Ensaios Sobre a Teoria Crítica Do Direito

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Coletânea de artigos de diversos autores sobre a Teoria Crítica do Direito.

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  • Revista Jurdica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 11 | n. 21| Jan./Jun.2009. 11

    ENSAIOS SOBRE A TEORIA CRTICA DODIREITO NO BRASIL

    Le nouveau nest pas dans ce qui est dit, mais dans Ivnement de son retour.1 FOUCAULT

    Vinicius Roberto Prioli de Souza2 Luciana Laura Tereza Oliveira Catana3

    Resumo: A Teoria Crtica do Direito, manifestao do pensamento da Escola de Frank-furt, que rompe com as formas de racionalidade que une a cincia e a tecnologia em novas formas de dominao, ocupa um espao importante na construo do pensamento jurdico brasileiro sob os impactos da produo cultural proveniente da participao de novos jus lsofos brasileiros, tais como: as Contradogmaticas, da ALMED, dirigida pelo Prof. Luis A. Warat; Seqncia, do Curso de Ps-Graduao em Direito da UFSC; Direito & Avesso, da Nova Escola Jurdica Brasileira NAIR (Grupo de Braslia); a revista de Direito Alternativo, organizada pelo magistrado Amilton Bueno de Carvalho, bem como dos ncleos de estudos, de atuao terico-crtica, nas dcadas de 80 e 90, tais como: o Grupo de Trabalho Direito e Sociedade, vinculado Associao Nacional de Ps-Grad-uao e Pesquisa em Cincias Sociais; o Instituto de Direito Alternativo (IDA); o Grupo de Magistrados Gachos; a Associao Juzes para a Democracia; entre outros e implementam instrumentos para a efetiva realizao da assistncia judicial extra-estatal ou produo de servios legais, centradas ao redor de organizaes populares e assessorias universitrias. Foram criadas organizaes da sociedade civil, como por exemplo: o Instituto de Apoio Jurdico Popular (AJUP); o Ncleo de Estudos para a Paz e Direitos Humanos (NEP); o Gabinete de Assessoria Jurdica s Organizaes Populares (GAJOP); o Servio de Assessoria Jurdica Univer-sitria da UFRGS (SAJU); Servio de Apoio Jurdico da Universidade Federal da Bahia (SAJU); o Ncleo de Assessoria Jurdica Popular (NAJUP); o Programa Balces de Direito; etc. Essa con-struo jurdica o objeto do presente artigo.

    Palavras-chave: Teoria Crtica. Jus loso a. Direito.

    Abstract: The Critical Theory of Law, expression of Frankfurt Schools thought, which breaks the rationality forms that unites science and technology in new forms of domination, occupies an important space in the building of Brazilian legal thinking under the impact of cultural production from the par-ticipation of new Brazilians jusphilosophers, such as: contradogmatic, of ALMED, leaded by Professor

    1A notcia no est no que est dito, mas naquilo a que ela nos remete.2 Professor na Faculdade de Direito de Itu FADITU. Advogado. Mestre em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP. Bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas Antnio Eufrsio de Toledo de Presidente Prudente. Possui artigos publicados em peridicos especializados e diversos trabalhos em anais de eventos, bem como, vrios itens de produo tcnica e livros, participando tambm de eventos em todo o pas. Atualmente colunista do site [www.correioforense.com.br]. Co-autor do livro Propriedade Intelectual: Setores Emergentes e Desenvolvimento, publicado em 2007. Autor do livro Contratos Eletrnicos & Validade da Assinatura Digital, publicado pela Juru Editora, em 2009. E-mail: [[email protected]].3 Bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas Antnio Eufrsio de Toledo de Presidente Prudente. Autora de artigos cientfi cos publicados em Revistas, Livros, Peridicos, Anais de Congressos, entre outros.

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    Luis A. Warat; Sequence, of PosGraduation of Law Course at UFSC; Law & Reverse, of New School of Brazilian Law NAIR (Braslias Group); Alternative Law Magazine, leaded by judge Amilton Bueno de Carvalho, as well as the studies groups of critical-theory performance in the 80s and 90s such as: Law and Society attached to the National Association of PosGraduation and Research in Social Sciences; Alternative Law Institute (IDA); South of Brazil Magistrate Group; Democracy Judges Association and others that implement tools for the effective achievement of non-state legal aid or production of legal services, centered around popular organizations and academic advisory services. Have been established civil society organizations, such as: Popular Legal Aid Institute (AJUP), Peace Studies and Human Rights Center (NEP), Popular Organizations Legal Offi ce (GAJOP), Offi ce of Legal Education of UFRGS (SAJU); Service Legal Aid of the Federal University of Bahia (SAJU), the Legal Center for People (NAJUP), the Program Branch of law, etc.. This legal construction is the object of this article.

    Keywords: Critical Theory of Law. New jusphilosophers. Non-state legal aid.

    1. Introduo

    Diante da evoluo do direito brasileiro, so poucos os estudos elaborados no sentido de melhor analisar a Teoria Crtica do Direito no Brasil. Desta forma, com o presente trabalho, conheceremos os principais pontos desta teoria.

    Utilizamos a expresso Ensaios no ttulo do referido trabalho, pois ao longo deste transmitiremos uma viso generalizada das conseqncias da Teoria Crtica do Direito em nosso ordenamento jurdico, no querendo, de forma alguma, esgotar tal as-sunto, por tratar-se de um tema muito extenso e complexo.

    A expresso Teoria Crtica do Direito surge com a Escola de Frankfurt, rompen-do com as formas de racionalidade que une a cincia e a tecnologia em novas formas de dominao. A crtica para eles signi ca a aceitao da contradio, a qual est presente em qualquer processo de conhecimento.

    Dedicavam-se pesquisa e re exo, preocupando-se com a anlise crtica dos problemas do capitalismo moderno.

    Ainda neste trabalho falaremos sobre a crtica para Marx e Kant. A teoria da sociedade de Marx trs com grande clareza o conhecimento da sociedade. O Marxismo vem a ser um novo tipo de teoria, devendo-se revisar profundamente as tradicionais opinies sobre a natureza do conhecimento. J para Kant nossa poca a poca da crtica, qual tudo deve submeter-se.

    Lembraremos no decorrer deste trabalho a grande produo cultural prove-niente da participao de novos jus lsofos brasileiros, tais como: as Contradogmaticas, da ALMED, dirigida pelo Prof. Luis A. Warat; Seqncia, do Curso de Ps-Graduao em Direito da UFSC; Direito & Avesso, da Nova Escola Jurdica Brasileira NAIR (Grupo de Braslia); a revista de Direito Alternativo, organizada pelo magistrado Amilton Bueno de Carvalho, expressando a contribuio terica de alguns dos juristas alternativos, entre outras.

