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Escola Dos Annales Conceito Tempo

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 O Positivismo, Os Annales e a Nova História

 No século XIX, a Europa presenciou amplo desenvolvimento tecnológico e industrial, que

 permitiu sua evolução económica e a afirmação como o continente mais poderoso do mundo até

a Primeira Guerra Mundial !o mesmo tempo em que crescia internamente, o continente see"pandia para fora de seus dom#nios, conquistando terras, pessoas e novas rique$as na %frica e

%sia, numa reedição do colonialismo do !ntigo &egime No entanto, não 'astava conquistar tais

territórios e impor uma dominação ( força em suas populaç)es* era preciso +ustificar a ra$ão

daquele dom#nio e gerar um argumento incontestvel Para tal fim, os pensadores e intelectuais

europeus utili$aram-se do conceito de ci.ncia, tido como um sa'er superior e acess#vel a poucas

 pessoas ! e"plicação ficava clara* os europeus, donos da ci.ncia e do desenvolvimento, se

dirigiam (quelas novas terras para /salvar/ suas populaç)es do estado de 'ar'rie e a'andono em

que estavam 0ustificava-se o Imperialismo por meio de argumentos cient#ficos, 'aseados na

superioridade técnica e racial do europeu 'ranco so're o negro africano e o asitico*

cientificamente falando, o europeu tin1a o direito de dominar os novos colonos porque era de

uma civili$ação mais avançada, dado o desenvolvimento que mostrava e o poder de seu

con1ecimento Esta forma de se compreender o mundo, isto é, 'aseada no cientificismo que

transforma as realidades sociais, frutos de uma certa ordem 1istórica que nunca é a'soluta, em

verdades a'solutas e incontestveis porque comprovadas pela ci.ncia, tornou-se em pouco tempo

a tónica de todo o pensamento do 2el1o 3ontinente, espal1ando-se para diversos campos do

sa'er &enasceu a import4ncia da 5#sica e da 6u#mica como disciplinas e"actas, por e"emplo

Mas o caso mais destacado desse processo de construção de con1ecimento é a transformação que

ocorre nas c1amadas disciplinas 1umanistas, a 7istória e a 8ociologia Elas tam'ém vão

incorporar a tend.ncia cientificista, au"iliando a e"plicar o dom#nio europeu nas novas colónias e

impondo novos métodos de se estudar as relaç)es sociais e o andamento da 7istória dos povos

9uas correntes dominaram o pensamento europeu a esse respeito :ratavam-se do &acionalismo

surgido no final do século X2III, com a &evolução 5rancesa, e o 3onservadorismo, presente no

 pensamento do continente desde o final da Idade Média e durante a Idade Moderna Esta

corrente, dos di$eres do 1istoriador &o'ert Nis'et, implica em /preservar o que est esta'elecido,

ser contrrio ( mudança ou inovação/ ;pag<=> !s ideias conservadoras presentes em uma

sociedade t.m uma ra$ão de ser e e"istir, possuem como /referencial um aspecto da sociedade

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 plenamente interessado na manutenção ou conservação da ordem ;>/ Em uma ideia que ir

defender em todo o te"to, afirma que o 3onservadorismo é o'+ecto de toda a sociedade, e não de

indiv#duos isolados Portanto, ao e"istir em função de um con+unto social, esta corrente tam'ém

 pode ser estudada pela 8ociologia

 Nis'et não aprova a visão individualista presente na fase pós-&evolução 5rancesa, que pregava a

auto-sufici.ncia e a individualidade de cada ser 1umano e que serve de 'ase para a cientifi$ação

do con1ecimento e do estudo social, como dissemos acima Esta negava, pois, a própria

e"ist.ncia da sociedade como organi$ação e como meio de influ.ncia de comportamentos

1umanos ? 1omem seria um ser de livre-ar'#trio so're seus actos, sem a necessidade de

esta'elecer relaç)es com seus semel1antes Ele se 'astaria por si mesmo 3om isso, surgemcorrentes de pensamento relacionadas a essa forma de pensar e que se op)em a seus princ#pios,

como o próprio Positivismo Nos deteremos na anlise desta corrente

!ugusto 3omte ? Positivismo pregava a cientifi$ação do pensamento e do estudo 1umano,

visando a o'tenção de resultados claros, o'+ectivos e completamente correctos ?s seguidores

desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade, isto é, na separação entre o

 pesquisador@autor e sua o'ra* esta, em ve$ de mostrar as opini)es e +ulgamentos de seu criador,

retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem os analisar

?s positivistas cr.em que o con1ecimento se e"plica por si mesmo, necessitando apenas seu

estudioso recuper-lo e coloc-lo ( mostra Não foram poucos os que seguiram a corrente

 positivista* !ugusto 3omte, na 5ilosofiaA Bmile 9urC1eim, na 8ociologiaA 5ustel de 3oulanges,

na 7istória, entre outros, contri'u#ram para fa$er do Positivismo e da cientifi$ação do sa'er um

 posicionamento poderoso no século XIX

Pode-se inclusive di$er que o Positivismo redu$ o papel do 1omem enquanto ser pensante,

cr#tico, para um mero colector de informaç)es e fatos presentes nos documentos, capa$es de

fa$er-se entender por sua conta /?s fatos 1istóricos falam por si mesmos/, di$ia 3oulanges,

1istoriador franc.s !ssim, para os positivistas que estudaram a 7istória, esta assume o carcter 

de ci.ncia pura* é formada pelos fatos cronológicos e o que realmente significam em si 8ão

o'+ectivos ( medida que possuem uma verdade Dnica em sua formação ;que é o seu sentido e sua

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Dnica possi'ilidade de compreensão> e não requerem a acção do 1istoriador para serem

entendidos* como + dito, o papel deste é colect-los e a+eit-los, constatando pela anlise

minuciosa e li'erta de +ulgamentos pessoais sua validade ou não ? sa'er 1istórico, dessa forma,

 provém do que os fatos cont.m, e assume um valor tal qual uma lei da 5#sica ou da 6u#mica,

ci.ncias e"actas

:ão o'+ectiva é a 7istória para os positivistas que um de seus maiores ensinamentos é a 'usca

incessante de fatos 1istóricos e sua comprovação emp#rica 9a# a necessidade, como pregavam,

de se utili$ar na pesquisa e anlise o m"imo de documentos poss#veis* para se o'ter a totalidade

so're os fatos e não dei"ar nen1uma margem de dDvida no que se refere ( sua compreensão !

