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Escolas da Paz Reflexões e práticas de Professores da Educação Básica Luciane Cuervo e Débora Porto (Organizadoras)

Escolas da Paz

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Reflexões e práticas de professores da educação básica.

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Escolas da PazReflexões e práticas de Professores da Educação Básica

Luciane Cuervo e Débora Porto(Organizadoras)

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Escolas da PazReflexões e Práticas de

Professores da Educação Básica

Luciane CuervoDébora Porto

(Orgs.)

Porto Algre2015

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OrganizaçãoLuciane Cuervo e Débora Luciene Porto

Revisão linguísticaDébora Luciene Porto e Ana Paula Alencastro

Revisão TécnicaAline Lucas Guterres, Audrea Martins, Débora Luciene Porto, Diego Gheno,

Luciana Kraemer, Rosa Maria Rigo, Simone Rasslan, Soraia Santana e Tatiana Teixeira

Arte da CapaÁudrea Martins

Crédito das FotosLuciana Kraemer

Projeto Gráfico e DiagramaçãoAlex Barreto

Autores

Aline Lucas GuterresAngela Maciel Maki

Claudia A. D. de A. dos SantosClaudia R. Krauthein Gomes

Christian Silva CastroDaiane de A. B. Delavechia

Daniela Rocha MarinsDebora Fagundes

Débora Luciene PortoElisiane Perufo Alles

Fátima A. Militz de OliveiraGiovana Soares da Silva

Iaraci SilvaJair Umann

Kátia Rosita Cardoso dos SantosLeticia Missel de Souza

Luciana KraemerLuciane CuervoMaribel Susane SelliNara Rosana Godfried NachtigallPatrícia de A. de Oliveira VicentePatricia ZavaresePriscila BastosRaquel Verginia Rodrigues OrioRosa Maria RigoRosiara Pereira Costa Silviani Monteiro SathresSimone RasslanSoraia SantanaTamara Carneiro SupertiViviane de Oliveira Correa

Bibliotecária Alexandra Naymayer Corso – CRB10/1099

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

E74 Escolas da Paz: reflexões e práticas de professores da educação básica / organizado por Luciane

Cuervo e Débora Porto – Porto Alegre: wwlivros 2015 248p. ; 16x23cm

ISBN: 978-85-68175-26-2

1. Educação para a Paz 2. Escolas 3. Cultura 4. Paz I. Cuervo, Luciane II. Porto, Débora

CDD 370.1

Este e-book e suas partes podem ser reproduzidos por qualquer meio sem a necessidade de autorização prévia das organizadoras, desde que preservados os créditos de autoria.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – MECMinistro da Educação: Renato Janine Ribeiro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGSReitor: Carlos Alexandre NettoVice-Reitor: Rui Vicente Oppermann PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO – PROGRAD/UFRGS Pró-Reitor: Sérgio Roberto Kieling Franco PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO – PROREXT/UFRGS Pró-Reitora: Sandra de Deus CENTRO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES – FORPROF/UFRGS Coordenadora: Marie Jane Carvalho DOCÊNCIA NA ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL – ESCOLAS DA PAZCoordenação Geral: Profª Luciane CuervoVice-Coordenação: Profª Ana Paula Alencastro

www.ufrgs.br/edupaz

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SumárioPREFÁCIO ............................................................................................................................... 7

APRESENTAÇÃO

Educação para a paz na formação de professores ................................................... 11Luciane Cuervo

A PAZ ATRAVÉS DE PRÁTICAS MUSICAIS

Sensibilização pelo som e introdução à musicalidade na escola infantil, no contexto da cultura de paz .......................................................... 18Claudia R. Krauthein Gomes, Luciana Kraemer

Promovendo a interculturalidade na educação infantil e com demais atores do ambiente escolar para protagonizar a paz ............................ 26Iaraci Silva, Rosa Maria Rigo

Paz, musicalidade e brincadeira – uma composição possível ............................. 37Tamara Carneiro Superti, Luciane Cuervo

As cantigas e os contos brasileiros: Uma proposta de cultura de paz integrando escola, família e infâncias de 4 a 10 anos ............................. 48Iaraci de Souza Silva, Aline Lucas Guterres

A PAZ ATRAVÉS DA CORPOREIDADE

Africa: um nome e um lugar distante? ......................................................................... 60Raquel Verginia Rodrigues Orio, Jair Felipe Bonatto Umann

Oficina “Musicando na Restinga” .................................................................................... 68Debora Fagundes, Simone Rasslan

Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da paz ......................................................................................... 81Angela Maciel Maki, Elisiane Perufo Alles, Soraia Santana

A paz que habita em você ................................................................................................ 92Fátima Aparecida Militz de Oliveira, Silviani Monteiro Sathres, Maribel Susane Selli

A PAZ E OS VALORES HUMANOS

Semeando uma cultura da paz ....................................................................................... 101Patricia Zavarese, Soraia Santana

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Cultura de paz como abordagem pedagógica na formação para a preservação do planeta ................................................................... 111Viviane de Oliveira Correa, Daniela Rocha Marins, Luciana Kraemer

Valores e a construção de uma cultura de paz na escola ..................................... 123Claudia Adriana Dornelles de Araujo dos Santos, Daniela Rocha Marins

A PAZ ATRAVÉS DE PRÁTICAS ESTÉTICAS

“Fé na vida”: reflexão e diálogo para a construção da paz através das artes na escola ................................................................................ 134Kátia Rosita Cardoso dos Santos, Aline Lucas Guterres

Africanidades em sala de aula ......................................................................................... 149Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

A PAZ ATRAVÉS DE HISTÓRIAS DE VIDA

Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil .................................................................................................................. 159Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

Refúgio de paz: projeto de oficinas .............................................................................. 170Rosiara Pereira Costa, Rosa Maria Rigo

Pistas sobre o legado da africanidade na escola ..................................................... 178Giovana Soares da Silva, Jair Felipe Umann

Cada um tem sua história ................................................................................................. 186Kátia Rosita Cardoso Dos Santos, Rosa Maria Rigo

Oficinas e vivências: fomentar a educação pela paz .............................................. 203Daiane de Abreu Bitencourt Delavechia, Daniela Rocha Marins, Débora Luciene Porto

Projeto de oficinas: “rodas de conversa” ..................................................................... 214Leticia Missel de Souza, Rosa Maria Rigo

Promovendo alegria e disseminando paz; um relato de experiência com adolescentes ..................................................................... 222Nara Rosana Godfried Nachtigall, Daniela Rocha Marins

MUNDO INTERCONECTADO

O uso das TIC’s como ferramenta diferenciada na prática educativa cotidiana ................................................................................................. 237Christian Silva Castro, Simone Rasslan

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PREFÁCIO

No início de 2014, um projeto tão fascinante quanto desafiador chegou às minhas mãos. Quando fui convidada a assumir a coordenação do curso Educação Integral: Escolas da Paz, considerei que a temática merecia minha total dedicação. A sua ideia embrionária surgiu anos antes, por iniciativa do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Transdisciplinares sobre Espiritualidade (NIETE/UFRGS), no Movimento pela Paz Sepé Tiarajú, e foi desenvolvida como curso livre no âmbito da Extensão da UFRGS, com equipe voluntária.

A proposta de fomentar a educação pela paz na formação de professores seguiu viva, mas parecia submersa em dúvidas e obstáculos: coordenação recém-assumida, sem equipe e sem verba, apenas ideias soltas e boas intenções. Minha primeira ação como coordenadora foi idealizar um planejamento essencialmente laico e organizar o projeto pedagógico para, em seguida, desencadear procedimentos administrativos e pedagógicos dentro da Universidade.

Assim, o projeto Educação Integral: Escolas da Paz foi tomando forma. E ele só foi possível por meio da realização do Centro de Formação de Professores (FORPROF) da UFRGS, financiada pelo Ministério da Educação do Governo Federal através da Rede Nacional de Formação de Professores (RENAFOR). Destinado a professores do Rio Grande do Sul da rede pública e particular de todas as áreas, teve carga horária total de 330 horas e abriu 120 vagas, com aulas iniciadas em agosto de 2014, nas modalidades presencial e a distância.

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e práticas de Professores da Educação Básica

Prefácio Luciane Cuervo

A concepção filosófica que adotamos conta com dois elementos norteadores: a concepção de Educação Integral, em afinidade com o Ministério da Educação – MEC, e a tomada de posição sobre o conceito de Paz. Partindo da escola, mas não se limitando a este espaço físico, abarcando as diversidades socioculturais intrínsecas à comunidade em suas múltiplas dimensões humanas, assumindo seus direitos e deveres como cidadão. Espera-se que a formação dos professores seja uma formação continuada, em que haja a troca da experiência docente, entendendo que os professores são profissionais em atuação e em conexão com a realidade, a qual pode ser transformada positivamente pela Cultura da Paz.

O objetivo principal do curso é o de proporcionar a paz como uma cultura educacional na Educação Integral, com implicações para uma sociabilidade na escola e na comunidade, incluindo os aspectos curriculares e vivenciais, baseados em valores do ser humano.

