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1 1. AFEIÇÃO AOS ESTRANHOS, PHILOXÉNIAS “O que será que será, que tá dentro da gente e que não devia, que desacata a gente, que é revelia, que é feito uma aguardente que não sacia.” (Chico Buarque) AMAR QUEM NÃO CONHECEMOS, AMAR O SER HUMANO APENAS PELA SUA HUMANIDADE, AMAR SEM ESPERAR A RECOMPENSA, AMAR EM SI JÁ É O PAGAMENTO. ENSINO O QUE SOU (NÃO O QUE PENSO) Eu queria ter ensinado o perdão, - eu ensinei a exigência. Queria ter ensinado a compreensão, - eu ensinei a cobrança. Queria ter deixado uma lição de humanidade, - eu deixei uma lição de que o trabalho é mais importante. Desejei, do fundo coração, - ter deixado um exemplo de aceitação da diferença, - deixei um exemplo de desconfiança. Sou guiado pelos instintos cegos e puros. AO DIZER O QUE EU PENSO, EU ME EXPONHO. Expor-me, causa-me dor. - dor de ser descoberto nas minhas fraquezas. Expor-me causa-me ansiedade em ser mal compreendido. Ao dizer o que eu sinto, eu me fragmento. Dou de mim, multiplico-me. Será que há uma só maneira de eu ser compreendido? A compreensão que eu posso fazer de mim é quase impossível. Revelo-me nas palavras, O que eu não consigo revelar nemnos gestos nem nos atos. Ao dizer o que a minha natureza me induz, Eu me liberto de mim (e me prendo no outro). Sou guiado pelos instintos cegos e puros. Não tenho forças para domá-los,

ENSINO O QUE SOU (NÃO O QUE PENSO) · 1 1. AFEIÇÃO AOS ESTRANHOS, PHILOXÉNIAS O que será que será, que tá dentro da gente e que não devia, que desacata a gente, que é revelia,

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1. AFEIÇÃO AOS ESTRANHOS, PHILOXÉNIAS

“O que será que será, que tá dentro da gente e que não devia, que desacata a

gente, que é revelia, que é feito uma aguardente que não sacia.”

(Chico Buarque)

AMAR QUEM NÃO CONHECEMOS,

AMAR O SER HUMANO APENAS PELA SUA HUMANIDADE,

AMAR SEM ESPERAR A RECOMPENSA,

AMAR EM SI JÁ É O PAGAMENTO.

ENSINO O QUE SOU

(NÃO O QUE PENSO)

Eu queria ter ensinado o perdão,

- eu ensinei a exigência.

Queria ter ensinado a compreensão,

- eu ensinei a cobrança.

Queria ter deixado uma lição de humanidade,

- eu deixei uma lição de que o trabalho é mais importante.

Desejei, do fundo coração,

- ter deixado um exemplo de aceitação da diferença,

- deixei um exemplo de desconfiança.

Sou guiado pelos instintos cegos e puros.

AO DIZER O QUE EU PENSO, EU ME EXPONHO.

Expor-me, causa-me dor.

- dor de ser descoberto nas minhas fraquezas.

Expor-me causa-me ansiedade em ser mal compreendido.

Ao dizer o que eu sinto, eu me fragmento.

Dou de mim, multiplico-me.

Será que há uma só maneira de eu ser compreendido?

A compreensão que eu posso fazer de mim é quase impossível.

Revelo-me nas palavras,

O que eu não consigo revelar nemnos gestos nem nos atos.

Ao dizer o que a minha natureza me induz,

Eu me liberto de mim (e me prendo no outro).

Sou guiado pelos instintos cegos e puros.

Não tenho forças para domá-los,

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Nem sabedoria suficiente para administrá-los.

Ao dizer o que eu sou, eu me transformo!

2. AFEIÇÃO NATURAL, STORGÉ

“Eu preparo uma canção, em que minha mãe se reconheça, todas as mães se

reconheçam”.

(Milton Nascimento e Carlos Drummond de Andrade)

AMAR SEM ESFORÇO,

AMAR NO DIA A DIA, NA ROTINA,

TER UMA AFEIÇÃO ETERNA CORRENDO NAS VEIAS.

CANTO AO VÍCIO DE TE QUERER!

Depois que me viciei em amar, não me foi mais possível viver!

Viciei-me no cheiro que deixas no travesseiro.

(O que é um vício? Quando queremos realmente alguém significa que não po-

demos viver sem ela? Quando sabemos que amamos? Envenena-nos o amor

ou será que somos nós quem o envenenamos? Como o mundo penetra em

nosso eu? Para que serve o nosso corpo? Por que está tão distante de nós a

delicadeza? Em que circunstâncias nos é permitido romper os nossos gri-

lhões?)

VICIEI-ME DA TUA PRESENÇA.

Preciso do teu corpo ao meu lado, para que a minha insônia seja tran-

quila.

Viciei-me no cheiro que deixas no travesseiro.

Quando a tua ausência é compulsória, é no teu odor na cama que eu

encontro descanso.

Viciei-me na delicadeza do teu silêncio.

As palavras são inúteis quando tens o corpo inteiro para te comunicar.

Viciei-me em quase acordar para desejar tua lucidez.

(As roupas são apenas máscaras que encobrem tua pele terna e mendi-

cante de carícias e afagos),

Viciei-me em me chamares por um nome que somente eu entendo!

3. AFEIÇÃO PELA HUMANIDADE, PHILANTHROPÍA

“Um dia joguem minhas cinzas na corrente desse rio, e plantem meu adubo na

semente de meu filho, cuidem bem de minha esposa.”

(Nelson Ângelo e Milton Nascimento)

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AMAR O OUTRO POR VER NELE O NOSSO REFLEXO,

AMAR A NOSSA HUMANIDADE NO OUTRO,

AMAR O QUE NOS TORNAMOS QUANDO AMAMOS O OUTRO.

NÃO PENSES QUE TE QUERO MAL,

Nem penses que quero mudar a tua vida.

Não imagines que eu tenha todas as respostas,

Nem que em mim repouse algum pensamento de ser melhor que al-

guém.

NÓS TEMOS AS MESMAS DORES.

Temos os mesmos sonhos, e os mesmos amores.

Desejamos o mesmo céu límpido,

E a mesma estrela da manhã nascendo em nossas vidas.

Bebemos no mesmo copo a sensação desta vida efêmera.

Engolimos as mesmas lágrimas de solidão

E de um querer tão intenso, que nos paralisa.

Não imagines que eu tenha todas as respostas.

Não penses que eu quero mudar o teu coração.

Quando eu era menino, sempre sonhei ter este poder.

Hoje, eu, quase homem, quero apenas aconchegar-me num canto vazio

desta casa pequena que levas dentro de ti para onde quer que vás.

Quero apenas saber do teu sorriso livre de quem na vida aprendeu a rir de

seus próprios erros.

Quero levar o teu rosto comigo como quem leva as lembranças dos tempos de

criança que nos socorre por dentro, quando o adulto por fora padece.

Não penses que te quero magoar,

Nem que a minha vida seja um modelo para alguém imitar.

Tenho passeado por meio de monstros, e de medos e de todo tipo de erros.

Tenho vivido do jeito que aprendi.

Guardo por vezes arrependimentos fúteis.

Quantas vezes me arrependi das palavras ditas (e das não ditas), dos abraços

dados (e dos guardados), do amor vivido (e do reprimido), do beijo molhado (e

do que ficou para amanhã).

Não imagines que eu tenha todas as respostas.

Não penses que eu quis te ensinar qualquer coisa sobre a vida.

Eu ainda sou um aprendiz, analfabeto de tantas emoções, sentimentos,

e verdades.

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Não tenho todas as respostas do mundo, nem quero tê-las – muitas delas são

inúteis.

Tu és para mim ainda a menina que eu vi passar com um sorriso tão lin-

do que parecia não haver infelicidade no mundo.

Tu és para mim ainda a menina, onde a vida se enfeitava toda ara brin-

car de boneca e de amarelinha.

Eu quero apenas que não percas a meninice, a terna menina que mora dentro

de ti, e quando me vê, corre livre, de braços abertos, sonhando com um beijo

do menino que eu sempre serei para ti.

4. AFEIÇÃO POR UM IRMÃO, PHILADELPHIA

“Se um dia você for embora, não pense em mim, que eu não te quero meu, eu

te quero seu.”

(Danilo Caymmi e Ana Terra)

O AMOR QUE NASCE DA CARNE, QUE CORRE NAS VEIAS,

A AFEIÇÃO QUE NASCE JUNTO COM O NOSSO CORAÇÃO,

A AFEIÇÃO QUE NÃO MORRE NUNCA.

PARADOXO

Não fujo de ti...

Fujo dos teus olhos radiantes, do teu coração desvalido...

FUJO DA TUA PELE – teus poros respiram um ar que se entranha pelo meu

corpo, faz sofrer meu coração.

Fujo dos teus cabelos, do raio de sol, do calor que eles transmitem.

Fujo da tua amizade, que aos poucos me consumiria, revelaria o que

meus olhos já não podem conter, tornaria transparente essa partícula de

semente que teu olhar depositou no meu.

Não, eu nunca fugiria de ti – correria o risco de me encontrar com a tristeza, ou

poderia cair nas garras da saudade, e, então, se tornaria muito mais difícil fugir

de ti.

Não, eu não cometeria essa insensatez de fugir de ti.

Eu simplesmente fujo de mim.

Fugir do amanhã, do ser, do viver, do estar presente.

Fugir, não pelo medo, mas por ter coragem, por ter a vontade de alcan-

çar, de sobrepujar, o desconhecido.

Fugir pelas entranhas da pele, da suavidade de sentir o amanhecer, por encon-

trar nele a possibilidade de respirar por mais um dia.

Se eu fugisse do sol, renunciaria a luz.

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Se eu abandonasse o amor, sacrificaria a eternidade.

Se eu me escondesse do ser humano, seria suicídio.

Se me evadisse a própria substância de me sentir amado, então me aco-

lheria o nada.

Eu simplesmente fujo de mim.

Eu não fujo...

Eu me escondo, para adquirir força, para refletir sobre o viver, sobre o imenso

e inesquecível segundo contido no ato de amar – amar o sonho que resplande-

ce; amar a vida que é promessa, que é esperança; amar alguém, de quem eu

fujo, e que me mostra que assim como estou fugindo, esta direção a faz che-

gar-se mais perto de mim.

5. ALEGRIA DE AMAR

“Um fogo queimou dentro de mim, que não tem mais jeito de se apagar, nem

mesmo com toda a água do mar”.

(Joyce e Maurício Maestro)

ALEGRIA INESGOTÁVEL QUE VEM DO MAIS PROFUNDO EM NÓS,

ALEGRIA QUE NASCE DOS GESTOS MAIS SIMPLES,

SATISFAÇÃO DE SER DONO DAS MINHAS AFEIÇÕES.

AMAR, SIMPLESMENTE

Não é preciso dizer palavras difíceis para dizer que amamos.

A declaração de amor é algo que vem do fundo do peito, que precisa ser

sincera antes de ser bonita, antes de ser erudita, antes mesmo de ser

profunda.

‘EU AMO’: Nada substitui esta frase.

Ela é plena.

Não precisa de explicação.

Não necessita de enigmas.

Não se faz necessárias filosofias complexas.

‘Eu quero você’: É simples, mas precisa ser verdadeira; é completa no seu de-

sejo, mas necessita ser real, sem manipulações, sem intenções ocultas.

‘O homem necessita ser amado; a mulher precisa ser amada; todo ser

humano precisa (e busca) amar e ser amado’.

Eu quero você...

Não preciso de mais palavras, nem encontro nenhuma que espelhe com

mais veracidade o que sinto, o que penso.

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Posso te dar rosas, talvez chocolate, ou alguns cartões.

Posso te levar para passear, me dá de presente para ti.

Precisas saber o quanto te quero.

Gosto da tua companhia, e isso é tudo.

Gosto da tua amizade, me protege da minha carência, faz com que eu

me sinta importante.

Eu poderia audaciosamente tentar te escrever um soneto, mas não quero.

Para mim, basta que saibas o que eu sinto, como eu te quero!

Te quero como mulher...

Te querer é desejar tudo o que há em ti.

Te querer é assumir o meu ser sentimentalista, dizer que eu tenho pro-

fundas emoções, que eu construo fúteis fantasias.

Eu não sou o teu Príncipe Encantado.

Na verdade, eu nunca quis ser um Príncipe (muito menos encantado).

Eu estou muito bem como um ser humano.

Eu amo como um ser humano medíocre.

Tenho desejos banais como um ser humano comum.

Eu sou uma pessoa qualquer.

Só quero que saibas que eu te quero.

Esta é a maior verdade que há em mim.

Se quiseres duvidar, também podes.

Somente o implacável tempo pode provar o que eu digo.

Te querer é desejar tudo o que há em ti.

Te quero com todas as tuas singularidades...

Não és a pessoa mais maravilhosa do mundo

(eu mentiria se dissesse isso).

Eu nunca procurei a pessoa mais maravilhosa do mundo.

Eu somente quero alguém que me queira.

E, mesmo que não me queiras, não tem problema, eu continuo te que-

rendo.

(Eu também tenho a minha parte masoquista).

Eis o sentimento mais sincero que eu posso te dar: Meu querer!

Eu quero você, como eu quero a mim na tua carne, como eu quero ser deseja-

do por ti, como eu quero ser imensamente feliz (e você acha isso muito banal?)

6. AMIZADE, PHILIA

“O que foi feito amigo de tudo o que agente sonhou, o que foi feito da vida, o

que foi feito do amor”.

(Milton Nascimento e Fernando Brant)

AMOR DAS ESCOLHAS, DA CONQUISTA,

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AMOR SEM NENHUMA INTENÇÃO OCULTA,

AMOR MAIOR DE TODOS OS AMORES.

PARA SER FELIZ

É preciso muito amor para ser feliz.

Amor da espécie mais refinada.

Amor da maneira mais ousada.

É preciso muita dor para aprender a ser feliz.

PARA SER FELIZ É PRECISO ACEITAR A INFELICIDADE.

É necessário compreender que a dor faz parte do dia a dia; que as dificuldades

não são insolúveis, que as pessoas são diferentes e nem por isso são piores,

ou inimigas, ou falsas.

Para ser feliz é preciso aprender a ultrapassar a dor.

Para ser feliz é preciso aceitar a tristeza, o desânimo, as decepções – inclusive

consigo mesmo.

É necessário compreender que o mundo não é um mar de rosas, tam-

bém pode não ser um mar de espinhos, que nunca agradaremos a to-

dos, que sempre seremos criticados.

Não somos semideuses.

Para ser feliz é preciso entender a própria humanidade, e muito mais, perceber

o que significa ser humano e não máquina; é necessário olhar de cabeça er-

guida para os nossos próprios erros e fracassos, e acreditar que podemos nos

tornar vencedores – mesmo que tenhamos de aprender através de muitas der-

rotas.

Para ser feliz é preciso muita humildade, especialmente para discernir a dife-

rença entre sabedoria e conhecimento, para visualizar o outro como alguém

capaz de nos ensinar, capaz de nos acolher, capaz de ferir, capaz de ser nosso

amigo íntimo.

Para ser feliz é preciso aprender a ultrapassar a dor, a tristeza, a depressão, a

solidão, os conflitos – que nascem e podem ser resolvidos no amadurecimento

de cada relacionamento íntimo.

Para ser feliz é preciso desejar sê-lo.

Lutar bravamente para sê-lo.

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E, mesmo que tudo, absolutamente tudo esteja errado, acreditar que um dia

seremos felizes – se não desistirmos, se não abrirmos mão de nosso direito a

felicidade.

7. AMOR RUDE

“Uma menina me ensinou, quase tudo que eu sei, era quase escravidão, ela

me tratava como um rei.”

(Renato Russo, Bonfá, Dado, Ouro-Preto)

AMOR CHEIO DE MEDOS,

AMOR COM DEFESAS, ACUADO,

AMOR SEM CARINHO, SEM GENTILEZA.

EU

Estou cansado desse amor que não é amor.

Há quanto tempo que o espelho não me mostra a pessoa que eu queria

ver?

HÁ QUANTO TEMPO EU NÃO SOU EU?

Há quanto tempo que meu ser me consome sem me dar paz, a procura de algo

que eu não sei o que é?

Há quanto tempo que eu uso as palavras como máscaras para me esconder de

mim mesmo?

Em algum lugar do caminho eu me perdi de mim.

Me vejo a usar os passos que restam para encontrar as verdades que eu

despejei enquanto caminhava.

Em algum lugar de mim estou eu.

É proibido viver o que eu vivi (se alguém ousar viver o que eu tentei viver, por

certo enlouquecerá).

Eu me escondo atrás dos meus pensamentos, da minha erudição super-

ficial, do meu conhecimento.

Meus amigos quando falam de mim parecem falar de outra pessoa.

Os meus sonhos para alguns se tornaram uma incômoda doença.

Minhas palavras foram desconsideradas.

Eu me vi caminhando sem caminhar, chorando sem chorar, amando sem amar.

Todos querem me conhecer muito mais do que eu me conheço: Todos

querem ter soluções para os meus problemas, bem mais fáceis do que

as minhas.

Pergunto-me: Como podem me conhecer se não conhecem a si mesmos?

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Como podem resolver as minhas dificuldades se não sabem resolver as

suas?

Há quanto tempo que eu uso as palavras como máscaras para me es-

conder de mim mesmo?

Sem querer eu rio – o riso é a minha terapia.

Sem querer eu me sinto feliz – a felicidade é a minha obsessão.

Sem querer eu vivo intensamente – viver é a minha maneira saudável de

ser louco.

Sem querer enlouqueço – apaixono-me novamente pela mulher já tão exausti-

vamente amada.

8. AMOR ABNEGADO

“Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida.”

(Frejat e Cazuza)

AMAR SEM PENSAR EM MIM,

AMAR POR PENSAR EM NÓS,

AMAR POR AMAR SIMPLESMENTE.

EU, PARTE DOIS

Eu sei que não sou totalmente bom, nem plenamente justo, nem absolutamen-

te amigo.

Percebi que o conhecimento não é tudo, que o sucesso não é tudo, que

o mundo não é tudo, que nem sempre é de suma importância estar cer-

to, que eu não sou tudo.

EU ME ALIMENTO DA VIDA NUA E CRUA, SEM ALEGORIAS.

Compreendi que viver é que me faz feliz, não as minhas conquistas – e as pes-

soas continuam a me cobrar por novas vitórias.

E, eu quero apenas viver...

Entendi que eu faço parte do povo humilde, simples, da terra comum a todos –

e as pessoas continuam a julgar o meu progresso pelas minhas propriedades.

Discerni que me aperfeiçoar como ser humano é o que me realiza – e as pes-

soas continuam a exigir que eu vivesse em função do meu trabalho (como um

computador que só tem utilidade quando é capaz de acumular dados).

Eu não quero acumular dados – quero e preciso acumular amigos.

Eu não necessito acumular bens.

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Eu me alimento da vida nua e crua, sem alegorias.

Respiro o meu ser livre, despoluído.

Acredito no ser que busca a sabedoria.

Não creio no meu ser – quando quer ser o maior, o melhor, o superior.

Minha casa é meu refúgio – não a minha ostentação.

Minha mulher é minha amante – não o meu objeto.

Meus amigos são meus companheiros – não seres que eu uso em benefício

pessoal (para fugir da solidão).

Eu falava dos meus sonhos, e ninguém ouvia – não acreditava em mim.

Um dia meus sonhos se tornaram realidade.

Eu me tornei uma realidade...

Agora eu fico mudo (os incrédulos são os que falam por mim)...

9. AMOR ALTRUÍSTA

“Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você, não é me dominando assim,

que você vai me entender.”

(Renato Russo, Dado e Bonfá)

AMAR PARA TIRAR O MELHOR DO OUTRO,

AMAR PARA O BEM DO OUTRO,

AMAR SEM NUNCA PENSAR EM MIM.

NUNCA MAIS VOCÊ

O amor passa correndo em nossas vidas.

DIFICILMENTE NOS CONCEDE MUITAS CHANCES PARA VALORIZÁ-LO –

a não ser mais adiante, quando não nos é mais permitido reviver o que passou

despercebido.

Ele é imponente, em alguns momentos, inflexível, quase invencível.

Quando penetra profundo na pele, deixa marcas, cicatrizes, que o tempo as

tornará pedaços imensos de nós, e nós, mesmo assim, nunca desistimos de

amar...

Sem você, nunca mais serei eu – eu me perdi...

Nunca mais serei seduzido por teus cabelos rebeldes, nem me sentirei envolvi-

do por tua ternura.