 'usca desses fatos deve ser feita por mentes neutras, pois qualquer +u#$o de valor na pesquisa e

anlise altera o sentido e a verdade própria dos fatos, modificando pois a própria 7istória Esta se

tornaria uma ci.ncia fal1a e totalmente fora de seu carcter cient#fico, e portanto destitu#da de

valor e validade 3oulanges c1ega a afirmar que a /7istória não é arte, mas uma ci.ncia pura ;>

a 'usca dos fatos é feita pela o'servação minuciosa dos te"tos, da mesma maneira que o qu#mico

encontra os seus em e"peri.ncias minuciosamente condu$idas/ ! o'+ectividade, a

minuciosidade, o detal1e e a dedicação impessoal, portanto, são as grandes liç)es da escola

 positivista para o estudo da 7istória no século XIX e no in#cio do XX ?s 1istoriadores que,

nessa época, tentaram provar outras formas de se estudar a disciplina foram desconsiderados e

 postos ( margem Numa sociedade europeia que 'uscava seu próprio desenvolvimento e

avançava rumo a grandes desco'ertas na ci.ncia e na tecnologia, a cientifi$ação que marcou a

época tam'ém se espal1ou para o campo dos estudos 1umanos, redu$indo o papel do profissional

desse campo para um mero colector de informaç)es ! implicação de opini)es e"ternas aos

sentidos dos fatos 1istóricos alterava a 7istória, na opinião positivista, e eliminava assim sua

legitimidade como sa'er de import4ncia social

 Na 8ociologia as propostas não se diferiam ?s conservadores, que originam os positivistas,

 pregavam em relação a essa disciplina que a não-e"ist.ncia de relaç)es interpessoais entre os

1omens, tendo como consequ.ncia a não-constituição de uma sociedade, aca'ava por gerar o

caos e a angDstia em cada ser 1umano 9efensores do pensamento da sociedade medieval, na

qual todos os grupos e"istentes ;sen1ores, servos e clero> estavam totalmente ligados entre si e

ditavam a força de cada feudo, consideram assim a sociedade fundamental para a organi$ação

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dos 1omens e para o e"erc#cio de suas individualidades Isolados, o 1omem não interage com um

meio, mas fec1a-seA ele dei"a de se recon1ecer no outro como um ser 1umano e não e"erce suas

capacidades ;racioc#nio, erudição, etc> que o definiriam como 1umano Dnico, individual Não

tem para quem as e"ercer e como aprender coisas novas, pois todos estão isolados

3onsequentemente, caem em estagnação, angustiam-se e 'anali$am-se 9a# vem as perspectivas

definidas pelos conservadores a respeito do 1omem dessa época* a criação da massa atomi$ada,

facilmente controlada e seguidora de pensamentos formulados, incapa$ de agir contra tal

controleA a alienação de suas próprias pessoas, em função dessa perda de relaç)es e a entrega

 pessoal a um mundo massificado, igualA e a su'ordinação a um poder maior, que aca'a por 

mant.-los nessa aurora alienante de vida, em ve$ de fa$.-los escapar dessa realidade triste e

angustiante Portanto, as correntes de pensamento voltadas ( individualidade e a uma

cientifi$ação da vida e con1ecimentos 1umanos não os a+uda a evoluir, mas sim 'anali$ar eque'rar as sociedades

9a# os conservadores afirmarem que /o 1omem e"iste apenas dentro da sociedade e para ela/

;pag<<> 8omente inserido nela e fa$endo-se participativo por meio de relaç)es com seus outros

integrantes, o 1omem recon1ece-se como 1omem e e"erce a sua individualidade, 'em como

amplia seus 1ori$ontes ;ao de'ater, discutir, etc> Eles defendem a sociedade e sua comple"a

rede de relaç)es, pois estas impedem a angDstia 1umana causada pelo isolamento, colocam

 princ#pios de ordem, 1ierarqui$ação e definem a função de cada um em seu todo ? papel de

cada ser é tão importante na organi$ação desse todo que, se um fal1a no seu dever, a sociedade

inteira sente e sofre a consequ.ncia 3omo se perce'e, o estudo social não é somente campo da

8ociologia, mas tam'ém de outras, o que comprova sua pluralidade

9a mesma forma, não se pode arrancar de uma sociedade seu sistema de crenças e costumes ;que

agem contra a racionali$ação total proposta nos dois séculos anteriores ao nosso> e sua

organi$ação em grupos menores ;fam#lia, Igre+a, grupos de ami$ade> Pode-se concluir que os

conservadores possuem uma visão ampla de sociedade, nunca se limitando a defender uma Dnica

 possi'ilidade de funcionamento para ela Por e"emplo* não negam que ela deve ter ra$ão, mas

tam'ém o espaço espiritual Por ser comple"a, org4nica e sempre se renovar, a sociedade deve

ter espaço para diversos camin1os de pensamento e acção E agora essa corrente de pensamento

começa a caracteri$ar o actual século XX asta ver o fenómeno da Glo'ali$ação* diversas

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sociedades ligadas em constante interacção cultural, económica, entre outrosA sendo que, quando

uma tem algum pro'lema, desordem em seu sistema, todas as outras são influenciadas 8eguem,

cada uma e como um todo tam'ém, princ#pios de organi$ação, 1ierarquia e função :udo isso nos

afirma uma realidade* não podemos falar de unidades isoladas na actual con+untura social e

mundial

Portanto, a 8ociologia e a 7istória tam'ém t.m decisivo papel ao ter como o'+ecto de estudo o

