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1 ENTREVISTA ALUNOS Sala da Escola 1h 13 SA3 EU Na apresentação vocês dizem o nome, o ano em que andam, o curso, expectativas - o que pensam vir a ser, se isso já estiver formado... E se têm funções, por exemplo de delegados; neste caso temos aqui também alguns ligados à associação de estudantes. Ou se não tiverem agora, se já tiveram antes. Isto é para perceber o vosso grau de entrosamento na vida da escola. O assunto é de facto a autoavaliação como já vos disse, no entanto, a autoavaliação implica muita coisa. O que eu quero é a vossa visão da escola como ela é, como ela deve ser, e as vossas opiniões. Estando no secundário, já tiveram muitos anos de escola e já têm com certeza ideias sobre várias coisas. Então vamos começar pela apresentação. SA1 - Sou do 12º ano de ciências e tecnologias e sou presidente da associação de estudantes este ano lectivo e as expectativas para o meu futuro até são razoáveis: acabar o secundário e tirar um curso. EU E qual vai ser? SA1- Em princípio Engenharia Informática; quero ver se tiro para ser alguém na vida. Como qualquer pessoa. Acho que é o que uma pessoa normal quer ser. EU Sim, sim. E tu és presidente da associação este ano só? Ou já … SA1 Foi só este ano. EU Fala-me dessa experiência, assim ligeirinho... Gostaste? SA1 Foi uma experiência nova. Os meus colegas do ano passado deixaram praticamente o lugar para nós, porque não havia mais nenhuma lista candidata à associação. Somos um grupo de amigos, gostamos desta escola, já cá estamos há 8 anos e no último ano queríamos experimentar a sensação... EU Muito bem. SA1 E gostámos. E vamos ter pena de deixar. EU Vocês são quantos? Assim a trabalhar mais juntinhos? É um presidente e... EU É o vice e a secretária; depois temos várias secções: a assembleia geral, o conselho fiscal... Somos 19 pessoas. EU Está legalizada esta associação, com estatuto publicado no Diário da República? SA1 Está.

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ENTREVISTA ALUNOS

Sala da Escola

1h 13 SA3

EU – Na apresentação vocês dizem o nome, o ano em que andam, o curso, expectativas - o que pensam vir a

ser, se isso já estiver formado... E se têm funções, por exemplo de delegados; neste caso temos aqui também

alguns ligados à associação de estudantes. Ou se não tiverem agora, se já tiveram antes. Isto é para perceber o

vosso grau de entrosamento na vida da escola. O assunto é de facto a autoavaliação como já vos disse, no

entanto, a autoavaliação implica muita coisa. O que eu quero é a vossa visão da escola como ela é, como ela

deve ser, e as vossas opiniões. Estando no secundário, já tiveram muitos anos de escola e já têm com certeza

ideias sobre várias coisas. Então vamos começar pela apresentação.

SA1 - Sou do 12º ano de ciências e tecnologias e sou presidente da associação de estudantes este ano lectivo e

as expectativas para o meu futuro até são razoáveis: acabar o secundário e tirar um curso.

EU – E qual vai ser?

SA1- Em princípio Engenharia Informática; quero ver se tiro para ser alguém na vida. Como qualquer pessoa.

Acho que é o que uma pessoa normal quer ser.

EU – Sim, sim. E tu és presidente da associação este ano só? Ou já …

SA1 – Foi só este ano.

EU – Fala-me dessa experiência, assim ligeirinho... Gostaste?

SA1 – Foi uma experiência nova. Os meus colegas do ano passado deixaram praticamente o lugar para nós,

porque não havia mais nenhuma lista candidata à associação. Somos um grupo de amigos, gostamos desta

escola, já cá estamos há 8 anos e no último ano queríamos experimentar a sensação...

EU – Muito bem.

SA1 – E gostámos. E vamos ter pena de deixar.

EU – Vocês são quantos? Assim a trabalhar mais juntinhos? É um presidente e...

EU – É o vice e a secretária; depois temos várias secções: a assembleia geral, o conselho fiscal... Somos 19

pessoas.

EU – Está legalizada esta associação, com estatuto publicado no Diário da República?

SA1 – Está.

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SA2 - Tenho 18 anos. Já! Chumbei uma vez. Estou no 12ºano de ciências e o meu objectivo é tirar o curso de

Engenharia Informática ou Comunicação Social. Penso que será o ideal para mim, porque são coisas que eu

gosto de fazer. Estou nesta escola há 4 anos. O ano passado pertenci à Associação mas não dava muito apoio

aos que lá estavam, só mesmo de vez em quando. Este ano pertenci à Associação mais empenhado, sempre a

ajudar... Sempre que era preciso ajudar em alguma coisa, correspondia.

EU – E gostaste da experiência!

SA2 – Gostei, gostei muito. Uma das minhas tarefas era animar o bar, pôr música no bar; então foi o que eu

mais gostei - pôr música no bar.

EU – Corresponde ao teu perfil, não é? Um animador, portanto! Tu disseste que chumbaste um ano...

SA2 – Chumbei no 11º ano.

EU – Porquê?...

SA2 – Falta de estudo. E também um ou dois professores que também não ajudaram muito... Eu não gosto de

dizer que a culpa é dos professores, porque normalmente nunca é, mas... e a culpa foi minha, porque não

estudei, tenho a consciência disso... mas houve professores que realmente não ajudaram.

EU – Como é que eles poderiam ter ajudado?

SA2 – Não sei, talvez… motivando mais…

EU – Tu andavas muito desmotivado...

SA2 – Exacto! Andava muito desmotivado.

EU – E consegues perceber o foco dessa desmotivação?

SA2 – Sim, por um lado eu não andava a gostar das aulas e ..

EU – Disseste 11ºano?

SA2 – Sim. E quando eu não gosto de uma coisa tenho tendência logo a desmotivar, como toda a gente, mas

eu quando não gosto, não gosto mesmo! E então, para fazer o 11º ano pela segunda vez, eu fiz um esforço

muito grande, porque eu não gostava da matéria do 11º ano.

EU – Sim, mas está ultrapassado!

SA3– Também estou no 12ºano de ciências, estou aqui na escola há 6 anos, já.

EU – Ou seja, desde o 7º ano...

SA3 – Sim. Já fiz parte de 3 associações de estudantes, penso eu. Este ano também me meti na comissão de

finalistas, faço parte do grupo de teatro, e ... pronto! E agora quando acabar o 12º ano espero seguir teatro,

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que não tem nada a ver com a minha área de estudos até agora. Se não, também toda a área das relações

organizacionais ou da comunicação social...

EU – Foi a escola e o grupo de teatro que te despertou esse interesse?

SA3 – Quer dizer, eu já fazia teatro onde andava e quando vim para cá foi já a pensar no grupo de teatro...

EU – Quem é a professora, ou professor que coordena?

SA3 – É a minha mãe.

EU- A tua mãe!? Mas a tua mãe é professora cá!?

SA3 – E o meu pai também.

EU – E o teu pai também é professor aqui? Ah! Está cá a família toda! E irmãos?

SA3 – Já cá esteve também.

EU – Já cá esteve! Está certo. É uma dinastia...

SA4– Ando no 11º ano de ciências e tecnologias, ando cá há cinco anos, pertenço ao grupo de teatro e ainda

não sei bem, depende muito das médias, mas a minha ideia é seguir fisioterapia.

EU – Fisioterapia... Portanto na área da saúde...

SA4 – Sim. Apesar de também gostar muito da área das artes. O grande problema cá em Portugal é que ainda

não está desenvolvida o suficiente para se fazer uma carreira. Assim tiro um cursozinho assim mais estável e

depois…

EU – E depois podes dedicar-te a outras coisas, claro!

