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1 ENTRE HOMENS, PIGMEUS E MACACOS: O ESTRANGEIRO MONSTRUOSO COMO TEMA COMUM AO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO E À ESCOLÁSTICA DURANTE A BAIXA IDADE MÉDIA FERNANDO PONZI FERRARI Mestre em História - UFRGS [email protected] Os habitantes das terras distantes formaram uma grande incógnita para o pensamento medieval. Os estrangeiros perdiam-se nas brechas do amálgama cultural entre gregos, romanos, hebraicos e “bárbaros” que formaram o horizonte imaginativo da cristandade romana. Contando com características de homens, animais e monstros, estes seres exóticos eram receptáculo de tantos significados conjugados que só eram comparáveis aos mistérios de suas terras originais. Entretanto, ao fim da Idade Média, os projetos de expansão de várias culturas (incluindo da própria latinidade) geraram uma tensão entre as populações imaginadas e aquelas que se apresentavam empiricamente. O presente artigo procura os cruzamentos das formas com as quais se apresentavam os habitantes das terras distantes durante os séculos finais da Idade Média, especialmente nos últimos momentos das Cruzadas e na chamada pax mongólica (sec. XIII-XIV), quando os domínios estabelecidos pelos povos das estepes possibilitaram um maior intercâmbio entre os dois opostos da Eurásia. Nesta época em que a escolástica florescia nas universidades, comerciantes e evangelizadores “viam com os próprios olhos” povos que abalavam os preceitos do conhecimento compartilhado do Ocidente europeu e obras de síntese eram produzidas no norte da península italiana procurando equilibrar os alicerces da latinidade com a enxurrada de novos conhecimentos. Diferentes meios e formas de escrita demonstravam o esforço em estabelecer um para essas nações que fosse compatível com a cosmovisão latina.Para verificarmos a permeabilidade do tópico dos estrangeiros monstruosos, abordaremos aqui os relatos de

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ENTRE HOMENS, PIGMEUS E MACACOS: O ESTRANGEIRO

MONSTRUOSO COMO TEMA COMUM AO CONHECIMENTO

GEOGRÁFICO E À ESCOLÁSTICA DURANTE A BAIXA IDADE MÉDIA

FERNANDO PONZI FERRARI

Mestre em História - UFRGS

[email protected]

Os habitantes das terras distantes formaram uma grande incógnita para o

pensamento medieval. Os estrangeiros perdiam-se nas brechas do amálgama cultural

entre gregos, romanos, hebraicos e “bárbaros” que formaram o horizonte imaginativo da

cristandade romana. Contando com características de homens, animais e monstros, estes

seres exóticos eram receptáculo de tantos significados conjugados que só eram

comparáveis aos mistérios de suas terras originais. Entretanto, ao fim da Idade Média,

os projetos de expansão de várias culturas (incluindo da própria latinidade) geraram

uma tensão entre as populações imaginadas e aquelas que se apresentavam

empiricamente.

O presente artigo procura os cruzamentos das formas com as quais se

apresentavam os habitantes das terras distantes durante os séculos finais da Idade

Média, especialmente nos últimos momentos das Cruzadas e na chamada pax

mongólica (sec. XIII-XIV), quando os domínios estabelecidos pelos povos das estepes

possibilitaram um maior intercâmbio entre os dois opostos da Eurásia. Nesta época em

que a escolástica florescia nas universidades, comerciantes e evangelizadores “viam

com os próprios olhos” povos que abalavam os preceitos do conhecimento

compartilhado do Ocidente europeu e obras de síntese eram produzidas no norte da

península italiana procurando equilibrar os alicerces da latinidade com a enxurrada de

novos conhecimentos.

Diferentes meios e formas de escrita demonstravam o esforço em estabelecer um

para essas nações que fosse compatível com a cosmovisão latina.Para verificarmos a

permeabilidade do tópico dos estrangeiros monstruosos, abordaremos aqui os relatos de

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viagens ao Extremo Oriente, as reflexões escolásticas de Alberto Magno e Tomás de

Aquino, e do humanista bolonhês Domenico Silvestri.

