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1 CICILIA PERUZZO Entrevista com o professor Cicilia Peruzzo Realizada em 19 de novembro de 2015 Pesquisa e roteiro: Alice Melo Entrevistadores: Ana Paula Goulart e Cláudio Ornellas Transcrição: Camila Rouças Edição: Cláudio Ornellas Pode nos dizer seu nome completo, local e data do seu nascimento? Cicilia Maria Krohling Peruzzo. Nasci no Espírito Santo, num município chamado Domingos Mar- tins, em 6 de junho de 1950. Quais os nomes de seus pais e o que eles faziam? Eles eram agricultores. Chamavam-se João Pedro Krohling e Maria Margarida Thomas Krohling. Qual foi sua formação? Começando da graduação, fiz o curso de Co- municação Social, com habilitação em Relações Públicas, na Universidade Anhembi Morumbi. Aqui em São Paulo. Morei muitos anos em Vitó- ria, mas nessa época eu já estava trabalhando e estudando em São Paulo. Por que você escolheu Relações Públicas? Como surgiu esse interesse? Olha, sendo muito sincera, foi por eliminação, escolhi algo que não exigisse muita matemática no vestibular, sou dessas pessoas que fogem da matemática. Como eu já estava atuando profissional- mente em empresa que tinha um bom trabalho de comunicação, foi daí então a escolha.

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CICILIA PERUZZO

Entrevista com o professor Cicilia Peruzzo

Realizada em 19 de novembro de 2015

Pesquisa e roteiro: Alice Melo

Entrevistadores: Ana Paula Goulart e Cláudio Ornellas

Transcrição: Camila Rouças

Edição: Cláudio Ornellas

Pode nos dizer seu nome completo, local e

data do seu nascimento?

Cicilia Maria Krohling Peruzzo. Nasci no Espírito

Santo, num município chamado Domingos Mar-

tins, em 6 de junho de 1950.

Quais os nomes de seus pais e o que eles

faziam?

Eles eram agricultores. Chamavam-se João

Pedro Krohling e Maria Margarida Thomas

Krohling.

Qual foi sua formação?

Começando da graduação, fiz o curso de Co-

municação Social, com habilitação em Relações

Públicas, na Universidade Anhembi Morumbi.

Aqui em São Paulo. Morei muitos anos em Vitó-

ria, mas nessa época eu já estava trabalhando e

estudando em São Paulo.

Por que você escolheu Relações Públicas? Como surgiu esse interesse?

Olha, sendo muito sincera, foi por eliminação, escolhi algo que não exigisse muita matemática no

vestibular, sou dessas pessoas que fogem da matemática. Como eu já estava atuando profissional-

mente em empresa que tinha um bom trabalho de comunicação, foi daí então a escolha.

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CICILIA PERUZZO

Onde você trabalhava antes de ingressar na universidade?

Comecei na verdade como datilógrafa na Sade Sul Americana de Engenharia, fiquei alguns anos ali e

depois fui trabalhar como secretária na Eli Lilly do Brasil, um grande laboratório farmacêutico, na área

de gestão de produto, onde eu tive mais contato com relações públicas, marketing etc.

Conte sobre o tempo em que morava no Espírito Santo.

Eu nasci em Domingos Martins, morei lá durante alguns anos, depois fui morar no município de

Guarapari, também na zona rural, e a partir da adolescência eu saí para estudar, fui estudar primeiro

em colégios do próprio Espírito Santo, em Anchieta, por exemplo. Depois fui estudar no Rio Janeiro.

Estudei no Méier, estudei no Encantando, em colégio de irmãs. Isso durante alguns anos, depois

retornei para o Espírito Santo, foi quando eu passei a morar em Vitória, sempre devido ao estudo.

Meus pais eram agricultores, mas sempre incentivaram muito o estudo dos filhos. Na verdade, não

mediram esforços para que os filhos saíssem para estudar fora e foi por isso que a vida foi nos

levando assim de um lugar para outro, buscando sempre a continuidade dos estudos.

Ao se formar, ingressou no mercado ou diretamente na vida acadêmica?

Depois da faculdade eu ingressei na vida aca-

dêmica. Fiz a faculdade em São Paulo, mas

voltei mais uma vez para o Espírito Santo para

trabalhar como docente na Universidade Fe-

deral do Espírito Santos. A partir daí, a atuação

foi sempre na área acadêmica.

Em que ano se formou?

Em 1977.

Depois da graduação, fez o mestrado na Metodista, não?

É interessante, porque de fato eu já era professora da Universidade Federal do Espírito Santos, no

entanto sentia sempre essa necessidade de continuar estudando. Foi quando tentei então o mes-

trado, com licença da universidade, foi um período em que eu me licenciei para fazer o mestrado.

Meu marido também trabalhava na Universidade Federal do Espírito Santo e pediu licença no mes-

mo período para fazer o doutorado, então foi uma opção mesmo do casal em termos de continuar

“Meus pais eram agricultores, mas sem-

pre incentivaram muito o estudo dos fi-

lhos. Na verdade, não mediram esforços

para que os filhos saíssem para estudar

fora”

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CICILIA PERUZZO

o estudo em São Paulo como forma de aperfeiçoamento para depois nos dedicarmos melhor à vida

acadêmica na própria universidade. A gente já tinha uma estabilidade, a pós-graduação então foi

uma meta no sentido de melhorar todo o conhecimento e as condições de ensino e aprendizagem.