EU – Sendo o tema a autoavaliação da escola, queria saber o que é que vocês sabem desse processo

que a escola lançou, já há dois anos - esse processo interno de autoavaliação. O que é que vocês

sabem sobre isso? O que é que vos chegou, o que é que passou por vós...

SA2 – Penso que é um método de a escola se auto-avaliar internamente, para desenvolver

melhorias e para isso contam com a participação dos alunos, porque mais que os presidentes da

escola, mais que as pessoas que cá vêm, são os alunos que têm que autoavaliar, porque são os

alunos que todos os dias, praticamente o dia todo, estão em contacto com todas as partes da

escola, do bar aos blocos, e penso que são os alunos que têm essa tarefa.

EU – E portanto passou por ti esse processo da autoavaliação. Como?

SA2 – Sim, através de questionários.

EU – Responderam todos a esses questionários?

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SA3 – Este ano não, porque é uma escolha aleatória, penso eu. Lembro-me de ter respondido há um

ou dois anos, este ano não.

SA2 - Eu respondi os dois anos consecutivos, este ano e o ano passado.

EU – Então, posso fazer mais uma pergunta sobre isso. Em relação a esses questionários e às

perguntas que te puseram sobre a escola, achas que elas estavam bem dirigidas? Que iam ao foco

das questões importantes?

SA2 – Sim, penso que sim.

EU – Então, agora estás com esperança que o reflexo das opiniões dos alunos tenha influência...

SA2 – Sim. O mais importante será melhorar, nunca piorar; portanto penso que esses questionários

irão ajudar muito a que a escola melhore.

EU – Lembras-te do assunto sobre o qual te inquiriram?

SA2 – Era sobre se me sentia bem na escola, qual o curso que eu pretendia, sobre o futuro, sobre o

presente, penso que abria um pouco a vida do estudante nesta escola.

EU – SA1, e tu respondeste também?

SA1 – Eu acho que só respondi este ano.

EU – E enquanto Associação de Estudantes, não vos foi perguntado nada sobre a gestão da escola?

Não?

SA1 – Costumo ter algumas conversas com o professor (presidente), mais de resto…

EU – Então conta lá dessas conversas.

SA1- Coisas que se passam... Temos o representante no Pedagógico, e nós costumamos conversar...

E falamos o que é que os alunos fazem e o que é que os alunos não fazem. Coisas que acontecem

no dia-a-dia, para depois ser levado ao pedagógico, e se acham bem ou se não acham, e o que é

que vão fazer...

EU- Consegues lembrar-te de uma situação em que tivesse começado a proposta nos alunos e que

tivesse tido efeito na decisão da escola? Consegues?

SA1 – Nós tivemos aí uma festa nocturna, que nós fazemos todos os períodos, e então, no período

passado, a um membro da associação de estudantes faleceu-lhe o pai, no dia da festa faleceu o pai.

Então nós reunimo-nos todos e fomos falar - fazemos a festa, não fazemos a festa, como é que vai

ser? E eu, como presidente, disse que nós por respeito a ele não devíamos anular a festa, mas sim

fazer a festa e dedicar a festa a ele. A representante dos alunos não concordou e fomos ao conselho

executivo. Disseram que iam conversar e depois chamaram-nos e disseram-nos que por eles a festa

era decisão nossa, que a responsabilidade era nossa. Eu digo-lhe - essa festa para mim foi das

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melhores festas que houve até agora na escola! Dedicámos a festa ao rapaz e ao pai dele.

EU – Essas festas são bem concorridas? Os alunos participam em massa?

SA1 – Essa foi.

SA2 – E as outras também não foram assim muito más. Eu lembro-me o ano passado, houve uma

festa que não estava cá muita gente, estavam cá basicamente pessoas da escola, e na festa

imediatamente do período a seguir veio tanta gente que limparam quase tudo.

EU – Pois, vocês também abrem às pessoas de fora, mas eu perguntava em termos dos alunos da

escola, se os alunos da escola aderem...

SA2 – Penso que aderem bem.

EU – É uma por período, que vocês disseram que fazem?

SA1 – Este período não vamos fazer. Por causa dos exames é complicado...mas a SA3 está a

organizar um jantar...

EU – SA3, estás a organizar um jantar...

SA3 – Porque nós participamos... a escola participou num concurso que são as “Escolíadas” e sendo

a escola muito pequenina, criámos uma família, o que é muito engraçado, porque conseguimos um

facto histórico: levámos quase o máximo de pessoas permitido para a claque. Além da equipa muita

gente se envolveu por fora e então criámos amigos! Nos outros anos nunca nos conhecíamos e

acontecia mesmo “olha estou no 3º período e nunca vi cá este rapaz”. E então decidimos, agora que

acabou o concurso, vamo-nos juntar todos para manter os laços; é uma despedida porque a maior

parte de nós está no 12º ano e então fazemos um jantar todos juntos, com uma festinha à noite,

assim uma coisa mais caseira aqui na escola.

EU – Ah, aqui na escola. Então e o jantar, de onde vem a comida?

SA3 – Vamos encomendar.

EU – Muito bem! E tu és a organizadora?

SA3 – Não sou só eu, tenho mais colegas minhas.

EU – E quando falas de comissão de finalistas, isso funciona como? A comissão de finalistas tem que

objectivo?

SA3 – Para já, acho que é importante definir, porque houve muita confusão - não tem nada a ver

com a associação de estudantes, porque há muitas escolas em que é a associação que faz a viagem

ou o baile e esta são coisas distintas. A comissão foi logo no início, em Setembro, que nos juntámos

e decidimos: “vamos organizar a nossa viagem e o nosso baile, vamos arranjar maneira de arranjar

dinheiro!” E então fomos ao conselho executivo e propusemos então a formação da comissão de

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finalistas. Depois reuníamo-nos quase todas as semanas, umas reuniões de duas, três horas para

arranjarmos ideias, fazíamos, listas de distribuição de trabalho... Depois vieram contactos para a

escola, de bailes, de sítios para fazer o baile, de viagens... Então era uma loucura as agências de

viagens por causa da viagem de finalistas!

EU – E foram vocês que fizeram a selecção e tomaram a decisão. Já fizeram tudo, o baile…

SA3 – Sim, tudo.

EU – E correu tudo bem?

SA3 – Eu acho que sim; até a viagem, que era assim o nosso maior medo, correu bem.

EU – Então voltemos à questão da autoavaliação - a SA4 ainda não falou nada sobre essa questão.

Passou por ti, respondeste a questionários, e achaste que estava bem pensado, bem dirigido às

questões principais?

SA4 – Sim. Acho que se calhar o maior problema é que nem todos os alunos levam os questionários

a sério, porque já para a Área de Projecto somos bombardeados por questionários e então, às

vezes, cansamo-nos, quer dizer são questionários atrás de questionários e as pessoas se calhar já

respondem sem dar grande importância às coisas. Do que eu me lembro, esse como foi o maior, se

calhar também perdeu um pouco, as pessoas começaram a pensar “ai, isto é tão grande, vou

responder a isto às três pancadas!”... Não sei, mas acho que há respostas que valeram a pena...

EU – E vocês esperam agora que vos comuniquem os resultados do estudo, é? Ou não, tanto faz?

SA3 – Que eu saiba, acho que os resultados são abordados no pedagógico, mas muitas vezes há

uma falha de comunicação entre os representantes dos alunos no pedagógico e os restantes alunos,

ou os professores dizem que aconteceu uma coisa e os representantes dizem que aconteceu outra,

portanto acho que nunca, pelo menos nestes dois anos, nunca chegámos todos a saber bem o

resultado da autoavaliação.