Nunca mais a tristeza será a minha, nem as tuas vitórias serão a causa

da minha alegria.

Nunca mais amadurecerei com a tua ajuda...

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Nunca mais ficarás parada na minha frente, esperando que eu te busque, que

eu te toque.

Nem te encontrarei desprotegida para os meus carinhos.

Há mais do que a distância entre nós, há angústia, amargura, decepção pelo o

que poderíamos ter sido um ao outro e não fomos...

Sem você, nunca mais serei eu – eu me perdi...

Te perdi como se perde uma fantasia.

Fugiste do alcance do meu olhar antes que eu te tivesse aprisionado o

coração...

Nunca mais você, nem mais eu.

Nunca mais nos tocaremos distraídos no olhar, nem nos permitiremos

desfrutar do íntimo ser que o outro guarda na sua tez.

Nunca mais haverá um por do sol igual ao nosso, nem uma gaivota co-

mo a que admiramos.

Sem você, nunca mais serei eu – eu me perdi...

10. AMOR ANSIOSO

“Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas te-

nho muito tempo, temos todo o tempo do mundo”.

(Renato Russo)

AMOR DESESPERADO, QUE ANULA O PRESENTE,

AMOR DAS ESPERAS QUE NÃO ACABAM NUNCA,

AMOR QUE NUNCA SE REALIZA.

A DOCE SENSAÇÃO DE SER FELIZ

O pôr-do-sol extravasa pelas entranhas a sublime sensação de ser pleno em

viver...

Deixar-se traspassar pelo sol quando este se despede é absorver a suavidade

do acalanto do ato de fecundação;

É embebecer-se da quietude plena do silêncio das palavras;

É orgulhar-se de ter um coração que sente, que arde, que se fere, que

dói no peito, que é feito raio de sol, intenso e colorido,

É feito arco-íris – belo e saudoso.

Permitir-se envolver pela plenitude da beleza da vida,

Presente na fragilidade de um instante de ternura.

Afeiçoar-se pela transparência do que é real, do que realmente é (e que

precisa realizar-se),

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Tornar-se fecundo no próprio ato de nascer.

Não se perde o que se permite habitar em nossas entranhas.

O que é superficial o tempo leva, desfaz, destrói.

Não se acha o que na verdade não se tem,

Nem se descobre o que na realidade não existe.

Ser pleno na vida é ver isso...

É ver o pôr-do-sol de madrugada,

O luar em dia de sol.

É não precisar sonhar para viver

- e tornar assim o sonho tão imprescindível.

O que é superficial o tempo leva, desfaz, destrói.

Doce pássaro da manhã...

Que canta quando está triste,

E faz silêncio quando regozija.

Doce lírio do coração humano, que não permite ao vento lhe derrotar, nem as

pragas lhe consumir.

Doce vida presente no segundo fantástico do ato de viver, que germina na veia

uma mania de ser eterno.

11. AMOR AO MUNDO

“De tarde quero descansar, chegar até a praia, ver se o vento ainda está forte,

e vai ser bom subir nas pedras.”

(Renato Russo, Bonfá e Dado)

AMOR POR TUDO O QUE VEMOS,

AMOR AS SENSAÇÕES DO OLHAR,

AMAR O QUE VEMOS, O QUE SENTIMOS NA PELE.

NÃO HÁ MOTIVOS PARA NÃO SORRIR

Existe um sorriso.

Um único sorriso que quando dado com sinceridade é capaz de abrir as portas

do mais protegido coração!

...Existem guerras. Existe fome. Existe miséria. Existe traição. Existe fal-

sidade. Existe decepção. Mas, também, existem amigos. Existem so-

nhos. Existe a vida. Existe o amor. Existe a alegria!

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SE CHORAMOS É PORQUE EXISTE UM MOTIVO.

Se, às vezes, nos desesperamos, é porque existe razão para o desespe-

ro.

Não queremos pensar que vivemos em um mundo que não existe.

Nem queremos imaginar que somos felizes, se não formos.

As razões para sorrirmos são mais fortes do que para chorarmos.

Isto não quer dizer que não possuímos razões fortes para sorrir, nem que es-

tamos entregue ao mais absoluto abandono, a mais inexpugnável prisão do

sofrimento.

Não! Eu posso estar triste – mas nunca me deixarei ser triste.

Não! Eu posso estar infeliz – mas nunca me permitirei vencer definitiva-

mente pela infelicidade crônica.

A maior prova de que existe amor é porque estamos vivos:

Sem amor não há vida!

As razões para sorrirmos são mais fortes do que para chorarmos.

Existe felicidade!

Não estamos condenados a morrer sem esperança.

Existe amor!

Não estamos condenados a morrer abandonados, flagelados pela dor.

Existe humanidade!

Não estamos condenados a sermos tragados pela máquina, pela rotina,

pelo consumismo selvagem.

Nós, pelo menos, ainda temos a nós mesmos.

Nós temos um coração

- para sentir, amar, emocionar-se, apaixonar-se, enamorar-se pela vida.

Nós temos uma razão

- para pensar, refletir, meditar e concluir que definitivamente não há motivos

para não sorrir!

12. AMOR AOS ESTRANHOS, XÉNOS

“Cidade de amor e ventura, que tem mais doçura, que uma ilusão.”

(Noel Rosa)

AMOR POR TODOS NÓS AO MESMO TEMPO,

AMOR PELO DESCONHECIDO,

AMAR O QUE NUNCA PODERÁ SER COMPREENDIDO.

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VÍCIO DE TE QUERER,

Depoimentos...

Enveneno-me em ti, mulher, às vezes amarga, mas sempre reanimadora...

Viciei-me em ti.

Meu corpo tornou-se dependente da tua carne.

O prazer tornou-se veneno na minha carne fresca, quase virgem, desa-

costumada dos hormônios da vida.

O AMOR É UM VENENO QUE PENETRA PELO CORPO INTEIRO.

Delicadamente, ele rompe a barreira da pele.

Contagia a veia.

Enfraquece a força da tristeza.

Torna-se enorme, surpreendente.

Toma conta de todos os espaços vazios.

Vira vício!

Explode com as incertezas, com o status, com a pose, com a posse.

O amor fortifica-se como uma raiz, que lentamente, através de carinho.

Vai arraigando-se na terra até transformar-se em gente, em mania, em

virtude.

Vício de te querer, pensamentos...

Minhas manias são pontos no teu corpo.

Sou maníaco por depositar em ti o meu querer.

Tenho necessidade de ti, de te receber impunemente, como cúmplice das mi-

nhas fantasias, como cobaia das minhas teorias de querer vivenciar o ato de

amar como uma ilimitada extensão do ato de viver, do ato de querer.

Necessito amanhecer em ti todos os dias da minha vida.

- És cúmplice das minhas tolices, e eu da tua sabedoria!

Tenho vício de te querer, de revelar para ti mesma a menina-mulher que és.

Tenho mania de provar do teu ser impetuoso, da tua ingênua sagacida-

de, de experimentar as larvas da tua alma, da nascente inebriante do teu

espírito.

Sou o cobaia do teu amanhã:

Sacrifico a minha vida para viver a tua!

Necessito amanhecer em ti todos os dias da minha vida.

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- És mulher.

Eu ainda tenho casulos.

Estou em processo da aprendizagem.

Preciso me envolver pelos teus sonhos,

Me proteger nas tuas asas,

Me encontrar nos teus desencontros.

- Desencontro-me comigo mesmo cada vez que penso que me encontrei!

Tenho saudade do cheiro da tua pele,

Do gosto de mar do teu corpo,

Da tua garra felina – de quem assume ser mulher.

Tenho sede da menina que te transformas no meu braço,

Do teu cabelo molhado de suor do cansaço de tanto amar.

- Estou cansado.

Possuo um cansaço que reanima.

Cansar-se faz parte do meu vôo solo.

Vôo que eu faço unicamente com as tuas asas!

13. AMOR APRENDIZ

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz, amar, e amar, e amar, a beleza de ser

um eterno aprendiz.”

(Gonzaguinha)

AMOR MADURO QUE SE TRANSFORMA NA CONVIVÊNCIA,

AMOR QUE APRENDE DO OUTRO,

AMOR QUE SE DESCONSTRÓI.

TORNEI VOCÊ MULHER (EM MIM)

Os desejos da carne são cruéis

- são correntes que conduzem a juventude a uma rua sem saída.

UM HOMEM É MUITO POUCO.

‘Um homem torna-se homem, não nasce homem’.

Materializa-se na carne de uma mulher

- no seu ser íntimo, nas suas dimensões espirituais, na sua atitude de

ser humano.

Um homem torna-se homem

- quando se dá ao direito de contribuir para que uma mulher se torne,

sem receio, cada dia mais mulher.

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Um homem é muito pouco.

Você se tornou mulher nos meus braços.

Aflorou a sede do seu espírito para a sua carne, através da minha carne.

Bebeu, embriagou-se de mim.

Provou dos meus medos

- das minhas inseguranças.

Inebriou o meu ser dos desejos

- loucos, insensatos, proibidos.

Tornei você real: Você não existia antes de mim. Caminhava entre sorrisos,

amigos, com encontrar-se com o seu corpo. Você ainda adormecia quando te

toquei na carne – quando te despertei do teu mundo preto e branco.

- Te desvirginei das tuas fantasias descoloridas.

Te desvirginei dos teus fantasmas – aqueles que te acordavam a noite e

não mostravam a sua face.

Te desvirginei do teu medo de sonhar, de soltar a tua imaginação temendo en-

louquecer, temendo as dores de ser feliz.

Te desvirginei e tu te descobriste virgem para o amanhã, para o medíocre, para

o que acorrenta, o que não deixa desabrochar...

Você me tornou homem.

Eu nasci homem quando tornei você mulher.

14. AMOR AUTOCONFIANTE

“Solidão é lava que cobre tudo, amargura em minha boca.”

(Paulinho da Viola)

AMAR COM A CERTEZA DE QUE SERÁ AMADO,

AMAR SEM PROCURAR AS SOBRAS,

AMAR QUE ACEITA NÃO SER AMADO.

PEDAÇOS DE MIM, PEDAÇOS DE NÓS

Rejuvenescer a cada manhã é preciso:

- Para não nos entregarmos ao desespero, para acreditarmos que a

tempestade passará, para desafiar a dor com o nosso melhor sorriso,

para olhar para as estrelas e nunca esquecer que sempre haverá luz na

escuridão, para se gastar em prol das saudáveis fantasias (lembrando

que é somente na realidade que os sonhos se realizam).

É somente na realidade que os sonhos se realizam!

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Em cada amor encontrado na vida, depositamos um pedaço de nosso ser, e ao

juntarmos esses fragmentos é que crescemos, é que desabrochamos para a

vida.

Cada ato de amor é ato de fecundação, de comunhão, de doação.

Nossos pedaços são sementes, são embriões que nos fazem nascer junto a

cada poço de paixão, onde vamos buscar a nós mesmos quando nos perde-

mos de nossa própria vida.

Nossos pedaços ficam impregnados em cada esquina, em cada banco de co-

légio, em cada ruga no nosso rosto.

Somos milhões, divididos em milhões de pedaços, e cada vez que nos

conhecemos menos sabemos quem nós somos.

Nos dividimos para nos reencontrar, para nos traduzir para nós mesmos, e pa-

ra nos proteger das tempestades em alto mar.

Nossos corações estão repletos de pedaços de nossos amigos, de nossas pai-

xões (e até mesmo de nossos amores platônicos), que passam sem tocar a

nossa pele, mas tocam o nosso ser, nossa alma carente.

Nossos corações estão repletos de cicatrizes, que se tornam solo fértil,

onde nascem as flores que nos ensinam que a vida é bela, se nós for-

mos belos.

Há um pedaço de cada ser humano em todos nós.

Somos da mesma espécie, somos gente, somos irmãos.

Precisamos do outro para amar e para sorrir, para desenvolver nosso espírito

inquieto.

Há um pedaço de mar na nossa boca, onde as gaivotas vão buscar ali-

mento, onde o ser amado se abriga de sua sede, de nossas palavras.

Pedaços de nós ficaram desprezados no passado, estão nos esperando no

futuro, e nos dão vida no presente.

15. AMOR BANAL

“Se ela me deixou, a dor é minha só, não é de mais ninguém.”

(Marisa Monte e Arnaldo Antunes)

AMOR SEM GRANDES AVENTURAS,

AMOR DA SOLIDÃO E DO SILÊNCIO,

AMAR DO QUERER ESTAR JUNTOS SOMENTE.

PRÓLOGO DE MIM

- de quem eu queria ter sido (e nunca fui)

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A vida é um pedaço de mim.

O mundo tem um pedaço de mim.

O ser amado tem o melhor pedaço de mim.

SER JOVEM É COMO GUARDAR UM TESOURO.

Cada pedaço que brota do fundo d’alma:

Mesmo que seja a ilusão – ele será de proveito para nos alertar a outros

desenganos;

Mesmo que seja um amor platônico – dele ficará o carinho de um olhar

furtivamente capturado que diminuirá a nossa dureza.

Pedaços da minha juventude ficarão sempre depositados em cada fantasia, em

cada gargalhada escrachada!

Há pedaços de mim que eu mesmo não conheço, outros que eu conhe-

ço até demais.

Eu sou um pedaço de cada livro que eu li, de cada mulher que eu amei, de ca-

da boca que eu beijei, de cada amigo com quem eu compartilhei a minha vida.

Eu sou um pedaço dos sonhos do ser amado – às vezes um pedaço de

suas decepções.

Trago em mim pedaços da criança que eu fui, do amante que eu desejo ser, do

homem que eu me esforço, que eu me empenho para que amadureça em mim.

Há pedaços de mim que causam dor, outros que causam prazer.

Há pedaços que causam afeição, outros que causam ódio; uns que pro-

vocam fascínio, outros que provocam desenganos.

Há pedaços de mim que eu mesmo não conheço, outros que eu conhe-

ço até demais.

Não podemos fugir dos nossos pedaços, nem nos esquecermos inusitadamen-

te em alguma lata de lixo; eles nos perseguem, nos atormentam, nos lembram

o quanto somos fracos, o quanto somos carentes, o quanto somos tolos, o

quanto somos frágeis humanos.

Amamos todos os nossos pedaços, todos os amores que passaram (mesmo os

que não nos amaram).

Amamos nossas emoções, nossos sonhos; são pedaços de nós queren-

do se materializar, querendo transbordar, desejando se tornar uma só

carne com outros pedaços que não nos pertencem, que estão deposita-

dos em outros corações, em outros corpos, em outros olhos.

Há pedaços de mim que causam dor, outros que causam prazer.

Ah! Maravilhosos pedaços de mim, inusitados amores que fazem parte de mim.

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Eu nunca me conheceria por inteiro se não conhecesse os pedaços mais

amados de mim.

Unir os pedaços de mim me faz descobrir o quebra-cabeça de quem eu sou por

inteiro!

16. AMOR BASEADO EM PRINCÍPIOS, ÁGAPE

“Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho, quando tudo está per-

dido, sempre existe uma luz.”

(Renato Russo)

AMAR COM RAZÃO E COM EMOÇÃO,

AMAR COM AS VERDADES,

AMAR COMO UMA ESCOLHA.

PRECISO SER LOUCO

Ser jovem é enlouquecer por querer mudar o mundo inteiro em um único dia!

Se loucura é desejar tua companhia nas vitórias e nas derrotas.

Se loucura é te querer sempre ao meu lado, é sentir saudades a todo momento

que estou longe de ti...

Se loucura é desejar tua companhia nas vitórias e nas derrotas; é te achar linda

de qualquer maneira...

Se loucura é fazer tudo pensando em te agradar; é gostar de me emaranhar

nos teus cabelos...

Se loucura é esquecer-se do mundo quando estou contigo; ou se é chorar de

alegria intimamente quando me chamas com carinho...

Se loucura é adoecer quando não estou contigo; quando a espera da tua che-

gada paralisa todo o meu ser...

Se loucura é esquecer-se de mim, e tornar meus os teus desejos mais loucos e

íntimos...

Então, revelem ao mundo que eu enlouqueci!

17. AMOR BENIGNO, KHRESTÓTES

“Perto de você me calo, tudo penso e nada falo, tenho medo de chorar.”

(Noel Rosa)

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AMOR COM BONDADE, COM TODO O DOCE DA VIDA,

AMOR COM PERSEVERANÇA,

AMOR QUE ESPERA PELO MELHOR DO OUTRO.

FAÇO CÁLCULO COM O CORAÇÃO

As emoções são os meus maiores lucros.

Para que o espírito não envelheça, nem a luz da manhã escureça, não é

preciso tornar fresca a carne, basta não endurecer o coração!

O sentimento, qualquer que seja ele, é o que eu busco em cada relacionamen-

to humano.

Do sorriso, não quero apenas a alegria, quero também o sarcasmo, a ironia, i

cinismo.

Da alegria, não quero somente a euforia, busco incessantemente a lá-

grima, a fantasia de ser feliz.

Do coração, não aceito unicamente a satisfação, enriqueço-me com as

dores da angústia, com o seu vazio inexplicável, com seus sonhos im-

possíveis.

Para que o espírito não envelheça, nem a luz da manhã escureça, não é

preciso tornar fresca a carne, basta não endurecer o coração!

Para mim, não basta olhar nem decifrar o mundo, anseio senti-lo, percebê-lo

em mim como um único ato de amor cúmplice, de amor compartilhado.

Na minha vida não há perdas nem ganhos, nem fracassos nem vitórias,

há apenas um pulsar, uma doce lição.

Para que o espírito não envelheça, nem a luz da manhã escureça, não é

preciso tornar fresca a carne, basta não endurecer o coração!

Não raciocino com números, faço cálculos com emoções.

Meu lucro é ser amado, é ser acariciado sem limites de tempo, de espa-

ço, de pedaços.

Não raciocínio com a mente.

Com a mente, eu sonho, fantasio, crio realidades, futuros possíveis, ce-

nários.

Eu raciocino melhor com o coração!

18. AMOR BONDOSO

“Se não mandei você embora, enfim foi porque me faltou a coragem.”

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(Ismael Silva e Noel Rosa)

AMAR SEM EXIGÊNCIAS, NEM CONDIÇÕES,

AMOR SEM COBRANÇAS,

AMOR COM ACEITAÇÃO.

FAÇO CÁLCULOS COM AS EMOÇÕES

Na minha juventude eu quis conquistar o mundo, e me esqueci de conquistar a

mim mesmo.

Eu quis amar um amor eterno, e perdi as oportunidades de aprender a amar os

amores banais – que com o tempo pode transformar o comum em quase eter-

nidade.

Quis conquistar outras terras, e não pude manter a que já me pertencia.

Tive muito medo de crescer, e perdi o prazer de ver a semente se tornar

fruto.

Eu quis conquistar o mundo, e me esqueci de conquistar a mim mesmo.

Busco a emoção que se encontra escondida atrás das trincheiras erguidas pe-

las cicatrizes, pelas decepções, pelas dores das traições.

Estudo estratégias para possuir um olhar para mim.

Estabeleço táticas para acorrentar algum coração partido.

Estudo as poses, os gestos, os modos de quem ama, de quem quer

amar, de quem quer se dá para mim.

Não me importa o que dizem os números.

Quero saber o que dizem as afeições!

Cultivo em mim um olhar singelo para cativar os olhares que passam por mim

sedentos de emoção.

Cultivo em minha pele um calor ardente, daquele que acaba com o mais

intenso frio da solidão.

Não quero ver corações abandonados, nem sorrisos apagados.

Não quero ver homens milionários.

Quero ver seres humanos felizes!

Eu quis conquistar o mundo, e me esqueci de conquistar a mim mesmo.

Sedentos de emoções estão os meus lábios e o meu espírito.

Emoções que só cabe aos fortes abrigar.

Emoções cheias de fervor, de asas de fogo, que queimam, que incen-

deiam (sem deixar marcas).

Deixam sede, e fome de viver.

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Sedento de emoção está o meu corpo – que não quer ser meu, quer ser truci-

dado por um corpo de mulher (especialmente aquela minha que tem alma de

menina).

Não uso máquinas para fazer cálculos.

Uso o coração, a minha alma aventureira, o meu espírito inquieto, o meu

corpo guerreiro – que nunca desiste mesmo diante da dor.

Eu quis conquistar o mundo, e me esqueci de conquistar a mim mesmo.

Faço cálculos com o meu maldito coração, sem usar a razão (na verdade, em

mim, a razão é loucura).

Sou louco porque quero ser feliz, quero um amor talvez eterno, quero

amigos eternos e verdadeiros.

Não preciso raciocinar, preciso amar com o coração!