Em seguida, eu saí também para fazer o doutorado, aí já na Universidade Federal de São Paulo, só

que não mais me mudando pra São Paulo, neste momento eu continuei morando no Espírito Santo

e me deslocava toda semana para São Paulo, para fazer as disciplinas e ter a orientação. Foi uma

época em que a gente já tinha filhos pequenos, então não daria para mudar para São Paulo. Foi uma

época bastante difícil, no entanto foi possível concluir o mestrado indo e voltando toda semana. E de-

pois também concluindo a tese, sob a orientação na Anamaria Fadul. Na época, na universidade, não

havia muito incentivo para que os professores saíssem para estudar, no entanto, havia essa possibi-

lidade, eu fui liberada das atividades acadêmicas formais para me dedicar ao doutorado. Claro que

isso é uma forma de incentivo muito grande, mas eu quis dizer que não havia muito clima para isso

em relação aos colegas. Eu me lembro que havia colegas que diziam: “Como você vai sair, fazer um

doutorado? Isso não vai representar nada na sua carreira, nem financeiramente”, “Ah, mas eu quero

estudar”. Então, eu saí realmente com essa intenção

de crescer um pouquinho do ponto de vista da pes-

quisa e do conhecimento.

Quais foram os temas de suas teses de mestra-

do e doutorado?

De mestrado foi sobre relações públicas, Relações Públicas no Modo de Produção Capitalista, uma

análise crítica das relações públicas, cujo último

capítulo eu já procurei prestar atenção nas possi-

bilidades das relações públicas formais poderem

também sofrer uma apropriação por parte dos mo-

vimentos sociais, tema que eu continuei trabalhan-

do mais tarde. E a tese de doutoramento tem como

título A Participação na Comunicação Popular, que

depois foi transformada em livro, Comunicação nos Movimentos Populares, a Participação na Constru-ção da Cidadania, publicado pela Editora Vozes.

Hoje ainda continua circulando, a edição esgotada

mas está disponível na internet. A gente tem notícia

de que o material ainda continua sendo usado.

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Por que a escolha desse tema?

Possivelmente por me sentir um pouco inconformada com a situação brasileira, a realidade brasileira,

diante de um quadro de desigualdades, de um quadro de grandes contradições e perceber, nos mo-

vimentos sociais populares, uma forma de mudança. Certamente foi isso que me motivou a querer

estudar essas manifestações de comunicação, ou seja, a comunicação no contexto dos movimentos

sociais populares, porque eu via na academia todo mundo se dedicando à análise crítica dos gran-

des meios, depois às tecnologias, e eu percebia que havia algo mais que era pouco explorado e me

interessei em acompanhar e aprofundar essa vertente, vamos dizer, da comunicação. Eu costumo

chamar, como outros já chamaram, de uma outra comunicação, porque é difícil definir se é popular,

se é comunitária, se é alternativa, mas é uma outra comunicação, significa uma comunicação dos

segmentos organizados, das classes subalternas, que estão tentando uma forma de expressão, uma

forma de modificar a sua realidade, uma forma de contribuir para a transformação dessa realidade.

E essa forma mudou muito do início da sua pesquisa para hoje?

Mudou, mas conserva também aspectos ain-

da dos anos 1970, 1980, então é um campo

realmente muito dinâmico, que se modifica

muito, mas não significa também rupturas que

negam as versões anteriores, eu veria real-

mente como uma confluência de linguagens,

de perspectivas, de técnicas, onde a predomi-

nância vai justamente na linha do comunitário,

hoje em dia. Nos anos 1970, 1980, se falava

mais em comunicação popular, porque era uma comunicação mais vinculada aos movimentos so-

ciais populares. Aos poucos isso foi se modificando, devido à própria democratização da sociedade,

onde o foco de luta, vamos dizer, se transforma bastante, não se tem mais uma ditadura militar para

enfrentar, então a sociedade foi se democratizando e, com isso, surgem os movimentos propria-

mente comunitários, com a intenção de avançar na perspectiva das transformações das realidades

locais. E também, claro, outras comunidades, não só o nível de comunidade de bairro, mas também

outras comunidades étnicas – e assim por diante. Então, essa comunicação já assume um caráter

mais pluralista, bem vinculado a esses interesses dos segmentos da população por mudanças. Claro

que não houve então, como eu estava dizendo, uma ruptura total, porque ao mesmo tempo em que

você tem uma vertente que vai nessa perspectiva que eu coloco, vertentes anteriores continuam. E

a mesma acontece em relação às tecnologias, a gente vê muita mudança hoje, como incorporação

“É difícil definir se é popular, se é comu-

nitária, se é alternativa, mas é uma outra

comunicação, significa uma comunica-

ção dos segmentos organizados, das

classes subalternas, que estão tentando

uma forma de expressão, uma forma de

modificar a sua realidade”

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das redes sociais, blogs, plataformas de colaboração etc., no entanto, as tecnologias antigas ainda

têm o seu lugar. Então, em muitos lugares em que a gente vai, ainda é o autofalante o principal meio

para aquela localidade, para aquele grupo de pessoas. Em outros é a comunicação interpessoal

dialógica. Então, realmente é um campo que se transforma; ao mesmo tempo, a gente percebe essa

confluência de comunicação sempre com relação a condições concretas, a condições objetivas de

cada realidade, de cada grupo.

Essa linha de pesquisa cresceu muito na academia?

Cresceu muito, cresceu muito. Nos estudos que eu fiz, identifiquei pouquíssimos estudos anteriores,

por exemplo, uma publicação de cem anos. Identifiquei algumas peças, alguns artigos, alguns livros.

