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Rio de Janeiro 2017 ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DA ECONOMIA CRIATIVA Luiz Eduardo Bordim O ensino centrado no aluno: a experiência dos Nativos Digitais em sala de aula e a relação com seus professores Imigrantes.

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Rio de Janeiro

2017

ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

GESTÃO DA ECONOMIA CRIATIVA

Luiz Eduardo Bordim

O ensino centrado no aluno: a experiência dos Nativos Digitais em sala de aula e a

relação com seus professores Imigrantes.

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Rio de Janeiro

2017

Luiz Eduardo Bordim

O ensino centrado no aluno: a experiência dos Nativos Digitais em sala de aula e a

relação com seus professores Imigrantes.

Trabalho de Conclusão apresentado ao

Programa de Pós-Graduação stricto sensu em

Gestão da Economia Criativa da Escola

Superior de Propaganda e Marketing - ESPM.

Orientador: Dr. Eduardo Ariel de Souza

Teixeira

Linha de pesquisa: Design de experiência e

estratégias de inovação

Nível: Mestrado

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Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático da Biblioteca ESPM

BORDIM, LUIZ EDUARDO

O ENSINO CENTRADO NO ALUNO: A EXPERIÊNCIA DOS NATIVOS DIGITAIS EM SALA DE AULA E A RELAÇÃO COM SEUS PROFESSORES IMIGRANTES / LUIZ EDUARDO BORDIM. - Rio de Janeiro, 2017.

484 f. : il., color.

Dissertação (mestrado) – Escola Superior de Propaganda e Marketing, Mestrado Profissional em Gestão da Economia Criativa, Rio de Janeiro, 2017.

Orientador: EDUARDO ARIEL DE SOUZA TEIXEIRA

Co-Orientador: FABRO STEIBEL BOAZ

1. EDUCAÇÃO. 2. NATIVOS DIGITAIS. 3. EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO. 4. TECNOLOGIA. I. TEIXEIRA, EDUARDO ARIEL DE SOUZA. II. BOAZ, FABRO STEIBEL. III. Escola Superior de Propaganda e Marketing. IV. Título.

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Dedico esta pesquisa a todos que, de alguma

forma, me auxiliaram durante este processo, aos

que fizeram este sonho ser possível e aos que

tiveram paciência e compreensão durante minha

ausência.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, Elisete, Nivaldo e Ricardo, que sempre me apoiou e

fez de tudo, sem medir esforços, para que eu estivesse aqui e alcançasse meus objetivos.

A minha namorada, Patrícia, que está sempre ao meu lado me apoiando, ajudando

e dando forças para seguir em frente, mesmo nos momentos mais difíceis, e pela paciência

e compreensão durante o tempo dedicado ao mestrado.

Ao meus amigos, pelo estímulo e companheirismo durante esta jornada.

A Huge, por ter me liberado parte do tempo de trabalho para estudar e finalizar

mais essa etapa na minha vida acadêmica. Obrigado por tudo, sentirei saudades.

Ao meu orientador, professor Eduardo Ariel, por, assim como na graduação e na

pós-graduação, ter me guiado, orientado, incentivado e explorado o melhor de mim,

nunca deixando de acreditar no meu potencial.

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RESUMO

Na atual reestruturação do mercado, com novas formas de organização da produção e do

consumo e caracterizado mais pela lógica da inovação do que da reprodução, muitas das

habilidades são redundantes. Como consequência, muitos países estão enfrentando uma

crise de criatividade e uma guerra por talentos -- fatores essenciais para o

desenvolvimento da Economia Criativa. Nesse contexto, a educação, apesar de ser uma

dos principal meios para qualificar as pessoas para a sociedade, está sendo questionada.

Em um contexto de transformação, ela deve ser o motor do desenvolvimento, contribuir

para a qualificação de novos cidadãos e colocar o aluno no centro da atenção. Para isso,

entender as necessidades dos alunos, para que eles possam ser envolvidos de forma

estimulante na sala de aula, é essencial. Ponto central nessa discussão, os Nativos Digitais

são falantes naturais da linguagem digital dos computadores, video-games, celular e da

internet. Nasceram e cresceram rodeados dessas tecnologias e pensam, processam

informações e se comunicam de maneira diferente dos seus predecessores. Porém, apesar

de sua importância, suas características não estão sendo consideradas nos métodos de

ensino atuais, tornando as experiências educacionais atuais ruins. O tema desta pesquisa

é a aplicação de conceitos de user experience em metodologias de ensino por escolas do

ensino médio da cidade do Rio de Janeiro, visando o estimulo à criatividade, a inovação,

ao pensar e ao fazer dos Nativos Digitais.

Palavras-chave: educação, Nativo Digital, experiência do usuário, tecnologia.

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ABSTRACT

In the current market restructuring, featured by new forms of organizing production and

consumption, and by the logic of innovation, a lot of needed skills are redundant. As a

consequence, many countries are facing a crisis of creativity, and a war for talents -- key

factors for the development of the Creative Economy. In this context, education, despite

being one of the primary ways to qualify people for society, it's being challenged. In a

transformation context, education should be the engine for development, contribute to

new citizens' qualification and put the student at the center of the attention. For this,

understanding the students' needs, so they can be involved in a stimulating way in the

classroom, is essential. Central point in this, Digital Natives are natural speakers of

computers, cell phones and the internet's digital language. Born and grew up surrounded

by these technologies, they think and communicate in a different way than its

predecessors. However, despite their importance, their characteristics are not being

considered for nowadays teaching methods, making the current educational experiences

bad. The theme of this research is the application of user experience concepts in teaching

methodologies by high schools in Rio de Janeiro city, aiming to stimulate Digital

Natives’s creativity, innovation, thinking and doing.

Keywords: education, Digital Native, user experience, technology.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Linha do Tempo do modelo educacional vigente 18

Figura 02 - Dever de casa como desestimulador da criatividade 24

Figura 03 - Escola dos “Tempos Modernos” 25

Figura 04 - Valor da escola tradicional 26

Figura 05 - Detrimento das artes, das ciências humanas e da educação física 29

Figura 06 - Gênios que creem ser idiotas 30

Figura 07 - Relação de habilidades por organização 38

Figura 08 - Habilidades do Século XXI 39

Figura 09 - Aprendizado adequado por etapa de ensino 49

Figura 10 - Percentual de docentes do Ensino Médio por formação em licenciatura 54

Figura 11 - Docentes do Ensino Médio por formação e por disciplina em que atuam 54

Figura 12 - Relação da eficácia de ações e seu custo 55

Figura 13 - Jovens que já pensaram em se tornar professor 58

Figura 14 - Atributos menos satisfatórios para quem cursa o Ensino Médio 60

Figura 15 - Percentual de estudantes do Ensino Médio Regular ou EJA que

desconhecem as modalidades do Ensino Técnico 61

Figura 16 - Atributos mais importantes de um professor de Ensino Médio para quem

cursa o Ensino Médio 62

Figura 17 - Smart Writing Set da Moleskine 89

Figura 18 - Jamboard, uma reinterpretação do Google par ao flip-chart 90

Figura 19 - Peer, um experimento conceitual sobre realidade mista 92

Figura 20 - Exemplos de desafios do Khan Academy 95

Figura 21 - Home do site Coursera 98

Figura 22 - Duolingo para Escolas 99

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Figura 23 - Minecraft - Education Edition 107

Figura 24 - Jogo Pokémon Go 108

Figura 25 - Civilization IV 109

Figura 26 - Jogo Educash da startup Educar 3.0 110

Figura 27 - Project:EVO 111

Figura 28 - Os quatro reinos de uma experiência 118

Figura 29 - Quatro processos para realizar empatia 121

Figura 30 - Relação da eficácia de ações e seu custo 131

Figura 31 - Trabalho de uma aluna de Bustamante 137

Figura 32 - Cenário de um “crime” na aula 138

Figura 33 - Recado da professora para o aluno no dia da prova 139

Figura 34 - Laboratório de maker space 142

Figura 35 - Projeto da Escola Internacional de São Paulo 143

Figura 36 - Mapeamento dos entrevistados nas variações comportamentais 153

Figura 37 - Exemplo de uma Persona 155

Figura 38 - Três tipos de objetivos de uma Persona 156

Figura 39 - Experience Mapping: As quatro etapas para dar sentido as jornadas entre

canais dos consumidores 159

Figura 40 - A construção de blocos do mapeamento da experiência 160

Figura 41 - Exemplo de construção do rumo 162

Figura 42 - Exemplo de narrativas 163

Figura 43 - Exemplo de um Experience Map finalizado 164

Figura 44 - As três partes do design direcionado a objetivos são mais efetivas quando

usados juntos 167

Figura 45 - Fluxo de um bom Cenário 168

Figura 46 - Persona - Aluno 226

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Figura 47 - Persona - Professor 227

Figura 48 - Experience Map - Aluno 229

Figura 49 - Experience Map - Professor 230

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SUMÁRIO

1. Introdução 12

2. Educação 17

2.1. Contexto histórico e a situação atual 17

2.2. Habilidades de um novo século 32

2.3. Educação no Brasil 45

2.3.1 A presente situação do ensino médio brasileiro 46

2.3.2 Reflexão sobre o novo ensino médio 63

2.3.3 Confrontando o ensino médio ao redor do mundo 67

3. Os Nativos e Imigrantes Digitais e a Tecnologia 72

3.1. As características dos Nativos e dos Imigrantes Digitais 72

3.2. A evolução das tecnologias e sua relação com a educação 78

3.3. O uso das tecnologias digitais na educação 83

3.3.1 Ferramentas e Dispositivos Digitais 88

3.3.2 Plataformas digitais 93

3.3.3 Ferramentas de comunicação 101

3.3.4 Jogos e simulações 104

3.3.4 Considerações finais sobre os Nativos e

Imigrantes Digitais e a tecnologia 113

4. Experiência do usuário 117

4.1. Conceitos e abordagens 117

4.2. O ensino centrado no aluno 123

5. Métodos e Técnicas 144

5.1. Entrevista em Profundidade 145

5.2. Personas 151

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5.3. Experience Map 157

5.4. Cenários 165

6. Análise dos Resultados 169

6.1. Entrevista em profundidade - Alunos 170

6.2. Entrevista em profundidade - Professores 201

7. Produtos 225

7.1. Personas 225

7.2. Experience Maps 228

7.3. Cenários 231

7.3.1 Julia em uma aula de História 231

7.3.2 Julia estudando para uma prova 232

7.3.3 Julia e o trabalho de Biologia 233

7.3.4 Um dia de aula com Antonio 234

7.3.5 Antonio avalia seus alunos 235

8. Conclusão 236

9. Referências 239

10. Anexos 257

10.1. Tópico-guia das entrevistas em profundidade - Alunos 257

10.2. Tópico-guia das entrevistas em profundidade - Professores 261

10.3. Termo de compromisso - Menores de 18 anos 265

10.4. Termo de compromisso - Maiores de 18 anos 266

10.5. Transcrição das entrevistas - Alunos 267

10.6. Transcrição das entrevistas - Professores 382

10.7. Experience Map - Aluno 483

10.8. Experience Map - Professor 484

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1. Introdução

Esta pesquisa tem como tema a aplicação de conceitos de user experience em

metodologias de ensino por escolas do ensino médio da cidade do Rio de Janeiro, visando

o estimulo à criatividade, a inovação, ao pensar e ao fazer dos Nativos Digitais.

O tema escolhido se justifica pelo fato de parecer que a educação precisa passar

por uma reestruturação, promovendo o desenvolvimento da criatividade em todas as áreas

do conhecimento e desenvolvendo metodologias que incentivem o potencial criativo do

aluno, dentre outras habilidades consideradas importantes para o século XXI, como

liderança, cooperação e comunicação. Para que isso ocorra, esse público precisa ser

colocado no centro das discussões educacionais com o objetivo de haver um entendimento

claro de suas características, já que elas vem sofrendo mudanças ao longo dos últimos

anos. Os alunos atuais nasceram em um mundo digital, diferente de seus predecessores,

e vivem em uma época que a experiência é fundamental para o sucesso de qualquer

produto ou serviço e precisa ser considerado no novo formato pretendido para o ensino.

Nesse momento, vale ressaltar a importância de um movimento do mercado para

a utilização de metodologias de design com o objetivo de gerenciar processos inovadores.

Pelo o que foi citado e, principalmente, pelos principais agentes envolvidos para que esse

cenário de transformação seja bem sucedido, os conceitos de user experience design estão

alinhados com essa proposta e podem ser utilizados para esse fim. Além de garantir a

melhor solução para seus usuários, ela define a questão que precisa ser resolvida, para

quem ela precisa ser resolvida e o caminho que deve ser percorrido para resolvê-la. Por

isso, utilizando seus conceitos, há a possibilidade de definir quais são os melhores

métodos a serem utilizados para repensar a educação e os problemas listados

anteriormente, já que serão entendidas as necessidades e desejos dos usuários e dos outros

agentes atuantes no processo.

Outro fator que influenciou o tema da pesquisa foi uma experiência profissional

vivida pelo autor. No Colégio NAVE, no Rio de Janeiro, uma das atividades que ocorre

durante as aulas do ensino médio é a criação e o desenvolvimento de jogos e produtos

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digitais pelos próprios alunos. Os mais promissores são selecionados por profissionais do

mercado em um evento realizado no colégio e recebem mentoria ao longo do próximo

ano letivo. O autor teve participação como mentor deste projeto em 2016 e a vivência foi

muito enriquecedora. O engajamento e o interesse dos alunos foi extremamente

motivador e instigou o pensamento de como experiências que levam em conta o interesse

do aluno e o colocam no centro do processo podem influenciar na aprendizagem, além de

preparar para o mercado de trabalho.

Um ponto também considerado na definição do nível escolar estudado, o ensino

médio, foi o fato deste ser, muitas vezes, completamente voltado para a realização da

prova do ENEM e dos vestibulares, prevalecendo muito mais a memorização do que o

aprendizado. Era interesse do autor entender como este regime funciona, o que estudantes

e professores acham disso e como os colégios se comportam neste cenário. Além disso,

os alunos estão na adolescência, uma fase de transformação, o que dificulta a relação com

professores, que são de outra geração, e por já terem uma vivência maior com tecnologias

digitais e, possivelmente, uma opinião formada sobre o assunto.

Diante desse cenário, o problema que move esta pesquisa é que a maioria dos

professores atuais são de uma era pré-digital e estão lutando para ensinar uma população,

os Nativos Digitais, que fala uma língua nova (a digital) e possuem características e

habilidades diferentes das suas. Como reflexo, a experiência vivida em sala de aula tem

sido traumática e pouco engajadora para os alunos. Dessa forma, foi pesquisado como a

experiência dos Nativos Digitais durante o processo de aprendizado no ensino médio pode

ajudar no estimulo à criatividade, a inovação, ao pensar e ao fazer de seus estudantes.

Colocam-se como hipóteses:

1. A experiência do aluno pode ser um fator de grande influência no processo

de aprendizagem escolar.

2. A tecnologia deve ser utilizada como suporte para atrair os Nativos Digitais,

já que esse público nasceu e cresceu em um mundo digital.

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Esta é uma pesquisa descritiva de caráter qualitativo, composta por duas partes. A

primeira, descritiva, apresenta um levantamento bibliográfico que aborda o panorama

atual da educação, as características dos Nativos Digitais, a relação da tecnologia com

esse público e com o ensino e conceitos de user experience e sua aplicação em sala de

aula. É importante frisar que, ao longo do texto, há citações de diversos exemplos, nem

sempre específicos do ensino médio, tema central desta pesquisa. Isso ocorre porque o

autor acredita que a alusão é válida, considerando que foram selecionados conceitos que

podem ser aplicados a qualquer nível escolar e que boas práticas e referências devem ser

buscadas em diferentes lugares e não somente em similares. Na segunda parte, a empírica,

são apresentados diversos métodos e técnicas que serão utilizados para recolher dados

relevantes de fontes diretas que conhecem, vivenciaram ou tem conhecimento sobre o

tema da pesquisa e que servirão na construção dos produtos finais.

O objetivo geral é identificar como a aplicação do user experience em

metodologias de ensino por escolas do ensino médio da cidade do Rio de Janeiro pode

ajudar no estimulo à criatividade, a inovação, ao pensar e ao fazer dos estudantes,

ponderando sua capacitação para a nova demanda do mercado, através da análise dos

Nativos Digitais, seus hábitos, desejos e comportamentos, do ambiente atual das

instituições de ensino e seus profissionais e do uso da tecnologia nesse processo e

utilizando a abordagem do design centrado no usuário.

Como materialidades, esta pesquisa vislumbra três produtos finais. O primeiro, a

definição de duas Personas Primárias, uma construída a partir de dados obtidas na

pesquisa com alunos e a segunda, com base naquela elaborada com professores. O

segundo, o desenvolvimento de dois Experience Maps, um para cada Persona. Por último,

a criação de Cenários contextuais baseados nos pontos de atenção encontrados nos

Experience Maps, garantindo uma visão futura de melhora e de inovação. Todos os

produtos tem como objetivo fornecer dados relevantes do público pesquisado, além de

poderem ser utilizado como ferramentas de entendimento e transformação para qualquer

colégio que queira se apropriar deste projeto de alguma forma.

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Para o desenvolvimento da pesquisa foi necessário realizar um levantamento,

como dito anteriormente, que embasasse conceitualmente o trabalho. Inicialmente, a

seção 2, “Educação”, estabelece um panorama histórico sobre a educação e seu legado,

construindo uma relação entre o modelo vigente e o futuro pretendido, abordando as

habilidades demandadas pela nova economia crescente, a que busca criatividade,

inovação e resolução de problemas. Após esse detalhamento macro, há a contextualização

para o cenário educacional brasileiro, com foco no ensino médio, citando as leis e

resoluções correspondentes, detalhando números, fatos relevantes e a proposta aprovada

para a reforma do ensino médio.

A seção 3, “Os Nativos e Imigrantes Digitais e a Tecnologia”, aborda o conceito

de Nativos Digitais, seus hábitos, necessidades e desejos e a transformação que esse novo

público demanda da educação, principalmente pela sua relação com a tecnologia e pela

diferença de perfil que possuem com seus professores, os Imigrantes Digitais. Também

aborda como esta pode ser aplicada de forma mais eficaz, trazendo exemplos e casos de

sucesso e retratando sua evolução ao longo do tempo.

A seção 4, “Experiência do usuário”, apresenta como este conceito pode ser

aplicado em salas de aula, colocando o aluno no centro da educação. Explana quais são

as necessidades para criar uma experiência de aprendizagem e exemplos de como esse

processo está sendo empregado e considerado por alguns colégios e educadores.

A seção 5, “Métodos e Técnicas”, desenvolve os métodos e os processos utilizados

nesta pesquisa descritiva, que são: entrevista em profundidade, Persona, Experience Map

e Cenário. Apesar de possuírem objetivos diferentes, são complementares e criam um

quadro claro dos principais agentes envolvidos no meio acadêmico, os estudantes e os

professores, suas características, hábitos, objetivos e relações.

A seção 6, “Análise dos Resultados”, expõe a análise dos resultados das

entrevistas em profundidade realizadas com o público desta pesquisa, professores e

alunos do ensino médio de escola particulares do Rio de Janeiro.

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A seção 7, “Produtos”, apresenta os produtos finais resultantes desta pesquisa: as

Personas, os Experience Maps e os Cenários.

Por fim, a seção 8, “Conclusão”, trata das principais conclusões obtidas nesta

pesquisa, dos desdobramentos pretendidos pelo autor e dos próximos passos.

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2. Educação

2.1 Contexto histórico e a situação atual

O mercado passa por uma reestruturação, com novas formas de organização da

produção e do consumo e vem sendo caracterizado mais pela lógica da inovação do que

da reprodução. A educação, principal meio para qualificar e preparar o capital humano, é

um ponto central nessa discussão, já que pode reverter a ingrata situação moral, social e

econômica que muitas sociedades vivem, contribuindo para sustentar o

desenvolvimento econômico, gerar riqueza e oferecer oportunidade de melhor renda e

qualidade de vida. Infelizmente, ela não é universal e acessível a todos e vem sendo

questionada em seu papel atual, já que o ensino convencional é remanescente de uma

outra época e precisa ser urgentemente repensado, principalmente pela demanda crescente

por profissionais criativos e inovadores, habilidades que são deixadas de lado, em sua

maioria, no processo educacional.

O modelo educacional conhecido começou em 1863, na Hungria, durante a

Revolução Industrial e com o cenário econômico da época sendo o responsável pelo

sistema vigente até hoje. Com as indústrias demandando grande número de empregados,

onde o trabalho era 80% manual e 20% administrativo ou especializado, o ensino deveria

ser útil e pragmático e foi destinado a preparar os estudantes para serem trabalhadores

industriais competentes e produtivos. Como consequência, as salas de aulas foram

transformadas em ambientes correspondentes à de fábricas, os alunos “eram” as

máquinas, obedecendo comandos, aprendendo por repetição e atuando com eficiência e

os professores agindo semelhante aos contramestres, atribuindo tarefas padronizadas que

pediam respostas predefinidas em determinado intervalo de tempo (PERESTROIKA,

2015; RIFKIN, 2015). Apesar de ser um outro momento da história, com um outro

contexto e com outros propósitos, parece que o modelo permaneceu praticamente intacto

e sem grandes mudanças.

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Fig. 01 - Linha do Tempo do modelo educacional vigente (PERESTROIKA, 2015)

Como consequência, a educação passa por uma crise. Parte disso surge, conforme

citam Oliveira (2010) e Robinson (2005), de um desequilíbrio no currículo acadêmico,

do constante “despejo de conteúdo”, da ênfase em determinadas disciplinas em

detrimento de outras, da adoção de procedimentos não estimulantes para a autonomia de

pensar e de agir dos alunos, do não estimulo a experiências que promovem o

desenvolvimento da criatividade em todas as áreas do saber e de metodologias de ensino

que não incentivam o potencial criativo do aluno. Becker (2015) critica as relações

hierárquicas acadêmicas e as compara com as de senhor- escravo ou patrão-operário.

Afirma que professores e administradores acreditam no estímulo ao aluno a partir de

premiações, mas que elas só servem para ensinar a prática de tirar boas notas em vez de

haver um interesse pelos temas que estão sendo estudados. Como consequência, os

estudantes tentam descobrir o que precisam fazer para tirar boas notas, aprendem e só o

fazem. Rifkin (2015) corrobora o pensamento citado até aqui exemplificando que

questionar a autoridade de um professor é visto como proibido e compartilhar

informações e ideias entre alunos é rotulado de colar. Ritchhart (2015) acrescenta que não

há lugar para diálogo e conversa e que há um incentivo para o aluno ser rápido, pois isso,

teoricamente, o faz mais inteligente, assim como fazer o trabalho só uma vez, da melhor

forma possível, sem revisar ou reescrever, como cita Becker (2015). Todos esses pontos

influenciam na experiência dos alunos e moldam como vêem o aprendizado, ou seja, de

uma forma distorcida. Resumindo, a educação atual é um sistema que replica matrizes

lineares, burocráticas, padronizadas, repetitivas e

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segmentadas, não considerando os diferentes tipos de pessoas e personalidades que

existem e criando uma cultura de testes e não uma de aprendizagem (PERESTROIKA,

2015; RITCHHART, 2015).

Outra questão relevante é que o ensino tradicional tende a enfatizar habilidades

matemáticas e verbais. Eles são extremamente importantes, mas não são as únicas

inteligências que devem ser desenvolvidas nos jovens. Por exemplo, a teoria de Howard

Gardner afirma que o ser humano possui sete formas de inteligência: linguística, lógico-

matemática, espacial, físico-cinestésica, musicais, interpessoais e intra-pessoais. Apesar

de não ser a única lista nesse sentido, o ponto em destaque é que a inteligência é

multifacetada, implicando que a tendência em pensar que um jovem é apto ou menos apto

não é correta, já que parece justo pensar que possuem perfis de habilidades entre uma

gama de inteligências e que se a performance em testes acadêmicos convencionais for

baixa, pode significar que essa pessoa tenha fortes habilidades em outras áreas. Esses

pontos se tornam relevantes a partir do momento que acreditasse que encontrar a real

força de um jovem pode mudar drasticamente sua motivação em relação a educação,

aumentando sua auto-estima, sua confiança e a realização como um todo (NACCCE,

1999).

Os pontos citados anteriormente resultam em alguns outros temas que são

recorrentes quando se discute educação: as escolas são chatas, o processo incentiva a

memorização e a repetição de fatos, não exigindo o exercício de pensar do aluno, além de

estimular fortemente a competição. Em relação ao primeiro, Prensky (2001c) argumenta

que ela não precisa ser assim, como muitos acreditam. Defende que se é chato, a culpa é

inteiramente dos educadores e não há como culpar outra pessoa, principalmente os alunos,

pois seria como um médico culpando um paciente por ficar doente. Apesar de concordar

com o fato de os estudantes fazerem ações que contribuem com a situação, como jogar

video-games, reitera que elas só estão vivendo no mundo que nasceram e tendo atitudes

coerentes com o seu tempo. Para ele, a questão principal é que os educadores não tem

conseguido o interesse de seus alunos, mesmo sob coação, e precisam mudar seus

hábitos, preferências e necessidades para interagir com seus

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aprendizes, já que cresceram em uma época diferente. Henklain & Carmo (2013)

concordam e argumentam que a “motivação não é intrínseca ao aluno; depende de

variáveis ambientais, como o tipo da tarefa que o professor requisita, as consequências

que o aluno produz com a realização da tarefa, a clareza da tarefa ou das instruções para

a sua realização, etc”.

Esse ponto é extremamente importante por conta dos professores serem os

responsáveis pelo sucesso das escolas e o magistério ser uma profissão criativa e não um

sistema de entrega. Eles não estão lá só para passar adiante a informação recebida, mas

também para orientar, estimular, provocar e engajar (ROBINSON, 2013). Devem ser

incentivados, de acordo com Lévy (1999, p. 158), “a tornar-se um animador da

inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de

conhecimentos.” A educação é sobre aprendizado e se isso não acontece, não há educação

(ROBINSON, 2013).

Aprendizagem diz respeito à aquisição ou o processo pelo qual se adquire certo comportamento; trata-se de uma mudança relativamente permanente naquilo que a pessoa é capaz de fazer ou como é capaz de fazer (CATANIA, 1999). Assim, quando o aluno enfrenta uma situação-problema que não é capaz de resolver e o procedimento de ensino do professor faz com que ele passe a ser capaz de solucioná-la, isso é o que evidencia a ocorrência de aprendizagem. Se o aluno persiste não conseguindo solucionar um problema é porque o ensino não ocorreu, já que ensinar envolve a ação do professor e a aprendizagem do aluno. Dessa definição deduz-se que ensinar e

aprender são dois processos interdependentes (HENKLAIN & CARMO, 2013, p.713)

Por esses motivos, apesar de concordar com Little & Ellison (2015) quando

expõem que as crianças e jovens são mais influenciados por seus pares do que por adultos,

Ritchhart (2015) advoga que as ações dos professores e pais, como as paixões, os

interesses, o carinho e a autenticidade como pensadores, aprendizes, membro das

comunidade e líderes, refletem diretamente nos alunos, modelando o mundo que eles vão

optar por entrar ou rejeitar. Logo, suporta a necessidade de cercar crianças e jovens com

o tipo de vida intelectual, atividade mental e processos de aprendizagem que queremos

que eles se acostumem. Além disso, a escola não pode ter foco apenas no acadêmico, já

que os jovens passam seus anos mais formativos e emotivos nela. Elas precisam mirar

também no social, no espiritual e no emocional. Todos os alunos

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precisam de uma educação que os ajude a encontrar significado e a ter sentido de si

mesmos e de suas vidas (NACCCE, 1999).

Uma completa e vasta pesquisa feita em educação reforça a importância do papel

do professor na vida do aluno. Realizada pelo professor neozelandês John Hattie, diretor

do Instituto de Pesquisas em Educação da Universidade de Melbourne, na Austrália,

através de uma meta-análise, foram cruzadas informações coletadas ao longe de mais de

20 anos de 65 mil grandes estudos realizados nos centros de pesquisa mais conceituados

do mundo. A conclusão foi que ter um bom professor é o mais importante para o

desenvolvimento de uma criança e de sua futura vida profissional, sendo também o fator

de maior influência no aprendizado, em qualquer lugar do mundo, independentemente do

método de ensino ou da idade (OSHIMA, 2016).

A cada ano de aula com um bom professor, as crianças aprendem o equivalente a um ano e meio a mais de estudo na comparação com alunos que têm professores apenas medianos. Os estudantes de um professor ruim, por sua vez, aprendem metade ou menos do que deveriam em um ano. O impacto dos bons professores ecoa por toda a vida adulta dos estudantes. Eles têm mais chances de cursar uma faculdade, de ter um bom emprego, de levar uma vida mais saudável e de contar com rendimentos maiores ao longo da vida (OSHIMA, 2016).

Para que isso ocorra de forma mais efetiva, segundo o francês Edgar Morin, em

palestra realizada no encontro internacional Educação 360, em 2014, é preciso estimular

a solidariedade e a integração do conhecimento, facilitando o entendimento do novo e a

divulgação de experiências, muito diferente do cenário atual, onde professores estão se

retraindo em suas próprias disciplinas, sem dialogar com docentes de outras áreas,

causando um individualismo exacerbado (VIEIRA, 2014). Dixon (2000 apud

TEIXEIRA, 2014) concorda e adiciona que se as pessoas começam a compartilhar ideias

e conseguem perceber a importância desse processo, o próprio compartilhamento cria a

cultura da aprendizagem.

Outro exemplo negativo do dia-a-dia escolar é a relação entre o tempo e o

pensamento. Um estudo realizado por Mary Budd Rowe, que começou no final dos anos

1960 e foi publicado em 1986, identificou o tempo de espera dos professores quando

realizavam perguntas para seus alunos, que, normalmente, era de menos de um segundo

antes de chamar outro para responder. Para se ter uma noção, o tempo era tão curto que

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foi difícil computar, tornando cronômetros inúteis e havendo a necessidade de alimentar

um computador com as fitas de áudio para detectar e medir as pausas (RITCHHART,

2015). Como é possível inferir, esse curto espaço de tempo não permite que os alunos

pensem e elaborem uma resposta adequada ou forneçam uma explicação com base em

um raciocínio lógico. Voelcker (2012, p. 39) assume que o aluno precisa ter coragem para

se mostrar e tornar público sua produção e ele não pode ser avaliado de imediato, é preciso

valorizar “o seu processo, a sua habilidade de aprimorar a partir da primeira formalização,

a partir de reflexões e contribuições dos outros, a partir de suas próprias reflexões

espontâneas ou em momento posterior a formalização inicial.”

Para contornar esse cenário, Ritchhart (2015) argumenta que os educadores

precisam estimular uma cultura de pensamento, uma a qual produz sentimentos, energias

e até diversão que impulsionam a aprendizagem para a frente e motivam o pensamento

duro e desafiador. Para ele, o contexto influencia nesse cenário, mas há, em linhas gerais,

tipos de pensamentos que devem ser encorajadas nos alunos para que desenvolvam

compreensão própria dos assuntos. Como exemplo, ilustra:

- Questionamentos sobre mistérios e implicações dos objetos e idéias do estudo;

- Fazer conexões, comparações e contrastes entre e dentre os temas;

- Construir explicações, interpretações e teorias contínuas com base no conhecimento e

na compreensão;

- Inspecionar diferentes perspectivas e pontos de vistas para desenvolver argumentos

mais equilibrados e embasados;

- Observar e perceber os detalhes e aspectos ocultos para elaborar teorias e

interpretações fundamentadas, e;

- Ser capaz de capturar a essência da discussão para discernir o todo.

Já considerando a competição, segundo Ritchhart (2015), ela é problemática uma

vez que a aprendizagem deveria ser um empreendimento colaborativo e não competitivo.

Rankings, resultados de provas e vestibulares são usados como medidas de

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realização e critérios para admissão e evolução escolar e em universidades. O

documentário Race to Nowhere, escrito por Maimone Attia e dirigido por Vicki Abeles e

Jessica Congdon, por exemplo, aborda os efeitos desta competição sobre os alunos em

termos de estresse, desapego, alienação, fraude, perda de criatividade e problemas de

saúde mental para os que aceitam esse jogo e de elevadas taxas de abandono para os que

decidem não enfrentar (RITCHHART, 2015).

O dever de casa, uma das ferramentas mais tradicionais do modelo educacional

vigente, é outro motivo de discussão, sendo defendido por uns e atacado por outros. Por

conta disso, Harris Cooper, da Universidade Duke, realizou uma pesquisa compilando

120 estudos em 1989 e 60 em 2006 para analisar a sua influência sobre o aprendizado. O

resultado é claro, havendo evidências de benefícios, mas sendo dependente da idade e do

grau escolar. Para alunos do ensino elementar (correspondente ao Infantil no Brasil), a

pesquisa sugere que estudar em sala de aula obtém resultados superiores de

aprendizagem, enquanto o dever de casa é somente um trabalho extra sem proveito. Para

o ensino correspondente ao Fundamental, a relação com o sucesso acadêmico é mínima.

Já para o ensino médio, há benefícios, mas apenas se houver moderação, não podendo

passar de duas horas por noite (SHUMAKER, 2016).

A questão preocupante desse debate envolve a necessidade de impacto positivo

do ensino desde cedo, o que não ocorre nos mais jovens que estão começando o seus

estudos e que influencia em toda sua trajetória e aprendizagem acadêmica. O trabalho de

casa, muitas vezes, faz com que se voltem contra a escola, além de causar danos às

relações familiares, já que os pais lutam e persuadem seus filhos para fazer o dever e eles,

cansados, protestam e choram. Em vez de conectar e apoiar uns aos outros, muitos se

encontram no ciclo “você já fez seu dever de casa?”. Frequentemente, esse processo

persiste durante os anos até o fim do ensino médio e prejudica um dos supostos propósitos

do dever de casa, a responsabilidade (SHUMAKER, 2016). Por esses motivos, Shumaker

(2016) defende que, para o Infantil, qualquer projeto que venha para casa deve ser

opcional e ocasional e, se não estimular o amor pela escola e o interesse

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pela aprendizagem, não deve ter lugar no dia a dia acadêmico, já que existem melhores

usos do tempo.

Fig. 02- Dever de casa como desestimulador da criatividade (CAMARGO, 2015)

Um outro tópico que será abordado com mais detalhes no seção 3, mas que merece

ser citado aqui, já que possui grande relevância para a pesquisa e é diretamente

relacionado aos alunos, é a pouca utilização de tecnologias em práticas educacionais.

Klopfer et al. (2009) relatam que muitas delas surgiram ao longo da história, havendo

uma aclamação constante para sua incorporação em salas de aula, o que não aconteceu de

fato. Seja a máquina de escrever, a televisão, a calculadora, o computador ou o celular,

todos foram relegados a um papel obscuro pelas instituições de ensino e seus

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profissionais, tornando esse fato um problema cada vez maior por conta de seu grande

poder emergente e do número crescente de Nativos Digitais nas escolas. Desse modo,

Klopfer et al. (2009) entende o desafio de mudar as abordagens educacionais,

principalmente quando se envolve tecnologia, mas confia na sua necessidade e potencial.

Por todo o contexto exposto até então, Ritchhart (2015) questiona se o tradicional

valor da escola, que é medido em termos de resultados, geralmente provas e projetos, e

de ensaios projetados por professores que estão alinhados com um currículo pré-

estabelecido e pouco flexível é o que realmente se quer para o futuro da sociedade. Esse

questionamento é fundamental, pois é ele que define o que é prioridade no período

acadêmico do aluno, moldando as expectativas sobre o que as escolas podem contribuir

para a vida de cada um e para a sociedade no geral.

Fig. 03 - Escola dos “Tempos Modernos” (GAZOLA, 2016)

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Fig. 04 - Valor do escola tradicional (ULBRICH, 2016)

Como possível resposta, é preciso esclarecer que a educação precisa ser o

propulsor do desenvolvimento, assumindo a responsabilidade e contribuindo para a

formação de novos cidadãos da contemporaneidade, valendo-se da criatividade para

dinamizar as aulas e incentivar soluções (OLIVEIRA, 2010). Prensky (2001c) acredita

que o conteúdo a ser aprendido não pode ser apenas falado para os alunos, ele precisa ser

assimilado através de perguntas, descobertas, construção, interação e até divertimento.

Robinson (2005) concorda e aponta que o ensino tradicional necessita ser alterado para

passar a ser um ensino criativo, despertando e nutrindo o potencial inerente a todas as

pessoas e não só em artistas e cientistas, como é pensado de forma clichê por grande parte

da população. Promover criatividade entre todos de todas as ocupações, classes

econômicas e origens étnicas é essencial para o bem comum, já que ela é vital para a

economia em geral e fundamental para economia global baseada em tecnologia (ARAYA,

2010). É preciso ter liberdade de aprender, criar, tomar riscos, falhar, fazer perguntas,

esforçar-se, crescer e o cenário ideal para que isso ocorra são em ambientes criativos.

Demo (2002, p. 359) reforça afirmando que “a aprendizagem

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correta é a reconstrutiva política, que põe a/o aluna/aluno no centro das atenções, fazendo-

o pesquisar e elaborar, não apenas escutar aulas, tomar nota e fazer prova”.

Complementando, o então secretário de Educação de Santa Catarina, Eduardo

Deschamps, afirmou que os professores precisam enxergar quem é o aluno de hoje para

que as expectativas de ensino possam ser ajustadas. Defende que os educadores façam

perguntas de uma maneira diferente, para estimular pensamentos novos e respostas

inovadoras e que coloquem o aluno como personagem principal no processo de ensino e

aprendizagem (KALENA, 2014). Quando o educador escuta seus alunos, ele passa uma

mensagem que seus pensamentos e ideias valem e são importantes, que fazem parte de

uma conversa e que podem realmente confiar que são ouvidos (RITCHHART, 2015).

Oliveira (2010, p. 8) estabelece que:

O ensino tradicional necessita ser alterado para passar a ser um ensino criativo, que os professores usem estratégias que possibilitem desenvolver o potencial criativo em suas aulas, levando os alunos a saberem lidar com desafios e com acontecimentos imprevistos do mundo atual. Mas não só o professor tem de incentivar a criatividade, é necessário que todo o contexto escolar adote atitudes criativas e a incentive (OLIVEIRA, 2010, p.8).

Entender os alunos através de seus hábitos, de seus costumes, de seus interesses, é

fundamental para que possam ser envolvidos de forma correta, criativa e estimulante

dentro das salas de aula, que tenham maior interesse durante o longo caminho educacional

e que estejam prontos para o novo cenário da economia mundial. Por conta disso, Araya

(2010) defende que os alunos devem se tornar agentes de suas próprias trajetórias de

aprendizado e as escolas e universidades devem suportar esse caminho com novos modos

de conhecimento e de aprendizagem que facilite a criatividade no contexto da inteligência

coletiva. Lévy (1999, p.158) acredita “em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao

mesmo tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede”, já

que os indivíduos atuais condescendem cada vez menos com cursos que não

correspondam a suas necessidades reais, à especificidade de seu trajeto de vida e que

seguem caminhos uniformes ou rígidos. Assim como esperam que as tecnologias se

adaptem as suas necessidades e não os obriguem a mudar, a expectativa em relação a

educação é a mesma (ROBERTS, 2005).

Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de uma representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em “níveis”,

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organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devemos preferir a imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, os quais cada um ocupa uma posição singular e evolutiva (LÉVY, 1999, p.158)

Grande crítico do atual sistema educacional, Robinson (2005) defende uma

mudança radical para integrar a nova economia criativa crescente baseada em três

princípios: equilíbrio do currículo, equilíbrio no ensino de disciplinas e equilíbrio entre

educação e o mundo em geral.

Existem dois motivos para que haja um currículo escolar, segundo Robinson

(2005). O primeiro deles, é epistemológico, ou seja, trabalha com a organização do

conhecimento, sugerindo que há distinção entre os domínios do conhecimento, do

entendimento e das habilidades, provendo uma estrutura para ensinar e aprender. O

problema disso é que disciplinas são agrupadas de forma incorreta, só para se manter o

padrão de “dez matérias existentes no mundo” e que tudo faz parte de uma delas. Um

exemplo é a dança, que é colocada dentro de educação física, em algumas escolas, por

conveniência. O segundo motivo é gerencial, já que as instituições precisam se organizar,

saber quantos funcionários contratar, qual a grade horária, quanto tempo de aula é

necessária e assim por diante. Robinson (2005) crítica esses pontos e afirma que na

maioria das escolas há um desequilíbrio no currículo acadêmico causado pelo destaque a

ciência, tecnologia, matemática e idioma, em detrimento das artes, das ciências humanas

e da educação física. Argumenta que as artes não são vistas com força suficiente para ser

considerada uma matéria relevante. A explicação para isso é que o sistema se baseia na

idéia da habilidade acadêmica, já que foi concebido para atender a demanda da

industrialização. Por isso, a hierarquia está apoiada em duas idéias: as disciplinas mais

úteis para o trabalho estão no topo e a aptidão acadêmica relacionada ao processo de

ingresso à universidade (ROBINSON, 2006). Robinson (2005) defende que é necessário

uma adequação e um balanço entre essas disciplinas, já que cada uma reflete um modo de

inteligência diferente, auxilia no desenvolvimento criativo e reflete a maioria das áreas

de conhecimento e experiência cultural necessária para os jovens.

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Fig. 05 - Detrimento das artes, das ciências humanas e da educação física (CAMARGO, 2015)

Robinson (2005) também acredita na integração entre o ensino do conhecimento

e de habilidades junto com oportunidades de especular e experimentar, unificando assim,

elementos dos chamados ensino tradicional e progressivo. O primeiro é focado na

transmissão de conteúdo para toda classe e na memorização. O segundo, na exploração

dos próprios interesses e opiniões do aluno, tanto individualmente, quanto em grupo.

Cada um com sua devida importância, devem atuar em conjunto para benefício do

estudante, estimulando a criatividade e todas as formas de inteligência de um ser humano,

entendendo que ela não é um processo linear de raciocínio. Aprendendo com o passado,

mas não sendo ditado por ele, as políticas educacionais do futuro podem reavaliar a

relação entre as áreas existentes, repensar uma nova estrutura de aprendizado, estimular

diferentes modos de inteligência e a relação entre as disciplinas, com o objetivo de não

enfrentar os desafios do século XXI com as ideologias do XIX.

Por fim, Robinson (2005) alega que algumas pessoas resistem a novas formas de

educação, porque pensam estar preocupados em ajudar os outros a arrumarem emprego,

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argumentando que mais formas criativas de educação e de desenvolvimento humano são

luxos que não estão alinhados com a realidade de se encontrar um emprego nos últimos

anos. Entretanto, eles estão enganados, já que o mercado está exigindo cada vez mais o

contrário do que pensam. Além disso, como consequência, muitas pessoas altamente

talentosas, brilhantes e criativas pensam que não são porque aquilo em que elas eram boas

na escola não era valorizado ou era até estigmatizado. Para Robinson (2005), todos

precisam aprender a ser criativos e que isso depende da interação entre o sentir e o pensar

e através de diferentes fronteiras disciplinares e campos de ideias.

Fig. 06 - Gênios que creem ser idiotas (CAMARGO, 2015)

Araya (2010) concorda com a necessidade de mudanças radicais na educação e

faz uma analogia com o “New Deal” de Franklin Roosevelt - que foi responsável por

reformar o sistema econômico e bancário dos Estados Unidos para construir uma

infraestrutura necessária para sair da Grande Depressão de 1929 - assegurando que é

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necessário desenvolver o quadro político e de renovação de infra-estrutura para reformar

a educação para uma era de inovação. Também traz argumentos similares aos de Robinson

(2005) sobre ser um sistema ultrapassado, que precisa estimular a criatividade e a

inovação, que há um favorecimento de determinadas disciplinas como ciência, tecnologia,

engenharia e matemática em detrimento das artes, do design e da mídia digital e que é

necessário revisitar o currículo acadêmico. Defende a cultura da inovação iterativa, da

integração da tecnologia e de plataformas e sistemas de colaboração de massa e da visão

de Brown (2005 apud ARAYA, 2010) de um currículo “minimalista elegante” focado em

qualidades fundamentais da alfabetização, da matemática e do pensamento crítico,

rodeado por um currículo aberto que é determinado pelos próprios alunos enquanto eles

navegam pela proliferação de comunidades de aprendizagem sociais disponíveis para

eles. Esse novo ambiente educacional pretendido representa uma mudança no sistema de

aprendizado Fordista para um sistema baseado na emoção, mudando o foco da criação de

reservas de conhecimentos (aprender sobre alguma coisa) para possibilitar a participação

no fluxo de produção cultural, aprendendo através da experiência.

Ainda sobre o currículo acadêmico, Ritchhart (2015) critica o enfoque dado por

políticos que o usam como ferramenta de transformação, assumindo ingenuamente que

os professores devem simplesmente entregar o conteúdo para seus alunos. Sustenta que,

na realidade, ele desempenha uma função dentro da dinâmica e da cultura da sala de aula,

sendo essa fundamental e a chave de transformação. Por isso, a lógica deve ser inversa,

com o currículo aplicado com base na cultura estabelecida.

Em estudo realizado na América Latina pela Fundação Santillana (2014), que atua

em prol da educação e da cultura no Brasil e na Ibero-América, visando contribuir para o

desenvolvimento educacional dos países, há três elementos importantes para uma

transformação educacional na região, incluindo o Brasil:

1. O conceito do ensino como mera transmissão de conteúdos deve ceder lugar para novas metodologias que possibilitem o desenvolvimento das competências dos estudantes para operar sobre os conteúdos.

2. O pilar fundamental da qualidade educativa são as competências profissionais docentes: se os estudantes não se encontram em suas classes com docentes capazes de

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gerar maiores oportunidades de aprendizagem, não se produzirá uma genuína melhora da qualidade educativa.

3. Com um corpo docente competente e com as condições apropriadas, o uso da tecnologia na educação permite criar ambientes de ensino e aprendizagem que facilitem o desenvolvimento das competências que a sociedade e a economia esperam hoje dos estudantes na América Latina. […] a tecnologia não é só um potente recurso para a aprendizagem, é uma ferramenta cada vez mais relevante para a vida. (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014, p.13-14)

A demanda pelas mudanças e pela renovação da educação, apesar de já ter sido

percebida por uma parcela de pessoas envolvidas no meio acadêmico, ainda precisa do

envolvimento de todos para gerar resultados significativos e isso precisa ser feito com

urgência, já que a economia vêm sofrendo constantes mudanças e demandando um perfil

de profissional não formado e estimulado nas salas de aula atuais. Por isso, novas

metodologias que estimulam a criatividade, a inovação, ao pensar e ao fazer dos novos

estudantes, além de colocá-los no centro do processo, é fundamental.

2.2 Habilidades de um novo século

Como visto anteriormente, a educação passa por uma crise e vem sendo

questionada em seu papel atual. Muito disso passa pelo fato da economia e do mercado

de trabalho estarem passando por constantes transformações e demandando cada vez mais

um perfil de profissional com habilidades que não são desenvolvidas ao longo do ensino

escolar tradicional. O objetivo desta subseção é abordar como essas mudanças estão

ocorrendo, quais as competências inescusáveis para os jovens do século XXI e como a

educação deveria abordar esse assunto.

Durante vários anos, o balanço vem mudando entre formas tradicionais de

trabalho industrial e manual e empregos baseados na tecnologia da informação e serviços

de vários tipos. Como resultado, diversas empresas possuem uma demanda crescente por

profissionais desenvolvidos em “recursos humanos”, em comunicação, em inovação e em

criatividade (NACCCE, 1999). Lévy (1999) complementa que trabalhar está cada vez

mais relacionado com aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos, não sendo,

para uma quantidade progressivamente maior da população, uma execução repetitiva de

uma tarefa destinada. Araya (2010) concorda e cita teorias

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de que há uma transição entre o domínio da mão-de-obra qualificada do século XX para

trabalhadores do conhecimento no século XXI, além do crescimento da importância da

inovação, da criatividade e da Economia Criativa, sendo esse último um conceito novo e

merecedor de destaque. Segundo o relatório da UNCTAD (2008), ela é a interface entre a

criatividade, a cultura, a economia e a tecnologia como expressão da capacidade de criar

e fazer circular o capital intelectual, com o potencial para gerar renda, empregos e receitas

de exportação e, ao mesmo tempo, promover a inclusão social, a diversidade cultural e o

desenvolvimento humano.

Para compreender essa noção contemporânea da Economia Criativa, Araya (2010)

sustenta que a vertente mais importante é a mudança recente impulsionada pela tecnologia

de indústria para serviços. A inovação e a exploração da informação vem sendo um

importante fator no processo de transformação econômica atual, ganhando cada vez mais

foco e deixando para trás o pensamento de ganho de eficiência na produção de bens e

serviços. Segundo Tomaél, Alcará e Di Chiara (2005 apud TEIXEIRA, 2014), a

informação e o conhecimento estão em todas as esferas ou áreas e são consideradas

essenciais quando transformados pelas ações dos indivíduos, tornando-se competências

valorizadas que geram benefícios sociais e econômicos que estimulam o

desenvolvimento.

Robinson (2005) aponta que muita das habilidades e atitudes antigas vão ser

redundantes e que muitos países do mundo, entre eles o Brasil, estão enfrentando uma

crise de criatividade e uma guerra por talentos, fatores essenciais para o desenvolvimento

da Economia Criativa. O mercado de trabalho, de acordo com Oliveira (2010, p. 2-3),

“requisita pessoas que possam enfrentar os muitos desafios que são propostos

diariamente, pessoas que saibam inovar, agir de forma rápida, criativa e competente”,

sendo “a criatividade do homem mais do que nunca necessária, pois são inúmeras as

soluções a se buscar, não de qualquer forma, mas de forma eficiente e eficaz; é preciso

que o criativo seja novo, útil, valioso, original e adequado”. As habilidades criativas,

diferente do consenso geral, são necessárias em todas as formas de negócios e em todos

os tipos de trabalho, incluindo nas fábricas e no comércio. Além

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disso, estão cada vez mais no centro de áreas que estão em rápida e dinâmica expansão

na economia mundial (NACCCE, 1999). É, confirma Mirabile (2016), a inovação a forma

mais eficaz de mitigar futuros impactos negativos e também oferecer soluções a impasses

já existentes na atual sociedade. Criar e inovar são verbos conjugados pelas empresas que

querem se manter no mercado (OLIVEIRA, 2010).

Nesse momento, parece relevante definir o que é criatividade e Oliveira (2010)

nos concede alguns conceitos e definições. Pela origem etimológica, criatividade vêm do

latim e do grego: o termo latino creare significa “fazer” e o termo grego krainen significa

“realizar”. Dada por Young (1985 apud OLIVEIRA, 2010), é a integração do fazer e do

ser, dos lados lógico e intuitivo do ser humano, da transformação do que já existe em algo

melhor. Pela Perspectiva de Sistemas, provém da interação entre os pensamentos pessoais

e o contexto sociocultural e vale-se de três fatores: o indivíduo, o domínio e o campo.

Segundo a teoria do Investimento em Criatividade, ela provêm de seis fatores que não

podem ser vistos isolados: inteligência, estilos intelectuais, conhecimento, personalidade,

motivação e contexto ambiental. Oliveira (2010) resume que não há uma única forma de

definir criatividade, mas alguns pontos são comuns: ideia de novo, de original, de útil,

com valor social em um determinado momento histórico e de um fenômeno complexo,

multifacetado e pouco explorado.

Um ponto significativo nessa discussão e que gera debate crescente é a relação

entre o ser humano e seu poder criativo. Araya (2010) declara que a criatividade floresce

entre as pessoas talentosas e concorda com Robinson (2005) que ela é um atributo humano

básico que deve ser cultivada entre todas as pessoas e não só em artistas e cientistas, e

que promovê-la entre todos de todas as ocupações é essencial para o bem comum. Para

que isso ocorra, Araya (2010) traz as abordagens sugeridas por Florida (2007) e por

Zachary (2000). Enquanto o primeiro acredita que a promoção da criatividade está na

geografia, ou seja, na capacidade cultural de uma comunidade para a abertura ou para a

“capacidade de absorção”, o segundo possui a opinião de que ela depende da mistura

cultural, já que o chauvinismo monocultural impede a criatividade e a hibridez a estimula.

Robinson (2005) parece estar mais alinhado com os conceitos de

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Florida (2007 apud ARAYA, 2010), já que assegura que é preciso um ambiente criativo

para que a criatividade seja estimulada, pois gera oportunidades para experimentar, falhar,

tentar de novo, fazer perguntas, descobrir, jogar e fazer conexões entre elementos

aparentemente díspares. Seguindo nessa linha, Jeffrey e Craft (2004) alegam que os

jovens apreciam a experimentação e a solução de problemas a partir do controle, que é

considerada uma experiência valiosa e combinada com a relevância e a posse, levam à

inovação.

Torrance (1987 apud OLIVEIRA, 2010, p. 6) acredita que é possível ensinar a

pensar criativamente, “utilizando-se vários meios, sendo que os de maior sucesso

envolvem a função cognitiva e emocional, possibilitam adequada estrutura e motivação e

dão oportunidades para envolvimento, prática e interação entre professores e alunos”.

Robinson (2005) complementa que a criatividade depende das interações entre o

sentimento e o pensamento em diferentes campos disciplinares ou de idéias e considera

necessário o desenvolvimento de novos currículos que sejam mais permeáveis e que

incentivem um melhor equilíbrio entre o pensamento generativo e o pensamento crítico

em todos os modos de compreensão. Mitjáns Martínez (1997 apud OLIVEIRA &

ALENCAR, 2008) estabelece que para haver um ambiente facilitador da criatividade na

escola, é preciso o engajamento tanto dos professores, como de alunos e direção. Além

disso, o professor precisa considerar diversos aspectos como:

- o processo de ensino centrado no aluno, sendo o docente o facilitador do processo

ensino-aprendizagem, que estimula o desenvolvimento de interesses, motivos,

pensamento crítico e potencialidades;

- a transmissão de vivências emocionais positivas em relação ao grupo, disciplina e

processo de aprendizagem;

- a mobilização de recursos do grupo para promoção de um clima emocional positivo

entre seus membros.

Assim como a criatividade é capital para o desenvolvimento da Economia

Criativa, outras habilidades fazem parte de uma lista de características essências para os

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jovens que querem sobreviver e se destacar no século XXI, considerando que a estrutura

das empresas e a natureza do trabalho estão mudando para aumentar a produtividade e a

inovação. Como exemplo, podemos tomar as organizações mais horizontais e as tomadas

de decisões mais descentralizadas, as informações amplamente compartilhadas, mais

trabalho em equipe, até mesmo entre diferentes organizações, e os arranjos de trabalho

mais flexíveis (ATC21S, 2009).

Em pesquisa realizada com quatrocentas empresas dos Estados Unidos, por

exemplo, foi solicitado para funcionários classificarem as habilidades que mais

procuravam em potenciais candidatos em uma lista que incluía qualidades tanto

acadêmicas quanto aplicadas. As qualidades aplicadas, como profissionalismo, ética de

trabalho, colaboração, comunicação, ética, responsabilidade social, pensamento crítico e

“solucionador" de problemas estavam mais no topo da lista do que qualidades acadêmicas

tradicionais (RITCHHART, 2015).

Relacionando e questionando as habilidades ensinadas dentro das salas de aula e

as expectativas da sociedade em relação a isso, Ritchhart (2015) exemplifica um exercício

que costuma fazer quando conversa com grupo de pais, professores e administradores.

Ele pergunta “o que você quer que as crianças que você ensina sejam quando forem

adultas?” e ressalta que quando fala em “ensinar”, está abrangendo o sentido mais amplo

da educação. O resultado é interessante, considerando que diferentes grupos ao redor do

mundo possuem respostas similares.

Frequentemente há ênfase nos atributos que impulsionam o aprendizado: curiosidade, inquietude, questionamento. E aqueles que facilitam a inovação: criatividade, solução de problemas, tomada de risco, imaginação e inquietude. Existem as habilidades necessárias para trabalhar e conviver com os outros: colaboração, empatia, boa escuta, gentileza. E aqueles que suportam a capacidade de lidar com a complexidade: análise, fazer conexões, pensamento crítico. E, geralmente, há aqueles que nos situam coletivamente no mundo: ser um cidade global, um membro da comunidade, alguém consciente de seu impacto no meio ambiente, capaz de se comunicar (RITCHHART, 2015, p.17).

Também é possível notar que poucas habilidades acadêmicas tradicionais são

mencionadas, o que não significa que não sejam importantes, mas que elas não definem

adequadamente o tipo de aluno que coletivamente é esperado para o mundo e o

empregado que as empresas estão procurando no século XXI (RITCHHART, 2015).

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Intrigados com o assunto e percebendo sua relevância no momento presente,

diversos autores e instituições pesquisam as habilidades-chaves do século XXI. Para Little

e Ellison (2015), comunicação, colaboração e liderança são algumas delas. Gardner e

Davis (2013) estabelecem que há uma discussão entre os líderes de negócios e as

habilidades necessárias são os chamados “quatro Cs”: pensamento crítico, pensamento

criativo, colaboração e comunidade. Já Tony Wagner, especialista do Laboratório de

Inovação da Universidade de Harvard e pesquisador no Learning Policy Institute,

enumera sete competências: pensamento crítico e resolução de problemas, colaboração,

agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, comunicação, capacidade de

analisar informação e curiosidade e imaginação (RITCHHART, 2015). A Partners for

21st Century Skills, organização não governamental formada com o objetivo de promover

o aprendizado das habilidades do século XXI e que clama por mudanças nas escolas

produzindo vasto material de apoio com essa finalidade, possui o seguinte foco de direção:

pensamento crítico, resolução de problemas, comunicação, colaboração, habilidade com

tecnologias digitais, flexibilidade, criatividade e ser competente globalmente

(VOELCKER, 2012). Henklain e Carmo (2013) defendem que o objetivo final da

educação é o desenvolvimento de comportamentos que serão vantajosos no futuro e que

dêem chances ao indivíduo de contribuir com a sobrevivência de sua cultura. Por isso,

legitimam a necessidade de ensinar, dentre outros, o autocontrole, a resolução de

problemas e a tomada de decisão.

Voelcker (2012, p.47), para sua tese de doutorado, analisou diversos autores e

instituições que organizaram grupos de habilidades e competências que se referiam ao

século XXI. Apesar de não encontrar um consenso exato concretizado em uma lista única

de habilidades, descobriu que há uma clara convergência de foco que prioriza

“pensamento crítico, colaboração, comunicação eficiente, criatividade, iniciativa e

empreendedorismo, resolução de problemas, busca e seleção de informação e

aprendizagem continuada.”

O Assessing and Teaching 21st Century Skills, consórcio de conceituadas

universidades liderado pela Universidade de Melbourne, possui uma iniciativa que

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também pretende definir as competências e habilidades necessárias para esse século. Para

isso, analisou diversas definições de Habilidades do Século XXI provenientes de

organizações como 21st Century Partnership, Lisbon Comission, ISTE - NETS, ETS

iSkills, PISA Problem Solving e NAEP Problem Solving. O quadro abaixo mostra a

relação de habilidades identificadas por essas organizações (ATC21S, 2009).

Fig. 07 - Relação de habilidades por organização (ATC21S, 2009)

A partir da análise das definições existentes, a ATC21S propôs um grupo de

habilidades do Século XXI como esboço para um marco referencial, para definição de

competências esperadas e instrumentos de avaliação (ATC21S, 2010). Alinhada com o

que foi exposto por outros autores, essa lista parece ser um bom direcionador para o que

deve-se buscar para o futuro dos jovens.

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Fig. 08 - Habilidades do Século XXI (ATC21S, 2010)

Ritchhart (2015) reforça esse ponto e cita que várias dessas habilidades -

imaginação, curiosidade, criatividade, reflexão, entre outras - são, geralmente,

classificadas como “disposição”, que é uma característica ou um traço duradouro de uma

pessoa que serve para motivar o comportamento, definindo o indivíduo como pessoa,

pensador ou aprendiz. Perfilha que elas não devem ser pensadas somente como resultado

de uma educação de qualidade, mas também o resíduo da mesma, ou seja, o que sobrou

depois de tudo estudado e praticado. Além disso, como aspecto-chave, as “disposições”

não podem ser ensinadas e testadas diretamente, elas devem ser enraizadas e aprendidas

por imersão em uma cultura.

Uma outra habilidade que tem ganho força nos últimos anos é a programação.

Mesmo sendo mais técnica do que as citadas até aqui, possui diversos benefícios que

auxiliam no desenvolvimento de outras competências, já que programar no computador

é sobre tentativa e erro, fazendo com que os estudantes aprendam como aprender, já que

poucos programas funcionam de primeira. O processo de descobrir o que está errado e

corrigi-lo é uma grande lição da importância da experimentação e do erro (THOMPSON,

2014). Como dizia Steve Jobs, aprendendo a programar, se aprende a

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pensar melhor (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014). Além disso, de acordo com a

Fundação Santillana (2014), nos próximos 10 anos (7 anos, se for considerar o ano que

esta pesquisa está sendo realizada) existirão cerca de 4 milhões de vagas de trabalho

relacionados à programação, mas estima-se que só haverá cerca de 400.000 graduados

qualificados para tais cargos. O próprio ex-presidente dos Estados Unidos, Barack

Obama, fez um apelo e pediu para que os jovens não comprem um novo videogame, mas

que desenvolvam um (CODE.ORG, 2013), em uma clara alusão a necessidade de pessoas

capacitadas para essa atual e futura demanda.

Nos Estados Unidos há um grande esforço em relação a esse tema por meio da

organização sem fins lucrativos Code.org, que possui apoio de personalidades como

Barack Obama e Bill Clinton (ex-presidentes dos Estados Unidos), Bill Gates (fundador

da Microsoft), Mark Zuckerberg (fundador do Facebook) e Randi Weingarten (presidente

da Federação Americana de Professores) (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014). Uma

iniciativa relevante, que tem participação da Code.org, foi a inclusão da Ciência da

Computação como disciplina obrigatória em todas as escolas de Chicago no nível que

corresponde ao ensino médio brasileiro (CS4ALL, [201?]). Na Inglaterra, essa matéria

já faz parte do currículo nacional desde 2013 (DEPARTMENT FOR EDUCATION,

2013). Já no Brasil, apesar de ainda tímidas, algumas iniciativas estão surgindo. É o caso

da Futura Code School, escola de programação que ensina para um público de seis a

dezessete anos em São Paulo e atende a escolas que desejam incluir o conteúdo em sua

grade escolar, a Supergeeks, que possui mais de 30 unidades pelo país e atende alunos de

sete a dezesseis anos com cursos que variam de um mês a cinco anos e até instituições

tradicionais, como o caso do Colégio Elvira Brandão, de São Paulo, que reestruturou as

disciplinas de tecnologia e passou a incluir a programação no cotidiano dos estudantes

(PRADO, 2016).

O Google, acreditando nesse movimento, desenvolveu uma plataforma batizada

de Project Bloks que permite ensinar a programar com auxílio de dispositivos e

brinquedos programáveis. O objetivo do projeto é disponibilizar aos programadores,

designers e educadores uma plataforma com sugestões, componentes e documentações

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que possam ser utilizadas na criação de soluções para que as crianças interajam com a

linguagem de programação. Membros do Google Creative Lab, acreditam que quando as

crianças aprendem códigos, eles aprendem uma nova linguagem para a expressão criativa

e não só como programar um computador (VRANAKIS & GOLDSTEIN, 2016).

Apoiado no exposto até então, é razoável considerar que os sistemas educacionais

precisam se adaptar para atender as novas circunstâncias, já que os pressupostos

econômicos e intelectuais sobre os quais foram construídos fazem parte de um outro

tempo e para outros fins (ROBINSON, 2005). Os sistemas de ensino conseguiram

distribuir efetivamente as habilidades necessária para uma era da indústria, mas essas

mesmas instituições ainda não estão equipadas para apoiar as habilidades e capacidades

para uma era de inovação (ARAYA, 2010). Oliveira (2010) reforça esse ponto quando

cita, por exemplo, que no âmbito empresarial a criatividade tem sido estimulada a partir

de muitos programas e treinamentos, muito diferente do que ocorre no âmbito escolar,

onde são bastante insipientes tais esforços.

Araya (2010) defende que é indispensável uma mudança, tornando as escolas e as

universidades em estuários culturais em apoio a criatividade e a inovação, transfigurando

para serem as principais instituições da era da inovação. O fato é que pensadores criativos

não só ajudam a resolver problemas que são conhecidos, mas também ajudam a identificar

novos e a guiar para outros caminhos. Por isso, é preciso dar mais oportunidades para que

jovens sintam e definam problemas por conta própria, assim como encontrem soluções

para os mesmos, que gerem ideias e vejam o mundo de maneiras diferentes, analisando

diferentes possibilidades e soluções (NACCCE, 1999).

A educação é crítica para esta infraestrutura criativa. Em vez de entender a aprendizagem em termos de objetos fixos que são transferidos de uma geração para outra, nós precisamos começar a projetar sistemas educacionais que suportem o conhecimento e a aprendizagem em termos de uma contínua cultura de inovação. Os sistemas educacionais projetados para as sociedades industriais não utilizam efetivamente a liquidez da inovação criativa porque eles são muito centralizados. Permitindo que estudantes combinem e mesclem fluxos culturais como parte de uma grande produção cultural contínua é fundamental para reconfigurar a aprendizagem e a educação (ARAYA, 2010, p.18).

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Nesse contexto, Ritchhart (2015, p.19) acredita em uma nova visão do que é uma

educação de qualidade e o que ela deve oferecer, já que qualificações acadêmicas sozinhas

não são mais suficientes. Embora com um vocabulário variado e traços analisados de

formas ligeiramente diferente, “o que emerge é um retrato rico do aluno como um

pensador engajado e ativo capaz de se comunicar, inovar, colaborar e resolver

problemas”. Para Lévy (1999, p.172), “é a transição de uma educação e uma formação

estritamente institucionalizadas para uma situação de troca generalizada dos saberes, o

ensino da sociedade por ela mesma, de reconhecimento autogerenciado, móvel e

contextual das competências.”

Para isto se precisa de uma escola que ministre o mais possível ensinamento rigorosos – difíceis a serem determinados – do que é necessário ao homem para ser moderno; mas que possibilite ao mesmo tempo um espaço em que cada um se forme livremente naquilo que é de seu gosto: arte, música, matemática, aeromodelismo, radiotelegrafia, astronomia, esporte, ou até mesmo técnicas artesanais. É preciso que a escola, ao invés de ser um lugar aberto cinco horas diárias, durante nove meses por ano e pelo resto do tempo permanecer fechada e vazia, seja o espaço dos adolescentes, onde estes recebam da sociedade adulta tudo o que é possível receber e ao mesmo tempo sejam estimulados em suas qualidades pessoais e capacitados de gozar todos os prazeres humanos (MANACORDA, 2007b, p. 21 apud NOSELLA, 2011, p.1062).

Fanfani (2000 apud OLIVEIRA, 2008) complementa e aponta que os espaços escolares,

dentre outros pontos, deveriam contemplar: uma abertura aos conhecimentos, interesses

e expectativas dos jovens; direitos dos adolescentes a se expressarem em participação,

expressão e comunicação; auxiliar o desenvolvimento de conhecimentos significativos

para os jovens, proporcionando o desenvolvimento de competências e conhecimentos

transdisciplinares, de valor prático para a vida social; e onde os jovens aprendessem o

desenvolvimento da ética, da identidade e da sensibilidade.

Um dos grandes impasses que dificultam essa conversão são as avaliações

nacionais, como o Enem, que possuem alto risco e são determinantes para o futuro dos

jovens, considerando que são usadas para apontar a eficácia dos professores, escolas e

sistemas educacionais inteiros, além de serem determinantes para os alunos, que possuem

o seu desempenho relacionado a recompensas e punições, como o acesso ou o veto as

universidades. Por conta disso, sistemas escolares respondem de acordo com essa

demanda e determinam o que deve ser ensinado a partir delas, independente do que o

professor acredita e do que os estudantes desejam aprender (ATC21S, 2009). A

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questão é que essas avaliações tradicionais não medem todas as competências e

habilidades que são necessárias no mercado de trabalho atual e na sociedade do século

XXI (PELLEGRINO ET AL, 2004 apud ATC21S, 2009), gerando uma lacuna

significativa entre o sistema educacional atual, o que acontece nas escolas e o que

acontece fora delas. Little e Ellison (2015) exemplificam que, para tentar minimizar esse

hiato e avançar para um novo caminho, em vários colégios norte-americanos que

visitaram, os estudantes são avaliados, além de seu progresso e realizações acadêmicas,

pelo seu desenvolvimento social e emocional, além de sua habilidade de trabalhar bem

com outros.

As políticas educacionais para o futuro precisam aprender com o passado mas não devem ser ditadas por ele. Hoje, temos um currículo escolar que ensina dez matérias, mas apenas formas de pensar limitadas. Precisamos de uma educação que valorize diferentes modos de inteligência e veja relações entre disciplinas. Para conseguir isso, é preciso haver um balanço diferente de prioridades entre as artes, as ciências e as humanidades humanas na educação e nas formas de pensamento que promovem. Elas devem ser ensinadas de maneira que reflitam as conexões íntimas do mundo além da educação. Alcançar isso não é fácil, mas os benefícios do sucesso são substanciais e o preço do fracasso é alto (ROBINSON, 2005, p.202).

À vista disso, Ritchhart (2015) expõe que, no século XXI, a sociedade deveria

querer mais para crianças e jovens e, isto posto, as escolas deveriam implementar uma

cultura do pensamento, uma que produz sentimentos, energia e alegria para impulsionar

a aprendizagem e motivar os alunos a fazer o que pode ser um trabalho mental difícil e

desafiador. No entanto, esse movimento deve ser feito de forma eficaz e seis

características devem ser adotadas, conforme enumera Ritchhart (2015): definir um

propósito, ter comprometimento, estabelecer equidade, gerar engajamento, promover

desafio e criar conexão. A partir desses pontos, confia na criação de um grupo dinâmico

de pessoas que vão aprender, contribuir e criar algo maior juntas, gerando entrega para a

aprendizagem de todos e não apenas próprio, além de criar lideranças compartilhadas,

estruturas não-hierárquicas e igualdade entre os membros. Thompson (2014) aprova esse

direcionamento e trata a colaboração entre pares uma habilidade de extrema importância

nos dias atuais, já que raramente se aprende e resolve um problema isoladamente.

Oliveira (2010) sustenta que o papel do professor é primordial para tal

desenvolvimento, estando alinhado com o pensamento de John Dewey, que muitas

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décadas atrás, observou que o dever de um educador deve ser preparar seus alunos “não

para o mundo do passado, não para o nosso mundo, mas para o mundo deles - o mundo

do futuro” (LITTLE & ELLISON, 2015, p.114). Prensky assente e estipula que a

sociedade e os próprios professores precisam se ver não como “provedores de conteúdo”,

mas como pessoas que tem como papel ajudar os jovens a realizarem seus sonhos, já que

é confiado a eles o papel de auxiliá-los a irem o quão longe possível no mundo real. Para

que isso seja possível, é imprescindível conhecer cada aluno intimamente e ajudá-lo a

descobrir suas forças, paixões, habilidades e desejos e aplicá- los de forma que torne seu

mundo um lugar melhor (FISCHBERG, 2017), já que cada pessoa tem diferentes

capacidades, aptidões e biografias, com diferentes passados e diferentes futuros

(NACCCE, 1999).

Marc Prensky também acredita que as crianças, jovens e adolescentes “precisam

chegar ao futuro munidas de habilidades que as farão bem-sucedidas no terceiro milênio,

e não equipadas para o mundo de ontem”. Para isso, explicita que uma educação para as

futuras gerações deveria ser focada em realizações e na busca por soluções de problemas

do mundo real, sendo, de certa forma, radical a ponto de sugerir que não haja mais

matérias, mas projetos que estimulem habilidades que as pessoas precisam ter para vida

toda (FISCHBERG, 2017).

Como visto, com o avanço da economia voltada para a criatividade e a inovação,

o mercado de trabalho requisita cada vez mais pessoas que possam enfrentar os muitos

desafios que são propostos diariamente, que saibam inovar, agir de forma rápida, criativa

e competente. Nesse cenário, a criatividade é mais do que nunca necessária, sendo

essencial o despertar do potencial criativo do homem, do foco na experiência do aluno,

no estimulo da geração de ideias novas, criativas e benévolas para a humanidade. Para

que isso ocorra de forma eficaz, a educação precisa ser alterada para dar liberdade de

aprender, criar, tomar riscos, falhar ou fazer perguntas, esforçar-se, crescer e o cenário

ideal para que isso ocorra são em ambientes criativos.

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2.3 Educação no Brasil

Atualmente, os documentos que norteiam a educação básica brasileira são a Lei

nº 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Básica e o Plano Nacional de Educação. Outros documentos

fundamentais são a Constituição da República Federativa do Brasil e o Estatuto da

Criança e do Adolescente.

A LDB 9.394/96, de 20 dezembro de 1996, é a responsável por estabelecer as

diretrizes e bases da educação nacional, sua finalidade, como deve ser organizada, quais

os níveis e modalidade de ensino, entre outros aspectos. Nela está definido que a educação

possui quatro alicerces estruturantes, oriundos do Relatório da Comissão Internacional

sobre a Educação para o século XXI, da UNESCO: aprender a conhecer, aprender a fazer,

aprender a viver e aprender a ser (BRASIL, 1996).

A educação escolar brasileira compõe-se da educação básica e da educação

superior, como consta no art. 21 da Lei 9.394/96. A básica, primeiro nível escolar no

Brasil, tem por finalidades, segundo art. 22 da mesma lei, “desenvolver o educando,

assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-

lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1996).

Compreende três etapas, cada um com objetivos próprios e formas de organização

diversas: a educação infantil (para crianças com até cinco anos), o ensino fundamental

(para alunos de seis a 14 anos) e o ensino médio (para alunos de 15 a 17 anos). Apesar de

haver uma correlação entre idade dos alunos e o nível e as modalidades de ensino, as leis

e regulamentos educacionais garantem o direito de todo cidadão frequentar a escola

regular em qualquer idade e a obrigação do Estado de garantir meios para que jovens e

adultos que não tenham frequentado na idade adequada possam acelerar seus estudos e

alcançar formação equivalente à educação básica (PORTAL BRASIL, 2012).

Além dos documentos citados, o Ministério da Educação (MEC) é órgão da

administração federal direta que define os princípios orientadores e a estrutura da

educação, além de coordenar a política nacional de todos os níveis educacionais, em

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colaboração com estados e municípios, que devem trabalhar em conjunto para organizá-

los de forma colaborativa, como instituído pela LDB 9.394/96. O primeiro é responsável

pela qualidade e cuidados do ensino fundamental e médio, sendo este prioridade, e, o

segundo, pelo ensino infantil e, com prioridade, fundamental. Eles financiam e gerenciam

esses níveis, criam sua própria política dentro do quadro nacional estabelecido e são

responsáveis pela construção de escolas, fornecimento de equipamentos, almoço e

transporte escolar, treinamento e recrutamento de professores e pagamento de salários. Já

o ensino superior é responsabilidade do governo federal (OECD, 2015).

O MEC também possui uma gama de secretarias que auxiliam em seu

compromisso com a educação: Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino

(SASE), Secretaria da Educação Básica (SEB), Secretária da Educação Continuada,

Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), Secretária da Educação Profissional e

Tecnológica (SETEC), Secretária da Regulação e Supervisão da Educação Superior

(SERES), Secretária da Educação Superior (SESU) e Secretaria Executiva (SE). Além

disso, cada estado e município possui um secretário com foco na educação.

2.3.1 A presente situação do ensino médio brasileiro

O ensino médio, etapa adequada para a faixa de 15 a 17 anos, teve sua

obrigatoriedade estabelecida a partir da Emenda Constitucional (EC) nº 59/2009 e, a partir

da Lei nº 12.796, de abril de 2013, houve um ajuste da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional à EC, impulsionando a ampliação do acesso ao ensino médio

(UNICEF, 2014).

Com duração de três anos, possui duas modalidades, a regular e a profissional

técnica. A primeira, base de estudo desta pesquisa, tem como finalidades (BRASIL,

1996):

1. a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

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2. a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

3. o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

4. a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (BRASIL, 1996, art. 35).

Esses pontos tem como objetivo conceber estudantes que concluam a educação básica

dominando conhecimentos e habilidades que possibilitem escolher rumos na vida adulta

e que estejam preparados para a inserção no mercado de trabalho e/ou no ensino superior.

A grande questão é que isso não vêm sucedendo, sendo este nível considerado a etapa

mais problemática e desafiadora da educação básica brasileira, incapaz de cumprir metas

e de atender as necessidades de seus estudantes, que já passaram pela escola e tiveram

uma má experiência.

Desinteressante para os jovens, o ensino médio não concede caminhos que

promovam o diálogo entre os conteúdos curriculares e o mundo fora da escola (TODOS

PELA EDUCAÇÃO & EDITORA MODERNA, 2017). Tomazetti e Schlickmann (2016,

p.335) sustentam a dificuldade em conformar os jovens à cultura escolar, singularmente

por ser “palco de práticas de longa duração, as quais nem sempre atendem à diversidade

de interesses de seu público”. Maria Helena Guimarães de Castro acredita que há um tédio

generalizado entre os alunos, que acham o currículo chato, cansativo e desmotivador,

além de terem objetivos diferentes do ponto de vista das linguagens, já que se interessam,

por exemplo, por uma produção artística de rua, que incentiva o protagonismo juvenil e

por estarem conectados a outra cultura. A tecnologia também está inserida no dia-a-dia

desses jovens e sua dinâmica de mudança é tão acelerada e intensa que auxilia no processo

de não-identificação com o modelo de ensino atual (MORRONE & OSHIMA, 2016).

Sobre o principio pedagógico específico do ensino médio, retoma ele o tema da indefinição natural e heurística dos adolescentes que estão em busca de autonomia, identidade pessoal e inserção social. Ajudá-los a descobrir, aos poucos, por meio de repetidos ensaios, sua identidade profunda é tarefa da formação escolar média, oferecendo uma formação omnilateral. Mas, cuidado: formação omnilateral ou integral não significa saber fazer um pouco de tudo ou conhecer os fundamentos científicos de todos os ramos da tecnologia, mas sim saber fazer com excelência algo em sintonia com o próprio talento e, ao mesmo tempo, saber e poder usufruir de todos os bens produzidos pela civilização contemporânea. Está assim lançada uma proposta

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original da formação omnilateral: aprender a produzir e a desfrutar (NOSELLA, 2011, p.1061).

Os dados também escanaram a realidade de crise do ensino médio. O Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é o principal índice de desempenho da

educação básica brasileira. Ele avalia a qualidade de escolas e das redes de ensino,

combinando a taxa de aprovação escolar com o desempenho dos alunos e usa o resultado

de dois exames oficias, o Saeb e a Prova Brasil. Essas provas são aplicadas a cada dois

anos no 5º e no 9º ano do ensino fundamental e no 3º ano do médio e avaliam os

conhecimentos em português e matemática em todas as escolas públicas com pelo menos

20 matriculados e por amostragem no ensino médio e na rede privada (INEP, 2016).

Monitorados pelo movimento Todos Pela Educação, o índice divulgado em 2015 apontou

para uma estagnação e um retrocesso no aprendizado de matemática e língua portuguesa

no 3º ano do ensino médio. O percentual de alunos com aprendizado adequado em língua

portuguesa foi de 27,5%, praticamente equivalente ao de 2013 (27,2%). Já matemática,

apenas 7,3% dos estudantes atingem níveis satisfatórios de aprendizado. Se for considerar

apenas escolas públicas, o índice cai para 3,6%. O movimento considera aprendizado

adequado os estudantes que tiraram pelo menos 300 e 350, em língua portuguesa e

matemática respectivamente, no Sistema de Avaliação da Educação Básica (TODOS

PELA EDUCAÇÃO, 2017).

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Fig. 09 - Aprendizado adequado por etapa de ensino (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017)

Outros dados relevantes do Ideb indicam que, apesar de uma melhora no

desempenho de 20 redes estaduais em relação à avaliação anterior do Ideb, só dois

Estados alcançaram a meta: Pernambuco e Amazonas. Além disso, a “nota” da educação

no Brasil continua ruim. Em uma escala que vai de 0 a 10, o ensino médio ficou com 3,7,

os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) ficaram com 5,5 e os anos finais (6º

ao 9º ano), 4,5. Outro ponto preocupante é a diminuição do abismo que separa as escolas

públicas e particulares no ensino médio do Brasil, já que reflete a piora de

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avaliação da rede privada, que teve a segunda queda consecutiva e exibe sinais de

estagnação da rede pública (INEP, 2016).

A partir dos dados do Ideb 2015, o Instituto Ayrton Senna acredita que, no atual

ritmo, o Brasil pode levar décadas para atingir metas de educação estipuladas para 2021

pela PNE. Apesar de ter avançado acima do previsto na etapa que vai da 1ª à 5ª série

(etapa inicial do ensino fundamental), da 6ª à 9ª série (anos finais do fundamental) o

avanço é devagar e deve bater a meta apenas em 2027. No ensino médio, a questão é ainda

mais grave já que o índice está estagnado há quatro anos no patamar de 3,7, sendo que o

estipulado para 2021 é 5,2. Se manter a tendência atual, o país deve pontuar apenas 3,9,

muito distante do que deveria, podendo levar décadas para alcançar esse objetivo

(IDOETA, 2016).

A gravidade da situação é reforçada pelo estudo elaborado pelo Instituto Alfa e

Beto, organização não governamental da área educacional. De acordo com o documento,

somente 10% dos alunos matriculados no último ano do ensino médio em escolas

estaduais do Brasil possuem níveis satisfatórios ao concluir essa etapa. Para chegar ao

resultado, foram analisados dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014,

com base no relatório “Enem por Escola”, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos

e Pesquisas Educacionais (Inep). Os resultados dos alunos foram divididos em 5 níveis

de desempenho, sendo o 1, o mais baixo e o 5, o mais alto. Considerando o nível 3 como

o “mínimo adequado para concluir o ensino médio”, aproximadamente 80% dos alunos

avaliados das redes estaduais não estariam aptos a terminar o ensino médio, já que

obtiveram nota inferior. Além disso, se for estabelecido uma comparação entre alunos de

escolas estaduais e privadas, cerca de metade das instituições privadas tem média acima

do nível 3, enquanto menos de 2% das escolas estaduais conseguem superar essa média

(IDADOS, 2015).

Outro problema revelado pelos dados do Censo Escolar de 2015 é que as

matrículas diminuíram em todas as etapas de ensino, menos na creche. As idades mais

críticas são 4 anos, 690 mil crianças não são atendidas, e 17 anos, em que 932 mil

adolescentes deixaram os estudos. O ensino médio, que já vinha reduzindo o número de

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matrículas desde 2010, teve sua maior queda entre 2014 e 2015, de 2,7%, passando de

8,3 milhões de estudantes para 8,1 milhões (INEP, 2016b).

O uso de tecnologia também é um problema do ensino no país. Em 2012, a

proporção era de 22 alunos para cada computador na escola, sendo a média OCDE de 5

para cada. Apesar da média ter subido em relação a 2003, quando havia 34 alunos por

computador, ela continua sendo a segunda mais alta entre os países e economias

participantes do PISA. Ademais, cerca de 32% dos estudantes do país frequentam escolas

cujos diretores afirmam que a capacidade para oferecer ensino foi prejudicada, em grande

parte, por uma escassez de computadores para o ensino (OECD, 2015c)

Pesquisas e relatórios internacionais também detectam a situação precária da

educação brasileira. Os últimos resultados do Brasil no Programa Internacional de

Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgados em dezembro de 2016, mostram uma

diminuição de pontuação nas três áreas avaliadas - ciências, leitura e matemática -,

refletindo em queda no ranking mundial, ficando na 63ª posição em ciências, na 59ª em

leitura e na 66ª colocação em matemática. Realizada a cada três anos e coordenada pela

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a última prova

do Pisa foi aplicada em 2015 em 70 países. Os resultados dos estudantes em ciências e

leitura são distribuídos em uma escala de sete níveis (1b, 1a, 2, 3, 4, 5 e 6) e em

matemática, a escala vai de 1 a 6. O nível mínimo esperado é 2, considerado básico para

“a aprendizagem e a participação plena na vida social, econômica e cívica das sociedades

modernas e em um mundo globalizado”. No Brasil, em todas as áreas, mais da metade

dos estudantes ficaram abaixo desse nível básico de proficiência, sendo 56,6% em

ciências, 50,99% em leitura e 70,25% em matemática (OECD, 2015b).

Uma das consequências do que foi exposto sobre o cenário do ensino médio

brasileiro é que apenas 8% das pessoas em idade de trabalhar são consideradas

plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números, segundo o

relatório “Alfabetismo e o Mundo do Trabalho”, estudo conduzido pelo Instituto Paulo

Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa (2016). Eles estão no nível “proficiente”,

o mais avançado de alfabetismo funcional no Indicador de Alfabetismo

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Funcional (Inaf) e que deveria ser alcançado por todos os estudantes que completam o

ensino médio no Brasil. Nesse nível, devem ser capaz de compreender e elaborar textos

de diferentes tipos, como mensagem, descrição ou argumentação, além de conseguir

opinar sobre o posicionamento ou estilo do autor do texto. Também são aptos a interpretar

tabelas e gráficos, compreender, por exemplo, tendências ou projeções feitas a partir

desses dados e de resolver situações de diferentes tipos, sendo capazes de desenvolver

planejamento, controle e elaboração.

Quatro especialistas na área da educação deram sua opinião sobre os resultados

negativos do Brasil. Para a professora Maria Helena Guimarães de Castro, Secretária

Executiva do MEC, apesar do país ter aumentado os investimentos no setor nos últimos

12 anos, - aumento de 82% entre 2005 e 2012 em instituições do ensino fundamental e

médio, o maior entre todos os países e parceiros da OECD com dados disponíveis (OECD,

2015c) - faltaram políticas públicas voltadas para a educação. Além disso, a formação dos

professores também é um dos motivos desse desempenho, já que a maioria não consegue

desenvolver sua formação de forma correta e alinhada com a base nacional. Olavo

Nogueira Filho, gerente de projetos do movimento Todos Pela Educação, e Mozart Neves

Ramos, diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, concordam com a

questão levantada por Maria Helena. O primeiro acrescenta que falta atratividade e

estrutura para a formação da carreira de professor, além de não haver uma formação

específica durante as etapas do ensino. Para ele, é preciso reconhecimento e valorização

para que haja impacto positivo na melhoria da educação no Brasil. Mozart defende que

um professor bem formado faz diferença na aprendizagem do aluno e que há falta de um

currículo escolar antenado com as necessidades dos estudantes do século XXI, já que só

há preocupação com dados conteudistas. Para ele, é preciso ajudar no desenvolvimento

de novas habilidades para a vida adolescente. Por fim, Antônio Augusto Gomes Batista,

coordenador do Cenpec, Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, argumenta que há

uma grande desigualdade na qualidade da educação distribuída no Brasil, reflexo das

desigualdades sociais do país. Acredita que o Brasil está seguindo boas direções para

melhorar a educação, mas elas precisam ser mais integradas, como a iniciativa de criar

uma base curricular

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nacional e uma possível integração colaborativa entre os sistemas de ensino federal,

estadual e municipal (BERMÚDEZ & CRUZ, 2016).

Como debatido, há um argumento quase unânime entre esses especialistas: o

problema da formação do professor. Oshima (2016) afirma que o Brasil percorre

caminhos opostos aos das melhores práticas internacionais na formação de professores,

já que os estudantes que entram para faculdades de pedagogia estão entre os 20% piores

colocados nas provas do Enem. Além disso, um professor ganha em média 57% menos

que outros profissionais com o mesmo número de anos de formação, o desprestígio da

profissão é visível e pouquíssimos alunos no ensino médio pensam em dar aula.

A edição da TALIS 2013 (Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem),

pesquisa coordenada mundialmente pela OCDE, reforça essa visão estabelecendo que

cerca de metade dos professores brasileiros não têm formação didática para todas as

matérias que ensinam e 40% diz que não tiveram formação para a prática de sala de aula

para todas as matérias que ensinam durante a faculdade, ou seja, não aprenderam a lidar

com problemas de indisciplina ou como trabalhar com adolescentes, por exemplo

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO & INEP, 2014). Dados do Censo Escolar 2015,

tabulados pelo movimento Todos Pela Educação, salientam esse ponto, já que, tanto na

rede pública como nas escolas privadas, somente 53,8% dos professores do ensino médio

de todo o país dão aulas de disciplinas para as quais não tem formação específica e quase

um terço (32,3%) só dá aulas em matérias para as quais não são habilitados. Física, por

exemplo, somente 27% dos professores possuem formação na área, havendo mais

licenciados em matemática dando essas aulas (29,8%) (TODOS PELA EDUCAÇÃO,

2017b).

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Fig. 10 - Percentual de docentes do Ensino Médio por formação em licenciatura (TODOS PELA

EDUCAÇÃO, 2017b)

Fig. 11 - Docentes do Ensino Médio por formação e por disciplina em que atuam (TODOS PELA

EDUCAÇÃO, 2017b)

Nesse momento, vale relembrar a pesquisa realizada pelo professor neozelandês

John Hattie e citada na subseção “2.1. Contexto histórico e a situação atual”, que

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concluiu que um bom professor é mais importante para o desenvolvimento de uma criança

e de sua futura vida profissional e o fator de maior influência no aprendizado. As

informações coletadas também aferem que o investimento em professores é mais eficaz e

também mais barato do que uma série de outras medidas. Diminuir o número de alunos

por sala de aula, por exemplo, custa cinco vezes mais do que formar e manter um bom

professor e dá quatro vezes menos retorno. Além disso, a pesquisa de Hattie defende que

para ser um bom professor não é preciso ter nascido com a vocação para o magistério,

mas é uma habilidade que deve ser desenvolvida com treinamento, planejamento e

acompanhamento (OSHIMA, 2016).

Fig. 12 - Relação da eficácia de ações e seu custo (OSHIMA, 2016)

Oshima (2016) cita que os quatro primeiros países no ranking da Pisa - Cingapura,

Finlândia, Coreia do Sul e Hong Kong - perceberam o impacto causado pela boa formação

dos professores e investiram pesadamente nisso. Nesses locais, esses profissionais são os

de maior prestígio e respeito no país, havendo pré-requisitos rígidos para candidatos e

selecionando os melhores alunos para os cursos de formação. Ademais, nos países com

bom desempenho educacional, ensinar ao professor métodos

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de como dar aula tem tanta importância quanto ou mais que dominar conteúdos

específicos, já que o planejamento das aulas, o controle do tempo, a assertividade, a

capacidade de prender a atenção e de desenvolver a capacidade de análise e de raciocínio

lógico dos alunos estão entre as ações de maior impacto na qualidade do aprendizado.

Essa é uma das maiores fragilidades do Brasil, que negligencia a didática em sala de aula

no preparo dos professores.

Além da formação, outros pontos de preocupação em relação aos professores

brasileiros foram levantados por Cruz (2017) e Oshima (2016). O primeiro é que muitos

enfrentam situações precárias nas escolas e, muitas vezes, episódios de violência. O

segundo, não há valorização desse profissional por parte dos pais dos alunos, que se

esquecem que eles são responsáveis por apresentar conceitos, ideias e livros que vão

mudar a vida de seus filhos. Outro motivo é a falta da cultura de avaliação de desempenho

do professor, já que é considerado um constrangimento, mesmo se combinado

previamente, ter um avaliador para aferir a forma como ele desempenha seu papel. Com

isso, não há como saber o impacto dos gastos com aperfeiçoamento desse profissional.

Há um outro grande dificultador no ensino médio. No nível fundamental, os

professores, não raras vezes, vêem a possibilidade de realizarem algo incompleto em si

mesmo em seus alunos, como bom comportamento, notas boas e sua educabilidade.

Mesmo que alguns alunos não se sujeitem facilmente as regras escolares, outros tantos

servem perante o professor de receptáculo para a sua transferência (OLIVEIRA, 2008).

Porém, no nível médio se dá de outra forma. O aluno, já em sua adolescência, se encontra

em pleno processo de construção identitária, abandonando suas antigas identificações

com os pais para a elaboração de outras com os grupos de amigos e com a sociedade

(JERUSALINSKY, 2004 apud OLIVEIRA, 2008). Nesse contexto, a cultura escolar

perde lugar para a cultura do dia-a-dia do jovem, como a digital, a da música, a dos

hobbies individuais, entre outros, já que essas não oferecem espaços fechados, mas de

abertura à criatividade, ao nomadismo e às inúmeras idas e voltas que têm caracterizado

os espaços juvenis (PAIS, 2006 apud OLIVEIRA, 2008). Além disso, os

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alunos fazem o caminho inverso e trazem suas próprias linguagens e culturas para dentro

da escola, “fazendo-se atores e sujeitos ativos na construção de uma subjetividade no

espaço escolar e não apenas sendo o receptáculo de conteúdos transmitidos para

memorização (OLIVEIRA, 2008, p.14). Desta forma, o professor do ensino médio se

diferencia significativamente do fundamental não somente por precisar de uma

abordagem pedagógica diferente, mas principalmente, “em função de uma clientela que

progressivamente se complexifica nos espaços urbanos e nas periferias de grandes e

pequenas cidades, e que hoje se encontra diante dele na sala de aula” (OLIVEIRA,

2008, p.14).

A questão é a escola e seus agentes tem relutado em abdicar desse papel de

transmissor de cultura, causando um “choque” entre as trazidas para a sala de aula pelos

alunos e a escolar cujos saberes aparecem quase que plenamente distantes do cotidiano e

da realidade sociocultural predominante (FANFANI, 2000 apud OLIVEIRA, 2008).

Maria Helena Guimarães de Castro reforça esses pontos e acrescenta que a formação

inicial dos docentes é muito frágil, causando uma incapacidade de promover uma

educação diferente, mais inovadora e criativa. Cita que a escola é um lugar que precisa

incentivar a tolerância, o pluralismo de ideias e a convivência com as diferenças, assuntos

que os professores brasileiros não estão preparados para lidar. Defende que as instituições

precisam formar melhor os docentes e que falta a possibilidade de uma residência

pedagógica ou um estágio supervisionado, além de uma continua formação para

aprimorar o conhecimento (MORRONE & OSHIMA, 2016). Vale reforçar que os sujeitos

do ensino médio não são apenas os alunos, mas também os professores de diferentes

gerações, sendo esses possuidores de autonomia relativa para promover mudanças em

salas de aula. Para que isso ocorra, “precisam vislumbrar na escola um novo espaço e

tempo, desamarrado desses e de outros constrangimentos para o novo” (ROCHA &

MAGALHÃES, 2014, p.469).

Os itens citados anteriormente buscam direcionar alguns caminhos que explicam

a baixa intenção do jovem brasileiro em se tornar professor e o resultado negativo

recorrente na educação do país. É preciso avançar na forma como são formados e

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valorizados esses profissionais, partindo da formação inicial até as avaliações de

desempenho. Esses pontos são relevantes já que, segundo a pesquisa Repensar o Ensino

Médio, embora 37,6% dos alunos já tenham pensado em ser professor, 23,5% disseram

ter desistido da ideia, sendo os principais motivos associados à rejeição da profissão e à

baixa valorização da sociedade brasileira. De acordo com os entrevistados, o pouco

respeito dos alunos (20,9%), o baixo salário inicial (17,7%) e o pouco reconhecimento da

sociedade (14,2%) fazem com que a carreira não seja uma opção (TODOS PELA

EDUCAÇÃO, 2017c).

Fig. 13 - Jovens que já pensaram em se tornar professor (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017c)

Visando melhorar esse cenário de formação dos educadores brasileiros, a

Fundação Lemann e o Google.org, em março de 2017, oficializaram uma parceria

especial para professores do Brasil inteiro. O projeto consiste em uma plataforma digital,

liderada pela Associação Nova Escola, que oferecerá milhares de planos de aulas digitais,

vídeos e outros materiais para ajudar professores a criar experiência de aprendizado mais

ricas para seus estudantes, sendo o primeiro conjunto de recursos pedagógicos alinhados

à Base Nacional Comum Curricular. Com uma doação de 15,8 milhões de reais do

Google.org, braço filantrópico do Google, e um compromisso de dois anos (FUNDAÇÃO

LEMANN, 2017):

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[…] a Nova Escola reunirá os melhores professores de todo o Brasil. Cada plano de

aula desenvolvido incluirá dicas e orientações desse time de professores, diminuindo os desafios de preparar boas aulas e incorporando altas expectativas sobre o que deve ser ensinado - tudo isso alinhado à experiência de quem conhece profundamente os desafios da sala de aula. Os materiais estarão disponíveis por meio de uma plataforma digital com aplicativo móvel gratuito projetado para funcionar mesmo onde a conectividade ainda é lenta. O impacto estimado é de que o projeto atinja um milhão de professores de todo o Brasil nos próximos cinco anos. (FUNDAÇÃO LEMANN, 2017).

Como visto até o momento, o ensino médio é um desafio para os gestores públicos

e o modelo tem dando sinais de esgotamento e incompatibilidade com o que jovens atuais

desejam e esperam. Assim, compreender os objetivos da etapa sob a perspectiva dos

alunos também é essencial. Visando esse propósito, o movimento Todos Pela Educação,

com apoio do Itaú BBA e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e com

realização da Multifocus, realizou um estudo onde ouviu a opinião de 1.928 jovens

representativos entre 15 e 19 anos, nos meses de setembro e outubro de 2016, de diversas

cidade do Brasil. A pesquisa Repensar o Ensino Médio revelou que os estudantes do

ensino médio estão atentos aos valores transmitidos pelas escolas e à atuação docente.

Para eles, o colégio ideal se preocupa com a inclusão e assegura o mínimo de

infraestrutura para garantir uma educação de qualidade (TODOS PELA EDUCAÇÃO,

2017c).

Na percepção dos jovens, segundo a pesquisa, segurança, atenção às pessoas com

deficiência, professores assíduos e boa infraestrutura são, ao mesmo tempo, os itens de

maior importância e menor satisfação em relação a suas escolas. Além disso, entendem

que o próprio comprometimento e comportamento nas aulas são elementos de alta

relevância e de baixa satisfação em relação à escola, indicando que reconhecem o seu

papel na comunidade escolar. Outros itens que também foram sugeridos como relevantes

são os conteúdos curriculares e a maneira como eles são ensinados. Os alunos estão pouco

satisfeitos, por exemplo, com o uso da tecnologia em sala de aula, com professores

ausentes e com o ensino da língua inglesa (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017c).

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Fig. 14 - Atributos menos satisfatórios para quem cursa o Ensino Médio (TODOS PELA EDUCAÇÃO,

2017c)

É interessante notar que os entrevistados declaram almejar pela continuidade dos

estudos no nível superior e esperam que a última etapa da Educação Básica os prepare

para essa finalidade. 71,4% dos jovens que participaram da pesquisa afirmam que a

principal motivação para cursar o Ensino Médio é estar preparado para o vestibular, sendo

essa intenção muito mais relevante do que a formação para a vida (10,2%) ou ao preparo

básico para o mundo do trabalho (16,6%) (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017c). Esse

fato tende a ser explicado pela educação brasileira ser completamente pautada para o

acesso a universidade, pela pressão e por todo o processo que o estudante

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passa ao longo da sua vida escolar básica, já que sempre escuta que precisa passar para

uma faculdade, que esse é o principal objetivo dos estudos e que só o ensino superior vai

levá-lo para uma melhor oportunidade. O problema desse cenário é que os vestibulares

atuais beneficiam a memorização e não o pensamento crítico e criativo do aluno. Quem

decora mais informações propende a ter mais chances de sucesso nesse processo, mesmo

que esqueça tudo depois.

Por outro lado, 77.6% dos estudantes atribuem grau de importância 9 ou 10 para

matérias dirigidas à formação profissional, técnica e aconselhamento e 76,5% aprovariam

a substituição de um terço das matérias do ensino médio por disciplinas técnicas a escolha

do estudante, caso a carga horária diária da etapa fosse de 5 horas. Isso indica que, apesar

da maioria dos jovens entender que o ensino médio é uma ponte para a educação superior,

grande parte vê com importância uma formação básica que prepara para a vida

profissional. A questão é que metade dos alunos do Ensino Médio Regular ou da

Educação de Jovens e Adultos (EJA) diz não conhecer nenhuma modalidade de Educação

Técnica, expressando claramente que há uma falta de comunicação eficaz que possibilite

que as informações sobre a educação profissional como trajetória formativa cheguem aos

jovens - 95% dos estudantes gostariam de saber mais sobre essa modalidade de ensino.

Além disso, é necessário uma ampliação da oferta de forma que seja mais acessível

(TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017c).

Fig. 15 - Percentual de estudantes do Ensino Médio Regular ou EJA que desconhecem as modalidades do

Ensino Técnico (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017c)

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A relação entre alunos e docentes e a visão que nutrem do magistério são de

extrema importância para o sucesso do ensino e da aprendizagem e são determinantes

para a qualidade da educação no país. De acordo com a pesquisa Repensar o Ensino

Médio, os estudantes consideram que os professores precisam demonstrar paixão pela

profissão, não desistam diante das dificuldades dos alunos e cobrem comprometimento

dos alunos. Além disso, estimular a curiosidade, usar linguagem jovem e atual e fazer uso

de tecnologia em sala de aula são pontos relevantes citados (TODOS PELA

EDUCAÇÃO, 2017c).

Fig. 16 - Atributos mais importantes de um professor de Ensino Médio para quem cursa o Ensino Médio

(TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017c)

Os resultados da pesquisa indicam que é preciso envolver e dialogar com a

juventude para repensar o ensino médio, já que é usuária e potencializadora dos

investimentos da etapa.

[…] este é o momento de o Brasil avançar na garantia dos direitos de seus adolescentes. Esse grupo representa, hoje, uma oportunidade singular. Com sua energia, criatividade e curiosidade, o país pode estabelecer novas prioridades, criar

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novas relações sociais, avançar em visões inovadoras sobre os desafios dos próximos anos, desenvolver novas formas de expressão, ampliar a consciência de seus cidadãos sobre questões ambientais e da diversidade, além de usufruir mais dos avanços nas tecnologias da informação e da comunicação (UNICEF, 2014, p.10).

Como apurado, dois tópicos aparecem regularmente no que diz respeito a

reformulação necessária ao ensino médio: um maior alinhamento com o mundo vivido

pelos jovens fora do colégio e com o mercado de trabalho e uma melhor formação para

os professores. Essas questões são significativas para que o ensino médio possa atingir

seus objetivos de conceber estudantes que dominem conhecimentos e habilidades que os

ajudem ao longo da vida adulta, no dia-a-dia social e na inserção no mercado de trabalho,

que também vem sofrendo numerosas mudanças, como visto anteriormente. Visando

estabelecer um novo cenário a partir desses pontos, o governo federal sancionou um

projeto de lei de reforma do ensino médio, tópico que será abordado na próxima subseção.

2.3.2 Reflexão sobre o novo ensino médio

Ciente dos problemas e desafios do ensino médio, o governo federal sancionou,

em fevereiro de 2017, um projeto de lei de reforma com o intuito de deixá-lo mais aberto

e menos engessado. Apresentada inicialmente como uma Medida Provisória, em

setembro de 2016, constitui um conjunto de novas diretrizes elaboradas pelo Ministério

da Educação que alteram artigos da Lei nº 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional ou LDB), de dezembro de 1996, da Lei nº 11.494 (Lei do Fundeb), de junho de

2007, e institui a Política de Fomento à Implementação de Escola de Ensino Médio em

Tempo Integral. Os principais pontos da reforma dizem respeito ao currículo escolar, a

carga horária e a formação de professores.

O novo currículo será obrigatório e comum a todas as escolas do Brasil, tanto da

rede pública quanto da privada, e será norteado pela Base Nacional Comum Curricular

(BNCC), que é um conjunto de orientações que definirá os conhecimentos essenciais, as

competências e as aprendizagens pretendidas para crianças e jovens em cada etapa da

educação básica na parte comum (1.800 horas), abrangendo as 4 áreas do conhecimento

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e todos os componentes curriculares do ensino médio definidos na LDB e nas diretrizes

curriculares nacionais de educação básica. Essas orientações estão sendo elaboradas e

serão homologadas em 2017. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2017).

Apesar do BNCC ainda não estar pronto, algumas definições já foram tomadas.

Até então, os alunos eram obrigados a cursar 13 disciplinas durante os três anos do ensino

médio: português, matemática, biologia, física, química, filosofia, geografia, história,

sociologia, educação física, artes, língua estrangeira e literatura. A partir da implantação

da reforma, apenas matemática, português e inglês serão obrigatórios nos 3 anos. O

restante do tempo será dedicado ao aprofundamento acadêmico nas áreas eletivas ou a

cursos técnicos no qual o aluno poderá escolher qual área do conhecimento deseja estudar:

linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas

tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional. É

importante ressaltar que as escolas não são obrigadas a oferecer todas as cinco áreas e

podem se adequar as demandas dos alunos (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2017).

Outra importante mudança no currículo está relacionado com a formação técnica

e profissional. Com o antigo modelo, o aluno que quisesse cursar essa formação de nível

médio precisava frequentar 2.400 horas do ensino médio regular e mais 1.200 horas do

técnico. Com a nova proposta, será possível optar pela formação técnica profissional

dentro da carga horária regular, desde que o estudante continue cursando português e

matemática até o final. Por consequência, após três anos, ele terá um diploma do ensino

médio e um certificado do ensino técnico (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2017).

Em relação a carga horária escolar, a reforma prevê uma Política de Fomento de

Escolas em Tempo Integral, que deverá ocorrer de forma gradual. Em um primeiro

momento, no prazo máximo de cinco anos, passa das atuais 800 horas anuais para 1.000

horas. Progressivamente, esse tempo irá ser ampliado para 1.400 horas por ano, ou seja,

7 horas diárias de aula (BRASIL, 2017). Essa medida visa atender a meta do Plano

Nacional de Educação (PNE), que estabelece que o país precisa ter, até 2024, pelo

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menos, 25% das matrículas em tempo integral. Atualmente, 386 mil alunos estão

matriculados no ensino médio em tempo integral, o que representa 5% do total. Para que

isso ocorra de fato, o Governo Federal previu um investimento de R$ 1,5 bilhão até 2018,

correspondendo a R$ 2.000 por aluno/ano (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2017).

A formação dos professores é outro ponto de mudança. A nova medida permite

que sistemas de ensino autorizem profissionais com “notório saber” lecionar disciplinas

exclusivamente no ensino técnico e profissional, desde que os cursos estejam ligados às

áreas de atuação dele e especialistas graduados que não tenham cursos de licenciatura

estão autorizados a dar aulas no ensino médio com a condição de fazer uma

complementação pedagógica (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2017; BRASIL, 2017).

Em relação a implementação das medidas, após a homologação da BNCC, no

primeiro ano letivo subsequente à sua data de publicação, os sistemas de ensino deverão

apresentar um cronograma de instituição das principais alterações da lei e iniciar esse

processo a partir do segundo ano letivo (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2017).

A reforma é um passo importante e urgente. Não há uma única solução para todos

os problemas da educação, mas há ações que podem ser tomadas para que isso ocorra,

sendo esse um primeiro passo a ser seguido. Apesar disso, uma das grandes polêmicas

relacionadas ao novo modelo foi a sua forma de apresentação, por meio de uma Medida

Provisória. Para o sucesso da implementação de políticas, é importante a discussão e

participação de forma direta da comunidade de educadores, da sociedade e dos próprios

alunos, o que não ocorreu, podendo gerar consequências negativas futuras.

Mesmo nesse cenário político conturbado, algumas ideias merecem destaque,

como a flexibilização do currículo. Para muitos jovens, como visto anteriormente, a

escola de hoje é distante de sua realidade e aspirações. É preciso resgatar o interesse e a

confiança do aluno, deixando-o decidir parte de seu futuro, dando liberdade para tomar

decisões que nunca estiveram a seu alcance. Esse poder pode trazer o engajamento que

falta, já que a experiência em sala será atrelada a vontade própria de adquirir tal

conhecimento. Henriques (2017, p.37) argumenta que realmente há um potencial

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transformador na flexibilização das trajetórias, pois “libera os jovens para escolhas mais

alinhadas com seus projetos de vida, tornando o ensino médio mais atraente tanto no

campo propedêutico, despertando maior interesse acadêmico, quanto no campo

vocacional, abrindo caminhos para o mundo do trabalho”.

Para que a flexibilização transcorra de forma efetiva, um ponto que precisa ser

reforçado é a constante necessidade de preparar esse estudante de forma qualificada para

tomar tais decisões, já que muitos são novos e inexperientes e outros o tomam por conta

de sua condição social e oportunidades que tiveram ao longo da vida. Além disso, é

preciso que a oferta de diferentes itinerários formativos sejam coerentes e igualitários,

para que todos tenham a possibilidade de escolher o caminho que deseja e não por falta

de opção. Henriques (2017) presume que:

Escolas em regiões de baixa densidade demográfica, que necessitam oferecer as quatro trajetórias acadêmicas e algumas profissionalizantes, solicitarão relativamente mais recursos para atrair e reter o corpo docente e para prover infraestrutura. Por outro lado, regiões de alta densidade, responsáveis por grande parte das matrículas, permitirão à Secretaria coordenar as ofertas de cada escola, que poderá se concentrar em uma especialização de área acadêmica e profissionalizante, com a participação da comunidade escolar e com a otimização dos recursos (HENRIQUES, 2017, p.37).

O ensino integral é outro assunto que pode trazer benefícios, desde que seja

implementado de forma correta. Aumentar por aumentar o tempo no colégio não é o ideal.

É preciso ter estrutura e planejamento adequado para que seja proveitoso tanto para o

aluno quanto para o professor e que não traga mais insatisfação e desmotivação para

ambos. O estudante precisa sentir que está produzindo e aprendendo e o educador precisa

receber incentivos e ser reconhecido pelo seu papel.

A noção de “notório saber” é bastante vaga, mas é interessante para o nível técnico

e profissionalizante pessoas do mercado de trabalho passando conhecimento direcionado.

Essa é uma lacuna que existe no ensino superior, onde há muita teoria envolvida e, muitas

vezes, pouca prática, não refletindo o “mundo real” para os estudantes. Flexibilizar esse

ponto para o ensino médio pode trazer benefícios.

Além dos pontos citados, para que a reforma fosse mais completa e efetiva, outras

questões ainda precisam ser pensadas como novas práticas pedagógicas, escolas com

melhores infraestruturas e a valorização dos profissionais da educação, só para

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citar alguns exemplos. Henriques (2017, p.37) concorda e reforça ser imprescindível

“uma eficiente gestão de pessoas e de recursos financeiros, uma política de formação e

valorização dos professores, uma inteligente alocação desses profissionais e apoio técnico

e financeiro às escolas, de acordo com as definições para cada unidade de ensino”. Como

sugere a pesquisa Repensar o Ensino Médio, não há uma total divergência entre os anseios

dos jovens e as propostas políticas públicas em andamento, mas há mudanças mais

profundas que devem ser realizadas (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2015c)

A Base Comum Curricular do Ensino Médio e a flexibilização da etapa proposta pela Lei nº 13.415/2017 (Medida Provisória 746) são, respectivamente, oportunidades de revisão do currículo e de abertura de novas perspectivas para estudantes concluintes do Ensino Médio. Contudo, os alunos indicam que uma completa reformulação da etapa requer mudanças em aspectos básicos da Educação (e que não foram contemplados pela Lei), como mudanças na formação e atuação docente, expansão e adaptação da infraestrutura das escolas e mais segurança. Esse panorama sugere, portanto, uma necessária combinação de diferentes políticas capazes de solucionar os diversos problemas relacionados ao Ensino Médio. Uma articulação de iniciativas que leve em consideração semelhanças e disparidades culturais de todo País e entre os diferentes perfis de estudantes, pois uma única solução pode não responder à diversidade. (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2017c).

Como primeiro passo para uma reestruturação maior, as mudanças realizadas

parecem fazer sentido e estar relacionadas com diversos problemas citados

constantemente por alunos, professores e estudiosos do assunto e alinhadas, como será

mostrado a seguir, com políticas educacionais de outros países com histórico de sucesso

no tema. Porém, é relevante citar que a discussão precisa continuar já que diversos pontos

ainda precisam de soluções, como mostrado anteriormente. Esse precisa ser um processo

permanente e continuo, caso o contrário, há um risco real de acirramento das

desigualdades já existentes e do primeiro passo rumo a uma reestruturação se tornar o

único.

2.3.3 Confrontando o ensino médio ao redor do mundo

Comparar países e seus modelos educacionais é um exercício complexo, mas

necessário, já que experiências de outras nações podem ser usadas como referência e

adaptadas para contextos específicos. Por isso, a seguir, há uma compilação de sistemas

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que podem servir para esse propósito, principalmente por haver sinergia com as

mudanças que estão ocorrendo no ensino médio brasileiro.

No Canadá, cada província e território tem suas próprias regras para o ensino

médio. A duração vai de três a cinco anos, sendo quatro as disciplinas obrigatórias: inglês,

francês, matemática e estudos sociais. Computação e artes não são exigidas em todas as

províncias e educação física é facultativo nos últimos anos. Além disso, conforme os

alunos progridem, eles podem escolher matérias eletivas de acordo com seu interesse,

como línguas estrangeiras, história e geografia, artes, teatro, cinema, fotografia,

negócios, marketing, contabilidade, turismo, empreendedorismo, computação,

animação, metalurgia, tecnologia, culinária, costura, robótica e aviação. Cada disciplina

vale créditos e, para se formar, em algumas províncias, por exemplo, os estudantes devem

cumprir um mínimo de 80, incluindo obrigatórias (mínimo de 48) e optativas (28 créditos

eletivos). Um dado interessante é que 95% dos canadenses que estão no ensino médio

estão matriculados na rede pública (FAJARDO, 2017).

No Chile, a duração é de quatro anos, em tempo integral, e os alunos possuem três

opções de curso, o ensino médio científico humanista (EMCH), o ensino médio técnico-

profissional (EMTP) e o ensino médio artístico (EMTA). No primeiro, há matérias básicas

como no Brasil e é voltado para quem está preocupado em ingressar em uma universidade.

No segundo, nos dois primeiros anos há matérias básicas, nos dois últimos, o aluno

escolhe matérias equivalentes a curso técnico e é direcionado para o mercado de trabalho.

Já no terceiro, os dois primeiros anos possuem matérias básicas, os dois últimos, matérias

voltadas às artes escolhidas pelo próprio estudante e também é focado no mercado de

trabalho. Apesar de poder haver algumas variações, no geral, as disciplinas obrigatórias

são: matemática, linguagem e comunicação, compreensão ambiental, química, inglês,

física, educação física, história e ciências sociais, artes visuais, música e educação

tecnológica (FAJARDO, 2017).

Nos Estados Unidos, cada estado possui suas regras, mas o ensino médio dura

quatro anos e possui carga horária entre cinco e sete horas diárias. Os alunos montam sua

própria grade curricular baseada em seus objetivos profissionais ou acadêmicos e as

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disciplinas valem créditos, que precisam ser pagos até o fim do curso. Algumas matérias,

como inglês e história americana, são obrigatórias durante todos os anos e outras, como

educação física, são obrigatórias durante determinado tempo (um ou dois anos). Também

há matérias vocacionais, semelhantes aos cursos técnicos do Brasil, que habilitam os

estudantes em áreas como mecânica, marcenaria, hotelaria ou culinária (FAJARDO,

2017).

Na França, o primeiro ano é comum a todos com disciplinas como matemática,

história, geografia, ciências e educação física. No segundo e terceiro, cada aluno monta

sua grade de acordo com seu interesse dentre quatro áreas: economia, ciências, literatura

e tecnologia (que possui matérias focadas no mercado de trabalho). Além disso, durante

os três anos, os estudantes precisam estudar duas línguas estrangeiras, além do francês

(FAJARDO, 2017).

A Finlândia, país reconhecido pela valorização dos professores e por seu sistema

equitativo e de alto desempenho, possui 18 disciplinas obrigatórias. Alguns educadores

finlandeses acham a quantidade exagerada e, por isso, estão testando outros modelos,

apostando em um ensino mais interdisciplinar, sem divisões rígidas entre as matérias. O

sistema do país é organizado em créditos e, a parte obrigatória, corresponde a, no máximo,

51 dos 75 necessários para o aluno se formar. Além disso, algumas são exigidas apenas

no módulo básico, permitindo que o aluno as complete, por exemplo, no primeiro ano do

ensino médio e foque em se aprofundar nas que queria nos anos seguintes (GOIS, 2016).

Na Inglaterra, o ensino médio tem duração de quatro anos, sendo os dois primeiros

comuns a todos, com disciplinas obrigatórias e, os dois últimos, personalizado de acordo

com a vocação e área de interesse do estudante. Há duas opções de currículos, o A-Levels,

focado em conseguir vaga em universidade, e o IGCSE, voltado para a área técnica

(FAJARDO, 2017).

Na Nova Zelândia, a duração é de três anos e funciona em período integral. No

primeiro, o aluno cursa obrigatoriamente matérias dentro das áreas de inglês, matemática

e ciências, além de escolher pelo menos outras três disciplinas. No segundo,

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só a área de inglês permanece obrigatória. No último ano, cada um monta sua grade de

acordo com seu interesse e disponibilidade da escola. As áreas de aprendizado são: inglês,

arte, saúde e atividade física, idiomas, matemática e estatística, ciência, ciências sociais e

tecnologia. Durante os três anos do ensino médio, os estudantes fazem um exame

chamado National Certificates of Educational Achievement (NCEA), prova parecida com

o Enem brasileiro, que somadas servem de acesso à universidade e é reconhecido pelo

mercado de trabalho (FAJARDO, 2017).

Na Suíça, a maioria dos alunos ficam alojados na escola e o ensino médio segue o

modelo norte-americano com duração de quatro anos e créditos que precisam ser

cumpridos. Os estudantes possuem matérias obrigatórias, mas a maior parte da grade é

opcional e preenchida de acordo com as preferências pessoais de cada um. Há uma escala

de vários níveis em cada disciplina, possibilitando a especialização e modularização do

currículo (FAJARDO, 2017).

É interessante notar que, apesar de não haver uma regra mundial sobre o melhor

sistema para o ensino médio, a maioria dos países citados estimulam o período integral e

a personalização do currículo através das preferências dos alunos, dois pontos que estão

em evidência no novo modelo adotado pelo Brasil. Entender os alunos através de seus

hábitos, de seus costumes, de seus interesses, é fundamental para que possam ser

envolvidos de forma correta, criativa e estimulante dentro das salas de aula, que tenham

maior interesse durante o longo caminho educacional e que estejam prontos para o novo

cenário da economia mundial.

Para Gois (2016), uma outra lição importante que pode ser tirada de outros países

com bons resultados na educação é que o projeto de reformar o ensino médio não se

encerra na definição de um modelo, é preciso esforço antes e depois, buscando sempre o

melhor formato possível e investindo nas escolas e professores, para que sejam

valorizados e estejam preparados para fazer o melhor por seus alunos, além de uma

constante preocupação para evitar que a desigualdade acentue, com alunos mais ricos

sendo direcionados para uma trajetória que os leve para a universidade, enquanto os mais

pobres se destinam ao profissionalizante.

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Apesar de alguns pontos de discussão, principalmente pela forma de implantação,

o novo ensino médio possui pontos que estão alinhados com grandes potências mundiais

e possui potencial para ser o primeiro passo em direção a um modelo transformador.

Adaptando os modelos e ideias para o contexto e a a realidade brasileira, com uma

constante melhoria e uma maior integração da sociedade, dos profissionais e dos

estudantes nas discussões, o Brasil pode sair da zona de desespero educacional e alcançar

um novo patamar futuramente.

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3. Os Nativos e Imigrantes Digitais e a Tecnologia

3.1 As características dos Nativos e dos Imigrantes Digitais

Os alunos, ponto central na discussão sobre uma nova educação, vêem mudando

de características nos últimos anos, não sendo mais os mesmos de quando o sistema

educacional corrente foi criado. Os atuais são chamados pelo pesquisador americano

Marc Prensky (2001) de Nativos Digitais e são falantes naturais da linguagem digital dos

computadores, video-games, celulares e da Internet. Nasceram e cresceram rodeados

dessas novas tecnologias e, por isso, pensam, processam as informações e se comunicam

fundamentalmente diferente dos seus predecessores (PRENSKY, 2001; GARDNER &

DAVIS, 2013). Para Lemos (2009, p. 39), “fazem parte da primeira geração imersa quase

que totalmente na tecnologia, na mais efetiva tese McLuhaniana de que os meios são

extensões do homem.” Preferem informações visuais do que textuais, trechos curtos aos

longos, fazem múltiplas tarefas simultaneamente, possuem a habilidade de mudar sua

atenção de um tema para outro facilmente, preferem jogos do que trabalho “sério” e

precisam de recompensas rápidas, citando só algumas das várias características que

diferenciam a atual geração das anteriores (OBLINGER & OBLINGER, 2005;

PRENSKY, 2001).

Oito características, ou normas, descrevem um típico sujeito da Geração Digital e os diferenciam do seus pais, os boomers. Eles prezam a liberdade e a liberdade de escolha. Eles querem personalizar as coisas, tornando-as próprias. Eles são colaboradores naturais, que gostam de uma conversa, não de palestras. Eles irão analisar minuciosamente você e a sua empresa. Insistem na integridade. Eles querem se divertir, mesmo no trabalho ou na escola. Velocidade é algo normal. A inovação é parte da vida (TAPSCOTT, 2009, p. 6).

Nesse cenário, uma das atividades favoritas deste público, e que vêm crescendo a

cada dia, é a utilização das novas tecnologias, como as redes sociais, os blogs e o Youtube,

para se expressarem criativamente, possibilitando que suas vozes sejam ouvidas, suas

histórias sejam contadas como nunca antes na história e que novas amizades sejam feitas

em torno de interesses comuns (GARDNER & DAVIS, 2013; RITCHHART, 2015;

LEMOS, 2009). Lévy (1999) acredita que o ciberespaço forneceu novas possibilidades

de criação coletiva distribuída, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede.

Argumenta que esses processos de inteligência coletiva

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desenvolvem a apropriação, por indivíduos e por grupos, das alterações técnicas e

diminuem os efeitos de exclusão resultantes da aceleração do movimento tecno-social.

