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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Moura. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 10(gt21):1-15

ENSINO DE FÍSICA ATRAVES DE PROJETOSINTEGRADORES (EFAPI): ENTRELAÇANDO SABERESNO ENSINO MÉDIO EM UMA ABORDAGEMCTS/CTSA

GT21 – Estudos CTS e educação CTS: articulações pertinentes

Sebastião Rodrigues-Moura

Resumo: Neste trabalho apresento o percurso de investigação-ação desenhado enquanto abordagemteórico-metodológica que convenciono intitular Ensino de Física Através de Projetos Integradores –Proposta EFAPI – design inspirado nos princípios da Design-Based Research, estabelecido por Brown(1992) e Collins (1992), por trazer o rigor do planejamento, da experimentação e análise para oreplanejamento no contexto da pesquisa em educação. A proposta foi retroalimentada porsubprojetos integradores de estudantes-pesquisadores com o objetivo principal de propor soluçõessociais, valorizar os conhecimentos estudantis em seu aperfeiçoamento pessoal e contribuir à suaqualificação profissional, de um curso técnico integrado ao ensino médio em uma escola públicafederal na Amazônia e busca uma identidade no ensino de física com viés social, articulando-secriteriosamente a um plano de atividades com abordagem CTS/CTSA (Ciência – Tecnologia – Sociedade– Ambiente). Durante a experiência de implementação, foram registradas ocorrências e observaçõesrelevantes em um diário-de-docência do professor-pesquisador – material empírico analisado à luz dosreferenciais teóricos da Análise Textual Discursiva (MORAES & GALIAZZI, 2011), com enfoquequalitativo, e foram identificados três eixos analíticos, a saber: (I) O perfil acadêmico do curso ofertadona instituição diante da identidade amazônica; (II) As diversidades de atuação de um técnico emmecânica; e (III) o enlace de saberes físicos alinhados à formação acadêmica e profissional. Da análisedetalhada desses eixos foram propostos subprojetos integradores, a saber: a pavimentação asfálticade ruas a partir do pó de borracha extraído de pneus velhos, construção de carneiro hidráulico paraabastecimento de água com materiais alternativos, horta comunitária construída com sucatas egarrafas, reforma e manutenção de cadeiras de roda para grupos carentes e a produção deferramentas e peças para máquinas com custeio baixo. Notadamente, os projetos apresentaramelementos de alfabetização científica, aplicação prática dos conhecimentos teóricos, interação deconhecimentos técnicos com viés social e, sobretudo, uma consistente relação entre ciência,tecnologia, sociedade e ambiente.

Palavras-chave: Ensino de física; Projetos integradores; Abordagem CTS/CTSA

VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Moura. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 10(gt21):1-∕ 15

INTRODUÇÃO

O trabalho com projetos de aprendizagem na educação vem sendo desenvolvido por várias instituições mundo afora desde a segunda metade do século passado, quando dão mais espaço para autonomia da aprendizagem dos estudantes, em um contexto interdisciplinar (HERNANDÉZ e VENTURA, 1998; HERNANDÉZ, 2000; LIBÂNEO, 2004). Embora a utilização de projetos não seja nova no campo do ensino, a adaptação de propostas pedagógicas emergem a partir da integração de conhecimentos, habilidades e competências que os estudantes devem adquirir, tornando-se mais ativos e participativos em seu meio social.

A presente proposta de trabalho surgiu da necessidade de reforçar o ensino de física no ensino médio na região sudeste do Pará, Amazônia, Brasil, para preparar os estudantes com maior aprofundamento em práticas científicas e técnicas, haja vista que apresentam muita dificuldade nos conhecimentos sobre física, legitimado por um currículo que não contempla a abrangência de práticas experimentais em ciências naturais durante o percurso do ensino fundamental, dada a inexistência de laboratórios didáticos nas escolas na região e acabam demonstrando, por sua vez, a fragilidade tanto na compreensão, quanto na apreensão da física enquanto ciência para a construção do conhecimento.