3onservadorismo !o contrrio do que se pensava ;ou ainda se pensa>, ele não indica rigide$,

intransig.ncia ou imuta'ilidade :em estruturas presentes em nossa vida até 1o+e, que

influenciam e regem nossos comportamentos, definindo um dos poss#veis campos do tra'al1o

sociológico Inclusive podemos até concluir que, se não 1ouvesse a interligação entre indiv#duos

formando sociedades e determinando diversas formas de organi$ação, sistemas e afins, a

8ociologia não e"istiria Porque se ela não a'range os actos 1umanos em sua e"ist.ncia e em

relação ao meio em que se locali$am, torna-se fal1a e incompleta 31egaria até a cair no mesmo

erro proposto pelos Positivistas em relação ao estudo da 7istória* segundo eles, esta ci.ncia deve

ser estudada sem considerar a actuação e participação 1umana, apurando /apenas os fatos/ e

desconsiderando o espaço 1umano nestes, segundo o pensador 5ustel de 3oulanges ?ra, a

7istória e a 8ociologia são 3i.ncias 7umanas, sem ra$ão de ser se não estudam as sociedades

8endo assim, o 3onservadorismo, acima de qualquer suposição, é uma das formas de

 pensamento que permitem a reali$ação da 8ociologia e da 7istória, ao propor um estudo

colectivo e com a participação dos 1omens em sua constituição

Estudo de caso: Durkheim e a sociologia positivista

? sociólogo franc.s Bmile 9urC1eim representa, na 8ociologia, uma transição na maneira de

conce'er e praticar os estudos relacionados a essa ci.ncia* afinal, ao mesmo tempo que defende

um posicionamento conservador, ao analisar a import4ncia da sociedade so're o indiv#duo,

avança em direcção ao Positivismo, propondo a o'+ectividade e o empirismo nos estudos1umanos 8eus postulados sociológicos, guardadas as devidas proporç)es, tam'ém foram

aplicados no estudo da 7istória no século XIX e no in#cio dos anos XX :rata-se de um pensador 

ligado a correntes conservadoras do estudo social, defensor da visão de que a sociedade é mais

importante e forte que os interesses individuais, de uma ordem social coesa 'aseada na

integração entre os 1umanos constituindo sociedades e grupos sociais fortes, nos quais e"ista

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uma complementaridade entre as partes formadoras desse todo 9urC1eim nega as correntes

individualistas do pensamento sociológico, que pregam a noção de indiv#duo como o'+ecto de

devoção e destaque para a compreensão da evolução 1istória e social de uma sociedadeA nessa

 perspectiva, o ser individual é aquele surgido com o Iluminismo no século X2III* racional, livre

dos dogmas religiosos que limitavam sua acção, capa$ ;ele por si próprio e de acordo com sua

vontade e capacidade e"clusivamente> de transformar as sociedades e a 7umanidade Portanto,

 para o Individualismo o indiv#duo é o elemento a ser destacadoA não se nega a e"ist.ncia da

sociedade e de suas relaç)es, mas coloca estas a'ai"o do ser individual Este Dltimo seria o

conceito mais importante e principal transformador da sociedade E é esta visão que 9urC1eim

vai com'ater ao longo de seus estudos e vida

? pensador franc.s parte do princ#pio que a sociedade precede o indiv#duo, ou se+a, + e"iste

antes que o ser individual se+a conce'ido Muito antes de essa definição surgir com o

Iluminismo, os 1umanos, desde seu surgimento, foram organi$ando-se e regendo as acç)es e

relaç)es que desenvolviam entre si por meio de normas e leis ;formando, dessa maneira,

sociedades> Portanto, a noção de organi$ação social entre os 1omens sempre e"istiu,

constituindo o que 9urC1eim c1ama de consci.ncia colectiva, que é e"actamente essa visão de

um todo social, a complementação necessria e e"istente entre os 1umanos Não e"iste indiv#duo

separado de uma noção colectiva e social, afirma o pensadorA para se afirmar no mundo e sentir-

se como um 1umano, ele precisa en"ergar-se nos outros, ter contacto com os que l1e são

semel1antes ? conceito de indiv#duo seria uma criação do modelo filosófico moderno, mas não

se pode esquecer que foi criado pela própria sociedade, pelos seres que a formam Isso comprova

que a noção colectiva, ou se+a, a organi$ação social e"istia antes mesma do conceito de indiv#duo

surgir

9urC1eim dei"a isso claro no Método para determinar a função da divisão do tra'al1o* osindiv#duos necessitam de relacionamentos sociais porque, so$in1os, são incompletos Não 1

1umano que 'aste a si mesmo, sendo completo* ele cumpre uma determinada função na

sociedade, mas necessita de outros 1umanos para complementar as funç)es que não e"erce 9a# a

divisão do tra'al1o por ele analisada* a complementação de deveres sociais interliga e apro"ima

os indiv#duos, fa$ com que constituam entre si relaç)es de solidariedade 'em como uma coesão

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social 3ada ser con1ece seu papel e procura desempen1-lo da mel1or forma, para que depois

 possam compartil1ar seus esforços, solidari$-los E isso se estende não só no campo do

tra'al1o, mas para todas as esferas da vida social 3omo di$ no Método, /os indiv#duos são

ligados uns aos outros ;> em ve$ de se desenvolverem separadamente, eles a+ustam seus

esforçosA são solidrios, por meio de uma solidariedade que não age somente nos curtos per#odos

em que trocam serviços, mas que se estende muito além/ ;pag<F>

Essa coesão social deve ser regida por leis, ou se+a, pelo Estado de 9ireito, de modo a assegurar 

a 'oa ocorr.ncia dessas relaç)es ! vida social e"ige um padrão de organi$ação, ou se+a, certas

regras a serem cumpridas para garantir a perman.ncia de sociedades 'aseadas na solidariedade

