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1 EPÍSTOLAS PAULINAS By Pr. George Wilson Fernandes, Th. B.* *O autor é Teólogo, Mestrando em Teologia, Pós-graduado em Engenharia de Produção e Docência do Ensino Superior, Bacharel em Teologia, Graduado em Gestão Empresarial, Professor no SETAD, ITQ e FAETAM. E-mail: [email protected]

Epistolas Paulinas Geo

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EPÍSTOLAS PAULINAS

By Pr. George Wilson Fernandes, Th. B.*

*O autor é Teólogo, Mestrando em Teologia, Pós-graduado em Engenharia de Produção e Docência do Ensino Superior, Bacharel em Teologia, Graduado em Gestão Empresarial, Professor no SETAD, ITQ e FAETAM. E-mail: [email protected]

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ÍNDICE

Epístolas Paulinas (Introdução) 03

Gálatas 04

I Tessalonicenses 09

II Tessalonicenses 11

I Coríntios 13

II Coríntios 32

Romanos 43

Filemon 54

Colossenses 56

Efésios 60

Filipenses 64

I Timóteo 69

Tito 74

II Timóteo 77

Bibliografia 82

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EPÍSTOLAS PAULINAS INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS EPÍSTOLAS PAULINAS Perguntas Normativas:

Quais eram o estilo, o conteúdo e as técnicas utilizadas na redação de cartas nos tempos antigos? Em que, as epístolas de Paulo se equiparam a isso?

Quais são os endereçados e quais são as datas, os motivos, os propósitos e o conteúdo das primeiras epístolas de Paulo?

As Epístolas de Paulo e a Redação de Cartas no Mundo Greco-Romano

Nos tempos de Paulo, as cartas contavam em média com 200 (duzentas) palavras, tendo em vista que a folha de papiro media 34x28cm. Cartas comuns acomodavam de 150 a 250 palavras, variando de acordo com o tamanho da letra. A maioria das cartas não ocupavam mais que uma folha de papiro. Por outro lado, as epístolas paulinas se elevaram a 1.300 palavras em média, variando de 335 palavras em Filemon até 7.101 em Romanos.

Paulo, devido ao tamanho, natureza comunitária e conteúdo teológico, foi o inventor de uma nova forma literária, a EPÍSTOLA.

As epístolas paulinas são cartas verdadeiras, possuem portanto endereçados específicos, divergindo das cartas literárias antigas, que eram endereçadas para o público em geral.

No caso de algumas epístolas que são extensas, as folhas de papiro eram coladas lado a lado, a fim de formar um rolo e, por serem longas e cansativas, eram ditadas a um escriba profissional chamado amanuense (um cargo) – Rm. 16:22 - (Tércio). O escriba, profissional que escrevia as cartas que eram ditadas, era muito rápido.

Estética da Escrita das Cartas

a. INÍCIO Saudações que iniciavam com o nome do remetente, expressões de saúde e êxito aos destinatários, bem como a certeza de que quem enviava (escrevia) a epístola, orava por aqueles que a recebiam.

b. SEQÜÊNCIA O corpo da carta propriamente dito.

c. FINAL Votos de prosperidade, sendo que Paulo adotou a prática de escrever as despedidas com o próprio punho e assinar.

Usualmente as cartas não eram datadas e, eram entregues por viajantes por não haver um serviço postal

oficial. Paulo encerrou diversas de suas epístolas com uma seção de natureza ética. Os estudiosos têm notado semelhanças notáveis nos códigos de ética dos judeus com os dos “estóicos”

– Filosofia grega que orientava o homem a um conformismo com o universo, a fim de alcançar a felicidade e o encontro com Deus. Durante um mesmo período histórico, entretanto o Novo Testamento vincula a conduta cristã, com o dinamismo da fé cristã, ao invés de publicar um inútil e vasto conjunto de preceitos que não tem poder de efetivar o seu próprio cumprimento.

As exortações comuns e muito parecidas entre si são explicadas pelo fato dos autores se apoiarem a um mesmo tesouro de informações ou tradições, passadas aos novos conversos em forma de catequese (discipulado). Paulo criou entretanto, as suas próprias instruções éticas que vieram a influenciar os escritores posteriores (II Pd 3:15-16). Uma coisa porém é certa: Todos os escritores alicerçavam-se intensamente nos ensinos de Jesus.

Na nossa Bíblia a ordem de encadernação das epístolas paulinas segue o critério de tamanho,

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começando pela maior, Romanos e terminando pela menor, Filemon, excetuando-se apenas as epístolas pastorais que interrompem o arranjo antes de Filemon. Estudaremos as epístolas paulinas na ordem cronológica de escrita, o mais próximo possível da realidade.

Epístolas Escritas por Paulo

Gálatas Contra os judaizantes – Salvação pela graça, independente das obras.

I Tessalonicenses Congratulações e consolo.

II Tessalonicenses Correções sobre a 2ª Vinda de Jesus.

I Coríntios Problemas eclesiásticos.

II Coríntios Conceitos de Paulo sobre seu ministério Defesa do seu apostolado.

Romanos O dom da retidão divina por meio da fé.

Filemon Apelo em favor de um escravo.

Colossenses Cristo - O Cabeça da Igreja.

Efésios A Igreja - O Corpo de Cristo.

Filipenses Progresso e Alegria na Fé – Uma amigável nota de agradecimento

I Timóteo A organização da Igreja por Timóteo.

Tito Organização da Igreja Local.

II Timóteo A comissão para Timóteo levar avante a obra de Paulo.

ESTUDAREMOS AS EPÍSTOLAS PAULINAS EM TRÊS SEÇÕES

1ª Seção Epístolas Doutrinárias

Gálatas I Tessalonicenses II Tessalonicenses I Coríntios II Coríntios Romanos

2ª Seção Epístolas da Prisão

Filemon Colossenses Efésios Filipenses

3ª Seção Epístolas Pastorais I Timóteo Tito II Timóteo

EPÍSTOLA AOS GÁLATAS

INTRODUÇÃO

A epístola aos Gálatas foi claramente escrita para os convertidos através de Paulo que estavam à beira de adulterarem o Evangelho da liberdade cristã, que ele lhes tinha ensinado, com elementos do legalismo judaico. Entre esses elementos, a circuncisão tomava lugar de proeminência. As igrejas da Galácia evidentemente haviam sido visitadas por judaizantes que lançaram dúvidas acerca da posição apostólica de Paulo e insistiam que, em adição à fé em Cristo que ele pregava, era necessário que o cristão fosse circuncidado e se conformasse noutros pontos com a lei judaica, a fim de que pudesse alcançar a salvação.

DATA DA ESCRITA DA EPÍSTOLA 47-49 - Teoria Sul da Galácia.

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LOCAL DA ESCRITA Antioquia da Síria.

DESTINATÁRIOS Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe - Sul da Galácia.

TEMA: Salvação pela graça mediante a fé, independente das obras.

PROPÓSITO: a. Argumentar que a salvação é somente pela graça sem obras. b. Fundamentar os gálatas numa liberdade cristã que evita tanto o legalismo como o antinomianismo. c. Para defender seu apostolado.

PECULIARIDADES: a. Falta de ações de graças que Paulo sempre põe logo depois de sua saudação. b. Trata do mesmo problema levantado no Concílio de Jerusalém (Atos 15). c. A palavra liberdade ou seu equivalente ocorre onze vezes. d. Revela o propósito da Lei na Velha Aliança (3:19-4:11). e. A alegoria de Sara e Hagar é única no N.T. (4:21-31). f. Gálatas é um dos quatro livros do N.T., em que não há dúvidas quanto à sua autenticidade.

A EPÍSTOLA

A epístola aos Gálatas diz respeito à controvérsia judaizante que culminou com a convocação do Concílio de Jerusalém, para determinar soluções para as controvertidas questões.

Muitos dos primeiros cristãos, por serem judeus - continuavam a viver segundo os padrões judaicos que eram:

Padrões de vida - (Como se a salvação dependesse de obras)

Freqüência à Sinagoga e ao Templo em Jerusalém.

Ofertas de holocaustos

Tabus dietéticos da Legislação Mosaica.

Distância social dos gentios. Mas, a conversão de gentios obrigou a Igreja a ver-se diante de importantes questões:

a. Deveriam os cristãos gentios, serem obrigados à circuncisão e a praticar um estilo judaico de vida? b. Deveria haver uma cidadania de segunda classe no seio da Igreja? c. E o mais importante de tudo: aquilo que torna cristão a um indivíduo - a fé em Cristo com exclusividade, ou a fé em Cristo mais a aderência às práticas do judaísmo?

Os judaizantes respondiam com insistência que os moldes judaicos eram necessários para os cristãos. Quem eram os judaizantes? Eram, dentre os convertidos ao cristianismo, judeus e prosélitos que se

opunham à doutrina da justificação. Se os judaizantes tivessem prevalecido nos seus pontos de vista, teriam subvertido a doutrina cristã para

a salvação como graça de Deus pela fé. Teriam também dividido o movimento cristão em: uma igreja judaica pequena e uma igreja gentílica enorme em número, mas desarraigada de Deus e tendente ao sincretismo pagão.

A maioria dos gentios se mostrava indisposta a viver como judeus, a exemplo daqueles cujos gregos ensinavam a gostar da beleza do corpo e, estes não concordavam com a mutilação da circuncisão.

A epístola paulina aos Gálatas fala da liberdade cristã que nos livra de todas as teologias de salvação através de esforços humanos.

DESTINATÁRIO DA CARTA: NORTE OU SUL DA GALÁCIA

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A Epístola aos Gálatas foi escrita às pessoas residentes na região conhecida por Galácia. O uso do vocábulo Galácia tem provocado debates que afetam a data da escrita desta epístola. Daí surgiram duas teorias:

TEORIA NORTE DA GALÁCIA TEORIA SUL DA GALÁCIA

1a Viagem Missionária O Concílio de Jerusalém 2a Viagem Missionária

A escrita da Epístola aos Gálatas

1a Viagem Missionária A escrita da Epístola aos Gálatas

O Concílio de Jerusalém 2a Viagem Missionária

Segundo a teoria Norte da Galácia , Paulo teria endereçado essa epístola aos cristãos que viviam mais ao

norte, aos quais ele teria visitado em sua 2a viagem missionária, a caminho de Trôade, tendo vindo de Antioquia da Pisídia. Conforme essa opinião, a epístola não pode ter sido escrita senão algum tempo após o começo da segunda viagem, e, por conseguinte, após o Concílio de Jerusalém (At. 15) que antecedeu esta viagem. Nesse caso, a visita a Jerusalém, que Paulo descreve no segundo capítulo de Gálatas, muito provavelmente se refere ao bem recente Concílio de Jerusalém. É aceitável que o mais forte argumento em favor da teoria da Galácia do Norte, com sua data posterior, seja a restrição original do termo “Galácia” ao território mais ao norte (segundo os defensores desta teoria, seria improvável que o apóstolo utilizasse inadequadamente o termo étnico) e a similaridade das declarações de Paulo concernentes à justificação pela fé, com aquilo que ele diz na Epístola aos Romanos, a qual por certo ele escreveu somente mais tarde.

Militando contra a teoria da Galácia do Norte, temos o fato que Lucas em parte alguma do Livro de Atos sugere que Paulo tivesse evangelizado a Galácia do Norte. É duvidoso que Paulo tenha visitado aquele território por ocasião de sua segunda viagem missionária, pois a região frígio-gálata, referida em At. 16:6 e 18:23, mais naturalmente se refere ao território do sul (uso do termo no sentido político e não étnico, em que a região passou para o domínio do império romano a partir do ano 25 a.C.), a travessia da Galácia do Norte teria requerido um desvio proibitivamente para o nordeste. E noutros trechos de suas viagens, Paulo coerentemente lança mão de termos geográficos em um sentido imperial, o que indicaria a Galácia do Sul como o lugar para onde o apóstolo enviou sua epístola aos Gálatas.

Em harmonia com a teoria da Galácia do Sul, Paulo teria endereçado a sua primeira epístola às igrejas do Sul da Galácia, imediatamente após sua primeira viagem missionária, mas antes do Concílio de Jerusalém. Assim sendo, a visita que ele fez a Jerusalém, descrita no segundo capítulo de Gálatas, não pode aludir ao Concílio de Jerusalém, o qual ainda não tivera lugar, mas pelo contrário, é alusiva a visita na qual se levaram víveres para aliviar a fome (At. 11:27-30) . O mais decisivo argumento em favor da Galácia do Sul, com sua data mais recuada, é aquele que diz que se Paulo tivesse escrito depois do Concílio de Jerusalém, certamente teria se valido do decreto do mesmo Concílio em prol da liberdade dos gentios cristãos em relação aos preceitos mosaicos, o principal tópico de discussão em Gálatas. No entanto, o apóstolo não faz menção alguma de tal decreto. A improvável omissão subentende que essa epístola foi escrita antes daquele Concílio ter-se reunido, e assim sendo, em um tempo em que Paulo tinha visitado somente a Galácia do Sul, e não também a Galácia do Norte.

Também é duvidoso que Pedro tivesse vacilado conforme vacilou, segundo se aprende em Gálatas 2:11, após o Concílio de Jerusalém, durante o qual defendeu convictamente a posição de liberdade que nos livra da Lei de Moisés.

Por outro lado, Paulo menciona a Barnabé por nada menos do que três vezes no segundo capítulo, como se Barnabé fosse figura bem conhecida de seus leitores. No entanto, Barnabé viajara com Paulo somente pela Galácia do Sul (1ª Viagem Missionária). Quando o apóstolo empreendeu a sua segunda viagem missionária, os dois já haviam se separado por divergências relacionadas a João Marcos.

ARGUMENTO AUTOBIOGRÁFICO - QUEM ERA PAULO? 01. Fora um judeu zeloso antes de ser um cristão. 02. Não fora aprendiz dos apóstolos em Jerusalém. 03. A graça não vinha de contatos pessoais com os apóstolos, pois o seu ministério vinha do próprio Deus.

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04. Os próprios apóstolos reconheceram a correção do Evangelho da graça e o pregavam entre os gentios. 05. Não exigiu a circuncisão de Tito, seu companheiro de ministério gentio, quando da visita de ambos a

Jerusalém. 06. O próprio Pedro, quando em Antioquia da Síria, comia com os gentios e foi repreendido por Paulo na

presença dos irmãos (Gl. 2:11-14), quando negou isto na presença dos judaizantes, demonstrando assim a autoridade do Evangelho da graça.

A epístola é iniciada com uma saudação na qual Paulo ressalta seu apostolado, porquanto queria

estabelecer firmemente a sua autoridade em contraposição aos judaizantes. Em lugar das usuais ações de graças por seus leitores, o apóstolo imediatamente introduz a razão pela qual havia escrito. Ele sentia-se chocado porque os cristãos gálatas estavam se desviando para um outro evangelho, o qual na verdade, nem era evangelho (boas novas) - Ler Gl 1:1-20.

Em seguida, o apóstolo redige um argumento autobiográfico que defende o evangelho da graça de Deus, em contraste com a mensagem judaizante, a qual requeria a observância à lei mosaica como condição de salvação. Paulo assegura que o evangelho da livre graça lhe fora dado por revelação direta da parte de Jesus Cristo. Por certo não poderia ter se originado em seus dias passados, argumenta ele, por ser um judeu zeloso de sua religião, antes de converter-se ao cristianismo. Por semelhante modo, não fora aprendiz dos apóstolos em Jerusalém, visto que nem ao menos se encontrara com eles, se não depois de três anos a contar da data de sua conversão. E quando finalmente, visitou Jerusalém, entrevistou-se somente com Pedro e Tiago (meio-irmão de Jesus) tendo ficado conhecido pessoalmente dos cristãos judeus de maneira geral. Visto que o evangelho da graça não pode ter tido origem no seu passado, ou nem em seus contatos pessoais em Jerusalém, sem dúvida, provinha do Senhor Deus. Ao visitar Jerusalém quatorze anos mais tarde (a contar da sua conversão ou da sua primeira visita a Jerusalém) os líderes cristãos dali - Tiago, Pedro e João, formalmente reconheceram a correção do evangelho da graça que ele pregava entre os gentios, estendendo a destra de comunhão. Acresça-se a isso, que nem mesmo exigiram que Tito, companheiro gentio de Paulo fosse circuncidado. A narração do incidente relatado no cap. 2: 11-13, em que Pedro retrocedeu diante da reprimenda, pois do contrário, dificilmente Paulo usaria tal incidente como argumento em seu favor. Retratando a autoridade do evangelho da graça por ele ensinado.

ARGUMENTO TEOLÓGICO O termo Justificar que é utilizado por diversas vezes, significa “considerar justo”, e apenas muito

raramente “fazer justo”. No grego clássico significava “tratar alguém segundo a justiça”, quase o oposto do uso paulino, o qual recua até o A.T. (principalmente Isaías) onde Deus intervém graciosamente para retificar as coisas entre Ele mesmo e os homens. O ato gracioso de Deus, não obstante, não perde seu caráter justo; porquanto Cristo sofreu a pena imposta aos nossos pecados, pena esta exigida pela santidade divina, além do que a imputação da retidão divina ao crente agora faria Deus tornar-se injusto se o condenasse.

Os versos 17-21, do segundo capítulo, poderiam ser parafraseados, como segue: “Se temos de abandonar a Lei afim de sermos justificados pela fé em Cristo, encorajaria Cristo ao pecado? Não. Antes, se eu voltar à Lei, deixarei entendido que pecara quando a abandonei. Mas eu não pequei ao assim fazer, pois Cristo morreu sob o juízo da lei contra o pecado. Na qualidade de crente, morri juntamente com Cristo. Esse é o ponto de vista de Deus ao meu respeito. A lei não exerce autoridade sobre um homem morto, especialmente um homem que morrera sob sua penalidade, de tal forma que eu não mais estou sob a obrigação de guardar a Lei. Mas Cristo ressuscitou e vive em mim, de tal modo que, embora eu tenha morrido em Cristo quando Ele morreu, e assim fiquei livre em Cristo. Portanto, se os homens pudessem tornar-se justos através da observância da lei, então Cristo não precisaria ter morrido”. Podemos assim explicar:

A NATUREZA DO PACTO DIVINO

A) Segundo o lado divino - visava abençoar o descendente de Abraão. B) Segundo o lado humano - visava a aceitação da promessa divina, por meio da fé.

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O descendente de Abraão é Cristo, juntamente com todos aqueles que nEle se vão incorporando, por seguirem o exemplo de fé de Abraão.

A Lei se revestia de certo propósito, mas temporário. Era o propósito de conduzir à Cristo, a exemplo de uma criança que necessita de tutela até a idade adulta. A lei conseguiu isso tornando-nos plenamente cônscios da incapacidade do homem tornar-se justo por seus próprios esforços. Estar sob a lei, por conseguinte, eqüivalia a ser um menor de idade ou um escravo. Em Cristo, porém somos adultos livres, adotados na família de Deus como filhos e herdeiros, com privilégios e responsabilidades de pessoas adultas. Por que reverteríamos a um estado inferior?

Paulo relembra que os gentios tinham aceitado a sua mensagem ao se converterem, e pleiteia diante deles para que aceitassem sua mensagem (agora) tal como tinham feito a princípio. Ilustra o seu argumento mencionando:

HAGAR – A ESCRAVA

Representa o monte Sinai, isto é a lei mosaica com seu centro de operações em Jerusalém na Palestina. Ismael, seu filho, ilustra aqueles que estão escravizados pela lei.

SARA – A LEGÍTIMA

Simboliza o Cristianismo, com sua capital em Jerusalém celestial. Isaque, seu filho, filho prometido e livre de nascimento, representa todos os filhos espirituais de Abraão, isto é, aqueles que seguem o exemplo da fé de Abraão, e que por isso mesmo, são libertados da lei em Cristo Jesus (Ler Gl. 3:1-5:12).

Responsabilidade na Liberdade - A última seção maior da epístola adverte contra as atitudes

libertinas, antinomianismo (ou antinomismo) que literalmente significa contra-leísmo, aquela atitude negligente que diz que estar isento da lei eqüivale a licença para praticar a iniqüidade. Estar livre da lei não significa ter a liberdade para pecar. O cristão não deve moldar sua conduta de acordo com a carne (impulso para pecar), mas em harmonia com o Espírito Santo. Além disso, cumpre-lhe ajudar amorosamente aos seus semelhantes, sobretudo seus irmãos na fé. É apenas aparente a contradição entre 6:2 - Levai as cargas uns dos outros e 6:5 - Porque cada um levará seu próprio fardo. Na primeira instância, Paulo ensina que os cristãos deveriam ajudar-se mutuamente em suas atuais dificuldades, e na segunda, que quando do juízo vindouro, cada qual responderá a Deus exclusivamente pela sua própria conduta.

As Obras da Carne e o Fruto do Espírito – O fato que Paulo anexou numerosos preceitos que

governam a conduta cristã ao seu prolongado ataque contra o legalismo dos judaizantes serve para mostrar-nos que o legalismo não consiste de regras como tais. Os livros no N.T. encerram muitas regras de comportamento. O legalismo antes da imposição de regras errôneas e, particularmente de maior número que o exigido por uma determinada situação, a tal ponto que, em meio a teia confusa de minúcias, as pessoas perdem a capacidade de distinguir os elementos mais importantes, os princípios fundamentais, de suas aplicações. O legalismo também envolve o senso de mérito devido à própria obediência do indivíduo (contraposição ao reconhecimento do fato que a obediência é tão somente um dever) com a conseqüente perda da dimensão pessoal da comunhão com Deus, alicerçada única e exclusivamente sobre Sua graça.

Conclusão - Paulo gloria-se na cruz de Cristo - Ler 6:11-18 – Paulo escreveu a conclusão da epístola

com sua própria caligrafia. As letras grandes por ele traçadas podem ter sido feitas para efeito de ênfase, embora alguns dizem que a deficiência visual do apóstolo tenha exigido tal maneira de escrever. E ele acusa que os judaizantes eram motivados pelo desejo de escapar das perseguições movidas pelos judeus incrédulos, como também pela ambição de se acharem capazes de arrebatar a lealdade a Paulo, os convertidos através do apóstolo. De forma contrastante, o apóstolo chama a atenção para os sofrimentos que ele vinha suportando jubilosamente, na defesa de sua mensagem e, finalmente, roga aos crentes da Galácia que eles mesmos julguem quem era impelido pelos motivos mais puros, ele ou os judaizantes.

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I TESSALONICENSES Introdução

As epístolas de Paulo à igreja de Tessalônica são famosas devido ao ensino que encerram sobre a

Segunda Vinda de Jesus Cristo e eventos associados. Essas duas epístolas, o discurso no Monte das Oliveiras feito pelo Senhor Jesus (Mt. 24 e 25) e o Apocalipse de João, formam as três principais porções proféticas do Novo Testamento. Em I Tessalonicenses, a nota escatológica está vinculada com o segundo desses dois temas importantes: 01. As congratulações aos cristãos tessalonicenses pela sua conversão e progresso na fé. 02. Exortações tendentes a um maior progresso, com ênfase particular sobre o consolo derivado da parousia

(2ª Vinda de Jesus).

Tessalônica

O nome Tessalônica lhe foi dado pelo general macedônio Cassandro em honra de sua mulher, que era irmã de Alexandre Magno. Estabelecida na Via Egnácia, a principal artéria que ligava Roma ao Oriente, Tessalônica tornou-se sob o domínio do Império Romano a capital da Macedônia, possuindo seu próprio governo e a característica de cidade livre. Sua posição geográfica e o porto do mar numa excelente baía, não apenas eram a causa de aumentar seu comércio e suas riquezas, atraindo a si por este motivo, uma população mista de gregos, romanos e judeus, como também tornavam-na um dos centros de propaganda evangélica na Europa. Atualmente continua a ser uma florescente cidade comercial, com seu nome levemente modificado para Salônica.

Paulo evangelizou a cidade quando de sua segunda viagem missionária. Alguns judeus e muitos gregos e mulheres de elevada posição social tinham abraçado a fé cristã. A declaração do apóstolo “...deixando os ídolos, vos convertestes a Deus... ” (1:9), subentende que a maioria dos cristãos dali se compunha de gentios, porque os judeus daquela época não eram idólatras. (O exílio assírio-babilônico os curara da idolatria). Os judeus incrédulos se opuseram fortemente contra o Evangelho, assaltando a casa de Jasom, onde Paulo se hospedara. Ler At. 17:1-10.

Data da escrita da epístola 50-51 - Durante a 2ª Viagem Missionária

Local da escrita Corinto

Destinatários: Aos Cristãos de Tessalônica

Tema Congratulações ante a conversão e o crescimento cristão e exortação a um maior progresso, com ênfase sobre o consolo e a expectativa da Parousia.

Propósito:

a. Consolo frente as perseguições. b. Avisos contra a imoralidade. c. Consolo acerca dos mortos. d. Esclarecimento quanto a Segunda Vinda de Jesus. e. Estímulo ao trabalho.

Peculiaridades: 1. Falta de citações do Velho Testamento.

2. Apresenta instruções sobre: - A Trindade - 2º Advento - Doutrina da Salvação

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3. Contém passagem clássica sobre o arrebatamento.

Permanência de Paulo em Tessalônica

De acordo com At. 17:2, Paulo passou três sábados pregando na Sinagoga de Tessalônica. A narrativa de Lucas parece dar a entender que a turbulência que forçou a partida do apóstolo ocorreu imediatamente depois de seu ministério na Sinagoga, e o texto de At. 17:10, indica que os cristãos enviaram Paulo para fora da cidade assim que a agitação se acalmou. Não obstante, alguns estudiosos inserem um espaço de tempo entre o ministério paulino na Sinagoga e a saída da cidade, porquanto Paulo menciona ter tido necessidade de trabalhar para sustentar-se em Tessalônica (I Ts. 2:7-11), além de ter recebido doações vindas de Filipos durante a sua permanência em Tessalônica (Fp. 4:16). Porém é possível que Paulo tenha começado a trabalhar com as mãos assim que chegou à Tessalônica, tendo continuado por três ou quatro semanas, por semelhante modo, duas doações poderiam ter chegado de Filipos no espaço de um mês.

Um outro argumento que apóia uma mais longa permanência em Tessalônica é aquele que assevera que a primeira e a segunda epístola aos tessalonicenses pressupõe mais ensinamentos doutrinários de que Paulo poderia ter ministrado em cerca de um mês. O mais provável, entretanto, é que o apóstolo tivesse por hábito ensinar intensivamente durante os dias da semana, fora das reuniões da Sinagoga. Também Timóteo, pôde ensinar-lhes a doutrina cristã com maiores detalhes ainda. Portanto, deveríamos limitar o ministério de Paulo em Tessalônica ao espaço mais provável de cerca de um mês.

Relatório de Timóteo

Timóteo que fora ao encontro de Paulo em Atenas, foi enviado de volta a Tessalônica, e mais tarde se reuniu ao apóstolo em Corinto. O relato de Timóteo proveu o motivo para Paulo escrever I Tessalonicenses (comparar I Ts.3:1-2, com At.18:5). Isso implica em que Paulo escreveu I Tessalonicenses em Corinto, no decorrer de sua segunda viagem missionária, não muitas semanas, ou talvez no máximo seis meses depois de haver evangelizado os endereçados da epístola.

Congratulações A primeira seção maior da epístola consiste de congratulações aos cristãos de Tessalônica, por motivo de

sua conversão e progresso na vida cristã (cap. 1-3). A fidelidade que demonstraram, mesmo em meio à perseguição, estava servindo de excelente exemplo para os demais cristãos na Macedônia e na Grécia (Acaia). O relatório de Timóteo a respeito deles realmente fora favorável (2:17- 3:9). Ler I Ts.1-3.

Como de praxe, Paulo combinou a típica saudação grega em forma cristã modificada (“graça”), com a típica saudação semita (paz) (1:1). A forma da palavra graça, empregada por gregos não cristãos, simplesmente significa “Alô”. Mas Paulo modificou o vocábulo para que ele assumisse o sentido do favor divino outorgado a todos os pecadores desmerecidos, por intermédio de Jesus Cristo. Paz significa mais do que ausência de guerras; pois também envolve a conotação positiva de prosperidade e bênção. Uma bem conhecida tríade de virtudes figura em I Tessalonicenses 1:3 - fé, amor e esperança. A fé produz as boas obras. O amor resulta em labor, ou seja, feitos de gentileza e misericórdia. E a esperança, uma palavra escatológica referente à expectativa confiante quanto à volta de Jesus, gera a constância debaixo dos testes das perseguições. No meio dessa seção congratulatória, Paulo rememora detalhadamente para seus leitores o seu ministério entre eles, caracterizado pelo amor e pela abnegação. Alguns têm levantado a hipótese, nesta altura, que o apóstolo se defendia contra alguma calúnia, cujo intuito era o de destruir sua influência sobre os convertidos. Mais provavelmente, entretanto, Paulo simplesmente ressaltou quão gratificante lhe era o fato que os tessalonicenses tinham reagido favoravelmente ao evangelho, visto que labutava tão intensamente entre eles.

Exortações

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A segunda principal seção de I Tessalonicenses, cap. 4-5, consiste de exortações: - Contra a conduta imoral (4:1-8) - Acerca de um crescente amor mútuo (4:9-10) - Acerca do consolo e vigilância, em face da volta de Cristo (4:11 - 5:11) - Acerca de certa variedade de questões práticas atinentes à vida cristã (5:12-28) Em I Ts. 4:1, Paulo com grande habilidade, passa das congratulações para as exortações, ao animar os

cristãos dali a continuarem a progredir. Os mandamentos que há em 4:11,12, para que eles vivessem em tranqüilidade e continuassem em trabalho ativo, servem de reprimenda contra aqueles que acreditavam tão fortemente no retorno imediato de Jesus, que estavam abandonando suas ocupações. O fato que Paulo advoga sem pejo o trabalho manual contrasta com o típico ponto de vista dos gregos, que costumavam torcer o nariz ante tal sorte de trabalho.

Arrebatamento - é o vocábulo comumente usado para designar a retirada súbita dos cristãos, quando

da segunda vinda de Jesus, conforme a descrição paulina, em I Ts. 4:16-17. Mas há também a idéia da imortalização e glorificação dos corpos dos cristãos que estiverem vivos na terra, ao tempo do retorno de Cristo. O fato que os corpos desses últimos não serão ressuscitados dentre os mortos, requer que essa transformação ocorra quando ainda estiverem em seus corpos vivos, mas mortais (I Co. 15:50-58). Os cristãos tessalonicenses entristeciam-se ante a morte física de outros cristãos, aparentemente por não perceberem que seus companheiros de fé haveriam de compartilhar do júbilo que haverá quando da volta de Cristo. Talvez imaginassem que a morte física de outros crentes, antes da PAROUSIA (Parousia é termo grego comumente usado para indicar o segundo advento de Cristo, e significa, presença, chegada, vinda - especialmente chegada de um rei ou imperador, ou uma visita real, portanto uma palavra mui apropriada para indicar a vinda de Cristo em glória real), equivalesse a castigo pelo pecado ou mesmo fosse a indicação da perda da salvação da alma. Paulo reassegurou a seus leitores a verdade escatológica, explicando-lhes que os cristãos mortos haverão de ressuscitar imediatamente antes do arrebatamento, a fim de poderem ser arrebatados juntamente com os cristãos que porventura continuarem vivos até então.

No capítulo 5, Paulo passa das palavras de consolo para as de advertência. Aos cristãos convém esperar, vigilantes, pelo Dia do Senhor (A Segunda Vinda e os eventos que se seguirão), para não serem apanhados de surpresa. Não vigiar é o mesmo que colocar-se na categoria dos iníquos, os quais serão apanhados inesperadamente. Por outro lado, o estado de prontidão para o dia do Senhor é mais que um estado de alerta mental. Também consiste de uma maneira de conduzir-se caracterizada pela obediência aos mandamentos, tais como aqueles que esta epístola encerra.

II TESSALONICENSES

Paulo escreveu a segunda epístola estando em Corinto, pouco depois de haver escrito a primeira carta.

Durante o intervalo de tempo entre as duas epístolas, o fanatismo era originado pela crença do retorno imediato do Senhor. E essa crença, por sua vez, aparentemente resultava do desejo que aqueles crentes tinham de serem livrados da perseguição. Paulo, portanto, escreveu esta segunda epístola a fim de aquietar o fanatismo deles, corrigindo as idéias escatológicas.

Data da escrita da epístola 50 – 51 - Durante a 2ª Viagem Missionária

Local da escrita Corinto

Destinatários Aos Cristãos de Tessalônica

Tema Correção de idéias sobre a Segunda Vinda

Propósito: 1. Para continuar a encorajar os cristãos perseguidos de Tessalônica. (1:4-10)

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2. Para exortar seus leitores à fidelidade e trabalhar para se sustentarem (2:13-3:15) 3. Para corrigir desentendimento concernente à vinda de Cristo (2:1-12;I Ts 4:13-5:11) a. É possível que os tessalonicenses tenham recebido uma carta forjada indicando que o Dia do Senhor já

havia começado. b. Paulo escreveu para dissolver esta falta de entendimento, mostrando qual seria a seqüência correta dos

eventos vindouros.

Peculiaridades a. A designação do Anti-Cristo como o “homem do pecado” ou “sem lei”. b. A indicação que Paulo assinou suas cartas para evitar falsas epístolas. (3:17)

Esboço Sumário de II Tessalonicenses

Introdução: - Saudação (1:1-2) I. A Perseguição (1:3-12) a. Ação de graças pelo progresso dos cristãos em meio às perseguições. (1:3-4) b. Certeza do livramento da perseguição e do juízo divino contra os perseguidores, por ocasião da Parousia.

(1:5-10) c. Oração em favor dos cristãos de Tessalônica (1:11-12)

II. A Parousia - Arrebatamento - Dia do Senhor (2:11-15) a. A negação de que já havia chegado o Dia do Senhor (2:1-2) b. Lista dos precedentes necessários (2:3-15)

1. A rebelião (2:3a) 2. O homem da iniqüidade (2:3b-15) a. Sua reivindicação de divindade (2:3b-5) b. A atual força restritora de seu aparecimento (2:6-7) c. Sua condenação (2:8) d. Seus ludíbrios (2:9-12) e. Os cristãos de Tessalônica estavam isentos de tal engano e condenação 2:13-15)

c. Bênção (2:16-17)

III. Exortações (3:1-15) a. Oração, amor e estabilidade (3:1-15) b. Um trabalho produtivo (3:6-13) c. Ostracismo disciplinador aplicado a membros isentos de tal engano e condenação (3:14-15)

Conclusão - Outra bênção e saudação final, com ênfase sobre a escrita pelo próprio punho de Paulo, nas

últimas e poucas linhas da epístola, como garantia de sua autenticidade (3:16-18)

Encorajamento

Após a saudação inicial (II Ts 1:1-2), Paulo novamente agradece a Deus pelo progresso dos cristãos de Tessalônica, bem como por sua constância paciente sob a perseguição, mas os elogios são bem mais breves do que se vira na primeira epístola àqueles cristãos. Passando prontamente para o tema escatológico, Paulo descreve vividamente a Segunda Vinda, quando os perseguidores serão julgados e os perseguidos serão aliviados em seus sofrimentos. O propósito do apóstolo foi o de encorajar os tessalonicenses a uma perseverança contínua, para o que mostrou que a situação haveria de ser revertida, quando Cristo retornasse ao mundo. Em 2:1ss, Paulo começa a abordar os pontos que aqueles crentes entendiam mal no que concerne à Parousia, explicando-lhes que ela não seria imediata. Assim sendo, deveriam retornar às suas ocupações e

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negócios. Porque esperar a volta de Cristo não envolve cessar a vida diária normal. Pois Ele poderia não retornar por algum prolongado período de tempo. Leia II Ts. 1-3.