O percurso de investigação-ação desenhado enquanto abordagem teórico-metodológica que convenciono intitular Ensino de Física Através de Projetos Integradores – Proposta EFAPI – é design inspirado nos princípios da Design-Based Research, estabelecido por Brown (1992) e Collins (1992), por trazer o rigor do planejamento, da experimentação e análise para o replanejamento no contexto da pesquisa em educação. Após ser retroalimentada por subprojetos integradores de estudantes-pesquisadores, a proposta tem como objetivo principal o de propor soluções sociais, valorizar os conhecimentos estudantis em seu aperfeiçoamento pessoal e contribuir à sua qualificação profissional de estudantes de cursos técnicos integrados ao ensino médio e, sobretudo, buscar uma identidade no ensino de física com viés social, articulando-se criteriosamente a um plano de atividades com abordagem CTS/CTSA (Ciência – Tecnologia – Sociedade – Ambiente).

Partindo dessa premissa, busco responder a seguinte questão de investigação: que saberes entrelaçam a formação integrada de estudantes com viés às demandas sociais em uma abordagem CTS/CTSA no contexto amazônico? A aplicação da proposta deu-se no contexto de uma escola federal na Amazônia, que apresenta em sua amplitude ainda muita desigualdade social, porém contém as maiores riquezas naturais do Brasil; uma cenário propício a conduzir os estudantes a pensar e agir como sujeitos socialmente críticos e participativos.

Por conseguinte, o projeto busca ser retroalimentado por subprojetos dos estudantes do cursos técnicos integrados ao ensino médio de uma escola federal da Amazônia, a ser coordenador por um professor com experiência em educação em ciências e matemáticas, tendo como objetivo principal desenvolver tecnologias sociais utilizando a proposta de ensino de física através de projetos integradores com vistas à alfabetização científica em uma abordagem CTS/CTSA.

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DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS SOCIAIS EM UMA ABORDAGEM CTS/CTSA

A proposta EFAPI se apropria da ideia de, não somente apresentar e discutir as características de um projeto de pesquisa no âmbito de uma escola federal no contexto amazônico para estudantes do ensino médio, mas compreender o ensino, a pesquisa e a extensão como bases que alicerçam as políticas públicas pensando-se na promoção, no fomento e implementação de programas, projetos e atividades de forma integrada, entrelaçando o diálogo e a interação entre os vários saberes para com as demandas da sociedade.

Por que trabalhar com desenvolvimento de tecnologias sociais? Christophoulos (2011) define tecnologias sociais como

um método ou instrumento capaz de solucionar algum tipo de problema social e que atenda aos quesitos de simplicidade, baixo custo, fácil aplicabilidade e geração de impacto social. Esse tipo de tecnologia se origina de um processo de inovação resultante do conhecimento criado coletivamente pelos atores interessados no seu emprego. Em um contexto político e social em que emergem interesses na elaboração de políticas sociais inclusivas, os processos, técnicas e metodologias desenvolvidos na interação com a população representam uma alternativa para facilitar a inclusão social e a melhoria na qualidade de vida. (p.109-110)

Para além do exposto, Fernandes e Maciel (2010) nos ajudam a compreender o motivo de se trabalhar com tecnologias sociais, justificando que trabalhar com essa linha

[...] significa reconhecer a diversidade de fatores que estão implicados na construção e no desenvolvimento de uma tecnologia social; entre eles pode-se citara transformação social, a participação direta da população, o sentido de inclusão social, a melhoria das condições de vida, o atendimento de necessidades sociais, a sustentabilidade socioambiental e econômica, a inovação, a capacidade de atender necessidades sociais específicas, a organização e sistematização da tecnologia, o diálogo entre diferentes saberes (acadêmicos e populares), a acessibilidade e a apropriação das tecnologias, a difusão e ação educativa, a construção da cidadania e de processos democráticos, a busca de soluções coletivas, entre outros, que são sustentados por valores de justiça social, democracia e direitos humanos (p.9-10).

