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Informativo 671-STJ (05/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 ERRATA O título do AgRg no AREsp 885.281-ES foi corrigido. Em vez de “posse”, era “porte” Informativo comentado: Informativo 671-STJ Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO PODER DE POLÍCIA Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre calçadas sem a regular aprovação estatal. DESAPROPRIAÇÃO O prazo prescricional, no caso de ação de desapropriação indireta, é, em regra, de 10 anos; excepcionalmente, será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços públicos no local DIREITO AMBIENTAL RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de terceiro capaz de interromper o nexo causal na reparação por lesão ao meio ambiente DIREITO CIVIL OBRIGAÇÕES (JUROS) Instituição não financeira - dedicada ao comércio varejista - não pode estipular, em suas vendas a crédito, pagas em prestações, juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano. RESPONSABILIDADE CIVIL Acidente de trânsito, responsabilidade civil e possibilidade de ajuizamento de ação para complementação das verbas já recebidas por força de acordo extrajudicial. DIREITOS REAIS (USUCAPIÃO) A separação de fato por longo período afasta a regra de impedimento da fluência da prescrição entre cônjuges prevista no art. 197, I, CC e viabiliza a efetivação da prescrição aquisitiva por usucapião. A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da usucapião especial urbana sobre a totalidade da área. DIREITO DO CONSUMIDOR CONCEITO DE CONSUMIDOR Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO O laboratório tem responsabilidade objetiva na ausência de prévia informação qualificada quanto aos possíveis efeitos colaterais da medicação, ainda que se trate do chamado risco de desenvolvimento. OFERTA Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo.

ERRATA O título do AgRg no AREsp Informativo comentado ...admitir a sua ocupação ilícita ou duradoura para fins comerciais (quiosques, trailers) ou com construções privadas,

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Informativo 671-STJ (05/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

ERRATA O título do AgRg no AREsp

885.281-ES foi corrigido. Em vez de “posse”, era “porte”

Informativo comentado: Informativo 671-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO

PODER DE POLÍCIA ▪ Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre calçadas sem a regular aprovação estatal. DESAPROPRIAÇÃO ▪ O prazo prescricional, no caso de ação de desapropriação indireta, é, em regra, de 10 anos; excepcionalmente, será

de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços públicos no local DIREITO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL ▪ O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de terceiro capaz de interromper o nexo causal na

reparação por lesão ao meio ambiente

DIREITO CIVIL

OBRIGAÇÕES (JUROS) ▪ Instituição não financeira - dedicada ao comércio varejista - não pode estipular, em suas vendas a crédito, pagas

em prestações, juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano. RESPONSABILIDADE CIVIL ▪ Acidente de trânsito, responsabilidade civil e possibilidade de ajuizamento de ação para complementação das

verbas já recebidas por força de acordo extrajudicial. DIREITOS REAIS (USUCAPIÃO) ▪ A separação de fato por longo período afasta a regra de impedimento da fluência da prescrição entre cônjuges

prevista no art. 197, I, CC e viabiliza a efetivação da prescrição aquisitiva por usucapião. ▪ A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da usucapião especial urbana

sobre a totalidade da área.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CONCEITO DE CONSUMIDOR ▪ Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade anônima

de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários. RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO ▪ O laboratório tem responsabilidade objetiva na ausência de prévia informação qualificada quanto aos possíveis

efeitos colaterais da medicação, ainda que se trate do chamado risco de desenvolvimento. OFERTA ▪ Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo.

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PLANO DE SAÚDE ▪ O prazo para execução individual de sentença proferida contra planos de saúde em ação civil pública é de cinco

anos. DIREITO EMPRESARIAL

TÍTULOS DE CRÉDITO (NOTA PROMISSÓRIA) ▪ Em uma nota promissória constaram duas datas de vencimento; uma coincide com a data de emissão do título; a

outra é posterior; neste caso, deve prevalecer a data posterior já que, por ser futura, admite ser presumida como a efetiva manifestação de vontade do emitente.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL ▪ A alienação de ativos na forma de unidade produtiva isolada pode se dar por meio diverso do previsto nos arts. 60

e 142 da Lei nº 11.101/2005. ▪ Os créditos lastreados em contratos de fiança bancária, firmados para garantia de obrigação contraída, não estão

submetidos aos efeitos da recuperação judicial.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AÇÃO RESCISÓRIA ▪ Inexistindo homologação judicial do pedido de renúncia, não se pode permitir a abertura do prazo decadencial de

dois anos para propor ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação da parte interessada. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ▪ Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar impugnação ao

cumprimento de sentença, caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC/1973.

DIREITO PENAL

PENA DE MULTA ▪ Em adequação ao entendimento do STF, o inadimplemento da pena de multa obsta a extinção da punibilidade do

apenado. ESTATUTO DO DESARMAMENTO ▪ Caracteriza ilícito penal o porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei n. 10.826/2003) ou de arma de fogo de uso

restrito (art. 16 da Lei 10.826/2003) com registro de cautela vencido. LEI MARIA DA PENHA ▪ Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da Penha no caso de violência do neto praticada

contra a avó. LEI DE DROGAS ▪ Não incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em caso de tráfico de

drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO ▪ Os serviços de capatazia integram a base de cálculo do imposto de importação.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA ▪ Incide a contribuição previdenciária patronal sobre os valores pagos a título de Hora Repouso Alimentação – HRA.

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DIREITO ADMINISTRATIVO

PODER DE POLÍCIA Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados

sobre calçadas sem a regular aprovação estatal

Importante!!!

Em cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a serviço de minoria privilegiada, calçadas integram o mínimo existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população.

No Estado Social de Direito, o ato de se deslocar a pé, em segurança e com conforto, qualifica-se como direito de todos, com atenção redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos idosos, crianças e pessoas com deficiência.

Vale ressaltar que as calçadas são consideradas bens públicos, como bens de uso comum do povo (art. 99, I, do Código Civil).

A ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto se estritamente conforme a legislação e após regular procedimento administrativo.

Se o apossamento do espaço urbano público ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de improbidade e infração disciplinar, fazer a imediata demolição de eventuais construções irregulares e a desocupação de bem turbado ou esbulhado.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 671).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: Em muitas cidades do Brasil é comum encontrarmos lanchonetes funcionando em quiosques ou trailers. É também muito frequente que esses quiosques ou trailers estejam instalados na calçada. Em Taguatinga, no Distrito Federal, havia três lanchonetes funcionando em quiosques que estavam instalados na calçada. O Governo do DF notificou os proprietários para que desocupassem o local, sob pena de demolição. Diante disso, os três proprietários ajuizaram ação pedindo para que eles permanecessem no local e que o Poder Público se abstivesse de interditar ou demolir os quiosques. O juízo de 1ª instância julgou o pedido procedente, mas o TJDFT reformou a sentença. Inconformados, os autores interpuseram recurso especial. O STJ concordou com o pedido dos autores para permanecerem no local? NÃO.

Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre calçadas sem a regular aprovação estatal. STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 671).

Relevância social das calçadas Em cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a serviço de minoria privilegiada, calçadas integram o mínimo existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população. Na qualidade de genuínas artérias de circulação dos que precisam ou preferem caminhar, as calçadas são uma expressão cotidiana do direito de locomoção. No Estado Social de Direito, o ato de se deslocar a pé, em segurança e com conforto, qualifica-se como direito de todos, com atenção redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos idosos, crianças e pessoas com deficiência.

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Assim, o pedestre, marginalizado na cidade do automóvel, merece respeito não só dos motorizados, mas, com maior ênfase, do Estado, gestor tradicionalmente insensível às carências da multidão dos “sem-carro”. As calçadas existem por razões de interesse público, considerando que são indispensáveis à segurança do trânsito, à saúde pública, ao lazer e à estética. Além disso, servem para arborização, funcionando como semibosques lineares. Sob o ponto de vista antropológico, as calçadas servem ainda como um ponto de encontro das pessoas, mesmo que fortuito, efêmero e até indesejado. Natureza jurídica As calçadas são consideradas bens públicos, classificadas como bens de uso comum do povo (art. 99, I, do Código Civil). Ocupação da calçada exige cumprimento dos requisitos legais Segundo a jurisprudência do STJ, a ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto se estritamente conforme a legislação e após regular procedimento administrativo. A Administração dispõe de dever-poder de revisão de ofício de seus atos, exercitável a qualquer momento, mais ainda quando o ato administrativo de qualquer tipo for emitido em caráter provisório ou precário, com realce para o urbanístico, ambiental e sanitário. Se o apossamento do espaço urbano público ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de improbidade e infração disciplinar, fazer a imediata demolição de eventuais construções irregulares e a desocupação de bem turbado ou esbulhado. Código de Trânsito O Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro distingue entre calçada e passeio. Juridicamente falando, as duas noções são próximas; e a distinção, tênue, pois o legislador qualificou o passeio como “parte da calçada”. O Código de Trânsito Brasileiro (art. 181, VIII, e art. 182, VI, respectivamente) prevê sanção administrativa de multa para quem estacionar veículo no passeio (infração grave) e mesmo para quem nele simplesmente parar por minutos (infração leve). Seria contraditório punir quem para na calçada e, ao mesmo tempo, admitir a sua ocupação ilícita ou duradoura para fins comerciais (quiosques, trailers) ou com construções privadas, pouco importando a espécie. Princípio da confiança não protege os particulares neste caso O princípio da confiança não socorre a pessoa que, em sã consciência ou assumindo os riscos de sua conduta, ocupa ou usa irregularmente bem público, mesmo que haja pagamento de tributos e outros encargos, pois prestação pecuniária não substitui licitação e licenciamento.

DESAPROPRIAÇÃO O prazo prescricional, no caso de ação de desapropriação indireta, é, em regra, de 10 anos;

excepcionalmente, será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços públicos no local

Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta?

Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do CC/2002).

Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no local.

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Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local. Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove, concreta e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658).

O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos, conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.757.352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1109) (Info 671).

Obs: a súmula 119 do STJ está superada (Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos).

Em que consiste a desapropriação indireta? A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público) se apropria do bem de um particular sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação, dentre as quais a declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia. Trata-se de um verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público. A desapropriação indireta é também chamada de apossamento administrativo. O que a pessoa pode fazer caso tenha sofrido uma desapropriação indireta? • Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade pública: pode ser proposta uma ação possessória com o objetivo de que a pessoa mantenha ou retome a posse do bem. • Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que houve fato consumado e somente restará ao particular ajuizar uma “ação de desapropriação indireta” a fim de ser indenizado. Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41:

Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, resolver-se-á em perdas e danos.

Ação de desapropriação indireta A ação de desapropriação indireta é uma ação de indenização proposta contra o Poder Público pelo fato de ele ter se apossado do bem pertencente a particular sem cumprir as formalidades legais previstas para os casos de desapropriação. Trata-se, portanto, de uma ação condenatória objetivando a indenização por perdas e danos. Também é chamada de “ação expropriatória indireta” ou “ação de ressarcimento de danos causados por apossamento administrativo”. Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta? • No CC-1916: era de 20 anos. • No CC-2002: em regra, é de 10 anos (excepcionalmente, pode ser de 15 anos). Qual é o fundamento jurídico para esse prazo? Segundo o STJ, a ação de desapropriação indireta possui natureza real e pode ser proposta pelo particular prejudicado enquanto não tiver transcorrido o prazo para que o Poder Público adquira a propriedade do bem por meio da usucapião.

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Em outras palavras, como não há um prazo específico previsto na legislação, o STJ entendeu que deveria ser aplicado, por analogia, o prazo da usucapião extraordinária. Assim, enquanto não tiver passado o prazo para que o Estado adquira o imóvel por força de usucapião, o particular poderá buscar a indenização decorrente do ato ilícito de apossamento administrativo. E qual é o prazo de usucapião extraordinária? No CC-1916: era de 20 anos (art. 550). No CC-2002: 15 ou 10 anos (art. 1.238). Veja a redação do caput do art. 1.238 do CC:

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

No entanto, este prazo da usucapião extraordinária passa a ser de 10 anos se o possuidor tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo no local. É o que diz o parágrafo único do art. 1.238:

Art. 1.238 (...) Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

Como na desapropriação indireta pressupõe-se que o Poder Público tenha realizado obras no local ou tenha dado ao imóvel uma utilidade pública ou de interesse social, entende-se que a situação se enquadraria no parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, de sorte que o prazo para a usucapião seria, em regra, de 10 anos. Logo, atualmente, o prazo prescricional aplicável às expropriatórias indiretas passou a ser de 10 anos, com fundamento analógico no parágrafo único do art. 1.238 do CC. Vale ressaltar, no entanto, que, se o autor provar que o Poder Público não realizou obras ou serviços públicos no local, esse prazo prescricional sobe para 15 anos. Resumindo:

Prazo da ação de desapropriação

indireta

É o mesmo prazo da usucapião extraordinária. Enquanto não tiver passado o prazo da usucapião extraordinária, o particular pode ajuizar a ação de desapropriação indireta.

No Código Civil de 1916: era de 20 anos

No Código Civil de 2002: depende • Se foram feitas obras ou serviços públicos no local: 10 anos. • Se não foram feitas: 15 anos.

Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local. Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove, concreta e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658).

O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos, conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC. STJ. 1ª Seção. REsp 1.757.352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1109) (Info 671).

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Cuidado com a súmula 119 do STJ A redação desse enunciado é a seguinte:

Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos.

A súmula 119 do STJ foi editada em 1994 e não está mais em vigor, considerando que utilizava como parâmetro o Código Civil de 1916. Atualmente, a ação de desapropriação indireta prescreve, em regra, em 10 anos (se não foram feitas obras ou serviços no local: prescreve em 15 anos). O que acontece se o prazo prescricional iniciou na vigência do CC/1916 e se estendeu para o CC/2002? Nesse caso, deverá ser aplicada a regra de direito intertemporal prevista no art. 2.028 do CC/2002:

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

Interpretando esse art. 2.028 do CC. Continua sendo o prazo do CC-1916: • quando ele foi reduzido pelo CC-2002, e • se, na data da entrada em vigor do CC-2002, já tinha transcorrido mais da metade do tempo estabelecido no CC-1916. Exemplo: A pretensão de indenização por desapropriação indireta prescrevia em 20 anos no CC/1916. No CC/2002 prescreve em 10 anos. Se uma pessoa sofreu o desapossamento administrativo em 1991, em 2003 (data em que entrou em vigor o CC), já havia se passado 12 anos. Logo, prevalece o prazo do CC/1916 e esta vítima só teria mais 8 anos para ajuizar a ação. Se a pessoa sofreu o desapossamento em 1994, em 2003 havia se passado apenas 9 anos. Logo, será aplicado o novo prazo do CC/2002 (de 10 anos). A partir de 11/01/2003 (data da entrada em vigor do CC/2002) iniciou o prazo de 10 anos para que a vítima ajuizasse a ação. E se o CC-2002 aumentou o prazo? Nesse caso, aplica-se o do CC/2002. Assim, quanto às ações propostas após o CC-2002, deve-se analisar o seguinte: i) Se entre a data do apossamento e a entrada em vigor do CC-2002 já havia se passado mais de 10 anos: o prazo prescricional continua sendo o de 20 anos; ii) Se entre a data do apossamento e a entrada em vigor do CC-2002 havia se passado menos que 10 anos: o prazo prescricional será o do novo Código Civil: 10 anos.

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DIREITO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de terceiro capaz de interromper o

nexo causal na reparação por lesão ao meio ambiente

Importante!!!

Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade econômica ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro ou força maior.

No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental protegida. Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é causa excludente da responsabilidade do proprietário do estabelecimento.

Mesmo que se considere que a instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação adaptada: A Esso Petróleo Ltda, após obter licença ambiental do Instituto de Proteção Ambiental do Paraná – IAP (autarquia estadual), construiu um posto de gasolina. Para a construção do empreendimento, foi necessário o corte de 3 hectares de vegetação, o que estava autorizado na licença concedida (autorização de desmate). Ocorre que, depois de algum tempo, o Ministério Público ajuizou ação de indenização contra a empresa alegando que o corte das árvores foi indevido porque realizado em vegetação integrante da Mata Atlântica, área ambiental protegida. O Ministério Público alegou, portanto, que a licença não deveria ter sido concedida, razão pela qual a obra foi irregular. A empresa se defendeu alegando que agiu amparado pela licença ambiental que acreditava ser legítima e que, portanto, foi vítima de erro do IAP, que deve ser considerado exclusivo responsável pela reparação do dano. Argumentou, em suma, que houve culpa exclusiva de terceiro. A questão chegou até o STJ. O Tribunal concordou com os argumentos da empresa? NÃO. Responsabilidade ambiental é objetiva Os danos ambientais são regidos pelo modelo da responsabilidade objetiva, previsto genericamente no parágrafo único do art. 927 do Código Civil e, de forma específica, na Lei nº 6.938/81. O objetivo é garantir a reparação do dano, independentemente da verificação de culpa. Teoria do risco integral A responsabilidade por danos ambientais, além de ser objetiva, é regida pela teoria do risco integral, nos termos do art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, recepcionado pelo art. 225, §§ 2º, e 3º, da CF/88:

Art. 14 (...)

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§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Teoria do risco integral é justificada pelo princípio do poluidor-pagador Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral, o que se justifica pelo princípio do poluidor-pagador e pela vocação redistributiva do Direito Ambiental. Segundo o princípio do poluidor-pagador, os custos sociais externos que estão ligados ao processo produtivo (“prejuízos que aquela atividade econômica pode causar para a sociedade” - ex: danos ambientais) devem ser internalizados, ou seja, devem ser levados em consideração pela empresa no momento de calcular seus custos e, como contrapartida, caso esses danos realmente aconteçam, a empresa será sempre obrigada a repará-los. Esse modelo oferece maior proteção do meio ambiente, patrimônio coletivo da sociedade, impondo aos agentes econômicos a internalização dos custos externos envolvidos em sua atividade privada. Com isso, evita-se a “privatização de lucros e a socialização de perdas”. O que significa, na prática, adotar a teoria do risco integral? A adoção da teoria do risco integral significa que o causador do dano ambiental não pode invocar causas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima. Nesse sentido:

A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar. STJ. 2ª Seção. REsp 1374284/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/08/2014.

Veja a importância de estudar jurisprudência: ++ (Juiz TJ/RS 2018 VUNESP) A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar. (certo) A empresa que explora a atividade econômica se coloca na posição de garantidor da preservação ambiental, e os danos que digam respeito à atividade estarão sempre vinculados a ela. Por isso, é descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar. Para que haja responsabilidade, basta que se prove a ocorrência de resultado prejudicial ao homem e ao ambiente advinda de uma ação ou omissão do responsável. Voltando ao caso concreto: A tese da empresa é a de que o erro na concessão da licença ambiental deveria configurar fato de terceiro capaz de interromper o nexo causal, o que, por sua vez, deveria isentar-lhe da obrigação de reparar a lesão ao meio ambiente. Essa alegação não pode ser acolhida em virtude da adoção da teoria do risco integral. Por se tratar de dano ambiental, regido pela teoria do risco integral, não cabe ao responsável pela atividade – exploração econômica de posto de combustíveis – a alegação de qualquer causa exonerativa da responsabilidade, mesmo que pela suposta interrupção do nexo causal por fato de terceiro.

