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ENTREVISTA P ortel é uma vila portuguesa, no distrito de Évora, região do Alentejo e sub-região do Alentejo Central, com cerca de 2 800 habitantes. É sede de um município com 601,15 km² de área e 8 109 ha- bitantes (2001), subdividido em 8 freguesias. O município é limita- do a norte pelo de Évora, a leste por Reguengos de Monsaraz, a sueste por Moura, a sul pela Vidi- gueira, a sudoeste por Cuba e a oeste por Viana do Alentejo. A vila de Portel foi fundada em 1261, tendo recebido foral de concelho em 1262. Entre a serra e a planície, onde o imponente castelo fundado no século XIII, domina o branco ca- sario da vila. Território de encantos e tradi- ções, marcado pela diversidade da paisagem dominada pelo montado. Portel assume-se hoje como “Capital do Montado” e porta de acesso ao Alqueva, o maior lago artificial da Europa, formado pela Barragem de Al- queva. A riqueza da paisagem natural, bem como o património histórico e cultural de Portel constituem motivos suficientes para visitar este concelho que muito tem para lhe oferecer. “O Municipal” – A Barragem de Alqueva forma o maior lago artificial da Europa. O Grande Lago estende-se ao longo de vários municípios, sendo um de- les Portel. Quais as oportunida- des e potencialidades que a albufeira veio criar? Norberto António Lopes Patinho Digamos que o grande lago é um mar de oportunidades. Gran- de reserva estratégica do bem essencial que é a água, permite responder às necessidades no que se refere ao consumo huma- no, nesta vasta região. Na agri- cultura veio dar condições para, através do regadio, promover uma revolução neste setor. Na dimensão energética é já um dos maiores centros produtores de eletricidade. É no entanto no turismo, que os municípios da envolvente da al- bufeira depositam maiores expe- tativas. Iniciativas como a Marina de Amieira, na freguesia de Amiei- ra, concelho de Portel, provam que é possível construirmos neste território um destino turístico de grande qualidade. O caminho a percorrer é longo e é fundamen- tal que se concertem esforços. “O Municipal” – No concelho de Portel a oferta gastronómica é rica e variada. Que iguarias se podem saborear na Capital do Montado? Norberto António Lopes Patinho - A açorda é um prato emblemá- tico do Alentejo. No concelho de Portel, a açorda tem “mil e uma variantes” que ao longo do ano assumem cores, cheiros e sabores diferentes. De tomate, de cação ou peixe do rio, de beldroegas ou espinafres, todas elas têm o azeite como alma, o pão como corpo e as ervas aro- máticas como o seu coração. O Congresso das Açordas, iniciativa que o município organiza no mês de Mar- ço, é o momento alto de um prato que se serve du- rante todo o ano. A carne de porco alente- jano permite-nos oferecer enchidos de característi- cas únicas e é fundamen- tal nas migas de pão ou de espargos. O veado, o javali, o coelho, a lebre ou a perdiz são fundamentais nos pratos de caça aqui confeccionados. As cilar- cas, uma variedade de cogumelos da nossa re- gião, são obrigatórias no calducho ou no ensopa- do de borrego. Os queijos de cabra e ovelha e o mel são gran- des riquezas gastronómi- cas. Nos doces, destaco os bolos fo- lhados, o bolo podre (mel), as pu- pias e os biscoitos. “O Municipal” – O artesanato é testemunho de usos e costumes do povo de Portel. Que matérias primas são utilizadas e que produtos saem das mãos dos artesãos? Norberto António Lopes Patinho – A cortiça é o material nobre do montado e está na origem de mui- tos objetos produzidos pelos arte- sãos do concelho. Os coxos para beber a água fresca das fontes e os tarros para transportar e man- ter a comida quente ou fria, são exemplo do riquíssimo artesanato com origem na cortiça. A madeira, o ferro forjado, as peles de ovelha, cabra ou vaca são matérias primas utilizadas nos produtos que saem das mãos dos nossos artesãos. “O Municipal” – “Setembro é Des- porto”. Em que consiste esta inicia- tiva? Norberto António Lopes Patinho - Setembro é Desporto é uma ini- ciativa que procura sensibilizar os portelenses para a importância de uma prática desportiva regular e saudável realizando-se durante esse período algumas provas que mobilizam os clubes locais e algu- mas iniciativas que pretendem in- troduzir novas modalidades. É assim que ocorrem nesse mês, o Torneio de Portel de MiniGolfe, a Prova de Natação de Águas Abertas, na Al- bufeira de Alqueva, onde também tem lugar o Clássico de Pesca ao Achigã e a Meia Maratona Alque- va – Portel. “O Municipal” – Quando chega o Verão, o concelho acolhe tantos forasteiros, como filhos da terra que a ela regressam por ocasião das suas festas tradicionais, dedicadas normalmente ao Santo Padroeiro de cada comunidade. Quais os festejos ou romarias que chamam mais população? NORBERTO LOPES PATINHO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTEL 1 O MUNICIPAL | N.º 373

