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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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EQUIDADE PREVIDENCIÁRIA RURAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA LEI 8.213/1991

[email protected]

APRESENTACAO ORAL-Políticas Sociais para o Campo CARLOS ROBERTO FERREIRA; MARCIA REGINA GABARDO DA C AMARA; SOLANGE DE CÁSSIA INFORZATO DE SOUZA; FLÁVIO BRAGA ALMEIDA-

GABRIEL. UEL, LONDRINA - PR - BRASIL.

EQUIDADE PREVIDENCIÁRIA RURAL: Uma análise a partir da Lei

8.213/1991.

Grupo de Pesquisa: Políticas Sociais para o Campo

Resumo O objetivo do artigo é analisar a evolução da concentração de renda no setor rural brasileiro e os efeitos da promulgação da Legislação de 1988 e das leis que se seguiram no âmbito da seguridade do trabalhador rural (Lei 8.212/91 e Lei 8213/91). Os procedimentos metodológicos envolvem a revisão da legislação pertinente; a verificação da participação das aposentadorias e pensões na distribuição de renda rural pós Lei 8213/91 e exposição do debate na literatura, de forma a embasar as sugestões de políticas que possam melhorar o sistema. Realiza-se a estimativa da concentração e utiliza-se a decomposição do Índice de Gini para avaliar a distribuição de renda, a partir da base de dados oficiais da PNAD de 1988 a 2008, fornecidas pelo IBGE. A análise de resultados do Índice de Gini permite afirmar que houve redução na concentração de renda, saindo de 0,559 em 1988 para 0,498 em 2008, podendo ser explicado, em parte, pelo mercado de trabalho (trabalho principal), onde o salário mínimo real sofreu alteração significativa entre 1994 e 2004, podendo ele ser responsável pela redistribuição de renda diretamente via mercado de trabalho. O estudo permite concluir que houve redução da concentração de renda rural, mas os programas sociais que abrangem a previdência social rural tiveram efeito sobre a concentração no sentido oposto, pois contribuíram para concentrar renda no período analisado, pois em 1988 seu valor era de 0,417, passando para 0,569 em 2008. Palavras-chaves: Previdência rural, Distribuição de renda, Índice de Gini. Abstract This article purposed to esteem the concentration of income in the Brazilian rural sector after the beginning of the legislation of 1988 and the laws in relation to the rural workers’ security (Law 8.212/91 and Law 8.213/91). In order to achieve this purpose, the article makes a review of that legislation; it verifies the participation of the retirement and pensions in the distribution rural of income post law 8213/91 and it exposes the debate which exists in the literature and it can based suggestions about politics that can make the system better. As a methodology, it was used the

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decomposition of Gini index in order to evaluate the income distribution. As base of data, it was used official datas of PNAD from 1988 to 2008 taken from IBGE. As a result there was, in the calculation of Gini index, a reduction in the income concentration, from 0,559 (in 1988) to 0,498 (in 2008). It could be explained, in part, through market of work (main work), where the real minimum wage suffered a big alteration between 1994 and 2004. And it can be responsible for the redistribution of income, directly, through market of work. However, it can’t consider reduction of the concentration of income came from social programs that embrace the rural social welfare, once it showed to concentrate the income in the period analyzed. In 1988, the value was 0,417, changing to 0,569 in 2009. Key-words: rural social welfare, income distribution, Gini index. 1. INTRODUÇÃO

A Previdência Social brasileira, iniciada em 1821 com um decreto do então Príncipe Regente Pedro de Alcântara, passou a ter caráter mais próximo do conhecido atualmente apenas em 1923 com a “Lei Eloy Chaves”. Esta previa uma caixa de aposentadorias e pensões para cada empresa da Estrada de Ferro e com abrangência a todos seus empregados.

Todavia, o caráter previdenciário embutido de contribuições e contrapartidas pré-determinadas passou, através dos anos, a ter um caráter político e imediatista cujo inchaço das obrigações da Previdência Social para com a sociedade se mostrou verdadeira, porém sem contrapartidas de contribuição por parte dos beneficiados, gerando, portanto, uma arrecadação deficitária dos meios de arrecadação.

A despesa previdenciária acumulou acréscimo constante no intervalo dos últimos anos. Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional (STN, 2008), em 1998 o gasto do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) atingia a cifra de 10,2% do PIB (Produto Interno Bruto). Já em 2007 este percentual atingiu 12,4% do PIB, o que gerou a necessidade de aumento de arrecadação.

Dados do Ministério da Previdência Social (2008) mostram que, em 2007, foi pago pela Previdência Social R$ 88 bilhões a cerca de 19 milhões de beneficiários, sendo que foi arrecadado, através de contribuições de empresas e trabalhadores da iniciativa privada, R$ 71 bilhões, totalizando um déficit de R$ 17 bilhões somente advindos do sistema previdenciário aos trabalhadores da iniciativa privada. Aos servidores públicos inativos e pensionistas, que totalizam 3,2 milhões de servidores, foram pagos R$ 61 bilhões, sendo que o valor arrecadado desse grupo de beneficiários foi de R$ 22 bilhões, ou seja, outro déficit, agora de R$ 39 bilhões. Assim sendo, o total do déficit da Previdência Social, somente em 2007, foi de R$ 58 bilhões.

Para as finanças públicas nacionais, a relevância da Previdência Social é indubitável, exemplo disso está nos dados do ano de 2005 onde o gasto gerado pelos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) estaduais e federal totalizou 11,6% do PIB. Além disso, as necessidades de financiamento chegaram a 4,6%. Outro dado interessante é que o valor presente da dívida prevista para ser acumulada pela previdência no período de 2005 a 2050

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é estimada em quase dois PIBs de 2005 de acordo com estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada1 (IPEA, 2008).

Porém, a existência de constantes déficits no sistema previdenciário brasileiro pode, ao menos em parte, ser explicado pela concessão de aposentadorias e pensões aos trabalhadores rurais que foram beneficiados pela Lei 8213/91 na qual a Previdência Social aparenta buscar a equidade na distribuição de seus benefícios. Como foi mencionado por Stephanes (1998, p.18) “a equidade num sistema previdenciário tem de ser ponto de partida das discussões envolvendo o tema. Assim, será possível dar um rumo correto para as políticas públicas”.

