professor começa a preparar, logo no início do ano, as condições para exigir
pagamentos aos alunos. Uma das armadilhas é elaborar testes considerados
difíceis, os quais tornam o aluno dependente; depois de dois (sic) ou três
avaliações, o aluno apercebe-se que está tecnicamente chumbado e vê como
única solução a negociação com o professor (...). Os pais e encarregados de
educação também se envolvem em práticas de corrupção no sector da Educação.
Numa primeira instância, o seu envolvimento acontece logo no início do ano,
quando chega o período das matrículas. Quando um pai ou encarregado de
educação apercebe-se que o seu filho pode não ter vaga, eles procuram um
professor ou um funcionário de secretaria para garantir a vaga. E fazem
propostas aliciantes aos professores e/ou funcionários, pagando valores altos
para que o filho estude. (MOSSE e CORTEZ, 2006)
O pensamento socrático resume-se em duas máximas: “ ‘só sei que nada sei’ e ‘conhece-
te a si mesmo’. Para Sócrates, o verdadeiro objecto do conhecimento é a alma humana (..)
Diluindo os próprios erros, é possível a cada ser descobri-la”. (NALINI, 1997, p. 43).
De acordo com Sócrates, a alma humana é um mistério que precisa ser desvendado, ou
seja, o homem precisa conhecer-se a si mesmo.
Se o indivíduo conhecer com precisão a ética e alguns de seus valores, ele poderá nortear
seu comportamento para a prática do bem, desviando-se da corrupção.
O homem não nasce mau, ele pode se tornar uma pessoa ruim de acordo com o ambiente
em que vive, pois “o homem é fruto do meio”. Por isso, ele deve ser educado na família, na
escola e na sociedade para os valores que o farão uma pessoa boa, de carácter e personalidade
firme e coerente.
De acordo com Nalini:
A bondade é resultado do saber. Para alguém ser feliz é necessário ser bom e
para ser bom é preciso ser sábio. Aquele que encontrou a verdade oculta em sua
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alma sente-se obrigado a ajustar com ela sua conduta. Assim, o conhecimento do
bem determina a prática da virtude. Não existem pessoas más, senão extraviadas.
A maldade é produto da ignorância. (1997, p. 43-44).
Eis porque muitos indivíduos praticam a maldade, não porque sejam perversos em si, eles
desconhecem o sentido da palavra ou do valor “bondade”. Muitos não receberam quando crianças
gestos de benevolência em suas famílias, quando jovens não aprenderam na escola, etc. Então
como ser bom e amável para com terceiros, se a pessoa nunca experimentou em sua vida?
Conhecer os valores e para que servem é um passo importante para viver uma postura
ética de profunda rejeição à corrupção.
3. Valores que contrapõem à corrupção
Para Gatti (2002, p. 09), “as normas morais provém e defendem os valores, entre eles: a
promoção do bem-estar humano, a justiça, a verdade, a dignidade e integridade da pessoa”. Além
destes valores encontram-se: honestidade, prudência, responsabilidade, rectidão, respeito,
simplicidade, liberdade, paz, concórdia, solidariedade, convivência, dialogo, tolerância,
convivência moral, boas maneiras, bondade, vontade...
Válcarcel, citado em Cortina:
... supõe que existem valores universais e considera que a filosofia é propriamente a
ciência dos valores. É ciência crítica, isto é investigação. Como Katiano que é,
Windelband distingue entre ser e dever ser. Os valores pertencem à ordem do dever ser
na qual a lógica, a ética e a estatística não são conjuntos de factos empíricos nem
preferências arbitrárias subjectivas, mas antes normativas ideais às quais as consciências
se acomodam, tanto no ser como seu conhecer. (1997, p. 403).
Conhecer os valores vai além do simples saber, requer prática. O indivíduo precisa praticar
aquilo que considera como um bem ou algo bom para a sociedade de modo que se torne praxis
em sua vida.
