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JULHO 2019 | N.º 23 | ANO IV | MENSAL | PREÇO: 3Diretor: Miguel Múrias Mauritti ESPECIAL | PCS 2019: PREVENIR A DCV EM DOENTES COM DIABETES, HTA E DISLIPIDEMIA PÁG. 22 ENTREVISTA | LUÍS MENDÃO, PRESIDENTE DO GAT NACIONAL Estudantes de Medicina contra criação de novas faculdades PÁG. 19 Guerra aberta. Médicos acusam primeiro-ministro de confundir o seu papel EXCESSO DE PESO E OBESIDADE INFANTIL CAÍRAM MAIS DE 20% NUMA DÉCADA Açores é a região com maior prevalência de excesso de peso infantil, com uma em cada três crianças com peso a mais. Pág. 24 Hepatite C erradicada até 2030? “Não vamos atingir esse objetivo” PÁG. 18 NACIONAL A “batata quente” nas mãos de uma gestora Seis dos mais emblemáticos hospitais de Lisboa vão ser substituidos por uma mega unidade na zona oriental da capital. A ex-secretária de Estado da saúde irá coordenar todo o processo. ENTREVISTA | ROSA VALENTE DE MATOS PÁG. 8 Bastonária dos Enfermeiros pode ser destituída. “É uma vingança”, acusa Ana Rita Cavaco Pág. 34 Pág. 30 Tal como alguns dos mais destacados especialistas na área das doenças infeciosas, Luís Mendão, Presidente do Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), não acredita que Portugal consiga eliminar a infeção por Vírus da Hepatite C nos próximos dez anos. ENTREVISTA | CHRISTOPH BOESECKE Nova associação veio acrescentar eficácia, maior tolerabilidade e adesão à terapêutica antirretroviral PÁG. 4 WWW.SAUDEONLINE.PT SAÚDE NLINE JORNAL

erradicada até 2030? “Não vamos atingir esse objetivo”€¦ · Hepatite C erradicada até 2030? “Não vamos atingir esse objetivo” PÁG. 18 nacional A “batata quente”

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Julho 2019 | N.º 23 | ANO IV | MENSAL | PREÇO: 3€ Diretor: Miguel Múrias Mauritti

EspEcial | pcs 2019: prEvEnir a Dcv Em DoEntEs com DiabEtEs, Hta E DislipiDEmia

PÁG. 22EntrEvista | luís mEnDão, prEsiDEntE Do Gat

nacionalEstudantes de Medicina contra criação de novas faculdades

PÁG. 19

Guerra aberta. Médicos acusam primeiro-ministro de confundir o seu papel

ExcEsso DE pEso E obEsiDaDE infantil caíram mais DE 20% numa DécaDa açores é a região com maior prevalência de excesso de peso infantil, com uma em cada três crianças com peso a mais. Pág. 24

Hepatite C erradicada até 2030? “Não vamos atingir esse objetivo”

PÁG. 18

nacional

A “batata quente” nas mãos de uma gestoraseis dos mais emblemáticos hospitais de lisboa vão ser substituidos por uma mega unidade na zona oriental da capital. a ex-secretária de Estado da saúde irá coordenar todo o processo.

EntrEvista | rosa valEntE DE matos

PÁG. 8

Bastonária dos Enfermeiros pode ser destituída. “É uma vingança”, acusa Ana Rita Cavaco

Pág. 34

Pág. 30

tal como alguns dos mais destacados especialistas na área das doenças infeciosas, luís mendão, presidente do Grupo de ativistas em tratamento (Gat), não acredita que portugal consiga eliminar a infeção por vírus da Hepatite c nos próximos dez anos.

EntrEvista | cHristopH boEsEckE

Nova associação veio acrescentar eficácia, maior tolerabilidade e adesão à terapêutica antirretroviral

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WWW.SAUDEONLINE.PTsaúde nlinejo

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4 Entrevista | Biktarvy® veio acrescentar eficácia, maior tolerabilidade e adesão à terapêuticao novo medicamento trouxe ao arsenal terapêutico já disponível mais tolerância, eficácia e induziu maior adesão por parte dos doentes

6 Nacional | Estudo EXPRESS: Alta prevalência de expressão de PD-L1 no CPCNPDe acordo com um estudo retrospetivo realizado em 18 países, a expressão do pD-l1 é comum no cancro do pulmão de células não pequenas localmente avançado ou metastático.

8 Entrevista | Rosa Valente Marques de Matosa “batata quente” nas mãos de uma gestora 14 Investigação| Pneumonia: Longo tratamento com antibióticos não melhora resultados

16 Investigação | Doentes que são operados por cirurgiões vasculares ficam menos tempo de baixainvestigadores da faculdade de medicina da universidade do porto concluíram que os pacientes operados por especialistas em cirurgia vascular ficam “menos tempo de baixa médica” e retomam a atividade física “mais rápido” do que quando operados por cirurgiões gerais.

18 Investigação | Guerra aberta. Médicos acusam primeiro--ministro de confundir o seu papel

20 Nacional | Centro Materno-Infantil do Norte realiza cirurgia inovadora

24 Nacional | Excesso de peso e obesidade infantil caíram mais de 20% numa décadaos açores são a região com maior prevalência de excesso de peso infantil, com uma em cada três crianças com peso a mais.

26 Investigação | Desenvolvido método capaz de isolar células para regeneração do coraçãoinvestigadores do i3s, no porto, desenvolveram um método capaz de isolar as células do coração que podem ser as “candidatas mais promissoras” na regeneração do tecido cardíaco após um enfarte.

28 Nacional | GSK: 50 anos de inovação respiratória por dentro de uma das maiores fábricas de medicamentos da Europa

30 Especial | PCS 2019: Prevenir a DCV em doentes com diabetes, HTA e dislipidemia

34 Nacinal | Bastonária dos Enfermeiros pode ser destituída. “É uma vingança”, acusa Ana Rita Cavaco

Entrevista | luís Mendão, Presidente do GaTHepatite c erradicada até 2030? “não vamos atingir esse objetivo”Tal como alguns dos mais destacados especialistas na área das doenças infeciosas, Luís Mendão, Presidente do Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), não acredita que Portugal consiga eliminar a infeção por Vírus da Hepatite C nos próximos dez anos.

pág. 22suMáRio

Endereço [email protected] DirectorLuís Araú[email protected] Diretor ComercialRicardo [email protected]

FICHA TÉCNICA | Publicação online de informação geral e médica

ProprietáriaJoana Correia de Freitas Santos Coraçãode Figueiredo AraújoRua António Quadros n.º 1 – 1A1600-875 LISBOAE-mail. [email protected]

Isenção de registo na ERC, nos termosda alinea a) do nº1 do artigo 12º dodecreto regulamentar nº8/99, de 9 de junho

PeriodicidadeInformação permanente

Ano de fundação: 2016

DiretorMiguel Múrias [email protected]

Edição e RedaçãoSaúde Online - Comunicação, MMLA, Lda.Rua da Junqueira 446 – 2º 1300-341 LISBOAE-mail: [email protected]

Design e Produção - Alexandra Leitão ColaboradoresTiago Caeiro - [email protected]

saúde nline

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SAÚDE ONLINE | ENtrEvIStA

4 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

Biktarvy® veio acrescentar eficácia, maior tolerabilidade

e adesão à terapêuticao novo medicamento trouxe ao arsenal terapêutico já disponível mais tolerância,

eficácia e induziu maior adesão por parte dos doentes

cHristopH boEsEckE

Para sinalizar um ano de disponibili-dade do Biktarvy® (bictegravir, em-tricitabina e tenofovir alafenamida)

fumarato no mercado alemão (lançado em junho de 2018), o Saúdeonline foi en-trevistar o Professor Christoph Boesecke do University Hospital Bonn, de Bona, Alemanha, médico com muita experiência de utilização do Biktarvy® em contexto de “vida real”. O especialista falou das vanta-gens que a nova associação introduz, real-çando o facto de se tratar de um regime de comprimido único, muito bem tolerado e com a vantagem de ser uma pílula pequena, mais fácil de tomar, vantagens que benefi-ciam a adesão à terapêutica.

Qual é o mecanismo de ação do Biktarvy®?Professor Christoph Boesecke (PCB) - O bic-tegravir contido no Biktarvy® é um inibidor da transferência de cadeia de integrase que im-pede a replicação do vírus HIV 1, bloqueando a integrase do HIV-1, uma enzima codificada pelo VIH-1 que é necessária para a replica-ção viral. A inibição da integrase previne a in-tegração do ácido desoxirribonucleico (ADN) do VIH-1 no ADN genómico do hospedeiro, bloqueando a formação do pró-vírus do VIH-1 e a propagação da infeção viral.O segundo fármaco da associação Biktarvy®, a emtricitabina, é um inibidor nucleosídeo sin-tético que bloqueia a atividade da transcrip-tase reversa do HIV-1. Ele se integra ao ácido desoxirribonucleico (DNA) viral nascente, re-sultando na terminação da cadeia.Finalmente, o tenofovir alafenamida é tam-bém um inibidor nucleotídico da transcriptase reversa, que inibe a replicação do VIH-1 atra-vés da integração com o ADN viral, resultando na terminação da cadeia do ADN.

O Biktarvy® vem acrescentar alguma melhoria em relação aos antirretrovirais existentes?Sim. É o primeiro inibidor da integrase não po-tenciado contendo uma estrutura base F / TAF em um único regime de comprimido (STR).

Quais os pacientes que mais beneficiam com a disponibilização desta nova associação?Particularmente pacientes idosos com várias comorbidades e polimedicados que com o Biktarvy® acedem a um regime de um com-primido único com um potencial muito baixo de interações medicamentosas. Mas também os pacientes que necessitam de iniciação rá-pida da Terapêutica antirretroviral podem be-neficiar, pois a barreira de resistência do Biktarvy é muito alta mesmo quando compa-rada com os demais inibidores da integrase.

Quão importante é a ausência de efeitos colaterais a longo prazo?

Extremamente importante. É aliás a única pergunta que todos os pacientes com HIV nos fazem o que mostra bem a preocupação com essa possibilidade.

O Biktarby pode ter algum impacto na adesão à terapia?PCB - Claro. Os regimes terapêuticos de um único comprimido provaram ser a melhor op-ção para a adesão ao tratamento. Outro as-peto importante é o do tamanho do compri-mido, que no caso do Biktarvy®, é pequeno.

Isso é verdadeiramente relevante hoje?Hoje mais do que nunca. Isto porque os nos-sos doentes passaram a ter uma esperança de vida praticamente sobreponível à da popula-ção em geral. Ou seja, estamos a falar de pes-soas que vão passar décadas a fazer um re-gime terapêutico, do qual poderão desistir se os efeitos secundários forem muito marcantes ou se os comprimidos forem muito grandes.Miguel Múrias Mauritti

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entrevista | saÚDe OnLine

juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 5

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SAÚDE ONLINE | NAcIONAL

6 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

As descobertas surgiram depois da análise de uma série de arti-gos científicos publicados na Cell e parecem contrariar a ideia de que os antioxidantes são uma boa arma para prevenir o cancro.No primeiro estudo analisado, “Nrf2 Activation Promotes Lung Cancer Metastasis by Inhibiting the Degradation of Bach1”, o chefe do Departamento de Bioquímica Farmacológica Molecular da New York University Langone e da New York University School of Medicine, em Nova Iorque (EUA), e principal autor do es-tudo, Michele Pagano, e a res-tante equipa de investigação detalham como as mutações

‘Vitamina E’ potencia metástases no Cancro

do Pulmãouma nova análise mostra que os antioxidantes,

especialmente a vitamina E, estimula as metástases no cancro do pulmão devido ao

aumento de uma proteína.

genéticas conhecidas por promo-ver a produção de antioxidantes aumentam os níveis intracelula-res da proteína Bach1, um impul-sionador da metástase das célu-las cancerígenas.Já no segundo estudo, desig-nado “BACH1 Stabilization by Antioxidants Stimulates Lung Cancer Metastasis”, o principal autor, Martin Bergo, do Karolinska Institute, em Estocolmo (Suécia), bem como a restante equipa abor-dam, através de experiências em ratinhos com cancro do pulmão, a forma como o aumento da vita-mina E também aumenta o Bach1 intracelular, estimulando, assim, a disseminação do cancro num

“Os resultados provam alta consistência en-tre as regiões geo-

gráficas e sugerem alta reprodu-tibilidade geral da análise PD-L1 baseada em imunohistoquímica quando realizada por patologistas experientes e treinados”, disse à Reuters o Dr. Manfred Dietel, da Charite Universitaetsmedizin

Berlin, na Alemanha. “Isso signi-fica que as análises de PD-L1 são uma base confiável para fornecer fármacos imunológicas oncoló-gicos (inibidores de check-point) aos pacientes”.A expressão tumoral da PD-L1 tem sido usada para identificar pacientes com cancro do pulmão de células não pequenas que são

mais propensos a se beneficiar do tratamento com o anticorpo monoclonal altamente seletivo, o pembrolizumab.A prevalência da expressão de PD-L1 tem sido largamente ava-liada em populações de ensaios clínicos, e pouco se sabe sobre a prevalência global, no mundo real, da expressão de PD-L1

em células tumorais de pacien-tes com CPCNP avançado ou metastático.Para o estudo EXPRESS, Dr. Dietel e a sua equipa examina-ram dados de amostras de tu-mores em 2.368 pacientes com CPCNP estágio IIIB / IV, tendo avaliaram a prevalência de PD-L1 como a percentagem de

Estudo EXPRESS: Alta prevalência de expressão de PD-L1 no CPCNP

De acordo com um estudo retrospetivo realizado em 18 países, a expressão do pD-l1 é comum no cancro do pulmão de células não pequenas localmente avançado ou metastático.

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nacional | SaÚDE onlinE

juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 7

com CPCNP avançado expres-sam PD-L1 em células de tumor (avaliado em material histológico) e são potencialmente elegíveis

para monoterapia pembrolizumab como terapia de primeira ou se-gunda linha”.TC/SO

“A suplementação com N-acetil-cisteína ou vitamina E na dieta pro-

move a metástase pelo aumento intracelular de Bach1 em modelos

de ratos com cancro de pulmão, aponta , Michele Pagano, principal

autor do estudo pulmão” .

ratinho com cancro do pulmão. Mais concretamente, o Bach1 es-tabilizado é fundamental para evi-tar o aparecimento de cancro do pulmão de não pequenas células (CPNPC).A equipa sueca observou ainda como a glicolise aumenta o me-tabolismo da glicose nas células, bem como nos níveis de ácido lá-tico. Quanto maior a quantidade de glicose na corrente sanguí-nea, maior a probabilidade de ha-ver reprodução de metástases das células cancerígenas.Aproximadamente 30% dos pa-cientes com CPCNP têm muta-ções específicas em vários ge-nes que promovem a homeostase

“Estes resultados indicam que 52% dos pacientes com CPCNP

avançado expressam PD-L1 em células de tumor (avaliado em material histológico) e são potencialmente elegíveis para monoterapia pembrolizumab como terapia de primeira ou segunda linha”, explica o Dr.

Manfred Dietel, que coordenou a investigação

oxidativa e lhes permitem aumen-tar a transcrição de genes antio-xidantes, seja adquirindo muta-ções estabilizadoras, como no gene Nrf2 , ou adquirindo muta-ções inativadoras. Ambos os ti-pos de mutações ajudam as célu-las tumorais a protegerem-se dos efeitos citotóxicos.Numa série de estudos realiza-dos para esclarecer os meca-nismos moleculares pelos quais a acumuação de Nrf2 promove metástases no adenocarcinoma de pulmão, Michele Pagano e a sua equipa testaram uma série de mutações envolvidas no pro-cesso da doença metastática e documentaram como cada uma

dessas promove a migração celu-lar, metástase e, finalmente, a ati-vação do programa de transcrição Bach1. A expressão dos genes Bach1 no tecido do adenocarci-noma do pulmão está também as-sociada à redução da sobrevida.As descobertas reveladas pelo principal autor do primeiro es-tudo Michel Pagano complemen-tam os resultados relatados por Martin Bergo e a sua equipa, que descobriu que a suplementação com N-acetilcisteína ou vitamina E na dieta promove a metás-tase pelo aumento intracelular de Bach1 em modelos de ratos com cancro de pulmão.TC/EQ

células tumorais viáveis mos-trando coloração parcial ou total da membrana (score de propor-ção de tumor, ou TPS).No geral, 48% das amostras ti-nham PD-L1 TPS <1%, 52% ti-nham PD-L1 TPS de pelo menos 1% e 22% tinham PD-L1 TPS de pelo menos 50%. A prevalência foi semelhante entre as regiões.Amostras tumorais com PD-L1 TPS de pelo menos 50% foram menos comuns entre pacientes com mutações sensibilizadoras de EGFR e aqueles com trans-locações de ALK. Nenhuma ou-tra característica demográfica ou clínica pareceu estar associada a diferenças na prevalência da ex-pressão de PD-L1.Os investigadores concluí-ram que “estes resultados in-dicam que 52% dos pacientes

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SAÚDE ONLINE | ENtrEvIStA

8 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

Hospitais de Lisboa com fim à vista

A “batata quente” nas mãos de uma gestora a ex-secretária de Estado da saúde tem em mãos o processo de encerramento

de seis unidades hospitalares hoje existentes, que serão concentradas no novo Hospital de lisboa oriental, cuja abertura está prevista para 2023.

rosa valEntE DE matos

Depois de passagem pelo Governo, como Secretária de Estado da Saúde, Rosa Valente de Matos aceitou ad-

ministrar o Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, que integra seis das mais proeminentes unidades hospitalares da ca-pital, à época da nomeação envolto em po-lémica, depois de vários pedidos de demis-são de chefes de equipa em protesto contra as condições de trabalho. Pela frente, tem um dos processos com maior potencial de risco de conflituosidade da próxima legislatura: o encerramento das seis unidades hospitalares hoje existentes, que serão concentradas no novo Hospital de Lisboa Oriental, cuja aber-tura está prevista para 2023. Unidades pe-las quais os lisboetas nutrem um sentimento de pertença, como a Maternidade Alfredo da Costa ou o Hospital de D. Estefânia, ou ainda o S. José.

