30
5/10/2018 ernestlaclau-polticaeideologianateoriamarxista-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 1/30 ." ~ " ' ~ / 30 p~ Coleção PENSAMENTO CRITICO vo l , 26 1, F i ch a c a ta l og r áf ic a , ~ CI P - Brasil . Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ, Ll45p L ac la u, E rn es to . P olític a e id eo lo gia na teoria m arx ista : capitalismo, fáscismo e populismo / Ernesto Laclau; tradução de João M aia e Lúcia Klein . - Rio de Janeiro: Paz e Ter- ra, 1 97 8. (C oleção Pen sa mento critico; v, 26) Tradução de : Politics and ideology in Marxist theory : c ap it al is m , I as ci ar n and populisrn I. E c on om ia m arxista - T eo ria 2. Socialism o -A s - p ec to s p o lí ti co s l. Título I! . Série 78-0731 , CDD - 335 . 4 CDU - 330 . 85 ' EDITORA PAZ E TED R A Conselho Ed itarial: Antonio Ca n dido Cels o Furtado F er nand o G asp ari a n """ r' m an d e Henr i qu e C ardoso , ,. ,! 1 1 / '' i '' " '-I' . v I . )~'l "{Y'~ {; -- --? 1 1 !c~~~~ ERNESTO LACLAU NOME PROF . ° :\:\ t- > \J \ N COD - \&PASTA j.O 44 0 2 . ~ o. 'i\.6 P OL íT IC A E IDEOLOGIA NA TEORIA MARXISTA CAPITALISMO~ FASCISMO E POPU Tradução de João M aia e Lúcia K le i n EfJ Paz e rerra

ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 1/30

." ~ " '

~ / 3 0p~Coleção PENSAMENTO CRITICOvo l, 26

1,

F i ch a c a ta l og r áf ic a ,

~CI P - Brasi l. Ca ta logação-na- fonte

S indicato Nacional dos E ditores de L iv ro s, R J,

L l45pL ac la u , E rn es to.

P olític a e id eo lo gia n a te oria m arx ista : capi ta l i smo,fásc ism o e popu lism o / Ernesto Laclau; tradução deJoão M aia e Lúcia K lein . - R io de Janeiro: Paz e T er-ra, 1 97 8.

(C oleção Pensam ento critico; v, 26 )

Tradução de : Po litics and ideo logy in M arx isttheory : c ap it al is m , I as ci arn and populisrn

I. Econ om ia m arxis ta - T eo ria 2. Socia lism o - A s-p ec to s p o lí ti co s l. Título I!. Série

78-0731 ,CDD - 335.4CDU - 330 .85

'ED ITORA PAZ E TED RAConselho Editarial:Anton io C andidoCelso Fur tadoFer nand o G asp arian

""" r' m an de Henr iqu e Cardoso, ,.,!

11 /

''i'' "'-I' . vI

. )~'l"{Y'~{;----?11!c~~~~

ER NESTO LA CLA U

N O M E P R O F . ° : \ : \ t- > \J \ N

COD-\&PASTA j.O 4 4

0 2 . ~ o.'i\.6

P OL íT IC A E ID EO LO GIAN A TEO RIA M AR XIST A

C AP IT AL IS MO ~ F AS CIS MO E P OP U

T radução de

João M aiae

Lúcia K lein

E f JPaz e rerra

Page 2: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 2/30

r I>

!i ::. .

,I :W '

quunio o fascismo constitui o discurso popular radica lneui ra liz adopelu burguesia e por ela transformado em seu própri od is cu rs o p olí-tico especifico, em um perlodo de crise.o s o ci al ism o é o di scursopopular ao qual foi permitido desenvolver todo o seu potencial re-volucionário. a partir de suavinculacão ao a nt icu pitu lis mo rad ical

d a c la ss e o pe rá ria .

~ I

4

PARA UMA TEOR IA DO POPULISMO

"Populisrno " é uma conceito ao m esmo tempo evasivo erente. Poucos conceitos têm sido tão amplamente usados napo h.icu contemporânea. em bora bem poucos tenham sidodos com m enor precisão. Sabem os. intuitivam ente. a que nosmo s q uan do qu ulificurnos de populista a um movim ento ou aid eo lo g iu. Porém, enfrentam os as m aiores dificuldades paraI . ir essa in ru i câ o em conceitos. Isso tem levado. com f r e q ü ê n c i a ,

um tipo de pr ú t icu ad hoc : continuar utilizando o te rmo de umma p uru m e n t c intuitiva ou alus iva. e renunciar a qualquer tde precisar seu conteúdo. Da vid Apt er , por exemplo. ao seaos novos re gimes políticos do Terceir o M un do , afirm a:

"No mundo atual. atestamos a exis tênc ia de uma va r icd asis tem as po litico s acomodados. M esmo os m ais duros sãoMesmo os mais mc nol üicos na rorma tendem a estar divididossU ;JS rr~tl(;IS c dil uí dos em sua s idé ias . Poucos são totalitár

Page 3: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 3/30

f ~ Quase todos S;-IO [l< lpuli s t:ls I;. em sentido concreto, são p rincipal-m en te I 'r(:-dC !nl Oe r:' lli co s m a i s do qu e antidemocrât i tos' ."

Ao longo de SC !Uiv ro . upesu r do "populismc" d es se s n ov os re-

gimes desernpenbur um pape l im portante em sua caracterização,e m m om en to algum Apter tenta se riam en te d eterm ir1 ar o co nteú dodo conceito que emprcgu.

À ob scurid ade do conceito em pregado acrescen ta -se a indeter-minuçâo do Ienómeno a que se re f~re. S erá o popu lis tnoum tipo demo v im ento ou um tipo de ideologia? Quais as suas fron te iras ? Paraa lgumas concepções, ele se lim ita a certas b ases sociais p recisas:

pa r< l.outras. "populisrno" indica um traço comum a fenôm enospo llticos tão d ispares quan to o m ao ísm o, o naz ism o, o peron ism o,o nus seris rno ou o Narodnichestvo russo. O r es u lt ad o é u ma i rn pr e-cis ão que pouco contribu i p ara a aná lise c ientífica do s fenô men ospolíticos . O o bjetiv o cen tra l d este en sa io é o d e ad ia ntar p ro po stasqu e possam contrib uir p ara a su peração dessa im prec isão . Trata-se,p o r c o ns e gu i nt e, de um ob je tivo essenc ia lm ente teórico, em que areferência a m ov im entos "popu lis tas" concretos sóé feita a títulode ilustração . E mbora o s con ceitos utilizados ten ham sido elabora-dos. íundarnentulrnerue, em função da experiência latino -u me ric un u su a valide z não se lim ita a um con texto h is tórico ou geo-gr úf ic o d ete rm ina do . D iscu tirem os, em prim eiro lug ar, a s d i ve rs a st eo ri as r el at iv as a o p o pu li sm o, es pec ia lm en te as d e b ase fu ncio na -lis tas - já que têm sido as m ais difund id as e as m ais re finadas con -ce ituulrnen te. Em se gu id a, apresenta remos um esquem a teó rico al-ternativo , cen trado no. conce ito de i nt er pe la çã o p op ul ar -

democrática. Po r fim . farem os algun s co mentários acerca de certascuructer íst ic as do processo histórico ex perim en tad o p elo s s istem asp olí tic os l at in o-amer icanos poste riores a 1930 .q ue s e to rn ara mpar t icula rmente vulneráve is à mobil izaç ão populista.

> · 1

r~

I I

í l i l~~~I

I : , :

f\(i- i;

l i ·~:i

I~ i1 1

'

i .,: .r -

~l i' rJI1

1

fi

~ i :l i/ I'1 1'

I :

I Ii':I

Podemos destacar quatro enfoques básico s na inte rp re taçã o dopo pul isrno . T rês deles consideram -no, simultaneamente, com o ummovim ento e como um a ideologia. Um qu arto o reduz a um Ien ô-

me no purame nt e Jd_~~!óg ico. · - ··

I D . Ap ter . The 10/ :/1[$ oi Modemtunion, Londres , 1969 , p . 2.

:50

1';,r:1 o primeiro enfoque O popul i smo ~ a expressão upicu

u m.t dc re rrn i nada classe soc ia l. e c a ra c t er iza, po r conseguinte. t\1 ruov irnen t o com o su a id eo lo gia. D ependendo do caso concque se ten ha em m ente . o po pu lism o ser á a tribuído a u m a c la ss eciul dife rente. A ssim , para os que se concentram no estudorodnichestvo, russo do lsécu lo XIX, o populisrno será apresentadesse nc iu lm enr e, ou com o um a id eo lo gia cam po nesa, ou comoideologia elaborada por intelec tuais com base na exaltacâ o dere s c a mpo n e se s. Se. por ou tro lado. se priv ileg ia a análise dolis rn o no rte-americano . e le s erá considerado co mo uma ideo log

um a rnob ilizucão típicu s de um a sociedade de pequenos fazros . que se con trapõem à v ida urb ana e ao g rande capital. Fim en te , na A mérica Latina , onde a rnob ilizacão das m assas u russumiu, co m fr eq üê nc ia. conotaçõ es populis tas , o populism osido considerado como expressão po litica e id eo ló gica ou dana bu rguesia. ou de se tores m arginais . ou da bu rguesia nac ique p recisa mobiliza r as m assas. tendo em v ista um confrontocial com as oligarquias locais e com o imperia l i smo. O s i nc onniente s q ue d eco rrem d es se tip o d e in terp retação sa ltam à vista:foge ao fenôm eno que pretende exp licar. Se se afirm a que entV arguismo, o mov im ento de W illiam Jenn ings B ryan e oNarod

chestvo há . p el o m en os . um elem ento em comum , e que estem en to é o p op ulis rn o, é evidente q ue sua esp ecific id ad e terá quprocuruda!ora. e não a partir d as bases soc ia is desses movimentosque são tota lm ente d iferen tes. Se . por ou tro lado, se restringedo c on ceito a m ov im en tos co m u ma b ase so cial sem elh ante. ter

d es lo ca do , i le gi ti m am e nt e. o campo de análise : e st ar em o s t en ta nexplica r um fenôm eno d istinto desse "i.lgo em com um ", preseem movim en to s so ciais d iv erso s. E ntretan to . a d efinição de supccific id ad e havia constituído o o bjetivo original. Esse tem scomo veremos. o proced im ento típico através do qual se temmoteado a espec iflc idade do populism o . E sse procedimento nm alm ente se rea liza em três etap as: (I) partind o d e u ma p erc ep çini cial . intuitiva . do populism o constituindo um traço comum copartilhado po r movim en to s políticos bem diferentes , dete rmina- sepriori que a exp licação desse traç o se situa nasba se s s ociais de smov imentos; (2) em c on se qü ên cia, o s mo v im entos populis tas ccr eto s são en tão anal isados e no d ecorre r dessa investig aç ão pduz -se sin gul ar tran sp osi ção de sen tido : o populismo dei xa decon sidera do um t raco comum a vá rios mov imen tos para se t r ans fo

1

Page 4: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 4/30

·.I'

I

mar em um conceito. sintético que define ou sirnboliz a o con juntode traços característico do m ovim ento analisado;,(3) daior diante ,sempre que se queira voltar a definir o que es pe cifi co no p cpu lis-mo . o único cam inho será, em vez de isolar um traço comum a vá-rio s m o vi me nt os, c om pa ra r e ss es m ov im en to s como tais e p r oc u ra restabe lecer o que têm em comum , através de um procedim ento tipi-camente ernp iris ta de.abstração/generalização . Porém, como afir -mamos, e s ta t en t at iv a nã o leva m uito lon ge, pois os cham ados mo -v im en to s p op ul is ta s d if ere m fu nd am en ta lm en te entte si. E m c on se -qüência . o que normalmente se faz é c on ti nu ar a falar e m p op ulis-

m o sem defini-lo - o que nos traz de volta ao pon to de partida .A s dificuldades para identificar conotações delasse no popu-

lismo . freqüentemente , conduzem a uma segunda concepção, quepoderíamos qualificar denthllismo teórico. De acordo com ela,"popu lism o" é um conceito destituído deconteúdo. D ev eria, p or-tanto. ser e lim inado do vocabulário das ciências soc ia is , e s ub sti tu í-do por um a aná lise direta dos movimentos até ho je qualificados de

popul istus , em função de sua natureza de c lasse. Desse m odo, aanálise dos fundam entos de classe de todo movim ento constitui achave rara desvendar a sua natureza. Entretanto - caberia pergun-tar-nos - ist o é tudo? A análise de classe realmente elim ina a p er-gu nta relativa a o p op ulismo ? J : evidente que não. Porque háaqu ipelo m enos um problem a não r es ol vi do : é o de que o "popul ismo"não é s im p lesmente uma ca tegoria analítica, m as um dado da expe-

riência. I : aquele "algo em comum" que é percebido como compo-nente de mov imentos de base social totalmente diverge n;e, Aindaqu e se t ra ta sse de uma pura ilusão , ou aparência , haveria que expli-car a " il u sã o" ou a "aparência" enquanto tais.N es se s en ti do, PeterWorsley form ulou o problem a em termo corretos: Pode muito bemocorrer, ent ão, que falar do populismo com o um gênero correspon-da a presum ir o 'que deve ser demonstrado: que movim ent os comcaructeristicus muito diversas , separados no tempo, espaço e cultu-

ra . pos suem certos atr ibu tos cru cia is que justificam a s ua agreg açãoconsc iente e unu liticu rne n! e sob a m esm a rubrica de "populista ",apesar da s varia çõe s em suas outras ca ra cte ris tic as. O uso desse ter -

mo requer a e sp ec ific ucão des s es a tr ib utos cru ciais e não , simple s-mente, que se presum a que O fato de se rotula r arb itrE iamenteuma pa lavra impl ique q~~ em qu al qu er semelhança , sociologica-·mente Calando , entre as ativid a(.~cs às quais o rótu lo roi aplicado.

Essas sem el hanças podem não c,\i sti r. Ma s com o a pa la vra tem sido

1 52

I ,tt '

'1

"11 1

iI,

_ .1

~If ,p

li

' ' ' 1!!1 '

~!~I I. '. ' r , IMH'II':51 I r ' .~t, ' 1 '

i~~t

J l l~ II

us ada . a ex is tência dest e fumaça verbal poderia. eventua lm entedicar a pr esença de fogo em algum lugar'." Pode -se até adargum ento de queo populisrno é in sufic iente para defin ir acidade con cret a de certo tipo de movim en to p olítico. Contudo,ser ia sufi ciente para negar que constitu a um elemento abmesmo '! Trata-se de perguntas que a abordagem nihilistalisrno é incapaz d e r es p on d er. Daí esse tipo de enfoque ter sdo insuf ici ente ou insatisfatório e qu e. apesar de sua inde

conceitual, o populisrno continue gozando de boa saúdecias so ci ai s. I

Um a terceira concepcão tenta superar essas d ific uld ad es ,tringindo o te rmo "populism o" à caracterização de um ae não de. um movimento. Considera-se como carac terísticasdexsu ideo logia oanti-slatus quo, a desconfiança nos político scionuis , o ape lo ao povo enão à s c la ss e s, o antiintelec tualism o,

O icornplexo ideológico que se constitu i a partir desses e lem eria . en tão. adotado por movim entos sociais de bases diveacordo com processos históricos concre tos, sobre as qupossíve l form ular qualquer generalizacão apriorística . Conesse tipo de análise embora tenha contribuído para enriq uecerm o, d e fato , en riq ueceu - o e st ud o das/armas de que O popultem se revestido. apresenta as d uas seg uin tes in su ficiê ncias:traços caracterís ticos da ideologia pop u li st a s ão pr es en ta do s'um a form a puram ente descrititiva , ig no rando-se o que constituiu ni da de p ec ul ia r; (2) nada se sabe sobreo papel que o elem etritamen te popu lis ta desempenha em uma mobilização soc

minada.Finalmente, resta avaliar a concepção funcio nalista

lisrno, segundo a qual trata-se de um fenôm en o ab erran te, pro

do pela assincronia nos processos de transição de umatra dicional para um a sociedade industrial. A concepção funlista é, de lon ge. u mais coerente e desenvolvida de todasas já

cionadas. Para di scuti -Ia . tom aremos como exemplo o conmodelo de Gin o Ge r m ani , e a análise do popul ismo , realizad aTorcuato D i Tel!a , apar tir de um a perspectiva teó rica semelh

P. W or sley, "The Concep l o f P op ulism", in G . lonesco e E. Ge llncr, PoLo ndres . !970. P. 219 .

Page 5: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 5/30

I.

nI!::

o processo de de se nvolv im ento eco nôm ico é conceb ido p orGerrn ani;' obedece.ido a uma tr adiç ão socio lóg ica já bastan te só li-da, com o a transiçã o de um a sociedade trad icio nal a um a socieda-d e i n du s tr ia l. E sta trans ição im plica em três m udanças básic as: (1 )m odificação no tipo de ação socia l (passagem da predom inância dea çõ es p re sc ritiv as a a çõ es e le tiv as ); (2 ) p as sa ge m d a in stitu cio na li-zacão do trad icional para a institucionalização da m udança; (3)evolução de um conjunto relativam ente ind iferenciado de institu i-ções para um a diferenciação e especialização crescen tes das m es-ma s. E sta s trê s m ud anças básicas são acom panhadas por m odifica-çõ es profundas no tipo de relaçõ es sociais e no tipo d e pers onalida-

de. (Por exem plo , G erm ani sugere que a m odern ização da atitudedas crianças com relaçâo aos pais, e das esposas com relação aosm aridos, acabarão por provocar m udanças nas atitudes dos paiscom relação aos filhos e na dos m aridos com relação às esposas. E s-t re ta nto , e sta s ú lt im as a titu de s, p or re fle tire m o e le me nto d om in an -te no relac ionam ento , não serão necessariam ente m odernas em si.)N este m odelo , as etapas de transição são consideradas com o um aform a de assincro nia - ou seja , de um a coexistência , em um a m esm aetapa , de elem entos pertencentes aos dois pó los da sociedade trad i-c io na l e d a s oc ie da de in du stria l. E ssa assincronia pode ser geográfi-ca (s oc ie da de d ua l; p aís es , o u re giõ es , c en tra is o u p erifé ric os ); instl-

tucional (c oe xis tê nc ia d e instituições correspondentes a d i fe r en t esfases) ; d e c er to s g ru po s s oc ia is ("as características "ob jetivas" - p .ex .: ocupação , posição na estru tura sócio-econôm ica - e as carac-terísticas "sub jetivas" - atitudes, caráter social, personalidade so-cial - de ce rtos grupos correspondem a etapas "avançadas" , ao pas-

so que us de outros grupos correspondem a um a etapa "atrasada" ;c ntotivacional ("pelo fato de um m esm o indiv íduo pertencer a v á-rio s g ru po s e a in st itu iç õe s d ife re nte s, a a ss in cro nia a fe ta o p ró prioin div íd uo . E m s eu p siq uis mo c oe xis te m a titu de s, id éia s, m otiv aç õe se crenças correspondentes a 'sucessivas "etapas" do processo"). Oajustam ento ou correspondência en tre esses elem entos heterogê-n eo s, e ntre ta nto , n ão s e r ed uz. a u ma m er a c oe xi st ên ci a. A m o de rn i-

zação de um deles prov ocará m udanças nos dem ais, em bora não

necessariam ente em um senti do m oderno .

,

' II

"·'i

' ' "i l l l .\ G. G cr rna ni. Potit tc o y Sociedad en lI~a (POCO de transición, B ue nos Aire s, 1965.

15 < 1!?

I I 1I '!t~l:

DU:JS de ssas form as de sim biose se revestem de especialt â n c i u rara G er rnuni: o efeito de demonstração e ~ efe ito deNo ca so d o p r im e i ro , háb itos e m entalidades correspondentespas ma is av ançadas d, desenvo lv im ento difundem -se pelasatr asada s (com o os háb itos de consum o que independemxos níve is a lc an ça do s p ela p ro du çã o). N o caso do segundo ,gia s e atitudes correspo ndentes a um a etapa avançada, arein terpretadas em um contex to atrasado tendem a reforçarp ri as c ar ac te rí st ic as t ra di ci on ai s. D ois ou tros conceitos d etância-chave ' para G erm ani são os de mobilização e de integr

Po r mobllizaçâo ' en tende-se o processo pelo qual grupo s an

m ente passivos adquirem um com portam ento deltberativo (in tervenção. n a v id a nacional que pode oscilar desde os m ovimin orgânicos de pro testo até a ativ idade leg alizada e canalizadavés d os p ar ti do s p ol ít ic os ). P or in tegração entende-se o tipob i l i z a ç â o qu e: (I) é realiz ada através dos canais pin stitu cio na is e xis te nte s e , p orta nto , le ga liz ad o p elo re gim e(2 ) o m arc o d e le gitim id ad e d o re gim e é im plí cita o u e xp lic itaaceito pelos gru pos m ob ilizados, que desse m odo, acatam ado jogo da legalidade vigente .