/! vida geral da sociedade não pode se desenvolver num certo ponto sem que a vida +ur#dica se

desenvolva ao mesmo tempo e no mesmo sentido/ ;pag<> ! aceitação das regras implica na

integração individual ( sociedade, ao a'andono dos interesses particulares para aceitar a visão de

todo social, ou se+a, assumir sua função social e complementar-se com os outros seres 0 o não-

cumprimento das mesmas acarreta puniç)es a quem não procura integrar-se ? papel das leis,

então, é impedir que as relaç)es sociais, calcadas 'asicamente na solidariedade, tornem-se

frgeis e, em ve$ de contri'uir para a verdadeira coesão social, não passem de laços intermitentes

e frgeis ! lei é, pois, a aplicação das relaç)es sociais, o elemento fundamental para a perfeita

integração entre os 1omens

 No entanto, em ? que é fato social, 9urC1eim mostra que a organi$ação e coesão sociais não são

somente regidas pelas leis do 9ireito Ele introdu$ a questão dos costumes e 1'itos, que

tam'ém são elementos c1aves para reger as sociedades 9a mesma forma que nos sentimos

integrados quando cumprimos as leis, ao seguir os costumes considerados vlidos pela sociedade

nossa integração é facilitada Isso contri'ui para reforçar a coesão social No entanto, se não

levamos em conta tais 1'itos sociais, não nos integrando a eles, seremos punidos pela mesma

sociedade, não pelas regras do 9ireito, mas com a e"clusão, o de'oc1e, a stira etc 9urC1eim,

no te"to citado acima, di$* /8e não me su'meto (s convenç)es mundanas ;> o riso que provoco,

o afastamento em que os outros me conservam, produ$em, em'ora de maneira mais atenuada

Hque o 9ireito os mesmos efeitos que uma pena propriamente dita/ ;pagJ=> Portanto, não

somente a mão estatal, 'aseada na lei, age como força repressora de quem foge da ordemA a

 própria sociedade tem seus meios coercitivos 3oerção esta imposta, como se disse, quando as

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regras esta'elecidas não são seguidas, tendo o o'+ectivo principal de manter as relaç)es de

solidariedade e a coesão social :orna-se claro que, para 9urC1eim, a aceitação das regras sociais

 para uma perfeita integração é fundamental para o indiv#duo ser livre dentro da sociedade, ou

se+a, ter capacidade de agir dentro da mesma ? contrrio disso ;o desrespeito> implicar em sua

tirani$arão* ele pode ser dominado por outros e punido coercitivamente Não 1 indiv#duo livre

fora das organi$aç)es sociais, prega o 3onservadorismo

Mas como tomamos contacto com essas regras, como as incorporamos e seguimos o

comportamento considerado idealK !qui entra o conceito de fato social de 9urC1eim Para ele, o

fato social é /toda forma de agir fi"a ou não, suscept#vel de e"ercer so're o indiv#duo uma

coerção e"terior/ ;pagLL> Nessa definição entram os costumes e 1'itos sociais, 'em como a

legislação vigenteA desde cedo, somos guiados e orientados a seguir um comportamento correcto

 para vivermos em sociedade Esse comportamento implica no con1ecimento e incorporação das

leis e 1'itos dessa sociedadeA são estes que nos darão a 'ase para que entremos no rol da

solidariedade e das relaç)es com nossos semel1antes e permitirão a nossa aceitação no meio

social 9urC1eim, dei"a claro que esses 1'itos e leis t.m poder de coerção, e são e"ternos ao

indiv#duo, ou se+a, + e"istem antes mesmo de seu nascimento e continuarão e"istindo mesmo

após a sua morte, pois estão institucionali$ados pela sociedade como formas fundamentais para

sua organi$ação e estruturação 9essa maneira, o indiv#duo tem de aceitar tal funcionamento,

 pois senão enfrentar a força coercitiva do sistema para ser integrado 8ão, pois, nossos actos e

ideias incorporados e"ternamente e que guiam nosso comportamento social que se denominam

fatos sociais 9evem ser estudados como /coisas, ou se+a, o'+ectos do con1ecimento que a

intelig.ncia não penetra de maneira natural ;> seu estudo deve ser a'ordado a partir do

 princ#pio de que se ignora o que são, e de que suas propriedades caracter#sticas ;> não podem

ser desco'ertas nem mesmo pela mais atenta das introspecç)es/ ;!s regras do Método

8ociológico Prefcio ( segunda edição, pag=L> 8eu estudo, portanto, deve ser mais atento e

dedicado, visto que implica na percepção de con1ecimentos impostos de alguma forma e queaca'a por criar em nós o 1'ito de segui-lo 2ale a afirmação de 9urC1eim* /;> a maioria de

nossas ideias e tend.ncias não são ela'oradas por nós, mas nos v.m de fora;> não podem

 penetrar em nós senão através de uma imposição/ Nós não participamos da ela'oração das

normas e leis, mas + as encontramos prontas

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B para 9urC1eim função da 8ociologia estudar os fatos sociais e as relaç)es de solidariedade e

complementaridade e"istentes nas sociedades, pois é por meio deles que se entende as formas de

organi$ação e coesão das mesmas, mantidas por processos de coesão e"ternos que são

incorporados ao indiv#duo desde cedo e que minam suas tentativas de emancipação pessoal, ou

se+a, viver de acordo com sua conduta pessoal 8ão, pois o'+ectos sociológicos porque

determinam a constituição das diferentes sociedades, suas normas de manutenção e até mesmo

como se renovam ;quando os 1'itos e leis vão tornando-se arcaicos, dando espaço ao

crescimento no seio social de condutas não conce'idasA quando estas tornam-se dominantes,

constitui-se o que 9urC1eim c1ama de /estado anmico/, aquele com uma organi$ação social