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Assim, mesmo que se considere que a instalação do posto de combustíveis somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade da empresa, que gera o risco concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão ambiental verificada. Em suma:

Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade econômica ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro ou força maior. No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental protegida. Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é causa excludente da responsabilidade do proprietário do estabelecimento. Mesmo que se considere que a instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

DOD QUESTÕES

Esse tema é muito importante e vem sendo cobrado constantemente nas provas. Confira:

++ (Juiz Federal TRF2 2018) A responsabilidade civil por dano ambiental é subjetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo possível seu afastamento em razão de excludentes de responsabilidade civil. (errado)

++ (Juiz Federal TRF2 2018) A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva, fundada na teoria do risco administrativo, com a possibilidade da sua descaracterização quando houver excludente de responsabilidade civil. (errado)

++ (PGM Manaus 2018 CEBRASPE) De acordo com o STJ, a responsabilidade por dano ambiental é objetiva e regida pela teoria do risco integral. (certo)

++ (Juiz TJ/BA 2019 CEBRASPE) Por equívoco de um de seus empregados, uma empresa alimentícia deixou vazar acidentalmente parte de seu insumo em um rio, o que causou a morte de 5 t de peixes. Nessa situação hipotética, relativamente à responsabilidade civil ambiental, a empresa: A) não responderá pelo dano ambiental, por ser uma pessoa jurídica. B) não responderá pelo dano, visto que não houve dolo na morte dos peixes. C) responderá pelo dano, uma vez que a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria do risco administrativo, não sendo admitida a responsabilização do empregado para responder culposamente pelo dano. D) responderá pelo dano, porque a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria do risco integral. E) responderá pelo dano, pois a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria do risco administrativo, admitindo-se, ainda, a responsabilização do empregado para responder culposamente pelo dano.

Letra D

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DIREITO CIVIL

OBRIGAÇÕES (JUROS) Instituição não financeira - dedicada ao comércio varejista - não pode estipular, em suas vendas a crédito, pagas em prestações, juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano

Importante!!!

A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil é excepcional e deve ser interpretada restritivamente.

Apenas às instituições financeiras, submetidas à regulação, controle e fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal.

A previsão do art. 2º da Lei nº 6.463/77 faz referência a um sistema obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação dependia da atuação do varejista como instituição financeira e no qual o controle dos juros estava sujeito ao escrutínio dos próprios consumidores e à regulação e fiscalização do Ministério da Fazenda.

O art. 2º da Lei 6.463/77 não possui mais suporte fático apto a sua incidência, sendo, portanto, ineficaz, não podendo ser interpretado extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e não autorizando a cobrança de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.720.656-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação hipotética: João comprou uma geladeira de loja de eletrodomésticos. A compra foi parcelada em 12x, com a cobrança de juros. Depois de algum tempo, João foi alertado por seu sobrinho – que estuda para concursos – que os juros cobrados foram abusivos. Isso porque o contrato fixou juros remuneratórios de 2% ao mês. O sobrinho de João tem razão? SIM.

Instituição não financeira - dedicada ao comércio varejista em geral - não pode estipular, em suas vendas a crédito, pagas em prestações, juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.720.656-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

Vamos entender com calma. O que são juros? Os juros podem ser conceituados como o rendimento do capital. É o preço pago pelo fato de alguém estar utilizando o capital (dinheiro) de outrem. Os juros têm por finalidade remunerar o credor por ficar um tempo sem seu capital e pelo risco que sofreu de não o receber de volta. Quanto à sua finalidade, os juros podem ser de duas espécies:

Juros compensatórios (remuneratórios) Juros moratórios

São pagos pelo devedor como uma forma de remunerar (ou compensar) o credor pelo fato de ele ter ficado privado de seu capital por um determinado tempo.

São pagos pelo devedor como forma de indenizar o credor quando ocorre um atraso no cumprimento da obrigação. Veja o art. 395 do CC.

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É como se fosse o preço pago pelo “aluguel” do capital.

É como se fosse uma sanção (punição) pela mora (inadimplemento culposo) na devolução do capital. São devidos pelo simples atraso, ainda que não tenha havido prejuízo ao credor (art. 407 do CC).

Ex: José precisa de dinheiro emprestado e vai até um banco, que dele cobra um percentual de juros como forma de remunerar a instituição financeira por esse serviço.

Ex: José pactuou com o banco efetuar o pagamento do empréstimo no dia 10. Ocorre que o devedor somente conseguiu pagar a dívida no dia 20. Logo, além dos juros remuneratórios, terá que pagar também os juros moratórios, como forma de indenizar a instituição por conta deste atraso.

Limites estabelecido pelo Código Civil O art. 591 do Código Civil afirma que, nos contratos regidos pelo Código Civil, os juros cobrados não podem ser superiores à taxa de juros legal prevista no art. 406:

Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Qual é o percentual dos juros legais previsto neste art. 406 do CC? Sobre o tema existem duas posições: 1ª corrente: 1% ao mês, previsto no CTN (art. 161, § 1º). 2ª corrente: taxa SELIC. Obs1: em nosso exemplo, 2% ao mês é superior à taxa de juros legais independentemente da corrente acima adotada. Isso porque 2% ao mês é bem superior que a SELIC atualmente cobrada. Obs2: prevalece a 2ª corrente. No entanto, no caso concreto, quando o processo chegou ao STJ, as instâncias ordinárias já estavam debatendo o tema com base no limite de 1% ao mês, tendo em vista que assim foi o pedido do autor. Neste processo, o STJ não se posicionou expressamente sobre qual seria a corrente a ser adotada. As instituições financeiras precisam cumprir os limites de juros fixados pelo Código Civil? NÃO. As restrições contidas no art. 591 do CC não se aplicam para instituições financeiras. Assim, as instituições financeiras podem cobrar juros superiores à taxa legal (art. 406). Os juros remuneratórios cobrados pelos bancos não estão sujeitos aos limites impostos pela Lei de Usura (Decreto nº 22.626/33), pelo Código Civil ou por qualquer outra lei. Não existe lei limitando os juros que são cobrados pelos bancos (STJ. 2ª Seção. REsp 1061530/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2008). Existe uma súmula do STF que afirma isso:

Súmula 596-STF: As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.

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Diante da ausência de lei que imponha limites aos juros cobrados pelas instituições financeiras, o STJ construiu a seguinte regra: os juros cobrados pelos bancos devem utilizar como índice a taxa média de mercado, que é calculada e divulgada pelo Banco Central (BACEN) em sua página na internet. A loja poderia cobrar os juros acima dos juros legais (art. 406 do CC)? NÃO. A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil de 2002 é excepcional e deve ser interpretada restritivamente. Apenas às instituições financeiras, submetidas à regulação, controle e fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal. No caso concreto, o contrato é regido pelas regras do Código Civil (e não pelos regulamentos do CMN e do BACEN), tendo em vista que a loja não é uma instituição financeira. Assim, os juros remuneratórios devem observar os limites do art. 406 c/c art. 591 do CC. Um dos argumentos da loja foi o de que ela poderia cobrar os juros acima do limite do art. 406 do CC por força do art. 2º da Lei nº 6.463/77. Essa tese foi aceita pelo STJ? NÃO. O art. 2º da Lei nº 6.463/77 prevê o seguinte:

Art. 2º O valor do acréscimo cobrado nas vendas a prestação, em relação ao preço de venda a vista da mercadoria, não poderá ser superior ao estritamente necessário para a empresa atender às despesas de operação com seu departamento de crédito, adicionada a taxa de custo dos financiamentos das instituições de crédito autorizadas a funcionar no País. Parágrafo único. O limite percentual máximo do valor do acréscimo cobrado nas vendas a prazo, em relação ao preço da venda a vista da mercadoria, será fixado e regulado através de atos do Ministro da Fazenda.

O STJ, contudo, entende que a previsão do art. 2º da Lei nº 6.463/77 faz referência a um sistema obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação dependia da atuação do varejista como instituição financeira e no qual o controle dos juros estava sujeito ao escrutínio dos próprios consumidores e à regulação e fiscalização do Ministério da Fazenda. O art. 2º da Lei 6.463/77 não possui mais suporte fático apto a sua incidência, sendo, portanto, ineficaz, não podendo ser interpretado extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e não autorizando a cobrança de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita.

RESPONSABILIDADE CIVIL Acidente de trânsito, responsabilidade civil e possibilidade de ajuizamento de ação para

complementação das verbas já recebidas por força de acordo extrajudicial

Em regra, a quitação ampla, geral e irrevogável efetivada em acordo extrajudicial deve ser presumida válida e eficaz, não se autorizando o ingresso na via judicial para ampliar verbas indenizatórias anteriormente aceitas e recebidas.

Existem, contudo, exceções a essa regra.

O curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e desconhecimento da integralidade dos danos constitui exceção à regra de que a quitação plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória aceita e recebida.

Caso concreto: o acidente de trânsito foi em 20/04/2015; o acordo foi celebrado em 08/05/2015, ou seja, em data muito próxima à do sinistro; nessa época, a autora ainda não tinha conhecimento da integralidade do prejuízo que havia sofrido; após a assinatura do

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termo, a parte tomou ciência de que necessitaria de amplo tratamento dentário, razão pela qual ajuizou ação cobrando o custo disso e que não estava coberto pelo acordo.

STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.833.847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação hipotética: Em 20/04/2015, Regina foi atropelada por João, tendo quebrado o braço em decorrência do acidente. Alguns dias depois, em 08/05/2015, Regina e João celebraram um acordo extrajudicial por meio do qual o causador do acidente pagou à vítima R$ 10.000,00 a título de indenização pelos danos morais e materiais que ela sofreu. Regina recebeu a quantia e deu quitação ampla, geral e irrevogável. No acordo constou o seguinte: “ficam quitadas todas as demais indenizações”. Uma semana após o acordo, o rosto de Regina começou a inchar. Ela foi a um cirurgião-dentista e descobriu que, ao bater o rosto no chão, ela fraturou a tábua óssea vestibular e precisaria passar por um complexo tratamento dentário. Depois de receber essa informação, Regina procurou novamente João pedindo para ele arcar com os custos do tratamento dentário. Ele, contudo, se negou, afirmando que já fizeram um acordo e que, portanto, não teria mais qualquer obrigação relacionada ao fato. Diante disso, Regina ajuizou ação de indenização contra João. Em contestação, João alegou que a quitação ampla, geral e irrevogável efetivada em acordo extrajudicial deve ser presumida válida e eficaz, não se autorizando o ingresso na via judicial para ampliar verbas indenizatórias anteriormente aceitas e recebidas. O pedido de Regina foi acolhido? SIM. Realmente, em regra, a quitação ampla, geral e irrevogável efetivada em acordo extrajudicial deve ser presumida válida e eficaz, não se autorizando o ingresso na via judicial para ampliar verbas indenizatórias anteriormente aceitas e recebidas. Existem, contudo, exceções a essa regra. Em outras palavras, existem situações em que, mesmo a vítima tendo feito o acordo e dado quitação integral, ela poderá pleitear novo valor de indenização caso surjam novos gastos. A situação de Regina é uma dessas exceções. O STJ entende que o curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e desconhecimento da integralidade dos danos constitui exceção à regra acima exposta.

Logo, mesmo a vítima tendo dado quitação integral, como o acordo foi assinado muito próximo do acidente e como ela não sabia ainda todos os custos que teria com seu tratamento médico, ela poderá pleitear em juízo o aumento do valor da indenização. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.833.847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

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DIREITOS REAIS (USUCAPIÃO) A separação de fato por longo período afasta a regra de impedimento da fluência da prescrição entre

cônjuges prevista no art. 197, I, CC e viabiliza a efetivação da prescrição aquisitiva por usucapião

Importante!!!

O art. 197, I, do Código Civil prevê que não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal.

Essa causa impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC, embora esteja topologicamente inserida no capítulo da prescrição extintiva, também se aplica às prescrições aquisitivas, ou seja, à usucapião.

Assim, em regra, um cônjuge não poderia adquirir por meio de usucapião um bem do outro cônjuge enquanto não houvesse a separação judicial ou divórcio. Isso porque, na vigência da sociedade conjugal, não estaria sendo computado o prazo para fins de usucapião (prescrição aquisitiva) por força do art. 197, I.

Ocorre que, para o STJ, a separação de fato de um casal é suficiente para cessar a causa impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC. Logo, estando o casal separado de fato, é possível iniciar a contagem do prazo para a prescrição aquisitiva do imóvel (usucapião).

Desse modo, a constância da sociedade conjugal, exigida para a incidência da causa impeditiva da prescrição extintiva ou aquisitiva (art. 197, I, do CC/2002), cessará não apenas nas hipóteses de divórcio ou de separação judicial, mas também na hipótese de separação de fato por longo período, tendo em vista que igualmente não subsistem, nessa hipótese, as razões de ordem moral que justificam a existência da referida norma.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.732-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação hipotética: João e Regina são casados. Em 1990, o casal teve uma discussão e Regina expulsou João de casa. Ele ainda tentou retomar a relação, mas não teve êxito. Ela continuou morando na casa, que está registrada em nome de João. Vale ressaltar que João e Regina não fizeram formalmente uma separação judicial ou divórcio. Houve, apenas, a separação de fato. O que é separação de fato? “Separação de fato, singelamente, deve ser entendida como a livre decisão dos cônjuges em pôr fim à sociedade conjugal, sem recurso aos meios legais. Ela põe fim aos direitos, deveres e efeitos do casamento, mas os cônjuges permanecem no estado civil de casados.” (Min. Moura Ribeiro). Segundo Orlando Gomes, a separação de fato caracteriza-se tanto pela existência de elemento subjetivo, quanto objetivo. Este seria a própria separação, passando os cônjuges a viver em tetos distintos, deixando, por outras palavras, de cumprir o dever de coabitação, no mais amplo sentido da expressão. Já o elemento subjetivo é o animus de dar como encerrada a vida conjugal, comportando-se como se o vínculo matrimonial fosse dissolvido (Direito de Família. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 25). Ação de usucapião Em 2020, Regina ajuizou ação de usucapião pedindo para que o Poder Judiciário declarasse que ela adquiriu a propriedade do imóvel onde reside em virtude de estar na posse mansa e pacífica do bem durante todos esses anos.

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Abrindo um parêntese: relação entre a usucapião e a prescrição Alguns autores, especialmente os clássicos, afirmam que a usucapião também pode ser chamada de prescrição aquisitiva. Assim, existiriam em nosso ordenamento jurídico duas formas de prescrição: a extintiva e a aquisitiva. a) Prescrição extintiva (prescrição propriamente dita): faz com que a pessoa perca a pretensão de defender um direito em virtude de ter sido negligente e não ter exercido essa pretensão no prazo previsto na lei. Ex: o indivíduo é credor de alguém, porém demora mais que 5 anos para exigir o pagamento da dívida. b) Prescrição aquisitiva: faz com que a pessoa adquira um determinado direito em virtude de ter ficado na posse daquele bem como se fosse o dono durante alguns anos, período no qual o proprietário original manteve-se inerte e não questionou essa posse. A prescrição aquisitiva é a chamada de usucapião. Ambas têm em comum os elementos “tempo” e “inércia do titular”. A diferença, no entanto, está no fato de que, na primeira espécie, a prescrição gera a extinção do direito e, na segunda, ela acarreta a aquisição do direito. Fechando o parêntese: João apresentou contestação João contestou o pedido afirmando que: - a usucapião é uma forma de prescrição aquisitiva; - assim, o prazo da usucapião nada mais é do que um prazo prescricional pelo fato de o proprietário ter ficado inerte; - ocorre que, neste caso, todos esses anos não podem ser considerados como prazo para aquisição por usucapião; - isso porque como ele (João) e Regina ainda são casados, não corre a prescrição entre eles, nos termos do art. 197, I do CC:

Art. 197. Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; (...)

Primeira pergunta: esse art. 197, I, do CC (que está no capítulo das prescrições extintivas) também se aplica à usucapião (prescrição aquisitiva)? SIM. Essa causa impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC, embora esteja topologicamente inserida no capítulo da prescrição extintiva, também se aplica às prescrições aquisitivas, ou seja, à usucapião. Isso por força do art. 1.244 do CC:

Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.

Desse modo, por força do art. 1.244 do CC, as causas suspensivas e interruptivas da tradicional prescrição extintiva aplicam-se também para a usucapião (prescrição aquisitiva). Por essa razão, em regra, um cônjuge não pode adquirir por meio de usucapião um bem do outro cônjuge enquanto não houver a separação judicial ou divórcio. Isso porque, na vigência da sociedade conjugal, não estaria sendo computado o prazo para fins de usucapião (prescrição aquisitiva) por força do art. 197, I. ++ (Juiz TJ/SP VUNESP 2017) Não sendo proprietário de imóvel, Nelson passa a ocupar como seu, no ano de 2005, imóvel localizado em área urbana de Brasília, com 450 metros quadrados. Ali estabelece sua moradia habituai, tornando pública a posse. O imóvel é de propriedade de Fábio, embaixador brasileiro em atividade na Bélgica desde o ano 2000. Quando retorna ao Brasil no ano de 2008, Fábio se aposenta e fixa residência

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em Santa Catarina. No ano de 2016, Nelson propõe ação de usucapião contra Fábio. Considerando ser incontroverso que Nelson exerce a posse, sem quais quer vícios, assinale a alternativa correta. A) A ação é procedente, pois foram preenchidos todos os requisitos legais da usucapião especial urbana: posse com animus domini, por 5 (cinco) anos, já que Nelson estabeleceu no imóvel sua moradia habitual, sem interrupção e oposição, não sendo proprietário de outro imóvel urbano ou rural. B) A ação é procedente, pois foram preenchidos todos os requisitos legais da usucapião extraordinária: posse com animus domini por 10 (dez) anos, já que Nelson estabeleceu no imóvel sua moradia habitual, sem interrupção ou oposição. C) A ação é improcedente, pois, embora dispensados o justo título e a boa-fé, e tendo a posse sido contínua e pacífica, não foi preenchido o pressuposto temporal de 15 (quinze) anos. D) A ação é improcedente, pois, embora a posse tenha sido exercida com animus domini, de forma contínua e pacífica, faltou o preenchimento do requisito temporal de 10 (dez) anos, em razão da existência de causa impeditiva atinente à ausência de Fábio do país, o que impediu a contagem do prazo da prescrição aquisitiva entre 2005 e 2008.