SA2 – É como o governo e os sindicatos – as coisas nunca batem certo!

EU – Mas aqui os interesses não são assim tão divergentes! Têm representantes dos alunos. E já que

vocês falam nisso, os representantes dos alunos que estão no pedagógico, quais são…?

SA1- É uma aluna e um aluno.

EU – OK! Então que formas é que eles têm de, depois... se eles são representantes dos alunos, não

são representantes de si próprios, não é? Portanto, qual é a ligação que têm entre os estudantes e

os seus representantes? Como é que isso é feito?

SA1 – Não sei, se calhar esses alunos não eram os mais indicados, porque eu não os vejo socializar

com as outras pessoas... Eu até falo com eles e perguntam se tenho alguma coisa para dizer ou não,

mas acho que eles não eram os alunos mais indicados por isso mesmo, porque eles não conseguem

transmitir à comunidade escolar o que se passa lá.

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EU - Como é que tu farias, se fosses tu?

SA1 – Como é que eu faria?

EU – Sim.

SA1- Por exemplo, imaginemos que estou no pedagógico. Eu tenho meios para comunicar à escola o

que é que se vai passar.

EU – A questão é essa, que meios?

SA1 – A rádio.

EU – A rádio?

SA2 - Comunicados escritos e afixados.

SA1 – Folhetos.

EU – Vocês têm verba? Da escola? Ou não está destinada e se vocês querem uma coisa têm que

pedir?

SA1 – Não, não. Nós estamos a falar em termos de associação de estudantes?

EU – Pode ser, embora neste caso não seria a associação de estudantes...

SA1 – Nós temos 20% do dinheiro dos matraquilhos, por mês.

EU – Isso dá o quê?

SA1- Dá uma média de 60€ por mês.

SA2 – Joga-se muito matraquilhos aqui na escola.

EU – Estou a ver!

SA2 – Muitas moedas de 20 cêntimos por dia.

EU – E é só uma caixinha de matraquilhos ou tem mais?

SA2 – São duas.

EU – Voltando, SA1. Tu tentarias comunicar mais com os alunos e é fácil tendo uma rádio que é um

bom meio de comunicação.

Então e como foram escolhidos os alunos? Se foram mal escolhidos, como é que foi?

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SA3 – A questão aqui foi mesmo o problema da selecção, porque acho que são os delegados do

secundário, ou de todos os anos, isso não tenho o certeza...

SA1- Só do secundário.

SA3- Só do secundário, que se reúnem, são convocados pelo conselho executivo e elegem os

representantes. Só que muitas vezes as pessoas mais indicadas descartam-se das

responsabilidades! Gostam, até são pessoas responsáveis, só que não querem saber, e então as

pessoas fazem campanha para irem outras e acabam por ir outras. Este ano, também sou da

opinião do SA1 e do SA2, acho que não são os mais indicados. Eu também não era delegada de

turma, não podia votar, senão teria votado noutras pessoas com certeza.

EU – Tudo começa com a eleição dos delegados de turma.

SA3 – Exacto.

EU – A base começa ali, na escolha dos delegados de turma. E em termos de delegados de turma,

nenhum de vocês é delegado de turma?

SA4 – Eu sou “Sub”.

EU – És subdelegada? Também serve.

Em termos de delegados, SA4, o papel dos delegados é assim um papel importante, que se nota?

SA4 – Sim, eu não sou este ano, mas já fui no ano passado e, ao contrário da experiência que tive

noutros anos, e até fora desta escola, eu era convocada para reuniões de conselho de turma, falava

com a minha turma, não é? Estava de alguma maneira à minha responsabilidade e qualquer

problema que eles tivessem, eles comunicavam-me e eu falava no conselho. Tal como depois...

havia coisas que eu não lhes podia dizer, que foram faladas no conselho, mas tudo o que eu lhes

podia comunicar, eu comunicava-lhes e…

EU – Davam-te um bocadinho de uma aula?

SA4 – Não, mas na hora de almoço... Que nós este ano temos pessoas de outras turmas que fazem

uma ou outra disciplina connosco, mas, a turma, a grande parte da turma, tem o mesmo horário,

por isso num bocadinho da hora de almoço, nós reuníamos e falávamos das coisas que…

EU – Vocês não têm aquele espaço da formação cívica que tinham no básico, agora no secundário.

O que é que acham disso? O que acharam dessa experiência no básico e como é que vêem a sua

transposição para o secundário, ou não?

SA2 – Penso que é uma boa disciplina se for bem dada, se for bem leccionada. Porque como

aconteceu antes de eu vir para esta escola, no 8ºano e no 9ºano, eu ia para as aulas de formação

cívica dar revisões de português; resumindo, basicamente de formação cívica aprendi pouco ou

nada.

SA4 – Mas também é importante, porque a formação cívica, o objectivo não é resolver problemas

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da direcção de turma, é formar os alunos mesmo. E é a tal coisa, muitas vezes os professores

aproveitam, ou para a direcção de turma, ou para as suas disciplinas; cada um “puxa a brasa à sua

sardinha”. Eu pessoalmente acho que dá muito jeito no básico para a direcção de turma, mas no

secundário acho que já não há assim tanta necessidade.

EU – Para a direcção de turma?

SA4 – Não, dessa disciplina.

EU- Tu acabaste mesmo de dizer que a formação cívica era importante para a formação dos alunos

e não para as questões burocráticas...

SA3 – Sim, no básico, pelo menos para mim, a formação cívica serviu para resolver problemas de

direcção de turma. Não é o objectivo, mas deu jeito.

EU – Então e agora, a transição para o secundário, o que é que tu achas? É que tu estavas a falar

dessa questão do delegado... Reparem, a nossa conversa veio dos delegados - é dos delegados que

se elege os representantes, que no fundo são os que têm mais voz na organização da escola, não é?

E, portanto, o trabalho dos delegados é importante. E a SA4 estava a dizer que reunia no intervalo.

Bom, mas no intervalo não obriga a que todos estejam, ou se calhar nem cria a melhor condição

para que todos estejam, por isso é que eu fui buscar a formação cívica.

SA2 – Sim, mas os alunos do secundário já têm alguma mentalidade para, penso eu... São dez,

quinze, vinte minutos que têm que reunir para ouvir informações dadas e muitas pessoas têm

interesse em saber o que se passou. Eu penso que a formação cívica no secundário... Neste

momento vai passar a ser obrigatório até ao 12ºano, mas até agora só está no secundário quem

realmente queria; quem não queria não era obrigado a vir... E é assim: eu penso que não é uma

disciplina... pode fazer falta, numa situação ou outra, mas penso que só iria - como é que eu hei-de

explicar? - acrescentar mais horário! E 10ºano, para mim, é o ano mais difícil do secundário, penso

que o horário já é bastante.

EU – Sim, era mais um tempo obrigatório e vocês não vêem como vantajoso...

SA2- É o que eu penso...

EU- Sim, mas os outros abanam a cabeça, por isso está tudo na mesma onda! Formação cívica no

secundário não, porque vocês próprios já se procuram informar.

Então agora vamos à questão da participação dos alunos. Temos aqui já duas linhas de participação:

a associação de estudantes e os delegados e representantes. Vocês sentem que nesta escola a

vossa voz é ouvida, é respeitada, é tida em conta?

SA3 – Eu acho que é ouvida, é respeitada, e uma coisa que é bom para nós é que é inquietante. Se

nós temos uma crítica a fazer, sabemos que essa crítica inquieta. Depois podemos não ter a

resposta que nós queríamos, mas acho que já inquieta e que já lá fica e que posteriormente

podemos obter outra resposta.

EU – Muito bem, o que é que têm a dizer sobre isto? Inquieta? É uma grande palavra, a vossa voz

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inquieta...