James & Brooks (2001) acreditam que a equidade na distribuição de benefícios incentiva a existência do mesmo por motivar seus contribuintes a participarem do sistema. Thompson (2000) considera que todo e qualquer sistema de previdência social pode servir como redistribuidor de renda através de seus benefícios. Mas para que isso ocorra de forma equânime, há a necessidade de avaliação do benefício de acordo com o beneficiário e sua vida produtiva.

A partir de 2001, a desigualdade de renda familiar per capita caiu de forma contínua e substancial, explicado em grande parte pela estabilidade econômica promovida pelo Plano Real. Porém, o Brasil apresentou nas últimas décadas uma tendência de desigualdade na distribuição de renda aliado a níveis elevados de pobreza, tornando o país um dos mais desiguais do mundo no que tange sua distribuição de renda, demonstrando seu desafio histórico de enfrentar uma herança de injustiça social por excluir parte significativa de sua população do acesso a condições mínimas de dignidade e cidadania.

Sua condição desigual na distribuição de renda tem se mostrado existente com maior intensidade para os estudos relacionados a esse tema a partir da década de 1970, quando o IBGE divulgou os dados do Censo para esse ano. Os trabalhos de Fishlow (1972) e Hoffmann & Duarte (1972) apontaram um grande crescimento da desigualdade da distribuição da renda no Brasil entre 1960 e 1970. Em 1973, Langoni em seu trabalho “Distribuição de renda e desenvolvimento econômico no Brasil”, veio confirmar consenso para o que dizia o trabalho de Fishlow e o trabalho de Hoffmann & Duarte, para o aumento da desigualdade.

Após a iniciativa promovida por esses trabalhos considerados iniciais no tema distribuição de renda no Brasil, assistiu-se a uma grande disseminação de trabalhos sobre o tema. Em princípio, abordou-se a relação entre desigualdade e salário mínimo, seguidos por estudos relacionando desigualdade e educação. Na década de 1980 o mercado de trabalho foi o foco nos estudos sobre desigualdade de renda, fazendo aporte, com maior intensidade, a distinção das formas de segmentação entre setores informais e setores formais da economia. A partir da segunda metade da década de oitenta e na primeira metade da década de noventa, a relação entre estabilidade econômica, inflação e desigualdade teve maior peso nos estudos sobre desigualdade de renda. A década de 2000 tem apreciado, com mais intensidade, estudos sobre discriminação, em especial estudos sobre discriminação racial. Foi o que apontou a NOTA TÉCNICA DO IPEA de 2006: “Sobre a Recente Queda da Desigualdade de Renda no Brasil”.

1 Para uma melhor compreensão ler: Giambiagi e outros(2007)

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O presente estudo buscou avaliar e mensurar a distribuição de renda do setor rural brasileiro após a Constituição de 1988, uma vez que não há muitos trabalhos sobre distribuição de renda especificamente para o setor rural. Para o desenvolvimento do trabalho foi usado o Índice de Gini como base para a mensuração da concentração de renda nesse segmento.

Este trabalho está organizado em cinco partes, começando por esta introdução. A segunda parte trata de um breve histórico da previdência rural brasileira. A terceira seção dispõe da base de dados utilizada para realização deste trabalho. A metodologia utilizada encontra-se na quarta parte, para que na seção seguinte sejam analisados os resultados da decomposição do Índice de Gini especificamente no Brasil Rural. Na sexta seção estão as considerações finais.

2. PREVIDÊNCIA RURAL BRASILEIRA: Um Breve Histórico .

A Previdência Social vem, através de seu objetivo principal, cumprir a função de equilíbrio econômico proporcionando renda aos que estão assegurados por ela. A existência da Previdência Social, além de fundamental para o bom funcionamento da economia como um todo, serve como seguridade ao indivíduo.

O desenvolvimento recente da previdência e assistência social brasileiras apresenta uma ampliação na cobertura, garantindo para a população de baixa renda, benefícios sem que para isso exista exigência de contribuições anteriores. Para compensar parte desse aumento de custo foram instituídas regras mais rígidas para a concessão de benefícios previdenciários, como é o caso da adoção do fator previdenciário que limitou os benefícios de acordo com o tempo de contribuição do indivíduo.

Outras formas de regulamentação também foram instituídas através de tímidas reformas da Previdência Social ocorridas nos governos Lula e FHC. Essa situação de instabilidade no setor previdenciário brasileiro gerou o que ficou conhecido como “armadilha da credibilidade” (Caetano, 2006), pois a população de baixa renda não se vê incentivada a contribuir por saber que receberá seu benefício previdenciário ou assistencial mesmo tendo contribuído o mínimo possível ou mesmo não tendo feito contribuição alguma para o sistema previdenciário, como é o caso de parte dos trabalhadores rurais, que foram beneficiados com a lei 8.213, de 24 de julho de 1991.

Porém, a necessidade de formação de um órgão responsável pela seguridade social, possibilitando ao indivíduo em situações e períodos adversos de sua vida produtiva a possibilidade de auferir renda, advém da necessidade de sobrevivência do próprio ser - humano. A idéia inicial de formação previdenciária, que se tem comprovação surgiu de Otto Von Bismarck na década de 1880, porém, a formação de uma Previdência Social advinda do pensamento bismarkiano do século XIX, atravessou décadas e trouxe consigo modificações em seu bojo de acordo com as necessidades dos trabalhadores e o respectivo período em que foi instaurado, agregando, forma e conteúdo diferenciado pelos países por onde fez frente.

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O sistema previdenciário é regido pela Lei Orgânica da Previdência Social2, de 26 de agosto de 1960, onde é mantido através de contribuições obrigatórias dos trabalhadores na ativa para custear os aposentados e beneficiados no período corrente, sistema conhecido como Repartição Simples. Os benefícios da Previdência Social são responsáveis pelo bem estar das pessoas e famílias atingidas pelos benefícios, além de propiciar movimentação econômica injetando no mercado, recursos financeiros, sendo do consenso da maioria dos autores sobre previdência no mundo que um sistema previdenciário ajustado é de extrema importância para a manutenção de uma boa saúde econômica, como dito pelo Presidente da Associação Internacional da Seguridade Social:

Além da dignidade e independência que a Previdência Social possibilita aos seus beneficiários, os benefícios em dinheiro, são importantes para a manutenção da capacidade de consumo. Um sistema previdenciário bem desenhado melhora diretamente o funcionamento do mercado de trabalho. A Previdência Social constitui um programa eficaz para o incremento da paz social e da coesão econômica nas sociedades modernas (SHERMAN, 2000, p. 9).