Gabarito: Letra D Art. 198. Também não corre a prescrição: (...) II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;

O que se entende por “constância da sociedade conjugal” previsto no art. 197, I, do CC? Se houver separação de fato, haverá a extinção da sociedade conjugal? SIM. O Código Civil prevê, no art. 1.571, os casos em que a sociedade conjugal tem fim:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I - pela morte de um dos cônjuges; II - pela nulidade ou anulação do casamento; III - pela separação judicial; IV - pelo divórcio.

Mesmo não estando prevista no rol do art. 1.571, a separação de fato muito prolongada, ou por tempo razoável, também pode ser considerada como causa de dissolução da sociedade conjugal e, em assim sendo, não impede a fluência do prazo prescricional da pretensão de partilha de bens de ex-cônjuges. O intérprete nem sempre deve se apegar somente à literalidade do texto da lei, necessitando também, ao realizar o seu juízo de hermenêutica, perquirir a finalidade da norma, ou seja, a sua razão de ser e o bem jurídico que ela visa proteger, nos exatos termos do art. 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB. É necessário, portanto, ter uma visão holográfica. Qual é a razão de existência do art. 197, I, do CC? A doutrina explica que são razões de ordem moral que impedem que o prazo prescricional corra entre cônjuges, na constância da sociedade conjugal. Entre cônjuges deve existir harmonia e não haveria estabilidade caso a prescrição estivesse correndo, obrigando que um tivesse que ajuizar ações contra o outro, na constância do casamento, para evitar que essa pretensão fosse extinta pela prescrição. Assim, a finalidade do dispositivo é preservar a harmonia e a estabilidade do vínculo matrimonial (bem jurídico protegido). Separação de fato extingue o regime de bens e cessa os deveres matrimoniais A jurisprudência entende que a separação de fato põe fim ao regime matrimonial de bens e acaba com os deveres matrimoniais de coabitação e fidelidade recíproca. Nesse sentido:

Constatada a separação de fato, cessam os deveres conjugais e os efeitos da comunhão de bens. STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 880.229/CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 07/03/2013.

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Separação de fato significa o fim da affectio maritalis A configuração da separação de fato implica o fim da affectio maritalis entre os cônjuges, com a vontade de dar por encerrado o vínculo conjugal e, em assim sendo, o art. 197, I, do CC/02 também deve abranger tal situação fática, que é jurídica.

Em suma:

A separação de fato por longo período afasta a regra de impedimento da fluência da prescrição entre cônjuges prevista no art. 197, I, CC e viabiliza a efetivação da prescrição aquisitiva por usucapião STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.732-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

DOD PLUS

Usucapião de meação, familiar ou por abandono de lar Apesar de o STJ não ter discutido o tema, acho importante lembrar a vocês a respeito da chamada usucapião familiar, prevista no art. 1.240-A do CC:

Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. (...)

++ (DPE/PE 2018 CEBRASPE) Roberto abandonou o lar e sua companheira, Francisca, no Recife - PE e foi para São Paulo - SP, deixando um imóvel urbano de 120 m2, adquirido onerosamente na constância da união estável, mas registrado no cartório de imóveis apenas no nome de Roberto. Francisca não tinha outra propriedade imóvel e residiu no locai ininterruptamente e sem oposição. Após três anos. Roberto voltou ao Recife - PE com o propósito de retirar Francisca do imóvel. Considerando essa situação hipotética, pode-se afirmar que Roberto, por ter abandonado o lar, não terá direito ao imóvel, porque Francisca usucapiu o bem. (certo) ++ (Promotor MP/SP 2019) Jaciara Ferreira exerce, por três anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre um apartamento de cento e cinquenta metros quadrados na cidade de Porto Feliz, o qual utiliza como sua moradia e cuja propriedade dividia com seu ex- cônjuge, Lindomar Silva, que abandonou o lar, não sendo ela proprietária de outro imóvel urbano ou rural. De acordo com o Código Civil brasileiro, o domínio integral do respectivo imóvel será adquirido Jaciara. (certo). ++ (Juiz TJDFT 2014 CEBRASPE): Acerca do direito das coisas e do direito de família, assinale a opção correta à luz do Código Civil: Adquire a propriedade integral por usucapião familiar o ex-cônjuge ou ex-companheiro que exercer posse direta sobre imóvel urbano de até 250 m², utilizando-o para sua moradia ou de sua família, por dois anos ininterruptamente, sem oposição e com exclusividade, cuja propriedade divida com o consorte que tenha abandonado o lar, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (certo) ++ (Promotor MP/MS 2018) Entre cônjuges, na constância da sociedade conjugal, não correrão os prazos de usucapião. Exceção a essa regra é a modalidade de usucapião urbano, para os casos de abandono do lar. (certo)

Logo, podemos afirmar o seguinte:

Em regra, um cônjuge não pode adquirir por meio de usucapião um bem do outro cônjuge enquanto não houver a separação judicial ou divórcio. Isso porque, na vigência da sociedade conjugal, não estaria sendo computado o prazo para fins de usucapião (prescrição aquisitiva) por força do art. 197, I. Exceção 1: usucapião por abandono de lar (art. 1.240-A do CC); Exceção 2: separação de fato por longo período.

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DIREITOS REAIS (USUCAPIÃO) A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da

usucapião especial urbana sobre a totalidade da área

Importante!!!

A usucapião especial urbana apresenta como requisitos a posse ininterrupta e pacífica, exercida como dono, o decurso do prazo de cinco anos, a dimensão da área (250 m² para a modalidade individual e área superior a esta, na forma coletiva), a moradia e o fato de não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

O uso misto da área a ser adquirida por meio de usucapião especial urbana não impede seu reconhecimento judicial, se a porção utilizada comercialmente é destinada à obtenção do sustento do usucapiente e de sua família.

É necessário que a área pleiteada seja utilizada para a moradia do requerente ou de sua família, mas a lei não proíbe que o autor a utilize também para seu sustento.

Assim, o fato de o autor da ação de usucapião utilizar uma parte do imóvel para uma atividade comercial que serve ao sustento da família domiciliada no imóvel não inviabiliza a prescrição aquisitiva buscada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Usucapião Usucapião é... - um instituto jurídico por meio do qual a pessoa que fica na posse de um bem (móvel ou imóvel) - por determinados anos - agindo como se fosse dono - adquire a propriedade deste bem ou outros direitos reais a ele relacionados (exs: usufruto, servidão) - desde que cumpridos os requisitos legais. Obs: se estiver sem tempo, pode pular o quadro abaixo e ir direto para a situação hipotética. Modalidades de usucapião

USUCAPIÃO PRAZO E CARACTERÍSTICAS

1) EXTRAORDINÁRIA (art. 1.238 do CC)

Prazos: • 15 anos de posse (regra) • 10 anos O prazo da usucapião extraordinária será de 10 anos se: a) o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual; OU b) nele tiver realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé. Não importa o tamanho do imóvel.

2) ORDINÁRIA (art. 1.242 do CC)

Prazos: • 10 anos (caput) • 5 anos (parágrafo único) O prazo da usucapião ordinária será de apenas 5 anos se: a) o imóvel tiver sido adquirido onerosamente com base no registro e este registro foi cancelado depois; e

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b) desde que os possuidores nele tiverem estabelecido moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico. Ex: o indivíduo compra um imóvel sem saber que havia um vício na escritura. Nele constrói uma casa ou uma loja. Essa hipótese do art. 1.242, parágrafo único (prazo de 5 anos) é chamada por alguns autores de usucapião tabular (veja item 8 abaixo). Exige justo título e boa-fé. Não importa o tamanho do imóvel.

3) ESPECIAL RURAL (PRO LABORE) (AGRÁRIA) (art. 1.239 do CC) (art. 191 da CF/88)

Requisitos: a) 50 hectares: a pessoa deve estar na posse de uma área rural de, no máximo, 50ha; b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém; c) tornar a terra produtiva: o possuidor deve ter tornado a terra produtiva por meio de seu trabalho ou do trabalho de sua família, tendo nela sua moradia. Em outras palavras, o possuidor, além de morar no imóvel rural, deve ali desenvolver alguma atividade produtiva (agricultura, pecuária, extrativismo etc). d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural). Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé.

4) ESPECIAL URBANA (PRO MISERO) (PRO HABITATIONE) (art. 1.240 do CC) (art. 9º do Estatuto da Cidade) (art. 183 da CF/88)

Requisitos: a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2; b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém; c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua família; d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural). Observações: • Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé; • Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez; • É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho do imóvel é menor que 250m2, não se incluirá a área comum, como salão de festas etc, mas tão somente a parte privativa); • O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

5) ESPECIAL URBANA COLETIVA (USUCAPIÃO FAVELADA) (art. 10 do Estatuto da Cidade)

Requisitos: a) existência de um núcleo urbano informal; b) esse núcleo deve viver em um imóvel cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a 250m2; c) esse núcleo deve estar na posse do imóvel há mais de 5 anos, sem oposição; d) os possuidores não podem ser proprietários de outro imóvel urbano ou rural. Neste caso, poderá haver uma usucapião coletiva da área. Observações: • O possuidor pode, para o fim de contar o prazo de 5 anos, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. • A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.

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• Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas. • O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. • As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes.

6) RURAL COLETIVA (art. 1.228, §§ e 4º e 5º do CC)

O proprietário pode ser privado da coisa se: - um considerável número de pessoas - estiver por mais de 5 anos - na posse ininterrupta e de boa-fé - de extensa área - e nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. Neste caso, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. Alguns doutrinadores, especialmente civilistas, afirmam que esse instituto tem natureza jurídica de “usucapião”. Outros autores, no entanto, sustentam que se trata de uma hipótese de “desapropriação”, considerando a posição topográfica (o § 3º do art. 1.228 está tratando sobre desapropriação) e o fato de se exigir pagamento de indenização.

6) ESPECIAL URBANA RESIDENCIAL FAMILIAR (POR ABANDONO DE LAR OU CONJUGAL) (art. 1.240-A do CC)

Requisitos: a) posse direta por 2 anos ininterruptamente e sem oposição, com exclusividade; b) sobre imóvel urbano de até 250m² c) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar; d) utilização do imóvel para a sua moradia ou de sua família; e) não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Observações: • esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez; • o prazo de 2 anos é contado do abandono do lar; • aplica-se ao casamento e à união estável (hetero ou homoafetiva).

7) INDÍGENA (art. 33 do Estatuto do Índio)

Requisitos: a) posse da terra por índio (integrado ou não) b) por 10 anos consecutivos c) devendo ocupar como se fosse próprio trecho de terra inferior a 50 hectares. Não é possível a usucapião indígena de: • terras do domínio da União; • terras ocupadas por grupos tribais; • áreas reservadas segundo o Estatuto do Índio; • terras de propriedade coletiva de grupo tribal.

8) TABULAR (CONVALESCENÇA REGISTRAL) (art. 214, § 5º, da Lei 6.015/73)

Trata-se da possibilidade de o réu, em uma ação de invalidade de registro público, alegar a usucapião em seu favor. O juiz, na mesma sentença que reconhece a invalidade do registro, declara a ocorrência de usucapião, concedendo ao réu a propriedade do bem. A usucapião tabular tem relação com a usucapião ordinária do art. 1.242, parágrafo único, porque exige do possuidor justo título e boa-fé.

9) DE QUILOMBOLAS (art. 68 do ADCT)

O art. 68 do ADCT da CF/88 confere proteção especial aos territórios ocupados pelos remanescentes quilombolas. Confira:

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Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. O que são as terras dos quilombolas? São as áreas ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos e utilizadas por este grupo social para a sua reprodução física, social, econômica e cultural. O que são remanescentes das comunidades dos quilombos? Existe uma grande discussão antropológica sobre isso, mas, de maneira bem simples, os grupos que hoje são considerados remanescentes de comunidades de quilombos são agrupamentos humanos de afrodescendentes que se formaram durante o sistema escravocrata ou logo após a sua extinção. Alguns doutrinadores afirmam que esse instituto teria natureza jurídica de “usucapião”. Essa, contudo, não é a posição que prevalece, considerando que o fundamento jurídico para esse direito de propriedade não é a posse mansa, pacífica e por determinado prazo. A fonte desse direito é uma decisão do legislador constituinte. A previsão do art. 68 do ADCT foi uma forma que o constituinte encontrou de homenagear “o papel protagonizado pelos quilombolas na resistência ao injusto regime escravista” (Min. Rosa Weber).

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos do art. 1.240 do Código Civil:

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

No curso do processo ficou comprovado que o imóvel possui 160m2 de área total, sendo que João e sua família moram em apenas 100m2. Nos 60m2 restantes, que ficam na parte de frente da casa (antiga sala), João fez um pequeno “comércio”, onde conserta bicicletas e vende acessórios (bicicletaria). Vale ressaltar que se trata do mesmo imóvel, com uma única entrada e saída para a família e os clientes da bicicletaria. O juiz, argumentando que a usucapião especial urbana tutela a moradia, reconheceu a usucapião unicamente de 100m2 porque essa era a parte do imóvel destinado à moradia. Agiu corretamente o magistrado? NÃO. A usucapião especial urbana é disciplinada pelo art. 183, §§ 1º ao 3º da CF/88 e pelo art. 1.240, §§ 1º e 2º do Código Civil, sendo ainda regulamentada de forma mais detalhada pelo Estatuto da Cidade. Em nenhum desses dispositivos é feita a exigência da exclusividade no uso residencial. Assim, o fato de o imóvel também ser utilizado para outros fins (além do residencial) não é argumento suficiente para impedir a usucapião especial urbana. Isso porque o exercício de uma atividade no mesmo terreno não o transformou em exclusivamente comercial, considerando que o autor sempre manteve ali também o seu domicílio. O que a lei exige é que o imóvel pleiteado seja utilizado para a moradia do autor ou de sua família, mas não se proíbe que essa área seja produtiva, especialmente quando é utilizada para o sustento do próprio requerente.

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O art. 1.240 do CC não exige a destinação exclusiva residencial do bem a ser usucapido. Desse modo, o exercício simultâneo de pequena atividade comercial pela família domiciliada no imóvel objeto do pleito não inviabiliza a usucapião buscada. Em suma:

A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da usucapião especial urbana sobre a totalidade da área. STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

DOD DICAS

Tente entender/memorizar os requisitos da usucapião especial urbana porque são constantemente exigidos nas provas. Veja abaixo. Para se ter direito à usucapião especial urbana, é necessário preencher os seguintes requisitos: a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2; b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém; c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua família; d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural). Algumas observações: • Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé; • Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez; • É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho do imóvel é menor que 250m2, não se incluirá a área comum, como salão de festas etc, mas tão somente a parte privativa); • O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. Veja como o tema é cobrado nas provas para ativar sua atenção no momento de estudar: ++ (Promotor MP/PR 2019) Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (certo) ++ (Promotor MP/MS 2018) Aquele que possuir como sua área urbana até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (certo) ++ (Promotor MP/SC 2016) Aquele que possuir, como sua, área urbana ou rural, de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (errado) ++ (Promotor MP/RS 2017) Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural, sendo que em caso de possuidor casado, o título será conferido necessariamente ao cônjuge varão. (errado)

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ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA O credor fiduciário regido pelo DL 911/1969, em caso de inadimplemento contratual, pode

promover a inscrição dos nomes dos devedores solidários em bancos de dados de proteção ao crédito, independentemente de optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução

Importante!!!

Em caso de mora do mutuário, o credor mutuante poderá:

1) ingressar com ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69); ou

2) ajuizar uma ação de execução (arts. 4º e 5º do DL 911/69).

Assim, diz-se que, na hipótese de inadimplemento ou mora no cumprimento das obrigações contratuais pelo devedor, o credor pode optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução.

Vale ressaltar que o credor fiduciário, na hipótese de inadimplemento do contrato, não é obrigado a promover a venda do bem alienado fiduciariamente, antes de proceder à inscrição dos nomes dos devedores em cadastros de proteção ao crédito.

Assim, independentemente da via eleita pelo credor para a satisfação de seu crédito, não há ilicitude na inscrição do nome do devedor e seu avalista nos órgãos de proteção ao crédito, ante o incontroverso inadimplemento da obrigação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.824-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Alienação fiduciária “A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565). Regramento O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema: • alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97; • alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de alienação fiduciária. Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC se aplicam apenas de forma subsidiária:

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.

Resumindo:

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS fungíveis e

infungíveis quando o credor fiduciário for instituição

financeira

Alienação fiduciária de bens MÓVEIS infungíveis

quando o credor fiduciário for pessoa natural ou jurídica (sem

ser banco)

Alienação fiduciária de bens IMÓVEIS

Lei nº 4.728/65 Decreto-Lei nº 911/69

Código Civil de 2002 (arts. 1.361 a 1.368-B)

Lei nº 9.514/97

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ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO DL 911/69

Imagine a seguinte situação hipotética: Antônio quer comprar um carro de R$ 30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. Assim, o Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel é do Banco “X” (constará “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio. O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)? Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo DL 911/69): Notificação do devedor O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de busca e apreensão. Confira:

Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Súmula 245-STJ: A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação do valor do débito.

Jurisprudência em Teses do STJ (Ed. 14): 10) A mora do devedor, nos contratos de alienação fiduciária, constitui-se ex re, decorrendo do simples vencimento do prazo para pagamento.

Nos contratos de alienação fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei n. 911/1969, a mora se configura automaticamente quando vencido o prazo para o pagamento (mora ex re), mas o deferimento da busca e apreensão tem como pressuposto a comprovação desse fato por meio de notificação extrajudicial do devedor fiduciante. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 876.487/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/09/2016.

Veja como essa sutil distinção foi cobrada em prova: ++ (Juiz TJ/SP 2017 VUNESP) Na alienação fiduciária em garantia, regida pelo Decreto-lei nº 911/1969, A) a mora e a busca e apreensão do bem estão condicionadas à prévia notificação do devedor. B) a mora se configura com o vencimento da obrigação, mas a busca e apreensão do bem está condicionada à prévia notificação do devedor. C) a notificação do devedor é facultativa, mas necessária para a preservação de direitos de terceiros. D) não há necessidade de prévia notificação do devedor para a busca e apreensão do bem, sendo esta decorrência imediata do inadimplemento.

Gabarito: letra B

Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada por intermédio do Cartório de RTD.