SA2 - Faz moça.

EU – Faz moça?!

SA3 – Até porque nós somos muitos e funcionamos como um, que é mesmo assim.

EU – Quando tu dizes “nós somos muitos” estás a falar de quem?

SA3 – Dos alunos. Somos poucos relativamente às outras escolas. Não. Mas isso é uma vantagem

para nós, porque nos conhecemos quase todos e então funcionamos como um, e quando

concordamos com uma coisa, quer dizer, vamos ser todos contra um.

EU - Sim.

SA3 – E então, acho que inquieta um bocadinho.

SA2 – Eu penso que não só a Associação, não só os outros alunos desta escola, seja 7º, 9º, 10º, 11º,

penso que sobretudo este ano, o 12º ano, é o 12ºano mais unido que esta escola já viu. Eu já falei

com alunos de anos anteriores e… até professores e “contínuos” e eles dizem: “nunca houve

ninguém tão unido como vocês, que nós nos lembremos nunca houve”. Eu acho que esse espírito

de união pode levar muita coisa para a frente.

EU – Sim. Como é que tu achas que se criou esse espírito de união? Quais foram os condimentos?

SA2 – Não é só uma grande amizade, como uma grande aproximação não só nas “Escolíadas”, como

também...

EU – As “Escolíadas” funcionam como um ponto de agregação...

SA2 – Muito. Já tínhamos esses laços, mas as “Escolíadas” vieram acrescentar, tornar esses laços

muito mais fortes.

SA3 – E sendo esta escola uma escola de periferia, com muitos problemas, há muitos alunos com

problemas... Agora já está mais ou menos, 50-50, mas quando eu vim para aqui no 7ºano, saída de

um colégio, cheguei aqui e parecia uma turma de índios – “Vocês são índios?” Mas acho que agora

estamos todos...Independentemente dos problemas, nós temos duas regras que imperam, que são:

não haver preconceitos e o respeito pelos outros, porque ele é diferente de mim, mas eu respeito-

o, tal como ele me respeita a mim. E nós temos gente com problemas, com necessidades especiais,

temos deficientes, e somos todos iguais. Quer dizer, não há aqui nenhuma diferença.

EU – Diz, SA2...

SA2 – Só um exemplo. Já que ela falou em pessoas com deficiência, nós temos aqui na escola um

invisual, e esse invisual não só participou nas “Escolíadas”, como participou na prova de música a

tocar bateria. Havia pessoas cá atrás – contaram-me, porque eu estava na clack - e houve pessoas

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que disseram: “Olha aquele doido está a tocar bateria de óculos escuros!” E vira-se uma continua:

“Não, ele é cego”. As pessoas ficaram “Que é isto?” Eu que não o conhecia tão bem, é uma pessoa

espectacular, é uma pessoa que brinca com a própria situação. Ele chega ali e diz: “Stora cheguei

atrasado porque não vi as horas!” É uma pessoa que brinca com a situação e é uma pessoa “cinco

estrelas”. Eu acho que não só ele, eu acho que os alunos desta escola conseguem se adaptar muito

bem aos outros. Penso que não há... pelo menos nós 12º ano, adaptamo-nos muito bem e penso

que não há preconceitos nenhuns.

EU – Então vamos falar desse preconceito; não é o preconceito, mas desse estigma que tu falaste

dos índios e da turma de índios. E da periferia. Vamos pegar nisso. A SA4- tu vieste para aqui no

secundário, vieste de onde?

SA4 – Eu vim para aqui no 7ºano.

EU - Ah, vieste para aqui no 7ºano! Então quem é que veio para aqui no secundário? O SA2! Tu

tinhas estado onde?

SA2 – Na P.

EU – Então não é muito diferente, é a mesma zona...

SA2 – É muito diferente, porque esta escola está... Não sei se conhece (a cidade)...

EU – Sim.

SA2 – Esta escola está situada assim: C, I, L! Que é uma zona típica, que as pessoas dizem “não” ; é

uma zona assim mais vista como perigosa.

SA3 – É rufia.

EU – Como é que disseste, SA3? É uma zona rufia?

SA3- Sim.

SA2 – Apesar de às vezes as aparências iludirem muito, porque não há… Eu sou daquela ideia que é

assim - há nesta escola, mas também há nas outras, não é exclusivo; o que há aqui há em todas, não

é exclusivo desta escola. Eu penso que muitos alunos não vêm para esta escola com esse

preconceito, com esse medo. E eu penso que é um medo muito errado. A melhor coisa que me

aconteceu na minha vida foi vir para esta escola.

EU – Mas porquê?!

SA2 – Por tudo. Pelos alunos, pelos amigos, pelos laços que aqui criei, não só com amigos, como

com professores, como com contínuos. Pelas instalações, que muita gente reclama das instalações

desta escola, mas para mim é das melhores, temos o melhor em termos de educação física, temos o

melhor pavilhão de (a cidade), tem algumas deficiências, está certo, mas continua a ser o melhor

pavilhão de (a cidade), porque o da Hefesto ainda não está construído. E penso que esta escola

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numa só palavra é: espectacular!

EU- O SA1 quer dizer alguma coisa...

SA1 – Sim. Eu falo com presidentes de outras escolas e eu disse agora à presidente do DD: “Olha, o

pessoal anda tudo triste, porque vamos embora...” E ela disse: “Eu quero é ver-me livre disto, quero

ir para a faculdade e seguir a minha vida!” Ou seja, aqui se vê os laços que se criam aqui e os laços

que se criam lá...

EU – Com quem é que falaste, desculpa?

SA1- Com a presidente, não sei se é vice, se é presidente.

EU – De?

SA1 – Do DD. Ela disse-me: “nós queremos é ir embora, queremos universidade, estamos fartos

disto”. Pois eu não, se pudesse passava lá o resto da minha vida.

EU - Então vamos lá falar... e agora vamos pôr a SA4 a falar que tem falado menos. Esta questão da

diversidade. A escola é diferente pelo seu público, não é? Porque está no triângulo das Bermudas

que o SA2 falou... Como é que disseste? C...

SA2 – C- I- L!

EU – C,I,L, exactamente. E portanto, os alunos têm uma determinada caracterização que fez a SA3

sentir uma grande diferença quando saiu do colégio, não é? Mas tu também andaste num colégio,

SA4...

SA4 - Não, vim do Instituto de L., mas mesmo assim foi… A minha turma não era das piores, aliás,

era das melhores, e vir para aqui foi completamente diferente, porque a minha turma dava muitos

problemas.

EU – Portanto essa questão social de “rufia”, como disse a SA3, notava-se...

SA4 – Talvez porque as pessoas vinham de outros lugares, tinham outras ideias desta escola, não

sei… Há grande boatos, de que esta escola tem pessoas que não… que nós não gostamos que vivam,

as várias etnias, mas apesar disso eu acho que crescemos todos juntos e conseguimos conviver e

aprender uns com os outros.

EU – Isso era o que eu queria clarificar- é se essa visão de que a escola tem.. Se as características da

escola que se vêem de fora são mentira, ou se essas características são verdade, mas a volta é dada

dentro. São coisas diferentes. Eu gostava que vocês me explicassem bem isso. Quem está dentro

rejeita sempre o preconceito, não é? E quem está fora sempre faz levantar o preconceito- isto é um

dado adquirido, não é? Agora eu quero saber é se esse preconceito é só preconceito de fora ou se

também é preconceito de dentro, ou se dentro resolvem isso...

