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Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 1 Erro Médico: quando a morte veste branco 1 Gilberto Lopes Teixeira Advogado - MSc. [email protected] Vivemos em um (E)stado de anestesia geral. Parafraseando um dos representantes da Tropicália, Caetano Veloso, “alguma coisa está fora da ordem”... Os hospitais 2 lotados não tratam, infeccionam, deprimem. Os remédios falsificados não curam, enganam. Os leitos hospitalares, quando não lotados, são constantemente desativados. Há longas filas de espera por todo o país. Os médicos distantes, não falam, sequer esclarecem. As quatro dimensões cardinais do diagnóstico físico (inspeção “olhar para o paciente”, palpação “toque”, percussão “bater no peito ou abdome” e auscultação “escutar sons vindo de dentro do corpo” 3 ) usados desde os primórdios foram parcialmente abolidas das consultas rápidas e modernas. Tornamo-nos, por vezes, 1 Gilberto Lopes Teixeira . Advogado e Professor Universitário, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Santa Catarina sob nº 18.002. Bacharel em Letras Inglês e Português e respectivas Literaturas. Bacharel em Direito com habilitação empresarial. Pós- graduado em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho. Mestre em Análise do Discurso Forense UFSC/PGI. Articulista, tradutor e palestrante. Vice-Presidente do Instituto dos Advogados do Brasil - IASC. * Palestra originalmente apresentada sob o título de “Erro Médico: algumas considerações”, em homenagem ao 80º Aniversário IASC, em 28 de outubro de 2011. Painel de Debates “Conceituação técnica e Jurídica Erro Médico”. Registro minhas felicitações pelo octogésimo aniversário do Instituto dos Advogados de Santa Catarina-IASC que ao longo destes anos, como bem ressaltou o então Presidente Dr. Sidney Guido Carlin, destaca-se como “associação dedicada sobretudo ao aprimoramento da cultura jurídica, tendo como uma de suas prioridades garantir que o mundo jurídico atinja a excelência de qualidade em todos os seus aspectos especialmente perseguindo a ética, a justiça, a moralidade, a celeridade, a credibilidade, a transparência, a imparcialidade, o respeito ao cidadão, a dignidade e a valorização das pessoas”. Posteriormente, em 09 de agosto de 2012, realizou palestra sobre o tema Direito Médico, na OAB, Seccional de Itajaí a convite da OAB/SC e IASC. 2 Na cristandade os primeiros hospitais (mesma raiz das palavras hospitalidade e hotel) eram estabelecimentos religiosos, mantidos por ordens religiosas e disponíveis como locais de refúgio ou hospitalidade para peregrinos, mas também para os necessitados. Sua função não era explicitamente médica embora pudesse contem uma enfermaria (local para doentes e enfermos) onde aqueles com necessidade médicas específicas podiam ser tratados (p.33). Pacientes de hospital eram, em sua maioria, pobres e sem instrução e, assim, não tinham muita influência no modo como eram tratados (p. 57) (Bynum, William F. História da Medicina. Porto Alegre, L&PM, 2011). 3 O estetoscópio, inventado por R.T.H. Laennec (1781-1826) clínico Francês, originalmente não passava de um caderno de anotações bem enrolado, construído porque ele queria escutar os sons do peito de uma jovem paciente examinada em 1816, no Hospital Necker, em Paris, e o decoro dizia que ele não podia colocar a orelha diretamente sobre seu peito.

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Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 1

Erro Médico: quando a morte veste branco1

Gilberto Lopes Teixeira – Advogado - MSc. [email protected]

Vivemos em um (E)stado de “anestesia geral”.

Parafraseando um dos representantes da Tropicália, Caetano Veloso,

“alguma coisa está fora da ordem”... Os hospitais2 lotados não tratam,

infeccionam, deprimem. Os remédios falsificados não curam, enganam.

Os leitos hospitalares, quando não lotados, são constantemente

desativados. Há longas filas de espera por todo o país. Os médicos

distantes, não falam, sequer esclarecem. As quatro dimensões cardinais

do diagnóstico físico (inspeção “olhar para o paciente”, palpação “toque”,

percussão “bater no peito ou abdome” e auscultação “escutar sons vindo

de dentro do corpo”3) usados desde os primórdios foram parcialmente

abolidas das consultas rápidas e modernas. Tornamo-nos, por vezes,

1 Gilberto Lopes Teixeira . Advogado e Professor Universitário, inscrito na Ordem dos

Advogados do Brasil, Seccional Santa Catarina sob nº 18.002. Bacharel em Letras Inglês e Português e respectivas Literaturas. Bacharel em Direito com habilitação empresarial. Pós-graduado em Direito do Trabalho e Processual do Trabalho. Mestre em Análise do Discurso Forense UFSC/PGI. Articulista, tradutor e palestrante. Vice-Presidente do Instituto dos Advogados do Brasil - IASC. * Palestra originalmente apresentada sob o título de “Erro Médico: algumas considerações”, em homenagem ao 80º Aniversário IASC, em 28 de outubro de 2011. Painel de Debates – “Conceituação técnica e Jurídica Erro Médico”. Registro minhas felicitações pelo octogésimo aniversário do Instituto dos Advogados de Santa Catarina-IASC que ao longo destes anos, como bem ressaltou o então Presidente Dr. Sidney Guido Carlin, destaca-se como “associação dedicada sobretudo ao aprimoramento da cultura jurídica, tendo como uma de suas prioridades garantir que o mundo jurídico atinja a excelência de qualidade em todos os seus aspectos especialmente perseguindo a ética, a justiça, a moralidade, a celeridade, a credibilidade, a transparência, a imparcialidade, o respeito ao cidadão, a dignidade e a valorização das pessoas”. Posteriormente, em 09 de agosto de 2012, realizou palestra sobre o tema Direito Médico, na OAB, Seccional de Itajaí a convite da OAB/SC e IASC. 2 Na cristandade os primeiros hospitais (mesma raiz das palavras hospitalidade e hotel) eram

estabelecimentos religiosos, mantidos por ordens religiosas e disponíveis como locais de refúgio ou hospitalidade para peregrinos, mas também para os necessitados. Sua função não era explicitamente médica embora pudesse contem uma enfermaria (local para doentes e enfermos) onde aqueles com necessidade médicas específicas podiam ser tratados (p.33). Pacientes de hospital eram, em sua maioria, pobres e sem instrução e, assim, não tinham muita influência no modo como eram tratados (p. 57) (Bynum, William F. História da Medicina. Porto Alegre, L&PM, 2011). 3 O estetoscópio, inventado por R.T.H. Laennec (1781-1826) clínico Francês, originalmente não

passava de um caderno de anotações bem enrolado, construído porque ele queria escutar os sons do peito de uma jovem paciente examinada em 1816, no Hospital Necker, em Paris, e o decoro dizia que ele não podia colocar a orelha diretamente sobre seu peito.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 2

meros números lançados em prontuários médicos ou relatórios

gerenciais.

As “cinco certezas da enfermagem” já não são tão

certas assim pelo que nunca é demais repeti-las: 1) O paciente certo –

nome e leito; 2) Medicamento certo – confirmar a prescrição; 3) Dose

certa – evitando super dosagem ou dosagem ineficaz; 4) Via certa –

alguns medicamentos são de vias específicas, causando danos quando

administrados em vias inadequadas e 5) Hora certa – garantindo a

eficácia da droga prescrita, respeitando a meia vida de cada uma.

Neste cenário anestésico e patológico haverei de

tratar do tema objeto do presente debate: erro médico (ou erro de ofício),

trazendo um breve conceito, seguido de uma rápida menção histórica e

demonstrando dados estatísticos e fatores que contribuem para a

ocorrência do erro médico. Por fim, de forma modesta, mas verdadeira,

ouso levantar algumas sugestões relacionadas ao tema em discussão.

O tema, erro médico, é assunto delicado e complexo

que, desde os tempos remotos do legado hipocrático4 até os dias atuais,

desperta discussões, debates e traz à tona mais questionamentos do que

respostas.

A medicina talvez seja uma das mais importantes

atividades desenvolvidas pelo ser humano e visa à valorização da vida.

Deve ser exercida com responsabilidade, ética, transparência e respeito

ao ser humano. A medicina consiste em ciência e arte. Como ciência,

precisa de conhecimentos técnicos e como arte, de uma conduta correta

ao realizar intervenções em seu sujeito e não objeto de trabalho: o ser

humano. O médico com certeza não comete mais erros que outros

profissionais de nível superior. Também erram advogados, juízes,

4 Hipócrates viveu na ilha de Kós, perto da atual Turquia, aproximadamente de 460 a 370 a.C.

Ele praticava medicina e ensinava discípulos em troca de pagamento. O diagnóstico podia envolver orações, a leitura das entranhas de animais. Essa mistura de medicina mágico-religiosa também foi parte do panorama grego durante o período hipocrático. Curiosamente, Esculápio e o caduceu, ambos exalando magia e religião, foram adaptados como emblema da medicina moderna. (Bynum, William F. História da Medicina. Porto Alegre, L&PM, 2011).

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promotores, engenheiros, arquitetos, administradores etc... O erro é o

preço que os seres humanos pagam pela habilidade de pensar e agir5.

Entretanto, o erro médico é mais que visível a olho nu, por vezes ceifa

vidas, causa dor imediata, dor a médio ou longo prazo. Isso torna seu

erro mais dramático, talvez um convite atentador para mídia

“GLOBOlizada”. Enquanto as outras profissões, ao errarem, em sua

grande maioria, causam perdas financeiras ou materiais, mas nem

sempre a dor, perda de órgãos ou funções.

Nos primeiras civilizações organizadas, já previa o

Código de Hamurabi, na Mesopotâmia (hoje, Iraque e terras próximas),

por volta de 1700 a.C.:

“Se um médico abriu um tumor, ou tratou com faca uma ferida, ou curou um olho doente, receberá dez siclos de prata se o paciente for um homem livre, cinco siclos se for um descendente de plebeus, dois siclos se for um escravo. Se o médico fez o paciente perder o olho, então suas mãos serão cortadas, se se tratar de um homem livre. Se se tratar do escravo de um plebeu, ele deverá fornecer outro escravo.6”

Por erro médico7 podemos entender:

“O mau resultado ou resultado adverso decorrente de ação ou da omissão do médico. O erro médico pode se verificar por três vias principais. A primeira delas é o caminho da imperícia decorrente da "falta de observação das normas técnicas", "por despreparo prático" ou "insuficiência de conhecimento". O segundo caminho é o da imprudência e daí nasce o erro quando o médico por ação ou omissão assume procedimentos de risco para o paciente sem respaldo científico ou, sobretudo, sem esclarecimentos à parte interessada. O terceiro caminho é o da negligência, quando o profissional negligencia, trata com descaso ou pouco interesse os deveres e compromissos éticos com o paciente e até com a instituição. O erro médico pode também decorrer do

5 Reason, James. Erro Humano.

6 Filho, Jonas de Mello. Erro médico. pp.323. IN: Curso de Direito Médico. Coord. Hélio do

Valle Pereira; Romano Jose Enzweiler. São Paulo : Conceito, 2011. 7 França, GV. Direito médico. 1. 6ed. São Paulo: Fundação BYK, 1995.

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resultado adverso da ação médica, do conjunto de ações coletivas de planejamento para prevenção ou combate às doenças”.

A definição de erro médico também se encontra no

Manual de Orientação Ética Disciplinar do Conselho Federal de

Medicina:

“É o mau resultado ou resultado adverso decorrente da ação ou da omissão do médico, por inobservância de conduta técnica, estando o profissional no pleno exercício de suas faculdades mentais. Excluem-se as limitações impostas pela própria natureza da doença, bem como as lesões produzidas deliberadamente pelo médico para tratar um mal maior”.

Assim, o médico não pode praticar atos danosos ao

paciente, que possam ser caracterizados como imperícia, imprudência ou

negligência.

Nossa Constituição Federal de 1988, em seu art.

5º, inciso X, assim dispõe:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; O Novo Código Civil, em seu art. 186, destaca: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. E mais, o art. 927, no mesmo sentido adverte: Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Adiante no art. 951 do mesmo Diploma Legal, in verbis:

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O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. Já o Código de Defesa do Consumidor, em seu art.

14, parágrafo 4º, expressa:

A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Na esfera penal há que se estabelecer o nexo de

causalidade, ou seja, o vínculo existente entre a conduta do agente e o

resultado por ela produzido, assim expresso no art. 13 do Código Penal:

O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. O médico pode, ainda, incorrer ainda no crime de

omissão de socorro:

Art. 135, do Código Penal. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública; Ou no crime de omissão de notificação de doença: Art. 269, do Código Penal. Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória; Também a Lei de Transplantes de Órgãos (Lei

9434/97), assim como a Lei de Engenharia Genética (Lei 8974/95),

criaram várias figuras criminais, especificamente de conduta médica (ou

de médico-cientista).

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 6

Resumidamente, registraremos algumas noções

básicas dos seguintes termos jurídicos para melhor compreensão do

tema em tela:

Por culpa devemos entender como a falta de

diligência na observância da norma de conduta, ou seja, o desprezo, por

parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado

não objetivado, mas previsível.

Por imperícia devemos entender como carência

de aptidão prática ou teórica; incompetência; inexperiência; despreparo

profissional; aplicar deficientemente o conhecimento que o médico possui

ou deveria possuir.

Por imprudência devemos entender quando,

tendo conhecimento do risco e não ignorando a ciência médica, toma a

decisão de agir assim mesmo. É assumir uma conduta sem a

observação dos cuidados necessários à realização do ato. É agir com

açodamento, arrojo, ausência de ponderação.

Por negligência devemos entender pela

omissão da diligencia devida, da conduta esperada. É a falta de cuidados

e atenção, levando a resultados prejudiciais, caracteriza-se por um não

fazer aquilo que deveria ter sido feito em dado momento.

Por dano devemos entender como produto de

uma ação ou omissão, própria ou de outrem, que trouxer conseqüências

negativas à integridade física, saúde ou bem-estar da pessoa.

Por nexo causal devemos entender pelo vínculo

existente entre a conduta do agente e o resultado por ele produzido, ou

seja, estabelecer a ligação entre a sua conduta e o resultado gerado.

Por casos de emergência devemos entender

aqueles em que há a necessidade de atuação imediata sem tempo de

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 7

preparo cirúrgico, com risco imediato à vida do paciente e/ou lesões

irreparáveis a este.

Por casos de urgência devemos entender

aqueles em que há necessidade de atuação para supressão da dor

intensa e/ou estancamento de processos hemorrágicos.

A seguir, apresento-lhes algumas informações e

estatísticas para análise e reflexão:

O Conselho Regional de Medicina de Santa

Catarina (CREMESC) é um órgão fiscalizador, disciplinador e julgador

dos médicos no Estado; é também promotor de normas de conduta e

zelador de seu cumprimento, principalmente para oferecer à sociedade

benefícios à saúde.

Quando os Conselhos de Medicina analisam

determinado comportamento ético-profissional com a finalidade de

concluir se houve imperícia, imprudência ou negligência como fatores

relacionados ao mau resultado denunciado, o que buscam é verificar se

aquele médico, naquele caso específico, não agiu com o zelo

indispensável à preservação da saúde de seu paciente, merecendo

punição8.

Do ponto de vista ético-moral, a

responsabilidade ética independe de um resultado danoso, ou seja, na

apreciação da responsabilidade ética é irrelevante a presença do dano.

Entre 2014 a 2010, o número de processos que

chegaram no Superior Tribunal de Justiça por erro médico cresceu

140%. Em 2014 foram 626 processos. No mesmo período 18 médicos

tiveram registros cassados e outros 625 receberam punições do

Conselho Federal de Medicina. (Fonte: Diário Catarinense, 23/03/2015,

pg. 28).

8 Constantino. Clóvis Francisco. Julgamento ético do médico: reflexão sobre culpa, nexo de

causalidade e dano. Revista Bioética 16 (1) : 97 – 107.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 8

Em Santa Catarina, o CREMESC leva quase

três anos para julgar um caso de erro médico, tamanha a burocracia. De

2007 a 2009, dos 1.164 processos, somente 197 resultaram em

condenações e somente 03 cassações. Até junho de 2010 - em 50 anos

de existência do CREMESC - apenas 05 médicos foram cassados9.

Até junho de 2006, 653 médicos já haviam sido

julgados no CREMESC, sendo 334 (52,15%) condenados. Entre eles, 33

pela infração do artigo 29 do Código de Ética Médica10 (9,88% dos

condenados). Dos 33 médicos, 32 (96,97%) são do sexo masculino e um

do feminino (3,03%). Ocorrem 16 óbitos no total11.

Entre os médicos condenados pelo CREMESC,

53,4% deles foram denunciados por fatos gerados em hospitais, 32% em

consultórios e 14,6% em outros locais. Das denúncias por ocorrência

hospitalares, a maioria ocorreu nos setores de emergência (56,4%) e

centro cirúrgico (21,8%)12.

Em 2009, o CREMESC registrou 941

sindicâncias em tramitação. Destas, apenas 386 foram apreciadas até

junho de 2010. As outras 555 acumularam com as demais denúncias em

201013;

Os Conselheiros do CREMESC não são

remunerados. Fazem o trabalho nas folgas. As reuniões de sindicância

acontecem quatro vezes ao mês14.

O Conselho Federal de Medicina (CFM)

recebeu, em quase 5 anos (2006/10), 3.763 processos contra médicos

brasileiros acusados de erros, negligência, assédio e propaganda

enganosa, assim divididos:

9 Atos & fatos da 33º PJ da Capital – MPSC.

10 É vedado ao médico: Art. 29 - Praticar atos profissionais danosos ao paciente, que possam

ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência. 11

Carvalho, Joana M. M. de. Erro médico: perfil profissional. Fpolis : UFSC, 2008. 12

Carvalho, Joana M. M. de. Erro médico: perfil profissional. Fpolis : UFSC, 2008. 13

Atos & fatos da 33º PJ da Capital – MPSC. 14

Atos & fatos da 33º PJ da Capital – MPSC.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 9

Em 2006: 832 processos; Em 2007: 846 processos; Em 2008: 839 processos; Em 2009: 791 processos; Em 2010 (até junho): 455 processos.

De 2004/08, o Conselho Federal de Medicina

(CFM) julgou 238 denúncias de erros médicos ocorridos durante cirurgias

plásticas. Neste período, 06 profissionais tiveram o registro cassado e 89

processos foram arquivados. Foram aplicadas 35 censuras públicas a

médicos15.

De acordo com o Conselho Federal de Medicina

(CFM) as especialidades médicas que mais sofrem processos são:

Ginecologia e obstetrícia: 20%; Cirurgia Plástica: 10%; Oftalmologia: 9%; Cirurgia Geral: 8%; Ortopedia: 6%; Pediatria: 6%; Outras áreas: 41%

As médicas são menos denunciadas do que os

médicos por uma série de motivos: melhor interação com os pacientes,

maior tempo dedicado a ouvir e a examinar os pacientes, menor número

de pacientes atendidos, tratamento de pacientes portadores de moléstias

menos graves e teriam elas mais atributos humanísticos do que os

15

Portal de Notícias da Globo. Atualizado em 29/01/10 – 20h46.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 10

médicos16. De modo geral, as mulheres tem uma maior capacidade de

interação, ouvem, falam e explicam, além de parecerem mais atenciosas.

