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1 Eixo: História e Historiografia da Educação EPISTEMOLOGIA E PESQUISA EM EDUCAÇÃO: O PRESENTISMO SOB A PERSPECTIVA DO FILÓSOFO ADAM SCHAFF E DO HISTORIADOR AMARILIO FERREIRA JR. Joice Estacheski (UFSCar) 1 Aldrei Jesus Galhardo Batista (UFSCar) 2 Jefferson Mercadante (UFSCar) 3 Resumo: Resultado de um trabalho realizado na disciplina de Epistemologia da Educação II, em nível de doutorado, o presente texto tem por objetivo a análise do presentismo, atualmente muito utilizado nas pesquisas em História da Educação, sendo considerado um assunto bastante pertinente, pois estudos apontam que no final dos anos 1980 e década de 1990 a historiografia na área produzida perdeu a visão de totalidade, instaurando-se em seu lugar uma visão fragmentária do mundo. Buscando evidenciar a origem e os fundamentos da teoria em questão, a fim de compreendermos as razões pelas quais o presentismo configura-se como necessidade atual, utilizamos da produção de Schaff (1987), caracterizando-se assim como uma análise bibliográfica da obra, bem como a exposição oral e, posteriormente transcrita, do professor Dr. Amarilio Ferreira Junior (2015), o qual colabora para a compreensão da perspectiva teórica aqui tomada para análise de forma histórico-dialética. Consideramos que os estudos sobre a epistemologia presentista são ainda limitados, mas a perspectiva em si é amplamente utilizada nas pesquisas em ciências sociais, tendo seu terreno mais frutífero nos estudos históricos. Na ânsia de se compreender como ser social e historicamente situado em um determinado contexto, o homem busca diferentes perspectivas para estabelecer a verdade e o conhecimento científico. Palavras-chave: Presentismo; Epistemologia da pesquisa em educação; Pesquisa em História da Educação. 1 Joice Estacheski, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Aldrei Jesus Galhardo Batista, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] 3 Jefferson Mercadante, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]

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Eixo: História e Historiografia da Educação

EPISTEMOLOGIA E PESQUISA EM EDUCAÇÃO: O PRESENTISMO SOB A

PERSPECTIVA DO FILÓSOFO ADAM SCHAFF E DO HISTORIADOR

AMARILIO FERREIRA JR.

Joice Estacheski (UFSCar)1

Aldrei Jesus Galhardo Batista (UFSCar)2

Jefferson Mercadante (UFSCar) 3

Resumo: Resultado de um trabalho realizado na disciplina de Epistemologia da Educação

II, em nível de doutorado, o presente texto tem por objetivo a análise do presentismo,

atualmente muito utilizado nas pesquisas em História da Educação, sendo considerado

um assunto bastante pertinente, pois estudos apontam que no final dos anos 1980 e década

de 1990 a historiografia na área produzida perdeu a visão de totalidade, instaurando-se

em seu lugar uma visão fragmentária do mundo. Buscando evidenciar a origem e os

fundamentos da teoria em questão, a fim de compreendermos as razões pelas quais o

presentismo configura-se como necessidade atual, utilizamos da produção de Schaff

(1987), caracterizando-se assim como uma análise bibliográfica da obra, bem como a

exposição oral e, posteriormente transcrita, do professor Dr. Amarilio Ferreira Junior

(2015), o qual colabora para a compreensão da perspectiva teórica aqui tomada para

análise de forma histórico-dialética. Consideramos que os estudos sobre a epistemologia

presentista são ainda limitados, mas a perspectiva em si é amplamente utilizada nas

pesquisas em ciências sociais, tendo seu terreno mais frutífero nos estudos históricos. Na

ânsia de se compreender como ser social e historicamente situado em um determinado

contexto, o homem busca diferentes perspectivas para estabelecer a verdade e o

conhecimento científico.

Palavras-chave: Presentismo; Epistemologia da pesquisa em educação; Pesquisa em

História da Educação.

1 Joice Estacheski, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] 2Aldrei Jesus Galhardo Batista, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil. E-mail:

[email protected] 3Jefferson Mercadante, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil. E-mail:

[email protected]

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Introdução

O presente ensaio, fruto da conclusão do trabalho final da disciplina de

Epistemologia da Educação II, ofertada pelo Programa de Pós Graduação em Educação,

nível de doutorado, da Universidade Federal de São Carlos, sob a responsabilidade do

professor Dr. Luiz Bezerra Neto, transcorrida durante o segundo semestre letivo de 2015,

tem por objetivo apresentar algumas considerações no que tange os pressupostos do

paradigma epistemológico denominado como presentismo.

