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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PEDRO CARVALHO BURNIER A INFLUÊNCIA DA DIMENSÃO AMBIENTAL NA ATITUDE, NA INTENÇÃO DE COMPRA E NO DESEJO DE PAGAR PELA CARNE BOVINA SÃO PAULO 2018

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

PEDRO CARVALHO BURNIER

A INFLUÊNCIA DA DIMENSÃO AMBIENTAL NA ATITUDE, NA INTENÇÃO DE

COMPRA E NO DESEJO DE PAGAR PELA CARNE BOVINA

SÃO PAULO

2018

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PEDRO CARVALHO BURNIER

A INFLUÊNCIA DA DIMENSÃO AMBIENTAL NA ATITUDE, NA INTENÇÃO DE

COMPRA E NO DESEJO DE PAGAR PELA CARNE BOVINA

Tese apresentada como requisito para obtenção

do título de Doutor em Administração de

Empresas com ênfase em Marketing

Internacional pela Escola Superior de

Propaganda e Marketing – ESPM.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Eugênio Spers

SÃO PAULO

2018

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“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001”

“This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001”

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PEDRO CARVALHO BURNIER

A INFLUÊNCIA DA DIMENSÃO AMBIENTAL NA ATITUDE, NA INTENÇÃO DE

COMPRA E NO DESEJO DE PAGAR PELA CARNE BOVINA

Tese apresentada como requisito para obtenção

do título de Doutor em Administração de

Empresas com ênfase em Marketing

Internacional pela Escola Superior de

Propaganda e Marketing – ESPM.

Data de aprovação: 12 / 12 / 2018

Banca Examinadora

____________________________________

Prof. Dr. Eduardo Eugênio Spers, Orientador,

PPGA – ESPM

____________________________________

Profa. Dra. Thelma Valéria Rocha,

PPGA – ESPM

_____________________________________

Profa. Dra. Luciana Florêncio de Almeida,

PPGA – ESPM

_____________________________________

Prof. Dr. Decio Zylbersztajn,

FEA – USP

_____________________________________

Profa. Dra. Marcia Dutra de Barcellos,

UFRGS

SÃO PAULO

2018

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AGRADECIMENTOS

Especialmente aos meus pais, que sempre incentivaram e apoiaram minha formação

acadêmica sem medir esforços.

Ao professor doutor Eduardo Eugênio Spers, pela sua disposição em orientar nas etapas

de desenvolvimento deste trabalho sempre com rigor metodológico, de forma proativa e

amigável e pela sua disponibilidade e paciência em realizar as inúmeras revisões necessárias

para a conclusão desta tese.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da ESPM,

sobretudo à professora Thelma Rocha, pelo incentivo constante durante o curso de doutorado.

Ao colega de doutorado Dennys e à Livia Borges, pelo suporte na obtenção de resposta

ao survey necessário na coleta de dados.

Ao amigo Diego Guerra, pela parceria e auxílio na análise dos dados do modelo de

equações estruturais.

À professora doutora Marcia Barcellos, pela parceria nesta tese.

Ao amigo José Antonio (Nê), por me ajudar na elaboração do modelo conceitual inicial

e por sua expertise em pesquisa de mercado. E, ao Bueno, pelo grande apoio durante estes

quatro anos de estudos.

À ESPM e à CAPES, pelo apoio financeiro que permitiu o desenvolvimento desta obra

até seu término.

Aos Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, pela flexibilização da minha agenda de

trabalho ao longo de toda a pesquisa.

A todos que, de alguma forma, contribuíram para que esta tese fosse concluída com

êxito.

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“A sustentabilidade é o grande desafio do século XXI e, para a

alcançar devemos começar pela maneira como vemos o mundo, como

pensamos acerca dele, como atuamos em relação a ele”.

(Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO – 2009-2017.)

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RESUMO

O consumo sustentável pode ser o resultado de um processo decisório em que se consideram

não apenas as necessidades individuais dos consumidores (relacionadas a gosto, preço e

conveniência), mas também as percepções e atitudes em relação à responsabilidade social (meio

ambiente e comércio justo), rotulagem (marca e selo) e produção sustentável de alimento

(rastreabilidade, emissões de CO2 e bem-estar animal). Os produtos sustentáveis tendem a ser

percebidos pelos compradores como de melhor qualidade e maior valor social, ambiental e

econômico. O setor da carne bovina necessita conhecer este comportamento do consumidor

para melhorar a sustentabilidade a fim de desenvolver ações para atender legislações relativas

a essa demanda. Assim, neste trabalho, avalia-se a influência da dimensão ambiental na atitude,

na intenção de compra, no desejo de pagar, no envolvimento e na preocupação com o processo

produtivo e com a qualidade da carne bovina. Esta tese é apresentada no formato de artigos,

sendo dividida em três capítulos. O capítulo 1 apresenta um estudo qualitativo (entrevista em

profundidade com especialistas e grupo focal com consumidores) para mapear dimensões e

atributos socioambientais relevantes que influenciam as atitudes e a intenção de compra do

consumidor. O capítulo 2 traz uma survey on-line, com 725 consumidores de carne, e apresenta

um modelo estrutural, sendo testadas oito hipóteses utilizando-se o software SmartPLS-3.0,

para analisar as relações entre construtos identificados na revisão da literatura, sendo também

apresentada uma escala para mensurar a preocupação com o processo produtivo. E, no capítulo

3, testou-se a intenção de compra do consumidor e o desejo de pagar considerando

exclusivamente os trade-offs de atributos socioambientais da carne bovina com base em um

modelo de Análise de Escolha Discreta. Os resultados encontrados nas entrevistas em

profundidade e nas seções do grupo focal, no primeiro artigo, serviram para validar a relevância

das variáveis incluídas no modelo conceitual proposto, o qual contém relações com as quais se

pode avaliar a influência da dimensão ambiental na atitude e na intenção de compra da carne

bovina. O modelo testado no segundo artigo sugere que “envolvimento com o produto” e

“preocupação com processo produtivo” estão relacionadas com atitude e intenção de compra

da carne sustentável. Entretanto o valor da marca (incluindo segurança do alimento) não

apresentou correlação com a intenção de compra da carne sustentável. A escala de

conhecimento produtivo mostra que atributos, como bem-estar animal, rastreabilidade,

responsabilidade socioambiental da empresa, devem ser mais bem comunicados aos

consumidores. Por fim, os achados do terceiro artigo confirmam a importância dos atributos

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“bem-estar animal” e “rastreabilidade” no processo de escolha da carne. O estudo indica que a

frequência de consumo, o gênero e a presença de uma marca conhecida influenciam de forma

distinta a escolha da carne numa compra funcional (dia a dia), quando comparada a de uma

compra hedônica/recreativa (ex. churrasco). Os resultados sugerem que a indústria e o setor

varejista devem explorar melhor a oportunidade de diferenciação da ocasião de compra,

elevando o conhecimento sobre emissão de carbono e divulgando o atributo de bem-estar

animal na formulação de suas estratégias de comunicação e no posicionamento de

produtos/marcas que possuam atributos socioambientais como parte dos benefícios ofertados

ao consumidor final. Diante do exposto, destaca-se que o modelo estrutural proposto pode ser

utilizado como referência para outras pesquisas que tratem do tema sustentabilidade em

alimentos. A escala criada e validada que compõe o construto “preocupação com processo

produtivo” pode também ser usada como referência em estudos futuros. Vale destacar que

investigar os trade-offs entre atributos socioambientais permitiu uma avaliação mais

aprofundada desses atributos e contribui para a literatura existente.

Palavras-chave: Marketing. Sustentabilidade. Carne bovina. Willingness to pay (WTP).

Comportamento do consumidor.

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ABSTRACT

Sustainable consumption may be the result of a decision-making process that considers not only

the individual needs of consumers (related to taste, price and convenience), but also perceptions

and attitudes towards social responsibility (environment and fair trade), labeling (brand and

seal) and sustainable food production (traceability, CO2 emissions and animal welfare).

Sustainable products tend to be perceived by consumers as having higher quality and greater

social, environmental and economic value. The beef sector must be aware of consumer behavior

to improve sustainability in order to both take actions and comply with legislation to meet these

demands. This study assesses the influence of the environmental dimension on the attitude,

intention to buy, willingness to pay, involvement, concern over the production process and with

the quality of the beef. Formatted in articles, this dissertation is divided into three chapters.

First, a qualitative study was conducted (in-depth interviews with specialists and consumer

focus groups) aiming at mapping the dimensions to relevant socio-environmental attributes that

influence consumers’ purchasing attitudes and intentions. Then an online survey was conducted

with 725 consumers of meat, a structural model was proposed, and 8 hypotheses were tested

using the software SmartPLS-3.0 to analyze the relations between the proposed constructs from

the literature review so as to establish a scale to measure the concern with the production

process. Finally, the consumer’s intention to buy and willingness to pay were tested, taking into

account only trade-offs of socio-environmental attributes of beef based on a model of Discrete

Choice Analysis. The results obtained from both the in-depth and focus groups interviews in

the first article aimed at validating the relevance of variables included in the proposed

conceptual model bearing relations that may assess the influence of the environmental

dimension on the attitude towards and intention of purchasing beef. The model tested in the

second article suggests that involvement with product and concern over production process are

related to attitude towards and intention of purchasing sustainable meat. However, brand value

(which includes food safety) is not correlated with sustainable meat purchasing intention. The

scale that measures the concern over the production process shows that the attributes of animal

welfare, traceability, company’s social and environmental responsibility should be better

communicated to consumers. Finally, the results obtained in the third article confirm the

importance of both animal welfare and traceability attributes upon choosing meat. The study

indicates that consumption frequency, type and presence of a known brand distinctively

influence meat choice on a functional purchase (day to day) when compared to a hedonic

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purchase (barbecue). The results suggest that industry and retailers should better explore the

opportunity for differentiation, increasing knowledge about carbon emissions and

disseminating the animal welfare attribute in the language of their communication strategies

and product / brand positioning which have socio-environmental attributes as part of the

benefits to the final consumer. The proposed structural model should be used as a reference in

future studies that include food sustainability as a theme. The devised and validated scale that

comprises the Concern over the Production Process construct should be used as a reference in

future studies. Investigating the trade-offs between socio-environmental attributes gives way to

assessing them more profoundly and contributes to the extant literature.

Keywords: Marketing. Sustainability. Beef. Willingness to pay (WTP). Consumer behavior.

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LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1

Figura 1 – Modelo conceitual proposto .............................................................................. 45

Capítulo 2

Figura 1 – Modelo estrutural proposto ................................................................................ 69

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LISTA DE QUADROS

Introdução

Quadro 1 – Temas sobre sustentabilidade e alimentos por autores ..................................... 28

Quadro 2 – Classificação de atributos ................................................................................. 32

Quadro 3 – Temas abordados por artigo ............................................................................. 34

Capítulo 1

Quadro 1 – Atributos de qualidade da carne ....................................................................... 40

Quadro 2 – Atributos utilizados na análise intenção de escolha do consumidor ................ 48

Quadro 3 – Entrevistas em profundidade ............................................................................ 49

Quadro 4 – Comparação de diferentes ocasiões de consumo .............................................. 53

Capítulo 3

Quadro 1 – Estudos relacionados a atributos de sustentabilidade ....................................... 102

Quadro 2 – Estudos com disposição a pagar relacionada a atributos de sustentabilidade .. 109

Quadro 3 – Produtos hipotéticos para teste da disposição de pagar (WTP) ........................ 114

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LISTA DE TABELAS

Capítulo 2

Tabela 1 – Análise fatorial confirmatória do construto PPP ............................................... 74

Tabela 2 – Análise fatorial confirmatória do construto marca ............................................ 75

Tabela 3 – Validade convergente e discriminante de primeira ordem – amostra 1 ............. 76

Tabela 4 – Validade convergente e discriminante de primeira ordem – amostra 2 ............. 77

Tabela 5 – Validade convergente e discriminante ............................................................... 77

Tabela 6 – Avaliação do modelo estrutural ......................................................................... 79

Capítulo 3

Tabela 1 – Estimativas dos coeficientes dos modelos Logit e respectivos valores dos efeitos

marginais ............................................................................................................................. 118

Tabela 2 – WTP adicional comparada com a WTP base (R$) ........................................... 123

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS Atitude de Consumo Sustentável

AVE Variância Extraída

BEA Bem-estar Animal

BEAC Bem-estar animal Certificado

BPA Boas Práticas Agropecuárias

BSE Bovine Spongiform Encephalopathy

CA Consciência Ambiental

CC Confiabilidade Composta

CR Consumo Responsável

ECCB Ecologically Conscious Consumer Behavior

EP Envolvimento com o Produto

FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

FAWC Farm Animal Welfare Council

FCONSUMO Frequência de Consumo

FCOMPRA Frequência de Compra

GEE Gases de Efeito Estufa

GIPS Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável

GP Grupo Focal

GPA Grupo Pão de Açúcar

GTPS Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável

IC Intenção Compra carne sustentável

IEA Instituto de Economia Agrícola

IMR Importância Atribuída ao Risco

LEA Lealdade à Marca

LEG Legalidade

MARCAC Marca Conhecida

MARCAS Marca Sustentável

MBA Brand Awareness

NIP New Involvement Profile

ONG Organização Não Governamental

OGM Organismos Geneticamente Modificados

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PAL Produtos Alimentícios

PC Pegada de Carbono

PCQ Preocupação com Qualidade

PII Personal Involvement Inventory

PLS Partial Least Squares

PPP Preocupação com Processo Produtivo

PRA Valor de Prazer

PRR Probabilidade do Risco

PSF Preocupação com Sanidade nos Frigoríficos

PVE Produtos Verdes gerais

QLP Qualidade Percebida

RAM Responsabilidade ambiental

RAS Rainforest Alliance

RAST Rastreabilidade

RASTFA Rastreabilidade até a Fazenda

RASTFR Rastreabilidade até o Frigorífico

RCF Raised Carbon Friendly

RSO Responsabilidade Social

SAGs Sistemas Agroindustriais

SEEG Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa

SEG Segurança

SIF Serviço de Inspeção Federal

TCP Teoria do Comportamento Planejado

VGL Valor Global da marca

VSI Valor Simbólico

WTP Willingness to Pay/Disposição a Pagar

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 17

1 Problema de pesquisa .......................................................................................................... 17

2 Objetivos da tese .................................................................................................................. 19

3 Justificativas ......................................................................................................................... 20

4 Revisão da literatura sobre o tema geral da tese .............................................................. 23

4.1 Sustentabilidade em alimentos ........................................................................................ 24

4.2 Sustentabilidade no setor brasileiro de carne .................................................................. 29

4.3 Atributos socioambientais...............................................................................................31

5 Estrutura do trabalho ......................................................................................................... 33

CAPÍTULO 1 – A dimensão da sustentabilidade na perspectiva de especialistas e

consumidores de carne bovina em diferentes ocasiões de consumo ................................... 35

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 35

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 37

2.1 Atributos de qualidade da carne ...................................................................................... 38

2.2 Dimensões socioambientais ............................................................................................ 40

2.2.1 Envolvimento com o produto ................................................................................ 40

2.2.2 Preocupação com o processo produtivo .............................................................. 41

2.2.3 Atitudes em relação ao consumo sustentável ....................................................... 42

2.2.4 Marca e segurança ............................................................................................... 43

2.3 Ocasião de consumo ....................................................................................................... 45

3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 46

3.1 Entrevista em profundidade ............................................................................................ 46

3.2 Grupo focal ..................................................................................................................... 47

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 48

4.1 Entrevistas em profundidade .......................................................................................... 48

4.2 Grupos focais .................................................................................................................. 50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 53

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56

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CAPÍTULO 2 – A influência do processo produtivo e atitude na intenção de compra da

carne bovina, ........................................................................................................................... 59

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 59

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 62

2.1 Envolvimento com o produto ......................................................................................... 62

2.2 Preocupação com o processo produtivo .......................................................................... 65

2.3 Atitudes em relação ao consumo sustentável.................................................................. 66

2.4 Marca e segurança .......................................................................................................... 67

3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 70

4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 73

4.1 Resultados da etapa qualitativa ....................................................................................... 73

4.2 Confirmatória dos construtos PPP e marca ..................................................................... 74

4.3 Validade convergente e discriminante dos construtos de primeira ordem ..................... 75

4.4 Avaliação do modelo estrutural ...................................................................................... 78

5 DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 79

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 82

CAPÍTULO 3 – Ocasião de consumo, escolha e desejo de pagar por atributos

sustentáveis na carne bovina ................................................................................................. 87

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 87

2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 91

2.1 Atributos socioambientais (ASA) ................................................................................... 91

2.1.1 Bem-estar animal (BEA) ....................................................................................... 91

2.1.2 Redução de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) ........................................ 95

2.1.3 Rastreabilidade (RAST) ........................................................................................ 97

2.1.4 Marca sustentável ................................................................................................. 99

2.1.5 Resumo dos atributos de sustentabilidade (socioambientais) ............................ 101

2.2 Atributos sustentáveis e o perfil e comportamento do consumidor .............................. 103

2.3 Disposição a Pagar ou Willingness to Pay (WTP) ....................................................... 106

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 110

3.1 Etapa qualitativa ........................................................................................................... 110

3.2 Etapa quantitativa ......................................................................................................... 112

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 116

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4.1 Modelos propostos ........................................................................................................ 116

4.2 Efeitos marginais .......................................................................................................... 119

4.3 Comparação entre os modelos FUNCIONAL e HEDÔNICO, utilizando a ocasião

manipulada .......................................................................................................................... 121

4.4 Resultados do cálculo da WTP ..................................................................................... 122

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 126

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 129

CONSIDERAÇÕES FINAIS DA TESE ............................................................................. 135

1 Considerações gerais e contribuição acadêmica ............................................................. 135

2 Implicações gerenciais ....................................................................................................... 139

3 Limitações e sugestões para novos estudos ..................................................................... 141

REFERÊNCIAS DA TESE ................................................................................................. 143

APÊNDICES ......................................................................................................................... 152

Capítulo 1

APÊNDICE 1A – ROTEIRO DE ENTREVISTA COM ESPECIALISTAS ........................ 152

APÊNDICE 1B – PONTOS RELEVANTES OBTIDOS NAS ENTREVISTAS COM

ESPECIALISTAS .................................................................................................................. 153

APÊNDICE 1C – QUESTIONÁRIO PARA PARTICIPANTES DO GRUPO FOCAL ...... 157

Capítulo 2

APÊNDICE 2A – QUESTIONÁRIO DO ARTIGO 2 ........................................................... 158

APÊNDICE 2B – ESTIMATIVA DO TAMANHO DA AMOSTRA – SOFTWARE

G*POWER ............................................................................................................................. 163

APÊNDICE 2C – ESCALAS CONSTRUTOS DE PRIMEIRA E SEGUNDA ORDEM .... 164

APÊNDICE 2D – REFERÊNCIAS DAS ESCALAS DOS CONSTRUTOS DE PRIMEIRA E

SEGUNDA ORDEM .............................................................................................................. 166

Capítulo 3

APÊNDICE 3A – DISPOSIÇÃO A PAGAR: WTP DO CONSUMIDOR ........................... 167

APÊNDICE 3B – QUESTIONÁRIO ARTIGO 3 .................................................................. 169

APÊNDICE 3C – RESULTADO DA ANÁLISE DESCRITIVA ......................................... 175

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17

INTRODUÇÃO

O assunto desta tese se refere ao comportamento do consumidor brasileiro em relação

aos atributos socioambientais na carne bovina. O consumo sustentável pode ser o resultado de

um processo decisório em que se consideram não apenas as necessidades individuais dos

consumidores (relacionadas a gosto, preço e conveniência), mas também atitudes em relação à

responsabilidade social (meio ambiente e comércio justo), rotulagem e produção sustentável de

alimentos.

Foram desenvolvidos três artigos utilizando três métodos distintos e complementares

que estão correlacionados com o problema central. Este formato de apresentação da tese está

de acordo com as normas do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da Escola

Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) para a obtenção do título de Doutor.

No primeiro artigo, apresenta-se um estudo qualitativo desenvolvido com o intuito de

mapear dimensões e atributos socioambientais relevantes ao entendimento dos fatores que

influenciam as atitude de intenção de compra do consumidor. No segundo, utilizou-se um

modelo de equações estruturais para analisar as relações entre estes construtos, em especial a

preocupação com o processo produtivo. Procurou-se verificar como a percepção sobre

sustentabilidade, o envolvimento com o produto e a preocupação com o processo produtivo

influenciam o consumidor na sua intenção de compra com relação a um produto “sustentável”.

Por fim, no terceiro artigo, identificou-se a intenção de compra do consumidor brasileiro

considerando-se os trade-offs entre atributos socioambientais no processo de compra e escolha

entre os atributos da carne.

1 Problema de pesquisa

Os consumidores passaram a se envolver mais ativamente com os atributos da

sustentabilidade agroalimentar e começaram a questionar a origem dos produtos de sua

alimentação e o processo em que estes são produzidos. Com isso, externalidades positivas e

negativas surgiram ao longo de toda a cadeia de valor das commodities, incluindo a carne

bovina (SOUZA et al., 2017).

Muitas pesquisas sobre sustentabilidade alimentar e comportamento de compra e

consumo da carne bovina foram efetuadas; contudo, identificaram-se cinco lacunas entre os

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18

estudos realizados sobre o tema, que são mencionadas adiante com comentários sobre as

colaborações desta tese neste sentido.

A primeira lacuna identificada se refere à falta de estudos em que se discutem diferentes

ocasiões de consumo, como, por exemplo, o funcional versus o hedônico. O termo funcional na

literatura é usado para descrever bens e/ou situações em que o consumo é primariamente

valorizado com base em seus aspectos utilitários ou em sua instrumentalidade; e o hedônico,

para descrever bens e/ou ocasiões em que o consumo é predominantemente valorizado no que

diz respeito à afetividade experiencial (WAKEFIELD; INMAN, 2003). Atributos podem ser

avaliados de forma diferente se a carne adquirida tiver um uso funcional, ou seja, utilizada para

o consumo no dia a dia, quando comparada àquela obtida para uso recreativo, como no caso da

compra da carne para churrasco (eventos especiais). De maneira geral, as pesquisas abrangem

alguns aspectos comportamentais do consumidor e sua sensibilidade a preço nas diferentes

ocasiões (COSTANIGRO et al., 2007; WAKEFIELD; INMAN, 2003), ou ainda, segmentação

de mercado para bens de natureza funcional ou hedônica. Entretanto, poucos trabalhos foram

encontrados no que tange a relevância de atributos que influenciam a escolha de um alimento,

neste caso a carne bovina, nas diferentes ocasiões – funcional ou recreativa (hedônica). Assim,

neste estudo, procurou-se suprir esta lacuna encontrada na literatura focando-se,

principalmente, nos atributos relacionados à sustentabilidade.

A segunda lacuna observada está relacionada ao fato de os pesquisadores, em

investigações anteriores, terem tratado a relação do envolvimento com o produto e atitudes do

consumidor, comportamento do consumidor e o valor da marca, ou ainda, a relação entre atitude

e intenção de compra, em modelos separados (BARCELLOS, 2007; OLIVEIRA; SPERS,

2018; SILVA et al., 2015). Nesta tese, estas variáveis fizeram parte de um único modelo de

análise estrutural. Desse modo, incluiu-se a variável Preocupação com o Processo Produtivo

(PPP) em um modelo estrutural, acrescentando esta e outras dimensões a um modelo já proposto

na literatura. A originalidade deste procedimento se encontra no fato de relacionar os construtos

envolvimento com o produto, preocupação com processo produtivo e atitude sustentável do

consumidor na intenção de compra da carne bovina brasileira.

A terceira lacuna verificada nos trabalhos anteriores é a inexistência de uma escala

específica para mensurar a dimensão relacionada ao processo produtivo. Por esse motivo, nesta

tese desenvolveu-se uma escala considerando ações de sustentabilidade efetivamente realizadas

no setor de alimentos.

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19

Diversos estudos no exterior abordam o tema da sustentabilidade em alimento, em

especial carne (CARACCIOLO et al., 2010; WU et al., 2017; ZANOLI et al., 2012), enquanto

poucos são encontrados no Brasil (CHINI, 2015; OLIVEIRA; SPERS, 2018; VELHO et al.,

2009). A quarta lacuna, portanto, se refere à carência de investigações a respeito da

sustentabilidade na carne bovina dentro do contexto brasileiro; logo, este assunto deve ser mais

explorado no País. Espera-se com esta pesquisa identificar a diferença entre o comportamento

do consumidor brasileiro comparado ao do estrangeiro oriundo de países desenvolvidos com

relação a alguns atributos socioambientais em virtude dos diferentes contextos culturais no

consumo da carne.

A quinta e última lacuna observada está na falta de abordagem do tema socioambiental

na intenção de compra do consumidor brasileiro nas pesquisas nacionais. Em diversas

investigações discutem-se características intrínsecas da carne (BRUNSØ; FJORD; GRUNERT,

2002; GAO; SCHROEDER, 2009); contudo, existem poucos trabalhos em que se analisaram a

influência dos atributos ambientais e a segurança na escolha de carne pelo consumidor

brasileiro. Assim, nesta tese, propõe-se uma avaliação da influência de atributos

exclusivamente relacionados à sustentabilidade socioambiental na intenção a pagar pela carne

bovina por parte do consumidor brasileiro, uma vez que os trade-offs entre os atributos

intrínsecos, no que se refere à qualidade do produto em geral (sabor versus sustentabilidade,

por exemplo), já foram explorados (STRANIERE; BANTERLE, 2015; ZANOLI et al., 2012).

Diante disso, evidenciou-se a seguinte questão de pesquisa: “Como se dá o

comportamento do consumidor brasileiro com relação aos atributos socioambientais na carne

bovina?”. Procurou-se responder como a percepção sobre sustentabilidade, o envolvimento

com o produto e a preocupação com o processo produtivo influenciam o consumidor na sua

intenção de compra com relação a um produto “sustentável”.

2 Objetivos da tese

Como objetivo geral, neste estudo, pretende-se avaliar o comportamento do consumidor

em relação a atributos socioambientais no consumo da carne bovina no Brasil.

No primeiro capítulo, objetiva-se realizar um levantamento teórico que identifique os

principais temas que envolvem a sustentabilidade no setor de alimentos, em especial a da carne

bovina; avaliar os atributos na carne que representem a preocupação do consumidor, incluindo

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alguns atributos ambientais; bem como caracterizar de que forma a marca pode influenciar a

decisão de compra do consumidor com relação à carne bovina.

No segundo capítulo, apresenta-se um modelo para avaliar a influência da dimensão

ambiental na atitude, na intenção de compra e no desejo de pagar pela carne bovina. Além disso,

visa-se a identificar o grau de envolvimento do consumidor com o produto, a preocupação com

relação ao processo produtivo, com o valor da marca e com a segurança na atitude do

consumidor e seu desejo de pagar por um produto sustentável; assim como, propor e testar uma

escala para mensuração do construto Preocupação do Processo Produtivo.

Já no terceiro capítulo os objetivos são identificar atributos relacionados à

sustentabilidade socioambiental e sua influência na intenção a pagar por estes atributos; avaliar

o desejo de pagar e a intenção de compra dos atributos de sustentabilidade da carne e avaliar a

atitude de compra do consumidor em diferentes ocasiões de compra.

3 Justificativas

Os cenários futuros apontam para novos aumentos na demanda por carne até 2050,

principalmente sustentada pelo aumento da oferta e demanda de países em desenvolvimento

(FAO, 2013). Como resultado, há questões importantes sobre como o setor pecuário atenderá

essa demanda de maneira eficiente e sustentável (SOUZA et al., 2017). O setor de carne bovina

está trabalhando para melhorar continuamente sua sustentabilidade a fim de alcançar resultados

desejáveis em termos ambientais, sociais e econômicos, os quais são cada vez mais

preocupantes para os consumidores. Espera-se que os achados nesta tese possam trazer

elementos que auxiliem a indústria e o setor varejista na formulação de estratégias de

comunicação e posicionamento de produtos/marcas que possuam atributos socioambientais

como parte dos benefícios ofertados ao consumidor final. Observam-se claramente esforços das

redes varejistas para estimular um consumo consciente, procurando ajudar seus clientes a

pensar de que forma a sustentabilidade pode estar no dia a dia do consumidor, apresentando-

lhes iniciativas que eles possam fazer parte. Neste caso, no consumo consciente, o comprador

reflete sobre seus hábitos de compra e sobre os fatores que determinam suas escolhas e tem

condições de analisar o impacto que podem causar no ecossistema.

A pesquisa “Panorama do consumo consciente no Brasil: desafios, barreiras e

motivações”, apresenta a evolução do grau de consciência dos brasileiros no comportamento

de consumo, além de indicar os desafios, as motivações e as barreiras à prática do consumo

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consciente mais relevantes. Essa investigação mostra que a principal barreira para hábitos mais

sustentáveis é a necessidade de esforço, contemplando os seguintes itens: “exige muitas

mudanças nos hábitos da família”, “exige muitas mudanças nos hábitos”, “custam caro”, “exige

mais informação sobre as questões/impactos ambientais e sociais”, “é mais trabalhoso” e “são

mais difíceis de encontrar para comprar”. Dentre os que concordam que o esforço é a maior

barreira, a percepção de que os produtos sustentáveis são mais caros se destaca (AKATU,

2018). O estudo também indica que o alto preço percebido dos produtos sustentáveis, a falta de

informação e a indisponibilidade desses produtos são questões-chave para o consumidor

brasileiro que o impedem de adotar mais intensamente práticas sustentáveis.

Neste contexto, as redes de varejo demonstram interesse em comercializar produtos com

atributos socioambientais; entretanto, enfatizam a falta de conhecimento do consumidor final

sobre esses atributos o que dificulta exercer uma política de preço premium para produtos

“green”. Em 2015, as três principais redes de varejo do Brasil (Carrefour, Walmart e Grupo

Pão de Açúcar) começaram a desenvolver plataformas de pecuária sustentável, demonstrando

forte comprometimento com monitoramento da origem da carne comercializada em suas lojas

(GREENPEACE, 2015). A origem da carne se refere ao cumprimento de práticas

socioambientais por parte das fazendas que produzem os animais que serão abatidos e

colocados à venda no varejo nacional. Em uma pesquisa realizada pelo Carrefour1, em 2016,

demonstra-se que existe um grande desafio a ser enfrentado pelos varejistas com relação à

conscientização dos consumidores a respeito da origem de seus produtos de forma a valorizar

um produto sustentável.

Em um evento realizado em outubro de 2018, no lançamento da campanha Act for

Food2, a rede Carrefour divulgou cinco iniciativas que promovem a maior qualidade de

alimentos frescos, naturais, saudáveis e orgânicos, com preços acessíveis e controle de

qualidade desde a sua origem, buscando práticas mais saudáveis para o consumidor e o planeta.

Dentre estas, aparecem ações ligadas à pecuária, tais como a Plataforma de Pecuária

Sustentável, na qual essa rede varejista procura comercializar 100% de carne bovina

monitorada, garantindo que a procedência não seja de áreas de desmatamento. Outra iniciativa

que faz parte desta campanha inclui ações que asseguram o bem-estar dos animais de produção.

1 Pesquisa apresentada no evento de lançamento da Plataforma Pecuária Sustentável do Carrefour, Cuiabá em 25

de agosto de 2016. 2 https://www.akatu.org.br/noticia/grupo-carrefour-lanca-no-brasil-o-movimento-mundial-act-for-food/

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A escolha do produto carne bovina como objeto de estudo, nesta tese, deve-se a

relevância deste produto na discussão de sustentabilidade no setor de alimentos brasileiro. Em

2016, a pecuária gerou 7% do produto interno bruto (PIB) do Brasil (US$ 130 bilhões). A

população brasileira adora carne bovina e consome quase 80% da produção interna. O Brasil é

um dos maiores produtores de carne bovina do mundo e também um grande exportador desse

produto. Nos próximos dez anos, deverá tornar-se o maior exportador internacional de carne

bovina. A demanda estrangeira deverá crescer 3% ao ano (ABIEC, 2017). Segundo as

estimativas do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), as

emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) brasileiras vêm crescendo, e a agropecuária foi

responsável por 22% das emissões brutas; e 30%, das líquidas destes gases (SEEG, 2018).

Dentre os subsetores da agropecuária, o de fermentação entérica do rebanho de ruminantes

(predominantemente bovinos de corte) é a causa da maior fatia de emissões de GEE do setor.

No País, a bovinocultura de corte é uma das principais responsáveis pela expansão da fronteira

agropecuária e também a principal fonte de emissão de GEE do setor, respondendo por 69%

das suas emissões totais. Com esse avanço na produção, se o setor não adotar técnicas de baixas

emissões de GEE e alto sequestro de carbono, a tendência será a de aumentar as emissões

nacionais, contribuindo ainda mais ao processo de mudanças no clima (SEEG, 2018).

A temática sustentabilidade no setor de carne bovina está diretamente relacionada a

algumas dimensões socioambientais. A pecuária bovina é considerada um dos setores que mais

contribuem para o desmatamento no Brasil. A conversão de florestas em pastagem é o mais

conhecido e documentado impacto ambiental da cadeia da carne bovina. Além disso, assuntos

relacionados a bem-estar animal, trabalho escravo e emissões de gases (CO2 e metano)

aparecem diretamente ligados à expressão “carne sustentável”. Na prática, a indústria

(frigoríficos) e o varejo também consideram estes tópicos como base na definição de suas

plataformas de pecuária sustentável. Assim, nesta tese, “carne sustentável” se refere às

principais questões socioambientais mencionadas. Por estes motivos, a pecuária de corte

juntamente com a soja brasileira são commodities chaves nos acordos internacionais sobre

mudanças climáticas (TROPICAL FOREST ALLIANCE 2020, 2018). Estas questões fazem

da carne bovina um produto de interesse para estudos relacionados à sustentabilidade no setor

de alimentos.

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4 Revisão da literatura sobre o tema geral da tese

Antes de se falar sobre sustentabilidade no setor de alimentos, vale discutir sobre

modelos de escolhas alimentares, como os mencionados a seguir.

O primeiro modelo a ser apresentado é o de escolhas de Furst et al. (1996), em que as

escolhas alimentares do consumidor são realizadas mediante sua prévia avaliação dos atributos

visíveis dos alimentos com relação a sua preferência. Neste modelo, consideram-se fatores

monetários, culturais e sensoriais do indivíduo. Sobal e Bisogni (2009) introduziram o fator

comportamento alimentar neste modelo, passando a considerar três aspectos relevantes no

processo de escolha, os quais produzem diversos tipos de comportamentos, são eles: percurso

de vida, influências e sistema pessoal.

As influências que ocorrem no processo de escolhas são agrupadas em cinco categorias:

ideais culturais, fatores pessoais, recursos, fatores sociais e contexto presente. Os “ideais

culturais” são oriundos de fatores simbólicos e culturais que são utilizados como padrões para

que os indivíduos avaliem e julguem sua escolha por alimentos. Os “fatores pessoais” são

atributos do sujeito os quais exercem uma influência sobre comportamento deste e em sua

decisão de escolha por alimentos, como, por exemplo, estilo de alimentação, gostos e emoções

(FURST et al., 1996; SOBAL; BISOGNI, 2009). No processo de escolha por alimentos, os

indivíduos consideram ainda “recursos” como renda, conhecimento, relacionamentos e valores.

Os “fatores sociais” estão presentes na rede de relacionamentos que influenciam na escolha de

alimentos e, por fim, o “contexto presente” tem um sentido mais amplo, pois neste consideram-

se os ambientes sociais e físicos (SOBAL; BISOGNI, 2009).

Se, por um lado, o modelo proposto por Furst et al. (1996), aprimorado por Sobal e

Bisogni (2009), propõe que a escolha por alimentos é resultado do processo presente no sistema

alimentar dos indivíduos; por outro lado, o modelo de qualidade total dos alimentos de Grunert,

Bredahl e Brunsø (2004) diferencia as avaliações que são realizadas tanto antes da compra como

também depois, uma vez que considera que o consumidor tem expectativas em relação à

qualidade do produto no momento da compra; porém, é no momento de consumi-lo, ou seja,

após a compra, que irá determinar a qualidade experimentada (BRUNSØ; FJORD; GRUNERT,

2002).

Este modelo integra os multiatributos com a abordagem hierárquica à percepção de

qualidade. No momento anterior à compra, o consumidor utiliza os sinais disponíveis como

base para sua expectativa de qualidade e realiza uma avaliação do produto (BRUNSØ; FJORD;

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GRUNERT, 2002). Entretanto, é quando o indivíduo consome o produto que ele conseguirá

obter uma experiência de qualidade, podendo ser diferente da esperada. A qualidade da

experiência é influenciada por diversos fatores do próprio alimento, que incluem atributos

sensoriais e forma de preparo do produto, fatores situacionais (hora do dia e o tipo de refeição),

humor do consumidor e experiências passadas. Os atributos de experiência abrangem cheiro,

sabor, toque e algumas características de segurança. A relação entre a qualidade esperada e a

experiência determina a satisfação do sujeito e a possibilidade deste repetir a mesma compra

(GRUNERT et al. 2004).

O modelo de Furst et al. (1996) – em que se levam em conta os fatores que afetam a

decisão de compra sob a ótica do indivíduo antes da compra – e o de Grunert et al. (2004) – no

qual os aspectos que determinam a qualidade da experiência se dá pós-compra, ou seja, quando

o consumidor prepara e come o alimento – formam ambos o conceito de comportamento

alimentar, o qual influencia os consumidores em sua percepção e avaliação de qualidade.

No atual estudo, sob a ótica do indivíduo antes da compra de Furst et al. (1996),

considerou-se a abordagem de valores para a avaliação da qualidade e da influência da marca,

e utilizou-se ainda o valor Willingness to Pay – WTP, em português Disposição a Pagar, que

os consumidores atribuem aos atributos da carne bovina “sustentável” no momento antes da

compra. Além disso, serão aqui explorados alguns elementos de Grunert et al. (2004) antes da

compra, tais como os atributos socioambientais (crença), de segurança (experiência) bem como

fatores situacionais (ocasião do consumo).

4.1 Sustentabilidade em alimentos

Escolhas alimentares estão relacionadas com o desenvolvimento sustentável porque a

produção de alimentos e o consumo têm um efeito significativo sobre o planeta (REISCH;

GWOZDZ, 2011). O relatório da Food and Agriculture Organization of the United Nations –

FAO (2006) indica que a pecuária deve ser um foco importante para a política ambiental devido

a seus reflexos no meio ambiente. O impacto da agricultura deverá ser mais significativo ao

longo do tempo em razão do crescimento da população mundial e do aumento do consumo de

produtos de origem animal em todo o mundo. Geeraert (2013) afirma que é necessário

considerar padrões de consumo alimentar atuais e a tendência das mudanças para compreender

efeitos ambientais futuros, assim como os causados pelas escolhas alimentares passadas.

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Segundo Kriflik e Yeatman (2005), alguns conceitos de sustentabilidade devem ser

analisados, como a preocupação do consumidor em valorizar as práticas ambientais durante o

estágio de produção de alimentos. Os impactos ambientais faziam parte do cultivo agrícola e

da criação de gado, sendo o desmatamento e perda de água de qualidade os mais aparentes. A

erosão, a seca, a salinização, os solos inférteis e a perda de biodiversidade são muitas vezes o

resultado de práticas agrícolas intensas (ALLEN; PROSPERI, 2016). Limpeza de áreas implica

mudança de clima, aumentando a ocorrência de tempestades e secas.

Os processos subjacentes à insustentabilidade ambiental, econômica e social derivam

parte do sistema alimentar. A construção de sistemas alimentares sustentáveis tornou-se um

esforço predominante dos agentes interessados (stakeholders) com o objetivo de redirecionar

os sistemas e as políticas alimentares nacionais para a melhoria do bem-estar social. Os sistemas

alimentares são sistemas socioecológicos complexos que envolvem múltiplas interações entre

componentes humanos e naturais (ALLEN; PROSPERI, 2016). Os processos de produção de

alimentos modernos têm avançado com a utilização da tecnologia, mas se tornaram mais

distanciados da vida dos consumidores (KRIFLICK; YEATMAN, 2005). Como resultado

disso, a compreensão do público sobre a relação entre a produção de alimentos e o meio

ambiente é limitada. Estas questões devem ser informadas aos consumidores, em especial aos

que vivem em meios urbanos, de forma que entendam alguns critérios que devam ser levados

em conta na compra consciente de alimentos, com valorização das práticas sustentáveis.

Adicionalmente, foram analisados os conceitos de sustentabilidade relacionados ao desperdício

de alimentos. A agricultura e os sistemas alimentares estão no centro dos debates sobre

sustentabilidade, uma vez que os processos de produção de alimentos consumíveis geram

poluição ou resíduos que prejudicam o ambiente natural. Neste estudo, a lacuna com relação à

preocupação sobre o processo produtivo na produção de alimento será explorada, uma vez que

existe um interesse por parte do consumidor sobre este tema bem como das empresas em

entender a influência destes atributos na atitude e intenção de compra de seus clientes.

Assuntos relacionados com sobra de alimentos não eram geralmente identificados como

um problema, e o destino da embalagem era considerado um problema parcial ou inexistente.