Entrevista ao Presidente da Câmara de Portel

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Portel é uma vila portuguesa, no distrito de Évora, região do Alentejo e sub-região do Alentejo Central, com cerca de 2 800 habitantes. É sede de um município com 601,15 km² de área e 8 109 habitantes (2001), subdividido em 8 freguesias. O município é limitado a norte pelo de Évora, a leste por Reguengos de Monsaraz, a sueste por Moura, a sul pela Vidigueira, a sudoeste por Cuba e a oeste por Viana do Alentejo.

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ENTREVISTA

Portel é uma vila portuguesa, no distrito de Évora, região do Alentejo e sub-região

do Alentejo Central, com cerca de 2 800 habitantes.

É sede de um município com 601,15 km² de área e 8 109 ha-bitantes (2001), subdividido em 8 freguesias. O município é limita-do a norte pelo de Évora, a leste por Reguengos de Monsaraz, a sueste por Moura, a sul pela Vidi-gueira, a sudoeste por Cuba e a oeste por Viana do Alentejo.

A vila de Portel foi fundada em 1261, tendo recebido foral de concelho em 1262.

Entre a serra e a planície, onde o imponente castelo fundado no século XIII, domina o branco ca-sario da vila.

Território de encantos e tradi-ções, marcado pela diversidade da paisagem dominada pelo montado. Portel assume-se hoje como “Capital do Montado” e porta de acesso ao Alqueva, o maior lago artificial da Europa, formado pela Barragem de Al-queva.

A riqueza da paisagem natural, bem como o património histórico e cultural de Portel constituem motivos suficientes para visitar este concelho que muito tem para lhe oferecer.

“O Municipal” – A Barragem de Alqueva forma o maior lago artificial da Europa. O Grande Lago estende-se ao longo de vários municípios, sendo um de-les Portel. Quais as oportunida-

des e potencialidades que a albufeira veio criar?

Norberto António Lopes Patinho – Digamos que o grande lago é um mar de oportunidades. Gran-de reserva estratégica do bem essencial que é a água, permite responder às necessidades no que se refere ao consumo huma-no, nesta vasta região. Na agri-cultura veio dar condições para, através do regadio, promover uma revolução neste setor. Na dimensão energética é já um dos maiores centros produtores de eletricidade.

É no entanto no turismo, que os municípios da envolvente da al-bufeira depositam maiores expe-tativas. Iniciativas como a Marina de Amieira, na freguesia de Amiei-ra, concelho de Portel, provam que é possível construirmos neste território um destino turístico de grande qualidade. O caminho a percorrer é longo e é fundamen-tal que se concertem esforços.

“O Municipal” – No concelho de Portel a oferta gastronómica é rica e variada. Que iguarias se podem saborear na Capital do Montado?

Norberto António Lopes Patinho - A açorda é um prato emblemá-tico do Alentejo. No concelho de Portel, a açorda tem “mil e uma variantes” que ao longo do ano assumem cores, cheiros e sabores diferentes. De tomate, de cação ou peixe do rio, de beldroegas ou espinafres, todas elas têm o azeite como alma, o pão como corpo e as ervas aro-máticas como o seu coração. O

Congresso das Açordas, iniciativa que o município organiza no mês de Mar-ço, é o momento alto de um prato que se serve du-rante todo o ano.

A carne de porco alente-jano permite-nos oferecer enchidos de característi-cas únicas e é fundamen-tal nas migas de pão ou de espargos. O veado, o javali, o coelho, a lebre ou a perdiz são fundamentais nos pratos de caça aqui confeccionados. As cilar-cas, uma variedade de cogumelos da nossa re-gião, são obrigatórias no calducho ou no ensopa-do de borrego.