Essa valorização dos estudantes prima pelo aperfeiçoamento pessoal e contribui à sua qualificação profissional. Assim, a presente proposta valoriza práticas educacionais de formação que promovam a preparação de estudantes reflexivos, que assumam a responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na implementação das políticas educativas (HARGREAVES & FULLAN,1992). Dessa forma, há a necessidade de os estudantes refletirem sobre questões, pressupostos, valores, objetivos, metas e limitações da ciência para com a sociedade, haja vista que a ACT valoriza o conhecimento razoável de determinados temas e sua importância científica, gerando consciência própria nos estudantes e para entender a cultura e a

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sociedade, com objetivos humanistas, ligados ao social, ao econômico e ao político e visa à formação do cidadão (FOUREZ, 1994; 2003).

Nesse sentido, a proposta traz um enfoque da abordagem CTS/CTSA que, de maneira mais geral, coaduna com as competências e as habilidades que são privilegiadas aos estudantes nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1999), voltadas para uma educação consolidada no exercício pleno da cidadania e, dessa forma, prima pela integração de saberes, dar oportunidade de aprofundamento e nivelamento nos conteúdos de física, abrindo portas para melhorar o currículo, diferenciando os estudantes e aumentando o rendimento acadêmico.

Como suporte teórico a esta reflexão, ancoro a proposta aos estudos sociais da ciência e tecnologia ou abordagem CTS/CTSA (Ciência – Tecnologia – Sociedade - Ambiente), em um perspectiva educacional, com ênfase no desenvolvimento de tecnologias sociais. Para Linsingen (2007), as reflexões CTS/CTSA abordam temáticas em um campo de trabalho interdisciplinar “e de caráter crítico com relação à tradicional imagem essencialista da ciência e da tecnologia” (idem, p. 03) que desde meados dos anos 1960 vem contribuindo de forma sistemática para a ressignificação da natureza do conhecimento científico e tecnológico e de suas implicações socioculturais e socioeconômicas.

PERCURSO METODOLÓGICO DA PROPOSTA EFAPI

O percurso metodológico de investigação-ação da abordagem que convenciono intitular Ensinode Física Através de Projetos Integradores - Proposta EFAPI -, articula-se a subprojetos de formação de estudantes-pesquisadores do ensino médio integrado e busca uma identidade no ensino de física durante a educação básica, concatenadas e articuladas criteriosamente aos planos de atividades da equipe envolvida e se dá em quatro fases:

a primeira fase consiste na Sistematização do Projeto Integrador de Pesquisa, na qual apresentam-se os alinhamentos e ajustes para o desenvolvimento de tecnologias sociais frente ao levantamento de literatura especializada mediando a ação dos estudantes-pesquisadores, a fim de definir com mais precisão o foco da pesquisa frente à abordagem CTS/CTSA, para a posterior fundamentação teórica dos subprojetos. Esta fase é realizada sob a coordenação/mediação do proponente da pesquisa junto aos estudantes articulados para sistematização do conhecimento em forma de subprojetos integradores para se fazer um aprofundamento teórico;

A segunda fase consiste no detalhamento preciso e coeso do percurso a ser realizado acerca do Embasamento Teórico para os Subprojetos dos estudantes-pesquisadores, sempre mediados pelo professor-pesquisador, visando garantir uma definição concisa das aplicações e desenvolvimento das tecnologias frente aos vieses da abordagem CTS/CTSA;

A terceira fase consiste no Desenvolvimento de Tecnologias Sociais com todo o detalhamento técnico e instrumental das tecnologias sociais a serem desenvolvidas conformeestudo e pesquisa realizados na fase anterior; trata-se do momento em que os estudantes-

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pesquisadores enfrentam o desafio de elaborar o método, produto ou técnica que possa ter aplicação social; e,

Na fase final são feitos os Testes e Aplicação dos Itinerários Metodológicos dos Subprojetos nos espaços de pesquisa e em escolas da região, analisando o status de consolidação das propostas e a finalidade de cada tecnologia social desenvolvida, coletando informações sobreo uso, aplicações e possibilidades de aprimoramento.