Entretanto, a questão dos resíduos também é um dos principais fatores de impacto ambiental, e

estima-se que o consumo de comida per capita (medida por conteúdo de energia) aumentou

significativamente nas últimas décadas, não necessariamente pelo que foi ingerido, mas devido

a uma maior produção de energia intensiva e mais desperdício no processamento. O resíduo de

produtos alimentares é o maior componente do lixo doméstico em grandes cidades (INNER

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SYDNEY WASTE BOARD, 2000). O relatório da FAO de 2013 indicou que a cada ano

aproximadamente um terço de todos os alimentos produzidos para consumo humano no mundo

seja perdido ou desperdiçado. Esse desperdício de alimentos prejudica não somente a melhora

da segurança alimentar global, como também a redução dos impactos ambientais e do uso de

recursos da cadeia alimentar. Sem contabilizar as emissões de GEE da mudança de uso da terra,

a Pegada de Carbono dos alimentos produzidos e não ingeridos é estimada em 3,3 Gtones de

CO2 equivalente. Assim, o desperdício de alimentos é o terceiro maior emissor desse tipo de

poluente depois dos EUA e da China (FAO, 2013). Só o desperdício de alimentos representa

cerca de 3% a 5% dos impactos do aquecimento global, mais de 20% da pressão da

biodiversidade e 30% de todas as terras agrícolas do mundo (ALLEN; PROSPERI, 2016).

Esses impactos ambientais representam riscos diretos e indiretos para a segurança

alimentar e, assim, tornam-se um risco pessoal para o consumidor. Krystallis et al. (2012)

mencionam que boa parte da sociedade vive e trabalha sob pressão. Existe uma tendência de

ocorrer um excesso de consumo no dia a dia da população, o que tem sido divulgado e colocado

como prioridade na agenda social e política de alguns governos. Os autores relatam ainda que

algumas pesquisas indicam haver uma preocupação com as consequências das práticas de

consumo de uma sociedade de desperdício. Tais ações podem levar a problemas de degradação

ambiental, social e econômica (HUME, 2009). Assuntos relacionados a desperdício e resíduo

alimentar não serão discutidos neste trabalho, uma vez que eles se referem ao setor de hortifruti,

tendo pouca incidência no setor de carne bovina.

Halkier (2001), observou que pesquisas mostram que as escolhas alimentares são mais

influenciadas por preocupações sobre o impacto do sistema alimentar na saúde humana

(segurança do alimento). A prioridade na saúde e a importância da confiabilidade foram temas

discutidos em 2001 com o estudo de Halkier sobre como os consumidores manipulavam

ambientalmente os riscos de segurança alimentar. Essa investigação revelou reações diversas à

produção orgânica relacionadas com as crenças sobre o risco e o nível de controle que poderia

ser implementado na ausência da informação sobre a forma de como o alimento é produzido.

O aumento da demanda por alimentos orgânicos tem sido associado a preocupações com a

saúde decorrentes de doenças advindas de alimentos adulterados ou contaminados (HARPER;

MAKATOUNI, 2002) e a um desejo de consumir frutas e legumes livres de agroquímicos

(LANG; RAYNER, 2002).

Um dos temas mais frequentes referente à WTP em alimentos sustentáveis trata dos

preços premium por produtos orgânicos (JANßEN; LANGEN, 2017; TUNG et al., 2012;

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ZANOLI et al., 2012). O mercado de produtos orgânicos desperta bastante atenção do

consumidor para questões ambientais e de bem-estar animal, ajudado pelo enfoque da mídia

com relação às consequências da poluição ambiental, aquecimento global e uso de recursos

naturais (JANßEN; LANGEN, 2017; VAN DOORN; VERHOEF, 2011). Pelo fato de a

produção orgânica usar menos pesticidas e fertilizantes acredita-se ser menos prejudicial ao

meio ambiente. Além disto, produtos orgânicos estão relacionados a questões de saúde.

Discussões sobre problemas de obesidade e segurança alimentar têm levado inúmeros

consumidores a escolher produtos mais saudáveis, menos processados e mais naturais. Nesta

tese, aborda-se segurança no alimento como um fator associado diretamente ao valor da marca.

Alguns itens relacionados à segurança do alimento foram incluídos na escala de Brand Equity

(valor da marca).

Com relação à “sustentabilidade vista como estratégia nas empresas”, observa-se que

práticas de sustentabilidade têm ganhado força ao considerar-se que os consumidores gastaram

alguns bilhões de dólares na compra de produtos certificados, fair trade (comércio justo) e em

alimentos orgânicos, quadruplicando a demanda de 1996 a 2006. Pullman, Maloni e Dillard

(2010) afirmam que cada vez mais os produtores e consumidores estão olhando para além de

práticas ambientais visando a um conceito mais amplo de sustentabilidade global. Com base na

abordagem triple bottom line, a sustentabilidade global integra lucro, pessoas e o planeta na

cultura, na estratégia e nas operações de empresas (ELKINGTON, 1999). Assim como outros

assuntos pertinentes aos setores da indústria de alimentos, as questões da sustentabilidade social

e ambiental foram cobertas pela mídia a qual chamou a atenção do público por décadas

divulgando desde abusos de trabalhadores por parte das empresas até os impactos ambientais

decorrentes da destruição do habitat dos animais, do uso de fertilizantes, herbicidas e pesticidas.

Trazendo a discussão para o setor da carne, diferentes mesas redondas e iniciativas (por

exemplo, do Canadá, do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa) mostram progresso em direção

a uma cadeia de fornecimento de carne bovina mais sustentável. A Mesa Redonda Global pela

Carne Sustentável (GRSB), uma iniciativa de múltiplos atores interessados em promover a

sustentabilidade da cadeia de valor da carne bovina, divulgou um consenso sobre uma definição

global de carne sustentável, bem como cinco princípios gerais nos quais a sustentabilidade é

categorizada. A carne sustentável é definida como um produto socialmente responsável,

ambientalmente correto e economicamente viável, que prioriza cinco princípios, são eles: (1)

recursos naturais; (2) pessoas e a comunidade; (3) saúde e bem-estar animal; (4) comida; e (5)

eficiência e inovação (SOUZA et al., 2017).

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No Quadro 1, a seguir, encontram-se resumidos os temas por autores mencionados nesta

revisão.

Quadro 1 – Temas sobre sustentabilidade e alimentos por autores

Tema Autor Ano Título

Sustentabilidade na

produção de alimentos

Kriflik, L.;

Yeatman, H. 2005

Food scarce and sustainability: a consumer

perspective

Allen, T.;

Prosperi, P. 2016 Modeling sustainable food systems

Desperdício de alimentos

Hume, M. 2009

Compassion without action: examining the young

consumers consumption and attitude to sustainable

consumption

Krystallis, A.

et al. 2012

Consumer attitudes towards sustainability aspects

of food production: insights from three continents

Allen, T.;

Prosperi, P. 2016 Modeling sustainable food systems

Food Safety (Segurança do

Alimento)

Lang, T.; Rayner,

G. 2002

Why health is the key to the future of food and

farming

Halkier, B. 2001 Risk and food: environmental concerns and

consumer practices

Harper, G.;

Makatouni, A. 2002

Consumer perception of organic food production

and farm animal welfare

Kriflik, L.;

Yeatman, H. 2005

Food scarce and sustainability: a consumer

perspective

Produção de orgânicos

WTP

Van Doorn, J.;

Verhoef, P. 2011

Willingness to pay for organic products:

differences between virtue and vice foods

Zanoli, R. et al. 2012

Organic label as an identifier of environmentally

related quality: a consumer choice experiment on

beef in Italy

Tung, S. et al. 2012

Attitudinal inconsistency toward organic food in

relation to purchasing intention and behavior: an

illustration of Taiwan consumers

Janßen, D.;

Langen, N. 2017

The bunch of sustainability labels – do consumers

differentiate?

Sustentabilidade como

estratégia nas empresas

Pullman, M.;

Maloni, M.;

Dillard, J.

2009 Sustainability practices in food supply chains: how

is wine different?

Souza, D.

et al. 2017

A review of sustainability enhancements in the

beef value chain: state-of-the-art and

recommendations for future improvements

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

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4.2 Sustentabilidade no setor brasileiro de carne

Trazendo-se a discussão da sustentabilidade para o setor de carne bovina brasileira,

observa-se que alguns dos fatores acima citados vêm sendo discutidos por certos autores

nacionais.

O segmento de produção e industrialização de alimentos tem passado por sucessivas

crises de credibilidade devido à contaminação de produtos; e, por isso, o conceito de Food

Safety – em português segurança do alimento – ganha força. A segurança do alimento vem

sendo objeto de interesse por parte de diversos agentes econômicos e de algumas organizações

não governamentais (as ONGs), que surgem como agentes de pressão sobre o ambiente

institucional, com a percepção de que existe a probabilidade de risco de prejuízo à sua saúde

decorrente do consumo de alimentos adulterados ou contaminados (SPERS, 2003). A percepção

de um alimento seguro aparece como forte requisito na diferenciação de preço do produto. A

origem do produto, a garantia da sanidade durante o processo de produção e venda da carne

passaram a ser valorizadas pelo consumidor. (OLIVEIRA; SPERS, 2018). A rastreabilidade

durante as diferentes etapas da cadeia aparece como uma forma de tangibilizar a “qualidade”

do produto.

Selos e certificações, quanto à origem, segurança alimentar, e características exclusivas

dos produtos (ex. livre de pesticidas) são entendidos pelo mercado, e mesmo pela comunidade

acadêmica, como cada vez mais valorizados pelos consumidores. Não obstante, estudos

apontam que o grau e conhecimento dos consumidores no que se refere às certificações são

aquém do desejável (OLIVEIRA; SPERS, 2018).

Velho et al. (2009) analisaram o perfil de consumidores de carne bovina e determinaram

o consumo de carne com certificação com intuito de obter dados sobre a importância e o valor

da certificação da carne no momento da compra. O conhecimento do consumidor de carne

bovina quanto à certificação da carne e quanto esse consumidor paga por este processo também

foi avaliado. A pesquisa foi realizada em uma rede de supermercados de Porto Alegre. Os

resultados apontam que os consumidores exigem alimentos com qualidade e certificados

confiáveis que demonstrem e garantam a qualidade dos alimentos; porém, estão dispostos a

pagar somente um pouco a mais pela certificação, em comparação ao valor atual de mercado,

provavelmente pelo fato de sua renda mensal não permitir maior valorização desse atributo.

Com relação à sustentabilidade na produção de alimentos, inúmeras iniciativas têm sido

realizadas com o objetivo de incentivar pecuaristas a adotarem boas práticas agropecuárias.

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Drigo (2013) relata em seu trabalho que, para uma parcela dos criadores de gado, o motivo para

iniciar algumas mudanças nas suas práticas de produção foi a ameaça de ter seu fluxo de

negócio interrompido. Uma vez que os frigoríficos anunciaram compromissos de controlar a

cadeia de suprimento e estabelecer a legalidade mínima, a necessidade de demonstrar

disponibilidade para se legalizar passou a ser relevante para os criadores, pelo menos entre os

maiores pecuaristas. A autora menciona ainda que, apesar disso, os produtores não se mostram

interessados em aderir a normas de produção e sistemas de certificação que vão confirmar boas

práticas sem que as vantagens econômicas estejam claras, ou seja, sem o pagamento

diferenciado pela qualidade que estará certificada. A adesão a Boas Práticas Agropecuárias

(BPA) é também baixa.

Em um estudo sobre certificação (ALVES-PINTO; NEWTON; PINTO, 2013), discute-

se a falta de mercado desenvolvido para carne certificada no Brasil. Apesar de ainda existir uma

baixa demanda por alimentos com certificação de sustentabilidade no País, a preocupação

ambiental cresce embora a WTP esteja mais associada à qualidade (maciez e gordura). A falta

de entendimento do significado do produto certificado pode ser um fator restritivo ao “scale

up” da carne certificada RAS (Rainforest Alliance Standard).

Oliveira e Spers (2018) complementam esta ideia com uma pesquisa no mercado de

carne suína afirmando que a maior parte dos atributos de sustentabilidade acabam sendo

valorizados (preço premium) juntamente com aspectos de qualidade da carne (maciez, sabor,

cor). Isto pode ser comprovado por Aaker (1998), ao relatar que, dentro das cinco dimensões

envolvidas no processo de determinação do valor da marca, a dimensão que mais possui

aderência à realidade das marcas de certificação é a da qualidade percebida. Este fato foi

apontado por Oliveira e Spers (2018) levando-se em conta as entrevistas qualitativas realizadas

e a revisão de literatura.

Em um estudo exploratório, Souza, Casotti e Lemme (2013) procuraram compreender

as reações dos consumidores em relação aos maus-tratos praticados contra os animais em

processos industriais de produção de carne, os quais geram dor, sofrimento e estresse. O estudo

mostra que, em geral, os consumidores não têm conhecimento sobre os padrões de manejo para

a produção de carne. Após terem acesso a imagens das fazendas industriais, os consumidores

mudaram sua percepção, o que pode indicar uma ameaça para as empresas que mantiverem os

processos e modelos de negócios atuais. Além disso, os compradores se mostram propensos a

pagar preços mais elevados por produtos certificados, que assegurem ausência de maus-tratos

aos animais, sinalizando para as empresas a existência de uma oportunidade de mercado.

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31

Outro estudo relevante em que se discute o tema socioambiental na produção de carne

foi o realizado por Chini (2015). A autora procurou identificar o impacto marginal de introduzir

um atributo de sinal de uma carne produzida a pasto na disposição a pagar (WTP) dos

consumidores pelos demais atributos independentes. As hipóteses do estudo confirmadas foram

que a WTP pelo atributo “bem-estar animal garantido” é maior do que os demais atributos em

um mesmo bife. A WTP do atributo de sinal diminui quando atributos independentes são

adicionados, e a WTP pelo atributo maciez é maior do que pelo atributo de sinal. O estudo

ressaltou que o principal valor encontrado para os brasileiros foi o de segurança, enquanto para

os estadunidenses foi o de auto direcionamento. Para os especialistas entrevistados, a carne

bovina produzida a pasto poderia ser um diferencial para nichos de mercado.

Na tentativa de contextualizar o comportamento do consumidor brasileiro, Barcellos

(2007) testou um modelo teórico que relaciona atitude, hábito e intenção de comportamento de

consumo de carne bovina. O impacto do nível de envolvimento do consumidor também foi

objeto de estudo dessa pesquisadora (2007) como um agente moderador entre a atitude e o

comportamento de consumo. O trabalho atual pretende contribuir com o entendimento do

contexto nacional complementando o modelo aqui proposto. Destaca-se que pouco se sabe

sobre a influência da variável ou dimensão sustentabilidade no contexto de um país em

desenvolvimento, como é o caso do Brasil, além disso, se desconhecem as inúmeras mudanças

que o consumidor de carne sofreu no País, de modo que mais estudos sobre este tópico serão

úteis para um melhor entendimento da situação.

Após análise da literatura internacional, verificou-se que há muitos estudos no exterior

sobre a temática sustentabilidade em alimento, em especial carne, enquanto poucos são

encontrados no Brasil. Ressalta-se que, nas pesquisas brasileiras, não se tem contemplado

assuntos referentes à visão do consumidor com relação ao processo de produção sustentável

(emissões de GEE, rastreabilidade), tampouco sobre a intenção de pagar por um alimento

sustentável. Diante disso, nesta tese, pretende-se abordar estes temas sob o ponto de vista do

consumidor brasileiro.

4.3 Atributos socioambientais (ASA)

Os atributos são peças de informação que o consumidor utiliza para formar suas

expectativas de qualidade. Existem várias maneiras de classificar os atributos de qualidade de

um alimento. Grunert et al. (2004) indicam que aspectos fisicamente relacionados (cor, gordura

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visível, tipo de corte, etc.) são sugestões intrínsecas, enquanto os aspectos relacionados ao

produto que não são fisicamente parte dele são sinais extrínsecos (preço, origem da raça,

informação sobre o processo de produção, bem-estar animal, entre outros). Os atributos também

podem ser classificados como independentes ou de sinal (GAO, 2007). A diferença entre eles

é que os atributos de sinal são aqueles que trazem informação sobre outros atributos ou sobre a

qualidade total do alimento, enquanto os independentes não (GAO, 2007). Becker (2000)

classifica-os como atributos de busca, experiência e crença. Os de busca podem ser observados

antes da compra (cor, rótulo, marca, local de compra, preço). Os atributos de experiência só

podem ser identificados após a compra (cor, textura, cheiro, sabor e suculência), sendo

indicadores da percepção organoléptica de qualidade, ou seja, podem ser determinados durante

ou após o consumo – como a maciez de um bife –, mas não no momento da compra. Enquanto

os de crença não podem ser discernidos pelos consumidores mesmo depois de consumir o

produto, como, por exemplo, bem-estar animal ou (menor) impacto ambiental. Este estudo

apresenta alguns aspectos destes atributos de crença relacionados exclusivamente à

sustentabilidade. Assim, foi proposta uma classificação dos atributos de sustentabilidade com

relação ao próprio animal (ex. bem-estar animal), ou ao processo de produção (ex.

rastreabilidade), ou ainda aos efeitos causados no meio ambiente (emissões de gases efeito

estufa) e, por fim, a marca sustentável que procura validar os atributos de sustentabilidade.

Quadro 2 – Classificação de atributos

Atributos Grunert (2004) Gao (2007) Becker (2000) Autor desta tese

Su

sten

tab

ilid

ad

e Bem-estar animal Extrínseco Sinal Crença Animal

Rastreabilidade Extrínseco Sinal Crença Processo produção

Redução de GEE Extrínseco Sinal Crença Meio ambiente

Marca sustentável Extrínseco Sinal Busca Todos

Ou

tro

s

Sabor Intrínseco Independente Experiência Produto

Maciez Intrínseco Independente Experiência Produto

Suculência Intrínseco Independente Experiência Produto

Marmoreio Intrínseco Independente Busca Produto

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

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33

5 Estrutura do trabalho

A relevância deste trabalho consiste no fato de aqui se avaliar o tema sustentabilidade

na carne bovina brasileira mediante três métodos distintos e complementares. Primeiramente,

utilizou-se de um estudo qualitativo (entrevista em profundidade e grupo focal), descritos no

Capítulo 1, no intuito de mapear dimensões a atributos socioambientais relevantes ao

entendimento de atitudes e intenção de compra do consumidor. Neste capítulo, procurou-se

fazer um levantamento dos principais assuntos que envolvem a sustentabilidade no setor de

alimentos, em especial da carne bovina, de forma a identificar algumas variáveis que devam ser

usadas em pesquisas visando a avaliar a influência da dimensão ambiental na atitude na intenção

de compra e desejo de pagar pela carne bovina. Este estudo qualitativo serviu ainda para

identificar diferenças de comportamento entre consumidores que realizam suas compras no

varejo tradicional ou em boutiques de carne de forma a possibilitar um melhor entendimento da

relevância de diferentes atributos para consumidores que utilizam esses tipos de canais.

Para responder a questão de pesquisa, foi proposto um modelo no Capítulo 2 com o

intuito de avaliar a influência da dimensão ambiental na atitude, na intenção de compra e no

desejo de pagar pela carne bovina, além de identificar o grau de envolvimento do consumidor

com o produto, de sua preocupação com o processo produtivo, com o valor da marca, com a

segurança e o seu desejo de pagar por um produto sustentável. Observa-se que, em trabalhos

anteriores, trataram-se algumas destas variáveis em modelos separados. Nesta tese, estas

variáveis fizeram parte de um único modelo de equação estrutural incluindo diferentes

construtos de forma ampla e integrada.

E, no Capítulo 3, testou-se a intenção de compra do consumidor brasileiro considerando

o trade-off de alguns atributos socioambientais no processo de compra da carne. Neste capítulo,

procurou-se avaliar a influência da dimensão socioambiental na intenção de compra e desejo

de pagar por uma carne bovina com foco exclusivo em atributos sustentáveis. Considerando o

modelo de Análise de Escolha Discreta, foram gerados 16 produtos hipotéticos com base em

diferentes atributos socioambientais da carne bovina, sendo avaliados oito cenários para

mensurar a probabilidade de escolha e a intenção de pagar (WTP). A utilização destes três

métodos corrobora a coerência nas análises dos resultados.

Deve-se salientar que a revisão de literatura dos artigos 1 e 2 são bastante semelhantes,

uma vez que os construtos analisados são os mesmos. De fato, no primeiro capítulo (artigo 1),

foi realizada uma revisão que pudesse levantar algumas sugestões de variáveis a serem usadas

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em estudos para avaliar a influência da dimensão ambiental na atitude e na intenção de compra

e desejo de pagar pela carne bovina. No segundo capítulo (artigo 2), estas dimensões fizeram

parte de um modelo estrutural proposto e sendo testadas pelo método Partial Least Squares

(PLS).

No Quadro 3, apresentam-se os diferentes temas abordados nesta tese e a indicação dos

artigos em que foram discutidos. Destaca-se que os principais assuntos foram tratados na maior

parte dos artigos. A marca, o processo produtivo e os atributos socioambientais (bem-estar

animal, rastreabilidade) apareceram em todos os artigos o que evidencia uma ligação entre estes

três artigos da tese.

Quadro 3 – Temas abordados por artigo

Tema Artigo 1 Artigo 2 Artigo 3

Ocasião de consumo X X

Valor da marca X X X

Frequência de consumo X

Envolvimento com produto X X

Atitude sustentável X X

Intenção de compra X X X

Processo produtivo X X X

Rastreabilidade X X X

Bem-estar animal X X X

Redução de emissões GEE X

Perfil

Gênero X X

Grau de instrução X

Preço X X

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Por fim, no capítulo Considerações gerais sobre a tese, são feitos comentários sobre os

dados obtidos nos respectivos artigos e um resumo das conclusões, assim como se relatam as

contribuições acadêmicas, as implicações gerenciais e as limitações e sugestões para novos

estudos.

A seguir, inicia-se a explanação do Capítulo 1.

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CAPÍTULO 1 – A dimensão da sustentabilidade na perspectiva de especialistas e

consumidores de carne bovina em diferentes ocasiões de consumo3

Resumo

Em diversos estudos, busca-se entender como o consumidor se comporta em diferentes ocasiões

de consumo. Comercializar produtos com atributos socioambientais sem o conhecimento desse

comportamento do comprador pode dificultar a definição de uma estratégia de precificação e

de marketing para produtos “sustentáveis”. Neste estudo, propõe-se um modelo complementar

aos já desenvolvidos na literatura e focado na realidade de um país emergente, objetivando

avaliar a influência da dimensão ambiental em atitude, intenção de compra, desejo de pagar,

envolvimento, preocupação com o processo produtivo e valor da marca da carne. Desse modo,

entrevistas com especialistas e dois grupos focais foram usados para validar as dimensões

encontradas, sendo agrupadas em um modelo conceitual. Os resultados trazem elementos que

podem auxiliar o setor varejista na formulação de estratégias de comunicação e no

posicionamento de produtos/marcas que possuam atributos socioambientais como parte dos

benefícios ofertados ao consumidor final.

Palavras-chave: Marketing. Ocasião de consumo. Sustentabilidade. Carne bovina.

Comportamento do consumidor.

1 INTRODUÇÃO

Um aspecto inovador desta pesquisa está na abordagem do tema socioambiental na

intenção de compra do consumidor brasileiro. Diversos estudos apresentam discussões sobre as

características intrínsecas da carne (BRUNSØ; FJORD; GRUNERT, 2002; GAO;

SCHROEDER, 2009); contudo, existem poucas pesquisas em que se analisaram a influência

dos atributos ambientais e a segurança na escolha de carne pelo consumidor brasileiro. Esses

tipos de estudo devem ser mais bem explorados no Brasil, e espera-se observar diferença entre

3 Artigo apresentado no 10º Congresso Latino-Americano de Varejo – CLAV 2017, tema: “Big Data & Applied

Retail Analytics”, realizado em 19 e 20 de outubro de 2017, na Escola de Administração de Empresas de São

Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EASP/ FGV). Autor: Pedro Carvalho Burnier; coautor: Eduardo Eugenio

Spers.

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comportamento do consumidor brasileiros comparado ao de países desenvolvidos com relação

a alguns atributos socioambientais em razão dos diferentes contextos culturais no consumo da

carne. Além disso, o tema influência da marca na decisão de compra, aqui tratado, pode ser

considerado inovador, uma vez que a valorização da marca aparece como um movimento

recente no setor de carne bovina no Brasil.

Diferentes ocasiões de consumo da carne serão analisadas. O consumidor pode escolher

um produto de forma racional para uso funcional, ou seja, para consumo no dia a dia, ou fazer

uma escolha hedônica, isto é, para um consumo recreativo ou em eventos especiais (churrasco).

Ressalta-se que foram encontrados poucos estudos a respeito da influência da ocasião de

consumo no processo de compra da carne bovina.

Espera-se que os achados neste estudo possam trazer elementos que auxiliem a indústria

e o setor varejista na formulação de estratégias de comunicação e posicionamento de

produtos/marcas que possuam atributos socioambientais como parte dos benefícios ofertados

ao consumidor final. Verifica-se que as redes varejistas se esforçam para estimular um consumo

consciente. Assim, elas procuram ajudar seus clientes a pensar de que forma a sustentabilidade

pode estar no dia a dia do consumidor, apresentando-lhes iniciativas que eles possam fazer

parte. Neste caso, no consumo consciente, o comprador reflete sobre seus hábitos de compra e

sobre os fatores que determinam suas escolhas e tem condições de analisar o impacto que

podem causar no ecossistema. As redes de varejo demonstram interesse em comercializar

produtos com atributos socioambientais; entretanto, elas enfatizam a falta de conhecimento do

consumidor final sobre estes atributos o que dificulta exercer uma política de preço premium

para produtos “green”. Em 2015, as três principais redes de varejo do Brasil (Carrefour,

Walmart e Grupo Pão de Açúcar) começaram a desenvolver plataformas de pecuária

sustentável, demonstrando forte comprometimento com monitoramento da origem da carne

comercializada em suas lojas (GREENPEACE, 2015). A origem da carne se refere ao

cumprimento de práticas socioambientais por parte das fazendas que produzem os animais que

serão abatidos e colocados à venda no varejo nacional. O Carrefour4, em 2016, em um estudo,

demonstra que existe um grande desafio a ser enfrentado por parte dos varejistas com relação à

conscientização dos consumidores a respeito da origem de seus produtos de forma a valorizar

um produto sustentável.

4 Pesquisa apresentada no evento de lançamento da Plataforma Pecuária Sustentável do Carrefour, Cuiabá em 25

de agosto de 2016.

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O termo sustentabilidade no setor de carne bovina está diretamente relacionado a

algumas dimensões socioambientais. A pecuária bovina é considerada um dos setores que mais

contribuem para o desmatamento no Brasil. Segundo as estimativas do Sistema de Estimativas

de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)

brasileiras vêm crescendo continuamente desde 1970, sendo aproximadamente 30% das

emissões líquidas no Brasil realizadas pela agropecuária (SEEG, 2018). A bovinocultura de

corte é uma das principais responsáveis pela expansão da fronteira agropecuária e também a

maior fonte de emissão de GEE do setor, respondendo por 69% das suas emissões totais. A

fermentação entérica do rebanho de ruminantes (sobretudo o de bovinos de corte) é a causa

dessas elevadas emissões. Temas relacionados a bem-estar animal, trabalho escravo e emissões

de gases (CO2 e metano) aparecem diretamente ligados ao termo “carne sustentável”. Assim

sendo, ao considerar o termo “carne sustentável”, este estudo se refere às principais questões

socioambientais mencionadas.

Diante do exposto, o objetivo geral, neste estudo, é propor um modelo conceitual com

algumas dimensões que devam ser utilizadas em pesquisas que possam avaliar a influência da

dimensão ambiental na atitude, na intenção de compra e no desejo de pagar pela carne bovina.

E o objetivo específico é identificar temas referentes à sustentabilidade que despertem interesse

por parte dos diferentes atores da cadeia da carne bovina; avaliar atributos na carne que

representem a preocupação do consumidor, incluindo alguns atributos ambientais; caracterizar

de que forma a marca pode influenciar a decisão de compra do consumidor com relação à carne

bovina; e ainda identificar atributos prioritários na escolha da carne em diferentes ocasiões de

consumo (funcional/hedônico).

2 REVISÃO DA LITERATURA

Grunert, Bredhal e Brunsø et al. (2004) discutem a percepção de qualidade sob algumas

dimensões quando relacionam esta qualidade com desenvolvimento de novos produtos. A

primeira dimensão seria o eating quality, abrangendo os aspectos sensoriais, como sabor e

maciez. A segunda seria a dimensão saúde, que se refere à segurança do alimento. A terceira

seria a conveniência, para diferenciação de produto. E, finalmente, a quarta dimensão de

diferenciação da carne seria pelas características de processo, as quais não têm necessariamente

um impacto sobre as propriedades do produto final. Destas quatro dimensões apenas a

conveniência não será tratada neste estudo.

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2.1 Atributos de qualidade da carne

A escolha dos atributos de qualidade foi baseada na literatura, sendo estes atributos

abordados nesta pesquisa qualitativa (entrevistas com especialistas e grupo focal).

Os atributos, ou sinais, são peças de informação que o consumidor utiliza para formar

suas expectativas de qualidade. Existem várias formas de classificar os atributos de qualidade

de um alimento. Becker (2000) os categoriza como atributos de busca, experiência e crença,

pois é a partir deles que se obtém a satisfação de compra e consumo. Para outros autores, eles

são intrínsecos e extrínsecos, sendo os atributos intrínsecos majoritariamente determinados pelo

processo de produção, enquanto os extrínsecos, pela estratégia de marketing. Na tentativa de

explicar a demanda por produtos orgânicos, alguns autores (TUNG et al., 2012; GRACIA;

MAGISTRIS, 2008) separam atributos do alimento em dois grupos: crença e experiência.

Enquanto o último grupo pode ser determinado durante ou após o consumo do alimento (ex.

maciez da carne), o primeiro (crença), não pode ser especificado mesmo após o consumo do

alimento, como no caso de bem-estar animal e baixo impacto no meio ambiente, mencionam

Zanoli et al. (2012).

Em um estudo realizado por Grunert, em 1997, alguns atributos de qualidade, baseados

na expectativa dos consumidores, foram detectados em grupos focais conduzidos em quatro

países europeus. Alguns sinais de qualidade intrínseca foram selecionados, são eles: corte, cor,

“nódulos” de gordura, borda de gordura, marmoreio, conteúdo de gordura; bem como alguns

extrínsecos: origem, informação sobre criação do animal (bem-estar animal, alimentação com

uso de hormônio e aditivos). Nos diversos trabalhos realizados por Grunert e colaboradores

(GRUNERT et al., 2004; GRUNERT et al., 2011; BRUNSØ et al., 2002), a avaliação da

qualidade da carne foi realizada por meio de inúmeros atributos, entre eles: cor, gordura,

marmoreio, maciez, suculência, sabor, frescor, magreza da carne. Estes atributos foram

investigados antes e/ou depois da compra como parte da pesquisa do Modelo de Qualidade

Total do Alimento.

Souki et al. (2004) identificaram os fatores que afetam a decisão de compra dos

consumidores de carne bovina de Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi realizada uma pesquisa

descritiva a partir de um levantamento do tipo survey, com base em um corte transversal, com

variáveis quantitativas, totalizando 400 entrevistas pessoais nos pontos de venda. Os autores

verificaram que a higiene, o odor, a aparência, a ausência de resíduos, ser saudável, ser fresca,

ser saborosa, ser macia, a cor e ser nutritiva são as variáveis consideradas mais importantes

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pelos consumidores na sua decisão de compra. Além disso, observaram que o sexo, a idade, o

estado civil, a renda familiar, o nível de escolaridade e o tempo dedicado ao trabalho afetam as

decisões de compra dos consumidores.

Em um estudo, Velho et al. (2009) avaliaram o conhecimento do consumidor de carne

bovina quanto à certificação da carne e quanto esse consumidor paga por este processo. A

pesquisa foi realizada em uma rede de supermercados de Porto Alegre, mediante a aplicação de

questionários dirigidos às pessoas próximas aos balcões com carne. Os autores verificaram que

os consumidores exigem alimentos com qualidade e certificados confiáveis que demonstrem e

garantam a qualidade dos alimentos. Dentre os atributos pesquisados cor, maciez e quantidade

de gordura da carne demonstraram relevância.

Em um experimento de escolha, realizado por Gao e Schroeder (2009), alguns atributos

de qualidade foram testados para se investigar o efeito de adicionar atributos durante o processo

de escolha de carne bovina. Os atributos de qualidade escolhidos pelos autores foram maciez

garantida, magreza (pouca gordura) garantida, frescor (prazo de validade), ômega, além do

preço e da origem. Alguns destes atributos servirão de base na definição dos itens a serem

incluídos no construto do modelo aqui proposto.

Stranieri e Banterle (2015) realizaram um estudo para entender as atitudes do

consumidor com relação à origem da carne, considerando informações presentes na etiqueta

dos produtos. Os resultados indicam que a maioria dos consumidores demonstra alto interesse

em diferentes informações nas carnes com label. As variáveis rastreabilidade, certificação,

frescor e prazo de validade são importantes no modelo estudado pelos autores.

A percepção quanto alguns aspectos cognitivos da carne foram investigados por

Barcellos (2007) no estudo com consumidores no Brasil (Porto Alegre e São Paulo), na

Austrália e na Holanda. A avaliação dos consumidores de Porto Alegre e Austrália, com relação

a qualidade, maciez, sabor, foi mais favorável, justificando, assim, maior frequência de

consumo de carne bovina.

Um breve resumo dos atributos de qualidade selecionados para este estudo pode ser

observado no Quadro1. Com base na revisão de literatura e nas entrevistas em profundidade,

os atributos maciez, suculência, frescor aparência e magreza (pouca gordura) da carne foram

indicados para fazerem parte da medição do construto de preocupação com a qualidade neste

estudo.

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Quadro 1 – Atributos de qualidade da carne

Atributo Autor

Maciez Souki et al. (2004); Grunert et al. (2004); Barcellos (2007); Gao; Schroeder

(2009); Velho et al. (2009)

Suculência Brunsø et al. (2002); Grunert et al. (2004)

Frescor Souki et al. (2004); Grunert et al. (2004); Gao; Schroeder (2009); Stranieri;

Banterle (2015)

Aparência Grunert et al. (2011)

Magreza (pouca gordura) Becker (2000); Grunert et al. (2004); Gao; Schroeder (2009); Velho et al.

(2009); Chini (2015)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

2.2 Dimensões socioambientais

Estudos sobre atributos de carne foram realizados por diversos autores, entre eles

Grunert et al. (2004, 2011); Barcellos (2007); Gao e Schroeder (2009); Krystallis et al. (2012),

Stranieri e Banterle (2015). A preocupação do consumidor em relação à forma como os

produtos alimentares são produzidos vem aumentando na maioria dos países europeus, de

acordo com Grunert et al. (2004). Um dos resultados da pesquisa desses autores aponta que,

além das características intrínsecas do produto, como maciez e sabor, consumidores europeus

consideraram importantes as características relacionadas à saúde – como, por exemplo, resíduos

de pesticidas –, ou ao processo de produção, como bem-estar animal. Na tentativa de

contextualizar este comportamento no Brasil, Barcellos (2007) testou um modelo teórico que

relaciona atitude, hábito e intenção de comportamento de consumo de carne bovina. O impacto

do nível de envolvimento do consumidor também foi objeto desse estudo como um agente

moderador entre a atitude e o comportamento de consumo. No atual trabalho, pretende-se

contribuir com o entendimento do contexto nacional complementando o modelo aqui proposto.

Pouco se tem avançado no entendimento da influência da variável ou dimensão sustentabilidade

no contexto de um país em desenvolvimento, apesar das inúmeras mudanças que o consumidor

da carne sofreu no Brasil.

2.2.1 Envolvimento com o produto

Em pesquisas a respeito do consumidor, o envolvimento é um tema sempre abordado.

Entre elas evidenciam-se as efetuadas por Laurent e Kapferer (1985) e por Zaichkowsky (1985)

sobre escala de medição de “envolvimento”, pois as escalas estudadas nos respectivos trabalhos

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são aprovadas e utilizadas cada vez mais por outros pesquisadores. Verbeke e Vackier (2004)

também usaram o perfil de Laurent e Kapferer (1985) sendo o envolvimento do comprador

tratado como um construto multidimensional. Os resultados apontam que o alto envolvimento

do consumidor faz com este busque mais informação sobre o item desejado e realize um

cuidadoso processamento desta informação, avaliando e balanceando os atributos do produto

antes de formar a crença e desenvolver a atitude com relação à intenção de compra desse

produto.

Barcellos, em 2007, realizou estudo considerando a escala de Jain e Srinivasan (1990).

Nessa dissertação, a autora afirma que consumidores “mais envolvidos” com a carne bovina

estão mais propensos a serem menos influenciados pelo hábito – pois usam maior quantidade

de recursos cognitivos no momento de decidir pela compra –, do que aqueles “menos

envolvidos”.

O crescente interesse no envolvimento do consumidor com a carne bovina fica

evidenciado pelo aparecimento de novos sites e produtos de mídia eletrônica que surgiram para

atender a demanda do consumidor na procura de novos conhecimentos sobre diferentes aspectos

em relação à carne bovina. No atual estudo, observa-se a influência do envolvimento do

consumidor com o produto nas atitudes de consumo e intenção de compra da carne.

A discussão anterior discussão leva à Proposição 1 (P1), a seguir:

➢ P1: O envolvimento com o produto (carne bovina), a preocupação do consumidor com

o processo produtivo e com o valor da marca diferem entre as ocasiões de consumo.

2.2.2 Preocupação com o processo produtivo

Considerando-se que é muito difícil o consumidor mostrar interesse em avaliar as

condições mencionadas na produção da carne que vai adquirir, os atributos de qualidade, no

que diz respeito ao processo de produção, apresentam sobretudo características de crença.

Grunert (1997), em estudo com carne suína orgânica, verificou que o consumidor fez inferência

positiva da carne orgânica ao demonstrar a preocupação com o ambiente, com a saúde, com o

bem-estar animal e também em adquirir um produto mais saboroso. Esse estudo mostra

claramente as armadilhas de classificar um produto com base nas características do seu processo

de produção, no qual os efeitos sobre essas dimensões de qualidade do produto, que são

acessíveis à experiência do consumidor, são pouco elucidados. Como refere Grunert (2004, p.

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271), as características do processo podem influenciar a “[...] formação de expectativas de

qualidade mais como um indicador de qualidade geral do que como um atributo singular [...]”.

Souza, Casotti e Lemme (2013) realizaram uma investigação na qual abordam o bem-

estar animal (BEA) a fim de compreender as reações dos consumidores em relação aos maus-

tratos praticados contra os animais em processos industriais de produção de carne que causam

dor, sofrimento e estresse.

Em seus respectivos trabalhos, Hanf e Kuhl (2205) e Oliveira (2012) discutiram o grau

de conhecimento que os consumidores possuem sobre o processo de produção de alimentos,

dentro da mensuração de diferentes construtos. Hanf e Kuhl (2005) afirmam que a qualidade

no entendimento do consumidor é um construto com múltiplos atributos e consideram a

orientação pelo processo, i.e. o sistema de produção, como um todo que deve estar explícito, de

acordo com o conceito from farm to fork/“da fazenda à mesa”, como uma das principais

dimensões do sistema do controle de qualidade. Esses autores mencionaram que fornecer

informações sobre rastreabilidade e ter uma cadeia de produção transparente passa a ser uma

necessidade competitiva (HANF; KUHL, 2005). Quando o consumidor pensa em alimento

seguro, ele remete ao processo produtivo. Oliveira (2012) procurou entender o grau de

conhecimento dos consumidores sobre questões relacionadas ao processo produtivo.

A discussão anterior leva à Proposição 2 (P2):

➢ P2: O conhecimento do processo produtivo, o valor da marca bem como a atitude em

relação ao consumo sustentável diferem entre as ocasiões de consumo.

2.2.3 Atitudes em relação ao consumo sustentável

Nas pesquisas sobre o comportamento do consumidor, é fundamental estudar as

atitudes, principalmente porque elas podem ser utilizadas para prever ou anteceder

comportamentos do comprador. Silva et al. (2015) analisaram o comportamento dos

consumidores brasileiros de carne bovina em relação ao atributo de sustentabilidade ambiental.

Os resultados obtidos por esses autores apontam que aqueles que têm atitude positiva a respeito

do consumo sustentável são mais propensos a ter intenção de consumir carnes com o

mencionado atributo. No estudo desenvolvido por Krystallis et al. (2012), teve-se como

objetivo analisar as atitudes de sustentabilidade dos cidadãos com relação à produção alimentar

na União Europeia (UE), no Brasil e na China, usando sistema de produção de carne de porco.

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Os autores conseguiram mapear as atitudes dos cidadãos com relação às características

sustentáveis de sistemas de produção de suínos e observar se estas atitudes coincidem com as

atitudes pessoais em geral com relação à sustentabilidade. Os achados apontaram que a maioria

dos entrevistados que pensam no seu papel de cidadãos relacionado com a produção de suínos

não parecia influenciar significativamente suas escolhas de consumo de carne de porco.

Barcellos (2007) utilizou a Teoria do Comportamento Planejado como base do seu

modelo e confirmou a relação, direta e estatisticamente significante, existente entre os

construtos atitude com o comportamento de consumo de carne bovina.

A discussão anterior leva à Proposição 3 (P3):

➢ P3: A atitude em relação ao consumo sustentável, a intenção de compra de carne bovina

sustentável diferem entre as ocasiões de consumo.

2.2.4 Marca e segurança

O tema de “branding” ganhou relevância nos últimos anos no âmbito das commodities

agrícolas quando o consumidor necessita efetuar escolhas diante de produtos semelhantes. Ao

distinguir, por meio de marcas conhecidas, produtos confiáveis e com os quais se identifica, o

indivíduo se vê capaz de perceber uma compra vantajosa (HANF; KÜHL, 2005). Segundo Hanf

e Kühl (2005), os atributos de confiança dos alimentos podem ser divididos em metafísicos e

os relacionados ao risco. Os metafísicos estão associados com o processo de produção e incluem

características, como bem-estar animal e origem controlada. Já os atributos relacionados ao

risco são usualmente ligados ao produto em si, e incluem características como “livre de

salmonela” ou “sem colesterol” (HANF; KÜHL, 2005).