1. O esperado e o vivido: encontros com viajantes medievais1

Como ferramentas de síntese e tópico popular, os bestiários exerceram sua

influência sobre os viajantes. Le Goff propõe que a alegorização e moralização das

maravilhas permitem que a ordem divina e a natureza se mesclem neste tipo de livro de

monstros (1993, p. 280). Mas, ainda que os relatos resgatem grande parte dos animais

fabulosos, dificilmente podemos concordar com o historiador francês em sua afirmação

de que esta seria uma “recuperação científica” (LE GOFF, 1983, p. 27), ou seja, visando

uma “observação objetiva”, sem recairmos em um anacronismo.

Ainda assim, uma das consequências mais notáveis dos relatos das viagens ao

território mongol foi o questionamento do saber tradicional sobre as raças monstruosas,

especialmente àquelas vinculadas ao Extremo Oriente. O interesse suscitado pelo tema

através de fontes da Antiguidade (clássica e tardia) e escritos medievais (sobretudo os

de cunho moralizante ou satírico) fez com que a indagação sobre estas criaturas fosse

obrigatória por parte dos narradores, e o ceticismo radical causado por sua inexistência é

constantemente amparado por uma enunciação de investigação presencial. Rubrouck diz

que questionou os mongóis sobre a existência das criaturas citadas por Isidoro e Solano,

e, recebendo negativa, diz que não vê motivos para perguntar se alguma coisa que os

autores disseram seria verdade (p. 184). Giovanni di Marignolli procura mostrar uma

base racional sobre os "monstros que e a história fabula" residentes na Índia. Apoiando-

se em santo Agostinho, afirma que não existem e não poderiam existir, pois somente os

descendentes de Adão têm o dom do raciocínio, portanto são da mesma raça deste. No

máximo seriam homens comuns que possuíam algum prodígio natural, como uma

deformidade ou seis dedos, sendo que estas aberrações ocorrem em todos os lugares,

como ressalta sua descrição da Itália (Sinica Franciscana, T. 1, p. 342).

1 Aqui nos focaremos no embate das expectativas nutridas pelos viajantes sobre os orientais com a

realidade presenciada. Para uma análise da retórica da diferença tecida pelos relatos ao elaborar suas

descrições dos habitantes do alhures, veja FERRARI, 2014, pp. 61-99; GUÉRET-LAFERTÉ, 1994, pp.

211-283; HARTOG, 1999, pp. 229-271; O’DOHERTY, 1999, pp. 143-174.

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Além de negar estas lendas, Marignolli propõe um exemplo de sua origem: os

ciápodes não seriam seres de uma raça com apenas um enorme pé, mas observações

incompletas sobre o hábito dos indianos de usarem guarda-chuvas (papilionem) ao se

protegerem da chuva e do sol (p. 546). A observação direta permitiu a Giovanni não

somente discernir lenda de realidade, como estabelecer sua autoridade ao formular suas

explicações e demonstrar a integração destas ao conhecimento compartilhado por seu

meio2.

Peter Jackson mostra que o senso crítico presente no relato de Rubrouck era

muito apurado, mesmo ao compararmos seu relatório a outros:

Onde o relatório de Pian Carpini havia sobriamente listado raças fabulosas

como os parossitae e os cynocephali entre as nações da Ásia subjugadas

pelos mongóis, Rubrouck perguntou aos seus anfitriões mongóis sobre esses

monstros citados por Isidoro e Solino: ele foi informado de que tais criaturas

nunca haviam sido avistadas, ‘que nos faz duvidar muito se é verdade’, ele

diz. Apenas em uma ou duas vezes ele parece ter engolido alguma história

improvável, como quando fala de uma cidade no Cathay com paredes e

ameias de ouro e prata, sem dar maiores informações; por outro lado, rejeitou

uma lenda sobre um país para além do Cathay onde as pessoas mantinham

para sempre a idade que estavam ao nela entrar (JACKSON, 1994, p. 57).

Ainda que os viajantes falem muito das autoridades antigas ao revisitarem os

monstros e topoi atribuídos ao Oriente, sua visão e seus anseios não se afastam tanto

dos debates mais escolásticos de seu próprio tempo. Imersos em uma época de alto

desenvolvimento do pensamento escolástico, a preocupação com as faculdades racionais

e a liberdade de escolha permeiam indiretamente estes relatos.