Trata-se, de uma familiaridade, a um design teórico-metodológico inspirado nos princípios da Design-Based Research (Pesquisas Baseadas em Projetos), conforme estabelecido por Brown (1992) eCollins (1992) – por trazer o rigor do planejamento, da experimentação e análise para o replanejamento no contexto da pesquisa em educação – vai além da simples elaboração de uma tecnologia social para fins de aplicação na sociedade e implica em práticas diferenciadas para auxiliar os envolvidos a diversificar, com segurança, a dinâmica de trabalho do professor, bem como facilitar aaprendizagem dos estudantes.

A figura 1 apresenta o esquema da proposta EFAPI, conforme as fases definidas anteriormente:

Figura 1: Representação esquemática da proposta EFAPI em fases

Fonte: Elaborado pelo autor da pesquisa

Do exposto, a proposta EFAPI parte desde o estudo do lócus para a pesquisa educacional, perpassando pelas fases I e II no qual os estudantes-pesquisadores tem a oportunidade de elaborar um design e propor uma tecnologia social a partir de estudos e pesquisas no seu subprojeto sempre mediado e orientado pelo professor-pesquisador, em seguida desenvolve-se a tecnologia social (fase III) para fins de testes e validação em um contexto social.

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O trabalho com projetos integradores abarca a proposta metodológica de cada curso de formação e se faz como uma atividade individual ou coletiva, como proposta de pesquisa ou extensão, sendo uma atividade acadêmica específica da área de formação do estudante, trazendo a sistematização de conhecimentos adquiridos durante a formação estudantil e oferecendo experiências e a vivência de cada estudante ao patamar de ser protagonista de seu próprio conhecimento, alinhado ao processo de ensino e aprendizagem com vistas à aplicabilidade social.

Ainda inspirado na proposta de Brown (1992) e Collins (1992), destaco cinco características importantes a serem consideradas na proposta EFAPI e que os estudantes-pesquisadores levam comopremissa na proposição dos subprojetos integradores, a citar: (i) a co-investigação, pelo fato de podergerenciar todo o processo de pesquisa e aplicação da proposta; (ii) a parceria de especialistas que prima pelo aperfeiçoamento da proposta, otimização do produto e orientação mediadora de produção; (iii) a flexibilidade de revisão da proposta, que garante aos pesquisadores revisarem todo ogerenciamento do produto para avaliações de sucesso ou fracasso em sua aplicação; (iv) a inovação comparada, pois os envolvidos na pesquisa comparam as diferentes variáveis que podem vir a influenciar na execução da sua proposta; e, (v) o teste e aplicação para fins de validação de proposta frente ao objetivo estabelecido.

IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A proposta EFAPI tem um perfil para ser implantada em turmas de ensino médio e, na oportunidade, foi implantada inicialmente em uma turma de curso técnico em mecânica integrado deuma instituição federal na Amazônia, analisando o perfil, áreas e campos de atuação dess profissionalcomo prevê o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (BRASIL, 2016), em uma amostragem de 40 alunos, os quais foram organizados em grupos de trabalho com planos de atividades para o professor e para as equipes de trabalho, assim descritos:

Plano de Trabalho Individual

Dentre as ações a serem desenvolvidas pelo professor-pesquisador estão:1) Planejar a execução do projeto e sua viabilidade dentro dos prazos estabelecidos;2) Orientar os estudantes-pesquisadores na elaboração de subprojetos integradores;3) Atribuir tarefas de cunho de pesquisa e aprofundamento teórico dos estudantes-pesquisadores;4) Acompanhar e documentar o andamento da sua equipe de trabalho através de ferramentas e técnicas de apuração de dados;5) Monitorar a pesquisa, seus possíveis riscos e estar sempre preparado para mudar de estratégia rapidamente, se necessário;6) Ter organização na coordenação, agilidade na tomada de decisões e acompanhar os estudantes-pesquisadores em suas ações;7) Inspirar a equipe para conseguir os melhores resultados e o desenvolvimento de inovações educacionais;8) Incentivar os estudantes-pesquisadores a usarem o que têm de melhor em nome do projeto/subprojetos;

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9) Coordenar os planos de ações do projeto, o detalhamento das propostas e estimativa de custos e cronograma do projeto de pesquisa;10) Elaborar reuniões mensais e redigir relatórios técnico-descritivos sobre a execução do projeto;11) Gerir os trabalhos e as ações dos estudantes-pesquisadores durante todas as fases e concepções dos materiais didáticos a serem desenvolvidos;12) Buscar parceiros na região que apoiem e incentivem a idealização do projeto;13) Divulgar o projeto com êxito e produtividade para a comunidade e nos diversos meios midiáticos.