SA3 – É assim: claro está que não é a escola de elite de (a cidade), mas eu na minha turma tenho

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três alunos que vieram das escolas de elite por casos de bulling, e por alguma coisa aqui eles

mudaram! Lá está, foram aceites, nós nunca lhes apontámos o dedo, antes pelo contrário,

tentámos mudá-los, demos-lhes a volta. Depois claro está que a escola é insegura, claro está que há

roubos na escola, como há em todas, claro está que são coisas pontuais, só que, se calhar, como é

do I. ou é de E. ou do L... Eu lembro-me sempre de ouvir “tu andas numa escola de ciganos”. Neste

momento há um cigano e há seis anos que não me lembro de ver ciganos na escola.

SA2- Quem é o cigano?

EU- Depois ela diz-te!

SA1 – Até porque o que a escola deve fazer é formar os alunos! E se este porta-se mal “agora vais

embora!” Não, a nossa escola não faz isso. A nossa escola pega nos alunos, mostra os limites a ver

se os mete nos eixos. E acho que outras escolas não procedem assim - é “este porta-se mal, vai-te

embora!”

EU – Só assim num instantinho, vocês vieram para esta escola porquê? SA4?

SA4 – Porque estava muito perto da escola, cinco minutos a pé e estou aqui.

EU – Exactamente, perto da residência.

SA3 – Porque quis. Porque estavam cá os meus pais, eles deram-me a hipótese de escolher esta ou

outra qualquer, até podia ficar no colégio até me apetecer, a esta hora podia lá estar, mas porque já

conhecia um bocado a realidade desta escola e acho que era um desafio.

SA2 – Porque a minha mãe quis.

EU – Porque tu não querias...

SA2 – Eu não queria.

EU – Mas moras aqui perto... A tua mãe quis porque era mais fácil, claro.

SA1 – Também a proximidade.

EU – Também a proximidade. Muito bem. Então vamos pegar nas palavras do SA1, e no que é que a

escola deve fazer aos alunos, e ele dizia “mas a escola deve é formar os alunos e não excluir”. Mas o

que é formar os alunos? O que é que é importante na vossa formação?

SA2 – Eu penso, pegando um bocado naquilo que ele disse... É assim: um aluno faz uma asneira,

seja qual ela for, seja portar-se mal numa aula, qualquer tipo de asneira do aluno faça. Lógico que

tem que haver punições diferentes, mas se o aluno faz uma asneira e é na primeira instância

mandado para casa, por exemplo, estamos a falar de uma suspensão de cinco dias, o aluno é logo

mandado para casa. Eu penso que esse aluno vai pensar assim: “faço uma asneira mandam-me para

casa, vou fazer mais umas e daqui a umas semanas deixo de ter aulas”. Porque um aluno que faz

uma asneira, normalmente é um aluno problemático, e eu penso que se a escola, e é o que esta

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escola muitas vezes faz, pegar nesse aluno e disser: “não, não vais para casa, tu no fim das tuas

aulas vais, por exemplo para o pavilhão ajudar a senhora que lá está a limpar o pavilhão”. Esse

aluno vai aprender, e penso que esta escola muitas vezes faz isso. Muitos alunos às vezes vão ajudar

os contínuos. Eu penso que é uma medida muito educativa.

SA3 - Uma coisa que acontece muito é quando um aluno se porta mal, é para chamar a atenção,

não tem outra… E os professores vão procurar o porquê dele querer chamar a atenção. O que se

passa por trás disso. Pelo menos eu falo pelo que conheço aqui na escola. Claro está que a matéria

é toda dada, os programas são acabados, mas há sempre uma relação muito próxima entre aluno e

professor, e o professor procura sempre conhecer a realidade do aluno, porque há histórias muito

complicadas aqui na escola, e acho que é importante eles irem procurar o porquê. E eu conheço

alunos que começaram a fazer grandes asneiras, até que a escola compreendeu, começou a

perceber, começou a levá-los ao psicólogo, mesmo professores arranjaram consultas fora da escola

para especialistas, e os alunos hoje são normais, e mudaram e tudo mais. Portanto, acho que isso é

uma coisa que nos distingue.

EU – A atenção aos problemas. Então e os resultados não interessam?

SA3 - Interessam.

EU – Como é que vocês conciliam uma coisa com a outra?

Porque os alunos com problemas, vocês põem como prioridade o inseri-los bem, socialmente, na

escola, etc. E vocês vêm isso como a coisa principal, mas também tem o resto, não é?

SA3 – Sim. Mas…

EU – Quando os esforços são muito virados para essa questão da integração, não se esquece um

bocadinho de puxar pelos resultados?

SA3 - Não, porque é a tal coisa: trabalhamos em equipa e então há sempre alguém que diz “calma,

estamos a deixar-nos levar” e então voltamos um bocado a cair na realidade! E mesmo os

professores são nossos amigos, nós podemos ir tomar um café com um professor quando

quisermos, ou mandar uma mensagem a dizer “estou bem ou estou mal”; estão à nossa

disponibilidade quase 24 horas por dia! E então essa relação que nós temos de proximidade e de

confiança e cumplicidade, também faz com que nos motivemos.

EU – Eu vou tirar a palavra à SA3, porque quando ela fala “os professores são nossos amigos e

vamos tomar um café”, eu estou a pensar assim “mas os pais da SA3 são professores da escola, isto

que ela disse não conta”. Vamos pegar na SA4 e nos outros. Vocês também sentem isto?

Esta ligação e proximidade com os professores?

SA4 - Não só dentro da sala de aula, mas isso é muito visível quando temos visitas de estudo. Eu tive

a experiência o ano passado de poder ir ao Douro, e a cumplicidade que se gerou entre professores

e alunos foi muito boa, foi muito enriquecedora, acho que aprendemos uns com os outros e isso é

muito importante.

EU – Sem ser formal, não é?... SA2?

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SA3– É assim: eu penso que há professores nesta escola que eu considero os melhores professores

do mundo. Por tudo! Porque alguns pelo que já me apoiaram e ensinaram, pela amizade

sobretudo... Não só os pais dela, que eu considero... Nunca tive nem o pai dela nem a mãe dela

como professores, no entanto penso que são pessoas espectaculares. E há mais professores nesta

escola assim. Quando alunos novos me perguntam: “Aquele professor é bom?”, eu digo “É o melhor

professor que já tive na minha vida”. “E aquele?” “Aquele também” . Porque são professores que

realmente que, além de uma relação professor- aluno, há uma relação amigo-aluno, amigo-amigo,

digo, porque são professores mesmo… fora de série!

EU – SA1?

SA1 – Só queria dar este exemplo. Nós, finalistas, fomos para Espanha e tivemos uma professora

que nos disse assim: “ Se tiverem problemas liguem-me que eu tenho contactos lá; se houver

alguma coisa, eu ligo logo para lá e ajudo-vos a resolver os problemas”. Ou seja, ela está a ser mais

que professora aqui, como é obvio...

EU – Então não há professores maus nesta escola? Há?!

SA1 – Há.

EU – Já estou mais descansada!...

SA3 – Há sempre professores “ranhosos”!

EU – Sim. Isto foi uma provocação! Não estamos aqui a falar dos professores individualmente,

estamos a falar do que vocês sentem de uma forma global, e de uma forma global sentem que os

professores são… são profissionais também, não é? e que são amigos - vocês destacam mais essa

questão da amizade. Eu sou um bocadinho a advogada do diabo e puxo outra vez: mas e o

resultado? E o professor profissional que exige do aluno?

SA2 – Eu penso que o professor que é amigo do aluno vai desencadear o interesse que o aluno tem,

não só pelo professor, como pela disciplina. Mais que a relação professor-aluno, uma relação

amigo-amigo, vai despertar muito mais interesse do aluno. Por exemplo, se eu gostar daquele

professor, for amigo dele e me der muito bem com ele, eu vou estar muito mais atento e vou ter

muito mais interesse pela aula dele do que por um professor que eu não goste.