Esse fenômeno criativo é, cada vez mais, feito através de imagens e vídeos, sendo

facilmente exemplificado pela proliferação e o sucesso de aplicativos como o Snapchat e

o Instagram. Como explica Prensky (2001c), a relação desse público com interfaces

gráficas mudou, invertendo o papel de quem elucida. O texto passa a ser complementar e

a imagem, a protagonista, já que desde a infância os jovens são expostos a televisão,

vídeos e jogos que colocam gráficos de alta qualidade e altamente expressivos com pouco

ou nenhum texto de acompanhamento. Esse cenário, de acordo com James (2014), foi

facilitado por conta das tecnologias digitais terem pavimentado uma nova, rápida e rica

forma de compartilhamento de conteúdo e conexão entre pessoas e, para Gardner & Davis

(2013), pelos smartphones e Internet de alta velocidade.

A TIC Kids Online Brasil 2015, pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet

no Brasil (CGI.br) com o objetivo principal de compreender como a população brasileira

de 9 a 17 anos utiliza a Internet e lida com seus riscos e oportunidades, descobriu que, em

2015, cerca de oito em cada dez crianças e adolescentes (79%) utilizaram a Internet,

correspondendo a 23,4 milhões de usuários em todo o país, sendo que 85% deles

acessaram por meio de telefones celulares e 21% por tablet. 84% o fizeram todos os dias

ou quase todos os dias, sendo em casa (81%), na casa de outra pessoa (75%) e na escola

(32%) o maior número de acessos à rede. A pesquisa também revela as principais

atividades realizadas por esse público na Internet, sendo procurar informações para fazer

trabalhos escolares (80%), enviar mensagens instantâneas (79%) e usar redes sociais

(79%) as com maior predominância (CGI.BR, 2016). Um estudo realizado por Passarelli,

Junqueira & Angeluci (2014, p. 167) reforça esses dados indicando que o comportamento

dessa geração interativa em relação aos dispositivos digitais é assimilado pelo conceito

de anywhere, anytime e está diretamente presente em momentos de estudo, já que “56,8%

dos entrevistados alegaram que seus aparelhos

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celulares ficam ligados mesmo estando em sala de aula, ou quando estão estudando

(24,4%)”.

As redes sociais, canais importantes de socialização para esses jovens, permitem

ultrapassar restrições para estar fisicamente com amigos e para construir novas amizades.

Porém, conforme a TIC Kids Online Brasil 2015, elas acabam sendo mais presentes entre

os mais velhos, com 96% dos adolescentes de 15 a 17 anos e 93% dos de 13 a 14 anos

possuindo perfis em redes sociais, contra 63% de crianças entre 9 e 10 anos e 79% de 11

a 12 anos. Entre todas, as que possuem maior número de usuários são o Facebook e o

Whatsapp, seguidos por Instagram e Snapchat (CGI.BR, 2016).

Na contramão desse cenário, segundo Prensky (2001), existe uma outra parcela

do público chamado de Imigrantes Digitais. São pessoas que não nasceram no mundo

digital, mas se tornaram fascinadas pelo tema ou foram forçados a tal pela presença

maciça de novas tecnologias em seu dia-a-dia, adotando grande parte delas para sua vida.

Assim como qualquer imigrante, eles aprendem a se adaptar ao novo ambiente em que

estão inseridos, mas sempre mantendo certo “sotaque”, se conectando com o seu passado,

podendo trazer consequências sérias.

Através da revisão da literatura é possível concluir que por “imigrantes digitais” se deve entender todos os indivíduos que nasceram num ambiente sem acesso e uso massificado dos media, do computador e da internet (e de todas as aplicações de si derivadas), e que por essa razão tiveram de se adaptar a um ambiente, a instrumentos, técnicas e processos distintos do que estiveram na base da sua educação e desenvolvimento. Assim, parece que as expressões “nativos e imigrantes digitais” servem apenas para fazer uma distinção de contexto(s) educativo(s) com naturais consequências na forma como cada um se relaciona com o meio. Na sua essência o Homem é e continua a ser o mesmo, apenas responde à sua própria biologia cerebral, ou seja, adapta-se ao meio para otimizar comportamentos e sobreviver o mais comodamente possível. Neste sentido, os rotulados “imigrantes digitais” são todos aqueles que crescendo numa cultura analógica têm vindo a se adaptar à cultura digital graças à plasticidade neuronal que permite o comportamento adaptativo e evolutivo, que o ser humano apresenta ao longo da vida (SILVEIRA, 2014, p.19).

Esses docentes “vivem os dilemas e desafios de um tempo de transição. Eles foram

formados na cultura oralista e presencial, acostumados a olhar o outro e interagir no

mesmo meio físico de forma síncrona” (MARTINS & GIRAFFA, 2008, p. 3632). Isso é

reflexo, segundo Santos (1995 apud MARTINS & GIRAFFA, 2008), dos modelos de

ensino internalizados ao longo de sua vida como estudante em contato

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estreito com seus professores, tendo como consequência seu desempenho atual na

função de educador.

De acordo com Prensky (2001, p.2), o maior problema da educação hoje é que os

“professores Imigrantes Digitais, aqueles que falam uma língua ultrapassada (a da era

pré-digital), estão lutando para ensinar uma população que fala uma língua

completamente nova”, com características e habilidades que, muitas vezes, não são bem-

vistas por eles. Como quem escolhe a metodologia de ensino são os Imigrantes, há um

gap que precisa ser preenchido.

Para exemplificar esse argumento, pode-se aceitar como base o relatório da OECD

(2015c) que afirma que os professores no Brasil sentem que precisam estar mais

preparados para utilizar ferramentas tecnológicas no ensino. Cerca de 27% deles que

lecionam nos anos finais do ensino fundamental assumiram ter um alto nível de

necessidade de desenvolvimento profissional no ensino com as tecnologias e 37%

alegaram ter necessidade de desenvolvimento profissional no uso de novas tecnologias

no local de trabalho. Esses valores são bem maiores que as respectivas médias OCDE de

18% e 15%, estando entre os maiores de todos os países que participam na TALIS. Por

mais que os dados estejam relacionados a professores dos anos finais do ensino

fundamental, é possível acreditar que eles também são característicos dos que lecionam

no ensino médio.

Borba & Penteado (2001, p. 46 apud MARTINS & GIRAFFA, 2008) sugerem

que “os seres humanos são constituídos por técnicas que estendem e modificam seu

raciocínio e, ao mesmo tempo, esses mesmos seres humanos estão constantemente

transformando essas técnicas”. Dessa forma, Martins & Giraffa (2008, p. 3632),

argumentam que “a forma de trabalho do professor Imigrante difere e muito da forma

como seus alunos percebem o conhecimento e sua produção”. Nesse contexto, há a

necessidade de uma adaptação para que possam se conectar com seus alunos digitais, já

que, segundo Lemos (2009), os professores que trabalham com essa geração, em geral,

comentam como está difícil dar aula e os alunos relatam insatisfação e tédio com a

mesmice do cotidiano da sala de aula, criando um problema de comunicação que

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dificulta o ensino e a aprendizagem. Não é porque os educadores não conseguem aprender

escutando música, vendo TV ou com um jogo, que seus estudantes não vão conseguir.

Eles também não podem assumir que os métodos utilizados no seu período escolar ainda

vão funcionar só porque funcionaram com eles (PRENSKY, 2001).

[…] podemos pensar a necessidade de o professor voltar-se reflexivamente para suas práticas escolares e problematizá-las. Dubet (1997) sugere que a escola recrie um quadro normativo de modo democrático, que defina direitos e deveres envolvendo toda a comunidade escolar. A geração adulta que forma a comunidade escolar, no entanto, ainda insiste no modelo tradicional, buscando normatizar os corpos, hierarquizar saberes, homogeneizar os sujeitos, perdendo com isso a oportunidade de estabelecer, através das práticas escolares, relações de interação entre as gerações. Entretanto, há claros indícios de que a autoridade do professor está se transformando através das estratégias impostas pelos próprios jovens, que o desafiam continuamente (TOMAZETTI & SCHLICKMANN, 2016, p. 337).

Os Nativos Digitais realmente são e pensam diferente? Prensky (2001b) afirma

que há evidências neurobiológicas de que diferentes formas de estímulos alteram a

estrutura do cérebro, afetam a forma como a pessoa pensa e são duradouras ao longo da

vida. De acordo com a psicologia social, Prensky (2001b) continua, há fortes evidências

que o padrão de pensamento de um ser humano muda dependendo das experiências

vivências pela mesma e a cultura a qual está inserida interfere não só no que pensa, mas

na forma de pensar, que é diferente. Complementando, estudos sobre a plasticidade do

cérebro - conceito que afirma que o suprimento de células cerebrais é reabastecido

constantemente ao longo da vida - concluíram que o cérebro não se reorganiza

casualmente, mas que requer um trabalho árduo de estímulo sensorial e atenção focada.

Segundo o programa Scientific Learning’s Fast ForWard, para que haja mudanças

desejadas em um aluno, ele precisa gastar 100 minutos por dia, 5 dias na semana, por 5 a

10 semanas com atenção focada em um objetivo. Desde o surgimento do jogo Pong, em

1974, os jovens vêm gastando esse tempo com video games, alterando o paradigma

defendido por muitos (PRENSKY, 2001b).

Eles vêm adaptando ou programando seus cérebros para a velocidade, a interatividade e outros fatores encontrados em jogos, tanto quanto os cérebros dos boomers foram programados para acomodar a televisão e os cérebros dos homens alfabetizados foram reprogramados para lidar com a invenção da linguagem escrita e da leitura. (PRENSKY, 2001b, p.3).

Para Prensky (2001c), esse é o ponto importante e interessante do problema, já que

quando o ser humano descobriu como re-treinar seus cérebros para a leitura, eles

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tiveram que re-treinar novamente, mas para a televisão. E agora, tudo está mudando

novamente, com os jovens atuais tendo que re-treinar seus cérebros para novas formas de

pensar, sendo muitas delas, totalmente contrárias aos antigos meios, causando uma das

principais tensões em relação a educação.

Essas características acabam levando para uma outra discussão comum co-

relacionada, a falta de atenção Nativos Digitais. Entretanto, a discussão já começa

inadequada com a afirmação de que eles não conseguem prestar atenção por muito tempo

em determinado assunto ou situação. Com jogos, música e a Internet, por exemplo, o foco

é grande e a distração é pouca. A verdade é que os Nativos precisam de experiências

interativas e de feedback constante, o que não ocorre no atual modelo educacional,

fazendo com que eles escolham não prestar atenção e não sendo uma característica

inerente desse público (PRENSKY, 2001b).

Para Peter Moore (1997 apud Prensky, 2001b), essa questão deve ser considerada

com urgência, já que, segundo ele, o pensamento linear que é dominante nas salas de aula

podem ser prejudiciais e retardar o aprendizado de pessoas que possuem cérebros

desenvolvidos a partir de jogos e navegação pela internet. Demo (2002, p. 357) também

acredita na aprendizagem não linear e dá como exemplo crianças que “aprendem

rapidamente língua estrangeira, quando brincam todos os dias com outras, sem terem

noção de lógica, gramática, estudo sistemático, etc.”

A partir esse panorama, parece correto afirmar que os Imigrantes Digitais devem

se adaptar ao contexto atual dos Nativos. Prensky (2001) acredita que, por mais que eles

desejem, é altamente improvável que os estudantes voltem para trás e comecem a pensar

da “maneira antiga”, sendo, talvez, até impossível, considerando que seus cérebros já

podem ser diferentes dos seus antecessores. Um professor Imigrante inteligente aceita a

situação atual, a de que ele não conhece por completo esse novo mundo e se aproveita

das crianças e dos jovens para se atualizar, aprender e se integrar, ganhando a confiança

dos alunos e alterando o padrão passivo-dependente da relação aluno e professor e

estimulando a interação aluno-aluno para benefício da aprendizagem (PRENSKY, 2001;

RITCHHART, 2015).

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Assim como no mundo atual, onde tudo muda de forma constante e muito rápida,

os professores precisam pegar a essência do ensino e de suas metodologias e adaptá-las

para uma linguagem e um estilo que cative e chame atenção dos mais novos. Para que

isso aconteça de forma efetiva, é importante entender os hábitos, desejos e necessidades

de seus alunos e, principalmente, a sua relação com a tecnologia, que só aumenta. Se eles

não forem o centro e o foco da educação, dificilmente o cenário atual irá mudar.

3.2 A evolução das tecnologias e sua relação com a educação

As tecnologias estão conosco por muitos milhares de anos e são parte do

desenvolvimento humano. Muitas das maiores conquistas humanas são devidas às

tecnologias inventadas pelos seres humanos, como é o caso do relógio, da roda, da

máquina a vapor e dos foguetes. Mas também, muitas das realizações mais assustadoras

foram devido a esse desenvolvimento, como o arco e flecha, o rifle, as armas nucleares,

os foguetes e os drones (GARDNER & DAVIS, 2013). O foco dessa sub-seção é analisar

o lado das conquistas e como elas estão integradas com a educação.

Prensky (2001c) cita e concorda com o pensamento dos pesquisadores Robert

McClintock, Frank Moretti e Luyen Chou que defendem que a evolução e a transformação

do ensino e do aprendizado andam de mãos dadas com a evolução da tecnologia. Lévy

(1999, p.25) acredita que em vez de enfatizar o impacto das tecnologias, devemos pensar

que são produtos de uma sociedade e de uma cultura. “Uma técnica é produzida dentro

de uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada por suas técnicas” e não

determinada por ela, sendo essa uma diferença fundamental. Para classificar esses

argumentos, Prensky (2001c) passa por vários momentos da história exemplificando esse

processo, como pode ser visto a seguir.

Originalmente, a educação era um processo de imitação e de mentoria. Por

exemplo, para caçar, era preciso pegar uma rocha e atirar em um animal. Se não acertasse

de primeira, a prática e a repetição faziam com que o aprendizado fosse suportável e

memorável. Esse método de demonstração e aplicação ainda é presente na

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nossa sociedade e requer bons treinadores, principalmente no relacionamento um a um

(PRENSKY, 2001c). Foi nessa época também que houve o “longo período de gestação”

da ergonomia, como cita Iida (2005). O autor discorre que, nesse cenário de caça com

pedras, o homem pré-histórico escolhia a que se adaptasse melhor à forma e o

movimentos da mão.

Com o passar do tempo, uma nova adição ao aprendizado surgiu, as imagens e os

símbolos. Nesse momento, não é mais preciso mostrar fisicamente como funciona, é

possível simplesmente desenhar na areia ou na parede (PRENSKY, 2001c).

O próximo grande salto na inovação tecnológica da aprendizagem foi o

desenvolvimento da linguagem falada. A partir disso, foi possível dizer e descrever como

fazer algo, mesmo que não esteja fazendo naquele instante, além de ser possível fazer

perguntas e esperar as respostas para ver a compreensão. Para ajudar a lembrar e tornar o

aprendizado memorável, histórias e parábolas eram criadas. Essa evolução aconteceu a

tanto tempo que já está enraizada em nossos cérebros (PRENSKY, 2001c).

Seguindo a linha do tempo, por volta da época de Sócrates, surgiu a escrita, a

leitura e com elas, a alfabetização. Agora, idéias e aprendizados podiam ser codificados

de outras maneiras que não apenas histórias, perguntas e respostas. Havia a troca de

conhecimento entre alunos e um podia ler os pensamentos dos outros. As bibliotecas

surgiram e pensadores de lugares diferentes podiam ler o que outros escreviam e construir

a partir deles. Para facilitar esse processo, uma nova mudança tecnológica ocorreu, a

invenção da imprensa. Materiais “educacionais” podiam ser distribuídos a quem os

quisesse, o que levou a necessidade de ensinar mais pessoas a ler e a escrever. Dessa

forma, segundo Neil Postman, professor de comunicação da NYU, a educação em massa,

empregada até hoje, começa a dar seus primeiros passos com o objetivo de nivelar todos

ao básico da alfabetização, o que acabou tendo um efeito colateral negativo. Mesmo as

escolas sendo destinadas não só para leitura, mas para pensar e raciocinar através do que

estava escrito, nem todos os professores eram e são capazes de tornar a exposição lógica

fascinante e atraente, o que resultou, ao longo do tempo, a

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redução do ensino a palestras pré-preparadas e a aprendizagem a uma mera leitura e escuta

(PRENSKY, 2001c).

Então, veio a revolução e a competição industrial. Sucedeu uma maior

padronização do sistema escolar, principalmente pela necessidade de testar os estudantes

para colocá-los rapidamente no trabalho correto e das exigências militares para a I Guerra

Mundial. Alguns anos depois, com a eclosão da II Guerra Mundial,

[…] os conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis foram utilizados ao máximo, para construir instrumentos bélicos relativamente complexos como submarinos, tanques, radares, sistemas contra incêndios e aviões. Estes exigiam muitas habilidades do operador, em condições ambientais bastantes desfavoráveis e tensas, no campo de batalha. Os erros e acidentes, muitos com consequências fatais, eram frequentes. Tudo isso fez redobrar o esforço de pesquisa para adaptar esses instrumentos bélicos às características e capacidades do operador, melhorando o desempenho e reduzindo a fadiga e os acidentes (IIDA, 2005, p. 6).

Essa metodologia de “explicar-testar” funcionou bem até o final do século XIX e

o início e meados do século XX e não foi alterado por outras novas tecnologias que

surgiram (PRENSKY, 2001c). De acordo com a Fundação Santillana (2014), inovações

como o rádio, a televisão, o cinema e o vídeo tiveram efeitos isolados e marginais sobre

o que os estudantes aprendiam na escola. Thompson (2014) exemplifica que, no século

XIX, George Parsons Lathrop previu que o cinema iria permitir que experiências

imersivas fossem entregues aos jovens, que, logo depois, o rádio tornou-se o destaque e

iria enriquecer os alunos com palestras de alta qualidade, que algumas décadas mais tarde,

a revista Nation’s Business declarou que a televisão se tornaria “a maior sala de aula que

o mundo já viu”. Como dito anteriormente, pouco disso foi realmente alcançado. Uma

hipótese formulada por Prensky (2001c) é que isso pode ter acontecido por essas

tecnologias serem menos transformacionais que a linguagem, a alfabetização ou a

imprensa, mas, para Luyen Chou, na verdade, o sistema educacional fez esforço para

mantê-los fora, fazendo com que se pergunte como teria sido diferente se em cada mesa

de aluno tivesse um telefone para propósitos educacionais (PRENSKY, 2001c).

No final do século XX, ocorre uma grande revolução tecnológica com o

surgimento dos computadores, da interatividade e suas tecnologias associadas. Com ela,

a linguagem escrita começou a ser menos dominante, a organização linear foi

complementada com uma organização de acesso aleatório, mídias passivas, como livros

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e TV, ganharam a companhia de outras ativas, como jogos e internet, e a velocidade, no

geral, aumentou (PRENSKY, 2001c). Além disso, para Gardner & Davis (2013), os

dispositivos digitais permitiram um maior grau de colaboração tanto entre pessoas que

estão próximas, como as que estão distantes fisicamente, algo que era impossível em eras

anteriores.

Muito do que foi citado no parágrafo anterior se deve ao surgimento e a expansão

da internet. Inicialmente vista como um sistema de comunicação muito próximo ao

serviço de correios e de um sistema de telefonia, começou a interconectar-se com grandes

universidades dos EUA na década de 70 e, em abril de 1995, o acesso à rede foi aberto às

conexões comerciais e ao público (TEIXEIRA, 2014). Desde então, seu crescimento é

exponencial e tornou-se uma das mais importantes fontes de informação, comunicação,

armazenamento e entretenimento do mundo.

Ainda sobre a revolução citada e sua importância, a invenção do

microprocessador, em 1971, “foi caracterizado como um dos primordiais avanços

tecnológicos que possibilitaram a convergência de mídias, ao permitir que qualquer tipo

de dado fosse criado, armazenado, manipulado, reproduzido e distribuído digitalmente”.

Até aquele momento, todos os meios de comunicação, exceto os computadores e alguns

tipos especializados de telecomunicação, eram feitos de forma analógica (TEIXEIRA,

2014, p. 22). Segundo Cotton & Oliver (1997 apud TEIXEIRA, 2014), essa transposição

do analógico para o digital possibilitou a fusão de mídias distintas para um meio único de

concentração, controle, armazenamento e transmissão. Além disso, o meio digital

permitiu a organização e/ou manipulação de textos, imagens, sons, animações e vídeos

através de um controle computacional único.

Outro fator relevante é que a fusão de mídias proporcionou a criação de diversas

tecnologias que estão presentes nos tempos atuais, como os celulares e smartphones,

tablets, computação nas nuvens, jogos em rede, redes sociais, banda larga, TV interativa,

conteúdos em 3D, vídeos sob demanda, ambientes digitais de aprendizagem (TEIXEIRA,

2014) e, mais recentemente, nos últimos 2 ou 3 anos, realidade virtual e aumentada,

tecnologias vestíveis e Internet das Coisas.

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Algo que pode ser afirmado em relação as transformações que começaram no

início do século XX e que continuam até hoje é a relativa aceleração do tempo, como

afirma Bortolazzo (2012).

Até a década de 1950, as pessoas em geral dispunham de fôlego para se adaptar às novidades no campo das tecnologias e da transmissão de dados. A base de informação para grande parte da população estava restrita aos jornais e aos livros. Já na primeira década do século XX, se deu a expansão do rádio. Demorou muito tempo até surgir a televisão em preto e branco e, mais alguns anos, para chegarmos a televisão em cores. De fato, a partir da televisão em cores, menos tempo ainda se levou até surgir a televisão por assinatura e, a partir daí, poucos anos para a internet invadir todos os espaços sociais. A questão central é que, nos últimos 50 anos, o que se observa é uma relativa aceleração do tempo. O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação é um elemento decisivo para criar marcas de tempo, consideradas igualmente um dos principais fatores de reconfiguração da sociedade. A facilidade com que as informações são disponibilizadas, acessadas e utilizadas como fontes para gerar mais informações, mais conhecimento, num ciclo interminável, requer uma sociedade de inovação constante (BORTOLAZZO, 2012, p. 2333).

Alinhado com esse raciocínio e explicando o impacto dessa revolução

tecnológica, Lévy (1999, p.17) suscita o pensamento acerca da cibercultura, neologismo

que especifica “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes,

de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento

do ciberespaço”, que pode ser definido como o “novo meio de comunicação que surge da

interconexão mundial dos computadores”. Lévy (1999, p.17) especifica que o termo não

está relacionado somente com “a infra-estrutura material da comunicação digital, mas

também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos

que navegam e alimentam esse universo”. Nesse ponto, Lanier (2011) sustenta que a

ascensão do ciberespaço foi um raro exemplo de quando se aprendeu informações novas

e positivas sobre o potencial humano, visto que nunca foi imaginado que milhões de

pessoas iriam, cooperativamente, colocar tanto esforço em um projeto sem a presença de

motivadores clássicos da humanidade, como a publicidade, motivações comerciais,

ameaças de punição, ou a exploração do medo. Para Lévy (1999), outro fator que

impulsionou esse crescimento foi um movimento coletivo internacional de jovens que

queriam experimentar novas formas de se comunicar, diferentes das clássicas que já

existiam. Também acredita que:

[…] o desenvolvimento das cibertecnologias é encorajado por Estados que perseguem a potência, em geral, e a supremacia militar em particular. É também uma das grandes questões da competição econômica mundial entre as firmas gigantes da eletrônica e do software, entre os grandes conjuntos geopolíticos. Mas também responde aos

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propósitos de desenvolvedores e usuários que procuram aumentar a autonomia dos indivíduos e multiplicar suas faculdades cognitivas. Encarna, por fim, o ideal de cientistas, de artistas, de gerentes ou de ativistas da rede que desejam melhorar a colaboração entre as pessoas, que exploram e dão vida a diferentes formas de inteligência coletiva e distribuída (LÉVY, 1999, p.24).

Apesar de todo esse desenvolvimento, assim como houve com as tecnologias

anteriores a essa revolução, as atuais também tiveram efeitos isolados na aprendizagem

escolar. Para Voelcker (2012, p.42), as diversas formas de tecnologias digitais mudaram

o mundo, mas ainda não promoveram alterações sistêmicas na organização educacional,

além de haver “uma transformação rápida na aprendizagem informal, mas ainda lenta nas

organizações que integram os sistemas de educação e apoio ao desenvolvimento dos

jovens”. Nelas, o aparato tecnológico é usado apenas como outra modalidade de material,

sem alterar a maneira como o conteúdo é ensinado ou modificar a administração das

verbas e do tempo.

Lévy (1999), há quase 20 anos atrás, profetizou que o ciberespaço iria se tornar a

principal infraestrutura de produção, transação e gerenciamento econômico, sendo o

principal equipamento coletivo internacional da memória, pensamento e comunicação e

o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade, fazendo com que emergisse

gêneros de conhecimento inusitados, novas formas de avaliação do saber e outros atores

na produção e no tratamento dos conhecimentos. Com o avanço da internet e de

plataformas digitais, o surgimento de novos dispositivos digitais, como celulares e tablets,

o desenvolvimento de novas tecnologias, como o armazenamento na nuvem e a realidade

virtual, e a quase ubiquidade dessas no dia a dia da população, a profecia estava certa. De

repente, o único equivoco cometido por Lévy foi acreditar que qualquer política de

educação iria levar em conta tudo isso, o que, infelizmente, não vêm ocorrendo, já que

tem um grande potencial de complementaridade onde novas tecnologias podem

impulsionar novas metodologias de ensino e a capacidade dos professores pode estimular

a evolução das tecnologias educacionais.

3.3 O uso das tecnologias digitais na educação

O uso da tecnologia nas salas de aula ou dentro do processo educacional ainda não

é unanimidade. Grande parte dos docentes se limitam ao mesmo material que é

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utilizado a décadas, sem entender e/ou não acreditar nos possíveis benefícios

tecnológicos. Porém, as novas tecnologias possuem um papel cada vez mais central no

dia-a-dia das pessoas, principalmente na dos Nativos Digitais, que são fortemente

influenciados por elas, e, por isso, tendem a se tornar um fator importante na

reestruturação da educação.

Os jovens são fascinados pelas tecnologias digitais e, gostem os educadores ou

não, elas são utilizadas constantemente fora da escola. Se há o interesse de que o ensino

esteja mais integrado com a vida externa a esse espaço, é fundamental encontrar as

melhores maneiras de lidar com essas tecnologias e deixar de lado o pré-conceito

estabelecido, já que também ajudam no desenvolvimento de competências sociais e

profissionais, na construção de comunidades e no relacionamento entre aluno-professor

(LITTLE & ELLISON, 2015; CGI.BR, 2016).

Little & Ellison (2015) reiteram esse pensamento e afirmam que, atualmente,

computadores e outras tecnologias são onipresentes e indispensáveis no trabalho e na vida

social, e quando são ignorados, os maiores prejudicados são os alunos, já que são

enganados e deixam de ser preparados para o futuro. A ATC21S (2009) levanta o mesmo

questionamento, considerando que os trabalhadores cada vez mais trabalham em grupo,

usam o conhecimento adquirido e uma variedade de ferramentas e recursos tecnológicos

para analisar e resolver problemas complexos ou criar produtos novos enquanto alunos

estão em sala de aula fazendo exames tradicionais, sem acesso a outras pessoas e recursos

e são obrigados a memorizar fatos ou aplicar procedimentos simples para problemas pré-

estruturados dentro de uma única disciplina escolar. No mesmo caminho, Anna Penido,

diretora do Inspirare, defende que “ a tecnologia está mudando a forma como produzimos,

consumimos, nos relacionamos e, até mesmo, como exercemos a nossa cidadania. Agora

é a vez de transformar também a maneira como aprendemos e ensinamos” (PORVIR,

[201-?]).

Katherine Merseth, professora de Harvard e diretora do programa de formação de

professores, é adepta do uso da tecnologia e julga o celular um instrumento poderoso de

aprendizado. Acredita que o ensino não está mais restrito a sala de aula, mas que ele

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ocorre em um ecossistema maior, que foi amplificado pelo universo online e pelo

computador, o que obrigada a todos a otimizar o aprendizado. Como exemplo, cita o

retorno sobre a performance do aluno dada em tempo real pelas tecnologias atuais,

possibilitando o armazenamento das informações para avaliar o seu progresso, o ajuste

ao nível de dificuldade de acordo com o desempenho individual e o acerto de rumo à

soluções que busca (NALINI, 2016).

Outra adepta do uso da tecnologia no ensino é a americana Karen Cator. Ex-

executiva da Apple, liderou a elaboração do plano para aplicar novas tecnologias à sala

de aula no governo de Barack Obama e é a atual presidente da Digital Promise, uma

organização sem fins lucrativos que trabalha para chegar a soluções que abram

oportunidades de aprendizado. Karen defende que a internet possibilitou as pessoas a

terem acesso aos melhores especialistas de diferentes áreas do conhecimento do mundo

sem sair de casa, a utilizarem ferramentas que conectam pessoas, a escrever, publicar e

criar filmes, músicas e animações e a aprenderem em seu próprio ritmo (BUSTAMANTE,

2016).

Para a Fundação Santillana (2014, p. 6), a tecnologia possui um papel mais

relevante na educação e maior do que simplesmente fazer com que os estudantes

aprendam melhor e adquiriram conteúdo, eles passam a desenvolver competências.

Usadas de forma adequada, são ferramentas fundamentais para o desenvolvimento

econômico e social, pelo fato de que “fomentam o crescimento econômico, possibilitam

a inovação e capacitam as pessoas com as competências que o mercado de trabalho

demanda”. Outro ponto importante, levantado por Lévy (1999), é que as tecnologias

digitais amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas,

como a memória, a imaginação, a percepção e os raciocínios, possuem um enorme

potencial e estão em constante evolução, trazendo mais benefícios e possibilitando novos

e criativos usos. Além disso, possuem uma vantagem óbvio, o de que os estudantes já

estão familiarizados com as interfaces, as linguagens, o uso e a interação com elas

(KLOPFER ET AL., 2009).

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Dentre diversas possibilidades, Anna Penido reforça que há três grandes desafios

educacionais que os novos recursos tecnológicos prometem ajudar a superar (PORVIR,

[201-?]).

1. Equidade: ampliação do acesso ao conhecimento e a recursos educacionais

diversificados e personalização do conteúdo a partir das dificuldades, ritmo e

interesses de cada aluno;

2. Qualidade: recursos mais ricos, interativos e dinâmicos, apoio ao professor na

construção de estratégias pedagógicas mais eficazes e disponibilidade a toda

hora e em qualquer lugar, tanto para professores como para alunos,

aumentando a autonomia;

3. Contemporaneidade: aprendizagem que dialoga com o universo dos alunos do

século XXI e preparação para vida presente e futura.

Apesar de todos os benefícios e promessas, Lévy (1999) acredita que não deve- se

considerar a tecnologia como um ator autônomo, independente e separado da sociedade

e da cultura, mas sim o resultado da interação entre entidades.

Defendo, […], que a técnica é um ângulo de análise dos sistemas sócio-técnicos globais, um ponto de vista que enfatiza a parte material e artificial dos fenômenos humanos, e não uma entidade real, que existiria independentemente do resto, que teria efeitos distintos e agiria por vontade própria. As atividades humanas abrangem, de maneira indissolúvel, interações entre: pessoas vivas e pensantes, entidades materiais naturais e artificiais, ideias e representações. (LÉVY, 1999, p.22)

Martins & Giraffa (2008) concordam e acrescentam ao ponto de vista de Lévy (1999).

Ainda que os recursos sejam de suma necessidade e importância para o desenvolvimento do ensino no Brasil, a implementação de espaços informatizados, o desenvolvimento de softwares e ambientes de aprendizagem, não há garantias de melhora na qualidade da educação. Não é possível comprar qualidade, só pode-se desenvolvê-la. O resgate das competências docentes faz a diferença entre escolas bem equipadas e escolas de boa qualidade. Qualidade se mede por nível de aprendizagens e não por quantidade de materiais investidos. A formação docente, a construção ou a resignificação de competências do professor, torna-se uma das principais âncoras nos casos de sucesso do uso dos recursos tecnológicos na escola (MARTINS & GIRAFFA, 2008, p. 3634).

Anna Penido segue a mesma lógica e expõe que é preciso ter cuidado para que as

tecnologias não sejam usadas simplesmente como uma versão digital de práticas

pedagógicas tradicionais. A diretora argumenta que elas possibilitam fazer o que era

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impossível antes, com novas abordagens mais disruptivas, e que podem trazer a educação

para o século XXI. Lembra que a tecnologia não substitui o professor, ao contrário, o

empodera, permitindo que “abandonem atividades mecânicas ou repetitivas, como

corrigir exercícios e dar aulas expositivas, e tenham mais tempo para atuar como

mediadores, mentores e designers da aprendizagem” (PORVIR, [201-?]).

Por conta disso, as professoras Magalhães e Amorim (2003 apud DE SOUZA,

2010) defendem a ideia de que os professores precisam encarar seus medos e utilizar os

recursos tecnológicos como apoio para as aulas, além de sustentar que eles jamais serão

substituídos pela tecnologia, mas aqueles que não souberem tirar proveito dela correm o

risco de serem substituídos por outros que saibam. Lévy (1999) reforça esse ponto quando

afirma que:

[…] nos casos em que processos de inteligência coletiva desenvolvem-se de forma eficaz graças ao ciberespaço, um de seus principais efeitos é o de acelerar cada vez mais o ritmo da alteração tecno-social, o que torna ainda mais necessária a participação ativa na cibercultura, se não quisermos ficar para trás, e tende a excluir de maneira mais radical ainda aqueles que não entraram no ciclo positivo da alteração, de sua compreensão e apropriação (LÉVY, 1999, p.30).

A inteligência coletiva - um novo pharmakon, que em grego arcaico significa ao

mesmo tempo veneno e remédio - favorece a cibercultura, mas é, ao mesmo tempo, “um

veneno para aqueles que dela não participam e um remédio para aqueles que mergulham

em seus turbilhões e conseguem controlar a própria deriva no meio de suas correntes”

(LÉVY, 1999, p.30). Para entrar nesse ciclo positivo de apropriação, Karen Cator defende

que é preciso contar com pessoas capacitadas e, por isso, é fundamental fornecer

desenvolvimento profissional nesse assunto para os professores (BUSTAMANTE,

2016). Klopfer et al. (2009) confiam que a estratégia para o sucesso é gastar tempo

explorando essas tecnologias para que se tornem familiares, fazer parceria com outros

colegas de profissão para que haja colaboração no aprendizado e encontrar suporte

adicional dentro da instituição de ensino.

Em pesquisa empírica realizada pela Fundação Santillana (2014), os resultados

reforçam os pontos citados. Em primeiro lugar, o uso de dispositivos digitais como

substitutos dos professores não produziram resultados significativos na melhora da

aprendizagem dos estudantes. Entretanto, quando são usadas de forma mais interativa e

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proativa, como resultado de um conjunto de ações e recursos organizados pelo professor,

e com seu apoio direto, a aprendizagem do estudante progride de forma notória. Por isso,

um requisito básico para o uso da tecnologia é o professor ter capacidade de orquestrar

esses recursos em função de sua visão pedagógica e de um desenho didático apropriado.

Gil (2014) concorda e adiciona:

No que diz respeito à utilização das TIC em que se possa considerar numa dimensão onde a inovação possa estar presente, partilhamos a opinião de Kamplis, Bocconi & Punie (2012) ao afirmarem que essa utilização terá que ser sempre feita para que propicie condições para a utilização seletiva e criativa da informação disponível, no sentido de ser capaz de gerar conhecimento em oposição a uma utilização que se baseie numa simples adaptação ou replicação de práticas tradicionais. O que é pretendido é que se possa estabelecer uma relação tão próxima, quanto possível, entre os professores e os alunos, onde se possam introduzir novas formas e novas abordagens para a realização das atividades […] pretende-se o estabelecimento de uma díade que inclua o professor e o aluno, centrando-se todo o processo em torno do aluno com níveis de participação, de envolvimento e de interação que antes não tinham e que as TIC podem facilmente proporcionar (GIL, 2014, p. 90).

Atualmente, há um leque grande de recursos tecnológicos disponíveis para

facilitar o trabalho do professor e melhor a experiência do aluno. A seguir, será listado,

discutido e exemplificado algumas das opções que o autor desta pesquisa acredita serem

as mais relevantes.

3.3.1 Ferramentas e Dispositivos Digitais

Há diversas formas da integração entre a tecnologia e a educação acontecer. A

mais simples é a substituição de ferramentas analógicas, como o quadro negro, o caderno

e o lápis, por ferramentas digitais, como o quadro interativo, que é a primeira, mais

comum e, às vezes, única troca que ocorre nas escolas quando essa integração é pensada

e implementada. Apesar de importante, essas mudanças não podem ser exclusivas e não

devem ser utilizada como fim, mas como meio para o aprendizado. É necessário entender

sua função, estudar suas vantagens e aplicá-las no contexto apropriado. A substituição

pela substituição trará poucos benefícios para o processo de aprendizagem.

Um exemplo de dispositivo digital com finalidade educacional é o produto

desenvolvido pela Moleskine em parceria com a Neo Smartpen, que promete facilitar a

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digitalização do conteúdo e levá-los para um dispositivo móvel. O Smart Writing Set é

um conjunto que contém a Moleskine Pen +, caneta que utiliza uma câmera integrada

para monitorar os movimentos nas páginas, o Paper Tablet, um novo bloco de anotações

da Moleskine com contorno arredondado para simular a aparência de um tablet e o

aplicativo Moleskine Notes que, usando a conexão Bluetooth com a caneta, digitaliza,

quase em tempo real, o que o usuário escreve ou desenha no bloco, além de possuir

diversas funcionalidades adicionais de personalização, compartilhamento, entre outros

(MOLESKINE, 2016). Esta ferramenta, se utilizada simplesmente como um substituto do

caderno e do lápis, não trará grandes vantagens para seu dono. Apesar disso, com devida

orientação, pode ajudar em alguns quesitos. Primeiro, facilita e agiliza a edição do

conteúdo, além de transpo-lo para o meio digital automaticamente. A partir disso, o aluno

dispõe do conteúdo a qualquer momento em seus dispositivo, como celular, tablet e

computador, e não precise carregar diversos cadernos de um lado para outro. Outra

vantagem é na organização do conteúdo, considerando que diferentes mapeamentos e

divisões podem ser feitas. Também facilita no compartilhamento e na colaboração, tanto

de um aluno para outro com o que foi anotado e trabalhando em sala de aula, como do

professor para seus alunos. Por fim, funcionalidades de personalização podem trazer o

caráter de individual, tanto apreciado pelos Nativos Digitais, para a ferramenta.

Fig. 17 - Smart Writing Set da Moleskine (MOLESKINE, 2016)

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A Jamboard, uma reinterpretação do Google para o flip-chart, é um monitor de

55 polegadas e tela 4K sobre rodas pensado para ser transportado entre vários ambientes.

Apesar de ter sido criado para reuniões de trabalho, seria extremamente útil para salas de

aula. Com uma câmera HD, auto-falantes e Wi-Fi, facilita e aumenta o nível de

colaboração entre pessoas, é versátil, tem uma interação simples através de canetas

digitais e apagadores, reconhece a escrita manual e formas, além de ser interligado com

a ferramenta de busca do Google, com o G Suite e com o Google Drive. Os textos e

desenhos, assim como no produto da Moleskine, são digitalizados em tempo real e o

conteúdo fica disponível na nuvem, permitindo o acesso em diferentes lugares e por

diferentes pessoas ao mesmo tempo (VARGHESE, 2016). Entre suas vantagens, o

Jamboard facilita na otimização e reorganização do espaço, já que é móvel, possibilitando

uma dinâmica diferente em sala de aula, não precisando ser mantido a estrutura do

professor na frente com o quadro e os alunos sentados em suas cadeiras enfileiradas. Além

disso, auxilia na organização e no compartilhamento do material do professor e na

dinâmica de busca de material informativo e audiovisual e possibilita a comunicação com

pessoas de qualquer lugar do mundo, abrindo um leque de oportunidades colaborativas.

Fig. 18 - Jamboard, uma reinterpretação do Google para o flip-chart (VARGHESE, 2016)

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Presente em qualquer lista de tendências digitais para 2017, a realidade virtual (ou

virtual reality, VR) detém grande potencial, principalmente para a educação, já que

imerge e aproxima o aluno com o conteúdo estudado, vivenciando uma experiência

imersiva dentro de um determinado contexto. Esse fenômeno pode ser explicado pelo

surgimento, em 2016, de diversos dispositivos para o consumidor, como o Oculus Rift, o

HTC Vive, o PlayStation VR, além do novo Gear VR (da Samsung) e o Daydream View

(do Google). Mesmo ainda não tendo toda sua capacidade explorada e ser uma incógnita

no quesito sucesso e vendas, algumas iniciativas estão tirando proveito dessa tecnologia

inovadora.

Como exemplo, um experimento conceitual está sendo realizado pela empresa de

design Moment, com sede em Nova York. A Peer utiliza realidade mista (virtual e

aumentada) para ensinar idéias científicas para alunos do ensino médio como

aerodinâmica, ondas sonoras, gravidade e aceleração. Para uma lição de aerodinâmica,

por exemplo, o aluno teria um protótipo de um moinho de vento desmontado e um headset

VR, como o Google Cardboard ou o Daydream. Primeiro, com o headset, o professor

demonstraria em realidade mista como a aerodinâmica funciona. Depois, os alunos

tirariam o aparelho e montariam seus moinhos para que gerassem a maior velocidade do

vento. Novamente com os headset, eles testariam seus moinhos com um ventilador. Com

a ajuda de sensores embutidos no eixo, a velocidade de rotação é gravada e mostra aos

estudantes a velocidade de seus protótipos. Por fim, cada um otimizaria as lâminas para

gerar mais eletricidade e montaria, junto com os outros, uma pequena cidade que seria

vista em realidade mista (vídeo explicativo em: https:// vimeo.com/179221793). É

importante citar que a intenção da Peer não é substituir o professor ou o mundo físico,

mas sim ser uma ferramenta que pretende ajudar os alunos a entender os conceitos

científicos abstratos de uma forma atraente e observando o que funciona e o que não

funciona em colaboração com seus colegas e professores. O papel da tecnologia é

acrescentar outra dimensão para ajudar na compreensão (SCHWAB, 2017).

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Fig. 19 - Peer, um experimento conceitual sobre realidade mista (SCHWAB, 2017)

Não são só as inovações recentes que podem ajudar na educação. O computador,

primeiro dispositivo digital adoptado por grande parte da população, tem o seu destaque

e vem sendo implementado em algumas escolas e por alguns professores. Todavia, o uso

de dispositivos móveis, como tablets e smartphones, estão crescendo de maneira

exponencial e precisam ser considerados. De acordo com o estudo da Fundação Santillana

(2014, p.7), “se tornaram recursos do dia a dia com importantes impactos sobre os

comportamentos sociais, o consumo cultural e até na forma como os jovens se relacionam

com os conteúdos e as tarefas escolares”. No Brasil, em 2017, 208 milhões de

smartphones (1 por habitante) e 166 milhões de computadores (4 para cada 5 habitantes)

estão em uso e 280 milhões de dispositivos móveis (notebooks, tablets e smartphones)

são conectáveis à internet (1,4 por habitante) (MEIRELLES, 2017). Esses dados não

podem ser ignorados, pelo contrário, devem ser usados a favor de professores e escolas.

De acordo com Furio et al. (2005 apud Domingo & Garganté, 2016), com esses

dispositivos, os alunos tem a oportunidade de explorar o que eles aprenderam e estão

aprendendo de muitas e diferentes perspectivas. Outros benefícios são a facilidade na

promoção do aprendizado colaborativo, o estímulo a interação, o feedback

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instantâneo e a personalização do conteúdo. Domingo & Garganté (2016) resumem em

cinco os diferentes impactos que as tecnologias móveis podem trazer para o aprendizado:

providenciar novas formas de aprender, aumentar o engajamento, fomentar a

aprendizagem autónoma, facilitar o acesso a informação e promover a aprendizagem

colaborativa.

É interessante notar que, tirando o Jamboard, os dispositivos e as ferramentas

citadas visam seguir uma tendência de caráter pessoal e de mobilidade, como elucida a

Fundação Santillana (2014):

Os dispositivos desenham um panorama complexo, de onde surgem cada vez com mais

força duas características diferenciadoras: o caráter pessoal do dispositivo, por um lado, e sua mobilidade implícita, por outro. Já não são apenas as escolas que se equipam, mas também os próprios estudantes. E é a convergência de ambos que parece levar mais centros escolares, e mesmo governos, a pensar em alternativas tecnológicas em educação que sejam independentes do tipo de dispositivo ou do sistema operativo utilizado, tendência que tem sido chamada de BYOD (Bring Your Own Device, que no contexto educativo poderia traduzir-se por “Use - na escola - seu próprio dispositivo”). (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014, p.15).

A capacidade e as funções das ferramentas e dispositivos digitais vêem evoluindo

a cada dia, atraindo o olhar dos Nativos Digitais. Com grande potencial educacional,

precisam ser mais exploradas e trazidas para o ambiente de aprendizagem, envolvendo os

estudantes em uma aprendizagem ativa e interativa e gerando feedback imediato. Para

isso, é importante o apoio e o suporte do professor, além de ter uma função e um objetivo

definido em relação a aprendizagem e não ser só uma substituta direta de uma ferramenta

analógica.

3.3.2 Plataformas digitais

O impacto da tecnologia na vida cotidiana dos jovens é tão presente que, além de

estarem sempre conectados para se comunicar, querem utilizá-la para fins concretos,

como compartilhar conteúdos, interagir, se informar e estudar. É nesse contexto que as

plataformas digitais estão inseridas. Com grande potencial para educação, são

consideradas pela Fundação Santillana (2014, p.17) como “programas informáticos que

permitem a execução integrada e relacionada de uma série de tarefas vinculadas, por

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exemplo, com a administração escolar, o acompanhamento do desempenho dos

estudantes, a comunicação com as famílias e, obviamente, o trabalho escolar”. A Porvir

([201-?]) estabelece uma descrição mais abrangente e completa.

Plataformas são ambientes online de ensino e aprendizagem, que facilitam a troca de informações e o acompanhamento do percurso pedagógico de cada aluno. Dentro de um ambiente virtual de aprendizagem é possível armazenar e publicar conteúdos, acompanhar o progresso dos estudantes e promover interações entre diferentes agentes do processo educativo, permitindo a criação de cursos a distância e também servindo como suporte ao ensino presencial (PORVIR, [201-?]).

Os MOOCs (Massive Open Online Course ou, em português, Cursos Online

Abertos e Massivos) são bons exemplos dessas plataformas com direcionamento

educacional. Definidos por Conole (2013) como cursos online de larga escala que

aproveitam o potencial da aprendizagem em comunidade através de práticas abertas,

aumentam o acesso à educação, promovem a inclusão social, além de abrir um leque de

oportunidades para as instituições de ensino e seus educadores. Por consequência, Karen

Cator suporta que a qualidade do conteúdo gratuito na internet está aumentando,

principalmente pelo movimento que vêm acontecendo a alguns anos, onde grandes

universidades começaram a disponibilizar na rede suas aulas e seu material de ensino

(BUSTAMANTE, 2016). Rifkin (2015) afirma que:

[…] a revolução começou quando o professor da Universidade de Stanford, Sebastian Thrun, ofereceu um curso “livre” sobre inteligência artificial (IA) online em 2011, semelhante a um curso ministrado na universidade. Cerca de 200 estudantes se inscreviam normalmente no curso de Thrun, portanto ele previu que alguns milhares se registrariam. Mas à época do início do curso, 160 mil alunos de todas as partes do mundo - exceto da Coreia do Norte - estavam frente a seus computadores na maior turma já criada para um único curso na história. ‘Fiquei estarrecido’, Thrun disse. Vinte e três mil desses estudantes concluíram o curso e se graduaram (RIFKIN, 2015, p.139).

Acreditando no potencial desse fenômeno global, Thrun criou uma universidade online

chamada Udacity, com o objetivo de oferecer educação de alta qualidade para todos os

jovens do mundo, a partir de cursos próprios. Um pouco depois, dois de seus colegas de

ciências da computação e que o ajudaram na iniciativa do curso online, Andrew Ng e

Daphne Koller, criaram o Coursera, mas “reunindo algumas das instituições acadêmicas

mais importantes num consórcio colaborativo para oferecer uma grade de cursos

ministrados por alguns dos melhores professores universitários do mundo (RIFKIN,

2015, p.140).

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Lévy (1999) já vislumbrava o benefício dos cursos online no final dos anos 1990.

Com custos menores do que escolas e universidades materiais que fornecem um ensino

presencial, supunha que havia um enorme crescimento quantitativo na demanda, mas

também uma profunda mutação qualitativa pela necessidade crescente de diversificação

e de personalização.

Karen Cator acredita que as aulas e os exercícios onlines são grandes recursos

para quem quer aprender e precisa de uma boa explicação. Cita o exemplo da Khan

Academy como uma ferramenta que apresenta ideias e conceitos de forma muito fácil de

entender e que possui exercícios que auxiliam ao testar o conhecimento

(BUSTAMANTE, 2016). Os vídeos possuem entre cinco e quinze minutos de duração,

são narrados pelo fundador Salman Khan e, quando necessário, mostram fórmulas e

gráficos na tela durante a explicação. Para manter o aluno engajado, funciona como um

jogo com recompensas em forma de badges (medalhas) para diferentes desafios

(THOMPSON, 2014).

Fig. 20 - Exemplos de desafios do Khan Academy (FUNDAÇÃO LEMANN, [201-?])

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A história da Khan Academy é curiosa e segue a premissa de que para que haja

inovação, é preciso encontrar um grande problema e, depois, criar soluções significativas.

Foi o que fez Salman Khan, formado em matemática e mestre em engenharia elétrica e

ciência da computação. Enquanto trabalhava no mercado financeiro, em 2004, recebeu a

visita de sua prima Nadia, de 12 anos. Ela, com problemas em Matemática, pediu ajuda

para seu tio. Como morava longe, a ajuda era feita por ferramentas de bate-papo e um

software que ele mesmo criou para que as aulas pudessem acontecer. A melhora logo

veio, sendo bastante visível por todos e Sal começou ajudar outros familiares. Em 2006,

já eram mais de 10 primos. Nesse momento, para não depender da agenda de todos para

dar suas aulas, ele precisava de uma nova solução. Um amigo de Sal sugeriu fazer vídeos

e colocar no Youtube. Assim foram postados os primeiros dos mais de 3.000 vídeos que

Salman Khan gravou. Mesmo com uma produção muito pequena, os vídeos fizeram

sucesso e logo ganharam milhares de visualizações, o que fez Khan perceber que seus

alunos não tinham dificuldades por serem “menos inteligentes”, mas só não se

encaixavam no sistema tradicional. As respostas positivas dos usuários fizeram Salman

investir ainda mais no meio educativo, até o ponto em que seu trabalho como corretor

financeiro começou a atrapalhar. Em 2009, demitiu-se para se dedicar integralmente ao

que veio a ser a Khan Academy (BERTOLINI, 2013; FUNDAÇÃO LEMANN, [201-?]).

Atualmente, é considerado o maior site para aprender matemática e um dos

maiores portais de educação do mundo, oferece ensino personalizado, reconhecendo

quais habilidades o aluno domina e quais ainda precisa aprender. Também fornece acesso

imediato do desempenho dos alunos aos professores, quais aulas foram assistidas, quantos

exercícios foram completados e qual raciocínio por trás de cada um, facilitando a

identificação das dificuldades individualmente (FUNDAÇÃO LEMANN, [201-?]). De

acordo com Salman Khan, os estudantes já responderam mais de um bilhão de questões

no sistema e assistiram mais de 230 milhões de vídeos, o que também ajuda na

identificação de padrões que não podem ser vistos pela maioria, mas que são claros

quando é feito uso de computadores, auxiliando na personalização do conteúdo e da

aprendizagem (THOMPSON, 2014).

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Em 2014, a Khan Academy passou a ser traduzida para o português pela Fundação

Lemann e, desde então, tem ajudado mais de 5 milhões de brasileiros. Outra iniciativa da

Fundação é oferecer um programa gratuito para as escolas públicas, levando o Khan

Academy para formar professores para que usem a plataforma em seu dia a dia com os

alunos e para compartilhar o conhecimento com outros educadores (FUNDAÇÃO

LEMANN, [201-?]).

Kame Thordarson, professora da Santa Rita Elementary, escola pública em Los

Altos, California, defende que a dinâmica da sala de aula tradicional não permite que os

jovens aprendam de maneira e em ritmos diferentes e acredita em um ensino

personalizado e na mentoria um-a-um. Pensando nisso, assumiu um novo estilo de ensino,

onde inverteu a lógica da aula. Em vez de passar todo o conteúdo de matemática para a

turma, Thordarson manda assistirem os vídeos no Khan Academy primeiro e depois

trabalha em cima do conteúdo que houve dificuldade. Com isso, os que não tiveram

problemas, podem seguir com a matéria e Kame pode focar mais tempo em ajudar os

alunos que precisam. É interessante também pelo fato dos estudantes, enquanto assistem

os vídeos, poderem parar e rever o que ficaram com dúvida. Apesar de todas essas

vantagens, Thordarson admite que só assistir ao conteúdo do Khan Academy não é

suficiente e que essa prática não deve ser utilizada para substituir o professor, mas para

reestruturar o modelo tradicional de ensino e direcionar mais tempo guiando os alunos

em suas dificuldades (THOMPSON, 2014).

Outras plataformas educacionais também vêm ganhando destaque. Uma das mais

famosas, o já citado Coursera, possuia aproximadamente 2,7 milhões de alunos de

196 países inscritos em centenas de grupos em fevereiro de 2013 e o modelo da

plataforma é baseada em três fundamentos (RIFKIN, 2015).

Primeiro, o curso é composto por segmentos de vídeo com cinco a dez minutos de duração apresentados pelo professor e acompanhados por vários efeitos visuais e gráficos e, inclusive, por entrevistas curtas e notícias para tornar a experiência vívida, mais atrativa e vital. (…) Os alunos também recebem material preparatório antes de cada aula virtual e materiais opcionais para aqueles interessados em se aprofundar mais no assunto. O segundo fundamento é a prática e o domínio. Depois de assistir ao vídeo, os alunos devem responder algumas questões. (…) A pesquisa mostra que esses exercícios são incentivos poderosos para manter os alunos envolvidos (…). Cursos que requerem olhos humanos para conferir notas são avaliados por colegas de classe, tonando cada aluno responsável pelo desempenho do colega. (…) O terceiro e último

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é a formação de grupos de estudo virtuais e reais estabelecidos ao longo de fronteiras políticas e regiões geográficas, transformando o processo de aprendizagem em uma sala de aula global, onde os alunos ensinam uns aos outros tanto quanto aprendem

com um professor (RIFKIN, 2015, p.140, 141).

Fig. 21 - Home do site Coursera (COURSERA, [201-?])

O Duolingo, aplicativo de ensino de línguas estrangeiras e eleito a melhor startup

de educação do TechCrunch em 2014, o aplicativo do ano para iPhone em 2013 e o

Melhor dos Melhores segundo o Google em 2013 e 2014, está trabalhando para a criação

de uma educação relevante e comprometida com resultados. Além de fornecer seu

conteúdo de forma gratuita, facilitando o acesso para milhões de pessoas que não possuem

um ensino de qualidade ou não têm verba para pagar por cursos de idioma, o aplicativo

lançou uma plataforma destinada a ajudar alunos de escolas. O Duolingo para Escolas é

uma iniciativa que pretende aumentar o potencial de ensino ajudando os professores a

darem mais atenção personalizada para cada aluno, já que disponibiliza uma ferramenta

que identifica padrões de desempenho e, a partir de dados, oferece exercícios e lições para

reforçar tópicos nos quais o aluno possui dificuldade. Além disso, o professor terá acesso

aos dados de cada estudante e será informado caso o aluno demore muito tempo para

avançar em uma lição (DUOLINGO, 2015).

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Fig. 22 - Duolingo para Escolas (DUOLINGO, 2015)

Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, também vislumbra benefícios nessas

plataformas. Através da Iniciativa Chan Zuckerberg, focada em filantropia, investiu em

uma startup educacional indiana chamada Byju’s, que oferece serviços personalizados de

aprendizagem e de avaliação para estudantes do ensino fundamental e médio e para

exames competitivos do país. Com foco em matemática e ciências, disponibiliza vídeos

interativos e outros materiais de estudo em seu site e aplicativos, sendo grande parte

gratuito, mas com serviços pagos de orientação adicional e feedbacks. Possui mais de

250.000 assinantes anualmente e mais de 5.5 milhões de downloads (SINGH, 2016).

No Brasil, muitos sites focam na principal avaliação da vida acadêmica, o Exame

Nacional do Ensino Médio (Enem). É o caso do Descomplica, ProEnem, QG do Enem,

Hora do Enem e do Mecflix, desenvolvido pelo próprio Ministério da Educação.

Oferecem vídeos com a matéria, simulados, revisões e até sessões tira-dúvidas ao vivo,

sendo muitos deles gratuitos e com publicações nas redes sociais e no Youtube. Mas há

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opções para outros níveis de estudo, como é o caso do Bizu Concursos (antigo

Girafales), o Master Juris e o Master OAB, sites focados em concursos público.

Seguindo essa linha dos MOOCs, um conceito novo e interessante surge. Já

pensou em ter uma aula de comédia com Steve Martin? Ou uma de atuação com Kevin

Spacey? Uma de culinária com Gordon Ramsay? Ou até uma de design e arquitetura com

Frank Gehry? Parece algo distante, mas é a grande sacada da Masterclass. Com aulas

remotas, os professores não precisam mais morar próximos ao local de ensino e ter o

rigor de horário para ensinar. Eles podem gravar suas aulas e disponibilizar na Internet,

aumentando o leque de possibilidades. Pensando nisso, a empresa juntou grandes nomes

de diferentes áreas de atuação e criou um portfólio de professores estrelado. Além dos já

citados, Christina Aguilera, James Patterson, Usher, Serena Williams e Dustin Hoffman

são alguns dos membros do quadro acadêmico. E o melhor, como o potencial de mercado

em volume de alunos é grande, o valor cobrado por aula é relativamente baixo

(MASTERCLASS, 2017).

Pensando no futuro, nas tecnologias disponíveis, na tendência de educação a

distância e no exemplo do Masterclass, talvez, em algum momento, em vez escolher a

melhor escola para seu filho, os pais vão procurar o melhor time de professores, não se

limitando a região onde vivem, mas com opções do mundo todo. E isso reforça a

importância do professor no processo acadêmico e de aprendizagem do aluno.

A partir das definições e exemplos explorados nessa sub-seção, é possível

perceber o potencial das plataformas digitais no meio educacional, já que parecem abrir

um leque enorme de possibilidades. Além de melhorar a gestão nas instituições,

permitem que os alunos possam continuar realizando atividades, agindo

cooperativamente, resolvendo exercícios e se comunicando com os docentes em outros

locais, como em suas casas. Também possibilita a criação e a execução de ensinos

personalizados e de mentorias um-a-um, algo essencial para os Nativos Digitais.

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3.3.3 Ferramentas de comunicação

Com o crescimento do ciberespaço houve um movimento dos jovens de querer

experimentar, coletivamente, novas formas de comunicação, diferentes das mídias

clássicas e explorar esse espaço nos planos econômico, político, cultural e humano. Lévy

(1999, p.15) desenvolveu a hipótese de que “a cibercultura leva a co-presença das

mensagens de volta a seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra

escala, em uma órbita completamente diferente”. A partir desse cenário, é fácil entender

o motivo da força das ferramentas de comunicação online, como as redes sociais, na vida

da maioria das pessoas, principalmente dos jovens. No contexto educacional, de acordo

com a Porvir ([201-?]), essas ferramentas “facilitam a interação entre diferentes agentes

do processo educativo. Elas estimulam trocas de informações entre professores e alunos

e viabilizam a formação de comunidades virtuais de aprendizagem”.

O interessante dessa presença digital é que há diferentes formas de utilizá-la.

Gardner & Davis (2013) citam o exemplo de duas irmãs que estão no Facebook, Katie e

Molly, mas com objetivos distintos. Enquanto a primeira, que aderiu a rede social já

adulta, usa para se conectar com amigos e familiares em outros estados e países, para a

segunda, presente desde os 12, a rede representa uma parte muito mais integral de sua

experiência diária, refletindo um contexto social vital ao longo de seus anos de

adolescente, não fazendo distinção entre seus eus online e offline. Por conta desse cenário,

a Fundação Santillana (2014) defende que é preciso suporte para esse jovens mais novos.

A etapa que se inicia a partir dos 15 anos é crítica para a formação da personalidade, o desenvolvimento da capacidade para tomar decisões, a conformação de padrões de conduta, a aquisição de valores, a consolidação de atitudes de tolerância à diversidade, o desenvolvimento de habilidades para pertencer e trabalhar em grupos, e a conformação da identidade pessoal, entre outras capacidades e competências. Em outra esfera, no nível da comunidade, trata-se de uma idade estratégica para configurar um sentido de pertencimento e integração social e para construir valores de confiança, o que resulta na conformação de um tecido de coesão social. Sem o suporte, a integração e a proteção adequados, os jovens que transitam essa faixa etária estarão expostos a uma série de riscos que influenciarão suas possibilidades de desenvolvimento bem como as de seus países (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014, p.10).

Sendo assim, o papel de assistência deve ser tanto dos pais, como de professores

e educadores, interagindo com eles para que entendam o papel das redes sociais e como

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tirar o máximo proveito delas, não atrapalhando sua formação pessoal e comunitária, já

que além de serem ótimas ferramentas para construir relacionamentos entre os próprios

estudantes e deles com seus professores, mentores, tutores e especialistas, elas melhoram

a produtividade no trabalho cooperativo, considerando que desmantelam as barreiras do

tempo, distância e custo (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014).

O poder da cooperação na aprendizagem é grande, segundo estudo da Fundação

Santillana (2014). A oportunidade surge na possibilidade de discutir a tarefa e o conteúdo,

de tornar visível seu pensamento, de interagir com seus pares, além de conduzir, muitas

vezes, a uma maior motivação dos alunos. É também importante pelo fato de grande parte

da aprendizagem ser resultado do significado e uso correto de ideias, símbolos e

representações e de reforçar a identidade social do aluno através do pertencimento de uma

comunidade ou grupo, não dependendo única e exclusivamente de si mesmo.

Pensando na interconexão em tempo real de todos com todos gerado pelo

ciberespaço, Lévy (1999, p.167) concorda que o resultado é a desordem, mas também é

“a condição da existência de soluções práticas para os problemas de orientação e de

aprendizagem no universo do saber em fluxo”. É ela que favorece os processos de

inteligência coletiva nas redes sociais e garante que o indivíduo se encontre menos

desfavorecido frente ao caos informacional. Shirky (2011) consente e afirma que a

produção social pode ser muito mais efetiva agora, já que o alcance e a vida útil do esforço

compartilhado atingiu uma escala global.

A difusão de algo claro como uma receita pode acelerar o compartilhamento de saber entre grupos que se debruçam sobre o mesmo problema, mas também pode tornar mais fácil que outros se beneficiem do conhecimento assim produzido, porque a expressão clara de uma ideia pode passar de pessoa para pessoa e de grupo para grupo com mais facilidade do que a mesma ideia expressada de modo que só os integrantes de um grupo específico vão entender (SHIRKY, 2011, p.128).

Por fim, Shirky (2011) defende que um grupo precisa entender uns aos outros para

compartilhar ou trabalhar juntos com qualidade e não só entender o mais importante para

seus membros. Assim, tiram maior proveito da combinabilidade.

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Os pesquisadores Sharples, Taylor e Vavoula (2006 apud Lemos, 2009) acreditam

que o aprendizado ocorre em ações colaborativas entre pessoas, individual ou

coletivamente, que têm problemas para resolver e informações para dividir, e que com as

novas tecnologias digitais, principalmente as redes sociais que conectam pessoas, essa

troca de informação não fica mais restrita a um local fixo como uma sala de aula. O estudo

do National School Board Association, de 2007, com jovens entre 9 e 17 anos, reitera

esse ponto, já que identificou que 60% dos estudantes utilizam as redes sociais para falar

sobre educação e mais que 50% para falar sobre um trabalho escolar específico

(KLOPFER ET AL., 2009).

Os blogs, uma das primeiras ferramentas de comunicação que possibilitaram a

interação social online, foram utilizados por professores na Nova Zelândia de forma muito

interessante, como explica Thompson (2014). Decididos a usar o poder do pensamento

público, fizeram seus alunos escreverem posts online em vez de em papéis para serem

entregues. Qualquer pessoa poderia ler e comentar e houve o incentivo da escola para que

pais e amigos o fizessem. Em um primeiro momento, nada mudou e os alunos

reclamaram. Mas logo, quando os comentários começaram a surgir, eles ficaram

animados e perceberam que estavam escrevendo para um público real, sendo, as vezes,

para pessoas que não conheciam e não tinham nenhuma relação. A partir desse momento,

o engajamento aumentou e os alunos passaram a escrever com muito mais frequência,

alguns até nos fins de semana e férias. Despertaram a fazer pesquisas mais cuidadosas

para descobrir conteúdo, a prestar mais atenção a gramática e a pontuação e a criticar uns

aos outros, exigindo esclarecimentos e dando feedbacks. Como resultado, houve maior

comprometimento dos estudantes com o que estavam fazendo e o aumento do trabalho

colaborativo.

O Twitter também foi usado como ferramenta para ensinar cidadania digital. Heidi

Siwak, uma professora do ensino fundamental de Ontário, Canadá, encorajou seus alunos

a usarem o Twitter para criar conversas relacionadas com a aula. Diante disso, descobriu

a oportunidade de desenvolver o civismo online, como como responder

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educadamente e de forma inteligente não só amigos, mas também estranho

(THOMPSON, 2014).

Outro exemplo da força das redes sociais é a Passei Direto, rede social brasileira

para universitários compartilharem material e tirarem dúvidas, que recebeu investimento

de R$23 milhões para expandir os negócios no começo de 2016. Com cerca de 5 milhões

de alunos cadastrados e um acervo de 1 milhão de material didático, entre livros, vídeos

e exercícios, o conteúdo é incluído pelos próprios usuários e é gratuito. Lançada em 2012,

por Rodrigo Salvador e seu sócio André Simões, surgiu através da percepção do primeiro

de que várias universidades tinham redes sociais próprias e que poderia haver uma única

plataforma para todas (OLIVEIRA, 2016).

Aprendendo a tirar vantagem das práticas sociais que já se dão entre os alunos, os

docentes podem “direciona-las adequadamente para fomentar a ideia de uma

aprendizagem consistente e mais eficiente dentro e fora da sala de aula” (FUNDAÇÃO

SANTILLANA, 2014, p.28). Para isso, as ferramentas de comunicação online podem ser

de grande valia, sobretudo pela grande presença dos jovens nesses ambientes.

3.3.4 Jogos e simulações

Jogos e simulações são frequentemente definidas pelos jovens como suas

atividades preferidas. Sendo em vídeo-games, computadores ou em dispositivos móveis,

estão cada vez mais presentes no dia-a-dia e estão começando a ganhar força dentro de

algumas salas de aula.

É importante notar que os jogos digitais abrangem muito mais que os famosos

Paciência, para computador, e Super Mario Bros., da Nintendo. Nos últimos 20 anos, o

gênero cresceu para diversas plataformas e experiências. Distintos por dois elementos

principais, ser um ambiente virtual interativo e uma disputa contra algum tipo de

oposição, são caracterizados por regras, metas e objetivos, resultados e feedbacks,

conflitos e competições, interação e representação da história. Já as simulações, são

situações análogas ao mundo real, se diferenciando dos jogos digitais pela falta de

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dinâmica de jogo ou o “estado de vitória” (KLOPFER ET AL., 2009; PRENSKY, 2001c).

Para Lévy (1999, p.165), “trata-se de uma tecnologia intelectual que amplifica a

imaginação individual e permite aos grupos que compartilhem, negociem e refinem

modelos mentais comuns, qualquer que seja a complexidade deles”.

No Brasil, conforme uma pesquisa realizada pelo grupo NPD, 82% da população

com idades entre 13 e 59 anos jogam video-games, sendo os jovens a maioria entre dos

jogadores (NPD, 2015). Além disso, um estudo do instituto de pesquisa de mercado

NewZoo afirma que o Brasil possui 66.3 milhões de jogadores e eles vão gastar US$ 1.3

bilhões de dólares em 2017, tornando o país o 13º maior mercado de jogos no mundo

(NEWZOO, 2017). Outros dados relevantes é a representatividade do público feminino,

sendo 53,6% do público que joga, e o smartphone como plataforma mais usada, 77,9%,

de acordo com a pesquisa Game Brasil 2017 (SIOUX, BLEND & ESPM, 2017). Para

Passarelli, Junqueira & Angeluci (2014, p.165), “esta alta penetração reforça a

importância do lúdico no cotidiano deste público, que prioriza equipamentos que lhes

proporcionem experiências interativas – não somente para lazer, mas também para

execução de tarefas escolares e relações sociais”.

Klopfer et al. (2009) citam que, todos os dias, diversos estudantes Nativos Digitais

passam incontáveis horas imersos nas tecnologias mais populares, como Facebook, World

of Warcraft e Angry Birds. À primeira vista, pode parecer uma perda de tempo e de

neurônios, mas esses gêneros tecnológicos - redes sociais, jogos e simulações - merecem

uma interpretação mais profunda, já que, através dessas tecnologias, alunos tornam-se

familiares com algumas das necessidades do mundo contemporâneo. O sistema de

“missões”, por exemplo, que é muito utilizado por variados jogos, é adorado por esse

público e é uma forma de interação que necessita pesquisa, planejamento e trabalho em

grupo para que o objetivo seja alcançado, algo que também é buscado no atual mercado

de trabalho, ou seja, profissionais que sejam autônomos e abertos para trabalho em equipe

(GAZOLA, 2015). Para Thompson (2014), os jogos são ferramentas que atraem os jovens

porque faz com que resolvam problemas que se preocupam e que estão interessados e

demonstra aos professores do

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que são capazes. Não podem fazer tudo, mas são novos instrumentos com efeitos

colaterais poderosos para o desenvolvimento do aluno, como a capacidade de leitura.

Lévy (1999, p. 165) vai pelo mesmo caminho e cita que a simulação, um dos novos modos

de conhecimento trazidos pela cibercultura, deve ter destaque, pois “trata-se de uma

tecnologia intelectual que amplifica a imaginação individual e permite aos grupos que

compartilhem, negociem e refinem modelos mentais comuns, qualquer que seja a

complexidade deles”.

Como recurso educativo, a pesquisa sobre os videogames mostra que eles influenciam a geração de novos conhecimentos e habilidades, ao apresentar informação oportunamente e de forma atrativa; ao requerer a análise de uma situação dada que implica atenção e concentração para ser resolvida, estimula o pensamento crítico; assim como favorecem a aprendizagem colaborativa, ao mesmo tempo que solicitam a participação ativa do jogador; e transformam o aprendizado em algo mais vivencial, divertido e participativo (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014, p.31).

Como exemplo de uso de jogos na educação, podemos citar o Minecraft, jogo

eletrônico lançado em 2009 que já vendeu mais de cem milhões de cópias, que permite a

construção de mundos a partir de blocos e que vêm sendo a nova estrela em algumas

“dezenas de milhares”, de acordo com a Microsoft, de salas de aula pelo mundo (LIPPE,

2016; MESSNER, 2016). A professora Gisela Aquino do Colégio Visconde de Porto

Seguro, em São Paulo, utiliza o jogo para ensinar história a crianças de 11 a 12 anos, com

o objetivo de mostrar como viviam os europeus durante a Idade Média. Ela conta que os

alunos ficaram encantados quando souberam que iam jogar durante a aula e o resultado

foi melhor do que o esperado, já que, além da base teórica de leitura e pesquisa, a prática

também foi explorada e houve o surgimento de novas lideranças internas, da interação

colaborativa e do continuo respeito por parte dos alunos. Francisco Tupy, professor que

também utiliza o Minecraft em suas aulas, concorda com os benefícios trazidos pelo jogo

como ferramenta de aprendizado, já que faz com que os alunos coloquem a mão na massa

e realizem trabalhos criativos, pois é um espaço que cada um tem liberdade para construir

da maneira que quiser (LIPPE, 2016). Pensando nesse sucesso, a Microsoft lançou, em

2016, a edição “Minecraft: Education Edition”, uma versão do jogo exclusiva para as

salas de aula que permite que professores criem e apliquem projetos para seus alunos,

podendo ter até 30 no mesmo mundo virtual, trabalhando sozinhos ou em grupo. Com

o intuito de facilitar, o jogo possui diversas

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lições sugeridas, como “fatores e múltiplos, “perda de biodiversidade”, “área e

perímetro”, entre outros (PROPHET, 2016).

Fig. 23 - Minecraft - Education Edition (PROPHET, 2016)

Durante a febre e o sucesso do lançamento de Pokémon Go, jogo em realidade

aumentada que tem como objetivo capturar os famosos monstrinhos do desenho japonês

Pokémon, algumas iniciativas educacionais também surgiram. Em Itapeva, São Paulo, o

professor Eddy Antonini da Escola Técnica Estadual (Etec) utilizou o jogo para ensinar

regras de trigonometria para alunos do curso de eletrônica. Ele se aproveitou da situação

de quando o jogador precisa andar para chocar um ovo e explicou como funciona o cálculo

entre hipotenusa e catetos. O vídeo da aula ultrapassou a marca de 1,2 milhão de

visualizações em seu perfil na rede social Facebook e teve sua ideia aprovada por seus

alunos, que alegaram terem absorvido melhor o conteúdo através da aplicação prática.

Eddy relata que utiliza temas do mundo pop, como filmes de super-heróis, há cerca de

sete anos para cativar seus alunos e critica outros professores que não querem se atualizar

para engajar seu público (SILVEIRA, 2016). No Elvira Brandão, colégio localizado na

Chácara Santo Antônio, em São Paulo, o jogo virou uma atividade curricular idealizada

pelo professor responsável pela área de Corpo e Movimento. A

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ideia foi dividir grupos de alunos do período integral e entregar tablets para a captura dos

Pokémons dentro da escola. Depois de determinado tempo, eles tiveram que fazer

biscoitos com a forma das criaturas e pesquisar sobre os aspectos positivos e negativos

do jogo, como a privacidade. A gestora de tecnologia educacional do colégio defende que

não se deve proibir os jogos, mas os usar a favor da pedagogia (PINHO, 2016). Já na

Bélgica, o jogo serviu de inspiração para a criação de um outro. Percebendo o

engajamento de seus alunos com Pokémon Go, a professora Aveline Gregoire,

desenvolveu um jogo online para as pessoas caçarem livros em vez de monstrinhos

virtuais. O “Chasseurs de livres” (caçadores de livros) é baseado em um grupo no

Facebook, onde os usuários publicam fotos e dão dicas de onde esconderam um livro,

fazendo com que os outros participantes tenham que procurar. Depois de achar e ler, ele

deve repetir a brincadeira. O jogo que começou entre os estudantes de Aveline, em poucas

semanas, já tinha atraído mais de 40 mil pessoas de todo a Bélgica (O GLOBO, 2016).

Fig. 24 - Jogo Pokémon Go (SILVEIRA, 2016)

Civilization IV é outro jogo que possui admirados e entusiastas educacionais. Os

jogadores escolhem com qual civilização deseja jogar - astecas, romanos, mongóis, entre

outros - e devem tomar decisões para que ela se desenvolva socialmente e

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diplomaticamente, como quando e onde construir novas cidades, quais avanços no

conhecimento devem ser buscados, como lidar com adversários e vizinhos não-

civilizados e quais novas tecnologias capitalizar. Para o grupo Games, Learning and

Society, que possui um site com material de suporte para quem quiser implementar o jogo

de forma educacional, jogar Civilization é uma maneira poderosa de aprender sobre

história e geografia, aumentar o interesse nessas matérias, além de exercitar o trabalho

em equipe, a colaboração e o conhecimento estratégico (KLOPFER ET AL., 2009).

Fig. 25 - Civilization IV (SAGER, 2009)

Os jogos também podem ajudar em assunto mais delicados, como a educação

financeira e o déficit de atenção. A startup Educar 3.0, por exemplo, desenvolveu o

Educash, um jogo interativo que ensina às crianças noções sobre gestão financeira.

Considerando que no Brasil, pelo menos 56,4 milhões de pessoas são inadimplentes e têm

dívidas que, somadas, chegam a 243 bilhões de reais, o jogo foi pensando para ser

utilizado em sala de aula por turmas de 5º e 6º ano do ensino fundamental e trabalhar a

liderança, a resiliência, a estratégica de decisão e, claro, a educação financeira. O

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conteúdos do currículo escolar aparecem de forma interdisciplinar, com ênfase especial

para a matemática, e o feedback das escolas que já implementaram o jogo é positivo

(DESIDÉRIO, 2016).

Fig. 26 - Jogo Educash da startup Educar 3.0 (DESIDÉRIO, 2016)

Já a Akili Interactive Labs desenvolveu um jogo para smartphones e tablet para ajudar no

tratamento do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno

que atinge entre 3% e 5% das crianças do mundo e tem como sintomas a desatenção, a

hiperatividade e a impulsividade. O Project:EVO, nome do jogo, foi desenvolvido para

substituir os remédios, considerando que crianças gostam mais de jogar do que se

medicar. Ele desafia os jogadores a gerenciar prioridades dentro de um mundo de

informações diversificadas e treina o cérebro para conseguir fazer isso com mais

facilidade do que faz normalmente. A Akili realizou um estudo em pequena escala que

mostrou melhorias cognitivas em crianças que entraram em contato com o jogo e

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estão buscam evidências mais fortes dos benefícios dele (AKILI INTERACTIVE,

2016).

Fig. 27 - Project:EVO (AKILI INTERACTIVE, 2016)

Outro exemplo que reflete a importância dos jogos na atualidade, Espen Aarseth,

Chefe de Pesquisa no Center for Computer Games Research na IT University of

Copenhagen e editor-chefe da Game Studies, ganhou o concurso Advanced Grant do

European Union's European Research Council que permite pesquisadores buscarem

projetos inovadores e de alto risco na Europa e cede uma bolsa de 2 milhões de euros,

para estudar vídeo-games (MAIBERG, 2016). Por fim, Klopfer et al. (2009) apontam que

jogos e simulações tem sido peças-chaves no treinamento de médicos, militares e até de

empresas como a PricewaterhouseCoopers, que empregou um jogo sobre um

empreendimento de mineração no espaço sideral para ensinar seus funcionários sobre

derivados.

Algo a ser discutido é quais jogos devem ser utilizados na educação. Ali Carr-

Chellman (2016), designer instrucional e autor, mudou sua opinião em relação ao uso de

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“blockbusters”, como Civilization, Minecraft, Call of Duty e World of Warcraft, na

educação após uma conversa com o famoso designer de jogos Sid Meier. Até então,

defendia a utilização de jogos, já que é algo amado pelos alunos, mas eles deveriam ser

construídos unicamente com o intuito educacional. Durante o encontro, Ali foi

convencido de que os jovens não gostam, pelo contrário, odeiam esse tipo de jogo e

sempre vão preferir os que já estão acostumados a jogar. Ademais, quando essa tecnologia

é rejeitada por ser individualista, competitiva, envolvente e distante de professores e pais,

o gap que há na relação jovens-adultos aumenta. Logo, trazê-los para a sala de aula

comunica que a cultura que esses jovens apreciam é bem-vinda, valorizada e respeita

pelos mais velhos e possibilita o desenvolvimento de habilidades esperadas por empresas

do século XXI, como comunicação, trabalho em equipe, liderança, companheirismo e

perseverança.

Prensky (2001b) não é contra os jogos educacionais, mas acredita que muitas

críticas que são feitas são justas. Defende que se não produzem aprendizagem, não é pelo

fato de serem jogos ou pelo conceito “aprendizagem baseada em jogos” ser defeituoso,

mas sim por serem mal projetados. Devem ser jogos reais combinados criativamente com

conteúdo real para que capturem a atenção e façam com que os jovens pratiquem e

aprendam o que é certo, já que, para Lemos (2009, p.44), “os jogos atuam como elementos

mediadores entre o conhecimento já cristalizado, construído, e o imaginário”.

Confirmando esse ponto, a Lightspan Partnership, desenvolvedora de jogos educacionais

para PlayStation, realizou estudos em mais de 400 distritos escolares individuais e

descobriu que houve aumento de 24% e 25% no vocabulário e na linguagem e 51% e 30%

na resolução de problemas matemáticos e nos procedimentos e algoritmos matemáticas

por estudantes que utilizaram jogos como reforço nos estudos. (PRENSKY, 2001b).

Uma das grandes lições que os jovens que cresceram jogando vídeo-games

aprenderam é que se você se dedicar e dominar o jogo, você será recompensado, seja com

um próximo nível, com uma vitória ou um lugar na lista dos melhores jogadores. O que

você faz determina o que você obtém e o que você obtém vale o esforço que você

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colocou (PRENSKY, 2001c). Para os atuais alunos falta essa mesma percepção com o

conteúdo ensinado em sala de aula e com o ensino como um todo. Nem sempre o esforço

é devidamente recompensado ou é feito ao longo prazo, o que acaba desestimulando e

gerando tédio. É parte do desafio dos educadores entender a importância desses sistemas

para os mais jovens e encontrar maneiras de engajá-lo, de despertar essa mesma paixão

para a educação e de oferecer recompensas significativas também no curto e médio prazo.

3.3.5 Considerações finais sobre os Nativos e Imigrantes Digitais e a tecnologia

É difícil imaginar um futuro a qual a tecnologia não esteja associada a educação

para benefício de todos os envolvidos, tanto alunos, professores e instituições, como o

mercado de trabalho, a sociedade e o meio-ambiente. O potencial vislumbrado dessa

união é expoente e não deve ser desperdiçado, necessitando uma mudança de paradigmas

urgentemente. Para Klopfer et al. (2009), o valor dos jogos digitais, das simulações e das

redes sociais não é só em ajudar a ensinar conceitos antigos de novas maneiras, mas

também a ensinar conceitos novos de novas maneiras, mais eficientes e eficazes, como

não era possível antes. Ademais, eles já estão sendo utilizados nos ambientes de trabalho

como ferramentas de produtividade e desenvolvimento, fazendo com que a sua não

utilização no ensino seja um grande desserviço com os alunos.

Concordando, Gardner & Davis (2013) sustentam que as tecnologias oferecem

novas oportunidades e citam dois casos. O primeiro é a chance de cada um iniciar e criar

seus próprios produtos a partir de um dispositivo inteligente. Com ele, é possível esboçar,

publicar, tomar notas, criar obras de reflexão, arte e ciência, ou seja, ser o criador do seu

próprio conhecimento. O segundo, envolve a capacidade de fazer uso de diversas formas

de compreensão, conhecimento, expressão e crítica, já que permitem um espectro maior

de ferramentas intelectuais e não só a linguística e o lógico- matemática, expondo os

jovens a diferentes formas e formulações do conhecimento e dando força aqueles que

possuem inteligências diferentes das tradicionais linguagem e lógica, como futuros

arquitetos, designers, músicos e criados de softwares.

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Por todos os exemplos citados até aqui, há de se concordar com Lévy (1999, p.

162) quando afirma que “contrariamente ao que nos leva a crer a vulgata midiática sobre

a pretensa ‘frieza’ do ciberespaço, as redes digitais interativas são fatores potentes de

personalização ou de encarnação do conhecimento” e não devemos esquecer que, como

defende Teixeira (2014, p.89), “as novas tecnologias devem atuar como mediadores entre

o mundo digital e a capacidade real de entendimento do receptor da informação,

garantindo a efetiva comunicação e a satisfação da necessidade informacional do

usuário”. Lévy (1999) admite que as tecnologias não devem ser usadas a qualquer custo,

mas devem acompanhar as mudanças da sociedade e seus questionamentos sobre os

sistemas educacionais tradicionais, o funcionamento das instituições e os papéis de

professor e de aluno. Thompson (2014) concorda e defende que não se deve simplesmente

replicar de forma mais cara o que já está sendo feito com papel, lápis e livros, mas sim

trazer novas maneiras de atuar e ensinar, usando as habilidades dos jovens com

dispositivos em rede, como o pensamento público, as novas linguagens e o aprendizados

não só do uso, mas da programação de máquinas. Bill Gates, fundador da Microsoft,

insiste que a tecnologia é só uma ferramenta e que é papel do professor incentivar e

motivar o aluno (LITTLE & ELLISON, 2015). Como disse Arthur C. Clarke, autor de

2001, Uma Odisseia no Espaço, “qualquer professor que possa ser substituído com

sucesso por um computador, merece ser substituído” (FUNDAÇÃO SANTILLANA,

2014).

Aquilo que identificamos, de forma grosseira, como “novas tecnologias” recobre na verdade a atividade multiforme de grupos humanos, um dever coletivo complexo que se cristaliza sobretudo em volta de objetos materiais, de programas de computador e de dispositivos de comunicação. É o processo social em toda sua opacidade, é a atividade dos outros, que retorna para o indivíduo sob a máscara estrangeira, inumana, da técnica. Quando os “impactos” são negativos, seria preciso na verdade incriminar a organização do trabalho ou as relações de dominação, ou ainda a indeslindável complexidade dos fenômenos sociais. Da mesma forma, quando os “impactos” são tidos como positivos, evidentemente a técnica não é a responsável pelo sucesso, mas sim aqueles que conceberam, executaram e usaram determinados instrumentos. Neste caso, a qualidade do processo de apropriação (ou seja, no fundo, a qualidade das relações humanas) em geral é mais importante do que as particularidades sistêmicas das ferramentas, supondo que os dois aspectos sejam separáveis (LÉVY, 1999, p.28).

De acordo com estudo da Fundação Santillana (2014, p.54), “há sete componentes

que aparecem reiteradamente como fatores críticos para ter sucesso com a aplicação da

tecnologia para promover a mudança pedagógica.” São os seguintes:

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1. Promover a aprendizagem ativa, interativa e cooperativa;

2. Oferecer uma maior personalização da aprendizagem;

3. Reformar o currículo para que tenha um enfoque competencial;

4. Avaliar a aprendizagem de forma consistente com os objetivos;

5. Adotar uma aproximação sistêmica à gestão da mudança pedagógica;

6. Desenvolver uma liderança pedagógica potente;

7. Apoiar os professores.

Seguindo essa linha, Anna Penido defende que, assim como tem alto poder de

contribuir, as tecnologias também podem prejudicar, seja gerando muita dispersão, seja

por ampliar a desigualdade entre os que têm e os que não tem acesso. Por isso, lista alguns

fatores que podem fazer com de fato transforme a educação (PORVIR, [201-?]).

1. Assegurar infraestrutura, entre elas conectividade, rede lógica com Wi-Fi,

equipamentos móveis e uso quase transparente;

2. Garantir recursos digitais cada vez mais diversificados e qualificados,

avaliando para que sejam sempre aprimorados e permitindo que estejam

sempre disponíveis de forma gratuita ou adquiridas pelas redes;

3. Formar professores oferencendo referências do que pode ser feito,

disponibilizando ferramentas e garantir que usem e troquem conhecimentos e

práticas, usando dessa formação para se familiarizarem;

4. Mobilização da sociedade, especialmente famílias e alunos, compreendendo

como utilizar com propósito e da melhor maneira, garantindo o direito de

todos os brasileiros a uma educação de qualidade.

Por tudo que foi citado, é possível acreditar que a integração entre tecnologia e

educação não é um modismo passageiro e que não dará em nada. A potencialidade de

articulação em rede já está incorporada ao mundo do trabalho e a escola não pode mais

ficar fora desse contexto. “Essa relação com o aluno precisa ser retomada de uma forma

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dinâmica, desafiadora, que explore os sentidos utilizando as mídias digitais na sala de

aula” (LEMOS, 2015, p.45). Mas para que isso ocorra, é necessário um profundo

entendimento de dois pilares desse universo, as tecnologias e os Nativos Digitais, além

de uma contínua transformação do ensino e de seus projetos pedagógicos, sempre focada

nas necessidades dos alunos.

Com a velocidade da renovação do conhecimento e de informações, do

surgimento de novas tecnologias e a necessidade de integração desses elementos com o

meio acadêmico, as famílias, os responsáveis políticos, os responsáveis pelos centros

educativos e, especialmente, os professores devem ser capazes de entender como a

tecnologia pode ser utilizada de modo mais eficaz para melhorar a aprendizagem,

estimular e prender a atenção dos Nativos Digitais e aproveitar as oportunidades que a

sociedade e a economia do conhecimento oferecem.

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4. Experiência do usuário

4.1 Conceitos e abordagens

A palavra experiência ganhou força significativa ao longo dos últimos 20/25 anos.

Começando com a integração do termo experiência do usuário no setor de software e,

mais tarde, estendida ao trabalho de profissionais de marketing, a idéia de uma área de

negócios focada na experiência está viva e cresce a cada dia.

Pine II & Gilmore (1998) explicam esse fenômeno. À medida que os serviços,

assim como os bens antes deles, tornam-se cada vez mais commodities, as experiências

surgiram como o próximo passo no chamado progression of economic value (progressão

do valor econômico). Além disso, novas tecnologias, em particular, encorajam novas

formas de experiência, como jogos interativos, chats onlines, simuladores virtuais e

realidade virtual.

Mas o que é experiência do usuário? Garrett (2011, p.17) afirma que é considerar

o usuário a cada passo do desenvolvimento de um produto ou serviço, dividi-lo em seus

elementos e olhá-lo de várias perspectivas para garantir que sabe todas as ramificações

de suas decisões, pensar como ele funciona do lado de fora, onde uma pessoa entra em

contato com ele e melhorar a eficiência. “A prática de criar experiências de usuário

envolventes e eficientes é chamada de design centrado no usuário. O conceito de design

centrado no usuário é muito simples: leve o usuário em conta a cada passo do caminho

enquanto você desenvolve o seu produto”.

A experiência deve atender às necessidades de uma pessoa e pode fazer a diferença

entre algo bem-sucedido e um fracasso. Se ela for ruim, o usuário pode não voltar, ou,

como no caso das escolas, voltam, mas desmotivados, sem interesse e por obrigação.

Entretanto, se for boa, ela é um excelente fator de lealdade. Para isso, de acordo com

Eason (1995 apud TEIXEIRA, 2014), não basta apenas fazer para o usuário, é preciso

fazer com o usuário, considerando que possuem propósitos, ambições, crenças, emoções,

valores, satisfações e insatisfações. Suri (2004 apud TEIXEIRA, 2014) complementa e

afirma que deve-se entender mais sobre os seus hábitos, o que demanda mais

conhecimento sobre as atividades, o trabalho mental, seus sentimentos,

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suas aspirações e desejos e valores relacionados com os objetivos que essas pessoas têm

ao usarem produtos - como produtos, aqui, podemos considerar a educação. Isso porque

os hábitos modelam nossa vida e praticamente tudo o que fazemos pode ser associado a

rotinas que foram estabelecidas, entre elas, estudar.

Pine II & Gilmore (1998) classificam as experiências em quatro grandes

categorias, dependendo de onde se enquadra no espectro representado na figura abaixo.

O entretenimento é o tipo de experiência que a maioria das pessoas conhecem e associam

o termo. Ela tende a ser mais passiva do que ativa para o usuário, absorvendo mais do que

sendo imersivo. O educacional tende a envolver uma participação mais ativa, mas os

participantes ainda estão mais fora do evento do que imersos na ação. As experiências de

escapismo envolvem participação ativa e imersão na experiência. Por fim, na estética, os

usuários estão imersos em uma atividade ou ambiente, mas possuem pouca ou nenhum

efeito no evento, agindo de forma passiva.

Fig. 28 - Os quatro reinos de uma experiência (PINE II & GILMORE, 1998)

Partindo dos princípios sugeridos por Pine II & Gilmore (1998), é possível

classificar a experiência educacional como a mais presente nas salas de aula atuais. Os

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alunos possuem certa participação, mas, no geral, ela é secundária, não se aprofundando

no assunto e nas possibilidades de ação que ela permite. Às vezes, até a experiência

estética ocorre, com o aluno sendo um mero telespectador de seu professor, ouvindo

muito, mas absorvendo pouco. Obviamente, nenhum desses cenários é o ideal. Por tudo

abordado nesta pesquisa, é possível afirmar que a educação precisa passar a explorar mais

a experiência de escapismo, onde há participação ativa e imersão direta por parte do aluno,

interagindo e se envolvendo com o tema em questão, aprendendo pela experiência e não

apenas por leitura, escuta e observação.

Neste sentido, vale lembrar que as pessoas possuem uma relação dupla com

produtos e serviços que utilizam, considerando que elas podem capacitá-las ou frustá- las;

simplificar suas vidas ou complicá-las; separar dos outros ou aproximá-los. Mas o que

geralmente é esquecido é que os inúmeros produtos e serviços que são usados no dia-a-

dia são feitos por outras pessoas e que esses devem obter créditos quando funcionam bem

ou receber a culpa quando não o fazem (GARRETT, 2011).

Garrett (2011) explica que quando o usuário está utilizando um website, por

exemplo, algo engraçado acontece no momento em que um problema ocorre: as pessoas

se culpam por isso. Elas sentem que fizeram algo de errado, que não estavam prestando

atenção suficiente, se sentem estúpidas. É algo irracional, já que a culpa não é delas pelo

site não funcionar da maneira esperada. O problema é que com esse sentimento de

frustração, o usuário desistirá do produto e dificilmente voltará a utilizá-lo. Algo parecido

acontece com o aluno em relação ao ensino e a sala de aula. Ele se frusta por diversas

situações que não tem controle, mas acaba, muitas vezes, se culpando. Isso o distancia

cada vez mais do colégio, criando barreiras, prejudicando a experiência, além de diminuir

o prazer, o encantamento e a diversão, pontos fundamentais para estimular a interação e

que estão diretamente relacionados com o emocional do usuário.

De acordo com Teixeira (2014, p. 96), os benefícios emocionais estão ligados aos

produtos que afetam o temperamento de seus usuários, ou seja, “a utilização de um

produto pode ser excitante, interessante, divertida, satisfatória ou estimulante, e ter como

possível resultado o aumento da confiança de seu usuário”. Por outro lado, como

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explica Norman (2008, p. 100), “as emoções negativas se manifestam quando há falta de

compreensão, quando as pessoas se sentem frustadas e fora de controle - primeiro

inquietação, depois irritação e, se a falta de controle e compreensão persistir, até raiva”.

O encantamento, o prazer, e a diversão de interagir são questões fundamentais para suscitarem essa experiência positiva e satisfatória. Ademais, ainda é possível afirmar que a experiência de uso se relaciona diretamente com os benefícios percebidos. E eles podem estimular a exploração e o aprendizado quando os desafios apresentados na interface do produto forem compatíveis com as habilidades dos usuários. Porém, se o ajuste não estiver correto, os usuários tendem a não interagir mais com esses produtos (TEIXEIRA, 2014, p. 100).

Fazendo um paralelo da citação anterior de Teixeira (2014) com as salas de aulas,

parece que os Nativos Digitais perderam o encantamento e o prazer de estarem nelas.

Como a experiência não tem sido boa e os benefícios percebidos são poucos, eles se

sentem desestimulados e não querem interagir mais. É de extrema importância e urgência

que professores e centro educacionais criem aparatos e estratégias para virarem esse jogo,

sendo a interação aluno-professor fator primordial de mudança.

Para este processo, uma palavra-chave é empatia, habilidade de compartilhar e

entender as emoções dos outros. Ela é importante porque ajuda entender o que os outros

estão sentindo, seu contexto, seus objetivos, suas motivações e como deve-se agir de

forma apropriada para a situação. Para Lim (2014), há quatro processos que devem estar

integrados e trabalhando juntos para que haja empatia: escutar, considerar, respeitar e agir.

Na educação, por exemplo, quando a interação do professor com aluno mostra respeito e

interesse pelo seu pensamento, ele ajuda a nutrir o desenvolvimento de valores e

competências capazes de contribuir para o grupo, além de estimular a aprendizagem

(RITCHHART, 2015).

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Fig. 29 - Quatro processos para realizar empatia (LIM, 2014)

Lim (2014) reforça que entender o próximo é apenas uma das maneiras pelas quais

podemos ter empatia. Outra maneira é fluir com eles, sentindo uma sensação de unidade

durante um longo período de tempo. Neste caso, não é necessário ter nenhum objetivo

pré-determinado, só ser curioso para descobrir onde a interação pode levar. Norman

(2008, p.66) concorda e sugere que “os sentimentos emocionais verdadeiros e duradouros

levam muito tempo para serem cultivados: eles decorrem de interação prolongada”. Ora,

o cenário ideal para esse processo é o colégio, onde professor e aluno interagem durante

o ano letivo inteiro e dispõem de tempo suficiente para criar empatia um pelo outro. É

papel do professor assumir essa responsabilidade, entender contextos, objetivos e

emoções e refletir o entendimento de forma apropriada em sala de aula. Além disso,

precisa ser mais aberto e transparente e compartilhar suas próprias emoções com seus

estudantes, para que haja reciprocidade e o desenvolvimento dessa habilidade neles.

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Complementando o desenvolvimento da empatia, Pine II & Gilmore (1998)

identificaram cinco princípios chaves para projetar experiências:

- criar temas para a experiência: um tema efetivo é conciso, convincente e deve dirigir

todos os elementos da experiência em direção a uma história unificada que cativa

inteiramente o participante. “Ultimamente, experiências projetadas a partir de

narrativas tende a ser mais compreensivas e engajadoras para usuários porque eles são

estruturados com base em histórias.” (COOPER ET AL., 2014, p.102)

- harmonizar as impressões com sugestões positivas: a experiência deve ser processada

com impressões indeléveis a partir da apresentação de pistas que afirmam a natureza

da experiência para o participante. Cada sugestão deve suportar o tema e nenhum deve

ser inconsistente com ele.

- eliminar sugestões negativas: garantir a integridade da experiência requer mais do que

camadas de sugestões positivas, deve-se eliminar qualquer impressão que diminua,

contradiga ou distraia do tema.

- misturar as memórias: as memórias sempre foram usadas como lembretes de uma

experiência, é fundamental aproveitar-se delas. Norman (2008) considera que o ser

humano se apega a algo caso ele tenha uma associação pessoal significativa, trazendo

à mente momentos agradáveis e confortantes. O apego está relacionado com o

relacionamento, com os significados e sentimentos que aquilo representa.

- engajar os cinco sentidos: os estimulantes sensoriais que acompanham uma experiência

devem apoiar e aprimorar seu tema, já que quanto mais sentidos uma experiência

envolver, mais eficaz e memorável ela pode se tornar.

É essa prática, a de colocar o aluno no centro e projetar experiências engajadoras,

estimulantes, interativas e desafiadoras que consideram seus hábitos, características,

desejos e necessidades, que o autor desta pesquisa acredita para transformar a educação.

Para isso, é papel dos educadores terem o conhecimento prévio de quem é o usuário final,

traze-lo para mais próximo do processo e adaptar o ensino com base nessas informações.

Na próxima subseção, será abordado como isso pode

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ocorrer na prática, exemplificando com casos reais e estimulando novos pensamentos e

metodologias.

4.2 O ensino centrado no aluno

Apesar de não haver uma similaridade óbvia entre as startups do Vale do Silício e

uma escola, uma análise mais aprofundada de alguns princípios da indústria de tecnologia

pode trazer benefícios e ser chave para o futuro da educação. O termo user experience,

explicado e detalhado na subseção 4.1, é constantemente utilizado nesse meio, sendo

referência para medir o sucesso de um produto ou serviço e prioridade para empresas que

desejam ser bem sucedidas, considerando que, caso o usuário tenha uma experiência ruim,

dificilmente voltará a ter relação com ela.

O valor da experiência tem sido tão grande que extrapolou o setor de tecnologia e

diversas empresas de outros setores estão criando times que buscam constantemente

entender as necessidades de seus clientes e redesenhar serviços quando necessário. Nessa

caminho, a educação também pode se beneficiar desse princípio e focar na experiência

do usuário, ou seja, do aluno, para transformar um sistema que não sofre alterações

significativas a décadas. Neste contexto, Culatta & Speicher (2017) sugerem algumas

etapas do processo de projetar centrado no usuário que podem ser replicados na educação.

Em seu texto, eles abordam o processo para faculdades, mas é algo que pode ser

facilmente adotado em outros níveis de ensino. Além disso, citam a criação de um time

focado em user experience, mas o autor desta pesquisa acredita que são tarefas que os

próprios professores e responsáveis acadêmicos podem e devem realizar.

O primeiro passo é entender quem são os usuários. Existem diversos métodos para

isso, como entrevistas individuais, grupos de foco, questionários, entre outros. Culatta &

Speicher (2017) defendem o uso de uma técnica chamada “User Shadowing”, que

consiste em seguir e observar o usuário durante todas as atividades de seu dia e entender

como se sentem em relação as experiências vivenciadas. É possível entender detalhes

como se as aulas oferecidas atendem as expectativas dos alunos, se eles

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possuem informações necessários para tomar decisões, se estão carregando muito

material, se estão passando muito tempo em filas, se entendem e concordam com as regras

escolares, se gostam e interagem com professores e outros funcionários, se há integração

entre as disciplinas, o que estão fazendo quando não estão em sala de aula, entre diversos

outros assuntos. Os autores explicam que milhares de líderes escolares de todos os estados

norte-americanos estão usando a técnica e refletindo o aprendizado em diferentes projetos

em suas escolas, sendo que alguns comentaram que aprenderam mais em um dia de

experiência com a prática do que durante toda a carreira profissional.

O próximo passo é analisar e identificar os padrões subjacentes em relação as

necessidades e motivações dos alunos encontrados durante a fase de pesquisa,

independente da técnica utilizada. A criação de Personas, representações de usuários com

base em pessoas reais e suas características - será melhor explicado na subseção

5.2 desta pesquisa -, é uma excelente técnica com esse objetivo. Elas servem para lembrar

os responsáveis pela educação de colocar as necessidades dos alunos em primeiro lugar e

devem ter três componentes básicos: suas necessidades, seus desejos e seus desafios

(CULATTA & SPEICHER, 2017).

Após a criação das Personas, pode-se transformar as necessidades dos usuários

em oportunidades de transformação. Para isso, uma técnica simples é a criação de

perguntas que comecem com “como podemos…”, como, por exemplo, “como podemos

fazer com que a interação entre alunos e professores seja melhor e mais próxima?”. Essas

perguntas ajudam a pensar em soluções para os problemas identificados anteriormente

(CULATTA & SPEICHER, 2017).

Culatta & Speicher (2017) alertam que pode ser tentador decidir soluções de forma

rápida, sem aproveitar o tempo disponível para explorar todas as opções possíveis. Por

isso, recomendam a criação de protótipos, já que esses tornam rapidamente as idéias em

algo tangível, geram feedbacks que auxiliam na solução antes de altos investimentos,

ajudam no entendimento de etapas que podem estar faltando e quais pressupostos estão

incorretos enquanto ainda é fácil fazer ajustes. Argumentam que, assim como os

aplicativos de empresas de tecnologia podem ser prototipados, as

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experiências educacionais também podem. Por exemplo, uma nova abordagem de

instrução pode ser testada com um pequeno grupo de alunos primeiro, para obter

feedbacks, e depois ser adotado de forma mais ampla ou novos espaços físicos podem ser

testados movendo móveis existentes para novas configurações antes de derrubar paredes.

Como mostrado por Culatta & Speicher (2017), é possível adaptar o processo de

design centrado no usuário para a educação. Apesar dos autores abordarem algumas

técnicas dentro de uma gama diversa de possibilidades, é importante manter em mente o

objetivo maior, o de haver uma constante interação com os alunos, entendendo seus

interesses e necessidades e refletindo o aprendizado em novos programas, metodologias

e processos de ensino que os coloquem no centro.

A Porvir ([201-?]b) também acredita nessa visão de escutar e entender o aluno e

cita que até os problemas mais difíceis precisam ser discutidos pela comunidade escolar,

tanto para que possam ser resolvidos, quanto para que não se transformem em algo maior,

comprometendo as relações de confiança entre gestores, professores e estudantes, além

de aumentar o nível de insatisfação deste último.

Escutar os estudantes significa criar oportunidade para que possam compartilhar opiniões sobre diferentes assuntos, desde os mais corriqueiros, como a infraestrutura da escola e as atividades em sala de aula, até os mais complexos, como mudanças no currículo e na organização escolar. Para engajarem os alunos, essas consultas precisam ser realizadas com o suporte de dinâmicas, instrumentos e linguagens compreensíveis e estimulantes para eles. Também precisam ser inclusivas, para que capturem múltiplas vozes, mesmo as mais silenciosas e dissonantes. Nesse caso, a opinião dos alunos mais “comportados, extrovertidos e eloquentes” não deve se sobrepor à dos mais “rebeldes, tímidos ou que apresentam dificuldade de se expressar”. Todas as perspectivas precisam ser contempladas (PORVIR, [201-?]b).

Outro ponto significativo, ressaltado pela Porvir ([201-?]b), é a necessidade de

aqueles que escutam “ter a sabedoria de não se colocar na defensiva, nem se sentir

pressionados a acatar tudo o que é sugerido”. Devem responder com argumentos

consistentes, sendo transparentes em relação as percepções e propostas coletadas e

indicando como serão encaminhados. Por fim, precisam manter em mente que um

processo de escuta que não gera consequências concretas pode ter efeito reverso.

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Um exemplo desse processo foi realizado pela alta diretoria da Kroton, a maior

empresa de educação do Brasil. Para que pudessem entender melhor as necessidades de

seus alunos, a empresa criou o Projeto Sintonia de Ponta a Ponta, onde 25 executivos

receberam missões como fazer vestibular, atrasar o pagamento de mensalidade, participar

de cursos presenciais ou à distância, fazer matrícula, entre outros. Para Mario Ghio, vice-

presidente acadêmico, a experiência foi uma das mais interessantes que já participou e

gerou diversos aprendizados e possíveis melhorias. Uma delas, inspirado pelos próprios

alunos, foi a criação de um programa de mentoria entre veteranos e calouros com o

objetivo de evitar a evasão do estudante recém matriculado, além de desenvolver

habilidades de liderança, comunicação e cooperação dos mais antigos. Outra sugestão foi

uma mudança na grade curricular, já que Ghio percebeu que os professores estavam mais

focados em passar conteúdo técnico e menos em desenvolver as capacidades sociais e

emocionais do aluno (SALOMÃO, 2016). Mesmo sendo realizada no Ensino Superior,

esse projeto é uma boa referência de como é importante ter empatia pelos alunos e

entender suas reais necessidades.

Outro referência para o assunto acontece na escola Park Day, nos Estados Unidos.

No começo de cada ano, os professores pedem para que seus alunos descrevam qual é o

tipo de sala de aula que desejam. A partir das descrições, são criados contratos informais

que serão levados ao longo do ano e que devem ser seguidos por ambos, estudantes e

professores (LITTLE & ELLISON, 2015).

Marjo Kyllönen, Secretária de Educação Básica de Helsinque, Finlândia, acredita

no empoderamento e no envolvimento de todos como valores centrais da educação no

país e explica que a mais recente renovação curricular (início em 2012 e em processo de

implementação) foi iniciada a partir da escuta de vários públicos: educadores, pais, alunos

e administradores do sistema. Os pais, por exemplo, foram questionados sobre quais

deveriam ser os objetivos da educação. Já os alunos responderam questões como “Como

você aprende melhor?”, “Quais são os seus sonhos para a escola do futuro” e “Como

você enxerga a tecnologia?”. Todas as informações

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obtidas foram analisadas e consideradas na construção do novo currículo (KRAUSE,

2017).

Prensky (1999) concorda com os conceitos abordados até aqui e defende que é

preciso criar metodologias de ensino que estejam alinhadas com as características dos

Nativos Digitais - público atual das salas de aula - e, para isso, é demandado que eles

ajudem a guiar esse processo, principalmente pelo fato de que, como argumentam

Tomazetti & Schlickmann (2016, p. 334), eles “trazem à escola suas próprias linguagens

e culturas, fazendo-se atores, sujeitos ativos na construção da forma de ser no espaço

escolar e não apenas receptores de conteúdos com fins de memorização”. Porém, apesar

de existir certa abertura, “a escola ainda persiste no desconhecimento do mundo juvenil

e de suas culturas, as quais se constituem em fatores fundamentais no processo de

incorporação dos jovens alunos no ambiente escolar” (TOMAZETTI &

SCHLICKMANN, 2016, p. 337). É essencial que a educação promova oportunidades

para que os jovens expressem suas próprias ideias, valores e sentimentos (NACCCE,

1999).

Isso é relevante pois, para que haja aprendizagem, Henklain & Carmo (2013)

declaram que é preciso conhecer o máximo possível sobre o aluno, como qual seu

repertório acadêmico e de interação social, do que ele gosta e que pode ser usado como

reforçador, qual o contexto social em que está inserido e quais situações-problema que se

espera que consiga resolver, entre outros. Acreditam também que não basta conhece- lo

apenas no início do período letivo, mas sim registrar e monitorar seu desenvolvimento

ao longo de todo o processo de ensino. Isso é relevante porque essas informações vão

ajudar no planejamento do material e das contingências de reforço. Além disso, o foco do

professor deve ser direcionado pelas necessidades de cada aluno e não pela média da

maioria, considerando que “uma pessoa interpreta uma experiência em muitos níveis, mas

o que agrada a um pode não agradar a outro” (NORMAN, 2008, p.56).

Uma decorrência dessa forma de explicar o comportamento envolve o fato de que conhecer o aluno nas suas facilidades e dificuldades de aprendizagem exige a análise de seus comportamentos, ao longo de uma história de aprendizagem, em termos das condições sob as quais a pessoa se comporta e as consequências que produz. De nada

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adianta analisar o desempenho médio dos alunos em sala de aula. Cada aluno deve ser avaliado individualmente, e o planejamento de ensino deve ser, tanto quanto possível, flexível para atender às necessidades individuais (HENKLAIN & CARMO, 2013, p. 712).

Nesse cenário, o papel do professor é de extrema importância, já que são eles que

convivem dia-a-dia com os alunos e possuem maiores oportunidades de entender os seus

desafios, necessidades, desejos e perfis. Por isso, Ritchhart (2015) acredita que, para que

haja um maior engajamento em sala de aula, é preciso repensar de forma radical o uso do

tempo por parte dos professores. Em termos de envolvimento dos alunos, a questão de

alocação do tempo deve mudar de “como eu, como professor, escolho usar meu tempo de

aula para atingir meus objetivos?” para “como eu habilitarei meus alunos a usar seu tempo

em classe para maximizar sua aprendizagem?”. Esta mudança de perspectiva permite

mover o foco dos professores para os alunos e recalibrar o pensamento sobre o tempo,

forçando os educadores a se concentrarem na aprendizagem de seus estudantes, sua maior

prioridade. Little & Ellison (2015) acreditam que esse comportamento pode gerar

diversos benefícios para os alunos, como cultivar a liderança a partir da prática e da

observação pelos adultos, construir comunidades fortes e diminuir comportamentos ruins,

como o bullying, pois defendem que se eles não se sentirem ignorados ou aborrecidos por

rotinas sufocantes e, em vez disso, receberem respeito, algum grau de autonomia e

estarem verdadeiramente envolvidos com a aprendizagem, condutas problemáticas vão

se tornar cada vez menores.

Weschler (2001, 2002 apud OLIVEIRA & ALENCAR, 2008) cita que há algumas

atitudes dos professores que possibilitam o maior desenvolvimento do aluno em sala de

aula: ouvir idéias diferentes das suas e encorajá-los a realizar seus próprios projetos,

estimular o questionamento, dando-lhes tempo para pensar e para testarem hipóteses,

estimular a curiosidade, criar um ambiente sem pressões, amigo, seguro, usar a crítica

com cautela e buscar descobrir o potencial de cada aluno. Cropley (1997, 2005 apud

OLIVEIRA & ALENCAR, 2008) complementa com outros comportamentos, como

encorajar o pensamento flexível em seus alunos, dar oportunidades para trabalharem com

uma diversidade de materiais e sob diferentes condições, ajudar a

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aprender com a frustração e o fracasso, incentivando a tentar o novo e o inusitado, e

promover a auto-avaliação pelos alunos. Seguindo esse raciocínio, Oliveira (2010)

defende que essas são aspectos de um professor criativo.

Professor criativo é aquele que está aberto a novas experiências, é ousado, curioso, tem confiança em si mesmo, além de ser apaixonado pelo que faz. Trabalha com idealismo e prazer, adotando uma postura de facilitador e quebrando paradigmas da educação tradicional. Sabe ouvir ideias diferentes das suas, encoraja os alunos a realizarem seus próprios projetos, estimula o questionamento e a curiosidade, cria um ambiente sem pressões e estabelece um clima criativo, usa a crítica com cautela e busca descobrir o potencial de cada aluno, encoraja o pensamento flexível em seus alunos, dá oportunidades ao aluno para trabalhar com uma diversidade de materiais e sob diferentes condições, ajuda os alunos a aprender com a frustração e o fracasso, considera os interesses, habilidades e provê oportunidades para que eles se conscientizem de seu potencial criativo. Além disso, encoraja o trabalho criativo e a elaboração de produtos originais. (OLIVEIRA, 2010, p. 6-7).

Robert Fried (1995 apud RITCHHART, 2015) concorda com os pontos anteriores

e reforça mais um comportamento que professores devem seguir, o de estarem sempre

correndo riscos e cometendo tantos erros como qualquer outra pessoa, ou até mais que a

maioria. O que os deve diferenciar é como reagem durante essas situações, reconhecendo

os erros e aprendendo com eles, em vez de ignorá-los ou negá- los. Isso possui um efeito

positivo na cultura da sala de aula, já que ajuda a torná-la um lugar mais seguro para os

alunos cometerem seus próprios erros e aprender com eles. Quando os alunos percebem

que as salas de aula são lugares seguros, que sua independência é valorizada e que

possuem oportunidades de exercer o controle legítimo sobre sua aprendizagem, eles ficam

mais dispostos a se engajar no pensamento crítico e com o contexto como um todo

(RITCHHART, 2015).

Apesar de ser difícil para os educadores passarem por essa experiência de

vulnerabilidade, pois parece que há uma perda de controle sobre sua identidade e seu

papel, é preciso, assim como os alunos, reivindicar o poder de “não saber” e o de “ainda

buscando”. A coragem de ser genuíno em sala de aula e trazer as próprias

vulnerabilidades, assim como os pontos fortes, é essencial para a construção de uma nova

experiência educacional, uma que envolva todos os agentes participantes (RITCHHART,

2015). Dessa forma, como salientam Fisher & Frey (2008 apud RITCHHART, 2015), a

modelagem de ensino passa de uma que fornece explicações e questionamentos para uma

que demonstra a forma como especialistas pensam enquanto

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abordam problemas, ensinando estratégias efetivas através da observação de modelos

bem-sucedidos que se baseiam na obtenção de informação para avaliação de alternativas.

Ora, com esse modelo, o aprendiz absorve e adota gradualmente o comportamento e o

desempenho do especialista/professor até alcançar a independência. Mas, como

argumentam Collins et al. (1991 apud RITCHHART, 2015), é preciso que isso seja feito

de forma cautelosa, primeiro com os professores identificando os processos específicos

relacionados à tarefa e torná-los visíveis aos alunos, passando para uma mentoria

enquanto os próprios experimentam essa estratégia, até, finalmente, desaparecer

estrategicamente e reduzir o apoio à medida que os alunos ganham independência,

incentivando a reflexão no final do processo. Fisher & Frey (2008 apud RITCHHART,

2015) consentem e citam que é preciso dar apoio aos alunos enquanto eles assumem a

liderança e não apenas empurrá-los para o caminho e esperar que encontrem por si só.

Normalmente, toda influência, contendo sempre o lado de cima para baixo, tenderia a ser “castradora”. Mas, sendo igualmente dinâmica não linear, complexa, dialética, pode acolher outras evoluções dinâmicas, também de baixo para cima e de dentro para fora, desde que a/o professora/professor aposte na autonomia da/do aluna/aluno. A influência que a/o professora/professor exerce deve poder libertar, não apequenar (DEMO, 2002, p. 360).

Outra palavra chave nesse processo de aprendizagem e de experiência é interação.

Ritchhart (2015) elucida que “interação” é um fenômeno dinâmico que emerge quando

dois ou mais indivíduos ou objetos têm efeito um sobre o outro. Como formador de

cultura, ela forma a base para a relação entre professores e alunos, alunos e alunos e

professores e professores, ajudando a definir o clima emocional, o tom ou o ethos de um

lugar. Para o autor, defensor da cultura de pensamento, as interações dos professores com

os alunos precisam mostrar respeito e interesse em seus pensamentos, nutrindo seu

desenvolvimento como indivíduos valorizados, competentes e capazes de contribuir

efetivamente para o grupo.

John Hattie (2009 apud RITCHHART, 2015) reforça esta importância através de

estudo sobre como várias práticas e programas educacionais, currículos e variáveis de

conhecimento influenciam no aprendizado dos alunos, já que descobriu que a interação

professor-aluno foi identificada como uma das principais práticas susceptíveis de afetar

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a aprendizagem. Esse ponto é corroborado por um dos estudos do próprio Hattie que

demonstra a relação entre eficácia de ações e seu custo, representada na imagem abaixo.

Como pode ser visto, a ação mais eficaz e de menor custo é a comunicação do professor

com seus alunos, seguida por ajudar os estudantes a refletir sobre seu aprendizado

(OSHIMA, 2016). Essas práticas estão diretamente relacionados com a interação

professor-aluno.

Fig. 30 - Relação da eficácia de ações e seu custo (OSHIMA, 2016)

Nesse cenário, Ritchhart (2015) qualifica as perguntas como uma das principais

maneiras pelas quais os professores interagem com os alunos em sala de aula, ajudando a

defini-las, construindo cultura e ligando estudantes, professores e conteúdo. Porém, o

autor questiona a atual forma que isso vêm ocorrendo, já que, na maioria das vezes, é

utilizado o padrão QRE (question, respond, evaluate, em inglês), onde o professor

pergunta, um aluno responde e o professor avalia. A questão é que esse método foca,

principalmente, na memória como principal função cognitiva e, portanto, tem um efeito

limitado nos pensadores em desenvolvimento, reforçando a atual noção de que aprender

significa memorizar. Além disso, os resultados do QRE podem ser comparados a um jogo

de ping-pong, já que há troca somente entre o professor e um único aluno, deixando o

restante da turma fora da interação.

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Uma alternativa, citada por Ritchhart (2015), é um modelo que pode ser associado

a um jogo de basquete, na qual a bola (pergunta) é transmitida e as ideias são rebocadas

pelos alunos, enquanto a bola é movida para baixo da quadra. Outra, também citada pelo

autor, é o protocolo Micro Lab, que estrutura discussões a partir de grupos de três, sendo

cada membro responsável por compartilhar seus pensamentos sobre o tema, sem qualquer

interrupção ou perguntas dos outros membros. Após os três terem compartilhado, há uma

discussão aberta entre eles, garantindo que todos tenham transmitido suas idéias e que a

conversa tenha uma base forte na construção de um pensamento maior. O papel do

professor é acompanhar as discussões, se movendo ao redor da sala, ouvindo e anotando

algumas idéias no quadro. Quando este estiver cheio de idéias, há uma conversa aberta

entre todos, conectando tudo o que foi dito nas rodadas anteriores de discussão. Nesse

cenário, os alunos possuem um papel extensivo como palestrantes e pensadores, lidando

com sua idéias, além de interagir muito mais com seus pares do que com o professor.

Ritchhart (2015) acredita que, se os professores não tentarem empregar novas

formas de interação, o padrão QRE prevalecerá, o que não é benéfico para os estudantes.

Para que haja real mudança, é preciso que os educadores ganhem a confiança dos alunos

e que novos padrões de interação entre aluno e aluno sejam estimulados dentro do

processo de aprendizagem. Além disso, cita que a literatura sugere outras três ações

fundamentais para que professores desenvolvam a cultura do pensamento, o alto

desempenho acadêmico, a independência e o desenvolvimento pessoal: ser não-diretivo,

pressionar para pensar e apoiar a autonomia dos alunos.

A primeira ação estabelece que os professores não-diretivos compartilham o poder

com seus alunos, permitindo que sejam parceiros legítimos na condução da aula, e

incentivam sua voz, deixando claro que suas contribuições são importantes para a classe.

Isso não quer dizer que não tenha direção ou não consigam direcionar a aprendizagem,

mas que não são controladores, já que figuras autoritárias podem ser boas para obter

submissão, mas não são eficazes para promover a aprendizagem ou o desenvolvimento

de pensadores. A segunda estimula o pensamento do estudante,

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criando oportunidades e proporcionando tempo para isso. Quando combinado com

empatia, suporte e exaltação, mostra o investimento do educador no sucesso de seus

aprendizes. Por fim, na terceira, os professores estão sempre procurando maneiras de se

afastarem para que seus alunos possam avançar, fazendo com que sintam o controle de

sua aprendizagem e que é seguro assumir riscos (RITCHHART, 2015).

O pensamento estipulado por Ritchhart (2015), nos parágrafos anteriores, está

alinhado com conceitos de metodologias ativas.

Por metodologias ativas entende-se as maneiras de ensinar e aprender de forma emancipatória, autônoma e participativa. A valorização do estudante como protagonista do processo de ensino e aprendizagem, a migração do ensinar para o aprender, o professor como facilitador de todo o processo, são diretrizes básicas dessas metodologias. Nelas o estudante é o centro dinamizador de toda aprendizagem. Ele torna-se co-responsável pelo aprendizado e o professor atua como mediador e facilitador dessa (DOS SANTOS, 2016, p.123).

Outros exemplos desse tipo de metodologia são a Aprendizagem Baseada em Problemas

(ABP), a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) e a Aprendizagem Baseada em

Equipes, “cuja formação de equipes ajuda os sujeitos a lidarem melhor com diferentes

tipos de situações laborais e facilitam a aplicação das suas competências transversais”

(DOS SANTOS, 2016, p. 124).