Com base nesse aparato conceitual, G erm ani elabora oteó rico que lhe perm ite en tender a em ergên cia dos m ovim entopulistus - ou m ovim entos nacionais e populares, com o ele o.mina . E st e m arco teó rico é estab elecido através de um a comção entre a experiência h is tó rica da transição na E uropa e nrica Latina. N a Europa, reg ist ra-se um a nítida d istinção entetapas : a dem ocracia com partic ipação lim itada e a dem

com partic ipação to tal. D uran te a prim eira fase, são lançadrundamentos 0-: um estado racional e do tip o de autoridad ecrát ica; v igoram a liberdade ind iv idual e um Estado liberal,d ireitos políticos são reservado s à burguesia , enquanto aspopulares perm anecem acorren tadas a um a m entalidade trnal e não se in tegram às novas form as da sociedade; predom

I

II

~ O conceito de rnob ilizacão roi am plam en te desenvol v ido na m od er na l itde ciê ncia polüica . cr .. es pe c ialmente, a obr a de J. P. N t!\I, Political Motion. A Sociological Analysisof Methods and Concepts, Londre s, 19 67 ; D .0[1. cit.: Karl Deut sc h. "So cial Mobilization and Politir al De ve lop rneru "Ecksrein e A pte r , Con ipa ro tive Politics , Nova lor cue. 196 3 . pr. 582-603

Page 6: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 6/30

II

"us cetisrnc capita lista" e a ética da produção I;rcva lec e so b re a doconsu~o. N a segunda etapa, as m assas se In tegr arrià v ida política eà vida urb ana; m as o im portante é que essa m ob ilização se processaatravés do modelo da integraçâo, com o qi -e não ocorreram gran-des traum as nem rupturas profundas no aparelho político . " A d ife-rença entre o exemplo da Inglaterra e de outros países o cid enta is , eo caso da A mérica Latina reside, en tão , no grau de correspondênciad iferen te en tre a mob ilização gradual de urna proporção cada vezm aior da população (até alcançar a sua to talidade) e o surg imentode m últiplos m ecanism os de i nte gra çâo - sind icatos, educação , le-

g islação social, partidos políticos, consumo de m assa - capazes deab sorver estes sucessivos grupos, proporcionando-lhes os m eios deexpressão adequados tan to do ponto de vista acadêm ico quantoIfrico , assim com o em outros aspectos fundam entais da cultu ra m o-derna)." N os pa íses e urop eu s, a e ss as m ud an ças s om ou -s e" trànsi-cão para um novo capita lism o de grandes em presas e para o pre-dom ínio da sociedade de consumo e do estado do bem-estar social.

N as sociedades subdesenvolv idas atuais, e especialm ente nocaso da A mérica Latina, em que Germ ani concerítra sua análise , oefeito de dem onstração, o efeito de fusão e assincronias, bem m aisprofundas do que as conhecidas no processo de transição europeu,unem -se para produzir uma conseqU ência caracterfstica , ao nívelda v ida política: a impossib ilidade de umamobilização real izadaatravés da tntegração. E m conseqü ência , a m ob ilização assum e for-mas aberran tes e an tiinstitucior,a is, que constituem a matriz deo nd e e me rge m o s m ovim en tos p:!c io na l-p opu la re s. P ara is so c ontri-

bui tam bém o novo clim a histó rico do século XX, caracterizadopelo declin io da dem ocracia lib eral e pela ascensão dos to talitaris-m os fascista e com unista . " Isto se refle te de m aneira típ ica, nasid eo lo gia s da ind us trializ aç ão , c uja s c ara cte rís tic as es se nc ia is p are -cem ser o autoritarism o, o nacionalism o e um a ou outra forma desocialism o, de coletiv ism o, ou de capitalism o de estado , isto , mo -v im en to s q ue c om bin am , de vá rio s m od os , c on te úd os id eo ló gic oscorrespondentes a trad içõ es pollticas opostas. A utoritarism o de es-querda, nacionalism o de esquerda, socialism o de direita e um a rn u l-tip licid ad e d e fó rm ulas hí brida s e até paradoxais, do ponto de vistada dico tomia (ou continuum) direi ta /esquerda . São precisamente,

(. \

t i

: 1: 1

ii

~

.~

I f

li

I :

i

".

I

II H, If !

I i~:;

.t ~~5 Germ uni, 01' . cit .. p. 154 .

15 6~i;r :

1:

"

U l

essas form as que, apesar de suas varia nte s d iversas, e , sobaspectos, o po stas , p od em os reunir so b a denom inacão gem o vi m en to s " na ci on ai s-populare s" e q ue parecem represenforma peculiar de intervenção na vida política nacional,dos estratos em vias de ráp ida mobil izacão, n os p aí ses d e i nli za ção tard ia.'."

A explicação de G erm ani para o populism o, portanto ,s e n is to : a incorporação prem atura das m assas na vida pono -am ericana gerou pressões que extravasaram os canaisção e de partic ipação que as estru turas políticas tinhamd e o f er ec e r. Em conseqüênc ia, a integração das m assas, d

com o modelo europeu do século XIX, não pôde se realizrentes elites, in fluenciadas pelo novo clim a histó rico do sm anipularam as m assas recém-m ob ilizadas em favor dep ri os o b je ti vo s. A m entalidade dessas massas, dada a suçã o in su fic ien te , c ara cte riz av a-se p ela c oe xis tê nc ia d e trac io na is e m ode rn os. Em conseqüênc ia , o s m ov im en to s pco ns titu em a a cu mula çã o h ete ró clita de frag me nto s c orretes aos paradigm as os m ais d íspares. O bservem os o seguingrafo de G ermani, que evoca a "enumeração caó tica" carada poesia surrealista : "H á aqui algo diflc il de entender, pexperiência européia do século X IX. G rupos políticos osren te s, n ac io na lis t~s d e ex tre ma dire ita , fas cis ta s o u n azis tanis ta s, e sta lin is ta s, to da s a s va ria ntes do tro tsk is mo -. assimsetores dos m ais d iversos - in telectuais, o pe rá ri os m o de rnpro fis sio na is e políticos de origem pequeno-burguesa, m ili

to re s d a v ei ha " ol ig ar qu ia" la tifun diá ria em d ec ad ênc ia ece política , nada menos do que as m ais insó litas com binaçõtodos eles, têm ten tado (às vezes, com êxito) apoiar-sehum ana a fim de atingir seus ob jetivos políticos. Com o éses ob jetivos nem sem pre coincidem com as asp irações dacam adas m ob ilizadas, em bora. possa, vez por outra , haiden tidade de asp irações e de ob jetivos en tre elites e m

U ma análise mais porm enorizada do populism o e deversas varian tes, a partir de um enfoque teó rico sem el hanGerm ani, pode se r en co ntra da em um conhecido ensaio de

r)

6 O". Cit .. p. 157.7 01'. c it .. p. 158 .

Page 7: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 7/30

I'p',,ld ' ,

l i / ! :l~ 1 ~

M T, D i T etla, "P opu lism an d Re fo rm in Latin Ar nerica" in C. Ve liz , Obstacles 10

Cnang» in Latin Ame ri ca , Lo nd res , 1970 , pp. 47-74.9 Op. Cit.. p. 47. ~• 'N. do T. : nwu media. no original,1( ) O". Cit .. p. 49 .

158

50 decisó rio da sociedade. J á n ão "c on he ce m. s e u' l u ga r" , cop er.irios eur ope us conhec iam o seu 'a té b em pouco tem po.tuem um a m assa d e apo io em disponib ilid ade m aior e m aidic adora do que qualqu er Luiz N ap ole ão p od eria t er s eq uernado <r."

Contudo , é necessário um elem ento adicional param assa seja m ob ilizada em um a direção populista: o surg im enum a eli te d irigen te c om prom etid a com esse processo d e mção . D i Te lla exp lica o aparecim ento de um a elite d irig en tederar o m ovim ento populista através de m ais um fenôm enora nte : a e xis tê nc ia , e m re la çã o a e ss es s eto re s, d e u ma in co ngd e s ta tu s e ntre a s a sp ira çõ es e " a s atis fa çã o d e e mp re go ". A ste rls tic as e ss en cia is d o p op ulis mo d ev em , em conseqüênc ia , scuradas; (I ) em um a elite im buída de um a ideo log ia anti-stalu(2) em um a m assa m ob ilizada, gerad a po r um a "re voluçãopectati v as crescen tes" ; (3) em um a ideolog ia dota da, d e a mp lIo emocional . D entro d este m arco teó rico , D i Tella elabor aclassific a ção dos m ovi me nt os p op ul is ta s, conform e a elite qder a p er te nç a, ou n ão . aos n íveis sup eriores do s istem a de eca ção social, e segundo o grau de aceita ção ou reje ição quetes recebem de seus Igrupos de origem .

Com o se v ê , a co ncepção de D i T ella é tão teleo lóg ica qude Ge rmani. Em um pó lo , situa-s e a s oc ie da de tr ad ic io na l;tr o , a sociedad e in du st ri al p le na me nt e d es en vo lv id a.' A s ra ipopulism o devem ser procuradas n a a ss in cro nia e ntre o s p rode tran sição de um a p ar a a o utra . O p o pu l ism o , c o ns t it u ir ia ,a form a de exp ressão política dos setores populares, quandpazes de criar um a organização au tô nom a e um a ideolog ia am a de classe. A um m aior grau de desenvo lv im en to c or re sp oum a organização de tip o m ais "classis ta" e m e no s "populista"p eronism o, por exemplo , situa-se em um a posição in term ene sse " co nt in uu m ". D o ponto de vis ta da classe o pe rá ria , o slism o de estilo ocid en tal cons titu iria o parad igm a de um a frepre sen tação de seus in ter ess es, correspondente a um a socia lt am e nt e d e se nv ol vi da . (Observe -se qu ea concepção do pm o com o um a expressão abe rr an re da as si ncr on ia n os pro cessdes envo lv im ento não im plic a necessar iam en te - embo r a iss

I: to D i Te lla .' O populi sm o é defin ido aí com o "um rnovirnen to polí-tico que de sfr ut a do apo io d as m assas da cla sse op erári a urbanae/ou do cam pes ina to , m as que não d er iv a d o p od er o rg an iz ac io na lau tônom o de nenhum dos dois setores . s tam bém apoiado por ou-t ro s s e to res qu e não a classe operári a qu e alim entem um a ideolog iaan ti- .Hatu s quo,' E in o utr as p ala vra s, a s c la ss es s oc ia is e stã o p re se n-te s n o p op ul is m o, m as n ão e nq ua nto classes; n a re alidade, ocorreum a distorc âo peculiar en tre a n at ur ez a d e classe d es se s s et or.es esuas form as d e expressão p olític a. C om o G erm an i,D i T ella a ss oc iaes sa d isto rcão á as sincronia ex isten te en tre os processo s de desen-vol v im en to e conôm ico , social e poll tico . N o cas10 do populism o

es sa assincron ia é d ada pela " revolução das e xpectativas c rescen-tes " e p el o " ef ei to d e d em on st ra çã o". "O s m eios de com unicação"de m assas elevam o nível das asp iraç ões de sua audiê ncia , es pecial-m ente n as cidades e en tre os estratos educ ados. A isto se tem dado-aliás, de fo rm a b astan te p er ti ne nt e - o nom e de "rev olução da s ex-pe ctativa s c re sc en te s" .. . O rád io , o cin em a, o s Id ea is d os D ire ito sHu ma no s e a s c on stitu iç õe s e sc ritas - todos eles tend em a produzirefeitos de m aior alcance do qu e os ver if icados n a e xp eriê nc ia e uro-péia. E ntretan to , a expans ão econômi ca s e a tr as a, s ob re ca rr eg a dapela explos ão de mográfica , pela au sênc ia d e c ap ac id ad e o rg an iz a-cio na l, pela dependência em relação aos m ercad os in ternacional ede ou por esforços p rem aturos de red ístribuicãc. C ri a- se , n ec es s a-riamente , um gargalo , com as expectativas su perando em muito ap os si bi li da de d e s at iS fa zê -l as l~. " r : pr ecisam ente essa d isto rção qUC '

to rn a im po ss ív el o fu nc io na me nto de um sistem a polltico de tipooci den ta l levando , em con seqüê nc ia, à eme r gência do populism o.

"N essas co ndições, é d i f l c i l pa ra a d emocr a cia fu nc io na r a de qu ad a-mente . Na experiên cia ociden tal , a dem oc ra cia b as eo u-s e, tra dic io-nalmente , n o p rin cíp io d a n ão -trib ,u ta çã o s em r ep re se nta çã o. N ospaís es e m d es en volv imento , a rev olução d as e xp ec ta tiv as c re sc en te sge ra um de sejo de te r um a repres ent ação , ainda que na ausência detri bu tação . G íU p OS s em s uf ic ie nte p oder eco nôm ico ou o rganiza-ci cnul pa ss am a exig i r p ar ti cipação tan to no s bens com o no proces-

: 1

t i

li\ 1

~I' í ,1

" 1

!f

i~

:I Of'. rlt., (OC. cit.

Page 8: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 8/30

qü ent e rnente oco rra. - em uma avaliação nega tiva d e seu p a pe l no sco nte x to s h is tó ricos em que su rge, D i Tella, po r e xe mp lo . acha queo populisrno. em bora sendo um fenôm eno tran sicional. é um ins-tru mento irn j.ortunte e positivo de reform a e de mudanca .)

A prim eira objeção que a aná lise de Gerrnan i-D i Tella provocaé a de que é questionável atribu ir o populism o a uma etapa de tran -sic ão d o d es en vo lv im en to, Tam bém em países desenv olvidos se re-g istraram e xp eriê ncias p op ulistas: haja visto o Qualunquismo, naI tá li a. o u O Poujadisin li,na Franca, ou m esm o a experiên cia fas cistaque a m aioria das conce pções considera como umaforma sui gene-ris d e p c pu l is rno. Vin cula r o populisrno a um a etapa determ inada

d e d e se n v ol v im e n to é com eter o m esmo erro de: num erosas in te r-pretaçõ es dos anos 20 - en tre e las, a do Com inte rn - que co nsid era-vam o fascism o como uma e xp re ss ão d o s ub de se nv olv im ento ag rá-rio da Itália e que. por isto. não poderia se repetir em países indus-tr iai s adian tados. como a A lem anha, É verd ad e qu e. n as m etr ópo -le x cup itulis tus , as expe riê ncias popu lis tas são m enos freqü entes doqu e nos p aís es p er ifé ri co s. m as isto será sufic iente para conc lu ir queo m otivo Se situe nos dife rentes n í ve i s d e d e se n vol vim e nt o de uns e

outros '! Um a argum en tação nesses te rm os im plica pressupostos al-tamente quesuonüveis : (I) quanto m aior desenvo lv im ento econô-m ico. m eno r a probabilid ade d o pop ulism o; (2) u ma vez ultrapassa-do um certo lim iar, e superadas certas assincron ias no p rocesso dede se nvolvim en to . as sociedades industriais se tornariam im unes aofenôme no do popul isrno : t)) as sociedades "atrasadas" que a tual-m cue passam por experiências populis tas - quer sejam considera-

da s de m aneira positiv a ou nega tiva - avançarão necessar iamenteem d ire câ o a form as m ais "m od ern as ". e " clas sista s", de canaliza-cão du p ro tes to p op ular. Essas hipó teses constituem um conjun tode ax io mas id eol6g icos perfeitam en te arb itrário s, M ais ainda, ate o ria não nos fo rnece os instrum entos necessários para decidirsob re su a v al id ad e, Pois o conce ito de "socie da de in du st rial" nãoro i teo ricam en te construido -é, an te s, o res ulta do d o p ro lo ng am en-to ad quem de certa s c arac te ris ticas das sociedad es ind ustria is avan-çadas e da ad içã o m eram en te descritiva dessas características ; en-qua nt o o conc eito de "soc ied ade tradicion a l" nãopa ss a de um aan títese de cudu UIl 1 d o s traç os da socied ade indu stria l. tom ados ir.-div iduulmeni c. Dentro desse esqu em a. as etap as de trans içã o só po -dem con sist ir nu cucvistência de ca ract e rís ticas per tencent es a am -bos os p ólo s. Sendo ass im , o fen ôm eno "popu lisia" apa rec er á se m-

16 0

I.

ri:

lit,;

t i

iI

I~l i 'Ii t

I :~

~

I' I

(~

I

I I U

I r 'I :I,

l iI:, ."I'

pre co mo um agregad o heter ogêne o e confuso de "tr adicion"modernos", D o r rí es mor nod o . o sur gimen to de elites rnodere s que exo rtam à ruobi l izacã o populista das m ass as não édo de m aneira sut isfu tó ria. (A menos que se considere comCH;~O o qu e, na verdade . não passa da rep rodução do probnovo s tt :rm oS)- com o a hipó tese da incongruência de st at us ;

s e a ce it e, co m G er rn un i, exp licaçõ es tais com o o deito det r u ç ã o derivado do novo clim a histó rico gerado pela crise

cruc ia lib era l - fenôm eno esse que , m ais do que efeito detr ;\~';'lIl SI: a~~l !lllclha ;\ u r nc onu l g io ). Da i. l inulmcntc. o ab usoplicuçôes em termos de manipulação que , ou regridem ao

rulism o (frau de , d em ag og ia ) o u, quando se trata de explicarma nipulação se torna possíve l. in corre em explica çõesda d icotom ia soc iedade tradiciona l/soc iedade industrial :co m c aracte rística s tra dicio nais sã o, rep en tinamente . incorpo: l v id a u rb an a. e d aí por diante , A con clusão c la ra é a de quconcepção, o p op ulis rn o ja mais é defin ido em si mesm o, mnas em contra posição a um parad igm a.

A segunda crítica a ser formulada com re lação a essação é a de que . dado que os conceito s de ambos os tipos de sde não forum construídos teo ricam en te - na verdade , nãoda resultan te d a adição m eram ente d escritiva de s eusraço sterísticos, - não há como entender o significado de um en ômnão ser indicando sua prog ressiv idade relativ a: is to e . suu lção no continuum que vai da sociedade tradic iona l à soc iedadustrial . Es ta progressividade é. por sua vez, redu zida à resp

p roporção de elem entos "tradicionais" e "m oderno s" qun a d e fi n iç ão d o I en ôr ne no a na li sa do, German i. sem dú vid a .a rgumentar ia . a flrrnando que não apenas le va em cont a a prd e e leme nto s iso lados como. tam bém . de suasfunções, degrande parte de sua análise se d e di ca , prectsoruente, a estudar

"ma s específicas que assum e a comb inação de e leme nto s pert

tes à s d iv ersas e tapas - tais como os efe itos de demonstr açãfusão - e a funciona lidade rea ldes sa s c om b in aç õe s na soci edas eu c on ju nt o, Analisem os este problem a mai s deperto, AoO efei to de fus ão, G erm ani perceb e com clar eza - o qu e é umind iscut ív el" qu e ce rtas form as de "m od erni za ção" não sonão sã o incompat íveis . co mo ten de m me smo a rcfo rca r asterís tica s tr adic io nais (a modernização dos padrões de consumseto res oi igár qu ico s tradic ion ais, po r exemp lo . pcd c :n , em su

Page 9: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 9/30

: 1h. , !

lis e , contribuir pa ra o re fo rço de um a 'ética p ré -c ap ita lista d e c on su -mo e p ara a m an urencão de padrões tradicionais ~a esfe~a da pro -dução). A té a í não haveriam ob jeções; m aisainda, a pa lavra esco-lhida. "fusão", descreve bastante bem o fato d~ que os elem entos" tradiciona is" e "modernos" perdem sua identidade enquanto tais,em ra zão da m esc la quedaí resulta . Porém , aqui se: bre um a linhade desenvolvim ento lógico que conduz à negação das prem issassobre as qua is todo oraciocínio se baseia. Sigamos esta linha de ar-gumentação: (1) se aceitam os que a m odern ização de certos aspec-tos da sociedade não é um indício necessário da modern ização des-sa soc iedade considerada como um todo - pe locontrár io, a m o de r-n iz açã o d e asp ecto s parciais pode conduz ir ao forta lec imento deum padrão social tradic ional - tem os que adm itir tam bém que umasociedade pode ser m ais "trad ic ional" do que outra , do ponto dev ista de algu m as, ou da m aioria, de suas carac te rlsticas e, a inda as-sim . ser m ais "moderna" do ponto de vista de sua estrutu ra . Istosi gnifica, po r um lado, que essa estrutura não pode ser reduz ida àm era som a descritiv a de seus traços, e, por ou tro lado, que a rela-çã o va riáve l entre esses traços eo-todo im plic a em q ue a s p rim eira s,consideradas em si m esm as, carecem de u m sign ificado espec ifico.Com isto se introduz iu um elemento estru tural na análise, daI de-co rrendo a necessidade de abandonar a aná lise da transição em ter-mo s de um continuum de traços e atitudes, e de! hfrentá-la c omou ma s érie de s cont lnua d e e st ru tu r as. (3 ) Em conseqüência, se os ele-m e nt os c on si de ra do s isoladamente perdem o significado em si m es-mo , não tem sen tido uni-Ios nos psradigrnas "~ociedade tradicio-na l" e "s oc ie da de i nd us tri al ". Qualquer afirm ativa de que os ele-

m en tos isolados têm uma esssência "em si",à m arg em d as es tru tu -ras , consis tind o n a sua inserção essencial como momento de um pa -rudigrna, é um a co locação m eta física , d es ti tu íd a d e l eg it im id ad e,D ecorre da í que as cat ego rias . que nos perm item pensar associeda -des concre tas são cate gorias analí t icas, desprovidas de qualquer di-m en são h istórica (se por esta se en tende que a noção de e tapainter-vém na p róp ria definiç ão do con ceito) , P o r c on se gu in te, tambémper de m va lidade os conceito s demodernização, assincronia e , em ge-ra l, to dos o s q ue in tro duzem uma per sp ec tiv a t el eo lógic a naaná lisecientíf ica, Ao usar co nc eito s tais como "e fe ito d e dem on stração " e"e feito de fu sã o", G erm an i incorporou um a dimensão estrutu ra lem sua an ál ise . embo ra não tenha levado as conseqüências-desta in-co rporação à su a co nclusão lógica , Não fo i por ou tra razão que ter -

I.

~

"l i

"i ,

' I

.1 i ,I,

I ,

l iI !

