Entre Dois Amores Juliet Shore

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Cristina partiu para Kampili, na frica, para se casar com seunoivo, Martim. Mas foi forada a interromper a viagem e sehospedar na casa de Dominic, mdico de Ugadu, durante os trs

    meses que duram as chuvas torrenciais na frica quatorial.!esse meio tempo ela, que tam"m era mdica, ficou a#udando

    Dominic no hospital, e a convivncia com aquele homem t$osedutor fe% com que Cristina sentisse uma forte atra$o se&ual

    por ele. 'oi a( que um verdadeiro inferno comeou) decidir entreseus dois amores. *ual deles seria o homem que satisfaria os

    seus dese#os mais secretos+

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    Entre dois amoresTropical ospital!

    "uliet #hore

    $i%italizado& 'alria

    (orri%ido& Andria

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    CAPITULO I

    Ah, por que essas chuvas de vero chegaram duas semanas maiscedo? murmurou Cristina com impacincia.

    As botas de borracha afundavam no atoleiro da trilha que estava setornando cada dia menos transitvel, devido aos fortes aguaceiros quedesabaram durante a semana.

    O ipe, no qual iniciara a viagem, fora abandonado a uns quin!equil"metros atrs por no ter condi#$es para prosseguir. Os atoleiros eramfundos demais, mesmo para um ve%culo alto.

    &e a mo#a for at' a ponte de (gadu pode pegar uma carona numcaminho do )*'rcito e chegar at' +ampili. Os caminh$es atravessamesses atoleiros e tm mais homens para empurrlos, se ficarem atolados.

    )st bem, -eorge. amos at' l. ai voc na frente, para meindicar o caminho. )u estou farta de andar nessa lama.

    -eorge era o guia africano, um negro da cor de chocolate amargo,sem um pingo de leite, e fora mandado por /artin, o noivo de Cristina,

    para acompanhla de /ombasa a +ampili, na fronteira do 0u'nia e da1an!2nia. /artin era diretor de um hospital e convidara Cristina para

    trabalhar na maternidade3 ela ficaria primeiro um ano na se#o de pediatria,antes de assumir fun#$es de maior responsabilidade. &e tudo corresse bem,casaria no fim do ano com /artin, encerrando de certa forma sua carreiram'dica e assumindo as obriga#$es da fam%lia.

    1udo isso fora planeado por /artin, que tinha a cabe#a no lugar,bem organi!ada e meticulosa. O que ele diria se a en*ergasse nessemomento, com lama at' os oelhos? /artin no era homem de entrar ematoleiro. 4efletiria antes sobre a maneira de ir de A at' 5, sem suar ossapatos na lama e, provavelmente, tudo sairia segundo seus planos.

    Cristina estava com saudade dele, se bem que no lhe agradavapensar

    no interrogat"rio cerrado por que passaria antes de estreitlo nosbra#os com intimidade e abandono.

    6or que voc no seguiu o roteiro que eu tracei, 1ina? seria aprimeira pergunta que /artin faria com a vo! fria e impessoal que lhe erahabitual nessas ocasi$es. 6or que voc no estava no vapor Quem Annequando ele atracou em /ombasa?

    Cristina e*plicaria sem eito que houvera uma pequena confuso na

    hora do embarque. )la ulgava que o vapor ia !arpar s 7 da noite e, narealidade, o vapor saiu 8s 9 da tarde.

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    /artin, bem entendido, no aceitaria a e*plica#o de bom grado.:ndagaria se os outros passageiros tinham perdido igualmente o vapor e elaseria for#ada a admitir que no, que somente ela se atrasara para oembarque.

    0uer di!er que somente voc se enganou sobre o horrio departida. insistiria /artin, infle*%vel.)la acabaria confessando que ficara deslumbrada com tudo que

    avistara em &ue! era sua primeira viagem ao e*terior e que perderapor isso a hora do embarque. As pessoas que conhecera foramsimpatic%ssimas e ela ficara fascinada com a bele!a de /assa;a depois dosdias passados sob o c'u t"rrido e escaldante do mar ermelho. 6erdera trsdias, em consequncia de sua desaten#o, enquanto aguardava que acompanhia de navega#o providenciasse um outro camarote no pr"*imovapor, um cargueiro, por sinal, que se dirigia a air"bi era a ltima cidadeonde as estradas eram asfaltadas ou, pelo menos, recapadas.

    As estradas para +ampili eram asfaltadas ou no?-eorge, que se encontrara com Cristina em /ombasa, e*plicou que

    algumas estradas eram boas e que outras eram ruins. )le lembrou, por'm, aordem que recebera de /artin3 levar Cristina para +ampili no pra!o maiscurto poss%vel. &e ela tivesse chegado no dia em que era aguardada, noteria encontrado atoleiros nas estradas e a viagem teria transcorrido semmaiores problemas.

    Cristina foi despertada de seu devaneio melanc"lico pela vo!e*citada do guia que caminhava alguns passos na frente. )le apontou com amo direita para o rio de guas barrentas que cortava o caminho queestavam seguindo.

    A ponte caiu anunciou -eorge. As guas transbordaram doleito e arrastaram a ponte embora!

    >a outra margem do rio havia uma estrada em bom estado que seperdia na dist2ncia. Certamente era a rodovia constru%da pelo e*'rcito paraseu uso pr"prio. )ntretanto, como o rio tinha uns cinquenta metros delargura e as guas estavam caudalosas em consequncia das chuvastorrenciais que ca%ram durante a semana, ele no podia ser atravessadofacilmente por um barco a remo. A rodovia do outro lado parecia ser algoimpraticvel e %nacess%vel.

    )ra aqui a ponte de Ugadu? perguntou Cristina desanimada.

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    )ra essa a ponte confirmou -eorge. Ugaduest a uns trsquil"metros daqui. Agora estamos numa enrascada. O patro vai berrarcomigo por causa de nossa demora.

    Com voc no ) s" comigo que ele vai ficar zangado, -eorge.

    0ue culpa voc tem? =ui eu que me atrasei mais do que devia e vou dei*arisso bem claro. >o se preocupe.-eorge por'm no pareceu muito tranquili!ado com a e*plica#o.

    Continuou olhando fi*amente para o rio inundado, perguntando a si mesmose era poss%vel atravesslo de alguma maneira. 1ina ficou com pena doguia africano, /artin tinha preparado tamb'm um roteiro para -eorge erecomendou que fosse seguido 8 risca. Os roteiros de /artin no levavamem considera#o os caprichos do momento, nem os incidentes imprevis%veis. Cristina estava muito deprimida e desanimada no momento pararefletir com mais calma sobre a personalidade do noivo, mas prometeu quevoltaria a isso na primeira oportunidade.

    -eorge, como no podemos atravessar o rio de eito nenhum,acho bom a gente providenciar um lugar para passar a noite. )*iste algumhotel ou hospedaria aqui por perto? 0ualquer um. >o precisa serlu*uoso...

    @otel, aqui? repetiu -eorge com uma risadinha nervosa. Amo#a est sonhando. A nica coisa que e*iste um abrigo na reserva. )u

    posso condu!ila at' l e depois voltar para apanhar o ipe onde n"s odei*amos.

    6erfeito amos em frente, antes que escure#a.A reserva tinha, de fato, uma esp'cie de garagem para "nibus no

    meio da floresta, s" que no havia nenhum Bnibus ali, o galpo de tbuasera aberto de um dos lados. >o momento, o enorme barraco servia apenas

    para proteger os viaantes das chuvas torrenciais que desabavamrepentinamente, com muitas trovoadas e rel2mpagos.

    (m grupo de negros estava abrigado ali quando 1ina e -eorgeentraram com as malas nas mos.

    5oa tarde, pessoal disse Cristina, procurando conquistar a

    simpatiados negros.

    >ingu'm respondeu. uas mulheres que estavam cochichando emvo! bai*a olharam uma para outra e ca%ram na risada. Cristina sentouse emcima da mala e olhou em volta com curiosidade. As rvores de maior porte

    pareciam contentes com o aguaceiro3 as folhas estavam lavadas, brilhantesde vi#o, e tinham as ra%!es alagadas. (m ribeiro de guas barrentas corrialentamente por entre a vegeta#o cerrada. >o interior do barraco havia umcheiro forte e enoativo de roupas molhadas, de couro mofado, misturado

    ao aroma acre de suor e de urina.

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    6ouco depois, feli!mente, o c'u limpou pela terceira ve! aquele dia eos raios do sol atravessaram as nuvens ralas e bateram de cheio no topo dasrvores copadas.

    Alguns negros come#aram a sair lentamente do abrigo, como se no

    tivessem pressa de chegar. 6assaram na frente de Cristina sem voltar acabe#a, como se ela fosse uma criatura inanimada que no despertasse amenor curiosidade. As duas mulheres que cochichavam no canto foram asltimas a sair do abrigo.

    ocs falam ingls? perguntou Cristina, com um sorriso.As duas pararam um instante, surpresas com a pergunta, sem saber o

    que di!er. )m seguida, puseram as trou*as pesadas nas cabe#as e seafastaram com uma risadinha nervosa. estiam saias amplas de algodo eandavam descal#as, com um gingado gracioso dos quadris.

    1ina ficou so!inha no abrigo. -eorge tinha partido algumas horasantes para buscar o ipe abandonado na estrada. A noite ia cair de ummomento para outro e, na frente do abrigo, erguiase a floresta densa,escura, onde havia provavelmente animais fero!es. &er que -eorge iademorar muito, pensou Cristina com ansiedade. )ra pouco provvel quevoltasse antes da meianoite com a estrada nessas condi#$es.

    Onde se encontrava, e*atamente?1inham viaado uns cento e cinquenta quil"metros depois que

    partiram de >air"bi, por estradas terr%veis, at' abandonarem o ipe atoladoe decidirem caminhar uns quin!e quil"metros a p', a fim de procurar a tal

    ponte de Ugadu. O abrigo no meio da mata ficava a uns quatro quil"metrosa

    sudoeste do rio. Cristina procurou no mapa que /artin lhe mandara eencontrou de fato o lugar marcado com uma pequena cru! vermelha.

    )stava no meio de uma grande reserva, no centro da Dfrica, onde osmovimentos dos europeus eram cuidadosamente seguidos e controlados.)ra por isso que fora recebida com tanta frie!a pelos negros. 6elo visto,ningu'm simpati!a muito com os estranhos por aquelas bandas... /as o que

    podia fa!er? 1inha que aguardar pacientemente a volta de -eorge. >o

    podia perder a cabe#a nem ficar nervosa 8 toa.) se fosse assaltada durante a noite? (m grito de mulher, no meio de

    uma floresta, no seria ouvido por ningu'm...A noite caiu rapidamente e as chuvas desabaram pouco depois da

    primeira trovoada que sacudiu o ar e a rvore mais alta da floresta caiuruidosamente atingida por um raio.

    Cristina estava encolhida num canto, morta de susto e de apreenso,com as mos nos ouvidos para abafar o estrondo das trovoadas que seseguiam ininterruptamente agora. )m dado momento, tomou coragem e

    abriu os olhos para ver o que havia em sua volta.