Dos 13.000 profissionais formados todo ano

pelas 85 escolas de medicina do país, apenas 60% conseguem vaga

para fazer residência, de acordo com o Conselho Federal de Medicina

(CFM).

Em 2010, o Conselho Federal de Medicina

(CFM) elaborou um protocolo de segurança para cirurgia plástica. O

protocolo é uma espécie de check list com todos os procedimentos que

devem ser adotados nas diferentes etapas de uma cirurgia plástica e

deve abranger orientações de indicações cirúrgicas, os exames pré-

operatórios necessários em cada caso, informações sobre anestesia e

atendimento pós-cirúrgico e as condições ideais do local para a

realização da operação17.

As penas disciplinares previstas no art. 22 da Lei

3.268/57, são divididas em cinco categorias:

Advertência confidencial, em aviso reservado; Censura confidencial, em aviso reservado; Censura pública em publicação oficial; Suspensão do exercício profissional, até 30 dias; Cassação do exercício profissional.

Os médicos infratores são preponderantemente

do sexo masculino, tem em média 42 anos, contam com mais de 15 anos

de experiência profissional são principalmente das especialidades de

ginecologia, obstetrícia e anestesiologia18.

Na esfera da saúde pública a omissão do Estado é

latente. O Governo do Estado de Santa Catarina, por exemplo, é

obrigado a observar os percentuais mínimos para aplicação nas ações e

16

Taragin, MI, Wilczek AP, Karns ME, Trout R, Carson JL. Physician demographics and the risk of medical malpractice. The American Journal of Medicine, 93 (11):537-42,1992. 17

Portal de Notícias da Globo. Atualizado em 29/01/10 – 20h46. 18

Maia DB. Erro Médico no Brasil: análise de processos ético-profissionais julgados pelo CFM no período de 1988 a 1998. São Luiz (MA), 1999.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 11

serviços públicos de saúde (12% da receita corrente líquida). Conforme

os relatórios do Tribunal de Contas do Estado (TCE), de 2005 a 2008, a

inclusão indevida de inativos nos investimentos da saúde retiraram, em

média, R$ 7,8 milhões mensais do setor. Em todos os anos o Governo

do Estado praticamente maquia os investimentos, para afirmar que

alcança o percentual constitucional mínimo de 12% da receita em saúde.

O sistema precisa ser revisto, urgentemente. Há carência de políticas

públicas continuadas na área de saúde, salários dignos, infra-estrutura e

ampliação no número de leitos, contratação de pessoal, médicos,

enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. “Se pode ser prevenido,

por que não o é?”, uma vez perguntou aos médicos o futuro rei Eduardo

VII. Foi uma boa pergunta, mas a deprimente resposta é que pode custar

muito caro, pode não haver vontade política ou médica suficiente, ou as

pessoas (e seus médicos) devem ser educados a respeito da prevenção,

e a educação nunca atinge a todos.

Um levantamento divulgado pelo IBGE mostra

que nos últimos quatro anos o Brasil perdeu 11.214 leitos hospitalares,

uma média de 2.803 vagas a menos por ano. A análise compara dados

de 2005 e 2009.

Em Florianópolis, SC, 03 hospitais estão em

reforma ao mesmo tempo há mais de um ano: o Florianópolis, o Celso

Ramos e o Infantil Joana de Gusmão. O número de Leitos desativados é

de 263, ou seja, 45% do total19.

Em Joinville, SC, os 04 hospitais contam ao todo

com 51 leitos de UTI no Sistema Único de Saúde (SUS) para mais de

500 mil habitantes. Hospital Regional Hans Dieter Schmidt 10 leitos;

Municipal de São José 14 leitos; Darcy Vargas 10 leitos (UTI neonatal) e

Infantil com 17 leitos.20

19

Diário Catarinense. 05/10/2011, p. 05. 20

Diário Catarinense. 01/08/2012, p. 25

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 12

Na Justiça comum os processos em primeira

instância têm o prazo aproximado de dois anos para julgamento21.

Para que se configure o erro médico como ato

ilícito e se impute o dever da reparação, faz-se necessária a presença de

três elementos essenciais:

Conduta culposa; Resultado danoso; Nexo causal entre a conduta culposa e o resultado advindo;

Equivalente à relação entre prestador de serviço

e consumidor, a relação médico-paciente também é contemplada pelo

Código de Defesa do Consumidor. Assim, permite-se ao Juiz impor ao

profissional médico a obrigação de provar não ter agido com

imprudência, negligência ou imperícia, desde que caracterizada a

verossimilhança do fato imputado ao médico ou a hipossuficiência do

consumidor do serviço médico.

Advogados especializados em Erro Médico,

questionados sobre a razão básica pela qual o paciente denunciava o

médico por cometimento de falta na profissão, responderam que mais de

80% dos casos se deviam a questões de comunicação: 35% à falha de

comunicação, 7% a ter o médico depreciado um atendimento anterior e

3% a ter causado uma expectativa irreal no paciente22.

Listamos abaixo alguns exemplos clássicos de erros

médicos:

Paciente que recebeu órgão oriundo de um doador

incompatível;

Paciente encaminhado para cirurgia no lugar de outro

paciente;

21

Atos & fatos da 33º PJ da Capital – MPSC. 22

Carvalho, Joana M. M. de. Erro médico: perfil profissional. Fpolis : UFSC, 2008.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 13

Esquecimento de “corpo estranho” dentro do paciente: gaze,

pinça, tesoura, bisturi, luva, máscara, agulhas;

Crianças que nascem com paralisia

cerebral pela demora no atendimento das

gestantes;

Amputação de membros errados; troca

de pé direito por pé esquerdo; membro superior por inferior;

Troca de medicações;

Erro na dosagem das medicações;

Troca de nomes nos leitos;

Fertilização com espermatozóide ou óvulo trocado;

Órgão saudável removido no lugar do órgão doente (rim,

pulmão, apêndice...);

Cirurgia sem anestesia ou em pouca dose;

Queimaduras durante a cirurgia;

Ponto de safena em artéria errada;

Descuido em transfusão sanguínea.

Vale lembrar que o maior astro pop do mundo,

Michael Jackson, foi vítima de erro médico. Seu médico, Conrad Murray,

foi condenado a quatro anos de prisão por provocar a morte do cantor,

em junho de 2009. Para a promotoria o médico foi negligente ao

administrar anestésico propofol ao cantor como tratamento para a

insônia. O juiz, Michael Pastor, declarou que Murray repetiu um padrão

continuo de falsidade e mentiras ao esconder que Jackson fazia uso do

propofol e que o médico abandonou seu paciente, nominando sua

conduta de uma “desgraça para a profissão de médico”.

A seguir, elencamos possíveis fatores que

contribuem para a geração do erro médico, ou aumentam a sua

incidência ou agravam a sua expressão, no Brasil:

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 14

Aumento expressivo da população de médicos;

Insuficiência de conhecimento técnico;

Algumas faculdades de medicina não oferecem a estrutura

mínima para os alunos, os chamados hospitais escola23;

Condições adversas; escassez de recursos materiais;

carência de profissionais treinados; escolha de instalações

inadequadas;

Número excessivo de pacientes; anotações lacônicas ou

inexistentes e prescrições verbais;

Extinção do “médico de família” e da “medicina à beira do

leito”;

Jornadas exaustivas, múltiplos empregos;

Prontuários incompletos;

Baixa remuneração;

Uso inadequado de instrumentos;

Negligência pós-operatória;

Abandono do paciente;

Operações prematuras;

Retardo na transferência para outro especialista;

Exame superficial do paciente;

Índice relevante de alcoolismo, depressão e dependência

química entre os operadores de medicina;

Insatisfação na relação médico-paciente; Ausência de

comunicação interpessoal e atendimento de qualidade;

Ausência de consentimento informado e esclarecimento;

23

No início do século XIX, uma escola de medicina sem hospital anexo era considerada de segunda categoria. Quando a Universidade de Londres inaugurou sua escola de medicina, no final dos anos de 1820, a primeira coisa que fez foi estabelecer um hospital. O padrão foi repetido em toda a Europa, mesmo em pequenas cidades alemãs onde a formação clínica se dava frequentemente por meio da demonstração, e não pela prática (Bynum, William F. História da Medicina. Porto Alegre, L&PM, 2011).

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 15

O medo constante do erro médico amedronta o profissional;

medo do constrangimento perante seus pares, medo da punição

pelo seu Conselho de Medicina e medo de demanda judicial;

Os médicos têm uma grande dificuldade em administrar um

erro, quando ele ocorre; Recusa do médico em reconhecer o erro;

Arrogância decorrente da posse do conhecimento técnico;

Certeza de impunidade é outro fator que favorece os erros;

Nos hospitais públicos, quando o médico erra, geralmente o

processo corre contra a União, o Estado ou o município. Em

raríssimos casos, acusa-se diretamente o profissional que cometeu

a falha. Essas entidades públicas, e impessoais, pagam as

indenizações, quando são condenadas, mas quase nunca se

preocupam em punir os responsáveis pelo erro;

Mídia sensacionalista;

Indústria das Indenizações seguindo o modelo americano;

Condutas inapropriadas dos planos de saúde;

Indústria dos remédios custeia viagens, prêmios e benefícios

aos médicos e farmácias pelo número de prescrições e

comercialização de seus produtos criando um ciclo vicioso. O meio

médico se transformou num grande negócio e passaram a adotar

inúmeras estratégias das corporações internacionais. Muitos

fornecedores de assistência médica são corporações internacionais

impulsionadas e famintas pelo lucro nos países pobres e em

desenvolvimento;

Demora e falta de transparência nos julgamentos dos

Conselhos Regionais e Federal – “Máfia do Jaleco Branco”.

Não podemos esquecer que o paciente atual é um cidadão-

consumidor consciente, repleto de informações e que luta pelos

direitos que lhe cabem;

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 16

Algumas sugestões para reflexão sobre o tema:

Criação do exame obrigatório ao final do curso em todo o

Brasil (“OAB para médico”);

Corpo docente qualificado e de qualidade nas Universidades

e estruturas adequadas;

Maior controle do Ministério da Educação em relação à

abertura de novos cursos de medicina e fiscalização dos atuais;

Treinamentos constantes e intensivos aos operadores da

Medicina (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos,

técnicos de enfermagem, técnicos em radiologia, dentistas etc...);

Obrigatoriedade em firmar seguro de responsabilidade civil

objetivando o ressarcimento em caso de erro médico. O seguro

proporciona mais segurança/confiança ao médico ao executar suas

atividades diárias, pois há o resguarda de seu patrimônio e o

paciente/vítima não fica desprotegido financeiramente em eventual

erro;

Estabelecer boa relação médico/paciente com linguajar

acessível e mais simples. Saber ouvir e conversar com o paciente,

entender suas expectativas em relação à doença e estabelecer com

o paciente não apenas um contrato, mas um elo de cumplicidade e

confidência;

Alertar o paciente e seus familiares quanto aos riscos

inerentes de cada procedimento;

Seguir check list para os procedimentos médicos cirúrgicos,

assim como os adotados pelo CFM quanto às cirurgias plásticas e

as cinco certezas da enfermagem. As “cinco certezas da

enfermagem”: 1) O paciente certo – nome e leito; 2)Medicamento

certo – confirmar a prescrição; 3) Dose certa – evitando super

dosagem ou dosagem ineficaz; 4) Via certa – alguns medicamentos

são de vias específicas, causando danos quando administrados em

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 17

vias inadequadas e 5) Hora certa – garantindo a eficácia da droga

prescrita, respeitando a meia vida de cada uma.

Exigir grafia legível nos atestados, prontuários e prescrições

médicas; redigir prontuários detalhados e atualizados;

Julgamentos administrativos mais rápidos, oportunizando

sempre a ampla defesa e o contraditório;

Fiscalização intensa nos hospitais e clínicas. A demanda nos

hospitais e brutal, sufocante e estressante. Ambiente propício à

proliferação do erro médico.

Criações de Comissões Profissionais e Varas Judiciais

especializadas no tema;

Os conselhos e entidades médicas podem incrementar e

facilitar o acesso de médicos a cursos de atualizações, jornadas,

simpósios, congressos, palestras, encontros e similares não só com

o objetivo do aprimoramento e a reciclagem técnica, mas que

também contenham conhecimentos de relações humanas, ética,

antropologia buscando o aprimoramento médico-paciente24;

Colocar a culpa nas péssimas condições do sistema de

saúde brasileiro, na formação deficiente dos profissionais, no

excesso de horas trabalhadas, no baixo salário ou na falta de

equipamento adequado é fugir da essência do problema. Em alguns

hospitais universitários e clínicas particulares, acontecem reuniões

semanais em que médicos, enfermeiras, residentes, psicólogos,

fisioterapeutas, todos os envolvidos em cada departamento,

discutem os casos complicados;

Nosso Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, quanto ao tema erro médico, assim tem julgado:

24

Weissheimer WA, Biazevic MGH. Perfil dos médicos denunciados junto ao CREMESC no período de 1995 a 1999. Joaçaba, 2006. Dissertação apresentada ao mestrado em saúde coletiva da Universidade do Oeste de Santa Catarina.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 18

Apelação Cível n. 2007.052258-3 de Videira Relator: Nelson Schaefer Martins Juiz Prolator: Leila Mara da Silva Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Civil Data: 26/10/2011 Ementa:AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ALEGAÇÃO DE ERRO MÉDICO. DEFEITO EM ORELHA OCASIONADO POR ROMPIMENTO DE PONTO APÓS CIRURGIA PLÁSTICA. AUTOR QUE, AO ENTRAR EM CONTATO COM O CONSULTÓRIO DO RÉU, TEVE VALORES EM ABERTO COBRADOS COMO CONDIÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DE NOVO PROCEDIMENTO. QUEBRA DO VÍNCULO DE CONFIANÇA MÉDICO-PACIENTE. CULPA DECORRENTE DE ERRO MÉDICO NÃO CARACTERIZADA DIANTE DA POSSIBILIDADE DE REPARAÇÃO DO DANO. RÉU, NO ENTANTO, QUE DEIXOU DE REALIZAR NOVA CIRURGIA PARA ALCANÇAR O OBJETIVO ALMEJADO. INTERVENÇÃO ESTÉTICA CLASSIFICADA COMO OBRIGAÇÃO DE FIM. DEVER DO RÉU DE SUPORTAR AS DESPESAS PARA A REALIZAÇÃO DE NOVO PROCEDIMENTO. PRÉVIA APRESENTAÇÃO PELO AUTOR DE TRÊS ORÇAMENTOS COM O DETALHAMENTO DOS GASTOS MÉDICOS E HOSPITALARES. DANO MORAL. ABALO DO AUTOR CARACTERIZADO. DEVER DE INDENIZAR PRESENTE. QUANTUM INDENIZATÓRIO ESTABELECIDO DE ACORDO COM OS PATAMARES DE PROPORCIONALIDADE E DE RAZOABILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Apelação Cível n. 2010.080091-3, de Criciúma Relator: Eládio Torret Rocha Juiz Prolator: Edir Josias Silveira Beck Órgão Julgador: Quarta Câmara de Direito Civil Data: 21/10/2011 Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. ERRO MÉDICO. PACIENTE QUE DEU ENTRADA EM PRONTO-SOCORRO ALEGANDO PRESSÃO ALTA E DOR DE CABEÇA. MINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS ANTI-HIPERTENSIVOS E ANALGÉSICOS. SINTOMAS CONTROLADOS APÓS ALGUM

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 19

TEMPO. SUJEITO LÚCIDO, COMUNICATIVO E ORIENTADO. NEGATIVA DE OUTRAS DORES. ALTA HOSPITALAR. ÓBITO APÓS ALGUMA HORAS, EM VIRTUDE DE SÚBITA PARADA CARDÍACA. AUSÊNCIA DE QUALQUER INDÍCIO DE NEGLIGÊNCIA OU IMPERÍCIA DO MÉDICO OU DA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR. PROVA TENDENTE A DEMONSTRAR A ADEQUAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE ACORDO COM O QUADRO CLÍNICO APRESENTADO. ATO ILÍCITO NÃO CONFIGURADO. INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR (ARTS. 186, 927 E 951 DO CC/2002). RECURSO IMPROVIDO. 1. Muito embora seja compreensível a dor e mesmo a indignação dos familiares do falecido, inacolhe-se, no caso, a alegação de ERRO MÉDICO, eis que para a sua constatação deve estar caracterizada, extreme de dúvidas, a inadequação do procedimento adotado pelo profissional da área, tanto mais porque a obrigação imputada ao MÉDICO em decorrência de sua profissão, sobretudo nos atendimentos de urgência, é de meio e não de resultado. 2. Não responde pelo óbito do paciente, após a alta hospitalar, o MÉDICO ou o nosocômio se restar seguramente demonstrada a correção das práticas médicas implementadas à ocasião em face do quadro clínico apresentado pelo enfermo, evidenciando-se, no caso, inevitável fatalidade a que todos nós, os seres humanos, infelizmente, estamos inescapavelmente submetidos. Apelação Cível n. 2010.015788-1, de Capital Relator: Newton Janke Juiz Prolator: Luiz Antônio Zanini Fornerolli Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Público Data: 18/10/2011 Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL. DIAGNÓSTICO EQUIVOCADO DE GRAVIDEZ ECTÓPICA POR MÉDICO PARTICULAR. POSTERIOR ATENDIMENTO EM MATERNIDADE ESTADUAL, COM CONFIRMAÇÃO DO MESMO DIAGNÓSTICO À VISTA DOS EXAMES ATÉ ENTÃO REALIZADOS. MINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTO ABORTIVO ANTES DA REVELAÇÃO DO RESULTADO DE

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 20

NOVO EXAME QUE APONTOU GRAVIDEZ TÓPICA. GRAVIDEZ INTERROMPIDA. INEXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE A CONDUTA EQUIVOCADA DO MÉDICO PARTICULAR E O RESULTADO DANOSO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL ESTATAL. INCIDÊNCIA DO ART. 14, CAPUT, DO CDC. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. ARBITRAMENTO ADEQUADO DA INDENIZAÇÃO. REDEFINIÇÃO DO TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA E DA CORREÇÃO MONETÁRIA. APLICAÇÃO DA LEI Nº 11.960/2009. PRESUMIDOS. RECURSOS DESPROVIDOS E REMESSA PARCIALMENTE PROVIDA. Hospitais, quer sejam públicos, quer sejam privados, são fornecedores ou prestadores de serviços, qualidade que os submete ao alcance do Código de Defesa do Consumidor, cujo art. 14, caput, diz que "o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação de danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos". Responde civilmente o Estado por danos morais derivados de ERRO de dignóstico MÉDICO que resulta na ministração de medicamente abortivo para gestante e, na consequente, perda do feto. Apelação Cível n. 2006.031338-3, de Concórdia Relator: Carlos Prudêncio Juiz Prolator: Edson Marcos de Mendonça Órgão Julgador: Primeira Câmara de Direito Civil Data: 04/05/2010 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO. GESTANTE QUE, SOFRENDO FORTES DORES ABDOMINAIS, É ATENDIDA POR MÉDICO NO HOSPITAL E, APÓS ALGUNS EXAMES PRELIMINARES, É ENCAMINHADA PARA CASA. RETORNO DA PACIENTE POR MAIS DUAS VEZES, SENDO LIBERADA SEM A REALIZAÇÃO DE QUALQUER EXAME. MORTE DA PACIENTE E SEU BEBÊ CINCO DIAS DEPOIS DO PRIMEIRO ATENDIMENTO, DECORRENTE DO ERRO DE