Os queijos de cabra e ovelha e o mel são gran-des riquezas gastronómi-cas.

Nos doces, destaco os bolos fo-lhados, o bolo podre (mel), as pu-pias e os biscoitos.

“O Municipal” – O artesanato é testemunho de usos e costumes do povo de Portel. Que matérias primas são utilizadas e que produtos saem das mãos dos artesãos?

Norberto António Lopes Patinho – A cortiça é o material nobre do montado e está na origem de mui-tos objetos produzidos pelos arte-sãos do concelho. Os coxos para beber a água fresca das fontes e os tarros para transportar e man-ter a comida quente ou fria, são exemplo do riquíssimo artesanato com origem na cortiça. A madeira, o ferro forjado, as peles de ovelha,

cabra ou vaca são matérias primas utilizadas nos produtos que saem das mãos dos nossos artesãos.

“O Municipal” – “Setembro é Des-porto”. Em que consiste esta inicia-tiva?

Norberto António Lopes Patinho - Setembro é Desporto é uma ini-ciativa que procura sensibilizar os portelenses para a importância de uma prática desportiva regular e saudável realizando-se durante esse período algumas provas que mobilizam os clubes locais e algu-mas iniciativas que pretendem in-troduzir novas modalidades. É assim que ocorrem nesse mês, o Torneio de Portel de MiniGolfe, a Prova de Natação de Águas Abertas, na Al-bufeira de Alqueva, onde também tem lugar o Clássico de Pesca ao Achigã e a Meia Maratona Alque-va – Portel.

“O Municipal” – Quando chega o Verão, o concelho acolhe tantos forasteiros, como filhos da terra que a ela regressam por ocasião das suas festas tradicionais, dedicadas normalmente ao Santo Padroeiro de cada comunidade. Quais os festejos ou romarias que chamam mais população?

NORBERTO LOPES PATINHOPRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTEL

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ENTREVISTA

melhor colocado para as exercer com maior eficácia e com maior proximidade aos cidadãos.

A regionalização é um passo que considero fundamental para um melhor exercício das atribuições e competências da administração.

Até lá considero que a satisfação das necessidades das comunidades locais passará por um reforço de competências das autarquias locais, nomeadamente, na área social.

“O Municipal” - A propósito da reorganização da rede de esco-las do 1.º ciclo do ensino básico, que comentário faz sobre o encer-ramento de algumas e a concen-tração dos alunos em estabeleci-mentos de maior dimensão?

Norberto António Lopes Patinho - Escolas com poucos alunos não têm condições para lhes propor-cionar a socialização necessária no seu nível etário. O ideal seria concentrar os alunos em escolas com uma maior dimensão. No en-tanto, o encerramento de escolas deverá passar sempre por um es-treito diálogo entre as estruturas desconcentradas do Ministério da Educação e as autarquias locais. As condições das instalações, re-qualificações recentes com gran-des investimentos, os equipamentos e as respostas educativas, as dis-tâncias entre localidades e a se-gurança que pode ser garantida, são alguns dos fatores que devem ser tomados em consideração e que deverão ser impeditivos de uma solução única e obrigatória para todas as situações.

“O Municipal” - Como avalia a descentralização de competên-cias para os municípios no domí-nio da educação?

Norberto António Lopes Pati-nho - Como já referi, defendo

ção, courts de ténis e polides-portivos descobertos em todas as freguesias.

“O Municipal” - Este é o último mandato como Presidente da Câmara Municipal. Que iniciati-vas e projetos lhe deram especial prazer e orgulho em realizar?

Norberto António Lopes Patinho - Toda a ação que tenho de-senvolvido enquanto presidente do meu concelho, me tem dado enorme prazer e orgulho-me de todo o trabalho realizado ao longo dos mandatos em que os portelenses me escolheram para conduzir a autarquia.

Na educação, requalificámos todos os edifícios do 1.º ciclo e do pré-escolar e construímos o novo Centro Escolar de Por-tel. Na área da cultura, cons-truímos o Auditório Municipal e a nova Biblioteca. No social, construímos cinco Centros Co-munitários, quatro Extensões de Saúde, um Lar de Idosos e uma Creche. Nas acessibilidades beneficiámos to das as estradas municipais. Requalificámos ruas e largos e construimos novas zonas verdes.