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    A paisagem noturna lhe pareceu mais sinistra e amea#adora do quenunca. Ah, por que fora sair da &anta Casa onde trabalhava para vir semeter no meio dessa floresta tropical? E pelo menos sentiase segura,

    protegida, era conhecida por todos como uma m'dica compenetrada e

    cumpridora dos seus deveres. ) aqui, embai*o desse abrigo, havia algu'mpara protegla de um animal fero! ou de um homem com ms inten#$es?>o havia absolutamente ningu'm. )stava so!inha e indefesa como nuncaestivera na vida. A sensa#o de p2nico foi to forte que ela tornou a fecharos olhos e a levar as mos aos ouvidos num gesto instintivo de defesa.

    5oa noite disse algu'm atrs dela. O que voc estfa!endo aqui nessa escurido.

    >o primeiro instante, ela pensou que estava sonhando. Ao abrir osolhos, por'm, e voltar a cabe#a para trs avistou um homem alto, decabelos loiros, sobrancelhas espessas e olhos verdes. )stava com botas decano alto, pr"prias para o clima chuvoso dos tr"picos, e um leve aroma defumo e*alava de sua pessoa, embora estivesse com o cachimbo apagadodevido ao forte temporal que desabava sobre a floresta.

    e onde voc apareceu? perguntou Cristina que nunca sesentiu mais contente na vida de encontrar um compatriota e foi comlgrimas nos olhos que o contemplou, boquiaberta.

    )u me chamo ominic e sou o m'dico encarregado da reserva. 0ue coincidncia )u tamb'm sou m'dica. /eu nome ' Cristina

    4oberts, mas os conhecidos me chamam de 1ina.

    O que voc est fa!endo aqui. so!inha no meio dessa escurido. Ah, isso ' uma longa hist"ria. )u estava a caminho de +ampili,

    com meu guia africano, quando chuvas torrenciais nos impediram deprosseguir viagem. /eu guia foi buscar o ipe que largamos no meio docaminho. )u estava morrendo de medo de passar a noite aqui, sobretudodepois que ouvi uma rvore ser derrubada por um raio... =oi por isso quefiquei to contente quando voc apareceu.

    =oi meu criado que me disse que havia uma mo#a inglesa noabrigo e fiquei curioso em conhecla.

    Como ele soube que eu estava aqui? uas mulheres passaram no hospital e dei*aram esse recado. Ah, sei... As duas que estavam aqui no abrigo. )u perguntei a

    elas se sabiam falar ingls.ominic deu uma risada.

    4aros so os nativos que falam ingls na reserva. e qualquer maneira, elas foram muito gentis de darem esse

    recado no hospital. )u gostaria de agradeclas na primeira oportunidade. /ais tarde eu vou convidlas para aparecerem no hospital.

    Agora voc est intimada a vir comigo e a passar a noite na minha casa.

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    Cristina encarouo com ansiedade. )stava entre dois perigos3 passar anoite no meio da floresta, entre animais fero!es, ou na casa de um homemtremendamente simptico e atraente. 0ual era o menor risco.

    6assar a noite na sua casa? repetiu, a fim de ganhar tempo.

    /inha irm mora comigo e voc pode vir sem susto. >o ser anica mulher em casa de um homem solteiro. &ua irm tamb'm mora aqui? )la se mudou para c h alguns anos. )nto, vamos? ) meu guia? )u tenho que esperar por ele. amos dei*ar um recado com algu'm daqui. )le ir nos

    encontrar em minha casa.&em ter certe!a se podia ou no confiar em ominic. Cristina saiu do

    abrigo e afundou mais uma ve! os p's na lama. seguindoo em silncio emdire#o ao ipe que estava estacionado perto dali.

    CA6:1(EO ::

    O tamborilar mon"tono dos pingos, no telhado de folhas de palmeira,era uma indica#o vis%vel que a esta#o das chuvas chegara mais cedoaquele ano na Dfrica equatorial. Os aguaceiros dos ltimos dias no foramapenas uma advertncia do que estava para virF eram tamb'm umverdadeiro desabar de guas, como se as comportas do c'u estivessemabertas sobre aquela regio. &omente as pessoas que presenciaram esses

    temporais, nos climas tropicais, fa!em uma ideia do que so na realidade.As chuvas caem com uma tal intensidade e um tal volume que parecemanunciar o fim do mundo, o dilvio universal.

    )ra por isso que o pequeno hospital, que Cristina vira de longe nanoite anterior, fora constru%do em cima de pilares. )la respirou aliviadaquando chegou perto da casa de ominic e percorreu o resto do traeto numterreno relativamente seco, protegido da chuva por uma coberta de tiolos.Ali pelo menos no havia lama nem po#as dGgua. epois do banho quente,en*ugouse vigorosamente na toalha comprida e come#ou a ver as coisas

    com mais otimismo. estiu roupas limpas e dirigiuse 8 sala de estar, a fimde reunirse aos donos da casa.

    ominic estava sentado numa poltrona quando ela entrou eobservoua com vis%vel satisfa#o. 0uando a vira pela primeira ve! noabrigo, no meio da floresta, encolhida num canto, tr'mula de medo,Cristina estava com os olhos arregalados e uma e*presso de desespero nafisionomia. Agora, com os cabelos ondulados, caindo sobre os ombros, eolhos a!uis muito claros, ela estava serena e bonita como se tivesse sa%doda capa de uma revista.

    &ua casa ' muito gostosa e o banho que tomei estava divino.)stou me sentindo outra...

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    )ssa casa fa! parte do departamento de minha irm. /eu setorparticular ' o hospital que voc ter ocasio de conhecer amanh.

    Cristina notara, desde o primeiro instante, que ominic devia ser umm'dico compenetrado e eficiente, que no dava muita import2ncia 8s ques

    t$es dom'sticas. e qualquer forma, foi uma surpresa para mim encontrar umacasa

    to arrumada como essa no meio do mato. (gadu no ' exatamente mato corrigiu ominic. H um

    povoado de alguns recursos, no interior do continente africano. &" o fato deter um hospital o promove 8 condi#o de vila.

    esculpe, eu me e*pressei mal.Cristina provou o aperitivo que ominic lhe serviu.

    O que '? H uma bebida preparada com gua de coco. )st bom? )st uma del%cia. @ milhares de hospitais rsticos nesse vasto continente, com

    recursos maiores ou menores, atendidos por m'dicos de todas as ra#as ereligi$es. @ tambm milhares de turistas que insistem em chamar ascoisas pelos nomes errados.

    )u no sou turista. )u vim aqui a trabalho. Ah, sim? Onde voc pretende trabalhar? )m +ampili.

    >o ' numa cl%nica especiali!ada no tratamento de mulheresgordas e ociosas que sofrem de hipocondria? perguntou ominic comum ligeiro tom de ironia na vo!. )m geral, os m'dicos que se dedicam aatividades desse g'nero esto decepcionados com a medicina ousimplesmente enfastiados da e*istncia...

    Os dois se encararam com uma hostilidade vis%vel. Alis, aagressividade estava presente, numa forma velada, desde o primeiroencontro no abrigo.

    )u no posso falar nada disse Cristina, se controlando para

    no di!er um desaforo. /eu trabalho ' com crian#as pequenas. 6elo queeu saiba, os rec'mnascidos no sofrem de hipocondria...

    oc me perdoe. )u retiro o que disse. =oi provavelmente o res%duo amargo de uma antiga frustra#o. Is ve!es eu me arrependo de no teraberto uma maternidade aqui e ter ganho dinheiro com isso. /inha irmsempre me critica nesse sentido. )la di! que eu no tenho iniciativa para osneg"cios. 6or falar nisso, voc vai conhecla pessoalmente. )la est vindo

    para c.>o instante seguinte, CicelJ entrou na sala com um sorriso, olhando

    para Cristina. )ra uma mulher de quarenta anos, de cabelos pretos presosno

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    alto da cabe#a e que tinha a fisionomia serena de uma madona dorenascimento italiano. Os olhos, no entanto. eram de uma cor peculiar deverde, olhos de serpente, frios e impiedosos. )la apertou a mo de 1ina efitoua demoradamente, com um olhar desconcertante,

    CicelJ estava com um vestido cin!a de um feitio simples edespretensioso, com uma pequena gola redonda. ominic apresentouacomo a diretora do hospital.

    ominic me contou que voc estava so!inha naquele abrigoescuro... oc podia apanhar uma pneumonia. E ' muito mido.

    =oi isso que eu pensei disse Cristina com um sorriso. )u vou arrumar seu quarto.CicelJ saiu da sala enquanto os dois continuaram tomando

    lentamente o aperitivo que ominic tinha preparado com gua de coco eaguardente de cana.

    @ um detalhe que minha irm no comentou com voc disseominic em dado momento.

    0ual '? >a melhor das hip"teses, sua estada aqui vai se prolongar durante

    algumas semanas ou talve! meses. eus me livre )u no posso ficar tanto tempo, de eito nenhum.

    1enho que chegar a +ampili o mais rapidamente poss%vel. )u tenho trabalho a minha espera e um dia de atraso vai criar problemas.

    :nfeli!mente, por maior boa vontade que se tenha, ' imposs%vel

    atravessar o rio na 'poca das cheias. /eu novo assistente foi for#ado aadiar sua vinda pelas mesmas ra!$es.

    )u no posso tomar um avio? Os avi$es necessitam de campos de pouso em boas condi#$es, o

    que no e*iste aqui no momento. >enhum piloto se arriscaria a descernuma pista que virou um atoleiro... O problema ' insolvel. 6or falar nisso,vou telefonar para o outor =a!ai a fim de confirmar a data da vinda dele.

    oc tem telefone aqui? amos antar primeiro. epois vamos conversar com calma a

    respeito do que voc pode fa!er. )m geral, n"s costumamos antar navaranda fechada, por ser o lugar mais fresco da casa.Eu acho que a chuva

    passou. amos at' l para ver se as estrelas esto de fora...1ina deu o bra#o a ominic e fitouo com um sorriso cordial.

    &ea paciente comigo. ominic. )u estou numa situa#o dif%cil egostaria que voc me audasse a resolvla.

    1em algu'm esperando voc em +ampili? )*atamente. /eu noivo, que dirige a maternidade do hospital. )u

    no segui as recomenda#$es que ele me deu... a%, toda essa trapalhada

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    ominic ouviu a e*plica#o com um sorriso nos lbios, como sehouvesse motivo para riso, na desventura de uma ovem m'dica perdida nointerior da Dfrica.

    A liga#o telef"nica para +ampili estava p'ssima. /esmo assim,

    Cristina ouviu perfeitamente a vo! fria de /artin no outro lado da linha enotou que ele estava uma fera. oc causou um s'rio transtorno nos meus planos, com sua

    imprevidncia comentou /artin, sem demonstrar o menor interesse pelacondi#o f%sica ou moral dela no momento. >o apenas voc ter que

    permanecer afastada daqui, durante toda a esta#o das chuvas, como levouconsigo um dos meus melhores audantes. O que voc pretende fa!er com-eorge?

    &ei l )u no sei nem mesmo o que vai ser de mim, quanto maisde -eorge. )u gostaria que voc desse uma sugesto.

    Ah, agora voc quer meu conselho? &e voc tivesse ouvidominhas recomenda#$es e seguido 8 risca o roteiro que eu tracei, nada dissoteria acontecido. e onde voc est telefonando?

    e um hospital em (gadu. e quem ' o hospital? e algum m'dico europeu? e dois irmos. )les so ingleses. )le se chama ominic e a irm

    CicelJ. >esse caso, ' melhor voc ficar a% at' o fim das chuvas. 6elo

    menos voc est numa atmosfera familiar.