A seguridade social brasileira não se constitui em um único órgão, uma vez que ela

é dividida em organizações descentralizadas legalmente. A assistência social é regida pela Lei nº 8.742/93, conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social, que democratizou a legislação previdenciária criando o Conselho Nacional da Assistência Social e forçando a criação de conselhos estaduais e municipais com o objetivo de permitir uma maior participação da população na gestão participativa da seguridade social. Em segundo vem a Lei nº 8.142/90 que rege a saúde e criou a Conferência de Saúde e o Conselho de Saúde (JULIÃO, 1999).

Até a década de 1960 os trabalhadores rurais, maioria da população brasileira da época, não tinha acesso a seguridade social. Embora a Constituição de 1934, em seu texto, dissesse que todo trabalhador brasileiro teria direito a seguridade, esse beneficio não se estendia ao trabalhador rural (MALLOY, 1976).

As Ligas Camponesas, surgidas no ano de 1956 em Pernambuco, passaram a reivindicar do governo, entre outras coisas, a inserção dos trabalhadores rurais no sistema previdenciário. Em 1963 o Governo João Goulart sancionou a Lei 4.214 (conhecida como o Estatuto do Trabalhador Rural) que previa a criação do Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (Funrural) (SCHWARZER, 2000).

A administração da arrecadação das contribuições e dos benefícios dos segurados pelo Funrural foi repassada ao IAP dos Industriários (IAPI). Porém sua eficiência no trato do cumprimento de seu papel em relação aos trabalhadores industriais, não foi estendida para o programa rural. Assim, a legislação de 1963, segundo (Schwarzer, 2000, p.08) “foi,

2 Com o objetivo de enfrentar os desequilíbrios existentes, foi promulgada, em 1960, a Lei nº 3.807, a chamada Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que estabeleceu a uniformização dos planos de benefícios, um esquema geral de funcionamento e um financiamento único para os Institutos existentes, lançando as bases para a unificação da previdência social (BELOCH, 2004).

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na realidade, uma medida de efeitos meramente demonstrativos, sem impacto relevante algum na estruturação de um sistema de proteção social concreto na área rural.”

Em 1967, durante o Regime Militar brasileiro, houve alteração na legislação através do Decreto-Lei 276, reduzindo os benefícios previstos basicamente à assistência médica, responsabilizou o adquirente pelo recolhimento da contribuição e repassou a administração do sistema ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), criado em 1966. Seguidamente, o Decreto-Lei 564 de 1969 criou o Plano Básico da Previdência Social, restabelecendo um elenco de benefícios monetários (Malloy (1976).

A transformação mais significativa ocorreu em 1971 com a criação do programa Prorural (sob a responsabilidade do Funrural) através da Lei Complementar n° 11, oferecendo como benefícios a aposentadoria por idade aos 65 anos (no valor de ½ salário mínimo), aposentadoria por invalidez (no valor de ½ salário mínimo), pensão para viúvas e órfãos (no valor de 30% do salário mínimo), auxílio-funeral e assistência médica.

A partir de 1974/75 foi incluída a Renda Mensal Vitalícia para pessoas com mais de 70 anos ou por invalidez aos indivíduos que não satisfizessem os requisitos estabelecidos para a aposentadoria/pensão, além do seguro de acidentes de trabalho rural (todos no valor de ½ salário mínimo) (SCHWARZER, 2000).

Ainda de acordo com (Schwarzer, 2000), em 1977, foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas), o programa de benefícios monetários passou a ser administrado pelo INPS, os benefícios médicos passaram a serem administrados pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), e a instituição administrativa Funrural foi extinta.

O Prorural/Funrural, segundo Malloy (1976), representou rompimento com os princípios do seguro social de padrão contributivo bismarckiano, havendo ruptura com a noção de que a um benefício deve corresponder uma contribuição e, que o benefício resultante deve estar vinculado ao padrão de rendimentos pregressos do segurado.

Segundo Rocha (2000), na década de 1980, também conhecida como década perdida, fazendo referência à evolução da renda, ocorreu uma confluência de duas tendências adversas. Houve uma brutal redução do ritmo do crescimento da renda em relação à década anterior, na magnitude de 2,2% a.a. Analogamente, a queda do rendimento (–1,5%) afetou de forma mais adversa os mais pobres: com exceção do segundo décimo da distribuição, a redução do rendimento foi tanto maior quanto mais baixo o nível de renda (BARROS & MENDONÇA ,1995).

A Constituição de 1988 foi um marco na década de 1980, sendo que no que tange os trabalhadores rurais, seu texto beneficiou-os de forma a igualá-los a todos trabalhadores brasileiros. Foi introduzido o princípio do acesso universal de idosos e inválidos de ambos os sexos à Previdência Social, em determinado regime especial, onde a característica principal é incluir o setor rural informal, formado pelo “produtor, parceiro, meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro e o pescador artesanal, bem como respectivos cônjuges que exerçam suas atividades em regime de economia familiar sem empregados permanentes” (art. 194, § 8º, Constituição Federal de 1988).

Sua regulamentação, pelas Leis 8.212 (Plano de Custeio) e 8.213 (Plano de Benefícios) em 1991, trouxe alteração conceitual profunda para o programa previdenciário rural no Brasil. Segundo Delgado e Cardoso Jr. (1999), as principais mudanças normativas ocorridas, foram: I) equiparação de condições de acesso para homens e mulheres (o antigo

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regime era específico apenas para o responsável pela família); II) redução do limite de idade para aposentadoria por idade (60 anos para homens e 55 para mulheres); e III) estabelecimento de um piso de aposentadorias e pensões em um salário mínimo (o regime anterior estabelecia teto em ½ salário mínimo para o público do Funrural e pensões limitadas a 30% do benefício principal).

