Ensaio Sobre a Dádiva_ Resumo Do Capítulo II

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/18/2019 Ensaio Sobre a Dádiva_ Resumo Do Capítulo II

    1/3

    Extensão deste sistema: Liberalidade, Honra, Moeda

    Ao examinar as formas de circulação dos bens em diferentes sociedades, Mauss se

    dedicou em compreender o caráter livre e gratuito, mas ao mesmo tempo obrigatório einteressado, dos atos de dar, receber e retribuir. Para Mauss a antítese do dom não é o

    Mercado as interaç!es sociais são movidas por ra"!es #ue ultrapassam os interesses

    estritamente materiais.

    $ fio condutor dessa ótica é a noção de aliança #ue a dádiva produ" tanto as

    matrimoniais #uanto as políticas %trocas de c&efes ou diferentes camadas sociais',

    religiosas %como nos sacrifícios, entendidos como um relacionamento com os deuses',

    econ(micas, )urídicas e diplomáticas %incluindo*se a#ui as relaç!es pessoais de eti#uetae &ospitalidade'.

    +$ ob)etivo é, antes de tudo, moral, o ob)etivo visa produ"ir umsentimento amigável entre as duas pessoas em )ogo, e se a operaçãonão tivesse esse efeito, tudo teria fal&ado... %...' +-inguém tem aliberdade de recusar um presente oferecido. odos, &omens emul&eres, tentam ultrapassarem*se uns aos outros em generosidade./avia uma espécie de rivalidade entre #uem podia dar a maior#uantidade de ob)etos possível do maior valor possível %MA011,2345, p. 67'

    A dádiva não inclui só presentes como também visitas, festas, comun&!es, esmolas,&eranças, um sem n8mero de +prestaç!es #ue podem ser +totais ou + agonísticas2.

     -este ensaio postula*se um entendimento da constituição da vida social por um

    constante dar e receber, universalmente estas são obrigatórias, mas organi"adas de modo

     particular em cada caso %as variadas formas vão desde a retribuição pessoal 9

    redistribuição de tributos'.

    :á na epígrafe do Ensaio exprime a dialética inerente à dádiva: A mesma troca !e

    me fa" anfitrião fa"#me também !m $%spede em potencial. ;sto ocorre por#ue +dar ereceber implica não só uma troca material, mas também uma troca espiritual. < ainda

    neste sentido ontológico #ue toda troca pressup!e, em maior ou menor gral, certa

    alienabilidade. Ao dar, dou sempre algo de mim mesmo. Ao aceitar, o receber aceita ao

    do doador a dádiva aproxima*os, torna*os semel&antes.

     -este ínterim, como vimos, as trocas incluem bens mais ou menos alienáveis, assim

    como bens economicamente 8teis ou não. Podendo incluir +serviços militares, danças,

    1 =i"*se de comportamento, #ue inclui reaç!es diversas como ameaça, ata#ue e fuga, observadoem encontros agressivos entre dois indivíduos de uma mesma espécie animal.

  • 8/18/2019 Ensaio Sobre a Dádiva_ Resumo Do Capítulo II

    2/3

    festas, gentile"as, ban#uetes, mul&eres em resumo, #ual#uer +circulação de ri#ue"as

    %incluindo*se a#ui as mul&eres' é apenas um momento de um +contrato mais geral e

    muito mais permanente %MA011, 2345, p. 7>'.

    Mauss sup!e também &aver uma associação universal entre troca e sacrifício +?@

    destruir seria uma forma de dar, uma forma muito específica por#ue evita a retribuição

    ?@ (idem, p. 2BB'. =o ponto de vista de #uem doa +dar )á é destruir, logo um modo

    da regeneração social. Ao destruir tira*se a vida do ob)eto, mas recria a do doador. %no

    noroeste da América a destruição pode ser pelo fogo #ueimam*se as casas do próprio

    grupo, ou atiram*se cobres ao mar'.