A percepção de um alimento seguro aparece como forte requisito na escolha de um

produto. A rastreabilidade durante as diferentes etapas da cadeia de produção da carne surge

como uma forma de tangibilizar a “qualidade” do produto (OLIVEIRA, 2012). Após os

episódios do “mal da vaca louca” e dos surtos de febre aftosa na Europa, os consumidores e os

governos passaram a exigir uma maior transparência em todos os processos relacionados à

produção de alimentos (OLIVEIRA, 2012). Os sistemas agroindustriais estão sendo

pressionados a reestruturar seus métodos de produção num formato orientado a fim de garantir

a rastreabilidade e transmitir aos consumidores os atributos de confiança no que se referem à

segurança dos alimentos (HANF; KÜHL, 2005).

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A exemplo de resposta a esta pressão, no início de 2013, uma forte campanha da

empresa JBS, com a marca Friboi, foi veiculada como uma forma de sensibilizar o consumidor

sobre a importância de se conhecer a origem da carne consumida no Brasil. Esta campanha foi

ao ar logo após reportagens que deflagraram a falta de controle em inúmeros frigoríficos no

País, colocando em cheque a garantia da “qualidade”/sanidade da carne vendida nos pontos de

varejo e açougues. A revista Veja publicou matérias contundentes sobre o tema, mostrando

maus-tratos e doenças que o povo brasileiro está sujeito ao consumir esse tipo carne oriunda de

fornecedores “clandestinos”. Diante destes pontos, aparece uma oportunidade, não apenas de

venda, mas também de ganho, de share. “Mas para isto acontecer tínhamos que mexer com

algo muito interessante e curioso que é a mudança de hábito das pessoas. O que a gente queria,

portanto, era que as pessoas passassem a pedir a carne que compram todo dia pelo nome da

marca [...]”, comenta Marcio Oliveira (2014, p. 54), presidente da Lew’ Lara\TBWA, agência

que idealizou a campanha da Friboi.

Grunert et al. (2004, p. 267) também evidenciam a importância da marca como forma

de diminuir a incerteza do consumidor no momento da compra: “A empresa pode dar sinal de

um produto com qualidade superior, diminuir a incerteza deste e encorajar o consumidor a pagar

um preço premium por uma qualidade superior [...]”.

O carimbo SIF está normalmente presente nas embalagens e na própria carne,

significando que esta provém de animais que foram abatidos em frigoríficos habilitados pelo

Serviço de Inspeção Federal (SIF).

Na pesquisa de Barcellos (2007), a presença do carimbo SIF na carne foi associada à

segurança do produto pelos entrevistados, enquanto os selos de certificação provocaram uma

associação maior à qualidade da carne.

Diante do exposto, no atual estudo, considera-se o fator segurança e confiança da carne

como um elemento importante da marca e, nesta dimensão, leva-se em conta tanto o

conhecimento da marca como a confiança nesta com relação a aspectos de segurança do

alimento.

A discussão anterior leva à Proposição 4 (P4):

➢ P4: O valor da marca e a intenção de compra da carne sustentável diferem entre as

ocasiões de consumo.

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A Figura 1 ilustra as relações encontradas na revisão teórica na qual foram identificados

numerosos estudos concernentes ao tema de sustentabilidade em alimentos, em especial no

varejo que comercializa a carne bovina.

Figura 1 – Modelo conceitual proposto

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Este modelo indica que o maior envolvimento do consumidor na escolha e no preparo

do alimento leva-o a ter maior interesse pelo processo de produção do alimento e a dar maior

valor à marca. Consumidores que dão maior valor à marca e à segurança do alimento têm maior

propensão ao consumo sustentável. Além disso, aqueles que possuem essa atitude positiva são

mais propensos a ter intenção de consumir e a escolher carnes com atributos de sustentabilidade

ambiental.

2.3 Ocasião de consumo

O consumo tem sido frequentemente dicotomizado em termos de sua natureza

funcional-hedônica. Pesquisadores na área de comportamento de consumo têm cada vez mais

investigado a escolha do consumidor com base em distinções que envolvem a compra e o

consumo de bens por prazer (hedônico) versus para fins mais utilitários (funcional). Em alguns

estudos, como no de Khan, Dhar e Wertenbroch (2004), examinaram-se as compensações entre

os bens que são escolhidos e consumidos para induzir o prazer e fazer com que os consumidores

se sintam bem ou para alcançar um propósito instrumental e os que usados para alcançar um

propósito funcional. Nessas investigações, evidencia-se a preocupação com os efeitos de

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contexto nas compensações envolvidas na escolha entre alternativas que induzem prazer e

aquelas que são instrumentais para alcançar algum outro objetivo (funcionais) (KHAN; DHAR;

WERTENBROCH, 2004).

De maneira geral, a literatura abrange alguns aspectos comportamentais do consumidor

e sua sensibilidade a preço nas diferentes ocasiões, ou ainda, a segmentação de mercado para

bens de natureza funcional ou hedônica. Entretanto, não foram localizados trabalhos no que

tange à relevância de atributos que influenciaram na escolha de um alimento para diferentes

ocasiões. Diante disso, neste estudo, objetivou-se identificar os atributos prioritários na escolha

da carne em diferentes ocasiões – consumo do dia a dia (funcional) ou para eventos

especiais/churrasco (recreativa/hedônica).

O consumo funcional se refere à compra frequente do dia a dia, na qual o consumidor

geralmente adquire seu produto em varejo tradicional, supermercados ou açougues de uma

maneira mais racional; já o hedônico se refere a uma compra ocasional, na qual o consumidor

escolhe seu produto em lojas especializadas (boutiques de carne) de modo emocional.

3 METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em duas etapas: na primeira etapa, efetuaram-se entrevistas

em profundidade com especialistas na área de sustentabilidade e marketing de empresas que

fazem parte da cadeia de carne bovina, e, na segunda, efetuaram-se entrevistas de grupo focal

(GF) com consumidores de carne bovina. O objetivo destas duas etapas foi o de aprofundar e

validar os temas que a literatura apontou como dimensões importantes com as quais se possa

avaliar a influência da dimensão ambiental na atitude, na intenção de compra e no desejo de

pagar pela carne bovina. Este estudo qualitativo ajudará ainda na melhor definição das variáveis

incluídas no modelo conceitual proposto.

3.1 Entrevista em profundidade

As entrevistas em profundidade semiestruturadas, em que o entrevistador segue um

roteiro pré-determinado, são amplamente usadas em estudos de marketing. De forma geral, elas

não estão baseadas em um questionário aberto, mas em torno de alguns pontos ou temas a serem

abordados e aprofundados, que formam o guia de entrevista.

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Nesta etapa, procurou-se, com base nas entrevistas em profundidade, estabelecer contato

com especialistas na área de sustentabilidade e marketing do setor de carne com intuito de

conhecer melhor suas percepções e conhecimento sobre o tema proposto neste estudo. Assim,

foram selecionados os seguintes especialistas para serem entrevistados, os quais foram

informados sobre os procedimentos da pesquisa e concordaram em participar, sendo garantido

o anonimato dos respondentes, que doravante serão identificados por letras, como mostrado a

seguir:

A. Gerente de marketing no setor de “carnes” de empresa frigorífica líder no mercado

nacional.

B. Gerente de marketing no setor de “carnes” de empresa frigorífica líder no mercado

nacional.

C. Diretor de uma ONG socioambiental e chef.

D. Gerente de marketing de uma empresa especializada em carnes (boutique de carne).

E. Sócio-diretor da empresa de pesquisa de mercado, tendo como clientes empresas

frigoríficas.

A técnica de coleta empregada foi a de entrevista pessoal realizada pelo próprio

pesquisador. Após as entrevistas, o pesquisador transcreveu os trechos relevantes e procurou

identificar de que forma estes contribuíram na definição de temas relevantes a estudos sobre

sustentabilidade na carne bovina.

3.2 Grupo focal

No intuito de contribuir para validação das dimensões apresentadas no modelo proposto

a partir da revisão de literatura, foram criados dois grupos focais (Grupo 1, hedônico e Grupo

2, funcional) com consumidores de carne , não identificados aqui a fim de manter o anonimato

dos participantes. Nas sessões, o moderador procurou identificar atributos prioritários na

escolha da carne bem como hábitos de consumo e, em especial, a ocasião da compra.

Cada um dos grupos foi composto de oito participantes. O Grupo 1 foi formado a partir

da lista de clientes de uma boutique de carne de São Paulo, os quais deveriam possuir um forte

envolvimento com o produto. A ocasião avaliada foi compra de carne recreativa (churrasco). O

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Grupo 2 foi composto por voluntários tendo como foco os hábitos de uma compra funcional

(carne para o dia a dia).

O trabalho com grupo focal foi dividido em duas etapas. Na primeira, objetivou-se

explorar temas relacionados com as dimensões presentes no modelo proposto, isto é,

sustentabilidade, envolvimento com o produto, ocasião de compra, qualidade do produto,

processo produtivo, marca e segurança do alimento. Na segunda etapa, analisou-se o processo

de escolha do participante utilizando 16 produtos hipotéticos visando a medir a WTP referente

aos diferentes atributos da carne. Cada integrante recebeu duas opções de escolha e foi

solicitado a explicar o que o motivou a realizar determinada escolha. Para analisar a intenção

de pagar do consumidor, com relação a atributos de sustentabilidade, foram selecionados alguns

atributos com base na revisão de literatura e nos resultados das entrevistas com os especialistas.

O Quadro 2 mostra os atributos usados no estudo bem como os diferentes níveis testados.

Quadro 2 – Atributos utilizados na análise intenção de escolha do consumidor

Variável Nível 1 Nível 2 Nível 3

Preço bife (R$/kg) 28,55 40,79 53,03

Rastreabilidade Não rastreável Rastreável até o frigorífico Rastreável até a fazenda

Marca Marca desconhecida Marca conhecida Marca sustentável

Qualidade Tradicional Maciez garantida Sustentabilidade garantida

Bem-estar animal Não certificado Certificado

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta parte, serão apresentados e discutidos os resultados das entrevistas em

profundidade e daquelas efetuadas nos dois grupos focais.

4.1 Entrevistas em profundidade

No Quadro 3, observa-se a lista das entrevistas realizadas envolvendo especialistas da

indústria, ambientalista bem como sócio da empresa de pesquisa de mercado que possui

empresas de carne como principais clientes.

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Quadro 3 – Entrevistas em profundidade

Entrevistado Empresa Cargo Duração (min)

A Frigorífico A Gerente de Marketing 50

B Frigorífico B Gerente de Marketing 60

C Ambientalista/Chef ONG 90

D Boutique de Carne Sócio-diretor de Marketing 45

E Empresa de Pesquisa de Mercado Sócio-diretor 120

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Alguns pontos relevantes observados nestas entrevistas serviram de base para ajustes do

modelo e validação das dimensões exploradas na revisão da literatura.

Existe uma clara distinção no envolvimento numa compra dependendo do tipo de

evento. Segundo o entrevistado C:

[...] existe a escolha funcional (dia a dia) e a compra ‘recreativa’ para eventos

específicos (churrasco, jantar com amigos). Na escolha recreativa existe um maior

envolvimento com o produto, uma maior preocupação com as características

produtivas bem como qualidade da carne. Por outro lado, a compra funcional

geralmente é feita pelas mulheres e não demanda informação específica sobre a

qualidade da carne que está sendo adquirida.

Esta diferenciação de tipo de compra deve ser analisada no âmbito desta pesquisa

devendo conter em sua amostra representante de ambos os grupos de forma a analisar alguma

possível correlação e efeito causal entre as variáveis.

O envolvimento com o produto aparece como importante elemento na discussão da

sustentabilidade no setor de carne. O entrevistado A afirmou que a criação do site “academia

da carne” exemplifica uma atenção ao atendimento de uma demanda real:

[...] os consumidores têm demonstrado interesse maior em obter informação sobre

vários atributos (além da maciez) antes ou mesmo após a compra do produto. O

movimento recente de ‘gourmetização’ deste mercado, evidenciado em programas de

TV e movimentos de chefs inovadores aumentam interesse do consumidor e

consequentemente seu maior envolvimento com o produto.

A marca aparece como uma variável relevante a ser incluída no estudo. Quando se trata

de atributos extrínsecos, em especial características socioambientais, a marca serve para

identificar as características do processo produtivo (raça, rastreabilidade, origem, segurança

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alimentar, etc.) que devem ser consideradas, principalmente pelo consumidor com maior

envolvimento com o produto e possivelmente por aqueles que realizam compras recreativas, ou

seja, fora das atividades rotineiras.

Alguns atributos com relação à qualidade da carne devem ser considerados numa

eventual pesquisa quantitativa. O entrevistado D apontou o “cheiro e aparência na embalagem

(sem muito sangue)”.

A questão institucional dentro do contexto de sustentabilidade na cadeia da carne parece

ser evidente. O entrevistado B afirmou claramente que “algumas empresas lançam produtos

‘sustentáveis’ não por demanda do consumidor final, mas por pressão de alguns atores da

cadeia (clientes externos, ONGs)”. Neste caso, esta demanda ocorre até mesmo por ritos e

cerimoniais da empresa, ou ainda para seguir o isomorfismo presente nos demais competidores.

Na entrevista com o entrevistado E, que possui como clientes frigoríficos líderes no

mercado, foi sugerida a visualização do modelo em três “blocos”. Segundo o entrevistado E:

O primeiro bloco aparece como uma etapa subjetiva que inclui as dimensões

consciência ambiental e Envolvimento com o produto (‘eu acredito’). O segundo

bloco inclui as perguntas do que é importante para o entrevistado (‘eu escuto’, ‘eu

procuro’) onde na procura por informações ele se demonstra preocupação com o

conhecimento do processo produtivo e da qualidade do produto. O último bloco

sugere as ações do consumidor (‘eu faço’) envolvendo atitudes de consumo

sustentável e intenção de compra.

Estes três blocos servem para facilitar a visualização do modelo conceitual proposto e

demonstrar de que maneira os efeitos causais acontecem, como pode ser observado na Figura1.

4.2 Grupos focais

O primeiro grupo focal (Grupo 1, hedônico), composto de oito clientes de uma boutique

de carne, apresentou algumas evidências de hábitos típicos de consumidores com alto

envolvimento. A maciez, o marmoreio e o frescor foram os atributos indicados como

prioritários pelo grupo. A aparência parece ser um atributo valorizado pelo gênero feminino

bem como a confiança na figura do açougueiro para indicar um produto de qualidade. A

relevância dos atributos varia de acordo com a ocasião da compra sendo diferente entre a

compra do dia a dia e a recreativa (churrasco). Este primeiro grupo tinha hábito marcante

relacionado à compra da carne para churrasco ou eventos especiais (escolha recreativa).

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Enquanto o preço influencia a escolha do dia a dia, outros fatores definem a escolha da carne

para um churrasco, como declarado por um dos entrevistados:

Observo o tipo de convidado. Se tiver um grande número de mulheres eu compra

carnes menos nobres pois elas preferem carne bem passada (as vezes esturricadas).

Se tiver convidados que conhecem bem a carne eu compro cortes mais nobres e gasto

um pouco mais. Neste caso compro em lojas especializadas (boutiques) enquanto

carne do dia a dia compro em açougues ou supermercados. Para o dia a dia vale até

carne de bandejinha.

Com relação à preocupação com processo produtivo, os participantes afirmaram não

pensar neste tema no momento da compra. Um dos entrevistados relatou que confia nas grandes

redes de varejo: “o Pão de Açúcar garante a segurança para não colocarem a imagem em risco

do supermercado”. Eles entendem que o selo SIF, feito pelo fiscal do Ministério da Agricultura,

dá certa segurança e que a limpeza do frigorífico e a refrigeração na cadeia de produção são

imprescindíveis para garantir a segurança do alimento. Apesar de terem dito no início que não

se importavam com aspectos do processo produtivo, a questão do bem-estar animal aparece

como uma preocupação de alguns integrantes: “eu não deixaria de comer a carne pelo animal

em si (lei da natureza) porém me sinto desconfortável em saber que o animal teve maus-tratos

durante o abate. Eu não comeria se soubesse que ele recebeu maus-tratos”.

Os componentes do grupo de discussão atribuem à marca um papel de confiança da

origem e manutenção do padrão de qualidade do produto a cada compra. Marcas como Beef

Passion, Feed (Bonsmara), Maturata, Frialto, Barramansa, Frigol, foram mencionadas. Os

entrevistados também comprovaram a importância da campanha da Friboi como um marco

nesse setor: “Depois do início da campanha da Friboi comecei a pensar em marca”, comenta

uma das participantes. Houve um consenso no grupo: a falta que a marca faz na venda de carne

pelos açougues: “sinto falta de uma marca nas carnes frescas do açougue. Não sabemos a

procedência. A procedência é a mesma entre eles?”. Quando perguntado se ao comprar carne

os participantes levam em conta o impacto no meio ambiente, todos os integrantes do grupo

deram resposta negativa. Referente à pergunta se pagaria a mais por uma carne “amiga do meio

ambiente”, o grupo questionou o quanto seria “pagar a mais” e qual seria a qualidade do

produto. Evidenciou-se nestes voluntários a falta de informação e insegurança do que vem a ser

uma carne sustentável. Um dos entrevistados do primeiro grupo focal (hedônico) comenta:

“Tirando o Beef Passion, não conheço outra marca que se preocupe com meio ambiente. O

filminho que passa na loja desperta este apelo. Mostra o manejo do animal. Isto convence bem

o consumidor. Animal bem tratado que não está sendo machucado”.

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A preocupação com o bem-estar animal ficou bastante evidente quando os participantes

afirmaram que pagariam mais se o produto tiver BEA: “choque no boi me incomoda”, informa

uma participante do primeiro grupo. Esta preocupação ficou mais evidente quando analisadas

a respostas das escolhas de produto referente à segunda etapa do grupo focal. Cinco dos oito

integrantes mencionaram ter escolhido a opção “A” ou a “B” em virtude de terem o bem-estar

animal certificado.

No segundo grupo focal (Grupo 2, funcional), discutiu-se principalmente sobre o item

sustentabilidade. O moderador apresentou várias fotos relacionadas ao tema como forma de

aprofundar o debate. Este grupo não tinha o hábito de realizar compras para churrasco e a

discussão foi em torno da compra funcional (dia a dia). Mais uma vez notou-se um grande

desconhecimento dos entrevistados a respeito dos aspectos relacionados à sustentabilidade. Ao

se comentar sobre o BEA (bem-estar-animal), identificou-se uma mudança de comportamento

dos participantes, em especial no momento das escolhas realizadas.

O Quadro 4 resume as diferenças encontradas entre os consumidores dos diferentes tipos

de varejo quanto às dimensões das proposições 1 a 4.

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Quadro 4 – Comparação de diferentes ocasiões de consumo

Características Grupo de foco 1: hedônico Grupo de foco 2: funcional

Grau de envolvimento Alto Médio a baixo

Tipo de varejo Boutique de carne Varejo tradicional

Sensibilidade a preço Menos sensível a preço Mais sensível a preço

Qualidade carne Conhecem marmoreio Não conhecem marmoreio

Embalagem Não compram carne em

bandejinhas

Compram “bandejinhas” com

frequência

Marca Marcas com grife (Beef Passion,

Bonsomara) Marcas tradicionais (Friboi, Swift)

Processo produtivo Maior conhecimento Conhecimento médio

Bem-estar animal Questão emocional evidente Preocupação mais racional

Conceito sustentabilidade Mais específico/complexo Apenas conceito de clichês

Local de compra Primeira opção – 63% boutique Primeira opção – 50%

supermercado

Fidelidade ao varejo Alta fidelidade Baixa fidelidade, opção açougue

Importância da opinião do

açougueiro Alta Alta

Renda Predomina > R$ 10 mil mensais Predomina de R$ 5 a 10 mil

mensais

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de escolha da carne bovina, além dos atributos intrínsecos (cor,

maciez, aparência), os consumidores levaram em conta atributos referentes à segurança do

alimento, o que inclui o interesse quanto ao processo de produção (inclusive o conhecimento

da origem do animal). Observa-se ainda que um maior envolvimento com o produto leva o

consumidor a ter atenção a itens que vão além das qualidades intrínsecas. A preocupação com

o processo de produção do animal e com a marca influencia o consumidor com relação a sua

atitude de compra e com a WTP por um produto “sustentável”.

Os entrevistados indicam que, além do atributo maciez, consideram relevantes os

atributos origem do animal (rastreabilidade) e segurança do alimento. A marca da carne ajuda

o consumidor a ter maior confiança de que está adquirindo um produto com a qualidade

desejada e seguro, proveniente de fazendas controladas. O bem-estar animal é visto como

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atributo importante, principalmente pelos consumidores com maior envolvimento na compra

da carne.

A ocasião de compra também influencia o consumidor na definição de atributos que um

produto deve ter no momento da compra e na WTP por um produto de maior qualidade e mais

seguro. O comprador do dia a dia tem preocupações menores quando comparado ao que busca

um produto para uma ocasião especial (ex. jantar com amigos ou um churrasco).

Como resultado dos grupos focais, constatou-se que o grupo com alto nível de

envolvimento com o produto mostrou preocupação com o processo produtivo da carne,

destacadamente o BEA (bem-estar animal). Este interesse se manifestou de modo latente nos

participantes visto que, no primeiro momento, eles não consideraram aspectos referentes ao

animal e tampouco foram sensíveis a atributos socioambientais no ato da compra. Entretanto,

ao se apresentarem as diferentes opções de escolha de produtos, o BEA foi fator decisivo para

a maior parte do grupo. Este comportamento foi observado em ambos os grupos, sendo mais

evidente no Grupo 1 (boutique de carne), uma vez que possuem maior envolvimento com o

produto.

Estes achados estão alinhados com os resultados de Souza et al. (2013), que constataram

que 87% dos consumidores têm dificuldade de conectar o alimento que consomem ao animal

vivo; porém, evidências de um selo que garanta BEA (ausência de maus-tratos) teria boa

aceitação pelo consumidor. Esse entendimento se confirma no comportamento dos participantes

de ambos os grupos focais (GF) no atual estudo. Os achados de Souza et al. (2013) e as

discussões dos GFs sugerem que frigoríficos e varejistas devem evidenciar a “preocupação com

BEA” nos produtos que possam dar garantia deste atributo por meio de uma certificação ou

selo.

A presença do selo SIF (Serviço de Inspeção Federal) foi apontado pelos dois grupos

como sendo um dos itens observados no momento da compra, comprovando a observação de

Barcellos (2007) como sendo este selo associado à segurança da carne.

O atributo marca tem papel relevante no sentido de dar segurança à origem da carne.

Durante as discussões, foi identificada a valorização da rastreabilidade como forma de

transmitir confiança aos consumidores com relação à segurança dos alimentos, conforme

estudos de Hanf e Kuhl (2005) e Oliveira (2012).

Os achados dos grupos focais, na atual pesquisa, serviram para comprovar os resultados

de Verbeke e Vackier (2004), ao indicarem que consumidores menos envolvidos (no caso do

segundo GF) se prendem mais a atributos tangíveis, como preço, quando comparados com os

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de maior grau de envolvimento (primeiro GF), que procuraram por garantia de sanidade,

atributo intangível.

Conforme observado nas pesquisas em profundidade e nos grupos focais, a ocasião do

consumo (funcional/dia a dia ou recreativa/churrasco) influencia a escolha dos atributos

considerados na intenção de compra da carne. Esta variável deve ser incluída como variável de

controle no modelo conceitual proposto.

Considerando os dados obtidos neste estudo, conclui-se que o modelo conceitual

proposto (Figura 1), com base na revisão teórica, mostrou relações importantes e pode ser usado

para avaliar a influência da dimensão ambiental na atitude, na intenção de compra e no desejo

de pagar pela carne bovina. Os resultados encontrados nas entrevistas em profundidade e nas

sessões dos grupos focais serviram para validar a relevância das variáveis incluídas no modelo

proposto. Envolvimento com o produto, preocupação com processo produtivo, valor da marca

(incluindo segurança do alimento) estão relacionados com atitude e intenção de compra da

carne sustentável. A ocasião da compra (funcional/recreativa) influencia as relações presentes

neste modelo.

Este trabalho trouxe elementos importantes para auxiliar a indústria e o setor varejista

na formulação de estratégias de comunicação e posicionamento de produtos/marcas que

possuam atributos socioambientais como parte dos benefícios ofertados ao consumidor final.

Conforme exemplificado anteriormente, o atributo bem-estar animal deve ser mais bem

comunicado aos consumidores mediante selos ou certificação garantida.

O modelo proposto nesta investigação pode ser utilizado como referência para outras

pesquisas que tratem do tema socioambiental em outros segmentos da indústria alimentícia no

Brasil. Estudos empíricos também podem ser realizados com o intuito de comprovar as relações

sugeridas entre as dimensões mencionadas nas proposições apresentadas. Além disso, podem

ser efetuados outros trabalhos para testar a WTP (ex. usando os métodos de escolhas discreta

dos produtos hipotéticos) objetivando entender a resposta dos consumidores com relação a

alguns atributos socioambientais existentes no processo de produção da carne bovina.

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REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 2 – A influência do processo produtivo e atitude na intenção de compra da

carne bovina5,6

Resumo

Neste estudo, pretende-se contribuir com a literatura propondo um modelo complementar e

focado na realidade de um país emergente. Assim, neste trabalho, avaliou-se a influência da

dimensão ambiental na atitude, na intenção de compra e no desejo de pagar pela carne bovina,

envolvimento a preocupação com o processo produtivo e o valor da marca. Entrevistas com

especialistas e com dois grupos focais foram efetuadas para validar as dimensões encontradas

na literatura a serem agrupadas no modelo conceitual proposto. Em seguida, foi realizada uma

survey on-line com 725 respondentes, sendo o modelo estrutural proposto testado pelo software

SmartPLS-3.0. Foram propostas oito hipóteses. O modelo sugere que as dimensões

“envolvimento com o produto” e “preocupação com processo produtivo” estão relacionadas

com atitude e intenção de compra da carne sustentável; e a dimensão “valor da marca”

(incluindo “segurança do alimento”) não apresentou correlação com a “intenção de compra da

carne sustentável”. Além disso, foi criada e validada uma escala para mesurar o construto

“preocupação com o processo produtivo”. Estes elementos podem auxiliar a indústria e o setor

varejista na formulação de estratégias de comunicação e no posicionamento de produtos/marcas

que possuam atributos socioambientais como parte dos benefícios ofertados ao consumidor.

Palavras-chave: Marketing. Sustentabilidade. Carne bovina. Processo produtivo. Intenção de

compra.

1 INTRODUÇÃO

Questões relacionadas à visão do consumidor com relação ao processo produtivo no

setor agropecuário foram estudadas por diversos autores de forma separada. Alguns

pesquisadores discutiram sobre origem da produção (AY; CHAKIR; MARETTE, 2017;

JANßEN; LANGEN, 2017; STÖCKIGTA; SCHIEBENERA; BRAND, 2018), outros a

respeito da rastreabilidade da carne (CICIA; COLANTUONI, 2010; OLIVEIRA; SPERS,

5 Trabalho apresentado no XLII Encontro da ANPAD – EnAnpad 2018, de 3 a 6 outubro 2018, em Curitiba-PR.

Autor: Pedro Carvalho Burnier; coautores: Eduardo Eugenio Spers e Diogo Guerra (FGV-EAESP). 6 Artigo submetido ao Journal of International Food and Agribusiness Marketing (JIFAM), H-Index 18, em

25/7/2018, aprovado na primeira revisão em 19/11/2018.

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2018; WU et al., 2017), e alguns abordaram o tema bem-estar animal (CAPUTO; VAN LOO;

SCARPA; NAYGA JR; VERBEKE, 2018; CHINI, 2015; GAO, 2007; GRUNERT;

BREDAHL; BRUNSØ, 2004; SAUNDERS et al., 2013; SOUZA; CASSOTI; LEME, 2013;

UBILAVA; FOSTER; LUSK; NILSSON, 2011; ZANOLI; SCARPA; NAPOLITANO;

PIASENTIER; NASPETTI; BRUSCHI, 2012) enquanto emissões de GEE e redução de CO2

foram assuntos analisados por outros autores (CAPUTO et al., 2018; CARLSSON et al., 2010;

ECHEVERRÍA, MOREIRA; SEPULVEDA; WITTWER, 2014; MAGISTRIS; GRACIA,

2016; MICHAUD; LLERENA; JOLY, 2013). Já temas sociais dentro da produção sustentável

foram discutidos por alguns pesquisadores (GHVANIDZE et al., 2017; STÖCKIGT et al.,

2018). Este trabalho procura suprir a lacuna encontrada na literatura observando estes conceitos

dentro de uma escala a qual reúne várias destas facetas em uma única dimensão chamada

“preocupação com o processo produtivo sustentável”. Destaca-se que os referidos conceitos

foram ainda incorporados dentro de modelos consolidados.

Outra lacuna detectada é o fato de que muitos autores analisaram as relações entre

algumas dimensões que envolvem a sustentabilidade de forma parcial. Barcellos (2007) estudou

o impacto da atitude na intenção de compra e no comportamento de consumo da carne bovina,

tendo o “envolvimento” papel moderador da relação entre estas variáveis. E Silva et al. (2015)

pesquisaram a influência da consciência ambiental e das atitudes em relação ao consumo

sustentável na intenção de compra de carne bovina; enquanto Oliveira e Spers (2018)

investigaram atitudes do consumidor diante das percepções do processo produtivo do alimento

e a correlação da percepção do alimento seguro com o valor da marca. No atual estudo, objetiva-

se sugerir um modelo que procura colocar os diferentes construtos de forma ampla e integrada.

Produtos com rótulos “orgânicos”, “natural”, “ecológico” e “fair trade” já não aparecem

apenas como nicho no mercado de alimento em alguns países desenvolvidos. Pesquisas de

mercado realizadas pelo Boston Consulting Group nos EUA demonstram que estes produtos

“green” estão entrando em grandes redes varejistas e se tornando um mercado significativo com

ampla base de consumidores adquirindo os chamados produtos de “consumo responsável”

(CR). Nesse estudo, os produtos CR correspondem a 15% da venda total das redes americanas,

gerando um aumento de venda de 70% nos últimos três anos (SMITS et al., 2014).

Um aspecto inovador da atual pesquisa está na abordagem do tema socioambiental na

intenção de compra do consumidor. Em diversos estudos (BRUNSØ; FJORD; GRUNERT,

2002; GAO; SCHROEDER, 2009), analisam-se as características intrínsecas da carne;

entretanto, existem poucos trabalhos em que se investigam a influência dos atributos ambientais

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e a segurança na escolha de carne pelo consumidor brasileiro. Vale destacar que a influência da

marca na decisão de compra pode ser considerada um tema inovador, uma vez que a valorização

da marca aparece como um movimento recente no setor de carne bovina no Brasil. O

movimento recente de criação de marca, em oposição ao conceito de commodity no setor de

carne nacional, indica uma oportunidade a ser considerada neste estudo, no qual se pretende

discutir atributos intangíveis da marca relacionados à segurança no consumo da carne bovina.

A sustentabilidade no setor de carne bovina está diretamente relacionada a algumas

dimensões socioambientais. A pecuária bovina é considerada um dos setores que mais

contribuem para o desmatamento no Brasil. A conversão de florestas em pastagem é o mais

conhecido e documentado impacto ambiental da cadeia da carne bovina, e a criação de animais

responde por 18% das emissões de gases de efeito estufa (DRIGO, 2013). Além disso, temas

relativos a bem-estar animal, trabalho escravo e emissões de gases (CO2 e metano) aparecem

diretamente ligados ao termo “carne sustentável”. Na prática, a indústria (frigoríficos) e o varejo

também consideram estes tópicos como base na definição de suas plataformas de pecuária

sustentável. Assim, ao empregar-se a expressão “carne sustentável”, neste estudo, está-se

referindo as principais questões socioambientais mencionadas.

Observa-se um grande número de estudos no exterior sobre o tema de sustentabilidade

em alimento, em especial carne, enquanto poucos são encontrados no Brasil, sendo esta falta

de mais pesquisas outra lacuna identificada. A relevância deste trabalho se encontra no fato de

relacionar construtos que abordam envolvimento com o produto, preocupação com processo

produtivo e atitude sustentável do consumidor no setor de carne bovina brasileira. Verifica-se

que estudos anteriores trataram da relação consciência ambiental com atitude do consumidor;

envolvimento com o produto e atitudes e intenção de comportamento, ou ainda, relação entre

atitude e intenção de compra em modelos separados. Neste estudo, estas variáveis farão parte

de um único modelo de análise estrutural.

Dada a inexistência de uma escala específica para mensurar a dimensão relacionada ao

processo produtivo, propõe-se um construto baseado em uma etapa qualitativa e em uma

pesquisa documental sobre as ações de sustentabilidade efetivamente desenvolvidas pelo setor

de alimentos.

No intuito de preencher algumas lacunas identificadas e responder a questão central da

atual pesquisa, propõe-se um modelo que avalie as dimensões da variável ambiental na compra

da carne bovina. O problema de pesquisa busca responder como percepção sobre

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sustentabilidade, envolvimento com o produto e preocupação de processo produtivo

influenciam o consumidor na sua intenção de compra com relação a um produto “sustentável”.

Este estudo pretende propor um modelo que avalie a influência da dimensão ambiental

na atitude, na intenção de compra e no desejo de pagar pela carne bovina, além de identificar o

grau de envolvimento do consumidor com o produto, a preocupação com relação ao processo

produtivo, com o valor da marca e com a segurança na atitude do consumidor assim como seu

desejo de pagar por um produto sustentável.

2 REVISÃO DA LITERATURA

Na revisão de literatura, foi realizado um levantamento abrangendo temas diretamente

relacionados à visão do consumidor com relação a envolvimento com o produto, preocupação

com características da produção da carne sustentável, valor da marca e atitudes com relação ao

consumo sustentável. Estes temas servirão de base para a formação do modelo estrutural a ser

proposto neste estudo.

2.1 Envolvimento com o produto

O conceito de envolvimento tem desempenhado um importante papel na explicação do

comportamento do consumidor contemporâneo, como exemplificado em estudos vinculando

decisões de compra e consumo ao envolvimento do consumidor. Uma definição geral de

envolvimento do consumidor refere-se ao nível da importância pessoal percebida (neste caso

atributos socioambientais), interesse ou relevância evocada por um estímulo ou estímulos, que

são ligados pelo consumidor a objetivos duradouros ou específicos da situação (VERBEKE;

VACKIER, 2004). Tais estímulos podem ser produtos, serviços, categorias de produtos,

marcas, decisões de compra ou anúncios publicitários (ZAICHKOWSKY, 1985).

Consumidores normalmente se encontram envolvidos com produtos de alto potencial de

reflexão sobre a autoimagem, com alto custo ou risco, ou alta pressão social. Verbeke e Valckier

(2004, p. 167) afirmam que o alto envolvimento leva a um extenso controle de problemas, que

significa busca ativa e uso de informações, processamento cuidadoso de informações, pesagem

e avaliação de muitos atributos do produto antes de formar crenças, desenvolver uma atitude e

avançar para uma intenção comportamental e um comportamento real ou explícito.

O crescente interesse pela ecologia agrícola, bem-estar animal e alimentação saudável

torna os produtos alimentares particularmente interessantes para estudos de envolvimento

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(JUHL; POULSEN, 2000). Considerando que o envolvimento pode ajudar a entender e explicar

a tomada de decisão do consumidor em relação a certos produtos alimentícios, e seu impacto

nas decisões de consumo de carne, este tema merece uma investigação mais detalhada. Nos

últimos anos, a produção e o consumo de carne foram criticados e sujeitos a publicidade

negativa após sucessivas crises de segurança da carne na Europa, o que gera um maior interesse

e busca por informações (maior envolvimento). Os consumidores reagiram fortemente a essas

crises através da mudança de atitudes, crenças e comportamento em relação à carne. No entanto,

as reações do consumidor provavelmente dependerão, entre outras coisas, de influências sociais

ou pessoais, incluindo o nível de envolvimento do consumidor (VERBEKE; VACKIER, 2004).

O envolvimento é um tema abordado em pesquisa do consumidor. Trabalhos seminais

sobre escala de medição de “envolvimento” foram realizados por Laurent e Kapferer (1985) e

por Zaichkowsky (1985), tendo essas escalas estudadas encontrado crescente aceitação por

diversos pesquisadores.

Em 2007 Barcellos realizou estudo usando como base a escala de Jain e Srinivazan

(NIP). A autora afirma que consumidores “mais envolvidos” com a carne bovina tendem a

sofrer uma menor influência do habito do que os consumidores “menos envolvidos”, pois os

primeiros utilizam uma maior quantidade de recursos cognitivos na hora da decisão. No

consumo de carne bovina os consumidores “mais envolvidos” tenderiam a refletir mais sobre o

comportamento (qual marca comprar, qual corte mais apropriado, de que forma deveria ser

preparado), enquanto os consumidores menos envolvidos fariam o consumo de forma mais

habitual, menos cognitiva.

Verbeke e Vackier (2004) tomaram como base o perfil de Laurent e Kapferer (1985) de

forma que o envolvimento do consumidor seja tratado como um construto multidimensional. O

alto envolvimento leva o consumidor a uma procura intensa por informação e a um cuidadoso

processamento desta informação, avaliando e balanceando os atributos do produto antes de

formar a crença e desenvolver atitude com relação à intenção de compra do produto. O aumento

do interesse em ecologia agrícola, bem-estar animal e consumo saudável fazem os produtos

alimentares particularmente interessantes para estudos sobre o tema de envolvimento. O risco

percebido faz do alimento, em especial a carne bovina, um produto que deve ser considerado

nas pesquisas sobre o nível de envolvimento do consumidor, uma vez que uma escolha incorreta

pode gerar problemas de saúde. Verbeke e Vackier (2004, p. 167) sugerem ainda que “[...] todos

os consumidores, independentemente do seu envolvimento com o produto, estão interessados

nos atributos tangíveis de qualidade (sabor) enquanto os consumidores com alto envolvimento

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podem demandar ainda atributos intangíveis (ex. garantia de qualidade ou selos) [...]”. O

segmento de consumidores com baixo envolvimento (“consumidores de carne indiferentes”) se

prende aos atributos tangíveis, como preço, enquanto os consumidores mais envolvidos

procuram também por autenticidade e garantia de qualidade.

Outros estudos sobre alimentos apresentaram alguns aspectos do comportamento do

consumidor relacionados ao envolvimento do produto. Roe e Bruwer (2017) examinaram até

que ponto o envolvimento do produto influencia a decisão de compra do vinho no varejo, dada

a ocasião do consumo antecipado. Um consumidor de baixo envolvimento pode sentir falta de

conhecimento ou “expertise” sobre o vinho e se preocupar com a possibilidade de comprar o

produto errado para uma ocasião específica, como as comemorativas. Ferreira e Coelho (2015)

investigaram até que ponto o envolvimento do produto e a percepção de preço se combinam

para influenciar a lealdade à marca. Nesse estudo, os autores mostraram que o envolvimento do

produto se relaciona positivamente com a fidelidade à marca. O envolvimento do produto

influencia na fidelidade à marca e é parcialmente mediado pela percepção de preço.

Novos sites e produtos de mídia eletrônica surgiram para atender a demanda do

consumidor que procura novos conhecimentos sobre diferentes aspectos em relação à carne

bovina, o que demonstra claramente um maior interesse no envolvimento do consumidor com

este produto. Este estudo procura observar a influência do envolvimento com o produto nas

atitudes de consumo e intenção de compra da carne.

Com base nos estudos mencionados, são propostas as seguintes hipóteses:

➢ H1a: o envolvimento com o produto (carne bovina) está positivamente relacionado à

preocupação do consumidor com o processo produtivo.

➢ H1b: o nível de envolvimento com o produto (carne bovina) está positivamente

relacionado à atitude em relação ao consumo sustentável.

➢ H1c: o envolvimento com o produto (carne bovina) está positivamente relacionado

com o valor da marca.

➢ H1d: o nível de envolvimento com o produto (carne bovina) está positivamente

relacionado à intenção de compra do consumidor.

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2.2 Preocupação com o processo produtivo

Os produtos que contêm atributos obtidos a partir de processos de sustentabilidade e de

práticas da cadeia de suprimentos são diferenciados por seus atributos de credibilidade e

características que os membros da cadeia não podem prontamente discernir ao examinar ou

consumir o produto (GOLAN et al., 2004). Atributos de credibilidade são tanto físicos quanto

relacionados com o processo.

Grunert et al. (2004) afirmam que a preocupação do consumidor em relação à forma

como os produtos alimentares são produzidos aumentou durante os últimos anos na maioria dos

países europeus. Houve três grandes áreas de interesse: produção orgânica, bem-estar animal e

produtos fabricados de forma “natural”, ou seja, sem o uso de tecnologia avançada.

Os atributos de qualidade relacionada ao processo de produção possuem basicamente

características de crença, uma vez que o consumidor dificilmente irá avaliar as condições

mencionadas na produção de uma determinada carne. Durante estudo realizado por Grunert

(1997), com carne suína orgânica, o consumidor fez inferências positivas da carne orgânica se

referindo à preocupação com o ambiente e a saúde, mas também com o bem-estar animal e com

o melhor sabor. Essa pesquisa evidencia as armadilhas de posicionar um produto com base nas

características do seu processo de produção, no qual os efeitos sobre essas dimensões de

qualidade do produto, que são acessíveis à experiência do consumidor, são pouco claros.

Características do processo podem “[...] influenciar a formação de expectativas de qualidade

mais como um indicador de qualidade geral do que como um atributo singular [...]”

(GRUNERT, 2004, p. 271).