Para os estudantes-pesquisadores, as atribuições são as seguintes:

Perfil do Estudante-PesquisadorOs estudantes-pesquisadores devem apresentar dedicação aos estudos e tenha foco nos subprojetos integradores em sua totalidade.

Plano de Trabalho IndividualO estudante-pesquisador deverá participar de todas as atividades de pesquisa sempre mediadas pelo professor-pesquisador, desde a elaboração dos subprojetos, revisão das fontes bibliográficas, buscar referenciais teórico-metodológicos, execução e desenvolvimento de tecnologias sociais, até a coleta de dados nas diversas fases de trabalho de campo e sua sistematização e interpretação.Dentre as atribuições do estudante-pesquisador estão, especificamente:

Aprofundamento na literatura dos referenciais teórico-metodológicos;

Elaboração de subprojeto integrador para a ação de pesquisa;

Preparação de relatórios descritivos de todas as etapas percorridas na pesquisa em um diário-de-pesquisa;

Design das propostas a serem desenvolvidas;

Estudo, aplicação e testes dos itinerários metodológicos das tecnologias sociais produzidas; Coletar informações sobre o andamento da pesquisa e das produções elaboradas para compor um

banco de dados.

Durante a experiência de implementação, foram registradas ocorrências e observações relevantes em um diário de docência (RODRIGUES-MOURA, 2016) do professor-pesquisador, Foi necessário um estudo mais detalhado sobre o perfil acadêmico do curso ofertado pela instituição e em leituras exaustivas dos subprojetos integradores foi possível identificar a identidade das propostas frente ao curso, no contexto amazônico e possibilitar a viabilidade e validade dentro da proposta EFAPI – desses materiais empíricos, à luz dos referenciais teóricos da Análise Textual Discursiva (MORAES & GALIAZZI, 2011), com enfoque qualitativo, é que foram identificados três eixos analíticos, a saber:

(I) O perfil acadêmico do curso ofertado na instituição diante da identidade amazônica;

Dentre um dos perfis analisados nos trabalhos foi possível identificar a elaboração e interpretação de desenho técnico, no qual os estudantes-pesquisadores foram capazes de controlar processos de fabricação de um produto aplicado ao estudo da física, resultando em uma tecnologia social, com aspectos técnicos como o conhecimento de ferramentas

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para serem manipuladas em ambientes profissionais, planejamento de formas, aerodinâmica e métodos para coletar e tratar dados em variáveis analíticas como o impulso aplicado, o centro de massa do corpo e o momento de inércia. Resulta assim no estudo e especificação de materiais para construção mecânica, como segue a figura 2.

Figura 2 - Projeção técnica de uma base para lançamento de um protótipo de foguete

Fonte: Subprojetos integradores dos estudantes-pesquisadores

Para a construção foram necessários 3,80m de cano PVC (20 mm), 04 joelhos PVC(20 mm), 05 braçadeiras plásticas tipo aço (20 mm), 10 rolhas para garrafa PET, 01 esparadrapo, 02 litros de vinagre, 05 pacotes (200g) de bicarbonato de sódio e papelão. Além das técnicas de mecânica desenvolvidas os estudantes-pesquisadores projetaram lançar o foguete confeccionado com garrafa PET, posicionado em um ângulo de 45°, impulsionado pelo gás carbônico, resultante da reação química do bicarbonato de sódio comácido acético, como esquematiza a figura 3.