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DIAGNÓSTICO. CONDUTA NEGLIGENTE COMPROVADA. PROCEDIMENTO INADEQUADO. DEVER DE INDENIZAR. "A atividade do profissional da saúde está diretamente ligada ao compromisso com a vida e a incolumidade das pessoas, redobrando sua responsabilidade em comparação a qualquer outra. Está implícito que tentar por todos os meios disponíveis salvar a vida ou promover a saúde é a regra, não a exceção. Assim, é imprescindível, que sejam realizados os exames e diagnósticos corretos, tomados os devidos cuidados ao prescrever os tratamentos e dar alta e medicação com prudência. Não há como diminuir a carga do risco criado pelo MÉDICO contra o qual ficou comprovado que não observou essas prerrogativas". (EI n. 2001.016201-6, Rel. Des. Ruy Pedro Schneider, DJ de 12-6-2002). Nesse sentido, age com culpa e tem o dever de indenizar o MÉDICO e a instituição hospitalar que procede de maneira negligente ao não investigar com maior cautela a paciente, não vislumbrando a exata extensão do problema, qual seja, infecção urinária, tendo como consequência a morte da gestante e seu recém-nascido. Tal evento poderia ter sido evitado por meio de realização de exames técnicos, capazes de evidenciar o real problema da paciente, afastando juízos de mera probabilidade e alicerçando o melhor tratamento a ser adotado. DANO MORAL. MORTE DA MÃE E IRMÃO RECÉM-NASCIDO DECORRENTE DE ERRO MÉDICO. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO. PRESUNÇÃO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. "A morte de ente querido é causa de abalo moral e intenso sofrimento para os familiares, em particular para os mais próximos (cônjuge supérstite, filhos e genitores), fazendo mister a sua compensação pecuniária em sintonia com a extensão do dano, grau de culpa e capacidade econômica das partes, não devendo acarretar enriquecimento da vítima e empobrecimento do ofensor, servindo a providência como medida de caráter pedagógico, punitivo e profilático inibidor". (AC n. 2001.009709-5, Rel. Des. Joel Dias Figueira Júnior, DJ de 8-5-2007). Assim, comprovada a existência de ato ilícito decorrente da negligência do MÉDICO-réu, que poderia e deveria

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agir com as devidas cautelas, atento ao estado de saúde da paciente e depreendendo os esforços possíveis para sua recuperação, inegável a existência de abalo moral decorrente da perda de um ente querido, principalmente porque a autora tratava-se, na época, de uma criança de 4 (quatro) anos de idade, que ainda por muito tempo teria a companhia da sua jovem mãe, que não época do evento tinha 19 (dezenove) anos. QUANTUM INDENIZATÓRIO. CARÁTER REPARATÓRIO, EDUCATIVO E PUNITIVO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. MORTE DA MÃE E IRMÃO RECÉM-NASCIDO DA AUTORA. SITUAÇÃO ECONÔMICA DAS PARTES. AFERIÇÃO POR ARBITRAMENTO E VALORAÇÃO DO JUIZ. FIXAÇÃO NO VALOR DE DUZENTOS E TRINTA MIL REAIS. "Deve o julgador, quando da fixação da condenação decorrente de danos morais com caráter reparatório, educativo e punitivo, sopesar a condição socioeconômica dos envolvidos, a intensidade da culpa despendida para o evento e a gravidade do dano acarretado". (AC n. 2002.011451-6, Rel. Des. Carlos Prudêncio, DJ de 9-8-2006). Transpondo esses critérios para o caso concreto, verificando a gravidade do dano (falecimento da mãe e irmão recém-nascido da autora), as partes envolvidas (fundação hospitalar e MÉDICO), e a intensidade da culpa (falta de diligência), a indenização do dano moral deve ser majorada, devendo os réus (MÉDICO e hospital) arcarem, solidariamente, com R$ 230.000,00 (duzentos e trinta mil reais), a título de indenização por danos morais, e até que a autora complete 25 (vinte e cinco) anos de vida, de pensão mensal. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DILIGÊNCIA DO ADVOGADO NO PROCESSO. FIXAÇÃO EM VINTE POR CENTO SOBRE O VALOR DA CONDENAÇÃO. POSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO. "Os honorários advocatícios fixados no patamar de vinte por cento sobre o valor da condenação não se mostra exagerada se o advogado foi diligente no processo, comparecendo a todos os atos processuais, tais como à audiência designada, formulou perguntas pertinentes e apresentou, além

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da petição inicial, impugnação à contestação, alegações finais e contra-razões". (AC n. 2001.019487-2, Rel. Des. Carlos Prudêncio, DJ de 12-8-2008). RECURSO ADESIVO. ALEGADA ILEGITIMIDADE PASSIVA DO HOSPITAL. MÉDICO QUE ATUA DENTRO DA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR. PREFACIAL REJEITADA. "Correta a decisão do juízo a quo ao manter o hospital no pólo passivo da lide, uma vez que é ele quem seleciona todos quantos integram os quadros de atendimento aos pacientes e é o responsável, de forma solidária, pelos atos culposos praticados em seu interior". (AC n. 2000.012217-3, Rel. Des. Carlos Prudêncio, DJ de 6-12-2007). "Quando o paciente procura o hospital para tratamento, principalmente naqueles casos de emergência, e recebe atendimento do MÉDICO que se encontra em serviço no local, a responsabilidade em razão das conseqüências danosas da terapia pertence ao hospital. Em tal situação, pouco releva a circunstância de ser o MÉDICO empregado do hospital, porquanto ele se encontrava vinculado ao serviço de emergência oferecido. Se o profissional estava de serviço no plantão, tanto que cuidou do paciente, o mínimo que se pode admitir é que estava credenciado para assim proceder. O fato de não ser assalariado nesse cenário não repercute na identificação da responsabilidade do hospital. 2. Recurso especial conhecido e provido". (STJ - REsp. n. 400.843/RS, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU de 18-4-2005). Agravo de Instrumento n. 2009.023560-0, de Itajaí Relator: Victor Ferreira Juiz Prolator: Gilberto Gomes de Oliveira Órgão Julgador: Quarta Câmara de Direito Civil Data: 12/05/2010 Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE CONCEDEU A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA PARA OS RÉUS CUSTEAREM AS DESPESAS MÉDICAS

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E DE FISIOTERAPIA RELATIVAS À LESÃO CAUSADA EM DECORRÊNCIA DO PARTO. MÉDICO RADIOLOGISTA QUE, NOVE DIAS ANTES DO PARTO, ESTIMOU EM 2,871 KG O PESO FETAL. MÃE QUE APRESENTAVA QUADRO DE OBESIDADE, DIABETES E PRESSÃO ARTERIAL ALTERADA. MÉDICO OBSTETRA QUE OPTOU PELO PARTO NORMAL. COMPLICAÇÕES. RECÉM-NASCIDO COM 4,125 KG. INGESTÃO DE LÍQUIDO AMNIÓTICO. LESÃO DO PLEXO BRAQUIAL. PARALISIA DE MÚSCULOS SUPERIORES. RECURSO NÃO PROVIDO. É cediço que ao MÉDICO incumbe utilizar tudo o que estiver ao seu alcance para proteger a vida e integridade física de seu paciente. A ele é concedido este nobre ofício, de ser incansável, principalmente frente às adversidades consequentes do risco inerente à profissão. E deve ser responsabilizado caso se comprove que agiu com culpa, ou não tenha empregado todos os esforços para dirimir aquelas dificuldades. Agravo de Instrumento n. 2010.034092-9, de Blumenau Relator: Stanley da Silva Braga Juiz Prolator: Rubens Schulz Órgão Julgador: Sexta Câmara de Direito Civil Data: 27/09/2011 Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. ERRO MÉDICO. DEMANDA PROMOVIDA CONTRA CLÍNICA PARTICULAR. DENUNCIAÇÃO DA LIDE DO MÉDICO QUE EFETUOU O ATENDIMENTO. CLÍNICA PRESTADORA DE SERVIÇOS MÉDICOS. RELAÇÃO CONSUMERISTA CARACTERIZADA. INCIDÊNCIA DO ART. 88 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DENUNCIAÇÃO DA LIDE NÃO CABÍVEL NO CASO CONCRETO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Em ação indenizatória por ERRO MÉDICO promovida contra clínica prestadora de serviços MÉDICO, a jurisprudência, tanto do Superior Tribunal de Justiça como desta Corte de Justiça catarinense,

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coaduna em refutar a denunciação da lide do MÉDICO, entendendo pela responsabilidade da clínica particular e pela incidência das regras de proteção consumerista. Em que pese o direito de regresso, a denunciação da lide, na forma do art. 70, inc. III, do Código de Processo Civil não se mostra viavél, pois a indenização em ação regressiva não decorre indubitável da lei ou do contrato, dependendo da demonstração da culpa do causador do dano. Ademais, o art. 88 do CDC veda expressamente a denunciação da lide na hipótese. Apelação Cível n. 2008.023951-9, de Lages Relator: Ronei Danielli Juiz Prolator: Antônio Carlos Junckes dos Santos Órgão Julgador: Sexta Câmara de Direito Civil Data: 02/09/2011 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANO MATERIAL, MORAL E ESTÉTICO. CIRURGIA EXCLUSIVAMENTE EMBELEZADORA. CORREÇÃO DE PTOSE E AUMENTO DE MAMA. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. PRESUNÇÃO DE CULPA. MÉDICO QUE NÃO ESCLARECE À PACIENTE O FATO DE NÃO POSSUIR TÍTULO DE CIRURGIÃO PLÁSTICO, ALÉM DE NÃO COMPROVAR TER TOMADO OS CUIDADOS EXIGIDOS TANTO NO PRÉ COMO NO PÓS-OPERATÓRIO. FALTA DO DEVER DE INFORMAÇÃO. DOCUMENTO PADRÃO QUE NÃO CONFIGURA CONSENTIMENTO INFORMADO. PACIENTE COM SÉRIAS DEFORMAÇÕES ESTÉTICAS E POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES FUNCIONAIS. DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS EVIDENCIADOS. REPARAÇÃO DEVIDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. O direito à informação, materializado pelo consentimento informado, é uma garantia consagrada pelo Código de Defesa do Consumidor, além de um importante instrumento no equilíbrio da relação MÉDICO-paciente, conforme se extrai do disposto no artigo 6º, inciso III, da referida legislação. Serve, inclusive, para a minoração da vulnerabilidade do paciente que deve possuir todas as informações possíveis à formação do seu convencimento,

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sobretudo no que concerne a um procedimento eletivo, de cunho estritamente estético. 2. Deve ser entendida a obrigação do cirurgião plástico, nas intervenções exclusivamente estéticas, como sendo de resultado, na medida em que o paciente, pessoa saudável, somente se submete à intervenção cirúrgica, na esperança de melhorar seu aspecto físico. 3. Em que pese o fato de qualquer ato cirúrgico estar sujeito à álea e, não obstante a realidade de que cada organismo é único em sua integralidade, na cirurgia plástica estética, sendo de resultado a obrigação assumida pelo MÉDICO, cumpre-lhe a demonstração da quebra do nexo de causalidade ou de imputação para a sua liberação do dever de indenizar. Apelação Cível n. 2011.012371-1, de Capital Relator: Rodrigo Collaço Juiz Prolator: Luiz Antônio Zanini Fornerolli Órgão Julgador: Quarta Câmara de Direito Público Data: 04/08/2011 Ementa: APELAÇÕES CÍVEIS E RECLAMO ADESIVO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS PATRIMONIAIS E MORAIS - ERRO MÉDICO - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL - PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM E CARÊNCIA DA AÇÃO AFASTADAS - CIRURGIA PLÁSTICA REPARADORA CUSTEADA PELO SUS E QUE NÃO ALCANÇOU O RESULTADO ESPERADO - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO PROFISSIONAL DA SAÚDE E OBJETIVA DO ESTADO - OBRIGAÇÃO DE MEIO - CONDUTA CULPOSA DO CIRURGIÃO - PROCEDIMENTO MAL SUCEDIDO E OMISSÃO NA SOLICITAÇÃO DE EXAMES PRÉ-OPERATÓRIOS NECESSÁRIOS - DEVER DE INDENIZAR OS PREJUÍZOS SUPORTADOS - MANUTENÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO PELO JUÍZO - PENSÃO MENSAL VITALÍCIA - MATÉRIA NÃO VENTILADA NA ORIGEM - IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DA QUESTÃO SOB PENA DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA E OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - RECURSOS DESPROVIDOS

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Apelação Cível n. 2011.022767-9, de Caçador Relator: Saul Steil Juiz Prolator: Gisele Ribeiro Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil Data: 26/07/2011 Ementa:APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. NEGLIGÊNCIA MÉDICA CONSTATADA POR PERÍCIA. DEVER DE INDENIZAR CONFIGURADO. QUANTUM FIXADO EM SENTENÇA MANTIDO. INCAPACIDADE EM GRAU MÍNIMO. VALOR CONDIZENTE COM OS DANOS CAUSADOS. JUROS MORATÓRIOS INCIDENTES A PARTIR DO EVENTO DANOSO, NOS TERMOS DA SÚMULA 54 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SENTENÇA REFORMADA NESTE PONTO. RECURSOS CONHECIDOS. IMPROVIDO O RECLAMO DO RÉU E PARCIALMENTE PROVIDO O APELO DO AUTOR. A responsabilidade assumida pelo MÉDICO encontra-se baseada em uma obrigação de meio e não de resultado, posto que, por meio do contrato, o MÉDICO não se compromete à cura do paciente, mas tão somente se obriga a proceder de acordo com as regras e métodos da profissão. Prestigiando esse entendimento, o Código de Defesa do Consumidor vem disciplinar em seu art. 14, § 4.º que "a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa." Restando comprovado o vínculo de causa e efeito entre a conduta do réu e o dano causado, pressuposto para configuração da responsabilidade civil, pois ficou demonstrado nos autos que o MÉDICO não tomou todas as precauções e não realizou os procedimentos necessários para o caso em concreto, impõe-se o dever de indenizar. Apelação Cível n. 2008.014611-1, de Camboriú Relator: Jaime Luiz Vicari Juiz Prolator: Caroline Bündchen Felisbino Teixeira Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Civil Data: 27/07/2009 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ERRO DE DIAGNÓSTICO

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MÉDICO - CULPA PROFISSIONAL NÃO CARACTERIZADA - CONDUTA COMPATÍVEL COM A QUE SE ESPERA DE UM PROFISSIONAL DE RAZOÁVEL HABILIDADE E PRUDÊNCIA - DIAGNOSE COMPATÍVEL COM OS PADRÕES DA CIÊNCIA MÉDICA - RECURSO IMPROVIDO. Como as questões puramente técnicas, de ordem estritamente MÉDICO-científicas, desbordam do campo em que há de incidir a atividade jurisdicional - pois não cabe ao juiz decidir a respeito da conveniência do emprego dessa ou daquela técnica médica, ou sobre o tratamento mais adequado a determinado caso -, o que se deve indagar, diante do caso concreto, é se existiu ou não, na conduta do MÉDICO, falta de diligência. As limitações da ciência médica - que é falível -, decorrentes da condição humana de seus profissionais e de infinita variabilidade de seu objeto (o organismo humano), tornam delicada a operação de diagnóstico, o qual nem sempre pode ser feito com a precisão idealizada. Por conta disso, o ERRO de diagnóstico não se traduz, necessariamente, em imperícia, salvo se houver ERRO grosseiro e injustificável, que se distancie do padrão de conduta de um MÉDICO de razoável prudência e habilidade. Apelação Cível n. 2001.009718-4, de Blumenau Relator: Jaime Luiz Vicari Juiz Prolator: José Inácio Schaefer Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Civil Data: 08/01/2009 Ementa: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ALEGADO ERRO MÉDICO - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA - RECURSO DA AUTORA - ERRO DE DIAGNÓSTICO AFASTADO - PROVA TESTEMUNHAL E PERICIAL CONSISTENTES - CONDUTA ADEQUADA ANTE A SITUAÇÃO CONCRETA - NEGLIGÊNCIA NÃO COMPROVADA - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. Não há falar em ERRO de diagnóstico por omissão, se as normas de procedimento adotadas pela médica, ante a conjectura que se lhe afigurava, foram as usuais. A infalibilidade não constitui atributo da natureza humana e as ciências médicas, como todas as ciências, curvam-se a essa condicionante.