19. AMOR CAFEÍNADO

“Quando vem rompendo o dia, eu me levanto começo logo a cantar.”

(Babú da Portela e Jamelão)

AMOR QUE PRECISA DE ESTÍMULOS,

AMAR COM INTENSIDADE, QUASE PAIXÃO,

AMAR DESARRAZOADAMENTE.

INTENÇÕES

Fazem parte das intenções de um jovem:

Um amor sincero e eterno, mudar o mundo (se não for possível, pelo

menos os seu particular), provar para os incrédulos que a fantasia é

possível!

Quando jovem eu amei todas as mulheres desejáveis do mundo.

Nos meus delírios, eu as fiz se sentirem amadas, desejadas, satisfeitas.

Cavalgava em um cavalo alado como o último Príncipe Encantado da face da

terra.

Provar para os incrédulos que a fantasia é possível!

Procuro em tudo o que escrevo chegar a me conhecer melhor.

Chegar a compreender (ou pelo menos aceitar um pouco mais) os in-

compreensíveis fatos, chegar à eternidade.

Procuro em todas as minhas palavras, alçar um vôo em busca da liberdade.

Alcançar um lugar tranquilo.

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Voar para além do horizonte para ter forças para enfrentar a realidade.

Procuro descobrir novas formas de dizer coisas comuns.

Procuro encontrar a paz!

E dentro do meu coração redescobrir as palavras esquecidas.

Reencontrar os sentimentos perdidos.

Procuro em tudo o que eu escrevo, ser o mais sincero possível.

Falar das emoções que emergem do fundo do coração.

Procuro eternizar o momento de prazer, e tornar inesquecível o pequeno ato

que passa despercebido.

Procuro em tudo o que escrevo tocar bem fundo nas pessoas, profundamente

nos seus corações.

Fazendo os lembrar de que ainda precisamos acreditar e lutar sempre

(até que chegue a vitória).

Provar para os incrédulos que a fantasia é possível!

Procuro plantar uma semente em um coração aberto.

Fazer alguém chorar de emoção.

Fazer as pessoas perceberem que precisamos plantar para colher, que

não é com brigas que se constrói a paz.

Procuro nunca perder a esperança.

Nunca deixar de sorrir, nunca se esquecer de sentir saudades.

Eu procuro em tudo o que escrevo, simplesmente, ser gente!

A maior vontade de um jovem é possuir asas como as de um pássaro.

Para poder voar acima dos lugares comuns.

Para poder sonhar que algum dia todos terão asas e ascenderão quais águias

sábias e generosas.

20. AMOR CIUMENTO

“Quem um dia irá dizer, que existe razão, nas coisas feitas pelo coração, e

quem irá dizer, que não existe razão?”

(Renato Russo)

AMOR QUE ANSEIA TUDO PARA SI,

AMOR SEM LIBERDADE, QUASE PRISÃO,

AMOR CHEIO DE NORMAS, DE CICATRIZES,

AMOR QUE ABRE FERIDAS PROFUNDAS.

QUE NUNCA PASSEM OS DESEJOS,

AS VIVÊNCIAS E AS INTENSÕES!

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Procurar pela vida é o único meio de encontra-la!

Onde está o amigo da infância perdida?

Onde está o colo rejeitado que nos deixava seguro?

Onde está o ser humano tão belo que seria capaz de mudar o mundo?

Onde está aquela nave estrelar que nos levaria a um lugar onde não existi-

ria o fracasso, o erro, a dívida?

Onde está a paz que me disseram que quando eu crescesse eu a alcança-

ria?

Procurar pela vida é o único meio de encontra-la!

Que nunca passem os depoimentos de viver!

Procuro amar a mulher desejada para lhe dar o sossego de se sentir segura de

que é realmente amada (então por que a mulher loucamente amada está sem-

pre inquieta e insegura?)

Procuro escutar o amigo como um criado mudo, um servo cuja única utilidade é

ser ouvinte de desabafos juvenis (então por que o amigo está sempre solitá-

rio?)

Procuro tranquilizar o coração dos meus pais, mostrar-lhes que sempre deram

de si o melhor (então por que todo o fracasso meu, eles guardam a culpa para

si?)

21. AMOR CLANDESTINO

“Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu.”

(Renato Russo)

AMOR QUASE ROUBADO,

AMOR DESCABIDO, QUE VIOLA A RAZÃO,

AMOR DESVALIDO, QUE VIOLA AS LEIS,

AMOR SEM SENTIDO.

FELICIDADE

Felicidade de não sei o quê!

Pouca coisa é necessária para a felicidade.

Basta conservar viva a criança que sempre seremos!

Faça da sua vida um lugar tranquilo para morar.

Aceite a dor e o sofrimento como uma valiosa lição.

Abra os braços (e abrace até mesmo seus inimigos).

Dê seu sorriso para quem já não sabe sorrir.

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Dê sua lágrima para quem tem vergonha de chorar.

Caminhe com confiança no futuro.

Enfrente todos os problemas (nunca se deixando abater).

Auxilie quem está no chão.

Ensine a viver e amar a vida aquele que já se esqueceu de viver.

Mostre seu entusiasmo para todos os desesperados.

Quando vir alguém chorando, não enxugue as lágrimas com um lenço (elas

poderão voltar).

Enxugue as lágrimas com algumas palavras de carinho – só assim elas pode-

rão se tornar alegria.

Perdoe a pior das ofensas, e procure (em momento algum) ofender alguém.

Seja humilde em todos os seus atos.

Saiba também pedir perdão – o perdão é uma forma de amor e a humildade só

pertence a quem é gente!

Seja como uma árvore que dá sombra aos que estão cansados, que dá frutos

aos famintos e que nunca cobra nada!

Seja como um pássaro que, mesmo depois de morto, as pessoas ainda lem-

brarão o seu canto.

Triste ou alegre – seja você mesmo!

Tenha muita fé – uma fé que aceite a dor e a alegria.

Procure dar sempre carinho.

Seja um amigo verdadeiro para que todos possam gostar de ficar ao seu lado.

Seja um amigo que aceita o erro dos outros, que procura sempre compreender

as pessoas, que procura sempre agir com carinho e afeição.

Acima de tudo, seja um ser humano.

Não se deixe envolver pela rotina.

Não se torne uma máquina.

Acredite no amor, que ele se tornará verdadeiro.

Lute pela sua paz interior – que ela será real no seu coração.

Fale sempre com sinceridade.

Deixe que todos vejam o brilho dos seus olhos (mesmo que eles estejam chei-

os de lágrimas).

Faça da sua vida um Paraíso.

Faça amigos das pessoas que vivem ao seu redor.

Faça do seu coração um lugar de abrigo.

Faça de você mesmo: Gente!

Procure fazer da sua vida um mundo de esperança – somente assim poderá

dizer: Eu sou feliz!

22. AMOR COBAIA

“Queremos saber, o que vão fazer, com as novas invenções, queremos notí-

cias mais séria.”

(Gilberto Gil)

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AMOR QUE APRENDE JUNTO, QUASE JUVENIL,

AMOR SEM EXPERIÊNCIAS NEM VERDADES,

AMOR QUE SE AVENTURA, QUE EXPERIMENTA,

QUE DESCOBRE NOVAS FORMAS DE AMAR.

FELICIDADE, PARTE DOIS

A juventude é um vôo breve, rápido e fugaz.

Para manter este vôo é preciso amadurecer, sem perder a fantasia.

É preciso crescer sem abandonar nossas brincadeiras favoritas.

Tornar-se um adulto que não tem medo de sorrir com receio de ser ridículo.

Para permanecer neste vôo, necessita-se manter a curiosidade por aprender

coisas novas (sem abandonar as antigas – que valeram a pena ser vividas).

A felicidade é um lugar (ou uma situação) de alforria.

Para ser feliz é preciso se livrar de nossos traumas maiores, dos rancores que

ocupam o lugar da afeição, da decepção que causou tanta mágoa – já amare-

lou (e nem percebemos isso).

Para ser feliz é imperativo se livrar de preconceitos, que nos mantém presos a

um mundo de correntes.

Somente a liberdade é o alicerce sólido para uma felicidade madura.

Olhe para os outros.

Veja que são apenas seres humanos, imperfeitos, crianças eternas – então,

terá a possibilidade de começar a ser feliz.

Havia um ser humano que a procura de si mesmo viajou o mundo inteiro. De-

pois resolveu acumular muito bens. Em outra tentativa, tentou isolar-se do

mundo. Concluiu que era impossível ser feliz. Desistiu, então, de suas buscas.

Um dia resolveu olhar para os outros, e viu dentro de si mesmo o quanto isso o

tornara feliz!

23. AMOR COM GRAÇA, KHÁRIS

“Quem sabe eu ‘inda sou uma garotinha, esperando o ônibus da escola, sozi-

nha.”

(Cazuza e Frejat)

AMOR ADOCICADO, CHEIO DE DELICADEZA,

AMOR DAS PALAVRAS ESCOLHIDAS,

AMOR QUE NÃO CHOCA NEM VIOLENTA.

COISAS DO CORAÇÃO

- Vivências do coração.

O coração humano é cheio de peripécias.

Quando queremos que ele endureça, torna-se sensível demais.

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Quando lhe pedimos para que ame, se fecha todo dentro de si mesmo – como

uma ostra.

Foge das oportunidades de amar (para depois reclamar da solidão).

Esconde lá no fundo de si mesmo, as suas belezas profundamente humanas.

É preciso acreditar nas pérolas escondidas, para escancarar o coração.

Depoimentos do coração:

- Possuo um coração vadio, instável, livre (que não consegue conviver com

correntes e amaras).

- Possuo um coração criança (que se alegra com o mais breve gesto de afei-

ção).

Quanto tempo eu sonhei com outro coração que convencesse o meu tímido, a

mostrar as suas pérolas ocultas.

Por favor, tragam-me um coração amigo para fazer o meu brilhar!

Meu coração sou eu...

24. AMOR COM PUDOR

“Trocando em miúdos, pode guardar as sobras de tudo que chamam lar, as

sombras de tudo que somos nós, as marcas de amor nos nossos lençóis, as

nossas melhores lembranças.”

(Chico Buarque e Francis Hime)

AMOR COM TIMIDEZ,

QUE SE LIMITA, QUASE DESAMOR,

AMOR COM TRAUMAS,

QUE NÃO ARRISCA, NEM SE DESCOBRE.

COISAS DAS CICATRIZES

Um coração jovem é aquele que nunca desiste de lutar!

De repente, surge o sol na manhã escura.

Surgem as pessoas para apertar a mão.

Amigos com palavras sinceras, com um sorriso aberto.

DE REPENTE, OS OLHARES SE CRUZAM.

O coração bate mais forte.

Surge a emoção que fica guardada, velada com lucidez.

De repente, o silêncio se materializa em palavras.

O olhar brilha com mais intensidade.

As mãos dadas se tornam um vínculo de união, um laço invisível.

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De repente, o coração começa a transbordar de paz.

A transmitir afeição em seus imperceptíveis atos.

A plantar uma semente nascida da esperança.

E o coração sente:

- sente as ilusões que marcam nossas vidas,

- sente a saudade de alguém querido.

São coisas do coração.

Quando ama constrói e fala sinceramente das maldades passadas, dos mo-

mentos partilhados, da felicidade (quase) conquistada, dos amigos esquecidos.

São coisas do coração.

Com cicatrizes do que passou.

Querendo sempre acreditar:

- sempre amar (mesmo diante do perigo iminente da ilusão).

- sempre perdoar (mesmo diante do mais insensato rancor).

Querendo sempre viver a dois:

- andando de mãos dadas no caminho.

- sentindo as mesmas emoções.

- sonhando os mesmos sonhos.

São coisas do coração.

Querendo emprestar um pouco da sua esperança para os outros,

- doar um pouco dos brilhos nos olhos,

- compartilhar até as pequenas lágrimas de tristeza.

Coisas de um maldito coração.

Falando sempre das mágoas,

- admirando a suavidade do pôr-do-sol,

- sentindo o calor de uma amizade,

- emprestando a felicidade em forma de paz,

- doando o sorriso como certeza de fraternidade,

- aquecendo com palavras de encorajamento (quando há desespero),

- transbordando verdades (quando tudo parece mentira).

São coisas de um distraído coração.

Que faz com que nos sintamos amados,

- com que nós sejamos amigos,

- com que a mão seja feita para ofertar.

São coisas de todos os corações, das pessoas que se tornaram gente, que

sempre acreditam na força de amar, e num novo amanhecer!

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Para que o coração permaneça jovem é necessária certa descrença pelas tra-

dições inúteis, certo ar de inquilino da verdade (sabendo-se apenas possuidor

de suas próprias incertezas).

Para permanecer jovem precisa-se ser possuidor de um otimismo com um to-

que sutil de ingenuidade, ser um vendedor da ideia que prova que um dia tudo

vai melhorar.

Para ter o dom de permanecer jovem basta não ter vergonha de errar pela re-

compensa sadia do aprendizado, basta compreender que o mundo muda (e

quem não acompanha as mudanças é quem verdadeiramente envelhece).

25. AMOR COMPLICADO

“Não se afobe, não, que nada é pra já, o amor não tem pressa, ele pode espe-

rar, em silêncio.”

(Chico Buarque)

AMOR SEM DIREÇÃO, COM MANUAL,

AMOR COM PEDIGREE, COM MEIAS VERDADES,

AMOR CHEIO DE CONDIÇÕES.

FATOS DA JUVENTUDE FERIDA

Só com muita luta se consegue alguma vitória na vida.

É através de um esforço constante,

- de uma busca incessante,

- que se alcançam as grandes vitórias.

Somente com sinceridade se conquista amigos,

- é através de um dar e receber contínuo,

- de uma companhia em momentos de indecisão,

- de um apoio em horas de incertezas,

- que se conhece umverdadeiro amigo.

Somente com profundas realizações,

- com lealdade aos ideiais,

- que se dá sentido à vida.

É através da magia de encontros e desencontros,

- de verdades e ilusões sinceras,

- de realidades e de sonhos,

- de vôos e quedas,

- que se aprende a ter vontade de viver.

É através de um conhecimento mais intenso de nós mesmos,

- de uma descoberta de quem eu sou,

- dos meus valores, das minhas falhas, das minhas qualidades,

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- que consigo fazer brotar o ser humano singular que mora em mim.

Somente com amor,

- é que se alcança a felicidade genuína.

É preciso permanecer jovem para que a vida se renove, para manter as portas

das oportunidades abertas, para que não se antecipe a solidão crônica (dos

últimos dias de nossa vida).

É preciso conservar nossa juventude para permitir a felicidade amadurecer,

para que nossos braços nunca se cruzem diante das injustiças, para que a es-

perança construa um castelo inexpugnável no nosso íntimo.

26. AMOR COMPROMETIDO

“O que será que me dá, que me bole por dentro, será que me dá, que brota à

flor da pele, será que me dá, e que me sobe às faces e me faz corar.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE SE DÁ COMPLETAMENTE,

AMOR QUE AMA COM TODA A VIDA,

ONDE NÃO HÁ CONTRADIÇÕES.

FATOS ESSENCIAIS

Enchemos a vida de fatos inúteis.

Perdemos muito tempo com sentimentos destrutivos.

Esquecemos-nos de ver as coisas mais importantes.

- Não percebemos o sorriso sincero.

- Não valorizamos o desabafo do amigo (que precisa apenas de nosso silên-

cio).

- Não temos mais tempo para viver!

Poluímos os sentimentos no nosso íntimo!

Errei quando não escutei as palavras endereçadas diretamente a mim!

Errei quando pensei que a coisa mais importante do mundo era a minha própria

realização.

Errei quando quiz ser melhor do que os outros,

- quando me neguei a perdoar,

- quando não fui capaz de descartar as mágoas como emoções inúteis (que

verdadeiramente são).

Não compreendi que me bastava ser melhor do que eu sou.

Não percebi que guardar mágoas, rancor, ressentimento só adoecia a minha

alma.

Quanto tempo eu perdi com sentimentos inúteis!

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Os fatos mais importantes na vida são aqueles quem fazem bem ao nosso co-

ração!

27. AMOR CRÉDULO

“Ah, se já perdemos a noção da hora, se juntos já jogamos tudo fora, me conta

agora como hei de partir.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE ACREDITA QUANDO NÃO HÁ MOTIVOS,

AMOR QUE VÊ O QUE NÃO EXISTE,

AMOR DAS CRENDICES DE AMAR.

FUGIR DE MIM,

Fugir de tudo.

Permanecer jovem é acreditar que a fuga pode ser uma solução,

- que a vida também é feita de atalhos,

- que o mundo precisa de nós para revolucioná-lo.

Permanecer jovem é acreditar que nunca envelheceremos no espírito,

- que aquele primeiro amor da infância continuará eterno como sensação, que

nunca morrerá!

Permanecer jovem é fugir de si mesmo e uma maneira criativa de recriar a vi-

da!

28. AMOR DE UM CORAÇÃO VADIO

“Se entornaste a nossa sorte pelo chão, se na bagunça do teu coração, meu

sangue errou de veia e se perdeu.”

(Chico Buarque)

CORAÇÃO LIVRE QUE SE MISTURA COM OUTROS CORAÇÕES,

AMOR DE UM CORAÇÃO ESCANCARADO,

QUE DEIXA A PORTA PERMANENTEMENTE ABERTA.

CRÔNICAS DAS FUGAS DE MIM

Depoimentos das pequenas e singelas fugas de mim

Há momentos em que fugir é a única saída.

- Fugir de ter que pedir desculpas sempre.

- Fugir de ter que acertar sempre.

- Fugir de ter que ser sempre eu.

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A fuga também pode ser um caminho.

- A fuga pode ser uma to de coragem,

- Fugir do confronto.

Jogar tudo para o alto pode se tornar um elo na conquista da alforria

- principalmente quando esfarrapados perdemos a força do guerreiro que sem-

pre fomos.

Pensamentos das fugas de si mesmo.

Fujo para não enlouquecer.

Fujo para não ser sufocado por tantas cobranças e protestos.

Fujo para não ter que encarar os monstros, quando não possuo o poder de

dominá-los.

Fujo para esquecer-se da minha mania de perfeição.

O medo de amar me leva a fugir (a menos que eu esteja acorrentado).

Fujo de ti, porque não consigo fugir de mim!

29. AMOR DESESPERADO

“Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, exijo respeito, não sou mais

um sonhador.”

(Chico Buarque)

UM AMAR QUE NÃO ACREDITA QUE RECEBERÁ AMOR,

UM AMAR DAS DESCRENÇAS,

UM AMAR PRESO COMPLETAMENTE AO QUE NUNCA SERÁ.

SONHO AUDAZ

A vida é simples:

- como os gestos de carinho,

- como o luar das noites frias,

- como o vôo de um pássaro e a sua frágil liberdade.

A vida é pura:

- como o sorriso de uma criança,

- como o primeiro amor da juventude,

- como a água que brota da nascente.

A VIDA É COMO A LIBERDADE:

- cheia de luta para conquistá-la,

- necessita de coragem para não desistir diante das derrotas,

- ncessita de sabedoria para transformar as impulsivas paixões em um amor

sereno e profundo.

Viver é erguer a cabeça:

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- é ser forte sem perder a sensibilidade,

- é gostar dos dias chuvosos como das manhãs ensolaradas.

Viver é abrir os braços:

- e deixar os olhos brilharem mais forte do que o sol,

- é abrir o coração e deixar o perdão ser mais forte do que as feridas,

- deixar que o amor seja mais importante do que o medo da rejeição.

Viver é encontrar força em cada amanhecer:

- é deixar que a angústia desapareça em cada pôr-do-sol, em cada despertar.

Viver é ter a audácia de sonhar!

30. AMOR DESPERDIÇADO

“A cada despedida eu vou te amar, desesperadamente, eu sei que vou te a-

mar.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR QUE NÃO FOI VALORIZADO,

NEM FOI PERCEBIDO,

AMOR CHEIO DE SACRIFÍOS,

SEM NENHUMA GRATIDÃO.

SONHO AUDACIOSO

Aprendi a alegria porque soube chorar minhas lágrimas.

Permanecer jovem é aprender a se alegrar por gostar de conviver com

as pessoas, e ter o poder de conversar e rir como se a vida já fosse e-

terna.

Enquanto todos reclamavam do dia nublado e chuvoso, reunia os amigos, rela-

xava e sonhava com os dias de sol – que, inevitavelmente, acabavam vindo.

Sempre fui um sonhador crônico, irrecuperável.

O sonho nunca se tornou para mim apenas uma fantasia que eu construía co-

mo fuga.

Amarrava o sonho fortemente à realidade mais crua.