Existem inúmeros valores, porém, o que se deve fazer primeiramente é identificar quais
os valores que se contrapõem às atitudes ou acções corruptas, por exemplo:
Honestidade – Suborno; Consciência moral - Comércio de notas e matrículas;
Respeito à dignidade humana – Extorsão sexual; Verdade/sinceridade – Mentira;
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Rectidão - Cobranças ilegais dos materiais didácticos; Paz – Violência;
Justiça – Injustiça.
Todo ser humano tem a experiência de conferir a determinadas coisas ou acções
valoração que as qualifica como boas, más, úteis, agradáveis, nobres ou belas.
Esse experimento pressupõe uma escala estimativa. Ela propiciará identificar,
nas coisas ou atos, os valores compatíveis com essa pauta prévia (...) A intuição
dos valores não é completa, nem perfeita. Hartmann dá a esse fato o nome de
estreiteza do sentido do valor. Nenhuma pessoa é capaz de intuir todos os
valores. Quando intui, nem sempre pode fazê-lo duma forma nítida. Mais é
viável o crescimento nesta arte. A missão do pedagogo e moralista é desenvolver
a sensibilidade para o conhecimento daquilo que é eticamente relevante.
(NALINI, 1997, p. 54-55)
4. A pessoa que tem atitudes corruptas pode mudar de comportamento
O homem é um ser inacabado, ou seja, ele está em contínuo processo de mudança e
crescimento. Não se deve dizer “João é impaciente”, pois ele agiu com impaciência naquele
momento, pode ser que em outra ocasião “João seja paciente”. Assim acontece com os valores,
um indivíduo pode tomar para si alguns valores até então desconhecidos, pois a sua personalidade
ou carácter é modificável.
Segundo Moreno (2001, p.112), “a própria definição de valor, no sentido antropológico,
faz menção ao que aperfeiçoa ou faz ser mais um determinado ser. Valores humanos são aqueles
que fazem o homem ser mas autenticamente homem”.
Segundo Barbosa (2008, p.45) “o maior bem que o ser humano anseia é a felicidade e esta
identifica-se a partir de duas premissas: ‘O viver bem’ e ‘fazer o bem’ ”. A primeira está voltada
para a virtude em fase da experimentação do bem, já a segunda está voltada para o serviço, a
doação às outras pessoas. Pode-se perceber que a felicidade interiormente se espalha aos outros
indivíduos através de gestos concretos (atitudes que beneficiam a comunidade).
Os maiores componentes da felicidade são as virtudes do pensamento e as
virtudes do carácter. Estas não dependem da sorte. Aristóteles insiste muito na
gestão da sorte, defendendo que as virtudes do pensamento (boa deliberação,
compreensão, inteligência, e sabedoria) se adquirem pelo ensino e pela
experiência. As virtudes de carácter (temperança, coragem, justiça, continência
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generosidade, magnanimidade e magnificência) adquirem-se sobretudo, pelo
hábito. A felicidade é, portanto uma acção virtuosa. (BARBOSA, 2008, p. 45)
Para as pessoas adoptarem os valores éticos como os seus princípios norteadores, faz-se
necessário que elas sejam educadas para tal.
O ser humano estar em contínuo processo de transformação, por esta razão se ele estiver
disposto a mudar de atitude segundo os valores éticos, nada o impedirá de alcançar este fim,
Entretanto, o primeiro requisito para o indivíduo é estar disposto a mudar e o segundo é ser
educado para esta finalidade.
A educação é uma actividade na qual os professores contribuem de forma
decisiva para o harmonioso desenvolvimento da sociedade; neste quadro, os
professores devem possuir não somente conhecimentos profundos e
competências especiais adquiridas e mantidas através de estudos rigorosos e
contínuos, mas também o sentido de responsabilidade individual e colectiva que
assumem pela educação e bem-estar dos seus alunos. (ESTATUTO DO
PROFESSOR, Cap. 1, Art. 1)
A pessoa passa boa parte da sua a vida na escola e esta é responsável pela formação do seu
carácter ou da sua personalidade. Porém, se a escola assumir o objectivo de educar para os
valores como forma de opor-se a corrupção ela terá um ambiente com mais chances de enfrentar
este problema com autoridade e autonomia.