Ainda que o olho do observador contrarie as lendas das criaturas encontradas em

bestiários, specula e obras descritivas, estes seres possuem destaque em um relato de

viagem. Desmistificadas, renomeadas ou (ainda que raramente) simplesmente negadas,

são parte da visão de mundo e ordenamento divino para a latinidade. Como vimos,

mesmo quando se tenta esvaziar tais mitos, o autor procura incorporar outros elementos

2Os animais fabulosos são alvo da mesma crítica dos monstros humanoides por outros viajantes. Ao citar

Isidoro de Sevilha para falar dos grandes cães do norte, Guilherme de Rubrouck corrige substancialmente

as informações do santo, substituindo um teor maravilhoso por uma descrição mais minuciosa:“Isidoro

diz que lá vivem cães tão grandes e de ferocidade tal que eles conseguem matar touros e mesmo leões. O

que é verdade tanto quanto eu pude me informar é o que segue: em direção ao Mar do Norte eles

aproveitam cães para puxar seus carros como bois, dado seu tamanho e força” (RUBROUCK, 1993, p.

184).

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conhecidos à sua obra: Marco Polo fala de homens com feições e dentes de cães na ilha

Agaman (p. 547), Pian Carpine fala de criaturas muito semelhantes aos cinocéfalos dos

mitos gregos nas regiões conquistadas pelos tártaros (cap. 12), e mesmo Jordanus

Catalani, que muitas vezes se assemelha a um naturalista em suas observações3, fala de

dragões cuspidores de fogo que têm seus carbúnculos levados como oferenda para o

“Imperador Preste João da Ætiopia”, na mesma India Tertia em que aves rocas

carregam elefantes em suas garras e onde passeiam os unicórnios (p. 42), e ainda faz

questão de diferenciá-los dos rinocerontes (p. 18). Em vez de contrariar estas lendas

como o faz no início de sua narrativa com os unicórnios-rinocerontes, as ratifica.

Isto combina com o caráter de recepção das obras de viagens da Idade Média: a

proposta dos narradores não é apresentar um mundo radicalmente novo à sua plateia

(fato impossível por si, dado as estruturas imaginativas dos autores e pela própria

linguagem), qualquer tentativa nesse sentido soaria como delírios de um lunático

desconectado com a realidade (WITTKOWER, 1942, p. 159-97). O compromisso de

causar espanto entre seus receptores exige que não ocorra uma simples repetição de

topoi, o que tornaria a narrativa redundante e enfadonha, mas também requisita que não

se rompa com um horizonte de expectativa. Mesmo os autores mais engajados em uma

descrição “factual” oferecem as surpresas do maravilhoso para seus leitores; como

Wittkower demonstra, os “monstros” irão residir nas obras geográficas, etnológicas,

biológicas e geológicas pelo menos até o século XVIII, pois a apreensão do

desconhecido pela linguagem faz com que todos os detalhes soem como teratológicos

(idem, p. 183).

2. Quais são homens aos olhos de Deus? Os cruzamentos da escolástica com os

viajantes.

Alberto Magno disseca sobre a natureza única do ser humano em De

Animalibus, um livro cujo título promete falar sobre animais, que acabam figurando

3Suas descrições dos cupins e do modo que as vespas colocam larvas em aranhas e depois as enterram é

especialmente perceptiva para um homem de sua época. YULE, 1929, p. 35-36.

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apenas como alegoria dos predicados do homem. No entanto, entre as feras e os filhos

de Adão existem pelo menos dois intermediários4: os pigmeus

5, assim como os símios

6.

Tal como os homens, estas criaturas são capazes de disciplinabilia7, ou seja,

manter o controle da mente sobre o corpo que toda ação com proposto requisita, sendo

portanto capazes de aprender (Albertus Magnus, lib. 21, 1920, p.1329). Mas lhes falta

algo essencial:

(...) O pigmeu é o mais perfeito dos animais (...). Entre todos outros, ele

parece ser o que mais faz uso da memória e melhor entende os sinais

auditivos. Nesse sentido, ele imita ter a razão [intelecto], mas carece dela. A

razão é o poder da alma de aprender através de suas experiências do passado,

relacionando princípios ou deduzindo, de inferir [constantes] universais e

meditar sobre a aplicação destes princípios nas artes e nas ciências: e isto um

pigmeu não faz (idem, p.1329-1932).