A comprovação do tempo de atividade rural também mudou, podendo ser documentada na mesma extensão que o período de contribuição mínimo previsto para os segurados urbanos (15 anos, desde que atinja a idade mínima). Como documentos para tal, além das possibilidades elencadas para os trabalhadores urbanos, por meio da documentação comprobatória do uso da terra (contrato de parceria ou arrendamento, termo de propriedade do terreno etc.), notas de venda da produção rural (bloco de notas do produtor rural) ou declaração expedida pelo sindicato rural e homologada pelo INSS (SCHWARZER, 2000).

A Lei 8.742, de 1993, conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), foi, juntamente com as duas leis citadas anteriormente, de grande importância para o segurado rural. Foi substituída a Renda Mensal Vitalícia pelo Beneficio de Prestação Continuada (concedido a partir de 1996), onde a primeira tinha como um dos requisitos a realização mínima de doze contribuições mensais a Previdência Social e a segunda não mais havia a necessidade de contribuição prévia, porém a renda familiar mensal per capita do candidato ao benefício seja menor que 1/4 do salário mínimo. O Beneficio de Prestação Continuada não difere entre a clientela rural e a urbana. Para o idoso a idade de acesso é de 67 anos para homens e mulheres (em 2000 passa a ser de 65 anos). Para a Pessoa Portadora de Deficiência incluem-se, além da invalidez já contemplada pela Renda Mensal Vitalícia, as deficiências congênitas (SCHWARZER, 2000).

No que tange o financiamento do sistema previdenciário rural, a Lei 4.214 de 1963 previa uma contribuição de 1% sobre o valor da primeira comercialização do produto rural e com recolhimento de obrigação legal do próprio produtor agrícola, sendo, de acordo com Malloy (1976) não suficiente à execução do programa, por tornar a fiscalização e o recolhimento das contribuições inviáveis. Para o Prorural/Funrural o financiamento dos benefícios era feito com uma contribuição de 2% sobre o valor de comercialização da produção rural, a cargo do adquirente. Cobrava-se também uma alíquota de 2,4% sobre a folha de salários urbana para complementar a estrutura de custeio do Funrural (SCHWARZER, 2000).

Com a Constituição de 1988 e as Leis 8.212 e 8.213 de 1991 a contribuição do segurado especial manteve-se como contribuição sobre a produção comercializada (encargo do comprador), no valor, em 1999, de 2,2% sobre o preço de venda, sendo 0,1% destinado ao seguro de acidentes de trabalho e outro 0,1% ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), ao invés de contribuição sobre remuneração percebida, caso esse do trabalhador urbano (SCHWARZER, 2000).

3. BASE DE DADOS Para o desenvolvimento do presente estudo tomou-se por base as informações

coletadas nas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD), no período de

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1988 a 2008. A mesma base de dados foi utilizada em trabalho anterior (Ferreira, Souza 2007). A PNAD tem periodicidade anual desde 1971, sendo interrompida por ocasião dos Censos Demográficos (1970, 1980, 1991 e 2000). Trata-se de um levantamento anual realizado por meio de uma amostra dos domicílios que abrange todo o país, exceto a área rural dos estados da antiga região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima). Para as pesquisas da década de 90 e anos posteriores, essa abrangência geográfica foi mantida, ou seja, a PNAD continuou a cobrir todo o país, com exceção da área rural dessas seis unidades da federação.

Por essa pesquisa são investigados, de forma permanente, os temas habitação, rendimento e trabalho, associados a aspectos demográficos e educacionais, bem como outros assuntos de caráter demográfico, social e econômicos com periodicidade variável. É uma coleta oficial de dados, realizada sob a responsabilidade do Departamento de Emprego e Rendimento da Diretoria de Pesquisa da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

A comparação dos resultados da PNAD a partir de 1992 com os das décadas anteriores deve levar em conta que a classificação das áreas urbanas e rurais é feita de acordo com a legislação vigente por ocasião dos Censos Demográficos. Dessa forma, manteve-se a delimitação das áreas urbanas e rurais no período intercensitário, mesmo que a legislação a tenha alterado. Para as pesquisas da PNAD de 1988 a 1990, utilizou-se a classificação vigente por ocasião do Censo Demográfico de 1980; para as pesquisas da PNAD de 1992 a 1999, utilizou-se a classificação vigente por ocasião do Censo Demográfico de 1991 e para a pesquisa da PNAD de 2001 a 2008, utilizou-se a classificação vigente por ocasião do Censo Demográfico de 2000. Por razões excepcionais, não foi realizada a pesquisa em 1994. Dessa forma, as estatísticas por situação urbana e rural não captam integralmente a sua evolução, sendo que as diferenças se intensificam à medida que os resultados obtidos se afastam do ano de realização do Censo Demográfico.

Ressalta-se também, que, para as PNADs de 1992 a 1996 foram utilizados os fatores de expansão corrigidos com base na contagem populacional e divulgados juntamente com os microdados da PNAD de 1997.

Foram utilizados3 dados individuais das PNADs de 1988, 1989, 1990, 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008 fornecidas pelo IBGE, através de CD-ROM anual.

O procedimento metodológico adotado pelo IBGE implica que cada pessoa da amostra representa um determinado número de pessoas da população. Os dados individuais são fornecidos com o peso ou fator de expansão de cada indivíduo. Isso permite que os cálculos sejam elaborados ponderando-se cada observação pelo respectivo peso. Todos os cálculos, neste trabalho, foram feitos considerando o peso ou fator de expansão de cada domicílio da amostra da PNAD, fornecido pelo IBGE, analisados apenas os domicílios particulares permanentes com declaração do rendimento domiciliar. Domicílios com rendimentos não declarados foram excluídos da análise.

As informações das PNADs são de boa qualidade, mas é preciso observar algumas características da natureza desses dados, as quais são restrições que precisam ser levadas em consideração na análise dos resultados, conforme alerta Hoffmann (1988 e 2002a). 3 Para maiores detalhes, ver Ferreira e Souza (2007).