Segundo Menezes (2010)6
Educar é o caminho, imprimindo no carácter dos homens, desde cedo, a virtude
da justiça. Aprende-se essa virtude como aprende-se a ler e a escrever, desde que
seja ministrada no lar e nas escolas. Sua influência é grande no comportamento
individual e colectivo (...) É preciso que incuta no educando o hábito do bem e
do horror do mal. Em primeiro lugar que ele desde cedo, se habitue a deliberar
por si mesmo. Não se pode considerar educada a pessoa incapaz de conduzir-se
na vida, sem vontade própria (...) o cidadão só é alguém quando aprende a
resolver-se por si mesmo. (...) Sente-se a si próprio, forma a consciência de seu
valor, o sentimento de sua personalidade. Como consequência, é capaz de
iniciativas. O segundo hábito, diz o mesmo autor: consiste em que o educando se
habitue a prever necessariamente as consequências de seus atos, atitudes ou
omissões. Nada de sério se dispõe a fazer, ou deixar de fazer, sem antes de
refletir. Tem sempre a consciência de como age.
6 Texto extraído da Internet, as citações deste autor não têm páginas.
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Neste caso, “O hábito do bem e o horror ao mal” e a capacidade de “prever
necessariamente as consequências de suas atitudes ou omissões” são essenciais para o combate à
corrupção.
Quem pratica a corrupção, é evidente, não se encontra preparado para responder
por seus atos, o que acontece então, de modo geral, em sua vida particular ou
pública. Não foi educado para isso. Assim, acha fácil negar suas próprias acções
ou esconde-las em proveito pessoal. Pratica sua indignidade, achando-as muito
naturais, sem medir suas consequências e a extensão de seus maléficos.
(MENEZES, 2010)
Os valores são bens que podem ser adquiridos com as experiências cotidianas na família,
na escola, na Igreja, enfim, nos diversos meios sociais. Uma educação com esta finalidade é um
processo lento que requer tempo, paciência e sobretudo perseverança. Além disso, precisa da
colaboração e mútua ajuda de todos os indivíduos que tenham este mesmo propósito.
5. A chaga da corrupção seria sanada com a punição dos corruptos?
Esta pergunta é bastante complexa no sentido de não haver uma resposta pronta,
satisfatória para tal indagação. Entretanto, além da punição como um elemento para sanar a
corrupção, seria preciso trabalhar as dimensões preventiva e correctiva.
O sentimento geral que captamos é o de que a sanção e punição dos quadros
envolvidos nessas práticas não é frequente, acontecendo apenas
esporadicamente. A ausência de punição podia ser explicada se não houvesse
denúncias. Alunos e pais disseram-nos que têm se queixado às autoridades das
irregularidades que observam, mas que nunca sabem o que acontece mais tarde
com os denunciados. (MOSSE e CORTEZ, 2006)
A dimensão preventiva encontra grande espaço na escola, onde os seus intervenientes
(alunos, professores, pais encarregados, funcionários, Direcção) ao mesmo tempo que aprendem
a reagir contra a corrupção, são multiplicadores desta causa na sociedade. “É melhor prevenir do
que remediar ”. A dimensão correctiva também pode ser exercida na escola, de modo que as
situações corruptas sejam corrigidas da melhor maneira possível. Daí a necessidade de tornar os
valores éticos conhecidos e aceites pela instituição escolar. Eles actuarão de forma eficaz na
primeira dimensão – a preventiva.
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A dimensão correctiva pode ser trabalhada na escola a partir de actividades formativas e
não punitivas.
A educação é aquela que habilita o indivíduo ao exercício de actividades
eficientes, dentro dos padrões sócio-culturais de uma sociedade, e, ao mesmo
tempo, torna-se capaz, como sujeito da história, de refazer tais padrões.