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O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor? NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário (§ 2º do art. 2º do DL 911/69). Para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do devedor, ainda que não pessoalmente. Ajuizamento de ação contra o devedor Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) terá duas opções: 1) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior; ou 2) ajuizar uma ação de execução (arts. 4º e 5º do DL 911/69). Assim, diz-se que, na hipótese de inadimplemento ou mora no cumprimento das obrigações contratuais pelo devedor, o credor pode optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução. Vale ressaltar que as ações de busca e apreensão e de execução não podem ser ajuizadas concomitantemente (STJ REsp 576.081/SP). Caberá, portanto, ao credor fiduciário optar pelo ajuizamento de apenas uma delas. Na esmagadora maioria dos casos, o mutuante prefere ingressar com a ação de busca e apreensão porque é muito mais vantajosa e eficiente do que propor uma execução. Inscrição do nome do devedor no cadastro de inadimplentes Vale ressaltar que o credor fiduciário pode inscrever o nome do devedor nos cadastros de proteção ao crédito (exs: SPC/SERASA). Essa inscrição pode ocorrer mesmo que o credor não tenha ainda tentado vender o bem alienado fiduciariamente. Foi o que decidiu o STJ:

O credor fiduciário regido pelo DL 911/1969, em caso de inadimplemento contratual, pode promover a inscrição dos nomes dos devedores solidários em bancos de dados de proteção ao crédito, independentemente de optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução. O credor fiduciário, na hipótese de inadimplemento do contrato, não é obrigado a promover a venda do bem alienado fiduciariamente antes de proceder à inscrição dos nomes dos devedores em cadastros de proteção ao crédito. Assim, independentemente da via eleita pelo credor para a satisfação de seu crédito, não há ilicitude na inscrição do nome do devedor e seu avalista nos órgãos de proteção ao crédito, ante o incontroverso inadimplemento da obrigação. A inscrição do nome do devedor em bancos de dados de proteção ao crédito configura exercício regular de direito do credor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.824-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

PRISÃO CIVIL Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

Importante!!!

Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar

Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em decorrência de dívidas alimentícias.

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Informativo 671-STJ (05/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27

O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus desaconselha a manutenção do devedor em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso.

Assim, diante do iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas autoridades públicas em reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar em prisão domiciliar.

STJ. 4ª Turma. HC 561.257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

3ª Turma do STJ: suspensa

Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos devedores (e não assegurar a prisão domiciliar).

Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19), admite-se, excepcionalmente, a suspensão da prisão dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado.

Assegurar aos presos por dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não cumpre o mandamento legal e que fere, por vias transversas, a própria dignidade do alimentando.

Por esse motivo, não é plausível substituir o encarceramento pelo confinamento social, o que, aliás, já é a realidade da maioria da população, isolada em prol do bem-estar de toda a coletividade.

A excepcionalidade da situação emergencial de saúde pública permite o diferimento provisório da execução da obrigação cível enquanto pendente a pandemia.

A prisão civil suspensa terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar remanesce íntegra, pois não se olvida que, afinal, também está em jogo a dignidade do alimentando, em regra, vulnerável.

STJ. 3ª Turma. HC 574.495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra:

Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

Pandemia decorrente da Covid-19 A pandemia decorrente da Covid-19 levou os governos a adotarem uma série de medidas de isolamento social para tentar conter a transmissão da doença. Uma das preocupações era com a transmissão da doença entre as pessoas presas. Como as unidades prisionais são superlotadas, o receio era o de que, estando um dos presos infectado, ele transmitisse a doença para todos os demais de sua cela ou ala. O CNJ editou a Recomendação nº 62/2020 recomendando aos Tribunais e magistrados a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus – Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo. Prisão civil decorrente de alimentos Em razão do cenário acima exposto, iniciou-se uma discussão para saber se as prisões civis decorrentes de atraso no pagamento da pensão alimentícia poderiam continuar sendo decretadas ou se, diante do risco à saúde pública, seria mais adequado suspendê-las enquanto perdurasse os efeitos da pandemia.

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O que o STJ decidiu sobre o tema?

COMO FICA A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19?

4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em decorrência de dívidas alimentícias.

3ª Turma do STJ: suspensa Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos devedores (e não assegurar a prisão domiciliar).

O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus desaconselha a manutenção do devedor em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso. Assim, diante do iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas autoridades públicas em reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar em prisão domiciliar. STJ. 4ª Turma. HC 561.257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671). Recomendação nº 62/2020-CNJ: Art. 6º Recomendar aos magistrados com competência cível que considerem a colocação em prisão domiciliar das pessoas presas por dívida alimentícia, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus.

Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19), admite-se, excepcionalmente, a suspensão da prisão dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado. Assegurar aos presos por dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não cumpre o mandamento legal e que fere, por vias transversas, a própria dignidade do alimentando. Por esse motivo, não é plausível substituir o encarceramento pelo confinamento social, o que, aliás, já é a realidade da maioria da população, isolada em prol do bem-estar de toda a coletividade. A excepcionalidade da situação emergencial de saúde pública permite o diferimento (adiamento) provisório da execução da obrigação cível enquanto durar a pandemia. A prisão civil suspensa terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar remanesce íntegra. Essa medida resguarda a dignidade do alimentando que, em regra, é vulnerável. STJ. 3ª Turma. HC 574.495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Lei nº 14.010/2020 Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra:

Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

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DIREITO DO CONSUMIDOR

CONCEITO DE CONSUMIDOR Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a

sociedade anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários

Caso concreto: João ajuizou ação contra o Itaú Unibanco alegando que é acionista investidor da instituição financeira e que deveria ter recebido dividendos correspondentes às suas ações preferenciais e que eles não foram pagos pelo banco. Afirmou que se trata de relação de consumo e que, portanto, deveria ser aplicado o CDC.

O STJ não concordou com a tese.

De acordo com a teoria finalista ou subjetiva, adotada pelo STJ, o conceito de consumidor, para efeito de incidência das normas protetivas do CDC, leva em consideração a condição de destinatário final do produto ou serviço, nos termos do art. 2º do código.

Assim, segundo a teoria subjetiva ou finalista, destinatário final é aquele que ultima a atividade econômica, isto é, que retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria.

O investidor, ao adquirir ações no mercado imobiliário visando o recebimento de lucros e dividendos, não está abrangido pela proteção do CDC.

Na atividade de aquisição de ações não é possível identificar nenhuma prestação de serviço por parte da instituição financeira, havendo sim uma relação de cunho puramente societário e empresarial.

Situação diferente ocorreria se a ação envolvesse o serviço de corretagem de valores e título mobiliários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.098-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuizou ação contra o Itaú Unibanco S.A., alegando que é acionista investidor da instituição financeira e que deveria ter recebido dividendos correspondentes às suas ações preferenciais e que eles não foram pagos pelo banco. Afirmou que se trata de relação de consumo e que, portanto, deveria ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor. A relação acima narrada é regida realmente pelo CDC? NÃO. Conceito de consumidor e teoria finalista O art. 2º do CDC prevê o seguinte:

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Destinatário final, segundo a teoria subjetiva ou finalista, adotada pelo STJ, é aquele que ultima a atividade econômica, ou seja, é a pessoa que retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria, não havendo, portanto, a reutilização ou o reingresso dele no processo produtivo, seja na revenda, no uso profissional, na transformação do bem por meio de beneficiamento ou montagem, ou de outra forma indireta.

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Por isso, fala-se em destinatário final econômico (e não apenas fático) do bem ou serviço, haja vista que não basta ao consumidor ser adquirente ou usuário, mas deve haver o rompimento da cadeia econômica com o uso pessoal, a impedir, portanto, a reutilização dele no processo produtivo, seja na revenda, no uso profissional, na transformação por meio de beneficiamento ou montagem ou em outra forma indireta. A relação de consumo (consumidor final) não pode ser confundida com relação de insumo (consumidor intermediário). No caso concreto, a discussão envolve a de aquisição de ações da companhia (sociedade anônima) no mercado mobiliário, de forma que o objetivo primordial do adquirente era a obtenção de lucro. Essa característica afasta a condição de consumidor do investidor acionista. Conceito de fornecedor O art. 3º do CDC, por sua vez, traz a definição de fornecedor:

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Vale ressaltar que o CDC, em regra, se aplica para as relações jurídicas envolvendo instituições financeiras:

Súmula 297-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

No entanto, esse caso não é regido pelo CDC porque o Banco não prestou nenhum serviço à pessoa física. Quando João adquiriu ações do Itaú, não houve, por parte da instituição financeira, a prestação de qualquer serviço em favor do adquirente. Essa relação é, portanto, de cunho puramente societário e empresarial. Diferente seria se na ação judicial estivesse sendo discutido eventual serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários. Aí sim haveria um serviço sendo prestado, de forma que poderia ser cogitada a aplicação do CDC:

Deve ser reconhecida a relação de consumo existente entre a pessoa natural, que visa a atender necessidades próprias, e as sociedades que prestam, de forma habitual e profissional, o serviço de corretagem de valores e títulos mobiliários. Ex: João contratou a empresa “Dinheiro S.A Corretora de Valores” para que esta intermediasse operações financeiras no mercado de capitais. Em outras palavras, João contratou essa corretora para investir seu dinheiro na Bolsa de Valores. A relação entre João e a corretora é uma relação de consumo. STJ. 3ª Turma. REsp 1599535-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/3/2017 (Info 600).

Como não estão preenchidos os requisitos do conceito de consumidor e fornecedor, não há que se falar em relação de consumo no presente caso.

Em suma:

Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários. STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.098-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info 671).

No mesmo sentido:

Enunciado nº 19 da I Jornada de Direito Comercial: Não se aplica o CDC às relações entre sócios e acionistas ou entre eles e a sociedade.

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RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO O laboratório tem responsabilidade objetiva na ausência de prévia informação qualificada quanto aos

possíveis efeitos colaterais da medicação, ainda que se trate do chamado risco de desenvolvimento

Importante!!!

O risco inerente ao medicamento impõe ao fabricante um dever de informar qualificado (art. 9º do CDC), cuja violação está prevista no § 1º, II, do art. 12 do CDC como hipótese de defeito do produto, que enseja a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo evento danoso dele decorrente.

O ordenamento jurídico não exige que os medicamentos sejam fabricados com garantia de segurança absoluta, até porque se trata de uma atividade de risco permitido, mas exige que garantam a segurança legitimamente esperável, tolerando os riscos considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, desde que o consumidor receba as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º do CDC).

O fato de o uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por si só, não configura defeito do produto se o usuário foi prévia e devidamente informado e advertido sobre tais riscos inerentes, de modo a poder decidir, de forma livre, refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além de ter a possibilidade de mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em função dele.

O risco do desenvolvimento, entendido como aquele que não podia ser conhecido ou evitado no momento em que o medicamento foi colocado em circulação, constitui defeito existente desde o momento da concepção do produto, embora não perceptível a priori, caracterizando, pois, hipótese de fortuito interno.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.774.372-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação hipotética: O laboratório farmacêutico Boheringer fabrica e comercializa o medicamento Sifrol, indicado para tratamento da doença de Parkson. Maria fez uso do medicamento e, segundo alega, isso lhe causou, como efeito colateral, um transtorno mental chamado “jogo patológico” (F63.0), mais popularmente conhecido como “vício em jogar”. Essa compulsão desenvolvida resultou na dilapidação de seu patrimônio. Diante disso, ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra o fabricante. Vale ressaltar que existem diversos estudos científicos que demonstram a possível relação do uso deste medicamento e o desenvolvimento do transtorno de “jogo patológico”. Há, inclusive, um alerta da ANVISA a esse respeito.

O laboratório foi condenado a indenizar? SIM.

Acidente de consumo O caso narrado envolve uma relação regida pelo Código de Defesa do Consumidor, tratando-se de típica hipótese de acidente de consumo. A situação configura “fato do produto” tendo em vista que o medicamento não ofereceu a segurança que se podia esperar. Risco inerente aos medicamentos Importante mencionar que todo medicamento traz em si, em maior ou menor grau, riscos à saúde ou à segurança do consumidor. Esses riscos são intrínsecos aos medicamentos, mas são razoavelmente aceitos pelas pessoas diante dos benefícios que se podem obter.

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Esse risco exige um dever especial de informação Como os medicamentos apresentam esse risco inerente (são produtos potencialmente perigosos), o fornecedor possui um dever de informar qualificado. Isso significa que o fornecedor deverá prestar esclarecimentos ostensivos e adequados a respeito da sua nocividade ou periculosidade. Esse dever encontra-se fixado no art. 9º do CDC:

Art. 9º O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.

A violação do dever de informar qualificado está prevista no CDC como uma hipótese de defeito do produto, ensejando a responsabilidade objetiva do fornecedor:

Art. 12 (...) § 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: (...) II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

Assim, segundo a doutrina e o STJ, os danos decorrentes da periculosidade inerente dos medicamentos não dão ensejo ao dever de indenizar, salvo se houver defeito de informação. Ainda que o medicamento tenha causado danos, só haverá responsabilidade se ficar comprovado que o produto era defeituoso Para a responsabilização do fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado que os danos foram causados pelo medicamento. É necessário que fique demonstrado que o produto era defeituoso. O defeito do produto pode ser: •Defeito de concepção técnica: erro no projeto, utilização de material inadequado ou de componente prejudicial à saúde ou à segurança do consumidor; •Defeito de fabricação: falha na produção; ou •Defeito de informação: prestação de informação insuficiente ou inadequada. O fato de o uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por si só, não configura defeito do produto se o usuário foi prévia e devidamente informado e advertido sobre tais riscos inerentes, de modo a poder decidir, de forma livre, refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além de ter a possibilidade de mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em função dele. Conforme explica Sérgio Cavalieri Filho:

“O dever de informar, portanto, pode também ser fundamento da responsabilidade do fornecedor, cuja violação pode levá-lo a ter que responder pelos riscos inerentes, porém desconhecidos da sociedade de consumo; nesse caso, a responsabilidade não tem por fundamento um defeito de segurança do produto ou do serviço, mas o defeito de informação ou de comercialização, que envolve a apresentação, a publicidade e a informação adequada acerca da sua nocividade ou periculosidade. É por isso, por exemplo, que determinados medicamentos devem indicar na embalagem ou na bula todos os efeitos colaterais que podem causar, e só podem ser vendidos com prescrição médica.” (Programa de responsabilidade civil. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2019. p. 613)

Voltando ao caso concreto No ano em que a autora começou a fazer uso do Sifrol, na bula do remédio não mencionava a possibilidade de o uso do medicamento causar dependência compulsiva por jogos. Essa informação só veio a ser acrescentada tempos depois.

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Logo, houve defeito do produto por não informar na bula os possíveis efeitos colaterais da medicação que a autora estava utilizando, o que só veio a ocorrer posteriormente. Um dos argumentos do laboratório era o de que não haveria dever de indenizar em razão da aplicação da teoria do risco do desenvolvimento (entendido como aquele que não podia ser conhecido ou evitado no momento em que o medicamento foi colocado em circulação). Essa alegação foi acolhida pelo STJ? NÃO. O risco do desenvolvimento, entendido como aquele que não podia ser conhecido ou evitado no momento em que o medicamento foi colocado em circulação, constitui defeito existente desde o momento da concepção do produto, embora não perceptível a priori. Trata-se, portanto, de hipótese de fortuito interno, que não exclui o dever de indenizar. O Código de Defesa do Consumidor não incluiu os riscos de desenvolvimento entre as causas exonerativas da responsabilidade do fornecedor, riscos estes que nada mais são do que espécies do gênero defeito de concepção. Em suma:

O laboratório tem responsabilidade objetiva na ausência de prévia informação qualificada quanto aos possíveis efeitos colaterais da medicação, ainda que se trate do chamado risco de desenvolvimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.774.372-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

DOD DICA

Um fator determinante do caso acima narrado foi o fato de não ter havido informação qualificada. Se a reação adversa constasse expressamente na bula, a solução provavelmente seria diferente. Nesse sentido:

Para a responsabilização do fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado que os danos foram causados pelo medicamento. O defeito do produto deve apresentar-se, concretamente, como sendo o causador do dano experimentado pelo consumidor. Em se tratando de produto de periculosidade inerente (medicamento com contraindicações), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis, eventual dano por ele causado ao consumidor não enseja a responsabilização do fornecedor. Isso porque, neste caso, não se pode dizer que o produto é defeituoso. STJ. 3ª Turma. REsp 1599405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/4/2017 (Info 603).

++ (Juiz TJ/RS Vunesp 2018) Paciente com insuficiência renal grave faleceu em decorrência de ingerir, por orientação médica, um anti-inflamatório, cuja bula continha informações de possíveis reações adversas e a ocorrência de doenças graves renais. O laboratório, fornecedor do produto, A) não responde, pois o produto tem periculosidade inerente (medicamento), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis. B) reponde objetivamente pela teoria do risco do empreendimento ou da atividade. C) responde objetivamente, por ser causador de um acidente de consumo. D) responde objetivamente pelos riscos do produto, pelo simples fato de tê-lo colocado no mercado. E) responde subjetivamente, pois se trata de produto defeituoso.

Gabarito: Letra A

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OFERTA Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo

Importante!!!

Caso concreto: em decorrência de uma falha no site da empresa de turismo Decolar.com, constou que duas passagens aéreas, ida e volta, de Brasília para Amsterdã (Holanda) custariam cerca de R$ 1 mil. Um casal tentou efetuar a compra, fazendo uma reserva no site. Dois dias depois, contudo, eles receberam um e-mail da empresa explicando que houve uma falha, cancelando a reserva. Não houve necessidade de estorno no cartão de crédito, pois a cobrança não foi feita no momento da reserva.

Os consumidores ajuizaram ação pedindo a emissão dos bilhetes no valor que havia sido ofertado.

O STJ, entretanto, não acolheu o pedido. Para o Tribunal, o erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem afastar a falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta.

O Código de Defesa do Consumidor não é somente um conjunto de artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de tudo, ele é um instrumento legal que pretende harmonizar as relações entre fornecedores e consumidores, sempre com base nos princípios da boa-fé e do equilíbrio contratual.

No caso, os consumidores promoveram a reserva de bilhetes aéreos com destino internacional a preço muito aquém do praticado por outras empresas aéreas, não tendo sequer havido a emissão dos bilhetes eletrônicos (e-tickets) que pudessem formalizar a compra. Agrega-se o fato de que os valores sequer foram debitados do cartão de crédito e, em curto período, os consumidores receberam e-mail informando a não conclusão da operação.

Nesse contexto, é inadmissível que, diante de inegável erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços, possa se reconhecer a falha da prestação dos serviços das empresas, que prontamente impediram o lançamento de valores na fatura do cartão de crédito utilizado, informando, ainda, com antecedência necessária ao voo, o cancelamento da operação. Por conseguinte, não há que se falar em violação do princípio da vinculação da oferta (art. 30 do CDC).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.794.991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: João e sua namorada verificaram no site da empresa de turismo Decolar.com que duas passagens aéreas, ida e volta, de Brasília para Amsterdã (Alemanha) estavam custando cerca de R$ 1 mil. Imediatamente, o casal tentou efetuar a compra, fazendo uma reserva no site. Dois dias depois, contudo, eles receberam um e-mail da empresa explicando que houve um erro no sistema, que mostrou o preço errado. Em razão disso, estava cancelada a reserva. Vale ressaltar que não houve necessidade de estorno no cartão de crédito, pois a cobrança não foi feita no momento da reserva. Os consumidores ajuizaram ação pedindo a emissão dos bilhetes no valor que havia sido ofertado, por força do art. 30 do CDC:

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

A questão chegou até o STJ. O Tribunal acolheu o pedido dos autores? NÃO.