Hoje em dia já é bastante difícil dar conta de mapear tudo que sai nessa perspectiva, primeiro pelos

cursos de pós-graduação, que têm linhas de pesquisas às vezes bastante focadas em abordagens

desse tipo, e por outro lado as entidades foram abrindo espaço. A própria Intercom criou há muitos

anos um GT, chamado Comunicação e Culturas Populares, eu até coordenei esse GT durante um

tempo. Depois a Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação também abriu

um GT específico, começou com o nome de Comunicação Participativa, depois foi se transforman-

do, acho que hoje se denomina Comunicação Popular Comunitária e Cidadania. Recentemente a

Compós, que é a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, também

abriu um espaço para um GT nessa linha. Os eventos de maneira geral também instituíram grupos de

trabalho, mesmo os grupos que são transitórios. Então, acho que se a gente for realmente mapear

essa produção, ela é muito significativa hoje em dia.

Como foi seu primeiro

contato com a Intercom?

Foi como sócia, na verdade,

quando eu estava fazendo

o mestrado fui convidada a

me tornar sócia da entida-

de. Eu me lembro que sou a

sócia número dez, não sei o

que significou isso na épo-

ca, mas, enfim, acompanhei

bastante a vida da entidade

nessa condição, de asso-

ciada que participava dos

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eventos, morando em Vitória, me deslocando anualmente para os congressos da Intercom. Então,

esse foi o primeiro contato. Depois fui me envolvendo mais, eu cheguei a coordenar um GT, como

eu já falei, organizei um simpósio regional, que na época se chamava PEC, em Vitória, no meu am-

biente de trabalho. Depois também organizei um congresso da Intercom em Vitória, acho que foi

em 1993, se não me engano. Nessa época também eu coordenei os prêmios, esses prêmios que

hoje têm algumas denominações específicas já existiam, mas era o Prêmio Intercom de Doutorado,

Prêmio Intercom de Mestrado, Prêmio Intercom de Iniciação Científica. Então, coordenei durante uns

anos esse processo, depois, como vice-presidente também, desempenhei essa função. E depois fui

presidente.

Em 1993, a senhora se tornou vice-presidente da entidade. Como que foi essa experiência?

Foi muito natural, na época o estatuto não previa uma função específica para o vice-presidente, era

só realmente substituir o presidente em caso de necessidade, então foi um período bem tranquilo, a

entidade era bem menor. É claro que participava das atividades colegiadas, mas não tinha nenhuma

função específica a desempenhar.

Quem era o presidente?

Adolpho Queiroz.

O que destacaria desse período em que acompanhou a gestão?

Foi um período interessante de consolidação da Intercom enquanto entidade científica, um período

com grande dedicação à revista científica, à iniciação científica. A Intercom tem algo muito interes-

sante nesse aspecto de abrir o espaço para o estudante. Isso não é de hoje, às vezes a gente pensa

que tudo começa com Intercom Júnior, mas não, acho que sempre houve essa abertura para os

estudantes. Sempre em termos, porque num primeiro momento, não, a entidade foi pensada como

entidade de pesquisadores, mas a própria pressão da área, a pressão dos estudantes, foi fazendo

com que ela se abrisse também aos estudantes de graduação. E foi nesse decorrer então que os

espaços para iniciação científica foram sendo criados, como sessões de iniciação científica, tínhamos

também os chamados temas livres, quando os grupos não conseguiam dar conta das demandas.

Quando vinham temáticas que não se enquadravam bem nessas exigências ou que não cumpriam

as normas dos GTs, por exemplo, em termos de titulação etc., então iam para as sessões de temas

livres, que eram um espaço bem democrático, muito interessante. Às vezes havia sessões mais inte-

ressantes do que algumas dos próprios GTs.

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CICILIA PERUZZO

Em 1999, a senhora é conduzida à

presidência. Como estava estruturada

a Intercom, à época?

Eu peguei o primeiro mandato da alte-

ração dos estatutos, quando o manda-

to passou a ser de três anos. Antes os

mandatos eram de dois anos. Quando

eu assumi, peguei então o mandato de

três anos, um pouco a contragosto, mas

com também a incumbência de cumprir

o mandato e desenvolver as atividades

conforme as necessidades da época. Foi

um período tranquilo. Gostaria de dizer

que foi um mandato em que eu fui a pre-

sidente, mas que todos os méritos desse

mandato têm a ver com a diretoria, então,

a diretoria da época, se vocês me permi-

tem, eu gostaria de mencionar os nomes.

O vice-presidente foi o Paulo Rogério Tar-

sitano; a diretora de Projetos, Christa Ber-

ger; diretor Financeiro, Fernando Ferreira

de Almeida; diretor Editorial, José Bene-

dito Pinho; diretor Administrativo, José

Luiz Proença; diretora Científica, Maria

Immacolata Vassallo de Lopes; diretor Cultural, Robson Bastos da Silva; diretor de Relações Interna-

cionais, Sebastião Squirra; e diretora de Documentação, Sueli Ferreira. Foi uma equipe que trabalhou

em conjunto e procuramos fazer o melhor para a época, sempre no intuito de fortalecer a própria

Intercom e contribuir com a área da comunicação na sociedade brasileira.

Na sua diretoria foram adquiridos espaços físicos?