    )u no quero abusar da hospitalidade deles. 6refiro me hospedarnum hotel.

    >o h hot'is decentes nessa regio, Cristina. 6or outro lado, oshot'is de >air"bi so car%ssimos. Olha, voc fe! sua cama e ter que deitarnela. >o h outro eito.

    1ina levantou a cabe#a e encontrou o olhar de ominic. Ali estava ohomem que tinha o poder de solucionar seus problemas. O que faria? Apelaria para seus sentimentos humanitrios. ) CicelJ? 0ual seria sua rea#o?6rovavelmente, ela preferia muito mais hospedar em casa um conhecido,

    do que uma pessoa totalmente estranha, que ningu'm sabia quem era nemde onde tinha vindo.

    1ina, voc est me ouvindo? perguntou /artin, comimpacincia.

    oc no respondeu a minha pergunta. )u posso falar um minutocom o diretor do hospital?

    )spere um instante disse 1ina, cobrindo o fone com a mo. /artin desea conversar com voc disse ela, estendendo o fone paraominic. oc pode atender seu pedido?

    Claro, com muito pra!er.

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    1ina saiu da sala e dirigiuse 8 varanda envidra#ada. /inutos depois,ominic foi ao seu encontro.

    )st tudo resolvido. oc pode ficar aqui o tempo que quiser. )uconversei esse assunto com /artin e achamos que essa era a melhor solu

    #o. /inha irm foi ao hospital e deve estar de volta dentro de uma hora.&e eu fosse voc, iria direto para a cama. oc deve estar morta de cansa#ocom as perip'cias do dia. Al'm disso, as coisas so sempre mais positivasna parte da manh.

    >a manh seguinte, contudo, Cristina acordou sem disposi#o paranada. ormira mal, com o barulho irritante da chuva no telhado de !inco,sem falar no ru%do do rio que passava ao lado da casa. 0uando mergulhoufinalmente no sono profundo, estava na hora de acordar. )la esqueceu avene!iana aberta e foi acordada pelos primeiros raios do sol quente dovero.

    CicelJ mostrouse ainda mais fria e austera 8 mesa do caf'. =orainformada que Cristina ia permanecer algum tempo hospedada na casa e

    pelo visto no aprovou a deciso de seu irmo. oc no acha que Cristina podia hospedarse no chal' que

    reservamos para =a!al? perguntou ominic, sentandose 8 mesa. )laficaria mais bem acomodada. :sso ' importante, voc no acha, Cristina?1er um lugar reservado para se refugiar algumas horas por dia?

    &im, muito importante concordou Cristina. /as eu noqueria dar mais trabalho do que dei. K basta o que vocs fi!eram por

    mim, 6or falar nisso, meu noivo pediu para lhe agradecer, especialmentesua acolhida, CicelJ.

    oc est noiva? )u no sabia. )u estava viaando para encontrar com ele em +ampili, quando

    essas chuvas atrapalharam meus planos. >"s pretendemos nos casar at' ofim do ano.

    )st vendo, CicelJ? oc no tem motivo para se preocuparcomigo. Cristina no tem a inten#o de lhe roubar o irmo.

    )u nunca pensei que tivesse disse CicelJ, com vivacidade

    Como voc pode di!er uma coisa dessa, sem saber primeiro seCristina simpati!ou com voc, seu convencido de marca maior?

    ominic foi muito gentil comigo interveio Cristina com umsorriso. &e no fosse por ele, eu estaria at' agora naquele abrigo nafloresta,

    morrendo de medo de ser atacada por um animal fero!. )st vendo? H s" voc, mana, que no d valor ao seu irmo.

    Cristina encontrou o olhar de ominic, e abai*ou a cabe#a, diante de suae*presso ir"nica.

    A conversa est boa mas est na minha hora disse CicelJlevantandose da mesa. oc no quer conhecer o hospital, Cristina?

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    )u tenho uma sugesto melhor interrompeu ominic. Cristina pode tomar provisoriamente o lugar de =a!al. Assim, ela ter comque se ocupar, enquanto estiver aqui, e no correr o risco de morrer det'dio com essa permanncia for#ada em (gadu.

    CA6:1(EO :::

    Com um avental branco que ficava folgado em seu corpo. Cristinaseguiu a pequena comitiva que acompanhava ominic na sua rondamatutina pelas diversas alas do hospital. 1odos os presentes, com e*ce#ode dois europeus, eram africanosF mesmo assim, a atmosfera era de umhospital como em qualquer cidade do mundo. @avia o cheiro habitual de

    produtos antis'pticos, de 'ter, de iodof"rmio. A roupa de cama era brancae estava impecavelmente limpaF o uniformes das enfermeiras, por sua ve!,estavam imaculadamente engomados e as vo!es que se ouviam noscorredores eram abafadas e cerimoniosas.

    At' mesmo os pacientes pareciam ter sido esfregados e escovadoscomo o lin"leo que cobria o cho. Os ventiladores estavam ligados e davamuma sensa#o de brisa refrescante nos quartos e nos corredores. )mboraCristina estivesse suando em bicas, no podia negar que soprava umventinho gostoso no rosto.

    O outor i;a, bra#o direito de ominic, era natural do 0u'nia. Airm encarregada da se#o feminina viera do Congo, ap"s ter fugido de l

    durante as reviravoltas sociais que seu pa%s atravessou. >a ala dos homens,Cristina foi apresentada 8 irm /ustafa. uma ovem de olhos negros e peleesplndida, natural do 0u'nia, filha de pais paquistaneses.

    5om dia, irm disse ominic, e*aminando a ficha de umpaciente pendurada na cabeceira do leito. >o houve nenhum progressosens%vel at' agora. amos ter que tomar medidas mais drsticas.

    O que ele tem? perguntou Cristina, em vo! bai*a. )le sofre de elefant%ase. oc viu essa doen#a horr%vel? >o, nunca.

    A um sinal da cabe#a, a irm retirou o len#ol que cobria a perna dopaciente. Cristina fe! um esfor#o para disfar#ar seu espanto. A perna do

    homem estava inchada desproporcionalmente, como se fosse a pernade um elefante. Cada um dos dedos perdera a forma pr"pria e se tornarauma esp'cie de massa esponosa. Al'm da aparncia medonha, a pernae*alava um odor insuportvel, embora os curativos fossem trocadosdiariamente.

    0uando ' poss%vel aliviar a circula#o a tempo, a perna volta aonormal e*plicou ominic. infeli!mente, esse paciente demorou mui

    to para receber o tratamento adequado. Agora o p' est gangrenado. amoster que amputlo sem demora.

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    ominic e sua pequena comitiva iam passar ao leito seguinte,quando ele se voltou para Cristina com o rosto apreensivo.

    O que foi? >o est se sentindo bem.Cristina estava branca como cera e prestes a ter uma vertigemF

    respirava com dificuldade enquanto tentava manter o equil%brio. >o foi nada, est passando disse, procurando evitar o cheirohorr%vel de carne putrefata, apesar de todo seu treino nos hospitais da :nglaterra.

    Olhar para aquele escorrimento esverdeado na perna do paciente erahorr%vel. >unca tinha visto nada parecido na vida. 1alve! no fosse aindauma m'dica cem por cento, a despeito do diploma que possu%a. 1ratara de

    pacientes que estavam completamente desenganados, mas nunca tinha vistoalgu'm apodrecendo na sua frente. O espetculo era medonho demais parasua sensibilidade.

    >o leito seguinte, estava um paciente com uma doen#a igualmentehedionda. >um lado da perna havia um arame prateado no qual estavaenrolado um fio de nJlon. )ra um fio aquilo? 6erto do arame, a carneinflamada e*alava um odor f'tido de pus.

    amos pu*ar um pouco mais disse ominic indo lavar as mosna pia. lhe a %ne#o de morfina, i;a. )le fe! sinal com a cabe#aem dire#o a Cristina. )sse ' o verme da -uin'. Os ovos esto debai*oda pele e 8s ve!es, o bicho cresce at' quin!e cent%metros ou mais. >"s

    pu*amos o verme para fora, uns dois cent%metros de cada ve!, at' ele sair

    completamente. 6or que voc no mata o verme primeiro e depois pu*a para fora? oc tentou arrancar um corpo estranho de um tecido vivo? O

    pobre coitado botaria a boca no mundo. K ' e*tremamente doloroso dessaforma, imagina ento tirar tudo de uma ve!.

    /as ele podia ser anestesiado insistiu Cristina, oc di! ser cortado como uma fatia de bolo? (ma opera#o

    dessasenvolve um risco muito grande de infec#o. >o me diga que voc '

    adepta da facaominic voltou ao leito do paciente que estava sonolento ap"s ter

    recebido a ine#o de morfina que i;a aplicara. 1ina acompanhou osdemais, sentindose profundamente ferida com o comentrio anterior deominic. )la no era absolutamente uma Ladepta da facaL como ominiccomentara ironicamente e ficou magoada de ser descrita nesses termos.

    O arame prateado foi virado lentamente de um lado para o outro eum novo peda#o do verme foi retirado do abscesso formado na perna. Ohomem gemeu em vo! bai*a e fechou os olhos sonolentos. ominic fe!

    uma e*clama#o de triunfo.

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    )st vindo, pessoal amos pu*lo todo para fora Aguentefirme, meu velho O rabo est aparecendo...

    >o instante seguinte, o verme foi desenrolado e e*aminadoatentamente para se ter certe!a que nenhuma parte fora dei*ada no interior

    da perna. A irm /ustafa recebeu ordem de limpar a ferida e fa!er ocurativo com antibi"ticos, uma ve! que no podiam mais afetar o parasitaque era a causa do sofrimento do paciente.

    ominic tinha ra!o, evidentemente, pensou 1ina no seu canto. )lano devia ter feito nenhum comentrio, ominic entendia melhor doassunto que ela. )le era um especialista em doen#as tropicais. Os pacienteso veneravam como um pai e lhe dedicavam uma lealdade a toda prova.

    Cristina no abriu mais o bico enquanto visitou os outros leitos daenfermaria. )stava agora imune ao choque inicial e e*aminou atentamenteum rapa! que fora curado da lepra e que fitava os presentes com dois olhosafundados nas "rbitas. )m lugar do nari!, tinha dois orif%cios no rosto, poronde respirava. Os lbios tamb'm estavam completamente deformados peladoen#a.

    Jambo e*clamou ominic com um sorriso. &am ' da1an!nia e fala s;ahili. )le veio para c a fim de se recuperar e ficar forte,antes de fa!er uma s'rie de opera#$es plsticas em >air"bi.

    >"s no tratamos a lepra aqui e*plicou a irm. @ umhospital para esses casos especiais a uns setenta quil"metros daqui. Os

    pacientes que recebem alta so orientados e encaminhados para uma cl%nica

    de defeitos da face. 0ue maravilha e*clamou um m'dico ovem que fa!ia parte

    da pequena comitiva de ominic. &am voltar a ter uma aparncianormal, como antes?