Chini (2015) procurou investigar os valores dos consumidores em relação à produção

animal e à percepção de especialistas em como a carne bovina produzida a pasto poderia ser

um diferencial. O atributo de sinal, bem-estar animal, foi bastante discutido neste trabalho sendo

este um atributo diretamente relacionado ao processo produtivo da carne. Neste caso, o animal

criado a pasto representa o bem-estar animal.

Outro estudo que aborda o bem-estar animal (BEA) foi realizado por Souza, Casotti e

Lemme (2013) com o objetivo de compreender as reações dos consumidores em relação aos

maus-tratos praticados contra os animais em processos industriais de produção de carne, os

quais geram dor, sofrimento e estresse. Essa pesquisa mostra que, em geral, os consumidores

não têm conhecimento sobre os padrões de manejo para a produção de carne e que 87% dos

respondentes têm dificuldades de conectar o alimento que consomem ao animal vivo. Mesmo

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a carne sendo considerada uma commodity, alguns países apresentam esquemas de rotulagem.

Os principais critérios certificados nesses selos incluem rastreamento do rebanho, garantia de

origem, manejo empregado, segurança e higiene, bem-estar animal, entre outros.

Em alguns trabalhos, discutiu-se o grau de conhecimento que os consumidores possuem

sobre o processo de produção de alimentos, dentro da mensuração de diferentes construtos.

Hanf e Kuhl (2005) afirmam que a qualidade no entendimento do consumidor é um construto

com múltiplos atributos e consideram a orientação pelo processo como uma das principais

dimensões do sistema do controle de qualidade. Nesta perspectiva, o sistema de produção como

um todo deveria estar explícito, nos moldes do jargão “da fazenda à mesa”.

Quando o consumidor pensa em alimento seguro, ele remete ao processo produtivo. Em

um estudo, Oliveira e Spers (2018) procuraram entender o grau de conhecimento dos

consumidores sobre questões relacionadas ao processo produtivo. Foram utilizadas quatro

dimensões para a avaliação e mensuração do construto “Percepções e Atitudes Frente aos

Processos de Produção dos Alimentos”, são elas: bem-estar animal, rastreabilidade,

responsabilidade socioambiental e a WTP dos consumidores por produtos com estas

características. O modelo proposto aqui irá abordar as três primeiras dimensões.

Com base nos estudos mencionados, são propostas as seguintes hipóteses:

➢ H2a: a preocupação com o processo produtivo está positivamente relacionada com a

atitude em relação ao consumo sustentável.

➢ H2b: a preocupação com o processo produtivo está positivamente relacionada com o

valor da marca.

2.3 Atitudes em relação ao consumo sustentável

Atitudes podem ser utilizadas para prever ou anteceder comportamentos, tornando o seu

estudo tão relevante nas pesquisas de comportamento de consumidor. Uma dessas investigações

é a Silva et al. (2015), na qual os autores buscaram conhecer qual é o comportamento dos

consumidores brasileiros de carne bovina em relação ao atributo de sustentabilidade ambiental.

Nesse estudo, os pesquisadores analisaram a influência da consciência ambiental e das atitudes

em relação ao consumo sustentável na intenção de compra de carne bovina ambientalmente

sustentável. Nos resultados obtidos, Silva et al. (2015) observaram que o nível de consciência

ambiental influenciou a intenção de compra de carne sustentável direta e indiretamente, sendo

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esta mediada pela atitude dos consumidores; a atitude também influenciou de modo positivo a

intenção de compra. Ou seja, consumidores que possuem maior consciência ambiental têm

maior probabilidade de apresentar atitude positiva em relação ao consumo sustentável. Além

disso, aqueles que possuem essa atitude positiva são mais propensos a ter intenção de consumir

carnes com o atributo de sustentabilidade ambiental.

Ao estudar o consumo de produtos lácteos sustentáveis, junto a 456 jovens, na Bélgica,

Vermeir e Verbeke (2008) identificaram, com base na Teoria do Comportamento Planejado

(TCP), que atitude foi um dos fatores capazes de explicar a intenção de consumir alimentos

sustentáveis. Barcellos (2007) também utilizou a TCP como base do seu modelo que confirmou

a relação direta e estatisticamente significante existente entre os construtos atitude com o

comportamento de consumo de carne bovina.

Assim sendo, com base nos estudos mencionados, foi proposta a seguinte hipótese:

➢ H3: a atitude, em relação ao consumo sustentável, está positivamente relacionada com

a intenção de compra de carne bovina sustentável.

2.4 Marca e segurança

Para Aaker (1996), a qualidade percebida é uma das principais dimensões da brand

equity, e tem sido associada com prêmios de preços, elasticidades de preço e uso da marca. O

tema de branding ganhou relevância nos últimos anos no âmbito das commodities agrícolas,

quando o consumidor precisa efetuar escolhas diante de produtos semelhantes. Ao identificar,

por meio de marcas conhecidas, produtos confiáveis e com os quais ele se identifica, o

consumidor se vê capaz de perceber uma compra como vantajosa (HANF; KÜHL, 2005).

A ação conjunta de marcas fortes atuando em diferentes níveis da cadeia de produção

pode agregar valor à marca final em termos da percepção que o consumidor fará dos atributos

intangíveis (como segurança do alimento, rastreabilidade, entre outros atributos de confiança)

ligados ao produto.

O segmento de produção e industrialização de alimentos tem passado por sucessivas

crises de credibilidade devido à contaminação de produtos e, por isso, o conceito de food safety

ganha força. A segurança do alimento vem sendo objeto de interesse por parte de diversos

agentes econômicos e de algumas ONGs, as quais surgem como agente de pressão sobre o

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ambiente institucional, com a percepção de que existe a probabilidade de risco de prejuízo à

sua saúde devido ao consumo de alimentos adulterados ou contaminados (SPERS, 2003).

Algumas pesquisas indicam que as escolhas alimentares dos consumidores têm sido

mais influenciadas por preocupações sobre o impacto do sistema alimentar na saúde humana –

food safety (segurança do alimento). A percepção de um alimento seguro aparece como forte

requisito na escolha de um produto. A rastreabilidade durante as diferentes etapas da cadeia de

produção da carne passa a ser uma forma de tangibilizar a “qualidade” do produto (OLIVEIRA,

2012). As crises e a desconfiança sobre a qualidade e segurança dos produtos aguçaram as

preocupações dos consumidores quanto à compra, à experiência de consumo e aos atributos de

confiança dos produtos alimentícios. Ainda segundo Oliveira (2012), diante da dificuldade do

consumidor em avaliar em primeira mão os produtos que consome, este indivíduo passou a se

preocupar com questões como os atributos metafísicos e com aqueles relacionados ao risco dos

produtos.

Aizaki et al. (2012) realizaram uma avaliação não compensatória da segurança alimentar

entre os consumidores japoneses no que diz respeito à compra de carne bovina. Os autores

investigaram a avaliação da carne bovina feita pelos consumidores em termos do país de origem

e do status com o teste da “vaca louca” (Bovine Spongiform Encephalopathy – BSE). Os

resultados revelam que os consumidores japoneses consideram o teste da BSE como bastante

importante para assegurar a segurança alimentar da carne de bovino.

A segurança alimentar em relação à BSE também foi estudada por Blue (2009). Nas

últimas décadas, o branding tornou-se mais relevante para indústria canadense de carne bovina,

devido, sobretudo, às mudanças estruturais que colocaram maior ênfase no marketing e na

promoção como formas de responder e administrar as preocupações dos consumidores. O autor

examinou as iniciativas de branding na indústria de carne bovina de Alberta antes e depois da

proibição do comércio inspirada na BSE. Os esforços de branding podem explicar, em parte,

porque o consumo de carne bovina no Canadá aumentou após a descoberta de caso de BSE no

país.

Grunert et al. (2004, p. 267) também evidenciam a importância da marca como forma

de diminuir a incerteza do consumidor no momento da compra: “A empresa pode dar sinal de

um produto com qualidade superior, diminuir a incerteza deste e encorajar o consumidor a pagar

um preço premium por uma qualidade superior [...]”.

A presença do carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) na carne foi associada à

segurança do produto pelos entrevistados no estudo de Barcellos (2007), enquanto os selos de

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certificação promovem uma associação maior com a qualidade da carne. O carimbo SIF está

normalmente presente nas embalagens e na própria carne significando que esta provém de

animais que foram abatidos em frigoríficos habilitados com SIF.

Chini (2015) realizou 52 entrevistas com consumidores brasileiros e estadunidenses

utilizando laddering e verificou que segurança é um dos atributos mais importantes, na opinião

dos brasileiros, na análise da preocupação com as questões de saúde e segurança dos alimentos

na compra de carne bovina.

Diante do exposto, no atual estudo, considera-se o fator segurança e confiança da carne

como um elemento importante da marca e nesta dimensão serão avaliados o valor da marca e a

confiança na marca com relação a aspectos de segurança do alimento.

Assim, levando-se em conta os trabalhos mencionados, é proposta a seguinte hipótese:

➢ H4: o valor da marca está positivamente relacionado com a intenção de compra de carne

sustentável.

Com base nos achados da revisão bibliográfica, em que foram investigados estudos

relacionados ao tema de sustentabilidade em alimentos, em especial na cadeia da carne bovina,

sugere-se o modelo estrutural indicado na Figura 1.

Figura 1 – Modelo estrutural proposto

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Este modelo indica que o maior envolvimento do consumidor na escolha e no preparo

do alimento leva-o a ter maior interesse pelo processo de produção deste alimento e a dar maior

valor à marca. Esta preocupação com processo produtivo faz com que o consumidor tenha uma

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70

atitude positiva com relação ao consumo sustentável bem como seja mais propenso a consumir

um produto sustentável. Consumidores que dão maior valor à marca e à segurança do alimento

têm maior probabilidade de ter intenção de compra de carnes com atributos de sustentabilidade

ambiental.

3 METODOLOGIA

Este estudo adotou exploratory sequential mixed methods/métodos mistos sequenciais

exploratórios (CRESWELL, 2014), pois os resultados de uma etapa serviram como substrato

para as etapas seguintes. A condução de métodos mistos justifica-se pela incapacidade de uma

fonte de dados prover solução completa par o problema que está sendo discutido (CRESWELL;

CLARK, 2011).

Em uma primeira abordagem qualitativa, além do levantamento bibliográfico usual,

foram realizadas cinco entrevistas em profundidade com especialistas da área de

sustentabilidade e marketing do setor de produção de carne bovina com o propósito de mapear

as questões relevantes relacionadas à intenção de compra sustentável de carne, assim como

estabelecer sua rede nomológica.

Um segundo estudo qualitativo, desta vez com o uso de dois grupos focais composto de

oito participantes cada, foi utilizado para testar a validade de face e de conteúdo dos construtos

(preocupação com o processo produtivo, envolvimento com produto, valor da marca, atitudes

em relação ao consumo sustentável e intenção de compra de carne sustentável), e das suas

respectivas dimensões, assim como a rede nomológica proposta pela pesquisa a partir da

literatura acadêmica, das normas técnicas do setor de carne e das entrevistas com especialistas.

Cada grupo representava um importante segmento de compradores de carne identificado

durante a primeira fase do estudo. O primeiro era composto por consumidores com hábitos de

compra funcionais, ou seja, indivíduos que compram carne para consumo cotidiano em

refeições regulares. O segundo grupo era formado por clientes de uma boutique de carne da

cidade de São Paulo, que tinham o hábito de comprar carne para ocasiões especiais, como

churrascos.

Esses dois grupos também foram testados em relação ao seu processo de escolha

utilizando 16 produtos hipotéticos que combinavam quatro atributos de sustentabilidade da

carne, que foram formulados a partir da revisão da literatura e da entrevista com especialistas,

quais sejam: rastreabilidade, marca, qualidade e bem-estar animal. A cada indivíduo foram

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oferecidas duas opções de escolha, sendo solicitado que se justificasse o porquê da predileção

de uma opção em detrimento da outra. Os preços dos produtos variavam de R$ 28,55 a R$ 53,03

o quilo.

Na terceira fase da pesquisa foi conduzida uma survey (n=363) com o propósito testar a

confiabilidade das escalas, bem como as suas validades convergentes e discriminantes, foi

realizada uma análise fatorial confirmatória empregando variance-based structural equation

modelling. O teste de fator único de Harman foi usado para verificar a existência de variância

comum ao método (PODSAKOFF; ORGAN, 1986).

Os resultados desta survey foram submetidos a novos testes confirmatórios em outra survey

(quarta etapa do estudo) para afastar a possibilidade de influência de viés da amostra nos

resultados. Na segunda survey (n=362), além dos testes confirmatórios já realizados na etapa

anterior, o modelo estrutural foi testado por meio do software SmartPLS-3.0 (RINGLE;

WENDE; BECKER, 2015) por meio da técnica de bootstrapping com amostras de 200

indivíduos e 5000 subamostras calculadas automaticamente pelo programa.

Em relação ao instrumento, além de uma seção específica referente a questões

sociodemográficas, havia cinco partes que tratavam dos construtos de interesse da pesquisa,

todos mensurados em uma escala Likert de sete pontos, que variava de “discordo totalmente” a

“concordo totalmente”. Veja Apêndice 2A.

A primeira seção endereçava questões relacionadas ao envolvimento com o produto

(EP) e era formada por 13 questões divididas nas dimensões valor de prazer (PRA), valor

simbólico (VSI), importância atribuída ao risco (IMR) e probabilidade do risco (PRR)

(BARCELLOS, 2007; VERBEKE; VACKIER, 2004; JAIN; SRINIVASAN, 1990;

LAURENT; KAPFERER, 1985).

A seção seguinte tratava das preocupações com o processo produtivo (PPP) por meio de

24 questões divididas nos construtos bem-estar animal (BEA), rastreabilidade (RAS),

legalidade (LEG), responsabilidade social (RSO), responsabilidade ambiental (RAM) e

preocupação com sanidade nos frigoríficos (PSF). Esta escala foi desenvolvida neste estudo a

partir da triangulação dos resultados da pesquisa bibliográfica (OLIVEIRA; SPERS, 2018;

GRUNERT et al., 2004; GRUNERT et al., 2011; BARCELLOS, 2007), dos resultados das

etapas qualitativas desta pesquisa e de consultas às normas de boas práticas agropecuárias

(BPA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (2011), do Guia de

Indicadores de Pecuária Sustentável (GIPS) do grupo de trabalho de pecuária sustentável

(GTPS, 2018) e da Rainforest Alliance (SAN, 2010).

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72

A terceira parte continha oito itens e tratava de atitudes relacionadas à atitude de

consumo sustentável (ACS), a partir dos construtos produtos verdes gerais (PVE) e produtos

alimentícios (PAL) (ROBERTS, 1996; SILVA et al., 2015; LAGES; VARGAS NETO, 2002;

BEDANTE, 2004), seguida por uma seção que abordava o construto unidimensional intenção

de compra, que foi mensurado por meio de quatro itens (SILVA et al., 2015; TUNG et al., 2012;

BEDANTE, 2004). Veja Apêndice 2D.

A última seção foi composta por 16 itens distribuídos nas dimensões qualidade

percebida (QLP), brand awareness (MBA), lealdade à marca (LEA), valor global da marca

(VGL) e segurança (SEG) (YOO; DONTHU; LEE, 2000; OLIVEIRA; SPERS, 2018), os quais

mediam as expectativas do consumidor em relação à marca da carne (marca). Para mais detalhes

sobre PPP e construto segurança, ver o Apêndice 2C.

O instrumento foi submetido a uma avaliação por cinco pesquisadores (doutores e

doutorandos) da área de marketing com experiência no tema da pesquisa e profissionais

especialistas de uma empresa certificadora e do GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária

Sustentável). Adicionalmente, foi realizado um pré-teste com 40 indivíduos antes de o

instrumento ser aplicado. Como resultado dessa avaliação prévia, foram realizados ajustes nos

enunciados de questões dos construtos preocupação com o processo produtivo e valor de marca.

O tamanho da amostra foi estimado previamente a partir do software G*Power 3.1.9.2,

considerando a capacidade de detecção de um efeito médio de 15%, a probabilidade de erro

alfa de 5% e um poder de 95%, o que resultou em uma amostra mínima de 363 indivíduos por

estudo (veja Apêndice 2B).

Um link da survey eletrônica foi encaminhado para mais de 3 mil indivíduos cadastrados

em uma base de dados de consumidores brasileiros mantido por uma empresa especialista em

pesquisa de mercado. Filtros para excluir consumidores que realizam raramente ou não realizam

a compra de carne foram ativados, assim como aqueles indivíduos que não comem carne foram

excluídos como potenciais respondentes.

Foram coletados 795 questionários no total, considerando uma margem de segurança

para eventuais perdas relacionadas ao processo de coleta (mau preenchimento, preenchimento

incompleto e demais problemas inerentes ao processo de coleta). Destes, foram descartados

questionários que apresentavam a presença sistemática de missing values ou que não foram

completamente preenchidos. No final, as duas amostras totalizaram 725 indivíduos. Os missing

values restantes, 34 distribuídos em diferentes questionários e variáveis, foram preenchidos

com a média.

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73

4 RESULTADOS

Os resultados são apresentados, a seguir, em quatro seções descritivas. A primeira trata

dos achados na etapa qualitativa do estudo. Na segunda são apresentadas as análises

confirmatórias de duas escalas propostas pelo estudo. Na terceira seção foi avaliada a validade

convergente e discriminante dos construtos de primeira ordem e do modelo de mensuração. Por

último é apresentada a avaliação do modelo estrutural.

Inicialmente, cabe destacar algumas características sociodemográficas que caracterizam

a amostra de respondentes, são elas: predominantemente feminina (53% de mulheres); 45% dos

respondentes são solteiros e 55% casados; faixa de idade concentrada entre 21 e 40 anos (70%);

elevado grau de instrução, já que mais de 33% possuem pós-graduação e, quando somados aos

39% com nível superior, chegam a 72% da amostra. A distribuição de renda foi variada: 40%

possui remuneração mensal de R$ 1.000,00 a 5.000,00; 31% com remuneração de R$ 5.000,00

a 10.000,00 e 24% acima de R$ 10.000,00 e apenas 5% abaixo de R$ 1.000,00 mensais. Outra

característica dos respondentes que merece ser destacada é o fato de que a maioria realiza

compra de carne para consumo no dia a dia, ou seja, 52% dos participantes compram carne

apenas para uso diário; enquanto 24%, para ocasiões especiais (churrasco); e 24%, para ambas

as ocasiões.

4.1 Resultados da etapa qualitativa

Os especialistas entrevistados indicaram que, além do atributo maciez, os consumidores

estão preocupados em conhecer a origem do animal (rastreabilidade) e a segurança do alimento.

A marca da carne ajuda o consumidor a ter maior segurança em adquirir um produto com a

qualidade desejada e mais seguro, uma vez que é proveniente de fazendas controladas. O bem-

estar animal é visto como atributo importante principalmente pelos consumidores com maior

envolvimento na compra da carne.

A relevância dos atributos varia de acordo com a ocasião da compra sendo diferente

entre a compra do dia a dia e para a compra recreativa (ex. churrasco). O fator preço influencia

a escolha da carne nas compras diárias, conforme afirmado alguns participantes dos grupos de

foco.

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Os resultados da fase qualitativa ajudaram na definição de alguns itens do questionário

relativos ao bem-estar animal, rastreabilidade, sanidade dos frigoríficos, variáveis estas

incluídas na nova escala de medição do construto PPP.

A presença do selo SIF foi apontada pelos dois grupos focais como sendo um dos itens

observados no momento da compra, comprovando a observação de Barcellos (2007) de que

este selo está associado à segurança da carne. A marca possui papel relevante no sentido de dar

segurança a origem da carne. Durante as discussões do grupo de foco foi identificada a

valorização da rastreabilidade como forma de transmitir confiança aos consumidores com

relação à segurança dos alimentos, conforme relatado nos estudos de Hanf e Kuhl (2005) e

Oliveira e Spers (2018). Em virtude destes achados na fase qualitativa, evidenciou-se a

necessidade de incluir a variável segurança no construto valor da marca, uma vez que ambos

estão diretamente associados, além da escala de PPP e suas dimensões, como já mencionado.

4.2 Confirmatória dos construtos PPP e marca

Com o propósito de testar a adequação da escala de preocupação com o processo

produtivo (PPP) e da nova dimensão “segurança” do construto marca, propostas com base nos

resultados qualitativos desta pesquisa, procedeu-se a uma análise fatorial confirmatória a partir

do esquema de ponderação de fatores do algoritmo PLS. Esse procedimento foi realizado com

duas amostras sorteadas a partir da amostra original de 725 indivíduos, com a finalidade de

afastar a possibilidade de uma adequação fatorial falso-positiva em razão de um eventual viés

de amostra. Os resultados dos procedimentos são apresentados nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1 – Análise fatorial confirmatória do construto PPP

Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Nota: As diagonais (em negrito) representam a raiz da variância extraída.

BEA RAM PSF LEG RSO RAS BEA RAM PSF LEG RSO RAS

BEA 0,910 BEA 0,908

RAM 0,751 0,950 RAM 0,694 0,944

PSF 0,733 0,768 0,915 PSF 0,646 0,757 0,919

LEG 0,757 0,827 0,813 0,928 LEF 0,701 0,792 0,772 0,931

RSO 0,659 0,827 0,692 0,788 0,959 RSO 0,665 0,845 0,732 0,841 0,948

RAS 0,664 0,612 0,654 0,627 0,582 0,835 RAS 0,575 0,619 0,653 0,674 0,611 0,831

CC 0,951 0,974 0,954 0,961 0,978 0,902 CC 0,949 0,970 0,956 0,963 0,973 0,898

AVE 0,828 0,903 0,838 0,862 0,919 0,697 AVE 0,825 0,891 0,844 0,866 0,900 0,690

Amostra 1 Amostra 2

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Observa-se que, em ambas as escalas, os pressupostos de confiabilidade e validade

convergente/discriminante são respeitados nas duas amostras, uma vez que as variâncias

extraídas (AVE) são maiores que 0,500, as confiabilidades compostas (CC) superiores a 0,700

e as raízes das variâncias extraídas superam as correlações entres os construtos e seus pares

(FORNELL; LARCKER, 1981; HAIR et al., 2009). Os resultados foram obtidos sem a exclusão

de itens, o que sugere que a estrutura proposta se mantém constante e adequada em diferentes

amostras.

Tabela 2 – Análise fatorial confirmatória do construto marca

Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Nota: As diagonais (em negrito) representam a raiz da variância extraída.

Esses resultados indicam, portanto, que as dimensões das duas escalas conseguem

explicar satisfatoriamente a variação dos itens a elas vinculados, bem como estas são

suficientemente diferentes entre si, uma vez que seus indicadores têm uma relação mais intensa

com a variável latente a que estão associados do que com as outras variáveis latentes das escalas.

4.3 Validade convergente e discriminante dos construtos de primeira ordem

Procedimento similar ao da seção anterior foi adotado para atestar a validade

convergente e discriminante das variáveis de primeira ordem e do modelo de mensuração;

entretanto, utilizou-se o esquema de ponderação de caminhos, uma vez que todas as dimensões

em estudo já apresentam uma estrutura fatorial consolidada. Os resultados desta etapa são

mostrados nas Tabelas 3 e 4.

MBA VGL LEA QLP SEG MBA VGL LEA QLP SEG

MBA 0,877 MBA 0,868

VGL 0,592 0,861 VGL 0,594 0,88

LEA 0,671 0,777 0,913 LEA 0,661 0,789 0,891

QLP 0,749 0,596 0,578 0,917 QLP 0,752 0,578 0,627 0,943

SEG 0,58 0,635 0,655 0,532 0,793 SEG 0,555 0,649 0,626 0,539 0,783

CC 0,908 0,896 0,938 0,941 0,871 CC 0,902 0,912 0,92 0,96 0,862

AVE 0,768 0,742 0,833 0,841 0,628 AVE 0,754 0,775 0,794 0,89 0,612

Amostra 1 Amostra 2

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Tabela 3 – Validade convergente e discriminante de primeira ordem – amostra

__________________________________________________________________________________________ IC BEA IMR LEA LEG MBA PRA PRR PAL PVE QLP RAM RAS RSO PSF SEG VSI VGL

IC 0,873

BEA 0,546 0,910

IMR 0,218 0,217 0,734

LEA 0,179 0,258 0,273 0,913

LEG 0,535 0,756 0,226 0,305 0,928

MBA 0,231 0,269 0,294 0,670 0,335 0,877

PRA 0,077 0,065 0,360 0,228 0,097 0,273 0,889

PRR -0,155 0,070 0,291 0,375 0,206 0,460 0,436 0,706

PAL 0,783 0,604 0,239 0,230 0,607 0,257 0,057 0,127 0,859

PVE 0,674 0,636 0,248 0,301 0,705 0,328 0,076 0,211 0,795 0,841

QLP 0,239 0,226 0,305 0,578 0,333 0,749 0,356 0,420 0,286 0,309 0,917

RAM 0,591 0,750 0,197 0,327 0,827 0,310 0,059 0,105 0,653 0,742 0,242 0,950

RAS 0,502 0,663 0,277 0,414 0,627 0,425 0,182 0,231 0,568 0,613 0,385 0,612 0,835

RSO 0,470 0,659 0,220 0,358 0,788 0,334 0,170 0,171 0,523 0,661 0,272 0,827 0,582 0,959

PSF 0,502 0,732 0,259 0,302 0,813 0,359 0,132 0,206 0,566 0,649 0,351 0,767 0,654 0,691 0,915

SEG 0,248 0,300 0,273 0,654 0,344 0,577 0,233 0,260 0,289 0,340 0,528 0,368 0,453 0,374 0,309 0,793

VSI 0,145 0,211 0,399 0,295 0,193 0,294 0,323 0,285 0,159 0,186 0,188 0,246 0,255 0,276 0,187 0,249 0,939

VGL 0,227 0,271 0,304 0,776 0,295 0,590 0,236 0,309 0,260 0,311 0,596 0,348 0,415 0,336 0,334 0,634 0,223 0,861

CC 0,928 0,951 0,749 0,938 0,961 0,909 0,937 0,735 0,894 0,924 0,941 0,974 0,902 0,978 0,954 0,871 0,957 0,896

AVE 0,763 0,828 0,539 0,833 0,862 0,769 0,789 0,498 0,737 0,708 0,841 0,903 0,697 0,919 0,838 0,629 0,881 0,742

Média 5,423 5,295 5,203 4,583 5,614 5,404 5,555 3,191 5,393 5,281 5,564 5,091 5,325 4,963 5,760 4,514 3,941 4,617

Desvio 1,448 1,662 1,366 1,711 1,550 1,363 1,494 1,461 1,403 1,398 1,207 1,742 1,423 1,793 1,461 1,449 1,884 1,574

Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Nota: As diagonais (em negrito) representam a raiz da variância extraída.

Os resultados mostrados na Tabela 3, relacionados à amostra 1, foram obtidos sem a

exclusão de itens como estratégia de ajuste de validade/confiabilidade. Entretanto, observou-se

que dois itens do construto envolvimento com o produto – EP09R “Eu tenho pouco a perder

por escolher mal a carne bovina” e EP13 “Eu nunca sei se estou realizando uma boa escolha de

carne” – das dimensões importância do risco (IMR) e probabilidade de risco (PRR),

respectivamente, apresentavam baixas cargas fatoriais (0,200 e 0,466).

Na segunda amostra, o modelo de mensuração foi testado novamente com a adoção dos

mesmos procedimentos, a priori sem a exclusão dos dois itens potencialmente problemáticos,

para verificar se a estrutura do modelo se mantinha constante. Observou-se mais uma vez que

os itens apresentavam baixas cargas fatoriais (0,005 e 0,220), o que sugeria que os indicadores

não refletiam, em termos de mensuração, as dimensões aos quais estavam associados. Desta

maneira, optou-se pela exclusão dos itens atingindo-se, assim, os índices de

confiabilidade/validade mostrados na Tabela 4, referentes à amostra 2.

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Tabela 4 – Validade convergente e discriminante de primeira ordem – amostra 2

__________________________________________________________________________________________ IC BEA IMR LEA LEG MBA PRA PRR PAL PVE QLP RAM RAS RSO PSF SEG VSI VGL

IC 0,898

BEA 0,525 0,908

IMR 0,251 0,163 0,858

LEA 0,313 0,312 0,294 0,891

LEG 0,532 0,701 0,208 0,349 0,931

MBA 0,314 0,292 0,334 0,659 0,357 0,868

PRA 0,245 0,111 0,423 0,346 0,215 0,396 0,886

PRR -0,26 -0,153 -0,388 -0,372 -0,213 -0,412 -0,513 0,745

PAL 0,842 0,551 0,208 0,338 0,625 0,322 0,218 -0,264 0,856

PVE 0,699 0,564 0,236 0,388 0,712 0,378 0,217 -0,270 0,790 0,877

QLP 0,284 0,228 0,347 0,627 0,315 0,751 0,439 -0,446 0,311 0,328 0,943

RAM 0,584 0,694 0,148 0,370 0,791 0,327 0,185 -0,223 0,662 0,791 0,292 0,944

RAS 0,502 0,574 0,354 0,438 0,673 0,485 0,291 -0,327 0,549 0,630 0,514 0,618 0,831

RSO 0,539 0,665 0,237 0,450 0,841 0,370 0,230 -0,257 0,626 0,709 0,316 0,845 0,610 0,948

PSF 0,553 0,645 0,244 0,311 0,771 0,354 0,280 -0,254 0,603 0,665 0,355 0,755 0,652 0,730 0,919

SEG 0,287 0,260 0,281 0,625 0,289 0,552 0,301 -0,336 0,329 0,419 0,536 0,352 0,446 0,350 0,292 0,783

VSI 0,219 0,238 0,308 0,381 0,185 0,287 0,365 -0,324 0,210 0,246 0,261 0,258 0,267 0,304 0,176 0,393 0,942

VGL 0,279 0,205 0,279 0,787 0,271 0,594 0,335 -0,324 0,307 0,363 0,578 0,301 0,374 0,364 0,265 0,649 0,322 0,880

CC 0,943 0,950 0,848 0,920 0,963 0,902 0,936 0,671 0,891 0,943 0,960 0,970 0,898 0,973 0,956 0,863 0,960 0,912

AVE 0,807 0,825 0,735 0,794 0,866 0,754 0,785 0,554 0,732 0,769 0,890 0,891 0,690 0,900 0,844 0,613 0,888 0,775

Média 5,457 5,264 5,233 4,435 5,536 5,367 5,633 3,139 5,410 5,212 5,662 5,066 5,351 4,961 5,678 4,590 3,821 4,638

Desvio 1,518 1,682 1,611 1,751 1,642 1,466 1,469 1,390 1,435 1,554 1,242 1,798 1,405 1,783 1,485 1,472 1,974 1,700

Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Nota: As diagonais (em negrito) representam a raiz da variância extraída.

Assim como os construtos de primeira ordem, os construtos de segunda ordem foram

submetidos a testes para avaliação da sua qualidade de medida em duas amostras.

Adicionalmente, os testes de discriminância também serviram para verificar eventuais

problemas de multicolinearidade entre os preditores. Observam-se, na Tabela 5, resultados

promissores em relação à confiabilidade e validade, assim como as baixas correlações entre as

variáveis latentes (<0,800), que sugerem a inexistência de relações lineares danosas ao modelo.

Tabela 5 – Validade convergente e discriminante

Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Nota: As diagonais (em negrito) representam a raiz da variância extraída.

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78

Diante dos razoáveis indícios de validade e confiabilidade obtidos para as escalas do

modelo de mensuração, na próxima seção são apresentados os achados relacionados à avaliação

das hipóteses propostas neste estudo.

4.4 Avaliação do modelo estrutural

Os resultados da análise do modelo estrutural indicam que todas as hipóteses foram

suportadas, com exceção da H4 (Marca->IC) e H1b (EP-> ACS). Verifica-se, na Tabela 6, que

intenção de compra de carne sustentável tem cerca de 60% da sua variação explicada pelos

preditores ACS (H3) e EP (H1d), e o efeito de ACS (grande, >0,35) é em torno de 80 vezes

maior que o de EP. Embora o efeito direto de EP seja pequeno (<0,150), é importante salientar

que seu efeito indireto exerce importante influência da intenção de compra dos consumidores

por meio de PPP (H1a, H2a) e, principalmente, de ACS (H1b).

Ainda sobre a relação entre marca e IC (H4), esperava-se que houvesse uma relação

positiva entre os construtos; entretanto, os resultados indicam que quanto maior (menor) o

envolvimento com o produto menor (maior) será a intenção de compra do consumidor. Embora

a relação não tenha sido suportada, há uma incoerência no fato de a relação observada ter sido

negativa, uma vez que a hipótese original sugeria uma relação positiva. Por outro lado, a relação

observada entre EP e ACS é positiva, ainda que a H1b não tenha sido suportada devido ao baixo

nível de significância encontrado. Essas duas questões serão objeto de discussão na próxima

seção.

Apesar de o valor da marca não ter sido confirmado como um preditor de IC, os

resultados mostraram que o construto é influenciado diretamente pela PPP (H2b) e pela EP

(H1c), sendo o primeiro (f² = 0,135) cerca de duas vezes menos efetivo para gerar valor de

marca que o segundo (f²=0,276).

Assim, o envolvimento do consumidor com o produto leva-o a atribuir mais importância

ao processo produtivo da carne, fazendo com que suas atitudes convirjam para um consumo

mais sustentável, e a união desses fatores o conduzem para a intenção de compra de carne

sustentável. Na próxima seção, esses resultados serão discutidos com base no referencial teórico

e nos achados da pesquisa qualitativa.

Ainda sobre as relações estimadas no modelo estrutural, é importante frisar que testes

para avaliar multicolinearidade foram executados para corroborar a avaliação exploratória

inicial sobre eventuais problemas no modelo. Os valores de VIF foram todos superiores a 1,

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79

indicando a existência de valores de regressão já enviesados pela multicolineariedade,

conforme Bowerman e O’Connell (1990). Entretanto, esses valores são considerados aceitáveis,

uma vez que os valores são inferiores a 3 (RINGLE; WENDE; BECKER, 2015). Em termos

gerais, isto indica que apesar de haver moderada correlação entre as variáveis independentes, o

comprometimento da análise realizada pelo modelo é reduzido.

Tabela 6 – Avaliação do modelo estrutural

Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Nota: As diagonais (em negrito) representam a raiz da variância extraída.

5 DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

O primeiro resultado relevante deste trabalho foi a confirmação de uma escala que possa

medir itens relacionados ao processo produtivo. A escala desenvolvida com seis variáveis

latentes e 24 itens é adequada para medir o construto preocupação com o processo produtivo.

A validação discriminante e convergente atestam a possibilidade de utilização desses itens na

medição deste construto. Conforme observado no trabalho de Oliveira e Spers (2018) e

Barcellos (2007), itens relacionados a bem-estar animal, rastreabilidade e responsabilidade

socioambiental são relevantes na determinação da preocupação do consumidor com o processo

de produtivo. Alguns critérios utilizados na certificação socioambiental (SAN, BPA,

GIPS/GTPS) possuem itens relacionados às boas práticas que também foram avaliados neste

trabalho.

A variável segurança incluída no construto valor da marca também foi aqui validada, o

que endossa a relação. A importância da segurança alimentar para o consumidor de carne

aparece nos trabalhos de Oliveira e Spers (2018) e Hanf e Kuhl (2005), nos quais se confirma

a relevância dos métodos de produção com formato orientado para garantir a rastreabilidade,

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80

de forma a serem capazes de transmitir aos consumidores os atributos de confiança relacionados

à segurança dos alimentos.

Os resultados confirmam seis das oito hipóteses indicadas no modelo proposto. O maior

envolvimento do consumidor na escolha e no preparo do alimento leva-o a ter maior interesse

pelo processo de produção deste alimento e a dar maior valor à marca. Além disso, indivíduos

com essa atitude são mais propensos a ter intenção de consumir carnes com atributos de

sustentabilidade ambiental.

Vale salientar que o estudo confirma a H1d, em que o envolvimento do produto

influencia a intenção de compra do consumidor. Os achados dos grupos de foco serviram para

comprovar os de Verbeke e Vackier (2004), ao indicar que consumidores menos envolvidos

(no caso do segundo grupo focal) se prendem mais a atributos tangíveis, como preço, quando

comparados com aqueles com maior grau de envolvimento (no caso do primeiro grupo focal)

que procuraram por garantia de sanidade, atributo intangível e, principalmente sabor, em

detrimento das características de sustentabilidade. Vários estudos anteriores comprovaram que

o consumidor está disposto a trocar itens de sustentabilidade por sabor e maciez.

A hipótese rejeitada se refere à relação entre valor da marca e intenção de compra. Este

resultado por ser explicado pelo fato de a carne bovina ainda ser uma commodity no Brasil e de

o valor da marca ainda não afetar a intenção de compra deste produto, embora exista uma

tendência de maior conhecimento de algumas marcas neste segmento, como Friboi, Maturata,

Swift, indicadas nas respostas desta pesquisa. Outra explicação para a rejeição desta hipótese

pode estar associada ao recente escândalo da Operação Carne Fraca, ocorrido em março de

2017. Nessa operação, marcas, como JBS/Friboi, tiveram seus nomes divulgados. Dos 725

respondentes deste estudo, 75% conhecem a marca Friboi. Dessa forma, é possível que os

participantes tenham associado esta marca ao escândalo levando a uma reação negativa à

intenção de compra do produto.

Durante o processo de escolha da carne bovina, além dos atributos intrínsecos (cor,

maciez, aparência), os consumidores levam em conta outros referentes à segurança do alimento,

o que inclui a preocupação sobre o conhecimento do processo de produção (somada ao interesse

pela origem do animal por meio da rastreabilidade). Observa-se ainda que um maior

envolvimento com o produto leva o consumidor a ter preocupações que vão além das qualidades

intrínsecas. A preocupação com o processo de produção do animal bem como a marca

influenciam o consumidor com relação a atitude de compra e com a intenção de compra por um

produto “sustentável”.

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81

Verificou-se que o modelo estrutural proposto com base na revisão teórica possui

relações importantes para se avaliar a influência da dimensão ambiental na atitude na intenção

de compra e no desejo de pagar pela carne bovina. Os resultados encontrados nas entrevistas

em profundidade e grupos de foco serviram para validar a relevância das variáveis incluídas no

modelo proposto. Envolvimento com o produto, preocupação com processo produtivo estão

relacionadas com atitude e intenção de compra da carne sustentável. Entretanto, o valor da

marca (incluindo segurança do alimento) não apresentou relação significativa com a intenção

de compra da carne sustentável.

Neste trabalho, determinadas variáveis referentes ao processo produtivo mostram que

atributos, como bem-estar animal e rastreabilidade, devem ser comunicados de modo mais

eficaz aos consumidores. Esses elementos são importantes para indicar que existe uma

percepção positiva do consumidor para que a indústria e o setor varejista formulem estratégias

de comunicação e posicionamento de produtos/marcas que possuam atributos socioambientais.

O modelo proposto neste estudo deve ser utilizado como referência para outras

pesquisas que tratem do tema socioambiental em outros segmentos da indústria alimentícia no

Brasil. Estudos empíricos devem ser realizados no intuito de comprovar as relações sugeridas

entre dimensões presentes nas proposições apresentadas. A utilização das seis variáveis que

compõe o construto preocupação como o processo produtivo (bem-estar animal,

rastreabilidade, responsabilidade social, responsabilidade ambiental, sanidade nos frigoríficos)

devem ser usadas como referência em outras investigações em que se pretenda abordar este

tema. Além disso, outros estudos deveriam testar a WTP (ex. utilizando os métodos de escolhas

discreta dos produtos hipotéticos) objetivando entender a resposta dos consumidores com

relação a alguns atributos socioambientais existentes no processo de produção da carne bovina.

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87

CAPÍTULO 3 – Ocasião de consumo, escolha e desejo de pagar por atributos

sustentáveis na carne bovina7,8

Resumo

Atributos socioambientais são vistos na literatura em separado. Neste trabalho, avalia-se a

influência da dimensão socioambiental na intenção de compra e no desejo de pagar por uma

carne bovina com foco exclusivo em atributos sustentáveis. Com base no modelo de Análise de

Escolha Discreta, foram gerados 16 produtos hipotéticos considerando-se diferentes atributos

socioambientais da carne bovina, sendo avaliados oito cenários para mensurar a probabilidade

de escolha e o Willingness to Pay (WTP). Os achados deste estudo confirmam a importância

dos atributos bem-estar animal e rastreabilidade no processo de escolha da carne. Verificou-se

que a frequência de consumo, o gênero e a presença de uma marca conhecida influenciam de

forma distinta a escolha da carne numa compra funcional (dia a dia) quando comparada a uma

recreativa (churrasco). Os resultados sugerem que a indústria e o setor varejista devem explorar

melhor a oportunidade dessa diferenciação no ato da compra, elevando o conhecimento sobre

emissão de carbono e divulgando o atributo bem-estar animal na formulação de suas estratégias

de comunicação e no posicionamento de produtos/marcas que possuam atributos

socioambientais como parte dos benefícios ofertados ao consumidor final. Novas pesquisas

devem ser realizadas para testar os mesmos atributos socioambientais no intuito de entender

diferenças de comportamento entre consumidores de países emergentes e não emergentes com

relação a atributos sustentáveis na carne bovina.

Palavras-chave: Marketing. Sustentabilidade. Carne bovina. Willingness to Pay – WTP.

Comportamento do consumidor.