Sim. Na época, a Intercom tinha como sede uma sala da Universidade de São Paulo, que nós herda-

mos, quando entrei a sede já era lá, no entanto também havia a necessidade de buscar uma estabi-

lidade para a entidade. Foi quando então a gente conseguiu juntar um dinheirinho e compramos a

primeira sede da Intercom, localizada à Rua Brigadeiro Luiz Antônio. Escolhemos estrategicamente

um local perto do metrô porque a ideia era oferecer cursos e ter nesse espaço então a possibilidade

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CICILIA PERUZZO

“Mas a intenção inicial não foi

de ocupar o espaço, porque

a gente também não queria

perder a sede na USP, lá a

gente tinha algumas rega-

lias, por exemplo, a redução

de custos de manutenção”

de encontro dos sócios. Por que perto do metrô? Para facilitar

a vinda, a participação das pessoas. Mas a intenção inicial não

foi de ocupar o espaço, porque a gente também não queria

perder a sede na USP, lá a gente tinha algumas regalias, por

exemplo, a redução de custos de manutenção. Então preten-

díamos mesmo ter esse patrimônio, alugar em um primeiro

momento para obter renda para a entidade, enquanto fosse

possível, permanecendo na Universidade de São Paulo.

E assim foi feito?

Assim foi feito no primeiro momento.

Na sua gestão toda a Intercom continuou na USP?

Continuamos lá.

Naquele momento, como funcionava o Portcom?

O Portcom na época tinha uma proposta bem ousada, ele não queria ser um simples setor de do-

cumentação, queria ser um setor de aglutinação da pesquisa em comunicação em nível nacional.

Então, com a colaboração da professora Sueli, que vem das ciências da informação, ela nos ajudou

muito, incrementou justamente a ideia de se criar esse espaço. No início, por exemplo, foi criada uma

espécie de repositório das revistas científicas, porque na época não havia essa corrida pra indexa-

ção, as revistas ficavam muito isoladas, então o Portcom estava servindo de espaço para aglutinar

essa produção. Então, nós não acolhemos esse material para disponibilizar a partir do Portcom, mas

nós canalizávamos uma forma de rede, com links, a gente ficava à disposição para dessa forma dis-

ponibilizar o acesso público à produção de comunicação das revistas científicas. Também foi provo-

cada a formação de redes por meio de encontros junto a bibliotecas, sempre com essa ideia de fa-

vorecer um intercâmbio maior com as ciências da informação. Com isso incrementamos toda a parte

de comunicação no nível das bibliotecas, nacionalmente. Aconteceram eventos nessa perspectiva,

o congresso da Intercom tinha um evento relacionado à documentação, que chamava Endocom,

trazia realmente gente dessa área de ciências da informação de algumas universidades. E a base

de dados, a Portdata, era justamente a ideia de também documentar toda a produção que circulava

na Intercom, nos GTs, era ali que se aglutinava a digitalização, que foi um aspecto importante dessa

fase. A digitalização era alguma coisa que estava ainda em ensaio. Nós viemos dos papers escritos,

depois os papers em disquetes e aqui não, aqui já foi possível ter os CDs dos congressos anuais,

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e tudo isso ia então para essa base de dados. Chegamos a ter uma base de dados muito grande,

porque recuperou as produções dos anos anteriores e ia sempre atualizando também com todos os

papers apresentados em eventos. Além disso, aglutinava também a revista científica, o material em

forma de audiovisual e assim por diante.

Quando o Portcom foi criado?

Quando o site foi criado? Eu sei é que cada gestão que chega atualiza o site. Na época já existia,

na minha gestão já existia, era claro que bastante tímida, mas existia essa abertura, tanto que foi na

minha gestão que a revista passou a ser digitalizada, foi nessa época aqui.

A revista na versão eletrônica?

A versão eletrônica da revista. Até então só havia a impressa, a partir daí ela começou a ser disponi-

bilizada também no site.

Quem editava a revista?

O José Benedito Pinho, era diretor Editorial e também editava a revista nesse período. Em seguida

foi a Sonia Virgínia Moreira, a Sonia editou durante um tempo. Teria que pegar as datas direitinho,

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mas acho que tem essas parcerias, sempre os sócios colaborando. Eu assumi a revista na última ges-

tão do José Marques de Melo, então foi sempre um trabalho junto com a Sonia, depois de um tempo

atuou também o professor Aníbal Bragança.

A revista mudou desse primeiro momento, da sua presidência até hoje?

Eu poderia comparar os primeiros tempos com os de hoje, vamos dizer, não parando assim em ne-

nhuma presidência. Acho que mudou bastante. Acho que hoje a revista tem um caráter científico

muito mais evidente, porque justamente nós entramos numa fase em que as exigências da difusão

do conhecimento são mais candentes, mais claras, há toda uma busca da indexação das revistas e

para submissão. Indexação significa cumprir os critérios, então, os periódicos científicos vão periodi-

camente se aperfeiçoando em relação tanto à parte técnica, de formatação, a parte editorial, vamos

dizer assim, como à parte de conteúdo, com mais ênfase a artigos científicos e não artigos mais

leves, vamos dizer. Justamente em decorrência dos critérios, por exemplo, das bases de indexação,

tanto a nacional quanto as internacionais. Acho que isso é muito importante para a área, porque é

uma forma de se avançar, do ponto de vista da elaboração do artigo científico.

A Intercom já teve um Conselho Consultivo?

Tivemos, mas como é que ele funcionava? O que hoje se denomina de diretor regional ou diretores

regionais, naquele momento, no outro estatuto, as representações regionais é que formavam o Con-

selho Consultivo. Quando houve a mudança do estatuto, sumiu essa figura do Conselho Consultivo

e criou-se a do diretor regional.

Qual é a importância da criação dos congressos regionais?