Para a realização dessa proposta, busquei formar uma equipe de trabalho multidisciplinar, constituindo-a com professores e tutores pedagogos, artistas, brincantes, psicólogos, jornalistas e linguistas, a fim de possibilitar um enfoque interdisciplinar nos módulos de trabalho. Nesse sentido, fomentamos a reflexão de pressupostos que iriam de encontro ao conteudismo e ao mecanicismo, do planejamento até a avaliação. Dessa forma, apesar de ser constituído de módulos teóricos na fase inicial de educação on-line, sua realização possibilitou a fluidez do diálogo e valorizou a trajetória dos cursistas.

Os módulos temáticos que compuseram a etapa de educação a distância ocorreram no ambiente virtual de aprendizagem e cada docente teve apoio de uma qualificada equipe de tutoria. Trabalhamos num sistema de “hierarquia horizontal”, com o intuito de valorizar o posicionamento crítico e participativo de todos e todas no processo educativo.

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e práticas de Professores da Educação Básica

Prefácio Luciane Cuervo

O módulo 1, Mundo Interconectado, foi ministrado pela professora e jornalista Luciana Kraemer e buscou valorizar a inclusão digital e a visão de sujeitos integrantes de uma rede de conhecimentos dentro da cibercultura, considerando como principais autores Levy e Freire. O segundo módulo, A Paz através das Práticas Musicais, ministrado por mim, educadora e artista, visou despertar para o impacto da música nas emoções e no comportamento humano, mostrando que todos os povos de todas as regiões do planeta utilizam a música como forma de coesão social desde os primórdios da humanidade. Em seguida, foi proposto o módulo de paz através da Corporeidade, a cargo do professor e artista Jair Felipe Umann, que estimulou a discussão da integração corpo-mente e a autoconsciência da presença do ser no mundo; propôs a ideia de que o corpo é a nossa casa, é a manifestação de nosso ser. Na sequência foi desenvolvido o módulo Valores Humanos, que, ministrado pela professora pedagoga Maribel Selli, instigou a reflexão sobre valores ético-morais que regem a sociedade e a sua importância no contexto escolar. A professora e também artista Simone Rasslan provocou a discussão de conceitos e pré-conceitos em torno dos princípios da filosofia estética da cultura da paz.

Como encerramento, ministrado de forma colaborativa, o Módulo 6 visou contatenar os módulos anteriores, resgatando histórias de vida dos sujeitos, compreendendo-os como seres autônomos e profissionais atuantes, com uma rica trajetória que ensina e aprende no diálogo educacional.

Dentre diversas ações práticas, o projeto propôs encontros presenciais com a presença de convidados de diferentes áreas, como Neuroeducação, com palestras das pesquisadoras Anelise Sonza (UFCSPA) e Renata Rosat (UFRGS); Danças Circulares, com a especialista Patrícia Preiss; apresentações artísticas e oficinas com artistas como Simone Rasslan - em trabalhos com corporeidade e canções, o Grupo de Brincantes do Paralelo 30 e suas dinâmicas com a musicalidade afro-descendente e indígena, o grupo Cia.

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e práticas de Professores da Educação Básica

Prefácio Luciane Cuervo

Cabelo de Maria, de São Paulo, na oficina Cantos de Trabalho, e show da POIN – Pequena Orquestra Interativa, liderada por Gustavo Finkler. Houve também oficina de Mediação de Conflitos com o grupo SAJU – Serviço de Assessoria Jurídica Universitária (UFRGS) e palestras sobre Tecnologias e Paz, com pesquisadores do Programa de Doutorado em Informática na Educação (UFRGS). Desses encontros, foi produzido o documentário curta-metragem Escolas da Paz, realização da UFRGS e EpifaniaFilmes, disponibilizado no site www.ufrgs.br/edupaz gratuitamente.

A etapa final foi a realização de oficinas elaboradas pelos cursistas - apresentadas nesta coletânea a partir de projetos, relatos e artigos – e por eles aplicadas nas escolas em que atuam como docentes, tendo como público alvo as crianças, jovens e adultos atendidos em diferentes contextos ou seus colegas de trabalho, em capacitações docentes. Nossa intenção foi fornecer subsídios para reflexões e práticas da cultura da paz no âmbito escolar e comunitário.

Enfim, como disse a menina Malala Yousafzai, que em 2015 completou 18 anos, “Uma criança, uma professora, uma caneta e um livro podem mudar o mundo”. Nós procuramos, através do Escolas da Paz, fazer a nossa parte, com a consciência da singeleza de nossa contribuição. E que essa seja apenas mais uma de muitas iniciativas dessa natureza.

Porto Alegre, julho de 2015.

Luciane Cuervo

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APRESENTAÇÃO

Educação para a paz na formação de professoresLuciane Cuervo1

Nossas reflexões partem da problematização do conceito de paz na educação. Defendemos um conceito de paz em permanente construção, processo que pressupõe diálogo constante, posicionamento crítico e participativo dos sujeitos e valorização das suas histórias de vida. Nesse sentido, evitou-se a ideia estagnada da paz como ausência de conflito, como inércia e continuísmo de uma visão ingênua de concordâncias de religiões.

O período contemporâneo vem sendo marcado por uma necessidade extraordinária na capacidade de mediação de conflitos, da micro à macroesfera. Para a UNESCO (Mansell, 2015), o objetivo das sociedades do conhecimento consiste em fomentar a paz e a sustentabilidade, abordagem que somente será concretizada a partir de estratégias diversas em busca da harmonia e felicidade.

Se antes a ciência debruçou-se intensamente sobre os estudos da depressão e distúrbios da mente, hoje destaca a importância do conhecimento sobre a felicidade. Como explica Ed Diener (Belic, 2011), a felicidade genuína se configura na coexistência, no apoio e no suporte de pessoas, sejam amigos ou familiares, num sentido de coletividade.

Sabemos que professores e estudantes convivem hoje em contextos, muitas vezes, perturbadores no que concerne à

1 Professora do Departamento de Música do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coordenadora do curso Educação Integral: Escolas da Paz (FORPROF/UFRGS – FNDE).

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e Práticas de Professores da Educação Básica

Apresentação – Educação para a paz na formação de professores Luciane Cuervo

presença de conflitos, com carências econômicas e afetivas, gerando desequilíbrios emocionais de toda ordem. A escola vem a ser um espaço que oferece uma formação de qualidade aos estudantes e enriquece a vida social de toda a comunidade. Buscar um significado superior na atuação docente, como mediadora de reflexões e práticas para a paz, é uma forma de melhorar a vida de todas as pessoas envolvidas naquele contexto. Nesse sentido, acreditamos que a formação continuada de professores é fundamental para a difusão da cultura da paz no ambiente escolar.

CULTURA DE PAZ

A cultura de Paz envolve, de maneira geral, o fomento aos valores humanos, o respeito pela diversidade e a promoção da não-violência através da valorização do diálogo.

Milani (2003) aprofunda o significado de cultura de Paz, definindo-o como a promoção de transformações necessárias para que a paz permeie todas as relações humanas e sociais. Ele acredita que o grande desafio da cultura de Paz é que alcançar todas essas mudanças não depende apenas de uma mudança individual, nem apenas de ações governamentais.

A compreensão dos fundamentos sobre “respeito pela liberdade, justiça, democracia, direitos humanos, tolerância, igualdade e solidariedade” são fundamentais na construção de uma cultura da paz. Dupret (2002, p.91) defende que a cultura de Paz não pode ser imposta, deve ter soluções vin- das da sociedade. O diálogo é o caminho da negociação de conflitos e, concordamos com ele, o processo educativo fundamenta-se no conceito de Paz e na resolução criativa de conflito, buscando fomentar a cultura de Paz com o objetivo de ajudar as pessoas a desenvolverem o pensamento crítico da realidade onde vivem, para assim poderem atuar de maneira consciente.

Conforme propõe Cuervo (2015), a educação para a paz sob a ótica freireana possui como ponto de partida as pessoas, seus

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e Práticas de Professores da Educação Básica

Apresentação – Educação para a paz na formação de professores Luciane Cuervo

sentimentos e as suas necessidades. Educar para a paz é entender que convergências e divergências constituem o processo de con- vivência, e que essas relações caracterizam o processo de aprendizagem.

De acordo com Gadotti (2003), é possível organizar da seguinte forma os princípios da educação para a paz na visão de Paulo Freire:

1º Ler o mundo. Nesse princípio, Freire considera como conceito-chave da educação para a paz a curiosidade, entendendo que a apropriação do conhecimento é a leitura do mundo. Constrói-se, assim, um processo criativo e ativo na resolução não-violenta de problemas.

2º Compartilhar a leitura do mundo lido. Freire diz que o diálogo não é apenas uma estratégia pedagógica, mas um critério de verdade, considerando que só o olhar do outro pode dar veracidade ao meu olhar e que o diálogo com o outro não exclui o conflito.

3º A Educação como ato de produção e reconstrução do saber. Conhecer é estabelecer relações entre saberes e práticas, entre conhecimentos e pessoas. Conhecer, na ótica freireana apontada por Gadotti (2003), é saber criar vínculos.

4º Como quarto e último princípio da educação para a paz sob a ótica freireana, Gadotti (2003) lembra que o educador é um ser subjetivo, social e político, e por isso a existência pessoal e social deve ser problematizada.