 'aseada em prticas não-regidas pelas leis Para impedir isso, deve o Estado perce'er as

transformaç)es sociais a tempo e mudar a lei para incorporar as prticas antes não legais ( lei>,

 permitindo assim seu entendimento e estudo

Mas como incorporamos as leis e os 1'itosK Por meio do contacto com a legislação, a fam#lia,

os órgãos estatais, mas principalmente por meio da educação ! escola é, para 9urC1eim, a mais

importante e poderosa instituição capa$ de preparar as crianças e +ovens para a sociedade,

impondo-l1es o comportamento mais correcto e a visão da consci.ncia colectiva B na escola que

as crianças aprendem que deve-se negar a vontade pessoal e sacrificar-se em função do todo

socialA que terão uma função a cumprir na sociedade, e que para complementarem-se terão de se

relacionar com os seus semel1antes ?u se+a, a escola deve internali$ar a sociedade no indiv#duo,

impor-l1e padr)es de conduta que o impeçam de seguir suas próprias tend.ncias e regras que

 possam que'rar a coesão social 3a'e ( escola, portanto, preparar as futuras geraç)es a seguir a

moral social mais correcta e aceita, sa'endo que a sua transgressão e contestação implica em

 puniç)es /:oda a educação consiste num esforço cont#nuo para impor (s crianças maneiras de

ver, sentir e agir (s quais elas não c1egariam espontaneamente ;> a pressão de todos os

instantes que sofre a criança é a própria pressão do meio social tendendo a mold-la ( sua

imagem, pressão que tanto os pais quanto os mestres não são senão representantes eintermedirios/ ;pagJO>, afirma o pensador franc.s

 Nesta Dltima afirmação, 9urC1eim define as funç)es do educador e da fam#lia no processo de

integração das crianças ( sociedade 8ão estes porta-vo$es que apenas transmitem as regras

sociais vlidasA não podem emitir nen1um +u#$o de valor pessoal a respeito das mesmas !qui

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9urC1eim mostra seu lado positivista, ou cient#fico !s regras sociais, ao serem ensinadas,

devem falar por si mesmas, mostrar espontaneamente (s crianças sua força e a necessidade de

sua o'edi.ncia 9ispensam a intervenção pessoal dos transmissoresA pelo contrrio, esta é

totalmente descartada 3om isso, 9urC1eim procura estudar a 8ociologia como se fosse uma

ci.ncia pura e e"acta, ou se+a, que conten1a verdades a'solutas em seu próprio con1ecimento,

dispensando +u#$os particulares 8eria estudar os fatos sociais como um qu#mico reali$a

e"perimentos* as fórmulas que este Dltimo c1ega falam por si, o qu#mico não coloca seus valores

na e"peri.nciaA ele apenas a comprova e a apura ? sociólogo deve agir da mesma forma*

comprovar os fatos e nada mais ? mesmo se espera do educador e da fam#lia* transmissão dos

valores que mantém a sociedade em coesão e nada mais Eles ensinam o que deve ser seguido ou

não por si mesmos

Os casos históricos e sociológicos

Essa corrente positivista não dominou a 8ociologia do século XIX somente, mas tam'ém o

estudo da 7istória, como dito mais acima 5ustel de 3oulanges, destacado 1istoriador positivista,

afirmava que / a 7istória é uma ci.ncia pura ;> o 1istoriador não deve ter outra am'ição que a

de ver 'em os fatos e compreend.-los com e"actidão Não é em sua imaginação ou lógica que ele

os procura, mas sim na o'servação minuciosa dos te"tos, da mesma maneira que o qu#mico

encontra os seus em e"peri.ncias minuciosamente condu$idas/ Portanto, os positivistas

consideram as ci.ncias 1umanas tais como e"actas, nas quais a implicação pessoal produ$

con1ecimentos errados so're o o'+ecto de estudo 9urC1eim possui o mesmo ponto de vista, ao

di$er que /o que se reclama do sociólogo é que se coloque num estado de esp#rito semel1ante ao

dos f#sicos, qu#micos, fisiologistas, quando se aventuram numa região ainda ine"plorada de seu

dom#nio cient#fico Ele critica a superficialidade e implicação pessoal que os sociólogos

desenvolvem em seus estudosA para ele, os fatos sociais falam por si, tal como o con1ecimento

das ci.ncias e"actas 3a'e ao sociólogo apurar esses factos, organi$-los para o entendimento

das sociedades e, caso eles demonstrem que elas não estão na ordem adequada, tra'al1ar para

reorgani$-las 6ual é sua armaK ! estat#stica, ou se+a, a utili$ação dos nDmeros ;que são

medidas e"actas e racionais> para conta'ili$ar a ocorr.ncia de determinados fatos ou não, com a

função de orientar sua acção Por meio dessa arma, pode o sociólogo ter a certe$a de que a

organi$ação social est fluindo 'em ou não em suas regras de conduta, e, como são resultados

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livres de qualquer implicação pessoal, ter certe$a de sua validade e com eles tra'al1ar para levar 

a sociedade ao seu estgio de normalidade, ou se+a, ( organi$ação mais adequada para seu

 perfeito funcionamento e coesão

! 7istória deveria, so' essa perspectiva, ser tratada como a qu#mica e a matemtica, por e"emplo* sua compreensão estaria na perfeita o'servação dos fatos por parte do 1istoriador, e

não em sua anlise* a opinião 1umana mudaria o verdadeiro sentido do con1ecimento 1istórico

?s fatos falam por si mesmos e possuem uma verdade impl#cita que aparece quando postos (

tona ? tra'al1o e o of#cio do pesquisador seria tão somente resgat-los do esquecimento e

 possi'ilitar sua divulgação Mas nunca interpret-los ou propor um entendimento para os

mesmos* este seria con1ecimento fal1o e mentiroso, por se 'asear nos sentidos e na avaliação de

um ser 1umano pass#vel de erros e que não possui a e"actidão da verdade 1istórica No rasil,

essa corrente positivista se destacou nas duas primeiras décadas do século XX, especialmente nas

o'ras de Euclides da 3un1a ;?s 8ert)es>, 8lvio &omero e ?liveira 2iana Esses autores não

fa$em o'ras 1istóricas propriamente ditas, pois sem querer apresentam os fatos 1istóricos

relacionados a anlises de carcter sociológico quando a interdisciplinaridade era a'ominada

 pelos positivistas, que acreditam na plenitude e totalidade do con1ecimento de cada rea do

 pensamento No entanto, retratam 'em alguns dos postulados positivistas como determinantes da

evolução 1istórica nacional* em seus livros estão presentes a diferenciação racial entre negros e