EU – Vou fazer outra provocação. Essa questão da amizade com os professores: muitos deles dizem

que não podem ser amigos dos alunos porque depois os alunos não sabem gerir essa relação, e a

indisciplina e o desrespeito mais rapidamente podem surgir. É mentira? Percebem o que eu quero

dizer? Se o professor é muito amiguinho...

SA3 – Confiança a mais.

EU – Confiança a mais, exacto!

SA3- Eu posso dar uma coisa que aconteceu este ano. Com a luta dos professores, andava tudo

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nervosíssimo, não é? Foi um ano de loucos para os professores; eu vivia isso em casa e, digamos,

dava o desconto aos professores. Mas houve uma série de disciplinas em que nós todos atingimos o

ponto de ebulição. Parámos a aula e dissemos: “Professora vamos conversar! O que é que se passa

consigo? O que é que se passa connosco, porque este ano não está a dar...” E nós éramos quase

unha com carne, alinhávamos em tudo com a professora.

EU – O que é que não estava a dar?

SA3 – Era a maneira de ser de uns e de outros.

EU – Havia agressividade…?

SA3 – Havia muito choque, muita agressividade... E problemas familiares e de… a tal luta dos

professores. Até que nós chegámos a um momento em que nós dissemos vamos conversar, assim

não pode continuar... Perdemos uma aula a conversar, a esclarecer tudo, e a partir daí voltou tudo

ao normal, sempre dando o desconto daqueles dias menos bons... E eu acho que é aí que nós

criamos os laços, mas também é aí que nós nos comprometemos a dar o nosso melhor. E acho que

é isso. Lá está é a motivação.

SA4 – Eu acho que está errado dizer que há confiança a mais, porque numa amizade há sempre os

dois lados, e então são os dois lados que dão. Ou seja, o professor dá a sua amizade, mas também é

retribuída pelos alunos, ou seja, há confiança dos dois lados e não é pelo professor dar a sua

amizade que os alunos vão…vão...

EU - Abusar…

SA4 - Sim, abusar.

EU – E agora digam-me: porque é que vocês acham que os professores são assim nesta escola?

Porque é que se criou este clima? Onde é que estará a razão disto tudo? Há alguma lei que diga que

os professores têm que ser assim, há algumas orientações, eles são formatados dentro de qualquer

coisa?...

SA2 – Eu penso que uma das principais razões... Há professores que eu admiro e gosto muito e que

estão aqui há relativamente pouco tempo - dois, três anos... Eu penso que o mais importante, que

gera esses professores e essa amizade, é uma união muito grande, porque é uma união contra as

pessoas que dizem que esta escola não… pronto, que esta escola não presta. Esta escola é uma

escola que se for perguntar a alguns alunos em (a cidade) dizem que é de má qualidade. Eu penso

que querer mostrar às pessoas que isso está errado, que essa afirmação, essas afirmações estão

erradas, penso que é um dos motivos que leva os professores e os alunos a serem tão unidos, a

serem tão próximos uns dos outros.

EU – Defendem a sua casa do exterior...

SA2 – Exacto.

SA3 – Claro que não é tudo um mar de rosas, não é?

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EU – Sim...

SA3 – Claro que há conflitos com os professores, há conflitos entre os alunos e o professor, entre os

alunos também há. Claro que eu não gosto de todos os que aqui andam, graças a Deus, senão o

mundo era uma seca, se gostássemos todos uns dos outros... Mas acho que nós somos todos muito

positivos e damos mesmo o melhor e então acho que isso nos torna especiais... Porque realmente

nós temos uma turma em que veio muita gente de fora, mas a meio do ano, por causa de

problemas, com professores, notas... problemas graves...

EU – Portanto, esta escola recebe alunos a meio do ano? Que são varridos de…

SA2 – Varridos, não...

SA3 – Não, por opção própria.

SA1 – Parte deles.

EU – Por opção, por parte deles, mas decorrente de uma rejeição de um outro lado, não é?

SA3 - Sim, sim.

EU – E o virem para aqui, na vossa opinião, será por causa deste clima? Ou porque a ideia será que

aqui é mais fácil?

SA3 - Não. Quer dizer, há muito essa ideia que é mais fácil ter boas notas...

SA2 – Mas não é!

SA3 – E depois temos gente que… se vai embora também porque não consegue boas notas.

SA2 – Eu tive uma aluno na minha turma, que agora está na turma deles, ele mudou de turma, e ele

veio do José Falcão, e ele chegou à nossa turma e nós perguntámos... ele é assim digamos…

desculpe a expressão “um bocado estranho” porque ele, pronto...

SA3 – Há um que veio do José Falcão por causa de bullying...

SA2 – E não só.

EU- Ele é que era o agressor?

SA2- Não.

EU – Ai não! Ele era agredido e veio para aqui...

SA2 – E veio. Eu acho que ele é um bocado estranho, mas não...aqui foi bem reintegrado. Ele veio

para aqui e uma das razões que ele afirmava de vir para aqui, o bullying, ele nunca mostrou essa

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razão, pelo menos à nossa turma ele nunca mostrou essa razão, mas ele dizia que vinha para aqui

por causa das notas, porque aqui era mais fácil. E viu-se que não era, porque ele chegou aqui, e ele

acho que tinha 16 a Português e ele aqui desceu totalmente! A nível de notas eu penso que esta

escola não é mais fácil nem mais difícil que as outras. É uma boa escola para aprender, em minha

opinião, é uma boa escola para aprender e penso que as notas são dadas consoante aquilo que os

alunos façam, como em qualquer escola.

SA4 – Já que o SA2 falou em reintegração, acho que era importante referir que os décimos anos,

nos primeiros dois, três dias têm actividades de integração, na escola e nas turmas.

EU – Explica um bocadinho melhor que actividades.

SA4 – É…

EU – Artísticas, ou…?

SA2 – Actividades não só para conhecer a escola, mas também para se conhecerem uns aos outros;

para integrarem essas actividades, eles têm que interagir uns com os outros e também com os

professores. Eu penso que isso é muito importante.

EU – Quem é que promove isso? Há um grupo de professores que trata disso?

SA1 – Sim.

SA2- A mãe dela também!

EU – Então, uma pergunta daquelas de algibeira para responderem em poucos segundos: quem

manda nesta escola?

SA4 – Quem manda? O mandar é um bocado subjectivo…

EU – Eu disse dois segundos!

SA4 – Dois segundos, já passaram!

EU – Onde está o centro do poder? Se alguém quer mudar alguma coisa com quem vai ter?

SA4- Com o professor (presidente).

SA3 – Aqui o poder não é exercido, é distribuído.

EU – É distribuído? Então não vamos ter com o professor (presidente), vamos ter com quem?

SA3 – Não, vamos! Vamos, mas…

SA2 – Vamos ter com o conselho executivo.

SA3- Exacto, vamos ter com o conselho executivo.

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EU – SA2?

SA2 – Está tudo dito.

EU – SA1?

SA1- Professor (presidente).

EU – Então, SA3, explica lá isso do distribuído; quando tu dizes distribuído, é distribuído por quem?

SA3 – Não, por todos, porque é a tal história, a nossa voz tem poder, a voz dos professores também,

os funcionários também têm peso nas relações, portanto, por isso é que eu digo que é distribuído.

EU – Portanto, aqui todos mandam um pouquinho...

SA3 – Não é mandar...

EU – Sim, eu quando digo “mandam” era para perceber se havia uma ideia sobre como se tomam as

decisões... Em muitas escolas os alunos nem sabem se o Presidente do conselho executivo é

homem ou mulher. Portanto vocês aqui sabem o nome.