Freire entende que a pedagogia é um guia norteador na construção do sonho, porém, não basta sonhar: é preciso saber como mediar a construção desses sonhos na condição de educadores. Nessa mesma perspectiva, em “Pedagogia da Autonomia” (Freire, 1996), encontram-se pensamentos norteadores para o fomento da cultura da paz na educação. Ele menciona que o ato de ensinar exige dos educadores o respeito aos saberes dos educandos, a rejeição a qualquer forma de discriminação, a valorização da identidade cultural, o

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Apresentação – Educação para a paz na formação de professores Luciane Cuervo

saber escutar o outro, a criticidade, entre outras significativas atribuições. Destaca-se, também, a sua afirmação de que: “Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo” (1996, p.98) e exige alegria e esperança. Freire ainda convoca os educadores a corporeificarem esses princípios através do exemplo prático em seu ato de educar.

Seguindo essa linha de pensamento, acredita-se que paz não significa ausência de conflito numa condição passiva diante dos distúrbios, e educar para a paz não significa negar a existência da violência ou subestimá-la, mas abordá-la de uma forma a delinear caminhos de resolução de conflitos, especialmente através do diálogo, respeito mútuo e na esperança. No relacionar-se com o outro, ouvindo e percebendo diferentes pontos de vista. A paz, assim, não “é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e se luto com esperança, espero” (Freire, 1981, p.97).

A formação de professores implica, para nós, saber que o educando, nesse caso, é um profissional experiente e atuante na realidade do contexto escolar no papel de professor. Isso significa, portanto, que essa trajetória precisa ser levada em consideração e que norteará, de diferentes formas, o planejamento das atividades. Esse é um processo dinâmico e complexo, que envolve a ruptura de pensamentos dominantes. Como explica Dupret (2002, p.92), a educação para a paz pressupõe um “processo educativo, dinâmico, contínuo e permanente”, baseado numa visão positiva e na abordagem criativa do conflito, que busca “desenvolver um novo tipo de cultura, a cultura de paz, que ajude as pessoas a desvelar criticamente a realidade para poder situar-se frente a ela e, conseqüentemente, atuar”.

A educação para a paz, segundo Freire, propõe uma ruptura de uma prática educativa linear, na qual o professor é o único detentor de conhecimento. A educação para a paz fomenta a inclusão de todos no processo educativo, originada ou resultante de uma mudança na prática pedagógica, aberta a uma

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Apresentação – Educação para a paz na formação de professores Luciane Cuervo

ressignificação do espaço de convivência na escola, sejam de ambientes educativos formais ou não formais.

Ao defender a compreensão do outro, Morin (2004) discorre sobre a importância da tolerância e do diálogo no processo educativo, em seu documento que ficou conhecido como “Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro”. Para este pensador, a escola falha se não ensina como compreender uns aos outros, lembrando que a origem latina da palavra compreender significa reunir todos elementos de uma explicação sob diversos olhares. E essa seria a essência da compreensão humana, que em último modo, leva à paz entre as pessoas.

Diversos autores concordam (Freire, 1996; Dupret, 2002; Boff, 2002; Morin, 2004) que a paz precisa ser vivenciada nos atos, no dia a dia, na postura, no discurso e no comportamento de modo geral das pessoas envolvidas no processo educativo. Como explica Freire (2006), sua posição foi a de quem lutou pelo equilíbrio entre os sujeitos históricos e “pela solução dos conflitos, objetiva e prioritariamente, pelo diálogo amoroso”. Ao encontro desse ponto de vista, entende-se que por meio da formação de professores é possível fomentar essas reflexões, propiciando espaço de construção de saberes e práticas para a Cultura da Paz.

FAZENDO A NOSSA PARTE: DIFUSÃO DE PRÁTICAS PARA A PAZ

Concordamos com Dupret (2002), quando diz que o en- cadeamento paz-desenvolvimento-direitos humanos-democra- cia torna possível vislumbrar a Educação para a Paz. O educador alinhado com pressupostos da cultura da paz respeita valores que cada sujeito traz em sua trajetória e consegue expandir o conteúdo programático de maneira a contemplar subjetividades de maneira dinâmica e orgânica.

Afim de transcender os limites do ambiente virtual de aprendizagem e das instituições que abrigam o projeto Escolas

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e Práticas de Professores da Educação Básica

Apresentação – Educação para a paz na formação de professores Luciane Cuervo

da Paz – além criar este e-book, que traz relatos das experiências dos cursistas sob a orientação de membros da equipe do- cente –, produzimos o documentário curta-metragem com o intuito de gerar um material audiovisual de difusão da temática e das propostas e histórias de vida que integram o curso. Sabemos que promover a educação no Brasil, um país enorme e diverso, com uma árdua trajetória de redução das desigualdades, não é tarefa fácil. Esse projeto consiste em uma pequena iniciativa, em um cenário de carências históricas, mas é realizado com máximo empenho e respeito ao investimento da sociedade, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do MEC.

O Projeto Escolas da Paz, enfim, é uma iniciativa que tem por objetivo maior a capacitação e a articulação entre pessoas em afinidade com os pressupostos da Cultura da Paz. Por esse motivo, todo o material produzido estará à disposição do site http://www.ufrgs.br/edupaz e pertence à comunidade.

REFERÊNCIASBELIC, R. Happy - Documentário sobre a Felicidade Genuína. EUA, 2011.

BOFF. L. Como definir paz. Disponível em: <http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/como-definir.htm>. Acesso: 03 mai. 2015.

CUERVO, L. Educação para a paz na formação de professores: Relato de um curso de aperfeiçoamento no Brasil. In: Colóquio Desafios Curriculares e Pedagógicos na Formação de Professores, 2015, Porto. Anais do Colóquio ... Porto: Universidade do Minho, 2015.

DUPRET, L. Cultura de paz e ações sócio-educativas: desafios para a escola contemporânea. Psicologia Escolar e Educação. Campinas, v.6, n.1, Jun, 2002, 91-96.

FREIRE, A. M. A. Educação para a paz segundo Paulo Freire. Educação Porto Alegre, RS, ano XXIX, n. 2 (59), p. 387 – 393, Maio/Ago. 2006. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84805907>. Acesso: 09 jan. 2015.

FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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Apresentação – Educação para a paz na formação de professores Luciane Cuervo

GADOTTI, M. Saber aprender: um olhar sobre Paulo Freire e as perspectivas atuais da educação. In: LINHARES, Célia; TRINDADE, Maria. Compartilhando o mundo com Paulo Freire. São Paulo: Cortez. Instituto Paulo Freire, 2003.

MANSELL, R. Renovando a visão das sociedades do conhecimento para a paz e o desenvolvimento sustentável [livro eletrônico]. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2015.

MILANI, Feizi M. Cultura de Paz X violências: papel e desafios da escola. In: MILANI, Feizi M. JESUS, Rita de Cássia Dias Pereira de (org). Cultura de paz: estratégias, mapas e bússolas. Salvador : INPAZ, 2003.

MORIN, E. (2000). Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez. Boff, L. Como definir paz. Disponível em: <http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/como-definir.htm>. Acesso em: 20 mar. 2015.

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Sensibilização pelo som e introdução à musicalidade na escola infantil, no contexto da cultura de pazClaudia R. Krauthein Gomes1 Luciana Kraemer2

RESUMO

Esta oficina busca refletir acerca das ações realizadas para promover, na Escola Municipal de Educação Infantil Florência Vurlod Socias, uma cultura de paz, integrando alunos, professores e funcionários, pautada na teoria da especialista em desenvolvimento infantil Emmi Pikler que fundamenta as práticas pedagógicas nas escolas da Rede Municipal de Porto Alegre. Para isso escolhemos confeccionar instrumentos de Educação Musical e oferecer uma oficina de experimentação sonora com as crianças de 2 anos do Maternal 1 B.

1 OBJETIVOS

• Desenvolver progressivamente a autonomia da criança;• Criar situações específicas, onde a criança possa escolher,

decidir (planejamento cooperativo);• Propor atividades e brincadeiras com os instrumentos que

suscitem a interação e a cooperação;• Selecionar diferentes materiais em sucata e confeccionar

instrumentos, com os quais as crianças possam interagir

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Licenciada em Pedagogia Licenciatura Plena pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Especialista em Educação Infantil e Séries Iniciais pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI, atua como professora de Educação Infantil na rede pública municipal de Porto Alegre/SMED.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Graduada Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela UFRGS. Mestre em Ciências Sociais (PUC). Especialista em Transparência e Luta contra Corrupção (Universidade do Chile). [email protected]

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e estabelecer relações diretas de contato e exploração sonora;

2 PÚBLICO ALVO

Turma do Maternal 1 B da escola, funcionários e demais professores (pois esta oficina será apresentada posteriormente, em uma Formação de Funcionários da Escola).

3 METODOLOGIA

Confecção dos instrumentos musicais em sucata doada pelos pais das crianças, promovendo uma ação de consciência ecológica, dentro da Cultura de Paz. Apresentação dos instrumentos feitos com sucata pelas educadoras à turma em aulas regulares.

Qual a possibilidade de levar à Escola Municipal de Educação Infantil Florência Vurlod Socias a proposta de uma oficina que traga para dentro da instituição uma reflexão acerca das ações realizadas para promover uma Cultura de Paz? Integrar alunos, professores e funcionários, pautadas na teoria da especialista em desenvolvimento infantil Emmi Pikler, juntamente com o conteúdo da musicalidade é o que nos propomos a fazer com este trabalho.