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O erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem afastar a falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta. STJ. 3ª Turma. REsp 1.794.991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

O Código de Defesa do Consumidor não é somente um conjunto de artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de tudo, ele é um instrumento legal que pretende harmonizar as relações entre fornecedores e consumidores, sempre com base nos princípios da boa-fé e do equilíbrio contratual. No caso, os consumidores promoveram a reserva de bilhetes aéreos com destino internacional a preço muito aquém do praticado por outras empresas aéreas, não tendo sequer havido a emissão dos bilhetes eletrônicos (e-tickets) que pudessem formalizar a compra. Agrega-se o fato de que os valores sequer foram debitados do cartão de crédito e, em curto período, os consumidores receberam e-mail informando a não conclusão da operação. Nesse contexto, é inadmissível que, diante de inegável erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços, possa se reconhecer a falha da prestação dos serviços das empresas, que prontamente impediram o lançamento de valores na fatura do cartão de crédito utilizado, informando, ainda, com antecedência necessária ao voo, o cancelamento da operação. Por conseguinte, não há que se falar em violação do princípio da vinculação da oferta (art. 30 do CDC).

DOD PLUS

Princípio da vinculação contratual da oferta O caso acima explicado envolve o chamado “princípio da vinculação contratual da oferta”. Segundo esse princípio, a oferta possui caráter vinculante e, como tal, cria vínculo entre o fornecedor e o consumidor, surgindo uma obrigação pré-venda, no qual deve o fornecedor se comprometer a cumprir o que foi ofertado (STJ. 2ª Turma. REsp 1370708/RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/04/2015). Confira como essa regra geral é cobrada nas provas: ++ (Promotor MP/RR 2017 CEBRASPE) O princípio da vinculação da oferta faz surgir uma obrigação pré-contratual do fornecedor do produto ou serviço. (certo)

++ (Procurador ALERJ 2017) Foi veiculada publicidade de determinado fabricante de automóveis afirmando que, na compra de certo modelo, o comprador ganharia uma viagem para Nova Iorque, com acompanhante, incluindo passagem aérea, estadia em Hotel quatro estrelas e traslado. Ferdinaldo, motivado pela propaganda, foi até a concessionária e, após negociar o preço e as condições de pagamento, adquiriu o veículo. Nada foi mencionado a respeito da viagem. Alguns dias depois Ferdinaldo retornou à concessionária para agendar sua viagem em companhia de sua esposa, quando foi informado de que não teria direito ao benefício por não ter sido pactuado no momento da compra do carro. Sobre o caso, é correto afirmar que Ferdinaldo: A) tem direito à viagem, já que a publicidade obriga o fornecedor e integra o contrato, independentemente de ter constado dos seus termos; B) não tem direito à viagem, já que não houve inclusão expressa da mesma no momento do contrato, devendo prevalecer o princípio da relatividade dos contratos; C) não tem direito à viagem, já que não houve inclusão expressa da mesma no momento do contrato, devendo prevalecer o princípio da obrigatoriedade dos contratos; D) tem direito à viagem, desde que pague pelo seu custo, funcionando a fabricante tão somente como agente de turismo; E) não tem direito à viagem, já que absolutamente ilícita e proibida a venda casada.

Gabarito: Letra A

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Exceção: erro grosseiro Alguns doutrinadores apontam que a oferta não terá caráter vinculante se ela contiver um erro grosseiro. Nesse sentido é a lição de Leonardo Garcia:

“Em respeito ao princípio da boa-fé objetiva, segundo o qual as partes (fornecedor e consumidor) deverão agir com base na lealdade e confiança, tem-se admitido o chamado ‘erro grosseiro’ como forma de não responsabilizar o fornecedor. O erro grosseiro é aquele erro latente, que facilmente o consumidor tem condições de verificar o equívoco, por fugir ao padrão normal do que usualmente acontece.” (Direito do Consumidor. 14ª ed., Salvador: Juspodivm, 2020, p. 241).

Foi justamente o caso acima julgado pelo STJ. Veja como o tema será exigido em suas futuras provas: ++ O erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem afastar a falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta. (certo)

PLANO DE SAÚDE O prazo para execução individual de sentença proferida contra

planos de saúde em ação civil pública é de cinco anos

Importante!!!

Na falta de dispositivo legal específico para a ação civil pública, aplica-se, por analogia, o prazo de prescrição da ação popular, que é o quinquenal (art. 21 da Lei nº 4.717/65), adotando-se também tal lapso na respectiva execução, a teor da Súmula 150 do STF.

A lacuna da Lei nº 7.347/85 é melhor suprida com a aplicação de outra legislação também integrante do microssistema de proteção dos interesses transindividuais, como os coletivos e difusos, a afastar os prazos do Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais homogêneos.

Assim, a despeito da existência de recurso especial julgado sob o rito dos recursos repetitivos sobre a prescrição trienal para ações de cobrança contra plano de saúde, nota-se que esse versou sobre as ações ordinárias individuais, de modo que o entendimento referente à aplicação do prazo quinquenal às tutelas coletivas é específico e, consequentemente, prevalece no caso.

STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.807.990-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação hipotética: O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra a Unimed pedindo que fosse declarada a nulidade de determinada cláusula que estava prevista em todos os contratos assinados pela operadora com seus clientes. Essa cláusula estipulava uma fórmula de aumento das mensalidades que o MP alegou que era abusiva. Qual é o prazo para o ajuizamento de uma ação civil pública? A Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP) não previu um prazo prescricional para o ajuizamento da ação civil pública. Diante disso, qual prazo deverá ser aplicado segundo o STJ?

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Regra geral: O prazo para o ajuizamento da ação civil pública é de 5 anos, aplicando-se, por analogia, o prazo da ação popular (art.21 da Lei nº 4.717/65), considerando que as duas ações fazem parte do mesmo microssistema de tutela dos direitos difusos (REsp 1070896/SC). Exceções: a) a ACP para exigir o ressarcimento ao erário fundada na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa é imprescritível (art. 37, § 5º, CF/88). b) a ACP em caso de danos ambientais também é imprescritível. Obs: existe um julgado recente da 3ª Turma do STJ afirmando que “o prazo de 5 (cinco) anos para o ajuizamento da ação popular não se aplica às ações coletivas de consumo.” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.091-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/05/2019 (Info 648). Esse entendimento, contudo, não é o majoritário. Voltando ao caso concreto: O juiz julgou o pedido procedente para: a) declarar a nulidade da referida cláusula; b) determinar a repetição de indébito, ou seja, a devolução dos valores pagos a mais, pelos clientes do plano, em decorrência dessa cláusula. Sentença coletiva e execução individual O juiz proferiu uma sentença coletiva. Sentença coletiva é aquela proferida em uma ação coletiva. Se a sentença for condenatória, ela precisará ser executada para satisfazer o direito dos beneficiários. Qual é o prazo prescricional para que seja realizada essa execução individual? 5 anos, nos termos da jurisprudência consolidada do STJ:

No âmbito do Direito Privado, é de cinco anos o prazo prescricional para ajuizamento da execução individual em pedido de cumprimento de sentença proferida em Ação Civil Pública. STJ. 2ª Seção. REsp 1.273.643-PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/2/2013 (Recurso Repetitivo – Tema 515) (Info 515).

O prazo não seria de 3 anos, com base no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil (enriquecimento sem causa)? NÃO. O STJ reiterou o entendimento acima e afirmou que:

O prazo para execução individual de sentença proferida contra planos de saúde em ação civil pública é de cinco anos. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.807.990-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

Conforme vimos acima, na falta de dispositivo legal específico para a ação civil pública, aplica-se, por analogia, o prazo de prescrição da ação popular, que é o quinquenal (art. 21 da Lei nº 4.717/65). O prazo prescricional da execução é o mesmo da ação, de acordo com entendimento sumulado do STF:

Súmula 150-STF: Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

A lacuna da Lei nº 7.347/85 é melhor suprida com a aplicação de outra legislação também integrante do microssistema de proteção dos interesses transindividuais, como os coletivos e difusos, de forma que se deve afastar os prazos do Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais homogêneos.

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Qual é o termo inicial deste prazo?

O prazo prescricional para a execução individual é contado do trânsito em julgado da sentença coletiva, sendo desnecessária a providência de que trata o art. 94 da Lei nº 8.078/90 (CDC), ou seja, a publicação de editais convocando eventuais beneficiários. STJ. 1ª Seção. REsp 1388000-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Og Fernandes, julgado em 26/8/2015 (Recurso Repetitivo – Tema 877) (Info 580).

Cuidado para não gerar confusão: • Prazo prescricional para ação coletiva envolvendo direito do consumidor: 5 anos (é o que prevalece, a despeito do REsp 1.736.091-PE); • Prazo prescricional para a execução individual de sentença proferida contra planos de saúde em ação civil pública: 5 anos (com fundamento na Súmula 150 do STF); • Prazo para ação individual de cobrança contra plano de saúde: 3 anos (Tema 610).

Na vigência dos contratos de plano ou de seguro de assistência à saúde, a pretensão condenatória decorrente da declaração de nulidade de cláusula de reajuste nele prevista prescreve em 20 anos (art. 177 do CC/1916) ou em 3 anos (art. 206, § 3º, IV, do CC/2002), observada a regra de transição do art. 2.028 do CC/2002. STJ. 2ª Seção. REsp 1361182-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/8/2016 (Recurso Repetitivo – Tema 610) (Info 590).

Conforme explicou a Ministra Maria Isabel Galloti, a despeito da existência desse recurso especial julgado sob o rito dos recursos repetitivos sobre a prescrição trienal para ações de cobrança contra plano de saúde (Tema 610), nota-se que esse versou sobre as ações ordinárias individuais, de modo que o entendimento referente à aplicação do prazo quinquenal às tutelas coletivas é específico e, consequentemente, prevalece no caso.

DIREITO EMPRESARIAL

TÍTULOS DE CRÉDITO (NOTA PROMISSÓRIA) Em uma nota promissória constaram duas datas de vencimento; uma coincide com a data de

emissão do título; a outra é posterior; neste caso, deve prevalecer a data posterior já que, por ser futura, admite ser presumida como a efetiva manifestação de vontade do emitente

Caso concreto: na nota promissória constaram duas informações diferentes sobre a data de vencimento do título: “cinco de fevereiro de dois mil e oito” e “05 de julho de 2008”. Vale ressaltar que a nota promissória foi emitida em 05.02.2008 (data de emissão).

Assim, a nota promissória contém duas datas de vencimento igualmente expressas por extenso quanto ao mês (“fevereiro” e “julho”), sendo a primeira delas coincidente com a data de emissão da cártula, aposta numericamente (05.02.2008).

Qual delas deverá prevalecer? Deve prevalecer a data de 05 de julho.

Diante da divergência entre as expressões numérica e por extenso da data de vencimento de nota promissória, deve-se presumir que a efetiva vontade do emitente da nota era a de que o vencimento se desse após a emissão, prevalecendo, assim, a segunda e mais futura data de vencimento.

A nota promissória é um título de crédito próprio, e, como tal, se propõe à concessão de um prazo para o pagamento, distinto da data da emissão da cártula, de forma que não faz sentido a emissão de uma nota promissória com data de vencimento coincidente com a data de emissão.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.682-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

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Nota promissória A nota promissória é... - um título de crédito - no qual o emitente, por escrito, se compromete a pagar (promessa de pagamento) - uma certa quantia em dinheiro - a uma outra pessoa (tomador ou beneficiário). Título executivo extrajudicial A nota promissória é um título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC/2015). Assim, se não for paga, poderá ser ajuizada ação de execução cobrando o valor. Imagine agora a seguinte situação: Foi emitida uma nota promissória. Na nota promissória constaram duas informações diferentes sobre a data de vencimento do título. Em determinado local constou que o vencimento seria “cinco de fevereiro de dois mil e oito”. Em outro, restou consignado que o vencimento seria em “05 de julho de 2008”. Vale ressaltar que a nota promissória foi emitida em 05.02.2008 (data de emissão). Duas datas de vencimento Assim, a nota promissória contém duas datas de vencimento igualmente expressas por extenso quanto ao mês (“fevereiro” e “julho”), sendo a primeira delas coincidente com a data de emissão da cártula, aposta numericamente (05.02.2008). Qual delas deverá prevalecer? Deve prevalecer a data de 05 de julho.

Diante da divergência entre as expressões numérica e por extenso da data de vencimento de nota promissória, deve-se presumir que a efetiva vontade do emitente da nota era a de que o vencimento se desse após a emissão, prevalecendo, assim, a segunda e mais futura data de vencimento. A nota promissória é um título de crédito próprio, e, como tal, se propõe à concessão de um prazo para o pagamento, distinto da data da emissão da cártula, de forma que não faz sentido a emissão de uma nota promissória com data de vencimento coincidente com a data de emissão. STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.682-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

RECUPERAÇÃO JUDICIAL A alienação de ativos na forma de unidade produtiva isolada pode se dar

por meio diverso do previsto nos arts. 60 e 142 da Lei nº 11.101/2005

Cuidado com alguns livros!

A alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de recuperação judicial aprovado deve, em regra, se dar na forma de alienação por hasta pública, conforme o disposto nos arts. 60 e 142 da Lei nº 11.101/2005.

A adoção de outras modalidades de alienação, na forma do art. 145 da Lei nº 11.101/2005, só pode ser admitida em situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentada aos credores. Nessas hipóteses, as condições do negócio devem estar minuciosamente descritas no plano de recuperação judicial que deve ter votação destacada deste ponto, ser aprovado por maioria substancial dos credores e homologado pelo juiz.

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Em suma: a alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de recuperação judicial aprovado somente poderá adotar outras modalidades de alienação em situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentadas aos credores.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.689.187-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Recuperação judicial A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. A recuperação judicial é atualmente regida pela Lei nº 11.101/2005. Alienação de unidades produtivas isoladas A empresa em recuperação precisa obter recursos para pagar suas dívidas e, ao mesmo tempo, continuar funcionando. A Lei nº 11.101/2005 previu como uma das formas de recuperação da atividade empresarial a alienação de “unidades produtivas isoladas” (UPI) sem esclarecer, porém, o exato significado dessa expressão. O que significa unidades produtivas isoladas? Para uma parte dos doutrinadores, UPI seria o mesmo que estabelecimento empresarial (art. 1.142 do CC). Assim, quando a lei fala em alienação de unidades produtivas isoladas, ela está se referindo ao trespasse de estabelecimento (LOBO, Jorge. Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. 5º ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 230). Outros doutrinadores, porém, deram ao termo uma conceituação um pouco mais ampla. Afirmam que se trata de um complexo de bens organizado (estabelecimento), mas que não corresponde necessariamente à organização originalmente dada pelo devedor, sendo necessário apenas que tenha capacidade de operar de forma autônoma e que sobrem meios para a recuperanda (alienante) continuar em atividade. Como é feita essa alienação? O art. 60 da Lei nº 11.101/2005 afirma que, se o plano de recuperação judicial (aprovado) prever a alienação de unidade produtiva isolada, o juiz determinará a sua realização de acordo com as regras de alienação por hasta pública (leilão, propostas e pregão), previstas no art. 142:

Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei. Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.

Art. 142. O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, se houver, ordenará que se proceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades: I – leilão, por lances orais; II – propostas fechadas; III – pregão.

++ (Promotor MP/SP 2013) A alienação dos ativos do devedor falido é determinada pelo juiz, ouvido o administrador judicial, e será realizada, dentre outras modalidades, via leilão por lances orais, propostas fechadas e pregão. (certo)

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O objetivo da norma é alcançar o maior número de interessados possível (publicidade) e, portanto, conseguir o melhor preço (concorrência). Além disso, busca-se fazer uma alienação com mais garantias. É possível a alienação por outra forma? A alienação de ativos na forma de unidade produtiva isolada pode se dar por meio diverso do previsto nos arts. 60 e 142 da Lei nº 11.101/2005? SIM. A LRF, em seus art. 144 e 145, admite outras formas de alienação de unidade produtiva isolada: O art. 144 permite essa alienação diversa por autorização do juiz e o art. 145 fala em autorização da assembleia-geral de credores:

Art. 144. Havendo motivos justificados, o juiz poderá autorizar, mediante requerimento fundamentado do administrador judicial ou do Comitê, modalidades de alienação judicial diversas das previstas no art. 142 desta Lei.

Art. 145. O juiz homologará qualquer outra modalidade de realização do ativo, desde que aprovada pela assembleia-geral de credores, inclusive com a constituição de sociedade de credores ou dos empregados do próprio devedor, com a participação, se necessária, dos atuais sócios ou de terceiros.

++ (Juiz TJ/PR 2011) Ao juiz é permitido homologar qualquer modalidade de realização do ativo do falido, desde que aprovada pela assembleia geral de credores, inclusive com a constituição de sociedade de credores ou dos empregados do próprio devedor, com a participação, se necessária, dos atuais sócios ou de terceiros. (certo) Os arts. 144 e 145 estão inseridos na parte da lei que trata sobre falência. Eles podem ser aplicados também para a recuperação judicial? A posição que prepondera na doutrina é no sentido de que esses dispositivos somente incidiriam no caso de falência, estando a alienação das UPIs na recuperação judicial condicionada à realização de hasta pública. No entanto, o STJ entendeu de forma diversa e afirmou que existem situações em que a flexibilização da forma de alienação, nos termos do art. 145 da LRF, é a única maneira de viabilizar a venda. Trata-se, a título de exemplo, de hipóteses em que a recuperanda desenvolve atividade altamente especializada ou em que a alienação envolve negociações complexas que importam em altos custos para avaliação de sua lucratividade, que só terá interesse para o comprador que tiver garantia de que poderá realizar a transação ao final. As condições do negócio, nessas circunstâncias, devem estar descritas minuciosamente no plano de recuperação judicial, de modo que os credores possam avaliar sua viabilidade e o juiz verificar a legalidade do procedimento. A votação deste ponto deve se dar de forma destacada e alcançar a aprovação de maioria substancial dos credores (art. 46 da LRF), garantindo a anuência específica à forma de negociação escolhida. Resumindo o que foi explicado:

A alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de recuperação judicial aprovado deve, em regra, se dar na forma de alienação por hasta pública, conforme o disposto nos arts. 60 e 142 da Lei nº 11.101/2005. A adoção de outras modalidades de alienação, na forma do art. 145 da Lei nº 11.101/2005, só pode ser admitida em situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentada aos credores. Nessas hipóteses, as condições do negócio devem estar minuciosamente descritas no plano de recuperação judicial que deve ter votação destacada deste ponto, ser aprovado por maioria substancial dos credores e homologado pelo juiz.