    Certamente. Os membros feli!mente esto intactos. O cirurgioplstico poder remover tecido das pernas para en*ertar no rosto. &am terum novo nari! e os olhos sero recolocados no local anterior. A cirurgia

    plstica opera milagres...Aquela noite CicelJ subiu mais cedo para o quarto, quei*andose de

    um pouco de dor de cabe#a. )la no precisa de nada? perguntou Cristina quando ficou a

    s"s com ominic na sala de estar. >o, a est habituada com essas en*aquecas. )la levou a bandea

    de comida para o quarto, untamente com as revistas da semana. )la temcom que passar o tempo. )nquanto isso. vamos antar os dois num tte--tte.

    Cristina afastou um fio de cabelo que ca%a na testa. epois de tudo que presenciei durante o dia. creio que no estou

    em condi#$es de conversar animadamente.

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Covarde oc est querendo evitar minha companhia. )u aintimido, por acaso? oc tem receio que eu saia da linha?

    >o, no ' isso. &eria absurdo pensar isso)ntretanto, foi e*atamente esse absurdo que aconteceu minutos

    depois. 0uando ela voltou a si de sua surpresa, estava sendo abra#ada ebeiada com fria por ominic. 1omada, ao mesmo tempo, de sentimentosconfusos de revolta e de perple*idade, Cristina foi for#ada a reconhecerque os beios dele fa!iam sua cabe#a girar alucinadamente. )la sentiusefeminina, indefesa, vulnervel nos bra#os dele. =a!ia tanto tempo que novia /artin, que no se lembrava mais do gosto que tinham os beios na

    boca. ) prefer%vel enfrentar o perigo do que fugir disse ominic

    com o rosto s'rio. oc temia que isso acontecesse... 6ois bem, agoraaconteceu e podemos esquecer o incidente e tratar de coisas maisimportantes.

    )u realmente no sei o que pensar... oc me assaltou,praticamente, e depois me di! para esquecer o que aconteceu &e eupudesse sair daqui, iria embora nesse instante.

    ominic observoua com aten#o. Cristina estava corada, ofegante emuito atraente, com os cabelos soltos, caindo sobre o rosto.

    )u prometo que isso no vai acontecer de novo. A menos quevoc queira. &" assim voc se sentir mais segura na minha companhia.

    oc ' insuportvel, com seu ar de superioridade

    )u sei disso. =a! parte do meu charme ou da minha falta decharme.

    como voc preferir. )u no me sinto 8 vontade, quando estou nacompanhia de mulheres ovens. 1alve!, durante nosso conv%vio for#ado,voc poder me ensinar os bons modos e a boa educa#o. 6or minha ve!,vou introdu!ila em alguns aspectos mais incomuns da medicina.

    Cristina ouviu o comentrio em silncio, sem se pronunciar a favornem contra. )la se lembrava da gafe que cometera no hospital e no queriaincorrer no mesmo erro uma segunda ve!. ominic era um m'dico e*tre

    mamente competente, isso era inegvel. oc ficou abalada com o que viu hoe? (m pouco. oc no esperava ver um paciente com lepra e outro com o

    verme da -uin' na perna. 0uem sabe se no era dessa realidade que vocqueria fugir, mais do que de mim?

    )u me controlei para no fugir. A despeito de sua opinio sobremim, digo que eu no sou covarde.

    oc estaria disposta a provar que no '?

    Claro que sim. Como?

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Come#ando a trabalhar amanh no hospital. Com seusconhecimentos de anestesia, voc poder ser muito til na sala deopera#$es.

    Cristina ficou um instante pensativa, de cabe#a bai*a.

    6or que no? K que sou obrigada a permanecer aqui, contraminha vontade, ' prefer%vel trabalhar do que ficar 8 toa. Amanh, vocdisse? A que horas?

    ominic seguroua pelo quei*o e for#oua a encarlo, como sequisesse felicitla por sua deciso. Cristina fi*ouo no fundo dos olhos,sem sentir mais apreenso com seu contato f%sico.

    6elo visto, o beio trocado entre os dois dissipara as tens$es quepairavam no ar carregado da noite tropical.

    CA6M1(EO :

    >a manh seguinte, Cristina recebeu a lista de opera#$esprogramadas para aquele dia no hospital. =inalmente, ela ia pBr em prticaseus conhecimentos de anestesista, adquiridos nos hospitais de Eondres.

    oc poder nos dar uma mo disse ominic, quando ela oprocurou na sua sala. i;a em geral nos auda, mas ele prefere a cl%nica8 sala de opera#$es. Como esto seus conhecimentos de patologia?

    )u sei apenas o que aprendi na faculdade. >"s t%nhamos equipesespeciali!adas, no hospital onde eu fi! um estgio. 1odos eram muito ciu

    mentos de seus departamentos pr"prios e no gostavam da presen#a deestranhos.

    )u sei como so essas coisas. >o fundo ' uma atitude rid%cula.>os hospitais daqui, os m'dicos devem fa!er um pouco de tudo, da cl%nicageral 8 cirurgia. 1alve! sea por isso que no nos especiali!amos emnenhum assunto.

    1ina ouviu o comenlrio de ominic em silncio, embora pensasseconsigo que ele devia se ulgar um grande especialista em diversos assuntosm'dicos. 6elo menos, era essa a impresso que dava.

    i;a vai prosseguir no trabalho de classifica#o sangu%nea. )usugiro que voc o aude, para refrescar a mem"ria. Aqui est uma lista demedicamentos e da dura#o das opera#$es que vamos reali!ar na parte damanh. &e voc tiver alguma sugesto, ' s" di!er. )stamos aqui paraaprender...

    ominic fe! uma pequena inclina#o e afastouse com um sorriso.1ina no sabia se ele estava falando a s'rio ou de brincadeira.

    -eorge chegou nas primeiras horas da manh e recebeu o recadopara procurla em casa de ominic. -eorge trou*e no ipe o resto da

    bagagem. 1ina podia agora vestir seu uniforme branco, no tamanho certo,sem ter que pedir emprestada a roupa de CicelJ.

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    -eorge ficou ligeiramente decepcionado, quando ela sugeriu que elecuidasse da casa, na condi#o de copeiro e de motorista.

    /eu patro me dei*a trabalhar no hospital quei*ouse -eorge. )u sou seu bra#o direito. &omente as mulheres e os moles trabalham em

    casa. )scute, -eorge, eu no posso lhe dar um trabalho no hospitaldaqui. >"s dois temos que nos adaptar da melhor maneira poss%vel, duranteessa situa#o de emergncia. >esse meio tempo, eu sugiro que voctrabalhe em casa. &ua obedincia ' mais importante para mim que sua boavontade. Certo.

    A patroa ' quem sabe disse -eorge, sem muita convic#o.epois de come#ar a trabalhar no hospital com ominic, 1ina passou asentirse mais animada e bem disposta. Eogo fe! ami!ade com i;a eaudouo a tirar sangue dos nativos a fim de classificlo segundo os tipossangu%neos. )ra mais divertido trabalhar no hospital do qu fa!er papel deturista de passagem. epois de passar algumas horas diante do microsc"

    pio, classificando os grupos sangu%neos, 1ina fe! uma visita ao pacienteque sofria de elefant%ase. O homem fora informado pela enfermeira que a

    perna seria amputada do oelho para bai*o e mostrouse admiravelmentecoraoso. 1ina notou que os nativos tinham uma confian#a cega em ominic, cuo nome na reserva eraByatnbura, o que significa -rande 5falo,um animal muito estimado e temido pelos africanos, tanto quanto por suacoragem e for#a f%sica como suacarne suculenta.

    >a hora prevista, ominic entrou na sala de opera#o acompanhadode sua pequena equipe. A sala era imaculadamente limpa, embora fosse umforno. 6or bai*o do telhado primitivo, de folhas de palmeiras, havia umacobertura de folhas de !inco, que mantinha o ar do ambiente abafado equente a maior parte do ano. @avia entradas de ar no forro, mas no chegavam a refrescar a sala. CicelJ fa!ia parte da equipe e estava presente 8opera#o.

    )m geral, eu dou uma mo!inha a meu irmo comentou ela. A gente tem que fa!er um pouco de tudo. Aqui no h lugar para

    especiali!a#$es nem preferncias.)u estou vendo oc est com saudade da :nglaterra? /ais ou menos. )u me adapto em qualquer lugar. 6ara falar

    sinceramente, eu no gosto nem um pouco da Dfrica, mas gosto do meutrabalho no hospital.

    O paciente est pronto? interveio ominic. 6enso que sim respondeu Cristina. 0uando voc tiver certe!a, me avise. )u no vou operar a perna

    antes que tudo estea preparado convenientemente.

    O paciente est pronto para ser operado, doutor disse Cristinacom deciso, corando embai*o da mscara que cobria parte do rosto.

    Livros Florzinha - & -

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    )la sentiuse como uma estudante do primeiro ano na presen#a domestre. Arrependeuse de ter respondido distraidamente 8 pergunta que lhefoi feita e de ter dado oportunidade a ominic de corrigila diante dosoutros. 6rometeu a si mesma prestar mais aten#o 8s palavras dele no

    futuro. ominic era infal%vel? >unca tinha cometido um erro, ou umsimples engano, na sua carreira m'dica? &e fosse assim, no estariatrabalhando num pequeno hospital, coberto com folhas de palmeiras, numacidade perdida no cora#o da Dfrica. )staria, em ve! disso, num dos maismodernos hospitais de Eondres, onde seu nome seria pronunciado comrespeito pelos estudantes e colegas de trabalho.

    epois da primeira inciso na perna do paciente. 1ina passou aprestar mais aten#o no que se desenrolava diante dos seus olhos e seesqueceu de seus problemas pessoais.

    Como est o pulso? perguntou ominic em dado momento. )st ligeiramente abai*o do normal. :sso ' natural. )u vou soltar as art'rias durante um instante. iga

    me, quando ocorrer melhora na pulsa#o. )u no quero correr o risco deuma hemorragia. &" preciso de mais alguns minutos para costurar os talhosabertos.

    epois de alguns minutos, como o pulso apresentasse melhoria,ominic passou a fechar os vasos sangu%neos e uniu as grandes veias eart'rias.

    Agora vou costurar o corte disse por fim. =eli!mente o

    paciente est reagindo bem e no perdeu muilo sangue. 4emova o baldecom a perna amputada, enfermeira. >o vamos empestiar a sala deopera#o. Afinal, essa perna no pertence a mais ningu'm.

    6ela primeira ve!. 1ina sentiu o odor nauseabundo de carne emdecomposi#o na sala de opera#o. 6ossivelmente o cheiro era acentuado

    pelo calor e encobria o aroma dos antiss'ticos usados durante a opera#o. Obalde foi despeado no incinerador mas o mau cheiro perdurou durantealgum tempo ainda. )m dado momento, Cristina viu dois m'dicos de avental branco na sua frente, depois quatro. =inalmente, no viu mais nada. &eu

    ltimo gesto, antes de cair sem sentidos no cho, foi levar a mo 8 cabe#a.0uando ela voltou a si, segundos depois, ominic estava debru#ado

    sobre seu corpo e abanava o rosto com um leque improvisado. )st melhor? O que foi? )u desmaiei? oc teve seu batismo de sangue. oc tinha que passar por isso,

    mais cedo ou mais tarde. >o se levante ainda escanse mais um pouco erespire pausadamente. >"s vamos terminar isso aqui num minuto e lhedaremos toda nossa aten#o.