A turma brinca e as crianças constroem relações entre si de forma autônoma, seguindo a proposta da Secretaria Municipal de Educação/SMED, baseada nos ensinamentos de Emmi Pikler (1902-1984), médica vienense, especialista em pediatria que trabalhou em Budapeste (Hungria) e por mais de 30 anos foi diretora da Instituição Lóczy para crianças órfãos.

Sua filha, Anna Tardos, em 1946 passou a dirigir a instituição, como sucessora de sua mãe. No Instituto Lóczy, criado por Pikler para atender crianças órfãs ou abandonadas após a Segunda Guerra Mundial, a médica liderou estudos sobre o desenvolvimento dos bebês e a conduta dos adultos responsáveis por essas crianças. Ela deixou como legado uma sequência detalhada de ações que os profissionais podem adotar no cuidado cotidiano dos

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e Práticas de Professores da Educação Básica

bebês, de modo a garantir seu crescimento em condições físicas, psicológicas e afetivas saudáveis3.

Sua contribuição para a educação foi mostrar que as crianças de zero a três anos têm a sua própria habilidade em movimentar-se e possuem adequação ao desenvolvimento motor autônomo e, além disso, acreditava na partilha afetuosa e profunda entre o adulto e a criança.

Vemos ressonância nas palavras de Winnicott, que nos diz que a “brincadeira estabelece o elo entre a realidade interna e externa do sujeito, mantendo-o íntegro” (1982, p. 164). O ato de brincar é algo socializante e se torna prazeroso e espontâneo, pois a “brincadeira fornece uma organização para a iniciação de relações emocionais e assim propicia o desenvolvimento de contatos sociais” (Idem, p. 163).

Contando com esta alegria de viver que se faz constante nas crianças do Maternal 1 B e aliando a esse fato a curiosidade peculiar desta faixa etária (2 anos), este projeto foi elaborado visando proporcionar vivências na turma em relação à música. Elas já possuem uma curiosidade natural a este respeito, quando participam das aulas de música semanais, executadas pelo prof° Paulo e ao manusear os instrumentos musicais que confeccionamos em sucata.

Sobre a Cultura de Paz, Paulo Freire (2006, p. 391) nos trazia a ideia de que precisamos desde a mais tenra idade formar as crianças na “Cultura da Paz”, que

necessita desvelar e não esconder, com criticidade ética, as práticas sociais injustas, incentivando a colaboração, a tolerância com o diferente, o espírito de justiça e da solidariedade. E estas práticas são incentivadas em sala de aula, ajudadas pela interação prazerosa das crianças nas aulas de música.

3 Disponível em: <http://www.revistaei.com.br/edicao/7/entrevista/a-herdeira-de-loczy->. Acesso em: 06 abril 2015.

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4 O PAPEL DA RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO DE UM CAMINHO DE PAZ

A reciclagem e o aproveitamento de sucatas é uma realidade em muitas escolas e o trabalho de recolhimento dos objetos pela comunidade revela por si só um valor caro à Cultura da Paz, que é o do respeito ao meio em que se vive, de um pensar crítico sobre o consumo exacerbado que joga fora o que está em desuso, e necessita sempre do novo para satisfazer as necessidades de bem-estar.

É necessário pensar criticamente e transformar esta idealização numa ação prática que precisa do auxílio dos pais. Neste sentido, a prática convida e integra a cadeia que forma o ambiente escolar. Educadores, funcionários, pais e alunos se unem em prol de um projeto aparentemente simples, mas poderoso: diminuir o lixo do planeta e dar novos usos ao que parecia descartável.

Crianças a partir de 2 anos já têm os movimentos mais autônomos e aceitam muito bem novos objetos e atividades propostas. A experiência revela que as crianças se mostram sempre muito curiosas no manuseio dos materiais, mesmo quando não há intenção de transformá-los. Tiram sons dos objetos antes de estarem prontos e quando veem os objetos musicais, provenientes da sucata, ficam eufóricas.

A própria exploração livre já é uma alegria e uma vivência para eles. Quando juntamos todas as crianças e eles fazem som com ajuda das educadoras, parece que uma banda se constituiu e no contentamento do encontro formam o som coletivo.

As escolas públicas e privadas em todo o Brasil devem incluir o ensino de música em suas grades curriculares. A exigência surgiu com a lei nº 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, que determina que a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica. O objetivo principal não é formar músicos, mas desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos.

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e Práticas de Professores da Educação Básica

Nas escolas da rede municipal que seguem os ensinamentos de Emmi Pikler, foram substituídos gradativamente, brinquedos que “emitiam sons e luzes por objetos mais simples, como argolas, cestas e potes. A criança não precisa de objetos barulhentos, os quais, na verdade, trazem desconforto” (AZEVEDO 2013,

p. 41).Na turma, estes

objetos foram cons- truídos pela monitora, com garrafas PET, restos de EVA, tampas de embalagens de produtos e demais acessórios para enfeites e para colocar dentro

das garrafas a fim de fazer “sons” diferenciados, dependendo do tipo de produto. Foram usadas sementes, líquido, pedaços de metais etc.

A seguir vou descrever o processo de confecção dos instrumentos.

5 MÃOS À OBRA, COMEÇA A PRODUÇÃO

Os pais foram convocados através de agenda para trazerem as garrafas PET, tampas de embalagens e de garrafas. Algumas crianças não trazem a agenda todos os dias, então para estes pais, falamos na porta da sala, ao entregarmos seus filhos no final do dia, da solicitação de trazerem a sucata.

A sucata que foi trazida consistia em:

- Garrafas PET de 1L,5L, 2L e 2,5L

- Tampas de amaciante

- Tampas de embalagens diversas

- Tampas de ferro (de garrafas de cerveja)

Luiz Santiago e Sofia (arquivo pessoal Cláudia K. Gomes)

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Além disso, para encher as garrafas e fazer o “barulho”, trouxemos grãos da cozinha da escola (arroz, feijão, canjica)

Para enfeitar foram usadas folhas em E.V.A coloridas e estampadas e restos de E.V.A. picado para colocar dentro das garrafas e obtermos um efeito alegre e atrativo aos pequenos. Cola, tesoura e perfurador foram os instrumentos utilizados para a manufatura.

Separamos as garrafas em sacolas grandes e colocamos no depósito, as garrafas que não tinham sido lavadas por dentro, nós pedimos para que as funcionárias do serviços gerais, dessem uma ajuda, higienizando-as.

As garrafas, após cortadas no formato que iriam ser confeccionados, foram levadas para casa da monitora e lá ela confeccionou, no decorrer de uma semana.

No grupo etário do Maternal 1, temos sempre uma monitora que trabalha junto com a professora, mas mesmo assim não é possível trabalhar em aula na manufatura dos instrumentos, com as crianças junto, então a monitora fez a confecção dos instrumentos fora do horário de trabalho.

Neste processo foram utilizados sites e o Youtube, onde mostram o passo a passo de como confeccionar os instrumentos, o que não é difícil.

6 ESTÁ FORMADA A BANDA DOS PEQUENOS ARTISTAS

Foi observado, ao ver o movi- mento das crianças com base na teoria de Emmi Pikler que sua ati- vidade espontânea, sua concen- tração, insistência para conseguir um objetivo proposto por si mesmo, flexibilidade e variedade em seus movimentos, autonomia e a alegria que produz o sentimento Lucas (arquivo pessoal Cláudia K.Gomes)

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de competência ao realizar por si mesmo, um movimento que surge do profundo do seu ser.

E toda a turma se envolveu no movimento e na execução dos mais variados sons, com algum incentivo das educadoras que também usavam os instrumentos que consistiam em tambores, reco-recos, pandeiros, pulseiras de guizo e vários tipos de chocalhos. O barulho era geral e a alegria foi tão contagiante que saímos para nos apresentar em outras turmas da escola.

Alguns preferiam brincar sozinhos e outros em duplas e assim foi, de acordo com o desejo de cada criança ou grupo.

Quando as crianças brincam os adultos não interferem e não lhes dão brincadeiras ou jogos, eles mesmos propõem as brincadeiras, pois sabem sempre muito bem o que fazer. E com os objetos musicais de sucata, todo este movimento ocorre muito naturalmente, na paz e na solidariedade já instaladas nas aulas da turma.

Pela música eles cantam e nos contam as suas histórias no momento em que expressam a sua cultura. E esta é a diferença em descobrir o mundo pelo prazer e através dos sons devido a “música que é, sem dúvida, um tesouro dirigido ao mais sublime do ser: sua sensibilidade. Talvez essa, que é a mais nobre faculdade humana, a faculdade de sentir, seja a melhor ponte de comunicação com nosso semelhante” (DISKIN, 2002, p. 56).

A Cultura de Paz começa desde a cooperação dos pais em trazerem garrafas e sucatas até a confecção dos instrumentos, com o ato implícito de preservação da natureza que permeia todo o processo, até chegar as mãos das crianças. Assim a família,

Emanuel e Giovanna (arquivo pessoal Cláudia K. Gomes)

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comunidade e estudantes seguem aprendendo a preservar brincando e a respeitar a paz com musicalidade e alegria.

REFERÊNCIASAZEVEDO, Silvana. Um Olhar Cuidadoso. Revista Pátio Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, ano Xl, Abril/Junho 2013.

BRASIL. Câmara. Senado. Ministério da Educação. Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.