Se tivesse de apontar três coisas excecionais do centro hospitalar, quais seriam?Primeiro, os recursos humanos. A riqueza de ter quase 7900 funcionários a trabalhar em prol dos nossos doentes. O segundo ponto é a capacidade de inovação que este cen-tro tem e que o tem mantido sempre vivo e atual, sendo uma referência em muitas áreas da medicina portuguesa. A terceira é a resi-liência, ou seja, a capacidade que as pessoas têm de continuar a trabalhar e a evoluir em si-tuações tão complexas e difíceis ao nível das estruturas e dos equipamentos.

E as três principais preocupações?Este conselho de administração tem em mãos duas linhas estratégicas muito fortes. Uma é dar continuidade e concluir o novo hospital (de Lisboa Oriental), e quando falo no novo hos-pital não falo apenas nas paredes, mas em

todo o processo organizativo, que temos de trabalhar para quando o novo edifício estiver pronto podermos transitar mantendo o que de muito bom temos, mas também conseguir ge-rar uma nova dinâmica e novas formas de or-ganização e prestação de cuidados ajustadas às capacidades tecnológicas hoje disponíveis e às necessidades das populações. Outra, são as pessoas: trabalhar com todos os profissionais, quer no seu desenvolvimento profissional e conciliação entre vida pessoal e laboral, quer no estímulo à participação e envolvimento nas decisões, quer, ainda, nas suas condições de trabalho. Mas também com os cidadãos, sejam os nossos utentes, a quem temos de envolver, ouvir e trazer para a prestação de cuidados e a quem temos de oferecer cada vez melhores cuidados, sejam

as organizações da sociedade, os cuidados de saúde primários, as juntas de freguesia, a câmara municipal, as entidades privadas, a Santa Casa da Misericórdia, com quem temos de dialogar para conseguir oferecer melhores cuidados e para que a transição que se vai fa-zer daqui por 4 ou 5 anos possa ser serena, pensada e partilhada.

Tendo em conta o sentimento de pertença tão antigo destas instituições, acredita que vai ser uma transição suave? Veja-se a polémica em torno do encerramento da MAC….Todos temos um sentimento de pertença às nossas coisas, é algo normal que não possa-mos esconder. Temos é de o saber trabalhar. É verdade que cá dentro eu sinto que todos os profissionais querem esta mudança, querem este hospital. Estas seis instituições não po-dem permanecer muito mais tempo, estamos todos os dias a adaptarmo-nos (com obras a decorrer), que nos permitem viver neste es-paço mais 4/5 anos. Precisamos de um novo hospital, que seja mais tecnológico, mais vol-tado para fora, para as pessoas. A população também precisa disto.

Sabe que vão enfrentar forte contestação. Como a ultrapassarão?Pretendemos realizar um trabalho altamente participativo no planeamento do Hospital de Lisboa Oriental, envolvendo, além das insti-tuições da saúde, também os representantes autárquicos e as instituições da sociedade ci-vil com interação com o hospital, de forma a ir construindo passo a passo consensos que permitam que exista o maior grau de aceita-ção possível do novo hospital no meio em que se insere, sem por em causa a sua missão e prioridades estratégicas e operacionais. Mas existe um aspeto que todos temos de estar

«Todos os profissionais querem esta mudança. Estas seis instituições não podem

permanecer muito mais tempo, estamos

todos os dias a adaptarmo-nos»

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entrevista | saÚDe OnLine

juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 9

cientes, o de que o investimento a realizar (um dos maiores investimentos públicos alguma vez efetuados em Portugal) se destina a ajus-tar as estruturas de prestação de cuidados de saúde hospitalares na cidade de Lisboa às di-nâmicas populacionais da cidade e às neces-sidades dos cidadãos. Penso mesmo que não será aceitável, quer ao nível da prestação de cuidados quer de utilização dos recursos pú-blicos, que tudo fique na mesma.

Alguma das instituições vai ficar a funcionar?Não sei, essa pergunta foi-me sempre colo-cada e eu já tive várias versões sobre isso. Interessa-me encontrar um caminho para o novo hospital e depois alternativas para estes edifícios, para que possam ter uma função, li-gados à saúde ou não.

O que aconteceu ao Hospital do Desterro?O antigo Hospital do Desterro é propriedade da ESTAMO, como aliás boa parte deste (S. José) e do Curry Cabral.

Em termos de carências, ouvimos que faltam alguns especialistas, como obstetras e anestesiologistas.Este Centro Hospitalar [CHULC] tem as mes-mas carências que os outros. Há seis ou sete especialidades (obstetrícia, pediatria, aneste-siologia, radiologia, ortopedia) em que real-mente existe uma grande carência de profis-sionais e isso é um problema. Mas é um pro-blema que está muito associado com a atual organização dos cuidados hospitalares na área metropolitana de Lisboa, em particular os serviços de urgência, que penso, terão que ser objeto de reflexão urgente.

Como é que se ultrapassa este problema sem ser pela reorganização dos serviços? Porque já vimos que a reorganização dos serviços é um bilhete de passagem do dirigente que o propõe para uma ida à comissão Parlamentar da Saúde para prestar esclarecimentos?O SNS, como todos os sistemas, é dinâmico e precisa de estar em permanente atualiza-ção. No entanto, mais do que estar a res-ponder permanentemente a situações pon-tuais, temos de implementar medidas estru-turais, discutidas, ponderadas e implementa-das. Mais do que dizer que se resolve com a exclusividade, ou dizer que se resolve com a reorganização dos serviços, se pagarmos mais ou se tivermos mais médicos, acho que é preciso repensar o que queremos fazer com o nosso SNS e envolver os profissionais nas decisões. Temos uma administração pública

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SAÚDE ONLINE | ENtrEvIStA

10 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

muito pesada e que precisa de ser atualizada. Temos de ter mecanismos internos de ges-tão de recursos humanos. Temos também um problema de planeamento, de motivação, de responsabilização dos recursos humanos. O mais importante numa instituição são as pes-soas. Não temos processos de avaliação que tenham grande efetividade ou influência nas dinâmicas organizacionais. Temos muitas ideias, pomo-las em prática mas raramente as avaliamos.

Muitas vezes fica a ideia de que existem profissionais disponíveis mas que é o SNS que não os consegue ir buscar. Cada vez que um concurso fica deserto surgem as críticas ao governo. Não há mesmo profissionais ou é uma questão do quanto estão dispostos a pagar?Normalmente há dois concursos a nível na-cional com vagas que são atribuídas às várias instituições. Os médicos internos que termi-naram a especialidade são livres de concor-rer. Uns concorrem e outros vão para o pri-vado. Há aqui um espaço de oportunidade que há 20 anos não tínhamos.

E isso vale para todas as especialidades?Vale para aquelas seis ou sete de que lhe fa-lei. Neste momento, os privados vão alar-gando o seu âmbito de atuação. É verdade que o que temos em termos de população médica é aquilo que sai da faculdade todos os anos. Em relação à contratação direta, é claro que há sempre uma consulta ao mer-cado. Numas especialidades temos, noutras não temos. Por exemplo, o mercado de oftal-mologistas é difícil, nós temos uma tabela e temos de a seguir – umas vezes temos con-correntes, outras não.

Existem pedidos de valores superiores aos da tabela?Haverá sempre. Isso passa pelo serviço de Recursos Humanos, mas, quando se faz uma pesquisa ao mercado, há valores que pode-rão ir dos 20 euros à hora até aos 50/60.

Agora vamos ter um novo hospital para Lisboa Oriental, que vai absorver as competências destes hospitais centrais. O Hospital de São José tem, neste momento, dimensão para servir a população que lhe está atribuída?Estamos a fazê-lo, não só no Hospital de São José, mas em todo o Centro Hospitalar. Não vou escamotear que poderá haver lis-tas de espera, até pela questão da liber-dade de escolha que nos trouxe novos de-safios, que de alguma forma refletem o grande prestigio e confiança da população

de todo o país nos nossos profissionais. Temos mais pedidos que vieram complicar as nossas listas de espera que não eram muito excessivas. Estamos a servir em pri-meira linha uma população de mais de 300 mil pessoas. Somos em muitas especialidades o centro de referência para o sul do país e para as re-giões do Vale do Tejo e do Oeste. A este pro-pósito gostaria de salientar que um dos as-petos mais importantes da nossa ação será o de recentrar a atividade do CHULC nos cui-dados de elevada complexidade e diferencia-ção, que sempre foram a marca distintiva dos nossos hospitais, em estreita articulação e colaboração com outros hospitais. Trabalhar em rede é imprescindível e a tecnologia ao nosso dispor torna tudo muito mais fácil do que há alguns anos. Temos que ter a capaci-dade de fazer aquilo que compete a cada um de nós, não dispersando recursos, adotando novos processos e metodologias de trabalho, sempre com o pensamento naquilo que pode

melhorar a vida dos nossos doentes. Temos de ousar inovar.

Em relação à área da formação, têm muitos internos aqui?Temos muitos internos de medicina, somos um hospital universitário, mas temos igualmente muitos estudantes de enfermagem, de profis-sões técnicas de diagnóstico e terapêutica e de outras profissões que nos escolhem para fazer parte da sua formação. Saliento um dado que considero muito relevante que é a cres-cente procura por profissionais de outros paí-ses para fazer estágios nos nossos hospitais. Também queremos investir na área da inves-tigação, porque é uma maneira dos nossos jovens permanecerem aqui. O novo hospital também vai ser universitário, vai ter até uma parte dedicada à formação e à investigação.

Para quando está prevista a abertura do novo hospital?Dentro de quatro anos, se tudo correr bem.

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entrevista | saÚDe OnLine

juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 11

Neste momento, o júri (de que eu faço parte) está a analisar as propostas. Até ao final do ano deve haver uma decisão.

Há muitos candidatos?Temos oito concorrentes. O novo hospital co-meçou ontem, temos de trabalhar. Vai ser um hospital tecnológico, não baseado na orga-nização tradicional dos serviços que temos hoje. As camas poderão ser partilhadas, por exemplo. A própria estrutura física do edifício vai ajudar a que este processo organizativo seja mais facilitado.

Este novo modelo organizativo implica necessidades em termos de novas competências. Neste momento, a contratação de pessoal é fácil? Há pessoas que poderão ser readaptadas às funções mas há situações em que isso não vai acontecer.Todos os dias entram e saem pessoas destes seis hospitais. Temos uma área de formação

que está ao serviço de todos os profissionais para que o processo de aprendizagem de no-vas técnicas/práticas ou equipamentos possa ser feito. Mas esta é uma área que temos de continuar a desenvolver e melhorar, até por-que o conhecimento na área das ciências da saúde está em constante evolução.

Está disponível para conduzir a nova unidade?Eu sou administradora hospitalar de carreira. O meu percurso profissional tem sido feito no SNS, à exceção de quatro anos em que es-tive fora. Enquanto tiver capacidade, estarei disponível para trabalhar se acharem que sou útil. Por onde passei, penso que fiz aconte-cer e isso faz-me “estar de bem” com a vida profissional. Dou-lhe o exemplo dos rastreios da ARS de Lisboa e Vale do Tejo. Há 20 anos que se dizia que era a única região do país que não tinha rastreios organizados, de base populacional. Não fui eu que os fiz, mas a minha passagem

por lá, com a equipa que consegui montar, fez com que se conseguisse fazer. Nunca se construíram tantos centros de saúde em Lisboa, a ARS tem mais de 30 novos centros de saúde. Outro exemplo, mais recente, pelo qual tenho particular afeto prende-se com os contributos, enquanto Secretária de Estado, para a efetiva valorização das politicas de bem-estar dos profissionais e da conciliação da vida profissional e familiar. Foram peque-nos passos, mas é assim que se começa.

Assumiu a gestão de uma unidade que qualquer gestor classificaria como estando em falência técnica, com uma dívida total superior a 160 milhões de euros e uma dívida vencida de mais de 100 milhões. Como explica o ter aceitado este desafio?Ao aceitar o desafio tinha plena consciência do contexto financeiro global do Serviço Nacional de Saúde em geral e do CHULC em particular. Sabia e sei que é nesse contexto de grandes dificuldades que os gestores hospitalares hoje têm de trabalhar, mas, como dizia um meu pro-fessor na Escola Nacional de Saúde Pública, “os hospitais estão sempre em crise”. As insti-tuições em situação difícil são ainda mais exi-gentes em termos de qualidade e foco na ges-tão. Sei que aceitei um desafio difícil, mas tam-bém sei que podem atingir-se objetivos mesmo com fortes restrições orçamentais.

É possível alterar o rumo da dívida sem sacrificar a qualidade dos cuidados?É possível, de forma integrada e abrangente, conseguir alguns ganhos de eficiência que se possam converter em melhor desempenho e na entrega dum melhor serviço aos uten-tes sem aumentar a dívida. É com esse ob-jetivo que, com a minha equipa de gestão e com os profissionais da instituição, trabalha-mos todos os dias. No entanto, não vou esca-motear que as dificuldades financeiras impen-dem, muitas vezes, a implementação de me-didas e a concretização de investimentos que trariam mais racionalidade, mais eficiência e melhores cuidados. Mas, como referi, vamos trabalhar para melhorar o nosso desempenho com as condições que temos.

Qual o legado que gostaria de deixar?As prioridades estratégicas dos CHULC são, em simultâneo, planear e construir o novo hospital e valorizar os profissionais e o patri-mónio físico e tecnológico do atual centro. Por isso me empenharei na valorização do capi-tal humano e físico do centro e na qualidade do serviço prestado. Melhor serviço, gente mais satisfeita. Era isto que gostaria de deixar como marca nesta minha missão.

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14 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

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análise, 4747 tinham PAC e 1734 tinham HCAP. Mais da metade (57,4%) apresentava pneumonia grave e 26,4% e 7,5%, respecti-vamente, tinham doença pulmo-nar obstrutiva crónica ou exacer-bação da insuficiência cardíaca.Segundo o estudo, 67,8% dos pacientes receberam uma tera-pia de antibióticos excessiva, in-cluindo 71,8% dos pacientes com PAC e 56,6% dos pacientes com HCAP. Entre aqueles com PAP e HCAP, a duração mediana do tra-tamento antibiótico foi de 8 dias e 9 dias, e a duração mediana do excesso foi de 2 dias e 1 dia. “Isso levou a 2526 dias de tratamento em excesso por 1.000 pacientes hospitalizados com pneumonia”, escrevem os autores.O excesso de duração do trata-mento é consistente com as ob-servações de estudos anterio-res e não foi explicado por dife-renças na estabilidade clínica ou gravidade da doença. “De fato, a maioria dos pacientes com PAC (86,7%) estabilizou rapidamente”, garante os investigadores.Um dado relevante é que os doentes com produção de ex-pectoração tinham uma probabi-lidade 7% maior de ter ciclos an-tibióticos mais longos do que os necessários.A duração do tratamento em ex-cesso não melhorou as taxas de mortalidade a 30 dias, readmis-sões ou urgências, mas aumen-tou a probabilidade de eventos adversos associados ao trata-mento com antibióticos. Entre os pacientes que foram contactados por telefone um mês após a alta, a probabilidade de um evento ad-verso relatado pelo paciente foi 5%, um risco que aumentava por dia de excesso de tratamento. Os eventos adversos mais comuns foram diarreia, desconforto gas-trointestinal e candidíase.Os investigadores apelam a uma mudança nas guidelines, que “de-vem recomendar explicitamente que os médicos prescrevam a menor duração de terapêutica efetiva, semelhante às recomen-dações feitas nas diretrizes de pneumonia hospitalar”.TC/SO

Para pacientes hospitalizados com Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC), mais não é melhor quando se trata de terapia antibiótica. Na verdade, é prova-velmente pior.Usando dados de 43 hospitais, a Prof. Dra. Valerie M. Vaughn (pro-fessora assistente de medicina na Universidade de Michigan) e a sua equipa avaliaram prescrições de antibióticos para o tratamento de quase 6500 adultos com pneu-monia adquirida na comunidade de 2017 a 2018.Mais de dois terços dos pacientes receberam antibióticos que exce-deram as durações necessárias. Tipicamente ligados à terapia oral pós-alta, os tratamentos mais longos não melhoraram os resul-tados dos pacientes e, para além disso, ainda aumentaram o risco de eventos adversos associados a antibióticos, relatam os autores num artigo publicado na revista Annals of Internal Medicine .Antibióticos prescritos na alta representaram quase metade (49,5%) do total de dias de an-tibióticos e 93,2% de todos os dias em que o doente toma anti-biótico em excesso. Quase todo o excesso de terapia resultou de antibióticos prescritos na alta, o que indica “uma necessidade ur-gente e não satisfeita de ‘adminis-tração de alta’, ou intervenções

“Deve-se recomendar explicitamente que os médicos

prescrevam a menor duração de terapêutica efetiva”, afirmou , a Prof. Dra. valerie M. vaughn, responsável pela investigação.