Educação, esta que não se faz só com conhecimentos mas com experiências
formadoras. Tais experiências oportunizam: vivência dos valores básicos de
respeito à pessoa humana, criatividade, consciência crítica; formação de
habilidades de cooperação e trabalho conjunto; formação de actividades de
pesquisa, reflexão, amor ao próximo e fraternidade. (ANDRADE, 1976, p. 21)
Outra solução viável para sanar a corrupção seria um salário coerente com o trabalho
exercido e outras formas de incentivo ou motivação para que os profissionais da educação
desempenhassem com mais afinco suas funções.
6. As virtudes profissionais qualificam a profissão
De acordo com Kombo (s/d, p.19), “o trabalhador para além dos seus deveres como
profissional, ele deve possuir algumas qualidades pessoais que enriquecerão sua profissão”. Estas
são denominadas de virtudes profissionais.
A associação entre as virtudes lealdade, responsabilidade e iniciativa são
fundamentais para a formação de recursos humanos. E ainda de acordo com
Moller, o futuro de uma carreira depende dessas virtudes. Além destas, ele cita:
honestidade, sigilo, competência, prudência, coragem, perseverança,
compreensão, humildade, imparcialidade e optimismo. (KOMBO, s/d, p. 19)
A ética de cada profissão depende dos deveres ou normas que cada profissional aplique aos
casos concretos que se podem apresentar no âmbito social e pessoal. Portanto, a Deontologia é
um conjunto de comportamentos exigíveis aos profissionais ou uma ética profissional das
obrigações práticas, baseada na livre acção da pessoa e no seu carácter moral.
A profissão de professores em Moçambique também possui sua Deontologia, intitulada
“Código de Conduta Profissional dos Professores de Moçambique”. Neste instrumento regulador
encontram-se cinco princípios que servem de orientação para os professores, são eles:
19
compromisso com os alunos, compromisso com os pais e encarregado de Educação,
compromisso com a sociedade, compromisso para com a profissão e compromisso com a
integridade.
“...Com este código de conduta os professores reafirmam a sua responsabilidade em
exercer a profissão em conformidade com os mais altos padrões da ética”. (AGENDA DO
PROFESSOR, 2010, p. 76)
Ao se fazer uma leitura minuciosa dos princípios acima citados, percebe-se que eles fazem
referência directa ou indirectamente aos valores éticos, tais como respeito, compromisso,
honestidade, diálogo, liberdade, generosidade, ajuda. O quinto e último princípio “compromisso
de integridade” enfoca claramente a corrupção na Educação e apresenta as medidas a serem
tomadas como atitudes concretas na prevenção deste problema.
O código de conduta profissional dos professores moçambicanos ao referenciar a ética
demonstra credibilidade na acção construtiva e beneficente que ela pode trazer à educação.
“Agir com dignidade e imparcialidade nas funções que exerce, actuando com
independência em relação aos interesses e pressões particulares de qualquer índole, na
perspectiva do respeito pela igualdade dos cidadãos”. (ESTATUTO DO PROFESSOR, Cap. III,
Art. 11, nº2).
Os valores éticos como uma possibilidade para combater a corrupção gera controvérsias:
de um lado temos os indivíduos que acreditam que eles podem ajudar, e do outro, existem
aquelas pessoas que discordam dessa questão.
Esta parte do trabalho reserva-se aos contra-argumentos daqueles indivíduos que crêem
que os valores éticos não poderão ajudar no combate à corrupção.
Os valores antes considerados como paradigmas para a sociedade, hoje passam por
dificuldades no que se refere ao seu significado e sua aceitação. Conclui-se que foram esquecidos
ou rejeitados pelas pessoas que não os valorizam mais como outrora. Muitos conceitos e
20
princípios são relativos dependendo de quem os adopta, por esta razão o que predomina são
posições relativistas ou niilistas.
Eis algumas razões que levaram a sociedade a viverem esta crise de valores: a crise nos
modelos e nas relações familiares, as profundas alterações económicas, científicas e tecnológicas
que a sociedade moderna tem conhecido.