A temática tornou-se relevante para o campo de pesquisa em História da

Educação, uma vez que estudos apontam que no final dos anos 1980 e década de 1990 a

historiografia na área produzida perdeu a visão de totalidade, instaurando-se em seu lugar

uma visão fragmentária do mundo, da qual o presentismo é constituinte, “um processo de

pulverização da pesquisa em micro-objetos fragmentados e isolados dos fenômenos

econômicos, sociais e políticos que animam as relações capitalistas de produção”

(FERREIRA JR.; BITTAR, 2009, p.490).

Assim, a pesquisa em História da Educação, muitas vezes cai em uma

recorrência marcada pela pobreza teórica e inconsistência metodológica a que Sanfelice

(1999, p.37) chamou “uma forma de fazer historiografia, mas sem a explicitação dos

fundamentos filosóficos, epistemológicos ou ideológicos deste novo posicionamento”.

Marcando efetivamente os estudos históricos, o presentismo é também

denominado como “história imediata, história próxima ou história do presente”

(CHAUVEAU & TÉTART, 1999, p. 07)4. Segundo Chaveau e Tétart (1999, p. 07), “o

imediatismo do trabalho histórico diante da história a acontecer, do fato, a presença ainda

prenhe dos fatos [...] colocam numerosos problemas metodológicos, epistemológicos e,

em certos aspectos, deontológicos”. Esta assertiva é, sem dúvidas,

um fator instigante à compreensão do pesquisador a respeito do objeto em questão, tendo

em vista a vasta utilização desta concepção de pesquisa no meio acadêmico das

4 Os autores Chauveau & Tétart (1999), classificam semanticamente a legitimidade científica no uso de

cada um dos três termos, ao que definem como epistemologia da história dos tempos atuais, pois não fazem

parte de uma mesma cronologia, no entanto se referem ao campo do muito contemporâneo.

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ciências humanas em geral e, mais especificamente, no âmbito da história e da

historiografia.

No primeiro eixo do texto, apresentamos uma breve menção sobre o campo

epistemológico e as concepções teórico-metodológicas idealistas e materialistas sobre o

fazer ciência nas humanidades como fator essencial à produção do conhecimento

científico. Abordamos, portanto, questões gerais que envolvem a epistemologia da

pesquisa em educação, salientando sua origem a partir de duas grandes correntes

filosóficas: o idealismo e o materialismo, considerados como a gênese do pensamento

científico ocidental, das quais emergiram diferentes paradigmas epistemológicos, dentre

estes, aquele que é nosso objeto de análise: o presentismo.

No eixo seguinte buscamos explorar a abordagem do presentismo sob a análise

de Adam Schaff (1987), autor este que, tecendo ferrenha crítica aos presentistas, aponta

diferentes formas de compreensão de suas bases. Dessa forma procuramos explicitar a

concepção presentista do italiano Benedeto Croce, do britânico Robin George

Collingwood, e dos americanos Charles Austin Beard, John Herman Randall Jr., Carl

Lotus Becker e Conyers Read; este último, representante da geração seguinte. Sob a

alusão de Schaff (1987), o texto aborda os principais pontos de convergência e

divergência das diferentes perspectivas.

No terceiro e último eixo socializamos as contribuições do historiador Prof. Dr.

Amarilio Ferreira Junior, cuja exposição referente à concepção abordada se deu, sob

nosso convite, em uma das aulas da disciplina de Epistemologia da Educação II. Na

ocasião se discutiu as reais possibilidades em se produzir a história do tempo presente,

bem como as formas de apropriação desta concepção.

Tendo em vista a limitada produção publicada a respeito da epistemologia

presentista, muito embora sua aplicação seja bastante comum nas pesquisas acadêmicas,

o texto auxilia na compreensão da utilização da abordagem, bem como dos riscos que se

corre ao adotá-la de forma acrítica, ou seja, desconhecendo sua gênese, pressupostos e

princípios que a norteiam.

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O campo epistemológico e as concepções teórico-metodológicas idealistas e

materialistas sobre o fazer ciência nas humanidades

Ao considerar que a denominação de ‘campo epistemológico’ faz referência

direta ao conhecimento, então é preciso pensar sobre o que seja o próprio conhecimento;

especialmente, nas formas como este se constitui como tal. Nas ciências humanas parece

que os caminhos são muitos e que cada um deles produz verdades que são legitimadas

por paradigmas, ora hegemônicos, ora não hegemônicos. Percorrer os caminhos da

ciência não é sinônimo de neutralidade do sujeito da pesquisa. Tal afirmativa já anuncia

um posicionamento epistemológico que considera as decisões do sujeito como algo

composto por um conjunto de construções que determinaram o seu próprio

posicionamento político diante de seu objeto de pesquisa, assim como de seu

envolvimento assumido a partir de sua seleção. O sujeito pesquisador, determinado pelas

condições objetivas e subjetivas da sociedade, acaba por se constituir num ser composto

pela doxa – pensamento opinativo/do senso comum; gnósis – conhecimento de modo

geral; sofia – decorrente de longa experiência vivenciada e pela episteme – conhecimento

metódico e sistematizado, ou seja, ciência.