    Livros Florzinha - 8 -

  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    =oi aquele cheiro horr%vel comentou 1ina com CicelJ, na horado almo#o. )u nunca desmaiei antes na vida e olha que trabalhei maisde um ano em salas de opera#$es.

    :sso ' natural. oc no teve tempo ainda para se adaptar ao

    clima daqui. muito quente, especialmente na esta#o das chuvas. A gentese sente mole depois do almo#o, sem vontade para nada. )u no entendo como isso foi acontecer comigo. )u sou forte

    como um touro. )u me sinto como uma perfeita idiota por ter desmaiadodesse eito. O que ominic falou?

    oc sabe como ' ominic... >a opinio dele, as mulheres somais fracas que os homens. &empre. )le gosta das mulheres femininas,frgeis, vulnerveis. A noiva dele ' desse tipo. engosa e mimada comouma gata angora.

    1ina ficou intrigada com a informa#o. )nto, o infal%vel eimpass%vel outor ominic se dei*ara prender nas teias de uma criaturae*tremamente feminina e meiga? >esse caso, ele era um homem como osoutros, concluiu 1ina, com um certo despeito.

    0uem ' que se parece com uma gata angora? perguntouominic, ouvindo o fim da conversa.

    )u estava falando com 1ina a respeito de elia. Ah, bom. )ssa defini#o se aplica perfeitamnte a eNa.como est

    se sentindo 1ina? /elhorou? )u estou "tima disse 1ina com frie!a. )u no costumo des

    maiar 8 toa. >o sei o que aconteceu. oc no quer que a e*amine? >o, no h necessidade >em que sea para saber como est seu cora#o? /eu cora#o est perfeito. 6ode dei*lo por minha conta. )u

    nunca sofri desse mal timo. >esse caso, vamos voltar ao trabalho.C%cPlJ olhou para 1ina com uma e*presso interrogativa, depois que

    ominic se afastou da sala.

    oc antipati!a com meu irmo? >o chega a tanto )u simplesmente no entendo muito bem sua

    maneira de ser. )le vai melhorar de atitude depois que casar. &" eus sabe

    quanto ele necessita de uma mulher para aprender a ser mais humano.0uando elia chegar, dentro de algumas semanas, ela vai botar tudo nosei*os. oc vai ver

    CA6:1(EO

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Cristina sentiuse indisposta o dia todo. )ntretanto, al'm de sair parao ardim de tempos em tempos, a fim de respirar o ar fresco, procurou ocultar sua indisposi#o dos demais.

    CicelJ observou, com uma certa curiosidade, suas idas e vindas.

    Cristina ulgou que tinha uma confidente na irm de omimc e resolveu seabrir com ela. )u no sei se ' esse clima, mas estou com falta de ar e com uma

    sensa#o de esfogueamento que no passa. :sso ' natural, no come#o. 1odos n"s passamos por isso. oc

    no deve trabalhar demais nos primeiros dias. /eu irmo pensa que todomundo ' resistente como ele e no tem no#o das limita#$es dos outros.

    )u prefiro no comentar nada com ele, no momento. )le deseaque eu sea mais eficiente do que amais fui na vida. >esse ponto, pelomenos, eu lhe sou grata. 1udo ' fascinante, aqui no hospital. )u s" gostariaque as salas fossem um pouco mais ventiladas. O calor l dentro 'sufocante. 6arece um forno.

    A temperatura de fato continuava elevada, apesar das chuvasconstantes que ca%am quase todas as tardes. 0uando o sol dardeava seusraios sobre o telhado de !inco, as pessoas que estavam l dentro suavam em

    bicas e no havia outro eito seno aceitar o calor com pacincia. >ocinturo, em volta do rio, onde habitava a tribo machua, que plantavamilho, banana, canadea#car e constru%a suas casas de terra batida,cobertas de sap', o solo negro estava come#ando a fecundar e a se cobrir

    com uma variedade imensa de flores silvestres. A terra seca sorviagulosamente a gua das chuvas. 1odos os temporais eram antecedidos portrovoadas ensurdecedoras que dei*avam os nativos apreensivos eligeiramente nervosos, por mais habituados que estivessem com essase*plos$es. e! por outra, um raio derrubava uma

    rvore na floresta. (ma tarde, um nativo foi levado numa macaimprovisada ao hospital por ter sido ferido pelo galho de uma rvoreatingida pelo raio.

    Ap"s os primeiros dias, na sala de opera#o, 1ina habituouse pouco

    a pouco com a rotina de trabalho. )m geral, antava com CicelJ e ominicFterminado o antar, despediase logo dos dois e ia para seu chal', porqueno queria abusar da hospitalidade. Al'm disso, aproveitava as horas defolga para pBr em dia sua correspondncia.

    As cartas eram postas no correio na parte da manh, mas Cristinatinha dvida quanto 8 hora e*ata da entrega. A fim de esclarecer esseassunto de uma ve! por todas, ela voltou uma noite 8 sala de estar e parousurpresa no corredor quando ouviu os dois irmos conversarem a seurespeito.

    oc est abusando de sua boa vontade. ominic. )la no estacostumada a trabalhar tanto assim. oc viu como ela est abatida?

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    >o, no notei nada. @oe, pelo menos, ela trabalhounormalmente, sem se matar. 6or que voc di! isso. )la se quei*ou comvoc?

    >o, no falou nada, mas eu tenho a impresso de que ela est

    um pouco tensa. oc devia perceber isso melhor do que ningu'm.1ina pensou afastarse dali, na ponta dos p's, mas no resistiu 8curiosidade de ouvir um pouco mais.

    6erceber o qu? >o entendo onde voc quer chegar. (m m'dicotem que aceitar com coragem as situa#$es duras da carreira. Cristina ' fortee tem estrutura para aguentar o tranco. 6elo menos ' a impresso que med.

    )u no estou me referindo a isso. )u confesso que no entendo nada. O assunto delicado. >"s nunca falamos sobre isso antes. )ssa ser a primeira ve! ento. >o se acanhe por minha causa.

    iga claramente o que voc pensa. >o lhe parece evidente? >ada ' evidente para mim. Abra o ogo. oc lembra como Cristina ficou aflita quando soube que devia

    permanecer aqui durante a esta#o das chuvas? )la deseava chegar o maisrapidamente poss%vel a +ampili, a fim de combinar o casamento com onoivo.

    At' a%, no veo nada de mais.

    ) voc no achou estranho ela ter desmaiado na sala deopera#o? )u notei que ela anda meio indisposta ultimamente. >o lheocorre nada?

    @ouve um silncio na sala, durante o qual 1ina podia ouvir as batidasdo seu cora#o.

    Continue disse ominic por fim. Ah, no se fa#a de sonso oc est me provocando. oc sabeperfeitamente do que se trata. amos falar claramente. >a sua opinio, Cristina est grvida. H

    isso? )*atamente. )u sinto di!er que sua dedu#o ' completamente falsa. >o h

    nenhum ind%cio de gravide!. Como no?1ina no quis ouvir o fim da conversa. Apareceu no canto da

    varanda, sem olhar para CicelJ, dirigiuse a ominic. esculpe interromper a conversa, mas eu queria um favor seu. )u

    vou escrever uma carta para /artin e precisava de um selo. oc podia me

    arrumar?

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    6ois no. @ uma folha de selos na gaveta da c"moda, bem comoum vidrinho de cola. Os selos aqui no tm cola, como voc deve ter

    percebido.1ina apanhou o selo e o vidrinho de cola na gaveta da c"moda e

    retirouse da sala. )la estava agradecida a ominic por ter defendido suareputa#o, embora ele no pudesse saber que fa!ia mais de um ano que elano se encontrava com /artin. Agora sabia em quem podia confiar naquelacasa. CicelJ, apesar de sua atitude liberal e compreensiva, no inspiravamuita confian#a. ominic. no entanto, era um homem de toda confian#a,embora a tratasse 8s ve!es de maneira rude e pouco educada. /ais uma ve!ela constatou que as aparncias enganam.

    =oi essa a concluso a que chegou ao despedirse dos dois e voltarpara seu chal'.

    >a semana seguinte. -eorge foi transferido para o hospital a fim dee*ercer a fun#o de porteiro e vigia noturno. )le estava sorridente e feli!com sua nova atividade. O trabalho dom'stico no era realmente de seugosto. 1ina empregou, em lugar de -eorge, um adolescente africano quetinha o apelido curioso de Chefo. O garoto pertencia a uma fam%lia antigada regio que fora bemsucedida nos ltimos anos. )le gostava de falar dostios ricos que moravam atualmente no litoral.

    0uer di!er que voc no nasceu aqui? )u venho do serto. )u perten#o 8 tribo massai, por parte de pai. E sua me?

    /inha me est no *adre!. >o me diga O que foi que ela fe!? )la andou lendo o futuro. )la di!ia quem ia morrer, quem ia

    casar, quem ia ter filho.E tudo acontecia como ela di!ia. )*atamente comoela di!ia. =oi ento que ela disse que um pol%tico ia morrer em tal dia, 8stantas horas. O pol%tico no morreu, continuou viv%nho da silva. /ameficou com medo que as pessoas desacreditassem nela P pagou um homem

    para escrever uma carta para o tal pol%tico. L6or que vosmec no morreuem tal dia como eu disse? )st todo mundo desacreditando agora de mim.L

    O pol%tico ficou intrigado com a hist"ria e foi at' a casa de minha me. =e!muitas perguntas a ela. O que voc fa!, o que voc no fa!? 0uem vaimandar aqui?A meu pai ficou com medo. pegou um dinheiro embai*o docolcho e disse para mim. L6u*a o carro, filho, antes que voc v para o*adre! com sua me,L )u andei muitos dias, sem rumo, at' ficar com os p'sdoendo. =oi ento que vim parar aqui. ) agora estou trabalhando na casa da

    patroa. >o acredite em uma palavra do que ele di! comentou

    ominic que ouvira uma parte da conversa. Chefo ' bom sueito mas

    adora contar uma hist"ria...

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Chefo deu uma risada sem eito e dirigiuse 8 co!inha, ondecome#ou a preparar o almo#o.

    A me dele lava roupa para o hospital e ele nunca saiu dessareserva. ) verdade que trabalhou na casa de um missionrio e foi l que

    aprendeu a falar ingls. )la gosta de contar essa hist"ria de cartomante paraos turistas que passam por aqui a caminho de +ampili. Os turistas,naturalmente, ficam todos e*citados e pedem para conhecer a me dele, avidente de (gadu.

    1ina caiu na risada. =oi bom voc ter me prevenido. )u estava come#ando a me

    comover com a hist"ria. Voc est fa!endo alguma coisa agora? >o, por qu? oc precisa de mim? oc no quer me audar numa cesariana? (ma menina de tre!e

    anos est grvida de g'meos. 6elo eito, um deles est morto. 6recisamosoperar sem demora.

    )stou a sua disposi#o.1ina estava mais habituada agora com o calor sufocante na sala de

    opera#o. A pequena gestante estava no trabalho do parto quando foi levadapara l. /esmo depois de receber a anestesia, as contra#$es do abd"menainda eram muito fortes.