O aviso de Paulo, de que aqueles crentes não se deixassem enganar por alguma profecia falsa ou por alguma instrução oral ou escrita, forjada em seu nome (2:1,2), sugere que os mentores da posição fanática que havia em Tessalônica se vangloriavam de contar com o apoio do apóstolo. A expressão, “o homem da iniqüidade” (2:3), alude ao anti-Cristo, um líder mundial que se caracterizará pela iniqüidade e pela perseguição, nos dias finais de nossa era. Esse personagem maligno haverá de exigir adoração à sua própria pessoa, ostentando-se no templo de Deus. Em outras palavras ele procurará obrigar o povo judeu a adorar à sua imagem, a qual ele mandará erigir no templo (construído) de Jerusalém (vide 2:4,5; comparar com Marcos, 13:14, Mateus 24:15 e Apocalipse, 13). A sugestão esposada por alguns, de que o conceito do Anti-Cristo emanou do mito do Nero-redivivo, que dizia que Nero haveria de retornar de entre os mortos, tropeça no fato que o conceito do Anti-Cristo é anterior à época de Nero, conforme se vê em outras obras literárias, além do que ela nos forçaria a rejeitar, sem razões suficientes, a autenticidade de II Tessalonicenses, a qual teria de ser datada após o martírio de Paulo e a morte de Nero. Também tem sido sugerido por alguns que o apóstolo tinha em mente, a ordem baixada mas não cumprida pelo imperador Calígula, em 40 d.C. em que uma estátua sua fosse levantada e adorada no templo de Jerusalém. Talvez tenha sido assim, mas a profecia de Daniel concernente à abominação desoladora (vide Dn. 9:27; 11:31 e 12:11), a poluição do templo por parte de Antíoco Epifânio, em 168 a.C., e a alusão de Jesus a uma ainda futura abominação desoladora (vide referências acima) é que provêem as fontes primárias das declarações de Paulo a esse respeito.

O que, ou quem estaria impedindo o anti-Cristo de manifestar-se, até que chegue o tempo certo, Paulo sentiu ser desnecessário identificar, pois os cristãos tessalonicenses já conheciam a identidade do tal, por meio do doutrinamento oral de Paulo (2:5-8). As duas sugestões mais prováveis são:

1. Essa força restritora é a instituição do governo humano - personificada em governantes, como os imperadores romanos e outros - ordenada por Deus para a proteção da lei e da ordem (pois o anti-Cristo será um iníquo, um “desregrado” que não obedecerá a lei alguma), e

2. Essa força restritora é a ativa atuação do Espírito Santo no mundo, no tempo presente, o que impede o surgimento do anti-Cristo, diretamente ou por meio da igreja.

Outros pensam que Paulo se referia à pregação missionária como se fosse esse poder restritor, e que ele mesmo, como principal missionário, seria aquele que “detém” o anti-Cristo. Entretanto, é difícil pensarmos que o apóstolo antecipava sua própria remoção especial como a condição do aparecimento do anti-Cristo, porquanto noutras passagens ele expressa sua expectação pela Parousia - tanto quanto outros cristãos o fazem. Finalmente, a ênfase que se vê em 3:17 sobre a escrita com o próprio punho de Paulo, subentende que alguma epístola já havia sido forjada, em nome de Paulo, em respaldo daquela posição fanática.

I CORÍNTIOS

A cidade de Corinto era um rico centro comercial, situado sobre o estreito istmo que liga o território da

Grécia, propriamente dita como Peloponeso. Sua história pode ser convenientemente dividida em duas partes. A cidade que de acordo com a lenda, era o lugar onde a Argo de Jason foi construída, sendo destruída por Lúcio Múmio Acaico, o cônsul romano, em 146 a.C. Foi o fim do primeiro capítulo de sua história. Era inevitável, entretanto, que uma cidade tão favoravelmente localizada fosse ressuscitada. Por isso, em 46 a.C, a nova cidade foi construída por Júlio César, recebendo o “status” de colônia romana. Rapidamente readquiriu sua importância comercial e, em acréscimo tornou-se sob diversos aspectos a principal cidade da Grécia.

A importância da cidade deve ter influenciado o apóstolo Paulo em seus esforços missionários. Sendo o ponto central do comércio norte-sul e leste-oeste e contendo uma população de caráter misto - verdade, era chamada “o império em miniatura”.

Uma mensagem proclamada e ouvida em Corinto encontraria o seu caminho, às mais distantes regiões do mundo habitado. Não foi por menos, então, que Paulo fosse “constrangido pela palavra” (At. 18:5,6) a testificar em Corinto.

Finalmente, o caráter moral de Corinto era solo fértil para as gloriosas novas do Messias. A velha cidade possuía o famoso templo de Afrodite, onde mil prostitutas sagradas estavam à disposição dos seus devotos. O

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mesmo espírito, se não o mesmo templo, prevalecia na nova cidade. O provérbio de significado sexual “nem todos podem visitar Corinto”, era voz corrente. A palavra grega Korinthiazomai, que literalmente significa agir como um corintio, passou a significar “fornicar”.

Não é necessário multiplicar referências e ilustrações - Corinto era conhecida por tudo o que fosse depravação, dissolução e devassidão. Foi providencial que Paulo se encontrasse em Corinto quando escreveu a Epístola aos Romanos. De nenhuma outra cidade ele teria recebido tal incentivo, para escrever sobre o pecado do homem e, em nenhum outro local ele teria a oportunidade de ver melhor exemplo dele.

ORIGEM DA IGREJA EM CORINTO

A história da organização da igreja de Corinto foi narrada por Lucas, em Atos 18:1-17. Paulo chegou à

cidade em sua segunda viagem missionária, em 50-52 a. D., e logo foi o primeiro a pregar ali o evangelho. Enquanto morava e trabalhava com Áquila e Priscila, começou seu ministério na sinagoga, que se estendeu por dezoito meses. Um notável aspecto do método de pregação do apóstolo encontramos no texto de At. 18:4, “e entrando na sinagoga todos os sábados ele discursava, intercalando o nome do Senhor Jesus, e tentava persuadir não apenas os judeus, mas também os gregos.” Intercalando o nome do Senhor Jesus; deve se referir à aplicação das Escrituras do Velho Testamento à Cristo. Em outras palavras, ele pregava a Jesus de Nazaré como cumprimento da profecia messiânica. Ele portanto, seguia a metodologia. A reação diante da pregação de Paulo foi diferente da reação diante do ensino de Jesus. Na maioria das vezes, os corações dos ouvintes de Paulo não queimavam com interesse pela verdade, mas sim em oposição à verdade. E Paulo foi obrigado a partir (At. 18:6). Mudando-se para a casa de Tito Justo (possivelmente o Gaio de I Co. 1:14 e Rm. 16:23 - Willian Ramsay, Pictures of Apostolic Church, pag. 205). Paulo continuou pregando “em fraqueza, temor e grande tremor” (I Co. 2:3). E quem não temeria naquelas circunstâncias? O lugar de reuniões da pequena assembléia ficava ao lado da sinagoga! O Senhor, entretanto, apareceu a Paulo em visão e o encorajou com a promessa de que Ele tinha “muito povo” em Corinto (At. 18:9,10). Esta promessa deve ter se constituído num grande conforto para o apóstolo nos anos subsequentes quando a frouxidão moral dos crentes devia ter-lhe dado motivos de duvidar da genuinidade do trabalho ali. Depois de concluir seu ministério em Corinto, Paulo retornou a Jerusalém e Antioquia.

OCASIÃO QUANDO FOI ESCRITA A EPÍSTOLA

Antes de discorrermos a respeito da data em que a epístola foi escrita, tema, propósitos e peculiaridades

é importante que se faça um esboço referente aos contatos e correspondências que o apóstolo manteve com a igreja de Corinto. Embora haja alguns pontos discutíveis, a defesa não está dentro do propósito desta breve introdução. 1. O primeiro contato de Paulo com a igreja de Corinto, foi por ocasião do seu estabelecimento conforme

destacamos acima. De acordo com Cap. 2:1,3:2 e 11:2 nos é dado a entender que esta foi a única visita antes da composição da canônica I Coríntios.

2. Depois dessa visita inicial, Paulo escreveu uma carta à igreja, a qual se perdeu (cf.5:9). 3. Quando notícias perturbadoras chegaram sobre os cristãos e uma carta pedia informações, o apóstolo

escreveu I CORÍNTIOS. 4. No que parece, os problemas na igreja não foram resolvidos pela epístola, pois o apóstolo se viu forçado a

fazer à igreja uma visita apressada e difícil (cf. II Co 2:1;12:14;13). 5. Seguindo esta visita penosa, o apóstolo escreveu à igreja uma terceira carta de caráter muito severo,

denominada como “carta severa ou triste”, a qual ele se refere em II Co. 2:4. 6. A preocupação de Paulo por causa da igreja era tão grande, que ele não quis ficar esperando por Tito em

Trôade, o portador da carta severa, dirigiu-se apressadamente à Macedônia. Ali encontrou-se com Tito e ficou sabendo que a carta produzira resultados; tudo ia bem em Corinto. Da Macedônia Paulo escreveu II Coríntios (cf. 2:13;7:6-112).

7. Ele, então, seguiu sua última carta com sua última visita à igreja,da qual temos evidência (At. 20:1-4)

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Data da escrita da epístola 55 - durante a segunda viagem missionária.

Local da escrita Éfeso (durante a última parte da prolongada permanência de Paulo ali).

Destinatários À Igreja de Corinto

Tema Problemas eclesiásticos ou os problemas da Igreja e suas soluções.

PROPÓSITO 1. Para corrigir práticas errôneas (cap.1-14), inclusive:

- Imoralidade - Divisões - Processos em tribunais contra cristãos - Ceia do Senhor e etc...

2. Para corrigir idéias erradas (cap.15) - Referente à ressurreição 3. Para encorajar o levantamento de oferta para Jerusalém (cap.16)

PECULIARIDADES 1. I Coríntios é a epístola mais aprovada do N.T. 2. O ensino é em grande parte moral e prático. 3. Somente I Coríntios trata amplamente dos seguintes assuntos: - A Ceia do Senhor - (cap.11) - O dom de línguas - (cap.12,14) - A ressurreição - (cap.15)

CAPÍTULO 1 - Saudação - cap.1:1-9

A saudação de Paulo aos coríntios segue a forma comum que ele costumeiramente adota em suas cartas. Tem três partes:

1. O remetente (v.1); 2. O destinatário (v.2); 3. A saudação (v.3). Além de identificar-se como o autor (v.1), Paulo declara que está escrevendo como apóstolo de Jesus

Cristo, chamado pela vontade de Deus. Logo, Paulo é apóstolo em virtude da chamada divina. Seu ministério aos coríntios não se desenvolverá por mero acaso, mas sim, pela vontade de Deus. Nem todos os coríntios adotavam atitude certa para com Paulo, portanto este os faz lembrar que, no início, sua palavra veio para eles como palavra da parte de Jesus Cristo. Não era arrogância de sua parte, mas uma defesa contra aqueles que considerando Pedro como apóstolo só por ter andado com Cristo, desprezavam a Paulo por não ter tido este privilégio.

No v.2, é destacado “a igreja de Deus que está em Corinto”. A palavra traduzida “igreja” é EKKLESIA. É formada de duas palavras: EK (“fora de”) e KALEIN (“chamar”). Empregada com exatidão quando se aplica ao corpo de Cristo, refere-se aos cristãos, chamados das trevas e do mundo para formarem uma assembléia que pertence a Deus, e cuja cabeça é Cristo. A palavra EKKLESIA ocorre 22 vezes em I Coríntios.

Recomendação e Ação de Graças (2-9) Escrevendo com muito tato, Paulo começa sua carta lembrando aos coríntios as bênçãos maravilhosas

que eles têm em Cristo. Faz uma lista das suas bênçãos espirituais. 1. Santificados em Cristo (v.2) 2. Invocam o nome do nosso Senhor Jesus Cristo (v.2) 3. A graça de Deus (3,4) 4. Dons de Deus (5-7) 5. Esperança da parte de Deus (7-9)

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As facções na igreja de Corinto Após a introdução, o apóstolo inicia a discussão dos pecados deles, tratando em primeiro lugar das

divisões dentro da igreja. A triste notícia das divisões entre os coríntios chegou ao apóstolo através de representantes da família de Cloé. Diziam que a causa principal destas facções era o favoritismo para com certos líderes.

Uma admoestação em prol da união (10,11) A admoestação de Paulo em prol da união cristã, tem três aspectos no v. 10. Primeiramente, apela que

“faleis todos a mesma coisa”, onde o apóstolo conclama todos à harmonia, ou seja , que pensem e falem como um só corpo, ao invés de vozes divergentes. Em segundo lugar, “que não haja entre vós divisões”. “Divisões” em grego é SCHISMATA. Um SCHISMA é uma rotura, rompimento em pedaços. Em terceiro lugar, exorta-os dizendo: “Sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer”. Para a igreja ser verdadeiramente um só corpo, deve ser unida na maneira de pensar e de agir.

Embora o apóstolo peça que vivam em união, não é mera harmonia o que ele deseja; pelo contrário, ele quer esclarecê-los acerca de várias questões que surgiram em Corinto e das contradições em torno destas questões.

Porque não dividir (12-1) 1. Cristo não está dividido - A divisão implica haver diferentes tipos de Cristo: Um Cristo de Paulo, um Cristo de Apolo, um Cristo de Pedro, e, além destes, um simples Cristo, sem identificação. A divisão é um ato absurdo entre verdadeiros cristãos. Cristo é um, absolutamente um, sempre um. 2. Foi Cristo quem morreu por nós, e não um homem qualquer - Paulo está perguntando: “Estais querendo dizer que Paulo foi crucificado por vós? ” a própria idéia em si é absurda. A crucificação é um ato redentor por excelência, de Cristo, e não de Paulo, ou de qualquer outro líder. 3. Somos batizados em nome de Cristo, e não no de um homem - Não existem batismos diferentes, isto é, um batismo paulino, um de Apolo, e um de Pedro, mas sim, somente um, o batismo de Cristo. Paulo continua, dizendo que está contente por não ter batizado mais pessoas em Corinto, para que a divisão não fosse ainda pior. Esta expressão não diminui de qualquer forma o valor do batismo.

A sabedoria do mundo ante a sabedoria de Deus (17-31) A divisão entre os cristãos de Corinto e os lemas dos seus grupos, dão testemunho dos males de valorizar demasiadamente a sabedoria humana e do fracasso em entender o que é o Evangelho. Paulo agora começa a expor o que é a verdadeira sabedoria divina, a humana e o Evangelho.

A Sabedoria Humana na Igreja de Corinto - Para melhor entendermos esta seção, devemos

primeiramente saber o que queria dizer Paulo quando falava da sabedoria humana. É evidente que tratava-se da sabedoria deste mundo (v.20); sabedoria esta que não leva Deus em conta e que se centraliza no homem. Os coríntios estavam em grande perigo. Começaram a alterar a mensagem da cruz e a do Evangelho para exaltarem a sabedoria humana. Eles queriam um evangelho da “sabedoria”, um evangelho da filosofia, um evangelho que se encaixasse na orgulhosa erudição grega daqueles dias.

A Fraqueza da Sabedoria Humana - Os cristãos coríntios estavam misturando o Evangelho com a

sabedoria do mundo. Não entendiam a mensagem do verdadeiro Evangelho. Paulo passa a mostrar a diferença entre a sabedoria do mundo e a sabedoria de Deus. Através de sete provas, ele demonstra que o evangelho é tudo quanto precisamos ter como a mensagem de Deus para a salvação.

1. A comissão de Paulo (v.11) - Paulo foi fiel à sua vocação. A totalidade da sua pregação se

fundamentava nas Escrituras e de modo algum na especulação humana. Sabia muito bem que a mistura da sabedoria humana com o Evangelho, faz com que este se torne ineficaz, (KENOS = vazio), sem realidade ou substância em si.

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2. A experiência pessoal (v.18) - Os coríntios tinham experimentado em suas vidas o poder do

evangelho da cruz de Cristo. Paulo descreve a pregação da cruz como sendo um poder que de fato opera. Para aqueles que crêem ela é o “poder de Deus”.

3. A Escritura (v.19) - Paulo cita Isaías 19:12 e 29:14, para comprovar que Deus não depende da

sabedoria do mundo. Desde a antigüidade, o caminho de Deus é um constante e notável contraste com os caminhos traçados pela sabedoria dos homens.

4. A História Humana (20,21) - Paulo declara que Deus transformou em loucura as filosofias dos

escribas e dos sábios. O mundo dos homens fracassou totalmente quanto a galgar e obter aquilo que mais precisava. Não conheceu a Deus. A despeito do seu conhecimento e da sua sabedoria terrena, o mundo não conhece o seu próprio Criador. Quem estudar o curso da história humana perceberá que o conhecimento tem sempre aumentado, enquanto a sabedoria tem diminuído. Por quê? Porque os homens aplicaram a estulta sabedoria humana, procurando descobrir a verdade. O mundo recusa-se a aceitar o caminho de Deus e a Sua revelação. Logo, o mundo opera através da sua sabedoria e das suas próprias noções e desejos.

5. O ministério de Paulo - Paulo pregou aos judeus e gentios igualmente. Sabe-se que os judeus

procuram algum sinal para forçá-los a crer, e que os gregos procuram sabedoria e cultura intelectual. Mesmo assim, o apóstolo declara que pregará somente a Cristo, e este crucificado, embora saiba que isto é contrário a tudo quanto o povo espera. Como poder de Deus, Cristo salva onde o mundo não pode salvar. Salva do pecado, de Satanás e da morte. Como sabedoria de Deus, Cristo salva onde fracassaram os sistemas dos sábios segundo o mundo.

6. O chamamento dos coríntios (26-29) - Se Deus precisasse da “sabedoria e da glória dos homens”,

diz o apóstolo, “para que chamou vocês? ” Paulo comprova o que disse, ao lembrar os seus leitores daquilo que eles são, segundo os padrões do mundo.

7. A suficiência de Cristo (30,31) - Neste mundo, muitas vezes o cristão tem sido considerado um ser

fraco e desprezado, mas tem na cruz a sua força, e, ocultos dentro dele há a presença toda-vitoriosa de Cristo e o poder do Espírito Santo. Cristo é tudo para nós. “Sabedoria” para os estultos, “poder” para os fracos, “sabedoria, santificação e redenção” para os humildes, os desprezados e os que nada têm.

CAPÍTULO 2 - A Mensagem que Paulo pregava (v.1-8) 1. O Evangelho com poder (v.3-5) - o apóstolo dá três características da sua pregação, quando veio

a Corinto pela primeira vez: a. Paulo resolveu não falar em mais nada, senão em Jesus Cristo este crucificado. A pessoa e a obra de Jesus Cristo perfaziam a essência do evangelho inteiro. O apóstolo prega “a mensagem fraca e tola de Cristo crucificado” que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. b. “E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós” (v.3) - Paulo nos ensina aqui que a única mensagem para o mundo é Cristo, e o único poder eficaz é o Espírito Santo. Ao observar as palavras “fraqueza, temor e tremor”, precisamos considerar que o apóstolo estava enfrentando a perspectiva de evangelizar a perversa cidade de Corinto, tendo deliberadamente resolvido não acrescentar à sua mensagem a sabedoria humana dos gregos. Paulo sentia-se como quem está desprovido de armas. Como conseqüência, experimentou a consciência das suas limitações humanas e um senso de insuficiência, que resultou até um tipo de tremor físico.

A seguir, a pregação de Paulo foi seguida de resultados positivos. Quaisquer que tenham sido as desvantagens humanas de Paulo, sempre acontecia algo quando ele pregava.

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2. O Evangelho com Sabedoria Espiritual (v.6-8) - Alguns talvez deduzem que Paulo achava que a

fé Cristã dispensa o intelecto. O apóstolo contraria esta idéia ao ressaltar que o Evangelho realmente contém sabedoria, mas somente sabedoria espiritual. Esta é a sabedoria que é ensinada aos maduros na fé. É ver as coisas segundo a perspectiva de Deus.

Dois Espíritos Operando Hoje no Mundo (v.9-13) a. O homem natural (v.14) - Este é o homem não salvo, o homem que pertence ao mundo e que tem

simpatia por este. Rejeitou a sabedoria divina. Não é espiritual; é carnal, não aceita as coisas de Deus. Ao homem natural, elas parecem loucas e absurdas. Na verdade Paulo declara que o homem natural “não pode entendê-las”.

b. O homem espiritual (v.15,16) - Este é o cristão controlado pelo Espírito Santo, é o oposto exato do

homem natural. Visto que o homem espiritual tem o padrão verdadeiro, mediante o qual, esquadrinha “todas as coisas”, até mesmo as coisas terrestres, pode avaliar corretamente as coisas desta vida: sua verdadeira natureza, propósito e relacionamento.

Quando o apóstolo diz que o homem espiritual conhece a mente do Senhor (v.16), significa conhecer o seu conteúdo, seus pensamentos, seus planos e seus propósitos. É avaliar e ver as coisas conforme o Senhor vê; é dar o valor que o Senhor lhes dá. Amar o que Ele ama e aborrecer o que Ele aborrece.

CAPÍTULO 3 - O ministro do Evangelho

Nos capítulos 3 e 4, Paulo trata do ministério do evangelho e nos diz o que é um ministro do Evangelho e como a igreja deve considerá-lo. Nestes dois capítulos encontramos seis retratos dos servos de Cristo.

Servos do Senhor para os outros (1-5) - O apóstolo relembra aos coríntios que ele e outros da Igreja são

em primeiro lugar, DIAKONOI (servos) do Senhor. Este conhecimento deveria ter evitado que exaltassem os homens do modo como estavam fazendo. Quando Paulo se chama “servo ou ministro”, tem em mente o serviço que prestou em Corinto. Apesar de bem servidos pelo apóstolo, estavam agindo como crentes carnais, como criancinhas em Cristo. Paulo não lhes podia dar alimento sólido, mas sim, somente leite para beber. O alimento sólido fala de uma exposição mais plena de Cristo crucificado. No v.5, o apóstolo os faz lembrar, que visto ser ele e Apolo somente ministros do Senhor, qualquer diferença no serviço que os mesmos prestavam aos cristãos depende exclusivamente do plano de Deus.

Um Cooperador na Semeadura (6-9) - O apóstolo ressalta que o pregador ou pastor é um semeador do

Evangelho. A semente é o Evangelho. Retrata o pregador trabalhando num campo. Outros cooperadores contribuíram para o progresso desta seara espiritual regando-a. Os Coríntios deviam considerar-se como plantação tratada pelos obreiros de Deus.

Um Construtor do Templo de Deus (10-23) - A igreja é comparada a um templo e o ministro ou pastor,

a um construtor, cuja responsabilidade é conservar o material do templo em ótimo estado. Paulo foi o construtor que Deus empregou para lançar o fundamento do trabalho em Corinto, e aquele fundamento era Cristo. O apóstolo, porém, adverte que todo o homem ocupado na construção da igreja, deve ter muito cuidado com o que está fazendo. A seguir, passa a descrever dois tipos de obreiros que, positiva ou negativamente estão envolvidos com a obra de Deus:

A. O construtor sábio espiritual (v.14) - Emprega materiais duráveis - Ouro, prata e pedras preciosas,

que representam a fidelidade, o empenho e o amor com que realiza o trabalho de Deus, bem como o modo

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pelo qual o obreiro ensina a sã doutrina.

B. O construtor insensato e negligente (v.15) - O construtor negligente usa materiais sujeitos a

combustão, tais como madeira, feno e palha, os quais representam a infidelidade, imaturidade espiritual e a vulnerabilidade à sã doutrina. É superficial. Não lança bases que permaneçam para a eternidade.

CAPÍTULO 4

No capítulo quatro, Paulo continua tratando do ministério dando mais três retratos do ministro do

Evangelho:

O Despenseiro das Riquezas de Deus (1-7) - O despenseiro era quase sempre um escravo que cuidava

dos bens do seu senhor. Paulo declara que um ministro é um despenseiro, e portanto, Deus e não os coríntios tem o direito de avaliar os méritos de seus obreiros.

Todavia, não proíbe toda a forma de julgar, ressalta que pregadores e mestres que ensinam falsas doutrinas e promovem divisões, devem ser julgados e isolados. (Rm. 16:17)

Um Espetáculo Para o Mundo (8-13) - A situação dos coríntios era tão séria, que o apóstolo se vale de

uma linguagem irônica para atacar o orgulho carnal deles. Contrastou a exaltação e convencimento deles com as aflições diárias de Paulo. Eles se sentiam como reis, sem precisarem de nada. Na sua arrogância, já não eram mansos. (Mt. 5:5)

Qual deve ser a condição do verdadeiro servo de Deus? O apóstolo nos explica a partir do v.9. Ele compara a situação dos apóstolos à de homens sentenciados à morte, referindo-se aos condenados no anfiteatro. Um espetáculo aos olhos do céu e da terra. Homens condenados à morte e à miséria (v.9) por serem seguidores de Cristo. E este sofrimento, destaca Paulo, continua até a presente hora (v.11)

“Fome, e sede, e nudez”, falam da falta de alimento, água e roupas (v.11). Ao dizer “somos esbofeteados”, isto é “batidos com punho”, relembra Paulo muitas vezes que foi espancado e atacado. “Não temos morada certa”, refere-se às viagens constantes. “E nos afadigamos”, significa o trabalho com as próprias mãos para garantir sua manutenção. O Amor de Pai (15-21) - O verdadeiro ministro (servo) deve ter amor de Pai para com o rebanho que lhe é confiado. Contemplamos na pessoa do apóstolo esta virtude. Como um pai cuida de seus filhos e se torna o padrão, o modelo a ser imitado, assim foi Paulo para os convertidos.

CAPÍTULO 5 - A disciplina na Igreja

No cap. 5, dois problemas sérios da igreja de Corinto são tratados pelo apóstolo: 1. A imoralidade na igreja; 2. A recusa desta de exercer disciplina para com o indivíduo culpado. O desígnio de Cristo para a igreja é que ela seja qual seu corpo, puro e sem mácula, sendo Ele a cabeça.

Os cristãos de Corinto (como nós também) viviam numa sociedade corrompida, permissiva, que tolerava a impiedade. Para a igreja reconhecer e conservar sua identidade e unidade como corpo de Cristo, é necessário a disciplina. A Bíblia ressalta sua importância tanto no lar, como na família da fé. No N.T., várias passagens tratam sobre a disciplina na igreja (vide Mt. 5:22; 18:15-20; II Ts. 3:16,14,15 e Ap. 2:19,20), sendo I Co. 5, o capítulo clássico de tal assunto.

O texto diz respeito a um caso conhecido de imoralidade flagrante e sem arrependimento, dentro da igreja. Paulo dá três razões porque a igreja devia disciplinar o membro faltoso.

1. Para o Bem do Transgressor - A repreensão de Paulo diz respeito a um homem que coabitava com a

esposa de seu pai - sua madrasta. Semelhante união era repulsiva até entre os gentios que eram tão relaxados

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em assuntos sexuais. (As leis romanas proibiam este tipo de relação) todavia a igreja ao tolerar passivamente tal pecado além de colocar-se na mesma condição, acarretava pela falta de disciplina maior prejuízo ao transgressor. Paulo salienta firmemente que a disciplina precisa ser praticada e fornece especificamente as instruções neste sentido. No v.5, quando encontramos a expressão “que seja entregue a Satanás”, não se trata de uma atitude brutal e desprovida de qualquer sentimento por parte do apóstolo. Ainda que o texto não tenha uma interpretação clara, que nos permita afirmar que isto envolvesse qualquer tipo de castigo físico, o que nos é dado a compreender, e isto de forma ampla, que este “ser entregue ao domínio de Satanás” significava a exclusão da igreja, pois este isolamento e perda da comunhão com a igreja, faria com que se sentisse fora da graça de Deus e isto geraria tristeza e conseqüente arrependimento e volta para Cristo.

2. Para o Bem da Igreja (6-8) - Para ilustrar sua lição o apóstolo emprega a Festa da Páscoa (leia Ex.

12:15-27). O fermento sempre foi para os judeus um símbolo de pecado e corrupção. Assim, antes da Páscoa, eles limpavam totalmente suas casas, para remover todos os sinais de fermento. Esta festa prefigurava a vida de santidade que devia seguir-se à morte do Cordeiro (é uma ilustração da obra de Cristo), o que mostra que a vida de santidade do Cristão é algo contínuo, e por isso Paulo escreve “celebremos a festa” v.8 - tempo presente, ação duradoura, pois do contrário, assim como uma migalha de fermento na casa israelita significava julgamento (Ex. 12:15), do mesmo modo o pecado na vida do cristão gera a necessidade de

disciplina. A igreja precisa fazer prevalecer as virtudes divinas e não o fermento do pecado. 3. Para o Bem do Mundo (9-13) - A igreja para cumprir o seu papel precisa manter seu testemunho

cristão (v.9-11). Ela precisa gerar influência e não ser influenciada pelo mundo. As pessoas precisam ser atraídas para Cristo.

CAPÍTULO 6 - Os cristãos e os tribunais pagãos

No cap. 6:1-8, é tratado da questão do litígio entre irmãos em tribunais pagãos. A notícia de que alguns membros da igreja de Corinto estavam processando outros, movendo ação nos tribunais pagãos, era digno da repreensão do apóstolo, que lhes chama a atenção dizendo: “como ousam ir à justiça diante dos injustos?”. Em seguida os admoesta a solucionar suas questões dentro da Igreja.

Quatro razões para os santos julgarem as disputas entre si (2-6) 1. Por causa da igreja e do futuro julgamento (2,3) 2. Porque os juízes seculares não são qualificados para julgarem questões espirituais (4,5) 3. Porque um irmão não deve ir a juízo contra outro irmão perante infiéis (v.6) 4. Porque o resultado de tais litígios finda em derrota (7,8)

Advertência contra o relaxamento moral Nos vs. 9-11, Paulo volta novamente à questão da imoralidade, e em termos bem definidos, descreve a

condição de um cristão tentado pela fornicação. É importante relembrarmos que os cristãos coríntios viviam em meio de uma sociedade pagã e corrupta

do mais alto grau. Essa corrupção era pior na parte de procedimento sexual. A fornicação e a imoralidade eram males comuns e nacionais. Os cristãos vieram desta atmosfera, que ainda continuava a afetar a igreja ali. A fornicação não era considerada coisa má. Os coríntios davam três desculpas para pecarem:

a) Se somos salvos então podemos pecar e ainda assim herdarmos o Reino de Deus. (9-11) b) Como cristãos temos liberdade, estando livres da lei. (12-14) c) O corpo foi feito para o prazer e para o ato sexual. (13-20) O apóstolo reage contra estas três desculpas, apresentando três verdades contrastante:

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1. O Salvo pode perder a Salvação Paulo está escrevendo para salvos e não para incrédulos. Aqui ele combate uma idéia que penetrou no

Cristianismo desde seu início, ou seja, de que é Deus parcial no seu julgamento do pecado, ou seja de que uma vez salvo pela graça, o homem pode viver do modo como bem entender, cometer qualquer tipo de pecado e ainda assim ter garantida a sua salvação. Nesse sentido, dois aspectos são destacados:

a. O injusto não herdará o reino de Deus (v.9) - A vitória de Cristo não dispensa a necessidade de

vigilância e piedade. Paulo diz: “Aquele pois, que pensa estar em pé, veja que não caia.” (I Co. 10:12)

b. O cristão pode ser enganado (v.9) - Parece que alguns estavam ensinando a segurança eterna

incondicional quanto à salvação. Em síntese o apóstolo estava dizendo: Se alguém falar que o cristão pode viver nos prazeres carnais e herdar o reino de Deus, escapando da ira divina, está errado.

2. O Princípio da Liberdade Cristã No v.12, Paulo continua a refutar os argumentos dos que procuram razões para pecar. Os coríntios

declaravam que tinham liberdade, uma vez que não estavam sob o domínio da lei (12-14). Uma segunda verdade é apresentada aqui pelo apóstolo, ao salientar que a liberdade dada pelo Espírito é a capacidade e o desejo de fazer aquilo que se deve (v.12) “Todas as coisas me são lícitas...” Esta frase, que ocorre duas vezes aqui, nos é dado a entender que constituía o lema do partido liberal dentro da igreja, a qual estava impaciente com as restrições quanto a imoralidade. Vejamos o que Paulo acrescenta ainda, no que respeita a liberdade.

O apóstolo concorda com a declaração deles até certo ponto. Em primeiro lugar, “Todas as coisas”, não pode ser entendido quanto a incluir o pecado, pois atacaria pela base, a vida cristã. Aquilo que Deus proíbe, jamais poderá ser permitido. Ninguém tem licença para ignorar o que Deus ordena. O errado permanece errado e o certo está certo. “Todas as coisas”, é restrito pelo próprio contexto, às coisas que nos são ordenadas ou proibidas por Deus.

3. O Corpo do Cristão Pertence a Deus O argumento final para pecar, alegado pelos coríntios, era que: “os alimentos são para o estômago, e o

estômago para os alimentos” (v.13). Assim como comer é uma função natural, eles queriam dar a entender que uma função natural é semelhante a outra, ou seja, a fornicação é tão natural como comer. Paulo repudia isto decididamente. O estômago e o alimento são transitórios. No devido tempo Deus acabará com ambos, serão reduzidos a nada. Mas o corpo não está destinado a ser destruído. Haverá de ser transformado e glorificado (Fp 3:21). Não há entre o corpo e os desejos sensuais relação como a que há entre o estômago e o alimento. Em vez disso, a associação é entre o corpo e o Senhor. Deus não destinou o corpo para a “fornicação” (Na versão ARA: Impureza, a palavra inclui o relacionamento sexual entre solteiros, bem como todo e qualquer tipo de imoralidade), como destinou o estômago para os alimentos. Tem havido muita discussão sobre o conceito paulino de corpo. A maioria concorda que, ao passo que a palavra sarx, “carne”, expressava para o apóstolo pensamentos como os do homem em sua fraqueza, em seu pecado e em seu estado decaído, sõma, “corpo” é antes a personalidade completa, como uma pessoa na intenção de Deus. O corpo não pode ser menosprezado como uma coisa sem importância. O corpo é para o Senhor, é o instrumento em que o homem serve a Deus e é o meio pelo qual ele glorifica a Deus. “...o Senhor é para o corpo” dá a idéia de que, justamente como o alimento é necessário, se o estômago há de funcionar, assim o Senhor é necessário, para o corpo funcionar. É somente na medida em que Deus nos capacita, que podemos viver a espécie de vida corporal para a qual fomos destinados.

Vejamos o que Paulo destaca no v. 14, quanto a ressurreição do corpo: A ressurreição dominava o pensamento cristão primitivo, como vemos nos primeiros capítulos de Atos,

e, na verdade, em todo o N.T. Ter o Pai ressuscitado ao Filho dentre os mortos, e não simplesmente ter feito sua alma persistir durante a dissolução do corpo, indica algo da dignidade do corpo. A vida corporal guarda, qual relicário, valores permanentes. A ressurreição nos proíbe avaliar levianamente o corpo. Se este há de ser

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ressuscitado, não deve ser desprezado como se houvesse de ser destruído. No v. 15 , como já fez três vezes neste capítulo, o apóstolo emprega a fórmula “não sabeis?” para apelar

para um assunto de conhecimento geral. “Membros”, é a palavra usada para as partes do corpo (cf. seu uso num sentido similar em Rm. 6:13ss.) Para Paulo, os cristãos estão unidos a Cristo do modo, o mais forte. Eles estão “em Cristo”. São membros do seu corpo. É isto que torna a prática sexual viciosa tão rejeitada por Deus. A palavra traduzida por “tomaria”, significa “levar embora”, indicando que na prática deste pecado, os membros de Cristo são levados embora, retirados dos seu uso apropriado. São usurpados do seu idôneo Senhor. São tornados membros de meretriz. É claro que o pecador não é “membro de uma meretriz” no mesmo sentido em que é “membro de Cristo”. Mas para Paulo, a união sexual é tão íntima que virtualmente faz dos dois corpos um, e assim há a profanação daquilo que deve ser usado somente para Cristo. (Obs: O que Paulo apresenta aqui não deve em absoluto ser confundido com o relacionamento sexual no casamento, o que constitui o padrão estabelecido por Deus.)