    Relacionaremos os ncleos de estudos, de atuao terico-crtica, nas dcadas de 80 e 90, tais como: o Grupo de Trabalho Direito e Sociedade, vinculado Associao

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    Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais; o Instituto de Direito Alter-nativo (IDA); o Grupo de Magistrados Gachos; a Associao Juzes para a Democracia; entre outros.

    A m de realizar o desenvolvimento efetivo da assistncia judicial extra-estatal ou produo de servios legais, centradas ao redor de organizaes populares e asses-sorias universitrias, foram criadas organizaes da sociedade civil, como por exemplo: o Instituto de Apoio Jurdico Popular (AJUP); o Ncleo de Estudos para a Paz e Direitos Huma-nos (NEP); o Gabinete de Assessoria Jurdica s Organizaes Populares (GAJOP); o Servio de Assessoria Jurdica Universitria da UFRGS (SAJU); Servio de Apoio Jurdico da Universidade Federal da Bahia (SAJU); o Ncleo de Assessoria Jurdica Popular (NAJUP); o Programa Balces de Direito; etc.

    Estudaremos a crtica acadmica no Direito Brasileiro iniciando-se pela anlise institucional do Direito Pblico, em seguida, do Direito Constitucional, Direito Tribu-trio, Direito do Trabalho, Direito Internacional, Direito Penal, Direito Processual, So-ciologia, Ensino Jurdico, Direito Poltico, Direito Civil, Histria do Direito, Direito Am-biental, Direitos Humanos, Direito do Consumidor, Direito Velhice e do Biodireito.

    E por m, faremos alguns breves comentrios sobre a Teoria Crtica do Dire-ito e o Direito Alternativo.

    Devemos questionar o direito, discutir as normas em nosso ordenamento ju-rdico de forma re exiva, levando-se em conta determinada formao social, admitindo, sobretudo outras formas prticas jurdicas, diferentes daquelas j existentes. Se zermos isto, estaremos pensando no direito de forma crtica, e a isto se d o nome de Teoria Crtica do Direito.

    2. A Teoria Crtica e a Escola de Frankfurt

    Segundo Luiz Fernando Coelho, a teoria crtica do direito no tem inteno de ser inovadora.4

    Teoria signi ca dizer o oposto da prtica, ou seja, um conhecimento puro. Trata-se ainda, de um conjunto de hipteses que tem por nalidade a elucidao, explica-o ou interpretao de determinado conhecimento. 5Em outras palavras, teoria aquilo que explica a prtica.

    J a Crtica o elemento que permeia todo o processo de conhecimento, no somente pondo em questo uma hiptese explicativa de um problema espec co, mas suscitando uma atitude de descon ana face ao conhecimento como tal, cujos objetivos e resultados so permanentemente questionados. Sendo assim, a Crtica vem a ser o el-emento constituinte do mtodo e da teoria crtica que se unem com o objetivo poltico e social a ser alcanado.6

    4COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crtica do Direito. 3. ed. Belo Horizonte: DelRey, 2003. p. 54.5MESQUITA FILHO, Alberto. Teoria sobre o Mtodo Cientfi co. Disponvel em: http://www.ecientifi cocultural.com/ECC2/artigos/metcien2.htm Acesso em: 03 out. 2006.6 FREITAG, Brbara. A Teoria Crtica: Ontem e Hoje. 3. ed. So Paulo: Editora Brasiliense, 1990. p. 48.

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    A institucionalizao dos trabalhos de um grupo de intelectuais marxistas, no ortodoxos, os quais permaneceram margem de um marxismo-leninismo clssico na d-cada de 20, seja em sua linha militante e partidria, seja em sua verso terico-ideolgica, o que indica o termo Escola de Frankfurt.7

    A questo do Estado e suas formas de legitimao na moderna sociedade de consumo; a dialtica da razo iluminista e a crtica cincia; e, a dupla face da cultura e a discusso da indstria cultural, sempre zeram parte dos trabalhos elaborados pelos membros da Escola de Frankfurt.8

    Para Wolkmer torna-se essencial desenvolver todo um processo educativo (nas escolas, fbricas, sindicatos, universidades, entre outros) que desperte uma mentalidade crtica capaz de desmontar a noo miti cada do Estado.9

    Um dos valores centrais da Escola de Frankfurt o compromisso de penetrar no mundo das aparncias para expor as relaes sociais subjacentes que frequentemente iludem, ou seja, atravs de uma anlise crtica, as relaes sociais que tomaram o status de coisas ou objetos. Ao examinar noes como as de dinheiro, consumo e produo, torna-se claro que nenhuma delas representa uma coisa objetiva ou um fato, mas que, ao invs disso, todas so contextos historicamente contingentes, mediados pelas relaes de dominao e subordinao.10

    Para os Frankfurtianos, crtica quer dizer a aceitao da contradio e o tra-balho permanente da negatividade, presente em qualquer processo de conhecimento.11

    A Escola de Frankfurt rompe com as formas de racionalidade que uniam a cincia e a tecnologia em novas formas de dominao, rejeita todas as formas de raciona-lidade que subordinavam a conscincia e as aes humanas ao imperativo de leis univer-sais, e ainda, fornece uma srie de valiosos insights para o estudo da relao entre teoria e sociedade. No entanto, sua crtica da cultura, da racionalidade instrumental, do autori-tarismo, e da ideologia, feita em um contexto interdisciplinar, gerou categorias, relaes e formas de investigao social que constituem um recurso vital para desenvolver uma teoria crtica.12

    Em 3 de fevereiro de 1923 foi criado o Instituto de Pesquisa Social (Institut fuer Sozialforschung), vinculado Universidade de Frankfurt, o qual preservava sua autonomia acadmica e nanceira. Dedicando-se principalmente pesquisa e re exo, passou a assumir as feies de um verdadeiro centro de pesquisa, preocupado com uma anlise crtica dos problemas do capitalismo moderno que privilegiava claramente a superestru-tura. Teve sua primeira fase de existncia marcada de forma decisiva pela orientao

    7 Ibidem, p. 10.8 Ibidem, p. 32.9 WOLKMER, Antnio Carlos. Elementos para uma Crtica do Estado. Porto Alegre: Srgio Antnio Fabris Editor, 1990. p. 52.10 GIROUX, Henry. Teoria Crtica e Resistncia em Educao. Obra traduzida por ngela Maria B. Biaggio. Petrpolis: Editora Vozes Ltda, 1986. p. 22.11 FREITAG, Brbara. A Teoria Crtica: Ontem e Hoje. Op. cit., p. 51.12 GIROUX, Henry. Teoria Crtica e Resistncia em Educao. Obra traduzida por ngela Maria B. Biaggio. Petrpolis: Editora Vozes Ltda, 1986. p. 22-24.