Dos Santos (2016, p.125) argumenta que, “lidar com estratégias inovadoras de

ensino é um desafio, na medida em que os agentes participativos – estudantes e

professores – terão que juntos ressignificar o conceito de ensino e aprendizagem, de sala

de aula e de formação universitária.” Por isso, para a autora, isso só poderá acontecer na

prática docente a partir do momento que haja incentivo na aplicação de tais metodologias

ativas, mesmo sendo uma tarefa árdua lidar com diferentes modelos de ensino que exigem

mudanças de hábitos e paradigmas. Um reforçador desta questão é que alguns estudos

comprovaram que os alunos demonstram “maior compromisso, mais autoeficácia,

melhores atitudes em relação à escola e um melhor desenvolvimento de competências

quando estão comprometidos com projetos de criação de conteúdos, o que lhes permite

aplicar o que estão aprendendo” (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014, p. 25).

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Os estudantes tendem a se engajar mais na sua aprendizagem quando têm espaço para criar. A autoria começa com pequenas produções em atividades educativas cotidianas, como desenhos, cartazes e dramatizações. Ganha potência com criações mais robustas, como peças de teatro, composições musicais, vídeos, blogs, revistas em quadrinhos e animações. E cresce ainda mais quando os alunos se envolvem na elaboração de projetos, seja para desenvolver um produto, como um livro, jogo, robô ou foguete de garrafa pet, seja para resolver um problema concreto, como a melhoria de uma praça, a preservação do meio ambiente ou a redução de conflitos. […] Além de desenvolver diversas capacidades importantes, como criatividade e colaboração, o engajamento dos estudantes como coautores do seu processo educativo os aproxima da escola, ao mesmo tempo que apoia a transformação do ambiente escolar para conectá-lo com a realidade dos alunos do século 21 (PORVIR, [201-?]b).

Outro fator importante no cenário educacional é o feedback em torno do

aprendizado. A questão é que, nas salas de aula tradicionais, os alunos possuem pouco

tempo para interagir com materiais, colegas e professores, além de ter que esperar por

dias ou semanas para receber algum comentário sobre o que tem feito e aprendido. Uma

pesquisa citada pela Fundação Santillana (2014, p. 30) sugere que “a aprendizagem se

produz mais rapidamente quando os estudantes têm oportunidades frequentes para aplicar

as ideias que estão aprendendo e quando o feedback sobre o sucesso ou o fracasso de uma

ideia vem quase de imediato.” Nesse ponto, para Henklain & Carmo (2013), os

professores devem criar muitas situações para que os alunos possam participar,

considerando que essa etapa é fundamental para que haja feedback imediato sobre o que,

quanto e como seus alunos estão aprendendo. Além disso, as ferramentas digitais também

podem ajudar fomentando rápidas interações, gerando feedback imediato e analisando o

progresso de cada estudante para proporcionar informações mais relevantes e

personalizadas do que as que o aluno recebe tradicionalmente.

Em relação as tecnologias digitais, vale ressaltar que os alunos atuais nasceram

em um mundo digital e estão conectados à elas durante boa parte do seu tempo livre e não

conseguem imaginar um mundo a qual elas não estão presentes. Porém, esses recursos

não foram trazidos para a sala de aula, mesmo possibilitando e facilitando o ensino de

xadrez e piano, a falar francês e ler chinês, a ganhar conhecimento sobre economia,

estatísticas, história ou filosofia, ou a aumentar o grau de colaboração com pessoas

próximas ou longe, como é exemplificado por Gardner & Davis (2013). Para Little &

Ellison (2015), os professores devem entender que elas são ferramentas

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poderosas, que devem ajudar seus alunos a descobrirem como gerir e tirar proveito

desses avanços e não se omitirem, como é feito atualmente na maioria das vezes.

Cada vez mais, as pessoas são multitarefas, o que altera a capacidade de concentração exigindo um esforço dobrado, por parte dos docente, para atrair e manter a atenção dos estudantes. A questão é como captar esta atenção para um livro ou lousa se ele convive com celulares e tablets cheios de aplicativos e notificações de redes sociais? Como desenvolver o ensino e a aprendizagem num ambiente no qual o estudante é apenas um espectador, um ouvinte? O desafio é descobrir iniciativas que promovam a integração da tecnologia da informação e da comunicação à educação, bem como agregar metodologias e didáticas dinâmicas e humanizadoras que coloquem o estudante no protagonismo do processo de ensino e aprendizagem. (DOS SANTOS, 2016, p.117).

Este desafio apresentado por Dos Santos (2016) passa a ser ainda mais relevante

pela características dos Nativos Digitais, já citadas na subseção 3.1, e seu fascínio pelo

mundo tecnológico. Se há a disposição para que a experiência desses alunos seja positiva

e mais próxima de seus interesses, as tecnologias digitais não podem ficar fora das salas

de aula. Opções para que sejam integradas não faltam, como é exemplificado

extensivamente na subseção 3.3 desta pesquisa. O que falta é conscientização dos

professores dos benefícios de seu uso e a relação próxima que os jovens possuem com

elas, do entendimento dos alunos do momento certo para usá-las e como usá-las - que

pode e deve ter suporte do educador - e a criação de metodologias que absorvem as

tecnologias como meio para o objetivo final de aprendizagem e não só o uso pelo uso.

Nessa conjuntura digital, como citado anteriormente, os videogames tem grande

potencial educacional. Mas para além deles, a gamificação, conceito que alude ao uso de

mecânicas características de jogos - como pontos, níveis, recompensas, conquistas, etc. -

em outros ambientes para envolver o usuário através de determinadas atividades, tem

ganho impulso na educação. Com o objetivo de promover a aprendizagem em meio a uma

experiência divertida, dotando de mecânicas lúdicas atividades que não o são, ela ajuda

no compromisso do estudante com a tarefa de aprendizagem e a manter seu interesse,

aumentando a motivação, tornando a aprendizagem mais significativa e atribuindo

determinadas recompensas ao esforço aplicado (FUNDAÇÃO SANTILLANA,

2014).

Todo o cenário retratado nesta subseção é importante, principalmente, pelo fato

dos estudantes aprenderem melhor quando participam ativamente da construção de seu

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conhecimento, combinando experiências diretas, interpretações pessoais e interações

estruturadas com seus colegas e professores. Já quando assumem um papel passivo,

limitado a receber informações que lhes chega por meio de lições e da leitura dos livros

escolares, muitas vezes não conseguem desenvolver compreensão suficiente para aplicar

os conceitos em situações fora dos livros e da sala de aula (FUNDAÇÃO SANTILLANA,

2014). Além disso, os conceitos e propostas apresentados nestsa subseção estão

diretamente relacionados com o resultado de pesquisas cognitivas e de características

fundamentais para que ocorra aprendizagem.

Uma importante conquista científica do século XX foram os grandes avanços na compreensão da cognição, ou seja, os processos mentais do pensamento, da percepção e da memória, e seu reflexo neurológico, que deram lugar, já no século XXI, a um maior desenvolvimento das denominadas ciências da aprendizagem. Assim, não estará de mais recordar que a pesquisa cognitiva tem demonstrado que a aprendizagem é mais eficaz quando estão presentes cinco caraterísticas fundamentais: 1. a participação ativa do estudante; 2. a aprendizagem cooperativa; 3. a interação frequente com os recursos com feedback; 4. as conexões com o mundo real; e 5. o papel do professor como orquestrador dos recursos e referencial dos estudantes (FUNDAÇÃO SANTILLANA, 2014, p. 23-24).

Por fim, para exemplificar o que foi exposto, será apresentado alguns casos que

exemplificam como mudanças no modelo educacional podem criar experiências positivas

e estimulantes que auxiliam no aprendizado quando características e interesses dos alunos

são colocados no centro do processo.

A professora chilena Jacqueline Bustamante, de língua e comunicação, pensa em

diferentes formas de avaliar seus estudantes a cada ano. Histórias em quadrinhos de “Dom

Quixote”, intervenções com batucada da obra de Miguel de Cervantes e fotonovelas

baseadas em “O Jogo da Amarelinha”, de Julio Cortázar foram algumas delas. Em 2016,

para a leitura de “Cem Anos de Solidão”, Bustamante pediu a criação de memes da

história. Após a entrega, a professora expos os trabalhos nos muros do colégio, tirou foto

e postou em seu Facebook, gerando grande repercussão positiva, com mais de 11.000

compartilhamentos na rede social e diversas entrevistas para canais de televisão de

diferentes países da América Latina. A atitude da professora foi elogiada como inovadora

por pais, alunos e educadores (RODRÍGUEZ-PINA, 2016). Essa experiência é

interessante pois a professora trouxe algo que está no convívio diário de seus alunos na

internet, os memes, para a sala de aula, aplicando seus conceitos em uma

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avaliação, que, geralmente, é algo burocrático, formal e que causa medo e stress aos

alunos.

Fig. 31 - Trabalho de uma aluna de Bustamante (RODRÍGUEZ-PINA, 2016)

Em uma escola de Jundiaí, em São Paulo, um professor de ciências biológicas

decidiu criar um novo método para ensinar sobre o corpo humano a partir do interesse dos

alunos por séries de TV como “CSI”, “Dr. House”, “Monk” e “Law & Order”. A ideia

surgiu quando começou a discutir o conteúdo e perceber que eles já tinham conhecimentos

prévios sobre o assunto por serem fãs das séries citadas. A partir disso, o professor

Erivaldo Ribeiro Júnior montou um projeto em que os estudantes seriam os construtores

e os investigadores de uma série criada por eles. A proposta empolgou os alunos e, em

cada aula, uma equipe apresentava o crime que deveria ser investigado pelos outros.

Professores de outras disciplinas como geografia, língua portuguesa, história, artes e

educação física também se envolveram e a direção do colégio pretende agregar os

conceitos e ideias apresentadas por um período maior e com o envolvimento

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de outros membros (BELLINI, 2016). Nesse exemplo, o professor conseguiu entender

uma característica e interesse comum dos alunos e criar uma prática de ensino baseada

nisso, engajando diretamente e proporcionando maior envolvimento de todos.

Fig. 32 - Cenário de um “crime” na aula (BELLINI, 2016)

Uma professora da 5ª série da Evergreen Avenue Elementary School deixou um

recado personalizado de incentivo e dois donuts nas carteiras de seus alunos, no dia de

uma prova importante, com o intuito de diminuir o stress deles (BRENNER, 2016).

Apesar de simples, a iniciativa reforça a importância da relação professor-aluno, diminui

a percepção do professor como carrasco e autoridade e auxilia no desenvolvimento

emocional do aluno em momentos de stress, além de mostrar uma forte empatia do

educador com seu estudante.

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Fig. 33 - Recado da professora para o aluno no dia da prova (BRENNER, 2016)

A Blatchington Mill School, em Sussex, Inglaterra, adotou uma mudança baseada

no comportamento de seus alunos. Percebendo que eles estavam com dificuldades para

acordar cedo, a escola decidiu retardar o início das aulas em uma hora. A proposta

também foi baseada em um estudo que sugere que começar o dia muito cedo vai contra o

ritmo biológico dos adolescentes e na hipótese de que eles se concentrarão mais nas aulas

por conta desse tempo extra pela manhã (MOREIRA, 2017).

Uma nova opção para o castigo foi implementado no Robert W. Coleman

Elementary School, em Baltimore, Estados Unidos. Em vez de punir os alunos ou mandá-

los para fora de sala para falar com o coordenador, o colégio possui uma sala reservada

para meditação. No local, o estudante é encorajado a praticar a respiração, a meditar e a

contar o que aconteceu, sempre com o objetivo de ajudá-lo e acalmá-lo. A prática,

segundo estudos, auxiliam na capacidade de atenção e o foco de uma pessoa (GAINES,

2016). Dessa forma, em vez de criar antipatia, mais emoções negativas e afastamento do

aluno, o colégio tenta reverter o cenário e trabalhar de forma direta os problemas que ele

está enfrentando.

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No Colégio Notre-Dame, no Rio de Janeiro, há um grande estimulo a cooperação

entre os alunos e a competitividade não é incentivada. Esse pensamento tem como

objetivo criar cidadãos para a vida pós-colégio e não somente para passar no vestibular

(STAMM, 2016). Com o mesmo intuito, escolas de São Paulo estão adotando estratégias

para desenvolver habilidades socioemocionais em seus alunos, como cooperação,

empatia, senso crítico e curiosidade. Além de potencializar e aprofundar o aprendizado,

ajudam no ganho de autonomia dos jovens (PALHARES, 2016). É relevante notar

também que essas características foram citadas na sub-seção 2.2 desta pesquisa como

habilidades do século XXI e diferenciais para o mercado de trabalho em transformação.

Nessa mesma linha de raciocínio, um curso pré-vestibular de Piracicaba, São

Paulo, com o intuito de criar responsabilidade e dar confiança aos jovens, criou uma

cantina sem funcionários. Os próprios alunos se servem, manejam o troco e ficam

encarregados do pagamento, que não precisa ser feito no momento da compra, além de

lavarem a louça em uma cozinha compartilhada sem faxineiras. A ideia já existe há mais

de dois anos e, segundo os responsáveis, o método nunca deu problemas ou prejuízos. Os

alunos gostam e sentem a confiança e a liberdade dada pelo curso e, de acordo com o

proprietário da unidade, os professores sentiram diferença no comportamento deles dentro

das salas de aula após a adoção do método (G1 PIRACICABA E REGIÃO, 2016).

Apostando no dialogo e no protagonismo dos alunos, a escola NAVE Rio, no Rio

de Janeiro, criou o projeto “Embaixadores NAVE”, em maio de 2017, que resultou no

NAVE+, festival de cultura maker e indústria criativa. Totalmente pensado e realizado

pelos estudantes do NAVE, o evento surgiu do interesse dos próprios alunos em estar mais

conectados com outros alunos da rede estadual, profissionais da indústria criativa,

comunidades vizinhas à escola e fazedores de todas as idades e localidades (OI FUTURO,

2017). Para que isso acontecesse, foram eleitos democraticamente 12 embaixadores que

ficaram responsáveis pelo projeto. Com ajuda de uma facilitadora especializada em

design thinking, esses estudantes ajudaram a construir o conceito do

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evento de forma colaborativa por meio de exercícios de empatia e de entrevistas com

executivos da Oi e do Oi Futuro (parceiros do poder público na administração do colégio),

outros alunos, professores, gestores escolares e moradores das redondezas da escola (OI

FUTURO, 2017b). Além de ensinar uma nova metodologia de projeto, o design thinking,

essa iniciativa do NAVE merece destaque porque estimulou habilidades como liderança,

organização, colaboração e responsabilidade para seus alunos. Outro ponto que vale

destacar é que não houve imposição do conteúdo e de como o festival deveria ocorrer, foi

a partir do interesse dos estudantes e de diversas atividades envolvendo outras pessoas do

meio que resultaram na proposta final.

É interessante notar que, além de algumas ações como as mostradas nos parágrafos

anteriores, novos colégios estão surgindo com a premissa de fugir do modelo tradicional

de ensino e focar em conceitos inovadores, estimulando habilidades do século XXI, o uso

de tecnologia e o protagonismo do aluno. Um exemplo é a Escola Eleva, no Rio de

Janeiro, que foi inaugurada no começo de 2017. Financiada pelo homem mais rico do

Brasil, Jorge Paulo Lemann, possui como missão “formar uma nova geração de líderes

capazes de fazer a diferença nas suas vidas e contribuir para um mundo melhor” e como

valores respeito, entusiasmo, excelência, responsabilidade e bondade. Além disso, se

baseia em três pilares: excelência acadêmica, inteligência de vida e cidadania global

(ESCOLA ELEVA, 2017). Com a ambição de reproduzir iniciativas bem-sucedidas de

alguns dos melhores colégios do mundo, foi adotado o regime de turno integral, com

ensino bilíngue do ensino fundamental ao médio e diversas matérias eletivas para atender

aos interesses individuais dos alunos, como robótica, design thinking, direito, psicologia,

introdução a finanças, entre outros. Um laboratório de maker space, movimento que teve

início em grandes centros educacionais, como a Universidade de Harvard, também foi

construído e os alunos tem disponível diversos equipamentos, como cortadora a laser e

impressora 3D, para concretizarem suas próprias ideias (CERQUEIRA, 2016).

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Fig. 34 - Laboratório de maker space (ESCOLA ELEVA, 2017)

Outro bom modelo é a Escola Internacional de São Paulo, com previsão de

abertura para o começo de 2018. Também com ensino integral e bilíngue, os estudantes

do colégio passarão parte de sua grade curricular em computadores, aprendendo a

programar, ou em laboratórios de criatividade. No fim de cada bimestre, em vez de

boletim, um livro mostrando sua evolução será entregue. Com foco em formar “cidadãos

internacionais” e, ao mesmo tempo, dotados de inteligência emocional, o principal

objetivo é trazer uma educação internacional, seguindo um currículo suíço adaptado ao

brasileiro. Os pilares divulgados pelo colégio são o desenvolvimento de uma mentalidade

internacional, o ensino de habilidades para as “profissões do futuro” e a avaliação do

progresso emocional do estudante (FONSECA, 2017).

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Fig. 35 - Projeto da Escola Internacional de São Paulo (FONSECA, 2017)

Ambas as escolas citadas fazem parte de uma nova safra de escolas caras que estão

surgindo com propostas inovadoras e que pretendem fugir do tradicional. Entretanto, é

relevante afirmar que, para muitos dos desafios da educação, o dinheiro não é a única

solução. É claro que ele ajuda na construção de bons laboratórios, na expansão

tecnológica, na estrutura física e na capacitação de professores. Porém, diversas medidas

que são citadas ao longo desta pesquisa e desta subseção podem ser implementadas na

maioria dos colégios e gerarão benefícios para todos. Para o uso da tecnologia, por

exemplo, é possível utilizar os celulares dos próprios alunos, já que a maioria, se não

todos, possuem um e os encorajam a ter controle de sua própria aprendizagem. Para

engajar o aluno, trazê-lo mais para próximo e motivá-lo, é importante entender seus

interesses, sua personalidade e refletir isso na sala de aula. Para colocar os estudantes no

centro da aprendizagem e prepara-los para o futuro, basta uma mudança de mentalidade.

Enfim, os exemplos apresentados anteriormente expuseram que pequenas atitudes podem

auxiliar nesse processo. Além disso, é importante citar que essas mudanças precisam

ocorrer de forma universal e não só nas escolas de elite, caso o contrário, a desigualdade

aumenta e novos problemas serão gerados.

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5. Métodos e Técnicas

É normal no desenvolvimento de um produto ou serviço que o projetista caia na

armadilha de achar que está criando para um público que possui características iguais ou

pensam exatamente que nem ele. É preciso ter em mente que o projeto é feito para outras

pessoas e que, se há o interesse que usem e gostem do que está sendo criado, é importante

entender quem vai usar e quais são suas reais necessidades. Por isso, gastar tempo

pesquisando ajuda a sair da própria perspectiva limitada, a ganhar empatia e a ver a partir

do ponto de vista dos usuários (GARRETT, 2011).

Nesse contexto, e considerando o tema e o objetivo desta pesquisa, é possível

defini-lá como um estudo descritivo. Gil (2008, p.28) afirma que este tipo “têm como

objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou

fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis” e “uma de suas características

mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados”. Além

disso, têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população, neste

caso, dos Nativos Digitais e seus professores.

Além de ser descritiva, esta pesquisa possui um caráter qualitativo. De acordo com

Cooper et al. (2014), esse método ajuda a entender o domínio, o contexto e os

constrangimentos de um produto de maneiras diferentes e mais úteis do que a pesquisa

quantitativa, a identificar padrões de comportamento entre usuários e fornecer insights

valiosos de negócio que não são revelados através de pesquisa de mercado tradicional.

Afirma que existem diversos tipos de pesquisas qualitativas, cada uma desempenhando

um papel diferente e importante no entendimento do panorama do produto ou serviço e

do usuário.

O emprego da entrevista qualitativa para mapear e compreender o mundo da vida dos respondentes é o ponto de entrada para o cientista social que introduz, então, esquemas interpretativos para compreender as narrativas dos atores em termos mais conceptuais e abstratos, muitas vezes em relação a outras observações. A entrevista qualitativa, pois, fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. O objetivo é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos. (GASKELL, 2002, p.65)

Esta pesquisa utilizará um método qualitativo baseado em entrevistas semi-

estruturadas, mais especificamente, a entrevista em profundidade. Ela servirá como base

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para obter insumos para as etapas seguintes, a criação das Personas, dos Experience Maps

e dos Cenários. O primeiro, tem como objetivo fornecer dados relevantes do público

pesquisado, humanizando cada ator envolvido. O segundo, visa mapear os momentos que

o usuário - neste caso, a Persona - interage com o produto ou serviço. Já o terceiro, é

utilizado para validar ideias e premissas, explorando a melhor forma de atender as

necessidades dos usuários.

5.1. Entrevista em profundidade

Como citado anteriormente, esta pesquisa vai utilizar entrevistas em profundidade

como base.

De acordo com Duarte (2011, p.62), a entrevista em profundidade é uma “técnica

qualitativa que explora um assunto a partir da busca de informações, percepções e

experiências de informantes para analisá-las e apresentá-las de forma estruturada” e

“procura intensidade nas respostas, não-quantificação ou representação estatística”. Com

o objetivo de fornecer elementos para compreensão de uma situação ou estrutura de um

problema, afirma ser uma técnica dinâmica e flexível que possibilita o informante definir

os próprios termos de sua resposta e o entrevistador de ajustar as perguntas livremente.

Além disso, é útil para a captação de informações que tratam de questões relacionadas ao

íntimo do entrevistado e para descrição de situações nos quais está ou esteve envolvido.

Gaskell (2002) define três macro etapas na realização das entrevistas em

profundidade. A primeira, a preparação e planejamento, assume que o pesquisador já

tenha desenvolvido um referencial teórico ou conceitual e identificado conceitos e temas

que deverão ser vistas na pesquisa. Esses pontos são relevantes posto que vão guiar duas

questões centrais: o que perguntar (a especificação do tópico guia) e a quem perguntar

(como selecionar os entrevistados).

O tópico guia é parte fundamental do processo e é planejado para dar conta dos

fins e objetivos da pesquisa. Por esse motivo, é necessário uma real atenção em sua

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construção, colocando tempo e esforço nele (GASKELL, 2002). Goltz (2014b) explica

que o processo de desenvolvimento desse guia força o entrevistador a pensar sobre o que

precisa aprender com os entrevistados, já que as entrevistas não servem somente para

obter dados brutos, mas para haver uma compreensão completa dos participantes e suas

perspectivas.

[…] o tópico guia […] não é uma série extensa de perguntas específicas, mas ao contrário, um conjunto de títulos de parágrafos. Ele funciona como um lembrete para o entrevistador, como uma salvaguarda quando der um "branco" no meio de uma entrevista, um sinal de que há uma agenda a ser seguida, e (se um número de minutos é fixado a cada parágrafo) um meio de monitorar o andamento do tempo da entrevista. Um bom tópico guia irá criar um referencial fácil e confortável para uma discussão, fornecendo uma progressão lógica e plausível através dos temas em foco. A medida que o tópico guia é desenvolvido, ele se torna um lembrete para o pesquisador de que questões sobre temas sociais científicos devem ser apresentadas em uma linguagem simples, empregando termos familiares adaptados ao entrevistado. Finalmente, ele funciona como um esquema preliminar para a análise das transcrições (GASKELL, 2002, p.67).

Duarte (2011, p.66) acredita que a lista de questões para discussão “tem origem

no problema da pesquisa e busca tratar da amplitude do tema, apresentando cada pergunta

da forma mais aberta possível”, permitindo explorar um assunto ou aprofundá- lo,

descrever processos e fluxos, compreender o passado, analisar, discutir e fazer

prospectivas, identificar problemas, microinterações, padrões e detalhes, obter juízos de

valor e interpretações, caracterizar a riqueza de um tema e explicar fenômenos de

abrangência limitada. Além disso, por defender a flexibilidade desse processo, argumenta

que as questões, sua ordem, profundidade e forma de apresentação dependem do

entrevistador, mas devem levar em conta o conhecimento e a disposição do entrevistado,

a qualidade das respostas e as circunstâncias da entrevista.

Em relação a quantidade de pontos a serem discutidos, Duarte (2011) relata que

um entrevista em profundidade

[…] geralmente tem algo entre quatro e sete questões, tratadas individualmente como perguntas abertas. O pesquisador faz a primeira pergunta e explora ao máximo cada resposta até esgotar a questão. Somente então passa para a segunda pergunta. Cada questão é aprofundada a partir da resposta do entrevistado, como um funil, no qual perguntas gerais vão dando origem a específicas. O roteiro exige poucas questões, mas suficientemente amplas para serem discutidas em profundidade sem que haja interferências entre elas ou redundâncias. A entrevista é conduzida, em grande medida, pelo entrevistado, valorizando seu conhecimento, mas ajustada ao roteiro do pesquisador (DUARTE, 2011, p.66).

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Também é importante salientar que, de acordo com Duarte (2011), a lista de

questões pode ser adaptada e alterada ao longo das entrevistas, sendo normal um

pesquisador começar com um roteiro e terminar com outro, um pouco diferente. Gaskell

(2002, p.67) concorda e especifica que “o entrevistador deve usar sua imaginação social

científica para perceber quando temas considerados importantes e que não poderiam estar

presentes em um planejamento ou expectativa anterior, aparecerem na discussão”. Do

mesmo modo, a partir do momento que uma série de entrevistas tiverem acontecido,

questões consideradas inicialmente centrais podem se tornar desinteressantes, por razões

teóricas ou pelo pouco que o entrevistado pode agregar sobre o tema.

Outra alternativa útil exposta por Duarte (2011), e que foi seguida nesta pesquisa,

é criar uma relação de tópicos relevantes relacionados a cada questão, para que, ao final

da exploração de todos os tópicos originais, o pesquisador possa conferir se todos os

assuntos foram abordados ao máximo junto ao entrevistado. Essa prática tem a vantagem

de evitar que algum ponto relevante não seja discutido e que seja mantido uma mesma

estrutura de respostas para cada entrevistado.

Em síntese, o tópico guia deve ser bem preparado no início do estudo, mas usado

com alguma flexibilidade, documentando todas as mudanças que sofreu e as razões que

levaram a isso (GASKELL, 2002).

Em relação a seleção dos entrevistados, Duarte (2011) esclarece que, nos estudos

qualitativos, é mais importante poucas fontes, mas de qualidade, do que muitas sem

relevância. A amostra não tem seu significado mais usual de representatividade

estatística, mas está ligada à significação e à capacidade das fontes de transporem

informações confiáveis e pertinentes sobre o tema. Isso se deve, conforme cita Gaskell

(2002), pela finalidade real da pesquisa qualitativa não ser a de contar opiniões ou

pessoas, pelo contrário, o objetivo é explorar o espectro de diferentes pontos de vista e

representações sobre o assunto em questão.

Pelo o que foi citado, Gaskell (2002, p.70) determina que não existe um método

para selecionar os entrevistados e o pesquisador deve usar sua imaginação para montar a

seleção dos participantes. Defende que, embora as características sociodemográficas

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possam ser relevantes, principalmente para questões políticas e de consumo, “seria mais

eficiente e produtivo pensar em termos de ambientes sociais relevantes para outros tópicos

em questão”. Sobre esse argumento, Duarte (2011, p.69) concorda e explica que há dois

tipos de seleção, por conveniência e a intencional. A primeira é baseada na viabilidade e

ocorre “quando as fontes são selecionadas por proximidade ou disponibilidade”. A

segunda, “quando o pesquisador faz a seleção por juízo particular, como conhecimento

do tema ou representatividade subjetiva”.

A quantidade de entrevistas necessárias é variável.

Depende da natureza do tópico, do número dos diferentes ambientes que forem considerados relevantes e, é claro, dos recursos disponíveis. Contudo, há algumas considerações gerais que guiam a decisão. Um ponto-chave que se deve ter em mente é que, permanecendo todas as coisas iguais, mais entrevistas não melhoram necessariamente a qualidade, ou levam a uma compreensão mais detalhada. Há duas razões para esta afirmação. Primeiro, há um número limitado de interpelações, ou versões, da realidade. […] A certa altura, o pesquisador se da conta que não aparecerão novas surpresas ou percepções. Neste ponto de saturação do sentido, o pesquisador pode deixar seu tópico guia para conferir sua compreensão, e se a avaliação do fenômeno e corroborada, e um sinal de que e tempo de parar. […] Em segundo lugar, há a questão do tamanho do corpus a ser analisado. A transcrição de uma entrevista pode ter ate 15 paginas; com 20 entrevistas haverá, então, umas 300 paginas no corpus (GASKELL, 2002, p.70-71).

Devido a estas razões, Gaskell (2002) defende que o limite máximo para cada pesquisador

é algo entre 15 e 25 entrevistas individuais.

Apesar de Cooper et al. (2014) pactuarem com as questões levantadas por Gaskell

(2002), eles argumentam que entre 4 e 6 usuários bem selecionados para cada perfil é

uma quantidade suficiente para obter informações efetivas em uma pesquisa. Caso o

assunto for muito complexo, a quantidade pode aumentar.

Após a organização do tópico guia e a definição dos entrevistados, a segunda etapa

defendida por Gaskell (2002, p.82) é o ato da entrevista. O autor explica que ela dura

entre uma hora e uma hora e meia, começando com “alguns comentários introdutórios

sobre a pesquisa, uma palavra de agradecimento ao entrevistado por ter concordado em

falar, e um pedido para gravar a sessão”. O entrevistador deve ser aberto em relação à

gravação e pode justificá-la como uma ajuda à memória ou um registro útil para a análise

futura. Duarte (2011) recomenda que a primeira entrevista seja feita com

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uma fonte conhecida, já que assim é possível testar o roteiro e aperfeiçoar a condução

da entrevista. Além disso, faz outra recomendação.

É um risco sempre presente o pesquisador influenciar o entrevistado involuntariamente, provocando distorções nas respostas. A instituição a que está ligado, a forma de vestir, o tipo de abordagem, a personalidade, a linguagem, a diferença de realidades culturais, o tema do questionário podem induzir o entrevistado a tentar responder de forma diferente do que pensa ou do que faria em outra ocasião. É fundamental identificar e minimizar fatores que possam causar distorções nas respostas (DUARTE, 2011, p.72).

Por conta disso, Gaskell (2002, p.74) estipula que “o entrevistador deve deixar o

entrevistado a vontade e estabelecer uma relação de confiança e segurança, o que se

costuma chamar de rapport.” Complementa que é preciso encorajar verbalmente ou não-

verbalmente o participante e mostrar-se tranquilo e à vontade.

Para fazer com que a entrevista deslanche, é útil começar com algumas perguntas bem simples, interessantes e que não assustem. O entrevistador deve estar atento e interessado naquilo que o entrevistado diz: devem ser dados encorajamentos através de contato com o olhar, balançando a cabeça e outros reforços. Introduza o tema de uma conversação pinçando um ponto e perguntando por mais alguns detalhes. […] À medida que a entrevista avança, o entrevistador necessita ter as perguntas na memória, conferindo ocasionalmente o tópico guia, mas o foco da atenção deve estar na escuta e entendimento do que esta sendo dito. É importante dar ao entrevistado tempo para pensar, e por isso as pausas não devem ser preenchidas com outras perguntas (GASKELL, 2002, p.83).

Cooper et al. (2014) reforça que o papel do entrevistador é de absorver todo o

conteúdo que os entrevistados querem dizer, encorajá-los a detalhar ativamente as

explicações e pensamentos e perguntar sobre histórias de interação com o produto ou

serviço que é objeto da pesquisa. Um ouvinte receptivo e simpático favorece o

compartilhamento de qualquer informação por parte do transmissor do conteúdo. Becker

& Geer (1997 apud Gaskell, 2002) concordam e destacam que o entrevistador não pode

aceitar nada de forma pacífica e deve sondar cuidadosamente mais detalhes do que os

expostos pelo entrevistado em uma primeira resposta a pergunta. Duarte (2011)

complementa que, além das respostas, é importante observar como o entrevistado se

comporta, seus movimentos, ênfases, silêncios, pausas e gestos, já que isso ajuda a

complementar a informação semântica.

Ao fim da entrevista, é importante terminar com uma nota positiva, agradecendo

ao entrevistado e garantindo a confidencialidade das informações, além de explicar

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como as informações obtidas serão usadas e, talvez, como será o restante da pesquisa do

entrevistador (GASKELL, 2002).

Por fim, a terceira e última etapa é a análise. O objetivo é procurar sentidos e

compreensão, padrões e conexões e temas com conteúdo comum e suas funções, indo

além da aceitação do valor aparente no que foi falado pelos entrevistados (GASKELL,

2002). De acordo com Duarte (2011, p.81), “é papel do pesquisador organizá-las

coerentemente em formato compreensível e articulado. O resultado em geral é mais

descritivo, analítico, reflexivo do que conclusivo”. Para isso, o primeiro passo é produzir

uma transcrição de boa qualidade, incluindo todas as palavras faladas, mas não as

características paralinguísticas. Além disso, outro procedimento proveitoso, que estrutura

os dados de modo mais acessível, é a construção de uma matriz com os objetivos e

finalidades da pesquisa como temas no título das colunas, as falas dos entrevistados como

se fossem linhas e uma coluna final para notas e interpretações preliminares (GASKELL,

2002).

Descrever, é útil lembrar, significa expor minuciosamente. A descrição interpretativa deve ser suportada por argumentos e evidências baseadas nas diversas fontes de informação consultadas pelo pesquisador, como exame de documentos, revisão bibliográfica, observação e contexto das entrevistas. Neste último aspecto, pode ser considerado limitador basear-se exclusivamente nas gravações e fazer uma análise do conteúdo manifesto das transcrições, considerando os relatos verbais suficientes. […] Ao mesmo tempo, deve fazer permanente articulação com a teoria que deu suporte à pesquisa, apoiando-se nela ou mesmo a questionando (DUARTE, 2011, p.80).

Além disso, ao longo da análise e da descrição, Duarte (2011) acredita ser relevante

utilizar trechos das entrevistas que reforcem, esclareçam, dêem suporte e exemplifiquem

o trecho em questão.

Outro ponto reforçado por Duarte (2011) para esta etapa é não ser necessário

identificar as fontes. Apesar disso, é conveniente fazer a relação no anexo ou no capítulo

de procedimentos metodológicos, informando nome, função ou descrição que justifique

o motivo de ter sido escolhido, data e o local da entrevista. Em caso de anonimato, uma

indicação pode ser criada exclusivamente para essa finalidade.

O objetivo das entrevistas em profundidade e de sua posterior análise é adquirir

insumos para as etapas seguintes da pesquisa e para a criação das Personas, dos

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Experience Maps e dos Cenários, artefatos que serão importantes para o entendimento do

contexto educacional estudado nesse projeto e utilizados como produto final do mesmo.

5.2. Personas

O campo do user experience possui como premissa a construção de produtos e

serviços em torno de pessoas e, para isso, é necessário o entendimento de seus desejos,

atitudes, necessidades e objetivos. Uma poderosa ferramenta de design que auxilia nesse

processo são as Personas.

Apesar de descreverem de formas diferente, o conceito de Personas para vários

autores é consensual. De acordo com Cooper et al. (2014), são arquétipos moldados a

partir dos padrões de comportamentos e motivações dos usuários que foram entrevistados

durante a fase de pesquisa, fornecendo informações precisas de como grupos de usuários

se comportam, pensam, querem realizar e o porque. Para Garrett (2011), é um personagem

fictício que representa as necessidades de uma gama de usuários reais. Harley (2015)

afirma que são indivíduos hipotéticos que assumem as características dos usuários reais

que utilizam um produto ou que são alvos dele, mas não são o mesmo que segmentos de

mercado, já que esses são impessoais e difíceis de recordar.

Muito utilizada durante o processo criativo, as Personas possuem diversas

vantagens que as tornam efetivas. Para Cooper et al. (2014), comunicam sobre diferentes

tipos de usuários e suas necessidades, ajudam a decidir quais devem ser priorizados e

envolvem a empatia da equipe do projeto em torno dos objetivos dos usuários, fazendo

com que pensem que estão criando para uma pessoa real, além de tornar o processo muito

mais interessante e desafiador. Goltz (2014) concorda com todos os pontos levantados

por Cooper e acrescenta que as Personas também ajudam a comunicar descobertas da

pesquisa para pessoas e membros da equipe que não participaram dessa etapa,

estabelecendo o conhecimento compartilhado entre todos, a

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prevenir que o produto ou serviço seja baseado em referências únicas e próprias do

projetista, a determinar o que deve ser projetado e a defender seu posicionamento através

de dados reais sobre os usuários quando seu ponto de vista for questionado.

A forma de criar as Personas é outro fator de concordância entre autores, que

defendem a construção a partir de dados coletados durante as pesquisas realizadas,

comunicando e resumindo os padrões encontrados (COOPER ET AL., 2014; HARLEY,

2015; GARRETT, 2011; GOLTZ, 2014). Por isso, a qualidade desse conteúdo e sua

análise impacta diretamente na eficiência dessa técnica em direcionar as atividades de

design. O objetivo é “representar a diversidade de motivações observadas,

comportamentos, atitudes, restrições, modelos mentais, fluxos de trabalho ou de

atividade, ambientes e frustrações com produtos ou sistemas atuais” (COOPER ET AL.,

2014, p.81). Pensando em facilitar essa construção, Cooper et at. (2014) propõe uma

sequência de oito passos.

1. Agrupar as entrevistas por função: após completar a pesquisa e organizar os

dados coletados, agrupe os entrevistados de acordo com as funções que possuem,

como por exemplo cargos de trabalho, atitudes, interesses, escolhas de vida.

2. Identificar variáveis comportamentais: liste os aspectos distintos do

comportamento observado para cada função como um conjunto de variáveis

comportamentais. Apesar de mudar de projeto para projeto, é normal encontrar

entre 15 e 30 variáveis por função. Além disso, geralmente, as distinções mais

importantes concentram-se nas seguintes variantes:

- Atividades: o que o usuário faz, com que frequência e quantidade.

- Atitudes: como o usuário pensa sobre o domínio do produto ou serviço e da

tecnologia.

- Aptidões: educação e treinamento que o usuário possui e sua capacidade de

aprender.

- Motivações: porque o usuário é engajado em relação ao produto ou serviço.

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- Habilidades: capacidades do usuário relacionados ao domínio do produto ou

serviço e da tecnologia.

3. Mapear as entrevistas de acordo com as variáveis comportamentais:

categorize os entrevistados de acordo com as variáveis comportamentais listadas

anteriormente, representando com exatidão como múltiplos sujeitos se agrupam

em cada uma delas, como na imagem a seguir.

Fig. 36 - Mapeamento dos entrevistados nas variáveis comportamentais (COOPER ET AL., 2014)

4. Identificar padrões de comportamento significativos: identifique

agrupamentos de indivíduos que estão presentes em várias variáveis ao mesmo

tempo. Entrevistados que estão presentes entre seis e oito variáveis representam

um padrão de comportamento que será utilizado como base da Persona. Para um

padrão ser válido, é preciso ter uma conexão lógica ou causativa entre os

comportamentos agrupados.

5. Sintetizar características e definir metas: primeiro, para cada padrão de

comportamento, sintetiza os detalhes dos dados obtidos. Uma descrição ou duas

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da personalidade da Persona pode ajudar na construção final. Depois, defina os

objetivos de acordo com os comportamentos identificados em cada grupo. Para

serem eficientes, devem sempre estar relacionados diretamente, de alguma forma,

com o produto ou serviço projetado.

6. Verificar se há redundância e completude: garante que as Personas não estejam

redundantes e que cada uma varie das outras em pelo menos um comportamento

significante.

7. Designar os tipos de Personas: priorize as Personas para que o alvo principal do

projeto seja definido, sendo a Primária a mais importante. Além dela, se

necessário, é possível definir a Persona Secundária, a Persona Suplementar, a

Persona Cliente, a Persona “Servida” e a Persona Negativa.

8. Expandir as descrições de atributos e comportamentos: defina uma narrativa

com os detalhes mais importante encontrados durante a pesquisa para cada

Persona. Ela deve conter um pouco sobre o estilo de vida, o dia-a-dia, as

preocupações, os interesses e descrições de cada padrão de comportamento

relacionado ao produto ou serviço. Além disso, escolha um nome e sobrenome

para a Persona e fotos que torne mais real a narrativa criada.

Concordando com o caminho citado por Cooper et al. (2014), Kolko (2007)

adiciona que uma Persona geralmente toma a forma de alguns parágrafos de texto,

seguido por imagens que ilustram escolhas de estilo de vida, marcas e outras encarnações

físicas de valores. Harley (2015) reitera e admite que deve-se incluir nome, idade, gênero,

foto, descrição da vida, experiência na área do produto ou serviço, contexto, objetivos e

preocupações durante o uso e na realização das tarefas e uma citação que resuma a atitude

da Persona. Garrett (2011) crê que ao incluir os dados e informações citados, garante que

o usuário fique na mente do projetista em todo o processo de design.

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Fig. 37 - Exemplo de uma Persona (COOPER, 2011)

Alinhado com cada nível de processamento definido por Norman, Cooper et al.

(2014) sustenta que todos os humanos possuem motivações que guiam seus

comportamentos e que é crítico que as Personas capturem isso através de objetivos. Por

isso, acredita ser importante a definição de três tipos:

- Objetivos finais: representa a motivação do usuário em fazer uma tarefa associada

ao produto ou serviço.

- Objetivos da experiência: simples, universal e pessoal, expressa como a pessoa quer

se sentir durante a interação com o produto ou serviço.

- Objetivos de vida: representa as aspirações pessoais do usuário para a vida e,

geralmente, explica a motivação do usuário para concluir seus objetivos finais.

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Fig. 38 - Três tipos de objetivos de uma Persona (COOPER, 2011)

Por fim, Jon Kolko (2007) declara que uma boa Persona é rica em detalhes e é,

portanto, previsível, da mesma forma que se pode prever as ações de um amigo ou ente

querido. Apesar disso, é importante evitar detalhes que possam distrair e que não

influenciam no processo de design (COOPER ET AL., 2014; HARLEY, 2015).

Para a construção das Personas deste projeto, será utilizado como base o resultado

das entrevistas feitas com professores e alunos através da análise do conteúdo obtido e

seguirá a lógica de construção estabelecida por Cooper et al. (2014). Tem como objetivo

fornecer dados relevantes do público pesquisado, humanizando cada ator envolvido no

processo educacional e servir de base para a construção dos Cenários e dos Experience

Maps. Além disso, podem ser utilizadas como ferramentas de entendimento e

transformação para algum colégio que queira se apropriar deste projeto de alguma forma.

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5.3. Experience Map

A experiência do usuário deve ser definida pela soma dos momentos que ele

interage com o produto ou serviço e não só apenas em uma ocasião. É importante que ela

seja consistente em todos os touchpoints, que gere engajamento e que seja integrado com

o ecossistema completo. Um método que ajuda no mapeamento desse arco é o Experience

Map.

Ferramenta estratégica para capturar e apresentar insights chaves sobre as

complexas interações do consumidor e/ou do usuário e sua experiência com produtos,

serviços ou ecossistemas, é baseada no modelo do customer journey, uma jornada típica

da Persona criada a partir de dados obtidos durante a fase de pesquisa e que direciona o

usuário a atingir uma meta ou satisfazer uma necessidade (ADAPTIVE PATH, 2013).

Ajuda, segundo Kellingley (2017), a explorar o que ele pensa, sente, vê, escuta e faz, além

de levantar algumas hipóteses e possíveis respostas para elas. Grocki (2014) reforça que

deve contar a história a partir do ponto de vista do usuário, mas também enfatizar a

importante interseção entre as suas expectativas e os requerimentos de negócios.

O customer journey map é uma ideia muito simples: um diagrama que ilustra as etapas que seu(s) consumidor(es) passa por se envolver com uma empresa, seja um produto, uma experiência online, uma experiência de varejo ou um serviço ou qualquer combinação. Quanto mais pontos de contatos você tem, mais complicado - mas necessário - o mapa se torna. Às vezes, os customer journey maps são “de berço ao túmulo”, olhando para todo o arco de engajamento. (RICHARDSON, 2010)

Defendendo esse método, o guia do Adaptive Path (2013) sugere algumas

propostas de valor para o Experience Map. São eles:

- Criação de um quadro de referência compartilhado em torno da experiência do

cliente e/ou usuário;

- Criação de conhecimento organizacional dos comportamentos e necessidades dos

clientes em todos os canais;

- Identificação de áreas específicas de oportunidade para impulsionar ideação e

inovação;

- Distribuição das principais informações sobre o cliente em uma forma que é de fácil

uso e entendimento;

- Evolução do pensamento organizacional para um centrado no cliente e/ou usuário.

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Richardson (2010) acrescenta que o Experience Map não possui uma única forma de ser

feito, tendo a vantagem de poder ser adaptado para as particularidades de quem está

fazendo, além de poder solicitar que os usuários ajudem no processo durante a fase de

pesquisa, pedindo para que mapeiem suas próprias jornadas, aumentando a quantidade de

informação obtida nessa etapa.

Tomar decisões e fazer investimentos acertados requer uma compreensão sólida

das necessidades, dos comportamentos associados e das motivações subjacentes do

usuário. A falha em examinar esses pontos holisticamente e no contexto pode levar ao

fracasso em atender o que o usuário precisa (ADAPTIVE PATH, 2013). Pensando nisso,

antes de começar a construção do Experience Map, Kellingley (2017) recomenda haver

uma preparação, separando e tendo o entendimento de alguns itens importantes.

Alinhado com o pensamento de Grocki (2014), são:

- Personas: necessário para capturar a jornada correta, é o personagem principal que

ilustra as necessidades, os objetivos, os pensamentos, os sentimentos, as opiniões, as

expectativas e os pontos de dor do usuário.

- Cronograma: qual o período de tempo que a jornada vai durar. Pode ser um ciclo

finito (um mês ou um ano, por exemplo) ou fases variáveis (por exemplo, uma

tomada de decisão, uma compra, uma renovação).

- Emoção: picos e vales que ilustram frustração, ansiedade, felicidade, etc.

- Pontos de contato: ações e interações do usuário com a organização. O que ele está

fazendo e como.

- Canais: locais onde os usuários interagem com o produto ou serviço e o contexto de

uso.

- Outros atores: quem pode influenciar na maneira como o usuário se sente sobre

qualquer interação. Por exemplo, amigos, familiares, colegas, etc.

- “Momentos de verdade”: interações positivas que deixam impressões duradouras e

que podem ser usadas em pontos de contato onde existem frustrações.

A partir do entendimento desses pontos, é possível começar o mapeamento da

jornada. Como dito anteriormente, não existe uma única forma disso ser feito. Para esse

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projeto, será utilizado como base as quatro etapas definidas pelo guia do Adaptive Path

(2013).

Fig. 39 - Experience Mapping: As quatro etapas para dar sentido as jornadas entre canais dos

consumidores (ADAPTIVE PATH, 2013)

- Descobrir a verdade

Na primeira fase, o importante é interagir com o usuário, entendendo o grande

retrato de como e por que eles estão interagindo com diferentes canais, pontos de contatos,

produtos e serviços, garantindo que o artefato final seja confiável para suportar a

estratégia de pensamento. Além disso, outras fontes de informações podem ser usadas

para coletar insights que adicionam amplitude e profundidade para o conhecimento

adquirido ao longo das conversas com os usuários (ADAPTIVE PATH, 2013). Para

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Kellingley (2017), quanto mais pesquisas com usuários forem feitas, mais fácil será a

construção da jornada.

O desafio de mapear experiências é descobrir, aos poucos, informações críticas

sobre as dos usuários, já que a humana é complexa e, na maioria das vezes, intangível.

Pensando nesse processo, a Adaptive Path (2013) desenvolveu uma estrutura para guiar

a descoberta e a pesquisa necessária chamada de blocos de construção. Os principais são

o “Fazendo”, o “Pensando” e o “Sentindo”, que são suportados por outros, os dispositivos,

o relacionamento, o local, o tempo e os pontos de contato. Para Toi Valentine, Experience

Designer, “o processo de pesquisa e descoberta é um investimento essencial para garantir

que o Experience Map capture a história completa do consumidor” (ADAPTIVE PATH,

2013).

Fig. 40 - A construção de blocos do mapeamento da experiência (ADAPTIVE PATH, 2013)

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Esta etapa de descoberta será realizada junto da pesquisa qualitativa que será

realizada neste projeto e que foi detalhada na subseção “5.1. Entrevista em profundidade”

e não utilizará uma pesquisa quantitativa.

- Traçar o rumo

A essência do Experience Map é ser uma narrativa visual da jornada do usuário,

tendo como objetivo mostrar os dados através de um infográfico visualmente envolvente

e de fácil compreensão. Deve trazer os principais blocos de construção, mas sempre

enfatizar as dimensões mais importantes da jornada. Por isso, o segundo passo sugerido

é uma sessão de workshop com stakeholders envolvidos no projeto, visando desconstruir

a pesquisa nos blocos de construção e construir a jornada a partir desses pedaços

(ADAPTIVE PATH, 2013). Nesta pesquisa, essa etapa será realizada somente pelo autor,

já que não há outros stakeholders.

O guia do Adaptive Path (2013) sugere colocar as anotações feitas durante as

entrevistas com usuário em post-its e encaixá-los em cada bloco de construção,

começando pelo “Fazendo”. Em seguida, agrupar os que tiverem relação em categorias.

Para isso, Grocki (2014) recomenda a criação de um Diagrama de Afinidade, método que

organiza visualmente ideias e encontra coesão nos conceitos. Por fim, combinar, refinar

e remover o que for preciso para formar uma visão coesa da experiência e começar a criar

a estrutura básica da história a partir dos momentos chaves e descobertas, não se

preocupando em ser a final, já que muito da edição será feito na próxima etapa

(ADAPTIVE PATH, 2013; GROCKI, 2014).

Apesar de não ser citado no guia do Adaptive Path (2013), outros autores, como

Grocki (2014) e Kellingley (2017), recomendam a criação de um Mapa de Empatia, uma

descrição das várias facetas da Persona e suas experiências em determinado cenário.

Ajuda a organizar as observações, construir uma compreensão mais profunda das

experiências e a extrair insights sobre o que precisam. Tem como objetivo entender como

se sente a Persona, focalizando especialmente no que estão pensando, sentindo, vendo,

ouvindo, dizendo e fazendo.

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Fig. 41 - Exemplo de construção do rumo (ADAPTIVE PATH, 2013)

- Contar a história

Nesse momento da construção, é importante, antes de tentar visualizar seu mapa,

tomar decisões sobre o que será incluído em sua história e o que não vai ser, separando

insights importantes dos nice-to-have, identificando prioridades relativas aos blocos de

construção e avaliando os principais componentes da jornada que o mapa vai contar

(ADAPTIVE PATH, 2013).

Definindo esses pontos, o próximo passo é desenhar a jornada final. Para isso, é

pertinente começar com sketchs da visualização pretendida de forma que evidencie a

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essência da história. Além disso, deve-se experimentar diferentes formas de narrativa

através dos blocos de construção e depois adicionar os outros blocos e dados a fundação,

tendo sempre em mente que, como qualquer outra história, o Experience Map precisa ter

um começo, um meio e um fim, ter foco, comunicar hierarquia e ser simples. A chave é

ter idéias rápidas, iterar a história e o modelo visual e manter progresso até que uma

narrativa convincente emerja. Ela pode, por exemplo, partir do sentimento do usuário e

desenhar a sua viagem emocional, usar as ações através do tempo como coluna vertebral

da história ou escolher um local e organizar os insights chaves por pontos de decisão

dentro de um contexto físico (ADAPTIVE PATH, 2013).

Fig. 42 - Exemplo de narrativas (ADAPTIVE PATH, 2013)

Iran Narges e Amber Reed, Visual Interaction Designers da Adaptive Path,

acreditam que para transformar um mapa em uma história convincente, é preciso pensar

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tanto no trabalho feito, quanto no resultado que o Experience Map deseja alcançar. Para

isso, elas fazem algumas sugestões para que ele tenha sucesso:

- Ter um ponto de vista: ser possível resumir os pontos-chave que devem ser

marcantes e a história que os outros vão contar depois de consumir o mapa;

- Considerar a audiência: definir os detalhes e os insights essenciais para entender

melhor a história e para tomar boas decisões estratégicas e de design;

- Desenhar para impactar: entender os passos imediatos para o uso do mapa e o que

se espera dele no curto, médio e longo prazo.

Fig. 43 - Exemplo de um Experience Map finalizado (ADAPTIVE PATH, 2013)

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- Usar o mapa

O guia do Adaptive Path (2013) explica que, com a prática, descobriu que a

melhor aplicação para o Experience Map é de utilizá-lo como suporte no pensamento de

novas idéias e conceitos, já que as resultantes melhor explicam a relação do usuário com

o ecossistema mais amplo de canais, pontos de contato, lugares e outras pessoas e de

ajudar stakeholders e outros interessados no processo a ver o mundo com os olhos do

usuário.

A partir do conhecimento adquirido durante as entrevistas em profundidade e das

Personas, serão desenvolvidos dois Experience Maps, um para cada Persona Primária de

cada perfil deste projeto (alunos e professores do ensino médio).

5.4. Cenários

Baseado nos conteúdos e contextos encontrados durante a fase de pesquisa, junto

com as Personas e o Experience Map, uma técnica utilizada para validar ideias e

premissas durante o processo de design são os Cenários. Para esta pesquisa, serão

definidos Cenários contextuais baseados nos principais pontos de atenção encontrados

nos Experience Maps.

Cooper et al. (2014, p.105) definem essa técnica como “descrições narrativas

concisas de uma ou mais Personas usando o produto ou serviço para alcançar objetivos

específicos”. Para Goltz (2014), é uma narrativa que descreve como uma Persona iria

interagir com o software em um contexto específico para alcançar um ou mais objetivos

finais. Kolko (2007) defende que um Cenário pode ser pensado como um ensaio narrativo,

uma vez que fornece narração através de uma situação particular. É, no entanto, mais útil

pensado como uma história da Persona para usar o produto tentando atingir um objetivo.

Preece, Rogers & Sharp (2002) acreditam que os Cenários descrevem as atividades ou

tarefas humanas em uma história que permite a exploração e discussão de contextos,

necessidades e requisitos. Por fim, Caroll & Rosson (2002)

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simplificam afirmando que o Cenário é uma história baseada em pessoas e suas

atividades.

Diferente de casos de uso, os Cenários são formas iterativas de definir o

comportamento de um produto do ponto de vista da Persona, não da tecnologia ou dos

objetivos de negócio e a partir não só das funcionalidades, mas também pela priorização

do conteúdo e funções e pelo o que o usuário vê e interage. Por isso, permitem que o

processo de design comece a partir de histórias que descrevem experiências ideais para a

Persona (COOPER ET AL., 2014). Entender por que as pessoas fazem algo, como fazem

e o que estão tentando atingir no processo permite que nos concentremos na atividade

humana, e não na interação com a tecnologia (CAROLL & ROSSON, 2002).

Cenários são paradoxalmente concretos, mas ásperos, tangíveis, mas flexíveis […] eles implicitamente encorajam o pensamento “e se?” entre todas as partes. Eles permitem a articulação das possibilidades de design sem minar a inovação […] Cenários obrigam a atenção sobre o uso que será feito do design do produto. Eles podem descrever situações com diversos níveis de detalhe, para muitos diferentes propósitos, ajudando a coordenar vários aspectos do design do projeto (CARROLL, 2000 apud COOPER ET AL., 2014, p.104).

Teixeira (2008) defende que os Cenários oferecem insights em situações

representativas, não permitindo que o contexto de uso fique estagnado, já que o sistema

é descrito com base nos objetivos que os usuários reais pretendem alcançar durante a

utilização do produto. Nesse ponto, Goltz (2014) reforça a relação direta entre a Persona,

seus objetivos finais e o Cenário, argumentando que devem agir da mesma maneira que

quando o personagem principal de um filme sai em uma jornada para realizar um objetivo.

A clássica narrativa da “jornada do herói” e suas construções anexas foram apropriadas

com a finalidade de projetar um produto ou serviço melhor.

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Fig. 44 - As três partes do design direcionado a objetivos

são mais efetivas quando usados juntos (GOLTZ, 2014)

Cooper et al. (2014) estabelece que há três diferentes tipos de Cenários, cada um

com características para serem usados em momentos distintos.

- Cenário contextual: criada antes de qualquer rascunho da etapa de design, é usada para

explorar a melhor forma que um produto ou serviço pode atender as necessidades, as

motivações e os objetivos de um usuário e é escrita pela perspectiva da Persona,

imaginando a experiência de uso ideal.

- Cenário de caminho-chave: após a definição dos elementos funcionais e de dados do

produto e do desenvolvimento do framework de design, os Cenários contextuais são

revisados e se tornam Cenários de caminho-chave, sendo mais detalhados e específicos

em relação as interações dos usuários com o produto.

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- Cenário de validação: menos detalhado e, tipicamente, em forma de perguntas “e

se?”, são utilizadas para testar as soluções de design em situações variadas.

Detalhando mais o Cenário contextual, Cooper et al. (2014) indicam que deve

estabelecer os pontos de contato de cada Persona Primária e Secundária com o produto

ou serviço ao longo de um dia ou algum outro período significativo de tempo, além de

ser amplo e de escopo relativamente reduzido, não descrevendo detalhes do produto ou

interação, mas se concentrando em ações mais gerais da perspectiva do usuário.

Concordando com essa visão, Dumas & Redish (1999 apud TEIXEIRA, 2008)

recomendam que um Cenário de boa qualidade deve ser pequeno, com as palavras do

usuário e não do produto e claro, para que todos os participantes não tenham dúvidas.

Fig. 45 - Fluxo de um bom Cenário (COOPER, 2011)

Cooper et al. (2014) consideram que um Cenário contextual precisa direcionar as

seguintes questões:

- Em quais configurações o produto será utilizado?

- Será usado por longos períodos de tempo?

- A Persona é frequentemente interrompida?

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- Algumas pessoas utilizam uma estação de trabalho ou dispositivo?

- Com que outros produtos será utilizado?

- Quais as atividades primárias que a Persona precisa realizar para atingir seus

objetivos?

- Qual o resultado final esperado da utilização do produto?

- Qual a complexidade permitida com base na capacidade da Persona e na frequência

de uso?

Como dito no início desta subseção, visando explorar a melhor forma de atender

as necessidades dos usuários e atingir seus objetivos finais, para esta pesquisa serão

definidos Cenários contextuais baseados nos principais pontos de atenção encontrados

nos Experience Maps, garantindo uma visão futura de melhora e de inovação.

6. Análise dos Resultados

A partir das entrevistas em profundidade, esta pesquisa alcançou dois perfis

diferentes, almejando uma homogeneidade ampla em cada um. O primeiro, alunos do

ensino médio de escolas particulares da cidade do Rio de Janeiro, ambos os gêneros e

entre 14 e 18 anos. O segundo, professores do ensino médio de escolas particulares da

cidade do Rio de Janeiro, ambos os gêneros e independente da idade. A seleção de ambos

foi feita por conveniência, como explicado anteriormente, e todos foram voluntários.

Também foi solicitado que assinassem um termo de compromisso sobre os fins da

entrevista e autorizando a gravação do áudio. Quando menores de idade, foi pedido que

obtivessem a autorização dos responsáveis através da assinatura de um termo de

autorização. Ambos os termos podem ser encontrados na seção “10. Anexos”.

Em relação a quantidade de entrevistas realizadas, o autor desta pesquisa seguiu o

pensamento de Cooper et al. (2014) que argumentam que entre 4 e 6 usuários bem

selecionados para cada perfil é uma quantidade suficiente para obter informações

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efetivas em uma pesquisa. Em razão disso, foram feitas entrevistas individuais com 6

alunos e 4 professores.

Os tópico-guias utilizados durante as entrevistas e as transcrições das mesmas

também podem ser encontradas na seção “10. Anexos” deste documento. Para preservar

a identidade de cada participante, foi criado um código referente a cada um. Para os

alunos, as primeiras letras representam as iniciais do nome. Os dois números seguinte, a

idade. Em seguida, as iniciais do colégio. Por fim, a série atual. Exemplo: Luiz Eduardo

Bordim, 26 anos, colégio Palas, 3º ano - código LEB26P3. Para os professores, as

primeiras letras também representam as iniciais do nome. Os dois números, o tempo que

dá aulas. A letra seguinte representa a inicial da matéria que leciona e as outras, as iniciais

do colégio (se houver mais de um colégio, somente um é representado). Exemplo: Luiz

Eduardo Bordim, 15 anos dando aula, Matemática, Santo Agostinho - código

LEB15MSA.

Outro fator relevante de ser citado é que, quando convidado a participar da

entrevista, o entrevistado tinha a opção de escolher qual o melhor meio desta ser feita,

presencialmente ou remoto através de uma ferramenta de vídeo-conferência como o Skype

e o Hangout. Todos os alunos preferiram remoto, enquanto todos os professores

preferiram que fosse presencial, demonstrando uma clara relação desses públicos com a

tecnologia.

Isto dito, a seguir, será feito uma análise dos resultados das entrevistas realizadas

com os dois perfis que são foco desta pesquisa.

6.1. Entrevista em profundidade - Alunos

Antes de começar a entrevista, o participante era solicitado a assinar o termo de

compromisso e questionado sobre a possibilidade de gravar a conversa para fins de

transcrição e análise futura. Com a assinatura e a autorização, era explicado com mais

detalhes do que se tratava aquele encontro, o assunto e qual seria a dinâmica.

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171

Para iniciar e criar um clima mais leve e descontraído, foi pedido para que os

entrevistados se apresentassem falando nome, idade, série e colégio atual, se já frequentou

outros colégios, se faz cursos por fora e se já sabe qual profissão pretende seguir. Todos

estudam em colégios com metodologias de ensino tradicionais e com foco no Enem e já

mudaram, pelo menos uma vez, de colégio. Um está no primeiro ano, cinco estão no

segundo ano do ensino médio e três fazem curso(s) por fora (inglês e teatro foram os

citados).

Em relação a profissão que querem seguir, somente o LJ16D2 tem certeza do que

quer, Publicidade e Propaganda na ESPM (o pai é professor desse curso na faculdade),

apesar de ter tido o sonho de trabalhar com Veterinária anteriormente. O restante dos

alunos entrevistados ainda possuem dúvidas sobre qual carreira pretendem seguir, sendo

algumas com características bem diferentes, como é o caso da GB17MA2 que pretende

fazer Direito para ser juíza, mas queria fazer Artes Cênicas, a S18MA2 que está dividida

entre Engenharia Civil e Gastronomia e a ABFT17MA2 que disse que só vai decidir no

terceiro ano entre Engenharia do Meio Ambiente, Medicina, Turismo e Biomedicina. É

interessante notar que, geralmente, há uma opção mais tradicional, como Direito,

Engenharia e Medicina, e uma que foge um pouco disso, sendo a de maior desejo do

indivíduo. Porém, como essas não são muito valorizadas pela sociedade, trazem maior

insegurança, fazendo com que a primeira opção acabe sendo a tradicional. Questionados

sobre a dúvida, os argumentos variam desde o conflito do sonho de criança com a

realidade do mercado, até a desvalorização da profissão desejada, mas refletem o discurso

acima.

É, eu queria fazer Veterinária porque era um sonho que eu tinha, mas desses dias pra cá, caiu a ficha de que se eu não trabalhar com internet acho que eu vou pirar. (LJ16D2, 2017).

Ah, eu não sei. Porque acho que teatro não é uma profissão que não é muito valorizada. Então não sei, fico com um pouco de dúvida. Mas é também porque eu gosto muito de Direito, eu sempre quis fazer antes de pensar em teatro, era minha opção (GB17MA2, 2017).

Porque eu gosto muito da parte de comunicação, até pelo jeito de ser, porque eu acho muito interessante você conseguir influenciar as pessoas de uma maneira tão indireta

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porém direta. E Direito porque eu acho que justiça é a base de tudo (ABB17CMR1, 2017).

Na verdade, Cinema é uma coisa que eu sempre gostei, na minha família tem um pessoal que é dessa área, que atua, de produção, direção e tal, e eu sempre me interessei, sempre que rola esse assunto eu quero ouvir mais, quero aprender mais e tal. Jornalismo, eu sempre gostei muito de escrever e meus pais sempre disseram que as brincadeiras que eu faço e tal é tudo relacionado a repórter, TV, essas coisas assim. Foi isso (LP16M2, 2017).

Após a apresentação, o primeiro tópico abordado foi o colégio e a relação do aluno

com a instituição. O assunto visava entender sobre a estrutura física, as matérias dadas, o

que ele costumava fazer durante o intervalo, se existia e como era a preparação para o

vestibular, o que o aluno gostava e o que não gostava e como se sentia naquele ambiente.

Em relação a estrutura, o que fica evidente é que não há grandes mudanças de um

para outro. Todos seguem um modelo tradicional de sala de aula com cadeiras enfileiradas

para os alunos e um espaço com um quadro e/ou projetor na frente para o professor.

Alguns alunos reclamaram que o tamanho do colégio é pequeno e que isso atrapalha.

Ah, é uma sala média, que assim, é de quadro branco, tem o projetor, computador para cada sala. Assim, se ficar confortável, assim, uns 30 alunos. Essa é a minha sala, tem salas que são maiores e que cabem assim quase 50 alunos (ABB17CMR1, 2017).

Ah é, uma estrutura tradicional de colégio, né? Que eles tentam, é, fazer… Naquele ensino conservador que é a estrutura de ensino no quadro e o aluno copia e é isso, e faz a prova e tal. Eu não gosto muito porque não tem muita diversificação de aula e tal, tipo, de aula misturando duas matérias ou aula interativa, essas coisas. […] A maioria das salas de aula têm, são tradicionais mas tem projetor. Só algumas que não mas é porque o teto é muito baixo e não tem como botar (LJ16D2, 2017).

Não, eu acho que, é um prédio né? Eu estudei na Aldeia que era um espaço grande, que tinha um quintal enorme, tinha uma casa. Metropolitano também é muito grande, até a Renata estudou lá, se eu não me engano. O Metropolitano é muito antigo, tem uns 80 e poucos acho, eu acho. E o Martins é um prédio assim, um prédio. O recreio… Hoje, eu já estou acostumado, mas quando eu cheguei lá no pátio, era minúsculo, era do tamanho de, sei lá, eu não conseguia nem, eu cheguei e pensei “não é possível que seja só isso”. Porque o Metropolitano era muito grande e o Martins é desse tamanho. Mas as salas são boas. Tem salas menores e tem salas bem maiores (LP16M2, 2017).

Mas em relação a estrutura, a quadra é boa, as salas são planejadas… Não tanto, eu acho que da minha antiga escola que era pública, era bem mais, […] (S18MA2, 2017).

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Em alguns casos, há laboratório de informática, biblioteca, auditório e laboratório

de química, por exemplo. Só que, na maioria das situações, há uma certa frustração do

aluno em relação a esse tema, pois esses ambientes são pouco ou nada explorados durante

as atividades escolares. É algo que eles tem vontade de usar, acreditam que influencia em

seu aprendizado, mas que não é muito valorizado pelo colégio e pelos professores que

preferem continuar na sala tradicional, focando em provas e no Enem.

E, eles também tem uma coisa que eu não tinha visto desde o Martins, que é laboratório. Eles tem laboratório e do outro lado eles tem uma salinha de artes e ai, uma vez por mês a gente tem aula no laboratório. Eles tem uma biblioteca e uma sala de informática que eu adoro, porque assim, a biblioteca no Ensino Médio, você precisa muito de um ambiente para estudar, e eu ficava escandalizada com o Intellectus porque não tinha uma biblioteca, por mais que eu estivesse (palavra não identificada) eu gostava de um lugar calmo, aí eu tinha que pedir ou para ir para monitoria ou para ir para uma outra sala e a biblioteca já tem um negócio assim, sabe? Eu gosto de lá porque todas as salas são bem claras. A biblioteca quando você entrar assim, você vai ver que é a primeira sala, assim, você vai ver que é toda cheia de espelho, ou seja, você vê tudo, é bem claro, bem limpo, é muito confortável (ABFT17MA2, 2017).

A sala de informática o pessoal do Ensino Médio não faz uso, quem faz uso mais é o fundamental […] (ABFT17MA2, 2017).

Então, ele é… no meu caso eu uso ele para Química, a gente faz uma experiências, a professora. Nesse, a diferença entre o do Martins com o MV1. No MV1, a professora faz as experiências, escreve os negócios no quadro e vai mostrando para a gente. Tipo, para a gente conseguir enxergar as reações químicas que é meio difícil e aí quando você enxerga a matéria se torna bem mais fácil, pelo menos para mim. E aí, no Martins não, no Martins você só… Às vezes, te davam detergente e água, você coloca o detergente na água para ver o que que acontece… Mas aí, era Ciências, no caso… Aí agora para o fundamental é Ciências, para a gente é Química. É uma aula, assim, bem curta, uma aula por bimestre, no mesmo tempo de uma aula normal, mas é muito bom, por que dá para você, depois te facilita para pegar a matéria, porque você já sabe porque isso aqui é o catodo. Ah, porque tal reação aconteceu numa placa de metal, na pilha. Aí, é muito legal, muito legal mesmo (ABFT17MA2, 2017).

Informática a gente não usa tanto, porque ele é muito usado no ensino fundamental II, no sexto e sétimo ano a gente usava mais, porque, tem muita gente que é da minha idade mais não sabe mandar um email. Então, eles ensinam isso para que a gente possa fazer nossos trabalhos. Para começar a ter interação com uma parte útil da informática. […] Assim, são raros os trabalhos que a gente tem que subir para a informática (ABB17CMR1, 2017).

E o que eu sinto falta lá também é que a gente não usa laboratório para nada. Eu acho que matérias como Química, Física e até Biologia, os laboratórios seriam necessários para a gente aprender mais fazendo, vendo acontecer. Porque só no colégio, as vezes, eu fico meio perdido em como que acontece aquilo. […] Existe, mas eles falam que é

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só até o oitavo ano, que depois tem que focar no Enem, que não tem tempo para laboratório. É um colégio que só visa o Enem, o Enem, o Enem. O diretor só entra lá para falar de Enem e UERJ (LP16M2, 2017).

[…], mas o laboratório de Química, pô, seria legal, sabe? Se tivesse, não tem. A gente tem um laboratório, mas assim, é bem pequenininho, é tipo um quartinho, a professora que faz tudo, a gente não pode mexer e tal. A gente só dá uma olhadinha, ela faz o experimento. Um laboratório de Física também seria bem legal. Alguma coisa assim que envolva Biologia também, que poderia ser um laboratório, para ver os bichinhos e tal. Eu acho que isso seria bem legal de poder inovar (S18MA2, 2017).

Em relação as matérias, as respostas seguem as da estrutura, não havendo muita

diferença de uma para outra e seguindo o modelo tradicional. Para alguns alunos, ter

Filosofia e Sociologia acaba sendo um diferencial do colégio. Quando há alguma

diferença, são atividades extras que não são obrigatórias e são feitas fora do horário

escolar normal.

É, não, são as matérias normais, tradicionais e, o que muitos colégios não tem, é a divisão de Português e Literatura, que lá tem. Lá, matérias diferentes, com notas diferentes, que não influencia em nada uma na outra (ABB17CMR1, 2017).

Não, é normal. Matemática, Física, Química, Biologia, essas coisas. […] Tem teatro, dança e, eu acho, eu não sei a luta que tem, mas tem alguma luta. Não tenho certeza se é judô. E tem percussão também. […] Quem quiser, tem horário extra classe e aí tem horário para a turma da manhã e para a turma de tarde (GB17MA2, 2017).

Não, são sempre as mesmas. Eu acho que, no terceiro ano, que no final do ano tem matéria específica, que você só assiste as aulas que são para o seu vestibular. Mas as matérias, Biologia I, Biologia II, Química I, Química II, não tem nada (LP16M2).

Lá tem as matérias normais, mas tem cursos também. De teatro, dança, negócio de bateria, música, vôlei… Tem esses negócios, tem uma opções assim. Mas não algo que eu ache, assim, que vai muito para frente, como curso técnico, por exemplo. Lá não tem essas coisas, entendeu? Lá, eles preparam a gente para o Enem, não para o mercado de trabalho assim (S18MA2, 2017).

Nenhuma extracurricular ou eletiva, são todas as tradicionais e obrigatórias (LJ16D2, 2017).

O intervalo é o momento de maior descontração dos alunos, onde eles podem

interagir com outras pessoas e ter uma pausa dos estudos. Apesar disso, há reclamações

sobre o tempo de pausa e sobre as regras e proibições do colégio durante esse período, o

que acaba tornando a experiência em algo nem sempre positiva e agradável, como deveria

ser e é esperado por eles.

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Ah, tem os jogos normais que é toto, ping-pong, ou as pessoas ficam sentadas conversando assim nos grupinhos (ABB17CMR1, 2017).

Ah, eu fico conversando com as pessoas, meus amigos. Acho que só. A gente joga, de vez em quando, Uno, cartas. Mas, geralmente, eu sento e converso (GB17MA2, 2017).

Não, não pode jogar na quadra não. É porque, em cima da quadra, tem um lugarzinho que tem toto, ping-pong, aí lá em cima pode ficar. Mas na quadra, na quadra em si, não pode. […] Não sei, eu acho que para não dar nenhuma besteira ou para nego não brigar, eu não sei o motivo específico, eles só não deixam. […] Ah, eu acho que não tem problema das pessoas jogarem lá, mas é porque não tem ninguém para ficar ali e tudo mais e, não sei, acho que eles tem medo de acontecer alguma coisa ou alguém se machucar e cair na conta do colégio, acho que é isso (GB17MA2, 2017).

Ah, eu compro um salgado lá e um Guaravita e fico conversando com os meus amigos e também com uns amigos meus que são da 200, quer dizer, duas amigas minha. A gente fica lá conversando, mas a gente costuma brincar que é o nosso banho de sol, porque a gente fala que o Martins é uma prisão e, porque não pode abrir a janela na sala, aí no recreio não pode pisar no banco, não pode fazer isso, não pode fazer aquilo. É um colégio cheio, cheio de regras. Fazer o que? Quem está lá tem que aceitar, por isso que eu estou saindo. Eu não aguento mais (LP16M2, 2017).

A galera se irrita por pouco, ficam reclamando que o colégio é cheio de regras, que são umas regras que, às vezes, não faz muito sentido. Tipo, outro dia, o coordenador entrou na sala para avisar que, a partir daquele dia, só podia subir na biblioteca em dez minutos de recreio. Ou seja, você tinha que descer às 10:20, comer um salgado em 10 minutos, porque não pode subir comendo, e aí depois, subir correndo para a biblioteca para estudar, porque depois não ia poder mais, sei lá, 10:20, 10:32 você não podia mais subir. As pessoas ficaram sem entender qual a diferença de subir 10:30 e 10:40, não tem muito sentido (LP16M2).

Eu fico conversando com meus amigos, porque é muito rápido, vinte minutos é muito rápido, é muito pouco tempo. […] Não dá, não dá para fazer nada. A gente sai, quando vê já tem que correr, entendeu? É muito rápido (S18MA2, 2017).

A preparação para os vestibulares e para o Enem é o foco de todos os colégios.

Mesmo não estando no terceiro ano, os professores já usam essas avaliações como

argumento para boa parte do conteúdo e dos exercícios passados em sala de aula. Além

disso, os colégios se apropriam do formato para criarem as suas avaliações e treinarem os

alunos.

Sim. Assim, a gente tem simulado bimestral e aí, nesse ano já deu para ver que eles começaram a dar uma puxada, porque no segundo bimestre, a gente teve dois simulados, no terceiro bimestre a gente teve um simuladão do Enem e no quarto bimestre a gente vai ter dois simulados também. E aí, é como se eles tentassem, tentando adaptar a gente um pouco até para o terceiro ano mesmo. Se eu não me engano tem simulado sábado sim e sábado não. Mas eu não sei muito bem como funciona. E fora isso, grande partes das questões das apostilas são do Enem, são de

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vários outros vestibulares e aí os professores vivem repetindo esses exercícios e pede para a gente dar uma atenção, pede para a gente estudar com cuidado, porque, na maioria das vezes, pode cair na prova, mas aí eles também falam: “É bom que vocês saibam fazer um exercício assim porque mistura Biologia com Matemática é o estilo do Enem”. Aí eles ficam dando esses toques. Mas assim, um enfoque mesmo no Enem vai ser no terceiro ano, porque eles tem projeto Enem e tudo mais. Esse ano eles fizeram um cursinho para quem já (palavra não identificada) estudar pro Enem do segundo ano, mas eu acho que ninguém da minha sala fez porque é um mês que seria aula todo sábado, mas o pessoal não teve muito interesse não (ABFT17MA2, 2017).

Não, eles preparam desde que você entra. Tanto que a gente não tem teste, a gente tem dois simulados, onde as notas não podem ser recuperadas. Então assim, você tem toda segunda-feira, você tem três matérias e uma tem quatro por causa da redação. E aí, a gente tem um horário de duas as duas e meia para poder fazer três matérias, cada uma com dez questões e apenas objetivas. E aí, no outro dia, a gente vai, a gente começa a pesquisar, assim, as respostas de todos os vestibulares que já aconteceram. E aí, tirando línguas, que é um pouco mais, né, que tem menos questões, e aí, alguma delas fazem, mas é, a maioria tem e a gente consegue achar o gabarito fácil, consegue tirar dúvidas fácil, consegue ter comentários das questões e aí, no outro dia, a gente vê o nosso desempenho e assim vai dando em todos os semestres (ABB17CMR1, 2017).

Aham, eles só, e os alunos que acho que estão lá muito tempo, estão muito assim. […] Mas eles todos, os professores também, eles ficam falando de Enem, que a gente tem que fazer isso e aquilo por causa do Enem, isso e assado, e os alunos também ficam querendo, ficam falando que a gente tem que, tipo, quando falam de nota, que eu não ligo muito para nota, mas eles falam “é, daqui a pouco chega o Enem e não sei o que e não sei o que” (LP16M2, 2017).

É 100% preparatório para o ENEM. (LJ16D2, 2017).

Eu acho que sim, pelos simulados que tem. Tem simulado Enem, que é do terceiro ano, mas o segundo ano pode fazer, se quiser. E tem simulado todo bimestre. Eu acho que sim (GB17MA2, 2017).

Esse ponto vale destaque porque reforça a dificuldade de algumas mudanças no

ensino pelo fato do objetivo final do ensino médio ser prestar uma prova tradicional que

gera uma nota e habilita ou não o aluno a entrar em uma faculdade. Como não há outra

opção, caso o aluno queira seguir para o ensino superior, os colégios focam nesse quesito

desde o começo, deixando de lado características e habilidades importantes que deveriam

ser estimuladas e ensinadas aos estudantes do ensino médio e que foram citadas ao longo

desta pesquisa. Como consequência, os pais procuram colégios que preparam melhor os

seus filhos para esse tipo de ensino, criando um ciclo vicioso, principalmente nos colégios

particulares que precisam alunos para sobreviver. Além disso, muitos estudantes aderem

esse pensamento e aceitam que o Enem é o ponto

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maior importante naquela etapa de suas vidas, causando diversas consequências como

stress, cansaço e ansiedade.

Eu acho bom, porque para você não chegar no terceiro ano despreparado, porque você ter a pressão de ter que passar de ano, você tem a pressão de passar no Enem, as vezes, tem a pressão de não sabe o que você vai escolher, então é bom você conhecer um pouco, até porque eu achei as questões do Enem bem legais, tipo, as que eu sei fazer são bem legais porque elas envolvem várias coisas de uma matéria e te fazem lembrar um negócio assim, muito, muito antigo, que você estudou a muito tempo. E, é, eu gosto dessa parte, mas, às vezes é chato, tipo os simulados são sábado. Acordar sábado para fazer 90 questões do simulado é triste. Aí depois acordar no outro sábado para fazer 45 questões de matemática também não é legal não, mas se eu vou ter que aguentar isso no próximo ano, é bom que pelo menos em alguns bimestres eu já vou testando (ABFT17MA2, 2017).

Ali, o foco deles é o Enem e realmente eles incentivam a gente a fazer o Enem com uma capacidade ótima. Isso aí eu não tenho do que reclamar (S18MA2, 2017).

Eu acho que por um lado… Eu acho que tudo tem vantagens e desvantagens, sabe? Por um lado é bom, porque a gente está sendo preparado para um concurso que, cara, é o maior concurso, assim, do Brasil, no caso, e ajuda bastante, porque, quem se esforça consegue, não tem essa. Então, se você está ali para fazer, se você quer, corre atrás que vai conseguir, entendeu? É só colocar isso na sua mente. Mas, por um outro lado, as escolas que tem curso técnico é bom, sabe? Porque você já sai dali formado para alguma coisa. Bem ou mal, se nada der certo, já tem aquilo (S18MA2, 2017).

O único aluno que apresentou uma posição diferente em relação ao Enem e a

provas tradicionais foi o LP16M2.

Sei lá, eu tenho um pensamento muito, muito diferente de todo mundo. Eu acho que, tem gente que até fica meio espantado, porque eu não ligo muito para isso de Enem, UERJ, eu não sou um aluno que está muito focado nisso, esse ano pelo menos, nem nos outros anos. Porque eu acho que, sei lá, eu também não ligo muito para nota não porque eu acho que é só uma prova com número. […] E eu penso um pouco diferente, não sei. Acho que é só um papel com um número. Tudo bem que o Enem é meio que o seu futuro ali, mas, digo, na escola, mas eu não ligo muito para as provas. Não é que eu não ligo de não estudar. Eu estudo, eu sou um aluno na média. Tipo, quando tem, quando a matéria é difícil, eu fico sentado estudando e tal, mas, sei lá, um amigo meu, do meu grupo pelo menos, João Vitor, ele é meio crânio lá, ele é meio, ele não é nerd assim, não deixa de fazer as coisas para estudar, mas ele estuda, ele foca, ele também assimila as coisas rápidas. Então, quando ele tira uma nota baixa, ele fica puto, o dia dele acaba, ele fica mal-humorado e tal. Eu não, quando eu tiro uma nota baixa, eu falo “ah, tá, na próxima eu tento tirar uma melhor” e continuo com minha vida, rindo e tal. Não ligo muito, eu acho que é só um papel com uma nota. Não vai dizer se eu vou ser bem sucedido ou não. Isso só o futuro. Até porque, prova de Química e eu quero fazer, sei lá, Cinema, não tem muito a ver, então eu fico mais tranquilo (LP16M2, 2017).

É interessante notar que quando questionado sobre o que e se gostam do colégio

e como se sentem, a maioria respondeu que se sente bem e era feliz onde estudavam,

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sendo que o quesito mais citado como influenciador é a interação com outros membros

do meio, como amigos, professores e funcionários em geral.

Ah, é ótimo. As pessoas são, eles meio que, como fazem, é, um tipo, tipo, peneira no fundamental, é, pessoas que não gostam do estilo do colégio elas são quase que obrigadas a sair, porque o colégio não muda a maneira de ser e as pessoas que estão ali elas aprendem a conviver com aquilo ou elas saem do colégio e aí, facilita um pouco, tanto que não tem problemas disciplinares no ensino médio (ABB17CMR1, 2017).

Eu me sinto bem, eu gosto de estudar lá. Eu gosto das pessoas, eu gosto dos professores, eu me sinto bem (GB17MA2, 2017).

Ah, eu gosto, eu gosto muito. Estou feliz. Por vim de uma escola pública, eu achei que, às vezes, a gente acha que vai ser bem diferente o tratamento e tudo, mas não, pelo contrário, eu sou muito bem tratada. Assim, eles me elogiam bastante porque eu me esforço, sabe? Para conseguir o que eu quero. E lá, eu me sinto muito bem, muito bem mesmo. Sempre tem alguns problemas. As vezes, a gente se da melhor com um professor do que o outro e tal, mas eu gosto muito (S18MA2, 2017).

Ah, é meio puxado, meio chatinho, mas é, acho que é tranquilo. Em termos de, tem professores legais, as provas, às vezes, cansa, mas, não sei. Eu gosto do método de ensino de lá, as aulas são boas. E é isso (GB17MA2, 2017).

Ah, ele é um colégio pequeno, com ótimos professores que tem… […] Eles tem métodos ótimos, eles tem as melhores, é, como é que fala? Eles tem, esqueci a palavra, mas continuando, eles tem, eles tem um domínio sobre o conteúdo muito forte e eles passam isso muito bem. O colégio é um colégio que você nem imagina assim olhando ele de fora. Você não imagina a estrutura, em termos de ensino, é um forte, pelo menos no ensino médio. E é um colégio bem difícil, na verdade. Pelo menos para mim. E, aí, assim, tem uma interação muito boa entre os alunos e os professores e eu acho que assim, é geral do colégio, isso aí não é só ensino médio, em tudo. Sendo em eventos, em colaboração em geral e até em interação com os pais, que eles tiveram até uma preocupação de fazer uma feira de profissões para os pais conhecerem o trabalho uns dos outros e assim, meio que, gerar trabalho (ABB17CMR1, 2017).

Então, o MV1, o que eu gosto, a estrutura é bem boa, sabe? […], em relação aos professores é um ensino muito bom, muito bom mesmo. […] A coordenação é boa, sempre está disposto. Sempre, a gente “oh, não gostei disso”, a gente leva para a coordenação, discute e tem, eles vão em frente e sabe? O que a gente leva… É muito bom (S18MA2, 2017)

Apesar disso, com uma análise mais profunda de outras respostas que são dadas

ao longo da entrevista, quando o foco não era esse, mostra que o cenário não é bem dessa

forma. Esse assunto vai continuar sendo explorado ao longo desta análise.

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Um dos pontos que traz desconforto para alguns alunos, citado por LP16M2, por

exemplo, é a competição entre eles que, muitas vezes, é estimulado pelo próprio colégio

e professores. Isso é preocupante pois habilidades que deveriam ser encorajado nesses

jovens como a colaboração, o trabalho em grupo e a comunicação são ignoradas e

deixadas de lado.

Mas é um colégio que estimula muito a competição entre os alunos, tem ranking de primeiro até o último lá na sala. É um colégio, um colégio parecido com o Colégio Militar e eu não sou a favor disso. Ele tem uma turma, no meu segundo ano, tem uma turma 221, que é a que eu estou com meus amigos e tal, e tem a 200, que são, tecnicamente, os melhores alunos. […] Porque em uma competição ninguém ganha na verdade. Tem sempre um que perde menos. Eu acho que as pessoas competindo umas com as outras, ou vão acabar desfazendo a amizade ou gerar brigas e é o que acontece lá. Porque na 200, você tem que manter, você tem que se manter lá, tem que estar sempre a cima da média, não sei o que. E aí, as pessoas querem sempre estar passando uma nas outras. “Ah, um amigo meu estava com uma dúvida, eu posso ajudar, mas se eu ajudar ele pode sair melhor na prova do que eu, então é melhor guardar essa informação para mim, para eu sair melhor na prova e passar ele no ranking”. Aí as pessoas vão pensando só nelas mesmo, tipo, individualismo muito grande lá dentro. Tipo, eu não concordo com isso. Na 221 é mais, todo mundo se ajuda, porque não tem isso de se manter e tal. Eu não acho isso saudável, não acho que, para uma pessoa que está se formando ainda, não acho que seja necessário isso, acho que seja o contrário, um ajudando o outro para se formar como aluno e como ser humano também, porque… Não sei, não concordo muito (LP16M2, 2017).

Após o entendimento sobre o colégio, o assunto abordado foi a relação do aluno

com os funcionários da escola, como inspetores, coordenadores, diretores e,

principalmente, professores.

No geral, tirando LJ16D2 que afirmou que seus inspetores são abusivos, os outros

alunos afirmaram que possuem uma relação muito boa com eles, já que conversam,

brincam, são amigáveis e ajudam sempre que podem em diversos assuntos. Os

coordenadores também foram citados como tendo uma boa relação e sendo próximo de

alguns alunos. Já os diretores, poucos tem contato. Somente ABB17CMR1 deu mais

detalhes, explicando que há um sentimento misto em relação ao da sua escola, pois muitos

tem queixas e outros são só elogios.

Em relação aos professores, os alunos alegam ter boas relações com a maioria,

sendo alguns mais próximos, fazendo, muitas vezes, o papel de um amigo ou de uma

pessoa mais experiente que dá conselhos. Essas afirmações vão em direção oposta ao que

o autor desta pesquisa acreditava que iria escutar, já que imaginou que os alunos iriam ter

muitas reclamações de seus professores e ter amizade com apenas poucos.

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Ah, lá é muito boa a relação, porque tipo, eles entendem que você não é só o aluno, não é só você dentro de sala de aula, ele entende você como pessoa, então assim, você tem muitos momentos que você chega e eles vão passando assim pela aula para ver, né, como é que tá, se as pessoas estão copiando, para ver se, ai vem e “nossa, você está com uma carinha, como é que você está? Tá tudo bem? Com os seus pais?”, começam a interagir assim com você, para ver se tá tudo bem, se tá com muita dificuldade e começam a observar melhor aqueles que estão, é, com as notas menores e começam a dar atenção maior, tem cuidado maior e não só aquela relação professor- aluno. E, as vezes, essa relação, no meu colégio, é, depois que se formam, isso se torna uma amizade. E aí, vários já vi se formando e saindo com os professores e tal (ABB17CMR1, 2017).

Ah, é boa. Eu sou amiga de quase todos os professores. Tem um em especial que eu não gosto muito, mas o resto, eu me dou super bem, converso com eles. Sempre que eu preciso de ajuda para alguma coisa, eu falo e eles ajudam, tiram dúvida. Eu tenho professor até no Facebook e eu mando mensagem se tiver alguma dúvida em algum trabalho e eles respondem tranquilamente e tal. Ah, eu acho bem legal (GB17MA2, 2017).

Então, com os professores é bem tranquilo. Tem uns professores que são mais amigos da gente, tem outros que preferem não ser amigo de aluno, chegar e dar aula. O que é normal, tem professor que não gosta de ter intimidade com o aluno, só quer ser o professor, não quer ser o amigo. E eu acho normal também, não acho que querer ser o melhor amigo do professor, só uma pessoa que, as vezes, quer brincar brinca, uma zoação e tal (LP16M2, 2017).

Então, assim, eu me dou bem com todos os professores. […] Mas com os outros professores eu me dou super bem, super, super bem. Até com ele mesmo, entendeu? Até porque eu estou ali para estudar, não estou para ficar levando rixa com ninguém. Mas eu me dou muito bem com todos, todos. E são mais que professores, são amigos da gente (S18MA2, 2017).

E todos os meus professores são muito parceiros, assim, com a turma. Eles vivem conversando com a gente, tipo, se a gente tá mal em alguma matéria, ou quando é para… a gente começa a discutir com eles, assim, tipo, sobre questões do futuro: ¨Ah, o que eu vou esperar na faculdade?¨ aí eles começam a falar da própria experiência, que ajuda de vez em quando (ABFT17MA2, 2017).

É importante ressaltar que isso não é relacionado a todos os professores, havendo

alguns que os alunos não gostam e que admitem ter até certa rixa. Quando isso ocorre, a

matéria passa a ser menos interessante, mais difícil e o estudante perde o interesse pelo

conteúdo. O curioso é que, como falado anteriormente, essa relação ruim é citada

ocorrendo apenas como poucos professores.

Então, assim, eu me dou bem com todos os professores. Tem uma rixinha assim com o professor de Português e Literatura, que é o mesmo. Acho que é pelo fato de eu não me dar… Não é que eu não seja, eu sou aquela aluno na média, porque a média lá é sete, não sou uma aluna dez em Português e nem em Literatura, mas ele tem mania de ficar no meu pé, sabe? De me querer deixar mal e eu sou uma pessoa que não levo desafora para casa, então eu debato, sabe? (S18MA2, 2017).

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Ah, é porque ele, ele, ele é um pouco fofoqueiro, aí ele gosta de falar mal dos outros, sabe? Aí eu não gosto dele não. Mas a aula dele em si é boa. Na verdade, a aula de Literatura, porque ele dá aula de Literatura e Português, e a aula dele de Literatura dele é muito boa, mas a de Português é fraquinha (GB17MA2, 2017).

E alguns professores, como eu já disse, são mais idosos, a gente tem alguns problemas com eles, mas mesmo assim eles são muito carinhosos, são muito divertidos, tem alguns professores em particular que são meio maluquinhos, mas isso é normal (ABFT17MA2, 2017).

É, eu acho que varia de professor para professor. Sempre tem aquele aluno que o professor não vai muito com a cara, não sei se é porque atrapalha ou porque realmente não vai… Então, o Ian pode me tratar muito bem, mas uma garota na minha sala pode achar que o Ian é um saco (LP16M2, 2017).

Alguns alunos também afirmam que ter uma relação de proximidade com os

professores ajuda a gostar mais e se interessar pela matéria, estando alinhado com o

pensamento desta pesquisa. Além disso, é possível perceber essa relação ao longo da

entrevista pelo fato do aluno repetir sempre os mesmos professores como exemplos para

as perguntas que são feitas.

Ah, influencia. Porque a minha professora de Biologia, tem dois, o Ian e a Renata. O Ian, eu tive ano passado, mas como ano passado eu tava meio, foi um ano meio de folga para mim, porque eu não prestava atenção em nada, eu não estudava… Mas o Ian é ótimo, ele é ótimo professor e a Renata é a nossa mãe, porque ela, além de professora, quando a gente está triste ela tenta conversar e tal. E eu acho que isso influencia de eu gostar da matéria dela (LP16M2, 2017).

E o professor de Química, é aquela matéria que ela é difícil, ela é ruim, mas você, com aquele professor, se você faltar uma aula você perde tudo mas se você tá lá, todas as aulas presentes, vendo tudo, presente porque, às vezes, você tá na aula e não tá prestando atenção. Você entende a matéria. E eu fiquei muito emocionada, porque esse ano eu tenho me esforçado mais do que ano passado, então eu consegui chegar no terceiro bimestre quase passando e isso foi por causa dele porque teve uma matéria que eu lembrava de coisas do ano passado, macetes que ele passava do ano passado e isso é muito difícil porque normalmente, é, em matérias que eu tenho mais dificuldades, no caso Matemática, eu aprendo o bimestre e aí quando eu vou para o outro eu esqueço (ABFT17MA2, 2017).

Questionado se essa relação vai além do colégio e se os professores passam seus

contatos, tanto no Facebook quanto no Whatsapp, para os alunos, as respostas são

parecidas. O Facebook parece ser uma relação mais aberta, onde a maioria aceita seus

estudantes sem muito problemas, mas quando não o fazem, é por motivos profissionais,

para não levar a relação professor-aluno além da sala de aula. Já o Whatsapp, talvez por

ser algo mais pessoal como o número de telefone, alguns professores passam, outros

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não. Essas ferramentas são usadas pelos alunos tanto para manter contato, como para tirar

dúvidas relacionadas a matérias. Na próxima subseção, esse assunto será novamente

abordado, mas com a visão dos professores.

Sim, a gente tem ou Whatsapp ou Facebook deles e sempre assim, sempre são atenciosos e a qualquer momento que a gente perguntar qualquer dúvida, na hora que eles podem responder para a gente, eles vão e tiram a dúvida sem problemas, tipo sábado e domingo. […] Vou te dizer que é tipo noventa, oitenta por cento, porque alguns não tem, é, a rede social ou não incluem alunos por questões profissionais, né (ABB17CMR1, 2017).

Só um ou outro. É porque tem uns que não gostam de adicionar alunos e tudo mais, mas tem uns que não vêm problema nisso, mas só alguns. […] Depende, tem professor que a gente tem Whatsapp. É porque, lá no colégio, a gente tem feira cultural. Aí, todo ano a gente fica com um professor. Então eles fazem grupo para ajudar a fazer os negócios da feira e tudo mais. Então tem alguns professores que eu tenho Whatsapp sim. E o de Filosofia e Sociologia porque, ele dá as duas matérias, sempre dá o telefone dele para caso a gente tenha dúvida ou se a gente quiser perguntar alguma coisa da matéria e tudo mais, ele responde, entendeu? (GB17MA2, 2017).

Sim, aham. Eu tenho alguns professores no Facebook. A gente tem grupo no Whatsapp com alguns professores. Tem outros que não, tem outros que não. Mas a maioria das pessoas tem… Porque eu não sou muito de adicionar professor no Facebook não. Eu tenho a Helena e o Ian. É, do Martins, do Metropolitano eu tenho outros. Mas eles são, são de boa com isso. Eles adicionam e tal, é uma relação… É como eu falei, é parecido com uma relação, é tipo um colega, não chega a ser… Um colega, alguns professores, outros não (LP16M2, 2017).

Eu acho que, eu achava que eram só alguns, mas acho que se você tiver o número de contato, acho que eles procuram sempre responder. Porque eu não tenho de todo mundo não, mas eu tenho amigos que tem a maioria e sempre que eles tem dúvida eles costumam responder sim (LP16M2, 2017).

Ah, eu não sou muito de conversar não, mas tenho o contato. Se eu tiver que perguntar alguma coisa, eles respondem numa boa no Facebook. Eles passam slide para a gente pelo email, pelo Face. Isso aí, sabe? Passa, se tiver que corrigir alguma prova e não deu tempo, “ah, vai entrar um feriado”, “você tirou tanto em uma prova”, eles mandam numa boa. Tenho todos no Facebook. Assim, mas não sou de conversar, de ter uma amizade. […] Sim, estão, com certeza. O meu professor de Filosofia e Sociologia, se tiver qualquer problema, ele sempre vai estar disponível. Vai te escutar, sabe? Ele senta para conversar com você, seja o que for, seja financeiro, seja em casa, saúde, o que for. Ele é um professor muito amigo. Ele é aquela pessoa que você mandou mensagem no Whatsapp, na hora ele te responde. (S18MA2, 2017).

Ainda sobre esse assunto, LJ16D2 afirma que é política de seu colégio não deixar

os professores adicionarem os alunos nas redes sociais, apesar de alguns não seguirem

essa ordem. Questionado sobre o que pensa disso, ele responde:

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Ah, eu acho que é uma forma de fechar muito o colégio, né? O colégio tenta seguir um ensinamento muito tradicional e ele acaba privando os professores de ter um relacionamento para a sala de aula com os alunos (LJ16D2, 2017).

O próximo assunto abordado com os entrevistados foi sobre a metodologia de

ensino dos professores. Aqui, as respostas são bem parecidas também. No geral, usam o

quadro ou o projetor para passar o conteúdo e ficam falando sobre o tema na frente da

turma. Ou seja, ele é o centro de tudo e o aluno um mero espectador. Isso é visto como

algo monótono e nem sempre é absorvido pelo aluno de forma fácil e rápida. Além disso,

quando os estudantes pedem para que o professor explique de outra forma, ele não sabe.

Ele só sabe aquela forma que ele acredita ser a melhor e que faz por anos, mas que nem

sempre é a melhor para os alunos.

A grande maioria escreve no quadro, tem alguns que só falam porque não dá tempo mesmo e aí a gente costuma gravar, eles dão permissão, a gente grava a aula deles, são 2, de História e Filosofia e alguns poucos fazem uso do slide e do vídeo, mas grande parte é quadro e explicação (ABFT17MA2, 2017).

Física, são aquelas matérias que o professor vai explicar e explica bem, aí ele faz até um slide para explicar que você não consegue entender, grande parte da turma não consegue entender (palavra não identificada). Só que você vê que o professor fica meio angustiado, porque a gente pede pra explicar de novo e de novo, só que ele não consegue explicar de outra forma. E aí, ninguém da turma consegue absorver a matéria e aí o negócio fica meio que: “Vejam o slide”, “vê vídeo-aula”. Sabe, ele não consegue arranjar outra maneira para explicar. E Matemática também é a mesma coisa, no caso meu professor fica meio chateado com a gente, porque ele explica de uma forma, você pede para ele explicar de outra forma, só que ele explica da mesma forma, você ainda não entender, você pede pra ele explicar de novo, ele explica da mesma forma. Teve uma vez que a gente gastou uma aula inteira só para isso e aí, só nessa jogada de “explica de novo”, ele ficou bem vermelho, sabe? (ABFT17MA2, 2017).

Ah, cada um tem um jeito. No caso, o meu professor de História, ele é muito de falar, só fala, fala, fala e faz exercício na apostila. É muito difícil esse professor escrever. Já o professor de Física, ele dá muito slides, meu professor de Biologia também. Leva a gente para o auditório para ter aulas com slides. O de Português é de escrever mesmo. O de Literatura, ele fala mais e traz papelzinho para a gente ficar lendo. Matemática é só prática mesmo. Escrever, escrever e fazer exercício. E assim, meu professor de Filosofia e Sociologia é muito de falar. A gente até grava as aulas dele, porque ele não é muito de escrever não, nem escreve direito. E o meu professor de Geografia é quadro, quadro, quadro, mas é aquele quadro, cara, que tu leu para a prova, a tua prova está ali, entendeu? É muito excelente (S18MA2, 2017).

Mas o meu professor de História, eu acho que, com certeza, ele tinha que inovar, porque, eu, eu falo por mim, eu sou muito ruim em História e ele só fala, fala, fala, eu não consigo gravar nada, nada. Sabe aquilo que você não entende? Você lê, lê, faz de tudo e não consegue? Eu acho que ele deveria inovar. Tipo, porque História tem como você interpretar, se vestir, alguma coisa, sabe? Fazer meio como um teatro. Porque, as vezes, a gente acaba aprendendo assim, tem mais facilidade, você se interessa mais.

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Mas eu acho que, por ele só falar e eu… Tipo, três tempos de História, é quase seguidos, eu não tenho saco para isso, não tenho. E ele só falando, falando, falando, falando, é quase três horas falando, então, isso para mim é puxado (S18MA2, 2017).

É, os mais, os mais tradicionais são os geralmente mais velhos. Que eles chegam botam a explicação no quadro, explicam e vão embora. Mas o que a gente mais gosta são os que, por exemplo, o professor de História, que em vez de chegar e botar a matéria no quadro ele dá aula como se fosse uma história, mesmo, contando uma história em uma forma dinâmica, aí fica menos chato (LJ16D2, 2017).

Então, colégio particular é um pouco chato assim, porque, no início do ano, eles juntos com os diretores e tal, eles fazem um esquema do ano inteiro e tem que seguir aquilo e se você não seguir aquilo, você leva bronca do diretor. Então, eles costumam dar no quadro a matéria… Tem uns que estão atrasados e começam a correr muito, muito com a matéria, aí os alunos ficam meio perdidos, sem entender o que tá acontecendo. Mas eles costumam ou dar no quadro mesmo assim, colocar um resumo no quadro e explicar, e aí, se der tempo, passa exercício, ou eles dão no slide mesmo . […] Mas é sempre aquele negócio, resumo no quadro, explica a matéria, ou slide, essas coisas assim, não tem nada além disso tudo não (LP16M2, 2017).

Ah, são mais em sala de aula mesmo, sem muita dinâmica. Às vezes, a gente faz porque a gente pede, mas eles ensinam muito com resumos de caderno, é, explicações, é, slide também muito, é, vez por outra também tem vídeos, filmes, essas coisas assim para ficar melhor (ABB17CMR1, 2017).

Eu acho que, assim, eu já tenho dificuldade e como o meu professor só fala, aquilo ali já não me dá vontade nenhuma. Porque, eu, sinceramente, quando chega na aula de História, que eu já sei que eu só vou ficar escutando, escutando, escutando, eu já penso “ah, hoje eu não queria ter vindo para a escola”. Entendeu? Já bate um desanimo pelo fato de, como eu te disse, ele poderia inovar, fazer algumas coisas diferentes e tal, mas não tem nada de diferente, entendeu? É só falar, falar, falar. E como eu não sou boa naquilo, e eu tento, eu leio, faço de tudo, mas não entra na minha cabeça de jeito nenhum (S18MA2, 2017).

Em raras excessões e, geralmente, mas não exclusivamente, com professores da

área de Humanas, como História, Filosofia e Sociologia, há alguma tentativa de mudar

essa lógica passando vídeos, sites, trabalhos e debates, algo que os alunos se interessam,

gostam mais e lembram posteriormente.

Mas se tem uma coisa que eu adoro é quando eles mandam a gente ir pro auditório ou para umas salas com projeção, porque a minha não tem por causa da janela. E aí, eles teriam que colocar uma cortina que tira todo o propósito da janela. E aí, a gente adora porque é uma movimentação assim, sabe? A gente sai, levanta, porque senão a gente fica todo o dia sentado e é muito chato. E, às vezes, você tá de saco cheio, tipo, de ficar lá sentado só copiando e você quer levantar, fazer alguma coisa e não, você tem que esperar até a hora do recreio. Começa a dar uma agonia, assim (ABFT17MA2, 2017).

Assim, o professor de Física ele entra em um site que meio que tem umas… Tipo, a gente estava estudando espelhos, aí nesse site tinha umas projeções de espelhos, tinha

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algo mais ou menos como um jogo, que dava para você ver consertando os ângulos como ficava e tudo mais (ABFT17MA2, 2017).

Ah, depende da matéria. Tem uns professores que passam umas coisas no quadro e depois vão explicando e tem outros, como o de História, de Filosofia, de Sociologia, eles geralmente explicam para a gente, passam vídeo, essas coisas. Passam filme, passam slides, essas coisas (GB17MA2, 2017).

É, uma inovação que chegou na escola esses dias foi nosso professor de Filosofia que ele deu uma aula relacionando séries do Netflix com filósofos da História. Tipo, Kant e tal… Kant, Marx. E eles fez uma aula analisando Black Mirror, e eu achei bem legal (LJ16D2, 2017).

Sim, a professora de Inglês. Ela leva muitas músicas, sim, até, as vezes, para refrescar um pouco a mente, sabe? Música de inglês para a gente ficar fazendo como exercíciozinho, de ligar, eu não acho que nem seja para inovar, é para diferenciar um pouco, para não cair naquela rotina, sabe? Só ela mesmo (S18MA2, 2017).

Eu percebo que tem uns que tentam. A Helena, quando dá aula de Artes, ela sempre fica no Youtube colocando música, música, música e eu percebo que, quando ela dá aula de Artes com música, todo mundo presta atenção, todo mundo fica olhando para o quadro, olhando a projeção, porque música é um negócio meio agradável e na escola, você não está acostumado a escutar música, é interessante. E o Valmir tem vez que para explicar lá as moléculas, sei lá, a matéria dele lá, ele pega aluno, ele dá a mão… “Faz a cadeia carbônica aí”, aí os alunos dão as mãos e “ah, o que acontece?” e um solta. “Isso que acontece se isso e aquilo” (LP16M2, 2017).

É, eu sou mais a favor das atividades diferentes. Porque eu não gosto muito dessa coisa assim, desse negócio assim, sempre a mesma coisa, rotina. Eu gosto de uma coisa meio sem rotina. […] Eu gosto mais desse tipo de coisa, que o professor chega lá com uma ideia nova. O Ian agora tem passado uma série do Netflix que é relacionado com a matéria que ele está dando. Ele falou que achou melhor botar a série onde tem um cara explicando e tem um vídeo e tal, do que ele colocar no quadro. Ele acha que é mais fácil a série. E está todo mundo prestando mais atenção nessa série, até porque, pode ver em casa, pode ver no Netflix. E eu achei bem interessante também desse jeito dele. Eu acho que inovar assim no jeito de dar aula é sempre bom (LP16M2, 2017).

Tem um professor de Química que ele levou a gente, tipo, é uma matéria muito boa, dá para você entender pelo livro, mas ele levou, preparou para a gente poder ver ácido, base, sal, essas coisas e ver as reações. E esse é um dos meus trabalhos, pegar um relatório de laboratório para poder dizer as reações, qual é o tipo de reação e assim, tipo, pegar a matéria e botar em prática para todo mundo ver como é e, às vezes, até encaixar mais (ABB17CMR1, 2017).

Outros assuntos que foram abordados em relação a metodologia de ensino foi o

trabalho de casa e se há incentivo para procurar conteúdo em outros lugares. Em relação

ao primeiro, as respostas foram divididas. Alguns passam trabalho de casa valendo nota

e outros não passam nenhum trabalho. LJ16D2 cita que até o primeiro ano do ensino

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médio, todos os professores passavam trabalho e valia nota. Agora, no segundo, o colégio

decidiu que não valia mais nota e poucos professores estão passando. Apesar disso, eles

tem, em média, cinco apostilas por semana de exercício para fazer valendo nota. Em

relação ao segundo assunto, também foi dividido. Alguns alegam que os professores

incentivam buscar outras formas de adquirir o conteúdo (apesar de alguns incentivarem

procurar no próprio conteúdo do colégio online) e outros dizem que não, que o conteúdo

é o dado em sala de aula.

É, raramente eles dão citações que têm em livro ou algum site que tem, mas não é muito constante não (ABB17CMR1, 2017).

Incentivam. Eles falam para a gente ver vídeo-aula. E é, no caso, o meu material da escola mudou esse ano, é um novo projeto assim. Podemos dizer que mudou o material todo. E eles… A gente tem um site, eu acho que é Seja Ético. É, o material é esse Seja Ético. Aí cada um pega um negócio na secretaria, entra, faz o seu email, blá, blá, blá, e vai lá. Lá tem tudo o que eles explicam, ali tem de uma forma mais resumida as coisas atuais, entendeu? Assim, ajuda bastante (S18MA2, 2017).

Não, acho que não. O Ian, às vezes, ele está no Facebook, acha um vídeo interessante e bota lá no grupo da turma, um vídeo relacionado. Ele fala “ah, o que a gente deu na aula ontem”. Aí ele bota. A Helena também. Mas não vejo eles falando “ah, façam os deveres” e tal, mas não vejo nenhum incentivo a vídeo-aula, nada não (LP16M2, 2017).

Na apostila que a gente tem do colégio, a gente tem um site. Cada aluno tem sua senha e tudo mais. Nesse site tem acesso a vídeos, explicações, resumos e tudo mais das matérias que a gente tá dando. Aí eles sempre pedem para a gente entrar nesse site e procurar lá o que a gente tá dando, porque sempre tem exercício, resumo e tudo mais. Aí sempre ajuda. […] Aham, eles falam que, tipo, sempre que a gente precisar estudar para alguma prova e não entendeu muito a matéria ou tem dificuldade, falam que tem vídeo-aula no Youtube e exercício, que é bom a gente praticar e tudo mais. Ele sempre incentivam (GB17MA2, 2017).

As avaliações também foram abordadas durante a entrevista e, mais uma vez, não

houve nenhuma novidade, com todos afirmando que o colégio segue o modelo tradicional

de testes e provas e, às vezes, algum trabalho extra com uma pontuação ou peso menor.

Além disso, alguns possuem um calendário rigoroso, com avaliações toda semana, com

poucas folgas. Esse assunto será abordado novamente pelo ponto de vista dos professores,

na próxima subseção, já que muitos afirmam que não possuem tanta liberdade sobre quais

avaliações vão aplicar em seus alunos.

Aham. É, tem duas provas e, normalmente, um trabalho. Mas nem sempre, nem todo bimestre tem trabalho. Aí tem a formativa, teste, que tem 10 questões e tem peso 3 na

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média, o trabalho, o trabalho de pesquisa ou então, tipo, eles fazem cartaz, slides, essas coisas, que tem peso 2 na média e vale 10 e a global, que é aquela semana de provas, que tem 20 questões de cada matéria e tem peso 5 na média (GB17MA2, 2017).

Então, as avaliações são um TR, que são trabalhos. Aí são decididos pelo professor da maneira que ele quer. Dois simulados por matéria. Cada um desses tem peso um e a prova tem peso três. E aí quando você junta essas médias, você divide tudo por seis e aí vai dar, ou seja, a prova vale metade da sua nota (ABB17CMR1, 2017).

Então, é toda segunda e quarta, né? E aí tem um calendário, sei lá. Segunda é Português e quarta é Literatura. Aí na outra segunda é Matemática, História e assim vai. Aí acaba o teste discursivo, acho que, sei lá, acho que a gente não tem nenhuma semana de folga, aí começa o teste objetivo. Aí começa a mesma coisa, segunda teste objetivo de Português, Literatura, Matemática, não sei o que. Aí quando acaba, sei lá, o bimestre, tem uma folga de uma semana, uma semana e meia, aí volta de novo com menos tempo. Só Literatura que no TO vale oito e aí tem dois pontos de trabalho. E Artes, o TO de Artes é um trabalho também que a gente faz. Fora isso, é tudo prova, tudo prova normal mesmo (LP16M2, 2017).

Ah, no caso, a gente tem uma formativa e uma global. E assim, tem bimestre que tem o trabalho de pesquisa, mas é, nesse bimestre é uma matéria, no outro é outra matéria. Nunca repetem as matérias não, entendeu? Cada bimestre vou te ajudar em uma matéria e é isso. Aí a formativa vale peso quatro. Aí tirou dez, aí quatro vezes dez e tal. A global vale seis. Aí tirou oito, oito vezes seis. Aí você soma, divide aquilo ali por dois e é sua média final. Aí também tem um simulado, cara, tem que estudar muito para o simulado e é muito bom, de todas as matérias. Aí quem pontua no simulado, é um ponto na média, sem dividir, nem nada. Tua média saiu sete, você pontuou no simulado, com aquele ponto ali, sua média vai para oito, na hora. E isso ajuda bastante, é muito bom. Isso do simulado, muito bom (S18MA2, 2017).

As provas são bem tradicionais, só que, é, em vez de ser só um teste e uma prova, você tem o sistema de APRs que é Avaliação Progressiva , que é, ele dá um teste de, um teste que é APR1 e um teste que é APR2 então tipo, se um teste valem 40 pontos, em vez de você fazer 10 questões e valer os 40 pontos você faz 20 questões. Você faz 10 questões em um e 10 questões em outro dia e vai valer 20 pontos cada um (LJ16D2, 2017).

Lá eu tenho as Formativas e as semanas de Globais. E aí a formativa é tipo um teste e a Global é prova mesmo. E aí as Formativas têm duas ou uma por semana até a semana da Global, às vezes, 3, dependendo do bimestre e de (palavra não identificada) tem até 3 porque, às vezes, vai ter uma semana com 3 porque não tem tempo suficiente. […] As Formativas são testes normais, são 10 questões e aí o professor vê se ele quer tudo múltipla escolha, discursiva, 5 múltipla escolha e 5 discursivas, normalmente é assim que eles colocam mas, tem professores que gostam de tudo múltipla escolha. Nas semanas Globais é que entra o meu terror porque são 2 provas por dia e sexta-feira são 3 mas, não tem tanto problema assim porque Filosofia e Sociologia cada uma tem 10 questões, e a que vai como Filosofia e Sociologia tem 18 questões, antes tinham 20 mas, a gente conseguiu reduzir 2 questões. Nós temos 4 horas para fazer a prova, e são 36 questões para fazer nesse dia de 2 matérias. Matemática e Biologia, mas acho que isso nunca vai acontecer. Graças a Deus Matemática tem caído com Inglês, mas é difícil porque, às vezes, ou não dá tempo ou você começa a ficar muito angustiado e não consegue terminar tudo porque você tem

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que sair até 4 horas. Às vezes, eu me pego até 3:20 em Matemática (ABFT17MA2, 2017)

Outro ponto importante é que o modelo tradicional é seguido a risca, não havendo

a possibilidade de consulta em momento algum do teste ou prova e todos sendo feitos de

forma individual. Quando há uma excessão nesse critério, são para matérias que são

consideradas “menos importantes” pelo colégio, como Filosofia, Sociologia e Artes. Isso

é ruim para o aluno, pois ele acaba memorizando muito dos conteúdos só para fazer essas

avaliações e desestimula o trabalho em grupo, já que se houver troca de informação, é

considerado cola e o aluno é punido com uma nota zero, além de sofrer repressão do

professor e coordenador.

Sempre individual. Sempre, sempre, sempre. Não tem uma avaliação que seja em dupla, que você possa consultar caderno, possa olhar, nunca teve. Eu estou ali a dois anos, nunca tive. A única coisa que tem em dupla é o trabalho de pesquisa, o trabalho que vale dois pontos na média quando apresenta e quando tem. Ou você faz para casa e é individual também. Então, não tem, mas em casa a gente pode consultar e tal. Mas nas avaliações, tudo sozinhas (S18MA2, 2017).

No TD de Filosofia, Sociologia e Artes, a gente pode. O TD de Filosofia e Sociologia é em grupo e com consulta. O de Artes, é individual, mas com consulta também. […] Não, celular não pode. A gente pode, sei lá, a gente viu um negócio no celular interessante. A gente vai ter que imprimir para levar para a prova. Pode ser caderno, livro, coisa que a gente viu na Internet, mas na hora, não (LP16M2, 2017).

Quando o professor passa trabalho, o formato varia bastante de professor para

professor e de colégio para colégio. Alguns passam lista de exercício, outros pedem

pesquisa e apresentação e outros criam sua própria proposta. Além disso, nesses

momentos, é permitido o trabalho em grupo e o uso ferramentas para consulta e pesquisa.

Os trabalhos, eles dependem. Tipo, tem trabalho que é grupo, tem trabalho que é para entregar, apresentação, tem várias formas. Tipo, eu tenho, meu professor de biologia, ele inventou agora que a gente tem que fazer, como ele gosta muito de Rock in Rio e adora biologia, tem uma matéria, então vamos juntar isso. Então vai ser o Rock in High, que a gente vai ter que pegar uma pessoa do Rock in Rio, personificar ela no grupo e fazer uma paródia da música dessa pessoa. E aí vai ter que apresentar a matéria que ele tá dando agora (ABB17CMR1, 2017).

Ah, tem, deixa eu pensar. Tem o de Literatura que a gente fez. O professor, a gente tava falando sobre romantismo, aí ele deu um autor para, dois autores, na verdade, para cada grupo e, aí, a gente fez sobre a vida deles, citou as obras, a gente fez uns slides, apresentou para a turma, foi bem legal. É normalmente assim (GB17MA2, 2017).

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No caso, assim, vamos supor que eu tenha esse bimestre de Física. Aí é a matéria que eu to tendo em Física, entendeu? Eles passam dez questões que vão valer dois pontos na minha média, no caso, se eu acertar tudo. Aí a formativa passa a valer três, o trabalho dois e a global passa a valer cinco (S18MA2, 2017).

Às vezes, tipo, seminário, você tem que apresentar ou dançar, tem que cantar em inglês, alguma coisa assim, vêm para casa. Pode ser também em grupo quando é assim, esses negócios, seminário. Mas é mais as matérias de linguagens, Humanas, que vêm assim para casa. A gente teve um de Geografia que, no bimestre passado, foi para fazer um caderno, para encadernar ele direitinho. Eu peguei, acho que eu peguei violência doméstica… Não, peguei intolerância religiosa, aí trouxe para casa, eu e meu grupo fizemos, encadernamos o trabalho e foi entregue, entendeu? Aí com o negócio de botar as estatísticas, um monte de coisa. Foi um trabalho bem legal (S18MA2, 2017).

Ah, é, as vezes eles passam trabalho pra fazer da matéria, tipo, algum documentário, ou alguma poesia, literatura, alguma coisa que você tem que se dá e, às vezes, tem os eventos da escola, agora está tendo a feira literária que é um trabalho que você tem que, é produzir um, alguma forma de manifestação das mudanças do século XXI na questão social da sociedade e se tá, (palavra não identificada) de alguma forma nisso (LJ16D2, 2017).

[…] quando é História ou Biologia ou Filosofia, essas coisas, normalmente o professor vai passar trabalho ele passa pra cada mesmo, passa um assunto para você pesquisar e aí na outra semanas você tem que voltar com uma pesquisa bem bonita para você tirar uma nota boa (ABFT17MA2, 2017).

Quando questionados sobre o que acham do modelo de avaliação do seu colégio,

os alunos possuem uma clara preferência pelos trabalhos que são diferentes e não seguem

um modelo padrão e que demandam esforço e criatividade deles. Em relação as semanas

de provas e testes, são períodos cansativos, estressantes e angustiantes.

Não, eu gosto do trabalho. Eu gosto mais do trabalho que é para fazer slide, falar, apresentar, do que aqueles trabalhos que o professor manda tipo, fazer escrito. Eu não gosto muito não, eu gosto mais de apresentar trabalho e tudo mais, assim (GB17MA2, 2017).

Eu não sou muito a favor não, eu acho que eles deveriam abrir mais a cabeça deles, porque eu acho que só uma nota não quer dizer se o aluno é capaz ou não. […] Eu acho que nota, para mim, nota nunca vai dizer se um aluno é capaz ou não. Eu não acho que se eu tirei dez, eu sou ótimo em Português, se eu tirei dois, eu sou um péssimo em Português. Acho que nota é só, é muito do dia, do dia que você fez a prova. […] Eu acho que devia ter alguma outra coisa para, não para passar de ano, porque hoje em dia, infelizmente, para passar precisa ter nota. Mas eu acho que, sei lá, daria um ponto durante o ano na média para outras atividades. Uma pesquisa em algum lugar. E aí, a gente fazia a pesquisa e eles avaliavam nossa pesquisa e davam o ponto para a média. Alguma coisa assim, porque só nota, não… (LP16M2, 2017).

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Eu prefiro fazer o trabalho, porque eu acho que é mais fácil de ganhar o ponto, mas também porque é uma forma mais dinâmica, você sai um pouco da reta do que é tradicional (LJ16D2, 2017).

Com a Formativa e o trabalho da pesquisa para mim está tudo bem porque já é uma coisa que eu to acostumada, eu tenho isso desde que eu me entendo por gente mas, a Global que eu não tinha antes, é uma coisa assim, para mim… […] Mas assim, é uma semana que assim, que você termina exausto, você termina muito mal. Você chega sábado você não quer fazer nada, só quer dormir, dormir porque cansa muito. As semanas de prova antes eram 20 questões por prova e nossa, era horrível. Quando a gente estava acostumado com 20 questões por dia pelo menos eu em outros colégios, nossa, quando foi para 20 questões por prova ou 18 questões por prova era horrível (ABFT17MA2, 2017).

O assunto seguinte discutido com os alunos foi o uso de tecnologia em sala de

aula. O objetivo era entender se e como o uso era feito, quais ferramentas digitais eram

utilizadas, se havia incentivo para isso, qual a opinião dos alunos sobre esse cenário e

como eles agiam em relação a esse assunto fora do colégio.

No geral, somente o computador e o projetor são usados em sala de aula, como

uma substituição do quadro, ou para mostrar algum conteúdo em vídeo ou em um site.

Em alguns casos, outras tecnologias foram testadas, mas deixadas de lado. Em outros, a

sala de informática existe, mas não é utilizada.

