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RAFAEL GONÇALVES NOGUEIRA DOS SANTOS Perspectivas no Brasil e no Mundo para a Produção de Etanol Lorena - SP 2014 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - EEL

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RAFAEL GONÇALVES NOGUEIRA DOS SANTOS

Perspectivas no Brasil e no Mundo para a Produção de Etanol

Lorena - SP

2014

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - EEL

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RAFAEL GONÇALVES NOGUEIRA DOS SANTOS

Perspectivas no Brasil e no Mundo para a Produção de Etanol

Monografia apresentada à Escola de Engenharia de Lorena - da Universidade de São Paulo como requisito para obtenção de título de Engenheiro Industrial Químico.

ORIENTADORA: Profa. Dra. Elisângela de Jesus Cândido Moraes.

LORENA

2014

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por

qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,

desde que citada a fonte.

Catalogação da Publicação

Biblioteca “Cel. Luiz Sylvio Teixeira Leite”

Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo

Dos Santos, Rafael Gonçalves Nogueira

Perspectivas no Brasil e no Mundo para a Produção de Etanol / Rafael

Gonçalves Nogueira dos Santos; Orientadora: Professora Doutora Elisângela de

Jesus Candido Moraes – Lorena: 2014.

63 Páginas.

Monografia (Bacharelado em Engenharia Industrial Química) – Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo.

1. Biocombustíveis 2. Etanol 3. Meio Ambiente

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RESUMO

Dos Santos, R. G. N. Perspectivas no Brasil e no Mundo para a Produção de Etanol. 2014. 63f. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia Industrial Química) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

O Brasil é um dos principais produtores de biocombustíveis do mundo, tendo o

etanol como o mais importante, tanto historicamente como economicamente. O

mercado de etanol passou por variações ao longo dos anos e hoje, é visto como o

mais promissor para diminuir o consumo de gasolina, seja por meio dos automóveis

movidos somente a etanol, quanto pelos carros flex. Sua produção é feita a partir da

cana-de-açúcar, usada no setor alimentício, competindo com o mercado de açúcar.

Nos últimos anos, iniciou-se o desenvolvimento da produção de etanol de segunda

geração, obtido a partir de materiais lignocelulósicos, gerando um aumento das

formas de se obter o etanol e criando uma expectativa para expandir sua oferta e se

tornar mais competitivo com a gasolina. Espera-se que, com isso, um acréscimo na

oferta de etanol no Brasil, utilizando o bagaço da cana e resíduos agrícolas,

aumentando a produção sem impactar na agricultura alimentícia. Com isso, no

presente trabalho são demonstrados a história do etanol no Brasil, bem como a

produção do etanol a partir da cana de açúcar e de biomassa, com os novos

métodos para superar as barreiras para o etanol de segunda geração. Para entender

a importância de novas tecnologias para a produção do etanol, é proposto uma

análise da atual situação do mercado e produção de etanol do mundo,

demonstrando o quanto pode impactar este mercado e o meio ambiente, com a

chegada da segunda geração do etanol ao consumidor.

Palavras-chave: Biocombustíveis, Etanol, Meio Ambiente

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ABSTRACT

Dos Santos, R. G. N. Future Prospects in Brazil and in the World for Ethanol Production. 2014. 62f. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia Industrial Química) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

Brazil is one of the main producers of biofuels in the world, having ethanol as the

most important, both historically and economically. The ethanol market went through

changes over the years, can be seen today as the most promising to reduce gasoline

consumption, either by cars powered by ethanol as the flex fuel. Brazilian ethanol

uses cane sugar in its production, used in the food industry, with the sugar market as

its rival. In recent years, the development of the production of second-generation

ethanol started, made from lignocellulosic materials, causing an increase in the ways

of obtaining the ethanol and creating an expectation to grow his offer, making it more

competitive compared to gasoline. It is expected that this additional will bring an

increase on the ethanol supply in Brazil, using bagasse and agricultural waste,

raising production without affecting Food Agriculture. Thus, this work demonstrated

the history of ethanol in Brazil, as well the production of ethanol from sugarcane and

biomass, utilizing new methods to overcome the barriers for the second-generation

ethanol. To understand the importance of new technologies for ethanol production, it

is proposed an analysis of the current market situation and production of ethanol in

the world, demonstrating how this can affect the market and the environment, with

the arrival of the second generation of ethanol to the consumer.

Keywords: Biofuels, Ethanol, Environment

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Silvia e Valdir, por serem a base da minha vida, estando

sempre presentes e me incentivando a conquistar os meus objetivos.

Aos meus familiares, por todo o apoio e incentivo.

Aos meus amigos de república, que fizeram parte durante o período da minha

vida universitária, pelas amizades e aprendizados.

Aos professores e a Escola de Engenharia de Lorena, por todos os

conhecimentos adquiridos.

A Profa. Dra. Elisângela de Jesus Cândido Moraes pela orientação deste

TCC.

A todos que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a minha

formação e execução deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Localização das usinas de açúcar e etanol no Brasil ................................. 20

Figura 2: Processamento da cana para a produção conjunta de açúcar e etanol ..... 22

Figura 3: Estrutura da cadeia linear da celulose, formada por várias unidades

consecutivas de celobiose......................................................................................... 28

Figura 4: Arranjo da parede celular vegetal .............................................................. 30

Figura 5: Esquema do processo de produção de etanol por meio da hidrólise da

biomassa ................................................................................................................... 31

Figura 6: Esquema da reação de conversão da celulose em glicose por hidrólise ... 36

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Consumo de combustíveis 2000-2011 ...................................................... 44

Gráfico 2: Consumo de etanol e gasolina, e preço relativo. ...................................... 45

Gráfico 3: Produção de Açúcar e Etanol 2008-2013 ................................................. 46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Comparação das diferentes matérias-primas para a produção de etanol . 25

Tabela 2: Processos para pré-tratamento da biomassa para hidrólise ..................... 35

Tabela 3: Rendimentos das diferentes opções para a hidrólise do bagaço .............. 38

Tabela 4: Características dos microrganismos para a produção do etanol ............... 42

Tabela 5: Desafios do etanol celulósico .................................................................... 43

Tabela 6: Projetos de escala comercial de etanol de segunda geração nos Estados

Unidos ....................................................................................................................... 48

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LISTA DE SIGLAS

ANP Agência Nacional do Petróleo

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

CBP Consolidated bio processing

CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

CTC Centro de Tecnologia Canavieira

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SHF Separate Hydrolysis and Fermentation

SSCF Simultaneous saccharification and cofermentation

SSF Simultaneous Saccharification and Fermentation

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 14

2.1 HISTÓRIA DO ETANOL NO BRASIL .......................................................................... 14

2.1.1 História da cana-de-açúcar no Brasil ......................................................... 14

2.1.2 Inicio do etanol no Brasil ............................................................................ 15

2.1.3 O Pró Álcool ............................................................................................... 16

2.2 PRODUÇÃO DO ETANOL DE 1º GERAÇÃO NO BRASIL ............................................... 18

2.2.1 Plantação ................................................................................................... 19

2.2.2 Produção industrial .................................................................................... 20

2.2.3 Processo de obtenção de açúcar e etanol ................................................. 21

2.3 ETANOL DE OUTRAS MATÉRIAS-PRIMAS ................................................................. 24

2.4 PRODUÇÃO DO ETANOL DE 2º GERAÇÃO ................................................................ 26

2.4.1 Bagaço De Cana-De-Açúcar ..................................................................... 27

2.4.1.1 Celulose .............................................................................................. 27

2.4.1.2 Hemicelulose ...................................................................................... 28

2.4.1.3 Lignina ................................................................................................ 29

2.4.2 Produção do etanol a partir de biomassa .................................................. 30

2.4.2.1 Pré-tratamento .................................................................................... 31

2.4.2.2 Hidrólise da celulose ........................................................................... 36

2.4.2.3 Fermentação....................................................................................... 39

2.4.2.4 Microrganismos para a fermentação .................................................. 40

2.5 BARREIRAS E DESAFIOS DO ETANOL CELULÓSICO .................................................. 42

2.6 PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS AUTOMOTIVOS ........................................................... 44

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2.7 PROJETOS PARA O ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO ............................................... 46

2.8 POSSÍVEIS CENÁRIOS PARA O FUTURO DA PRODUÇÃO DE ETANOL ........................... 50

3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL ........................................................................ 55

4 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 56

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 58

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1 INTRODUÇÃO

A busca por fontes alternativas ao uso do petróleo se tornou um dos

principais objetivos de países e empresas, visando um desenvolvimento sustentável

e uma menor dependência de nações detentoras de grandes reservas de petróleo.

Por ser uma fonte não renovável, a preocupação pela sua escassez gera diversas

pesquisas que desenvolvem alternativas renováveis e que causam menos impactos

ao meio ambiente.

Dentre os produtos obtidos com a destilação do petróleo, a gasolina é um

dos mais utilizados e que possui grande poder econômico e político. Com a crise do

petróleo de 1973, o preço do barril e consequentemente da gasolina subiram,

instigando uma busca por substitutos a esta fonte de energia. Com isso, o etanol se

tornou uma opção atrativa no Brasil, sendo criado em 1975 o Programa Nacional do

Álcool, passando-se a utilizar uma porcentagem de etanol junto à gasolina e

gerando a produção de carros com motor a álcool.

Este álcool era produzido a partir da cana-de-açúcar, por um processo de

fermentação alcoólica da sacarose que é conhecido como etanol de primeira

geração.

Com a chegada dos carros flex, com motor que utiliza tanto gasolina quanto

etanol, o álcool se tornou o principal substituto da gasolina, gerando uma grande

demanda para a sua produção.

Na busca por aumentar a eficiência na produção do etanol e suprir esta

demanda, foi desenvolvido o método de obtenção de etanol, por meio de conversão

de diversos tipos de biomassa, dentre elas o bagaço de cana-de-açúcar, que por

processos de hidrólise, os açucares presentes na biomassa podem ser convertidos

em etanol através das leveduras, sendo denominado etanol de segunda geração.

Com a possível produção de etanol de segunda geração em grande escala, espera-

se um aumento de 40% na produção de etanol do país, contribuindo para suprir a

demanda de etanol e de melhor aproveitamento para o bagaço de cana, que hoje é

queimado nas caldeiras para obtenção de energia elétrica (PETROBRAS

MAGAZINE, 2012).

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Já existem usinas com produção em escala comercial do etanol de segunda

geração sendo construídas e em breve iremos encontrar a venda nos postos de

combustíveis. A Petrobrás tem como meta, produzir o etanol celulósico

comercialmente a partir de 2015. Outras empresas, como a Raízen, também

almejam esse tipo de produção de etanol e acredita-se que já em 2014 teremos o

etanol proveniente do bagaço de cana no mercado brasileiro. (NOVACANA, 2013)

Além do bagaço de cana, outras fontes de celulose como palha de milho,

proveniente da produção de etanol pelo amido do milho, e sobras de eucalipto das

indústrias de papel são opções para a produção de etanol de segunda geração.

Para entender como surgiu o etanol e porque a cana-de-açúcar é tão

importante para o Brasil, este trabalho demonstra a história da cana no país, do

início do etanol e da criação do pró-álcool, que teve grande participação do centro

de pesquisas em Biotecnologia e Química (CEBIQ) da Escola de Engenharia de

Lorena, que era chamada na época de Faenquil. É demonstrado o processo de

obtenção do etanol de cana-de-açúcar, começando pela primeira geração, que

utiliza a sacarose, e a promissora segunda geração, por meio do bagaço da cana.

Com isso, o trabalho visa, além de apresentar as possibilidades de produção

do etanol de cana-de-açúcar, quais seriam os próximos passos para tornar o etanol

a um preço competitivo. É apresentado o mercado atual de biocombustíves do Brasil

e os projetos que estão acontecendo no Brasil e no mundo e suas perspectivas para

um futuro próximo, buscando entender a atual situação da demanda para o etanol e

como ela poderá ser suprida.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 HISTÓRIA DO ETANOL NO BRASIL

2.1.1 História da cana-de-açúcar no Brasil

A cana-de-açúcar é uma planta proveniente do sudeste asiático, sendo

levada posteriormente para a Índia, na região do Golfo de Bengala, de onde se tem

os mais antigos registros sobre sua existência. A palavra açúcar é derivado de

“shakkar”, que significa grão doce em sânscrito, antiga língua indiana (MACHADO,

2003).