Pneumonia: Longo tratamento com antibióticos não

melhora resultadosEstudo publicado na annals of internal medicine revela que quase metade dos antibióticos são prescritos na alta, o que resulta num excessivo

período de terapêutica.

coordenadas para melhorar a prescrição de antibióticos na alta”, escrevem os investigado-res. “É notável que apenas 18% dos pacientes receberam 0 ou 1 dia de antibióticos após a alta. Em vez disso, o relógio pareceu reiniciar, já que 44,7% receberam antibióticos completos (5, 7 ou 10 dias) após a alta”.Os pesquisadores basea-ram sua avaliação em guideli-nes que recomendam a dura-ção do tratamento com antibióti-cos com base na classificação da

pneumonia, no organismo e no tempo até a estabilidade clínica. De acordo com esses critérios, a duração esperada do antibiótico para pacientes com Pneumonia Adquirida na Comunidade é de pelo menos 5 dias. Já quanto à Pneumonia associada a cuidados de saúde (HCAP), causada por Staphylococcus aureus ou baci-los gram-negativos não fermen-tadores, a duração é de pelo me-nos 7 dias.Dos 6481 pacientes (idade me-diana de 70 anos) incluídos na

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juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 15

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O anti-inflamatório ibuprofeno tem efeitos anticancerígenos so-bretudo no cancro do colón, ini-bindo o crescimento de célu-las malignas, revela uma inves-tigação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).De acordo com a investigação, este medicamento anti-inflamató-rio de uso comum impede as cé-lulas cancerígenas de produzirem variantes tumorigénicas de certas proteínas.O uso prolongado de medica-mentos anti-inflamatórios não-es-teroides (AINE), como por exem-plo o ibuprofeno ou a aspirina, já foi anteriormente associado a um efeito quimiopreventivo con-tra o desenvolvimento do cancro do cólon em indivíduos com risco aumentado.Tradicionalmente, a ação do ibu-profeno foi explicada através do seu efeito inibitório sobre uma ati-vidade enzimática do organismo, que está na origem da produção

“o nosso trabalho veio mostrar que, pelo menos, o ibuprofeno

tem outros mecanismos de ação que também podem

estar na origem deste efeito anticancerígeno”, adiantou Peter Jordan, que liderou a equipa de

investigadores

de moléculas pro-inflamatórias co-nhecidas como prostaglandinas.O trabalho da equipa liderada pelo investigador do Departamento de Genética Humana do INSA, Peter Jordan, revelou que o ibuprofeno tem ainda outro modo de ação anticancerígena: “impede as cé-lulas cancerígenas de produzirem variantes tumorigénicas de certas proteínas, num processo conhe-cido como ‘splicing’ alternativo”.Em declarações à agência Lusa, Peter Jordan explicou que já se conhecia que a toma regular deste medicamento podia em ca-sos de risco prevenir o apareci-mento do cancro do colón, “mas achava-se sempre que tinha a ver com o efeito do ibuprofeno e as outras drogas, a aspirina também é um exemplo ao nível da forma-ção de prostaglandinas”.“O nosso trabalho veio mos-trar que, pelo menos, o ibupro-feno tem outros mecanismos de ação que também podem es-tar na origem deste efeito an-ticancerígeno”, adiantou Peter Jordan, que liderou a equipa de investigadores.No caso do cancro do cólon, uma das variantes tumorigénicas que a equipa de investigação identi-ficou anteriormente caracteriza cerca de 10% dos tumores e esti-mula a taxa de sobrevivência das células malignas.Segundo o investigador, “o ibupro-feno, mas não outros AINE como a aspirina, ao contrariar a produ-ção desta variante consegue ini-bir o crescimento das células ma-lignas”, explicou o investigador.Peter Jordan explicou que “exis-tem subgrupos geneticamente distintos de cancro do colón e que o ibuprofeno atua sobretudo

sobre um subgrupo que explica 10 a 15%” destes tumores.Para o geneticista, são importan-tes estudos que identificam mar-cadores de progressão maligna no início do desenvolvimento tumoral para desenvolver um diagnóstico mais preciso e uma terapia mais eficaz que seja dirigida especifica-mente às alterações génicas pre-sentes em cada tumor do doente.“Um estudo mais sistemático dos efeitos do ibuprofeno poderá agora indicar quais os subgru-pos genéticos desta doença que beneficiariam da inclusão deste AINE no regime terapêutico ad-ministrado”, defendeu.

O investigador adiantou que a pu-blicação na European Medical Journal, uma revista dirigida aos médicos, desta investigação rea-lizada ao longo dos últimos anos poderá chamar a atenção de que valeria “a pena investir mais na utilização do ibuprofeno em cer-tos casos de doentes”.Segundo os dados mais recen-tes sobre a incidência de can-cro divulgados pela Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), o cancro do cólon passou a ser, em 2018, a primeira causa de novos casos de cancro em Portugal.Lusa/SO

Investigação revela que ibuprofeno tem efeitos anticancerígenos

investigadores do instituto nacional de saúde Dr. ricardo Jorge descobriram uma nova perspetiva sobre os efeitos anticancerígenos do ibuprofeno.

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16 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

sAÚDE oNLiNE | iNvEstiGAção

Em declarações à agên-cia Lusa, Sérgio Sampaio, professor e investigador

da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), explicou hoje que o estudo, desen-volvido nos últimos dois anos, vi-sava “avaliar o impacto que a for-mação específica prévia de um médico tem nos resultados das ci-rurgias realizadas” às varizes.“Interessou-nos saber até que ponto existiam diferenças nos mé-todos e resultados das cirurgias realizadas por cirurgiões gerais e cirurgiões vasculares”, apontou.Durante o estudo, os

investigadores avaliaram mais de 150 mil pacientes que foram operados às varizes entre 2004 e 2016, em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, mais tarde, selecionaram 315 doentes para responder a um in-quérito de satisfação.Segundo o investigador, as ques-tões do inquérito estavam relacio-nadas com a satisfação dos pa-cientes no que diz respeito ao pe-ríodo pós-operatório, qualidade de vida, rapidez da recuperação e dias de absentismo.De acordo com o estudo, os pacien-tes que foram intervencionados

por um especialista tiveram alta médica “mais cedo” do que os res-tantes, com a taxa de hospitaliza-ção prolongada a rondar os 3% contra os 14% do grupo de pa-cientes operado por um cirurgião geral.Os resultados obtidos com o in-quérito de satisfação demons-tram também que este grupo de pacientes teve uma recupera-ção mais rápida, faltando em mé-dia 27 dias ao trabalho, e retomou a prática de atividade física mais cedo, demorando em média 41 dias, contrariamente ao grupo ge-ral, que faltou em média 40 dias ao

Doentes que são operados por cirurgiões vasculares ficam menos tempo de baixa

investigadores da faculdade de medicina da universidade do porto concluíram que os pacientes operados por especialistas em cirurgia vascular ficam “menos tempo de baixa médica” e retomam

a atividade física “mais rápido” do que quando operados por cirurgiões gerais.

trabalho e demorou 60 dias a reto-mar a atividade física.“Especificamente, o resultado es-tético, a exaustividade na elimina-ção das varizes e a carga socioe-conómica associada a esta cirur-gia demonstraram-se mais favo-ráveis quando o procedimento foi efetuado por cirurgiões vascula-res”, disse Sérgio Sampaio, coor-denador da investigação.O presente estudo mostrou ainda que o número de pacientes que po-derão vir a ser novamente operados é “maior quando o procedimento é efetuado por um cirurgião geral (13,5% contra 8,2%)”. LUSA/SO

Como a oligoartrite voltou a tor-nar-se mais ativa, foi reati-vada a terapia com infliximab. Inesperadamente, o doente co-meçou a demonstrar resistên-cia à insulina, o que fez com que esta fosse abandonada ao fim de 46 dias. “É o primeiro trata-mento bem sucedido, de um in-fliximab induzido por imunotera-pia. Neste paciente magro, o tra-tamento com insulina pôde ser interrompido, e o teste indicou uma recuperação da função das células beta pancreáticas e da sensibilidade periférica à insu-lina”, refere a equipa de investi-gadores liderada pelo Dr. Beckey Trinh (e composta também por Marc Y. Donath e Heinz Läubli), num estudo publicado na revista Diabetes Care. TC/SO

Diabetes induzida por imunoterapia entra em remissão com infliximab

a hiperglicemia é um efeito colateral para muitos doentes com melanoma que são submetidos a imunotera-pia. Investigadores de Basileia registaram remissão num doente devido ao infleximab.

No caso relatado, o doente tinha recebido indicação de combinação de imunoterapia com ipilumab e com nivolumab para tratar um me-lanoma avançado com metástase para o fígado, pulmão e sistema lin-fático. O infliximab era usado para tratar um outro problema: uma co-lite que também estava a ser com-batida com corticoides.Posteriormente, desenvolveu uma oligoartrite no joelho direito e nos dois tornozelos, e foi tratado com injeções locais de corticoi-des, tendo a imunoterapia sido in-terrompida. Vários dias depois, o doente começou a sentir sinais de fadiga progressiva. Um teste de la-boratório revelou hiponatremia e uma hiperglicemia, à qual os médi-cos responderam com injeções de insulina.

O agente anti-inflamatório in-fliximab pode ser um novo tratamento para o dia-

betes, nos casos em que a dia-betes é induzida pelo inibidor do checkpoint imunológico (imunote-rapia), sugere um estudo de caso único realizado na Suíça.Trata-se de um caso de um ho-mem de 53 anos que entrou em re-missão do diabetes tomando infli-ximab, um bloqueador alfa do fator de necrose tumoral.A descoberta sugere que a etiolo-gia da diabetes associada ao blo-queio do ponto de controlo imuno-lógico é diferente da da diabetes tipo 1, segundo Beckey Trinh, mé-dico da Divisão de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Hospital Universitário de Basileia (Suíça).

“Neste paciente o tratamento com insulina pôde ser

interrompido”, refere Marc Y. Donath

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juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 17

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Suplementação de bactérias intestinais

melhora níveis de insulina e colesterola suplementação com bactérias do intestino

akkermansia muciniphila melhorou os parâmetros metabólicos em voluntários com excesso de peso

e obesidade, prova um estudo.Para obter estas conclusões, os cientistas avaliaram a viabilidade, a segurança e a tolerabilidade da suplementação da bactéria (du-rante um período de três meses), analisando posteriormente os efei-tos metabólicos produzidos em 40 voluntários com excesso de peso ou obesos e resistentes à insulina.Ao fim do terceiro mês, o grupo placebo apresentou aumentos sig-nificantes de insulina plasmática em jejum, enquanto a amostra que recebeu a bactéria viva ou pasteu-rizada apresentou reduções apro-ximadas de 30% nos níveis plas-máticos de insulina, comparativa-mente com o grupo placebo, ape-sar do efeito ter sido, de acordo com as estatísticas apresentadas, mais significativo com as bacté-rias pasteurizadas.De acordo com o relatório online da revista científica Nature Medicine, ambas as bactérias melhoraram significativamente a sensibilidade à insulina em cerca de 30%.Já no que diz respeito à bactéria pasteurizada, esta resultou numa diminuição substancial dos níveis de colesterol total e das enzimas hepáticas GGT e AST (mas não ALT). Além disso, a suplementa-ção da bactéria pasteurizada foi ainda associada a diminuição não significativas no peso corporal, massa gorda e circunferência do quadril, comparativamente com a suplementação do grupo placebo.A suplementação aumentou signi-ficativamente a quantidade de A. muciniphila recuperada nas fezes dos grupos pasteurizados e vivos sem alterar a composição da mi-crobiota a partir da linha de base.

O investigador princi-pal, Patrice D. Cani, do Louvain Drug Research

Institute, na Universidade Católica de Louvain (Bruxelas), disse que “o principal objetivo do nosso estudo foi demonstrar a viabilidade da in-gestão diária da bactéria durante três meses, sem acarretar riscos para a saúde e observámos uma ótima adesão (os suplementos fo-ram fáceis de ingerir) e tolerabili-dade (não houve efeitos secundá-rios) nos grupos que tomaram as bactérias vivas ou pasteurizadas”.Num estudo publicado anterior-mente na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, Patrice Cani e a res-tante equipa de investigação mostraram que a Akkermansia viva diminuiu o aumento de peso e o ganho de massa gorda em ra-tos alimentados com dieta rica em gordura, melhorando assim a sua barreira intestinal.

“A bactéria ainda não está comercialmente disponível.

Espera-se que esteja no final de 2020/início de 2021”,

explicou o professor, Patrice D. Cani do estudo

Comer iogurte diminui risco

de cancro colorretalEstudo da Escola de medicina da universidade de Washington sugere que ingerir duas porções de iogurte por semana diminui em mais de 20%

o risco de adenomas colorretais.

cientistas pensam que isso pode ser porque o iogurte pro-move o crescimento de bac-térias saudáveis no intestino. Mas sabe-se menos sobre como o iogurte pode afetar o potencial das pessoas para de-senvolver adenomas.No estudo, o consumo de io-gurte não pareceu afetar o risco de pólipos pré-canceríge-nos em mulheres. “Acredita-se que grande parte do benefí-cio dos laticínios venha do cál-cio que eles fornecem, o que sabemos que pode ajudar a prevenir o cancro de cólon”, disse Graham Colditz, Diretor Associado de Prevenção e Controlo do cancro no Alvin J. Siteman Cancer Center. TC/SO

Os investigadores anali-saram dados de 32.606 homens e 55.743 mu-

lheres, todos profissionais de saúde, que fizeram uma colo-noscopias entre 1986 e 2012. Os participantes do estudo for-neceram informações detalha-das sobre sua saúde, estilo de vida, hábitos alimentares e de exercícios a cada quatro anos.Nesse período, houve 5.811 casos de adenomas colorre-tais em homens e 8.116 em mu-lheres. Em comparação com os homens que não consumi-ram iogurte, aqueles que tive-ram pelo menos duas porções semanais tiveram 19% me-nos probabilidade de desenvol-ver adenomas convencionais e 26% menos de desenvolver adenomas com o maior poten-cial maligno.“Estes dados fornecem novas evidências sobre o papel do io-gurte no estadio inicial do de-senvolvimento do cancro color-retal”, disse a co-autora do es-tudo, Dra. Yin Cao, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis.“As descobertas, se confirma-das por estudos futuros, suge-rem que o iogurte pode servir como um fator modificável am-plamente aceitável, que pode-ria complementar o rastrea-mento do cancro colorretal e re-duzir o risco de adenoma entre os não rastreados”, disse Cao por e-mail, citada pela Reuters.O consumo de iogurte tem sido associado a um menor risco de cancro de cólon e reto em estudos anteriores, e alguns

“Estes dados fornecem novas evidências sobre o papel

do iogurte no estádio inicial do desenvolvimento do cancro

colorretal”, disse a coautora do estudo, Dra. Yin Cao, da Escola de Medicina

da universidade de Washington, em st. Louis.