    )la tem contra#$es de quin!e em quin!e minutos disseominic, vestindo as luvas de lte*. &e andarmos ligeiro, podemos

    terminar a opera#o antes da pr"*ima contra#o. )u no gostaria que elativesse uma convulso acompanhada de hemorragia. amos darlhe umcalmante, para evitar qualquer surpresa.

    ominic continuou a fa!er comentrios em vo! bai*a enquantooperava a parede do abd"men e e*punha o tero inflamado.

    Agora vamos ver como esto as coisas aqui disse, fa!endouma inciso na membrana fina que reveste o tero.

    >o interior do tero estavam dois g'meos encolhidos como duaslagartas numa folha. (m deles tinha a cor vermelhaF o outro, no entanto,

    era de uma cor cin!aescuro. Como eu pensava murmurou ominic, colocando a crian#a

    viva em cima da mesa, presa ainda pelo cordo umbilical. )m seguida,separou o beb' morto que estava nas primeiras fases de decomposi#o,

    Agora vamos limpar o tero e aplicar penicilina para evitar umainfec#o. evemos tomar o m*imo cuidado para que isso no aconte#a.

    A meniname foi levada para o quarto, num leito de rodas. O beb'sadio foi colocado num ber#o ao seu lado. As outras mulheres, parentes econhecidas, queriam ver e tocar no beb', mas C%celJ proibiu terminante

    mente qualquer contato f%sico nas primeiras horas.

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Ainda bem que foi o menino que viveu comentou ominic, lavando as mos na pia. &e fosse a menina, ela seria muito malvista pelos

    parentes e at' mesmo pela me. 0ue ideia absurda comentou Cristina com vivacidade.

    )st provado que as mulheres so melhores do que os homens em tudoominic deu um sorriso divertido. Olha l o que voc est di!endo )u no me refiro a isso que voc est pensando Como voc sabe o que estou pensando? )st na cara.ominic sorriu com o canto da boca.

    )u vou tirar um cochilo. oc no vai aproveitar para descansarum pouco?

    Acho que sim. /uito obrigado, por sua auda. oc foi uma mo na roda. >o tem de qu. =oi um pra!er atender seu pedido.Cristina saiu primeiro da sala e ominic acompanhoua em silncio

    com os olhos, admirando as pernas bem feitas que ela tinha e das quais seorgulhava, com ra!o.

    CA6:1(EO :

    O ms passou to depressa que 1ina mal percebeu. )ntretanto, nas

    pginas do dirio, estava tudo anotado, o que ela tinha feito e aprendidonaquele per%odo. )ra como se sua carreira, que parecia um livro terminado,tivesse inaugurado um cap%tulo novo que no podia ser pulado.

    O trabalho no hospital era fascinante como sempre. )ladesempenhou as fun#$es de anestesista, fe! alguns atestados de "bito ealgumas pequenas cirurgias sob a superviso de ominic.

    A primeira apendicite que aparecer no hospital ser sua disseele com um sorriso.

    1ina limitouse a balan#ar a cabe#a, sem saber se ele estava

    brincando ou falando s'rio.As chuvas que desabavam ao entardecer, quase diariamente, ainda

    eram um ligeiro contratempo no seu programa, mas no chegavam aincomodla seriamente. A verdade ' que o hospital passara a ser umuniverso pequeno e interessante, onde ela vivia intensamente e aprendia ummundo de coisas que faltavam 8 sua forma#o m'dica.

    epois de ouvir sem querer a conversa entre ominic e CicelJ, navaranda da casa, 1ina passou a desconfiar da vo! macia e insinuante deCicelJ e preferiu tomar as refei#$es em casa, em ve! de fa!er companhia

    aos dois 8 mesa do antar. )la deu como desculpa que no queria abusar da

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    hospitalidade deles, uma ve! que tinha uma casa pr"pria onde podia perfeitamente co!inhar.

    )u compreendo sua preferncia disse ominic. )u tamb'ms" me sinto bem na minha casa, com minhas coisas.

    A nica coisa que incomodava a e*istncia tranquila de Cristina em(gala era lembrarse da atitude fria e cr%tica de /artin na conversa quetivera

    com ele pelo telefone. 0uando pensava no casamento para breve,sentia um arrepio na espinha, apavorada com a ideia de unirse para semprea um total estranho.

    )la se lembrava do passeio que tinha feito com /artin no dia em queele lhe pedira em casamento. 4ecordava suas dvidas e receios, a hesita#ode abandonar uma carreira promissora para unirse a um homem que malconhecia. )ntretantoF por fraque!a talve!. acabara cedendo.

    O que acontecera com seu amor? 6or que no se lembrava dessesentimento untamente com o resto? (m ano de correspondncia era um

    pobre substituto para o relacionamento pessoal, mas ela tinha a esperan#ade encontrlo em breve, logo que passasse a esta#o das chuvas, e tomariaento uma deciso definitiva sobre seu futuro.

    O fato de conhecer ominic nesse meio tempo no era uma ra!osuficiente para esquecerse de /artin. O motivo era outro. )la ingressara,sem perceber, na "rbita de ominic e no podia escapar 8 sua influncia

    poderosa. >o dia em que se despedisse dele e partisse para +ampili, onde

    /artin a esperava, voltaria sua aten#o para outra esfera de atra#$es e poriaseu cora#o no lugar certo.

    ea se essas botas cabem em voc disse ominic, entrandona sala com um par de botas de cano alto na mo.

    Onde vamos? 6escar no rio? A pescaria dessa ve! ' outra disse ominic, com uma

    risadinha. amos visitar a aldeia dos machuas. H muito longe daqui? /ais ou menos. (ma hora, apro*imadamente. urante a esta#o

    das chuvas os meninos da aldeia se tornam agitados e aprontam toda sortede travessuras. (m grupo de adolescentes resolveu travar um combate, comlan#as de verdade, para ver quem era mais forte e coraoso. 4esultado3acabaram ferindose com a ponta das lan#as. )u vou dar um pulo l paraver os estragos e aplicar algumas ine#$es antitetnicas, se for necessrio.oc vem comigo?

    amos a p'? H. Calce primeiro as botas. epois venha atrs de mim. Onde eu

    pisar, voc tamb'm pisa. >o se afaste um palmo de mim. amos partir

    dentro de uns de! minutos. >o se esque#a de levar seu chap'u de e*plorador.

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    1ina ficou e*citada com a perspectiva de conhecer a aldeia dosmachuas. 1odos os africanos que vira, at' ento, eram pacientes do hospitale seria

    muito diferente e muito mais divertido encontrlos na aldeia

    onde moravam, com a mulher e os filhos.)la no estava l muito elegante com as botas de cano comprido, ochap'u de e*plorador no alto da cabe#a e um casaco de couro em cima dosombros. /as, o que ia fa!er? Aquilo era uma e*pedi#o e no um desfite demodas

    ominic sorriu ao vla nesses traes de safari. )st pronta, doutora? 6odemos partir? )stou 8s suas ordens.-eorge ia com eles e estava muito orgulhoso de sua fun#o, que

    consistia em transportar uma mochila nas costas com todo o equipamentom'dico e os sacos de dormir.

    /al se afastaram alguns passos da marquise do hospital, enfiaram osp's na lama. )mbora Cristina seguisse o conselho de ominic ecaminhasse colada a ele, sem se afastar um passo de seus p's, elaescorregou algumas ve!es e foi parar no cho. >o fim de meia hora,cansada de levar uma meia d!ia de tombos, ela parou e levou a mo 8testa suada.

    Ainda falta muito? )stamos quase chegando. oc est muito pregada?

    /ais ou menos. 0uer que a leve no col"? >o, muito obrigada )u posso andar so!inha com meus pr"prios

    p's. timo. >esse caso, tome cuidado para no cair de novo, caso

    contrrio vou ser obrigado a carregla nos ombros como uma trou*a deroupa. aqui para a frente, o caminho vai melhorar. 6rocure pisar nosobetos s"lidos, nas ra%!es de rvores, nos troncos quebrados. oc pode irna frente, -eorge. )u vou fa!er companhia a essa mo#a aqui. As mulheres

    so moles como gua...1ina preferia ter recusado a companhia dele, mas no fundo ficou

    contente quando ominic lhe deu a mo e impediu que ela escorregasse denovo. /ais adiante, eles se abrigaram embai*o de uma rvore copada at' achuva passar. ominic contou a 1ina que at' h alguns anos atrs osnativos tiravam veneno, para passar nas flechas, daquela mesma rvore.

    Agora, essa prtica foi proibida pelas autoridades. )les podem,quando muito, ca#ar e levar alimentos para os membros da tribo. Os

    predadores lue amea#am a aldeia, ou qualquer outro animal kali, como a

    fmea do elefante que perdeu o filhote, so controlados pelo encarregadoda reserva e por seus au*iliares.

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    O que significa kali? H o animal que est furioso por alguma ra!o. A fmea que foi

    privada dos filhotes, por acidente ou deliberadamente, tornase kali e,muitas ve!es, tem que ser morta a tiro. O rinoceronte tornase kali quando '

    assus tado por algum ru%do que no identifica com a vista. )le ouve o ru%domas no v' o obeto. ) tomado de fria e ataca qualquer pessoa que seencontra na sua frente. A chuva est passando. amos andando?

    =oi s" ento que 1ina notou que continuava de mos dadas comominic sem nenhum motivo aparente.

    >"s vamos encontrar algum animal fero! no caminho? 6rovavelmente no. As plan%cies e savanas esto a uns cinco

    quil"metros mais ao norte. H l que se acham os rebanhos de animaisselvagens, as ga!elas, os ant%lopes, as !ebras, os elefantes. >o h le$esnessa regio. oc s" os encontra nas colinas ao p' do +ilimanaro.6odemos, quando muito, topar com algum casal de rinoceronte mergulhadona lama. H a% que eles procriam.

    Alguns minutos depois avistaram uma clareira na floresta. O solo eramais firme que a terra vermelha e escorregadia do caminho. )ra um al%vio,caminhar na superf%cie firme e regular. ominic mostrou a 1ina algunscactos que tinham flores cordelarana e apontou para uma rvore emforma de candelabro, semelhante a uma forma#o de estalactite no interiorde uma caverna. 0uando ouviram o borbulhar das guas do rio, a algumadist2ncia dali, tomaram uma trilha estreita que passava debai*o de rvores

    enormes chamadas baobs, cuas ra%!es lembravam pernas torcidas,enterradas na lama. As rvores eram brancas e as copas tinham sementes

    penugentas, como paineiras. 1ina imaginou que aquelas rvores deviam terum aspecto aterrori!ante de noite, com os galhos desfolhados e o troncotorcido.

    Os c2nticos e as batucadas ouvidas a dist2ncia eram um ind%cioseguro de que estavam se apro*imando da aldeia para onde se dirigiam.

    Os nativos esto sempre cantando e batucando. /esmo quandotm motivo para triste!a.

    ominic foi recebido na aldeia com manifesta#$es de bilo. 6elovisto, era uma figura e*tremamente popular entre os machuas.

    1odos aqui falam :cis;ahiti e*plicou ominic a 1ina. etempos em tempos, digaambo ao avistar um nativo. Assim voc ganha aestima deles.