Computador só para o projetor… E aí, os professores usam, botam os filmes e tal, e é uma das melhores maneiras que tem, tirando aquelas pessoas que sentam na mesa, desligam a luz e ficam “é isso, isso, aquilo” e a luz só na frente e todo mundo aqui desligado, um sono (ABB17CMR1, 2017).

E tem uma sala de informática, só que a gente não pode usar também, é só o ensino fundamental (LP16M2, 2017).

No caso, é só mesmo essas horas, quando a gente vai apresentar o slide. Não usamos… Lá tem computador, mas a gente não usa. Ano passado, a gente tinha um negócio chamado Mangahigh, não sei se você já ouviu falar. Um negócio que faz trabalho para valer ponto em Matemática. […] Mas era muito, muito complicado a gente usar na escola, porque como a gente tem prova toda semana, então, tipo, “ah, vamos fazer hoje no primeiro tempo do professor de Matemática”, mas naquele dia tem prova de Física. Aí, a gente preferia estudar Física do que fazer o Mangahigh (S18MA2, 2017).

Além dos slides, dos vídeos no YouTube, porque, às vezes, eles entram no YouTube, tipo, os professores de Física, Biologia e Literatura são os que mais fazem isso, põe vídeo no YouTube sobre… Ah… to estudando Corpo Humano ai eles vão e pegam uma vídeo aula dos caras abrindo, abrindo não, é uma simulação mostrando por dentro do coração, aí ele vai mostrando ali pelo vídeo as células do pulmão, aí essas aulas são as melhores, são as mais interessantes (ABFT17MA2, 2017).

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Só o projetor e, às vezes, o celular em sala de aula, quando o professor pede, mas em geral é proibido. […] Eu acho que é pelo fato da, do geral dos colégios tem uma manifestação conservadora disso, né? De você manter ensino conservador. E as pessoas estão se negando um pouco a aceitar a tecnologia, mas também, pelo próprio colégio, a própria instituição do colégio, tentar manter o ensino tradicional. Acaba barrando a tecnologia, então (LJ16D2, 2017).

É proibido por lei o uso de celular em sala de aula, o que o autor desta pesquisa

acha uma pena e um desperdício, já que utilizado de forma correta, pode trazer grandes

benefícios para os alunos, como mostrado anteriormente. Poucos professores deixam essa

questão de lado e permitem que os alunos usem em determinados momentos. Geralmente

quando há uma dúvida em algum ponto da matéria que está sendo apresentada ou para

mostrar uma curiosidade. Mas, mesmo assim, o uso é bastante restrito. Além disso, alguns

colégios possuem câmeras nas salas, como se fossem o programa da Globo, Big Brother,

e se um aluno pegar o seu celular, ele é punido e tirado de sala por alguém de fora, como

um coordenador ou inspetor, tirando a autoridade do próprio professor.

Não. Se você pegar o celular, o seu celular é confiscado o resto do dia. É tipo isso. Você não pode usar nada. A não ser que, tipo, se o professor tá em sala, você é proibido, isso aí já é lei e tal, mas não é nenhuma permissão extra. “Ah, aqui você pode usar o celular”. Não, não tem. Pelo menos no primeiro (ABB17CMR1, 2017).

Não, quer dizer, não pode, mas a gente sempre usa. Só que lá no Martins tem câmera em todos os cantos do colégio, até dentro da sala. Então, ano passado, muita gente saiu de sala porque não podia usar o celular, eles usavam e ficava uma pessoa vendo as câmeras assim. Aí quando via mexendo no celular, ligava pro inspetor do andar e o inspetor do andar tirava o aluno de sala. Então era muita gente saindo de sala (LP16M2, 2017).

Não, eles concordam, na verdade. Não é que eles concordam mesmo, é porque se tem alguém mexendo no celular e o Tavares vê, quando ele chega lá embaixo, os professores levam bronca. Então quando alguém está mexendo no celular, eles falam “guarda o celular aí, por favor, não sei o que”, “olha o celular”, “olha a câmera”, “olha não sei o que”. Mas tem vezes que a gente tem uma dúvida e nem os professores sabem responder. Aí a gente pergunta se pode procurar na internet, aí ele diz que pode, não sei o que. A gente procura na internet até para dizer para eles. Já tiveram algumas vezes que aconteceram isso. Foi com a Helena, com o Ian, com a Renata também, eles não sabiam responder, porque cada ano muda, a gente foi pesquisar na internet no celular, porque eles permitiram, mas só porque eles permitiram (LP16M2, 2017).

Ah, quando, por exemplo, o professor de Matemática tem uma conta muito grande, ele pede ajuda da calculadora. Ou, a professora de Espanhol, que quer que você faça um trabalho, mas como o pessoal não é fluente em Espanhol ela deixa usar o tradutor e tal (LJ16D2, 2017).

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Nesse ponto, é interessante notar que alguns alunos já absorveram esse

pensamento e defendem o não uso em sala por acreditarem que atrapalha. Como eles

escutam isso diversas vezes de seus professores e outros funcionários da escola e estão

acostumados com o modelo de ensino tradicional onde o professor é o dono da sala e os

alunos mero espectadores, ficam fixos nesse pensamento, já que não conseguem associar

qual seria o uso do celular. É óbvio que usado de forma indevida, sem controle e

direcionamento, ele será usado para fins não educacionais e atrapalhará mais do que

ajudará. Apesar disso, o autor desta pesquisa acredita que é papel dos professores e do

colégio ensinarem o uso devido dessa ferramenta para fins educacionais e guiá-los para

um caminho produtivo em sala de aula. O celular abre um leque de possibilidades

enormes que podem beneficiar no aprendizado do aluno, bastante ser usado da forma

correta. A questão que, muitas vezes, o preconceito já está estabelecido e não há tentativa

de mudanças, ou, quando há, elas sofrem pressão por resultados muito rápidos e não

acontecendo, as tentativas são finalizados e taxadas de fracassadas.

Eu acho que devia ter mais tecnologia, mas a lei deve ter sido criada porque existe falta de bom senso. Então, né? Tem aquelas pessoas que ficam o tempo inteiro, a pessoa fica olhando para baixo e a aula correndo e você vendo que a pessoa tá usando o celular, é visível isso. Muitas vezes, os professores ignoram, muitos professores ignoram mesmo. […] Porque assim, ficar chamando a atenção toda hora não vale a pena, mas se houvesse uma (palavra não identificada) nos alunos, isso com certeza deveria ser liberado, com certeza (ABB17CMR1, 2017).

Eu acho que essa proibição, assim, eu, não sei se seria bom ter, porque realmente celular desperta a gente, você perde o foco total. Você recebe uma mensagemzinha, você está no meio de uma explicação, mexeu no telefone, você já se desperta. Mas, por um lado, é bom. Assim, não em hora de prova, você não pode com certeza, mas, às vezes, até para ajudar com os exercícios, entendeu? Porque assim, é um exercício, você está ali praticando, entendeu? Não é nada valendo ponto e, no caso da tecnologia, eu acho muito bom a tecnologia ter dentro da escola. Mas, na minha escola, deveria ser mais usada. É usada regularmente, não é aquilo de sempre, entendeu? (S18MA2, 2017).

Assim, eu uso, mas eu também acho que eu não deveria usar, porque, sei lá, eu acho que atrapalha muito e desconcentra muito. Então, eu acho que tá certo de não usar celular em sala de aula. E, se fosse para usar, seria para usar em alguma coisa que fosse relacionado a aula, entendeu? (GB17MA2, 2017).

Um outro uso de tecnologia que é feito entre professores e alunos, mas fora de

sala de aula, é o compartilhamento de informação por email, Whatsapp e Facebook. Já

foi mostrado anteriormente que essa relação já existe e, segundo os alunos, muitos

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professores aproveitam desses meios para compartilhar os slides que passam em sala.

Geralmente, há um email da turma que todos podem acessar ou uma pessoa é responsável

por receber e compartilhar com o resto dos estudantes.

Tem uns que são mais tranquilos, como o de Física, é mais tranquilo, ele dá uns slides nas aulas e ele manda para a gente por email, para a gente ter como base e tudo mais . […] É, tipo assim, tem uns que fazem slide. Por exemplo, o de Física, aí sempre que a gente pede slide, ele pega e manda por email, se a gente quiser. Aí ele manda o slide para a gente. Ou se ele pega algum vídeo na internet, ele pega o link. Uns sites que tem uns jogos, esse tipo de coisa eles sempre passam para a gente (GB17MA2, 2017).

Aí, é porque, geralmente, eles mandam para uma pessoa e aí, a gente manda no grupo da turma. Ou então, de vez em quando, eles mandam por Facebook, alguma coisa assim. Mas, normalmente, é pelo email (GB17MA2, 2017).

Tem uns que até… A gente tem um grupo no Facebook, tem uns que botam os slides que passam na aula naquele grupo para a gente estudar em casa, para quando for estudar para a matéria. Aí eles tem o email da turma, email da turma onde a Renata e o Ian, principalmente, colocam exercício e os slides que eles usam em sala para a gente fazer. A Renata, principalmente, ela sempre coloca exercício para a prova. E aí, a gente sempre faz. Quer dizer, eu sempre faço. Os outros, eu não sei (LP16M2, 2017).

A gente tem um email da turma. E aí, cada turma vai levando até o final do curso e os professores tem os emails lá que eles entram no computador da nossa sala e, a partir do momento que eles explicam, eles mandam para a gente ou mandam antes para a gente imprimir e traçar o resumo a partir daquilo para entregar como um TR, que é como o professor de Geografia faz. É, só ele (ABB17CMR1, 2017).

Ao contrário de quando estão no colégio, os alunos afirmam utilizar muito a

tecnologia no seu dia-a-dia, principalmente o celular, seja para socializar, jogar, se

entreter ou estudar. Esse último, mesmo não havendo apoio ou incentivo dos professores,

já é algo enraizado neles, pois assistem muitas vídeo-aulas, utilizam aplicativos de ensino,

como o Descomplica e o Duolingo, e buscam informações e resumos em sites. Com isso,

fica claro a desassociação que ocorre no cotidiano do aluno e no colégio, sendo mais um

dos fatores que os afastam ou desestimulam na educação.

Esse ponto é reforçado pelas respostas dadas quando foram questionados sobre

como estudavam em casa. Apesar de surgirem algumas respostas como fazer exercício,

ler e fazer resumo, procurar na internet, estudar a apostila e/ou os slides, todos afirmaram

que assistem vídeo-aulas.

Muita vídeo-aula, vídeo aula. É, resumos de sites como, tipo, tem site de cada matéria. Tipo, só a matéria, sóportugues.com, sóbiologia.com, ou os professores eles passam,

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muitas vezes, passam, o professor de história, alias. Ele passa um questionário que a gente entra com a senha, vai todo mundo fazer a avaliação e vai direto para ele a nossa nota de avaliação que a gente pode fazer em casa. […] Mas, é, mas aí, é, mais com esses sites, vídeo-aula, é, até mesmo para poder conversar com os amigos da sala para poder explicar, por aí (ABB17CMR1, 2017).

Ah, é um pouco de fazer deveres e um pouco de você também fazer resumos, para ver as questões assim, de você mesmo “ah não, o professor não passou, mas eu vou fazer”. É, eu estudo fazendo resumo e desse resumo eu vou gravando. Que é só assim que tem sido (ABB17CMR1, 2017).

Eu vejo vídeo-aula no Youtube e faço exercício. Isso quando, normalmente, em História, Geografia, esse tipo de coisa, eu só leio mesmo. […] É, a apostila e as coisas que eles escrevem no caderno, os resumos que eles dão no caderno (GB17MA2, 2017).

Eu sempre, eu não costumo estudar pela apostila não porque eu fico meio perdido. Eu acho que tem muita informação ali que é muito desnecessário. Então, na apostila, eu não costumo usar não. Eu, quando vou estudar, eu vejo vídeo-aula, é, eu uso internet sempre. Eu vejo vídeo-aula e aí, quando eles dão tópicos, eu pesquiso os tópicos na internet, faço o resumo. Eu vejo vídeo-aula fazendo o resumo. Eu nunca estudei sem fazer resumo. Eu preciso escrever em algum lugar para ir entendendo melhor a matéria (LP16M2, 2017)

Eu uso vídeo-aulas, eu assisto bastante no Youtube, porque isso ajuda muito, muito mesmo. E os slides, porque como tem os meus professores que mandam por email, eu vou lá e vejo aqueles slides de novo, já me ajuda bastante nos exercícios, assim, mesmo, só. No caderno que eu me baseio muito e também eu costumo procurar. Tipo assim, “ah, Segunda Guerra Mundial”, eu vou lá, escrevo no Google, leio tudo que tem ali, passo algumas coisas que me despertam para o caderno para assimilar uma coisa com a outra (S18MA2, 2017).

Depende da matéria, mas quando é História eu estudo pela vídeo-aula e pelo caderno, quando é Matemática eu estudo por todos os exercícios que o professor já fez antes, eu refaço todos eles, anoto fórmula e vejo algumas vídeo-aulas se eu não sei se eu não aprendi muito bem como fazer a fórmula e vou refazendo os exercícios que ele já passou todos eles até cansar, e algumas outras matéria eu só vejo pelo caderno e faço (palavra não identificada) pelo caderno, faço uma enxugada de tudo que o professor passou no caderno. Ou Geografia, Geografia é uma matéria que eu acho bem fácil e aí eu me faço umas questões no caderno, ou às vezes o professor passa mesmo umas questões e aí eu só respondo essas questões antes da prova (ABFT17MA2, 2017).

Nesse ponto, a maioria dos alunos já possui alguns canais no Youtube onde

procuram as vídeo-aulas, pois sabem que o conteúdo é bom e que vai ajudá-los a entender

melhor pela didática do autor do vídeo.

Eu procuro de acordo com a matéria. Eu procuro a matéria… Na verdade, tem um canal que eu assisto sempre, quando é para Matemática e Química, que é o Me Salva, mas o resto eu só procuro e, às vezes, eu acho uns legais e uns interessantes e tudo mais. Aí eu vejo (GB17MA2, 2017).

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Ah, depende da matéria. Tipo, História, eu vejo muito pela Débora Aladim. Eu já vou nela direto, entendeu? Tal matéria tem a explicação dela, eu já clico ali, porque ela explica muito bem. Mas as outras matérias eu vou vendo qual é o melhor, vejo as vezes todos para ficar bem mais fixado. E eu faço isso (S18MA2, 2017).

Eu gosto muito “Canal Física”, eu gosto muito, se eu não me engano é “Débora Aladim”, ela explica História muita bem e da umas dicas, assim. E “Aula De”, só que eu ando meio triste com “Aula De” porque eles tiraram as vido aulas do professor que eu gostava muito mas é porque ele pediu pra tirar, era o Rodrigo (palavra não identificada), eu gostava muito das aulas dele, eram muito boas (ABFT17MA2, 2017).

Outro ponto interessante de se notar é que a principal forma de estudo é individual,

só pedindo ajuda para os amigos em caso de dúvida. Esse cenário pode ser reflexo da

força do individualismo estimulado no colégio em diversos momentos, como as próprias

provas e testes.

Assim, as matérias que eu tenho facilidade eu estudo sozinha. Mas, vamos supor, a minha amiga tem dificuldade em Física, eu sou boa em Física, eu vou e estudo com ela para ensinar, ajudar, tirar dúvidas. E ao contrário, eu tenho dúvida em História, estudo com a Bia, por exemplo, ela vai e me ajuda e eu ajudei ela em Matemática, Física. É assim (S18MA2, 2017).

Além disso, para as avaliações, os alunos deixam para estudar mais perto das

provas ou na véspera, tendo uma carga muito maior e uma rotina mais cansativa.

Ah, depende da matéria. Tem matéria que eu estudo só na véspera, porque eu sou meio preguiçosa para estudar. Mas, eu tento, talvez eu não consiga, mas eu tento estudar antes (GB17MA2, 2017).

Na verdade, assim, com as provas toda segunda e quarta, eu meio que acabo estudando, meio que assim, quase todo dia da semana. Eu não estudo nunca quarta- feira, quarta-feira é um dia que eu não estudo, e sexta também não. Sábado eu estudo, domingo eu estudo, segunda e terça também. Quinta tem vezes que eu estudo e tem vezes que não (LP16M2, 2017).

No caso, se eu for fazer o… Eu tenho dois meses para começar as minhas avaliações globais, que são as avaliações do bimestre todo. Eu vou tentando aprender na sala, aquela matéria que eu tenho facilidade eu vou aprender na sala, para quando chegar daqui a dois meses, mais para frente, eu só revisar meu caderno e saber que aquilo ali eu sei. Mas quando é aquela matéria que eu não sei nada, tipo História, eu, pelo menos, eu tenho esse defeito, eu sou muito ruim em História e eu acabo largando História de mão, entendeu? E vou deixar para estudar só na semana da prova. E aquilo ali me sufoca, porque eu não aguento. Quando eu vejo que tem dez matérias, oito matérias para estudar, como foram no segundo, doze matérias, cara, na terceira matéria eu já estava assim “não aguento mais”. Eu desisto assim (S18MA2, 2017).

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Meu método de estudo não é dos mais saudáveis, porque eu tento (palavra não identificada) de um dia para estudar pro outro e aí eu faço, eu estudo sábado e domingo e um pouquinho durante a semana. Só que é difícil estudar durante a semana por causa das informativas, porque tem informativa toda a semana então toda a semana tem (palavra não identificada). Então é difícil estudar para a prova, mas ao mesmo tempo a prova que tem na semana da Global eu já não preciso estudar tanto porque eu ja estudei antes. Mas aí eu estudo até 4 horas da manhã do domingo (ABFT17MA2, 2017).

Alguns alunos foram questionados se os professores tentam entender seus

interesses para trazer algo relacionado para sala de aula e/ou se tentam associar o conteúdo

com o mercado de trabalho. A resposta geral foi que o foco é sempre no Enem e que não

há essa tentativa de entendimento por parte dos professores.

Eles não focam em mercado de trabalho, eles focam mais em, tipo, “isso aqui, isso aqui gente, cai muito em vestibular. É isso aqui e tal e blá blá blá”. Mas assim, chegar e falar o que é fora do vestibular, não (ABB17CMR1, 2017).

Não. Tem professor que passa Mia Couto, Ilíada para você ler, é uma coisa meio pesada. […] Um máximo que tem são esses trabalhos paródias, o máximo. […] Não, eles escolhem o tema e dentro daquele tema a gente tem que fazer. Mas assim, eles escolhem… (ABB17CMR1, 2017).

É raro. Eles, os professores dão a matéria e só. Tem vezes que a gente até pergunta para que a gente vai ter que fazer isso e tal. Às vezes, respondem para o Enem e isso me dá uma irritação muito, eu fico muito irritado quando respondem isso. Mas tem outros professores que não, eles falam que a gente tem que aprender isso para tal coisa (LP16M2, 2017).

Não, não tem. A única professor que tenta trazer algumas coisas da atualidade para a gente, “ah, caraca, gostei e tal”, é mesmo o professor de Filosofia e a de Inglês que gosta de inovar, assim, em algumas coisinhas (S18MA2, 2017).

Não, é mais como eu te falei, para o Enem, sabe? Aquilo ali você vai fazer, o foco é o Enem e é isso. E não tem isso “ah, nesse mercado de trabalho você vai precisar muito dessa matéria”, não. É assim, “no Enem caiu essa questão”, “estuda que no Enem vai cair mais isso do que aquilo”, coisas desse tipo (S18MA2, 2017).

Eu acho que limita muito o conhecimento que você dá para um cidadão, para um aluno, porque, você já tá preparando ele pro ENEM e provavelmente ele não 95% das coisas que ele tá aprendendo ali na vida profissional dele então você usar todo o ensino profissional só pra preparar ele pro ENEM acaba tirando um pouco da preparação que você pode dar pra ele ser um cidadão melhor (LJ16D2, 2017).

Quando questionados se, como o foco dos colégio é sempre o Enem, eles já

estavam estudando ou se preparando para essa avaliação, todos afirmaram que não de

forma intencional, que aquilo seria preocupação para o terceiro ano.

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O foco não é tanto, mas, de uma maneira indireta, eu já estudo. Porque todas as questões que tem prova, simulado e, muitas vezes, de TR são todas de vestibular, todas. Até os nossos livros são livros baseados só em questões de vestibular, todos que já tiveram. Até as faculdades que nem tem mais prova (ABB17CMR1, 2017).

Ah, eu ainda não estudo para o vestibular não, mas eu penso “ah meu Deus, ano que vêm eu tenho que estudar”. Mas, por enquanto, eu não estou estudando (GB17MA2, 2017).

É, o Enem é agora em novembro, mas eu, eu vou fazer só por experiência mesmo, ano que vem eu faço com foco. Esse ano é só por experiência mesmo, tô nem aí, não sei nem o que vai cair (LP16M2, 2017).

Não. Assim, eu, eu tenho aquela base da escola. Vou fazer Enem esse ano, eu estou fazendo como experiência, porque eu estou no segundo ano ainda. Mas me preparando assim tipo “ah, caraca, eu estou indo para o Enem porque eu estudei em casa que nem uma doida”, não, não estou. Isso eu deixei mais para o ano que vêm, já vou estar naquela pressão toda do terceiro ano, o meu foco vai ser o Enem, então é aquilo que eu quero (S18MA2, 2017).

Os alunos também foram indagados sobre a proposta de mudança que foi aprovada

para o ensino médio. É surpreendente notar que a maioria não sabia quais são as alterações

que vão ocorrer ou tinha uma visão distorcida, muito pelo o que divulgado erradamente

nas redes sociais. Além disso, todos afirmaram que os colégios não tocaram no assunto

de forma oficial, não explicando o que vai acontecer. Quando houve alguma informação,

foi de professores que falaram em sala de aula sem muitos detalhes ou para reclamar.

Bom, eu só escutei os professores falando que é mesmo um desperdício de aulas que vocês tem, porque todo mundo teria que ter acesso a todas as aulas. Isso vai facilitar, mas a pessoa vai ter uma quantidade de conhecimento menor por conta disso. Eu sei que vai ter uma base de matérias e a partir disso você pega os técnicos. Tipo, você quer focar em exatas, então você vai para essa área, mais os bases (ABB17CMR1, 2017).

Não, o colégio não comentou nada não, mas eu sei porque vi as notícias e tudo mais. Mas o colégio em si não falou nada (GB17MA2, 2017).

Eu tentei ler mais a afundo, mas eu não entendi muito bem. Eu acho que eles querem tirar Filosofia, Sociologia e Artes, né? Não sei se é isso… Educação Física… Lá no colégio, Educação Física não é obrigatório não (LP16M2, 2017).

Assim, eu sei porque eu vi pela televisão, mas o colégio não foi muito de falar não. Quem falou mesmo foi o meu professor de Filosofia e Sociologia, porque ele meio

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que atingiu ele numa forma… Porque antes queriam cortar, não se sei você lembra, queriam cortar isso (S18MA2, 2017).

Então, eu achava que eu sabia disso mas eu não sei porque eu não vejo TV e eu não tenho Facebook, nem Instagram, nem Twitter, nem nada disso (ABFT17MA2, 2017).

Quando o pesquisador explicou alguns detalhes, a maioria dos alunos acharam

interessante a mudança em relação a escolha de uma área de conhecimento que deseja se

aprofundar, reforçando o posicionamento de que os estudantes desejam focar em matérias

do seu interesse e que quando isso não acontece, eles perdem o fascínio pelo assunto.

E aí, assim, eu acho que não vai ser falta de conteúdo, porque você grava só para fazer uma prova e depois esquecer tudo vai ser a mesma coisa que você nunca tenha visto aquilo. Você tem que ter uma noção, pelo menos, de cada um de uma forma mais branda no primeiro ano e depois você decide isso, porque não tem como você saber o que você quer sem que você tenha visto antes. Então é essa a minha opinião (ABB17CMR1, 2017).

Eu, na verdade, sou um pouco de acordo, mas também discordo um pouco. Eu acho que, se no ensino médio, a gente tivesse só as matérias que a gente fosse realmente usar, ou seja, as matérias que a gente mais se interessa, eu acho que os alunos do ensino médio teriam um gosto muito maior pelo estudo. Porque eu, sinceramente, acho muito, muito, muito desnecessário a maioria das matérias que eu aprendo, porque eu sei que, a partir do momento que eu fizer a prova de tal matéria e sair da escola, nunca mais vou usar. São matérias que eu pergunto para os meus primos mais velhos, meus pais, meus tios e ninguém sabe responder. Porque aprendeu na escola, mas não usaram na vida, então esqueceram. Eu acho que a gente aprende muito mais com a vida do que na escola. Eu sempre falo isso. Porque as coisas que a gente leva são as coisas que a gente aprende na vida. Eu acho que, esse negócio de ficar aprendendo, eu tenho dezoito matérias para aprender, eu tenho dezoito provas para fazer de diferentes matérias e a maioria não tem uma conexão umas com as outras, e eu fico meio perdido, porque eu sei que a maioria das coisas que eu estou estudando ali, não vão fazer parte do meu futuro. Então eu fico meio desmotivado de ficar estudando matérias que eu sei que depois da prova eu não vou precisar mais (LP16M2, 2017).

Mas eu concordo muito com esse negócio da gente aprender matérias que vão ser, com certeza, necessárias para o nosso futuro, porque eu, estudando Biologia… Eu estou aprendendo agora, quer dizer, estava aprendendo sobre plantas, hoje já mudou a matéria… Eu aprendi com facilidade, mas eu sabia que não ia precisar o que é uma pteridofita, o que é uma briófrita para o meu futuro, porque eu não vou seguir nada relacionado a Biologia, isso eu tenho certeza. Então é uma coisa que é meio desmotivado. Então eu concordo em partes, eu acho que esse negócio de focar nas matérias necessárias no ensino médio ajudaria mais do que a gente ter um peso de matérias nas nossas costas, que a gente precisa conseguir estudar tudo, entender tudo para fazer uma prova. E depois, vai vim mais matéria, a gente vai ter que fazer outra prova (LP16M2, 2017).

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Mas eu achei bem interessante, porque, vamos supor, eu quero uma faculdade que não tem nada a ver com História, eu vou poder eliminar aquilo ali, entendeu, da minha faculdade. Para mim, seria uma coisa ótima, porque eu não gosto da matéria mesmo. Então, não tem aquilo na minha faculdade, para mim já é um grande passo, entendeu? Eu gostei disso, mas, para alguns, talvez prejudique, mas, eu, particularmente, gostei (S18MA2, 2017).

Apesar disso, é relevante comentar também que alguns ficaram preocupados com

a ideia de deixar de aprender algum conteúdo. O autor dessa pesquisa entende o porque

dessa fala, mas discorda, pois, hoje, mesmo com todo o conteúdo sendo ensinado, os

alunos mesmo afirmam que estudam somente para a prova e depois esquecem.

Provavelmente, como estão inseridos nesse contexto tradicional, onde tudo tem que ser

ensinado para fazer o Enem, eles possuem essa preocupação.

Tem os negócios das áreas, por exemplo, que você escolhe. Acho que isso é uma parte, sabe? Eu acho que, tipo assim, que, no ensino médio, eu não sei se isso seria legal, sabe? Eu acho legal que, tipo assim, tenha, que você possa escolher a sua área e tudo mais, mas eu não sei se isso é uma coisa boa, entendeu? […] Por que, é porque, tipo assim, a gente deveria ter uma visão geral da coisa, aulas sobre tudo. Eu sei que vai continuar tendo, mas vai ter mais aulas sobre a área que você escolha, ou então tem algumas matérias que você não precisa fazer. Mas, sei lá, eu acho que seria bom continuar do jeito que a gente conhece. Mas eu não sei (GB17MA2, 2017).

Mas eu também acho que no primeiro ano, assim, é muito cedo para o aluno escolher. Eu acho que todo mundo tem alguma coisa em mente, desde de criança, do que quer ser, pode até conversar com os pais no nono ano, para saber tipo, “ah, o que vocês acham que é mais a minha cara”… Mas o meu exemplo, até o quinto ano eu não tinha prova, porque na Aldeia Montessoriana não tinha esquema de prova, eles passavam por outros motivos, não tinha prova nenhuma. No sexto ano ao nono, foi no Metropolitano, que era um colégio tradicional, eu tinha prova e eu era 100% de exatas, eu era muito bom em exatas, eu só passava direto em exatas e História e Geografia eu tinha mais dificuldade. Cheguei no primeiro ano, mudou tudo. Eu tenho muito mais facilidade em História e Geografia, na parte de humanas, do que em exatas (LP16M2, 2017).

E aí eu ia ficar bem triste de ter que escolher uma coisa que eu sou boa, só que ter aquelas outras coisas que eu era boa só que não muito. Então podia ser alguma coisa assim: “tipo, tem lá Matemática, mas em vez de fazer a Matemática avançada eu faço a Matemática básica e sigo a Matemática básica” E a Matemática básica também tem pouca Estatística porque querendo ou não essas coisas você vai precisar na faculdade (ABFT17MA2, 2017).

O último tópico abordado foi para entender o que o entrevistado mudaria na

educação no Brasil. Ele poderia citar o que achasse mais relevante e os assuntos foram

bem variados. ABB17CMR1 acredita ser importante ter matérias base para todos e os

alunos poderem escolher as outras que desejam se aprofundar. GB17MA2 defende que

precisa haver um incentivo maior, já que os métodos de aula não são bons, dependendo

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muito do lugar e do professor. Cita que as aulas poderiam ser mais dinâmicas, com

professores com didáticas melhores e “não ser aquela coisa de sentar e copiar e ficar

falando na frente do quadro”. LP16M2 apresenta três soluções. A primeira, colocar

laboratórios de Química e Física em todos os colégios, já que acredita que ver ao vivo

melhora o aprendizado comparado com ver s no quadro. A segunda, faria mais passeios

para lugares que pudesse explorar a matéria que estava sendo dada em sala de aula. Por

último, diminuiria a quantidade de matérias e daria foco maior na formação do aluno

como ser humano. S18MA2 se preocupa com o ensino em escolas públicas, até pelo fato

de já ter passado por uma. Acredita que precisa haver maior incentivo, melhor estrutura

e metodologias. LJ16D2 vai por um caminho parecido com S18MA2 e pede um maior

investimento público nas escolas públicas que possuem índices muito baixos de

qualidade. ABFT17MA2 sustenta que é preciso criar uma identidade nacional e isso

precisa ser ensinado na escola, como, por exemplo, falar mais sobre os índios e menos

sobre os europeus e os americanos. Além disso, segue o pensamento de ABB17CMR1 de

que os níveis das matérias não precisam ser as mesmas para todos, que poderia haver o

conteúdo básico e o avançado e ser decisão do aluno qual iria estudar.

Como pode ser visto, os alunos vivem um período escolar com ideais e

metodologias que não mudam. Professores continuam sendo o centro das atenções, as

estruturas escolares são as mesmas, o foco é sempre no Enem e não na construção de um

ser humano com habilidades distintas, o importante são as notas e, no geral, as tecnologias

digitais ainda são ignoradas nesse meio. Quando há algo que sai do padrão, até mesmo as

mais simples, os alunos se interessam mais, querem participar, ajuda a reforça o seu

aprendizado. É o caso de professores que não os tratam como mero espectadores, de

trabalhos que exploram outras habilidades e não só a memorização de conteúdo, de

interesses pessoais que são trazidos para a sala de aula, do uso da tecnologia. É preciso

mudar.

6.2. Entrevista em profundidade - Professores

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Antes de começar a entrevista, o participante era solicitado a assinar o termo de

compromisso e questionado sobre a possibilidade de gravar a conversa para fins de

transcrição e análise futura. Com a assinatura e a autorização, era explicado com mais

detalhes do que se tratava aquele encontro, o assunto e qual seria a dinâmica.

Para iniciar e criar um clima mais leve e descontraído, foi pedido para que os

entrevistados se apresentassem falando nome, idade, disciplina que leciona, quais colégio

que dá aula e um pouco sobre a carreira.

LCC12HSA tem trinta e um anos, é professor de História, trabalhou no PH por

onze anos e começou a dar aula como monitor com dezenove para vinte anos. Já está no

mercado a onze, doze anos e desde o ano passado deixou o PH e começou a dar aula no

Ao Cubo, no Santo Agostinho e no curso pré-vestibular Mini. Depois de fazer dois anos

de faculdade de Comunicação e começar a trabalhar na área, percebeu que não era o que

queria e foi fazer pré-vestibular. Em uma aula de Matemática soube que queria ser

professor porque o dele estava se divertindo ensinando dez horas da noite. Como sempre

gostou de História, decidiu que conseguiria fazer aquilo durante anos.

ASA20QP é professor de Química e dá aula desde 1997. Fundamentalmente,

trabalha no terceiro ano do ensino médio, mas, às vezes, pega turmas do segundo e do

primeiro ano. Já trabalhou tanto no ensino público como no privado e, atualmente, está

no colégio Palas e no Colégio Militar. Também já atuou como professor universitário

durante seis anos nos cursos de Farmácia e de Engenharia Elétrica. Possui mestrado em

Fotoquímica e doutorado em Física Quântica. Decidiu ser professor porque estava

fazendo a Escola Técnica Federal de Química e precisava decidir entre fazer Engenharia

Química ou licenciatura em Química. Como morava com os pais, começou pela primeira

opção. Assim que casou e saiu de casa, foi fazer a licenciatura. Durante esse tempo,

trabalhou dez anos na indústria.

MM47POLM tem 66 anos e está no magistério a 47 anos, desde os 19. Se formou

na USP em 73 em Letras - Português/Inglês e fez um mestrado em Educação. Já passou

por diversas escolas particulares em São Paulo e, no Rio de Janeiro, já foi coordenadora

de um SIEP e supervisora de uma escola bilíngue. Trabalha no OLM há

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20 anos como professora de Português para o terceiro ano do ensino médio. Às vezes,

também dá aulas para o primeiro e segundo ano. Além do magistério, já foi gerente de

uma galeria de artes. Decidiu seguir essa carreira pois sempre foi elogiada pelos amigos,

durante seu tempo de colégio, como sendo boa em ensinar. Eles diziam que aprendiam

melhor com ela do que com os professores.

RSB24BOLM se formou em Ciências Biológicas em 1985 e possui mestrado em

Biofísica pela UFRJ. Após terminar a faculdade de Biologia, fez um ano de Farmácia,

mas não gostou porque tinha muita Química. Está no OLM há 24 anos. Já lecionou

Biologia tanto para o ensino fundamental como para o ensino médio (onde continua até

hoje) e já deu aula de Inglês em um curso. Também foi incentiva a dar aulas pelos amigos

que gostavam do seu jeito de ensinar. No começo, não gostou da idéia por conta de ter

que interagir com adolescentes, mas, agora ama o que faz.

Outro assunto questionado no começo foi se eles se sentiam prestigiados na

carreira de professor. LCC12HSA diz que socialmente não, mas que entre os alunos

bastante. Dentro das instituições, isso varia, com algumas sim e outras não. Para ele, isso

depende da direção, se ela é composta por ex-professores ou por pessoas com uma visão

mais empresarial. No primeiro caso, o ambiente é legal, o respaldo é bom e o clima é de

colaboração. No segundo, o clima é ruim, tem grande competição e não é tão bom de

trabalhar. ASA20QP acredita que tem dois pontos nessa discussão. Primeiro, acredita não

ser valorizada pois não é a primeira opção para carreira dos bons alunos, nunca foi, desde

a sua época. Apesar disso, ele, pessoalmente, se sente valorizado. Defende que a

valorização é o trabalho direto com o aluno em sala de aula e que não se sente

desrespeitado, já que contribui profissionalmente para a vida do aluno e que há retorno e

lembrança por parte deles. Já MM47POLM acredita que a profissão é desvalorizada.

Conta um caso próprio onde um motorista de ônibus afirmou que o seu filho ia seguir sua

profissão e iria ganhar mais que ela. Em seu ponto de vista, para a família, o professor é

só mais uma pessoa para cuida do seu filho. RSB24BOLM diz que a profissão vendo

sendo desprestigiada ao longo dos tempos. Por exemplo, no dia

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dos professores, diz que recebeu somente um parabéns. Acredita que os alunos atuais

não respeitam os próprios pais e levam isso para dentro do colégio.

Após esse momento introdutório, o primeiro tópico a ser discutido foi a relação

deles com os seus alunos. No geral, todos afirmaram que tem boas relações, que há

interação além do acadêmico, mas ela precisa ter limites. Muitos citaram que os alunos

não podem achar que são seus amigos, precisa haver uma relação profissional.

Eu acho que ela é muito positiva. Eu sinto que eu tenho uma relação legal, mas, ao mesmo tempo, tem que ter o mínimo de cuidado para você estabelecer que aquilo é uma relação profissional. Então a relação profissional não pode se confundir com a relação pessoal. Normalmente, no caso, quando… Normalmente, quando a gente acaba tendo aluno confundindo as coisas, isso acontece, às vezes, e acham que é amigo, às vezes, você tem problema por falta de limite, é isso. Então, apesar de eu sentir que tenho uma relação boa, de eu achar que as coisas funcionam legal e tal, os alunos gostam de mim, eu gosto dos alunos, em geral, é uma relação muito profissional. Enquanto eu estou ali, eu estou fazendo o meu trabalho e, pô, não vou levar nada além daquilo, no caso, para depois. Até tenho contato com poucos ex- alunos, no caso, hoje em dia, mas aí já são pessoas que estão fazendo faculdade, coisa do tipo. E aí, é coisa de ir assistir a um jogo de futebol juntos e coisa assim, sabe? (LCC12HSA, 2017).

A minha relação com os alunos não é uma relação de cima para baixo, não é uma relação de quem tem para dar e o outro para receber, não é uma relação do discurso de autoridade. É um discurso fundamentado num diálogo, né. Ou, pelo menos, tentasse oferecer o diálogo. A minha disciplina é uma disciplina um pouco árida em alguns momentos, eu diria que em vários momentos, e aí, esse diálogo é dificultado por outras questões, que são dificuldades geradas pelo próprio objeto de conhecimento que é a Química… A Química não, mas o que se coloca como sendo necessário que o aluno saiba para determinadas provas, enfim (ASA20QP, 2017).

Existem alunos que são mais chegados e outros menos. Eu diria que eu não sou muito… como é que eu diria? Não entro muito na intimidade deles e nem eles entram muito na minha intimidade, mas dentro disso, a gente comenta, sei lá, eles comentam de namorado, eu sou avó, tenho netinhos agora, que sempre comentam e elas perguntam se existe uma certa afinidade, o que é muito importante, eu acho, entre essa relação de professor e aluno que haja além do aprendizado. (palavra não identificada) algumas coisas suas, você passa para ele e ele passa para você, né? Sem passar daquele limite que cada um de nós tem acho importante, acho bom (MM47POLM).

Eu adoro dar aula, eu dou tanta bronca, mas não adianta, eles me adoram. Eu sou assim, meio mãe. Eu dou bronca, falo as coisas que tem que fazer. Você tem que seguir as regras. Aí eles tem que aprender que existe um limite que eu daqui não pode passar. Eu brinco, eu faço gracinha, mas dali não passa porque senão eu viro um bicho. Então eles tem que aprender e aí pronto, aí eles adoram. Aí, por exemplo, eu dou bronca, mas eu faço carinho. Aí vêm me contar de namorado, de namorada. Aí eu sempre fico numa relação bem afetuosa. Mas não esquece, eu sou professora, não sou sua amiga, sempre falo isso (RSB24BOLM, 2017).

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Apesar de quererem estabelecer limites, é interessante perceber que os professores

defendem que uma relação mais próxima com seus alunos ajuda no aprendizado.

Ajuda, porque se for assim, não dá não, se for só uma coisa seca, […]. Aqui não, eles sentam, eu vejo, tá com cara ruinzinha eu pergunto o que que aconteceu. Eu converso, aí eles vem conversar comigo. Aí, às vezes, chora, às vezes, contam um negócio que aconteceu. Se não for esse vínculo é muito difícil. Às vezes, eu consigo que o aluno tire nota boa porque gosta de mim. Aí eu falo: “ Vou ficar triste”, “não professora, eu vou estudar, eu vou estudar”, aí estuda por causa disso. Não gosta da matéria, odeia Biologia, “mas eu não vou tirar nota baixa com você não, pode deixar que eu vou estudar“. Aí eu consigo que tire nota boa, mas tem uns que nem isso eu consigo. Mas facilita, só muito seco assim, ensino médio, não dá pra ser muito “pão, pão com queijo” tem que conversar, tem que fazer carinho, dar bronca de vez em quando (RSB24BOLM, 2017).

Com certeza. Eu acredito ainda naquele… igual médico, se você gosta do médico você vai ficar sã mais cedo, se você… não precisa gostar, mas se você tiver mais afinidade com o professor, claro que o que ele falar vai te entrar mais facilmente, mas se você tem uma cara meio assim e tal, a matéria também fica mais chata, não tenho dúvida (MM47POLM, 2017).

Questionados se a relação vai além do colégio, se há contato pelo Facebook e

Whatsapp, por exemplo, as opiniões são divididas. Alguns utilizam essas ferramentas de

forma mais liberal, outros limitam mais, utilizando só para ex-alunos. O Facebook

aparece como algo inevitável, onde os alunos adicionam os professores e o Whatsapp

sendo mais restrito.

Facebook acaba tendo, no final das contas, acaba tendo. No Whatsapp, alguns colégios pedem para você ter, mas muito com relação ao pré-vestibular. Mas é muito uma questão de dúvida e de coisa do tipo. É coisa assim, grupo de turma e aí o professor é adicionado naquele grupo de turma. Mas fora isso, não (LCC12HSA, 2017).

Procura, principalmente, ao se aproximar de provas, né? Tem muito aluno que acaba procurando, porque está estudando e coisa do tipo. Mas é mais, é quase que exclusivo, do pré-vestibular isso aí. Raras são as vezes que no ensino médio isso acaba acontecendo. Então, a maioria das vezes no ensino médio, é aquele aluno que não prestou atenção quando você falou em sala e quer perguntar “professor, qual é a matéria da prova mesmo?”, é isso. Fora isso, é muito incomum eles tirarem dúvida no ensino médio (LCC12HSA, 2017).

Bom, por exemplo, Zap, meu telefone eu não passo para os alunos. Eu resisto a isso. Diferente de alguns professores que passam o Zap para os alunos, eu ainda não passei dessa… Talvez esse seja o meu próximo limite em relação a isso. Facebook não, Facebook não tem nenhum problema, adiciono os alunos no Facebook. Até quando eu vejo lá nas sugestões eu adiciono o aluno, não tem nenhuma questão em relação a isso. Em relação a isso é tranquilo porque amizade de Facebook, enfim, isso já estar encarnado na minha dinâmica […] (ASA20QP, 2017).

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Não, eu acho que… Eu estou me vendo nos próximos dias passando o Zap para eles já, entendeu? Isso pode acontecer, né. Mas eu ainda não consigo dar, eu ainda sinto o telefone como sendo algo mais particular, eu não sei te dizer. Eu sou das antigas, né, cara. Vinte anos dando aula, então o telefone não é o meu… Uma coisa é acessar o computador. Eu coloco lá ou acesso o Facebook pelo celular, enfim, tenho o aplicativo ou não, é como se eu tivesse uma opção. O telefone não. Ele tem meu telefone, aí a pessoa liga, é como se tivesse uma invasão. Não sei, não sei (ASA20QP, 2017).

Então cada professor tem o seu código de relacionamento, né? Enquanto o aluno é meu… e tenho Facebook até meu sobrinhos que fizeram, que foi bom, encontrei amigos de infância e tal, mas enquanto são meus alunos eu não permito, eles não são meus amigos, não há essa interação. Depois que se forma, quem quiser pode ser meu amigo no Facebook, eu tenho ex-alunos que me visitam, alunos de… eu digo que tenho netos aqui na escola (MM47POLM, 2017).

É, é… meu Facebook é de aluno, eu não tenho quase nenhum amigo… é 10% de amigo e 90% de aluno (RSB24BOLM, 2017).

Em relação ao contato fora de aula por meio das redes sociais para tirar dúvidas,

por exemplo, a maioria responde, mas as opiniões sobre isso também são divergentes.

Também já faço isso de vez em quando. Às vezes, quando tá em véspera de prova começa a pipocar coisa “Ah, me ajuda?”, eu ajudo. Uso o Facebook às vezes para… assim, eu nem posto mais nada, mas eles ficam lá e, às vezes, eles e perguntam as coisas pelo Facebook. (RSB24BOLM, 2017).

Tranquilo, perfeito (entrar em contato para tirar dúvidas pelo Facebook). Tranquilo, pode entrar, pode entrar em contato, pode mandar email, dou meu email, entre em contato. Ainda tem um grau de liberdade de escolher o momento que eu posso responder. O Zap, eu acho que eu me sinto, hoje, na obrigação de dar uma resposta imediata, né. Aí você trabalha o dia todo, por exemplo, aqui. Eu comecei hoje sete da manhã, eu sairia às dezessete horas, só paro para almoçar. Aí se eu vejo a mensagem do aluno, eu fico “caraca, o cara está com uma dúvida”. Aí manda fotografia de um problema. Um problema tem que escrever, fotografar para mandar para ele a resposta, às vezes, a resposta não é imediata. Às vezes, você vê que ele tem uma dúvida sistemática. E aí, como que eu resolvo isso? Facebook eu chego em casa a noite, vejo as mensagens, posso mandar a resposta para ele no dia seguinte, tal, não sei o que. Eu tenho uma… Eu sinto, eu tenho um grau maior de liberdade e tempo para responder. Inclusive o email. O Zap, eu acho que, sei lá. Luiz, isso é questão de tempo, Luiz. Daqui a pouco isso vai estar caindo, eu vou estar dando Zap para o aluno, vou colocar no quadro o Zap para o aluno, né (ASA20QP, 2017).

Eu acho ruim porque a gente está levando trabalho para fora, para casa, né. Mas dependendo de um limite, dá para ser feito e tudo bem. Entendeu em véspera de prova, aluno mais nervoso, coisa do tipo, aí aproveito o momento que eu estou no metro, qualquer coisa assim. Mas não perco um tempo que eu esteja em casa, num momento de descanso, num domingo, num sábado de descanso para isso. Então ali eu realmente me recuso a responder (LCC12HSA, 2017).

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Outro tema de discussão foi a metodologia de ensino de cada professor. Como

eles preparam as aulas, como a proposta pedagógica do colégio influencia no que eles

fazem, se e como tentam inovar em sala, entre outros assuntos.

Sobre a metodologia, com suas devidas diferenças por conta da disciplina, é

possível perceber que eles seguem uma lógica tradicional, onde o professor é o

transmissor do conteúdo e o aluno o receptor. Alguns deixam claro que entendem esse

processo e que precisa ser mudado, apesar de ainda não saber como, como ASA20QP, e

outros não tem tão clara essa visão, mas entendem que algumas coisas precisam mudar e

tentam adaptar o conteúdo para que seja mais palatável para seus alunos, mesmo que

seguindo uma lógica tradicional. O foco no Enem também acaba aparecendo e refletindo

no conteúdo e na dinâmica que eles seguem.

É muita tentativa e erro. Eu acho que, em geral, é muito isso. A grande questão, acho que o grande desafio de um professor é tentar transformar conteúdos nem sempre interessantes em algo palatável, pelo menos. Então que aquilo seja mais facilmente absorvido pelo aluno, obviamente pelo sentido de priorizar o que é importante para ele e para a vida dele e o que, se ele não pegar, sem problemas. Acho que a preocupação maior hoje, em uma linha de Enem, que é uma prova interessante nesse sentido, leva uma questão mais reflexiva nesse sentido, isso acaba moldando em partes como a gente acaba trabalhando no ensino médio, né, acaba tendo um papel mais significativo no nosso ensino médio. Uma ideia de que, pô, o cara não precisa saber na minha disciplina, por exemplo, que ano aconteceu a Sabinada ou a Cabanagem. Isso realmente não é algo relevante. Agora, certas questões como você entender o conceito de cidadania a partir da escravidão, ou o conceito de democracia a partir da ausência de democracia no nazismo, numa ditadura militar, isso de fato é mais importante. E aí, como tornar esses assuntos mais agradáveis. Sinceramente, eu acho que em História é mais fácil fazer isso do que em Matemática, em Física, trazer isso para uma realidade que é mais interessante. Então, é você conversar, contar para eles, sempre quebrando aquela linha de conteúdo, conteúdo, conteúdo, com alguma curiosidade, alguma história engraçada, algum exemplo de dia-a-dia, coisa do tipo. Eu acho que isso funciona legal. Então, a melhor forma é absorver, porque encontro com alunos alguns anos depois e, às vezes, o cara vira e fala “eu lembro daquela história assim, assim, assim que você contou com relação a isso”. Então as coisas ficam, sedimentam um pouco melhor assim (LCC12HSA, 2017).

Não, a gente ainda escreve muito no quadro. Eu diria que, na minha disciplina em si, boa parte, no caso, eu acabo usando o quadro, coisa que um professor de Matemática para dar uma aula de geometria espacial, ele consiga fazer mais coisa ali (projetor). Mas eu acho que nada substitui o falar ali na frente, de um para o outro. Mas isso é um acrescimento bastante interessante, bastante significativo. Mas, por experiência, o que eu aprendi, aula apenas no projetor, cem por cento no projetor, muito aluno entende que não há uma aula. Até porque o horário, no caso, o cara pega sete horas da manhã e tal, então uma aula sete horas da manhã que você apaga a luz para ver daquela maneira, todo mundo abaixa a cabeça e quer dormir e coisa do tipo. Então, a experiência que eu tenho hoje, no caso, é que uma apresentação, hoje, no projetor, eu não coloco texto. Então é, basicamente, imagem, vídeo, coisa do tipo, enquanto isso, o quadro está ali do lado para ele ir copiando e coisa assim. (LCC12HSA, 2017).

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Bom, eu trabalho em dois colégios tradicionais, né. Tanto o Palas como o Colégio Militar, são colégios tradicionais. Então eu trabalho de acordo com os colégios que eu estou trabalhando. […] Mas hoje a aula é centrada no professor. Eu entro com um determinado conteúdo a trabalhar, a aula é centrada em mim, o aluno, na minha aula… Eu favoreço o diálogo, eu tento promover isso, mas existe uma estagnação do lugar daquele aluno, que ele fica naquela carteira, sentado voltado para o professor. Existe uma coisa que incentiva a paralização física e comportamental de se expressar, né. Tanto que quando eu coloco os alunos em círculo, às vezes eu faço isso, né, quando eu coloco em círculo, eu tenho um mal estar. E eu trabalho inclusive esse mal estar com eles, né? Por que você está se sentindo assim? Por que as mãos estão se mexendo? Por que você tem que ter o anteparo da carteira na sua frente para te protejer? Ah, porque você não pode consultar o celular, porque o celular fica te chamando? Qual é a questão? Então você fica… Eu, eu gosto de instigar os meus alunos a pensar um pouco diferente o próprio comportamento, né. Mas a aula, 95% dos casos, a aula é tradicional. Posso contar um caso, posso contar uma situação, posso trazer para um exemplo, mas isso não deixa de ser tradicional, né? Eu posso dar uma coisa contextualizada, isso é tradicional. O que não é tradicional, na minha concepção, quando o aluno tem o papel principal no ensino. Aí deixa de ser o tradicional (ASA20QP, 2017).

Nós trabalhamos de uma forma extremamente tradicional, né. Por exemplo, Luiz, nós usamos PowerPoint, eu uso PowerPoint com certa frequência. Isso deixa de ser tradicional? Não, né. É simplesmente uma digitalização do quadro ou de uma apostila ou de um material. Se eu boto um site para o meu aluno consultar, isso foge ao tradicional? Não, não foge ao tradicional, é como se fosse uma leitura complementar. Quer dizer, o fato de você usar a tecnologia não significa que você esteja fugindo do tradicional. Você está usando as ferramentas, você tem que usar as ferramentas, né, para tentar até dinamizar (ASA20QP, 2017).

Literatura, eu sempre… como eu preparo as aulas? Primeiro para que ele possa entender qualquer coisa que se escreva na época pelo menos dos bons escritores é preciso que ele entenda o contexto histórico em que as coisas aconteceram, então a gente fala um pouco de… não sou professora de História, mas a gente fala sobre o que acontecia no mundo nessa época, não em termos políticos, não. Em termos econômicos, também em termos de artes na época, o que se fazia e aí a gente vai trazendo tudo isso, reflexo né? […] E aí, os momentos literários, porque esse nome, os representantes. E aí, eles leem, né? Não todos os representantes literários mas a gente sempre escolhe um, aquele mais importante e dos outros a gente faz algum comentário, dou alguns excertos para que eles possam ler para ter uma idéia. Além de dar alguns excertos de literatura universal. […] Então eu tento fazer alguma coisa assim e tem as leituras, às vezes, eu dou roteiros de leitura o que olhar melhor a gente comenta, tem prova de livro e esse tipo de coisa que a gente faz. Às vezes, como projeto, eles é que vão pesquisar a respeito de umas pessoas, leem livros diferentes e depois comentam em sala, aquilo que é possível (MM47POLM, 2017).

Quando perguntados sobre a preparação das aulas, os professores argumentam que

a grande maioria já está pronta e sofrem pequenas adaptações em cada ano, ou para

adaptar o conteúdo e os exemplos para algo mais atual ou para incluir algum conteúdo

novo que irá cair no Enem ou nos principais vestibulares. Fora isso, o roteiro de aula e os

slides já estão feitos e um padrão é seguido ano após ano. ASA20QP ainda argumenta

que, como tem nove turmas com nove conteúdos diferentes ao mesmo

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tempo, é humanamente impossível preparar as aulas com mais frequência e que é

preciso já ter materiais estabelecidos.

99,9% minhas aulas estão prontas porque eu dou aula aqui 200 anos. Já sei o material, já sei tudo bonitinho, então, quando eu consigo é melhorar as coisas. Então, por exemplo, eu tenho aula hoje de, dei aula de genética. Eu já tenho um PowerPoint pronto, já tenho os exercícios prontos, mas aí o que que eu tenho que fazer? Eu tenho que olhar o que tá caindo no vestibular da PUC, por exemplo, esse ano tem uma matéria que normalmente não caia a PUC nunca perguntava na Biologia, de repente, perguntou na prova que não é específica, eu falei: “Ah, Jesus”. Aí eu já tive que mudar um pouquinho, adicionar isso. […] O geral, o conteúdo principal da matéria tá pronto. Tenho o Power Point, tenho os exercícios, tenho 20 anos de provas, mas eu sempre fico de olho no que está acontecendo, aí eu vejo “Ih, caiu isso”. Aí eu tenho que mudar. Aí eu dou uma melhorada, assim, o PowerPoint tá pronto, aí eu dou uma melhoradinha, vejo uma coisinha ou outra “Ah, ano passado eu dei isso e foi interessante”, aí já adiciono alguma coisa, mas 99% das coisas estão prontas já. (RSB24BOLM, 2017).

É, não, as aulas já preparadas. Porque conforme você vai fazendo, para a gente é muito a partir da experiência, principalmente para vestibular que você trabalha com o conteúdo todo, então o que você muda é que, no caso, se você vai precisar enxugar aquela aula e dar ela mais curta ou se você vai precisar esticar e você vai ter mais tempo para trabalhar mais folgado, trabalhar, no caso, com mais exemplos, trabalhar com mais detalhes, coisa do tipo. Então essa é a grande alteração, mas o programa, principalmente, como eu falei, pela minha experiência em pré-vestibular, eu já tenho um programa todo tanto em arquivo quanto em boa parte todo na cabeça. Com alterações, obvio, ano a ano, afim de uma atualização, de alguma questão, coisa do tipo, algo que você percebeu que não tava, talvez, muito claro na cabeça dos alunos. Você percebe, às vezes, com uma correção de prova. Então, pô, isso eles não entenderam muito bem e coisa desse tipo. Mas são adaptações, no geral, a base, 90%, eu diria que é basicamente a mesma coisa (LCC12HSA, 2017).

[…], no meu caso, eu tenho uma, duas, três, eu tenho quatro, cinco, seis, sete, oito, nove pontas diferentes. Eu tenho, comitantemente, nove turmas com nove assuntos diferentes simultaneamente. É impossível eu preparar nove aulas semanais, é impossível, não tem como, né? Então, o que que vai acontecer? Eu faço opções de repetições e algumas opções que eu posso mudar, né? Mas em todas as nove eu tenho que ter lista de exercícios, né, que são muitas delas reaproveitadas de anos anteriores, não tem como. Então o professor do ensino médio, ele é, o tempo todo, impulsionado a repetição. Seja por conta das turmas diferentes… Porque se fossem nove turmas do mesmo assunto é uma coisa. Preparo uma, esse ano, eu preparei para as nove turmas, né? Mas são nove pontas diferentes. Então o professor do ensino médio, que recebe por hora/aula, então ele já tem uma coisa assim de operário, né? Esse professor, se ele não repetir, ele não consegue trabalhar. Se ele não consegue trabalhar, ele não consegue ganhar o dinheiro dele. Então é uma situação que tem uma encruzilhada que é muito complicado você sair. Eu digo para você, eu preparo algumas aulas. Eu faço opções de acordo com o que está melhor preparado para aquele esquema, para aquele andamento, para aquela turma. Porque você sente quando uma coisa não funciona com uma determinada turma. Tem turmas que nos estimulam mais que outras, enfim. E aí, você vai de acordo com o teu feeling, com o teu emocional, né? (ASA20QP, 2017).

Não. Existe eu digo que é básico. Por exemplo, eu uso muito para dar aula, o SmartBoard não porque a gente não usa mais, é o PowerPoint, uso bastante, com

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música ou sem música isso eu tenho, isso eu já tenho o básico preparado, mas professor, se você quer ser professor, meu querido, todo o ano, ainda mais professor de língua, por exemplo, eu digo assim, você sempre tem alguma coisa a acrescentar, a melhorar, é uma novidade. “Esses textos aqui não tem mais graça, não tem nada a ver com o dia-a-dia.”. Então o professor tá sempre fazendo alguma coisa nova, impossível. O básico sim, o grosso você tem pronto, né? Exercícios, PowerPoint, enfim, essas coisas sim, claro (MM47POLM, 2017).

Em relação a proposta pedagógica e sua influência no professor, ela ocorre

constantemente, tanto no conteúdo que precisa ser dado, como na forma e nas avaliações

(esta última será reforçada novamente a seguir).

Eu diria que é mais uma variação, no caso, da forma do que em si do conteúdo. Tem colégios mais informais e colégios mais formais. Santo Agostinho, por exemplo, é um colégio mais formal, tradicional, religioso e tudo. Ao Cubo, no caso, é uma pegada mais informal, se preza mais pela proximidade com o aluno e coisa do tipo. (LCC12HSA, 2017).

Porque o ensino médio, ele é pragmático em relação a algumas coisas. Então a avaliação pós ensino médio é um ditador, né. Ele coloca o que eu tenho que, que o meu aluno tem que saber e, portanto, aquilo que eu tenho que ensinar e que o colégio diz que tem que ser ensinado. Então é uma sequência que o professor, ele tem um grau de liberdade, mas, ao mesmo tempo, ele fica refém um pouco dessas situações, né. Então aquilo que deve ser ensinado, muitas vezes não é aquilo que eu gostaria de estar falando, explicando, enfim (ASA20QP, 2017).

É muito complicado, porque assim, o colégio é americano e é brasileiro então assim, eles não cobram. Eu tenho que dar o que o colégio… o currículo brasileiro é muito mais extenso do que o americano então, se eu cumpro o brasileiro eu estou cumprindo o americano. Então eu nem me preocupo muito com o americano, é sempre o brasileiro. Aí eu tenho e o colégio cobra, que eu tenho que cumprir isso tudo e é difícil porque em um ano eles não têm noção da quantidade de 7 tempos por semana? […] E o que o colégio cobra é que não seja aula só de giz, que tenha a parte tecnológica, eu tenho o laboratório que eu faço laboratório. […], então não pode ser só aula… […] O colégio pede mas eu acho que tem que ser as duas coisas, eu não posso dar só uma aula tradicional como antigamente, mas só também tecnológica e esquecer o conteúdo também não dá e tem muita desvantagem (RSB24BOLM, 2017).

Como visto, os professores utilizam métodos tradicionais para dar aula, apesar de

terem certa consciência que algumas mudanças precisam ser feitas. Por isso, foi pedido

para cada um listar e explicar diferentes ações que tentam fazer em sala de aula para

engajar mais seus alunos e fugir do ensino padrão. Ainda que diferentes atitudes foram

citadas, o uso de vídeos foi algo quase unanime. Além disso, é interessante notar que a

maioria das atividades referenciadas não envolvem a participação direta do aluno, mas

sim mais uma forma de expor o conteúdo, sem ser o professor falando.

Já usei muito Twitter para dar aula, eu mandava… isso quando a turma é muito boa, tá? Mandava assim, textos científicos, pequenininhos, que eu conseguia, alguma notícia que saiu interessante do mundo, uma descoberta, sei lá, qualquer coisa, aí eu

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mandava o link e alguma coisa que eles conseguissem, não o paper mesmo, aí eles tinham que ler e tinha que tentar resumir nos caracteres do Twitter, aí quem fizesse aquilo naquele período… De noite isso, mandava lá: “Hoje eu vou colocar!”. Aí de 8h às 9h, quem conseguisse fazer eu dava um pontinho, aí eles gostavam de fazer isso (RSB24BOLM, 2017).

Eu gosto muito de fazer vídeo com eles, que eles adoram. […] É assim, eu tenho um tema, em vez de fazer eles apresentando um trabalho com… no meu tempo era cartolina, né? Depois passou para o projeto, transparência. Agora não, eu peço para eles fazerem vídeo. Aí eles fazem historinhas, fazem novela. Eu dou um tema: ecologia, poluição, clonagem, tecnologia o que for. Aí, cada um tem tema e eles te o grupo e fazem um vídeo, aí pode ser documentário, bem simpleszinho, tá? Porque é ensino médio. Mas assim, aí tem documentário, eles fazem como se fosse o Fantástico, Jornal Nacional, aí inventam, fazem comercial no meio, aí eles também se divertem fazendo isso, no início eles falam: “Ah, é muito difícil”, eu falo: “Não, não precisa fazer tecnologicamente, bota um Movie Maker, alguma coisa e faz”. Aí depois que eles fazem o primeiro eles adoram. Aí não querem mais fazer a apresentação do trabalho formal, eles não gostam não (RSB24BOLM, 2017).

Para cada matéria que eu tenho eu tenho um laboratório, para cada matéria, então eu dei Genética-Sangue, tem laboratório. Dei Ecologia, tem laboratório. Todos os pontos da matéria tem laboratório para fazer. Não pode ser só aquela coisa.... Eles tem que ver. Eles gostam de ir para o laboratório, eles não gostam de fazer o relatório, porque tem relatório, aí dá trabalho, aí eles não gostam de fazer. […] Não, aí eles que interagem, eu dou as directions, as direções que eles tem que fazer, eles tem grupinhos, é só em dupla, é sempre em dupla e eles tem que fazer as coisas, aí eu fico rodando, perguntando o que eles estão fazendo, se estão fazendo certo, senão estão fazendo certo, se estão fazendo besteira, mas antes disso tem que fazer que não pode cheirar nada, não pode beber nada, não pode tocar em nada. (RSB24BOLM, 2017).

Por exemplo, eu uso vídeo. Aí já… Vídeo, você usa o vídeo como provocador de um tema. Aí já é algo que não é tradicional na minha concepção. Por quando você usa o vídeo, você tá provocando no aluno uma reação. E se você provoca uma reação, vamos conversar sobre isso. Aí já mudou a dinâmica, né. Então, por exemplo, quando eu dou aula de lixo, eu coloco, às vezes, o documentário do… O Ilha das Flores. Às vezes, eu coloco um vídeo de como se faz um aterro sanitário. Enfim, quando eu coloco esse tipo de situação, é provocadora, né. Essa aula que eu dou, é uma aula que foge um pouco do tradicional, né? (ASA20QP, 2017).

Ah, algumas coisas sim. Pegando, por exemplo, o exemplo da questão da tecnologia que você tinha falado. Muito… Acho que o que funciona legal, isso varia muito de professor para professor, mas eu gosto de vídeo, vídeo curto. Porque, hoje em dia, não dá para passar um vídeo de uma hora, uma hora e meia, o cara se distrai no meio. Vídeos, às vezes, de oito minutos, dez minutos, que já é o resumo que é o mais importante, no caso, que é o importante que eu quero que você veja e aquilo ilustra. Por exemplo, eu acho que o melhor que eu transcrever o que é o tráfico de escravos, eu pegar uma sequência que demostra o que era isso. Aí você tem o “Amistad”, filme do Spielberg, que tem uma sequência do tráfico de escravos que é dez minutos, é ótimo. Os alunos assistem aquilo e a reação é quase sempre a mesma, todo mundo fica meio chocado. Ele vê, é diferente aquilo. Falar de, pô, ditadura militar, cara vêm falar de tortura na ditadura militar. Melhor que isso é pegar depoimento de torturado e colocar para as pessoas descreverem o que acontecia. Então você tem exemplos desse sentido que eu acho que funciona, que enriquece bem, de fato, as aulas (LCC12HSA, 2017).

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Sim, sim. Não, inclusive, muitas vezes, faz indicação de filme, livro, qualquer coisa. Conta determinada história, fala alguma coisa e, pô, se quiser saber mais tem no livro tal. E aí, alguns “ah, qual o nome do livro?”, aí você anota, o cara vai lá e escreve e tal, não sei o que. Ou “qual é o filme mesmo” e o cara vai lá e procura e coisa do tipo. Então assim, a gente indica, se eles procuram ou não, varia muito dos alunos, sabe? Então tem alunos mais interessados e menos interessados (LCC12HSA, 2017).

Sobre a reação dos alunos, os professores acreditam que esse tipo de atividade

engaja mais, apesar de ASA20QP reclamar que gostaria que a reação fosse maior. Talvez,

ela não seja a esperada pelo fato do jovem não estar inserido diretamente naquilo. É uma

forma diferente de expor o conteúdo, que chama a atenção porque é diferente, mas não

há interação com o estudante.

Era divertido para eles, fazer um negócio fora que não precisa do colégio, usar uma rede social, era uma coisa diferente. Se for coisa diferente eles gostam de fazer. Nem todos, sempre tem as suas exceções. Mas quanto mais coisa diferentinha a gente arranjar para eles fazerem, é mais fácil (RSB24BOLM, 2017).

Quando eu tenho uma sala que torna meu aluno formatado em um enquadramento, né, ele fala porque ele já tem uma relação comigo, já tem um diálogo aberto, né? Mas se eu não conheço o público a quem eu estou falando, isso pode não ser tão estimulante, tão provocador quanto eu esperaria, quanto eu gostaria, né? Mas ele tem uma reação. Só que a reação eu sempre acho abaixo do que eu gostaria. Eu sempre acho que deveria ter mais (ASA20QP, 2017).

Outro ponto em questão foi a troca de conhecimento entre os professores. Assim

como é importante a colaboração entre os alunos, o mesmo acontece com os educadores.

LCC12HSA cita que existe em partes e varia de colégio para colégio e de professor para

professor. Ambientes que prezam pela competitividade, isso não acontece. Já ambientes

que prezam pela cooperação, acontece bastante. Quando ocorre, ela está relacionada tanto

com conteúdo como em metodologias. ASA20QP afirma que há troca, mas que ela ocorre

mais no setor público do que no privado, já que neste último o professor é contratado por

hora/aula e nem sempre está presente nos outros momentos. Também expõe que a troca é

feita tanto por afinidade humana quanto da matéria e que nunca experimentou competição

entre os professores por troca de conteúdo e de hora/aula, apesar de não achar difícil

imaginar isso. MM47POLM expõe que no seu colégio há troca de conhecimento e ela

acontece interdisciplinarmente. Apesar disso, RSB24BOLM acredita que deveria haver

mais, que ocorre pouco.

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Um assunto importante e que vem sendo bastante discutido quando se fala em

educação são habilidades, características e conteúdos que vão além da parte técnica das

disciplinas tradicionais, como comportamento, colaboração, ética, entre outros. Sobre

isso, os professores discorrem que é um trabalho árduo e cansativo, mas necessário e

importante. Apesar disso, nem todos os professores estão dispostos a isso.

Eu diria, sinceramente, é a questão mais difícil do nosso trabalho, porque, muitas vezes, o aluno não está interessado em ouvir, mas você não pode se omitir muito disso. E aí é como eu falei, como você consegue aplicar certos conceitos que são considerados importantes para o convívio em comunidade, no caso, dentro de sala de aula. Então, […] eu consigo usar muito isso, passar todos os conceitos que para mim são fundamentais de cidadania e democracia, a partir de exemplos de quando você não tem. […] Então essa é a parte mais complicada, às vezes, os alunos não tem o interesse tão, tão grande em ouvir. Às vezes, você percebe um certo incomodo, mas é importante você virar em alguns momentos e falar, ao contrário do que você escuta, muitas vezes, ao longo de sua vida, ao contrário que os seus pais falam para você, que você não é especial. E pessoas que se consideravam especiais, foram pessoas que fizeram esse tipo de coisa. Então, assim, é minimamente chocante, mas é na pancada que se amadurece no final das contas (LCC12HSA, 2017).

É desgastante, é difícil fazer esse tipo de coisa e você percebe que há uma resistência deles em relação a isso. No final, eu diria que o resultado é muito mais positivo do que negativo, mas é difícil. É muito mais fácil você ficar só cuspindo conteúdo ali, cobrar na prova e fazer o feijão com arroz e tá legal. Então, sem… No caso, muitos professores não tem essa preocupação. Eu diria que alguns dão aula, outros são educadores. Os que optam por serem educadores acabam fazendo isso no final das contas (LCC12HSA, 2017).

Então essa é uma escola especial, existe um departamento de religião na escola. Temos professores de Filosofia, então você está falando de ética, de valores… as aulas de religião, não é focada apenas no estudo da religião, não é só a religião católica, eles fazem um passeio por todas as religiões e é muito assim, valores, ética. Inclusive eles têm uns trabalhos, não sei se a Patrícia comentou com você, um trabalho de serviço comunitário muito importante. Inclusive eles não se formam daqui, eles não saem da terceira série, sem terem feito seis horas de serviço comunitário, não saem (MM47POLM, 2017).

Alinhado com o que foi exposto pelos alunos, os professores corroboram com o

tipo de avaliações que são feitas nos colégios. Provas e testes feitos individualmente, e

sem consulta. Nesse sentido, muitos também afirmam que não tem tanta liberdade, pois

seguem o modelo estabelecido pela escola.

Infelizmente, majoritariamente, no modelo tradicional, prova. Então, para o ensino médio, pede-se muito para mesclar com o modelo Enem, UERJ, coisa do tipo, que são bons modelos de prova, mas não deixam de ser prova (LCC12HSA, 2017).

Assim, curiosamente, nesse sentido, o Santo Agostinho, ele dá até mais liberdade que o Ao Cubo. Porque, no Ao Cubo, você tem um modelo tantas questões objetivas,

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tantas questões discursivas. No Santo Agostinho, você distribui os pontos da forma que achar melhor. Mas tem que ser uma prova tipo caneta e papel e é isso. Então não dá para fugir desse modelo. E realmente, fugir disso, são raríssimos os colégios, pelo o que eu sei de amigos que são professores, que permitam que não haja nenhuma prova. Então prova, até por uma exigência dos pais, acaba acontecendo (LCC12HSA, 2017).

O colégio pede para ter 3 ou 4 testes e provas mesmo. Mas eu dou muito mais, como eu tenho 7 períodos por semana, esse último bimestre por exemplo, eu tive 6 provas e eu tive 7 relatórios, 7 Lab Reports, isso são os formais, minhas provas e os relatórios, o que eu falo Lab Reports. Fora isso, às vezes, eu mando fazer uma exercícios em sala, eu pego e dou nota. Às vezes, eu faço uma leitura em sala, mando uma coisa pequenininha e dou nota. Às vezes, eu pego uma materiazinha que eu to vendo que eles não estão estudando, aí eu dou uma provinha surpresa, uma coisinha facilzinha, mas quem estava prestando atenção consegue responder, e dou nota. Aí tem os vídeos que eu dou nota, tento fazer umas coisas diferentes (RSB24BOLM, 2017).

Eu diria que no grosso modo as avaliações são aquelas tradicionais, papel, lápis e escrever, tá? Eu, MM, de Língua Portuguesa. Eles tem que escrever. Se é análise de um livro ele vai fazer a análise do livro, se é uma prova de literatura, de textos, né? Se é parte de Gramática a gente tem que rever também. Aquela prova tradicional, que ele tem ali. A parte disso tem os projetos que ele tem que apresentar. Alguns alunos fazem prova oral, poucos. Agora a escola, vou até falar da escola porque as outras matérias usam muito, tem um programa que a gente tem, chama-se “Estude”, no “Estude” você pode colocar provas lá e eles fazem, já vai direto para o seu email (MM47POLM, 2017).

Bom, eu tenho, por exemplo, aqui, as avaliações são ditadas pelo colégio, né? O colégio tem um teste e uma prova, né. Eu mando o teste para a sessão técnica, a sessão técnica roda e aplica, né. É lógico que se eu quiser fazer uma avaliação subjetiva do meu aluno, fazer uma lista, fazer um trabalho em grupo, não sei o que, eu posso. “Eu quero que vocês façam um vídeo”. É claro que eu posso fazer isso e isso reverberar em um acréscimo no teste e eu acrescento no teste ou na prova. Enfim, isso pode ser feito. Não faço, né? Eu sigo aquilo que o colégio colocou, né, como sendo o processo de avaliação. Porque aqui, no Palas, é realmente muito, não sobra muito tempo para as coisas, né? (ASA20QP, 2017).

Já no Colégio Militar, eu faço algumas coisas bem diferentes. Então faço avaliações bastante subjetivas, passo trabalho para casa, já passei vídeo, mando o garoto mandar uma imagem para mim. Ano passado, eu fiz uma autoavaliação. Autoavaliação de um a dez. Ele tem que dar uma nota para ele e essa nota vai ser a do teste. Aí o cara botou lá a nota. A maioria se superestima na nota, né? Só que aí depois eu mandei ele justificar em cinco linhas porque que ele merecia aquela nota (ASA20QP, 2017).

Do colégio. No geral, do colégio. Mas vem do colégio muitas vezes, ou por uma tradição do colégio, que ele é reticente em mudar ou por uma própria pressão dos pais que eu estudei assim, eu acho que funcionou e não quero que seja diferente com meu filho. Então assim, o ambiente escolar, em geral, é um ambiente muito conservador, muito resistente a mudanças. Mudança em relação a tudo, seja metodologia, seja em relação a avaliação, seja em relação a tudo. Então assim, muitas vezes, tem professores que reivindicam esse tipo de coisa e, às vezes, de pouquinho em pouquinho você vai conseguindo esse tipo de abertura. Então, alguns espaços, algumas conquistas se vai tendo aos poucos. Tem colégios mais abertos, tem colégios

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menos abertos a isso, o que torna o aprendizado mais interessante. Mas varia muito da direção, depende demais de colégio para colégio (LCC12HSA, 2017).

Quando é possível e há brechas, alguns afirmam passar trabalhos como forma de

mudar o modelo e estimular outros sentidos.

Pelo menos, a minha experiência como aluno, a lembrança que eu tenho de avaliação, foram aquelas que não foram provas. Eu não lembro das provas, eu lembro dos trabalhos que eu tive que fazer, apresentações que eu tive que fazer, coisas nesse sentido. Então qualquer brecha que você tenha para isso, seria legal fazer. O problema é que a gente tem um número de brechas muito poucas. Então, às vezes, é uma por ano, um espaço disso por ano, para você poder fazer esse tipo de coisa. E você percebe que os alunos gostam desse tipo de coisa. Dá trabalho, mas eles, de fato, aprendem e se tocam de muitas questões e coisa do tipo (LCC12HSA, 2017).

Tem trabalho. Assim, eu posso fazer uma pesquisa, mando fazer uns projetinhos. Às vezes, eu mando fazer coisas mais simples, Às vezes, eu peço uma coisinha bobinha para eles leem, eu tento fazer… eu sou de Biologia, não sou de línguas, mas eu tento fazer eles lerem, porque eles não têm paciência e não gostam. Às vezes, eu mando eles lerem uma coisinha assim: “Vamos ler alguma coisa meia hora, vamos ler uma coisinha e tenta fazer, pensar e entender e resumir e me apresentar”. Eu também dou nota. Tento fazer coisas diferentinhas (RSB24BOLM, 2017).

Questionado sobre o que pensava desse modelo de avaliação, LCC12HSA afirma

que é antigo, que prioriza a repetição e que precisa ser revisto. Não sabe pelo o que, mas,

nesse caso, deve ser feito por tentativa e erro. Argumenta que, muitas vezes, os alunos

conseguem se formar só memorizando o conteúdo e com informações que não vão levar

para a vida, que logo serão esquecidas. Apesar disso, há uma resistência muito grande da

sociedade como um todo em mudar e, por isso, as direções acabam se repetindo.

O tema seguinte foi os desafios de ensinar no cenário atual. As respostas foram

muito similares, com os professores concordando que é preciso mudar e trazer novidades

e pontos de interesse do aluno para a aula, já que ele não tem vontade de participar de

atividades que não estejam alinhadas com o seu perfil.

Uma das principais, de fato, pensar em novidades. É isso assim, conseguir fugir e aplicar, de fato, modelos diferentes. Depende muito da vontade de muitos atores envolvidos, o que é muito difícil você conseguir. Eu já vi ideias brilhantes que acabaram morrendo no meio da burocracia, de “ah, um pai não aceita isso” e trinta e nove da turma tiveram que ficar sem porque um não admitiu aquele tipo de coisa. Então eu acho que isso é uma dificuldade grande no final das contas. E, ao mesmo tempo, essa questão mercadológica também… Eu acho interessante quando a escola é altiva, no sentido de “a gente sabe o que a gente tá fazendo”, a gente vai manter esse modelo, se você está insatisfeito, você pode procurar uma outra escola que não faça isso. Mas isso é raro. Não há uma disposição de bancar esse tipo de coisa, de peitar esse tipo de situação. Então eu acho que são as duas maiores dificuldade. Essa

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relação, a confusão cada vez mais comum de aluno com cliente, isso é um problema muito sério. Se ele é o cliente, ele tem a razão. Aonde você pode estabelecer um limite no que o aluno pode fazer? Muitas vezes não se estabelece limite nenhum, né? Pode fazer tudo e acabou, sabe? Ao mesmo tempo, essa dificuldade de inovar. Acho que esses são os dois maiores problema, de fato, que a gente acaba enfrentando (LCC12HSA, 2017).

Tentar que as aulas sejam interessantes, que eles consigam aprender, que por mais que eles achem que a matéria do ensino médio é inútil, não é inútil. Então, cada dia é matar um leão, eu tenho que ensinar isso, eu tenho que fazer eles terem atenção, tenho que fazer eles estudarem, isso é muito difícil hoje em dia e foi mais fácil no passado não muito distante. Era bem mais fácil e está cada vez pior e cada vez tem que inventar mais coisa diferente para fazer porque senão não vai, aí fico procurando coisinha na internet, eu pesquiso assim, de trabalhinho diferente de coisinha diferente, porque se for só eu dando aula é um desespero (RSB24BOLM, 2017).

Ah, mudar, né, cara? Mudar porque cada ator nesse processo, professor, escola, aluno e vamos colocar a sociedade como sendo um desses papéis, um desses personagens, né. A sociedade tem uma demanda. Demanda por formação adequada, formação de um profissional que seja, vamos dizer, que coloque o Brasil em outro status de produtor de conhecimento, não de receptor de conhecimento. […] Aí a sociedade estabelece portanto regras para a educação. E aí, você tem o colégio que tem que sobreviver financeiramente, o colégio particular. Um colégio, portanto, cujo objetivo é captar alunos. Então ele vai pegar, ele vai pegar de empréstimo o que a sociedade quer, que colocasse em jornal e tal, e vai dizer que faz aquilo, né? Então ele vai colocar estratégias que sejam, dentro do Marketing, dentro do colégio, dentro daquilo que pode vender, né, como sendo aquilo que a sociedade quer, né. Então se a sociedade entende que o colégio bom é aquele que é ranqueado muito bem no Enem, o colégio vai fazer isso. E por aí vai. O aluno, ele quer passar de ano. O aluno não pensa, não tem maturidade para pensar como profissional lá na frente. […] Mas você tem esse aluno que, na verdade, não colabora, né, até porque não tem maturidade para isso, com o que o colégio quer, com o que a sociedade quer. E você tem o professor que quer se manter no emprego, quer ganhar melhor, né, e que uma fatia desses professores, realmente, é comprometida com o que a sociedade quer, com o que o colégio deveria oferecer. Você tem, realmente, uma parte dos professores que desejam isso, né. Mas também é tudo muito misturado. Então você tem portanto os atores que não se entendem (ASA20AP, 2017).

A diferença de geração dos alunos e professores é um dos argumentos desta

pesquisa sobre a atual situação da educação. Como não fazem parte da mesma, os

interesses são diferentes e há um ruído na comunicação. Nesse ponto, foi interessante

entender a percepção dos professores em relação aos atuais alunos e se realmente estão

sentindo uma grande mudança de perfil nos últimos anos, principalmente com o advento

da tecnologia. As opiniões foram diferentes, uns achando que há pioras significativas e

outros argumentando que não é possível ver grandes diferenças. Além disso, outro ponto

de atenção é que pouco da argumentação está baseada na tecnologia.

Eu acho que pouco. Pelo menos no espaço amostral que eu acabo tendo, muito pouca, sinceramente. Eu acho que a maior diferença que eu consigo ver é de uma escola para outra. Porque aí envolve muitas culturas estabelecidas por aquelas escolas. Então

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certas escolas tem alunos mais preocupados com o conteúdo, outras tem alunos mais que vão tentar levar de uma maneira mais criativa ou até desinteressada, isso varia de aluno para aluno. Então eu diria que essa é a principal diferença. Agora, de doze anos para cá, não vejo essa grande mudança. Eu vejo muita gente falando sobre mudança, mas eu entendo muito como síndrome da Era de Ouro. “Como era melhor antigamente, como era melhor antigamente”. Só que se esquece que antigamente tinha uma série de problemas (LCC12HSA, 2017).

Não querer estudar, não, continua a mesma coisa, mas hoje em dia eu vejo muita diferença em relação ao que eles têm em volta deles que é muito mais divertido, muito mais interessante, do que ficar sentado numa sala de aula ouvindo aquele “blá, blá, blá”, então se eu fosse uma professora que só desse aula com giz, escrevendo no quadro, eu tava perdida (RSB24BOLM, 2017).

Eu acho que, hoje em dia, o aluno é tudo tão rápido para ele, é tanta informação que assim, eu tenho uma turma agora desse primeiro ano que eles não conseguem ler, não é não conseguem ler se mandar ler eles leem agora, eu mando ler um texto, não tem paciência para ler texto mais, porque é tudo rápido, é computador, ele não tem mais paciência, para sentar, ler, […]. Eles não tem mais paciência e eu acho que uma das coisas é a tecnologia que eles têm acesso a tudo, é 500 mil coisas, outra coisa, computador. Meu livro é E-book, sabe o que que eu tenho que fazer? Eu tenho que ficar atrás da sala olhando o que eles estão fazendo, porque se eu não fizer isso, eles vão abrir outro site. Aí eu tenho que ficar tomando conta de criatura de 16 anos (RSB24BOLM, 2017).

Uns 10 anos para cá, 5 anos está cada vez piorando. Uns 5 anos para cá está terrível. Até o motor deles está piorando, de você escrever de você cortar as coisas, coisas bobas de você cortar, desenhar, pintar está pior. É porque meus Lab Report, às vezes, tem muito desenho, vai ter flor, vai ter que desenhar flor, desenhar inseto, desenhar… é cada desenho que assim, nem que você saiba desenhar, você consegue olhar isso aqui e você consegue fazer alguma coisa parecida, mas sai cada coisa que parece de criança, está horrível e esta piorando cada vez mais, aí não tem paciência para pintar, não tem paciência para fazer um detalhezinho, não tem mais paciência para nada, até os bons alunos é complicado (RSB24BOLM, 2017).

Mas o que a gente percebe é que o mundo hoje é um pouco diferente, primeiro esses pais não estão o tempo inteiro com seus filhos, para cobrar, não precisa sentar e fazer tarefa, não se trata disso. É cobrar, como que tá, o que está havendo, não sei o que. Então, delega-se muito, delega-se para a escola, delega-se para os outros, e tudo. Então, esse jovem, ele não tem o respaldo família. […] Os pais saem hoje para trabalhar, pai, mãe e todo mundo, então com isso eu tenho um jovem meio no ar. Outra coisa que dificulta hoje em dia é a informação imediata, né? O Google está aí que não me deixa mentir, ele tem e quer uma informação, ele vai lá na hora, mas ele deleta, ele esquece. Eu sinto isso, que o aluno tem mais dificuldade em ligar, unir as coisas, isso aqui com aquilo e aquilo outro. Não, ele viu aquilo naquela hora, estudou para a prova e acabou, esqueceu. Ele tem dificuldade, como as coisas acontecem muito rapidamente, acredito que seja um pouco por isso, tudo é de uma velocidade imensa, nada precisa fixar, ele não precisar guardar nada, tem ali, ele vai lá e busca, eu não sei até que ponto isso é bom, entende Luiz? (MM47POLM, 2017).

Porque, repito, hoje, nós temos alunos pouco equilibrados emocionalmente, são alunos exagerados, né? Então são alunos que exageram na alegria e na tristeza, exageram no consumo ou no não consumo, na alimentação. Exageram em todos os…

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Eles não tem um equilíbrio. Sobre isso tem que ser conversado, tem que ser dialogado (ASA20QP, 2017).

Eu não gosto de ficar pensando que a geração anterior era melhor do que essa. Eu não gosto de pensar que o colégio que eu estudei, o colégio que eu estudei é melhor que o que eu ofereço hoje. Eu não tendo a pensar isso. Eu prefiro pensar, eu sou um otimista. Prefiro pensar sempre que a geração seguinte ela tem ganhos em relação a anterior, né? E que esses ganhos, eu tenho dificuldade de perceber ou de dialogar com eles. Eu não posso pensar que o que vêm na frente é pior que o anterior. Se eu penso nisso, eu entro em uma crise profissional, ética. […] Mas eu rejeito a ideia que o meu aluno tenha piorado nos últimos anos. Meu aluno tem um potencial maior, potencial mais difuso. Acho que o meu aluno está cada vez mais desencontrado em relação ao colégio. O colégio que esse meu aluno precisa, não é o colégio que nós oferecemos. Esse desencontro, talvez, já existia a vinte anos atrás e acho que esse desencontro é maior ainda, né? Meu aluno está sendo avaliado de uma forma equivocada. Acho que meu aluno está sendo preparado de uma forma equivocada. Acho que meu aluno não é cativado pelo conhecimento (ASA20QP, 2017).

Outro tema discutido foi o uso da tecnologia em sala de aula. O objetivo era

entender qual o posicionamento do professor, se e como utiliza e se incentiva os alunos a

usarem. A maioria acredita que é importante, mas tem que tomar cuidado com o uso para

ele não ser indevido, além de alegarem que ainda não foi encontrado a melhor forma de

integração da tecnologia com o ensino. O que mais aparece como exemplo de uso é o

projetor, os slides e os e-books, que são formas de substituir ferramentas analógicas e não

de mudar o modelo e inovar.

Isso assim, sinceramente, eu acho que tem uso positivo e tem uso negativo. O problema é que 90% é o uso negativo, né? Então assim, até porque, você tentar concorrer na frente, ensinando, no caso, a matéria que tradicionalmente é uma matéria chata, Período Regencial para os alunos, e o cara tendo a concorrência, pô, de um Whatsapp… Um adolescente na concorrência de um Whatsapp, de um Facebook, de um GloboEsporte.com, é muito difícil. Então se ele tiver liberdade para usar a vontade, ele obviamente vai escolher, no caso, o celular dele, as redes sociais, coisa do tipo e não a aula. Nesse sentido, eu acho muito negativo (LCC12HSA, 2017).

Isso varia muito de professor para professor. Tem professor, no caso, que é mais ligado em tecnologia. Eu, realmente, sou um cara muito… Com relação a tecnologia, lento, até, no caso, com isso acabo não trazendo muitas coisas. Muitas vezes por, de fato, um desconhecimento. Mas tem muito professor que acaba fazendo sim, de fato . […] Então isso é muito mais de um interesse individual, de um conhecimento individual do professor, do que uma regra ou qualquer coisa nesse sentido. Eu diria que ainda é minoria hoje em dia, esse tipo de atuação (LCC12HSA, 2017).

Meu livro é e-book, eu não tenho livro físico, não tenho livro físico não é porque eu não quero não, porque eu prefiro o físico, mas é porque o estado não exporta mais para o Brasil e a gente conseguiu comprar o e-book, então, e ele não é baixado, eu preciso de internet… é um inferno, porque eu preciso do computador funcionando, eu preciso que a rede esteja funcionando, para poder, quando eu for usar o livro, o livro esteja funcionando. Aí, todos eles têm laptop, ou eles trazem de casa ou o colégio fornece, então tem coisas que eu faço que eu preciso de laptop. Uma coisa que mudou,

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assim, eu não uso mais papel, tudo meu tá no site, o colégio tem um site que é (palavra não identificada). Você coloca tudo que precisar ali, então eu já cortei, ficar imprimindo e gastando papel. Então eles veem em casa, eu uso sempre PowerPoint para dar aula, então, quando eu comecei aqui, professor de Biologia tem muita coisa para desenhar, então é muito desenho, é muito detalhezinho, então eu não posso ficar só usando o quadro. Então antigamente eu usava transparência, então a coisa já melhorou, então em todas as minhas aulas eu uso PowerPoint e eles têm acesso em casa (RSB24BOLM, 2017).

Ajuda bastante, mas se não tomar cuidado, piora. Então tem os dois lados, eu gosto, eu não conseguiria dar aula só eu, aula centrada em mim, mas se não tomar cuidado eles não fazem mais nada, eles não querem, estão desaprendendo a ler, estão desaprendendo a pensar, a escrever, então tem que saber dosar as coisas. Só aula tradicional, também não dá, só tecnologia também não dá, tem que saber equilibrar um pouquinho (RSB24BOLM, 2017).

Assim, antigamente tinha coisa prática, eles tinham aula de computação, acho que hoje em dia parou. Eu acho que eles sabem mais do que a gente. Às vezes, eu to encrencada preciso colocar algum negócio, eu sempre acho alguém, eles sabem mais do que eu. Mas em relação a usar isso de um jeito… Não, é na sala de aula que a gente tem que ficar de olho, não tem… (RSB24BOLM, 2017).

Então, só resumindo, eu acho que tecnologia é importante sim, mas tem que saber equilibrar. Tem muitas desvantagens se não souber usar. E, principalmente, os meus alunos, se eu não conseguir controlar, eles não fazem mais nada (RSB24BOLM, 2017).

Mas no computador dele, no computador. Eu não gosto muito, porque, eles… eu acho que… a gente já pegou, né? Num segundo eles passam para o outro, mas é num segundo e como é que você vai cortar o (palavra não identificada) desse aluno? Como é que você vai cortar? Entende? Então para Português não, para outras matérias como os americanos têm vários programas, várias avaliações pela a internet, então para eles é mais fácil e para os alunos também é mais difícil passar um pro outro, entende? Tem todo um programa. A gente não tem isso, pelo menos em Língua Portuguesa, então eu evito a internet. Eles fazem até exercícios, eles usam… usam o computador, eu coloco nesse programa aí que a gente tem. Esse… que a gente chama de “Estude” eu boto tudo que eu vou dar, toda a matéria e exercício. Ele pode fazer exercícios no seu computador, eu coloco lá e ele faz, mas não como uma prova em si (MM47POLM, 2017).

Eu tenho uma coisa importante a falar, essa escola a 10 anos, ela que tentou implantar que todos os professores deveriam dar aula no laptop. Todos os alunos sentadinhos com os seus laptop, professor com laptop, todas as matérias e não sei o que. Só para você ter uma idéia, foi um fiasco. É. Porque um fiasco? Porque ele tem o seu laptop aqui e aí você imagina quantas janelas ele vai abrir. Enquanto o professor está lá dando uma coisa, ele abria não sei quantas janelas, e aí email, e aí alguma coisa de futebol, e aí alguma noticia do dia. Então, não eu certo. Acabou isso. Nós usamos o laptop, mas não é aquilo, tudo é feito ali, não (MM47POLM, 2017).

É, eu acho que a forma que os colégios usam hoje a tecnologia, nada mais é que uma extensão da aula tradicional. Usasse a tecnologia, né? Eu tenho contato com o meu aluno pelo Facebook, eu uso a internet, às vezes, em sala de aula, eu ofereço sites para

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o aluno procurar, eu ofereço os meios digitais portanto, mas, na verdade, eu estou utilizando dentro da vertente da aula tradicional, né? (ASA20AP, 2017).

Dentro da questão de tecnologia, um tema que sempre é polêmico e gera diversas

opiniões é o uso do celular. Nesta pesquisa não foi diferente. LCC12HSA e MM47POLM

argumentaram que atrapalha a aula e que deve continuar sendo proibido. RSB24BOLM

lamenta a proibição porque ela também foi atingida, não podendo usar. Já ASA20QP tem

o pensamento mais liberal (e alinhado com o do autor desta pesquisa) de que, usada de

forma correta, o celular tem benefícios, principalmente por incorporar a maneira que o

aluno vive seu dia-a-dia.

Varia de colégio para colégio, pode, não pode. É lei que não pode, mas tem colégio que faz vista grossa, tem colégio que a tolerância é zero. Puxou o celular, sai de sala, é isso. Então isso varia muito, no caso, nesse sentido. Eu acho que, sinceramente, em sala de aula, durante a aula, deveria ser proibido e qualquer coisa que você queira puxar… (LCC12HSA, 2017).

O que eu percebo muito, em relação a tecnologia e para os alunos, e principalmente no se aproximar das provas, isso acontece muito, terceiro ano isso é um problema sério, é crise de ansiedade dos alunos. E é aquele aluno que não consegue ficar cinco minutos sem mexer no celular. E aí, fica cinco em cinco minutos o cara puxa, toda hora o cara puxa, sabe? Então assim, eu acho que é mais problemático do que positivo, nesse sentido, mas falando especificamente do celular, porque eles estão muito habituados com isso. Então é tentar entender que o espaço de sala de aula deveria ser um espaço livre nesse tipo de coisa. Celular desligado em sala de aula, porque, se não, de fato, é uma concorrência desleal, entendeu? (LCC12HSA, 2017).

Celular é proibido aqui no colégio. É proibido no colégio porque assim, eu adoraria usar celular, porque, às vezes, eu preciso para tirar foto, para fazer alguma coisa para mostrar alguma coisa, mas não pode porque, justamente isso, eles não sabem usar, eles não tem maturidade nenhuma para usar. Foi abolido por questão de (palavra não identificada) em sala de aula, aí foi abolido, mas é na maior cara de pau. Não podia, antigamente, podia ter até o celular na sala, mas aí começaram a fazer besteira. […] Eles entram aqui, tem uma caixinha e fica no colégio. Eles tem uma caixinha que eles botam o celular e tranca e só na saída e ficam nervosos. […] Para mim, é muito triste porque eu usava para tirar foto, eu usava para mostrar alguma coisa, podia fazer esse negócio do Twitter, às vezes, eu fazia. Não posso fazer mais nada (RSB24BOLM, 2017).

Do colégio. Mas parece que a maioria dos colégios já não está permitindo o celular. Até porque eu acho que atrapalha o celular. Imagina, você está aqui e o aluno mandando WhatsApp para os amigos la embaixo. Mas eles usam computador na sala de aula (MM47POLM, 2017).

É proibido. Então, se é lei, não tem o que se discutir. É proibido e acabou, né. Eu acho um grande equivoco. Eu acho que o celular deveria estar em sala de aula. Acho que a sala de aula, ela é mais frutífera se ela tiver incorporada dentro da maneira que o meu aluno está na sociedade, né? […] Não acho que tem que ser proibido não. Acho que

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tem que ser aprendido como toda, toda, toda ferramenta, como tudo na sociedade tem que ser aprendido. Vai se cometer excessos? Obvio. E no início vai ser difícil? Provavelmente. Principalmente para professores antigos. Principalmente para professores mais antigos. Quando eu comecei a dar aula não tinha celular. […] O uso de celular em sala de aula, ele não deve ser proibido, ele deve ter regras. A sociedade não tem regras? Então tem que ter regras de uso. E aí, eu não sei se cada professor tem que por suas regras, mas não a proibição, né? Não sei de que forma deve acontecer isso, mas o aprendizado tem que passar pelas mídias digitais, é necessário isso. A questão é como promover essa, esse uso de forma intercalada e que promova a fala, a exposição do aluno, do discente, para que isso facilite sim, o papel dele, para reforçar o papel dele como colaborador daquele processo (ASA20QP, 2017).

Um dos principais argumentos desta pesquisa é que trazendo assuntos de interesse

e a realidade do aluno para sala de aula, seu engajamento e aprendizado serão maiores.

Os professores concordam com esse ponto e acreditam que precisam estar atentos, apesar

de parecer que nem todos estão. Além disso, alguns afirmam que, pelo fato de ter que

seguir uma grade e currículo pré-estabelecido e definido com base no conteúdo do Enem

e dos vestibulares, não conseguem trazer outros assuntos para a sala.

Eu vejo muito isso, o próprio exemplo do Santo Agostinho. Porque o aluno entra lá no segundo ano, ele nunca teve isso. E aí no segundo ano, ele tem. Aí no final do ano, o nível de interesse, de engajamento de alguns alunos que começaram o ano naquela mentalidade de, muitas vezes, pô, eu sou adolescente e eu acho que é legal eu mostrar que eu não me interesso, né? Coisa do tipo. E chega no final do ano, o mesmo cara que começava o ano, tipo assim, não ligando para nada e coisa do tipo, no final do ano, o cara está super engajado, está perguntando. Eu atribuo muito isso a trabalho de campo, a discussões em sala, a coisa desse tipo. Trazer para a realidade dele, ele acaba se interessando mais, de fato. Acho que nada funciona melhor, pelo menos em Humanas, que é a área que eu trabalho, nada funciona melhor do que isso. Isso traz, aproxima ele do que a gente está falando, é isso (LCC12HSA, 2017).

Porque se não, daqui a pouco, você começa a fazer referências que os alunos já não conhecem mais, você vai estar fazendo referência a um programa ou a um filme que ninguém viu ou a um assunto que já passou a muito tempo e ninguém lembra e coisa do tipo. Então é importante esse tipo de coisa para você estar conhecendo o mundo do aluno. Então você tem que tornar aquele conhecimento que você quer passar, aqueles valores, no caso, que você acha importante para ele, algo minimamente no mundo dele. E, pô, você não tem como fazer isso se você não souber como é o mundo dele, se você não conhecer a realidade dele. Então acho que é essencial, sinceramente, é essencial. (LCC12HSA, 2017).

Eu acho que a melhor forma é conversar, estar disposto a ouvir o que eles tem a falar e não entender que você é o detentor do conhecimento soberano e você passa, eles recebem e coisa do tipo. É uma troca (LCC12HSA, 2017).

Esse é o nosso problema, porque, da atualidade né? Os autores de agora? A gente não tem tempo. Porque, assim, os meus alunos da terceira série do Ensino Médio, já fizeram vestibular da PUC e nós estamos começando o ano letivo, terceira série do Ensino Médio, já fizeram e vão passar. Então resultado, eles têm dois anos do Ensino Médio para ver toda a literatura, então eu não consigo chegar nos nosso, nesses agora que estão… um ou outro a gente lê, alguma coisa, mas dos novíssimos, muito pouca,

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um pouco do Ferreira Gullar, to falando do Ferreira Gullar por acaso, mas não é de agora. Esses jovens, jovens que estão aqui, difícil, a gente não tem tempo. O que acontece, às vezes, você pode trazer um texto ou uma crônica, um conto. Fora isso muito difícil, não há tempo para (MM47POLM, 2017).

Hoje, a sociedade está em intensa transformação nas últimas décadas e saber que existe um universo de alunos, uma diversidade de alunos em sala de aula é fundamental para você não estereotipar e sim saber o que está acontecendo e tentar resolver a situação. Claro que ele pode ser um aluno que não quer nada em sala de aula, mas ele é um aluno, ele pode ser um aluno que tem uma verdadeira demanda que você desconhece, que você tem que saber e correr atrás disso aí. O professor, ele tem que ser um cara que tem que tá, você tem que estar sendo estimulado a estudar aquele universo que está ao redor dele, né. E dentro de uma sociedade com várias demandas, coisas novas vão aparecendo (ASA20AP, 2017).

Um quesito interessante levantado por alguns professores foi a influência dos pais

no que acontece na escola e no modelo de ensino que é seguido. Apesar de RSB24BOLM

afirmar que ocorre muito mais no ensino fundamental do que no médio, argumenta

também que muitos são ausentes, influenciando no comportamento de seus filhos em sala

de aula, aumentando o papel do professor como educador. LCC12HSA vai além e cita

que poucos possuem uma mentalidade progressista e, por isso, as metodologias continuam

as mesmas, já que eles que decidem onde seus filhos vão estudar e os colégios particulares

sobrevivem com a mensalidade paga.

Poucos são os pais com mentalidade mais progressista nesse pensamento de “não, pô, vamos tentar alguma coisa diferente”. A maioria não… Acha que assim funciona, vamos continuar fazendo do mesmo jeito e as escolas para bancarem e fazerem essas mudanças, tem que peitar seus pais que, no âmbito de colégio particular, não dá para a gente esquecer que são os que sustentam a escola. Então fica uma relação meio conflituosa ali nesse sentido (LCC12HSA, 2017).

Eu vejo muito assim, às vezes, eu dou as broncas ou eu dou as regras, os pais não fazem isso, acho que falta um pouco… eu converso muito com eles, às vezes, o pai viaja muito, a mãe viaja muito, eles ficam muito sozinhos, aí quando fica com o pai e com a mãe é pouco tempo, o que eles pedem os pais fazem, não tem não. Eu falo não, cansei de ouvir: “Não pode fazer isso, não pode fazer isso, não vou mudar de idéia”. Aí eles perguntam 5 vezes, 7 vezes, eu falei: “Eu não vou mudar de idéia”. “Mas a minha mãe quando eu peço 5, 6 vezes ela muda”. “Mas eu não sou sua mãe, é não e é não”. É isso que eu to falando, é de casa, aí eu tento sempre mostrar as coisas (RSB24BOLM, 2017).

Assim, no ensino médio, eles não influenciam muito não. Mas eu acho que lá para baixo, nos pequenininhos, eles dão muito palpite. Nos mais velhos não tem muito não. Mas se você pegasse um professor mais do fundamental, do primeiro, eu acho que eles influenciam muito. Ensino médio eles vão ficando mais velhos e eles não muito ali não. Só vêm aqui se fizer besteira. Aí tem que chamar o pai e o pai tem que vir. Se for suspenso, fez besteira, mas se não for assim, não querem saber tem trabalho de casa, se fizeram exercício, não querem saber de nada. Se fez reforma na biblioteca, se não fez… Deixam aqui, a gente cuida de tudo e eles pegam depois. Não influenciam

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muito mais não. Por isso que eu to falando, vêm de casa. Que nem aquele assunto que a gente falou, vêm de casa (RSB24BOLM, 2017).

Sobre a reforma do ensino médio, a maioria concorda que precisa haver mudanças,

mas, da forma que está sendo feito, há um certo receito com alguns pontos, principalmente

em relação a escolha que os alunos podem fazer. Outra preocupação é com o ensino

público que terá mais dificuldades em tornar essas mudanças reais.

Eu acho que é importante haver uma reforma, eu discordo do modelo de reforma que está passando. Eu acho importante ter aumento da carga horária, fundamental. O problema, eu não vejo como os governos, na situação econômica desse momento, vão arcar, nesse momento, com esse custo a mais. […] Ao mesmo tempo, acho interessante, no caso, você apresentar uma lógica de eletivas. Acho problemático chegar na situação onde, pô, as escolas podem escolher, no caso, que linhas elas vão apresentar. Pode acontecer de uma cidade pequena… Obvio que no Rio de Janeiro, em São Paulo, isso não vai acontecer, mas em uma cidade pequena você acabar tendo, por exemplo, as duas, três escolas estão oferecendo a mesma única área. E aí, fica muito difícil para o aluno, no caso, escolher uma… […]. Então eu sou contrário a forma como está. Acredito, sinceramente, que a tendência que vai acontecer é que colégios mais ricos, colégios mais tradicionais, coisa do tipo, vão continuar do jeito que estão por uma demanda dos pais, oferecendo todas as cinco áreas e coisas e tal, pagando bem aos seus profissionais e coisa do tipo. Outros colégios, os mais baratos, os de áreas mais carentes, os do tipo, não vão ter condições de fazer isso, vão baixar a hora/aula do professor e vão começar a ter, cada vez mais, com a legalização da… Esqueci o termo que foi usado… Notório saber, a questão do notório saber, vão começar, cada vez mais, ter aula com pessoas que foram fazer faculdade de licenciatura por uma questão de “eu não tenho nada melhor na vida” do que, de fato, “eu me interesso por esse tipo de coisa”. Então eu acredito, sinceramente, com a tendência do ensino médio de gerar uma desigualdade cada vez maior nesse sentido (LCC12HSA, 2017).

Eu acho que é produtivo, não acho que seja ruim não. Eu acho que oferecer ao aluno mais de uma possibilidade é uma movimentação interessante. Sai um pouco da formatação. Não acho ruim. Acho que oferecer mais de uma possibilidade para o aluno legal. Acho que é um caminho interessante. Eu não acho ruim. Só um pouco cético porque a estrutura é a mesma, então não acho que o menino fazendo tecnológica ou humanas, que ele vai aprender mais uma coisa de verdade, né, do que outra. Tenho minhas dúvidas em relação a isso. Mas oferecer mais de um caminho é interessante (ASA20QP, 2017).

Veja só, que não esta tudo super fechado então, eu tenho uma visão assim, uma visão até da escola americana, que a escola americana é muito assim né? Um aluno no ensino médio, ele faz aquele basiquinho e depois se ele quiser mais ele incentiva. […] Então veja só, na minha cabeça, assim, eu acho que todos os… eu tenho medo que aqui no Brasil eles digam: “Ah, se você não quiser fazer Química, não precisa fazer Química não tá? Se você não quiser fazer Biologia também não precisa não. Você só escolhe, então é um pouco de receio. E vou lhe dizer uma coisa, o porque. Eu nunca estudei nem Química, nem Física, nem Biologia, sobrevivi? Sim. Estou aqui, mas eu acho uma pena não ter estudado pelo menos um pouco. […] Isso que me preocupa, eu acho que na minha cabeça, todos deveriam ter uma noção de Química, Física e Biologia, depois tá lá suas eletivas. Português vai ser sempre, Matemática vai ser sempre, tem que ser e tudo mais. Eu tenho um pouco de receio, como é que isso vai ser implantado, um pouco de receio. Vamos ver, né? Quem viver, verá! Eu tenho medo que deixe a coisa muito solta e me pergunto principalmente em escola pública,

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será que o menino que não tem muito ensinamento em casa, ele vai saber escolher essas eletivas, ele vai… não sei. Eu tenho um pouco de receio, confesso (MM47POLM, 2017).

Mas eu acho que no Brasil, o conteúdo ainda do ensino médio é muito grande. Eu vejo pela minha área. Podia reduzir um pouquinho. Eu não posso reduzir porque daqui a pouco eles vão fazer prova e vão cobrar isso. Mas é muita coisa que você não vai usar mais. Então podia ter um conhecimento geral e aí que entra o ensino da reforma. Eu acho que eles querem isso, cada um estuda, você consegue estudar mais a sua área e aí não fica tão específico. Agora, isso seria interessante… No Nordeste, o professor que está lá estudando para ser agricultor. Tá lá… Aí eu entendo que não precisa estudar tantas coisas que a gente estuda aqui. Mas aqui no Rio de Janeiro, São Paulo, que ainda tem vestibular, ainda tem Enem, tem que ter esse conteúdo. Mas acho que é muita coisa (RSB24BOLM, 2017).

Mas o que que adianta reformar o ensino médio se o ensino fundamental está um horror? Eu pego aluno… O meu aluno não consegue interpretar leitura. Eu tenho uma amiga minha que dá aula em Saquarema e os alunos dela do ensino médio não sabem, literalmente, ler. O ensino do nível fundamental tá horrível, tá muito fraco. Então não adianta fazer reforma em faculdade, fazer ensino médio, se não concertar lá embaixo. Tem que concertar o ensino fundamental que está horrível. Os professores não ganham dinheiro, tá muito baixo o salário, o ensino tá fraquíssimo, o ensino fundamental. Então eu não consigo concertar isso, a base, não vai adiantar não (RSB24BOLM, 2017).

Questionados se os colégios que trabalham estão falando sobre isso com o alunos,

a resposta é não. Além disso, poucos colégios já estão se movimentando para integrar as

mudanças estabelecidas pela reforma.

Ninguém está falando sobre isso. É um assunto absolutamente ignorado e, por experiência, o que eu acredito que vai acontecer é que os colégios com uma lógica mais mercadológica vão começar a fazer as mudanças imediatamente, por uma lógica de economia. De fato, você tirar certas obrigatoriedades, Filosofia, Sociologia, que, no caso, podem começar a ser limitadas e coisa do tipo. Mas, no caso, os outros colégios, com uma lógica mais educacional, de fato, menos bancária nesse sentido, vão levar do jeito que eles estão levando até o limite (LCC12HSA, 2017).

Olha, em colégio pequeno, o nosso colégio é pequeno, né, aqui no Palas, não está sendo, nada está sendo colocado mesmo para mudar, assim, os itinerários, os diferentes itinerários. Isso não tem se colocado, tá? Eu não sei o que o colégio vai decidir em relação a isso. Em relação ao Colégio Militar, ano que vem já tem mudanças. É, ano que vem vai promover algumas mudanças. Como o Colégio Militar não é democrático, as mudanças são de cima para baixo, né? Então eu não sei exatamente quais são as alterações que vão ser feitas, mas o que a gente escuta, o que foi colocado em uma determinada reunião é, são essas oportunidades de itinerários, né, tecnológicas, humanas, né, que eles vão oferecer desde o primeiro ano, desde a segunda metade do primeiro ano. E o itinerário básico, enfim (ASA20QP, 2017).

Uma questão essencial na carreira de qualquer profissional é ter um constante

aprimoramento. Nesse quesito, LCC12HSA afirma que não há incentivo dos locais que

trabalha. Declara que o incentivo é indireto e preocupante, pois se não se atualizar, a

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aula pode ficar para trás e ele corre o risco de perder o emprego. Além disso, explica que

muitos professores de colégios particulares sofrem pela própria ganância, já que ganham

por hora. Com isso, trabalham muito para ganhar mais e não possuem tempo para outras

atividades, como estudar e se aprimorar. Ele próprio passou por isso e mudou esse

direcionamento nos últimos dois anos. Outra questão levantada por ele é que na rede

federal há um incentivo maior para fazer mestrado e doutorado, pois isso faz com que o

salário do professor aumente. ASA20QP vai pelo mesmo caminho e reforça que não há

incentivo nenhum e que ele precisa partir da própria pessoa, arrumando tempo e

disposição para isso. E mesmo assim, acredita que poucos conseguem, também pelo fato

do trabalho excessivo em busca de dinheiro. Na contra- mão desse cenário, MM47POLM

e RSB24BOLM explicam que o colégio onde trabalham incentivam com uma cota anual

para cursos de aprimoramento. Como trabalham em um colégio americano, alguns

professores também ganham cursos nos Estados Unidos todo ano. Além disso, um

acompanhamento dessa atualização é feita por uma auditoria norte americana.

Provavelmente, o cenário citado por LCC12HSA e ASA20QP é muito mais constante nos

colégios brasileiros do que o citado por MM47POLM e RSB24BOLM.

Assim como feito para os alunos, os professores também foram questionados

sobre o que mudariam na educação no Brasil e as respostas foram diversas. LCC12HSA

afirma faria algumas mudanças. Primeiro, defende que a educação deveria ser em horário

integral e não só meio turno. Segundo, colocaria mais atividades práticas durante as aulas

e nas avaliações. Por fim, diminuiria a quantidade de alunos por turma, já que acredita

que um número reduzido ajudaria a conhecer todos pelo nome, o histórico e outras

características que poderiam ajudar no aprendizado e na personalização da experiência.

ASA20QP, apesar de certa dúvida, acredita que trabalhar com projetos seria mais

interessante do que provas e testes, que considera extremamente antiquado e chato. O

aluno possui um problema que precisa ser resolvido e o professor atua como orientador.

Dentro desse processo de encontrar uma solução, as disciplinas e os conteúdos seriam

ensinados. Defende que o importante não é o resultado final, já que pode não existir uma

resposta pronta, mas como os alunos chegaram até aquela

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estratégia e qual foi o compromisso deles com o tema. MM47POLM e RSB24BOLM

fariam a mesma mudança. As duas mudariam radicalmente o ensino fundamental que é

muito fraco. Acreditam que se não tiver uma base boa de Português e de Matemática no

início, os alunos terão problemas e dificuldades para o resto da vida.

Como pode ser visto, apesar de muitos professores saberem que mudanças

precisam ser feitas, eles ainda utilizam métodos de ensino tradicional, como aplicação de

provas e testes, valorização de notas, exposição de conteúdo sem participação do aluno,

aulas centradas no professor, não uso da tecnologia e foco em vestibulares e Enem. Em

alguns casos, quando tentam ações diferentes, deparam com barreiras como o interesse e

a influência do colégio e dos pais. Além disso, muitos argumentam que não sabem bem

o que fazer para inovar e mudar o status quo e isso se deve ao fato de não serem

incentivados a ter um constante aprimoramento profissional, repetindo práticas anos após

anos. Um ponto a favor é que todos estão cientes da necessidade de aproximar o contexto

escolar da realidade do aluno, além dos benefícios de uma interação mais direta e

próxima.

7. Produtos

7.1. Personas

Baseado nas entrevistas e seus resultados e no referência teórico discutido, foram

criadas duas Personas Primárias dos perfis estudados nesta pesquisa.

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Fig. 46 - Persona - Aluno (BORDIM, 2017)

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Fig. 47 - Persona - Professor (BORDIM, 2017)

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7.2. Experience Maps

A partir da definição das Personas, foi possível desenvolver o Experience Map de

cada uma. É importante ressaltar que os mapas também consideraram a análise dos

resultados das entrevistas em profundidade e o referencial teórico desta pesquisa.

A seguir, é possível ver uma versão reduzida dos Experience Maps. As versões

em escala real pode ser encontrada nos Anexos, em “10.7. Experience Map - Aluno” e

“10.8. Experience Map - Professor”.

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Fig. 48 - Experience Map - Aluno (BORDIM, 2017)

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Fig. 49 - Experience Map - Professor (BORDIM, 2017)

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7.3. Cenários

Baseado nos conteúdos e contextos encontrados durante a fase de entrevista, junto

com as Personas, serão definidos Cenários contextuais baseados nos principais pontos de

atenção encontrados nos Experience Maps, que são os que possuem maior carga

emocional negativa. Para Julia Pacheco (aluno), as etapas de “sala de aula”, “estudar” e

“avaliações” foram a piores. Para Antonio Monteiro (professor), foram as “sala de aula”

e “avaliações”.

É importante ressaltar que os Cenários criados são baseados em questões atuais e

no modelo estabelecido a qual o Enem e os vestibulares ainda existem e são importantes.

O objetivo neste momento não é imaginar um novo contexto pós ensino médio, mas sim,

entender e pensar em soluções para problemas atuais que foram expostos durante as

entrevistas e nos Experience Maps e elaborar experiências positivas e que auxiliem o

aprendizado do aluno mesmo nesse cenário que não é ideal, como abordado ao longo

desta pesquisa.

7.3.1 Julia em uma aula de História

As aulas de História estão deixando Julia cada vez mais animada. Ela tem um

ótimo relacionamento com o professor, que trata todos muito bem e conversa sobre

diversos assuntos. Nas quartas, dia dessa aula, ela sempre fica ansiosa para que chegue o

horário. O mais engraçado é que Julia, até ano passado, não conseguia entender a matéria

muito bem, mas com o professor desse ano, tudo mudou.

Quando Augusto (o professor) entrou em sala, cumprimentou todos sorrindo e

explicou como seria a aula do dia. Primeiro, ia passar uma parte de um episódio da série

Narcos, da Netflix, e depois abrir a discussão com a turma sobre o que viram. Ele tinha

escolhido essa série porque sabia que todos daquela turma estavam assistindo e gostando

muito, inclusive Julia, que já tinha assistido todos os episódios e tinha muito para falar.

Após passar a cena da morte de Pablo Escobar, o professor pediu para os alunos se

reunirem em grupos de 3 ou 4 pessoas e discutirem quais foram as consequências desse

acontecimento para o mundo e para o Brasil. Julia se reuniu com

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duas amigas e foi a que mais falou, levantando diversas questões. Passados vinte minutos,

Augusto pediu para a turma formar uma roda com as cadeiras e para cada grupo falar

quais foram as conclusões que chegaram. Julia foi a primeira a levantar e falar. Enquanto

isso, o professor ia direcionando os pontos de discussão e tentando levantar outros

pensamentos nos alunos.

Ao fim do debate, Julia estava bastante interessada no assunto e pediu para

Augusto compartilhar mais com ela. Ele prometeu que quando chegasse em casa, ia

selecionar alguns conteúdos online e mandar pelo Facebook para ela. Julia agradeceu e

disse que estava ansiosa para isso.

7.3.2 Julia estudando para uma prova

No colégio de Julia, todo bimestre ocorre uma prova que conta pontos para cada

disciplina e os professores decidem como os alunos vão obter os outros. Geralmente,

escolhem trabalhos em grupo, envolvendo pesquisa, debates e apresentações em

diferentes formatos.

Como cada matéria tem a sua prova em um dia diferente, Julia decidiu estudar

para Física com mais antecedência, já que tem um pouco de dificuldade na matéria.

Primeiro, terminou de fazer o download dos slides e dos exercícios que o professor passou

na aula e disponibilizou por email e que ela ainda não tinha baixado. Fechou o Facebook,

colocou o celular em modo silencioso, já que não queria se distrair naquele momento, e

começou. Primeiro, assistiu duas vídeo-aulas em um canal do Youtube que gosta e depois

foi foi olhar os slides e as anotações que fez no caderno. Durante esse processo, anotou

algumas dúvidas no bloco de notas e deixou para revisar depois. Depois, fez a lista de

exercícios do professor e, sentindo que precisava mais, foi procurar outros na internet.

Seu professor havia passado alguns sites que possuem exercícios interessantes e ela

acessou um desses. Quando estava perto do fim, ficou travada em uma questão que não

conseguia resolver. Voltou aos slides, não resolveu. Decidiu procurar por outra vídeo-aula

que pudesse explicasse a matéria e descobriu que no próprio site que tinha os exercícios,

também existia vídeos explicativos. Começou a assistir e teve que retornar algumas vezes

em algumas explicações, até, por fim,

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entender e resolver o exercício. Como gostou muito, por conta da linguagem usada pelo

professor e da representação gráfica, procurou por outros vídeos das dúvidas que tinha

anotado.

Depois de um tempo estudando, sanou a grande parte de seus questionamentos,

faltando somente uma questão. Decidiu recomendar e recomendar o link do site no grupo

da turma no Facebook e mandar um inbox para o professor perguntando sobre a dúvida

que ainda não tinha entendido. Cansada, mas satisfeita pelo o que aprendeu, foi tomar um

banho e comer algo.

7.3.3 Julia e o trabalho de Biologia

Em seu colégio, os professores de Julia possuem bastante liberdade em relação as

avaliações. O colégio pede que seja feito pelo menos uma prova com base em questões

do Enem por bimestre, mas, de resto, cada professor tem autonomia para avaliar seus

alunos da forma que desejar.

A de Biologia, Clara, prefere sempre estimular os alunos com diferentes

atividades, o que deixa Julia muito empolgada. Nesse bimestre, ela decidiu dar bastante

liberdade e pediu um trabalho sobre qualquer matéria dada ao longo desses meses em sua

disciplina. Os alunos podiam escolher tanto o tema como a forma de entrega, que podia

ser um vídeo, uma apresentação, um seminário, um debate, entre outros. Além disso,

Clara ia avaliar outros critérios além do certo e errado, como dedicação, processo,

pesquisa e interesse dos alunos.

Julia se reuniu com mais 5 amigas e debateram qual era o assunto de interesse de

todas. Cada uma falou o seu e depois entraram em consenso em qual utilizar. Julia teve a

idéia de fazer um documentário, o que foi bem aceito por todas. Elas se dividiram, cada

um com uma responsabilidade, e marcaram algumas reuniões para ver o andamento do

projeto. Além disso, criaram um grupo no Facebook para compartilhar o que fosse

importante e o um no Whatsapp para se comunicar.

Depois de muito trabalho, dedicação e conversas com a professora para alinhar

alguns assuntos e receber feedbacks, chegou o dia da entrega. Julia e seu grupo

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apresentaram o tema, mostraram o documentário e responderam algumas dúvidas dos

outros alunos e da professora. No final, foram elogiadas e ficaram com a nota máxima,

tanto pelo resultado final, como por todo o processo ao longo dele. Julia ficou bastante

satisfeita com o resultado e com o aprendizado obtido.

7.3.4 Um dia de aula com Antonio

Terça-feira, dia de dar aula durante toda manhã para as três turmas do 3º ano de

um colégio da Zona Sul. O Enem está se aproximando e os alunos estão ficando cada vez

mais ansiosos e nervosos. Sabendo disso, Antonio tem tentado tranquiliza-los com aulas

mais visuais, com conteúdo dinâmico, debates entre os alunos e bate papos informais.

Chegando na escola, cumprimentou o porteiro, conversou rapidamente com um

grupo de alunos do 2º ano que ainda não tinha entrado na sala e foi para a sala dos

professores. Como ainda tinha alguns minutos antes da aula começar, tomou um café e

ficou olhando seu email e Facebook. Nenhum aluno tinha mandado mensagem durante a

noite para tirar dúvidas, o que era raro naquele período do ano.