Meu sonho maior sempre foi romper com a crueldade do autoritarismo da dor

de viver!

Acreditei sempre que haveria uma saída em um lugar qualquer (mesmo quan-

do me encontrava solitariamente acuado).

Nunca permiti que o abandono me fizesse crer que nunca seria amado!

Nunca acreditei que a solidão era o único caminho para os que falharam em

amar um outro ser humano de modo especial!

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Viver é ter a audácia de sonhar!

31. AMOR DESTRAMBELHADO

“O meu amor, tem um jeito manso que é só seu, que rouba os meus sentidos,

viola os meus ouvidos, com tantos segredos lindos e indecentes.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE ATROPELA AS PALAVRAS,

QUE PERDA O CONTROLE NO ENCONTRO MARCADO,

QUE SE ARRISCA SEM NENHUM CUIDADO.

LUTA CONTRA O VENTO

Eu luto:

Luto por uma liberdade de ir em busca do que me realiza como ser humano,

- por uma liberdade de cultivar os sentimentos que me façam amadurecer.

Luto por uma liberdade de dizer o que sinto sem que me chamem de radical,

- de ajudar meus amigos nos seus defeitos (sem o medo de perder a amizade).

EU LUTO:

Luto pelo direito de falar a favor da justiça (sem o receio da repressão),

- de conquistar a minha felicidade (sem prejudicar a de ninguém).

Luto pelo direito de errar,

- por ser humano, por ser imperfeito (aliás, como todo mundo),

- pelo direito de chorar (por ser sensível).

Luto contra os meus próprios defeitos crônicos.

Luto para conquistar o meu espaço:

- por meus próprios méritos,

- para ter minhas próprias opiniões (sem estar preocupado com os preconcei-

tos).

Eu luto:

Luto pelo direito de ser feliz!

32. AMOR DISFARÇADO

“Como beber dessa bebida amarga, tragar a dor, engolir a labuta, mesmo cala-

da a boca, resta o peito, silêncio na cidade não se escuta.”

(Chico Buarque)

AMIZADE DA MAIS PURA QUALIDADE,

AMIZADE DE TODAS AS HORAS, DE TODOS OS MOMENTOS,

QUE NUNCA SE REVELA,

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QUE AMARÁ SEM NENHUMA FRANQUEZA,

QUE FICARÁ ESCONDIDA.

INCESSANTE LUTA

Vivências e depoimentos.

Permanecer jovem é lutar contra monstros invencíveis, é entrar impulsivamente

em uma guerra já perdida – e mesmo sem ganhar nenhuma batalha, sentir-se

irremediavelmente realizado pela simples satisfação de ter lutado por um ideal,

ou simplesmente por si mesmo (pelo que se mais acredita)!

(VIVÊNCIA DESSA INCESSANTE LUTA PARA AMAR).

Na vida não há tréguas.

Cada novo dia é uma nova batalha.

Cada novo sonho é mais um desafio.

Tudo o que é verdadeiro não é conquistado a menos que se pague um alto

preço.

Paga-se um preço pelo próprio direito de usufruir os prazeres de viver.

Paga-se um preço quando se tenta romper preconceitos e tabus e mitos.

Quando se pára de lutar, a morte chega mais rápido.

(Depoimento dessa incessante luta).

Quantas vezes eu quiz fugir da luta?

Em quantos momentos eu tive de enfrentar o pavor de viver?

Pavor de fracassar.

Pavor da frustração.

Pavor da ingratidão, da decepção.

Desejei viver de uma maneira leve.

Desejei amar de um modo livre.

Desejei arduamente pensar de um modo lúcido.

No final, aprendi a fazer da minha luta a minha liberdade!

33. AMOR DISTRAÍDO

“Talvez o mundo não seja pequeno, nem seja a vida um fato consumado.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE NÃO PERCEBE QUE É AMADO,

QUE NÃO VÊ AS EVIDÊNCIAS,

QUE NÃO TEM DISCERNIMENTO.

VOCÊ, ESSA COISA CHAMADA AMOR

Permanecer jovem é sonhar acordado (mesmo dormindo)!

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Você,

Doce pássaro dos trigais da minha mente.

Humana gaivota, livre, delirante, feito meiga flor de inverno.

Você,

Pólen fecundante da fertilidade do beija-flor.

Você,

E nem mesmo eu teria necessidade de existir.

Me alimentaria da placenta do teu humilde ser.

Gigante da alma, é a vida que jorra.

Eu,

Sem você seria apenas o passado,

Um sonho que passou e não foi percebido,

Uma estrela que caiu do céu e se apagou.

Você,

Límpido azul do mar,

Espuma que acaricia a terra feita para envolver a tua imagem.

Você,

Esse ser acolhedor que reluz,

Essa indefinição,

Essa célula de afeição que emociona e contagia,

Essa ternura enamorada que escorre do teu ser.

Você,

Matéria inflamável dessa coisa chamada amor!

34. AMOR DOCE, EPIEIKÍA

“Quero brincar no teu corpo feito bailarina, que logo se alucina, salta e te ilumi-

na, quando a noite vem.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE NUNCA CAUSA DORES,

AMOR TEMPERADO,

AMOR CORDIAL.

AMOR DA MINHA VIDA BREVE

Você amanhece...

E eu te procuro em mim!

Não suporto os meus braços vazios.

Não suporto uma manhã silenciosa, sem os gemidos teus se incomo-

dando com a dor dos raios de sol.

ANOITECE...

E eu necessito do aconchego do teu colo para repousar.

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Preciso do calor do teu ventre para ressuscitar.

- Quando vieres, tragas o grunido da águia feroz que escondes cuidadosamen-

te para as madrugadas de insônia.

Cansei de falar de amor!

- Calem-se as bocas dos amantes!

- Calem-se as palavras de cobranças!

- Calem-se os que acham ridículo amar (ou até mesmo falar de amor)!

- Calem-se todos os pessimistas, os desonestos, os traiçoeiros, os imaturos, os

ingênuos, os presunçosos, os falsos sábios!

(É por causa deles que o amor está sendo ultrajado!)

Hoje...

Basta usar a minha boca, a minha mão, o meu corpo para te amar!

35. AMOR EGOÍSTA

“Preciso conduzir, um tempo de te amar, te amando devagar.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE GIRA EM TORNO DO SEU UMBIGO,

AMOR QUE CEGA, QUE NÃO VÊ O OUTRO,

AMOR POBRE, QUE EMPOBRECE.

SENTIMENTO REAL

Etenas e gentis racionalizações.

Permanecer jovem é não contar os dias – e sim contar as emoções, as

afeições, os sentimentos que se acumulam!

PARA TE ESQUECER...

Era preciso que as flores não brotassem mais no campo,

Que o sol se negasse a brilhar,

Que o luar não encantasse mais os seres enamorados.

Era preciso que não houvesse nenhuma esperança de paz!

Para te esquecer...

Era preciso que eu escolhesse a solidão diante do sofrimento.

Era preciso que não existisse mais nenhum amigo verdadeiro,

Que não houvesse esperança de brotar um sorriso (mesmo tímido), de-

pois da lágrima (mesmo intensa),

Que não valesse a pena lutar pela paz interior.

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Para te esquecer...

Era preciso que eu me calasse diante das mentiras,

Que eu me acostumasse com as injustiças,

Que não me doesse a miséria humana.

Era preciso que eu me esquecesse de sonhar,

Que não houvesse confiança no meu caminho,

Que se apagasse completamente o brilho nos meus olhos.

Para te esquecer...

Era preciso que eu cansasse de caminhar rumo aos meus ideais,

Que não acreditasse na grandeza de perdoar, no poder da afeição, na

possibilidade de cultivar um amor maduro (como se cultiva uma flor).

Para te esquecer...

Era preciso que as insônias nas madrugadas solitárias me impedissem de so-

nhar (mesmo com os olhos abertos).

Para te esquecer...

Era necessário que eu não escutasse mais a música suave,

Que penetra fundo o coração,

Que desperta a lágrima (tão arduamente esquecida).

Para te esquecer...

Era preciso eu esquecer a saudade que invade o quarto quando deito, e os

meus braços descansam no vazio do travesseiro aomeu lado.

Era preciso eu esquecer de mim!

Enfim, era preciso que eu realmente não amasse viver!

Por isso tudo, simplesmente, eu prefiro te amar!

36. AMOR ENCOLERIZADO

“Hoje, afinal, conheci o amor, e era o amor, uma obscura trama.”

(Chico Buarque)

AMOR CHEIO DE RANCOR,

QUE NÃO VÊ QUALIDADES NEM VIRTUDES,

CHEIO DE RESSENTIMENTOS,

QUE APODRECE DENTRO DA GENTE.

RAZÕES

Amo você...

Pelas palavras que me dão esperança,

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- me dão forças para nunca disistir.

AMO VOCÊ...

Pelo perdão dos meus defeitos,

- pelo teu jeito doce de me olhar,

- pela tua maneira sincera de ser você mesma,

- e me ajudar a descobrir quem realmente eu sou.

Amo você...

Porque você se tornou o brilho dos meus olhos (quando eles estavam se apa-

gando completamente),

- você se tornou o pulsar forte do meu cansado coração (quando ele teimava

em parar),

- você se tornou a asa forte (que me faz alçar vôos a lugares e sonhos em lu-

gares quase inalcançáveis),

Onde se pode alcançar o amor e a felicidade.

Amo você...

Porque ninguém nunca ousou me fazer feliz como você me faz,

- ninguém olhou nos meus olhos (e conseguiu ver o meu coração), pertubando

as minhas ações, como você conseguiu,

- ninguém havia caminhado ao meu lado, transformando as minhas tristezas e

alegrias (sempre de mãos dadas), como você caminhou.

Na verdade, procuro razões para justificar para mim mesmo,

Porque eu amo tanto você!

37. AMOR ESTICADO

“E pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE SE MULTIPLICA, QUE ENRIQUECE,

AMOR QUE É SEMENTE, QUE DÁ FRUTOS,

QUE SE TRANSFORMA, E TRANSFORMAOS OUTROS,

AMOR DAS METAMORFOSES,

QUE É CAPAZ DE DESTRUIR COMPLETAMENTE OS MUROS.

EU QUERIA

Fitar os teus olhos sem medo.

Queria tocar o teu cabelo qualquer hora.

Eu queria ter a coragem de dizer tudo o que sinto sem medo da rejeição.

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Queria aproveitar todos os momentos que passamos juntos, para que no futuro

eu tivesse a certeza de se tornariam grandes e boas recordações.

Eu queria lhe dar toda a minha amizade.

Queria esquecer todo o meu medo de me doar.

Às vezes, eu queria te esquecer, simplesmente,

- esquecer os momentos vividos,

- esquecer as boas e doces palavras.

Eu queria não chorar sozinho,

Não caminhar sozinho na nossa estrada!

Queria amar e ser correspondido,

Dar a minha amizade e ter muitos leais amigos,

Eu só queria ter você sempre ao meu lado!

38. AMOR EXAGERADO

“E agora eu era um louco a perguntar, o que é que a vida vai fazer de mim.”

(Chico Buarque)

AMOR PINTADO COM CORES INTENSAS,

QUE NÃO CHORA, SE DERRAMA EM LÁGRIMAS,

QUE NUNCA É CALMARIA.

FORTE ATRAÇÃO

Algo me prende a você...

Quem sabe são os teus olhos profundos,

Que penetram fundo do meu ser,

- me desnudando,

- absorvendo todos os meus segredos.

QUEM SABE É TUA PELE SUAVE,

- que envolve e aquece todo o meu corpo,

- dominando as minhas inquietações.

Algo me prende a você...

Quem sabe é o teu silêncio cheio de perguntas,

- que descobre as ansiedades do meu ser,

- prevendo todos os meus atos.

Quem sabe é esse teu ar sereno repleto insatisfação

- transformando essas tensões da vida, em obstáculos passageiros.

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Talvez seja essa tua mania de me seduzir,

- de me resgatar desses momentos de revolta,

- de me erguer nesses momentos de desânimo.

Talvez seja essa ternura,

- essa meiguice que transmite o teu sorriso,

- como se o mundo fosse uma criança,

- como se todos os humanos fossem amigos,

- como se a vida fosse uma grande fantasia.

É isso que eu gosto em você,

Esse teu jeito singelo de me revelar os teus segredos,

- essa tua maneira carinhosa de me desafiar,

- esse teu medo sincero, de se entregar, de sofrer silenciosamente.

O que eu gosto realmente em você,

É essa mania de querer sempre me conquistar!

39. AMOR EXIGENTE

“O tempo da maldade, acho que a gente nem tinha nascido.”

(Chico Buarque)

AMOR QUE TEM UMA LISTA DE REQUISITOS,

QUE BROTA NO VIGOR DA JUVENTUDE,

QUE DESBOTA ANTES DE SER PLENO.

POR UM MOMENTO

Eu quis ser à noite...

- que entra pela janela do seu quarto, para penetrar em seus sonhos.

Eu quis ser a noite de luar,

- que você gosta de admirar, para ter você por um instante.

Quis ser o sol nas manhãs de domingos

- para te ver acordar.

Quis ser o seu pequeno espelho

- para poder apreciar a tua beleza.

Eu quis ser a sua música preferida

- para contar com a sua atenção.

Quis ser o teu travesseiro

- para te ver chorar.

Quis ser o seu diário

- para saber os seus segredos.

Quis ser a tua boneca preferida

- para ter um pouco do seu carinho descuidado.

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Eu não quis ter você para sempre,

- muito menos ter você por todo o dia.

Eu só quis ser parte do seu pensamento...

Por um único momento!

40. AMOR FEITO DE MENTIRAS

“Tinha cá pra mim, que agora sim, eu vivia enfim um grande amor, mentira.”

(Chico Buarque)

É DESAMOR, NÃO É AMOR VERDADEIRO,

SE PERDE PELOS BECOS DA VIDA, PELOS ATALHOS,

TROPEÇA NAS PALAVRAS MALDITAS.

SENSIBILIDADE

Quando teus olhos penetram nos meus...

- Sinto que já existias em mim!

Sinto que teus sonhos há muito haviam sido tocados pelos meus,

Sinto como se já fosses minha,

- mesmo quando habitavas em outro coração.

QUANDO TEU SORRISOINCONSEQUENTE AGITA O MEU SER,

- sinto como se estivesse nascendo agora, gerado pela tua felicidade,

- sinto que já possuía a tua boca (mesmo quando começara a aprender a falar),

- sinto que já me fazias falta,

Já me fazias falta nos dias de alegria onde eu permanecia sozinho,

Nas maiores emoções, nas mais difíceis conquistas,

Quando eu desejava outro coração (para se unir ao meu, em comemo-

rar).

- já me fazias falta,

Nas horas de dúvidas (em que tanto precisei de uma doce palavra ami-

ga),

Nos momentos de solidão (em que esperei muito por alguém que me a-

fagasse em seus braços, para me sentir feliz).

Sinto que já me fazias falta,

Quando percebes os meus segredos mais infantis,

Quando me absorves em tua alegria de menina travessa.

Sinto que dominas as minhas emoções,

Como se antes de eu sentir, já soubesses de antemão os meus sentimentos,

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Como se antes de falar, já soubesses as escolhas que eu farei das palavras.

Quando os teus olhos acariciam os meus, mesmo por breve momento,

Sinto que já existias em mim,

Mesmo antes de eu ter aprendido a te amar!

41. AMOR IGNORANTE

“Eu sei que vou chorar, a cada ausência tua, eu vou chorar.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR QUE NÃO MEDE AS CONSEQUÊNCIAS,

QUE NÃO ENTENDE AS RAZÕES SUBLIMES DE UM CORAÇÃO,

QUE NÃO PERCEBE A FORÇA PARA A FELICIDADE DO OUTRO.

ATÉ QUANDO

Até quando as flores murcharão no meu jardim?

Até quando o sorriso não se fará presente nos rostos amigos?

ATÉ QUANDO A GUERRA VAI CONTINUAR A MATAR INOCENTES?

Até quando os peixes morrerão na poluição do mar?

Até quando as aves sumirão por entre as negras fumaças no céu?

Até quando se construirá bombas e armas para destruir, e nada, nada

para construir?!

Até quando os seres humanos continuarão a promover a desunião?

Até quando os homens continuarão a ser egoístas, a não querer fazer acordos,

a não querer partilhar nem o pão nem o lucro?

Até quando haverá amigos ingratos e falsos?

Até quando a justiça não prevalecerá?

Até quando o amor e a amizade serão simplesmente o canto dos humildes de

coração?

Até quando!?

42. AMOR IMATURO

“Que frio que me dá, o encontro desse olhar.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR QUE NUNCA CRESCE,

QUE NÃO SE FORTALECE DIANTE DOS OBSTÁCULOS,

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QUE NÃO CRIA RAIZES DIANTE DAS TEMPESTADES,

QUE NÃO AQUECE, NEM CONSOLA.

ALTEREGO

Onde quer que eu vá,

- levarei o amor que aprendi desde que nasci,

- plantarei uma semente onde houver um solo fértil.

Onde quer que eu vá,

- levarei algumas das minhas poucas palavras,

Para promover acordos,

Para falar da esperança (que as pessoas que têm fé possuem),

Da esperança que produz uma paz inabalável,

Que cicatriza as feridas do coração,

Fazendo do deserto um campo repleto de flores,

Um lugar pacífico,

Com o carinho dos animais,

Com as sombras das árvores que alguém plantou para aliviar a dor.

Onde quer que eu vá,

- levarei os meus sonhos, os mais inúteis,

- levarei a força que eu recebi para superar obstáculos,

Para abrir meu coração (mesmo quando ele está ferido).

Onde quer que eu vá,

Para que eu nuncame perca na rotina,

Levarei meu inquieto coração!

43. AMOR IMERECIDO

“E assim quando mais tarde me procure, quem sabe a morte, angústia de

quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama.”

(Vinicius de Moraes)

O AMOR VERDADEIRO TEM OS SEUS PRÓPRIOS MÉRITOS,

O AMOR PRECISA SER CONQUISTADO, SER MERECIDO,

SENÃO VIRA UMA EMOÇÃO QUALQUER.

QUANTA FALTA DE IMAGINAÇÃO

Imagino...

Como será o diálogo no futuro, nas era da informação,

- do computador, da televisão que fala por nós.

Imagino...

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45

Como será a vida na era do superficial, do virtual, do amor congelado

- onde a vida é gerada em laboratórios,

Com frias mãos profissionais, interessados em resultados.

IMAGINO...

Onde estará a fraternidade,

- nesta era das armas nucleares,

- onde a poluição mata lentamente,

- a violência é uma ameaça constante,

- onde vivemos divididos por linhas imaginárias,

Por bandeiras, por nacionalidades erguidas como muros intransponíveis.

Imagino...

Onde estará o amor verdadeiro,

- nesta era de encontro marcado,

- de abraços frios, de estranhos familiares,

- de sexo sem afeição, sem ternura.

Imagino...

Tanta mão para ser apertada,

Tanto teritório vazio querendo ser ocupado (na terra e no coração).

Fico muito triste,

Com tanta falta de imaginação!

44. AMOR INCONDICIONAL

“Tristeza não tem fim, felicidade sim...”

(Vinicius de Moraes)

TALVEZ EXISTAM ALGUMAS RAZÕES PARA AMAR,

TALVEZ EXISTAM TAMBÉM RAZÕES PARA NÃO AMAR,

TALVEZ O AMOR PRIMEIRO SE TRANSFORME NUMA FORMA DE AMAR QUE NÃO SATISFAZ.

PESADELO

Houve um dia...

Em que o mar bravo se acalmou,

Os furacões se tornaram suaves brisas,

O sol conteve um pouco do seu brilho,

A chuva molhou suavemente a terra seca...

HOUVE UM DIA...

Em que os pássaros cantaram livremente – sem medo da gaiola,

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O ar estava completamente puro – sem nenhuma poluição,

As árvores estavam repletas de frutos maduros...

Houve um dia...

Em que havia mais verde nas cidades – superando os concretos,

As crianças brincavam sorrindo nas ruas – com poucos carros,

Os homens se cumprimentavam e ninguém era estranho...

Houve um dia...

Em que se podia conversar com os animais,

Uma música suave vinha do alto – de uma nuvem qualquer...

Houve um dia...

Em que não se ouviu um só disparo,

Não se escutou um só lamento,

Não se derramou uma só lágrima,

Não se sentiu uma só dor – nem do coração,

Não houve assaltos nem assasinatos nem suicídios...

Houve um dia...

Um único dia,

Em que o mundo acordou em plena paz!

(Então, escutei uma voz distante dizendo:

‘Já amanheceu, acorda!’