    1ina no se fe! de rogada. 1oda ve! que algu'm olhava na suadire#o, surpreso com sua presen#a na aldeia, ela di!ia ambo, e essasauda#o era sempre recebida com um sorriso . Antes de tratar dos doentes,ominic reuniuse com os homens mais velhos da tribo, no centro da

    aldeia. )nquanto isso. 1ina foi condu!ida para uma cabana coberta de sap'.onde as mulheres lhe ofereceram gua para lavar as mos e o rosto. 1ina

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    ficou surpresa quando uma menina lhe ofereceu uma cuia com um ch deerva cidreira. O gesto gracioso da adolescente contrastava claramente coma bravura dos meninos que lutavam de lan#as em punho para afirmar suavirilidade.

    )mbora os adolescentes se agredissem uns aos outros, para mostrarque eram valentes guerreiros, as meninas sabiam fa!er ch e punham umagota de leite condensado na bebida, para tornla mais saborosa.

    Cristina estava mais apresentvel sem a capa de plstico, de rostolavado e cabelos penteados, quando foi chamada por uma menina para ir aoencontro de ominic, que tinha come#ado a tratar dos doentes. Os ovensestavam reunidos no terreiro, onde ouviram um sermo sobre os perigos dainfec#o com lan#as suas de terra. As feridas que apresentavam sinais deinfec#o eram lavadas e tratadas com cuidado por 1ina e ominic, todosreceberam ine#$es antitet2nicas. Os cortes mais fundos foram medicadoscom penicilina e cobertos com ga!e.

    Olha s" e*clamou 1ina, em dado momento, ao levantar acabe#a e avistar a fila de nativos que aguardavam a ve! de consultar om'dico branco de visita 8 tribo. >o vamos poder voltar hoe para casa

    >o tem import2ncia. 6odemos pernoitar aqui. Aquela cabana lfoi preparada especialmente para n"s.

    oc est brincando e*clamou 1ina at"nita quando avistouuma cabana minscula que mal dava para duas pessoas. >"s vamosdormir ali?

    0ue rem'dio )les no tm muita ideia de conforto nessa tribo.-eorge ficar hospedado em casa de algum conhecido. oc ficou assustada com isso?

    &" )ssa alian#a que voc tem no dedo serve de muro de separa#o.

    &em falar que lhe dei minha palavra que no tomaria nenhuma liberdadesem seu consentimento, est lembrada? oc est segura aqui. e qualquermaneira, vou ficar acordado at' tarde conversando e fumando com os maisvelhos da tribo. )les prepararam um banquete especial para n"s. Agora ' a

    esta#o da ca#a e o menu deve estar e*celente 6rocure mostrar que vocesta gostando de tudo e no fa#a cara feia diante dos pratos que servirem,ainda que voc tenha que vomitlos mais tarde. )ntendido?

    0ue rem'dioominic evidentemente estava se divertindo 8s custas dela, que fa!ia

    sempre papel de idiota na sua frente. 1ina mordeu os lbios com raiva.Agora entendia por que seus sentimentos de revolta eram to fortes

    quando se encontrava a s"s com ominic )ra porque o detestava no%ntimo. Com seu ar de superioridade, ele a fa!ia sentirse uma perfeita

    tonta, uma adolescente insegura e terrivelmente rid%cula.

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Ah, como gostaria de estar em +ampili, na companhia atenciosa eeducada de /artin

    CA6:1(EO ::

    ominic entrou na cabana redonda e ficou surpreso com o queavistou na sua frente. (ma fileira de obetos cai*as de rem'dios, botas,capas impermeveis de plstico, roupas avulsas dividia a pe#a em duasmetades. Cristina estava deitada no lado direito, enfiada no saco de dormir,s" com a cabe#a de fora. )stava terrivelmente quente no interior da cabana

    para algu'm dormir num!lee"in# ba#. oc est dormindo. Cristina? perguntou om%nic, em vo!

    bai*a. )la murmurou alguma coisa incompreens%vel e balan#ou a cabe#a, &abe que horas so? &o de! horas A dan#a est come#ando

    agora. O que deu em voc? 6or que voc no vem assistir 8 festa?1ina me*euse no saco de dormir, alagada de suor.

    0ue festa? A festa que vo dar em nossa homenagem Eevantese da% e

    venha ver o que eles prepararam. A noite est linda, o c'u coberto deestrelas, a lua est de fora. /ais tarde voc contar a seus netos que assistiua uma festa numa aldeia machuia.

    1 bom. K vou.1ina come#ou a sair lentamente do saco de dormir, como uma

    borboleta do casulo. )u vou virar de costas para voc se vestir. )u estou vestida. &ua louca ormir de roupa num calor desses oc vai acordar

    ensopada e com risco de pegar uma gripe. A ordem aqui ' dormir pelado.1ina ouviu a cr%tica em silncio, sem eito por causa de sua timide!.

    O que voc quer? 1udo isso novidade para mim disse porfim, passando os dedos entre os cabelos. )u nunca dormi antes nessascondi#$es.

    6ara que voc fe! essa separa#o? Para eu no pular por cima.oc no entende que a melhor prote#o da mulher ' a mod'stia natural.:sso ' mais do que suficiente. amos )les esto esperando por voc paracome#arem a dan#a.

    (ma fogueira enorme estava acesa no meio do terreiro e os galhossecos crepitavam quando os dois se apro*imaram. (ma passadeira defolhas de palmeira fora estendida no cho de terra, para os assistentessentarem sem se suarem na fama. A lua brilhava no c'u como ummedalho de prata e o ar noturno estava impregnado com o perfume forte

    da terra mida, da lenha que queimava na fogueira, das ervas aromticasque as mulheres usavam para temperar a comida. @avia um clima

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    contagiante de alegria e de atividade na aldeia inteira. 1odos corriam de umlado para o outro, falavam em vo! alta, chamavam um conhecido pelonome, e*plodiam na gargalhada. A festa era um grande acontecimento navida da aldeia machua.

    &entese aqui disse ominic, apontando para uma esteirinhaestendida no cho. )u vou dar uma volta. oc vai me dei*ar so!inha aqui? )u vou me sentar com os homens, como manda a etiqueta. Ah, por favor, fique comigo &e voc insiste...ominic agachouse ao lado dela e acendeu o cachimbo com uma

    delibera#o bem masculina.Os cantos e os acompanhamentos de palmas, que tinham servido at'

    ento para marcar o ritmo, ganharam em dado momento maior intensidade.(m bando de rapa!es, magnificamente vestidos para a ocasio, com penasnas cabe#as e saiotes de folhas, entrou correndo no terreiro e come#ou adan#ar e rodopiar em volta da fogueira, com um movimento ritmado dascadeiras e dos ombros.

    )les esto mostrando 8s mo#as que so fortes e bemfeitos decorpo e*liicou ominic em vo! bai*a. oc est vendo entre as

    penas os curativos que fi!emos? )les levaram a s'rio nossasrecomenda#$es...

    Os rapa!es pareciam cada ve! mais animados e os movimentos dos

    quadris e dos ombros se tornaram mais rpidos e fren'ticos. >o instanteseguinte o bando das mo#as entrou no outro lado do terreiro. )las mantinham as cabe#as abai*adas e observavam os rapa!es com o canto dosolhos, como se a mod'stia as impedisse de encarlos de frente. As mo#asestavam vestidas com saias curtas de algodo e usavam colares de vrias

    voltas no pesco#o e pulseiras de contas nos bra#os. /esmo assim,no estavam to magnificamente parameniadas como os rapa!es.

    Os cantos cessaram, no instante em que os dois grupos pararam, umdiante do outro. As mo#as e os rapa!es balan#avam as cabe#as de um lado

    para o outro, num movimento l2nguido, esttico, como se estivessemcochilando de p' mas ningu'm tocava no outro. e! por outra, uma

    ovem batia de leve no bra#o do rapa! e esse era o nico contato queocorria entre os dois grupos.

    A mo#a que toca no bra#o do rapa! est convidandoo para umencontro noturno e*plicou ominic. 1udo ' muito simples, voc noacha?

    @um, bem primitivo disse Cristina, que tinha acabado de tocarno bra#o de ominic e no queria revelar sua confuso moment2nea.

    /as no se pode chamar isso de amor...

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    6or que no? O amor afinal ' uma coisa muito simples. Hcomposto de atra#o mtua, seguran#a e pra!er rec%proco.

    )u pensei que isso fosse se*o. ) e*iste amor genu%no sem se*o? oc, pelo eito, tem ideias oci

    dentais a respeito do amor, que incluem compatibilidade de temperamentose posi#o social. >o se esque#a por'm que h muitas pessoas e povos que desconhecem esses valores e que se apai*onam mesmo assim unspelos outros.

    oc gostaria de entrar na fila e esperar que uma mo#a tocasse noseu bra#o?

    >o, eu no sou um primitivo. Alis, eu sou contra as filas emqualquer circunst2ncia. )u sou um individualista por nature!a. :sso no meimpede de observar os costumes dos outros e procurar compreendelos,sem necessariamente desear imitlos.

    oc gostou de algu'm? J, por qu?

    ) voc est gostando de algu'm no momento? :sso ' uma pergunta ou uma afirma#o? esculpe minha indiscri#o, mas eu queria esclarecer um ponto

    que me dei*ou intrigada. 0ual '? )stou pronto a esclarecla, se estiver dentro de minhas

    possibilidades. )u tenho a impresso que no gosto mais de /artin...

    Ah, sim? >o ' absurdo? )ra tudo maravilhoso no in%cio e depois... sem

    que nem pra que, no sinto mais nada por ele :sso ' natural. >o sei por que estou comentando esse assunto com voc... ) bom se abrir com os outros de ve! em quando. 6or que voc

    acha que no gosta mais dele? A lembran#a que guardei dele no me atrai mais como antes. )u

    sei que isso no tem muita import2ncia, mas eu fico pensando se isso no '

    o fim do amor. Como no tem import2ncia? :sso ' fundamental, Cristina eus

    criou o homem e a mulher para se unirem carnalmente. oc pode seramiga de quem voc quiser, mas a intimidade e o dom do corpo so dodom%nio e*clusivo do homem que voc gosta. :sso ' important%ssimo. >ose pode casar sem isso.

    1alve! eu estea atravessando uma fase de frie!a em rela#o a/artin. )u tenho algumas amigas que passaram por algo parecido, antes docasamento, e que depois voltaram a amar perdidamente os maridos. >o

    fundo, tudo isso ' muito complicado para mim. )u no poderia audla?

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    1alve!. oc poderia me audar a tomar uma deciso. )u tenho aimpresso que voc ' uma das poucas pessoas que compreende minhadvida. 6osso lhe pedir um favor? )u sei que ' meio absurdo, mas no temoutro eito...

    0ual '? oc me daria um beio, para saber se eu estou atravessando umafase de frie!a emocional?

    Os ovens machuas estavam pulando sobre as chamas, com as lan#aserguidas no alto e havia uma anima#o indescrit%vel no terreiro.

    oc est falando teoricamente ou praticamente? 6or favor, no fa#a disso uma questo de honra. oc no precisa

    me beiar, se no tiver vontade. =oi apenas uma ideia que me passou pelacabe#a.

    (m pensamento bastante agradvel, por sinal. oc no temmedo que eu perca a cabe#a? /uitas pessoas revelam suas emo#$esverdadeiras quando se beiam pela primeira ve!.

    Ah, voc est levando meu pedido na piada )u sei que voc temuma noiva chamada elia. oc no vai esquecer sua noiva por causa deum beio )u certamente no vou sentir nada de mais, pode crer.