SA2 – Todos nós que aqui estamos, e não só, nós como muitos alunos desta escola, já que

estávamos a falar da relação professor-aluno, amizade-amizade, nós temos uma grande amizade

com o director desta escola. O professor (presidente) é uma pessoa espectacular e penso que

existem grandes laços de amizade nesta escola com ele.

EU – Portanto, vamos dizer que esta escola roda dia-a-dia, regulada por quê? As decisões são

tomadas porquê?

SA3 – As propostas são de todos, depois a decisão final, que é baseada nas propostas de todos,

porque todos temos voz, claro está que vem do conselho executivo.

EU – Então, mas vamos ligar: começámos com a autoavaliação, vocês participaram, têm esperança

ou acreditam que esse processo ajudará a melhorar, mas ainda não têm resultados concretos e

começaram por dizer que se calhar vocês nem vêm a saber esses resultados, porque a ligação é com

os representantes dos alunos, não é? Então e aí não acham que deveria ser diferente? Se a vossa

voz é tão importante e sentem que é importante… Diz, SA2!

SA2 – Não sei, mas temos aqui um exemplo este ano. Um grupo de Área de Projecto desenvolveu

um projecto em que o tema do projecto é desenvolver a escola ideal. E esses alunos foram à

procura de deficiências na escola e foram expô-las, não só à comunidade escolar...

EU – Fizeram um processo de autoavaliação...

SA2 – Exacto. Eles próprios. É assim: uma das questões que eu achei mais concreta foi, por exemplo,

a caldeira de água do pavilhão - não estava em condições, muitas vezes não havia água; eles

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expuseram esse problema e neste momento a caldeira já foi arranjada, já há uma caldeira nova, já

há água quente. E penso que são coisas destas que tornam esta escola especial, e penso que quem

manda neste momento, ouve, e ouve muito e ouve bem as pessoas desta escola: os alunos, a

associação, os grupos... Neste caso foi um grupo de Área de Projecto a levantar o problema. E

levantaram muito mais problemas e penso que estão bem encaminhados para muitos deles serem

resolvidos.

EU – Portanto, o processo de autoavaliação, aquele que eu investigo, não é o único a regular e a

fazer a escola rodar; há outros processos de autoavaliação inseridos no dia-a-dia da escola...

SA2 – Estou a falar na minha turma, na turma deles houve outro...

EU – Exacto! Já alguém falou aqui dos projectos.

SA3 – A associação de estudantes, há 3 anos, se não estou em erro... Na sala de convívio, as paredes

pareciam de um hospital, de um verde que não nos dizia nada. E nós decidimos: “Vamos juntar

dinheiro pela associação e vamos pintar a sala de convívio!” Perdemos cá uma semana das férias de

natal e pintámos a sala assim com cores “estrondosas”! Depois, o ano passado, já conseguiram uns

professores, na luta com os alunos, almofadar todos os bancos, pintaram as mesas, puseram uns

tapetes e uns vasos... Este ano um grupo da Área de Projecto arranjou uns pufs e uma esplanada. E

então nós vamos melhorando. Mas o que eu penso que aqui também é importante referir é que,

estando nós no 12º ano, poderíamos dizer: “Eh pá nós vamos embora, os outros que se amanhem!”

Mas não, nós estamos a construir uma escola, acho que todos fazemos parte dessa construção,

para que os outros venham e se sintam bem e gostem.

SA2 - E pensem assim: “Não, eles fizeram isto, deixaram a sua marca, vamos também fazer qualquer

coisa!”

SA3 – Até porque é o nosso orgulho, quando vêm alunos de fora, “anda ver a nossa sala de convívio,

ou anda ver a associação de estudantes que está pintada, ou anda ver o tecto da biblioteca que está

todo desenhado”...

SA2 – Temos de explicar por que é que o tecto da biblioteca está todo desenhado! Nós na nossa

biblioteca temos um tecto que eu acho que é espectacular, porque tem uns desenhos fantásticos! É

daquele tecto de cortiça, e então houve infiltração de água, e então aquilo ficou tudo negro, e

então acho que foram os professores e alguns alunos que pensaram: “O que é que vamos fazer

nisto, isto não pode ficar assim!” E então fizeram uma obra prima, que aquilo está uma espectáculo

mesmo!

EU – OK! Vocês dizem só bem da vossa escola, é super lá em cima! Mas agora, por favor, digam-me

lá quais são os pontos fracos da escola. Pontos fracos!

SA3 – O conforto. O conforto nas salas de aulas. Não falo das cadeiras nem das mesas, porque isso é

igual em todo o lado, mas o aquecimento, os quadros...

SA2- Cuidado, que já há quadros novos!

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EU – Portanto, materialmente, estão a falar das instalações...

SA3 – Sim, acho que a nossa queixa é mesmo o frio, nas salas, alguns quadros não se vêm nada... e

depois o pavilhão; apesar do pavilhão ser espectacular, quando chove é um perigo ter aulas, porque

o chão fica todo molhado, completamente, e já levou muita gente a cair. Acho que nunca ninguém

partiu pernas... Já? Pronto... E depois, o pior ponto da escola, sinceramente, acho que é a cantina,

que precisa de...tudo!

EU – Quando falas de cantina já não é só instalações, é mesmo…?

SA3 – É a nível de higiene.

EU – Higiene?!

SA3 – Sim.

EU – É uma empresa?

SA3 – Sim, mas quer dizer, eu vou comer, olho para as paredes e estão imundas de gordura, de

restos de comida. Claro está que a culpa não é de quem não limpa, é de quem suja também, mas se

começar a haver outra higiene, se calhar uma pintura nova... Acho que estas escolas, com mais de

vinte anos, têm cores muito mortas... Até percebo que nas salas haja estas cores que é para.. dizem

que é para relaxar, para haver concentração... Mas eu acho que os nossos dias são muito mais

bonitos só a olhar para as cores da sala de convívio e para aquele conforto! Nós temos montes de

fotos e nós dizemos: “Eh, pá, nós condizemos com esta sala!” E penso que o refeitório era um ponto

em que tinha que se alterar muita coisa...

EU – Mas já fizeram alguma coisa? Associação de Estudantes?

SA1 – Eu não sou frequentador da cantina...

EU – Vais comer a casa?

SA1 – Eu sou daqueles que almoço no bar, ou trago qualquer coisa de casa. Não gosto de esperar a

meio da refeição... Para repetir é preciso esperar...

SA3 – Além do atendimento no refeitório que não é o melhor, já tivemos funcionários muito bons,

mas realmente este ano, estes três últimos anos, ninguém gosta daquelas senhoras, são muito

sisudas, não se dão com ninguém, não são capazes de esboçar um sorriso para nós!

EU – Elas não são funcionárias da escola, não é?

SA3 – Claro, mas o trabalho delas também tem uma componente de atendimento, não é?

EU – Sim, sim, estão cá todos os dias...

SA3 – Nós, ou pelo menos, tendo feito parte já de outras associações de estudantes, nós fazemos

um Torneio de 24 horas, no pavilhão. Nós conseguimos patrocínios e então cozinhámos e

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oferecemos um almoço para todos os atletas, a custo zero! Nós cozinhámos. E então, quando entrei

naquela cozinha! “Eu como aqui todos os dias! Bem, o que não mata engorda, seja o que Deus

quiser!” Só que realmente a nível de higiene é uma coisa impensável! Penso que é um ponto

mesmo mau da escola, é o refeitório.

EU – Nos questionários que vocês responderam não tinha lá lugar para inscreverem essa opinião? Já

não se lembram?

SA2 – Não posso precisar.

SA3 – Eu já fiz sobre o refeitório, agora se era para a autoavaliação da escola não sei.

