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Equações Diferenciais
Matemática Aplicada
Ana Duarte e Luís RendasRevisto em 2004/2005
Conteúdo
1 Introdução 21.1 O que é uma equação diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . 21.2 Soluções de uma equação diferencial . . . . . . . . . . . . . . . 31.3 Interpretação geométrica de uma equação diferencial e das
suas soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51.4 Problemas de valores iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2 Equações de 1a ordem para as quais existem soluções exactas 72.1 Equação linear de 1a ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72.2 Equação de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92.3 Equação diferencial total exacta . . . . . . . . . . . . . . . . . 112.4 Equação de variáveis separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . 142.5 Equações homogéneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3 Edo’s lineares de ordem n, com coeficientes constantes 183.1 Resolução da equação homogénea . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1.1 Caso particular: edo’s lineares de 2a ordem com coefi-cientes constantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1.2 Caso geral: edo’s lineares de ordem n com coeficientesconstantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 Solução geral da equação completa . . . . . . . . . . . . . . . 223.3 Obtenção da solução particular da equação completa . . . . . 22
3.3.1 Casos em que f(x) assume formas especiais . . . . . . 223.3.2 Caso geral: Método das Constantes Arbitrárias de La-
grange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1 1/Agosto/2005
1 Introdução
A teoria das equações diferenciais constitui um dos campos mais importantesda matemática dos nossos dias, pois encontra aplicações em todos os ramosda ciência e da técnica.
A história das equações diferenciais remonta ao século XVII quando Newton,Leibniz e Bernoulli resolveram algumas equações diferenciais simples surgidasem problemas de geometria e mecânica.
Estas primeiras descobertas pareciam sugerir que as soluções de todasas equações diferenciais podiam ser expressas por funções elementares docálculo.
Durante o século XVIII métodos mais sistemáticos de resolução de equa-ções diferenciais foram desenvolvidos por Euler, Lagrange e Laplace, co-meçando a ficar claro que poucas equações diferenciais podiam ser resolvidaspor métodos elementares; daí que uma das grandes preocupações passou a serencontrar condições de existência e unicidade de soluções,1 e deduzir proprie-dades da solução através da análise da própria equação diferencial (análisequantitativa).
Em 1841, Liouville provou que, em certos casos, não é possível obter asolução de uma equação diferencial por métodos elementares mesmo sabendoque a solução existe e é única. Daí a importância da análise quantitativa edos métodos numéricos em equações diferenciais.
No que se segue, começaremos por introduzir a noção de equação dife-rencial e fixar alguma da terminologia habitualmente usada. Depois veremoscomo resolver algumas equações de 1a ordem e apresentaremos as técnicaspara encontrar as soluções de equações lineares de ordem n com coeficientesconstantes.
1.1 O que é uma equação diferencial
Definição 1 Chama-se equação diferencial a uma equação em que a incóg-nita é uma função (variável dependente) de uma ou mais variáveis (indepen-dentes), envolvendo derivadas da variável dependente em relação a uma oumais variáveis independentes.
Exemplo 1
1. xy′′ + 2y′ + 3xy = ex, com y = f(x).
2. 4d3xdt3
+ d2xdt2
− 5x2 = 0, com x = g(t).
1O primeiro teorema de existência de soluções para uma equação diferencial foi esta-belecido em 1820 por Cauchy.
2 1/Agosto/2005
3. ∂x∂t
+ ∂x∂s
= x2, com x = φ(t, s).
4. ∂2v∂x2
+ 2∂2v∂y2
+ 6∂2v∂t2
= 0, com v = ψ(x, y, t).
Definição 2 Uma equação diferencial diz-se ordinária2 se a incógnita éuma função de uma só variável. Caso contrário, a equação diz-se com deri-
vadas parciais.
Exemplo 2 No exemplo 1, as equações (a) e (b) são equações diferenciaisordinárias e as equações (c) e (d) são equações com derivadas parciais.
Definição 3 Uma equação diferencial diz-se de ordem n sen for a derivadade maior ordem das derivadas nela envolvidas.
Exemplo 3 No exemplo 1, (a) e (d) são de 2a ordem, (b) é de 3a ordem e(c) de 1a ordem.
Definição 4 Uma equação diferencial ordinária de ordem n diz-se linear seé da forma
a0(x)dny
dxn+ a1(x)
dn−1y
dxn−1+ ...+ an−1(x)
dy
dx+ an(x)y = b(x),
onde a0(x), a1(x), ..., an(x) e b(x) são funções reais de variável real, sendoa0(x) não idênticamente nula.
Exemplo 4 No exemplo 1, (a) é uma equação diferencial ordinária linear de2a ordem e (b) não é uma equação diferencial linear por aparecer x2 (que éneste caso o quadrado da variável dependente, x = g(t)).
Definição 5 Uma equação diferencial linear diz-se de coeficientes cons-
tantes, se os coeficientes a0(x), a1(x), . . . , an(x) são funções constantes;caso contrário diz-se de coeficientes variáveis.
1.2 Soluções de uma equação diferencial
Definição 6 Considere-se a equação diferencial ordinária de ordem n,
F(x, y, y′, y′′, ...y(n)
)= 0, (1)
onde F é uma função real de n+ 2 variáveis.
2É costume utilizar a abreviatura edo quando nos referimos a uma equação diferencialordinária.
3 1/Agosto/2005
1. Uma função f definida num intervalo I, com derivadas de ordem nnesse intervalo, diz-se solução da equação diferencial se satisfazas seguuintes condições:
(a) F[x, f(x), f ′(x), f ′′(x), ..., f (n)(x)
]está definida para todo o x per-
tencente ao intervalo I.
(b) F[x, f(x), f ′(x), f ′′(x), ..., f (n)(x)
]= 0, para todo o x pertencente
ao intervalo I.
2. Uma relação g(x, y) = 0 é chamada uma solução implícita da equaçãodiferencial se define implicitamente uma função f nalgum intervalo I,que seja solução de (1) no sentido atribuido em (a).
Exemplo 5 A equação diferencial y′ = 2x é do tipo de equações mais simplesque existem. Resolver esta equação consiste apenas em determinar umafunção y = f(x) cuja derivada seja igual a 2x. Assim, uma família desoluções desta equação será
y = x2 + C,
em que C é um parâmetro real.
Exemplo 6 A função f(x) = 2 sinx+ 3 cosx é uma solução da equação
d2y
dx2+ y = 0
em todo o IR. De facto, f ′(x) = 2 cosx − 3 sinx e f ′′(x) = −2 sinx −3 cosx,donde, substituindo na equação dada y′′ por f ′′(x) e y por f(x),obtém-se
−2 sinx− 3 cosx+ 2 sinx+ 3 cosx = 0,∀x ∈ R.