'II :

I 'l i

~~I ;

i!~

~~L,

!1I'

r ! '

l i!~

/ . ,"

1 62

II IIII,IU p"r manter urnu ubo r dugern te leológ ic u na an alise do111,11\ , p o li t ic ux . 'Os 'e lemen tos qu e se "fundem" óu são ub sm cnt c "t rudi cio nuis ". o u absolutumeru e "mod ern os", Emqu"i"te, cntâu, esse p rocesso de "fusão"? Nes te po nt o. G errnuniconst r ui r um conceito que nus permita cornpr ee nd ê- lo - "Fuuma puluv ru úlusiva ou um a met áfora . mas não um conceisubs titui eSS,t cou st ruç üo ror um a ex plicaç âo em term os deoa i 'US: t'l sc r in II resu ltado de uma assincro niu . Ou sej a, do ei 'u s: il l S ll se Il l lS e xpl ica o q ue c! in teligível em term os de noss opurud ig rn u «: I IS elem en tos qu e se fu nde m , Como ocorre geraCO I11 ,tS cxpticucões em term os de purudig rn us, tudo o que sab

ao i'ina l du unálisecorresponde ao que já huviu sid o co loc adinício , Os purud igrnus só explicam a 'si me smos ,

Manter ou não lnn u perspectiv a te leológic a e um a ex pem term os de purudig rnus tem conseq üên cias irnporiu nte san ú lise de proc essos polüi cos concre tos , Tome mos um exemp

mum na li tera tur a sobre o populismo: o do migrunte recenteusud o . [rcuíicntcmente. puru explica r J1 0r q ue os se to res soc ia!;!i ll: 'tr ios de 1.11ll aS rur a is u irusudu s. ao se in co rp orarem à fot ruh a lh u da s novas ind ús trias urba nas em exp un sü o. têm dif ides C I11 desenv olver [1/11 sind iculismo de tipo europeu. e s ãI11 C l1 tc conquisru dos J10 r mobilizucões de tiJ10 populistu, Germou tros tendem a e x pl ic ar es te fenôm eno corno sendo. ess encialte. IIresultado de dois J1 rUL 't:S SO S:I) massas sem experiênci ae, l truzcm consig o, das zonas rur ais. U I11 iJ1 0 trad icio nal dedude e de idculcgiu qu e a ind a não tiveram tempo puru superaíuvur de u r n a ide ologia moderna e de um es tilo de ação polític

mc lh .uu c« ,IllS da class e op erú r iu europé ia : (2 ) o s us sinc ronismpro cesso de desenvo lvim ento impe lem, prernu t u ru m en te. es sasas rara a al,:~illpo lít ica. CO Ill o qu e a u u s ên ci a de um a "consc ide clussc" desenvolvida. gera [ormus de mobilizucâo desv iannâ o rcxul tu CI11u mu u t ividud e orgunizucionul au tônom a daco ruo t.rl . f: óbvio que os migrunres recém-chegados traz em coum tiro de mcntulidude rur al. Tamb ém é evidente que es ta rndude se tr.msfor mu em comuto co m o meio urba no e com a u

de industr ial. Os probl emas têm in icio qua ndo tentamos mgr <lu de "modcrnidude" destas ideolog ias segundo um pur aconsiu uido pclu e x p c r iê n ci u du classe op e rúr iu euro péia : e rnL' :lI11 -SC se cuus idc ru nu ox qu a lquer de svio des te purudig rn a11 111 :1C\rn.:ss:ill d u p erp etuuc ào dos elementos trudic ionu is.

Page 10: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 10/30

vem os isto m ais de pe rto . U ma vez chegado s a Vrlj centro urb ano,os rn ig run te s com eçam a sofrer um conjunto de pressões: explora -ção de cl asse nos novos em pregos. que os transfo tm a em proletá-rios : p re ss õ es m ú lt ip las da s oc ie da de u rb an a - p ro ble ma s d e h ab ita-ção . saú de . e du ca çã o - atra vés das quais en tram em relações d i al é ti -

cu s e conflita nt es co m o Es tad o . Ne ssas circunst ân cias. a r eação na-tu ra l s eria re afirm arem os sím bolos e valores ideo ló gicos da socie-dade de que procedem . de m odo a m anifestarem seu antagonismoe m r el aç ão à no va so cied ade que os explora . Superfic ia lmente. esse 'fen ômeno se a ss em e lharia à sobrevivência d os v el hos elem entos, po-rém . na verdade. por trás dessa sob rev ivência . ocu lta-se um atrans-[onnaçào: esses "elem entos rurais" constituem . sim plesm ente. ama téri a- prim a que a prática ideo ló gica dos novos m igran tes trans-form a. a fim de expressar novos antagonism os. N este sen tido . a re-sistência de certos elem entos ideo ló gicos a se articu larem no discur- .so dom inante dos velhos setores urb anos pode e xp re ss ar e xa ta m en -t e o o po st o a o t ra di ci on al is mo: um a recusa em aceitar a legalidadeca pita lista que. neste sen tido - ao refletir o mais rad ical dos confli -to s d e: clas se - expressa uma atitude m ais "avançada" e m ais "m o-derna" do que o sind icalism o de estilo europeu . O e st ud o c ie nt íf ic ode ideo log ias pressupõ e. precisam ente. a análise desse tipo de trans-form ação - que consiste em um processo de articu lação e de desar-ticu lação dos d iscursos - e do "campa ideolúgico" que lhes d ú s en ti-do . Porém . esse processo será in in teligível na m edida em que se atri-bua aos elem entos ideo ló gicos um a ori ge m e ss en ci al p ar ad ig m át ic a.

A conclusão que se depreende da análise an terio r é inequívoca:

o sign if icado d os e le m en to s ideo ló gicos iden tificados com o popu-lism o devem ser procurados na estru tura da qualsão u m s im pl esm om ento . e não em parad igm as ideais. E ssas estru turas parecemre fe rir-s e - ta mb ém ine qu ivo camente - à natureza de classe dos m o-vi rnen tos populistas, a sua s raizes nos m odos de produção e a suasart icu lações. De s te mo do. nossa exploração das tedr ia s r el at iv as aopopulism o parece reduzi r-se a uma viagem circu lar: com eçam os as-sinu lando a ;mp ossibi l ic iade de vincular o elem ento estritamen tepopulis tu à nature za de classe de um determ inado m ovim ento : emseguida. passamo s a analisar as teo rias que o aprese n tam como aex pressão de situ ações em que as classe s não co nseguem exp re ssa r-se p le name nte com o tais: e . ag ora . conclu ím os que os traços ideo ló-gi cos qu e: r esu ltam desse tipo de si tuaçã o só faz.em sentid o se refer i-dos ti es trutu ra de que Iazern par te, isto é. à estrutu ra de clas ses .

t: !

li! I

, !

ilI'

~'~I

~~I

I~I ' . '-

I' ., .

l i: i~ 1

t j

\ i r ,

l i !/ - ,

: ! .• !

I ;:ll .

~"

Ilj l

I1

'I· 1

I

n l ~I

! 16 4

1 1

Aparen temente: não hav er ia um a m aneira de escaparc ír cu lo v ic io so . Por um lado . o e le m en to e st ri ta m;e nt e " po pus ó e nc on tra s ua e sp ec ific idade se deixam os de consid era r ade 'c la ss e d os m ov im en tos po p .ulistas concretos. M a s. por oudo . devem os nos referir às contrad ições declasse. com o um ento estru tural fundam ental para encontrar o princíp io dd e d as d iv ers as c ara bte rísticas polít ic as e i de ol óg ic as iso ladastretanto . se observa+m os o prob lem a m ais de perto . veremeste cír cu lo v ic io so é na realidade o resu ltado de um a coEsta confusão provém de um a ausência de diferenciação depectos: o prob lem a geral da determinação de classe d a s s u pe rturas política e ideo lóg ica e asformas de existência da s' c la sn ív el d as re ferid as s up ere stru tu ra s. O bse rv e-se que se tratap ro b le m as d if er en te s: afirm ar a determ inação de classe dast rn tu ru s n ão s ig ni fi ca e st ab el ec er eforma em que essa defin iexerce. (O u. o que é o m esm o. a form a em que as classes eta is e stã o p re se nte s n ela s.) A identificação de am bos os probs ó s e j us ti fi ca-se se pensa a ~xistência das classes sociais.ideo lógico e político , sob a form a da redução. D e fato. se tom ento ideo lóg ico e político tem um pertencim ento de classsário, é óbvio que .a cla ss e s e e xp res sa t ambém, necessariaa tra vé s d ele . Em conseqüência, as formas de existência poideológ ica de um a classe se reduziram . enquanto m om entossários. à explic itação de sua essência . E m c on se q üê n c i a , a snão m ais determ inariam as superestru turas política e ide

mas as absorveriam com o um m om ento necessário em seud e a u to d es d ob r am e n to . Com o se sabe. e st e t ip o d e i nt er pr epode se apresen tar sob um a perspectiva econom icista - cocaso do m arx ism o da Segunda e da Terceira ln ternacionaisieorizar as superestru turas com o um reflexo d as r el aç õ es d eçã o . 'ou então . sob um a p e rs p ec ti v a " s up e re s tr u tu r alista " (Lou Korschkao t or na r a " co ns ci ência de classe" o m om entom en ta l e c on stitu tivo da classe com o tal. Em am bos os casos.tan to . a relação entre classe e:superestrutura é conceb ida emig ua lm e nt e r ed uc io ni st as. D a me sm a form a. e st a c on cepçã oa um a ident if icaçào entre: a clas se com o tal e o gru po socialcam ente obse rvável. Porqu e se cada um a da s ca racterístic asdado grupo pode ser red uzida - ao me no s em pri ncip io - à. s u

tu rcza de classe. não há com o distin guir en tre: am bo s. A relaç

Page 11: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 11/30

j": I: !

'tre a i ns er ção do gr up o nos proce sso s de produção - sua na tu rezad e c la ss e - e suus caructerísticas "empír icas", seria-de t ip o i dê n ti coà qu e a filosofia m ed ie va l e st ab el eci a en tre na tu r a na t ur an s e natu-

ra naturata . Compreende -se . assim . que um a concepção que faz daredução de classe a fonte ú lt ima ,da inte lig ibilidade de qualquer fe -nôm eno se depare com dificu ldad es espec iais na an álise d o p op ulis-m o , e len ha oscil ado en tre reduz i-I o à ex pressão do s in te res ses d eu m a c la ss e - ou da im aturidade dessa m esm a classe - ou então. con-tin ua r em pre gando o term o de um modo indefin ido e m eram en tea lusivo.

S igam os . entre tanto . um a ou tra linha de rac ioc lnio . A bando -nem os o pressuposto reduc ion ista e definamos ~s c lasses com o os

pólo s de re laçõ es de p rodução antagôn icas que , enquan to ta is , nãotêm nenhum a fo rm a de ex istência , necessária" a os n ív ei s i de ol óg ic oe pol íti co . Af i rmemos , ao m esmo tempo, a de te rm inação . em últi-m a instância, d os p ro ce ss o! h istó ric os p ela s rela çõ es d e p ro du çã o, oqu e eq u iva le a dizer, pe las c lasses . D esta m udança de ênfase deri-

va m trê s conse qü ên ci as fu nd am en ta is :I. Não é mais possíve l pensar a existência das classes, aos níveis

ide(}llÍ~icoe político, sob a forma da redução. S e as c lasses estão p re-sen tes ao s n íve is id eoló gico e po lítico - po is as re laçõ es de p ro duçãoco nserv am o pap el de d ete rm inação em ú ltim a instânc ia - e se osconteúdos o u ideo log ia e da p rá tica po lítica de ixaram de ser as for-ma s ne ces sárias de -existência das c lasses a esses n íve is , o únicomodo de conceber-lhes t ai s p re se n ça s é afirm ar que o cará te r declas se de um a id eolog ia é dado po r suaforma, e não por seu conteú-do. Em que consis te a form a de um a ide ologia? Já v im o s a n te ri or -mente!' qu e a respo sta está n o p ri nc ipio articula tó rio de suas inte r-pe la çõe s con su.ut ivas. O cará ter de c lass e d e u m d is cu rs o id eo ló gi-\:O se reve la no que poderíamos cham ar de seuprincípio articulatô-rio espec ifi co . Tomemos um caso: o na c iona l ismo. Tra ta-se d e um aideo log ia feuda l, b urguesa ou p role tár ia ? C onsiderado em si, ãotem nen hu m a conotação c1as si s ta . E sta ú ltim a s ó d eriv a d e s ua a rti-cu lac ão es pec í f ica com out ro s e lemen tos ideológico s. Um a classe

I !r -

i ,I

" I " ".i- t

1 I

I

:1

~

r : ' ". 1

f j ,,~ 12 A concepção da ideo log ia e da po lltica come.nlveis ap re sen ta um a sé rie de d ifi·

cu ldudc s em que não podemo s entrar ne ste te xto . Co n ti nu a rem os. port ant o.

usand o o le rm o cor rente .t. 1 Cf . supra. C apo J. sub tüu lo "Interpelaçõ es d e c la ss e e int erp el acõ. :S popular -

derno c rú ticus" .i;

: 1'

166

lcud.rl. ro r exem p lo. pode vi ncula r o n aciona l ism o à manu tede um sistem a hier á rqu ioo -autoritá rio de tipo tra d icion al -lemb rar a A l emanh a d e B is mark . Um a classe bu rguesa podenucionulismo ao d es envo lvi m en to de um E stado-N ação cen trdo em lu ta con tra o purticularlsrno feu da l e, s imu ltaneamente ,la r para a un idade nac ional com o m eio de neu tra liza r os con fde classe - reco rdemds o caso da F rança. F ina lmente , umm ent o comunista p od e d en un cia r a traição da causa nac ionpela s classes cap italistas , e a rticu la r o soc ia lism o ao nac ion aliem um dis cu rso id eo l6 g ic o u n it ár io - pens emos, p or e xem plo,M ao . Dir - se-ú qu e.entendem os po r nac iona lism o algo diferen t

tr ês casos. J: . verdade, m as nossa m eta é, prec isamente, de te rmion de res id e li diferença . S erá qu e o n ac ion alism o refere -se acondo s tão diver sos qu e n iio seja poss íve l iden tifica r um elem entom um de sentido em todos e les? O u talvez ocorra que certo scom un s de sentid o estejam conota t ivam ente ligados a c amposlóg ico-ur t icu lu tó r ios d istinto s? Se aceita rm os a p rim eira soteríam os q ue con cluir qu e a lu ta ideo lóg ica enquanto tal éirnpvel, uma vez que as c lasses s6 podem compet i r a nível ideolócaso ex ista um matco comum de sen tido com partilh ado poas fo rças em lu ta . É ju st am e nt e e ste " ba ck gr ou nd" de signif ica

compartilhados q ue perm ite ao s discu rso s an tag ôn icos estabe lrem s ua s d ife ren ça s. O s d is cu rs os políticos d as d iv ers as cla ssesexemplo; c on siste m e m e sfo rç os a rtic ula t6 rio s an ta gô nic os, emca da c lasse se apresen ta com o a autê ntic a r ep re se nta nte do "p ov"d o in tere ss e n aciona l", e tc. S e, p o r c o n se g u in t e, ace itarm osgun da solução - que consideram os co rre ta - será p rec iso c on

qu e as classes existem aos nlveis ideológico e político, sob aformarticulação, e não da redução.

2 . A a rt ic u lação requer. port ant o, a exi s tência de conte údo sin te rp elaç õe s e c on tradições - n ã o c la ss is tas, qu e constituemtéri a-pr im a sob re a qua l a tua a prática ideológica d e c lasse .pr á tica ideo lóg ica é de te rm inada não som en te porum a visã omun do coerente co m a in serç ão de um a classe no p rocesso ddu ção, co mo tam bém , po r sua s re laçõ es com as outras cla ssepe lo n íve l concreto . da lu ta de cla sse s. A ideologia de um a c

14 A~ prü ricus. nu tu ral rne nt e. estão sempre co rpo rifi cadu s em aparelhos id eco so

Page 12: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 12/30

1 1 1 1 !

dominante não con siste apenas em uma Wcl t ansch aung" que ex-press e ideologicam ente sua essência, mas é tarnbérn um a parte doaparelho de dom inação desta cl asse .i A ideo logia da class e d om i-nante, justamente por ser dominante, inte rpela não só os mem brosdesta classe mas, também, os m em bros das clas,es dominadas. A

forma conc ret a que assum e a interp elação d essas últim as con sis tena absorção purciul e neutralizacão do s conteúdo s id eo ló gi co s a tra -v és d os qua is se exp re ss a a re sis tê nc ia à dominaçã o. O método a tra-vés do qual se realiza esse processo é o delim inar o antagonismo etrunsfo rrn á-Io e m u ma sim ples d iferen ça. Um a classe é h eg em ô nicanão tanto na med ida em queé cap az de im por uma concepção uni-form e do , m undo ao resto da sociedade, mas na m edida em queon -sig a ar ti cu la r d if er en te s v isõ es de mundo de forma tal que seu an ta-g on is mo p ot en ci al s ej a n eu tr ali za do. A burguesia ing lesa dg séculoXIX transfo rm ou-se em um a classe hegemônica não através da irn-po sicão de um a ideologia uniforme às dem ais classes, e sim 'a me -dida em qu e conseg uiu articu lar diferentes ideologias a seu projetoh eg em ôn ic o, g ra ça s à elim in ação d e seu caráter a n t a g ôn i co: a a ri s-ioc ruc iu não foi abolida , ao estil o j ac ob in o, m a~ reduzida a um pa-pel cada vez m ais subordinado e deco rativo, enquanto as re ivindi-caç ões da .class e o perária eram p arcia lm en te ab so rv id as - o que re-sultou no reform ismo eno sindicalismo . O particulárism o e a natu-reza ad hoc das instituições e da ideologia dom inante na G rã-Bretanha n ã o refletem, po rtanto, um desenvolvimen to burguês in '-suficiente : m as ju stam ente o contrário : o suprem o poder articula -d or d a b urg uesia'! ' D o mesm o modo, as ideologias, das c lasses do-

min adas consistem em projetos articulató rios que tentam d esenv ol-ver os an ta go nis mo s p oten ciais co nstitu tiv os de um a formação so-cia l determ inada . O importante para nosso tem a é que a classe do-

minante exerce sua hegemonia de duas m ane iras : (I) através da arti-culação , ao seu dis cur so de clas se, das con tr ad iç õe s ei nt er pe la çõ esnão cl assistas: (2) através da ubsorcão de conteúdos que fazem par-te d o d is cu rs o político e ideológico das c las ses do m inadas, A pre-

~

1 1 1

I,

l i!' j

]

' I

.,~

t, l i

li

• N . do :r.: Um a cosr nov isã o a brangen te, es peci a lme nt e de um cer to pon to de v is-ta (do alemão "v isã o d o m un do ") .

15 N este po n to d isco rd o do p on to de vist a de Perry An d erso n, p ara qu em a persis-ten c in do par ticuler isrno institucional e ideológico br itân i co t: a express ão d e um arevo lução bur guesa não cons umada in te ir ame n te . Cf. Perry An dcr so n , "O rig insof the P res en t C r isi s" , Nrw L eft R eview , n ' 2J .

168

scncu de reiv indi caçõ es op erárias em um discur so -a jornaoi to horas, por exe rnp lo v não é su fic ien te p ara dete rm inarreza de class e deste discurso. O di scu rso político da b urgu es iatambém pela ucei taçâo da jo rn ada de oito horas como umad ic ac ão "justa", e po r um a leg is lação soc ial avançada. Istoprov a clara de que não é na p resença d e d eterm inados conteúum discurso e sim no princ ípio articulatório que os un ificavem os p rocurar o carát er de c lasse de um a polft ica e d e uma igia.

Pode uma classe dom inan te, através da incorporação suc

de elem entos do discurso ideológico das c lasses dominadas, cao p on to de que seus próp rio s princ ipios articulatór ios de c lasjam ' quest ionados? Esta é , por exemplo, a tese levantada porMacpherson , acerca dos dilem as da teoria democrátic o-libera lséculo XX, quando "Ela tem de con tinuar usando as hip ó teseindividualism o possessivo, em um momento em ue a estrutursociedade de m ercado já não p roporciona as condições nepara deduzir uma teoria válida de ob rigação pollt ica a partirlas hipóteses" ." A luta de c lasses dete rm ina m udanças na cd e i d eo l óg i ca-a rtiaulatória das p ró pr ia s c la ss es. Quando umadom inan te vai dem asiado longe em sua abso rção de co nt eúdosdiscurso ideológico das class es dominadas correo risc o de qu ecri se v en ha 11 d im inu ir sua p rópria capacidade neutralizadora ,que as c lasses dom inadas tenham condições dempor se u pd is cu rs o a rticulador no seio dos aparelhos de st ado. E o cautua l situação na Europa Ocidenta l, onde a expans ão do

mo monopolista to rna-se cada vez m ai s c on traditória com atu ições dem ocrá ticas libera is c riadas pe la burguesia emcompetitiva e em que, conseqüen tem ente, a defes a e amplia

liberdades democráticas se ligam, cada vez mais,a um discurscia l is ta a lt er na tivo. É tam bém o caso, toma ndo um exemplclá ssico , da transformaçã o, descrita por Lenine, das bandeira smocrática s e m b an de ira s s oc ia lis tas , no decorrer de um pr ocess

vo luc ionário .(3) A terceira con clusão a ti ra r da análise an terior é que,

cla sses se define m como os pó los ant agô nicos de um modo

16 C , H, Macpherson, Th e Po litico l Theory 01 Pos s essi ve lndividuolism,

19 72. r 275 ,

Page 13: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 13/30

" Io !

j ,

dução , c se <I re laçã o entre O nível da produção eas superestrutura spolítica e ideo lógic a dev e ser concebida sob a form a da articu lação,e não da red uçã o, as cl asses e o s g ru po s e mp iri oa rn en te observáveis

não coinci de m ne ce ssariamente. O s ind iv íduos são os suportes epontos de inierseccão de um acúrn ulo de contrad ições, em bora nemtoda s se jam contradições de classe. D a! deriva que:(a) em bora nes-te ucúrn ulo de contrad ições a prioridade corresponda às contrad i-ções de classe, e apesar de todas as outras contradições ex istirem ar-ticu ladas a d iscursos de classe, não se pode conclu ir - uma vez quel'li 11 11 1W 1 11 0S p re ss up os to r ed uc io ni stu - que a classe que articulaes sa s outras contrad içõ es seja , necessariam ente, a classe a que o in-d iv íduo pertence. E ste é o fenôm eno da "alienação", da "falsa

consciência" - termos com os quais as teorias subjetivistas preten-diam explicar a co lon ização ideo lóg ica de umaclasse por outra eque , com o atribu lam a todo elem ento ideo lóg ico um pertencim entod e c la ss e. só podiam conceber com o um colapso ou um desenvolv i-mento insuficien te da "consciência de classe" . D entro do m arcoteó rico que utilizamos, pelo contrário, este tipo de fenômeno cor-responderia às situaçõ es em que as in terpelaçõ es e contrad içõ es nãoclussistus de que o in di ví du o p ar ti cipa estão su jeitas ao princip io ar-t i c u l u tó rio de lim a classe d istin ta daquela a que ele pertence. (b ) Seas classes se constituem como tais ao nível d as re la çõ es de pro du-cão, e se o princip io articulatório de um discurso é sempre umprincíp io de classe, segue-se que aqueles setores - como as classesmédias - que não partic ipam nas relações de produção fundamen-ta is de uma sociedade, ressentir -se-ão da aus ência de um princípiourticulutório próprio e a unificação de sua ideo log ia dependerá dasoutras classes . E m c on se qüência , nunca terão condiçõ es de se cons-

tituírem e m c la ss es h eg em ôn ic as. (c) Se a hegemonia de um a classeconsiste em articular a seu próprio d iscurso as interpelações nãoclassistas, e se as classes só existem , a os n !v ei s p ol ít ic o e i de ol óg ic o,como princíp ios a r t i c u l a tó r i o s , seg ue-se que um a classe só existeco mo tal. a e st es níveis, na m edida em que lutar por sua hegerno-nia." .

