15
Bol Of Sanit Pamm 96(Z). 1984 EPIDEMIOLOGIA DAS DOENCAS RESPIRATÓRIAS OBSTRUTIVAS EM RELACA COM 0 HÁBITO DE FUMAR’ J. A. Chaieb,2 D. Vitola,2 M. S. Silva,2 N. Clausell,2 F. S. Neff2 e H. Levin2 Realizou-se urna amostragem entre a popukz@o de Porto Alegre, Brasil, com a finalidade de se conhecer a relaqão do hábito tabágico com o jluxo respiratório de fumantes, ex- fumantes e mio fumantes. Introdu@o Sabe-se que o tabagismo é responsável por grande número de moléstias, cuja inci- dencia vem aumentando paralelamente com a generalizacão deste hábito. No pre- sente século, na Grã-Bretanha, o consu- mo de cigarros sofreu considerável incre- mento, como indicam as cifras menciona- das por Wald, que váo de 2 000 cigarros por pessoa, por ano, em 1922, a 4 000 ci- garros em 1975, no sexo masculino. Quan- to às mulheres, esse consumo cresceu de 0 para 2 500 cigarros por pessoa, por ano, durante o mesmo período (1). Concomitantemente ao incremento do consumo de cigarros, vem-se registrando aumento da mortalidade por doencas res- piratórias, particularmente bronquite crô- nica, enfisema e câncer de pulmáo. Tal crescimento da mortalidade está direta- mente relacionado com o número de ci- garros fumados, conforme demonstram inúmeros estudos recentemente reunidos numa publicacão da Organizacáo Mun- dial da Saúde (2). ’ Publica-se em inglês no BuUetm of the Pan Amenkm Health olganwatim, 1984. ’ Ponticia Universidade Católica, Faculdade de Medicina. Ca- deim de Pneumologia. Faculdade de Medicina, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. A relacáo entre o hábito de fumar ci- garros e o comprometimento da funcão pulmonar foi demonstrada por inúmeros estudos retrospectivos e prospectivos. Outros evidenciaran-r a reversibilidade pelo menos parcial do dano funcional, quando a prática de fumar foi interrompida. Fo- ram também avaliados o papel desem- penhado pela tosse e pela expectoracão crônicas, e os antecedentes de afeccáo pul- monar na infancia, que predisporiam ã perda da funcáo pulmonar. Alguns estu- dos confiiam e outros rejeitam o papel desses fatores na genese da perda de funcáo pulmonar. Vários testes tem sido utilizados para avaliar, com especificidade e precisáo maiores, não só a intensidade do dano como as peculiaridades que possam passar desapercebidas nos testes mais gros- seiros. Assim, já se usou do pico do fluxo ao volume de fechamento ou capacidade de fechamento, passando pelo VEFr (volu- me expiratório forcado no primeiro segun- do) e vários outros. Como resultado dessas investigacões, foram cabalmente confir- madas as premissas a seguir resumidas: 1. a inalacão continuada do tabaco contribui para a deterioracão da funcáo respiratória; 2. o grau de deterioracáo está relaciona- do com o numero de cigarros fumados e a idade do tabagista; 119

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Bol Of Sanit Pamm 96(Z). 1984

EPIDEMIOLOGIA DAS DOENCAS RESPIRATÓRIAS OBSTRUTIVAS EM RELACA COM 0 HÁBITO DE FUMAR’

J. A. Chaieb,2 D. Vitola,2 M. S. Silva,2 N. Clausell,2 F. S. Neff2 e H. Levin2

Realizou-se urna amostragem entre a popukz@o de Porto Alegre, Brasil, com a finalidade de se conhecer a relaqão do hábito tabágico com o jluxo respiratório de fumantes, ex- fumantes e mio fumantes.

Introdu@o

Sabe-se que o tabagismo é responsável por grande número de moléstias, cuja inci- dencia vem aumentando paralelamente com a generalizacão deste hábito. No pre- sente século, na Grã-Bretanha, o consu- mo de cigarros sofreu considerável incre- mento, como indicam as cifras menciona- das por Wald, que váo de 2 000 cigarros por pessoa, por ano, em 1922, a 4 000 ci- garros em 1975, no sexo masculino. Quan- to às mulheres, esse consumo cresceu de 0 para 2 500 cigarros por pessoa, por ano, durante o mesmo período (1).

Concomitantemente ao incremento do consumo de cigarros, vem-se registrando aumento da mortalidade por doencas res- piratórias, particularmente bronquite crô- nica, enfisema e câncer de pulmáo. Tal crescimento da mortalidade está direta- mente relacionado com o número de ci- garros fumados, conforme demonstram inúmeros estudos recentemente reunidos numa publicacão da Organizacáo Mun- dial da Saúde (2).

’ Publica-se em inglês no BuUetm of the Pan Amenkm Health olganwatim, 1984.

’ Ponticia Universidade Católica, Faculdade de Medicina. Ca- deim de Pneumologia. Faculdade de Medicina, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

A relacáo entre o hábito de fumar ci- garros e o comprometimento da funcão pulmonar foi demonstrada por inúmeros estudos retrospectivos e prospectivos. Outros evidenciaran-r a reversibilidade pelo menos parcial do dano funcional, quando a prática de fumar foi interrompida. Fo- ram também avaliados o papel desem- penhado pela tosse e pela expectoracão crônicas, e os antecedentes de afeccáo pul- monar na infancia, que predisporiam ã perda da funcáo pulmonar. Alguns estu- dos confiiam e outros rejeitam o papel desses fatores na genese da perda de funcáo pulmonar. Vários testes tem sido utilizados para avaliar, com especificidade e precisáo maiores, não só a intensidade do dano como as peculiaridades que possam passar desapercebidas nos testes mais gros- seiros. Assim, já se usou do pico do fluxo ao volume de fechamento ou capacidade de fechamento, passando pelo VEFr (volu- me expiratório forcado no primeiro segun- do) e vários outros. Como resultado dessas investigacões, foram cabalmente confir- madas as premissas a seguir resumidas:

1. a inalacão continuada do tabaco contribui para a deterioracão da funcáo respiratória;

2. o grau de deterioracáo está relaciona- do com o numero de cigarros fumados e a idade do tabagista;

119

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120 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Febrero 1984

3. a exposicão ao fumo determina hipe- secrecão e tosse que, embora reversíveis após o abandono do hábito, e não direta- mente relacionadas com a perda da funcão, predispóem a árvore brônquica a agressóes , mor-mente de ordem infecciosa;

4. o abandono do hábito leva necessa- riamente à reversáo pelo menos parcial do dano funcional.