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De acordo com as notas metodológicas do IBGE (2001), “considerou-se como rendimento mensal domiciliar a soma dos rendimentos mensais dos moradores do domicílio, exclusive os das pessoas cuja condição no domicílio fosse pensionista, empregado doméstico ou parente do empregado doméstico”. Para se obter o rendimento domiciliar per capita, dividiu-se o rendimento mensal domiciliar pelo número de pessoas do domicílio, excluindo pensionistas, empregados domésticos e seus parentes.

Os componentes do rendimento domiciliar são os provenientes do trabalho principal, rendimentos de outros trabalhos, de aposentadorias e pensões, dos aluguéis, doações, e outros rendimentos, apresentados para as pessoas de dez anos ou mais de idade.

Consideram-se rendimentos de trabalho os decorrentes dos pagamentos brutos mensais aos empregados, empregadores e conta própria, sejam advindos do trabalho principal ou dos demais trabalhos. O trabalho principal é o trabalho único que a pessoa de 10 anos ou mais de idade teve no período da pesquisa (semana de referência da PNAD), impondo-se outros critérios para casos especiais.

No conceito de trabalho caracterizam-se as condições de trabalho remunerado; trabalho não-remunerado; e trabalho na produção para o próprio consumo ou na construção para o próprio uso. Os rendimentos de aposentadorias e pensões são aqueles pagos pelo governo federal ou por instituto de previdência federal, estadual ou municipal, entidades seguradoras ou fundos de pensão; aluguel, inclusive sublocação e arrendamento de móveis, imóveis, máquinas, equipamentos, animais etc.; doação ou mesada (proveniente de pessoa não-moradora na unidade domiciliar); juros, que são decorrentes de aplicações financeiras em ativos financeiros de renda fixa, caderneta de poupança, e outros; e, finalmente, a partir de suas implantações, o programa oficial de auxílio educacional (como o bolsa-escola) ou social (renda mínima, bolsa família, benefício assistencial de prestação continuada - BPC-LOAS, programa de erradicação do trabalho infantil - PETI e outros) (IBGE, 2007).

As análises foram feitas para o Brasil como um todo e apenas para os residentes nas áreas rurais. Cabe ressaltar que o “rural” refere-se apenas à situação do domicílio, e não à origem dos rendimentos. 4. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste trabalho, utilizou-se a decomposição do Índice de Gini para analisar a contribuição das aposentadorias e pensões para a desigualdade da distribuição do rendimento domiciliar per capita no Brasil Rural, ao longo das décadas de 80 e 90 e anos posteriores, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008. Essa decomposição da desigualdade considera os vários componentes que se somam para formar os rendimentos domiciliares4: trabalho principal, outros trabalhos, aposentadorias e pensões, aluguéis, doações, juros, etc.

4.1 Decomposição do Índice de Gini 4 Um exemplo numérico de decomposição pode ser encontrado em Ferreira (2003).

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A metodologia de decomposição do coeficiente de Gini utilizada neste trabalho está baseada em Pyatt et al. (1980)5. Inicialmente, pressupõe-se que há n pessoas e que zi e ti são duas variáveis quaisquer observadas nas pessoas com (i = 1, 2, ... , n). As pessoas terão uma posição de ordem de acordo com ti: a posição da pessoa na colocação i será denominada ( )itr , com a convenção de que ( ) 1=itr para a pessoa com o ti menor e

( ) ntr i = para a pessoa com o maior ti. Se duas ou mais pessoas tiverem o mesmo valor

para ti, para cada uma delas será dada a média das posições que essas pessoas poderão ter se houver uma diferença infinitesimal entre elas. Dessa forma, a média de todas as posições ( )itr é dada por:

( ) ( )2

11

1

+== ∑=

ntr

nr

n

ii (1)

A média das posições é, portanto, independente do critério de “posicionamento” ti que é dado. Admite-se que o valor médio de zi é positivo, isto é,

01

1

>= ∑=

n

iiz

nz (2)

Note-se que iz não necessita ser positivo para todo i.

Dado z , pode-se também definir:

zn

zii =π (3)

para cada pessoa. De (2) e (3) tem-se que a soma dos n valores de iπ é igual a 1.

A curva de concentração de zi em relação a ti mostra como os valores acumulados

dos iπ variam em função de ( )n

tr i , tendo-se previamente ordenado as pessoas conforme

valores crescentes de ( )itr . Note-se que a curva de concentração não precisa ser

monotonicamente crescente. A curva pode ficar acima do bissetor do primeiro quadrante. Se houver valores negativos de zi, a curva pode ficar abaixo do eixo das abcissas.

A razão de concentração de z em relação a t, indicada por ( )tzC | , é definida como 1 menos duas vezes a área entre a curva de concentração e o eixo das abcissas. Cabe ressaltar que áreas delimitadas pela curva de concentração abaixo do eixo das abcissas são negativas. Observa-se que a área abaixo da curva de concentração pode ser obtida através da

soma das áreas de n trapézios verticais, cada um com altura de

n

1, isto é, como:

++⋅= ∑ ∑ ∑

=

= =

n

i

i

j

i

jjjn 2

1

1 11

1

2

1 πππδ

5 Essa metodologia já foi utilizada por muitos autores, podendo-se citar Fei et al. (1978), Ercelawn (1984), Mariano; Lima (1998), Neder (2001), Hoffmann (2002a e 2002b).

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( )[ ]inn

n

ii −+⋅= ∑

=

211

2

1

1

πδ (4)

em que o subscrito i refere-se a posição de ordem da pessoa, ou seja, i = r(ti). De (4) tem-se que a razão de concentração é:

( ) ( )[ ]∑=

−+−=n

ii in

ntzC

1

211

1| π (5)

Lembrando a expressão (1), após algumas transformações algébricas verifica-se que

( ) ( )[ ]rtrn

tzC i

n

ii −= ∑

=1

2| π

ou ( ) ( ) ( )[ ]trztzC ,cov2| π= (6)

em que ( )ba,cov é a covariância entre as variáveis a e b. Utilizando (3), segue-se que

( ) ( )

= trzn

ztzC ,cov2|

ou

( ) ( )[ ]trzzn

tzC ,cov2

| = (7)

Se a variável z for não-negativa (zi ≥ 0 para todo i), verifica-se que a área abaixo da

curva de concentração varia de ( ) 12 −n a ( ) 121 −− n , de maneira que

( )n

tzCn

11|1

1 −≤≤− .