Quando no v.18 , Paulo diz: “fugi da impureza” (prostituição, fornicação), o imperativo presente indica a ação habitual, “fazei vosso hábito fugir”. Este é o único modo de tratar disso. O apóstolo continua e desenvolve a idéia de que este pecado fere as próprias raízes da constituição essencial do homem. Paulo não diz que este é o pecado mais grave de todos. Mas a sua relação com o corpo é única. A fornicação envolve o homem naquilo que Godet chama de “uma degradante solidariedade física, incompatível com a solidariedade espiritual do crente em Cristo”. Em síntese, todo o fornicário está cometendo uma ofensa contra a sua própria personalidade.

No v. 19 , Paulo destaca que cada cristão é um santuário em que Deus habita. Um recinto sagrado. Isto dá a totalidade da vida uma dignidade tal, que nenhuma outra coisa mais poderia dar. Aonde quer que vamos, somos portadores do Espírito Santo, templos em que apraz a Deus habitar. Isto deve eliminar toda a forma de conduta que não seja apropriada para o templo de Deus.

Encerrando o capítulo, no v.20, o apóstolo mostra a razão básica do que foi apresentado até aqui, quando diz: “Fostes comprados por preço”. O verbo no grego, indica uma ação única e decisiva no passado. Paulo não menciona a ocasião e nem o preço, mas não é preciso. Nossa memória se volta imediatamente para Aquele que, no Calvário, deu Sua vida perfeita para adquirir pecadores. A figura é a da redenção. O preço pago para comprar-nos da escravidão do pecado (Jo. 8:34) não era uma ficção piedosa, mas foi o altíssimo preço da morte do Senhor. O resultado é introduzir-nos numa esfera em que, no que concerne aos homens, somos livres (v.12). Mas somos servos de Deus. Pertencemos a Ele. Ele nos adquiriu para sermos dEle. Nossa responsabilidade em conseqüência é glorificá-lo.

CAPÍTULO 7

A partir do cap. 7, Paulo se volta para os assuntos específicos sobre os quais os coríntios lhe tinham escrito. O primeiro destes assuntos é sobre o casamento. Vejamos o que o apóstolo aborda:

A. O Princípio Geral (1-7) Ao avaliar o que é dito neste texto, é preciso se ter em mente a situação. Havia na antigüidade uma

generalizada admiração pelas práticas ascéticas, incluindo-se o celibato. Pelo menos alguns dos coríntios partilhavam dessa admiração. Paulo faz todas as concessões ao ponto de vista deles. Concorda que o celibato é “bom”.

E expõe algumas de suas vantagens. Mas considera o casamento como normal. Em I Co. 11:11 vemos que, embora haja algumas vantagens no celibato, há uma realização mais completa no casamento. O celibato requer um dom especial de Deus. Paulo relembra as tensões do modo cristão de viver em Corinto, com a constante pressão sofrida dos baixos padrões da moralidade sexual pagã. Ele tem em mente a emergência do momento (a “angustiosa situação presente” v.26; cf. v.29,30) conquanto ele próprio prefira o celibato, é bem moderada a sua defesa desse estado. Ele não ordena a vida celibatária a todos os que possam suportá-la. Jamais diz que o celibato é moralmente superior ao casamento.

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V.1 - É bom (não “necessário”, nem “moralmente melhor”) que o homem não toque mulher. Neste

contexto, “tocar” refere-se ao casamento. O conceito de Paulo é que os solteiros estão livres para servir a Deus sem as preocupações subordinadas ao estado dos casados (v.32ss). Mas isto não implica que o estado dos casados não seja bom.

V.2 - A regra geral é que os homens se casem. O raciocínio ocorre assim: O celibato, como

vocês dizem é bom. Mas a tentação é farta. É inevitável. A solução certa é que cada um se case. A “fornicação” (Versão Inglesa e ARA, impureza) era prática reinante em Corinto (a palavra no grego está no plural, significando muitos atos imorais). Isto tornava mais difícil para o solteiro manter-se casto. Alguns têm sugerido que Paulo dá expressão aqui a um baixo conceito sobre o casamento. A resposta é que ele não está expondo o seu conceito do estado dos casados (cf. Ef.5:28ss), mas está tratando de uma questão específica à luz de uma concreta situação histórica.

V.3-5 - Paulo destaca as responsabilidades conjugais. Acrescenta que esposa e esposo possuem

direitos e obrigações um para com o outro. Não salienta o dever de um em detrimento do outro, mas os coloca no mesmo nível. No v.3, o imperativo presente indica dever habitual. Nenhum dos dois têm o direito de usar seus corpos completamente como queiram.

Mesmo que surjam ocasiões em que os parceiros conjugais concordem em abster-se por algum tempo das relações normais, a fim de entregarem-se mais devotamente à oração, isto deve ser patentemente excepcional, pois na visão do apóstolo, cada um pertence ao outro de modo tão completo, que ele pode chamar a negação do corpo, de um ato de “fraude” (ARC, “Não vos defraudeis”). Por mais importantes que sejam as medidas excepcionais na busca de um tranqüilo e sereno intercâmbio com Deus, para os casados, a interrupção das relações normais, mesmo com santo propósito, só pode ser feita com mútuo consentimento.

V.7 - O apóstolo manifesta sua preferência pessoal pelo celibato, mas reconhece que a continência é

um dom divino especial. Os que não o receberam não devem tentar permanecer solteiros. Cada qual tem de Deus o seu próprio dom. A questão do casamento não pode ser decidida aplicando-se uma lei a todos. Cada um deve considerar qual é a vontade de Deus para si. E, da mesma forma que o celibato, o casamento é um dom de Deus.

B. Os Solteiros e Viúvos (8,9) - Paulo passa a tratar agora de classes específicas. Começa com os que

não estão presos aos laços matrimoniais (literalmente “não casados”) sejam solteiros ou viúvos. Diz que é bom o estado em que estão, mas o permanecer neste estado depende do dom da continência. O apóstolo não considera a supressão do desejo sexual como em mesma meritória, como alguns escritores mais recentes sustentaram.

C. Os Casados (10,11) - O caso em foco é o de casamento em que ambos os cônjuges são cristãos. A

mulher não deve separar-se de seu marido, nem o marido divorciar-se de sua mulher. Paulo não menciona a exceção permitida por Cristo com base na fornicação (Mt. 5:32;19:9). Mas ele não está escrevendo um tratado

sistemático sobre divórcio. Está respondendo perguntas específicas.

D. O Cristão Casado Com Uma Incrédula Disposta a Viver Com o Crente (12,14) - Paulo

destaca que o cristão não deve deixar o cônjuge descrente, a não ser que o último exija a separação. O apóstolo ressalta que o casamento misto não deve ser dissolvido só porque um cônjuge é cristão e o outro não.

Quanto a questão da mulher ser santificada pelo marido e vice-versa, pelo convívio, Paulo mostra que pela atitude santa do cônjuge crente, o cônjuge descrente está colocado na posição de ser alcançado pela bênção, tomando por base o princípio bíblico de que as bênçãos provenientes da comunhão com Deus, não se limitam a recipientes imediatos, mas se estendem a outros(Gn. 5:18; 17:7; 18:26ss; I Rs. 14:4; Is. 37:4).

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E. O Cristão Casado Com Uma Incrédula que não se dispõe a viver com o crente (15,16) - É

diferente o caso, se o incrédulo não quer que o casamento continue. Se o incrédulo toma a iniciativa, então o crente não fica sujeito à servidão. Isto parece indicar que o cristão está livre para casar-se outra vez, pois o abandono nesses casos iguala-se ao adultério nos seus efeitos. O vínculo do casamento é rompido. O cônjuge que desertou quebrou este vínculo. No entanto, todo o tratamento dado aos casamentos mistos, deve-se seguir a linha que conduza a paz.

F. As Virgens (25-38) - Todo o teor desta passagem deixa claro, que a decisão do pai ou tutor de uma

jovem determinava em grande medida se ela devia casar-se ou não. A realidade da época, particularmente deveria ser observada.

No v. 26, a referência à angustiosa situação presente é importante. Não sabemos em que consistia essa

situação angustiosa. A palavra é forte (cf. seu emprego em Lc. 21:23), significando uma tensa compulsão opressiva. Alguma preocupação aflitiva oprimia duramente os coríntios na ocasião em que Paulo escreveu. Alguns entendem que se tratava de dificuldades que proclamavam o segundo advento. Paulo se refere muitas vezes ao advento de Cristo, mas não associa a isto alguma angustiosa situação presente. É aceito com maior naturalidade como indicando que os amigos de Paulo estavam, naquele tempo, em circunstâncias extraordinariamente difíceis. Em vista de tempos tormentosos, o apóstolo achava que era melhor que cada pessoa permanecesse no estado em que estava. “Quando os mares se encapelam enfurecidos, não é hora de mudar de navio”.

No restante do capítulo, o apóstolo fala com clareza o que pretende dizer. Mais uma vez mostra que embora as circunstâncias sejam difíceis, o que tornava o casamento desaconselhável, pelas responsabilidades que acarreta, o homem que decidisse casar não estaria em pecado e assim também a virgem.

CAPÍTULO 8 - A renúncia pessoal e salvação do próximo

A fim de fazerem o que queiram em questão de conduta, os coríntios se consideravam conhecedores de

questões como carne oferecida a ídolos. Começavam com seu intelecto e determinavam sua conduta por meio desse mesmo intelecto. O conhecimento atuando desta forma, torna o homem orgulhoso. Algo mais era necessário entre eles além do conhecimento: o amor. O amor leva os outros em consideração e ajuda-os a fortalecer a vida espiritual. O que realmente importa, diz Paulo, não é o saber, mas sim “ser conhecido por Deus” (v.3), porque o homem que é conhecido por Deus será cheio do amor de Deus. Além disso, o conhecimento que realmente vale, é aquele saturado do amor a Deus e aos outros. O conhecimento que está cheio do “eu” e vazio de amor, não é realmente conhecimento.

Quanto à seqüência do capítulo é importante considerarmos:

Alimentos dedicados aos ídolos

Muito importa compreender o pano de fundo da discussão paulina a respeito dos alimentos associados à adoração idólatra. No antigo mundo pagão, os santuários eram os principais supridores de carne para o consumo humano. Portanto, a maior parte das carnes que se vendiam nos açougues, fora dedicada a algum ídolo. Os deuses pagãos recebiam uma porção simbólica, oferecida em holocausto sobre um altar - e usualmente não era um pedaço seleto, para dizer a verdade. Após uma refeição sacramental em companhia do adorador, os sacerdotes ofereciam à venda ao público a carne restante. Os judeus contudo, geralmente adquiriam carne nos açougues de judeus, onde podiam ter a certeza de que a carne não fora consagrada a alguma divindade pagã.

Deveriam os cristãos ser como os judeus? Paulo defendia a liberdade do cristão de comer tais carnes, mas faz uma advertência aos seus leitores, para que não permitissem que o exercício de tal liberdade viesse a produzir dano às pessoas sem consciência bem formada. Em outras palavras, um que creia que os ídolos possuem real existência estiver observando, então um cristão melhor informado, deveria refrear-se de comer tal carne, para não suceder que fique danificada a vida do cristão desinformado, e para que não venha ele perder seu testemunho perante os incrédulos.

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Paulo adverte que embora ele estivesse permitindo o consumo de carnes dedicadas a ídolos, sob hipótese alguma ele permitiria a participação em festividades idólatras, vinculadas que estão à adoração pagã. (Os templos pagãos com freqüência contavam com salas de jantar auxiliares, onde havia refeições sociais e de cunho religioso). Seria uma incoerência para um cristão participar tanto da Ceia do Senhor, como das ceias associadas a uma adoração a falsas divindades, inspirada pelos próprios demônios. Paulo destaca que quando nos dias do A.T., Israel se associou a festividades pagãs, também caiu em formas de adoração pagã que só conduzia à imoralidade.

CAPÍTULO 9 - O exemplo de Paulo na renúncia pessoal No capítulo 9, Paulo desenvolve o princípio da renúncia pessoal, citando sua própria pessoa como

exemplo disso. Sustenta que até mesmo um apóstolo deve renunciar seus direitos por amor do Evangelho. Enquanto estava em Corinto, o apóstolo trabalhava com suas próprias mãos para se manter, ficando sem sustento da parte da igreja.

Exemplo de Outros Apóstolos e Obreiros (1-6)

O apóstolo começa afirmando seu apostolado. Este é autenticado por dois argumentos: 1. Que viu a Jesus, nosso Senhor; 2. Que a igreja de Corinto é sua obra no Senhor.

Como apóstolo, Paulo podia pedir muitas coisas aos coríntios, mas nada lhes pedia. Aqui ele está falando

do direito dos apóstolos quanto ao sustento, pelas congregações que fundavam e serviam. Os demais apóstolos, inclusive Pedro, tinham este direito. Tinham também o direito de serem acompanhados pelas esposas. Logo, se outros obreiros tinham estes privilégios, Paulo também os tinha.

Exemplos da Vida Comum usados por Paulo (v.7)

O soldado presta o serviço militar a sua própria custa? O agricultor planta, para não se alimentar da colheita? Ou o pastor deixa de tomar o leite do seu rebanho? O princípio é o seguinte: o homem que consagra seu esforço à uma obra, deve viver daquela obra.

O soldado deixa sua profissão para ir à guerra, logo é muito provável esperar que a igreja local sustente seus pastores.

Lei do Antigo Testamento (8-11)

Não é apenas a sabedoria humana, mas um mandamento específico divino (Dt. 25:4) que ensina este princípio. O mandamento é: “Não atarás a boca do boi que debulha”. O princípio é que o obreiro deve participar do fruto da sua obra. Depois, Paulo o aplica aos obreiros espirituais, no v.11. Se o boi tira proveito do seu trabalho físico, o apóstolo não terá benefício da sua obra espiritual?

Outra prova do direito de Paulo de participar destes privilégios é o exemplo dos sacerdotes do A.T. que serviam no templo e do templo recebiam seu sustento.

A partir do verso 15, o apóstolo passa a expressar a idéia que tinha em mira desde o princípio, ou seja, a do sacrifício voluntário, mediante o qual ele abriu mão dos seus direitos. Após ter afirmado com segurança seu apostolado, bem como os direitos deste apostolado, declara que não fez uso de nenhum destes direitos e que suportaria tudo para não ser empecilho ao evangelho de Cristo, e para que o mesmo fosse anunciado gratuitamente (15-18), pois ansiava ganhar o maior número possível de pessoas para Cristo (19-23).

Assim, preferia sacrificar sua liberdade do que exercê-la e ver menos pessoas sendo alcançadas pelo Evangelho. Deste modo, para com os judeus, Paulo portava-se como judeu, a fim de ganhar os judeus. Para com os gentios, que não estavam debaixo da lei, agia como gentio. Tornou-se fraco, a fim de ganhar os fracos. Veio a ser tudo, para com todos os homens, a fim de que, por todos os meios salvasse alguns. (19-23)

Isto que dizer que Paulo estava pronto a sacrificar suas preferências e interesses mais legítimos, se assim pudesse salvar alguns. O que o apóstolo mostra aqui, é que estava disposto a conformar-se com os costumes

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das pessoas, as quais procurava ganhar. Paulo buscava na medida do possível uma identidade, pois entendia que se não se identificasse com seus costumes, não poderia ministrar tão eficazmente como fez. E com isto a igreja sofreria a perda de muitas almas. Nenhuma observância lhe parecia penosa demais, nenhuma exigência tola demais. Nenhum preconceito lhe era demais absurdo, tendo em vista a salvação das almas.

Nos vs. 24-26, Paulo trás à lembrança dos coríntios, na figura do atleta, os jogos esportivos que eram realizados em Corinto, mostrando que muito mais do que aqueles que correm no estádio, se disciplinam e observam todas as regras da competição na esperança de serem vencedores e ganharem uma faixa azul ou uma coroa de folhas, que logo vem a murchar, o “atleta cristão” se prepara, disciplina e corre em busca de uma coroa incorruptível.

CAPÍTULO 10 - A Questão da Liberdade Face a Salvação

Neste capítulo, Paulo demonstra que ainda que o cristão tenha liberdade, deve acautelar-se, saber usá-la adequadamente, para não correr o risco de ser rejeitado por Deus (1-13). O apóstolo usa a nação de Israel como exemplo de um povo com o qual Deus se desagradou. Os israelitas tinham recebido grandes favores da parte do Senhor. Tinham sido libertados da escravidão. Tinham sido batizados. Tinham recebido pão e água de forma miraculosa. Mesmo assim pereceram, porque ao invés de alegrarem-se na bênção espiritual, constantemente cobiçavam coisas más.

Nos vs. 1-4, é importante observarmos que cinco vezes encontramos a palavra “todos”. Vejamos o que o texto apresenta: a. Todos foram refrigerados pela nuvem durante o dia, para que o sol escaldante do deserto não os fizesse

perecer. b. Todos foram aquecidos pela coluna de fogo durante a noite. c. Todos passaram pelo mar, contemplaram do mesmo modo as maravilhas de Deus, desfrutaram do maná,

comeram de um mesmo manjar espiritual e beberam de uma mesma fonte espiritual. Todos os exemplos escolhidos por Paulo aplicam-se diretamente aos coríntios e foram destacados por

esta mesma razão. Os israelitas se entregavam ao seguinte: 1. Coisas más - Isto é usufruto de coisas que Deus não permite 2. Idolatria - Os coríntios estavam correndo o perigo de cair na idolatria, enquanto se divertiam nas

festas dos ídolos. 3. Fornicação - Nos cap.5-6, já vimos amplamente a realidade da igreja neste sentido. 4. Tentar a Deus e murmurar contra Ele - Era o descontentamento que sentiam por causa da renúncia

pessoal requerida.

Na seqüência do texto, continua o alerta quanto ao perigo de associar-se com demônios (14-22). No v.15, o apóstolo chama a atenção ao dizer: FALO COMO A ENTENDIDOS, ou seja, como a inteligentes,

como a pessoas que não precisam voltar aos rudimentos básicos do Evangelho, mas a pessoas que são capazes de absorver, de assimilar em maior profundidade as riquezas de Deus. Uma vez que se julgavam tão intelectuais. Paulo desejava que os coríntios tivessem de fato esta compreensão e conhecimento. Que entendessem o verdadeiro significado da comunhão e da posição privilegiada de estar e andar na presença de Deus.

CAPÍTULO 11 Neste capítulo nos vs.4-16, nos deparamos com uma série de informações preciosas referentes aos

costumes e a cultura em Corinto, que dissipam todas as dúvidas e lançam por terra argumentos de que Paulo faz menção aqui de aspectos doutrinários.

Para uma compreensão adequada do texto, é preciso que observemos que Paulo estava dando instruções específicas a uma igreja, com o propósito de sanar um problema ali existente. Não se trata de uma profecia ou mandamento do Senhor.

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Formas do Uso do Cabelo para a Mulher Cabelo Comprido - O cabelo comprido (ou longo) para a mulher era sinal de poderio e de submissão. - Para a mulher solteira - significava estar sob a responsabilidade ou domínio do pai. - Para a mulher casada - significava estar sob a responsabilidade do marido. O cabelo comprido, como sinal de submissão, indicava ainda não expor o pai ou o marido à vergonha.

Cabelo – A cabeça rapada ou tosquiada para mulher era sinal de independência e significava “mulher

de prostituições”. É conveniente lembrar que Corinto era cidade portuária e que nela havia as “prostitutas sagradas” que serviam no templo de adoração pagã.

Desse modo, as instruções dadas por Paulo, visam tão somente corrigir um problema da cultura e costumes daquela época e região. Não é intenção do apóstolo gerar qualquer tipo de conflito, ou apresentar uma forma de comportamento ou conduta que não se ajustasse à realidade deles.

Em nenhum momento Paulo diz que as mulheres não deveriam cortar o cabelo. A orientação do apóstolo era para que a mulher não tosquiasse ou rapasse a cabeça. Tosquiar é cortar bem rente ao couro cabeludo. As mulheres hoje, em nossa cultura, não tosquiam e nem rapam a cabeça.

Quanto ao cabelo dos homens, o princípio é o mesmo, ou seja, tanto Corinto, como Roma e toda a região grega, era composta de um povo militar, onde o homem não usava cabelo comprido.

Uso do Véu - As orientações dadas por Paulo concernentes ao uso do véu pelas mulheres, também

requerem conhecimento sobre os costumes que prevaleciam na antigüidade. Era apropriado que uma mulher de respeito, no império romano, usasse véu em público. Tarso, a cidade natal de Paulo, se notabilizara por sua aderência a essa regra de decoro. Era ao mesmo tempo, símbolo da subordinação da mulher ao homem e do respeito que ela merece. As mulheres cristãs de Corinto, no entanto, mui naturalmente estavam seguindo os costumes das mulheres gregas, as quais conservavam a cabeça em descoberto quando adoravam. Por conseguinte, Paulo assevera que é vergonhoso uma mulher cristã orar ou profetizar na igreja com a cabeça descoberta, e ordena aos varões crentes que orem e profetizem com a cabeça descoberta, como sinal da autoridade de que estão investidos (2-4).

A Ceia Do Senhor (17-32) Na metade final do capítulo 11, Paulo afirmava que as divisões faccionárias existentes na igreja de

Corinto, estavam transformando em escárnio os seus cultos de comunhão, os quais deveriam ser ocasiões de companheirismo cristão. Os coríntios celebravam a Ceia do Senhor em conjunção com um banquete de amor cristão, uma espécie de ceia trivial na igreja, correspondente à refeição da Páscoa, durante a qual Jesus instituiu a Ceia do Senhor. Alguns deles chegavam mais cedo à reunião, ingeriam sua refeição e tomavam a Ceia antes dos demais haverem chegado. E ocorre, que alguns destes, estavam ficando mesmo embriagados. Por conseguinte, Paulo ordenou a descontinuação desses banquetes de amor, ordenou que se esperasse até a chegada dos atrasados, e aconselhou a introspecção e a reverência. Sua repetição a respeito da Ceia, a última, se deriva da tradição, esta apoiada sobre o próprio ato de Jesus “...eu recebi...” (11:23) era a forma técnica de expressar o recebimento de uma tradição da parte de outrem.

Instruções Quanto à Celebração da Ceia do Senhor (17-34)

v.17 Pior Significava o ajuntamento ou a reunião dos crentes para pecar.

v.18 Divisões Eram várias interpretações quanto a celebração da Ceia e refeição de amor (confraternização).

v.19 Partidos Do grego HERESEIS = grupos

Aprovados Fiéis de coração

v.20 Reunião Era a refeição principal da noite, seguida pela Ceia que deixava de ser do Senhor se fosse deturpada.

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vs.23-24 A Epístola de I Coríntios foi escrita antes dos Evangelhos, é portanto, 1º Relato da Ceia do Senhor, e a mais antiga citação de Jesus. Fazei isto - Significa continuamente. Em memória – Feito em comemoração, não como sacrifício. de Mim - O culto é cristocêntrico.

v.28 Examine-se Rigoroso auto-exame.

vs.29-30 Quem não distingue

(reverência) o corpo de Cristo (o pão ou a igreja como corpo) traz juízo para si.

v.31- Julgássemos Julgamento habitual para descobrir como realmente somos.

OBS: curiosidades – Vinho Quatro Estágios

Suco da Videira Puro

também chamado vinho novo, tirado do lagar em seguida. É usado para a Ceia, não sofre nenhum processo de fermentação.

Vinho dos Sol- dados (comercial)

Que provoca embriaguês. Processo de fermentação começado, mas não completado. Também chamado mosto (At. 2:14)

Vinho para Envelhecimento

Colocado em odres e levado para envelhecimento. Processo de fermentação completado. Era proibido principalmente para o rei, juiz e para o Sacerdote (Pv. 23:31).

Vinho com Propriedades medicinais

Orientação para Timóteo. Diferença entre o vinho de I Tm. 3:3 e I Tm. 5:23. Parábola do Bom Samaritano em Lc. 10:34 – vinho para limpeza de ferimentos.

CAPÍTULO 12 - Os Dons Espirituais e o Relacionamento entre os Cristãos

No cap.12, Paulo expõe a obra do Espírito Santo, bem como a igreja como corpo de Cristo, e dá orientações quanto aos diversos dons espirituais. Nos vs.1-20, o apóstolo demonstra que os cristãos, mediante a operação dos dons, pertencem uns aos outros. A pessoa que recebe o Espírito Santo, passa ao Senhorio de Jesus. Os dons que o Espírito concede, devem ser a expressão da vontade do Senhor, e portanto, devem ser empregados na administração da igreja como o corpo de Cristo. Neste corpo, nenhum membro pode estar isolado, nem ser auto-suficiente, pois todos os membros são necessários ao corpo. Para enfatizar esta unidade na operação das manifestações do Espírito, o apóstolo salienta aos coríntios que:

No Espírito Compartilhamos da Mesma Confissão (1-3) Quando Paulo diz: “que ninguém falando pelo Espírito dirá que Jesus é maldito”. O termo falar pelo

Espírito de Deus, se refere ao dom de línguas. É provável que os coríntios tenham perguntado se tudo quanto era falado no Espírito era bom e para a glória de Deus. A resposta é bem clara. O apóstolo ao explicar este fato, faz alusão ao estado anterior deles. Declara que quando eram gentios, eram levados a adorar ídolos, mas agora, como cristãos, trilhavam o caminho certo. Confessam que Jesus Cristo é o Senhor e somente pelo Espírito é que podem confessá-lo.

No Espírito Servimos ao Mesmo Deus (4-6)

O apóstolo afirma que há diversidades de dons e ministérios operando na Igreja, mas que o Espírito é o mesmo. Todas estas manifestações vêm do Espírito. Os cristãos diferem entre si, não somente na personalidade natural, mas também nos dons espirituais distribuídos a cada um deles. Não se deve esperar a uniformidade da experiência e do serviço espirituais. A unidade está no Espírito que concede os dons, no Senhor que é servido, e em Deus que realiza a operação.

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No Espírito a Igreja é Edificada como um Corpo (7-12) No v. 7, Paulo afirma que a manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando um fim proveitoso.

Isto indica que cada membro da igreja deve ter um dom, que ninguém é excluído quanto ao receber dons de Deus. Porém, o dom não é para o cristão mesmo. Ele deve ser usado para a edificação da igreja. Aqui Paulo volta ao princípio chave desta carta, ou seja, que tudo quanto alguém possui deve ser usado de tal maneira que seja para a glória de Deus e o bem-estar do próximo.

Além disto, deve ser observado, que um dom não manifesta a presença do Espírito Santo mais do que outro. Alguns dons são mais aparentes na operação do que outros, mas não significa que seus portadores são mais espirituais do que os outros. O nível espiritual do cristão está mais ligado ao fruto do Espírito – Gl. 5:22-23, do que aos dons espirituais. Entendemos que os irmãos da igreja de Corinto eram cheios dos dons espirituais, porém, no capítulo 3 Paulo diz que eles eram carnais.

CAPÍTULO 13 - O amor e o exercício dos Dons

O cap. 13 não é uma interpretação do assunto dos dons espirituais, pelo contrário, é um elo abarcando a operação deles. O cap. 12 lançou o alicerce sobre os dons, e termina com a promessa do apóstolo de que mostraria um “caminho ainda mais excelente”. Neste capítulo ele trata desse caminho, que é o amor. Demonstra seus valores, e mostra que ele deve ser a energia e a dinâmica dos dons.

Sabemos que o amor não é um dom, e sim que ele encabeça a lista do fruto do Espírito (Gl. 5:22). Este fruto, ou este amor evidencia o novo nascimento. Todo cristão nascido do Espírito tem o Espírito Santo, e se tem o Espírito Santo, tem o fruto do Espírito e deve evidenciá-lo em virtude da sua união com Cristo; caso contrário, o cristão será uma anomalia, pois o amor é aquilo que Deus é em Si mesmo, ao passo que os dons são o que Ele faz sobrenaturalmente na Sua igreja e através dela.

Muitos oram pedindo o amor, porém nós já o temos, pois temos o Espírito Santo e é só utilizarmos o que temos.

Não há Conflito entre o Amor e os Dons

Na Bíblia não há conflito entre o amor e os dons. O primeiro é uma expressão do Ser de Deus. Os últimos são manifestações sobrenaturais da Sua personalidade. O amor deve motivar os dons e ser a sua dinâmica. O amor não dispensa a operação dos dons. Pelo contrário, ele é a origem, a força motriz mediante a qual eles se tornam eficazes.

“Ainda que fale as línguas ... ainda que eu tenha o dom de profetizar... ainda que eu distribua todos os meus bens para o sustento dos pobres... ainda que eu ofereça meu corpo para ser queimado...se não tiver amor, nada disso aproveitará.”

(Queimar-se representa a pior coisa que pode suceder ao corpo. Um homem pode ter tal senso de dedicação a um ideal elevado, que se dispõe a dar-se a uma morte penosa como esta, mas se lhe falta o amor, de nada lhe adiantará).

É possível, portanto, fazer todas estas coisas sem a motivação do amor, mas tudo será infrutífero e estéril, sem qualquer proveito.

As Características e a Permanência do Amor

Depois de Paulo ensinar que todos os dons são inúteis sem o amor, passa a relatar aquilo que o amor faz e o que não faz.

As Características do Amor

Amor é paciente v.4 É lento para perder a paciência. Não demonstra irritação ou ira, nem perde a calma facilmente.

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É benigno v.4 O amor não somente suporta com paciência a injustiça contra ele mesmo, como também age positivamente, mediante atos generosos. Procura sempre um meio de fazer o bem. Reconhece as necessidades dos outros e encontra meios de contribuir para melhorar a vida de outras pessoas. É gentil, é cordial, é bondoso.

O amor não arde em ciúmes

v.4 Se em qualquer tempo se acha diante de concorrentes, não guarda irritação, não se aflige.

Não se ufana v.4 Não se preocupa em impressionar os outros, nem projetar sua boa imagem para tirar vantagem pessoal.

Não se ensoberbece

v.4 Não acalenta idéias arrogantes acerca de sua própria pessoa. Não é egocêntrico. Não permite nem espera que os outros, bem como as coisas, girem em torno dele. Não trata com arrogância seus inferiores, mas submete-se consciente e alegremente aos seus superiores.

Não se conduz inconveniente-mente

v.5 Tem boas maneiras e é cortês, educado. Respeita o direito dos outros, o que resulta num conjunto de padrões cristocêntricos.

Não procura os seus interesses

v.5 Não busca vantagens egoístas. Não é oportunista, aproveitando-se dos outros. Não insiste em defender seus direitos. Não tem como preocupação primária o lucro pessoal ou sua posição social, mas pelo contrário, preocupa-se com a vontade de Deus e com as necessidades dos outros.

Não se exaspera v.5 Amor não é melindroso nem irritável. Não é supersensível, nem se magoa facilmente. Não se deixa dominar emocionalmente pelas suas opiniões pessoais, de tal modo a rejeitar idéias, nem rejeitar as pessoas que as deu.

Não se ressente do mal

v.5 Não guarda rancor do mal recebido. Não relembra injustiças que já foram perdoadas. Não fica repisando males do passado.

Não se alegra com a injustiça

v.6 O amor jamais se alegra quando os outros erram. Não tem prazer em espalhar má reputação dos outros. Fica triste quando o mal triunfa na vida de qualquer pessoa ou no mundo. Não usa o mal dos outros como desculpa para suas próprias fraquezas.

Regozija-se com a verdade

v.6 Fica contente quando a justiça prevalece. Ocupa-se com atividades espirituais. Alegra-se quando a verdade derrota o mal.

Tudo sofre v.7 Não há limites para sua clemência, por isso mostra capacidade de conviver com as fraquezas dos outros. Simpatiza com os problemas dos outros.

Tudo crê v.7 Crê plenamente na palavra de Deus porque o ama.

Tudo espera v.7 Sua presença nunca murcha. Nas crises o amor não se desespera. Se parece que as coisas ou as pessoas estão falhando, ainda assim olha com confiança para uma possível reforma ou recuperação e vitória final. (I Jo. 4:18)

Tudo suporta v.7 Tem perseverança ilimitada. Pode enfrentar todos os obstáculos, e ainda amar quando não compreendido. Não desanima. Sob o fardo de longa espera, fica firme; espera com paciência, persevera com brandura e suporta com coragem.

Estas são algumas das manifestações da graça que conhecemos como amor divino em nós. Paulo agora passa a demonstrar que este amor é eterno.

A Permanência do Amor

O amor é indispensável no exercício dos dons. Agora o apóstolo prossegue ensinando que o amor continuará depois que os dons passarem. “O amor jamais acaba; mas, havendo profecias desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará”. (v.8)

“Cessarão” - Os dons espirituais concedidos à igreja, permanecerão durante a atual dispensação. Cessarão, mas só quando a igreja for arrebatada. Depois disso, somente o amor continuará. Somente o amor

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será indispensável. Uma vez a igreja na glória, não haverá mais necessidades dos dons. Para tornar claro aquilo que queria explicar a respeito da cessação dos dons, Paulo emprega duas

comparações: o conhecimento de uma criança e a reprodução da imagem por um espelho: “Porque agora vemos como por um espelho...” (11,12). O conhecimento de uma criança cede lugar no devido tempo ao perfeito entendimento da idade adulta. Quanto a imagem imperfeita, refletida num espelho, é oportuno saber, que nos tempos do N.T. os espelhos eram muito imperfeitos, e a imagem refletida era normalmente distorcida. Isto nos ensina, que enquanto as coisas permanecerem como hoje, nossa compreensão das coisas divinas é imprecisa e com contornos irregulares. Um dia, porém, as limitações humanas ficarão para trás e darão lugar à perfeita visão e ao perfeito conhecimento.

Paulo termina esta passagem, relacionando o amor à fé e à esperança (v.13). A fé, a esperança e o amor são permanentes. A fé e a esperança levam ao correto relacionamento com Deus, mas o amor é parte da Sua essência. Temos o mandamento “segui o amor” (14:1). Examinemos a nós mesmos. Porque no tempo e na eternidade, nada haverá de maior, de melhor e de mais glorioso do que o amor.

CAPÍTULO 14

No cap.14, o apóstolo retoma novamente o assunto do dom de línguas e de profecia. Os coríntios eram extremados quanto ao dom de línguas em detrimento de outros dons. Havia erros no seu exercício na igreja, a saber: usá-lo sem interpretação.

Paulo começa fazendo uma comparação entre a profecia e as línguas. Seu primeiro argumento é:

A Profecia edifica mais que as línguas sem interpretação. Inicia o capítulo dizendo que todos devem seguir o amor e buscar os dons espirituais, especialmente o

de profecia. Cada membro da igreja deve ter dons que o capacitarão a funcionar como membro do corpo de Cristo. Paulo está tratando da profecia e das línguas num certo contexto, a saber: os cultos públicos da comunidade cristã. O apóstolo ressalta:

1. As línguas sem interpretação falam somente a Deus. 2. A profecia fala aos homens para edificação.

CAPÍTULO 15 - A Ressurreição

Neste capítulo temos o mais extenso e claro ensino sobre a ressurreição. Seu conteúdo tem trazido consolação e esperança a milhares de cristãos. Parece que na igreja de Corinto, alguns estavam questionando a ressurreição dos mortos. Deve ter sido isso que motivou a inclusão do cap. 15 nesta carta, pelo apóstolo. Eles consideravam o corpo como estando repleto de fraqueza e perversidade, e não podiam formar a idéia do corpo continuar existindo depois da morte. Daí Paulo se dispor a mostrar que haverá uma ressurreição do corpo do cristão e que este corpo é necessário para o crente herdar a plenitude das bênçãos que o esperam. O apóstolo toma a ressurreição de Cristo como base da sua apresentação da doutrina, de que nós, também seremos ressuscitados naquele dia.

Paulo apresenta várias provas da ressurreição do cristão, e depois explica como se dará a ressurreição dos mortos, que tipo de corpo terão ao ressuscitarem. Faz ainda uma exposição sobre o verdadeiro homem de Deus.

CAPÍTULO 16 - A Contribuição Financeira e a Liberdade Cristã

Neste capítulo final, o apóstolo dá instruções acerca da oferta para os cristãos pobres de Jerusalém. Talvez os coríntios perguntaram a Paulo acerca deste assunto, e este então lhes respondeu. O capítulo anterior termina com uma exortação à firmeza e a fidelidade no Senhor. Neste texto trataremos de duas lições muito práticas, o levantamento de coletas e assistência aos pregadores.