 'rancos como medida para a evolução de um povo e as condiç)es climticas e geogrficas como

factores de desenvolvimento, por e"emplo Para eles, o rasil estava condenado a ser um pa#s

su'desenvolvido, visto que a maior parte de sua população era /'r'ara/ ;isto é, negra> e o clima

tropical indu$ia o povo ( ociosidade* com essas caracter#sticas, nossa 1istória seria indolente e

sem mel1ores perspectivas Não admitiam uma outra possi'ilidade para entender o pa#s, pois era

isso que a realidade emp#rica ;isto é, os fatos 1istóricos e a situação que presenciavam> revelava

 perante seus ol1os Era esse quadro que o'servavam com seus ol1os /cient#ficos/ e desprovidos

de +ulgamentos ?s mesmos ol1os que c1amavam os negros de /'r'aros/ di$iam que nãoemitiam opini)es na ela'oração de seu sa'er* como se v., o positivismo tam'ém se 'aseava em

 +ulgamentos opinativos, mesmo que não assumissem

Essa forma de se estudar a 7istória nacional predominou até o in#cio dos anos QJ, quando a

emergente Escola dos !nnales francesa, que emergia na Europa desde os anos =J, começou a

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influenciar os autores e pensadores 'rasileiros, forçando uma renovação no pensamento 1istórico

e social da nossa realidade :rata-se de uma nova guinada ao 7umanismo, com a retomada do

 papel do 1istoriador na formação do sa'er 1istórico* ele reassume sua atuação na escol1a do que

 pesquisar, como o fa$er e qual a lin1a que dar a seu tra'al1o ! influ.ncia dos autores dos

!nnales ser tão evidente no rasil que inclusive o seu representante mais importante, 5ernand

raudel, estaria presente na fundação da R8P, em LSQF, dando inclusive aulas na universidade

Os Annales e a Nova História

/Erguendo-se contra a dominação da Escola Positivista, uma nova tend.ncia da 1istoriografia

francesa e"prime-se 'astante discretamente em T! &evista de 8#nteseU durante os anos LS=J,

mais francamente na T&evista Ves !nnalesU durante os anos LSQJ/ ;M!&:IN* =JJJ, LLS>

? filósofo 7enri err foi um dos primeiros intelectuais a reagir contra a /escola metódica/ Para

err a 1istória era uma coisa muito diferente de um e"erc#cio de erudição, a 'ase de uma ci.ncia

dos progressos da 1umanidade Em LSJJ, 7enri err cria a /&evista de 8#ntese/, que vai dirigir 

durante meio século

! sua pu'licação torna-se a encru$il1ada onde se encontram* E 9urC1eim e os seus disc#pulos

sociólogosA P 2idal de la lanc1e e seus amigos geógrafosA 5 8imiamd e outros economistasA 7

Wallone outros psicólogosA finalmente Vucien 5e'vre e 1istoriadores 1ostis aos positivistas

9issidentes da &evista de 8#ntese, Vucien 5e'vre e Marc loc1 - com o pro+eto de renovar a

1istória - fundaram a &evista Ves !nnales d 7istoire Bconomique et 8ociale em LS=S :in1am

como o'+ectivos* eliminar o esp#rito de especialidade, promover a pluridisciplinaridade,

favorecer a união das ci.ncias 1umanas, passar da fase dos de'ates teóricos ;os da &evista de

8#ntese> para a fase das reali$aç)es concretas, nomeadamente inquéritos colectivos no terreno da

1istória contempor4nea

O encontro entre Febvre e loch aconteceu na cidade de !trasbourg

! &evista dos !nnales surge numa época em que a /escola metódica/ e"alta a sua preocupação

com a erudição, privilegiando a dimensão pol#tica - procurando dar grande .nfase ao

acontecimento /! corrente inovadora ;!nnales> despre$a o acontecimento e insiste na /longa

duração/A deriva a sua atenção da vida pol#tica para a actividade económica, a organi$ação social

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e a psicologia colectiva/ ;Martim* =JJJ, LLS> 9essa forma, esforçavam-se em apro"imar a

1istória das outras ci.ncias 1umanas

 Nesse conte"to surge uma nova concepção de 1istória - a nouvelle 1istoire - associada a c1amada

Bcole des !nnales, agrupada em torno da &evista !nnales* ecónomies, societés, civilisations 9eacordo com Peter urCe, a nouvelle 1istoire pode ser definida por uma via negativa, em outras

 palavras, defini-la em termos do que ela não é, daquilo a que se op)e seus estudiosos /?s

1istoriadores tradicionais pensam na 1istória como essencialmente uma narrativa dos

acontecimentos, enquanto a nova 1istória est mais preocupada com a anlise das estruturas/

;R&YE* LSS=, L=> ?u se+a, a nova 1istória não estuda épocas, mas estruturas particulares !qui

reside o conceito de /7istória de Vonga 9uração/ 8egundo raudel, a 1istória situa-se em tr.s

escal)es* a superf#cie, uma 1istória dos acontecimentos que se insere no tempo curto ;concepção

 positivista>A a meia encosta, uma 1istória con+untural, que segue um ritmo mais lentoA em

 profundidade, uma 1istória estrutural de longa duração, que p)e em causa os séculos Nesse

sentido, a nouvelle 1istoire, isto é, a 1istória so' a influ.ncia das ci.ncias sociais reali$ou uma

revolução epistemológica quanto ao conceito de tempo 1istórico Não o'stante, a pesquisa