A relação entre o Brasil e a cana-de-açúcar vem desde o início da chegada

dos portugueses. Em 1525, Martin Afonso de Souza introduziu a cana de açúcar no

país. A cana era utilizada como ração para animais e, posteriormente passou a ser

utilizada para a produção de alimentos, tendo como destaque o açúcar. Sete anos

depois, foi criado o primeiro engenho em São Vicente, no Estado de São Paulo, e,

em 1535, o primeiro engenho nordestino, na cidade de Olinda, no Estado de

Pernambuco (TÁVORA, 2011).

Passado as dificuldades iniciais, a produção de açúcar prosperou e após

cerca de cinquenta anos desde a chegada da cana-de-açúcar, o Brasil começou a

monopolizar a produção mundial de açúcar. A Europa, enriquecida pelo ouro e pela

prata provenientes do novo mundo, passou a ser grande consumidora de açúcar. As

regiões produtoras no Brasil, especialmente o Nordeste, foram beneficiadas e

cidades como Salvador e Olinda prosperaram rapidamente (MACHADO, 2003).

No século XVII, a cana-de-açúcar se expandiu nas regiões com solos

propícios, principalmente massapé, e constitui-se em principal atividade econômica

do País. Com isso, produto se consolidou como grande produto de exportação, sem

concorrente à altura. Em 1650, surgiu o açúcar produzido a partir da beterraba.

Mesmo assim, o açúcar de cana manteve-se com posição de destaque

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internacional, com uma participação superior a 90% da produção mundial (TÁVORA,

2011).

Em 1880, desenvolvimentos tecnológicos melhoram o açúcar de beterraba,

elevando sua qualidade a níveis semelhantes ao açúcar de cana. Adicionalmente,

leis aprovadas na Europa exigem o consumo do açúcar de beterraba localmente

(TÁVORA, 2011).

Com a quebra da bolsa de Nova York de 1929, a conhecida crise de 1929

causou grandes impactos em toda a economia e agricultura brasileira, afetando

também a produção de açúcar no país. Como reação a essa crise internacional,

novas aplicações para a cana-de-açúcar deveriam ser encontradas. A Partir deste

acontecimento, o desenvolvimento de combustível a partir da cana-de-açúcar

começou a ser incentivado (TÁVORA, 2011).

2.1.2 Inicio do etanol no Brasil

A frase abaixo foi dita por Henry Ford em uma entrevista para o The New

York Times em 1925: (ETHANOL PRODUCER MAGAZINE, 2007)

“O combustível do futuro virá a partir do fruto, como do sumagre (árvore

arbustiva) à beira da estrada, ou por maçãs, pelas ervas daninhas, pela serragem -

praticamente de qualquer coisa. Existe combustível em cada pedaço de matéria

vegetal que pode ser fermentado. Há álcool suficiente em um ano de produção de

um acre de batatas para operar o maquinário necessário para cultivar os seus

campos por cem anos. ” (Henry Ford)

No instituto Nacional de Tecnologia, no Rio de Janeiro, na década de 1930,

Eduardo Sabino de Oliveira, um politécnico com especialização francesa em

motores a explosão, trabalhava com a tecnologia do álcool hidratado como energia

de propulsão em provas de motor em banco de ensaio. Em 20 de fevereiro de 1931,

foi criado o Decreto nº 19.717, que estabeleceu que os importadores de gasolina

automotiva seriam obrigados a adicionar pelo menos 5% de álcool de origem

nacional, com o intuito de generalizar o uso do álcool-motor. Este decreto liberou do

imposto de consumo o álcool a ser adicionado à gasolina, concedeu isenção dos

direitos de importação de maquinaria específica para a fabricação e a destilação do

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álcool anidro, reduziu em 20% os direitos de importação de automóveis com motores

de alta compressão e aumentou os impostos sobre os veículos com motores a

explosão de baixa compressão e uso de gasolina (GORDINHO, 2010).

Em 1941, Chico Landi, pioneiro piloto de corridas brasileiro (que anos mais

tarde foi campeão em Bari, Itália) venceu o VII Prêmio Cidade do Rio de Janeiro e

escreveu a Barbosa Lima Sobrinho, presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool:

“Necessário se torna prevenir que fique que bem patenteado o resultado

técnico da prova que foi corrida exclusivamente com o álcool brasileiro, provando

deste modo a sua eficiência como combustível de primeira qualidade. ” (Francisco

Landi, 1941)

Em 1953 foi criada a Petrobrás, reservando para o Governo Federal o

monopólio da perfuração e refino de petróleo e mantendo a distribuição na esfera

privada. Ao mesmo tempo, o governo estimulou a produção de açúcar. Nos anos

entre 1956 até 1975, a adição de álcool à gasolina era feita de forma desordenada,

dependendo do que a indústria agro-açucareira desejava. Como consequência

dessa variação desordenada no teor do álcool nos combustíveis, os motores

apresentavam problemas de rendimento e geravam insatisfação na indústria

automobilística (CORREIA, 2007).

Em outubro de 1973, o preço do barril do petróleo subiu em apenas três

meses de US$ 2,90 para US$ 11,65, devido a conflitos políticos na Guerra do Yom

Kippur. (IPEA, 2010) O Brasil, que exportava 78% do petróleo que consumia passou

a necessitar urgentemente de uma política que substituísse o uso excessivo do

petróleo (CORREIA, 2007).

2.1.3 O Pró Álcool

O Programa Nacional do Álcool, conhecido como Pró-álcool, foi criado em 14

de novembro de 1975, pelo decreto nº 76.593/75, estimulando a produção do álcool

para os mercados interno e externo e a política de combustíveis automotivos. Foi um

programa para a substituição em larga escala da gasolina para veículos automotores

para o álcool, devido à crise do petróleo em 1973. Sua pesquisa iniciou em 1974, no

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Rio de Janeiro, no Instituto Nacional de Tecnologia, INT.O programa é conhecido

por possuir cinco fases distintas (TOLEDO, 2010).

Na fase inicial, de 1975 até 1979, os esforços estratégicos foram dirigidos

para a produção de álcool anidro para a mistura com a gasolina Esta operação

estratégica foi avalizada pelo presidente Geisel, que, em 1977, autorizou dar

prioridade absoluta ao álcool, com recursos ilimitados, em reunião do Conselho de

Desenvolvimento Econômico. Nesta fase, surgiu o primeiro carro movido a álcool no

país, o Fiat 147, que foi apresentado como um protótipo em 1976, na fábrica de

Betim, em Minas Gerais, e comercializado em 1979 (GORDINHO, 2010).

Um conflito no oriente médio entre Irã e Iraque, em 1979, fez com que os

preços do petróleo atingissem patamares ainda mais elevados, eclodindo assim o

segundo choque do petróleo e marcando o início da 2ª fase do Pró-álcool no Brasil

(MICHELLON, 2008).

Esta fase foi chamada de “fase de afirmação” se situando entre 1980 e 1986.

O governo passou a incentivar, além da produção de álcool anidro, a produção de

álcool hidratado, sendo esta a nova prioridade de produção, para o consumo de

veículos movidos exclusivamente a álcool e para utilização do combustível nos

setores químicos. O álcool passou a ser produzido tanto em destilarias anexas

quanto em destilarias autônomas, gerando uma expansão no cultivo de cana-de-

açúcar. Ela foi a fase mais relevante do programa, marcando seu auge e expansão,

como também o início de declínio em meados de 1985. O governo atingiu seu

objetivo, que era consolidar o programa como alternativa a substituição de energia.

As metas propostas e planejadas foram alcançadas, tendo também ocorrido redução

nos custos de obtenção do álcool frente a gasolina. Contudo, o avanço da tecnologia

ficou em um segundo plano, dificultando o aumento de produtividade do setor. No

final dessa fase, o preço do petróleo começa a tender a estabilidade, o mercado de

açúcar estava em ascendência, e a realidade econômica do país era crítica,

decorrida de uma crescente deterioração das condições econômicas e sociais do

país. Portanto, houve uma redução dos investimentos em torno do programa a partir

de 1985 (MICHELLON, 2008).

Este cenário deu início a terceira fase do Pró-álcool, a fase de estagnação,

que durou de 1986 a 1995. Em 1986, o preço do barril do petróleo caiu pela metade

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e a oferta de álcool não conseguiu acompanhar o crescimento da demanda,

causadas pelos carros a álcool. (TOLEDO, 2010) Criou-se uma ideia de que o

petróleo seria sempre um recurso disponível, infinito, e que haveria sempre a

quantidade necessária e que os preços se ajustariam. Nos anos 90, o álcool deixou

de ser uma prioridade estratégica. As preocupações com a inflação, a reforma do

Estado, mudanças nas áreas fiscal, cambial e monetária foram prioridades.

(MICHELLON, 2008).

No final dos anos 90, o programa passou por uma fase de redefinição. O

carro movido a etanol parou de ser comercializado. Foi estabelecido um processo de

transferência de recursos arrecadados a partir de parcelas dos preços da gasolina,

diesel e lubrificantes para compensar os custos de produção do álcool (TOLEDO,

2010).

Após ascensão e declínio, quando o Proálcool parecia fadado ao fracasso, o

programa ganha novo fôlego, devido em parte de um novo aumento do preço do

petróleo no mercado internacional, da conscientização do Protocolo de Kyoto e do

surgimento dos veículos flex fuel. Uma nova alta do petróleo trouxe à tona

novamente a discussão da dependência do combustível fóssil, estimulando o debate

e a busca de fontes alternativas renováveis de energia (MICHELLON, 2008).

Em março de 2003, foi lançado no mercado brasileiro o veículo

bicombustível, movido tanto a álcool como a gasolina, tecnologia conhecida como

flex fuel.Com isso, a demanda interna por álcool aumentou e continua aumentando.

Assim, o Brasil tem um dos seus maiores desafios que é atender as crescentes

demandas externa e interna (MICHELLON, 2008).

2.2 PRODUÇÃO DO ETANOL DE 1º GERAÇÃO NO BRASIL

“Álcool é derivado do açúcar produzido pelas plantas a partir da luz solar que

incide sobre a clorofila das folhas, no processo chamado fotossíntese. Durante esse

processo, muito carbono é retirado da atmosfera. Como o álcool não tem carbono

extraído das camadas sedimentares, ao contrário do que ocorre com o carvão e o

petróleo, o seu uso como combustível não agrava o efeito estufa. No caso do álcool,

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o carbono obtido pelas plantas, na atmosfera, é devolvido a ela durante a sua

combustão ou decomposição. ” (Paulo Nogueira Neto, 2004)

2.2.1 Plantação

Existem no Brasil mais de 500 variedades comerciais de cana-de-açúcar.

Ela é uma cultura semiperene, pois após seu plantio é cortada várias vezes antes de

ser replantada. Seu ciclo produtivo é, em média, de cinco cortes, em seis anos. A

evolução tecnológica na produção de cana foi marcante no país, desde o início do

Proálcool até os dias de hoje, e os principais itens que merecem destaque são:

melhoramento genético, mecanização agrícola, gerenciamento agrícola, controle

biológico de pragas, reciclagem de efluentes e práticas agrícolas (LEITE, 2009).

Em termos regionais, o Brasil apresenta dois períodos distintos de safra: de

setembro a março no Norte-Nordeste, e de abril a novembro no Centro-Sul. Assim, o

país produz etanol durante praticamente o ano todo.

A Figura 1 mostra em vermelho as áreas onde se concentram as plantações

e usinas produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade, segundo dados oficiais do

IBGE, UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas – SP) e do CTC (Centro de

Tecnologia Canavieira).