No caso particular em que a própria variável z for utilizada para ordenar os valores, isto é, se t = z, a curva de concentração passa a ser a curva de Lorenz da distribuição de z e a razão de concentração é o respectivo Índice de Gini. Se yi é a renda domiciliar per capita e as pessoas estiverem ordenadas conforme o valor dessa mesma variável, o Índice de Gini da renda domiciliar per capita é

( ) ( ) ( )[ ]yryzn

yyCyG ,cov2

| == (8)

Se ikx é a k-ésima parcela (por exemplo, a aposentadoria) da renda domiciliar per

capita iy , então:

∑=

=m

kiki xy

1

para i=1,...,n (9)

em que a renda total é constituída por m parcelas (k = 1,...,m). Segue-se que

∑=

=m

kkxy

1

(10)

em que kx é a média de xik para as n pessoas.

Substituindo (9) em (8), tem-se:

( ) ( )

= ∑k

ik yrxzn

yG ,cov2

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Lembrando (7), verifica-se que

( ) ( )∑=

=m

kkk yxCyG

1

|φ (11)

em que:

y

xkk =φ (12)

Note-se que kφ é a participação da k-ésima parcela na renda total.

É interessante verificar como a razão de concentração de xk em relação a y está associada com o Índice de Gini de xk, que é dado por

( ) ( )[ ]kkk

k xrxxn

xG ,cov2= (13)

Usando (7), tem-se:

( )

( )( )[ ]( )[ ] ( )k

kk

k

k

k xyRxrx

yrx

xG

yxC,

,cov

,cov|== (14)

( )kxyR , é denominada razão de correlação de ordem, cabendo ressaltar que não é

um coeficiente de correlação de ordem. A expressão (14) mostra que a razão será igual a um somente se: ( ) ( )kxryr = (15)

ou seja, somente se as pessoas tiverem o mesmo ordenamento com respeito à parcela de renda k e com respeito à renda domiciliar per capita. Para obter ( )kxG , as pessoas são ordenadas conforme valores crescentes de ikx .

Em geral, o ordenamento será diferente no cálculo de ( )yxC k | , quando as pessoas são

ordenadas pelo valor de yi. É claro que o valor acumulado dos xik até uma posição h será mínimo quando a ordenação tiver sido feita conforme os próprios valores de xik. Em outras palavras, a curva de concentração de xk em relação a y nunca poderá ficar abaixo da curva de Lorenz de xk. Conseqüentemente, a razão de concentração de xk em relação a y não pode exceder o Índice de Gini de xk, isto é,

( )

( ) ( ) 1,|

≤== kkk

k RxyRxG

yxC. (16)

Esse resultado também poderia ser obtido considerando que ( )[ ] ( )[ ]trzzrz ,cov,cov ≥ para todo t. (17)

Hoffmann (2002a) observa que, na expressão (11), se todas as razões de concentração tivessem o mesmo valor, esse seria também o valor de ( )yG . Dessa forma, ele considera que um componente xik contribui para aumentar a desigualdade quando

( ) ( )yGyxC k >| . Quando ( ) ( )yGyxC k <| , o componente ikx já está contribuindo para

reduzir a desigualdade em relação àquela situação hipotética de igualdade das razões de concentração.

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5. RESULTADOS DA DECOMPOSIÇÃO DO ÍNDICE DE GINI PAR A O BRASIL RURAL

O Índice de Gini pode ser considerado como uma importante ferramenta na avaliação da distribuição de renda, assim como está exposto neste trabalho, mais especificamente para o setor rural. Desse modo a decomposição do Índice de Gini, conforme parcelas do rendimento domiciliar per capita, observa a participação de cada componente na formação do Gini Global, para cada ano analisado.

Na Tabela 1 está representado a participação percentual [(%)φk] dos componentes do rendimento domiciliar per capita para o Brasil Rural, no período 1988 a 2008.

Tabela 1 - Participação percentual ( )[ ]kφ% dos componentes do rendimento domiciliar per capita. Brasil Rural, de 1988 a 2008.

Parcelas Brasil Rural - Participação percentual dos rendimentos ( )[ ]kφ%

1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1 88,4 88,7 87,2 78,5 78,0 76,8 79,2 77,6 75,0 2 2,5 2,8 3,4 3,4 4,4 4,7 3,8 4,1 4,2 3 5,9 6,0 6,7 15,5 14,2 15,8 14,6 15,7 17,8 4 1,4 0,7 1,2 0,5 0,9 1,4 1,2 1,3 1,3 5 - - - 0,4 0,4 0,7 0,6 0,7 0,7 6 1,8 1,8 1,4 1,7 2,2 0,7 0,7 0,6 1,0

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Parcelas Brasil Rural - Participação percentual dos rendimentos ( )[ ]kφ%

1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1 75,8 71,2 70,4 70,8 69,3 68,0 66,3 66,1 65,7 2 4,0 3,7 3,5 3,0 3,3 3,8 3,6 3,0 3,2 3 17,2 21,1 21,9 22,4 22,1 22,6 23,5 24,1 25,0 4 1,3 1,5 1,2 1,1 1,0 0,9 1,0 1,1 0,9 5 0,7 0,5 0,6 0,5 0,4 0,4 0,4 0,3 0,3 6 0,9 1,9 2,4 2,2 3,9 4,4 5,1 5,5 4,9

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE – dados individuais das PNADs de 1988 a 2008. 1 - Trabalho principal; 2 – Outros trabalhos; 3 – Aposentadorias e pensões; 4 – Aluguel; 5 – Doações; 6 –

Outros rendimentos.

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A participação do trabalho principal mostrou queda para todo o período, tendo seu

pico em 1989 atingindo 88,7% da participação entre os rendimentos analisados. Em 2008, último ano do estudo, sua taxa de participação nos rendimentos foi de 65,7%, uma variação negativa de 23,0 pontos percentuais.