Exemplo 7 A relação x2 + y2 = 25 define implicitamente uma solução daequação diferencial x+y dy
dx= 0 no intervalo ]−5, 5[ . De facto, neste intervalo
aquela relação define duas funções
f1(x) =√25− x2 e f2(x) = −
√25− x2
que satisfazem a equação dada.
Exercício 1 Prove que:
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1. f(x) = 11+x2 é uma solução da equação diferencial
(1 + x2)d2y
dx2+ 4x
dy
dx+ 2y = 0
no intervalo a < x < b;
2. x3 + 3xy2 = 1 define uma solução implicita da equação diferencial
2xydy
dx+ x2 + y2 = 0
no intervalo 0 < x < 1;
3. Toda a função f(x) = 2 + Ce−2x2
, onde C é uma constante arbitrária,é solução da equação diferencial dy
dx+ 4xy = 8x.
1.3 Interpretação geométrica de uma equação diferen-
cial e das suas soluções
A equação diferencial ordinária de 1a ordem
y′ = f(x, y) (2)
pode ser interpretada geometricamente como definindo um declive f(x, y)em cada ponto (x, y) no qual f está definida. Supondo que (2) admite umafamília de soluções
y = F (x,C),
em que C é uma constante real, esta igualdade corresponde, geometrica-mente, a uma família de curvas no plano XOY , cujos declives em cada pontosão dados pela equação (2). Estas curvas são designadas habitualmente porcurvas integrais da equação (2).
Exemplo 8 Consideremos de novo a equação diferencial y′ = 2x. Estaequação pode ser interpretada como definindo, em cada ponto (x, y), o declivedos gráficos de y = x2 + C, em que C é uma constante arbitrária. Estasfunções são representadas geometricamente por uma família de parábolas, asquais são as curvas integrais da equação diferencial dada (ver figura 1).
Exercício 2 Construa as curvas integrais da equação y′ = 1 + y2.
5 1/Agosto/2005
420-2-4
10
8
6
4
2
0 X
Y
Figura 1: Exemplo de curvas integrais.
1.4 Problemas de valores iniciais
A equação diferencial y′ + 4xy = 8x admite uma família de soluções
y = 2 + Ce−2x2 (3)
em que C uma constante arbitrária.O problema que consiste em determinara função y(x) tal que {
dy
dx+ 4xy = 8x
y(0) = 3, (4)
diz-se um problema de valores iniciais (ou de condições iniciais). Nestecaso tem-se que a função y = 2 + e−2x2
é solução do problema (4) visto que,fazendo x = 0 e y = 3 em (3), vem C = 1.
Definição 7 Considere-se a equação diferencial de 1a ordem
y′ = f(x, y), (5)
onde f é uma função definida num rectângulo abertoD ⊂ IR2 e seja (x0, y0) ∈D. O problema de valores iniciais associado a (5) consiste em determinaruma solução y(x) desta equação (definida num intervalo real que contenhax0) que satisfaça y(x0) = y0. Geralmente este problema escreve-se de formaabreviada do seguinte modo: {
dy
dx= f(x, y)
y(x0) = y0. (6)
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De notar que, geometricamente, o problema de valores iniciais consistena determinação da curva integral da equação que passa pelo ponto (x0, y0).
A questão que naturalmente se coloca é a de saber se, dado um problemade valores iniciais, existe solução e se esta é única. O teorema seguinte, queapresentaremos sem demonstração, estabelece as condições que garantem aexistência e a unicidade da solução de um problema de valores iniciais.
Teorema 1 (Existência e Unicidade) Considere-se o problema de valo-res inicias (6) e suponha-se que a função f(x, y) satisfaz as seguintes condi-ções:
1. f é contínua num aberto D ⊂ IR2;
2. ∂f
∂ycontínua em D.
Então, para todo o (x0, y0) ∈ D, existe uma única solução y = y(x) daequação diferencial num intervalo [x0 − h, x0 + h], com h > 0, satisfazendoy(x0) = y0.
Exemplo 9 Considere-se o seguinte problema de valores iniciais{y′ + 4xy = 8xy(0) = 3
.
Como f(x, y) = 8x− 4xy tem-se que f(x, y) e ∂f
∂y= 4x são funções contínuas
em IR2. Então, existe uma única solução y = y(x) tal que y (0) = 3, definidaem [−h, h], com h > 0. Como vimos anteriormente, a solução do problemanas condições indicadas é a função y = 2 + e−2x2
, que se encontra definidaem IR.
2 Equações de 1a ordem para as quais exis-
tem soluções exactas
2.1 Equação linear de 1a ordem
Definição 8 Uma equação diferencial de 1a ordem diz-se linear se pode serescrita na forma
dy
dx+A(x)y = B(x)
em que A e B são funções contínuas num intervalo I. Se B (x) = 0 em I aequação diz-se homogénea.
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A expressão anterior diz-se forma canónica de uma edo linear de 1a ordem.
Teorema 2 Sejam A(x) e B(x) funções contínuas num intervalo real I.Então, uma família de soluções da equação y′ +A(x)y = B(x) é dada por:
y = e−P [A(x)]{P[eP [A(x)]B(x)
]+ C
},
onde C é uma constante arbitrária e P designa primitiva.
Dem. Consideremos a equação diferencial y′ +A(x)y = B(x). Multipli-cando ambos os membros por eP [A(x)], obtém-se
eP [A(x)] dy
dx+A(x)eP [A(x)]y = eP [A(x)]B(x). (7)
O primeiro membro é a derivada de eP [A(x)]y. Assim, (7) escreve-se na forma(eP [A(x)].y
)′= eP [A(x)]B(x)
donde, primitivando ambos os membros, sai que
eP [A(x)]y = P[eP [A(x)]B(x)
]+ C,
em que C é uma constante arbitrária. Finalmente, multiplicando ambos osmembros desta última igualdade por e−P [A(x)], vem
y = e−P [A(x)].{P[eP [A(x)]B(x)
]+ C
},
como se queria.
Exemplo 10 Resolver a equação diferencial dy
dx+ 2xy = 2xe−x2
.Estamos na presença duma equação diferencial linear de 1a ordem, em queA(x) = 2x e B(x) = 2xe−x2
. Logo, pelo teorema anterior,
y = e−P (2x){P[eP (2x)2xe−x2
]+ C
}= e−x2
[P(ex
2
2xe−x2)+ C
]= e−x2
. [P (2x) + C] = e−x2(x2 + C).
Exercício 3 Resolver o problema de valores iniciais y′ + 2xy = e−x2 sec4 x,
tal que y(0) = 1.[R : y(x) = e−x2(tgx+ 1
3tg3x+ 1)
].
Exercício 4 Determinar a solução geral das seguintes equações diferenciais:
1. dy
dx+ y
x= 2x cosx.
[R : y(x) = 2x sinx+ 4 cosx− 4
xsinx+ C
x
].
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2. (1 + x)y′ + y = 0.[R : y(x) = C
1+x
].