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Figura 1: Localização das usinas de açúcar e etanol no Brasil

Fonte: União da indústria de cana-de-açúcar (UNICA)

A fase do plantio é constituída das seguintes operações: eliminação da

soqueira (ou limpeza do terreno, se for o caso de uma área nova), sub solagem,

calagem, gradagem ou aração, terraceamento, sulcação, distribuição de torta de

filtro e adubo, distribuição de mudas, cobrimento de mudas, pulverização de

herbicida e quebra de sulco (LEITE, 2009).

2.2.2 Produção industrial

As unidades processadoras de cana são classificadas em usinas (unidades

produtoras de açúcar), usinas com destilarias anexas (unidades que produzem

açúcar e etanol) e destilarias autônomas (unidades produtoras de etanol). Em 2007,

o Brasil contava com 370 unidades processadoras de cana-de-açúcar, sendo 294

instaladas na região Centro-Sul e outras 76 na região Norte-Nordeste. O estado de

São Paulo produz em torno de 60% de toda a cana, etanol e açúcar do país (LEITE,

2009).

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Em 2007, essas unidades processadoras de cana moeram em média, 1,5

milhão de toneladas de cana por safra na região Centro-Sul e pouco mais de um

milhão como média nacional. As destilarias, autônomas ou anexas, produzem em

média cerca de 400 mil litros de etanol por dia. No início do Proálcool as unidades

produziam entre 120.000 e 180.000 litros/dia, tendo havido, portanto, um significativo

aumento de escala (LEITE, 2009).

As melhores destilarias produzem aproximadamente 85 litros de etanol

anidro por tonelada de cana. As usinas têm produção em torno de 71 kg de açúcar e

42 litros de etanol para cada tonelada de cana processada. (LEITE, 2009)

2.2.3 Processo de obtenção de açúcar e etanol

As tecnologias de produção de etanol e açúcar são muito semelhantes, do

ponto de vista de processos, em todas as usinas brasileiras. Porém, há variações

nos tipos e qualidades dos equipamentos, controles operacionais e, principalmente,

nos níveis gerenciais (LEITE, 2009).

A unidade industrial pode ser dividida nas seguintes seções:

recepção/preparo/ moagem, tratamento do caldo, fábrica de açúcar, destilaria de

etanol, utilidades, disposição de efluentes e estocagem dos produtos (LEITE, 2009).

A Figura 2 representa um diagrama do processo das industrias

sucroalcoleiras, que produzem tanto o açucar quanto o etanol. As etapas inicias de

produção do etanol são as mesmas que a do açucar, diferenciando-se após o

processo de filtração, em que o caldo pode ser usado para se fazer um dos dois

produtos.

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Figura 2: Processamento da cana para a produção conjunta de açúcar e etanol

Fonte: NOGUEIRA, 2008

Antes de iniciar a etapa de moagem, a cana-de-açúcar passa por um

sistema de limpeza, removendo o excesso de terra, pedras e outras impurezas que

podem estar presentes na cana. Após esta limpeza, a cana-de-açúcar é enviada

para um conjunto de facas rotativas, que cortando-a em pequenos pedaços para

facilitar o processo de extração. (BERECHE, 2014) Posteriormente, ela é enviada a

um desfibrilador, um equipamento composto de um rotor com martelos oscilantes e

uma placa desfibriladora, que pulveriza a cana e abre as células que contém os

açúcares, melhorando a eficiência do processo de extração pela moenda (SANTOS,

2012).

No processo de moagem, o caldo, que é utilizado para a produção do

açúcar e etanol, é separado da fibra da cana, conhecida com bagaço, que vai para

caldeiras para ser queimado e gerar energia para a própria usina. O excedente

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dessa energia é vendido (NOGUEIRA, 2008). O processo é constituído de uma série

de ternos, onde cada terno possui quatro rolos de pressão que tem a função de

pressionar a cana e extrair o caldo. No primeiro terno, ocorre a maior extração de

caldo, sendo geralmente utilizado para a fabricação de açúcar e caldo extraído dos

outros ternos, com menor quantidade de sacarose, fica destinado para a

fermentação (SANTOS, 2012).

O caldo é inicialmente peneirado, para a remoção de impurezas insolúveis

como areia, argila e bagacilho, e tratado quimicamente, por sulfitação e calagem. Na

sulfitação, adição de sulfito para baixar o pH do caldo, busca-se inibir as reações

que causam formação de cor, coagular os colóides solúveis, precipitar o sulfito de

cálcio e diminuir a viscosidade do caldo. A calagem, neutralização do caldo pela

adição de cal, tem como objetivo a eliminação de corantes, a neutralização de

ácidos orgânicos e a formação de sulfito e fosfato de cálcio, produtos que ao

sedimentarem, arrastam consigo impurezas presentes no líquido (SEABRA, 2008).

O caldo é então aquecido e segue para o decantador, onde serão separadas

as impurezas floculadas (lodo), formando um caldo clarificado. A torta residual (torta

de filtro) é encaminhada à lavoura e utilizada como adubo (SEABRA, 2008).

O caldo tratado é concentrado em evaporadores de múltiplo efeito e

cozedores para a cristalização da sacarose. Vapor proveniente do sistema de

cogeração (queima do bagaço) é utilizado como fonte de energia térmica no primeiro

efeito. Água evaporada do caldo é a fonte de calor do segundo efeito. O evaporador

de múltiplo efeito trabalha com a diminuição da pressão, devido a um vácuo que é

aplicado no último efeito, produzindo a diferença necessária de temperatura entre os

efeitos consecutivos (BERECHE, 2014).

Nesse processo, nem toda a sacarose disponível na cana é cristalizada e a

solução residual rica em açúcar (mel) pode retornar mais de uma vez ao processo

com o propósito de recuperar mais açúcar. O mel final, também chamado de melaço

e que não retorna ao processo de fabricação de açúcar, contém ainda alguma

sacarose e um elevado teor de açúcares redutores (como glicose e frutose,

resultantes da decomposição da sacarose), podendo ser utilizado como matéria-

prima para a produção do etanol mediante fermentação (NOGUEIRA, 2008).

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O mosto segue para as dornas de fermentação, onde é adicionado com

leveduras (fungos unicelulares da espécie Saccharomyces cerevisae) e fermentado

por um período de 8 a 12 horas, dando origem ao vinho (mosto fermentado, com

uma concentração de 7% a 10% de álcool). O processo de fermentação mais

utilizado nas destilarias do Brasil é o Melle-Boinot, cuja característica principal é a

recuperação das leveduras do vinho mediante sua centrifugação. Assim, após a

fermentação, as leveduras são recuperadas e tratadas para novo uso, enquanto o

vinho é enviado para as colunas de destilação (NOGUEIRA, 2008).

Na destilação, o etanol é recuperado inicialmente na forma hidratada, com

aproximadamente 96° GL (porcentagem em volume), correspondentes a cerca de

6% de água em peso, deixando a vinhaça ou vinhoto como resíduo, normalmente

numa proporção de 10 a 13 litros por litro de etanol hidratado produzido. O etanol

hidratado pode ser estocado como produto final ou pode ser enviado para a coluna

de desidratação. Mas, como se trata de uma mistura azeotrópica, seus componentes

não podem ser separados por uma simples destilação. A tecnologia mais utilizada

no Brasil é a desidratação pela adição do cicloexano, formando uma mistura

azeotrópica ternária, com ponto de ebulição inferior ao do etanol anidro. Na coluna

de desidratação, o cicloexano é adicionado no topo, e o etanol anidro é retirado no

fundo, com aproximadamente 99,7° GL ou 0,4% de água em peso. A mistura

ternária retirada do topo é condensada e decantada, enquanto a parte rica em água

é enviada à coluna de recuperação de cicloexano (NOGUEIRA, 2008).

Essa possibilidade de utilizar os açúcares da cana total ou parcialmente para

produção de etanol gera uma grande flexibilidade para essa agroindústria, em que

dependendo das condições de preço e demanda do mercado, podemos escolher

uma configuração de produção com o melhor custo benefício. Para aproveitar essa

vantagem, a maioria das usinas brasileiras têm linhas de fabricação de açúcar e

etanol capazes, cada uma, de processar cerca de 75% do caldo produzido,

permitindo uma margem de 50% de capacidade total de processo frente à

capacidade de extração das moendas (NOGUEIRA, 2008).

2.3 ETANOL DE OUTRAS MATÉRIAS-PRIMAS

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Além da cana-de-açúcar, qualquer matéria prima com suficiente teor de

açúcar ou amido pode ser convertida em etanol.

Nos Estados Unidos, atualmente o maior produtor de etanol do mundo, o

milho é a principal matéria-prima para a produção do etanol, sendo responsável por

98% da produção desse biocombustível (NOGUEIRA, 2008). Porém, o milho possui

uma eficiência muito baixa, sendo utilizados subsídios pelo governo americano para

torná-lo competitivo no mercado. A Europa utiliza a beterraba como fonte de açúcar

para o etanol, possuindo uma maior eficiência que o milho, pois produz quase duas

unidades de energia por unidade utilizada na produção, sendo bastante utilizada na

Alemanha e na França. Outros países europeus e a China utilizam o trigo como

fonte também, possuindo a mesma eficiência que a beterraba (MURRAY, 2005). A

mandioca já foi utilizada no Brasil como alternativa viável para a produção de etanol,

mas, por dificuldades de uma produção em larga escala, o projeto se tornou pouco

viável. Hoje, acreditasse que pode-se utilizar a mandioca em alguns nichos de

mercado, já que ela possui uma característica de crescimento mesmo em solos

pouco férteis (REVISTA FAPESP, 2008).

Contudo, por possuir uma eficiência de quase 9 unidades de energia por

energia utilizada, a cana apresenta a melhor opção para diminuir o uso de fontes de

combustíveis não renováveis, possuindo o melhor custo-benefício, energeticamente

falando. Isto significa que o processo de transformar a cana em etanol gasta um

nono da energia que ele produz, representando quase 90% de emissões de CO2

evitadas. A Tabela 1 apresenta a relação de energia, que representa a energia

renovável produzida na cadeia produtiva do biocombustível, dividida pela quantidade

de energia não renovável requerida para sua produção, e as emissões evitadas

correspondem à redução percentual das emissões com relação às emissões do ciclo

de vida da gasolina e as emissões evitadas de diferentes matérias-primas para o

etanol, indicando, respectivamente, a consistência energética e ambiental de cada

rota tecnológica para a produção de etanol (NOGUEIRA, 2008).

Tabela 1: Comparação das diferentes matérias-primas para a produção de etanol

Matéria-prima Energia renovável/energia fóssil Emissões evitadas

Cana 8,9 89%

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Milho 1,3 30% a 38%

Trigo 2,0 19% a 47%

Beterraba 2,0 35% a 56%

Mandioca 1,0 63%

Fontes: Adaptação de NOGUEIRA, 2008 e MACEDO, 2007.

2.4 PRODUÇÃO DO ETANOL DE 2º GERAÇÃO

Para aumentar as possibilidades de obtenção do etanol, começou-se a

explorar novas alternativas. A solução encontrada foi a produção de etanol pela

hidrólise e fermentação de materiais lignocelulósicos, na qual utiliza-se resíduos de

biomassa de atividades agrícolas e industriais para a produção de biocombustível,

sendo conhecido como etanol de segunda geração.

Segundo Nogueira et al. (2008), o etanol vem sendo produzido pela hidrólise

e fermentação de materiais lignocelulósicos desde o fim do século XIX, mas

somente nos últimos 20 anos essa tecnologia tem sido proposta para atender o

mercado de combustíveis.

As tecnologias para a obtenção de etanol com base em materiais

lignocelulósicos envolvem a hidrólise dos polissacarídeos da biomassa em açúcares

fermentescíveis e sua posterior fermentação para a produção do etanol

Métodos eficientes de conversão de materiais lignocelulósicos em etanol

combustível têm se tornado uma prioridade mundial na busca de uma produção de

energia renovável e menos poluente, com um custo acessível ao setor de

transportes (GÍRIO, 2010).