No horário, se dirigiu até a sala da primeira aula. Sorrindo, desejou bom-dia,

brincou com Daniel pela derrota do Flamengo no final de semana e foi ligar o computador

para abrir seus slides. Decidiu começar com a revisão de um conteúdo importante que

sempre é questão no Enem e, depois, passar um pequeno vídeo de 5 minutos que

encontrou no Youtube sobre o assunto. Avisou que ia colocar o link no grupo do Facebook

da turma com alguns outros que pudessem ser interessantes. Dividiu a sala em quatro e

pediu para que discutissem sobre o que tinham aprendido. Quem quisesse, podia usar o

celular para rever os slides, o vídeo ou procurar algo relacionado. Depois de 15 minutos,

pediu para cada grupo falar um pouco sobre o tema e explicar seu ponto de vista. No final

da aula, pediu para que todos assistissem um vídeo do TED Talks que ele iria compartilhar

para discutir na aula seguinte e foi para a próxima turma. O dia só estava começando.

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7.3.5 Antonio avalia seus alunos

Antonio já trabalhou em colégios que não tinha muito poder de decisão na forma

de avaliar seus alunos. Eles definiam o formato e ele tinha que seguir, só escolhendo as

questões das provas. Nos atuais, a situação é diferente, tendo bastante liberdade nas

escolhas.

Para esse bimestre, Antonio decidiu que iria tentar algo novo. Ele queria envolver

mais os alunos, deixar que tomem decisões e trabalhem com assuntos que sejam de seus

interesses. Além disso, decidiu que quem iria dar parte da nota para um grupo de alunos,

seria um outro, fazendo com que houvesse o envolvimento de todos em todos os

momentos. Para isso, o grupo iria dar uma nota e justificar sua avaliação. Antonio só iria

se intrometer nesse quesito se houve uma discrepância muito grande entre o que ele achou

e o que os alunos definiram.

O trabalho consistia em definir uma das matéria que foi dada ao longo do ano e

relacionar com algum outro assunto de interesse do grupo de alunos. O formato e a entrega

eram livres e Antonio iria avaliar não só o resultado final, mas como todo o processo e

dedicação de seus alunos.

No final, todos grupos foram honestos e criteriosos, dando as notas merecidas para

seus colegas. Antonio ficou muito satisfeito com a entrega e dedicação de todos e decidiu

que iria utilizar esse formato outras vezes e iria contar para os outros professores sua

experiência.

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8. Conclusão

Conforme enfatizado nas primeiras páginas desta pesquisa, a principal motivação

deste trabalho derivou do fato do autor acreditar que a educação precisa passar por uma

reestruturação, promovendo o desenvolvendo de metodologias que incentivem o

potencial criativo do aluno, dentre outras habilidades consideradas importantes para o

século XXI, como liderança, cooperação e comunicação. Para isso, esse público precisa

ser colocado no centro das discussões educacionais com o objetivo de haver um

entendimento claro de suas características, já que elas vem sofrendo mudanças ao longo

dos últimos anos. Os alunos atuais nasceram em um mundo digital, diferente de seus

predecessores, e vivem em uma época que a experiência é fundamental para o sucesso de

qualquer produto ou serviço e precisa ser considerado no novo formato pretendido para

o ensino.

Relembrando, o tema da pesquisa foi a aplicação de conceitos de user experience

em metodologias de ensino por escolas do ensino médio da cidade do Rio de Janeiro,

visando o estimulo à criatividade, a inovação, ao pensar e ao fazer dos Nativos Digitais.

Além disso, as hipóteses iniciais eram:

1. A experiência do aluno pode ser um fator de grande influência no processo

de aprendizagem escolar.

2. A tecnologia deve ser utilizada como suporte para atrair os Nativos Digitais,

já que esse público nasceu e cresceu em um mundo digital.

Para atingir o objetivo proposto, foi feito um levantamento bibliográfico que

abordou o panorama atual da educação, as características dos Nativos Digitais, a relação

da tecnologia com esse público e com o ensino e conceitos de user experience e sua

aplicação em sala de aula. Também foram realizadas entrevistas em profundidade para

recolher dados relevantes de fontes diretas que serviram na construção das Personas, dos

Experience Maps e dos Cenários.

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Embora seja possível reconhecer a existência de um longo caminho a ser

percorrido no campo educacional, especialmente no Brasil, o desenvolvimento desta

pesquisa permite apontar algumas conclusões, que será sintetizadas nas próximas linhas.

A educação vive uma fase conturbada e há uma crescente demanda por mudanças

e renovação. Apesar de ter sido percebida por uma pequena parcela de pessoas envolvidas

nesse meio, ainda precisa do envolvimento de todos para gerar resultados significativos.

É preciso que isso seja feito com urgência, principalmente pelo fato de que com o avanço

da economia voltada para a criatividade e a inovação, o mercado de trabalho requisita

cada vez mais pessoas que possam enfrentar os muitos desafios que são propostos

diariamente. Nesse cenário, a criatividade e outras habilidades, como liderança,

cooperação e colaboração, são cada vez mais necessária e o papel da educação é central

para esse desenvolvimento, que não vem ocorrendo.

O ensino médio brasileiro, tema desta pesquisa, possui diversas dificuldades e

problemas e passará por transformações nos próximos anos. Com algumas iniciativas

interessantes, como o poder de escolha do aluno da área que deseja seguir, é preciso

esperar o futuro para entender se a implementação foi feita de forma correta e se gerará

frutos para ser colhidos. Além disso, ainda há muito para ser realizado e as discussões em

torno desse tema não podem parar.

Os Nativos Digitais estão cada vez mais engajados com as tecnologias em seu dia-

a-dia e isso ainda não está sendo considerado pela educação. Alguns professores

percebem que há potencial nessa integração, mas por não saberem como atuar, acabam

deixando de lado e ignorando esse fato. Vale ressaltar também que elas precisam ser

utilizadas de forma inovadora e não só como um substituto de um ferramenta analógica,

além de precisar haver um motivo para seu uso e não o uso pelo o uso. O que foi

descoberta nesta pesquisa é que as escolas estão reprimindo o uso do celular e só

colocaram computadores e projetores nas salas nesse processo de implementação

tecnológica, enquanto os estudantes estão usando diversas tecnológicas tanto para

entretenimento e socialização, como para estudar e aprender.

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A experiência dos alunos no colégio e em sala de aula precisa ser melhorada. Eles

precisam ser colocados no centro do ensino com situações engajadoras, estimulantes,

interativas e desafiadoras que considerem seus hábitos, características, desejos e

necessidades. Para isso, é papel dos educadores terem o conhecimento prévio de quem é

o usuário final, traze-lo para mais próximo do processo e adaptar com base nessas

informações. Pelos estudos realizados, é possível perceber que alguns professores

entendem essa demanda e estão tentando adaptar suas aulas para isso. Porém, isso ainda

parece ser o foco de uma minoria.

Em relação as hipóteses iniciais, é possível afirmar que a primeira foi confirmada

tanto pelo referencial teórico quanto pelas entrevistas feitas com alunos e professores. Em

diversos momentos é visível essa relação, tanto de forma direta como indireta, como

exposto na seção “6. Análise dos Resultados”. Uma experiência ruim afasta e prejudica o

aluno e uma boa tem o papel oposto, atraindo e incentivado esse jovem. A comprovação

da segunda hipótese também fica bastante clara pelo referencial teórico. Além disso, a

partir das entrevistas, é possível perceber que os alunos já utilizam diversas tecnologias

para momentos educacionais, mas que os colégios não exploram esse potencial. Os

professores, por sua vez, começam a ter um maior entendimento dessa necessidade, mas

ainda não sabem como fazer, além de serem, algumas vezes, limitados pelas escolas que

trabalham.

As oportunidades de mudanças na educação são enormes e urgentes. O caminho

para tal feito ainda está sendo construído, mas alguns fatores essências já são conhecidos,

como o rompimento com o modelo tradicional de aula e avaliações, a necessidade da

integração com a tecnologia, a criação de um ambiente leve e propício a criatividade, a

criação de uma experiência marcante e positiva e o ensino ser centrado no aluno e não no

professor. O momento é de ação. Não é possível esperar mais ou as consequências podem

ser piores e irreversíveis.

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www.unicef.org/brazil/pt/10desafios_ensino_medio.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2017.

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VIEIRA, Leonardo. “A revolução na educação passa pelo conhecimento do próprio

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passa-pelo-conhecimento-do-proprio-ser-humano-diz-edgar-morin-13853886>. Acesso

em: 20 set. 2015.

VOELCKER, Marta Dieterich. Tecnologias digitais e a mudança de paradigma na

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TEIXEIRA, Eduardo Ariel de Souza. Estudo ergonômico das estruturas de navegação

e unidades de informação dos sites com conteúdo multimídia: Estudo de

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256

caso do site promocional XBOX 360. 2008. 153 F. Tese (Doutorado) - Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <https://

goo.gl/GUSkmc>. Acesso em: 10 abr. 2017.

. Design de Interação. Rio de Janeiro: 5W, 2014.

TODOS PELA EDUCAÇÃO. Em 10 anos, número de municípios com menos de 25%

dos alunos com aprendizagem adequada cai 50 p.p. Movimento Todos Pela Educação,

2017. Disponível em: <https://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-

tpe/40885/em-10-anos-numero-de-municipios-com-menos-de-25-dos-alunos-com-

aprendizagem-adequada-cai-50-p.p./>. Acesso em: 26 jun. 2017.

. Menos da metade dos professores dos anos finais do Ensino

Fundamental têm licenciatura em todas as disciplinas que lecionam. Movimento

Todos Pela Educação, 2017. Disponível em: <https://www.todospelaeducacao.org.br/

reportagens-tpe/40805/menos-da-metade-dos-professores-dos-anos-finais-do-ensino-

fundamental-tem-licenciatura-para-todas-as-disciplinas-que-lecionam/>. Acesso em: 27

jun. 2017.

. Ensino Médio: o que querem os jovens. Movimento Todos Pela

Educação, 2017. Disponível em: <https://www.todospelaeducacao.org.br/reportagens-

tpe/41997/ensino-medio-o-que-querem-os-jovens/>. Acesso em: 27 jun. 2017.

TODOS PELA EDUCAÇÃO; EDITORA MODERNA. Anuário Brasileiro da

Educação Básica 2017. São Paulo, 2017. 178 p. Disponível em: <https://

www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1567/anuario-brasileiro-da-educacao- basica-

2017>. Acesso em: 13 jul. 2017.

TOMAZETTI, Elisete Medianeira; SCHLICKMANN, Vitor. Escola, ensino médio e

juventude: a massificação de um sistema e a busca de sentido. Educ. Pesqui., São

Paulo, v. 42, n. 2, p. 331-342, abr./jun. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/

ep/v42n2/1517-9702-ep-42-2-0331.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2017.

THOMPSON, Clive. Smarter than you think - How technology is changing our minds

for the better. New York: Penguin Books, 2014.

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257

10. Anexos

10.1. Tópico-guia das entrevistas em profundidade - Alunos

Entrevista em profundidade.

Tópico-guia - Aluno.

Última atualização: 30 de julho de 2017.

Explicando sobre a pesquisa

Neste bloco há a explicação rápida sobre como será a pesquisa (duração e dinâmica

básica). Após esta explicação, pedirei que o participante assine um formulário de

autorização para gravar a entrevista em áudio, explicando que o será útil para uma análise

posterior e que não será compartilhada com ninguém.

Introdução

Olá, meu nome é Luiz Eduardo Bordim. Sou aluno de mestrado da ESPM e estou

estudando sobre a educação, experiência e tecnologia. Estou fazendo essa pesquisa para

entender melhor as percepções, as necessidades, os comportamentos e os desejos dos

estudantes em relação a educação atual.

Quebra Gelo

Valorizo a sua opinião honesta acima de qualquer outra coisa. Suas perspectivas não vão

ser avaliadas sob nenhuma lente crítica, nem abertas a nenhum canal público. Se você não

souber ou não quiser responder a qualquer pergunta, por favor me avise. Aqui não existe

certo ou errado, apenas a sua opinião conta.

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258

Informações pessoais

1. Para começar, poderia se apresentar?

- Nome, idade, com quem você mora.

- Série atual e colégio que estuda.

- Já frequentou outro colégio antes? Qual(is)?

- Além do colégio, faz algum curso por fora? Qual(is)? Onde?

- Já sabe qual profissão deseja seguir?

Educação, Experiência e Tecnologia

1. Me conte um pouco sobre seu colégio.

- O que você mais gosta dele? O que menos gosta?

- Estrutura do colégio e da sala de aula. Possui alguma diferença em relação

a outras? Qual(is)?

- Matérias que são dadas. Há matérias diferentes das tradicionais? Qual(is)?

Qual que mais gosta e que menos gosta? Por quê?

- Como é a hora do intervalo e o que costuma fazer?

- Há preparação para o vestibular? Como que isso acontece?

- Como se sente? Por quê?

2. Como é sua relação com os funcionários do colégio?

- Professores.

- Há contato fora do colégio? Por Facebook, Whatsapp, …?

- Existe alguma relação além da de professor-aluno?

- De modo geral, como eles tratam os alunos? E você?

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- Inspetores.

- Coordenadores e diretor.

- Outros.

3. Como os professores costumam dar aula?

- Qual metodologia utilizada?

- Utilizam diferentes formas de expor a matéria?

- Passam trabalho de casa?

- Incentivam procurar sobre a matéria em outros lugares? Onde?

- Opinião do aluno em relação ao tema.

4. Como são as avaliações?

- Há algum tipo de ajuda durante as avaliações, tanto de outras pessoas como

de livros, celulares, entre outros?

- São feitos trabalhos? Que tipo? São individuais ou em grupo?

- Somente as notas são levadas em consideração?

- Opinião do aluno em relação ao tema.

5. Como utiliza a tecnologia?

- Costuma acessar a internet? O que costuma fazer?

- Quais dispositivos possui (celular, computador, notebooks, tablets, …)?

- Costuma jogar jogos pelo celular, video-game ou computador? E no

colégio?

- Utilizam alguma tecnologia no colégio durante as aulas e as atividades

escolares? Qual(is)?

- Como é o uso do celular durante a aula?

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260

- É incentivado pelos professores?

- Opinião sobre o tema.

6. Como estuda para o colégio?

- Utiliza algo além de livros e conteúdo dado em sala?

- Já procurou conteúdo online, como em sites e no Youtube?

- Conhece ou já utilizou sites ou aplicativos de educação? Qual (is)? Porque

usou? Como que foi?

- Estuda todo dia ou só quando está perto da prova? Por quê?

- Está se preparando para o vestibular?

7. O que achou da reforma do ensino médio?

- Conhece os detalhes da reforma?

- Gostou ou não? Por quê?

- O que acha da possibilidade de escolher uma área de conhecimento para

estudar?

- O colégio já conversou sobre o assunto com os alunos?

8. Se você pudesse fazer uma mudança na educação no Brasil, o que seria?

• Algo mais que gostaria de contar?

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261

10.2. Tópico-guia das entrevistas em profundidade - Professores

Entrevista em profundidade.

Tópico-guia - Professor.

Última atualização: 30 de julho de 2017.

Explicando sobre a pesquisa

Neste bloco há a explicação rápida sobre como será a pesquisa (duração e dinâmica

básica). Após esta explicação, pedirei que o participante assine um formulário de

autorização para gravar a entrevista em áudio, explicando que o será útil para uma análise

posterior e que não será compartilhada com ninguém.

Introdução

Olá, meu nome é Luiz Eduardo Bordim. Sou aluno de mestrado da ESPM e estou

estudando sobre a educação, experiência e tecnologia. Estou fazendo essa pesquisa para

entender melhor as percepções, os comportamentos e os desejos dos professores em

relação a educação atual.

Quebra Gelo

Valorizo a sua opinião honesta acima de qualquer outra coisa. Suas perspectivas não vão

ser avaliadas sob nenhuma lente crítica, nem abertas a nenhum canal público. Se você não

souber ou não quiser responder a qualquer pergunta, por favor me avise. Aqui não existe

certo ou errado, apenas a sua opinião conta.

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Informações pessoais

1. Para começar, poderia se apresentar?

- Nome e idade.

- Disciplina(s) que leciona e colégio(s) que dá aula.

- Conte um pouco sobre sua carreira (quanto tempo, quais colégios deu aula,

porque decidiu ser professor, se se sente prestigiado por ser professor, …)

Educação, Experiência e Tecnologia

1. Como é sua relação com os alunos?

- Como é a comunicação?

- Há contato fora do colégio? Por Facebook, Whatsapp, …?

- Existe alguma relação além da de professor-aluno?

2. Qual a sua metodologia de ensino?

- Como prepara as aulas e os conteúdos que serão ensinados?

- Como a proposta pedagógica do colégio influencia nesse ponto?

- Vocês tentam inovar/fazer algo de diferente durante as aulas? O que?

- Há troca de conhecimento entre os professores?

- Há diferença entre os colégios que ensina?

- Além do técnico, procura ensinar outras competências aos alunos? Qual(is)?

- Há tentativa de relacionar o conteúdo ensinado com o mercado de trabalho?

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3. Como são as avaliações?

- Há algum tipo de ajuda durante as avaliações, tanto de outras pessoas como

de livros, celulares, entre outros?

- São feitos trabalhos? Que tipo? São individuais ou em grupo?

- Somente as notas são levadas em consideração?

- Opinião do professor em relação ao tema.

4. Qual o maior desafio de ensinar atualmente?

- Há diferença dos alunos atuais com de gerações passadas? Quais?

5. Como utiliza a tecnologia?

- Costuma acessar a internet? O que costuma fazer?

- Quais dispositivos possui (celular, computador, notebooks, tablets, …)?

- O que acha do uso de tecnologia para auxiliar a educação? Utiliza alguma

no colégio durante as aulas e as atividades escolares? Qual(is)?

- Qual a sua opinião sobre o uso de celular dentro da sala?

- Incentiva os alunos a utilizarem?

6. O que achou da reforma do ensino médio?

- Conhece os detalhes da reforma?

- Gostou ou não? Por quê?

- O que acha da possibilidade de escolher uma área de conhecimento para

estudar?

- O colégio já conversou sobre o assunto com os alunos?

7. Como você aprimora a sua formação profissional?

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- Os colégios oferecem cursos de aprimoramento?

- Há incentivo por parte do governo ou de alguma outra instituição?

- Há algum acompanhamento profissional?

8. Se você pudesse fazer uma mudança na educação no Brasil, o que seria?

• Algo mais que gostaria de contar?

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265

10.3. Termo de compromisso - Menores de 18 anos

Prezado(a),

a pessoa a qual você é responsável foi selecionada para participar de uma pesquisa sobre

educação. Não estamos o testando! Seu papel é nos ajudar a entender melhor como é a

dinâmica atual em sala de aula, o uso da tecnologia e a relação entre professor-aluno.

Para seu conhecimento, todos os resultados obtidos serão consolidados num relatório

profissional, que será utilizado no desenvolvimento de uma tese de mestrado.

Todas as informações coletadas durante a entrevista serão estritamente confidenciais e

não serão, de forma alguma, veiculadas publicamente e/ou cedidas pelo autor da pesquisa

(Luiz Eduardo Bordim) para quaisquer terceiros. A utilização das informações dar-se-á,

única e exclusivamente, para fins de análise e estudo, ficando desde já estabelecido que

não haverá qualquer tipo de associação do nome às informações coletadas.

A entrevista irá incluir a gravação de áudio e/ou vídeo, havendo a possibilidade de

utilização da voz e/ou imagem nos relatórios finais. Contudo, a pessoa não será

identificada pelo nome e os áudios e/ou vídeos não serão, em hipótese alguma, divulgados

publicamente, somente para fins de apresentação do resultado da tese de mestrado em

questão. Os direitos de imagem do participante são, desde já, integralmente cedidos para

o autor da pesquisa (Luiz Eduardo Bordim), sem que seja devida qualquer remuneração,

observados os termos e condições deste instrumento.

No curso da entrevista, um monitor irá assisti-lo e estará à disposição para responder

quaisquer dúvidas. Será permitido ao participante fazer pequenas pausas, se necessário,

bem como interromper a sua participação a qualquer momento.

Luiz Eduardo Bordim

Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) - Gestão da Economia Criativa

DECLARAÇÃO

Eu, , portador do documento de

identidade nº______________________, expedido pelo(a),_______________,

responsável por , declaro que li e

aceito todos os termos e condições do presente instrumento e permito a participação da

pessoa a qual sou responsável na respectiva pesquisa.

Assinatura:

Rio de Janeiro, de de 20 .

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266

10.4. Termo de compromisso - Maiores de 18 anos

Prezado(a),

Você foi selecionado para participar de uma pesquisa sobre educação. Não estamos

testando você! Seu papel é nos ajudar a entender melhor como é a dinâmica atual em sala

de aula, o uso da tecnologia e a relação entre professor-aluno.

Para seu conhecimento, todos os resultados obtidos serão consolidados num relatório

profissional, que será utilizado no desenvolvimento de uma tese de mestrado.

Todas as informações coletadas durante a sua entrevista serão estritamente confidenciais

e não serão, de forma alguma, veiculadas publicamente e/ou cedidas pelo autor da

pesquisa (Luiz Eduardo Bordim) para quaisquer terceiros. A utilização das informações

dar-se-á, única e exclusivamente, para fins de análise e estudo, ficando desde já

estabelecido que não haverá qualquer tipo de associação do seu nome às informações

coletadas.

A entrevista irá incluir a gravação de áudio e/ou vídeo, havendo a possibilidade de

utilização de sua voz e/ou imagem nos relatórios finais. Contudo, você não será

identificado pelo nome e os áudios e/ou vídeos não serão, em hipótese alguma, divulgados

publicamente, somente para fins de apresentação do resultado da tese de mestrado em

questão.Os direitos de imagem do participante são, desde já, integralmente cedidos para

o autor da pesquisa (Luiz Eduardo Bordim), sem que seja devida qualquer remuneração,

observados os termos e condições deste instrumento.

No curso da entrevista, um monitor irá assisti-lo e estará à sua disposição para responder

quaisquer dúvidas. Será permitido ao participante fazer pequenas pausas, se necessário,

bem como interromper a sua participação a qualquer momento.

Luiz Eduardo Bordim

Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) - Gestão da Economia Criativa

DECLARAÇÃO

Eu, , portador do documento de

identidade nº , expedido pelo(a), , declaro

que, li e aceito, todos os termos e condições do presente instrumento.

Assinatura:

Rio de Janeiro, de de 20 .

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10.5. Transcrição das entrevistas - Alunos

ABB17CMR1

Pesquisador: Bom dia, vamos falar sobre o meu mestrado, que é sobre educação, ensino

médio, e aí eu vou, enfim, tem algumas perguntas aqui e a gente vai discutindo. Beleza?

ABB17CMR1: Beleza.

Pesquisador: Ok, para a gente começar, queria que você se apresentasse. Nome, idade,

com quem mora, série atual, qual colégio estuda, se já estudou em outro colégio antes,

enfim.

ABB17CMR1: Tá. É, sou ABB, eu tenho 17 anos, to no primeiro ano do ensino médio,

no Colégio Maria Raythe e estudei do primeiro ao quinto ano na Fundação Bradesco.

Pesquisador: Legal. E além do colégio você faz outro curso?

ABB17CMR1: Não.

Pesquisador: Não, legal. E, bom, você já está no primeiro ano, você já sabe que

profissão você vai seguir ou ainda não? Ou já tem alguma ideia?

ABB17CMR1: Eu tô entre comunicação social para marketing ou direito.

Pesquisador: Caraca, bem diferente.

ABB17CMR1: É.

Pesquisador: E porque você está pensando nessas duas?

ABB17CMR1: Porque eu gosto muito da parte de comunicação, até pelo jeito de ser,

porque eu acho muito interessante você conseguir influenciar as pessoas de uma maneira

tão indireta porém direta.

Pesquisador: Aham.

ABB17CMR1: E Direito porque eu acho que justiça é a base de tudo.

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Pesquisador: Legal. Bom, então me conta um pouquinho sobre o seu colégio. Como ele

é, o que você gosta, o que você não gosta nele, como é a estrutura.

ABB17CMR1: Ah, ele é um colégio pequeno, com ótimos professores que tem… Pô, eu

tenho uma professora que tem até PhD em neurobiologia, assim, sabe? E tipo, eu já tive

vários professores, eu tenho vários professores que já foram ou são ou já foram do

Britânico, do colégio americano. Eles tem métodos ótimos, eles tem as melhores, é, como

é que fala? Eles tem, esqueci a palavra, mas continuando, eles tem, eles tem um domínio

sobre o conteúdo muito forte e eles passam isso muito bem. O colégio é um colégio que

você nem imagina assim olhando ele de fora. Você não imagina a estrutura, em termos de

ensino, é um forte, pelo menos no ensino médio. E é um colégio bem difícil, na verdade.

Pelo menos para mim. E, aí, assim, tem uma interação muito boa entre os alunos e os

professores e eu acho que assim, é geral do colégio, isso aí não é só ensino médio, em

tudo. Sendo em eventos, em colaboração em geral e até em interação com os pais, que

eles tiveram até uma preocupação de fazer uma feira de profissões para os pais

conhecerem o trabalho uns dos outros e assim, meio que, gerar trabalho.

Pesquisador: Legal. E tem alguma coisa que você não gosta no colégio?

ABB17CMR1: Que eu me lembre, não.

Pesquisador: Legal. E como que é a estrutura de sala de aula? Como que é a sala de aula

do colégio?

ABB17CMR1: Ah, é uma sala média, que assim, é de quadro branco, tem o projetor,

computador para cada sala. Assim, se ficar confortável, assim, uns 30 alunos. Essa é a

minha sala, tem salas que são maiores e que cabem assim quase 50 alunos. E aí eles tem

as salas de informática, tem uma biblioteca, laboratório, ah, sala de artes também. Então,

e tem o auditório. Então é bem, bem, comporta bem o que a gente precisa.

Pesquisador: Legal. E quando que vocês usam esse laboratório, essa biblioteca, esse

auditório? Como que funciona?

ABB17CMR1: Eles usam mais para dinamizar, porque ficar sempre em sala de aula, né,

é meio massante. Às vezes, fica chato mesmo. E a gente mesmo sugere para que eles

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façam essa dinamização das aulas, como na aula de Química que não tinha, tipo, coisa

simples, eles mostravam assim “ah, vocês não tão meio que entendendo, mas olha só, as

(palavra não identificada), você pode fazer a neutralização, você pode fazer isso e isso” e

aí coloca os produtos, prepara tudo e, sala de artes também, é melhor porque a professora

tem uma visão muito maior do que a gente tá fazendo. Informática a gente não usa tanto,

porque ele é muito usado no ensino fundamental II, no sexto e sétimo ano a gente usava

mais, porque, tem muita gente que é da minha idade mais não sabe mandar um email.

Então, eles ensinam isso para que a gente possa fazer nossos trabalhos. Para começar a

ter interação com uma parte útil da informática.

Pesquisador: Aham. Mas no ensino médio não tem mais isso?

ABB17CMR1: Não, não para minha turma. Assim, são raros os trabalhos que a gente

tem que subir para a informática.

Pesquisador: Entendi. E quais são as matérias que são dadas no colégio? São as

tradicionais, vocês podem escolher matérias que querem fazer por fora, tem disciplina

extra-curricular, alguma coisa assim?

ABB17CMR1: É, não, são as matérias normais, tradicionais e, o que muitos colégios não

tem, é a divisão de português e literatura, que lá tem. Lá, matérias diferentes, com notas

diferentes, que não influencia em nada uma na outra.

Pesquisador: Entendi. E tem filosofia, sociologia?

ABB17CMR1: Tem sim.

Pesquisador: Legal. E no horário do intervalo, o que vocês costumam fazer?

ABB17CMR1: Ah, tem os jogos normais que é toto, ping-pong, ou as pessoas ficam

sentadas conversando assim nos grupinhos.

Pesquisador: Legal. Ah, bom, vocês estão no primeiro ano, mas já estão, o colégio já

está preparando vocês para o vestibular, para o ENEM ou ainda não? Eles já falam sobre

isso?

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ABB17CMR1: Repete, porque cortou.

Pesquisador: Tá. O colégio já tá preparando para o vestibular e para o ENEM, mesmo

no primeiro ano? Ou eles deixam mais para o terceiro ano?

ABB17CMR1: Não, eles preparam desde que você entra. Tanto que a gente não tem

teste, a gente tem dois simulados, onde as notas não podem ser recuperadas. Então assim,

você tem toda segunda-feira, você tem três matérias e uma tem quatro por causa da

redação. E aí, a gente tem um horário de duas as duas e meia para poder fazer três

matérias, cada uma com dez questões e apenas objetivas. E aí, no outro dia, a gente vai,

a gente começa a pesquisar, assim, as respostas de todos os vestibulares que já

aconteceram. E aí, tirando línguas, que é um pouco mais, né, que tem menos questões, e

aí, alguma delas fazem, mas é, a maioria tem e a gente consegue achar o gabarito fácil,

consegue tirar dúvidas fácil, consegue ter comentários das questões e aí, no outro dia, a

gente vê o nosso desempenho e assim vai dando em todos os semestres.

Pesquisador: Entendi. Mas isso começa o que, no primeiro ano sempre?

ABB17CMR1: Sempre.

Pesquisador: E como você se sente no colégio? No geral, você se sente feliz lá dentro,

como é que é?

ABB17CMR1: Ah, é ótimo. As pessoas são, eles meio que, como fazem, é, um tipo, tipo,

peneira no fundamental, é, pessoas que não gostam do estilo do colégio elas são quase

que obrigadas a sair, porque o colégio não muda a maneira de ser e as pessoas que estão

ali elas aprendem a conviver com aquilo ou elas saem do colégio e aí, facilita um pouco,

tanto que não tem problemas disciplinares no ensino médio.

Pesquisador: Entendi, entendi. Legal. É, bom, e como é a relação de vocês com os

professores?

ABB17CMR1: Ah, lá é muito boa a relação, porque tipo, eles entendem que você não é

só o aluno, não é só você dentro de sala de aula, ele entende você como pessoa, então

assim, você tem muitos momentos que você chega e eles vão passando assim pela aula

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271

para ver, né, como é que tá, se as pessoas estão copiando, para ver se, ai vem e “nossa,

você está com uma carinha, como é que você está? Tá tudo bem? Com os seus pais?”,

começam a interagir assim com você, para ver se tá tudo bem, se tá com muita dificuldade

e começam a observar melhor aqueles que estão, é, com as notas menores e começam a

dar atenção maior, tem cuidado maior e não só aquela relação professor- aluno. E, as

vezes, essa relação, no meu colégio, é, depois que se formam, isso se torna uma amizade.

E aí, vários já vi se formando e saindo com os professores e tal.

Pesquisador: Ah, legal. E vocês tem contato com eles, bom, alguns saem e tal, vocês,

durante o colégio, vocês tem contato com eles por Facebook, por Whatsapp? Vocês tiram

dúvidas por essas ferramentas ou não?

ABB17CMR1: Sim, a gente tem ou Whatsapp ou Facebook deles e sempre assim, sempre

são atenciosos e a qualquer momento que a gente perguntar qualquer dúvida, na hora que

eles podem responder para a gente, eles vão e tiram a dúvida sem problemas, tipo sábado

e domingo.

Pesquisador: Legal, mas são todos assim ou alguns só?

ABB17CMR1: Vou te dizer que é tipo noventa, oitenta por cento, porque alguns não tem,

é, a rede social ou não incluem alunos por questões profissionais, né.

Pesquisador: Aham, aham. E a relação com os inspetores, coordenadores e outros

funcionários do colégio?

ABB17CMR1: Então, é, os inspetores eles estão sempre muito, assim, mais amigáveis,

conversam muito com a gente e tal, interagem, brincam. A minha coordenadora é a minha

professora de português, então ela tem uma noção tanto de matéria quanto a visão

burocrática das coisas, sabe? E aí, torna mais fácil. E, é, é um colégio de irmãs, então

assim, a diretora é a irmã Inês, aí ela, assim, muitos tem queixas, mas ela consegue

(palavra não identificada) bem. É, os outros, é, são só elogios. Assim, eu não conheci do

fundamental I, mas o fundamental II que é uma senhora já, ela também tenta fazer o

melhor, tanto que ela coloca ideias no ensino médio, porque ela é uma das funcionárias

mais antigas do colégio.

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Pesquisador: Aham.

ABB17CMR1: E tipo, ela tá sempre estudando novas maneiras. Tipo, ela estudou

maneira da, procurou um teste com a gente da nossa facilidade de aprendizado, ou seja,

ela fez na nossa turma uma média de pessoas mais auditiva, visuais, cinestésicas, para

poder ver como os professores poderiam agir para ensinar melhor.

Pesquisador: Legal.

ABB17CMR1: E aí, ela foi fazendo isso com cada turma e foi dizendo para cada pessoa

o que é aquilo. Então todos professores tem uma importância, independentemente da sua

matéria, do aluno.

Pesquisador: Legal. E como que os professores costumam dar aula?

ABB17CMR1: Ah, são mais em sala de aula mesmo, sem muita dinâmica. Às vezes, a

gente faz porque a gente pede, mas eles ensinam muito com resumos de caderno, é,

explicações, é, slide também muito, é, vez por outra também tem vídeos, filmes, essas

coisas assim para ficar melhor.

Pesquisador: Mas isso é mais difícil? Normal mesmo é eles falando?

ABB17CMR1: Falando ou mostrando no quadro.

Pesquisador: Aham. E eles passam trabalho de casa normalmente?

ABB17CMR1: Sim, algumas matérias mais, como física, matemática, sempre passam

bastante. Português também é bem rígido nisso. Tanto que vale como se fosse um TR.

Pesquisador: Entendi. Bom, e o que você acha dessa metodologia de ensino? O que você

acha dessa forma que eles passam matéria? Você acha que é legal, você gosta, você

consegue aprender? Você acha que tem formas melhores de serem feitas?

ABB17CMR1: Assim, eu acho que, eu acho que é uma boa forma porque todo tipo é

válido. Eu acho que deveriam investir mais em novas maneiras, como essa de vídeo, mais

do que já fazem. É você mostrar o que você ensina. Usar mais o laboratório que é mais

usado para Biologia, quando faz dissecação, que ainda faz um pouco. E aí, como é

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que fala? E aí, deveriam ter mais maneiras, porque nem todo mundo consegue nessas

maneiras convencionais.

Pesquisador: Aham. E você tem algum exemplo de algum professor que fez isso e que

você gostou?

ABB17CMR1: Tem um professor de Química que ele levou a gente, tipo, é uma matéria

muito boa, dá para você entender pelo livro, mas ele levou, preparou para a gente poder

ver ácido, base, sal, essas coisas e ver as reações. E esse é um dos meus trabalhos, pegar

um relatório de laboratório para poder dizer as reações, qual é o tipo de reação e assim,

tipo, pegar a matéria e botar em prática para todo mundo ver como é e, às vezes, até

encaixar mais.

Pesquisador: Legal. E vocês vão para esse laboratório sempre ou é algo mais esporádico?

ABB17CMR1: Não. No primeiro ano, é bem raro. Agora, no segundo e no terceiro ano

a gente tem aula de laboratório.

Pesquisador: Legal, legal. Bom, você já falou um pouquinho, mas como são as

avaliações do colégio? Você falou que tem simulados, mas como é isso no todo assim?

ABB17CMR1: Então, as avaliações são um TR, que são trabalhos. Aí são decididos pelo

professor da maneira que ele quer. Dois simulados por matéria. Cada um desses tem peso

um e a prova tem peso três. E aí quando você junta essas médias, você divide tudo por

seis e aí vai dar, ou seja, a prova vale metade da sua nota.

Pesquisador: E essas provas podem fazer com consulta, vocês podem fazer em grupo ou

é sempre individual?

ABB17CMR1: Sempre individual.

Pesquisador: E os trabalhos, como é que são?

ABB17CMR1: Os trabalhos, eles dependem. Tipo, tem trabalho que é grupo, tem

trabalho que é para entregar, apresentação, tem várias formas. Tipo, eu tenho, meu

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professor de biologia, ele inventou agora que a gente tem que fazer, como ele gosta muito

de Rock in Rio e adora biologia, tem uma matéria, então vamos juntar isso. Então vai ser

o Rock in High, que a gente vai ter que pegar uma pessoa do Rock in Rio, personificar

ela no grupo e fazer uma paródia da música dessa pessoa. E aí vai ter que apresentar a

matéria que ele tá dando agora.

Pesquisador: Entendi. O que você achou desse trabalho?

ABB17CMR1: Bom, porém vergonhoso.

Pesquisador: E o restante da turma, gostou ou não gostou?

ABB17CMR1: Gostaram, porque tem uma maneira melhor de você aprender, uma

maneira mais, é, mais divertida de você aprender.

Pesquisador: Aham, legal. E como é que é o uso da tecnologia lá? Vocês usam

tecnologia, usam celular, não usam? Usam computador?

ABB17CMR1: Não. Se você pegar o celular, o seu celular é confiscado o resto do dia. É

tipo isso. Você não pode usar nada. A não ser que, tipo, se o professor tá em sala, você é

proibido, isso aí já é lei e tal, mas não é nenhuma permissão extra. “Ah, aqui você pode

usar o celular”. Não, não tem. Pelo menos no primeiro.

Pesquisador: Entendi. Mas vocês usam outro tipo de tecnologia, vocês usam internet,

tem computador nas salas, alguma coisa assim ou não?

ABB17CMR1: Computador só para o projetor…

Pesquisador: Aham.

ABB17CMR1: E aí, os professores usam, botam os filmes e tal, e é uma das melhores

maneiras que tem, tirando aquelas pessoas que sentam na mesa, desligam a luz e ficam “é

isso, isso, aquilo” e a luz só na frente e todo mundo aqui desligado, um sono.

Pesquisador: Aham.

ABB17CMR1: Mas de resto, muito bom usar.

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Pesquisador: E o que você acha dessa proibição de não usar celular e, enfim, não ter

tanta tecnologia dentro de sala de aula? Qual a sua opinião?

ABB17CMR1: Eu acho que devia ter mais tecnologia, mas a lei deve ter sido criada

porque existe falta de bom senso. Então, né? Tem aquelas pessoas que ficam o tempo

inteiro, a pessoa fica olhando para baixo e a aula correndo e você vendo que a pessoa tá

usando o celular, é visível isso. Muitas vezes, os professores ignoram, muitos professores

ignoram mesmo.

Pesquisador: Aham.

ABB17CMR1: Porque assim, ficar chamando a atenção toda hora não vale a pena, mas

se houvesse uma (palavra não identificada) nos alunos, isso com certeza deveria ser

liberado, com certeza.

Pesquisador: Aham. E como você acha que a tecnologia podia estar inserida nesse

contexto? Como você acha que ela poderia estar ali em sala de aula, para, para ajudar na

educação?

ABB17CMR1: Acho que ela deveria ser, deveria fazer provas no computador, pelo

menos deveria ter, pelo menos, na rede do colégio. Seria uma forma mais útil de você

aprender. Deveria ter aulas que, além de você as partes práticas, tipo, Excel. Quem sabe,

na minha idade, usar um Excel? Ninguém sabe! Eu não sei usar Excel. E tipo, eu sei que

algum dia isso vai ser importante. Então assim, não tem. Agora, um Word, a gente já vai,

um Gmail, a gente dá uma mexida, mas isso deveria ser mais incluído nas aulas, mais

integrados ao método.

Pesquisador: Aham. E no seu dia-a-dia, você usa muito tecnologia?

ABB17CMR1: Muito, o tempo inteiro quase.

Pesquisador: Mas para fazer o que?

ABB17CMR1: Para jogar, socializar e, muitas vezes, estudar.

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Pesquisador: Muitas vezes estudar? E como você estuda pelo, por onde você estuda e

como que você estuda?

ABB17CMR1: Eu vejo muita vídeo-aula para…

Pesquisador: E faz o que? Desculpa, não escutei.

ABB17CMR1: Muita vídeo-aula, vídeo aula. É, resumos de sites como, tipo, tem site de

cada matéria. Tipo, só a matéria, sóportugues.com, sóbiologia.com, ou os professores eles

passam, muitas vezes, passam, o professor de história, alias. Ele passa um questionário

que a gente entra com a senha, vai todo mundo fazer a avaliação e vai direto para ele a

nossa nota de avaliação que a gente pode fazer em casa. Aí é um site que eu não lembro

qual é o nome, mas, você tem uma, a partir do momento que você entra, você tem uma

hora para responder dez questões discursivas, discursivas não, objetivas sobre a matéria

que ele selecionou. E para cada aluno, aquilo ali vai embaralhar de uma forma para os

alunos não colarem, como se isso funcionasse. Mas, é, mas aí, é, mais com esses sites,

vídeo-aula, é, até mesmo para poder conversar com os amigos da sala para poder explicar,

por aí.

Pesquisador: E esse site que o professor de História usa é por conta dele mesmo,

porque ele gosta e acha interessante ou é alguma coisa do colégio?

ABB17CMR1: Não, porque ele acha interessante usar a internet porque a gente usa

sempre para poder usar para o estudo.

Pesquisador: Legal, mas ele usa sempre isso valendo ponto ou usa só como reforço?

ABB17CMR1: Ele usa algumas vezes para fazer como TR do trimestre.

Pesquisador: Entendi. E vocês fazem em casa mesmo?

ABB17CMR1: Isso.

Pesquisador: Legal. E fora ele, os outros professores, enfim, em sala de aula, no colégio,

você não pode ficar usando a tecnologia, mas fora, para estudar, os professores, além do

de História, eles incentivam isso ou não?

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ABB17CMR1: Eles sempre incentivam, eles só não fazem esse tipo de avaliação, mas

incentivam sempre a achar, e, às vezes, até indicam sites que a gente possa entrar. Tipo a

minha professora de biologia, ela tem um blog com todos os slides de matérias que ela

passa no ensino médio. Então assim, você chega lá, você tem o conteúdo quase que

mastigado para você estudar.

Pesquisador: Entendi. E esse compartilhamento de slides, os professores fazem

normalmente ou não?

ABB17CMR1: Normalmente, eles façam o compartilhamento de slide.

Pesquisador: Mas como que eles compartilham? Onde eles compartilham?

ABB17CMR1: A gente tem um email da turma. E aí, cada turma vai levando até o final

do curso e os professores tem os emails lá que eles entram no computador da nossa sala

e, a partir do momento que eles explicam, eles mandam para a gente ou mandam antes

para a gente imprimir e traçar o resumo a partir daquilo para entregar como um TR, que

é como o professor de Geografia faz. É, só ele. E aí, também, essa maneira de avaliar só

ele que faz. E resumo. A avaliação de trabalho dele é só com resumos no dia da prova. E

ele manda antes para a gente poder imprimir. O professor de Biologia, eles mandam, mas

eles mandam, geralmente, só para complementar. A explicação toda deles é desenhada

no caderno, uma coisa bem difícil, mas, não tem problema.

Pesquisador: Quem é que teve essa ideia de criar um email para a turma? Isso já existia,

foi ideia de vocês?

ABB17CMR1: Não, isso já existia. Muitas turmas e com nomes bem bizarros.

Pesquisador: Mas quem que, você sabe de quem foi a ideia? Se foi de aluno, se foi ideia

de professor, quem que resolveu?

ABB17CMR1: Olha, isso já está a tanto tempo que eu não sei. Quando eu entrei no ensino

médio, já tinha essa determinação de todo mundo da turma tinha que criar um email.

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Pesquisador: Aham. E você, você já falou um pouquinho, mas como que você faz para

estudar? Você estuda todo dia, você usa o livro, usa resumo, vê vídeo-aula, como é que é

o seu processo?

ABB17CMR1: Ah, é um pouco de fazer deveres e um pouco de você também fazer

resumos, para ver as questões assim, de você mesmo “ah não, o professor não passou,

mas eu vou fazer”. É, eu estudo fazendo resumo e desse resumo eu vou gravando. Que é

só assim que tem sido.

Pesquisador: Entendi. E você estuda todo dia ou estuda mais quando está perto da prova?

ABB17CMR1: Mais quando está perto.

Pesquisador: Aham. E você, enfim, nesse estudo, enfim, o colégio tem foco em

vestibular e tal. Você, você por conta própria já está pensando e já está estudando para o

vestibular ou ainda não?

ABB17CMR1: O foco não é tanto, mas, de uma maneira indireta, eu já estudo. Porque

todas as questões que tem prova, simulado e, muitas vezes, de TR são todas de vestibular,

todas. Até os nossos livros são livros baseados só em questões de vestibular, todos que já

tiveram. Até as faculdades que nem tem mais prova. E aí, continua todo o material que

é… Agora também, com a questão de tecnologia no estudo, eles fizeram agora uma

associação com a Editora Moderna, a Editora Moderna, que elas tem os livros todos

digitalizados, que você entra com a senha e você já tem todo o seu livro ali online. E aí,

isso dá para você colocar em tablet, computador… E aí, assim, o professor de Filosofia

apenas que deixa, “ah, você não quer trazer o livro, porque é pesado”, ele deixa. Então

você vêm, traz o tablet e vê o livro assim. Tipo assim, assim eu deixo. É o único que deixa

mesmo. Claramente, assim, você coloca na cara dele e ele fala tudo bem, tudo ótimo.

Pesquisador: Entendi. E, calma aí, me perdi. Esqueci a pergunta que eu ia fazer. Foi mal.

Eu tinha alguma coisa aqui anotado. Tá, lembrei. O conteúdo que os professores passam,

eles tentam associar de alguma forma com o mercado de trabalho, com coisas

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que estão acontecendo no mundo, ou não, eles são muito mais focados naquele conteúdo

ali específico e vai embora?

ABB17CMR1: Eles não focam em mercado de trabalho, eles focam mais em, tipo, “isso

aqui, isso aqui gente, cai muito em vestibular. É isso aqui e tal e blá blá blá”. Mas assim,

chegar e falar o que é fora do vestibular, não.

Pesquisador: Não, entendi. Bom, você falou que eles tem um pouco dessa questão de ser

mais amigos, de tentar entender as pessoas, conversar e tal. Você acha que existe algo

mais, que tipo, eles tentam estimular em vocês outros tipos de comportamento além do

técnico dentro de sala de aula? Em vez de só focar em disciplina, material, mas enfim,

tentar ensinar vocês outros tipos de conteúdo como ética, liderança, cooperação, enfim,

esse outro…

ABB17CMR1: Tem muito trabalho disso. Tipo, em Sociologia, o nosso trabalho de

representante é fazer uma campanha com poster, banner, sei lá, tudo o que você puder.

Tanto que a gente fez, a gente faz propaganda eleitoral e, tipo, a gente faz vários vídeos

constrangedores também. E aí, você tem os partidos, e aí, você tem as alianças que você

faz dentro para poder, para as pessoas poderem ser representante. Você, tipo, o meu grupo

dava copo, copo com logo assim, sabe? Aqueles copinhos, dava para todos os professores,

porque professor também vota no representante de turma, além da turma em si. Eles tem

peso dois até na votação, então cada um deles é importante você convencer nisso e você

ganha uma nota maior. Então, se você conseguir uma melhor campanha, você consegue

uma melhor nota.

Pesquisador: Entendi. E essa questão dos professores, existem matérias ou conteúdos ou

alguma coisa que é feito entre mais de um professor ao mesmo tempo ou é cada um no

seu?

ABB17CMR1: Sim, teve trabalho que, assim, terceiro ano, que foi de bioética. Então,

eles comentaram sobre como lidar com a morte, depressão, falaram também sobre

Palhaço da Alegria, Médicos da Alegria, alguma coisa assim, que são os palhaços que

vão nesses institutos de câncer, falar com as pessoas no hospital. E tipo, doar sangue,

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tudo isso. E até a eutanásia, eles falaram sobre isso. Eles comentaram toda essa parte de

bioética que foi religião e biologia.

Pesquisador: Ah, legal. E qual sua opinião sobre isso, misturar disciplinas para abordar

algum assunto?

ABB17CMR1: Isso pode facilitar muito o entendimento que você tem, tem mostrar algo

além daquela matéria. Tipo, eu sou uma pessoa que não vê sentido na, assim, estudar

química a fundo. Eu preciso ver química realmente, porque isso não faz parte da minha

vida, eu tenho essa certeza, mas tem gente que tem. Porém, eu não acho que tem. Aí, você

misturar isso com uma coisa, sei lá, filosofia, vai te mostrar uma parte que você ainda não

visualizou naquela matéria. Então eu acho que é muito útil você unir matérias.

Principalmente quando são campos diferentes. Tipo, biologia com humanas.

Pesquisador: Entendi, entendi. Falando nisso, foi aprovado agora uma reforma do ensino

médio, vão ter algumas mudanças. Você conhece algum detalhe sobre essas mudanças da

reforma? O colégio chegou a comentar com vocês sobre isso?

ABB17CMR1: Bom, eu só escutei os professores falando que é mesmo um desperdício

de aulas que vocês tem, porque todo mundo teria que ter acesso a todas as aulas. Isso vai

facilitar, mas a pessoa vai ter uma quantidade de conhecimento menor por conta disso.

Eu sei que vai ter uma base de matérias e a partir disso você pega os técnicos. Tipo, você

quer focar em exatas, então você vai para essa área, mais os bases. E aí, assim, eu acho

que não vai ser falta de conteúdo, porque você grava só para fazer uma prova e depois

esquecer tudo vai ser a mesma coisa que você nunca tenha visto aquilo. Você tem que ter

uma noção, pelo menos, de cada um de uma forma mais branda no primeiro ano e depois

você decide isso, porque não tem como você saber o que você quer sem que você tenha

visto antes. Então é essa a minha opinião.

Pesquisador: E, durante as aulas, os professores tentam entender vocês de alguma forma,

tentam entender os interesses de vocês para tentar trazer isso para disciplina de alguma

foram? Sei lá, o professor de literatura tenta entender os livros que as pessoas gostam e

tenta abordar isso em sala de aula? Como um exemplo assim.

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ABB17CMR1: Não.

Pesquisador: Não?

ABB17CMR1: Não. Tem professor que passa Mia Couto, Ilíada para você ler, é uma

coisa meio pesada.

Pesquisador: Mas nenhum professor? É mais, ele tem aquela disciplina, ele dá aquela

disciplina e é isso aí.

ABB17CMR1: Um máximo que tem são esses trabalhos paródias, o máximo.

Pesquisador: Mas, nesses trabalhos, eles que escolhem o tema também? Ou eles dão

liberdade para vocês fazerem?

ABB17CMR1: Não, eles escolhem o tema e dentro daquele tema a gente tem que fazer.

Mas assim, eles escolhem… O professor de História é o que mais faz isso. Então assim,

ele vêm e fala assim, vocês tem essas matérias aqui, escolham entre vocês. Aí vai lá, “eu

quero Roma”, “eu quero Grécia”, e por assim vai. Então tá bom, agora vocês tem que

fazer um vídeo com a paródia disso aqui. Pode pegar qualquer uma. Então assim, é um

outro constrangimento. E aí, você vai apresentar para a turma inteira, todo mundo

pagando aquele mico, pegando música, pegando música chiclete assim. Sei lá, Lepo Lepo,

Anitta, tipo assim. E faz a paródia da maneira que as pessoas tenham que usar aquilo para

gravar a matéria. E aí, fica bem.

Pesquisador: Entendi, legal. E você gosta desse tipo de coisa?

ABB17CMR1: Sim.

Pesquisador: Legal.

ABB17CMR1: Por que tem uma interação maior da turma.

Pesquisador: É, e como é que é a interação de vocês, de vocês alunos assim? Você já

falou um pouco como é a interação do professor com os alunos, mas como que é a

interação de vocês da mesma sala e de salas diferentes? Há um convívio?

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ABB17CMR1: Há muito convívio sim. Tipo, um pessoal do ensino médio, como são

quatro turmas só, todo mundo, a maioria conversa entre si. Aí o primeiro conversa com o

terceiro, o segundo conversa com o primeiro, e assim, até porque, muitos deles, no

fundamental I, as turmas eram juntas, porque, não eram tipo, quinto ano com quinto ano.

É por turno. Aí muitos se conheciam de antes. E aí quando chega, aproxima mais, não

tem um calendário de prova para essa turma, outro para essa turma, não. É todo mundo.

É o ensino médio com prova nessa matéria, nessa matéria, nessa matéria. Só que as

matérias são matérias ali, elas são diferentes para cada ano, porque tem que ser.

Pesquisador: Entendi. O colégio que você está é religioso, é isso?

ABB17CMR1: É.

Pesquisador: Isso influencia de alguma forma? Eles tem alguma coisa mais direcionada

para religião? É bom, é ruim? O que você acha?

ABB17CMR1: Em partes. É muito bom porque, eles desde pequenos fazem a matéria de

religião, eles tem prova mesmo de religião. E a prova é meio que assim, a gente não tem

que aprender só sobre a religião na escola. A gente tem que aprender sobre todas e eles

ensinam a gente a respeita. Eles mostram o que é para que a gente possa tirar nossas

conclusões e respeitar aquilo. Porque nem todo mundo que tá ali é da mesma religião da

escola, tá mais ali pelo ensino. E tem muitos professores que não são aquela religião da

escola. Eles também falam da parte de ética, do respeito em si, como tratar o próximo,

tratar os assuntos atuais, em religião. Tipo, sexualidade na adolescência, eles tratam disso

também. Fazem debates. Falam muito sobre religião, porque a religião, no caso deles, o

que eles querem representar é que você tem que fazer o bem ao outro e como você vai

fazer isso. Então tem várias situações que eles colocam. Mas também não perde aquele

tom católico que é da escola. Tipo, pega o terceiro ano e vamos fazer a missa para

abençoar eles para a prova. É tipo isso.

Pesquisador: Aham, entendi. Bom, só para finalizar aqui, a pergunta mais genérica e aí,

fica à vontade. Se você pudesse fazer uma mudança na educação no Brasil, o que que

seria? Se pudesse mudar alguma coisa.

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ABB17CMR1: O que eu faria é de você ter uma, essas matérias que são base, que eles

consideram como base, sem realmente contar com o que tá sendo dada e, as outras, só

para você realmente conhecer o que você quer.

Pesquisador: Aham, legal. Bom, tem mais alguma coisa que você queria comentar,

algo que deixou passar?

ABB17CMR1: Não, nenhuma.

Pesquisador: Então tá bom. Bia, obrigado aí mais uma vez, tá bom? Valeu!

ABB17CMR1: Ta bom.

Pesquisador: Beijos, tchau.

ABB17CMR1: Tchau.

GB17MA2

Pesquisador: Olá.

GB17MA2: Oi.

Pesquisador: Tudo bem?

GB17MA2: Tudo.

Pesquisador: Que bom. Obrigado aí pelo seu tempo, tá?

GB17MA2: Nada.

Pesquisador: Mais uma vez, obrigado pelo seu tempo. Deixa eu te explicar aqui. Como

eu falei, eu estou fazendo mestrado, eu sou designer, eu estou fazendo mestrado sobre

educação, ensino médio. E aí, a ideia é que a gente bata um papo um pouco, sobre tudo,

tá? Não tem opinião certa, não tem opinião errada, só gostaria de ouvir o que você tem a

dizer, tá? Então fique bem tranquila.

GB17MA2: Tá bom.

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Pesquisador: Para começar, se você puder dizer um pouco sobre você, se apresentar,

falar seu nome, sua idade, com quem mora, qual colégio você estuda, qual a série que

você está.

GB17MA2: Meu nome é GB, eu tenho 17 anos, eu estudo no MV1 Anderson, estou no

segundo ano do ensino médio, eu moro com meu pai, com minha madrasta e com minhas

irmãs e acho que é isso.

Pesquisador: Ah, legal. Só para, eu esqueci de comentar, se você me permitir, eu vou

gravar. Só porque eu não vou conseguir anotar tudo aqui e depois eu preciso…

GB17MA2: Aham, tudo bem..

Pesquisador: Obrigado. Você falou que está no primeiro ou no segundo ano, desculpa?

GB17MA2: Segundo.

Pesquisador: Segundo? Legal. E você já frequentou outros colégios além do MV1?

GB17MA2: Frequentei só um, foi o Ressureição, Colégio Ressureição.

Pesquisador: E faz muito tempo?

GB17MA2: Eu estudei lá desde a oitava série. Eu entrei no MV1 no nono ano e estou

até agora.

Pesquisador: Ah, legal. E você prefere um ou outro?

GB17MA2: Não, eu acho que não. Eu acho que, para mim, é a mesma coisa. É porque

eu tenho muito amigo lá e tenho muito amigo aqui, então, tipo… Mas o método de ensino

eu prefiro do MV1.

Pesquisador: Ah, legal. E além do colégio, você faz algum outro curso?

GB17MA2: Não.

Pesquisador: Não?

GB17MA2: Faço no caso teatro, mas, é, teatro.

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Pesquisador: Que não deixa de ser.

GB17MA2: Sim, sim, teatro.

Pesquisador: Você faz teatro a quanto tempo?

GB17MA2: Faço a quatro anos.

Pesquisador: Legal. E você faz onde? No colégio ou em outro lugar?

GB17MA2: Faço no colégio e fiz também no, na CEFTEN, que é um curso de teatro

que tem, acho que é em Laranjeiras.

Pesquisador: Ah, legal.

GB17MA2: Não tenho certeza se é Laranjeiras, Botafogo. Acho que é Botafogo.

Pesquisador: Entendi. Quem decidiu fazer teatro? Foi você ou foi seus pais que te

colocaram?

GB17MA2: Fui eu.

Pesquisador: E por quê? Tem algum motivo específico?

GB17MA2: Não, sempre gostei muito. Aí tinha curiosidade e aí fiz umas aulas, gostei e

resolvi ficar. E até hoje eu faço.

Pesquisador: Ah, legal. Bom, você já está no segundo ano, você já sabe qual profissão

você pretende seguir?

GB17MA2: Eu acho que vou fazer faculdade de direito, quero ser juíza, na verdade,

mas ainda não tenho 100% de certeza.

Pesquisador: Você tem dúvida em alguma outra?

GB17MA2: É, porque eu queria fazer Artes Cênicas, teatro, mas eu ainda tenho um

pouco de dúvida.

Pesquisador: Mas porque essa dúvida?

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286

GB17MA2: Ah, eu não sei. Porque acho que teatro não é uma profissão que não é muito

valorizada. Então não sei, fico com um pouco de dúvida. Mas é também porque eu gosto

muito de Direito, eu sempre quis fazer antes de pensar em teatro, era minha opção.

Pesquisador: Entendi, mas alguém te influenciou nessa questão do direito? Alguém da

sua família faz ou foi alguma coisa que veio de você?

GB17MA2: Não, sempre gostei.

Pesquisador: Ah, legal. E me conta um pouquinho sobre o seu colégio, como que ele é?

GB17MA2: Ah, é meio puxado, meio chatinho, mas é, acho que é tranquilo. Em termos

de, tem professores legais, as provas, as vezes, cansa, mas, não sei. Eu gosto do método

de ensino de lá, as aulas são boas. E é isso.

Pesquisador: Por que você gosta do método de ensino deles? Como que é o método de

ensino?

GB17MA2: Ah, é porque, assim, eu gosto das aulas. Tipo assim, eu acho que é mais o

método dos professores, porque eles são, acho que, mais tranquilos, eles não são muito

rígido, sabe? Aquela aula que você “meu Deus do céu, não aguento mais”. Eles brincam

e tudo mais. Eu acho que fica mais leve de assistir e tal.

Pesquisador: Entendi. E tem alguma coisa que você não gosta no teu colégio?

GB17MA2: Não sei. Eu acho que as provas. É porque tem, é, tem duas provas de cada

matéria que a gente faz, a normativa e a tem a global. E a semana de global é, tipo, uma

semana de todas as provas e cada prova de cada matéria tem vinte questões e, tipo, duas

três provas no mesmo dia e aí eu não gosto muito disso, porque você fica desesperado.

Mas, é, acho que é necessário para, tipo, preparar a gente e tudo mais. Mas eu acho, sei

lá, fico um pouco nervosa essa semana.

Pesquisador: Entendi. Me conta um pouquinho como é a estrutura do seu colégio.

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GB17MA2: Tem, não sei. Calma, é porque tem um prédio que tem as salas do ensino

médio, tudo mais. É porque a gente tem aula embaixo. Aí tem uma quadra, tem os

auditórios. Nas salas do ensino médio, do ensino médio não, do terceiro ano, na verdade.

É porque a gente tem aula embaixo, mas no prédio, em todas as salas tem, aí, esqueci o

nome daquilo. Meu Deus, calma, deixa eu lembrar. Projetor e tudo mais, essas coisas. E

acho que é isso. Tem biblioteca…

Pesquisador: Tem biblioteca, tem laboratório, tem sala de informática?

GB17MA2: Tem! Sala de informática não, mas tem biblioteca e laboratório. E

auditório, no caso.

Pesquisador: Legal. E quais são as matérias que são dadas lá? Tem alguma diferente da

tradicional?

GB17MA2: Não, é normal. Matemática, física, química, biologia, essas coisas.

Pesquisador: E você falou que faz teatro lá no colégio. Tem outras atividades extras?

GB17MA2: Tem teatro, dança e, eu acho, eu não sei a luta que tem, mas tem alguma

luta. Não tenho certeza se é judô. E tem percussão também.

Pesquisador: E vocês são incentivados a fazer, qualquer aluno pode fazer?

GB17MA2: Aham, qualquer um pode fazer. Quem quiser, tem horário extra classe e aí

tem horário para a turma da manhã e para a turma de tarde.

Pesquisador: Entendi. E o que você costuma fazer no intervalo, de uma aula para outra,

assim, no intervalo, na hora do intervalo?

GB17MA2: Ah, eu fico conversando com as pessoas, meus amigos. Acho que só. A

gente joga, de vez em quando, Uno, cartas. Mas, geralmente, eu sento e converso.

Pesquisador: Entendi. No colégio tem pátio, tem quadra?

GB17MA2: Tem, tem pátio e quadra. Tem pátio e tem quadra.

Pesquisador: E as pessoas, na hora do intervalo, podem jogar ou não?

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GB17MA2: Não, não pode jogar na quadra não. É porque, em cima da quadra, tem um

lugarzinho que tem toto, ping-pong, aí lá em cima pode ficar. Mas na quadra, na quadra

em si, não pode.

Pesquisador: E tem algum motivo específico?

GB17MA2: Não sei, eu acho que para não dar nenhuma besteira ou para nego não brigar,

eu não sei o motivo específico, eles só não deixam.

Pesquisador: Entendi. E o que você acha disso, deles proibirem?

GB17MA2: Ah, eu acho que não tem problema das pessoas jogarem lá, mas é porque

não tem ninguém para ficar ali e tudo mais e, não sei, acho que eles tem medo de acontecer

alguma coisa ou alguém se machucar e cair na conta do colégio, acho que é isso.

Pesquisador: Entendi. E o colégio já está te preparando para o vestibular?

GB17MA2: Eu acho que sim, pelos simulados que tem. Tem simulado Enem, que é do

terceiro ano, mas o segundo ano pode fazer, se quiser. E tem simulado todo bimestre. Eu

acho que sim.

Pesquisador: E como que você se sente, assim, dentro do colégio, no geral?

GB17MA2: Eu me sinto bem, eu gosto de estudar lá. Eu gosto das pessoas, eu gosto dos

professores, eu me sinto bem.

Pesquisador: E como é essa sua relação com os professores?

GB17MA2: Ah, é boa. Eu sou amiga de quase todos os professores. Tem um em especial

que eu não gosto muito, mas o resto, eu me dou super bem, converso com eles. Sempre

que eu preciso de ajuda para alguma coisa, eu falo e eles ajudam, tiram dúvida. Eu tenho

professor até no Facebook e eu mando mensagem se tiver alguma dúvida em algum

trabalho e eles respondem tranquilamente e tal. Ah, eu acho bem legal.

Pesquisador: Ah, legal. E esse que você não gosta, porque você não gosta dele?

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GB17MA2: Ah, é porque ele, ele, ele é um pouco fofoqueiro, aí ele gosta de falar mal

dos outros, sabe? Aí eu não gosto dele não. Mas a aula dele em si é boa. Na verdade, a

aula de Literatura, porque ele dá aula de Literatura e Português, e a aula dele de Literatura

dele é muito boa, mas a de Português é fraquinha.

Pesquisador: Entendi. Você falou que tem alguns professores no Facebook, você tem,

são muitos ou é um ou outro?

GB17MA2: Só um ou outro. É porque tem uns que não gostam de adicionar alunos e

tudo mais, mas tem uns que não vêm problema nisso, mas só alguns.

Pesquisador: Além do Facebook, vocês tem eles no Whatsapp também?

GB17MA2: Depende, tem professor que a gente tem Whatsapp. É porque, lá no colégio,

a gente tem feira cultural. Aí, todo ano a gente fica com um professor. Então eles fazem

grupo para ajudar a fazer os negócios da feira e tudo mais. Então tem alguns professores

que eu tenho Whatsapp sim. E o de Filosofia e Sociologia porque, ele dá as duas matérias,

sempre dá o telefone dele para caso a gente tenha dúvida ou se a gente quiser perguntar

alguma coisa da matéria e tudo mais, ele responde, entendeu?

Pesquisador: Ah, legal. Então ele já dá essa abertura para vocês se vocês precisarem?

GB17MA2: Aham.

Pesquisador: E os outros professores, dão essa abertura também, tipo perto da prova ou

para tirar alguma dúvida, mandar coisa para eles ou não?

GB17MA2: Não muitos. Tem uns que são mais tranquilos, como o de Física, é mais

tranquilo, ele dá uns slides nas aulas e ele manda para a gente por email, para a gente ter

como base e tudo mais. Mas não são todos não, são bem poucos.

Pesquisador: Entendi. No modo geral, você acha que os professores tratam vocês como?

GB17MA2: Eu acho que eles tratam a gente bem. Porque, tipo assim, eles confiam muito

na gente, então, eles tratam, é, relativamente bem.

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Pesquisador: E porque você acha que eles confiam em vocês?

GB17MA2: Ah, eu também não sei o porque que eles confiam na gente não, mas, é

porque eu acho que, sei lá, é que eles, tipo, sempre que a gente precisa de alguma ajuda

ou então um trabalho para ajudar em ponto, em nota, eles dão e tudo mais. Se eles tiverem

como ajudar a gente, eles sempre procuram sabe?

Pesquisador: Ah, legal. E a relação de vocês com os outros funcionários? Tipo inspetor,

coordenador?

GB17MA2: Ah, é muito legal, é muito boa. Com os inspetores é sensacional, eles são

muito nossos amigos, a gente conversa com eles, bate papo com os funcionários da

limpeza também, com todo mundo. E com o coordenador também, ele é, tipo, muito

próximo da gente. Ele sempre vai na nossa sala, a gente sempre fica lá na sala dele

perturbando ele. Ele é bem próximo da gente.

Pesquisador: Ah, legal. Ele convive no dia a dia, ele está sempre trazendo as coisas para

vocês?

GB17MA2: Aham, todo dia ele está lá, ele vive com a gente, ele conhece cada um, sabe

de nota, sabe de comportamento de sala. Realmente, ele sabe de todos nós.

Pesquisador: E o que você acha disso? No outro colégio você tinha isso também?

GB17MA2: Tinha menos, mas também tinha. Mas era menos. Com a coordenação, era

porque, tinha mais de uma coordenadora. Com uma, a relação era melhor do que com a

outra. Mas eu gosto, eu acho que, sei lá, passa uma impressão que eles se importa com os

alunos e tudo mais, então eu acho legal.

Pesquisador: Como que os professores costumam dar aula?

GB17MA2: Ah, depende da matéria. Tem uns professores que passam umas coisas no

quadro e depois vão explicando e tem outros, como o de História, de Filosofia, de

Sociologia, eles geralmente explicam para a gente, passam vídeo, essas coisas. Passam

filme, passam slides, essas coisas.

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Pesquisador: E qual que você gosta mais?

GB17MA2: A aula que eu mais gosto é de Sociologia.

Pesquisador: E por que?

GB17MA2: Ah, eu gosto muito do professor e eu também gosto da matéria. Mas ele

explica muito bem e, tipo assim, o jeito dele explicar, é umas coisas muito atuais. Ele fala

para o nosso convívio, para a gente entender, ele fala de várias formas diferentes. Eu acho,

tipo, muito legal a aula dele.

Pesquisador: E você disse que todas as salas tem projetor. A maioria usa projetor, como

que funciona?

GB17MA2: A maioria sim, só alguns que não usam. Tipo, o de matemática não usa

muito, o de física também. Os de exatas não usam muito. Biologia usa bastante. Mas

química, física e matemática não usam muito. Mas o resto das matérias… Na verdade,

física usa, química e matemática que não usa muito. Mas o resto das matérias, eles sempre

usam, sempre levam filme. Literatura então, a gente sempre vê alguma coisa relacionada.

Biologia também, slide, essas coisas, bem legal.

Pesquisador: E depois eles compartilham com vocês de alguma forma?

GB17MA2: É, tipo assim, tem uns que fazem slide. Por exemplo, o de Física, aí sempre

que a gente pede slide, ele pega e manda por email, se a gente quiser. Aí ele manda o slide

para a gente. Ou se ele pega algum vídeo na internet, ele pega o link. Uns sites que tem

uns jogos, esse tipo de coisa eles sempre passam para a gente.

Pesquisador: Legal. Uns mandam os slides por email, quando é link, quando é vídeo,

essas coisas, eles mandam por onde? Mandam por email também?

GB17MA2: Aham. Aí, é porque, geralmente, eles mandam para uma pessoa e aí, a gente

manda no grupo da turma. Ou então, de vez em quando, eles mandam por Facebook,

alguma coisa assim. Mas, normalmente, é pelo email.

Pesquisador: Entendi. Esse grupo da turma é só dos alunos, não tem os professores?

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GB17MA2: É, a gente tem um grupo no Whatsapp só dos alunos, aí a gente manda as

coisas lá.

Pesquisador: Ah, legal. E, geralmente, esses professores passam trabalho de casa?

GB17MA2: Não, a gente não tem trabalho de casa não. É muito difícil, só quando o

professor quer passar algum exercício que não deu tempo de fazer na aula ou de corrigir,

aí ele deixa para casa e corrige na semana seguinte. Mas passar dever de casa, eles não

costumam passar não. É bem difícil, na verdade.

Pesquisador: Entendi. E os professores, eles costumam estimular vocês a procurar

conteúdo ou a matéria que eles estão dando em algum outro lugar além do que eles estão

passando em aula?

GB17MA2: Na apostila que a gente tem do colégio, a gente tem um site. Cada aluno tem

sua senha e tudo mais. Nesse site tem acesso a vídeos, explicações, resumos e tudo mais

das matérias que a gente tá dando. Aí eles sempre pedem para a gente entrar nesse site e

procurar lá o que a gente tá dando, porque sempre tem exercício, resumo e tudo mais. Aí

sempre ajuda.

Pesquisador: Legal, mas, por exemplo, fora do conteúdo, sei lá, de repente no Youtube

ou algum lugar assim, eles falam para vocês procurarem ou não?

GB17MA2: Aham, eles falam que, tipo, sempre que a gente precisar estudar para alguma

prova e não entendeu muito a matéria ou tem dificuldade, falam que tem vídeo- aula no

Youtube e exercício, que é bom a gente praticar e tudo mais. Ele sempre incentivam.

Pesquisador: Legal. Como que são as avaliações do colégio? Você já falou um

pouquinho, mas tem como você detalhar um pouco mais para mim, por favor?

GB17MA2: Aham. É, tem duas provas e, normalmente, um trabalho. Mas nem sempre,

nem todo bimestre tem trabalho. Aí tem a formativa, teste, que tem 10 questões e tem

peso 3 na média, o trabalho, o trabalho de pesquisa ou então, tipo, eles fazem cartaz,

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slides, essas coisas, que tem peso 2 na média e vale 10 e a global, que é aquela semana

de provas, que tem 20 questões de cada matéria e tem peso 5 na média.

Pesquisador: Entendi. E como são esses trabalhos geralmente? Tem algum exemplo ou

algum que você tenha gostado bastante de fazer?

GB17MA2: Ah, tem, deixa eu pensar. Tem o de Literatura que a gente fez. O professor,

a gente tava falando sobre romantismo, aí ele deu um autor para, dois autores, na verdade,

para cada grupo e, aí, a gente fez sobre a vida deles, citou as obras, a gente fez uns slides,

apresentou para a turma, foi bem legal. É normalmente assim.

Pesquisador: Legal. Além… o que você prefere, fazer trabalho? Você gosta de fazer

esses trabalhos, prefere fazer prova?

GB17MA2: Não, eu gosto do trabalho. Eu gosto mais do trabalho que é para fazer slide,

falar, apresentar, do que aqueles trabalhos que o professor manda tipo, fazer escrito. Eu

não gosto muito não, eu gosto mais de apresentar trabalho e tudo mais, assim.

Pesquisador: E tem algum motivo para isso?

GB17MA2: Ah, eu não sei, eu acho mais legal só. Minha preferência mesmo.

Pesquisador: Legal. Por exemplo, esses trabalhos são feitos em grupo?

GB17MA2: Aham, normalmente sim. Em trio, em dupla.

Pesquisador: E as provas são individuais?

GB17MA2: Aham.

Pesquisador: Sempre?

GB17MA2: Aham.

Pesquisador: E tem alguma prova que vocês podem usar consulta, tipo livro, celular,

alguma coisa desse tipo?

GB17MA2: Não. Gostaria que tivesse, mas não tem não.

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Pesquisador: E o que você acha disso? … O que que foi? Gostaria que tivesse, é isso?

GB17MA2: Gostaria, obviamente. Prova de matemática então, se tivesse uma

calculadora, seria ótimo.

Pesquisador: Mas eles não deixam de jeito nenhum?

GB17MA2: Não, não deixam de jeito nenhum.

Pesquisador: Entendi. E eles explicam porque que não deixam?

GB17MA2: Não, só não deixam, só não pode.

Pesquisador: Entendi. E tecnologia, vocês usam algum tipo de tecnologia durante as

aulas?

GB17MA2: Não. Ano passado, não, é, ano passado, a gente tinha. A gente tinha um

negócio que era Mangahigh, que era tipo um site que tinha vários exercícios de

matemática, joguinhos, tudo mais. E tinha uma classificação. E tipo, nas aulas de

matemática, a gente sempre tinha um tempo para isso. E a gente tinha tablet e tudo mais

e jogava. Mas, eu não sei o porque, eles tiraram e agora só o ensino fundamental que tem,

o ensino médio não tem mais. Mas era legal.

Pesquisador: Caraca. E tiraram do nada? Eles não falaram porque tiraram?

GB17MA2: Foi, eu acho que eles tiraram porque, tipo assim, as pessoas não faziam

muito. Tinha gente que nem abria no ano para fazer, sabe? Aí, eu acho que, tipo, eles

tiraram por isso, porque não era todo mundo que usava, sabe?

Pesquisador: Aham. Mas esses tablets que vocês usavam eram do colégio ou eram de

vocês?

GB17MA2: Do colégio.

Pesquisador: Entendi. E como você costuma usar tecnologia? Você tem celular, usa

muito internet?

GB17MA2: Ah, tenho. Uso muito internet, uso muito também o celular.

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Pesquisador: E o que você faz, geralmente?

GB17MA2: Ah, não sei. Eu vejo série, Netflix, converso pelo Whatsapp, vejo o

Youtube também, as vezes. É isso, Facebook, rede social, Twitter, essas coisas.

Pesquisador: Aham. E você costuma jogar ou não?

GB17MA2: Não, não muito.

Pesquisador: Não muito? E celular, vocês podem usar celular na aula?

GB17MA2: Poder, não pode, mas tem, tipo assim, alguns professores que nem ligam

muito, mas tem uns que não deixam não.

Pesquisador: Os que não ligam muito deixam vocês usarem a vontade ou é mais usar

quando ele pede para vocês usarem?

GB17MA2: Não, é mais, tipo assim, é mais quando ele deixa a gente usar. Quando ele

tiver explicando, ele não gosta. Mas, tipo assim, se ele tiver dando alguma coisa no quadro

ou então, tipo assim, você já terminou de fazer o exercício e está esperando o resto acabar

para ele corrigir, aí eles não vêem problema de deixar a gente usar. Mas tem uns que não

deixam a gente usar de jeito nenhum.

Pesquisador: E o que você acha sobre isso, sobre o uso do celular em sala de aula?

GB17MA2: Assim, eu uso, mas eu também acho que eu não deveria usar, porque, sei lá,

eu acho que atrapalha muito e desconcentra muito. Então, eu acho que tá certo de não

usar celular em sala de aula. E, se fosse para usar, seria para usar em alguma coisa que

fosse relacionado a aula, entendeu?

Pesquisador: Aham. Mas nenhum professor tenta, por exemplo, usar relacionado a

aula? “Ah, procura alguma coisa aí, vamos ver” ou tirar alguma dúvida?

GB17MA2: Ah, o professor de História, normalmente, ele usa. Tipo, ele está explicando

alguma coisa, aí ele fala, aí ele não tem certeza de alguma coisa, aí ele manda a gente

pesquisar ou então quando ele fala de alguma imagem ou de alguma

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coisa, aí ele fala “ah, pesquisa aí”, aí mostra para as pessoas onde era tal lugar ou foto de

tal pessoa e tudo mais. Ele é o único que incentiva desse jeito.

Pesquisador: Entendi. E como que você geralmente estuda?

GB17MA2: Eu vejo vídeo-aula no Youtube e faço exercício. Isso quando, normalmente,

em História, Geografia, esse tipo de coisa, eu só leio mesmo.

Pesquisador: E você lê o que? O livro do colégio mesmo?

GB17MA2: É, a apostila e as coisas que eles escrevem no caderno, os resumos que eles

dão no caderno.

Pesquisador: Entendi. E essas vídeo-aulas que você assiste no Youtube, tem algum canal

específico ou você procura de acordo com a matéria?

GB17MA2: Eu procuro de acordo com a matéria. Eu procuro a matéria… Na verdade,

tem um canal que eu assisto sempre, quando é para Matemática e Química, que é o Me

Salva, mas o resto eu só procuro e, às vezes, eu acho uns legais e uns interessantes e tudo

mais. Aí eu vejo.

Pesquisador: E você estuda com muita antecedência, vocês estuda mais na véspera?

GB17MA2: Ah, depende da matéria. Tem matéria que eu estudo só na véspera, porque

eu sou meio preguiçosa para estudar. Mas, eu tento, talvez eu não consiga, mas eu tento

estudar antes.

Pesquisador: Aham. E nesses estudos você já está pensando e se preparando para o

vestibular ou ainda não?

GB17MA2: Ah, eu ainda não estudo para o vestibular não, mas eu penso “ah meu Deus,

ano que vêm eu tenho que estudar”. Mas, por enquanto, eu não estou estudando.

Pesquisador: Entendi. E você, para estudar, já usou algum desses aplicativos de

educação? Tem o Descomplica, tem alguns outros no mercado, você já usou algum?

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GB17MA2: Não. Na verdade, eu usei um que é de inglês, é o Duolingo, que é de línguas

e tal, mas eu uso para fazer bagulho de inglês, porque eu acho legal. Mas, de resto, não,

acho que só esse.

Pesquisador: Como que você conheceu o Duolingo?

GB17MA2: Por uma amiga minha, ela chegou e falou “olha, esse aplicativo aqui é

muito legal”… Ah, foi até pela Anna…

Pesquisador: Aham.

GB17MA2: Aí ela mostrou e a gente começou a usar.

Pesquisador: E você usa sempre, usa todo dia, continua usando?

GB17MA2: Assim, todo dia não. Mas assim, eu tento usar normalmente. Mas eu uso

até hoje, continuo usando.

Pesquisador: E você acha que ele te ajudou a melhorar no inglês?

GB17MA2: Aham. É porque, tipo assim, eu não fiz curso de inglês e tal. Mas é que eu

sempre tive aula de inglês, então eu tive mais ou menos. Mas eu tinha problema com

pronuncia ou então com vocabulário. Então ajudou muito com vocabulário.

Pesquisador: Legal. Bom, foi aprovado recentemente uma reforma no ensino médio.

Você está sabendo alguma coisa sobre isso? O colégio comentou com vocês alguma

coisa?

GB17MA2: Não, o colégio não comentou nada não, mas eu sei porque vi as notícias e

tudo mais. Mas o colégio em si não falou nada.

Pesquisador: E o que você achou dessa reforma?

GB17MA2: Assim, eu não tenho exatamente uma opinião sobre, mas eu acho que tem

coisas boas e coisas ruins. Mas eu não sei exatamente o que eu acho sobre.

Pesquisador: Mas você sabe, por exemplo, você sabe citar o que vai ser bom, o que vai

mudar para melhor?

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GB17MA2: Tem os negócios das áreas, por exemplo, que você escolhe. Acho que isso é

uma parte, sabe? Eu acho que, tipo assim, que, no ensino médio, eu não sei se isso seria

legal, sabe? Eu acho legal que, tipo assim, tenha, que você possa escolher a sua área e

tudo mais, mas eu não sei se isso é uma coisa boa, entendeu?

Pesquisador: Mas por que?

GB17MA2: Ah, eu não sei. Por que, é porque, tipo assim, a gente deveria ter uma visão

geral da coisa, aulas sobre tudo. Eu sei que vai continuar tendo, mas vai ter mais aulas

sobre a área que você escolha, ou então tem algumas matérias que você não precisa fazer.

Mas, sei lá, eu acho que seria bom continuar do jeito que a gente conhece. Mas eu não

sei.

Pesquisador: Entendi. E o colégio de vocês é integral, como que é?

GB17MA2: Não, é um turno só, mas eu estudo a tarde.

Pesquisador: Entendi. De que horas até que horas?

GB17MA2: É de uma e meia até… É porque tem dia da semana que eu saio mais cedo e

tem dia que eu saio mais tarde. É tipo, segunda-feira, eu saio seis horas, terça, quarta e

quinta eu saio as seis e cinquenta e sexta eu saio cinco e dez.

Pesquisador: E por que você estuda a tarde? Tem algum motivo especial?

GB17MA2: Não, não tem não. É só porque eu estudo, eu gosto de estudar a tarde.

Pesquisador: Entendi. E me diz uma coisa, se você pudesse mudar alguma coisa na

educação no Brasil, o que seria?

GB17MA2: Calma, deixa eu pensar. Eu acho que eu mudaria, tipo, o incentivo. Eu acho

que a gente, tipo, não é muito incentivado, não é uma coisa que a gente, tipo, vai para o

colégio, “ah, quero ter aula” ou “gosto muito de estudar”. E, sei lá, eu acho que o método

de aula não é tão legal assim, dependendo do lugar e dos professores. Acho que mudaria

isso.

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Pesquisador: Nessa questão de ser incentivado, o que você acha que poderia ser feito

para melhorar isso?

GB17MA2: Ah, eu não sei. Tipo, não que não seja algum atrativo, porque não tem como.

Mas, sei lá, as aulas serem mais dinâmicas, sabe? Tipo, os professores terem uma didática

melhor e não ser aquela coisa de sentar e copiar e ficar falando na frente do quadro, sabe?

Não sei, acho que é isso, ser mais didático, mais dinâmico, sabe?

Pesquisador: Ah, legal. E nessa questão, os professores tentam entender um pouco o

interesse de vocês para trazer isso para a sala de aula de alguma forma?

GB17MA2: Ah, eu acho que alguns professores sim. Eles sempre tentam, tipo, o melhor

jeito de como a gente entende melhor, o vocabulário que a gente entenda, eu acho que

sim.

Pesquisador: Legal. Eu tinha mais uma pergunta… Os professores, de alguma forma,

tentam refletir o que eles estão apresentando ali para vocês relacionando com o mercado

de trabalho, com a vida pós-colégio ou não?

GB17MA2: Calma, deixa eu pensar. Repete a pergunta, por favor, porque eu me perdi

um pouco.

Pesquisador: Tá. Os professores, de alguma forma, eles tentam relacionar o conteúdo

que eles estão dando em sala de aula com o mercado de trabalho, com coisas que vocês

vão ter que usar depois ou com coisas do dia-a-dia, outros skills além da parte técnica?

GB17MA2: Aham, eles sempre tentam, tipo, mostrar que aquilo ali a gente possa usar,

que aquilo é importante para tal coisa, entendeu? Acho que sim.

Pesquisador: Tá bom. Eu acho que é isso. Você tem mais alguma coisa que você gostaria

de contar? Alguma coisa que deixou passar?

GB17MA2: Não, acho que não.

Pesquisador: Então tá bom. Obrigado muito pelo sua contribuição. Ajudou bastante.

GB17MA2: Nada.

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300

Pesquisador: Tchau.

GB17MA2: Tchau.

LP16M2

Pesquisador: Obrigado pelo seu tempo. Deixa eu te falar um pouquinho, eu to fazendo

mestrado, como eu falei. Eu estou estudando educação, estou estudando o ensino médio,

tecnologia, comportamento, enfim. Aqui, a ideia é a gente bater um papo sobre alguns

assuntos. Eu tenho aqui um roteiro só para me guiar mesmo. Aqui, a gente não tá te

testando, nem nada disso, é mais para entender um pouco mesmo da sua opinião. Eu vou

te pedir autorização para eu gravar o áudio, só para eu poder depois pegar as anotações,

se você permitir…

LP16M2: Claro.

Pesquisador: Eu tenho um termo de compromisso aqui, eu te mando depois por

Whatsapp e depois eu peço para a Renata assinar por você, pode ser?

LP16M2: Ta bom.

Pesquisador: Beleza. Bom, para começar, se você puder se apresentar um pouco, falar o

seu nome, a sua idade, onde você mora, com quem você mora, qual série você está, qual

colégio.

LP16M2: Tá. Nome todo?

Pesquisador: Pode ser.

LP16M2: Meu nome é LP, eu tenho 16 anos, eu moro no Méier, sou do segundo ano do

ensino médio e estudo no Martins. Esse ano, eu estou estudando no Martins.

Pesquisador: Legal. E aí você já estou em algum outro colégio? Quais outros colégios

que você estudou?

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LP16M2: Já. Eu fiquei dez anos na Aldeia Montessori, que é um ensino um pouco

diferente, que é o ensino montessoriano. Aí eu sai no quinto ano, que é quando acaba, e

fui para o Metropolitano, fiquei do sexto ao nono e entrei ano passado no Martins e, ano

que vem, já estou matriculado em outro colégio, para fazer o terceiro ano em outro

colégio.

Pesquisador: Ah, legal. E qual é esse outro colégio?

LP16M2: De A a Z.

Pesquisador: Ah sim, conheço, conheço. Legal. Além do colégio, você faz algum curso

por fora? De educação, alguma outra atividade?

LP16M2: Eu faço dois cursos. Um curso é o curso de inglês e o outro é um curso de

teatro.

Pesquisador: Ah, legal. E o curso de inglês você faz onde?

LP16M2: Na Cultura Inglesa.

Pesquisador: Aham. E você já está indo pro terceiro ano agora. Você já tem noção do

que você vai fazer do vestibular?

LP16M2: Então, a primeira opção é cinema, mas, a segunda, eu penso em fazer

jornalismo.

Pesquisador: Entendi.

LP16M2: Eu estou entre essas duas, não sei ainda. Humanas com certeza, mas não sei se

cinema ou jornalismo. São os dois que eu mais me interesso. Eu até fiz análise vocacional

e tal e deu Jornalismo, Cinema e Teatro, mas eu estou mais para Jornalismo.

Pesquisador: Legal. E porque você tomou essa decisão?

LP16M2: Na verdade, Cinema é uma coisa que eu sempre gostei, na minha família tem

um pessoal que é dessa área, que atua, de produção, direção e tal, e eu sempre me

interessei, sempre que rola esse assunto eu quero ouvir mais, quero aprender mais e tal.

Jornalismo, eu sempre gostei muito de escrever e meus pais sempre disseram que as

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brincadeiras que eu faço e tal é tudo relacionado a repórter, TV, essas coisas assim. Foi

isso.

Pesquisador: Ah, legal. Me conta um pouco do seu colégio atual, o Martins. Como que

ele é, o que você gosta dele, o que você não gosta, como é a estrutura.

LP16M2: Eu não gosto muito dele não. Eu, na verdade, é, eu entrei ano passado, mas eu

entrei por um motivo, tipo assim, eu queria sair do Metropolitano, porque o Metropolitano

tava todo mundo saindo e acabou que no ano que eu sai ele foi comprado pelo QI logo

depois, então eu ia sair de qualquer jeito. E aí, eu fui para o Martins porque muito amigo

meu estava indo e tal, já conhecia um pessoa lá, mas eu fui para o colégio sem nem saber

como que era. Eu fui pelas pessoas e tal. E aí, meu pai, na primeira reunião de pais que

foi ele e minha mãe, que chegou aqui em casa, já tava matriculado, ele falou “Leo, você

não vai gostar desse colégio, não é sua cara, não é”. Aí eu falei “não, vou sim, vou sim”.

Aí fiz o primeiro ano, ano passado foi um ano que assim, foi meu pior ano da escola. Eu

passei de ano, não fui para recuperação nem nada, mas fui para prova final precisando de

oito em matemática, e tirei oito, mas foi um ano muito puxado. Esse ano, não sei se já

estou mais acostumado com o colégio, não sei, mas estou indo, estou na média, vou ficar

em poucas provas finais e tal. Mas é um colégio que estimula muito a competição entre

os alunos, tem ranking de primeiro até o último lá na sala. É um colégio, um colégio

parecido com o Colégio Militar e eu não sou a favor disso. Ele tem uma turma, no meu

segundo ano, tem uma turma 221, que é a que eu estou com meus amigos e tal, e tem a

200, que são, tecnicamente, os melhores alunos.

Pesquisador: Aham.

LP16M2: E eu não sei, não concordo, eu gosto muito dos professores, das pessoas, mas

o diretor, eu não gosto muito. O coordenador, eu também não gosto e o método usado lá,

eu, realmente, meu pai estava certo, eu não me dou com esse método, não é muito minha

cara. Como eu fui formado no Colégio Montessoriano, que é praticamente o oposto, mas

não é muito a minha cara isso não.

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Pesquisador: Entendi. No colégio onde eu estudei também tinha essa questão, tinha a

turma dos melhores alunos e coisa e tal. Mas me fala, porque você não gosta dessa

competição, desse tipo de coisa?

LP16M2: Porque em uma competição ninguém ganha na verdade. Tem sempre um que

perde menos. Eu acho que as pessoas competindo umas com as outras, ou vão acabar

desfazendo a amizade ou gerar brigas e é o que acontece lá. Porque na 200, você tem que

manter, você tem que se manter lá, tem que estar sempre a cima da média, não sei o que.

E aí, as pessoas querem sempre estar passando uma nas outras. “Ah, um amigo meu estava

com uma dúvida, eu posso ajudar, mas se eu ajudar ele pode sair melhor na prova do que

eu, então é melhor guardar essa informação para mim, para eu sair melhor na prova e

passar ele no ranking”. Aí as pessoas vão pensando só nelas mesmo, tipo, individualismo

muito grande lá dentro. Tipo, eu não concordo com isso. Na 221 é mais, todo mundo se

ajuda, porque não tem isso de se manter e tal. Eu não acho isso saudável, não acho que,

para uma pessoa que está se formando ainda, não acho que seja necessário isso, acho que

seja o contrário, um ajudando o outro para se formar como aluno e como ser humano

também, porque… Não sei, não concordo muito.

Pesquisador: Sim sim. Ah, legal, legal. Em relação a estrutura do colégio, da sala de

aula, como que é? É mais tradicional, tem alguma diferença?

LP16M2: Não, eu acho que, é um prédio né? Eu estudei na Aldeia que era um espaço

grande, que tinha um quintal enorme, tinha uma casa. Metropolitano também é muito

grande, até a Renata estou lá, se eu não me engano. O Metropolitano é muito antigo, tem

uns 80 e poucos acho, eu acho. E o Martins é um prédio assim, um prédio. O recreio…

Hoje, eu já estou acostumado, mas quando eu cheguei lá no pátio, era minúsculo, era do

tamanho de, sei lá, eu não conseguia nem, eu cheguei e pensei “não é possível que seja

só isso”. Porque o Metropolitano era muito grande e o Martins é desse tamanho. Mas as

salas são boas. Tem salas menores e tem salas bem maiores. Eu estou em uma sala hoje

que, eu acho, que é das maiores do colégio, porque, como a 200 tem isso de se manter,

quem não consegue se manter vai para a minha turma, desce. Então,

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acaba sendo mais. Hoje, desceram duas pessoas. Então, estamos com uns 40 e poucos

alunos lá.

Pesquisador: Entendi. É, realmente, complicado. E em relação as matérias que são dadas

lá, tem alguma diferença, tem alguma diferente? Vocês podem escolher matérias que

vocês vão cursar ou são sempre as mesmas?

LP16M2: Não, são sempre as mesmas. Eu acho que, no terceiro ano, que no final do ano

tem matéria específica, que você só assiste as aulas que são para o seu vestibular. Mas as

matérias, Biologia I, Biologia II, Química I, Química II, não tem nada. E o que eu sinto

falta lá também é que a gente não usa laboratório para nada. Eu acho que matérias como

Química, Física e até Biologia, os laboratórios seriam necessários para a gente aprender

mais fazendo, vendo acontecer. Porque só no colégio, as vezes, eu fico meio perdido em

como que acontece aquilo. E tem esquema de provas de segunda, toda segunda e quarta,

né? Aí tirando Inglês, Espanhol, Sociologia e Filosofia, Artes, que são durante as aulas,

o resto é tudo segunda e quarta. É meio cansativo.

Pesquisador: Entendi. Mas o laboratório existe e eles não usam ou o laboratório nem

existe?

LP16M2: Existe, mas eles falam que é só até o oitavo ano, que depois tem que focar no

Enem, que não tem tempo para laboratório. É um colégio que só visa o Enem, o Enem, o

Enem. O diretor só entra lá para falar de Enem e UERJ.

Pesquisador: É, eu imagino, eu sei bem como que é. Dentre essas matérias que você tem,

tem alguma que você gosta mais, alguma que você não gosta?

LP16M2: Tem. Eu gosto muito de Sociologia, de Artes, até de Filosofia eu gosto. E que

eu não gosto, é, Biologia, eu não consigo, quer dizer, esse ano eu até to conseguindo, mas,

ano passado, Biologia era um caos. Também tem Química, que eu gosto, eu sou um bom

aluno em Química, mas até eu entender demora, porque é muita informação, eu fico meio

perdido. Mas eu acho que, esse ano, acho que Física. Está sendo uma das matérias mais

chatas, mais difíceis para mim.

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Pesquisador: Mas você acha que isso, essa sua percepção de que está mais difícil é mais

questão de conteúdo ou você acha que o professor nessa sua escolha? Como que é isso?

LP16M2: Ah, influencia. Porque a minha professora de Biologia, tem dois, o Ian e a

Renata. O Ian, eu tive ano passado, mas como ano passado eu tava meio, foi um ano meio

de folga para mim, porque eu não prestava atenção em nada, eu não estudava… Mas o

Ian é ótimo, ele é ótimo professor e a Renata é a nossa mãe, porque ela, além de

professora, quando a gente está triste ela tenta conversar e tal. E eu acho que isso

influencia de eu gostar da matéria dela. Ela também dando aula não é aquela questão

monótona, sabe? É bem agitado, ela é bem agitada. E eu acho que isso me chama para

prestar atenção. E a Helena, que dá aula de Sociologia e de Artes, que são minhas matérias

preferidas, é também uma das minhas professoras preferidas. Mas Física, eu gosto dos

professores, eu acho que o conteúdo que está meio chatinho. De Física II, porque Física I

eu gosto. Física II eu não suporto muito não, meio chatinho.

Pesquisador: Entendi. Você disse aí que a professora é agitada e tal, você acha que ela,

mas ela só chama a atenção porque ela é mais agitada, fala mais ou ela traz algum tipo de

conteúdo diferente, ela traz alguma interação diferente para aula, ela expõe a aula de

forma diferente?

LP16M2: É, eu acho que ela já chega com uma energia muito boa. Ela chega gritando

bom dia e tal. Tem gente que não gosta, mas eu não me incomodo não. Aí ela liga o slide

e ela lê… Não, ela não lê não, mas ela vai explicando. E ela faz todo um trabalho de corpo

quando ela tem que falar, sei lá, de uma árvore, ela faz uma árvore com o corpo. Quando

ela quer falar de um espermatozóide indo para não sei o que, ela faz o movimento lá no

meio do tablado. Não é só uma aula que ela lê e explica. Deve ser tudo pensado, porque

é tudo, é todo o trabalho que ela faz com o corpo e ela usa microfone, porque ela fala

muito e grita. Mas é interessante como ela dá aula, porque é só ela que dá aula assim,

então é uma coisa, é uma característica única da aula dela.

Pesquisador: Entendi. Você falou de slide. Todos os professores usam slide, todas as

salas tem slide ou não?

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LP16M2: Não, não. Usa quem quer. Tem projetor por andar, não sei se é um ou se são

dois, mas só usam quem quer, não são todos não. Normalmente, quem usa é o Ian, que é

Bio I, a Renata sempre usa também, Bio II e, acho que a Helena, a Helena sempre usa,

Sociologia e Artes. Filosofia sempre usa também. De resto, não são, acho que raramente

usam.

Pesquisador: Aham. E qual a sua opinião sobre isso? Sobre usar, não usar? Você acha

que…

LP16M2: Eu acho que usar ou não usar o slide, sendo uma aula boa, para mim está ótimo.

Porque acho que slide é a mesma coisa, a aula fica até mais rápido, porque o professor

não precisa escrever no quadro e depois explicar, acho que gasta mais tempo da aula dele.

Acho que com slide ele consegue avançar mais na matéria.

Pesquisador: Entendi. Legal. E na hora do intervalo, você falou que o lugar é pequeno e

tal, o que você costuma fazer no intervalo?

LP16M2: Ah, eu compro um salgado lá e um Guaravita e fico conversando com os meus

amigos e também com uns amigos meus que são da 200, quer dizer, duas amigas minha.

A gente fica lá conversando, mas a gente costuma brincar que é o nosso banho de sol,

porque a gente fala que o Martins é uma prisão e, porque não pode abrir a janela na sala,

aí no recreio não pode pisar no banco, não pode fazer isso, não pode fazer aquilo. É um

colégio cheio, cheio de regras. Fazer o que? Quem está lá tem que aceitar, por isso que eu

estou saindo. Eu não aguento mais.

Pesquisador: E essas regras é o tempo todo?

LP16M2: Sim, nossa. Tudo, tudo, tudo, o tempo, o tempo todo. Não pode fazer isso, não

pode fazer aquilo, porque isso não pode, isso não deve, não sei o que. É um pouquinho

chato.

Pesquisador: Entendi. Você acha que isso prejudica vocês de alguma forma?

LP16M2: A galera se irrita por pouco, ficam reclamando que o colégio é cheio de regras,

que são umas regras que, as vezes, não faz muito sentido. Tipo, outro dia, o

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coordenador entrou na sala para avisar que, a partir daquele dia, só podia subir na

biblioteca em dez minutos de recreio. Ou seja, você tinha que descer às 10:20, comer um

salgado em 10 minutos, porque não pode subir comendo, e aí depois, subir correndo para

a biblioteca para estudar, porque depois não ia poder mais, sei lá, 10:20, 10:32 você não

podia mais subir. As pessoas ficaram sem entender qual a diferença de subir 10:30 e 10:40,

não tem muito sentido.

Pesquisador: Entendi. É, realmente. Você falou que a preparação do colégio é toda para

o vestibular. É isso mesmo, eles só focam no vestibular?

LP16M2: Aham, eles só, e os alunos que acho que estão lá muito tempo, estão muito

assim. Sei lá, eu tenho um pensamento muito, muito diferente de todo mundo. Eu acho

que, tem gente que até fica meio espantado, porque eu não ligo muito para isso de Enem,

UERJ, eu não sou um aluno que está muito focado nisso, esse ano pelo menos, nem nos

outros anos. Porque eu acho que, sei lá, eu também não ligo muito para nota não porque

eu acho que é só uma prova com número. Mas eles todos, os professores também, eles

ficam falando de Enem, que a gente tem que fazer isso e aquilo por causa do Enem, isso

e assado, e os alunos também ficam querendo, ficam falando que a gente tem que, tipo,

quando falam de nota, que eu não ligo muito para nota, mas eles falam “é, daqui a pouco

chega o Enem e não sei o que e não sei o que”. E eu penso um pouco diferente, não sei.

Acho que é só um papel com um número. Tudo bem que o Enem é meio que o seu futuro

ali, mas, digo, na escola, mas eu não ligo muito para as provas. Não é que eu não ligo de

não estudar. Eu estudo, eu sou um aluno na média. Tipo, quando tem, quando a matéria é

difícil, eu fico sentado estudando e tal, mas, sei lá, um amigo meu, do meu grupo pelo

menos, João Vitor, ele é meio crânio lá, ele é meio, ele não é nerd assim, não deixa de

fazer as coisas para estudar, mas ele estuda, ele foca, ele também assimila as coisas

rápidas. Então, quando ele tira uma nota baixa, ele fica puto, o dia dele acaba, ele fica

mal-humorado e tal. Eu não, quando eu tiro uma nota baixa, eu falo “ah, tá, na próxima

eu tento tirar uma melhor” e continuo com minha vida, rindo e tal. Não ligo muito, eu

acho que é só um papel com uma nota. Não vai dizer se eu vou

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ser bem sucedido ou não. Isso só o futuro. Até porque, prova de Química e eu quero fazer,

sei lá, Cinema, não tem muito a ver, então eu fico mais tranquilo.

Pesquisador: E me diz, você já falou um pouquinho, mas como que é a relação de vocês,

sua e dos seus amigos, dos outros alunos, com o professor assim. Você falou que tem uns

professores que vocês gostam mais, tem outros que vocês gostam menos, mas como que

é a relação no geral?

LP16M2: Então, com os professores é bem tranquilo. Tem uns professores que são mais

amigos da gente, tem outros que preferem não ser amigo de aluno, chegar e dar aula. O

que é normal, tem professor que não gosta de ter intimidade com o aluno, só quer ser o

professor, não quer ser o amigo. E eu acho normal também, não acho que querer ser o

melhor amigo do professor, só uma pessoa que, as vezes, quer brincar brinca, uma zoação

e tal. Mas com os coordenadores, tem um coordenador lá que não sabe meu nome até

hoje. Porque a gente costuma falar que lá a gente é tratado como número. Você é o número

da chamada e da sua turma. Você é o 20 da 221. Você não é o Leonardo Pacheco da 221,

você é o 20 da 221. O coordenador lá, tem um coordenador lá chamado Décio que não

sabe o meu nome até hoje. Eu estou lá a 2 anos, então… Mas o Bruno sabe, o Frank sabe.

O Tavares, eu não sei. Mas com os professores é bem tranquilo, é bem tranquilo a relação.

Pesquisador: E você tem contato, por exemplo, fora do colégio com os professores ou

não?

LP16M2: Sim, aham. Eu tenho alguns professores no Facebook. A gente tem grupo no

Whatsapp com alguns professores. Tem outros que não, tem outros que não. Mas a

maioria das pessoas tem… Porque eu não sou muito de adicionar professor no Facebook

não. Eu tenho a Helena e o Ian. É, do Martins, do Metropolitano eu tenho outros. Mas

eles são, são de boa com isso. Eles adicionam e tal, é uma relação… É como eu falei, é

parecido com uma relação, é tipo um colega, não chega a ser… Um colega, alguns

professores, outros não.

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Pesquisador: Legal. Vocês chegam a trocar mensagem também? Você falou que tem no

Facebook e tal, vocês tem no Whatsapp… Quando vocês tem dúvida, vocês mandam

mensagem para eles fora da aula para tirar dúvida ou não?

LP16M2: Aham, aham. Eu já mandei para a Renata, que eu tinha ido no TD que é dez

discursivo e dez subjetivo. Eu tinha ido no TD muito mal, na prova dela. E aí, eu estava

estudando para conseguir uma média boa, tava tentando tirar uma nota muito alta no TO.

Então tava estudando quase todo dia e perguntei todas as coisas para ela que eu tinha

dúvida e ela me respondia. As vezes, ela demorava porque ela estava dando aula em

outros lugares, mas sempre ela me respondia e tal. Helena também, em relação ao trabalho

de Artes. As vezes, meu grupo não entende muito o que tem que fazer, aí eu mando

mensagem para ela e ela responde, ela tenta ajudar sempre.

Pesquisador: Entendi. Mas isso, você acha que acontece com todos os professores ou só

alguns que dão essa liberdade?

LP16M2: Eu acho que, eu achava que eram só alguns, mas acho que se você tiver o

número de contato, acho que eles procuram sempre responder. Porque eu não tenho de

todo mundo não, mas eu tenho amigos que tem a maioria e sempre que eles tem dúvida

eles costumam responder sim.

Pesquisador: Aham, legal. E o tratamento deles com os alunos, no geral, tem alguém que

não trata bem, tem alguém que, tem algum professor que… Você falou que tem uns que

tratam muito melhor, mas tem uns que não tratam bem. Enfim, a relação não é tão boa.

LP16M2: É, eu acho que varia de professor para professor. Sempre tem aquele aluno que

o professor não vai muito com a cara, não sei se é porque atrapalha ou porque realmente

não vai… Então, o Ian pode me tratar muito bem, mas uma garota na minha sala pode

achar que o Ian é um saco. Então eu acho que varia muito. Comigo não tem ninguém que

me trate mal não. Eu acho que tem uns professores que não ligam muito para mim se, não

ligar de “ah, caguei para você”, mas eu tenho amigos que… O Valmir, de Química, ele

toda hora pergunta coisa, eu sento em um grupo de seis pessoas, ele

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pergunta, sei lá, coisa que está no quadro, “qual é essa matéria mesmo?”, para maioria

das pessoas, mas nunca me pergunta. Não sei se tem a ver. Eu não ligo muito não, porque

Química não é meu forte, mas eu não sei se tem alguma coisa a ver dele não gostar de

mim ou não. Mas também, se ele não gostar de mim, eu caguei, não to ligando muito não.

Pesquisador: Como que eles costumam dar aula? Você já falou um pouquinho ali que

uns dão com slides, outros são mais no boca-a-boca, como que é?

LP16M2: Então, colégio particular é um pouco chato assim, porque, no início do ano,

eles juntos com os diretores e tal, eles fazem um esquema do ano inteiro e tem que seguir

aquilo e se você não seguir aquilo, você leva bronca do diretor. Então, eles costumam dar

no quadro a matéria… Tem uns que estão atrasados e começam a correr muito, muito com

a matéria, aí os alunos ficam meio perdidos, sem entender o que tá acontecendo. Mas eles

costumam ou dar no quadro mesmo assim, colocar um resumo no quadro e explicar, e aí,

se der tempo, passa exercício, ou eles dão no slide mesmo. Tem uns que até… A gente

tem um grupo no Facebook, tem uns que botam os slides que passam na aula naquele

grupo para a gente estudar em casa, para quando for estudar para a matéria. Aí eles tem o

email da turma, email da turma onde a Renata e o Ian, principalmente, colocam exercício

e os slides que eles usam em sala para a gente fazer. A Renata, principalmente, ela sempre

coloca exercício para a prova. E aí, a gente sempre faz. Quer dizer, eu sempre faço. Os

outros, eu não sei.

Pesquisador: Legal. Esse email foi iniciativa de quem? Foram de vocês que tiveram essa

ideia, foram dos professores?

LP16M2: Foi da, se eu não me engano, foi da Renata. No início do ano, ela se apresentou

“Renata, não sei o que”, aí ela falou que quem quisesse gravar a aula dela podia gravar,

que ela não se incomodaria e aí ela pediu para a gente criar um email para ela poder

colocar esses slides.

Pesquisador: Legal. O colégio não tem nenhuma ferramenta do colégio para esse tipo de

coisa?

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LP16M2: Tem o site, que é a apostila que a gente usa, mas os professores não podem

fazer nada disso. Tem o site ali, tem vídeo-aula, tem gabarito do exercício do livro, mas

os professores não podem mexer em nada ali. Então, eles colocam os slides deles, na sala,

mas para a gente, tem que ser pelo email.

Pesquisador: Ah, entendi, legal. E tem algum professor que faz alguma coisa diferente

durante a aula? Além de falar, além de fazer os slides, tem alguma outra forma de expor

o conteúdo, de expor a matéria, de explicar? Alguém tenta fazer alguma coisa diferente?

LP16M2: Eu percebo que tem uns que tentam. A Helena, quando dá aula de Artes, ela

sempre fica no Youtube colocando música, música, música e eu percebo que, quando ela

dá aula de Artes com música, todo mundo presta atenção, todo mundo fica olhando para

o quadro, olhando a projeção, porque música é um negócio meio agradável e na escola,

você não está acostumado a escutar música, é interessante. E o Valmir tem vez que para

explicar lá as moléculas, sei lá, a matéria dele lá, ele pega aluno, ele dá a mão… “Faz a

cadeia carbônica aí”, aí os alunos dão as mãos e “ah, o que acontece?” e um solta. “Isso

que acontece se isso e aquilo”. E o Marcelo também, ele costuma, Marcelo, professor de

Química, para não deixar a aula meio, meio chata, ele costuma fazer umas brincadeiras

assim, no meio, as pessoas riem e tal. Mas é sempre aquele negócio, resumo no quadro,

explica a matéria, ou slide, essas coisas assim, não tem nada além disso tudo não.

Pesquisador: Aham. E o que você pensa dessas coisas? Tanto de colocar o resumo no

quadro, quanto fazer atividades diferentes envolvendo vocês?

LP16M2: É, eu sou mais a favor das atividades diferentes. Porque eu não gosto muito

dessa coisa assim, desse negócio assim, sempre a mesma coisa, rotina. Eu gosto de uma

coisa meio sem rotina. Minha mãe também é professora e ela vem me perguntar, ela dá

aula para o fundamental, e ela veio me perguntar o que ela podia fazer para uma aula

diferente, o diretor tinha pedido para eles mudaram o jeito de dar aula, não sei o que. Aí

eu falei, sei lá, como eles estão no sexto ano, leva uns jogos para eles jogarem em relação

a matemática, sei lá, jogo da tabuada, qualquer coisa relacionada a matemática. Ela levou

e eles adoraram. Ela dá aula no colégio do município, então lá, os alunos não são muito…

Ela fala que alguns são bem focados, mas a maioria fica gritando, não

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presta muita atenção. E quando ela levou o jogos, todo mundo prestou atenção, todo

mundo queria jogar. Ou quando ela dá alguma atividade no quadro que eles possam ir no

quadro fazer, eles se interessam também. Eu gosto mais desse tipo de coisa, que o

professor chega lá com uma ideia nova. O Ian agora tem passado uma série do Netflix

que é relacionado com a matéria que ele está dando. Ele falou que achou melhor botar a

série onde tem um cara explicando e tem um vídeo e tal, do que ele colocar no quadro.

Ele acha que é mais fácil a série. E está todo mundo prestando mais atenção nessa série,

até porque, pode ver em casa, pode ver no Netflix. E eu achei bem interessante também

desse jeito dele. Eu acho que inovar assim no jeito de dar aula é sempre bom.

Pesquisador: Maneiro, legal. E eles passam trabalho de casa?

LP16M2: Olha, eu não sei, porque eu não faço. Eu não sei se eles passam, porque eu não

costumo fazer não. Mas eu acho que, eu acho que eles passam. A Bete eu sei que passa.

A de Português sempre passa, porque eu vejo ela corrigindo. Mas eu não costumo fazer

o dever de casa mesmo não. No ensino fundamental, eu fiz, eu fazia todos. Sempre levava,

nunca tinha sido anotado e tal. Mas, desde que eu entrei no primeiro ano, eu deixei de

fazer, não sei porque. Não faço mais não.

Pesquisador: Entendi. E em relação as matérias, os professores, alguns escrevem, outros

mandam os slides para vocês, um está passando Netflix e deixa vocês assistirem, mas, no

geral, eles incentivam vocês a procurarem conteúdo em outro lugar? Em outro lugar, no

Youtube, ou, de repente, assinar uma plataforma de vídeos online? Não sei. Eles

incentivam essa procura de conteúdo fora da aula deles, fora do que eles dão?

LP16M2: Não, acho que não. O Ian, às vezes, ele está no Facebook, acha um vídeo

interessante e bota lá no grupo da turma, um vídeo relacionado. Ele fala “ah, o que a gente

deu na aula ontem”. Aí ele bota. A Helena também. Mas não vejo eles falando “ah, façam

os deveres” e tal, mas não vejo nenhum incentivo a vídeo-aula, nada não.

Pesquisador: Entendi. E você faz isso por fora ou não?

LP16M2: Então, quando eu estou estudando, eu pesquiso na internet, eu vejo vídeo aula,

eu vejo caderno e, de vez em quando, quando tem aula gravada, eu escuto as aulas

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gravadas. Mas fora de quando eu estou estudando, não. Está na aula, depois da aula, eu

vou para casa e só, não tem mais nada não.

Pesquisador: E como que são as avaliações lá? São provas, são trabalhos? Como que

funciona? Você já falou que tem toda segunda e quarta, mas como que é isso no todo?

LP16M2: Então, é toda segunda e quarta, né? E aí tem um calendário, sei lá. Segunda é

Português e quarta é Literatura. Aí na outra segunda é Matemática, História e assim vai.

Aí acaba o teste discursivo, acho que, sei lá, acho que a gente não tem nenhuma semana

de folga, aí começa o teste objetivo. Aí começa a mesma coisa, segunda teste objetivo de

Português, Literatura, Matemática, não sei o que. Aí quando acaba, sei lá, o bimestre, tem

uma folga de uma semana, uma semana e meia, aí volta de novo com menos tempo. Só

Literatura que no TO vale oito e aí tem dois pontos de trabalho. E Artes, o TO de Artes é

um trabalho também que a gente faz. Fora isso, é tudo prova, tudo prova normal mesmo.

Pesquisador: Então, o trabalho não é incentivado lá dentro?

LP16M2: Não.

Pesquisador: Entendi. E nessas provas, por um acaso, vocês podem fazer consultas?

Livro, celular, alguma coisa ou não?

LP16M2: No TD de Filosofia, Sociologia e Artes, a gente pode. O TD de Filosofia e

Sociologia é em grupo e com consulta. O de Artes, é individual, mas com consulta

também.

Pesquisador: Mas a consulta pode ser qualquer coisa que vocês quiserem?

LP16M2: Não, celular não pode. A gente pode, sei lá, a gente viu um negócio no celular

interessante. A gente vai ter que imprimir para levar para a prova. Pode ser caderno, livro,

coisa que a gente viu na Internet, mas na hora, não.

Pesquisador: Entendi. E aí, na hora das avaliações, para nota final, para passar de ano,

para passar, só é considerado as notas? Ou considera mais alguma coisa?

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LP16M2: Não, só a nota, só as notas.

Pesquisador: E como que você se sente em relação a tudo isso? Qual a sua opinião sobre

isso?

LP16M2: Eu não sou muito a favor não, eu acho que eles deveriam abrir mais a cabeça

deles, porque eu acho que só uma nota não quer dizer se o aluno é capaz ou não. Até

alguns dos professores falam isso lá, que tem muitos alunos que eram cabeças da turma,

hoje, os que não eram tanto são mais bem sucedidos que os que eram. Sei lá, um aluno

que não ia bem nas provas, que passava sempre bem, tipo, puxado o ano inteiro, hoje é

gerente de uma empresa muito grande. Os alunos, os que sempre tiravam dez, hoje não

tem emprego. Porque foi o que a Renata falou, os que são muito, eram muito bons, como

eles eram bons em tudo, eles não tinham muita noção do que eles queriam. O que não era

bom em nada, era bom só em alguma matéria, ele meio que… “Se eu sou bom em

Química, é bom seguir um negócio de Química”. E hoje ele, sei lá, ele é um puta professor

em Química. Eu acho que nota, para mim, nota nunca vai dizer se um aluno é capaz ou

não. Eu não acho que se eu tirei dez, eu sou ótimo em Português, se eu tirei dois, eu sou

um péssimo em Português. Acho que nota é só, é muito do dia, do dia que você fez a

prova. Você pode estar muito bem no dia, pode ter entendido a matéria melhor, enfim.

Não acho que nota seja alguma coisa não. Eu acho que devia ter alguma outra coisa para,

não para passar de ano, porque hoje em dia, infelizmente, para passar precisa ter nota.

Mas eu acho que, sei lá, daria um ponto durante o ano na média para outras atividades.

Uma pesquisa em algum lugar. E aí, a gente fazia a pesquisa e eles avaliavam nossa

pesquisa e davam o ponto para a média. Alguma coisa assim, porque só nota, não…

Pesquisador: Legal. Enfim, você costuma acessar a internet, usa muita tecnologia?

LP16M2: Eu sempre, eu não costumo estudar pela apostila não porque eu fico meio

perdido. Eu acho que tem muita informação ali que é muito desnecessário. Então, na

apostila, eu não costumo usar não. Eu, quando vou estudar, eu vejo vídeo-aula, é, eu uso

internet sempre. Eu vejo vídeo-aula e aí, quando eles dão tópicos, eu pesquiso os tópicos

na internet, faço o resumo. Eu vejo vídeo-aula fazendo o resumo. Eu nunca

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estudei sem fazer resumo. Eu preciso escrever em algum lugar para ir entendendo melhor

a matéria.

Pesquisador: Aham. E onde você procura essas vídeo-aulas?

LP16M2: No site, na plataforma do site. E quando, tem uns amigos meus que me indicam

algumas vídeo-aulas no Youtube que eu assisto também. Mas eu vejo no site, que segue

um pouco a apostila.

Pesquisador: Entendi. E você já ouviu falar em Descomplica, em alguns outros

aplicativos desses?

LP16M2: Já.

Pesquisador: Já acessou? Já usou? Tem algum opinião sobre eles?

LP16M2: O Descomplica, eu usei uma vez só, porque tem que se cadastrar e eu não sou,

e tem que pagar também, e eu não paguei não. Mas a minha amiga, ela estava aqui em

casa, veio estudar Biologia juntos, eu, ela e mais dois amigos e ela tinha Descomplica e

ela botou lá para a gente ver. A gente viu metade porque, eu não sei se a gente estava meio

disperso, mas eu não estava entendo muito bem não, nem eles. Depois a gente colocou

uma vídeo-aula no Youtube, que aí todo mundo entendeu a matéria, ficou mais tranquilo.

Pesquisador: Legal. Além de estudar, o que mais você faz na internet? Você chega a

jogar? Você joga no celular? Tem vídeo-game? Usa o computador?

LP16M2: Eu costumo ver vídeos no Youtube mesmo, vídeos de entretenimento,

Whatsapp, Facebook, Twitter, essas coisas assim. Jogos, eu tenho muito pouco no celular

e no computador, eu não costumo jogar não. O computador é mais Youtube, site,

Facebook, essas coisas assim. E Netflix.

Pesquisador: E dentro do colégio tem tecnologia? Vocês usam? Além do projetor, tem

alguma coisa que vocês podem usar? Vocês podem usar celular dentro de sala de aula?

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LP16M2: Não, quer dizer, não pode, mas a gente sempre usa. Só que lá no Martins tem

câmera em todos os cantos do colégio, até dentro da sala. Então, ano passado, muita gente

saiu de sala porque não podia usar o celular, eles usavam e ficava uma pessoa vendo as

câmeras assim. Aí quando via mexendo no celular, ligava pro inspetor do andar e o

inspetor do andar tirava o aluno de sala. Então era muita gente saindo de sala. E tem uma

sala de informática, só que a gente não pode usar também, é só o ensino fundamental.

Pesquisador: Caraca.

LP16M2: Pois é.

Pesquisador: Nossa, complicado, né? Então assim, tecnologia é quase que zero…

LP16M2: Só o projetor.

Pesquisador: Só o projetor. Caraca. Bom, mas aí em casa você acaba usando por tudo

que usaria no colégio, acaba usando em casa?

LP16M2: É, aham.

Pesquisador: Falando um pouquinho dessa questão, beleza, no colégio não pode usar,

alguns professores reclamam de não poder usar, eles falam alguma coisa em relação a

isso.

LP16M2: Não, eles concordam, na verdade. Não é que eles concordam mesmo, é porque

se tem alguém mexendo no celular e o Tavares vê, quando ele chega lá embaixo, os

professores levam bronca. Então quando alguém está mexendo no celular, eles falam

“guarda o celular aí, por favor, não sei o que”, “olha o celular”, “olha a câmera”, “olha

não sei o que”. Mas tem vezes que a gente tem uma dúvida e nem os professores sabem

responder. Aí a gente pergunta se pode procurar na internet, aí ele diz que pode, não sei

o que. A gente procura na internet até para dizer para eles. Já tiveram algumas vezes que

aconteceram isso. Foi com a Helena, com o Ian, com a Renata também, eles não sabiam

responder, porque cada ano muda, a gente foi pesquisar na internet no celular, porque eles

permitiram, mas só porque eles permitiram.

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Pesquisador: Mas eles incentivam para usar fora, por exemplo, em casa, eles incentivam

a usar ou não?

LP16M2: Não, não. Não é tipo, usem o celular, usem o celular, não sei o que para estudar.

Mas eles falam “usem o email para ver os slides que eu mandei” ou “pesquisem na

internet, não sei o que”.

Pesquisador: Entendi. E qual a sua opinião sobre isso? Sobre tecnologia em sala de aula,

sobre usar tecnologia para estudar. Você gosta, você não gosta? Acha que melhora para

estudar, acha que não melhora?

LP16M2: Eu acho que melhor, né? Porque aí não tem só as informações do livro, você

tem as informações que todo mundo tem acesso, o mundo todo tem acesso. Eu acho que

com a internet, além de você aprender o que a sua cultura, enfim, você aprende outras. E

você acaba, pelo menos eu percebo, que quando eu leio alguma coisa na internet e passo

fazendo resumo no caderno, eu acho que eu entendo muito melhor do que lendo um textão

na apostila, que o que importa são duas linhas. Eu acho que na internet está tudo muito

mais resumidinho, fica muito mais fácil de entender. Eu não sei se em sala, não sei se em

sala, eu não me incomodo de não ter, na verdade. Se tivesse, eu acho que seria legal

também, mas não é uma das coisas que me incomodam. Mas, em casa, eu preciso da

internet para estudar. Eu tenho uma casa lá em Guapimirim que lá não tem internet. Então,

tendo prova toda segunda e quarta, eu não posso ir sempre que meus pais vão. Meus pais

vão quase todo final de semana. As vezes, a família vai também, a Renata, mas eu deixo

de ir eu tenho que estudar para a prova e eu gosto de estudar vendo coisa no computador.