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SAÚDE ONLINE | NAcIONAL

18 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

A Ordem reagiu assim, em comunicado, às declara-ções do primeiro-ministro,

António Costa, no concelho de Sintra, a criticar o exercício dos poderes regulatórios de algumas ordens profissionais, em espe-cial a dos Médico, para restringir a concorrência e limitar o acesso à formação, considerando que tal impede a resposta às carências.Em resposta, a OM vem esclare-cer que “a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) é a entidade responsável pela avaliação e acreditação das instituições de ensino superior e dos seus ciclos de estudos, pelo que um novo curso de medicina carece de aprovação pela A3ES e não pela Ordem dos Médicos, como deu a entender o primeiro-ministro quando defendeu a exis-tência de um novo curso mi-nistrado por uma universidade privada”.“Não deixa de ser curiosa, no en-tanto, a forma combativa como o

“Não deixa de ser curiosa, no entanto, a forma combativa como

o primeiro-ministro defende a existência de cursos de Medicina

nas universidades privadas”, atira o Bastonário da ordem dos

Médicos, Miguel Guimarães

primeiro-ministro defende a exis-tência de cursos de Medicina nas universidades privadas”, considera.Em relação ao ‘numerus clau-sus’ nos cursos de Medicina, ex-plica que “a sua definição é da competência da Direção-Geral do Ensino Superior, na depen-dência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e não da Ordem dos Médicos”, que “nem sequer é ouvida”.“Mesmo assim, importa lem-brar que o ‘numerus clausus’ de Medicina sofreu um aumento ex-ponencial nas últimas décadas. Os ingressos em Medicina mais do que duplicaram em apenas 20 anos, de cerca de 600 vagas em 1999 para mais de 1.500 no úl-timo ano. Importa também lem-brar que este aumento de va-gas tem levado a uma maior in-satisfação no terreno com a qua-lidade da formação, seja pela limitação das infraestruturas físi-cas, seja pela dificuldade de res-posta em termos de tutoria e en-sino clínico prático, uma vez que os quadros mais experientes do SNS têm saído do setor público, seja por aposentação ou para se-tor privado, social e estrangeiro”, acrescenta.A OM afirma que este aumento na formação pré-graduada “tem também impacto na formação pós-graduada, isto é, no acesso a uma especialidade, onde, mesmo assim, a Ordem dos Médicos tem conseguido alargar, todos os anos, as capacidades formativas atribuídas, atingindo um recorde de 1.729 vagas identificadas para 2019 e mais de 1.800 já identifica-das para 2020”.Relativamente à existência de

médicos em número suficiente, diz a Ordem que Portugal “tem o terceiro maior rácio de médi-cos por cada 1.000 habitantes da União Europeia a 28, à frente de países como Alemanha, Holanda, Bélgica e Reino Unido”.“O país conta com um rácio de 4,8 médicos por 1.000 habitan-tes, quando a média da UE28 é de 3,6 (dados Health at a Glance: Europe 2018). O pro-blema não está, por isso, no nú-mero de médicos existentes no país e sim na incapacidade que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem tido em atraí-los e mantê-los, com um projeto de

Guerra aberta. Médicos acusam primeiro--ministro de confundir o seu papel

a ordem acusa antónio costa de proferir declarações “incompreensíveis, factualmente erradas e que enfermam em problemas conceptuais que importa clarificar”.

carreira estimulante e dura-douro”, argumenta.A Ordem justifica esta posição, afirmando que “no SNS o rá-cio baixa para 2,8 médicos por 1.000 habitantes, mesmo con-siderando que dos 28 mil médi-cos, quase 9.000 são internos em formação (dados Balanço Social da Administração Central do Sistema de Saúde, 2017)”.“A afirmação do primeiro-ministro causa também estranheza, uma vez que tanto ele como o Ministério das Finanças e Saúde têm vindo a público assegurar, por diversas ve-zes, que o SNS nunca teve tantos médicos”, conclui. LUSA/SO

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nacional | SaÚDE onlinE

juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 19

“Apesar do problema ter sido oportunamente discutido com

a ministra da saúde, com a secretária de Estado da saúde e com o secretário de Estado da Ciência, tecnologia e do

Ensino superior, os estudantes continuam a aguardar

soluções concretas há meses”, testemunha vasco Mendes,

Presidente da ANEM

A ANEM reagia desta forma às declarações do pri-meiro-ministro, António

Costa, em que este criticou o exercício dos poderes regulató-rios de algumas ordens profissio-nais, em especial a dos Médicos, para restringir a concorrência e li-mitar o acesso à formação, consi-derando que tal impede a resposta às carências.Os estudantes de Medicina afir-mam em comunicado reconhecer as “carências e assimetrias do país no acesso à saúde”, mas rejeitam a afirmação de que faltam médicos ou que é necessário aumentar o número de formados em Medicina.Para a ANEM, a proposta de avan-çar para a criação de novas facul-dades prejudica “a qualidade de for-mação do país”, uma vez que esta solução não garante que os médi-cos graduados tenham acesso à especialidade e, portanto, não au-menta o número de especialistas em exercício.Por outro lado, observa, o

Estudantes de Medicina contra criação de novas faculdades

anEm diz que criar faculdades de medicina e aumentar o número de alunos prejudica o ensino e compromete a qualidade de formação do país.

número de escolas médicas no país está acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).“Existe um número de estudantes de Medicina excessivo para a ca-pacidade efetiva que as escolas médicas têm para lecionar”, afirma, defendendo que, “nas condições atuais, aumentar o número de es-tudantes prejudica o ensino e com-promete a formação com a quali-dade que o país necessita”.Sublinha ainda que, apesar de Portugal ser o terceiro país da OCDE com maior número de médi-cos por 100.000 habitantes, muitos destes médicos não exercem no Serviço Nacional de Saúde (SNS).A ANEM enquadra o problema da formação e de fixação de médicos na Lei de Bases da Saúde recen-temente aprovada no parlamento que, na sua Base 32, refere que os Ministérios da Saúde, Educação e Ensino Superior deverão cola-borar com instituições públicas

Carla Nunes foi eleita Diretora da Escola Nacional de Saúde Pública

da Universidade Nova de Lisboa (ENSP-NOVA). A eleição do Conselho de Escola decorreu no dia 16 de julho de 2019, e foi prece-dida de uma sessão, onde a can-didata apresentou e defendeu o programa de ação para o período 2019-2023.A nova Diretora da ENSP-NOVA é licenciada em Matemática/Ciências

Estatísticas pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da NOVA, Mestre com Doutoramento pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.Docente da ENSP-NOVA desde 2005, Carla Nunes é Professora Catedrática de Estatística e Coordenadora dos Programas de Doutoramento em Saúde Pública e em Global Public Health. Membro do Centro de Investigação em Saúde Pública

(CISP) e do Comprehensive Health Research Centre (CHRC), tem centrado a sua investigação nas áreas da estatística e epide-miologia em variados campos da Saúde Pública.Para além do ensino e investigação, Carla Nunes desempenha também funções de gestão enquanto Vice- Presidente do Conselho Científico da Escola, tendo sido membro do Conselho de Escola e Subdiretora da ENSP-NOVA.

Carla Nunes sucede no cargo a João Pereira, Professor Catedrático do Departamento de Economia da Saúde da ENSP-NOVA, que esteve à frente da direção da instituição desde 2011. A nova Diretora entra em funções a 1 de agosto de 2019 e a cerimónia da tomada de posse decorre em setembro, na Reitoria da Universidade NOVA de Lisboa.COMUNICADO

de Ensino Superior na definição de políticas de formação pré-gra-duada com o objetivo de adequar o número de estudantes às necessi-dades do país.O presidente da ANEM, Vasco Mendes, afirma, no comunicado, que “apesar do problema ter sido oportunamente discutido com a ministra da Saúde, com a secre-tária de Estado da Saúde e com o secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, os estudantes continuam a aguar-dar soluções concretas há meses”.Vasco Mendes convida o Governo a ter em conta as propostas apre-sentadas pelos futuros médicos do país, “tendo em vista a concre-tização da nova Lei de Bases da Saúde recentemente aprovada”.A ANEM recorda que, “ano após ano, o concurso para a especiali-dade deixa centenas de médicos sem acesso à especialidade, pelo que aumentar o ‘numerus clau-sus’ nunca resolverá, per si, este desafio”.

Carla Nunes eleita Diretora da Escola Nacional de Saúde Pública

a eleição do conselho de Escola decorreu no dia 16 de julho de 2019, e foi precedida de uma sessão, onde a candidata apresentou e defendeu o programa de ação para o período 2019-2023.

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O objetivo desta nova inter-venção cirúrgica é sim-ples: oferecer a “melhor

resposta” e “tratar da melhor forma possível” um quadro clínico que afeta a qualidade de vida e autoes-tima de uma em cada 4.500 jovens mulheres que sofrem de síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser (MRKH).Esta malformação congé-nita do aparelho reprodutor é

“Na maior parte dos casos, o diagnóstico é feito numa fase

um pouco mais tardia da vida da mulher”, explica Hélder Ferreira,

o coordenador da unidade de cirurgia minimamente invasiva

do CMiN

caracterizada pela ausência da vagina ou encurtamento do canal vaginal e surge, normalmente, as-sociada à ausência de menstrua-ção, ausência de útero e dores pélvicas, por vezes, apenas dete-tadas em exames ginecológicos.“Na maior parte dos casos, o diagnóstico é feito numa fase um pouco mais tardia da vida da mulher”, afirmou em entrevista à Lusa Hélder Ferreira, o coordena-dor da unidade de cirurgia mini-mamente invasiva do CMIN.Segundo o cirurgião, esta nova técnica cirúrgica “inovadora”, que dura cerca de uma hora em ope-ratório, recorre a uma abordagem minimamente invasiva, intitulada de mini laparoscópica, para a criação de uma “neovagina” que permitirá que estas jovens pas-sem a ter vida sexual.“Tão importante quanto o proce-dimento cirúrgico em si, é depois o seguimento destas doentes, por isso é que está recomendado que sejam tratadas a partir dos 18 e 19 anos, quando têm uma matu-ridade não só física, mas também psicossexual”, explicou.

O CMIN desenvolveu por isso uma equipa multidisciplinar para apoiar as doentes num programa de pós-operatório, onde estas são novamente submetidas a pe-quenas intervenções não invasi-vas e de orientação do início da sua vida sexual.Matilde Rodrigues, de 18 anos e natural do Porto, foi uma das três jovens submetida a esta ci-rurgia inovadora e, em declara-ções à Lusa, admitiu estar a re-cuperar “muito bem” apesar da “complexidade da cirurgia”, no-meadamente no que diz respeito ao pós-operatório.Aos 12 anos, Matilde começou a “achar estranho” não ter mens-truação, e, acompanhada pelos seus pais decidiu ir a uma con-sulta de ginecologia. A única so-lução possível para “resolver o problema” era fazer uma re-construção vaginal. Optou por esperar.“Disseram-me que eu tinha uma má formação e que a única solu-ção era fazer uma cirurgia para ver se conseguia fazer uma re-construção”, explicou a jovem.

Centro Materno-Infantil do Norte realiza cirurgia inovadora

o centro materno-infantil do norte realizou uma cirurgia que permite às jovens mulheres com malformações vaginais terem uma vida sexual satisfatória.

Matilde admitiu ainda que a ci-rurgia a fez sentir “mais segura”, mas também confiante para ser-vir de voz das muitas jovens e mulheres que sofrem do mesmo quadro clínico.“Nem todas as mulheres têm no-ção que existe este tipo de pro-blema (…) que há pessoas que passam por isto e como é que elas se sentem, a sensação de faltar alguma coisa e que há ma-neira de conseguir resolver isso”, concluiu.À Lusa, Hélder Ferreira avançou que o Centro Materno-Infantil se tem esforçado, em colaboração com outros centros de referência internacionais, a desenvolver um centro cirúrgico diferenciado no tratamento destas malformações uterinas.“O Centro Materno-Infantil do Norte é uma instituição com for-mação, investigação e, a partir do momento em que organiza-mos um curso precisamente so-bre esta abordagem, os colegas começaram a referenciar doentes para nós, e o volume vai aumen-tar com certeza”, avançou.

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Hepatite C erradicada até 2030? “Não vamos atingir esse objetivo”

tal como alguns dos mais destacados especialistas na área das doenças infeciosas, luís mendão, presidente do Grupo de ativistas em tratamento (Gat), não acredita que portugal

consiga eliminar a infeção por vírus da Hepatite c nos próximos dez anos.

luís mEnDão

E m entrevista ao SaúdeOnline, o res-ponsável explica as razões do ceti-cismo e aponta algumas das medidas

que defende que devem ser tomadas para in-verter a situação.

Olhando para o terreno e para o que tem sido feito, a perceção é de que vamos conseguir atingir a meta da eliminação da Hepatite C enquanto problema de saúde pública até 2030?Há um conjunto de especialistas que defen-dem que, a este ritmo, não chegamos lá. São pessoas com créditos e que têm apresentado as razões pelas quais acham que não vamos chegar à eliminação em 2030.Eu aderi a uma iniciativa que reúne um con-junto de especialistas, que defendem que não vamos atingir os objetivos a não ser que corri-jamos algumas coisas.

Mas a posição oficial é a de que vamos alcançar essa meta.A Dra. Isabel Aldir (Diretora dos Programas Nacionais Prioritários Para a Infeção VIH/SIDA e ParaHepatites Virais) escreveu um ar-tigo em que, usando argumentos racionais, defende que vamos atingir esse objetivo.

O que se passa? Os dados disponíveis não permitem quantificar a realidade?Temos que ter melhores instrumentos para medir a realidade. Melhores estimativas do número de pessoas que vivem com hepa-tite C, de quantas estão por diagnosticar. Quantos mais dados de qualidade existam, mais nos aproximamos de estimativas fiáveis. Depois precisamos de saber onde estão as pessoas que ainda não foram tratadas nem diagnosticadas.

Quais as medidas preconizadas? Rastreios à população, a grupos-alvo?Há diferentes teses: testar toda a gente uma

vez na vida é uma delas, como também há quem defenda que se devem centrar aten-ções nos grupos-chave e áreas geográficas prioritárias. Pessoalmente acho que o impor-tante é que se tomem decisões. Isto é, pode até não se tomar a decisão correta, mas tem que se decidir. Enquanto cidadão tenho o di-reito de saber o que o Estado se compromete a fazer nos próximos anos. Depois mede-se e conclui-se se foi um sucesso, ou um fracasso e se for um fracasso corrige-se.

O pagamento dos antivirais de ação direta, que no início era centralizado na

ACSS, é hoje responsabilidade de cada hospital. Houve ganhos com a mudança?Não, de maneira nenhuma. Bem pelo con-trário. No modelo de pagamento centrali-zado, os hospitais não estavam dependen-tes dos seus próprios orçamentos e da sua capacidade de cabimentar despesa. Com o fim do pagamento centralizado, os hospitais herdaram esse custo que antes não tinham. Passámos a ter uma situação de iniquidade, no sentido em que num hospital que esteja em boas condições financeiras ou em que os ser-viços que tratam a hepatite têm capacidade negocial face ao conselho de administração,

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as pessoas têm o acesso facilitado e em hospitais com dificuldades (como o Centro Hospitalar de Lisboa Central, por exemplo), está a dar-se medicação para o VIH para um mês, quando a regra devia ser de três meses.

Como se explica?Não têm folga orçamental para fazerem as encomendas que precisam para gerirem os stocks na farmácia. Ao fim do ano, a despesa é exatamente a mesma. Portanto, fazem um racionamento da dispensa dos medicamentos exclusivamente por esta razão, por causa da cabimentação financeira.

Há também quem diga que se forem adotadas medidas concretas, era possível atingir a eliminação em cinco anos.É possível e seria desejável para 2025. Para isso, três coisas deveriam ser asseguradas: haver prioridade política na área das doen-ças transmissíveis e da saúde dos grupos em maior risco, para que Portugal assumisse a dianteira a nível global (uma via rápida). Esse compromisso político tem de se traduzir num consenso sobre como medimos o que esta-mos a fazer.

A investigação não se traduz em conhecimento?Nem sempre em bom conhecimento, o que é errado. As áreas da produção de conheci-mento, do rastreio e da adesão aos tratamen-tos são três das lacunas às quais é possível dar resposta. Falando na hepatite C, estamos a pagar cerca de 7 mil euros por tratamento. Com o pagamento centralizado, é possível im-por um teto de despesa anual, acordado com o Ministério das Finanças. A nossa proposta é no sentido de Portugal, usando a concor-rência entre as três companhias, poder pa-gar 4 mil euros por tratamento. Para isso, é preciso impor algum volume para poder ne-gociar com a indústria farmacêutica. O teto que o GAT propõe é de 20 milhões de euros/ano mas poderemos descer mais (em 2015 e 2016, gastámos 60 milhões/ano). Quando de-fendemos que é possível gastar 20 milhões de euros/ano e tratar toda a gente, achamos que parte do montante que for poupado seja alo-cada às áreas onde temos falta de recursos e o resto vá para “ajudar” no atual desmando com o aumento de gastos noutras áreas tera-pêuticas hospitalares.