No Brasil, a principal fonte dessa geração de produção de etanol é o bagaço

de cana-de-açúcar. Resíduo da produção de açúcar e etanol de primeira geração, o

bagaço, que é queimado nas usinas sucroalcooleiras para geração de energia

elétrica, agora pode ser utilizado para fazer mais etanol sem gasto com matéria

prima.

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Além do bagaço de cana, outras matérias primas podem contribuir para a

produção de etanol de segunda geração, como o bagaço de malte, proveniente da

indústria cervejeira e resíduos agrícolas, como a palha de arroz e de milho, e

também da palha de cana-de-açúcar. Segundo Garcia (2012), é possível produzir

anualmente 650 milhões de litros de etanol de segunda geração com o bagaço de

malte que é gerado no país. Para Moutta (2009), seria possível substituir o

equivalente a 186 milhões de barris de petróleo com o aproveitamento da palha de

cana.

2.4.1 Bagaço De Cana-De-Açúcar

Subproduto da indústria de cana, o bagaço de cana, assim como outras

fontes de biomassa, é constituído por celulose, hemicelulose e lignina, compondo

em média, 28% do peso da cana de açúcar. Sua estrutura química é composta de

44,6% de carbono, 5,8% de hidrogênio, 44,5% de oxigênio, 0,6% de nitrogênio,

0,1% de enxofre e 4,4% de outros elementos (SIMÕES, 2005).

A hemicelulose e a celulose apresentam-se como uma das principais frações

estruturais do bagaço de cana, representando uma fonte potencial de açucares

como a xilose (hemicelulose) e a glicose (celulose). Para a obtenção desses

açúcares, é necessário a aplicação de técnicas que permitam a sua extração

seletiva. No caso da extração de xilose, são utilizadas diferentes metodologias de

solubilização e hidrólise, dentre as quais o pré-tratamento ácido é normalmente

empregado (BETANCUR & PEREIRA JR, 2010; FUJITA et al., 2004).

2.4.1.1 Celulose

A celulose, (C6H1005)n, é o principal componente da parede celular da fibra

vegetal. Sua principal função é conferir rigidez para a parede celular. É classificada

como homopolissacarídeo, um polímero de cadeia longa composto de um só

monômero, a glicose. É a matéria orgânica mais abundante sobre a Terra,

consistindo aproximadamente em 50% de toda a biomassa e uma produção anual

de cerca de 100 bilhões de toneladas (YANG et al., 2007). O comprimento da sua

cadeia polimérica pode variar de 1.000 a 15.000 unidades de glicose, dependendo

da origem e do possível grau de degradação durante o processo de isolamento

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(FENGEL & WEGENER, 1991). Seu tamanho é normalmente expresso em termos

do grau de polimerização, ou seja, o número de unidades de glicose anidra presente

em cada fibra. No entanto, a análise estrutural da cadeia polimérica informa que sua

unidade de repetição é a celobiose, como pode ser visto pela Figura 3. Isto se deve

às ligações do tipo β, pelas quais os monômeros de glicose são unidos, fazendo

com que moléculas adjacentes encontrem-se arranjadas com uma rotação de 180º

entre si (STRYER, 1996).

Figura 3: Estrutura da cadeia linear da celulose, formada por várias unidades consecutivas de celobiose

Fonte: TIMAR-BALÁZSY, 1998.

A celulose apresenta regiões de alta cristalinidade e regiões amorfas, não

cristalinas, possuindo resistência a hidrolise, sobretudo nas regiões cristalinas.

(ARANTES et al., 2010)

2.4.1.2 Hemicelulose

As hemiceluloses são polissacarídeos formados por diferentes unidades de

açúcares pertencentes aos grupos das pentoses, hexoses, ácidos hexourônicos e

desoxiexoses. Ela representa, em geral, cerca de 15% à 35% de biomassa vegetal.

(GÍRIO, 2010) Ela está intimamente ligada à celulose, definindo propriedades à

parede celular e desempenhando funções de regulação do crescimento e

desenvolvimento das plantas (FENGEL & WEGENER, 1991; LIMA & RODRIGUES,

2007).

A hemicelulose consiste em cadeias poliméricas ramificadas com grau de

polimerização de 100 a 200 unidades de açúcares, mas diferentemente da celulose,

as hemiceluloses são constituídas por vários tipos de unidades de açúcares. Seus

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principais açucares presentes são a glicose, a galactose, a manose, a xilose, a

arabinose e o ácido glucurônico (LIMA & RODRIGUES, 2007).

Estas macromoléculas são ramificadas e apresentam cadeias curtas, além de

serem solúveis em álcalis fortes e são fundamentalmente amorfas, sendo mais

suscetíveis a pré-tratamentos químicos (SHLESER, 1994).

2.4.1.3 Lignina

A lignina, assim como a celulose, é uma das substâncias orgânicas

macromoleculares naturais mais abundantes da Terra, ocupando cerca de 30% dos

carbonos da biosfera (FENGEL & WEGENER, 1991). Sua estrutura é bastante

heterogênea e consiste em uma rede de anéis aromáticos unidos, principalmente

por ligações alquil-aril-éter, formando um arranjo amorfo com grandes quantidades

de ligações cruzadas entre os anéis aromáticos (ARGYROPOULOS & MENACHEM,

1997)

Durante o desenvolvimento das células, a lignina é incorporada como o último

componente na parede, interpenetrando as fibrilas e, assim, conferindo rigidez,

impermeabilidade e resistência a ataques microbiológicos. Estas ligações são, em

parte, responsáveis pela forte e rígida natureza da molécula da celulose na estrutura

da fibra vegetal (FENGEL & WEGENER, 1991; MESHITSUKA & LSOGAI, 1996).

Nas partes da madeira, age como agente permanente de ligação entre as células,

gerando uma estrutura resistente ao impacto, compressão e dobra. (Santos, 2012)

A lignina, por ser altamente energética, pode ser utilizada para produzir calor

e eletricidade necessários ao processo de produção de etanol. Além disso, pode ser

utilizada para formação de diversos produtos, incluindo compostos fenólicos,

aromáticos, ácidos dibásicos e metil, formado pela reação da fração fenólica com

álcoois (WYMAN, 1994).

Segue abaixo uma representação do arranjo da parede celular, Figura 4,

contendo celulose, hemicelulose e lignina.

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Figura 4: Arranjo da parede celular vegetal

Fonte: MURPHY e MCCARTHY, 2005

2.4.2 Produção do etanol a partir de biomassa

De modo geral, as tecnologias para a obtenção de etanol a partir de matérias

lignocelulósicas envolvem a hidrólise dos polissacarídeos da biomassa em açucares

fermentescíveis, com sua posterior fermentação para a produção do etanol. O

processo é composto por etapas complexas e multifásicas, baseadas no uso de

rotas ácidas e enzimáticas para a formação dos açucares e remoção da lignina

(SEABRA, 2008).

A primeira etapa do processo consiste no pré-tratamento mecânico da

matéria-prima, seguida pela remoção da hemicelulose e/ou lignina, também

conhecida por pré-tratamento. Uma vez exposta, a celulose é hidrolisada e os

açúcares são fermentados. Em cada uma dessas etapas existem diferentes opções

tecnológicas em diversos estágios de desenvolvimento. Na Figura 5 está

representado o esquema de produção do etanol a partir da biomassa.

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Figura 5: Esquema do processo de produção de etanol por meio da hidrólise da biomassa

Fonte: NOGUEIRA, 2008

2.4.2.1 Pré-tratamento

Para tornar os polissacarídeos mais acessíveis ao processo de hidrólise, é

realizado um pré-tratamento para alterar a estrutura da biomassa celulósica. Seu

objetivo é quebrar a proteção de lignina e romper a estrutura cristalina da celulose.

Esta etapa tem sido vista como a de maior custo dentro do processo de conversão

da biomassa a etanol, com valores de até 0,30US$/galão de etanol produzido

(MOSIER et al., 2005).

Inicialmente, a biomassa é lavada e submetida a um tratamento mecânico

para adequar o tamanho das partículas (de poucos centímetros a 1-3 mm para

processos com ácido diluído) aos processos bioquímicos posteriores. No caso do

bagaço de cana de açúcar, esta etapa está associada à própria moagem da cana,

não sendo necessário realizar este tipo de tratamento (WOOLEY et al., 1999).

Após a adequação do tamanho da partícula, a lignina e a hemicelulose são

solubilizadas, adicionando-se água ou vapor para hidrolisar os polímeros livres da

hemicelulose. Os principais açúcares produzidos são xilose, manose, arabinose e

galactose, e uma pequena porção da celulose, que pode ser convertida em glicose.

O produto é filtrado e prensado: os sólidos (celulose + lignina) seguem para a

hidrólise da celulose, e os líquidos (contendo açúcares) podem ir para a fermentação

(HAMELINCK et al.,2005).

Os pré-tratamentos têm efeitos diferentes sobre os componentes majoritários

da biomassa; os tratamentos ácidos, por exemplo, hidrolisam a hemicelulose e

deixam a celulose e a lignina intactas nos resíduos sólidos, enquanto os alcalinos

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tendem a ter mais efeito sobre a lignina. A química do pré-tratamento também afeta

a composição da fração não-açúcar do hidrolisado. Os pré-tratamentos ácidos

podem resultar em altas concentrações de furfural na fase líquida, ao passo que os

alcalinos podem resultar em altas concentrações de ferulato e acetato no

hidrolisado. Estes compostos estarão presentes no fluxo de açúcares e podem ter

efeitos negativos sobre os microrganismos da fermentação (GRAY et al., 2006).

Cada tipo de biomassa requer um método particular de pré-tratamento para

minimizar a degradação do substrato e maximizar o rendimento de açúcar. Um pré-

tratamento efetivo é caracterizado por diversos critérios, como evitar a necessidade

de redução do tamanho das partículas da biomassa, preservar a fração das

pentoses, limitar a formação de produtos de degradação que inibam o crescimento

dos microorganismos da fermentação, minimizar a demanda de energia e limitar os

custos. Estas propriedades, somadas ao baixo custo dos catalisadores (ou de seu

reciclo) e à geração de co-produtos da lignina de alto valor, formam uma base de

comparação para as várias opções de pré-tratamento (MOSIER et al., 2005).

2.4.2.1.1 Explosão a vapor

Explosão a vapor é descrito como um processo termomecânico em que

quebra os componentes estruturais auxiliados por calor em forma de vapor. É o

processo mais utilizado para o tratamento da biomassa lignocelulósica. (SUN e

CHENG, 2002) Neste processo, a biomassa triturada é tratada com vapor (saturado,

160-260°C, 10-1 minutos) seguido de uma rápida descompressão. Os fatores que

afetam o pré-tratamento são o tempo de residência, a temperatura, o tamanho da

partícula e a umidade. Estudos indicam que baixas temperaturas e tempos de

residência maiores favorecem uma melhor solubilização da hemicelulose (WRIGHT,

1988). A maioria dos tratamentos a vapor geram alta solubilidade de hemicelulose e

baixa de lignina (GLASSER e WRIGHT, 1998).

2.4.2.1.2 Termo-hidrólise

Conhecido também com auto hidrólise, este processo utiliza agua quente a

alta pressão (pressão acima do ponto de saturação). A temperatura de operação

varia entre 150°C e 230°C e o tempo de reação pode durar de alguns segundos a

horas, dependendo da temperatura (GÍRIO, 2010). A recuperação de xilose é alta,

variando entre 88-98% e gerando pouca quantidade de inibidores como

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subprodutos. Por não haver necessidade de adição de ácido ou catalisadores

químicos, o processo é visto como economicamente interessante e ambientalmente

atrativo (HAMELINCK et al., 2005).