0 objetivo deste estudo náo foi apenas buscar alguma contribuicáo original ao te- ma. A escassez de dados epidemiológicos sobre as doencas respiratório-obstrutivas no Brasil, o desconhecimento do compor- tamento da populacáo brasileira diante do tabagismo e das campanhas antitabágicas, bem como as dificuldades de planejamen- to e execucáo de um estudo dessa nature- za, foram o desafio que nos animou na busca de resposta às seguintes questóes: 1) qual o número de fumantes e ex-fumantes na populacáo adulta?; 2) qual o número de sintomáticos (tossidores e expectorado- res) na populacáo com mais de 35 anos?; 3) como se comparam os fluxos respiratórios entre fumantes e náo fumantes com mais de 35 anos?; 4) como se correlacionan-r es- sas informa@& com 0 sexo e grupo etário? e 5) que relacáo existe entre o fator tabági- co e o pico do fluxo?

Material e métodos

0 critério para a escolha da área assen- tou-se nos seguintes pontos: 1) área resi- dencial náo-poluída da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil; 2) amostra da populacáo fumante e ex- fumante da cidade representativa dos vá- rios estratos da sua composicáo, e 3) náo inclusáo de avenidas comerciais. Para o es- tudo, escolheu-se a populacáo residente numa área pré-estabelecida, com mais de 35 anos, na qual seria mais provável en- contrar os possíveis efeitos do tabagismo

. . cronico.

Na área abrangida, visitaram-se todas as residencias de 60 ruas escolhidas ao aca- so e colheram-se informacóes de 418 pesso- as, entre fumantes e ex-fumantes, de mais de 35 anos de idade, presentes no momen- to da visita. Como grupo de controle, fo- ram entrevistados 122 indivíduos de ambos os sexos com mais de 35 anos, náo fuman- tes, que habitavam na mesma área (tabe- las 1 e 2).

0 trabalho de campo foi realizado por urna equipe de doutorandos treinada espe- cificamente para essa tarefa, munida de medidores de pico de fluxo Mini-Wright, fítas métricas e questionário. 0 questioná- rio constituiu uma versáo do modelo pro- posto pelo British Medical Research Coun- cil em 1960, simplificada tendo em vista as peculiaridades e hábitos da populacho bra- sileira. As residencias eram visitadas nos dias úteis, após as 17 horas, e nos fins de se- mana, durante o horário matutino, a fim de contar com maior número de pessoas no domicilio.

As entrevistas e os procedimentos eram realizados por duplas de entrevistadores, que-depois de se apresentarem e obter a anuencia do entrevistado para participar do estudo-preenchiam o questionário e, após demonstracão e instrucão do partici- pante registravam sua estatura e a melhor das tres determinacóes do pico do fluxo, medido em litros/minuto (3). 0 fluxo pre- visto era calculado segundo a altura, idade e sexo, pela tabela de Gregg e Nunn (4). A porcentagem do pico do fluxo sobre o va- lor previsto, calculada em cada caso, cons- titui um índice obtido pela seguinte fór-

TABELA 1-Distribui@to da amostra de fuman- tes e ex-fumantes pelo sexo, Porto Alegre.

Fumantes Ex-fumantes Total

S-.33 No % No % No %

Masculino 213 72,4 81 27,6 294 100,o

Feminino 103 83,I 21 16,9 124 100,O

Total 316 76.0 102 24,0 418 100,O

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Chale b et al. HÁBITO TABÁCICO 121

TABELA 2-Rela@o entre as fraqões de fumantes e ex.fumantes por area e sexo, Porto Alegre.

Proporcáo de Fumantes Ex-fumantes ex-fumances

Sexo Sexo Sexo Area Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total Masculino Feminino

1 87 50 137 13 4 17 1:6,7 1:12,5 2 82 30 112 38 9 47 1:2,2 1: 3,3

3 44 23 67 30 8 38 1:1,5 1: 2,9

Total 213 103 316 81 21 102 1:2,6 1: 4,9

mula: Pluxo obtido/Pluxo previsto X 100. Escolheu-se o período de fevereiro a abril, parte do ano em que o clima é mais estável na regido sul do Brasil, para a execucão do trabalho de campo. Obtidas as informacóes genéricas referentes aos integrantes da família, aplicou-se apenas aos fumantes, ex-fumantes ou náo fumantes controles maiores de 35 anos o seguinte questionário:

1. Teve ou tem alguma doenca puhno- nar?

2. Teve ou tem asma brônquica? 3. Em que idade comecou a fumar? 4. Em que idade deixou de fumar? 5. @tantos cigarros fuma ou fumava

por dia? 6. Tem tosse freqüente há mais de dois

anos? 7. Produz catarro com freqüência há

mais de dois anos? 8. Qual é a sua renda pessoal?

Para os nao fumantes, omitiram-se as perguntas 3,4 e 5. Como é raro entre nós 0 uso de cachimbo ou charutos, omitimos perguntas referentes a outras formas de fu- mar. A inclusão das preguntas 1 e 2 teve por finalidade estudar o comportamento do fluxo respiratório nessas amostras, uma vez que se poderiam esperar variacóes de fluo em decorrência do comprometimen- to anatômico ou funcional dos pulmóes. Isto certamente acrescentaria nova va- riável a ser considerada entre os fatores que comprometern o fluxo, sobretudo em

áreas onde a prevalência dessas condicóes seja considerável.