Na busca por compreender as diferentes epistemologias da ciência, portanto, da

pesquisa, o estudioso das ciências humanas se depara com correntes ou escolas de

pensamentos diversos, que decorrem basicamente de concepções de base idealista versus

os de base materialista. Algumas dessas escolas tentam articular uma interlocução, a

nosso ver um tanto perigosa, entre as duas bases que, em essência, são excludentes entre

si, portanto opostas.

Das concepções teórico-metodológicas sobre o fazer ciência nas humanidades,

tais como as racionalistas, empiristas, positivistas, existencialistas, fenomenológicas,

irracionalistas, dialéticas e as materialistas-dialéticas, nos deparamos com a escola dos

estudos que tomam por base os acontecimentos do presente para o olhar ao passado ou,

como alguns preferem, a corrente do presentismo ou, ainda, do fazer pesquisa da história

do tempo presente. É sobre esse assunto que nos debruçaremos com maior ênfase em

nossa exposição.

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O presentismo na perspectiva do filósofo materialista polonês Adam Schaff

Adam Schaff, filósofo polonês, estudou também direito e economia e se filiou

ao partido comunista polonês. Professor, que assumiu o materialismo histórico como

referencial em suas pesquisas e práticas, viveu no século XX, vindo a falecer no ano de

2006, aos 93 anos. Das escolas de pensamento filosófico-marxistas-polonesas, Schaff

escolheu a humanística-antropológica à científica. Sua escolha o colocou mais próximo

das bases alemãs do pensamento filosófico.

Em uma de suas obras, “História e Verdade”, publicada originalmente em 1913,

buscou esclarecer e discutir as pesquisas da área da História. Inicialmente o filósofo

introduz as diferentes interpretações históricas sobre o fenômeno da Revolução Francesa,

para explicar que as diferentes posições epistemológicas do pesquisador produzem

resultados distintos, próximos ou opostos, sobre um mesmo fato (SCHAFF, 1987).

Em seguida, a obra explicita os processos de conhecimento e a busca pela

verdade para depois fazer uma exposição de algumas das escolas epistemológicas:

positivista, presentista, historicista e relativista versus a pesquisa pela perspectiva de

classe para o conhecimento histórico (SCHAFF, 1987). A última análise de Schaff (1987)

traz uma reflexão acerca da objetividade da verdade histórica.

Especificamente para discutir o presentismo da ciência, Schaff (1987) disserta

sobre algumas correntes epistemológicas tais como o positivismo, o materialismo e o

presentismo. O autor define como negativo para esta última o fato de se desconsiderar os

fatos do passado como se fossem meras invenções do presente. Segundo sua análise, no

positivismo o conhecimento histórico se torna possível, simplesmente, pelo reflexo dos

acontecimentos passados e, para o presentismo, decorrente do relativismo subjetivista, o

conhecimento histórico não é possível, uma vez que a história é uma projeção do

pensamento influenciado pelos interesses do presente sobre os do passado (SCHAFF,

1987).

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É possível compreender melhor essas diferenciações quanto mais se observa a

construção de Schaff (1987). Sob sua análise, nas bases do positivismo, estão as

elaborações de Leopold Von Ranke, cuja formulação teórica anuncia a não relação de

interdependência entre sujeito (historiador) e objeto de pesquisa (SCHAFF, 1987). Ou

seja, a relação não existe pois a história é pré-determinada por meio de uma estrutura

definida e acessível ao conhecimento. Entende-se, portanto, que como a história é algo

previsível e determinado, naquilo que se denomina como uma Teoria do Reflexo, a

relação cognitiva de conhecimento é algo bastante mecanicista por considerar que o

sujeito da pesquisa é capaz de imparcialidade. Para que essa garantia seja resguardada e

para que o processo de conhecimento histórico não seja contaminado, a filosofia deve,

necessariamente, separar-se da história, haja vista que apresenta um caráter especulativo

e moralizante.