Então, eu fico em casa sozinho enquanto eles vão por causa da internet, porque eu preciso

estudar pela internet, porque só pela apostila eu sei que não vou conseguir.

Pesquisador: Entendi. E isso para todas as matérias ou para algumas específicas?

LP16M2: Aham, tirando… É, não, para todas as matérias.

Pesquisador: Legal. E essa questão, enfim, eu acho que você tem que estudar quase

sempre, mas você estuda todo dia?

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LP16M2: Não, não. Na verdade, assim, com as provas toda segunda e quarta, eu meio

que acabo estudando, meio que assim, quase todo dia da semana. Eu não estudo nunca

quarta-feira, quarta-feira é um dia que eu não estudo, e sexta também não. Sábado eu

estudo, domingo eu estudo, segunda e terça também. Quinta tem vezes que eu estudo e

tem vezes que não. Mas eles costumam falar, “ah, chega em casa e revisa a matéria que

foi dada no dia”, só que não tem como. Terça a gente tem aula de Física, Matemática,

Espanhol e Inglês. Aí quarta tem prova de História. Não vou perder meu tempo de terça

revisando a matéria de Matemática e Física, tendo prova de História na quarta, não tem

como. Se eles querem que a gente faça isso, era melhor eles organizarem mais o

calendário deles, porque fica difícil para a gente.

Pesquisador: Aham. E você já está se preparando, está no segundo ano, você já está se

preparando para o vestibular, está pensando nisso ou ainda não?

LP16M2: É, o Enem é agora em novembro, mas eu, eu vou fazer só por experiência

mesmo, ano que vem eu faço com foco. Esse ano é só por experiência mesmo, tô nem aí,

não sei nem o que vai cair.

Pesquisador: Não sei se você viu, mas, enfim, foi aprovado uma reforma do ensino

médio. Você conhece os detalhes da reforma, sabe do que se trata?

LP16M2: Eu tentei ler mais a afundo, mas eu não entendi muito bem. Eu acho que eles

querem tirar Filosofia, Sociologia e Artes, né? Não sei se é isso… Educação Física… Lá

no colégio, Educação Física não é obrigatório não.

Pesquisador: Aham.

LP16M2: O ensino médio faz se quiser, porque, do primeiro ao terceiro, a Educação

Física é pós-turno, tem aula de sete até uma e meia e tem Educação Física duas e meia. E

eu não sou muito fã de Educação Física. Ainda mais Educação Física na escola, que eu

não gosto, da escola, eu não gosto. Mas se você, se me chamarem para jogar vôlei entre

amigos, eu jogo. Se me chamarem para fazer qualquer esporte entre amigos, eu faço. Mas

Educação Física, eu não suporto. E quem não faz Educação Física, tem que

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fazer um trabalho e aí eu faço o trabalho. Mas, pelo o que eu sei, não sei se eu estou certo,

essa reforma pretendia tirar Filosofia, Sociologia… Não é? Não sei.

Pesquisador: Mais ou menos. Não é bem isso não. Na verdade, um dos principais focos

dessa reforma, não que eu esteja defendendo ou não, só passando a ideia, ela focava muito

em você poder escolher qual linha você vai seguir. Então você tem disciplinas básicas,

acho que era Português, Matemática e Inglês, você tem durante todos os anos, mas a

partir, se não me engano, eu não me lembro se já no primeiro ou no segundo, você escolhe

qual linha você quer seguir. Então você tem uma parta mais biológica, mais não sei o que

e tal, tal, tal. E aí, a ideia era que o aluno ia tendo mais disciplinas de determinado tema

de acordo com o interesse dele. Claro que dentro disso aí tem várias outras coisas, a ideia

é ter ensino integral, o tempo todo e tudo mais. Teve um pouco dessa discussão de tirar

Filosofia, não era bem tirar, era meio que deixar de ser obrigatório, mas isso não acontece,

quando a reforma foi aprovada não aconteceu isso, enfim. Mas pensando um pouquinho

nessa questão de você poder, por exemplo, a partir do primeiro ou do segundo ano, você

poder escolher uma área de conhecimento que você quer seguir, enfim, humanas… Eu

não lembro direito os nomes, era um curso mais técnico, uma mais voltada para humanas,

outra para biológica e outra mais para exatas, né? O que você acha dessa ideia? Assim,

da forma que eu falei. Eu sei que tem muito mais aprofundamento, mas o que tem parece

isso?

LP16M2: Eu, na verdade, sou um pouco de acordo, mas também discordo um pouco. Eu

acho que, se no ensino médio, a gente tivesse só as matérias que a gente fosse realmente

usar, ou seja, as matérias que a gente mais se interessa, eu acho que os alunos do ensino

médio teriam um gosto muito maior pelo estudo. Porque eu, sinceramente, acho muito,

muito, muito desnecessário a maioria das matérias que eu aprendo, porque eu sei que, a

partir do momento que eu fizer a prova de tal matéria e sair da escola, nunca mais vou

usar. São matérias que eu pergunto para os meus primos mais velhos, meus pais, meus

tios e ninguém sabe responder. Porque aprendeu na escola, mas não usaram na vida, então

esqueceram. Eu acho que a gente aprende muito mais com a vida do que na escola. Eu

sempre falo isso. Porque as coisas que a gente leva são as coisas

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que a gente aprende na vida. Eu acho que, esse negócio de ficar aprendendo, eu tenho

dezoito matérias para aprender, eu tenho dezoito provas para fazer de diferentes matérias

e a maioria não tem uma conexão umas com as outras, e eu fico meio perdido, porque eu

sei que a maioria das coisas que eu estou estudando ali, não vão fazer parte do meu futuro.

Então eu fico meio desmotivado de ficar estudando matérias que eu sei que depois da

prova eu não vou precisar mais. Mas eu também acho que no primeiro ano, assim, é muito

cedo para o aluno escolher. Eu acho que todo mundo tem alguma coisa em mente, desde

de criança, do que quer ser, pode até conversar com os pais no nono ano, para saber tipo,

“ah, o que vocês acham que é mais a minha cara”… Mas o meu exemplo, até o quinto

ano eu não tinha prova, porque na Aldeia Montessoriana não tinha esquema de prova,

eles passavam por outros motivos, não tinha prova nenhuma. No sexto ano ao nono, foi

no Metropolitano, que era um colégio tradicional, eu tinha prova e eu era 100% de exatas,

eu era muito bom em exatas, eu só passava direto em exatas e História e Geografia eu

tinha mais dificuldade. Cheguei no primeiro ano, mudou tudo. Eu tenho muito mais

facilidade em História e Geografia, na parte de humanas, do que em exatas. Eu não sei

se, no ensino fundamental, se era porque minha mãe conseguia me ajudar, porque ela

dava aula pro ensino fundamental, e no ensino médio, eu tive que me virar sozinho. Então,

eu sempre achei que fui de humanas, mas eu tive uma fases de exatas, porque minha mãe

podia me ajudar e tal. Eu acho que já tem muita gente que tem coisa em mente, desde

criança, que desde criança sonha em ser alguma coisa, mas para alguns podem ser cedo.

Até hoje eu tenho alguns amigos, uma amiga minha está em dúvida entre cinema e

engenharia, que são coisas que meio nada a vê. Mas eu concordo muito com esse negócio

da gente aprender matérias que vão ser, com certeza, necessárias para o nosso futuro,

porque eu, estudando Biologia… Eu estou aprendendo agora, quer dizer, estava

aprendendo sobre plantas, hoje já mudou a matéria… Eu aprendi com facilidade, mas eu

sabia que não ia precisar o que é uma pteridofita, o que é uma briófrita para o meu futuro,

porque eu não vou seguir nada relacionado a Biologia, isso eu tenho certeza. Então é uma

coisa que é meio desmotivado. Então eu concordo em partes, eu acho que esse negócio

de focar nas matérias necessárias no ensino médio ajudaria mais do que a gente ter

um peso de

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matérias nas nossas costas, que a gente precisa conseguir estudar tudo, entender tudo para

fazer uma prova. E depois, vai vim mais matéria, a gente vai ter que fazer outra prova.

Então eu concordo em partes com essa reforma.

Pesquisador: Legal. Legal falar esse negócio do mercado, você acha que tem alguma

disciplina que tenta transpor isso, o conteúdo que está mostrando no colégio para o que

vai ser útil no mercado futuro, no mercado de trabalho ou não?

LP16M2: Você diz que os meus professores tentam mostrar?

Pesquisador: Isso.

LP16M2: É raro. Eles, os professores dão a matéria e só. Tem vezes que a gente até

pergunta para que a gente vai ter que fazer isso e tal. Às vezes, respondem para o Enem

e isso me dá uma irritação muito, eu fico muito irritado quando respondem isso. Mas tem

outros professores que não, eles falam que a gente tem que aprender isso para tal coisa.

Só que a minha professora de Biologia sabia que planta a gente está aprendendo para fazer

prova, ela mesmo falou. “Gente, vocês tem que saber isso para fazer prova, depois vocês

vão esquecer. Mas já que a gente vai ter que fazer prova, vamos tentar entender, não sei

o que”.

Pesquisador: Entendi.

LP16M2: Mas eles não são de falar para o que a gente está aprendendo aquilo não, eles

dão a matéria… Alguns sim, se eu falar que todos não tentam é mentira, alguns tentam

sim. Mas a maioria não, só dá a matéria e sai.

Pesquisador: Legal. Bom, acho que para encerrar… Antes de encerrar, o colégio não

falou nada sobre essa reforma para vocês? Não tentou passar nada disso?

LP16M2: Não, então, essa reforma e tal era ano passado e estavam com a dúvida de como

ia ser esse ano. Mas esse ano, no início do ano, o diretor entrou lá, falo que ia continuar

o mesmo esquema, que por enquanto só a Educação Física não ia ser obrigatório e não

sei o que. Mas ele falou de umas reformas que tiveram no Enem, dessa questão de ser

vários domingos e tal. Tem um negócio da UERJ de não ter mais o

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negócio de Português, que não sei ainda o certo, que eles tiraram porque não tem dinheiro

para pagar, alguma coisa assim. Eles tentam ir falando com a gente, mas não falaram nada

muito específico dessa reforma não.

Pesquisador: Legal. E, bom, para finalizar, se você pudesse fazer uma mudança na

educação no Brasil, o que que seria?

LP16M2: Eu botaria… Eu primeiro botaria laboratório para Química e Física em todos

os colégios. Laboratório deveria ser uma coisa obrigatório, porque para você aprender

Física e Química, você, principalmente, você tem que ver. Não tem como você entender

de primeira que o negócio de Química, que daqui passa para o outro, não sei o que, eu

acho que você tem que ver ao vivo, que aí você não vai estar aprendendo só no quadro,

você vai estar vendo, então eu acho muito mais fácil. Também botaria, eu botaria passeios.

A escola fazia passeios, mas não passeios para brincar, a gente vai para algum lugar para

aprender alguma coisa da matéria que a gente está dando em sala, que eu acho que seria

muito mais interessante para os alunos, sair um pouco do colégio, sair um pouco da sala

de aula e ir lá para fora, aprender lá fora. Tem alguns colégios que já tem isso, é o Ao

Cubo, tem muita aula de campo, que é o nome, né? Eles costumam levar os alunos para…

Foram para Paraty, foram para Petrópolis, eles costumam levar para, sair um pouco da

sala para ficar um negócio menos angustiante. E botaria também, eu não sei, eu acho que

eu colocaria menos peso nesse negócio, eu acho que eu diminuiria um pouco, eu acho que

eu faria uma redução nas matérias. Eu acho que eu veria o que é importante para todos os

alunos, para serem formados como seres humanos e o que é menos importante. Eu acho

que daria muito mais foco na coisa que eu sei que vai ser mais importante.

Pesquisador: Legal, legal. Bom, eu acho que é isso. Você tem mais alguma coisa que

você quer contar, que você quer falar?

LP16M2: Não não, acho que foi tudo já.

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Pesquisador: Então beleza. Obrigado, tá? Obrigado pelo seu tempo, foi ótimo, foi bem

enriquecedor. E aí, eu vou pedir para a Renata assinar o termo para você e, mais uma vez,

obrigado.

LP16M2: Nada, que isso, obrigado você.

Pesquisador: Valeu cara, abraço.

LP16M2: Tchau.

S18MA2

Pesquisador: Olá. E aí, tudo bem?

S18MA2: Tudo bem.

Pesquisador: Bom, obrigado aí pelo seu tempo mais uma vez, tá?

S18MA2: Nada.

Pesquisador: Vamos começar… Eu vou pedir para gravar, se você me autorizar, só para

depois eu poder pegar as anotações e não ficar anotando agora, tudo bem?

S18MA2: Tá bom, tudo bem.

Pesquisador: Beleza. Então, o seguinte, eu estou fazendo mestrado, como falei, estou

estudando educação, estou estudando ensino médio e a relação de experiência, tecnologia,

relação professor-aluno e tudo mais. A ideia aqui é a gente bater um papo agora. Eu tenho

um roteirozinho aqui, mas só para me guiar mesmo. Aqui não tem certo nem errado, o

importante é a sua opinião, então fica a vontade para falar o que você quiser. Beleza?

S18MA2: Beleza.

Pesquisador: Então, para começar, se puder se apresentar… Falar seu nome, idade,

com quem mora, série que estuda, qual colégio que você estuda.

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S18MA2: Então tá. Então, meu nome é S, eu moro com meus pais, com minha irmã e um

irmãozinho que minha mãe cria, eu estou no segundo ano do ensino médio, estudo no

MV1 Anderson Tijuca, 18 anos.

Pesquisador: Legal. E você já frequentou outro colégio antes?

S18MA2: Já, colégio público. Eu estudei no meu, no caso, do C.A., porque antigamente

tinha o C.A., agora não tem mais, até o nono ano no Afonso P., ali mesmo na Barão de

Mesquita, na frente do MV1.

Pesquisador: Ah, eu sei. Eu moro ali pertinho, eu moro na Gonzaga Bastos. Além do

colégio, você faz algum curso por fora?

S18MA2: Não, não faço.

Pesquisador: Legal. Bom, você já sabe qual profissão você vai seguir?

S18MA2: Eu estou em dúvida em engenharia civil ou gastronomia.

Pesquisador: Caraca, bem diferente hein.

S18MA2: Bem diferente, né? Nada a ver um com o outro.

Pesquisador: E porque você está em dúvida entre essas duas?

S18MA2: Porque assim, a Engenharia Civil, eu tenho que ver pelo lado do mercado de

trabalho. E, no caso, eu não sei se o mercado de trabalho está bom para Engenharia Civil,

sabe? Eu tenho… O pai mesmo da Anna Bia, aquela minha amiga que indicou, ele fez

Engenharia Civil e até hoje ele não conseguiu nenhum trabalho, entendeu?

Pesquisador: Entendi. E gastronomia, você gosta de cozinhar?

S18MA2: Não é que eu goste, eu tenho curiosidade, sabe? De aprender.

Pesquisador: Legal. E me conta um pouco um pouquinho de como é o seu colégio, de

como é o MV1.

S18MA2: Na estrutura?

Pesquisador: Na estrutura, o que você gosta dele, o que você não gosta dele.

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S18MA2: Então, o MV1, o que eu gosto, a estrutura é bem boa, sabe? Só que assim, em

relação, tipo, a cantina, eu acho um absurdo. O preço das coisas, um absurdo, um absurdo

mesmo. Mas em relação a estrutura, a quadra é boa, as salas são planejadas… Não tanto,

eu acho que da minha antiga escola que era pública, era bem mais, mas assim, em relação

aos professores é um ensino muito bom, muito bom mesmo. Ali, o foco deles é o Enem e

realmente eles incentivam a gente a fazer o Enem com uma capacidade ótima. Isso aí eu

não tenho do que reclamar. A coordenação é boa, sempre está disposto. Sempre, a gente

“oh, não gostei disso”, a gente leva para a coordenação, discute e tem, eles vão em frente

e sabe? O que a gente leva… É muito bom.

Pesquisador: E você gosta mais desse atual, o MV1, ou você gostava mais do outro?

S18MA2: Aí, eu acho que essa é uma pergunta muito difícil. Porque assim, eu sempre

estudei em colégio público, agora eu sou bolsista no MV1. Então, eu me esforcei para

conseguir isso. Mas eu gostava muito da minha escola, da Afonso Pena, muito, muito

mesmo. Mas assim, em estrutura, a Afonso Pena, por ser público… Não sei nem se pelo

fato de ser público, né, porque a verba é bem diferente, mas eu acho sim, que pode ser

por ser pública, é muito diferente. A estrutura, até o teto e o chão é de concreto, sabe? Até

onde a gente fazia Educação Física vivia caindo ali e se machucava. No MV1, isso já é

bem diferente, isso muda bastante.

Pesquisador: E você sentiu muita diferença de ensino quando saiu do público para ir para

o particular?

S18MA2: Senti bastante. Sem dúvida nenhuma, muita diferença. Porque, na Afonso

Pena, assim, a gente aprendia o básico, sabe? Eu não era, eu nunca fui uma aluna que

assim que não aprendia nada, eu aprendi bastante na Afonso Pena e consegui levar para

o MV1. Mas, uma diferença enorme, enorme, enorme mesmo, muito grande mesmo, cara.

Pesquisador: Mas você diz assim, em relação aos professores também, em relação ao

conteúdo que é dado? A diferença maior era em o que que você sentiu?

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S18MA2: Eu acho que até o conteúdo, sabe? Eu acho que o conteúdo que foi uma

experiência enorme, porque, assim, tipo em Matemática, lá é o básico. Básico, do básico,

do básico. A forma deles explicarem, eles já te dão o assunto direto, sem dar um passo-a-

passo e tal. E no MV1, não. Lá, eles te ensinam diversas formas, do mais fácil ao mais

difícil, até que você aprenda, entendeu? Até no caso, também assim, em Redação, é uma

diferença enorme do público para o particular. Porque a minha redação do público, a

professora mandava a gente fazer uma de dez linhas e, tipo, eu ganhava dez em uma

redação dessas, sabe? E eu falava que queria e ganhava dez. Então, quando eu cheguei

para fazer a primeira redação no MV1 que eu tirei quatro e meio, para mim foi uma, foi

um desespero, entendeu?

Pesquisador: Entendi, legal. E a estrutura de sala de aula? Tem alguma diferente, como

é a estrutura do MV1?

S18MA2: Ah, a estrutura do MV1 é bom. Assim, é arejado, sabe? Acho que o único ruim

ali é porque a gente divide… No caso, o MV1 é bem grande, só que a minha sala é ali

embaixo, embaixo mesmo, no térreo. Então, ali, a gente divide com o ensino fundamental

e o recreio deles atrapalha muito a gente. Eu acho que isso aí eles deveriam mudar. No

caso, quando a gente está tendo aula, o recreio deles está atrapalhando e a nossa sala tem

aquela janelinha de vidro, que você vê o outro lado, e aquilo ali atrapalha demais. No caso

da pública não, o recreio, cada um tinha um recreio e tal, então diferenciava bastante.

Pesquisador: Legal. Em relação as matérias que são dadas, quais as matérias que são

dadas lá no MV1? Tem alguma coisa diferente? Tem disciplinas extra-curriculares?

Alguma coisa que você pode escolher por seu interesse?

S18MA2: Como assim?

Pesquisador: Por exemplo, as matérias que são dadas lá são as normais? Ah, História,

Geografia, tal, tal, tal. E se você tem opção, por exemplo, fora dessas que são obrigatórias

de você fazer, tem alguma opção que você pode escolher fazer? Sei lá,

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chutando aqui… Sei lá, alguma coisa de dança depois da aula, ou alguma coisa de

inglês, ou teatro, ou alguma coisa desse tipo?

S18MA2: Ah sim, sim. Lá tem as matérias normais, mas tem cursos também. De teatro,

dança, negócio de bateria, música, vôlei… Tem esses negócios, tem uma opções assim.

Mas não algo que eu ache, assim, que vai muito para frente, como curso técnico, por

exemplo. Lá não tem essas coisas, entendeu? Lá, eles preparam a gente para o Enem, não

para o mercado de trabalho assim.

Pesquisador: Entendi.

S18MA2: No caso, curso técnico assim.

Pesquisador: E o que você acha dessa preparação mais para o Enem do que para o

mercado de trabalho, por exemplo?

S18MA2: Eu acho que por um lado… Eu acho que tudo tem vantagens e desvantagens,

sabe? Por um lado é bom, porque a gente está sendo preparado para um concurso que,

cara, é o maior concurso, assim, do Brasil, no caso, e ajuda bastante, porque, quem se

esforça consegue, não tem essa. Então, se você está ali para fazer, se você quer, corre atrás

que vai conseguir, entendeu? É só colocar isso na sua mente. Mas, por um outro lado, as

escolas que tem curso técnico é bom, sabe? Porque você já sai dali formado para alguma

coisa. Bem ou mal, se nada der certo, já tem aquilo.

Pesquisador: Legal. E o que você costuma fazer no intervalo?

S18MA2: Na escola?

Pesquisador: Isso.

S18MA2: Eu fico conversando com meus amigos, porque é muito rápido, vinte minutos

é muito rápido, é muito pouco tempo.

Pesquisador: É vinte minutos só?

S18MA2: Só vinte minutos.

Pesquisador: Caraca, realmente não dá tempo de fazer muita coisa, né?

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S18MA2: Não dá, não dá para fazer nada. A gente sai, quando vê já tem que correr,

entendeu? É muito rápido.

Pesquisador: Entendi. E como você se sente no colégio? Você gosta, você está feliz lá,

como que é?

S18MA2: Ah, eu gosto, eu gosto muito. Estou feliz. Por vim de uma escola pública, eu

achei que, as vezes, a gente acha que vai ser bem diferente o tratamento e tudo, mas não,

pelo contrário, eu sou muito bem tratada. Assim, eles me elogiam bastante porque eu me

esforço, sabe? Para conseguir o que eu quero. E lá, eu me sinto muito bem, muito bem

mesmo. Sempre tem alguns problemas. As vezes, a gente se da melhor com um professor

do que o outro e tal, mas eu gosto muito.

Pesquisador: Legal. Esse era o próximo tópico. Como que é a relação de vocês com os

professores?

S18MA2: Assim, em geral ou, tipo, tem algum específico?

Pesquisador: Em geral e específico. Tem algum que vocês gostam mais, que você gosta

mais? Algum que você não gosta?

S18MA2: Então, assim, eu me dou bem com todos os professores. Tem uma rixinha assim

com o professor de Português e Literatura, que é o mesmo. Acho que é pelo fato de eu

não me dar… Não é que eu não seja, eu sou aquela aluno na média, porque a média lá é

sete, não sou uma aluna dez em Português e nem em Literatura, mas ele tem mania de

ficar no meu pé, sabe? De me querer deixar mal e eu sou uma pessoa que não levo desafora

para casa, então eu debato, sabe?

Pesquisador: Entendi.

S18MA2: Entendeu? Mas com os outros professores eu me dou super bem, super, super

bem. Até com ele mesmo, entendeu? Até porque eu estou ali para estudar, não estou para

ficar levando rixa com ninguém. Mas eu me dou muito bem com todos, todos. E são mais

que professores, são amigos da gente.

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Pesquisador: Ah, legal isso. E você, nessa questão de amigo, você tem o contato deles

por Facebook, por Whatsapp? Você conversa com eles fora do ambiente de colégio

também ou não?

S18MA2: Ah, eu não sou muito de conversar não, mas tenho o contato. Se eu tiver que

perguntar alguma coisa, eles respondem numa boa no Facebook. Eles passam slide para

a gente pelo email, pelo Face. Isso aí, sabe? Passa, se tiver que corrigir alguma prova e

não deu tempo, “ah, vai entrar um feriado”, “você tirou tanto em uma prova”, eles

mandam numa boa. Tenho todos no Facebook. Assim, mas não sou de conversar, de ter

uma amizade.

Pesquisador: Aham, mas você sente que, você não faz isso, mas você sente que eles estão

abertos a fazer isso se for o caso?

S18MA2: Sim, estão, com certeza. O meu professor de Filosofia e Sociologia, se tiver

qualquer problema, ele sempre vai estar disponível. Vai te escutar, sabe? Ele senta para

conversar com você, seja o que for, seja financeiro, seja em casa, saúde, o que for. Ele é

um professor muito amigo. Ele é aquela pessoa que você mandou mensagem no

Whatsapp, na hora ele te responde.

Pesquisador: Ah, legal. E o que você acha disso? Você gosta dessa relação com os

professores?

S18MA2: Ah, eu gosto. Porque assim, as vezes, a gente sente, eu, pelo menos, me sinto

mais a vontade. Não sei os outros. Até de “ah, tirei uma nota ruim nessa matéria”, sabe,

chegar ali, sentar e conversar. “Ah, isso está acontecendo comigo dentro de casa” ou

qualquer outro aspecto do que está acontecendo e tal. E ele entende. Pelo menos esse

professor de Sociologia e Filosofia, que é o mesmo, ele entende numa boa e isso é muito

bom. Eu me sinto, assim, sabe, bem mais a vontade, recebida por ele, entendeu?

Pesquisador: Legal, legal isso. Beleza, você falou um pouquinho da relação com os

professores, mas como é a relação com inspetores, coordenadores, o diretor? Como é que

é?

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S18MA2: Eu não tenho muita, para te falar a verdade, eu nem vejo o diretor da escola.

Se eu o vi, foram poucas vezes. Mas o inspetor, ele sempre está com a gente, sempre,

sempre, sempre. O meu coordenador também é um… Foi como eu te falei, se a gente leva

alguma coisa para ele e tiver que ele ficar do nosso lado lá e ajudar a gente, pô, ele é dez.

Muito amigo da gente também, se tiver que conversar, tudo. Os inspetores, então, são

maravilhosos, muito legais.

Pesquisador: Legal. E como que os professores costumam dar aula?

S18MA2: Ah, cada um tem um jeito. No caso, o meu professor de História, ele é muito

de falar, só fala, fala, fala e faz exercício na apostila. É muito difícil esse professor

escrever. Já o professor de Física, ele dá muito slides, meu professor de Biologia também.

Leva a gente para o auditório para ter aulas com slides. O de Português é de escrever

mesmo. O de Literatura, ele fala mais e traz papelzinho para a gente ficar lendo.

Matemática é só prática mesmo. Escrever, escrever e fazer exercício. E assim, meu

professor de Filosofia e Sociologia é muito de falar. A gente até grava as aulas dele, porque

ele não é muito de escrever não, nem escreve direito. E o meu professor de Geografia é

quadro, quadro, quadro, mas é aquele quadro, cara, que tu leu para a prova, a tua prova

está ali, entendeu? É muito excelente.

Pesquisador: E qual desses todos que você comentou, qual dessas metodologias você

acha melhor para você?

S18MA2: O de Geografia.

Pesquisador: O de Geografia?

S18MA2: Sim, porque ele escreve a matéria dele toda, toda, toda, depois ele explica tudo

e quando vai ter a prova dele, é tudo cara. Você leu o caderno dele, você pode ter certeza

que vai tirar dez na prova, não tem erro.

Pesquisador: Legal. Eles tentam, de alguma forma, expor o conteúdo de alguma outra

maneira? Tem uns que escrevem, tem outros que passam slides, mas tem algum que tenta

inovar de alguma forma, trazendo o conteúdo de forma diferente para vocês?

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S18MA2: Sim, a professora de Inglês. Ela leva muitas músicas, sim, até, as vezes, para

refrescar um pouco a mente, sabe? Música de inglês para a gente ficar fazendo como

exercíciozinho, de ligar, eu não acho que nem seja para inovar, é para diferenciar um

pouco, para não cair naquela rotina, sabe? Só ela mesmo.

Pesquisador: Mas você gosta disso? Você acha que os outros professores poderiam fazer

coisas parecidas ou você acha que não?

S18MA2: Assim, eu acho que o meu professor de Geografia está excelente, continua

assim, está ótimo. O de Filosofia, eu aprendo com ele explicando, eu gravo a aula dele e

eu tenho facilidade. Mas o meu professor de História, eu acho que, com certeza, ele tinha

que inovar, porque, eu, eu falo por mim, eu sou muito ruim em História e ele só fala, fala,

fala, eu não consigo gravar nada, nada. Sabe aquilo que você não entende? Você lê, lê, faz

de tudo e não consegue? Eu acho que ele deveria inovar. Tipo, porque História tem como

você interpretar, se vestir, alguma coisa, sabe? Fazer meio como um teatro. Porque, as

vezes, a gente acaba aprendendo assim, tem mais facilidade, você se interessa mais. Mas

eu acho que, por ele só falar e eu… Tipo, três tempos de História, é quase seguidos, eu

não tenho saco para isso, não tenho. E ele só falando, falando, falando, falando, é quase

três horas falando, então, isso para mim é puxado.

Pesquisador: Entendi. Você falou que você grava uma das aulas, você grava como? Pelo

celular mesmo?

S18MA2: É, pelo celular. É o de Sociologia e o de Filosofia.

Pesquisador: Você só grava o áudio ou você grava o vídeo também?

S18MA2: Não, eu gravo só o áudio mesmo, só o áudio. Aí depois, eu vou escutando,

memorizando assim. Ele também é de passar revisão ditando, aí eu vou, gravo e depois

eu vou escutando direitinho, faço. Mas só essa matéria.

Pesquisador: Mas ele deixa tranquilo usar o celular para gravar e essas coisas?

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S18MA2: Na boa, ele não tem problema nenhum, pelo contrário, se tiver os dezoito

celulares da turma ali, na minha turma tem dezoito pessoas, ele deixa todo mundo gravar,

não tem problema nenhum, nenhum mesmo.

Pesquisador: Ah, legal isso. Eles incentivam vocês a procurarem a matéria em algum

outro lugar além do conteúdo que eles dão? Enfim, procurar em outros livros, na internet,

vídeo no Youtube, alguma outra coisa nesse tipo?

S18MA2: Incentivam. Eles falam para a gente ver vídeo-aula. E é, no caso, o meu

material da escola mudou esse ano, é um novo projeto assim. Podemos dizer que mudou

o material todo. E eles… A gente tem um site, eu acho que é Seja Ético. É, o material é

esse Seja Ético. Aí cada um pega um negócio na secretaria, entra, faz o seu email, blá,

blá, blá, e vai lá. Lá tem tudo o que eles explicam, ali tem de uma forma mais resumida

as coisas atuais, entendeu? Assim, ajuda bastante.

Pesquisador: Legal. E eles passam trabalho para casa?

S18MA2: Cara, não.

Pesquisador: Não?

S18MA2: É, isso é uma coisa que eu… Não, normalmente não são de passar trabalho

para casa. A gente tem muito trabalho assim, tipo, no primeiro bimestre vai ter trabalho

de pesquisa de Inglês e Matemática. Aí é um trabalho que vale dois pontos na média e tal.

Assim, trabalho de pesquisa, mas não são de passar trabalho de pesquisa não. Não são

mesmo. A gente faz mais na aula, fazendo os exercícios e estuda.

Pesquisador: E o que você acha deles passarem ou não passarem trabalho para casa?

S18MA2: É, isso aí é uma pergunta boa. Eu acho que eles deveriam passar, sabe? Porque,

tipo, eu tenho aula de Química toda quarta. Eu tenho facilidade com Química, mas muitas

pessoas não tem. Então, você aprendeu nessa quarta, passou um ou dois exercícios, que é

muita pouca coisa, para você chegar na outra quarta-feira e já pula para outra matéria,

porque é bem rápido, não tem todo esse tempo do mundo. Então já pula para outra matéria

e acaba que aquilo ali, você não, sabe, não fixou direito. Não

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teve trabalho para casa, não fez nada direito. Então, acaba que você esquece. Quando

chega uma global, uma prova, filho, você para estudar, tem que ver lá do primeiro até o

final, última matéria, é muita coisa. E a nossa apostila é um absurdo de exercícios, são

muitos exercícios mesmo. E são exercícios bons, sabe?

Pesquisador: Aham, mas aí vocês fazem por conta já que tem bastante exercício? Aí

acabam fazendo por conta ou não?

S18MA2: Não, como assim por conta?

Pesquisador: Ah, ele não passou, mas na hora de estudar vocês olham lá e fazem…

S18MA2: Ah, a gente fazer por conta própria, é isso?

Pesquisador: Isso, isso.

S18MA2: Ah, sim. Eu creio que eles fazem, porque é como eu estou falando. No caso,

em Química, eu tenho facilidade, então eu aprendi ali e na hora de estudar eu só vou dar

uma relida no que eu sei que vai cair na prova. Mas, no caso de História, eu tenho que

fazer por conta própria, mas o professor, ele é um dos únicos, que ele passou a matéria,

ele manda a gente fazer e corrige com a gente. Porque teve um bimestre que eu tive doze

capítulos de História para estudar. Só falando, como eu disse, ele só fala, eu não aprendo

nada. Então ele sabe que muitos alunos tem a necessidade dele, no mínimo, dar, nem que

ele não faça com a gente, mas “oh, a um é A, a dois é B”, corrigir, entendeu? Assim, no

caso, Matemática eu faço por conta própria, entendeu? No caso, para fixar Português,

porque se não, não vou saber nada.

Pesquisador: Legal. E como são as avaliações do colégio?

S18MA2: Ah, no caso, a gente tem uma formativa e uma global. E assim, tem bimestre

que tem o trabalho de pesquisa, mas é, nesse bimestre é uma matéria, no outro é outra

matéria. Nunca repetem as matérias não, entendeu? Cada bimestre vou te ajudar em uma

matéria e é isso. Aí a formativa vale peso quatro. Aí tirou dez, aí quatro vezes dez e tal.

A global vale seis. Aí tirou oito, oito vezes seis. Aí você soma, divide aquilo ali por dois

e é sua média final. Aí também tem um simulado, cara, tem que estudar muito para

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o simulado e é muito bom, de todas as matérias. Aí quem pontua no simulado, é um ponto

na média, sem dividir, nem nada. Tua média saiu sete, você pontuou no simulado, com

aquele ponto ali, sua média vai para oito, na hora. E isso ajuda bastante, é muito bom.

Isso do simulado, muito bom.

Pesquisador: E essas avaliações que vocês tem, vocês podem… São sempre individuais,

tem avaliação em grupo, você podem usar consulta ou não?

S18MA2: Sempre individual. Sempre, sempre, sempre. Não tem uma avaliação que seja

em dupla, que você possa consultar caderno, possa olhar, nunca teve. Eu estou ali a dois

anos, nunca tive. A única coisa que tem em dupla é o trabalho de pesquisa, o trabalho que

vale dois pontos na média quando apresenta e quando tem. Ou você faz para casa e é

individual também. Então, não tem, mas em casa a gente pode consultar e tal. Mas nas

avaliações, tudo sozinhas.

Pesquisador: E esses trabalhos, como são esses trabalhos?

S18MA2: No caso, assim, vamos supor que eu tenha esse bimestre de Física. Aí é a

matéria que eu to tendo em Física, entendeu? Eles passam dez questões que vão valer dois

pontos na minha média, no caso, se eu acertar tudo. Aí a formativa passa a valer três, o

trabalho dois e a global passa a valer cinco.

Pesquisador: Entendi. Mas os trabalhos são sempre questões da matéria ou eles tentam

diversificar de alguma forma?

S18MA2: Não, sempre são questões da matéria. Se caiu no segundo bimestre, vai cair a

matéria do segundo bimestre. Geralmente, é, as vezes, em Matemática, eles inovam um

pouquinho e colocam exercícios do primeiro, do segundo… Tipo assim, vou fazer no

terceiro, coloca alguma coisa do primeiro, do segundo, do terceiro junto. Aí, mas,

geralmente, é sempre o que você está aprendendo naquele bimestre.

Pesquisador: Entendi. E esses trabalhos podem ser em dupla ou só individuais também?

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S18MA2: Não, pode ser em dupla, às vezes, em trio. Mas, a maioria das vezes é em dupla,

mas caso eles passarem para casa o trabalho, você faz sozinho, leva a sua nota, leva o seu

trabalho que eles dão a sua nota, no caso, e é aquilo ali.

Pesquisador: Então, às vezes, o colégio é feito no colégio também? Não necessariamente

ele é para casa.

S18MA2: No caso, Matemática, todas as vezes que eu fiz foi no colégio. Seria no tempo

do professor de Matemática, fez o trabalho, entrega e eles dão. Aí, vamos supor, se for

Biologia, vêm para casa, Português, vêm para casa. Às vezes, tipo, seminário, você tem

que apresentar ou dançar, tem que cantar em inglês, alguma coisa assim, vêm para casa.

Pode ser também em grupo quando é assim, esses negócios, seminário. Mas é mais as

matérias de linguagens, Humanas, que vêm assim para casa. A gente teve um de

Geografia que, no bimestre passado, foi para fazer um caderno, para encadernar ele

direitinho. Eu peguei, acho que eu peguei violência doméstica… Não, peguei intolerância

religiosa, aí trouxe para casa, eu e meu grupo fizemos, encadernamos o trabalho e foi

entregue, entendeu? Aí com o negócio de botar as estatísticas, um monte de coisa. Foi um

trabalho bem legal.

Pesquisador: E qual tipo de trabalho que você gosta mais?

S18MA2: Em qual matéria?

Pesquisador: Não, desses. Ou fazer no colégio ou fazer tipo esse que era um seminário

e tal.

S18MA2: Ah, eu prefiro fazer em casa, porque, às vezes, no colégio, tipo, as vezes, tem

trabalho que é assim, eles avisam hoje para amanhã. Aí, “ah, não vai poder consultar”.

Na hora, eles sempre deixam, sabe? Mas eles ficam no nosso pé, entendeu? Trabalho que

você… Matemática você tem que usar calculadora no telefone, aí já reclama. As vezes, é

para fazer uma conta absurda, não tem como você fazer em um papelzinho, mas

reclamam. Mesmo assim a gente falando “não tem como essa conta e tal, nem você

consegue fazer aí correndo, porque é muito rápido”. Na escola, as vezes, é um tempo só.

Cinquenta minutos para fazer dez questões de matemática… Tem pessoas que tem

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facilidade, mas não, tem que fazer o desenvolvimento, não basta só você marcar A, B,

não, tem que ter o desenvolvimento direitinho. Então, eu prefiro que venha para casa. Eu

prefiro até que seja em grupo, sabe? Quando é assim, é muito bom você fazer um trabalho

de Geografia, Inglês, Português em grupo e depois apresentar. Eu prefiro assim.

Pesquisador: Legal. Essa questão de quando é na sala de aula, eles deixam consultar, a

consulta é livro ou você pode usar celular também e essas coisas?

S18MA2: A consulta, no caso, é a gente ver o nosso caderno e a apostila. Verdade seja

dita, às vezes, a gente vê alguma coisa… No caso, para fazer essas contas enormes, teme

que ser na calculadora, não tem como, porque é complicado. Como eu falei, cinquenta

minutos é muito pouco tempo para você fazer um trabalho de Matemática. As vezes, ele

deixa os dois tempos, aí a gente fica mais tranquilos, mas é só mesmo no caderno e na

apostila. Mas é tudo, como eu te falei, como é do bimestre, então é tudo que tem no nosso

caderno, entendeu? Os professores de Matemática são excelentes, então aquilo ali que

eles passaram, o exercício vai cair iguais, mas, tipo assim, no caderno vai estar número

um, o exercício vai estar número dois, é bem tranquilo.

Pesquisador: Legal. E como você usa tecnologia? Você tem celular, computador, usa

muito a internet, como é que é?

S18MA2: Eu tenho celular, tenho computador em casa, tenho também. Uso bastante o

telefone, é um vício, não consigo me livrar. Em tudo, eu mexo no telefone para tudo,

qualquer coisa assim, “ah, apareceu isso no meu braço”, eu vou pesquisar na internet. A

internet facilita a nossa vida bastante. No caso, a minha, eu acho que é de todos nós, sabe?

Pesquisador: Aham. Mas o que você costuma fazer quando está usando a internet?

S18MA2: Ah, eu, assim, vamos supor que hoje eu estou em semana de provas, eu vejo

muito vídeo-aula, entendeu, para me ajudar. Mas eu também mexo muito no Face, no

Whatsapp, essas coisas, porque é complicado você se livrar disso. Mas assim, eu também

pesquiso muita coisa sobre a escola, bastante. Eu costumo fazer também alguns

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exercícios na internet sobre a matéria que está dando. Vou ter prova amanhã, vou e faço

exercício de Química sobre Equilíbrio Químico para ter uma noção, entendeu, de como

vão aparecer os exercícios na prova. Faço uns exercícios do Enem, da UERJ e assim, para

ficar bem mais aprimorada.

Pesquisador: Legal. E vocês usam tecnologia no colégio de alguma forma?

S18MA2: Se a gente usa?

Pesquisador: É.

S18MA2: No caso, é só mesmo essas horas, quando a gente vai apresentar o slide. Não

usamos… Lá tem computador, mas a gente não usa. Ano passado, a gente tinha um

negócio chamado Mangahigh, não sei se você já ouviu falar. Um negócio que faz trabalho

para valer ponto em matemática. Já ouviu falar?

Pesquisador: Comentaram comigo quando eu estava fazendo as entrevistas.

S18MA2: Isso. Mas era muito, muito complicado a gente usar na escola, porque como a

gente tem prova toda semana, então, tipo, “ah, vamos fazer hoje no primeiro tempo do

professor de Matemática”, mas naquele dia tem prova de Física. Aí, a gente preferia

estudar Física do que fazer o Mangahigh. Mas ajudava na nossa nota, no final de tudo, do

bimestre. Acho que valia, acho que um ponto também na média para quem fizesse 60%

dos exercícios e tinha que fazer em casa. Só que para abrir em casa era horrível. O site

não processava direito e no colégio era uma coisa bem rápido, eu não entendia o porque.

Mas a gente não era muito de usar não, só os professores que usam os slides… A gente

vê filme também na escola, lembrando bem. O professor de Filosofia e Sociologia, ele

passa bastante filmes, assim, alguns pedacinhos de alguma série, alguma coisa para, que

tenha a ver com a matéria dele e é isso.

Pesquisador: E o celular, vocês podem usar em sala de aula ou não?

S18MA2: Não podemos.

Pesquisador: E no colégio, fora da sala de aula, vocês podem usar ou também não,

também é proibido?

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S18MA2: Não, fora de sala de aula a gente pode sim, mas é aquilo, se o celular sumiu,

eles meio que não se responsabilizam, sabe? Porque assim, você não pode usar o telefone

em sala de aula, então porque você está levando? É tipo isso, entendeu?

Pesquisador: Entendi. E o que você acha, enfim, dessa proibição e do uso da tecnologia

para estudar?

S18MA2: Eu acho que essa proibição, assim, eu, não sei se seria bom ter, porque

realmente celular desperta a gente, você perde o foco total. Você recebe uma

mensagemzinha, você está no meio de uma explicação, mexeu no telefone, você já se

desperta. Mas, por um lado, é bom. Assim, não em hora de prova, você não pode com

certeza, mas, às vezes, até para ajudar com os exercícios, entendeu? Porque assim, é um

exercício, você está ali praticando, entendeu? Não é nada valendo ponto e, no caso da

tecnologia, eu acho muito bom a tecnologia ter dentro da escola. Mas, na minha escola,

deveria ser mais usada. É usada regularmente, não é aquilo de sempre, entendeu?

Pesquisador: E você vê alguma situação que, hoje, se pudesse usar a tecnologia ia

melhorar muito o seu aprendizado, por exemplo, dentro do colégio? Você vê alguma

situação que você acha que “pô, se eu tivesse isso aqui ia ser muito bom”?

S18MA2: Ah, eu acho que se tivesse no Enem… É tecnologia, mas não tem muito a ver

com computador, mas o laboratório de Química, pô, seria legal, sabe? Se tivesse, não tem.

A gente tem um laboratório, mas assim, é bem pequenininho, é tipo um quartinho, a

professora que faz tudo, a gente não pode mexer e tal. A gente só dá uma olhadinha, ela

faz o experimento. Um laboratório de Física também seria bem legal. Alguma coisa assim

que envolva Biologia também, que poderia ser um laboratório, para ver os bichinhos e

tal. Eu acho que isso seria bem legal de poder inovar.

Pesquisador: Ah, legal. E quando, quando você tem… Você disse que só a professora

mexe, só ela pode fazer, vocês só ficam olhando?

S18MA2: A gente só fica olhando. Tipo assim, ela vai misturar duas substâncias, tipo

num copinho. Ela vai, dá o copinho na nossa mão, depois que ela fez, a gente vai vendo,

vai passando de aluno para aluno, mas ela que faz tudo, entendeu? A gente não tem a

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oportunidade de fazer aquilo ali. “Caraca, que legal”, ver realmente como que é. A gente

vê o professor fazendo, todo mundo fica com vontade de fazer, né, porque é aquilo que tá

caindo na nossa matéria. A gente se interessa, não adianta. Até quem não gosta de

Química se interessa porque é bem legal. Mas não tem como a gente fazer.

Pesquisador: Entendi. E, nesse ponto, você acha que os professores tentam, de alguma

forma, entender o interesse de vocês e trazer isso de alguma forma para sala de aula?

S18MA2: No caso, essas coisas de laboratório?

Pesquisador: É, não necessariamente só laboratório. Sei lá, chutando aqui, o professor

de História sabe que a turma gosta de, sei lá, Game of Thrones. E aí, ele tenta associar

Game of Thrones com o período histórico e tenta fazer essa relação. Tem algum quem

tenta fazer alguma coisa desse tipo ou não?

S18MA2: Não, não tem. A única professor que tenta trazer algumas coisas da atualidade

para a gente, “ah, caraca, gostei e tal”, é mesmo o professor de Filosofia e a de Inglês que

gosta de inovar, assim, em algumas coisinhas. Mas os outros não. Isso aí é uma boa ideia.

Seria uma boa, sabia? Porque é como eu falei, tem muita gente que tem dificuldade com

a matéria e o professor inovando, né, dá aquele gosto de você aprender, de você se esforçar

mais.

Pesquisador: Em questão do mercado de trabalho, eles tentam associar alguma coisa, o

conteúdo que eles estão dando com o que você vai usar futuramente?

S18MA2: Não, é mais como eu te falei, para o Enem, sabe? Aquilo ali você vai fazer, o

foco é o Enem e é isso. E não tem isso “ah, nesse mercado de trabalho você vai precisar

muito dessa matéria”, não. É assim, “no Enem caiu essa questão”, “estuda que no Enem

vai cair mais isso do que aquilo”, coisas desse tipo.

Pesquisador: E o que você acha desse foco muito no Enem?

S18MA2: Então, como eu falei, eu acho que esse foco no Enem é bom. Porque como eu

te disse, eles estão preparando a gente para um concurso enorme que tem no Brasil e isso

é uma maravilha, porque, como eu falei, quem quer, corre atrás e vai conseguir sim,

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porque o Enem não é nenhum bicho de sete cabeças e eu sei de pessoas que passam, sem

ter capacidade, mas passou, entendeu? E é bom sim, cara. Quem quer, corre atrás, vai

conseguir sim, ter uma faculdade, um futuro, porque quem não tem aquela condição boa

de pagar uma faculdade privada sem ter o Enem… O Enem ajuda muito.

Pesquisador: E como que você estuda normalmente para as suas avaliações? E no dia-

a-dia, como que você estuda?

S18MA2: No caso, se eu for fazer o… Eu tenho dois meses para começar as minhas

avaliações globais, que são as avaliações do bimestre todo. Eu vou tentando aprender na

sala, aquela matéria que eu tenho facilidade eu vou aprender na sala, para quando chegar

daqui a dois meses, mais para frente, eu só revisar meu caderno e saber que aquilo ali eu

sei. Mas quando é aquela matéria que eu não sei nada, tipo História, eu, pelo menos, eu

tenho esse defeito, eu sou muito ruim em História e eu acabo largando História de mão,

entendeu? E vou deixar para estudar só na semana da prova. E aquilo ali me sufoca,

porque eu não aguento. Quando eu vejo que tem dez matérias, oito matérias para estudar,

como foram no segundo, doze matérias, cara, na terceira matéria eu já estava assim “não

aguento mais”. Eu desisto assim. Mas normalmente eu vou aprendendo na sala, depois eu

faço exercício que eles passam na escola, que não vem para casa, né, e depois eu vou

revisando no meu caderno, vou revisando o exercício que eu fiz na apostila e é isso.

Pesquisador: E você anota muito durante a aula no caderno?

S18MA2: As coisas que eles vão falando?

Pesquisador: É.

S18MA2: Anoto, tudinho, não perco nada. Tudo que, qualquer besteirinha que não

ficar… No caso, ele deu a matéria no quadro, está explicando, alguma coisa ali me

despertou, eu anoto no caderno.

Pesquisador: Legal. Além do caderno, você usa alguma outra ferramenta para estudar?

Vídeo-aula, afim, os slides, essas coisas?

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S18MA2: Eu uso vídeo-aulas, eu assisto bastante no Youtube, porque isso ajuda muito,

muito mesmo. E os slides, porque como tem os meus professores que mandam por email,

eu vou lá e vejo aqueles slides de novo, já me ajuda bastante nos exercícios, assim,

mesmo, só. No caderno que eu me baseio muito e também eu costumo procurar. Tipo

assim, “ah, Segunda Guerra Mundial”, eu vou lá, escrevo no Google, leio tudo que tem

ali, passo algumas coisas que me despertam para o caderno para assimilar uma coisa com

a outra.

Pesquisador: Ah, legal. E quando o professor usa o slide, você sente que você anota

menos ou não?

S18MA2: Ah, sinto. Quando está no slide, eu estou ali prestando atenção, então acabo

nem anotando, sabe, direito. É muito difícil eu parar para anotar alguma coisa de um slide,

muito difícil mesmo. Por isso que eles costumam mandar para a gente por email, que aí é

onde a gente para para ver direitinho o slide, para para comparar com a apostila. Mas,

geralmente, eles, normalmente, eles passam tudo no caderno e depois vai para o slide, só

para dar uma aprimorada.

Pesquisador: Entendi. Eles mandam esses emails para todo mundo ou eles mandam para

uma pessoa que distribui? Ou eles colocam no grupo do Facebook e cada um pega o seu?

Como é que funciona?

S18MA2: No caso, meu professor de Física, ele fala assim “quem quer que eu passe o

email, anota seu email aqui”, ele vai lá e passa. Aí, vamos supor, ele mandou para mim e

fulano não deu email. Aí eu vou lá e mando para o grupo da turma, que a gente tem um

grupo. Baixa os slides, manda ali e todo mundo vai ter de qualquer forma. Sempre um

pega e manda no grupo, entendeu? Mas não é todo mundo que pede o email. Eu, no caso,

peço para mandar para o meu email que o meu telefone não dá alguns arquivos, então, no

email, eu vou, vejo no computador, então, para mim, fica bem melhor quando ele manda

para o meu email. Mas aí é de cada um, cada um que corre atrás.

Pesquisador: Sim, sim. E quando você vai estudar, você estuda com amigos também ou

você estuda mais individual, mais sozinha?

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S18MA2: Assim, as matérias que eu tenho facilidade eu estudo sozinha. Mas, vamos

supor, a minha amiga tem dificuldade em Física, eu sou boa em Física, eu vou e estudo

com ela para ensinar, ajudar, tirar dúvidas. E ao contrário, eu tenho dúvida em História,

estudo com a Bia, por exemplo, ela vai e me ajuda e eu ajudei ela em Matemática, Física.

É assim.

Pesquisador: Legal. Essa ajuda é presencialmente ou acontece via Whatsapp, Facebook?

Como é que é?

S18MA2: Não, é presencialmente. A gente chega mais cedo na escola ou marca um dia

antes da prova ou até mesmo no dia da prova, chega assim umas duas horas antes, três

horas, estuda todo mundo junto, um ajuda o outro e é assim que a gente vai fazendo.

Pesquisador: Legal. E você já usou algum aplicativo de educação? Por exemplo, você

conhece o Descomplica, tem alguns outros no mercado. Você usa algum deles?

S18MA2: Sim, eu já usei o Descomplica. Tem um de Física que eu esqueci o nome agora,

esqueci o nome. Porque eu uso bastante, porque tem como você fazer… Tipo assim,

vamos supor, Movimento Circular, você pode fazer direitinho as coisas, desenhar bem

direitinho. É bem legal esse site.

Pesquisador: Legal, mas você usa regularmente ou de vez em quando?

S18MA2: Depende. Porque assim, no caso de Física, é como eu falei, eu gosto muito de

fazer, então eu uso regularmente, sabe?

Pesquisador: Aham.

S18MA2: Assim, tem uma matéria nova, eu me interesse, eu vou lá, faço. Porque é bem

legal, os exercícios você faz tipo uma prática. No caso, no computador, não é você

fazendo mesmo. Mas para algumas matérias é de vez em quando.

Pesquisador: E quando você falou que você procura vídeo-aula, você já tem algum lugar

específico que você procura ou, geralmente, dependendo da matéria, você procura no

Google direto?

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S18MA2: Ah, depende da matéria. Tipo, História, eu vejo muito pela Débora Aladim. Eu

já vou nela direto, entendeu? Tal matéria tem a explicação dela, eu já clico ali, porque ela

explica muito bem. Mas as outras matérias eu vou vendo qual é o melhor, vejo as vezes

todos para ficar bem mais fixado. E eu faço isso.

Pesquisador: E você, você já está se preparando para o vestibular? Tirando toda essa

formação que o colégio dá e tudo mais, mas você pessoalmente já está se preparando para

isso?

S18MA2: Não. Assim, eu, eu tenho aquela base da escola. Vou fazer Enem esse ano, eu

estou fazendo como experiência, porque eu estou no segundo ano ainda. Mas me

preparando assim tipo “ah, caraca, eu estou indo para o Enem porque eu estudei em casa

que nem uma doida”, não, não estou. Isso eu deixei mais para o ano que vêm, já vou estar

naquela pressão toda do terceiro ano, o meu foco vai ser o Enem, então é aquilo que eu

quero.

Pesquisador: Legal. Recentemente foi aprovado uma reforma do ensino médio, né? O

quanto você sabe disso? O quanto o colégio falou disso para vocês? Qual sua opinião, se

você sabe detalhes, qual a sua opinião sobre a reforma?

S18MA2: Assim, eu sei porque eu vi pela televisão, mas o colégio não foi muito de falar

não. Quem falou mesmo foi o meu professor de Filosofia e Sociologia, porque ele meio

que atingiu ele numa forma… Porque antes queriam cortar, não se sei você lembra,

queriam cortar isso. Mas eu achei bem interessante, porque, vamos supor, eu quero uma

faculdade que não tem nada a ver com História, eu vou poder eliminar aquilo ali,

entendeu, da minha faculdade. Para mim, seria uma coisa ótima, porque eu não gosto da

matéria mesmo. Então, não tem aquilo na minha faculdade, para mim já é um grande

passo, entendeu? Eu gostei disso, mas, para alguns, talvez prejudique, mas, eu,

particularmente, gostei.

Pesquisador: Aí, uma curiosidade mais assim, você acha que você não gosta de História

porque você tem dificuldade na matéria ou você não gosta por conta do

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professor ou, historicamente, por conta de professores que fez você não gosta da matéria?

S18MA2: Eu acho que, assim, eu já tenho dificuldade e como o meu professor só fala,

aquilo ali já não me dá vontade nenhuma. Porque, eu, sinceramente, quando chega na aula

de História, que eu já sei que eu só vou ficar escutando, escutando, escutando, eu já penso

“ah, hoje eu não queria ter vindo para a escola”. Entendeu? Já bate um desanimo pelo fato

de, como eu te disse, ele poderia inovar, fazer algumas coisas diferentes e tal, mas não

tem nada de diferente, entendeu? É só falar, falar, falar. E como eu não sou boa naquilo,

e eu tento, eu leio, faço de tudo, mas não entra na minha cabeça de jeito nenhum. Algumas

coisas até entram, mas assim, tudo que tem que fixar na minha cabeça, eu não consigo.

Então, para mim, eu acho que já é dificuldade com aquela matéria e com o professor só

falar, entendeu? Eu tenho a apostila que é uma base, mas o meu caderno não tem quase

nada com as minhas palavras, com as dele que são mais fáceis de assim “oh, assim, assim,

assado”. Porque na apostila é bem detalhado, bem mais dificinho. Então complica.

Pesquisador: E você acha que esse desanimo não acontece em outras matérias que,

talvez, você tenha uma relação mais próxima com o professor, que você gosta da matéria?

Você vai mais interessada e com mais vontade para a aula?

S18MA2: Não, assim, no caso, eu sou de exatas, então, nas matérias de exatas eu não

tenho desanimo nenhum. Eu vou numa boa, se eu não conseguir aprender agora, depois

eu vou ler, vou entender, sabe? Mas, no caso, Português, eu vou com desanimo nem com

a matéria, é com o professor também. Mas estou ali, entendeu?

Pesquisador: Aham.

S18MA2: Gosto muito de Geografia… Geografia tem bem a ver com História, mas como

o professor escreve bastante, eu vou e fico mais tranquila, porque eu sei que eu vou ter o

meu caderno, eu vou poder olhar ali com as palavras mais fáceis e vou entender.

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Pesquisador: Entendi. Bom, para finalizar, essa é bem aberta, enfim, fica à vontade. Se

você pudesse fazer alguma mudança na educação no Brasil, qualquer uma, o que que

seria?

S18MA2: Cara, muita coisa, sabe? Muita coisa mesmo. Eu acho que em escola pública

muita coisa deveria mudar. Em relação, na escola pública, em relação a tudo, porque eles

não tem tanta, não é facilidade, mas é que eles não tem muitos… Não sei a palavra certa,

enfim, como se diz, calma aí que eu vou lembrar… Não é nem estratégias. Vamos supor,

na minha escola, vê se você entende, eu tenho os computadores, bem ou mal, a gente não

usa, mas se tiver que fazer alguma coisa, ali eu tenho uma biblioteca que, cara, excelente.

Eles levam a gente para o auditório, tem coisas nos slides, as vezes, vêm algum grupo

fazer palestra, entendeu? Então eu acho que na escola pública deveria isso ser mais

abrangente, sabe? Eles deveriam ter mais acesso as coisas. Porque, bem ou mal, está

difícil, entendeu? Eu acho que eles deveriam ter, assim, não é nem que seja dentro de

casa… Dentro de casa também porque eu acho que você não deve culpar a escola de tudo,

porque primeiro vêm dentro de casa, entendeu? Primeira instituição da gente é nossa

família, depois é a escola. Porque, geralmente, as pessoas culpa a escola de tudo. Mas é

verdade. Mas eu acho que assim, eles deveriam ter mais vontade, algo que incentive eles,

eles poderem ir, porque tem muita gente que acaba deixando de lado, sabe? As vezes, até

em escola particular tem isso, né, não é só em escola pública não. Muita gente larga de

mão.

Pesquisador: Legal. Bom, é isso. Você tem mais alguma coisa que você gostaria de

comentar? Alguma coisa que você deixou passar?

S18MA2: Não, falei tudo. Acho que falei até demais.

Pesquisador: Não, foi ótimo, foi ótimo. Bom, é isso, muito obrigado pela sua

participação, pelo seu tempo. Desculpa ter ficado enchendo o saco aí, mas foi ótimo.

S18MA2: Nada. Muito obrigado você e espero que dê tudo certo, que você consiga o seu

mestrado. Vou torcer por você. Vai dar certo sim, com certeza.

Pesquisador: Muito obrigado.

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S18MA2: E um bom estudo e faz tudo direitinho que você vai conseguir uma nota boa.

Porque isso é para trabalho, né?

Pesquisador: Sim.

S18MA2: Você vai conseguir sim.

Pesquisador: Ta bom, obrigado, viu? E boa sorte aí na sua vida e no Enem, você vai

conseguir tudo também. Valeu?

S18MA2: Muito obrigado, para você também. Sucesso.

Pesquisador: Para você também.

S18MA2: Beijos.

Pesquisador: Beijos.

S18MA2: Tchau.

Pesquisador: Tchau.

LJ16D2

Pesquisador: Desculpa aí por ficar te perturbando aí, mas, obrigado. Deixa eu te explicar

um pouquinho o que vai acontecer aqui. Então como eu falei eu estava, estou fazendo

mestrado em Economia, é , Gestão da Economia Criativa e estou estudando um pouco

educação em ensino médio e a ideia aqui é que a gente bata um papo mesmo. Eu tenho

alguns pontos aqui a levantar e aí eu queria ouvir sua opinião mesmo, é, enfim, fica a

vontade, não tem opinião certa nem errada, só quero saber um pouco sobre você e sua

perspectiva. E aí eu tenho um termo de compromisso para assinar, mas aí eu dou um jeito

de pedir pro Ariel, de pedir pro teu pai assinar depois, a gente dá um jeito nisso ai. Beleza?

LJ16D2: Beleza!

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Pesquisador: É, bom, para começar, se você puder se apresentar, falar seu nome, idade,

com quem você mora, qual colégio você estuda, qual série você tá.

LJ16D2: É, LJ.

Pesquisador: Aham.

LJ16D2: Tenho 16 anos, moro em Botafogo, com a minha mãe e estudo no colégio

Dínamis, Segundo ano do Ensino Médio.

Pesquisador: Legal, e você já frequentou outros colégios antes ou só esse

LJ16D2: Já frequentei mas só no Ensino Fundamental, no Ensino médio só esse.

Pesquisador: Aham. E qual, qual que você frequentou antes?

LJ16D2: Frequentei o colégio CEI, Centro de Ensino Infantil e Escola Porto Seguro na

Tijuca.

Pesquisador: Ah, legal! E além do colégio você faz algum curso por fora?

LJ16D2: Faço curso de Inglês no Brasas.

Pesquisador: Aham, já faz muito tempo lá?

LJ16D2: Faço a 3 anos.

Pesquisador: Legal! E bom, se tá, tá aí no ensino médio você já sabe qual profissão

você vai seguir, ainda não decidiu?

LJ16D2: Eu vou fazer Publicidade e Propaganda na ESPM.

Pesquisador: E bom, tem algum motivo específico para você fazer isso?

LJ16D2: É, eu queria fazer Veterinária porque era um sonho que eu tinha, mas desses

dias pra cá, caiu a ficha de que se eu não trabalhar com internet acho que eu vou pirar.

Pesquisador: Entendi, legal! E me conta um pouco do teu colégio atual, assim, tu gosta

dele, tu não gosta? Como é que é a estrutura dele?

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LJ16D2: Ah é, uma estrutura tradicional de colégio, né? Que eles tentam, é, fazer…

Naquele ensino conservador que é a estrutura de ensino no quadro e o aluno copia e é

isso, e faz a prova e tal. Eu não gosto muito porque não tem muita diversificação de aula

e tal, tipo, de aula misturando duas matérias ou aula interativa, essas coisas.

Pesquisador: Ah, legal! E, quais as matérias que são dadas lá? Sao as tradicionais você

pode escolher outras, tem alguma eletiva tem extracurricular, alguma coisa do tipo?

LJ16D2: Nenhuma extracurricular ou eletiva, são todas as tradicionais e obrigatórias.

Pesquisador: Caraca! E o foco deles lá é mais preparatório ou para vestibular, alguma

coisa assim?

LJ16D2: É 100% preparatório para o ENEM.

Pesquisador: Caraca! É, bom, e assim, na hora o intervalo, como é que, o que que vocês

fazem lá, tradicionalmente? O colégio a estrutura é grande? Tem um ginásio? Tem um

espaço aberto?

LJ16D2: É um colégio pequeno, deve ter umas 300 pessoas assim, no máximo, mas a

estrutura é bem grande. No intervalo tem a cantina das pessoas lancharem, tem as mesas

para as pessoas sentarem no pátio, mesa de Ping-Pong, mesa de sinuca, e uma quadra bem

grande até.

Pesquisador: E as pessoas ficam jogando no intervalo, ou tem lá e ninguém usa?

LJ16D2: Não, todo mundo usa, as pessoas usam no intervalo, fica bastante fila.

Pesquisador: Entendi. E a sala de aula tem alguma coisa diferente? É uma sala de aula

tradicional? Tem projetor?

LJ16D2: A maioria das salas de aula têm, são tradicionais mas tem projetor. Só algumas

que não mas é porque o teto é muito baixo e não tem como botar .

Pesquisador: Entendi. E vocês tem laboratórios lá, de, para coisa de Química, Física?

Tem laboratório de Informática, alguma coisa assim?

LJ16D2: Não, não tem nada.

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Pesquisador: Nada? Legal. E como é que é a relação de vocês com os professores, assim

durante as aulas?

LJ16D2: Ah, mas de, alguns professores são mais sérios, assim, que são de não interagir

muito com os alunos, mas são de dar aula e outros de, outros são mais amigos e tal. Saem

um pouco da sala de aula da, do, da experiência de sala de aula para, para a vida .

Pesquisador: Aham! E vocês tem contato com eles, por Facebook, por Whatsapp

também?

LJ16D2: É, alguns seguem uma política lá de que você não pode adicionar aluno no

Facebook e tal, mas os outros adicionam nas redes sociais, alguns.

Pesquisador: Mas é uma política do colégio, isso?

LJ16D2: É!

Pesquisador: Caraca! E tem algum porque, desse, dessa política? Eles explicaram o

porquê?

LJ16D2: Não explicaram o porquê não. Só disseram que não pode.

Pesquisador: Caraca. E o que você acha disso?

LJ16D2: Ah, eu acho que é uma forma de fechar muito o colégio, né? O colégio tenta

seguir um ensinamento muito tradicional e ele acaba privando os professores de ter um

relacionamento para a sala de aula com os alunos.

Pesquisador: Entendi. E esses que são mais rígidos, assim, como é que eles são? Eles

são bem tradicionalzões, dão aula, tem alguma coisa específica? E os que vocês gostam

mais, assim, que vocês conversam mais, qual é a diferença desses dois?

LJ16D2: É, os mais, os mais tradicionais são os geralmente mais velhos. Que eles chegam

botam a explicação no quadro, explicam e vão embora. Mas o que a gente mais gosta são

os que, por exemplo, o professor de História, que em vez de chegar e botar a

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matéria no quadro ele dá aula como se fosse uma história, mesmo, contando uma

história em uma forma dinâmica, aí fica menos chato.

Pesquisador: Aham, entendi. E a relação de vocês com inspetores, coordenadores com

outros funcionários do colégio?

LJ16D2: É, é bem ruim até. Os nossos inspetores são bem abusivos eles ficam o tempo

inteiro (..). E eles acabam tendo mais “poder” do que o coordenador e o diretor na escola.

Esse é um problema que a gente tá tentando mudar um tempo já, mas não tem tido muito

resultado.

Pesquisador: Mas, por que eles são abusivos? O que que eles fazem, assim?

LJ16D2: Ah, porque muitas vezes, é, por exemplo, na mesa de ping-pong, você tem, é,

o intervalo que você, eu acabo a aula 12:05 e volto a aula 13:30.

Pesquisador: Aham.

LJ16D2: Nesse intervalo, é, um dia eu fui jogar ping-pong e o inspetor disse que eu não

podia jogar ping-pong. Aí, eu perguntei o porquê, ele disse que o diretor disse que não

podia. Aí, no dia seguinte, eu perguntei pro diretor, por que não podia e ele falou: “Eu

não disse nada não, ele só botou essa regra e disse que eu que fiz”

Pesquisador: Entendi.

LJ16D2: Ele tem essa imperatividade.

Pesquisador: Caraca! E você falou aí que tu volta a aula 13:30, é integral então o

colégio ?

LJ16D2: É parcialmente, a gente tem aula de 7:30 a 10:00 de 10:00 as 10:30 é intervalo.

Aí, de 10:30 a 12:05. Aí de 12:05 a 13:30 é intervalo para o almoço e de 13:30 as 15:10

aula de novo.

Pesquisador: E todo dia é isso?

LJ16D2: Todo dia. Menos sexta-feira. Sexta-Feira a gente sai 12:05.

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Pesquisador: Entendi.

LJ16D2: E vai embora.

Pesquisador: Entendi. É, bom, você já falou um pouquinho, mas você tem aula, você

disse que a maioria dos professores dão aula mais tradicionalzona, vai lá na frente. Tem

algum outro professor, você falou um pouco de história. Mas tem algum outro exemplo

que você tenha de, de professores que dão aula de alguma forma diferente? Você lembra

alguma coisa assim de cabeça? Algo que você tenha gostado?

LJ16D2: É, uma inovação que chegou na escola esses dias foi nosso professor de

Filosofia que ele deu uma aula relacionando séries do Netflix com filósofos da História.

Tipo, Kant e tal… Kant, Marx. E eles fez uma aula analisando Black Mirror, e eu achei

bem legal.

Pesquisador: Ah, legal! E mais, mais algum ou no geral é mais tradicional?

LJ16D2: No geral é mais tradicional, assim, mas principalmente esse pessoal que corre

para a aula mais dinâmica, assim, mais uma conversa, uma história. É o que eles

modificam.

Pesquisador: E esse professor que trouxe a questão do Netflix, ele trouxe por conta

própria ou ele viu o interesse de vocês e tentou relacionar?

LJ16D2: Pouco dos dois, ele viu que a gente tava um pouco de saco cheio da aula

tradicional e também tinha já esse interesse que ele trazia de outras escolas que ele dá

aula e tal e ele trouxe essa aula pra gente.

Pesquisador: Ah, legal! É, e no geral os professores passam trabalho de casa?

LJ16D2: Então, até o ano passado todo mundo passava trabalho de casa todo dia porque

o trabalho de casa valia ponto. Hoje em dia, esse ano, não sei porque a escola mudou de

idéia e agora trabalho de casa não vale mais ponto, então muitos poucos professores têm

passado trabalho de casa. A gente só faz a apostila que a escola manda toda a semana

uma apostila com, tipo, são cinco apostilas, se eu não me engano, e eles

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dividem em todas as matérias nessas cinco apostilas e vão te mandando para você fazer e

entregar na segunda-feira.

Pesquisador: Isso toda semana?

LJ16D2: Toda semana.

Pesquisador: E, isso vale ponto ou não?

LJ16D2: Isso vale ponto.

Pesquisador: Caraca. E o que que você acha dessa mudança de dever de casa para essa

apostila? O que que...

LJ16D2: Ah, eu acho que eu gosto mais de dever de casa porque se isso foi uma forma

de dificultar! Porque, tipo, essa apostila é corrigida e você ganha uma nota em cima dessa

correção. O dever de casa era um ponto que você ganhava por fazer, então, tipo, não

importa o que você errou ou não, só se você fez você já ganhou ponto, então, meio como

uma forma de dificultar um pouco isso.

Pesquisador: Entendi. Mas as pessoas faziam por fazer mesmo ou você acha que as

pessoas faziam com interesse?

LJ16D2: Ah, de certa forma as pessoas tinham interesse, né? Acaba se interessando por

fazer por querer ganhar o ponto, porque, já tinha um incentivo de saber que ganhou se

você (palavra não identificada) você ia ganhar o ponto.

Pesquisador: Entendi, legal! É, e os professores incentivam vocês a procurarem conteúdo

ou matéria em outro lugar? Tipo, eles passam a matéria na sala de aula e fala: “Ah, em

casa vocês podem procurar mais sobre o assunto, procurem tal, procurem em outro

lugar?”

LJ16D2: É, raramente eles dão citações que têm em livro ou algum site que tem, mas não

é muito constante não.

Pesquisador: Aham. E como é que, me fala no geral, assim, como é que são as avaliações

de vocês, como é que são as provas, os trabalhos?

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LJ16D2: As provas são bem tradicionais, só que, é, em vez de ser só um teste e uma

prova, você tem o sistema de APRs que é Avaliação Progressiva , que é, ele dá um teste

de, um teste que é APR1 e um teste que é APR2 então tipo, se um teste valem 40 pontos,

em vez de você fazer 10 questões e valer os 40 pontos você faz 20 questões. Você faz 10

questões em um e 10 questões em outro dia e vai valer 20 pontos cada um.

Pesquisador: Ah, entendi. E tem, geralmente tem trabalho também? Ou só o que conta

ponto é só a prova?

LJ16D2: Então, geralmente no ano eles fazem um trimestre que é esse sistema que eu te

falei que é a APR1 e APR2 e ambas são prova e nos outros 2 trimestres eles fazem APR1

é uma prova que você faz 10 questões valendo 20 pontos e a APR2 é trabalho que o

professor te passa e você faz valendo 20 pontos também.

Pesquisador: E, geralmente, quais são esses trabalhos?

LJ16D2: Ah, é, as vezes eles passam trabalho pra fazer da matéria, tipo, algum

documentário, ou alguma poesia, literatura, alguma coisa que você tem que se dá e, às

vezes, tem os eventos da escola, agora está tendo a feira literária que é um trabalho que

você tem que, é produzir um, alguma forma de manifestação das mudanças do século XXI

na questão social da sociedade e se tá, (palavra não identificada) de alguma forma nisso.

Pesquisador: E o que você acha dessa, dessa mudança? Você tem preferência entre prova

e esses eventos?

LJ16D2: Ah, eu acho que isso seria um pouco para abafar a questão do dever de casa não

valer mais ponto, porque, é uma forma mais fácil de você ganhar mais ponto você fazendo

trabalho do que fazendo uma prova, então é bom.

Pesquisador: Mas você prefere fazer o trabalho ou você prefere só porque é mais fácil

de ganhar o ponto?

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LJ16D2: Eu prefiro fazer o trabalho, porque eu acho que é mais fácil de ganhar o ponto,

mas também porque é uma forma mais dinâmica, você sai um pouco da reta do que é

tradicional.

Pesquisador: Aham. E nesses trabalhos, os professores sempre definem o… Eles que

escolhem o assunto, ou eles dão uma liberdade para vocês também?

LJ16D2: Então, é, geralmente, eles dão uma raiz do assunto, como essas mudanças que

o século XXI provocou, e aí eles falam para você diversificar, você pode escolher o que

quiser.

Pesquisador: Ah, legal! E, calma aí, e, questão de tecnologia? Vocês usam alguma

tecnologia do colégio?

LJ16D2: Só o projetor e, às vezes, o celular em sala de aula, quando o professor pede,

mas em geral é proibido.

Pesquisador: E qual… É proibido pelo colégio de usar celular?

LJ16D2: É.

Pesquisador: E quando é que, geralmente, os professores pedem pra vocês usarem?

LJ16D2: Ah, quando por exemplo, o professor de matemática tem uma conta muito

grande, ele pede ajuda da calculadora. Ou, a professora de Espanhol, que quer que você

faça um trabalho, mas como o pessoal não é fluente em Espanhol ela deixa usar o tradutor

e tal.

Pesquisador: Mas só para essas pequenas coisas? Calculadora e tal. Nada muito…

Entendi.

LJ16D2: Aham, só para isso.

Pesquisador: E, no seu dia-a-dia, você costuma usar a tecnologia? Usa o celular, internet,

computador, joga?

LJ16D2: 100% do tempo.

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Pesquisador: 100%? Me conta um pouquinho? O que você geralmente você faz com as

tecnologias?

LJ16D2: Quando eu to fora de casa tem o telefone né, que é 100% do tempo, tá até aqui

atrás . E quando eu chego em casa tem o PlayStation, o computador, eu jogo uns jogos e

tal.

Pesquisador: Ah, tu gosta de jogar então?

LJ16D2: Uhum.

Pesquisador: Legal. E, por exemplo, o que, no colégio por um acaso, algum professor já

usou algum jogo ou alguma dinâmica parecida pra ensinar ou não?

LJ16D2: Não.

Pesquisador: E o que que você acha, você acha que tem potencial? Você gostaria?

LJ16D2: Ah, eu acho sim. Como o professor de Filosofia conseguiu relacionar com

séries. Alguém pode relacionar com jogos, também. É só ter iniciativa.

Pesquisador: Legal. É, mas, por exemplo, os professores em sala de aula não incentivam

muito, uma vez ou outra, eles não usam. É, mas eles incentivam vocês, ou eles falam para

vocês usarem em casa para pesquisar mais, ou eles também não se posicionam muito?

LJ16D2: Não, como eles seguem a cultura do colégio, eles não fazem muito uso do

aparelho, da tecnologia na sala de aula, mas fora da sala de aula eles falaram para a gente

usar a internet para ajudar a estudar e tal, fazer pesquisa.

Pesquisador: Você acha que é muito mais um posicionamento do Colégio em cima do

professor do que dos professores em si?

LJ16D2: Em geral, sim.

Pesquisador: Você acha que se o colégio liberasse mais os professores teriam mais

liberdade para trabalhar, para dar outras variedades, esse tipo de coisa?

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LJ16D2: Com certeza.

Pesquisador: E você acha que o colégio limita isso por algum motivo específico?

LJ16D2: Eu acho que é pelo fato da, do geral dos colégios tem uma manifestação

conservadora disso, né? De você manter ensino conservador. E as pessoas estão se

negando um pouco a aceitar a tecnologia, mas também, pelo próprio colégio, a própria

instituição do colégio, tentar manter o ensino tradicional. Acaba barrando a tecnologia,

então.

Pesquisador: Aham. E, essa questão de ser tradicional e focar muito no ENEM, assim,

você acha que limita? O que você acha desse foco? Por que tem colégios que são bem

isso, assim, são meio preparatórios pro ENEM, tem uns que nem tanto o que eu você

acha? Qual o seu pensamento por trás disso?

LJ16D2: Eu acho que limita muito o conhecimento que você dá para um cidadão, para

um aluno, porque, você já tá preparando ele pro ENEM e provavelmente ele não 95% das

coisas que ele tá aprendendo ali na vida profissional dele então você usar todo o ensino

profissional só pra preparar ele pro ENEM acaba tirando um pouco da preparação que

você pode dar pra ele ser um cidadão melhor.

Pesquisador: Entendi. E você acha, e tem algum professor, ou já teve algum caso de

alguém tentar relacionar os assuntos que eles estão dando em sala de aula com o mercado

de trabalho, com coisas de fora, ou não acontece muito?

LJ16D2: Ah, sim. Isso já. Mas, mais nas áreas de humanas, quando se tem um leque

maior para falar sobre isso. Geografia e Sociologia eles conversam bastante sobre

mercado e atualidade.

Pesquisador: Entendi. E o que você acha de tratar dessas coisas?

LJ16D2: Acho importante, né? Porque, você não pode só preparar o aluno para uma

prova que ele vai fazer e vai acabar tudo se ele não vai ter nenhum conhecimento de lá

pra frente com isso.

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Pesquisador: Aham. E como é que você, geralmente, estuda para as provas que você

tem?

LJ16D2: Ah, geralmente, eu faço duas vezes por semana eu estudo 3 horas . E antes da

prova eu faço um resumo.

Pesquisador: E, mas sempre próximo da prova, assim. Você não estuda com

antecendência?

LJ16D2: Não.

Pesquisador: E tem algum motivo específico para isso?

LJ16D2: Só preguiça mesmo. Eu sou um bom procrastinador.

Pesquisador: Beleza. E quando tá estudando você, você procura alguma coisa na

internet, você procura online, busca em algum site?

LJ16D2: 100%.

Pesquisador: É?

LJ16D2: Eu só faço, meus resumos são baseados total na internet.

Pesquisador: E, aonde que você procura esse...?

LJ16D2: Youtube, video-aula.

Pesquisador: Só Youtube?

LJ16D2: É o que mais me influencia. Às vezes, umas fórmulas de Física em alguns

sites e tal, mas principalmente no Youtube.

Pesquisador: E tem algum canal específico que você acesse?

LJ16D2: Cara, não. Eu tenho “Me salva” que é o que eu mais vejo, mas não que eu

acesse ele. Eu simplesmente, procuro o título e acaba aparecendo.

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Pesquisador: Entendi. É, e você… existem alguns aplicativos, assim, de educação, né?

Existe o “Descomplica”, existe “Khan Academy”, você já chegou a usar algum deles, ou

não?

LJ16D2: Já cheguei a usar o “Descomplica”, só.

Pesquisador: E o que você achou?

LJ16D2: Achei legal, é bem parecido com a dinâmica do “Me salva” né?

Pesquisador: Aham. E você não usou mais por algum motivo específico, ou…?

LJ16D2: Não. Uso só em época de prova.

Pesquisador: Mas continua usando, ou parou de usar?

LJ16D2: Ah, não, continuei usando. Mas quando a prova vai chegando eu dou uma

procurada.

Pesquisador: Entendi. É, e você tá, bom, o colégio já tá te preparando, tentando te

preparar para o vestibular. Você já está com isso em mente, já tá desde o segundo ano

estudando para isso, ou ainda não?

LJ16D2: Sim, já estou me preparando, sim. Até porque o colégio te dá um pouco de

obrigação sobre isso. Passando as apostilas e os simulados do vestibular que eles tem,

mas é um pouco de iniciativa própria, também.

Pesquisador: Aham. E você falou que quer ESPM. É, você vai tentar para outras

universidades também ou vai tentar só ESPM?

LJ16D2: Vou fazer o ENEM mesmo, por, por fazer né? Para ter a experiência e tal. Mas

eu vou tentar só para ESPM.

Pesquisador: Entendi.

LJ16D2: É o foco.

Pesquisador: E tem algum motivo específico?

LJ16D2: É, meu pai trabalha né? Tenho bolsa para estudar e tal. É uma boa.

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Pesquisador: Entendi. É bom, é bom mesmo. É, e deixa eu te perguntar, assim, é além

da parte técnica que alguns professores passam, eles tentam passar outro tipo de conteúdo,

do tipo, Ah, tentar ensinar a vocês é liderança, tentar ensinar Ética. Enfim, tentar

relacionar mais esse tipo de coisa e não focar tanto na parte técnica e teórica?

LJ16D2: É, ainda por parte das aulas de Humanas que são as mais principais, Geografia

e Sociologia que são as principais, sim. Tem aula de Ética e Moral e tal. Mas nas exatas

não tem nenhum especificação disso nas aulas.

Pesquisador: Entendi. E aí, o foco do professor acaba sendo mais a matéria que ele tem

que dar ali.

LJ16D2: Isso.

Pesquisador: E você acha que é um limitador ali do professor em questão do modelo

pedagógico, não do modelo, em questão do conteúdo pedagógico que ele tem que dar ao

longo do ano? Você sente que eles ficam meio presos em relação a isso?

LJ16D2: Parcialmente sim, mas também por outras questões. Próprias de alguns que são

mais antigas dos professores mais velhos e também da pressão do colégio que impõe esse

ensino.

Pesquisador: E você acha que assim.. Você tem um professor novo? Qual o professor

mais novo que você tem, assim? Você tem idéia?

LJ16D2: Acho que é o de História, entrou no começo desse ano.

Pesquisador: Mas quantos anos ele tem, assim?

LJ16D2: Ah, de idade?

Pesquisador: De idade.

LJ16D2: Acho que a mais nova é a de Filosofia. A de Filosofia deve ter uns 26 anos.

Pesquisador: E qual a diferença desse cara que é mais novo, enfim, do mais novos para

os mais velhos, que tem mais idade? Tem algum, tem uma diferença muito clara de

comportamento, de ensino?

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LJ16D2: Ah, a mente dele é mais aberta, né? Para novidades e tal. Ele tem uma

especificação maior do que ele pode dar na sala de aula e não conservar nesses antigos.

Pesquisador: Aham. E por exemplo, você disse que alguns professores fazem

apresentação em slides.

LJ16D2: Aham.

Pesquisador: Como é que eles fazem para... Eles compartilham esse material depois,

ou não?

LJ16D2: Sim, eles mandam por e-mail para a representante de turma e geralmente ela

manda pro grupo do Whatsapp.

Pesquisador: Entendi. Então é sempre focalizado em uma pessoa só.

LJ16D2: Aham.

Pesquisador: Tá. É, bom, foi aprovado recentemente a reforma do ensino médio com

algumas mudanças aí ao longo dos anos. Você tem detalhes sobre isso você sabe do que

se trata, o que vai acontecer? O colégio falou com vocês sobre isso?

LJ16D2: É, eu me aprofundei por conta própria da reforma, o colégio não explicou

nada não.

Pesquisador: Aham. E o que você achou da reforma?

LJ16D2: Eu achei válida até. Desde que tenha uma modificação também no sistema de

avaliação do ENEM, está tudo certo.

Pesquisador: Mas tu acha que se não mudar o ENEM, não adianta nada?

LJ16D2: Acho que não.

Pesquisador: Por quê?

LJ16D2: Porque as pessoas vão continuar se focando só no que vão fazer na parte

profissional. Por exemplo, se eu vou fazer Informática, eu vou focar mais nas Exatas e na

hora de encarar o ENEM eu ou cair com a Humanas e não vou entender nada.

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Pesquisador: Entendi. É bom, já estamos terminando aqui. É, cara, se você pudesse

fazer uma mudança na educação do Brasil, assim, qualquer coisa, o que que seria?

LJ16D2: A forma de educar ou em geral?

Pesquisador: Em geral. Alguma coisa que você pense: “Cara, se eu pudesse eu mudaria

isso.”

LJ16D2: Eu aumentaria o investimento público.

Pesquisador: Explica um pouquinho para mim

LJ16D2: Aumentaria o investimento publico das escolas publicas que tem um índice

muito baixo de qualidade de ensino e acaba dando menos chance para as pessoas menos

qualificadas.

Pesquisador: Mas tu acha que só o investimento publico resolveria?

LJ16D2: Resolveria um grande problema, porque tem vários

Pesquisador: Entendi. Bom, tem mais alguma coisa que você queira contar? Alguma

coisa que ficou de fora?

LJ16D2: Acho que não.

Pesquisador: Então tá bom. É isso cara, obrigado ai foi rápido, foi tranquilo e foi…

Ajudou bastante.

LJ16D2: Beleza, valeu.

ABFT17MA2

Pesquisador: Eu vou poder autorização para você para gravar a conversa, só por áudio

mesmo, para eu poder depois pegar e lembrar algumas coisas. Tudo bem?

ABFT17MA2: ta, pode!

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Pesquisador: E, eu tenho, depois eu tenho um termo de compromisso para assinar, mas

depois eu peço para a Dani assinar por você, pode ser?

ABFT17MA2: Pode!

Pesquisador: Tá bom então! Legal! É, bom, para começar você podia falar um pouquinho

sobre você? Qual sua idade, seu nome, aonde você mora, aonde você estuda, qual série

você tá?

ABFT17MA2: Ta. Meu nome é ABFT, eu tenho 17 anos, estudo no MV1 Anderson em

Vila Isabel e moro com o meu pai no Rocha.

Pesquisador: Ah, legal. E você tá em qual ano, no primeiro ano, é isso?

ABFT17MA2: Eu to no segundo ano.

Pesquisador: Segundo ano? Tá. Legal. É, e além do MV1 você já frequentou outros

colégios antes ou sempre estudou aí?

ABFT17MA2: Não, eu já frequentei o Bennett, Intellectus, Martins, Instituto de

Educação, Elza Campo e, eu acho que tem mais, mas agora eu não lembro.

Pesquisador: Legal, legal. É, e além de, e além do colégio você faz algum curso por

fora ou não?

ABFT17MA2: Não. Eu costumava fazer curso de Inglês, agora já não faço mais não.

Pesquisador: Mas você parou por algum motivo especial?

ABFT17MA2: Parei porque eu não conseguia pagar.

Pesquisador: Entendi, tá bom.

ABFT17MA2: Quer dizer, nos casos meus pais, né?

Pesquisador: Sim, sim. E me diz uma coisa, você já está no segundo, você já sabe qual

profissão você quer seguir, para que você vai fazer vestibular?

ABFT17MA2: Eu tenho, eu tenho uma idéia, assim. Mas, não estou muito certa. Eu

separei vários cursos e eu acho que eu vou tentar decidir ao longo do ano que vem.

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Pesquisador: Entendi. E quais são esses cursos que você está pensando em fazer?

ABFT17MA2: Ah, Engenharia do Meio Ambiente, Medicina, Turismo, Biomedicina e

só.

Pesquisador: Legal, legal. E me diz uma coisa, me conta um pouquinho sobre o seu

colégio. Como é que ele é? O que que você gosta dele? O que que você não gosta? Como

é que é a estrutura?

ABFT17MA2: Olha, Esse... O MV1 Anderson é um dos melhores colégios que eu estudei

até agora, porque, assim, eu, já que eu mudei muito de colégio, eu tenho um problema

muito grande de adaptação.

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: Antes eu estudava no Intellectus é ali na Tijuca mesmo, na unidade de

Vila Isabel aqui na Pereira Nunes. É muito pequeno e ele é preparatório e eu estudei um

ano, nono ano. E é uma coisa assim, é muito forçado, sabe?

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: Você tem que absorver muita coisa, apostilas muito grandes em pouco

tempo. Eu entendo que seja porque é preparatório, mas me deixou um pouquinho mal.

Inclusive quando eu vim para o MV1, já tinha coisas que eu ja tinha estudado, tipo,

aprofundamente, aprofundando mesmo, que eu já tinha visto no Intellectus. E aí, no MV1

eu me senti muito mais confortável. Agora, é bem grande. Tem laboratório, simulado,

umas coisas que te incentivam a estudar mesmo. Eu gostei muito do colégio.

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: Foi um colégio, assim, que eu pedi para ficar, mesmo.

Pesquisador: Ah, legal.

ABFT17MA2: E, é, até agora, eu não tenho muitas reclamações sobre o colégio, só

algumas pequenas coisas, tipo, mas que são problemas de dentro mesmo, sabe? É, tipo,

sistema que, de vez em quando, o sistema de notas que, de vez em quando, ainda falha.

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Alguns professores, que de vez em quando… Alguns professores em comparação com o

Intellectus eles são mais idosos, e aí, eles tem uma metodologia, assim, que eles não

conseguem, tipo, se eu pedir para eles explicarem de novo, eles vão explicar da mesma

forma, e, às vezes, ainda ficam até meio chateados e com raiva porque a gente não

entende. Entendeu? Porque eles não conseguem mudar. Fora isso, eu não tenho nenhuma

reclamação no MV1 e eu gosto muito de lá. Muito mesmo.

Pesquisador: Ah, legal. E esse MV1 é ali na Barão de Mesquita?

ABFT17MA2: Isso.

Pesquisador: Ah, eu moro ali no lado, moro na Gonzaga Bastos

ABFT17MA2: Ah, eu ja morei ali na frente o MV1.

Pesquisador: Ah, é? Que legal. Coincidência. E deixa eu te perguntar, assim, como é que

é a estrutura do colégio, as salas de aula? As salas de aula têm, projetor, tem quadro, tem

alguma coisa de diferente?

ABFT17MA2: Então, uma coisa que me surpreendeu muito no MV1 é que tem um prédio

só de sala de aula e tem umas salas de aula no pátio mesmo, como se fosse um

corredorzinho que dá para um pátio, aí tem umas alas, aí de um lado tem salas e de outro

lado também. Só que ali naquelas salas, ao invés delas serem todas fechadas, elas têm

janelas. Então dá pra você ver, inclusive, a sala do outro lado. Normalmente, que eu estudo

de tarde, e aí, o Ensino Fundamental que fica no outro lado, eu consigo ver a outra sala e

eles também conseguem me ver. A gente consegue ver o tempo, essas coisas, então, dá

uma sensação assim, mais confortável, porque me agoniava muito você ficar na sala e não

ver nada. Mas, em comparação, as do prédio não tem janela. Mas lá tem projetor sim, que

eles colocaram a pouco tempo em todas as salas. Agora eles têm projetor que ficam bem

em cima do quadro...

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: E, eles também tem uma coisa que eu não tinha visto desde o Martins,

que é laboratório. Eles tem laboratório e do outro lado eles tem uma salinha de artes e

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ai, uma vez por mês a gente tem aula no laboratório. Eles tem uma biblioteca e uma sala

de informática que eu adoro, porque assim, a biblioteca no Ensino Médio, você precisa

muito de um ambiente para estudar, e eu ficava escandalizada com o Intellectus porque

não tinha uma biblioteca, por mais que eu estivesse (palavra não identificada) eu gostava

de um lugar calmo, aí eu tinha que pedir ou para ir para monitoria ou para ir para uma

outra sala e a biblioteca já tem um negócio assim, sabe? Eu gosto de lá porque todas as

salas são bem claras. A biblioteca quando você entrar assim, você vai ver que é a primeira

sala, assim, você vai ver que é toda cheia de espelho, ou seja, você vê tudo, é bem claro,

bem limpo, é muito confortável.

Pesquisador: Ah, legal.

ABFT17MA2: Eles têm atividades extracurriculares, lá também que eu participo. Teatro,

dança, eu acho que é judô, eles tinham percussão, não sei se ainda tem. Aí, eu acho isso

muito bom porque alguns colégios que eu passei já não tinham essa atividade, essas coisas

assim, tipo, biblioteca, laboratório, muito legal.

Pesquisador: E esse laboratório é laboratório de ciência, como que ele funciona?

ABFT17MA2: Então, ele é… no meu caso eu uso ele para Química, a gente faz uma

experiências, a professora. Nesse, a diferença entre o do Martins com o MV1. No MV1,

a professora faz as experiências, escreve os negócios no quadro e vai mostrando para a

gente. Tipo, para a gente conseguir enxergar as reações químicas que é meio difícil e aí

quando você enxerga a matéria se torna bem mais fácil, pelo menos para mim. E aí, no

Martins não, no Martins você só… Às vezes, te davam detergente e água, você coloca o

detergente na água para ver o que que acontece… Mas aí, era ciências, no caso… Aí agora

para o fundamental é Ciências para a gente é Química. É uma aula, assim, bem curta, uma

aula por bimestre, no mesmo tempo de uma aula normal, mas é muito bom, por que dá

para você, depois te facilita para pegar a matéria, porque você já sabe porque isso aqui é

o catodo. Ah, porque tal reação aconteceu numa placa de metal, na pilha. Aí, é muito

legal, muito legal mesmo.

Pesquisador: Ah, que legal. E a sala de informática como que funciona?

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ABFT17MA2: A sala de informática o pessoal do Ensino Médio não faz uso, quem faz

uso mais é o fundamental, mas no primeiro ano eu jogava Mangahigh que é um jogo

voltado para a Matemática, que é meio para te facilitar. São jogos e exercícios que te

davam ponto, mas aí para quem é do Ensino Médio e já não tem, já não gosta de

Matemática, não tem hábito e aí você ainda tinha que chegar em casa e fazer jogo de

Matemática? Não funcionou muito bem não, aí pelo que eu sei, no primeiro ano já não

tem. O meu ano foi meio que uma experiência, aí agora no primeiro ano não tem e já não

tem e segundo ano também não tem, só o Ensino Fundamental, agora.

Pesquisador: E por que você acha que não funcionou?

ABFT17MA2: Eu acho que é porque não criou um hábito, sabe? Desde… Quando você

tem esse hábito desde de pequenininho de fazer um jogo que você está acostumado, e ir

desenvolvendo isso ao mesmo tempo e ir alcançando níveis, eu acho que isso já te

estimula um pouco, ainda mais quando é uma matéria que a grande maioria das pessoas

não gostam e chegar ali, para o pessoa do Ensino Médio que já tá tipo, por que que eu

vou jogar joguinho de Matemática na aula? O que que isso vai fazer de diferença? E aí,

eu acho que é por causa disso.

Pesquisador: Entendi, entendi. Você falou um pouquinho que você tinha disciplinas

extracurriculares, além delas, se você puder falar um pouquinho delas, como é que

funciona e além delas quais outras disciplinas que vocês tem no colégio?

ABFT17MA2: Das extracurriculares eu faço Teatro e Dança.

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: No Teatro você começa fazendo jogos, aprendendo um pouco como

improvisar, aí você escolhe uma peça. Mais ou menos em.. As atividades já começam, se

eu não me enganou, começou em Maio. E aí, em Agosto, mais ou menos, você escolhe

uma peça e essa peça você vai nos apresentar no final do ano. Aí vai ter três dias de

novembro que eles vão colocar para apresentar a peça. Com a dança é a mesma coisa. E

aí a dança você aprende alguns passos de dança, aí você faz, alongamento, tem

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dias que a professora passa circuito. No judô, eu não sei como é, mas eu sei que tem uma

feira cultural.

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: Em Junho, foi em Junho? Foi em Junho e aí, eles fazem... Às vezes eles

fazem uma apresentação de dança, aí a dança no caso seria no final do ano e no meio do

ano.

Pesquisador: Entendi.

ABFT17MA2: E aí, fazem a feira cultura. Você tem que apresentar um trabalho, bem

grande, valem 2 pontos na sua média e a sua turma tem que se unir para enfeitar uma sala

e fazer como se fosse uma feira de ciências e aí tem essa apresentação na quadra. Às vezes

tem apresentação de teatro, bem curtinho. E aí tem apresentação de teatro, apresentação

de dança e apresentação de Judô. Então eu acredito que eles também se apresentem no

final do ano com uma luta ou alguma coisa assim. Fora isso eles tem a equipe, pré-equipe

e a equipe especial. A equipe e a equipe especial participam de vários concursos. Então é

muito legal, eu gostei muito disso também, porque às vezes é um pouco cansativo, mas

pelo menos quando eu vou para a aula de dança depois de um alongamento depois

daqueles e depois eu vou para aula, nossa, é muito bom, eu fico bem mais concentrada.

Pesquisador: Ah, legal E no intervalo do colégio o que vocês costumam fazer?

ABFT17MA2: A gente joga UNO, porque agora, né? A gente, não sei, a gente vê as

crianças do ensino Fundamental correndo e aí senta todo mundo numa rodinha para jogar

UNO. E aí, às vezes, não, porque lá tem uma cantina, então, às vezes, umas pessoas vão

lá, lancham e tudo mais e ficam conversando na hora do recreio. Se é antes da prova, a

gente fica estudando antes da prova. Mas em grande maioria, a gente joga UNO, ou fica

fazendo alguma coisa besta, tipo, rodando, rodando e rodando, porque lá tem um pátio,

além da quadra, tem um pátio, aí a gente fica tipo, rodando, rodando, rodando, até soltar

e ver o que da.

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Pesquisador: Legal. E você já está no segundo ano e o MV1 já está preparando vocês

para o vestibular?

ABFT17MA2: Sim. Assim, a gente tem simulado bimestral e aí, nesse ano já deu para

ver que eles começaram a dar uma puxada, porque no segundo bimestre, a gente teve dois

simulados, no terceiro bimestre a gente teve um simuladão do Enem e no quarto bimestre

a gente vai ter dois simulados também. E aí, é como se eles tentassem, tentando adaptar

a gente um pouco até para o terceiro ano mesmo. Se eu não me engano tem simulado

sábado sim e sábado não. Mas eu não sei muito bem como funciona. E fora isso, grande

partes das questões das apostilas são do Enem, são de vários outros vestibulares e aí os

professores vivem repetindo esses exercícios e pede para a gente dar uma atenção, pede

para a gente estudar com cuidado, porque, na maioria das vezes, pode cair na prova, mas

aí eles também falam: “É bom que vocês saibam fazer um exercício assim porque mistura

Biologia com Matemática é o estilo do Enem”. Aí eles ficam dando esses toques. Mas

assim, um enfoque mesmo no Enem vai ser no terceiro ano, porque eles tem projeto Enem

e tudo mais. Esse ano eles fizeram um cursinho para quem já (palavra não identificada)

estudar pro Enem do segundo ano, mas eu acho que ninguém da minha sala fez porque é

um mês que seria aula todo sábado, mas o pessoal não teve muito interesse não.

Pesquisador: Entendi. E o que você acha dessa questão do Enem já no segundo ano?

Nessa questão de focar no Enem já no segundo ano?

ABFT17MA2: Desculpa, não entendi.

Pesquisador: O que você acha desse enfoque, não 100%, mas ja tendo algum enfoque no

ENEM, em vestibulares já no segundo ano?

ABFT17MA2: No segundo ano?

Pesquisador: Isso.

ABFT17MA2: Eu acho bom, porque para você não chegar no terceiro ano despreparado,

porque você ter a pressão de ter que passar de ano, você tem a pressão de passar no Enem,

as vezes, tem a pressão de não sabe o que você vai escolher, então é

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bom você conhecer um pouco, até porque eu achei as questões do Enem bem legais, tipo,

as que eu sei fazer são bem legais porque elas envolvem várias coisas de uma matéria e

te fazem lembrar um negócio assim, muito, muito antigo, que você estudou a muito

tempo. E, é, eu gosto dessa parte, mas, às vezes é chato, tipo os simulados são sábado.

Acordar sábado para fazer 90 questões do simulado é triste. Aí depois acordar no outro

sábado para fazer 45 questões de matemática também não é legal não, mas se eu vou ter

que aguentar isso no próximo ano, é bom que pelo menos em alguns bimestres eu já vou

testando.

Pesquisador: Entendi. E me conta um pouquinho como é a relação de vocês com os

professores.

ABFT17MA2: Bom, a minha turma é bem pequena. A gente tem 19 alunos, então, eu

acho que para eles é bem mais fácil de controlar e eu gosto muito de turma pequena, eu

tenho terror de turma grande. E todos os meus professores são muito parceiros, assim,

com a turma. Eles vivem conversando com a gente, tipo, se a gente tá mal em alguma

matéria, ou quando é para… a gente começa a discutir com eles, assim, tipo, sobre

questões do futuro: ¨Ah, o que eu vou esperar na faculdade?¨ aí eles começam a falar da

própria experiência, que ajuda de vez em quando. E alguns professores, como eu já disse,

são mais idosos, a gente tem alguns problemas com eles, mas mesmo assim eles são muito

carinhosos, são muito divertidos, tem alguns professores em particular que são meio

maluquinhos, mas isso é normal. E esses professores não vão dar aula para a gente no

terceiro ano e tem aulas que a gente pensa com muito carinho porque eles vão fazer falta,

sabe?

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: Assim, é muito triste se despedir.

Pesquisador: E me conta um pouquinho desses professores que vocês vão sentir falta.

Por que? E me conta um pouquinho, também, desses professores que são mais

problemáticos, assim.

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ABFT17MA2: Bom, Os professores que a gente vai sentir falta, às vezes, por causa da…

Tem assim, o professor de História e o professor de Química. O professor de História ele

é muito parceiro, quando você quer conversar com ele, ele explica a matéria e aí tem

algum ponto na matéria que você se surpreende e aí ele vai conversar com você sobre isso

e ele traz pros dias de hoje, porque tem como você relacionar todas as coisas da matéria

nos dias de hoje, de acordo com os problemas do Brasil e tudo mais e ele te explica essas

coisas e é muito bom porque você acaba refletindo, ele não te explica querendo

problematizar, não! Ele te explica, tipo, “...Isso que aconteceu nessa época, também

acontece hoje em dia e os fatores que levaram a isso foi isso, isso e isso…” E é muito

legal o professor virar para você e te fazer refletir e fazer, não só tipo, Matemática, o

professor passa matéria e explica isso, isso e isso, se você achar outro meio de fazer, às

vezes pode estar errado e você tá fazendo tudo errado. Mas história, assim, é a minha

matéria preferida, mas o professor, ele é um ursinho. E aí fazendo você refletir, é uma

coisa que assim, que você acaba a aula e você meio: “Caraca gente nunca tinha pensado

e isso é muito bom”. Sem contar que ele explica muito bem a matéria e eu gosto muito

disso. E o professor de Química, é aquela matéria que ela é difícil, ela é ruim, mas você,

com aquele professor, se você faltar uma aula você perde tudo mas se você tá lá, todas as

aulas presentes, vendo tudo, presente porque, às vezes, você tá na aula e não tá prestando

atenção.

Pesquisador: Sim.

ABFT17MA2: Você entende a matéria. E eu fiquei muito emocionada, porque esse ano

eu tenho me esforçado mais do que ano passado, então eu consegui chegar no terceiro

bimestre quase passando e isso foi por causa dele porque teve uma matéria que eu

lembrava de coisas do ano passado, macetes que ele passava do ano passado e isso é muito

difícil porque normalmente, é, em matérias que eu tenho mais dificuldades, no caso

Matemática, eu aprendo o bimestre e aí quando eu vou para o outro eu esqueço. Aí,

quando chega na prova final que é (palavra não identificada) de toda a pessoa que tem

dificuldade em Matemática, eu tenho que rever tudo porque senão eu esqueço uma ou

outra coisa. Então, só de você lembrar a matéria de outro bimestre, de você conseguir

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aprender mesmo, absorver mesmo, é assim, muito… Você perceber que a pessoa, caraca,

que a pessoa tá te ensinando, assim de verdade. Às vezes não é nem, às vezes, é porque a

pessoa não tem muita afinidade pela matéria, tipo, Matemática, você não consegue

absorver muito, mas em Química, nossa! É um negócio assim, que eu não tive em outros

colégios, sabe? E dos professores que tem alguns problemas, tem alguns em particular

que, às vezes, jogam a matéria no quadro e aí só falam a matéria, passam alguns exercícios

e é isso. E aí a gente fica meio que, tipo, não estou na faculdade mas a gente meio que se

vira. Mas em compensação, no caso, da aula de Português e Literatura… Português, às

vezes, ele passa alguma coisa no quadro, explica e é isso. Ou ele passa exercício, explica

só, verbalmente e é isso. E Literatura já é outra história, às vezes, ele passa uma vídeo

aula, ou um filme do do livro paradidático, explica tudo e faz uma aula toda dentro

daquele livro e daquele assunto e às vezes ele simplesmente não dá nada ou só passa uma

folhinha, passa algumas coisinhas para você anotar numa folhinha e é isso. Então fica

meio ruim assim de estudar, ainda mais quando (palavra não identificada). Matemática,

tem aqueles professores que, Física e Matemática. Física, são aquelas matérias que o

professor vai explicar e explica bem, aí ele faz até um slide para explicar que você não

consegue entender, grande parte da turma não consegue entender (palavra não

identificada). Só que você vê que o professor fica meio angustiado, porque a gente pede

pra explicar de novo e de novo, só que ele não consegue explicar de outra forma.

Pesquisador: Entendi.

ABFT17MA2: E aí, ninguém da turma consegue absorver a matéria e aí o negócio fica

meio que: “Vejam o slide”, “vê vídeo-aula”. Sabe, ele não consegue arranjar outra

maneira para explicar. E Matemática também é a mesma coisa, no caso meu professor

fica meio chateado com a gente, porque ele explica de uma forma, você pede para ele

explicar de outra forma, só que ele explica da mesma forma, você ainda não entender,

você pede pra ele explicar de novo, ele explica da mesma forma. Teve uma vez que a

gente gastou uma aula inteira só para isso e aí, só nessa jogada de “explica de novo”, ele

ficou bem vermelho, sabe?

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Pesquisador: Entendi. E vocês tem contato com eles fora do colégio, pelas Redes

Sociais? Vocês tem no Whatsapp, no Facebook?

ABFT17MA2: Olha, com alguns a gente tem sim. A gente tem Whatsapp e Facebook.

Mas a gente (palavra não identificada) não! A gente não costuma a falar com eles, fora

do colégio, no Facebook ou Whatsapp, só quando tipo, o professor… Eu tenho um

professor de Sociologia que ele deu (só tenho uma aula por semana e ele tem Sociologia

e Filosofia para dar) e ele deu o número de telefone para a gente, para a gente mandar

pergunta , tipo, ele passou revisão, e aí ele passa revisão antes da prova: “A professor, eu

não entendi a questão 7” aí ele vai lá e te explica por áudio. E aí, normalmente esse talvez

é um (palavra não identificada) meu e o das minhas amigas é o contato que a gente tem

com eles fora do colégio. Tem alguns que não tem Facebook, tem alguns que postam

matéria no Facebook.

Pesquisador: Entendi. Como e que é esses que postam matéria no Facebook? Quando é

que eles postam?

ABFT17MA2: No meu caso é o professor de Geografia. Teve um dia de uma tempestade

que tava começando e aí ele começou a gravar e explicar o que era a tempestade, como

ela se formava, tipo aqueles “Live” da vida.

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: Aí explicou, como se formava, de onde que ela vinha. E aí, esses furacões,

que tiveram a pouco tempo, ele também pegou as imagens de satélite e ele falou porque

que estava acontecendo. Ele também é meio (palavra não identificada). Então ele falou

que ia aumentar por causa de tal coisa. E aí, aconteceu o que ele falou e aí todo mundo

fica, tipo, (palavra não identificada) sabe tudo.

Pesquisador: Aham. E como é que é a relação com os outros funcionários, tipo,

inspetores, coordenadores, diretor.

ABFT17MA2: O colégio tem a relação mais tranquila com os inspetores e coordenadores

que eu já vi. Porque os Inspetores são muito legais, eles conversam com a gente no recreio,

quando a gente faz aniversário surpresa, porque, eu nunca vi a turma

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que faz tanto aniversário surpresa. Só esse a gente já deve ter feito uns 6 e aí eles ajudam

a gente, eles tem uma salinha para eles aí eles usam a geladeira da salinha para colocar

bolo, refrigerante, essas coisas. Aí quando é para enrolar a pessoa ou começar a fazer as

coisa eles ajudam e é muito legal isso, essa relação boa. E o Coordenador, no Ensino

Médio, a gente tem… Eu pelo menos tenho uma relação muito boa com ele e acho que

todo mundo, eu chego a ficar com pena, porque ele é o único responsável, então tem o

pessoal da minha sala que briga na sala dele. Qualquer problema vai resolver com o

Miguel. Meu problema eu resolvo direto com o Miguel. Tem uma amiga minha que a

gente chama ela de secretária do Miguel porque qualquer coisa Miguel já até chama ela

para ela ir lá e escrever no papel, porque nossa, é um negócio assim... coitado dele,

tadinho, mas ele é muito bom.

Pesquisador: Legal. E como é que os professores costumam dar aula? Você já falou um

pouquinho que uns dão slides outros falam, mas como que é assim no geral? Eles dão

Power Point, eles falam mais, eles escrevem no quadro?

ABFT17MA2: A grande maioria escreve no quadro, tem alguns que só falam porque não

dá tempo mesmo e aí a gente costuma gravar, eles dão permissão, a gente grava a aula

deles, são 2, de História e Filosofia e alguns poucos fazem uso do slide e do vídeo, mas

grande parte é quadro e explicação.

Pesquisador: E quando eles deixam vocês gravarem vocês gravam por onde, pelo celular

mesmo?

ABFT17MA2: Pelo celular mesmo. Aí a gente grava e coloca dia e aula de qual matéria

Pesquisador: E alguns deles tentam usar uma metodologia diferente para expor o

conteúdo? Trazem propostas diferentes para a sala de aula ?

ABFT17MA2: Olha, não. Assim, o professor de Física ele entra em um site que meio

que tem umas… Tipo, a gente estava estudando espelhos, aí nesse site tinha umas

projeções de espelhos, tinha algo mais ou menos como um jogo, que dava para você ver

consertando os ângulos como ficava e tudo mais. Mas fora isso, não.

Pesquisador: E o que que você acha dessa metodologia de ensino?

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ABFT17MA2: O meu professor de História costuma falar que a História do século XIX,

professor do século XX, aluno do século XXI. Mas assim, para mim funciona, é meio

chato, porque você fica entediado. Mas se tem uma coisa que eu adoro é quando eles

mandam a gente ir pro auditório ou para umas salas com projeção, porque a minha não

tem por causa da janela. E aí, eles teriam que colocar uma cortina que tira todo o propósito

da janela. E aí, a gente adora porque é uma movimentação assim, sabe? A gente sai,

levanta, porque senão a gente fica todo o dia sentado e é muito chato. E, às vezes, você tá

de saco cheio, tipo, de ficar lá sentado só copiando e você quer levantar, fazer alguma

coisa e não, você tem que esperar até a hora do recreio. Começa a dar uma agonia, assim.

De vez em quando a gente troca de cadeira ou estica as pernas. Essa é uma das coisas que

faz diferença cada professor ficar em uma sala, demoraria mais tempo e teria a chance

para algumas pessoas de acabar não indo na sala, né? Mas ia ser bom porque ia ter

movimentação.

Pesquisador: Entendi. E como é que são as avaliações?

ABFT17MA2: Lá eu tenho as Formativas e as semanas de Globais. E aí a formativa é

tipo um teste e a Global é prova mesmo. E aí as Formativas têm duas ou uma por semana

até a semana da Global, às vezes 3, dependendo do bimestre e de (palavra não

identificada) tem até 3 porque, às vezes, vai ter uma semana com 3 porque não tem tempo

suficiente. E aí a Formativa tem peso e a Global também. A Formativa tem peso 4 e a

Global tem peso 6, mas quando tem trabalho envolvido, normalmente, a Formativa peso

3, o trabalho peso 2 e Global é peso 5 e tem os simulados. As Formativas são testes

normais, são 10 questões e aí o professor vê se ele quer tudo múltipla escolha, discursiva,

5 múltipla escolha e 5 discursivas, normalmente é assim que eles colocam mas, tem

professores que gostam de tudo múltipla escolha. Nas semanas Globais é que entra o meu

terror porque são 2 provas por dia e sexta-feira são 3 mas, não tem tanto problema assim

porque Filosofia e Sociologia cada uma tem 10 questões, e a que vai como filosofia e

sociologia tem 18 questões, antes tinham 20 mas, a gente conseguiu reduzir 2 questões.

Nós temos 4 horas para fazer a prova, e são 36 questões para fazer nesse dia de 2 matérias.

Matemática e Biologia, mas acho que isso nunca vai acontecer.

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Graças a Deus Matemática tem caído com Inglês mas, é difícil porque às vezes ou não da

tempo ou você começa a ficar muito angustiado e não consegue terminar tudo porque

você tem que sair até 4 horas. Às vezes, eu me pego até 3:20 em matemática.

Pesquisador: Caraca. E nessas avaliações algumas deles vocês podem usar consulta?

ABFT17MA2: Só no trabalho, quando tem, às vezes, quando o professor deixa, mas na

Formativa nem na global eles não deixam com consulta não.

Pesquisador:: E como é que são esses trabalhos? Como é que eles são feitos?

ABFT17MA2: É, no bimestre já tem um trabalho de pesquisa por matéria, mas, às vezes,

o professor passa, vê que tá todo mundo indo muito mal. Ou sabe que o pessoal vai tirar

uma nota baixa e aí, ele passa… quem faz muito isso é o professor de Física, ele pega

algumas questões da apostila e ou pede para você fazer em sala, tipo, vai fazendo, pode

falar com o amiguinho, só não pode mexer no celular e aí, vai fazendo, vai montando,

depois entrega para ele e aí ele corrige e tá, aí você tem uma nota para representar sua

média. Se não, ele seleciona várias questões da apostila, que é o que ele vai fazer nesse

bimestre, eu acho… várias mesmo e pede para você trazer na outra semana . Se não for

de conta… quando é História ou Biologia ou Filosofia, essas coisas, normalmente o

professor vai passar trabalho ele passa pra cada mesmo, passa um assunto para você

pesquisar e aí na outra semanas você tem que voltar com uma pesquisa bem bonita para

você tirar uma nota boa.

Pesquisador: Legal. E qual a sua opinião sobre todo esse modelo de avaliação?

ABFT17MA2: Com a Formativa e o trabalho da pesquisa para mim está tudo bem porque

já é uma coisa que eu to acostumada, eu tenho isso desde que eu me entendo por gente

mas, a Global que eu não tinha antes, é uma coisa assim, para mim… eu me adaptei,

porque eu to lá desde o primeiro ano. Eu me adaptei muito e agora eu já consigo fazer, já

sei qual eu tenho que começar primeiro para não deixar nada faltando. Mas assim, é uma

semana que assim, que você termina exausto, você termina muito mal. Você chega sábado

você não quer fazer nada, só quer dormir, dormir porque cansa muito. As semanas de

prova antes eram 20 questões por prova e nossa, era horrível.

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Quando a gente estava acostumado com 20 questões por dia pelo menos eu em outros

colégios, nossa, quando foi para 20 questões por prova ou 18 questões por prova era

horrível, (palavra não identificada). Mas aí eu paro e penso, também pode ser, alguma

coisa assim preparação para o ENEM, né? Porque é sempre assim. Mas ao mesmo tempo

eu sinto que é muita forçação porque no caso agora são 10 múltiplas escolhas e 8

discursivas e as discursivas normalmente são questões assim… são as mais difíceis, então

e o ENEM, vai ter muita coisa difícil, mas é tudo de marcar, então não precisava ser tanto,

faz as questões múltiplas escolhas, pode fazer mais difíceis mas (palavra não

identificada).

Pesquisador: Entendi. E me diz uma coisa, como é que você usa a tecnologia no seu dia-

a-dia, você usa a internet? Você usa celular? Computador? Tablet?

ABFT17MA2: Então, eu uso mais o celular e o tablet. O computador eu uso ou para fazer

trabalho ou para fazer trabalho. Só uso o computador quando eu quero ver alguma coisa

que não abre direito nem no celular nem no tablet. E aí, o tablet eu uso mais para vídeo,

para vídeo aula. Ele é… Teve uma época que eu não estava quase usando o tablet, mas aí

o meu celular não tem muita memória e aí eu tive que começar a colocar ele para carregar

porque eu tive que desinstalar o YouTube porque o YouTube é aonde eu via a vídeo aula

e aí eu só usava o celular para ver vídeo aula e ler porque eu leio Fanfic e eu não tenho,

eu não gosto de usar muito Facebook, nem Messenger e essas coisas eu uso só Spotify,

Netflix, né? E WhatsApp. E então eu precisei usar o Tablet por causa desse negócio da

memória e agora eu uso ele na semana de prova, muito para ver a vídeo aula e para outras

coisas como Netflix, Spotify e séries e coisas que quando eu to com preguiça… eu uso

óculos então quando a letra do celular fica muito, muito pequena eu abro o tablet.

Pesquisador: Entendi! E você tem algum canal específico que você assiste no YouTube

de vídeo-aula ou você procura dependendo do momento?

ABFT17MA2: Eu gosto muito “Canal Física”, eu gosto muito, se eu não me engano é

“Débora Aladim”, ela explica História muita bem e da umas dicas, assim. E “Aula De”,

só que eu ando meio triste com “Aula De” porque eles tiraram as vido aulas do

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professor que eu gostava muito mas é porque ele pediu pra tirar, era o Rodrigo (palavra

não identificada), eu gostava muito das aulas dele, eram muito boas.

Pesquisador: Entende. E por que que você gostava das aulas dele?

ABFT17MA2: Eu não sei, todos esses professores tem uma coisa peculiar, assim, que

acaba que você gosta. Ele explicava muito bem e ele criava imagens e explicava pelas

imagens, eu tenho muito disso, eu acho que porque, isso faz com que a minha dificuldade

de Matemática seja ainda pior, eu consigo pegar qualquer coisa que eu vejo (palavra não

identificada). Tipo, se eu vejo (palavra não identificada) ou se eu vejo uma imagem, ou

se eu vejo alguma forma ou alguma coisa assim, eu consigo aprender muito mais do que

só com o negócio escrito no quadro. Eu acho que isso é para todo mundo, mas aí como

ele pega a imagem e ele explica o que está acontecendo na imagem as vezes eu lembro

de imagem e ja lembro… Ah… essa imagem é da Revolução Francesa. Isso falta um

pouco, eles poderiam ter isso um pouco mais no meu colégio, porque Matemática ía

ajudar muito se você conseguisse ver.

Pesquisador: Legal! E no colégio eles usam tecnologia em algum momento?

ABFT17MA2: Além dos slides, dos vídeos no YouTube, porque, às vezes, eles entram

no YouTube, tipo, os professores de Física, Biologia e Literatura são os que mais fazem

isso, põe vídeo no YouTube sobre… Ah… to estudando Corpo Humano ai eles vão e

pegam uma vídeo aula dos caras abrindo, abrindo não, é uma simulação mostrando por

dentro do coração, aí ele vai mostrando ali pelo vídeo as células do pulmão, aí essas aulas

são as melhores, são as mais interessantes.

Pesquisador: Legal! E vocês podem usar celular em sala de aula ou não?

ABFT17MA2: Não, é proibido. Mas a gente usa de vez em quando.

Pesquisador: E vocês usam para que?

ABFT17MA2: Ou quando tem várias mensagens em série, sabe aquele fofoca geral?

Pesquisador: Aham!

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ABFT17MA2: Ou… é porque eu não uso muito, mas eu vejo muitas meninas amigas

minhas que ficam usando, então eu não sei se elas ficam no Instagram, eu não sei. Mas

eu olho quando tem muitas mensagens ou eu sei quando é emergência quando a pessoa

me liga, aí eu peço para sair de sala para atender. Mas fora isso só quando é mensagem

ou quando o professor passou coisa no quadro e aí agora ou já está terminando a aula ou

passou o exercício eu já terminei o exercício e eu estou esperando ele corrigir, aí eu fico

lendo Fanfic ou fico vendo se tem alguma novidade e é isso. Eu também não tenho “coisa”

para baixar Netflix, mas eu acho que eu não teria tanta “cara-de-pau” para assistir Netflix

na aula e também eu não ouço mais música porque teve uma vez que eu fui ouvir música

e eu coloquei o fone de ouvido e aí no meio da aula fone de ouvido não encaixou muito

bem e aí foi aquele... todo mundo viu (palavra não identificada) Professor olhou para

você, tipo: “Eu sei que você está mexendo no celular mas eu não queria saber tanto que

você tava mexendo no celular”.

Pesquisador: Entendi. E como você faz para estudar para suas avaliações, para as suas

provas?

ABFT17MA2: Normalmente eu vou para casa da minha avó paterna que é a mais perto

do meu colégio, dá para ir andando e aí lá.. Eu vou para.. Meu método de estudo não é

dos mais saudáveis, porque eu tento (palavra não identificada) de um dia para estudar pro

outro e aí eu faço, eu estudo sábado e domingo e um pouquinho durante a semana. Só que

é difícil estudar durante a semana por causa das informativas, porque tem informativa

toda a semana então toda a semana tem (palavra não identificada). Então é difícil estudar

para a prova, mas ao mesmo tempo a prova que tem na semana da Global eu já não preciso

estudar tanto porque eu ja estudei antes. Mas aí eu estudo até 4 horas da manhã do

domingo.

Pesquisador: Aham.