A possível explicação para a diminuição da participação do trabalho principal está posta na Tabela 1, onde a participação dos rendimentos advindos de aposentadorias e pensões passou de 5,9% em 1988 para 25,0 em 2008, uma variação de 19,1 pontos percentuais. Tal variação se deve em grande parte pelos programas sociais de inclusão dos trabalhadores rurais na década de 1990. Com a regulamentação estabelecida pelas Leis 8.212 e 8.213 em 1991 que significaram uma alteração conceitual profunda para o programa previdenciário rural no Brasil. Os trabalhadores rurais e os segurados em regime de produção familiar foram incluídos no plano de benefícios normal do Regime Geral de Previdência Social, extinguindo-se o tratamento administrativo institucional que era dado para esses casos (SCHWARZER, 2000).

Schwarzer elencou três especificidades atribuídas as Leis 8.212 e 8.213 de 1991: a primeira especificidade continuou residindo na forma de contribuição do segurado especial, onde, em vez de contribuições sobre a remuneração percebida, manteve-se a contribuição sobre a produção comercializada, cujo recolhimento é encargo do comprador [em 1999 de 2,2% sobre o valor de venda, sendo 0,1% destinado ao seguro de acidentes de trabalho e outro 0,1% ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar)]. Dessa maneira os trabalhadores segurados passaram a ter o mesmo piso salarial ao que os segurados normais tinham por direito. Assim, o piso de benefícios para aposentadorias e pensões passou a ser de um salário mínimo (aplicável também aos benefícios concedidos antes de 1988) e as mulheres vieram a ter acesso à aposentadoria independentemente de o cônjuge já ser beneficiário ou não.

A segunda especificidade trata da idade de acesso à aposentadoria por idade que passou a ser mais baixa para o setor rural frente aos segurados normais: fixada em 55 anos para mulheres e 60 anos para homens no meio rural e 65 anos para homens e 60 anos para mulheres entre segurados normais.

A terceira especificidade corresponde às formas de comprovação do tempo de atividade rural, podendo ser feita, além da forma a qual se sujeitam os trabalhadores urbanos, por meio da documentação comprobatória do uso da terra, notas de venda da produção rural ou declaração expedida pelo sindicato rural e homologada pelo INSS, sendo que deve ser documentada na mesma extensão que o período de contribuição mínimo previsto para os segurados urbanos.

Com a aprovação da Lei 8.742 (Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS) onde a renda mensal vitalícia foi substituída pelo beneficio de contribuição continuado, sua diferença em relação ao primeiro é que o primeiro previa para os idosos, advindos do meio rural, a partir dos 70 anos de idade ou pessoa invalida (que não completassem os requisitos estabelecidos para a aposentadoria/pensão) um valor de meio salário mínimo, bem como o seguro de acidentes de trabalho rural. Já o segundo, extinguia o primeiro em favor da universalização dos benefícios entre os beneficiários advindos do meio rural e urbano, passando o valor mínino do auxilio monetário ser de um salário mínimo mensal, com idade de acesso de 65 anos (a partir de 2000) tanto para homem quanto para mulher. Além disso

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o beneficio de contribuição continuado não prevê mais o requisito de contribuição prévia, porém a renda familiar mensal per capita do candidato ao benefício precisa ser menor que 1/4 do salário mínimo (SCHWARZER, 2000).

A Tabela 2 mostra a razão de concentração dos componentes do rendimento

domiciliar per capita, ( )yxC k | , denotado na tabela como C, para o Brasil Rural. Sabe-se que um componente da renda contribui para aumentar a desigualdade quando a razão de concentração for maior que o Índice de Gini.

Tabela 2 - Razão de concentração (C) na decomposição do Índice de Gini do rendimento

domiciliar per capita. Brasil Rural, de 1988 a 2008. Parcelas Brasil Rural - Razão de concentração ( )yxC k |

1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1 0,561 0,574 0,539 0,530 0,574 0,531 0,556 0,551 0,547 2 0,644 0,712 0,700 0,608 0,607 0,606 0,646 0,603 0,454 3 0,417 0,408 0,415 0,570 0,549 0,549 0,504 0,534 0,565 4 0,882 0,804 0,852 0,801 0,874 0,889 0,858 0,864 0,868 5 - - - 0,093 0,237 0,304 0,301 0,271 0,232 6 0,593 0,648 0,586 0,816 0,844 0,718 0,821 0,746 0,581

Total 0,559 0,571 0,541 0,543 0,579 0,542 0,556 0,553 0,549 Parcelas Brasil Rural - Razão de concentração ( )yxC k |

1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1 0,543 0,528 0,505 0,530 0,517 0,506 0,508 0,519 0,502 2 0,542 0,623 0,515 0,518 0,580 0,552 0,627 0,610 0,592 3 0,548 0,577 0,562 0,572 0,574 0,573 0,573 0,550 0,569 4 0,843 0,890 0,883 0,885 0,837 0,813 0,833 0,844 0,840 5 0,179 0,162 0,305 0,154 0,218 0,078 0,072 0,428 0,169 6 0,500 0,101 0,112 0,040 0,021 0,092 0,021 0,139 0,000

Total 0,545 0,537 0,512 0,531 0,514 0,506 0,504 0,551 0,498 Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE – dados individuais das PNADs de 1988 a 2008. 1 - Trabalho principal; 2 – Outros trabalhos; 3 – Aposentadorias e pensões; 4 – Aluguel; 5 – Doações; 6 –

Outros rendimentos.

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Para o Brasil Rural, conforme a Tabela 2, o período entre 1988 e 2008 apresentou significativa redução na concentração de renda. Em 1988 onde o Índice de Gini foi de 0,559 passando a 0,498 em 2008, uma redução na concentração de renda do setor rural de 10,91%.

A explicação para essa queda pode ser dada por dois fatores, como foi explanado por Soares (2006). O primeiro é que a redução da desigualdade se deu pela política social aplicada pelo Estado, particularmente os programas de transferência de renda. Já o segundo faz referencia ao mercado de trabalho como responsável pela redução.

Em relação aos programas sociais de transferência de renda ás camadas de menor poder aquisitivo da população brasileira, a aposentadoria rural pode ser considerada a mais antiga entre essas políticas, porém intensificada na década de 1990 com as Leis 8.212 e 8.213 de 1991 e a Lei 8.742 de 1993. Segundo Soares (2006) “O piso do Regime Geral da Previdência Social, também indexado ao salário mínimo, pode ser pensado como um programa de transferência de renda aos mais pobres, apesar de não ser regido por nenhuma regra nesse sentido”. De acordo com a Tabela 2, diferentemente ao que foi considerado por Soares 2006, o Índice de Gini, para as aposentadorias e pensões, mostrou elevação na concentração de renda, passando de 0,417 em 1988 para 0,569 em 2008, uma variação positiva de 36,5%.