Mas, o que leva Schaff voltar ao positivismo quando quer explicar o

presentismo? A justificativa é simples: o presentismo se coloca como uma corrente

diametralmente oposta ao positivismo. A origem do presentismo, para Schaff (1987), está

no pensamento de Hegel que, enquanto condenador do dogma e exímio crítico ao

pragmatismo, pode ser considerado fonte de inspiração a este paradigma, pois proclama

a necessidade de reescrever continuamente a história, compreendido como o presente

projetado sobre o passado. Contudo, é preciso diferenciar Hegel dos presentistas, uma

vez que este nunca definiu a história como projeção do pensamento do presente,

característica fundamental, segundo Schaff (1987), da respectiva corrente. Desta forma,

o sentido de origem do presentismo em Hegel está explícita na seguinte assertiva:

Desse modo uma história refletora substitui-se a uma outra; os materiais são

acessíveis a qualquer escritor, e cada um pode facilmente considerar-se apto a

ordená-los e elaborá-los, fazendo neles o seu espírito como o espírito de

diversos períodos. (G. W. F. Hegel. Leçons sur la philosophie de I’histoire.

Apud: SCHAFF, 1987, p. 107).

Nessa linha de raciocínio, Adam Schaff (1987), conclama o italiano Benedetto

Croce como o grande pai do presentismo. O autor anuncia que Croce compreende a

história como atividade intuitiva excluindo o conceito de que ela é conhecimento do que

se produziu no passado, para substituí-lo pela tese de que a história é o pensamento da

contemporaneidade projetado no passado. É o mesmo que dizer que o pesquisador escreve

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a história apenas do ponto de vista de seu presente, sem poder saber sobre o que de fato

ocorreu em outro tempo.

Nesse sentido, qual seria o objetivo de se buscar fontes e dados empíricos, se os

resultados são sempre algo dado pelo pensamento do presente? Daí o desprezo por fontes

e documentos, essencialmente o centro das pesquisas positivistas 5. O conhecimento

histórico é sempre uma resposta a uma necessidade determinada e, nesse sentido, é

sempre comprometido:

As compilações dos fatos são apenas crônicas, notas, memórias ou anais, e não

obras históricas; mesmo se os fatos foram submetidos à crítica, as fontes de

todos os dados mencionados e os testemunhos seriamente verificados,

quaisquer que sejam os esforços utilizados, é impossível ultrapassar o caráter

exterior da fonte ou do testemunho que ficarão sempre nos “diz-se” ou

“escreve-se”, e nunca poderão se tornar a nossa verdade. A história, pelo

contrário, exige de nós uma verdade extraída do mais interior da nossa

experiência. (B. Croce. Die Geschichte als Gedanke und als Tat. Apud:

SCHAFF, 1987, p. 111).

Em continuidade à tese de Croce, está o seu seguidor Robin George

Collingwood, responsável por popularizar as ideias presentistas no mundo anglo-saxão.

Para Collingwood, as atividades cuja história estuda constituem não um espetáculo que

se observaria, mas uma experiência que lhe é preciso reviver no seu espírito. Assim

proclama que “[...] cada presente tem o seu próprio passado e, com a ajuda da imaginação

realizando a reconstrução do passado, visa-se a reconstruir o passado de um dado presente

[...].” (R. G. Collingwood. The Idea of History. Apud: SCHAFF, 1987, p. 115).

Se a origem das bases presentistas esteve em Hegel e o pai da corrente foi Croce,

certamente no presentismo norte-americano, os seus representantes foram os responsáveis

por influenciar muitas pesquisas da atualidade, a contar da segunda metade do século XX

para os anos dois mil. Charles Austin Beard, John Herman Randall Jr. e Carl Lotus Becker

reforçaram as principais ideias presentistas: 1) de que não é possível escrever a história

tal como ela aconteceu; e 2) de que a história recria o passado pelo presente e que por ser

criação e imaginação de cada um seria, portanto, propriedade particular de quem imagina

conforme suas experiências pessoais.

5 Nesse caso, ainda pior, toda fonte levantada pelo pesquisado acaba por se apresentar confiável e legítima.

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Segundo Schaff (1987), Conyers Read também ataca o conceito de verdade

objetiva como uma espécie de inimiga, já que, para este, a história é uma ressurgência na

memória das experiências humanas passadas (subjetividade). A história escrita é,

portanto, emanação das necessidades atuais – cada geração deve reescrever a história. A

história é o PENSAMENTO SOBRE a história (pensamento para CRIAR a história). Para

Read “[...] o historiador pode continuar a estudar todos os fenômenos, ‘mas devemos

apercebermo-nos de que o que se passa no laboratório não se presta a ser divulgado em

todos os pormenores e em todas as esquinas’” (READ apud SCHAFF, 1987, p. 129).