1. A maneira como o valor seja interpretado, ele pode justificar a corrupção.
Um indivíduo ao receber dinheiro ilegalmente pode justificar-se dizendo que recebeu
apenas uma gratificação ou uma ajuda e não um suborno.
O professor que altera a nota do estudante ou o agente que facilita a matrícula do
estudante, ambos podem alegar que o que os motivou a estas acções foi apenas o interesse de ser
solidário aos estudantes que se encontravam em dificuldades.
Tais procedimentos encontram fundamento nas palavras de Fontes (2010) que dizem não
haver mais valores e estes dependem das circunstâncias e dos interesses. Porém, a noção de
valores existe e é vivida por aqueles que acreditam em seus princípios.
Existem duas afirmações similares: não existem actualmente critérios seguros
para distinguir o justo do injusto, o bem do mal, o belo do feio, tudo é relativo,
subjectivo e não existem valores, tudo depende das circunstâncias em jogo.
(FONTES, 2010)7.
O uso da razão foi tão elevado que deu origem a uma paixão desenfreada que originou no
holocausto de milhares de judeus na Alemanha, vítimas do Nazismo.
Em Hitler, percebe-se que o excesso de razão transformou-se em uma paixão doentia pelo
ideal da existência da “ raça pura” o que para ele era um valor, ou seja, Hitler acreditava que o
7 Texto extraído da Internet, as citações deste autor não tem páginas.
21
que estava fazendo era certo: estava a defender o povo Alemão dos males que poderiam ser
causados pelos Judeus.
A violência nazi deve ser executado não por gosto mas por dever, não por
sadismo, mas por virtude, não por prazer, mas por método, não no
desenfreamento das paixões selvagens e no abandono dos escrúpulos superiores,
com, uma competência de profissional e com a preocupação constante da obra a
executar (...) poder hitleriano não instaurou o reinado do crime sobre as ruínas.
Deu ao crime toda aparência e todo o aparelho de uma moral com obrigações e
sanções. (BECKERT, 2010, p. 2)
Os valores ajudam o homem a assumir sua condição humana com dignidade. São eles que
nortearão o caminho a ser seguido como um cidadão capaz de contribuir para a sua sociedade.
Ora, uma pessoa que vive o valor da honestidade, por exemplo, não aceitará suborno e nem irá
subornar alguém. Isso porque para ele ser honesto é um princípio de vida.
Os valores são o que são em qualquer circunstância, eles não mudam para “agradar” ou
“beneficiar” os seus usuários. A essência dos valores consiste na promoção do bem às pessoas,
actos contrários não são valores. Eles existem actualmente, o que acontece porém, é que muitos
indivíduos não conhecem o seu significado e por esta razão interpretam cada um a sua maneira.
2. O indivíduo adopta certos valores apenas para conseguir algo em troca
Nietzsche, citado por Silva, C. (2000, p.44), declara que “há sempre interesse envolvido
numa valorização. Um exemplo desse tipo é apresentação de Schopenhover como um típico
filósofo, para quem o ideal ascético teria o interesse de livra-lo de uma tortura”.
Algumas pessoas ajudam a outras porque sabem que no dia que precisarem, aquelas que
foram ajudadas lhes ajudarão. Ou seja, faz-se o bem porque se espera receber. Nesta situação,
onde está o sentido do valor? Já não há gratuitidade, serviço, disponibilidade!
“A noção de interesse é de extrema importância para a crítica dos valores, porque o valor
máximo vigente é o altruísmo e, consequentemente o desinteresse. O altruísmo, para Nietzsche,
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é apenas uma forma de disfarce para a incapacidade de descobrir os próprios interesses”.
(SILVA, C. 2000, p. 44)
De facto, muitas relações existentes, tais como de amizade, casamento, profissional são
alicerçadas na base do interesse. “Sou teu amigo, porque podes me emprestar dinheiro”,
“casamos para aumentar nossas posses”; “escondo teus erros, para que quando cometer os meus,
faças o mesmo”.