2.4.2.1.3 Hidrólise Ácida

É realizada através do uso de ácidos sulfúrico, clorídrico, ou nítrico,

concentrados ou diluídos. De todos os pré-tratamentos químicos, a hidrólise com

ácido sulfúrico diluído (0,5 a 1,5%, temperatura acima de 160°C) tem sido

historicamente o processo preferido para aplicações industriais, por conta do alto

rendimento de açúcares a partir da hemicelulose (75-90%, xilose). No entanto,

quantidades significativas de resíduo são produzidas pela necessidade de

neutralização do ácido antes da fermentação (SUN e CHENG, 2002 e MOSIER et

al., 2005). Neste pré- tratamento, é necessário a correção do pH antes do processo

de hidrólise e fermentação e o custo é maior que o sistema de explosão a vapor

(HAMELINCK et al., 2005).

2.4.2.1.4 Hidrólise Alcalina

Através do uso de bases, como hidróxidos de sódio ou cálcio. Toda a lignina

e parte da hemicelulose são removidas, e a reatividade da celulose para a hidrólise

posterior é aumentada. Os custos dos reatores são menores do que para as

tecnologias baseadas em ácidos, mas o uso desses produtos (maior custo) em altas

concentrações gera preocupações ambientais e pode ter custos proibitivos de

reciclo, tratamento de efluentes e manejo de resíduos. Os métodos baseados em

álcalis são geralmente mais eficazes na solubilização de uma maior fração da

lignina, enquanto deixam para trás muito da hemicelulose na forma polimérica

insolúvel (HAMELINCK et al., 2005). Um sério problema é o tempo de processo, que

é medido em dias ou horas, ao invés de minutos ou segundos (MOSIER et al.,

2005).

2.4.2.1.5 Organosolv

Neste processo, uma mistura de um solvente orgânico (metanol, etanol,

acetona, por exemplo) com um catalisador ácido (H2SO4, HCl) é usada para quebrar

as ligações internas da lignina e hemicelulose. A altas temperaturas (acima de

185°C), a adição de catalisadores se mostrou desnecessária para uma

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delignificação satisfatória, mas um alto rendimento de xilose pode ser obtido com a

adição de ácido. Os solventes devem ser retirados do sistema, para evitar o efeito

inibitório sobre o crescimento de microrganismos. (SUN e CHENG, 2002).

2.4.2.1.6 Processos Biológicos

Este processo utiliza enzimas que causam uma parcial deslignificação da

biomassa, removendo uma quantidade considerável de lignina. Em meados dos

anos 80 foram mencionados como uma possibilidade para o futuro, apesar de ser

um processo caro àquela época, com baixos rendimentos após longos tempos de

reação, além de provocar o envenenamento dos microrganismos pelos derivados da

lignina. As grandes vantagens deste pré-tratamento são o baixo uso de energia e as

brandas condições do ambiente, mas a baixa taxa de hidrólise é fatal para sua

implementação. Em algumas ocasiões tratamentos biológicos são utilizados em

combinação com tratamentos químicos (HAMELINCK et al., 2005).

2.4.2.1.6 Explosão de vapor catalisada

Adição de H2SO4 (ou SO2) ou CO2 na explosão de vapor pode aumentar a

eficiência da hidrólise enzimática, diminuir a produção de compostos inibidores e

promover uma remoção mais completa da hemicelulose (SUN e CHENG, 2002). É

possível recuperar cerca de 70% da xilose como monômero (HAMELINCK et al.,

2005).

2.4.2.1.7 Afex (Amônia Fiber, Freezer Explosion)

Este processo é semelhante ao de explosão de vapor. O material ligno-

celulósico é exposto à amônia líquida a alta temperatura e pressão por um certo

período de tempo e, então, uma rápida descompressão é feita. Apesar de ser um

processo que melhora a hidrólise da hemicelulose, seu efeito é ruim em biomassas

com altos teores de lignina (SEABRA, 2008).

A Tabela 2 abaixo resume os processos de pré-tratamentos apresentados,

com o tempo de reação e rendimento de xilose de cada método.

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Tabela 2: Processos para pré-tratamento da biomassa para hidrólise

Processo Descrição Tempo de Reação Rendimento de xilose

Físicos

Explosão de vapor A biomassa triturada é tratada com vapor (saturado, 160°-260°C) seguido de uma rápida descompressão

1-10 min 45%-65%

Termo-hidrólise

Utiliza água quente a alta pressão (pressões acima do ponto de saturação) para hidrolisar a hemicelulose

30 min 88%-98%

Químicos

Hidrólise ácida Por meio do uso de ácidos sulfúrico, clorídrico, ou nítrico, concentrados ou diluídos

2-10 min 75%-90%

Organosolv

Uma mistura de um solvente orgânico (metanol, bioetanol e acetona, por exemplo) com um catalisador ácido (H2SO4, HCl) é usada para quebrar as ligações internas da lignina e da hemicelulose

40-60 min 70%-80%

Biológicos Utilização de fungos para solubilizar a lignina. Geralmente, é utilizado em combinação com outros processos

Combinados

Explosão de vapor catalisada

Adição de H2SO4 (ou SO4) ou CO2 na explosão de vapor pode aumentar a eficiência da hidrólise enzimática, diminuir a produção de compostos inibidores e promover uma remoção mais completa da hemicelulose

1-4 min 88%

Afex (ammonia fiber explosion)

Exposição à amônia líquida a alta temperatura e pressão por um certo período de tempo, seguida de uma rápida descompressão

50%-90%

Explosão de CO2 Similar à explosão de vapor 75%

Fonte: Elaborado com base em Hamelinck et al. (2005)

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Analisar as vantagens e desvantagens destas variadas opções para o caso

específico de cada biomassa é essencial para a viabilidade da produção do etanol.

Para isso, avaliações econômicas são feitas não muito focalizadas na determinação

do custo do etanol, mas sim objetivando a comparação entre as opções tecnológicas

disponíveis (VON SIVERS e ZACCHI, 1995). Eggman e Elander (2005), por

exemplo, comparam cinco opções de pré-tratamento para biomassa de milho pelo

menor preço de venda esperado para o etanol. Os valores variaram de 1,34 a 1,67

US$/gal, correspondendo aos pré-tratamentos de ácido diluído e termo-hidrólise,

respectivamente. Também é demonstrado o custo ideal (menor custo possível) para

o pré-tratamento, sendo do 0,99 US$/gal. A diferença, entre este custo ideal e o do

menor custo real, pode ser diminuída com o investimento em pesquisas e

desenvolvimentos com o foco em pré-tratamentos.

2.4.2.2 Hidrólise da celulose

A hidrólise da celulose, Figura 6, consiste em converter a celulose em glicose,

com a reação catalisada por ácido diluído, ácido concentrado ou enzimas

(celulases). O rendimento típico do processo é inferior a 20%, se não precedido por

um pré-tratamento; caso contrário, geralmente excede os 90% (HAMELINCK et al.,

2005).

Figura 6: Esquema da reação de conversão da celulose em glicose por hidrólise Fonte: Site ww.infoescola.com.br

A hidrólise ácida (tanto concentrada quanto diluída) ocorre em dois estágios

para aproveitar as diferenças entre a hemicelulose e a celulose. Primeiramente

ocorre a hidrólise da hemicelulose, depois são aplicadas temperaturas mais altas

para otimizar a hidrólise da fração celulósica. A hidrólise é catalisada por um

complexo enzimático composto por endoglucanases (que atacam as cadeias de

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celulose para produzir polissacarídeos de menor comprimento), exoglucanases (que

atacam os terminais não-redutores dessas cadeias mais curtas e removem a

celobiose) e β-glucosidases (que hidrolisam a celobiose e outros oligômeros à

glicose) (NOGUEIRA, 2008).

A hidrólise com ácido diluído é a tecnologia mais antiga para a conversão de

biomassa a etanol. A primeira tentativa de comercialização do processo para a

produção etanol a partir de madeira foi na Alemanha, em 1898 (SEABRA, 2008).

O processo envolve duas reações; primeiramente o material celulósico é

convertido em açúcares, mas, se a reação continua, os açúcares são convertidos

em outros químicos (tipicamente furfural). A conversão dos açúcares não só reduz

os rendimentos, como com formação do furfural e outros co-produtos, podem inibir a

fermentação (GRAF e KOEHLER, 2000). Por conta disso, a primeira etapa do

processo envolve condições brandas (por exemplo, 0,7% de ácido sulfúrico, 190°C,

3 minutos) para recuperar os açúcares 5- C, enquanto a segunda etapa utiliza

condições mais severas (0,4%, 215°C, 3 minutos) para recuperar os açúcares 6-C. A

hidrólise com ácido diluído encontra-se em um estágio mais avançado do que as

demais, mas com graves limites de rendimento (50% a 70%). (SEABRA, 2008)

Uma forma de aumentar o rendimento da hidrólise com o ácido diluído é

utilizar reatores contra-corrente, possibilitando rendimentos da ordem de 80 à 85%.

Embora essa opção tecnológica apresente inconvenientes devido à maior

complexidade operacional, ela se torna interessante se utilizar o hidrolisado em

mistura ao melaço ou caldo de cana. Configurações alternativas, tais como reatores

de fluxo com encolhimento de leito, podem gerar rendimentos da ordem de 90%, de

modo que os processos de hidrólise com ácido diluído podem ser efetivamente

competitivos com os processos de hidrólise enzimática. (BAUDEL, 2008)

A hidrólise com ácido concentrado apresenta rendimentos maiores e menores

problemas com a produção de inibidores, embora a necessidade de recuperação do

ácido e de equipamentos resistentes à corrosão comprometa o desempenho

econômico do processo. (NOGUEIRA, 2008)

Nela, após o pré-tratamento, a biomassa é submetida à uma secagem,

previamente à adição do ácido sulfúrico concentrado. Adiciona-se água para diluir o

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ácido e, então, a solução é aquecida para liberar os açúcares, produzindo um gel

que pode ser separado dos resíduos sólidos (DIPARDO, 1999). O processo utiliza

de 30% a 70% de ácido sulfúrico, a baixas temperaturas (40°C), com tempos de

reação de 2 a 6 horas, conseguindo atingir altos rendimentos de açúcares (90%)

com baixo nível de degradação (HAMELINCK et al., 2005).

A hidrólise enzimática, por sua vez, já apresenta altos rendimentos (75% a

85%), e grandes melhorias ainda são esperadas (85% a 95%). (NOGUEIRA, 2008)

Neste processo, a hidrólise é catalisada por enzimas genericamente chamadas de

celulases. Essas celulases são na realidade um complexo enzimático composto por

endoglucanases (que atacam as cadeias de celulose para produzir polissacarídeos

de menor comprimento), exoglucanases (que atacam os terminais não-redutores

dessas cadeias mais curtas e removem a celobiose) e -glucosidases (que

hidrolisam a celobiose e outros oligômeros à glicose) (PHILIPPIDIS e SMITH, 1995).

Assim como nos processos ácidos, existe a necessidade de um pré-tratamento para

expor a celulose ao ataque das enzimas.

A celulase pode ser produzida em um reator separado na própria planta de

produção do etanol, ou comprada de um fornecedor. Ao longo prazo, a produção da

enzima poderá ser realizada no mesmo reator no qual ocorrem a hidrólise e a

fermentação, o que poderá reduzir significativamente os custos. Bactérias e fungos

podem produzir celulases, mas os fungos têm recebido mais atenção por conta do

crescimento em aerobiose e pela boa produtividade. No entanto, atualmente é difícil

combinar as condições ótimas de produção da enzima e hidrólise da biomassa

(HAMELINCK et al., 2005).