Torna-se claro o poder altamente ideológico na manutenção elitista do conhecimento

histórico, pois para este autor há eminente necessidade em “[...] admitir o princípio do

controle social. [...] é importante que aceitemos e que sustentemos um tal contrôle: é

essencial para salvaguardar nosso modo de vida” (READ apud SCHAFF, 1987, p. 129,

grifos nossos). Certamente o autor defende o modo de vida americano, em outras

palavras, o modo de produção capitalista fundamentado na exploração do homem pelo

homem. Podemos afirmar que para Read, o presentismo é um antídoto contra o sistema

comunista e a qualquer tentativa que coloque em risco os princípios do liberalismo, o que

se evidencia em sua assertiva “[...] devemos afirmar os nossos próprios objetivos e definir

os nossos próprios ideais, os nossos próprios modelos, e organizar todas as forças da

nossa sociedade para a sua conservação” (READ apud SCHAFF, 1987, p. 128, grifos

nossos).

É com base nesses estudiosos e teóricos que, Adam Schaff (1987), critica o que

denomina de presentismo como algo que possui sentido negativo para o historiador e para

a história, pois suas características essenciais são nocivas à descoberta do conhecimento

histórico científico, quais sejam: na construção do conhecimento histórico, sujeito e

objeto constituem uma totalidade orgânica, agindo um sobre o outro; a relação cognitiva

nunca é passiva, contemplativa, mas ativa por causa do sujeito que conhece; o

conhecimento e o comprometimento do historiador estão sempre socialmente

condicionados. Com referências às bases marxistas, Schaff (1987) conclui que o

presentismo está inelutavelmente associado ao relativismo já que para as correntes

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epistemológicas de busca pelo conhecimento é verdadeiro o que é útil, o que corresponde

às necessidades e interesses determinados.

O nosso juízo é essencialmente negativo. Toda a apreciação exige um sistema

de referência e só pode ser feita a partir de posições escolhidas. Se rejeitamos

o presentismo, apesar de aprovarmos a orientação de sua crítica dirigida contra

o positivismo, fazemo-lo a partir da posições filosóficas determinadas, porque

o que nós rejeitamos, é precisamente o fundamento filosófico desta doutrina.

[...] Os principais pontos de litígio entre positivismo e o presentismo dizem

respeito a problemas essencialmente filosóficos. É preciso pois considerá-los

explicitamente como tal, [...]. No caso contrário, como previu Engels, faz-se

isso inconscientemente, com risco de praticar a pior das filosofias, o ecletismo

(SCHAFF, 1987, p. 133).

Schaff (1987) evidencia assim a aproximação filosófica entre os dois

paradigmas, afirmando que sob o presentismo existe a prevalência do pensamento sobre

a história. Dessa forma “[...] a história como processo histórico objetivo (res gestae) e

como descrição desse processo, ou seja, a historiografia (historia rerum gestarum)” (

SCHAFF, 1987, p. 134), deixam de existir. Uma vez que o pensamento sobre o processo

histórico não permanece e o que se segmenta é o pensamento criando a história,

percebemos claramente um problema deontológico, pois a história é sempre produzida

sob determinadas condições reais e objetivas. Se, ao contrário, a história passa ser criada

sob diferentes perspectivas, a partir do pensamento que a cria, não há, portanto, verdade

a ser conhecida, sendo “[...] a posição teórica mais estranha que um historiador pode

adotar [...]” (Schaff, 1987, p. 134).

É possível escrever uma história do presente? O presentismo para o historiador

brasileiro Amarílio Ferreira Jr.

Na perspectiva do historiador Prof. Dr. Amarilio Ferreira Jr., do Departamento

de Educação do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos, o

debate acerca do presentismo se polemiza já na conceituação de sua terminologia. Para o

historiador, o termo presentismo deve ser relativizado a partir de uma proposta de

superação do sufixo “ismo”, uma vez que este elemento pode estar carregado no sentido

pejorativo, qual seja, “[...] o de fazer uma crítica de fora para dentro e movida por

interesses inevitavelmente, por exemplo, de caráter ideológico” (FERREIRA JR.,

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2015). Assim, o professor de História da Educação, opta pela utilização do termo

“História do Tempo Presente”.

Ferreira Jr. (2015), parte de uma questão preliminar para discutir o que ele chama

de “História do Tempo Presente”: a divisão do campo da História em dois grandes campos

– 1) a Filosofia da História, tendo como seu grande expoente o intelectual alemão Hegel,

seguido por importantes nomes como o do italiano Benedetto Croce no século XX, o que

se evidencia na leitura de inúmeras passagens dos Cadernos de Gramsci, nas quais o autor

estabelece interlocuções sistemáticas de Croce, uma vez que se torna impossível pensar

o próprio marxismo sem o sistema dialético desenvolvido por Hegel, guardadas as

devidas diferenças entre a interpretação idealista hegeliana e a interpretação materialista

desenvolvida por Marx e Engels; e 2) a Teoria da História, com destaque para o

historiador britânico E. P. Thompson, de grande influência na segunda metade do século

XX, notadamente a partir da publicação de “A Miséria da Teoria” ou “Um Planetário de

Erros”, em que o autor tece uma crítica ao pensamento de Althusser e à Filosofia da

História do ponto de vista de uma Teoria da História.