Exercício 5 Admitindo que o declive de uma curva em qualquer ponto (x, y)é 2x+3y, determine a equação da curva supondo que passa pelo ponto
(0, 1
3
).[
R : y(x) = 59e3x − 2
3x− 2
9
].
Exercício 6 A taxa de crescimento radioactivo de uma substância é pro-porcional à massa existente. Supondo que metade da massa se desintegrouao fim de 1500 anos, determine:
1. que percentagem de massa original restará ao fim de 4500 anos? [R : 12, 5%] .
2. ao fim de quantos anos restará 110
damassa original?[R : 1500 ln 10
ln 2≈ 4983
].
2.2 Equação de Bernoulli
Definição 9 Chama-se equação de Bernoulli3 a uma equação da forma
dy
dx+A(x)y = B(x) ya,
em que A e B são funções contínuas num intervalo real I e a é uma constantereal.
Teorema 3 Seja a �= 0 e a �= 1. A mudança de variável v = y1−a transformaa equação de Bernoulli numa equação linear de 1a ordem em v.
Dem. Multiplicando ambos os membros da equação por y−a, obtém-se
y−a dy
dx+A(x) y1−a = B(x). (8)
Por outro lado, da mudança de variável v = y1−a sai que
dv
dx= (1− a)y−a dy
dx⇔ y−a dy
dx=
1
1− a
dv
dx.
3Porque a sua resolução foi proposta por Jakob Bernoulli (1654—1705), matemáticosuiço, professor em Basileia, conhecido pelas suas contribuições para as teorias da elastici-dade e das probabilidades. O método para resolver a equação de Bernoulli foi descobertopor Leibniz em 1696. Entre os discípulos Jakob Bernoulli contavam-se o seu sobrinhoNiklaus Bernoulli (1687—1759), conhecido pelos seus contributos para as teorias das pro-babilidades e das séries, e o seu irmão mais novo Johann Bernoulli (1667—1748), que teveuma influência profunda no desenvolvimento da análise matemática. O filho deste último,Daniel Bernoulli (1700—1705), é conhecido pelos seus trabalhos na teoria cinética dos gases.
9 1/Agosto/2005
Substituindo esta última expressão em (8) obtém-se
1
1− a
dv
dx+A(x)v = B(x) ⇔ dv
dx+ (1− a)A(x) v = (1− a)B(x),
ou seja, a equação de Bernoulli foi transformada numa equação linear de 1a
ordem.
Observação 1 De notar que, se a = 0 ou a = 1, a equação de Bernoulli éuma equação linear de 1a ordem.
Exemplo 11 Resolver a equação diferencial
(1 + x2)dy
dx+ xy = x3y3.
Dividindo ambos os membros por 1 + x2, vem
dy
dx+
x
1 + x2y =
x3
1 + x2y3.
Trata-se, assim, de uma equação de Bernoulli em que a = 3. Multiplicandoambos os membros por y−3 obtém-se
y−3 dy
dx+
x
1 + x2y−2 =
x3
1 + x2
e, fazendo y−2 = v, vem
−1
2
dv
dx+
x
1 + x2v =
x3
1 + x2,
ou seja,dv
dx− 2x
1 + x2v = − 2x3
1 + x2,
atendendo a que v′ = −2y−3y′. Consequentemente, está-se em presença deuma equação linear de 1a ordem, ficando a sua resolução ao cuidado do leitor.
Exercício 7 Resolver as seguintes equações diferenciais:
1. y′ cosx+ y senx = −y3.[R: y (x) =
1
cos2 x(2 sinx+ C) e y (x) = 0)
].
2. dxdt
= ax− bx2.[R : x (t) = a/(Cae−at + b), x (t) = 0 se a �= 0.Se a = 0, x (t) =
1
bt+ C
].
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2.3 Equação diferencial total exacta
Definição 10 A expressão M(x, y)dx + N(x, y)dy é chamada uma forma
diferencial total exacta num abertoD ⊂ IR2 se existe uma função, F (x, y),tal que o diferencial dF (x, y) é igual à expressão dada em todos os pontos deD, isto é,
dF (x, y) =∂F
∂xdx+
∂F
∂ydy = M(x, y)dx+N(x, y)dy
em que, evidentemente, ∂F∂x
= M(x, y) e ∂F∂y
= N(x, y).
Definição 11 Uma equação diferencial da forma
y′ = −M (x, y)
N (x, y)
em que M e N são funções contínuas com derivadas parciais num abertoD ⊆ IR2, N �= 0 tal que a forma diferencial
M(x, y)dx+N(x, y)dy
é exacta, diz-se uma equação diferencial total exacta ou simplesmenteequação total exacta.
Exemplo 12 A equação y2dx+ 2xydy = 0 é uma equação diferencial totalexacta pois y2dx+ 2xydy é uma forma diferencial total exacta. Com efeito,se considerarmos F (x, y) = xy2 temos ∂F
∂x= y2 e ∂f
∂y= 2xy e, portanto,
dF (x, y) = y2dx+ 2xydy.
Teorema 4 Considere-se a equação
M(x, y)dx+N(x, y)dy = 0 (9)
onde M(x, y) e N(x, y) são funções de classe C1 num rectângulo D = ]a, b[×]c, d[ ⊂ IR2. É condição necessária e suficiente para que a equação (9) sejatotal exacta que
∂M(x, y)
∂y=
∂N(x, y)
∂x, ∀(x, y) ∈ D. (10)
11 1/Agosto/2005
Dem. Comecemos por provar a condição necessária, isto é, se (9) é totalexacta, então (10) é válida.
Com efeito, se (9) é total exacta, existe uma função F (x, y) definida emD tal que
∂F (x, y)
∂x= M(x, y) e
∂F (x, y)
∂y= N(x, y).
Consequentemente,
∂M(x, y)
∂y=
∂
∂y
(∂F (x, y)
∂x
)=
∂2F (x, y)
∂y∂x(11)
e∂N(x, y)
∂x=
∂
∂x
(∂F (x, y)
∂y
)=
∂2F (x, y)
∂x∂y. (12)
Como as derivadas parciais de M e N são contínuas em D, pelo teorema deSchwarz, verifica-se que
∂2F (x, y)
∂y∂x=
∂2F (x, y)
∂x∂y, ∀(x, y) ∈ D,
e, portanto, de (11) e (12) sai que
∂M(x, y)
∂y=
∂N(x, y)
∂x, ∀(x, y) ∈ D.
Provemos agora a condição suficiente isto é, que (10) implica que (9) é totalexacta.