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    terica, convices polticas e pela personalidade de Max Horkheimer, jovem lsofo formado em Frankfurt, que substituiu o primeiro diretor do Instituto, Carl Gruenberg, assumindo posteriormente a ctedra de loso a social.13

    Ao falarmos sobre teoria devemos nos lembrar de Marx, o qual mudou a opin-io de muitas pessoas sobre o tema da sociedade humana. A teoria da sociedade de Marx trs com grande clareza o conhecimento da sociedade, o qual nem sempre se encaixa perfeitamente em outras categorias j aceitas de conhecimento.14

    No se trata de cincia formal como a lgica ou a matemtica, tampouco como uma habilidade prtica. O Marxismo um novo tipo de teoria, de modo que para se dar nfase los ca de seus traos, deve-se revisar profundamente as tradicionais opinies sobre a natureza do conhecimento.15

    Segundo os membros da Escola de Frankfurt, Freud foi um revolucionrio to quanto Marx. Suas teorias apresentam semelhanas em sua estrutura epistmica essencial, que no representam dois tipos distintos de teoria de um ponto filosfico, mas simplesmente um mesmo novo tipo de teoria. Deste modo, foi dado o nome de Teoria Crtica a este novo tipo de teoria, originada do Marxismo e da Psican-lise.16

    A considerao que faz a Escola de Frankfurt sobre os traos distintivos essenciais de uma teoria crtica consiste em trs teses:1. Teorias crticas tem posio especial como guias para a ao humana, visto que:a) elas visam produzir esclarecimento entre os agentes que as defendem, isto , ca-pacitando esses agentes a estipular quais so seus verdadeiros interesses;b) elas so inerentemente emancipatrias, isto , elas libertam os agentes de um tipo de coero que , pelo menos parcialmente, auto-imposta, a auto-frustao da ao humana consciente.2. Teorias crticas tem contedo cognitivo, isto , so formas de conhecimento.3. Teorias crticas diferem epistemologicamente de teorias em cincias naturais, de maneira essencial. As teorias em cincia natural so objetificantes; as teorias crti-cas so reflexivas.Uma teoria crtica, portanto, uma teoria reflexiva que d aos agentes um tipo de conhecimento inerentemente produtor de esclarecimento e emancipao.17

    Para os membros da Escola de Frankfurt, perfeitamente possvel as pes-soas com vises epistemolgicas lamentosamente erradas produzir, testar e usar teorias de primeira linha nas cincias naturais, o que j no ocorre com as teorias crticas. Uma meta da Escola de Frankfurt a crtica da reabilitao da reflexo, e do mesmo modo, ao positivismo com uma categoria de conhecimento vlido. H uma pequena ligao entre ter um entendimento assertivo, uma compreenso correta de uma teoria e a habilidade para formul-la, test-la e aplic-la, alcanado com sucesso

    13 FREITAG, Brbara. Op. cit., 1990. p. 10-15.14 GEUSS, Raymond. Teoria Crtica: Habermas e a Escola de Frankfurt. Traduo de Bento Itamar Borges. Campinas: Papirus, 1988. p. 7.15 Ibidem, p. 7-8.16 Ibidem, p. 8.17 Ibidem,. p. 8.

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    certo esclarecimento e emancipao. Por dada razo que o positivismo no um obstculo ao desenvolvimento da cincia natural.18

    Seguindo uma estrutura cognitiva da teoria crtica, os membros da Escola de Frankfurt fazem uma distino ntida entre teorias cient cas e teorias crticas, sob trs argumentos:

    a) Elas diferem em seu propsito ou m, e ainda, na maneira pela qual os agentes possam utilizar-se delas. Enquanto as teorias crticas visam emancipao e ao esclarecimento de algo que est sendo averiguado, as teorias cient cas tm por nali-dade a manipulao satisfatria do mundo exterior, ou seja, elas possuem uma funo instrumental.

    b) As teorias crticas e cient cas diferem em sua estrutura lgica e cognitiva. As teorias crticas so re exivas; so sempre partes elas mesmas do objeto-domnio que elas descrevem; e por m, so sempre em parte a respeito de si mesmas. J a teorias cienti cas so objeti cantes, ou seja, em alguns casos pode-se distinguir entre a teoria e os objetos a qual elas se referem; no so elas mesmas partes do objeto-domnio que elas descrevem.

    c) Diferem ainda quanto ao tipo de evidncia que seria importante para deter-minar se estas teorias so cognitivamente aceitveis ou no, ou seja, se elas aceitam ti-pos diferentes de con rmao. As teorias crticas so cognitivamente aceitveis somente se sobreviverem a um processo de avaliao, cuja parte central deste processo uma demonstrao de que elas so re exivamente aceitveis.19

    A teoria crtica, enquanto instrumental operante, expressa a idia de razo vinculada ao processo histrico-social e superao de uma realidade em constante transformao. De fato, a Teoria Crtica surge como uma teoria dinmica, superando os limites naturais das teorias tradicionais, pois no se atm apenas a descrever o que est estabelecido ou a contemplar eqidistantemente os fenmenos sociais e reais. Seus pressupostos de racionalidade so crticos na medida em que articulam, dialeticamente, a teoria com a prxis, o pensamento crtico revolucionrio com a ao estratgica.20

    A Teoria Crtica deve ser cognitiva, nos proporcionando conhecimento, deve ser algo que possa ser verdadeiro ou falso, de modo que se saiba as condies em que seria inventivo ou con rmada. Trata-se de uma teoria especi camente proposta a m de ser empregada em uma determinada situao, a qual somente ser entendida como cor-reta, se vista em relao a esta situao em especial.21

    Segundo Raymond Geuss uma teoria crtica ter aplicao naquele estado de sociedade em que:

    18 Ibidem, p. 9.19 Ibidem, p. 91-92.20 WOLKMER, Antnio Carlos. Pluralismo Jurdico: Novo Paradigma de Legitimao. Disponvel em: http://www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=646 Acesso em: 03 out. 2006.21 GEUSS, Raymond. Teoria Crtica, op. cit., . p. 124.

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    a) haja uma instituio social que fruste os agentes de algum grupo social especi cado, impedindo-os de realizar seus interesses imediatamente observados;b) a nica razo pela qual os membros da sociedade aceitam esta instituio e a frustrao que ela acarreta que eles consideram legtima tal instituio;c) os agentes na sociedade consideram legtima a instituio somente porque eles se agar-ram a um sistema particular de normas (ou a uma viso de mundo particular);d) o sistema de normas em questo (ou a viso de mundo) contm como um componente essencial pelos menos um elemento adquirido pelos membros da sociedade, somente por terem sido obrigados a formar suas convices em condies de coero;e) pessoas na sociedade pensam que apenas deveriam ser fontes de legitimao aquelas convices que eles poderiam ter adquirido em condies de completa liberdade. 22

    Os pensadores da Escola de Frankfurt criticam o fato de que as tendncias positivistas passam muito super cialmente por todo o desenvolvimento da gnoseologia, desde Kant, atribuindo-lhes uma concepo ingnua sobre a teoria do conhecimento. Para eles, tal concepo pertence histria, pois ignora que o sentido dos enunciados sobre a realidade externa ao homem se forma anteriormente, dentro de um limite de relaes de ordem transcendente. 23