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Agravo de Instrumento n. 2010.027034-7, de Videira Relator: Maria do Rocio Luz Santa Ritta Juiz Prolator: Rafael Milanesi Spillere Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil Data: 07/04/2011 Ementa: RESPONSABILIDADE CIVIL DE PROFISSIONAL LIBERAL E DE NOSOCÔMIO. ERRO MÉDICO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. POSSIBILIDADE. VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES E HIPOSSUFICIÊNCIA TÉCNICA DO CONSUMIDOR. REQUISITOS DO ART. 6º, INC. VIII, DO CDC ATENDIDOS. RECURSO PROVIDO. Já o Tribunal de Justiça de Minas Gerais condenou um médico a pagar indenização à vítima de erro médico: “Um cirurgião plástico de Poços de Caldas, cidade da região Sudoeste de Minas, terá de pagar indenizações por danos morais, materiais e estéticos a uma paciente, em valores que somam R$ 55.550. O motivo é uma mal-sucedida intervenção cirúrgica que ele realizou em uma mulher que, com o procedimento, ao invés de resolver um problema estético no abdômen, ficou com deformações físicas. A decisão, por unanimidade, é da 11ª. Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. R.S.E. contratou o médico L.R.C.A.P. para a realização de uma cirurgia estética de retirada de gordura abdominal e redução da flacidez (abdominoplastia), tendo se submetido a consultas e exames pré-cirúrgicos para isso. Foi internada em 21 de outubro de 2003 e, após a realização do procedimento, efetuado na clínica do cirurgião plástico, ela desenvolveu um processo infeccioso, ficando acamada por três meses, sem poder se movimentar ou se levantar, já que o abdômen dela ficou aberto, O resultado foi que R.S.E., que na data da cirurgia estava com 39 anos, sofreu deformações estéticas. Diante disso, R.S.E. decidiu entrar na justiça pedindo reparação por danos materiais, morais e estéticos, além dos custos de uma nova cirurgia reparadora e lucros cessantes (valores referentes ao que teria deixado de ganhar no período, por ter ficado impossibilitada de trabalhar). Na 1ª. Instância, o

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pedido foi negado, pois o magistrado julgou que não restou comprovada a ocorrência de infecção hospitalar e, tampouco, a conduta negligente, imprudente ou imperita do médico. A paciente resolveu, então, recorrer, indicando que não havia alvará sanitário para funcionamento da clínica médica e que ela jamais omitiu que era tabagista, como o médico alegou, ao querer imputar ao fumo as complicações da cirurgia. Durante o processo, a mulher relatou que logo no primeiro dia de repouso iniciou-se o processo infeccioso no local da intervenção, ocorrendo necrose de tecidos próximos ao corte, o que a levou a ter de passar por nova cirurgia, comparecendo à clínica do médico diariamente para que fossem feitos os curativos necessários. Apesar disso, o processo infeccioso foi se agravando dia após dia, com ocorrência de mau cheiro e secreção intensa, ocasião em que o médico abandonou o tratamento. R.S.E. declarou que, nesse momento, ela precisou recorrer a enfermeiros vizinhos que, por uma atitude humanitária, faziam os curativos diariamente. Em suas contestações, o cirurgião plástico alegou que foi a paciente quem abandonou o tratamento, motivo pelo qual não foi possível realizar a terceira cirurgia reparadora, como tinha sido acordado. Ressaltou que sempre há risco cirúrgico, reiterando que a evolução nas complicações do quadro da paciente só teria ocorrido em razão de ela ser tabagista, fato que R.S.E. teria ocultado na consulta prévia. Alegou, assim, que não teria ocorrido erro médico. Obrigação de resultado Ao avaliar os autos, o desembargador relator Marcos Lincoln observou que no caso da atuação dos cirurgiões plásticos, pressupõe-se obrigação de resultado, pois se trata de uma situação em que o profissional se compromete a alcançar o resultado contratado, presumindo-se a culpa caso não atinja esse objetivo. "Na cirurgia estética, o paciente pretende melhorar algo que lhe desagrada encontrando-se, em tese, em perfeito estado de saúde, sendo inadmissível que após a intervenção cirúrgica encontre-se em condição pior". O relator entendeu que compete ao profissional médico avaliar

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todos os riscos antes de assumir a obrigação de resultado, a qual, pela própria natureza do contrato, impõe o dever de indenizar o resultado danoso, ainda que não haja imperícia, negligência ou imprudência. O desembargador entendeu, também, ser perfeitamente possível a cumulação de danos morais e estéticos, já que paciente foi profundamente atingida em sua esfera psicológica e física. Em relação ao fato de a mulher ser tabagista, o relator ressaltou que não ficou comprovado que o fumo tenha sido a causa das complicações na cicatrização. Reformando a decisão de 1ª. Instância, o desembargador condenou o médico a pagar R$ 20 mil à paciente, por danos estéticos, e R$ 30 mil por danos morais, bem como o valor correspondente à cirurgia reparadora, mediante a apresentação de orçamento feito por profissional à escolha de R.S.E., pois a quebra da relação de confiança não permite que o próprio cirurgião plástico realize o procedimento. Condenou-o, ainda, a pagar, por danos materiais, R$ 5.550, valor correspondente ao preço que a mulher pagou pela cirurgia mal-sucedida. Os desembargadores Wanderley Paiva e Selma Marques acompanharam o voto do relator. Processo n° 1.0518.04.071229-2/002(1)”. Ou ainda: Hospital deve pagar R$ 15 mil a paciente que teve três exames de HIV com falso resultado positivo A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou o Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, ao pagamento de R$ 15 mil por danos morais a uma paciente. Os ministros reconheceram a responsabilidade do hospital por ter emitido em nome da paciente três exames sucessivos com resultado positivo para HIV – que não era portadora do vírus, como ficou provado mais tarde por outro exame. A paciente ajuizou ação por danos morais contra o hospital, alegando que a notícia equivocada – e repetida por três vezes – causou transtornos à sua vida: o fim do seu namoro, humilhação pública em sua vizinhança e a perda de um trabalho. Não houve

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contestação por parte do hospital, mas apesar da revelia, o juízo de primeiro grau entendeu que a versão da paciente não possuía verossimilhança, e ainda afastou a alegação de abalo, pois a paciente tinha plena convicção de que não estava doente. A sentença julgou a ação improcedente, pois, para o juiz, os exames não eram conclusivos. Segundo ele, o hospital agiu corretamente ao encaminhar a paciente ao posto de saúde público para a realização de exame confirmatório. Na apelação, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) considerou que não houve erro ou falha do serviço que autorizasse a indenização, e manteve a sentença. No recurso ao STJ, a paciente argumentou que a responsabilidade do hospital é objetiva, e, portanto, deveria responder independentemente de culpa pelo serviço defeituoso. Além disso, segundo ela, o Hospital São Lucas não a encaminhou ao posto de saúde para exame confirmatório, mas sim para o tratamento da doença. O exame confirmatório – segundo o recurso – foi solicitado pelo médico do posto diante do desespero da paciente ao reafirmar que não era portadora da doença. De acordo com a ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso, a decisão do TJRS contrariou a jurisprudência do STJ, que reconhece a existência de dano moral por emissão de resultado equivocado em exame de HIV. O hospital que comete tal erro é responsável pelo defeito no fornecimento do serviço, pois causa sofrimento a que o paciente não está obrigado. Para a relatora, ninguém fica indiferente diante do recebimento de três exames que apontam o vírus HIV, e a observação de que seria necessário realizar novo exame não é suficiente para apagar o sofrimento. Fonte: Superior Tribunal de Justiça E mais: TJGO. Médico vai a júri pela morte de duas pacientes e um recém-nascido. O médico Willian Francisco Pereira, que atualmente trabalha na cidade de Quirinópolis, será julgado pelo Tribunal do Júri local pela morte de duas pacientes e

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um recém-nascido, filho de uma das vítimas do mau atendimento prestado pelo profissional no pronto-socorro do Hospital Municipal. A sentença foi proferida no último dia 19 pelo juiz Liciomar Fernandes da Silva, de Quirinópolis. No caso das pacientes Luzia Rosa de Oliveira, que morreu em razão de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) por falta de atendimento médico, e Patrícia Santos de Oliveira, vítima de um aborto porque Willian teria se recusado a deixar o quarto de repouso dos médicos e examiná-la devidamente, o magistrado mandou o acusado a júri popular por homicídio a título de dolo eventual (quando o agente não quer diretamente o resultado, mas assume o risco de produzi-lo). Já com relação à paciente Priscila D’ Addaria, o médico vai a julgamento por homicídio culposo (quando o agente não tem a intenção de matar), por ter aplicado erroneamente na vítima raquianestesia total, causando sua morte por insuficiência respiratória. Embora o parecer final do Ministério Público tenha sido pela pronúncia do médico somente em relação à morte de Luzia Rosa, uma vez que o órgão ministerial entendeu que em relação ao recém-nascido de Patrícia Oliveira o acusado não tinha a consciência de que sua omissão poderia levar à morte do feto, afastando o dolo, ainda que eventual. No que se refere à vítima Priscila D’Addaria, sustentou a inexistência de qualquer perícia médica que pudesse comprovar a ação delituosa do denunciado, além da única testemunha presencial (outro médico que atuava no local) não ter sido encontrada para que fosse ouvida em juízo, Liciomar Fernandes deixou claro que não restam dúvidas sobre a materialidade e os fortes indícios de autoria da conduta criminosa desenvolvida pelo acusado em todas as situações. “Quanto à vítima Luzia Rosa os indícios da materialidade do delito restaram aclarados pelo relatório médico anexado aos autos, que atestou como causa de sua morte um acidente vascular cerebral, bem como pelas declarações da testemunha ouvida. Também verifico a materialidade do delito acerca da morte do recém-nascido de Patrícia Oliveira, amparada por meio de sua certidão de nascimento com a averbação de seu óbito. Os indícios de autoria, diferente do que asseverou o MP,

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também ficam explícitos, dentre outros, pelo depoimento testemunhal. Por fim, constato, após ampla análise da ação, que no caso de Priscila, diferentemente da argumentação do MP que optou pela impronúncia, diante da inexistência de indícios suficientes para aclararem a autoria da delitiva, uma vez que a única testemunha presencial não fora ouvida, foi sim realizada a oitiva da testemunha presencial do doutor Guilherme Barcelos Alves Urzedo, via carta precatória à comarca de Catalão, inclusive, com gravação audiovisual da referida inquirição”, elucidou o juiz. Ponderado, Liciomar Fernandes lembrou que na decisão de pronúncia é vedada ao juiz a análise aprofundada do mérito da questão, já que essa atribuição é dos integrantes do Conselho de Sentença do Júri Popular, de acordo com o que estabelece a Constituição Federal (artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “c”). “Melhor será que os jurados do Conselho de Sentença apreciem as teses explanadas tanto pela acusação quanto pela defesa do réu, pois é o Tribunal do Júri o juízo natural para julgamento dos crimes dolosos contra a vida”, observou. Sobre os casos De acordo com o MP-GO, em 11 de agosto de 2010, Luzia Oliveira chegou passando mal ao pronto-socorro do Hospital Municipal de Quirinópolis e foi diagnosticada por Willian, que estava de plantão, com crise convulsiva. Contudo, seu quadro clínico se agravou, fato comunicado ao médico por duas vezes pela enfermeira Arima Lima Justina Freitas quando dirigiu-se ao quarto de descanso dos profissionais dentro do próprio hospital, onde o acusado permaneceu durante todo o tempo. Conforme relatou o órgão ministerial, nem mesmo a intervenção da diretora clínica do hospital, doutora Claudina Mendes H. Silva Castro, fez com que o acusado se prontificasse a atender a vítima que agonizava, dentro do pronto-socorro, sem atendimento médico. Consta da denúncia que em uma das tentativas da enfermeira de salvar a vida da vítima, ao informar ao denunciado sobre a suspeita de que ela estava com um AVC e, não apenas com uma crise convulsiva, Willian, de forma indiferente, disse para a técnica aguardar o próximo plantão, mesmo faltando 20

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minutos para o término do seu. Diante da gravidade da situação, os esforços empreendidos pelo médico plantonista sucessor ao acusado, Marco Túlio de Melo que, a pedido da diretora do hospital, interveio na tentativa de salvar a vítima, foram insuficientes. Nem a intubação, procedimento adotado de imediato por Túlio, e o encaminhamento para a UTI de Goiânia conseguiram evitar a morte da paciente, cuja causa da morte foi confirmada como um AVC hemorrágico. Quanto ao segundo caso relatado nos autos, em 27 de junho de 2008 o referido médico foi escalado para a função de anestesista em uma cirurgia de cesária na paciente Priscila D’ Addaria e, mesmo não sendo sua especialidade, realizou uma raquianestesia errada na paciente, provocando uma insuficiência respiratória. O médico que realizava a cirurgia na vítima, segundo descreve o MP, Guilherme Barcelos Alves Urzedo, ao perceber a diminuição de oxigenação brusca na paciente, alertou o denunciado a intubá-la. No entanto, o procedimento foi feito por Willian de forma errada, pois ao invés de passar o tubo pelas vias aéreas, ele posicionou-o no sistema digestivo da vítima, impedindo que fosse realizada a necessária e urgente oxigenação. O erro foi corrigido pelo médico cirurgião e todas as manobras necessárias para a reversão do quadro de parada cardiorrespiratória foram utilizadas, inclusive com a intervenção de outro médico, Eliseu Oliveira Filho, que auxiliou nas medidas de ventilação de oxigênio, enquanto Guilherme Barcelos fechava a incisão. Mesmo assim, a paciente foi encaminhada para a UTI do Hospital Materno-Infantil em Goiânia, mas não resistiu e teve morte cerebral. O último caso narrado na denúncia, se refere ao recém-nascido de Patrícia Oliveira, que, grávida de aproximadamente quatro meses, deu entrada referido hospital em 28 de junho de 2010, queixando-se de dores na barriga. Segundo o MP, o denunciado, ciente da gestação de risco que poderia levá-la ao aborto, mediante omissão penalmente relevante, não prestou atendimento médico à gestante apenas por indiferença à vida alheia, concorrendo ao óbito do recém-nascido, afastando, assim, qualquer hipótese de fatalidade, infortúnio, imprevisibilidade ou ceticismo.

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Ao ser informado pela técnica de enfermagem da chegada da paciente grávida com fortes dores na barriga, o médico plantonista recusou-se a sair do quarto de repouso para examiná-la. Na sequência, optou por dar ordem verbal e por telefone para que a paciente fosse medicada com Dipirona e Voltaren e orientou a enfermeira para que informasse a paciente que ela devia voltar pela manhã ou procurar o Programa Saúde da Família (PSF) – Posto de Saúde. No dia seguinte, ao retornar ao hospital, foi prontamente atendida pelo médico Geraldo Jacómo de Oliveira que a encaminhou para a sala de avaliação. Contudo, ao ser colocada em posição ginecológica, ela expulsou o feto que nasceu vivo, mas morreu em decorrência do parto prematuro. Fonte: Publicações on line, em 28/03/2012. TJMS – Médico é condenado por erro na dosagem de medicamento

Sentença proferida pela 10ª Vara Cível de Campo Grande condenou médico ao pagamento de R$ 5.000,00 de danos morais a mãe e filho, em razão de erro de digitação em receita médica que indicou super dosagem de medicamento, causando riscos e transtornos aos autores. Narra a autora que no dia 11 de setembro de 2013 levou seu filho até o consultório do réu, que é médico especialista em otorrinolaringologista, pois a criança estava com dor de ouvido, tendo sido diagnosticada com uma infecção no referido órgão. Conta que, quando retornou ao consultório, o réu teria verificado que a infecção não havia sumido completamente, prescrevendo à autora a aplicação de dois medicamentos. Afirma que, 10 dias após a consulta, notou que seu filho começou a engordar e apresentar muito inchaço na região do estômago e barriga, além de urinar com maior frequência e apresentando boca branca e cheia de feridas. Preocupada com tais sintomas, ela telefonou para o pediatra de seu filho, o qual ficou surpreso com a dosagem de 11 ml do medicamento Decadron, uma vez que o indicado seria 1ml. Sustenta assim que seja declarada a responsabilidade do réu por erro

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médico ao receitar dosagem excessiva de medicação ao paciente, e sua consequente condenação ao pagamento de R$ 50.000,00 de danos morais, a cada autor, bem como R$ 347,91 de danos materiais. Em contestação, o réu afirmou que a receita foi transcrita para uma datilografada como de costume, que foi lida e explicada em voz alta e num vocabulário de fácil compreensão. Além disso, afirma o que, durante o retorno do paciente, pediu que fosse mantida a medicação na mesma dosagem da prescrita anteriormente, ocasião em que houve o erro datilográfico o qual não foi percebido por nenhuma das partes. Para a juíza titular da vara, Sueli Garcia Saldanha, “o erro é notável – através da confessa digitação errônea por parte do réu, o doseamento da medicação mais que decuplicou, e o que era para ser 1ml tornou-se 11ml. Uma lástima, ainda mais se tratando de paciente infante, que, por óbvio, necessita de cuidados que transbordam aos da mera cautela direcionada aos adultos”. Desse modo, entendeu a magistrada que restou configurado o dano moral, pois “é fácil avaliar o sofrimento da mãe, que viu o único filho, de tenra idade, apresentar quadros como o de extremo inchaço na barriga, além de outros sintomas, sem saber se este último poderia ou não falecer em decorrência de tal sintoma, ou seja, medo e insegurança são previsíveis e comuns em casos desta espécie. Quanto ao segundo autor, desnecessário tecer comentários acerca de seu sofrimento, já que foi quem suportou fisicamente as mencionadas sequelas”. Em relação aos danos materiais, o pedido foi negado uma vez que não há provas dos prejuízos alegados. Processo nº 0802975-61.2014.8.12.0001 FONTE: TJMS Também neste sentido: STJ. Médica e Unimed devem pagar a paciente indenização por erro cometido em cirurgia. Operadoras de plano de saúde respondem solidariamente com médicos no pagamento de indenização às vítimas de erros ocorridos em procedimentos médicos. O entendimento, já

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manifestado em diversos julgamentos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi reafirmado pela Quarta Turma ao dar provimento a recurso especial para reconhecer a responsabilidade da Unimed Porto Alegre Cooperativa de Trabalho Médico e aumentar de R$ 6 mil para R$ 15 mil o valor da indenização por danos morais para cliente que teve vários problemas após cirurgia de retirada de cistos no ovário. A questão teve início quando a cliente foi à Justiça pedir reparação por danos moral e estético, em ação contra a médica, o hospital e a Unimed, em virtude de erro médico. Em primeira instância, a ação foi julgada improcedente. O juiz considerou as provas periciais inconclusivas. Insatisfeita, a paciente apelou. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) decidiu, no entanto, que o hospital e a Unimed não poderiam ser responsabilizados pelo erro cometido pela médica. Segundo entendeu o tribunal gaúcho, a médica não era empregada do hospital e não foi indicada à paciente pela operadora do plano de saúde, embora fosse credenciada como cooperada. Condenou, então, apenas a médica, concluindo que estava caracterizada sua culpa, devendo pagar à paciente R$ 6 mil por danos morais. No recurso para o STJ, a paciente não contestou a exclusão do hospital. Apenas sustentou a responsabilidade da Unimed e pediu aumento do valor da indenização fixado pela primeira instância. A médica também recorreu, mas seu recurso não foi admitido. A Quarta Turma, de forma unânime, deu provimento ao recurso especial. Em seu voto, o relator, ministro Raul Araújo, observou inicialmente a distinção entre os contratos de seguro-saúde e dos planos de saúde. “No seguro-saúde há, em regra, livre escolha pelo segurado dos médicos e hospitais e reembolso pela seguradora dos preços dos serviços prestados por terceiros”, explicou. “Nos planos de saúde, a própria operadora assume, por meio dos profissionais e dos recursos hospitalares e laboratoriais próprios ou credenciados, a obrigação de prestar os serviços”, acrescentou. Responsabilidade objetiva Para o relator, não há dúvida de que a operadora do plano de saúde, na condição de fornecedora de