1istórica dentro do quadro do tempo longo, consiste em um esforço de superação do evento e de

seus corolrios* a 1istória cont#nua, progressiva e irrevers#vel da reali$ação de uma consci.ncia

1umana capa$ de uma refle"ão total

Vogo, o tempo 1istórico da c1amada nouvelle 1istoire não pretendia ser uma cronologia

astronómica e tão pouco um con1ecimento da ess.ncia espiritual da sociedade

8o' influ.ncia das ci.ncias sociais, a 1istória tam'ém sofreu uma mudança no campo das

técnicas e dos métodos 8e antes a documentação era relativa ao evento e ao seu produtor, agora

ela é relativa ao campo económico-social* ela se torna massiva, serial e revela tam'ém o

duradouro, a perman.ncia, as estruturas sociais /?s documentos se referem ( vida quotidiana

das massas anónimas, ( sua vida produtiva, ( sua vida comercial, ao seu consumo, (s suascrenças, ( sua diversas formas de vida social/ ;&EI8* LSSF, L=<> Portanto, a nova 1istória

 privilegia a documentação massiva e involuntria em relação aos documentos voluntrios e

oficiais Nesse sentido, os documentos são arqueológicos, pictogrficos, iconogrficos,

fotogrficos, cinematogrficos, numéricos, orais, enfim, de todo tipo :odos os meios são

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tentados para vencer as lacunas e sil.ncios das fontes, mesmo, e não sem risco, os considerados

como anti-o'+etivos

/O homem razoável adapta-se ao meio; o homem insensato tenta adaptar o meio; essa é uma

razão porque todos os progressos são obras de imbecis."   ;5E2&E* LSZS, ==> ? :empo1istórico novo, e nisso parece 1aver uma maior unanimidade entre os mem'ros do grupo, re+eita

a 1ipótese do progresso, pois essa ideia implicaria a apreensão da 1istória como a reali$ação de

certos valores 2alores caracter#sticos de um mundo moderno dominado pelo materialismo

rigoroso de uma f#sica tratada como uma geometria do mundo, que esva$iava a matéria de toda a

qualidade, recondu$indo-a, com todo o seu ardor, para o o'+ectivo ! 1ipótese do progresso

 pressup)e, especulativamente, a e"ist.ncia de um tempo o'+ectivo e glo'al ! nouvelle 1istoire,

no entanto, ao negar a e"ist.ncia de um tempo progressivo, ou se+a, cont#nuo, cumulativo e

irrevers#vel, defende a tese de um tempo pluridirecionado que não é glo'al, mas mDltiplo

 Não o'stante, a nova 1istória recusa a 1ipótese de um tempo linear, cumulativo e irrevers#vel, até

então defendido pelos 1istoriadores tradicionais Para os 1istoriadores novos a 1istória não pode

ser con1ecida e não pode so'retudo ser produ$ida com 'ase em uma compreensão especulativa e

revolucionria do tempo 1istórico Para controlar esse tempo acelerado, a 1istória deveria

enfati$ar o lado repetitivo, c#clico, resistente, inerte, constante, da vida dos 1omens Para reali$ar 

essa mudança de perspectiva proposta pelas ci.ncias sociais, a 1istória deveria se tornar outra

que a tradicional, por uma revisão radical de sua concepção de tempo 1istórico 5oi o que

compreendeu a nouvelle 1istoire* a construção de uma outra concepção de 1istória e de seu

tempo

?s !nnales ela'oraram, portanto, uma mudança su'stancial na compreensão do tempo 1istórico

! nouvelle 1istoire op)e-se ao tempo da 1istória da época das Vu$es ;em'ora 1a+a os que ve+am

nesse movimento o seu inspirador mais direto>, que é o da evolução gradual e progressiva da

&a$ão, e op)e-se (s vers)es revolucionrias desse tempo, que, ao invés de uma evolução gradual, prop)em a revolução puramente, mas visando ao mesmo progresso da &a$ão 8egundo o

1istoriador 0osé 3arlos &eis, a nouvelle 1istoire foi a constatação e o recon1ecimento das forças

de inércias estruturais, que limitam a acção livre e que não tem pressa para verem a vitória da

ra$ão ?u se+a, perce'e-se a recusa, consciente ou não, confessada ou não, da ideia de revolução

e tudo o que ela implica* aceleração do tempo dos eventos e acontecimento especulativo do

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sentido da 1istória ! 1istória da longa duração enfati$a os movimentos lentos e representa uma

desaceleração das mudanças

O Esp"rito dos Annales: Vucien 5e'vre, Marc loc1 e 5ernand raudel

Vucien 5e'vre

? 1istoriador, na c1amada /escola metódica/, não poderia, portanto, escol1er os fatos, pois a

escol1a era a própria negação da o'ra cient#fica :al conceito foi amplamente criticado e

recusado pelo grupo dos !nnales, personificado so'remaneira, na figura de Vucien 5e'vre Para

o 1istoriador /toda 1istória é escol1a/ ;5E2&E* LSZS, LS>, pois o 1istoriador cria os seus

materiais, ou se quiser, recria-osA em outras palavras, o 1istoriador parte para o passado com uma

intenção precisa, um pro'lema a resolver, uma 1ipótese de tra'al1o a verificar

 Nesse sentido, Vucien 5e'vre enfati$a, em seu legado intelectual, a import4ncia e, não o'stante,

a necessidade de uma 1istória enga+ada que compreende e fa$ compreender, isto é, uma ci.ncia

1umana constitu#da por fatos e te"tos, capa$es de questionar e pro'lemati$ar a e"ist.ncia

1umana[ /Peço-l1es que vão para o tra'al1o ( maneira 3laude ernard, com uma 'oa 1ipótese

na ca'eça 6ue nunca se façam coleccionadores de fatos, ao acaso, como dantes se fa$ia

 pesquisadores no cais/ Em outras palavras, Vucien 5e'vre propun1a uma 7istória não

automtica, mas sim pro'lemtica Este foi o grande ensinamento de Vucien 5e'vre, 'em como

do grupo dos !nnales* formular uma 1istória enga+ada, cu+o o'+ectivo principal fosse responder 