1 INTRODUÇÃO

Ao comprar alimentos, os consumidores encontram uma infinidade de produtos

diferenciados por vários atributos. Tradicionalmente, o preço e a marca têm sido percebidos

7 Autor: Pedro Carvalho Burnier – estudante de doutorado do PPGA-ESPM. Coautor: Prof. Dr. Eduardo Eugênio

Spers, Programa de Pós-Graduação em Administração da ESPM. 8 Artigo submetido ao International European Forum on System Dynamics and Innovation in Food Networks, a

ser realizado em Garmisch-Partenkirchen, Alemanha de 18 a 22 de fevereiro de 2019. Submissão aceita em 26

de outubro de 2018.

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como os atributos mais evidentes (SHARP, 2010). Contudo, durante as últimas décadas, têm

surgido cada vez mais produtos com atributos e alegações alimentares, incluindo sinais de

qualidade (como a denominação de origem protegida) e informação de origem orgânica. Mais

recentemente, outras afirmações foram usadas para agregar valor a um produto, tais como

comércio justo, “pegada de baixo carbono”, natural, biodinâmica, bem-estar animal e outras

reivindicações de “consumo sustentável” (SIRIEIX et al., 2013). O consumo sustentável pode

ser o resultado de um processo de tomada de decisão em que se considera não apenas as

necessidades individuais dos consumidores (relacionadas a gosto, preço e conveniência), mas

também atitudes concernentes à responsabilidade social (meio ambiente e comércio justo),

rótulos sustentáveis e produção sustentável de alimentos (VERMEIR; VERBEKE, 2008;

HARTIKAINEN et al. 2014).

A escolha do produto carne bovina como objeto de estudo se deve a relevância deste

produto na discussão de sustentabilidade no setor de alimentos do Brasil, levando-se em conta

que o País é um dos maiores produtores de carne bovina do mundo. Em 2016, a pecuária gerou

7% do produto interno bruto (PIB) brasileiro (US$ 130 bilhões), sendo consumidos quase 80%

da carne bovina produzida internamente (ABIEC, 2017). A bovinocultura de corte é uma das

principais responsáveis pela expansão da fronteira agropecuária nacional e também a principal

fonte de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) do setor, respondendo por 69% das emissões

totais do setor agropecuário (SEEG, 2018). Além disso, o setor da carne bovina necessita

conhecer este comportamento do consumidor para melhorar a sustentabilidade a fim de

desenvolver ações e atender legislações pertinentes a essas demandas.

Em relação à carne, estudos sobre seus atributos se concentraram na discussão das

características intrínsecas deste produto. A maciez aparece como atributo relevante em vários

trabalhos (GRUNERT; BREDAHL; BRUNSØ, 2004; BARCELLOS, 2007; GAO;

SCHOEDER, 2009; VELHO et al., 2009), assim como o frescor da carne (STRANIERI;

BANTERLE, 2015; GAO; SCHOEDER, 2009; SOUKI et al., 2004) e a magreza (baixa nível

de gordura) (BECKER, 2000; VELHO et al, 2009; CHINI, 2015). Outras pesquisas incluíram,

além dos atributos intrínsecos relacionados à qualidade da carne, alguns atributos de

sustentabilidade na estimativa da disposição a pagar por alimentos (AIZAKI et al., 2012;

SAUNDERS et al., 2013; STRANIERI; BANTERLE, 2015; VAN DOORN; VERHOEF, 2011;

ZANOLI et al., 2012). Destacam-se, na sequência, algumas contribuições da atual pesquisa.

A primeira contribuição da atual pesquisa está em propor uma avaliação da influência

dos atributos exclusivamente relacionados à sustentabilidade socioambiental e a sua intenção a

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pagar na carne bovina. Os trade-offs entre os atributos intrínsecos no tocante à qualidade do

produto em geral (sabor versus sustentabilidade, por exemplo) já foram explorados

(STRANIERE; BANTERLE, 2015; ZANOLI et al., 2012). Conhecer os trade-offs entre os

atributos socioambientais permite uma avaliação destes atributos e contribui na realização de

novas pesquisas, ampliando a literatura existente. Desse modo, o objetivo específico, neste

estudo, é examinar a Disposição a Pagar, ou em inglês, Willingness to Pay (WTP) baseada na

valorização de atributos de sustentabilidade da carne. Somado a isso, o estudo se baseia na

atitude de compra do consumidor em relação a alguns produtos hipotéticos em diferentes

ocasiões de consumo (dia a dia ou recreativa/ex. churrasco).

Quanto aos atributos de sustentabilidade que foram examinados neste trabalho, um

atributo está relacionado ao próprio animal (bem-estar animal – BEA); um ao processo de

produção (rastreabilidade); um ao efeito causado no meio ambiente (emissões de gases efeito

estufa) e, por fim, um atributo se refere à marca sustentável que procura validar os atributos de

sustentabilidade.

O BEA, no Brasil, está relacionado às boas práticas utilizadas durante as diferentes

etapas do processo de produção assegurando, entre outros itens, a ausência de maus-tratos aos

animais (SOUZA et al., 2013). O conceito de carne bovina sustentável, em outros países –

como, por exemplo, os Estados Unidos da América (EUA) –, está associado à criação do boi a

pasto, conforme apontado por Chini (2015) esta característica aparece diretamente ligada ao

BEA.

Já à rastreabilidade se refere à questão de segurança do alimento, sendo necessária para

verificação de atributos, como origem, assim sendo espera-se que seja valorizada pelo

consumidor (LOUREIRO; UMBERGER, 2007). Cicia e Colantuoni (2010) demonstraram que

consumidores de diferentes países valorizam os atributos relativos à carne rastreada.

Uma menor emissão de Gases Efeito Estufa (GEE) é um atributo que está relacionado

às mudanças climáticas e, consequentemente, ao aquecimento global (SEEG, 2018). Efeitos de

GEE estão relacionados ao “local food”9 (MAGISTRIS; GRACIA, 2016). A “Pegada de

Carbono” mensura a redução destas emissões e influencia positivamente a WTP do consumidor

(CAPUTO et al., 2018).

A utilização da marca sustentável ou selo de “sustentabilidade” como forma de

tangibilizar os atributos de crença foram abordados nos estudos conduzidos por Ubilava et al.

(2011), Cunha, Spers e Zylberstajn (2011) e Tonsor e Shupp (2009). A segunda contribuição

9 “Local food” se refere ao movimento de consumir produtos locais a fim de reduzir emissões de GEE.

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deste trabalho está no fato deste estudo abordar a influência da marca sustentável na decisão de

compra do consumidor, considerando que a valorização da marca aparece como um movimento

recente dentro do setor de carne bovina no Brasil.

A terceira contribuição desta investigação se refere ao fato de existirem vários estudos

sobre o tema de sustentabilidade em alimento, em especial a carne, em países desenvolvidos,

enquanto poucas pesquisas são focadas em ambientes culturais, como o do Brasil que possui

uma relação cultural diferente com o produto e um maior hábito de consumo (kg/hab). Carlsson

et al. (2010) apontam diferenças entre países com relação a temas de sustentabilidade. Os

autores descobriram que a grande maioria dos entrevistados na China, na Suécia e nos Estados

Unidos acredita que a temperatura média aumentou globalmente nos últimos 100 anos, sendo

os humanos parcial ou totalmente responsáveis por esse aumento. Quando comparados aos

suecos e chineses, os americanos parecem acreditar menos na responsabilidade do ser humano

sobre as mudanças climáticas, existindo diferenças na WTP (para um dado nível de redução de

GEE) entre os países. Considerando a posição do Brasil como maior produtor de bovinos do

mundo e terceiro maior consumidor mundial de carne bovina (ABIEC, 2018), estudos nessa

temática devem ser mais explorados no País, de modo que seja evidenciada a diferença esperada

de comportamento do consumidor brasileiro com relação a alguns atributos socioambientais

(ex. bem-estar animal).

Determinadas situações de consumo da carne foram analisadas com relação ao tipo de

escolha da carne. Atributos podem ser avaliados de forma diferente quando a carne adquirida

tiver um uso funcional, ou seja, tiver sido comprada para consumo no dia a dia; ou uma utilidade

hedônica, isto é, para recreação, como no caso da compra da carne para churrasco (eventos

especiais). Foram encontrados poucos estudos se referindo à ocasião da escolha no processo de

compra da carne o que será também uma contribuição deste estudo.

O trabalho está divido em cinco seções, incluindo esta breve introdução. A segunda

seção traz a revisão de literatura que primeiramente aborda uma revisão sobre atributos

sustentáveis relacionados ao consumo de carne bovina; em seguida, a influência da frequência

de compra e ocasião de consumo na intenção de compra de carne e, por fim, alguns estudos

sobre WTP no setor alimentos, incluindo a carne bovina. A terceira seção contempla a

metodologia, na qual são descritos os procedimentos metodológicos, tanto da parte qualitativa

(grupo focal e entrevistas com especialistas) quanto da etapa quantitativa (análise da escolha

discreta e WTP). A quarta seção apresenta os resultados e a discussão e, por fim, a conclusão

contendo as implicações gerenciais e sugestões de estudos futuros aparecem na quinta seção.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Nesta seção será apresentado o embasamento proveniente da revisão da literatura sobre

alguns atributos relevantes que retratam aspectos relacionados à produção de carne bovina

sustentável (bem-estar animal, emissão de gases de efeito estufa, rastreabilidade, marca

sustentável). Em seguida serão discutidos alguns artigos referentes à frequência de compra e

ocasião de consume e seu impacto na WTP de alimentos. Ao final serão apresentados trabalhos

sobre o tema Willingness to Pay (WTP) em alimentos, incluindo sobre carne bovina.

2.1 Atributos socioambientais (ASA)

Este estudo apresenta alguns aspectos dos atributos de crença relacionados

exclusivamente à sustentabilidade. Assim, foi proposta uma classificação dos atributos de

sustentabilidade com relação ao próprio animal (ex. bem-estar animal), ou ao processo de

produção (ex. rastreabilidade), ou ainda aos efeitos causados no meio ambiente (emissões de

gases efeito estufa) e, por fim, a marca sustentável que procura validar os atributos de

sustentabilidade. A seguir serão discutidos alguns achados referente aos atributos

socioambientais abordados neste estudo10.

2.1.1 Bem-estar animal (BEA)

O bem-estar animal esta relacionado à crescente procura dos consumidores por atributos

concernentes à produção natural, verde, orgânica e que preservem o meio ambiente. Estes

fatores estão cada vez mais presentes na decisão de escolha dos compradores.

Uma definição de BEA foi proposta por Broom em 1986, segundo a qual o bem-estar

de um indivíduo é seu estado em relação às suas tentativas de se adaptar ao seu ambiente.

Algumas adaptações dessa definição foram feitas, entre elas destaca-se a do Farm Animal

Welfare Council (FAWC), em que se apresenta o conceito de cinco liberdades, são elas:

liberdade de fome e sede; de desconforto; de dor, ferimentos e doença; para expressar

comportamento natural; de medo e estresse (FAWC, 2018). Posteriormente, estes conceitos

foram adaptados pelo projeto Welfare Quality, da União Europeia, para a realidade dos animais

10 Vide mais informações sobre atributos socioambientais na página 32 (quadro 2)

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de produção, por meio de quatro princípios – boa alimentação, boas instalações, boa saúde e

comportamento apropriado (WELFARE, 2018).

A certificação é uma garantia e pode ser explorada pelo ponto de vista social, econômico

e ambiental. Os consumidores mostram-se cada vez mais preocupados com atributos

relacionados às questões ambientais. Com relação ao BEA, na maior parte dos estudos, avalia-

se este atributo se for constatada a presença de um selo de garantia deste atributo no processo

de produção dos animais. Souza et al. (2013) indicaram a presença de selo que garantisse

ausência de maus-tratos aos animais e avaliaram o percentual adicional que o respondente

estaria disposto a pagar pela carne com tal selo. Segundo Napolitano, Girolami e Braghieri

(2010), a combinação do monitoramento confiável do bem-estar animal e rotulagem eficaz de

produtos de origem animal pode ajudar a atender a crescente demanda do consumidor para

segmentos específicos de produtos que valorizam o BEA. Para simplificar, Zanolli et al. (2012)

mediram o bem-estar animal usando uma dica que qualquer consumidor poderia entender

facilmente, ou seja, se o gado podia se mover livremente (em pastagens ou piquetes) ou estava

confinado e acorrentado.

Chini (2015), em um trabalho, considera a produção a pasto como sinal de bem-estar

animal. A produção feita desse modo, embora possua impactos negativos no meio-ambiente

dependendo do manejo, quando comparada ao confinamento, possui a vantagem de ser

integrada ao meio-ambiente. Para os consumidores, animais criados e alimentados a pasto são

ambientalmente amigáveis e estudos têm mostrado que as pessoas estão dispostas a pagar mais

por carne bovina natural (LIN, 2013).

O trabalho de Janßen e Langen (2017) mostra um conjunto de atributos como sendo

os mais importantes para consumidores alemães quando compram leite, entre eles o bem-estar

animal. Os autores mencionam que o Ministério Federal da Alimentação e Agricultura (BMEL),

juntamente com a sociedade alemã para a proteção dos animais (Deutscher Tierschutzbund

e.V.) iniciaram uma campanha sobre bem-estar animal, lançando um novo selo que só seria

encontrado nos respectivos produtos de carne.

Em um estudo sobre as preferências por carne suína, Caracciolo et al. (2010)

constataram que os consumidores europeus levam mais em conta o BEA do que outras

características intrínsecas do produto. Estes autores sugerem que atributos de crença estão

ligados direta e indiretamente a segurança alimentar e bem-estar animal, e os consumidores têm

procurado sinais que possibilitem facilmente escolher carne com alto grau de segurança. A

garantia dessa condição desperta um interesse do consumidor em pagar preço premium de 7%

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a 14% acima do preço base. Bem-estar animal é reconhecido como uma das características de

credibilidade mais importantes para os consumidores (CARACCIOLO, 2010).

Em uma pesquisa realizada sobre atributos de crença, Zanolli et al. (2012) concluíram

que a ética e as questões ambientais parecem desempenhar papel relevante na explicação da

variação da WTP para carne bovina, talvez mais do que as características comuns do produto.

Os resultados deste estudo confirmam que bem-estar animal é uma sugestão extrínseca

relevante na compra da carne orgânica, juntamente com a origem (local/nacional) e a raça do

animal.

Enquanto muitos pesquisadores, em inúmeros estudos, investigaram as atitudes e

preferências dos consumidores em relação a diferentes atributos alimentares em vários países,

existem apenas alguns que avaliaram as atitudes dos consumidores referentes aos atributos

relacionados a fatores ambientais e sociais do produto, bem como o país de origem nos

mercados emergentes. Saunders et al. (2013) avaliaram as preferências e atitudes em relação a

uma série de atributos alimentares, juntamente com a disposição do consumidor em pagar

(WTP) por alimentos certificados com estas características. Esses atributos incluem elementos

básicos, tais como preço e qualidade, mas também se estendem a questões ambientais e sociais,

como reciclabilidade e bem-estar animal. Os autores descobriram que os consumidores

valorizavam positivamente os atributos e estavam dispostos a pagar até 10% a mais por

produtos alimentícios certificados. Uma descoberta importante foi que, em muitos casos, os

consumidores indianos e chineses valorizavam mais atributos sustentáveis do que no Reino

Unido, especialmente em termos de qualidade ambiental, bem-estar animal e reciclabilidade.

Em um estudo, Krystallis et al. (2012) objetivaram analisar as atitudes de

sustentabilidade dos cidadãos com relação às características sustentáveis de sistemas de

produção de suínos na União Europeia, no Brasil e na China, assim como se estas atitudes

coincidem com as das pessoas em geral sobre sustentabilidade. Eles observaram que, nos três

continentes, as atitudes das pessoas em relação ao meio ambiente e ao bem-estar animal são,

em média, moderadamente fortes. Os resultados apontam que as atitudes gerais de

sustentabilidade da amostra nas três regiões estão relacionadas às atitudes dos cidadãos a

respeito da criação de suínos apenas para pequenos grupos sociais específicos. Entre as

características estudadas, os europeus e os brasileiros atribuem maior importância ao bem-estar

ambiental e animal como critérios para diferenciar práticas produtivas “boas” e “más”.

O tema bem-estar animal também aparece em estudos de produção bovina no Brasil.

Em sua pesquisa, Souza et al. (2013) mediram a disposição dos consumidores a pagar preços

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diferenciados pela carne obtida em processos sem práticas cruéis contra os animais e

verificaram que os consumidores são propensos a pagar preços mais elevados por produtos

certificados, que assegurem ausência de maus-tratos aos animais. Os resultados deste estudo

mostram que apenas 14% dos respondentes não estariam dispostos a pagar mais caro pela

certificação BEA. Esse adicional de preço serviu apenas para atribuir valor monetário às

preferências das pessoas, por terem a garantia de que os animais não sofreram maus-tratos.

Grande parte da amostra (67%) acredita que conhecer os padrões de criação de animais e de

produção de carne é importante nas decisões de compra e consumo de carne. Os autores

mencionam que a compra ética pode ser realizada por meio de um produto certificado com um

selo específico. O consumidor ético não deixa de considerar critérios, como preço e qualidade,

mas adiciona outros ao processo decisório, que podem ser políticos, sociais ou relacionados ao

meio ambiente.

No trabalho realizado por Chini (2015), os resultados mostraram que tanto os

consumidores do Brasil, como os dos EUA consideram aspectos da criação do animal. Para os

brasileiros, o valor segurança foi o aspecto mais importante, o que demonstra a preocupação

com as questões de saúde e segurança dos alimentos dessa população. Os achados também

mostram que a WTP pelo atributo “Bem-estar animal Garantido” foi a que teve maior relevância

em todos os experimentos realizados. Ao adicionar atributos independentes, a WTP pelo

atributo de sinal diminui. Esse resultado confirma o de Gao (2007). A comparação entre a WTP

do atributo “Bem-estar animal Garantido”, e “Maciez Garantida” mostrou que a WTP dos

consumidores foi maior por maciez do que por bem-estar animal. Conforme assinalado por

diversos autores, a maciez se mostrou como um importante atributo na decisão de compra.

Na atualidade, duas tendências elementares no mercado de produtos animais foram

descritas no estudo de Napolitano, Girolami e Braghieri (2010): (1) os consumidores tendem a

confiar cada vez mais em sinais extrínsecos e características de crença no processo de decisão

de compra de alimentos, (2) o bem-estar animal está se tornando progressivamente mais

importante na hierarquia das questões sociais.

Com base nos achados dos estudos acima citados, na pesquisa aqui apresentada, indica-

se o BEA como um dos principais atributos socioambientais que influencia a decisão de compra

do consumidor brasileiro.

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2.1.2 Redução de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE)

Segundo as estimativas do SEEG, as emissões de GEE brasileiras vêm crescendo

continuamente desde 1970, e totalizaram 2,277 Gt CO2 no ano de 2016. A agropecuária foi

responsável por aproximadamente 30% das emissões líquidas no Brasil (SEEG, 2018).

A bovinocultura de corte brasileira é uma das principais responsáveis pela expansão da

fronteira agropecuária e também a principal fonte de emissão de GEE do setor, respondendo

por 69% das suas emissões totais da agropecuária. A fermentação entérica do rebanho de

ruminantes (predominantemente bovinos de corte) é a causa da maior fatia de emissões de GEE

do setor. Se este avanço na produção não adotar técnicas de baixas emissões de GEE e alto

sequestro de carbono, a tendência será a de aumentar as emissões nacionais, contribuindo ainda

mais ao processo de mudanças no clima (SEEG, 2018).

Para avaliar o efeito do atributo emissão de GEE, pesquisadores, em seus estudos,

utilizaram diferentes níveis de redução em porcentagem de GEE provocados nas práticas

agropecuárias sustentáveis. No trabalho de Caputo et al. (2018), os níveis utilizados para a

pegada de carbono foram baseados em valores reportados na literatura para a produção de peito

de frango adotando uma redução de 20% e 30% da pegada de carbono como níveis alternativos.

Na investigação de Carlsson et al. (2010), em três países diferentes (China, Suécia e Estados

Unidos), procurando investigar a disposição do cidadão comum em pagar (WTP), foram usados

níveis de redução de 30%, 60% e 85% das emissões de CO2. Já no estudo de Echeverría et al.

(2012), a WTP foi medida com relação ao alimento (leite e pão) com baixo CF (carbon

footprint). Em outros estudos, considerou-se a distância da produção (local food) como proxy

de emissões de GEE.

Pesquisas sugerem que informações sobre a pegada de carbono de produtos de consumo

podem influenciar a demanda por esses produtos (SAUNDERS et al., 2013; ECHEVERRÍA et

al., 2012). Li et al. (2016) examinaram um programa hipotético de rotulagem (‘‘Raised Carbon

Friendly” (RCF) para carne bovina com fazendas que utilizam pastagem rotacionada. Este

sistema de pastagem favorece a diminuição de emissão de GEE em um sistema de produção de

carne bovina. Os achados indicaram uma disposição dos consumidores americanos em pagar

anualmente 306 dólares a mais pela carne RCF entre os apoiadores do programa, e 64 dólares,

entre todos os domicílios que consomem carne. Ao mostrarem este apoio ao programa RCF, os

consumidores indicam que a demanda por carne bovina responde aos produtores de gado de

corte que usam práticas que reduzem as emissões de GEE. Os autores confirmam que este

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resultado é consistente com as tendências que favorecem mercados de nicho para a carne bovina

e outros produtos alimentares. É provável que os produtos de carne bovina que fornecem os

atributos desejados possam receber maior aceitação no mercado e gerar receitas mais altas.

Produtos cultivados orgânica e localmente têm impactos ambientais positivos devido à

redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) necessárias para sua produção. Os

autores Magistris e Gracia (2016) conduziram um experimento de escolha não hipotética em

consumidores espanhóis com o intuito de testar as preferências destes por produtos alimentares

sustentáveis, examinando os relacionados com a redução das emissões de GEE: amêndoas

produzidas orgânica e localmente. Os resultados sugerem que os consumidores estavam

dispostos a pagar um prêmio de preço pelas amêndoas cultivadas localmente (viajavam a menor

distância) e produzidas de modo orgânico, e não se mostram interessados em pagar um preço

mais alto pelas amêndoas que viajavam longas distâncias.

No citado trabalho de Carlsson et al. (2010) sobre a disposição do cidadão comum em

pagar (WTP) pela redução das emissões de CO2, os americanos geralmente parecem acreditar

menos nas mudanças climáticas e que o ser humano é responsável por essas alterações, em

comparação com os chineses e suecos. O estudo aponta ainda diferenças claras na WTP entre

os países analisados (China, Suécia e Estados Unidos), rejeitando a hipótese de igualdade na

WTP (para um dado nível de redução de CO2) entre eles. A Suécia teve a maior WTP; e a China,

a mais baixa. Assim, embora os suecos e os chineses sejam semelhantes entre si em suas atitudes

em relação à mudança climática, eles diferem consideravelmente em sua WTP.

O estudo realizado por Echeverría et al. (2012) parece ter sido o primeiro trabalho que

fornece uma análise da WTP para rotulagem de alimentos com relação à Pegada de Carbono

(PC) em países em desenvolvimento. Esse trabalho mostrou que, ao contrário da crença geral,

os consumidores chilenos respondem bem ao problema do aquecimento global. De fato, embora

não estejam familiarizados com o conceito de PC, eles querem receber mais informações

relacionadas a esse tópico e também preferem alimentos com baixas emissões de GEE. Os

consumidores chilenos mostram uma atitude positiva em relação ao referido conceito e estão

dispostos a pagar 29% acima do preço médio do leite e 10% do pão. Os autores mencionam que

a WTP parece ser específica para esses produtos. Assim, qualquer intenção de extrapolar os

resultados exatos desse estudo (os valores da WTP) deve ser feita com cautela. Além de leite e

pão, Echeverría et al. (2012) sugerem que pesquisas futuras devem incluir um conjunto mais

amplo de produtos. Na atual pesquisa, objetiva-se identificar o comportamento de

consumidores brasileiros com relação à redução de emissão de CO2 na compra de carne bovina.

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2.1.3 Rastreabilidade (RAST)

Smith et al. (2000) definem rastreabilidade como a habilidade de identificar a origem

dos animais ou da carne no estágio anterior de produção necessário para determinar a

propriedade, identificar o parentesco, garantir a segurança e determinar a conformidade em

programas de carne com marca ou de origem verificada.

De acordo com a Lei n. 12.097/200911, a rastreabilidade

[...] é definida como a capacidade de garantir o registro e o acompanhamento das

informações referentes às fases que compõem a cadeia produtiva das carnes de

bovinos e de búfalos, permitindo seguir um animal ou grupo de animais durante todos

os estágios da sua vida, bem como seguir um produto por todas as fases de produção,

transporte, processamento e distribuição da cadeia produtiva das carnes de bovinos e

de búfalos.

Parágrafo único. A rastreabilidade tem por objetivo primordial o aperfeiçoamento dos

controles e garantias no campo da saúde animal, saúde pública e inocuidade dos

alimentos.

Pesquisas indicam que as escolhas alimentares dos consumidores têm sido mais

influenciadas por preocupações sobre o impacto do sistema alimentar na saúde humana Food

Safety (Segurança do Alimento). A percepção de um alimento seguro aparece como forte

requisito na escolha de um produto. A rastreabilidade durante as diferentes etapas da cadeia de

produção da carne aparece como uma forma de tangibilizar a “qualidade” do produto

(OLIVEIRA; SPERS, 2018).

Entre as formas de identificar a rastreabilidade, alguns autores utilizam o termo

“rastreável até a fazenda” (CARACCIOLO, 2010; CICIA; COLANTUONI, 2010;

LOUREIRO; UMBERGER, 2007; LUSK, ROOSEN; FOX, 2003). Já no estudo de Wu et al.

(2017), a rastreabilidade foi testada incluindo informações de rastreabilidade no produto em

três níveis: (1) nenhuma informação de rastreabilidade (NOTRACE); (2) rastreabilidade até o

abate/processamento (LOTRACE); (3) rastreabilidade até a fazenda (HITRACE).

Vários estudos mostram as preferências do consumidor e a WTP para certificação

associadas a atributos de crença relacionados à preferência por garantia da rastreabilidade e

origem da carne bovina (UMBERGER et al., 2003; VERBEKE; WARD, 2003; LUSK et al.,

2003). O advento da doença vaca louca provocou maior discussão sobre temas relativos à

11 https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/820282/lei-12097-09.

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certificação do país de origem (COOL), rastreabilidade e inspeção de segurança alimentar na

percepção do consumidor no que se refere à segurança do alimento e à qualidade. Loureiro e

Umberger (2007) efetuaram uma investigação com consumidores americanos e avaliaram os

atributos país de origem certificado, rastreabilidade e maciez da carne. Os resultados dessa

pesquisa comprovam que atributos relacionados à “segurança do alimento inspecionada”

apresentaram o maior prêmio médio em comparação com os demais três atributos avaliados.

Os autores mencionaram ainda que a “[...] rastreabilidade é necessária para verificação de

atributos de crença tais como origem, assim sendo é esperado que a rastreabilidade de um

animal seja valorizada pelo consumidor e ajudaria em manter a alta reputação da carne

americana [...]” (LOUREIRO; UMBERGER, 2007, p. 510).

Um estudo de metanálise sobre comportamento do consumidor com relação à

rastreabilidade da carne realizado por Cicia e Colantuoni (2010) ajudou a resumir a extensa

literatura sobre WTP do consumidor sobre este atributo. Esse trabalho demonstrou que

consumidores de diferentes países estão dando cada vez mais importância aos atributos

relacionados à carne rastreada. Segundo esses pesquisadores, a “segurança do alimento”,

“rastreabilidade do campo” e “bem-estar animal” parecem ser os atributos mais requisitados

(CICIA; COLANTUONI, 2010). Eles consideram essas informações importantes para a

indústria estabelecer preços premium aos seus produtos com diferentes níveis de rastreabilidade

(CICIA; COLANTUONI, 2010). Já Caracciolo et al. (2010), em sua pesquisa, sugerem que um

atributo importante é a rastreabilidade até a fazenda. Nesse caso, o preço premium seria entre

11% e 16,4% para que o consumidor fosse informado dos passos da carne da “fazenda a mesa”.

Stranieri e Banterle (2015) realizaram um estudo para entender atitudes do consumidor

quanto à origem da carne, considerando informações presentes na etiqueta dos produtos. Os

resultados indicam que a maioria dos consumidores demonstrou alto interesse em diferentes

informações nas carnes com label. As variáveis rastreabilidade, certificação, frescor e prazo de

validade possuem importância no modelo estudado pelos autores.

A importância da rastreabilidade foi analisada em uma pesquisa de Wu et al. (2017),

com consumidores chineses que foram entrevistados por suas preferências por carne de porco

rastreável em um experimento de escolha real. Os resultados revelaram que os consumidores

tinham a maior disposição para pagar (WTP) para certificação de rastreabilidade. Além disso,

a rastreabilidade até o abate/processamento foi considerada como um substituto para a

rotulagem de produto local e complemento para a rotulagem produto agrícola não local. Apesar

da heterogeneidade entre os grupos de consumidores, todos eles tinham alguma WTP positiva

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para o atributo de produto local na carne de porco rastreável. Portanto, é benéfico incluir

rotulagem de origem durante a construção inicial de mercados de alimentos rastreáveis na

China.

Assim como nos trabalhos de Epelbaum e Martinez (2014) e Myae e Goddard (2012),

no atual estudo, a rastreabilidade foi considerada um atributo socioambiental por estar

diretamente ligada ao processo de produção. Kraisintu e Zhang (2011) identificaram os

benefícios da rastreabilidade separadamente em cada dimensão de sustentabilidade. Na

dimensão econômica, os fatores que criam sustentabilidade econômica são economia de custos

e aumento de lucro; na dimensão social, a rastreabilidade fornece sustentabilidade social,

reduzindo, prevenindo e controlando a ocorrência de alimentos prejudiciais; e, na dimensão

ambiental, a rastreabilidade contribui para a sustentabilidade ambiental, protegendo os recursos

ambientais e prevenindo a poluição. A rastreabilidade por si só não reduz a assimetria de

informações sobre o atributo de crença, mas torna-se condição necessária para controlar

atributos não observados, como bem-estar animal e produção ambientalmente amigável

(CICIA; COLANTUONI, 2010). A demanda por produtos com selos contendo atributos de

crença (ex. natural, orgânico, local, “humano”) necessitam de um sistema de rastreabilidade

para verificar a integridade das informações contidas nesses rótulos (LOUREIRO;

UMBERGER, 2007).

2.1.4 Marca sustentável

Para Aaker (1998), o valor da marca é um conjunto de ativos e passivos ligados a uma

marca, seu nome e símbolo, somando-os ou subtraindo-os do valor proporcionado por um

produto ou serviço para uma empresa e/ou para os seus consumidores. O autor afirma que a

qualidade percebida é uma das principais dimensões da brand equity, e tem sido mostrada para

ser associado com prêmios de preços, elasticidades preço e uso da marca. A qualidade percebida

também tem o atributo importante de ser aplicável em todas as classes de produtos. Ela pode

ser medida com escalas como em comparação com marcas alternativas (qualidade alta versus

qualidade média versus qualidade inferior; qualidade consistente versus qualidade

inconsistente).

O tema de branding ganhou relevância nos últimos anos no âmbito das commodities

agrícolas quando o consumidor necessita efetuar escolhas diante de produtos semelhantes. Ao

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identificar, por intermédio de marcas conhecidas, produtos confiáveis e com os quais se

identifica, ele se vê capaz de perceber uma compra como vantajosa (HANF; KÜHL, 2005).

Nesse contexto, o conceito de branding ecosystem engloba inúmeras atividades

desenvolvidas no decorrer de todos os estágios da cadeia de valor de um produto, do fornecedor

inicial ao consumidor final. A ação conjunta de marcas fortes atuando em diferentes níveis da

cadeia de produção pode agregar valor à marca final, em termos da percepção que o consumidor

fará dos atributos intangíveis (como segurança do alimento, rastreabilidade, entre outros

atributos de confiança) ligados ao produto.

Em estudo recente, Oliveira e Spers (2018) confirmaram a hipótese que indica que

quanto maior valor dado aos selos e certificações, maior será o valor da marca no produto final.

Nesse caso, proporcionando maior percepção de segurança alimentar no consumo de carne

suína.

Grunert et al. (2004, p. 267) também evidenciam a importância da marca como forma

de diminuir a incerteza do consumidor no momento da compra: “A empresa pode dar sinal de

um produto com qualidade superior, diminuir a incerteza deste e encorajar o consumidor a pagar

um preço premium por uma qualidade superior”. Nesse estudo, realizado com 310

consumidores de carne dinamarqueses, demonstrou-se que a marca é um indicador de qualidade

especialmente entre aqueles menos familiarizados com o produto. Entretanto ambos os

segmentos, consumidores com alta e baixa familiaridade, usam a marca para formar sua

expectativa com relação qualidade “saudável” (health) da carne. Os resultados mostram que

branding pode desempenhar um papel fundamental no marketing de diferenciação de produtos

no setor de carne.

Os resultados da pesquisa de Tonsor e Shupp (2009) sugerem que o consumidor

americano típico não está disposto a pagar um prêmio positivo por carne bovina, tomate ou

maçã rotulados como “produzidos de forma sustentável”. No entanto, ao avaliar apenas o

subconjunto de entrevistados que inicialmente demonstraram interesse no produto, os autores

estimam que um prêmio positivo para a carne bovina produzida de forma sustentável pode

existir. Isso sugere que o marketing bem-sucedido de alimentos pelo uso de rótulos “produzidos

de forma sustentável” pode não ser bem-sucedido para o público em geral e pode exigir uma

seleção de subamostras do consumidor. A demanda por carne bovina, tomate e maçã rotulados

como “produzidos de forma sustentável” é considerada substancialmente mais alta para

indivíduos que associam produção sustentável a práticas de produção, incluindo orgânica e

ambientalmente amigável.

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101

Outro estudo que aborda atributos de sustentabilidade na escolha alimentar foi realizado

por Cunha, Spers, e Zylberstajn (2011), nesse discute-se a percepção do consumidor paulistano

com relação ao selo de sustentabilidade. O consumidor consegue entender que produtos GO

(Garantia de Origem – grande rede varejista) são diferenciados por garantir comprometimento

dos fornecedores com aspectos relacionados à conservação do meio ambiente, atributos sociais

e segurança alimentar.

Ubilava et al. (2011) tiveram como principal objetivo em sua investigação revelar como

as preferências pelos produtos de marca e/ou sem marca são afetadas pela introdução de

atributos de crença no produto, no caso a carne suína. Eles observaram que, em geral, os efeitos

dos atributos de crença selecionados são mais altos em produtos sem marca, o que sugere que

(1) atributos de crença têm um efeito negativo de marca no brand equity e (2) informações

adicionais em produtos sem marca aumentam a credibilidade e reduzem a incerteza da

qualidade em tal produto. Os resultados da pesquisa sugerem que, em média, os consumidores

estão dispostos a pagar mais por produtos de marca (valor de marca positivo), mas a introdução

dos atributos de crença nos produtos reduz a diferença na WTP geral para aqueles com ou sem

marca (efeito negativo da marca). No atual estudo, pretende-se contrapor este achado, ou seja,

os atributos de crença (sustentabilidade) levam o consumidor a uma maior WTP para produtos

com marcas sustentáveis.

2.1.5 Resumo dos atributos de sustentabilidade (socioambientais)

No Quadro 1, encontra-se o resumo dos artigos relacionados aos atributos

socioambientais que serão utilizados neste estudo na estimativa da WTP do consumidor

brasileiro com relação à carne bovina. Para todos os atributos, existe um artigo relacionado à

WTP; porém, está claro que nenhuma literatura explora ao mesmo tempo, e de forma separada,

os atributos socioambientais dos intrínsecos. Observa-se, ainda, que a maior parte dos trabalhos

analisados foi realizada com o intuito de verificar o comportamento do consumidor em países

desenvolvidos.

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Quadro 1 – Estudos relacionados a atributos de sustentabilidade

Atributo Autor Achados

Bem-estar

animal (BEA)

Caracciolo et al. (2010)

Consumidores europeus procuram escolher carne com alto grau

de segurança. Garantia de BEA desperta interesse em pagar

preço premium 7% a 14% para carne de suínos.

Napolitano, Girolami e

Brahieri (2010)

Rotulagem eficaz e monitoramento confiável ajudam a atender

crescente demanda em segmento que valoriza garantia de BEA.

Zanolli et al. (2012)

Resultados confirmam que bem-estar animal é uma sugestão

extrínseca relevante na compra da carne orgânica, juntamente

com a origem e a raça do animal.

Saunders et al. (2013)

Consumidores valorizavam atributos e estavam dispostos a pagar

até 10% a mais por produtos alimentícios certificados.

Consumidores indianos e chineses valorizavam mais atributos do

que os do Reino Unido, especialmente em termos de qualidade

ambiental, bem-estar animal e reciclabilidade.

Souza et al. (2013)

Consumidores são propensos a pagar preços mais elevados por

produtos certificados, que assegurem ausência de maus-tratos

aos animais. O consumidor ético não deixa de considerar

critérios como preço e qualidade, mas adiciona outros critérios

ao processo decisório, que podem ser políticos, sociais ou

relacionados ao meio ambiente.

Chini (2015)

WTP pagar pelo atributo “Bem-estar animal Garantido” foi a que

teve maior importância em todos os experimentos realizados. Ao

adicionar atributos independentes, a WTP pelo atributo de sinal

diminui. Tanto os consumidores do Brasil, como os dos EUA

consideram aspectos da criação do animal (BEA) na sua decisão

de compra.

Janßen e Langen (2017)

Identificaram um conjunto de atributos como sendo os mais

importantes para consumidores alemães quando compram leite:

(produtos orgânicos, livres de organismos geneticamente

modificados (OGM), produzidos localmente, com redução de

CO2 e com bem-estar animal).

Caputo et al. (2018)

Os autores construíram um estudo de CE peito de frango na

Bélgica usando uma combinação de cinco atributos: selo

orgânico, selo de bem-estar animal; free range (criação livre);

selo de pegada de carbono e preço.

Redução de

emissão de

GEE

Carlsson et al. (2010)

O estudo aponta diferenças claras na WTP entre os países com

relação a emissões de GEE. A Suécia teve a maior WTP e a China,

a mais baixa. A WTP na Suécia foi entre 4 e 4,5 vezes maior do

que a WTP na China para uma redução de 30%. Embora os suecos

e os chineses sejam semelhantes entre si em suas atitudes em

relação à mudança climática, eles diferem consideravelmente em

sua WTP.

Echeverría et al. (2012)

Este estudo mostrou que consumidores chilenos respondem ao

problema do aquecimento global. Os chilenos mostram uma

atitude positiva em relação ao conceito de pegada de carbono e

estão dispostos a pagar 29% acima do preço médio do leite; e

10%, do pão.

Li et al. (2016)

Consumidores americanos apoiam programas de certificação

hipotética RCF (Raised Carbon Friendly) e uma WTP prêmio

para carne com este certificado, indicando que a demanda por

carne bovina pode aumentar para os produtores de gado de corte

que usam práticas de gerenciamento que reduzem as emissões de

GEE.

De-Magistris e Gracia

(2016)

Consumidores estavam dispostos a pagar um prêmio de preço

pelas amêndoas cultivadas localmente (viajam menor distância) e

produzidas organicamente, e não estavam dispostos a pagar um

preço mais alto pelas amêndoas que viajaram longas distâncias.

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Rastreabilidade

Loureiro e Umberger

(2007)

Resultados deste estudo comprovam que atributos relacionados à

“segurança do alimento inspecionada” apresentaram o maior

prêmio médio em comparação com os demais três atributos (país

de origem, rastreabilidade e maciez).

Cicia e Colantuoni

(2010)

Resumo extenso da literatura sobre WTP. O estudo demonstrou

que consumidores de diferentes países estão dando cada vez mais

importância aos atributos relacionados à carne rastreada. A

“segurança do alimento”, “rastreabilidade do campo” e “bem-

estar animal” parecem ser os atributos mais requisitados.

Caracciolo et al. (2010)

Resultados sugerem que um atributo importante é a

rastreabilidade até a fazenda. Nesse caso, o preço premium ficou

entre 11% e 16,4% para que o consumidor fosse informado dos

passos da carne da “fazenda a mesa”.

Stranieri e Banterle

(2015)

Resultados indicam que a maioria dos consumidores demonstra

alto interesse em diferentes informações nas carnes com label.

As variáveis rastreabilidade, certificação, frescor e prazo de

validade possuem importância no modelo estudado pelos

autores.

Wu et al. (2017)

Todos os consumidores tinham alguma WTP positiva para o

atributo de produto local na carne de porco rastreável. A

rastreabilidade até o abate/processamento foi considerada como

um substituto para a rotulagem de produto local e complemento

para a rotulagem produto agrícola não local.

Marca

sustentável

Grunert et al. (2004)

Os resultados mostram que branding pode desempenhar um

papel fundamental no marketing de diferenciação de produtos no

setor de carne. Todos os consumidores são receptivos ao sinal da

marca, mas o uso do branding demonstra ser mais forte para

consumidores com menor expertise.

Tonsor e Shupp (2009)

A demanda por carne bovina, tomate e maçã rotulados como

“produzidos de forma sustentável” é considerada

substancialmente mais alta para indivíduos que associam

produção sustentável a práticas de produção, incluindo orgânica e

ambientalmente amigável.

Ubilava et al. (2011)

Autores sugerem que (1) atributos de crença têm um efeito

negativo de marca no brand equity e (2) informações adicionais

em produtos sem marca aumentam a credibilidade e reduzem a

incerteza da qualidade em tal produto.

Cunha, Spers, e

Zylberstajn (2011)

O consumidor consegue entender que produtos GO (Garantia de

Origem – selo de “sustentabilidade”) são diferenciados por

garantir comprometimento dos fornecedores com aspectos

relacionados a conservação do meio ambiente, atributos sociais e

segurança alimentar.