A falta da ratio priva o pigmeu da civilidade e de seus elementos, que são: a

experiência da vergonha e a capacidade de diferenciar vício de virtude, o uso da

linguagem e das figuras retóricas, um sistema político e legal, e não ser um habitante

das florestas (idem, p.1329-1932). Em Ethica, Alberto Magno se afasta do contraste

com os animais para definir o bárbaro propriamente dito:

4 Como lembra a raiz etnológica comum entre “símio” e “semelhante”.

5 A relevância dos pigmeus em escritos medievais demonstra a perenidade de tópicos monstruosos greco-

latinos no pensamento medieval. Frequentemente evocado como aporte para debates sobre as qualidades

da alma, racionalidade e multiplicidade de criaturas do mundus, este povo diminuto aparece em grande

parte dos autores da patrística. Para um debate muito mais aprofundado sobre as transformações da

imagem e função destes pequenos seres na história, da Antiguidade à atualidade, vide: BAHUCHET,

1993, pp. 153-181. 6 Tido como a primeira história de detetives e um dos contos mais lidos do mundo Assassinatos na Rue

Morgue, de Edgar Alan Poe, faz constante referência às classificações do processo racional presentes na

obra de Alberto Magno – inclusive colocando um símio adestrado como antagonista. Entretanto, até onde

pudemos verificar esta conexão jamais foi feita, mesmo com sua introdução copiando sequências inteiras

de frases presentes nos livros do dominicano, como vemos em sua introdução: “O poder analítico não

deve confundir-se com a simples engenhosidade porque, se bem que seja o analista necessariamente

engenhoso, muitas vezes acontece que o homem engenhoso é notavelmente incapaz de análise. A

capacidade de construtividade e de combinação, por meio da qual usualmente se manifesta a

engenhosidade, e à qual os frenólogos (a meu ver, erroneamente) atribuem um órgão separado, supondo-a

uma faculdade primordial, tem sido tão frequentemente encontrada naqueles cujo intelecto está quase nos

limites da idiotia, que atraiu a atenção geral dos tratadistas de moral social. Entre o engenho e a

habilidade analítica existe uma diferença muito maior, na verdade, do que entre a fantasia e a imaginação,

mas de caráter estritamente análogo.” O processo analítico medieval também é magistralmente

demonstrado por Umberto Eco em seu O Nome da Rosa, onde o autor retrata este impulso investigativo

em um protagonista que até em seu nome funde Sherlock Holmes com Guilherme de Ockham. 7 Como o capítulo 3 anuncia em seu título: “Qualiter animalia sunt disciplinabilia ex aliqua partieipatione

virtutum animae et praeeipue qualiter hoc fit in generibus symiarum.” SADLER (org.), 1916, p. XVII.

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Os [homens] bestiais são raros, pois é raro um homem que não possui nada

de humano. E quando isto ocorre, advém de duas razões: por lesão ou por

perda [privação]. Chamamos de bárbaros aqueles que não possuem leis, ou

uma civilização com ordem, ou uma estrutura de poder que os discipline.

Túlio [Cícero] chama de bárbaros os homens selvagens que levam a vida

como animais (...). Ou, da mesma forma, homens bestiais que comem carne

crua e bebem sangue humano, e se deliciam ao comer e beber em crânios

humanos (Albertus Magnus, 1651, vol. 4, lib.7, p.263).

Seu mais renomado aluno, Tomás de Aquino, aprofunda e contradiz em grande

parte estas ideias, adicionando um bom grau de relativismo. Se afastando das

características físicas que definiriam um homem monstruoso, a clareza do dominicano

ao expor seus argumentos é impressionante mesmo atualmente:

Mas pode haver dúvidas aqui sobre quem são os chamados bárbaros. Dizem

que se não entendo a língua de ninguém, chamarei todos de bárbaros. Para

outros, bárbaros são aqueles que não possuem sua língua vernácula escrita.

(...) E para alguns, bárbaros são aqueles que não são regidos por nenhuma lei

que os civilize.

E todas estas coisas chegam perto da verdade de diversas formas: chamamos

de “bárbaro” algo estranho para compreendê-lo. Um homem pode parecer

estranho em termos absolutos ou em comparação com outros. É

simplesmente tido como intruso aquele que é visto com um déficit de razão

entre os homens em termos absolutos; então simplesmente são chamados

bárbaros aqueles que carecem de intelecto, seja pela sorte de viverem em uma

região destemperada abaixo do céu, que torna sua disposição letárgica, ou

ainda por maus costumes que prevalecem em sua terra; estes homens se

tornam irracionais e quase brutais. Se o poder da razão prevalecer entre estes

povos, eles serão regidos por leis, portanto terão o dom da escrita

desenvolvida. Logo, a barbárie se manifesta claramente nestes sinais: ou

vivem sem lei, ou fazem um uso irracional delas, e, igualmente, entre alguns

povos, não se exercita a escrita. Mas chamamos de forasteiros aqueles com

quem não conseguimos nos comunicar. Ressalto, os homens foram feitos

para que palestrem entre si; segundo este princípio, se aqueles [povos] não

conseguirem se entender no que dizem, poderão chamar uns aos outros de

bárbaros (Thomas Aquinas, 1971, lib. 1, lect.1, par. 22-23).