Dedu z- se, da análise an terio r, que é p os sí ve l a fir mar o perten-

ciment o de classe de um movim ento ou d eurna .id eo log ia e , s im ulta -ne am en te, afirmar o c aráter não classista de algumas das interpel a-

i!H

li :

" !

!II,

~

ljf

II

!

, .: l .

! ~

I ;

" 1 1

li;

! ;J ,

I ~I

I ,I ;!~

17 P:lra o conceito de hege rno nia , ver Cap o J, nota n' 56:

17 0

coes que constituem a ideol og ia . Ne ste po nt o. come çam oso nde resi de o enigma d o " po pu lism o" e a vislum br ar um pca minho para sair do C Írcu lo vicioso a qu e n os c on duziu ada s divers as teo rias do populismo. Se con seg uirmos prova relemen to estritamente "populista" não reside no m ovi ment ot a l, nem em seu discurso ideo lóg ico caracter lst ico - qu e comlerão sempre u m p er te ncimento de cla ss e - e s im em um a concã o não classista especifica articulada a esse discurso , teremso lvido o aparente paradoxo . Nossa pró xim a tarefa ser á, poterm inar se essa contrad ição existe .ou não .

Comecem os indagando se há um núcle o comum depresen te em todos os usos que se fez do term o "populisrno" .

se , e v i den t emen t e, de um termo ambíguo; mas o prob lemadeterm inar de que tipo de am bigü idade se trata. Aristótelesguia en tre três espécies de term os: chamava de unlvocos aosadm item um significado ; de equlvocos, aos que adm item doif icados. ma s s em n en hu m a relação entre si, além da unidaded o term o; fin almente, de analôglcos aos que têm significadosdiferentes , m as no s quais podem os encontrar referência am ento com um . que con stitu i, a ssim . o f un da mento analógtodos os usos po ssíve is do term o (por exem plo , "saudável"ap licar-se a um a pe sso a, a um passeio, a, um clima, a um a cm as através de se us diferen tes usos m antém um a referênciaà saúde. A saúde seria , assim , o fundamento analóg ico deusos possíveis do ter mo "saudável" ). Então, a am bigü idadeservamos no termo "populismo", é equívo ca ou analógica ?posta deve pender para a s eg un da h ip óte se, porque apesar dd e d i ve rs i dade dos usos do term o, em todos e le s e nc ontram os

Ier ência com um a um fundarnento analógic o, que é o povo. Seum a teoria muito d ifundida, o c a r ac t e rí s ti co do po pulism o sapelo ao povo pas sando por cim a das d ivisõe s em classes .ro que p ec a, ao me sm o tempo, por falta e excesso; p or falta ,d ida em que o discurso popu lista pode fazer referência , ao

tempo, ao povo e às c la sse s (apresen tando. por exem plo, umc om o rea liz ad ora his tó rica d os in te resses do povo) ; por eum a vez que, com o verem os, nem toda refe rência "povo" tma automati cam ente um discurso em "p opulista". Poré mcomo fo r, a referência ao po vo ocu pa um lugar cent ral nomo . Ê a i qu e encontram os a fonte fundam enta l da am bigüi dadecerc a o "populisrn o": P,)l'O é um conceito qu e ca rec e de umteó ric o defin ido : apesar da freqüênci a co m que é usado no d

Page 14: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 14/30

~ i:f !

! !ir

j"

"

1i i

' I-

plllilic\). SU 'I p r ccis âo conceituu l não ultrupussu o plan o pu rum eru ealu sivo ou m cu uórico. Di zíamos no iníc io des te ensaio, qu e "popu -lism u' l: um co nce ito ao me smo tempo rugido e reco rren te . Ag oracntcndcnn», p\)r que l: ru!!iuo : porque t\)JI)~ os US\)S U O IC r nH ) \ l rcr c-

rC 11 1:J \ 1 11 1lun damc ntu un u lógic o qu e , ror sua vez. carece de preci -S:i l) co ucc iruul. lnh ur i« explicar a recorrênciu do te rmo. A persis-tl:llci :1 de sua u tili/ ,<tçiio Iicuriu exp lic ad u s e c on se gu íssem os de -mo nsirur que :1 1l0Ç,-1ll de povo está ligudu a uma con tradição es-pc ci fic. r q uc. cmb oru nâo tenhu sido teo ricam ente defin ida . reveste-se de umu import ânc iu dec is iva nu aná lis e de toda conjuntura polí -tica .

!:sIC c, prcc isumcntc. o pont o e11 1 q ue nossa an á l is e an terio rpu de cunir ibuir para esc larecer as co isa s. Como vimo s;" "povo"11:il l l: UI11 me ro con ceito rciórico mas uma determinaç ão ob jet iva.

U1 11UI)S ul lis p, ')l llS da co ntradição dom inante uo nível de um a for-J1 1: 1~':i\ lsllci ,li concrctu. Con vém lem brar. a e ss e r es pe ito. as cu nc lu-'ll\ ':S ess ellci:1is liL 'I l11SS<tIn :'il is e: (I) a contrudicão "po vo" hlI lC 'I' dc'

po der l: um ant agonismo cuju i n t el i gi b i li d a de n ã o depende das relu-I,.' lies de prud uçâo. e sim . do conjunto de relações pol íticas e ideo ló-!! icas de dorn inucâo constitutivu s-de uma forrnacâo social deterrni-nu du : (2) se a c o nt ra diç ão dominan te ao nível00 modo de prod u-dll con siirr! o cam po espec ifico da luta de classes. acontradiç ãodo rninunte ao n íve l de urna fo rm açã o so cial co nc reta constitu i ocam po cs pe clfic o da lut a popular-democrátic a: (3) tod av ia . como aluta de c lasses assum e prior idade s ob re a lu ta p op ular-dem ocr ática.cxtu última só se d á articul ada a pro jetos d e c la ss e. Porém. por sua

vez , con IIa luta 'de clas se s pollticu e i de ológ ica das cla sses se ver ifi-C:J em um terreno constituído po r interpcluçôes e c o nt ra diçõ es nãoC l:lssistas . es ta luta só pode consistir em p ro jeto s a rticu lató rio s an -tagônicos. das interpel açõ es e ,contradi çõ es não c la ss is tas,

Es ta p er sp ectiva ubre o cam inho pua a compreensão de um[e-n óm cn o que a té hoje nã o recebeu um a explicação adequada na teo -

ria ma rx ista: a rela tiva continu idade da s trad içõ es popula res . emL:\lnl r:1,S le c om as de sco nt inuidades hi stó ricas qu e carac te riz am li es-tru tur de c lasses . O d iscu rso po lítico ma rxis ta - como todo d iscur-so popular radi ca l - é pr ódigo em referências à "lu ta se cular do

I~ ver CarÍlul" J. Sll~ljlul" "lnirrpd"l'ôCS de cI:I~St e lnte rpe luc ôes po pu la r-dcmncrút icus".

1 72

povo contra a opressão", à s "tradiçõe s pop ula res de luta", à

operária com o "r~alihdo~a de ta refas p opulares incomple tas",Como se sabe , essas tradições estã o cris tal izadas emím bolos,res . etc : n os qu ais os sujeito s interpe lados por elas encontramp ri n c íp io de identidade. D ir-se-ia que se trata de sIm bolosmeram en te emociona l e que o ape lo a eles tem um significadm en te retó rico. Cpntudo, este tipo de explicação -lé m decl a recer por que d a pe lo e m oc io n al é eficaz - não consegu eu m c la ro d ilem a. Se aceitam os a universalidade doc r i t é r i o . d e

e , ao 'me smo' tempo, falamos em luta secular do povo co

opressão , a ideologia em que esta luta secu lar se cris talizaser a de um a classe d iferente da classe operária - uma vezú ltim a surge som ente com o industrialismo moderno . M as ,caso, o apelo a esta tradição no discurso socialista constituo po rtu nism o crass o, já que estaria con tam inando a purezalogia pro letária com ~ introdução de elemento s ideológicosterlstico s d e o utra s c las ses , Se tomarmos o cam inho inversotirm os que essas tradições não constituem ideologias de c

fron tar-nos-ernos com o prob lem a de determ inar sua natperspectiva teórica anteriormente delineada permite -nosesse impasse . A s " tr ad iç ões popula res" constitu em o con juninte rpe lações que expressam a contrad ição povo/blococom o distinta de um a contrad ição de classe . Isto no s p erm itecar duas coisas. Erh pr imeiro lugar. n a m ed id a em q ue as '''tra dpop ula res" representam a cristalização id eológica da resi

opressão em gera l, isto é , à prôprta fo rm a d o Esta do . deverã

m aior duração 'do que as ideo logias de classe e constituirãm arco estru tural de refe rência m ais estáve l do que estaslEntretanto , e m s eg un do 'lugar, as tradições popula res nãotu em d iscu rso s coeren tes e organizados m as, pu ram en te. elemque só exi st em a rt ic u la d os li discu rso s d e clas se, Ist o explica ppolíticas as mais divergen tes ape lam para os mesm os sIm bológicos. A fig ura de Tupac Arnaru" pode ser evocada po rmo vimentos guerrilhe iros e pelo atual governo m ili ta r p ersímbo lo s do naci ona lism o ch inês for a m e vo ca do s po r Chlang -KSh ek e por M ao T sé- Tun g; os do nacionalism o alemão, po r H

• N , do T ,: Li der ind igena que cbctiou um a revo lta co n tra os e spanhó is .

Page 15: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 15/30

'If :: :" ,, ;

:'1

i I

i! 1f ii- ' :pr i

b :i!':

po r Thãlrnunn . i\1 u so e m bo ra const ituindo mero é e lementos, as tra - .diç ões pop ulare s estão longe de ser a rb itrá rias e não podem ser mo-difi cadas à vo nt ad e . Ela s sã o o resíduo de u rna exper iênc ia h istó ricaún ica e irr edutí ve l e , en quan to ta l, constitu em um a estru tu ra de sig-nifi cado s mais só lida e duráv e l do que a p róp ria estrutu ra soc ial.Esta d up la referênc ia ao povo e às classes constitui o que podería -m os d en om inar , de d u pl a a rt ic ul aç ão d o d is cu rs o polltlco.

E xam in em os um ex em plo espec ia lm en te ilu stra tivo : a e x ce le n-te aná lis e s ob re As G u er ra s C ampo n es as n a A le ma n ha , d e E ng el s,fe ita po r A lain 8ad iou e F rancoi s Balrnês . E stes dois au tores che-ga m , em algum aspec to s, a con c lusões sem elh an tes à s n ossas, a in daque a partir de um a perspec tiva teórica e po lítica com a qual esta-

m os longe de conco rdar. C on fo rm e d es ta cam , o tex to de Engelsconst itui um a p eça p riv ile gia da p ara ob servar os lim ites com que sedefron ta um a m era aná lise decla sse . E ng els" afirm a: " Nes ta é po ca

(sécu lo XV e iníc io do XVI) os plebeus eram a ún ica classe que seman tin ha in te ira me nte à m argem d a soc ied ade oficia l ex isten te ...Carec iam de priv ilég io s e de b ens; não.t in ha rn s eq ue r a p ro pri ed ad eg ravada com taxas esm agadoras dos camponeses e pequeno-bu rgueses. E ram , em todos os sentidos, seres sem bens e sem dire i-to s; suas co nd ições de vida jam ais os co locavam em con tato d iretoco m as in stitu içõ es e xiste ntes, q ue o s ig no ra vam c om ple tam en te ...Isto explica por que a oposição p lebé ia não se p .ode lim ita r nem

m esm o então a luta r sócontra o feudalism o e os burgueses p riv ile-gi udc s: po rqu e , pe lo m enos na im ag inação, chegou a lém da m oder-na sociedade bu rguesa recém -nascendo ; po rque um grupo ab so lu-

tam en te sem propriedades questionou as in stituições, os pon tos de

v ista e as concepçõ es com uns a todas as soc iedades b aseadas nosan tagon ismos de c lass e ... A antecipação do comun ism o pela fan ta-si a co nv erteu -se , em rea lid ad e, em um a antec ipação das m odernasco n di çõ es b ur gu es as. Ape nas nas dou trinas de, M ün zer e stas re ss o-nânc ias co mu nistas ex pressam as asp irações de u ma v erd ade ira fra-ção da soc iedade . E le fo i o ún ico a form ulá-Ias com um a certa niti-de z , e a p artir de le foram ob servadas em todos os g randes levantespo pul a re s, a té se fundirem gradua lmente com o m ov im en to p role -tár io moderno" . .

Jt

l iI

li"

I rI

19 F. Enge ls , Th e P ea sa nt W or in Grrmany, Moscou , t956 , pp . 59-6 0 .• N . do T .: o tre cho c it ad o t am bé m est á em M arx e Engels , So bre 10 Rcl tgi án,

(C ap itulo intitul ad o "La Guerra C arn pe sina en Alernania"), da Ed ito ri al Ca rta-go, Bu eA OS A ires, t 959 , pp . 90- 92.

1 7 4

11 -''~I

~ ' I I 't i l~ ,I :l il !1 /) /

Os term os d o pro blem a estão cla ro s. Encontram os em Mum prog r arn u com un is ta qu e perd ur ará co m o tem a ideo lógicotodo s os grandes lev an tes popu la res da é po ca me rcantilist a, atdi r-se com o pro gram a do prole ta ria do m oderno . (E nge ls chafirmar que as s eit as comun istas do século XIX, à s v és p er asvolu çã o de m arço , n ão c on ta va m com um ar sena l teó ric o mequ ipado do qu e o s seg uido res de M ünz.e r.) O p ro ble ma queloca. com o ind ic am Badi ou e B alm ês, édotermi nar de que pde c las se este p ro gram a con sti tu i aexp ressão. A res posta dea estu questão é he sitante . Por um lado, p rocu ra reso lver o pm a dent ro de um m arc o est ri tamente c lass is ta : um prog ram ani sta só pode ser o .program a do p ro le tariudo c , neste sen tidpl ebe us mü nzerianos do sécu lo XV I cons ti tu iriam um proi etarem br ionár io. que s e e xp re ss ar ia ideologicamen te atr av és de uto comun i smo d e m ass a. E sta não é, contudo, co m o destacamdiou e Balme s. u ma respos ta conv inc en te , um a vez qu e toda ecia dem on stra tru tur -se dc um a ide o log ia c omun ista que refun ifica um a rev o lt a c am p on es a. A s i ns ur re iç õe s c am ponesasidé ias de tipo ig ua li tá rio e c om u nista, e foram esta s as id é iasThornus M ünze r si stem ati zou . Em conseq ü ênc ia, é ne cessári otir para um a solução alterna tiva . Com base em ou tras passageme smo tex to de Enge ls, Bad iou e Balm ês sugerem o segui nte :rrssonáncias C 11/11unist as são um a constante dos levantes popuparcialm en te .uutón ornos em rela ção ao "m ovim en to pr o lemoderno ", qu e é seu realiza do r h is tó rico . Ab re-se aqu i. riaideológica , um a d ia lé tic a do povo e do proletariado. il qu al o rm o veio a con fer ir toda s ua a m pl it ud e:"."

D a an álise p re ce dentev ,

Badiou e B u lrn ês deriva m as segu'con clu sões te óric as: "Todas as g randes revo ltas de m assas da

cessivas cla sses explo rudus (escravos. cam po neses, p ro let á rio s)contram sua expre ssão ideológica nas Ior rnulacô es ig u a lit á r i a s .

ti pro prie tária e un tiestu tu l que constituem asinh as m estrasp rog ram a co mu nis ta ... S ão o s e le ment os de ssa toma da gera l dsiç ão pe lo s pr odu tore s reb e lados que deno minamos de invor

comunistas: i nv a r iante s ideo lógi cas de tipo comu ni sta . con timen te regenerad as pe lo p roc esso de un ific aç ão da s g ran des repopu lare s de todos os temp os. A s invar iante s co m un istas nã

I

"o A. üudiou e F. B ,,/m es. De l'Ldéot ogi », Par is. /97 6. p. 66.

Page 16: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 16/30

;1 !; ildri~I ,

li/li cur á te r de c lass e , definido : sintetiz am a a sp ir acão un iver sal do s

ex pl orados no sent ido de derrub ar todo p rinc ípi o d a e xp lo ra çã o eda opressão, Elas nas cem no cam po da confrontação ent re as massas(li Estado. Natura lmente , esta co ntradição é , el a própr ia, estrutu -ruda em termos de c lasse , po is o E stado é sem pre o Estado de um acl as se d om in an te e sp ec if ic a, E ntre tan to , ex is te um a fo rm a gera l doE stado . o rgan icam en te v incu lada à p róp ria ex is tênc ia das c lasses eda explo ração , con tra a qua l as m assas invariave lm en te se in su r-gem , po rtado ras que são de sua disso lução e do m ov im en to h istó ri-co que "re legará todo o ap are lho do E stado ao lugar que , daí po rd ian te será o seu : ao m useu de an tigu idades, ao lado da roca e dom achado de bronze"."

Esta aná lise tem o m érito indiscu tíve l de te r Iso lado o "povo"co mo pó lo de um a contrad ição que não é de c lasse , e de haver co lo -

cado esta con trad ição com o a oposição en tre as massas e o E st ad o,O in co nv en ien te d a fo rm ulação d e B ad io u e B alrn ês, ent r e tanto, es-tú em con fund ir a fo rm a de reso lução lógica da con trad ição quean alisam - is to é , a s up res sã o d o E sta do - com as fo rm as 'concre tase h is tóricas d e ex istênc ia desta con trad ição . N enhum dos do is ter -m os da denom inação que u tilizam -"invariantes comunistas" - po -d em j us ti fi ca r- se s em r es tr iç ão . O c om un is mo n ão rep re sen ta a for -m a n orm al d e e xis tê nc ia d a id eo lo gia " ig ua litá ria , a ntip ro prie táriae antiestutu l" das m assas, e sim uma articu lação m uito partic ula rde la: p re ci sa me nt e u q ue p erm ite o d esenvolv im en to de tudu IIunt u -g on ism o p oten cia l desta id eo lo gia , N orm alm en te, o an tag on ismo

ineren te a esta co ntrad ição é n eutra lizad o e p arcia lm en te ab so rvido

pelo d iscurso das c las se s d o m in a nt es . C . B . Macpher son , po r exer n -rio , estudou a fo rm a como a ideo log ia popu la r-democrá t ica foiprogressivam en te desligada de seus e lem en to s an tagon ístico s que ,no in íc io do sécu lo X IX, iden tificavam -na com o governo "dos quees tã o e~ba ixo"*e com ' O jacob inisruo od iado, de modo a perm itir

su a abso rção e neutralizacão p el a i de ol og ia li be ra l d om in an te . Af i r-

ma : "N a época em que su rg iu a dem ocrac ia, no s a tua is pa íses de-mo crát ico -lib era is, e la não m ais se opunha à soc iedade libera l e aoE sta do lib era l. Já e ra , en tão , não um a tenta tiva das c lasses m aisba ixa s de derrub ar o est ado lib eral, ou a econom ia com pe titiv a deme rcado ; e ra um a tenta tiv a das c la ss es m ais ba ixas de assum ir, pl e -

"l i :

l i !

~I li", ";1,. p. 1>7

• Nol:! de Revisão - em ing lês, "under ling s".

17ó

l I!.1 1

I 1 I1

na e justam ent e , seu lu gar co m pe ti tivo den tro daque las in se daquele si s tem a de soc iedade . A dem oc rad a havia si do tm ada . D e um a ameaç a ao E stado libera l, tornara-se um a replen a d o Estad o lib era l... O E sta do lib era l rea liza ra sua p r

gi ca . E ao Iaz ê-lo , ne m se destru iu nem se en fraque ceu : fota nt o a si m esm o com o à s ocie da de d e m erc ado . L ibera lizoum ocrac ia ao dem ocra tiza r o lib era lism o", ".