Pretende-se então determinar uma função F (x, y) definida em D tal que{∂F (x,y)
∂x= M(x, y)
∂F (x,y)∂y
= N(x, y), ∀(x, y) ∈ D. (13)
Da primeira equação de (13) conclui-se que F (x, y) deve satisfazer
F (x, y) = PxM(x, y) + φ(y) (14)
em que Px designa a primitiva em ordem a x e φ é uma qualquer função dey. Então, para que a segunda equação de (13) se verifique é obrigatório quese tenha
∂
∂y[PxM(x, y) + φ(y)] = N(x, y),
ou seja,
φ′(y) = N(x, y)− ∂
∂y[PxM(x, y)] . (15)
12 1/Agosto/2005
Vejamos que φ′(y) é uma função apenas da variável y, para o que bastaverificar que a sua derivada parcial em ordem a x é nula. De facto,
∂
∂x
[N(x, y)− ∂
∂y(PxM(x, y))
]=
∂N(x, y)
∂x− ∂2
∂x∂y(PxM(x, y))
=∂M(x, y)
∂y− ∂N(x, y)
∂x= 0,
porque, por hipótese, ∂M(x,y)∂y
= ∂N(x,y)∂x
, ∀(x, y) ∈ D.
Então, como φ′(y) em é apenas função de y, obtemos por primitivação de(15) em ordem a y,
φ(y) = Py
[N(x, y)− ∂
∂y(PxM(x, y))
]+ C
em que C é uma constante real arbitrária. Substituindo esta expressão em(14) obtém-se
F (x, y) = PxM(x, y) + Py
[N(x, y)− ∂
∂y(PxM(x, y))
]+ C
o que prova que a equação (9) é total exacta pois F (x, y) foi construída demodo a verificar (13).
Teorema 5 Considere-se a equação
M(x, y)dx+N(x, y)dy = 0 (16)
onde M(x, y) e N(x, y) são funções de classe C1 num rectângulo D = ]a, b[×]c, d[ ⊂ R2. Então, se F (x, y) é uma função satisfazendo
∂F (x, y)
∂x= M(x, y) e
∂F (x, y)
∂y= N(x, y), (17)
uma familia de soluções de (16) é dada por
F (x, y) = C,
onde C é uma constante arbitrária.
Dem. Como a equação (16) é total exacta, existe F (x, y) tal que
dF (x, y) = M(x, y)dx+N(x, y)dy = 0,
isto é, dF (x, y) = 0, ou seja, F (x, y) = C , ∀(x, y) ∈ D.
13 1/Agosto/2005
Exemplo 13 Resolver a equação diferencial
(y3 + 2xy)dx+ (x2 + 3xy2)dy = 0 (18)
Sejam M(x, y) = y3 + 2xy e N(x, y) = x2 + 3xy2. Como ∂M(x,y)∂y
= ∂N(x,y)∂x
, a
equação diferencial é total exacta, ∀(x, y) ∈ IR2. Procuramos então F (x, y)tal que {
∂F (x,y)∂x
= y3 + 2xy∂F (x,y)
∂y= x2 + 3xy2
.
Da primeira igualdade sai que
F (x, y) = Px(y3 + 2xy) + φ(y) = y3x+ x2y + φ(y).
Derivando em ordem a y vem ∂F (x,y)∂y
= 3y2x+ x2 + φ′(y) e, atendendo a que∂F (x,y)
∂y= x2 + 3xy2, vem
3y2x+ x2 + φ′(y) = x2 + 3xy2 ⇒ φ′(y) = 0 ⇒ φ(y) = D,
ondeD é uma constante arbitrária. Finalmente, substituindo φ(y) em F (x, y),obtém-se
F (x, y) = y3x+ x2y +D.
Então y3x+x2y+D = E (E é uma constante arbitrária), ou seja, y3x+x2y =C (em que C = E −D) é uma família de soluções de (18).
Exercício 8 Determinar as famílias de soluções de cada uma das seguintesequações diferenciais:
1. sin θ cosφdθ + sinφ cos θdφ = 0. [R : cosφ cos θ = C].
2. (x2 + y) dx+ (x− 2y) dy = 0.[R : x3
3+ xy − y2 = C
].
3. (y3 − x) dy
dx= y.
[R : y4
4− xy = C
].
4. (x− y2x) dx+ (y − x2y) dy = 0. [R : (1− x2) (1− y2) = C].
2.4 Equação de variáveis separáveis
Definição 12 Uma equação da forma
dy
dx= A (x)B (y) , (19)
comA eB funções contínuas, diz-se uma equação de variáveis separáveis.
14 1/Agosto/2005
Se y0 é um zero da função B então a recta y = y0 é uma solução particularde 19. Com efeito,
dy0dx
= 0 e A (x)B (y0) = 0.
Se B (y) �= 0, então
dy
dx= A (x)B (y) ⇔ −A (x) dx+
1
B (y)dy = 0.
Ora a equação diferencial
−A (x) dx+1
B (y)dy = 0 (20)
é total exacta pois
∂
∂y[−A (x)] =
∂
∂x
[1
B (y)
]= 0.
Para obter a família de soluções de (20) determina-se uma função U(x, y) talque {
∂U∂x
= −A (x)∂U∂y
= 1B(y)
. (21)
Da primeira igualdade de (21) segue-se imediatamente que
U(x, y) = Px (−A (x)) + τ(y). (22)
Então, ∂U∂y
= τ ′(y) e combinando esta igualdade com a segunda igualdade de
(21) conclui-se que
τ ′(y) =1
B (y)⇒ τ(y) = Py
(1
B (y)
).
Consequentemente, atendendo a (22), tem-se
U(x, y) = Px (−A (x)) + Py
(1
B (y)
).
donde, a solução geral da equação (20) é dada por U(x, y) = C.
Exemplo 14 Resolver a equação
dy
dx=
(x− 4)
x3
y4
(y2 − 3). (23)
15 1/Agosto/2005
Trata-se, evidentemente de uma equação de variáveis separáveis. Supondoy �= 0, obtém-se
x− 4
x3dx− y2 − 3
y4dy = 0 ⇔ (x−2 − 4x−3)dx+ (−y−2 + 3y−4)dy = 0.
Então, a família de soluções desta última equação é
U(x, y) = C, (24)
em que
U(x, y) = Px(x−2 − 4x−3) + Py(−y−2 + 3y−4)
= −1
x+
2
x2+
1
y− 1
x3.
Como y = 0 anula B (y) = y4
(y2−3)a função y = 0 é uma solução particular do
problema que não é membro da família de soluções (24). é solução de (23)como se comprova facilmente se escrevermos esta equação na forma
dy
dx=
(x− 4)y4
x3(y2 − 3).
Tem-se, assim, que esta solução foi perdida no processo de separação dasvariáveis.
Exercício 9 Resolver as seguintes equações diferenciais:
1. y′ = e2x+y.[R : −e−y − e2x
2= C
].
2. (1 + y2) dx+ (1 + x2) dy = 0. [R : arctg x+ arctg y = C].
3. (y − 2)dx+ x2dy = 0.[R : ln |y − 2| − 1
x= C e y = 2
].
4. (1 + x2)dy −√1− y2dx = 0. [R : arcsin y − arctg x = C e y = ±1].