Por exemplo onde?Não é possível fazer melhores rastreios se não tivermos mais recursos. Não é possível produzir conhecimento e montar respostas eficazes para melhorar a adesão das pessoas que usam drogas, por exemplo, sem recursos.

Portanto, realoquem uma pequena percenta-gem e nós asseguramos a resposta muito ra-pidamente para “estarmos despachados” em 2025.

Falta liderança política?Era importante que houvesse um desígnio na-cional, uma liderança política forte, uma ra-cionalidade económica e de saúde pública forte. Nós, doentes e associações de doen-tes, nesta área estamos disponíveis para fa-zer a pressão onde fosse necessário para controlarmos as despesas com os medica-mentos. Mas temos de ter contrapartidas para situações onde a resposta é insuficiente, por exemplo nas prisões, na população que usa drogas - e que são ainda o reduto de transmis-são. Vamos ter ainda umas centenas de trans-missões todos os anos enquanto não conse-guirmos resolver satisfatoriamente o acesso ao rastreio, ao diagnóstico e ao tratamento.

Qual é a população que vos merece maior cuidado?Temos, em termos epidemiológicos, um grupo que o GAT tenta monitorizar, pelo me-nos na ARS de Lisboa e Vale do Tejo, que é

o dos homens que fazem sexo com homens. Em Portugal temos sinais de que a transmis-são começa a aumentar neste grupo. É ver-dade que não temos ainda os níveis que se viram em Londres, Berlim, Paris, Antuérpia, Barcelona, etc. mas, se não atuarmos cedo, podemos criar as condições para que haja um surto epidemiológico neste grupo. Ele pode agora ser controlado com poucos cus-tos. Se nada se fizer e o surto de facto vier a verificar-se vai-nos custar dez vezes mais do que a prevenção que seria necessário fazer agora. Dou um exemplo, o GAT-Checkpoint Lx detetou um aumento de novos casos de VHC em HSH, com uma origem comum, fo-mos lá estudámos, propusemos medidas pre-ventivas práticas que, parece funcionaram. Pensávamos que era possível melhorar o que tinha sido conseguido em 2015, em termos de custos/ano

Ainda assim houve ganhos muito bons em termos de negociação.Sim mas se se considerar que, no momento em que a terapêutica era verdadeiramente revolucionária, só havia uma companhia no mercado, e se virmos que 3 ou 4 anos depois, com três players no mercado, se tenha con-seguido uma redução na despesa por doente que deve rondar os mil euros, isso é clara-mente insuficiente. Os 7500 euros por doente em 2015 era o melhor preço da europa. Neste momento, há vários países a pagar menos por doente curado. Em Portugal deveria aconte-cer o mesmo. E se não acontece é por mio-pia dos políticos.

Qual é a média de espera pelos medicamentos? Quais são os piores casos?Há dados muito díspares ao longo do país. Há hospitais que tratam em dois meses, outros em seis e temos pessoas que levam mais de um ano a ter acesso ao tratamento. Pior do que isso é o número de pessoas que desistem do acompanhamento hospitalar. É uma verda-deira “corrida de obstáculos”: hoje é o fibros-can, no outro dia é a ecografia e no outro dia mais não sei o quê. Ora, um grupo de pes-soas, com vidas muito complicadas, e em si-tuação económica difícil, ou ainda porque tra-balham, é frequente desistirem. Não temos os dados de quantas pessoas são diagnostica-das e não chegam a iniciar o tratamento. É evidente que ninguém morre se esperar 3, 4, 5 meses pelo tratamento. O que acontece é que essas pessoas continuarão a ser poten-ciais focos de infeção. Tem de ser fazer um investimento sério no diagnóstico e no conhe-cimento da realidade e no apoio às popula-ções mais marginalizadas.

«Há dados muito díspares ao longo do país. Há

hospitais que tratam em dois meses, outros em

seis e temos pessoas que levam mais de um ano a ter acesso ao tratamento. Pior do que isso é o número de pessoas que desistem do

acompanhamento hospitalar. É uma verdadeira “corrida de

obstáculos»

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De acordo com o COSI Portugal 2019, o sistema de vigilân-cia nutricional das crianças em idade escolar (dos seis aos oito anos), coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, a prevalência da obesidade infan-til aumentou com a idade, com 15,3% das crianças de oito anos obesas, incluindo 5,4% com obe-sidade severa, um valor que é de 10,8% nas crianças de seis anos (2,7% obesidade severa).Os dados indicam que na última década em Portugal tem bai-xado a prevalência de excesso de peso e de obesidade infantil. Entre 2008 e 2019, caiu de 37,9% para 29,6% a prevalência de ex-cesso peso infantil e de 15,3% para 12,0% a de obesidade nas crianças, o que representa, nos dois indicadores, reduções de mais de 20%.Todas as regiões portuguesas mostraram ao longo dos anos de funcionamento do COSI uma re-dução na prevalência de excesso

Coordenado por Ana Rito, investigadora do Departamento

de Alimentação e Nutrição do instituto Ricardo Jorge, o Cosi Portugal 2019 revela também

que a prevalência de baixo peso foi igualmente maior nos rapazes (1,6%) comparativamente com as

raparigas (0,9%).

de peso, incluindo obesidade. A queda foi mais acentuada nos Açores (de 46% para 35,9%) e na região Centro (de 38,1% para 28,9%).Os dados preliminares do COSI Portugal 2019 indicam que a Região do Algarve foi a que apre-sentou menor prevalência de ex-cesso de peso infantil (21,8%) e os Açores a maior (35,9%). Já a Região do Alentejo foi a que mos-trou menor prevalência de obesi-dade infantil (9,7%).Segundo a informação recolhida, são os rapazes os que mais se desviam do peso normal. O ex-cesso de peso atinge 29,6% dos meninos (contra 29,5% das me-ninas), dos quais 13,4% são obe-sos e, destes, 4,1% têm obesi-dade severa.Coordenado por Ana Rito, in-vestigadora do Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Ricardo Jorge, o COSI Portugal 2019 revela também que a prevalência de baixo peso

foi igualmente maior nos rapazes (1,6%) comparativamente com as raparigas (0,9%).Na 5.ª ronda COSI Portugal, realizada durante o ano letivo 2018/2019, foram convidadas a

Excesso de peso e obesidade infantil caíram mais de 20% numa década

os açores são a região com maior prevalência de excesso de peso infantil, com uma em cada três crianças com peso a mais.

participar 8.844 crianças das es-colas do 1.º ciclo do ensino básico, das quais 7.210 foram avaliadas (48,9% raparigas e 51,1% rapazes).A amostra deste ano, com 228 estabelecimentos de ensino par-ticipantes, foi a maior de todas as fases do COSI até ao momento.O COSI Portugal está integrado no sistema europeu de vigilân-cia nutricional infantil, no qual participam 43 países da Região Europeia da OMS, e constitui por excelência o estudo principal que disponibiliza dados de pre-valência de baixo peso, excesso de peso e obesidade de crianças portuguesas dos seis aos oito anos de idade.Os dados do COSI Portugal 2019, que integra o ‘Childhood Obesity Surveillance Initiative’ da OMS/Europa, são hoje apresentados em Lisboa, num encontro sobre obesidade infantil que decorre no auditório do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.LUSA/SO

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Em entrevista à agência Lusa, Mariana Valente, in-vestigadora do Instituto

de Investigação em Saúde (i3S), explicou que o estudo desenvol-vido, recentemente publicado na revista Plos Biology, visava res-ponder a uma questão que ainda hoje “continua a ser pertinente”: a existência de células estaminais ou progenitoras cardíacas.Foi depois de, em meados do ano 2000, um grupo de investigado-res americanos ter “demonstrado a existência de células estami-nais no coração adulto de mamí-feros”, que, um pouco por todo o mundo, laboratórios e equipas de investigação começaram a tentar reproduzir o resultado e “encon-trar as células progenitoras”.“Em 2011 estavam descritas pelo menos cinco populações de células progenitoras no cora-ção adulto diferentes”, recordou Mariana Valente, a primeira au-tora do estudo, afirmando, con-tudo que “algo que não estava correto”.“A questão [colocada] foi: como é que é possível não haver re-generação e estarem identifica-das tantas populações diferentes de células progenitoras no cora-ção?”, disse, acabando por fazer o mesmo em 2011, ano em que iniciou esta investigação no âm-bito do seu doutoramento.Com o objetivo de “desenvolver um mapa de todas as células que constituem o coração”, a equipa de investigadores que incluiu elemen-tos do Instituto Pasteur, em Paris, decidiu, por isso, “olhar para o em-brião”, ou seja, para o momento em que o coração começa a ser for-mado e todas as células progenito-ras necessárias para a formação

do coração estão presentes.Depois de definidas todas as cé-lulas, a equipa começou por “des-cartar” as células maduras [cé-lulas completamente formadas e com uma função já estabelecida] e ficou com “um número restrito de marcadores proteicos” – a pro-teína CD24/HSA – que apenas existe no início do desenvolvi-mento do coração e está presente nos cardiomiócitos (célula que ao contrair proporciona o batimento ao coração) mais imaturos.“Olhando para o embrião conse-guimos perceber qual a forma de identificar um cardiomiócito ima-turo, uma vez que eles expressam

a proteína CD24”, disse Mariana Valente, adiantando que “esta foi a primeira vez que estas células foram isoladas”.Segundo Mariana Valente, sendo que “o maior objetivo de investiga-ção” na área das doenças cardio-vasculares continua a ser “o de-senvolvimento de novos cardio-miócitos”, a investigação agora publicada vem “auxiliar” a comu-nidade científica nesse propósito.“Quando há um enfarte do mio-cárdio, os cardiomiócitos são as células perdidas de forma irre-versível (…). Quando o coração perde parte dos cardiomiócitos, não vai bater de forma regular e

Desenvolvido método capaz de isolar células para regeneração do coração

investigadores do i3s, no porto, desenvolveram um método capaz de isolar as células do coração que podem ser as “candidatas mais promissoras” na regeneração do tecido cardíaco após um enfarte.

as pessoas poderão desenvolver arritmias, insuficiência cardíaca e o coração pode parar”, apontou.À Lusa, a investigadora explicou que o estudo agora divulgado, ao “isolar todas as células que cons-tituem o coração”, permite que as investigações futuras sejam “mais eficazes”.“Neste momento temos um mé-todo de isolamento de cardiomió-citos imaturos que nos irá permi-tir perceber de que forma é que podemos estimular estas células imaturas, que são muito poucas e raras, a desenvolverem novos cardiomiócitos após uma lesão do coração”, concluiu. LUSA/SO

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À entrada, um contacto ines-perado com Portugal. Um português, de Alfandega

da Fé, há vários anos a trabalhar em Espanha, tinha acabado de completar o seu turno e dá-nos as boas-vindas. É um dos cerca de 600 trabalhadores da fábrica, uma das maiores da Europa e que, por si só, garante a produ-ção de metade dos medicamen-tos respiratórias da GSK a nível mundial.São aerossóis e inaladores, agora produzidos a partir de fórmulas muito mais desenvolvidas do que o salbutamol – o primeiro produto contra a asma, que marcou o iní-cio do compromisso da empresa com os doentes respiratórios.Para visitarmos a zona contígua àquela onde se produzem e ma-nuseiam as substâncias que es-tão na base dos medicamen-tos, há que vestir equipamento de proteção, para evitar con-taminações vindas do exterior. A segurança de trabalhadores

e medicamentos está acima de qualquer outra preocupa-ção. Aqui não se correm riscos. Muitas das tarefas na área do ar-mazenamento já são feitas por robots, de modo a evitar aciden-tes e aumentar a eficiência da operação. A circulação dos pró-prios trabalhadores não é total-mente livre. Com robots e má-quinas (ainda) operadas por hu-manos a passarem, há zonas em que foram instalados semá-foros e outras em que a passa-gem está condicionada a linhas marcadas no chão. O armazém em que são guardados os produ-tos prontos para serem transpor-tados é totalmente automatizado e permite gerir mais de 300 mil movimentos anuais.Os números impressionam. Localizada a meio caminho en-tre Madrid e Santander, a fábrica de Aranda de Duero produz mais de 179 milhões de unidades de medicamentos por ano, sendo que 95% destes são destinados

à exportação. Uma grande parte desta produção representa fár-macos da área respiratória que, todos os dias, ajudam cente-nas de milhões de pessoas em todo o mundo. Só as duas doen-ças respiratórias mais prevalen-tes, a asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica afetam, mais de 700 milhões de pessoas (339 e 384 milhões, respetivamente).A diretora-médica da GSK Portugal, Rosana Cajal, é espa-nhola e divide o seu tempo entre os dois países. “Os medicamen-tos da GSK têm revolucionado a forma como [os doentes] são tra-tados. Do salbutamol ao mepo-lizumab – um tratamento bioló-gico para as pessoas com Asma Eosinofílica Grave – até à única terapêutica tripla para DPOC de inalação única diária, em apenas um dispositivo”, sublinha.A inovação é uma prioridade para a empresa. Com a preva-lência de patologias respiratórias a aumentar em todo o mundo,

GSK: 50 anos de inovação respiratória

Por dentro de uma das maiores fábricas de medicamentos da Europa

ao comemorar o 50º aniversário da área respiratória, a multinacional Glaxosmithkline (Gsk) abriu as portas da fábrica de aranda de Duero, a norte de madrid, ao saúde online,

que esteve integrado num grupo restrito de jornalistas de portugal e Espanha.

a GSK investiu mais de 240 mi-lhões de libras por ano (nos últi-mos três anos) em investigação e desenvolvimento. O resultado é um dos maiores portfólios de me-dicamentos respiratórios de toda a indústria. Aos produtos mais antigos, e que continuam a man-ter níveis de aceitação elevados entre médicos e doentes, vieram juntar-se outros, mais eficazes e/ou combinados, que permitem fa-cilitar a vida aos doentes e melho-rar a adesão à terapêutica, atra-vés, por exemplo, da diminuição do número de inalações.Para além da produção e armaze-namento de produtos para a área respiratória, da fábrica de Aranda de Duero (sim, o rio Douro passa por aqui, pouco depois de nascer, na Serra de Urbión) saem também produtos da área de Consumer HealthCare (como pastas de den-tes e outros produtos de higiene). A partir deste mês, vai começar a ser produzido também um fár-maco para o VIH. TC/SO

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especial | primary care summit (pcs) 2019

PCS 2019: Prevenir a DCV em doentes com diabetes,

HTA e dislipidemiao parque das nações, em lisboa, foi o local escolhido para a realização, no passado dia 18 de maio, do primary care summit (pcs) 2019, uma iniciativa promovida pela springer Healthcare e pela tecnimede,

com o patrocínio científico da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e das sociedades portuguesas de aterosclerose (spa), de Hipertensão (spH) e de Endocrinologia, Diabetes e metabolismo (spEDm). o evento, dirigido a internos e especialistas de medicina Geral e familiar (mGf) teve como tema central a doença cardiovascular (Dcv), numa abordagem focada na prevenção do risco

cardiovascular (rcv) em doentes com diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial (Hta).

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Primary Care Summit (PCS) 2019 | eSPeCial

Na abertura dos trabalhos, o “chair-man” do PCS 2019, Alberto Mello e Silva, Presidente da Sociedade

Portuguesa de Aterosclerose entre 2011 e 2017 e Assistente Graduado Sénior de Medicina Interna; Especialista de Cardiologia, no Hospital da Luz, Oeiras/Amadora/Torres de Lisboa, destacou o principal objetivo que presi-diu à organização do evento formativo: que os médicos de família levem, da PCS 2019 para a sua prática clínica diária a importância de serem capazes de prevenir a DCV. E mesmo não sendo possível prevenir totalmente, devem pelo menos procurar reduzir o RCV e retar-dar a ocorrência de eventos cardiovasculares em doentes com diabetes, dislipidemia e HTA”, três condições com elevada prevalência (iso-lada ou concomitantemente) e que se apresen-tam como importantes fatores de RCV.