Assim ' c omo a id eo lo gia p opula r-dernocrá tica pôde slad a ao lib era lism o , pode tam bém ser articu lada ao oc ia liso utras ideo lo gias d e c lasse . N o liv ro já c itad o; M ac ph ers on

a lg um as d es ta s a rt ic ul aç õe s. A conc lu são é c la ra: a democex iste" a n lvel ideo lóg ico , sob a fo rm a de elem en to s de umN ão ex iste um d iscu rso popu la r-dem ocrá tico com o ta l.N e stdo , a dem ocrac ia não é espo ntan eam ente com un ista , p el arazão de que não cfis te um a espontane idade dem ocrá tica ,p op ula r- de mo crá ti ca e st á s ub or di na da à lu ta de c lasses eg i a d emo cr á ti ca só existe a rticulada com o m om en to ab stra tod is cu rs o d e c las se . C re io ser n ecessário estabe lecer aq ui u m-ção : (I) a ideologia espontânea das m assas enquan to con jucu lad o será sem pre u rn a id eolo gia d e c lasse; (2) todavia , o sto s id eo lóg ico s d em ocrá tico s co ndu zem potencialmente aon ismo , na m ed ida em que O d es en vo lv im en to ló gic o d a c on"povo"/b loco de poder conduz à su pressão do Estado.Tintreas po tenc ia lidades an tagôn icas de um a con trad ição e suaex istê nc ia - q ue é no que consis te a espon tane idade - sãomuitodif e rentes, A tran sfo rm ação da po tencia lidade an tagô

democrac ia em espon tane idade concre ta das m assas deum a cond ição h istó rica que u ltrapassa o campo da lu tade m ocrá t ica: d o s u rg i rn e n to , c om o f o rç a hegemônica, d e u mcujos .p ró prio s inte resses levem -na à sup ressão do E stado ,sent ido,somente O so cialism o representa a p ossib ilid ad ed es en vo lv im en to e s up era çã o d a c on tra diç ão "povo't/bloco

de r, 'A partir daí, podem os ver po r que é errado denom in ar

r iante as ideologias populares." Se estam os nos re feri nd o às

22 C. B. Macpherson. The Rea! Worldof Democracy, Oxford, 1975, pp.23 Badiou e Balmes poderiam alegar que não chamam de invariames H i

populares com" tais, e sim 80Selementos comunistas presentes nelas. Ist

do, não afeta nossa critica, porque, como argumentamos no texto, o com

nã o é uma invariante mas um. das a rticulações possíveis do! elementosdemocráticos.

Page 17: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 17/30

, i~:

g rus como lodos articu lados, ev idente que não são "i nvar iantes" , esim . que muda m de acordo com o ritm o d a lu ta d Cl'd asses . S e, p el oc orurár io, nos re fe rim os aos el e m e n tos po pu la r-d em ocrático s d od iscurso com o ta is , o processo de transform ação é m a is c om p le x oma s. se ja c om o for , tarn po u co po dem os fa lar de in variantes. Veja -m os um exem plo para ilustra r nossa argum en tação . Imaginemosum a form ação soc ial sem icolon ial em que uma fração dom inanted os p ro prie tários de te rras explore com un idades camponesas ind í-gen as. A ideolo gia d o blo co d om in an te é lib eral e eurcpeizante, en -qu anto a do s cam po neses ex plo rado s é antieu ro péia, in dig en is ta ecomuni tá r ia. Esta segunda ideo logia - a única que se opõ e ao b loco

de poder - tem , po rtanto, um a nítida origem cam ponesa . N es ta s o-ciedade surge um a crescente oposição u rb ana de c lasses m éd ias eoperár ias, que dispu tam o monopó lio do poder à f ra ç ão l at if u nd i á-ria hegem ônica. N estas circunstâncias , o s inte lectuais orgânicosdestes no vo s g rup os, q ue ten tam dar co erên cia e sis tem atização à

s ua o p os iç ão po lítica, apela rão cada vez m ais para sím bolo s e va lo -res d os g rup os cam po neses, porqu e c on st it ue m a s ú ni ca s m at ér ia s-

prim as ideol ôgi cas que, nesta form ação soc ia l, e xpressavam um en -

[rentamrnto radica l COIl1 o blo co de p oder. Mas no processo d e r ef o r-m u l a ç â o u rb ana desses sím bolos e va lores , eles se transfo rm am :

perdem sua referênc ia a um a base socia l concre ta e passam a tran s-Ior rnur-se em exp ressão ideo lóg ica do confron to povo /bloco de po -de r. D aí po r dian te. te rão p erd id o to da a re fe rên cia c lassis ta e p od e-rü o, em conseqüência, a rticular-se aos d iscu rso s ideoló gicos d as

cl asses m ais div ersas .

M ais a in da, n en hu m discu rso po lítico p od erá p res cin dir d ele s:as classes dom inantes , para neutralizá-Ios, a s c la ss es d om in ad as ,para desenvo lverem seu antagonism o potenc ial, esses e lem ento si d e o lóg ico s est arão sem pre presen tes nas m ais v ariad as articula -çócx . (É opo rtuno recordar as m etamor fo ses d o nacio na lism o m ex i-cano, li on ip resença do indigen isrno como sím bolo ideológ ico noPeru . ou as re for rnulaçô es antag ôn icas d os sím bo lo s ideoló gicos d operunis ruo ro r suas a las de esqu erda e direita). A ssim se exp lica po r4 1 1 t.: ess es e le me nt os id eo ló gi co s qu a e lem ento s mudam com maiorlen t idão do que ' a estru tu ra de cla sses: po rque rep res en tam s im plesm umen t o s ab str atos de u m d isc urso e porquanto expressam umacoru ru d ição in e rente a toda soc iedade de c lasses, quen ã o s e ! i.g a, d efo rm a exclu siv a. a um modo de pro du ção de te rminado. Poré m,co rno vim os. aind a que com maior lent id ão e obede cendo a le is di-

Ierentes da s q ue regem o s discu rso s de classe . e les tam bém se t rfurm am .· .

t i[ ,, '

il :r ·

Já determ inam os, en tão , o sta tus teórico do conce ito devo ", e a c on tr ad ição espec ifica de que ele constitui um dos pTodavia , ainda não defin im os a especific idade d o p op ulism o.deríam os considera r popu lis ta aque le tipo dediscurso em quedo m inam as in terpe lações popula r-democrá t icas? E videntem enão . Nume rosos d iscu tso s ideo lóg ico s fazem referênc ia 'ao posem que por isso pensássemos em qualificá -Io s de populistas .po rtanto , não é a m era presença de inte rp elaçõ es po pu

democráticas em um discu rso o que o tran sfo rm a em populistatodav ia , sabem os que o po pu lism o está diretam en te ligad o àsença do "po vo" n este discu rso , devem os co nc luir q ue o qu e

fo rm a um d iscurso ideoló gico em p op ulis ta é um a form a p eculiar

art icu iacâo d as in terp elaç õe s p op ular-d em oc rática s n ele.N os sa

é que o populismo c on si st e n a apresentação de interpela ções popul

d emocráticas co mo u m c on ju nto s in tétlc o-a nta gôn ic o c om r ela ç

i d eo l og i a d om in a n te, Ex am inem os isto em detalh e. C om o já vima ideo log ia das c lasses dom inan tes consis te não som en te empela r o s suje ito s do min an tes com o, tam bém , as c lasses do minaco m o efe ito d e neutraliza r seu an tag on ism o po ten cia l. J á d is se mtam bém que o m étodo fundam en ta l deste processo de neu tracão co nsiste em tran sfo rm ar tod o antago nism o em d ife ren ça , A

cula r as ideologias popula r-dem ocrá ticas ao d iscurso dom inconsis te em absorver tudo o que nelas é sim ples particula ridadefe renc ial e rep rim ir os elem en tos que tendem a tran sfo rm ar acula ridad e em sfm bo lo do an tag on ism o. (O c 1ie nte lis mo n os d ito s rura is , po r exem plo, exaltará tudo o que for fo lc lórico nalog ia de m assas. ao m esmo tempo em que, ao representar olho co mo interm ediá rio entre as m assas e o E stado , tenderá a rem ir o ele me nto a nta gô nic o.) É neste sen tido que a p resença dem ento s populares em um discurso não é su fic ien te p ara tran sf ormá1 0 e m p o pu li st a. O popu lismo co meça no pon to em que o s e le m.ios popula r-democrá ticos se ap resen tam com o opção antagônface à ideologia do bloco dom inan te. Ob se rve -se que is to não sfic a qu e o p op ulism o se ja sem pre rev o lu c ionário . Ba sta que,assegurar sua hegem on ia, lim a class e ou fração de cl as se requeium a tra nsform ação sub stanc ial do bloc o de po der para que uexper iência popul is ta s e t or ne poss ível . Pod emos ind ica r, nest e s

lit i

1 . ,

l i

'I '. )I

In

I "

Page 18: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 18/30

' ~ i

H\ '1 .

- ,

tido , a exis tênc ia de um populism o das clas ses dom in an tes e d e umpopul isrno das C lasses dom inadas: -

(a ) Quando o 'b loco dom inan te so fre um a crise p ro funda, po r-que um a nova fração que ten ta im por sua hegem on ia não consegueIaz ê- lo den tro da estru tura exis ten te do refe rido b loco de poder,um a das so luções possíve is pode ser um apelo d ire to por parte dessafração à s 'm assas para que desenvolvam seu antagon ism o em facea o E st ad o. C omo sal ie n te i a n te r io r m en t e 24, fo i este o caso do naz is-m o. O cap ita l m onopo lista não pod ia im por sua hegem on ia den trodo sis tema ins titu cion al v igente - como o fize ra n a In glate rra ou naFrança - nem tampouco podia apo iar-se no Exército , queconstí-

iula um "c 'cl av e" sob a in fluênc ia feudal dos "[unkers". A ú nicasolução er a um m ovim en to de m assas que desenvo lvesse o antago -n ism o po tencia l das in te rpe laçõ es popula res , m as articuladas dem odo a im pedir s ua c an aliz açã o em u rn a d ireç ão re vo lu cio ná ria . Onaz i sm o c on st it ui u. em co nseqü ên cia, u ma ex periê ncia p opu lista e,com o todo popu lism o das c lasses dom inan tes , teve que ape \arparaum con jun to de distorções ideológicas - co mo o tacism o - p ara e vi-tar que o po tencia l revo luc ionário das in te rpe laçõ es popula res seo r ientasse no sentido de seus verdadeiros ob jetivos. O populism odas cla sse s d om in an te s é sem pre altam ente rep ressiv o po rqu e tentaum a ex periê nc ia m ais p erig osa d o q ue u m re gim ep arla me nta r: en -qu an to o seg un do sim plesm en te neutra l iza o p ot en ci al r ev olu cio ná-rio das in terpelações popula res , o p rim eiro p rocura desenvol ver este

anta gon ism o. em bora m an tendo-o den tro de certo s lim ites .(b ) P ara os se to res dom inados, a lu ta ideológica consis te em

ex pand ir o antagon ismo imp lícito nas in terpelaçõ es dem ocrá ticas e

em a r t i c u l á- lo ao próprio discurso de ,c lasse. A lu ta da classe operá-ria por sua h eg em onia co nsis te em alcan çar d m áxim o possível defus ão e ntre a id eo lo gia p op ular-d em oc rátic a e a ideo log ia socialis-ta. N es te sent ido, u m " po pu lism o so cia lis ta" nã o é a fo rm a m aisatr asada de ideo log ia operária, m as sua Io. m a m ais avançada : omo men to em que a c lasse operária consegue condensar em suaideolog ia o con jun to da id eo lo gia d em ocr á tica em uma fo rm aç ãosoc ia l de term inada . Da r, o cará ter ine q uiv oca men te " po pu lis ta"que ado tam os movimento s socialistas v ito riosos: lembremo -n os deM ao, de Tiro e. até . do Par tido Com un ista Ita liano - que . na Eur o-pa O cid en tal . fo i o qu e m ais se apr ox im ou de um a posição hegernô-

ni ca - que foram inúm eras veze s qu alificados de populis tas .

iH

~ l r'· 1 1

' l l" ti ,

!~":~i

1 1 L

24 C r . un ter iormente pp. I ';~ · 125 .

[ 8 0

V ê-se a ssim pqr que é p o ss ive l cham ar, ao m esm o temtler , Mu o, e P eron, de popul istas . Nã o qu e as b as es soc iaism ov ime nto s fos sem sem elhan tes . nem qu e suas ideologiassassem o s m esm os in te:esses de classe, e sim porque nosideológ ic o s de todos e les as interp ela ções popul a res sãoda s so b a for m a de ant ago nismo e não so me n te de difereoposição à id eologia dom inan te pode ser m ais o u m en os

em co nseq üê nc ia . o an tag on ism o estará artic ul ado aos d isclas se os m ais d iverg en tes , po rém , de qua lquer fo rm a, estapre presente: e esta presença é o que , intu itiv amente . pe rccom o constituindo o ele me nto e sp ec ific am en te p op ulista na

gia d os trê s m ovim en tos.

Re cordem os, para conclu ir, o que d issemos em nosso bre o Ia scis mo : acerca àc jacobintsmo, Dep ois de in dicarem que as inte rpe laçõe s popu lares searticu lam nos d isctipo c lien te listico e nos d iscu rso s próprio s aosp ar ti do s p

destacamos que , no jacobinismo , as inte rpe laçõ esdemocrá ticas adquirem o m áx imo de au tonom ia c orn patlvum a soc iedade de c lasse . D issem os, tam bém , que este ém en to p uram en te tran sitó rio que , cedo ou arde, se dissolvere ubsorçã o das inte rpe laçõ es popu lares pe lo s discu rso sd e c la ss e. O im portante é que essa reab so rcâo pode- se dmaneiras : o u o s e le me nto s p op ula r- de mo crá t icos se m an têm

de mero s e lementos, enqu anto se aceita . ca da vez mais ,ideo ló gico v igente : o u se p rod uz u ma cris taliza ção danflexbina : organização das in terpelações popula r-democrá t icas

tota l idade si n té t i c a que , un ida a ou tras inte rpe lações, qu e

o juco bin isrno aos in te resses das c lasses q ue atra vés de le ssa m , a pre se nta-s e c om o altern ativ a an ta gô nica à ideologiaA prim eira so lução sig nifica um a re conver são d o e st ág io á

nis tno ao dos part idosp opulares , A segunda so lução é o pF ic a c la ro . assim: (I) que "popul is ta" em um a ideologia é

eu d e in terp ela çõ es p op ula r-democráticas em seu an tagonpecífico : (2 ) que o conj un to ideológico, do qual o popu lism ona s um mo mento . co nsiste na a rt ic ulação de st e m omen to aco a di scur so s de clas se divergentes. Por ta nto . não se podeque as ideo log ias popul ista s co nc re tas sejam su praclass is ta s,ra ium pouco possa v incul ar-s e o m om en to es tr i tamente pdo discurso a um a cl a ss e d ete rrn ineda,

Page 19: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 19/30

· 1 1 1 :J I-

I ~ ;H

:

I" 1

f

Ii

Il i,

Se ;IS ;lr gu lllelll ;l(,:õe s ant eriores estiverem corretas. opopul is-ruo surge hisí or ica m e n te ligado a um a crise do dissurso ideológicodorninurue que ~. ror sua vez. parte de um a crise soc ial m ais geral.J.:sta cr ise p ude se r , qu er o resultado de um a cis ão no bloco de po -de r, em que urna class e ou fração de classe necessita. para afirm arsu a hcgemoniu, upelur ao povo contra a ideologia vigente em seuconjun to; quer o resultado de um a crise na capacidade do sistem ap ar a n eu tr aliz ar os setores dom inados - isto é. uma crise do trans-Io rrnisrno . Natura lm ente. um a crise histórica im portante com binaurnbos o s i ng re dientes. O que fica claro é q ue as " cau sas" do popu-lisr no têm pouco a ver com um a d et er mi na da e ta p a d o d e se nv o lvi-

I/WI/III. como supõem as teses funcionalistas . I: : certo que o longo

processo de expansão das forças produtivas . que caracterizou naEuropa a e tapa do capitalism o monopolista, aum entou a capacida-de do sis tem a de absorver e neutralizar suas contradições. Porém .tu rnbérn é certo que sempre que o sistema capitalista sofreu um acr ise g rave , na Europa Ocidental , diversas formas de populism o no-rescer urn . Lembremo-no s apenas que a crise após a P ri me ira G ue r-ra M un diul que provocou o triunfo d o f as ci sm o. que a crise econô-m ica m undial que conduziu à ascensão do nazismo. e que areces-são mundial d e h oje. que se faz acompanhar do surgimento de fenô-me nos diver sos - com o o flores cir ne nto d os re gi on ali sm os - tendema se expressar em ideo logias que fuzern do populismo um momentocentral. .

i1 1 . 11,

lI!

To rneruos como exemplo dearticulação popullsta das interpe-

lações democ ráticas. um caso especialmente ilustrativo em funçãod as m últip las m etam orfo ses qu e. s ofreu : o p ero nis mo. Nenhumaoutra ideologia populistu la tino-americana se constituiu a partir daarticulação de interpelações m ais dispares; nenhuma outra obtevetanto êxi to no es forço de se transformar em denom inador comumda li nguagem popu la r-dem ocrática das massas; r ina lm en te, nenh u-m a o utr a e ste ve a rti cu la da adiscursos de classe tão diversos.

O p er on isrno tem sido considerado - junto com o varguism o -

um dos dois exem plos tlpicos de movim ento populista latino-am er icano . Da argum en tação já apresentada podemos deduzir quees ta expressão - " mo vim ent os populis tas" - encer ra um equivoc o. que requer esc larecimento. 1 :: , cert ar nentevinex ata se ccr m ela qu i-ser mos caract erizar a nat ur eza daqueles mov imentos , porém cor re -

' li ',I .

I

i

II :

I

1 8 2

ta. se com ela se alu de à p re sen ça do populism o como um moem sua estru tura-i deo lóg ica. Uma ideologia não é' "popu listamesmo sen tido em que é "conservadora", "liberal", ou "sta", pe la simp les razão de que, enquanto estes rês termosalu são aos princí pi os a rt ic ul at ór ios d as re sp ec ti va s i de olo giasideradas em se u c o nj un t o, "populism o" alude a um tipo dedição que só existe como momento abstrato de um discursgico . Por is to, o problema do motivo da multiplicaçãomentos populistas na Am érica Latina, depois de 1930, pm ais prec isam ente form ulado nos seguintes termos: por quecursos ideológicos de m ovim entos politicos com orientaçõessociais tão distintas tiveram que recorre r crescentemente

I is mo , is to é, que desenvolver o antagonismo potencial dalaçõ es p op ular-democráticas?

Um a opinião bastante generalizada tende a vincular "pm o" e i nd us tr ia li zação por substituição de im portaçõ es.W effort e Octávio lanni" produziram os melhores estudosp ulis mo latin o-am ericano a partir destaperspectiva, Dodito deriva que não podem os partilhar este critério:o " p op u lnão é a superestrutura necessária de nenhum processoeconômico. Os fenômenos populistas podem-se apresenm ais v ari ados contextos, na m edida em que se satisfaçamcondições. Se. p or c on se guinte , tentamos explicar por qm entos com ideologias populistas floresceram na Aéricaentre 1930 e 1960, essa explicação .deve consistir em mostraras condições necessárias à em ergência de fenômenos populisreu niram , n ess e p erío do, e fo ram , p elo co ntrário, muito mqüentes antes e depois dele. J á estab elecem os q uais são e ss asções : uma crise particularmente grave no bloco de poder,qum a de suas frações li tentar estabelecer sua hegemonia amobilização das massas, e uma crise do transformismo.

Para com preender a especificidade da ruptura populis t.surgiu o pcronismo, é necessário entender a natureza dideológ ico dom in an te an terior e seus pr incipios articulatóriora cterísticos. Com relação a isso, cumpre lem brar duas coi

25 Cf . espe cialm en te F . W effo rt, "C la ses soei a le s y desa rro llo social ( Con tra i e stu di o de i p opu li sm o)". in A . Qu ijano y F. We ffo rt, Populismo, mary depcndencia. Co sta R ica , 1973 ; O . lan n i. La Formariàn drl Estado poAmerico Latina. México . 1975 .

Page 20: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 20/30

I ' :

l i " ,

· · 1

q ue o p ri nc ip io de . u ni da de de um d isc urs o ideológico nã o é dadop e lo d e se nvo lv im en to d as im plic aç õe s lógica s deum a i n te r pe l aç ã o ,determinad a, m as pelo poder de condensação d esta em u m cam poc o no ta ti vo e sp e ci fi co ; (b ) q ue a h eg em on ia d e u ma classe co nsis ten ão só .na capacidad e de im po r sua "co ncepção do m undo" às o u-t ra s c la sse s m as , ta mb ém e e sp ec ia lm en te , n a c ap ac id ad e d e a rti cu -l ar d if ere nt es " co nc ep çõ es d o m un do " 'de m odo a neu tra lizar seua n ta g on i sm o p o te n ci al.