ABFT17MA2: É, nada saudável, nada saudável, eu não indico para ninguém. Aí eu vou

e acordo 9 horas e aí eu dou uma “revisadazinha”. Normalmente eu faço uma revisão e aí

eu dou uma revisada e de lá eu vou para a prova, faço a prova, volto para a casa e aí

normalmente eu chego, por volta de… depende da hora que eu sair, mas já que é mais

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perto e eu fico na casa da minha avó, eu chego em casa por volta de 5 horas, 4:30 e aí eu

dou uma cochilada até 6 horas ou 7 horas dependendo do meu nível de cansaço. E aí de

lá eu vou estudando até 4 horas da manhã e faço isso tudo de novo, todos o dias.

Pesquisador: E você estuda por onde? Pelos livros, apostilas, por YouTube? Como é que

funciona?

ABFT17MA2: Depende da matéria, mas quando é História eu estudo pela vídeo-aula e

pelo caderno, quando é Matemática eu estudo por todos os exercícios que o professor já

fez antes, eu refaço todos eles, anoto fórmula e vejo algumas vídeo-aulas se eu não sei se

eu não aprendi muito bem como fazer a fórmula e vou refazendo os exercícios que ele já

passou todos eles até cansar, e algumas outras matéria eu só vejo pelo caderno e faço

(palavra não identificada) pelo caderno, faço uma enxugada de tudo que o professor

passou no caderno. Ou Geografia, Geografia é uma matéria que eu acho bem fácil e aí eu

me faço umas questões no caderno, ou às vezes o professor passa mesmo umas questões

e aí eu só respondo essas questões antes da prova.

Pesquisador: Entendi. A gente esta terminando aqui, faltam só dois tópicos...

ABFT17MA2: Aham.

Pesquisador: Enfim, foi aprovado recentemente, uma reforma do Ensino Médio o quanto

você sabe disso e o que você acha dos detalhes, se gostou ou se não gostou.

ABFT17MA2: Então, eu achava que eu sabia disso mas eu não sei porque eu não vejo

TV e eu não tenho Facebook, nem Instagram, nem Twitter, nem nada disso. Na verdade

eu tenho Facebook, só que eu entro uma vez na vida e outra na morte ou no aniversário

que tem que responder as tias, então, eu só sei o que as minhas amigas falam, e às vezes

elas começam uma discussão sobre isso, que eu entro ali do nada: “Ah, é isso que está

acontecendo? Sério? Nossa!” Foi terrível quando começou o horário de Verão, eu não

sabia que tinha começado o horário de Verão. E aí, eu não sei muito, assim, pelo o que

eu ouvi minhas amigas falando, vai ser uma coisa tipo, época da minha avó. Quando tinha

Ginásio, Clássico e Técnico e você tinha que escolher um ou outro, pelo que eu entendi

vai ser um negócio assim. E aí, ano passado eu debati o negócio assim com meu

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professor e aí eu falei com ele que eu ia ficar muito triste porque assim, se eu disse que

eu gosto de outras matérias eu vou estar mentindo mas eu gosto de todas as matérias, até

de Matemática, então ter que me desligar dessas matérias eu ia ter que ficar muito

chateada porque eu acho que eu não deveria estudar tão aprofundado assim como a gente

estuda né? Mas algumas matérias até que são legais. E aí eu ia ficar bem triste de ter que

escolher uma coisa que eu sou boa, só que ter aquelas outras coisas que eu era boa só que

não muito. Então podia ser alguma coisa assim: “tipo, tem lá Matemática, mas em vez de

fazer a Matemática avançada eu faço a Matemática básica e sigo a Matemática básica” E

a Matemática básica também tem pouca Estatística porque querendo ou não essas coisas

você vai precisar na faculdade.

Pesquisador: Sim. e o colégio não entrou nessa discussão com vocês?

ABFT17MA2: Não, só os professores que falaram mesmo, mas debateram.

Pesquisador: Entendi. Nada muito oficial, nada que fosse exposto para todo mundo

ABFT17MA2: É, não.

Pesquisador: Tá. Bom, e a última questão é um pouco mais aberta, assim, se você

pudesse fazer uma mudança na educação o Brasil, o que que seria essa mudança?

ABFT17MA2: Eu criaria uma identidade nacional que eu acho que é o que está faltando

para a gente, porque a identidade nacional seria, eu não sei como eu faria isso, mas eu

incluiria algumas aulas que eu fico escandalizada que não tem. Eu achei que no Ensino

Médio ia ter mas não tem, que é o estudo das nossas origens mesmo, sabe? Porque eu

quase não ouço muito falar. No Bennet, eu ouvia muito falar inclusive dos índio, na

semana do índio, às vezes, um Pajé ia visitar a gente, ele ia com tinta, ensinava uma dança,

ensinava algumas palavras. E agora eu não tenho mais isso, dia do Índio para a gente não

é nada e aí eu achei que a gente iria estudar um pouco mais sobre os índios, um pouco

mais sobre a história africana, porque são os nosso antepassados, são o que a gente é hoje,

todos eles tem um pedaço do que a gente é hoje e a gente só estuda só os europeus, só os

americano e isso tem um problema que eu acho que é a principal causa do porque a gente

não tem uma identidade, do porque a gente se consiga os vira-

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latas, porque podemos ser um pouco de tudo, mas a gente tem uma origem desse pouco

de tudo. E outra coisa que eu mudaria seria isso, seria aquele negócio que eu falei do: “Ah

eu vou fazer Matemática, mas eu não vou fazer Matemática avançada vou fazer

Matemática básica”. Eu classificaria tipo faculdade, você escolhe a matéria que você quer

só que tipo, você tem que fazer esse matéria, mas você escolhe se ela é básica ou

avançada. Mas se você escolher a básica você tem que ter noções de estatística, você tem

que ter umas noções de probabilidade, só que o básico.

Pesquisador: Entendi, bom, legal. Você tem mais alguma coisa que queira contar, que

acha que ficou faltando

ABFT17MA2: Não, acho que eu falei tudo. Eu falo muito então eu acho que falei tudo.

Pesquisador: Legal, legal. Bom, então é isso, muito obrigado por esse seu tempo e é isso.

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10.6. Transcrição das entrevistas - Professores

LCC12HSA

Pesquisador: Bom, deixar eu te explicar então. Eu acho que já falei um pouquinho pelo

Whatsapp, mas, enfim, eu estou fazendo mestrado, sou designer de formação e estou

fazendo mestrado em Gestão da Economia Criativa.

LCC12HSA: Tá.

Pesquisador: E nessa linha de pesquisa, enfim, eu trabalho com experiência do usuário,

faço site, aplicativo e tudo mais, e a gente tem uma linha de pesquisa que é experiência

do usuário, pensar sempre na melhor experiência para a pessoa que está usando aquilo,

aquela plataforma e tudo mais. E aí, nesse momento, eu gosto muito de educação, quero

ser professor de faculdade e tudo mais e pensei como que eu posso trazer esses conceitos

que eu aplico no meu dia-a-dia como designer para a sala de aula.

LCC12HSA: Tá.

Pesquisador: E aí, nesse momento, eu estou entrevistando alguns professores, alguns

alunos, como é mestrado, eu segmentei bastante, então precisa ser ensino médio, escola

particular e tudo mais. Enfim, a ideia aqui é que a gente bata um papo, tá? Não tem

resposta certa, não tem resposta errada, fica à vontade, só ouvir sua opinião mesmo.

LCC12HSA: Tranquilo.

Pesquisador: E aí, eu tenho só um guiazinho aqui só para eu me guiar em relação a tudo,

ok? Bom, para começar, se você puder se apresentar um pouco, falar seu nome, ideia,

quanto tempo você está dando aula, em quais colégio você dá aula, quais que você já deu.

LCC12HSA: Bom, sou LCC, estou com trinta e um anos no momento, trabalhei no PH

por onze anos, comecei a dar aula esporadicamente, primeiro como monitor, depois como

professor e monitor lá…

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Pesquisador: Aham.

LCC12HSA: Isso com dezenove para vinte anos. Então já estou nesse mercado uns onze,

doze anos, tem um tempinho. Fiquei lá por quase dez anos, nove, dez anos e, desde o ano

passado, de 2016, 2017, eu estou trabalhando em outros colégios. Eu acabei saindo de lá,

lá era regime de exclusividade, então eu acabei saindo e abrindo bastante, mas continuo

focando em pré-vestibular. Então pego ensino médio e pego curso pré- vestibular também.

Pesquisador: Aham.

LCC12HSA: Atualmente, eu trabalho no Ao Cubo, que foi uma cisão dentro do próprio

PH, eu trabalho no Santo Agostinho, da Barra, e trabalho no curso Mini, que é um curso

pré-vestibular específico…

Pesquisador: Qual curso?

LCC12HSA: Curso Mini. É um curso pré-vestibular especificamente para medicina.

Então só tem dezesseis alunos em cada turma e tal, ele é focado para isso mesmo.

Pesquisador: O Ao Cubo é na Tijuca, não é?

LCC12HSA: Tem na Tijuca, tem em Ipanema e tem na Barra. Eu trabalho no da Tijuca.

E está abrindo aqui em Botafogo no ano que vêm.

Pesquisador: Acho que tem um professor que me deu aula que trabalha lá.

LCC12HSA: Quem é?

Pesquisador: De Matemática. João… João Carlos… Eu não lembro direito.

LCC12HSA: José Carlos?

Pesquisador: José Carlos!

LCC12HSA: Jô.

Pesquisador: Isso, o Jô, exatamente.

LCC12HSA: Sim, um amor de pessoa.

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Pesquisador: É, ele me deu aula no Palas. Eu lembrava do Ao Cubo por causa dele.

Legal, e você dá aula de?

LCC12HSA: História.

Pesquisador: História, legal. E assim, me conta um pouquinho porque você resolveu ser

professor.

LCC12HSA: Bom, eu comecei fazendo Comunicação, fiz dois anos de faculdade de

Comunicação e, quando comecei a trabalhar, vi que não era realmente aquilo que eu

queria. Já que eu pensava nisso desde que eu era criança e tal, precisei fazer para ver que

não era o que eu queria. E quando eu larguei, eu fiquei meio perdido. Eu larguei no meio

do ano, não sabia o que fazer. Pensei em Direito, pensei em Administração, em Psicologia,

uma série de áreas diferentes em Humanas e fui fazer um pré-vestibular, um intensivo

naqueles meses antes das provas. Inclusive, foi onde eu conheci o Michel. Ali, vendo os

professores dando aula, uma aula de Matemática que eu me toquei que queria ser

professor, mesmo que não fosse a minha área, mas eu acabei me tocando, porque eu vi o

professor dando aula a noite, porque eu estudava a noite, tipo dando aula dez horas da

noite e o cara se divertindo dando aula. Aí eu pensei parece algo agradável, algo legal de

fazer, então não parece ser tão difícil assim. Sempre gostei muito de História, então é algo

que eu acho que conseguiria fazer durante anos e anos da minha vida. E é isso.

Pesquisador: Entendi. Esse tempo todo que você está dando aula, você se sente

prestigiado? Você e a carreira de professor como um todo.

LCC12HSA: Carreira de professor majoritariamente, não. Acho que socialmente, eu

acho que acontece de, às vezes, você falar que é professor e perceber aquele “ah, você é

professor…”, algo chato ou alguma coisa assim. Entre os alunos, bastante, a gente sente

a retribuição legal, isso é uma troca legal. Por mais que seja algo muito efêmero, o tempo

passa, os alunos passam, os alunos se formam na faculdade e aquilo vai ficando no

passando, vai ficando cada vez mais distante da vida deles. Mas durante o momento de

convívio é muito legal. Dentro das instituições, varia. Dentro de algumas instituições,

sim, dentro de outras, não. No Santo Agostinho, eu acho que a gente tem

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um respaldo legal, o que torna o ambiente legal de se trabalhar, mas nem sempre é assim.

No PH, por exemplo, posso falar que não era assim. Então varia muito da direção, quem

é a direção, a direção é uma direção composta por ex-professores ou não, entende o que

é estar em sala de aula ou não. Isso é uma questão que varia muito. Num ramo mais, uma

visão mais empresarial da direção, normalmente, é ruim de trabalhar. Num ramo mais

educacional da direção é bem mais agradável, o clima entre os professores fica melhor,

um clima de menos competição, é um clima de mais, mais colaboração e menos

competição.

Pesquisador: Ah, legal, legal. Qual a sua metodologia de ensino? Como você prepara as

aulas, como que você, enfim, dá aula ali no dia-a-dia? Como é que é isso?

LCC12HSA: É muita tentativa e erro. Eu acho que, em geral, é muito isso. A grande

questão, acho que o grande desafio de um professor é tentar transformar conteúdos nem

sempre interessantes em algo palatável, pelo menos. Então que aquilo seja mais

facilmente absorvido pelo aluno, obviamente pelo sentido de priorizar o que é importante

para ele e para a vida dele e o que, se ele não pegar, sem problemas. Acho que a

preocupação maior hoje, em uma linha de Enem, que é uma prova interessante nesse

sentido, leva uma questão mais reflexiva nesse sentido, isso acaba moldando em partes

como a gente acaba trabalhando no ensino médio, né, acaba tendo um papel mais

significativo no nosso ensino médio. Uma ideia de que, pô, o cara não precisa saber na

minha disciplina, por exemplo, que ano aconteceu a Sabinada ou a Cabanagem. Isso

realmente não é algo relevante. Agora, certas questões como você entender o conceito de

cidadania a partir da escravidão, ou o conceito de democracia a partir da ausência de

democracia no nazismo, numa ditadura militar, isso de fato é mais importante. E aí, como

tornar esses assuntos mais agradáveis. Sinceramente, eu acho que em História é mais fácil

fazer isso do que em Matemática, em Física, trazer isso para uma realidade que é mais

interessante. Então, é você conversar, contar para eles, sempre quebrando aquela linha de

conteúdo, conteúdo, conteúdo, com alguma curiosidade, alguma história engraçada,

algum exemplo de dia-a-dia, coisa do tipo. Eu acho que isso funciona legal. Então, a

melhor forma é absorver, porque encontro com alunos alguns anos depois e, às

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vezes, o cara vira e fala “eu lembro daquela história assim, assim, assim que você contou

com relação a isso”. Então as coisas ficam, sedimentam um pouco melhor assim.

Pesquisador: E você já tem, assim, aulas preparadas para o longo do ano ou você prepara

toda semana?

LCC12HSA: É, não, as aulas já preparadas. Porque conforme você vai fazendo, para a

gente é muito a partir da experiência, principalmente para vestibular que você trabalha

com o conteúdo todo, então o que você muda é que, no caso, se você vai precisar enxugar

aquela aula e dar ela mais curta ou se você vai precisar esticar e você vai ter mais tempo

para trabalhar mais folgado, trabalhar, no caso, com mais exemplos, trabalhar com mais

detalhes, coisa do tipo. Então essa é a grande alteração, mas o programa, principalmente,

como eu falei, pela minha experiência em pré-vestibular, eu já tenho um programa todo

tanto em arquivo quanto em boa parte todo na cabeça. Com alterações, obvio, ano a ano,

afim de uma atualização, de alguma questão, coisa do tipo, algo que você percebeu que

não tava, talvez, muito claro na cabeça dos alunos. Você percebe, às vezes, com uma

correção de prova. Então, pô, isso eles não entenderam muito bem e coisa desse tipo. Mas

são adaptações, no geral, a base, 90%, eu diria que é basicamente a mesma coisa.

Pesquisador: Entendi. Você falou essa questão do Enem que… Eles mudaram a prova

recentemente…

LCC12HSA: Sim, sim.

Pesquisador: Um tempo atrás, era muito focado…

LCC12HSA: É, muito conteudista.

Pesquisador: Na verdade, ela nem servia para muita coisa, né? Porque… E era muito

conteudista. Qual a sua percepção em relação a essa mudança?

LCC12HSA: Eu acho que melhorou muito sinceramente. Eu vejo o Enem hoje, a gente

não sabe por quanto tempo ele vai continuar assim, porque o INEP já deu declarações de

que tem interesse em voltar a ser o que era antes, mas eu acho que hoje é a melhor

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prova que a gente tem no Brasil sinceramente. Porque é uma prova que não interessa…

Tem seus problemas, tem, eu acho que é uma prova excessivamente longa, não precisava

ter noventa questões em cada dia de prova, você podia ter tranquilamente, eu vejo

quarenta e cinco questões de cada área, fazia trinta, os alunos… Você conseguiria medir,

no caso, se ele absorveu o que era necessário, se ele entendeu os pontos mais relevantes

ou não, mas é uma prova que não interessa tanto o que você sabe, mas mais o que você

faz com o que você sabe. Então não basta você ter decorado alguma coisa, mas sim como

você aplica aquele conhecimento em cima de determinado texto, de determinada imagem,

quadro, qualquer coisa do tipo. Então nesse sentido, eu acho que é uma prova reflexiva,

que leva inclusive ao aprendizado. Porque, as vezes, se conta uma história, “pô, maneiro,

não sabia disso”, e, pô, a partir daquilo ali você vai aplicar algum conhecimento que você

tem para achar uma resposta. Mas eu acho que é uma prova inteligente.

Pesquisador: E em relação a proposta pedagógica do colégio, pedagógica, né. Como ela

influencia no seu trabalho? Ela muda de colégio para colégio, essa questão de você já ter

vários conteúdos prontos, mas para colégio para colégio isso muda? Tem uma influência

muito grande ou não?

LCC12HSA: Eu diria que é mais uma variação, no caso, da forma do que em si do

conteúdo. Tem colégios mais informais e colégios mais formais. Santo Agostinho, por

exemplo, é um colégio mais formal, tradicional, religioso e tudo. Ao Cubo, no caso, é

uma pegada mais informal, se preza mais pela proximidade com o aluno e coisa do tipo.

Tem vantagens e desvantagens nos dois modelos. Acho que o modelo tradicional você

sente mais respaldo dado. Você, por exemplo, não precisa se desgastar tanto com a questão

da disciplina, a própria direção ela assume esse papel, quanto, no outro, as vezes, fica, pro

aluno, tão claro uma questão de limite onde fica. Ao mesmo tempo, isso tem um convívio

mais fácil, às vezes, enquanto, no outro, às vezes, você tem um distanciamento um pouco

maior. Então vantagens e desvantagens dos dois modelos, mas, a principal mudança, eu

diria forma, não tanto conteúdo. Conteúdo não mexe tanta coisa.

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Pesquisador: Entendi, legal. E nesse processo de aula, você tenta inovar de alguma forma

durante… Você falou que já tem algumas coisas pré-feitas, tal, tal, tal… História parece

que dar para inovar um pouco mais. Quer dizer, você tenta trazer isso de alguma forma

para sala de aula?

LCC12HSA: Ah, algumas coisas sim. Pegando, por exemplo, o exemplo da questão da

tecnologia que você tinha falado. Muito… Acho que o que funciona legal, isso varia muito

de professor para professor, mas eu gosto de vídeo, vídeo curto. Porque, hoje em dia, não

dá para passar um vídeo de uma hora, uma hora e meia, o cara se distrai no meio. Vídeos,

às vezes, de oito minutos, dez minutos, que já é o resumo que é o mais importante, no

caso, que é o importante que eu quero que você veja e aquilo ilustra. Por exemplo, eu

acho que o melhor que eu transcrever o que é o tráfico de escravos, eu pegar uma

sequência que demostra o que era isso. Aí você tem o “Amistad”, filme do Spielberg, que

tem uma sequência do tráfico de escravos que é dez minutos, é ótimo. Os alunos assistem

aquilo e a reação é quase sempre a mesma, todo mundo fica meio chocado. Ele vê, é

diferente aquilo. Falar de, pô, ditadura militar, cara vêm falar de tortura na ditadura

militar. Melhor que isso é pegar depoimento de torturado e colocar para as pessoas

descreverem o que acontecia. Então você tem exemplos desse sentido que eu acho que

funciona, que enriquece bem, de fato, as aulas.

Pesquisador: Legal. E você, nos colégios que você dá aula, você tem um projetor? Você

dá aula no projetor, computador, no quadro?

LCC12HSA: Projetor. Todos, por sorte, onde eu trabalho, tem projetor. Não tenho

dificuldade nenhuma nisso.

Pesquisador: E você acha que isso tem mais vantagens hoje do que era quando escrever

no quadro.

LCC12HSA: Com certeza, com certeza. Não, a gente ainda escreve muito no quadro. Eu

diria que, na minha disciplina em si, boa parte, no caso, eu acabo usando o quadro, coisa

que um professor de Matemática para dar uma aula de geometria espacial, ele consiga

fazer mais coisa ali. Mas eu acho que nada substitui o falar ali na frente, de um

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para o outro. Mas isso é um acrescimento bastante interessante, bastante significativo.

Mas, por experiência, o que eu aprendi, aula apenas no projetor, cem por cento no

projetor, muito aluno entende que não há uma aula. Até porque o horário, no caso, o cara

pega sete horas da manhã e tal, então uma aula sete horas da manhã que você apaga a luz

para ver daquela maneira, todo mundo abaixa a cabeça e quer dormir e coisa do tipo.

Então, a experiência que eu tenho hoje, no caso, é que uma apresentação, hoje, no

projetor, eu não coloco texto. Então é, basicamente, imagem, vídeo, coisa do tipo,

enquanto isso, o quadro está ali do lado para ele ir copiando e coisa assim.

Pesquisador: E você acha que essa passar do quadro, como era antigamente, para o

projetor, as pessoas pararam de prestar mais atenção? As pessoas pararam de copiar mais

e esse tipo de coisa?

LCC12HSA: Eu acho que assim, passaram integralmente a… Ainda não foi encontrado,

pelo menos, eu não tenho conhecimento, de um ponto médio que tenha pronto assim,

funcional. Então, eu acho que o melhor ainda tem funcionado como o melhor realmente.

Pesquisador: E há troca de informações de professor para professor, assim? Até de

metodologia… “Ah, isso aqui funcionou com meus alunos”… Ou até mesmo de conteúdo

ali. Existe essa troca?

LCC12HSA: Sim, existe. Existe em parte. Porque existe em partes? Porque isso aí, de

novo, vai variar muito de colégio para colégio, professor para professor. Ambientes que

prezam muito pela competitividade, isso não acontece. Ambientes que, no caso, segue

uma linha mais cooperativa, acontece bastante. Então, “pô, eu uso vídeo tal”, “pô, eu

nunca vi”, o cara me mostra, vê e “pô, vou usar esse vídeo também”. Beleza, fica nisso.

Ou eu falo assim, assim, assim. Pô, realmente funciona melhor do que a forma que eu

falo que é assim, assim, assim. Então esse tipo de troca funciona legal. Minha esposa é

professora de História também, então eu troco com ela em casa. Então facilita nisso. Mas

com outros professores já aconteceu bastante também, eu acho que é legal.

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Pesquisador: E em colégio competitivo tem competição até entre os próprios

professores?

LCC12HSA: Sim, exatamente. Isso, muitas vezes, é estimulado pela escola. Uma

disputa, no caso, por turmas. Bem ou mal, uma questão de professor em colégio particular,

você recebe por quanto você trabalha. Então quanto mais você trabalha, mais você ganha.

Então se você estimula muito isso, tem gente que quer sempre trabalhar mais, mais e mais,

para ganhar mais, mais e mais. E aí, com isso, fica um ambiente, eu diria, hostil, não se

desenvolve da melhor maneira possível.

Pesquisador: Entendi, legal. Além da parte técnica, vocês tentam passar outros tipos de

conteúdo para os alunos? Enfim, conteúdos que não são necessariamente técnicos do

colégio.

LCC12HSA: Sim, sim. Eu escutei uma vez de uma orientadora pedagógica uma frase

que eu gostei bastante. Ela falou que a função do professor… Isso era durante uma…

Disciplinando o aluno, disciplinando de maneira adulta, conversando com ele sem ser

dureza, mas conversando de maneira adulta com o aluno que tinha sido tirado de sala

durante a aula de um outro professor. Eu estava conversando com ela quando o aluno

chegou e disse que foi tirado de sala de aula por ter falado um palavrão. Aí ela explicando,

no caso, para o aluno, ele falou “ah, nada demais”, isso o aluno já era do terceiro ano do

ensino médio, e ela falou: “Você precisa entender uma coisa que nós, no caso, educadores,

nós temos duas funções com vocês. Uma função informativa, que é transmitir conteúdo e

uma formação formativa, que é uma formação de cidadania e você foi retirado de sala por

conta dessa questão formativa”. Então, por conta disso, é uma preocupação muito

grande… Eu diria, sinceramente, é a questão mais difícil do nosso trabalho, porque,

muitas vezes, o aluno não está interessado em ouvir, mas você não pode se omitir muito

disso. E aí é como eu falei, como você consegue aplicar certos conceitos que são

considerados importantes para o convívio em comunidade, no caso, dentro de sala de aula.

Então, pô, o que eu entendi disso, a minha interpretação, no caso, eu consigo usar muito

isso, passar todos os conceitos que para mim são fundamentais de cidadania e democracia,

a partir de exemplos de quando você não tem. Então, pô, eu

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acho que tráfico de escravos, escravidão, principalmente para a gente aqui no Brasil, é

uma boa forma de você entender a importância da cidadania para partir a vida daqueles

que não tinham. No caso, a partir de regimes autoritários, uma forma de você entender o

porque a democracia, mesmo com todos os seus problemas, é, ainda é a melhor forma de

governo que a gente teve até hoje. Então essa é a parte mais complicada, às vezes, os

alunos não tem o interesse tão, tão grande em ouvir. Às vezes, você percebe um certo

incomodo, mas é importante você virar em alguns momentos e falar, ao contrário do que

você escuta, muitas vezes, ao longo de sua vida, ao contrário que os seus pais falam para

você, que você não é especial. E pessoas que se consideravam especiais, foram pessoas

que fizeram esse tipo de coisa. Então, assim, é minimamente chocante, mas é na pancada

que se amadurece no final das contas. É o tipo de coisa que eles podem absorver pelo o

que eles escutam, como eles podem acabar pegando pela vida. Na vida você vai acabar

pegando esse tipo de coisa que… Há uma sensação muito forte em ensino médio de escola

particular, os alunos… Há um consenso entre eles que cada um deles é absolutamente

especial a sua maneira. Então se todos são especiais, o conceito de especial deixa de

existir, todos são comuns. Então é importante, tipo assim, tentar lapidar isso, porque eles

são muito mimados em casa com essa ideia de como o meu filho é maravilhoso, como

meu filho é intocável e coisa do tipo.

Pesquisador: Entendi, faz sentido. Você acha que, por exemplo, você tem uma

preocupação com isso. Você acha que todos os professores tem essa preocupação com

isso?

LCC12HSA: Não, não. É desgastante, é difícil fazer esse tipo de coisa e você percebe

que há uma resistência deles em relação a isso. No final, eu diria que o resultado é muito

mais positivo do que negativo, mas é difícil. É muito mais fácil você ficar só cuspindo

conteúdo ali, cobrar na prova e fazer o feijão com arroz e tá legal. Então, sem… No caso,

muitos professores não tem essa preocupação. Eu diria que alguns dão aula, outros são

educadores. Os que optam por serem educadores acabam fazendo isso no final das contas.

Pesquisador: Legal. E como são as avaliações?

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LCC12HSA: Infelizmente, majoritariamente, no modelo tradicional, prova. Então, para

o ensino médio, pede-se muito para mesclar com o modelo Enem, UERJ, coisa do tipo,

que são bons modelos de prova, mas não deixam de ser prova.

Pesquisador: Sim.

LCC12HSA: Pelo menos, a minha experiência como aluno, a lembrança que eu tenho de

avaliação, foram aquelas que não foram provas. Eu não lembro das provas, eu lembro

dos trabalhos que eu tive que fazer, apresentações que eu tive que fazer, coisas nesse

sentido. Então qualquer brecha que você tenha para isso, seria legal fazer. O problema é

que a gente tem um número de brechas muito poucas. Então, às vezes, é uma por ano, um

espaço disso por ano, para você poder fazer esse tipo de coisa. E você percebe que os

alunos gostam desse tipo de coisa. Dá trabalho, mas eles, de fato, aprendem e se tocam

de muitas questões e coisa do tipo. Então tem um trabalho que minha esposa passa, que

ela me deu a sugestão, eu acho interessante e faço para o segundo ano do ensino médio,

quando falo sobre tráfico de escravos, começo a conversar sobre a chegada de portugueses

na África, primeiro contato, coisa do tipo, pede para eles, no caso, entrevistarem pessoas

conhecidas ou desconhecidas, na rua, e fazerem uma série de perguntas sobre a África. O

que as pessoas na rua sabem sobre a África e a conclusão que você acaba chegando é que

assim, tirando raríssimas excessões, ninguém sabe nada. A verdade é essa. Então tem uma

visão de África que África é um país, que… Tipo assim, o que você pensa de África? Que

é miséria ou leão, é isso. Então, não se sabe, de fato, muita coisa. É bom que, eles

percebendo que os outros, a população em geral pensa assim, quando você apresenta, por

exemplo, que na Nigéria você tem uma concentração populacional enorme, que na África

do Sul você tem um desenvolvimento econômico interessante, uma série de coisas nesse

sentido, eles mesmo vão ficando meio chocados com isso. Ao verem que todo mundo tem

uma visão, a maioria das pessoas tem uma visão muito limitada, ele se interessa e tenta

expandir um pouco esse horizonte. Então acho que é legal.

Pesquisador: E agora, você diz que não tem muito espaço para fazer outros tipos de

avaliação, isso vêm do colégio?

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LCC12HSA: Do colégio. No geral, do colégio. Mas vêm do colégio muitas vezes, ou por

uma tradição do colégio, que ele é reticente em mudar ou por uma própria pressão dos

pais que eu estudei assim, eu acho que funcionou e não quero que seja diferente com meu

filho. Então assim, o ambiente escolar, em geral, é um ambiente muito conservador, muito

resistente a mudanças. Mudança em relação a tudo, seja metodologia, seja em relação a

avaliação, seja em relação a tudo. Então assim, muitas vezes, tem professores que

reivindicam esse tipo de coisa e, às vezes, de pouquinho em pouquinho você vai

conseguindo esse tipo de abertura. Então, alguns espaços, algumas conquistas se vai tendo

aos poucos. Tem colégios mais abertos, tem colégios menos abertos a isso, o que torna o

aprendizado mais interessante. Mas varia muito da direção, depende demais de colégio

para colégio.

Pesquisador: E quando são esses trabalhos, vocês tem liberdade para definir o trabalho,

se vai ser em grupo, se não vai ser em grupo?

LCC12HSA: Quando acontece, em geral, total. É aquela, você vai ter uma prova que vai

ter que passar no final do período, mas você tem uma outra avaliação que você tem a

decisão do que você quer fazer. Se você quiser fazer um teste, você faz. Se você quiser

fazer um trabalho, você faz. Se você quiser colocar eles para apresentar seminário, você

faz. Você faz o que você quiser. Normalmente, quando isso acontece, pelo menos onde eu

trabalho, nos colégios que eu trabalho, autonomia. Você faz da maneira que você acha

que funciona melhor.

Pesquisador: Mas as provas, por exemplo, é mais rígido ali no conceito do que o

trabalho?

LCC12HSA: Sim. Assim, curiosamente, nesse sentido, o Santo Agostinho, ele dá até

mais liberdade que o Ao Cubo. Porque, no Ao Cubo, você tem um modelo tantas questões

objetivas, tantas questões discursivas. No Santo Agostinho, você distribui os pontos da

forma que achar melhor. Mas tem que ser uma prova tipo caneta e papel e é isso. Então

não dá para fugir desse modelo. E realmente, fugir disso, são raríssimos os colégios, pelo

o que eu sei de amigos que são professores, que permitam que não haja nenhuma prova.

Então prova, até por uma exigência dos pais, acaba acontecendo.

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Pesquisador: Entendi. E essas provas, geralmente, são sem consulta, sem nada?

Lucas: Sem consulta, individual, pelo modelo tradicional.

Pesquisador: E o que você acha disso? Tem alguma opinião formada sobre isso? Sobre

algum outro modelo?

LCC12HSA: Eu acho que é o modelo, sinceramente, assim, antigo que deveria ser

revisto. A grande questão é pelo o que, mas aí é tentativa e erro. Acho tem que ir

experimentando coisas diferentes para aos poucos você acabar chegando lá, sabe? Você

percebe que, muitas vezes, alunos conseguem se formar porque memorizaram muita

coisa, mas coisas que eles não vão levar para a vida deles. Coisas que perdidas, que em

breve serão esquecidas. Isso eu acho problemático, né? Esse modelo repetição, no caso,

esse modelo Teletubbies de repetição de ver a mesma coisa mil vezes, eu acho que no

longo prazo não funciona. Mas é o modelo que, pô, foi assim na minha educação, é assim

na educação deles e foi dos pais deles. Então é algo que tem uma resistência muito grande

da sociedade como um todo em mudar e as direções acabam se repetindo em parte isso.

Pesquisador: Você acha então que os pais tem muita influência em todo esse processo.

LCC12HSA: Exatamente.

Pesquisador: Você acha que eles tentam influenciar para que nada mude?

LCC12HSA: Exatamente. Poucos são os pais com mentalidade mais progressista nesse

pensamento de “não, pô, vamos tentar alguma coisa diferente”. A maioria não… Acha

que assim funciona, vamos continuar fazendo do mesmo jeito e as escolas para bancarem

e fazerem essas mudanças, tem que peitar seus pais que, no âmbito de colégio particular,

não dá para a gente esquecer que são os que sustentam a escola. Então fica uma relação

meio conflituosa ali nesse sentido.

Pesquisador: Mas aí já, até saindo um pouco, você acha que isso acontece mais por

eles terem uma cabeça tradicional ou porque o modelo brasileiro hoje de educação tende

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a isso? Porque, querendo ou não, você, no final de tudo, tem que fazer um vestibular

para passar para uma universidade.

LCC12HSA: Acho que uma coisa influencia na outra.

Pesquisador: Entendi.

LCC12HSA: Eu acho que, assim, eles como eu ou como os filhos deles vão acabar sendo

depois, são moldados em determinada maneira que a criatividade acaba sendo morta, de

fato. Tem muitas vantagens e tal, mas essa é uma grande desvantagem, pelo menos, eu

vejo. Porque, pô, eu sinto que isso aconteceu comigo, vejo que isso acontece com os

alunos. E por conta disso, às vezes, fica difícil pensar em algo diferente. Principalmente

se você não trabalha com aquele meio, se você não pensa sobre ele diariamente. Então se

é algo que é realidade do seu filho, você vai se preocupar quando ele está com notas ruins

da escola, vai ser muito difícil você para pensar em o que poderia ser diferente. É raro

isso. E o modelo do vestibular com certeza influencia nesse tipo de coisa. Então eu acho

que são coisas que se retroalimentam. O modelo escolar tira a criatividade de coisas

diferentes e pessoas sem essa criatividade acabam propondo o mesmo modelo de sempre,

acabam exigindo o mesmo modelo de sempre. Então é uma via de mão dupla que acaba

se matando dos dois lados.

Pesquisador: E o que você acha que é a maior dificuldade na educação atualmente?

LCC12HSA: Essa pergunta é difícil.

Pesquisador: A maior ou um algum problema…

LCC12HSA: Uma das principais, de fato, pensar em novidades. É isso assim, conseguir

fugir e aplicar, de fato, modelos diferentes. Depende muito da vontade de muitos atores

envolvidos, o que é muito difícil você conseguir. Eu já vi ideias brilhantes que acabaram

morrendo no meio da burocracia, de “ah, um pai não aceita isso” e trinta e nove da turma

tiveram que ficar sem porque um não admitiu aquele tipo de coisa. Então eu acho que isso

é uma dificuldade grande no final das contas. E, ao mesmo tempo, essa questão

mercadológica também… Eu acho interessante quando a escola é altiva, no sentido de “a

gente sabe o que a gente tá fazendo”, a gente vai manter esse modelo, se

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você está insatisfeito, você pode procurar uma outra escola que não faça isso. Mas isso é

raro. Não há uma disposição de bancar esse tipo de coisa, de peitar esse tipo de situação.

Então eu acho que são as duas maiores dificuldade. Essa relação, a confusão cada vez

mais comum de aluno com cliente, isso é um problema muito sério. Se ele é o cliente, ele

tem a razão. Aonde você pode estabelecer um limite no que o aluno pode fazer? Muitas

vezes não se estabelece limite nenhum, né? Pode fazer tudo e acabou, sabe? Ao mesmo

tempo, essa dificuldade de inovar. Acho que esses são os dois maiores problema, de fato,

que a gente acaba enfrentando.

Pesquisador: E qual… Bom, você já está aí no mercado a doze anos, existe alguma

diferença dos alunos atuais, dos alunos que vieram de um tempo mais atrás?

LCC12HSA: Eu acho que pouco. Pelo menos no espaço amostral que eu acabo tendo,

muito pouca, sinceramente. Eu acho que a maior diferença que eu consigo ver é de uma

escola para outra. Porque aí envolve muitas culturas estabelecidas por aquelas escolas.

Então certas escolas tem alunos mais preocupados com o conteúdo, outras tem alunos

mais que vão tentar levar de uma maneira mais criativa ou até desinteressada, isso varia

de aluno para aluno. Então eu diria que essa é a principal diferença. Agora, de doze anos

para cá, não vejo essa grande mudança. Eu vejo muita gente falando sobre mudança, mas

eu entendo muito como síndrome da Era de Ouro. “Como era melhor antigamente, como

era melhor antigamente”. Só que se esquece que antigamente tinha uma série de

problemas. O que eu percebo, talvez, a mudança mais drástica que eu percebo e aí eu

atribuo muito isso ao Enem, ao avanço no caso do Enem, eu diria em relação as meninas.

E isso acaba refletindo nos professores com relação a uma intolerância maior por parte

das meninas, que eu considero positiva, com relação a piada machista ou coisa do tipo.

Elas estão mais engajadas com o movimento feminista e isso eu atribuo, no caso,

especificamente, ao Enem. Começou a trabalhar esse tipo de coisa e levou muita gente a

refletir em cima disso. Então coisa que doze anos atrás certos professores falavam, hoje

em dia, se falarem, são demitidos ou vão ter uma briga seríssima com a escola. Muito

professor antigo tá tendo dificuldade com isso. Então, assim, são acostumados com um

ambiente muito masculino, o ambiente do ensino médio é

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majoritariamente masculino, em que eles podiam fazer o que eles quisessem, tratar os

alunos da maneira que eles quisessem. Hoje, já não é mais exatamente assim, sabe? Então,

pô, que nem, sei lá, sei lá a quantos anos atrás piadas racistas começaram a não ser mais

aceitas, piadas machistas, hoje em dia… Então assim, cada vez tem menos espaço, no

caso, na sala de aula. Assim como homofóbicas da mesma maneira. O maior avanço, a

maior mudança que eu vejo nesse sentido, realmente, essa limitação que passou a

acontecer a isso, homofobia e machismo em sala.

Pesquisador: Legal. Bom, como é a sua relação com os alunos, assim, no geral?

LCC12HSA: Eu acho que ela é muito positiva. Eu sinto que eu tenho uma relação legal,

mas, ao mesmo tempo, tem que ter o mínimo de cuidado para você estabelecer que aquilo

é uma relação profissional. Então a relação profissional não pode se confundir com a

relação pessoal. Normalmente, no caso, quando… Normalmente, quando a gente acaba

tendo aluno confundindo as coisas, isso acontece, às vezes, e acham que é amigo, às vezes,

você tem problema por falta de limite, é isso. Então, apesar de eu sentir que tenho uma

relação boa, de eu achar que as coisas funcionam legal e tal, os alunos gostam de mim, eu

gosto dos alunos, em geral, é uma relação muito profissional. Enquanto eu estou ali, eu

estou fazendo o meu trabalho e, pô, não vou levar nada além daquilo, no caso, para depois.

Até tenho contato com poucos ex- alunos, no caso, hoje em dia, mas aí já são pessoas que

estão fazendo faculdade, coisa do tipo. E aí, é coisa de ir assistir a um jogo de futebol

juntos e coisa assim, sabe?

Pesquisador: Mas geralmente pós-formação?

LCC12HSA: Pós-formação.

Pesquisador: Enquanto formação ali… Facebook, Whatsapp, esse tipo de coisa, não

rola?

LCC12HSA: Facebook acaba tendo, no final das contas, acaba tendo. No Whatsapp,

alguns colégios pedem para você ter, mas muito com relação ao pré-vestibular. Mas é

muito uma questão de dúvida e de coisa do tipo. É coisa assim, grupo de turma e aí o

professor é adicionado naquele grupo de turma. Mas fora isso, não.

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Pesquisador: Mas os alunos te procuram fora do ambiente escolar para, enfim,

Whatsapp, Facebook, para tirar dúvida, para te procurar…

LCC12HSA: Procura, principalmente, ao se aproximar de provas, né? Tem muito aluno

que acaba procurando, porque está estudando e coisa do tipo. Mas é mais, é quase que

exclusivo, do pré-vestibular isso aí. Raras são as vezes que no ensino médio isso acaba

acontecendo. Então, a maioria das vezes no ensino médio, é aquele aluno que não prestou

atenção quando você falou em sala e quer perguntar “professor, qual é a matéria da prova

mesmo?”, é isso. Fora isso, é muito incomum eles tirarem dúvida no ensino médio.

Pesquisador: E qual a sua opinião em relação a isso?

LCC12HSA: Eu acho ruim porque a gente está levando trabalho para fora, para casa, né.

Mas dependendo de um limite, dá para ser feito e tudo bem. Entendeu em véspera de

prova, aluno mais nervoso, coisa do tipo, aí aproveito o momento que eu estou no metro,

qualquer coisa assim. Mas não perco um tempo que eu esteja em casa, num momento de

descanso, num domingo, num sábado de descanso para isso. Então ali eu realmente me

recuso a responder.

Pesquisador: Sei, sei, faz sentido. E em questão do uso da tecnologia, como é que

funciona? Nos colégios, por sua parte…

LCC12HSA: Isso assim, sinceramente, eu acho que tem uso positivo e tem uso negativo.

O problema é que 90% é o uso negativo, né? Então assim, até porque, você tentar

concorrer na frente, ensinando, no caso, a matéria que tradicionalmente é uma matéria

chata, Período Regencial para os alunos, e o cara tendo a concorrência, pô, de um

Whatsapp… Um adolescente na concorrência de um Whatsapp, de um Facebook, de um

GloboEsporte.com, é muito difícil. Então se ele tiver liberdade para usar a vontade, ele

obviamente vai escolher, no caso, o celular dele, as redes sociais, coisa do tipo e não a

aula. Nesse sentido, eu acho muito negativo. Varia de colégio para colégio, pode, não

pode. É lei que não pode, mas tem colégio que faz vista grossa, tem colégio que a

tolerância é zero. Puxou o celular, sai de sala, é isso. Então isso varia muito, no caso,

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nesse sentido. Eu acho que, sinceramente, em sala de aula, durante a aula, deveria ser

proibido e qualquer coisa que você queira puxar… Por exemplo, num pré-vestibular, a

tolerância é muito maior em relação a isso. Então o que acontece, às vezes, você faz um

comentário, tem uma foto assim, assim do cara. O aluno vai lá, procura e dá uma olhada.

Mas tendo projetor, tendo computador em sala, você mesmo pode ir lá e mostrar para

todo mundo. Então não tem essa necessidade que, muitas vezes, desvirtua. O que eu

percebo muito, em relação a tecnologia e para os alunos, e principalmente no se aproximar

das provas, isso acontece muito, terceiro ano isso é um problema sério, é crise de

ansiedade dos alunos. E é aquele aluno que não consegue ficar cinco minutos sem mexer

no celular. E aí, fica cinco em cinco minutos o cara puxa, toda hora o cara puxa, sabe?

Então assim, eu acho que é mais problemático do que positivo, nesse sentido, mas falando

especificamente do celular, porque eles estão muito habituados com isso. Então é tentar

entender que o espaço de sala de aula deveria ser um espaço livre nesse tipo de coisa.

Celular desligado em sala de aula, porque, se não, de fato, é uma concorrência desleal,

entendeu? É aquela, se eu pudesse escolher entre estar falando de Regência ou estar no

GloboEsporte.com, eu preferia estar no GloboEsporte, é isso. Então é realmente uma

competição que não tem como você fazer.

Pesquisador: Entendi. Em relação as outras tecnologias, vocês usam em sala de aula

alguma coisa além do projetor?

LCC12HSA: Isso varia muito de professor para professor. Tem professor, no caso, que é

mais ligado em tecnologia. Eu, realmente, sou um cara muito… Com relação a tecnologia,

lento, até, no caso, com isso acabo não trazendo muitas coisas. Muitas vezes por, de fato,

um desconhecimento. Mas tem muito professor que acaba fazendo sim, de fato. Tem um

professor de Química, por exemplo, que trabalha comigo que, pô, o cara entra em sala só

com um carrinho que ele leva, que ele já vai com o microfone próprio dele, com o iPad

dele que ele projeta, no caso, na sala Tudo, tem os programas que ele usa. Então isso é

muito mais de um interesse individual, de um conhecimento individual do professor, do

que uma regra ou qualquer coisa nesse sentido. Eu diria que ainda é minoria hoje em dia,

esse tipo de atuação.

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Pesquisador: E o colégio tem alguma atuação em relação a isso?

LCC12HSA: Em geral, liberdade. Você pode fazer da forma que você achar melhor. Se

você se entende bem com isso e gosta de fazer, vai fundo, e te incentiva. Se você, no caso,

é mais tradicional nesse sentido, tem dificuldade ou não se interessa, qualquer coisa do

tipo, faz da forma que você achar melhor. A gente vai avaliar se, tipo, se os alunos estão

aprendendo, se não estão aprendendo, se os alunos estão com alguma dificuldade ou não,

coisa do tipo. Então… Ou dentro de sala de aula, em geral… De novo, varia… Eu me

sinto afortunado nesse sentido, eu trabalho em lugares que me dão esse respaldo, mas

onde eu trabalho eu tenho autonomia para isso. Tem outros lugares que tem interferência

maior em sala de aula. Então varia bastante.

Pesquisador: Em relação aos alunos, o colégio… Vocês eles dão liberdade, mas para os

alunos é mais limitador… Tirando essa questão do celular de sala de aula, fora dela…

LCC12HSA: Sim, sim, sim. Também acho que varia nesse sentido. São modelos de

colégio. Modelos mais tradicionalista, que são, geralmente, modelos religiosos, coisa do

tipo, dão menos liberdade. Muitas vezes, cara, acontece, pô, projetos extraclasse, né? No

Santo Agostinho, isso é muito comum, eu sei que no São Bento acaba tendo também, no

Santo Inácio acaba tendo, mas é algo do tipo, de manhã, eles tem aula normal e a tarde,

para os alunos que se interessarem, eles podem ter um projeto, como Sociologia e Cinema

ou, no caso, eles vão ver o filme e vão discutir sociologicamente em cima daquilo. Ou,

pô, o laboratório de humanidades, onde eles vão fazer um trabalho com Geografia. Passei

de campo, trabalho de campo, para eles verem na prática parte da cidade, coisa que, muitas

vezes, eles não conhecem. Eles ficam muito na realidade de condomínio e coisa assim

deles. Então é interessante nesse sentido. E isso eu acho que expande muito o horizonte

deles, acho que funciona bem legal. Mas, como eu falei, né, isso varia muito. Os colégios

onde eu trabalho, especificamente, são bastante abertos para isso, tanto no Santo

Agostinho, como no Ao Cubo, tem muito trabalho de campo, coisa do tipo. Há um

interesse em fazer esse tipo de coisa. Então cada um vai fazendo isso. Mas, agora, já tive

experiência de colégios que, mais tradicionalmente mesmo, é a sala de aula, cuspe e giz,

como se falava e acabou.

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Pesquisador: E você acha que tem algum que funcione melhor? Você prefere algum?

Você acha que, por exemplo, você levar os alunos a campo, tentar relacionar mais ao dia-

a-dia deles ou coisa diferente, você acha que engaja mais o aluno? Ele tem mais interesse,

a aprendizagem é melhor…

LCC12HSA: Com certeza. Com certeza. Eu vejo muito isso, o próprio exemplo do Santo

Agostinho. Porque o aluno entra lá no segundo ano, ele nunca teve isso. E aí no segundo

ano, ele tem. Aí no final do ano, o nível de interesse, de engajamento de alguns alunos

que começaram o ano naquela mentalidade de, muitas vezes, pô, eu sou adolescente e eu

acho que é legal eu mostrar que eu não me interesso, né? Coisa do tipo. E chega no final

do ano, o mesmo cara que começava o ano, tipo assim, não ligando para nada e coisa do

tipo, no final do ano, o cara está super engajado, está perguntando. Eu atribuo muito isso

a trabalho de campo, a discussões em sala, a coisa desse tipo. Trazer para a realidade dele,

ele acaba se interessando mais, de fato. Acho que nada funciona melhor, pelo menos em

Humanas, que é a área que eu trabalho, nada funciona melhor do que isso. Isso traz,

aproxima ele do que a gente está falando, é isso.

Pesquisador: E essa questão de você, você falou de discussão com aluno, ocorre muito

essa discussão no dia-a-dia, um engajamento de tentar chamar outras pessoas para falar

durante a sala?

LCC12HSA: Isso é muito do professor, varia muito de professor para professor. Eu acho

que, em muitos momentos, é interessante que você faça isso, eu tenho certos momentos

específicos que eu gosto de propor o debate. Varia da turma, tem turmas que, pô, super

entram no debate, você fica a aula inteira, no caso, no debate. Tem turmas que são mais

caladas, mais tímidas, coisa do tipo, ou menos interessadas mesmo e que você fala e um

faz um comentário, outro faz outro e já acaba a discussão, é isso. Ou menos acostumadas,

de fato, a terem essa liberdade. Então varia de professor para professor, de aluno para

aluno, umas série de coisas. Eu acho que sempre tem que propor, né? Mas assim, tem

limites também, porque, às vezes, as coisas começam a ir para caminho que não tem nada

a ver e acaba o professor só estabelecendo “não, espera aí, a gente está fugindo do tema,

vamos voltar” e coisa do tipo, sabe? Mas funciona legal eles poderem

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expressar as opiniões deles, desde que eles aprendam, no caso, ali. E é nossa função fazer

aquilo ali como professor do ensino médio, fazer entender que a sua opinião enquanto sua

opinião sem base, sem fundamento, ela não tem muito valor. Então você acha isso porque?

E aí o cara tem que aprender a argumentar em cima disso. Tanto é que ele vai fazer uma

prova de redação e coisa do tipo. Isso é atribuição de todos os professores ensinar a ele

que uma opinião precisa ser fundamentada, não pode ser o acho pelo acho, é isso. E são

dificuldades grandes, isso é um problema difícil para eles porque eles vêm de muitas

certezas e é na hora de desconstruir essas certezas é complicado, até porque, acho que é

da idade mesmo achar que entendeu o mundo inteiro e, ao longo do tempo, vai percebendo

que não. Eles são criados, de fato, pela situação da cidade do Rio de Janeiro, em ambientes

muito homogêneos. Então eles conhecem, em geral, pessoas que pensam muito parecidos

com eles. Então é difícil ele ter o exemplo do diferente para ver, pô, porque alguém pode

pensar diferente de mim e coisa do tipo. Eu acho que você apresentar esse tipo de coisa é

educativo por conta disso, sabe?

Pesquisador: Legal. E voltando um pouquinho para a questão da tecnologia, além dessas

coisas em sala de aula, vocês estimulam, você estimula a procura fora de sala? “Ah, estou

com uma dúvida” “Procura no Youtube ou procura sei lá onde”.

LCC12HSA: Sim, sim. Não, inclusive, muitas vezes, faz indicação de filme, livro,

qualquer coisa. Conta determinada história, fala alguma coisa e, pô, se quiser saber mais

tem no livro tal. E aí, alguns “ah, qual o nome do livro?”, aí você anota, o cara vai lá e

escreve e tal, não sei o que. Ou “qual é o filme mesmo” e o cara vai lá e procura e coisa

do tipo. Então assim, a gente indica, se eles procuram ou não, varia muito dos alunos,

sabe? Então tem alunos mais interessados e menos interessados. Os mais interessados,

muitas vezes, correm atrás. Já aconteceu, muitas vezes, de estar de férias e aluno mandar

mensagem, no caso, no Facebook, perguntando “pô, li aquele livro que você falou e tal”,

“vi aquele filme que você falou e tal, foi muito legal para mim” e coisa do tipo. Então

acho que parte do aprendizado é em casa também. Então isso depende muito do interesse

deles, no caso, de correrem atrás. Acho que isso funciona muito melhor do

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que você passar um dever de casa, fazer visto em caderno, esse tipo de coisa que eu acho

que hoje em dia já não cabe muito mais.

Pesquisador: Legal. Bom, está acabando aqui, tem mais duas, três questões aqui para a

gente discutir. A questão da reforma do ensino médio, enfim, foi aprovado, teve toda uma

discussão em cima, falaram uma coisa, acabou que não foi aquilo tudo e fizeram uma

proposta lá e foi aprovada. Qual a sua opinião sobre a proposta?

LCC12HSA: Eu acho que é importante haver uma reforma, eu discordo do modelo de

reforma que está passando. Eu acho importante ter aumento da carga horária,

fundamental. O problema, eu não vejo como os governos, na situação econômica desse

momento, vão arcar, nesse momento, com esse custo a mais. E você pedir para o

profissional começar a trabalhar quase que o dobro de horas. Então, se nos governos

estaduais… Estou falando da esfera pública, então o governo estadual, o governo

municipal, o governo federal… Então, pô, às vezes, está atrasando o pagamento, vai pagar

o dobro? Então acho complicado nesse sentido. Ao mesmo tempo, acho interessante, no

caso, você apresentar uma lógica de eletivas. Acho problemático chegar na situação onde,

pô, as escolas podem escolher, no caso, que linhas elas vão apresentar. Pode acontecer de

uma cidade pequena… Obvio que no Rio de Janeiro, em São Paulo, isso não vai

acontecer, mas em uma cidade pequena você acabar tendo, por exemplo, as duas, três

escolas estão oferecendo a mesma única área. E aí, fica muito difícil para o aluno, no

caso, escolher uma… Tentar se profissionalizar em alguma outra área porque ele não

conhece, porque ele nunca teve, de fato, aula daquilo ao longo da vida dele. Então eu sou

contrário a forma como está. Acredito, sinceramente, que a tendência que vai acontecer é

que colégios mais ricos, colégios mais tradicionais, coisa do tipo, vão continuar do jeito

que estão por uma demanda dos pais, oferecendo todas as cinco áreas e coisas e tal,

pagando bem aos seus profissionais e coisa do tipo. Outros colégios, os mais baratos, os

de áreas mais carentes, os do tipo, não vão ter condições de fazer isso, vão baixar a

hora/aula do professor e vão começar a ter, cada vez mais, com a legalização da… Esqueci

o termo que foi usado… Notório saber, a questão do notório saber, vão começar, cada vez

mais, ter aula com pessoas que foram fazer faculdade de

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licenciatura por uma questão de “eu não tenho nada melhor na vida” do que, de fato, “eu

me interesso por esse tipo de coisa”. Então eu acredito, sinceramente, com a tendência do

ensino médio de gerar uma desigualdade cada vez maior nesse sentido. Então, os colégios

mais ricos, os alunos mais ricos, vão continuar tendo uma educação boa, que eles já tem,

e os mais pobres, eu acredito, imagino, que haverá uma piora significativa nesse sentido.

Pesquisador: E essa questão do aluno poder escolher a área que ele quer seguir?

LCC12HSA: Isso eu acho interessante, isso eu acho interessante. Eu acho que poderia

ser oferecido todas, como, no caso, eu falei do problema de uma cidade pequena e coisa

do tipo. Ou, pelo menos, em toda cidade tem todas as áreas oferecidas, não

necessariamente no mesmo colégio e coisa do tipo. Mas isso eu acho super interessante,

eles tem que ter o mínimo de autonomia e o nosso ensino médio, de fato, é muito

engessado. Mas eu não acho que seja exatamente da forma que está sendo feito. Meu

maior problema é a questão do notório saber que, de fato, eu acho um fato agravante. Eu

imagino que nenhuma pessoa ia querer ser consultada por um médico que não é médico,

mas ele tem notório saber naquele assunto. Então vou ser operado por um cara que “ah

não, ele já ouviu falar sobre cirurgia de estômago”, então ele pode fazer. É meio

complicado. É desvalorizar, no caso, a atuação profissional, sabe?

Pesquisador: E o colégio está tratando esse assunto com os alunos?

LCC12HSA: Não.

Pesquisador: Não?

LCC12HSA: Ninguém está falando sobre isso. É um assunto absolutamente ignorado e,

por experiência, o que eu acredito que vai acontecer é que os colégios com uma lógica

mais mercadológica vão começar a fazer as mudanças imediatamente, por uma lógica de

economia. De fato, você tirar certas obrigatoriedades, Filosofia, Sociologia, que, no caso,

podem começar a ser limitadas e coisa do tipo. Mas, no caso, os outros colégios, com uma

lógica mais educacional, de fato, menos bancária nesse sentido, vão levar do jeito que

eles estão levando até o limite. Quando estourar o prazo de transição, pelo

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menos é o que eu imagino, ali eles vão mudar por serem obrigados a mudar. Os outros

vão fazer não por uma lógica de acreditarem nisso, mas pela lógica de economia, como

gastar menos, sabe?

Pesquisador: Legal. E como você se aprimora profissionalmente na formação

profissional?

LCC12HSA: Livros e cursos. Então eu gosto muito de ter aula. Até hoje, eu faço muito

curso livre, muito na área de Ciências Humanas. Então eu faço muito curso de Filosofia,

Psicanálise, coisa do tipo. Ah, vai ter uma aula sobre não sei o que, não sei onde, sabe?

Então, semana que vem, no caso, vai ter lá na Casa do Saber, aqui no Leblon, um caso

sobre Canti. Como é uma área que eu não conheço, quero assistir. E, pô, livro. E filme,

em casa, muitas vezes, você acaba sentando e vendo um filme legal sobre isso, tem certas

informações legais, dá para passar um trecho para os alunos ou dá para comentar sobre

ele em sala de aula e tal. Acho que na minha área é fácil esse tipo de atualização. Não sei

se todas as áreas… Sei lá, não sei se em Física, por exemplo, ou Química seria fácil você

trazer esse tipo de coisa. Eu acho que sempre alguma coisa você faz, mas, talvez em uma

unidade seja mais fácil, mais paupável esse tipo de coisa assim.

Pesquisador: Você acha que esse aprimoramento constante influencia em sala de aula?

LCC12HSA: Com certeza, com certeza. Porque se não, daqui a pouco, você começa a

fazer referências que os alunos já não conhecem mais, você vai estar fazendo referência

a um programa ou a um filme que ninguém viu ou a um assunto que já passou a muito

tempo e ninguém lembra e coisa do tipo. Então é importante esse tipo de coisa para você

estar conhecendo o mundo do aluno.

Pesquisador: Aham.

LCC12HSA: Então você tem que tornar aquele conhecimento que você quer passar,

aqueles valores, no caso, que você acha importante para ele, algo minimamente no mundo

dele. E, pô, você não tem como fazer isso se você não souber como é o mundo dele, se

você não conhecer a realidade dele. Então acho que é essencial, sinceramente, é essencial.

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Pesquisador: Ah, esse ponto é legal, de tentar conhecer o mundo do aluno. Além desses

cursos que você faz por fora, você tem alguma outra prática que você faz para tentar

entender melhor o aluno? Ano a ano…

LCC12HSA: No diálogo. Conversar com eles eu acho que funciona legal. Eles, no ensino

médio, já são quase adultos, então você percebe muitos traços comuns assim e todos os

anos são mais ou menos a mesma coisa, outros você já vai percebendo uma certa mudança

e coisa do tipo. Mas assim, é através dessa conversa que você vai tendo essa noção, vai

percebendo qual é a realidade deles.

Pesquisador: E você tenta uma adaptação da forma que vai ser dada a aula…

LCC12HSA: Às vezes, na forma que você vai dar a aula e, às vezes, é bom para você

começar a abrir a cabeça mesmo em relação a certas questões, né? Então certas visões

mais antigas, já não sou mais da mesma geração que eles, obviamente, estou com trinta e

um anos, como eu falei e tal, então certas realidades da galera de dezessete anos já não

são, pô, coisas que… Eu com dezessete anos ia achar essas coisas um absurdo, mas para

eles é a coisa mais natural do circo. Porque assim, estou ficando velho. Eu tenho que

entender que, pô, no mundo de hoje, se é algo aceitável ou coisa do tipo.

Pesquisador: Legal.

LCC12HSA: Eu acho que a melhor forma é conversar, estar disposto a ouvir o que eles

tem a falar e não entender que você é o detentor do conhecimento soberano e você passa,

eles recebem e coisa do tipo. É uma troca. Muitas vezes, você aprende, no caso, faz algum

comentário em sala, o aluno vai e depois do final da aula e fala “pô, eu viajei para não sei

onde e aconteceu isso, isso e isso” e aprende alguma coisa nesse sentido. E muita coisa

que, inclusive, você pode aproveitar em aula, né? Então, pô, “dois anos atrás eu tive um

aluno que contou essa história assim, assim, assim e não sei o que” e é o que ilustra melhor

o que você tem para dar e coisa do tipo. Então essa troca é constante, realmente.

Pesquisador: Legal. Em questão da formação, há alguma ajuda do colégio, incentivo

financeiro ou mesmo motivacional de ir se aprimorando…

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LCC12HSA: Eu diria… Você diz em um mestrado, em um doutorado, em coisa assim

ou não?

Pesquisador: É, também, em mestrado e doutorado ou assim, “cara, vai se atualizar, vai

fazer alguma coisa”…

LCC12HSA: Na verdade, não. O incentivo que você tem é o seguinte. Se você ficar

muito tempo sem se atualizar, como reprodutor do conhecimento, a tendência é que a sua

aula fique para trás. E aí você pode perder o emprego. Então eu acho que a única

motivação, no caso, é, por parte do colégio, não totalmente implícita, mas é nesse sentido.

Obvio que você pode correr mais atrás, menos atrás, depende do seu nível de interesse,

tempo disponível, uma série de coisas. Tem uma particularidade da profissão de professor

em colégios particulares que em parte você é tentado pela sua própria ganância. Você

ganha por hora, então quanto mais você trabalha, mais você ganha. Então tem gente que

quer trabalhar demais, para ganhar demais, tem gente que, no caso, diminui. Eu fiquei

num ritmo muito pesado de trabalho até dois anos atrás. Ano passado eu dei uma leve

diminuída, por isso eu trabalhei em casa, queria levar menos trabalho para casa, esse ano

eu dei uma diminuída, inclusive, em sala de aula. Eu queria ter mais tempo até para me

atualizar. De todos os meus anos de atuação profissional, sem dúvidas, esse foi o que eu

me atualizei mais, porque eu tive mais tempo para colocar isso em prática. Mais

motivação para mestrado, doutorado, isso acontece exclusivamente na rede federal de

ensino. Na rede pública, porque, qual é o incentivo que acontece? Você tem um bônus no

seu salário se você tem um mestrado, um bônus ainda maior se você tem doutorado. Então

num CAP da UFRJ, no caso, no CAP da UERJ eu acredito que também tenha, mas eu não

tenho certeza… No CAP da UFRJ, no CEFET, numa FAETEC ou no Pedro II, seu salário

aumenta substancialmente tendo um mestrado e um doutorado. O que na verdade não

traz… A menos que seja um mestrado, doutorado em educação, não traz uma diferença

tão significativa em sala de aula. Por quê? Porque a gente é generalista em sala de aula, a

gente tem que falar sobre todos os assuntos. Você fazer um mestrado, um doutorado em

História, especificamente, você vai se aprofundar em um assunto específico que, muitas

vezes, você vai ter quinze minutos

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de uma aula para falar sobre aquele assunto que você estudou sobre quatro anos, sabe?

Então eu acho que é… Ao mesmo tempo que eu acho interessante por parte da rede

federal, no caso, de você fazer esse incentivo, essa motivação para você continuar

estudando, em termos de resultado prático disso, si não for na área de educação o

mestrado, o doutorado, ou uma Pós, no caso, em uma área de educação, eu tenho minhas

dúvidas em relação ao resultado efetivo disso em sala de aula. As escolas particulares,

tradicionalmente, até onde eu sei, via de regra, não tem qualquer incentivo para isso.

Então acaba sendo um problema, porque como você tem que dedicar muito tempo ao

mestrado e ao doutorado, você trabalha menos. No que trabalha menos, ganha menos.

Então muita gente acaba optando ou faz mestrado assim que se formou ou quando a carga

ainda era baixa ou não faz, é isso.

Pesquisador: Legal. E para fechar, é mais aberta a pergunta, se você pudesse mudar

alguma coisa na educação no Brasil, qualquer coisa, o que seria?

LCC12HSA: Eu acho que eu mudaria algumas coisas. Primeiro, educação integral, eu

acho que é fundamental isso. Então escola não pode ser algo de meio turno que o cara

estuda de manhã e a tarde ele vai dormir ou coisa do tipo. Acho importante que fosse

integral. Mudaria o horário, acho que sete horas da manhã não é um bom horário nem

para nós professores, nem para os alunos. Então a cabeça deles realmente não funciona.

Seria muito mais justificável uma aula começa as nove e indo até umas quatro, cinco da

tarde. Acho que seria melhor para todo mundo envolvido. Então a gente percebe muito o

sono dos alunos de manhã. E eu acho que incentivar alunos de sei lá qual idade, todos os

anos tem esse horário, a tomar café para ficar acordado, porra, não é a melhor coisa do

mundo, sabe? Então mudaria horário, mudaria o ensino integral. Acho que colocaria mais

atividades práticas nesse sentido. Então avaliações, no caso, práticas, nesse caso. E aí,

uma reforma do ensino médio poderia ajudar nesse sentido, mas, como eu disse, não é a

reforma que eu vejo acontecendo, a reforma que eu acho que seria, de fato, nesse sentido.

E, porra, turmas menores, por exemplo, uma turma de quarenta alunos, onde você tem

dificuldade de saber os problemas ou, no caso, situações que estão acontecendo ali. Numa

turma de quinze você consegue conhecer todos pelo nome e

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saber o mínimo, no caso, o histórico familiar ou coisa do tipo. Saber se está precisando

de uma ajuda e chamar para conversar em particular. Então eu crio uma relação de maior

proximidade para alguém que, de fato, passa muito tempo com eles. Então são algumas

questões que seriam importantes serem mudadas. Mas quem sabe, aos poucos, elas não

vão aí sendo. Hoje em dia, já se discute o assunto, o que já é um princípio. Ainda não é

algo muito praticado, não é muito comum, mas é um começo, acho que pode ser um

começo para quem sabe, daqui a vinte, trinta anos, as coisas estarem um pouco melhores

nesse sentido.

Pesquisador: Legal. Cara, é isso, você tem mais alguma coisa que você queira

comentar, que ficou faltando?

LCC12HSA: Acho que está tranquilo.

Pesquisador: Acho que a gente passou por bastante coisa aqui. Bom, obrigado mais

uma vez, foi ótimo, me ajudou bastante.

LCC12HSA: Beleza. Valeu.

Pesquisador: Obrigado.

RSB24BOLM

Pesquisador: Deixa que te explicar um pouquinho. É, eu to fazendo mestrado em Gestão

da Economia Criativa. Eu sou designer por formação e eu trabalho com uma área chamada

de experiencia do usuário. Enfim, a gente trabalha sempre com a parte do digital, sites,

aplicativos e tudo que envolve tecnologia e dentro dessa linha de designer a gente trabalha

muito com a experiência do usuário e eu resolvi dentro do meu mestrado estudar um

pouco sobre educação em sala de aula e essa questão da experiência do usuário, tentar

trazer conceitos do designer para dentro da sala de aula e dentro da educação. Enfim, é o

que eu estou estudando um pouco e a minha idéia agora

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é… nesse momento eu estou entrevistando alguns professores e alguns alunos do ensino

médio...

RSB24BOLM: É ensino médio?

Pesquisador: É ensino médio. É porque como é Mestrado, acaba que você tem que

segmentar bastante ali, qual é o público que você vai. Então eu achei que ficaria mais

fácil… não mais fácil, mas eu achei que era mais interessante entrevistar o pessoal do

ensino médio e porque eles já passaram bastante tempo no colégio e eles estão no processo

que vão para o ENEM, que tem algumas questões envolvidas nisso tudo, então eu achei

que seria interessante, assim, essa questão da adolescência que tem um momento um

pouquinho diferente…

RSB24BOLM: É para você, acho que teria mais coisa para você pesquisar, né? Porque o

mais novo, às vezes, tem menos coisa…

Pesquisador: Exatamente. E aí como nesse momento eu estou estudando um pouco sobre

experiência, tecnologia e tudo mais, eu achei que faria mais sentido esse público do que

o público mais novo, talvez...

RSB24BOLM: E seria mais difícil de você entrevistar, né?

Pesquisador: Sim, exatamente. E pra entrevistar seria um pouquinho mais difícil para

entrevistar essa galera mais nova. Então a idéia aqui é a agente bater um papo mesmo, tá?

Fica a vontade, não tem certo ou errado, gostaria de ouvir sua opinião, ela é mais

importante. Eu tenho aqui, só para lembrar um roteirinho, tá bom? Então para começar se

puder, falar um pouquinho sobre você, seu nome, idade e a quanto tempo você está dando

aula, em quais colégios que você dá aula, quais as disciplinas?

RSB24BOLM: Meu nome é RSB, eu me formei em 1985, fiz Ciências Biológicas, sou

professora de Biologia, nunca exerci a parte de Bióloga, sempre fui professora, mentira,

eu fiz mestrado. É, mas assim, aqui, eu trabalho aqui no colégio desde sempre. Eu terminei

a faculdade Biologia, aí eu resolvi fazer Farmácia. Não gostei, fiz um ano e detestei

porque tinha muita Química, detestei. Aí resolvi dar aula, mentira, resolvi fazer

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mestrado, aí fiz mestrado em Biofísica na UFRJ, fiz faculdade na Santa Úrsula e mestrado

na UFRJ em Biofísica.

Pesquisador: Caraca!

RSB24BOLM: Aí eu vi que não tinha nada a ver comigo, porque é muito competição,

muita confusão e aí eu falei: “Sabe de uma coisa? Eu vou experimentar dar aula”. Aí

desde sempre eu dou aula aqui, então vou fazer 24 anos aqui.

Pesquisador: 24 anos. Legal! E me conta um pouquinho, assim, é… porque você decidiu

ser professora?

RSB24BOLM: Eu sempre quis fazer Ciências, ser Bióloga, trabalhar com genética, com

clonagem e essas coisas. Só que o ambiente era horrível, aí eu fui me decepcionando, aí

eu falei: “O que que eu vou fazer da vida? Ah, de repente, eu vou, eu acho…” Eu sempre

gostei de dar aula, quando eu fazia trabalho no ensino médio, na faculdade, todo mundo

falava: “Nossa você fala bem, você gosta de passar a matéria…”, aí eu pensei: “De

repente, quem sabe”. No início, eu pensei que eu não vou ser professora, não vou aguentar

essas criaturas, porque adolescentes são terríveis, é uma idade terrível, aí eu falei: “não

tem nada a ver comigo, não é possível”. Aí, de repente, eu fui começando a conquistá-

los, aí fui começando assim… Aí agora eu amo. Aí foi assim, foi por acaso que eu entrei

dando aula, não foi assim: “eu quero ser professora sempre!”

Pesquisador: E você desde o começo deu aula para o ensino médio ou você já deu para

outras séries?

RSB24BOLM: Dei no ensino Fundamental 2, então eu dei aula aqui no colégio sempre,

no Fundamental 2, dei no ensino médio e, às vezes, dava de quinta a… sexta a oitava,

sempre de Biologia ou de Ciências. Aí depois, agora, graças a deus eu só dou aula para o

ensino médio. Não suporto mais… não tenho mais paciência para ensino menorzinho com

12, 13 anos, não tenho mais paciência não. Aí eu fico no ensino médio sempre, só que eu

dou aula de Biologia aqui é um colégio americano, então eu dou aula de Biologia

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em Inglês que é diferentinho. Ah, e outra coisa que eu lembrei quando eu falei que dou

aula de Biologia em Inglês, eu dei aula de Inglês também em cursinho.

Pesquisador: Ah é? E você já sabia Inglês ou você aprendeu inglês para dar aula aqui?

RSB24BOLM: Eu já sabia inglês.

Pesquisador: Tranquilo?

RSB24BOLM: Tranquilo não. Uma coisa é você falar Inglês e estudar Inglês. Outra coisa

você dar aula de Biologia em Inglês, não é fácil não, porque tem todos os nomes, eu tava

acostumada porque eu fiz mestrado, então os nomes eu sabia, eu sabia o que que era, mas

falar aquilo é diferente. Você saber ler: “Ah, eu sei, isso aqui é mitocôndria.” Eu lendo

em Inglês. Mas como é que você pronuncia isso? Entendeu? Tem uns nomes em Biologia,

vêm todos do Latim, ou é Latim ou é Grego, então é bem parecido com a gente, mas a

pronúncia às vezes é completamente diferente. Então eu tive que aprender, no primeiro

ano aqui, foi muito difícil, porque eu tinha que preparar a aula, que eu saí do mestrado

que era um nível lá em cima despenquei para o ensino médio, então tive que aprender a

falar com eles, ensinar a matéria de um jeito mais fácil para eles entenderem, não podia

usar termos que eles não iria entender e aprender os termos em Inglês para poder falar

certo, porque senão ia ser um desastre. Eu não podia ensinar errado o nome, porque senão

eles iam ficar falando errado. E se eu falasse errado eles iram ficar me corrigindo. O

primeiro ano foi difícil. E além disso tudo lidar com adolescentes que não era fácil não.

Agora eu me divirto com eles, mas no início não foi fácil não.

Pesquisador: E tem algum motivo de você só ter dado aula aqui?

RSB24BOLM: Porque aqui… Assim, eu comecei e fiquei aqui porque eu comecei com

20 e poucos anos e aí eu fiquei direto aqui e aqui é de 8h às 3:30.

Pesquisador: Meio que não dá...

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RSB24BOLM: Meio que não dá. Se eu tivesse visto outro colégio antes, às vezes, dá

para fazer de manhã em um colégio, de tarde em outro colégio, mas eu comecei a dar aula

aqui e aqui eu fiquei porque é de 8 às 3:30.

Pesquisador: Mas você dá aula de segunda à sexta?

RSB24BOLM: De Segunda a Sexta de 8 às 3:30. Aí é carga total a carga horária, aí não

sai mais daqui, eu já tô podre já, não consigo dar mais aula não.

Pesquisador: Entendi.

RSB24BOLM: Aí eu eu aula agora para o ensino médio, aí eu tenho várias matérias,

mas sempre ensino médio.

Pesquisador: Mas você dá aula para o primeiro, segundo e terceiro ano?

RSB24BOLM: Não, aqui é tudo diferente. Em escola americana é assim: você tem

Biologia um ano só, você tem Química um ano só, tem Física um ano só. Aqui no colégio

é obrigado a fazer Química, Física e Biologia porque além de ser um colégio americano

mas tem que cumprir a lei brasileira. Você não pode não fazer Biologia, não fazer

Química, mas nos Estados Unidos você pode fazer ensino médio e sair sem Química, sem

Física ou Biologia. Não é obrigado a fazer. Você escolhe uma ciência, Astronomia ou sei

lá o que e faz. Aqui não porque estamos no território brasileiro tem que fazer Química,

Física e Biologia, mas como é americano só tem um ano, então os 3 anos de Biologia do

colégio brasileiro tem que dar em um e aí eu tenho 7 aulas por semana.

Pesquisador: Entendi.

RSB24BOLM: É muito cansativo. Tem que juntar a matéria toda em um ano.

Pesquisador: Caraca. E geralmente o pessoal que vem pro primeiro ano, do nono para

o primeiro?

RSB24BOLM: Geralmente é isso. Biologia no primeiro ano, Química no segundo e

Física no terceiro.

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Pesquisador: Entendi. E as outras disciplinas quais que são?

RSB24BOLM: Aí tem Português, que é Português mesmo, não tem problema. Aí tem

História americana, tem História… tudo em inglês, tirando Português e História do Brasil

o resto é tudo em Inglês. Aí tem Matemática, tem Física, Química e Biologia, tem

Sociologia, tem Filosofia, tem as matéria todas para poder cumprir o Brasil, mas é tudo

Inglês.

Pesquisador: Entendi. E me diz uma coisa, você se sente prestigiada sendo professora?

RSB24BOLM: Hoje em dia nem tanto. Sabe quantos parabéns eu recebi no dia dos

professores? Um, um…nem lembro “ É feriado?”, “Ah, eu não sabia não?”.

Pesquisador: Mas você acha que isso mudou ao longo do tempo?

RSB24BOLM: Ao longo do tempo tá piorando, tá piorando.

Pesquisador: É? E você acha que tem algum motivo para isso?

RSB24BOLM: Eu não sei se assim, por exemplo, nem respeito eles tem mais, porque

eles não tem respeito pelos pais, aí nem respeito ele tem pela gente. Eles falam como se

fosse o pai… Eles não tem respeito pelos pais, então eles falam de um jeito que eu fico

assim… E quando falam comigo eu digo: “meu fofo, você não pode falar assim”. Você

tem que ter certas coisas, né? Assim, eles não gostam de estudar, não querem estudar,

acham que tudo não serve para nada. Eu falo para eles: “Vocês tem que fazer vestibular,

aqui no Brasil tem Enem, se tem Enem vocês vão ter que fazer vestibular, faz PUC,

ESPM, sei lá o que for. Essa matérias caem, enquanto não mudar essas leis daqui, vocês

tem que estudar isso, então bota na cabeça que pelo menos até lá tem que estudar

Biologia… você quer fazer Engenharia? Mas vai ter que estudar Biologia, não posso fazer

nada…”. Então é isso aí, mas eles não entendem isso.

Pesquisador: E você acha que isso mudou ao longo dos tempos?

RSB24BOLM: Não querer estudar, não, continua a mesma coisa, mas hoje em dia eu

vejo muita diferença em relação ao que eles têm em volta deles que é muito mais

divertido, muito mais interessante, do que ficar sentado numa sala de aula ouvindo

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aquele “blá, blá, blá”, então se eu fosse uma professora que só desse aula com giz,

escrevendo no quadro, eu tava perdida. Aí que entra a sua parte, eu não posso ser só uma

professora que fica escrevendo no quadro, eu não aguento não. Aí então, a minha aula…

Meu livro é e-book, eu não tenho livro físico, não tenho livro físico não é porque eu não

quero não, porque eu prefiro o físico, mas é porque o estado não exporta mais para o

Brasil e a gente conseguiu comprar o e-book, então, e ele não é baixado, eu preciso de

internet… é um inferno, porque eu preciso do computador funcionando, eu preciso que a

rede esteja funcionando, para poder, quando eu for usar o livro, o livro esteja funcionando.

Aí, todos eles têm laptop, ou eles trazem de casa ou o colégio fornece, então tem coisas

que eu faço que eu preciso de laptop. Uma coisa que mudou, assim, eu não uso mais

papel, tudo meu tá no site, o colégio tem um site que é (palavra não identificada). Você

coloca tudo que precisar ali, então eu já cortei, ficar imprimindo e gastando papel. Então

eles veem em casa, eu uso sempre PowerPoint para dar aula, então, quando eu comecei

aqui, professor de Biologia tem muita coisa para desenhar, então é muito desenho, é muito

detalhezinho, então eu não posso ficar só usando o quadro. Então antigamente eu usava

transparência, então a coisa já melhorou, então em todas as minhas aulas eu uso

PowerPoint e eles têm acesso em casa. Então eu falo para eles: “Não precisa ficar

copiando isso aí porque isso vocês tem acesso em casa, prestem atenção no que eu estou

explicando”. Porque, às vezes, eu vou para o quadro, escrevo alguma coisa, mas quer

dizer, isso facilita, está tudo bonitinho, eles podem ter acesso em casa, os exercícios eles

têm acesso em casa, o livro eles podem abrir em casa. O livro daqui é muito grosso, parece

uma lista telefônica, então no E-book, é mais fácil, mas o que que é desvantagem? Às

vezes, a internet esta lerda, aí eu não consigo abrir, aí o computador está sem bateria. Aí

rola, eu dou aula no segundo andar, o computador está no terceiro, mas parece que está

em (palavra não identificada) porque ela tem que ir, pegar o computador e voltar…

demora. Aí já vai perdendo o tempo. Então tem coisas boas e tem coisas ruins, né?

Pesquisador: Entendi. E como é que é a sua relação com os alunos?

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RSB24BOLM: Eu adoro dar aula, eu dou tanta bronca, mas não adianta, eles me adoram.

Eu sou assim, meio mãe. Eu dou bronca, falo as coisas que tem que fazer. Você tem que

seguir as regras. Aí eles tem que aprender que existe um limite que eu daqui não pode

passar. Eu brinco, eu faço gracinha, mas dali não passa porque senão eu viro um bicho.

Então eles tem que aprender e aí pronto, aí eles adoram. Aí, por exemplo, eu dou bronca,

mas eu faço carinho. Aí vêm me contar de namorado, de namorada. Aí eu sempre fico

numa relação bem afetuosa. Mas não esquece, eu sou professora, não sou sua amiga,

sempre falo isso.

Pesquisador: E você acha que essa relação auxilia no aprendizado?

RSB24BOLM: Ajuda, porque se for assim, não dá não, se for só uma coisa seca, não é

faculdade… eu falo para eles, aqui é um mundo que lá fora não vai ser assim, a faculdade

não vai ser assim. O professor não quer saber da sua vida, de nada. Aqui não, eles sentam,

eu vejo, tá com cara ruinzinha eu pergunto o que que aconteceu. Eu converso, aí eles vem

conversar comigo. Aí, às vezes, chora, às vezes, contam um negócio que aconteceu. Se

não for esse vínculo é muito difícil. Às vezes, eu consigo que

o aluno tire nota boa porque gosta de mim. Aí eu falo: “ Vou ficar triste”, “não professora,

eu vou estudar, eu vou estudar”, aí estuda por causa disso. Não gosta da matéria, odeia

Biologia, “mas eu não vou tirar nota baixa com você não, pode deixar que eu vou estudar“.

Aí eu consigo que tire nota boa, mas tem uns que nem isso eu consigo. Mas facilita, só

muito seco assim, ensino médio, não dá pra ser muito “pão, pão com queijo” tem que

conversar, tem que fazer carinho, dar bronca de vez em quando. Aí eu dou muita bronca,

“ Você não gosta de mim?” eu falo: “Eu gosto meu filho, o que uma coisa tem a ver com

a outra? Sua mãe não dá bronca em você não?”, “Não” , “Mas eu não sou sua mãe não,

eu vou dar bronca sim.”

Pesquisador: E você tem relação com eles fora do colégio? Por Facebook, WhatsApp,

ou por...

RSB24BOLM: É, é… meu Facebook é de aluno, eu não tenho quase nenhum amigo… é

10% de amigo e 90% de aluno.

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Pesquisador: Mas vocês conversam também, por exemplo, questão de dúvida, essas

coisas?

RSB24BOLM: Também já faço isso de vez em quando. Às vezes, quando tá em véspera

de prova começa a pipocar coisa “Ah, me ajuda?”, eu ajudo. Uso o Facebook às vezes

para… assim, eu nem posto mais nada, mas eles ficam lá e, às vezes, eles e perguntam as

coisas pelo Facebook. Já usei muito Twitter para dar aula, eu mandava… isso quando a

turma é muito boa, tá? Mandava assim, textos científicos, pequenininhos, que eu

conseguia, alguma notícia que saiu interessante do mundo, uma descoberta, sei lá,

qualquer coisa, aí eu mandava o link e alguma coisa que eles conseguissem, não o paper

mesmo, aí eles tinham que ler e tinha que tentar resumir nos caracteres do Twitter, aí

quem fizesse aquilo naquele período… De noite isso, mandava lá: “Hoje eu vou colocar!”.

Aí de 8h às 9h, quem conseguisse fazer eu dava um pontinho, aí eles gostavam de fazer

isso.

Pesquisador: E você acha que a maioria fazia ou a maioria não fazia?

RSB24BOLM: A maioria fazia, eles gostavam.

Pesquisador: Legal. Mas você acha que eles faziam isso para conseguir a nota ou porque

eles estavam bem engajados?

RSB24BOLM: Era divertido para eles, fazer um negócio fora que que não precisa do

colégio, usar uma rede social, era uma coisa diferente. Se for coisa diferente eles gostam

de fazer. Nem todos, sempre tem as suas exceções. Mas quanto mais coisa diferentinha a

gente arranjar para eles fazerem, é mais fácil. Eu gosto muito de fazer vídeo com eles,

que eles adoram. (palavra não identificada) tem um monte comigo. É assim, eu tenho um

tema, em vez de fazer eles apresentando um trabalho com… no meu tempo era cartolina,

né? Depois passou para o projeto, transparência. Agora não, eu peço para eles fazerem

video. Aí eles fazem historinhas, fazem novela. Eu dou um tema: ecologia, poluição,

clonagem, tecnologia o que for. Aí, cada um tem tema e eles te o grupo e fazem um vídeo,

aí pode ser documentário, bem simpleszinho, tá? Porque é ensino médio. Mas assim, aí

tem documentário, eles fazem como se fosse o Fantástico, Jornal

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Nacional, aí inventam, fazem comercial no meio, aí eles também se divertem fazendo

isso, no início eles falam: “Ah, é muito difícil”, eu falo: “Não, não precisa fazer

tecnologicamente, bota um Movie Maker, alguma coisa e faz”. Aí depois que eles fazem

o primeiro eles adoram. Aí não querem mais fazer a apresentação do trabalho formal, eles

não gostam não.

Pesquisador: E como é que você prepara a suas aulas? Você já tem algo programado

para o ano inteiro?

RSB24BOLM: 99,9% minhas aulas estão prontas porque eu dou aula aqui 200 anos. Já

sei o material, já sei tudo bonitinho, então, quando eu consigo é melhorar as coisas. Então,

por exemplo, eu tenho aula hoje de, dei aula de genética. Eu já tenho um PowerPoint

pronto, já tenho os exercícios prontos, mas aí o que que eu tenho que fazer? Eu tenho que

olhar o que tá caindo no vestibular da PUC, por exemplo, esse ano tem uma matéria que

normalmente não caia a PUC nunca perguntava na Biologia, de repente, perguntou na

prova que não é específica, eu falei: “Ah, Jesus”. Aí eu já tive que mudar um pouquinho,

adicionar isso. Porque assim, eu tenho a Biologia normal que é de (palavra não

identificada) e tenho as eletivas. A eletiva tem uma Biologia avançada que essa matéria

cai sempre, eu estudo sempre porque… e tem uma Biologia que eu dou em Português no

último ano, quem está interessado para ver os termos, para ver as coisas, normalmente é

para quem vai fazer Medicina. Que aí a gente estuda Biologia em Português que aí eu só

faço vestibular, eu pego tudo, PUC, todas as faculdades de Medicina e faço com eles.

Essas matéria que era muito específica eu sempre dava nessas outras eletivas, não na

matéria principal, então agora eu faço isso. O geral, o conteúdo principal da matéria tá

pronto. Tenho o Power Point, tenho os exercícios, tenho 20 anos de provas, mas eu sempre

fico de olho no que está acontecendo, aí eu vejo “Ih, caiu isso”. Aí eu tenho que mudar.

Aí eu dou uma melhorada, assim, o PowerPoint tá pronto, aí eu dou uma melhoradinha,

vejo uma coisinha ou outra “Ah, ano passado eu dei isso e foi interessante”, aí já adiciono

alguma coisa, mas 99% das coisas estão prontas já.

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Pesquisador: Entendi, legal. E como é que a proposta Pedagógica do colégio influência

no que você tem que passar? Porque tem um pouco dessa relação da proposta do colégio.

Tem o ENEM...

RSB24BOLM: É muito complicado, porque assim, o colégio é americano e é brasileiro

então assim, eles não cobram. Eu tenho que dar o que o colégio… o currículo brasileiro

é muito mais extenso do que o americano então, se eu cumpro o brasileiro eu estou

cumprindo o americano. Então eu nem me preocupo muito com o americano, é sempre o

brasileiro. Aí eu tenho e o colégio cobra, que eu tenho que cumprir isso tudo e é difícil

porque em um ano eles não têm noção da quantidade de 7 tempos por semana? Porque

nos Estados Unidos é muito mais light é muito menos profunda a matéria e um ano não é

tão terrível, mas aqui no Brasil essas três anos em um, sintetizar em um é muita coisa. E

o que o colégio cobra é que não seja aula só de giz, que tenha a parte tecnológica, eu tenho

o laboratório que eu faço laboratório. No laboratório eu preciso de muita coisa de

tecnologia de computador porque eu tenho um programa no computador de para fazer

medida de gás carbônico, tem uns programas que veio dos Estados Unidos para fazer isso

que é interessante, então não pode ser só aula...

Pesquisador: Ele… O colégio pede para não ser.

RSB24BOLM: Pede para não ser. Não tem assim… O colégio pede mas eu acho que tem

que ser as duas coisas, eu não posso dar só uma aula tradicional como antigamente, mas

só também tecnológica e esquecer o conteúdo também não dá e tem muita desvantagem.

Eu acho que, hoje em dia, o aluno é tudo tão rápido para ele, é tanta informação que assim,

eu tenho uma turma agora desse primeiro ano que eles não conseguem ler, não é não

conseguem ler se mandar ler eles leem agora, eu mando ler um texto, não tem paciência

para ler texto mais, porque é tudo rápido, é computador, ele não tem mais paciência, para

sentar, ler, eu falei: “Como você vai fazer Enem que é um texto do tamanho de um bonde,

analisar as coisas? Vocês tem que aprender”. Eles não tem mais paciência e eu acho que

uma das coisas é a tecnologia que eles têm acesso a tudo, é 500 mil coisas, outra coisa,

computador. Meu livro é e-book, sabe o que que eu tenho que fazer? Eu tenho que ficar

atrás da sala olhando o que eles estão fazendo,

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porque se eu não fizer isso, eles vão abrir outro site. Aí eu tenho que ficar tomando conta

de criatura de 16 anos. Aí eu tenho que ficar: “Não sei quem, cadê o livro?” porque se eu

piscar, é Globo Esporte, é Neymar no PSG então eu tenho que ficar de olho no que eles

estão fazendo. Aí meu livro é E-book, aí se eu mandar fazer o exercício do livro, direto

eles entram na internet e pegam a resposta em vez de fazer o que tem que fazer, aí eu falo:

“Você está enganando a quem? Está enganando é você, porque quando for na prova você

vai pegar o que? Então, não pode” aí nessas horas eu tenho que fazer o que? Eu tenho que

pegar o exercício, às vezes eu tenho que tirar cópia, porque se eu deixar direto do livro

eles vão na internet direto.

Pesquisador: Entendi. E você falou do laboratório, quando é que você usa o laboratório?

RSB24BOLM: Para cada matéria que eu tenho eu tenho um laboratório, para cada

matéria, então eu dei Genética-Sangue, tem laboratório. Dei Ecologia, tem laboratório.

Todos os pontos da matéria tem laboratório para fazer. Não pode ser só aquela coisa....

Eles tem que ver. Eles gostam de ir para o laboratório, eles não gostam de fazer o relatório,

porque tem relatório, aí dá trabalho, aí eles não gostam de fazer. Outra coisa, eu lembrei

de outra coisa que de repente é importante para você, tem um site o (palavra não

identificada). Você conhece?

Pesquisador: Não.

RSB24BOLM: Ah, é muito bom, é um site que eu peço... upload do relatório deles e aí

ele dá a cópia no mundo todo. Se você copiou alguma coisa, eu vejo em Inglês, mas tem

em Português, ele dá a cópia de onde é a cópia .

Pesquisador: Caraca.

RSB24BOLM: É muito bom para quem está fazendo tese. Aqui no colégio tem programa

de tese, não é tese, é uma monografia, então assim, a gente coloca o trabalho da pessoa

nesse site e direto ele diz, copiou ali, copiou aqui, copiou tudo. Ele mostra de onde vem,

é uma doideira. Às vezes eles copiam deles mesmos, tão patetas que você tem um, aí eles

pegam leem, mudam um pouquinho, achando que eu não vou

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reconhecer, aí você sabe quem fez e quem copiou e mostra a quantidade de similaridades,

de cópia e às vezes eles copiam da internet mesmo, dos sites. Aí eu falo: “Não pode uma

conclusão ser igual a de outra pessoa, meu fofo, não pode. Nem para você ler…". Às

vezes, tem 50% de cópia, 30% de cópia, é outra coisa que eu uso para fazer de tecnologia.

Pesquisador: Entendi. E quando vocês vão para o laboratório eles interagem também ou

é você mais interagindo e eles ficam...

RSB24BOLM: Não, aí eles que interagem, eu dou as directions, as direções que eles tem

que fazer, eles tem grupinhos, é só em dupla, é sempre em dupla e eles tem que fazer as

coisas, aí eu fico rodando, perguntando o que eles estão fazendo, se estão fazendo certo,

senão estão fazendo certo, se estão fazendo besteira, mas antes disso tem que fazer que

não pode cheirar nada, não pode beber nada, não pode tocar em nada. Cuidado com a

água quente, cuidado que tem gás, cuidado com não sei o que, se fizer isso eu mordo, aí

eles sabem, então tem que ser bem direcionado porque não pode fazer nada errado, não

pode correr, não pode pular porque tem coisa de vidro, vai quebrar, cuidado, aí eles vão.

Aí, eu escolho as duplas e normalmente a gente faz junto, às vezes tem uma experiência

e eu vou falando: “Tem que fazer isso”, aí todo mundo faz junto, as duplas fazem os 3

experimentos separados, raramente eu faço eu mostrando as coisas.

Pesquisador: Ah, legal. E tem uma razão específica para isso?

RSB24BOLM: Não, porque é bom eles fazerem as coisas, né? Às vezes, até

demonstração, por exemplo, eu vou fazer semana que vem sangue, aí eu vou fazer tipo de

sangue. Aí tudo bem, sou eu, eles ficam em volta de mim, eu peço voluntários, faço tipo

sanguíneo, mas normalmente tem experiência e cada um tem as coisas. No meu tempo

não tinha isso não, eu estudei em colégio público, então não tinha essas coisas não e tem

coisas que eu fico… Eu extraio DNA aqui, quando é que eu ia fazer isso num colégio de

ensino médio? Eu fui fazer isso na faculdade quando eu estudei Biologia. Ai eles ficam:

“Ah, é DNA mesmo.” eu falei: “É DNA. DNA de morango, mas se você tirar as células

da boquinha vai ter, no seu sangue vai ter”. Eles adoram.

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Pesquisador: E tem algum motivo para ser em dupla?

RSB24BOLM: Porque o colégio, aqui, as turmas são muito pequenas, então assim,

minhas turma maior tem 14 alunos. Então é duplas, às vezes é trio, mas normalmente é

dupla.

Pesquisador: Entendi. E há troca de conhecimento entre os professores? Tanto de

conhecimento assim, técnico como…

RSB24BOLM: Interação, deveria ter mais, tem muito pouco. Às vezes eu to dando uma

coisa aqui eu preciso… às vezes a gente pede, conversa, assim, eu to dando uma coisa de

Biologia que eu preciso que o professor de Química dê na nona série PH, não sei o que.

A gente interage, fala isso que eu preciso disso depois, mas poderia ter mais. Por exemplo,

às vezes, eu interajo com Matemática, eu to dando nessa minha aula de eletiva que é

avançada, essa aula é AB o nome Biologia Avançada, é um curso que eles fazem aqui, aí

depois eles fazem uma prova que vem dos Estados Unidos, e esse aluno se passar nessa

prova, quando ele for para os Estados Unidos ele não precisa fazer Biologia, ele ja ganha

o crédito, ganha um crédito e economiza dinheiro, porque cada crédito é um dinheirão,

então assim nessa Biologia avançada tem estatística, eles tem que saber tem estatística, aí

eu não sei, eu sei um pouquinho, eu sei aplicar o teste que eu preciso, mas ai eu interajo

com o professor de Matemática porque ela tem essa aula de estatística então a gente

interage aí e uma ajuda a outra, eu falo: “olha, vocês vai estudar estatísticas (palavra não

identificada) para eles e eu vou precisar aqui”. Genética eu preciso de probabilidade, já

falei com Matemática, “Olha só vocês vão estudar isso? Fala para ele a gente vai estudar,

eu preciso de probabilidade”. Geografia eu tenho os Biomas, que é Biogeografia, a gente

estuda mais ou menos… a abordagem é diferente, mas tem aparecido (palavra não

identificada). Mas podia ter muito mais, eu acho que podia ter muito mais.

Pesquisador: Legal. E você tenta de alguma forma relacionar o conteúdo que tá dentro

de sala de aula com fora, com o mercado?

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RSB24BOLM: Muito porque eles não tem noção de nada em todos os sentidos, eles não

tem noção de absolutamente nada que se passa no mundo. Esse colégio é uma bolha e

eles acham que aqui o mundo é isso e eu falo para ele que não é de todas as formas . Por

exemplo, vocês não precisam saber. Biologia é uma coisa muito geral, você tem que saber

uma coisa geral de vocês até de muito corpo humano vocês não precisam entender tudo e

ser expert, mas olha só, o mundo é o mundo de vocês, tem que saber, “Ah, mas porque

eu tenho que saber isso?”. Porque você é seu intestino, é o seu estômago, você tem que

entender o que está acontecendo, a sua célula, como é que acontece, para ver que não é

uma coisa tão inútil. Uma outra coisa muito simples, eu to dando bactéria, vírus e doenças,

a maior parte é Saneamento Básico, eles não entendem o que é isso, eles não entendem

que as pessoas, tem gente que não tem banheiro, eles não entendem que tem esgoto, que

tem gente que mora com o esgoto a céu aberto, ai eu falei: “Gente vocês têm que lavar,

limpar, higienizar as coisas porque vocês pegam essas doenças através de cocô, você não

esta comendo cocô, mas a contaminação do cocô no meio ambiente, aí termina indo para

a sua comida, para a sua água e não é porque você tem dinheiro ou não tem dinheiro, você

não sabe quem manuseou aquele alimento antes, se também tem higiene, “Mas todo

mundo tem banheiro.”, eu falei: “ Não tem não, eles não tem não”. O nível sócio-

econômico aqui é muito alto, eles não tem ideia que tem gente que não tem banheiro,

“Porque na minha casa eu tenho banheiro, minha mãe tem banheiro, meu pai tem

banheiro”. Eu falei: “Fofura, mas não é assim no mundo”. Eles não tem noção das coisas.

Coisas básicas, eles não tomam conta das coisas dele, eles tem Mac, eles largam o Mac

no chão, eu falei: “Isso é R$ 10.000,00, pelo amor de Deus” eles não estão nem ai,

entendeu? eu falei: “ Gente, isso custa caro”. Eles não têm essa…

Pesquisador: E você acha que isso é questão do dinheiro, que vem de casa, de educação?

RSB24BOLM: Vem de casa, é educação. Você pode ter dinheiro e ser uma pessoa

educada, então é de casa. Eu vejo muito assim, às vezes, eu dou as broncas ou eu dou as

regras, os pais não fazem isso, acho que falta um pouco… eu converso muito com eles,

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às vezes, o pai viaja muito, a mãe viaja muito, eles ficam muito sozinhos, aí quando fica

com o pai e com a mãe é pouco tempo, o que eles pedem os pais fazem, não tem não. Eu

falo não, cansei de ouvir: “Não pode fazer isso, não pode fazer isso, não vou mudar de

idéia”. Aí eles perguntam 5 vezes, 7 vezes, eu falei: “Eu não vou mudar de idéia”. “Mas

a minha mãe quando eu peço 5, 6 vezes ela muda”. “Mas eu não sou sua mãe, é não e é

não”. É isso que eu to falando, é de casa, aí eu tento sempre mostrar as coisas. Por

exemplo, eu peço para eles lerem o jornal porque eles não leem jornal, não precisa nem

ser papel ou internet, seja o que for, mas tem que ler. Aconteceu um desastre, alguma

coisa ecológica, leia porque isso vai cair no Enem e isso é importante. Papel, para de

gastar papel, às vezes, não escreve nada, arranca folha do caderno, joga fora. Quantas

árvores você tem para fazer isso. eles compram coisas… “vocês já leram que se você

comprar um par de sapato, quanto de água foi gasto para fazer isso?” O mundo é esse

mesmo. Eu dou aula de Biologia. Em ecologia não vem material de fora, não tem água,

aí eles ficam brincando, os menorezinhos, né? No meu quarto andar tem o fundamental,

aí eles ficam brincando de guerrinha de água eu falo: “ Gente, água, tem lugar que não

tem água, entendeu? Não é para fazer isso”. Mas eles não entender muito não. “Não tem

água não, tem lugar que eles morrem de sede, andam 5 KM para pegar água, vai com

água na cabeça”. Tem que ficar falando essas coisas para eles, senão eles não tem a

mínima ideia não.

Pesquisador: E como é que são as avaliações no colégio e como são as suas avaliações?

RSB24BOLM: Ah, minhas avaliações… O colégio pede para ter 3 ou 4 testes e provas

mesmo. Mas eu dou muito mais, como eu tenho 7 períodos por semana, esse último

bimestre por exemplo, eu tive 6 provas e eu tive 7 relatórios, 7 Lab Reports, isso são os

formais, minhas provas e os relatórios, o que eu falo Lab Reports. Fora isso, às vezes, eu

mando fazer uma exercícios em sala, eu pego e dou nota. Às vezes, eu faço uma leitura

em sala, mando uma coisa pequenininha e dou nota. Às vezes, eu pego uma materiazinha

que eu to vendo que eles não estão estudando, aí eu dou uma provinha surpresa, uma

coisinha facilzinha, mas quem estava prestando atenção consegue

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responder, e dou nota. Aí tem os vídeos que eu dou nota, tento fazer umas coisas

diferentes.

Pesquisador: E nessa questão, além de provas, tem trabalhos também?

RSB24BOLM: Tem trabalho. Assim, eu posso fazer uma pesquisa, mando fazer uns

projetinhos. Às vezes, eu mando fazer coisas mais simples, Às vezes, eu peço uma

coisinha bobinha para eles leem, eu tento fazer… eu sou de Biologia, não sou de línguas,

mas eu tento fazer eles lerem, porque eles não têm paciência e não gostam. Às vezes, eu

mando eles lerem uma coisinha assim: “Vamos ler alguma coisa meia hora, vamos ler

uma coisinha e tenta fazer, pensar e entender e resumir e me apresentar”. Eu também dou

nota. Tento fazer coisas diferentinhas. Mas assim, o formal mesmo é o Lab Report e a

prova. Aí, às vezes eu tenho umas idéias e peço para fazer, mas é sempre menor ponto.

Pesquisador: E essas provas e esses testes mais formais eles são individuais, sem

pesquisa, sem nada?

RSB24BOLM: Individuais, sem pesquisa. Normalmente a prova é individual, eles dizem

que a minha prova é muito difícil porque tem que pensar então, tudo que não for decoreba

é difícil para eles. Se eu tiver que botar um texto maiorzinho, e isso está piorando com o

tempo, de quando eu entrei aqui a agora, se eu botar um enunciado que tenha 5 ou 6 frases,

linhas, eles não vão até o final, eles tem preguiça. Então eu sempre boto coisas do dia-a-

dia, então eu boto uma história que eles tem que ler, tem que pensar e tem que resolver.

É muito difícil e está cada vez ficando pior, é sempre direto, o que que é isso, o que que

é aquilo, defina, se for isso tudo bem, se for alguma coisa para pensar é muito difícil. Às

vezes, eu dou prova em dupla, lá para o final do ano eu sou mais boazinha e dou prova

em dupla ou então, às vezes, eu deixo fazer com consulta, mas normalmente a prova é

individual.

Pesquisador: E essa questão de estar piorando aí a questão dos alunos. Você acha que

tem motivo para isso?

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RSB24BOLM: Leitura que eles não leem, eles não leem mais e escrever esta cada vez

pior a escrita deles esta cada vez pior, então eles estão acostumados, eu acho, é tudo rápido

no computador é tudo rápido, então eu acho que eles não tem mais paciência para ler e se

você não ler, você não sabe escrever, se você não ler, você não consegue interpreta, eles

não estão… está cada vez pior. A letra está piorando assustadoramente, eles não

conseguem… é uma coisa assim, é ensino médio e tem aluno que não consegue escrever

na linha, a letra sobe, parece criança que está aprendendo, tá muito complicado.

Pesquisador: E isso tem algum período que você viu de um tempo para cá?

RSB24BOLM: Uns 10 anos para ca, 5 anos está cada vez piorando. Uns 5 anos para cá

está terrível. Até o motor deles está piorando, de você escrever de você cortar as coisas,

coisas bobas de você cortar, desenhar, pintar está pior. É porque meus Lab Report, às

vezes, tem muito desenho, vai ter flor, vai ter que desenhar flor, desenhar inseto,

desenhar… é cada desenho que assim, nem que você saiba desenhar, você consegue olhar

isso aqui e você consegue fazer alguma coisa parecida, mas sai cada coisa que parece de

criança, está horrível e esta piorando cada vez mais, aí não tem paciência para pintar, não

tem paciência para fazer um detalhezinho, não tem mais paciência para nada, até os bons

alunos é complicado.

Pesquisador: É mesmo? Nossa. E o que você acha que é o grande desafio hoje na

educação, no ensino.

RSB24BOLM: Tentar que as aulas sejam interessantes, que eles consigam aprender, que

por mais que eles achem que a matéria do ensino médio é inútil, não é inútil. Então, cada

dia é matar um leão, eu tenho que ensinar isso, eu tenho que fazer eles terem atenção,

tenho que fazer eles estudarem, isso é muito difícil hoje em dia e foi mais fácil no passado

não muito distante. Era bem mais fácil e está cada vez pior e cada vez tem que inventar

mais coisa diferente para fazer porque senão não vai, aí fico procurando coisinha na

internet, eu pesquiso assim, de trabalhinho diferente de coisinha diferente, porque se for

só eu dando aula é um desespero.

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Pesquisador: E como é que você utiliza a tecnologia, assim, tanto dentro de sala de aula

quanto fora de sala de aula?

RSB24BOLM: É isso que eu to falando para você, tudo meu é e-book, eu pesquiso as

coisas pela internet, como o colégio é americano, tem muita universidade americana que

tem muita coisa para o ensino médio eu procuro pegar. Às vezes, tem muito trabalhinho,

assim, por exemplo, estou dando de genética, aí, não to no laboratório, aí eu tem uma

universidade americana que tem muito trabalho para ensino médio, para professor

mesmo, aí eu já pego, já baixei, já cortei, poderia fazer a aula só o probleminha de genética

para eles resolverem, mas aí tem uma coisinha mais diferentinha, aí eles acham mais

divertidinhos. Mas aí se não fosse a internet e eu conseguir ver lá nos Estados Unidos, eu

não ia conseguir pegar isso. Aí no livro tem muito trabalho também, eu falei que no

laboratório tem meus aplicativos, meus programas.

Pesquisador: E o que que você acha que a tecnologia, enfim, você acha que ela ajudou,

melhorou, piorou?

RSB24BOLM: Ajuda bastante, mas se não tomar cuidado, piora. Então tem os dois lados,

eu gosto, eu não conseguiria dar aula só eu, aula centrada em mim, mas se não tomar

cuidado eles não fazem mais nada, eles não querem, estão desaprendendo a ler, estão

desaprendendo a pensar, a escrever, então tem que saber dosar as coisas. Só aula

tradicional, também não dá, só tecnologia também não dá, tem que saber equilibrar um

pouquinho.

Pesquisador: Balancear.

RSB24BOLM: Balancear, senão fica difícil.

Pesquisador: Entendi. E vocês tem algum trabalho aqui no colégio, enfim, no dia-a-dia

de tentar educar esses alunos no uso da tecnologia também?

RSB24BOLM: Assim, antigamente tinha coisa prática, eles tinham aula de computação,

acho que hoje em dia parou. Eu acho que eles sabem mais do que a gente. Às vezes, eu

to encrencada preciso colocar algum negócio, eu sempre acho alguém, eles

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sabem mais do que eu. Mas em relação a usar isso de um jeito… Não, é na sala de aula

que a gente tem que ficar de olho, não tem…

Pesquisador: Porque de repente se isso vem desde o comecinho…

RSB24BOLM: Fosse uma aula… é aprender um lado bom, uma aula assim… mas não

tem.

Pesquisador: Entendi. E você acha que isso poderia ajudar?

RSB24BOLM: Poderia ajudar porque eles só querem burlar para fazer as coisas

erradas, poderia ajudar.

Pesquisador: Legal. É, e em relação a celular?

RSB24BOLM: Celular é proibido aqui no colégio. É proibido no colégio porque assim,

eu adoraria usar celular, porque, às vezes, eu preciso para tirar foto, para fazer alguma

coisa para mostrar alguma coisa, mas não pode porque, justamente isso, eles não sabem

usar, eles não tem maturidade nenhuma para usar. Foi abolido por questão de (palavra não

identificada) em sala de aula, aí foi abolido, mas é na maior cara de pau. Não podia,

antigamente, podia ter até o celular na sala, mas aí começaram a fazer besteira. Aí você

tá dando aula e eu to vendo uma luz saindo, aí eu ficava: “Que luz é essa saindo da

genitália, meu filho?”. Ele: “Não”, aí eu terminava, isso faz uns 6,7 anos atrás, 5, sei lá,

aí eu pegava, tinha um potinho, eles entravam na sala: “Põe o celular aqui dentro”. Aí

ficava na minha mesa e agora foi direto, abolira de vez não pode nada. Eles entram aqui,

tem uma caixinha e fica no colégio. Eles tem uma caixinha que eles botam o celular e

tranca e só na saída e ficam nervosos. Quando isso virou regra, foi um desespero: “Vocês

estão humilhando a gente, isso é contra a lei, estamos no nosso direito de comunicação”.

Eu falei: “Meu filho, você quer conversar com seu pai e com a sua mãe, vem aqui embaixo

na secretaria e telefona, não vai morrer não”. Quando eles descem agora 3:30 é todo

mundo seco para pegar o celular, eles passam mal, é tudo viciado é tudo doido no celular.

Quando foi proibido é porque 8 alunos estavam usando celular numa prova, colando. Eu

peguei um aluno numa prova minha, mas foi só um, ele tava na maior cara de pau,

colando, já tava proibido o celular, eu só via ele mexendo eu falei:

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“Que negócio prateado é aquele ali”. Aí eu fui olhar eu falei: “É o celular, ele está

colando”. aí eu pensei, se eu for la ele vai esconder, aí eu falei: “Vem aqui Carlos.” aí eu

vi ele pegando o celular e colocando dentro do bolso, aí eu falei: “Você está colando? Que

coisa mais feia” aí tem que sair, aí ele foi pro inspetor e eu falei: “Você está com F na

prova”. Aí o menino é tão pateta que ele passou… É igual americano tem Locker, tem um

armáriozinho, e tem câmera, aí ele passou, guardou o celular dele, isso com a câmera

vendo, guardou o celularzinho e foi lá pro inspetor, aí disse que não estava colando e que

eu estava vendo o cinto dele que era prateado, só que na minha sala tem câmera e deu

para ver ele pegado, eu tinha visto, né, eu tinha visto colando. Então não pode mais usar

celular. Para mim, é muito triste porque eu usava para tirar foto, eu usava para mostrar

alguma coisa, podia fazer esse negócio do Twitter, às vezes, eu fazia. Não posso fazer

mais nada.

Pesquisador: Proibiu o aluno e o professor no geral.

RSB24BOLM: É, porque a gente não pode usar. A gente também não pode usar na sala

de aula, a gente não pode ficar com o celular em sala de aula. Eu não posso fazer nada.

Às vezes, tem coisa interessante que pode mostrar, que pode fazer, mas não dá.

Pesquisador: Você falou que tem câmera em sala de aula também?

RSB24BOLM: Tem câmera na sala de aula, só não tem no banheiro.

Pesquisador: E tem algum motivo específico?

RSB24BOLM: No banheiro…

Pesquisador: No banheiro, tudo bem. Mas agora, na sala de aula, para que que é usado?

RSB24BOLM: Para isso mesmo, para ver o que tá fazendo. Assim, ninguém fica

inspecionando todo dia o que tá fazendo, mas quando acontece um incidente, vai lá na

câmera e vê o que que aconteceu. Nesse dia foi útil, entendeu? Viu lá que o menino estava

colando mesmo. Porque ele disse que não estava colando. Aí eu disse: “Olha só, viu? Está

colando”. Não tem som, só tem imagem. Tem câmera pelo colégio todo.

Pesquisador: Entendi. E, beleza, no colégio…

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RSB24BOLM: E assim, é mais para segurança do que para outra coisa.

Pesquisador: Entendi. Faz sentido. E vocês incentivam… Beleza, no colégio não pode

usar, usa computador, tal, tal, tal, mas fora do colégio, há um incentivo de usar tecnologia,

no geral, assim, para estudar, para educação?

RSB24BOLM: Assim, eles, eles… Para estudar, eles não querem usar nada. Por

exemplo, o livro, o deles é e-book, se eu contar ali quem foi que abriu o livro… Eles não

usam, eles não querem isso. Eles querem fazer outra coisa, mas estudar, eles não dão

conta. Mas… “O livro é horrível”. Eu falei: “O livro não é horrível”. “Por que que a gente

não tem livro físico?”. “Porque não pode comprar, o colégio não compra. Não é muito

mais prático, você está com o livro pesado, você estar com o computador, você abre em

casa, abre aqui, consegue ler”. Mas não, não, não. Se eu não colocar na sala para eles

lerem, em casa eles não vão usar não. Eles não vão abrir de jeito nenhum.

Pesquisador: Entendi. E como que você se aprimora profissionalmente?

RSB24BOLM: O colégio obriga a gente, para começar. Tenho que fazer curso. De tanto

e tanto tempo, eles… Se a gente não… Todo ano, eles fazem uns cursos para a gente, aqui

mesmo no colégio e, as vezes, mandam para fora, de vez em quando, para fazer curso.

Nos últimos dois anos, eu fui para os Estados Unidos fazer curso. O colégio incentivam

e pagam. E pagam.

Pesquisador: Ah, legal. E tem mais alguma outra forma?

RSB24BOLM: Não, assim, eles dão dinheiro. Não dinheiro, dão uma certa verba por

ano, se eu quiser fazer o curso, alguma coisa, se eu achar alguma coisa interessante. Aí

cada professor tem uma verba que pode gastar.

Pesquisador: Que pode gastar, entendi. E há acompanhamento desse aprimoramento?

RSB24BOLM: Tem, porque tudo… Porque o colégio aqui é americano… O brasileiro

não se incomada com isso, mas como o colégio é americano, de tanto e tanto tempo, vêm

uma auditoria dos Estados Unidos aqui no colégio. Então uma das coisas que eles vêm

dos professores é isso, se estão aprimorando. Você não pode ficar parado,

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entendeu? Todo mundo faz. É uma coisa boa para gente, então não é terrível. E quem não

quer ir para os Estados Unidos fazer um curso?

Pesquisador: Em relação a reforma do ensino médio, o que você achou, o que afeta

também…

RSB24BOLM: Aqui não afeta muito porque já tem uma eletiva, Biologia… Então não

vai afetar muito. A gente já está dentro do que… Mas é complicado assim. Eu vejo duas

formas. Eu entendo que nem todo mundo quer estudar tudo, eu acho… São duas coisas.

Como eu convivo com Biologia daqui do Brasil e dos Estados Unidos, vou dar assim o

meu caso particular, eu entendo os dois lados, os dois lados tem vantagens. Depois eu

falo da reforma. Por exemplo, aqui no Brasil é uma coisa. Você tem que estudar todas as

ciências porque o Enem, porque os vestibulares caem tudo. Então eu entendo que tem que

estudar tudo, que… Mas, por outro lado, se você quer fazer Engenharia, para que você

tem que estudar tanta Biologia, tanta Geografia, alguma coisa que não é dá sua área? Nos

Estados Unidos é o oposto. Se você não quiser estudar, se você sabe que vai fazer

Engenharia, você vai para esse lado, você não precisa estudar essas coisas. Mas aí tem os

dois lados. Eu acho que é interessante ter que estudar tudo porque você tem um

conhecimento geral muito grande, mesmo que você não use depois, o seu conhecimento

geral é muito grande. Nos Estados Unidos, eles não estudam assim, eles não sabem

bulhufas. Se não for da área deles, eles são todos bitolados. Eu não falei isso, horrível.

Mas eles ficam muito específicos naquilo, então você não tem noção de nada. Então eles

não sabem onde fica o Brasil, se não estuda Biologia, não sabe para que que é uma célula.

Então é uma coisa ou outra. Mas eu acho que no Brasil, o conteúdo ainda do ensino médio

é muito grande. Eu vejo pela minha área. Podia reduzir um pouquinho. Eu não posso

reduzir porque daqui a pouco eles vão fazer prova e vão cobrar isso. Mas é muita coisa

que você não vai usar mais. Então podia ter um conhecimento geral e aí que entra o ensino

da reforma. Eu acho que eles querem isso, cada um estuda, você consegue estudar mais a

sua área e aí não fica tão específico. Agora, isso seria interessante… No Nordeste, o

professor que está lá estudando para ser agricultor. Tá lá… Aí eu entendo que não precisa

estudar tantas coisas que a gente estuda aqui. Mas

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aqui no Rio de Janeiro, São Paulo, que ainda tem vestibular, ainda tem Enem, tem que

ter esse conteúdo. Mas acho que é muita coisa.

Pesquisador: Você acha que é muito mais por essa questão do Enem, do vestibular?

RSB24BOLM: Porque, eu acho que… Eles tinham… Eu acho… Na minha área tinha

que ter uma reforma do conteúdo em si. Tem muita coisa que eu tenho que dar que não

tinha necessidade. Que eu sei que dentro daquela matéria, eu deveria dar aquela matéria.

Mas eu poderia enxugar uns detalhes que não vai fazer diferença para uma pessoa comum

que não vai estudar mais aquilo. Eu não posso, eu tenho que dar porque vai ser cobrado.

Pesquisador: Entendi.

RSB24BOLM: Aí você entope a criatura de conhecimento que não vai usar mais. Eu

sei… Eles ficam reclamando, eu entendo. Eu sei mais alguma coisa de Matemática do

ensino médio? Eu não sei mais. Então tem que saber Matemática? Tem. Tem que saber

escrever direito Português? Claro que tem. Isso não… Português e Matemática… Mas eu

acho que tem que enxugar mais o conteúdo. Então, essa reforma, eu acho que ajuda nisso.

Mas o que que adianta reformar o ensino médio se o ensino fundamental está um horror?

Eu pego aluno… O meu aluno não consegue interpretar leitura. Eu tenho uma amiga

minha que dá aula em Saquarema e os alunos dela do ensino médio não sabem,

literalmente, ler. O ensino do nível fundamental tá horrível, tá muito fraco. Então não

adianta fazer reforma em faculdade, fazer ensino médio, se não concertar lá embaixo.

Tem que concertar o ensino fundamental que está horrível. Os professores não ganham

dinheiro, tá muito baixo o salário, o ensino tá fraquíssimo, o ensino fundamental. Então

eu não consigo concertar isso, a base, não vai adiantar não.

Pesquisador: Não dá.

RSB24BOLM: Tá concertando aqui em cima, mas aqui embaixo está um horror.

Pesquisador: Entendi. Enfim, o colégio é americano… O colégio tá passando um

pouco dessa reforma para os alunos?

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RSB24BOLM: Não porque a gente já está dentro. Do jeito que é o nosso currículo, já

está estruturado.

Pesquisador: Entendi, já está estruturado.

RSB24BOLM: A gente tinha, antes, que até o contrário, a gente tinha… Para poder cobrir

o brasileiro de… Então não tem muita diferença, não tem muita diferença não.

Pesquisador: Entendi. Bom, a última, se pudesse… Essa é bem hipotética, se você

pudesse fazer uma mudança na educação no Brasil, o que que seria?

RSB24BOLM: Justamente isso para você, o ensino fundamental tá muito fraco. Isso

porque, se você não tiver uma base boa de Português, de Matemática, no início, você vai

levar isso para o resto da vida com problema. Eu tenho problemas de, assim, problemas

básicos de ler, eles não conseguem responder direito, eles não conseguem fazer conta,

tem que ficar fazendo conta de dedo. Então se não concertar o ensino fundamental, a gente

não consegue melhorar nada. A educação, a base, é o fundamental. Se não souber ler e

escrever… Aqui, por exemplo, tem o ensino fundamental. Ciências, eu já falo com os

professores, não fica preocupada no conteúdo, no conteúdo de Ciências, porque o

conteúdo de Ciências até chegar na minha mão, eles vão esquecer tudo. Então usa

Ciências para eles aprenderem a ler. Eles tem que saber ler e escrever. Usa o conteúdo, o

básico do conteúdo, mas ajuda a professora de Inglês… Aqui não é o português, é o

inglês… Aprenderem a ler, porque não pode chegar na minha mão sem saber ler. Eles não

podem chegar na minha mão sem saber interpretar as coisas, sem fazer as contas. Eles

não sabem. Eu fico pensando, se os meus alunos não sabem, o que dirá aí pelo mundo a

fora e no Brasil, que não tem acesso a nada. Se esses aqui são classe média, que tem

acesso tudo direitinho… É essa minha amiga, eles não sabem. Ela falou… Por um acaso

eu encontrei com ela no final de semana. “Eles não estão conseguindo ler, mas é ler

mesmo”. E já está no ensino médio já. Então tem que concertar o ensino fundamental. Se

conseguir concertar o fundamental fica mais fácil para todo mundo. Eu acho.

Pesquisador: Tá bom. É isso. Tem mais alguma coisa que você gostaria de comentar?

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RSB24BOLM: Não. Serviu para alguma coisa?

Pesquisador: Serviu, foi ótimo. Deu para… Eu estou entrevistando várias pessoas, deu

para…

RSB24BOLM: Diferente, diferentes visões.

Pesquisador: Dá para trazer um pouquinho de cada coisa.

RSB24BOLM: Então, só resumindo, eu acho que tecnologia é importante sim, mas tem

que saber equilibrar. Tem muitas desvantagens se não souber usar. E, principalmente, os

meus alunos, se eu não conseguir controlar, eles não fazem mais nada. É só a parte… Não

muito… Tá perdendo coordenação motora, não tão conseguindo mais… Você falou com

a Marisa semana passada, eles não lêem mais os livros, eu fico pasma deles falarem para

mim. Ela passa os livros, de inglês ou português, eles pegam o resumo na internet para

não ler o livro. Aí se você não fica ali. “Ali é chato, não consigo ler”. “Mas quando vocês

estão lendo, vocês não estão imaginando aquela cena?”. “Não, eu fico vendo aquelas

letrinhas”. “Mas assim é muito chato ler, vocês não sabem ler direito”. Então tem que

saber usar as duas coisas. Aprender os dois lados.