Este relativismo não é inédito ou exclusivo do Doctor Angelicus, como mostra o

teólogo, cronista, bispo e viajante Jacques de Vitry, que escreve alguns anos antes de

Alberto Magno:

Para os ciclopes, todos possuem um olho, e, talvez, seja espantoso para eles

quem possui dois olhos, como nós ficaríamos admirados com quem é dotado

de três olhos. Assim como pensamos nos pigmeus como anões, estes nos

consideram gigantes ao compararem-se conosco. No entanto, na terra dos

gigantes, que são maiores que nós, teríamos fama de anões (Iacobi de

Vitriaco, 1597, lib. 2, p. 215).

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Vitry foi o exemplo vivo da conexão que opera entre cronistas, teóricos e

viajantes8. Ao lermos as obras de cunho descritivo-educacional da Idade Média, é difícil

pensarmos que existe uma separação clara entre culturas escolástica e popular, pois os

vocabulários que hoje atribuímos a uma ou outra se infiltram constantemente

(KAHNMOHAMADI, 2013, p. 22-23). Ao compararmos viajantes de um mesmo meio

(frades por um lado, mercadores do norte da península italiana por outro), mas de graus

de educação formal diferentes, os termos que usam são praticamente os mesmos

(entretanto, seus julgamentos morais e religiosos mudam como veremos).

Não apenas estes viajantes compartilham de um mesmo vocabulário, como

dialogam entre si e com conhecimentos além de sua especificidade. Alberto Magno era

um dos principais intelectuais de seu tempo, uma voz que sintetizava e reformulava as

principais heranças antigas no pensamento cristão ao mesmo tempo em que inseria

elementos de escolha racional em sua obra, causando certo alarde nos meios

universitários e escolásticos. Odorico de Pordenone era um frade que mal conhecia as

referências toponímias do Oriente ao lançar-se em suas jornadas; e, se acreditarmos nos

resquícios biográficos que chegam até nós, tinha aversão a uma vida livresca, vivendo

grande parte de sua vida em um eremitério. Com isso em mente, vejamos esta passagem

onde descreve a cidade Chanthan, no nordeste da atual China:

E este rio passa pelo meio da terra dos pigmeus, cuja cidade é chamada de

Chanthan, que é uma das melhores e mais bonitas cidades do mundo; estes

pigmeus9 possuem três palmos de altura, e fazem as melhores obras em

Goton - que é [como chamam o] algodão - do mundo. Mais da metade dos

homens grandes [de tamanho normal] que vivem lá geram filhos de tamanho

diminuto como os pigmeus, que são tão pequenos. E por essa razão há muitos

destes pequeninos lá, e são incontáveis em seu número. Tanto homens quanto

mulheres pigmeus são conhecidos por seu pequeno tamanho; mas eles

possuem alma racional, como nós (capítulo 34; grifo nosso).

Yule, como a maioria dos tradutores e comentadores de Odorico, considera a

passagem acima destacada “confusa” (p. 209, nota 1). Se retornarmos ao pensamento de

Alberto Magno sobre os pigmeus, vemos esta frase surgir quase como uma resposta à

8 Inclusive sendo componente destas três categorias e nos lembrando como nós historiadores apoiamo-nos

em ferramentas analíticas alheias ao problema proposto e ressaltando o perigo de sobrepormos elas à

realidade. 9"(...) isto é, beduínos, (…)" na versão de Rammusio.

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sua declaração de que seriam nada mais que animais que apenas aparentam a

humanidade; afinal, vivem em uma bela cidade, podem ser gerados de uma relação

entre duas pessoas normais e realizam (habilmente) ofícios têxteis. Não andam nus

(subentende-se, especialmente por serem tecelões), não vivem nas florestas, não há

indícios que comam carne humana ou que bebam sangue. Em suas comparações, Vitry

ressalta que a monstruosidade é relativa aos olhos de quem vê, e em momento algum

fala que eles são menos humanos por serem simplesmente diferentes de nós.