    Para a Escola de Frankfurt necessrio ter em conta o sujeito cognoscente desde a continuidade da prxis social, pois a realidade objetiva a conhecer face de um mesmo processo histrico, da mesma forma que o sujeito cognoscente.24

    A prxis , segundo Luiz Fernando Coelho, a categoria central do pensamento crtico e uma das mais difceis noes com que lida a teoria da sociedade. Era denomi-nada pelos gregos como uma atividade voltada a um m. Depois de Marx, a prxis o prprio engajamento consciente do homem na tarefa de reconstruir-se a si prprio como ser livre individual e social, noo que procede de Hegel.25

    A prxis como teoria crtica que se realiza na atividade terica resulta da uni-dade entre teoria e prtica. H diferena entre a simples prtica e a prxis. Enquanto a simples prtica designa a atividade humana no sentido estritamente utilitrio, uma ao que produz um objeto exterior ao sujeito e a seus prprios atos, e que os gregos denomi-navam como poiesis.26 A prxis designa uma ao consciente transformadora que exige um momento terico que se inicia como uma teoria crtica, sendo uma elucidao do real como ele e no como ns o imaginamos.27

    3. A Crtica para Marx e Kant

    Precisamos ainda, necessariamente destacar o sentido da crtica, expresso esta que no deixa de ser ambgua, dplice e elstica, podendo ser interpretada de mlti-plas formas e utilizada de muitas maneiras.

    22 Ibidem, p. 124.23 COELHO, Luiz Fernando.Teoria Crtica do Direito. Op. cit., p. 95. 24 Ibidem, p. 96.25 Ibidem, p. 135.26 VZQUES, Adolfo Sanches. Filosofi a da Prxis. Traduo de Luiz Fernando Cardoso. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1968. p. 4.27 COELHO, Luiz Fernando.Teoria Crtica do Direito. Op. cit., p. 138.

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    Seguindo o pensamento de Antnio Carlos Wolkmer, professor titular nos cursos de graduao e ps-graduao da UFSC, Mestre em Cincia Poltica e Doutor em Direito, na tradio da loso a ocidental moderna, a palavra crtica foi utilizada distintamente por autores como Marx e Kant.

    Para Marx, a crtica assumiu um signi cado muito particular e diferenciado. Para ele, a crtica trata-se de um discurso revelador de ideologias ocultadas que projetam os fenmenos de forma distorcida. J em Kant, a crtica, por outro lado, signi cava a idia de uma operao analtica do pensamento.28

    Desse modo, pode-se conceituar teoria crtica como o instrumental pedaggico operante (terico-prtico) que permite a sujeitos inertes e miti cados uma tomada histrica de conscincia, desencadeando processos que conduzem formao de agentes sociais possuidores de uma concepo de mundo racionalizada, antidogmtica, participativa e transformadora. Trata-se de proposta que no parte de abstraes, de um a priori dado, da elaborao mental pura e simples, mas da experincia histrico-concreta, da prtica cotidiana insurgente, dos con itos e das interaes sociais e das necessidades humanas essenciais.29

    Deste modo, a crtica pode compreender determinado conhecimento que no

    de nitivo, tampouco dogmtico, no entanto, que existe num contnuo processo de fazer-se a si prprio.30

    Kant declara que nossa poca a poca da crtica, qual tudo deve submeter-se. A religio, por meio da santidade, e a legislao, por meio de sua majestade, querem a ela se subtrair.31

    Na Crtica da Razo Pura, segundo Kant,

    a razo em todos os seus empreendimentos deve submeter-se crtica e no pode, sem se prejudicar e atrair contra si uma suspeio nociva, interromper a liberdade da mesma atravs de proibio alguma. Nada to importante em vista de sua utilidade, nada to sagrado que deva ser subtrado a esse escrutnio minucioso, que desconhece qualquer autoridade pessoal. Sobre essa liberdade repousa a prpria existncia da razo, que no possui autoridade ditatorial e cujo veredicto a cada instante nada alm do consenti-mento de cidados livres, cada um dos quais deve poder exprimir sem impedimento as suas dvidas ou mesmo o seu veto.32

    Segundo Oscar Correas, a Crtica da Razo Pura no expressa nada de nega-

    28 CORREAS, Oscar apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. 5 ed. rev. So Paulo: Saraiva, 2006. p. 4.29 WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. 5 ed. rev. So Paulo: Saraiva, 2006. p. 5.30 FREIRE, Paulo apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. 5 ed. rev. So Paulo: Saraiva, 2006. p. 5.31 CCERO, Antnio. apud CRON, Ileana Pradilla. e REIS, Paulo (Orgs.). Kant: Crtica e Esttica na Modernidade. So Paulo: Editora SENAC So Paulo, 1999. p. 177.32 Ibidem, p. 177-178.

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    tivo da razo, mas objetiva mostrar sua opinio acerca de como se formulam os juzos cient cos.33

    Ainda a rma Kant, que quem uma vez provou da crtica passa a sentir nu-seas com todo o palavrrio dogmtico com o qual antes se contentava por necessidade, porque sua razo precisava de algo e no encontrava melhor sustento. Segundo ele, a Crtica se compara com a metafsica comum das escolas precisamente como a qumica com a alquimia ou a astronomia com a astrologia divinatria; a Crtica realiza em relao metafsica dogmtica, o corte epistemolgico que se convencionou chamar de rev-oluo cient ca.34

    Acerca de uma teoria crtica, a Escola de Frankfut, foi a que melhor desen-volveu uma corrente los ca contempornea. Encontrava toda sua inspirao terica na tradio racionalista que remonta ao criticismo kantiano, passando pela dialtica ide-alista hegelinana, pelo subjetivismo psicanaltico freudiano e culminando na reinterpre-tao do materialismo histrico marxista.35

    Como a rma Wolkmer, em sua obra Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico, nen-hum saber totalmente absoluto, uniforme e inesgotvel; nenhum modelo de verdade expressa, de modo permanente e contnuo, respostas a todas as necessidades, incertezas e aspiraes humanas em tempo e espao distintos. H de se encarar, como fenmeno natural, na complexidade da vida social e na estrutura do prprio saber humano, a rela-tividade e a ambivalncia das formas de verdades.36

    Quer se alcanar com a crtica jurdica um outro entendimento epistemolgico, o qual possa suprir as necessidades atuais, pois o direito constantemente mutvel, de modo que transformaes socioeconmicas no so acompanhadas.

    Podemos ainda lembrar o pensamento crtico de Miguel Reale, havido nos anos 40 e 50, crtica jurdica esta para a poca, aos diversos formalismos e reducionismos naturalistas.