As informacões obtidas dos questioná- rios codificaram-se, programaram-se e posteriormente processaram-se por com- putador. Para comparar as idades e esta- turas médias em ambos os sexos segundo o hábito tabágico utilizou-se o teste t de Stu- dent , encontrando-se os dados na tabela 3.

Na tabela 4 utilizou-se o teste do (X2) para estudar as relacões existentes entre os dois sexos, quanto aos diferentes hábi- tos tabágicos, entre os indivíduos com ou sem doenca pulmonar. 0 mesmo procedi- mento foi utilizado na tabela 5 entre os indivíduos com ou sem asma.

Estudaram-se as relacóes de significân- cia entre as médias das porcentagens do pico do fluxo previsto e dos fatores tabági- cos, em ambos os sexos, pelo teste t de Stu- dent, segundo as tabelas 6 e 7. A presenta de relacáo significativa entre as porcenta- gens de pico do fluxo previsto segundo o hábito tabágico, pela presenta ou ausencia de tosse, foi analisada pelo teste do X* re- ferido na tabela 1.

Resultados

0 estudo teve início em fevereiro de 1980 e foi concluido em abril do mesmo ano. A amostra estudada distribuía-se por segmentos de nove bairros, encontrando-se nos dois bairros periféricos (área 1) o estra- to da populacáo de mais baixo nível sócio-

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122 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Febrero 1984

TABELA 34dade e estatura média segundo o habito tabágico e o sexo.

Sexo masculino Sexo feminino

Casos Idade (anos) Estatura (cm) Casos Idade (anos) Estatura (cm) Total

Fumantes 213 49,2=+ 10,9a 169,Sd* 6.53 103 46,70a+ 12,10* 159Jd* 5,87 (NS) 316

EX- fumantes 81 55,7b* 11,3* 169,ge* 7,08 21 55.50b+ 12,60* 159.5’1 5.5 (NS) 102

Não-

fumantes controles 56 51,2=+ 13,3* 171,2f* 6,l 66 50,6 =i ll,5 * 161,0’+ 5,2 (NS) 122

Total 350 190 540

* Média * desvio padfio. (a-b): (pCO.001) (b-c): (p<O,O5) (a-c): NS (diferenca náo significativa)

(a-b): (p<O.Ol) (b-c): (NS) (a-c): (p<O,O5)

(d-e): NS (e-t-): NS (d-f): NS

econômico, cuja renda média era de 2,4 vezes o salário mínimo da época. Na área intermediária (área 2) encontrou-se o estrato da populacho de classe alta, com renda média que atingia 8,l vezes o salário mínimo. Na área do centro metropolitano (área 3) encontrou-se o estrato da classe média, cuja renda média era de 5 vezes o salário mínimo.

A partir dos dados genéricos relaciona- dos ao hábito de fumar, obtivemos as in- formacões referentes à idade de início do tabagismo na amostra estudada, incidindo a maior porcentagem entre as idades de 10 e 15 anos. Dentre os tabagistas, 50% se ini- ciaram no uso do fumo antes dos 16 anos, e apenas 17 ‘% o fizeram após os 20 anos de idade.

Com relacão à idade em que os ex- fumantes da amostra deixaram de fumar, ressalte-se que apenas 6% o fueram antes dos 35 anos: dos 35 aos 55 anos, as taxas de abandono são marcadamente uniformes, atingindo sua freqüência a cifra de 14,5’% por cada período etário de cinco anos. Após os 55 anos de idade, a cifra de aban- dono torna a cair para 8,80J0 para os perío- dos qüinqüenais subseqüentes. Os que abandonaram o fumo haviam fumado du- rante 30 anos em média.

Registrou-se o número médio de ci- garros fumados pela amostra considerada:

36% fumavam, em média, 20 cigarros por dia e SS%, de 20 a 30 cigarros por dia. A média global de cigarros fumados foi de 21 por dia.

A distribuicáo da amostra de fumantes e ex-fumantes de acorde com o sexo está representada na tabela 1. A proporcáo de ex-fumantes é maior no sexo masculino, quando comparado com o feminino, na razáo de 1,6:1,0.

Na tabela 2, indicam-se as fracóes da amostra de fumantes e ex-fumantes pelas áreas de residencia. A relacão entre o nú- mero de fumantes e ex-fumantes, quando comparadas nas tres áreas em que o estudo realizou-se, sugere certa diferenca de com- portamento dessas populacóes com relacáo ao abandono do hábito tabágico, sendo menor a proporcáo de ex-fumantes no es- trato sócio-econômico mais baixo. Esse fa- to pode, à prirneira vista, refletir a maior suscetibilidade às campanhas educativas das camadas sócio-econômicas mais eleva- das.

Urna das determinacóes obtidas foi a do pico do fluxo dos 540 indivíduos entrevis- tados. Como as medidas de fluxo variam com o sexo, a altura e a idade, os resulta- dos deste estudo seráo, expressos, sempre que possível, em porcentagem do fluxo previsto.

As características da amostra estudada

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Chaieb et al.

123

&%BITO TABAGICO

l

1

i t c

r- l

F 1 e

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124 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Febrero 1984

TABELA 6-Relar$o entre a porcentagem do pi. nificativamente mais alta entre os ex-fu- co do fluxo previsto e o fator tabágico no sexo masculino, Porto Alegre.

mantes, quando comparados com os fu- mantes (p<O,OOl) e também entre ex-fu-

Fator Médias da % do pico Desvio mantes ‘é controles nZi0 fumantes (p tabágico N” do fluxo previsto padrão <0,05). No sexo feminino, essa diferenca

0= 56 93.52 ll,51

1-5oob 93 81.39 15,31

500-I OOOf 141 86,31 16.81

Mais de

1 OO@ 60 83,57 20,31

Total 350 87,28 16,54

(a-b): (p<O,Ol) (b-c): NS (c-d): NS

com relacáo ao sexo, à idade e 2 estatura, quando comparada a populacáo controle não fumante com a de fumantes e ex- fumantes, podem-se observar na tabela 3. Comparando-se a subpopulacão masculi- na com a feminina, encontraremos entre elas urna diferenca com relacáo à altura média, que é urna característica ligada ao sexo. Náo houve, porém, diferenca nas idades médias dos dois sexos entre as subpopulacóes de fumantes, ex-fúmantes e controles. Tanto no sexo masculino como no feminino, náo houve diferenca na esta- tura média dos indivíduos de acorde com o hábito tabágico. Já náo se pode dizer o mesmo com relacáo 2 idade média dos indivíduos que, no sexo masculino, foi sig-

TABELA ir-Relapáo entre a porcentagem do pi- co do fluxo previsto e o fator tabágico no sexo fe. minino, Porto Alegre.