    Olha l, Cristina oc imaginou qual seria a rea#o de /artine de elia se soubessem de nossa e*perincia?

    Ao ouvir o comentrio, mesclado de ironia e de cr%tica. Cristinacorou repentinamente, levantouse com um movimento brusco e correu

    para a cabana de sap'. ominic conseguiu alcan#la por'm e segurouapelo pulso.

    Onde voc vai? A festa no terminou ainda 6ara mim . )u vou me deitar e uro que no vou sair daqui

    antes de nascer o dia. )u fi! papel de idiota e voc se divertiu 8s minhascustas.

    oc est completamente enganada. )u fiquei muito contentecom a confian#a que voc depositou em mim. 6or favor, no me leve a mal.Is ve!es eu rio sem querer. )u ouvi seu problema com toda a seriedade.

    oc no deve se casar com /artin apenas por obriga#o ou porque vocdeu a palavra. >enhum casamento deve ser reali!ado nesses termos. ) euno preciso beila para saber que voc no ' fria. &e voc est na dvidaquanto ao casamento com /artin, no ' um beio que vai provar coisanenhuma. oc devia antes conversar esse assunto com ele, de cora#oaberto. Os sentimentos morrem, como tudo o mais. >o h nada que se

    possa fa!er para ressuscitar um amor morto. )u tentei me convencer que esse sentimento era consequncia de

    estar afastada de /artin. =a! mais de um ano que n"s no nos vemos.

    1alve! isso passe, quando tornar a encontrlo... 6ode ser, mas no conte muito com isso.

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  • 7/27/2019 Entre Dois Amores Juliet Shore

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    Cristina deu um suspiro e afundou o rosto entre as mos. )u ando apavorada com a ideia de perder /artin. 1enho medo,

    inclusive, de cair na maior confuso mental se isso acontecer. )u no querome aventurar em situa#$es que desconhe#o. oc, com sua seguran#a ina

    balvel, dificilmente pode entender as hesita#$es de uma mulher. Cristina encarouo nos olhos com um sorriso, oc ' muito bonita quando sorri. /ais bonita do que quando

    est s'ria.ominic seguroua pelos bra#os e pu*oua para si, estreitandoa

    contra o 6eito. )la ouviu as batidas fortes do cora#o e teve a impressoque as coisas em volta estavam girando no alto de sua cabe#a. 0uando oslbios dele cobriram os seus, ela fechou os olhos, completamente !on!a,como se o cho estivesse afundando.

    )ssa foi minha resposta a sua pergunta disse ominic, ap"salguns momentos, afastandose um passo e encarandoa nos olhos. oc

    no ' fria nem aqui nem na China 6elo contrrio, voc parece umcabo de alta tenso. )u vou pegar minhas coisas e vou dormir l fora.

    6or qu? epois disso, eu quero dist2ncia de voc. minha querida. )u no

    deseo que aconte#a algo inesperado entre n"s dois. 6ense em elia e em/artin. 5oanoite, Cristina, durma bem.

    1ina observouo afastarse em dire#o ao terreiro onde as cin!as dafogueira continuavam acesas, criando um halo vermelho em volta. )la esta

    va confusa, com a sensa#o do beio trocado ainda h pouco e no teve2nimo para chamlo.

    1alve! tudo isso fosse consequncia da atmosfera ins"lita da aldeiamachua. pensou com um suspiro, passando a palma da mo na testa midade suor. )la acompanhara com e*cita#o a dan#a dos rapa!es e das mo#asno terreiro e seu cora#o se abrira ao amor, sem ela perceber. 1eria ocorridoo mesmo com qualquer outro homem que estivesse ali, em lugar deominic. At' mesmo com /artin...

    CA6:1(EO :::

    =oi dif%cil recordar, na manh seguinte, a loucura da noite anterior.)la pedira realmente a ominic para beila? Ou fora levada a isso pelocontagio da alegria geral? Cristina no sabia di!er. )la se lembrava apenasque ominic lhe parecera e*tremamente atraente durante a festa e que elase dei*ara envolver por sua personalidade mscula.

    A lu! t'nue da manh, os nativos pareciam indiv%duos normais esonolentos, em nada diferentes dos pacientes africanos que Cristina

    encontrava diariamente no hospital. As mulheres estavam com vestidinhossimples de algodo e os rapa!es com as cal#as curtas que usavam o ano

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    inteiroF alguns de camisa, outros com o tronco nu. )ram aqueles homenssonolentos que tinham saltado a noite inteira em volta da fogueira, com aslan#as em punho? &uas dvidas desapareceram definitivamente quando elaviu um rapa! se apro*imar da barraca onde estava hospedada e quei*arse

    de uma queimadura na perna. )le estava to e*citado com a dan#a, na noiteanterior, que no percebeu a gravidade da ferida. &omente na manhseguinte, ao acordar, sentiu dores fortes e procurou os m'dicos brancos queestavam de passagem na aldeia.

    Cristina fe! o curativo na queimadura e aconselhou ao rapa! quemostrasse a perna queimada a ominic, que tinha mais prtica nesseassunto que ela.

    /inutos depois, ominic atravessou o terreiro e dirigiuse a passosrpidos para a barraca onde 1ina estava acampada. O sol estava quentecomo sempre, mesmo 8s primeiras horas da manh, e o vapor que selevantava da terra mida insuportavelmente sufocante.

    )stava e*aminando uma velha que sofre de febre intermitente disse ominic, como se os acontecimentos da noite anterior tivessem sidocompletamente esquecidos. 1odos os parentes a abandonaram e aguardam apenas que ela morra. )u disse 8 filha que sua me pode viver maiscinco anos, pelo menos, se tomar os rem'dios que lhe dei. Os parentes nofa!em isso por mal. )les simplesmente aceitam a morte como uma fatalidade e no movem um dedo para socorrer os velhos.

    )nquanto voc estava fora, eu fi! o curativo num rapa! que se

    queimou ontem na fogueira. -ostaria que voc o e*aminasse pessoalmente.1alve! sea necessrio fa!er um en*erto de tecido disse Cristina.

    >esse caso, vamos levlo conosco para (gadu falouominic.

    A viagem de volta transcorreu normalmente, com a nica diferen#aque agora eram quatro, em ve! de trs. Com o sol de fora, a trilha aberta namata secou rapidamente e levaram menos tempo na volta que na ida.

    &e parar de chover, vou poder partir na semana que vem para+ampiii.

    oc vai mesmo? 0ue rem'dio )u tenho que ir. Acordei com mais disposi#o hoe.

    >o sei o que aconteceu comigo ontem 8 noite. =oi alguma coisa que bebina festa, provavelmente. )u lhe pe#o desculpa por alguma coisa que disseou que fi! ontem. )u no estava com a cabe#a no lugar.

    =oi a aguardente que voc tomou ou foi o momento da verdade? 0ual momento da verdade? >o entendi onde voc quer chegar. Is ve!es, nas circunst2ncias mais inesperadas, deparamos com

    uma nature!a primitiva em n"s. >o foi isso por acaso que aconteceu com

    voc ontem 8 noite.

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    >o, claro que no respondeu Cristina com vivacidade,corando ligeiramente.

    O trabalho no hospital mantevea ocupada o resto do dia e ela nopensou mais no incidente ocorrido na aldeia machua. Ao chegarem em

    casa, no fim do e*pediente, ominic foi direto ao armrio das bebidas epreparou um drinque para os dois. >o se entusiasme muito com esse bom tempo. O estio ' apenas

    passageiro. As chuvas vo voltar de um momento para outro e o rio continua muito cheio para poder ser atravessado com seguran#a. &omente quando as guas bai*arem ao n%vel normal a ponte de (mbulu ser reconstru%da.

    elia telefonou disse CicelJ entrando na sala. )la ficoutriste de no encontrlo em casa.

    O que ela queria? perguntou ominic. )la no falou. /andou muitas lembran#as para voc e disse que

    vaiF passar um dia aqui para lhe fa!er uma visita.Como no havia nada urgente para fa!er. Cristina aproveitou para

    descansar uma hora no quarto. )la se lembrou da carta que /artin lheescrevera e que no tivera ainda coragem de ler. =icou um instante

    pensativa, com o envelope fechado na mo. )m seguida, tomou 2nimo,deitouse na cama e abriu o envelope no canto.

    L/inha querida, recebi sua carta contando not%cias da%. )spero quevoc

    tenha tomado os comprimidos que lhe receitei contra a malria. Os

    mosquitos portadores da doen#a so mais ativos na 'poca das chuvas e todocuidado ' pouco. &eria muito desagradvel que voc ca%sse doente depoisde todo esse tempo que perdemos.

    ) -eorge, como vai? )st se saindo bem no novo emprego? lhelembran#as minhas e diga que ele est me fa!endo muita falta aqui. =iqueicontente ao saber que ominic arrumou trabalho para voc a%. H prefer%vel

    passar o dia ocupada do que de bra#os cru!ados. iga a ominic que notenho not%cias do doutor =a!al. Aqui na cl%nica s" temos m'dicos europeus,

    porque nossos pacientes do preferncia aos m'dicos brancos. )u imagino

    que voc deva estar amargamente arrependida de ter perdido o vapor. &en$o fosse por causa disso, voc estaria agora aqui, na minha companhia.:nfeli!mente, a gente s" aprende as coisas errando.

    )u fui convidado para um antar em casa de uns amigos. &o pessoasmuito influentes em +ampili e go!am de uma e*celente reputa#o entre osmembros da col"nia inglesa. )les mandaram lembran#as para voc e disseram que esto ansiosos para conhecla. >ingu'm acredita aqui que euestea noivo de uma m'dica inglesa... oc precisa vir para eu apresentlaaos meus amigos.L

    1ina dobrou lentamente a folha de papel e tornou a guardla noenvelope. A carta de /artin dei*oulhe um gosto amargo na boca. :ncr%vel

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    Entre dois amores (Tropical Hospital) Juliet ShoreBianca no. 8

    como ele era ego%sta &" pensava em si mesmo e nas coisas que lhe di!iamrespeito. ) di!er que h um ano atrs estava apai*onada por ele Casarsecom /artin, depois dessa concluso, era o mesmo que se suicidaremocionalmente. )la tinha certe!a que amais voltaria a amlo como

    antes. >o momento s" havia um solu#o3 aguardar o fim da esta#o dasguas e voltar para a :nglaterra. @averia sempre de encontrar trabalho numhospital. >o podia querer que /artin pagasse indefinidamente sua

    permanncia na Dfrica. Alis, no receberia dinheiro dele em hip"tesealguma. 1inha que se tomar independente e cuidar de sua vida.

    1ina ouviu o ru%do de passos perto da anela que dava para a varandae ergueuse na cama para ver quem era.

    /inha me est aqui disse Chefo, o criado africano, passandoa cabe#a na anela do quarto. )la veio fa!er uma visita 8 patroa.

    1ina levantouse da cama e cal#ou as sandlias. )stava curiosa paraconhecer a me do menino. )la no escondeu sua surpresa, por'm, quandoavistou uma mulher pequena, muito escura, com um vestida a!ul de algodo todo remendado. A descri#o que o filho fi!era da me era bem diferente da realidade que tinha diante dos olhos. A mulher observoua um

    longo momento em silncio, balan#ou vrias ve!es a cabe#a e depoisdirigiuse ao filho numa lingu