Fizemos uma obra de grande dimensão, mas o mais importante de todo este trabalho é que ele foi direcionado para as pessoas, satisfazendo necessidades bási-cas, concretizando aspirações, garantindo igualdade de opor-tunidades, proporcionando mais qualidade de vida no concelho.

“O Municipal” - Que análise faz da evolução das competências e atribuições das autarquias locais?

Norberto António Lopes Patinho - Considero que as atribuições e competências devem ser exerci-das pelo nível da administração

Que ações já foram concretiza-das

Norberto António Lopes Pati-nho - Na sequência dos resul-tados positivos do trabalho em parceria anteriormente desen-volvido na área social e após a concretização do diagnóstico e plano de desenvolvimento social, identificados constrangimentos, potencialidades e recursos do concelho, definidas prioridades e estratégias de intervenção, a Rede Social permitiu a realiza-ção de planos de ação que incluíram, entre outras, atividades de animação e lazer, educativas, culturais e desportivas, sessões de informação e sensibilização em áreas como a saúde, gestão doméstica e familiar, emprego e empreendedorismo, tendo sem-pre como objetivo último o de-senvolvimento humano no conce-lho de Portel.

“O Municipal” - O desporto as-sume hoje um papel fundamental na vida das populações. Cada vez mais a procura de atividades desportivas é uma realidade. Que equipamentos desportivos, a Câ-mara Municipal de Portel oferece aos cidadãos e visitantes?

Norberto António Lopes Pati-nho - A Câmara Municipal de Portel considera o desporto uma área estratégica para o desen-volvimento das pessoas e das comunidades. Assim, ao longo dos últimos anos, tem realizado um investimento significativo, quer dotando todas as freguesia com infraestruturas, quer apoiando o movimento associativo.

Hoje, no município, existem três campos de futebol com relvado sintético, dois pavilhões despor-tivos, piscinas cobertas e desco-bertas, ginásio, dois campos de minigolfe, circuito de manuten-

Norberto António Lopes Patinho - Todas as fregue-sias do concelho organizam festas que, para além de receberem da melhor forma todos os filhos da terra, são momentos de grande diver-timento e animação e que preenchem todo o Verão. Na sede do concelho orga-nizamos, com o mesmo obje-tivo, o evento Agosto é Fes-ta, que compreende entre outras iniciativas, uma mostra de aves - a PortelAves - e um Festival Internacional de Folclore.

“O Municipal” – Em que con-siste a Agenda 21 Local e porque Portel lançou este projeto?

Norberto António Lopes Pati-nho - A Agenda 21 Local é um instrumento que visa planear o processo de desenvolvimento sustentável no município de Portel. É basicamente um pro-cesso em que a autarquia tra-balha em parceria com todos os setores da sociedade com o obje tivo de elaborarem um plano de ação comum e de o implementarem, tendo, como fim último, o desenvolvimento sustentável.

Neste sentido, o município abraçou o desafio lançado pela A21 com enorme von-tade de garantir que este instrumento de planeamento integrado se transforme rapi-damente num fator determi-nante para a concretização do seu principal objetivo, a melhoria das condições de vida da sua população.

“O Municipal” – A Câmara Municipal de Portel aderiu ao Programa de Implementação da Rede Social em 2002.

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truturas estamos perante um novo paradigma da actividade autár-quica. Construídas bibliotecas, escolas, piscinas e outros equi-pamentos desportivos, auditórios e outros equipamentos culturais, jardins e outras zonas verdes e de lazer, como colocá-las ao serviço das populações sem pes-soal?

“O Municipal” - Ao nível do setor empresarial local, considera ra-zoável a intenção de proceder à redução das entidades atual-mente existentes, por extinção ou fusão?

Norberto António Lopes Patinho - No Município de Portel não exis-tem empresas municipais.

“O Municipal”- A respeito do Do-cumento Verde da Reforma da Administração Local, que apre-ciação faz do mesmo, nomeada-mente, em face da discussão que tem gerado?

Norberto António Lopes Patinho - Considero-o um documento que poderá ser uma boa base de trabalho para uma discussão que deve ser muito participada e que conduza a soluções o mais consensuais possíveis.