Fator Médias da ?$ do pico Desvio tabágico N” do fluxo previsto padrão

0a 66 91.09 12,13

l-5oob 80 83,84 16.01

500-I OOOc 36 84,75 15.10

Mais de

I oood 8 65,12 25,18

Total 190 85.74 15,91

(a-b): (p<O,Ol) (b-c): NS (c-d): (pCO.05)

foi si&ificativamente mais alta entre ex- fumantes comparadas com fumantes (p <O,Ol), bem como entre náo fumantes controles e fumantes (p<O,O5).

Em virtude dessas diferencas num dos fatores que regem as variacóes do fluxo respiratório, preferimos expressar os resul- tados da medicáo como porcentagem do fluxo obtido sobre o previsto. 0 fluxo pre- visto deveria obter-se pela equacáo de regressão linear de urna populacáo repre- sentativa, considerada normal sob o aspec- to ventilatório. Como náo selecionamos nossa populacáo controle, preferimos utili- zar os fluxos previstos de Gregg (4).

Urna preocupacáo que tivemos foi a de obter informacões sobre a presenta de doencas ou condicóes que, independente- mente do hábito tabágico pudessem alte- rar o fluxo respiratório de populacões alvos de estudos epidemiológicos. 0 questioná- rio simples que utilizamos, mostra que os indivíduos que responderam afirmativa- mente que tinham ou tiveram doenca pul- monar (tuberculose, pneumonia ou derra- me pleural) ou que tinham ou tiveram as- ma, apresentavam fluxos signifícativamen- te mais baixos (p<O,Ol) do que os indiví- duos que negaram terem tais condicóes.

As comparacões dos picos do fluxo, em porcentagem do previsto, entre os indiví- duos normais, com asma e/com doenca pulmonar presente o pasada mostraram os seguintes graus de significåncia.

l Com doenca pulmonar-nonnais: p 0,Ol.

l Com asma-normais: p<O,Ol l Com doenca puhnonar-asma: náo sig-

nificativo .

0 estudo comparativo do pico do fluxo, em porcentagem do previsto, segundo o se- xo e o hábito tabágico mostrou os seguintes graus de significância:

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Chaieb et al. HABITO TABÁGICO 125

Masculino

l Fumantes-náo fumantes: p<O,OOl. l Fumantes-ex-fumantes: p<O,O5.

Feminino

. Fumantes-náo fumantes: p<O,OOl.

A distribuicão dos indivíduos que afir- maran-r ter tido doenca pulmonar e/ou as- ma pelas subpopulacões de fumantes, ex- fumantes e controles náo fumantes não fa- voreceu estatisticamente a nenhuma dessas categorias, avaliadas pelo teste doX2 (X2 = 2 706, portanto p70,l) conforme indícam as tabelas 4 e 5. Esse fato demonstra que a distribuicão dos indivíduos com asma e/ou com doenca pulmonar presente ou passa- da, entre as categorias de fumantes, ex-fu- mantes e controles, ocorreu de um modo fortuito, náo afetando, por-tanto, as possí- veis variacões de fluxo que possam ocorrer em funcâo do hábito tabágico. Verificou- se também uma maior prevaléncia de his- tória de agressáo pulmonar entre as mulheres nào fumantes (p<O,Ol).

A seguir, registramos a relacão existente entre os valores obtidos do pico do fluxo e o hábito de fumar, no sexo masculino e fe- minino, com os respectivos desvios padrões (tabelas 8 e 9). Foi significativa a diferenca de fluxo entre fumantes e não fumantes (p <O,OOl) em ambos os sexos. No sexo mas- culino, também foi significativamente maior a diferenca entre ex-firmantes e fu- mantes (p<O,O5). Essa diferenca só não foi significativa no sexo feminino, provavel- mente devido ao pequeno número de

TABELA I-Relaqão entre os valores obtidos do pico do fluxo e o hábito de fumar no sexo mas- culino, Porto Alegre.

Hábito de fumar

Fumantes Ex-fumantes

Controles

Total

NO

213 81

56

350

Médias Desvio (1 /min) padrào

505,56 105,17

525.74 113.34

548.30 110.76

517.07 108.86

TABELA 9-Rela#io entre os valores obtidos do pico do fluxo e o hábito de fumar no sexo femi- nino, Porto Alegre.

Hábito de fumar

Fumantes Ex-fumantes

Controles

Total

NO

103 21

66

190

Médias Desvio (l/min) padrão

378,59 SO,87

411,43 95,62

413,48 60.75

394,34 77,86

mulheres ex-fumantes. Náo houve diferenca entre ex-fumantes e náo fuman- tes em ambos os sexos, o que provavelmen- te significa que os ex-fumantes recuperam pelo menos parcialmente o fluxo que ha- viam perdido quando fumantes.