N a A rg en ti na , a nte s d a c ris e d e 1 93 0, a c la ss ehegemônica den-tro do b lo co d e p oder era a o ligarquia latifundiária, e o p ri nc íp ioarticulatório f un d am en ta l d e s eu d is cu rs o i de ol óg ic o e ra o l ib er al is -m o. A s razõ es dis to estão em um a dup la circunstância , com um atoda 11 A mérica L atin a d e m e ad os d o sécu lo X IX a 1 93 0: s e, p or u mlado, 11 p len a in co rp oração d as eco no mias la tin o-am ericanas aom er ca do m un dia l re qu eria a c on stitu iç ão d e E sta do s N ac io na is q uec ri as se m a s c on di çõ es d e e st ab il id ad e p o ll ti ca e d e c on ti nu id ad e i ns -titu cio nal n ecessárias p ara q ue a ativ id ad e eco nô mica p ud esse sed es en vo lv er, p or o ut ro la do , o p od er p olí tic o p er ma ne cia n as m ão sd e o lig ar qu ia s la tifu nd iá ria s l oc ais . E nt re ta nto , s e n a E ur op a e sta s.d uas c irc un st ân cia s f ora m c on tra ditó ria s -já q ue o E stad o lib era l.s urg iu , e m g ra nd e m ed id a, d a lu ta c on tr a o p art ic ula ris rn o fc ud al-n a A mérica Latina fo ram co mplem entares , um a vez qu e eram asp ró pria s o lig arq uia s la tifu nd iá ria s q ue p ro cu ra va m m ax im iz ar s uap ro du ção p ara o m ercad o m un dial e q ue, p ortan to , ten tav am o rg a-n izar u m E stad o cen tra l. O s s is te m as p o lí ti co s l at in o -a m er ic an o s

q ue em erg iram p ro cu rav am d ar ex pressão a esta d up la situ ação :f or ma ra m- se , a ss im , E st ad os c en tra liz ad os e m q ue p re do min av a ar ep re se nt aç ão d o s i nt er es se s ol igárquicos lo cais . A fórmula qu em ais s e a d ap ta va a e sta s itu aç ão e ra u m e sta do l ib er al p arla me nta r,co m fo rte p red om ín io d o L eg isla tiv o so bre o E xecu tiv o. O g rau d ed es ce nt ra li za çã o d o p o de r v ar io u b as ta nt e n o s d if er en te s p aí se s l at i-no -americanos . E m a lg un s. caso s, o E xecutivo fo i reduzido a umm ero p od er a rb itr al :.. lem brem os a R ep úb lica V elh a, n o B rasil , o u ar eo r ga n iz aç ão c o ns ti tu cional do Ch ile , depois da revolução de1 89 1. E m o utro s caso s, co mo n a A rg en tin a, o nd e o co njunto do po -der e .d a r iq ue za c on ce nt ra va -s e e m u ma z on a r ela tiv am en te reduzi-d a d o te rr itó rio , esta descentraliz ação fo i m en or, e ° Executiv o des-frutou de m aio r au to no mia. P orém , d e qu alque r forma, e m to do so s c as os o-Estado centra l fo i conc ebi do cor no um a federa çã o de ol i -

184

ga r qu ia s lo cais. Pod er parl am cntar e heger no nia la ti fu ntr an sfo rm ar am e m s inôni m os na Am ér ic a L at in a.

O próprio proces so hi stó r ic o d e i mp la nta çã o e c ond o e sta do o li gá rq uic o na A rg en tin a e xp lic a o :c am po c on op ec íf ic o a q u e a i de ol og ia l ib er al e st ev e a rt ic ul ad a. Em prigar. o li be ra lis mo , e m s eu s p ri mó rd io s, d em on str ou u rn ad e li mit ad a p ar a a bs or ve r a id eo lo gia d em oc rá ti ca d as mtegrá-Ia a seu .d is cu rso . D em oc ra cia e Iib er.a lism o se opup e ne tr aç ão i m pe ri aljis ta e a in co rp oração d o p ais ao m ercdia l, n a seg un da m etad e d o século XIX , exig iram e dissfo rm as anteriores de organização so cia l e de relac ap it al is ta s d e p r od u çã o. I sto i mp lic ou u ma polí t ica v io lep re ss iv a f ae e à s c la ss es d om in a da s. A s lu tas en tre o in terioe B ueno s A ires , a rebelião d as M onton eras n a década dv ante d e L opez Jordan no in ic io da décad a de 70 ,f o ra m ed esta lu ta atrav és d a q ual o E stad o lib era l co nseg uiu se isegundo lugar. o l ib e ra li sm o e st ev e , n e st e p e rí o do , c o no t at iva rtic ula do a o d es en vo lv im en to e co nô mic o e a o p ro gre ss oc om o v alo re s id eo ló gic os p os itiv os . ( Ob se rv e-s e q ue n ão sum a a rt ic u la çã o n e ce ss ár ia : d ep ois d e 1 93 0, o lib era lism ol o gi a d e se n vo lv i me n ti st a p e rd e ra m, definitiva mente, s u a cd e d e i mp lic aç ão m útu a.) Em terceiro lugar. a i de ol og ia l ibv e a rt ic ul ad a a o "europeísmo", o u s ej a, a u ma d efesa d as fv id a e d os v alo res id eo ló gico s eu ro peu s co mo rep resen ta"civ i l ização" . Processou -se , co m isso , u ma reje içã o rad icald i çõ e s p o pu l ar es n a ci on a is , c o ns id e ra d as s in ô nim os de atra

c u ra n ti sm o e e st ag n aç ão . Em quarto lugar, o l ib e ra li sm o af oi u m a i de ol og ia c on se qü en te m en te a nt ip erso nalis ta. A ecia de lideres pol ític os n ac io na is q uelestabel ec ia m c on ta toc om a s m as sa s, p re sc in di nd o d as ' m áq uin as p ollt ic as l oc aisclientelística , s em pr e fo i e nc ara da c om d es co nf ia nç a p elo pgárquico,

Estes qu at ro e le m en to s id eo ló gic os , d os q ua is o li bc on st it ul a o p ri nc íp io a rt ic ul ad o r , f or mam o.s is te m a d e c od as q ue d efin em o cam po ide oló gic o d a h eg em on ia olig árqup os it iv is m o f oi a i n f l u ê nc ia f ilosófica q ue s is tem ati zo u estestes elemen tos em um t od o h o mo g ên eo. A s id eologias pop'isto é. aq ue le conjunto de interpelações consti tu tiv as do spopu lare s em sua opos iç ão ao bl oco de poder - apr ese nt avaço s opos tos . Er a na tura l, po rt ant o , qu e a resis tência po pul a

Page 21: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 21/30

pressasse e m c o nt eú dos ide o ló gi co s ant ili berais; q ue fosse nacio na- ,lis ta e ant ieu rop éia; qu e d ef en dess e as tr adiçô es ; >o pu la re s c on tr a o sefe ito s c orro siv os quea expans ão capita lista Ihes ac arreta va; qu efosse, co n seqüentemen te, personalista e que se exp ressas se atravésdo apo io a lídere s popula res qu e represen tassem um a polit ica doanti -s lalu .~ quo. Como se el ab orara m o s s im b olos ide oló gic os d estares ist ên cia p op ula r? Corn o d is se mo s a nte s, a p rá tic a id eo ló gic a p ro -cede sem pre com b ase n as matér ias-pr im as cons titu íd as por inte r-pelações a nte rio re s q ue , ao se rem desar ticu ladas do s d iscu rsos declas se a q ue p er te nc ia m, p erderam to do perten cim en to clas sista ne-ces sário , N os p alses andino s, a re sistênc ia exp ressav a-se, cad a vezm ai s, a tra vé s d e s lrn b olo s ind igen istas, qu e origihalmente represen-

tavam a re sis tê nc ia a sua d isso lução po r partJ das com unid adesca mponesas , m as q ue, ao sere m rein terpre tados p elos setores urb a-nos , p erd era m to da conotacão r ur al n e ce ss á ri a, t ra n sf or m an do -s eem sim bolos da resis tência popu lar em geral.Ao contrár io, na A r-gentina , onde não ex istem trad içõ es c am po nesas e onde a es tru turasocial fo i rad ic alm en te m odif icada com o resu ltado da im igra çãom aciça, a re sistên cia pop ular a ntilib eral s e alim entou da s tra diçõe sdas M onton eras do sécu lo XIX, d os sim b olos ideo lóg ico s do fede-r al is m o o po st o ao un itarism o europ eizan te d e Buenos A ire s."

O prob le ma que se colo ca é en tão o seg uinte : em que m ed ida ob lo co o lig árq uic o d om in an te c on se gu iu , neste pe río do , n e ut ra li za rsuas co ntrad ições com o povo e ar ticu lar as in te rpelações popular -de m oc rática s ao discurso liberal? Este é, exatam ente, o problemadis cu tido po r M a c ph er so n, a quejá nos refe rim os : e m q ue m ed id as .se liberalizou a dem ocrac ia e se dem ocra tizou o libera lism o? Em

que m edid a o discurso id eo ló gic o d as c la sses d om in antes fo i ne u -irulizudo e s eu 'p ro te sto m antido no estág io do s pa r ti d o s popu la res , ee m que m edida, p elo co ntrário , jacob in izou-se, e conduziu ao po-

p u lisr n o?

26 Isto não sign if ica que fa ce aos p rogram as de expans ão eco nôm ica ca pi talis ta. b a -s eu d o na penetruç ão do cap it al im pe rialis ta e n a p len a ine orpor ação da A rg erui-na ao me rcad o mundi al. o s g rupos federais do int erio r tenham oposto um pr o-gram a de de senvol v imen to a lterna tivo , b a sead o na so be rania ind ustr ial. Estaim agem abusiva e s em Iuridamento fo i o resul tado de uma le itu ra dahi stór i a a r-gon linl\ efetu ad a p or es cri to re s n acion ali s ta s , depoi s ri, 1930 . q ue , dess a fo rm a,p r ojetararn no séc u lo XI X o cam po conot ati vo a quev an tiliberalism o es tava li·gudo em sua pr ópr ia época.

186

A re sp ost a a es ta pergu nt a não d eixa m ar ge m à dú vi da :ga rquia lat ifundiár iã teve p leno êxit o e m n eu tra liza r as in teç õe s d em ocr át ica s, e em nenhum caso a re sis tê nc ia p op ula rà radical iz acão po pulista. O m otivo está no êxito da incorpod a A r ge n ti na ao m erc ado m undial e na grande ca pacida debu tiva da oliga rqu ia latifundiária no ci clo expan sivo da rendrencial. Já me referi aos asp ectos econ ôm ico s des te pro c essoque é im port an te pa ra o tem a de que tratam o s é que duaqü ên cia s fundamen t ais de cor reram dess e proc esso : (1) o b lpode r aprese n tava UIT ) alto grau de co esão , já · qu e nenhumse tores se opu nha à orien taçã o agrop ecuár ia d o pa is, nem t

co estava em co nd iç õe s d e d is pu ta r a h eg em on ia o lig árq uic acapac idade red istr ibu tiva d a o li ga rq u ia · lh e perm itiu a ssocnasce ntes classe s m édia e operár ia a s eu ciclo expa nsiv o , e ca s s ua s re sp ec tiv as liderenças polfticas para o b loco de podseja, não o correram nem a crise ao nível do b lo co d e pode r,co lapso do trans form ism o qu e, com o vim os, são as preco ndpara a em ergênci a d o p opulismo .

O impo rtan te , todav ia , é d escrev er as form as id eo lóg icasvés das q uais a h egem onia o ligárq u ica se im pôs. C om o d ise ss a h eg e mo n ia se im pôs atrav és de duas form as: da ab sorçãin terpelaçõ es populares a seu discurso e de um a form a peca rtic ula çã o d as ide olog ias que form alm ente s e lh e opunh am ,levou à su a neutràlizacão. C om relação a es se p onto , considerq ua tr o c on ju nt os ideo lóg icos: (a) a ide olog ia o ligárq uica c o(b ) a ideo log ia do P artido Radical; (c) a ideo log ia das o lignão lib erais : (d ) as · idea.lo gia s o pe rár ias.

(a) A ideologia oligároui>a como tal. Na m edid a em queral ism o , com o i de ol og ia o li gá rq ui ca, v ai af irm an do sua h eg emamp lia su a capa cid ade de absorver .em seu discurso in terpelpopular -d emocrátic as que, em um prim eiro m om ento , havi amdo to talmente excluídas dele . A exp re ss ão i de oló gic a m ais ad o liberalism o em seu estad o puro , isto é, e nq ua nt o a pr es en tesomen te a s qu atro coordenad as já defin idas e n ão ten haem seu discurso 'nenhum a da s irrtcrp ela çõ es p op ul ar-de m ocrát i

27 "Mo dos de produció n. sis temas econ6m icos y poblaci6n excedent e. A pción h istó rica ai os Cas0S argentino y chilen o". Revista Latlno-Amrriccnociologia, 1969. n' 2.

Page 22: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 22/30

das m ass as, foi o mltrismo", E ste foi o d iscurso poiítico da ol iga r-qu ia de B uenos A ires em uma etapa em que sua heger no nia ideoló-gica sobre o resto do pa ís era m ínim a, e que devia se afi rm ar no po-, der com base na repressão pu ra e sim ples. (Fo i a etapa da G.ie rrado Paragua i, d os enfren tam ento s com U rqu iza e C om o federalism ode Entre R ios, e das ú ltim as reb eliões montoneras do inte rior).M ai s t ar de , pacificado o pa ís e inic iada sua tran sfo rm ação econô-m ica, o lib eralism o afirm a sua hegemonia a través da am pliaçãoconstante das bases socia is do b loco do poder e de um a ab so rção eneutralizaç ão crescentes da' id eo lo gia p op ula r-democrá tica dasm assas. O p rim eiro passo desta amp liação foiea lizado através dacooptação das o ligarqu ias do inte rior do pa is ao bloco de poder.Este p ro cesso culm ina em 1880, com a ascensão de R oca.à presi-d ên cia d a R ep úb lica . É sign ifica tiv o q ue R oca, e m s eu en fren ta-m en te parc ial corri o m itrism o de B uenos A ires , tiv esse necessi tadoinco rpo rar a seu discurso elem en to s da tradição Ideológica Cedera-lis ta , a fim de d ife renc iar-se . "Tenho meus m atizes , d e f ed e ra li s -mo " . afirm ava ele. E sta é um a constan te que persis tirá ao longo deto da a h istória da A rgentina lib era l: cada vez que se ampliam as b a-ses socia is do sis tem a os novos se to res cooptados ao b loco do poderuf lrmarão seu cará ter relativam ente m ais "d em ocrá tico" , atravésde slm bo los ideológ ico s orig inário s d a trad ição po pu lar federal." Oli be ra li sm o , p re cisam en te po r ser c rescentem en te hegernôn ico, podeapresenta r-se como alter na tiv a articulatória de interpe lações po pu -l ar es q u e o ri gi na lm e nte tiv era que exc lui r. F ina lmente, a i m pl an ta-ção das m áqu'iO lls ele ito ra is d e b ase c liente lís tica con sa gra , d ef in iti -

vamente ." m étodo de inco rporação das m assas aois tem a: à s tra-diçõ es popu la res são ace itas como um a subcultura espec ífica da sclasses dom inadas, com o um sermo humilis desconec taJo da lingua -gem do poder. O v incu lo en tre am bos é rep resen tado pe lo caudi lholocu l que , ao se ap resen tar com o in te rme d iário en tre as m assas ,e o

' I

.u

! ~

' :H I

• N . do T .: Ne ologismo de rivado do nom e do pres id en te M ltr e.2~ 1110 n uo q uer diz e r q ue Roca não fo s s e u m p er fe it o libera l. tan to q uanlo M itre .

ou ma is . A diferença cru que Roe a repre senta va 11m momento m ais avan çado dol iberalism o, quando su a cres cente h eg erno nia o ca paci tava B começar-a -abs orver.par cia lmen te. ele m en tos da rre dicâ o feder al e a in tegrá -Ios a leu discurs o. M as.n a tu ra lmen te; se ria com ple tam en te e rrado supo r que . p or isto , R oca co r po rif i-ca sse um a pol ltice econôm ica m ais naclo nalista o u um ma ior gra u de re sistêncier . p enet ração imper ial ista .

18 8

I ..

E sta do . est ab elece ~ un ida de e, ao m esm o tempo, uni fosso intraponlvel en tre ambos . I

(b) A ideologia do Partido Radical. A ex pe r iênc ia do roquisno s havia co locado d ian te deste aparen te paradoxo: b lib eralism omai s h e g e m õn i co na m edida em que o d is cu rso ideoló gico decon sti tu i o princi p io articu lado r é m enos exclusivamente liberalm o tivo - com o se sabe - está em que a hegemonia não consis timp o r um a ideo log ia uniform e, m as em articu la r ele men to s igicos dissemelhantes. n Isto fica ainda m ais claro no caso degoyen e do Partido R ad ica l, em que se dá um a sln te se p erfe italiberal ism o ~ dernocraciavCom sua cooptação pelo bloco de- O pon to m áx im o a qu e ch ego u o transform ism o oligárquicoi nt er pe la çõ es p op ul ar-democrá ticas de ixam de constitu ir umcu ltu ra m ed iatiza da p or m áq uin as c1 ie nte lís tic as , e s e i nc o rp o ra mvid a p olítica nac iona l. O sermo humilis s e a po dera da linguagem

~oder. ~ p re ci sam en te esta violação da reg ra da separaçãolos que se configu rou com o um ultraje para o lib eralism o o ligco : da í as inú meras inv ec tiv as co ntra lrigoyen , que vão de refecias depreciativas ao "ferrab rá s d e B alv an era" e a o " m az or qu ero(memb r o ,do iS g rupos de carrascos, de R osas), a té a acusaçã"f ascista" :: \Esta remos então d iante de um a experiência popuPa rece cla to que não . O traço m ais no tável do discu rso polític

l r igoyen como tam bém de ou tro s reform ado res de classe m édAmé ric a 'L atina durante esse p eríod o - Battle e Ordone z, 'no Ugu ai, A le ss an dri n o C hi le, M ad ero no M éxico, Ru i Barbosa nosi l, e A fonso Lopez na C olôm bia - é sem dúvida. a presença

ce nt e - n es se d is cu rs o - d e elem en to s po pu la r-democrá t icos;rém, e ss es e le m en to s perm anecem em um níve l m eram ente emnal ou re tórico e não se articu lam como to ta lidade coerente ,ta à ideologia lib era l. Como vimos, é s6 este últim o tip o de articção q ue con fere cará ter populista à presença den terpe lações decrát icas no discur so. O s re fo rrnadores de c lasse m éd ia dested o, p elo .contr á rio, no mom en to das p ropostas sin té ticas glnunca vão além de reivind icações in s ti t u c i o n á is que aceitam oco lib eral do regime: "M eu pro gr am a é a C o nstitu içã o N acio n(lrigo yen ): "Su frágio efe tivo e não reel eição " (M ade ro ). Es tede ar tic ul ação disc ur siva da ideologia democ rática é cara c terístic

29 c r. ant eri or m en te . p . 16 7.

Page 23: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 23/30

, lf'

do es tágio dos partidos populares e em .ne nhurn a c i r cunstânc ia atin-ge a juc ob ini za çâ o popu lis ta."

(c) Ideologias oligârquicas não liberais. O q ue ex istiu du ranteeste períod o com o esfo rço si s tem ático para cria r um a ideo log ia an-t il ib e ra l c oe re nt e 's itu ava-se com o an típo da do po pulism o; trata -sedo nac iona lism o de direi ta , q u e e nf at iz av a, na tra diç ão lib era l, oq ue e sta tin ha d e a uto ritá rio, e li ti st a, c le ri ca l e a nt ip o pu la r. Esta li-nha ideo lóg ica expressava , a par tir de um ângu lo oposto , o a ltogr au de fusão a que hav iam chegado libera lism o e dem ocrac ia naA rgentina : p orq ue d ep re cia va a d em oc ra cia e a "e sc ór ia r ad ic al", evi a ne las uma resultante inevitável do liberalismo. d efen dia um E sta -do uutoritário cuja fonte de insp iração era M aurras . M ais ta rde , às

vé speras da revolução de 1930, um novo elem en to se inco rpo rará ae st a t ra di çã o: o militar ismo - um a vez que o Exército devia trans-formar - se, p ara o nacio nalism o de d ire ita , no agen te his tórico darevolução antiliberal . .O nde esta ideolo gia o lig árq uica an tilib era lencon trava sua m atéria prima ? Evidentemente , nas m esm as tradi-

çõ es federa is das qua is b ro tavam as ideolo gias po pula r-d em ocrá tic as. P oré m, enquanto êstas ú ltim as rep resen tavam um atransform ação destas trad içõ es, que as reduziam a.u rn conjun to des ím b olos e e lem en tos id eo ló gi co s e xp re ss ivo s d a r es is tê nc ia dasm assas fren te ao Estado , o a n ti li b er a li sm o ol ig ár qu ic o e fe tu av aum a transformaçã o n a d ireção in versa : r eduzia e~sas trad içõ es àsfo rm as ideoló gicas q ue as articulav am ao d iscu rso das cla ss es d om i-nari tes an terio res à expans ão do Estado lib era l: c le rica l ismo, cul toda hispuni dade , cont inuidade dos va lores co l on ia is e a u to ri ta ri sm o.

(d) Ideologias operárias. O traço m ais no táve l na estru tu raide o lóg ica desses se to res éque não houve o m enor esfo rço de sua

I.i·

30 N os caso s e m q ue. pe lo con tn lrio , li coop tação das cl a sses med ias s e t o rn ara m aisdif lcil. e o t r un s fo r rn i sr no m io f unc ionou.adequadamen te, a ss is ti mo s a u ma ja co -bi n i zucüo da s i n te rp elaç õ es dem ocráticas e e me rgênci a. a in da n es se p erl odo, dopopu l ismo . Fo i o caso do Chile. onde o ins ucesso das ten tativa s de A le ssand ri.nos anos 20 . d e re aliz ar seu pro gram a de refo rm as d em ocráticas d en tro d o m arcodo E stado liberal, lev ou U ditadura pop ular d o g en eral Ib aõ ez, que o le vou a cabode nt ro de um marco ideo lóg ico claram en te n ac io nalis ta e populis t a. Ta mbém fo io cu so do Peru . on de a inc ap ac idade do liberalismo oligárquico pa ra inc or pora -'a r c neutr aliz ar as de r nundus da cluss e média co nd uzi u i J cr esc ent e fusão desius

ú ltim as com a ideol ogia ind igeni st a no APR A . Finalm ent e , fo i o ca so do M éx ico. onde a con trad ição en tr e a s comu nid ades camponesas e a expansão do c ap it ali s-. m o ugr á rio imped iu q ue a rev olu ção co ntra O Por li ria to se m an ti zes se em umm ero nív el de re fo rrn us ir ue rn us a o E st ad o li be ra l e co nd uziu, pe lo con trár io . aoc-lllllP " d o re gi me de M ad ero e ao longo processo d a Revo lução M exica na.