Resumidamente, como demonstra a Figura 1, Ferreira Jr. (2015) descreve a

Filosofia da História como o campo que apresenta uma concepção universal teleológica

da história; enquanto a Teoria da História, no momento em que vivemos, em função da

pós-modernidade, apresenta uma fragmentação desconexa. Assim, enquanto a Filosofia

da História se prende ao continuum (passado-presente-futuro), a Teoria da História se

permite apresentar fenômenos isolados em si mesmos no passado ou no presente,

descontextualizados da totalidade histórica. Essa totalidade histórica, presente na

concepção universal teleológica da Filosofia da História, é apresentada por Ferreira Jr.

(2015) a partir de uma alegoria:

É como se o historiador estivesse em uma autoestrada, dirigindo um carro.

Então ele olha pelo para-brisa e vê o futuro e olha pelo retrovisor e vê o

passado. Se considerarmos uma autoestrada tortuosa, à beira de um abismo, é

impossível o historiador transitar sem o para-brisa e sem o retrovisor, pois

aumenta a dificuldade de visualização tanto do passado quanto do futuro. A

beira do abismo nessa alegoria representa as grandes crises que a humanidade

vivencia.

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Fig. 1 – Filosofia da História versus Teoria da História

Fonte: elaborado por Amarilio Ferreira Jr. (2015).

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Desse modo, Ferreira Jr. (2015) aponta o comprometimento da Filosofia da

História em projetar o futuro a partir do presente e olhando para o passado, afirmando

que “[...] talvez nós pudéssemos comprimir o presente entre o futuro e o passado. O

presente é apenas um ponto de passagem, um ponto de inflexão, quando o que se quer

resolver, na verdade é o futuro. Nós somos obcecados pelo futuro”. Um exemplo para a

compreensão da prática historiográfica desse continuum, segundo Ferreira Jr. (2015),

pode se dar pela leitura dos escritos de Lênin datados de véspera de 1917 e os datados

logo após 1917. Segundo o historiador, há nos textos um esforço intelectual de Lênin em

compreender o presente na perspectiva do passado e projetando o futuro no sentido de

dirigir a Revolução.

A Teoria da História, por sua vez, segundo Ferreira Jr. (2015), abandona o

continuum da história, por considerar esse processo passível de resultar em uma

inexorabilidade do tempo futuro e consequentemente na produção de uma dogmática,

mesmo que se parta de objetividades do tempo presente. Assim, Ferreira Jr. (2015),

ressalta que, notadamente depois da Segunda Guerra Mundial e das primeiras invasões

soviéticas no leste europeu, uma ala muito significativa de intelectuais dos partidos

comunistas do ocidente, como o próprio Hobsbawn e o filósofo Adam Schaff, abandonam

a Filosofia da História, ainda que não se tenha abandonado a objetividade, elemento

fundamental do marxismo.

A mudança do paradigma de como escrever história está fundamentada, para

Ferreira Jr. (2015), na percepção de que as utopias não estão somente projetadas no futuro,

mas também estão colocadas no passado e cercadas por subjetividades: “o presente

inventa idealmente um passado e luta por ele”.

Tal constatação nos traz à discussão o conflito “objetividade x subjetividade” na

escrita da história. Segundo Ferreira Jr. (2015), a questão é complexa e envolve um

cuidado em não se tornar prisioneiro da ideologia e um entendimento de que é impossível

produzir conhecimento no âmbito das ciências humanas sem ideologia. A questão que se

coloca é:

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De onde parte o pesquisador? De uma materialidade ou de uma

subjetividade? No que se pese que, transitar da materialidade para a

subjetividade é possível, uma vez que a dialética o possibilita. Já o

trânsito da subjetividade para a materialidade apresenta complicações

quando partimos do princípio de que a materialidade engendra a

subjetividade. Entretanto, é possível capturar a essência de certas

manifestações subjetivas produzidas historicamente pela humanidade,

por determinadas sociedades historicamente dadas, e chegar a uma

determinada materialidade.

Ferreira Jr. (2015) explica, conforme se observa na Figura 2, que quando se parte

de uma materialidade, três elementos são fundamentais e constituem as bases da

materialidade societária: o caráter da propriedade dos meios de produção, a estrutura de

classes sociais e o Estado. De outro lado, quando se parte da subjetividade, as

manifestações societárias dessa subjetividade humana podem ser a cotidianidade, a

cultura, o poder, o gênero, a etnia; fazendo desaparecer o conceito de classes. E coloca:

A simplificação do processo histórico exclusivamente a uma das duas

concepções implica, não necessariamente, em uma interpretação

dogmática da História. A produção historiográfica fecunda é aquela

fundada em uma concepção teórico-metodológica que compreende a

manifestação de uma relação dialética entre base material de existência

e subjetividade individual ou coletiva no âmbito das sociedades

historicamente dadas.