As regras dadas em relação ao levantamento da oferta para os cristãos de Jerusalém são:

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a. A contribuição deve ser regular - No primeiro dia da semana. b. Era para todos contribuírem - Dentro das condições de cada um. c. A contribuição devia ser administrada com cuidado. Os próprios coríntios deveriam selecionar e aprovar

as pessoas que levariam a oferta a Jerusalém.

Como tratar os ministros (5-12)

O apóstolo dirige uma palavra carinhosa em prol de Timóteo, seu “amado filho no ministério”. Timóteo era bem jovem, e Paulo estava falando por conhecer que certamente alguns na igreja, não teriam cortesia, nem consideração para com ele (Timóteo). Ninguém deveria intimidá-lo ou fazê-lo sentir-se inseguro. Os coríntios deviam acatá-lo por causa da sua obra espiritual.

Verdadeiro Homem de Deus (13-24)

A exortação final de Paulo aos coríntios é “portai-vos varonilmente”. O apóstolo está exortando a agirem como homens de Deus, a seguirem e obedecerem as instruções dadas nesta carta.

II CORÍNTIOS

Alega um velho erudito da Bíblia que proporcionalmente, II Coríntios contém mais sermões do que

qualquer outro livro da Bíblia. Sua avaliação, não obstante muito pessoal, demonstra as riquezas espirituais que podem ser achadas nesta epístola. Sem dúvida, nenhuma outra epístola trata com mais profundidade da glória e do método de ministrar o Evangelho.

É uma das mais pessoais cartas de Paulo, constituindo-se num tipo de biografia do apóstolo, com o propósito de fazer sua defesa e do seu ministério, em face daqueles que o criticavam considerando-o indigno do apostolado.

Data da Escrita 55 - durante a 3ª viagem missionária.

Local da Escrita Macedônia

Portador da Epístola Tito

PROPÓSITOS: a. A defesa de Paulo e de seu ministério, frente àqueles que o consideravam indigno do apostolado. b. Dar instruções acerca do opositor que fora disciplinado pela Igreja. c. Expressar seu alívio e satisfação ante a reação favorável da maioria da Igreja. d. Exortar e orientar a respeito da contribuição para as Igrejas de Jerusalém.

PECULIARIDADES: 1. II CORÍNTIOS é a mais autobiográfica e intensamente pessoal de todas as cartas. 2. É a carta que menos planejamento mostra. 3. Contém o tratado mais extenso sobre mordomia cristã. 4. A palavra gloriar-se ou equivalente, aparece 31 vezes. 5. É a única das epístolas de Paulo que revela sobre: - Sua fuga de Damasco, num cesto (11:32,33). - A experiência do seu arrebatamento ao terceiro céu (12:1-4). - O espinho na carne (12:7) e,

- Seu padecimento fora do comum. (11:23-27)

INTRODUÇÃO

Após escrever sua carta anterior Paulo ficou preocupado quanto a maneira da Igreja de Corinto receber sua carta. Paulo tinha aplicado severas repreensões e dado sérias instruções aos coríntios e, agora concluíra que eles estavam tristes. Logo, Paulo enviou Tito para saber da sua situação.

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O apóstolo tinha combinado que encontraria Tito em Trôade, onde receberia o relatório sobre a Igreja de Corinto. Depois de esperar ali algum tempo, sem notícias de Tito, ficou muito preocupado, querendo saber o que houvera de errado. “não tive contudo tranqüilidade no meu espírito, porque não encontrei o meu irmão Tito” (2:13). Partiu, portanto para Trôade e navegou para a Macedônia. Ali Tito se encontrou com Paulo e o confortou com a notícia de que a maioria dos crentes de Corinto se arrependera. Os inimigos de Paulo contudo, prosseguiam fazendo ataques a ele, questionando sua autoridade apostólica.

CARACTERÍSTICAS

Esta epístola é muito mais pessoal que I Coríntios. Através dela, podemos ver e entender Paulo mais que através de qualquer outra carta sua. Nela temos suas convicções profundamente expostas no que diz respeito ao seu ministério e à sua vida. Além disto, temos suas contrastantes expressões de amor, ansiedade, indignação, confiança, tristeza e alegria, tudo numa rápida sucessão.

Ela nos oferece, como em nenhuma outra carta, a resposta para a pergunta: Que tipo de homem Deus quer para sua obra? Chama nossa atenção para imitarmos a vida de Paulo, e assim de coração clamarmos a Deus:

“Concede-me graça tal que eu possa ser aquilo que Paulo foi em Cristo!”

Contexto que Antecedeu a Escrita de II Coríntios - As horas difíceis de Paulo. Para entendermos adequadamente esta carta, devemos vê-la no contexto de inquietação e sofrimentos

que a antecederam. Pouco antes de Paulo escrever esta carta, ele passou talvez pela experiência mais difícil do seu

ministério. Enfrentou decepção, apreensão e sofrimento físico. “Porque chegando nós a Macedônia”, escreve, “nenhum alívio tivemos; pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora, temores por dentro” (II Co. 7:5). Conforme disse certo escritor: “Corinto parecia estar em total revolta. A Galácia estava se desviando para um falso evangelho e por pouco escapara do populacho de Éfeso”.

As palavras do apóstolo, são: “Porquanto (a tribulação) foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos tivemos a sentença de morte” (II Co. 1:8,9). As condições portanto, eram incríveis. Parecia que sua vida e obra estavam desmoronando e chegando ao fim. Nunca se sentira tão desamparado, tão abatido, tão desanimado e tão desesperançoso. E, no meio de tudo isto Tito não aparecia com notícias da Igreja de Corinto (II Co 2:13).

Tito finalmente chegou, com a notícia de que os crentes coríntios estavam do lado de Paulo. Mesmo assim a situação ainda era difícil. Seus oponentes declararam que a mudança dos planos de Paulo demonstrava que ele não era digno de confiança e que não era sincero. Acusaram-no além disto, de covardia, por não ter vindo, e de inferioridade, porque não aceitava ser sustentado pela Igreja. Disseram que sua aparência não agradava e que sua fala era simples e fraca. Alegaram que Paulo não tinha carta de recomendação de Jerusalém, considerando o seu ponto de vista contrário a respeito da lei. Foi acusado de desonestidade e de motivos egoístas. Todas estas coisas tinham o propósito de colocar em dúvida sua autoridade apostólica.

Estes são os antecedentes desta carta tão comovente, e espiritualmente profunda, que o Espírito Santo

inspirou a Paulo. É uma carta de um missionário que está lutando em prol do verdadeiro Evangelho de Cristo e contra a tentativa sistemática e astuta de subversão da sua autoridade em Corinto.

UM MINISTÉRIO DE CONSOLAÇÃO (1:1-11) a) O Consolo deu uma nova revelação de Deus (1-5) - Paulo agora conhece a Deus como “o Pai

de misericórdias e Deus de toda a consolação” (v.3). Deus é aquele “que nos conforta em toda a nossa tribulação” (v.4), e quanto mais intensa e severa é a tribulação, tanto maior a consolação e misericórdia de Deus (v.5).

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E qual é esta consolação? A palavra ocorre no capítulo várias vezes e emprega-se no sentido de ficar ao lado de uma pessoa para encorajá-la quando passa por uma prova difícil. Várias vezes o Espírito Santo é chamado de “o Consolador”, “Paracleto”; (Jo. 15:26; 16:7), e podemos dizer que a consolação é a obra de Deus na qual o Espírito Santo dá coragem aos crentes.

b) O poder para Consolar os outros (6,7) - “Os sofrimentos de Cristo”(v.5) deram poder para consolar

os outros, ou seja, os sofrimentos de Cristo na cruz, precederam uma grande conquista: o Consolo. Sendo que Paulo experimentou isto, como resultado da sua união com Cristo. Através desta conquista Paulo descobriu que tinha a capacidade de comunicar aos outros o consolo do Espírito Santo através de Cristo. Descobriu o grande princípio divino do caminho cristão, a saber: a vida procede da morte.

c) O Consolo alicerça a nossa fé – “o qual nos livrou e livrará de tão grande morte; em quem temos

esperado que ainda continuará a livrar-nos,” (v.10). O apóstolo, assim como Daniel na cova dos leões, creu em Deus, recebeu o livramento e cria que Deus continuaria a livrá-lo de qualquer sofrimento. d) O preço que Paulo pagou por este ministério de fé - Paulo era um grande apóstolo com um

grande ministério. Examinemos o preço deste ministério. Observe a linguagem que ele emprega, “tribulação” (v.4), “sofrimentos” (v.5), “tribulação... acima das nossas forças... (como um navio sobrecarregado)...” Que tribulações e sofrimentos eram estes mencionados por Paulo? Não sabemos. Mas era de tal severidade, que se não fosse a intervenção divina, não haveria esperança de salvação. É muito provável que fosse a combinação de vários males como uma espécie de “sofrimento” físico, a sombra da morte, um provável fracasso da obra em Corinto, e a oposição dos falsos irmãos. Todas estas coisas, talvez faziam parte das causas que o levaram ao quebrantamento, porém Paulo era um homem de fé, e venceu a tribulação e os sofrimentos (v.10), pelo consolo do Espírito Santo que o encorajou.

UM MINISTÉRIO DE SINCERIDADE (1:12-24)

Aqui temos a defesa do apóstolo contra a acusação de que ele era falso. Temos ainda destacado, o princípio espiritual que regia sua vida, ou seja, vivê-la na convicção absoluta da certeza das promessas de Deus.

a) A acusação de que Paulo não cumpriu a sua palavra - Paulo foi acusado por alguns dos coríntios

de que ele não cumpriu sua palavra. Ele propôs visitar a Igreja, conforme I Co 16:5. No entanto ele mudou de plano, e achou melhor visitá-la numa ocasião mais conveniente. Por causa disto, seus oponentes, diziam que o apóstolo não era digno de confiança. “A palavra dele é sim e não” (17,18), querendo dizer que quando ele dizia “Sim” estava realmente dizendo “não”. Paulo respondeu a esta acusação usando as seguintes palavras: “Tomo Deus por testemunha de que, para vos poupar, não tornei ainda a Corinto.” (II Co 1:23)

b) A defesa de Paulo através da sua vida sincera e piedosa - O testemunho que Paulo dá de si

mesmo, é de que ele andou em santidade e sinceridade diante do mundo, dos coríntios e de Deus (v. 12). Em tempo algum ele quis enganar os coríntios. Tivera a sincera intenção de ir a eles (15,16). Deus, no entanto, o dirigira de outra forma, e revelara razões para não ir naquela ocasião. Em seguida Paulo dá 2 razões da sua sinceridade:

1. Porque as promessas de Deus são verdadeiras (18-20) - Paulo disse que o Evangelho

que anuncia não foi “sim e não; mas sempre nele houve o sim” (v.19). Disse mais, “que quantas são as promessas de Deus, tantas têm nEle o sim” (v.20). Noutras palavras foi por meio de Jesus Cristo que Deus cumpriu suas promessas. Logo nada seria mais incoerente do que atribuir hipocrisia ao apóstolo cuja vida inteira estava sendo dedicada ao serviço e proclamação de Jesus Cristo.

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2. Porque Ele creu e disse “Amém” (v.20) - Paulo tinha certeza das promessas de Deus e

vivia na total convicção da certeza delas, portanto disse o “Amém”, ou seja entrega-se em obediência total.

UM MINISTÉRIO DE LÁGRIMAS E DE TRIUNFOS (cap.2) a) As lágrimas de Paulo pela Igreja (1-4) - Paulo não desejava ir a Corinto para entristecê-los, queria

dar-lhes tempo para se arrependerem. O profundo amor que nutria pela Igreja não permitiria vê-los cair no pecado e no erro, sem tomar uma atitude contra tais coisas. De outra forma vê-los nesta condição fazia o coração do apóstolo sentir-se dilacerado, pois numa situação assim o amor genuíno sempre experimentará profundo pesar e Paulo quer que os CORÍNTIOS saibam quão grande é o seu amor por eles.

b) O perdão de Paulo ao transgressor (5-11) - Nestes versos são destacados a disciplina pela Igreja ao

principal oponente de Paulo. O apóstolo sente-se satisfeito e aconselha que o mesmo seja restaurado à comunhão da Igreja.

c) O Triunfo de Paulo em Cristo (14-16) - E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por

meio de nós manifesta em todo o lugar o cheiro do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente cheiro de morte para morte: mas para aqueles, cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? O quadro que Paulo retrata aqui é baseado num costume romano. Toda vez que um general voltava vitorioso de uma batalha, era realizado um desfile público para honrá-lo. A parada militar era repleta de glória, queimava-se muito incenso, e os cativos trazidos eram expostos publicamente à vista de todos. Desse modo, a vida de vitória para Paulo era:

1) Uma vida de cativeiro (v.14) - Aquele que anteriormente tinha sido um inimigo de Deus, foi

conquistado e preso para Ele. Agora, publicamente está sendo mostrado a todo mundo.

2) Uma Vida de Testemunho - A vida de Paulo além de ser uma vida de triunfo no abençoado “cativeiro”

de que falamos, era também uma vida de testemunho. Do mesmo modo que o incenso fazia exalar suaves odores, conforme costume no desfile triunfal romano, a vida do apóstolo estava liberando um doce aroma, o conhecimento de Cristo em todos os lugares.

“Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo” (v.15). A fragrância espiritual não

somente relaciona com Deus, mas também com o mundo. Somos fragrância de Cristo, primeiramente entre aqueles que estão sendo salvos. Um cristão sempre será reconhecido por outro cristão. Há nele alguma coisa que exibe a marca de Cristo, um “perfume” um “cheiro” de vida, que nos deixa saber que ele pertence a Cristo. Paulo destaca também que somos cheiro de morte entre aqueles que se perdem. O cristão comunica cheiro de condenação para aqueles que recusam a converter-se. Para o homem que rejeita a mensagem de Cristo, a conseqüência da proclamação dessa mensagem é expectativa de morte.

O MINISTÉRIO DE UMA NOVA ALIANÇA (3:1-11)

Neste capítulo temos o relacionamento entre o ministério da Lei, no A.T. e o ministério do Evangelho, no N.T. Paulo começa a defender seu apostolado contra a acusação de que ele não tinha carta de recomendação de Jerusalém. Isto caracterizava um costume daquela época, e talvez fosse também, uma forma indireta de acusar Paulo de não pertencer ao grupo dos doze. Na sua defesa, Paulo dá aos coríntios uma descrição do seu ministério, trabalho e aflição.

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a) Escrito nos corações, não na Pedra ( 1-3) - Ao declarar a legitimidade do seu ministério, Paulo diz

que não precisa de carta de recomendação de pessoa alguma. Pois já tem esta carta que consiste nas pessoas dos próprios coríntios que ele conduzira a Cristo. A mudança na vida deles mostrava claramente que Paulo realizou um bom trabalho no coração deles. Paulo lembra a lei do A.T. escrita em tábuas de pedra, para mostrar que seu ministério é muito melhor, uma vez que está escrito em “tábuas de carne, isto é nos corações”.

b) Um ministério válido e eficaz (4-5) – “A nossa suficiência vem de Deus” (v.5). O segredo do

ministério bem sucedido de Paulo, não é resultado da competência natural, mas sim da suficiência de Deus. c) Traz a vida, não a morte - Paulo faz uma comparação entre a Lei e o Evangelho. A “letra” significa a lei.

É chamada “letra” porque foi escrita em tábuas de pedras. A letra mata porque por meio dela o homem peca conscientemente. Ele a conhece mas não tem poder para guardá-la; logo, transgride-a. A Lei lhe mostra como ele é (mau e pecador) mas não lhe dá poder para transformar-se.

Nesta situação manifesta-se a ação do Espírito e do Evangelho. O Espírito Santo produz o desejo e o

poder para cumprir a “letra”. Nosso ministério é o do Espírito, e, “o Espírito vivifica” (v.6). Essa grande obra vem da sua força interna vivificante. Ele entra no coração do pecador e o vivifica, regenera e dá vida. Ele provê o elemento que a lei não podia prover - o desejo e o poder de cumprir o mandamento de Deus.

d) Glória Permanente, Não a que desvanece (7-11) - Paulo neste texto faz um comparativo da glória

do ministério do A.T., com a glória do ministério do N.T. Faz referência a Moisés que ao descer do monte, brilhava intensamente no seu rosto a glória do Senhor, dando testemunho da origem divina daquela aliança, que a despeito disso, não haveria de durar, pois era efêmera, temporária, provisória (v.11) e daria lugar, segundo a intenção de Deus, a uma outra glória maior, ou seja, a glória da graça de Cristo, essa glória Paulo descreve no v.9 como sendo o ministério da justiça.

No cap. 3:12-18 Paulo mostra um ministério de transformação.

No clímax deste capítulo, é mostrado um ministério glorioso, um ministério de transformação. Paulo lista três elementos desse processo.

a. Contemplar o Senhor - O que pode ser melhor interpretado como: “Refletindo, como por espelho a glória do Senhor”. b. Uma vida de reflexo - Significa o refletir dessa glória a outras pessoas. c. Uma vida de transformação: “E todos nós, com o rosto descoberto, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória.” (v.18)

UM MINISTÉRIO APOSTÓLICO (Cap. 4-6)

Em II Co 4-6, Paulo continua descrevendo e defendendo o seu ministério, no capítulo 4, ele comparou a si mesmo como um vaso de barro que contém um tesouro.

Com esta ilustração ele está dizendo que ainda que ele seja insignificante e imperfeito, sua mensagem tem grande valor.

Mas antes de discorrermos sobre as características deste vaso, Paulo salienta no cap. 4, princípios preciosos, que todo o cristão precisa conhecer e aplicar, a fim de ser um eficaz obreiro de Cristo.

Compreende os seguintes assuntos: - A comunicação do ministério (1-5)

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- O caráter do ministério (v.6) - O homem do ministério (v.7) - O preço do ministério (8-12) - A autoridade do ministério (13-15) - Os efeitos do ministério (v.16.18)

O Vaso de Barro: “Temos, porém, este tesouro em vaso de barro, para que a excelência do poder

seja de Deus e não de nós” (v.7). Em II Coríntios percebemos um Paulo que enfrentava tristezas, derramava lágrimas, ficava perplexo e

tinha receios. Como pode isto ocorrer a um homem de Deus? O homem não é um ser angelical, mas um frágil vaso de barro, portador de todas as fraquezas humanas,

mas que através desse vaso resplandece a glória do tesouro divino. O cristão é uma pessoa com interessantes paradoxos da parte de Deus. Ele é tanto o vaso de barro como o portador do tesouro.

Paulo pode às vezes sentir medo, mas permanece forte, está cercado de inimigos, porém não está preso; é afligido de todas as maneiras, mas não é vencido; está perplexo porém não se desespera.

Isto nos mostra que a vida cristã não é a total remoção das fraquezas, nem a total manifestação do poder de Deus: É mais do que isto. É a manifestação do poder divino através das fraquezas humanas.

MOTIVAÇÕES E REALIDADES QUE DIRIGEM A VIDA DE PAULO (Cap. 5)

No cap. 5, Paulo trata da nossa esperança futura, o céu, e do fato que um dia todo cristão comparecerá diante de Deus para prestar-lhe contas de sua vida e obras.

Diante destas coisas, destaca as motivações, que devem impulsionar nossa existência e as responsabilidades que isto igualmente implica.

a) Motivação da esperança (1-9) - Quando Paulo fala sobre a motivação da esperança,

descrevendo o caráter e as circunstâncias do seu ministério, e mesmo vendo a morte como um fenômeno real, ela não é motivo de temor ou de recuo, pois ele a vê com plena confiança, porque sabe que há um lar permanente no céu. Para ele o morrer significa “habitar com o Senhor”. (v.8)

b) Motivação da responsabilidade (10,11) - Paulo tinha perfeita consciência do fato de que, um

dia ele e todos os demais cristãos comparecerão diante de Cristo para prestar-lhe contas pelos atos realizados através do corpo. Quanto ao julgamento das obras do cristão, por ocasião do Tribunal de Cristo, Paulo ressalta que todos são responsáveis pela maneira como se comportaram e como trabalharam (Rm. 14:12 e I Co 3:12-15 lançam luz sobre esta verdade).

Este julgamento que Paulo está fazendo referência, não diz respeito a salvação, uma vez que os pecados do crente já foram perdoados, o que isenta da condenação conforme Rm 8:1.

c) Motivação do amor (14-21) - Neste texto, Paulo menciona a maior de todas as motivações que

deve nos dominar - o amor. O apóstolo ressalta que o amor de Cristo é o poder controlador da sua vida. Ele diz no verso 14 “o amor

de Cristo nos constrange”, o que significa dizer que o amor de Cristo deve nos compelir, nos controlar e nos dominar, não nos deixando outra escolha (sensata) senão servir a Ele.

De acordo com o v.15, Paulo destaca que não devemos viver para agradar os desejos naturais, pecaminosos, mas sim para agradar Aquele que por nós morreu. E diante da extensão do amor de Cristo, ele mostra que todas as diferenças são dissipadas, não há distinção externa, judeu ou gentio, rico ou pobre, escravo ou livre, culto ou inculto. Ele é para todas as raças do mundo sem acepção. A excelência deste amor, nos revela que todas as demais coisas são apagadas, esquecidas, nos convidando portanto, a viver sua realidade.

A CONDUTA NO MINISTÉRIO (6:1-13)

No cap. 6, temos o começo de uma série de exortações aos coríntios. Paulo continua defendendo seu

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ministério contra seus inimigos. Ele se dirige aos seus amigos em Corinto e aponta-lhes como podem defendê-lo contra as falsas acusações dos seus oponentes. Apela inicialmente para que examinem suas próprias vidas e conduta no ministério.

O tema dos 13 primeiros versículos é a graça, e como esta opera na vida e a obra do apóstolo.

a) O Perigo de dissipar a graça de Deus (1,2) - Paulo exorta os coríntios: “que não recebais em

vão a graça de Deus”. Isto nos mostra que um cristão pode recusar a graça de Deus, ignorando-a, e tornando-a nula em sua vida. É erro grave e perigoso pensar que o homem nunca pode cair da graça, depois de recebê-la. Que ela pode ser abandonada, é uma realidade expressa por Paulo, que por isso mesmo, exorta os coríntios a não anularem a obra de Deus em suas vidas.

A graça de Deus em nós é definida como o desejo e o poder de fazermos a vontade de Deus (Fp. 1:3). Paulo indica que ela pode ser resistida e tornada vã de duas maneiras:

1. Adiando nossa resposta à graça que nos é concedida. A pessoa pode negligenciar a graça que lhe foi

ofertada. Seja a graça para a salvação (o desejo e o poder de receber Cristo) ou a graça para dedicação e obediência a Deus (o desejo e o poder de realizar a vontade de Deus). Assim, essa graça pode ser negligenciada, resistida e extinguida se a pessoa não faz uso dela.

2. Mediante uma vida de dissolução e de pecado - em que o crente renuncia, abdica do direito de

desfrutar dos favores divinos (v.3)

b) A graça de Deus no ministério e na vida cristã - A seguir o apóstolo pede que os coríntios

observem sua vida (Paulo) e como a graça de Deus foi manifesta em seu ministério a saber: 1. Em meio às lutas (4-7) 2. Pela reputação que ganhou (8-10)

No texto acima, temos o quadro de uma vida irrepreensível, que provou ser um verdadeiro ministro de Deus, no decorrer de todas as lutas que enfrentou.

SEPARAÇÃO - SUA BASE E PROPÓSITO (6:14-7:1) Após falar aos coríntios do seu amor e do seu ministério sem mácula, Paulo está em condições de

advertí-los quanto ao modo de vida cristã, a considerar o ambiente pagão em que viviam, e portanto o perigo de se tornarem presa fácil do mundanismo pecaminoso de sua época.

Para isso Paulo destaca o princípio de separação estabelecido por Deus no A.T. e mostra que a separação que Deus requer, tem por alvo:

1. A preservação do seu povo - Deus sabe que seu povo não será fiel se permitir o espírito do mundo em seu meio.

2. A exclusividade do seu amor - Deus quer ocupar a totalidade do coração do homem.

SEPARAÇÃO - SEU PRINCÍPIO E PROMESSA (6:14-7:1)

Os cristãos como povo escolhido e membros de um sacerdócio real, (I Pe. 2:9), são os vasos do Senhor, devendo ter todo o cuidado para não cair no cativeiro do pecado, a exemplo de Israel no passado.

Em vista disto, Paulo faz seu apelo, apresentando dois argumentos para a realidade desta separação entre a igreja e o mundo.

a) No argumento do jugo desigual (13-16) o apóstolo faz 5 indagações que merecem ser consideradas. 1. “...porquanto, que sociedade pode haver entre justiça e a iniqüidade (literalmente ilegalidade)?” (v.14) - Aqui temos uma comparação do estado espiritual do crente e do descrente.

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2. “Que comunhão há da luz com as trevas?” (v.14) - Nada é mais inconcebível do que a luz unir-se com as trevas. 3. “Que harmonia entre Cristo e o maligno?” (v.15) - Cristo veio para salvar, e o maligno para destruir. 4. “Que união entre o crente e o incrédulo?” (v.15) - A vida do descrente é centralizada no “eu”, a do crente, em Cristo. 5. “Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos?” (v.16) - O templo era o antigo lugar da habitação de Deus entre seu povo. O judeu preferia morrer a ver o templo profanado. Muito mais o cristão é o templo vivo de Deus.

b) O argumento baseado na promessa (17-18) - A separação aqui é essencial para recebermos

as bênçãos de Deus, e termos comunhão com Ele. A recompensa da separação é termos o próprio Deus com toda a sua proteção e cuidado paternal.

SEPARAÇÃO - SEUS MOTIVOS E RESPONSABILIDADES

Paulo destaca dois motivos para a separação do crente: O amor e o temor a Deus. Eles andam juntos, um não age sem o outro.

O amor é o lado positivo; o temor, o negativo; o amor motiva a pessoa a fazer aquilo que agrada a Deus; o temor conduz a pessoa a não fazer o que desagrada a Deus.

Duas responsabilidades também são destacadas: a purificação de toda a impureza e a santificação.

A ALEGRIA DE PAULO PELO ARREPENDIMENTO DOS CORÍNTIOS (7:2-16)

Depois de exortar os coríntios à pureza e santidade, Paulo os exorta a que o recebam em seus corações. Ele mostra-lhes que não os traiu, nem os lesou e nem se aproveitou de alguém. Assegura-os que os ama, e que eles ocupam seu coração até a morte (v. 3). A partir do v. 4, Paulo relata o conforto e a alegria que recebeu apesar de todas as suas aflições, sendo destacados:

a) O consolo com a chegada de Tito (4-6) - Paulo continua a narrativa do seu encontro com Tito,

mencionado em II Co. 2:13. Enquanto esperava por Tito estava preocupado quanto ao efeito de sua carta anterior. Era uma carta severa, e talvez tivesse até sido rejeitada. A chegada de Tito, no entanto, trouxe boas notícias e Paulo ficou consolado com sua vinda.

b) O consolo através do amor dos coríntios (v.7) - Ao chegar, Tito trouxe consolo da parte de Deus

a Paulo. Segundo sua afirmação, tinham saudade do apóstolo e queriam vê-lo de novo e gozar de comunhão com ele. Sentiam tristeza quanto ao comportamento no passado e estavam dispostos a apoiá-lo diante dos seus críticos.

c) O consolo da obediência dos coríntios (8-12) - O texto mostra que os coríntios realmente

experimentaram aflição e dor por causa da carta (v. 8), mas foi uma forma de tristeza que os levou ao arrependimento e a uma transformação de vida.

d) O consolo pela recepção a Tito (13-16) - Paulo ficou contente pelo fato da igreja receber e tratar

bem a Tito (v.3). Informado por Tito da fidelidade dos coríntios, Paulo sente-se feliz ao verificar que não fora decepcionado ou envergonhado.

A lição que predomina neste texto é a alegria do homem de Deus, quando seu povo anda em obediência a Palavra, mas também o pesar que este homem sente quando esse mesmo povo se desvia da retidão.

ORIENTAÇÕES SOBRE A CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA PARA A IGREJA DE JERUSALÉM (cap. 8-9).

Os cap. 8 e 9 tratam de uma oferta, um fundo de socorro que Paulo estava levantando entre as igrejas gentias (Macedônia e Acaia) para os cristãos pobres de Jerusalém. A campanha tinha iniciado um ano antes

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(v.10) e os coríntios tinham prometido que ajudariam nessa oferta. Portanto, Paulo os encoraja a cumprir o prometido, apresentando para isso as seguintes razões:

1. O exemplo dos cristãos macedônios (1-6) Os cristãos da Macedônia estavam enfrentando nesse período, grande tribulação e profunda pobreza, mesmo assim desejavam e até imploravam para compartilhar do sustento dos pobres em Jerusalém. O ato de contribuir dos mesmos foi voluntário, espontâneo, motivado pelo amor, de modo a irem além de suas próprias condições financeiras, o que caracterizava a oferta de sacrifício. Houve alegria, liberalidade, e generosidade. Mostraram que da mesma forma que se tornaram participantes das riquezas celestiais, com seus escassos recursos, desejavam tornar outros participantes dos seus bens materiais, para que todos tivessem o necessário e ninguém perecesse pela ausência desta prática.

2. O exemplo de Cristo (v.9) Paulo agora relembra a generosidade da graça de Cristo, que deixou de lado sua glória com o Pai, a fim de sofrer humilhações por nós. Fez-se pobre a fim de que pela sua pobreza nos tornássemos ricos.

3. A Exigência da honra (8:10; 9:5) Paulo preocupado que os coríntios deixassem de atender aos necessitados no tempo devido, e assim fossem envergonhados, declara que o importante é a disposição deles para dar e não o montante que vão dar. Não está pedindo uma contribuição alta para os crentes viverem luxuosamente, mas sim uma contribuição que permita uma distribuição justa e equilibrada dos recursos entre eles.

4. A natureza e as promessas da contribuição cristã (9:6-16) O apóstolo agora demonstra a natureza e as promessas da contribuição cristã. Aponta-nos princípios em torno da natureza da contribuição: a) Princípios ilustrados na natureza (v.6) b) Princípios extraídos da natureza de Deus (7-10) c) Princípios tirados da natureza cristã (v.11-15) 1. Enriquecimento cristão - espiritual e material (v.11) 2. Gratidão - (v.12) 3. Obediência - (v.13) 4. Oração - (v.14) 5. Louvor - (v.15)

A AUTORIDADE DO APOSTOLADO DE PAULO (Cap. 10)

Apesar da alegria de Paulo com a atitude de muitos de Corinto, ainda havia alguns que duvidavam da sua autoridade apostólica (uma minoria recalcitrante). Paulo os chama de “falsos apóstolos” (11:13). Ele não usa meio-termo, e assim os desmascara, revelando o que de fato são: falsos apóstolos, inimigos do Evangelho, mensageiros de Satanás que destroem a obra de Deus. Nesta altura da carta, Paulo os encara de frente e responde as suas acusações. As acusações deles eram: Paulo só é humilde quando fala face a face, mas ousado quando está ausente; suas cartas são enérgicas, mas sua presença e sua pregação são fracas, emprega meios humanos para promover a sua causa; não tem recomendação de Jerusalém. Neste capítulo Paulo responde estas acusações e defende não apenas a si mesmo, mas também sua autoridade apostólica, juntamente com a mensagem do Evangelho que prega.

a) Seguindo o exemplo de Cristo (1,2) - Ao contrário de ser manso e humilde apenas como

atitude de medo e covardia, o apóstolo ressaltou que esta mansidão e humildade por ele demonstrada era resultado da mansidão e benignidade de Cristo.

b) Empregando armas espirituais (3-6) - O apóstolo embora seja um homem comum não

emprega planos e métodos humanos para ganhar suas batalhas. As batalhas por ele travadas estão no plano

espiritual. c) Não julgando pelas aparências (7-10) - Diziam em Corinto que Paulo era fraco porque sua

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presença não impressionava e sua pregação era fraca. Por isso, Paulo não poderia ser um apóstolo verdadeiro. A Bíblia não nos oferece informações a respeito das características físicas ou pessoais do apóstolo, e ainda que encontremos em algumas fontes de pesquisa de que Paulo era um homem de pequena estatura, conforme o próprio significado do seu nome, e de pernas tortas, nariz grande, e a possibilidade de sofrer algumas enfermidades nos olhos, o que lhe daria às vezes, uma aparência não muito agradável, é impossível vê-lo como um fraco e covarde. É difícil ver um homem que revolucionou cidade após cidade, que nos seus escritos sempre revelou uma personalidade poderosa e dominante, uma mente aguçada e pesquisadora, alguém que tinha dons extraordinários, e através de quem Cristo operava, ser o homem retratado pelos seus opositores. Isto é absurdo.

d) Deixando que Cristo faça a nossa recomendação (12-18) - Os falsos mestres

recomendavam-se a si mesmos. Paulo porém evitava fazer isto. Ele afirma que o Senhor mesmo o “Recomendou” através da sua aceitação pela Igreja de Corinto, fruto do seu ministério (13,14). Ao contrário dos seus oponentes, Paulo se propõe a não semear em campo alheio, preferindo campos onde ninguém semeou antes. Assim agindo, Paulo mostra preferir o louvor do Senhor que o comissionou, não se preocupando com que os homens pudessem pensar dele (15,16).

A RAZÃO DE PAULO GLORIAR-SE (Cap. 11)

No cap. 11, Paulo está procurando resguardar a Igreja que fundou. Seu propósito é de protegê-la da influência dos falsos mestres que estão anunciando outro “evangelho”. Ele precisava manifestar suas qualificações de apóstolo, isto era necessário diante da oposição. Paulo gloria-se por:

1. Seu amor pelos coríntios (1-4) - Paulo desejava apresentar os coríntios a Cristo, na sua vinda,

puros e sem mácula, e para melhor explicar isto, ele usa a figura de uma noiva preparada para o casamento. Seu maior receio é de que as falsas doutrinas venham desviá-los de sua devoção sincera e pura a Cristo.

2. Seu conhecimento (5-6) - Paulo fora instruído aos pés do sábio Gamaliel, talvez não rivalizava

com estes “apóstolos” peritos em oratória, mas de modo nenhum lhes era inferior no conhecimento da verdade do Evangelho, conhecimento este recebido diretamente do próprio Deus. 3. Sua generosidade para com a Igreja (7-12) - Paulo não aceitou salário pelo trabalho entre

eles. Fez isto por amor e serviço a eles, portanto não permitiu que ninguém o acusasse de ganancioso.

4. Sua oposição aos falsos apóstolos (13-15) - Paulo descreve aos seus antagonistas da seguinte

maneira: a) Seu caráter - falsos apóstolos. b) Seu método - obreiros enganadores. Tal coisa era de se esperar, porque o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz, logo seus servos farão o mesmo.

5. Sofrimentos por Cristo (16-27) - Esta lista nos faz lembrar de Atos 9:16, quando Deus falou

acerca de Paulo, “pois eu lhe mostrarei quanto importa sofrer pelo meu nome”. Quem pode ler este texto dos sofrimentos de Paulo mostrados aqui, sem sentir-se pequeno no seu serviço para Cristo?

A REVELAÇÃO QUE PAULO TEVE DO CÉU (Cap. 12:1-6) Na capítulo 12, Paulo apresenta as evidências da autenticidade do seu ministério, a saber, as revelações

que ele teve de Cristo (1-6). Temos ainda o fato do seu “espinho na carne” (7-18) e, por fim sua coragem ao tratar do pecado dos coríntios (19-21). No relato do seu “espinho na carne” temos o versículo que talvez mais do que nenhum outro comunica ao crente, da parte de Deus, mais consolo, mais esperança e mais segurança: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza...” (v.9).

1. Paulo experimentou uma riqueza de “visões e revelações” divinas (v.1). Paulo não fala de “uma

visão”, mas, de visões, Paulo era profundo na experiência de visões e revelações no Senhor. Deus lhas concedeu, para orientação, instrução e revelação.