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serviço, deve responder perante o consumidor pelos defeitos em sua prestação. “Seja quando os fornece por meio de hospital próprio e médicos contratados ou por meio de médicos e hospitais credenciados, nos termos dos artigos 2º, 3º, 14 e 34 do Código de Defesa do Consumidor”, disse ele. O ministro lembrou que essa responsabilidade é objetiva e solidária em relação ao consumidor. “Na relação interna, respondem médico, hospital e operadora do plano de saúde nos limites da sua culpa. Cabe, inclusive, ação regressiva da operadora contra o médico ou hospital que, por culpa, for o causador do evento danoso”, afirmou o ministro. Além de reconhecer a solidariedade entre a Unimed e a médica para a indenização, o ministro votou, também, pelo aumento do valor a ser pago. A reparação por danos morais foi fixada em R$ 15 mil, mais correção monetária, a partir da data do julgamento na Quarta Turma, e juros moratórios de 0,5% ao mês até a entrada em vigor do Código Civil de 2002, e de 1% a partir de então, computados desde a citação. A decisão determinou ainda que a médica e a Unimed paguem custas e honorários advocatícios de 12% sobre o valor da condenação. A paciente, que conseguiu Justiça gratuita, mas não recorreu sobre a exclusão da responsabilidade do hospital, pagará custas processuais em relação a ele, além de R$ 600 reais de honorários advocatícios. Processos: REsp 866371 E mais: TJRS. Médico indenizará mãe e filha por resultado insatisfatório em cirurgia estética. A 6ª Câmara Cível do TJRS condenou o médico Tiago Valenti a indenizar por danos morais, no valor de R$ 10 mil, por erro médico. As autoras da ação se submeteram a cirurgias estéticas para colocação de próteses mamárias, abdominoplastia e lipoaspiração. O pagamento da indenização, imposto em 1º Grau, na Comarca de Porto Alegre, foi confirmado pelo TJRS. Caso: Primeiramente, uma das autoras da ação (a mãe) foi submetida à dermolipectomia, mamoplastia de

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aumento e lipoaspiração. Cerca de seis meses depois, realizou retoque na área em que foi realizada a lipoaspiração e a filha submeteu-se a lipoaspiração e mamoplastia de aumento. Os procedimentos foram realizados no Mãe de Deus Center. Segundo elas, os resultados estéticos foram insatisfatórios. Também alegaram que o médico Tiago Valenti não informou dos riscos dos procedimentos aos quais se submeteram. Na Justiça, ingressaram com ação por danos morais e estéticos. Decisão: Na Justiça de 1º Grau, o processo tramitou na 6ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre. O Juiz de Direito Oyama Assis Brasil de Moraes considerou o pedido procedente e condenou o médico Tiago Valenti ao pagamento de indenização pelos danos sofridos. Segundo o magistrado, a responsabilidade dos profissionais liberais, em princípio, é baseada na culpa, mas, nos casos de cirurgia estética ou plástica, o cirurgião assume a obrigação de resultado, devendo indenizar pelo não-cumprimento desta, decorrente de eventual deformidade ou de alguma irregularidade no procedimento cirúrgico. No caso dos autos, não logrou o médico afastar tal presunção, já que a prova produzida não revela que tenha o médico informado corretamente às autoras sobre os riscos, cuidados e possíveis sequelas que poderiam ter em função dos procedimentos aos quais se submeteram, além do fato de restar demonstrado que o resultado dos procedimentos não ficou bom, afirmou o juiz de direito. O médico foi condenado ao pagamento de indenização pelos danos às autoras no valor de R$ 10 mil. Houve recurso da decisão. Apelação: No TJRS, a 6ª Câmara Cível confirmou a sentença do Juízo do 1º Grau. Segundo o Desembargador relator do processo, Luís Augusto Coelho Braga, o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor determina que nos casos de cirurgia estética, o cirurgião/médico assume a obrigação de resultado,

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devendo ser responsabilizado por danos decorrentes de eventual erro na prestação do serviço. No caso concreto, observado o resultado das intervenções cirúrgicas, bem como as provas trazidas aos autos, não logrou êxito o réu em comprovar que as sequelas geradas não decorreram de imperícia quando da realização das cirurgias, ônus que lhe incumbia, nos termos do artigo 333, II, do Código de Processo Civil, explicou o Desembargador relator. Por unanimidade, foi mantido o valor da indenização em R$ 10 mil. Participaram do julgamento, além do relator, os Desembargadores Antônio Corrêa Palmeiro da Fontoura e Ney Wiedmann Neto. Recurso nº 70037080926 Neste sentido: Paciente receberá indenização por agulha deixada em seu abdômen A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmou, na última semana, a condenação da União a indenizar por danos morais paciente que teve uma agulha deixada no abdômen após cirurgia realizada no Hospital Militar de Porto Alegre. O paciente sofria de Estenose de JUP – estreitamento de ureter renal esquerdo – e foi submetido, em outubro de 2000, a um procedimento cirúrgico chamado Pieloplastia Videolaparoscópica. Após, começou a ter dores na região lombar esquerda e inconstância urinária. Ao investigar os sintomas em dezembro de 2003, foi constatada a presença da agulha no local. A Vara Federal Criminal de Santa Cruz do Sul (RS) condenou a União a custear cirurgia para a extração da agulha e as despesas decorrentes em hospital civil, a ser escolhido pelo paciente, e a pagar R$ 20 mil corrigidos monetariamente por danos morais. A União recorreu ao tribunal alegando que não ficou comprovado que a agulha cirúrgica tenha sido deixada na cirurgia realizada pelo médico do Exército e que o objeto não provocou danos ao autor, não se justificando o pagamento de danos morais. A relatora do processo na corte, desembargadora federal Maria Lúcia Luz Leiria, entendeu que o

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Estado tem responsabilidade objetiva sobre o ocorrido. “O corpo estranho encontra-se na mesma região, próximo ao rim esquerdo, onde realizada a cirurgia no hospital vinculado à ré. Não há nos autos indícios de que o autor tenha realizado outro procedimento cirúrgico na mesma região”, avaliou a magistrada. Maria Lúcia entendeu que são devidos os danos morais, pois ainda que o autor não tenha tido nenhuma patologia ligada à presença da agulha em seu corpo, não há como prever que não terá no futuro. Para ela, o dano moral está configurado pelo abalo na esfera íntima do autor, “em situação de dor e angústia que ultrapassam a barreira do mero dissabor”. Quanto aos danos materiais concedidos em primeira instância, que consistem no pagamento da cirurgia e despesas, a magistrada reformou a sentença. Ela entendeu que o autor não conseguiu comprovar o efetivo prejuízo e nem apresentou orçamento com valores a serem gastos na cirurgia de extração, o que seria necessário para a concessão do direito. Fonte: Tribunal Regional Federal da 4ª Região Também, neste norte: TJDFT – Médico é condenado a indenizar paciente por mamoplastia estética malsucedida A 1ª Turma Cível do TJDFT manteve, em grau de recurso, a condenação de um cirurgião plástico a indenizar em R$50 mil uma paciente que se submeteu a cirurgia plástica nos seios. Além da condenação ao pagamento de danos morais e estéticos, o médico terá que arcar com as despesas de novo procedimento cirúrgico, a ser realizado por médico de preferência da autora, para correção dos defeitos deixados. Consta dos autos que, no dia 12/08/2008, a paciente se submeteu a duas cirurgias plásticas (mamoplastia com implante de silicone e rinoplastia) com o médico, no Hospital Santa Clara. Segundo ela, a primeira foi malsucedida, resultando em assimetria das mamas, enormes cicatrizes e destruição parcial do mamilo direito. Pediu a condenação do profissional ao pagamento de R$70 mil de indenização (R$20 mil por

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danos estéticos, R$30 mil por danos morais e R$20 mil para custear a reparação). O médico contestou a ação sob o argumento de que o resultado negativo ocorreu no pós-operatório, porque a paciente não tomou os devidos cuidados. Na 1ª Instância, a juíza da 4ª Vara Cível de Brasília julgou procedentes os pedidos de danos morais e estéticos, bem como condenou o cirurgião a arcar com os custos de procedimento reparador com outro médico, à escolha da autora. Não contente, o médico apelou da sentença. Porém, ao analisar o recurso, a Turma Cível manteve, na íntegra, a decisão de 1ª Instância. De acordo com o colegiado, “prevalece o entendimento, tanto na doutrina como na jurisprudência, de que a obrigação do médico na cirurgia plástica é de resultado e não de meio. Isso porque esse tipo de intervenção surge para trazer ao paciente um conforto/reconforto estético. Não é ele portador de moléstia, mas sim de uma imperfeição que objetiva ver corrigida/amenizada”. A decisão foi unânime e não cabe mais recurso no âmbito do TJDFT. Processo: 2010011231631-8 FONTE: TJDFT E mais: TJSC – Hospital é condenado a indenizar pais em R$ 139 mil por erro em diagnóstico A 2ª Câmara de Direito Público do TJ confirmou sentença da comarca de São Lourenço do Oeste que condenou um hospital a pagar mais de R$ 139 mil, em danos morais, aos pais de uma criança que faleceu nas dependências da instituição por negligência diagnóstica. Consta nos autos que os pais teriam levado a criança no posto de saúde e esta foi diagnosticada com sinusite, pois apresentava febre, dor de garganta e distensão abdominal, e o médico receitou remédio para tal. O tratamento não surtiu efeito mas, mesmo assim, dois dias depois, outro profissional do posto receitou novos remédios para os sintomas, definidos agora como vômito e tosse. Neste mesmo dia, a criança foi levada ao hospital e diagnosticada com pneumonia, quando sofreu

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cirurgia de emergência e faleceu no dia seguinte por insuficiência respiratória, pneumonia e infecção generalizada. O desembargador substituto Rodolfo Tridapalli, relator do acórdão, afirmou que o laudo pericial confirmou que a criança foi vítima de uma sucessão de erros e insuficiência diagnóstica, o que protelou o tratamento adequado. O magistrado ressaltou ainda que nenhum dos três médicos que atenderam a criança solicitaram qualquer tipo de exame. “Assim, com base no arcabouço probatório apresentado, é de se concluir pela prática de ato ilícito por parte dos agentes estatais, que diagnosticaram equivocadamente a criança por três momentos e não requisitaram qualquer tipo de exame ambulatorial. […] Acerca do prejuízo moral sofrido pelos demandantes, este dispensa qualquer prova, pois presumida a dor pela qual passaram os pais ao ver a filha, de menos de dois anos de idade, falecer pela falta de cuidados médicos adequados.”, concluiu o magistrado. A câmara também alterou a data de incidência dos juros para a ocasião dos fatos. A decisão foi unânime. (Apelação Cível n. 2010.002535-7) FONTE: TJSC Também: TJSC. Médico pagará R$ 15 mil a paciente por esquecer pedaço de bisturi em joelho A 6ª Câmara de Direito Civil do TJ condenou um ortopedista de Blumenau a pagar R$ 15 mil por danos morais a paciente que, em julho de 2002, durante cirurgia em ligamento, teve um fragmento de bisturi esquecido no joelho direito. No período de recuperação, o autor realizou trabalho de fortalecimento muscular auxiliado por terapeutas e retornou à clínica para consulta com o cirurgião, que fez um raio X do joelho operado e informou estar tudo bem. Em junho de 2003, ao sofrer nova lesão, desta vez no joelho esquerdo, o autor procurou outro profissional, que pediu radiografia dos dois joelhos, apenas para constatação de praxe. Neste exame, ele verificou a

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presença da lâmina de bisturi, e o paciente foi submetido a nova operação para a extração do corpo metálico. Em apelação, o médico disse não ter agido com imperícia ao manter o fragmento na articulação, pois a “prorrogação do tempo de cirurgia oferece mais risco ao paciente do que a retirada posterior, se houver indicação médica ou assim o paciente desejar”. Afirmou, ainda, que a sentença baseou-se em suposições e definições médicas, bem como em probabilidades contrárias ao laudo pericial, o que não autoriza a condenação civil. O relator, desembargador Ronei Danielli, não acatou a afirmação de que não houve imperícia. Para ele, mesmo que a conduta mais adequada fosse a manutenção do fragmento na articulação para não prolongar o período em que o membro operado permaneceu sem circulação sanguínea, a perda de uma lâmina de bisturi indica culpa. “Desse modo, a ‘perda’ de um fragmento de bisturi, expressão utilizada pelo médico na observação constante do prontuário médico, e a não extração demonstram que houve conduta negligente e antijurídica durante a cirurgia”, finalizou Danielli. A decisão foi unânime e apenas reduziu o valor da indenização, inicialmente fixado em R$ 25 mil. Cabe recurso a tribunais superiores (Ap. Cív. n. 2010.017290-0). Ou ainda: TJPR. Hospital e médico são condenados a indenizar, solidariamente, familiares de paciente que morreu de complicações pós-operatórias A Sociedade Paranaense de Cultura – SPC (Hospital Universitário Cajuru) e um médico-cirurgião foram condenados, solidariamente, a pagar R$ 40.000,000 (além de uma pensão alimentícia), por erro médico, aos familiares de um paciente (N.G.) que foi submetido a uma cirurgia no referido Hospital. Consta na petição inicial que, no dia 13 de abril de 1999, o Sr. N.G., marido da primeira autora e pai dos demais, deu entrada no Hospital Universitário Cajuru, ocasião em que foi diagnosticada a existência de um

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“cisto no pâncreas”. Nove dias depois, ele foi submetido a um procedimento cirúrgico denominado “derivação cisto-gástrica”, realizada pelo Dr. B.S. Após ter recebido alta, o paciente passou a sentir fortes dores abdominais. Foi observado também um crescimento anormal de seu abdômen. Novamente internado no referido Hospital, o paciente veio a falecer. Realizado o exame de necropsia pelo Serviço de Anatomia Patológica do Hospital de Clínicas do Paraná, constatou-se a presença de um corpo estranho (gaze) no abdômen do falecido. No laudo, os médicos legistas apontaram esse fato como um dos fatores que contribuíram para a morte do paciente. Essa decisão da 10.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná reformou parcialmente (apenas para reduzir o valor da indenização) a sentença do Juízo da 16.ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba que julgou procedentes os pedidos formulados na ação de indenização por danos morais ajuizada por O.F.G. e Outros contra a Sociedade Paranaense de Cultura – SPC e o médico B.S. Entre outras ponderações, o relator do recurso de apelação, desembargador Luiz Lopes, consignou em seu voto: “[...] denota-se que restou cabalmente comprovado que no ato cirúrgico realizado no dia 22.04.1999, foi esquecida uma gaze no organismo do Sr. Nelson, e que foi encontrada apenas quando da realização do laudo de necropsia”. “Logo, resta configurada a culpa, na modalidade negligência, por parte da equipe médica, capitaneada pelo segundo apelante, ante a patente falta de diligência e atenção, incompatível com os deveres de cuidado intrínsecos ao exercício da medicina.” (Apelação Cível n.º 826931-6) E, mais: TJMG. Médico é condenado por provocar morte de criança Um médico foi condenado a pagar R$ 140 mil de indenização por danos morais e também pensão mensal à mãe de uma criança que morreu em consequência do atendimento feito pelo profissional.

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A decisão é da 16ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que reformou em parte sentença proferida pela 2ª Vara Cível, Criminal e da Infância e da Juventude da comarca de Ouro Fino. A trabalhadora rural A.V.F. conta que, em 7 de abril de 2001, por volta das 20h, sua filha K.P.F., de apenas dez meses de idade, foi encaminhada com pneumonia e suspeita de anemia à Casa de Caridade de Ouro Fino, para internação. Durante o atendimento, foi solicitada a presença na instituição de um cirurgião plantonista, o médico L.R.C.B. Ao chegar ao local, segundo a trabalhadora rural, o médico plantonista apresentava sinais de embriaguez, pois gritava e agredia funcionários e enfermeiros. Segundo ela, o médico, sem condições de atender a menor, iniciou a dissecação de veias da menina, causando-lhe lesões – cortes incisivos nos braços, pernas e virilha. O peito também foi perfurado para a introdução de um instrumento chamado intracath, de uso adulto e normalmente manipulado apenas por cardiologistas. O cirurgião manteve a criança na mesa do ambulatório por duas horas. Após serem feitas suturas nos cortes, a menina foi encaminhada em estado grave para o Hospital das Clínicas Samuel Libânio, em Pouso Alegre (Sul de Minas), mas morreu alguns dias depois por insuficiência respiratória aguda desencadeada por septicemia. Em decorrência dos fatos, houve instauração de inquérito policial e ação penal, e o médico foi condenado por homicídio culposo, em novembro de 2005. A mãe da criança decidiu entrar na Justiça contra o médico pedindo indenização por danos morais e materiais. Ela afirmou que as incisões reiteradas e as circunstâncias anormais do atendimento submeteram a menor a um sofrimento atroz e desnecessário. Como mãe, ressaltou o sofrimento causado pela morte da filha. Em Primeira Instância, o médico foi condenado a pagar à mãe da criança a quantia de R$ 40 mil por danos morais, já os danos materiais foram negados. Diante da sentença, ambas as partes decidiram recorrer. A mãe pediu o aumento da indenização por dano moral e afirmou fazer jus aos danos materiais.