Fig. 2 – Princípios Fundamentais das Divergências Metodológicas

Fonte: elaborado por Amarilio Ferreira Jr. (2015).

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Desse modo, Ferreira Jr. (2015), coloca que, ainda que a pesquisa em história

prescinda da escolha de um ponto de partida, o pesquisador deve manter-se atento durante

todo o processo investigativo com ambas as dimensões, a fim de evitar os reducionismos

ideológicos.

Feita a exposição dessas questões, consideradas introdutórias, Ferreira Jr. (2015)

parte de uma crítica do presentismo para uma exposição de elementos indispensáveis para

a escrita de uma “História do Tempo Presente”. A princípio, o historiador destaca, dentro

desta concepção de História, o rompimento com a rígida separação cronológica,

demarcada por uma data e imposta arbitrariamente pela concepção positivista da história.

Metodologicamente, como se daria a “História do Tempo Presente”? Segundo

Ferreira Jr. (2015), a primeira consideração é a de que essa concepção de História

constitui-se enquanto um campo de pesquisa multidisciplinar, formado por historiadores,

sociólogos, cientistas políticos, economistas, educadores. Entretanto, Ferreira Jr. (2015)

ressalta a vantagem do historiador de ofício em comparação a profissionais de outras

áreas:

Por via de regra, o historiador de ofício valoriza muito mais a

experiência histórica, ao passo que o pesquisador de outra área não tem

por finalidade explicar seu objeto do ponto de vista histórico, ao

contrário, a história aparece na pesquisa presentista como uma etapa,

uma necessidade para poder falar do tempo presente. Por exemplo: é

impossível falar de fenômenos educacionais contemporâneos no âmbito

da política se você não retoma a reforma do Estado que operou durante

os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso.

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A superficialidade de um ponto de vista histórico resulta, segundo Ferreira Jr.

(2015), na expressão de uma ideologia, pois “[...] quanto menor o conhecimento histórico,

maior o índice ideológico de uma pesquisa. A História apresenta um componente objetivo

que as outras áreas não apresentam: o passado”. Ainda que a crítica ideológica possibilite

ao pesquisador fazer reflexões sobre determinados fenômenos e atingir a essência do

objeto, Ferreira Jr. (2015) ressalta que sem estar atrelada ao conhecimento histórico, a

ideologia pode tomar um tom dogmático, determinista “[...] de certa dogmática

apriorística independente da complexidade das contradições inerentes ao próprio

fenômeno analisado”.

A “História do Tempo Presente” depende, portanto, daquilo que sobrevive no

imaginário contemporâneo, “o que nos move no presente, fenômenos brutalmente

impactantes” (FERREIRA Jr., 2015). Identificar, contudo, esses fenômenos é um

processo extremamente subjetivo e depende, segundo Ferreira Jr., do imaginário coletivo

e individual. Juntam-se a isso outros elementos metodológicos:

a) O acontecimento, que pode ser objetivamente a temática de pesquisa.

Por exemplo, um determinado acontecimento do campo educacional

pelo viés das políticas públicas. Reúne-se, portanto, tudo de

materialidade possível (fontes empíricas, fontes primárias) que dê

consistência para uma análise objetiva do fenômeno a ser analisado; b)

As demandas sociais, uma variante ligada ao ponto de partida. Portanto,

podem estar ligadas às manifestações societárias da subjetividade

humana, como podem advir das bases da materialidade societária, como

por exemplo, a luta de classes: as ocupações das escolas do estado de

São Paulo no segundo semestre de 2015, por exemplo, representam

demandas sociais que partem da luta de classes no Brasil; e a c) A

testemunha.

Em síntese, Ferreira Jr. (2015) apresenta o seguinte esquema (Figura 3):

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Fig. 3 – História do Tempo Presente

Segundo Ferreira Jr. (2015), com base nesses elementos você pode, portanto,

desenvolver uma metodologia da “História do Tempo Presente”, mas que implica sempre

em desvelar seu ponto de partida.

Assim, é comum nos depararmos com pesquisas acadêmicas que, inseridas em

teorias pós-modernas, recortam de cada paradigma epistemológico produzido em

contextos históricos específicos, determinados pressupostos e princípios adaptando-os à

realidade atual, ou seja, busca-se sempre, apressadamente, aderir ao ‘modismo do

patchwork’. Em alguns casos, a tentativa de adaptação da teoria ao objeto de estudo e ao

problema de pesquisa acaba por ser tão inviável quanto calçar uma bota menor que o

tamanho dos pés.