Pesquisador: E só mais uma, qual o papel dos pais nisso tudo? Tanto nessa questão da

educação, obvio, que tem um papel forte, mas na influência aqui no colégio, na sala de

aula?

RSB24BOLM: Assim, no ensino médio, eles não influenciam muito não. Mas eu acho

que lá para baixo, nos pequenininhos, eles dão muito palpite. Nos mais velhos não tem

muito não. Mas se você pegasse um professor mais do fundamental, do primeiro, eu acho

que eles influenciam muito. Ensino médio eles vão ficando mais velhos e eles não muito

ali não. Só vêm aqui se fizer besteira. Aí tem que chamar o pai e o pai tem que vir. Se for

suspenso, fez besteira, mas se não for assim, não querem saber tem trabalho de casa, se

fizeram exercício, não querem saber de nada. Se fez reforma na biblioteca, se não fez…

Deixam aqui, a gente cuida de tudo e eles pegam depois. Não influenciam muito mais

não. Por isso que eu to falando, vêm de casa. Que nem aquele assunto que a gente falou,

vêm de casa.

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Pesquisador: De educação.

RSB24BOLM: De educação, de dinheiro. Não é só dinheiro. Eu, agora, eu tenho uma

turma agora que eu, além de dar aula de Biologia, eu tenho que ensinar comportamento e

modos na sala de aula. A pessoa está na sala de aula, “Senta direito”, “por favor, para de

pegar o pinto”. É assim oh: “Meu filho, você quer fazer, você vai no banheiro, não é aqui

na sala de aula”. “Senta direito”, “calça o sapato”, “não fala alto”, “não interrompe”,

“levanta a mão”. É só ensino médio isso? Não é só ensino médio, isso é lá de baixo. E tá

ficando cada vez pior, entendeu? Além da aula de Biologia… Não sou eu que tenho que

ensinar. É o pai e a mãe, que tem que se comportar na sala. Levanta a mão, não fala alto,

não pode interromper o professor. Não pode desrespeitar ninguém, né? Mas tem que falar

direito. Mas eles não tem essas coisas, não tem. É muito doido.

Pesquisador: Bom, então é isso. Muito obrigado.

RSB24BOLM: Obrigado. Obrigado você. Espero que tenha conseguido te ajudar.

Pesquisador: Com certeza ajudou bastante, vai ser ótimo.

MM47POLM

Pesquisador: Então vamos começar, como eu falei, assim, é muito mais um papo do que

qualquer outra coisa, sua opinião é mais do que bem vinda, ninguém vai analisar

criticamente, tá bom?

MM47POLM: Perfeito, claro.

Pesquisador: Bom, então para começar eu gostaria que, se você pudesse, se apresentar

um pouco, falar um pouco de você a quantos anos você está dando aula, quais disciplinas

que você leciona e quais colégio que você dá aula se é só aqui.

MM47POLM: Então vamos lá, sou MM, né? Tenho 66 anos, estou no magistério a 47,

desde os 19 anos.

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Pesquisador: Nossa.

MM47POLM: Isso, eu fiz normal, na minha época fazia-se Normal. Era um curso de

professores primários o que seria o elementar na escola. Para usar os termos atuais o

fundamental. Então eu fiz Normal, fundamental e já então eu comecei a trabalhar. Assim

que sai do Normal eu comecei a trabalhar sim, mas comecei a fazer USP, fiz a

Universidade de São Paulo, fiz Letras - Português/Inglês, me formei em 73 na faculdade

depois fiz um mestrado em Educação.

Pesquisador: Legal.

MM47POLM: E aí, passei por vários lugares, já trabalhei em São Paulo, em escolas

particulares, aqui no Rio de Janeiro, onde estou a 40 anos, eu fui no ensino público, fui

depois coordenadora de um SIEP. Sabe o que é um SIEP?

Pesquisador: Uhum, sim.

MM47POLM: Enfim, dei muito tempo aula de Inglês, licenciava, todas essas coisas, dei

bastante tempo. Aqui nessa escola eu estou há 20 anos. Há 10 anos eu saí por 3 anos para

ser supervisora em uma escola bilíngue na Barra, mas voltei pela distância e por diversas

outras coisas preferi ficar e aqui eu dou aula de Português. Então veja só são 47 anos

sempre lidando com escola. Uma hora dando aula para o Fundamental 1 e 2, Ensino

Médio. Nos últimos 20 anos, eu só dou aula aqui, fora isso, já fiz outras coisas, por

exemplo, adoro Artes, fui gerente de uma galeria de artes. Mas eu nunca deixei o

magistério. Enfim, fiz algumas outras coisas mas nos últimos 20 anos estou aqui na OLM

dando aula de Português para o High School, para a terceira série do Ensino Médio. Às

vezes, segunda e terceira, às vezes, primeira, segunda e terceira. Enfim, sempre!

Profissionalmente está apresentado.

Pesquisador: Legal, legal! E porque você decidiu ser professora?

MM47POLM: Veja só, quando eu estava no… eu sempre fui boa aluna. Até a oitava

série eu sempre fui muito boa aluna, gostava muito de Matemática, olha como a vida nos

leva, e eu sempre dava aula para os meus colegas. Dava aula assim, eles iam estudar

comigo e diziam que eu era professora, eu preparava exercício para elas, então elas

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sempre disseram que eu tinha jeito para dar aula, diziam que aprendiam melhor comigo e

eu acho que eu gostei da História, gostei da coisa, fui lá fazer Normal, depois fui para a

faculdade, fiz Letras e é isso aí. Gosto de interagir com os jovens de poder ensinar alguma

coisa embora cada vez mais eu acho que esteja sendo um pouco difícil, o interesse parece

que vem diminuindo, para quem viveu, você imagina né? Os 20, vi muitas transformações

na educação.

Pesquisador: Entendi. É, legal você falar isso porque é um dos tópicos que nós vamos

falar mais a frente. Você se sente prestigiada como sendo professora, na sua carreira como

um todo, você acha que é uma carreira que é prestigiada, que as pessoas dão valor?

MM47POLM: Olha só, o que eu sinto, assim, talvez eu não tenha sentido muito na minha

pele, talvez não tanto, mas eu vejo muitos os professor, especialmente os professores do

ensino fundamental, onde eu vejo as famílias achando que os professores são seus

empregados e (palavra não identificada) um pouco como diploma. Eu tenho vários

colegas que criticam, que falam, que isso. E até uma coisa interessante, até no ensino

público, no qual eu já aposentei a algum tempo, eu lembro de pais... nós pedíamos

reunião, os pais vinham: “Olha eu estou preocupada com o seu filho”. Aí o pai, motorista

de ônibus, não estou, por favor, desqualificando, nada disso, mas, sem estudo, sem muita

coisa, dizendo assim: “professora, não se preocupa com o meu filho não, professora, deixa

ele passar, porque olha só, ele vai ser trocador de ônibus, vai ser motorista que nem eu,

acho que ele vai ganhar melhor do que a senhora, então não esquenta a sua cabeça não”.

Pesquisador: Que isso.

MM47POLM: Então até as pessoas sem estudo percebem essa desvalorização, até a

gente falando de desvalorização, nessa época de dia do professor a gente recebe mil

coisas. No Japão, o único que não se inclina para o imperador é o professor, né? Super

prestigiados e tudo mais. Enfim, mas pelo menos as coisas aqui no nosso país são sem

dar muito valor, é apenas mais uma pessoa para cuidar do meu filho.

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Pesquisador: Faz sentido.

MM47POLM: Não faz sentido?

Pesquisador: Faz sentido dentro do contexto, não que eu concorde.

MM47POLM: Dentro do contexto, o que não deveria ser, sem dúvidas.

Pesquisador: E sobre essa questão que você falou que está cada vez mais difícil? Como

que é essa relação?

MM47POLM: O que a gente está percebendo, eu não gosto de falar no meu tempo, não

existe isso. O tempo é hoje, a gente fala, o meu tempo é hoje. Mas o que a gente percebe

é que o mundo hoje é um pouco diferente, primeiro esses pais não estão o tempo inteiro

com seus filhos, para cobrar, não precisa sentar e fazer tarefa, não se trata disso. É cobrar,

como que tá, o que está havendo, não sei o que. Então, delega-se muito, delega- se para a

escola, delega-se para os outros, e tudo. Então, esse jovem, ele não tem o respaldo família.

Eu ainda acho que as coisas básicas você aprende na sua casa não é na escola. Eu acho

que, na escola, os professores devem reforçar a conduta, reforçar ética, valores éticos e

morais, mas isso tem que vir de casa. E a gente percebe que os pais, o mundo… Os pais

saem hoje para trabalhar, pai, mãe e todo mundo, então com isso eu tenho um jovem meio

no ar. Outra coisa que dificulta hoje em dia é a informação imediata, né? O Google está

aí que não me deixa mentir, ele tem e quer uma informação, ele vai lá na hora, mas ele

deleta, ele esquece. Eu sinto isso, que o aluno tem mais dificuldade em ligar, unir as

coisas, isso aqui com aquilo e aquilo outro. Não, ele viu aquilo naquela hora, estudou para

a prova e acabou, esqueceu. Ele tem dificuldade, como as coisas acontecem muito

rapidamente, acredito que seja um pouco por isso, tudo é de uma velocidade imensa, nada

precisa fixar, ele não precisar guardar nada, tem ali, ele vai lá e busca, eu não sei até que

ponto isso é bom, entende Luiz? Eu acho que não, o mundo vai dizer né? O futuro vai

dizer o que é bom e o que não é. Mas é claro que os alunos tecnológicos são fantásticos e

nem estou falando mal do Google, uso na minha sala para se fazer pesquisa, não tem nada

de enciclopédia, não existe mais

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isso, é tudo ali maravilhoso. Minha crítica não é bem ao Google, mas como os jovens o

estão usando, para informação imediata e esquecida.

Pesquisador: Entendi. E em questão dessa relação sua com o aluno, como é que ele

funciona? Ela é estritamente em sala de aula ela se estende, hoje com as tecnologias tendo

Facebook, Whatsapp, enfim, ela passa da escola ou ela continua restrita ali, porque eu

acho que antigamente tinha um pouco mais isso, né? Era um pouco, colégio e tal, hoje…

MM47POLM: Temos as redes sociais.

Pesquisador: Isso, exatamente.

MM47POLM: Então cada professor tem o seu código de relacionamento, né? Enquanto

o aluno é meu… e tenho Facebook até meu sobrinhos que fizeram, que foi bom, encontrei

amigos de infância e tal, mas enquanto são meus alunos eu não permito, eles não são meus

amigos, não há essa interação. Depois que se forma, quem quiser pode ser meu amigo no

Facebook, eu tenho ex-alunos que me visitam, alunos de… eu digo que tenho netos aqui

na escola. A minha primeira aluna aqui, isso faz 20 anos, já tem um filhinho. Ela tinha 18

hoje tem 38, já tem uma filhinha que hoje já entrou, claro que não é minha aluna, mas

está, então a gente vai se sentindo um pouco avó. Enfim, então depois que se formam, eu

permito, a gente se fala , tem um bom relacionamento, eu visito, enfim, me visitam. Na

semana passada uma que está na Austrália, veio, falou: “vamos almoçar juntas”. Então eu

gosto desse entrosamento. É claro que com alguns você tem mais afinidade do que com

outros. Sou uma professora um pouco rígida, sim. Veja só, cada professor tem uma sala

né? É claro que a minha sala, por exemplo, ela tem que ser arrumada não pode ter lixo no

chão, não pode ter bagunça na hora que se está estudando, é claro que em um dia de

projeto arrastam cadeira, fazem isso e fazem aquilo, aquela confusão, mas no dia-a-dia…

porque eu ainda acredito, que ordem, organização e essencial para o seu aprendizado,

acredito nisso. Claro que fora da sala de aula eu tenho um bom relacionamento com os

alunos, a gente tem. Mas repito, redes sociais e aquelas coisas, depois que se forma.

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Pesquisador: Entendi. E essa relação do dia-a-dia com os alunos, como é que funciona?

Tanto da aula, ali presencial ou no recreio, nos eventos.

MM47POLM: Existem alunos que são mais chegados e outros menos. Eu diria que eu

não sou muito… como é que eu diria? Não entro muito na intimidade deles e nem eles

entram muito na minha intimidade, mas dentro disso, a gente comenta, sei lá, eles

comentam de namorado, eu sou avó, tenho netinhos agora, que sempre comentam e elas

perguntam se existe uma certa afinidade, o que é muito importante, eu acho, entre essa

relação de professor e aluno que haja além do aprendizado. (palavra não identificada)

algumas coisas suas, você passa para ele e ele passa para você, né? Sem passar daquele

limite que cada um de nós tem acho importante, acho bom.

Pesquisador: Você acha que essa relação é importante? Ela ajuda no aprendizado?

MM47POLM: Com certeza. Eu acredito ainda naquele… igual médico, se você gosta do

médico você vai ficar sã mais cedo, se você… não precisa gostar, mas se você tiver mais

afinidade com o professor, claro que o que ele falar vai te entrar mais facilmente, mas se

você tem uma cara meio assim e tal, a matéria também fica mais chata, não tenho dúvida.

Pesquisador: E você percebe isso no dia-a-dia?

MM47POLM: Não tenha dúvida. Alunos assim, que detestavam, detestam Português e

Literatura e aí você senta e conversa: “Não porque não sei o que e é isso aqui e tal”.

Porque assim, em alguns momentos eles têm a oportunidade de ler o que você quiser e

venham me dizer e aí você começa a trazê-los, né? Embora, no Ensino Médio não haja

muito para isso, os vestibulares estão aí, tem aquela listagem de livros, aqueles clássicos

que a maioria odeia e tem que fazê-los gostar pelo menos um pouco para poder… mas

enfim..

Pesquisador: Isso é interessante, porque uma das bases do meu estudo é um pouco isso,

assim, você tentar trazer um pouco do interesse do aluno para a sala de aula, tentar instigar

ele. É legal você falar que você tenta… no Ensino Médio a gente tem, eu não sei se é

um problema mas, tem um foco muito no vestibular e você acaba tendo que

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forçar muita coisa e eu acho, pelo menos eu acho que afasta um pouco o aluno por essa

conta e é uma coisa que ele não tem interesse, se ele focasse um pouco mais no que ele

tem interesse ele estaria mais presente ali.

MM47POLM: Difícil escrever também, uma coisa que eu sinto hoje, eles têm

dificuldade de escrever porque não leem muito também, não leem uma revista, não leem

um jornal, então leem muito pouco, hoje eu sinto, então quem não lê fica difícil escrever

porque não tem ideias, isso eu acho um pouco mais… Na época… Sem falar mal do

Google, quando não havia, porque computador a gente tem a 30 anos nas escolas, não

mais do que isso, acho que não mais… 25, 30 anos usando assim e tal, aqui usando até

temos menos do que isso, talvez uns 15 anos, hoje todos os alunos têm, né? Lia-se mais,

né? Lia-se um pouco mais, acredito eu. Até porque tinha que procurar, fazer pesquisas,

então a leitura era muito maior , ma enfim,

Pesquisador: Você acha que eles leem pouco por essa questão que é fácil encontrar, você

acha que é uma coisa mais histórica, de família que não tem incentivo.

MM47POLM: Claro, mas é claro. É aquilo que eu digo, sempre começa lá na família,

eu também tenho família, você também tem a sua. Família quando os pais leem muito,

incentivam os seus filhos a leem, ajuda muito. Eu tenho alunos, poucos, que são leitores

vorazes. A gente percebe: “Ah, na minha casa tem muito, meu pai me indicou esse.”

Poucos, mas esse incentivo ajuda, né? Claro.

Pesquisador: É, eu tenho um zilhão de livros em casa, eu saio comprando e depois

quando der eu leio, vou lendo e comprando vários. E falando um pouco da sua

metodologia de ensino, como é que você prepara as aulas? Enfim, metodologia por si só.

MM47POLM: Tá, veja só. Eu dou… vou falar por Literatura porque Gramática é aquela

coisa meio, que a gente só vê novamente no Ensino Médio. Literatura, eu sempre… como

eu preparo as aulas? Primeiro para que ele possa entender qualquer coisa que se escreva

na época pelo menos dos bons escritores é preciso que ele entenda o contexto histórico

em que as coisas aconteceram, então a gente fala um pouco de…

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não sou professora de História, mas a gente fala sobre o que acontecia no mundo nessa

época, não em termos políticos, não. Em termos econômicos, também em termos de artes

na época, o que se fazia e aí a gente vai trazendo tudo isso, reflexo né? Você tem guerra,

o que que aparece aqui? É uma ditadura no país? Porque isso vem repetido no livro? Então

eu sempre preparo assim para mostrar os movimentos literários. Você já fez o Ensino

Médio, sabe disso né? E aí, os momentos literários, porque esse nome, os representantes.

E aí, eles leem, né? Não todos os representantes literários mas a gente sempre escolhe

um, aquele mais importante e dos outros a gente faz algum comentário, dou alguns

excertos para que eles possam ler para ter uma idéia. Além de dar alguns excertos de

literatura universal. Só para você ter um exemplo, sei lá, que me veio aqui agora, por

exemplo, quando eu dou Graciliano Ramos, romance de 30 que a gente fala, toda aquela

preocupação de país e insegurança, enfim. E aí tem um livro, por exemplo, “Angústia”

do Graciliano Ramos que é bem psicológico e aí eu trago lá Dostoyevsky, que eles não

leram, não leem e não lerão, com raras exceções, mas eu trago, comento a respeito, trago

um trecho daquele livro que tem a ver com alguma coisa do Graciliano, eu brinco muito

que nesse mundo nada se cria tudo se copia, a gente brinca um pouco assim, porque o ser

humano é igual em todo o lugar, aqui e lá e etc. então escritores de lugares diferentes,

para ver se… não é só aqui, tem lá do outro lado. Então eu tento fazer alguma coisa assim

e tem as leituras, às vezes eu dou roteiros de leitura o que olhar melhor a gente comenta,

tem prova de livro e esse tipo de coisa que a gente faz. Às vezes, como projeto eles é que

vão pesquisar a respeito de umas pessoas, leem livros diferentes e depois comentam em

sala, aquilo que é possível. Porque também, Luiz, aqui como a escola é americana o foco

não é a língua portuguesa, ela só existe porque está no país Brasil, embora, a gente tente

colocar o Português aqui como se estivesse numa escola Brasileira particular, porque não

é uma escola brasileira, mas a gente tenta colocar. Mas nos esbarramos no que eu digo

que é um “murão” assim, que nós temos quatro aulas por semana, só, é pouco. Nas escolas

brasileiras eles têm no mínimo cinco, que sá sete, né? Nas boas escolas brasileiras. Mas

enfim, a gente tenta fazer e o que a gente tem conseguido, assim, eles têm ido bem nos

vestibulares do país, pelo menos em Português, estão bem, passam, enfim. Acho que

estamos dando conta do recado. Não

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tão bem como gostaríamos, pela falta de tempo, pela falta de uma série de coisas. E mais,

aqui eles leem mais inglês do que leem Português. Porque todas as outras matérias são

em Inglês, então acabam lendo… E como é que falam, gente? a literatura americana, né?

Inglesa, né? Eles só leem os livros, a gente tem uma série de outras coisas aqui, o tipo de

estudo né? O tipo de literatura brasileira, escolas literárias, então é um pouco mais

demorado, mas enfim, mas vai, no final dá certo.

Pesquisador: E você já tem, eu imagino que sim, com todo esse tempo de magistério,

você já tem coisas preparadas ou você todo o ano você tenta fazer coisas novas, como é

que funciona?

MM47POLM: Não. Existe eu digo que é básico. Por exemplo, eu uso muito para dar

aula, o SmartBoard não porque a gente não usa mais, é o PowerPoint, uso bastante, com

música ou sem música isso eu tenho, isso eu já tenho o básico preparado, mas professor,

se você quer ser professor, meu querido, todo o ano, ainda mais professor de língua, por

exemplo, eu digo assim, você sempre tem alguma coisa a acrescentar, a melhorar, é uma

novidade. “Esses textos aqui não tem mais graça, não tem nada a ver com o dia-a-dia.”.

Então o professor tá sempre fazendo alguma coisa nova, impossível. O básico sim, o

grosso você tem pronto, né? Exercícios, PowerPoint, enfim, essas coisas sim, claro.

Pesquisador: E literatura, como é que você… se tenta ou não tenta, trazer essas literaturas

atuais para sala de aula. Você consegue trazer?

MM47POLM: Esse é o nosso problema, porque, da atualidade né? Os autores de agora?

A gente não tem tempo. Porque, assim, os meus alunos da terceira série do Ensino Médio,

já fizeram vestibular da PUC e nós estamos começando o ano letivo, terceira série do

Ensino Médio, já fizeram e vão passar. Então resultado, eles têm dois anos do Ensino

Médio para ver toda a literatura, então eu não consigo chegar nos nosso, nesses agora que

estão… um ou outro a gente lê, alguma coisa, mas dos novíssimos, muito pouca, um

pouco do Ferreira Gullar, to falando do Ferreira Gullar por acaso, mas não é de agora.

Esses jovens, jovens que estão aqui, difícil, a gente não tem tempo. O que acontece, às

vezes, você pode trazer um texto ou uma crônica, um conto. Fora isso muito difícil, não

há tempo para.

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Pesquisador: E você acha que isso muito por conta do vestibular?

MM47POLM: Por conta do vestibular, aqui nessa escola, por conta do vestibular, das

necessidades, esse ano por exemplo, embora dos alunos, são um ou outro fazem

raramente. A UERJ, deu uma lista de livros, que deveriam ser lidos, coisa que não fazia

antes que os vestibulares sempre têm uma lista de livros. Esse ano deu, por exemplo,

deram Saramago, eu só vou comentar de Saramago no terceiro bimestre, só no ano que

vem, deveria. Mas por conta disso, quer saber de uma coisa? Eu vou fazer uma (palavra

não identificada). Aí falei de Saramago logo no início, aí viram aquele filme “ Ensaio

sobre a cegueira”. Um outro aluno leu um livro difícil sobre (palavra não identificada) até

porque aqui os livros paradidáticos são comprados pela escola, não é o aluno que compra,

então eles dificilmente (palavra não identificada) tem que ficar pedindo. Então a gente

faz essas coisas, Clarice Lispector, Guimarães Rosa que eu só dou depois, que seria a

geração de 45, ainda está muito longe dos contemporâneos, né? Também adiante, então

vamos ler contos da Clarice, então a gente tenta adiantar um pouco, mas os de agora…

difícil, nem sei quando darei. No ano passado, eu pedi para eles fazerem uma pesquisa,

mas aí já está no último bimestre, já passaram no vestibular, quem vai para a escola? Lá

fora já foi aprovado, então fazem meio assim, enfim.

Pesquisador: E nesse processo todo você tenta inovar? Fazer alguma coisa diferente com

os alunos durante as aulas, tentar engajar eles de alguma forma? Se você sente que eles

não estão ali engajando você tenta… enfim.

MM47POLM: Olha, a gente tenta. Até porque Literatura eu diria que eu tenho um ombro

muito pequeno por porcentagem muito pequena daquele que gosta, a gente tem que

plantar bananeira, às vezes, você dá uma projeto, uma hora dá uma coisa aqui, enfim, não

é muito fácil.

Pesquisador: Entendi, mas você acha que com essas coisas diferentes eles se engajam

mais?

MM47POLM: Um pouco mais, até porque projetos engajam também porque eles são

muito, visando depois, no projeto ele tem mais oportunidade de ter nota melhor, porque

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vai ser só pesquisa eles sempre se juntam num grupo com alguém muito bom, então tem

este interesse ali também, né?

Pesquisador: Entendi. Mas não necessariamente porque é algo novo?

MM47POLM: É, um pouco assim, um pouco.

Pesquisador: Entendi.

MM47POLM: E a dificuldade assim, é o interesse do aluno. O que que ele se interessa?

Quem gosta de Matemática adora Matemática e aí vai, faz… quem gosta de Português lê

muito, lê mais de um livro. Eu tenho um aluno lendo crime e castigo de Dostoyevsky por

conta dele, (palavra não identificada) uma outra que ja tinha lido Saramago, estava lendo,

então são muito poucos, quem gosta, gosta mesmo.

Pesquisador: Entendi. E há troca de professores de conhecimento, enfim: “Ah, fiz isso

na sala de aula e deu certo”.

MM47POLM: Sim, claro. Não, e essa troca a gente faz não só com os membro de

departamento de Português, vamos dizer assim, como de outras, claro que a gente troca,

a gente está sempre trocando idéias. Estamos tentando fazer, uma coisa interdisciplinar,

quer dizer, sei lá, um tema que todos possam fazer, estamos tentando aí fazer. Até amanhã

temos uma reunião aí por conta disso, que a gente possa trabalhar com todas as matérias

e tudo. Estão querendo fazer mais isso aí e algumas escolas já fazem, parece que dá certo.

Pra fazer isso tem que ser muito bem planejado, para que você não perca a sua

programação porque existe uma programação fixa, também você não pode deixar.

Pesquisador: A proposta pedagógica tem que ser seguida, né? E isso de uma forma, não

que atrapalhe, mas ela te molda ali muito.

MM47POLM: Molda, se você não tem muitas aulas não dá muita flexibilidade, porque

tem aquilo: “Tenho que dar aquilo”. Posso acrescentar mas não posso deixar de. Então a

gente é amarrado de uma certa forma, né?

Pesquisador: Você comentou lá no começo que a família, está faltando um pouco de

ensinamento e outras coisa mais normais. E vocês aqui dentro tentam ensinar durante a

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aula, enfim, quando dá tempo outros tipos de habilidades, além das técnicas? Liderança,

Cooperação ou um pouco de Ética, essas coisas que talvez não venha tanto da família,

como deveria? Vocês tentam trazer isso aqui de alguma forma?

MM47POLM: Então essa é uma escola especial, existe um departamento de religião na

escola. Temos professores de Filosofia, então você está falando de Ética, de valores… as

aulas de religião, não é focada apenas no estudo da religião, não é só a religião católica,

eles fazem um passeio por todas as religiões e é muito assim, valores, ética. Inclusive eles

têm uns trabalhos, não sei se a Patrícia comentou com você, um trabalho de serviço

comunitário muito importante. Inclusive eles não se formam daqui, eles não saem da

terceira série, sem terem feito seis horas de serviço comunitário, não saem.

Pesquisador: Pô, legal.

MM47POLM: Então eles vão, sei lá, em um Instituto de velhinhos ou vão para

Orfanatos, já ajudaram a pintar um Orfanato aqui perto, vão jogar bola não sei aonde, eu

já levei em peças teatrais com os meus alunos, hoje eu não to conseguindo fazer mais,

peças, a gente ir nos Orfanatos que tem, não tem aquele em Laranjeiras, Romão, como é

que se chama? Bom, enfim, um orfanato, os alunos vão, a gente apresenta para as crianças,

fazem Natal, dia das crianças, sabe? Arrecadam coisas, então, existe uma preocupação

nessa escola por exemplo, muito dessa parte humanitária, eu acho que os nossos alunos

aqui, eu diria que… eu acho que não dá para desvirtuar desse mundo, né? Eles têm uma…

se eles não possuem isso em casa aqui a escola tenta embutir neles todos esses valores.

Pesquisador: Legal. E em relação também a esses valores mas também ao ensino em

aula, a uma tentativa de relacionar com o mercado de trabalho? Considerando que essas

pessoas que estão ali no segundo e terceiro já estão pensando no vestibular, faculdade,

trabalho. Há uma tentativa de trazer esse tipo de engajamento, ali?

MM47POLM: Então, por exemplo, eu dou aula de Português, né? Eu digo: “gente, para

todos os lugares…” eu estou me lembrando porque esses dias eu conversei com o

presidente do CREA que é de Engenharia e ele dizia assim: “as escolas de Engenharia

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tinham que ter aulas de Português, porque engenheiros escrevem relatórios e eu nunca vi

relatórios tão mal escritos”. Então eu digo para eles assim; “gente, vocês precisam

escrever, vocês não podem escrever relatórios… engenheiro não faz só cálculo, faz

relatório também”. Então a gente tenta mostrar que a língua é para qualquer carreira aí

fora, para qualquer lugar. E aí, isso faz lembrar, outro dia eu estava conversando com um

professor de Química que é um professor novo e ele estava me dizendo que tudo que eu

ensino aqui eu mostro: “Olha, essa fórmula é para que, onde é usado, o que que tem lá

fora”. É tentar mostrar que não tem só aquilo aleatório, assim, para nada. Enfim, tenta-se,

né? Para não ficar aquela coisa quadrada. O mundo está lá fora e é lá fora que eles (palavra

não identificada). Então eles precisam aprender que o que está se aprendendo aqui não é

para você jogar fora, vai ter alguma serventia do outro lado.

Pesquisador: Legal, legal. E em questão das avaliações, como é que eles são feitas?

MM47POLM: Cada professor, cada professor. Enfim, como é que eu faço as avaliações?

Eu diria que no grosso modo as avaliações são aquelas tradicionais, papel, lápis e

escrever, tá? Eu, MM, de Língua Portuguesa. Eles tem que escrever. Se é análise de um

livro ele vai fazer a análise do livro, se é uma prova de literatura, de textos, né? Se é parte

de Gramática a gente tem que rever também. Aquela prova tradicional, que ele tem ali. A

parte disso tem os projetos que ele tem que apresentar. Alguns alunos fazem prova oral,

poucos. Agora a escola, vou até falar da escola porque as outras matérias usam muito,

tem um programa que a gente tem, chama-se “Estude”, no “Estude” você pode colocar

provas lá e eles fazem, já vai direto para o seu email. Enfim, muitos professores usam a

internet.

Pesquisador: E aí, eles fazem a prova em casa? É isso?

MM47POLM: Não, ele faz aqui.

Pesquisador: Mas no computador dele?

MM47POLM: Mas no computador dele, no computador. Eu não gosto muito, porque,

eles… eu acho que… a gente já pegou, né? Num segundo eles passam para o outro, mas

é num segundo e como é que você vai cortar o (palavra não identificada) desse aluno?

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Como é que você vai cortar? Entende? Então para Português não, para outras matérias

como os americanos têm vários programas, várias avaliações pela a internet, então para

eles é mais fácil e para os alunos também é mais difícil passar um pro outro, entende?

Tem todo um programa. A gente não tem isso, pelo menos em Língua Portuguesa, então

eu evito a internet. Eles fazem até exercícios, eles usam… usam o computador, eu coloco

nesse programa aí que a gente tem. Esse… que a gente chama de “Estude” eu boto tudo

que eu vou dar, toda a matéria e exercício. Ele pode fazer exercícios no seu computador,

eu coloco lá e ele faz, mas não como uma prova em si.

Pesquisador: Entendi. A avaliação ainda é ali, individual, cada um sentado...

MM47POLM: Exato, ainda no papel, escrito, bonitinho.

Pesquisador: Legal. Bom, você já falou um pouquinho do desafio de ensinar atualmente,

mas qual a diferença dos alunos? Dos atuais para a geração passada? Existem diferenças?

Quais são?

MM47POLM: É, eu até posso dizer, né? Eu acho que eu sentia muito mais

comprometimento antes do que agora, de grosso modo, tá?

Pesquisador: Tá, e como é que a tecnologia influencia nessa questão?

MM47POLM: É aquilo que eu falei com você. A internet dá a informação rápida, mas

ele esquece rapidamente também. Apenas a minha questão com a internet. Ele vai a

procura, amanhã você pergunta “Ah, eu não sei, eu vi ontem, mas eu não estou me

lembrando”. Entende? Parece que não fixa.

Pesquisador: Entendi. Você tenta de alguma forma trazer isso para a sala de aula? Você

já falou, do computador, mas durante a aula, por exemplo, pode usar celular?

MM47POLM: Não, não, nada disso! Celular é proibido. Eu também não posso celular

na escola. Meu celular tá aqui no silencioso.

Pesquisador: Mas isso é uma coisa do colégio que proíbe?

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MM47POLM: Do colégio. Mas parece que a maioria dos colégios já não está permitindo

o celular. Até porque eu acho que atrapalha o celular. Imagina, você está aqui e o aluno

mandando WhatsApp para os amigos la embaixo. Mas eles usam computador na sala de

aula. Hoje mesmo tem aula no computador, porque eu tinha colocado exercício no

(palavra não identificada), eles abriram e fizeram no computador deles e aí projetei

(palavra não identificada) eles corrigiram no computador e tal, fazendo anotações, usam

bastante.

Pesquisador: E esse (palavra não identificada) vocês colocam todo o material de sala

lá?

MM47POLM: Todo o material

Pesquisador: E aí, eles acessam de casa?

MM47POLM: Acessam de casa, de onde quiser. O pai pode olhar, quem quiser pode

olhar, lá tem as notas tem as avaliações, tem todos os PowerPoints, tem links para coisas

interessantes, música, enfim.

Pesquisador: E você consegue compartilhar...

MM47POLM: Eu vou compartilhando, aquilo lá quem quiser pode olhar, os alunos e

os pais. Porque tem uma senhazinha para eles entrarem.

Pesquisador: Legal. E vocês incentivam os alunos a utilizaram isso o tempo todo?

MM47POLM: Claro, sem dúvidas.

Pesquisador: Legal. E além disse fora da sala de aula… em sala de aula não pode usar

celular, mas fora de aula para estudar em casa, há um incentivo ou não ou é indiferente?

MM47POLM: Um incentivo para que eles estudem?

Pesquisador: Para que eles usem a tecnologia nesse momento de estudo.

MM47POLM: Claro que há incentivo, a gente incentiva, a gente pede. Repito, há

aqueles que usa exaustivamente e aprendem, outros que olham lá para outra coisa.

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Pesquisador: Uhum, tá. Só tem mais duas perguntas. Uma é: você falou que usa muito

PowerPoint...

MM47POLM: Eu tenho uma coisa importante a falar, essa escola a 10 anos, ela que

tentou implantar que todos os professores deveriam dar aula no laptop. Todos os alunos

sentadinhos com os seus laptop, professor com laptop, todas as matérias e não sei o que.

Só para você ter uma idéia, foi um fiasco.

Pesquisador: É mesmo?

MM47POLM: É. Porque um fiasco? Porque ele tem o seu laptop aqui e aí você imagina

quantas janelas ele vai abrir. Enquanto o professor está lá dando uma coisa, ele abria não

sei quantas janelas, e aí email, e aí alguma coisa de futebol, e aí alguma noticia do dia.

Então, não eu certo. Acabou isso. Nós usamos o laptop, mas não é aquilo, tudo é feito ali,

não.

Pesquisador: Você não acha que ali, realmente o ali não consegue, mas você não acha

que também tenha que ter o papel do colégio para mostrar para ele que não, esse momento,

eu sei que pode ser difícil para caramba, mas não existe um papel também de tentar falar

para ele : Olha, esse momento é esse, e educar e tudo mais?

MM47POLM: Sim, querido, mas o professor está lá e tem 20 alunos aqui e olha que as

nossas turmas são pequenas. Ele não pode olhar cada um. Gente, os alunos são

espertíssimos, um segundo eles já mudam. Quer dizer, um segundo que ele vai ver o email

ele ja perdeu o que o professor esta falando la, sabe? Eu acho que o aluno precisa ter

maturidade. Uma coisa que eu sempre falo também, é que a motivação vem de dentro,

não é de fora pra dentro, é de dentro para fora. Eu acredito muito mais nisso, você pode

ajudar, faz isso e faz aquilo, mas se o aluno lá dentro não tiver motivação. Mesma coisa

a internet aqui, ele só vai prestar atenção e fazer aquilo quando ele tiver motivação, “Eu

quero aprender isso, então eu vou ficar só com isso.” se ele não tiver motivação ele vai

ver futebol e mais não sei o que.

Pesquisador: E em relação, você falou que usa muito PowerPoint, hoje em dia, né?

MM47POLM: É, eu uso muito.

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Pesquisador: E como é que você vê isso? Você acha que eles deixaram de anotar por

conta disso?

MM47POLM: Eles anotam também.

Pesquisador: Isso não influenciou?

MM47POLM: Fica mais bonito, não fica só a professora falando. Sei lá, Português, se

eu for dar uma escola literária, mas eu vou botar, é… quadros bonitos se tiver pintor, vou

colocar outras coisas além dos textos literários, então fica mais bonito, fica mais

interessante. Mas eles anotam algumas coisas, eu vou falando e alguns dos mais

interessados anotam.

Pesquisador: E você acha que isso mudou...

MM47POLM: Mudou! Eu acho que para um aluno é melhor, do que ficar só ouvindo o

“blá, blá, blá” do professor.

Pesquisador: E em relação a tecnologia em casa, novamente. Vocês incentivam também

eles a procurarem o conteúdo em ouros lugares, ou só focado nos conteúdos que vocês

dão, por exemplo, tem uma matéria de alguma coisa: “Ah, procura o video no YouTube,

procura algum outro link”?

MM47POLM: Sim, claro. Eles podem trazer novidades para a gente, não tenha dúvida.

Pesquisador: Sim claro. Bom, eu acho que para a gente fechar aqui a questão da reforma

do ensino médio, que foi aprovada e que vai mudar bastante coisa aí. Qual a sua opinião?

Você conhece todos os detalhes? Você gostou ou não gostou? Como é que isso te

influencia?

MM47POLM: Veja só, que não esta tudo super fechado então, eu tenho uma visão assim,

uma visão até da escola americana, que a escola americana é muito assim né? Um aluno

no ensino médio, ele faz aquele basiquinho e depois se ele quiser mais ele incentiva. A

nossa escola que era assim, ficou eu acho que uns 20 anos sendo igual a Brasil, todos tem

que ter Física, Química, Biologia, na primeira, segunda e terceira série, este ano voltamos

ao método americano. Primeiro ano inteiro eles fazem Química,

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Biologia só no primeiro ano, Química, só no segundo ano, física só na terceira série do

Ensino Médio como se faz nos Estados Unidos. Os professores, nossos professores não

gostam disso, e eu também tenho… mas enfim, pelo menos eles fazem. Quem quer

aprender mais Biologia tem as eletivas. Tem varias eletivas que eles chamam até de “APs”

- Advanced Placement, quer dizer, bem avançados, Biologia mas avançada, Química mas

avançada, Física mais avançada. Então veja só, na minha cabeça, assim, eu acho que todos

os… eu tenho medo que aqui no Brasil eles digam: “Ah, se você não quiser fazer Química,

não precisa fazer Química não tá? Se você não quiser fazer Biologia também não precisa

não. Você só escolhe, então é um pouco de receio. E vou lhe dizer uma coisa, o porque.

Eu nunca estudei nem Química, nem Física, nem Biologia, sobrevivi? Sim. Estou aqui,

mas eu acho uma pena não ter estudado pelo menos um pouco. Não estudei porque eu fiz

Normal. Normal é preparação de professores, né? Você sabe disso. Isso que me preocupa,

eu acho que na minha cabeça, todos deveriam ter uma noção de Química, Física e

Biologia, depois tá lá suas eletivas. Português vai ser sempre, Matemática vai ser sempre,

tem que ser e tudo mais. Eu tenho um pouco de receio, como é que isso vai ser implantado,

um pouco de receio. Vamos ver, né? Quem viver, verá! Eu tenho medo que deixe a coisa

muito solta e me pergunto principalmente em escola pública, será que o menino que não

tem muito ensinamento em casa, ele vai saber escolher essas eletivas, ele vai… não sei.

Eu tenho um pouco de receio, confesso.

Pesquisador: Tudo bem. E enfim, eu acho que só, bom tem um pouco de aprimoramento

da formação profissional, o que você acha, os colégios ajudam vocês a evoluir sempre, a

estudar?

MM47POLM: Aprimorar sim. Estou falando daqui porque é onde eu estudo a muitos

anos. Todos os anos vai sempre um professor la para os Estados Unidos, para fazer um

curso extra, principalmente das matérias que são dadas em Inglês. Eu que sou da aula de

Português não vou para lá, mas a gente tem uma cota, pequena, mas para fazer cursos

aqui no Brasil. Quando eu fiz o mestrado, a escola que pagou a metade, meio a meio.

Embora meu mestrado tenha sido na Universidade Dominicana.

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Pesquisador: Legal. Então há um incentivo de sempre aprimorar?

MM47POLM: Há o incentivo. E todo o ano você tem uma cota para fazer cursos

pequenos. Se você quiser fazer alguns cursinhos , você pode fazer.

Pesquisador: Em outros colégios, governo, nada?

MM47POLM: Não, imagina. O governo, não, não de jeito algum e aqui, nem governo

americano. Porque essa é uma escola católica diferente da IA recebe subsídios do governo

americano porque la é laica, aqui como é católica, aqui é uma escola americana privada.

Pesquisador: Entendi. E se você pudesse mudar alguma coisa na educação no Brasil, o

que seria?

MM47POLM: Mudaria radicalmente o Ensino Fundamental, um, especificamente que é

do primeiro ao quinto ano, sonho de uma noite de verão. Primeiro que eu capacitaria

professor. Teriam que ser os melhores professores deste país, pagaria uma salário decente,

maravilhoso, porque a base de um país é a educação de primeiro a quinto ano. Se puder

ser até o nono, tudo bem, mas a principio é lá. Porque lá que tem os fundamentos da

língua, fundamentos da Matemática. Até o novo para mim é imprescindível. Se você não

aprendeu as quatro operações, você não vai aprender nunca mais, não que você não vai

aprender nunca mais, você entende o que eu estou falando, né? Mas os melhores

professores deveriam estar sempre, mas lá embaixo a gente precisa e não qualquer um

dando aula de qualquer jeito, mal. Eles são um semianalfabetos, a gente sabe disso,

professores do primário eles são semianalfabetos ensinando, isso é o caos. Pagar bem,

valorizar, capacitar, fazer no país uma educação. Porque eu tive… é chato a gente falar,

né? Mas eu tive uma educação primorosa. Primorosa que eu digo porque eu morava numa

cidade desse tamaninho, de 3.000 habitantes e eu passei na USP em sexto lugar, era mais

fácil do que agora? Não, tinham 20 candidatos por vaga. O que eu quero dizer, não estou

me valorizando, não. Eu estou valorizando o ensino que eu tive e a gente não tem mais.

Pesquisador: Bom, então, fechei no horário, você tem mais alguma coisa para falar?

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MM47POLM: Não, só espero que você seja feliz e se realize como professor. Você

quer ser professor?

Pesquisador: Sim quero.

MM47POLM: Que você se realize . Professor universitário?

Pesquisador: Sim.

MM47POLM: Veja só, eu nunca dei aula em universidade, acredito que na universidade

isso não seja tão difícil, porque eu acho que quem vai fazer aquilo, espera- se que se

escolheu, foi uma escolha, com 18 anos ele deve já saber mais ou menos o que quer, eu

acho que é mais fácil, é aquela motivação que eu disse, interna , “Eu vou fazer isso porque

eu quero então eu vou me empenhar.”.

Pesquisador: Muito obrigado. Você ajudou muito, foi muito bom, foi ótimo.

ASA20QP

Pesquisador: Bom, como eu te falei, estou fazendo mestrado. Aí, a ideia aqui é a gente

bater um papo mesmo.

ASA20QP: Tá legal.

Pesquisador: Eu tenho algumas perguntas aqui, mas é mais para eu me guiar do que

para outra coisa.

ASA20QP: Sem problemas.

Pesquisador: Bom, se você puder começar falando um pouquinho de você. Seu nome,

quanto tempo já está dando aula, quais colégios que você dá aula, quais turmas que você

dá aula, quais séries.

ASA20QP: É, eu sou, meu nome ASA, eu sou professor de Química do ensino médio.

Eu me formei em 96, dou aula desde 97, então eu estou completando vinte anos de

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trabalho, né, no ensino médio. Por… Não por opção, mas eu trabalho

fundamentalmente, todos esses anos eu trabalhei com último ano do ensino médio,

terceiro ano do ensino médio. Às vezes, pego uma turma de segundo ano, de primeiro

ano, mas grosso mesmo da minha experiência é com último segmento, o terceiro ano do

ensino médio. Eu tenho experiências com… Minha experiência é em escola particular,

né. Porém, depois que eu entrei no ensino médio público, eu trabalho no ensino público

desde 98, praticamente dezenove anos. Hoje, eu trabalho em uma escola particular, aqui

na Tijuca, o Palas, né, e trabalho no Colégio Militar do Rio de Janeiro, né. São os dois

colégios que eu trabalho.

Pesquisador: Legal. Você falou que trabalha mais no ensino médio. Você já trabalhou no

ensino fundamental também ou não?

ASA20QP: Não. Trabalhei na universidade, né. Fui professor da Estácio durante alguns

anos, seis anos… Também trabalhei em uma universidade em Barra Mansa. Na Estácio,

fui professor do curso de Farmácia, curso de Engenharia Elétrica. Em Barra Mansa, na

SOBEU, eu fui professor do curso de Farmácia. Tenho mestrado e doutorado, eu tenho

mestrado em Fotoquímica, né, e tenho doutorado em Quântica, né, em Física Quântica.

Pesquisador: Caraca, Física Quântica!

ASA20QP: É um nome que impressiona, mas não tem nada demais não. É um doutorado

como qualquer outro.

Pesquisador: E aqui no colégio você dá aula de que? De Química exclusivamente?

ASA20QP: Isso, exclusivamente de Química. Exatamente isso.

Pesquisador: Tá. E por que você decidiu ser professor?

ASA20QP: Bom, a opção de… Antes de eu ser professor, a decisão de ir para a Química,

né? É uma história meio inusitada, mas enfim. Eu tive um professor do nono ano, hoje

nono ano, antigamente era oitava série, e esse professor, que na época eu não sabia que

os professores de Biologia davam aula de Física e Química, né? E ele estava dando aula

de Química e ele era péssimo professor de Química. E eu lia o livro e o livro

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era muito bom, eu gostava do livro, livro interessante e eu descobri que ele não sabia o

que tava no livro. E eu começava a perguntar as coisas do livro e ele não sabia e eu

mostrava o livro enfim, coisas de menino do nono ano, da imaturidade, né. E aí cara,

interessante que isso me deu um gás em relação a Química e, no final daquele ano, porque

eu fiz o meu fundamental no Pedro II, e no final daquele ano, só naquele ano, o Pedro II

abriu dez vagas para a Escola Técnica Federal de Química. E aí, eu prestei aquele

concurso interno, passei e aí eu fui para a Escola Técnica Federal de Química. Eu fiz o

meu ensino médio técnico. E aí, você liga o automático, né? Aí fiz a graduação em

Química, mestrado, doutorado. Agora, ser professor eu decidi no final da escola técnica,

né. Porque no final da escola técnica ou você decide fazer Engenharia Química, vai fazer,

sei lá qual área você vai fazer, ou não, vai continuar trabalhando como técnico, que a

gente tem essa opção. E aí, eu tinha decidido fazer licenciatura, né. Eu tinha decidido dar

aula, apesar de estar trabalhando na indústria. Eu trabalhei durante dez anos na indústria.

Inclusive, meu pai não quis que eu fizesse licenciatura, porque, enfim, não… Eu lembro

que ele falou assim: “Não paguei aparelho dentário para você ser professor”. E aí, eu

comecei a fazer Engenharia Química, porque eu morava com os meus pais, enfim, não

podia fazer licenciatura. Depois eu casei, casei muito jovem, casei com vinte e um anos.

E aí, quando eu casei, fui fazer licenciatura, né, fui dar aula. Terminei, fiz na UERJ. Aí

terminei a licenciatura e depois larguei a indústria, larguei a Química dentro desse mundo

aplicado e fui trabalhar como docente.

Pesquisador: Entendi. E você acha que a função de professor é valorizada, prestigiada,

já foi mais, hoje é menos, alguma coisa desse tipo? Você se sente prestigiado sendo

professor?

ASA20QP: Bom, são duas coisas, né? Se a gente for observar quando eu era adolescente,

ser professor era uma coisa que não era comum, né, dos bons alunos. Vamos colocar dessa

maneira que é um pouco estereotipada, mas funciona. Mas hoje também não mudou isso.

Os alunos que tem o rendimento bom no ensino médio, né, os alunos que se adaptam bem

a um tipo de trabalho e avaliação que é feito no ensino médio… Não estou dizendo que

é o correto, mas… Esses alunos não escolhem ser

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professores, isso é muito raro, né. Isso não mudou, portanto, nesse sentido, não é uma

profissão, vamos dizer assim, valorizada porque não é a primeira opção desse meu aluno,

né. Agora, se eu me sinto valorizado, eu vou dizer para você que sim, né. Porque a

valorização que a gente, que eu penso, que eu trabalho é no meu trabalho direto com aluno

em sala de aula. Eu não me sinto desrespeitado. Na minha vida profissional, eu tive alguns

momentos que eu tive atritos que eu me considerei desrespeitado, portanto poderia ter

colocado em cheque meu trabalho, minha profissão, enfim, né? Em alguns momentos

difíceis. Mas de uma forma geral, não me sinto desrespeitado, porque o meu trabalho em

sala de aula eu me sinto, eu sinto estar contribuindo, eu sinto que tem um retorno desse

meu aluno e, às vezes, na vida profissional desse aluno ainda assim tem algum retorno,

alguma lembrança desse professor, como é o seu caso aqui. Você estar aqui, de alguma

forma, significa que tem uma referência ali no trabalho de docência, né, enfim.

Pesquisador: Sim sim, sem dúvidas. Legal, que bom que você falou nessa questão. Como

é a sua relação com os alunos?

ASA20QP: A minha relação com os alunos não é uma relação de cima para baixo, não é

uma relação de quem tem para dar e o outro para receber, não é uma relação do discurso

de autoridade. É um discurso fundamentado num diálogo, né. Ou, pelo menos, tentasse

oferecer o diálogo. A minha disciplina é uma disciplina um pouco árida em alguns

momentos, eu diria que em vários momentos, e aí, esse diálogo é dificultado por outras

questões, que são dificuldades geradas pelo próprio objeto de conhecimento que é a

Química… A Química não, mas o que se coloca como sendo necessário que o aluno saiba

para determinadas provas, enfim. Porque o ensino médio, ele é pragmático em relação a

algumas coisas. Então a avaliação pós ensino médio é um ditador, né. Ele coloca o que

eu tenho que, que o meu aluno tem que saber e, portanto, aquilo que eu tenho que ensinar

e que o colégio diz que tem que ser ensinado. Então é uma sequência que o professor, ele

tem um grau de liberdade, mas, ao mesmo tempo, ele fica refém um pouco dessas

situações, né.

Pesquisador: Sim sim, sem dúvidas.

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ASA20QP: Então aquilo que deve ser ensinado, muitas vezes não é aquilo que eu gostaria

de estar falando, explicando, enfim.

Pesquisador: E essa comunicação, essa relação com os alunos fica restritamente em sala

de aula ou ela se expande para fora? Contato fora do colégio, Whatsapp, Facebook, enfim,

de diversas formas.

ASA20QP: É, eu… Bom, por exemplo, Zap, meu telefone eu não passo para os alunos.

Eu resisto a isso. Diferente de alguns professores que passam o Zap para os alunos, eu

ainda não passei dessa… Talvez esse seja o meu próximo limite em relação a isso.

Facebook não, Facebook não tem nenhum problema, adiciono os alunos no Facebook.

Até quando eu vejo lá nas sugestões eu adiciono o aluno, não tem nenhuma questão em

relação a isso. Em relação a isso é tranquilo porque amizade de Facebook, enfim, isso já

estar encarnado na minha dinâmica e é excelente quando é ex-aluno então, é melhor,

porque é fácil de ver, é mais fácil de você acompanhar aquele aluno quando ele se forma,

quando ele tá fazendo alguma coisa, você acompanha algumas coisas, né. Claro que você

não vai gravar quinhentos alunos que você tenha formandos, formados por ano, mas você

tem uma noção de alguns alunos que você tem uma proximidade maior e você acompanha

ali e pode oferecer para ajudar, enfim, né. O Facebook é uma ferramenta que me agrada

bastante nesse sentido e foi, inclusive, por essa razão que eu entrei no Facebook. O

Instagram, eu uso pouco, deveria usar mais até, por outras razões, não pela docência…

Mas sim, nesse sentido se extende. Outro ponto que também, um pouco fora do técnico

da sala de aula, são… É porque hoje é o seguinte, nós temos uma sociedade que tem várias

demandas além do cognitivo. Nós temos uma sociedade que tem, uma sociedade, vamos

classificar como doente, né? É uma sociedade que vive vários problemas. Problema de

segurança, problema de saúde, problemas emocionais, problemas enfim… Isso, todos

esses problemas são refletidos em sala de aula. Então o professor tem que tá, na minha

opinião, aberto, tem que tá sensível a isso, a esse tipo de questão. Então você tem aluno

que, sei lá, dorme em sala de aula ou tem uma forte tendência a dormir, né. Ah, você pode

acordar o menino, mandar ele lavar o rosto, você pode conversar com ele, você pode

chamar os pais, você pode ter uma série de

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estratégias e, de repente, ele pode estar dormindo porque tá tomando um medicamento

novo recomendado pelo psiquiatra, sabe? E não criar uma determinada enquadramento

de que ele está dormindo porque ficou de noite no Facebook ou ficou de noite na internet,

ele tá dormindo porque é um vagabundo e não criar um quadro já estabelecido, né. Hoje,

a sociedade está em intensa transformação nas últimas décadas e saber que existe um

universo de alunos, uma diversidade de alunos em sala de aula é fundamental para você

não estereotipar e sim saber o que está acontecendo e tentar resolver a situação. Claro que

ele pode ser um aluno que não quer nada em sala de aula, mas ele é um aluno, ele pode

ser um aluno que tem uma verdadeira demanda que você desconhece, que você tem que

saber e correr atrás disso aí. O professor, ele tem que ser um cara que tem que tá, você

tem que estar sendo estimulado a estudar aquele universo que está ao redor dele, né. E

dentro de uma sociedade com várias demandas, coisas novas vão aparecendo. Enfim, é

mais ou menos por aí.

Pesquisador: Legal. E essa questão… Você falou que não tem Whatsapp lá, você não

passa para os alunos. Tem uma questão específica para isso?

ASA20QP: Não, eu acho que… Eu estou me vendo nos próximos dias passando o Zap

para eles já, entendeu? Isso pode acontecer, né. Mas eu ainda não consigo dar, eu ainda

sinto o telefone como sendo algo mais particular, eu não sei te dizer. Eu sou das antigas,

né, cara. Vinte anos dando aula, então o telefone não é o meu… Uma coisa é acessar o

computador. Eu coloco lá ou acesso o Facebook pelo celular, enfim, tenho o aplicativo

ou não, é como se eu tivesse uma opção. O telefone não. Ele tem meu telefone, aí a pessoa

liga, é como se tivesse uma invasão. Não sei, não sei.

Pesquisador: No Facebook, o pessoal vai entrar em contato contigo lá para tirar dúvida?

ASA20QP: Tranquilo, perfeito.

Pesquisador: Tranquilo?

ASA20QP: Tranquilo, pode entrar, pode entrar em contato, pode mandar email, dou meu

email, entre em contato. Ainda tem um grau de liberdade de escolher o momento

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que eu posso responder. O Zap, eu acho que eu me sinto, hoje, na obrigação de dar uma

resposta imediata, né. Aí você trabalha o dia todo, por exemplo, aqui. Eu comecei hoje

sete da manhã, eu sairia às dezessete horas, só paro para almoçar. Aí se eu vejo a

mensagem do aluno, eu fico “caraca, o cara está com uma dúvida”. Aí manda fotografia

de um problema. Um problema tem que escrever, fotografar para mandar para ele a

resposta, as vezes, a resposta não é imediata. As vezes, você vê que ele tem uma dúvida

sistemática. E aí, como que eu resolvo isso? Facebook eu chego em casa a noite, vejo as

mensagens, posso mandar a resposta para ele no dia seguinte, tal, não sei o que. Eu tenho

uma… Eu sinto, eu tenho um grau maior de liberdade e tempo para responder. Inclusive

o email. O Zap, eu acho que, sei lá. Luiz, isso é questão de tempo, Luiz. Daqui a pouco

isso vai estar caindo, eu vou estar dando Zap para o aluno, vou colocar no quadro o Zap

para o aluno, né.

Pesquisador: E qual a sua metodologia de ensino, como que você gosta de dar aula?

ASA20QP: Bom, eu trabalho em dois colégios tradicionais, né. Tanto o Palas como o

Colégio Militar, são colégios tradicionais. Então eu trabalho de acordo com os colégios

que eu estou trabalhando. Eu tento, eu falo isso para os meus alunos, né, se você repete a

mesma coisa por dez anos, dez vezes por dez anos seguidos, você acaba acreditando

naquilo ali, né. Como professor, a gente tem que tomar muito cuidado com isso, porque

por um caso você tira, me tira daqui e me coloca em um colégio alternativo, eu sinto,

posso estar errado na minha avaliação, mas eu sinto que eu conseguiria me adaptar, né.

Mas em dois ou três anos. Eu até teria muito prazer em me adaptar. Mas hoje a aula é

centrada no professor. Eu entro com um determinado conteúdo a trabalhar, a aula é

centrada em mim, o aluno, na minha aula… Eu favoreço o diálogo, eu tento promover

isso, mas existe uma estagnação do lugar daquele aluno, que ele fica naquela carteira,

sentado voltado para o professor. Existe uma coisa que incentiva a paralização física e

comportamental de se expressar, né. Tanto que quando eu coloco os alunos em círculo, às

vezes eu faço isso, né, quando eu coloco em círculo, eu tenho um mal estar. E eu trabalho

inclusive esse mal estar com eles, né? Por que você está se sentindo assim? Por que as

mãos estão se mexendo? Por que você tem que ter o anteparo da carteira na sua

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frente para te protejer? Ah, porque você não pode consultar o celular, porque o celular

fica te chamando? Qual é a questão? Então você fica… Eu, eu gosto de instigar os meus

alunos a pensar um pouco diferente o próprio comportamento, né. Mas a aula, 95% dos

casos, a aula é tradicional. Posso contar um caso, posso contar uma situação, posso trazer

para um exemplo, mas isso não deixa de ser tradicional, né? Eu posso dar uma coisa

contextualizada, isso é tradicional. O que não é tradicional, na minha concepção, quando

o aluno tem o papel principal no ensino. Aí deixa de ser o tradicional.

Pesquisador: E você acha que isso já está acontecendo em algum lugar? De o aluno sendo

o foco.

ASA20QP: De o aluno sendo o papel central? Isso pode estar acontecendo em algum

lugar, mas não que eu esteja sabendo. Não com os meus colegas de trabalho. Nós

trabalhamos de uma forma extremamente tradicional, né. Por exemplo, Luiz, nós usamos

PowerPoint, eu uso PowerPoint com certa frequência. Isso deixa de ser tradicional? Não,

né. É simplesmente uma digitalização do quadro ou de uma apostila ou de um material.

Se eu boto um site para o meu aluno consultar, isso foge ao tradicional? Não, não foge ao

tradicional, é como se fosse uma leitura complementar. Quer dizer, o fato de você usar a

tecnologia não significa que você esteja fugindo do tradicional. Você está usando as

ferramentas, você tem que usar as ferramentas, né, para tentar até dinamizar. Por exemplo,

eu uso vídeo. Aí já… Vídeo, você usa o vídeo como provocador de um tema. Aí já é algo

que não é tradicional na minha concepção. Por quando você usa o vídeo, você tá

provocando no aluno uma reação. E se você provoca uma reação, vamos conversar sobre

isso. Aí já mudou a dinâmica, né. Então, por exemplo, quando eu dou aula de lixo, eu

coloco, as vezes, o documentário do…

Pesquisador: Al Gore?

ASA20QP: O Ilha das Flores. Às vezes, eu coloco um vídeo de como se faz um aterro

sanitário. Enfim, quando eu coloco esse tipo de situação, é provocadora, né. Essa aula que

eu dou, é uma aula que foge um pouco do tradicional, né?

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Pesquisador: E você sente que os alunos se interessam mais, tem mais interesse nesse

tipo de aula?

ASA20QP: É, quando, quando… O espaço conta muito, né? Quando eu tenho uma sala

que torna meu aluno formatado em um enquadramento, né, ele fala porque ele já tem uma

relação comigo, já tem um diálogo aberto, né? Mas se eu não conheço o público a quem

eu estou falando, isso pode não ser tão estimulante, tão provocador quanto eu esperaria,

quanto eu gostaria, né? Mas ele tem uma reação. Só que a reação eu sempre acho abaixo

do que eu gostaria. Eu sempre acho que deveria ter mais.

Pesquisador: Por que? Você acha que é uma coisa mais histórica de eles já estarem

acostumados com aquilo?

ASA20QP: Eu acho que é por aí. Eu acho que a apatia já é estabelecida pelo sistema de

ensino que, de alguma forma, não favorece essa exteriorização do aluno. Tanto emocional

quanto cognitivo, né? Acho que é por aí.

Pesquisador: E você acha que essa sua relação com eles de proximidade facilita nessa

relação do aprendizado?

ASA20QP: Sim, sim, facilita sim. Expressar as dúvidas, expressar, às vezes, angustia.

Então, por exemplo, hoje em sala de aula, né, eu tinha uma lista de exercício que eu passei

do livro. Passei três páginas do livro para fazer exercício. Aí eu cheguei, dúvidas. Aí

ninguém fala nada, né. Eu já estou acostumado com essa situação, né? Mas é sempre

como um trabalho em grupo. Um trabalho em grupo quem faz é uma pessoa. Um grupo

de seis pessoas, uma pessoa faz, outra dá uma ajudadinha, tal, mas a maioria não faz nada,

né? A não ser que seja um grupo diferente. Aí na turma não é muito diferente disso. Tinha

um aluno que fez, né. Aí esse aluno falou, né, eu tive dúvida no primeiro exercício. Aí eu

brinquei: “No primeiro exercício da primeira página dos fundamentais?”. Aí a aluna

falou: “É professor, você está me chamando de burra?”. “Claro que não”. É a única aluna

que fez, não vou chamar de burra, né? Aí eu falei: “É claro que não. Essa questão que

você está falando que é fundamental tem um detalhezinho que as pessoas deixam passar.

No seu caso, você deixou passar e no caso

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dos outros, ninguém viu porque ninguém fez”. Porque tem que dar a cutucada, né? E aí,

fui fazendo os exercícios, né? Mas isso reflete o que? Que ter passado exercício para casa

não causou nenhum tipo de apelo. Se eu fosse o tipo de cara que tira ponto por fazer

exercício, o aluno faria, faria por uma condição de ser cobrado, obrigado, né. Aí eu não

sou muito disso. O colégio pede para fazer isso, eu que não faço muito isso. Enfim,

o colégio tradicional vai ser assim, cobra e se não fez tem que ser cobrado porque não

fez, são as regras. Talvez eu tenha que melhorar nisso, talvez tenha que cobrar um pouco

mais, enfim. Mas aí eu tento sempre provocar, né? Aí coloquei… O que que eu fiz? Fiz

alguns e coloquei um “esse aqui é muito importante, não vou fazer não, quero que vocês

façam para casa. Vou passar para casa ao quadrado, né? Semana que vem, esse exercício

cinco, semana que vem vocês me tragam resolvido que é igual a esse anterior que eu

acabei de fazer, é igual, é espelhado. Então vocês vão fazer em casa”.

Pesquisador: E essa questão do colégio, como o colégio influencia, a proposta

pedagógica do colégio influencia no seu, nessa sua forma de dar aula? Você falou um

pouquinho que influencia e tal, mas isso é muito direto? Tanto aqui no Palas como no

Colégio Militar.

ASA20QP: Qualquer colégio. Porque assim, tem um… Eu gosto, estou sempre lendo,

né? Tem um cara que eu gosto bastante que é o Bachelar. O Bachelar era um, trabalho

sobre a formação do conhecimento científico e ele era professor de Química, né? E ele

trabalhou também com poesia, né? O escrito dele, os escritos dele não são fáceis, mas a

mim são muito estimulantes. Gosto muito do Bachelar. Tem uma coisa que eu li no texto

dele, não sei qual foi o livro, em que ele diz o quanto é difícil para o professor mudar a

sua maneira de trabalhar depois de tantos anos. Porque o professor de ensino médio, ele

se repete, né? Ele repete aquilo que ele faz, até porque é o lugar de segurança, nós

repetimos as coisas porque sabemos que aquilo funciona daquela forma, né? Podemos

questionar o que funciona, o que dá certo no ensino médio, porque, talvez, as ferramentas

de medição e avaliação sejam erradas e, portanto, as metas colocadas também seja

equivocadas em si, né. Porque você vai propor ações mediante metas. E o colégio tem

que trabalhar com metas, porque ele precisa ter melhores resultados para

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conseguir mais alunos, um colégio particular, enfim. Mas falando isso tudo porque?

Porque o professor, ele tende a repetição, né? Em determinado… Por exemplo, você

pega… Eu sou de Química, né? Então estou andando na rua, estou indo fazer compras e,

de repente, faltou o professor de Química no colégio, sei lá, X da rua. E aí, eu estou

passando na rua e o cara me chega “pô, você é professor de Química, eu te conheço, vem

dar uma aula para mim”. Oh Luiz, vou te falar, se você me colocar em aula em qualquer

série de qualquer assunto de Química durante dois tempo, eu consigo dar aula. Isso

significa que eu sou um bom professor? Não. Significa que eu estou anulando o meu

aluno. Eu estou anulando a minha outra parte da aula. Porque quando o cara diz que é

capaz de dar qualquer aula de qualquer coisa em qualquer turma, né, ele tá dizendo que

ele é o fodão. Desculpa aí o palavrão. Mas, enfim, ele está dizendo que ele anula a outra

parte. E eu vou te falar que quase todos os professores fariam isso. Eu digo para você,

você daria? Daria. Mas eu sei que… É isso que falta, assim, como a gente faz esse tipo

de trabalho durante muitos anos, a gente sabe que dá certo. Mas o que é dar certo para o

professor? Eu sempre me questiono sobre isso, né. O elogio do meu aluno significa que

dá certo? Até que ponto o elogio do meu aluno é significativo disso? Ah, porque ele

passou de ano? Ele passou de ano porque a prova que eu fiz. Porque ele passou no Enem?

Que avaliação é essa do Enem, né? São essas coisas que eu fico pensando, que eu sou

muito autocrítico, fico sempre pensando nas minhas coisas, nos meus afazeres. Eu sinto

que o ensino não está no caminho, né? Eu tenho essa sensação. Mas concertar isso é

complicado porque todos nós fazemos a mesma coisa durante vários anos. Você vê aqui

no colégio, por exemplo, não sou o professor mais antigo, não sou o professor mais novo,

né. Então você já tem um ritual estabelecido no ensino brasileiro, né? E mudar isso é

muito complicado, né, mudar isso é muito difícil. Eu não estou colocando a culpa no

professor, mas tem um status quo de trabalho que você não pode negar e que isso favorece

uma repetição daquilo que é colocado a mais de cinquenta anos, cem anos, nesse nosso

ensino, né. E uma escola para mudar isso, se for uma escola privada, ela precisa de ter

entrada de aluno, né. E qual é o argumento que ela vai dar, né? Porque hoje você tem

colégios super tradicionais… Você pensa em um colégio, não sei se eu posso falar…

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Pesquisador: Pode, pode.

ASA20QP: Pensa em, por exemplo, no Pensi, né. Outro dia eu fui no Pensi e tava lá

missão do Pensi. Nossa, você lê a missão, você “pô, o que ele vai fazer com o aluno que

tá entrando, meu Deus. É um colégio vanguarda”. E, na verdade, sabemos que não

vanguarda, né. Sabemos que o que ele vai ensinar ali é, na melhor das hipóteses, por

exemplo, o exemplo do professor para ensinar autonomia, para ensinar um cidadão mais

articulado… Porque o método de ensino é o que? É tradicional. O cara tem que estudar,

o cara tem que ralar, né? O aluno tem que estudar, não tem outro caminho, né? E vai ter

que estudar dentro de uma aula que a aula é uma aula centrada no professor, né? Não tem

inovações em relação a isso.

Pesquisador: E, essa questão da repetição, quando você vai preparar a aula, você já tem

coisas preparadas que você utiliza ao longo dos anos ou todo ano você tenta dar uma

reformulada?

ASA20QP: Você tem, no meu caso, vamos lá. Diferente do professor universitário, o

professor universitário você tem lá… Quantas cadeiras diferentes ele vai dá naquele ano?

Ah, ele tem uma turma de graduação, que é da matéria X, de repente, duas turmas de

graduação com dois assuntos diferentes, mas não é que nem no ensino médio que você

tem, no meu caso, eu tenho uma, duas, três, eu tenho quatro, cinco, seis, sete, oito, nove

pontas diferentes. Eu tenho, comitantemente, nove turmas com nove assuntos diferentes

simultaneamente. É impossível eu preparar nove aulas semanais, é impossível, não tem

como, né? Então, o que que vai acontecer? Eu faço opções de repetições e algumas opções

que eu posso mudar, né? Mas em todas as nove eu tenho que ter lista de exercícios, né,

que são muitas delas reaproveitadas de anos anteriores, não tem como. Então o professor

do ensino médio, ele é, o tempo todo, impulsionado a repetição. Seja por conta das turmas

diferentes… Porque se fossem nove turmas do mesmo assunto é uma coisa. Preparo uma,

esse ano, eu preparei para as nove turmas, né? Mas são nove pontas diferentes. Então o

professor do ensino médio, que recebe por hora/aula, então ele já tem uma coisa assim de

operário, né? Esse professor, se ele não repetir, ele não consegue trabalhar. Se ele não

consegue trabalhar, ele não consegue

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ganhar o dinheiro dele. Então é uma situação que tem uma encruzilhada que é muito

complicado você sair. Eu digo para você, eu preparo algumas aulas. Eu faço opções de

acordo com o que está melhor preparado para aquele esquema, para aquele andamento,

para aquela turma. Porque você sente quando uma coisa não funciona com uma

determinada turma. Tem turmas que nos estimulam mais que outras, enfim. E aí, você vai

de acordo com o teu feeling, com o teu emocional, né?

Pesquisador: E há troca de conhecimento entre os professores? Tanto essa coisa de isso

funciona com essa turma, isso não funciona com essa turma, tanto a coisa do técnico e

tal. Existe essa troca?

ASA20QP: Existe. Tem professores que dizem que o melhor da escola é a sala dos

professores. Na sala dos professores, a gente brinca bastante, a gente conversa, mas tem

troca, né. É claro que essa troca é feita por afinidade da matéria, porque você tem, hoje,

o aluno que é bom em Exatas, o aluno que é bom em Humanas, né. Você tem essa

classificação, né? E o próprio aluno, às vezes, no início do ensino médio já se coloca “ah,

professor, eu não sou bom em Exatas”, né? Eu acho isso fantástico, né? Ele já estabelece,

ele já diz a matéria ou as matérias que ele não vai bem. Apesar de estar começando o

universo das Exatas, ele já diz que “oh, isso aí para mim não vai funcionar, né. Eu vou

ser de Humanas”. E o contrário também acontece, né? O aluno que diz que não vai

aprender nada de Humanas porque o negócio dele é Exatas, né. Em ambos os casos há

um erro muito grande, né, da falta de articulação desse conhecimento. E não se oferece

ao aluno que, na verdade, essa articulação de conhecimentos, que ele precisa ter para um

mundo contemporâneo super fragmentado, essa articulação é que vai oferecer a ele as

melhores oportunidades. São os nichos, quando você junta coisas que, a princípio, não

estariam juntas. E o colégio oferece as coisas muito separadas, muito isoladas, né. E em

entre os professores, não há uma ligação grande, mas existe em alguns casos. E quais são

as afinidades? Na própria disciplina, que já tem uma coisa limitada, né? Eu converso com

o professor de Química ou de Física porque aquela turma tal, não sei o que. Então tem

uma afinidade ali da matéria. E tem a afinidade humana, porque quando você gosta mais

de uma determinada

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pessoa, aí você conversa mais com aquela pessoa e você fala sobre a turma, sobre não sei

o que e você fala sobre os problemas. Isso é mais forte no Colégio Militar. Essa troca é

mais forte no Colégio Militar, né. Porque no colégio particular, a hora/aula faz o seguinte:

o professor foi contratado para dar dois tempos na segunda-feira. Então ele entra as sete

e sai oito e meia. Então a troca, ela não há, né? Essa troca é extremamente restrita no

privado, né. No público, como não é a hora/aula, você fica o dia todo, fica a tarde toda,

fica a manhã toda, então você tem tempos vagos, porque os horários não são colocados

encaixadinhos. Então essa troca é mais ensaiada portanto. Você tem horas vagas com

professor e você conversar “pô, aquele aluno, aquela turma”. Essa troca é mais intensa,

minha experiência diz, no serviço público.

Pesquisador: Entendi.

ASA20QP: E não no privado onde o professor entra e sai mais freneticamente. Porque

ele recebe por hora/aula, porque isso foi colocado na década de 70 dessa maneira como

uma conquista do trabalhador, e, na verdade, para mim, é um grande prejuízo para o

ensino.

Pesquisador: E você acha também que no particular tem uma questão também de

competição com essa questão de hora/aula?

ASA20QP: Entre professores?

Pesquisador: É.

ASA20QP: Olha, talvez tenha, eu não tenho experimentado isso. Na minha vida

profissional no privado, eu não tenho experimentado de um professor querer pegar o

tempo do outro, não sei o que, mas não seria difícil imaginar isso, tá? Mas eu não

experimentei. Eu, pessoalmente, não experimentei isso.

Pesquisador: Legal. E como que são as suas avaliações?

ASA20QP: Bom, eu tenho, por exemplo, aqui, as avaliações são ditadas pelo colégio,

né? O colégio tem um teste e uma prova, né. Eu mando o teste para a sessão técnica, a

sessão técnica roda e aplica, né. É lógico que se eu quiser fazer uma avaliação subjetiva

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do meu aluno, fazer uma lista, fazer um trabalho em grupo, não sei o que, eu posso. “Eu

quero que vocês façam um vídeo”. É claro que eu posso fazer isso e isso reverberar em

um acréscimo no teste e eu acrescento no teste ou na prova. Enfim, isso pode ser feito.

Não faço, né? Eu sigo aquilo que o colégio colocou, né, como sendo o processo de

avaliação. Porque aqui, no Palas, é realmente muito, não sobra muito tempo para as

coisas, né? Esse ano, por exemplo, não teve… Não sei se quando você foi aluno se teve

projeto interdisciplinar.

Pesquisador: Não, não.

ASA20QP: Projeto de um experimento. O colégio fez alguns anos isso, esse ano não teve,

por exemplo. É uma coisa que dá trabalho e um projeto bastante ativo para o aluno, né?

O aluno participa ativamente disso, porque tem que fazer um projeto, tem que elaborar

um trabalho, tem que… Mas esse ano não teve. Então esse ano, aqui no Palas, eu fui muito

tradicional em termos de cobrança.

Pesquisador: Entendi.

ASA20QP: Já no Colégio Militar, eu faço algumas coisas bem diferentes. Então faço

avaliações bastante subjetivas, passo trabalho para casa, já passei vídeo, mando o garoto

mandar uma imagem para mim. Ano passado, eu fiz uma autoavaliação. Autoavaliação

de um a dez. Ele tem que dar uma nota para ele e essa nota vai ser a do teste. Aí o cara

botou lá a nota. A maioria se superestima na nota, né? Só que aí depois eu mandei ele

justificar em cinco linhas porque que ele merecia aquela nota. E aí você… Isso é muito

engraçado, né? Porque eu falei para ele: “Olha, se eu concordar com a tua justificativa e

a sua nota, essa vai ser a nota do teu teste. Se não for, eu vou dar uma outra nota para

você e vou justificar e a nota vai ser a média”.

Pesquisador: Entendi.

ASA20QP: E dou para ele a minha justificativa. Quer dizer, é uma troca que você tem.

Ele faz a avaliação dele, eu faço a avaliação dele, se eu concordar com ele, beleza, dou

para ele a nota que… Aí, por exemplo, tiveram dois alunos que deram zero para eles. Eu

tive, fiquei com muita pena, mas eu segui exatamente aquilo que foi combinado. Ele

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deu zero e falou a justificativa, né. É claro que esse menino tem um problema emocional

ou ele acreditava que não fosse levar zero. Aí o que eu fiz? Eu dei a minha avaliação dele,

aí, no caso, ele deu zero e eu dei dez, ele ficou com cinco. Ficou com uma nota muito

baixa, ficou com a pior nota dele do período porque ele tinha as notas muito boas, mas

ele ficou com cinco para ele. Porque eu não vou mudar a regra do jogo que foi

estabelecido, né? Essa troca que a gente tem que ter em sala de aula porque isso vai abrir

um leque de possibilidades de atuação do professor naquele aluno, né. Porque, repito,

hoje, nós temos alunos pouco equilibrados emocionalmente, são alunos exagerados, né?

Então são alunos que exageram na alegria e na tristeza, exageram no consumo ou no não

consumo, na alimentação. Exageram em todos os… Eles não tem um equilíbrio. Sobre

isso tem que ser conversado, tem que ser dialogado. Então é o dez porque ele quer ir muito

bem, ele precisa ir muito bem porque ele quer ganhar um dez, ele quer um dez para

mostrar para a mãe que tirou um dez no teste de Química, mesmo sendo uma

autoavaliação, né? E o outro que tem que tirar zero, porque ele não fez nada que deveria,

que deveria ser um aluno melhor. Ai você fala: “Você fez alguma coisa?”, “fiz”. Se você

fez alguma coisa, alguma nota você merece, né? Você veio as aulas, você perguntou, você

fez exercício? Então você merece o zero? O zero significa nulo, você é nulo? E quando

você pergunta se ele é nulo, ele fica naquela coisa “eu não sou nulo”. Não, você não é

nulo, né? E tem uma questão emocional envolvida nisso. Eu não sou terapeuta,

obviamente, mas o trabalho do professor passa um pouco por esse autoconhecimento que

o aluno tem que ter. Isso é formação do cidadão. Em parte, é o amadurecimento desse

autoconhecimento. E o autoconhecimento não é uma coisa fácil de se fazer em uma

sociedade que tende a alienação. E o colégio, hoje, a estrutura, não estou falando dos

colégios que eu trabalho, a estrutura tende a uma auto-alienação, né? Quer saber Química

para fazer o Enem. Tem uma coisa pragmática, portanto alienante do conhecimento.

Pesquisador: Sei. E você acha que essa questão de trabalhar outros tipos de coisas, vocês

tentam fazer em sala de aula? Não dá tempo? Dá? Como é que é? Você acha que você

faz, outros professores não fazem? Como que você vê esse cenário?

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ASA20QP: Eu acho que, como a estrutura, ela tende a ser alienante, ela tende a ser

pragmática, a tendência é não trabalhar outras coisas. A tendência, né? O colégio tende a

normatizar as atividades do professor. A normatização de atividades tira o grau de

liberdade. Eu escutava muito quando eu comecei a dar aula que o professor é a autoridade

máxima em sala de aula, né. Não é mais. Hoje, você, em sala de aula, faz o que você quer

em termos, né. Claro que existe um grau de liberdade. A gente tem que trabalhar para isso

sempre, mas não… Eu acho que o que está estabelecido hoje não ajuda, né. Eu acho que

os professores estão também no seu lugar de conforto que é aquilo que dá certo. Então

nós temos uma situação que é muito inquietante que tende a inércia. A não modificação

do seu lugar. O aluno fica satisfeito de estar naquela carteira, meio que omisso de uma

participação, porque não quer participar, não quer se expor. Porque falar é se expor, né?

Pesquisador: Sim.

ASA20QP: Então ele não quer se expor. Então ele tá ali, não quer sair. O professor, por

sua vez também, quer dar a matéria. A ausência da fala do aluno, de certa forma, colabora,

converge para essa necessidade de ganho de tempo, da matéria que tem que dar. Não

quero ser simplista, mas acho que é uma tendência.

Pesquisador: Sim, sim. E o que você acha que é o maior desafio, hoje, no ensino?

ASA20QP: Ah, mudar, né, cara? Mudar porque cada ator nesse processo, professor,

escola, aluno e vamos colocar a sociedade como sendo um desses papéis, um desses

personagens, né. A sociedade tem uma demanda. Demanda por formação adequada,

formação de um profissional que seja, vamos dizer, que coloque o Brasil em outro status

de produtor de conhecimento, não de receptor de conhecimento. A sociedade pede a

formação de médicos melhores. Geralmente, a sociedade pede a questão tecnológica.

Geralmente, a questão tecnológica é um… Mas nós precisamos de um profissional mais

adequado, né? Um profissional que conheça o país, enfim. A sociedade tem essa

demanda. Aí a sociedade estabelece portanto regras para a educação. E aí, você tem o

colégio que tem que sobreviver financeiramente, o colégio particular. Um colégio,

portanto, cujo objetivo é captar alunos. Então ele vai pegar, ele vai pegar de empréstimo

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o que a sociedade quer, que colocasse em jornal e tal, e vai dizer que faz aquilo, né? Então

ele vai colocar estratégias que sejam, dentro do Marketing, dentro do colégio, dentro

daquilo que pode vender, né, como sendo aquilo que a sociedade quer, né. Então se a

sociedade entende que o colégio bom é aquele que é ranqueado muito bem no Enem, o

colégio vai fazer isso. E por aí vai. O aluno, ele quer passar de ano. O aluno não pensa,

não tem maturidade para pensar como profissional lá na frente. Ele não tem maturidade

para aprender o que a sociedade quer. Ele não quer o que a sociedade quer. Ele quer enviar

o boleto dele, ele quer… Ele tem lá… Como eu vou falar? Ele tem as situações que ele

tem que se fixar, se… Ah, esqueci. Como é o termo? Tem que se afirmar, tem que se

reafirmar, né? Tem as suas situações, né? Mas o aluno em si é muito imatura. E dizem,

né, que cada vez mais imaturo, né? Eu não sei se é cada vez mais imaturo, mas é cada

vez, apesar de todo o ferramentário tecnológico, toda a abertura para esse mundo, existe

uma maior imaturidade dele, do lugar dele, apesar da abertura de um mundo maior, né?

Eu ainda não sei identificar isso muito bem não, tá? Mas você tem esse aluno que, na

verdade, não colabora, né, até porque não tem maturidade para isso, com o que o colégio

quer, com o que a sociedade quer. E você tem o professor que quer se manter no emprego,

quer ganhar melhor, né, e que uma fatia desses professores, realmente, é comprometida

com o que a sociedade quer, com o que o colégio deveria oferecer. Você tem, realmente,

uma parte dos professores que desejam isso, né. Mas também é tudo muito misturado.

Então você tem portanto os atores que não se entendem. Esses atores que formam um

cenário que é muito complexo, né, e um cenário que o governo federal tentou alterar

quando ele fez o Enem. Mas aí você pega dos cinco anos para cá os colégios particulares

do Rio sendo comprados por grandes grupos econômicos, né? Que altera profundamente

o cenário do ensino médio. É muito complicado você estabelecer assim como que a coisa

vai encaminhar. Eu fico um pouco, eu não sei assim, eu não sei te dizer se a gente vai

conseguir mudar e de que maneira a gente vai conseguir mudar. Eu sei que o trabalho é

feito no corpo a corpo. O trabalho do professor tem que ser feito corpo a corpo. Se ele

tiver que mudar alguma cosia em termos federais, assim, a gente tem que estabelecer

cursos em forma de capacitação, de formação para sensibilizar o professor em relação

a pontos que o governo entenda

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como, representante da sociedade, né, que seja interessante, né? Mais a mudança não é

rápida não, é lenta.

Pesquisador: E você acha que, nesses vinte anos que você dá aula, houve diferença na

geração de alunos? Há uma diferença significativa? Não?

ASA20QP: É, eu não gosto de… Eu não gosto de pensar, eu não sou nostálgico, né? Eu

não gosto de ficar pensando que a geração anterior era melhor do que essa. Eu não gosto

de pensar que o colégio que eu estudei, o colégio que eu estudei é melhor que o que eu

ofereço hoje. Eu não tendo a pensar isso. Eu prefiro pensar, eu sou um otimista. Prefiro

pensar sempre que a geração seguinte ela tem ganhos em relação a anterior, né? E que

esses ganhos, eu tenho dificuldade de perceber ou de dialogar com eles. Eu não posso

pensar que o que vêm na frente é pior que o anterior. Se eu penso nisso, eu entro em uma

crise profissional, ética. Eu entro em uma série de problemas. Então assim, é melhor, a

gente tem que direcionar esses meninos, né? Agora, meninos que vêm com uma série de

problemas, garotos que vêm com uma série de questões. Maiores que os daquela época

eu não sei. Eu não sei dizer porque a psicologia, ela tem criado uma série de problemas,

de situações, que antes, de repente, não eram diagnosticadas. Por exemplo, na minha

época não tinha bullying, não existia bullying. Não existia o diagnóstico de bullying, mas,

naquela época, se um psicologo saísse hoje daqui e fosse trabalhar a vinte anos atrás,

rapidamente diagnosticaria bullying em várias situações que existia, né? Ah, então o

pessoal é mais sensível que antes? Não sei. Não diria isso. Eu diria que antes as pessoas

sofriam de bullying, tanto que você tem pessoas adultas com problemas relacionados a

isso, né? E hoje nós evitamos que as crianças tenham esse problema, sequela quando se

tornam adultas. Agora, ao mesmo tempo, quando eu protejo demais a criança, eu impeço

ela de criar suas barreiras de proteção, porque isso deve ser criado também ao mesmo

tempo, né? Enfim, os professores hoje ficam apenas perguntando qual a nova, próximo

ano, qual a nova doença diagnosticada pelos psicólogos? É preciso saber para entrar no

meu hall aqui, né? É THD e outros. Borderline, é Borderline. E aí, eu não estou dizendo

que não exista, não é isso, né, eu estou dizendo que o professor fica um pouco perdido

nessa situação, porque, não sei se

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é verdade, mas eu li em algum lugar, que nós temos 20% dos jovens tomando

psicotrópicos. Porra, 20% é muita coisa, muita coisa. É um quinto da minha turma

tomando medicamentos. E eu fico pensando: “caraca, onde que nós vamos parar com

isso?”. Será que as doenças são realmente, conseguem ser realmente tratadas com

psicotrópicos? Tem especialista que diz que é, então tem que ser, né? Agora, olha a

diferença desse alunado urbano, privado, do meu alunado que eu teria se fosse para o

interior, para o meio rural ou até mesmo no meio urbano na escola do estado, do

município. Ali não tem ninguém tomando psicotrópico, não tem. Tem, mas em

quantidades muito menores, né? Enfim, estatisticamente não é tão significativo. Olha a

heterogeneidade que nós temos numa mesma cidade, no meio urbano mesmo. Isso tudo

fica martelando a cabeça, porque, na verdade, a gente não conhece o cenário de nossos

alunos todos, né? Eu tenho um cenário muito seleto de um colégio privado, de elite, né,

do Rio de Janeiro e um outro colégio público também de elite do Rio de Janeiro. O que

eu sei sobre educação de verdade? Eu sei muito pouco, né? Claro, eu dei aula no Estado

durante muitos anos, né? Dei aula para comunidades mais humildes, né? Mas, hoje, o

cenário que eu tenho ele é muito restrito. Eu tenho que ter essa noção de que não é

representativo. Mas o meu aluno não tem essa noção não. E aí, vamos lá, voltando para

questão do aluno se tá melhorando ou não. A maioria dos professores vai dizer que não

melhora, que tá piorando. Porque a situação de trabalho dele vêm piorando muito nos

últimos anos, a cobrança vêm aumentando muito e os resultados, talvez, não tenham

melhorado, né? Ele vai dizer que o aluno está chegando cada vez mais fraco. Ele vai

colocar a responsabilidade em outros atores do processo, tá? Eu acho que todo mundo

acaba fazendo isso, colocando culpa nos outros, né? Não que esses outros não tenham

culpa, tem culpa sim, tem culpa sim, né? Mas eu rejeito a ideia que o meu aluno tenha

piorado nos últimos anos. Meu aluno tem um potencial maior, potencial mais difuso.

Acho que o meu aluno está cada vez mais desencontrado em relação ao colégio. O colégio

que esse meu aluno precisa, não é o colégio que nós oferecemos. Esse desencontro, talvez,

já existia a vinte anos atrás e acho que esse desencontro é maior ainda, né? Meu aluno

está sendo avaliado de uma forma equivocada. Acho que meu aluno está sendo preparado

de uma forma equivocada. Acho que meu aluno não é

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cativado pelo conhecimento. Não concordo com aquela frase que tá dizendo direto na

internet que eu tenho uma escola do século XIX, um professor do século XX e o aluno do

século XXI. Eu não concordo com essa frase, né? Eu acho que ela está errada, mas ela

tem um fundo de verdade.

Pesquisador: Entendi. E como a tecnologia entra nisso tudo? Vocês usam tecnologia,

vocês tentam incentivar?

ASA20QP: É, eu acho que a forma que os colégios usam hoje a tecnologia, nada mais é

que uma extensão da aula tradicional. Usasse a tecnologia, né? Eu tenho contato com o

meu aluno pelo Facebook, eu uso a internet, às vezes, em sala de aula, eu ofereço sites

para o aluno procurar, eu ofereço os meios digitais portanto, mas, na verdade, eu estou

utilizando dentro da vertente da aula tradicional, né? Eu não sei te dizer, Luiz, eu tenho

que estudar isso ainda, de que forma eu poderia usar os meios digitais realmente de uma

forma a favorecer uma quebra desse paradigma da aula que é centrado no professor. Eu

não sei de que forma poderia fazer isso. Mas vídeo-aula não é… A vídeo-aula, na verdade,

está favorecendo a inércia do meu aluno. O fato dele escolher uma vídeo-aula não é uma

interação, não tem… É uma passividade cada vez maior, porque tem o silêncio, porque

tem uma aula formatada, dada por um cara e o aluno consegue entender o que está sendo

colocado ali. Excelente. Mas não tem vivência, não tem experiência, não tem troca, falta

humanidade. Quer dizer, na verdade, essa explosão das vídeo-aulas que estão

acontecendo, nada mais é que uma aula tradicional em que você tem um aumento de

ganho, aumento de ganho para quem oferece, e o aluno… Porque abrange uma quantidade

enorme de alunos… E o aluno tem uma conveniência maior que ele fica cada vez mais

no seu mundo, né? Ele escolhe o momento de acessar as aulas dentro de seu quarto, ele

pode fazer outras coisas, ele tem uma aparente liberdade do seu momento, né? Mas, na

verdade, ele não tem uma liberdade… Ele tem liberdade, mas ele não tem uma troca. Ele

não tem uma vivência expandida, vamos colocar dessa maneira. Estou me apropriando de

uns termos que eu não pensei neles ainda. Mas sobre o ferramentário digital, eu acho que

o que se usa hoje, não é… É aula tradicional, né? Onde ele pode entrar para favorecer?

Bom, eu não sei. Ambiente virtual de sala de aula

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475

é uma possibilidade que já existe, EVA, né? Ambiente virtual de aprendizagem e tal. Eu

já tive oportunidade de participar de alguns de forma muito simples, né? Realmente tem

a troca, mas a ausência do fator humano, pelo menos, a mim, é muito caro, é uma coisa

que eu não… Eu tenho dificuldade em me adaptar. E as duas experiências que eu tive, as

trocas ainda eram muito insípidas, muito pequenas, né? Para ter esse tipo de troca, eu

prefiro estar em sala de aula, mesmo entendendo que sala de aula não é o melhor

ambiente, que é um ambiente que pode oprimir determinadas falas e não sei o que. Então,

por exemplo, Facebook. Vamos lá. Nós temos o Facebook e nós temos várias discussões

acontecendo de forma calorosa, né? Eu acho isso muito interessante. Não é uma aula, mas

a pessoa poder falar aquelas coisas que eu posso entender como sendo absurdas,

excelente. Se eu pudesse falar em sala de aula, seria ótimo. Mas isso não acontece porque

em sala de aula a coisa é muito controlada, né? Então o aluno sabe que não pode falar

aquilo… Não estou dizendo que eu passo por isso, mas racismo. O aluno sabe que em

sala de aula, mesmo que sinta, mesmo que ele tenha uma fala em casa que aprove o

racismo, ele sabe que em sala ele não pode falar isso, então ele não vai verbalizar. Na

medida que ele não verbaliza, ele perde, nós perdemos a oportunidade de dialogar com

esse indivíduo e torná-lo consciente do seu lugar, que aqueles pensamentos, precisa ter

consciência daquilo. Claro que quando ele não diz, ele tem consciência que aquilo não é

interessante falar, mas a gente não sabe até que ponto ele está aprovando aquilo, né? E aí,

quando você tem os aparelhos digitais, eles podem ajudar nesse sentido de troca. O que a

gente vê no Facebook, pelo menos, eu dificilmente vejo alguém mudando de opinião no

Facebook. Nada mais é que um fortalecimento daquele pensamento, né? Por isso que não

é uma atitude pedagógica educacional, né? Eu não sei como juntar as duas coisas. De que

forma o cara pode ser verborrágico e, ao mesmo tempo, oferecer diálogos que possam

mudar o lugar dele e não estratificar a a sua posição, consolidar a sua posição, né? Porque

é isso que é educação. Educação é esse diálogo que o professor, inclusive, ele pode mudar

o seu lugar. O lugar do professor é um lugar que também deveria ser móvel, né? Apesar

do professor, a maioria das vezes, entender que o seu, que a sua fala é uma fala da ordem,

uma fala da verdade, uma fala do que seja mais próximo do correto. Mas o próprio

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476

professor deveria sim se dar a permissão de mudar a posição dele de acordo com o que

está sendo discutido. Se ele não muda o lugar dele de discussão, ou ele está errado ou o

objeto de discussão que está errado. Uma das duas coisas. Por exemplo, eu vou discutir

termoquímica, né? Eu posso aprender algo diferente de termoquímica que é um objeto de

conhecimento que eu estou trabalhando hoje no segundo ano. Eu realmente posso

aprender uma questão, tal, não sei o que. Eu tenho possibilidade de mudar. De repente,

uma resolução de um aluno numa questão “pô, uma resolução interessante, criativa, tal,

não sei o que. Eu posso começar a usar isso”. Uma pergunta do aluno pode me fazer

pensar em uma coisa que eu não tinha pensado antes, né? Mas é muito pouco, na minha

opinião. Por esse objeto de conhecimento, ele já está muito solidificado na Química, né?

Agora quando eu penso em aplicações da termoquímica, aí abre um universo de coisas.

Porque a aplicação da termoquímica eu tenho várias coisas para eu poder pensar. Mas

isso, geralmente, não é trabalhado.

Pesquisador: Fica muito mais no técnico…

ASA20QP: Fica muito mais naquele assunto frio do ensino médio.

Pesquisador: Entendi.

ASA20QP: Agora, quando eu penso em lixo, por exemplo, que é um tema muito legal,

aí as coisas podem mudar. Porque, de repente, saí um relatório de resíduos urbanos

brasileiros que tem um dado novo. E aí, você pode mudar aquilo que… Eu falava isso,

mas, na verdade, olha como que pode ser diferente, né? Ou uma estratégia que aconteceu

em um cidade que o prefeito fez ou a cidade de propôs a fazer e que deu certo, né? E olha

como pode dar certo isso, isso, aquilo. Eu posso mudar, claro. Enfim.

Pesquisador: E assunto polêmico do celular? O que que você…

ASA20QP: O que eu acho? É proibido por lei o uso de celular em sala de aula, né? É

proibido. Então, se é lei, não tem o que se discutir. É proibido e acabou, né. Eu acho um

grande equivoco. Eu acho que o celular deveria estar em sala de aula. Acho que a sala de

aula, ela é mais frutífera se ela tiver incorporada dentro da maneira que o meu aluno está

na sociedade, né? Se, por exemplo, nós… Você não pegou o celular. Eu também

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477

não peguei o celular durante todo esse momento aqui, né. Então nós temos uma condição

assim, estou trabalhando, estou fazendo alguma coisa que exige uma determinada

concentração, não vou usar o celular, né. Então é uma coisa que tem que ser aprendida e

não obrigatório. Você não tem que apreender o meu celular porque, né… Lógico, tem que

ser obrigatório, banca proibido, por questão de segurança, não sei o que… Mas em que

momento o aluno, o menino aprende a lidar com isso? Ele aprende com o uso. Ele aprende

na medida em que, quando ele usou, ele se ferrou. Ele perdeu a oportunidade de alguma

coisa, né? Não acho que tem que ser proibido não. Acho que tem que ser aprendido como

toda, toda, toda ferramenta, como tudo na sociedade tem que ser aprendido. Vai se cometer

excessos? Obvio. E no início vai ser difícil? Provavelmente. Principalmente para

professores antigos. Principalmente para professores mais antigos. Quando eu comecei

a dar aula não tinha celular. Quando que comecei a dar aula não tinha celular, né? Celular

eu fui comprar depois de algum tempo dando aula. Não sei nem quando eu tive meu

primeiro celular, né. Mas não faz vinte anos não, muito menos que isso. Então assim, o

celular, para mim, eu tive que aprender a como lidar com ele. Então quando entro em sala

de aula, já estou certo. Eu deixo desligado no vibracall, deixo no silencioso. E aí, quando

chego no final da aula, no caso, eu vejo se tem alguma demanda, não sei o que. Hoje, por

exemplo, as pessoas não deu o telefone do trabalho para os outros, dão o celular.

Antigamente, eu lembro, o telefone do trabalho era dado… Se alguma coisa aconteceu,

liga para o trabalho. Mas mudamos radicalmente isso. O uso de celular em sala de aula,

ele não deve ser proibido, ele deve ter regras. A sociedade não tem regras? Então tem que

ter regras de uso. E aí, eu não sei se cada professor tem que por suas regras, mas não a

proibição, né? Não sei de que forma deve acontecer isso, mas o aprendizado tem que

passar pelas mídias digitais, é necessário isso. A questão é como promover essa, esse uso

de forma intercalada e que promova a fala, a exposição do aluno, do discente, para que

isso facilite sim, o papel dele, para reforçar o papel dele como colaborador daquele

processo. Até hoje… Até hoje não, pelo o que eu tenho visto, não sou conhecedor disso,

Luiz, mas pelo o que eu tenho visto, me parece apenas extensão da aula tradicional.

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478

Pesquisador: Entendi. E vocês tem… Você tinha falado a um pouco tempo atrás essa

questão do aprimoramento profissional. Vocês tem algum incentivo? Como é que você

faz para se aprimorar profissionalmente?

ASA20QP: Não tem incentivo nenhum. É, porque… Tem colegas de trabalho que dão

cinquenta tempos em sala de aula por semana. Cinquenta e poucos tempos. Pô, Se a gente

for pensar, cinquenta e poucos tempos são todos as manhãs e mais algumas tardes, né?

Então o cara não tem tempo de se aprimorar, entendeu? O cara simplesmente existe

cuspindo. Já pensou um cara desse passa um trabalho para corrigir? Caraca, ele tá perdido,

porque ele não passa trabalho para corrigir, né? Só de prova que esse cara tem que corrigir.

Não acho que… A questão do aprimoramento, eu acho que não existe incentivo, né… Eu

sei que, no caso da Química, eu sei que a PUC tem um curso, né, de capacitação. Eu, eu

estava até conversando esse final de semana com a minha esposa que eu quero voltar a

fazer… Porque assim, eu fiz a minha graduação em Química, fiz o mestrado, fiz o

doutorado. Aí depois comecei a fazer o curso de Filosofia, graduação em Filosofia. Não

pude terminar por conta da carga horária, né. Não cheguei nem perto de terminar. Mas

hoje, como eu sou, como eu tenho estudado muito a questão da imagem, né, hoje, eu estou

com muito interesse em fazer um, não uma graduação, mas uma pós. Ou mestrado ou

doutorado em alguma coisa relacionado a fotografia.

Pesquisador: Legal.

ASA20QP: E tenho tido… Publiquei um artigo, publiquei um artigo no começo desse

ano, internacional, sobre a relação entre a fotografia e a ciência. A questão da ideia de

verdade. Enfim, não vou ficar falando sobre isso, mas mostrando assim que o trabalho de

estudo, de aprimoramento, ele passa muito pelo individual, cara. Porque

institucionalmente não há incentivo. Eu não consigo imaginar um professor chegar para

o seu colégio e falar: “Oh só, eu vou fazer um mestrado, estou precisando me especializar

em educação e aí eu estou precisando de uma liberação aí de um dia e tal, não sei o que”.

Ele vai perder um dia de trabalho, um dia de dinheiro. Ele não vai, não tem como. E, hoje,

como você tem, hoje, uma diminuição, uma tendência de diminuição de investimento

dessas bolsas, a tendência é que o garoto faça graduação, ele vá para o

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mestrado e não o profissional que está dando aula a alguns anos consiga ir para o

mestrado. Isso é uma coisa difícil, muito complicada. Hoje, a capacitação, ela é muito

prejudicada. Eu não vejo, hoje, eu não vejo, em termos genéricos, eu não vejo como isso

acontecer a não ser no plano individual. Eu estudo, eu estudo e eu sei e eu gostaria de

aplicar alguma coisa em sala de aula sobre isso e acabou.

Pesquisador: Legal. E a reforma do ensino médio? Qual sua opinião sobre? O colégio

tem falado com os alunos sobre isso? Já está se movimentando para mudar alguma coisa?

ASA20QP: Olha, em colégio pequeno, o nosso colégio é pequeno, né, aqui no Palas, não

está sendo, nada está sendo colocado mesmo para mudar, assim, os itinerários, os

diferentes itinerários. Isso não tem se colocado, tá? Eu não sei o que o colégio vai decidir

em relação a isso. Em relação ao Colégio Militar, ano que vem já tem mudanças. É, ano

que vem vai promover algumas mudanças. Como o Colégio Militar não é democrático,

as mudanças são de cima para baixo, né? Então eu não sei exatamente quais são as

alterações que vão ser feitas, mas o que a gente escuta, o que foi colocado em uma

determinada reunião é, são essas oportunidades de itinerários, né, tecnológicas, humanas,

né, que eles vão oferecer desde o primeiro ano, desde a segunda metade do primeiro ano.

E o itinerário básico, enfim. Mas os colégios maiores estão se movimentando e os que

são muito maiores ainda devem estar inclusive participando dessa modificação junto ao

MEC, né? Devem estar dando algumas cartas junto ao MEC, ninguém duvida disso.

Pesquisador: Legal. Qual a sua opinião, o que você achou da reforma no geral?

ASA20QP: Eu acho que é produtivo, não acho que seja ruim não. Eu acho que oferecer

ao aluno mais de uma possibilidade é uma movimentação interessante. Sai um pouco da

formatação. Não acho ruim. Acho que oferecer mais de uma possibilidade para o aluno

legal. Acho que é um caminho interessante. Eu não acho ruim. Só um pouco cético porque

a estrutura é a mesma, então não acho que o menino fazendo tecnológica ou humanas,

que ele vai aprender mais uma coisa de verdade, né, do que outra. Tenho minhas dúvidas

em relação a isso. Mas oferecer mais de um caminho é interessante.

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Pesquisador: Legal. Para finalizar, bem hipotético, se você pudesse qualquer coisa na

educação no Brasil, o que que seria?

ASA20QP: Caraca, já me perguntaram isso.

Pesquisador: É mesmo?

ASA20QP: Já. É, eu confesso que eu não sei. Eu não sei, Luiz. Eu tenho muitas dúvidas

em relação a isso, mas eu, por exemplo, acho que trabalhar com projetos, eu acho

interessante. Que projeto? Problemas. Você tem um problema, né, a ser resolvido. Como

é que a gente faz o approach desse problema, né? E aí, faz o approach do problema,

vamos tentar resolver, achar uma solução para esse problema. E aí na proposta das

soluções, nas propostas das soluções, você tem que estudar, né? Então, você tem um

problema… Vamos lá, drogas. Você tem um problema de drogas no Brasil, no mundo. Aí

vamos resolver. Vamos criar um grupo de trabalho na turma para resolver isso. Aí

chegasse a conclusão que tem que ser um trabalho ligado a segurança, outro vai trabalhar

com saúde, o outro vai trabalhar com escola, o outro vai trabalhar com não sei o que,

beleza. Então cada grupo tem que propor estratégias para resolver. Aí quando o grupo que

tá, que pegou a parte de saúde pública, quando ele vai propor soluções, ele vai ter que

estudar, porque ele vai ter que embasar, né? Seria tipo resolução de problemas. Tem um

nome para isso, seria TIC? Não sei. Tem um nome que dá que é uma estratégia

educacional. Eu gosto disso, né? Mas eu gosto disso no teor mesmo, não sendo o cara tem

aula durante o ano todo e faz isso como paralelo. Não, o cara tinha que trabalhar

resolvendo problemas, né. Porque, pô, você está fazendo um trabalho de mestrado, então

você tem que criar um problema, né?

Pesquisador: Sim.

ASA20QP: Você tem que criar uma hipótese e tem que desenvolver aquela questão, né?

No caso do mestrado, você propõe o tema, você propõe o core mediante a questão que

você está colocando. Mas, muitas vezes, o problema é dado a você.

Pesquisador: Sim, sim.

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ASA20QP: E aí, como que você vai abordar esse problema, né? Essas coisas deveriam

estar mais… O aluno deveria estar mais a par de resolver problemas, mas não questões

de Química, não questões de Matemática, né? Que são questões que o professor diz como

resolve e o cara vai e reproduz. O legal é a resolução de coisas que não tem uma resposta

pronta, portanto o professor não pode dar certo simplesmente porque tem um modelo a

ser seguido e ele seguiu aquele modelo. Como… Eu gosto das coisas que não tem uma

resposta dada, né? Então vamos resolver esse problema. Por exemplo, eu vejo os alunos…

Aqui no Palas, dois anos atrás, até aquela menina que entrou para perguntar, ela estava

nesse grupo. Eu sou fotografo, né, aí eu falei que queria fazer um Penrose, máquina

fotográfica Penrose, né? “Porque que é isso, professor?” “Pesquisa, dá uma olhada aí. Eu

não sei como se faz não, mas eu prometo, o dinheiro eu gasto para resolver esse negócio,

dou minha ajuda financeira aí, entendeu? E o que for técnico, eu também posso ajudar se

for o caso”. Os garotos, muito bom, cara. Os garotos foram atrás do negócio, foram

pesquisar o que era o Penrose, né? Eu já sabia, né? E aí, “professor, aquilo não é possível

fazer”. “É, claro que é”. Aí foram ver vídeos no Youtube. Tudo bem que eles foram ver

pelos vídeos do Youtube, mas aí, o que que acontece, o que que a gente vai usar para

substituir esse negócio? Aí vamos fazer aquilo. “Ah, professor, a gente não tem papel”.

“Papel eu arranjo, papel eu vou conseguir para vocês”. Aí consegui papel fotográfico

sensível a luz, não sei o que. Expliquei para eles que não podia pegar luz e tal. E eles

conseguiram tirar foto, né? Então assim, é legal você ter um problema a ser resolvido, um

desafio, né? Que, de repente, Luiz, se eles não conseguissem resolver, não significaria

fracasso. Depende até onde eles caminharam, qual foi a… A questão do compromisso,

eles tem que ter compromisso com aquilo que eles estão aprendendo. E o compromisso

que eles tem com aquilo que eles estão aprendendo depende muito desse objeto, desse

desenvolvimento, da resposta, né, que não é dado por uma prova. Esse negócio de prova,

negócio de teste eu acho isso extremamente antiquado, eu acho chato isso. A gente tem

que dar uma nota para um aluno. Eu acho que tem que ter outros desafios, desafios que

as pessoas não estão preparadas para fazer, né? Eu não estou preparado. Quando eu falo

dos professores, eu não estou sendo arrogante não. Eu não estou preparado para fazer

isso, né? Mas eu acho

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482

que as coisas tem que caminhar nesse sentido de, do aluno ser, resolver questões, resolver

problemas, que podem ser tecnológicos… Esse Penrose é uma coisa tecnológica, né?

Depois tem que explicar aquilo como fez, obviamente. O cara fez pelo vídeo do Youtube,

reproduziu, agora vamos explicar isso aí. Por que que acontece isso? Por que você não

fez aquilo? Você instiga. E sobre questões humanas, né, questões relacionadas a saúde

pública, relacionadas, por exemplo, a design, a estética, a apresentação, enfim, colocar

sobre dúvida aquilo que é estabelecido, aquilo que é feito… É feito assim, por que não

deve ser feito assim? Por que que não se faz? Ah, é vontade política, é dinheiro… Ele já

situou o problema, já propôs uma resposta que não pode ser feita por causa disso, disso,

disso. Olha quanta coisa envolvida nessa brincadeira, né? Nós precisamos nos interrogar,

nos perguntar. E em um projeto, eu acho sempre interessante… Tem um nome que dá, eu

esqueci agora, to tentando lembrar, mas não dá. Esses projetos de resolução de projetos,

né? Que funciona tanto para questão humana, tecnológica, biomédica. Nós temos que

trabalhar… O professor tinha que ser um orientador, um orientador desse tipo de trabalho,

né? Acompanhar o aluno na resolução dessas coisas. Enfim, eu acho que é por aí.

Pesquisador: Aham.

ASA20QP: Falei muito, né?

Pesquisador: Não, que isso, foi ótimo. Você acha que tem mais alguma coisa que acha

que não contou e gostaria de comentar?

ASA20QP: Não, tudo bem, agora tudo que eu falei é mentira, né? (risos)

Pesquisador: ASA, é isso, muito obrigado.

ASA20QP: É isso aí.

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• • • •

Experience Map do aluno

Julia Pacheco.

Tarefas ® ® e

Presta atenção na explicação do

professor.

Copia a matéria quando o professor

anota no quadro.

Quando o conteúdo é projetado em

slides, faz somente pequenas

anotações (quando faz) porque sabe

0 Conversa com os amigos.

@ Joga jogos como ping-pong e cartas.

® Compra lanche na cantina.

Envia dúvidas

pelo Facebook e

Whatsapp para

Vê vídeo-aulas

no Youtube.

Estuda pelo

livro, caderno

Prova.

Espera o professor corrigir

(não há prazo divulgado).

Tira dúvidas com

o professor.

© Escolhe o curso que deseja fazer.

Fazer a(s) prova(s) como exper iência

e preparo para o próximo ano.

que vai receber o arquivo por email.

Conversa com o professor sobre

assuntos pessoais.

@ Usa o celular escondido.

pelo professor.

e exercícios na

internet.

Faz a prova.

Trabalho.

Recebe a prova

corrigida e a nota.

© Grava o áudio de algumas aulas.

@ Faz exercícios.

Forma grupos com

os outros alunos.

Apresenta para a turma

e para o professor.

Entende o que

foi pedido pelo

professor.

Prepara o que

foi solicitado.

Recebe a nota

do professor.

Emoções

"Eu me sinto bem, eu gosto de estudar lá

Eu gosto das pessoas, eu gosto dos

professores, eu me sinto bem."

"Ah, eu fico conversando com as pessoas,

meus amigos. [...]Agente joga, de vez em

quando, Uno, cartas. Mas, geralmente, eu

sento e converso."

"Eu prefiro fazer o trabalho, [...], mas

também porque é uma forma mais dinâmi­

ca, você sai um pouco da reta do que é

tradicional."

e

"[...] eu sou aquela aluno na média, [...],

mas ele tem mania de ficar no meu pé,

sabe? De me querer deixar mal e eu sou

uma pessoa que não levo desafora para

casa, então eu debato, sabe?"

"A galera se irrita por pouco, ficam

reclamando que o colégio é cheio de

regras, que são umas regras que, às

vezes, não faz muito sentido."

"Quando eu vejo que tem dez matérias,

oito matérias para estudar, [...], doze

matérias, cara, na terceira matéria eu já

estava assim 'não aguento mais'. Eu

desisto assim."

"Acordar sábado para fazer 90 questões

do simulado é triste. Aí depois acordar no

outro sábado para fazer 45 questões de

Matemática também não é legal não [...]."

"Ah, eu ainda não estudo para o vestibular

não, mas eu penso 'ah meu Deus, ano

que vêm eu tenho que estudar'."

Ferramentas

l!!l Livro/Apostila • • CJ Caderno

g Computador

□ Celular • • E:::] Email • ©), Google • • (r Facebook

o Whatsapp •

D Youtube •

Pain points Estrutura tradicional da sala de aula.

Metodologia tradicional: o professor expõe o conteúdo

no quadro ou por projetor e fica falando.

Aula centrada no professor.

Não são utilizados os laboratórios e outros ambientes do

colégio.

Não podem escolher quais matérias querem fazer ou se

aprofundar.

Diversos conteúdos são ensinados somente para o Enem

e vestibulares.

Implicância com certos professores, o que dificulta o

aprendizado.

Aulas que não exploram os interesses e as realidades

dos alunos.

Professor não sabe explicar de maneira diferente

quando o aluno pede para repetir pois não entendeu a

explicação.

Pouco uso de tecnologia.

Há câmeras vigiando se o aluno está utilizando o celular.

Regras que limitam demais as atividades.

Curto tempo de intervalo.

Muito conteúdo para estudar ao mesmo tempo.

Calendário rigoroso de avaliações.

Muita pressão para tirar notas boas.

Conteúdo está espalhado em diversos lugares.

O material dado em aula não é visto como suficiente

para estudar.

Modelo tradicional de avaliação com provas individuais

e sem consulta.

O importante é a nota.

Competição entre os alunos estimulado pelo colégio.

Calendário rigoroso, cansativo e com poucas folgas.

Mesma avaliação para todos, independente do nível do

aluno.

Várias provas no mesmo dia e com tempo curto de

realização.

Estimulo a memorização.

Não explora o interesse dos alunos. Professor sempre

escolhe os temas.

A tecnologia só é utiliza em alguns trabalhos e nunca

nas provas.

Grandes dúvidas sobre qual área seguir.

Poucas informações do colégio sobre os cursos.

Pressão por decidir o curso que vai guiar sua vida.

Prova cansativa e longa.

Pressão pelo resultado.

lnsights Utilizar alguma ferramenta, de preferência uma que os

alunos já usam, como o Facebook, para compartilhar o

arquivo com os slides e outros materias importantes.

Professor que tem bom relacionamento com o aluno

infiuencia positivamente na aprendizagem.

Professor que não tem bom relacionamento com o aluno

infiuencia negativamente na aprendizagem, pois o aluno

perde interesse na aula.

Alunos gostam e preferem quando a aula foge do padrão

e explora outros formatos e metodologias.

Alunos entendem que o celular pode atrapalhar a

dinâmica de aula.

Usar slides e projetor é visto somente como um

substituto do quadro e não uma inovação.

Fugir do modelo

tradicional e trazer o

aluno para o centro

do ensino, deixando

de ser apenas um

ouvinte.

Entender se há necessidade de tantas regras mesmo e

quais são outras opções que podem melhor atender as

necessidades do aluno.

Dar mais liberdade e responsabilidade para os alunos.

Criar um mecanismo para agilizar as compras na

cantina para que o aluno possa usufruir do tempo de

intervalo melhor. O uso da tecnologia pode ser uma

opção. Por exemplo, um aplicativo que o aluno pode

fazer o pedido antecipadamente e o pagamento por lá

Como as vídeo-aulas são muito utilizadas, o próprio

professor poderia indicar quais que estão alinhadas

com o seu pensamento e são boas para os estudantes.

Além disso, se fosse possível, eles próprios poderiam

gravar algumas e disponibilizar.

Professor poderia fazer uma curadoria de conteúdo

disponível online para indicar para os alunos.

Muitas provas no mesmo dia, principalmente de áreas

diferentes, deixam os alunos mais preocupados. Muitos

acabam escolhendo quais que vão estudar e quais vão

deixar de lado.

Usar mais trabalhos como modelo de avaliação e menos

provas e lista de exercícios.

Procurar outras formas de avaliar o aluno sem ser com

nota. Poderia ser usado participação em sala, interesse

pelo conteúdo, engajamento, entre outros.

Estimular mais o pensamento do aluno e menos a

memorização.

Dar maior autonomia para o aluno na escolha de temas e

trabalhos.

Gerenciar as expectativas em relação as avaliações

desde o começo.

Uso da tecnologia pode facilitar e agilizar diversos

processos que são repetitivos e manuais.

Intervalo

Estudar

Avaliações

o Enem e o vestibular.

@

0

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Trabalhar o psicológico do aluno desde o começo do ensino médio para esse momento de

pressão que é o vestibular.

Trazer mais informações sobre o mercado de trabalho e suas áreas.

Explorar outras habilidades necessárias no mercado de trabalho durante as aulas.

Relacionar o conteúdo do Enem com o dia-a-<1ia e o mercado de trabalho.

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[[l Livro/Apostila • •

0

®

Experience Map do professor

Antonio Monteiro.

Etapas Preparação da aula Preparar o conteúdo

e o formato de aula.

Sala de aula Local de ensino.

Avaliações Preparação e realização

de procas e trabalhos.

Fora do colégio Atividades profissionais que

oco11em fora do colégio.

Tarefas Olha as matérias que

vão cair no Enem para

adaptar a aula.

Troca

Utiliza o projetor para exibir os slides da

matéria e explica o conteúdo falando.

Quando possível, tenta mostrar alguns vídeos

curtos sobre o assunto para os alunos.

Conversa com os alunos sobre assuntos

não-acadêmicos e pessoais.

0 Chama a atenção do aluno por indisciplina

Prova.

Manda as questões

para a sessão

técnica para formatar

e imprimir.*

Faz a

correção e

dá a nota.

Faz a revisão

em aula e tira

dúvidas.

Tenta se aprimorar profissionalmente por

conta própria.

Responde algumas dúvidas dos alunos por

Facebook.

Envia o arquivo com os slides para os

alunos por email.

informações

com outros

professores.

alterações nas

apresentações

(que já estão

prontas) para

atualizar o

ou postura.

Passa exercício para os alunos fazerem

durante a aula.

Define as

questões

da prova.

Recebe as

provas para

correção

Entrega

para os

alunos.

Prepara ou

escolhe uma lista

de exercícios.

conteúdo.

@ Faz anotações no quadro.

*As provas são aplicadas pelo colégio e não pelo professor.

® Explica o conteúdo focando no Enem.

Trabalho.

Acompanha o

Dá a nota

Escolhe o(s) processo e tira

tema(s) e o formato. dúvidas. e tira

dúvidas.

Quando há

brechas e

tempo, decide

passar um

trabalho.

Explica para Assiste as

os alunos o apresentações.

que deseja.

Emoções

"[...] o meu trabalho em sala de aula [...]

eu sinto estar contribuindo, eu sinto que

tem um retorno desse meu aluno [...]." "E você percebe que os alunos gostam

desse tipo de coisa (trabalhos) . Dá trabalho,

mas eles, de fato, aprendem e se tocam de

muitas questões e coisa do tipo."

8

"Então o professor do ensino

médio, ele é, o tempo todo,

impulsionado a repetição."

"Então aquilo que deve ser ensinado,

muitas vezes não é aquilo que eu gostaria

de estar falando, explicando, enfim."

"Bom, eu tenho, por exemplo, aqui, as

avaliações são ditadas pelo colégio, né?

O colégio tem um teste e uma prova, né."

"Eu acho ruim porque a gente

está levando trabalho para

fora, para casa, né."

Ferramentas

!!!,! Quadro

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Celular . · • • . · • .. • · .

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D Youtube •

Pain points Muitas turmas com conteúdos diferentes ao mesmo

tempo, o que impossibilita planejar aulas com mais

regularidade.

Mudança do conteúdo do Enem e dos vestibulares todo

ano.

Dependendo do ritmo da turma, é preciso fazer alterações

para diminuir o conteúdo e dar uma aula mais curta.

lnfiuência do modelo pedagógico na metodologia.

lnfiuência do Enem no conteúdo ensinado.

Currículo brasileiro é muito extenso.

Percepção dos alunos de que todo o conteúdo é inútil.

Engajar os alunos para determinados conteúdos é difícil.

Alunos param de prestar a atenção quando usam o

celular para motivos pessoais e não educacionais.

Não sabe como integrar a tecnologia com a aula.

Influência do modelo pedagógico no modelo de

avaliação.

Influência do Enem no modelo de avaliação.

Maioria dos modelos de avaliação são estabelecidas

pelo colégio.

Poucas oportunidades para passar trabalhos que

explorem outras habilidades do aluno.

Poucas oportunidades para testar outros modelos de

avaliações.

Resistência dos pais, colégios e sociedade para mudar.

Não há incentivo para o aprimoramento profissional por

parte dos colégios.

Alunos não tem limite e noção de quando entrar em

contato com o professor.

lnsights Não há interação com o aluno para entender seus

interesses.

Estrutura de aula é repetida todo ano com alterações

pontuais. Como a repetição é estimulada, mesmo que de

forma indireta, não há tempo para pensar em novas

metodologias.

Professor entende que o modelo tradicional precisa ser

mudado, mas ainda não sabe bem como.

Professor entende que a tecnologia é importante, mas

não sabe como usar. Por isso, acaba ignorando ou se

afastando.

Há bastante influência do colégio e da proposta

pedagógica no modelo de ensino do professor.

Há percepção de mudança de características do

aluno, mas não necessariamente associada diretamente

a tecnologia.

O Enem e os vestibulares são grandes direcionadores

do que o professor precisa ensinar.

Há muita influência do colégio na estrutura de avaliações.

O Enem e os vestibulares são grandes direcionadores

do modelo e nas questões das avaliações.

Há resistência da sociedade e dos pais em relação a

avaliações não-tradicionais como provas e testes.

e @

® © @

Page 487: ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING … · desconhecem as modalidades do Ensino Técnico 61 ... Recado da professora para o aluno no dia da prova 139 ... ela define a questão

Alunos são muito mais engajados com trabalhos e projetos do que provas e testes. Muitos professores querem se aprimorar

profissionalmente, mas poucos possuem tempo para

isso. Como ganham por hora/aula, preferem dar mais

aula do que usar o tempo para estudar. Além disso, não

há incentivo dos colégios.

A maioria dos professores não se importam de

responder as dúvidas dos alunos por Facebook ou

Whatsapp, mas os alunos precisam saber o limite.