Em relação ao mercado de trabalho, como fator explicativo para a diminuição na desigualdade na distribuição de renda, Soares 2006 faz referência ao salário mínimo real que sofreu alteração significativa entre 1994 e 2004, passando de R$170,00 em setembro de 1994 para R$275,00 em setembro de 2004, podendo ele ser pela redistribuição de renda diretamente via mercado de trabalho. Ainda de acordo com a Tabela 2, os rendimentos com o trabalho principal tiveram considerável redução na concentração de renda entre os anos analisados, do que é apresentado pelo Índice de Gini, saindo de 0,561 em 1988 para 0,502 em 2008, uma redução na concentração de renda de 10,5% para esse componente.

A Tabela 3 mostra a participação de cada componente para a formação do Índice de Gini e a sua participação, em termos percentuais, para a formação do Índice de Gini Global no Brasil Rural. Observa-se que o rendimento do trabalho principal é, em todo o período, o componente com a maior participação na formação do Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita, seguido pelo rendimento de aposentadorias e pensões.

No Brasil Rural, a parcela de aposentadorias e pensões participou com a segunda maior parcela do Índice de Gini Total. A partir de 1995 e ao longo dos anos 90 essa participação foi crescente, chegando em 1998 com 18,4%. Os anos de 2001 a 2008 apresentam as maiores participações desse componente no Índice de Gini Total. Entre 1996 e 2008, no Brasil Rural, a parcela do rendimento do trabalho principal diminuiu 0,110, enquanto a parcela do rendimento de aposentadorias e pensões cresceu 0,068.

Tabela 3 - Parcelas do índice de Gini ( )[ ]yxC kk |φ na formação do índice de Gini Global dos

componentes do rendimento domiciliar per capita. Brasil Rural, de 1988 a 2008.

Parcelas Brasil Rural - Parcelas do Índice de Gini ( )[ ]yxC kk |φ

1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1 0,496 0,509 0,470 0,416 0,447 0,407 0,440 0,427 0,410

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17

2 0,016 0,020 0,024 0,020 0,027 0,028 0,024 0,025 0,019 3 0,024 0,025 0,028 0,088 0,078 0,087 0,074 0,084 0,101 4 0,012 0,005 0,010 0,004 0,008 0,013 0,010 0,012 0,012 5 - - - 0,0003 0,001 0,002 0,002 0,002 0,002 6 0,011 0,012 0,008 0,014 0,019 0,005 0,006 0,005 0,006

Total 0,559 0,571 0,541 0,543 0,579 0,542 0,556 0,553 0,549 Parcelas Brasil Rural - Parcelas do Índice de Gini ( )[ ]yxC kk |φ

1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1 0,411 0,376 0,356 0,376 0,358 0,344 0,337 0,343 0,330 2 0,022 0,023 0,018 0,016 0,019 0,021 0,023 0,018 0,019 3 0,094 0,122 0,123 0,128 0,127 0,129 0,135 0,133 0,142 4 0,011 0,014 0,010 0,010 0,009 0,007 0,008 0,009 0,007 5 0,001 0,001 0,002 0,001 0,0008 0,0003 0,0003 0,0001 0,0006 6 0,005 0,002 0,003 0,001 0,0008 0,004 0,001 0,008 0,000

Total 0,545 0,537 0,512 0,531 0,514 0,506 0,504 0,511 0,498 Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE – dados individuais das PNADs de 1988 a 2008. 1 - Trabalho principal; 2 – Outros trabalhos; 3 – Aposentadorias e pensões; 4 – Aluguel; 5 – Doações; 6 –

Outros rendimentos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do artigo é analisar a evolução estimar da concentração de renda no setor rural brasileiro após a promulgação da Legislação de 1988 e as leis que se seguiram no âmbito da seguridade do trabalhador rural (Lei 8.212/91 e Lei 8213/91). A análise dos resultados das estimativas permitiu verificar que houve desconcentração de renda no período avaliado, especificamente após 1989.

Para o período analisado, percebe-se que a participação do trabalho principal mostrou queda para todo o período, passando de 88,4% da participação entre os rendimentos, em 1989 para 65,7% em 2008, sendo compensada pela elevação da participação dos rendimentos advindos de aposentadorias e pensões que passou de 5,9% em 1989 para 25,0 em 2008, fato este gerado pelo aumento de participantes em programas sociais de inclusão dos trabalhadores rurais, iniciado na década de 1990.

Com o cálculo da concentração de renda pelo Índice de Gini, o período entre 1988 e 2008 apresentou significativa redução na concentração de renda. Enquanto que para 1989 o índice foi de 0,571, em 2008 esse valor caiu para 0,498, mostrando uma redução na concentração de renda do setor rural na ordem de 0,073. Este fato pode ser explicado, em parte, pelo mercado de trabalho, onde o salário mínimo real sofreu alteração significativa entre 1994 e 2004, podendo ele ser responsável pela redistribuição de renda diretamente via mercado de trabalho. Porém, não se pode considerar que houve redução da concentração de renda oriunda dos programas sociais que abrangem a previdência social, dado que, opostamente, ela mostrou concentrar a renda no período analisado. Em 1988 seu valor era de 0,417, passando para 0,569 em 2008, elevando-se, portanto, 0,152.

Quando avaliado a participação de cada componente do rendimento domiciliar per capita na formação do Índice de Gini para o Brasil Rural, percebe-se qual efetividade teve

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o componente trabalho principal para a redução do índice global. Entre 1988 e 2008, a parcela do rendimento do trabalho principal diminuiu 0,166, em contraponto, a parcela do rendimento de aposentadorias e pensões cresceu 0,118. Entretanto, dado a magnitude da participação do trabalho principal na renda em 2008 de 66,7%, em última análise prevaleceu o trabalho principal contribuindo significativamente para a redução da concentração de renda no setor rural brasileiro.

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