Associação de Fenofibrato a estatina permite redução adicional de RCV de 25 a 30%A primeira intervenção no Primary Care Summit (PCS) 2019, esteve a cargo de Alberto Zambon, Professor Associado de Medicina do Departamento de Medicina – DIMED na Faculdade de Medicina da Universidade de Pádua. Na sua comunicação, o especialista começou por salientar que, apesar do uso

generalizado de estatinas, que permite reduzir substancialmente os eventos cardiovasculares, muitos doentes continuam a apresentar risco cardiovascular residual. Um risco que se tra-duz em custos significativos para os cuidados de saúde, alertou Alberto Zambon. Segundo o médico italiano, na grande maioria das vezes, os médicos, após introdução de medidas de es-tilo de vida e de uma estatina, param de inter-vir naquele que é o primeiro degrau do trata-mento: quando o colesterol LDL atinge o obje-tivo consoante o RCV individual”. Ora, aponta o médico, “o Consenso da Associação Europeia de Aterosclerose (EAS), diz que a otimização

terapêutica destes doentes contempla um se-gundo degrau: a avaliação do nível do colesterol não-HDL que, caso não esteja dentro dos ob-jetivos de controlo, deve conduzir a uma inter-venção de otimização terapêutica, que passa pela associação de um fenofibrato com a es-tatina. Segundo Alberto Zambon, a evidência mostra que esta associação terapêutica per-mite uma redução adicional do risco cardiovas-cular na ordem dos 25 a 30%. O professor da Universidade de Pádua, apresentou ainda a ta-bela de riscos das guidelines da ESC/EAS, que colocam no patamar de risco cardiovascular muito elevado, os doentes com diabetes meli-tus com danos em órgãos-alvo, como proteinú-ria ou com fatores de risco major, como taba-gismo, hipertensão ou dislepidemia. “Não obs-tante a terapêutica agressiva de redução do LDL-C com estatinas, estatinas e ezetimiba e, eventualmente, inibidores da pró-proteína con-vertase subtilisina/quexina de tipo 9 - PCSK9, a taxa de eventos cardiovasculares mantém-se clinicamente relevante em doentes com dia-betes de tipo 2”, sublinhou o especialista, para logo acrescentar: triglicéridos elevados (TG) são, na verdade, um êmbolo para níveis eleva-dos de lipoproteínas ricas em TG e seus rema-nescentes, que estão associados a outros fato-res de risco lipídicos (como pequenas partículas de LDL de baixa densidade e baixo HDL).

Dr. Alberto Mello e Silva, Presidente da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose entre 2011 e 2017 e Assistente Graduado Sénior de Medicina Interna; Especialista de Cardiologia, no Hospital da Luz, Oeiras/Amadora/Torres de Lisboa

Prof. Doutor Alberto Zambon, Professor Associado de Medicina do Departamento de Medicina – DIMED na Faculdade de Medicina da Universidade de Pádua, Itália

Dra. Ana Oliveira, Assistente Hospitalar de Endocrinologia no Centro Hospitalar de São João

Triglicéridos elevados (TG) são, na verdade, um êmbolo

para níveis elevados de lipoproteínas ricas em TG

e seus remanescentes, que estão associados a outros fatores de risco lipídicos

(como pequenas partículas de LDL de baixa densidade e

baixo HDL).

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32 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

especial | primary care summit (pcs) 2019

A terapêutica combinada é a melhor escolha para a hipertensãoAo Prof. Doutor António Coca - médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona, coube abordar “Os novos desafios em Hipertensão”, tema que seccionou em cinco etapas: Definição de hi-pertensão, medição da pressão sanguínea, iní-cio do tratamento, objetivos a alcançar e es-tratégia terapêutica. Relativamente à definição de hipertensão, começou por explicar o confe-rencista, “as guidelines conjuntas da European Society of Cardiology (ESC) e da European Society of Hypertension (ESH) dizem que ela é considerada ótima se a sistólica for in-ferior a 120 mmHg; normal, se a sistólica va-riar entre 120/129 mmHg e a diastólica entre 80/84mmHg. No extremo da pauta, encontra-se a Hipertensão de grau 3, que se situa nos intervalos ≥180 mmHg e ≤ 110 mmHg.Relativamente à frequência da medição da pressão arterial, este especialista afirma que ela varia em função do risco associado, apre-sentado por cada doente específico. Por exem-plo, se se tratar de um indivíduo com hiperten-são arterial de grau 3, em cada consulta de-verão ser realizadas pelo menos 3 medições, com um a dois minutos de intervalo. Estas me-dições deverão ser repetidas sempre que entre as duas primeiras medições se registar uma di-ferença > 10 mmHg. Nestas situações, a pres-são sanguínea do doente é calculada pela mé-dia das duas últimas medições.Em algumas situações é também recomen-dada a medição da tensão arterial “out-of-of-fice”. São elas, a suspeita de “hipertensão de bata branca”, a hipertensão mascarada e ainda em situações em que se verifique a necessi-dade de avaliar o efeito dos tratamentos e/ou eventuais reações adversas, como a hipoten-são sintomática.No que respeita às orientações europeias para o tratamento da hipertensão, o Prof. Doutor António Coca lembrou que estas são diferen-tes das guidelines americanas. De facto, exem-plificou, o que no continente europeu é consi-derada uma pressão arterial normal/alta, nos Estados Unidos da América já é classificada como hipertensão. Apesar destas diferenças, ambos os algoritmos de decisão indicam que, para qualquer nível de pressão arterial, a inter-venção terapêutica tem de passar pela altera-ção de estilos de vida. Já o tratamento farmacológico está recomen-dado quando “o risco é muito alto, porque há história clínica de doença cardiovascular e mesmo nos indivíduos com hipertensão muito ligeira, há recomendação para iniciar trata-mento farmacológico se existir lesão de órgão”, esclareceu o especialista.Para os doentes com hipertensão de grau 2 ou

3, o recomendado é “iniciar sempre tratamento farmacológico”, acrescentou.A questão que se coloca de seguida ao clí-nico, é saber se inicia o tratamento com mono-terapia ou com terapias anti-hipertensivas de associação.“As orientações europeias dizem que o clí-nico tem de tomar essa decisão com base no risco”, sublinhou o orador. Se o quadro clínico for uma hipertensão de grau 1, muito próxima da normalidade a escolha pode recair para a monoterapia. Contudo, a evidência científica tem vindo a de-monstrar que, mesmo em doentes com hiper-tensão de grau 1 e baixo risco cardiovascular, o tratamento farmacológico com associações tem bons resultados na redução dos aciden-tes vasculares cerebrais (AVC), na doença co-ronária (DC) e na insuficiência cardíaca (IC).Quanto ao tratamento dos doentes hiperten-sos com alto risco cardiovascular, as meta-a-nálises demonstram reduções significativas de AVC e de doença coronária. No que diz respeito aos doentes com diabetes, as meta-analises mostram que alcançar obje-tivos de pressão arterial abaixo de 130 mm Hg de sistólica reduz o número de AVC, muito em-bora não reduza a mortalidade cardiovascular. Mas, como frisou o palestrante, os AVC “são particularmente importantes nos doentes dia-béticos” e, por isso, o tratamento anti-hiperten-sivo é de suma importância neste grupo espe-cífico de doentes.Em resumo, apontou o Professor Dr. António Coca,: “Devemos começar a tratar os doen-tes hipertensos com terapêutica de associa-ção com dois fármacos anti-hipertensivos, na

Prof. Doutor António Coca, especialista em Hipertensão e Risco Vascular no Departamento de Medicina Interna do Hospital Clinic (IDIBAPS), da Universidade de Barcelona.

Prof. Doutor Jorge Polónia, docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Consultor de Medicina e Hipertensão do Hospital Pedro Hispano

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juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 33

Primary Care Summit (PCS) 2019 | eSPeCial

Para a grande maioria dos doentes em prevenção primária, as guidelines europeias recomendam

começar com um antagonista do recetor da angiotensina II (ARA II) associado a um antagonista dos canais de cálcio ou a um diurético.

Prof. Doutora Luciana Couto, Professora Auxiliar Convidada do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

grande maioria dos casos e sempre que seja possível essa combinação deve ser num só comprimido, porque temos evidência de que a normalização da pressão arterial, consegue-se mais rapidamente com uma associação do que com monoterapia”.Ao simpósio o especialista trouxe a evidência da prática clínica com a experiência do trata-mento da hipertensão em Espanha. Segundo relatou, “desde 1995 que se tem registado um aumento progressivo do controlo da pressão arterial que está intimamente relacionado com a utilização de terapias de associação num único comprimido”.Já estudos em países como o Reino Unido e a República Checa tinham demonstrado que “quando o número de comprimidos é muito ele-vado a adesão dos doentes é muito fraca. É um fato que a redução do número de compri-midos aumenta a adesão ao tratamento”, sub-linhou o palestrante, que rematou: “Uma boa adesão ao tratamento anti-hipertensivo é ca-paz de reduzir em 30% a mortalidade entre os doentes hipertensos”.

Novas guidelines: IECA ou ARA? Tomada a decisão de iniciar tratamento, deci-dido que será um esquema de associação, se-gue-se outra decisão: que medicamentos in-cluir nessa associação?Segundo explicou o Prof. Doutor António Coca, para a grande maioria dos doentes em pre-venção primária, as guidelines europeias re-comendam começar com um antagonista do

recetor da angiotensina II (ARA II) associado a um antagonista dos canais de cálcio ou a um diurético. Entre os diuréticos disponíveis, a norma europeia reforça ainda a preferência por diuréticos tiazida-like.Apesar da evidência científica revelar que tanto os inibidores da enzima de conversão da an-giotensina (IECA), como os ARA II serem efi-cazes na prevenção dos eventos cardiovascu-lares, confirmando que “ambas as estratégias reduzem esses eventos ”, no que toca à tole-rabilidade existem diferenças. “... podemos ver que, quando se compara os ARA II com o resto dos fármacos anti-hipertensivos não resta ne-nhuma dúvida que os primeiros são os fárma-cos melhor tolerados que existem para o trata-mento da hipertensão”.

Esta tolerabilidade aumenta a probabilidade de persistência no tratamento, como têm vindo a demonstrar os dados da vida real mais re-centemente publicados, nos quais, são preci-samente os ARA II os fármacos que registam menos abandonos por parte dos doentes”.Se a decisão pender para a utilização de um ARA II, é posteriormente, necessário decidir qual a molécula mais indicada para o doente, dentro desta classe terapêutica. Neste campo, referiu o Prof. Doutor António Coca, foi recen-temente publicado um artigo com a posição de peritos da Organização Mundial de Saúde so-bre as melhores combinações fixas possíveis para a estratégia de redução e controlo da hi-pertensão. Nessa revisão sistemática, a pri-meira recomendação dos peritos é selecionar as melhores classes de fármacos, como está explanado na guideline europeia, com ênfase para os IECA e os ARA II, associando-os com antagonista de cálcio ou com diurético. O se-gundo passo, é selecionar o melhor medica-mento dentro de cada grupo terapêutico.Sobre essa escolha, o Prof. Doutor António Coca frisou que, ao comparar a potência anti-hipertensiva de azilsartan com outros fárma-cos, foi notório para o grupo de peritos a maior eficácia deste ARA e a durabilidade da sua ação ao longo das 24 horas do dia. No Primary Care Summit (PCS) 2019 os partici-pantes realizaram um curso em Comunicação médico-doente, com o psiquiatra Pedro Morgado. Um aspeto que, no entender de Alberto Mello e Silva, que presidiu à sessão, é essencial, já que uma boa comunicação pode melhorar a adesão à terapêutica, bem como os outcomes terapêuticos.“As competências de comunicação clínica constituem-se como ferramentas fundamen-tais para o estabelecimento de relações tera-pêuticas eficazes”, salientou na sua apresen-tação o Professor Pedro Morgado. Para o es-pecialista, “na relação com os doentes, o bom uso das competências de comunicação contri-bui para o aumento da sua confiança nos pro-fissionais de saúde bem como para o fortaleci-mento da aliança terapêutica estabelecida en-tre ambos”. “De acordo com os estudos mais recentes”, prosseguiu o especialista, “o mau uso das competências de comunicação como um dos fatores mais determinantes para o au-mento da conflituosidade entre doentes e pro-fissionais bem como para a maioria das recla-mações que surgem no setor da saúde”.O conhecimento dos fatores que influenciam a qualidade da comunicação e da relação esta-belecidas bem como de estratégias que permi-tam melhorá-las constituem-se, assim, como absolutamente necessários para uma prática clínica mais bem-sucedida e mais gratificante, concluiu.

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34 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

“É uma vingança do Governo, porque este Governo já de-

monstrou o que faz às pessoas de quem não gosta e que não gosta daquilo que dizem. Não sou caso único. O presidente da Câmara de Mação e o presidente de um sindicado da PSP, esta semana, são também caso disso. Este é o ‘modus operandi’ do Governo e está à vista de todos”, afirmou à Lusa Ana Rita Cavaco.A sindicância determinada pelo Ministério da Saúde à OE conclui que há fundamentos para dissol-ver os órgãos da entidade liderada por Ana Rita Cavaco, segundo o relatório final da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).O documento, revelado no Jornal da Noite da SIC, afirma que foram detetados gastos sem justificação da bastonária dos Enfermeiros e evidências da sua participação na “greve cirúrgica” que estes profis-sionais realizaram no final de 2018 e início deste ano e que paralisou blocos operatórios em todo o país. Armários fechados, despesas avultadas e mensagens sindicais A IGAS aponta a recusa da OE no acesso a documentação durante a sindicância, que encontrou ar-mários fechados a cadeado na sede da entidade, mas, ape-sar disso, identificou vários gas-tos da bastonária que considera injustificados.Entre os gastos, a IGAS refere seis mil euros em restaurantes, mais de três mil euros em levan-tamentos, cerca de cinco mil em compras no estrangeiro, quase

oito mil em Via Verde e 70 mil em cartão de crédito, além de des-locações em viatura própria que rondavam em média 2.600 euros por mês, o que, segundo as con-tas da SIC, implicaria viagens de 400 quilómetros diários pagos a 36 cêntimos/quilómetro.O relatório cita igualmente men-sagens da bastonária nas redes sociais, que, segundo a IGAS, demonstram o seu envolvimento em atividade sindical que legal-mente está proibida a uma ordem profissional.À Lusa, Ana Rita Cavaco explicou que a OE não foi notificada do re-latório final da sindicância nem de um “parecer-informação que a IGAS tinha emitido na semana passada que falava nas mesmas questões”.“A única diferença entre o pare-cer-informação e o relatório final é que este conclui, na ótica da IGAS – que não tem poder nem competência para isso –, que nós

deveríamos perder o mandato”, explicou a bastonária, referindo que para isso precisam de “uma decisão judicial”.“Também não é nada de que não estávamos à espera”, adian-tou, frisando que “o objetivo do Governo era a perda de mandato”.Sobre a questão das despe-sas suscitadas no documento da IGAS, a dirigente salientou que “há três anos e meio”, desde que o atual mandato começou, que está “a levar com este tipo de sus-peitas, infundadas”.“Todas estas despesas são cor-rentes e normais. Olhando para aqueles valores, que são anuais, é absolutamente ridículo pode-rem configurar algum crime”, de-clarou, questionando: “Os inspe-tores [da IGAS] pensarão que va-mos para os hospitais, centros de saúde ou congressos a nado?”.Sobre os cartões de crédito, a bastonária garantiu que “não es-tão na posse de nenhum membro

Bastonária dos Enfermeiros pode ser destituída. “É uma vingança”,

acusa Ana Rita Cavacoa bastonária, ana rita cavaco, diz que o resultado da sindicância determinada pelo ministério

da saúde é “uma vingança do Governo” que já esperava.

da Ordem dos Enfermeiros”, mas “trancados num cofre” e “usados exclusivamente por um funcionário”.“Nem a bastonária nem qualquer elemento da direção tem os códi-gos dos cartões de crédito, nem os utiliza. São utilizados para comprar bilhetes de comboios e de avião ou reservar hotéis”, exemplificou.Quanto às despesas de represen-tação, Ana Rita Cavaco assegu-rou que “estão enquadradas legal-mente” e rondam “300 euros por ano, não é nada mais do que isso”.Sobre questões financeiras, a bastonária assinalou que “cor-rem já processos no Ministério Público”, pois “é sabido, público e notório” que teve de “demitir o di-retor financeiro e uma vice-presi-dente da ordem por irregularida-des financeiras”.Classificando a IGAS como a “polícia do Governo” a quem não deve satisfação nem deu ou dará documentos sem ordem judicial, a dirigente da OE escuda-se em pareceres jurídicos segundo os quais a inspeção “não tem com-petência legal” para tal.“A OE não está para a IGAS, mas está para o Ministério Público e para os jornalistas para mostrar os documentos todos”, adiantou, garantindo que vai continuar a apoiar as greves que “os sindica-tos decretarem desde que sejam para defender a dignidade da pro-fissão de enfermeiro”.“Querem assassinar-nos o cará-ter, mas para isso já vêm tarde, porque o estão a tentar fazer há três anos e meio”, considerou Ana Rita Cavaco. SO/LUSA

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36 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

A sétima edição do Prémio contou com a presença de Maria de

Belém Roseira, Presidente do Júri, Vítor Virgínia, Diretor Geral da MSD, Teresa Nogueira Pinto, filha de Maria José Nogueira Pinto, o Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Além destes foi ainda notória a presença da Diretora-Geral da Saúde, da Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Maria Cavaco Silva, e ainda a deputada do PSD Assunção Cristas.Começou com uma sessão breve de discursos das diferen-tes figuras envolvidas nesta ini-ciativa que, com emoção mas muita força nas palavras proferi-das, recordaram aquela que deu nome a este prémio, Maria José Nogueira Pinto.Decorrido o tempo dedicado às manifestações de carinho à ho-menageada que dá o nome ao Prémio chegou a altura de en-tregar o prémio e as menções honrosas. O prémio foi entregue ao projeto PADD – Projeto de Apoio Domiciliário à Demência, da Santa Casa da Misericórdia de Mogadouro, que disponibi-liza, de forma gratuita, acom-panhamento a doentes com de-mência, com o objetivo de pro-porcionar independência e auto-nomia aos utentes, retardando a sua institucionalização.

O Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Mogadouro, João Manuel Henriques, ex-plica-nos como funciona este seu projeto: “Com um neurolo-gista, com enfermeiros, psicó-logos clínicos e animadores, o que fazemos é uma avaliação na casa das pessoas que nos são referenciadas (pela Junta de Freguesia, pela Câmara, Centro de Saúde, seja pelo vi-zinho). Após realizada a ava-liação, vemos como podemos atuar e qual a ação a tomar – se uma ação farmacológica, se uma ação não farmacológica.”Além disso, prestam ainda apoio ao cuidador informal. De acordo com João Manuel Henriques, o valor do prémio servirá para ad-quirir aparelhos de georreferen-ciação, ainda a ser avaliados para correspondam às necessi-dades dos doentes, de forma a garantir uma “maior segurança e mobilidade aos que vivem com demência”. Desta forma, quando se encontrarem perdi-dos, o aparelho localiza-os para que os cuidadores, a equipa de apoio domiciliário e eles pró-prios saberem onde estão, o que lhes oferece uma maior au-tonomia e segurança.O programa, que avançou há 2 anos devido ao apoio e investimento da Câmara Municipal de Mogadouro (CM de Mogadouro), estava agora

Projeto de geolocalização de pessoas dementes vence grande Prémio

Maria José Nogueira Pintoa atribuição do prémio maria José nogueira pinto decorreu dia 4 de julho no teatro thalia e contou com a presença de ilustres convidados, bem como do

presente júri e do presidente da república.

em risco de acabar por falta de verba. No entanto, o presidente da CM de Mogadouro, Francisco Guimarães, garante que “o pro-jeto está, desde já, assegurado pelo município”. “Não é o custo financeiro que traz para o município” que im-pede a injeção de capital, por-que o projeto traz uma grandiosa vantagem. Tanto o Presidente da CM de Mogadouro como o Provedor da Santa Casa da

“O que fazemos éuma avaliação na casa das pessoas

que nos são referenciadas e vemos como

podemos atuar”, referiu o provedor da Santa Casa da Misericórdia de

Mogadouro

Foto apresentação

Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Mogadouro

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nacional | SaÚDE onlinE

juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 37

Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Mogadouro, João Manuel Henriques e o Presidente Câmara Municipal do Mo 3 (1)

Misericórdia local, acreditam que este pode e deveria ser um projeto replicado por todo o país, servindo “de exemplo, por-que infelizmente estamos num país envelhecido e onde o pro-blema da demência é cada vez mais notado, especialmente no interior”, onde também é mais facilmente detetado uma grande comunhão entre os habitantes das aldeias, vilas e pequenas ci-dades de Portugal.

João Manuel Henriques diz que se foi possível pôr em prática este projeto “no concelho do Mogadouro, que tem 760 km2, o que, para a maioria das pes-soas, representa apenas núme-ros, mas que, na verdade, é 7,5 vezes maior do que o concelho de Lisboa ou 18 vezes maior do que o concelho do Porto, não conseguirão coloca-lo também em prática nos outros concelhos menores?”, deixa a questão no

ar, para, logo de seguida, res-ponder com um exclamativo “Obviamente que sim”.Mas, os prémios não se fica-ram por aqui, sendo ainda pre-miados mais quatro proje-tos com Menções Honrosas, como é o caso do Projeto Ser Mais Família, da Associação de Ajuda ao Recém-Nascido; “Oficinas do Sabor”, da Associação Vale de Acór; “Clube da Barracada”, da Casa

do Povo de São Bartolomeu de Messines; e “Horto Monástico”, da InovTerra – Associação para o Desenvolvimento Local.O prémio instituído em 2012 pela MSD pretende homenagear uma mulher que se distinguiu pela sua persistência na área da Solidariedade Social. Assim sendo, representa um incentivo ao que de bom se faz nesta área em Portugal. EQ/SO

Maria de Belém Roseira, presidente do júri e oradora no evento

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38 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

A análise é feita no Relatório da Primavera 2019, do Observatório dos Sistemas

de Saúde, que recomenda mais transparência na fixação dos pre-ços dos medicamentos e sugere que a Autoridade do Medicamento – Infarmed – passe a ser uma entidade reguladora indepen-dente, deixando para os gover-nos a decisão final sobre preços e comparticipações.Os dados que constam do Relatório da Primavera mostram que o tempo para acesso à inova-ção terapêutica em Portugal era cinco vezes mais longo do que o melhor resultado europeu no pe-ríodo de 2015 a 2017.Enquanto a Alemanha teve uma demora média de 119 dias para in-troduzir no mercado medicamen-tos inovadores, Portugal demorou 634 dias, ou seja, quase dois anos.

Comparando com Espanha, con-siderado um mercado compará-vel e próximo, Portugal apresen-tava um resultado 1,6 vezes pior, com a demora média espanhola si-tuada abaixo dos 400 dias. O rela-tório sublinha que os números não explicitam quais os fatores que con-tribuem para esses atrasos e consi-dera imperiosa uma “avaliação mais fina” das várias fases do processo de acesso à inovação terapêutica.Apesar de os números não ex-plicitarem causas, o Relatório da Primavera, a que a agência Lusa teve acesso, considera que há “excessiva interferência do qua-dro de decisão orçamental ime-diato” no acesso a medicamentos inovadores.“Um exemplo paradigmático foi o do tempo para decisões (…) [no caso] das terapêuticas inovadoras da hepatite C”, refere o documento,

considerando que isto acontece “com uma frequência excessiva” e que é “incompreensível” numa área em que a previsibilidade é muito elevada.Aliás, os dados do acesso aos medicamentos inovadores em Portugal nos últimos 10 anos mos-tram “flutuações significativas”, que vão sendo motivadas por ciclos de contenção de custos no SNS (so-bretudo no período da ‘troika’) ou causadas pela pressão para intro-duzir alguns fármacos inovadores.Os números revelam que no pe-ríodo entre 2009 e 2018, o ano de 2017 foi o que registou mais apro-vação de medicamentos com no-vas substâncias ou com novas in-dicações terapêuticas, com 60 no-vos fármacos.De 2009 a 2012, a aprovação de medicamentos inovadores foi sempre decrescendo, tendo

Portugueses esperam 5 vezes mais que os alemães para terem

medicamentos inovadoresportugal é dos países europeus em que os doentes demoram mais tempo

a ter acesso a medicamentos inovadores.

depois aumentado de modo mais significativo a partir de 2015. Contudo, em 2018, voltou a ha-ver uma descida na aprovação de inovação terapêutica, sendo aprovados novos 40 medicamen-tos, quando em 2017 tinham sido aprovados 60.O Observatório recomenda o pla-neamento com “antecipação ra-zoável” dos ciclos de introdução de inovação, para que não se repitam ciclicamente casos de decisão por “necessidade imperiosa e urgente” (como no caso da hepatite C).Sugere-se que seja aumentada a transparência dos procedimen-tos de fixação dos preços e pro-põe-se ainda que a Autoridade do Medicamento – Infarmed – passe a ser uma entidade reguladora inde-pendente, deixando para os gover-nos a decisão final sobre preços e comparticipações.

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40 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | MAIO 2019

A Idade dos Médicos

Qual a idade ideal de um médico?Em que médicos confiamos mais?Nos mais novos, acabados de se formar e de se especializar e, por isso, com toda a informação mais “fresca”?Nos mais velhos que, embora po-tencialmente menos actualizados, encerram em si uma enorme ex-periência resultante de milhares de pacientes, de fracassos, de su-cessos, de partilha de casos com os seus pares?E no caso de uma cirurgia? Como colocar na balança a juventude, a destreza, os reflexos versus a ma-turidade, a serenidade, a “mão feita”?…Não são questões fáceis e, prova-velmente, nem têm uma resposta linear mas, na verdade, a defini-ção do limite de idade a partir do qual um médico deve reformar-se ou um cirurgião deixar de operar continua a merecer a nossa aten-ção, tendo sido objecto de dois ar-tigos no último número da Acta Médica Portuguesa.Todo o limite de idade, seja para votar, para casar ou para tirar a carta, é profundamente subjec-tivo, deixando de fora do exercício desses direitos muitas pessoas plenamente aptas para os exer-cerem e, inversamente, abrindo a porta a outras com um nível de imaturidade emocional ou cog-nitiva que recomendariam maior ponderação.Sendo impossível uma avaliação

individual, o estabelecimento de limites com bases em elementos estatísticos devidamente robus-tos continua a ser a única forma de, em sociedade, se poder to-mar decisões destas e de outras naturezas.No caso da actividade médica, o Serviço Nacional de Saúde define como limite máximo os 70 anos de idade. Nos hospitais privados, os critérios variam, alguns definindo um limite enquanto noutros esse limite não está formalizado.Como proceder?É inquestionável que a maior mais-valia de um médico ou de outro profissional da saúde é a sua ex-periência. A formação é essencial, a actualização obrigatória mas, pela sua essência, a actividade médica cresce no quotidiano, ou-vindo os pacientes, observando-os, tratando-os, identificando si-nais e sintomas quase impercep-tíveis, correlacionando casos, cru-zando memórias, exercitando os afectos e a humanidade que deve ser a base da Medicina.A formação de um médico não ter-mina no final na licenciatura ou do internato complementar. Pelo con-trário, é aí que tudo começa, é aí que a matriz do futuro médico co-meça a ganhar forma, a moldar-se e a preparar-se para os desa-fios que cada caso, cada doente coloca. É uma curva de aprendi-zagem longa e nunca concluída onde, ao longo do seu caminho, ocorrem recuos, reposicionamen-tos, derivações que enriquecem todo esse percurso e o tornam único.Como regra, a idade melhora o desempenho de um médico, afina os seus processos de decisão, permite-lhe ver o que outros não vêm, torna-o mais ágil e intuitivo.Naturalmente, esse processo é fi-nito e a deterioração mental e fí-sica irá surgindo, a memória ir-se-á esfumando, a energia e dis-ponibilidade para estudar será menor, a destreza cirúrgica re-duzir-se-á e os gestos reflexos,

por vezes decisivos em ambiente operatório tornar-se-ão mais len-tos. Nesse contexto, o risco de um médico poder prejudicar os seus doentes tenderá a aumentar…Mas, como para qualquer ser humano, esse processo pode ser mais rápido ou mais lento, mais precoce ou mais tardio e irá sempre depender da existên-cia de comorbilidades, da pre-disposição genética, da natu-reza da própria actividade mé-dica ou cirúrgica.Um médico pode estar plena-mente apto para tratar e operar doentes aos 75 anos como pode não o estar aos 60 e essa avalia-ção deve ser constantemente rea-lizada pelo próprio e pelos seus pares.Os limites são úteis como referen-ciais e permitem que se criem ja-nelas de oportunidade para re-novação dos quadros clínicos. Contudo, parece-me central reter que a Medicina é um repositório de conhecimento e de experiência e que esta ocupa um lugar desta-cadíssimo na procura da excelên-cia nos cuidados médicos.Dispensar um médico sénior ape-nas em nome desse limite é um desperdício incalculável de sa-ber que pode e deve ser colo-cado ao serviço dos doentes e dos médicos mais novos e, so-bretudo, pode permitir a manuten-ção em funções de profissionais

cujas competências estão comprometidas.Parece-me, por tudo isto, que o mais sensato e o mais útil para to-dos é a criação de mecanismos de auto-avaliação e de avaliação por pares que possam aferir, por exemplo, taxas de complicações cirúrgicas, tempos operatórios, re-clamações relativas a consultas, pontualidade, assiduidade, entre outros parâmetros.Em conjunto, com espírito de equipa e de forma construtiva, será possível detectar e corrigir al-terações nos padrões habituais e implementar as melhores medidas para cada caso. E essas medidas poderão passar pela redução da carga horária, pela manutenção da actividade clínica mas não da cirúrgica, pela transição para fun-ções consultivas e/ou académicas ou mesmo pela reforma, tudo isto dependendo do perfil de cada pro-fissional, das suas competências e da sua vontade.A reforma apenas porque sim, quando um médico não a deseja e, mais do que isso, quando as suas qualificações não estão em causa, é um desbaratar sem per-dão de um capital que demorou décadas a juntar, que é irrepetí-vel e que merece ser colocado ao serviço de todos.O autor escreve de acordo com as regras anteriores ao acordo ortográfico de 1990

Luis Gouveia AndradeMédico OftalmologistaGrupo Lusíadas Saúde

Director Geral da InfoCiência

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juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 41

Até agora era apenas uma teoria sem suporte cientí-fico mas um estudo vem

agora mostrar que os pacientes com hepatite C que receberam te-rapia antirretroviral com interfe-ron tiveram um risco menor de de-senvolver doença de Parkinson em comparação com aqueles que não receberam.“Os resultados parecem apoiar a teoria de que a infecção pelo vírus da hepatite C é um fator de risco para o desenvolvimento da doença

de Parkinson e que a terapia antivi-ral tem potencial para reduzir esse risco”, concluem os autores, que publicaram o trabalho na revista JAMA Neurology. O estudo foi tam-bém apresentado no 5º Congresso Mundial de Parkinson, em Kyoto, no Japão.Os investigadores, liderados por Wey-Yil Lin, médico do Hospital Internacional Landseed, Taoyuan (em Taiwan), explicam que vá-rios estudos epidemiológicos encontraram uma associação

entre a hepatite C e a doença de Parkinson. Contudo, neste caso, a investigação comparou a incidên-cia da doença de Parkinson em pa-cientes com infecção por hepatite C tratados com terapia antiviral VS com pacientes semelhantes que não receberam tratamento antir-retroviral. A população em estudo era significativa: 242.568 pacien-tes com diagnóstico de hepatite C entre 2003 e 2013. Pacientes com histórico estabelecido de doença hepática grave, acidente vascular

cerebral, demência ou doença de Parkinson foram excluídos, dei-xando um total de 188.152 indiví-duos que foram incluídos na aná-lise final.Divididos em dois grupos, os in-vestigadores concluíram que o risco de desenvolver a doença de Parkinson foi 40% maior no grupo não tratado – a densidade de inci-dência da doença de Parkinson foi de 1,00 por 1000 pessoas-ano no grupo tratado vs 1,39 no grupo não tratado. TC/SO

Terapia com interferon diminuiu risco de Parkinson

Estudo de larga escala, realizado em taiwan, comprova a relação entre a terapêutica que era usado para a Hepatite c e a doença de parkinson.

Um estudo, ainda numa fase inicial, sugere que existe uma associação entre o

crescimento excessivo de bacté-rias no intestino delgado e a sín-drome das pernas inquietas, o que parece vir corroborar as últimas investigações que relacionaram a saúde da flora intestinal com a saúde do sono.Recorrendo a sete pacientes essa síndrome, investigadores de Stanford (na Califórnia) observa-ram um crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado. Explorar esta relação pode levar a novas formas de detetar, preve-nir e tratar a síndrome das pernas inquietas, diz ao Medscape o Dr. Daniel J. Blum, primeiro investiga-dor e orientador clínico no Stanford Center for Sleep Sciences and Medicine .O estudo foi apresentado no

SLEEP 2019: 33rd Annual Meeting of the Associated Professional Sleep Societies.Embora a causa da síndrome das pernas inquietas não seja conhe-cida, os especialistas acreditam que esta patologia possa ser cau-sada por uma carência de ferro nos pacientes. Os participantes do es-tudo foram recrutados no Stanford Sleep Center e divididos em três grupos: doentes com baixa reserva de ferro (< 50 ng/mL e/ou satura-ção de transferrina < 18%); com re-serva de ferro normal; e o grupo de controlo.Como parte do estudo, os partici-pantes preencheram questioná-rios sobre o sono e os sintomas de crescimento excessivo de bac-térias no intestino delgado, e le-varam para casa um kit de reco-lha de fezes e um kit de teste respi-ratório. Os sete participantes com

diagnóstico de síndrome das per-nas inquietas que completaram o protocolo até foram três homens e quatro mulheres. Todos tinham má qualidade de sono.Todos os sete participantes tinham um crescimento excessivo de bac-térias no intestino delgado. Para se ter uma ideia, a prevalência de crescimento excessivo de bacté-rias no intestino delgado na popu-lação geral é estimada entre 6% e 15%, o que sugere que este qua-dro possa ser muito mais comum na população com síndrome das pernas inquietas.“Há um estudo inédito que mos-tra que, entre as pessoas com um crescimento excessivo de bac-térias no intestino delgado e sín-drome das pernas inquietas, se tra-tarmos a primeira patologia, a se-gunda melhora significativamente”, disse o Dr. Daniel J.Blum. TC/SO

Estudo: Síndrome das pernas inquietas associada à saúde intestinal

investigadores de stanford (Eua) estão a conduzir um estudo que sugere uma ligação entre o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado e a síndrome das pernas inquietas.