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2. A visão ocorrera há “quatorze anos” antes de Paulo escrever a Epístola. A data do fato teria sido cerca de 44 d.C. Neste tempo, Paulo estava provavelmente em Antioquia. É possível que a visão teve lugar logo antes da sua primeira viagem missionária (Atos 13:1-33), a fim de prepará-lo para tão grande tarefa.

3. Paulo chama este lugar de paraíso (v. 4). O paraíso e o céu são termos sinônimos. “Paraíso é uma

palavra persa, e originalmente referia-se a um belo e aprazível parque ou área ajardinada”. 4. Deus sabia quanto Paulo iria suportar e sofrer na causa de Cristo. Essas visões e revelações divinas

ocorreram “para o benefício do próprio Paulo, porque alguém que ia ter dificuldades tão árduas pela frente, suficientes para esmagar mil corações, precisava ser fortalecido por meios especiais, de modo que não recuasse, mas sim perseverasse resolutamente” (Calvino).

O “ESPINHO NA CARNE” NA VIDA DE PAULO (II Co. 12:7-18)

“E, para que não ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que me não

exalte” (v.7). Agora Paulo explica o propósito da sua experiência gloriosa no céu. Foi relatada para revelar sua maior

fraqueza. Esta fraqueza foi para ele uma dádiva, e nela ele se gloriará.

A pressão de uma provação severa (v.7)

Paulo declara que recebeu um “espinho na carne”. Seja qual for a definição aceita, a idéia é de dor, apuros e sofrimentos.

Que espinho é este? Paulo diz: “um mensageiro de Satanás”. Os comentaristas se ocupam disto há séculos, mas nada há de plena certeza de como este mensageiro de Satanás esbofeteava a Paulo. É bem possível que a vontade de Deus é que o fato em si nunca fosse revelado.

Na Bíblia temos expressões semelhantes à “espinho na carne”, nos textos de Nm. 33:55, Js. 23:13 e Ez. 28:24, sempre com referência a pressão de outros povos.

A Providência do Senhor (v.9) É aqui que atingimos o ponto culminante da Epístola, de onde sua totalidade é vista na sua verdadeira

grandeza. A resposta do Senhor a Paulo, está repleta de compaixão e ensino: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza...” (v.9).

Para Paulo, a graça de Deus seria suficiente. Deus dera a Paulo tanto a vontade, quanto a capacidade de

realizar Sua vontade em sua vida, na sua obra, no seu sofrimento, especialmente, no tocante ao espinho na carne. O poder de Cristo, e não a isenção de problemas, lhe era indispensável.

O APELO FINAL DE PAULO (12:19-13:13)

Embora a maioria dos coríntios se tivesse arrependido e aceito a autoridade de Paulo, ainda havia uma minoria que se opunha a ele. É a este grupo que Paulo primeiro se dirige na conclusão da sua carta. Ele faz o seguinte apelo:

a) O apelo para arrependimento (12:19-13:4) - Paulo declara que o que escreveu foi somente para

edificá-los espiritualmente. Paulo receia que ainda haja desarmonia e imoralidade em muitos deles. Se assim for, ele será severo para castigar. Esta é a sua terceira advertência: “Não os pouparei” (v. 2). Os tais conhecerão o seu poder apostólico. Paulo era corajoso ao tratar o pecado. Já manifestara antes sua ira e julgamento contra o transgressor. Paulo chega ao ponto de nomear os pecados deles. Hoje muitos pregadores não tem o amor e a coragem de Paulo para repreender o pecado! Dizem que querem pregar somente o amor.

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Assim fazendo, revelam sua falta de entendimento do Evangelho, ou sua falta de repúdio ao pecado e sua falta de coragem.

ROMANOS

Através da Epístola aos Romanos, Paulo procura dar uma resposta lógica e inspirada, à principal

pergunta que o homem vem fazendo desde o princípio da história da raça humana, ou seja, “Como pode o homem ser justo para com Deus?” (Jó 9:2)

Apesar de em várias partes do Antigo Testamento, nos Evangelhos e no Livro de Atos dos Apóstolos, serem encontrados elementos que juntos visam responder a essa singular pergunta, o fato é que foi a Paulo a quem coube especial revelação divina quanto a justificação pela fé, base e tema da Epístola. A habilidade da qual o apóstolo foi possuidor para interpretar esse assunto, faz da Epístola aos Romanos, o que alguns estudiosos chamam de “A Catedral da Fé Cristã”, “O Evangelho mais Puro”, “O Livro mais Profundo Jamais Escrito”, e o “O Grito de Alegria de Paulo a um Mundo Perdido”.

A IGREJA EM ROMA

A história eclesiástica não registra o nome do fundador da Igreja em Roma. Apesar disso, muitas hipóteses são levantadas em torno de tradições, sugerindo o nome ou nomes de possíveis fundadores dessa notável Igreja do primeiro século. Algumas dessas tradições atribuem aos apóstolos Pedro e Paulo a sua fundação. Entretanto, a crença de que tenha sido o apóstolo Pedro o fundador da Igreja em Roma, é uma peculiaridade teológica e dogmática da Igreja Católica-Romana, com o propósito de oferecer base histórica à pretensão do primado do bispo de Roma, o papa. E, a despeito das boas intenções que possam envolver esta questão, a afirmativa de que Pedro tenha sido o fundador da Igreja em Roma, não encontra respaldo nas Escrituras nem em fontes históricas confiáveis. Sabemos por exemplo que, mesmo que Pedro tenha sido martirizado em Roma, em Atos 15, por ocasião do Concílio de Jerusalém, Pedro ainda se encontrava nessa cidade, e de acordo com Gálatas, 2:9, o apóstolo teve o seu ministério restrito entre os judeus.

Quanto a Paulo, é sabido pela própria Epístola (1:15; 15;8), que o apóstolo não havia feito nenhuma visita anterior a Roma, prevalecendo portanto, a crença de que a Igreja tenha sido fundada por Romanos, que visitando Jerusalém em suas festividades da Páscoa, aceitaram o Evangelho de Cristo, pregado por Pedro no dia de Pentecostes, ou ainda pelos convertidos através do abrangente ministério de Paulo, que durante os vinte e oito anos seguintes, procedentes de várias partes emigraram para Roma.

FORMAÇÃO DA IGREJA

A Igreja em Roma, teve seu início eminentemente judaica, mas logo suas fileiras foram engrossadas por grande número de gentios convertidos a Cristo, constituídos principalmente de escravos e da classe pobre da população. O cap. 16 da Epístola, destaca pela expressiva quantidade de nomes de origem gentílica, a extensão dessa comunidade cristã.

Observando o contexto histórico e geográfico de Roma, constatamos que a cidade, estabelecida desde 753 a.C., na margem esquerda do Rio Tigre, com sua população em torno de um milhão de habitantes, caracterizada pelo seu desenvolvimento cultural, pelas artes e habilidade dos seus exércitos, reputada como a “Senhora do Mundo”, contrastava com a outra face de Roma que Paulo descortina diante de nós, ou seja, uma cidade mergulhada na idolatria e toda sorte de imoralidade, que oferecia ao apóstolo o cenário perfeito para escrever sobre a imensa pecaminosidade do homem (1:18-32) e o método de Deus em fazer de um homem culpado, um homem justificado. Todo o contexto que Paulo tinha diante de si, se transformaria no pano de fundo apropriado para que o poder dinâmico do Evangelho fosse manifesto.

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Data e local da escrita

Existem pequenas divergências quanto a data da escrita de Romanos, mas o mais provável é que Paulo a tenha escrito, durante a sua terceira viagem missionária, no ano 55 em Corinto, na casa de Gaio, um cristão abastado daquela cidade.

Destinatá-rio

Foi endereçada aos cristãos em Roma.

Portadora da epístola

A viúva Febe, de Cencréia, cidade próxima de Corinto, que iria a Roma com o propósito de tratar de assuntos particulares.

Tema de Romanos

“O Dom da Retidão Divina por Meio da Fé” ou “A Justificação Pela Graça Divina, Mediante a Fé em Cristo” (Rm. 1:16,17).

PROPÓSITO DA EPÍSTOLA 1. Apresentar a doutrina cristã como sistema, a uma Igreja que não foi fundada por um apóstolo. 2. Preparar o caminho para uma visita de Paulo a Roma (Rm. 15:23,33).

PECULIARIDADES 1. Romanos é uma Epístola escrita para uma igreja não conhecida em pessoa. 2. Sua lista de saudação é única. 3. Reúne ambas as formas de escrever: tratado teológico e carta. 4. É a maior de todas as Epístolas de Paulo - “A Magna Carta do Cristianismo” (W. Graham Scroggie). 5. É provável que Romanos mostre o método de Paulo ensinar as Igrejas.

Observações: Acrescentamos aqui algumas informações a respeito da origem, cidadania e formação de Paulo, que facilitarão a compreensão da Epístola, tomando por base que nela o apóstolo deixa transparecer de modo abrangente seu profundo conhecimento da Lei Judaica, bem como sua familiaridade com as leis e costumes romanos.

PAULO - SEU NASCIMENTO, FAMÍLIA, INSTRUÇÃO E CIDADANIA O nascimento e família de Paulo, habilitaram-no a chamar-se a si próprio de “hebreu de hebreus”, ou

seja era de puro sangue judaico, da tribo de Benjamim (Rm. 11:1; Fp. 3:5) e nasceu em Tarso na Cilícia, sob o poder do imperador romano César Augusto. A sua educação foi caracteristicamente judaica. Quando rapaz foi mandado para Jerusalém a fim de ser instruído por Gamaliel (“segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, dizia ele” – At. 22:3). Sua cidade natal, Tarso, era naquela época cidade livre, famosa por ser um centro de educação, onde sua universidade, quase tão célebre como Atenas e Alexandria, colocou Paulo em contato com o mundo e a cultura grega, o que faria do apóstolo um erudito notável. E pelos privilégios de cidadão romano, hereditariamente adquiridos (At 22.8) estaria ele em contato político com o mundo romano

e sua cultura.

CAPÍTULO 1 (1-17) Após uma saudação e ação de graças apropriadas, Paulo passa a discorrer sobre a revelação da justiça de Deus ao homem e a aplicação desta à sua necessidade espiritual. De imediato introduz o tema (16,17) que é basilar em toda a experiência cristã, ressaltando que ninguém pode entrar em contato com Deus, senão depois de estabelecida uma via de acesso adequado. Apresenta-se como apóstolo dos gentios (v.5) e deixa transparecer seu direcionamento especial a estes, bem como a necessidade que todo o homem tem quanto a salvação.

A culpa dos gentios ímpios - A partir dos vs.18-32, o apóstolo mostra quanto a necessidade do homem ser

salvo do poder do pecado e da ira de Deus, retrata a realidade da raça humana, no sentido universal, em que um pecado conduz a outro pecado, como um abismo a outro abismo. Diz que o pecado de tal modo entrou no coração do homem, que o separou de Deus, e o afastou de Sua revelação, tornando o mundo corrupto e desprezível aos olhos divinos. Ao descrever o mundo de seu tempo, Paulo afirma que os gentios, a exemplo dos judeus no passado, tiveram uma revelação de Deus, mas rejeitaram (21-23,25,28,32), sendo portanto

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inescusáveis.

Fontes de conhecimento de Deus - Defendendo o seu posicionamento de que todo o homem, seja ele

judeu ou gentio, não tem como atestar sua ignorância quanto à revelação de Deus, Paulo cristalinamente apresenta nos vs. 19 e 20, as duas fontes dadas por Deus desde o princípio, conhecidas como Revelação Geral de Deus, sendo elas:

1. A CONSCIÊNCIA Deus fala na nossa consciência sobre o que está certo e o que está

errado. Segundo Paulo, os gentios pagãos se tornaram culpados e idólatras exatamente por rejeitarem essa revelação divina.

2. A NATUREZA Deus manifesta-se através da Sua criação, mas o homem em vez de dar atenção ao Criador, começou a adorar coisas e objetos. O homem sendo um ser incuravelmente religioso, sempre que rejeitar a Deus, há de descobrir algo ou alguém para adorar.

CAPÍTULO 2

A culpa dos moralistas (1-16) - Independente do estilo de vida, Paulo prova que todos os homens

são pecadores, inclusive o moralista. Ele analisa o homem “bom” segundo os padrões humanos, que na sua moralidade criticam os que não seguem por esse padrão. Julgam-se bons demais, pelo que condenam os outros, sendo eles mesmos culpados dos pecados que condenam. Segundo a teologia paulina são indesculpáveis e não escaparão do julgamento de Deus (v.1).

Na seqüência, nos é mostrado que Deus julga o homem com base nas oportunidades e conhecimentos que lhe foram dados. (v.12) Visto por este ângulo, constatamos que os moralistas respeitaram apenas algumas das leis, e pensaram que desta maneira conseguiriam satisfazer e alcançar a justiça de Deus. À medida que Paulo convence-nos de que todos os homens precisam do Evangelho, destaca que o homem moralmente “bom”, que condena os outros pela sua impiedade, sabe em seu coração que tem falhado freqüentemente tentando fazer aquilo que reconhece ser certo.

Mas, uma vez exposta a situação geral do gentio, a pergunta que se faz é: Como será o Julgamento Divino? No v. 16 de Romanos 2, há diversos princípios envolvidos no julgamento divino contra os pecadores. Nesse dia, Deus há de julgar todos os pensamentos secretos do homem. Julgamento esse, que será executado pelo Senhor Jesus Cristo, e se dará levando em consideração os seguintes critérios: a. Será conforme a verdade (1-5). Logo não haverá injustiça. b. Será segundo os feitos dos homens (6-10). Isto é, cada um receberá como galardão o que os seus atos merecem. c. Será sem acepção de pessoas (11-15). Governantes e governados, reis e plebeus, clérigos e leigos, magistrados e réus, serão julgados sob o mesmo parâmetro. d. Será segundo o Evangelho (v.16)

A situação dos judeus (17-29) - O judeu na busca de encobrir seu pecado, usa sua religião como

pretexto. Todavia a sua vida, que não passou pela experiência de transformação, o desmente, acrescentando-lhe maior condenação (21,22) De que forma? É que enquanto os judeus se vangloriavam dos seus privilégios, a verdade era que, suas vidas não estavam em conformidade com o querer de Deus. Face a isso, Paulo lembra-lhes que maiores privilégios implicam em maiores responsabilidades. Que quanto maior for a revelação recebida de Deus, maior será a responsabilidade diante dEle.

Desvio da vocação divina - Os judeus como o povo escolhido de Deus, foram comissionados para

serem uma nação missionária, tinham o dever de falar acerca do Deus que os chamara para serem suas testemunhas. Todavia, considerando sua negligência ante a vocação divina, eles serão julgados nos mesmos

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moldes dos gentios impenitentes. Existe vantagem então de ser judeu? Em certo sentido, Paulo afirma que é bom ser judeu (25-29), mas

que não se pode ignorar que um judeu que quebra a lei divina não é melhor que um gentio que não tem lei. Enquanto o judeu advogando em seu favor se declara “inocente, ” mas continua a encobrir o seu pecado com pretexto na “religião”, Deus refuta essa defesa, mostrando que aquele que assim age:

1. Incorre em maior condenação (21,22) 2. Desfigura o bom nome de Deus (23,24) 3. Anula o verdadeiro caráter dos ritos religiosos (25,26) 4. Retira dos judeus seus privilégios por sua posição religiosa (v.29) Em síntese, observamos que o judeu está sob condenação, entretanto, em vez de humilhar-se frente ao

conhecimento que tem da lei, tornou-se crítico e presunçoso, cegando-se para a realidade de que na presença de Deus, ele não é melhor do que o gentio. Pelo contrário, torna-se mais culpado que os gentios que não possuem a luz e a revelação divinas naturais dos judeus (17-29).

CAPÍTULO 3

A culpa universal - (1-20) - Numa espécie de comparações em que Paulo considera as vantagens de

Israel (1-8), ele discursa sobre a incredulidade de Israel e a fidelidade de Deus; mentiras dos homens e verdade de Deus; injustiça humana e justiça de Deus. Voltando-se mais uma vez para a pergunta: Qual a vantagem de ser judeu? (v.1) Ele responde: “muitas”, pois a eles foram confiadas as palavras de Deus (v.2) e mesmo que tenham quebrado o pacto divino, não significa que a promessa a respeito deles haja falhado, ou que os concertos e o plano de Deus se tornaram inválidos. O apóstolo diz que isto é impossível (v.4), pois a falta de fé dos homens não invalida a fidelidade de Deus (3,5,9).

Paulo mostra que o judeu perece, não porque possui a lei, mas sim por não fazer o que ela exige. Depois de retratar amplamente a realidade do gentio e do judeu, o apóstolo está pronto para apresentar

aquilo que constitui a essência da sua mensagem, ou seja, a necessidade universal de salvação, considerando dois aspectos da condição espiritual da raça humana: a. A condenação é universal (9-18) b. O pecado é indomável e pessoal, tanto como estado, como em palavras e ações (13-18)

Tendo traçado a extensão do pecado, e revelado o seu domínio da cabeça aos pés, nos vs.13-18, o apóstolo dá um diagnóstico profundo da terrível doença moral e espiritual da raça humana - TODOS ESTÃO DEBAIXO DO PECADO (v.9) Ao encerrar a sessão, Paulo mostra que a lei na sua insuficiência para justificar, fora dada como “espelho” para revelar e não como sabão para lavar.

A justificação (21-31) - Após argumentar que o alvo da lei é apontar a necessidade de limpeza, sendo

no entanto, incapaz de efetivá-la, o apóstolo dá a conhecer com toda a intensidade, o antídoto, o remédio de Deus para o pecado, revela o instrumento, o meio, o caminho de libertação, mediante a justificação pela fé em Cristo. Aos lábios que se calaram, rostos que se abateram e sorrisos que se fecharam pela sentença de condenação, Paulo é o portador da grande boa nova do perdão para a culpa, e da libertação do pecado. Do investimento de Deus, através de Jesus Cristo, em que sua justiça é creditada ao homem, assegurando-lhe a possibilidade de viver vida reta e de ter garantido o pleno acesso à salvação eterna. Para o homem imerso em densas trevas, o apóstolo faz raiar em todo o seu brilho, o Sol da Justiça, justiça esta que só o próprio Deus pode prover (24-26).

O que é justificação? - Por justificação entende-se o ato pelo qual Deus declara posicionalmente justa a pessoa que a Ele se chega através de Jesus Cristo. Esta justificação envolve dois atos: O cancelamento da dívida do pecado na “conta” do pecador, e o lançamento da justiça de Cristo em seu lugar. Em outras palavras, justificação, não é aquilo que o homem é ou tem em si mesmo, mas aquilo que o Senhor Jesus É e faz na vida do cristão. Desse modo, justificar significa tornar ou declarar justo. É um termo legal, que implica em processo legal. O resultado desse processo, é que quando Deus justifica o pecador, torna-o justo e reto, não pelos próprios méritos, mas pelos méritos de Jesus Cristo. “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça mediante a redenção que há em Cristo Jesus; a quem propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé

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para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça, no tempo presente, para ele mesmo ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (24-26).

A justiça de Deus revelada no Evangelho - Em Rm. 1:16,17, Paulo disse que a justiça de Deus se

revela no Evangelho. Em Rm. 3:21-31, ele mostra de que modo o Evangelho apresenta os dois aspectos da justiça divina.

1. A justiça com a qual Deus provê o homem por seu amor e graça, mostra-se na experiência deste confiar pessoalmente em Cristo.

2. A justiça de Deus se manifesta na redenção efetuada na cruz. A justificação está relacionada: a. Com a graça de Deus, que é sua fonte; b. Com o sangue de Jesus, que é sua base e

c. Com a fé, que é o meio e condição de recepção. A justificação e a Lei - Como se pode alcançar a justiça de Deus sem a Lei? Paulo explica,

evidenciando que o modo pelo qual Deus revela a sua justiça está em harmonia com as Escrituras do Antigo Testamento. Segundo o apóstolo, a Lei e os Profetas testemunharam dessa justiça (v.21).

A justiça da Lei requer a morte do culpado, enquanto que o amor de Deus exige seu perdão. Mas, como pode Deus perdoar o transgressor quando a Sua justiça exige o castigo dele? É aqui que Paulo descreve a provisão divina para a salvação do homem.

Redenção e Propiciação - Há duas palavras em Rm. 3:24,25 que nos mostram como Deus resolveu o

problema do pecado. São elas “Redenção” e “Propiciação”. O termo REDENÇÃO nos fala de um mercado de venda de escravos. A redenção consiste na compra de um escravo e sua imediata libertação. Cristo mediante o seu sacrifício remidor nos comprou do mercado de escravos do pecado. PROPICIAÇÃO é a vindicação da justiça divina descrita na lei, mediante um sacrifício substituto e reparador, o qual leva sobre si as penas da Lei, como resultado dos pecados do mundo, removendo ao mesmo tempo o impedimento para Deus extravasar o seu amor e assim salvar o pecador. Em resumo: “Propiciação” resulta em remissão, reconciliação e perdão.

CAPÍTULO 4

Abraão - exemplo de justificação pela fé - No capítulo anterior, depois de ser enfatizado que a

justificação não se fundamenta na lei, sendo definida como uma dádiva, que pode ser obtida por todos os que crêem em Cristo (3:22), no cap.4:1-8, usando ilustrações do A.T. e o exemplo de Abraão, Paulo menciona que a justificação pela fé, não é nenhuma forma de ensino novo ou nova revelação. Pelo contrário, diz que Abraão foi assim justificado antes do estabelecimento de ritos religiosos e exigências da Lei, pela fé que exerceu em Deus. Desse modo, o Pai da nação judaica, foi justificado pela fé e não pelas obras.

O apóstolo, aplica ainda esta ilustração da fé de Abraão ao nosso relacionamento com Cristo, partindo do princípio que Abraão creu na promessa de Deus (19-23), usufruindo das bênçãos derivadas dessa justificação, as quais também nós temos acesso pela fé (v.16).

Paulo direciona nossa atenção ainda para o v.18, ao dizer que mesmo que não houvesse nenhuma possibilidade humana da promessa se cumprir, Abraão creu contra a esperança, de que Aquele que prometeu era poderoso para cumprir, apesar de não existir nenhuma base (algo sólido, concreto, mensurável, palpável) sobre a qual a esperança de Abraão se apoiasse. Ele esperou confiantemente em Deus.

CAPÍTULO 5 As bênçãos da justificação (1-11) - Ao descrever as bênçãos que acompanham a justificação: paz,

alegria, esperança e livre acesso à presença de Deus, Paulo mostra que ela proporciona ao crente um novo

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relacionamento com a Lei, a qual exigia perfeita obediência para que o homem pudesse obter a vida eterna (Mt. 19:17). Como era impossível cumprí-la integralmente, para resolver esse impasse milenar, a solução divina, não foi abolir a Lei, mas sim fazer com que Cristo a “cumprisse” por nós, pois só Ele estava habilitado a obedecê-la e cumprí-la na sua inteireza (Mt. 5:17; Rm. 10:4; 3:21,22).

Assim, a justificação conforme Paulo, concede uma nova perspectiva do porvir. Ela não apenas nos liberta do flagelo do passado, mas nos garante hoje uma nova posição e nos isenta de todo temor do futuro.

Já relatamos que nesta Epístola Paulo deixa transparecer a profundidade do seu conhecimento a respeito da lei judaica, bem como a sua familiaridade com as leis e costumes romanos, que lhe permitiam uma comunicação clara com os seus leitores. Desse modo, é oportuno destacar que quando o apóstolo fala no cap.5:1-11, de uma nova posição privilegiada em Cristo, na qual estamos firmes, que traz paz, que gera esperança e não produz confusão. Havia por exemplo, em Roma um tipo de prática religiosa que associada a outras por certo não eram desconhecidas por Paulo. A cerimônia ocorria de quatro em quatro anos e era chamada de Festa da Purificação. Os ritos ali observados e o próprio nome nos indicam que essa cerimônia devia ter por virtude, o caráter das faltas cometidas pelo cidadão contra o culto. O ritual religioso era antecipado pelo censo (contagem dos cidadãos) e aquele que não se inscrevesse estava sujeito à perda da cidadania. Não poderia mais ser membro da cidade. Para os “deuses” presentes à cerimônia, ele já não mais era cidadão. Por outro lado, o Censor (pessoa que presidia o cerimonial), antes de iniciar o sacrifício, dispunha o povo em certa ordem, ficando senadores, cavaleiros e cidadãos na categoria que foram dispostos até a próxima cerimônia, podendo assim serem promovidos ou destituídos de suas posições. (Cidade Antiga, pg.112)

Em razão de quase todas as coisas estarem ligadas à religião e ao Estado, não era necessário grandes delitos para despertar a ira dos “deuses” e os homens serem por vezes considerados réus de morte. Paulo em contraste com estes fatos, apresenta a justificação pela fé, como algo que proporciona um posicionamento firme e privilegiado, desprovido de qualquer dúvida e insegurança. Não se trata de uma posição provisória, ou cercada de temores, mas garantida pelo Deus justo, que por isso mesmo pode justificar aqueles que a Ele buscam.

Nosso relacionamento com Adão e com Cristo (12-21) - Este texto apresenta as duas raças que

existem em virtude da queda de Adão de um lado, e a morte e a ressurreição de Cristo do outro. Ele evidencia que por causa do nosso relacionamento com Adão, a presença do pecado, é uma realidade com a qual o homem lida dia-a-dia. Mas que em função do nosso relacionamento com Cristo, devido a graça de Deus, obtemos a vitória sobre a natureza Adâmica.

Na comparação entre Adão e Cristo, nos é mostrado o triunfo da graça sobre o pecado. Os vs.14,15, ressaltam que como o efeito do pecado de Adão se estendeu muito além do primeiro homem, assim Cristo tem um efeito muito além de Si mesmo como Cabeça da nova raça humana.

No v.20, Paulo declara que onde abundou o pecado, superabundou a graça. Os maravilhosos benefícios do nosso relacionamento com Cristo são infinitamente maiores do que os perniciosos efeitos do nosso relacionamento com Adão. Vejamos:

COMPARAÇÕES

ADÃO Cabeças de

suas famílias CRISTO

1. transgressão Dom gratuito (v.15)

2. Condenação Justificação (v.16)

3. Morte Vida (v.16)

4. Ofensa Justiça (v.18)

5. Desobediência Obediência (v.19)

6.Vultuosa Ofensa Superabundante graça (v.20)

7. Reino do pecado Reino da graça (v.21)

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CAPÍTULO 6

Este capítulo apresenta uma resposta à idéia absurda, de que o homem pode pecar deliberadamente, uma vez que a graça é maior que o pecado. Nele encontramos a receita para a vida cristã autêntica e vitoriosa, que tem como princípio a santificação e dedicação a Deus.

Três palavras são destacadas: SAIBA - Que Cristo morreu por nós (3-5,10) CONSIDERE-SE - Morto para o pecado (v.11) OFEREÇA-SE - A Deus (v.13)

Livres do pecado (1-14) - Paulo fala da experiência e significado do batismo (v.3), como uma razão poderosa para não vivermos mais no pecado. Assim como o batismo em água é um testemunho público que indica a morte para o pecado e o começo de uma vida nova em Cristo, expressa também a nossa plena identificação e experiência com Ele.

A Lei da liberdade (15-23) - Ao discorrer sobre a lei da liberdade, Paulo explica que o estarmos

debaixo da graça, não significa liberdade para fazermos o que bem entendermos (I Co. 6:12), mas que o domínio de Cristo sobre nós coloca-nos sob uma lei pessoal mui elevada, pois trata-se da união espiritual com Ele. É a liberdade com lei - a Lei de Cristo (I Co. 9:21; Rm. 7:22; Gl. 6:2).

O ímpio tem liberdade sem lei. O judeu tinha lei sem liberdade. O cristão nascido de novo, tem a lei da liberdade.

“...A lei da liberdade cristã ensina o discípulo fiel e sincero, a consultar, não um código de regras, mas a vontade de um salvador amado.” (A Bíblia Explicada)

CAPÍTULO 7 A Lei - a analogia do casamento (1-6) - No cap. 7:1-6, Paulo apresenta o assunto da nossa relação

com a Lei de Moisés, tomando por base a ilustração do casamento, no qual marido e mulher prometem fidelidade um ao outro até que a morte os separe. De acordo com o apóstolo (no que a nossa lei civil corrobora) a morte rompe o elo do matrimônio, concedendo ao cônjuge vivo o direito de contrair novas núpcias.

Ora, como salvos, morremos com Cristo quando Ele morreu por nós. Desse modo estamos mortos para a lei que antes nos condenava (v.6). Estamos livres para nos unirmos a outro, a saber, Jesus Cristo. O primeiro casamento com a lei foi infrutífero, no tocante à justiça. O segundo matrimônio, com Cristo, com o qual morremos e ressuscitamos, nos faz uma nova criatura e nos conduz a produzir frutos de justiça - ações que agradam a Deus.

Vs. 7-25 - Nesta porção do capítulo sete, Paulo descreve sua própria experiência e conflito interior. Em

razão disso, esse texto tem dado margem a interpretações errôneas, como por exemplo, que a experiência real de conversão do apóstolo só teria de fato ocorrido após esta narrativa. Uma vez que sob o domínio do pecado, Paulo se mostraria aqui um derrotado. Tal interpretação não encontra apoio nas Escrituras, que nos revela amplamente no Livro de Atos dos Apóstolos, a experiência de conversão de Paulo; nem em fontes confiáveis, que registram que o apóstolo escreveu outras Epístolas antes de Romanos, com profundas instruções e vasto conteúdo teológico; sendo portanto absurdo que não tivesse passado pela experiência de conversão, se o desenvolvimento do seu ministério atestava justamente o contrário.

Numa retrospectiva, nestes vs. 7-25, o apóstolo nos mostra diferentes etapas ou passos da sua própria experiência espiritual, ou seja:

a. (v.9) – “VIVIA” - Anteriormente longe de Cristo Paulo sentia-se satisfeito consigo mesmo. Pensando que vivia, o seu estado era de morte e ele não sabia.

(Ex. fariseus - um engano espiritual) b. (9-13) - Ao tomar conhecimento da sua situação, Paulo descobriu que era pecador. Sua relação com a

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lei, expunha-o constantemente à condenação porque exigia uma justiça que a corrupta natureza humana não podia dar. A lei era boa, santa e espiritual (12-14) (pois fora dada como um caminho para a vida). A falta residia na natureza carnal que não podia satisfazer plenamente os seus requisitos, e dessa forma Paulo descobre que não tem força em si mesmo para dominar o pecado. Ele sente-se fraco e miserável (23,24). Sua auto-avaliação: “Eu sou carnal, vendido sob o pecado (v.14) fraco (v.23) um homem desventurado” (V.24), que leva-o a irromper numa exclamação que é ao mesmo tempo um grito de socorro: “...quem me livrará do corpo desta morte?” A resposta vem imediata no v.25.

c. (v.25) - Aqui Paulo experimenta a condição de liberdade. Liberto da lei do pecado e da lei que traz condenação. Tudo isso através de Jesus Cristo (Jo. 8:36)

Portanto, o que Paulo revela aqui são etapas da sua própria experiência, que não são estranhas a nenhum de nós se considerarmos a forma como vivíamos no passado satisfeitos em nós mesmos; depois descobrimos que éramos pecadores e a sorte que nos estava reservada, para em seguida experimentarmos a plenitude da liberdade em Cristo.

LUTA E VITÓRIA Vendo num outro sentido, Rm. 7.7-25, pode ser entendido não apenas como a experiência ou o conflito

interior de Paulo, como o nosso também. Rm. 7:14, é uma demonstração fiel e pessoal do “eu” do novo homem lutando para viver a vida cristã. É um quadro vivo da luta que se trava entre as duas naturezas do crente (carnal x espiritual) É uma batalha pessoal contra a natureza pecaminosa, que serve de alerta a todos indistintamente.

CAPÍTULO 8 No cap. 8, descobrimos o poder para viver a vida que Cristo dá, por meio do Espírito Santo, que vem a

depor o pecado, produzir frutos para a justiça, dar testemunho da nossa filiação e ajudar-nos na oração. O capítulo que mostra a nossa condição de filiação com Deus, é conhecido como o coração da Epístola,

começa com a declaração de que nenhuma condenação há para aquele que está em Cristo e termina num hino de vitória, revelando que nada é alto, vasto ou profundo demais para que seja capaz de separar do amor de Deus.

A vitória sobre o pecado (1-4) - Não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo. Este é o

resultado da nova vida. A culpa é coisa do passado e o castigo já foi cancelado.

A vitória sobre a morte (5-11) - Este texto mostra que é impossível conduzirmos uma vida

espiritual sem a dependência do poder do Espírito Santo.

Orientação e segurança (14-17) - A vida cristã não consiste apenas na experiência do novo

nascimento. Ela é contínua, diária (1,4,14). As expressões “andar no Espírito” e guiado “pelo Espírito”, referem-se a uma experiência habitual.

A redenção do corpo (18-25) - Deus criou a terra para ser o lar da humanidade. Mas o pecado de

Adão afetou não somente a ele, mas a terra e a criação (19-22). Todos sofremos o resultado dessa rebelião. Toda a criação segundo Paulo, aguarda a manifestação dos filhos de Deus (v.19), é a redenção do nosso corpo. (v.23b)

A perfeição da nossa salvação (26-39) - A chamada de Deus é parte importante da nossa salvação

(Jo. 6:44). Deus nos conhecia antes de nascermos. Ele sabia quais os que responderiam à sua oferta de salvação e quais os que a rejeitariam. Deixou a escolha ao nosso cuidado, mas Ele planejou o que faria aos que se tornassem seus filhos. Estabeleceu em seu coração que fossem conforme à imagem do Seu Filho (v.29).

O capítulo termina com expressões de louvor e confiança, que só podem ser pronunciadas por aquele que na posição de filho, possui um relacionamento íntimo com o Pai.

CAPÍTULOS 9 A 11

Os caps. 9-11, são descritos como parentéticos ou dispensacionais. Até aqui Paulo revelou o plano divino de salvação pela fé. Agora ele se dirige especificamente aos judeus. Várias perguntas como: “se os judeus foram rejeitados como nação, que será das promessas do A.T.? Se Israel é povo escolhido de Deus e que

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recebeu a Sua palavra, as alianças e a lei, porque rejeitou, como nação, o seu Messias? Será Israel restaurado ainda?” São antecipadas e respondidas nesta seção.

A posição de Israel como nação (9:1-5) - O primeiro problema tratado por Paulo é o da resistência

de Israel ao Evangelho. A tristeza do apóstolo por eles, leva-o a desejar sacrificar sua própria vida se isto de alguma forma puder contribuir para salvar seu povo (v.3). Esta atitude também foi manifestada por Moisés em Ex. 32:32. Em Rm. 9:4,5, Paulo enumera as bênçãos que o povo tem desfrutado. São os seguintes: “adoção”, “glória”, “pactos”, “a lei”, “o serviço”, “as promessas”, “os pais” e “Cristo”. Deus não tratou assim com nenhuma outra nação.

A eleição de Israel (9:6-13) - Neste texto temos uma ilustração da soberana eleição ou escolha de

Deus. Ele conhecia Jacó e Esaú antes de nascerem e sabia o caminho que cada um iria tomar e qual deles cumpriria o seu propósito.

Deus age como quer (9:14-33) - Ele é livre e age sempre de forma justa com sua criação conforme

lhe apraz. Quanto a Faraó, alguns interpretam que Deus o predestinou para a perdição, pelo que lhe endureceu o coração (Ex. 8,15,32) para não deixar Israel sair. Deus estava livre para deixá-lo perecer na última praga (Ex. 9:16), mas também tinha o direito de poupá-lo para que lhe servisse (Rm. 9:17). Se assim é, quem é o homem para censurar a Deus? (v.20). No cap. 9:27-29, são apresentados duas profecias de Isaías, referindo-se ao remanescente judaico. A condição de Israel, deve-se não ao fato de Deus não querer salvá-lo, mas por Israel não aceitar os termos de um Deus justo e soberano. Resultado: os gentios conseguiram a justiça da fé (v.30) Israel não a conseguiu porque a buscou pelas obras (31-32) e tropeçou na cruz (32b,33). Tropeçaram nesta pedra e caíram, sendo expulsos de sua terra, dispersos pelo mundo e um povo sem pátria por quase dois mil anos. Voltando a ser uma nação independente e reconhecida pela ONU apenas em 14 de maio de 1948.