Procurou-se avaliar o valor do índice ta- bágico ou “fator tabágico” de Deeley e Cohen (5) e relacioná-lo com o pico do flu- x0. 0 fator tabágico é calculado multiplicando-se o número médio de ci- garros fumados por dia pelo número de anos de tabagismo. As tabelas 8 e 9 mostram as relacóes encontradas nos sexos masculino e feminino entre os diversos fa- tores tabágicos e as porcentagens do pico do fluxo obtidos sobre os previstos. No sexo feminino, foi significativa a diferenca entre o fator tabágico zero (náo fumantes), quando comparado com o fator tabágico l-500 (p<O,Ol); foi também significativa a diferenca entre o fator tabágico 500-l 000 quando comparado com o superior a 1 000 (p<O,O5). No sexo masculino, ape- nas foi significativa a diferenca entre o fa- tor tabágico zero e os demais (l-500) (p <O , 0 1). Esses dados sugerem a possibilida- de de existir entre as mulheres una relacào nociva entre o fator tabágico e a perda de fluxo. Entre os homens, essa relacão nao se observou no presente estudo. A comparacão dos picos do fhrxo, em por- centagem do previsto, nos grupos etários de 35-44, 45-54, 55-64 e mais de 65 anos, para ambos os sexos o segundo o hábito ta- bágico, mostrou os seguintes graus de sig- nificância:

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126 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Febrero 1984

Diferênca no sexo feminino De 35 a 44 anos,

l Fumantes-Ex-fumantes: p-CO,05

De 45 a 54 anos

l Fumantes-náo fumantes: p<O,O5.

De 55 a 64 anos

l Fumantes-não fumantes: p<O ,001.

Mais de 65 anos

l Fumantes-náo fumantes: náo signifi- cativo

No sexo masculino

De 35 a 44 anos

l Fumantes-náo fumantes e ex-fumantes-não fumantes: p<O,O5

De 45 a 54 anos

l Fumantes-ex fumantes: p<O,Ol. l Fumantes-não fumantes: p<O,O5.

De 55 a 64 anos

l Fumantes-ex-fumantes e fumantes-náo fumantes: p<O,O5.

Mais de 65 anos

l Fumantes-náo fumantes: p<O,O5.

No sexo masculino, os fumantes tiveram fluxos significativamente menores, quando comparados com os náo fumantes, em to- dos os grupos etários. No grupo etário de 35-44 anos, os ex-fumantes também apre- sentaram fluxos significativamente infe- riores aos dos não fumantes. Já nos grupos etários de 45-54 e 55-64 anos, os ex- fumantes apresentaram fluxos semelhantes aos dos náo fumantes e significativamente superiores aos dos fumantes. No sexo femi- nino, também as fumantes tiveram meno- res fluxos que as não fumantes, mas essa diferenca só foi significativa nos grupos etários de 45-54 e 55-64 anos. Os ex- fumantes também se aproximaram dos não fumantes controles nos níveis de fluxo, porém, a diferenca entre ex-fumante e fu- mante só atingiu níveis significativos no grupo etário de 35-44 anos. A fim de obter

urna tabela comparável com a de Gregg e Nunn, calculamos os valores absolutos do pico do fluxo obtido a partir da porcenta- gem do previsto. Assim, sabendo-se que a altura média da nossa populacáo masculi- na foi de 1,70 m e a da feminina foi de 1,60 m, buscamos na tabela mencionada os valores de pico do fluxo correspondentes a cada nível etário da nossa populacáo e pudemos tratar os valores que seriam pre- vistos para ambos os sexos. A seguir, mul- tiplicamos a porcentagem em relacão ao fluxo previsto pelo valor previsto obtido da tabela de Gregg e Nunn em cada catego- ria, segundo o hábito tabágico e o grupo etário. Foi possível, assim, comparar os va- lores de pico do fluxo da nossa populacáo controle não fumante com o seu pico do fhrxo previsto, bem como comparar as cur- vas de fluxo da populacáo ex-fumante e fumante com as da populacáo de controle náo fumante. A observacáo dessas linhas mostra claramente a diferenca de nível existente entre os fluxos previstos e os flu- xos obtidos pela populacáo de controle. Ambas as linhas apresentam inclinacão se- melhante, mas, em todos os grupos etários e em ambos os sexos, o pico do fluxo da populacáo de controle foi inferior ao pre- visto. Outro fato que a análise dessas linhas nos revela é que a inclinacáo das linhas de fluxo da populacáo ex-fumante e da fumante sofre um desnivelamento sig- nificativo entre os grupos etários de 55-64 e mais de 65 anos (p<O,O5 e p<O,Ol, respec- tivamente) na populacáo masculina. Na populacão feminina, náo se pode ter a mesma segur-anca nas afirmacóes, sobretu- do devido ao pequeno número de indivíduos examinados. Mesmo assim, existe um desnivelamento significativo (p <0,05) na curva de fluxo dos fumantes entre 45-54 e 55-64 anos.

Finalmente, procurou-se estudar a relacão existente entre a presenta dos sin- tomas tosse e expectoracáo por mais de dois anos, e as médias da porcentagem prevista de pico do fluxo, conforme se re-

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Chaieb et al. HÁBITO TABÁGICO 127

gistrou na tabela 10. Em nosso estudo, náo foi possível demonstrar signifícância entre a presenta de tosse e expectoracão por mais de dois anos e a perda de funcão pul- monar.

TABELA lo-Pico do fluxo como porcentagem do pico do fluxo previsto, segundo o hábito tabá. gico e os sintomas de tosse e expectorapão, Porto Alegre.

Hábito tabágico

NãO

Tosse e Fumantesa Ex-fumantesb fumantesc

expectora+ No % No % No %

Presentes 125a 82,l 14b 84,4 lC 91,0

Ausentes 191 84,2 88 90.9 121 92,2

a X’: (a-b): NS

b (a-c): NS

= (b-c): NS

Discussão

A elaboracão deste estudo, nos moldes em que foi planejado, obedeceu 2 idéia central de que, sendo o estado do Rio Grande do Sul, e particularmente a cidade de Porto Alegre, alvo de urna intensa cam- panha antitabágica, seria desejável conhe- cer o comportamento dessa populacão nos anos subseqüentes à implantacão daquela campanha. 0 estudo poderá ser repetido, não só com a mesma técnica, como tam- bém nas mesmas 60 ruas e com as mesmas 1 000 famílias, nas mesmas residencias. Tendo o estudo abrangido estratos distin- tos da populacão, é importante também que se saiba quáo sensível é cada um deles aos esforcos da campanha antitabágica.