Finalmente, concordando com o que Aquino escreveu sobre os bárbaros, seu tamanho

diminuto parece mais atrelado a um nascimento em uma zona pouco propícia, mas não

lhes priva a humanidade – e consequentemente de uma alma humana.

Por outro lado, ainda encontramos frequentemente entre os viajantes os critérios

antigos e medievais sintetizados por Alberto Magno. Jordanus Catalani resume sua

condição de vida ao descrever os que vivem na floresta da Índia Menor e Maior: “não

comem, não bebem nem cooperam com aqueles que vivem à beira-mar” (p. 114) 10

.

Marignolli, que insiste na recusa da existência dos seres fantásticos, nos conta com ares

sombrios sobre homines silvestres que vivem nas florestas sem contato com outros

povos (Sinica Franciscana, Tomo 1, p. 548)11

. Marco Polo fala destes povos nas

montanhas de Pamir (p. 365), na planície ao norte de Karakorum (p. 393) e na ilha de

Agaman (p. 549), e Ricoldo de Montecroce apresenta os turcomanos e os curdos como

homines bestiales (p. 114 e p. 123).

Como toda figura histórica, os viajantes imprimem em suas narrativas debates de

seu tempo. Ainda que os hominídeos monstruosos sejam majoritariamente

desacreditados, um novo tipo de criatura assustadora surge em seu lugar: o selvagem.

Estes grupos são apresentados como habitantes de montanhas, florestas e lugares

isolados, que tendiam a viver nus ou em trapos e desconheceriam uma “cultura” como

os viajantes a reconhecem. Traços como ferocidade, crueldade, estupidez e mesmo

canibalismo são comumente associados a eles. São retratados como existindo de restos

10

“(…) non edentes, non bibenter, nec se cooperientessicut alii quihabitantjuxta mare.” 11

“Sunt homines silvestres in silvis cum filiis et uxoribusnudi et pilosi habitantes; inter homines non

apparent et raro potuiciderealiquem, quiaabscondut se in silvis quando senciunt homines transeuntes”.

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de carcaças e comendo carne crua; poucos aram a terra ou mantém animais domésticos.

Suas descrições são recheadas de enumerações, e, principalmente, de negações.

3. Tradutori, traitori – o homem monstruoso como intermediário entre a patrística

e os viajantes em Domenico Silvestri

Domenico Silvestri foi um escritor florentino, e uma figura frequente nos

ambientes mais refinados de sua cidade. Foi notário em sua cidade, sendo

posteriormente eleito consigliere, console, sindaco, e camarlingo duas vezes no distrito

de Santo Spirito VANHALEN, WARD, 2013, p. 105). Começou a composição de seu

De insulis et earum proprietatibus12

(ca. 1985), com pretensões de continuar o De

montibus, obra de Boccacio que procura a harmonia entre as oekumene e imago mundi

clássicos com referências contemporâneas.

Em sua introdução, Silvestri mantém a tradição de humildade dos

volgarizzatoris, ao mesmo tempo em que oferece a obra como um instrumento tanto do

ócio como para os negócios13

, mas não cumpre com a promessa de manter a redação em

“palavras simples e populares”. Seu comentário inicial destaca também a necessidade de

“preencher os vazios” do espaço, suprindo uma corporeidade imaginável para terras

pouco conhecidas.

Se conseguimos ver os debates das esferas mais intelectuais nos escritos de

viagem, os escritores do humanismo italiano14

não repercutiam o mesmo anseio em

valer-se de informações recentes, como Silvestri explicita na introdução de De Insula:

12

Recentemente, José Manuel Montesdeoca Medina traduziu a obra para o espanhol mantendo o texto

latino original com suas correções; uma breve comparação com as versões de Pecoraro e fragmentos das

de Ricci usados por O’Doherty revelou um texto mais limpo e coerente internamente, e será a edição

seguida aqui, referenciada como De insulis. 13

“Quapropter, ut sicut montes fontesque stagna et paludes diversis autorum libris sparsa in unum ad

usum legentium coiliguntur, ita de insulis, quantum capere ruditas mea posset, quedam in eis gesta,

quedam visu credituque mira quove mari locoque sint posita, popularibus et usitatis verbis et non quieti

otioque pallentibus, sed negotiis convenientibus transclripturus”. De insulis, fol. 6v. 14

Utilizamos aqui o termo “humanismo italiano” de forma intercambiável com “vulgarizadores”,

seguindo os estudos de VANHALEN, WARD, e especialmente CORNISH.