,/

i· · 1

I'I

!

19 0

, l i :

l i l

pa rte par a articula r as interpelações popula r -democrá ticasd iscurs o político: Tr ês razõ es se co nju gam .p ara e~ plica r em eno : ( I) Da do o cará ter em inentem ente ag rário da A rgclas se operaria se red uzia a pequenos enc laves n as g ra nd esdo litoral . E m con seq üê ncia v iveu , durante este período , utênc ia m arg ina l ao s con fronto s m ais amp los em que o povotal, se co nstituiu . (2 ) A cl asse operária deste período era coda, em sua esm ag ado ra m aio ria , po r im ig rantes euro peu s.co rr iam duas conseqüênc ias : p rim eiro , que a fusão en tre sugia d e c la sse e a ide ó logia popula r -democrá t ica do país parase t in h am t ra n sp l an t ad o: tinha necessariam en te que ser ums o l en to; segundo , que os aspec tos de seu novo paIs que se

gu ravam com o os m ais com preensíve is em term os de su a exc ia europé ia eram , p rec isam en te , o E stado libera l e suasções. DaI su a tendência a in terp re tar to do e le men to re fratá ricom preensão em term os de parad igm as eu ropeus, como ode um a etapa cultu ra l m ais p rim itiva que o progresso mexpansão do E stado liberal e a p rog ressiva europe izaçãote rm inariam por e l iminar. A condensação destes trê s e lemeu ro pelsm o, lib era lism o e pro gresso m ateria l - em umi de ol óg ic o u nif ic ad o, r ep ro du zi a, p ortan to , o tip o d e artique , com o vim os, e ra carac terlstica do liberalism o oligárquA isto é necessário acrescen ta r a fo rm a espec ifica pe la qm en to estritam en te p op ulis ta se in teg rav a den tro d estaC om o s ab em os, o traço ideo ló gico m ais caracte rls tico d aso c ialis ta do fim do sécu lo X IX e c om eço do século XX ec io n is m o c la ss is ta , que levava a classe operária a se fechar

pu ea ideo logia de classe é a ver em toda in terpelação poideo io gia d e u ma cl as se i ni mi ga . Is to , n at ur al me nt e, o pu nh acu los a qualquer fo rm a de populism o soc ia lis ta. Omportanteeste reducionismo classis ta, ao ser aplicado pela classe operárgrante à sociedade argentina. levava a identificar a ideologiacrática difus a das massas com resíduos ideológicoscapitalistas que a progress iva europeização das sociedadesamericanas acabaria por eliminar. D aI a u nid ade In tim a c centre i de ol og ia l ib er al h eg er nôn ica e i d eo l ogia socia lista . OSo cia lis ta rac ioc inava nos segu intes te rmos: .o pl eno desenm ent o de' um a soc iedade capita lis ta é a precond ição para odesenvolvim ent o da c lasse op erár ia ; po r consegu in te, a edo Es tado libe ra l - co nsi dera do com o a su peres trutura po lí tic

Page 24: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 24/30

c e ss á ria do capita li sm o - e ra um processo pr ogr es s ivo e qu e, com ota l, dev er ia s er a po ia do . C on sid era va -s e, ta ni b~ m, qu e o pro ce ss oim ig rató rio lançava nas p ra ias a rgen tinas um núm ero cada vezm aio r de im ig ran tes que, f ina lmen t e, acaba tiam por e lim inar osre síd uo s id eo ló gic os d a A rg en tin a f ed er al e m on to ne ra . D es te m o-do , a ideo logia so ci a lis ta ace itava o co njun to arti cul a tiv o carac -te rís tic o d o d is cu rso lib e r a l, ao qua l acrescen tava apenas um ele -men to : o reduci on is m o o pe rá ri o. E ste ú ltim o e le me nto , to da via ,n ão a lte ra va s ig nific ativ am en te o q ua dro , p oi] a c la ss e o pe rá ria e racons ide rada com o a fo rça soc ia l que levaria a ' oc i edade lib e r a l. àsu a c on su ma çã o d em ocrática , O Partido .C om un is ta , p or s ua v ez ,e la bo ra ri a i nt er pr et aç ão i gu al me nt e l ib er al d a p ol lt ic a a rg en ti na .:.em bora com urna te rm ino log ia d iversa . D uran te o período dasF re n te s P o p ul ar es, m ed iria a p ro gr es siv id ad e d as d ife re nte s fo rç asp olltic as b urg ue sas p or s eu g ra u d e ad es ão À id eo lo gia lib era l, e,p e l o c o n tr á ri o, d en un cia ria c om o fa sc is ta q ua lq ue r te nta tiv a d e in -co rp ora r e le me nto s d a tra diç ão n ac io na lis ta p op ular ao d is cu rs opoll t ico. S e c om p ar ar mo s o s oc ia lis mo e o c om un is mo a rg en tin os ,te re mo s q ue co ncluir , p oi s, q ue a a lt er na ti va r ef or m a/ re vo lu çã onão m ed ia o gr a u d e p ro gre ss iv id ad e d e u ma id eo lo gia , po rquan totodas as var iant es d aq ue la a lte rn ativ a o co rria m n o in te rio r d e u md is cu rs o i de oló g ic o q ue a ce it a va t od as a s a rt ic ul aç õe s c on st it ut iv asd o l ib e ra li sm o o li gá rq u ic o. ,

A a nálise d es te s q uatro co nju nto s id eo ló gic os - q ue n atu ra l-m en te n ão s ão o s ú nic os - permi t e-n os en ten de r o sis te ma d e a lte r-nativa s id eo ló gicas da A rgen tina p ré -peronista . U n id a de c re s ce n tee nt re l ib e ra li sm o e d em oc ra cia n o d is cu rs o d om in an te; u m a i de o lo -

g i a a u t or it á ria marg ina l; s im u lt an ea m en te a nt id er no cr át ic a e a nt il i-b e r al : r e d uc i o ni smo c l as s is ta n a s i de o lo g ia s o p er ár ia s: o s t rê s a sp ec -to s, tomados em seu conjunto, e xp re ss am a h eg er no n ia o li gá rq ui ca.

A d éc ad a d e 3 0 a ssis te a im po rta nte s m ud an ça s n esta cr ista li-za çã o id eo ló gica , q ue p re nu nc ia m o d ec lln io da h eg em on ia o lig ár-q uic a e o s ur gim en to d e contradições n ov as n o b lo co d e p od er. C ri-se p ro fund a no b loco de poder , e m p rim eiro lu ga r: a d e pr es s ãom u nd ia l c on duz irá a um pro ces so de industri a liz aç ão p or s ub stitu i-ção d e im po rta çõ es q ue c ria rá n ovos an ta go nis mo s e ntre os setoresindu st riai s n as ce nte s e a o li ga rq uia la tifu ndiár ia . C rise do transf o r-m i smo , e m se gundo lugar. C om o res u ltad oda de p res são econôrn i-ca , li o ligarquia nã o pode m a is to lerar as gene ros as põlíticas redis-tri butiva s car act e r ístic as dos g ov er no s r ad ic ai s, e viu- se na cont in-gênc ia de el im inar o acesso da s c la ss es m éd ias ao po der polí ti co .

19 2

~

~lil

Pa ra isso , esta be le ce u m s is tem a par lam ent a r, b aseadoelei to ral : A s d rm an da s d em ocrá tica s da s m as sa s e os s i m bló g icos que as 'rep r esentarn s ão ca da vez m enos ab so rv id ogi m e libera l, do pon to em que a ci são en tre lib er al is m o ec ia ch eg a a s er c om ple ta . Is to s e r efl et e e m u ma d iv is ão nPar tido Rad ic al : a d ireção do partido , nas m ãos de A lvco m um re to rn o i m po s sí ve l à u ni da de e nt re l ib er al is m ocia e para isto n eg oc ia c om o re gim e lib era l frau du le ntopos içõ e s s u bo rd in a das nele , a tal po nto q ue n o fin al d esto rnara-se impo s slv el, p ara to do s o s e fe ito s p rá tic os ,radi cal ism o o fic ial d a co alisã o c on se rv ad ora n o p od er.

lado , entretanto , .u rn a c or re nt e m in or it ár ia n ac io na lis tasenvolver , d en tr o d o R a di ca li sm o, to do o a nta go nis monas in te rp el aç õe s p op ula re s, a ce ntu ar a in co m pa tib ilid ad eberal ism o e dem ocrac ia , e co locar em questão o regcom o um todo : p ela p rim eir a v ez o i mp er ia lis mo in glê sd o, c om o u m fa tó es tru tu ra l d om in an te d a h is tó ria a rgbe ral ismo é c on ce bid o c om o a s up ere stru tu ra p olí tic a n eproc es so d e s uje iç ão d o p ais à o lig ar qu ia a grá ria e a os intra ngeiros ; la nç am -s e a s b as es d e u m re vis io nis mo p op ulb er al d a h is tó ri a a rg en ti na . A década de 40 enfren ta rá ,Rudiculistno , c om a d esa rt ic ulaç ão d e se u d is cu rso polítc io n ul : v e r-se-à , ago r a, n a c on tin gê nc ia d e o ptu r e ntr e lidemocr ac i a. A síntese p erf eita e ntre a mb os , q ue c ara cte rigo y en ism o , d is s ol ve r a-se . Também o n ac io na lis mo d e dp o r i m po r ta n te s m o d if ic a çõ e s. A im pl an ta çã o d e u m re gi.o lig á rq uic o, q ue h av ia e nt er ra do s eu s s on ho s c orp ora tiv is

na c io na lis mo d e d ire ita a pensa r, cada vez m ais , em um ilita r a lte rn ativ a; o ca rá te r c orru pto d o re gim e c on se rvsubmissão à G rã -B re ta nh a l ev ar am -n o a d en un ci ar o imenquan to a nece ssidade de rom pe r e ste s v ín cu lo s im p eritra nsfo rm ar a A rg en tin ae m u ma p otê nc ia in de pen de ntea lg un s s eto re s n ac io na li sta s a p os tu la re m u m a reorientaç. tr ia lis ta d a e co no m ia . E stes do is novo s com p on en te s dnac io na li st a a u to ri tá ri o - an tii mp er ia li sm o e i nd us tr ia li spl ica ram um a cr es c en t e c o nf ro ntação com o lib e ra lism oco . A déca da de 40 co locara t ambém o nacionalism o de dte a um a al te rnativa bastan te clara : ou ac en tuar o caráte rr ial ista e in du s tr ial is ta de seu p rog r ama, que - dada 'aoposi ção a es te p rog ram a po r par te d a o lig arq uia - so m e

Page 25: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 25/30

ria conduzir a pocurar ap o io em u m r no vi rn entode m as sa s e , emco nseqüênc ia , a r en un cia r aos elementos elitist as e antipopula res desu a i de o lo g ia ; ou a conservar esses elem ento s, em bora ao custo dediluir o rad ica lism o do p rog ram a an tioli gárquicq ..

F in alm en te, tam bém as id eo lo gias operári as pass aram por umpro cesso d e crise, n este perlod o. A s m ig rações in te rn as h aviamin-corporado li a tiv idade industria l um novo pro leta riado , v indo dointerio r do pais , cuja ideo log ia não se b ase ia no reduc ion ism o elas-s is tu típico da ve lha c lasse operária de o r.ig efT l e u ro péia , p oré m e mum tipo particula r de discu rso. no qua l as interpelações popula r-d e rn o crá ticasocupurn um lugar cen tra l. A lém do 1m ai s, o p ro c es sode industrialização v inha tran sfo rm ando o pape l do p role tariadon o p ro ce ss o p ol ít ic o; de se to r re lativam en te m argina l - com o o que

.huv iu s id on a A rg en tin a a gro pe cu ária - p assava a co nstitu ir-se nos eto r s oc ia l m ai s c on ce nt ra do -e na espinha dorsal de todas as fo rças.in te ressadas naexpansão do m ercado in te rno e opostas à con tinua-

ção d o do mín io o ligárqu ico .. . V emos. assim . de que m odo o dec lfn io da hegem on ia oligár-quica se re fle tia em um a crise do d iscurso po lítico dom inante . E sta- com o toda crise ideo lóg ica - consis tia em um a desarticulação p ro-g ressiva dos e lem en tos constitu tivo s deste d iscu rso . L ib era lism o ed em ócruc iu de ixam d e estar a rticu lad os; as in terp elaçõ es dem ocrá-ticas suo cu du v ez m en os passív eis d e serem in teg rad as à ideolo gialiberal . P ara o naciona lism o auto ritá rio , to rna-sé cada vez m enosviáve l u possibilidade de ado ta r um a postu ra sim ultaneam en te an ti-d em o crá ti ca e u nt il ib er al: e sp ec ia lm en te d ep ois d e te r in co rp ora dolIS com ponen tes un tiim perialis ta e industria lis ta ao seu d iscur so,

, su rge u rnu possibilidade antes inexis ten te: a do auto rita rism o de-. mocrútico . F in alm ente , red ucio nism o classis ta e ideo lo gia op eráriad eix am d e e SL Ur e m c orrela çã o n ec es sária e su rge a p osslbllldao e deu m p op ulisrn o o perá rio . E sta d es articu laç ão s ig nific a. e ntre o utra sc oi sa s, q ue d im in ui ru licapac idade do b loco de po der de neu tra liza rsuas contradições com o povo ; no espelho quebrado e turvo dasformas i de ol óg ic as l ib e ra is . combinações n ov as in es pe rad as p ass am

:I se r p o s sí v ei s. Esta é a brech a q ue abria , a n íve l id eo lóg ico . a p ossi-hil idude do po pu lisrno . O p op ulis mo c on sistirá, p rec isam ent e. emre unir o .co njun to das inte rpe lações que expressav am a o posiçã o aob loc o de poda oligárqu ico - democr ac ia, indust rial is rn o, nac iona-li sm o , u 'n tiirrip erialisrno: em conde nsá-la s em um nov o su je ito h is-tó rico . e em desenvo lver seu"ant ag on ismo poten c ial. conf ron tando-o cor n o p róp rio pon to qu e consti tuía o p rin cí pi o de a r t i c u l a ç ã o do

19 4

i ! !! f .H i~ ': 1 ;1

,:

):! i

di scur so o ligú r qui co: o lib era lism o . To do o esforço ideo lógron ista . nes ta e t apa , se ori ent ará n-Ô sentido de d es lig ar omo de se us últim os vínculos com um campo conota t ivo dco e de apre se nt á -to com o um a cobertu ra pu ra e sim plesre sse s de cla sse da oliga rqu ia . Em um discur so revelado r,rant e a cam pa nha ele ito ral de 1946, Peron afirmava: "So u,mu i to m ai s democrat a do que m eus adversár ios . porque budemocracia real, enquan to e les d efendem uma aparênc ia dcra cia . a fo rm a ex te rna d a d em ocracia . Preten do um padrãom ais e lev ado qu e p rote ja o s operár ios, m esmo os m ais mda s co er çõ es capit a listas , ao passo q ue e les querem que a mprole tari ado e seu desam paro pe lo E stado Ihesp er mi ta m c

co m se us velhos truques deco rnp rar ou de usurpar tlturai s ... D e um a v ez p or tod as: · l i Argen tina não pode perm antagnada no ritm o sono len to a que a condenaram todos qvem às s ua s c us ta s; a A rg en tina tem que recuperar o pu lso

um a ju ventude sã e d e um san gu e lim po . A Ar gen tina precicon trib u ição de sangue jovem da classe operária li."

Este esforço no sen tido d e d is tin gu ir e ntre fo rm as id eo ló

dem ocrac ia real dom ina o con jun to do d iscu rso peron ista .'es te o utro p arág rafo : "Po rque esta é a verdade: em nossanão se deba te o problem a da "lib erdade" e da "tirania",Ur qu iza , da "democra cia" e do "to ta l i ta r ismo". O que estád o d ram a a rg en tin o é um a di spu ta en tre a " ju stiça soc ia l"just iça soc ia l". A fraud e e a corrupçâo a que chegamos ém e nt e r ep u gn an te : r epresentam a maior traição posslve lm a ss as t ra b al ha do ra s. O s Partido s C om un ista e Soc ia lista ,po critam ente se ap resen tam como partido s dos t ra b al h ad o re

qu anto serv em a in te resses ca pitalistas , não têm repugnânc iazer p rop agand a e leitoral com a ajuda de dinhe iro recebidotrões ... U san do u ma p alavra de que eles gostam muito , podezer que são leg ítim os rep resentantes do co n t inuísrno, m ascontinuísm o da po lítica da m iséria e escrav idão dos t rabares", ..

Nã o é nossa intenção estudar a evolução do pero ni smomo vim en to . um a vez qu e s ó nos pro pomos a indi car a const

31 J. D. Pe rón . dis curso no a lo de pro clam aç ão de SU3 ca nd ida tur a. t2/2/19produz ido em M , Pen a. EI Peronismo, Se l ecciôn de Documentos poro Ia

Buen os A ir es . 1972. p , 10 .32 Op. Cit .. p. 9 .

Page 26: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 26/30

do m om en to e stritam ente p opulista d e sua ideo log ia P orém , deq u~lque r m od o, go star íam os de as sina lar osseguintes aspectos . Pr i-m eiro , que se o elem ento es trita men te po pulista na ide olog ia pero-n ista co nsist iu na rad icalizaçã o das in terpela çõ es po pula res a ntili -berais, o d iscu rso pe ronista c ons istia não som ente ne ssas in terpe la-. cões com o, tam bém , em su a artic u laç ão den tro de um d is cu rs o q ueprocu rava circunscrev er o confron to com a oligarq uia libera l den-tro do s l im ites im posto s pelo p ro jeto de c lasse qu e def in ia o reg im e:o dese nvo lv im ento d o ca pita l ism o n acio nal. P or i st o, o antagonis-m o das in terpe laçõ es popu lare s só se dese nvo lveu até certo pon to ep ro cu ro u-s e li mita r s eu p ote nc ia l e xp lo siv o, a pr es en ta nd o-o s em pre

art icu lado a o utro s elem entos ide oló gicos an ti lib erais, e mb ora nã opo pula res - id eo lo gia m il itar, cató lic a, e tc . S egun do: se o p eron ls-m o teve inegável hitoem " constituir- .um a .. I inguagem popular -de moc rátic a unif icad a a n ível n acio nal , isto II\:' deveu - à homogénei-dade so cial d a A rgentin a, ex cep cion al d en tro do contex to latin o-am eric ano : ausê ncia d e c am pesin ato , pred om ínio esm agador dapopulaç ão urbana , am plo d esen volv im ento das classe s m édia s, de -se nvolv im ento do sin dic alism o o perá rio em tod~ o p aís. T erc eiro : a~rese nça m aciça ?a cla sse op .erár ia no pero nism o co nfer iu a es t.e l-

um o um a excepcional cap acid ade de preserva ção m esm o d epo is daqu eda do reg im e, em 1955. Enquan to outros m ovim ento s popul ís-ta s la tin o-a me ric an os n ão s ob re viv er am à que da de se us reg im es.seu enraiza rnen to n a classe ope rária perm itiu ao pe ronlsrno sub sis-tir com o forç a política e, m esm o, expandir suá in fluê ncia den tro

das c lasses m édias. rad icalizada s nas duas ú ltim as d écad as, em ra-z ão d as c on tra diç õe s c ria da s p ela e xp an sã o d o c ap ita l r no no po lis ta .

Q uarto : seo antagon ism o das in terp elações popu lare s só se desen-volveu de ntro dos lim ites to lerados pelo reg im e p eron ista , en qua n-t o es te e xist iu , fo i im poss ível im por e sses lim ites u ma vez pro scri too pero nism o e in ic iada a reo rgan izaç ão d e seus quad ros de baixop ara c im a. A m ed ida em que o liberalism o, restau rado em 1955, fo i

rev eland o sua incap acid ade de ab sorv er as de man das dem ocrá tica s. da s 'm assa s p assa ndo a b asea r-se , c ada v ez m ais,' n a r ep re s são , o an-tago nlsm o po tenc ial das in te rpelaçõ es pop ulares pô de se d esen vol-ver p lenam en te. A ideolog ia popu lar to rnou -se cada v ez m ais an tili-b er al e , n os s et or es m a is ra di ca lizad os , p asso u a fu ndir -se com o s o-ci a lis mo . " So cia li sm o n ac io nal" fo i a fó rmu la cunhada nõdecorrerdes te proces so . A volta do p erooism oao pod er, em 1973, provouis so c om c la re za : fra ca ss aram as d ifere n te s t en ta ti vas no se nt id o de

19 6

I

v olta r a trás o rel ógio da his tó ria e d e ar ticu lar J ideo log iademocrát ic a de m od o a torn ar-se a ssim il áv el p ela bu rgues ia .m e de Izabel P eró n caiu em um cao s re p re ss iv o, s em haveg uid o n en hu ma f orm a d e a rtic ula çã o estáve l ent re i nt er pe la çp ula re s e id eo lo gia b ur gu es a .