A salvação de Israel no presente (10:1-13) - No cap. 10, Paulo trata os judeus como indivíduos e

não como nação. Eles precisam de salvação diz Paulo (v.1), o que é oferecido e assegurado por Deus, mediante a justificação pela fé.

Mostra que o fracasso de Israel em receber a promessa é responsabilidade dele mesmo, por se recusar em aceitar o plano de Deus por sua salvação segundo o Evangelho (v.3). Destaca que a fé deve estar baseada no verdadeiro conhecimento da Palavra de Deus.

Pregadores enviados (10:14,15) - Ninguém pode ser salvo se o Evangelho não for pregado por

aqueles que Deus enviou. O mundo precisa de homens comissionados por Deus para comunicar a mensagem de salvação. Pois pregando os homens vão ouvir, ouvindo vão crer, crendo vão invocar, invocando se salvarão.

A restauração de Israel (11:1-36) - Como iria Deus abandonar o povo a quem tanto beneficiou? Se

a transgressão redundou em riquezas para o mundo e o seu abatimento em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude (v.12)

Deus não abandonou Israel - Israel é a oliveira que Deus plantou (Is. 60:21; 61:3) Diferentes formas

desta figura de retórica aparecem em todo o Antigo Testamento. Ora, se as raízes e o tronco da árvore pertencem a Deus, também os ramos igualmente. (v.16). E no v.17 acrescenta Paulo: “Se porém, algum dos ramos forem quebrados, e tu sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles...”

Ramos quebrados são judeus incrédulos fora de Cristo, enquanto que os zambujeiros são gentios salvos. Se Deus cortou alguns de seu próprio povo por não terem crido, devemos ter cuidado e confiar na bondade de Deus e não na nossa (20-22).

Os vs.25-31 nos mostra que Israel será vivificado e restaurado, uma vez chegada a plenitude dos gentios (arrebatamento) Deus se voltará para Israel na sua fidelidade pactual. A nação terá toda a terra que por direito lhe pertence.

Sua cegueira chegará ao fim com a vinda do “Libertador” de Israel (v.26), ou seja Israel reconhecerá Jesus como o seu Messias.

Não é por acaso, que Paulo olhando para o futuro a respeito da restauração de Israel e a comunhão dos judeus e gentios no reino eterno de Cristo, termine essa seção com um quadro de louvor a Deus! (v.36).

CAPÍTULO 12

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Depois de ocupar-se do campo doutrinário, Paulo aplica agora todos estes ensinamentos de maneira

prática. Como servir a Deus (v.1) – “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os

vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.”

PARAKALEO Admoestar, encorajar, exortar. A palavra era usada no grego clássico para a exortação de tropas que estavam para ir à batalha. Aqui é um pedido baseado na autoridade apostólica de Paulo.

OIKTIRMOS misericórdia, compaixão, misericórdia e compaixão que se originam de um estado miserável de alguém que está em necessidade.

PARASTESAI apresentar, um termo técnico para a apresentação e um sacrifício, significando literalmente “colocar de lado” para qualquer propósito.

THUSIA oferenda, sacrifício.

ZOSAN viver;

EUARESTOS agradável;

LOGUIKOS relativo à razão, racional, talvez espiritual. O uso de nossos corpos é caracterizado pela devoção consciente, inteligente e consagrada a Deus e o seu serviço.

LATRÉIA culto, adoração.

Neste apelo Paulo exorta-nos a viver à altura da nossa fé. Mostra que a doutrina da justificação pela fé

não permite uma vida ou conduta descuidada. Somos salvos para servir. A vida do cristão precisa ser vivida em relação a Deus, e a si próprio e ao próximo.

Talvez você se tenha surpreendido de que até aqui não tivéssemos de fazer nada, senão crer em Cristo e submeter-nos a Ele para que nos use como desejar. Agora devemos servir.

Pouco podemos fazer para Deus antes de sermos salvos pela sua graça e transformados pelo seu amor. Leia I Co. 13. Mas quando nos entregamos a Cristo e nos enchemos de seu amor, podemos achar muito para fazer. Cristo quer um “sacrifício vivo”, não morto (v.1). Muitos estão prontos a morrer por Ele, mas poucos estão dispostos a viver por ele. Há muitos que prefeririam ir para a fogueira a sofrer a crítica dos companheiros. Alguém definiu o cristão moderno assim: “É uma pessoa que está pronta a morrer pela igreja à qual não freqüenta.”Quantos de nós emudecemos quando o nome de Cristo é menosprezado ou usado em vão! A primeira parte de Romanos é o que Deus faz por nós. Esta segunda parte é o que podemos fazer por nosso Deus.

O serviço cristão em relação à Deus - O propósito do serviço cristão é: A glorificação de Deus

1. O serviço cristão em relação ao eu exige de nós o sacrifício próprio – de nos colocarmos diante de Deus como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele (1-2). a. O corpo é oferecido: Para que não nos conformemos com o padrão do mundo em relação ao servir. b. A mente renovada: Para que sejamos transformados. 2. O serviço cristão em relação à igreja exige humildade. A igreja é o corpo de Cristo (3-8). 1. Somos diversos membros, com diferentes funções. 2. Prestando vários serviços como um dom proveniente dEle. 3. O serviço cristão em relação à sociedade exige amor. (12:9-21) a. Exortações gerais em favor duma amável fidelidade para com todos os homens. b. Exortação especial em favor duma amável paciência quando provocados.

A vingança pertence a Deus.

Compete ao homem servir com amor.

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CAPÍTULO 13

A atitude em relação às autoridades terrenas - Paulo fazendo uma apresentação sistemática da

doutrina cristã e sua aplicação prática, não poderia desprezar essa área de uma vida transformada, as nossas atitudes para com os nossos governantes devem ser dirigidas pelo Espírito Santo, segundo a nova mentalidade que temos (Rm. 12:1).

Nenhum cristão está isento das responsabilidades para com o governo, segundo Rm. 13:1. Ninguém deve ignorar ou sentir-se livre para violar as leis estabelecidas pelas autoridades governamentais.

Nossa submissão a Deus implica na nossa sujeição ao governo ordenado por Ele (Jo. 19:11). Nossa sujeição às autoridades faz parte do culto racional que prestamos a Deus.

Jesus ensina a dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (Mt. 22:21), fazendo referência a impostos e tributos, mas esses deveres vão além dos dois aqui mencionados, a saber: respeito e honra.

Paulo afirma: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma”. (v.8). A única dívida que teremos sempre em aberto, todo o tempo de nossa vida é a dívida do amor para com o próximo, para com todos os homens, sejam crentes ou não.

CAPÍTULO 14 A relação entre a liberdade e o amor cristão - Esta parte da carta é de grande interesse, uma vez

que trata de questões duvidosas acerca da nossa conduta entre os fracos na fé (v.1). O texto mostra que não devemos limitar a liberdade pessoal do nosso irmão por qualquer juízo humano

(v.13), mas cada um deve se limitar no exercício da sua própria liberdade. A liberdade cristã deve ser controlada e equilibrada pelo amor cristão. Embora o cristão se sinta livre

para fazer coisas que para ele não são pecados, deve considerar os efeitos das suas ações sobre os outros. Se amamos o irmão em Cristo, evitaremos tudo que o ofenda ou escandalize.

Princípios básicos sobre a vida cristã (v.17) - Neste versículos as palavras “Reino de Deus”

referem-se ao domínio em que vive o cristão. É o dom do Espírito Santo. Paulo diz: “Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida”, isto é, coisas materiais, físicas, tangíveis; mas justiça, alegria e paz no Espírito Santo. Como membros do Reino de Deus, vivemos no domínio em que se movimenta o Espírito Santo.

CAPÍTULO 15

Seguindo o exemplo de Cristo – No cap. 15:1-6 Paulo usando o exemplo do Senhor Jesus, que não

agradou a Si mesmo (v.3), chama nossa atenção, para que sempre como cristãos tenhamos em mente a nossa responsabilidade, quanto a suportar a fraqueza dos fracos, e não agradarmos a nós mesmos.

Os vs. 7-12 Paulo faz uma maior aplicação deste princípio quanto a aceitação dos outros ao dizer que somos membros do Corpo de Cristo. (v.7)

Podemos resumir o ensino da carta aos Romanos, lançando mão de três diferentes pessoas: O Eu, O Próximo e Deus:

O Eu motivo do serviço à nossa gratidão pessoal (12:1,2)

O Próximo propósito do serviço - o bem estar dos outros (14:1,15)

Deus objetivo do serviço - a glória de Deus (15:4-13)

Além de demonstrar interesse pessoal pelo bem-estar espiritual dos seus leitores (15:14-24), Paulo ministra à igreja de Roma, quando de sua visita, esperando que eles o ajudem a levar o Evangelho até a Espanha (15:24). Isto deve nos ajudar a entender que a grande comissão é para toda Igreja e não somente para os pregadores. Só deste modo estaremos participando efetivamente da evangelização do mundo. Paulo solicita três tipos de ofertas

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aos Romanos: 1. Uma oferta missionária de si mesmos; 2. Uma oferta para os cristãos pobres e necessitados; 3. Uma oferta para o sustento dos missionários. É dever da Igreja local sustentar condignamente os seus obreiros.

CAPÍTULO 16

A comunhão cristã e saudações pastorais (1-16) - Seja qual tenha sido o propósito do Espírito,

certamente Ele quis conservar este quadro nominal de cristãos do primeiro Século. A estes nomes aplaudidos e sempre lembrados foi acrescido também o nosso, desde que nos unimos a Cristo e sua Igreja. Em Cristo Jesus somos tão preciosos quanto eles.

Aviso contra as divisões (17-20) - O apóstolo Paulo não podia encerrar sua carta sem alertar os

irmãos contra aqueles que promovem “dissensões e escândalos”. Uma das artimanhas de Satanás é destruir a Igreja, dividindo-a em facções.

Os últimos três versículos da carta, são uma doxologia, isto é, um hino de louvor a Deus. Mistério: A salvação em Cristo é poderosa e eficaz (16:25) Extensão do Evangelho: “A todas as nações” (16:26) O método do Evangelho: Pelas Escrituras (16:26) O propósito do Evangelho: A obediência, a fé (16:26).

FILEMON E COLOSSENSES (EPÍSTOLAS DA PRISÃO) Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon compreendem as chamadas “Epístolas da prisão ou do

cativeiro”, assim denominadas porque Paulo se achava encarcerado quando as escreveu. Ainda que não tenhamos informações exatas a respeito da data, local e circunstâncias específicas que levaram o apóstolo a escrevê-las, dois períodos dos aprisionamentos de Paulo nos são dados a conhecer: 1. Durante o governo de Félix e de Festo em Cesaréia conforme At. 23-26.

2. Em Roma enquanto esperava ser julgado, de acordo com Atos 28. Alguns teólogos e eruditos declaram ainda que Paulo esteve preso em Éfeso durante o seu prolongado ministério ali. O apóstolo menciona ainda em seus ensinos vários aprisionamentos que eram apenas de uma noite ou um pouco mais. A tradição atribui todas as Epístolas da prisão, escritas de Roma, mas a possibilidade de pelo menos uma carta ter sido escrita de Cesaréia ou Éfeso, não pode ser totalmente descartada.

FILEMOM

Data e local da escrita

Ainda que existam divergências quanto a data e local da escrita desta Epístola, vamos considerar o que a tradição atribui, ou seja, como escrita em Roma, provavelmente no período de 60-63.

Destinatário Foi endereçada a Filemom e à Igreja em sua casa.

Portador da epístola

Tíquico, que serviu também como mediador entre Filemom e Onésimo.

Tema Apelo em favor de um escravo fugitivo.

Propósito Persuadir Filemom não somente a aceitar Onésimo de volta sem puní-lo ou tirar-lhe a vida (o usual tratamento para escravos fugitivos), mas também a acolhê-lo como irmão caríssimo no Senhor v.16.

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Peculiaridades 1. Esta é a única carta totalmente privada de Paulo, que temos. 2. A tática de Paulo é especialmente notável (8,9,17,19,21) 3. Há um jogo de palavras relacionadas com o nome de Onésimo - “útil, proveitoso”

v.11 4. Não contém nenhum declarado ensino teológico.

Personagens principais desta epístola 1. Filemom - Membro importante da igreja de Colossos, que se tornara cristão por intermédio do ministério

de Paulo em Éfeso.

2. Onésimo - O escravo fugitivo que se refugiara em Roma, depois de ter roubado seu dono, foi preso e

provavelmente, na cadeia sob a influência de Paulo torna-se cristão. O apóstolo convence-o de que em sua nova vida deveria retornar ao seu antigo dono e viver de modo digno, a altura do significado do seu nome, que é útil, proveitoso.

Duas coisas são observadas nesta epístola: 1. O propósito de Paulo: a. Queria salvar o escravo fugitivo do severo castigo que a lei lhe impunha. b. Queria conciliar Filemom sem humilhar Onésimo. Desejava recomendar o culpado sem desculpar sua ofensa. Como fazer isto?

2. A estratégia de Paulo a. Entende que o escravo não deve ir só ao encontro do ofendido, por isso o envia juntamente com Tíquico, que serviria como mediador. b. Escreve esta carta pessoal a Filemom que é modelo de diplomacia e cortesia. c. Então para tornar ainda mais difícil a Filemom deixar de perdoar o culpado, ele o recomenda à igreja toda (Cl. 4).

A Epístola pode ser dividida em quatro partes : 1. Revelação do caráter de Paulo, cortês, amável, humilde, santo e altruísta (que é amor ao próximo, praticante da filantropia). 2. Exemplo de diplomacia do apóstolo. Paulo se mostra:

Desejoso de despertar simpatia no coração de Filemom, mencionando várias vezes que é prisioneiro.

Cordial para com os predicados de Filemom, tornando assim difícil a ele deixar de exercitá-los em perdoar Onésimo (4-7).

Tardio em mencionar o nome de Onésimo até ter preparado o caminho.

Sem interesse em ordenar ou exercer sua autoridade, mas rogando como amigo íntimo (8,9,20).

Refere-se a Onésimo como seu filho (v.10) e presume que Filemom atenderá seu pedido (v.21).

Ciente do mal praticado por Onésimo (v.11), mas promete pagar qualquer prejuízo (18,19).

Com sabedoria escolhe suas palavras, diz: separado, afastado (v.15) e não fugitivo.

Esperançoso de em breve ver Onésimo ser liberto e também de poder rever Filemom (v.22).

Declara que embora Onésimo se mostre inútil, no futuro será um servo útil e fiel. 3. Uma ilustração do Método Divino de Reforma Social. Esta carta tem sido referida pelos defensores da escravatura, mas poderia a escravatura continuar se os vs.16,17 fossem postos em prática? Pois são eles uma boa ilustração do poder reformador do Evangelho, que procura ganhar seu fim mediante a persuasão e não pela compulsão, mansidão e não pela violência.

4. Uma Analogia da Nossa Redenção. O pecador é propriedade de Deus. Não somente fugiu do seu senhor, como furtou algo dele. A lei não lhe

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oferece direito de asilo, mas a graça concede-lhe direito de apelo. Ele refugia-se em Cristo. NEle é recebido como um filho e acha um intercessor e Pai, volta para Deus e é recebido, não mais como escravo, mas como filho semelhante a Jesus, Rm. 8:29. Sendo lançada toda a sua dívida na conta de Cristo.

COLOSSENSES

Para neutralizar a infiltração das influências que se observam na Igreja de Colossos, Paulo tem exatamente um argumento: Jesus Cristo. É em Cristo que o homem se torna perfeito (1:27,28). Nada existe fora ou em adição à pessoa e obra de Jesus Cristo, que é a plenitude de Deus (1:19;2:9). Tudo que possamos possuir, ou conhecer, ou ser, está em Cristo. Ele é a realidade: Tudo o mais é apenas uma sombra, todo o superconhecimento ou superespiritualidade, qualquer “melhoramento” sobre o Evangelho é de fato um passo para trás; qualquer adição a Cristo é realmente diminuí-lo. O apóstolo ressalta que todas as coisas foram criadas em Cristo e para Cristo e é somente quando lhe damos o primeiro lugar na criação, na Igreja e em nossas vidas (1:16-18) que tudo ocupa o seu próprio lugar.

A mensagem de Paulo à Igreja de Colossos continua muito relevante para os nossos dias.

Introdução

As Igrejas do Vale do Rio Lico - A umas cem ou cento e vinte e cinco milhas a leste de Éfeso, na Ásia

Menor, ao longo das margens de um pequeno rio chamado Lico, e situadas com intervalos aproximados de dez milhas, existiram três cidades, cujos nomes temos preservados na Bíblia: Laodicéia, Hierápolis e Colossos (Cl. 4:13) Estas cidades tinham muito em comum; entre outras coisas, as três estavam situadas na bem conhecida linha sísmica. Por diversas vezes toda a sua história e posição geográfica foram transformadas por terremotos.

Laodicéia tinha crescido em riqueza devido à sua indústria de lanifícios e bem desenvolvido comércio. No livro de Apocalipse, a carta que o apóstolo João escreve como sendo do Senhor para a Igreja de Laodicéia, menciona esta riqueza e conseqüências espiritualmente infelizes.

Hierápolis, na outra margem do Lico, era também uma grande e próspera cidade. Era uma estância hidromineral e local de veraneio freqüentada por pessoas abastadas e desocupadas, bem como por inválidos em busca de cura. Mas Hierápolis era também, como seu nome implica, uma “cidade santa”, sendo um dos grandes centros do misticismo pagão na província romana da Ásia.

Finalmente, havia em Colossos, uma simples aldeia comparada com as suas grandes e prósperas cidades vizinhas. Tinha sido uma cidade importante alguns séculos antes, mas o domínio político e econômico de Laodicéia e a crescente popularidade de Hierápolis tinha reduzido consideravelmente sua importância, tornando-a um centro comercial decadente, que cedo foi removida do mapa, (provavelmente pouco depois da epístola ter sido escrita, Colossos foi totalmente destruída pelo mesmo terremoto que devastou Laodicéia e possivelmente Hierápolis. Foi reconstruída a cerca de uma milha de distância, mas ainda menor. Hoje é conhecida como Honaz).

A despeito do seu nome, Colossos era certamente a menor igreja à qual o apóstolo Paulo escreveu uma

carta. De fato, enquanto das igrejas de Laodicéia e Hierápolis se falaria ainda muito tempo depois, Colossos desapareceria completamente da história da igreja.

Fundação da Igreja Ao contrário de muitas outras, a igreja em Colossos não foi fundada por Paulo, mas sim por Epafras, como fruto do ministério do apóstolo em Éfeso.

Data e local da escrita 60-63 - provavelmente em Roma.

Destinatários A carta foi endereçada à Igreja em Colossos.

Portadores da epístola Tíquico

Tema CRISTO O CABEÇA DA IGREJA (SUA PROEMINÊNCIA)

Propósito Refutar a heresia que subvertia a igreja e estabelecê-la na doutrina do Evangelho.

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Peculiaridades 1. Passagens paralelas entre Colossenses e Efésios. 2. O contraste com Efésios (esta trata do Corpo de Cristo a Igreja) – Colossenses trata da dignidade de Cristo - O Cabeça da Igreja. 3. A única referência ao culto de anjos na Bíblia (2:18). 4. A lista extraordinária das características de Cristo no capítulo 1.

A igreja em Colossos - A igreja em Colossos era predominantemente gentílica e Paulo nunca a

visitara antes. Seu relacionamento com a comunidade ali existente, baseava-se nos relatórios recebidos de Epafras (1:4,9; 2:1), um cidadão colossense que dera início àquela igreja, na casa do rico comerciante chamado Filemom (2).

Além de pastor de Colossos, Epafras era um bom evangelista, levando o Evangelho às cidades de Laodicéia e Hierápolis (Cl. 4:13). Seu profundo cuidado pela igreja colossense fez com que ele iniciasse jornada para Roma, com o propósito de discutir a confusa heresia do gnosticismo com Paulo, a Epístola de Colossenses é a resposta àquela visita.

A heresia colossense - Após destacar o crescimento que a igreja tivera, Epafras lamentou o fato de

uma heresia que grassava dentro da Igreja. Esta heresia comumente conhecida como gnosticismo, caracterizava-se pela mistura de espiritismo e ritualismo, uma mescla do legalismo judaico, das especulações filosóficas dos gregos e do misticismo oriental. Era mais uma atitude ou uma tendência do que um sistema, que podia se adaptar ao grupos judeus, cristãos ou pagãos conforme a ocasião.

Essa heresia colossense, combinando elementos judeus e helenistas (gregos), teve sua expansão ou talvez sua origem na ausência de conversão real, por parte daqueles que buscavam enriquecer ou acomodar sua fé às idéias religiosas correntes; que convertidos com uma percepção imperfeita do cristianismo procuraram fundir suas crenças anteriores com conceitos cristãos.

Somando a este fator, também não podemos ignorar a localização de Colossos na importante via comercial que ligava o oriente ao ocidente, recebendo todo o tipo de contribuição para o caráter misto da doutrina espúria em pauta, aliada à proximidade de Hierápolis, centro de misticismo pagão da época.

A heresia ameaçava o fundamento da fé cristã, atacando Cristo e a salvação através dEle. Alegava que Cristo não era divino, e por isto a humanidade tinha que efetuar o trabalho por si própria, através do conhecimento e revelações especiais, observando certos rituais. Paulo apresenta Cristo como o co-Criador do universo, igual em todos os aspectos a Deus Pai, e que tomou corpo humano para nos conceder completa salvação.

Divisão da epístola A carta aos Colossenses divide-se em duas seções:

Seção doutrinária - composta pelos caps. 1-2 onde Paulo acentua o aspecto doutrinário da Cristologia.

Seção de exortações - composta pelos caps. 3-4, constitui o aspecto prático da epístola.

Capítulo 1

O apóstolo inicia sua carta com louvor pela fé dos colossenses e declara que eles são parte do plano

“universal” de Deus, lembrando-lhes assim que o poder do Evangelho atua no mundo, isto é, alcançou mais que a pequena cidade de Colossos. Ao ensinar isto Paulo, quer que os cristãos reflitam seriamente na sua salvação, para não serem tentados a se envolverem no mundo espiritual desconhecido.

Em seguida, o apóstolo compartilha com os Colossenses o tema de suas orações por eles (v.9), mostrando-se desejoso de que os mesmos usufruam do pleno conhecimento que está à disposição do crente em Cristo, resultante de um andar digno diante do Senhor:

- de uma vida agradável ao Senhor - de uma obra frutífera - de uma força poderosa

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- de uma longanimidade com gozo (10,11)

A descrição sobre a salvação (12-14) - Paulo exorta os colossenses a serem agradecidos pela

salvação que receberam. Os falsos mestres ensinavam que a salvação requeria “éons” de tempo e inumeráveis reencarnações através das quais a alma se esforçaria para galgar a perfeição espiritual por seus próprios esforços.

O apóstolo enfatiza a salvação através de Cristo como algo imediato e completo, também deixa claro que aquele que crê em Cristo já foi transferido do reino das trevas para o reino do Filho de Deus. A transição é instantânea.

A doutrina correta sobre Cristo (15-2:7) - Para que se entenda este texto, é preciso ter em mente

que os gnósticos a quem Paulo combatia, descreviam seu deus como tendo a “plenitude” de Deus, em si. Eles achavam que Deus nada tinha a ver com o mundo ou com os homens, porque o mundo material era tido como totalmente mau.

Para criar o mundo, este deus, com sua sabedoria (logos) criou emanações ou sub-deuses, que por sua vez criaram outros, cada um com menos conhecimento do Deus absoluto, pleno e por isso eram hostis. A mais baixa destas emanações ou espíritos era corrupta o suficiente para criar o mundo.

Para o gnóstico Cristo era meramente mais outra destas emanações. Ele não era considerado suficientemente alto para ser o próprio Deus (pleno, absoluto), nem demasiadamente baixo para ter um corpo humano; outras revelações, bem como a adoração de outros seres eram necessários para a salvação.

A divindade de Cristo (15-19) - Neste texto de Colossenses, encontramos uma das mais importantes

defesas da divindade de Cristo nas Escrituras. Observemos como a descrição de Paulo aqui é reafirmada em duas outras passagens importantes: João 1 e Hebreus 1.

A Revelação de Deus aos Homens (Cl. 1:15; Jo. 1:14)

O Herdeiro de todas as coisas (Cl. 1:15; Jo 1:18; Hb. 1:2)

Criador de Todas as coisas (Cl. 1:16, Jo. 1:3; Hb. 1:2)

Existência Externa (Cl. 1:17; Jo. 1:1; Hb. 1:10,12)

Totalmente Deus (100%) (Cl. 1:19, Jo. 1:1; Hb. 1:3)

A humanidade de Cristo (22-23) - O versículo 20 forma uma ponte de ligação entre a apresentação

da divindade de Cristo e apresentação de Sua humanidade, demonstrando o Deus em “quem habita toda a plenitude”, que se tornou carne e sangue para reconciliar os homens consigo. Os gnósticos consideravam Cristo um fantasma; alguns até pensavam que Ele não havia deixado pegadas quando aqui caminhou, porque era um espírito sem corpo humano. Todavia Colossenses nos ensina que Cristo nos reconciliou com o Pai, mediante o corpo de sua carne (v.22).

A sabedoria de Cristo em nós (1:24-2:7) - Paulo escreve que toda a verdadeira sabedoria se

encontra em Cristo e não na filosofia humana. Não há nenhum “mistério secreto” suplementar, necessário à salvação. O mistério que estava escondido pelos séculos já havia sido revelado para todos, isto é, “Cristo em vós esperança da glória” (v.27). E isto não é somente para um grupo selecionado de elite espiritual, mas para “todos os homens”.

Ataque à falsa doutrina (2:8-23) - No cap. 2, depois de ressaltar a divindade de Cristo e Sua

sabedoria, o apóstolo passa a atacar o ritualismo (10-17) e a adoração a seres mediadores (18-19). Paulo enfatiza a supremacia de Cristo para confrontar o ensino falso de que anjos e seres espirituais também deviam ser adorados. Alguns dos falsos mestres proclamavam ter recebido conhecimento especial do mundo espiritual, através destes seres angelicais, e como resultado disto, eles eram arrogantes e orgulhosos.

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A aplicação da verdadeira doutrina (cap.3) - No cap.3, Paulo muda o tom de sua carta, passando

do ensino para a aplicação prática da doutrina. Os colossenses estavam em confusão quanto a natureza exata do pecado, em razão do ensino gnóstico, de que o pecado como decadência moral não existia.

Face a isso, o apóstolo argumenta sobre sua natureza (pecado) descrevendo o cristão como nova criatura (1-4) ou alguém que morreu para o pecado e ressuscitou para uma nova vida.

Uma mudança tão radical exige que o cristão viva agora sob um conjunto de regras totalmente novo. E, mais, esta mudança requer um novo modo de pensar, uma vez que suas ações e atitudes devem ser consideradas à luz da eternidade.

Coisas para se despojar (3:5-9) - Dando continuidade à idéia de um homem novo ou “mudado”, o

apóstolo usa a ilustração de um homem que costumava usar roupas velhas e sujas (vícios e atitudes pecaminosas) e faz uma mudança, substituindo-as por roupas novas (atitudes piedosas). O que nos faz pressupor que a roupa velha deve ser removida ou destruída.

A lista de pecados de que deveriam se despojar é encontrada no v.5 (a palavra mortificar significa tirar o

poder ou força de, que neste caso seria “não dar passagem a”).

Prostituição - nenhuma imoralidade sexual

Impureza - no sentido moral

Paixão - lascívia - perversão sexual

Avareza - no original avareza Rm. 1:24 significa ganância, e se aplica a alguém que nunca está contente com o que tem. Aqui provavelmente se refere ao desejo de cometer adultério. É comparado à idolatria porque a pessoa concentra sua atenção naquilo que está roubando a posição de prioridade de Deus em sua vida.

Uma lista adicional de pecados ou “roupas sujas”, a serem removidas, encontra-se nos vs.8,9.

Ira

Indignação - explosões temperamentais

Maldade - literalmente desejo de ferir. Neste contexto ele está se referindo a mexerico malicioso.

Maledicência - não contra Deus, mas contra os homens = a calúnia.

Linguagem obscena - obscenidades, observações sugestivas

Mentira - isto é, nenhuma forma de engano.

Coisa para se vestir (3:10,11) - Paulo depois de listar as roupas que o cristão deve se despojar,

descreve as atitudes que caracterizam a nova roupagem a ser usada pelo crente. Neste texto, cabe ressaltar que cada sinal positivo no cristão, representa o oposto dos traços egoístas listados nos versículos 5,8 e 9.

Relacionamentos diversos (3:18-4:1) - O estilo de vida descrito por Paulo neste capítulo, vai além

do ensino sobre a igreja e de um relacionamento pessoal com Deus. Ele deve atingir o nosso relacionamento diário com nossos companheiros, filhos, empregadores (ou empregados). Instruções específicas são dadas quanto à manifestação de características cristãs em cada área de nossa vida. Todas estas instruções trazem a idéia central:

“Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo.” (3:23,24)

Exortações finais e saudações (4:2-18) - Ao encerrar a epístola, o apóstolo exorta os colossenses a

que sejam perseverantes na oração (v.23); a se portarem de modo a produzirem um bom testemunho para com os que estão de fora, e agirem com sabedoria, usando toda a oportunidade disponível para testemunhar (remir o tempo), mediante um falar gracioso, não condescendente ou de censura (Ef. 4:29).

Nos vs. 7-14, ao apresentar uma longa lista de saudações pessoais, certamente Paulo estava encorajando

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esta igreja enfraquecida, lembrando-a do grande número de irmãos que permaneciam zelosos e que estavam orando por ela. Mas além disto, a lista nos dá algumas biografias interessantes e inspiradoras, que ainda hoje despertam nossa atenção: 1. TÍQUICO - Foi mensageiro que levou as cartas de Filemom, Colossenses e Efésios, e mais tarde Tito e II Timóteo. Era alguém em que o apóstolo confiava e admirava. Recebeu de Paulo um dos mais significativos tratamentos dispensados (v.7) a um companheiro. 2. EPAFRAS - Ele é o exemplo ideal de um “homem com o coração de pastor”. Paulo observa que ele “combateu” em oração pelo rebanho sob sua responsabilidade (v.12). Esta palavra no grego é “AGONIZO”, de onde se origina a nossa palavra “agonizar” (ARC) . Significa lutar fortemente com o inimigo, que nesta situação, era o poder de Satanás demonstrado através dos falsos mestres gnósticos. Epafras orava fervorosamente para que Deus protegesse os cristãos colossenses, fazendo-os “firmes (seguros) e perfeitos (maduros) na fé”. 3. A terceira biografia ou perfil, nos é oferecida como um sinal de alerta a todos nós: DEMAS - Foi o único da lista de oito nomes que não recebeu nenhum elogio. Embora parecesse estar trabalhando diligentemente no ministério como os demais (Fm. 24) mais tarde sua fraqueza espiritual resultou em abandono da fé. (II Tm. 4:10).

EFÉSIOS Quanto à profundidade e sublimidade da doutrina, Efésios supera as demais epístolas de Paulo. Tem sido

chamada a “epístola do terceiro céu” do apóstolo, porque ele se eleva das profundezas da ruína até as alturas da redenção e os “Alpes do Novo Testamento”, porque aqui nos ordena Deus que subamos passo a passo até alcançarmos o ponto mais elevado possível para o homem alcançar, a própria presença de Deus”. A epístola aos Efésios é uma grande exposição de uma doutrina fundamental da pregação de Paulo, a saber, a unidade de todo o universo em Cristo, a unidade do judeu e gentio em Seu corpo, a igreja, e o propósito de Deus nesse corpo para o tempo presente e para a eternidade. Nos ensina que uma vocação santa exige uma conduta santa. Apela para os seus leitores a fim de que se elevem à mais alta dignidade da sua missão. Fazendo assim apresenta o quadro da igreja como um só corpo, preparado desde a eternidade, a unir o judeu e o gentio. Esta igreja pelos séculos vindouros irá exibir ante o universo a plenitude da vida divina, vivendo a vida de Deus, expressando o caráter de Deus, usando a armadura de Deus, lutando nas batalhas de Deus, perdoando como Deus perdoa, e tudo isto, para que se cumpra a obra mais ampla pela qual Cristo há de ser o centro do universo.

Introdução

A carta aos Efésios tem duas características dignas de serem ressaltadas: primeiro, ela retrata a igreja do

ponto de vista mais amplo do que qualquer outro livro da Bíblia. Quase cinqüenta vezes a palavra “tudo” é usada, demonstrando o escopo universal da igreja e seu valor no plano de Deus. Segundo, a carta usa a frase “em Cristo” trinta vezes. Com isto Paulo está enfatizando a posição do cristão como membro do corpo de Cristo, incluindo a extensão de futuras heranças a serem compartilhadas em Cristo.

Data e local da escrita - 60-63, provavelmente em Roma, foi escrita na mesma época que

Colossenses e Filemom. Conforme At. 28, é possível que esta prisão fosse domiciliar ou seja, em uma casa alugada pelo próprio apóstolo.

Destinatários - Endereçada não a Éfeso - As palavras “em Éfeso”, que se refere ao local da

residência de seus leitores originais (1:1), não se encontram na maioria dos manuscritos mais antigos. Assim sendo, Paulo omitiu inteiramente a localização geográfica dos destinatários desta epístola. Temos ainda o fato do tom distante com que o apóstolo fala com seus leitores, acerca de “ter ouvido” de sua fé (1:15), e terem eles “ouvido” falar de seu ministério (3:2), bem como a ausência dos termos usuais de carinho e afeto,

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eliminam Éfeso como destino da epístola, pois Paulo trabalhara ali por mais de dois anos e conhecia intimamente os cristãos efésios, e eles também o conheciam.

A quem foi endereçada a Epístola então? Certa tradição antiga identifica a igreja de Laodicéia

como a destinatária dessa epístola. O erudito alemão Harnack sugeria que antigos copistas suprimiram o nome Laodicéia por causa da condenação da igreja de Laodicéia em Ap. 3:14-22, e que copistas posteriores acrescentaram o nome Éfeso por causa da íntima associação de Paulo com a igreja daquela cidade. De fato, Paulo menciona uma carta que escrevera à Laodicéia, em Colossenses, 4:16. Porém visto que nenhum manuscrito menciona Laodicéia em Efésios, 1:1, a alteração de “Éfeso” para Laodicéia na tradição antiga, muito provavelmente foi apenas a tentativa de identificar a epístola dirigida à Laodicéia, mencionada na epístola aos Colossenses.

As maiores probabilidades são que “Efésios” tenha sido redigida como uma epístola circular, dirigida à diversas igrejas locais da Ásia Menor, nas vizinhanças gerais de Éfeso. De acordo com esse ponto de vista, a menção de Paulo à epístola aos laodicenses em Cl. 4:16, talvez aponte para a nossa epístola aos “Efésios”, mas não deixa entendido que a epístola foi endereçada exclusivamente para Laodicéia. Pelo contrário, em sua circulação pelas igrejas espalhadas naquela área geral, essa epístola chegou à Laodicéia e mais tarde chegou a Colossos, como o passo seguinte. A natureza circular dessa epístola, portanto, torna clara a omissão do nome de qualquer cidade, no endereço (vide Ef. 1:1) . Bastaria uma única cópia da carta que circulara de Éfeso, para fazer com que o nome daquela cidade ficasse facilmente vinculada à epístola. Por outro lado, o conteúdo doutrinário da epístola confirma a sua natureza de carta circular.

Portador da epístola TÍQUICO

Tema A IGREJA CORPO DE CRISTO

Propósito 1. Instruir os cristãos gentios sobre o plano de Deus para a redenção. 2. Informá-los do alto privilégio de serem incluídos com os judeus no reino de Deus (unidade – Ef. 2). 3. Para exortá-los a viver de modo digno da alta vocação (Ef. 4).