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0 10

Dizem-nos cinco mil ilhas sob o domínio dos tártaros, se acreditarmos em

Odorico. Ele descreveu algumas destas, mas não devia misturar fábulas e

histórias de autores antigos com novas, que ainda não foram comprovadas em

nosso tempo, não fazendo nada mais que minar nossa confiança na verdade

com falsidades. E, ainda que o que Odorico escreveu seja verossímil, seria

prudente tomar como guia e imitar aquilo que escrevem os autores cuja

antiguidade e autoridade inspiram mais confiança, ou encontrar um

testemunho em voz viva, e meditar sobre este contraste. Pois sabemos quão

grande é a inveja de homens que odeiam a virtude e nobreza de outros. Não o

teria inserido aqui neste livro, assim como com Marco Polo, sem [compará-

los] com prudência com Dionísio, conhecido como Iohannis Nigrus, que

havia escutado ao mesmo tempo de Fantino, soldado veneziano e homem

valoroso, que assegurou que nas Índias há muito do que disseram. Em todo

caso, muito do que Marco Polo escreveu não está em desacordo com o que

dizem muitos autores ilustres (MEDINA, 2000, p. 85).

A clareza com que Domenico Silvestri expõe nesse parágrafo o contraste entre a

novitas e a autoritas para os medievais é impressionante. A noção de veritas é um

enquadramento entre autoridade sedimentada, testemunho e verossimilhança, nesta

ordem. O florentino não nega diretamente o relato de Odorico, mas sugere a seus

leitores cautela com informações que ainda não foram testadas – e, mesmo se forem

comprovadas por um relato “ao vivo”, ainda devemos meditar (e mediar) sobre aquilo

que é aceito amplamente como verdade.

Coloca seu próprio caso como exemplo: não teria colocado estes “novatos” no

livro se uma terceira parte (“Dionísio”) não tivesse confirmado suas informações; ainda

assim, só inseriu aquilo que não entrava em conflito as autoridades, sem confirmar os

viajantes diretamente. Se crer nestas narrativas sobre o Oriente incorresse em erro, este

seria de responsabilidade do leitor, pois o autor acautelou-os dos perigos de contrariar

aquilo que já está estabelecido. A inserção de Marco Polo pode ser explicada por uma

maior reprodução da “matéria do Oriente” no veneziano que no franciscano15

, mas

ainda precisa justificar este aporte usando os testemunhos que encontrou. Ainda assim,

15

Ou pelo menos uma adequação que evite conflitos com as fontes estabelecidas. A passagem em que

fala de fala da ilha de Pentalyn é muito ilustrativa neste sentido; nela, Silvestri fala da tribo dos Astami,

seres sem boca que se alimentam apenas do cheiro das maçãs que Isidoro descreve, relacionado este povo

com a ilha indonésia descrita por Polo, mas fala que não sabe se realmente são desta ilha, se isentando:

“Pentayn insula in Indico mari sita versus meridiemdicit Marcus venetus a

continentiquingentorummiliariorumintervallodistare. Hec satis silvestris est regio, arborumnemora sunt

ibidistillanteexhis odore mire suavitatis ut forte solo odore vivunt. NarratYsidorus in

IndiapropefontemGangisgentem esse qui solo odore cuiusdampomivivunt, qui si

longiuseuntpomumsecumferunt, moriunturenim si pravum odorem inveniunt. Si exhac insula essent

ignoro. Inter hanc et Laohe, de qua supra, per miliariasexagintaaltitudomaris non

ampliusquattuorpassuumreperitur, undetemonisope uti nequient in navigando.”. SILVESTRI, fol. 110f.

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1 11

os dois viajantes (Polo e Odorico) que faz referência são perpassados pelo crivo

eclesiástico16

.