“Há um estudo inédito que mostra que, entre as pessoas

com um crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado e síndrome das pernas inquietas,

se tratarmos a primeira patologia, a segunda melhora

significativamente”, disse o Dr. Daniel J.Blum, primeiro

investigador e orientador clínico no stanford Center for sleep

sciences and Medicine

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SAÚDE ONLINE | NAcIONAL

42 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | juLHO 2019

A Pfizer anunciou hoje que a Comissão Europeia apro-vou TALZENNA® (tala-

zoparib), um inibidor oral da poli (ADP-ribose) polimerase (PARP). A autorização consiste na utiliza-ção de TALZENNA® em monote-rapia para o tratamento de doentes adultas portadoras de mutações germinativas nos genes de susce-tibilidade para o cancro da mama (BRCA1/2g), com cancro da mama localmente avançado ou metastá-tico, negativo para o recetor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2-). As doentes de-verão ter recebido anteriormente terapêutica com antraciclinas e/ou taxanos, em contexto (neo) -adju-vante, para o cancro localmente avançado ou metastático, exceto nos casos em que este tipo de tra-tamento não seja adequado. As

doentes com cancro da mama po-sitivo para recetores hormonais (RH+) deverão ter recebido tera-pêutica endócrina prévia, ou se-jam consideradas inaptas para a mesma.“A aprovação de TALZENNA® no tratamento de doentes portadoras de mutações BRCA hereditárias é o mais recente exemplo da nossa abordagem à medicina de preci-são no desenvolvimento de novas terapêuticas”, refere o Dr. Andreas Penk, presidente regional da Oncology International Developed Marketsda Pfizer. “Este impor-tante marco é o resultado de déca-das de investigação no desenvolvi-mento de novas terapêuticas para o tratamento do cancro da mama. Estamos muito orgulhosos por dis-ponibilizar as estas doentes, onde a doença é frequentemente diag-nosticada numa idade mais pre-coce e que dispõem de opções te-rapêuticas limitadas em estadios avançados, uma opção de trata-mento alternativa à quimioterapia”.A aprovação da Comissão Europeia ao TALZENNA®, adquirido como parte da aquisição da Medivation pela Pfizer, foi submetido com base nos resultados do ensaio EMBRACA, o maior ensaio clínico de Fase III conduzido até à data que avalia o tratamento de doentes com mutações BRCAg com cancro da mama localmente avançado ou metastático com inibidor da PARP. Este ensaio de Fase III, aleatori-zado, sem ocultação, comparou a utilização de TALZENNA® uma vez ao dia, com quimioterapia da esco-lha do investigador (capecitabina, eribulina, gemcitabina ou vinorel-bina), em doentes com mutações hereditárias BRCA1/2, com can-cro da mama localmente avançado

ou metastático triplo negativo ou RH+/HER2-, que tenham recebido até três regimes anteriores de qui-mioterapia no contexto de doença avançada.“No ensaio clínico EMBRACA, TALZENNA® reduziu o risco de progressão da doença em 46 por cento e dobrou a taxa de resposta global em comparação com a qui-mioterapia” indica Johannes Ettl, MD, Department of Obstetrics and Gynecology, Klinikum rechts der Isar, Technical University of Munich e investigador no ensaio clínico EMBRACA. “Esta melhoria nos re-sultados em doentes tratados com TALZENNA® reforça o papel cada vez mais importante do teste gené-tico na tomada de decisão no tra-tamento do cancro da mama local-mente avançado ou metastático”.No ensaio EMBARCA, o TALZENNA® foi significativa-mente superior à quimioterapia, aumentando a sobrevivência li-vre de progressão (PFS) mediana para 8,6 meses contra 5,6 me-ses nas doentes tratadas com qui-mioterapia standard [95% CI: 7.2-9.3 vs. 4.2-6.7], respetivamente. O benefício de PFS superior com TALZENNA® foi observado nas

UE aprova novo fármaco para doentes com Cancro da Mama Avançado

medicamento destina-se ao tratamento de doentes com mutações brca Hereditárias (Germinativas) com cancro da mama localmente avançado ou metastático.

“A aprovação de tALZENNA® no tratamento de doentes portadoras de mutações

BRCA hereditárias é o mais recente exemplo da nossa abordagem à medicina de

precisão no desenvolvimento de novas terapêuticas”,

refere o Dr. Andreas Penk, presidente regional da oncology

international Developed Marketsda Pfizer

várias populações pré-defini-das, nomeadamente doentes com cancro da mama triplo negativo, doença RH+/HER2-, com ou sem história de metástases do sistema nervoso central, e doentes que re-ceberam esquemas de quimiote-rapia citotóxica prévia. Os objeti-vos secundários do estudo incluí-ram a taxa de resposta objetiva (ORR), sobrevivência global (OS) e segurança. O TALZENNA® de-monstrou uma ORR de 62,6% (95% CI: 55.8-69.0), mais do dobro da obtida no braço da quimiotera-pia standard (27.2%) (95% CI: 19.3-36.3). A OS é um endpoint depen-dente de eventos e os dados ainda não são maduros. iCom base em dados recolhidos de doentes tratados com 1 mg de TALZENNA em ensaios clínicos de tumores sólidos, os eventos adver-sos (AEs) mais frequentes (≥ 25%) foram astenia (57,1%), anemia (49.6%), náuseas (44.3%), neu-tropenia (30.2%), trombocitope-nia (29.6%) e cefaleias (26.5%). Os AEs de Grau ≥ 3 (≥ 10%) nos doen-tes tratados com TALZENNA® fo-ram anemia (35.2%), neutropenia (17.4%) e trombocitopenia (16.8%).LUSA/SO

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nacional | SaÚDE onlinE

juLHO 2019 | NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE 43

“Temos deficiência de médicos de várias especialidades no

Hospital de Aveiro. Pelas horas extraordinárias que são feitas e pelas horas feitas por médicos ta-refeiros, diria que faltariam cerca de 60 médicos no Hospital”, disse o bastonário.Miguel Guimarães disse que um dos principais problemas tem a ver com a falta de médicos para asse-gurar a urgência na área da cirur-gia geral, adiantando que “às vezes não são cumpridos os mínimos”.“A cirurgia geral tem sofrido muito com isto, porque apesar de o qua-dro médico ter 22 cirurgiões, só 11 é que fazem serviço de urgência”, constatou o bastonário, conside-rando que este número é “clara-mente insuficiente, o que faz com que o hospital tenha que “recorrer muitas vezes a serviços externos”.Miguel Guimarães falava aos jor-nalistas no final de uma visita ao Hospital de Aveiro, no âmbito de um périplo que a OM está a fa-zer a várias unidades de saúde em todo o país para dar conheci-mento dos problemas existentes à ministra da Saúde.

O bastonário defende que Aveiro “precisa de um Hospital novo há muito tempo” e lançou um desafio para a criação de um movimento cívico tendo em vista este objetivo. “Aveiro é uma cidade pujante, que tem uma grande energia, tem um capital universitário muito interes-sante, e as pessoas que cá traba-lham e as pessoas que necessitam

de cuidados de saúde deviam ter direito a novas instalações, por-que é um dos grandes problemas que existe aqui”, referiu.Miguel Guimarães disse que ao longo da visita ouviu várias quei-xas dos profissionais de saúde relacionadas com as instalações e deu como exemplo o serviço de dermatologia que “tem dois pe-quenos gabinetes para dois mé-dicos e um semi-gabinete, a meio do corredor, para a enfermeira”.“Ou seja, uma especialidade tão importante como esta, que pre-cisa de tempo, de um espaço adequado para conversar com os doentes, está extremamente limi-tada em termos de espaço físico e até desadequado em termos das regras de privacidade que de-vem existir”, sublinhou.Este problema foi reforçado por Inês Rosendo, vice-presidente do Conselho Regional do Centro da OM, que diz que este hospi-tal “está claramente subdimensio-nado”. “Foram relatadas situações de cirurgias que tem de ser can-celadas, porque não há espaço de internamento para depois internar as pessoas”, frisou Inês Rosendo.

A presidente do conselho de admi-nistração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, Margarida França, reconheceu a existência de al-guns problemas, nomeadamente ao nível da falta de espaço, mas diz que estão a trabalhar no sen-tido de alargar as instalações.“Já há trabalho feito. O estudo funcional da nova unidade de am-bulatório deverá estar terminado depois do verão e, portanto, es-tão a ser feitos esforços para me-lhorar as instalações. Os pro-fissionais de saúde e os nossos doentes merecem novas instala-ções, mais modernas e atualiza-das”, vincou.Já quanto à falta de médicos, a responsável disse que o pro-blema tem a ver com a dificuldade em recrutar novos profissionais.“Infelizmente temos tido vagas não preenchidas. Temos agora mais três vagas para cirurgiões e três vagas para medicina in-terna e estou na expectativa que elas sejam preenchidas”, disse Margarida França, negando que os serviços mínimos não estejam a ser cumpridos ou que haja ser-viços em rotura. LUSA/SO

“Faltam, seguramente, mais de 90 médicos neste hospital de vá-

rias especialidades. Em termos de anestesiologistas foi-nos re-portado que faltam pelo me-nos 10 e em termos de obste-tras faltarão 15 e isto tem con-dicionado a capacidade de res-posta nalgumas áreas”, apontou o bastonário.Miguel Guimarães, que falava aos

A presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Baixo vouga,

Margarida França, reconheceu a existência de alguns problemas, nomeadamente ao nível da falta de espaço, mas diz que estão a trabalhar no sentido de alargar

as instalações

jornalistas no final de uma visita ao hospital Fernando da Fonseca (co-nhecido por Amadora-Sintra), refe-riu que as vagas pedidas pela admi-nistração não estão a ser atribuídas, situação que “dificulta ainda mais o funcionamento” desta unidade de saúde, no distrito de Lisboa.O bastonário apontou ainda para a necessidade de serem substi-tuídos equipamentos hospitala-res, nomeadamente ventiladores

Faltam mais de 90 médicos especialistas no Amadora-Sintra

Hospital bate-se contra falta de recursos humanos, nomeadamente anestesiologistas e obstetras. o bastonário dos médicos sublinha que este cenário põe em causa a qualidade dos cuidados.

e o angiógrafo, já com 20 anos.“É um angiógrafo que já devia es-tar colocado de lado, dá imensos problemas. O conselho de admi-nistração garantiu-nos que será substituído a muito curto prazo”, apontou.Os problemas de recursos huma-nos no hospital foram também re-latados aos jornalistas pela anes-tesiologista Ângela Rodrigues, que se queixou da existência de

pressões para reduzir o número de especialistas presentes nos serviços de urgência.“O serviço está a lutar para con-seguir manter o número correto de elementos em serviço de ur-gências. Nós queremos que se-jam quatro elementos presentes durante o dia e durante a noite, mas existem pressões para que sejam reduzidos para três”, la-mentou. LUSA/SO

Hospital de Aveiro tem falta de médicos e de espaçoo bastonário da ordem dos médicos, miguel Guimarães, denunciou vários problemas,

que a administração hospitalar diz estarem em vias de resolução.

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SAÚDE ONLINE | OpINIãO

44 NOTÍCIAS SAÚDE ONLINE | MAIO 2019

Eliminação da hepatite c

Em Fevereiro de 2015, Portugal tomou, após demoradas e ente-diantes negociações, uma me-dida de amplo significado que catapultou o país para a dianteira do tratamento da hepatite C a ní-vel mundial. O programa de tra-tamento da hepatite C era sobre-tudo dirigido para os doentes re-gistados nas listas dos hospitais, mas rapidamente se estendeu a toda a população infectada, in-dependentemente da idade, con-dição social e estádio da doença. A adesão ao programa, supor-tado por uma plataforma central de registo e dispensa da medica-ção e sem restrição ao acesso do melhor regime terapêutico da altura, excedeu as melhores ex-pectativas. O empenho de todas as estruturas envolvidas no pro-grama foi geral, de norte a sul do país, e os resultados não po-diam ser mais encorajadores: ta-xas de cura da infecção da or-dem dos 96%, com tratamentos orais de curta duração e com ex-celente perfil de segurança e to-lerabilidade. De acordo com um relatório preliminar do Infarmed, no primeiro ano de aplicação do programa já eram evidentes os ganhos em saúde, nomeada-mente em vidas poupadas e re-dução do número de transplan-tes hepáticos. Portugal era apre-sentado pela OMS como para-digma das boas práticas no que ao tratamento da hepatite C dizia

respeito; e, provavelmente ba-seada no exemplo português, a OMS desenvolveu em 2016 uma estratégia mundial para diminuir o burden das hepatites B e C até 2030, tendo como metas: diag-nóstico de 90% da população in-fectada; tratamento de 80% dos doentes diagnosticados e elegí-veis para tratamento; redução em 90% do número de novas in-fecções; e redução em 65% da mortalidade relacionada com a doença hepática.Volvidos 4 anos e mais de 23.000 doentes tratados, ou em vias de tratamento, resta em Portugal o acesso universal ao tratamento, o que é manifestamente insufi-ciente para conseguir os objec-tivos da OMS para 2030. Para além do acesso à medicação, a cascata de cuidados implica, também, rastreio e diagnóstico dos doentes virémicos e ligação aos cuidados de saúde. Seguindo estes princípios, a maioria dos países Europeus, e muitos outros países por todo o mundo, estão a implementar programas de elimi-nação da hepatite C. O Programa Nacional para as Hepatites Víricas de 2017 re-flecte a adopção das orienta-ções programáticas do plano de acção da OMS Europa para as hepatites víricas. Contudo, na ausência de um plano concreto,

os dados mais recentes indicam que o País não irá alcançar essa meta em 2030. Pior do que isso, corre o risco de perder os resul-tados conseguidos até agora. O número de novos casos por ano, isto é, a incidência da infecção, está estimada em Portugal ser, presentemente, de cerca de 500 novas infecções por ano, mas com o decorrer do tempo o cres-cimento será exponencial.A história natural da hepatite C crónica caracteriza-se por um longo período assintomático, que pode exceder os trinta anos. Os doentes que desenvolvem cirrose estão em risco de desen-volver complicações (ascite e he-morragias) e cancro do fígado. Nesta fase avançada da doença, a morte é uma consequência inevitável, a menos que seja rea-lizado um transplante hepático. De acordo com o CDC dos EUA, o vírus da hepatite C é responsá-vel por 38% e 44% dos casos de cirrose e carcinoma hepatocelu-lar, respectivamente, nos países Ocidentais. Os doentes com cir-rose associada ao VHC repre-sentam a maior fracção de doen-tes com cirrose a serem subme-tidos a transplantação: cerca de 40% nos EUA, 25%, em média, na Europa, e aproximadamente 20% em Portugal.Com a nova geração de

fármacos, o tratamento da he-patite C, qualquer que seja o tipo (genótipo) de vírus e está-dio da doença, é muito simples e extraordinariamente eficaz: um comprimido por dia, durante 8-12 semanas, com uma taxa de cura de cerca de 97%.Os regimes pangenotípicos mais recentes permitem uma aborda-gem simplificada do diagnóstico e monitorização, pelo que são actualmente os regimes prefe-renciais na maioria dos países da UE. É consensual entre os peri-tos que a eliminação da hepatite C é possível desde que se actue especificamente nos grupos de risco (microeliminação) e na po-pulação em geral (macroelimina-ção). Na primeira, os cuidados médicos, incluindo a terapêutica, serão desburocratizados e reali-zados no local de assistência às comunidades vulneráveis. A ma-croeliminação, por outro lado, envolverá um rastreio de deter-minados grupos etários e ocor-rerá nos centros de saúde em li-gação com o hospital.Com uma estratégia bem defi-nida e um cronograma bem es-tabelecido, é possível implemen-tar em Portugal um plano de eli-minação da hepatite C para os cerca de 50.000 doentes que se pensa ainda existirem, e cumprir as metas da OMS.

Professor Doutor José velosa. Professor da Faculdade de

Medicina da universidade de Lisboa

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