DISKIN, Lia. Paz, como se faz? Semeando cultura de paz nas escolas. DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura Gorresio. Brasília: Governo do Estado de Sergipe: UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.

FREIRE, Ana Maria Araújo (Nita). Educação para a paz segundo Paulo Freire. Revista da Educação/PUC. Porto Alegre – RS, ano XXIX, n. 2 (59), Maio/Ago. 2006.

WINNICOTT, D. W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p. 163-164.

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Promovendo a interculturalidade na educação infantil e com demais atores do ambiente escolar para protagonizar a pazIaraci Silva1 Rosa Maria Rigo2

APRESENTAÇÃO

O projeto pretende garantir um espaço lúdico, seguro para o estar e ser criança na educação infantil no cotidiano da escola pública de ensino fundamental. Vivemos novos tempos, nos quais identificamos, no cotidiano escolar, uma “nova criança de diferentes infâncias” no contexto da escola e é preciso atentar para este fato, o qual não se iniciou agora, mas vem transcorrendo diante dos nossos olhos, juntamente com a era tecnológica, da mídia e com outros fatores socioculturais desde os anos 1990. Na contemporaneidade, existem inúmeros recursos tecnológicos disponíveis, muitos deles veiculados pelas mídias, e/ou disponibilizados livremente pela internet. Segundo Dornelles, “as crianças consomem as imagens e as materializam em si mesmas: tê-las inscritas em si significa pertencer a um espaço perpassado pelo poder, a um espaço que distingue e, ao mesmo tempo, as homogeneíza” (DORNELLES, 2005, p. 97). Neste contexto, cabe ao professor auxiliar seus alunos para que estes possam fazer escolhas conscientes, responsáveis, que agregue valor, e que os capacitem para viver com plenitude desde a infância, e

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Graduada em Pedagogia, Professora na rede pública municipal de Porto Alegre/ RS, atualmente atuando no bairro Restinga, em Porto Alegre. E-mail: <[email protected]>.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação, Pedagoga Multimeios e Informática Educativa. E-mail: <[email protected]>.

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que contribua significativamente com o processo de ensino e aprendizagem.

JUSTIFICATIVA

Na contemporaneidade, novas realidades emergem a cada dia. Percebe-se que as tecnologias sinalizam novos tempos e novos desafios. A utilização de tais ferramentas tem oportunizado acesso a um grande número de informações, que necessitam ser filtradas pelo professor. Exemplifica-se aqui as tecnologias como games, celulares, câmeras, vídeos, computadores, notebook/tablet) que, quando agregadas ao convívio diário, unidas ao modismo ditado pela mídia e pela indústria do entretenimento, acabam por inspirar e inserir personagens que servem de exemplo para as crianças. Acrescentam-se ainda os desenhos animados, tais como “Monster High”, “Barbie”, “Hot Wheels”, “Ben 10”, que classificam as crianças por gênero e, desenhos com uma linguagem diferenciada, como “Hora de Aventura” e “Bob Esponja”, que abarcam meninas e meninos em contemplação (MOMO, 2007).

Os responsáveis, por sua vez, na maioria dos casos, não têm conhecimento do que as crianças assistem, bastando tê-las condicionadas à babá eletrônica – a TV – e como subsídio de desejo atendido, aos canais a cabo. Acredita-se que os pais e a sociedade consentem que as crianças sejam entretidas pela TV por conta do crescente aumento da violência urbana. Frente a esta situação, perguntamos: Quem deverá dar conta da alienação, da vida sedentária, do apego excessivo a bens de consumo, da ausência de segurança e dos direitos a uma infância com formação integral?

Entende-se que a responsabilidade é da instituição educacional em parceria com a família. Afinal, trata-se de um direito constitucional, pois a criança é sujeito social e cultural e constitui-se subjetivamente nas relações com adultos e outras crianças. Neste sentido, as Propostas Pedagógicas de Educação

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Infantil devem assegurar a qualidade nas relações entre as crianças, bem como entre adultos e crianças, entre a cultura do brincar e suas novas linguagens.

Com isso, ao invés de uma concepção apenas instrucional e instrumental do conhecimento, gestores e professores devem considerar as crianças como crianças, reconhecendo sua experiência ética e estética e valorizando a ação crítica e criadora de cada uma. Oportunizar que alunos compartilhem sua realidade através das narrativas de vida poderá instigar a curiosidade para a construção do pensamento reflexivo, e não apenas para o preparo ao ingresso no ensino fundamental, como nos garante o artigo 208 da Constituição Federal de 1988, o qual reconhece o direito da criança de 0 a 6 anos de idade à educação em creches e pré-escolas.

O texto da Lei afirma, portanto, que a criança é um sujeito social de direitos. Além disso, a concretização do preceito legal no âmbito das instituições de ensino regular requer a superação de práticas assistencialistas, entendendo o binômio educar e cuidar como indissociável ao desenvolvimento da criança, a sua condição de sujeito, as suas especificidades, a igualdade de direitos e o reconhecimento de suas diferenças.

Para tanto, temos as políticas públicas do MEC que, por meio da instituição municipal, do gestor e do educador, devem proporcionar condições e subsídios não só teóricos, como vem acontecendo, mas práticos, para que possamos aproximar a realidade da teoria. Uma realidade marcada pelas desigualdades e pela violência pode ser identificada na vida de muitas crianças da periferia de Porto Alegre/RS, onde nossa escola está inserida. Crianças pequenas, à medida que passam a conviver com um ambiente de hostilidade e diferenças sociais, culturais e afetivas, internalizam as características de tal ambiente, entendendo-as como naturais. Tal internalização, muitas vezes, resulta de um modo de viver e de sobreviver, como, por exemplo, o tráfico de drogas e a prostituição infantil.

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Assim, acreditamos que é preciso lutar e educar contra as desigualdades e contra a barbárie sem apagar as diferenças que nos tornam humanos e que se reavivam na linguagem. É possível proporcionar esta mudança oportunizando uma cultura da paz através de uma educação humana e cultural, na qual se propicie a apropriação de diversas formas de produção da cultura, de resgate da experiência, de conquista da capacidade de ler o mundo e de reescrever a própria história. Neste sentido, é preciso gerar experiências de educação e de socialização, com práticas solidárias entre crianças e adultos, com ações coletivas, criando elos e laços capazes de gerar pertencimento. Reavivar a linguagem e a história, combatendo o esquecimento e o obscurecimento de segmentos sociais desfavorecidos ou minoritários, implica que passado e presente sejam considerados numa perspectiva crítica, tendo em vista reconstruir o futuro. (Subsídios para DCNEB, BR. 2009).

Diante do exposto, pretendemos garantir um espaço lúdico, seguro para o estar e o ser criança na educação infantil no cotidiano da escola pública do ensino de 9 anos, conforme o que determina a lei. Para propiciar tais oportunidades, apoiamo-nos em Jacques Delors nos diz que:

Para poder dar resposta ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; aprender a viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; finalmente aprender a ser, via essencial que integra as três precedentes. (DELORS, 2008 p. 89/90).

Neste sentido, os módulos do curso para a cultura de paz, intitulados “Mundo Interconectado”, “A Paz através das Práticas

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Musicais”, “Corporeidade”, “Valores Humanos”, “Práticas Estéticas” e “Narrativas de Vida”, foram fundamentais na concepção desse projeto e serão essenciais na sua execução.

OBJETIVO GERAL

Disseminar uma cultura de paz, através da interculturalidade (SARMENTO, 1997), a priori, entre crianças da educação infantil e familiares no ambiente escolar é possível. Acreditamos ser possível ouvir a voz das crianças, adolescentes e familiares, para melhorar o convívio social dentro e fora da escola.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO PROJETO

• Desenvolver o senso crítico, trabalhando valores morais e éticos, como respeito, solidariedade e princípios de responsabilidade;• Instigar a criatividade e a apreciação da estética, recorrendo às múltiplas linguagens através das artes visuais, literárias e musicais, a partir das narrativas de vida de cada aluno;• Desenvolver a percepção, através dos 5 sentidos, para atuar como agente da própria história.• Elaborar jogos vivenciais construtivos, estratégicos, cognitivos, cooperativos, teatrais e ambientais articulados a atividades do cotidiano escolar.

DURAÇÃO

O projeto deverá ser implementado na escola no segundo semestre do ano letivo de 2015, proposto em 4 períodos, sendo que cada período compreenderá um subprojeto e terá a duração de 30 dias.

METODOLOGIA

A arte e a criatividade serão os meios da promoção e das interações, oportunizados pela mediação de leitura, jogos, peças

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teatrais e musicais, utilizando as mídias disponíveis na escola. A corporeidade será abordada através da implementação de atividades como dança e brincadeiras de roda, que oportunizam a socialização e as próprias narrativas de vida, tendo a contação de histórias como ponto de partida.

O projeto será implementado em três etapas:

Etapa 1 – BRINCAR É APRENDER

1º Adaptação – conhecendo a si mesmo, o ambiente e os espaços da escola;

2º Identidade – Quem sou eu? O que é ser criança? Qual a brincadeira que eu mais gosto?

3º Exposição dialogada – familiares e responsáveis sobre o que é Educação Infantil.

4º Convivência e reconhecimento do outro questionando sobre as relações humanas com os diferentes atores so- ciais – Quem somos nós? O que é família? Quem é minha família? O que trazemos de casa? O que é ser e ter amigo? Quem são meus amigos? O que trazemos da rua? Como são as brincadeiras de rua? Quem são as pessoas que estão na escola? O que é a escola? O que fazemos na escola? Quem é o professor? Como percebemos a escola e os espaços da escola?