2.5 Equações homogéneas
Definição 13 Uma equação diferencial ordinária de 1a ordem diz-se ho-mogénea se pode ser escrita na forma
dy
dx= g
(yx
), (25)
em que g (t) é uma função contínua num intervalo I.
16 1/Agosto/2005
De referir que a função g(y
x
)é homogénea4 de grau zero nas variáveis x
e y.
Teorema 6 A mudança de variável, y = vx, transforma a equação homogé-nea de 1a ordem numa equação com variáveis separáveis.
Dem. Sendo y = vx, tem-se y′ = xv′ + v e v = y
x. Substituindo na
equação (25), obtém-se
xdv
dx+ v = g(v) ⇔ x
dv
dx+ (v − g(v)) = 0 ⇔ 1
v − g(v)dv − 1
xdx = 0,
que é uma equação com variáveis separáveis, cuja família de soluções é
Pv
(1
v − g(v)
)+ Px
(1
x
)= C.
Exemplo 15 Resolver a equação
(x+ y)dx+ (x− y)dy = 0. (26)
Resolvendo a equação em ordem a dy
dx, obtemos
dy
dx=
x+ y
y − x⇔ dy
dx=
1 + y
xy
x− 1
.
O último membro da 2a equação é da forma dy
dx= g
(y
x
), logo (26) é ho-
mogénea. Fazendo a mudança de variável y = vx obtém-se, atendendo a quey′ = xv′ + v,
xdv
dx+ v =
1 + v
v − 1⇔ x
dv
dx=
1 + v
v − 1− v ⇔ x
dv
dx=
v2 − 2v − 1
1− v,
que é uma equação de variáveis separáveis, cuja resolução fica ao cuidado doleitor.
Exercício 10 Resolver as seguintes equações diferenciais:
1. (2xy + 3y2)dx− (2xy + x2)dy = 0.[R : y
x2+ y2
x3= C
].
2. (x tg y
x+ y)dx− xdy = 0.
[R : sen y
x= Cx
].
4Uma função g diz-se homogénea de grau n na variável x se g (λx) = λng (x).
17 1/Agosto/2005
3 Edo’s lineares de ordem n, com coeficientes
constantes
Nesta secção apresentaremos somente os aspectos práticos essenciais paraas aplicações, relativos à resolução de equações lineares de ordem n comcoeficientes constantes. Para um tratamento pormenorizado deste tema, oleitor pode consultar, por exemplo, [1], [4] ou [6].
Consideremos a equação
a0y(n) + a1y
(n−1) + ...+ an−1y′ + any = f(x) (27)
em que a0, a1, ..., an são constantes reais. A equação
a0y(n) + a1y
(n−1) + ...+ an−1y′ + any = 0 (28)
é chamada a equação homogénea associada à equação (27).Considerando o operador de derivação D que a cada função y faz cor-
responder a sua derivada y′, isto é, tal que Dy = y′, a equação (27) podeescrever-se na forma
a0Dny + a1D
n−1y + ...+ an−1Dy + anD0y = f(x), (29)
em que Dn, Dn−1, D, D0 têm o seguinte significado:
D0y = y, Dy = y′, . . . , Dny = y(n).
Assim, de (29), segue-se que (27) pode representar-se por
(a0Dn + a1D
n−1 + ...+ an−1D + an)y = f(x)
ou, equivalentemente, porP (D)y = f(x),
onde P (D) é o polinómio
P (D) = a0Dn + a1D
n−1 + ...+ an−1D + an.
P (D) é designado por polinómio característico da equação (28). A razãoda consideração deste polinómio deve-se a que a solução geral (isto é, a famíliade soluções) de (28) pode ser obtida a partir do conhecimento dos zeros deP (D); encontrada a solução geral de (28), ela possibilita, como veremos, aobtenção da solução geral de (27).
Vamos então começar por ver como se resolve a equação homogénea (28),a qual se pode agora escrever na forma P (D)y = 0.
18 1/Agosto/2005
3.1 Resolução da equação homogénea
3.1.1 Caso particular: edo’s lineares de 2a ordem com coeficientesconstantes
Consideremos a equação
ay′′ + by′ + cy = 0 (30)
a que corresponde o polinómio característico P (D) = aD2 + bD + c. Então,três situações distintas podem colocar-se:
1a Situação P (D) tem 2 zeros reais e distintos, r1 e r2.
Então, a solução geral de (30) é dada por
y = C1er1x + C2e
r2x,
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias.
Exemplo 16 Seja a equação y′′ − y′ − 6y = 0. Como P (D) = D2 −D− 6 e
D2 −D − 6 = 0 ⇒ D = 3 ∨D = −2
tem-se que a solução geral da equação dada é
y = C1e3x + C2e
−2x,
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias.
2a Situação P (D) tem 1 zero real r de multiplicidade 2.
Então, a solução geral de (30) é dada por
y = erx(C1x+ C2),
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias.
Exemplo 17 Seja y′′ − 6y′ + 9y = 0. Como P (D) = D2 − 6D + 9 e
D2 − 6D + 9 = 0 ⇒ (D − 3)2 = 0 ⇒ D = 3, com mult. 2,
tem-se que a solução geral da equação dada é
y = e3x(C1x+ C2),
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias.
19 1/Agosto/2005
3a Situação P (D) tem 2 zeros complexos conjugados, α± βi.
Então, a solução geral de (30) é dada por
y = eαx(C1 cosβx+ C2 senβx),
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias.
Exemplo 18 Seja y′′ − y′ + y = 0. Como P (D) = D2 −D + 1 e
D2 −D + 1 = 0 ⇒ D =1
2± i
√3
2,
tem-se que a solução geral da equação dada é
y = e1
2x
(C1 cos
√3
2x+ C2 sen
√3
2x
)
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias.
3.1.2 Caso geral: edo’s lineares de ordem n com coeficientes cons-tantes
Consideremos a equação
a0y(n) + a1y
(n−1) + ...+ an−1y′ + any = 0 (31)
que tem como polinómio característico
P (D) = a0Dn + a1D
n−1 + ...+ an−1D + an.
Diferentes situações podem colocar-se relativamente às raízes deste polinó-mio:
1a Situação P (D) tem n zeros reais e distintos, r1, r2, ..., rn.
Então, a solução geral de (31) é dada por
y = C1er1x + C2e
r2x + ...+ Cnernx,
onde C1, C2, . . . , Cn são constantes arbitrárias.
20 1/Agosto/2005
Exemplo 19 A equação diferencial y′′′ − 7y′ + 6y = 0 tem como polinómiocaracterístico P (D) = D3 − 7D + 6. Ora P (D) = (D − 1)(D − 2)(D + 3),admitindo, portanto, os zeros 1, 2 e −3 todos reais e distintos. A soluçãogeral da equação dada será então
y = C1ex + C2e
2x + C3e−3x,
onde C1, C2, . . . , Cn são constantes arbitrárias.