A tabela 2 indica os índices de abando- no entre os sexos que foram de 27,6% no sexo masculino e 16,9% no feminino, nu- ma relacão de quase 2: 1, semelhante à en- contrada por Fry (6). Esta constatacão abre duas possibilidades de explica@0 pa- ra 0 fenômeno: a populacão fumante mas-

culina seria mais suscetível a campanha antitabágica que a populacáo feminina. Alguns admitem serem as mulheres menos capazes de abandonar o tabagismo que os homens e que sofririam menos seus efeitos deletérios (7).

Os índices de abandono relativos às dife- rentes áreas em que o estudo realizou-se podem ser acompanhados na tabela 3. Tais índices crescem para ambos os sexos à medida que nos aproximamos do centro urbano, o que pode significar que o fato de residir o fumante no centro metropoli- tano de urna cidade onde se desenvolve in- tensa campanha antitabágica tem mais importancia do que o seu nível sócio- econômico (como já vimos, o maior rendi- mento médio está na área intermediária). Os menores índices de abandono ocorrem na área periférica, onde coincide o maior afastamento do centro metropolitano com o mais baixo nível socio-econômico.

Nas tabelas 4 e 5, relacionamos a histó- ria de doenca pulmonar e asma segundo o hábito tabágico e o sexo. Dez por cento da populacão, isto é 54 indivíduos, referiram ter sofrido ou sofrerem de tuberculose, derrame pleural ou pneumonia, e 4,3% (23 indivíduos) referiram asma. Conside- ramos aceitável a cifra de 10% correspon- dente à parcela da populacão que tenha sofrido alguma forma de enfermidade pul- monar, tendo em vista que se trata da pre- valencia acumulada por urna populacão de indivíduos cuja idade variou de 35 a mais de 80 anos. Sabemos que a prevalên- cia de imagens radiológicas anormais não deve alcancar a casa dos 2’% (8). É possível que muitas agressóes ao aparelho respira- tório não deixem seqüelas anatômicas vi- sualizadas aos raios X, mas podem deixar seqüelas funcionais. No presente estudo es- ta afirmacão pode-se sugerir pelo fato de ter a populacáo estudada cifras de pico do flux0 significativamente inferiores (p <O,Ol) 2s da populacáo que negou ter sofrido tais agressóes. Já mencionamos que nao houve preferencia de distribuicáo se-

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128 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Febrero 1984

gundo o hábito tabágico, nessa amostra. Quando estudamos essa distribuicão se- gundo o sexo, é entre mulheres náo fu- mantes que vamos encontrar urna preva- lência significativa (p<O,Ol) de história de agressóes pulmonares. Não ternos urna interpreta@0 adequada do fenômeno, e apenas constatamos o fato de que as mulheres que sofreram alguma agressáo pulmonar não se iniciam no hábito tabági- co táo freqüentemente.

A prevalência de asma na nossa amostra foi de 4,3%, cifra que é compatível com as referidas na literatura mundial, variando de 1 a 10% (9). Não houve, conforme já declaramos, preferencia na distribuicáo dos que referir-am asma, segundo o hábito tabágico. @ando comparamos, porém, a distribuicão desta amostra segundo o sexo, foi significativa (p<O,Ol) a maior preva- lência da asma entre o sexo feminino. A ocorrencia aumentada da asma na popu- lacão feminina adulta encontra respaldo em vários ensaios epidemiológicos publica- dos (9). As informacões que obtivemos

com as perguntas formuladas sobre asma e doenca pulmonar pareceram-nos náo só coerentes, como úteis. Outros autores tam- bém confirmam este julgamento (10).

Em nosso estudo como em outros (II- 15) o efeito do tabagismo sobre o fluxo ex- piratório foi avaliado pelo pico do fluxo. No nosso como nos demais, foi possível avaliar a reducáo do pico do fluxo na populacáo fumante. Pode-se também de- monstrar que os ex-fumantes náo diferem dos náo fumantes. Este fato é da maior im- portancia, pois aumenta a conviccão de que, pelo menos em parte, o dano fun- cional pode ser reversível. Nosso estudo confirma achados anteriores que igual- mente dáo suporte a essa idéia (ll, 15, 2).

0 pico do fluxo obtido nos diferentes grupos etários (figuras 1 e 2) põe em evi- dencia a ocorrência de um decréscimo do fluxo com a idade, que se pode assinalar tanto nas linhas dos picos do fluxo previs- tos, como nas dos controles, em ambos os sexos. Alguns estudos demonstram que a reducáo dos fluxos e dos volumes com a

FIGURA 1-Estudo comparativo do pico do fluxo previsto com o obtido segundo o hábito tabágico e o grupo etário no se- xo masculino. Para determinar as relacóes de significância utilizowse o teste t de Student.

1 /mm

630 -

610 .

590 -

-* - Prwstos M Controles C-- - - --o Ex-fumares o- -- - -0 Fumantes

570 -

550 -

470 -

450 - \ “\ 430- 3544(bo)P<0,05 55-64 (o- o) P < 0.05 \ \

35-44 ( *- 0 ) P c 0.05 55.64(0-o)P<O.Ol \ 410 - 45-54 (A-0) P < 0,05

\ 55-64 (o - o) P < 0.05

\

370 - 45.54 (0 - 0 ) P < 0.01 +65(~-o)P<O.5 \

3go- 55.64(n-o)P <0,05 O\ \

35-44 45-54 55-64 + 65 Fawa etárta (em anos)

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Chaieb et al. HÁBITO TABÁGICO 129

FIGURA Z-Estudo comparativo do pico do fluxo previsto com o obtido segundo o hábito tabágico e o grupo etário no se- xo feminino. Para determinar as relaqões de significância utilizouse o teste t de Student.