A tabela 3 demonstra o rendimento e o tempo de reação de cada um dos

processos de hidrólise

Tabela 3: Rendimentos das diferentes opções para a hidrólise do bagaço

Tipo de hidrólise Consumo Temperatura Tempo Rendimento

Ácido diluido <1% H2SO4 215°C 3 min 50-70%

Ácido concentrado 30-70% H2SO4 40°C 2-6 h 90%

Enzimático Celulase 50°C 1,5 dias 75-95%

Fonte: SEABRA, 2008

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2.4.2.3 Fermentação

A fermentação dos açúcares do hidrolisado a bioetanol segue os mesmos

princípios do que é observado para o caso da produção com base em amido ou

açúcares. No caso da hidrólise, no entanto, boa parte do hidrolisado é composta por

açúcares de cinco carbonos, os quais não podem ser fermentados por linhagens

selvagens de Saccharomyces cerevisiae. (NOGUEIRA, 2008)

Para o processo de produção de etanol de biomassa a partir da cana-de-

açucar, existem basicamente 4 métodos, Sacarificação e Fermentação Separadas

(“Separate Hydrolysis and Fermentation”, SHF), aplicável aos processos de hidrólise

ácida e enzimática da celulose; Fermentação Simultâneas (“Simultaneous

Saccharification and Fermentation”, SSF), aplicável ao processo de hidrólise

enzimática da celulose; Sacarificação Simultânea à Cofermentação (“Simultaneous

saccharification and cofermentation”, SSCF) e Bio Processamento Consolidado

(“Consolidated bio processing”, CBP). (GARCIA E ROSA, 2009)

No processo SHF, a hidrólise da celulose e a fermentação da glicose são

realizadas em reatores diferentes, fazendo também a fermentação das pentoses em

um outro reator. (GARCIA E ROSA, 2009) Graças a isso, as etapas podem ser

conduzidas em suas condições ótimas em cada reator. As desvantagens desse

processo é o acumulo de açúcares intermediários da hidrólise, causando a inibição

das enzimas e a redução na conversão final da glicose, devido `adsorção de parte

do açúcar no sólido residual da hidrólise. (CASTRO e PEREIRA, 2010)

No processo SSF, a fermentação da glicose e a hidrólise da celulose são

realizadas no mesmo reator, porém a fermentação das pentoses continua sendo

feita em um reator separado. Com isso, ele possui um investimento menor que o

SHF, já que agrupa duas etapas em um reator apenas. As enzimas são menos

passíveis de pelos produtos da glicose, pois a glicose liberada é ao mesmo tempo

fermentada. A manutenção de uma baixa concentração de glicose no meio também

favorece o equilíbrio da reação parra maior formação de produto, além de reduzir os

riscos de contaminação. (CASTRO e PEREIRA, 2010)

O processo SSCF é similar ao SSF, mas com a fermentação da glicose e das

pentoses ocorrendo no mesmo reator. Para isso, é necessário o uso de

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microrganismos capazes de metabolizar tanto a glicose quanto a xilose. Este

processo é visto como aplicável a médio prazo, já que ainda estão sendo feitos

estudos para uma maior viabilidade desses microrganismos. (BAUDEL, 2008)

O processo CBP é onde ocorre a maior integração entre os processos, na

qual todas as operações de caráter biológico, inclusive a produção de enzimas, são

realizadas em um único reator. Para isso, é necessário o uso de engenharia

genética para tornar os microrganismos viáveis a esse processo, sendo aplicável

apenas em longo prazo. (CASTRO e PEREIRA, 2010)

2.4.2.4 Microrganismos para a fermentação

A levedura S. cerevisiae é o microrganismo mais utilizado na indústria de

fermentação, sendo utilizado na produção de etanol de sacarose, amido e celulose.

É bastante eficiente na fermentação de hexoses como glicose, manose, galactose e

dissacarídeos como sacarose e maltose. Além disso, S. cerevisiae possiu

relativamente uma boa tolerância aos inibidores. O principal inconveniente para o

seu uso na fermentação da lignocelulose é sua incapacibilidade natural de utilizar

pentoses como xilose e arabinose no processo de fermentação.

Além da Saccharomyces cerevisiae, outros microorganismos são relevantes

para a obtenção de etanol de materiais lignocelulósicos, como Escherichia coli,

Zymomonas mobilis e Pichia stipitis. Eles possuem diferentes características, com

vantagens e desvantagens no processo de produção do etanol. (GÍRIO, 2010)

A E. coli apresenta algumas vantagens como um biocatalisador para a

produção de etanol, como a habilidade de fermentar açucares com xilose e

arabinose, por meio de manipulação genética. Porém, ela apresenta alguns

problemas como seu estreito intervalo de ph (6 a 8), fazendo com que a fermentação

se torne suscetível a contaminações, baixa tolerância aos inibidores e baixa

tolerância ao etanol. (GÍRIO, 2010) Mas o principal problema do uso da E. coli no

processo de fermentação é que ela gera uma formação equilibrada entre etanol,

ácido acético, ácido lático e ácido fórmico, diminuindo o rendimento do etanol. Uma

forma de melhorar seu rendimento é inserir genes da Z. mobilis, aumentando a

produção de etanol. (ZALDIVAR, 2001)

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A utilização da Z. mobilis gera um alto rendimento na produção de etanol,

sendo superior ao da S. cerevisiae, por utilizar apenas 1 ATP por molécula de

glicose. (E. coli e S. cerevisiae necessitam de 2 ATP). A Z. mobilis apresenta

desvantagens semelhantes ao da E. coli como a faixa de atuação em ph neutro e a

baixa tolerância aos inibidores. Além disso, ela não é capaz de metabolizar a maioria

dos açucares provenientes da lignocelulose, utilizando apenas a glicose em sem

processo. (GÍRIO, 2010)

Uma levedura que vem recebendo uma atenção especial é a P. stipitis, que é

capaz de metabolizar os principais monômeros da hemicelulose, podendo fermentar

a xilose e outros açucares como glicose, manose, galactose e celobiose em etanol.

Por isso, está ganhando atenção especial quando se considera a conversão de

hemicelulose em etanol. São menos tolerentes ao ph, etanol e inibidores que a S.

cerevisiae e possuem um menor rendimento com altas concentrações de xilose.

(FERREIRA, 2010)

Para tentar suprir os pontos negativos dos microrganismos usados no

processo de fermentação da lignocelulose, técnicas de engenharia metabólica e

genética vêm sento utilizadas, como aumentar a gama de substratos, como no caso

da S. cerevisiae e Z. mobilis, maximizar a produção de etanol, como na E. coli,

assim como outras características importantes para melhorar a conversão de

lignocelulose em etanol. Uma técnica utilizada é a que visa a modificação do

metabolismo, permitindo que a S. cerevisiae e Z. mobilis, por exemplo, fermentem

xilose e arabinose. Outra técnica é introduzir genes para a produção de etanol em

microorganismos que tenham a capacidade de metabolizar pentoses, como a E. coli

(SAAD, 2010). A Tabela 6 abaixo lista os pontos positivos e negativos de cada um

dos 4 microrganismos apresentados.

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Tabela 4: Características dos microrganismos para a produção do etanol

Características Micro-organismo

E. coli Z. mobilis S. cervesiae P. stipitis

Fermentação da glicose + + + +

Outras hexoses (galactose e manose)

+ - + +

Utilização em pentoses (xilose e arabinose)

+ - - +

Utilização direta em hemicelulose

- - - F

Fermentação anaeróbica + + + F

Formação de subprodutos + F F F

Alta produtividade de etanol (a partir de glicose)

- + + F

Tolerância ao etanol F F + F

Tolerância a inibidores F F + F

Tolerância osmótica - - + F

Faixa de PH ácido - - + F

Microrganis0mo GRAS (reconhecido como seguro)

- + + +

(+) Positivo; (-) Negativo; (F) Fraco

Fonte: GÍRIO, 2010

2.5 BARREIRAS E DESAFIOS DO ETANOL CELULÓSICO

Em dezembro de 2005, na cidade de Rockville, em Maryland, Estados

Unidos, ocorreu um workshop intitulado de “A Research Roadmap Resulting from

the Biomass to Biofuels Workshop”. Nele, foi proposto as barreiras e desafios para

uma rápida expansão do etanol celulósico e as técnicas biológicas que podem

contribuir para isso. O resumo desse workshop encontra-se digitalmente no site do

governo americano “Genomic Science Program, com o nome de “Breaking the

Biological Barriers to Cellulosic Ethanol”, publicado em 2006. A Tabela 5 foi retirada

e adaptada desse estudo. Nela está presente, de forma resumida, as metas para

cada etapa de produção, com as pesquisas e desenvolvimentos necessários para o

avanço do etanol de segunda geração.

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Tabela 5: Desafios do etanol celulósico

Desafios do etanol celulósico

Etapas Metas Pesquisas e desenvolvimentos

Biomassa Melhores composições e instalações para a produção de açúcar

Estudos da composição da parede celular em relação a capacidade de processamento

Desenvolver tecnologias sustentáveis de fornecimento de biomassa para as biorrefinarias

Melhorar rendimento, aprimorar técnicas agronômicas e promover sustentabilidade

Sequenciamento do genoma para as culturas energéticas

Estudos dos genes que atuam na parede celular

Novas modelagens e simulações para as novas técnicas biológicas

Estudos da dinâmica da população microbiana do solo para melhor sustentabilidade

Conversão da biomassa Pré-tratamento de enzimas

Modificar a estrutura química da hemicelulose para reduzir o número de açúcares não fermentáveis

Desenvolver técnicas bioquímicas de conversão para reduzir custos da conversão da biomassa em açucares.

Reduzir perdas, aumentar rendimentos, reduzir ação de inibidores, reduzir formação de açucares não-fermentescíveis

Melhorar resposta da parede celular ao pré-tratamento

Aprimorar estudos de celulases, hemicelulases e lignases

Entendimento da atividade do celulossoma

Ação das enzimas em substratos insolúveis (limites fundamentais)

Hidrólise enzimática Fatores de produção de fungos e enzimas

Aumentar tolerância térmica, reduzir produção de inibidores, aumentar gama de substratos

Origem dos inibidores

Fermentação do açúcar em etanol

Fermentação do açúcar Completo sistema de regulagem e controle microbiano

Rápidas ferramentas para manipulação de novas leveduras

Desenvolver tecnologias para produção de combustíveis e energia proveniente de biomassa

Novas leveduras Utilização de todo o açúcar produzido pela hidrólise

Melhores na robustez do processo Transporte do açúcar

Resistencia a inibidores Respostas das leveduras ao estresse

Subprodutos rentáveis Controle da formação da população de microrganismos (leveduras)

Consolidação do processo

Produção de enzimas, hidrólise e fermentação combinada em um reator

Fundamentos da utilização de celulose microbiana

Entendimento das vias de hidrólise enzimática transgênica

Redução de etapas e complexidade do processo, integrando múltiplas etapas em apenas um reator

Produção de enzimas para hidrólises Entendimento e controle de regulação dos processos

Fermentação para produção de etanol Engenharia genética

Tolerâncias do processo Aprimorar sistema de transferência genética dos microrganismos

Estabilização dos processos

Todos os processos combinados em um tipo de levedura ou cultura estável

Fonte: Traduzido e adaptado de Breaking the Biological Barriers to Cellulosic Ethanol

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Podemos observar o estudo da bioquímica, focando em um melhoramento

genético, tanto os de leveduras e fungos para produção de enzimas e fermentação

do etanol, quanto o da biomassa, tornando mais suscetíveis a hidrolise, é um dos

fatores principais para superar os desafios do etanol celulósico. Aliando este estudo

ao desenvolvimento da engenharia, tornando os processos mais eficientes e com

menores custos, a produção de etanol de segunda geração pode se tornar em breve

tão competitiva quanto o etanol de sacarose.

2.6 PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS AUTOMOTIVOS

Para entender o impacto que a segunda geração do etanol pode causar no

mercado, é importante analisar o consumo de combustíveis automotivos nos últimos

anos. O aumento dos carros flex-fuel gerou um aumento na procura pelo etanol, que

quando seu preço de mercado está, em média, 70% do preço da gasolina, se torna

atrativo para o consumidor.

Gráfico 1: Consumo de combustíveis 2000-2011

Fonte: Evolução do Mercado de Combustíveis e Derivados: 2000-2012. ANP, 2013

Como podemos ver pelo gráfico 1, o consumo de etanol passou a ter um

aumento significativo a partir do final de 2005, dois anos depois do surgimento do

primeiro carro flex-fuel. Atingiu seu ápice em 2009 e depois sofreu um decréscimo.