     -o Potlatch, a troca de certo modo, substitui a guerra, mas guarda certa rivalidade

    vence #uem destrói mais, a +luta dos nobres é a luta dos grupos. Mauss %2345' reserva

    ao Potlatch a denominação +prestação total do tipo agonístico, isto é, implica um

    desenvolvimento da rivalidade, uma maior institucionali"ação da competição. Mauss

    c&ama esses diversos tipos de dádivas de +totais. 0ma forma, para ele, +evoluída e

    +agonística de +prestação total, seria o potlatch dos índios da costa noroeste da

    América do -orte.

    &briga'ão de dar e receber

    Para o autor, o constrangimento social está na base da obrigatoriedade de receberC em

    outras palavras +um clã, uma família, uma compan&ia, um &óspede, não tDm liberdade

     para não pedirem &ospitalidade, para não receberem presentes, para não exercem o

    comércio, para não contraírem alianças, pelas mul&eres e pelo sangue.

    E #uanto 9 obrigatoriedade de dar, o autor advoga #ue +recusar*se a dar, negligenciar

    o convite, como recusar receber, e#uivale a declarar guerraC é recusar a comun&ão

    %23>B73'. =á*se por#ue se é forçado a isso, por#ue o donatário tem uma espécie de

    direito sobre tudo o #ue pertence ao doador. Essa propriedade exprime*se e concebe*se

    como uma ligação espiritual.

    A obriga'ão de retrib!ir

    Maus inicia seu estudo sobre a obrigação de retribuir na Polinésia, nesta

    interessa especialmente ao autor a noção de mana. %noção também importante em partes

    da Melanésia, tendo noç!es semel&antes, também, no  Potlatch da costa noroeste

    americana, implicando &onra, prestígio e autoridade não retribuir implica perda do

    mana'.

  • 8/18/2019 Ensaio Sobre a Dádiva_ Resumo Do Capítulo II

    3/3

    Analisando as noç!es nativas de mana e hau, Mauss conclui #ue + o #ue, no

     presente recebido e trocado, cria uma obrigação, é o fato #ue a coisa recebida não é

    inerte. -este sistema, + o doador tem uma ascendDncia sobre o beneficiário %MA011,

    2345, p. >5'. A transmissão cria um vínculo )urídico, moral, político, econ(mico,

    religioso e espiritual. Maus observa também, #ue o sistema de  Potlatch  teria a

    finalidade de +fixar por instantes uma &ierar#uia. 1endo #ue em monar#uias estáveis

    %como na maioria das sociedades polinésias' não necessitam de instituiç!es como o

     Potlatch. Assim os índios da costa noroeste evoluíram da prestação total simples 9

     prestação total agonística, os da Polinésia teriam evoluído desta 8ltima 9 monar#uia.

     -ão sendo este raciocínio puramente evolucionista, pois concede #ue uma sociedade

     possa se desenvolver em diferentes sentidos, institucionali"ando ora a dádiva, ora a

    centrali"ação política.Moeda e (!ro

     -o #ue se trata a moeda, Mauss observa apenas a sua função de meio de troca %meio de

     pagamento', mas não vD sua função de padrão geral  de valor %medida de uso', isto é,

    não parece estar ciente da especificidade da moeda capitalista como um +valor #ue

    generali"a de modo não &ierár#uico, concepção criticada por MalinoFsGi %MA011,

    2345, p. 4>'. alve" se)a por#ue nas sociedades não capitalistas, os valores só se

    generali"am de modo &ierár#uico %no sentido de =umont'. ;sto é, o valor de certosob)etos pode não ser no sentido de sua generali"ação #uantitativa, como padrão ou

    medida de troca. Por exemplo, seu valor pode estar em uma capacidade regenerativa

    milagrosa ou em uma capacidade emblemática para representar todo um clã ou

    lin&agem.

    $ fato das trocas do tipo Potlatch obedecerem a um +crescendo foi entendido como

    uma manifestação da#uilo #ue concebemos como empréstimos a )uros deve*se sempre

    dar mais do #ue recebeu. Mauss sugere substituir os termos dívidas, pagamento,reembolso e empréstimo, mas mantém o de )urosH c&ega a falar em +taxas

    +-ormalmente, o  potlatch deve ser sempre retribuído com )uros, aliás, toda dádiva

    deve ser retribuída dessa forma. As taxas são em geral de IBJ a 2BBJ ao ano.