-.- Prewstos

l/mln a-h Controles

500 q - - - - q Ex-fumantes CI---- Fumantes

480

460.

440 -

420

400

380

360 -

340.

320 -

300 -

35-44 45-54 45-54

l -------

q . -*\., =-. n

‘\ -\ ( n-o )P <0.05 ( P-O ) P co.05 \ O- O\ 55.64(0-0)P <0,05

----o-1 T

280 55.64 ( A-0 ) P <O,OOl

I 35-44 45-54 55-64 + 65

Fatxa etána (em anos)

idade é fato normal; alguns estimam a reducão prevista em funcáo do envelheci- mento (16, 17), e outros avaliam a perda na populacáo tabagista (17-l 9), e atri- buem ao tabagismo o excesso verificado na queda do VEF,, que encontraram ao com- parar as curvas de fluxo ao longo das faixas de idade entre firmantes e náo fu- mantes (17, II). Outros, utilizando técni- cas mais sensíveis, foram capazes de de- monstrar urna perda de fluxo excessiva em fumantes mesmo em curto período de tem- PO (20).

Mesmo náo tendo nosso estudo um cará- ter longitudinal, a simples inspecão das curvas de fluxo dos fumantes e náo fuman- tes controles sugere a consubstancia que a perda de fluxo entre os fumantes, ao longo dos anos é maior que a observada entre os não fumantes. Na nossa amostra o excesso de perda de fluxo na populacáo feminina foi significativo (p<O,O5) entre 45 e 64 anos, ao passo que, na populacáo masculi- na, esse desnível foi mais acentuado além dos 55 anos (p<O,Ol). Em estudo longitu- dinal, Bossé et al. (II) verificaram tam-

bém tun desnivelamento mais acentuado na perda de fluxo da populacáo fumante entre as idades de 45 e 54 anos. Outro es- tudo, nao longitudinal, mostrou o mesmo achado após os 50 anos (21). É lícito por- tanto pensar-se que muito provavelmente a partir dos 50 anos pode ocorrer na populacão fumante, e mesmo ex-fumante, uma perda de fluxo muito mais rápida e acentuada do que nas outras faixas de ida- de, o que pode significar aumento do sofri- mento respiratório e invalidez precoce.

No nosso estudo náo houve clara asso- ciacão entre o número de cigarros fuma- dos, expresso pelo índice ou fator tabági- co, e a perda de fluxo. Apenas entre as mulheres, este fenomeno esteve presente. Na literatura, há pesquisas que confirmam esta associacáo (16, 12, 14, 21) e outras que a negam (15, 22).

Houve evidente associacão entre a pre- senca dos sintomas tosse e expectoracáo com o tabagismo, conforme se viu na tabe- la 10. Não foi possível demonstrar qual- quer associacáo entre a presenta de sinto- mas e a perda de funcáo pulmonar. Na li-

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130 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Febrero 1984

teratura, também quanto a esse aspecto, encontramos exemplos de associacáo dos dois fenômenos (23, 12, 22) e exemplos em que essa associacão náo se verificou (24, 25, 26).

A melhor interpretacão dessa discor- dância talvez seja a de que a tosse e a ex- pectoracão crônicas sáo sintomas muito precoces na história natural das doencas obstrutivas, e de que são necessários muitos anos de história destes sintomas pa- ra que surjam alteracóes funcionais detec- táveis por métodos grosseiros de avaliacão do fluxo, como sao o pico do fluxo e mes- mooVEF,.

Algumas pesquisas (17, 18) demonstram que a reducáo anual do VEFi na populacáo fumante é de 56 ml, e calcula- se em 20 a 30 anos de tabagismo o tempo necessário para que ocorra obstrucáo sufi- ciente para provocar dispnéia clinicamen- te significante. Na nossa amostra, vimos que a maioria dos indivíduos iniciaram-se no tabagismo antes de 16 anos de idade, e apenas 17%, após os 20 anos. Vimos tam- bém que os que deixaram o fumo haviam fumado em media, 30 anos, e que a idade média da populacáo ex-fumante foi de 55 + 12 anos para ambos os sexos. Esses dados conduzem-nos a conclusáo preliminar de que o abandono do hábito tabágico em nossa populacáo se deva primordialmente ao surgimento da dispnéia, que coincidiria com o período etário no qual se verifica o maior desnivelamento das curvas de fluxo, isto é, dos 45 aos 65 anos.

Se as campanhas antitabágicas tiveram algum papel sobre o absenteísmo somente estudos subseqüentes poderáo demonstrar . Com vistas à futura avaliacáo do papel das campanhas antitabágicas e sua orientacão em nosso meio postulamos que se utilize como indicador a idade em que os indivíduos deixam de fumar. Em estudos subseqüentes, esperar-se-ia a reducáo des-

sa idade, caso o rendimento das cam- panhas fosse positivo.

Resumo

Numa pesquisa que abrangeu diversos estratos da populacão de Porto Alegre, Brasil, com a finalidade de estudar suas características com relacáo ao hábito tabá- gico e sua repercussáo sobre o fluxo respi- ratório medido pelo medidor de pico de fluxo “Mini Wright”, foram interrogadas e testadas 540 pessoas de ambos os sexos, com mais de 35 anos. Fncontraram-se sig- nificativas diferencas nos fluxos respirató- rios entre fumantes, ex-fumantes e contro- les náo fumantes, apresentando os fuman- tes os menores fluxos, e os ex-fumantes, fluxos intermediários.

A comparacáo dos fluxos médios produ- zidos pelos diversos grupos etários, entre fumantes, ex-fumantes e controles não fu- mantes com os respectivos fluxos previstos indicaria ter ocorrido urna reducáo dos níveis de fluxo com os grupos etários per- feitamente comparável com a observada entre os controles náo fumantes e os res- pectivos fluxos previstos. Foi também ob- servada a ocorrencia de perda de fluxo sig- nificativamente maior entre fumantes do que entre ex-fumantes, além dos 55 anos de idade na amostra masculina ao passo que, entre as mulheres, esse desnível ocorreu entre os 45 e 64 anos.