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O médico negou a existência de qualquer responsabilidade pelo ocorrido. Declarou que a instrução do processo penal que resultou em sua condenação foi deficitária, pois não foi produzida prova técnica. Ao analisar os autos, o desembargador relator, Otávio de Abreu Portes, observou que, embora os juízos cível e criminal sejam independentes, o sistema jurídico-processual impõe a predominância do que é decidido na seara penal, pela quantidade de provas ali produzida. Segundo ele, entre os efeitos da condenação criminal, encontra-se a reparação do dano causado. Considerando que não cabe mais recurso contra a condenação do médico na esfera penal, o relator afirmou que não se mostrava mais possível “discutir os termos da responsabilidade civil do recorrente, salvo proceder à quantificação dos danos”. Em relação ao pedido de pagamento de pensão mensal à mãe da menor, o desembargador Otávio Portes observou que súmula do STF dispõe ser indenizável “o acidente que cause a morte de um filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado”. Destacou que existe entendimento de que, “em famílias de baixa renda, há uma presunção de que os filhos contribuam para as despesas domésticas (…)”. Ele observou que a própria condição de trabalhadora rural da mãe “evidencia e faz supor exígua renda e atrai a presunção da contribuição material que poderia a menor prestar futuramente à entidade familiar”. Assim, o desembargador relator condenou o médico a pagar pensão mensal à mãe da menina no valor de 2/3 do salário mínimo vigente à época em que a menor completaria 14 anos de idade, até a idade em que chegaria aos 25 anos, momento em que a pensão deverá ser reduzida à razão de 1/3 do salário mínimo vigente, estendendo-se até a data em que a vítima viesse a completar 65 anos ou até o falecimento de sua mãe. Quanto aos danos morais, tendo em vista as graves consequências da conduta do médico e à finalidade pedagógica que a medida deve ter, o relator decidiu aumentar o valor da indenização para R$ 140 mil, afirmando que “a leitura da sentença penal e a

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transcrição dos depoimentos testemunhais dela constantes evidenciam que o requerido em momento algum se preocupou em agir conforme a ética médica, ou minorar a dor da menor naquele momento de aflição, tendo tratado com truculência aos demais profissionais e outros ali presentes (…)”. O relator reformou a sentença também no que se refere à incidência dos juros, sendo seguido, em seu voto, pelos desembargadores Wagner Wilson Ferreira e José Marcos Rodrigues Vieira. TJMG. Gaze esquecida em corpo de paciente leva à condenação de hospital e médico A 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) condenou a Santa Casa de Misericórdia de Passos, no Sul de Minas, e o médico A.O.F. a indenizar, por danos morais, em R$15 mil, uma paciente em cujo corpo foi deixada uma gaze após o parto. No dia 12 de dezembro de 2009, a dona de casa se internou na Santa Casa de Misericórdia para dar à luz sua filha. Na ocasião ela foi atendida pelo médico obstetra, que realizou um parto normal. Mãe e filha tiveram alta no dia seguinte e todas as despesas referentes ao parto foram pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No dia 20 de dezembro, devido a fortes dores abdominais e um forte odor em sua urina, a dona de casa procurou a Santa Casa por volta das 23h. Ao ser atendida pela médica de plantão, foi constatado que havia um corpo estranho dentro da vagina da paciente – uma gaze de aproximadamente 20 cm de comprimento – em estado de putrefação. Logo após retirar a gaze, a médica de plantão a liberou e receitou remédios. Em primeira instância, a juíza da 1ª Vara da comarca de Passos julgou procedentes os pedidos da dona de casa e condenou médico e hospital ao pagamento de R$ 4 mil por danos morais. O hospital e o médico entraram com recurso no TJMG alegando que houve negligência por parte da dona de casa, que demorou oito dias para procurar ajuda médica. Já a paciente considerou que o valor

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atribuído em Primeira Instância por danos morais era insuficiente. De acordo com o desembargador relator, Luiz Carlos Gomes da Mata, apesar da demora da paciente em procurar ajuda médica, “o ilícito produzido é de inteira responsabilidade dos réus.” “A gestante, não só durante o parto, mas após a realização deste, estava submetida a intenso estágio emocional, com efetiva exposição a toda gama de sentimentos, sensibilidade esta que, notoriamente, evidenciou-se diante da descoberta de que fora esquecido dentro de seu corpo físico um elemento estranho e, inclusive, que estaria a causar-lhe dor, não só física, mas também de ordem psicológica.” Dessa forma, o relator modificou a sentença, aumentando o valor da indenização por danos morais para R$ 15 mil. Votaram de acordo com o magistrado os desembargadores José Carvalho Barbosa e Newton Teixeira Carvalho. Processo: 0002134-35.2010.8.13.0479 TJDFT. Clínica de reprodução humana é condenada por erro médico O juiz de direito substituto da 14ª Vara Cível de Brasília condenou a empresa de reprodução humana Genesis a pagar, a título de danos morais, o valor de R$ 15 mil por erro médico em cirurgia de retirada de miomas e R$ 9.776 por danos materiais. De acordo com a paciente, procurou a clínica, pois estava com dificuldade de engravidar, sendo atendida por dois médicos, que diagnosticaram a existência de miomas uterinos. Os médicos informaram que haveria necessidade de realizar cirurgia para retirada dos miomas, que seria filmada por uma mini câmera. Os médicos falaram que se tratava de uma cirurgia simples, e que após o procedimento ela conseguiria engravidar. Submeteu-se à cirurgia, mas o resultado foi desastroso, pois a parede do seu útero foi perfurada e o seu intestino delgado sofreu queimadura. Foi transferida a um hospital, onde se submeteu à laparoscopia, na qual foram retirados23 cmde seu intestino delgado, tendo permanecido internada por 15 dias. Tentou obter cópia da

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gravação da sua cirurgia e do seu prontuário médico, mas os médicos se recusaram a fornecer. Segundo a mulher, restou frustrado o seu projeto de vida de engravidar, além de ter ficado com sequelas psicológicas. Os médicos e a clínica apresentaram contestação, afirmam que jamais foi dito à paciente que o procedimento era simples, muito menos foi garantido que ela conseguiria engravidar, especialmente porque ela já possuía 45 anos de idade. Disseram que houve uma pequena lesão possivelmente decorrente do aquecimento de alça do intestino delgado. Argumentam que o procedimento mais adequado foi imediatamente adotado. Alegaram que a cópia da gravação da cirurgia não foi fornecida, porque solicitada por um terceiro que não se identificou. Argumentaram que não houve qualquer negligência ou imprudência, e que o problema ocorrido com a autora estava dentro do risco intrínseco ao procedimento cirúrgico. Disseram que a autora não realizou qualquer despesa, uma vez que houve cobertura por parte de seu plano de saúde. Afirmaram que a perfuração do útero não representa impedimento à gravidez e que a retirada dos miomas não significava a garantia de engravidar. O juiz de direito substituto decidiu que a responsabilidade pessoal do médico é regulada no Código Civil (art. 951) e no Código de Defesa do Consumidor (art. 14, § 4o, do CDC), sempre apurada mediante a verificação de culpa e que a conclusão contida no laudo pericial produzido nos autos foi contundente em afastar a culpa dos médicos. No entanto a clínica deve ser responsabilizada, pois responde de forma objetiva, independentemente de culpa. É inegável que os problemas ocorridos no manuseio de instrumentos por parte de seu corpo médico está diretamente relacionado às atividades das clínicas médicas e, por essa razão, integra orisco do negócio. No caso, os documentos acostados comprovam a realização de despesas. Condeno a Gênesis a pagar à autora a quantia de R$9.776 a título de indenização por danos materiais, e a pagar R$ 15 mil pelos danos morais suportados. Processo: 2002.01.1.077695-2

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Temos ainda: TJDFT. Laboratório é condenado a pagar R$ 1 milhão por problemas causados pela ingestão de Novalgina A 2ª Turma Cível de Brasília condenou o laboratório Sanofi-Aventis Farmacêutica a pagar o valor de R$ 1 milhão a um casal devido à internação e a uma série de graves problemas de saúde da esposa causados pela ingestão do medicamento Novalgina. A 2ª Turma Cível decidiu elevar valor da indenização que havia sido concedida pela 4ª Vara Cível de Taguatinga. A Turma também negou, por maioria, recurso da empresa farmacêutica que requeria diminuição do valor da indenização de R$ 700 mil para R$ 100 mil. Deu provimento ao pedido dos autores, aumentando a indenização devida para a esposa, Magnólia, de R$ 400 mil para R$ 700 mil e manteve o valor de R$ 300 mil para o marido, totalizando R$ 1 milhão ao casal. Após a ingestão de dois comprimidos do medicamento Novalgina, cujo composto ativo é a dipirona, fabricado pelo laboratório Sanofi- Aventis, a autora desencadeou uma série de problemas (mal-estar, incluindo febre, dor de cabeça, irritação e bolhas na pele, na boca e nos olhos) que culminaram na sua internação. Alegaram os autores que se diagnosticou a Síndrome de Steven-Johnson, gerada em razão da ingestão da Dipirona, princípio ativo da Novalgina, que culminou na queimadura de 90% do corpo da paciente, insuficiência renal e diminuição da capacidade visual. Diante do agravamento do quadro, foi internada no Hospital Anchieta e posteriormente transferida para a unidade de queimados do Hospital Regional da Asa Norte – HRAN, após submeter-se à cirurgia plástica. Os fatos obrigaram o casal a vender o imóvel onde residiam para custear o tratamento particular em São Paulo para recuperação da visão. Segundo o acórdão, “além de os relatórios médicos informarem que Magnólia teve Síndrome de Stevens Johnson por ingestão de Dipirona, a perita do juízo concluiu que houve nexo de causalidade quanto às medicações ingeridas Novalgina (dipirona sódica) e Tylenol (paracetamol) pela paciente, apesar do desconhecimento da mesma sobre as reações dessas drogas que pode acontecer em qualquer

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indivíduo. A dose de dipirona sódica ingerida foi alta causando uma reação de hipersensibilidade tardia estimulando células imunomlógicas”. Quanto à alegação do laboratório de que a bula do remédio contém a informação que pode desencadear a síndrome, o Revisor defendeu que os fornecedores são obrigados a dar as informações necessárias e adequadas sobre produtos e serviços colocados no mercado de consumo. “Tenho que o caso não se trata de risco inerente do produto, extrapolando a segurança esperada do consumidor. Foge à segurança razoável esperada pelo consumidor, que o remédio, de uso tão difundido, venha a causar tão grave moléstia, como a Síndrome de Stevens Johnson. A ré mesmo relata, que apenas 1 a 6 pessoas em cada milhão desenvolvem o mal. Tenho que a ré assumiu o risco em colocar no mercado o remédio sabendo que ele pode causar graves problemas de saúde ao consumidor, ainda que em percentual mínimo”, afirmou. Quanto aos danos morais, o Revisor decidiu: “no caso, tenho que foram graves os danos morais sofrido pela primeira autora, não merecendo ser reduzida a indenização, mas aumentada. A autora até hoje ainda não recuperou integralmente a sua visão, e está na fila para transplante de córnea, e ainda não se recuperou para o trabalho, apesar de passados cinco anos do acometimento da doença. Assim, majoro a indenização devida para a autora, Magnólia, de R$ 400 mil para R$ 700 mil”. Processo: 2009 07 1 0088248 APC Também: TJSC. Paraplégico após anestesia, paciente receberá indenização de R$ 240 mil A 2ª Câmara de Direito Civil fixou em R$ 240 mil a indenização por danos morais devida por um hospital e dois médicos do sul de Santa Catarina a um paciente que ficou paraplégico após submeter-se a cirurgia de hérnia umbilical. O homem, com 43 anos em 17 de junho de 2005, apresentava baixa contagem de plaquetas no sangue e recebeu aplicação de raquianestesia. Em consequência, dois dias após a intervenção, apresentou hematoma na coluna que o deixou paraplégico.

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O paciente ajuizou ação na comarca de Tubarão contra o anestesista, o cirurgião e o hospital. Em resposta, os médicos alegaram que o paciente tinha saúde frágil e problemas de alcoolismo, motivo que levara ao adiamento da cirurgia em outras ocasiões. Eles afirmaram, ainda, que no dia da cirurgia o autor compareceu sóbrio e pediu que fosse solucionado o problema da hérnia, causa de fortes dores. Ocorre que havia um encarceramento da hérnia, o que tornou o procedimento emergencial e impediu a realização de exames pré-operatórios. Após a sentença, houve apelação de todos os envolvidos. Os médicos pediram a redução do valor da indenização e, assim como o hospital, alegaram cerceamento de defesa, inclusive no que se refere à comprovação do quadro de alcoolismo do autor, de sua saúde precária e da emergência da cirurgia. Questionaram, ainda, a perícia realizada. O relator, desembargador Luiz Carlos Freyesleben, considerou as provas e perícia judicial suficientes para a decisão do juiz. Sobre o fato de o laudo ter sido elaborado por um oncologista, o desembargador observou que não houve manifestação contrária dos médicos quando da nomeação do profissional, com pagamento dos honorários do perito e até formulação de quesitos. Freyesleben apontou, ainda, constatação da perícia de que entre a internação do paciente, às 9 horas, e a operação, realizada às 16h20min, houve tempo suficiente para a realização de exames pré-operatórios, que poderiam revelar a contraindicação da anestesia. “Assim, não há como vingar a alegação dos réus de que a avaliação pré-operatória era, naquele caso, desnecessária, pois, se feita, teria evitado o hematoma gerador da paraplegia do autor”, finalizou o relator. A decisão da câmara reconheceu o pedido do autor de ampliação da indenização por danos morais, fixada inicialmente em R$ 100 mil. A apelação dos médicos foi provida em parte, para se determinar a realização de liquidação de sentença acerca dos danos materiais emergentes, relativos ao custeio de atendimentos fisioterápico e de enfermaria necessários ao autor. A decisão foi unânime, e cabe

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recurso a tribunais superiores (Ap. Cív. n. 2012.053952-2). Anestesista pagará dano moral a pais de criança por erro em cirurgia A 2ª Câmara de Direito Civil do TJ fixou em R$ 311 mil o valor da indenização por danos morais a ser paga por um anestesista aos pais de uma criança, vítima de erro médico em cirurgia de retirada de adenóide em 2003. Durante o procedimento, o menino teve ausência de oxigenação no sangue, que levou a lesão cerebral, com seqüelas irreversíveis. A criança ficou em estado vegetativo irreversível até 2009, quando faleceu por complicações de seu quadro de saúde. Na apelação, o profissional questionou o pagamento de pensão mensal e disse que a cirurgia era imprescindível e que, para tanto, o paciente foi submetido a anestesia e intubação. Afirmou que na consulta pré-anestésica nada de anormal foi detectado, com complicações somente no pós-operatório. Apontou que a criança não resistiu às complicações pelo comprometimento da capacidade respiratória, em função da hipertrofia das adenóides. Os pais, por sua vez, pediram a ampliação da indenização, fixada em 1º grau no valor de R$ 60 mil. O relator, desembargador substituto Gilberto Gomes de Oliveira, reconheceu o abalo moral e observou os dados de perícia que apontaram divergência na ficha do paciente quanto ao seu peso. Em decorrência disso, a dose de anestesia aplicada teria provocado a falta de oxigenação no sangue e levado a criança ao estado vegetativo dos três anos até sua morte, aos nove anos. “Portanto, tenho que a conduta é, deveras, extremamente reprovável, mormente porque o prejuízo perpetrado na vida do menor, que veio a falecer em decorrência de tal ato, durante os anos que se seguiram após a cirurgia até o seu óbito, alcançou proporções gigantescas, haja vista que aludida criança ficou, e digo isso com profunda consternação, presa à uma cama, num quadro de vegetação permanente”, finalizou Gomes de Oliveira. A decisão foi unânime. Cabe apelação a instâncias superiores. (Apelação Cível 2010.079530-6)

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STJ. Paciente que teve o rosto deformado em cirurgia vai receber R$ 20 mil de indenização Um economista que teve o rosto deformado ao se submeter a cirurgia para correção de desvio de septo vai receber R$ 20 mil de indenização por dano moral. Perícia constatou que houve erro médico no momento da infiltração. A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou seguimento a recurso do médico responsabilizado pelo erro, ficando mantida a decisão da Justiça de São Paulo sobre o caso. O ministro Paulo de Tarso Sanseverino, relator do recurso, destacou que a Justiça paulista concluiu que houve imprudência e imperícia do profissional. O erro cometido provocou no paciente uma violenta reação inflamatória à anestesia aplicada em seu nariz e na região da pálpebra inferior direita. Isso resultou na desfiguração do canto de um olho e do septo cartilaginoso. Além do pagamento de indenização por dano moral, o médico foi condenado a indenizar os danos materiais e a pagar pensão mensal de um salário mínimo. No recurso julgado pela Terceira Turma, ele alegou violação a dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, do Código Civil de 1916 e do Código de Processo Civil, além de divergência com a jurisprudência do STJ. Nexo causal Para o ministro Sanseverino, a decisão da Justiça paulista está suficientemente fundamentada, sem qualquer omissão ou negativa de prestação jurisdicional. Ele observou que, embora o médico tenha alegado falta de comprovação de culpa, o laudo pericial reconheceu o nexo causal entre a infiltração anterior à cirurgia e a infecção. O médico foi o responsável pelos medicamentos misturados e ministrados antes da cirurgia. A análise de algumas das alegações do médico, segundo o ministro, demandariam revisão de provas, o que é proibido pela Súmula 7. Outras não foram apreciadas pelo tribunal estadual, incidindo assim a Súmula 211. O relator entendeu também que a divergência jurisprudencial não foi demonstrada.

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Por todas essas razões, negou-se seguimento ao recurso especial. A decisão individual do ministro foi confirmada pelos demais ministros da Terceira Turma. Processos: REsp 1175958 TJMG. Erro em tratamento dentário gera danos “Demonstrada, nos autos, a ocorrência de falha técnica no tratamento adotado pela cirurgiã dentista, que agiu com negligência e imperícia, impõe-se a responsabilização da profissional pelos prejuízos de ordem material e moral causados à paciente.” Sob essa argumentação, a 18ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) condenou uma dentista a pagar à sua paciente indenização por danos morais e materiais no valor de R$ 12 mil e R$ 5.866,20, respectivamente. Em 1996, M.D.B.O., dona de casa, contratou os serviços da dentista A.B.F.B. por 18 meses para uso de um aparelho ortodôntico. Durante todo o tratamento, ela reclamava de dores e, ao final, perdeu contato com a dentista, que se mudou de Belo Horizonte sem deixar o novo endereço. Após muitas tentativas, a dona de casa conseguiu localizar a dentista, que indicou um colega, mas este, por sua vez, não quis assumir o caso, indicando um outro profissional. Novamente houve recusa por parte deste último. Em primeira instância, o juiz havia determinado que a cirurgiã dentista deveria pagar indenização de R$ 20 mil por danos morais à paciente. Alegando que o valor era muito alto e que não havia provas contra ela, A.B.F.B. apresentou recurso ao TJMG, afirmando que o tratamento por ela realizado não foi o causador da mordida aberta de sua paciente, que tem origem genética. O desembargador relator, João Cancio, deu provimento parcial ao recurso, reduzindo a indenização por danos morais para R$ 12 mil. Segundo ele, “é um valor que se mostra mais adequado e suficiente à efetiva reparação do dano sofrido por ela”. O desembargador também concedeu indenização por danos materiais, no valor de R$ 5.866,20, que corresponde às despesas com o tratamento odontológico.