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Em suma: a alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de recuperação judicial aprovado somente poderá adotar outras modalidades de alienação em situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentada aos credores. STJ. 3ª Turma. REsp 1.689.187-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

RECUPERAÇÃO JUDICIAL Os créditos lastreados em contratos de fiança bancária, firmados para garantia de obrigação

contraída, não estão submetidos aos efeitos da recuperação judicial

De acordo com o art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005, não se submetem aos efeitos do processo de soerguimento do devedor aqueles credores cujas obrigações foram constituídas após a data em que o devedor ingressou com o pedido de recuperação judicial.

O crédito passível de ser perseguido pelo fiador em face do afiançado somente se constitui a partir do adimplemento da obrigação principal pelo garante. Antes disso, não existe dever jurídico de caráter patrimonial em favor deste.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.860.368-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa OAS foi celebrar um contrato de 2 anos com um fornecedor. Este fornecedor exigiu da OAS uma garantia. A OAS recorreu aos serviços de um banco, que deu uma fiança bancária ao fornecedor. Fiança A fiança é uma espécie de garantia pessoal por meio da qual alguém (fiador – no nosso exemplo, o Banco) garante, ao credor (ex: fornecedor), a satisfação de uma obrigação assumida por terceiro (devedor-afiançado – ex: OAS), na hipótese de este não a cumprir conforme acordado (art. 818 do CC). Por meio da fiança, contrato de natureza acessória, o sujeito passivo da relação jurídica (fiador) assume a responsabilidade pelo adimplemento de uma prestação a que se obrigou o devedor original. Assim, ficou ajustado que, se a OAS não pagasse as prestações devidas ao fornecedor, este poderia cobrar do banco. Pedido de recuperação judicial Alguns meses depois disso, em março/2012, a empresa OAS entrou com um pedido de recuperação judicial. Vale ressaltar que, antes do pedido de recuperação, a OAS não havia atrasado nenhuma parcela do contrato com o fornecedor. Depois do pedido de recuperação, a OAS deixou de pagar as prestações ao fornecedor e, em razão disso, o banco teve que quitar a dívida (R$ 500 mil). Isso ocorreu em outubro/2012. Como pagou o débito, o banco agora deverá ser ressarcido pela OAS, ou seja, a instituição tem um crédito para receber da OAS. Indaga-se: o banco terá que habilitar esse crédito na recuperação judicial? Esse crédito está submetido aos efeitos da recuperação judicial? NÃO. O art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005 prevê o seguinte:

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.

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Isso significa que não são submetidos aos efeitos do processo de soerguimento aqueles credores cujas obrigações foram constituídas após a data em que o devedor ingressa com o pedido de recuperação. Quando surgiu o crédito? A condição de credor somente pode ser atribuída a alguém a partir do momento em que esse alguém seja titular de um crédito em face de outrem. Não existe credor se não existir crédito. Tratando-se de contrato de fiança, o fiador só se tornará credor do afiançado se e quando vier a promover o pagamento de dívida não adimplida pelo devedor original da obrigação principal (objeto da garantia). Em palavras, mais simples, o fiador só se torna credor do afiançado no momento em que pagar a dívida por ele. Trazendo esse raciocínio para o caso concreto, podemos concluir que o banco fiador só passou a ostentar a condição de credor do afiançado (recuperando) depois que honrou o débito que a OAS não havia pagado, ou seja, em outubro/2012. Existência do negócio jurídico não se confunde com existência do crédito A existência/constituição do negócio jurídico (fiança) não pode ser confundida com a existência/constituição do crédito. O negócio jurídico (fiança) existe desde a celebração do contrato respectivo. Já o crédito do fiador somente se constitui a partir do adimplemento da obrigação principal pelo garante (fiador). Em suma:

De acordo com o art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005, não se submetem aos efeitos do processo de soerguimento do devedor aqueles credores cujas obrigações foram constituídas após a data em que o devedor ingressou com o pedido de recuperação judicial. O crédito passível de ser perseguido pelo fiador em face do afiançado somente se constitui a partir do adimplemento da obrigação principal pelo garante. Antes disso, não existe dever jurídico de caráter patrimonial em favor deste. STJ. 3ª Turma. REsp 1.860.368-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

DOD DICAS

O art. 49 acima explicado é um dos dispositivos da Lei de Falências mais cobrado em provas. Leia-o mais uma vez e entenda a sua lógica:

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.

++ (Juiz TJ/RJ 2019) Estão sujeitos à recuperação judicial os créditos existentes na data do pedido, desde que vencidos. (errado) ++ (Juiz TJ/RR 2015 FCC) A empresa “Lojas Vende Barato”, por dificuldades de fluxo de caixa, formulou pedido de recuperação judicial apresentando plano que prevê a remissão de 50% de todas as suas dívidas. Estão sujeitos à recuperação judicial os créditos contra a recuperanda existentes na data do pedido, tanto os vencidos quanto os por vencer. (certo) Exceções à regra: No caput do art. 49 está a regra geral. No entanto, é importante também estudar as exceções, que estão descritas nos §§ 3º e 4º e que também são muito cobradas:

Art. 49 (...) § 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações

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imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. § 4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86 desta Lei.

++ (Juiz TJ/PR 2011) Estão sujeitos aos efeitos do deferimento da recuperação judicial os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, à exceção de créditos decorrentes da titularidade de posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio e aqueles decorrentes de adiantamento a contrato de câmbio para exportação. (certo) ++ (TJ/MS 2010 FCC) Estão excluídos do procedimento de recuperação judicial os seguintes credores: o proprietário em contrato de venda com reserva de domínio; o cessionário fiduciário de direitos creditórios; e o credor de valores referentes à contrato de adiantamento de câmbio. (certo) ++ (TJ/MG 2007) Na falência do devedor alienante, fica assegurado ao credor ou proprietário fiduciário o direito de pedir a restituição do bem alienado fiduciariamente. (certo)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AÇÃO RESCISÓRIA Inexistindo homologação judicial do pedido de renúncia, não se pode permitir a abertura do prazo decadencial de dois anos para propor ação rescisória antes que ocorra a indispensável

intimação da parte interessada

Em regra, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal constituem ato unilateral de vontade do recorrente que independe da aquiescência da parte contrária e produz efeitos imediatos, ensejando o trânsito em julgado.

Desse modo, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal determinam, em regra, o trânsito em julgado da decisão impugnada, se não houver recurso pendente de julgamento da outra parte. Contudo, se ainda não houve homologação judicial, o princípio do contraditório impede que o trânsito em julgado seja reconhecido antes da ciência da parte contrária. Não se pode permitir a abertura do prazo decadencial de 2 anos da ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação da parte interessada no fato processual que lhe dá origem.

Nesse contexto, deve ser contado o prazo decadencial da data da intimação da parte contrária, após o pedido de renúncia.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.344.716-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Ação rescisória Ação rescisória é uma ação que tem por objetivo desconstituir uma decisão judicial transitada em julgado. A ação rescisória é uma espécie de ação autônoma de impugnação (sucedâneo recursal externo). Atenção: a ação rescisória não é um recurso. O recurso é uma forma de impugnar a decisão na pendência do processo (enquanto este ainda não acabou). A ação rescisória, por sua vez, somente pode ser proposta quando há trânsito em julgado, ou seja, quando o processo já se encerrou.

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Prazo A ação rescisória possui prazo decadencial de 2 anos, contados do dia do trânsito em julgado da decisão:

CPC/1973 CPC/2015

Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão.

Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João ajuizou ação contra a União (Fazenda Nacional). O pedido foi julgado improcedente. João interpôs apelação, mas o TRF negou provimento. Contra esse acórdão, João ingressou com recurso especial, mas o Ministro do STJ, monocraticamente, negou seguimento. O julgamento do agravo regimental, último recurso interposto pelo contribuinte, ocorreu em 06/12/2005. Em 15/12/2005, João ingressou com petição requerendo a renúncia ao prazo recursal e ao direito de recorrer do acórdão. Em 06/02/2006, o Ministro Relator determinou a certificação do trânsito em julgado, sem homologar o pedido de renúncia. Em 06/03/2006, a Fazenda Nacional foi intimada pessoalmente do acórdão que julgou o agravo regimental. João quer ingressar com ação rescisória e houve dúvida se já havia passado o prazo decadencial de 2 anos. A pergunta que surge é a seguinte: qual é o termo inicial do prazo decadencial da ação rescisória? Esse prazo se iniciou em 06/02/2006 (data em que foi certificado o trânsito em julgado)? NÃO. Não é a data da lavratura da certidão que estabelece o trânsito em julgado, mas sim a data da sua efetiva ocorrência, o que se verifica, em regra, pelo transcurso do prazo para interpor recurso contra a última decisão proferida no processo. Nesse sentido:

A decadência da ação rescisória se comprova pelo trânsito em julgado da última decisão proferida no processo de conhecimento, aferido pelo transcurso do prazo recursal e não pela certidão de trânsito em julgado que, ademais, não aponta o trânsito naquela data, mas apenas certifica que a decisão transitou em julgado. STJ. 2ª Turma. AREsp 724.470/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/11/2019.

A certidão de trânsito em julgado apenas atesta (declara) que a decisão transitou em julgado. Nesse caso concreto, quando, então, ocorreu o trânsito em julgado e, portanto, iniciou-se o prazo de 2 anos para a propositura da ação rescisória? Em regra, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal constitui ato unilateral de vontade do recorrente que não depende da aquiescência (concordância) da parte contrária e produz efeitos imediatos, ensejando o trânsito em julgado. Logo, em regra, a data do trânsito em julgado seria 15/12/2005 (data do protocolo da renúncia). Contudo, no caso, houve uma peculiaridade que impede o reconhecimento do trânsito em julgado em 15/12/2005, data do protocolo da renúncia. Como não houve homologação pelo Ministro Relator, a Fazenda Nacional teve ciência do pedido de renúncia ao prazo recursal e ao direito de recorrer quando foi intimada pessoalmente, em 07/03/2006, do acórdão proferido nos autos do agravo regimental. Assim, apesar dos efeitos imediatos preconizados na lei processual civil ao pedido de renúncia, não havendo homologação judicial, o princípio do contraditório impede que o trânsito em julgado seja reconhecido antes da ciência da parte contrária.

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Não se pode permitir a abertura do prazo decadencial de 2 anos da ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação da parte interessada do fato processual que lhe dá origem. Nesse contexto, no caso, deve ser contado o prazo decadencial da data da primeira intimação da Fazenda Nacional, após o pedido de renúncia, ocorrida em 07/03/2006. Em suma:

Em regra, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal constituem ato unilateral de vontade do recorrente que independe da aquiescência da parte contrária e produz efeitos imediatos, ensejando o trânsito em julgado. Desse modo, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal determinam, em regra, o trânsito em julgado da decisão impugnada, se não houver recurso pendente de julgamento da outra parte. Contudo, se ainda não houve homologação judicial, o princípio do contraditório impede que o trânsito em julgado seja reconhecido antes da ciência da parte contrária. Não se pode permitir a abertura do prazo decadencial de 2 anos da ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação da parte interessada no fato processual que lhe dá origem. Nesse contexto, deve ser contado o prazo decadencial da data da intimação da parte contrária, após o pedido de renúncia. STJ. 1ª Turma. REsp 1.344.716-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar

impugnação ao cumprimento de sentença, caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC/1973

O art. 475-J do CPC/1973 previa que o prazo para impugnação ao cumprimento de sentença somente era contado a partir da intimação do auto de penhora e avaliação.

O art. 525 do CPC/2015, por sua vez, afirma que, transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.

Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença, caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC/1973.

Ex: a parte foi intimada, em 02/03/2016 (ainda na vigência do CPC/1973) para pagar uma condenação judicial no prazo de 15 dias, nos termos do art. 475-J do CPC/1973; o prazo de 15 dias começou a ser computado no dia seguinte (03/03/2016), terminando em 17/03/2016, sem que tenha havido pagamento; no dia 18/03/2016, entrou em vigor o CPC/2015; nesse exemplo, deve o juiz intimar o executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença no prazo de 15 dias.

Enunciado 530/FPPC: Após a entrada em vigor do CPC-2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença, em quinze dias, ainda que sem depósito, penhora ou caução, caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC-1973 e não tenha àquele tempo garantido o juízo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.935-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: João foi intimado para pagar uma condenação judicial na data de 02/03/2016, com prazo de 15 dias (corridos), nos termos do art. 475-J do CPC/1973.

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O prazo de 15 dias corridos começou a ser computado no dia seguinte, 03/03/2016 (quarta-feira), terminando no dia 17/03/2016 (quarta-feira), sem pagamento. No dia 18/03/2016, entrou em vigor o CPC/2015. Início do prazo para impugnação O art. 475-J do CPC/1973 previa que o prazo para impugnação ao cumprimento de sentença somente era contado a partir da intimação do auto de penhora e avaliação. O art. 525 do CPC/2015, por sua vez, afirma que, transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. Assim, o novo CPC alterou significativamente a contagem do prazo para a impugnação ao cumprimento de sentença, que passou a ser computado em dias úteis a partir do término do prazo para pagamento voluntário, independentemente de penhora. Voltando ao caso concreto Apesar da entrada em vigor do CPC/2015, João (devedor) não apresentou impugnação, na expectativa de que o prazo fosse computado a partir da penhora, como era a regra durante a vigência do CPC/1973. A penhora veio a ocorrer meses depois, por meio do bloqueio de dinheiro em sua conta corrente. João foi, então, intimado do bloqueio dos valores em sua conta no dia 11/11/2016. No dia seguinte (12/11/2016), João apresentou impugnação ao cumprimento de sentença. O juiz, contudo, julgou intempestiva a impugnação, por considerar aplicável ao caso o CPC/2015, sendo, portanto, desnecessária a penhora para deflagração do prazo para impugnação, de modo que o prazo já estaria há muito tempo exaurido. Agiu corretamente o juiz? NÃO. O problema relatado se situa numa zona cinzenta de aplicação do direito intertemporal. Por um lado, seria o caso de se aplicar a regra geral da aplicabilidade imediata da nova norma processual, por meio da técnica do isolamento atos processuais, por força do art. 14 c/c art. 1.046 do CPC/2015:

Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.

Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.

Porém, uma vez que o prazo para pagamento voluntário se iniciou e terminou na vigência do CPC/1973, a aplicação imediata do CPC/2015 implicaria retroatividade da lei nova, na medida em que o marco temporal para a impugnação ao cumprimento de sentença seria um fato processual ocorrido na vigência do CPC/1973, qual seja, o fim do prazo para pagamento voluntário. Por outro lado, a aplicação ultra-ativa do CPC/1973 para reger a impugnação de sentença após a entrada em vigor do CPC/2015 não parece adequada, pois a impugnação, antes da entrada em vigor do CPC/2015, era evento futuro e incerto, na medida em que dependia da ocorrência de penhora, e, sendo fato futuro, seria o caso de aplicação da lei nova (tempus regit actum). Ademais, a aplicação do CPC/1973 em hipóteses como a dos autos traria o inconveniente de deixar a lei antiga, em tese, com uma ultra-atividade indefinida no tempo, uma vez que não se sabe de antemão “se”, nem “quando”, ocorrerá a penhora. Essa dificuldade de se aplicar a técnica de direito intertemporal do isolamento dos autos processuais ao caso dos autos decorre da conexidade existente entre a intimação para pagamento voluntário e a posterior impugnação ao cumprimento de sentença, na medida em que, tanto no CPC revogado, como no vigente, o decurso do prazo para pagamento é condição para a impugnação ao cumprimento de sentença.

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Há necessidade, portanto, de se buscar uma compatibilização entre as regras da lei nova e as da lei velha, na hipótese de conexidade entre atos processuais, pois a técnica do isolamento dos atos processuais não é suficiente para resolver adequadamente o problema da lei processual aplicável. Nesse passo, uma proposta compatibilização específica para o caso da impugnação ao cumprimento de sentença foi elaborada pelo Fórum Permanente de Processualistas Civis - FPPC:

Enunciado 530/FPPC - (art. 525). Após a entrada em vigor do CPC-2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença, em quinze dias, ainda que sem depósito, penhora ou caução, caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC-1973 e não tenha àquele tempo garantido o juízo. (Grupo: Direito Intertemporal)

Como se verifica no enunciado acima transcrito, essa proposta, por um lado, elimina a possibilidade de aplicação retroativa do CPC/2015, na medida em que o prazo começa a ser contado de uma intimação a ser realizada na vigência do CPC/2015, não a partir do fim do prazo para pagamento voluntário, ocorrido na vigência do CPC/1973. Por outro lado, essa proposta elimina também a já mencionada ultra-atividade indefinida do CPC/1973, caso se entendesse por aplicar o código revogado. Além disso, a exigência de uma intimação confere segurança jurídica às partes, evitando que seus interesses sejam prejudicadas pelo simples fato de seu caso estar situado em uma zona cinzenta da aplicação do direito intertemporal. Vale destacar que a intimação ora proposta somente é aplicável na transição do CPC/1973 para o CPC/2015, pois, para os casos integralmente regidos pelo CPC/2015, não há previsão dessa intimação (art. 525 do CPC/2015). Em suma:

Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença, caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC/1973. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.935-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

DIREITO PENAL

PENA DE MULTA Em adequação ao entendimento do STF, o inadimplemento da pena de multa

obsta a extinção da punibilidade do apenado

Atualize o Info 568-STJ

O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens, prestação social alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal.

Diante da eficácia erga omnes e do vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.850.903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

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NOÇÕES GERAIS SOBRE A MULTA

Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal. Existem duas espécies de sanção penal: 1) Pena. 2) Medida de segurança. Veja abaixo o esquema que mostra as espécies de sanção penal e suas subespécies:

1.1 Privativas de liberdade

1) PENAS 1.2 Restritivas de direito

1.3 Multa

SANÇÃO PENAL

2.1 Detentiva

2) MEDIDAS DE SEGURANÇA

2.2 Restritiva

Multa Multa é uma espécie de pena, por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma quantia em dinheiro que será revertida em favor do Fundo Penitenciário. Pagamento da multa. A pena de multa é fixada na própria sentença condenatória. Depois que a sentença transitar em julgado, o condenado terá um prazo máximo de 10 dias para pagar a multa imposta (art. 50 do CP). O Código prevê a possibilidade de o condenado requerer o parcelamento da multa em prestações mensais, iguais e sucessivas, podendo o juiz autorizar, desde que as circunstâncias justifiquem (ex.: réu muito pobre, multa elevadíssima etc.). O parcelamento deverá ser feito antes de esgotado o prazo de 10 dias. O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará o número de prestações (art. 169, § 1º da LEP). Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá revogar o benefício (art. 169, § 2º da LEP). O que acontece caso o condenado não pague nem parcele a multa no prazo de 10 dias? • Antes da Lei nº 9.268/96: se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser convertida em pena de detenção. Em outras palavras, a multa era transformada em pena privativa de liberdade. • Atualmente: a Lei nº 9.268/96 alterou o art. 51 do CP e previu que, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser exigida por meio de execução (não se permite mais a conversão da pena de multa em detenção). Multa permaneceu com caráter penal Importante esclarecer que, mesmo com essa mudança feita pela Lei nº 9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal, ou seja, permanece sendo uma pena, por força do art. 5º, XLVI, “c”, da CF/88:

Art. 5º (...) XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: c) multa;

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Informativo 671-STJ (05/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 50

Assim, a única coisa que a Lei nº 9.268/96 fez foi mudar a forma de cobrança da multa não paga: antes, ela virava pena de detenção; agora, deve ser cobrada por meio de execução. Quem executa a pena de multa?