5º Seminário para pais, filhos, educadores e escola – a im- portância da integração destes personagens para o desen- volvimento saudável na infância.

Etapa 2 – HISTÓRIAS DE VIDA

1° Diferenças – cada um tem seu “jeito único de ser”;

2º Outrar-se – aprendendo a ser empático;

3º Entrelaçamento – pais/ responsáveis e crianças contam sua história;

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Etapa 3 – PROTAGONIZANDO A PAZ

1º O que é paz? Aprendendo na prática;

2º Promovendo a paz através da Consciência Negra – Ofici- na de contação de história sobre a literatura afro-brasileira e africana: O casamento da princesa, de Celso Sisto. Dança e música: Muriquinho, de Clementina de Jesus, com participação das crianças, familiares e outros atores da escola. Confecção da boneca “abayomi”. Plantação de girassóis, germinação.

3º Girassóis e a educação ambiental – nosso símbolo de Paz. Caminhada ecológica, procurando mobilizar outras crianças, educadores, adolescentes e pais/ moradores da comunidade escolar com vista ao reconhecimento do pertencimento dos mesmos com o lugar e distribuição de sementes/ mudas de girassóis simbolizando beleza, prosperidade, amor e paz.

Recursos a serem utilizados

• Materiais diversos (lixa, isopor, cartolina, areia, algodão);• Sucata (garrafas pet, caixas de leite, tampinhas); • Papel colorido A4; EVA, cola colorida/ glitter, tinta guache;• Camisetões usados;• Papel pardo;• Folhas de papel A3 e A4;• Retalhos de tecidos;• Cola de EVA;• Massa de modelar e argila;• Tesouras pequenas sem ponta;• Colas para papel;• Giz de cera, giz de quadro, • Mudas de girassóis (sementes);• Terra preta;

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CLASSIFICAÇÃO E EXEMPLOS DE JOGOS

Jogos de construção: são utilizados para trabalhar um novo assunto, algo novo, para explicar, exemplificar o que o que está sendo proposto por meio da participação. Assim, as crianças aprendem muito mais rápido. Quando forem se referir a tal assunto, provavelmente lembrarão da experiência.

Jogos de estratégia: ajuda no desenvolvimento das crianças para pensar, achar soluções e tomar decisões.

Ex.: tabuleiro, de computador, quebra-cabeça. Jogos em que são necessárias estratégias para chegar a um objetivo.

Jogos corporais: ajudam as crianças a se expressarem melhor, a desinibir, melhoram a timidez, ajudam na coordenação motora e nas relações pessoais. Ex.: dinâmicas.

Jogos cooperativos: desenvolvem o valor do trabalho em grupo, em que é preciso a ajuda e participação de todos.

Jogos cognitivos: desenvolve o raciocínio lógico matemático, a memorização, ajudando na percepção do abstrato. Exemplos: jogos de perguntas e respostas, quebra-cabeça, memória, sequência lógica, jogo da forca, jogo da velha, jogo de cartas, dominó, etc.

Cibercultura (games): hoje, a maioria das crianças já teve algum “tipo” de contato com jogos eletrônicos e pelo avanço da tecnologia é importante que a criança desenvolva esse conhecimento. Eles ajudam no raciocínio, criatividade, coordenação motora, numeramento, letramento, memorização, e outras áreas.

EXEMPLOS DE JOGOS

Jogo da virtude/ adivinha quem é? 1º execução: vocês irão sentar junto ao número que está escrito no chão e quem for sorteado irá com a professora para

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fora da sala e deverá pensar em uma ou mais qualidades de um dos colegas. Quando retornar a sala, não poderá falar o nome, nem indicar em quem pensou. Apenas dirá uma das virtudes que o amigo (a) possui. As crianças tentarão identificar de quem é aquela qualidade. Quando conseguirem, o jogo prossegue com a criança que foi identificada, até que todos participem.

2º fechamento: ao final do jogo, as crianças falam sobre a qualidade que receberam e se concordam ou não com a mesma. Escutar uma música sobre amizade (amigos do peito/ trem da alegria), depois cantar, dançar, falar sobre a música.

Objetivo: trabalhar a autoestima, a percepção, afetividade, a fim de promover a amizade.

Jogo das cores – adivinha o que é?

Variações

1º a professora separa em 6 partes um desenho, distribuídos dentro de 6 envelopes. Cada envelope tem a mesma parte, a qual deverá ser colorida com a mesma cor de giz de cera ou lápis de cor. Cada mesa representará duas cores e partes do desenho. 2º após colorirem, a educadora pede para unirem as partes no papel pardo e montarem a figura.

Objetivo: conhecer as cores primárias e suas derivações (secundárias) através da mistura de cores primárias.

Observações

1º faremos a experiência da mistura das cores primárias com guache e encontraremos três cores secundárias; 2º distribuiremos as partes aleatoriamente, para serem pintadas de acordo com as cores correspondentes ao número na tabela de cores; 3º reuniremos as crianças pela mesma cor e número (partes

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da figura igual; para facilitar numere-as). Relacione 6 cores aos respectivos números. Exemplo: 1= 4= 2= 5= 3= 6=

Jogo da sequência: A professora pede para dizerem temas que gostariam de montar uma história e escreve em um cartaz. Logo reúnem-se em grupos por afinidade de assunto cada um precisa falar uma palavra referente ao assunto e o próximo da roda precisa falar o do amigo, o dele, e assim por diante. Exemplo: Tema – fui à praia e levei... (professora) 1º criança: protetor solar. 2º criança: protetor solar, óculos. 3º criança: protetor solar, óculos, guarda-sol.

Os jogos recreativos também podem ajudar na participação em grupo e na rapidez: pique-bandeira, cabo de guerra, gincanas, corre cutia, etc.

Jogos no computador: quebra-cabeça; memória; “casinha”; moda; salão de beleza; brincar no paint (livre);

REFERÊNCIASBRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Subsídios para Diretrizes Curriculares Nacionais Específicas da Educação Básica/ Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para Educação Básica – Brasília: 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/subsidios_dcn.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2015.

DELORS, Jacques; EUFRÁZIO, José Carlos. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1998.

MOMO, Mariangela. Mídia e consumo numa infância pós-moderna que vai à escola. Tese de doutorado, UFRGS, Porto Alegre, 2007.

SARMENTO, Manuel Jacinto. Culturas Infantis e Interculturalidade, p. 19-40. In: DORNELLES, Leni Vieira. Produzindo Pedagogias Interculturais na Infância. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

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Promovendo a interculturalidade na educação infantil ... Iaraci Silva, Rosa Maria Rigo

______.; PINTO, Manuel. As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo. In: PINTO, Manuel; SARMENTO, Manuel Jacinto. As crianças: contextos e identidades. Portugal, Centro de Estudos da Criança: Editora Bezerra, 1997.

DORNELLES, Leni Vieira. Infâncias que nos Escapam: da Criança na Rua à Criança Cyber . Editora Vozes, Petrópolis, 2005.

______.; BUJES , Maria Isabel Edelweiss (orgs.) Educação e Infância – na Era da Informação – Editora Mediação. 1ª Ed. 160p.DCNEI, parecer 20/2009. Ministério da Educação – CNE – Conselho Nacional da Educação. Brasil, 2009.

LDB, Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <portal.mec.gov.br>, Acesso em: 24 mar. 2009.

Ensino Fundamental de 9 anos. Lei 11274, de 6 de fevereiro de 2006. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 08 mai. 2015.

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Paz, musicalidade e brincadeira – uma composição possívelTamara Carneiro Superti1 Luciane Cuervo2

A realização do módulo “Paz através das Práticas Musicais”, do curso Escolas da Paz (MEC/FORPROF – UFRGS), inspirou a concepção de um planejamento de oficina para a Educação Básica fundamentado nas recentes discussões da área. A breve fundamentação teórica foi construída na ideia de que o ato de brincar e as práticas musicais são duas importantes capacidades humanas. Apesar de sua relevância, a rotina e o planejamento escolar nem sempre possibilitam ou fomentam a musicalidade e a brincadeira com os alunos.

Sabemos que o ambiente escolar muitas vezes não reconhece a contribuição do “brincar” para aprendizagem dos alunos. Dessa maneira, a brincadeira em sala de aula ou realizada na escola se restringe apenas a alguns momentos que não devem interferir no tempo de uma aula convencional, em geral expositiva. Ou seja, o recreio, a educação física, a educação musical (ainda rara no currículo escolar) e a recreação, atividades dirigidas, que geralmente priorizam o conteúdo educativo em detrimento da espontaneidade do brincar, que é uma expressão natural da criança.

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Graduada em Pedagogia pela UFRGS. Professora substituta no Centro Educacional Marista Lúcia Mayvorne.

2 Coordenadora e Professora do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Doutoranda em Informática na Educação pela UFRGS. Professora do Departamento de Música do Instituto de Artes da UFRGS, atuando nos cursos de Música e Pedagogia.