Silvestri insere os viajantes medievais justamente nos momentos em que

pretende embasar a existência dos hominídeos monstruosos descritos pela patrística

(ainda que estejam grandemente “fora de voga” dentro dos muros das universidades,

como vimos anteriormente), chegando a pedir a mesma flexibilidade de seus leitores ao

interpretar Marco Polo que ao ler Isidoro:

Agaman é uma grande ilha situada no Mar Índico, distante cento e cinquenta

milhas da ilha de Java. Conta Marco Polo que seus habitantes são selvagens e

ferozes, têm a cabeça e os olhos como os de cães e se alimentam igualmente

de arroz, leite e todo tipo de carnes, inclusive da humana. É uma ilha rica em

especiarias e em vários tipos de frutos, todos diferentes dos nossos. Não

havia Isidoro descrito em seu De ymagine mundi que na Índia há pessoas

com cabeça de cão e que latem em vez de possuírem uma voz como a nossa?

Se acreditamos nisso, por que não crer em Marco, o veneziano?

(SILVESTRI, fol. 11r)

Curiosamente, o canibalismo dos cinocéfalos não causa tanto horror à Silvestri

como em outras instâncias em que os habitantes das ilhas se apresentam como humanos

normais com hábitos bestiais (como nos casos expostos em FERRARI, pp. 179-185); o

humanista florentino prefere focar na semelhança entre as descrições de Polo e de

Isidoro do que no teor moralista de seus hábitos. Talvez esta opção reflita no caráter

relativamente positivo que estas criaturas possuíam na antiguidade e mesmo nas versões

em que são Cristóvão é retratado como um gigante com cabeça de cachorro

(VIGNOLO, 2007). O espanto parece surgir dos maus exemplos e práticas que de uma

forma física monstruosa - aparentemente se distanciando da paridade entre beleza e

virtude quando pensamos sobre a Idade Média.

4. Conclusão

16

No caso de Polo, através da tradução latina de seu Libro pelo dominicano bolonhês Francesco Pepino,

que exalta sua utilidade para futuros missionários e para a reflexão exegética através dos bons e maus

exemplos da variedade dos povos no mundo.

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Fruto da distância e da rede de significados cumulativos do pensamento

medieval, o homem monstruoso se mostra um objeto popular e suscetível de

reinterpretações. Esta situação se torna ainda mais complexa quando este ser é um

habitante do Oriente – local ao mesmo tempo de uma Origem sagrada (da melancolia de

um Paraíso Perdido e da Jerusalém Celeste; DELUMEAU, 1992, cap. 1) e dos povos

infernais (aprisionados por Alexandre, o Vale de Gog e Magog; O’DOHERTY, 1999,

pp. 27-42).

Com os viajantes e as invasões mongóis, estes seres ganham uma corporeidade

que transcende os mitos fundadores da latinidade, gerando uma tensão entre o sabido e

o visto. Esta angústia é especialmente impactante em um mundo onde os significados se

agregam, e o vácuo de sentido é abominado. É buscando preencher este vazio que o

estrangeiro monstruoso se torna uma personagem presente em diversos meios de

comunicação escrita, possibilitando aos historiadores contemporâneos um meio fértil

para o estudo dos contatos entre as esferas de conhecimento durante a Idade Média.

Mas seria este um fenômeno exclusivo da latinidade medieval? Evidentemente

não, como Hartog desenvolve com maestria ao explicar como Heródoto criou uma série

de monstros para definir o que não seria monstruoso – os gregos (1999, Parte 2). Mas,

para além do mundo ocidental, Serge Bahuchet aponta dois dados interessantes. Grande

herdeiro da cultura helênica, o mundo islâmico também demonstra forte contato com o

mito dos pigmeus. Abul Al-Masudi, um viajante, cronista e naturalista, relata em seu

Muruj-al-Thahabwa al-Ma'adin al-Jawahir ("Searas de ouro e minas de pedras

preciosas", escrito em de 947) seres humanos chamados alqzam, que são “turcos

diminutos”. Para termos uma ideia da universalidade do fenômeno de “tornar monstro”

os residentes dos confins do mundo, uma “enciclopédia” chinesa do século VII (Kuo ti

chin) descreve gigantes de três pés que vivem ao sul do Império Romano, e homens da

Turquia que de tão pequenos chegam a ser comidos por garças (BAHUCHET, p. 157).

Não importa se um povo se veja como anões nos ombros de gigantes ou como os

próprios colossos - a visão se torna turva quando se olha para além do horizonte,

deixando que a imaginação preencha os vazios com seus próprios significados.

Bibliografia:

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