STJ: Fazenda Pública STF:

Prioritariamente: o Ministério Público. Subsidiariamente: a Fazenda Pública

O STJ sempre sustentou que, como se trata de dívida de valor, a pena de multa deveria ser executada pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal que tramita na vara de execuções fiscais. O rito a ser aplicado seria o da Lei nº 6.830/80. A execução da pena de multa ocorreria como se estivesse sendo cobrada uma multa tributária. Não se aplica a Lei nº 7.210/84 (LEP). Esse era o entendimento pacífico do STJ, tanto que foi editada uma súmula nesse sentido. Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.

A Lei nº 9.268/96, ao considerar a multa penal como dívida de valor, não retirou dela o caráter de sanção criminal. Diante de tal constatação, não há como retirar do MP a competência para a execução da multa penal, considerado o teor do art. 129 da CF/88, segundo o qual é função institucional do MP promover privativamente a ação penal pública, na forma da lei. Promover a ação penal significa conduzi-la ao longo do processo de conhecimento e de execução, ou seja, buscar a condenação e, uma vez obtida esta, executá-la. Caso contrário, haveria uma interrupção na função do titular da ação penal. Ademais, o art. 164 da LEP é expresso ao reconhecer essa competência do MP. Esse dispositivo não foi revogado expressamente pela Lei nº 9.268/96. Vale ressaltar, entretanto que, se o titular da ação penal, mesmo intimado, não propuser a execução da multa no prazo de 90 dias, o juiz da execução criminal deverá dar ciência do feito ao órgão competente da Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o caso) para a respectiva cobrança na própria vara de execução fiscal, com a observância do rito da Lei 6.830/80.

Quem executa: Fazenda Pública. Juízo: vara de execuções fiscais. Legislação: Lei nº 6.830/80.

Quem executa: • Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP. • Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimada: a Fazenda Pública irá executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº 6.830/80.

Foi o que decidiu o STF:

O Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória transitada em julgado, com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública. STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927). STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).

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Informativo 671-STJ (05/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 51

Exemplo: João foi sentenciado por roubo e o juiz de direito (Justiça Estadual) o condenou a 4 anos de reclusão e mais 10 dias-multa no valor de meio salário mínimo cada. Depois do trânsito em julgado, o condenado foi intimado para pagar a pena de multa no prazo de 10 dias, mas não o fez. Diante disso, o escrivão da vara irá fazer uma certidão na qual constarão as informações sobre a condenação e o valor da multa. • Para o STJ, o magistrado deveria remeter a certidão para Procuradoria Geral do Estado e um dos Procuradores do Estado iria ajuizar, em nome do Estado, uma execução fiscal que tramitaria na vara de execuções fiscais (não era na vara de execuções penais). • Agora, com a decisão do STF, o magistrado deverá intimar o Ministério Público e o Parquet irá propor a execução da multa na vara de execução penal. Caso o MP, devidamente intimado, não proponha a execução da multa no prazo de 90 dias, o juiz da execução criminal deverá dar ciência do feito ao órgão competente da Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o caso) para a respectiva cobrança na própria vara de execução fiscal, com a observância do rito da Lei 6.830/80. Obs: se João tivesse sido condenado pela Justiça Federal, quem iria ingressar com a execução seria prioritariamente o MPF e, apenas subsidiariamente, a União, por intermédio da Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN). O que acontece com o entendimento do STJ manifestado na Súmula 521? Está superado e a súmula será cancelada. Isso porque a decisão do STF foi proferida em ação direta de inconstitucionalidade possuindo, portanto, eficácia erga omnes e efeito vinculante (art. 102, § 2º, da CF/88). Onde tramita a execução da pena de multa? No juízo da execução penal. O art. 51 do Código Penal foi alterado para deixar expressa essa competência:

CÓDIGO PENAL

Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

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Informativo 671-STJ (05/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 52

INADIMPLEMENTO DA MULTA E EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi condenado a 3 anos de reclusão (pena privativa de liberdade) e a 200 dias-multa. Após cumprir integralmente a pena privativa de liberdade, João foi solto e a Defensoria Pública peticionou ao juízo requerendo a extinção da punibilidade. O juiz extinguiu a pena privativa de liberdade pelo seu integral cumprimento; todavia, determinou que fosse oficiada a Procuradoria da Fazenda Pública para a cobrança da pena de multa e afirmou que a extinção da punibilidade só poderia ser decretada quando houvesse o pagamento do valor. Agiu corretamente o magistrado? O inadimplemento da pena de multa impede a extinção da punibilidade mesmo que já tenha sido cumprida a pena privativa de liberdade ou a pena restritiva de direitos? SIM. O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens, prestação social alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal. Diante da eficácia erga omnes e do efeito vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. Assim, o STJ, que tinha outro entendimento, teve que se adequar à posição manifestada pelo STF. Resumindo:

Em adequação ao entendimento do STF, o inadimplemento da pena de multa obsta a extinção da punibilidade do apenado. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.850.903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

Atualize seus materiais de estudo O STJ possuía o seguinte entendimento, que está superado:

Cumprida a pena privativa de liberdade (ou restritiva de direitos), extingue-se a execução penal e, se restar ainda pendente o pagamento multa, esta deverá ser cobrada pela Fazenda Pública, no juízo competente, tendo se esgotado, no entanto, a jurisdição criminal. STJ. 3ª Seção. REsp 1.519.777-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/8/2015 (recurso repetitivo) (Info 568).

ESTATUTO DO DESARMAMENTO Caracteriza ilícito penal o porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei n. 10.826/2003) ou de arma

de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei 10.826/2003) com registro de cautela vencido

A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015).

Tal entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº 10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade mais intensa.

STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885.281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

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Informativo 671-STJ (05/06/2020) – Márcio André Lopes Cavalcante | 53

Imagine a seguinte situação hipotética: A Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de João, lá encontrou um revólver, de uso permitido. João apresentou o registro da arma de fogo localizada, porém ele estava vencido há mais de um ano. João praticou crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003)? O fato de o agente possuir arma de fogo com registro vencido configura crime? NÃO.

Não configura o crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003) a conduta do agente que mantém sob guarda, no interior de sua residência, arma de fogo de uso permitido com registro vencido. Se o agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do prazo é mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal. STJ. Corte Especial. APn 686-AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 21/10/2015 (Info 572). STJ. 5ª Turma. HC 294.078/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/08/2014.

E se a arma fosse de uso restrito? Neste caso, teria havido crime do art. 16 da Lei nº 10.826/2003. E se a arma fosse de uso permitido, mas João tivesse sido encontrado portado a arma na rua. Neste caso, haveria o crime do art. 14 da Lei nº 10.826/2003? Neste caso, teria havido crime.

Caracteriza ilícito penal o porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei nº 10.826/2003) ou de arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei 10.826/2003) com registro de cautela vencido. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885.281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). Tal entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº 10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade mais intensa. Mudaria alguma coisa o fato de João ser policial? NÃO.

É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado a portar ou possuir arma de fogo, não observa as imposições legais previstas no estatuto do Desarmamento, que impõem registro das armas no órgão competente. STJ. 6ª Turma. RHC 70.141/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 07/02/2017.

O fato do envolvido ser policial e ter habilidade para manusear a arma não retira o caráter criminal da conduta, uma vez que o delito previsto no art. 14 da Lei n. 10.826/2003 é de perigo abstrato, sendo desnecessário perquirir sobre a lesividade concreta da conduta, porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física e sim a segurança pública e a paz social. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.413.440/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07/05/2019.

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LEI MARIA DA PENHA Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da Penha

no caso de violência do neto praticada contra a avó

Importante!!!

A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.626.825-GO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

É possível a aplicação da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) para violência praticada por neto contra a avó? SIM.

A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes, bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.626.825-GO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Caso concreto: O neto, que morava com a avó, a ameaçava constantemente, inclusive, com faca. Apurou-se que essas ameaças decorriam do uso de drogas por parte do neto e do fato de ele ter, supostamente, transtorno mental. O STJ entendeu que estava constatada a situação concreta de vulnerabilidade da avó (com 84 anos de idade), diante das ameaças do neto, com faca, no âmbito doméstico, fatos que ensejam a aplicabilidade da Lei Maria da Penha. Sujeito ativo e passivo da violência doméstica • O sujeito passivo da violência doméstica obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino). • O sujeito ativo pode ser pessoa do sexo masculino ou feminino. Requisitos para que haja violência doméstica: a) Sujeito passivo (vítima) deve ser pessoa do sexo feminino (não importa se criança, adulta ou idosa, desde que seja do sexo feminino); b) Sujeito ativo pode ser pessoa do sexo masculino ou feminino; c) Violência baseada em relação íntima de afeto, motivação de gênero ou situação de vulnerabilidade, nos termos do art. 5º da Lei. Obs: é possível que haja violência doméstica mesmo que agressor e vítima não convivam sob o mesmo teto (não morem juntos). Isso porque o art. 5º, III, da Lei afirma que há violência doméstica em qualquer

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relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Súmula 600-STJ: Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima.

Segundo o STJ, é possível aplicar a Lei Maria da Penha para as seguintes situações?

VIOLÊNCIA PRATICADA POR... É POSSÍVEL?

FILHO CONTRA A MÃE A Lei Maria da Penha aplica-se também nas relações de parentesco.

SIM HC 290.650/MS

FILHA CONTRA A MÃE Relembrando que o agressor pode ser também mulher.

SIM HC 277.561/AL

PAI CONTRA A FILHA

SIM HC 178.751/RS

NETO CONTRA A AVÓ SIM AgRg no AREsp 1.626.825/GO

IRMÃO CONTRA A IRMÃ Obs: ainda que não morem sob o mesmo teto.

SIM Resp 1239850/DF

GENRO CONTRA A SOGRA

SIM RHC 50.847/BA

NORA CONTRA A SOGRA Desde que estejam presentes os requisitos de relação íntima de afeto, motivação de gênero e situação de vulnerabilidade. Ausentes, não se aplica.

SIM HC 175.816/RS

COMPANHEIRO DA MÃE (“PADRASTO”) CONTRA A ENTEADA Obs: a agressão foi motivada por discussão envolvendo o relacionamento amoroso que o agressor possuía com a mãe da vítima (relação íntima de afeto).

SIM RHC 42.092/RJ

TIA CONTRA A SOBRINHA A tia possuía, inclusive, a guarda da criança (do sexo feminino), que tinha 4 anos.

SIM HC 250.435/RJ

EX-NAMORADO CONTRA A EX-NAMORADA Vale ressaltar, porém, que não é qualquer namoro que se enquadra na Lei Maria da Penha. Se o vínculo é eventual, efêmero, não incide a Lei 11.340/06 (CC 91.979-MG).

SIM HC 182.411/RS

FILHO CONTRA O PAI IDOSO O sujeito passivo (vítima) não pode ser do sexo masculino.

NÃO RHC 51.481/SC

LEI DE DROGAS Não incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em

caso de tráfico de drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja

Importante!!!

O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

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III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

STJ. 6ª Turma. HC 528.851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Causa de aumento de pena do inciso III do art. 40 A Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006), no art. 40, traz, em seus incisos, sete causas de aumento de pena. Veja a hipótese descrita no inciso III:

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

A pena é aumentada de 1/6 a 2/3 se o crime é cometido nas dependências (interior) ou nas imediações (proximidades) de... • estabelecimentos prisionais; • estabelecimentos de ensino; • estabelecimentos hospitalares; • entidades estudantis; • entidades sociais; • entidades culturais; • entidades recreativas; • entidades esportivas; • entidades beneficentes; • locais de trabalho coletivo; • recintos onde se realizem espetáculos ou diversões; • serviços de tratamento de dependentes de droga ou de reinserção social; • unidades militares; • unidades policiais; • transportes públicos. ++ (Promotor MP/RS 2014) O tráfico de drogas cometido nas imediações de locais de trabalho coletivo não é considerado causa de aumento de pena. (errado) Veja abaixo alguns entendimentos jurisprudenciais a respeito do tema: Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de aumento do art. 40, III, da LD, não importando quem seja o comprador A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006 se justifica quando constatada a comercialização de drogas nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator visa ou não aos frequentadores daquele local.

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Assim, se o tráfico de drogas ocorrer nas imediações de um estabelecimento prisional, incidirá a causa de aumento, não importando quem seja o comprador do entorpecente. STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/3/2017 (Info 858). ++ (Promotor MP/MT 2019 FCC) De acordo com o ordenamento jurídico e o posicionamento dos tribunais superiores sobre as disposições previstas na Lei no 11.343/2006, somente deverá incidir a causa de aumento do art. 40, III, da Lei no 11.343/2006 se a venda de drogas nas imediações de um presídio tenha como comprador um dos detentos ou alguém que estava frequentando o presídio. (errado) Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei 11.343/2006 Se o agente comanda o tráfico de drogas de dentro do presídio, deverá incidir a causa de aumento de pena do art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006, mesmo que os efeitos destes atos tenham se manifestado a quilômetros de distância. STJ. 5ª Turma. HC 440888-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019 (Info 659). Não incide a causa de aumento de pena do art. 40, III, da LD se o crime foi praticado em dia e horário no qual a escola estava fechada e não havia pessoas lá Não incide a causa de aumento de pena prevista no art. 40, inciso III, da Lei nº 11.343/2006, se a prática de narcotraficância ocorrer em dia e horário em que não facilite a prática criminosa e a disseminação de drogas em área de maior aglomeração de pessoas. Ex: se o tráfico de drogas é praticado no domingo de madrugada, dia e horário em que o estabelecimento de ensino não estava funcionando, não deve incidir a majorante. STJ. 6ª Turma. REsp 1719792-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018 (Info 622). Droga transportada em transporte público e causa de aumento do art. 40 da Lei 11.343/2006 O art. 40, III, da Lei de Drogas prevê como causa de aumento de pena o fato de a infração ser cometida em transportes públicos. Se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do meio de transporte, incidirá essa majorante? NÃO. A majorante do art. 40, III, da Lei 11.343/2006 somente deve ser aplicada nos casos em que ficar demonstrada a comercialização efetiva da droga em seu interior. É a posição majoritária no STF e STJ. STF. 2ª Turma. HC 120624/MS, Red. p/ o acórdão, Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 3/6/2014 (Info 749). STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.295.786-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 18/6/2014 (Info 543). Incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em caso de tráfico de drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja? NÃO.

O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado com esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam partem. STJ. 6ª Turma. HC 528.851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Caso o legislador quisesse punir de forma mais gravosa também o fato de o agente cometer o delito nas dependências ou nas imediações de igreja, teria feito expressamente, assim como fez em relação aos demais locais.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO Os serviços de capatazia integram a base de cálculo do imposto de importação

Atenção! Concursos federais

Mudança de entendimento!

Os serviços de capatazia estão incluídos na composição do valor aduaneiro e integram a base de cálculo do imposto de importação.

Os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista que tais atividades são realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do território aduaneiro.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.799.306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Francisco Falcão, julgado em 11/03/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1014) (Info 671).

Imposto de importação (II) Trata-se de tributo de competência da União, previsto no art. 153, I, da CF/88:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de produtos estrangeiros; (...)

O fato gerador é descrito no art. 19 do CTN:

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional.

O art. 20 do CTN prevê a base de cálculo:

Art. 20. A base de cálculo do imposto é: I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária; II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País; III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o preço da arrematação.

A base de cálculo do inciso II é detalhada pelo art. 2º do Decreto-Lei nº 37/1966, que preconiza:

Art. 2º A base de cálculo do imposto é: I - quando a alíquota for específica, a quantidade de mercadoria, expressa na unidade de medida indicada na tarifa; II - quando a alíquota for “ad valorem”, o valor aduaneiro apurado segundo as normas do art.7º do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio - GATT.

Assim, a lei poderá definir que a alíquota do II será: • específica. Ex: a lei estabelece que a alíquota será R$ 1.000,00 por tonelada. Logo, se o contribuinte importa 10 toneladas, pagará R$ 10.000,00.

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• ad valorem. Neste caso, a lei determina que a alíquota incidirá sobre o valor aduaneiro. Ex: a alíquota será de 10% sobre o valor aduaneiro. Se o valor aduaneiro foi R$ 10.000,00, o imposto de importação a ser pago será R$ 1.000,00 (10% de 10.000). O que engloba o conceito de “valor aduaneiro”? O Decreto nº 6.759/2009 prevê, em seu art. 77, que integram o valor aduaneiro: I - o custo de transporte da mercadoria importada até o porto ou o aeroporto alfandegado de descarga ou o ponto de fronteira alfandegado onde devam ser cumpridas as formalidades de entrada no território aduaneiro; II - os gastos relativos à carga, à descarga e ao manuseio, associados ao transporte da mercadoria importada, até a chegada aos locais referidos no inciso I; e III - o custo do seguro da mercadoria durante as operações referidas nos incisos I e II. Assim, se a Lei estipula alíquota ad valorem, quando o importador for pagar o imposto, este será calculado não apenas com base no preço do produto, devendo também incluir outras despesas como o custo de transporte, os gastos com carga, custo do seguro etc. Isso tudo irá compor, portanto, a base de cálculo do imposto de importação. Serviços de capatazia Capatazia é a “atividade de movimentação de mercadorias nas instalações dentro do porto, compreendendo o recebimento, conferência, transporte interno, abertura de volumes para a conferência aduaneira, manipulação, arrumação e entrega, bem como o carregamento e descarga de embarcações, quando efetuados por aparelhamento portuário” (art. 40, § 1º, da Lei nº 12.815/2013). Os gastos do importador com os serviços de capatazia devem ser incluídos no conceito de “valor aduaneiro” e, portanto, irão integrar a base de cálculo do imposto de importação? SIM.

Os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista que tais atividades são realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do território aduaneiro. STJ. 1ª Seção. REsp 1.799.306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Francisco Falcão, julgado em 11/03/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1014) (Info 671).

O acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio (GATT 1994), no art. VII (art. 7º), estabelece normas para determinação do “valor para fins alfandegários”. O que o GATT chama de “valor para fins alfandegários”, a legislação brasileira denominou “valor aduaneiro”. Então, podemos encarar as expressões como sinônimas. Obs: GATT é a sigla de “General Agreement on Tariffs and Trade”, que em português significa “Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio”. O GATT é também conhecido como “Acordo de Valoração Aduaneira” (AVA). Assim, o AVA-GATT prevê os parâmetros que deverão ser observados para determinar o valor dos produtos importados, que serão utilizados como base de cálculo do imposto de importação. O Brasil, em nível interno, editou uma série de atos normativos para fazer cumprir as regras do AVA-GATT. Dentre esses atos, destaca-se o Decreto nº 2.498/98 (atualmente revogado) que, em seu art. 17, previu o seguinte:

Art. 17. No valor aduaneiro, independentemente do método de valoração utilizado, serão incluídos (parágrafo 2 do artigo 8 do Acordo de Valoração Aduaneira): (...) Il - os gastos relativos a carga, descarga e manuseio, associados ao transporte das mercadorias importadas até o porto ou local de importação; e

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Com o objetivo de regulamentar o valor aduaneiro de mercadoria importada, a Secretaria da Receita Federal editou a Instrução Normativa SRF 327/2003, na qual ficou explicitado que a carga, descarga e manuseio das mercadorias importadas no território nacional estão incluídas na determinação do “valor aduaneiro” para o fim da incidência tributária da exação:

Art. 4º Na determinação do valor aduaneiro, independentemente do método de valoração aduaneira utilizado, serão incluídos os seguintes elementos: (...) II - os gastos relativos a carga, descarga e manuseio, associados ao transporte das mercadorias importadas, até a chegada aos locais referidos no inciso anterior; e

Posteriormente foi editado o Decreto nº 6.759/2009, regulamentando as atividades aduaneiras, fiscalização, controle e tributação das importações, ocasião em que ratificou a regulamentação exarada pela SRF:

Art. 77. Integram o valor aduaneiro, independentemente do método de valoração utilizado (Acordo de Valoração Aduaneira, Artigo 8, parágrafos 1 e 2, aprovado pelo Decreto Legislativo no 30, de 1994, e promulgado pelo Decreto no 1.355, de 1994; e Norma de Aplicação sobre a Valoração Aduaneira de Mercadorias, Artigo 7o, aprovado pela Decisão CMC no 13, de 2007, internalizada pelo Decreto no 6.870, de 4 de junho de 2009): I - o custo de transporte da mercadoria importada até o porto ou o aeroporto alfandegado de descarga ou o ponto de fronteira alfandegado onde devam ser cumpridas as formalidades de entrada no território aduaneiro; II - os gastos relativos à carga, à descarga e ao manuseio, associados ao transporte da mercadoria importada, até a chegada aos locais referidos no inciso I; e III - o custo do seguro da mercadoria durante as operações referidas nos incisos I e II.

Segundo entendeu o STJ, os serviços de capatazia enquadram-se na previsão do art. 17, II, do Decreto nº 2.498/98 (atual art. 77, II, do Decreto nº 6.759/2009). Logo, a Instrução Normativa SRF 327/2003 não possui nenhum vício de legalidade. Mas o art. 17, II, do Decreto nº 2.498/98 (atual art. 77, II, do Decreto nº 6.759/2009) está em harmonia com o AVA-GATT? Para o STJ, SIM. Segundo o Tribunal, essa previsão do Decreto é autorizada pelo § 2º do art. 8º do AVA:

Art. 8º (...) (...) 2. Ao elaborar sua legislação, cada Membro deverá prever a inclusão ou a exclusão, no valor aduaneiro, no todo ou em parte, dos seguintes elementos: (a) - o custo de transporte das mercadorias importadas até o porto ou local de importação; (b) - os gastos relativos ao carregamento, descarregamento e manuseio associados ao transporte das mercadorias importadas até o porto ou local de importação; e (c) - o custo do seguro

Para o STJ, quando o AVA-GATT fala em gastos “até o porto ou local de importação”, estão incluídas as despesas que se realizarem no porto ou local de importação (os contribuintes não queriam incluir as despesas feitas dentro do porto ou local de importação; a tese que defendiam era a de que, a partir do momento em que o navio chegou no porto, acabaram as despesas que se incluem no valor aduaneiro). Os serviços de capatazia são despesas realizadas no porto (“movimentação de mercadorias nas instalações dentro do porto”).

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Assim, ao interpretar as normas acima citadas, o STJ concluiu que os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista que tais atividades são realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do território aduaneiro. Nesse panorama, verifica-se que a Instrução Normativa nº 327/2003 encontra-se nos estreitos limites do acordo internacional já analisado. Mudança de entendimento Vale ressaltar que a tese fixada representa alteração da posição até então consolidada no STJ.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA Incide a contribuição previdenciária patronal sobre os

valores pagos a título de Hora Repouso Alimentação - HRA

A Hora Repouso Alimentação – HRA é paga como única e direta retribuição pela hora em que o empregado fica à disposição do empregador. Ou seja, o trabalhador recebe salário normal pelas oito horas regulares e HRA pela 9ª (nona) hora, em que ficou à disposição da empresa.

A HRA possui, assim, nítida natureza remuneratória, submetendo-se à tributação pela contribuição previdenciária patronal, nos termos dos arts. 22, I, e 28 da Lei nº 8.212/91.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.117-BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/11/2019 (Info 671).

Obs: a redação do art. 71, § 4º, da CLT foi alterada pela Lei nº 13.467/2017: “A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho”.

Assim, o entendimento acima exposto abrange apenas os pagamentos e recolhimentos realizados antes da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, uma vez que a nova redação do art. 71, § 4º, da CLT não foi objeto de discussão.

Contribuições para a seguridade social A CF/88 prevê, em seu art. 195, as chamadas “contribuições para a seguridade social”. Consistem em uma espécie de tributo, cuja arrecadação é utilizada para custear a seguridade social (saúde, assistência e previdência social).

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I — do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II — do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III — sobre a receita de concursos de prognósticos; IV — do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

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A CF/88 determina que os recursos arrecadados com as contribuições previstas no art. 195, I, “a” e II serão destinados exclusivamente para o pagamento de benefícios previdenciários do RGPS (administrado pelo INSS). Em razão disso, a maioria dos autores de Direito Previdenciário denomina as contribuições do art. 195, I, “a” e II de “contribuições previdenciárias”, como se fossem uma subespécie das contribuições para a seguridade social. Nesse sentido: Frederico Amado. Contribuições previdenciárias A contribuição previdenciária é uma espécie de tributo, cujo montante arrecadado é destinado ao pagamento dos benefícios do RGPS (aposentadoria, auxílio-doença, pensão por morte etc.) Existem duas espécies de contribuição previdenciária:

PAGA POR QUEM INCIDE SOBRE O QUE

1ª) Trabalhador e demais segurados do RGPS (art. 195, II).

Incide sobre o salário de contribuição, exceto no caso do segurado especial.

2ª) Empregador, empresa ou entidade equiparada (art. 195, I, “a”).

Incide sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício.

Hora Repouso Alimentação (HRA) A Hora Repouso Alimentação (HRA) constitui verba paga ao trabalhador pela disponibilidade do empregado no local de trabalho, ou nas suas proximidades, durante o intervalo destinado a repouso e alimentação, conforme o art. 2º, § 2º, da Lei nº 5.811/72:

Art. 2º (...) (...) § 2º Para garantir a normalidade das operações ou para atender a imperativos de segurança industrial, poderá ser exigida, mediante o pagamento previsto no item II do art. 3º, a disponibilidade do empregado no local de trabalho ou nas suas proximidades, durante o intervalo destinado a repouso e alimentação.

O pagamento por essa “disponibilidade do empregado” é feito nos termos do arts. 3º, II, da Lei nº 5.811/72 e 71, § 4º, da CLT. Incide contribuição previdenciária sobre a Hora Repouso Alimentação (HRA)? SIM.

A Hora Repouso Alimentação – HRA é paga como única e direta retribuição pela hora em que o empregado fica à disposição do empregador. Ou seja, o trabalhador recebe salário normal pelas oito horas regulares e HRA pela 9ª (nona) hora, em que ficou à disposição da empresa. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.117-BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/11/2019 (Info 671).

Assim, a HRA possui nítida natureza remuneratória, submetendo-se à tributação pela contribuição previdenciária patronal, nos termos dos arts. 22, I, e 28 da Lei nº 8.212/91:

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de

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serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (...)

Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; (...)

Deve-se relembrar a seguinte regra: • Se a verba paga tem natureza salarial: INCIDE contribuição previdenciária. • Se a verba paga possui natureza indenizatória: NÃO incide contribuição previdenciária. Lei nº 13.467/2017 A redação do art. 71, § 4º, da CLT foi alterada pela Lei nº 13.467/2017:

CLT

Redação anterior Redação dada pela Lei nº 13.467/2017

Art. 71 (...) § 4º Quando o intervalo para repouso e alimentação, previsto neste artigo, não for concedido pelo empregador, este ficará obrigado a remunerar o período correspondente com um acréscimo de no mínimo 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.

Art. 71 (...) § 4º A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho.

O entendimento fixado pelo STJ no EREsp 1.619.117-BA abrange apenas os pagamentos e recolhimentos realizados antes da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, uma vez que a nova redação do art. 71, § 4º, da CLT não foi objeto de discussão.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre calçadas sem a regular aprovação

estatal. ( ) 2) O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha

realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos. ( )

3) O erro na concessão de licença ambiental configura fato de terceiro capaz de interromper o nexo causal na reparação por lesão ao meio ambiente. ( )

4) (Juiz TJ/RS 2018 VUNESP) A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na

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unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar. ( )

5) (Juiz Federal TRF2 2018) A responsabilidade civil por dano ambiental é subjetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo possível seu afastamento em razão de excludentes de responsabilidade civil. ( )

6) (Juiz Federal TRF2 2018) A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva, fundada na teoria do risco administrativo, com a possibilidade da sua descaracterização quando houver excludente de responsabilidade civil. ( )

7) (PGM Manaus 2018 CEBRASPE) De acordo com o STJ, a responsabilidade por dano ambiental é objetiva e regida pela teoria do risco integral. ( )

8) (Juiz TJ/BA 2019 CEBRASPE) Por equívoco de um de seus empregados, uma empresa alimentícia deixou vazar acidentalmente parte de seu insumo em um rio, o que causou a morte de 5 t de peixes. Nessa situação hipotética, relativamente à responsabilidade civil ambiental, a empresa: A) não responderá pelo dano ambiental, por ser uma pessoa jurídica. B) não responderá pelo dano, visto que não houve dolo na morte dos peixes. C) responderá pelo dano, uma vez que a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria do risco administrativo, não sendo admitida a responsabilização do empregado para responder culposamente pelo dano. D) responderá pelo dano, porque a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria do risco integral. E) responderá pelo dano, pois a responsabilidade civil ambiental é objetiva e pautada na teoria do risco administrativo, admitindo-se, ainda, a responsabilização do empregado para responder culposamente pelo dano.

9) Instituição não financeira - dedicada ao comércio varejista - não pode estipular, em suas vendas a crédito, pagas em prestações, juros remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano. ( )

10) O curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e desconhecimento da integralidade dos danos constitui exceção à regra de que a quitação plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba indenizatória aceita e recebida. ( )

11) A separação de fato por longo período afasta a regra de impedimento da fluência da prescrição entre cônjuges prevista no art. 197, I, CC e viabiliza a efetivação da prescrição aquisitiva por usucapião. ( )

12) A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da usucapião especial urbana sobre a totalidade da área. ( )

13) (Promotor MP/PR 2019) Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. ( )

14) (Promotor MP/MS 2018) Aquele que possuir como sua área urbana até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. ( )

15) (Promotor MP/SC 2016) Aquele que possuir, como sua, área urbana ou rural, de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. ( )

16) (Promotor MP/RS 2017) Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural, sendo que em caso de possuidor casado, o título será conferido necessariamente ao cônjuge varão. ( )

17) O credor fiduciário regido pelo DL 911/1969, em caso de inadimplemento contratual, pode promover a inscrição dos nomes dos devedores solidários em bancos de dados de proteção ao crédito, independentemente de optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução. ( )

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18) (Juiz TJ/SP 2017 VUNESP) Na alienação fiduciária em garantia, regida pelo Decreto-lei nº 911/1969, A) a mora e a busca e apreensão do bem estão condicionadas à prévia notificação do devedor. B) a mora se configura com o vencimento da obrigação, mas a busca e apreensão do bem está condicionada à prévia notificação do devedor. C) a notificação do devedor é facultativa, mas necessária para a preservação de direitos de terceiros. D) não há necessidade de prévia notificação do devedor para a busca e apreensão do bem, sendo esta decorrência imediata do inadimplemento.

19) Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários. ( )

20) O laboratório tem responsabilidade objetiva na ausência de prévia informação qualificada quanto aos possíveis efeitos colaterais da medicação, ainda que se trate do chamado risco de desenvolvimento. ( )

21) (Juiz TJ/RS Vunesp 2018) Paciente com insuficiência renal grave faleceu em decorrência de ingerir, por orientação médica, um anti-inflamatório, cuja bula continha informações de possíveis reações adversas e a ocorrência de doenças graves renais. O laboratório, fornecedor do produto, A) não responde, pois o produto tem periculosidade inerente (medicamento), cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis. B) reponde objetivamente pela teoria do risco do empreendimento ou da atividade. C) responde objetivamente, por ser causador de um acidente de consumo. D) responde objetivamente pelos riscos do produto, pelo simples fato de tê-lo colocado no mercado. E) responde subjetivamente, pois se trata de produto defeituoso.

22) Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo. ( ) 23) (Promotor MP/RR 2017 CEBRASPE) O princípio da vinculação da oferta faz surgir uma obrigação pré-

contratual do fornecedor do produto ou serviço. ( ) 24) (Procurador ALERJ 2017) Foi veiculada publicidade de determinado fabricante de automóveis afirmando

que, na compra de certo modelo, o comprador ganharia uma viagem para Nova Iorque, com acompanhante, incluindo passagem aérea, estadia em Hotel quatro estrelas e traslado. Ferdinaldo, motivado pela propaganda, foi até a concessionária e, após negociar o preço e as condições de pagamento, adquiriu o veículo. Nada foi mencionado a respeito da viagem. Alguns dias depois Ferdinaldo retornou à concessionária para agendar sua viagem em companhia de sua esposa, quando foi informado de que não teria direito ao benefício por não ter sido pactuado no momento da compra do carro. Sobre o caso, é correto afirmar que Ferdinaldo: A) tem direito à viagem, já que a publicidade obriga o fornecedor e integra o contrato, independentemente de ter constado dos seus termos; B) não tem direito à viagem, já que não houve inclusão expressa da mesma no momento do contrato, devendo prevalecer o princípio da relatividade dos contratos; C) não tem direito à viagem, já que não houve inclusão expressa da mesma no momento do contrato, devendo prevalecer o princípio da obrigatoriedade dos contratos; D) tem direito à viagem, desde que pague pelo seu custo, funcionando a fabricante tão somente como agente de turismo; E) não tem direito à viagem, já que absolutamente ilícita e proibida a venda casada.

25) O prazo para execução individual de sentença proferida contra planos de saúde em ação civil pública é de três anos. ( )

26) Diante da divergência entre as expressões numérica e por extenso da data de vencimento de nota promissória, deve-se presumir que a efetiva vontade do emitente da nota era a de que o vencimento se desse após a emissão, prevalecendo, assim, a segunda e mais futura data de vencimento. ( )

27) A alienação de ativos na forma de unidade produtiva isolada não pode se dar por meio diverso do previsto nos arts. 60 e 142 da Lei nº 11.101/2005. ( )

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28) (Promotor MP/SP 2013) A alienação dos ativos do devedor falido é determinada pelo juiz, ouvido o administrador judicial, e será realizada, dentre outras modalidades, via leilão por lances orais, propostas fechadas e pregão. ( )

29) (Juiz TJ/PR 2011) Ao juiz é permitido homologar qualquer modalidade de realização do ativo do falido, desde que aprovada pela assembleia geral de credores, inclusive com a constituição de sociedade de credores ou dos empregados do próprio devedor, com a participação, se necessária, dos atuais sócios ou de terceiros. ( )

30) Os créditos lastreados em contratos de fiança bancária, firmados para garantia de obrigação contraída, não estão submetidos aos efeitos da recuperação judicial. ( )

31) (Juiz TJ/RJ 2019) Estão sujeitos à recuperação judicial os créditos existentes na data do pedido, desde que vencidos. ( )

32) (Juiz TJ/RR 2015 FCC) A empresa “Lojas Vende Barato”, por dificuldades de fluxo de caixa, formulou pedido de recuperação judicial apresentando plano que prevê a remissão de 50% de todas as suas dívidas. Estão sujeitos à recuperação judicial os créditos contra a recuperanda existentes na data do pedido, tanto os vencidos quanto os por vencer. ( )

33) (Juiz TJ/PR 2011) Estão sujeitos aos efeitos do deferimento da recuperação judicial os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, à exceção de créditos decorrentes da titularidade de posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio e aqueles decorrentes de adiantamento a contrato de câmbio para exportação. ( )

34) (TJ/MS 2010 FCC) Estão excluídos do procedimento de recuperação judicial os seguintes credores: o proprietário em contrato de venda com reserva de domínio; o cessionário fiduciário de direitos creditórios; e o credor de valores referentes à contrato de adiantamento de câmbio. ( )

35) (TJ/MG 2007) Na falência do devedor alienante, fica assegurado ao credor ou proprietário fiduciário o direito de pedir a restituição do bem alienado fiduciariamente. ( )

36) Inexistindo homologação judicial do pedido de renúncia, não se pode permitir a abertura do prazo decadencial de dois anos para propor ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação da parte interessada. ( )

37) O inadimplemento da pena de multa não obsta a extinção da punibilidade do apenado. ( ) 38) Caracteriza ilícito penal o porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei n. 10.826/2003) ou de arma de fogo

de uso restrito (art. 16 da Lei 10.826/2003) com registro de cautela vencido. ( ) 39) Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da Penha no caso de violência do neto

praticada contra a avó. ( ) 40) Incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006 em caso de

tráfico de drogas cometido nas dependências ou nas imediações de igreja. ( ) 41) (Promotor MP/RS 2014) O tráfico de drogas cometido nas imediações de locais de trabalho coletivo não

é considerado causa de aumento de pena. ( ) 42) (Promotor MP/MT 2019 FCC) De acordo com o ordenamento jurídico e o posicionamento dos tribunais

superiores sobre as disposições previstas na Lei nº 11.343/2006, somente deverá incidir a causa de aumento do art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006 se a venda de drogas nas imediações de um presídio tenha como comprador um dos detentos ou alguém que estava frequentando o presídio. ( )

43) Os serviços de capatazia não integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista que tais atividades são realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do território aduaneiro. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. E 4. C 5. E 6. E 7. C 8. Letra D 9. C 10. C

11. C 12. C 13. C 14. C 15. E 16. E 17. C 18. Letra B 19. E 20. C

21. Letra A 22. C 23. C 24. Letra A 25. E 26. C 27. E 28. C 29. C 30. C

31. E 32. C 33. C 34. C 35. C 36. C 37. E 38. C 39. C 40. E

41. E 42. E 43. E