Figura 3 - Foguete feito de garrafa PET


A análise dos conceitos físicos desta proposta, alinhados ao EFAPI e resultando como uma técnica da tecnologia social é melhor descrita no eixo III. Para além disso, enfatizaram que

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Quanto à relação da proposta do trabalho com a competência de um técnicoem mecânica, está principalmente a elaboração do projeto, bem como sua prática, além de experiências e conhecimento adquirido para demais projetos que posteriormente serão elaborados e aplicados. Da relação do projeto com o perfil acadêmico e profissional de um técnico em mecânica, notamos que através desse projeto aprendemos a elaborá-lo em equipe e a formação do projeto com a participação de cada um para garantir o sucessoe também a divisão de função para cada um, em que o projeto ajudou no entrosamento da equipe. (EXCERO DO SUBPROJETO INTEGRADOR)

Outra equipe apresentou uma proposta de tecnologia que auxilia e substitui a energia convencional, pois tem como objetivo principal gerar uma energia sustentável que ajude na iluminação das vias públicas da cidade, conforme a figura 4.

Figura 4 - Foguete feito de garrafa PET


Para a equipe de estudantes, o funcionamento é da seguinte forma

um automóvel passa a uma velocidade “X”, os carros possuem um design aerodinâmico quem tem o objetivo de “cortar” o ar e quando o carro entra em atrito com o ar acaba projetando para suas laterais. E durante a projeção do ar para laterais do carro que o projeto funciona, carros passam o dia inteiro nas rodovias, e atrelado as tecnologias que percebem a luminosidade no ambiente, e quando a luminosidade for baixa os postes sãoligados com a energia acumulada durante todo o dia, gerada pelo gerador. (EXCERTO DOS PROJETOS INTEGRADORES)

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A tecnologia social funciona a alimentada por vento que bate na tela central e a gira, esse ciclo vai girar uma pequena turbina que está dentro do protótipo, que vai para um gerador de energia que é guardada em uma bateria até ser usada depois.

Outra equipe trouxe a problemática social da sua comunidade acerca do acúmulo de lixo nas ruas e nos terrenos baldios, vi também que por mais que meu bairro esteja em uma zona perto da mata, a poluição degrada o ambiente fazendo com que polua também o solo.

Figura 5 – Acúmulo de lixo urbano próximo à região de mata


Para essa equipe, a proposta de tecnologia social é um processo social que será reservar um dia especial da semana ou do mês para que a população faça uma limpeza geral na rua, fazendo com que todos participem, e implantar placas, com frases bem interessantes. Tirando um dia da semana ou do mês, as pessoas irão se acostumar e cuidarão melhor com o descarte do seu lixo doméstico. A estratégia principal da equipe é conscientizar a população do bairro e, posteriormente, outros bairros observarão através de divulgação a situação social e irão adotar a mesma ideia. Como resultado desse processo é que todos tenham horta no seu quintal com uso de adubo orgânico, que pode ser restos de alimentos como cascas de frutas, por exemplo.

A equipe enfatizou que algumas pessoas da comunidade concordaram com a ideia do projeto social, haja vista que o governo sozinho não é o responsável para cuidar das questões ambientais. Isto irá resultar em um bairro melhor e divulgarão para outros bairros que queiram adotar a ideia. Fato este comprovado, pois uma horta é capaz de levar as pessoas a se conscientizarem e serem mais organizados, colabora com a saúde e a melhoria do bairro. (II) As diversidades de atuação de um técnico em mecânica;

Além das propostas descritas e analisadas no eixo I, propostas de tecnologia social foram desenvolvidas no âmbito de diversificar as atuações de um técnico em mecânica, como por exemplo na proposta de elaboração projetos de produtos, ferramentas, controle de

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qualidade, controle de processos e manutenção relacionados à máquinas e equipamentos mecânicos.