Eu acho de uma importância enorme, porque é uma forma de democratizar o acesso ao congresso

das pessoas das regiões, porque o deslocamento para o congresso nacional é sempre mais difícil,

então muita gente não pode se deslocar por diversos motivos. E o congresso regional possibilita

essa participação ativa de estudantes, professores e outros profissionais da área, porque democra-

tiza realmente esse acesso. Por outro lado, os congressos nacionais não conseguem aglutinar tanta

gente. Tivemos uma época em que começamos a ter problema, isso aconteceu, eu me lembro, em

2002, no último evento que eu coordenei, em Salvador, que se tornou um evento muito maior do que

se planejou, então foi uma loucura. A partir daí houve também um indicativo de limitar o número de

inscrições, porque até ali a gente tinha mais flexibilidade, e a demanda foi tão grande que dificultou

a própria realização do evento. Talvez por ser em Salvador, talvez por ser ainda uma época em que a

Intercom era muito flexível no acolhimento dos seus participantes. Na Bahia há muitos cursos de co-

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municação, numa época havia quase quatro dezenas, e os estudantes foram meio que convocados

nas próprias faculdades em termos de participação no evento, era realmente uma novidade. Então,

com isso, a demanda cresceu muito. Mas, como eu estava dizendo, o congresso nacional, por si só,

não consegue aglutinar essa demanda em nível nacional. Os regionais são uma forma de acomodar

melhor a demanda regional.

Em sua gestão houve mudanças nos grupos de trabalho. O que mudou e como se deu essa

mudança?

Na época havia um número grande de GTs, cujo processo estava um pouco confuso. A gente acabou

descobrindo que havia, por exemplo, GTs cujos trabalhos de uma mesma temática acabavam ficando

dispersos em diferentes GTs, então, havia na verdade uma certa superposição de GTs. De fato, a dis-

cussão da reformulação dos GTs foi bem ampla, começou antes de eu assumir como presidente, mas o

processo mesmo de reestruturação aconteceu durante a minha gestão. A finalidade primeira foi, então,

organizar um pouco melhor a estrutura dos GTs, porque havia essa superposição, e otimizar um pouco

mais, porque havia alguns GTs altamente expressivos, mas alguns outros em que ao longo do tempo

foi se evidenciando uma diminuição do número de participantes. Foi realmente uma tentativa de me-

lhorar a performance dos grupos de trabalho. Isso por um lado. Por outro lado, a preocupação era ten-

tar dar mais qualidade ao trabalho dos grupos, se sonhou na época que a transformação dos GTs em

GPs pudesse favorecer uma atuação mais voltada à pesquisa, para que os GTs não permanecessem

unicamente aqueles espaços em que as pessoas vão apresentar trabalhos anualmente. A ideia era que

a transformação em grupos de pesquisa possibilitasse uma aglutinação maior desses grupos e que

eles pudessem se articular, formar redes de pesquisa e ter uma atuação para além dos eventos. Seria

o caso de analisar se conseguimos isso ou não, mas essa

foi a ideia. Houve uma resistência na época, justamente

porque se procurou juntar alguns grupos em que havia

sobreposição. Isso sempre mexe com alguns grupos, en-

tão houve bastante resistência, teve gente que brigou,

teve gente que se retirou, mas foi uma decisão colegia-

da, discutida em congressos anteriores, num processo

muito transparente de discussão. Não foi uma coisa que

alguém chegou e instituiu, foi discutido desde o primeiro

momento: “Olha, precisamos reestruturar”, depois como

reestruturar, critérios foram elaborados, com ampla possi-

bilidade de debate, de participação. Foi criado nesse momento, previamente à própria reestruturação,

uma comissão de trabalho que estudou os GTs e viu onde estavam os problemas. Então, quando se

“Quando se desencadeou o

processo de reestruturação, já

havia um estudo que indicava

alguns pontos fracos do funcio-

namento dos GTs. No fim che-

gou a bom termo a reestrutura-

ção, acabou sendo bem aceita”

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desencadeou o processo de reestruturação, já havia um estudo que indicava alguns pontos fracos

do funcionamento dos GTs. No fim chegou a bom termo a reestruturação, acabou sendo bem aceita,

durante alguns anos os GTs funcionaram segundo essa estrutura mais enxuta, acho que no final da re-

estruturação nós ficamos com 18 grupos, mas com o passar do tempo tudo isso foi sendo modificado,

segundo as novas demandas, até chegar ao que temos hoje.

Como avalia a parceria da Intercom com entidades internacionais?

Muito necessária, importante por um lado; por outro lado, mostra a inserção internacional da Inter-

com. Essa parceria forma na verdade uma espécie de rede, que faz com que circule mais o conheci-

mento produzido no Brasil em outros espaços da América Latina, o espaço da lusofonia internacio-

nal, e por outro lado também é uma forma de aumentar a presença de pesquisadores desses países

todos no Brasil. Então, eu destacaria a ALAIC – Associação Latino-Americana de Investigadores da

Comunicação, destacaria ainda a Lusocom – a Intercom teve um papel muito importante na Luso-

com – a Federação Lusófona de Ciências da Comunicação que agrega as associações dos países

de língua portuguesa. Mais tarde a Confibercom, que é a Confederação Ibero-Americana das Asso-

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ciações Científicas e Acadêmicas de Comunicação, que inclui Portugal e Espanha. É preciso ser dito

que essa opção de formar a Lusocom e de formar a Confibercom se deve a uma visão de futuro do

professor José Marques de Melo, ele sempre esteve bastante atento a essa necessidade da arti-

culação, mesmo porque a produção em língua portuguesa, a produção em espanhol, a gente sabe

que tem uma circulação em termos mundiais muito menor do que da produção em língua inglesa. É

um pouco essa preocupação de nos comunicarmos pelo menos no espaço ibero-americano como

forma de democratizar a pesquisa que se faz aqui, como forma de nos ajudar. Por exemplo, a Con-

fibercom atua muito nas frentes da pós-graduação, da difusão do conhecimento, tentando mexer

com as políticas públicas, a própria vertente da formulação de políticas públicas de comunicação,

então sempre com essa visão de fazer crescer a área e provocar o intercâmbio acadêmico em nível

internacional. Além dessas associações em que a Intercom está diretamente implicada, temos a ICA