    4. A Produo Crtica-Cultural e os Ncleos Tericos-Crticosno Direito Brasileiro

    Devemos ainda, lembrar a grande produo cultural, proveniente da partici-pao de novos jus lsofos brasileiros, os quais muito in uenciaram revistas jurdicas nacionais veiculadas nos meios acadmicos. Podemos citar como exemplo, as Contra-dogmaticas, da ALMED, dirigida pelo Prof. Luis A. Warat; Seqncia, do Curso de Ps-Graduao em Direito da UFSC; Direito & Avesso, da Nova Escola Jurdica Brasileira NAIR (Grupo de Braslia); Revista Trimestral da OAB, a qual teve circulao nacional durante os anos de 1988 e 1989; Direito, Estado e Sociedade, do Departamento de Cincias

    33CORREAS, Oscar apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. 5 ed. rev. So Paulo: Saraiva, 2006. p. 4.34 CCERO, Antnio, op. cit., p. 178.35 WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 6.36 Ibidem, p. 85.

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    Jurdicas da PUC/RJ; e, por m, a revista de Direito Alternativo, organizada pelo mag-istrado Amilton Bueno de Carvalho, expressando a contribuio terica de alguns dos juristas alternativos.37

    Cabe ainda, relacionar os ncleos de estudos, de atuao terico-crtica, nas dcadas de 80 e 90, tais como:38

    a) O Grupo de Trabalho Direito e Sociedade, vinculado Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais, o qual promoveu, anualmente, at 1989, encontros entre professores, pesquisadores e interessados em discutir e intercambiar idias e projetos acerca da problemtica jurdica. Promoveu ainda, anlises da insero do paradigma legal com o poder e com o Estado no espao de crtica sociolgica, poltica e los ca.

    b) O Instituto de Direito Alternativo (IDA), o qual tinha por objetivo organizar palestras e congressos, e ainda, operacionalizar e divulgar maiores informaes sobre prticas jurdicas alternativas tanto no Pas quanto no exterior, utilizando-se para isto de publicaes.

    c) O Grupo de Magistrados Gachos, realizando re exes crticas sobre o Direito Alternativo, organizando ainda, palestras e debates sobre este tema.

    d) A Associao Juzes para a Democracia, a qual pleiteava dentre seus princpios bsicos, a promoo da conscientizao crescente da funo judicante como proteo efetiva dos direitos do homem, individual e coletivamente considerado, a defesa dos direitos dos menores, dos pobres e das minorias, na perspectiva de emancipao social dos desfavorecidos. A promoo e a defesa dos princpios da democracia pluralista, bem como a difuso da cultura jurdica democrtica.

    e) Movimento da Magistratura Fluminense pela Democracia (MMFD), o qual comba-tia as prticas de nepotismo, siologismo e autoritarismo, lutando em prol dos direitos humanos e da radicalizao da democracia.

    f) O Programa Especial de Treinamento (PET), o qual no nal dos anos 70, a agn-cia governamental CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal do Ensino Superior), objetivando algumas estratgias para melhoria do nvel de graduao no Pas, estruturou o chamado PET na esfera do Direito. Este programa objetiva, a longo prazo, preparar seus alunos tanto para os cursos de ps-graduao quanto para o futuro exer-ccio do magistrio jurdico.

    5. As Organizaes da Sociedade Civil para o Estudoda Teoria Crtica do Direito no Brasil

    Organizaes da sociedade civil foram criadas a m de realizar o desenvolvi-mento efetivo da assistncia judicial extra-estatal ou produo de servios legais, cen-

    37 WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 90.38 Ibidem, p. 90-92.

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    tradas ao redor de organizaes populares e assessorias universitrias. No decorrer dos anos 80 e 90, algumas organizaes populares, ONGs, assessorias universitrias e proje-tos de extenso foram registradas. Tais como:39

    a) Instituto de Apoio Jurdico Popular (AJUP), tornou-se referncia em todo Pas, destacando-se a atuao de advogados como Miguel Pressburger e Miguel Baldez, du-rante longos anos editando textos e publicaes crticas, promovendo conferncias e assessorando sindicatos, comunidades de base e movimentos populares.

    b) Ncleo de Estudos para a Paz e Direitos Humanos (NEP), criado na UnB, tem por objetivo agir como transmissor de informaes em favor de uma ordem normativa mais legtima, desformalizada e descentralizada.

    c) Gabinete de Assessoria Jurdica s Organizaes Populares (GAJOP), o qual desen-volveu trabalho de base, com questionamento e discusses crticas, bem como auxlio jurdico s populaes menos favorecidas.

    d) Servio de Assessoria Jurdica Universitria da UFRGS (SAJU), objetivando artic-ular a re exo crtica ao Direito vigente e prestar uma assessoria s demandas populares, promovendo ainda, desde sua criao, encontros, discusses e publicando ainda revistas com temas crticos no Direito.

    e) Servio de Apoio Jurdico da Universidade Federal da Bahia (SAJU).f) Ncleo de Assessoria Jurdica Popular (NAJUP), tendo por objetivo operacio-

    nalizar projetos acerca da reforma agrria, do direito das trabalhadoras domsticas, do direito moradia e do direito s rdios comunitrias.

    g) Programa Balces de Direito que objetiva a mediao e resoluo de con itos, viabilizando o acesso Justia de populaes carentes e desfavorecidas.

    h) Acesso Cidadania e Direitos Humanos.i) Projeto de Acessria Jurdica da Pr-Reitoria Comunitria da Universidade

    Catlica de Salvador (PAJ).j) Projeto de Extenso da Faculdade de Direito da UFMG: Plos Reprodutores

    de Cidadania.k) Ncleo de Direitos Humanos do Curso de Direito da Fundao Educacional Serra

    dos rgos (FESO).l) Comisso de Direitos Humanos de Passo Fundo, tendo o apoio do Instituto Supe-

    rior de Filoso a Berthier (IFIBE).m) A Comisso de Justia e Paz da Arquidiocese de Salvador.n) Ncleo de Estudos de Direito Alternativo (NEDA).o) Ncleo de Pesquisa Lyriana (NPL).p) Instituto de Hermenutica Jurdica.40q) Ncleo Virtual de Direitos Humanos.41

    39 WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit. p. 92-95. 40 Instituto de Hermenutica Jurdica. Porto Alegre/RS. Disponvel em: http://www.ihj.org.br Acesso em: 06 out. 2006.41 Ncleo Virtual de Direitos Humanos. Disponvel em: http://www.dhnet.org.br Acesso em: 06 out. 2006.