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Paz, musicalidade e brincadeira – uma composição possível Tamara Carneiro Superti, Luciane Cuervo

No entanto, há estudos (FORTUNA, 2000) e práticas que vêm apontando para uma mudança no que diz respeito ao papel pedagógico do brincar, ou seja, a brincadeira deve ter uma intencionalidade, e uma aula lúdica também contribui para o desenvolvimento da criatividade e espontaneidade da criança e do adulto. Conforme Fortuna (2000), em uma aula que leve em consideração as características do brincar, não só na seleção dos conteúdos, mas também seja repleta de espaços para o inesperado, em que o professor reconheça a importância de uma postura ativa do aluno nas situações de ensino, sendo este sujeito de sua aprendizagem, a espontaneidade e a criatividade serão constantemente estimuladas.

Assim, cremos que, a medida que desenvolvermos a criatividade e espontaneidade nas crianças e nos adultos, estaremos favorecendo um ambiente mais rico, prazeroso. Ambiente esse que favoreça não só o diálogo entre alunos e professores, mas que também promova o compartilhamento de ideias e, consequentemente, a aprendizagem dos alunos.

Em relação ao trabalho com a musicalidade na sala de aula, entendemos que esta é uma prática que ainda sofre com a suposição de muitos professores de que é necessário ser especialista em música para poder desenvolver práticas mu- sicais na escola. Suposição essa que acaba por tornar-se justificativa de muitos professores para não trabalharem com a musicalidade.

Muitos professores entendem que o ensino da música está atrelado ao ensino de algum instrumento musical, de formação de corais, ou, ainda, de conteúdos sobre a história da música. Esses professores não estão de todo equivocados, há sim que se ensinar a história da música, de promover o canto e ensinar a tocar um instrumento, mas ensinar a música na escola é muito mais amplo do que isso. De acordo com Kater (2012), são possíveis e necessárias alternativas de ensino da musicali- dade:

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Paz, musicalidade e brincadeira – uma composição possível Tamara Carneiro Superti, Luciane Cuervo

Alternativas que ofereçam condições a crianças e jovens de tomarem contato prazeroso e efetivo com sua própria musicalidade, desenvolvê-la e vivenciá-la, mediante experiências criativas, a música em seu fazer humanamente integrador e transformador; o que significa desenvolverem seus potenciais, conhecerem-se melhor e qualificarem sua existência no mundo. Cantar e tocar, ouvir e escutar, perceber e discernir, compreender e se emocionar, transcender tempo e espaço... Há muito conteúdo e significado abaixo da superfície dessas expressões, que afloram todas as vezes que experimentamos uma relação direta e por inteiro com a música. (2012, p.43)

Considerando as práticas musicais e o ato de brincar em sala de aula como fundamentais na construção de um espaço integrador, transformador e qualificador da aprendizagem e de formação do humano, podemos dizer também que essas práticas contribuem para pensarmos na importância das relações humanas, buscando atitudes e comportamentos que promovam a cultura de paz. Conforme Maffioletti (2008):

Os estudos têm demonstrado que o desenvolvimento da musicalidade é a essência do processo de tornar-se humano. Essa musicalidade mostra-se não apenas na execução de instrumentos musicais, mas no gesto, nos movimentos e na ludicidade que garante a capacidade de brincar com os sons (2008, p.1).

Dessa maneira, é necessário que tenhamos uma compreensão da sala de aula enquanto um espaço que deva potencializar a criatividade, reconhecer e valorizar diferentes experiências e promover a construção de conhecimento através de uma abordagem que contemple a diversidade de saberes.

Nesse sentido, foi concebida uma proposta pedagógica de oficina que considera o lúdico e a musicalidade como parte

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integrante e integradora do processo ensino- aprendizagem, com o intuito de propiciar, tanto na formação do educador, quanto na formação do educando, uma experiência significativa e uma possibilidade de abertura a novos caminhos para o processo educativo.

OFICINA MUSICALIDADE – OS SONS DA ESCOLA

A partir das reflexões expostas, foi criada uma proposta de Oficina intitulada “Musicalidade – Os Sons da Escola”. A seguir, apresentaremos o Plano de Aula:

Proposta: Musicalidade – Os sons da escola.

Tempo da oficina: 15h

Ementa

A presente oficina possui como objetivo favorecer a sensibili- zação dos sentidos da percepção e da integração sociocultural entre educandos e educadores. Através de exercícios lúdicos de escuta e de percepção, registro e reflexão sobre os sons que nos rodeiam, bem como produção de sons com o próprio corpo, almeja-se fomentar a consciência dos sujeitos enquanto seres musicais.

Objetivo geral

Fomentar a musicalidade dos alunos por meio de brincadeiras de exploração sonora do próprio corpo e percepção dos sons do ambiente escolar.

Metodologia

1º encontro Em sala de aula, vamos começar com um exercício de escuta, dos sons que nos rodeiam, por 3 minutos seguidos. Todos em silêncio, registrando todos os sons que escutarmos: passarinho, aparelhos, conversas, respiração, tosse, obra, bola, etc.

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Vamos seguir com o exercício em outros espaços da escola: refeitório e recreio. Os alunos também podem sugerir outros espaços da escola que queiram observar e escutar.

Exemplo e proposta 1: Os sons do refeitório. Registrar os diferentes tipos de sons: pratos, talheres, conversas, risadas, mastigação, etc.

Exemplo e proposta 2: Os sons do recreio. Registrar todos os sons possíveis. (Tempo estimado: 3 minutos para registros dos sons)

Após esse momento de escuta ativa, faremos uma roda de conversa sobre os diferentes sons registrados, chamando a atenção dos alunos para o fato de que esses sons estão acontecendo ao mesmo tempo em que outros sons estão sendo emitidos.

• Daremos continuidade com as seguintes reflexões: Dentre esses sons que ouvimos, o que pode ser definido como po- luição sonora e o que é agradável de ser escutado?

• Dentre esses sons que ouvimos, como poderíamos classificá-los? Como naturais ou artificiais? Como contínuos ou interrompidos?

• Se pudéssemos escolher um tipo de música, ritmo de música que represente cada lugar observado, qual seria?

• Se pudéssemos vocalizar todos os sons registrados e todos vocalizassem ao mesmo tempo? Será que só podemos utilizar a voz?

Trabalhar com a turma as duas oficinas organizadas pelo Núcleo Barbatuques® (André Hosoi, João Simão e Maurício Maas).3

3 As oficinas que sugerimos para serem trabalhadas foram retiradas do E-book Música na escola e podem ser acessadas nos links <http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/Pr2-9.pdf> <http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/Pr2-10.pdf>.

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OFICINA CORPO MUSICAL – JOGO DO ECO

ObjetivosExplorar timbres e possibilidades sonoras que o corpo é capaz

produzir.

DescriçãoOs alunos serão organizados em uma roda e é conveniente

que os mesmos estejam despojados de qualquer utensílio que possam vir a prejudicar seus movimentos corporais, como anéis, colares e pulseiras.

Após um leve alongamento das principais partes do corpo (coxa, ombros, braço, antebraço e pulsos), os alunos serão convidados a acompanhar o professor na apresentação dos seguintes sons:

• Som tocado com os pés: Bater os pés no chão com a sola inteira.

• Sons tocados com a mão: Bater as mãos na coxa, barriga e peito (na região do osso esterno).

• Variação dos sons de palmas (grave, estrela, aguda, costas de mão e pingo).

Grave Estrela Estalada Costas das mãos Pingo

• Jogo do Eco: jogo de imitação que prioriza o exercício da escuta (percepção fina de timbres) e da atenção. Estimula o desenvolvimento da noção indivíduo/coletivo, a capacidade de imitação/criação, a exposição da individualidade e a desinibição.

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O professor pode fazer algumas combinações de sons simples para serem imitadas pelo grupo (por exemplo, duas palmas graves e um pé no chão, ou, ainda, dois pés no chão e uma batida no peito).

OFICINA CORPO MUSICAL – SONS DO MUNDO

Objetivo

Pretendemos continuar a explorar as possibilidades sonoras que o corpo é capaz produzir. Para isso, relembraremos os timbres aprendidos na oficina anterior e introduziremos as possibilidades de sonoridades com a boca, incluindo variações com a voz e percussão vocal. Utilizar os recursos corporais sonoros para reproduzir sons exteriores (instrumentos musicais, sons da natureza, do mundo, entre outros).

• Sons Corporais: o professor rapidamente relembra com os alunos as palmas aprendidas na aula anterior.

• Sons usando mãos e rosto: Percutir as mãos nas bochechas, palma na boca e vácuo melódico (“poc-poc” é o nome usado pelo Núcleo Barbatuques).

• Sons usando mãos e rosto:

mãos na bochecha palma na boca vácuo melódico (poc-poc)

• Percussão vocal: Explorar as possibilidades fonéticas e onomatopeias: Tchi, Tum, Pá, sons usando o ar (Sssss, Ffffff, respirações). Sons de vogais, consoantes e a mistura entre elas, assim como os diversos tipos de assobios podem ser usados.

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• Jogo da imitação dos sons do mundo: uma história sonorizada.

É possível pedir para os alunos imitarem com a voz (e com o corpo) os sons de instrumentos musicais e outras fontes sonoras. Uma bateria, uma guitarra, uma corneta, uma britadeira, um carro, abelhas, uma cidade, um avião, pássaros. As possibilidades podem ser infinitas e podem gerar resultados muito interessantes! O professor pode contar uma história (utilizando um livro, por exemplo) e os alunos vão sonorizando a história ao mesmo tempo.