(Associação Internacional de Comunicação), temos a associação francesa, então a Intercom também

sempre manteve o relacionamento – uma prova dessa busca pela internacionalização é a realiza-

ção dos colóquios binacionais. Foi uma forma de intensificar esse relacionamento diretamente com

pessoas da comunicação em diferentes países. Daí o Colóquio Brasil-Espanha, o Colóquio Brasil-

-França, o Colóquio Brasil-Inglaterra, o Colóquio Brasil-Dinamarca, o Colóquio Brasil-México e assim

por diante. Quer dizer, o Brasil-México foi um dos primeiros colóquios em que realmente se criaram

dois grupos de pesquisa, um grupo de brasileiros e um grupo de mexicanos, e se formaram duplas

que trabalhavam temas em comum. Então, foi uma primeira experiência ali, uma das primeiras expe-

riências dos colóquios internacionais, que depois foram mudando um pouco de cara, vamos dizer.

Então, essa preocupação em realmente contribuir também nesse aspecto, na constituição do campo

da comunicação em outros países. Por exemplo, no espaço da lusofonia houve um incentivo muito

grande para a criação de associações em Moçambique, em Angola. Existia em Portugal, mas nesses

outros países de língua portuguesa ainda não existia associação de comunicação, então a Intercom

sempre esteve implicada nesse incentivo a que as pessoas se organizassem dentro desses países.

A própria criação da Sopcom, que é a Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, teve um

empurrão grande da Intercom. Se vocês forem conversar com outros diretores da época da criação

da Sopcom, vocês vão ver que houve essa contribuição. A partir inclusive de um primeiro colóquio

Brasil-Portugal é que eles se animaram a desenvolver esse processo de organização interna da área

da comunicação.

E a participação na SBPC?

Durante o meu período de gestão, nós reconquistamos o espaço dentro da SBPC, que havia estado

um pouco desativado por falta de uma participação, vamos dizer, efetiva na entidade, mas a partir

daí então houve uma participação nas reuniões da SBPC, reuniões periódicas que a entidade faz

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CICILIA PERUZZO

e, por outro lado, procuramos manter a presença nos

congressos da SBPC pelo Brasil. A SBPC tem um even-

to anual, que também percorre o país, e a Intercom não

tinha recursos, não tinha como organizar aqui na sede

uma equipe e mandar para esses eventos. Mas nós te-

mos sócios espalhados pelo Brasil. Então, qual foi a es-

tratégia? Entrar em contato com os sócios. Por exemplo:

quando acontecia em Brasília, a gente identificava quais

os sócios de Brasília, entrávamos em contato direto com

eles e pedíamos que eles organizassem uma participa-

ção da Intercom dentro da SBPC. Assim, dependendo

de cada local, era organizada uma mesa ou outras ati-

vidades, painéis e assim por diante, sobre temas da comunicação, mas que não implicassem em

grandes investimentos, porque eram pessoas do próprio local. Acho que foi uma estratégia bem

interessante, porque, ao mesmo tempo em que se valoriza o sócio local, a entidade se faz presente,

leva o tema da comunicação com mais ênfase para dentro da SBPC e valoriza os pesquisadores da

região como palestrantes. Então, por que nós vamos nos deslocar de São Paulo para Goiânia, se em

Goiânia a gente tem tantos pesquisadores? Era uma forma realmente de motivar a presença, mas por

meio das pessoas nas próprias capitais.

Funcionou bem?

Funcionou bem, muito bem. Em termos de fórum SBPC, a participação periódica nas reuniões signi-

fica debater e interferir nas políticas públicas, no campo da ciência, no campo da tecnologia, então,

eu acho que é uma presença fundamental. Eu sei que hoje esse espaço está garantido, a diretoria

continua participando, eu acho isso muito importante, porque mesmo que possa não representar

uma grande transformação das políticas, é uma forma de discutir, de se posicionar publicamente.

Em gestão a Intercom fez 25 anos. Como foram as comemorações?

Simplórias. Fizemos um selo, editamos uma revista com número especial, sistematizando a história

da Intercom, tivemos a mesa especial no evento do ano, acho que fizemos uma camiseta, essas coi-

sas assim, sem gastar muito, porque o problema da Intercom sempre foram também os recursos. Não

se podia deixar passar em branco, mas também não se podia investir muito numa comemoração. E

a preocupação principal foi a sistematização. O que fizemos em 25 anos? Daí então essa produção

que foi realizada do ponto de vista livresco, vamos dizer.

“Foi uma estratégia bem inte-

ressante, porque, ao mesmo

tempo em que se valoriza o

sócio local, a entidade se faz

presente, leva o tema da comu-

nicação com mais ênfase para

dentro da SBPC e valoriza os

pesquisadores da região como

palestrantes”

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CICILIA PERUZZO

Qual a sua avaliação do papel da Intercom na formação de jovens pesquisadores?