E, eu acordei!)...

45. AMOR INDECENTE

“Sem a qual a vida é nada, sem a qual se quer morrer.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR SEM BOAS MANEIRAS,

AMOR SEM ‘POR FAVOR’, ‘ME DESCULPE’,

AMOR SEM ‘OBRIGADO’.

ACUSO

Os materialistas pela falta de amor.

Acuso os fanáticos,

Pelo aumento da violência.

Acusos os homens insensíveis,

Que visam somente os seus interesses egoístas,

Pela morte da flora.

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Acuso os que caçam e pescam sem limites

Pela extinção de algumas espécies.

Acuso aos que buscam algo fora do mundo real,

Pela paz que não existe no nosso próprio planeta.

Acuso aos que não procuram recuperar os marginais,

Os pivetes, os usuários de drogas,

Pelo sangue de vidas inocentes.

Acuso a quem está apenas interessado no lucro financeiro,

Pela miséria, pela subnutrição.

Acuso a todos nós, como humanidade,

Pela fome que mata,

Pela não sobrevivência de outros humanos como nós!

Defendo,

O direito do pássaro de voar livremente nos céus.

Defendo,

O direito de viver com dignidade,

Dos pobres, dos misérios, dos abandonados,

De todos os seres humanos que vivem na terra!

46. AMOR INDIGESTO

“Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos, e os seus braços o meu ninho,

no silêncio de depois.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR QUE FAZ MAL AO FÍGADO,

QUE DÁ UMA DOR DE CABEÇA INSUPORTÁVEL,

QUE ANTES PARECIA TÃO SABOROSO.

NO SILÊNCIO DO MEU QUARTO

Guardo apenas ilusões...

No silêncio do meu quarto,

Tento me encontrar no meio de uma confusão de livros e de sonhos.

No silêncio do meu quarto,

Eu paro para pensar,

Penso no mundo,

Me perco pensando em libertar-me,

E sonho:

Sonho alguns sonhos impossíveis!

Acordo,

Quando olho pela janela,

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Vejo o mund podre fora do meu quarto.

À noite, no meu quarto,

Entra devagar pela janela em forma de brisa,

Que penetra docemente na minha imaginação.

Lá fora é tudo tão vazio,

Tudo tão barulhento.

São desastres a quase cada esquina,

São bêbados em quase cada bar,

São mortes em quase cada lar.

No silêncio do meu quarto,

Há sonhos jogados pelo chão – desarrumados,

Há um grito preso quando a janela está fechada.

No silêncio do meu quarto,

Guardo apenas ilusões!

47. AMOR INDISCRETO

“Para viver um grande amor, preciso, é muita concentração e muito siso, muita

seriedade e pouco riso.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR QUE NÃO SABE SE ESCONDER,

QUE NÃO VIVE DE POUCAS PALAVRAS,

QUE NÃO SE CONTENTA COM POUCOS SORRISOS.

MESMAS PALAVRAS

Tudo se repete no mundo!

É sempre a mesma fome,

Sempre a mesma vida,

As mesmas guerras, as mesmas mortes, as mesmas batalhas.

É SEMPRE A MESMA MISÉRIA – QUE MATA DE FOME,

É sempre a mesma ganância – que pisa em busca de poder,

É sempre o mesmo egoísmo – que estraçalha os sentimentos,

Sempre a mesma falta de afeição.

Tudo se repete na vida!

É sempre o mesmo sonhos a criar desilusões,

Sempre a mesma decepção,

O mesmo revólver, o mesmo ladrão.

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É sempre a mesma saudade,

Sempre a mesma realidade – a engolir fantasias sem piedade,

É sempre a mesma doença,

A mesma lápide e a mesma supultura.

Tudo,

Tudo se repete na vida:

Nas poesias, as mesmas ideias,

Nas conversas, são sempre as mesmas palavras!

48. AMOR INFIEL

“Assim como o oceano só é belo com o luar, assim como a canção só tem ra-

zão se se cantar, assim como uma nuvem só acontece se chover, assim como

o poeta só é grande se sofrer.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR QUE CAUSA IMENSA DOR,

AMOR DAS DECEPÇÕES TARDIAS,

AMOR QUE ROUBA OS SONHOS JUVENIS,

QUE DESTRÓI O ABRIGO MAIS SEGURO.

CANSADO DE ACREDITAR

Cansei...

Cansei de procurar as pessoas,

De dar sempre amor e receber indiferença,

De sonhar e acabar afogado em meus sonhos,

De querer voar e ter sempre um mau tempo para cancelar meu vôo.

EU CANSEI DE FALAR DE PAZ,

- onde tudo nada mais é do que uma batalha sem fim,

- onde se luta para viver,

Sem, no entanto, saber viver,

- onde se fala de amor,

Sem, nem mesmo, conhecer o amor em extinção.

Eu cansei de falar de amor,

- para um mundo onde a indiferença predomina,

A vontade do mais forte predomina,

- sem, no entanto ser justa.

Eu cansei de falar de fraternidade,

- de repartir o pão,

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Se todos querem somente o pão para matar a sua própria fome.

Eu cansei de tentar ser amigo,

- e não ter sequer um amigo sincero...

Eu só não cansei,

De acreditar que sempre haverá chuva fina,

Depois de uma longa seca!

49. AMOR INQUIETO

“Vai tua vida, teu caminho é de paz e amor, a tua vida é uma linda canção de

amor, abre os teus braços e canta a última esperança, a esperança divina de

amar em paz.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR QUE SE RENOVASEM SENTIR,

AMOR QUE SE PERPETUA NAS MUTAÇÕES,

AMOR QUE NÃO SE ACOMODA.

EPÍLOGO

O sonho acabou...

Acabou como tudo se acaba.

FOI LEVADOPELO VENTO,

Corroído pela ferrugem,

Esquecido na estrada.

Acabou,

Como acaba a esperança – quando há desespero,

Como acaba a vontade de sorrir – quando há triteza.

O sonho acabou,

Foi destruído pela realidade,

Desprezado pelo tempo,

Tornou-se como página amareladas de um velho caderno.

O sonho acabou,

Acabaram-se todos os planos,

Todas as tentativas morreram no medo,

Todas as vontades viraram cinzas.

O sonho acabou,

Apagou-se o brilho dos meus olhos,

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- que se encheram de lágrimas.

Acabou a certeza de ter alguém,

- que também soubesse sonhar junto,

- que soubesse falar,

E gostasse muito mais de ouvir!

Acabou o sonho...

O sonho foi sufocado pelo mundo,

Foi afogado pela covardia,

Foi dilacerado pelo impulso de um momento!

O sonho acabou...

O sonho acabou de acabar!

50. AMOR INSOLENTE

“E por falar em beleza, onde anda a canção, que se ouvia na noite, dos bares

de então.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR SEM RESPEITO, SEM CONSIDERAÇÃO,

AMOR SEM PRINCÍPIOS NEM FIM,

AMOR SEM LEI NEM DIRETRIZ,

AMOR SEM CAMINHO...

ESPERAS

Esperar é morrer de dor.

Esperar é sofrer ao ver o tempo passar,

A vida se esvair pelo vazio.

ESPERAR POR TI É LOUCURA, INSENSATEZ,

Não faz sentido esperar que me ames,

Que me chames porque necessitas de mim.

É absurdo,

Mesmo assim eu espero,

Procuro alcançar-te com a voz,

Com a manha, com o silêncio, com as tolas palavras.

Procuro envolver-te com todas as armas que eu possa dispor,

Busco-te na saudade, nas esperas,

Nas ruas entre desconhecidos.

Busco-te na música, na fantasia, no mar aberto,

Dentro de mim...

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Esperar é morrer de dor,

Eu morrerei, quantas vezes for preciso,

Por esperar por ti!

51. AMOR INSUBSTITUÍVEL

“A insensatez que você fez, coração mais sem cuidado, fez chorar de dor.”

(Vinicius de Moraes)

AMOR SER IGUAL, INESQUECÍVEL,

AMOR DAS MANHÃS NUBLADAS,

DAS TEMPESTADES CHEIAS DE TEMORES,

QUE ULTRAPASSA AS DIFICULDADES, INTACTO, SEM ARRANHÕES.

APRENDIZ

Antes de tudo, deveria eu aprender a ser feliz sozinho.

Antes de tudo,

Deveria eu aprender a ser feliz,

Sem magoar os outros,

Como seguir meu caminho de braços abertos,

De cabeça erguida, disposto a renunciar em favor da igualdade,

Disposto a lutar a favor da liberdade.

Antes de tudo,

Deveria eu aprender a ser sensível às injustiças sociais,

A ser aberto ao amor que bate forte no peito,

Ao amigo que precisa de uma mão estendida para levantar.

Deveria eu aprender,

A não permitir que fronteiras separem os homens,

Impedindo-os de seres irmãos,

A não deixar que a cor da pele,

A diferença entre classe social sufoca a fraternidade que há em mim.

Deveria eu aprender o valor da solidariedade,

A não tapar os olhos para fome,

- mesmo que eu tenha o que comer,

A sentir o frio da noite,

- mesmo que eu esteja bem aquecido.

Antes de tudo,

Deveria eu aprender

A ser humano, a ser gente!

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52. AMOR INTERESSEIRO

“Bate outra vez, com esperanças o meu coração, pois já vai terminando o ve-

rão, enfim.”

(Cartola)

AMOR MATERIAL, FÍSICO, EFÊMERO,

DESEJO ARDENTE DE TIRAR PROVEITO,

AMOR MANIPULADOR.

PONTO DE PARTIDA

A paz chegou para mim devagar.

No meio de uma confusão de ideias,

Da balbúrdia do mundo.

CHEGOU PARA MIM NO SUSSURRO DO VENTO,

Caminhou entre espinhos,

Tropeçou em muitas pedras,

Se escondeu, algumas vezes,

Nas horas difíceis da solidão,

No sorriso negado, no barulho da multidão.

A paz chegou para mim,

Trazida pelo ar,

Balançou as flores do meu coração,

Me faz buscar lá no fundo uma emoção qualquer

Numa nostalgia profunda.

A paz chegou para mim em forma de sonho,

Transbordou as minhas esperanças,

Erigiu as minhas verdades,

E me acordou na fria madrugada.

A paz chegou para mim,

Depois de muita luta,

Depois de tantas guerras – vencidas ou perdidas,

De lágrimas – derramadas ou engolidas,

De tantas procuras – inúteis ou bem sucedidas.

Chegou para mim para cicatrizar a ferida,

Para ressuscitar a vontade de amar.

A paz chegou para mim,

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- porque eu lutei para conquistá-la,

- porque eu chorei quando não podia amar,

- porque eu quis achar um sentido qualquer para a vida valer a pena,

- para que o meu dia a dia tivesse uma razão de existir,

- porque eu quis transformar as lágrimas em imensos sorrisos,

E todas as minhas derrotas em valiosas lições.

A paz chegou para mim, assim lentamente,

Como uma construção,

Fui colocando tijolo por tijolo,

E quando a parede saía torta, eu derrubava:

E fazia tudo de novo!

A paz chegou para mim numa manhã de primavera,

E eu descansei, então,

Porque havia encontrado uma imensa esperança,

Dentro do meu coração ferido!

53. AMOR INVENTADO

“Ainda é cedo, amor, mal começastes a conhecer a vida, já anuncias a hora de

partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar.”

(Cartola)

AMOR QUE SE RENOVA DO NADA,

QUE TRANSBORDA DA CRIATIVIDADE,

QUE SE RECRIA QUANDO PARECE PERDIDO.

PODES DISPOR DE MIM

Nos momentos em que não restar uma só gota de força na tua veia.

Na ocasião em que as lágrimas te impedirem de ver teu reflexo no espelho,

No instante em que desesperada tiveres que fugir de ti mesma,

Podes dispor de mim.

Podes dispor de mim,

Quando a vida brotar com fulgor no teu ser

- e precisares de alguém para tirar os teus espinhos,

Quando o mundo parecer grande demais para os teus sonhos

- e necessitares de alguém para emudecer os teus monstros.

Podes dispor de mim,

Nos instantes em que estiveres sedenta por carinho,

Em que almejares um peito amigo para desabafar,

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Em que desejares o calor de um abraço sincero.

Quando não mais nada a dizer

- eu te darei algumas poucas palavras,

Quando não houver mais motivos para sorrir

- eu te darei a minha alegria amarelada,

Quando não houver mais nada pelo qual valha a pena viver

- eu te darei os meus infantis ideais.

Podes sempre dispor de mim,

Quando qualquer um destes fatos acontecer comigo,

Eu gostaria de dispor de ti!

54. AMOR LEAL

“Ouça-me bem, amor, preste atenção o mundo é um moinho, vai triturar teus

sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó.”

(Cartola)

AMOR QUE PERMANECE QUANDO TUDO DESMORONA,

AMOR QUE AMA DEMAIS QUANDO TODOS AMAM DE MENOS,

AMOR DA ESPERANÇA QUANDO TUDO É INCERTEZA.

DOCE EMOÇÃO

Gosto do teu jeito criança de ser adulta.

Gosto quando abres o teu coração,

- e me deixas te conhecer plenamente.

GOSTO QUANDO FICAS EM SILÊNCIO A MEU LADO.

Gosto dessa tua maneira de sentir a vida,

De falar sem compromisso,

De chorar com o coração.

Gosto tanto quando me abraças com ternura,

Quando me despertas a vontade inebriante de viver,

- de encontrar meus desejos mais puros, quase infantis,

- de desenvolver meus sentimentos mais genuinos.

Gosto tanto de te ver jogar conversa fora com os amigos,

- de ver toda essa tua inesgotável energia,

- essa tua garra inexplicável de enfrentar a vida,

- de ususfuir cada segundo como uma infinita emoção.

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Gosto tanto quando te desnudas das tuas proteções,

Acordando desprotegida nosmeus braços,

Quando me permites destruir as tuas resistências como os meus sonhos.

Gosto tanto dessa ternura imaculada que transborda de ti

- penetrando na pele mais íntima do meu ser,

Dessa tua mania de se entregar desprotegida,

- transformando-se numa doce e aprazível visão.

Gosto muito do amanhecer ao teu lado,

Da descoberta de cada parte nova de ti,

Da mais bela madrugada quando dormes ao meu lado,

Da vida mais leve junto a ti.

Gosto muito, muito mesmo,

Dessa doce sensação de ser dependente de ti!

55. AMOR LIBERAL

“Quero assistir o sol nascer, ver as águas dos rios correr, ouvir os pássaros

cantar, eu quero nascer e quero viver...”

(Cartola)

AMOR SEM CORRENTES, E SEM ASAS,

AMOR QUE ENSINA AO OUTRO A LIBERDADE, COM RESPEITO,

AFEIÇÃO SEM TÍTULO DE PROPRIEDADE.

GUARDO EM MIM UMA FANTASIA DE INFÂNCIA

Em mim, a vida sempre foi cruel, dolorosa, impura.

Habitei mais no mundo do sonho do que na realidade.

NADA EM MIM ERA VERDADE!

Nada em mim valia a pena!

Nada em mim tornava-se vitória, sucesso!

Guardo em mim o sorriso da criança que de tudo ria,

Nada entendia.

Ria dos meus erros pela vergonha de ser descoberto,

Ria um sorriso nervoso com medo da disciplina.

Nunca imaginei que precisava deixar de ser humano para aceitarem os meus

erros, como uma máquina que dá defeito de vez em quando.

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Guardo profundamente em meu ser, como um tesouro, as palavras que eu dis-

se do fundo do coração, que foram consideradas ofensas e agressões.

A dor que dói em mim tornou-se raiz, e multiplica-se, e produz semente cada

vez mais resistente.

Guardo em meu ser a vitória da esperança – que alguns teimam em chamar de

‘utopia’.

Guardo a esperança que eu trouxe dos bons momentos vividos, das suas vitó-

rias alcançadas, das certezas conquistadas em cada passo certo dado.

A esperança tornou-se em mim um oásis, que me acompanha, que me refrige-

ra no deserto em que caminho.

Guardo em mim as lições que aprendi em criança, para que o ser humano que

eu sou permaneça sempre jovem!

56. AMOR NEGADO

“A sorrir, eu pretendo levar a vida, pois chorando, eu vi a mocidade perdida.”

(Cartola)

ALGUNS MERECEM O NOSSO AMOR, OUTROS NÃO,

PARA QUEM MERECE, NOSSO AMOR SINCERO,

PARA QUEM NÃO MERECE, NOSSO AMOR CONTIDO.

OS DIAS CHUVOSOS

Amanhecia.

Chovia como se o mundo inteiro chorasse de dor pelas alegrias que sente.

LEVANTAR ERA TÃO DIFÍCIL QUANTO ADORMECER NOVAMENTE.

Não havia caminho à frente, e os rastros do passado apagaram-se com a poei-

ra e o vento.

Lá fora todos corriam, apertando-se contra si mesmos.

Talvez doesse se abraçassem um outro ser humano estranho.

A chuva era a melhor companhia – ela não fala, não cobra nada, não aquece.

Levantei-me como se quizesse esconder a solidão que eu sentia – cantava e

falava alto para mim mesmo, e a música tornava o pequeno apartamento do

tamanho de uma cela.

Tomei café e resolvi que não iria trabalhar:

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Um dia belo como aquele era ideal para tocar nas pessoas, para sentir na pele

que existem outros seres humanos – com nossos desejos, nossas angústias,

nossas saudades.

Há coisas que só entedemos nos dias chuvosos!

57. AMOR PACIENTE

“Quem me vê sorrindo, pensa que estou alegre, o meu sorriso, é por consola-

ção.”

(Cartola)

AMOR QUE NÃO TEM PRESSA,

AMOR SEM TEIMOSIA,

AMOR QUE ESPERA O TEMPO CERTO PARA CRESCER.

DEPOIS DA CHUVA

Penso que a vida é um hospício.

Somos todos loucos, doidos, agressivos – dependemos uns dos outros.

EU TENTEI FALAR, DIZER DE MIM.

Todos riram, consideravam minhas ideias de pouca importância, diziam que

eram estranhas bobagens.

Eu fui calando.

Cada vez mais era doloroso falar uma única palavra.

Ou entrava no padrão dos outros ou era engolido pelo isolamento.

Procuro as pessoas, e não as acho, e não consigo restabelecer um contato

significativo com o mundo.

Penso na morte!

Talvez seja um alívio (para mim).

Dor para os que (talvez) me amem.

Quem sabe despertem depois de eu ter partido em silêncio.

A morte apenas mostraria a realidade concreta do silêncio da minha solidão.

Agora querem que eu fale.

Não me escutam!

Desejam ardentemente que me mostre.

Quando me exponho, me ferem impiedosamente.

Depois de caminhar o dia inteiro a procura de um cais para atracar, de um oá-

sis para me refrescar, voltei para casa molhado da cabeça aos pés, e concluí:

‘O trabalho é o meu único refúgio, para os dias chuvosos ou para depois da

chuva da solidão do silêncio de mim mesmo’.

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58. AMOR PASSAGEIRO

“Basta de clamares inocência, eu sei todo o mal que a mim você fez, você des-

conhece consciência.”

(Cartola)

AMOR QUE NOS ENSINA BREVEMENTE,

AMOR QUE PASSA SEM DEIXAR MARCAS,

DEIXA LIÇÕES, DEIXA LEVES AFEIÇÕES.

NADA É MAIS PROFUNDO

DO QUE BRINCAR COM UMA CRIANÇA

E deixar transbordar do peito o espírito infantil.

Um ser humano seguro é uma criança que amadureceu,

- que soube fazer da vida um grande contentamento,

- levando a sério as suas regras,

- passando por todas as fases,

- subindo cada degrau de uma vez.

O ser criança não significa necessariamente agir como criança,

E sim guardar dentro do peito a liberdade e espontaneidade de um ser infantil,

- que sabe usar a sua alegria.

Somamos as características inerentes de cada fase,

- à experiência adquirida com o usufruto do ato de viver,

- às doces substâncias do ser verdadeiramente livre,

- dos grilhões de uma sociedade corrompida,

De ser simplesmente criança.

Não se iludam os que se acham adultos que uma criança

- é tolamente frágil e ingênuo,

- antes ela guarda os detalhes mais insignificantes,

- que constituam o sabor daquele momento vivido,

Coisas que somente um ser sensível é capaz de perceber.

A mente infantil é livre e aberta.

Os preconceitos e as cascas, as sujeiras são inseridas pela sociedade,

- que como um vírus não admite que alguém não esteja sujeito às suas garras.

A infância da gente é tempo de saudade,

- de liberdade, da existência aproximada do que somos realmente.