A s s in gu larid ade s do peronism o tornam -se ain da mq ua nd o c om pa rada s com a outra gran de exp eriê ncia popult e p e rí o do . à qu al, Ico m freqüência, tem sid o equip arad o:

m o. IRemon t embs à s o rigens de ste ú ltim o. A re vo lu çã o b ra s

1 93 0 e xp re ss ou u m a cú mu lo d e c on tra di ções qu e, n a expergen tina , tin ham s ido reso lv id as d e m aneira grad unl . O s c onter -reg iona is arg en tinos tinha m deix ado de ter importânciadecisiv a n a A rgen tina desd e a Iede ralizacão d e Buenos1880 . A asc ens ão das c lass es m édia s ao pod er, co m seu s p rod i- t r ibu tivos in ternos ao sis tem a ug rocx portudo r tem luvi tó ria ele ito ra l do rad icalis mo, e m 1916 . A s nova s contrad itre os se tores ag rário e indu stria l só adq uire m im por tânc iade 1930 . N o B ra sil tem os, pelo c ontrá rio . qu e esta s co nnào se haviam reso lv ido e qu e se acum ulam no processonúrio de 193 .0 . Os conflitos in ter-reg io nais , q ue opõ em os e

meno r influência ao pre dom ínio c resc en te d e S ão P aulo ,nham um pap el d ec is ivo na a lian ça q ue levará V argas aoc la ss es m éd ia s b ra sil eira s, dada a extrem a reg ionalizaç ãonã o h aviam con seg uido criar um pa rtido polí tico de dim ec io na is , c om o lri go ye n fiz er a n a A rg en tin a. O resu ltad o fo

co ns egu iram im por-s e às m áquinas p olíticas das o lig arqu ia- conv ém lem bra r u ten tu t iva infru tífe ra de R ui B arbo saç õe s p re sid en cia is d e 1 91 0-.e n ão se produ ziu um a dem oc rain te rn a d o. r eg im e l ib er al . t ul c om o o co rr era na A rg entin a eg uu i. E st as tendênciasliberul -democráticas frustra das -v ur n i mi ne nt em e nt e r ep re se nt ad as pe lo Part ido D em oc ráS ilo Paulo - tam b é m d es e mp e nh a ra m pap el im po rtan te nçã o . P or fim , t ambém os t eu c nt e« t iverum pape l d ecis ivo -se dos setore s ru di cul izud os do Exércit o qu e tenta ram le v aum p r ug rum .: dcmocrútico e: de : mo de rni zu cão de país, a tu rna r upt uru com p lc t« C0 11 1 II si s te m a nollti co o ligárqu icoES la do lib cr u] . (: Iléstcs setores que se : pede en contrar os ptr;\i;llS de U I1 1 ~ \ iJ e ol \l) !. ia pop ul isi u .

Page 27: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 27/30

V arg as te ve. po is. que m anob rar com um a coa lizão sum am en-te com plexa de forças contradi tó rias . e só em 1937 conseguiu esta-belecer seu pleno dqrn ín io político atrav és do Estado Novo. Mas .m esmo então . e ao longo de tod a sua c arre ira p olític a, V argas ja-m a is c on se guiu tornar-se líder de um m ovim ento unificado e hom o-gêneo com o o de Perón : será s em pr e, p el o c on tr ár io, u m a rt ic ul a-dor de forcas heterogêneas, sob re as quais estab elece seu contro lepol ítico através de um com plicado sistem a de alianças. S e n as z on asmais industria lizadas do país consegue im plan tar só lidas b ases deapoio independente , na classe operária e em vastos setores da classem édia, nas regiõ es do in terio r tinha de procurar apoio nas m áqui-na s poIft icas trad icionais. E sta fragm entação de seu suporte políti -

c o re fle te-se na im possib ilidade de constitu ir um partido poIfticounif icado: as forças que o apó iam se organizam em dois partidos. OP ar ti do S oc ia l D em oc rá tico (PSD ) agrupava as orças conservado-ras da coalizão; o P artido T rab alh ista B rasile iro (P TB ) b aseia-senos setores urb anos, especialm ente operários, e ten ta , a partir deles,d es en vo lv er u m ja co bin is mo p op ulis ta. E sta dupla face do G etu lis-m o - acentuada pelo fato de que o peso da classe operária era , noBrasi l. incom paravelm ente m enor do que na A rgentina- refle tiu -seem um populism o insuficien te , e fragm entário , que não foi capaz dese constituir em um a linguagem poIftica de dim ensões nacionais.P or conseguin te , o G etu lisrno nunca fo i genuinam ente populista .P e lo c o nt rá r io , oscilou em um m ovim ento pendular: nos m om entosde estabilidade, sua linguagem tende a ser pat e rn alis ta e c on serv a-dora; nos m omentos de crise , quando os e le m en to s c on se rv ad or esd a c oa liz ão d es erta m, la nça -s e.reso lu tarnen te, na v ia do populisrno- isto é, do desenvolv im ento doantagonism o laten te nas in terpela-

çõ es dem ocráticas. P orém , nestes m om entos, u ma ló gic a p olftic ae le me nt ar s e i mp un ha: as b ases sociais a que se d irige O d is cu rs o p o-pu lista , fo ram até agora, no B rasil, insuficien tes para assegurar opoder polftico . Isto ficaria dem onstrado pelo destino de V argas,em1945, em 1954 e finalm ente pela queda de Goulart, em 1964.

Conclu irem os esta seção assinalando as razões pelas quais,nas ú ltim as duas décadas, as exper iências populistas têm sido m e-nos freqüentes na A mérica Latina. C reio que os m otivos estão nosseguin tes fatores:

(a) Otransformi smo en trou de fini tivamente em crise . A capaci-dad e de absorver as de m and as d emocrá ticas das m assas=por partedos b loco s de po der ree strutura dos sob a heg emon ia do capit al mo -

19 8

no polisru . é c x t rcr nu jn en t e lim itaJa. N ão entrarei na análiseze s econ ômica s .desie fenôm eno, qu e ex plorei ern outra odade." Sej u co mo r or . s ua conseqüência é a dê que os b lo cna ntes sequer tent am abe rtu ra s p op ula res -ou seja, arid eo lo gia p op ular- democr ática ao disc urso dopoder. Pelorio, o novo tiro de reg ime m ilitar la tino-am ericano tendeder. de Iorr na cada vez m uis exclusiva, de seus aparelhosvos . Com isso entraram em crise não som ente asd iv er sa scias popu list as com o tam bém o l im i ta do t ra ns fo rr nisrnorio à suhsistência m ln im a de um regime libera l. Ist o t am b émpor qu e. apes ar do cre sc en te au toriturisrn o dos regim es m iltino -ame ricanos, el es não tiveram condições de tom ar Ulll rcis ta : com o se sabe , a b ase ideo ló gica do fascism o con sistearti cul açã o pe culiar das ideo log ias populares, enquantoor ien tucão das atuais d itaduras m ilita re s la tin o-a me rica na sexc luir roda articu lação destas ao se u d is cu rs o.

(b) N o p as sa do . u ma c ri se d o t ra ns fo rm is rno levo u ,m os, ao desenvolv im ento de várias form as de populism ode alg uma s f ra çõ es d is siden tes do b loco de poder dom inatr etanto . um a evolução - neste sen tido parece pouco provávseguin tes m otivos. E m prim eiro lugar, porque, nas décadas40 . os b locos de poder estavam profundam ente d ivid idos, eda cr ise da hegernonia o ligá rqu ica, e pelo m enos um a frucãestav a d is po sta a a va nç ar n a dire çã o d e u m ca pita lis mo nacidependente e a buscar, com es ta f inal idade, a po io j un to à sAtualmente , pelo cont rár io, a s e xp er iê nc ia s n ac io na lis tasram e os b locos de poder se reunificaram sob a égide doapn op ol is ta . N es sa s c on di çõ es, não há antagonism os suficien

profundos para que um a Ir acã o do b loco de poder deci datar -se em um a direção pop ulist a. O segundo motivo parana im probab ilidade de um nov o populism o das c la ss es d omé q ue , a tr av és da s e xp eriências dos ú ltim os vin te e cincom as sa s la tin o-am er icanas desenvo lveram o an tag on is moàs in terpelações dem ocráticas a um ponto em que seto rn a em ente di fícil. pa ra qualquer fração da burguesia, ab sorvê-Iatr alizá- Ia s. Is to condu zi u , por sua vez , à co nso lida ção dos b

.1 .1 cr . Ern esto Lac lau , "Argen tin a" Im peria list S tra tegy and the M ay CrLrj! Review, n' 62. ju lh o-ago sto de 1970 .

Page 28: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 28/30

po d er e à in tensificação do elem en to repre ssiv o com re laç ão às clas-ses d om i n ad as . Para e st as ú lt im a s, .con tudo , a bre -se u m a perspect i-v a id eo ló gic a nov a e de long o p raz o: a va nç ar n o p ro ce sso de ra d ica -liz aç ão d a id eo lo gi a p op ula r-d em oc rá ti ca e fu nd i-Ia . ca da v e z m a is ,c om a, ideo logi a socialis ta , em um a etapa em que a bu rgu esia emseu conjunto se con fund e cad a vez m ais com a repressão e a arbá-rie,

IV ,Para finalizar, c onv ém enum erar a lgum as d as conc lusões que

d eco rrem de no ssa aná lise . O "popu lism o" surge em um cam po

i de ol ó gi co e s pe c lf ic o: o qu e é con stitu ído p ela dupla art icu lação dod is cu rs o p o lí ti co . A tensão dia léticaen tre o p ovo e a s clas ses dete r-m ina a forma d a ideolo g ia , ta n to d os setores dom lnantes com o doss e to re s d o m in ad o s. A s metamorfoses do povo consistem em suas d i-ve rsa s form as de articu la ção com as cla sse s. N a m edida em que opovo e classe s con stitu em pó los de con trad içõ es d iferen tes, m asig ualm en te con stitu tiv as do dis curs o po l!tic o, am bo s estão pre sen -te s ne le . Po rém , enquan to a co ntrad iç ão de c lasse d ete rm in a opr incip io a rtic ulató rio de ste d iscu rso , o qu e lh e c onfere s ua sin gula -rid ad e e sp ecíf ica em um cam po id eológ ico d eterm in ado , a seg und arep resen ta um m om ento abstrato que pode exist ir a rticu lad o ao sm ais d ive rsos d iscursos de cla sse. O "populismo".: c om o i nf le xã opa rticu lar das in terp ela çõe s populares , n unca pode const itu ir opr incip io articulatório de um d iscu rso político - m esm o que secon stitu a em um traço do m esm o. 1 :: prec isam en te este c aráter ab s-t ra to d o " po pu li sr no" o que perm ite s ua presen ça .n a i de ol og ia d as

C la ss es m a is d iv er sa s. O m esm o ocorre; com um conceito tal c om o"econ om ia de m ercad o" , qu e não d efin e o pr incip io articulatóriod e u m s is te ma e co nô mic o - que resid e sem pre em seu m odo d e pro-d ução dom in ante - m as q ue é um elem en to abs trato qu e, o de e st arp resen te em m uitos m odos d e produção , do escrav is rno ao capita -l ism o, e co nsti tu ir um a p eça im presc ind ível para a com preensão dofunc ion am ento do sistem a em seu conjunto .

P~d~r~se -ia 'p ergu nta r po r qu ê , se as ideo lo gi as p opu lar-d emocrá tica s n ão ex istem sep arad am ente , m as s im ar ticu l. d as n oin terio r de d is cursos d e c la s se, nã o se p od e p ro ce de r d ire tam ente aoe stu do d es te s ú ltim os e nq ua nto ta is, c de ixa r de lad o a aná lise d asid eol ogi a s p op ul ar -d em ocráticas. A re spo sta é . q u e es te e nfo qu e e li-m inar ia o que h á de m a is esp ecíf ico na lu ta ideo lóg ic a de c las ses ,

20 0

' l i.i

q u e c o ns is te, corno se sab e, n a ten tativ a d e ar ticul ar as mt erp ela çõ es e d is cu rs os a nt agônicos. É pr ecisam en te p orq ununca con seg ue ser to talm en te absorv ido por nen humc lasse, p orqu e o cam po ideoló g ico sem pre ap resen taa bertura , e sua es tru tura cão n unca é com ple ta - que a luse s tam b ém pode assum ir a form a de um a lu ta ideológica,p elo co ntrá rio , que as ide olo gias de c lass e co nsti tuem b lodos e pe rfeitam ente coeren te s, se ria reduz ir o co nfl itou m m ero cho qu e m ecân ico que dific ilm ente pod eria se cc om o " lu ta i de ol óg ic a" , N egar a d ia lética en tre o povo eequiva leria , po rtan to , a nega r a lu ta ideo ló gica de cla s

Ex am inem os em m a ior detalhe esta d ialé1 t ic a c a rex is ten te en tre o povo e a s cla sse s. C la sse s só existem coheg em ônic as na m ed ida em que con seg uem a rticu lar asçõ es po pula res a se u p ró prio d isc urso . P ara às c lass es doessa art icu lacão cons iste , c om o v im os, na neutralização

Para as c lasses d om inadas, no d esen volv im ento d o anineren te .a ele . P ara co nqu ista rem a hegem on ia, as classe sd as d eve m pre cip itar a c rise d o d isc urso ide oló gico dom ind uz.ir s eus pr indp ios articu la tó rios a en telé quia s vaz ias,d e q ualque r força co notativ a fa ce à s in terpela çõ es p opu latan to dev em de sen volv er o an tago nism o implícito n es sa sa té o p onto em que o povo se torn e to talm en te in assimq ualque r f raçã o do b lo co de po der. C on tu do , a pr es en ta r alaçõ es populares so b a form a de antagon ism o é , com o sabracter íst ico d o p o pu li sm o. S e, po r con segu in te , u ma c lass ed a d eve im por su a heg em onia através de um confron to cod e po der , e se para este en fren tam ento n eces sita des env olv ego n i smo im plícito nas in terpe laçõ es po pulares , dedu z-s eto m ais rad ica l for seu enfren tam ento com o sis tem a, tanp oss ível será p ara ess a cla sse a firm ar sua heg érno nia sem "m o". O popu lism o não é, em con seq üên cia , exp res são did eo lóg ico d e um a cla sse dom in ada m as, ao contrário , um asão do m om en to em que o pod er a rtic u lató rio des ta cla ssehc gem on icam en te sobr e o res to da so ciedade . Este é o pr imvi m ento da di alét ica en tre po vo e c lasse s: AJ c lasses não po

ma r su a h eg etn on ia sem articu la r o p ov o a se u d iscur so : e a f

pe ci fica de sta ar ticulação, no c aso de um a c lasse que, pa ra

su a hegemonia, tem qu e entrar em con fron to co m o bloco de

se u co n jun to. será o populismo.

i

Page 29: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 29/30

Vejamos, agora , o pro ce ss o a partir de um ângulo oposto. Acontrad ição povo/blocode pode r não pode se desenvolver sem asclas se s. S e a s c las se s não rodem ser hege rnôni cus sem se articu larem

ao povo, o povo só ex iste articu lado às classes. O grau de "populis-mo" , por conseguin te , dependerá da natureza doantagonism o exis-tente en tre a classe que lu ta por sua hegem onia e b loco de poder.Com ecem os colocando um caso extremo: aquele em que um a clas-se. para estabelecer sua hegem onia, ex ige opleno desenvolvimentod o a nt ag on is m o inerente à s i nt er pe la çõ e s p op ul ar -d em o cr át ic as.Q ue sig nific a e ste pleno de sen vol vim ento? C om o argum entam os - ecom o também observaram 8adiou e Balrnês a partir de uma pers-pectiva d iferente - na m edida em que a resistência popular se exerce

contra um poder ex terno e oposto ao povo , isto é, Contra ~ própriaforma do -Es t ado, aresoluc ão da contrad ição povo/b loco de poders ó p od e c on si stir na supressão do Esta do e nqu anto fo rç a a nta gôn i-ca com relação ao povo. Portan to , só pode asp irar ao plenodesen-vol vi rnento da contradição povo/b loco . de poder, ou seja , à formam a is e le va da e r ad ic al d e p op u li sm o o s etor s ocia l cujos i n te r es s es d e

clásse o c on du za m à supressão do E stado c om o fo rç a an ta gôn ic a.No sociallsmo, por conseguinte, coincidem aforma mais elevada de"p o pu li sm o " e a s ol uç ão d o ú lt im o e m a is r ad ic al d os c on fl it os c la ss is-

Ia s . A dialética en tre o povo e as classes encontra, aí , o momento fi-nal de sua unidade: não há socialismo Sem populísmo, mas as for-m as m ais elevadas de populism o só podem ser socialistas, Esta é aprofu nda in tu içã o, p res en te, de M ao a T ogliatti, e eln todas as ten-dências' do m arxism o que; de posições polític as e tra diç ões c ultu raisb em d iv er sa s, tentaram s up er ar o r ed uc io ni sm o classista. O a va nç ona direção do socialismo só pode consistir, oeste , sentido , em umaampla série de lu las, através das quais o socialism o afirm e sua iden-tidade popular e o povo seus objetivos socialistas, N ovam ente, nes-te ca so , a hegem onia socialista não significa a destru ição pura esim ples da sociedade preexistente e sim a ab sorção de seus elem en-tos em um a articu lação nova. Semente q ua nd o c on se gu ir de se nvo l-ve r s ua capacidade articulatória é que o socialism o se tornará hege-rn ônico .

Consideremo s, agor a, o ca s o o pos to : aquele em que o populis-mo é desenvolv ido por um a classe cujo an tagonism o com relaçãoao b loco de poder é menos rad ical e que , portanto , não -E,onduz à

supre ssão do Estado co mo força an tagô nica faceao povo . A d i a l é -

tica en tre povo e as clas ses conduz, neste cas o, a d iferen te s form as

20 2

de a rt icu lac ào. O tr ac o comum a to das elas é que a radicadas in ter pe laçõ es derríocr áticas de ve ser ligada a uni cam potivo de tal natu rez a que co ns ig a c on te r o a nta go nism o impin terpe laç ões popular-democrá ticas dentro dos limites reqpelo confr on to da nova classe dominante com o bloco de pdicional. J á sabemos fom o, no caso do fascism o, .esta neutraIo i levad a a c ab o: v incu lando as interpelações popularesd os c om o r ac is mo e c or po ra ti vi sr no , que im pediram sua racão em uma direção socialista . T ambém sabemos que acão desses limites requer u m a lto g rau de h orn oge neiza çãoca , que só se tornou possível através da repressão . DaI" to talitário" do fascism o. N o caso dos reg imes bonapar

com o o peron ismo - o m étod o , d e n eutra liza çã o fo i d ifere nsistiu , essencialm ente, em perm itir a 'subsistência de vá ri asque baseavam seu apoio ao reg im e em projetos articulatóriosgônicos, e na afirm ação do poder do E stado com o força mentre ela s. Coexist iam, assim , na Argentina, g ru po s q ue bseu apoio ao regime etn um a ar ti cu la çã o e ntr e "populism o"b era lism o c le ric al, en tre "po pulismo" e nazism o, en tre "mo" e reform ism o sind ica l, en tre "populismo" e an t iimp e ri adem ocrá tic o e , fin alm ente, en tre "populism o" e socialism o.do bonapartista exercia um , po der mediador en tre essassusten tação o .postas e se identificava com m uito poucosideo lógico s. A notória pobreza id eo ló gica e fa lta de d outrin a

do peronism o explica-se , pr ecis amente, por este caráter mdo Estado e do próprio Peró n . O fascism o, pelo contrário ,senvolver um a doutrina oficial m ais precisa e um a estruturag ic a m ais d efin ida, n a m ed id a em que co ns titu iu u ma e xpm enos "m ediadora" e m ais " to t al it á ri a". O s r eg im e s b on ap apor defin ição , não procuram a unificação , ou assim ilação,relhos ideoló gicos, um a vez que é precisam ente em sua cde mediação entre forças opostas que reside sua fonte depor esta razão que, c om o s al ie nt am os, a radicalizaçâo d a l inp ol íti ca p ero nista , para além dos lim ites toleráveis pelo bonm o, fo i um p ro ce ss o qu e teve lugar após a queda do peronism19 55 .

Pa ra conc lu ir , re sta-nos responder à seguin te perguntaque não limi tar o uso do termo "populism o" ao s egundoanalis arn os, e adota r uma terminologia d ifere nt e para alud i!la s experiências em que as inte rpel açõe s populare s rad icali za d

i

I

Page 30: ernest laclau - política e ideologia na teoria marxista

5/10/2018 ernest laclau - pol tica e ideologia na teoria marxista - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/ernest-laclau-politica-e-ideologia-na-teoria-marxista 30/30

I

I

arti cu la ram corn o so cia lis mo ? E ste s eria , a parent emen t e. o p roc e-d im en to m ais s en sa to , d ad as a sconotaçõé s pejorat ivas a qu e geral-m en te o te rm o "populisrno " a p ar ec e a s so c ia d o. N ão m e p are ce , en -tre ta nto , q ue e sta s er ia u ma d ec isã o c orre ta , u ma v ez q ue o bsc ure -c er ia a u niv ers alid ad e d a p re mis sa b ás ic a constituída p ela d up la a r-tic ula çã o 0 0 d is cu rs o p olítico , e p od er ia c on du zi r à ilu são de que asin te rp ela çõ es p op ula re s p re se nt es n ó d is cu rs o s oc ia lis ta tiv es se msido cr iadas p or e ste d is cu rs o, es ta nd o a use nte s d a id eo lo gia d asc l as s e s d om i n an t e s. E s te se r ia o cam inho m ais segu ro de recair nore du cio nis mo d e c las se . P elo c on trá rio . a firm ar a re la tiv a c on ti nu i-dade das interpelações p op ula re s fr en te à s a rtic ula çõ es d es co ntl-n ua s d os d is cu rs os d e c la ss e é o ú nic o p on to d e p artid a v álid o p ata

u m e st ud o c ie ntífi co d as id eo lo gia s 'polí t icas.

"

2 0 4