Pessoalmente concordo, generi-camente, com às alterações à lei eleitoral para os órgãos das au-tarquias locais. Concordo com o reforço de atribuições e compe-tências das Comunidades Inter-municipais, nunca esquecendo que são entidades que care-cem da legitimidade que só a eleição direta lhes poderia dar e que, de forma alguma, substi-tuirão a regionalização que, em meu ver, é uma das lacunas do nosso regime democrático.

de freguesias?

Norberto António Lopes Pa-tinho - Não considerando ser esse um dos maiores proble-mas do País, é-me fácil acei-tar que alguns ajustamentos podem trazer vantagens para uma melhor organização ao nível das juntas de freguesia, designadamente, nos centros urbanos. Sou totalmente con-tra uma profunda alteração do atual modelo nos territórios do interior. Não posso aceitar qualquer fusão ou extinção de freguesias no concelho de Portel, pois essa altera-ção colocaria em causa os extraordinários serviços pres-tados por essas autarquias às populações. E está por expli-car que poupança produziria essa medida.

“O Municipal” - O que acha da diminuição dos cargos di-rigentes, em 15%, até ao final de 2012?

Norberto António Lopes Pati-nho - Mais uma intromissão ile-gítima na autonomia municipal.

“O Municipal” - Para além da limitação à admissão de novos trabalhadores, que comentário faz ao objetivo de diminuir o número dos que existem, de for-ma a atingir a redução prevista no artigo 48.º da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro?

Norberto António Lopes Pa-tinho - Mais uma vez uma das partes a condicionar a outra. Desta vez revelando um total desconhecimento e insensibi-lidade face à realidade do poder local.

Depois de um trabalho notável realizado pelas autarquias por todo o País ao nível das infraes-

Norberto António Lopes Pa-tinho - Compreendo que a grave crise que atravessamos impõe que sejam tomadas me-didas de austeridade. Recu-so-me, no entanto, a aceitar que sejam sempre os traba-lhadores que exercem funções públicas os mais castigados e que seja quase exclusivamen-te sobre as suas remunerações que incidem os esforços que deveriam ser mais generaliza-dos a toda a sociedade.

“O Municipal” - Perante as restrições em matéria de en-dividamento municipal, para o ano de 2012, como encara o futuro da gestão autárquica?

Norberto António Lopes Patinho - É com bastante apreensão que encaro o fu-turo da gestão autárquica. Não apenas pelas restrições em matéria de endividamento municipal, mas também pelo sistemático incumprimento da Lei das Finanças Locais que tem conduzido, ano após ano, a uma enorme redução das transferências para as autarquias. Penso que o mais grave e que certamente vai ter consequência para o futu-ro do poder local e por esse motivo na qualidade de vida das populações, é a falta de respeito pela autonomia do poder local e a constante al-teração das regras do jogo.

Uma das partes interessadas, através da lei do Orçamento do Estado, coloca, sistemati-camente, em causa o edifício legal que deveria ser o suporte e o garante da autonomia da outra parte.

“O Municipal” - Qual é a sua opinião sobre a reorganiza-ção do mapa autárquico, en-volvendo a fusão e extinção

que as competências de-vem ser exercidas pelo ní-vel da administração que possa assegurar uma maior eficiência. No caso da educação, a proximidade aos cidadãos coloca as autarquias bem posiciona-das para assumirem com vantagem para os alunos e famílias muitas das compe-tências transferidas. O pro-blema que se coloca sem-pre é que as transferências de competências do poder central para os municípios raramente vêm acompa-nhadas dos meios para que possam ser exercidas com a eficácia possível e com as vantagens esperadas para a população.

“O Municipal - Qual é a sua opinião sobre a perda de mandato por não ava-liação dos trabalhadores?

Norberto António Lopes Patinho - Como em outras matérias o poder local é o parente pobre da nossa política. Qual o Ministro ou Secretário de Estado que terá o lugar colocado em causa pelo mesmo motivo?

“O Municipal” - A respeito da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado para 2012, que comentário faz às disposições aplicá-veis aos trabalhadores do sector público, em especial, as que se referem à redu-ção das remunerações e à proibição de valorizações remuneratórias, não esque-cendo a forma como passa a ser efetuada a determina-ção do posicionamento, no âmbito dos procedimentos concursais?

ENTREVISTA

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