Considerações finais

Conforme afirmamos, os estudos sobre a epistemologia presentista são ainda

limitados, mas a perspectiva em si é amplamente utilizada nas pesquisas em ciências

sociais, tendo seu terreno mais frutífero nos estudos históricos. Na ânsia de se

compreender como ser social e historicamente situado em um determinado contexto, o

homem busca diferentes perspectivas para estabelecer a verdade e o conhecimento

científico.

Dessa forma, nossas contribuições emergiram da necessidade em ampliar a

discussão do presentismo e das formas como é denominado – história do tempo presente

(FERREIRA, 2015), história imediata, história, próxima ou história do presente

Fonte: elaborado por Amarilio Ferreira Jr. (2015).

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(CHAUVEAU & TÉTART,1999) e, mais do que isso, as diferentes interpretações que

se permite fazer de um mesmo paradigma.

Refutando os princípios objetivos do positivismo, entendidos como um modelo

mecânico, os presentistas possuem suas divergências, no entanto convergem para a

resolução das necessidades emergentes do presente.

Evidenciamos assim o quanto Schaff (1987) defende a objetividade do

conhecimento e desconsidera fielmente qualquer tipo de subjetividade, pois segundo o

autor, “[...] o presentismo é ele próprio atingido pelo subjetivismo e pelo relativismo,

doença incurável que o conduz à catástrofe científica” (SCHAFF, 1987, p. 135).

Apontado como um propósito de se criar a história calcado em várias lacunas sem suas

respectivas respostas, o autor acusa que o presentismo assume a história como “[...] uma

projeção dos interesses e das necessidades presentes sobre o passado, é sempre função de

um presente variável [...] a verdade do conhecimento histórico é sempre posta em relação

com circunstâncias de lugar e de tempo” (SCHAFF, 1987, p.137), ou seja, são produzidas

muitas histórias. Daí o desprezo do autor pela subjetividade presentista.

Na interpretação do professor Amarilio Ferreira Junior (2015) não há como

desconsiderar no trabalho com o conhecimento a objetividade, tampouco a subjetividade,

uma vez que

[...] o tempo presente é muito complexo, pois são muitas determinações

históricas que estão em jogo e elas não são só objetivas, elas são

também subjetivas e é difícil você mensurar a subjetividade humana

(como mensurar ódio, fé, paixão?). Os elementos da subjetividade

também estão presentes na construção do tempo histórico (FERREIRA,

2015).

Desconsiderar a subjetividade é, portando, um erro tosco, uma vez que poderá

levar o pesquisador a se tornar refém de processos ideológicos e/ou dogmáticos,

defendendo-os sem a devida cautela. É nesse sentido que o professor, não

desconsiderando o trato ideológico do pesquisador, nos faz um alerta incisivo: é essencial

o desvelamento do ponto de partida, ou seja, ao olhar para o presente, não devemos

desconsiderar os elementos materiais que o compõe e, no caso do objeto pertencer ao tipo

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de sociedade capitalista, não desconsiderar a categoria da luta de classes (FERREIRA Jr.,

2015).

A partir do exposto, podemos concluir que o pesquisador da história, ao assumir

um objeto do tempo presente deve ser coerente, inicialmente, às suas concepções

filosóficas, de modo a não ser seduzido pelo canto da sereia, ou seja, ao se utilizar

aleatoriamente do subjetivismo e do relativismo, poderá incorrer em inconsistências

teóricas e/ou metodológicas.

Referências Bibliográficas

CHAUVEAU, Agnès; TÉTART, Philippe. Questões para a história do presente. In: ______

(Org.). Questões para a história do presente. Bauru, SP: EDUSC, 1999.

FERREIRA JR, Amarilio. É POSSÍVEL ESCREVER UMA HISTÓRIA DO PRESENTE? [dez.

2015]. Aldrei Jesus Galhardo Batista; Jefferson Mercadante; Joice Estacheski. São Carlos

UFSCar. 1 gravação em vídeo. Entrevista concedida durante o 14º encontro da disciplina de

Epistemologia da Educação II.

FERREIRA JR., Amarilio; BITTAR, Marisa. História, epistemologia marxista e pesquisa

educacional brasileira. Educação & Sociedade, Campinas, v.30, n.107, p.489-511, maio/ago.,

2009.

SANFELICE, José Luis. A pesquisa histórico-educacional: impasses e desafios. In: LOMBARDI,

José Claudinei (Or.). Pesquisa em Educação: História, Filosofia e Temas Transversais. Campinas,

SP: Autores Associados: HISTEDBR; Caçador; SC: UnC, 2000.

SCHAFF, Adam. História e verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1987.