Oliveira e Spers (2018)

Resultados indicam que quanto maior o valor dado aos selos e

certificações, maior será o valor da marca no produto final.

Nesse caso, proporcionando maior percepção de segurança

alimentar no consumo de carne suína.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

2.2 Atributos sustentáveis e o perfil e comportamento do consumidor

Além de estudar o trade-offs entre atributos socioambientais este trabalho abordou

alguns aspectos relativos ao comportamento do consumidor. Foram discutidos o efeito das

diferentes ocasiões de consumo bem como frequência de compra na importância dada aos

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atributos durante o processo de aquisição de alimentos. Algumas contribuições da literatura

sobre este tema são apresentadas a seguir:

➢ Ocasião de consumo

O consumo tem sido frequentemente dicotomizado em termos de sua natureza

funcional-hedônica. Pesquisadores na área de comportamento de consumo têm cada vez mais

investigado a escolha do consumidor com base em distinções que envolvem a compra e o

consumo de bens para fins mais utilitários (funcionais) versus por prazer (hedônico). Alguns

estudos examinaram as compensações entre os bens que são escolhidos e consumidos para

induzir o prazer e fazer com que os consumidores se sintam bem ou para alcançar um propósito

instrumental. Esses estudos mostram explicitamente a preocupação com os efeitos de contexto

nas compensações envolvidas na escolha entre alternativas que induzem prazer e aquelas que

são instrumentais para alcançar algum outro objetivo (funcionais) (KHAN; DHAR;

WERTENBROCH, 2004).

Okada (2005) discute a escolha entre produtos funcionais versus hedônicos. A autora

afirma que as pessoas têm preferências para gastar diferentes combinações de tempo (esforço)

e dinheiro para adquirir itens hedônicos versus utilitários. Elas estão dispostas a dispender mais

do seu tempo na escolha por um produto hedônico e mais em dinheiro por bens utilitários.

Outros autores estudaram a sensibilidade dos consumidores de acordo com a ocasião de

consumo, como o caso de Wakefield e Inman (2003) que examinaram o efeito potencial da

ocasião de consumo na sensibilidade ao preço dos consumidores. Os resultados desse estudo

sugerem que os consumidores são menos sensíveis ao preço quando fazem uma compra

hedônica ou em um contexto social. Esses pesquisadores mostram que os consumidores são

relativamente menos sensíveis ao preço dos produtos hedônicos do que ao dos funcionais.

Referente ao segmento de alimentos, identificaram-se alguns estudos em que se discute

a ocasião de compra no setor de bebidas (vinhos, cerveja). O consumo de vinho é

frequentemente associado a eventos sociais. Assim, a escolha do vinho certo para a ocasião

torna-se frequentemente um veículo de autorrepresentação e pode conduzir a seleção final. Esse

aspecto torna o vinho um produto muito complexo e interessante para estudar. Pesquisas de

marketing confirmam que os consumidores procuram atributos diferentes ou valorizam os

mesmos atributos de maneira diferente, dependendo da ocasião ou momento (no dia a dia ou

em um jantar especial) em que o vinho deve ser consumido (COSTANIGRO et al., 2007).

Embora a obtenção de dados para cada situação diferente seja bastante difícil, parece razoável

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que diferentes ocasiões de consumo estejam associadas a diferentes faixas de preço sendo o

preço usado como uma sugestão de qualidade.

De maneira geral, a literatura abrange alguns aspectos comportamentais do consumidor

e sua sensibilidade a preço nas diferentes ocasiões, ou ainda segmentação de mercado para bens

natureza funcional ou hedônica. Entretanto, poucos trabalhos foram encontrados no que tange

à relevância de atributos que influenciaram a escolha de um alimento, nesse caso a carne bovina,

nas diferentes ocasiões, funcional ou recreativa (hedônica). Na atual pesquisa, procurou-se

suprir esta lacuna encontrada na literatura.

➢ Frequência de compra

Alguns trabalhos sobre comportamento do consumidor abordam a intensidade de

compra como um fator determinante na importância dada a alguns atributos durante o processo

de aquisição de alimentos.

Mondelaers et al. (2009) realizaram estudos com vegetais orgânicos em que atributos

relacionados à saúde pontuam melhor do que os ambientais na definição da preferência do

consumidor por vegetais orgânicos. Consumidores atribuem uma pontuação melhor às

características de qualidade relacionadas à saúde e ao meio ambiente de produtos orgânicos,

indicando uma diferença nos sinais de qualidade entre os produtos orgânicos e os de qualidade

em geral. O preço é o menos importante, enquanto a presença de um selo orgânico torna-se

mais relevante com o aumento da intensidade de compra de vegetais orgânicos.

Este estudo indica ainda que os heavy users é o único grupo em que o atributo preço é

insignificante, ou seja, dentro da faixa de preço de 1 € a 1,75 €, o heavy user é insensível ao

preço. O restante dos atributos está alinhado com os do grupo de usuários médio, além do valor

atribuído ao selo “Orgânico”, que está entre os usuários pesados duas vezes mais importantes

que o rótulo A, indicando que os usuários pesados escolhem na maioria dos casos, o produto

orgânico, independentemente dos outros atributos de qualidade.

O estudo de Mondelaers et al. (2009) demonstra uma importância decrescente de

usuários “não pesados” com relação ao preço. Isso confirma a conclusão de outros trabalhos

(O'DONOVAN; MC CARTHY, 2002, BONTI-ANKOMAH; YIRIDOE, 2006) de que a

percepção da diferença de preço é a principal barreira para novos usuários comprarem orgânicos

ou para “usuários leves” aumentarem a compra de novos produtos, como a de alimentos

orgânicos. Entre os heavy users, o preço não é um problema, pelo menos dentro da faixa de

preço do experimento.

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Existem alguns estudos que enfocam a segmentação de consumidores de alimentos

orgânicos também. Por exemplo, Bartels e van den Berg (2011) segmentaram os consumidores

como não usuários, usuários leves e usuários pesados de alimentos orgânicos com base nos

padrões de consumo da amostra e concluíram que existem diferenças significativas entre os três

grupos de participantes sobre a inovatividade específica do domínio, identificação social e

atitudes em relação aos antioxidantes em frutas e vegetais frescos.

Diaz et al. (2010) também realizaram análise de cluster e identificaram três grupos

distintos de consumidores orgânicos, ou seja, não consumidores, consumidores habituais e

ocasionais. Esses três grupos diferenciaram-se principalmente em seus níveis de conhecimento

e consumo de alimentos orgânicos na Espanha. Esses pesquisadores também descobriram que

“consumidores habituais” estão dispostos a pagar um preço alto por alimentos orgânicos. No

atual estudo, a frequência de compra será analisada como um fator que estimula o pagamento

do preço premium de um produto com características sustentáveis.

2.3 Disposição a Pagar ou Willingness to Pay (WTP)

Estudos, como os de Gao e Schoroeder (2009), Janßen e Langen, 2017 e Zanoli et al.

(2012), sobre percepção do consumidor e Disposição a Pagar (Willingness To Pay – WTP) por

atributos em produtos alimentícios têm sido realizados de modo a fornecer dados para

produtores e indústrias. Tais investigações demonstram que a disposição a pagar por um

determinado atributo de qualidade é independente da de pagar por outros atributos; contudo,

trazem informações limitadas dos atributos dos alimentos nas pesquisas de consumidor. Gao e

Schroeder (2009) investigaram o efeito adicional de atributos de qualidade na decisão da

escolha do consumidor medindo mudanças na WTP para os atributos quando outros eram

informados progressivamente aos integrantes da amostra. A disposição a pagar mudava

significativamente no momento em que informações adicionais eram fornecidas; porém, os

autores argumentam que, embora a disposição a pagar possa ser afetada por dados não

divulgados aos consumidores, a classificação dos atributos não foi afetada por informações

adicionais e, portanto, o atributo mais importante deve sempre ser considerado em primeiro

lugar.

Um dos temas frequentes referente sobre WTP em alimentos sustentáveis se refere a

preços premium por produtos orgânicos. Tung et al. (2012) realizaram uma análise

discriminante múltipla com uma variável moderadora e mostraram que a confiança de

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consumidores em alimentos orgânicos e sua preocupação com pesticidas explicam em conjunto

a vontade dos respondentes em pagar um valor premium. Somente quando o consumidor tem

uma crença mais forte na agricultura orgânica, a sua preocupação com relação a pesticidas

deverá promover a compra de alimentos orgânicos. Confiança nas práticas agrícolas orgânicas

e na rotulagem adequada do produto aparece como o fator-chave para determinar o

comportamento de compra dos consumidores em Taiwan. A falta de confiança é responsável

pela incoerência entre atitudes e comportamentos dos entrevistados em relação ao alimento

orgânico. Os resultados do estudo anterior confirmam os demonstrados por Boccaletti e

Nardella (2000), quando afirmam que a percepção de risco alimentar está positivamente

relacionada com WTP de produtos orgânicos.

Por meio de um experimento de escolha hipotética, Zanoli et al. (2012) investigaram

preferência de consumidores italianos e a WTP com relação à carne orgânica, incluindo

atributos intrínsecos (cor, gordura visível e preço) e de crença. Quatro atributos de crença foram

avaliados nesse estudo, são eles: modo de produção (orgânico, convencional e GM

(geneticamente modificado); bem-estar animal; país de origem (proxy food milage) e origem

da raça (proxy conservação da biodiversidade). Os resultados apontaram que questões éticas e

ambientais (atributo de crença) são mais relevantes para explicar a disposição a pagar por

produtos orgânicos do que características “comuns” do produto (cor e gordura). O bem-estar

animal apareceu como um atributo extrínseco relevante na compra de carne orgânica.

Van Doorn e Verhoef (2011) mencionaram que algumas pesquisas investigam até que

ponto o consumidor deseja pagar mais por produtos orgânicos, ou porque alguns consumidores

não querem pagar preço “premium” por um produto sustentável (WTP). Van Doorn e Verhoef

(2011) observaram que, na verdade, uma ou outra disposição por parte do comprador pode

depender de motivos individuais (maior qualidade, mais saudável) ou por outros motivos

(benefícios sociais).

Schreiner e Latacz-Lohmann (2015) também utilizaram experimentos de escolha

discreta para investigar a disposição dos agricultores em participar de um sistema de produção

de leite livre de organismos geneticamente modificados (OGM) oferecido por empresas

leiteiras alemãs. A análise empírica baseia-se em experiências de escolha discreta com 151

produtores de leite de duas regiões da Alemanha. Os resultados revelaram um significativo

efeito positivo do preço premium na oferta. Os entrevistados solicitaram, em média, uma

majoração de € 0,80, por quilograma de leite para aceitar um contrato. A comparação das

estimativas para as duas regiões estudadas sugere que os agricultores do norte da Alemanha

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têm, em média, maior probabilidade de converterem sua produção atual em uma produção livre

de transgênicos. No entanto, os agricultores do Sul são, ceteris paribus, mais sensíveis a um

aumento do prêmio de preço oferecidos.

Aizaki et al. (2012) realizaram uma avaliação não compensatória da segurança alimentar

entre os consumidores japoneses no que diz respeito à compra de carne bovina. Os autores

investigaram a avaliação da carne bovina pelos consumidores em termos do país de origem e

do status com ao teste da “vaca louca” (Bovine Spongiform Encephalopathy (BSE). Os

resultados apontam que a disposição de pagar para cada tipo de carne bovina testada pela BSE

revela que os consumidores japoneses consideram o referido teste como bastante importante

para garantir a segurança alimentar da carne de bovino.

A segmentação de mercado com relação à WTP de produtos com selos sustentáveis foi

abordada em recente estudo realizado por Janßen e Langen (2017). Os autores utilizaram um

modelo de análise de escolhas discretas para testar se os consumidores levam em conta selos

sustentáveis diferentes ao tomar sua decisão e ainda procuraram testar de que modo os

consumidores lidam com selos sustentáveis diferentes que estão (parcialmente) reivindicando

o mesmo aspecto. Os resultados desse estudo apontam três segmentos de consumidores com

preferências diferenciadas e medidas de WTP para os respectivos atributos. Um grupo é o do

consumidor “sensível ao preço”, decidindo exclusivamente sobre o produto com o menor preço,

independentemente de qualquer atributo sustentável do produto. Outro grupo opta por produtos

com um selo sustentável, sem qualquer preferência clara por um atributo sustentável específico,

mas expressando uma disposição evidente de pagar mais por todos os selos sustentáveis

apresentados (os “seletores de selos”). Um terceiro grupo pode ser chamado de

“discriminadores de selos de preço-consciente”. Para esse grupo, alguns aspectos sustentáveis

fornecem utilidade negativa quando rotulados exclusivamente (por exemplo, orgânicos ou

livres de GMO), mas quando rotulados juntos (como orgânicos e livres de GMO ou bem-estar

animal) oferecem utilidade significativamente positiva, mesmo sendo redundantes por

definição. A pesquisa enfatiza que é necessário um olhar atento para diferentes tipos de

consumidores e variados selos simbolizando a sustentabilidade. Ao detalhar mais os achados

dessa pesquisa, os autores apontam que a classe 3 está disposta a pagar € 0,14 a mais por

orgânico e € 0,16 a € 0,18 a mais por bem-estar animal, livre de transgênicos e produzidos

localmente. A redução de CO2 só pode alcançar um excedente de € 0,08, sendo, portanto, de

menor interesse para esse grupo. Destaca-se que os resultados das estimativas de WTP da classe

3 são bastante interessantes, pois confirmam a suposição postada no início do estudo de que o

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109

produto orgânico pode torna-se mais comum e aspectos como o OGM livre, produzidos

localmente e bem-estar animal podem atrair o interesse dos consumidores atuais.

Trazendo a discussão para o cenário brasileiro outros trabalhos apontam a relevância da

intenção de compra no setor alimentício. Um estudo sobre certificação (ALVES-PINTO et al.,

2013) demonstra a falta de mercado desenvolvido para carne certificada no Brasil. Apesar de

ainda existir uma baixa demanda por alimentos com certificação de sustentabilidade no

território brasileiro, a preocupação ambiental cresce e a disposição a pagar está mais associada

a qualidade (maciez e gordura). A falta de entendimento do significado do produto certificado

pode ser um fator restritivo ao “scale up” da carne certificada RAS (rainforest alliance).

Oliveira e Spers (2018) complementam essa ideia em uma pesquisa no mercado de carne

suína afirmando que a maior parte dos atributos de sustentabilidade acaba sendo valorizada

(preço premium) juntamente com aspectos de qualidade da carne (maciez, sabor, cor).

O Quadro 2 resume os vários artigos sobre a disposição a pagar relacionada ao tema de

sustentabilidade apresentado neste estudo.

Quadro 2 – Estudos com disposição a pagar relacionada a atributos de sustentabilidade

Autor Ano Objetivo

Gao e Schroeder 2009

Analisar o efeito adicional de atributos de qualidade na decisão da escolha do

consumidor. Os autores mediram mudanças na WTP para os atributos quando

os demais eram informados progressivamente aos consumidores.

Van Doorn e

Verhoef 2011

Investigar até que ponto o consumidor deseja pagar mais por produtos

orgânicos, e a razão pela qual alguns consumidores não querem pagar preço

premium por um produto sustentável (WTP).

Tung et al. 2012

Realizar análise discriminante múltipla e mostrar que a confiança de

consumidores em alimentos orgânicos e sua preocupação com pesticidas

explicam em conjunto a vontade dos respondentes em pagar um valor premium

WTP.

Aizaki et al. 2012 Investigar a avaliação da carne bovina pelos consumidores japoneses em

termos do país de origem e do status com ao teste da “vaca louca” BSE.

Zanoli et al. 2012 Verificar a preferência de consumidores italianos e a WTP com relação à carne

orgânica incluindo atributos intrínsecos e de crença.

Souza et al. 2013 Medir a disposição dos consumidores a pagar preços diferenciados pela carne

obtida em processos sem práticas cruéis contra os animais (bem-estar animal).

Alves-Pinto et al. 2013

Efetuar estudo exploratório que aborda a falta de mercado para carne

certificada no Brasil. Apesar da baixa demanda por alimentos com certificação

de sustentabilidade no País, a preocupação ambiental cresce e a WTP está mais

associada à qualidade (maciez e gordura).

Schreiner e Latacz-

Lohmann 2015

Utilizar experimentos de escolha discreta para investigar a disposição dos

agricultores em participar de um sistema de produção de leite livre de OGM

oferecido por empresas leiteiras alemãs.

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110

Chini 2015

Identificar o impacto marginal de introduzir um atributo de sinal de uma carne

produzida a pasto na WTP dos consumidores pelos demais atributos

independentes. A WTP por bem-estar animal foi a mais importante nos

experimentos de escolha em que esta informação estava presente.

Janßen e Langen 2017

Utilizar um modelo de análise de escolhas discretas para testar se os

consumidores levam em conta selos sustentáveis diferentes ao tomar sua

decisão. Os resultados deste estudo apontam três segmentos de consumidores

com preferências diferenciadas e medidas de WTP para os respectivos

atributos.

Oliveira e Spers 2018

Estudar o mercado de carne suína. Os resultados apontam que a maior parte

dos atributos de sustentabilidade acaba sendo valorizada (preço premium por

um produto sustentável (WTP)).

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

3 METODOLOGIA

Neste estudo, adotaram-se métodos mistos sequenciais exploratórios (exploratory

sequential mixed methods) (CRESWELL, 2014), pois os resultados de uma etapa serviram

como substrato para as etapas seguintes. A condução de métodos mistos justifica-se pela

incapacidade de uma fonte de dados prover solução completa para o problema que está sendo

discutido (CRESWELL; CLARK, 2011).

Foram realizadas duas etapas distintas para conduzir os trabalhos nesta investigação.

Inicialmente, efetuou-se uma pesquisa qualitativa com intuito de identificar alguns atributos

que pudessem representar a preocupação do consumidor com relação a questões

socioambientais. Em seguida, foi realizada uma etapa quantitativa visando a medir a WTP do

consumidor com relação aos atributos sustentáveis selecionados.

3.1 Etapa qualitativa

Em uma primeira abordagem qualitativa foram realizadas cinco entrevistas em

profundidade com especialistas da área de sustentabilidade e marketing do setor de produção

de carne bovina com o propósito de mapear as questões relevantes relacionadas à intenção de

compra sustentável de carne, assim como estabelecer sua rede nomológica. Nesta etapa,

procurou-se, com base nas entrevistas em profundidade, estabelecer contato com especialistas

na área de sustentabilidade e marketing do setor de carne com intuito de conhecer melhor suas

percepções e conhecimento sobre o tema proposto neste estudo. Foram selecionados os

seguintes especialistas para serem entrevistados: um gerente de marketing no setor de “carnes”

de duas empresas frigoríficas líderes no mercado nacional; um gerente de marketing de uma

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111

empresa especializada em carnes (boutique de carne); um diretor de uma Organização Não

Governamental (ONG) socioambiental e chef; um sócio-diretor de uma empresa de pesquisa de

mercado, tendo como clientes empresas frigoríficas. A técnica de coleta empregada foi a de

entrevista pessoal realizada pelo próprio pesquisador.

Um segundo estudo qualitativo, desta vez com o uso de dois grupos focais, foi realizado

para definir os atributos que seriam utilizados na terceira fase que iria medir a WTP do

consumidor com relação a características socioambientais, assim como a rede nomológica

proposta pela pesquisa a partir da literatura acadêmica, das normas técnicas do setor de carne e

das entrevistas com especialistas.

Nestas sessões, o moderador procurou identificar atributos prioritários na escolha da

carne bem como hábitos de consumo, em especial a ocasião da compra. Cada um dos grupos

foi composto de oito participantes. O primeiro grupo foi formado a partir da lista de clientes de

uma boutique de carne de São Paulo, os quais deveriam possuir um forte envolvimento com o

produto, para esse grupo a ocasião avaliada foi compra de carne recreativa (churrasco). O

segundo grupo foi constituído de voluntários com hábitos de uma compra funcional (carne para

o dia a dia).

A sessão de grupo focal foi dividida em duas etapas. A primeira teve como objetivo

explorar temas relacionados com as dimensões presentes no modelo proposto, isto é,

sustentabilidade, envolvimento produto, ocasião de compra, qualidade de produto, processo

produtivo, marca e segurança do alimento.

Esses dois grupos também foram testados em relação ao seu processo de escolha

utilizando 16 produtos hipotéticos que combinavam quatro atributos de sustentabilidade da

carne, que foram formulados a partir da revisão da literatura e da entrevista com especialistas,

quais sejam: rastreabilidade, marca, qualidade e bem-estar animal. A cada indivíduo foram

oferecidas duas opções de escolha e a ele foi solicitado que justificasse o porquê da predileção

de uma opção em detrimento da outra.

Os atributos de qualidade discutidos na etapa qualitativa não foram incluídos na fase

quantitativa, uma vez decidido que este trabalho teria foco exclusivo nos atributos ligados à

sustentabilidade. Entretanto, optou-se por incluir o atributo redução de emissões de gases de

efeito estufa (GEE) em virtude de sua relevância em estudos realizados em outros países

(CAPUTO et al., 2018; CARLSSON et al., 2010; de-MAGISTRIS; GRACIA, 2016;

ECHEVERRÍA et al., 2012; MICHAUD et al., 2013; TAIT et al., 2011).

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112

3.2 Etapa quantitativa

O método de análise de escolha discreta baseia-se nas características da teoria do valor

(Lancaster, 1966) e da teoria de utilidade aleatória fornecida por McFadden (1973) a partir de

comparações múltiplas. Nesta última teoria supõe-se que variáveis não observáveis afetam as

escolhas e que a utilidade deve ser vista como uma construção latente com um componente

inexplicável (McFadden, 1973). Nesse contexto, Lancaster (1966) afirmou que existe utilidade

a ser obtida com os atributos de um bem em vez do próprio bem. No atual modelo,

consideraram-se os consumidores como indivíduos que escolhem a alternativa com a maior

utilidade. Por conseguinte, um consumidor irá optar pela compra do produto apenas quando a

utilidade esperada é maior que a obtida no momento da aquisição (convencional). Mais detalhes

sobre o método WTP encontram-se no Apêndice 3A.

No caso da análise de escolha discreta, a estrutura de utilidade é estimada com base em

um conjunto de opções, que é típico, mas não necessariamente fixo em todos os respondentes.

Cada escolha pode ser totalmente descrita em termos de seus atributos. Aos entrevistados são

apresentadas alternativas diferentes, sendo solicitado a eles indicar qual delas realmente

escolheriam. Neste estudo, os integrantes da amostra receberam uma alternativa de “sem

escolha”, para indicar que não escolheriam nenhum dos perfis de produto apresentados.

Nesta pesquisa, realizou-se uma análise de escolha discreta utilizando 16 produtos

hipotéticos para medir a WTP referente aos diferentes atributos da carne. A disposição a pagar

(WTP) foi calculada com base em Belluzzo Junior (1999) e Van Loo et al. (2015), em que o

valor é obtido por meio da soma do intercepto e a soma da multiplicação dos coeficientes

estimados no modelo Logit, com os valores médios das variáveis, sendo na sequência dividido

pelo coeficiente estimado do Preço.

Instrumento de coleta

Para realizar a coleta de dados, foi desenvolvido um questionário com algumas

perguntas que abordavam as características e alguns hábitos dos respondentes. Além disso,

foram incluídas oito escolhas para medir a influência dos atributos de sustentabilidade na

intenção de compra de carne bovina. O questionário utilizado se encontra no Apêndice 3B.

O atributo maciez está presente em diversos estudos (BARCELLOS, 2007; CHINI,

2015; GAO; SCHROEDER, 2009; GRUNERT et al.,2004; OLIVEIRA; SPERS, 2018), sendo

apontado por quatro especialistas entrevistados como o principal atributo de qualidade no

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momento de escolha da carne. Na prática, observa-se que as empresas necessitam adicionar o

item maciez para que a carne “sustentável” possa ser vendida a um preço superior. Isso tem

sido feito tanto pelos frigoríficos quanto pelos varejistas. Neste estudo, o atributo maciez será

considerado como garantido para todas as escolhas, desta forma a preferência de compra será

concentrada em atributos ligados diretamente à sustentabilidade.

Para analisar a disposição de pagar do consumidor, com relação a atributos de

sustentabilidade, foram selecionados alguns atributos com base na revisão de literatura, nos

resultados das entrevistas com especialistas e das efetuadas nos dois grupos focais.

O atributo rastreabilidade se refere à informação sobre a origem da carne. Esse reflete a

preocupação com o processo produtivo estando relacionado com segurança de alimentos

(CICIA; COLANTUONI, 2010; OLIVEIRA; SPERS, 2018). Nesse caso é considerado como

nível máximo a rastreabilidade até a fazenda (“from farm to fork”), enquanto o nível médio

seria a rastreabilidade até o frigorífico no qual o animal foi abatido, já sendo uma prática

habitual nos três grandes frigoríficos (ex.: Relatório de Sustentabilidade da JBS).

Em relação ao atributo marca, este atinge o nível 3 quando o produto é considerado uma

“carne sustentável” por meio de uma marca fictícia Green Beef, uma vez que não existe uma

carne conhecida no mercado com apelo sustentável12. O nível médio de marca sustentável seria

a marca genérica Friboi que possui um apelo de confiança na origem da carne; porém, não

atende aos critérios de uma carne 100% sustentável.

Em relação ao atributo bem-estar animal, este foi mencionado em alguns estudos como

diretamente relacionado à sustentabilidade (atributo de sinal) (BARCELLOS, 2007; CAPUTO

et al., 2018; CHINI, 2015; NAPOLITANO; GIROLAMI; BRAGHIERI, 2010; OLIVEIRA;

SPERS, 2018; SAUNDERS et al., 2013; ZANOLI et al., 2012). A certificação de BEA também

foi discutida no artigo de Souza et al. (2013). Neste estudo, apenas dois níveis, certificado (bem-

estar garantido) ou não certificado, foram utilizados.

O atributo redução de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) foi discutido em

diversos artigos (CAPUTO et al., 2018; CARLSSON et al., 2010; de-MAGISTRIS; GRACIA,

2016; ECHEVERRÍA et al., 2012; MICHAUD et al.,2013; TAIT et al., 2011). Neste estudo, a

redução de CO2 foi avaliada em % de redução de gases de efeito estufa emitidos durante a

produção. Segundo alguns cientistas, esses gases podem ocasionar mudanças climáticas, e

12 Existe a carne RAS (Rainforest Alliance) que segue os critérios rígidos da certificação RAS; porém, é

comercializada em escala bem pequena em algumas lojas do Carrefour.

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114

consequentemente o aquecimento global. Os níveis de 0% (sem redução), 30% e 60% de

redução das emissões foram definidos para medir esse atributo.

O preço é considerado fundamental (obrigatório) na medição da disposição de pagar do

consumidor pela carne com atributos de sustentabilidade. Os preços foram calculados com base

na média mensal do preço do filé mignon no mercado de São Paulo (IEA, 2017). Para o nível

2, obteve-se o valor de R$ 40,79/ kg; para o nível 1 foi estabelecido um valor 30% inferior, ou

seja, R$ 28,55; e, para o nível 3, um valor 30% acima do nível 2 (R$ 53,03/kg).

A partir do quadro de atributos foi gerada uma matriz ortogonal com a qual foram

obtidos 16 produtos hipotéticos para testar a disposição de pagar (WTP) do consumidor com

relação a atributos de sustentabilidade, conforme indicado no Quadro 3.

Quadro 3 – Produtos hipotéticos para teste da disposição de pagar (WTP)

Produto

hipotético Preço Rastreabilidade Marca

Redução de

emissões Bem-estar animal

1 28,55 Não rastreável Desconhecida 0% redução CO2 Não certificado

2 40,79 Não rastreável Sustentável 0% redução CO2 Certificado

3 53,03 Não rastreável Desconhecida 30% redução CO2 Certificado

4 28,55 Não rastreável Sustentável 30% redução CO2 Não certificado

5 28,55 Rastreável até a

fazenda Desconhecida 30% redução CO2 Certificado

6 28,55 Não rastreável Conhecida 60% redução CO2 Não certificado

7 28,55 Rastreável até a

fazenda Conhecida 0% redução CO2 Certificado

8 53,03 Rastreável até o

frigorífico Desconhecida 0% redução CO2 Não certificado

9 40,79 Rastreável até a

fazenda Desconhecida 0% redução CO2 Não certificado

10 40,79 Rastreável até o

frigorífico Conhecida 30% redução CO2 Não certificado

11 53,03 Não rastreável Conhecida 0% redução CO2 Certificado

12 28,55 Rastreável até o

frigorífico Sustentável 0% redução CO2 Certificado

13 28,55 Rastreável até o

frigorífico Desconhecida 60% redução CO2 Certificado

14 53,03 Rastreável até a

fazenda Sustentável 60% redução CO2 Não certificado

15 40,79 Não rastreável Desconhecida 60% redução CO2 Certificado

16 28,55 Não rastreável Desconhecida 0% redução CO2 Não certificado

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

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115

Em decorrência dos produtos hipotéticos gerados, foram testadas oito escolhas,

conforme mencionado nos quadros presentes no Apêndice 3B.

Método de coleta de dados

O objetivo nesta etapa será obter uma amostra de no mínimo 360 respondentes. Os

questionários foram distribuídos em forma de uma survey, on-line.

Os produtos hipotéticos foram testados em duas situações distintas, a saber:

Situação A (ICA): o entrevistado irá comprar a carne para consumo funcional (dia a

dia).

Situação B (ICB): o entrevistado irá comprar a carne para consumo

hedônico/recreativo, como, por exemplo, para receber um grupo de amigos para um

churrasco.

O questionário foi submetido a uma avaliação por cinco pesquisadores (doutores e

doutorandos) da área de marketing com experiência no tema da pesquisa e profissionais

especialistas de uma empresa de pesquisa de mercado. Adicionalmente, efetuou-se um pré-teste

com 40 indivíduos antes de o instrumento ser aplicado. Como resultado dessa avaliação prévia,

foram realizados ajustes nos enunciados no intuito de dar mais clareza às questões do

questionário (Apêndice 3C).

O questionário foi desenvolvido no Surveymonkey, e as respostas foram coletadas na

plataforma de pesquisa Tapresearch, uma empresa especialista em pesquisa de mercado. Filtros

para excluir consumidores que realizam raramente, ou não realizam, a compra de carne foram

ativados, assim como aqueles indivíduos que não comem carne foram excluídos como

potenciais respondentes. Por fim, foram excluídos os respondentes com nível de renda inferior

a R$ 60 mil por ano, uma vez que se entende que o consumidor com renda acima do referido

valor deva ser um público que tenha possibilidade de entender o conceito de atributos de

sustentabilidade da carne bovina.

Foram coletados 572 questionários, considerando uma margem de segurança para

eventuais perdas relacionadas ao processo de coleta (mau preenchimento, preenchimento

incompleto e demais problemas inerentes ao processo de coleta). Desses, foram descartados

questionários que apresentavam a presença sistemática de missing values ou que não foram

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116

completamente preenchidos. No final, as duas amostras totalizaram 539 indivíduos, sendo 180

do questionário ICA e 359 para o questionário ICB.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para modelar a probabilidade da ocorrência da escolha do produto, foi adotado o modelo

Logit, uma vez que a variável dependente (Y) pode assumir valores 0 e 1. Foi pressuposto que

as variáveis selecionadas podem influenciar na ocorrência da “escolha” ou “não escolha” do

produto. Desta forma, se o produto for escolhido pelo consumidor da amostra, Y assume valor

1; caso contrário, zero (0).

4.1 Modelos propostos

Foram estimados 3 modelos Logit, sendo cada modelo especificado de acordo com a

combinação de algumas dessas variáveis, não exatamente todas.

Os modelos estimados no atual estudo apresentaram como variáveis explicativas:

a) Variáveis explicativas

PRECO: se refere à variável contínua do valor monetário que o consumidor

estaria disposto a pagar pelo produto (valor apresentado ao consumidor, relacionado

a cada produto para que o mesmo efetuasse a escolha); três níveis R$ 28,55; R$ 40,79

e R$ 53,03.

b) Variáveis referentes aos Atributos Socioambientais (ASA)

RAST (rastreabilidade) se refere ao nível de rastreabilidade para identificar a

origem do produto: naoRAST “Não rastreável” sem identificação de sua origem;

RASTFR “rastreável até o frigorífico” (da gôndola até o frigorífico); ou

RASTFA “rastreável até a fazenda” (rastreabilidade da gôndola até a fazenda).

MARCA: se refere ao tipo de marca da carne: MARCAD, “marca

desconhecida”; MARCAC, marca “conhecida”; ou MARCAS marca

“Sustentável” hipotética a qual possui atributos socioambientais.

BEAC: se refere a uma variável dummy, indicando 1, para presença do

certificado de bem-estar animal; e 0, para ausência.

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117

EMISS: se refere aos níveis de redução de emissão de Gases de Efeito Estufa

(GEE), sendo 0%, para sem redução; 30%, para redução moderada; 60%, para

alta redução.

c) Variáveis comportamentais e pessoais

GENERO: se refere à variável binária, assumindo valor 1 se for masculino; e 0

se for feminino.

IDADE: se refere a variável contínua, indicando a idade do respondente.

FCONSUMO: se refere a variável que mede a frequência de consumo de carne

bovina do respondente, assumindo valor 1 (1 a 3 vezes por semana); 2 (4 a 6

vezes por semana); 3 (todos os dias).

FCOMPRA: se refere a variável que mede a frequência de compra de carne do

respondente, assumindo valor 1 (nunca); 2 (raramente); 3 (às vezes); 4 (sempre).

ULTIMA: se refere a variável que indica a última compra de carne bovina

realizada pelo respondente, assumindo valor 1 (não comprei este ano); 2 (este

ano); 3 (este mês); 4 (esta semana).

ESTCIVIL: se refere a variável binária, assumindo 1 se for solteiro(a); e 2 se for

casado(a).

INSTRUCAO: se refere a variável que mede o nível de formação do

respondente, assumindo valor de 1 (primário); 2 (ensino médio); 3 (técnico); 4

superior; 5 (pós-graduação).

BOUTIQ: se refere a variável binária que indica se o respondente costuma

comprar em boutique de carne, assumindo valor 1, se costuma comprar em

boutique de carne; e 0 se não compra nesse local.

OCASIAO A: se refere à variável binária, assumindo o valor 1 para respondente

que costuma comprar carne para ambas as ocasiões (churrasco e dia a dia); e 0

para apenas uma das ocasiões (churrasco ou dia a dia).

OCASIAO C: se refere à variável binária, assumindo o valor 1, para respondente

que costuma comprar carne para fazer churrasco; e 0, para outras ocasiões (dia

a dia ou ambas as ocasiões).

OCASIAO D: se refere à variável binária, assumindo o valor 1, para respondente

que costuma comprar carne para consumo no dia a dia; e 0, para outras ocasiões

(churrasco ou ambas as ocasiões).

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118

Os resultados das análises descritivas se encontram no Apêndice 3C.

Neste estudo foram realizadas análises em três modelos. O primeiro modelo,

denominado “TODOS”, foi testado usando todas as respostas válidas coletadas, ou seja, após

serem eliminados os respondentes que não consomem carne (4), os que “nunca” compram carne

(15), e os questionários que continham missing values (14). Ao final foram obtidas 539

respostas válidas. No segundo modelo, denominado “FUNCIONAL”, foram testadas 180

respostas válidas do questionário ICA que possuía como elemento “de manipulação” a frase:

“Neste momento você deverá realizar as escolhas abaixo considerando que irá comprar esta

carne para uso no DIA a DIA”. No terceiro modelo, denominado “HEDÔNICO”, foram testadas

as 359 respostas válidas do questionário ICB que possuía como elemento de manipulação a

frase: “Neste momento você deverá realizar as escolhas abaixo considerando que irá comprar

esta carne para fazer CHURRASCO”.

Ao se testar o segundo e o terceiro modelo, obtiveram-se dados necessários para

comparar a relevância dos atributos socioambientais e o efeito das variáveis comportamentais

e pessoais na intenção de compra de carne bovina em DUAS OCASIÕES distintas.

Os resultados obtidos a partir do ajuste dos modelos Logit, definidos como “TODOS”,

“HEDÔNICO” e “FUNCIONAL” são apresentados na Tabela 1. Para todos os modelos, os

coeficientes que se mostraram significativos, com níveis de significância variando de 1% a

10%, apresentaram sinais correspondentes ao esperado para a análise em questão.

Tabela 1 – Estimativas dos coeficientes dos modelos Logit e respectivos valores dos efeitos marginais

Fonte: Elaborada pelo autor, 2018.

Nota: ***, **, * = nível de significância 1%, 5% e 10%, respectivamente.

CoefficientStd. Error

(coef)

MgE -Efeito

Marginal

Std. Error

(MgE)Coefficient

Std. Error

(coef)

MgE -Efeito

Marginal

Std. Error

(MgE)Coefficient

Std. Error

(coef)

MgE -Efeito

Marginal

Std. Error

(MgE)

Intercepto 0.063 0.419 - - 0.428 0.672 - - 0.415 0.568 - -

PRECO -0.040*** 0.005 -0.004*** 0.000 -0.046*** 0.009 -0.004*** 0.001 -0.037*** 0.006 -0.003*** 0.001

RASTFR 0.653*** 0.127 0.054*** 0.009 0.687*** 0.224 0.052*** 0.015 0.625*** 0.153 0.052*** 0.012

RASTFA 0.407*** 0.118 0.034*** 0.009 0.447** 0.210 0.034** 0.015 0.385**** 0.144 0.033*** 0.011

MARCAC 0.689*** 0.130 0.055*** 0.009 0.621*** 0.231 0.046*** 0.015 0.737*** 0.158 0.059*** 0.011

MARCAS 0.606*** 0.113 0.050*** 0.008 0.497** 0.199 0.038*** 0.014 0.665*** 0.139 0.055*** 0.010

BEAC 1.140*** 0.096 0.119*** 0.011 1.095*** 0.170 0.105*** 0.017 1.161*** 0.117 0.123*** 0.013

FCONSUMO 0.336*** 0.063 0.031*** 0.006 0.517*** 0.112 0.043*** 0.009 0.249*** 0.076 0.023*** 0.007

FCOMPRA 0.209** 0.087 0.019** 0.008 0.423*** 0.149 0.035*** 0.013 - - - -

ULTIMA 0.274*** 0.095 0.025*** 0.009 - - - - 0.293** 0.122 0.027** 0.011

BOUTIQ -0.271** 0.132 -0.027* 0.014 - - - - - - - -

OCASIAOD 0.181* 0.101 0.016* 0.009 - - - - 0.308** 0.139 0.027** 0.011

OCASIAOC - - - - -0.457* 0.244 -0.050* 0.031

IDADE -0.011** 0.004 -0.001** 0.000 - - - - -0.018*** 0.005 -0.002*** 0.000

GENERO -0.401** 0.165 -0.034** 0.014 0.251** 0.114 0.023** 0.011

INSTRUCAO -0.151* 0.091 -0.013* 0.008 0.117** 0.056 0.011** 0.005

ESTCIVIL 0.404** 0.177 0.036** 0.017 - - - -

N 539 180 359

LOGIT MODELO “TODOS” LOGIT MODELO USO “FUNCIONAL” LOGIT MODEL USO “HEDÔNICO”

VARIÁVEIS

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119

4.2 Efeitos marginais

Efeito Marginal (MgE) – “TODOS”

Ymi = b + ∝ PRECO + 1 RASTFR + RASTFA + MARCAC + MARCAS +

BEAC + FCONSUMO + FCOMPRA + ULTIMA + BOUTIQ + OCASIAOD

+ IDADE + 𝜀𝑖

Para este modelo, observou-se que 11,9% correspondem ao aumento da probabilidade

de o indivíduo realizar a escolha caso o produto apresente o Bem-Estar Animal Certificado

(BEAC), em relação a um produto sem a certificação de Bem-Estar Animal. Estes resultados

são similares aos encontrados na etapa qualitativa do estudo. No grupo focal, observou-se que

a ocasião de compra também influencia a definição de atributos importantes no momento da

compra e a WTP por um produto de maior qualidade e mais seguro. O consumidor do dia a dia

tem preocupações menores quando comparado ao consumidor que busca um produto para uma

ocasião especial (ex. jantar com amigos ou um churrasco).

Nessas mesmas condições, observou-se que, na presença da Marca Conhecida

(MARCAC), o indivíduo teria a probabilidade de escolha aumentada de 5,5%, enquanto teria

5% para o da Marca Sustentável (MARCAS). Já diante da presença da Rastreabilidade (RAST),

verificou-se que a probabilidade de o sujeito efetuar a escolha aumenta em 5,4% para

rastreabilidade até o frigorífico (RASTFR); e 3,4%, para rastreabilidade até a fazenda

(RASTFA). O Preço, assim como esperado, tem efeito negativo e reduz a probabilidade de

escolha em somente 0,4%.

Com relação às variáveis comportamentais e pessoais, constatou-se que o indivíduo com

elevada frequência de consumo teria uma probabilidade de escolha aumentada em 3,1%.

Efeito Marginal (MgE) – FUNCIONAL

Ymi = b + ∝ PRECO + 1 RASTFR + RASTFA + MARCAC + MARCAS +

BEAC + FCONSUMO + FCOMPRA + GENERO + INSTRUCAO +

ESTCIVIL + 𝜀𝑖

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120

Para o segundo modelo, observou-se que 10,5% correspondem ao aumento da

probabilidade de o indivíduo realizar a escolha caso o produto apresente o Bem-Estar Animal

Certificado (BEAC), em relação a um produto sem a certificação do Bem-Estar Animal.