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    Para se criticar o Direito deve-se ter audcia, ousadia, pois a m de realizarmos um re exo crtica do Direito, deveremos comear do nvel lgico interno para o pro-cesso de conhecimento externo, de modo que a con gurao deste processo torna-se requisito essencial para rede nir os padres normativos institudos pelo pensamento tradicional.42

    6. A Crtica Acadmica no Direito Brasileiro

    Iniciando-se pela anlise institucional do Direito Pblico, podemos assinalar os trabalhos elaborados pelos juristas Jos Ribas Vieira (professor titular de Teoria do Estado e Direito Constitucional na Universidade Federal Fluminense e docente asso-ciado do curso de mestrado em Direito da PUC/SP), Eros Roberto Grau (Faculdade de Direito da USP) e Fbio Konder Comparato (professor titular Faculdade de Direito da USP). Desde h muitos anos, alguns temas jurdicos tm merecido a re exo e a pesquisa emprica de Jos Ribas Vieira, mediante um estudo crtico, interdisciplinar e poltico, tais como: o autoritarismo e a ordem constitucional, o Estado de Direito, acesso Justia e direitos humanos, o Judicirio e sua legitimao democrtica, regulao e movimentos sociais, resolues de con itos e Direito do Consumidor, etc.43

    No Direito Constitucional e Tributrio podemos citar, dentre os autores que analisam a crtica intradogmtica: Clmerson Merlin Clve (Doutor em Direito e pro-fessor titular da Faculdade de Direito da UFPR), Willis Santiago Guerra Filho (antigo professor da Faculdade de Direito da UFC, incorporado ao Programa de Ps-Gradu-ao da PUC/SP), Eduardo K. Carrion (aposentado como professor titular de Direito Constitucional da UFRGS), Lus Roberto Barroso (professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da UERJ), Menelick de Carvalho Neto, entre outros que in-corporam uma nova gerao extraordinria na teoria e na hermenutica constitucional, tais como: Ingo W. Sarlet, Flvia Piovesan (PUC/SP), Lnio Luiz Streck e outros. Para Willis Santiago Guerra Filho, a Constituio no um corpo esttico de normas, mas sim um verdadeiro processo, que cotidianamente proporciona a realizao dos objetivos por ela xados. Para ele a concepo da ordem constitucional vista como um processo estaria contribuindo para o avano do Estado Democrtico de Direito. Ainda que parte da produo de Guerra Filho esteja no Direito Constitucional, isto no o impede da con-stante e rica presena em estudos de teoria do Direito, processo constitucional, direitos fundamentais e algumas incurses iniciais na psicanlise.44

    Merece aluso quanto releitura crtico-interdisciplinar do Direito Tributrio as incurses de: Ubaldo Csar Balthazar, Valcir Gassen e Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy.45

    42 WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 96.43 Ibidem, p. 136-137.44 WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 138-140.45 Ibidem, p. 140.

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    Por conseguinte, o processo de pensar criticamente o Direito implica re etir e questionar a legalidade tradicional miti cada, atinente poca ou a determinado momento da cultura de um pas. O imaginrio jurdico crtico tenta rede nir os horizontes, constitudo da linguagem normativa repressora e ritualizada, objetivando propiciar meios instrumentais para a conscientizao e a emancipao dos sujeitos histricos na sua condio de domi-nados e excludos. Ao con gurar-se o pensamento crtico como repensar, rede nir e renovar os padres culturais de uma poca ou momento histrico, melhor se com-preende a necessidade de tentar examinar, ainda que parea demasiado pretensioso, as possibilidades do discurso crtico no mbito da presente cultura jurdica brasileira.46

    No Direito do Trabalho devem ser lembrados: Salete M. P. Maccalz (profes-sora e juza do trabalho), Roberto A. Q. Santos (Universidade Federal do Par, juiz do trabalho aposentado), Magda Barros Biavaschi (juza em Porto Alegre RS), Ricardo Carvalho Fraga (juz em Porto Alegre RS), Aldacy Rachid Coutinho (UFPR) e Doro-thee Susanne Rdiger (UNIMEP). Na medida em que a sociedade capitalista funda-se no valor-trabalho, e a ordem jurdica aparece como uma instncia que oferece certa garantia mnima fora do trabalho, o Direito do Trabalho torna-se uma das reas do Direito em que melhor desenvolvido o pensamento jurdico crtico.47

    No cenrio internacional o estudo crtico vem sendo desenvolvido por autores como: Celso Albuquerque de Mello (falecido h pouco tempo, foi professor de Direito Internacional da PUC/RJ), Jos Monserrat Filho (Instituto Universitrio Cndido Men-des RJ) e Odete Maria de Oliveira (curso de ps-graduao em Direito da UFSC) e outros. Este cenrio esta instrumentalizado por profundas contradies, produzidas e articuladas pelos interesses dos centros globais de poder. O processo de mudana e con-struo da nova ordem jurdica internacional passa, necessariamente, pela resoluo dos problemas poltico-ideolgicos e socioeconmicos das naes perifricas.48

    Procurando um novo per l histrico-social, no Direito Penal podemos citar autores como: Juarez Cirino dos Santos (PUC/PR), Vera Regina Pereira de Andrade (UFSC), Nilo Batista (Universidade Cndido Mendes RJ), Joo Ricardo W. Dornelles (PUC/RJ e Faculdades Integradas Bennett), Maria Lucia Karam (Instituto Carioca de Criminologia), Salo de Carvalho (PUC/RS), Afrnio Silva Jardim, Vera Malaguti Batista (Universidade Cndido Mendes) e Geraldo Prado (Instituto Carioca de Criminologia). Criticando e rompendo com a metodologia legalista das criminologias tradicionais, a questo do controle social e do crime est inserida nas esferas burocrticas do Estado e de seus aparatos repressivos, o que, na maioria das vezes, no vivel ou restringe as prticas de poltica criminal alternativa.49

    (...) a veri cabilidade do saber jurdico crtico no Brasil compreender as pesquisas e as publicaes elaboradas em duas dcadas e meia (anos 70, 80 e principio dos 90) e abrang-er essencialmente as reas doutrinrias correspondentes teoria geral do Direito, cincia da dogmtica jurdica, loso a do Direito, sociologia jurdica e loso a poltico-jurdica,

    46 Ibidem, p. 87.47 Ibidem, p. 141.48 Ibidem, p. 141-142.49 Ibidem, p. 142-143.

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    deixando parte as outras tendncias crticas, no menos importantes, emergidas no Direito Publico e no Direito Privado (apenas uma breve referncia).50

    No Direito Processual novos rumos do processo iniciam-se com a Escola Pro-cessualista de So Paulo, tais como, a crise do Direito, a qual atravessa suas instncias de jurisdio permitindo a criao de uma nova mentalidade, repensando a administrao da justia, tendo em vista uma maior participao da comunidade. O processo jurisdicio-nal era concebido unicamente como um mecanismo estatal tcnico, hoje transformou-se num instrumento poltico que visa a garantia dos direitos e a efetivao da justia. Desta forma, podemos citar autores como: Ada Pellegrini Grinover (USP), Cndido R. Dina-marco (USP), Kazuo Watanabe (USP), Joaquim J. Calmon de Passos (UFBA), Ovdio A. Baptista da Silva (UFRGS, PUC/RS e UNISINOS), entre outros.51