Eu acho que existem alguns níveis de interferência. No primeiro nível eu destacaria a atualização

que ela possibilita aos próprios pesquisadores, aos docentes, aos investigadores, porque por meio

dos congressos ela está abrindo um campo do conhecimento, abrindo um espaço de debate, abrin-

do um espaço para aglutinar as pesquisas que estão sendo realizadas. Isso significa que realmente

há possibilidade de uma atualização, de um aperfeiçoamento. Em outro nível, a participação dos

jovens pesquisadores. Eu acho que a iniciação científica é um exemplo dessa possibilidade, porque

a pessoa não precisa ter concluído o curso de graduação, o que lhe garantiria uma maior, uma par-

ticipação mais efetiva. Ela pode participar enquanto está estudando. Então, o espaço da iniciação

científica favorece esse desenvolvimento dos estudantes também na pesquisa científica, porque

eles estão ali apresentando a sua pesquisa, discutindo resultados, se encaminhando, vamos dizer,

para pesquisa científica. Por outro lado, os GTs dão espaço aos estudantes de pós-graduação, mes-

trandos, doutorandos, é uma forma realmente de colaborar com a produção do conhecimento e a

difusão do que está sendo produzido. Em outro nível, é a própria difusão do conhecimento que a

Intercom possibilita, para além dos congressos, quando disponibiliza todo o material para consulta, o

material está disponibilizado para consulta na internet hoje, todos os papers apresentados, tudo isso

está disponível, acrescentando a revista científica, que se chama Revista Brasileiras de Ciências da

Comunicação, hoje uma revista top na área das publicações científicas. A revista hoje está também

traduzindo todos os artigos em inglês, na tentativa de uma internacionalização e de contribuir, assim,

para a difusão do conhecimento produzido no Brasil em comunicação também para públicos mais

amplos. Além dessa revista, existem as outras revistas científicas da entidade, que também, dentro

dos seus segmentos específicos, cumprem esse papel de difusão do conhecimento.

Falando especificamente dos jovens pesquisadores, como você avalia os espaços criados

para eles?

Eu acho importante a formalização de espaços. No caso da Expocom, são trabalhos experimentais

que esse projeto possibilita. Possibilita aglutinar esses estudantes da comunicação para que eles

tenham um espaço para mostrar o que estão produzindo nas suas universidades. Mas, como eu

disse, mais na linha do trabalho experimental. Eu acho que isso motiva o estudante, eles às vezes já

estão produzindo alguma coisa com intenção de participar um dia da Expocom, e isso se torna então

um elemento de motivação, acho que não é só um concurso em si, não é só a concorrência, mas é

também uma motivação para a participação. E nos outros níveis da iniciação científica já é um traba-

lho mais voltado à pesquisa mesmo, então é esse espaço que é oferecido àquela pessoa que está

iniciando na carreira da pesquisa, alguns vão continuar, outros não, mas é um momento muito impor-

tante de troca, de saberes e de crescimento desses estudantes que têm intenção de continuar com a

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CICILIA PERUZZO

pesquisa. Eu vejo como um espaço realmente democrá-

tico, que agrega o estudante de iniciação científica que

vai se tornando um pesquisador e tem tudo para cres-

cer no desenvolvimento da pesquisa. Isso é um alento

para a pesquisa de comunicação no país. Eu acho que

nós temos grandes desafios para avançar em termos de

pesquisa. Ninguém nasce sabendo pesquisar, então daí

a importância de abrir espaço para a iniciação científica,

porque é uma forma de incentivar a preparação dos fu-

turos pesquisadores.

E a importância da criação dos prêmios, como o Luiz Beltrão, qual é?

Os prêmios que existem na Intercom funcionam já há muitos anos e nasceram ligados a uma propos-

ta de distinção aos melhores trabalhos de pós-graduação no nível de mestrado, doutorado – e de-

pois se incluiu também o nível de especialização. Era uma espécie de concurso que se fazia em nível

nacional e que procurava ter a inscrição dos interessados, a partir daí se fazia todo um processo de

seleção. Aos poucos essa dinâmica dos prêmios foi aumentando, se modificando e hoje nós temos a

configuração dos prêmios, que levam o nome de grandes personalidades. Mas no fundo essa lógica

continua, então você tem essa intenção de distinguir os melhores trabalhos que apareceram nos

eventos. A gente não pode

dizer que os prêmios repre-

sentam a produção nacional,

longe disso, mas eles são

importantes, por quê? São im-

portantes porque valorizam,

eu acho, essa produção, ao

indicar para os autores uma

valorização daquele trabalho.

Eu acho que quem ganha um

prêmio, não necessariamen-

te primeiro lugar, mas quem é

classificado para um prêmio,

eu acho que já considera

uma distinção importante, e

isso pode representar muito

“Eu vejo como um espaço real-

mente democrático, que agrega

o estudante de iniciação científi-

ca que vai se tornando um pes-

quisador e tem tudo para crescer

no desenvolvimento da pesquisa.

Isso é um alento para a pesquisa

de comunicação no país”

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CICILIA PERUZZO

bem o interesse para a continuidade dos estudos da pesquisa. Junto com isso vem a própria con-

tribuição pela difusão dessa pesquisa. Se a pesquisa foi classificada é porque ela tem algum valor.

Se chamamos atenção para esse valor, acaba sendo democratizada então essa informação para o

conjunto dos sócios e para a sociedade, na medida em que isso fica disponível para acesso público.

Na condição de editora da publicação, diga, por favor, quais são neste momento os grandes

desafios para a Revista Intercom?