Peculiaridades 1. Poucas referências pessoais. 2. A igreja universal está em vista. 3. Sua semelhança com Colossenses. Dos 155 versículos de Efésios, 78 se encontram (parcialmente) em Colossenses. 4. Foi escrita na mesma ocasião em que Colossenses e seus assuntos se completam.

Sua estrutura é igual a de Colossenses.

Vários paralelos são notáveis entre as duas epístolas. Exemplo:

EFÉSIOS COLOSSENSES

1:7 1:14

1:10 1:20

Divisão da epístola

Efésios pode facilmente ser divida em duas partes. A chamada da igreja (1-3) e a conduta da igreja (4-6) . Na primeira parte, Paulo leva os leitores a verem

a igreja partindo da perspectiva de Deus (Ef. 1:3;1:20 e 2:10). Na mente de Deus a igreja (sem distinção de tribo, língua ou nação) tem sido parte do seu plano, mesmo antes da fundação do mundo.

Na segunda parte, o apóstolo chama a atenção, quanto à necessidade de um andar de acordo com esta vocação, que começa com a comunhão na assembléia local (EKKLESIA) dos cristãos onde cada um exerce o seu

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dom para estimular o crescimento dos outros e se estende à vida particular de cada um.

As bênçãos da igreja (1:3-14) - Após breve saudação a epístola aos Efésios se transforma num Salmo

de Louvor (v. 3-14). Este salmo na sua forma grega original, é a bênção mais longa da Bíblia, composta de 169 palavras. Na Bíblia em português, divide-se em doze versículos, mas na realidade trás um só pensamento - as bênçãos espirituais da igreja em Cristo (v.3).

Estas bênçãos podem ser divididas em três partes, bênçãos de:

DEUS O PAI (3-6)

A obra do Pai na redenção deu origem ao Seu plano eterno. Ele planejou a redenção antes da fundação do mundo. (v.4)

DEUS O FILHO (7-12)

A segunda parte do salmo se refere à participação do Filho na nossa redenção (v.7). Sua realização em Jesus Cristo.

DEUS O ESPÍRITO SANTO (13,14)

O Espírito Santo também tem participação na provisão da nossa salvação. Ele entra na vida de todos que crêem, tornando-se o “selo” (segurança), indicando que o cristão é possessão de Deus (Gl. 4:4,5; Rm. 8:15).

Este salmo de louvor termina com a declaração de que o propósito pelo qual recebemos estas bênçãos

de Deus, é “para o louvor da Sua glória”. Oração de Paulo (1:15-21) - A oração de Paulo, aqui apresentada, manifesta o desejo que os cristãos

aprendam e personifiquem as verdades realçadas. Ora especificamente para que “os olhos do coração” dos crentes sejam abertos, para compreenderem os privilégios em Cristo.

Três aspectos da oração do apóstolo, a serem considerados neste texto (18,19): ...qual a esperança do seu chamamento, ...qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e ...qual a suprema grandeza do seu poder para com os que crêem.

A edificação da Igreja (Cap. 2) - Para ilustrar a composição da igreja, neste capítulo, Paulo usa como

símbolo a construção de um santuário (21,22). Seu material, inicialmente à parte, se mostra sem forma ou valor (mortos nos pecados - 1-5), mas depois é trabalhado, moldado e se transforma em “pedra viva”, apto a compor o templo espiritual (I Pd 2:5).

Para expressar que Israel guardara as Escrituras como revelação particular dada somente aos judeus, em oposição ao alvo de Deus, que sempre tivera em mente a igreja universal, o apóstolo continua a se valer da ilustração do templo e suas divisões, mostrando que o impedimento dos gentios no passado, quanto ao fato de não poderem ir além do átrio externo estava desfeito (a lei estabelecia a aplicação da pena de morte ao gentio que violasse os limites), pois em Jesus Cristo todas as barreiras foram rompidas, judeus e gentios tinham agora, a mesma liberdade de acesso, para adentrarem e adorarem não apenas num templo físico, mas como participantes do mesmo edifício espiritual, penetrarem no Santo dos Santos.

Ao falar sobre o Alicerce da Igreja (19-22) , firmado nos ensinamentos dos apóstolos e profetas (v.20), Paulo usa a segunda ilustração: Cristo como Pedra Angular da Sua Igreja. A Pedra Angular (I Pe 2:4-7) proporciona o modelo de construção, ao qual se conforma ao contorno das pedras restantes. Cristo portanto, constitui o padrão ou modelo para cada “pedra viva” que integra o templo de Deus.

A revelação da Igreja (cap.3) - Do tempo de Moisés ao tempo de Cristo, Deus desenvolveu Seu

plano de salvação em torno do povo judeu. Como escolhidos de Deus, receberam as leis, os preceitos, etc. Todo o estrangeiro que buscava a salvação, precisava de uma completa identificação com este povo.

Apresentação da igreja (1-9) - Os profetas falaram da futura vinda do Messias como servo e como

Rei; nada disseram porém acerca do período da igreja entre os dois adventos. Paulo diz que a igreja é um “mistério” guardado na mente de Deus através dos séculos e revelado no momento oportuno. O núcleo deste mistério é que os gentios são co-herdeiros com os judeus da herança e promessa do Messias. Coube a Paulo desvendar este mistério oculto há tantos séculos, e é sua mensagem que revelaria (e continuará a revelar) a milhões de gentios, através das gerações, as “insondáveis riquezas de Cristo”. (8,9)

Ao destacar nos vs.10-13 sobre o propósito da igreja, a forma como Deus a planejou, Paulo ressalta que o Senhor deseja ser glorificado por meio dela, e em sua oração intercessória (14-21) pede que a igreja,

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alicerçada em amor, possa compreender o grandioso plano de redenção e o poder espiritual nela operante (v.20).

Capítulo 4:1-16 - A partir do capítulo quatro, temos a parte prática da epístola. O v.1, chama a atenção

quanto ao andar digno da vocação chamada. Nos vs.1-6, mostra a necessidade da harmonia, controle das atitudes e unidade (uma só fé, um só batismo...) para o perfeito funcionamento do corpo.

Ao mencionar os dons (7-13) e propósitos ou condições para o seu exercício adequado, Paulo revela que estes são dados à igreja, como recursos extraordinários para promover o seu crescimento e saúde espiritual.

Andar em santificação (4:17-5:20) - A exemplo do que oferece a epístola aos Colossenses, Paulo

salienta o viver cristão em contraste com o mundo. Explica o contraste entre o velho o novo homem; entre o passado e o presente (4:25-32) entre as trevas e a luz (5:1-14).

No cap. 5:15-21, o apóstolo apresenta um importante contraste: O homem cheio de vinho ou cheio do Espírito Santo.

A diferença entre o cristão e o incrédulo é mostrada em termos, no modo em que controlam suas vidas. Assim como o vinho domina, exerce controle; o incrédulo é retratado como o bêbado, que tem sua vida trôpega, cambaleante, oscilante.

A ilustração histórica a que Paulo se referiu ao falar de bebedice com vinho era muito familiar entre os efésios descrentes. Freqüentemente eles testemunhavam os bacanais daquelas cidades, quando os adoradores do deus Baco (deus do vinho), se embebedavam loucamente e saiam cantando pelas ruas.

Em contraste com estes, os adoradores do verdadeiro Deus, devem procurar ser cheios (controlados) pelo Espírito Santo, (v.8) o que produzirá uma vida de louvor (salmos, hinos e cânticos).

Ainda podemos dizer que o estado de embriaguez retira todo o medo e a vergonha. Quando estamos cheios do Espírito Santo realizamos a obra de Deus com coragem e ousadia.

Andar em Submissão (5:21-6:9) - O círculo familiar e social, constitui o destaque deste texto. O

relacionamento esposas e maridos, pais e filhos, patrões e empregados, ocupa novamente a atenção do apóstolo.

Ao falar sobre o relacionamento esposas e maridos, (5:22-23) Paulo trata da submissão (Palavra que procede do latim - SUBMISSIO) ou seja missão subordinada. A palavra não diz respeito ao valor de um indivíduo, mas declara que ele tem a incumbência (missão) de adotar determinada atitude. A esposa ao reconhecer sua “missão” ao lado do marido, deve voluntariamente, assumir o seu papel.

Aos filhos, o apóstolo lembra Êxodo, 20:12 a respeito da obediência aos pais. Aos patrões e empregados destaca o padrão de honra e respeito que deve haver entre ambos, a saber

que há um Senhor sobre todos.

Andar sob proteção (6:10-24) - Como participantes da divina chamada de Deus, somos também

automaticamente envolvidos numa batalha milenar que está sendo travada entre Deus e as forças espirituais das trevas. Paulo deseja que não duvidemos da seriedade deste conflito, para que nos previnamos das astutas ciladas do diabo.

A Armadura (13-17) - Nos primeiros textos percebemos que Efésios está dividido em duas partes: ensino doutrinário e exortação prática, para um andar digno da nossa chamada. A descrição da armadura, trata destes dois assuntos. Primeiramente, notemos as partes da armadura no que tange ao nosso caráter e andar.

CINTO verdade (sinceridade e integridade)

COURAÇA justiça (santificação)

CALÇADOS prontos para pregar

Verifiquemos agora as partes da armadura que estão associadas com o nosso fundamento na sólida

doutrina.

ESCUDO Fé

CAPACETE A esperança da salvação (sentido de garantia)

ESPADA A palavra de Deus

Soldados temerosos, fugirão das flechas flamejantes, mas aqueles que permanecem firmes na fé, podem

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estar confiantes que seu escudo destruirá essas flechas malignas. Paulo finaliza sua carta com duas instruções: primeiramente ele admoesta os efésios a orar sem cessar, e

em segundo lugar ele os instrui que o consolo virá. Tíquico se tornou um exemplo desta necessidade constante de “consolar” um ao outro em nossa guerra espiritual (21,22).

FILIPENSES Filipenses é a mais pessoal, a mais simples, a mais calorosa, a mais amável, a mais suave e a mais terna

de todas as cartas de Paulo a uma igreja. É o derramamento afetuoso e espontâneo de um coração que podia exprimir-se sem reservas a uma igreja muito amada. Há nela uma ausência marcante de formalidade e não há repreensões fortes. É uma carta que não possui um desenvolvimento lógico ou um esboço sistemático. No fluxo natural dos pensamentos, os sentimentos do apóstolo são trazidos à tona, sua sinceridade, e alegria que permeia todo o conteúdo, de modo a tornar-se a nota dominante da epístola.

Filipenses revela o pulsar de um coração leve e agradecido de um missionário, um ser radiante em meio às fortes tempestades e grandes tensões da vida. É a vida vigorosa do cristão.

Igreja em Filipos - Conforme Atos 16:9-40, a igreja em Filipos foi fundada na 2ª viagem missionária de

Paulo, em resposta à visão em que fora chamado a passar à Macedônia. Filipos, capital da Macedônia (que recebeu o nome de Filipe, rei da Macedônia e pai de Alexandre, o Grande) era famosa por suas minas de ouro e sua estratégica localização, na importante estrada entre Roma e a Ásia, se constituindo o portão de entrada da Europa. Era uma Roma em miniatura, uma orgulhosa colônia romana, isenta de impostos e modelada segundo a capital do mundo. Com a conversão de Lídia e do carcereiro (At. 16), veio a ser o berço do cristianismo europeu. Ao partir para Tessalônica, Paulo deixou Lucas cuidando do rebanho filipense, que ocupava um lugar tão especial nos seus afetos.

Data e local da escrita 62 - 63 em Roma

Destinatário A igreja em Filipos

Portador Epafrodito

Tema Progresso e Alegria na Fé

Propósito 1. Exortar os crentes ao crescimento na fé 2. Uma nota de gratidão pela oferta dos filipenses (4:15-19)

Peculiaridades

1. É notável entre os livros do Novo Testamento pelo destaque da alegria. A idéia em formas diversas aparece 16 vezes 2. É notável pela sua inclusão da passagem Cristológica (2:5-11) 3. Censura fica no mínimo (4:2) 4. É uma carta de gratidão missionária 5. Não contém citação do Velho Testamento 6. Filipenses reflete o status colonial de Filipos (3:20) 7. Manifesta uma vida vigorosa de cristão:

a. alegria no meio da perseguição b. auto-humilhação (2:1-4) c. esforço para atingir a marca (3:13,14) d. vida isenta de ansiedade (4:6) e. capacidade para fazer todas as coisas (4:13)

Introdução

A epístola aos Filipenses contém menos advertências e mais elogios do que qualquer outra carta de

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Paulo. É alegre, calorosa e amável, e embora sem a comum correção paulina de erros doutrinários, ela tem um valor imenso no ensino quanto a necessidade de progresso no caminhar cristão e de alegria na fé.

Além de agradecer aos filipenses pela oferta, a carta nasceu do desejo de ministrar à igreja, dando-lhe amoroso e importante conselho. Enfrentando a possibilidade de morte iminente, Paulo preocupava-se em deixar a igreja sem sua direção pessoal. Ele encoraja os cristãos a desenvolverem uma fé forte que não dependa da sua ajuda (1:27)

Capítulo 1

Progresso e alegria na fé, apesar de circunstâncias difíceis Durante a primeira visita de Paulo a Filipos, ele e Silas foram presos devido ao seu testemunho. No

cárcere eles oraram e cantaram hinos. Agora, dez anos mais tarde, escrevendo à igreja filipense, Paulo novamente preso, expressa alegria a despeito das circunstâncias (1:13).

Alegria através da oração (1-11) - A igreja de Filipos era uma igreja forte e bem organizada. Seus

presbíteros e diáconos demonstravam uma sólida liderança. Todavia Paulo desejava que a igreja continuasse a crescer e a abundar mais no seu amor e conhecimento do Senhor. Na sua oração o apóstolo vê a igreja como uma “boa obra” de Deus, integrando um plano que se desenvolverá continuamente até o Dia de Cristo - o arrebatamento da igreja. Esta “boa obra” tem três fases distintas:

1. uma boa obra começada - regeneração 2. uma boa obra levada adiante - santificação 3. uma boa obra completa - glorificação (1:6)

O Evangelho indestrutível (1:12-14) - Os filipenses estavam angustiados diante da notícia da prisão

de Paulo. O que aconteceria agora que o principal dos apóstolos se encontrava em cadeias? O apóstolo escreveu encorajando-os, dizendo-lhes que aquilo que poderia parecer um contratempo, era na realidade um progresso importante.

(v.12) - Seis vezes nesta carta Paulo dirige-se aos destinatários chamando-os de irmãos. O termo indica um forte sentimento de unidade e amizade espiritual. As circunstâncias que rodearam Paulo inesperadamente provaram servir para o progresso do Evangelho. Progresso este em dois sentidos: o Evangelho fora anunciado a guarda pretoriana - destacamento militar romano composto de 9.000 homens (v.13) e o despertamento dos cristãos para testemunhar mais destemidamente.

(15-18) - Embora alguns indivíduos estivessem pregando o Evangelho com motivos impuros, se aproveitando da situação e tentando usurpar a posição de liderança do apóstolo, suas igrejas e rivalidades não foram razões suficientes para desviar a atenção de Paulo.

Alegria através de um Ministério ativo (19-30) - Neste texto, Paulo mostra que aguardava ser

julgado em breve, esperava uma sentença que tanto poderia significar a liberdade ou a morte, mesmo assim, a fonte da alegria em servir o Senhor não lhe fora tirada e Paulo via no veredicto final a oportunidade de estar com Cristo (20-23) ou a possibilidade de continuar trabalhando para o progresso da fé. Paulo nutria a esperança de ser libertado (o que sabemos hoje que de fato aconteceu) em razão da oração dos cristãos e da necessidade que as igrejas ainda apresentavam.

Capítulo 2

Alegria no Servir - O pensamento chave de Filipenses 2 é servir. Paulo admoesta seus leitores a terem

um espírito de servo. Nos vs.1-4, ele apresenta o princípio de servir, onde nos dá uma sublime lição de humildade. Ele diz “...considerando cada um os outros superiores a si mesmo” v.3. Pela palavra superior, o apóstolo não está se referindo ao valor intrínseco, mas a posição de “prioridade”, explicando que ele está se

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referindo aos interesses da outra pessoa, não o valor pessoal. É importante destacar que humildade não era uma palavra que fazia parte do mundo romano da época de Paulo, muito menos uma virtude, que a orgulhosa colônia, em seu estado natural assimilaria com facilidade. O apóstolo contrasta os valores humanos com os valores de Deus, e a partir dos vs.5-11 usa o modelo de Cristo, como o maior incentivo para a humildade, autonegação e amor.

Os vs.6-11 provavelmente se constituem num hino primitivo traduzido do aramaico:

(v. 6) - subsistindo em forma - Cristo é a imagem e glória de Deus. É uma clara afirmação da deidade de Cristo. (v.7) - A si mesmo se esvaziou - Cristo não renunciou os atributos divinos de onisciência, onipotência e onipresença, mas assumiu a forma de um servo e ocultou a sua glória natural (Ler João 13:12-17 e Mateus 20:25-28) (12,13) - desenvolvei a salvação - o texto diz respeito a santificação e não a justificação. (12.18) - São aplicações para o cristão. Assim como Deus exaltou a Cristo, também um dia Ele exaltará todo aquele que viver uma vida de acordo com o “princípio do Servo”. O apóstolo ressalta que uma vida de obediência e submissão resultará num testemunho para Cristo. (v.15) - astros ou luzeiros - A figura parece ser de estrelas brilhando no céu escuro, o que retrata o cristão resplandecendo como luz em meio a um mundo de trevas e pecaminosidade.

Os exemplos de Timóteo e Epafrodito (19-30) - O capítulo 2, finda com exemplos de dois cristãos

bem conhecidos dos filipenses. O primeiro, Timóteo, que deu prioridade aos interesses dos filipenses em detrimento de seus próprios (v.21), é recomendado por Paulo, como um servo e colaborador fiel na pregação do Evangelho. O segundo exemplo, foi o de Epafrodito, que era líder da igreja em Filipos e demonstrou um coração disposto e serviçal, colocando em risco a sua própria vida ao trazer a oferta da igreja ao apóstolo (2:30).

Capítulo 3

Progresso e alegria na fé através da doutrina correta No início do capítulo três, o apóstolo chama a atenção para a alegria no Senhor (v.1). Em seguida, ele

trata de tendências existentes na igreja quanto ao legalismo ou antinomianismo (que literalmente significa o oposto a todas as regras).

Vejamos os avisos abaixo, dados em relação a estes erros.

LEGALISMO ANTINOMIANISMO

“Acautelai-vos dos cães! ...da falsa circuncisão... ...não confiamos na carne” (2,3)

“Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos digo chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (v.18)

Legalismo (2-9) - Tentando mostrar o erro de “confiar na carne”, Paulo refere-se à sua própria vida. Se fosse possível obter a salvação através do cumprir regras, o apóstolo teria sido bem sucedido. Enfatiza sua linhagem impressionante e afirma que era “irrepreensível no que concernia à justiça legalista” (v.6) até que chegou à conclusão de que não passava de um pecador sem nenhuma esperança de salvação, renunciando a seus próprios esforços para receber a justiça pela fé em Cristo (v.7).

Antinomianismo (10-18) - É provável que houvesse também membros da igreja, que criam na verdade que a salvação era totalmente pela fé, mas usavam isto num sentido pervertido como desculpa para pecar. Paulo busca corrigir o erro deste pensamento, do mesmo modo como havia feito com o legalismo, apontando para sua própria vida.

Embora a perfeição não fosse a base da salvação de Paulo, ela era um constante alvo em sua vida. Comparando sua existência com a de um atleta, ele falou que seu alvo era obter o exemplo perfeito de Cristo (compare Hebreus 12:2). Prosseguindo para o alvo com todo o esforço ele não se deixava distrair pelas coisas passadas, quer vitórias ou fracassos. Finalmente na morte, ele terminaria a corrida, para receber o prêmio da

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vida eterna com Cristo Jesus (13,14).

Capítulo 4

Progresso e alegria através de pensamentos controlados No último capítulo de Filipenses, o apóstolo continua a escrever sobre a alegria (v.4 - chave na epístola) e

progresso (v.9) na fé cristã. Depois de discorrer sobre o júbilo pelas prioridades certas, por uma atitude de servo (cap.2) e doutrina correta (cap.3). Agora ele as associa com um pensamento controlado pelo Espírito Santo, resultando de uma mente cristã disciplinada.

Emoções e pensamentos guardados (2-7) - O capítulo inicia tratando do problema de

relacionamento existente entre duas senhoras na igreja, o que não significa que não eram cristãs ou fracas na fé, mas que como seres humanos eram suscetíveis a desentendimentos. No contexto, nos parece esquisita a ordem do apóstolo, quanto a alegrar-se, mas Paulo está consciente de que, de modo geral, face às mais diversas situações, nossa inclinação natural não é regozijarmo-nos e louvarmos ao Senhor, mas o júbilo é vitalmente importante, pois dissipa os ressentimentos da vida.

A ênfase que Paulo dá à alegria nesta pequena carta é realmente marcante. A palavra grega para alegria aparece dezesseis vezes, e é traduzida como gozo, regozijo e outros sinônimos, mas a mensagem é claramente uma “alegria constante e profunda”.

Paulo sabia por experiência própria que um cristão não pode alegrar-se no Senhor, se não estiver

desejoso de renunciar seus direitos, reivindicações e sentimentos de amargura. Para isto ele exorta os filipenses à “moderação” ou “calmo arrazoamento”. Esta palavra no seu original é de difícil tradução, mas quer dizer literalmente “ir além da justiça”. Talvez fosse melhor traduzida “ao invés de exigir o que você acha que merece por direito, procure renunciar seus direitos.” Isto nos lembra o que Paulo nos ensina no cap. 2:1-8, quando nos aponta o sublime exemplo de Cristo e o que Ele fez por nós.

Noutro aspecto destaca que para haver uma perfeita união, deve haver uma restauração mental. Uma vez que a palavra ansiedade é mencionada, (4:6) pensamos que a igreja foi tomada por uma onda de

ansiedade, talvez por problemas internos ou por perseguição movida contra ela. Pensamentos controlados (8-9) - Pensamentos disciplinados necessitam ser reforçados com ações

disciplinadas. Paulo aconselha os filipenses a seguirem seu exemplo, não porque era um homem especial, mas porque era alguém que “praticava a mensagem que pregava”.

No verso 8 o apóstolo apresenta uma lista de virtudes, duas das quais não aparecem em nenhum outro lugar do Novo Testamento:

a. verdadeiro - pertencente à natureza da realidade b. respeitável - digno de respeito c. justo - de acordo com o mais elevado conceito do que é certo d. puro - não misturado com elementos que possam rebaixar a alma e. amável - aquilo que inspira amor f. de boa fama - aquilo que tem boa repercussão g. se algum louvor existe - Ligthfoot parafraseia, “seja qual for a avaliação existente em seu antigo

conceito pagão de virtude” (pág 162), para destacar a preocupação de Paulo em não omitir qualquer fonte de atração.

Os agradecimentos de Paulo (10-23) - Neste texto vemos o modo de pensar justo e correto,

exemplificado por Paulo. Ele havia aprendido a ser vitorioso sobre toda a ansiedade, para viver contente em todas as situações (10-11) e também levar seus problemas a Cristo, a fonte de sua fortaleza.

Segundo um erudito da Bíblia, Cristo nos é apresentado por Paulo nesta epístola de 4 maneiras: 1. Ele é sua vida – “Para mim o viver é Cristo” (1:21) 2. Ele é seu exemplo – “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (2:5) 3. Ele é seu alvo – “Prossigo para o alvo (Cristo), para o prêmio” (3:14) 4. Ele é sua fortaleza – “Tudo posso naquele que me fortalece” (4:13)

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É de grande encorajamento ver o apóstolo olhando além de suas necessidades e pedindo a Deus que “credite” na conta celestial dos filipenses, o presente que eles lhe deram (v.17) e que Ele supra todas as suas necessidades na terra (v.19).

EPÍSTOLAS PASTORAIS

I Timóteo, Tito e II Timóteo compreendem as chamadas Epístolas Pastorais, assim denominadas porque

Paulo as escreveu para jovens pastores. Elas são cartas de natureza prática, repletas de instruções acerca das responsabilidades administrativas

de Timóteo e de Tito, nas igrejas de Éfeso e de Creta respectivamente. Tratam da adoração pública, das qualificações dos oficiais da igreja, do relacionamento com os diversos

grupos de pessoas, da confrontação do ensino falso no seio da igreja, e a maneira como tratar dos diversos problemas de uma igreja em desenvolvimento.

Nelas encontramos uma atmosfera íntima, pessoal, em que Paulo incentiva, encoraja e desafia os dois discípulos a darem seqüência ao ministério. E em II Timóteo, temos o legado das últimas instruções e as últimas palavras registradas do apóstolo antes de ser sentenciado à morte.

AUTORIA - Eruditos tem lançado dúvidas quanto à autoria de Paulo das epístolas pastorais, baseando-se nos seguintes argumentos:

1. Pseudônimo - Alegam que escrever com à autoria oculta por um pseudônimo era prática literária

bem aceita na época e que portanto, o autor teria escrito sob um pseudônimo. Os fatos, todavia, demonstram que usar um pseudônimo era prática apenas ocasional, e que esta não era usada pela igreja primitiva. Também rebatendo a este argumento, existe o fato de que é altamente improvável que um admirador do já falecido Paulo (isto é, se aceitássemos a epístola como escrita bem mais tarde), tivesse chamado o apóstolo de o “principal” dentre os pecadores (I Tm. 1:15)

2. Vocabulário e estilo - As dúvidas se originam principalmente de diferenças de vocabulário e do

estilo gramatical que figuram nas epístolas pastorais, quando postas em confronto com outras epístolas paulinas. Os que refutam a autoria do apóstolo, se valem de tabelas estatísticas, algumas vezes traçadas com o auxílio de computadores. No entanto, essa objeção “científica” à autoria paulina não leva em conta as diferenças de vocabulário e estilo causadas pelas diferenças de assunto e de pessoas endereçadas, além das alterações causadas no estilo de um escritor, por considerações como meio ambiente, mais idade, maior experiência e a mera passagem do tempo. Talvez significativa seja também a possibilidade de que as divergências de estilo se tenham originado dos diferentes amanuenses, ou do fato que Paulo deu maior ou menor liberdade aos mesmos para usarem um fraseado de acordo com seus pensamentos, no que algumas vezes se mostrou mais exigente do que em outras.

3. Estrutura Eclesiástica - Tem sido dito que as epístolas pastorais refletem uma estrutura

eclesiástica bem mais organizada do que aquela que já se desenvolvera durante a vida de Paulo. Entretanto, as epístolas pastorais mencionam somente os anciãos (ou bispos), os diáconos e as viúvas; classes que já figuravam antes no Novo Testamento, conforme exemplos de At. 6:1; 9:39,41; I Co. 7:8 e Fp 1:1. Outrossim os papiros do Mar Morto, que pertencem a dias anteriores ao Cristianismo, descrevem um oficial da comunidade de Qumran que se assemelha de forma notável aos bispos que são mencionados nas epístolas pastorais. As instruções dadas a Timóteo e a Tito (ver I Tm. 5:22 e Tt. 1:5), a respeito da nomeação dos anciões, não se devem a um governo eclesiástico hierarquicamente evoluído, mas ao fato que novas igrejas locais foram iniciadas sob condições missionárias, tal e qual Paulo e Barnabé, logo desde o início de sua missão fizeram nomear anciãos para as novas igrejas do sul da Galácia (At. 14:23).

Outros argumentos contra a autoria paulina das epístolas pastorais tem sido levantados, mas para o nosso estudo, estes três são suficientes, uma vez que a despeito de seu número, há nas próprias epístolas a reivindicação constante de que elas foram escritas por Paulo, e na preocupação da igreja antiga, com questões que envolvem a autoria, temos a fortíssima tradição que diz que o próprio Paulo escreveu as epístolas

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pastorais. Somente Romanos e I Coríntios contam com confirmações mais decisivas.

I TIMÓTEO Antes de discorrermos sobre o conteúdo da I Epístola endereçada por Paulo a Timóteo, é importante

que tracemos um pequeno perfil do jovem pastor, para que compreendamos com maior clareza e amplitude, a razão das orientações de Paulo ao seu discípulo.

Timóteo

O nome é grego e significa “que adora a Deus” ou “que honra a Deus”. Fruto de um casamento misto

entre um grego e uma judia (Eunice), seu nome deve ter contentado seu pai e o seu significado proporcionado satisfação à sua mãe. Nascido em Listra, uma pequena cidade da província da Licaônia, cerca de 10 km de Icônio, e distante das estradas principais, vivia Timóteo com sua mãe quando Paulo visitou a cidade pela primeira vez (1ª viagem missionária).

Se não fosse o propósito de Deus para com o jovem Timóteo, naturalmente este não seria um lugar atrativo para Paulo. Sua população era pequena e mista, falavam um dialeto regional, não o grego, o que dificultava a comunicação e sua distância das rotas principais, a tornava uma cidade esquecida, um lugarejo sem importância.

Todavia, o apóstolo que fora expulso de Antioquia da Pisídia, quase apedrejado em Icônio, e evitando talvez as planícies costeiras por serem infestadas do mosquito transmissor da malária, cansado, e provavelmente desapontado pela recente desistência do seu discípulo João Marcos, atravessou o portão da solitária e montanhosa Listra. É possível que nessa época Timóteo tivesse entre 15 e 17 anos, e por certo deve ter presenciado todos os acontecimentos de que a cidade foi palco durante a permanência do apóstolo ali. Sua pregação, a cura do paralítico (At. 14:8-10) e o apedrejamento em que foi dado como morto (At. 14:19).

De algum modo Timóteo entrou em contato com Paulo, e sem dúvida, estes novos fatos, na pacata Listra devem ter marcado profundamente a vida e a personalidade sensível de Timóteo. Não sabemos ao certo se a sua conversão ocorreu nesta ocasião, ou de outra forma, haja visto que a expressão “meu filho na fé” e outras semelhantes, repetidas várias vezes nas duas epístolas (a Timóteo), tanto pode indicar que Timóteo é fruto do ministério de Paulo, como também o estreito relacionamento que se estabeleceu entre ambos retratando não apenas a acentuada diferença de idade, mas a relação entre o discípulo e seu pai espiritual.

Independente deste fato, sabemos que a educação dada por Eunice a Timóteo, foi fundamental para a sua formação e conhecimento sólido nas Escrituras, de tal modo que mereceu o elogio do apóstolo. Timóteo é descrito como um jovem tímido, cuja primeira barreira a vencer, era o preconceito de sua época por ser meio judeu e meio grego. Seu perfil, é de um homem afetuoso, terno, leal, sincero na sua fé e convicções, que precisava ser encorajado para que não se deixasse abater pelo desânimo, que não deveria permitir que a sua fraca estrutura física e suas enfermidades (I Tm. 5:23) o impedissem de ser um gigante na fé.

Se procurássemos avaliar o chamado de Timóteo pela nossa ótica, questionaríamos por que Timóteo? Por que ele foi escolhido?

Provinha de uma pequena cidade, talvez a mais rústica e a mais atrasada de todos os lugares visitados por Paulo. Não gozava de boa saúde e nem tão pouco impressionava as pessoas com sua autoridade. Se ele tivesse complexo de inferioridade, diríamos que teria boas razões para isso.

Paulo ao contrário, seria fácil entender porque Deus o escolheu, judeu instruído, portador da cidadania romana, e oriundo de uma cidade de projeção na cultura grega. Ele era o líder nato, o homem preparado para levar o Evangelho para Atenas e a Roma, o homem ideal para dar testemunho, tanto a judeus como a gentios.

Entretanto, ao contrário do que pudéssemos imaginar, a amizade entre estes dois homens com personalidades tão diferentes se solidificou e Paulo viu em Timóteo um defensor firme e leal da fé cristã (I Co. 4:17), fiel, consciencioso, dedicado e consagrado a Deus (I Tm. 6:11), que seria capaz de crescer, e corajosamente cumprir cabalmente seu ministério. Alguém cujos esforços valorosos para com o Senhor, haveria de conquistar uma posição entre os heróis de Deus (Hb. 13:23).

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Data e local da escrita

62 - 63 na Macedônia

Destinatário A Timóteo em Éfeso

Tema Organização e administração de igrejas por parte de Timóteo

Propósito 1. Para encorajar Timóteo a ficar num lugar difícil 2. Para advertí-lo contra os propagadores de doutrinas errôneas

(1:3-7; 18-20) 3. Para instruir acerca da administração da igreja (2:9-15; 3:1-

16)

Peculiaridades 1. Uma boa caracterização seria “um manual de cuidado pastoral” 2. Há bastante similaridade entre I Timóteo e Tito. a) ambas contém qualificações para o bispo b) ambas contém instruções para tratar de grupos sociais 3. Percebe-se que I Timóteo tenta combater uma heresia semelhante ou a mesma que Paulo combate em Colossenses.

Introdução

A primeira epístola de Paulo a Timóteo não se constitui num tratado teológico. O apóstolo não necessita expor a doutrina em detalhes para seu discípulo, que a conhecia bem, mas era necessário lembrá-lo da importância estratégica da doutrina da vida. A epístola é repleta de solenes desafios, para que Timóteo permaneça em Éfeso fortalecendo os cristãos na fé e combatendo as falsas doutrinas.

Capítulo 1

Falsos mestres (1-7) - No que o texto indica, os falsos mestres de Éfeso tinham certa formação

judaica, uma vez que enfatizavam lendas e genealogias judaicas em seus ensinos. Acrescentavam longas estórias imaginárias alheias às Escrituras. Essas fábulas estavam desviando os crentes efésios da Palavra, levando-os a viverem conforme os padrões humanos (v.4). Paulo mostra que este tipo de pregação só gera mais questionamentos, afastando o cristão das verdades divinas. Observemos que a palavra “questões” (ARC), usada no v. 4, não se refere a um método de aprendizagem ou pura inquirição, mas a perguntas que levam a frustrações e dúvidas, por causa de um ensino apóstata.

Ao contrário da pregação destes falsos mestres, o apóstolo diz que o trabalho de Deus deve ser feito com amor, partindo de um coração puro, uma boa consciência e uma fé sincera (v.5).

Testemunho e o Evangelho de Paulo (12-16) - O testemunho do escritor está em duas partes:

1) Vs. 12-14 2) Vs. 15,16 Estas duas partes correm paralelas, visto que destaca a condição de Paulo antes da conversão; e em cada

seção também o ponto crítico e o contraste vem com as palavras, “Mas alcancei (obtive) misericórdia”. O sincero hino da introdução do livro (v.17) aparece como um clímax apropriado do testemunho do apóstolo. Aqui ele dá graças diretamente a Cristo, e usa uma eloqüente linguagem apropriada à profunda gratidão que sente ao lembrar de sua salvação e vocação.

O capítulo encerra com mais uma exortação a Timóteo para manter sua fé, combater o bom combate e manter uma boa consciência, que não venha a naufragar na fé, a exemplo de Himeneu e Alexandre.

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Capítulo 2

O Culto a Deus - O cap. 2:1-8 - trata do culto a Deus, sua forma e expressão. Nos vs. 1-4, somos

chamados a orar por todos os homens investidos de autoridade, com o intuito de que governem com sabedoria e responsabilidade, e para que tenhamos uma política que garanta não apenas o livre acesso do Evangelho, mas também o seu estabelecimento sem qualquer impedimento. Quando percebemos a realidade que Paulo tinha diante de si, vemos a nobreza de seu caráter nestas recomendações feitas a Timóteo, pois não estabelece um roteiro, no qual os governantes alvos de oração, intercessão, etc..., seriam apenas aqueles que se mostrassem bons, honestos e acessíveis à fé cristã, mas muito pelo contrário, dela (oração) não estariam excluídos os injustos, infiéis, os maus e corruptos, e mesmo aqueles que mais tarde como sabemos, seriam responsáveis pela morte do apóstolo (convém lembrar que Nero era o imperador de Roma naquela época e foi sob o governo desse perverso déspota que Paulo foi encarcerado e em seguida decapitado).

Mulheres cristãs (9-13) - Nos dias de Paulo era costume das mulheres fazerem tranças com vários

materiais entrelaçados no cabelo, tais como vistosos ornamentos de prata, fios de ouro e bijuterias. Por causa da cultura daqueles dias, esse costume trazia certos transtornos entre os cristãos. À luz de tais excessos, Paulo fala da moderação, instruindo as mulheres cristãs a cultivarem a beleza interna.