    Nas questes de Sociologia, Ensino Jurdico e Direito Poltico, muitos so os professores que lecionam e operam nestes ramos, no entanto so poucos os que tm produo cient ca e regularidade, podendo citar pesquisadores como: Jos Eduardo Faria (USP), Felipe A. de Miranda Rosa (UFRJ), Cludio Souto (professor emrito de sociologia do Direito da UFPE), Joaquim de A. Falco (professor da UFRJ), Eliane Botelho Junqueira (professora da PUC e diretora do Instituto Direito & Sociedade), Luciano Oliveira (professor de cincia poltica da UFPE e da Faculdade de Direito do Recife), Srgio Adorno (professor da Faculdade de Filoso a, Letras e Cincias Humanas da USP), Roberto Kant de Lima (Universidade Federal Fluminense), entre outros pes-quisadores.52

    No Direito Civil as novas formas de con itos coletivos relacionados s ne-cessidades materiais no campo e nos centros urbanos implicam em uma constante luta de conscientizao e mobilizao efetiva por direitos moradia, posse, ao solo urbano e propriedade agrcola, principalmente quando incentivada por operadores do direito que procuram desmisti car determinados institutos sagrados do Direito Privado, poden-do citar como exemplo: Jacques Tvora Alfonsin (procurador do Estado e advogado dos movimentos populares no Rio Grande do Sul), Nilson Marques (advogado j falecido que estava ligado ao Sindicato de Trabalhadores Rurais), Luiz Edson Fachin (professor titular de Direito Civil da UFPR e da Escola da Magistratura), Gustavo Tepedino (pro-fessor de Direito Civil no Rio de Janeiro), Paulo Luiz Neto Lobo (Universidade Federal de Alagoas) e outros.53

    No campo da Histria do Direito constata-se o grande impulso adquirido no Brasil, seja nas esfera de micro e de macroanlises. Trata-se do reaparecimento e do desenvolvimento do campo de estudos histricos, de uma historicidade no Direito. Torna-se deste modo essencial revelar a compreenso do que possa signi car as formas simblicas e reais da cultura jurdica, dos operadores legais e das instituies jurdicas.

    50 Ibidem, p. p. 89.51 Ibidem, p. 143-144.52 Ibidem, p. 144-146.53 Ibidem, p. 146-147.

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    Diversos tericos e investigadores, advindos do Direito, Histria Social e Cincia Poltica preocupam-se com este ramo, tais como: Jos Reinaldo Lima Lopes (USP), Antnio Car-los Wolkmer (UFSC), Arno Wehling (UFRJ, UNIRIO e UGF), Ricardo Marcelo Fonseca (UFPR), Arno Dal Ri Jr. (UFSC), Airton L. Cerqueira-Leite Seelaender (IBHD), Keila Grinberg (Universidade Cndido Mendes), Gizlene Neder (UFF e PUC/RJ), Andrei Ko-erner (UNIFIEO/SP), entre outros.54

    Em outras reas relativamente novas, tais como no caso do Direito Ambiental, Direitos Humanos, Direito do Consumidor, Direito Velhice e do Biodireito, deve-se buscar um estudo democrtico e pluralista, posto que tais reas do Direito so suscetveis das mais profundas transformaes de teor transindividual, multicultural, biogentico e de tecnologia de informao. Dentro da rea dos Direitos Humanos, podemos citar pes-quisadores como: Jayme Benvenuto Lima Jr. (GAJOP/PE), Paulo Csar Carbonari (IF-IBE/RS), Flvia Piovesan (PUC/SP), Hlio Bicudo, Joo Ricardo W. Dornelles (PUC/RJ), Joo Baptista Herkenhoff, Antnio A. Canado Trindade (UnB). No campo do Direito Ambiental encontramos: Jos Rubens Morato Leite (UFSC), Fernando A. de Carvalho Dantas (UEA), Cristiane Derani (PUC/Santos), Rogrio Portanova (UFSC). Na rea do Biodireito: Volnei Garrafa (UnB) e Reinaldo Pereira e Silva (UFSC). E, por m, na questo indgena e terceira idade encontram-se: Carlos Frederico Mars de Souza Filho (PUC/PR) e Paulo R. Barbosa Ramos (UFMA).55

    7. Breves Comentrios sobre a Teoria Crtica do Direitoe o Direito Alternativo

    Para Marcos Nobre, professor de loso a do Instituto de Filoso a e Cincias Humanas da Universidade de Campinas e pesquisador do CEBRAP, o padro de o que pesquisa em Direito no Brasil passou a ser o parecer, que se tornou o modelo de pes-quisa. Dizer que o parecer desempenha o papel de modelo e que decisivo na produo desse amalgama de prtica, teoria e ensino jurdico, signi ca dizer que o parecer no tomado aqui como uma pea jurdica entre outras, mas como um formato padronizado de argumentao, que hoje passa por um quase sinnimo de produo acadmica na rea de Direito, o qual est na base da maioria dos trabalhos universitrios, atualmente.56

    Devemos questionar o direito, discutir as normas em nosso ordenamento ju-rdico de forma re exiva, levando-se em conta determinada formao social, admitindo, sobretudo outras formas prticas jurdicas, diferentes daquelas j existentes. Se zermos isto, estaremos pensando no direito de forma crtica, e a isto se d o nome de Teoria Crtica do Direito.

    Localiza-se a crtica do direito no espao da pluralidade heterognea de mo-vimentos insurgentes com posturas metodolgicas e epistemolgicas distintas, contudo,

    54 Ibidem, p. 147-148.55 Ibidem, p. 148-149.56 NOBRE, Marcos et all. O que Pesquisa em Direito? So Paulo: Quartier Latin, 2005. p. 30.

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    apresentam certo pressupostos comuns que so essenciais enquanto denncia e descon-struo do discurso e dos procedimentos do Direito em todas as suas formas alienantes. Estas condies constitutivas da teoria crtica do direito referem-se a uma construo de um determinado objeto, ou seja, referem-se a uma determinada conceituao, a uma limitao do conceito operacional, ao mtodo escolhido e ao estabelecimento dos obje-tivos ou metas a serem atingidos, produzindo novas formas de agir no universo jurdico, desmisti cando a cincia jurdica tradicional.57

    (...) descrever o signi cado e a funo que exerce o pensamento crtico no Direito no s no sentido de questionar e desmiti car o que legalmente est posto (o injusto e ine caz), mas, sobretudo, como um instrumento pedaggico que possibilite a construo das pre-missas fundantes que conduzem a um Direito novo. natural, em face da crescente problematizao, que se faa a aproximao e o paralelo entre a crtica jurdica e a pratica do Direito alternativo.58