Nessas mesmas condições, observou-se que, na presença da Marca Conhecida

(MARCAC), o indivíduo teria a probabilidade de escolha aumentada de 4,6%; enquanto teria

3,8%, para o da Marca Sustentável (MARCAS). Já diante da presença da Rastreabilidade

(RAST), identificou-se que a probabilidade de o participante efetuar a escolha aumenta em

5,2%, para rastreabilidade até o frigorífico (RASTFR); e 3,4%, para rastreabilidade até a

fazenda (RASTFA). O Preço, aqui também, assim como esperado, tem efeito negativo e reduz

a probabilidade de escolha em somente 0,4%.

Com relação às variáveis comportamentais e pessoais, observou-se ainda que o

indivíduo com elevada frequência de consumo teria uma probabilidade de escolha aumentada

em 4,3%; e aquele com alta frequência de compra, em 3,5%. O gênero feminino (coeficiente

negativo) apresenta uma probabilidade de escolha aumentada em 3,4%, quando comparada com

o masculino. Os respondentes com menor grau de instrução possuem probabilidade aumentada

em 1,3%, quando comparados aos de elevado grau de formação.

Efeito Marginal (MgE) – HEDÔNICO

Ymi = b + ∝ PRECO + 1 RASTFR + RASTFA + MARCAC + MARCAS +

BEAC + FCONSUMO + ULTIMA + OCASIAOD + OCASIAOC +

GENERO + IDADE + INSTRUCAO + 𝜀𝑖

Para o terceiro modelo, observou-se que 12,3% correspondem ao aumento da

probabilidade de o indivíduo realizar a escolha caso o produto apresente o Bem-Estar Animal

Certificado (BEAC), em relação a um produto sem a presença de Bem-Estar Animal. Nessas

mesmas condições, na presença da Marca Conhecida (MARCAC), o participante teria a

probabilidade de escolha aumentada de 5,9%; e de 5,5%, para o da Marca Sustentável

(MARCAS). Quando aparece a Rastreabilidade (RAST), verificou-se que a probabilidade de o

indivíduo efetuar a escolha aumenta em 5,2%, para rastreabilidade até o frigorífico (RASTFR);

e 3,3%, para rastreabilidade até a fazenda (RASTFA). O Preço, assim como esperado, tem

efeito negativo e reduz a probabilidade de escolha em somente 0,3%.

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121

O indivíduo que faz compra FUNCIONAL (em uma situação comportamental, não

manipulada) tem um aumento de 2,7% da probabilidade de escolha de carne com os citados

atributos enquanto a pessoa que faz compra exclusivamente HEDÔNICA tem probabilidade de

escolha diminuída em 5%.

Observou-se ainda que o participante com elevada frequência de consumo teria uma

probabilidade de escolha aumentada em 2,3%, sendo este também influenciado pela última

compra mais recente em 2,7%. O gênero masculino apresenta uma probabilidade de escolha

aumentada em 2,3%, quando comparado com o feminino. Os respondentes com maior grau de

instrução possuem probabilidade aumentada em 1,1% quando comparado com indivíduos de

formação inferior.

4.3 Comparação entre os modelos FUNCIONAL e HEDÔNICO, utilizando a ocasião

manipulada

A comparação dos resultados entre uma situação de consumo FUNCIONAL e uma de

consumo HEDÔNICO indica uma maior preocupação (mais 1,8%) com BEA para respondentes

que forem comprar a carne para churrasco, quando comparados aos que a utilizam para o dia a

dia. A maior frequência de consumo (FCONSUMO) influencia a escolha do produto com

atributos socioambientais (ASA) (mais 2%) na ocasião funcional em comparação com o

consumo hedônico da carne. A marca sustentável tem um adicional de 1,7% na importância dos

ASA para o uso da carne na ocasião hedônica quando comparada ao uso exclusivo para

consumo funcional. Enquanto que para a marca conhecida este adicional cai para 1,3%. Já a

rastreabilidade demonstra ter uma influência semelhante em ambos os usos, 5,2% de aumento

para rastreabilidade até o frigorífico e 3,3% até a fazenda.

O gênero mostra influência distinta nos dois tipos de ocasião. As mulheres demonstram

ter uma probabilidade de aumento da compra deste tipo de produto em 3,4% na compra

funcional; enquanto os homens, em 2,3%, na probabilidade de compra do produto para consumo

hedônico.

É importante salientar que a variável EMISS, redução de emissões de GEE não

apresentou resultados significativos, sendo, por isso, retirada dos três modelos.

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122

4.4 Resultados do cálculo da WTP

Para o modelo HEDÔNICO, consideraram-se a análise, as variáveis base, tais como

gênero feminino e ausência de marca, rastreabilidade e certificação de Bem-Estar Animal

(BEA). Nessa combinação, a “WTP base” equivale a R$ 11,35. Quando o consumidor é um

homem, ele estaria disposto a pagar R$ 6,86 a mais pelo mesmo produto base13 indicar em

relação às mulheres.

Tendo como base o gênero feminino (que sempre será R$ 6,86 a menos que o

masculino), o produto com Rastreabilidade até o Frigorífico (RASTFR) tem WTP de R$ 17,07

superior ao produto base. Neste mesmo raciocínio, o produto com Rastreabilidade até a Fazenda

(RASTFA) tem WTP de R$ 10,53 superior ao produto base; o produto Marca conhecida

(MARCAC), de R$ 20,15; o produto Marca Sustentável (MARCAS), de R$ 18,18; e o produto

com certificação de Bem-estar Animal possui WTP de R$ 31,72 superior ao produto base.

Ao serem incluídas algumas variáveis comportamentais e pessoais nesta análise,

observou-se que um indivíduo com consumo de carne diário (heavy user) estaria disposto a

pagar R$ 20,42 a mais do que pelo produto base, e um consumidor com pós-graduação pagaria

R$ 15,98 a mais.

Para o modelo HEDÔNICO, um produto que possua rastreabilidade até o frigorífico,

tenha uma marca conhecida e certificação de bem-estar animal tem uma WTP de R$ 80,29, ou

seja, R$ 68,95 superior ao produto base (R$ 11,35). No caso de o consumidor ser homem, a

WTP deste produto seria R$ 87,16, isto é, R$ 75,81 maior do que a WTP do produto base.

Da mesma forma para o modelo FUNCIONAL, levaram-se em conta, na análise, as

variáveis base, tais como gênero feminino e ausência de marca, rastreabilidade e certificação

de Bem-Estar Animal (BEA). Nesta combinação, a “WTP base” equivale a R$ 9,33. Quando o

indivíduo é um homem, ele estaria disposto a pagar R$ 8,75 a menos pelo mesmo produto base

em relação às mulheres.

Tendo como base o gênero feminino (que sempre será R$ 8,75 a mais que o masculino),

o produto com Rastreabilidade até o Frigorífico (RASTFR) tem WTP de R$ 14,97 superior ao

produto base. Assim, o produto com Rastreabilidade até a Fazenda (RASTFA) tem WTP de R$

9,74 superior ao produto base; o produto Marca conhecida (MARCAC), de R$ 13,53; o produto

13 WTP do produto base = feminino, ausência de rastreabilidade, de Marca e de certificação BEA, conforme nota

da Tabela 2).

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Marca Sustentável (MARCAS), de R$ 10,83; e o produto com certificação de Bem-estar animal

possui WTP de R$ 23,87 superior ao produto base.

Quando se incluem algumas variáveis comportamentais e pessoais na análise, é possível

verificar que uma pessoa que consome carne diariamente (heavy user) estaria disposta a pagar

R$ 33,84 a mais do que pelo produto base, e um consumidor com nível primário pagaria R$

3,20 a menos pelo produto base.

Para o modelo FUNCIONAL, um produto que possua rastreabilidade até o frigorífico,

tenha uma marca conhecida e certificação de bem-estar animal tem uma WTP de R$ 61,70, ou

seja, R$ 52,37 superior ao produto base (R$ 9,33). No caso de consumidor ser do gênero

masculino a WTP deste produto seria R$ 52,95, portanto, R$ 43,62 superior ao produto base.

A Tabela 2 apresenta dados comparativos da WTP, considerando as duas ocasiões

“manipuladas”, em que o respondente indicou sua escolha considerando uma compra de carne

para uso do DIA A DIA (funcional) ou para usar em um CHURRASCO (uso hedônico).

Tabela 2 – WTP adicional comparada com a WTP base * (R$)

Atributo Ocasião manipulada

FUNCIONAL HEDÔNICO

Bem-Estar Animal Certificado (BEAC) 23,87 31,72

Rastreabilidade até Frigorífico (RASTFR) 14,97 17,07

Rastreabilidade até Fazenda (RASTFA) 9,74 10,53

Marca Conhecida (MARCAC) 13,53 20,15

Marca Sustentável (MARCAS) 10,83 18,18

Gênero masculino -8,75 6,86

Consumo 1 a 3 vezes por semana (1) 11,28 6,81

Consumo todos os dias, heavy user (3) 33,84 20,42

Grau Instrução Primário (1) 12,02 3,20

Grau Instrução Pós-graduação (5) -16,50 15,98

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

Nota: * WTP Base = feminino, ausência de rastreabilidade, de Marca e de certificação BEA.

O estudo de Caputo et al. (2013) apontou que as mulheres costumam ter maior WTP.

Os resultados indicam que o gênero feminino apresenta uma disposição a pagar maior para o

uso funcional; o masculino, para o uso recreativo/hedônico. A frequência de consumo leva a

uma disposição a pagar maior em ambas as ocasiões, tendo o heavy user um valor maior de

WTP, conforme relatado por Diaz et al. (2010) e Bartels e van den Berg (2011). O grau de

instrução influencia o consumidor de forma distinta nas duas ocasiões. Quanto maior o grau de

instrução maior a WTP na compra para uso hedônico; porém, a relação é inversa no caso do

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consumo funcional. Ou seja, os indivíduos mais instruídos valorizam os atributos

socioambientais na compra da carne para uso recreativo e não valorizam esses atributos no uso

da carne para consumo no dia a dia.

Os respondentes tiveram maior disposição a pagar para carne que possui marca

Conhecida e Sustentável (um premium de R$ 2,70, no consumo FUNCIONAL; e de R$ 1,97,

no HEDÔNICO). Entretanto, diferente do esperado, a marca sustentável apresentou valores

menores do que a conhecida. Isto indica que o consumidor deve ter confiança na marca que

conhece em virtude de atributos intrínsecos e segurança, ao invés de atributos sustentáveis.

A carne rastreada também apresenta uma WTP positiva, quando comparada à carne sem

rastreabilidade. A valorização da rastreabilidade até o frigorífico foi maior do que a

rastreabilidade “from farm to fork” (um premium de R$ 5,23, na ocasião FUNCIONAL; e de

R$ 6,55 para HEDÔNICO), o que não era esperado. Neste caso, o valor dado à segurança

alimentar, tangibilizada no manuseio nos frigoríficos, influencia a disposição a pagar deste

atributo.

Com base nos achados, podem-se resumir algumas conclusões relevantes deste estudo

e sua relação à literatura analisada.

A disposição a pagar (WTP) pela certificação do bem-estar animal é maior do que para

a carne sem certificação. Estes resultados são consistentes com achados de Caracciolo et al.

(2010), os quais mostram que o BEA é reconhecido como uma das características de

credibilidade mais importantes para os consumidores. Este tema está-se tornando um dos

assuntos mais relevantes na hierarquia das questões sociais (NAPOLITANO et al., 2010;

ZANOLLI et al., 2012) e também foi validado em outros estudos brasileiros (CHINI, 2015;

SOUZA et al., 2013). Resultados dos dois grupos focais indicam a relevância deste atributo no

momento de escolha da carne. O BEA parece se encontrar em estado de “dormência” na mente

do consumidor, devendo ser e “trazido à tona” a fim de que passe a ser um atributo relevante

no momento de compra da carne bovina.

A WTP para uma carne que contribui para redução de emissões de GEE não foi

significativamente maior do que a de uma carne que não contribui para tal. Estes achados

contrapõem estudos realizados em outros países que indicaram uma propensão maior do

consumidor em pagar por produtos “raised carbon friendly” ou com baixa pegada de carbono

(LI et al.,2016; MAGISTRIS; GRACIA, 2016; SAUNDERS et al., 2013). Echeverría et al.

(2012) demonstram que, mesmo consumidores de países emergentes, no caso chilenos, são

bastante sensíveis à questão do aquecimento global e embora não estejam familiarizados com

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o conceito de “Pegada de Carbono” eles querem receber mais informação sobre esse tema. O

resultado obtido no atual estudo está relativamente consistente com o de Van Loo et al. (2015),

o qual demonstrou baixa WTP de consumidores americanos para produtos (chocolate) com selo

de certificação de Pegada de Carbono, podendo ser atribuído a isso a falta de familiaridade com

a certificação e a confusão com seu significado.

O atributo de sustentabilidade ligado diretamente ao animal (bem-estar animal) e ao

processo de produção (rastreabilidade) parece ser mais facilmente compreendido pelo

consumidor, enquanto atributos relacionados ao meio ambiente (emissões de GEE) são

dificilmente percebidos/compreendidos pelo consumidor, o que de certa forma pode explicar a

não significância dos resultados do atributo redução de emissões de GEE. Informações mais

claras e elucidativas sobre as emissões seriam, portanto, necessárias. Uma associação dos

efeitos das emissões de GEE com o aquecimento global pode facilitar o entendimento deste

atributo, o que tornaria possível sua valorização por parte do consumidor.

A disposição a pagar para uma carne rastreável é maior do que para uma sem este

atributo. Sendo a rastreabilidade até o frigorífico identificada como mais importante do que a

aquela até a fazenda. Os resultados deste estudo comprovam a necessidade da rastreabilidade

para verificar atributos de crença (LOUREIRO; UMBERGER, 2007), sendo a segurança do

alimento um atributo bastante requisitado entre consumidores (CICIA; COLANTUONI, 2010;

STRANIERE; BANTERLE, 2015; WU et al., 2017). Na pesquisa aqui apresentada, os

respondentes indicaram maior importância para rastreabilidade até o frigorífico ao invés da

rastreabilidade até a fazenda (completa). Isso pode ser decorrente da falta de clareza das

definições; porém, os resultados deixam claro que ambos os tipos de rastreabilidades são

valorizados frente ao produto não rastreável.

Para marca conhecida e para uma marca sustentável, a disposição a pagar é maior

quando comparada a de uma marca desconhecida; sendo a WTP da marca conhecida maior do

que a sustentável. Contrapondo aos achados de Ubilava et al. (2011), este estudo indica que os

atributos de crença (atributos socioambientais) levam o consumidor a uma maior WTP para

produtos com marca sustentável. Observou-se ainda que a marca conhecida teve uma

valorização maior do que a sustentável, o que pode ser explicado pela valorização dos atributos

de qualidade (intrínsecos) que a marca conhecida traz como forma de diminuir a incerteza do

consumidor no momento da compra (GRUNERT, 2004).

A disposição a pagar para carne com atributos socioambientais é maior para

consumidores com maior frequência de consumo (heavy user). Os resultados desta investigação

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126

são similares aos de Diaz et al. (2010), os quais mostram que “consumidores habituais” (heavy

users) estão dispostos a pagar um preço mais alto por alimentos orgânicos, e, no caso da atual

pesquisa, por alimento sustentável. Observa-se ainda que consumidores com maior grau de

instrução indicam ter menor intenção em pagar um valor premium para carne certificada (LI et

al., 2016).

Com relação às características sociodemográficas, o gênero aparece como um fator que

influencia as escolhas. Zanoli et al. (2012) comentam que mulheres tem uma WTP maior que

homens para o atributo bem-estar animal, enquanto Carlsson et al. (2010) comprovaram que

consumidores femininos na Suécia e na China são mais propensos a declarar uma WTP positiva

para redução de emissões de GEE. Os achados desses pesquisadores estão alinhados com os

apresentados pelos consumidores do FUNCIONAL (ocasião manipulada) e com os obtidos no

grupo focal na atual investigação. Vale destacar que os resultados aqui apresentados também

confirmam em parte o achado de Caputo et al. (2013), uma vez que esses autores indicaram que

gênero feminino possui efeito marginal negativo para determinados atributos ambientais,

conforme aqui observado na ocasião manipulada HEDÔNICA.

5 CONCLUSÃO

Neste estudo, objetivou-se, no geral, identificar atributos relacionados à sustentabilidade

socioambiental e sua influência na disposição a pagar por estes atributos. Mais especificamente,

avaliou-se a disposição a pagar com base na valorização de atributos de sustentabilidade da

carne. Além disso, teve-se como base a atitude de compra do consumidor em relação a alguns

produtos hipotéticos em diferentes ocasiões de consumo (funcional ou recreativa/hedônica).

No decorrer deste trabalho, surgiram informações sobre como consumidores avaliam

alguns atributos relacionados a uma carne sustentável. Primeiramente, evidenciou-se a

importância de alguns atributos socioambientais relacionados ao animal, tendo a certificação

de bem-estar animal como influenciador na escolha da carne bovina. Além disso, verificou-se

que a frequência de consumo, o gênero, a escolaridade e a presença de uma marca conhecida

influenciam de forma distinta a escolha da carne numa compra funcional (dia a dia) quando

comparada a uma compra hedônica (churrasco).

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127

Em momentos em que a segurança do alimento aparece como um fator importante na

escolha da carne, a exemplo do ocorrido na operação Carne Fraca14, a rastreabilidade do produto

foi detectada como um atributo significativo na intenção de compra do consumidor. A

existência de um controle de monitoramento do produto “da fazenda à mesa” deve ser bem

indicada na embalagem do produto.

A marca aparece como uma variável relevante no momento de escolha da carne. Quando

se trata de atributos extrínsecos, sobretudo de características socioambientais, a marca serve

para identificar as particularidades do processo produtivo (raça, rastreabilidade, bem-estar

animal, origem, etc.) que devem ser consideradas de preferência pelo consumidor com maior

frequência de consumo, com destaque para aqueles que realizam compras para o uso funcional.

Questões ambientais ligadas à “Pegada de Carbono” e a redução de emissões de Gases

de Efeito Estufa (GEE) devem ser mais esclarecidas e comunicadas ao consumidor brasileiro,

uma vez que este atributo aparece como relevante para consumidores estrangeiros, apesar de se

mostrar não significativo no consumo de carne brasileira. Estudos no exterior evidenciaram

uma percepção distinta dos efeitos das emissões sobre mudanças climáticas entre consumidores

de diferentes países (CARLSSON et al., 2010). Estudos futuros devem avaliar a relação desse

atributo com aquecimento global na tentativa de validar a relevância desse atributo

socioambiental para o consumidor brasileiro.

Uma pesquisa realizada pelo Carrefour15, em 2016, demonstra que existe um grande

desafio a ser enfrentado por parte dos varejistas com relação à conscientização dos

consumidores a respeito da origem de seus produtos de forma a valorizar um produto

sustentável.

Ao se considerarem exclusivamente os atributos e trade-offs sustentáveis, foi possível

neste estudo fornecer contribuições relevantes para a literatura no tema de sustentabilidade em

alimentos no Brasil, no setor de carne bovina. Além disso, este trabalho trouxe elementos

importantes para auxiliar a indústria e o setor varejista na formulação de estratégias de

comunicação e posicionamento de produtos/marcas que possuam atributos socioambientais

como parte dos benefícios ofertados ao consumidor final. O atributo bem-estar animal deve ser

mais divulgado aos consumidores mediante selos ou certificação de garantia. Gestores devem

14 Carne Fraca – operação do Ministério da Agricultura que deflagrou, em 2017, sérios problemas no processo

produtivo da carne brasileira, colocando em cheque a confiabilidade de algumas empresas de proteína animal

no Brasil. 15 Pesquisa apresentada no evento de lançamento da Plataforma Pecuária Sustentável do Carrefour, Cuiabá em

25 de agosto de 2016.

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pensar em selos de certificação garantindo BEA, uma vez que esse atributo se encontra de forma

“latente” na mente do consumidor brasileiro.

A atual pesquisa está alinhada a de Souza et al. (2017, p. 5), pois esses autores afirmam

que

[...] alguns consumidores estão defendendo o aumento do bem-estar animal e dos

padrões de saúde, mesmo que isso resulte em um custo mais alto da carne bovina. A

indústria pode aumentar a confiança do consumidor usando rótulos claros e esquemas

de garantia que são apoiados pelos valores da marca, o que pode garantir um maior

grau de transparência e melhor comunicação de seus produtos. A consideração dos

aspectos de rastreabilidade ao longo de toda a cadeia de fornecimento de carne bovina

é essencial.

Por fim, os consumidores desse mercado emergente estão dispostos a incluir a carne

sustentável em sua cesta de compras, mas as partes interessadas precisam aumentar a

conscientização e desenvolver estratégias de comunicação eficazes.

Uma das limitações deste estudo refere-se ao fato de ter sido realizada uma survey on-

line (Tapresearch), o que pode levar a algum tipo de viés decorrente de distração por parte dos

integrantes da amostra ao responder o questionário para a ocasião manipulada (de consumo

funcional ou hedônico). Por esse motivo, sugere-se a realização de mais trabalhos em que se

façam entrevistas pessoais de maneira a garantir maior distinção das diferentes ocasiões

pesquisadas.

Dado o foco limitado deste estudo, futuras pesquisas devem testar a WTP considerando

outros atributos socioambientais aplicados à proteína animal ou até mesmo a outros alimentos

dentro do contexto de um país emergente. Um estudo utilizando método eye-tracking pode

explorar de forma eficaz a importância que consumidores dão aos atributos sustentáveis e

investigar de que modo a atenção visual dos consumidores com relação a informações de

atributos sustentáveis em alimentos influenciaria a disposição de pagar na escolha da carne

bovina. Utilizando-se experimentos, poderiam ser testadas algumas marcas conhecidas e

marcas “sustentáveis” visando a medir de forma mais clara a intenção de compra do consumidor

de carne com referência a estes produtos. Os mesmos atributos socioambientais pesquisados

neste estudo deveriam ser testados em outros países no intuito de entender diferenças de

comportamento entre consumidores de países emergentes e não emergentes com relação a

atributos sustentáveis na carne bovina.

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135

CONSIDERAÇÕES FINAIS DA TESE

A questão de pesquisa deste estudo se refere a entender o comportamento do

consumidor brasileiro com relação aos atributos socioambientais na carne bovina. Assim,

analisou-se o tema comportamento em relação à sustentabilidade utilizando três métodos

distintos e complementares. Incialmente foi realizado um estudo qualitativo (entrevista em

profundidade e grupo focal) com o intuito de mapear dimensões, atributos e fatores

socioambientais relevantes ao entendimento das percepções, de atitudes e intenção de compra

do consumidor. Em seguida, utilizou-se um modelo de equação estrutural para analisar as

relações entre estes construtos, em especial a preocupação com o processo produtivo (PPP).

Procurou-se responder como a percepção sobre sustentabilidade, o envolvimento com o produto

e a preocupação com o processo produtivo influenciam o consumidor na sua intenção de compra

com relação a um produto “sustentável”. Por fim, testou-se a intenção de compra do consumidor

brasileiro considerando os trade-offs (permutas) de alguns atributos socioambientais no

processo de compra da carne.

A relevância deste trabalho consiste no fato de ter-se investigado o tema de

sustentabilidade na carne bovina brasileira utilizando-se três métodos distintos e

complementares. Esta triangulação forneceu resultados que puderam ser somados aos achados

na literatura, abrindo oportunidades para novos estudos. O uso desta metodologia poderá ser

estendido para análise de outros produtos alimentícios.

A seguir, serão apresentadas as considerações gerais e as contribuições acadêmicas

deste trabalho. Na sequência, serão discutidas as implicações gerenciais dos achados e, por fim,

as limitações e sugestões para futuras investigações.

1 Considerações gerais e contribuição acadêmica

Os resultados encontrados nas entrevistas em profundidade e nas seções com grupos

focais discutidas no Capítulo 1 serviram para mapear questões relacionadas à intenção de

compra sustentável de carne e estabelecer sua rede nomológica para validar a relevância das

variáveis incluídas posteriormente no modelo proposto.

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Ocasião de Consumo

Distintas ocasiões de consumo da carne foram analisadas neste trabalho. Atributos

podem ser avaliados de forma diferente quando a carne adquirida possuir um uso funcional, ou

seja, compra do produto para consumo no dia a dia, quando comparada ao uso

recreativo/hedônico, como no caso da compra da carne para fazer um churrasco. Foram

encontrados poucos estudos se referindo a ocasião da escolha no processo de compra de

alimentos sendo este um gap estudado neste trabalho (KHAN; DHAR; WERTENBROCH,

2004; OKADA, 2005; WAKEFIELDA; INMANB, 2003). A relação entre a ocasião e os

atributos socioambientais foi pouco trabalhada na literatura e se mostrou um fator relevante que

define o comportamento em relação à sustentabilidade em alimentos.

Conforme observado nas pesquisas em profundidade e nos grupos focais, a ocasião da

compra influencia a escolha dos atributos socioambientais considerados na intenção de compra

da carne. No Capítulo 1, os resultados indicam que o tipo de ocasião leva a diferentes

comportamentos com relação ao envolvimento, ao conhecimento e à marca. A ocasião de

compra muda a relação do consumidor com o produto, e esta relação também varia para os

diferentes tipos de varejo. Ainda sobre a ocasião, no Capítulo 3, discutiu-se a WTP para

atributos socioambientais e indicou-se que a frequência de consumo, o gênero e a escolaridade

influenciam de forma distinta a escolha da carne na compra funcional (dia a dia) e na compra

recreativa (churrasco).

A comparação dos resultados de WTP, quando o indivíduo é submetido a uma situação

de compra funcional ou a um consumo hedônico, indica uma maior preocupação com o

bem-estar animal para respondentes que forem comprar a carne para churrasco quando

comparados aos que a utilizam para o dia a dia. A maior frequência de consumo influencia mais

a escolha do produto com atributos socioambientais na ocasião funcional do que na de consumo

hedônico. A marca sustentável possui um efeito marginal maior com relação à importância dos

atributos sustentáveis ao ser considerado o consumo hedônico da carne em comparação ao uso

exclusivo para consumo funcional. Enquanto que para a marca conhecida esta diferença é

ligeiramente menor. Já a rastreabilidade demonstra ter uma influência semelhante em ambas as

ocasiões de consumo, e apresenta um efeito marginal um pouco maior quando é até o frigorífico

do que quando ela é até a fazenda. O gênero demonstra influência distinta nos dois tipos de

ocasião. As mulheres mostram ter uma probabilidade de aumento da compra deste tipo de

produto no consumo funcional; e os homens, no hedônico.

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137

Preocupação com o Processo Produtivo.

Uma lacuna indicada no início deste trabalho foi a inexistência de uma escala específica

para mensurar a dimensão relacionada ao processo produtivo. Diante disso, foi proposta uma

escala para medir itens relacionados ao processo produtivo, tendo o estudo qualitativo discutido

no Capítulo 1 servido de base para sua construção. As validações discriminantes e convergentes

da escala atestam a possibilidade de utilização desses itens na medição do construto

“preocupação com o processo produtivo”. Conforme observado no trabalho de Oliveira e Spers

(2018) e Barcellos (2007), itens relacionados a bem-estar animal, rastreabilidade e

responsabilidade socioambiental são relevantes na determinação da preocupação do

consumidor com o processo de produtivo.

A criação desta escala da Preocupação com Processo Produtivo (PPP) permitiu

aprimorar o modelo apresentado no Capítulo 2, no qual se avalia a influência da dimensão

ambiental na atitude, na intenção de compra e no desejo de pagar pela carne bovina, além de

identificar o grau de envolvimento do consumidor com o produto, a preocupação com o

processo produtivo, com o valor da marca e segurança na atitude do consumidor e seu desejo

de pagar por um produto sustentável. Observou-se que estudos anteriores trataram da relação

de algumas destas variáveis em modelos separados. Nesta tese, essas variáveis fizeram parte de

um único modelo de análise estrutural colocando diferentes construtos de forma ampla e

integrada.

Observa-se ainda que um maior envolvimento com o produto leva o consumidor a ter

preocupações que vão além das qualidades intrínsecas indo ao encontro aos achados de Verbeke

e Vackier (2004). Envolvimento com o produto, preocupação com processo produtivo estão

relacionadas com atitude e intenção de compra da carne sustentável. Entretanto, o valor da

marca (incluindo segurança do alimento) não apresentou relação significativa com a intenção

de compra da carne sustentável.

Atributos socioambientais

Outra contribuição deste estudo foi a investigação da WTP referente a atributos

exclusivamente sustentáveis em um alimento no contexto brasileiro realizado no Capítulo 3.

Investigar a diferença entre o comportamento do consumidor brasileiro comparado ao de

consumidores estrangeiros oriundos de países emergentes com relação a atributos

socioambientais em virtude dos diferentes contextos culturais no consumo da carne propiciou

novos achados empíricos.

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Ao considerar exclusivamente os atributos e trade-offs sustentáveis, este trabalho

forneceu contribuições para a literatura referente à sustentabilidade em alimentos. Os achados

da WTP mostraram resultados opostos evidenciando, por um lado, a certificação de bem-estar

animal com elevada influência na escolha da carne bovina enquanto o atributo “redução do

GEE” não foi significativo nesta escolha. Estes resultados são consistentes com os de

Caracciolo et al (2010) em que indica que o BEA é reconhecido como uma das características

de credibilidade mais importantes para os consumidores. Na hierarquia das questões

socioambientais, o BEA está-se tornando um tema cada vez mais importante (JANßEN;

LANGEN, 2017; NAPOLITANO et al., 2010; ZANOLLI et al., 2012), sendo também validado

em outros estudos brasileiros (CHINI, 2015; SOUZA et al., 2013). Resultados dos dois grupos

focais apresentados no Capítulo 1 indicam a relevância deste atributo no momento de escolha

da carne. O BEA parece se encontrar em estado de “dormência” na mente do consumidor

devendo ser estimulado, comunicado e trazido à tona para que passe a ser um atributo relevante

no momento de compra da carne bovina.

A rastreabilidade aparece com o outro atributo relevante. O desejo de pagar (WTP) por

uma carne rastreável é maior do que o de pagar por uma sem rastreabilidade. Os resultados

deste estudo comprovam a necessidade da rastreabilidade para verificar atributos de crença

(LOUREIRO; UMBERGER, 2007) sendo a segurança do alimento um atributo bastante

requisitado entre consumidores (CICIA; COLANTUONI, 2010; STRANIERE; BANTERLE,

2015; WU et al., 2017). Observou-se que os respondentes indicaram maior importância para

rastreabilidade até o frigorífico ao invés da rastreabilidade até a fazenda (completa) podendo

esta opção ser decorrente da falta de clareza das definições. Entretanto, os resultados deixam

claro que ambos os tipos de rastreabilidades são valorizados frente ao produto não rastreável.

No Capítulo 1, os participantes dos grupos focais indicaram a presença do selo do Serviço de

Inspeção Federal (SIF) como sendo um dos itens observados no momento da compra, o que

confirma a observação de Barcellos (2007) sobre a importância desse selo pelo fato de estar

associado à segurança da carne. Nas entrevistas com especialistas, representantes da indústria

indicaram a rastreabilidade “da fazenda à mesa” como relevante nas operações das empresas

como forma de tangibilizar a segurança do alimento e cumprir com acordos firmados com

ONGs e MPF.

A marca aparece como uma variável relevante no momento de escolha da carne. Os

respondentes indicaram uma maior WTP para carne que possui marca conhecida e sustentável,

o que está de acordo com os achados de Tonsor e Shupp (2009) e Grunert et al. (2004).

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Entretanto, diferente do esperado a marca sustentável apresentou valores menores do que a

conhecida. Isto indica que o consumidor deve ter confiança na marca que conhece em razão de

atributos intrínsecos de segurança, ao invés de atributos sustentáveis. Quando se trata de

atributos extrínsecos, especialmente as características socioambientais, a marca serve para

identificar as particularidades do processo produtivo (raça, rastreabilidade, bem-estar animal,

origem, etc.) que devem ser consideradas pelo consumidor com maior frequência de consumo,

em especial aqueles que realizam compras para o dia a dia. No estudo qualitativo, os

entrevistados indicaram que, além do atributo maciez, estão preocupados em conhecer a origem

do animal (rastreabilidade) e com a segurança do alimento. A marca da carne ajuda o

consumidor a ter maior segurança em adquirir um produto com a qualidade desejada incluindo

um produto mais seguro proveniente de fazendas controladas.

A variável “segurança” foi incluída no construto valor da marca e validada neste

trabalho endossando a relação. A relevância da segurança alimentar para o consumidor de carne

aparece nos trabalhos de Oliveira e Spers (2018) e Hanf e Kuhl (2005), em que os pesquisadores

confirmam a importância dos métodos de produção com formato orientado para garantir a

rastreabilidade, de forma a serem capazes de transmitir aos consumidores os atributos de

confiança relacionados à segurança dos alimentos.

Ao considerar exclusivamente os atributos e trade-offs sustentáveis, este estudo

forneceu contribuições importantes para a literatura que trata do assunto sustentabilidade em

alimentos no Brasil, sobretudo no setor de carne bovina. Exemplificando, a diferença entre o

efeito marginal do atributo bem-estar animal e a redução de GEE é grande16, demonstrando que

este achado deve ser considerado relevante na literatura sobre essa temática.

2 Implicações gerenciais

Este estudo trouxe elementos importantes para auxiliar pecuaristas, a indústria e o setor

varejista na formulação de estratégias de comunicação e posicionamento de produtos/marcas

que possuam atributos socioambientais como parte dos benefícios oferecidos no mercado, além

de oferecer apenas garantia de origem do produto. Os resultados sugerem que as empresas

devem explorar melhor os aspectos das emissões de carbono e de bem-estar animal em suas

estratégias de comunicação. A indústria e o varejo devem pensar em selos de certificação

16 O atributo BEA demonstrou efeito marginal com nível de significância menor 1% enquanto redução GEE não

demonstrou significância a nível menor que 10%.

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garantindo o bem-estar animal, uma vez que este atributo se encontra “esquecido” na mente do

consumidor brasileiro.

Este estudo está alinhado com o de Souza et al. (2017, p. 5), pois os autores afirmam

que:

[...] alguns consumidores estão defendendo o aumento do bem-estar animal e os

padrões de saúde, mesmo que isso resulte em um custo mais alto da carne bovina. A

indústria pode aumentar a confiança do consumidor usando rótulos claros e esquemas

de garantia que são apoiados pelos valores da marca, o que pode garantir um maior

grau de transparência e melhor comunicação de seus produtos.

Algumas iniciativas têm sido realizadas com o objetivo de incentivar pecuaristas a

adotarem boas práticas agropecuárias. Os produtores não se mostram interessados em aderir a

normas de produção e sistema de certificação que vão confirmar boas práticas sem que as

vantagens econômicas estejam claras, ou seja, sem o pagamento diferenciado pela “adicional

socioambiental” que estará certificada. O melhor entendimento dos atributos socioambientais

indicados neste estudo facilita a tangibilização destes benefícios bem como a valorização dos

mesmos pelo consumidor final, o que pode viabilizar uma remuneração premium aos diferentes

elos da cadeia. Com isto os pecuaristas se sentiriam mais estimulados a adotarem as boas

práticas socioambientais e serem remunerados por isso.

O governo deve estar atento ao funcionamento adequado do Serviço de Inspeção Federal

(SIF), uma vez que é bem valorizado pelo consumidor. Os atributos redução de GEE e

bem-estar animal devem servir de argumento do governo brasileiro em negociação com

governos de outros países de forma a facilitar abertura de outros mercados internacionais. A

rastreabilidade até a fazenda também deve ser ponto de atenção dos órgãos públicos, visando

garantir a credibilidade na segurança do produto brasileiro bem como viabilizar a certificação

da carne brasileira com relação aos atributos considerados relevantes, como o bem-estar animal.

Nesse contexto, o papel da sociedade civil é o de estimular a agenda positiva, ao invés

de ações de comando e controle ao longo da cadeia de fornecimento da pecuária sustentável.

Numerosas iniciativas, envolvendo a participação das ONGs, conseguiriam viabilizar

incentivos aos produtores para projetos com boas práticas agropecuárias, incluindo elementos

socioambientais, de forma a facilitar o cumprimento de metas e a obtenção de resultados

robustos em curto espaço de tempo.

Por fim, com base nos resultados obtidos nesta tese, é possível inferir que os

consumidores desse mercado emergente estão dispostos a incluir a carne sustentável em sua

cesta de compras, mas as partes interessadas precisam aumentar a conscientização e estratégias

de comunicação eficazes.

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3 Limitações e sugestões para novos estudos

Uma das limitações desta pesquisa refere-se ao número reduzido de grupos focais

utilizados no estudo qualitativo. Foi composto apenas um grupo para cada ocasião de consumo,

visando a entender a influência da ocasião na escolha dos atributos socioambientais na intenção

de compra da carne. Entretanto, tomou-se o cuidado de realizar um grupo focal que

representasse cada uma das ocasiões estudadas.

Os três artigos aqui apresentados foram direcionados para consumidores com renda

média – alta (acima de R$ 5.000,00 mensais). No segundo e terceiro artigo, utilizou-se uma

pergunta filtro antes do questionário ser respondido de forma a maximizar respostas de

respondentes com renda mais elevada. O fato de não incluir o público de baixa renda se torna

uma limitação para estender os achados para a população brasileira como um todo. Esse

procedimento foi adotado considerando-se que o consumidor com renda acima de R$ 60.000,00

por ano deva fazer parte do público que tenha possibilidade de entender o conceito de atributos

de sustentabilidade da carne bovina.

Outra limitação a ser considerada se refere à utilização de uma survey on-line

(Tapresearch), o que pode levar a algum tipo de viés ou distração por parte dos voluntários ao

responder o questionário para a ocasião manipulada (funcional e hedônica). Esta manipulação

poderia ter sido feita utilizando outros estímulos que remetem a ocasião específica, como, por

exemplo, o uso de imagens; contudo, isto demandaria um tempo maior para resposta o que

dificultaria a execução da pesquisa.

Como sugestão para novas investigações, salienta-se que o uso dos três métodos

distintos foi efetivo, o que possibilitou obter resultados complementares abrindo oportunidade

de trabalho para novos estudos. Essa metodologia poderia ser estendida na análise de outra

proteína animal ou até mesmo outros alimentos dentro do contexto de um país emergente.

Questões ambientais ligadas à “Pegada de Carbono” e à redução de emissões de Gases

de Efeito Estufa (GEE) devem ser mais esclarecidas e comunicadas ao consumidor brasileiro,

uma vez que este atributo aparece como relevante para os estrangeiros, enquanto que demonstra

não ser significativo no consumo de carne brasileira de acordo com resultados apresentados no

Capítulo 3. Em pesquisas futuras, sugere-se testar o atributo de redução de emissões de GEE

de forma mais objetiva e visível, como, por exemplo, usar o termo “carne sem desmatamento”

se referindo ao fato de a carne ser de animais criados a pasto em áreas onde não ocorreu

desmatamento recente.

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Um estudo utilizando método eye-tracking pode explorar de forma eficaz a importância

que consumidores atribuem aos atributos sustentáveis e investigar de que forma a atenção visual

dos consumidores com relação a informações de atributos sustentáveis em alimentos

influenciaria a WTP na escolha da carne.

Outras investigações utilizando experimentos deveriam testar algumas marcas

conhecidas comparadas a marcas “sustentáveis” visando a medir de forma mais clara a intenção

de compra do consumidor de carne com referência a estes produtos.

Os mesmos atributos socioambientais aqui pesquisados deveriam ser testados em outros

países no intuito de entender diferenças de comportamento entre consumidores de países

emergentes e não emergentes com relação a atributos socioambientais na carne bovina.

Atributos socioambientais variam de acordo com o produto a ser estudado. No caso do

hortifruti, por exemplo, o atributo relacionado ao menor uso de agrotóxico deve ser incluído na

investigação dos trade-offs.

Sugere-se ainda que novos estudos devam explorar o perfil do consumidor (renda,

gênero, escolaridade) em diferentes ocasiões e consumo.

Por fim, o modelo proposto no Capítulo 2 deve ser utilizado como referência para novas

pesquisas que tratem do tema socioambiental em outros segmentos da indústria alimentícia no

Brasil. Estudos empíricos devem ser realizados no intuito de comprovar as relações sugeridas

entre dimensões presentes nas proposições apresentadas. A escala com as seis variáveis que

compõe o construto preocupação como o processo produtivo (bem-estar animal,

rastreabilidade, responsabilidade social, responsabilidade ambiental, sanidade nos frigoríficos)

pode ser usada como referência em investigações em que se pretende abordar este tema.

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APÊNDICES

Capítulo 1

APÊNDICE 1A – Roteiro de entrevista com especialistas

Quadro 5 – Roteiro de entrevista com especialistas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Perguntas O que explorar

1 Identificação do entrevistadoFormação; quanto tempo trabalha na empresa, cargo,

tempo neste cargo

2 Tema sustentabilidadeConceito geral; sustentabilidade em alimentos ;

sustentabilidade no setor da carne

3 Na sua Percepção, o que passa pela mente do consumidor quando se fala

de consciência ambiental ? Com relação a alimentos; com relação a carne

4Quando o consumidor compra o produto voce acha que ele leva em

consideração o impacto deste produto no meio ambiente ?

Atitude do consumidor com relação ao consumo

sustentável de alimentos; e da carne.

5Como voce considera o envolvimento do consumidor brasileiro se envolve na

compra ?

Envolvimento do consumidor no processo de compra de

alimentos; e da carne

6Voce acha que o consumidor se preocupa com a forma que o alimento foi

produzido?

Explorar interesse no processo produtivo do agronegocio;

alimento e na carne. Bem como origem destes produtos

7O que o consumidor leva em conta na hora de comprar a carne bovina?

Quais atributos da carne devem influenciar a escolha dos consumidores ?