2a Situação P (D) tem m zeros reais e múltiplos, r1, r2, ...rm (m < n) demultiplicidade k1, k2, ..., km, respectivamente.
Então a solução geral de (31) é dada por
y = er1xPk1−1(x) + er2xPk2−1(x) + · · ·+ ermxPkm−1(x)
onde Pki−1(x), i = 1, ...,m, é um polinómio de grau ki − 1 com coeficientesarbitrários.
Exemplo 20 Supondo que o polinómio característico de uma equação dife-rencial é P (D) = (D+3)(D−2)2, os seus zeros são 2 e −3 de multiplicidade2 e 1, respectivamente. A solução geral da equação será então
y = C1e−3x + C2e
2x + C3xe2x,
onde C1, C2 e C3 são constantes arbitrárias.
3a Situação P (D) admite zeros complexos.
Suponhamos que P (D) admite o zero α + βi com multiplicidade k. EntãoP (D) admite também o zero α−βi com a mesma multiplicidade. A parte dasolução geral correspondente a estes zeros α ± βi deve conter 2k constantesarbitrárias e é dada por
eαx(Pk−1(x) cosβx+Qk−1(x) senβx),
onde Pk−1(x) e Qk−1(x) são polinómios de grau k − 1 com coeficientes arbi-trários.
Exemplo 21 Considere-se a equação y′′′ − 2y′′ + 4y′ − 8y = 0. O respectivopolinómio característico P (D) = D3 − 2D2 + 4D − 8 admite como zeros 2,2i e −2i, todos de multiplicidade 1. Então, a solução geral é
y = C1e2x + C2 cos 2x+ C3 sen 2x,
onde C1, C2 e C3 são constantes arbitrárias.
21 1/Agosto/2005
3.2 Solução geral da equação completa
Até agora referimos apenas a forma de obter as soluções gerais de equaçõesdiferenciais lineares homogéneas. Vamos seguidamente relacionar as soluçõesda equação homogénea (28) com as soluções da equação completa (27).
Teorema 7 A solução geral de uma equação diferencial linear completa, y,é dada pela soma da solução geral da equação homogénea associada, ysgh,com uma solução particular da equação completa, yspc, isto é,
y = ysgh + yspc.
Dem. Uma vez que yspc satisfaz (27), tem-se que
P (D)yspc = f(x). (32)
Sendo y uma qualquer solução de (27) é igualmente válido que
P (D)y = f(x). (33)
Subtraindo (33) de (32) obtém-se
P (D)(yspc − y) = 0,
o que mostra que yspc − y é uma solução da equação homogénea associada(28). Consequentemente, como y é qualquer, conclui-se que yspc − y = ysgh,ou seja,
y = ysgh + yspc,
como se queria.Em seguida serão apresentados alguns métodos para determinar uma so-
lução particular da equação completa (27).
3.3 Obtenção da solução particular da equação com-
pleta
3.3.1 Casos em que f(x) assume formas especiais
1o Caso f(x) = eαxQn(x), em que Qn(x) é um polinómio de grau n.
Neste caso uma solução particular de (27) é dada por
yspc =
{eαxRn(x), se α não é zero de P (D)xkeαxRn(x), se α é zero de P (D) de multiplicidade k
,
em que Rn(x) designa um polinómio de grau n, de coeficientes arbitrários.
22 1/Agosto/2005
Exemplo 22 Determinar a solução geral da equação y′′ − 3y′ + 2y = ex.O polinómio característico P (D) = D2 − 3D + 2 tem como zeros D = 1 eD = 2. Logo
ysgh = C1ex + C2e
2x.
Como f(x) = ex, tem-se que α = 1 donde,
yspc = xAex,
atendendo a que 1 é zero do polinómio característico de multiplicidade k = 1.Para determinar a constante A, basta substituir yspc, y
′spc e y′′spc na equação
diferencial dada, obtendo-se então,
(2 + x)Aex − 3(1 + x)Aex + 2xAex = ex ⇒ A = −1.
Assim, yspc = −xex, donde a solução geral da equação dada é
y = C1ex + C2e
2x − xex,
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias.
2o caso f(x) = eαx [Qn(x) cosβx+Rm(x) senβx] ,em que Qn(x) e Rm(x)são polinómios de graus m e n, respectivamente.
Neste caso uma solução particular de (27) é dada por
yspc =
eαx [SN(x) cosβx+ TN(x) senβx] , se α± βi não é zero de P (D)
xkeαx [SN(x) cosβx+ TN(x) senβx] ,se α± βi é zero de P (D)de multiplicidade k
,
em que SN(x) e TN(x) são polinómios de grau N, com N = max {n,m}.Exemplo 23 Resolver a equação y′′ − 2y′ + 10y = cos 3x.O polinómio característico terá como zeros D = 1± 3i. Logo
ysgh = ex (C1 cos 3x+ C2 sen 3x) .
Sendo f(x) = cos 3x, tem-se α = 0, β = 3, Qn(x) = 1 e Rm(x) = 0. Como1 ± 3i não são zeros do polinómio característico, a solução particular serádada por
yspc = A cos 3x+B sen 3x.
Calculando y′spc e y′′spc e substituindo na equação dada, obtém-se A = 137
eB = − 6
37. Consequentemente a solução geral da equação dada é
y = ex (C1 cos 3x+ C2 sen 3x) +1
37cos 3x− 6
37sen 3x.
23 1/Agosto/2005
3.3.2 Caso geral: Método das Constantes Arbitrárias de Lagrange
Vamos agora apresentar um método que permite determinar a solução geralda equação diferencial linear completa (27), qualquer que seja o tipo de funçãof(x) do segundo membro.
Suponha-se que a solução geral da equação homogénea (28) é
y = C1y1(x) + C2y2(x) + ...+ Cnyn(x)
em que C1, C2, . . . , Cn, são constantes arbitrárias. O método consiste em con-siderar estas constantes como funções de x e determinarC1(x), C2(x), ..., Cn(x)de modo que
y = C1(x)y1(x) + C2(x)y2(x) + ...+ Cn(x)yn(x)
seja solução da equação completa.Demonstra-se que as derivadas C ′
1(x), C′2(x), ..., C
′n(x), devem satisfazer
o seguinte sistema de n equações a n incógnitas, que é sempre possível edeterminado:
C ′1(x)y1(x) + C ′
2(x)y2(x) + ...+ C ′n(x)yn(x) = 0
C ′1(x)y
′1(x) + C ′
2(x)y′2(x) + ...+ C ′
n(x)y′n(x) = 0
...........................................................................