    Se a funo terica de denncia da crtica jurdica tem alcanado os resultados esperados, a funo prtica, no tem alcanado os mesmos nveis, quanto a efetividade das mudanas e quanto a soluo dos problemas. A crtica jurdica tem a propenso de negar o papel da dogmtica legal, caindo no discurso abstrato e insu ciente que no favorece ao jurista-prtico buscar, na legislao atual, as possibilidades de solues para as reivindicaes populares.59

    Segundo Edmundo L. de Arruda Jnior, em sua obra Introduo Sociologia Jurdica Alternativa: Ensaios sobre uma Sociedade de Classes, a corrente do Direito Alternativo no Brasil teve sua origem no processo de democratizao do pas a partir de 1985, mo-mento em que os operadores jurdicos participavam de reunies que objetivavam, em primeiro lugar, contribuir com propostas legislativas para tornar os rgos institucionais mais democrticos, quando se completasse o perodo de transio e de solidi cao da democracia, pondo m a um regime militar autoritrio, implantado aps o golpe de 1964.60

    O Direito Alternativo reproduz o processo de absoro de seus avanos e eliminao, dos seus equvocos e lacunas, na medida em que implica superao da crtica jurdica tradicional. uma conseqncia de todo o processo de crtica do Direito desen-volvido, principalmente a partir do inicia da dcada de 70.61

    A inovao prtica do Direito alternativo o distingue dos demais movimentos

    57 RODRIGUES, Horcio W. apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. 5 ed. rev. So Paulo: Saraiva, 2006. p. 153.58 WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 152-153.59 RODRIGUES, Horcio W. apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 153.60 ARRUDA JR., Edmundo L. de. apud COSTA, Frederico Antnio. A Teoria do Direito Alternativo no Brasil: Um Estudo Crtico sobre o Conceito Terico do Direito. 2001. 136 f. Dissertao (Mestrado em Direito) Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2001. p. 09.61 RODRIGUES, Horcio W. apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 153.

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    crticos, pois tradicionalmente a crtica do direito preocupou-se em mostrar os efeitos do Direito enquanto dominao, no entanto, o Direito alternativo busca resgatar a pos-sibilidade transformadora do jurdico, colocando-o a servio da libertao. Em pouco tempo, a expresso Direito alternativo alcanou nvel nacional e passou a con gurar a pluralidade de instncias pro ssionais habilitadas a articular frentes de lutas dentro da legalidade instituda, ou seja, o uso alternativo do Direito, e da legalidade insurgente a instituir, ou seja, prticas de pluralismo jurdico.62

    Segundo o juiz Amilton Bueno de Carvalho, professor da disciplina de Direito alternativo na Escola da Magistratura do Rio Grande do Sul, em sua obra Direito Alter-nativo na Jurisprudncia, prope que em um sentido abrangente o movimento do Direito alternativo compreende trs frentes distintas:

    1) Uso Alternativo do Direito: trata-se da utilizao, via interpretao diferenciada, das contradies, ambigidades e lacunas do Direito legislado numa tica democratizante.2) Positivismo de Combate: uso e reconhecimento do Direito positivo como arma de combate, a luta para a efetivao concreta dos dire-itos que j esto nos textos jurdicos mas no vm sendo aplicados.3) Direito Alternativo em Sentido Estrito: o direito paralelo, emer-gente, insurgente, achado na rua, no o cial, que coexiste com aquele emergente do Estado. um direito vivo, atuante, que est em perma-nente formao/transformao.63

    Depois dos ensinamentos de Amilton B. de Carvalho, Horcio W. Rodrigues e Edmundo L. de Arruda Junior sobre o movimento do Direito alternativo, necessrio se faz xar determinados critrios, tais como:

    a) o Direito o instrumento de luta a favor da emancipao dos menos favorecidos e injustiados numa sociedade de classe como a brasileira; consequentemente, descarta-se o carter de apolicitici-dade, imparcialidade e neutralidade dos operadores e das instncias de jurisdio;b) dentre os principais objetivos do movimento est a construo de uma sociedade caracterizada como socialista e democrtica;c) a escolha metodolgica de grande parte de seus adeptos pelo mtodo histrico-social dialtico, utilizando-o atravs de interpre-tao jurdico-progressista, cujo objetivo explorar as contradies,

    62 RODRIGUES, Horcio W. apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit. p. 154.63 CARVALHO, Amilton Bueno apud WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurdico: Novo Marco Emancipatrio na Historicidade Latino-Americana. in Cadernos de Direito, Piracicaba. v. 2, n. 4, p. 11-23, jul. 2003. p. 21.

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    omisses e incoerncias da legalidade vigente;d) os alternativos privilegiam como parmetro nuclear a efetivao da legitimidade das maiorias e a implementao da justia social.64

    O Direito alternativo em sentido estrito, segundo Amilton Bueno de Carvalho, trata-se daquele que emerge do pluralismo jurdico. Em outras palavras, a participao da comunidade na busca da soluo de seus problemas, mesmo em con ito com o Dire-ito do Estado. a sociedade construindo seus prprios direitos, por meio de movimen-tos sociais, sindicatos, partidos polticos vanguardeiros, setores progressistas das igrejas, comunidades de base, entre outras.65

    Deste modo, podemos enquadrar o pluralismo jurdico tanto na viso do Dire-ito alternativo em sentido estrito, quanto no Uso Alternativo do Direito, em decorrncia de sua pluralidade de vises.66

    Quanto utilizao e prtica dos Direitos alternativos, segundo Wolkmer a prtica efetiva de servios legais ou assistncia judicial extraestatal vm sendo implemen-tada por organizaes da sociedade civil (comisses populares, centros comunitrios e organizaes no-governamentais ONGs) e tambm por assessorias de extenso universitria. J o uso do Direito alternativo operacionalizada por magistrados no ex-erccio da funo judicial e de inegvel expanso no meio da produo, interpretao e aplicao jurisprudencial.67

    8. Referncias

    CRON, Ileana Pradilla. e REIS, Paulo (Orgs.). Kant: Crtica e Esttica na Modernidade. So Paulo: Editora SENAC So Paulo, 1999.

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    FREITAG, Brbara. A Teoria Crtica: Ontem e Hoje. 3. ed. So Paulo, 1990.

    64 CARVALHO, Amilton Bueno. RODRIGUES, Horcio W. e ARRUDA JUNIOR, Edmundo L. de. apud WOLKMER, Antnio Carlos. Introduo ao Pensamento Jurdico Crtico. Op. cit., p. 156.65 CARVALHO, Amilton Bueno apud MELO, Rassa de Lima e. Pluralismo Jurdico: para alm da viso monista. Campina Grande: EDUEP, 2001. p. 87.66 MELO, Rassa de Lima e. Pluralismo Jurdico: para alm da viso monista. Campina Grande: EDUEP, 2001. p. 88.67 WOLKMER, Antnio Carlos. Pluralismo Jurdico, op. cit., p. 304.

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