Em contrapartida, o consumo de gasolina aumentou bastante após 2009, sendo uma

parte desse aumento explicada pela queda do consumo de etanol. De acordo com

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os dados estatísticos mensais da ANP, no ano de 2012, até outubro, foram

comercializados 8 milhões de m³ de etanol hidratado.

Gráfico 2: Consumo de etanol e gasolina, e preço relativo.

Fonte: Estudo temático ANP, 2013

O gráfico 2 demonstra a variação entre o consumo de etanol e gasolina em

função de sua diferença de preço. Como dito anteriormente, etanol acima de 70% do

preço da gasolina não é atrativo para o mercado, como pode ser visto pelo gráfico

acima. Com isso, podemos concluir que um dos desafios para aumentar sua

aceitação no mercado, é manter o preço abaixo desta porcentagem.

Uma das causas desse aumento é a competição com mercado de açúcar.

Como explicado na produção convencional de etanol, a maioria das usinas podem

produzir tanto o etanol quanto o açúcar (usinas sucroalcoleiras). A quantidade de

produção desses produtos se dá devido à procura do mercado. O aumento no preço

do açúcar contribui para o aumento do etanol, sendo um freio pra a expansão do

biocombustível no país.

O gráfico 3 mostra o efeito da procura e da melhor vantagem financeira do

açúcar frente ao etanol nos últimos 5 anos. Podemos ver houve um aumento

significativo da produção do açúcar e uma estagnação e queda do etanol. Ele

apresenta a produção total de etanol, tanto o anidro como o hidratado. O principal

destino do etanol anidro é para a Gasolina C, que hoje possui 25% de etanol em sua

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composição. O hidratado é usado principalmente na indústria de bebidas e como

álcool combustível.

Gráfico 3: Produção de Açúcar e Etanol 2008-2013

Fonte: ÚNICA

De acordo com o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento, é

estimado uma produção de 27,17 bilhões de litros de etanol para 2013/2014, um

acréscimo de 14,94% a 2012/2013. Deste total, 12,02 bilhões de litros deverão ser

de etanol anidro, e 15,16 bilhões de litros serão de etanol hidratado. Assim, o etanol

anidro deverá ter um acréscimo de 21,96% na produção, e o etanol hidratado terá

aumento de 9,93%, quando comparados com a produção de etanol da safra anterior.

(CONAB, 2013)

2.7 PROJETOS PARA O ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

A primeira planta industrial em escala comercial de produção de etanol de

segunda geração do mundo já está em operação desde o final de 2012. Ela se situa

na cidade de Crescentino, na Itália, e pertence a Beta Renewables. Segundo as

informações presentes no site da empresa, ela possui uma capacidade máxima de

produção de 40 mil toneladas por ano de etanol. Produz 12MW de eletricidade

usando lignina, tornando a usina totalmente auto suficiente. O projeto começou em

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2008, com a tecnologia desenvolvida pela PROESA e iniciada a construção em

2010. O pré-tratamento utilizado é o da explosão de vapor, realizando

posteriormente a hidrólise enzimática pelo método SSCF.

A empresa Suíça Clariant vem sendo uma das pioneiras no desenvolvimento

do etanol de segunda geração, conhecido como etanol 2g. Em 2012 construiu na

Alemanha uma planta piloto com capacidade de produzir 1000 toneladas do

combustível. Seu processo de produção é chamado de sunliquid®, utilizando

processo combinado, onde enzimas convertem simultaneamente a celulose e a

hemicelulose de resíduos agrícolas. Em uma parceria entre a Clariant e a Mercedes

Benz, começou no início de 2014 a se fazer testes em motores, denominados

BlueDirect, utilizando uma mistura de 80% gasolina e 20% etanol, sendo este etanol,

o etanol 2g produzido pela Clariant. (NOVACANA, 2014)

Desde o final dos anos 90, a empresa dinamarquesa Inbicon vem

desenvolvendo tecnologias de conversão de biomassa. Usando vapor, enzimas e

leveduras, a Inbicon transforma lignocelulose leve (milho, palha de trigo, caules de

milho, gramíneas energéticas) em etanol celulósico, bem como lignina renovável e

melaço de açúcar industrial em energia e bioquímicos. Sua planta de demonstração,

localizada em Kalundborg, Dinamarca, começou a operar em 2009. Sua capacidade

de produção é de 5,7 milhões de litros de etanol celulósico, também produzindo

11.400 toneladas de pellets combustíveis de lignina e 13.900 toneladas de melaço

de açúcar, que é usado para produção de biogás. Dois projetos estão em

andamento para escala comercial, um previsto para o terceiro trimestre de 2015 e

outro para o início de 2016. O primeiro está sendo feito em Spirit Wood, nos Estados

Unidos, com capacidade para 40 milhões de litros por ano de etanol celulósico, 83

mil toneladas de pellets combustíveis de lignina e 94 mil toneladas de melaço. O

segundo projeto será feito na cidade de Maabjerg, Dinamarca, utilizando palha de

milho e com capacidade de produção de 75 milhões de litros de etanol. Também irá

gerar 50 milhões de metros cúbicos de biogás, eletricidade renovável para 25 mil

moradias 56 mil toneladas de combustível sólido para energia e aquecimento.

Os Estados Unidos possuem alguns projetos que, em breve, estarão em

funcionamento também. Desses, 4 são projetos de plantas para escala comercial.

(EEGE, 2014). Um deles, feito pela Abengoa Bioenergy, no Kansas, possui uma

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capacidade de produção de 100 milhões de litros de etanol e 22MW de energia

proveniente de biomassa, sendo eles os resíduos agrícolas, culturas energéticas

dedicadas e resíduos de madeira. Sua construção começou em julho de 2011 e

espera-se que esteja concluída em 2014. Seu método de produção consiste em

preparação da biomassa, pré-tratamento por termo-hidrólise, hidrolise enzimática e

fermentação com enzimas e leveduras e destilação. (BIOFUELSTP, 2014). Segue

abaixo a tabela 5, com este e os outros 3 projetos em escala comercial dos estados

unidos.

Tabela 6: Projetos de escala comercial de etanol de segunda geração nos Estados Unidos

Compania Matéria Prima Capacidade de produção

Abengoa Bioenergy Resíduos agrícolas 100 milhões de litros

BlueFire Renewables Risíduos de madeira 70 milhoes de litros

Mascoma Corporation Madeira para celulose 75 milhões de litros

POET Project LIBERTY Palha de milho 75 milhões de litros

Fonte: EERE, 2014.

No ano de 2012, segundo o EIA (U.S. Energy Information Administration),

foram produzidos cerca de 52 bilhões de litros de etanol nos Estados Unidos.

Superaram, e muito, a produção brasileira. Quando estas empresas entrarem em

produção e produzirem suas capacidades esperadas, isso representará 320 milhões

de litros de etanol de segunda geração para o mercado consumidor, sendo

aproximadamente 0,6% do total de etanol americano produzido. (IEA, 2014)

De acordo com o Sandia National Lab, os Estados Unidos têm condições de

produzir 285 bilhões de litros de biocombustivel a partir de material celulósico sem

deslocar ou diminuir a produção agrícola de alimentos. (AEC, 2013)

O Brasil possui, de acordo com BNDE, uma estimativa para 2015 estar

produzindo cerca de 130 milhões de litros de etanol 2g. Esta estimativa é referente a

entrada de operação de três projetos, o da GranBio, com estimativa de 90 milhões

de litros, o da Raízen, com cerca de 45 milhões e uma planta demonstração do

Centro de Tecnologia de Cana (CTC), com 3 milhões de litros. (NOVACANA, 2013)

A GranBio usará resíduos agrícolas, como palha e bagaço de cana-de-açucar

para a produção do etanol. Para aumentar a produtividade, a Granbio desenvolveu

uma cana-de-açúcar com maior quantidade de fibra, denominada Cana Vertix,

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obtida a partir do cruzamento genético de tipos ancestrais de cana com híbridos

comerciais. De acordo com o site da GranBio, essa Cana é 200% mais produtiva

que a normal, com 50% a mais de teor de açúcar, 4 vezes mais produção de

biomassa e podendo ser colhida em qualquer época do ano. Seu plantio comercial

está previsto para 2015. Até lá, os cruzamentos estão sendo feitos pelo Instituto

Agronômico de Campinas (IAC) e pela Rede Interuniversitária para o

Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa). O pré-tratamento utilizado é o

processo de explosão a vapor, dando acesso às fibras de celulose e hemicelulose.

Após a hidrólise enzimática, as leveduras, geneticamente modificadas para

converter também a xilose, convertem a glicose e a xilose em etanol. Até 2020, a

GranBio pretende ter capacidade instalada para produção de 1 bilhão de litros por

ano de etanol 2G no Brasil.

A Raizen está construindo sua primeira unidade etanol 2G na cidade de

Piracicaba, financiado pelo BNDES, com previsão de começar a ser vendido nos

postos no final de 2014. Além desta, estão previstas mais 7 usinas até 2024,

totalizando uma capacidade máxima de 1,4 bilhões de litros de etanol. A fabricante

dinamarquesa de enzimas Novozymes possui uma parceria com a Raizen,

fornecendo enzimas específicas para o processo da usina em Piracicaba. A

Novozymes também possui a intenção de estabelecer uma nova unidade de

produção de enzimas no Brasil. Como forma de promover a segunda geração do

etanol, a empresa convidou o piloto Bruno Senna para correr na corrida do Milhão

da Stock Car em um carro com adesivagem e propaganda referentes ao novo etanol

e com a numeração de corrida 2G (fazendo referência ao etanol 2G). Na Stock Car,

todos os carros utilizam etanol como combustível, podendo em breve, utilizar o

etanol 2G, promovendo este novo etanol para o mercado consumidor. (REVISTA

RAÍZEN, 2013)

A planta do Centro de Tecnologia de Cana será em escala semi-industrial,

situada no estado de São Paulo, no município de São Manuel, com funcionamento

previsto para 2014. O projeto está sendo desenvolvido por meio de parceria com a

Novozymes e a Andritz, empresa austríaca que está fornecendo os principais

equipamentos. O CTC afirma que a sua vantagem sobre outros projetos de etanol de

segunda geração é que sua tecnologia já foi desenvolvida para o bagaço e a palha

de cana. Até 2018, o CTC espera estar operando em escala comercial.

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Além destes projetos, que já estão avançados e próximos de entrar em

operação, outros estão começando a surgir. Um deles é o da Odebrecht

Agroindustrial (antiga ETH Bioenergia), que está em fase de testes de viabilidade de

projeto e deve, se confirmada a competitividade do processo, ser colocado em

operação em escala comercial em 2016. De acordo com o projeto, a planta também

será integrada a uma usina de primeira geração e terá capacidade semelhante à da

fábrica que está sendo construída pela GranBio, 80 milhões de litros de etanol

celulósico por ano. (NOVACANA, 2013)

O Centro de pesquisas da Petrobrás (Cenpes) também vem pesquisando e

desenvolvendo tecnologias para a produção do etanol 2G. A empresa optou pelo

desenvolvimento próprio da tecnologia por considerar estratégico liderar e ter o

domínio do processo de produção e a busca de parcerias em algumas etapas. O

etanol celulósico produzido pela Petrobras em caráter experimental foi utilizado pela

primeira vez no Brasil em junho de 2012, em uma frota com 40 minivans que

transportou oito mil conferencistas durante a Rio+20, Conferência das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. (UNICA,2014). A meta da companhia é

a de, em 2015, começar a produção comercial.

Estima-se que a demanda internacional de etanol cresça rapidamente nos

próximos anos e a tendência é que o combustível de segunda geração seja crucial

para atender ao mercado. Hoje, segundo dados divulgados pela Global Renewable

Fuels Alliance, a produção mundial de etanol, em 2012, foi de 85,2 bilhões de litros.