(s lacunas inerentes ( condição 1umana

#arc loch

Marc loc1 esforçou-se por reflectir so're o método em 1istória, tendo em conta a e"peri.ncia

do grupo dos !nnales ? seu manuscrito que ficou incompleto, foi ordenado e pu'licado

 posteriormente por Vucien 5e'vre so' o duplo t#tulo* !pologie pour l1istoire ou Métier d

1istoiren loc1 mostra-se ligeiramente menos cr#tico do que Vucien 5e'vre a respeito da

/1istória 1istorici$ante/ !precia a aquisição da erudição do século XIX Para ele a escola alemã

;5ustel de 3oulanges>, desenvolveu a erudição a sua categoria intelectual /? 1istoriador foi

levado ( 'anca de tra'al1o/

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:anto loc1 como 5e'vre, condenam a falta de am'ição dos 1istoriadores /positivistas/ Estes,

"’muito preocupados, dada sua educaão primeira, pelas di!iculdades, as dvidas, os !req#entes

recomeos da cr$tica documental, tiraram destas constata%es, antes de tudo, uma lião de

humildade desiludida. & disciplina ' qual votavam os seus talentos não lhes pereceu, a!inal de

contas, capaz, nem no presente, de conclus%es bem seguras, nem no !uturo de muitas

 perspectivas de progresso’". ;M!&:IN* =JJJ, L=O>

3om relação aos documentos 1istóricos, loc1 afirma que o /stocC de documentos/, de que a

1istória disp)e não é limitadoA sugere não utili$ar e"clusivamente os documentos escritos e

recorrer a outros materiais* arqueológicos, art#sticos, numismticos, etc loc1 não entende

apenas e"plorar novos documentos, que tam'ém desco'rir novos dom#nios Mais que qualquer 

outro responsvel dos !nnales, orienta-se para a anlise dos fatos económicos Neste campo, é

influenciado, sem o recon1ecer e"plicitamente, pela o'ra de Yarl Mar", que o incita a relacionar 

as estruturas económicas e as classes sociaisA e é inspirado pelas investigaç)es do economista 5

8imiand, do 1istoriador 7 7auser, que o empen1am na apreciação das flutuaç)es económicas na

 'ase das séries de preços

Fernand raudel

Pu'licado pela primeira ve$ em LSFS, a o'ra ? Mediterr4neo na Bpoca de 5elipe II, representou

a inovação metodológica para o estudo 1istórico :al o'ra, caracter#stica do esp#rito dos !nnales,

volta as costas para a tradição da /1istória 1istorici$ante/

5ernand raudel, em certo momento na sua o'ra, ao dar atenção ( /1istória 'atal1a/, fe$ uma

concessão ( escola /positivista/, cu+a posição continua forte na instituição universitriaA todavia,

como digno representante da escola dos !nnales, relega esses acontecimentos para segundo

 plano

9urante mais de vinte anos, de LSF< a LS<Z, em primeiro lugar +unto de Vucien 5e'vre, depoisso$in1o nos comandos, dirige a revista !nnales, preside a <\ seção da Escola Prtica dos !ltos

Estudos, ocupa uma ctedra no 3olégio de 5rança, guia as investigaç)es de inDmeros

1istoriadores de'utantes raudel, de maneira geral, permanece fiel (s orientaç)es de Vucien

5e'vre e de Marc loc1* louva a unidade das ci.ncias 1umanas, tenta edificar uma /1istória

total/ e mantém a ligação entre o passado e o presente /U9epois da fundação dos !nnales[, o

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1istoriador quis-se e fe$-se economista, antropólogo, demógrafo, psicólogo, linguista[ !

7istória é, se pode di$er, um dos of#cios menos estruturados da ci.ncia social, portanto um dos

mais fle"#veis, dos mais a'ertos[ ! 7istória continuou, dentro desta mesma lin1a, a alimentar-

se das outras ci.ncias do 1omem[ 1 um 1istória económica[, uma maravil1osa 1istória

geogrfica[, uma demografia 1istórica[A 1 mesmo uma 1istória social[ Mas se a 1istória

omnipresente p)e em causa o social no seu todo, é sempre a partir deste movimento do tempo[

! 7istória dialéctica da duração[ é o estudo do social, de todo o socialA e portanto do passado e

 portando tam'ém do presente/ ;M!&:IN* =JJJ, LQL>

!pesar de se proi'ir de instaurar um /1istoricismo/ - uma espécie de imperialismo da e"plicação

1istórica -, 5ernand raudel nem por isso dei"a de colocar a sua disciplina em posiçãodominante, na encru$il1ada das ci.ncias 1umanas

$%$O&'AF$A

?R&9B, Gu e M!&:IN, 7ervé !s Escolas 7istóricas Vis'oa* Editora Europa-!mérica,

=JJJ

R&YE, Perter ;org> ! Escrita da 7istória - Novas Prespectivas 8ão Paulo* Editora Rnesp,

LSS=

3?RV!NGE8, 5ustel de /7istoire des institutions politiques de lUancienne 5rance/, in

E7&!&9, 0 ] P!VM!9E, GP VU7istoire, segunda edição, ! 3olin, LS<O

9R&Y7EIM, Bmile /! função da divisão social do tra'al1o H3ap#tulo L* Método para

determinar essa função/ in ?s Pensadores 8ão Paulo* !'ril 3ultural, LSZQ

5E2&E, Vucien 3om'ates pela 7istóriaQ\ edição, Vis'oa* Editorial Presença, LSZS

 NI8E:, &o'ert /3onservadorismo e 8ociologia/ in 0osé de 8ou$a Martins ;org> Introdução

cr#tica ( 8ociologia &ural 8ão Paulo* 7ucitec, LSZ<

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&EI8, 0osé 3arlos :empo, 7istória e Evasão 3ampinas* Papirus Editora, LSSF