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Votaram de acordo com o magistrado os desembargadores Corrêa Camargo e Guilherme Luciano Baeta Numes. Processo: 4296856-21.2007.8.13.0024 E ainda: TJDFT. Clínica de estética condenada a indenizar por erro em cirurgia plástica A 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) condenou a Clínica de Estética Fisio Center ao pagamento de R$ 5 mil, a título de indenização por danos morais, e mais o ressarcimento de R$ 830,00, referentes à primeira parcela paga por uma cirurgia de bioplastia no nariz que acabou infeccionando e criando uma “verruga”. Ao analisar o pedido de indenização, em grau de recurso, uma vez que em 1ª Instância o pleito fora negado, o desembargador relator afirmou defender a tese de que “a obrigação assumida pelo profissional médico, que se propõe à realização de determinada cirurgia estética, constitui obrigação de resultado, de forma que o não-atingimento das metas propostas e acertadas com o particular contratante constitui inadimplemento absoluto do acordo, apto a ensejar a rescisão do contrato de prestação de serviços médicos e também para justificar a condenação do médico (ou da clínica – por responsabilidade objetiva pelo ato do preposto) na reparação dos danos experimentados pelo paciente”. O contrato celebrado entre a clínica e a paciente estabelecia, expressamente, que o objeto da contratação era a “execução de tratamento estético, por parte da contratada, composto de 01 sessão de bioplastia de glúteo com 100 ml, 01 sessão de bioplastia de nariz para queda da ponta nasal”. O desembargador relator reconheceu que a cirurgia plástica estética contratada “não apenas deixou de atingir o resultado esperado, como também constituiu causa de imperfeições que não pré-existiam à intervenção médica (…)”. Ainda segundo ele, a clínica não juntou aos autos nenhum termo de esclarecimento acerca dos resultados que a bioplastia poderia proporcionar à paciente, não anexou aos autos o prontuário médico,

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nem fotos anteriores e posteriores ao procedimento da bioplastia, e nenhum outro documento que fosse capaz de servir de base à sua defesa. A clínica, após a cirurgia, realizou um segundo e terceiro procedimentos (aplicação de fio elástico na base nasal), para tentar reparar o resultado negativo, mas não logrou êxito e teve de retirar o fio porque ele passou a provocar secreções na paciente. Ao decidir, o desembargador afirmou que “em razão de se cuidar de causa regida pelo Código de Defesa do Consumidor, se impõe, na espécie, a inversão do ônus da prova, que determina também que somente a ocorrência de circunstâncias imprevisíveis ou de ato culposo imputável exclusivamente à paciente seria capaz de eximir o médico da responsabilidade pelos danos causados, circunstâncias essas que a Ré (clínica de estética) em momento algum logrou demonstrar”. A decisão foi unânime. Não cabe recurso do mérito no TJDFT. Processo: 2006011020732-7 APC Ou ainda: TJMG. Dentista indeniza cliente por falha em tratamento A dentista V.R.B. foi condenada pela 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a indenizar em R$ 10 mil uma paciente que perdeu um dente em um tratamento e sofreu com dores devido a uma infecção decorrente de procedimentos odontológicos equivocados. A decisão confirma sentença de Primeiro Grau. A advogada A.G.D. consultou a dentista em 2007 porque pretendia clarear um único dente, no qual havia sido feito um tratamento de canal. A paciente optou pelo clareamento caseiro, mas, como depois de um mês não obteve resultado, ela iniciou o clareamento endógeno, com um custo adicional de R$ 300. Antes de começar, ela tirou uma radiografia que comprovava que o dente estava em perfeito estado. Ela fez várias sessões, sendo informada de que o dente não poderia ser totalmente clareado. Dois meses após a conclusão do tratamento, contudo, o

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dente se quebrou sem que a advogada fizesse qualquer esforço. A paciente procurou a dentista, que, sem lhe dar maiores explicações precisas, introduziu um pino na raiz do dente dela, declarando que a medida era necessária porque o clareamento o teria enfraquecido o dente. Entretanto, A. afirma que não havia sido advertida, anteriormente, sobre riscos dessa natureza. De acordo com a paciente, o procedimento resultou numa infecção que lhe provocou sofrimento psicológico, dificuldade de falar e dores intensas, inclusive com sangramento bucal. Desesperada, ela buscou outros profissionais, e todos, verificando que a raiz do dente havia sido perfurada, declararam que seria preciso extrair o dente e fazer um implante. A advogada, que desenvolveu um quadro de depressão, também teve de fazer um preenchimento ósseo que lhe agravou as dores e a obrigou a tomar medicamentos analgésicos. Na ação contra a dentista, ela exigiu indenização de R$ 3.375 (gastos com tratamentos, consultas e medicamentos) por danos materiais (gastos com tratamentos, consultas e medicamentos), indenização por danos morais e R$ 6 mil de lucros cessantes pelos quatro meses em que ela não pôde trabalhar. Contestação V. argumentou, primeiramente, que outro dentista, filho dela, foi o responsável pelo tratamento odontológico, razão pela qual ela não poderia ser responsabilizada. Todavia, ela sustentou que informou a paciente de todos os riscos, inclusive do fato de que, por ter feito o clareamento vinte e cinco25 anos depois do canal, o resultado não seria tão bom e o clareamento precisaria ser periodicamente refeito. A profissional afirmou que a advogada não comprovou que o dente dela se quebrou e defendeu que os procedimentos conduzidos pelo filho dela foram corretos, mas acrescentou que, “por liberalidade”, custeou o tratamento da paciente com outro dentista, pois ambas frequentam o mesmo círculo e tinham relacionamento de amizade antes do ocorrido.

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Segundo a dentista, no período em que foi atendida, a advogada estava realizando sessões de quimioterapia, o que debilitou o organismo dela e deixou sua saúde fragilizada de modo geral. A profissional alegou, ainda, que a extração do dente não era a única alternativa para resolver o problema, mas a paciente escolheu a medida e não poderia reclamar disso. Ela sustentou, por fim, que nenhum dentista pode garantir o resultado perfeito de um tratamento de clareamento, porque isso é imprevisível e depende de vários fatores, como a saúde do paciente e sua resposta a terapias e procedimentos. Decisões Em Primeira Instância, a paciente teve seu pedido julgado parcialmente procedente em outubro de 2012. A juíza Yeda Monteiro Athias considerou comprovado o dano moral sofrido pela advogada e estipulou a indenização em R$ 10 mil. Ela também deferiu pedido de ressarcimento totalizando R$ 400, pelo clareamento endógeno (R$ 300), pelo preparo e cimentação (R$ 50) e pela consulta a outro profissional (R$ 50). O recurso da dentista contra essa decisão foi rejeitado pelo TJMG. Os desembargadores Alberto Henrique, Luiz Carlos Gomes da Mata e José de Carvalho Barbosa consideraram demonstrados o dano e a responsabilidade de V. “À minha ótica, o pagamento do tratamento com outro profissional por parte da dentista traduz verdadeiro reconhecimento da culpa da dentista”, ponderou o relator Alberto Henrique. Quanto à responsabilidade, o desembargador ressaltou que a obrigação dos dentistas, conforme a jurisprudência, é de fim, pois frequentemente o cliente se submete a tratamentos com preocupação estética. Ele mencionou, ainda, que a paciente, por trabalhar com advocacia e corretagem, áreas “para as quais uma aparência bem cuidada é fundamental”, sofreu humilhações e constrangimentos. “O desgaste, a angústia e a dor suportados em função do frustrado tratamento odontológico, que levou à necessidade de submeter-se a um implante, não se limitam a meros aborrecimentos, tratando-se

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de concretos danos morais que devem ser indenizados”, concluiu. Processo nº: 1334013-45.2008.8.13.0024 TJMS – Médico e hospital são condenados por negligência em morte de feto

Por unanimidade, os desembargadores da 1ª Câmara Cível negaram provimento ao apelo interposto por um hospital de Três Lagoas contra sentença que o condenou a pagar de forma solidária com o médico I.L.D. a quantia de R$ 30.000,00 por danos morais em favor do casal E.S.M.P e V.P.S. Consta dos autos que no dia 16 de outubro de 2011, por volta das 15h30, os apelados foram ao hospital, localizado em Três Lagoas, após E.S.M.P, que estava gestante, perceber um sangramento vaginal. Contudo, ela não foi atendida imediatamente pois havia esquecido o cartão gestante, razão pela qual seu marido teve que buscar o referido documento. Após ele retornar ao hospital com o cartão gestante, o casal esperou mais uma hora na recepção para preencher a ficha de atendimento. Além disso, o médico plantonista não estava no hospital e chegou somente às 19h45, atendendo a gestante às 20h10, momento em que procedeu ao exame de toque e solicitou o exame de ultrassom que constatou a morte do feto. Em sua defesa, o hospital declarou que a responsabilidade pela perda do filho em decorrência do aborto espontâneo não pode ser transferido a este ou ao médico, pois ambos não concorreram para o evento. Alega ainda que pequenos dissabores e contrariedades normais da vida em sociedade não ensejam a indenização por danos morais, inclusive no caso dos autos, em que se trata apenas de mero aborrecimento, e que os autores não fizeram prova inequívoca dos fatos e do nexo de causalidade. Para o Des. Divoncir Schreiner Maran, relator do processo, é indubitável a existência de conduta negligente tanto do hospital quanto do médico, pois as provas colidas demonstram que o médico plantonista, no dia dos fatos, somente atendeu a autora às 20h10, ou seja, esta ficou sem atendimento médico por mais de quatro horas.

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O desembargador constatou também que a administração do hospital não disponibilizou outro médico substituto para o atendimento e, segundo depoimentos testemunhais, os técnicos de enfermagem ligaram para o médico, porém este não determinou a adoção de conduta alguma ou outro procedimento médico. Ressaltou ainda que o termo negligência pode ser compreendido como a falta de diligência na prática ou realização de um ato, isto é, pela omissão ou inobservância de um dever a cargo do agente, procedendo com precauções necessárias para que fossem evitados danos não desejados. “Em relação ao valor dos danos morais, atentando-se ao trinômio reparação-punição-proporcionalidade e levando em conta as circunstâncias do caso, as condições pessoais e econômicas dos ofensores e dos ofendidos e o que seria razoável para compensar o ofendido do prejuízo experimentado, entendo que a condenação deve ser mantida em R$ 30.000,00. Isso posto, nego provimento ao apelo”, concluiu o relator. Processo nº 0011392-78.2011.8.12.0021 FONTE: TJMS E, por fim: TJDFT. Clínica dermatológica e médico são condenados por danos decorrentes de depilação a laser 28 de janeiro de 2013 O juiz de direito substituto da 19ª Vara Cível condenou a Clínica Dermatológica AEPIT e um profissional a pagarem R$ 5 mil a paciente por danos morais e estéticos resultantes de uma depilação a laser no rosto. O paciente procurou a clínica para efetuar um tratamento estético, consistente em depilação a laser nos pelos do seu rosto. Na consulta, foi atendido por uma fisioterapeuta, a qual informou que o médico não estava no consultório naquele momento. Foram passadas as explicações sobre o procedimento, ressaltando o fato de que ele era seguro e sem riscos para a pele. No procedimento, ele sentiu uma dor insuportável durante o processo e, passados 20

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minutos, o médico entrou na sala, aplicou algumas anestesias em sua pele e disse que tudo estava bem. O paciente ficou alguns dias com o rosto inchado e com lesões que se transformaram em feridas perto de sua boca. Esclarece que o médico, ao ser questionado sobre o que havia ocorrido, afirmou que nas sessões seguintes usaria o grau menor do laser, reconhecendo, assim, o seu equívoco. Salienta que retornou à clínica para retirar os pontos, mas não prosseguiu com as sessões seguintes, procurando um cirurgião plástico que afirmou que as cicatrizes eram irreversíveis. A clínica e o médico afirmaram que o autor optou por fazer uma avaliação, em vez de uma consulta paga, a qual é feita por um fisioterapeuta e não por um médico. Relatam que o autor ficou ciente de que a depilação facial se tratava de um procedimento invasivo, que resultaria em inchaço no rosto, vermelhidão e formação de casquinhas escuras. Alegam que o tratamento foi feito corretamente e que a fisioterapeuta que atendeu o autor é habilitada para utilizar o aparelho a laser, conforme legislação do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Argumentam que a formação de cicatriz após um procedimento a laser é uma intercorrência possível de ocorrer, pois a resposta inflamatória é individual e sua intensidade é geneticamente determinada, porém imprevisível. Afirmaram que adotaram todos os procedimentos necessários após o aparecimento da cicatriz. Asseveram que o autor abandonou o tratamento, o que impediu, assim, a extinção completa da cicatriz. Pondera que o grau utilizado no laser era o indicado para a tonalidade de pele do autor. Realizada audiência de conciliação, a tentativa de acordo foi infrutífera, cabendo ao magistrado responsável proferir a decisão. De acordo com a sentença, “com relação à reparação por danos morais, entendo que, pelas circunstâncias que cercam o caso, é devida a indenização. As fotografias anexadas aos autos comprovam a existência das duas cicatrizes acima do lábio superior do autor, as quais são definitivas e irreversíveis, segundo a avaliação do perito judicial. Inegável, assim, a violação à integridade física e psíquica do

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autor, por ter que conviver com essa deformidade para o resto de sua vida”, decidiu o juiz. Processo: 2007.01.1.034087-2 TJRS. Hospital deverá indenizar paciente por falha na realização de uma tomografia O Hospital Universitário São Francisco de Paula, localizado em Pelotas, foi condenado a indenizar uma paciente devido a lesões causadas por falhas na realização de um exame de tomografia. Durante uma aplicação injetável de contraste, houve extravasamento do líquido, causando dores e problemas no braço da paciente. A decisão é da 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Caso Em maio de 2008, a autora foi internada no hospital em questão com dores intestinais pelo Sistema Único de Saúde. Após cinco dias, foi submetida à tomografia, ocasião em que houve o extravasamento do líquido (contraste). O exame foi então interrompido e a autora foi mantida em observação por um dia, com o braço inchado. Com a alegação de que a lesão a impediu de trabalhar por dois meses, a paciente ajuizou ação cível contra o hospital, pedindo indenização por danos morais. Sentença O Juiz de Direito Gerson Martins, da Comarca de Pelotas, negou o pedido da autora. Para o magistrado, o hospital só poderia ser responsabilizado se a perícia médica apontasse que houve erro durante o procedimento. A autora, no entanto, não compareceu à perícia. O Juiz também afirmou que a paciente foi devidamente alertada sobre as possíveis reações alérgicas e riscos do procedimento pelos funcionários do hospital. Inconformada, a autora apelou ao TJRS. Decisão O Desembargador Tasso Caubi Soares Delabary, relator do processo, discordou da sentença. De acordo com o magistrado, a perícia médica não é o

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único elemento com base no qual o juiz pode firmar seu convencimento. Além disso, a perícia foi marcada para ser realizada em Porto Alegre, e a autora reside em Pelotas, não possuindo recursos para se deslocar até a Capital. Restou suficientemente comprovado o defeito no serviço, bem como o nexo causal entre a conduta do hospital e as fortes dores sentidas no membro superior esquerdo da autora, declarou. O relator afirmou ainda que o erro poderia ser evitado, portanto não cabe a alegação de que a autora foi alertada dos riscos do procedimento. Segundo testemunho médico, o extravasamento de líquido pode decorrer de inabilidade de quem o aplica. Além disso, um atestado médico emitido uma semana após o exame indicou o diagnóstico de ruptura de tendões e de flebite, uma inflamação que ocorre na parede das veias e que pode ser causada pelo líquido utilizado no exame. O magistrado lembrou ainda o artigo 37 da Constituição Federal, que determina que os prestadores de serviço público sejam responsáveis por danos que seus agentes causarem a terceiros. O hospital foi condenado a pagar R$ 15 mil, devidamente corrigidos, à autora da ação. Também participaram do julgamento os Desembargadores Iris Helena Medeiros Nogueira e Eugênio Facchini Neto, que acompanharam o voto do relator. Apelação Cível nº 70052428018 Por fim: TJGO – Paciente que teve intestino perfurado em exame será indenizado em R$ 80 mil

6 de maio de 2015 O desembargador Walter Carlos Lemes (foto), em decisão monocrática, condenou o Centro Médico de Medicina Avançada (Cema) e um gastroenterologista a indenizarem em R$ 80 mil, por danos morais, um paciente que teve o intestino perfurado durante exame de colonoscopia. O valor será pago aos filhos do autor da ação, que acabou morrendo no curso do

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processo, por causa diversa a das complicações clínicas. Em primeiro grau, a juíza Juliana Barreto Martins da Cunha, da 19ª Vara Cível e Ambiental de Goiânia, já havia julgado a ação favorável ao paciente. A defesa dos réus interpôs recurso, alegando que a perfuração não implica, necessariamente, em erro médico e que houve prestação de atendimento adequado. Contudo, o magistrado verificou existência de “imperícia” e falha na assistência clínica posterior ao exame. Consta dos autos que, durante o procedimento, o paciente queixou-se de fortes dores, e, mesmo assim, o médico continuou com o exame, sem que fossem averiguadas as causas e tomadas providências. Para Walter Carlos, o profissional responsável “agiu temerariamente ao dar continuidade, mesmo com as reclamações”. Ao fim da colonoscopia, o autor da ação passou a sentir dores ainda maiores e tonturas. Na clínica, recebeu medicação para eliminação de gases, com o pretexto de que os sintomas seriam normais. Contudo, três dias depois, o homem foi internado às pressas no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde foi constatada a perfuração em decorrência do exame, seguindo, imediatamente, para o centro cirúrgico. Para corrigir o problema, diagnosticado como perfuração do cólon sigmóide, o paciente precisou se submeter a várias outras cirurgias, resultando em deslocamento do cólon, no qual o orifício é situado do lado esquerdo do abdômen, protegido por bolsa plástica, para eliminação das fezes. Veja decisão. (Texto: Lilian Cury – Centro de Comunicação Social do TJGO) FONTE: TJGO TJGO – Homem será indenizado por injeção mal aplicada por enfermeiro

20 de julho de 2015 A 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) manteve sentença que condenou o município de Planaltina a indenizar Jozias de Paula Alves em R$ 50 mil, por danos morais. Consta dos

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autos que Jozias sofreu perda de função da sua perna direita após uma injeção mal aplicada por um enfermeiro do Hospital Municipal Santa Rita de Cássia. O homem também receberá pensão mensal no valor de um salário mínimo e lucros emergentes de R$ 1.929,26. A turma julgadora seguiu, à unanimidade, voto do relator do processo, desembargador Norival Santomé (foto), que decidiu manter inalterada sentença do juiz da 2ª Vara Cível, das Fazendas Públicas, de Registros Públicos e Ambiental da comarca, Thiago Cruvinel Santos. O município recorreu alegando que não tem responsabilidade no caso, já que o estado de Jozias seria decorrente de “prévio comprometimento da saúde do apelado”. No entanto, ao analisar a documentação juntada aos autos, o desembargador entendeu que estava demonstrada a relação de causa e resultado entre o atendimento médico prestado pelo hospital municipal e a lesão do homem. Quanto às quantias das indenizações, o magistrado julgou que também deveria ser mantido pois, segundo ele, “foram norteadas pelos princípios da razoabilidade e proporcionalidade”, sendo levadas em consideração “as questões fáticas, a extensão do prejuízo, bem como a quantificação da conduta ilícita e capacidade econômica do ofensor”. Veja a decisão. (Texto: Daniel Paiva – estagiário do Centro de Comunicação Social do TJGO) FONTE: TJGO TRF4 – Hospital de Clínicas de Porto Alegre opera olho errado de paciente e é condenado a indenizar

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) deve indenizar em R$ 20 mil uma paciente vítima de um transplante de córnea no olho errado. A decisão é do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) que, na última semana, manteve a condenação de primeira instância. A mulher é portadora de uma doença chamada ceratocone. Passou por tratamento em uma clínica particular e obteve êxito apenas no olho direito, tendo a recomendação de transplante para o esquerdo. Em

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2012, ela realizou o procedimento na instituição para receber a nova córnea, entretanto, a equipe médica operou o olho errado. Após a constatação da falha, a paciente foi mantida na fila de espera e, no mês seguinte, recebeu o tecido no local correto. Na ação, além de indenização por danos morais, a mulher postulava reparação por danos materiais, referente ao período de recuperação em que ficou impedida de trabalhar. Em decisão de primeiro grau, o HCPA foi condenado a pagar um montante de R$ 10 mil pelos abalos morais e psíquicos. Segundo o juízo, não havia necessidade de realizar transplante no olho direito, sendo que o tratamento na clínica particular tinha surtido efeito satisfatório. Já o pedido de danos materiais foi negado, pois a autora recebeu atestados médicos durante o afastamento do serviço. Ambos recorreram ao tribunal. O hospital sustentou que, embora tenha ocorrido o erro, o resultado foi benéfico para a paciente e a autora pediu majoração do valor. O desembargador federal Cândido Alfredo Silva Leal Junior, relator do processo na 4ª Turma, negou o recurso do Clínicas de Porto Alegre e ainda elevou a indenização. “O procedimento equivocado trouxe à autora abalo psicológico, desconforto e apreensão. Ainda, o fato de ter sido operado o olho que apresentava melhor visão, problemas de ordem social e psicológica foram gerados na autora, ou seja, teve de suspender a faculdade e teve dificuldades no trabalho por prazo maior do que o esperado. Tudo isso poderia ter sido minimizado se a cirurgia tivesse sido realizada na forma programada, ou seja, somente no olho esquerdo”, concluiu o magistrado. FONTE: TRF4 TJSP – Problema durante parto gera dever de indenizar

A 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve decisão que condenou médica por problemas durante parto. Ela terá que pagar R$ 72,4 mil a título de danos morais e pensão mensal equivalente a um salário mínimo para a família da criança.