A felicidade, em parte, consiste em nunca deixar morrer a criança que um

dia fomos.

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59. AMOR PELA PRATA, PHILARGYRIA

“Não quero mais, amar a ninguém, não fui feliz, o destino não quis, o meu pri-

meiro amor.”

(Cartola)

AMAR O PALPÁVEL PODE DESUMANIZAR,

AMAR APENAS O VISÍVEL PODE NOS TORNAR ANIMAIS,

AMAR O QUE TEMOS SEM DEIXAR DE AMAR O INVISÍVEL.

O OLHAR DE QUEM AMA É MOMENTO DE PAZ ETERNA

Em que se entrega às carícias de olhos penetrantes.

É deveras revigorante se perder em um doce e profundo olhar apaixo-

nado!

É GUARDAR O MUNDO, O UNIVERSO INTEIRO DENTRO DO PEITO,

É emergir qual águia, de asas fortes, vibrantes, audazes,

É achar-se no reflexo de ultrapassar os limites do que é visto.

Quando olhares apaixonados se encontram,

- é necessário silêncio profundo,

As palavras atrapalham.

Quando rompem a barreira do que é físico,

- da cor, da pupila,

- já não são os olhos que vêem,

É o coração.

Quando o corpo todo treme,

- já não é sangue que corre nas veias,

- é emoção,

- é a própria vida rasgando os espaços vazios,

Arrebatando o que lhe é devido – o sonho.

Quando o sonho se confunde com a realidade,

- o sonho materializa-se feito ser humano,

- com carne, com o coração vencendo os medos,

- transpondo os ecos da solidão,

Os gritos do desânimo.

Quando transpasssa os mistérios, os enigmas, os segredos,

- já não se pode escondê-lo,

- assim como não se pode esconder o brilho do sol,

- nem pedí-lo para calar-se,

Ele se torna gigante, imenso, infinito, veraz.

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Ah! Pudera captar-se a ternura límpida do olhar de quem ama, causaria

inveja ao por-do-sol.

Ah! Pudera multiplicar-se seus ecos,

- tornando-o rarefeito feito ar das montanhas,

De certo, causaria inveja a própria felicidade.

60. AMOR PELA VERDADE

“Pra você guardei o amor, que sempre quis mostrar, o amor que vive em mim

vem visitar.”

(Nando Reis)

AMOR PELAS DESCOBERTAS,

AMOR PELO O QUE ESTÁ ESCRITO NAS ENTRELINHAS,

AMOR PELOS SENTIMENTOS GENUINOS ATRÁS DAS PALAVRAS.

TERNURA JAZ LATENTE

NAS MÃOS DE QUEM OFERECE ROSAS

Nada mais sublime para representar um coração sem medo de amar.

Estender a mão é umato simples, banal, comum.

É tão difícil fazê-lo colocando no centro o próprio coração.

OFERECER ROSAS É ANTIQUADO, QUADRADO – HOJE SEM SENTIDO.

Somente as mãos fortes podem realizá-lo,

Os fracos capitulam diante delas,

Não têm raízes para enfrentar a força de uma rosa – com seus espinhos.

Abrir o coração é perigoso, maltratante,

Simples desacaso.

É ato que na sua fragilidade expõe a grandeza,

A ousadia de quem acredita no amor,

No gérmen da vida, no pólen da eternidade.

Ah! Ser sublime é tolo,

Bobo, coisa de criança.

O ouro e a prata não podem comprá-lo,

Nem as forças das armas conquistá-lo.

Não podem os cientistas produzí-lo em laboratório,

Nem descobrir a sua composição singular.

Um coração afetuoso é bobagem de gente romântica,

Ultrapassada, sentimentalóide.

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Éh! É coisa de gente – no sentido pleno da palavra,

De gente que cultiva as emoções mais puras,

Que sabe o valor grandioso do amor qual semente,

- que germina e mata a solidão,

- que uma vacina contra o suicídio,

- que transforma inimizades.

Faz brotar dos lábios um sorriso carismático,

Faz repousar no peito um companheiro fiel.

Um coração afetuoso é, sem dúvida nenhuma,

Coisa de gente romântica,

- de quem, com certeza, nunca vai morrer de solidão!

61. AMOR PELO PRAZER

“Desculpe, estou um pouco atrasado, mas espero que ainda dê tempo, de dizer

que andei errado e eu entendo.”

(Nando Reis)

PRAZER DE ESTAR VIVO,

PRAZER DE PARTILHAR A VIDA,

PRAZER DE DESPERTAR A CADA MANHÃ.

NÃO DEVEMOS DESPERDIÇAR UMA SÓ OPORTUNIDADE

PARA APRENDER A VIVER

O aprendizado da vida é prazeroso.

O aprendizado da vida é doloroso – e assim se torna necessário.

NÃO É AO NASCER QUE TRAZEMOS DENTRO DE NÓS

- o manual da vida,

É através das lições pelas quais passamos ao longo da vida.

Não devemos desperdiçar uma só gota de sangue

- sem que dela possamos colher algo de bom.

Não devemos abandonar uma só gota de suor

- sem que tentemos construir algo de bom.

Não podemos deixar

- que os sorrisos se percam por entre a amargura,

- nem que a amizade desapareça pelo nosso cansaço.

Para aprender a viver preciso estar aberto às frustrações, às decepções.

Preciso encontrar a mim mesmo no meio de tantos ‘eus’ criados pelos outros.

Preciso deixar que a vida me seja fecunda,

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- que o amanhecer me faça renascer junto.

Para entender o que é viver, em primeiro lugar,

- não devo aceitar que eu já saiba de tudo, de antemão,

- e, sim, que todo momento é novo,

- e dele, não temos nenhuma experiência plena,

- e se a temos, só nos serve para enfrentar os novos desafios.

A vida não concede diploma,

- mas ela concede seus frutos.

Somos nós quem escolhemos as sementes,

Somos quem escolhemos onde, quando e como plantar.

É estando alertas ao que somos,

E percebendo que por trás de tudo há uma verdade maior,

- que, então, algum dia depois de nos sentirmos deveras saciados da vida, que

poderemos dizer, finalmente:

‘Agora eu sinto que estou vivo!’

62. AMOR PERFEITO

“Por onde andei? Enquanto você me procurava, e o que eu te dei, foi muito

pouco ou quase nada.”

(Nando Reis)

É O AMOR REAL, REALISTA,

MISTURADO COM AS IMPERFEIÇÕES,

ENRIQUECIDO COM O APRENDIZADO DE CADA DIA.

CADA DIA PODE SER GRANDE,

SE ASSIM O FIZERMOS

Somos nós quem construímos nossas vidas.

Não podemos ficar eternamente presos às nossas falhas e defeitos.

CADA DIA MOSTRA SER CHEIO DE OPORTUNIDADES

DE NOS REALIZARMOS,

- de empreendermos trabalhos que nos dignifiquem,

- que nos tornem maduros,

Confiantes na vida.

Cada dia podemos compartilhar nossa alegria,

- nossa amizade,

- nossas palavras para trocar com outras pessoas,

Sentimentos, emoções, afeições,

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- trocar o calor de um aperto de mão,

- de um momento para se escutar,

Para partilhar o silêncio.

Cada dia provê imensos momentos para matarmos a solidão,

- para sepultarmos o rancor,

E libertarmos as asas ocultas do nosso coração.

O sol de cada dia pode ser diferente,

- se renascermos com ele,

- se formos refecundados ao amanhecer,

- tornando-nos mais fortes,

- mais decididos a enfrentar as nossas fragilidades,

Mais repletos de ternura.

A vida cada dia pode ser mais esperança,

- mais espaços a conquistar,

- mais sonhos a concretizar,

Mais pontes a construir.

É necessário absorver essa nova vida,

- que nasce a cada novo dia,

- que brota junto com o sol,

- que faz com que o canto do mesmo pássaro

Seja diferente cada dia!

É preciso perceber a evlução de cada pedaço de nós,

- presente no anoitecer, na madrugada, no amanhecer,

Na primavera, no verão, no inverno, na solidão!

63. AMOR PIEDOSO

“Entre as coisas mais lindas que eu conheci, só reconheci suas cores belas

quando eu te vi.”

(Nando Reis)

AMOR PARA A ETERNIDADE,

AMOR PELO ETERNO, PELO INFINITO,

AMOR COM VONTADE DE DAR UM SENTIDO PARA A VIDA.

VOCÊ, ESSA COISA CHAMADA AMOR

Você, doce pássaro dos trigais da minha mente...

Humana gaivota, livre, delirante, feito meiga flor de inverno.

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VOCÊ,

Pólen fecundante da ferilidade do beija-flor.

Você,

E nem mesmo eu teria necessidade de existir,

Me alimentaria da placenta do teu humilde ser,

- gigante da alma, é a vida que jorra de ti.

Eu,

Sem você seria apenas o passado,

Um sonho que passou e não foi percebido,

Uma estrela que caiu do céu e se apagou.

Você,

Límpido azul do mar,

Espuma que acaricia a terra,

Feita para envolver a tua imagem.

Você,

Essa coisa acolhedora que reluz,

- essa indefinição,

Essa célula de afeição que emociona,

- contagia,

Essa ternura enamorada que escorre do teu ser inifinito.

Você,

Matéria inflamável dessa coisa chamada amor.

64. AMOR PLATÔNICO

“Quando aconteceu? Não sei. Quando foi que eu deixei de te amar?”

(Nando Reis)

AMOR COM MEDO DE SE TORNAR REALIDADE,

AMOR IMPOSSÍVEL DE VIVER NO MUNDO REAL,

AMOR DISTANTE, IDEALIZADO.

ATO DE AMAR

Essa coisa chamada afeição.

Este ato de amar,

De ver você atarvés do amor,

Me torna indomável deste medo de me doar,

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- de subtrair de mim os meus receios,

- as minhas barreiras.

ESTE INSTANTE ABSURDO DO AMOR MATERIALIZADO,

Não é amor,

- é eternidade.

É brisa que aquece,

É calor que suaviza,

É o amanhã dentro do milésimo de segundo do agora.

Há em tudo isso um outro você,

Dentro de mim,

- que eu não percebo,

- que me escapa pela veia

E absorve meu ser por completo.

Não sei se você é quem eu percebo,

Sei apenas que não és minha criação,

- és a tua própria.

Não cabe a mim querer mudar-te,

Somente, descobrir-te:

Desvendar em você a beleza da tua individualidade,

- dos teus monstros e dos teus gigantes,

Da sensação singular que somente o amor revela!

65. AMOR POR ACASO

“Vamos passear de mãos dadas, andar é muito bom pra quem quer ficar junto.”

(Nando Reis)

SEM QUERER ENCONTRAMOS O AMOR,

ÀS VEZES, NÃO O RECONHECEMOS,

COM O TEMPO ELE SE IMPÕE AO NOSSO LIVRE ARBÍTRIO.

CONTRADIÇÕES

Eu sou como o vigor da juventude.

Sou como um anoitecer, silencioso,

Como o amanhecer, vibrante.

PAREÇO, ALGUMAS VEZES, TER A FORÇA DO AMOR.

Sou como o frio do inverno,

- outras vezes como o calor do verão.

Sou como a alegria de viver,

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- como o prazer de poder amar,

- como a energia da liberdade.

Eu sou como a pureza da nascente,

- como a lição de um sofrimento crônico.

Sou como a bondade sem interesse de um amigo,

- e como o perdão de um inimigo.

Me sinto, algumas vezes,

- como dentro de um sonho de uma bela vida,

- como a ânsia da juventude,

- como a preocupação de envelhecer.

Sou como a coragem dos que sentem medo,

- como a ternura de quem está enamorado.

Sou como o carinho de uma criança,

- como o germe de quem está contaminado pelo vírus do amor.

Sou como a inocência de um embrião,

- como a insegurança de um ser fragilizado.

Sou feito a felicidade de quem assume ser humano.

Sou feito a angústia de quem ama e não é amado,

- feito a tristeza de quem é sozinho,

- como a verdade dos puros (mesmo imperfeitos).

Eu sou feito terra fértil que produz,

Feito um deserto que sofre.

Sou feito a intimidade de um companheiro.

Sou, muitas vezes, contraditório!

Pareço ser audaz,

- quando eu sinto medo.

Pareço ser seguro,

- quando por dentro desabo.

Na verdade, simplesmente,

Eu sou humano!

66. AMOR POR SI MESMO

“Ponho os meus olhos em você, se você está, dona dos meus olhos é você.”

(Nando Reis)

AMOR DELICADO, AMOR PERIGOSO,

COM EQUILÍBRIO – SE TORNA AUTOESTIMA,

COM EXAGERO – SE TORNA ISOLAMENTO.

INCOERÊNCIAS

Nós somos contraditórios.

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Somos antagônicos.

SOMOS O QUE PARECEMOS SER,

Parecemos ser o que não somos.

Encontrar a harmonia entre as ações e as palavras é dom dos sábios.

A sabedoria consiste em materializar os nossos sonhos,

- nossos pensamentos, nossas ideias, em singelas atitudes,

Dar-lhes o fôlego de existir.

Quantas vezes temos certeza de que desejamos algo,

Quando o temos em nossas mãos,

- dando-lhes até mesmo a nossa vida para tê-lo,

Percebemos que não era bem isso que queríamos.

E aí, lá se foi a vida,

Lá se foi o tempo, que não retrocede nunca,

Lá se foi o vigor que se perdeu no final de tanta luta.

Lá se foram os sonhos, mesmo os mais belamente decorados,

Lá se foi a fantasia de encontrar a verdadeira felicidade.

Fica lá fundo uma saudade modesta:

A saudade da alegria presente no momento em que sonhamos acordado,

- já tinhamos o sonho bem ali na nossa frente,

Plenamente realizado dentro de nossas incertezas.

67. AMOR POSSESSIVO

“Eu estou feliz, mesmo sozinho, esse silêncio é paz, nesse momento cai uma

forte chuva, quem vai ficar chorando?”

(Nando Reis)

É AMOR AO CONTRÁRIO, QUASE DOENÇA,

QUE NÃO VÊ O OUTRO, SOMENTE A SI MESMO E AS SUAS PRÓPRIAS LEIS,

É O TIPO DE AMOR QUE SUFOCA, E QUE SE DESTRÓI.

QUERO VOCÊ

Quero te conhecer sem receios.

Descobrir os segredos mais íntimos do teu coração.

CONHECER AS TUAS DÚVIDAS.

Quero que me fales dos teus problemas mais banais.

Quero que me contes das dores que sentistes,

Que me dês os sonhos que tivestes medo de sonhar.

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Quero conhecer os teus pensamentos proibidos,

- os teus defeitos mais inconscientes.

Deixa-me percorrer por dentro da pessoa que és,

- pelos teus becos mais escondidos,

E destruir as correntes que te mantém presas dentro de ti.

Deixa-me libertar-te de ti mesma.

Quero conhecer o gosto mais singular da tua boca,

Percorrer os espaços abertos da tua alma.

Deixa-me ser cúmplice dos desejos do teu corpo.

Libertar a fêmea que é,

E fazer de ti a mais amada das mulheres.

Ama-me com as tuas inseguranças, mas ama-me.

Ama-me da melhor maneira que sabes

- mesmo que não seja a minha –

Mas ama-me.

Ama-me com os beijos juvenis da tua boca,

Com o calor do teu sorriso escandaloso,

Com a tua necessidade maior de ser amada.

68. AMOR PURITANO

“Tô com saudade do beijo e do mel, do teu olhar carinhoso, do teu abraço gos-

toso, de passear no teu céu.”

(Dominguinhos)

AMOR PURITANO É AQUELE QUE FINGE PUREZA,

E SOMENTE O TEMPO PROVARÁ O QUE REALMENTE ELE É.

QUERO UM AMOR QUASE PURO

Quero ser teu amigo.

Teu sócio, teu companheiro, teu amante,

Teu amado, teu irmão.

VEM COMIGO,

- e tornemo-nos aventureiros de nós dois.

Vamos descobrir um ao outro para nos doar ao outro.

Vamos correr todos os riscos juntos.

Tu não pertences mais a ti mesma.

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Eu não pertenço mais a mim mesmo.

Somos um proprietário do outro:

- sede da mesma sede,

- sonho do mesmo sonho,

Desejo do mesmo desejo.

Em ti lentamente eu me torno homem,

- macho da fêmea que te tornas.

Em mim tu te descobres mulher, menina.

Em nós nos tornamos ‘macho e fêmea’,

- ser humano macho e ser humano fêmea.

Eu quero você...

Sem você eu não tenho a mim!

69. AMOR PURO

“Quero lhe contar como eu vivi, e tudo que aconteceu comigo.”

(Belchior)

AMOR PURO É AQUELE SEM VÍCIOS, SEM CORRUPÇÃO, SEM ENGANOS,

SEM CONTAMINAÇÃO DE PRECONCEITOS, SEM DEFESAS,

É AMOR QUE SOBREVIVE ÀS TEMPESTADES.

AME SEM COVARDIA

O que herdamos nesta vida senão o que amamos?

No ato de amar nos entregamos, e assim nos recebemos.

O AMOR NOS INCORPORA A VIDA,

Dando-nos entusiasmo para viver,

Para lutar, para sonhar.

Amando nos tornamos guerreiros,

Vestimos a armadura da esperança,

Ficamos embevecidos de fé.

A vida só é amarga para quem não ama,

- não amar é abortar o viver,

- é matar a semente que somos nós.

Sofrer por amor não é tão ruim:

O amor sempre recompensa quem sofre por ele,

- pior é quem sofre por ódio,

- que só tem no futuro a escuridão,

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- que conhece a morte em vida.

Ame:

Sem temores, sem covardia, sem desconfiança!

70. AMOR QUASE IMPOSSÍVEL

“Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é coisa boa.”

(Belchior)

É AQUELE AMOR QUASE PLATÔNICO,

AMOR IDEALIZADO,

BASEADO NOS MITOS DO AMOR ROMÂNTICO.

AME SEM DESCONFIANÇAS

Ame como quem acredita que se pode ser feliz.

Ame:

Ame como quem quer viver.

AME COM OBSTINAÇÃO,

- como se o amor fosse uma obrigação,

- como se a felicidade

E a sobrevivência dependessem do amor.

Ame sem pensar no amanhã incerto,

- sem exigir nem cobrar,

Assim o amor será livre,

E nunca o deixará sozinho.

Ame como quem brinca com o próprio coração,

- fazendo dele um albergue para os amigos,

- um abrigo para aqueles que amam.

Ame:

Não pense duas vezes quando pensar em amar,

Nem fique encontrando desculpas

- para que o amor não invada o seu ser.

Desobstrua as mágoas da sua alma,

Limpe as cicatrizes,

E não compare os seus amores.

Cada amor tem a sua própria magia,

O seu próprio encanto,

- e não aceita os rótulos.

O amor é universal,

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- é infinito,

Necessita ser renovado a cada dia,

- ser alimentado em cada anoitecer!

71. AMOR QUE DESANIMA

“Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos,

ainda somos os mesmo e vivemos, ainda somos os mesmos e vivemos, como

nossos pais.”

(Belchior)

AFEIÇÃO NÃO TEM MEIO TERMO:

OU ANIMA OU DESANIMA,

OU É VERDADEIRA É FAZ-NOS VOAR,

OU É ENGANOSA É FAZ-NOS ADOECER.

AME SEM TEMORES

Ame com o coração.

Ame:

Com a alma, com o espírito, com o seu corpo.

AME SEM MEDO,

Na raça, com garra,

Com certeza de que será amado.

Quem duvida é porque não ama.

Ame:

Ame de manhã, de noite, de madrugada.

Ame no verão, no inverno, na primavera.

Ame no tocar, no olhar, no abraçar, no beijar, no falar.

Não se esqueça de amar um só segundo.

Esquecer de amar é esquecer de viver!

Ame,

Ame a cada segundo de vida,

E assim a vida lhe amará a cada segundo!

72. AMOR QUE DESTRÓI

“Aí um analista amigo meu disse que desse jeito, não vou ser feliz direito, por-

que o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual.”

(Belchior)

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AMOR QUE É DESAMOR,

AMOR QUE ENFRAQUECE EM VEZ DE FORTALECER,

AMOR QUE ENTRISTECE EM VEZ DE SATISFAZER.

VIVER É UM ATO DE AMAR

A vida é uma terra fértil,

Onde plantamos os nossos sonhos,

Onde depositamos os nossos tesouros.

A VIDA É UM DOM ESPIRITUAL,

Onde em cada descoberta de um pedaço do nosso ser,

- há a revelação de uma parte mais bonita do viver.