A idade média em que os indivíduos do grupo estudado deixaram de fumar foi de 55 + 12 anos. Esse dado conduze-nos à conclusão preliminar de que o abandono do hábito tabágico na populacão se deva primordialmente ao surgimento de sinto- mas respiratórios graves. Isso indicaria a conveniencia de se tomar a idade de 55 + 12 anos como indicador na avaliacão dos efeitos das campanhas antitabágicas. n

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Chaieb et al. HÁBITO TABÁGICO 131

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

10.

ll.

12.

13.

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132 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA PANAMERICANA Febrero 1984

Epidemiología de las enfermedades respiratorias obstructivas y el hábito de fumar (Resumen)

En una investigación que abarcó diversos estratos de la población de Porto Alegre, Brasil, y que tuvo la finalidad de estudiar sus características en relación con el hábito de fumar y su repercusión sobre la capacidad res- piratoria medida por el medidor de volumen máximo Mini Wright, se interrogaron y sometieron a pruebas a 540 personas de ambos sexos. Se encontraron diferencias significativas entre fumadores, ex fumadores y testigos no fumadores, pues los fumadores presentaron capacidad menor y los ex fumadores capacidad intermedia.

La comparación de la capacidad media de diversos grupos de edad - fumadores, ex fumadores y testigos no fumadores- con las respectivas capacidades previstas indicaría que ha ocurrido una reducción de la

capacidad en los grupos de edad perfectamente comparable con la observada entre los testigos no fumadores y las respectivas capacidades previstas. También se observó que hubo reducción de capacidad respiratoria significativamente mayor entre fumadores que entre ex fumadores después de los 55 años en la muestra masculina, mientras que en las mujeres ese desnivel ocurrió entre 45 y 64 años.

La edad media en que los individuos del grupo estudiado dejaron de fumar fue de 55 F 12 años. Ese dato lleva a la conclusión preliminar de que el abandono del hábito de fumar se debe sobre todo a la aparición de síntomas respiratorios graves. Eso indicaría la conveniencia de que se tomara la edad de 55 + 12 años como indicador en evaluación de los efectos de las campañas antitabáquicas.

Epidemiology of obstructive respiratory diseases and smoking (Summary)

In research conducted to study the characteristics of different strata of the population in Porto Alegre, Brazil,’ in relation to smoking and its effect on respiratory flow, as indicated by the Mini Wright device used to measure maximum lung volumen, 540 people of both sexes were interviewed and submitted to tests. Significant differences among smokers, ex-smokers and a control group of nonsmokers were found; the smokers presented smaller respiratory flows in comparison to intermediate flows in the ex-smokers.

Average respiratory flow found in different age groups of smokers, ex-smokers and the control group of nonsmokers were compared to

predicted flows and the flow reduction in nonsmokers perfectly matched the predicted flows. Among the male sample group above 55 years of age, significantly greater reduction in respiratory flow was observed in smokers than in ex-smokers and the same was’ true for women between 45 and 64 years of age.

The average age at which the individuals in the group stopped smoking was 55 2 12 years, which leads to the preliminary conclusion that people give up smoking chiefly because of the onset of serious respiratory symptoms and indicates that the age of 55 2 years should be taken as an indicator in assessing the effects of campaigns against smoking.

Epidémiologie des maladies obstructives de I’appareil respiratoire et I’habitude de fumer (Résumé)

Une enquête a été effectuée dans divers répercussions sur la capacité respiratoire secteurs de la population de .Porto Alegre, mesuréé au moyen de l’appareil de volume Brésil, afin d’étudier les caractéristiques maximum Mini Wright. A cette occasion, 540 déterminées par l’habitude de fumer et ses personnes des deux sexes ont été interrogées et

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Chaieb et al. HÁBITO TABÁGICO 133

soumises à des tests. Des différences significatives ont été observées entre fumeurs, ex-fumeurs et témoins non-fumeurs: la capacité respiratoire des fumeurs était inférieure a celle des ex-fumeurs dont la capacité atteignait intermédiaires.

La comparaison entre la capacité respiratoire moyenne de divers groupes d’âge de fumeurs, ex-fumeurs et témoins non- fumeurs d’une part et les niveaux correspondants prévus, d’autre part, met en évidence une réduction de cette capacité dans les groupes d’âge parfaitement comparable 3 celle observée parmi les témoins non-fumeurs et les niveaux respectifs prévus. De même, la

réduction de la capacité respiratoire parmi les fumeurs a dépassé sensiblement celle observée chez les ex-fumeurs, à partir de 55 ans dans le cas des hommes, et entre 45 et 64 ans en ce qui conceme les femmes.

La moyenne de l’âge auquel les sujets mis en observation avaiant cessé de fumer était de 55 2 12 ans. D’où il y a lieu de conclure a titre préliminaire que l’abandon de I’habitude de fumer s’explique surtout par l’apparition des symptômes respiratoires graves. 11 semble donc que la moyenne d’âge de 55 + ans devrait être utilisée comme indicateur dans l’évaluation des effets des campagnes anti-tabac.

CURSO DE POSGRADO SOBRE NUTRICION 1

I I En Curazao, Antillas Holandesas, del 5 al 10 de mayo de 1984 la

Foundation for Higher Medical Education Netherlands Antilles organi- zará un curso de posgrado sobre nutrición destinado a los médicos, tra- bajadores de salud, docentes e investigadores de la región del Caribe y de otras partes del mundo que trabajan en el campo de la nutrición. El mismo contará con la participación de prestigiosos científicos nutri- cionistas del Caribe, Estados Unidos de América, América del Sur y Europa.

Para mayor información diríjase a: Prof. Dr. A. E. C. Saleh o Dr. E. R. Boersma, St. Elisabeth Hospitaal, Breedestraat 193 (0), Willems- tad, Curazao.