Acho que um dos desafios é possibilitar a publicação de mais artigos, porque a demanda tem crescido

ano a ano, até devido a uma configuração da área acadêmica no país, que cada vez mais cobra pro-

dução docente e discente. Então a revista acaba tendo uma demanda tão grande que não consegue

atender com muita agilidade. Os autores precisam esperar às vezes mais tempo do que eles gosta-

riam, acho que um desafio agora é justamente fazer com que a revista tenha três edições por ano, o

que vai garantir um espaço um pouco maior para a difusão de artigos científicos e, ao mesmo tempo,

agilizar um pouco a disponibilização desse material para acesso público. Esse acho que é um desa-

fio importante. O outro é avançar nas indexações internacionais, porque a revista hoje já é indexada

pela SciELO, pela Redalyc e pela DOAJ, e estamos em processo de indexação junto as Scopus e jun-

to Web of Science. Estas duas últimas são grandes bases internacionais, têm critérios muito próprios,

muitos apropriados, próprios delas e apropriados para as áreas tradicionais do conhecimento. Então,

nós da comunicação encontramos esse desafio de nos incluir nesses espaços, tentando fazer isso a

partir da qualidade da revista, a partir da qualidade do seu conteúdo, para fazer frente a toda essa ló-

gica internacional da circulação do conhecimento. Não

só pelo idioma, que isso a gente já está conseguindo

romper, graças à colaboração dos autores, que estão

fazendo a tradução dos artigos, e também de outra for-

ma os próprios aspectos técnicos da revista precisam

ser altamente cuidados, porque esses critérios técnicos

são parte dos critérios internacionais para a indexação.

O uso de normas técnicas, a própria indicação de volu-

me, de número e a própria disposição, publicação de re-

sumos, tudo isso tem que obedecer a critérios técnicos

que são de padrão internacional.

Como se dá sua participação no Conselho Curador da Intercom?

É uma figura estatutária, o Conselho Curador, quem participa dele são os ex-presidentes, membros

naturais do Conselho Curador, a menos que alguém não queira, a participação não é obrigatória. As

“Os autores precisam esperar às

vezes mais tempo do que eles

gostariam, acho que um desafio

agora é justamente fazer com

que a revista tenha três edições

por ano, o que vai garantir um es-

paço um pouco maior para a difu-

são de artigos científicos”

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CICILIA PERUZZO

funções são estatutárias, em síntese eu poderia dizer que consiste no acompanhamento da entidade

no sentido de preservar o legado histórico, além de atuar como um órgão consultivo para orientar as

diretorias que vão se seguindo, caso haja necessidade.

Poderia nos falar de sua experiência na Abrapcorp, a Associação Brasileira de Pesquisadores

de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas?

Como eu sou formada em Relações Públicas, assim que se criou a Abrapcorp, eu me filiei, em 2006.

Eu venho de um histórico de participação nas entidades de Relações Públicas, desde a Associação

Brasileira de Relações Públicas, o Conselho Regional dos Profissionais de Relações Públicas. Então,

na Abrapcorp, foi bastante natural, na medida em que se cria uma associação que leva nome de Co-

municação Organizacional e Relações Públicas, acompanhando toda uma dinâmica de transforma-

ção dessa área e que hoje tem uma associação específica que desenvolve todo um trabalho também

de fortalecimento do campo. Ultimamente eu coordeno um grupo de trabalho nessa associação, que

está voltado para a pesquisa na comunicação no terceiro setor, ligado à responsabilidade social.

Como foi sua experiência de pesquisa no pós-doutoramento?

Eu fiz um estágio de pós-doutoramento na Universidade Nacional Autônoma do México, em 2009.

Foi um período fantástico para mim, porque significou primeiro dar uma parada na rotina de sala de

aula e de atividades administrativas da universidade, então foi realmente um momento em que eu

pude retomar de modo particular e intensivo a dedicação à pesquisa. E por outro lado, representou

uma inserção no México por meio do acolhimento que eu tive pela equipe do LABComplEX, sob a

coordenação do professor Jorge González. Acompanhando uma pesquisa dessa equipe no deserto

mexicano, para nós seria o sertão brasileiro, pude então realmente acompanhar pesquisas empíri-

cas, ao mesmo tempo desenvolvendo toda uma parte teórica que fazia parte dessa pesquisa deles e,

simultaneamente, realizando a minha pesquisa, porque eu fiz um projeto vinculando bastante o tema

da comunicação nos pontos de cultura aqui no Brasil. Eu estava desenvolvendo uma pesquisa que

previa uma interconexão entre o estudo que eu fiz no Brasil e no México, então, simultaneamente, eu

pude realizar a pesquisa no México sem perder de vista a perspectiva da pesquisa que eu estava re-

lacionando aqui. Foi realmente uma experiência fantástica, porque possibilitou uma inserção direta,

a gente viajava toda semana para outro estado do México, saíamos da capital, era um longo trajeto,

me inseria realmente numa pesquisa empírica, em que a gente estava tentando entender todos os

processos de desenvolvimento dos sistemas de informação e as culturas de conhecimento e de co-

municação nessa região então de San Luis Potosí, no norte do México.

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CICILIA PERUZZO

Qual é a sua avaliação desse trabalho de pre-

servação da memória da Intercom?

Eu queria dizer da pertinência em fazer o Projeto

Memória, recuperando e disponibilizando a me-

mória da Intercom de forma mais sistemática, de

forma mais atraente. Agora, ao mesmo tempo, eu

queria fazer uma provocação, eu acho que essa

memória não é só contada pelos ex-presidentes,

então que se valorizem também as diretorias, ou-

vindo-se outras pessoas. Ninguém faz nada sozi-

nho, então recuperar um pouco a voz também das

diretorias no seu conjunto, que seja por gestão, para não ficar uma coisa parcial, mas que as pessoas

de uma mesma gestão possam também se manifestar sobre aquele período.

“Foi um período fantástico para mim,

porque significou primeiro dar uma

parada na rotina de sala de aula e

de atividades administrativas da uni-

versidade, então foi realmente um

momento em que eu pude retomar

de modo particular e intensivo a de-

dicação à pesquisa”

Fotos: Cícero Rodrigues

Fotos págs 3 e 5: Acerco Cicilia Peruzzo