De acordo com o estudo Global Biofuels Outlook, da Hart Energy, em 2025 a

procura por etanol vai chegar aos 130 bilhões. O Brasil possui o maior número de

veículos flex do mundo, com 20 milhões de carros que aceitam tanto a gasolina

quanto o álcool. Estima-se que, nos próximos anos, eles aumentem e passem a

compor cerca de 80% de toda a frota (REVISTA RAÍZEN, 2013)

2.8 POSSÍVEIS CENÁRIOS PARA O FUTURO DA PRODUÇÃO DE ETANOL

Como forma de entender quais são as possibilidades para o etanol de

segunda geração brasileiro, um estudo realizado por R. Raele, et al., 2014, elaborou,

por meio de entrevistas e questionários com diversos especialistas de vários campos

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da indústria, quatro possíveis cenários para a indústria do etanol no Brasil,

considerando a tecnologia da segunda geração do etanol, em um horizonte até

2020. Estes cenários foram denominados como Integração da celulose, Mundo

bioelétrico, Mundo fóssil e o Cenário apocalíptico.

O cenário denominado integração da celulose se baseia em duas variáveis, o

“Preço do petróleo” (alto) e a “Criação de subsídios para o mercado do etanol de

segunda geração” (favorável). A alta do preço do petróleo favorece o setor

bioenergético, tornando o preço da gasolina mais caro e favorecendo o consumo do

etanol e gerando uma política governamental de diversificação de matriz energética

brasileira. Em nível internacional, haveria uma maior abertura para o mercado dos

biocombustíveis, tornando o etanol uma commodity e impulsionando a produção do

etanol 2G no Brasil. As plantas tornariam biorrefinarias de larga escala com

tecnologia de produção de primeira e segunda geração e produção de ração animal

com os restos da produção da segunda geração, bioeletricidade, bioplásticos e

fertilizantes. (Raele, et al., 2014)

No cenário Mundo bioelétrico, são considerados o “Preço do petróleo” (alto) e

a “Criação de subsídios para o mercado do etanol de segunda geração” (não

favorável), tendo como destaque as variáveis “Alto potencial de produção de

biomassa no Brasil” e “Logística brasileira favorável para o uso de biomassa

(bagaço) “. Diferentemente do cenário anterior, devido a razões políticas

governamentais, não houve a criação de programas de subsidio para a segunda

geração do etanol. A alta do preço do petróleo aumentaria a demanda para a

primeira geração do etanol e impulsionaria uma abertura do mercado internacional

de biocombustíveis, pressionando a comunidade internacional para uma espécie de

comoditização do etanol. Em virtude dessa situação, o setor produtivo escolheria

investir na expansão e desenvolvimento da primeira geração do etanol e, graças a

isso, é gerado uma grande quantidade de bagaço disponível nos moinhos,

acumulando nos estoques. Considerando uma logística favorável para o bagaço,

usinas elétricas que queimam biomassa em caldeiras para gerar energia se tornam

uma opção interessante. A geração de bioeletricidade inibe a implantação de

termoelétricas a gás natural e a óleo combustível. O consumo de gasolina no Brasil

é parcialmente substituído, com o Brasil produzindo em larga escala o etanol de

primeira geração, abastecendo o mercado interno e mercados estrangeiros,

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utilizando o bagaço para a queima e geração de bioeletricidade, reforçando a sua

característica de matriz energética limpa. (Raele, et al., 2014)

O cenário Mundo fóssil avalia as variáveis “Preço do petróleo” (baixo) e

“Criação de subsídios para o mercado do etanol de segunda geração” (não

favorável), destacando também as variáveis “Forcar a abertura dos mercados

nacionais e internacionais para o etanol brasileiro” e “Alto potencial produtivo de

biomassa no Brasil”. Devido ao baixo preço do petróleo, a expansão do mercado do

etanol desacelera devido à alta competitividade da gasolina, gerando pouco

incentivo a diversificação da matriz energética no Brasil. Desta forma, novas

alternativas energéticas levariam anos para se desenvolver, aumentando o risco de

escassez de energia, devido ao aumento da dependência energética de apenas uma

fonte (fóssil). Os investimentos para a eletricidade a partir de biomassa não

acontecem, aumentando os investimentos de termoelétricas a gás óleo combustível.

O consumo de gasolina cresce e as emissões de dióxido de carbono no Brasil

aumentam e criam um cenário desfavorável em relação as alterações climáticas.

(Raele, et al., 2014)

O quarto cenário, o cenário apocalíptico, é formado pela combinação das

variáveis “Preço do Petróleo” (baixo) e “Criação de subsídios para o mercado do

etanol de segunda geração” (favorável), destacando também as variáveis “Forte

desenvolvimento em enzimas mais eficientes” e “financiamento em pesquisas sobre

os gargalos técnicos para a consolidação da segunda geração do etanol”. Nele, é

considerado que, mesmo com o baixo preço do petróleo, o governo brasileiro

resolve investir pesado na segunda geração do etanol. Com os subsídios, cria-se um

mercado artificial para o etanol celulósico bancado pelo governo. Usinas brasileiras,

encorajadas pelo consumo garantido pela lei, investem na tecnologia de segunda

geração, mesmo que o baixo preço do petróleo mantenha o mercado natural do

etanol baixo. Este cenário gera um conflito estrutural entre a baixa demanda pelo

mercado de etanol e a alta capacidade instalada de produção de etanol. Devido ao

aumento do consumo de energia elétrica (derivado do aquecimento de economia,

graças ao baixo preço do petróleo) e a impossibilidade de sua produção, uma crise

energética se desenvolve. A alta do consumo de gasolina e a criação de novas

termelétricas a combustível fóssil, para suprir a demanda por energia elétrica,

agravam as emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, piorando o

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desempenho brasileiro em atenuar os gases do efeito estufa e seus efeitos

prejudiciais ao clima. (Raele, et al., 2014)

Silva et. al., 2013, analisou também quatro possíveis cenários para o futuro do

comércio do etanol no ano de 2020, só que em nível internacional.

Seu primeiro cenário, chamado de “Etanol: um biocombustível

comercialmente viável”, as tecnologias de produção estão voltadas para o etanol de

primeira geração. Não é estimulado uma grande ampliação do uso do

biocombustível, sendo voltado para abastecer a mistura obrigatória à gasolina. A

tecnologia flexfuel começa a se desenvolver em diversos países, mas as políticas de

subsídios a produtores internos desestimulam a inovação. (Silva et. al., 2013)

O segundo cenário, “Etanol: a commodity energética global sustentável”,

considera que o etanol de segunda geração tornou-se uma realidade, com aumento

na produtividade e redução de custos. A tecnologia flexfuel se torna presente em

vários países, assim como outros usos do etanol como combustível ganham

mercado. Diminuem as tarifações entre os países para uma melhor comercialização

do biocombustível, aumentando tanto a demanda quanto a sua produção. (Silva et.

al., 2013)

O terceiro cenário, “Etanol: foco no mercado interno, baseia-se em uma maior

política de protecionismo”, com subsídios e tarifas de importação, fazendo com que

o etanol produzido abasteça apenas o mercado interno de cada país. O etanol de

segunda geração ainda não comercialmente viável, a tecnologia flexfuel é restrita a

apenas alguns países e não há avanços na diversificação e ampliação do etanol

como combustível. (Silva et. al., 2013)

O quarto cenário, “Etanol: uma commodity regional, o comercio internacional

fica focado em acordos bilaterais”. A tecnologia do etanol de segunda geração se

torna realidade, mas para apenas poucos mercados, assim como a tecnologia

flexfuel. Não existe um padrão internacional, impossibilitando de transformar o etanol

em commodity. A ampliação do etanol como combustível é desenvolvida e ampliada

nos países que o adotaram como produto. (Silva et. al., 2013)

Estes cenários demonstram a importância dos governos na expansão e

desenvolvimento da produção de etanol. Ambos estudos mostram que é possível um

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cenário em que a produção de etanol de segunda geração se torne competitiva,

tanto com a de primeira geração quanto com o mercado da gasolina. A expansão e

possível substituição do etanol em frente a gasolina, segundo estes cenários,

precisa de esforços de vários países para torná-lo em uma espécie de commodity e

facilitar as importações. O preço do petróleo também tem grande significância na

expansão da produção do etanol. Se os incentivos políticos acontecerem, as

pesquisas de empresas em novas tecnologias e desenvolvimentos sobre etanol

continuarem e as previsões de preço elevado forem confirmadas, as perspectivas da

produção do etanol no Brasil e no mundo tendem a ser animadoras.

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3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL

Este estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliográfica, utilizando

publicações de artigos, teses e dissertações referentes ao tema proposto.

Inicialmente, foi realizada uma revisão histórica sobre o etanol no país, com a

chegada da cana-de-açúcar no Brasil, o início da produção de etanol e o histórico do

pró álcool, e o método de produção do etanol por meio da cana de açúcar.

Posteriormente, uma pesquisa sobre as tecnologias do etanol de segunda geração,

com os tipos de pré-tratamentos e os processos de hidrólise e de fermentação.

Depois desta revisão, foram analisados o mercado e a produção atual do etanol no

país. Para demonstrar o que é esperado para os próximos anos para este

biocombustível, foi feito um levantamento sobre os projetos no Brasil e no mundo

para o etanol de segunda geração e uma busca em estudos em cima dos prováveis

cenários para os próximos anos para este mercado.

As pesquisas foram feitas em bancos de dados de acadêmicos, como como

ScienceDirect, Scielo, BDTD, Google Acadêmico. Os dados sobre a produção e

mercados brasileiros e mundiais foram encontrados em sites do governo. Os dados

sobre os projetos de plantas em construção foram obtidos em revistas eletrônicas

especializadas como NOVACANA, em sites do governo americano e em sites de

empresas como RAIZEN, Petrobrás e Granbio. Os cenários apresentados foram

encontrados em artigos acadêmicos. A conclusão foi feita, analisando-se o que pode

ser feito, para aumentar a produção de etanol e tornar viável o etanol de segunda

geração para o mercado consumidor e a influência da política e do preço do petróleo

para que isso possa ocorrer.

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4 CONCLUSÃO

A viabilidade do etanol como combustível está inteiramente ligado, desde seu

início histórico de produção, ao preço do petróleo e aos incentivos governamentais.

Ao longo dos anos, seu desenvolvimento e poder de mercado esteve atrelado a

estas condições, além da busca por fontes de energias renováveis, que se tornou

prioridade durante as últimas décadas. O Brasil, por ser um dos pioneiros na

produção do etanol, possui grande capacidade para difundir cada vez mais este

biocombustível. O programa Pró-álcool contribuiu para que o mundo buscasse

aprimorar esta tecnologia e se tornar competitivo com nosso etanol de cana-de-

açúcar.

A produção de etanol, apesar de ter crescido ao longo dos anos, não é

suficiente para suprir o consumo de gasolina, que também aumenta a cada ano. O

etanol de segunda geração tem se mostrado uma boa opção para aumentar a

produção do etanol, sem necessariamente, aumentar a área de plantio ou gerar uma

concorrência com agricultura para a produção de alimentos. Os estudos e pesquisas

que começaram na década passada já são encontrados em forma prática nas usinas

que estão sendo construídas e em operação. Apesar de ter uma quantidade muito

pequena em relação ao etanol de primeira geração, espera-se que dentro de alguns

anos o etanol de segunda geração tenha uma produção tão significativa quanto o

obtido pela fermentação da sacarose.

Os principais problemas do etanol de biomassa, como a aplicação de pré-

tratamentos com menores custos e maiores rendimentos e o desenvolvimento de

enzimas capazes de metabolizar uma maior gama de açucares, são os desafios que

devem ser superados a curto e médio prazo. O investimento de empresas e

principalmente do governo, são fundamentais para que isso possa ocorrer.

A disseminação de plantas integradas, produzindo etanol de primeira

geração, segunda geração, pelo processo CBP, e energia elétrica, pode causar um

grande impacto no mercado dos combustíveis, criando um sistema de energia

altamente sustentável e podendo diminuir de forma bastante significativa o consumo

de gasolina.

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Se o preço do petróleo manter em um nível elevado, o desenvolvimento e a

expansão do etanol de segunda geração tem tudo para se tornar uma realidade,

caso contrário, serão necessários incentivos e subsídios para aumentar sua

produção comercial e tornar seu custo mais competitivo.

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