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A mãe, representando a menor na ação, alegou que teve uma gravidez tranquila. Entretanto, segundo ela, no dia do nascimento, a médica teria prolongado desnecessariamente o trabalho de parto ao demorar em optar por realizar a cesárea, em vez de parto natural. Após o nascimento, o bebê foi diagnosticado com uma espécie de paralisia cerebral, que resultou em sequelas permanentes. Em seu voto, o desembargador Fortes Barbosa, relator do processo, afirmou que “restou caracterizada a desídia da ré, havendo demora na reconsideração da via de parto”. Representantes do hospital onde ocorreu o incidente fizeram acordo com a família da menina para indenizá-los em R$ 120 mil. A votação do julgamento foi unânime e teve participação dos desembargadores Paulo Alcides e Eduardo Sá Pinto Sandeville. Apelação nº 0027297-17.2011.8.26.0577 FONTE: TJSP TJDFT – Corpo estranho esquecido durante cirurgia gera indenização a paciente

17 de agosto de 2015 O juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública do DF condenou o Distrito Federal a pagar indenização por danos morais e materiais a paciente em cujo organismo foi encontrado “corpo estranho” após cirurgia realizada em hospital da rede pública. Da sentença, cabe recurso. A autora conta que, após se submeter à intervenção cirúrgica junto ao Hospital de Base, passou a suportar constantes dores agudas no abdômen. Alega que em face da ausência de previsão na rede pública, realizou exame de videocolonoscopia na rede privada, onde se constatou que os profissionais responsáveis pela cirurgia deixaram em seu organismo um pedaço de gaze (corpo estranho) que somente foi retirado mediante a realização de nova cirurgia, desta vez na rede privada. O réu sustentou que não há provas de que o corpo estranho mencionado foi deixado pela equipe médica que atendeu a autora e que, se houvesse algum problema imputável ao hospital, caberia à autora a

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busca imediata de atendimento na rede pública, não se justificando a eleição unilateral de hospital particular para a realização de nova cirurgia. O juiz explica que “na esteira da responsabilidade civil objetiva basta a demonstração da conduta, do dano e do nexo de causalidade, ficando a vítima dispensada de provar o dolo/culpa da Administração. Contudo, permite-se que o Poder Público demonstre que o fato foi provocado por força de caso fortuito ou força maior, por terceiro e por culpa exclusiva ou concorrente da vítima, para excluir ou atenuar a indenização”. No caso em tela, o julgador registrou que “o relato apresentado, aliado aos documentos juntados à inicial, são suficientes à formação da convicção deste Juízo de que, independentemente de o ‘corpo estanho’ não ter sido apresentado ao perito por ocasião do laudo, fato é que, em razão da cirurgia a que foi a autora submetida, foi obrigada a, em medida de urgência, ser submetida a nova cirurgia para retirada do ‘corpo estranho’ lá deixado por conduta da equipe médica que lhe atendeu no hospital de responsabilidade do demandado”. Assim, conforme o art. 333, inciso II, do Código de Processo Civil, caberia ao réu o ônus da prova quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Ou seja, “caberia ao Distrito Federal provar que a autora realizou cirurgia em outro hospital distinto dos da rede pública, ou que o corpo estranho encontrado no seu organismo não tenha relação com a cirurgia que realizou. Nada comprovou neste sentido”. Diante disso, o magistrado julgou procedente o pedido da autora para condenar o Distrito Federal a pagar-lhe R$ 30 mil, a título de compensação por danos morais, e R$ 14.676,00, correspondente à quantia desembolsada para a realização da cirurgia emergencial. Ambos os valores deverão ser devidamente corrigidos e acrescidos de juros legais. Processo: 2008.01.1.050640-6 FONTE: TJDFT

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TJDFT – Hospital é condenado a indenizar paciente acometido de infecção hospitalar durante endoscopia

Por maioria de votos, a 1ª Câmera Cível do TJDFT condenou o Hospital Santa Lúcia a pagar R$10.570,00, por danos morais e materiais, a paciente acometido por infecção hospitalar. A decisão recursal reformou a sentença de 1ª Instância, que havia negado o pedido indenizatório. O autor relatou que em novembro de 2008 recorreu ao hospital por causa de problemas renais, tendo sido submetido a procedimento de retirada de cálculo ureteral, mediante endoscopia. Segundo ele, após a cirurgia, apresentou quadro de sepse urinária, tendo que ficar internado por quase um mês na UTI. Requereu a condenação do Santa Lúcia no dever de indenizá-lo pelos danos materiais e morais sofridos. Em contestação, o hospital afirmou que a infecção do paciente ocorreu durante o procedimento médico já que a bactéria detectada está presente no organismo humano e pode ter migrado para a corrente sanguínea do autor. Defendeu que o fato não caracteriza qualquer falha ou erro no procedimento realizado, pois o risco de contaminação é inerente a qualquer cirurgia. Na 1ª Instância, o juiz da 8ª Vara Cível de Brasília julgou improcedentes os pedidos indenizatórios. “Cinge-se a controvérsia em se verificar se a sepse foi decorrência de conduta ilícita do réu, que viabilizou a ocorrência de infecção hospitalar, ou se inerente ao procedimento a que se submeteu o autor. Entendo que não há como reconhecer a existência de conduta ilícita por parte do hospital requerido pela absoluta ausência de prova cabal nesse sentido”, concluiu na sentença. Em 2ª Instância, a 6ª Turma Cível reformou a decisão recorrida por maioria de votos. De acordo com o voto prevalente, “a responsabilidade do hospital é objetiva, portanto independe da aferição de culpa, sendo suficiente a presença da conduta comissiva ou omissiva, do dano e do nexo de causalidade entre ambos. Assim, presentes os requisitos em questão e ausente comprovação de que o defeito inexiste ou de que a culpa é exclusiva do consumidor ou de terceiro,

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incumbe ao réu o dever de indenizar o autor pelos danos materiais e morais a ele causados”. Por não ter sido unânime, o hospital entrou com embargos infrigentes contra a decisão colegiada, na 1ª Câmara Cível, pedindo a prevalência do voto minoritário. Também por maioria de votos, a câmara manteve a condenação e o Santa Lúcia terá que indenizar o paciente. Não cabe mais recurso no âmbito do TJDFT. Processo: 2011.01.1.216309-9 FONTE: TJDFT TJGO – Mãe e filhos de mulher que morreu por alergia a medicamento serão indenizados

12 de novembro de 2015 A mãe e dois filhos de Simone Francislene da Silva serão indenizados pelo Município de Goianópolis devido à morte da mulher após atendimento no hospital municipal. Os três receberão R$ 140 mil por danos morais e os filhos, pensão mensal no valor de dois terços do salário mínimo até que completem 25 anos. A decisão monocrática é do juiz substituto em segundo grau Delintro Belo de Almeida Filho (foto). A sentença mantida é da juíza da Vara das Fazendas Públicas da comarca, Christiane Gomes Falcão Wayne. Consta dos autos que a mulher morreu após o agravamento de seu quadro clínico pela aplicação do medicamento “dipirona”, do qual era alérgica. O município recorreu ao alegar que não ficou demonstrado o nexo de causalidade entre a conduta culposa e o evento danoso. Porém, ao analisar o caso, o magistrado entendeu que a relação de causa entre o atendimento médico prestado e a morte da mulher ficou provada, o que configura responsabilidade objetiva do município. Delintro Belo destacou que ficou constatado que a situação médica de Simone piorou após a administração da dipirona. O juiz também ressaltou que outro fato que agravou o quadro clínico da mulher foi “seu encaminhamento pela equipe médica à comarca de Anápolis sem o devido acompanhamento profissional, caracterizando omissão da administração pública municipal”. Veja a

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decisão. (Texto: Daniel Paiva – estagiário do Centro de Comunicação Social do TJGO) FONTE: TJGO

TJSC – Homem que perdeu antebraço direito por erro médico, ainda criança, será indenizado

A 1ª Câmara de Direito Civil do TJ condenou dois médicos ao pagamento de R$ 80 mil em benefício de um jovem que teve o antebraço direito amputado por complicações oriundas de uma punção realizada no local para auferir a pressão arterial, antes da realização de uma cirurgia cardíaca quando ele tinha apenas três anos. Houve, na interpretação dos integrantes da câmara, erro médico por parte dos profissionais envolvidos no episódio.

Em primeiro grau, o pleito foi julgado improcedente com base em perícia que isentou os réus de responsabilidade. Para o TJ, entretanto, o juiz não está vinculado de forma restrita aos laudos periciais. A câmara entendeu que, embora o laudo demonstre coadunação entre a prática dos profissionais e a literatura médica, ele se encontra em dissonância com as demais provas constantes nos autos. “Os apelados foram negligentes quanto à gravidade do quadro que se instaurou no membro do rapaz e não foram capazes de fornecer informações precisas sobre o estado de saúde da criança a seus pais”, registrou o desembargador Domingos Paludo, relator da matéria.

Em decisão unânime, a câmara condenou os médicos ao pagamento de R$ 40 mil por danos morais, R$ 40 mil por danos estéticos, mais a fixação de pensão mensal vitalícia no valor de um salário mínimo, a ser auferida pela vítima a partir de seu 14º aniversário. Os valores serão reajustados desde 1996, quando o fato foi registrado em hospital da região Norte do Estado. Ainda cabe recurso aos tribunais superiores (Ap. Cív. n. 2013.088733-0).

FONTE: TJSC

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STJ – Cirurgião plástico deve garantir êxito do procedimento estético

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem entendimento de que a relação entre o profissional médico e seus clientes gera um contrato de “obrigação de resultado”. Conforme decisões do tribunal, o cirurgião plástico, ao oferecer seus serviços, compromete-se a alcançar o resultado estético pretendido. Caso ocorram falhas nos procedimentos ou os resultados não sejam obtidos, o cliente pode acionar a Justiça para reparar eventuais danos morais e materiais.

“De acordo com vasta jurisprudência, a cirurgia plástica estética é obrigação de resultado, uma vez que o objetivo do paciente é justamente melhorar sua aparência, comprometendo-se o cirurgião a proporcionar-lhe o resultado pretendido”, decidiu o tribunal ao analisar o AREsp 328110.

“O que importa considerar é que o profissional na área de cirurgia plástica, nos dias atuais, promete um determinado resultado (aliás, essa é a sua atividade-fim), prevendo, inclusive, com detalhes, esse novo resultado estético procurado. Alguns se utilizam mesmo de programas de computador que projetam a simulação da nova imagem (nariz, boca, olhos, seios, nádegas etc.), através de montagem, escolhida na tela do computador ou na impressora, para que o cliente decida. Estabelece-se, sem dúvida, entre médico e paciente relação contratual de resultado que deve ser honrada”, define a doutrina.

O Brasil apresenta, ao lado dos EUA, o maior número de procedimentos desse tipo: a cada ano são realizadas no país mais de um milhão de procedimentos estéticos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Entre as mais comuns estão a cirurgia para remoção de gordura localizada (lipoaspiração), o implante de silicone para aumento dos seios (mamoplastia) e a cirurgia para levantar o nariz (rinoplastia).

As decisões da corte sobre esse assunto estão disponibilizadas pela Pesquisa Pronta, na página eletrônica do STJ, sob o tema Responsabilidade Civil do profissional por erro médico. A ferramenta oferece consultas prontamente disponíveis a temas jurídicos relevantes, bem como a acórdãos de julgamento de casos notórios.

Inversão do ônus da prova A jurisprudência do STJ mantém entendimento de que nas obrigações de resultado, como nos casos de cirurgia plástica de embelezamento, cabe ao profissional demonstrar que eventuais insucessos ou efeitos danosos (tanto na parte estética como em relação a implicações para a saúde)

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relacionados à cirurgia decorreram de fatores alheios a sua atuação. Essa comprovação é feita por meio de laudos técnicos e perícia.

No julgamento do REsp 985888, o tribunal decidiu que “em procedimento cirúrgico para fins estéticos, conquanto a obrigação seja de resultado, não se vislumbra responsabilidade objetiva pelo insucesso da cirurgia, mas mera presunção de culpa médica, o que importa a inversão do ônus da prova, cabendo ao profissional elidi-la (eliminá-la) de modo a exonerar-se da responsabilidade contratual pelos danos causados ao paciente, em razão do ato cirúrgico”.

“Não se priva, assim, o médico da possibilidade de demonstrar, pelos meios de prova admissíveis, que o evento danoso tenha decorrido, por exemplo, de motivo de força maior, caso fortuito ou mesmo de culpa exclusiva da ‘vítima’(paciente)”, decidiu o tribunal no REsp 236708.

Casos Um cirurgião plástico do interior de São Paulo foi condenado ao pagamento de nova cirurgia, além de indenizar em 100 salários mínimos uma cliente que se submeteu a procedimento estético para redução de mamas. O Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu na atuação do médico “a lesão de caráter estético no resultado da intervenção nas mamas da paciente, pelas cicatrizes deixadas, além da irregularidade no tamanho e no contorno. Doutro turno, não ter alcançado a aspiração estética trouxe à autora sofrimento que é intuitivo, não precisa ser comprovado”. Ao analisar o recurso (REsp 985888), o tribunal manteve a condenação do médico. “Não houve advertência à paciente quanto aos riscos da cirurgia, e o profissional também não provou a ocorrência de caso fortuito”.

Em outra decisão (REsp 1442438), ministros do STJ negaram pedido de indenização de uma moradora de Santa Catarina, submetida a cirurgia para implante de silicone. Ela manifestou frustração com o procedimento e apontou o surgimento de cicatrizes. Na decisão, o STJ decidiu que a atuação do médico não foi causadora de lesões. “A despeito do reconhecimento de que a cirurgia plástica caracteriza-se como obrigação de resultado, observa-se que, no caso, foi afastado o alegado dano. As instâncias ordinárias, mediante análise de prova pericial, consideraram que o resultado foi alcançado e que eventual descontentamento do resultado idealizado decorreu de complicações inerentes à própria condição pessoal da paciente, tais como condições da pele e do tecido mamário”.

Orientação O cliente deve ser informado previamente pelo profissional de todos os possíveis riscos do procedimento, alertam os órgãos de defesa do consumidor. A SBCP recomenda aos interessados nesse tipo de procedimento que fiquem atentos à escolha do profissional e ao local

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onde se realizará a cirurgia. A entidade orienta a buscar informações sobre a devida habilitação do profissional e também se certificar das condições do estabelecimento, conferindo a existência de licença e alvará de funcionamento.

Processos: AREsp 328110; REsp 985888; REsp 236708; REsp 985888; REsp 1442438

FONTE: STJ

Lamentavelmente, os casos acima narrados ocorrem

aos milhares por nosso Brasil a fora, pior, trata-se de um fenômeno

mundial, que ceifa vidas ano após anos. Aniquila famílias e destrói lares.

A informação ainda é uma das maiores armas.

Assim, espera-se que o instituto do “erro médico” seja

apenas um tema a ser debatido, refletido, mas nunca vivenciado,

tamanha a dor, amplitude e reflexos em nossas vidas. Mas, em

ocorrendo, tenhamos a paz de espírito para confortar aqueles vitimados

que buscam em nós, operadores do direito, alívio, consolo e justiça em

momentos tão difíceis.

O ideal é combater o bom combate, lutar por

melhores condições de trabalho aos médicos e agentes da saúde,

melhor formação acadêmica dos universitários, pois o erro médico é

apenas um efeito colateral de um “sistema anestesiado, viciado e

burocrático”, nunca a causa de um problema muito maior – o descaso

com a saúde pública no Brasil e com a vida.

O mesmo fato ilícito pode gerar efeitos civis, penais,

administrativos e ético-profissionais. Mas os caminhos que levam às

sentenças – absolutórias ou condenatórias – podem e devem ser

distintos. Quanto maior o leque de intenções de se fazer justiça, maior

será a aproximação da verdade. O excesso de justiça por meio de uma

só vertente pode levar à injustiça. Con, a variabilidade das interpretações

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e entendimentos em diferentes esferas de apuração de ilícitos conduz a

uma condição com maior probabilidade de justiça25.

A medicina e os médicos têm toda uma história de

grandeza e dedicação à causa da humanidade, e esse compromisso

encontra-se materializado em seu Código de Ética. A existência de erros

cometidos por médicos, não é regra, não pode, por certo, deslustrar uma

profissão exercida com probidade e dedicação pela maioria de seus

pares26.

Percebe-se que o grande desafio não é punir os

médicos pelos erros cometidos. Bem ou mal, a punição compete à

Justiça e aos Conselhos Regionais. O desafio maior é evitar que bons

médicos, sérios e competentes, em que os pacientes confiam e prestam

um bom e exemplar serviço, venham a cometer falhas. A prevenção

ainda é a nossa maior aliada.

O perdão do erro médico em si não se acha na

competência dos Conselhos, nem no pagamento de indenizações

fabulosas. O perdão do erro médico inicia-se na própria intenção do

acerto e pela sua prevenção.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Bynum, William F. História da Medicina. Porto Alegre, L&PM, 2011.

Carvalho, Joana M. M. de. Erro médico: perfil

profissional. Fpolis : UFSC, 2008.

25

Constantino. Clóvis Francisco. Julgamento ético do médico: reflexão sobre culpa, nexo de causalidade e dano. Revista Bioética 16 (1) : 97 – 107. 26

Martin LM. A ética médica diante do paciente terminal. Aparecida : Santuário, 1993.

Erro Médico: quando a morte veste branco. Por Gilberto Lopes Teixeira, MSC. 79

Constantino. Clóvis Francisco. Julgamento ético

do médico: reflexão sobre culpa, nexo de causalidade e dano. Revista

Bioética 16 (1): 97 – 107.

Filho, Jonas de Mello. Erro médico. pp.323. IN:

Curso de Direito Médico. Coord. Hélio do Valle Pereira; Romano Jose

Enzweiler. São Paulo : Conceito, 2011.

França, GV. Direito médico. 1. 6ed. São Paulo:

Fundação BYK, 1995.

Maia DB. Erro Médico no Brasil: análise de

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1998. São Luiz (MA), 1999.

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terminal. Aparecida : Santuário, 1993.

Weissheimer WA, Biazevic MGH. Perfil dos

médicos denunciados junto ao CREMESC no período de 1995 a 1999.

Joaçaba, 2006. Dissertação apresentada ao mestrado em saúde coletiva

da Universidade do Oeste de Santa Catarina.

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