Explorar atributos de qualidade em alimentos (em seguida

da carne). Abordar segurança alimentar e atributos

intrinsecos

8O consumidor procura uma carne sustentavel ? Ou uma carne que demonstre

ser ambientalmente "friendly" ?

Explorar a intenção de compra, e se consumidor pagaria

mais por este tipo de atributo

9 Envolvimento com a marcaprocurar identificar o envolvimento e a identificação do

consumidor com relação a algumas marcas

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APÊNDICE 1B – Pontos relevantes obtidos nas entrevistas com especialistas

Quadro 6 – Comentários dos entrevistados – Sustentabilidade

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Quadro 7 – Comentários dos entrevistados – Consciência ambiental

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Entrevistado Sustentabilidade

Está diretamente ligado à consciência ambiental

Preocupação com questões ambientais (conservação de floresta) e sociais

Produzir sem "judiar" da natureza

Não desmatar, (mas para a empresa vai alem do ambiental )

Ambientalista/Chef Não o se preocupa se a empresa é sustentavel mas se sua ação está ajudando o mundo e a sociedade

Boutique de carne Não agride o meio ambiente ; alimento verde

Empresa Pesquisa

Mercado Não produzem lixo; pouca embalagem e pouco plástico

Indústria A

Indústria B

Entrevistado Consciência Ambiental

Relacionada a flora e fauna ; como produzir sem matar uma arvore

Preocupação com relação a economia de água

Pecuária "gasta agua" e "desmata para ter pasto"

Descarte de embalagens, logistica reversa

Não provoca desmatamento ; respeita a natureza

Tema Floresta , amazonia; indiretamente aquecimento global, emissão de gases.

Agua é um tema mais recente , situação do momento

Item binário , "tal produto é bom ou ruim para natureza"

Boutique de carne O fato das pessoas se preocuparem com o coletivo ; bem estar coletivo

Empresa Pesquisa

Mercado

Envolve a crença da pessoa. O mundo está sendo destruído ou não; a pessoa tem ou não consciência

ambiental ; pode ou não colocar em prática.

Indústria A

Indústria B

Ambientalista/Chef

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Quadro 8 – Comentários dos entrevistados – Envolvimento com produto

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Quadro 9 – Comentários dos entrevistados – Preocupação com processo produtivo

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Entrevistado Envolvimento com Produto

Leigos querem aprender mais sobre o produto

Lançaram site de academia da carne para facilitar o envolvimento do consumidor com o produto

Processo de gourmetização influenciou maior EP , levando experiência dos restaurantes para casa

Procuram informação no site, funcionalidade da carne, beneficios do produto

Vários programas de TV estimulam maior EP (TV aberta e canais fechados)

Movimento de gourmetização ajuda no processo de EP, ex master chef

Consumidor está se envolvendo mais na compra do produto

Hoje em dia "saber cozinhar dá um status"

Carne sempre está no prato do consumidor , EP é mais natural de ocorrer ; campanha da Friboi ajudou

aumentar o EP

Escolha funcional (diário) : menor EP, escolha feminina;

Escolha recreativa: escolha masculina ; maior EP; influenciado por programa TV, academia da carne;

precisa exibir (status)

Movimento gastronômico tem ajudado aumentar o EP

Diferença de produto para churrasco ou para o dia a dia

Ao visitarem a loja/boutique o EP é maior, procuram a loja para realizar uma boa compra

Tem gente que não se preocuipa com carne; carne não é fundamental no meu dia a dia

Tendencia de tirar a carne da refeição , trocando por outra proteiina

Tem gente que não se preocuipa com carne; carne não é fundamental no meu dia a dia, tá ficando caro

Indústria A

Indústria B

Boutique de carne

Empresa Pesquisa

Mercado

Ambientalista/Chef

Entrevistado Preocupação com o Processo Produtivo

Demanda de informação sobre origem do produto (fazenda, alimentação) e rastreabilidade

No frigorifico : higiene para tangibilizar segurança alimentar ;

Social: não tem trabalho escravo; programa com "chef especiais" bem aceito

Empresa se preocupa em contar estória do animal "do pasto até a mesa"

Origem do animal é importante; garantia por ser SIF (inspeção federal)

O story telling é importante para valorizar a marca

Bem-estar animal ainda não é procurado, apesar de comunicarem no material divulgação.

Grupo menor de consumidores mas é crescente

Não é binário, este nicho de consumidor quer mais informação

Interesse na questão sanitária (food safety), bem-estar animal

Origem/fazenda é importante; "from farm to table" ; rastreabilidade é importante

Ter garantia de que a produção não interfere no meio ambiente; qualidade da agua

Aspectos sociais: cuidado com o funcionário

Bem-estar animal: o animal não ter sofrido no processo de abate

limpeza da fábrica; uniformes dos funcionarios ; higiene

higiene e condição armazenamento no ponto de venda

controel de qualidade

Empresa Pesquisa

Mercado

Indústria A

Indústria B

Boutique de carne

Ambientalista/Chef

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Quadro 10 – Comentários dos entrevistados – Preocupação com qualidade

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quadro 11 – Comentários dos entrevistados – Atitudes com relação ao consumo sustentável

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Entrevistado Preocupação Com a Qualidade

Sabor, maciez, e cheiro (perecível)

Preço é um fator importante

Aparência do produto na embalagem (não ter muito sangue); exposição no PDV é fator relevante

Pequena parte da população tem Consciencia ambiental, discutem este tema nos blogs, FB da empresa

Existe preocupação com segurança do alimento (sabem que existe carne clandestina; mas

custo/beneficio ($) é o que define a compra

Sustentabilidade é o foco da empresa como um todo , não falam em atributos especificos

Ordem: Preço; maciez; sabor; tipo preparo; Raça

Ciente (chef, varejista, food service) se preocupam mais com os atributos e interferem na decisão;

valorizam mais os atributos socioambientais do que o consumidor final

Food service está mais preocupado com raça do que com sustentabilidade (mas está mais do que o

consumidor com relação a sustentabilidade)

Atributo ambiental serve para divulgar a estrategia institucional da empresa mas ainda não é procurado

pelo consumidor

Maciez é o mais importante para o consumidor geral

Gordura animal é relevante, passa a ser o vilão na tendencia de saude e fitness

Food safety também interfere; atributos binários (faz bem ou mal a saude)

Gordura (qualidade da gordura , digestibilidade) ; ser saudável

Sabor (masc) ; apresentação (bem embalada, sem sangue aparente); cheiro; coloração

Aspectos ambientais são importantes

Empresa Pesquisa

MercadoMenos gordura; maciez e aparência

Boutique de carne

Indústria A

Ambientalista/Chef

Indústria B

Entrevistado Atitude com relação ao Consumo Sustentável

Indústria Aexiste um conflito entre a atitude com relação a Consciencia ambiental e a real intençao de compra de

um produto "sustentavel", estudos demonstram esta divergencia

"vou fazer a minha parte" para ajudar a natureza, para mundo melhor

consumidor fala que vai comprar um produto "melhor" . Porém a intenção de compra não comprova.

Ambientalista/Chef filantropia , ausencia de culpa , fazendo boa ação

Boutique de carne a conciencia ambiental tem crescido nos ultimos anos

Empresa Pesquisa

MercadoEu pago mais por uma carne sustentável

Indústria B

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Quadro 12 – Comentários dos entrevistados – Intenção compra carne sustentável

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Quadro 13 – Comentários dos entrevistados – Marca

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Entrevistado Intenção de Compra de Carne Bovina Sustentável

Indústria Aexiste preocupação com segurança alimentar (sabem que existe carne clandestina; mas custo/beneficio

($) é o que define

"experimentar um produto melhor" faz ele pagar mais

consumidor esta mais indulgente "pra mim tem que ser melhor"

depende do evento :para poucos/recreativo ele paga mais ; dia a dia paga menos

trade off: esta perdendo algo ao comprar um produto sustentavel (qualidade)

paga mais pela marca da carne; uma melhor embalagem tambem agrega valor

sustentavel tem que estar conectado a outra caracteristica "é um angus e alem disot é sustentavel", então

eu pago mais

Boutique de carne pagam mais por um produto com melhor sabor

Empresa Pesquisa

MercadoEu pago mais por uma carne sustentável

Indústria B

Ambientalista/Chef

Entrevistado MARCA

"Marca" subiu de 10º para 5º/6º no ranking the prioridade na arvore de decisão de compra

Confiança e Origem são os atributos que consideram importante para marca; embaixador Tony Ramos

sustentabilidade é o foco da empresa; não falam em atributos socioambientais especificos nas

embalagens; faz parte da marca global

Ajuda a indicar segurança do alimento

Consumidor é mais fiel a marca de produto (ex. tipo de raça) do que marca da indústria (Friboi,

Marfrig,..)

Possuem 4 marcas ligadas a um produto sustentável porém isso não foi demanda do consumidor (teoria

institucional)

Marcas de produto: influencia quem se preocupa com o Processo Produtivo (maior EP)

Marca friboi : é dicotomico ; origem e questão sanitaria

Sugeriu falar com outras empresas/marcas: VPJ, Bonsamara, Açougue Florida

Fideliza a marca na hora que prova a carne

Alguns só querem sabor e não pensam em sustentabilidade

Certificação; alguns pensam "estou colaborando de alguma forma ao comprar um produto sustentável",

bem coletivo

Definição abstrata: os fabricantes "grudam" atributos e significados nas marcas.

Foi criada para tangibilizar qualidade

Boutique de carne

Empresa Pesquisa

Mercado

Indústria A

Ambientalista/Chef

Indústria B

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APÊNDICE 1C – Questionário para participantes do grupo focal

Questionário para participantes do grupo focal

1. Nome: ___________________________ email (opcional) __________________

2. Ocupação __________________________

3. Qual sua Idade? _____ anos

4. Qual sua Formação: ___ Primário ___ Ensino Médio ___ Técnico ___ Superior ___ Pós-graduação

5. Estado civil: ___ Solteiro ___ Casado

6. Quantas vezes por semana você come carne bovina? ___ todo dia ___ pelo menos 4 vezes por semana ___ 1 a 3 vezes por semana ___ não como carne

7. Em geral você é o responsável pela compra da carne? ___ sim ___ às vezes ___ raramente ___ nunca

8. Em que lugar costuma comprar carne? (indique de 1 a 3, sendo 1 o mais frequente) ___ supermercado ___ açougue ___ boutique de carne ___ outro: ________________

9. Indique a renda mensal de sua família.

___ até R$ 1.000

___ de R$ 1001 até R$ 5000

___ de R$ 5001 a R$ 10.000

___ mais de R$ 10.000

10. O que você entende por uma carne sustentável?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Capítulo 2

APÊNDICE 2A – Questionário do artigo 2

Sou aluno de doutorado da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e estou

realizando uma pesquisa sobre consumo de carne sustentável. Para tanto gostaria que me

ajudasse respondendo essa pesquisa no link abaixo. Isto não deve demorar mais do que 10

minutos.

Gostaria de mencionar ainda o caráter estritamente acadêmico desta pesquisa, garantindo sigilo

das suas respostas.

Nas questões em que aparece a palavra “carne”, estamos nos referindo a “carne BOVINA”.

Obrigado,

Pedro C. Burnier

[email protected]

INSTRUÇÃO PARA O PREENCHIMENTO

Antes de começar, responda as seguintes perguntas:

1. Quantas vezes por semana você come carne bovina?

___ todo dia

___ pelo menos 4 vezes por semana

___ 1 a 3 vezes por semana

___ não como carne. Agradeço a atenção, mas este questionário é exclusivo para

consumidores de carne bovina.

2. Você comprou carne bovina?

____ esta semana

____ este mês

____ este ano

____ não comprei este ano

3.Em geral você é o responsável pela compra da carne?

___ sempre

___ às vezes

___ raramente

___ nunca

4. Em que lugar costuma comprar carne? (marque SOMENTE de 1 a 3 em ordem de

importância)

___ supermercado

___ açougue

___ boutique de carne

___ outro: _______________

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5. Você costuma comprar carne:

___ para consumo no dia a dia

___ para ocasião especial (ex. churrasco)

___ ambos

Parte II – GRAU DE CONCORDÂNCIA

As perguntas a seguir refletem seu grau de concordância. Se você fortemente discorda com a

afirmação indique um número próximo a 1. Se você fortemente concorda com a afirmação

indique um número próximo a 7. Se você não concorda e nem discorda, indique um número

intermediário. Isso não é um teste sobre o que você sabe, mas um questionário para avaliar

sua percepção sobre as questões propostas. Desta maneira não há resposta correta.

Discord

o

Totalme

nte

Concor

do

Totalm

ente

1 2 3 4 5 6 7

Carne é importante para mim

Carne é totalmente necessaria para mim

Eu gosto de uma refeiçao COM carne mais do que uma refeição SEM carne

Eu gosto muito de carne

Voce pode dizer muito sobre a pessoa baseado na sua escolha da carne

A minha escolha de carne fala aos outros sobre mim

Minha escolha de carne passa uma imagem de mim aos outro

Uma escolha ruim de carne seria um transtorno

Eu tenho pouco a perder por escolher mal a carne bovina ( rev )

Eu fico chateado quando faço uma escolha de carne inadequada

Ao comprar canre bovina estou certo da minha escolha

Eu me sinto um pouco perdido(a) na hora de escolher a carne

Eu nunca sei se estou realizando uma boa escolha de carne

Eu me preocupo se os animais foram criados da forma mais natural e livre possível

Eu me preocupo se os animais receberam um tratamento humanitário e ético durante

toda a sua vida

Eu me preocupo se os animais receberam alimentação e tratamento sanitário adequado

Eu me preocupo se o abate foi realizado de forma indolor e com respeito às normas do

Bem-estar animal

Eu só escolho uma carne quando existe a possibilidade de identificar a origem

Eu procuro escolher alimentos que possuam garantias sobre sua procedência

Eu procuro escolher alimentos que possam ser rastreados até a sua origem em caso

de eventuais problemas.

Um alimento rastreado é um alimento mais seguro

Eu me preocupo se produtores e frigorificos seguem normas trabalhistas(registro

trabalhadores, segurança no trabalho)

Eu me preocupo se produtores e frigorificos usam mão de obra infantil ou trabalho

forçado

Eu me preocupo se produtores trabalham dentro da legalidade

Eu me preocupo se frigorificos trabalham dentro da legalidade

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Nesta seção queremos saber sobre suas preferências de marca no consumo de carne bovina, e

conhecer um pouco mais sobre as suas percepções envolvidas nos julgamentos de valor que

você faz destas marcas.

6. Qual destas marcas de carne bovina você conhece?

□ Friboi

□ Marfrig

□ Swift

□ Maturata

□ Outra ________________________

Eu me preocupo se produtores e frigorificos se preocupam com beneficios aos

funcionarios e familias (plano saude, educação infantil)

Eu me preocupo se produtores e frigorificos promovem o desenvolvimetno das

comunidades

Eu me preocupo se produtores valoriozam a contratação e treinamento de mão de

obra local

Eu me preocupo se frigorificos valoriozam a contratação e treinamento de mão de

obra local

Eu me preocupo que o pecuarista adote praticas que reduzam emissão dos gases de

efeito estufa

Eu me preocupo que a carne seja proveniente de fazendas que não tiveram

desmatamento

Eu me preocupo que a carne seja proveniente de fazendas que conservam água e

evitam seu desperdício

Eu me preocupo que a carne seja proveniente de frigorificos que conservam a água e

evitam seu desperdício

Eu me preocupo se a carne vem de frigorifico devidamente inspecionado pelas

autoridades sanitárias

Eu me preocupo se a carne vem de frigorífico que possui boas práticas de higiene em

relação ao ambiente de abate e seus equipamentos

Eu me preocupo se a carne vem de frigorifico que tenha cuidado com a higiene dos

funcionários (uniformes) e dos instrumentos utilizados

Eu me preocupo que a carne seja proveniente de frigoríficos que possuem controle de

resíduos e efluentes

Eu não compro produtos fabricados ou vendidos por empresas que prejudicam o meio

ambiente

Eu sempre faço um esforço para reduzir o uso de produtos que utilizam recursos

naturais escassos

Quando possível, eu sempre escolho produtos que causam menos poluição

Eu não compro um produto quando eu conheço os possíveis danos que ele pode

causar ao meio ambiente

Quando eu compro produtos e alimentos a preocupação com meio-ambiente interfere

na minha decisão de compra

Eu prefiro alimentos que são produzidos respeitando o meio ambiente

Eu compro produtos organicos porque são mais saudaveis;

Estou disposto a pagar um pouco mais por produtos e alimentos que não prejudicam o

meio ambiente

Eu compraria uma carne sustentável se ela estivesse disponível onde eu faço minhas

compras

Eu trocaria a carne que consumo hoje por outra em função de ser sustentável

Estaria disposto a pagar mais por uma carne que fosse sustentável

Existe grande probabilidade de eu comprar uma carne sustentável no futuro

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7. Qual destas marcas você prefere e/ou compraria? (escolha apenas uma opção)

□ Friboi

□ Marfrig

□ Swift

□ Maturata

□ Outra ________________________

8. Você usa esta marca de carne:

__ para consumo no dia a dia

__ para ocasião especial (ex. churrasco)

__ ambos

Por favor, responda as perguntas abaixo tendo a sua marca de preferência em mente. Ela é

descrita como marca “X” abaixo

INFORMAÇÕES GERAIS

9. Gênero: ___ Masculino ___ Feminino

10. Qual sua idade? _____ anos

11. Qual sua Formação: ___ Primário ___ Ensino Médio

A marca X possui alta qualidade

A marca X é confiável

A marca X possui padrão de qualidade constante

Posso reconhecer marca X entre outras marcas concorrentes.

Quando penso em carne, algumas características da marca X vêm à minha mente

rapidamente

Eu posso me lembrar rapidamente do símbolo ou do logotipo da marca X.

Considero-me fiel à marca X.

A marca X é a minha primeira escolha.

Eu não vou comprar outras marcas se a marca X está disponível na loja.

Mesmo que outra marca tenha as mesmas características da marca X, eu preferiria comprar

a marca X.

Se houver outra marca tão boa como a marca X, eu prefiro comprar a marca X.

Se outra marca não for diferente de X , me parece uma boa opção comprar marca X

Se a carne bovina possui marca, então é uma carne segura

Não existem riscos envolvidos no consumo de carne bovina com marca

É mais seguro consumir carne bovina com marca

Presto atenção às questões de segurança do alimento na escolha da marca

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___ Técnico ___ Superior ___ Pós-graduação

12. Estado civil: ___ Solteiro ___ Casado

13. Cidade onde mora: ___________ UF: ____

14. Indique a renda mensal domiciliar

___ até R$ 1.000

___ de R$ 1.001 até R$ 5.000

___ de R$ 5.001 a R$ 10.000

___ mais de R$ 10.000

Muito obrigado pela sua colaboração!

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APÊNDICE 2B – Estimativa do tamanho da amostra – software G*Power

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APÊNDICE 2C – Escalas construtos de primeira e segunda ordem

Quadro 1 – Escala dos construtos de primeira e segunda ordem

CODVAR 2a

OrdemVAR 1a Ordem ITENS

PPP01 Eu me preocupo se os animais foram criados da forma mais natural e livre possível

PPP02Eu me preocupo se os animais receberam um tratamento humanitário e ético durante toda a

sua vida

PPP03 Eu me preocupo se os animais receberam alimentação e tratamento sanitário adequado

PPP04 Eu me preocupo se o abate foi realizado de forma indolor e com respeito às normas do

Bem-estar animal

PPP05 Eu só escolho uma carne quando existe a possibilidade de identificar a origem

PPP06 Eu procuro escolher alimentos que possuam garantias sobre sua procedência

PPP07Eu procuro escolher alimentos que possam ser rastreados até a sua origem em caso de

eventuais problemas.

PPP08 Um alimento rastreado é um alimento mais seguro

PPP09Eu me preocupo se produtores e frigorificos seguem normas trabalhistas(registro

trabalhadores, segurança no trabalho)

PPP10 Eu me preocupo se produtores e frigorificos usam mão de obra infantil ou trabalho forçado

PPP11 Eu me preocupo se produtores trabalham dentro da legalidade

PPP12 Eu me preocupo se frigorificos trabalham dentro da legalidade

PPP13Eu me preocupo se produtores e frigorificos se preocupam com beneficios aos funcionarios

e familias (plano saude, educação infantil)

PPP14 Eu me preocupo se produtores e frigorificos promovem o desenvolvimetno das

comunidades PPP15

Eu me preocupo se produtores valoriozam a contratação e treinamento de mão de obra

local

PPP16Eu me preocupo se frigorificos valoriozam a contratação e treinamento de mão de obra

local

PPP17Eu me preocupo que o pecuarista adote praticas que reduzam emissão dos gases de efeito

estufa

PPP18 Eu me preocupo que a carne seja proveniente de fazendas que não tiveram desmatamento

PPP19Eu me preocupo que a carne seja proveniente de fazendas que conservam água e evitam

seu desperdício

PPP20Eu me preocupo que a carne seja proveniente de frigorificos que conservam a água e

evitam seu desperdício

PPP21Eu me preocupo se a carne vem de frigorifico devidamente inspecionado pelas autoridades

sanitárias

PPP22 Eu me preocupo se a carne vem de frigorífico que possui boas práticas de higiene em

relação ao ambiente de abate e em seus equipamentos

PPP23 Eu me preocupo se a carne vem de frigorífico que tenha cuidado com a higiene dos

funcionários (uniformes) e dos instrumentos utilizados

PPP24 Eu me preocupo que a carne seja proveniente de frigoríficos que possuem controle de

resíduos e efluentes

EP01 Carne é importante para mim

EP02 Carne é totalmente necessaria para mim

EP03 Eu gosto de uma refeiçao COM carne mais do que uma refeição SEM carne

EP04 Eu gosto muito de carne

EP05 Voce pode dizer muito sobre a pessoa baseado na sua escolha da carne

EP06 A minha escolha de carne fala aos outros sobre mim

EP07 Minha escolha de carne passa uma imagem de mim aos outro

EP08 Uma escolha ruim de carne seria um transtorno

EP09 Eu tenho pouco a perder por escolher mal a carne bovina ( rev )

EP10 Eu fico chateado quando faço uma escolha de carne inadequada

EP11 Ao comprar carne bovina estou certo da minha escolha

EP12 Eu me sinto um pouco perdido(a) na hora de escolher a carne

EP13 Eu nunca sei se estou realizando uma boa escolha de carne

Responsabilidade

ambiental

Preocupação com

sanidade nos

frigorificos

Preocupação

com Processo

Produtivo

Bem-estar animal

Rastreabilidade

Legalidade

Responsabilidade

social

Probabilidade de risco

Envolvimento

com o Produto

Valor de prazer

Valor simbólico

Importancia do risco

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Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

CODVAR 2a

OrdemVAR 1a Ordem ITENS

ACS01Eu não compro produtos fabricados ou vendidos por empresas que prejudicam o meio

ambiente

ACS02 Eu sempre faço um esforço para reduzir o uso de produtos que utilizam recursos naturais

escassos

ACS03 Quando possível, eu sempre escolho produtos que causam menos poluição

ACS04Eu não compro um produto quando eu conheço os possíveis danos que ele pode causar ao

meio ambiente

ACS05Quando eu compro produtos e alimentos a preocupação com meio-ambiente interfere na

minha decisão de compra

ACS06 Eu prefiro alimentos que são produzidos respeitando o meio ambiente

ACS07 Eu compro produtos organicos porque são mais saudaveis;

ACS08 Estou disposto a pagar um pouco mais por produtos e alimentos que não prejudicam o meio

ambiente

IC01 Eu compraria uma carne sustentável se ela estivesse disponível onde eu faço minhas compras

IC02 Eu trocaria a carne que consumo hoje por outra em função de ser sustentável

IC03 Estaria disposto a pagar mais por uma carne que fosse sustentável

IC04 Existe grande probabilidade de eu comprar uma carne sustentável no futuro

MAR01 A marca X possui alta qualidade

MAR02 A marca X é confiável

MAR03 A marca X possui padrão de qualidade constante

MAR04 Posso reconhecer marca X entre outras marcas concorrentes.

MAR05Quando penso em carne, algumas características da marca X vêm à minha mente

rapidamente

MAR06 Eu posso me lembrar rapidamente do símbolo ou do logotipo da marca X.

MAR07 Considero-me fiel à marca X.

MAR08 A marca X é a minha primeira escolha.

MAR09 Eu não vou comprar outras marcas se a marca X está disponível na loja.

MAR10Mesmo que outra marca tenha as mesmas características da marca X, eu preferiria comprar a

marca X.

MAR11 Se houver outra marca tão boa como a marca X, eu prefiro comprar a marca X.

MAR12 Se outra marca não for diferente de X , me parece uma boa opção comprar marca X

MAR13 Se a carne bovina possui marca, então é uma carne segura

MAR14 Não existem riscos envolvidos no consumo de carne bovina com marca

MAR15 É mais seguro consumir carne bovina com marca

MAR16 Presto atenção às questões de segurança do alimento na escolha da marca

Atitude

Consumo

Sustentável

Produtos Verdes

Gerais

Produtos Alimenticios

Intenção

Compra Intenção Compra

Marca -

Brand Equity

Qualidade Percebida

Associações com a

Marca e Brand

Awareness

Lealdade a marca

Valor de Marca

Global (OBE)

Segurança

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APÊNDICE 2D – Referências das escalas dos construtos de primeira e segunda ordem

Quadro 2 – Referências das variáveis de 1ª e 2ª ordem

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.

VAR 2a

Ordem+A2:D20VAR 1a Ordem Nr Itens REFERÊNCIAS

Valor de Prazer 4 Verbeke e Vackier (2004); Jain e Srinivasan (1990); Laurent e Kapferer (1985)

Valor simbolico 3 Barcellos (2007); Verbeke e Vackier (2004); Jain e Srinivasan (1990); Laurent e Kapferer (1985)

Importancia do risco 3 Barcellos (2007); Verbeke e Vackier (2004); Jain e Srinivasan (1990); Laurent e Kapferer (1985)

Probabilidade de risco 3 Barcellos (2007); Verbeke e Vackier (2004); Jain e Srinivasan (1990); Laurent e Kapferer (1985)

Bem estar animal 4 Caputo et al (2018); Chini (2015); Grunert et al. (2004);

Rastreabilidade 4 Barcellos (2007); Cicia e Colantuoni (2010); Oliveira e Spers(2018); Wu et al.(2017);

Legalidade 4 Normas BPA; RAS, Imaflora

Responsabilidade social 4 Normas BPA; RAS; Imaflora; Ghvanidze et al.(2017); Stöckigt et al.(2018)

Responsabilidade ambiental 4 Normas BPA; RAS; Carlsson et al., (2010); Echeverria et al (2014); Magistris e Gracia, (2016)

Sanidade nos frigorificos 4 Normas BPA; RAS; Imaflora

Produtos Verdes Gerais 5 ECCB (1999) ; Silva et al. (2015); Lages e Neto (2002); Bedante (2004)

Produtos Alimenticios 3 Silva et al. (2015); Lages e Neto (2002); Bedante (2004)

Intenção de

CompraIntenção compra 4 Silva et al. (2015); Tung et al. (2012) ; Bedante (2004)

Qualidade Percebida 3 Aaker(1996); Yoo et al. (2000); Oliveira e Spers (2018)

Marca e Brand Awareness 3 Yoo et al. (2000); Oliveira e Spers (2018)

Lealdade a marca 3 Yoo et al. (2000); Oliveira e Spers (2018)

Valor de Marca Global (OBE) 3 Yoo et al. (2000); Oliveira e Spers (2018)

Segurança 4 Oliveira (2012)

Valor da Marca

Atitude Consumo

Sutentável

Preocupação com

Processo

Produtivo

Envolvimento com

o Produto

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Capítulo 3

APÊNDICE 3A – Disposição a pagar: WTP do consumidor

A disposição a pagar dos consumidores é o preço máximo que eles pagariam por um

determinado produto, o que corresponde ao valor que eles atribuem ao mesmo (KALISH;

NELSON, 1991). A disposição de pagar um prêmio (WTP) é um aspecto importante da intenção

comportamental exibindo uma estreita ligação com as atitudes do consumidor e comportamento

de compra.

Entender a reação dos consumidores a mudança de preços e o quanto eles estão dispostos

a pagar por um produto é considerado como um diferencial competitivo, pois além da WTP

identificar o valor atribuído ao produto ele também funciona como instrumento preditivo. Para

Scholtz et al. (2015), a WTP contribui no apoio a modelos de negócio de previsão e otimização,

ajudando os tomadores de decisão a definir estratégias de preços mais eficientes. O uso do

método de prever a intenção a pagar por um produto sustentável serve como apoio e

complemento ao modelo de equações estruturais. Neste caso, ao usar a WTP, o pesquisador

possibilita um melhor entendimento da relação causal entre as variáveis presentes no modelo

estrutural proposto, ou seja, entre as variáveis que refletem valorização dos atributos de

sustentabilidade com a intenção a pagar por estes atributos.

Empresas ainda fazem suas decisões de preços sem uma compreensão profunda da provável

resposta dos compradores (potenciais) e concorrentes a cotações de preços alternativos.

Diversos estudos práticos mostraram que pequenas variações de preços e o comportamento do

consumidor correspondente podem ter efeitos notáveis sobre as receitas e os lucros.

Breidert, Hahsler e Reutterer (2006) propuseram uma classificação para organizar os métodos

de WTP, conforme observa-se na Figura 1. Nela, no nível mais alto, distinguem os métodos de

duas formas: o da preferência revelada, que possui a utilização de entrevistas (surveys), e

preferência declarada, se eles são baseados em dados simulados ou reais de preço-resposta,

como os experimentos. Estes são divididos em experimentos em laboratórios, campo ou leilões

(auctions). A preferência declarada é dividida entre as entrevistas diretas e indiretas. Na

primeira, é requerido aos respondentes que eles declarem o quanto estão dispostos a pagar por

um determinado produto, enquanto na segunda há um procedimento de ranking para diferentes

produtos de forma a poder estimar a preferência e derivar a WTP.

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Figura 1– Classificação dos métodos de medição de WTP

Fonte: Breidert, Hahsler e Reutterer (2006).

Nas entrevistas diretas, os entrevistados (por exemplo, clientes seleccionados) são

convidados a indicar o quanto eles estariam dispostos a pagar por algum produto. Em pesquisas

indiretas, é aplicado algum tipo de classificação ou procedimento de classificação para

diferentes produtos, a fim de estimar uma estrutura de preferências a partir da qual a WTP pode

ser derivada. Análise conjoint e análise de escolha discreta são exemplos de métodos indiretos

de levantamento.

Breider et al. (2006) afirmam que, em geral, perguntar diretamente a WTP aos consumidores

para diferentes produtos não parece ser um método confiável. Nagle e Holden (2002) apontam

para alguns efeitos distorcivos das entrevistas diretas e defendem sua não utilização. Os autores

afirmam que “os resultados de tais estudos são, na melhor das hipóteses, inúteis e

potencialmente altamente enganosos”. Diferente de perguntar diretamente a WTP aos

entrevistados, os clientes são apresentados perfis de produtos com preços sistematicamente

variados e são convidados a indicar se iria comprar o bem a esse preço ou não. Esta abordagem

de medição é designada por entrevista indireta o qual consideramos mais apropriada no teste

deste modelo proposto.

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APÊNDICE 3B – Questionário artigo 3

Sou aluno de doutorado da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e estou

realizando uma pesquisa sobre consumo de carne sustentável. Para tanto gostaria que me

ajudasse respondendo essa pesquisa no link abaixo. Isto não deve demorar mais do que 6

minutos. Gostaria de mencionar ainda o caráter estritamente acadêmico desta pesquisa,

garantindo sigilo das suas respostas. Nas questões em que aparece a palavra “carne”, estamos

nos referindo a “carne BOVINA”.

Obrigado, Pedro C. Burnier, [email protected]

INSTRUÇÃO PARA O PREENCHIMENTO

Antes de começar, responda as seguintes perguntas:

1. Quantas vezes por semana você come carne bovina?

___ todo dia

___ pelo menos 4 vezes por semana

___ 1 a 3 vezes por semana

___ não como carne. Agradeço a atenção, mas este questionário é exclusivo para

consumidores de carne bovina.

2. Você comprou carne bovina?

____ esta semana

____ este mês

____ este ano

____ não comprei este ano

3. Em geral você é o responsável pela compra da carne?

___ sempre

___ às vezes

___ raramente

___ nunca

4. Em que lugar costuma comprar carne? (marque SOMENTE de 1 a 3 em ordem de

importância)

___ supermercado

___ açougue

___ boutique de carne

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5. Você costuma comprar carne:

___ para consumo no dia a dia

___ para ocasião especial (ex. churrasco)

___ ambos

6. Gênero: ___ Masculino ___ Feminino

7. Qual sua idade? _____ anos

8. Qual sua formação:

___ Primário

___ Ensino Médio

___ Técnico

___ Superior

___ Pós-graduação

9. Estado civil: ___ Solteiro ___ Casado

10. Cidade onde mora: ___________ UF: ____

11. Indique a renda mensal domiciliar

___ até R$ 1.000

___ de R$ 1.001 até R$ 5.000

___ de R$ 5.001 a R$ 10.000

___ de R$ 10.000 a R$ 15.000

___ mais de R$ 15.000

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SITUAÇÃO DE COMPRA

Este estudo procura identificar a relevância de alguns atributos relacionado a sustentabilidade

da carne em duas ocasiões distintas: (1) quais atributos o consumidor valoriza no momento da

compra de carne para o consumo no “dia a dia” OU (2) quais atributos são valorizados no

momento da compra deste produto a ser consumido em uma ocasião especial (ex. fazer um

churrasco para amigos).

Neste momento você deverá realizar as escolhas abaixo considerando que irá comprar

esta carne para fazer um CHURRASCO para amigos.

Considere que você está comprando um quilo de carne em uma loja de supermercado que você

costuma comprar carne. Você será apresentado a duas opções de carne para fazer a sua escolha.

Considere que as duas opções possuem maciez garantida. Você terá que optar qual dos dois

bifes prefere comprar (Opção A ou Opção B), ou, caso não fique satisfeito com nenhuma das

opções, poderá escolher por não comprar nenhum deles (Nenhuma das duas opções).

A seguir você encontra a descrição dos atributos que podem variar entre a opção A e B :

Preço: o preço está indicado em Reais por kg que você pagaria por esta carne ;

Rastreabilidade: Esta carne possui um selo garantindo sua rastreabilidade. Este é o processo

de identificar a origem do produto. “Não rastreável” (sem identificação de sua origem;

“rastreável até o frigorífico” (da gôndola até o frigorífico), ou “rastreável até a fazenda”

(rastreabilidade complete, da gôndola até a fazenda).

Marca: esta carne é comercializada com marca “desconhecida” (você vai ao supermercado e

nunca comprou dela), com a marca “conhecida” (ex. Friboi) ou com uma marca “Sustentável”

hipotética a qual possui atributos socioambientais.

Redução de emissão de Gás de Efeito Estufa (ex. CO2). Quantidade em % de redução de

gases de efeito estufa emitidos durante a produção. Segundo alguns cientistas, estes gases

podem ocasionar mudanças climáticas e consequentemente o aquecimento global.

Bem-estar animal Garantido: Garante que no processo de produção o animal cresceu livre na

natureza e com bons tratos.

A tabela abaixo resume os atributos a serem analisados e os diferentes níveis das escolhas.

VARIÁVEL NIVEL 1 NIVEL 2 NIVEL 3

PREÇO (R$/Kg) Bife 28,55 40,79 53,03

RASTREABILIDADE NÂO RASTREÁVEL RASTREÁVEL até o FRIGORIFICO RASTREÁVEL até a FAZENDA

MARCA MARCA DESCONHECIDA MARCA CONHECIDA MARCA SUSTENTÁVEL

REDUÇÃO EMISSÃO CO2 0% REDUÇÃO 30% REDUÇÃO 60% REDUÇÃO

BEM-ESTAR ANIMAL NÃO CERTIFICADO CERTIFICADO

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Considere cada um dos oito conjuntos como opções separadas de escolhas. Em cada uma

delas favor selecionar a escolha da carne que melhor represente sua preferência.

Escolha 1:

Escolha 2:

Escolha 3:

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 28,55 40,79

Rastreabilidade Não Rastreável Não Rastreável

Marca Desconhecida Sustentável

Redução Emissões CO2 0% Redução Emissões 0% Redução Emissões

Bem-estar animal Não certificado Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 53,03 28,55

Rastreabilidade Não Rastreável Não Rastreável

Marca Desconhecida Sustentável

Redução Emissões CO2 30% Redução Emissões 30% Redução Emissões

Bem-estar animal Certificado Não Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 28,55 28,55

Rastreabilidade Rastreável até Fazenda Não Rastreável

Marca Desconhecida Conhecida

Redução Emissões CO2 30% Redução Emissões 60% Redução Emissões

Bem-estar animal Certificado Não Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

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Escolha 4:

Escolha 5:

Escolha 6:

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 28,55 53,03

Rastreabilidade Rastreável até Fazenda Rastreável até Frigorífico

Marca Conhecida Desconhecida

Redução Emissões CO2 0% Redução Emissões 0% Redução Emissões

Bem-estar animal Certificado Não Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 40,79 40,79

Rastreabilidade Rastreável até Fazenda Rastreável até Frigorífico

Marca Desconhecida Conhecida

Redução Emissões CO2 0% Redução Emissões 30% Redução Emissões

Bem-estar animal Não Certificado Não Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 53,03 28,55

Rastreabilidade Não Rastreável Rastreável até Frigorífico

Marca Conhecida Sutentável

Redução Emissões CO2 0% Redução Emissões 0% Redução Emissões

Bem-estar animal Certificado Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

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174

Escolha 7:

Escolha 8:

Muito obrigado pela sua colaboração!

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 28,55 53,03

Rastreabilidade Rastreável até Frigorífico Rastreável até Fazenda

Marca Desconhecida Sustentável

Redução Emissões CO2 60% Redução Emissões 60% Redução Emissões

Bem-estar animal Certificado Não Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

ATRIBUTO: Opção A Opção B

Preço R$ /Kg 40,79 28,55

Rastreabilidade Não Rastreável Não Rastreável

Marca Desconhecida Desconhecida

Redução Emissões CO2 60% Redução Emissões 0% Redução Emissões

Bem-estar animal Certificado Não Certificado

( ) Nenhuma das duas ( ) Opção A ( ) Opção B

Eu escolho:

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APÊNDICE 3C – Resultado da análise descritiva

COD VARIÁVEL DESCRITIVA

Frequência consumo 180 100% 359 100% 539 100%

0 não como carne

1 1 a 3 vezes por semana 39 21,7% 89 24,8% 128 23,7%

2 pelo menos 4 vezes por semana  74 41,1% 149 41,5% 223 41,4%

3 todo dia 67 37,2% 121 33,7% 188 34,9%

Frequência compra 180 100% 359 100% 539 100%

1 nunca 0 0,0% 0 0% 0 0,0%

2 raramente 5 2,8% 17 4,7% 22 4,1%

3 as vezes 39 21,7% 111 30,9% 150 27,8%

4 sempre 136 75,6% 231 64,3% 367 68,1%

Ultima compra 180 100% 359 100% 539 100%

1 não comprei este ano  1 0,6% 0 0,0% 1 0,2%

2 este ano 5 2,8% 8 2,2% 13 2,4%

3 este mês 28 15,6% 39 10,9% 67 12,4%

4 esta semana 146 81,1% 312 86,9% 458 85,0%

Local Compra (1) 180 100% 359 100% 539 100%

1 Supermercado 112 62,2% 203 56,5% 315 58,4%

2 Açougue 51 28,3% 108 30,1% 159 29,5%

3 Boutique 17 9,4% 48 13,4% 65 12,1%

Ocasião 180 100% 359 100% 539 100%

1 dia a dia 82 45,6% 87 24,2% 169 31,4%

2 evento especial (churrasco) 2 1,1% 15 4,2% 17 3,2%

3 ambas as ocasiões 96 53,3% 257 71,6% 353 65,5%

Sexo 180 100% 359 100% 539 100%

0 Feminimo 93 51,7% 174 48,5% 267 49,5%

1 Masculino 87 48,3% 185 51,5% 272 50,5%

Ensino 180 100% 359 100% 539 100%

1 Primário 0 0,0% 1 0,3% 1 0,2%

2 Ensino Médio 21 11,7% 65 18,1% 86 16,0%

3 Técnico 17 9,4% 17 4,7% 34 6,3%

4 Superior 91 50,6% 176 49,0% 267 49,5%

5 Pós-graduação 51 28,3% 100 27,9% 151 28,0%

Renda 180 100% 359 100% 539 100%

1 até R$ 1.000 4 2,2% 13 3,6% 17 3,2%

2 de R$ 1.001 até R$ 5.000 34 18,9% 60 16,7% 94 17,4%

3 de R$ 5.001 a R$ 10.000 78 43,3% 150 41,8% 228 42,3%

4 de R$ 10.001 a R$ 15.000 33 18,3% 73 20,3% 106 19,7%

5 mais de R$ 15.000 31 17,2% 63 17,5% 94 17,4%

Estado civil 180 100% 359 100% 539 100%

1 Solteiro (a) 55 30,6% 121 33,7% 176 32,7%

2 Casado (a) 125 69,4% 238 66,3% 363 67,3%

Idade 180 100% 359 100% 539 100%

18-19 5 2,8% 15 4,2% 20 3,7%

20-29 48 26,7% 110 30,6% 158 29,3%

30-39 75 41,7% 135 37,6% 210 39,0%

40-49 29 16,1% 64 17,8% 93 17,3%

50-59 19 10,6% 25 7,0% 44 8,2%

60-69 4 2,2% 10 2,8% 14 2,6%

Questionário

Funcional

Questionário

HedônicoTOTAL