A vida somente se torna bela,

Quando lhe damos a oportunidade de ser livre,

- e não lhe colocamos rótulos,

- nem definições exageradas,

- nem a sufocamos com infinitas expectativas.

A vida é um mar,

Onde mergulhamos em busca de nós mesmos.

A vida é abrir a alma,

E permitir que o mundo se faça semente em nosso ser,

É abrir os braços,

E acolher os nossos amigos com força, com sinceridade.

Viver é amanhecer jovem,

Rejuvenescer através dos sonhos,

- que se entranham no nosso espírito,

- e nos impulsionam para fora de nós mesmos.

Viver é não temer a decepção,

- nem esperarpor gratidão,

É dar, dar sempre o que temos de melhor,

- e não esperar nada dos outros,

A não ser que usufruam o lhe demos de melhor!

73. AMOR QUE FORTALECE

“Mas trago, de cabeça, uma canção do rádio, em que um antigo compositor

baiano me dizia, tudo é divino, tudo é maravilhoso.”

(Belchior)

O AMOR QUE DÁ O QUE TEM DE MELHOR,

SEM SE IMPORTAR COM O QUE RECEBE,

SEM SE INTIMIDAR DIANTE DO ABANDONO, NEM DA SOLIDÃO.

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AMAR É UM ATO DE VIVER

Viver é o ato de perceber o valor do invisível.

Viver é perceber

Que o sofrimento é apenas um filtro que purifica o nosso ser,

Que a dor não mais que a espera da intensa esperança.

Que as flores são mais fortes que as pedras.

VIVER É NÃO TER O QUE PERDOAR,

Porque os males são naturalmente esquecidos,

É ter coragem de sentir saudades até o fim,

De estar apaixonado mesmo endividado,

De ficar completamente apaixonado por aqueles que refletem

A beleza inexpugnável do viver com simplicidade!

Viver é um ato de amar,

De se entregar,

De ser corajoso emacreditar nas pessoas,

- mesmo naquelas que já nos decepcionaram.

Viver é um ato de carinho,

É não existir apenas para si mesmo,

É ressurgir das tempestades cada vez mais forte,

- mais audaz, mais humano.

Viver é aprender a sorrir,

Quando a vida nos dá muitos motivos para chorar,

É aprender a voar.

Quando a vida quer nos acorrentar no chão.

Viver é aprender que a vida é um ato contínuo de amar!

74. AMOR QUE PARALISA

“Começar de novo, e contar comigo, vai valer a pena, ter amanhecido.”

(Ivan Lins)

QUANDO O AMOR É MAIOR QUE A NOSSA VIDA,

ELE NOS DEIXA SEM PALAVRAS,

SEM FORÇAS PARA NOS MOVER,

PARA USUFRUI-LO.

VONTADE DE CHORAR

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Há momentos na vida da gente em que a única convicção que temos é que

estamos cheios de dúvidas.

Pensamos de uma forma,

Sentimos de outra,

E agimos de outra.

NADA FAZ SENTIDO,

Tendo, porém, cada fato uma forte causa para existir.

Sentimos a contradição, não como dois lados diferentes de uma moeda,

Mas como partes de uma mesma verdade,

Como fragmentos de uma mesma raiz,

Como lágrimas que vem da tristeza e da alegria ao mesmo tempo.

Explode uma dor no coração:

Uma dor que conforta, que abriga,

Que alivia o sofrimento.

Uma vontade grande de chorar - sem sequer saber o porquê.

Uma vontade absurda de gritar – sem entender contra o quê.

Uma vontade agonizante de amar – sem saber a quem.

Não sei se quem sente essas emoções sou eu

– ou se é o sonhador que reside em mim.

Não se quando choro são lágrimas

– ou se são pequenas sementes que brotam de mim.

Não sei a minha visão é a realidade

– ou se são pontes para o meu desabafo.

Minha lágrima confunde-se com o meu sorriso.

Meu prazer com a minha dor.

Minha angústia com a minha felicidade.

Meu futuro com o meu passado.

Meu passado com o que eu nunca fui.

Procuro encontrar algum sentido para a minha luta.

Apenas escuto de mim mesmo perguntas que eu não sei responder.

Pontos de interrogação que eu não sei decifrar.

Essa vontade de chorar é vontade de ser feliz,

De amar com loucura – mesmo sem ter alguém para amar,

De conquistar um bem maior que a vida:

O sentido e a razão de viver.

Essa dúvida me revela que estou vivo,

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Que quero me tornar humano,

Que estou na luta pelo meu pedaço de chão,

Pelo meu coração gêmeo.

Essa incerteza me mostra que ainda tenho muito a aprender,

Ainda tenho muita sede para saciar,

Que ainda terei outras razões para chorar!

75. AMOR REAL

“Quero sua risada mais gostosa, esse seu jeito de achar, que a vida pode ser

maravilhosa.”

(Ivan Lins)

AMOR COM DEFEITOS, SUJEITO A DECEPÇÕES,

AMOR COM ATRASOS, COM CARÊNCIAS,

SUJEITO A FRIEZA E SILÊNCIO

SUJEITO A SOLIDÕES.

ESSA COISA QUE SE CHAMA SOLIDÃO

Esse mistério chamado ser amado.

Essa coisa que se chama solidão é como uma pessoa,

Às vezes é afetuosa e amiga,

Outras vezes é amarga, fria, sufocante.

A SOLIDÃO É A VOZ QUE EMITIMOS E NINGUÉM ESCUTA,

É o amor que sentimos e ninguém percebe,

É o sonho maior que passa despercebido pela nossa vida.

A solidão torna-se imensa,

Capaz de perpetuar a felicidade ou de entranhar em nós a dor,

Torna-se humana criatura,

Cheia de manhas e desejos, de medos e fantasias.

Torna-se muitas vezes nós mesmos.

Há momentos que converso com a solidão crônica:

‘Solidão, às vezes, tenho medo de você, ficas imensa, parece que vais

me engolir. Fujo de ti desesperadamente, como se pudesse fugir de mim

mesmo, como se pudesse me esconder dos meus sonhos, como se

conseguisse negar os meus amores, como se conseguisse ter forças por

mim mesmo para vencer os meus temores’.

Há momentos que escuto a solidão me responder:

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‘Bobagem! Eu nunca te faria mal. Gosto muito de te ver tranquilo, despi-

dos dos teus fantasmas. Gosto de te ver repousar do teu cansaço, das

tuas angústias, dos teus monstros infantis. Gosto de ver teus olhos bri-

lhantes, adormecidos dos teus planos absurdos. Às vezes, me dá vonta-

de de me chamar amizade’.

A mim, basta sentir que sou amado,

Mesmo que me sinta sozinho.

Basta poder ver a alegria que posso proporcionar aos amigos íntimos,

Mesmo que eu esteja triste.

A mim, basta que o sol nasça novo cada dia,

Que eu nunca perca a força para lutar,

E para prosseguir lutando – sem perder a bondade.

Basta o brilho forte e sincero de um rosto amigo.

Basta que eu ame – mesmo platonicamente,

Mesmo que outros rejeitem meu amor.

Basta que eu tenha um sonho para voar!

Essa coisa que se chama solidão,

Não preciso estar sozinho para ela aparecer,

Não precisa de tristeza nem de sofrimento,

Pode nascer na alegria e no riso mais intenso.

A solidão resquarda-nos de ficarmos vazios,

Sem que sobre um só pedaço de nós,

Poupa um pedaço de nossas energias

– para enfrentarmos os obstáculos.

Essa coisa que se chama solidão

É o ser humano real que mora dentro de nós,

Que só acorda quando vermos no espelho refletido os nossos sonhos!

76. AMOR ROMÂNTICO

“Lembra de mim, dos beijos que escrevi nos muros a giz, os mais bonitos con-

tinuam por lá, documentando que alguém foi feliz.”

(Ivan Lins)

AMOR QUE MORA NOS NOSSOS IDEAIS,

QUE HABITA NAS NOSSAS UTOPIAS,

AMOR INALCANÇÁVEL.

SER OU ESTAR

A vida vinha como era, cheia de manhas, indulgências, invenções.

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A vida vinha cheia de caminhos desconexos.

VIVER LIVRE E USUFRUIR A VIDA,

Ou prender-se a alguém,

Tornar-se responsável pelo o que sente, faz, fala e age.

Andando sem ter aonde ir.

Caminhar sem rumo e sem direção.

Procurando alguém a quem pudesse pedir abrigo.

Procurando uma face amiga de quem receber um sorriso.

Estava perplexo diante de suas reações a cada fato na vida.

A vida inteira procurara uma mulher para amar e ser amado:

Agora que a encontrara,

Não sabia nem se seria capaz de renunciar a suas aventuras,

A sua plena liberdade:

Bandeira levantada desde a sua adolescência.

‘Eu amo. Não queria amar. Estou completamente apaixonado. Tenho

medo. Não deveria ter. Sou umlouco. Deveria estar feliz. Talvez esteja.

Não sei. Sou um homem – preciso de uma mulher ao meu lado. E a mi-

nha liberdade? Eu já estava acostumado com ela. E meu ser livre?’

Tinha dúvidas.

Dúvidas que lhe causavam ansiedade e angústia.

Dúvidas que lhe causavam dor.

A mão no bolso mostrava que tinha algo a esconder.

Os olhos no chão demonstravam que de algum modo sentia vergonha de duvi-

dar do seu amor.

Ela que, vinha ao seu encontro, com um sorriso na face – o mais belo,

E ele lhe dava carinhoe a certeza de que era amada

- em palavras e ações.

‘Se descubro em mim uma molécula de amor, então, descobrirei nas pes-

soas uma razão para amar’.

77. AMOR SENSUAL, ÉROS

“Não se desespere e nem pare de sonhar, nunca se entregue, nasça sempre

com as manhãs.”

(Gonzaguinha)

COMO É COMUM O AMOR CONFUNDIR-SE COM A PAIXÃO,

O AMOR QUE ARDE NO CORPO, QUE DESEJA SEM RAZÃO,

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A MENOR DO PARTE DO AMOR É QUE É PAIXÃO.

NASÇO COM O SOL

E a vida escorre pelas minhas veias

Feito bailarinos em um palco reluzente,

Feito andarilho conquistando corações.

NASÇO COMO ARCO-ÍRIS,

E a vida cresce pelas minhas entranhas,

Coagula na pele a fantasia irresistível de sonhar.

Nasço com a luz,

E a vida invade os poros de calor,

Transpira o bálsamo da afeição inusitada,

Expurga a dor da insensatez.

Nasço com a esperança,

E a vida muda de direção o seu caminho,

E a vida nasce na intenção da eternidade.

Nascer,

Para muitos a vida toda faz parte do único momento de morrer.

Nascer,

Não como um aborto,

Mas feito o sol.

Tornar-se lentamente luz – imenso, gigante.

Enamorar-se pelo bater do coração,

Pelo pulsar da doce ilusão de estar vivo,

De permanecer atento ao aprendizado inerente ao ato de ensinar.

Nascer,

Não para permitir que o amor morra,

Nem que a indiferença prevaleça,

Para não perder-se dentro da máquina de fazer autômatos,

Incapazes de pensar,

De discernir o que significa estar aqui, agora,

Poder fazer qualquer coisa,

Construir uma nova realidade.

A vida não nasce quando abro os olhos,

E sim quando abro o coração,

E me dou o direito de ser feliz,

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De perceber a liberdade contida no infinito.

A vida nasce quando desperto,

Quando me torno consciente de que posso ser amigo,

De que serei capaz de despertar amor – e não apenas paixão,

De que terei forças para encarar os problemas

- e não construir mecanismos de defesa, de fuga.

Nascer, ser vivo,

Para acolher neste momento a essência do ato de amar!

78. AMOR SEM AFETO

“Primeiro você me azucrina, me entorta a cabeça, me bota na boca um gosto

amargo de fel.”

(Gonzaguinha)

A PRIMEIRA VEZ QUE SOMOS APRESENTADOS AO AMOR,

NOS DESCOBRIMOS NO MEIO DE UMA TEMPESTADE,

DE FURAÇÕES E TUFÕES ALUCINADOS,

- PARECE DISTANTE DA AFEIÇÃO.

CADERNO DE ANOTAÇÕES

SOBRE UM AMAR QUASE IMPOSSÍVEL

Queria falar das minhas impressões absurdas, do meu desalento de viver, das

minhas imperfeições exageradas, das lamentações irresistíveis, dos desafetos,

das indagações, das vacilações, dos obstáculos que eu não consigo juntar for-

ças para ultrapassá-los.

Prefiro falar das minhas reflexões, das doces loucuras, dos frágeis infor-

túnios, das minhas humanidades e das nossas verdades mais infantis.

79. AMOR SEM AMIGOS

“Veja bem, é o amor agitando meu coração, há um lado carente dizendo que sim, e essa vida da gente gritando que não.” (Gonzaguinha)

NÃO EXISTE AMOR PRODUTIVO NEM AMIZADES,

OS AMIGOS ENRIQUECEM A AFEIÇÃO,

AS AFEIÇÕES SE MULTIPLICAM NA PRESENÇA DOS AMIGOS.

DIÁRIO DE UM JOVEM QUERENDO SER POETA

Quando eu era jovem eu queria ser poeta, umpoeta qualquer.

Não sonhava ser famoso,

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Nem acreditava que ganharia muito dinheiro.

EU QUERIA SER POETA

Para convencer a mulher amada que ela era realmente um pedaço de mim.

Queria ser poeta para transformar a folha branca do papel

Em carne viva de onde brotariam todas as emoções,

Lágrimas e sangues.

Quando amadureci, ou cresci simplesmente,

Queria ser tudo – menos poeta.

Queria andar de terno e gravata.

Desejei a conta no banco, o cartão de crédito, o carro importado.

Hoje, rejuvenesço porque envelheço,

E o que de mais puro que restou em mim,

Foram as páginas amareladas de um diário,

Do vício de te querer,

Do doce pássaro dos trigais da minha mente,

Do jovem ingênuo que queria apenas ser poeta!

80. AMOR SEM COMPAIXÃO

“Minha vida é andar por este país, prá ver se um dia descanso feliz.”

(Gonzaguinha)

HÁ UMA ESPÉCIE DE AMOR QUE PARECE NÃO SER AMOR,

UM AMOR CHEIO DE COBRANÇAS E EXIGÊNCIAS,

UM AMOR SEM ATENUANTES, SEM DESCULPAS,

SEM PERDÃO.

MOTIVOS

Vivo.

Vivo,

Porque tenho amigos verdadeiros,

Em quem eu posso confiar,

Com quem eu posso contar quando me deparo com um muro,

E não encontro a saída.

VIVO,

Porque amo a vida,

Mesmo que tenha de lutar para sobreviver.

Amo a vida,

E quero vivê-la intensamente,

De peito aberto,

Com toda a vontade de ser feliz,

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De não permitir que as decepções

Me impeçam de acreditar no ser humano.

Vivo,

Porque amo este sol,

Que brilha iluminando meus sonhos.

Porque amo essa chuva,

Que refrigera osmeus sentimentos.

Porque amo esse pássaro,

Que me ensina o caminho da liberdade,

Que me mostra o valro da fraternidade.

Porque amo essas flores

Quando se misturam com outras cores,

Tornando mais belo o campo.

Vivo,

Porque ainda tenho fé no ser humano.

Morro,

Quando vejo tanta gente que não sabe por que vive...

81. AMOR SEM COMPROMETIMENTO

“Na idade em que estou, aparecem tiques, as manias, transparentes, transpa-

rentes.”

(João Bosco)

SEM COMPROMETIMENTO HÁ APENAS RASCUNHOS DO AMOR,

UMA VONTADE LEVE DE AMAR DE VERDADE,

UMA MENTIRA QUE PELA REPETIÇÃO FINGE SER VERDADE.

DE GRANDE IMPORTÂNCIA

Mais importante do que sonhar,

É lutar para realizar nossas idéias.

Mais importante do que viver simplesmente,

É aprender a viver em paz num mundo de guerras,

É olhar o próximo como um irmão.

Mais importante do que ser feliz sozinho,

É sorrir diante das incertezas, das tristezas,

É não desistir da nossa estrada mesmo diante de gigantescos obstáculos.

Mais importante do compartilhar o pão,

É dar a mão aos desesperados,

É dar amor aos abandonados,

É vivenciar o sentido real de doação,

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Vivendo um pouco do nosso tempo para os outros.

Mais importante do que dar a mão,

É caminhar sempre juntos!

Mais importante do que amar,

É acreditar sempre no amor,

Mesmo não sendo correspondido plenamente,

Mesmo diante da mais pura falta de amor.

Mais importante do que ser jovem,

É ser amigo nas horas tristes e alegres,

É ser humano com muito amor para dar,

Com muita paz para transbordar!

82. AMOR SEM DESTINO

“Ser feliz, no teu colo dormir, e depois acordar.”

(João Bosco)

AMOR QUE SE AVENTURA, SEM TRILHOS,

AMOR SEM DIREÇÃO, MAS COM RUMO CERTO,

AMOR SEM CASA, MAS QUE EM TODO CANTO ENCONTRA UM LAR.

IMENSIDÃO

A maior vitória do homem

É aceitar com dignidade as suas derrotas.

A maior de todas as dádivas

É a vida.

O mais humilde de todas as atitudes

É o perdão.

A maior provade amizade

É a lealdade.

A mais importante paz

É a interior.

A maior prova de fraternidade

É não promover a guerra.

O mais belo momento de carinho

É o nascimento de uma nova vida.

Onde está contido o maior dos segredos

É num profundo olhar.

O maior gesto de união

É uma mão estendida.

A mais bonita expressão de esperança

É a plantação de uma semente.

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O reconhecimento da beleza da vida

É ter forças para viver com toda a intensidade.

A mais bela lição de liberdade

É não ser dependente de nada.

O mais belo quadro

É o por-do-sol.

A mais poderosa de todas as armas

É o amor!

83. AMOR SEM FUTURO

“Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar.”

(João Bosco)

Amor que nasceu do engano,

Que brotou da pura carência, sem sentido,

Amor que quiz somente companhia.

LUGAR DE ESPERANÇA

A terra é para os homens,

Assim como o céu é para os pássaros.

A terra foi feita para os homens cultivarem o solo,

Tornando-o fértil para que não exista fome,

Para que os homens construam um lugar pacífico,

Um lugar de morada agradável,

Onde nunca se mataria por orgulho,

Nem para provar algum poder.

A terra foi feita para as crianças sorrirem livremente,

E usufruam de sua pureza.

A terra foi feita com amor extremo,

Como uma canção que o vento toca suavemente

E os passarinhos cantam.

Foi feita com carinho, delicadamente,

Como os lírios do campo,

Como o milagre de uma criança que nasce.

A terra foi feita para os homens:

Lugar de eterna morada,

Lugar de paz,

Lugar de esperança.

84. AMOR SEM PASSADO

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“Quem quer viver um amor, mas não quer suas marcas qualquer cicatriz.”

(João Bosco)

É convivendo no dia-a-dia que o amor cria raízes,

Partilhar as experiências diversas da vida alimenta o amor,

O amor tem que ter um passado em comum

- sem passado o amor não sobrevive.

GUARDO EM MEU SER UMA SEMENTE

Guardo em meu ser a fantasia de envontrar um grande amor sem razão.

Guardo na pele a sensação de ser feliz,

De respirar a expectativa de eternidade.

GUARDO NO PEITO UM SENTIMENTO IMENSO

Que transborda fecundante em cada pedaço de mim,

Em cada tentativa (mesmo fracassada) de amar,

De suportar a dor da rejeição,

Com a esperança certa de superar cada uma das impossibilidades.

Guardo em meus desejos

O êxtase de sentir o calor da pele de quem eu amo,

De quem reproduz em mim a vontade de rasgar

- de romper as barreiras que me impedem de ususfruir a vida,

A vida mais verdadeira, a vida que veio do pó,

Do sangue, da morte.

Guardo em meu ser um amor imenso, universal,

Que somente precisa de um outro coração,

Para eternizar as suas singelas (e talvez eterna) sementes!

85. AMOR SEM RAZÃO

“Aí diz o meu coração, que prazer tem bater se ela não vai ouvir.”

(João Bosco)

Amor sem razão é quase paixão...

APARÊNCIAS

Conhecem-se as pessoas,

Pelo carinho com que elas tratam os animais...

Pela maneira mansa de falar,

Pelo modo humilde de perdoar e de pedir perdão

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- sem se importar quem está com a razão.

CONHECEM-SE AS PESSOAS

Pela disposição em ajudar os outros em todos os momentos,

- mesmo que tenha de renunciar aos seus próprios interesses.