Porém, esta gama de interesse não justifica o sentido do valor. O verdadeiro valor tem
como alicerce o amor, assim, as atitudes ou comportamentos são movidos pelo desinteresse
(gratuidade), fazem o bem por vontade, pelo desejo de viver. “O amor é portanto primeiro, não é
absoluto, sem dúvida (pois então seria Deus) mas em, relação a moral ao dever, o amor é o alfa e
o ómega de toda virtude” (NALINI, 1997, p.60).
Quando se ama verdadeiramente as outras pessoas, se é capaz de gestos voluntários e
gratuitos. Sentimentos expressos através de gestos concretos e não apenas de bonitas palavras.
Daí os valores são vivenciados sem a necessidade de se conseguir algo em troca.
A nossa vida moral é virtuosa vive em função demonstrar que, livre e voluntariamente,
segundo o mandamento evangélico do amor, inclusive aos inimigos, desejamos estar
sempre com Deus (...) A suprema virtude não é, como diz Aristóteles, a prudência ou a
sabedoria mas ágape, a caritas, o amor. (BARBOSA, 2008, p. 56).
3. A ética é hipócrita em algumas situações.
Ao afirmar que a ética é hipócrita quer dizer que ela na realidade não expressa o que
defende e o que apresenta como ideal. Por exemplo, há pessoas consideradas éticas, mas às
escondidas agem de forma contrária: caso de pessoas que discursam sobre a vida, mas que são
autoras de aborto.
Outros autores, como Gilles Lipovestsky e Alain Etchegoyen, levam ao limite a
crítica ao humanitarismo contemporâneo, baseando-a no conceito de democracia
como demagogia e de ética como hipocrisia. Ao oporem irremediavelmente a
ética à moral e daquilo que constitui o seu âmago, a universidade do dever, e de
uma experiência de vazio, onde impera a equivocidade terminológica, geradora
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de uma pluralidade de ética regionais, onde os domínios da aparência e da
realidade se confundem. (BECKERT, 2010, p. 5)
A época actual é marcada pela “desmoralização”, parece não haver mais a “moral”, onde as
pessoas perderam os seus princípios morais, tudo é permitido.
Lipovertsky, citado por Beckert (2010, p.5), procura estabelecer uma correlação entre as
características inerentes à época democrática que hoje se vive – laicismo, individualismo e
pluralismo – e os traços dominantes de uma época pós-moralista indolor e minimalista e
regionalista.
A autora aborda a ética regionalista que tem a função de potencializar os diversos sectores
da sociedade no que concerne a imagem exterior e apresenta uma moralidade que não é mais que
a maximização da rentabilidade que se torna na única moral hipocritamente real.
A bioética médica apresenta uma dupla hipocrisia, em quando se constituem
como uma ética de compromisso e uma ética procuração, dando como
compromisso é, a que, tomando em contraste como a rectidão do dever, e o
termo procuração, como primado da aparência sobre a realidade, produzindo se
no recurso do indivíduo em assumir se em quanto sujeito autónomo de decisão
(...) justapõe firmeza do princípio do respeito pela pessoa e flexibilidade exigida
pelo progresso científico; Ela recusa transformar o homem em pura cobaia, mas
também recusa privar-se de um meio necessário ao desenvolvimento do saber e
a utilidade colectiva. (BECKERT, 2010, p.7).
A bioética chega a ser hipócrita porque em nome da promoção do bem colectivo, os
médicos, os investigadores e a sociedade em geral isentam-se de qualquer responsabilidade com
o que possa acontecer em consequência das experiências e tratamentos de riscos.
De acordo com Andrew, citado por Nalini (1997, p.108), “A bioética estuda a moralidade
da conduta humana na área das ciências da vida.