C ′1(x)y
(n−2)1 (x) + C ′
2(x)y(n−2)2 (x) + ...+ C ′
n(x)y(n−2)n (x) = 0
C ′1(x)y
(n−1)1 (x) + C ′
2(x)y(n−1)2 (x) + ...+ C ′
n(x)y(n−1)n (x) = f(x)
a0
Exemplo 24 Resolver a equação y′′ − 5y′ + 6y = ex.A solução geral da equação homogénea é y = C1e
2x+C2e3x. Vamos procurar
C1(x) e C2(x) de modo que
y = C1(x)e2x + C2(x)e
3x (34)
seja solução da equação dada. Com efeito, as derivadas C ′1(x) e C
′2(x) devem
satisfazer {C ′
1(x)e2x + C ′
2(x)e3x = 0
2C ′1(x)e
2x + 3C ′2(x)e
3x = ex.
Resolvendo este sistema e primitivando C ′1(x) e C ′
2(x) obtém-se{C1(x) = e−x + k1C2(x) = −1
2e−x + k2
.
24 1/Agosto/2005
Substituindo estas expressões em (34) tem-se, finalmente, a solução geral daequação dada,
y = k1e2x + k2e
3x + ex − 1
2ex.
Exercício 11 Resolver as seguintes equações diferenciais:
1. y′′ − 2y′ + 2y = 0. [R : y(x) = ex (A cosx+B sinx)].
2. 2y′′ + 3y′ = 0, y(0) = 1 e y′(0) = 1.[R : y = −2
3e−
3x2 + 5
3
].
Exercício 12 Determinar a solução geral de cada uma das seguintes equaçõesdiferenciais:
1. 3y′′ + 4y′ + y = e−x.[R : y = Ae−x +Be−
1
3x − x
2e−x
].
2. y′′′−7y′′+15y′−9y = x2.[R : y = Aex +Be3x + Cxe3x +
(−19x2 − 10
27x− 4
9
)].
Exercício 13 Sabendo que as funções ex e ex+sinx são soluções da equaçãodiferencial y(4) − 3y′′ − 4y = −6ex, determinar a sua solução geral. Qual aordem mínima que uma equação diferencial linear de coeficientes constan-tes pode ter para que as funções anteriores sejam duas soluções? Porquê?[R : y = Ae2x +Be−2x + C sinx+D cosx+ ex].
Exercício 14 Considere-se a equação diferencial linear de coeficientes cons-tantes y′′ + ay′ + by = 0 e suponha-se que ex cos 2x é uma solução. Deter-minar a e b e indicar a solução que satisfaz as condições iniciais y(0) = 2 ey′(0) = −1.
[R : y = −3
2ex sin 2x+ 2ex cos 2x
].
Exercício 15 Formar a equação diferencial de segunda ordem completa queadmite como polinómio característico (D − 3)2 e como solução particular(3x+ 1) ex. Determinar a solução que satisfaz as condições y(0) = 1 e y′(0) =−2. [R : y = −6xe3x + (3x+ 1)ex].
25 1/Agosto/2005
Referências
[1] Apostol, T., Calculus, Vols. 1 e 2, Reverté, 1975.
[2] Demidovitch, B., Problemas e exercícios de análise matemática, MIR,1977.
[3] Goode, S., An introduction to differential equations and linear algebra,Prentice-Hall, Inc.,1991.
[4] Piskounov, N., Cálculo diferencial e integral, Vol. 2, Edições Lopes daSilva, 1998.
[5] Ray Wile, C. e Barret, L. C., Advanced Engineering Mathematics,McGraw-Hill, 1982.
[6] Sarrico, C., Análise Matemática, leituras e exercícios, Gradiva, 1997.
[7] Segurado, M. A., Biomatemática, Vol II, Plátano Editora, 1980.
26 1/Agosto/2005
Exercícios propostos
Noções básicas
1. Verifique que as funções da forma φ (x) = − 1x+c
(c constante) são so-luções da equação
y′ = y2
em intervalos que não contenham −c.
2. Sabe-se que o modelo de crescimento populacional é dado pela equaçãodiferencial
y′ = y.
Prove que y = cex é solução desse modelo.
3. Prove que:
(a) y = x2 é solução da equação xy′ = 2y ∀x ∈ IR.
(b) y = ex + ax2 + b x+ c (a, b, c constantes) é solução da equação
y′′′ = ex
4. Mostre que:
(a) x2+y2 = 1 (y > 0) define implicitamente uma solução da equaçãodiferencial
x+ yy′ = 0.
(b) x2 − y2 = 1 define implicitamente uma solução de uma certaequação diferencial.
5. Construa as curvas integrais da equação
y′ = cosx.
6. Verifique se x4+ y4 = C define implicitamente uma família de soluçõesda equação diferencial
x3 + y3y′ = 0.
Determine a constante C de forma a que a condição inicial y(0) = 1seja satisfeita.
27 1/Agosto/2005
Equações diferenciais lineares de 1a ordem
1. Determine a solução geral das seguintes equações:
(a) y′ + 2y = e−x;
(b) xy′ − 2y = x3 cosx;
(c) y′ + 2xy = e−x2
;
(d) y′ + xexy = e(1−x)ex.
2. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais:
(a) x2 + xy′ = y y (1) = 0;
(b) y′ + y cosx = cosx y (0) = 1.
3. Suponha que desliga o aquecimento da sua casa todas noites 2 horasantes de se deitar (t = 0). Admita igualmente que a temperatura T , dacasa nesse instante, é 66◦F e que quando se deita esta já desceu para63◦F. Qual a temperatura esperada de manhã quando acorda, ao fimde 8 horas de sono, sabendo que a temperatura do ambiente exterior é32◦F e se manteve constante?
Note que a taxa de variação da diferença de temperatura entre o quartoe o ambiente exterior é proporcional a esta diferença.
4. Admitindo que o declive de uma curva em qualquer ponto (x, y) é2x+3y. Determine a equação da curva, supondo que passa pelo ponto(0, 1
3
).
5. Um trabalhador experimentado consegue produzir um máximo de 30peças por dia, numa determinada fábrica. A taxa de crescimento donúmero de peças y produzidas por um novo trabalhador ao fim de t diasé proporcional a (30− y). Determine o número de unidades produzidaspelo novo trabalhador em função de t.
6. Admita que a taxa de crescimento de uma população relativamente aotempo é proporcional à dimensão dessa população. Sabendo que em1987 existiam, num certo país, 10 milhões de habitantes e em 2000, 11milhões, determine a lei de crescimento da população e o número dehabitantes que existirão no ano 2100. Discuta a validade desta lei decrescimento.
28 1/Agosto/2005
7. Suponha que a taxa de crescimento de uma população relativamente aotempo é proporcional à dimensão dessa população. Admita, no entantoa existência uma taxa temporal C de migração, suposta constante.
(a) Determine a solução geral do problema anterior;
(b) Supondo que a população em 1969 e 1979 tinha respectivamente1 milhão e 2 milhões de habitantes, determine o número de ha-bitantes que deverão existir em 2003, admitindo que emigram dopaís 10000 habitantes anualmente.