Uma das equipes propôs o atendimento a um grupo social que utiliza cadeiras de roda e não tem recursos para fazer manutenções e o curso prima pelo área técnica mas volta-se à situações de cunho social. Segundo a equipe,

A proposta é levar ações do curso técnico em mecânica para ajudar no conserto e manutenção de equipamentos, peças e, em especial, das cadeiras de rodas de um grupo social, como técnica de atuação de sua formação em sua amplitude e merece destacar que ações como essas apresentam responsabilidades sociais, dignidade humana, valoriza o próximo e dimensiona o trabalho formativo do profissional. (EXCERTO DOSPROJETOS INTEGRADORES)

Pensando-se na carência social, contribuímos com um processo de colaboração de que dispomos em nossa escola para fazer manutenção em cadeiras de rodas ou muletas danificadas para aquelas pessoas que necessitam, trabalhando com o processo de soldagem e manutenção dos equipamentos. Percebemos que é uma assistência que resultaem conforto para os deficientes físicos e aprendizagem/experiência para os estudantes. A ação da equipe vai além das expectativas de sala de aula e é complementar ao estudo da ciência enquanto construção humana e deve trazer retornos de gratificação pessoal e atividade colaborativa em equipe.

Uma estudante-pesquisadora propôs um técnica de construção de telas metálicas no formato retangular e circular, para serem utilizadas em bueiros da cidade, capazes de reter o lixo acumulado, como mostra a Figura 6:

Figura 6 – Esboço das telas metálicas


Essa técnica, envolve análise de construção de material como sucatas e sua posterior relação com a forma, dentro de uma linguagem geométrica e alguns conceitos de física, a saber:

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Esse protótipo também pode ser feito com materiais recicláveis, como madeira e chapas de aço não utilizadas para as placas centrais e laterais. As telas têm formatos relacionados às figuras geométricas e contribuem para que não haja alagamentos nos bairros das cidades, devido a vazão não ser tão grande, pois mesmo com o lixo retido, ainda passa a água das chuvas e dos esgotos. Além disso, após a retirada do lixo ali retido, temos a contribuição na minimização de doenças que são transmitidas pela água contaminada. (EXCERTO DOS SUBPROJETOS INTEGRADORES)

Para a estudante-pesquisadora, a técnica irá contribuir principalmente com aquelas pessoas mais afetadas que moram em áreas periféricas da cidade, que muitas vezes perdem a qualidade de vida e até pertences pessoais adquiridos com muito esforço. E essa técnica conduzirá as pessoas a repensarem suas atitudes e se policiarão frente aos problemas socioambientais. (III) O enlace de saberes físicos alinhados à formação acadêmica e profissional.

Os alunos que construíram o foguete da figura 3, deixaram a relação da proposta com conhecimentos da física ou científicos alinhados à formação acadêmica e profissional, destacando que

Não é fácil pensar em propostas que relacionem técnicas do curso, o ensinode física e o desenvolvimento de uma tecnologia social. Mas depois de discutirmos em grupo, alinhamos a outro trabalho que já desenvolvemos na escola, que trata da aerodinâmica de um foguete e verificamos que as construção de aletas devem proporcionar o corte da corrente de vento que vai incidir no foguete durante o lançamento, resultando na passagem da massa de ar mais densa pela parte de cima. Identificamos a primeira e terceira leis de Newton, principalmente por que a análise da força resultante da ação química gera uma reação de impulso na base, e esta por sua vez está também sob inércia. (EXCERTO DOS PROJETOS INTEGRADORES)

Para os estudantes-pesquisadores que idealizaram a tecnologia social da figura 4, confrontaram-na com o estudo da seguinte forma

O protótipo tem sua maior relação com a segunda lei de Newton, pois o vento acelera a rotação da placa central gerando a energia. Outra lei utilizada é a terceira lei de Newton ou princípio da ação e reação, pois quando o vento colide com a placa, fazendo com que a mesma tenha um movimento rotacional (ação), isso vai gerar uma reação, resultando na produção de energia limpa e renovável. (EXCERTO DOS SUBPROJETOS INTEGRADORES)

Uma técnica científica é a transformação de pneus velhos encontrados pelas ruas eestradas em asfalto, principalmente porque na cidade dos estudantes identificaram o grandefluxo de automóveis gera um acúmulo desordenado de pneus no entorno urbano e nas