Não se pode dizer que a bioética é hipócrita porque ela age de determinada forma em uma
das suas áreas (isenção de responsabilidade nas experiência e tratamento de risco). Ela é
abrangente e apresenta inúmeras facetas da sua área de estudo. A bioética no que se refere ao
progresso científico, preocupa-se com actualização do homem, ou seja, se sua conduta é lícita ou
não. Daí, não há razão em afirmar que ela seja hipócrita.
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4. Os valores pertencem a uma classe social – dominante.
De acordo com Marx, citado por Vázquez (2010, p.II), “toda moral possui a natureza
ideológica, é falsa ou cobre os interesses das classes dominantes a qual servem”. Marx acredita
na existência dos valores inerentes a moral, porém, a sua crítica aos valores, dá-se porque estes
são conceituados pela burguesia e eles deveriam ser substituídos pelos valores dos proletariados.
Marx, citado por Vázquez (2010, p. II), no manifesto comunista que desqualifica a moral
como preconceito burguês, critica moralmente a burguesia por ter convertido a dignidade pessoal
que obviamente é um valor moral – em um valor de troca.
O capitalismo é criticado pelo marxismo por não satisfazer as necessidades vitais da
grande maioria das pessoas. O sistema Capitalista sempre favoreceu a uma minoria privilegiada e
negou o necessário aos demais, tais como: alimentação, saúde, segurança; moradia.
Para Marx, os valores pertenciam a burguesia, isso porque ela se apropriou deles para
conseguir alcançar seus objectivos e a classe dominada era muito submissa. Hoje, a realidade é
outra apesar das diferentes classes sociais. Cada uma tem a liberdade de os possuir ou não.
Entretanto, percebe-se mais a vivência dos valores nos indivíduos das classes baixa e média do
que nos da classe alta. Por exemplo, as pessoas mais simples sabem partilhar do pouco que têm,
enquanto os mais ricos não sabem partilhar, querem sempre mais.
Mesmo diante dos contra-argumentos citados anteriormente, fico do lado da tese que
indaga se os valores éticos podem ou não ajudar a combater a corrupção. Esta indagação foi
respondida de forma positiva mostrando que os valores éticos poderão ajudar a combater a
corrupção no contexto escolar pois eles são importantes para o crescimento humano e
consequentemente para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Por esta razão,
acredito que os valores éticos se forem divulgados, conhecidos e vivenciados conseguirão
contribuir significativamente na luta contra este mal que domina a sociedade. É evidente que não
se pode ter a pretensão de pensar que eles terão forças suficiente para acabar com a corrupção.
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Entretanto, poderão ser um instrumento ou uma possibilidade na difícil e longa empreitada no
combate à corrupção.
Não se pode negar que a sociedade actual vive uma crise de valores em que muitas pessoas
perderam ou não têm referências estáveis (princípios éticos ou morais). Porém, os valores éticos
não foram abolidos em sua totalidade, eles existem actualmente. Precisam apenas ser resgatados,
ou seja, devem ser mais conhecidos e apreciados pela sociedade em geral.
3. Conclusão
De acordo com o estudo realizado, verifica-se que os valores éticos podem ajudar
a combater à corrupção no contexto escolar. Estes valores são princípios que nortearão a conduta
dos intervenientes da escola. Por exemplo, um indivíduo que adopta valores como a honestidade
e o respeito a dignidade humana, não aceitará ser subornado e nem irá subornar alguém, porque
para ele ser honesto é um valor; bem como não fará parte de sua vida profissional a extorsão
sexual, pois a outra pessoa é digna de ser respeitada como pessoa humana.
Portanto, conhecer a ética e alguns de seus valores é o primeiro passo a ser dado no
combate à corrupção. Esta aprendizagem pode e deve ser feita na escola, uma vez que ela tem por
finalidade formar o cidadão para uma sociedade sã e idónea. A pessoa que prática a corrupção
não foi educada para esse fim, por esta razão suas atitudes são realizadas com o objectivo de
conseguir o que deseja, mesmo ilegalmente, sem se preocupar com as consequências destas suas
acções.
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