Na seqüência do texto, vs.11-12, cabe destacar que naquele tempo só os meninos eram educados para fins religiosos. As mulheres então faziam perguntas na igreja, em busca de maior conhecimento. Visto a dificuldade da mulher em alcançar melhor explicação, não deveria levantar tais dúvidas na própria igreja, causando embaraços e descaracterizando a própria reunião (culto). Paulo as orienta a ouvirem em silêncio, deixando suas perguntas para fazê-las em casa (v.11).

O texto parece sugerir que a mulher está em posição inferior à do homem, porém no v. 15, Paulo exalta a mulher citando sua virtude de dar à luz filhos.

Capítulo 3

Escolha dos líderes da Igreja - A igreja de Éfeso não se reunia num edifício grande, sob a liderança

de um pastor. Ao invés disso, era composta de muitas congregações que se reuniam em casas espalhadas pela cidade. Cada uma destas congregações precisava de um líder para assuntos espirituais (presbítero) e um líder para assuntos materiais (diácono). Se estes homens fossem verdadeiros servos de Deus, as congregações seriam tementes a Deus. Se os líderes fossem fracos e mundanos, isto afetaria a espiritualidade dos cristãos, por esta razão era de suma importância que estes homens fossem escolhidos com muito cuidado.

Características do líder cristão (2-7) - Paulo inicia o capítulo três dizendo que se alguém aspira o

episcopado (ministério) excelente obra almeja. Vejamos portanto, quais os requisitos necessários ao líder cristão: 1. Deve ser marido de uma só mulher (v.2) - Naquela época o império romano vivia em clima de imoralidade generalizada. A poligamia havia se tornado prática comum e da mesma sorte, o divórcio. O apóstolo toma posição firme ante este assunto, a fim de manter a igreja livre destes males. 2. Deve ser vigilante e sóbrio (v.2) - A palavra vigilante significa “estar alerta”. E o pensamento aqui, é o de que o homem de Deus precisa estar sempre prevenido contra os ataques de Satanás para não cair (I Pe 5.8). A palavra sóbrio neste texto, pode ser traduzida também por modesto. 3. Deve ser homem de um bom relacionamento (3:2) - Sua conduta não deve prejudicar o trabalho do Senhor, e suas ações devem atentar para os padrões de Deus, que “tudo vê”. 4. Deve ser hospitaleiro (v.2) - Nos dias do apóstolo, as hospedarias eram lugares não recomendáveis aos cristãos, geralmente freqüentadas por pessoas ímpias e imorais. Desse modo, era desejável, que os cristãos ao viajarem se hospedassem em casas de outros crentes, o que significaria uma dupla bênção, tanto para o hospedeiro como para o hóspede, pela oportunidade de compartilharem suas experiências e alegrias no

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Senhor. 5. Deve ser apto para ensinar (v.2) - Qualquer pessoa que realmente ame ao Senhor, sentirá o desejo de compartilhar o Evangelho com outros, e ansiará vê-los crescerem em sabedoria e conhecimento do Senhor. 6. Não deve ser dado ao vinho (v.3) - Há necessidade de estar consciente dos perigos inerentes a esta prática (ler Pv. 23:29,30). Neste assunto, como em tantos outros, o líder cristão tinha que lembrar que sua vida servia (e serve) de exemplo para todos aqueles que estão sob o seu ministério. 7. Deve ser um homem de natureza calma, controlada (v.3) - Ou seja a pessoa precisa ter equilíbrio, domínio próprio. Ser uma pessoa não inclinada a envolver-se em brigas e contendas. 8. Não deve ser avarento e não deve correr atrás de bens materiais (v.3) - A avareza e o interesse desmedido por bens materiais tem se tornado muitas vezes em pedra de tropeço, causando a queda de homens de Deus, pela perda dos seus padrões morais e de honestidade. 9. Deve ser bom administrador de sua família (v.4) - Isto significa, não apenas a capacidade do líder em ser respeitado no lar, ou que seus filhos sejam educados e obedientes, como também a capacidade de organizar adequadamente todas as atividades tanto dentro como fora do lar. 10. Não deve ser um novo convertido (v.2) - Neste texto, Paulo aponta um fator de grande importância. Há dois grandes perigos envolvidos no colocar um inexperiente em posição de responsabilidade na igreja. Ou ele desanimará por não estar adequadamente preparado para o trabalho, ou ficará muito orgulhoso, se julgando importante, podendo igualmente causar prejuízo por não possuir a estrutura necessária. 11. Bom testemunho dos que estão fora (v.7) - A pessoa deve gozar de um bom testemunho onde quer que esteja, em meio a crentes ou não.

As Características De Um Diácono (8-13) - As características de um diácono são basicamente as

mesmas que as de um líder, mas um ponto especial destacado é o de que ele não deve ser um homem de duas palavras. Como o diácono lida com os trabalhos internos da igreja, sua área é estratégica para quem quer causar discórdia e confusão entre os crentes, caso ele não guarde bem a sua língua.

O diácono também precisa ter uma vida espiritual consagrada, pois apesar de não tratar com a pregação e o ensino, ele é visto como um embaixador de Deus.

A Igreja (15,16) - Paulo lembra a Timóteo que a igreja não é somente um edifício, um grupo de

pessoas ou uma organização, mas é a casa de Deus, a igreja do Deus vivo, a coluna e o baluarte da verdade.

Capítulo 4

A partir do capítulo 4, Paulo orienta a Timóteo como relacionar-se com os diversos grupos sociais na Igreja, e a postura firme e inflexível que deve ter frente aos falsos mestres e seus ensinos heréticos (1-3)

Timóteo é instruído a resistir tais ataques, com o sadio ensino bíblico, em que Paulo apresenta três pontos:

a. Alimentação na Palavra - A capacidade de Timóteo para enfrentar este desafio devia proceder do sólido alimento que recebera desde o passado (4;6)

b. Rejeição a fábulas profanas - Timóteo é admoestado a não ficar inativo, atacando falsos ensinos, mas aproveitar o tempo na pregação da sã doutrina (compare I Tm 6:20 e II Tm 2:23-26)

c. A procurar exercitar sua alma, como um atleta treina seu corpo - Muito antes dos dias do apóstolo, os gregos estabeleceram os jogos ístmicos em honra a Poseidon e jogos de Pétio em honra a Apolo (deus). Paulo porém exorta a seu discípulo, que se prepare para vitórias eternas, e não para a coroa perecível do ganhador grego.

Nessa ocasião, Timóteo teria provavelmente 35 anos, e por certo deve ter sido criticado pelos falsos mestres por sua juventude e inexperiência no trabalho, pois tal idade seria jovem demais para a posição que ocupava na igreja.

Paulo escreve a Timóteo, dizendo-lhe que não deveria reagir à crítica nem com desânimo ou com defesa,

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mas sim provar o erro de tais críticas e faladores, vivendo uma vida exemplar e santa diante do povo. O apóstolo destaca cinco áreas nas quais ele deve servir de exemplo a outros, observemos:

“Ninguém despreze a tua mocidade, mas sê o exemplo dos fiéis: na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza”.

Nos versículos 13-16 Timóteo é chamado a ser diligente e não negligente no exercício do seu ministério.

Capítulos 5 - 6 - Relacionamentos Diversos

O capítulo 5, trata do relacionamento com os idosos, homens e mulheres e com os jovens. Atenção

especial é dada às viúvas em que são estabelecidos os critérios a serem seguidos pela igreja, no tratamento com tais pessoas. As viúvas jovens são orientadas a casarem-se e as idosas seriam inscritas a partir do que mostra os vs. 9 e 10 ou seja:

1. Idade mínima de 60 anos 2. testemunho de boas obras 3. ter criado filhos 4. ter exercitado hospitalidade 5. ter lavado os pés dos santos (humildade) 6. ter socorrido a atribulados (misericórdia) O cap. 6:1-2 trata do relacionamento com os servos, pois segundo o que os historiadores nos informam,

no tempo de Paulo, o Império Romano, tinha um terço de sua população constituída de escravos, o que equivalia a aproximadamente 60 milhões de pessoas. Paulo conhecia a importância de Timóteo saber aconselhar escravos cristãos.

Nos vs. 3-5 são traçadas novas características dos falsos mestres que buscavam auditório que os quisesse ouvir, encontrando nos efésios, que apreciavam oradores eloqüentes, uma porta aberta e acolhedora a todos de passagem por ali.

Questões financeiras (6-11) - Trata do líder e suas finanças - Paulo mostra ao jovem pastor,

que a satisfação interior procedente de uma vida santa e de serviço perante Deus tem particular valor (v.6). Talvez as finanças de Timóteo não fossem tão animadoras, consistindo somente de comida e roupa (6.8), mas o apóstolo o encoraja a contentar-se com o que Deus lhe deu, e a não ser tentado a deixar ou usar o ministério com fins lucrativos.

No v. 10 quando Paulo chama o “amor ao dinheiro” de “raiz de todos os males”, devemos notar que o texto no grego não diz que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males, mas uma raiz do mal. A expressão é usada, a considerar que pela cobiça, interesse desmedido pelo dinheiro, o homem é levado a roubar, matar, adulterar, prostituir-se, enganar, mentir, destruir, etc., para alcançar seus objetivos de domínio e poder, retirando do seu coração, a prioridade, o lugar que Deus deve ocupar em sua vida.

Observe que não é o “dinheiro”, mas sim o “amor ao dinheiro” que é a raiz de todos os males.

Conselhos para o “Homem de Deus” (11-21) - Paulo deixa os demais assuntos, para fazer um

apelo pessoal a Timóteo – “o Homem de Deus”, esta descrição era característica dos profetas do Velho Testamento que andavam com Deus e atuavam como a sua voz. Da mesma maneira, o apóstolo via a Timóteo como um homem que andava com Deus, falando por Ele. O discípulo é estimulado a observar três princípios básicos para um ministério bem sucedido:

1. foge do pecado (v.11) 2. segue a santidade (v.11) 3. combate o bom combate da fé (12-16) Além de fugir do pecado e buscar a justiça, a santidade, o “homem de Deus” deve ser uma testemunha

ativa para o Senhor. Paulo ilustra este princípio referindo-se aos lutadores dos antigos jogos da Grécia. A

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intensidade destas lutas é ilustrada pela palavra “arena” que no latim significa “areia” provêm do fato que a areia era derramada dentro dos estádios, a fim de absorver o sangue dos lutadores aí derramados. Estes lutadores eram julgados por espectadores e juízes, e uma coroa simbólica de folhas de louro era oferecida ao vencedor.

Embora Paulo não assistisse a estas lutas, ele sabia que esse costume era comum na cultura grega de Éfeso e serviria como uma metáfora clara para Timóteo.

Instruções Finais (17-21) - Paulo termina sua carta, com uma palavra final de conselho para os ricos

e mais um apelo para Timóteo, dizendo: “Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado” (v.20). O depósito confiado a Timóteo é a verdade do Evangelho (II Tm 2:14), ele como verdadeiro ministro, devia guardar a verdade para protegê-la contra os falsos mestres que quisessem diluir sua essência, com o falso conhecimento e especulações humanas (20,21). Devia também ensiná-la fielmente àqueles que criam e viviam segundo os preceitos estabelecidos por Deus.

TITO

A epístola endereçada por Paulo a Tito, não nos oferece um conhecimento amplo da igreja e das

condições em que o mesmo foi estabelecido como líder. Sabemos que após ser liberto da primeira prisão em Roma, como nos mostra Filipenses, Paulo visitou várias igrejas que implantara anteriormente, estabelecendo líderes e atuando na sua organização. Entre estas, estavam as igrejas de Éfeso e de Creta, que devido a total desordem em que se encontravam, precisavam urgentemente de uma liderança firme. Para tal missão, foram incumbidos Timóteo e Tito, fiéis colaboradores do apóstolo.

Perfil de Tito

Seu nome significa louvável e como tal, foi sua postura e conduta. De acordo com Tt 1:4, Tito era um grego que se convertera através do ministério de Paulo, talvez em Antioquia da Síria. Após sua conversão começou a viajar com Paulo, e na terceira viagem missionária do apóstolo, ele já era considerado um cooperador de confiança. É descrito como um evangelista, talentoso e dedicado a Deus, um fiel companheiro conforme II Co 8:23. Seu nome não aparece em Atos, razão pela qual alguns destacam a possibilidade de que fosse irmão de Lucas. De acordo com Gl. 2:1, foi um delegado no Concílio em Jerusalém (Atos 15). Foi enviado numa tarefa difícil a Corinto, com o intuito de dissipar as diferenças ali existentes, com tato e profundo zelo conseguiu ser bem sucedido em sua missão. Nesta árdua tarefa, Tito revelou ser possuidor de uma personalidade forte, proporcionando grande ânimo e encorajamento a Paulo em momento bastante difícil (II Co. 7:6-16). Mas é por seu trabalho como representante à igreja de Creta, uma ilha distante na costa sudeste da Grécia que Tito torna-se conhecido. Talvez, de acordo com II Tm 4:10, tenha desenvolvido trabalho evangelístico na Dalmácia (Ilírico). Tito se tornou um líder experiente, e segundo alguns eruditos, posteriormente, permaneceu em Creta até avançada idade. Paulo conhecia muito bem a Timóteo e a Tito, por isso foi capaz de dar-lhes a desafiadora incumbência de continuarem seu ministério, com a certeza de que eles não o decepcionariam. Ambos foram fiéis.

Igreja em Creta

Creta era uma das maiores ilhas do Mar Mediterrâneo, com aproximadamente 205 km de extensão; distante da Europa, da Ásia e da África, mas considerada como fazendo parte da Europa, integrando o território da Grécia. A ilha possuía mais de cem cidades. Por ser habitada por considerável número de judeus, é provável que os Cretenses tenham recebido o evangelho pela primeira vez através de convertidos no dia de Pentecostes (At. 12:11). Agora, a igreja desorganizada, lutava para manter seu testemunho cristão.

Data e local da escrita 62-63 em Nicópolis

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Destinatário A Tito na Ilha de Creta

Tema Administração das igrejas de Creta por parte de Tito

Propósito 1. Instruir quanto às relações pastorais com os vários grupos sociais na igreja

2. Instruir Tito na organização da igreja 3. Advertir contra os falsos mestres

Peculiaridades a. semelhança com I Timóteo quanto aos assuntos b. os termos “bispo” e “ancião” se equiparam c. “boas obras” são usadas 6 vezes nesta pequena epístola d. a reputação do povo cretense:

1. escritores da antigüidade mencionam sua avareza 2. o termo KRETIZEN ou cretanizar significa enganar ou mentir 3. A citação do poeta Epimenides, que era um dos seus próprios poetas.

Introdução

A carta endereçada a Tito é muito similar em todo o seu conteúdo a I Timóteo, e foi escrita na mesma ocasião, oferecendo instruções ao jovem discípulo, como deveria pastorear uma igreja, como proceder na escolha de homens para liderarem as congregações, e firmemente admoestar o povo a viver vida santa.

Capítulo 1

O primeiro versículo de Tito nos introduz a idéia central da epístola: “o conhecimento da doutrina segundo a piedade”. Paulo mostra que a igreja deve ter tanto a sã doutrina, como a sua aplicação no dia-a-dia.

Líderes santos (5-9) - O v. 5 diz que o principal trabalho de Tito em Creta, era estabelecer dirigentes

piedosos. A Ilha na sua extensão, possuía mais de cem cidades. Cada congregação precisava de um líder, pois era impossível a Tito tomar conta de todas as igrejas existentes.

Não vamos discorrer aqui sobre os requisitos destes líderes, uma vez que são muito semelhantes aos que abordamos em I Tm. 3.

Líderes ímpios - (9-11,14-16) - Se a igreja for negligente ao organizar um trabalho novo, e não

eleger um líder segundo os padrões divinos, a liderança pode ter origem ímpia. Em Creta muitas congregações que se reuniam em domicílios, se extraviaram pelo ensino de líderes ímpios (1:11). Estes falsos mestres de descendência judaica, eram insubordinados e oradores frívolos (1:10). Paulo identifica três elementos nítidos em sua doutrina que provavam falsidade: 1. Exigiam dos novos convertidos a observância dos ritos judaicos para a salvação, alegando que o sacrifício de Jesus não era suficiente para salvá-los. 2. Um segundo elemento negativo, parece contradizer o primeiro, pois embora eles obedecessem a muitas regras, também toleravam muitos pecados. Paulo destaca que professavam conhecer a Deus, mas negavam esta confissão através dos seus atos (1:16) 3. O terceiro elemento negativo, é que eles em suas consciências corruptas, permitiam a perversão daquilo que é puro. O ensino é paralelo ao de I Tm. 4:2-5. “Todas as coisas”, deve ser entendido no contexto de “criatura de Deus” (I Tm. 4:3,4) Para aqueles que rejeitam a soberania de Deus e adoram a criatura, todas as coisas são impuras até mesmo suas mentes e consciências.

Sociedade impura (12,13) - Era fundamental que Tito estabelecesse dirigentes piedosos para a

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saúde espiritual da igreja cretense, pois a sociedade de Creta era por demais corrupta. O pecado fazia parte da vida diária da Ilha. Seus habitantes tinham uma reputação tão má, diante do mundo antigo, que os gregos criaram a palavra KRETIZEN ou cretanizar para descrever aquele povo. Tal expressão significava mentir ou enganar.

Em Tito 1:12, Paulo cita um famoso herói cretense, Epimenides sobre esta hereditariedade nacional. O apóstolo citou as palavras do poeta propositadamente, porque sabia que os cretenses não negariam a palavra de seu herói nacional.

Nos questionamos, porque Paulo mencionou uma passagem tão dura, tão ferina? O v.13 nos responde: Tito devia conhecer as fraquezas e as tentações devastadoras da cultura local para poder saber como exortar os cretenses, a fim de conduzí-los à salvação.

As características pagãs dos cretenses não desencorajou Paulo, mas pela fé ele viu maravilhosos crentes nos anos posteriores.

Capítulo 2

A instrução neste capítulo é dada quanto a aplicação da sã doutrina por parte dos membros da igreja em suas vidas pessoais.

O idoso (2-3) - Idade avançada compreende o tempo quando o corpo enfraquece e a saúde definha.

Mas por outro lado, é também a época em que a vida espiritual é mais saudável e forte. Paulo quer que os cristãos idosos sejam saudáveis em três áreas: sadios na fé, no amor e na constância (v.2)

Paulo sabe também que a mulher idosa se torna menos ativa fisicamente, ela tem mais tempo para ficar sujeita à tentação de observar e criticar os outros. Tal atitude pode alienar as mulheres idosas de suas filhas e noras. Portanto, elas devem ser “mestras do bem” (v.3).

Os jovens (4-6) - As mulheres cretenses e gregas tinham muito mais liberdade que outras mulheres de

sua época. Por isso, o apóstolo aconselha em I Coríntios e I Timóteo, que quando estas mulheres se tornam crentes, necessitam de um esforço concentrado para renunciarem os antigos hábitos do passado e não dar oportunidade aos pecadores de blasfemarem de sua fé (v.5). São encorajadas a deixarem seu egoísmo, tão comum entre as mulheres daquele nível, dando prioridade aos interesses da família e dos necessitados (v.4).

Tito (7,8) - Ao falar dos jovens, Paulo lembra Tito, o jovem pastor de Creta. Ele enfatiza dois princípios

que o seu discípulo precisa aplicar no trabalho, ou seja, ele tem que ser um padrão de boas obras, e segundo, ele tem que encarar a sua pregação com seriedade. O modo de vida de Tito é mencionado antes da forma de pregar. O apóstolo sabia que a vida de Tito era um sermão “vivo”, a mensagem que muitos prestariam atenção. É orientado a pregar sem motivos ocultos e com séria responsabilidade.

Servos (9-10) - Ensino quanto à conduta de escravos crentes.

Capítulo 3

O último capítulo de Tito nos dá princípios para sermos ornamento da doutrina frente à sociedade. Paulo insiste com os cidadãos do reino celestial que sejam bom cidadãos do país sob cuja bandeira vivem (3:1,2; Rm. 13:1-7; I Pe. 2:13-17). Em I Timóteo já observamos como o apóstolo destacou a necessidade de oração por todos os homens investidos de autoridade, e o espírito de mansidão que devem evidenciar. Chama a atenção do cristão, para uma atitude de piedade ativa, resultante de uma fé viva, como nos mostram os seguintes versículos (ARC):

v.1 “... preparados para toda a boa obra” (fazer o bem como uma reação imediata em qualquer oportunidade) – alguns só fazem o bem quando este pode ser convertido em promoção, em destaques, em

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benefício próprio. v.8 “...procurem aplicar-se às boas obras” (buscando novas oportunidades para fazer o bem). v.14 “...aprendam também a aplicar-se às boas obras” (treinando-se para em oportunidades futuras fazer o bem).

Preparados (1-7) - No v.1, a palavra “preparado” implica em algo que é automático ou “natural”. O

cristão deve cultivar o hábito de fazer coisas boas, até que isto se torne parte de sua natureza. Sabendo que tal piedade ativa não se afina facilmente com a natureza humana, o apóstolo procura incentivar ainda mais o leitor, lembrando o passado de pecados, e a nova condição no presente (5-7). Esta mudança, mostra Paulo, não é baseada numa decisão filosófica, mas num milagre divino, que deve nos encorajar a viver para Deus, expressando nossa gratidão a Ele.

(9-11) - O apóstolo dá instrução a Tito a não envolver-se em questões que não tem utilidade, que são fúteis e que visam tão somente distrair sua atenção da verdade. Quanto a pessoas que depois de serem exortadas, corrigidas, disciplinadas, conhecendo a verdade, teimosamente, insistirem no erro, essas devem ser evitadas.

A carta é encerrada com recomendações pessoais a Tito, quanto a ir ao encontro do apóstolo em Nicópolis, e o tratamento a ser dispensado a Zenas e a Apolo (12,13).

II TIMÓTEO

Depois de escrever I Timóteo e Tito, Paulo foi preso novamente, na Grécia ou na Ásia Menor e enviado

para Roma, dessa vez como um malfeitor (2:9). Enquanto aguardava, numa prisão romana, “o tempo de sua partida”, escreveu esta última carta ao seu amado filho no Evangelho, Timóteo. Sua prisão foi súbita e imprevista, de modo que não teve tempo de ajuntar seus valiosos livros (papiros) e pergaminhos, nem levar consigo a capa para se aquecer (4:13). A segunda prisão foi bem diferente da primeira. Naquela ocasião tinha sido uma casa alugada, agora se achava recluso em um calabouço, frio, úmido e escuro; antes tinha sido um local de fácil acesso ao círculo de amigos, mas agora estava sozinho (4:10-12). Antes tinha esperança de ser libertado, agora esperava ser morto (4:6).

Levantava-se nessa época uma cruel e impiedosa perseguição contra os cristãos, mesmo assim nada consegue barrar o crescimento da igreja. Esse avanço contudo, teria um alto preço: o sangue dos santos.

O acontecimento que deu início a essa perseguição geral, foi o incêndio de Roma. Os historiadores afirmam que Nero ordenou que ateassem fogo às partes mais pobres de Roma, para poder reconstruí-las. O incêndio começado por sua ordem, não pode ser controlado e a maior parte da cidade foi destruída. Os romanos prestes a uma rebelião, enfureceram-se por causa disto. Nero então, procurou insanamente, um bode expiatório para culpar por seu ato execrável, e os cristãos foram uma presa lógica para ele. A seguir ordenou que o exército perseguisse e matasse os cristãos para desviar a atenção quanto a sua própria culpa.

Nero era um homem ímpio e cruel. Já matara o irmão, sua mãe e até mesmo sua esposa Otávia, e não hesitou em ordenar a morte de dezenas de milhares de cristãos. Hegesipo, escritor do século II, narra-nos como o perverso e anormal imperador, tratou os cristãos, acusados, por ele, de terem incendiado Roma. Alguns foram vestidos com peles de animais ferozes, e perseguidos pelos cães até serem mortos (despedaçados); outros foram crucificados, outros foram envolvidos em panos alcatroados e depois incendiados ao por-do-sol, para servir de luz para iluminar a cidade durante a noite. Nero cedia os seus próprios jardins para essas execuções e apresentava, ao mesmo tempo alguns jogos de circo, presenciando toda a cena vestido de carreiro (condutor de carro), indo umas vezes a pé no meio da multidão, outras vendo o “espetáculo” do seu carro. Outros ainda eram queimados vivos em fogueira, ou atacados nas arenas por animais selvagens. Tal era a crueldade de Nero, que não havia freio que a impedisse, e nesse contexto o grande apóstolo dos gentios e o maior missionário de todos os tempos, Paulo pereceu pelo testemunho de sua fé e por espalhar a mensagem do cristianismo de uma extremidade à outra do Império Romano.

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Data e Local da Escrita 63-67 em Roma pouco antes da execução de Paulo

Destinatário A Timóteo, em Éfeso

Tema Comissão dada a Timóteo para levar avante a obra de Paulo.

Propósitos 1. Encorajar o jovem pastor Timóteo na vigorosa e corajosa atividade em cumprimento de suas

responsabilidades (1:6-8;2:1-7,14-16,22-26;3:14-4:5) 2. Advertí-lo acerca da apostasia (3:1-9) 3. Para informá-lo do martírio iminente (4:6-8) 4. Para pedir que Timóteo traga alguns de seus pertences (4:9,13,21)

Peculiaridades: 1. Esta é a última das epístolas de Paulo 2. II Timóteo dá uma forte ênfase sobre a pregação como um aspecto importante do ministério (1:11,4:2) 3. Contém a passagem clássica sobre a inspiração das Escrituras (3:16,17)

Introdução

II Timóteo é a mais tocante das cartas de Paulo. Nela estão registradas suas últimas palavras e sua última mensagem escrita, pois em breve sua pena haveria de secar-se para sempre. Paulo estava velho (63-65 anos), a igreja de Roma ocultava-se devido à feroz perseguição. Nas profundezas da prisão, o apóstolo sente-se sozinho e abandonado, de sorte que ninguém sabia onde encontrá-lo. Onesíforo, um cristão de Éfeso, teve de procurá-lo entre os milhares de prisioneiros em Roma (1:16-18).

Paulo literalmente preparava-se para morrer, mas sua preocupação não estava no destino que o aguardava, mas sim no futuro da igreja. Sua atenção volta-se para Timóteo, a fim de lembrá-lo de suas grandes responsabilidades em pregar e preservar a sã doutrina, especialmente tendo em vista a apostasia crescente promovida pelos falsos mestres e a perseguição.

O coração saudoso e amável do apóstolo, líder e mestre, deseja profundamente que seu jovem discípulo viesse a Roma para uma visita final e para receber mais instruções. A carta em sua linguagem é comovente e pessoal. É o legado, a herança mais preciosa a alguém que continuará a carreira. É o passar do posto ao soldado, na certeza que ele não abandonará o combate.

Capítulo 1

Paulo lembra a Timóteo a guardar ou observar o Evangelho com a ajuda do Espírito Santo (v.14). A igreja atravessava um período difícil com muitos cristãos envergonhados do Evangelho e se voltando para muitas doutrinas estranhas. Por isso, o apóstolo recorda a Timóteo que este Evangelho é o mesmo que sua avó e sua mãe criam e ensinavam. É o mesmo Evangelho que revolucionara sua existência e pelo qual Onesíforo arriscou a sua própria vida. Timóteo é encorajado a não deixar que sua timidez o impeça de proclamar o Evangelho e não permitir que homens como Figelo e Hermógenes o deturpem com falsos ensinos (v.5).

Paulo encoraja Timóteo (1-7) - Enviando saudações ternas a Timóteo, Paulo aponta três razões

para ser corajoso na fé: 1. Paulo tem grande confiança em Timóteo (3-5). 2. Ele lembra a Timóteo a respeito da fé da sua mãe e sua avó (v.5). O fato que ele fora criado numa atmosfera piedosa, num lugar genuinamente cristão, não deveria ser esquecido jamais.

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3. O apóstolo relembra a consagração de Timóteo e o poder que lhe foi concedido (v.6). É incentivado a lembrar que foi enviado como mensageiro de Deus com muita oração e Zelo.

Não se envergonhar do Evangelho (8-12) - Timóteo é admoestado a ter seu ministério evangélico

em alta conta, pois embora os cristãos estivessem sofrendo perseguições, mesmo assim o poder de Deus é suficiente para qualquer situação adversa (v.8).

Depósito (13-14) - Este texto em que Timóteo é encarregado de “guardar o bom depósito” que

recebeu , é chave neste capítulo. Tal tesouro é obviamente o Evangelho autêntico, que deve ser protegido de dois ataques: o primeiro, é aquele que vem defender o Evangelho, mantendo “o padrão da sãs palavras”, o segundo ataque é o da perseguição que através do desencorajamento e medo, leva homens a abandonarem as riquezas da Palavra. A evidência do sucesso a esse ataque se encontra no v.15.

Os infiéis e os fiéis (15-18) - Em época da perseguição e prova, o apóstolo foi abandonado: seus

amigos se afastaram dele e do Evangelho. Todavia, é importante lembrarmos, que isto não invalida o trabalho do ministro que apresentou-lhes Cristo.

Capítulo 2 - Ensina a Palavra

Soldado, Atleta e Lavrador (1-7) - Um soldado, numa companhia militar deve estar totalmente

dedicado à causa que abraçou. Deve estar disposto a lutar em todos os momentos para ganhar a vitória, e deve colocar a batalha da fé como prioridade em sua vida (3,4).

Paulo prossegue fazendo um paralelo entre a disciplina e a obediência necessárias a um bom atleta, com requisitos indispensáveis a um verdadeiro ministro (v.5). O ponto central do enfoque de Paulo, é que um atleta luta, observando regras para não ser desqualificado.

A terceira ilustração é a de um lavrador. Ele trabalha muito para obter a colheita, sendo recompensado pelos primeiros frutos colhidos antes de vendê-los a outros. Do mesmo modo o ensinador da Palavra, deve trabalhar diligentemente no estudo e preparo de suas mensagens.

O Obreiro (14-19) - A metáfora do obreiro é uma das passagens chave do capítulo 2. Quando os

gregos escolhiam pedras para construção, uma pedra que não satisfizesse as necessárias especificações, era marcada com um “A”, significando que fora testada e não encontrada perfeita. Uma pedra perfeita, por outro lado era chamada DOKOMIS, ou a que passou pelo teste. A palavra DOKOMIS é usada aqui para indicar que Timóteo tinha que se preparar para passar no teste e não ser considerado reprovado para a obra.

Os vasos (20-26) - Enquanto a igreja estiver neste mundo, haverão vasos para honra e vasos para

desonra. A ênfase aqui não está no aperfeiçoamento pessoal, mas no valor para o mestre e para seu uso no reino de Deus.

Para ser um vaso puro, Timóteo, é ordenado a fugir das paixões da mocidade (v.22). É aconselhado a buscar a justiça, a fé, o amor, a paz, e a evitar questões insensatas e absurdas (v.23).

Capítulo 3 - Permanece na Palavra Nos últimos dias (1-9) - A expressão “últimos dias” tem dois significados no Novo Testamento: um

que é “geral”, referindo-se à época inteira da igreja (Hb.1:2 e I Jo. 2:18) e um que é específico, que fala do período de tempo que antecede imediatamente a volta de Cristo (II Pe. 3:3 e Jd. 18). Paulo estava profetizando acerca de um futuro evento, obviamente fazia referência a um período de tempo no fim da

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dispensação da igreja. Sua ênfase é que Timóteo poderá enfrentar tempos de apostasia cada vez mais intensa (v.13), culminando com um período final de decadência espiritual, pouco antes do arrebatamento. Isto não significa que a igreja verdadeira não será ativa nestes últimos dias, pois sabemos que o Espírito de Deus continuará sendo derramado (At 2:17).

Timóteo antevia esses tempos difíceis. Certamente tudo que Paulo mencionava no capítulo 3, até certo ponto já se presenciava na igreja de Éfeso (o v.6 fala no presente).

Nos vs.10-16 - Paulo reitera que aqueles que seguem o Senhor com um coração honesto, sofrerão

perseguições, mas o Senhor continuará a livrar seu povo de seus inimigos (10-11). Avisa que a apostasia sempre será uma ameaça para a igreja, e por isso Timóteo deve estar preparado para enfrentá-la, permanecendo firme e confiante na fé.

Toda Escritura é divinamente inspirada - A palavra “inspirada” significa literalmente “soprada por

Deus”. Há uma grande variedade de estilo e linguagem usada na Palavra de Deus, porque o Espírito não suprimiu a personalidade de cada escritor, mas não permitiu que isto interferisse na sua mensagem, mantida dentro de sua perfeita vontade.

O produto destes escritores, como instrumento de Deus, é a Palavra, a qual é útil para:

Doutrinar ensino para os indoutos

Repreender para repreensão de alguém, para que convença

Corrigir melhoria de caráter

Educar em justiça Completo treinamento e educação dos filhos ou novos convertidos, quanto ao cultivo da mente e vida moral

Paulo confinado em um calabouço, preocupa-se no sentido de que os obreiros do Senhor sejam

perfeitamente equipados no futuro quanto a Palavra de Deus, tendo assim uma base segura e fundamento sólido para seu ensino, a fim que sejam instrumentos poderosos nas mãos de Deus (v.17).

Capítulo 4 - Prega a Palavra

Admoestações a Timóteo (1-5) - Após lermos o texto aqui destacado, observemos os requisitos

para um obreiro: 1. Mensageiro de Deus deve pregar com toda a intensidade do seu coração 2. Deve estar sempre preparado. 3. Ele deve repreender, levando o homem a ver-se a si mesmo. 4. Não deve ter medo de exortar ou disciplinar o que pratica o mal. 5. O servo de Deus não somente deve manter a disciplina cristã, mas também animar e encorajar. 6. Deve ser paciente e longânimo, crendo firmemente no poder inalterável de Cristo. 7. Não deve ter medo de enfrentar o sofrimento ou aflição por amor do nome de Jesus. 8. Fará o trabalho de um evangelista, espalhando as boas novas da salvação.

Saudações Finais (6-8) - Paulo escreve que o tempo da sua partida é chegado. A palavra grega usada

aqui para partida é “ANALUSIS” que tem vários sentidos (v.6). Esta palavra geralmente era usada referido-se a bois que tinham seu jugo e carro tirados, após um dia de trabalho. Paulo havia trabalhado o “dia” todo e estava ansiando pelo seu descanso eterno.

A palavra também é usada para descrever a libertação das cadeias ou grilhões e num sentido literal a morte libertaria Paulo das algemas da prisão.

Outro sentido em que esta palavra era usada, era o de soltar as amarras de um navio no cais, deixando-o livre para iniciar sua viagem. Do mesmo modo Paulo estava pronto para deixar os mares da terra e navegar

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para o céu. O apóstolo havia findado uma carreira e estava preparado para receber a incorruptível coroa que

somente Jesus pode dar aos fiéis.

As últimas palavras de Paulo (13-22) - A epístola de II Timóteo revela tanto a vitória da fé, que é

difícil aceitar que a mesma foi escrita numa prisão. O pedido do apóstolo para que trouxesse sua capa e pergaminhos, nos revela que sua situação física era naturalmente ruim. O apóstolo em sua dedicação ao Senhor, aproveita até a última oportunidade para pregar (v.17).

Segundo alguns eruditos, Timóteo que estava em Éfeso a 1.600 Km de distância não chegou antes de Paulo ser executado, pois o julgamento estava previsto para o inverno seguinte e teria acontecido em junho do mesmo ano. Outros argumentam que ele estaria preso em Éfeso e por isso não atendeu ao chamado. Todavia não sabemos com certeza o que de fato aconteceu.

Timóteo segundo a tradição foi martirizado vinte anos mais tarde em Éfeso. “E assim saiu deste mundo o maior missionário. Como aconteceu com Jesus, João Batista e muitos

profetas e apóstolos, sua vida lhe foi tirada... mas sua voz continua viva!” (Stanley Ellison. Bible Workbook, vol 9, pag 147)

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