Percebe-se o que tem o coração das pessoas

Pelo brilho dos seus olhos

- quando são capazes de continuar apesar das dificuldades,

- quando são capazes de se controlar e nunca ferir ninguém,

Pelo menos, intencionalmente.

Percebe-se a sinceridade das pessoas

Pelos esforços em servir os outros,

Por escutarem quando alguém quer falar,

Por nunca criticarem (a não ser para reconstruir).

Conhecem-se as pessoas,

E diz-se que são ‘gente’,

Quando elas conseguem amar os outros

Sem, no entanto, pensar em ser amadas!

86. AMOR SEM SENTIDO

“Longe de ti tudo parou, ninguém sabe o que eu sofri.”

(Djavan)

QUANDO AMAMOS VIOLANDO OS NOSSOS VALORES MAIS ÍNTIMOS,

QUANDO AMANDO NÃO OLHAMOS NA MESMA DIREÇÃO,

QUANDO AMANDO NOS ANULAMOS...

OPORTUNIDADES

Tenho a vida inteira...

Para construir em mim um lugar

Onde os amigos podem encontrar abrigo,

Onde as pessoas podem encontrar uma palavra de consolo,

Palavras que dam força para continuar

- depois de uma imensa decepção.

TENHO A VIDA TODA

Para aprender a viver,

Aprender a ter cuidado para não ferir as pessoas,

Aprender que uma mão estendida vale mais do que dinheiro no banco.

Tenho a vida toda

Para ensinar os duros de coração que a vida é presente,

Para ensinar aos materialistas que o que importa é a motivação sincera,

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- a amizade pura,

Que o que importa é o que vem do fundo do coração.

Tenho a vida toda

Para lutar pelo o que eu acredito,

Para entender que em todos os momentos

Temos oportunidades para ajudar as pessoas

- que em cada crise há um infinito de possibilidades.

Tenho a vida inteira

Para aprender a ser feliz!

87. AMOR SEM VERGONHA

“Amar é um deserto, e seus temores.”

(Djavan)

AMOR SEM PUDOR,

QUE NÃO TEM MEDO DOS ENGANOS,

QUE NÃO TEM RECEIO DE PARECER RIDÍCULO.

CAMINHO SEGURO

Tenho sido feliz...

Apesar dos tropeços, e das quedas,

- mesmo no chão tenho adquirido forças para levantar.

TENHO SIDO FELIZ

Apesar das brigas e das guerras,

Durante todas as surpresas,

Diante das maiores dificuldades,

Eu tive forças para superar as barreiras,

Para perdoar as mágoas profundas.

Tenho sido feliz,

Gosto de repartir meu sorriso

- aos que já não sabem e nem querem sorrir,

Tento compartilhar minha esperança

- com os duros de coração.

Tenho sido feliz,

Tento apreciar as coisas simples,

As coisas que contém uma beleza em si mesma.

Tenho sido feliz,

Tudo o que eu faço...

Faço com a sinceridade do meu modesto coração!

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88. AMOR SUICIDA

“Você disse que não sabe se não, mas também não tem certeza que sim.”

(Djavan)

AMOR SEM AUTOESTIMA,

AMOR QUE SE ANULA,

QUE ESQUECE COMPLETAMENTE DE SI MESMO,

AMOR QUE NUNCA SE TORNA PLENO.

COTIDIANO

Acho bonito...

Falar em paz mesmo que o mundo não escute,

Sentir amor mesmo tendo de lidar com a indiferença,

Sorrir mesmo que as palavras possam ferir.

ACHO BONITO PERDOAR

Por mais que tudo ao redor cheire rancor.

Acho bonito sonhar

Mesmo que depois caia na realidade,

Esquecer-me do tempo num mundo sem tempo.

Acho bonito

Chorar por um mundo sem lágrimas,

Ler algo que transmita esperança,

Que plante uma fértil semente na minha vida.

Acho bonito o vôo do pássaro,

A chuva que cai, o sol da manhã,

O brilho da lua

Mesmo estando preocupado.

Acho bonito falar de amor!

Acho bonito

Admirar as coisas simples do dia-a-dia,

Que com sua simplicidade engrandece o cotidiano.

89. AMOR TÍMIDO

“Você sabe que eu só penso em você, você diz só que vive pensando em

mim.”

(Djavan)

AMOR SEM PALAVRAS, INSEGURO,

QUE NÃO ARRISCA, QUE EMUDECE,

QUE CALA QUANDO DEVERIA GRITAR,

AMOR SEM VONTADE, MEDROSO.

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AMIZADE APAIXONADA

Amor... Amizade...

Dois sentimentos puros que moram no mesmo lugar:

No coração.

NÃO MORAM EM QUALQUER CORAÇÃO.

Moram em um coração

Que tem o mesmo objetivo:

Ser eterno,

Que tem omesmo sonho:

Ser feliz.

Eles nunca se confundem:

A amizade é calma e serena,

Não guarda nenhum segredo,

São duas pessoas que se unem para serem irmãs!

O amor, ah! O amor!

É imenso e incontrolável,

Sufoca de saudades,

Ocupa todos os espaços do coração,

Resiste,

Prevalece diante de imensas tempestades,

É repleto de segredos e mistérios,

Constrói suas verdades no meio de tantas mentiras.

O amor ocupa todas as horas,

Não tem fim,

Ocupa todo o pensamento,

Ele é infinito.

O amor torna-se mais forte com a amizade,

Preenche todos os momentos vazios,

Encontra o verdadeiro caminho da felicidade,

Para poder caminhar juntos!

90. AMOR VERDADEIRO

“Um bom lugar pra ler um livro, e o pensamento lá em você, eu sem você não

vivo.”

(Djavan)

AMOR QUE NASCE PROFUNDAMENTE NO CORAÇÃO,

QUE AFETA TODOS OS ASPECTOS DA NOSSA VIDA,

QUE OLHA PARA O FUTURO JUNTO COM O SER AMADO,

QUE AMAR JÁ É EM SI UMA RECOMPENSA.

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VIDA SIMPLES

Quem não quer escutar

Uma palavra de carinho.

Quem não gostaria de amar e ser amado?

De viver num lugar tranquilo onde todas as pessoas fossem amigas?

QUEM NÃO GOSTARIA

De acabar com a miséria?

De que acabassem todas as guerras?

De viver numa família unida e feliz?

Quem não quer ter amigos verdadeiros?

Esperança no futuro?

Quem não gostaria de caminhar com segurança?

De nunca deisistir apesar dos tropeços?

De ter forças suficientes para ser feliz?

Quem não gostaria de encontrar alguém

Com quem pudesse compartilhar todas as alegrias e tristezas?

De encontrar alguém

Que sempre estivesse ao meu lado dando forças?

Quem nãogostaria

Que todos os homensm fossem amigos?

Que todas as crianças pudessem ter uma educação

Capaz de torná-las adultos maduros e dignos?

Quem não gostaria

De ter uma vida simples

E com muita paz no coração?

91. AMOR-PRÓPRIO

“Teus sinais me confundem da cabeça aos pés.”

(Djavan)

PARA AMAR O OUTRO É PRECISO, PRIMEIRO, APRENDER A AMAR A SI MESMO,

AMAR DE UM MODO RAZOÁVEL, DE UM MODO EQUILIBRADO,

NEM AMOR DEMAIS NEM AMOR DE MENOS.

GRITARIA

Às vezes penso em gritar,

Gritar que essas cobranças pelos erros cometidos,

Pelas palavras rudes ditas sem querer,

Cobrança pela ajuda que tanto é pedida,

- E dela precisamos cada dia mais,

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Cobrança pelo favor feito que nunca foi retribuído,

Pela liberdade concedida que foi mal usada,

Pelo carinho negado, tanto esperado,

Que ficou preso nos braços tímidos.

Às vez penso em gritar,

Por essas cobranças pelas flores que morreram

Porque foram mal regadas,

Pelo olhar triste que muitas vezes provocamos,

Pelo apoio e pelo ombro amigo

Que tanto esperamos e que nunca veio.

Às vezes penso em gritar

Que todas essas cobranças ninguém pode fazê-las.

Às vezes penso que lutar,

Lutar para preservar a fraternidade,

Lutar para levar esperança aos que tanto precisam dela,

Lutar para levar a fé aos que desistiram dela...

É uma maneira de demonstrar amor!

92. DESAMOR

“Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher.”

(Lupicínio Rodrigues)

O PODE MORRER, ELE MORRE LENTAMENTE,

O AMOR NÃO CONVIVE COM A INDIFERENÇA,

O AMOR NÃO CONVIVE COM O DESRESPEITO,

O AMOR NÃO CONVIVE COM A INDELICADEZA,

ELE SE TORNA DESAMOR.

URGENTE PRESERVAÇÃO

Sinto apenas

Que a luta deve ser constante para se alcançar a paz.

Que a felicidade é uma eterna conquista,

Feita de pequenos momentos ao lado dos que amamos.

SINTO APENAS

Que as injustiças doem fundo no peito,

Tornam-nos amargos,

Que a verdade dói muito

No ouvido dos que se fazem de surdos,

Para não admitir seus erros.

Sinto apenas

Que amigos verdadeiros são muito raros no mundo,

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Que os inimigos são mais férteis, proliferam como uma praga.

Sinto apenas

Que temos de lutar

Para preservar o que temos de mais verdadeiro dentro de nós,

Preservar a fraternidade

Para que a nossa humanidade perdure,

Preservar a amizade

Para permenecermos genuinamente unidos,

Ajudando-nos uns aos outros.

Sinto apenas,

Que para nãonos tornarmos um bando de famintos,

Ou uma classe de robôs,

Ou para não transformarmos totalmente os alimentos em armas,

Temos de lutar arduamente

Para preservar o amor!

93. ESPERANÇA DE AMAR

“Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, e por ele quase morrer.”

(Lupicínio Rodrigues)

A ESPERA DE UM AMOR VERDADEIRO

É MOMENTO DE APREENSÃO E SONHOS,

MOMENTO DE DESESPERO E FANTASIA,

MOMENTO DE INCERTEZAS E DESCOBERTAS.

AMIGA SOLIDÃO

Seja a minha solidão minha amiga mais presente.

Seja a minha solidão

A companheira das horas de tristeza,

De dor, de medo, de meditação,

A ajuda para que eu readquira forças para cotinuar a ter raça.

SEJA A MINHA SOLIDÃO CHEIA DE TERNURA E DE POESIA,

Repleta de saudades e de esperança,

Regada entre lágrimas e sorrisos,

Semeada entre carinho e compreensão.

Seja a minha solidão

Um momenro para limpar a sujeira dos meus olhos,

Para esvaziar as lágrimas do meu coração,

Um momento para conversar comigo mesmo,

Para procurar compreender o incompreensível nas pessoas.

Seja a minha solidão

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Bonita – por estar envolta de amizades,

Alegre – por possuir a paz dentro de si,

Imensa – por fazer companhia ao mundo,

Audaz – por conquistar seus sonhos mais significativos.

Seja a minha solidão eterna

Quando perto de mim estiverem os amigos!

94. FANTASIA DE AMAR

“Felicidade foi-se embora, e a saudade no meu peito ainda mora.”

(Lupicínio Rodrigues)

O AMOR TEM O PODER DE FERTILIZAR A NOSSA IMAGINAÇÃO,

IMAGENS DE UM MUNDO IDEAK,

IMAGENS DE SERES QUASE PERFEITOS,

IMAGENS DA UTOPIA DE AMAR.

VIVAS RECORDAÇÕES

Talvez eu tenha de viver somente de recordações.

Talvez eu viva de lembranças,

Recordações de um passado distante,

Passado vivido intensamente em seus momentos.

TALVEZ EU VIVA DE RECORDAÇÕES,

De lembranças passageiras que se tornaram eternas,

De olhares que parecem ainda brilhar,

De saudades entesouradas no peito.

Talvez eu viva de doces lembranças,

Vivendo o agora eu aprendi a caminhar,

Vivendo e tentando construir um hoje

Que amanhã se tornará um eterno passado.

Talvez eu consiga viver de recordações

- caladas no peito, marcadas pelo tempo, vividas em segredo.

Talvez eu viva de recordações,

Ou, quem sabe,

As recordações me ensinem a viver!

95. HUMANO AMOR

“Quantas noites não durmo, a rolar-me na cama, a sentir tantas coisas que a

gente não sabe explicar quando ama.”

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(Lupicínio Rodigues)

O AMOR HUMANO NÃO É UMA ESTRADA DE LINHA RETA,

NÃO RESPEITA AS REGRAS INVENTADAS POR HUMANOS IMPERFEITOS,

NÃO SE SATISFAZ COM MIGALHAS – MESMO AS MAIS NOBRES.

PASSADO DE MARCAS

Da despedida, ficou a lágrima.

Do sorriso, ficou a saudade,

Das nossas brigas, ficou a paz.

Das palavras sinceras, ficou o caminho,

Da música, ficou a lembrança.

FICARAM ALGUNS POUCOS SEGREDOS NO CORAÇÃO,

Um pouco de amor ficou em cada gesto.

Ficou um pouco de medo em nossos atos,

Um pouco de mentira nos nossos olhos.

Ficou um pouco do brilho do olhar,

Um pouco da frase não dita,

Do abraço não dado.

Ficou um pouco de perfume nonosso cheiro,

Um pouco de sonhos jogadospelo chão.

Ficou um pouco de tudo,

Em cada silênico.

96. LOUCO AMOR

“Vem viver outra vez ao meu lado, não consigo dormir sem teu braço, pois meu

corpo está acostumado.”

(Lupicínio Rodrigues)

A LOUCURA DE AMAR É ÉPOCA DE DEVANEIOS JUVENIS,

LOUCO AMOR É AQUELE DE TEM O OUTRO COMO POSSE,

QUE FAZ DO OUTRO O ÚNICO RESPONSÁVEL PELA SUA FELICIDADE.

DIANTE DO DURANTE

Durante algum tempo

Você vai fazer parte dos meus sonhos

- não posso negar.

DURANTE MUITO TEMPO

Vou pensar diariamente em você

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- não posso fingir.

Durante a madrugada,

Eu vou pensar em nossos dias,

Nos nossos momentos partilhados.

Durante a minha solidão,

Eu vou sonhar com você,

Vou lembrar-me do seu jeito.

Diante do vazio dos meus dias

Vou fingir por você, por nós dois,

Vou recordar por você,

Vou chorar por você.

Diante do mundo,

Eu vou sorrir por você,

Vou brincar por você.

Diante da distância,

Vou sentir a sua presença.

Diante da saudade,

Vou te esquecer,

Vou jogar fora as boas lembranças.

Diante de tudo,

Durante algum tempo,

Eu vou sentir que ainda preciso de você!

97. MEDO DE AMAR

“Faça uma lista de grandes amigos, quem você mais via há dez anos atrás,

quantos você ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais.”

(Oswaldo Montenegro)

O MEDO DE AMAR É O MEDO DA DOR,

DO ABANDONO, DA DECEPÇÃO, DA TRAIÇÃO,

DA IMPOTÊNCIA DIANTE DAS MAZELAS DO AMOR ROMÂNTICO.

SOMENTE AMIGO

Eu quero estar presente

Em seus momentos de paz.

Quero ser a sua paz

Nos seus momentos de confusão.

QUERO SER A SUA ALEGRIA

Nos seus momentos de tristeza.

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Quero ser a sua mais bonita recordação,

O melhor dos seus sonhos,

O maior dos seus segredos,

O seu mais bonito medo.

Eu quero ser o brilho dos seus olhos,

A sua vontade inesgotável de lutar – de viver!

Quero ser o mais amado

Entre todos os seus amigos íntimos,

O mais alto de todos os seus vôos,

- em busca de ar puro,

- em busca da natureza, da liberdade!

Eu quero estar do seu lado,

Dando-lhe forças quando tudo parecer perdido,

Dando-lhe a minha mão quando tudo parecer inatingível.

Eu quero ser simplesmente

O seu maior amigo!

98. PAIXÃO, PATHOS

“Quantos defeitos sanados com o tempo, eram o melhor que havia em você.”

(Oswaldo Montenegro)

PAIXÃO NÃO É AMOR,

PODE SER SEMENTE – MAS PODE SER PRAGA,

PODE SER INÍCIO – MAS PODE SER PRISÃO,

PODE TORNAR-SE CALMARIA – MAS PODE TORNAR-SE TEMPESTADE.

FANTASIA UNIVERSAL

Preciso tanto de ti

Para que quando em mim não sobrar uma só gota de força,

Tu me ecolhas nas tuas asas,

Para que no instante em que eu estiver perdido nomeu caminho,

Tu me dêes o teu próprio para prosseguir.

PRECISO TANTO DA TUA SEDE

Para que quando eu me sentir completo,

Eu tenha o teu ser para buscar.

Preciso da tua solidão,

Para quando eu me sentir inteiramente inquieto

Eu tenha os teus braços para me acalmar.

Preciso tanto do teu silêncio

Para quando eu me sentir vazio

Eu tenha a ternura das tuas carícias para me abastecer.

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Eu preciso...

Preciso muito do teu olhar,

Para que quando algum dia quem sabe o meu coração fique cego,

Eu tenha a luz dos teus olhos

Para me ensinar a sonhar de novo!

99. TERNA AFEIÇÃO, PHILOSTORGOS

“Eu amava como amava um sonhador, sem saber por que, e amava ter no co-

ração a certeza ventilada de poesia, de que o dia amanhece.”

(Oswaldo Montenegro)

O AMOR PARA SER ETERNO PRECISA DE GENTILEZA,

SÓ CRESCE NUM AMBIENTE DE BONDADE,

SEU FOGO SE MANTÉM ACESO COM A TERNURA.

PALAVRAS

Para falar de você...

Preciso lembrar de nós,

Dos obstáculos que vencemos juntos,

Das diferenças que conseguimos superar.

PRECISO LEMBRAR DA ESPERANÇA

Que cada olhar transformou em brilho,

Que cada palavra tornou realidade.

Para falar de você,

Basta escutar uma música que fale de afeição,

Basta olhar para dentro de mim,

Basta eu começar a sonhar,

Basta falar de mim.

Pra falar de você,

Preciso falar de um doce olhar,

Que me deixa estático diante da força modesta,

Preciso falar da amizade,

Que sempre caminha junto mesmo à distância,

Que está sempre disposta a escutar.

Para falar de você,

Basta lembrar da ternura, do carinho, da compreensão.

Para falar de você,

Preciso falar do amor incondicional.

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100. TRAGÉDIA DE AMAR

“Eu amava como amava um pescador, que se encanta mais com a rede que

com o mar.”

(Oswaldo Montenegro)

QUANDO COMEÇA O AMOR ELE É ESPERANÇA DE VIDA PERFEITA,

QUANDO ELE ACABA, LEVA JUNTO O DOCE FUTURO SONHADO,

DESTRÓI NOSSA INGENUIDADE INFANTIL,

DESTRÓI NOSSAS CERTEZAS JUVENIS.

NO FUNDO DO CORAÇÃO

Guardo um pouco de você nos meus medos,

Bem dentro dos meus segredos.

Sinto um pouco de você em cada palavra falada,

Na necessidade de amar,

No vazio dos meus dias.

GUARDO UM POUCO DE VOCÊ NOS MEUS SONHOS,

Na esperança de ser feliz,

De ter alguém que seja capaz de compreender as minhas contradições,

Capaz de me apoio incondocional nos momentos críticos.

Guardo você nas minhas mais puras fantasias,

Com sinceridade no olhar,

Com doces palavras de carinho,

Para te fazer feliz!

Guardo você bem dentro de mim!

101. VÍCIO DE AMAR

“Pra quê ficar juntando os pedacinhos do amor que se acabou, nada vai colar,

nada vai trazer de volta a beleza cristalina do começo, os remendos doem

mais.”

(Guilherme Arantes)

O VÍCIO DE AMAR TRAZ EM SI

A PROFUNDIDADE DAS DORES,

A FORÇA RECOMPENSADORA DA ALEGRIA,

A ADRENALINA DEPENDENTE DO PRAZER.

GOTA DE VIDA

Muito embora não seja a vida um mar de rosas,

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Nem todos os sonhos se tornem realidade,

Te diria com a certeza de que estou vivo agora,

Que meus braços foram feitos para ti somente.

Muito embora caiam lágrimas nos momentos de alegria,

Como a chuva molha o campo e lhe acaricia,

Sigo empenhado em plenamente viver,

Para que uma gota de vida que de mim transborde, nunca te deixe morrer.

Quando, algum dia, distantes estejamos nós,

Te lembrarás da gota de vida que te dei,

E, mesma sozinha, não te sentirás só.

A gota se tornará um mar,

Que fará o amor no teu coração acordar,

Aí, verás então, o quanto eu te amei!