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rodovias. A técnica de retirar os pneus das estradas e espaços urbanos do contexto amazônico contribui para diminuir os impactos ambientais. Para a equipe,

Pelo fato de os pneus demorarem cerca de 600 anos para se decomporem e cerca de 60 mil destes serem descartados de forma irregular na natureza, a técnica de transformá-los em asfalto-borracha ocorrerá por etapas, seguindo a lavagem, secagem, corte, trituramento para separar as principaispartes e depois novamente triturar para virar pó a ser utilizado na pavimentação de ruas e tapamento de buracos nas estradas, viabilizando a qualidade de vida das pessoas. (EXCERTO DOS SUBPROJETOS INTEGRADORES)

Para os estudantes-pesquisadores, ainda é uma tarefa árdua até chegarem a construção de uma máquina com custos mais baixos para triturar os pneus. O estudo aborda uma série de conceitos científicos como separar os componentes do pneu, estudar os processos de transformação de matéria e energia em materiais sustentáveis e, principalmente, pelo fato de que sua composição ser em sua maior parte borracha, garantindo maior aderência, resistência e durabilidade na natureza, garantindo rentabilidade às pessoas e contribuindo para o equilíbrio ambiental.

CONSIDERAÇÕES RELEVANTES

Através da primeira aplicação da proposta EFAPI em uma turma de ensino médio foi observado uma diversidade de propostas, alinhados a processos, técnicas e até produtos de inovaçãotecnológica para fins de aplicação social. Ainda se trata de uma proposta em estudo e aprimoramento, bem como análises de suas etapas para melhor consolidação em sala de aula, aplicável em qualquer contexto, inclusive em outras etapas da educação escolar.

Espera-se fornecer subsídios imprescindíveis para o desenvolvimento de ações no campo doensino de física e educação em ciências, contribuindo assim para alfabetização científica dos estudantes da rede pública de ensino no contexto amazônico e em outras realidades escolares. O êxito da proposta teórico-metodológica depende de um processo de avaliação que permita um feedback entre o professores-pesquisador e estudantes-pesquisadores, estando organizados para ocorrer através dos protocolos de avaliação, que consistam em tecnologias sociais que podem servir de referência para outros estudantes elaborarem seus trabalhos bem como serão úteis para professores no momento de avaliar as atividades.

Dentre as características das tecnologias sociais produzidas e os resultados esperados quando um professor adota a proposta EFAPI são:

produção do conhecimento científico através de casos particulares evitando-se generalizações ou afirmativas gerais e vagas;

tecnologias sociais que apresentem-se de forma atraente, tanto na redação quanto na disposição e design, que facilite a leitura, interpretação e viabilidade;

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possibilidade de todos os estudantes-pesquisadores se apropriarem dos conhecimentoscientíficos e técnicos, fazendo uso de uma ampla gama de recursos didáticos e atividades;

propostas inovadoras para a aprendizagem em física com coerência e decorrentes das atividades desenvolvidas.

Portanto, a metodologia EFAPI contorna o estudante-pesquisador como um sujeito diferenciado para protagonizar o seu meio social, colaborador com a educação em ciências em diferentes contextos, diferentemente do ensino tradicional que mantém o indivíduo preso a conteúdos com poucas aplicações em sua realidade.

O uso da metodologia EFAPI surge em resposta à forma tradicional de ensinar e aprender física, ancorada ao desenvolvimento de tecnologias sociais alinhadas ao estudos em CTS/CSTA, o que representa uma das formas de organizar o trabalho educacional, levando os estudantes-pesquisadores à busca do conhecimento científico e técnico a partir de problematizações de temas e assuntos do cotidiano, do aprofundamento dos estudos vinculados ao seu curso de formação, ao diálogo permanente entre diferentes áreas de conhecimentos, a fim de manter a interdisciplinaridade e o desenvolvimento de atitudes colaborativas e investigativas no perfil seu formativo.

REFERÊNCIAS

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______; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

LIBÂNEO, J. C. Uma escola para novos tempos. Goiânia: Alternativa, 2004.

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