EU – É importante o que vocês estão a descrever, acho que merece mesmo uma intervenção, e

tendo vocês uma voz...

SA2 - Esta escola, e sei porque nessa tal apresentação desse grupo de Área de Projecto, o setôr

(presidente) comentou e falou, esta escola tem poucos apoios, a nível de DREC e a nível de

...governo... como é que se chama? É um plano novo que surgiu agora...

SA3 – O plano tecnológico? Não!...

SA2 – É um plano que surgiu...”Campo Escolar” ou assim qualquer coisa... Esta escola tem muito

poucos apoios, porque há cerca de meio ano, uma ano, também se calhar por ser ano de eleições,

programaram obras para a Hefesto, obras para a Atena e obras para o JF, salvo erro, que era um

plano de reestruturação das escolas de (a cidade). E penso que perguntaram, a direcção desta

escola perguntou, à DREC, para quando seria o plano de reestruturação desta escola, pronto, para

estarem a contar, e penso que até hoje ainda não obtiveram resposta. Portanto não é só apoio

financeiro, penso que esta escola é pouco apoiada, a nível da DREC e a nível dos outros órgãos que

dirigem.

EU – E pontos fracos, também só vês as instalações?

SA2 – Penso que sim, penso que a nível de corpo docente não tenho nada a dizer. E também só vejo

o refeitório, porque o pavilhão, tirando esse aparte de quando chove ser um bocado mais

complicado, eu continuo a dizer, é o melhor pavilhão de (a cidade). Não há dúvida, eu sei, porque já

percorri vários pavilhões.

SA1 – Eu, se fosse há dois anos, se calhar dizia que eram os tempos livres, porque são tempos

mortos, não há convívio, não se faz nada... Mas do ano passado para cá, não estou a dizer que a

outra associação tenha sido má, até se calhar foi das melhores associações, mas nós melhorámos

isso.

EU – Sim. Mas a questão que tu estás a colocar é a questão dos tempos livres. Que aqui vocês não

têm shoppings para ir passear, é isso?

SA2- Não temos shoppings... Eu costumo dizer que nós não temos nada.

EU – Ok, nada, lá fora! Mas e dentro da escola?

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SA1- Nós desde há dois anos para cá temos vindo a ser mais unidos, um traz um computador para

ver um filme, ou assim coisas desse género, ou um mete música na rádio... Comprámos agora uma

mesa de ping-pong nova, porque a outra já estava em mau estado. E nós associação de estudantes

temos tentado fazer alguma coisa.

EU - Para ver se colmatam esse buraco dos tempos livres... Desses tempos mortos que passam a ser

tempos vivos!

SA2 – A associação de estudantes de há três anos, para mim penso que foi a melhor que já vi, mas a

deste ano não fica muito atrás.

EU – Já falámos da associação de estudantes, já fizeste os elogios todos! Vamos falar da escola. SA4,

então e tu? Se tu mandasses na escola, quais eram as coisas em que tu gostavas de intervir e

melhorar?

SA4 – Além do refeitório, que é assim mesmo o mais grave, talvez as casas de banho: há torneiras

que não funcionam, há portas que não estão boas para uma pessoa estar “a fazer o que deve estar

a fazer” e…

EU – Continuamos com instalações... Refeitório, casas de banho...

SA2– Penso que irão ser renovadas este verão!

SA3 – Nós estivemos em Mafra e depois fomos almoçar à Escola Secundária de Mafra, e nós ficámos

de boca aberta com as casas de banho, que é uma coisa que aqui podia... Aqui também são limpas,

mas...

EU – Mas tinham alguma coisa de especial?

SA3 – Sei lá, estavam conservadas! Aqui as portas não têm fechaduras, não há um tampo numa

sanita... E penso que até havia lá sistemas de higiene de carregar no botãozinho e a sanita...

EU- Então desculpem, mas eu tenho que colocar mais desta vez… Casas de banho assim como vocês

dizem, são um espelho ou um reflexo de um comportamento cívico desadequado. Mas então?!

SA2 – Lá está, se não há quem arranje, o mais importante de não haver quem arranje, é haver quem

não estrague; se a escola em termos financeiros é pouco apoiada, a escola não pode fazer obras de

remodelação, mas se as fizer e se as vier a fazer este ano, ainda em termos de casas de banho, há

que preservar essas obras.

EU – Acreditas que depois ninguém estraga porque está arranjado...

SA2 – Sim, eu penso que sim. Uma pessoa olha e diz… por exemplo, eu chegar ali á casa de banho,

claro eu não faço isso, mas se vir um porta toda riscada: “Vou pôr aqui a minha assinatura, é mais

uma!” E quando estiver a porta toda pintada: “Esta porta está nova, não vou ser eu que vou estar a

estragar”. Mais importante que haja quem arranje e quem limpe é que haja quem preserve, quem

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não suje, quem não estrague

EU – Eu já fiz as minhas perguntas, já tocámos nos assuntos importantes, mas dou-vos espaço para

dizerem mais o que quiserem sobre a vossa escola e sobre o tema da auto-avaliação.

SA4 – Não sei o que é que é mais importante...

EU – É? Mas esta conversa agradou-te?

SA4 – Foi produtiva.

SA3 – Eu sobre a escola acho que não tenho mais a dizer. Já disse aos meus colegas que estes três

anos de secundário foram os melhores anos da minha vida, pelo desafio que foi a escola, pelo

desafio que foi conhecê-los e também por essa relação de despreconceito- não sei se existe a

palavra- e de respeito mútuo. E acho que aprendi muito aqui com isso, e saio daqui com grandes

valores.

EU – SA3, desculpa eu insistir, e pode ficar para os outros, mas vocês são todos de cursos de

ciências e tecnologias, não é? E apesar, como eu disse, isso não ser impedimento, porque eu quero

é uma boa conversa, vai-me deixar sempre a pensar que vocês poderão não ser representativos da

ideia global da escola... Entendem o que quero dizer? E portanto, essa “dos melhores anos da

minha vida, se sermos todos amigos” será que é mesmo assim? Será que não há alunos nesta escola

que não se sentem de facto integrados?

SA3 – Há.

SA2 – Claro que há! Aqui como em todas as escolas do país e do mundo, porque nem todos podem

gostar do mesmo - gostos não se discutem! Eu posso gostar de aqui estar e ele não, mas é assim, a

maior parte penso que gosta, a parte significativa desta escola penso que gosta; um ou outro pode

não gostar, mas isso são gostos e são opções das pessoas.

SA1 – Uma coisa é certa, é preciso experimentar para saber se se gosta ou não. Vou dar outra vez o

exemplo das “Escolíadas”. Este ano tivemos a claque com o maior número de pessoas até hoje.

Houve pessoas que não sabiam o que é que era o convívio...Eu, por exemplo, nunca tinha ido...

SA3 – E lá está, era um daqueles que fazia resistência. Muitos não se envolvem porque não estão

para se chatear...

SA2 – Estou muito arrependido de não ter ido nos anos anteriores!

EU - Mas esses alunos que poderão sentir uma integração mais difícil, a escola tem mecanismos

para poder responder de uma forma justa? É?

SA3 - Por exemplo, o meu grupo de amigos passa por todos os agrupamentos, quer dizer, por todos

os anos… Tenho amigos do 10º de letras, do 10º de desporto, do 10º de ciências, do 12º de

informática... Quer dizer, nós passamos por todos...e mesmo que eles não se integrem, eles saem

daqui com grandes amizades, e acho que só aí já ganharam!

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EU – Então a escola vale sobretudo por essa questão social e afectiva; os resultados não são de

facto importantes para vocês...Não?

SA3 – São, mas eu valorizo mais uma boa pessoa do que um bom aluno.

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