8. A velocidade v de queda livre de um paraquedista de massa m emqueda livre satisfaz a seguinte equação diferencial
mdv
dt+ cv = mg
em que g representa a aceleração da gravidade e c > 0 a resistência doar. Admite-se g e c constantes e a utilização de unidades SI.
(a) Determine a solução geral do problema anterior;
(b) Qual a velocidade terminal de queda do paraquedista?
(c) Suponha que o paraquedista no instante inicial de queda se en-contra à velocidade mg
c. Qual será a sua velocidade passados 2
segundos?
(d) Supondo que c = 700 Ns
me v0 = 0 represente graficamente a velo-
cidade de queda do paraquedista. Qual a velocidade de queda aofim de 10 segundos.
Soluções
1a) y = e−x + Ce−2x; 1b) y = x2 sinx + Cx2; 1c) y = (x+ C) e−x2
; 1d)y = e(1−x)ex (x+ C); 2a) y = x − x2; 2b) y = 1; 3) T ≈ 53, 46◦F ; T =32 + 34e−0.046t; 4) y = −2
3x− 2
9+ 5
9e3x; 5) y = 30− Ce−kt;
Equação de Bernoulli
Resolva as seguintes equações diferenciais:
1. y + 2xy = 2y2ex2
;
2. y′ + 13y = 1
3(1− 2x) y4;
3. y′ − 2yex = 2√yex;
4. y′ − y cosx = y2 cosx.
29 1/Agosto/2005
Soluções
1) y = 1
ex2(C−2x)
; 2) y = 13√Cex−2x−1
; 3)√y + 1 = Cee
x
; 4)√y + 1 = Cee
x
;
Equação diferencial total exacta
Resolva as seguintes equações diferenciais:
1. (x3 + xy2) dx+ (x2y + y3) dy = 0;
2. x (2x2 + y2) + y (x2 + 2y2) y′ = 0;
3.(2x+ x2+y2
x2y
)dx = x2+y2
xy2dy;
4.(
sin 2xy
+ x)dx+
(y − sin2 x
y2
)dy = 0.
Soluções
1) x4 + 2x2y2 + y4 = C; 2) x4 + x2y2 + y4 = C; 3) x3y + x2 − y2 = Cxy; 4)sin2 x
y+ x2+y2
2= C.
Equação de variáveis separáveis
Resolva as seguintes equações separáveis:
1. yy′ + 25x = 0;
2. y′ = xy
2;
3. (1 + y2) dx+ (1 + x2) dy = 0;
4. ey (1 + x2) dy − 2x (1 + ey) dx = 0;
5. 2x√1− y2 = y′ (1 + x2).
Soluções
1) 25x2 + y2 = C; 2) −x2 + 4 ln |y| = C; 3) arctanx + arctan y = C; 4)ln(1+ey
1+x2
)= C; 4) ln (1 + x2)− arcsin y = C.
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Equações homogéneas
Integre as seguintes equações diferenciais:
1. xy′ =√x2 − y2 + y;
2. xy′ = y + x cos2 y
x;
3. xy′ = y (ln y − lnx).
Soluções
1) arcsin y
x− ln |x| = C; 2) tan y
x+ ln |x| = C; 3) ln
∣∣∣ ln y
x−1
x
∣∣∣ = C.
Edo´s lineares de ordem n com coeficientes constantes
1. Resolva:
(a) y′′ + y′ − 2y = 0;
(b) y′′ − 9y = 0;
(c) y′′ − 4y′ = 0;
(d) y′′ − 2y′ + y = 0;
(e) 3y′′ − 2y′ − 8y = 0;
(f) y′′ + y = 0;
(g) y′′′ − 3y′′ + 3y′ − y = 0;
(h) yIV + 2y′′′ + y′′ = 0.
2. Determine a solução geral de cada uma das seguintes equações diferen-ciais:
(a) 2y′′ + y′ − y = 2ex;
(b) y′′ − 7y′ + 6y = sinx;
(c) y′′ + 2y′ + 5y = e−x cos (2x).
3. Considere a equação diferencial linear completa, cujo polinómio carac-terístico é
P (D) =(D2 + 4
)(D − 1)
e que tem como solução partícular
yp =1
6(sinx− cosx)
Determine a equação e a sua solução geral.
31 1/Agosto/2005
4. Determine a equação diferencial de 2a ordem não homogénea com coe-ficientes constantes tais que y = x2
4e−x seja uma solução particular e
y = e−x (C1 + C2x) seja a solução geral da homogénea associada, sendoC1 e C2 constantes arbitrárias.
5. Determinar a solução particular do seguinte problema de Cauchy:
y′′ − y = 4ex y (0) = 0; y′ (0) = 1
6. Considere o sistema mecânico não forçado com um grau de liberdade
mx+ kx = 0,
em que m > 0 e k > 0 são parâmetros constantes que representamrespectivamente a massa e a rigidez do sistema.
(a) Determine a solução geral do problema e a frequência angular ωdo movimento;
(b) Se a equação diferencial anterior modelar o camportamento vi-bratório das cordas de uma guitarra clássica, justifique a dependên-cia que se verifica entre a altura do som produzido, a massa decada corda e a respectiva tensão;
(c) Suponha que a posição e velocidades iniciais são respectivamentex (0) = 1 e x (0) = 1. Qual é a solução deste problema de valoresiniciais? Se x (0) = 0 e x (0) = 0, qual será a solução correspon-dente?
7. Considere o sistema mecânico não forçado e amortecido com um graude liberdade
mx+ cx+ kx = 0,
em que m > 0, c ≥ 0 e k > 0 são parâmetros constantes que repre-sentam respectivamente a massa, o coeficiente de amortecimento e arigidez do sistema.
(a) Determine e represente graficamente as soluções gerais do sistemasupondo que c = 0 e ccr = 2
√mk.
(b) Determine para que valores do coeficiente de amortecimento aresposta do sistema é oscilatória e determine a correspondentesolução geral do problema. Represente-a graficamente.
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Soluções
1a) y = C1ex + C2e
−2x; 1b) y = C1e−3x + C2e
3x; 1c) y = C1 + C2e4x; 1d)
y = ex (C1x+ C2); 1e) y = C1e2x + C2e
− 4
3x; 1f) y = C1 cosx + C2 sinx;
1g) y = ex (C1x2 + C2x+ C3); 1h) y = C1 + C2x + C3e
−x + C4xe−x; 2a)
y = C1e2x + C2e
−x + ex; 2b) y = C1e6x + C2e
x + 5 sinx+7cosx74
; 2c) y =(C1 cos 2x+ C2 sin 2x) e
−x + 14xe−x sin 2x; 3) y′′′ − y′′ + 4y′ − 4y = cosx;
ysgc = C1 cos 2x+C2 sin 2x+C3ex + 1
6(sinx− cosx); 4) y′′ +2y′ + y = 1
2e−x;
5) y = −12ex + 1
2e−x + 2xex.
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