2º encontro. Será retomado o material sonoro improvisatório criado pelos alunos no primeiro encontro. A ideia é dar uma forma musical, com início, meio e fim, criando um arranjo musical colaborativo.

Após essa prática musical, apresentaremos aos alunos o CD “Tumpá”, do grupo de percussão corporal Barbatuques para apreciação. Em seguida, trabalharemos com a turma o jogo do Tumpá4.

Encerra-se o trabalho com a discussão e a experimentação de colaborações para a música “Tumpá”, no intuito de persona- lizar a versão da turma. Fomentar-se-á a discussão sobre possibilidades de desdobramentos dessas atividades no coti- diano escolar.

Reflexão

Voltaremos à pergunta sobre que tipo de música representaria os lugares observados e será proposto que os alunos criem, com suas vozes e sons dos seus corpos, uma música para cada um dos ambientes observados (a turma estará organizada em grupos e cada grupo ficará encarregado de compor a sua música).

4 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=37OP-SOe9dY>.

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3º encontro. Os grupos serão convidados a narrarem como foi o processo de criação das músicas, o que mais chamou a atenção do grupo durante as atividades desenvolvidas na oficina, o que foi positivo e negativo nos percursos das atividades.

Finalmente, os grupos poderão apresentar as suas composições para a turma.

O final do trabalho poderá ser a gravação das músicas dos diferentes sons da escola e filmagem das atividades, bem como a gravação final das composições realizadas nos grupos.

ARTICULANDO A EDUCAÇÃO PARA A PAZ NO CONTEXTO DA BRINCADEIRA MUSICAL

“A música me parece ser o único lugar em que se desenvolve um comportamento e uma atitude, que é a escuta. A escuta é uma experiência diferente da experiência do ouvir, que é do cotidiano, que é contido e provém da música a qualquer tipo de som e ruído. A escuta implica num tipo de atenção específica que tem tudo a ver com atenção e a concentração do pensamento. A relação final acaba sendo entre música e pensamento”. (FAVARETTO, 2012).

Ao pensarmos nossa oficina “Paz, musicalidade e brincadeira – uma composição possível” - baseamo-nos em alguns conceitos que acreditamos serem indispensáveis para a formação do humano: diálogo, sensibilidade, integração e respeito. E o que esses conceitos têm em comum é o que nos motivou a fazer determinada reflexão: a importância sobre a escuta. Se tomarmos os conceitos separadamente, percebemos que a escuta está presente em cada um deles, já que para haver diálogo pressupõe-se que haja escuta; para nos sensibilizarmos é necessário a escuta no sentido de entender, compreender e sentir algo; quando trabalhamos a integração seja de conteúdos, ideias, saberes e de gentes, a escuta está ali para reunir tudo; e o respeito nada mais

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é que a escuta compartilhada, que considera o outro e reconhece a sua importância.

A escuta aqui deve ser entendida como escuta ativa, atenta e que gera pensamento, reflexão, aprendizagem e, conforme Freire (1996), é escutando que aprendemos a falar com os outros, ou seja, é através da escuta, do diálogo que aprendemos e compartilhar saberes.

Nossa oficina parte da escuta dos educandos sobre os diversos sons que compõem o ambiente escolar e os sons que podemos produzir com nossos corpos. Para isso ser efetivado, iniciamos a trabalhar com a escuta sobre cada um desses espaços (escola, corpo). A partir da escuta e da reflexão sobre a mesma, pretendemos ressaltar a atenção, a concentração do pensamento e a experiência do ouvir.

Outro ponto que destacamos é a possibilidade e dispo- nibilidade que se faz importante por parte do educador de desenvolver estudos, pesquisas, práticas pedagógicas que abordem a musicalidade numa perspectiva ampla, simples, lúdica e a importância de desconstruirmos a ideia de que muitas vezes essas práticas são inviabilizadas com a justificativa de não sermos especialistas na área.

Nossa proposta de oficina é um testemunho de que é possível desenvolvermos tais práticas, ao mesmo tempo em que ressaltamos que, para desenvolvê-las, o educador também precisa estudar, observar, refletir e ter vivências sobre a musicalidade. O educador também precisa aprender a ouvir, dialogar, sentir, experimentar, e principalmente, reconhecer-se enquanto ser musical que também é.

Ao propormos essas práticas, nossa intenção é de evidenciar que a composição entre educador, educando, brincadeiras e musicalidade podem ser instrumentos para a construção de uma cultura de paz. E essa composição é possível por acreditarmos que a educação (musical, para a paz, para a vida) por ser ampla, processual, coletiva, plural, amorosa, dialógica, também

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acontece nos encontros de diferentes saberes (pedagógicos, filosóficos, musicais, culturais), no encontro de seres humanos comprometidos (consigo e com os outros) e engajados na construção de uma sociedade mais justa e solidária. Seres humanos comprometidos com a composição de uma cultura de paz.

REFERÊNCIASFAVARETTO, Celso. Roda de conversa 1. In: ALLUCCI, R.R., JORDÃO, G., MOLINA, S., TERAHATA, A. M. (COORD.) A música na escola. São Paulo: ALLUCCI & ASSOCIADOS COMUNICAÇÕES, 2012.

FORTUNA, T. R. Sala de aula é lugar de brincar? In: XAVIER, M. L. M. e DALLA ZEN, M. I. H. (org.) Planejamento em destaque: análises menos convencionais. Porto Alegre: Mediação, 2000. (Cadernos de Educação Básica, 6) p. 147-164.

MAFFIOLETTI, L. A.. A dimensão lúdica da música na infância. In: XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2008, Porto Alegre, RS. Trajetórias e processos de ensinar e aprender: sujeitos, currículos e cultura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.

KATTER, Carlos. Por que Música na Escola?: algumas reflexões. In: ALLUCCI, R.R., JORDÃO, G., MOLINA, S., TERAHATA, A. M. (COORD.) A música na escola. São Paulo: ALLUCCI & ASSOCIADOS COMUNICAÇÕES, 2012.

SCHAFER, R. Murray. Afinação do mundo. Uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

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As cantigas e os contos brasileiros: Uma proposta de cultura de paz integrando escola, família e infâncias de 4 a 10 anosIaraci de Souza Silva1 Aline Lucas Guterres2

INTRODUÇÃO

Este artigo descreve uma proposta de oficina com vistas à cultura de paz. A partir deste tema, a proposta foi desenvolvida focando atingir alunos entre 4 e 10 anos de idade, com o objetivo geral de estabelecer vínculo entre família e escola, o passado e o presente, crianças e adultos. Para tanto são sugeridos cantos e contos brasileiros associados às reflexões sobre a cultura de paz. Devido a esse caráter de envolvimento familiar entre adulto e criança, inevitável e necessariamente as atividades recomen- dadas respingam além do público alvo, envolvendo todos que convivem com as crianças, principalmente família e comunidade escolar.Este trabalho justifica-se a partir da necessidade observada durante a prática docente do fortalecimento das relações entre família e escola, crianças e adultos. Defende-se que, a partir de um aprofundamento dessas relações, existe um caminho para o desenvolvimento da cultura de paz na escola e na vida das crianças. As cantigas e contos brasileiros possuem um significado

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Graduada em Pedagogia, Professora na rede pública municipal de Porto Alegre/RS, atualmente atuando no bairro Restinga, em Porto Alegre. E-mail: <[email protected]>.

2 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação pela UFRGS. Professora de Música da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. E-mail: <[email protected]>.

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As cantigas e os contos brasileiros Iaraci de Souza Silva, Aline Lucas Guterres

que vai além de uma abertura para se chegar ao fim desta proposta, estes servem de alicerce entre o passado e o presente, entre os conhecimentos familiares ensinados a seus filhos.

A metodologia é fundamentada na pedagogia de projetos associada à pedagogia da interculturalidade. A oficina será dividida em três etapas, contendo atividades variadas e criativas, todas interligas. As etapas são as seguintes: (1) roda de conversa sobre concepções das crianças e suas famílias sobre Paz; (2) sarau de cantigas folclóricas e contação de histórias; (3) mostra cultural do reconto.

Figura 1 – Ilustração de atividade com cantigas folclóricas.

REFERENCIAL TEÓRICOCultura de paz na escola contemporânea

No contexto da sociedade contemporânea, promover a cultura da não-violência desde a Educação Infantil apresenta-se cada vez mais como uma necessidade na formação dos estudantes. Para tanto, é preciso oportunizar no cotidiano escolar práticas que contribuam em sua formação enquanto sujeitos éticos, sintetizadores, disciplinados, criativos e respeitosos (GARDNER, 2007, p.13), bem como com inteligência emocional suficiente para estar no “mundo” e resolver conflitos internos e externos de forma pacífica, sendo capazes de exercer a “empatia” (GOLEMAN, 2012, p.127).

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Os pessimistas dirão: não há como “concorrer” com um mundo cada vez mais tecnológico e menos humano e buscar a sintonia entre estes dois polos, tampouco envolver as crianças em projetos culturais que abordem e construam conheci- mento a partir do que sabem e dos ambientes de convívio das mesmas. Em contrapartida, nós, os otimistas, responderemos: há sim, mas é preciso princípios essenciais à formação do professor, como: a ética, o respeito às diferenças, o conhecimento científico, a cidadania, a empatia, o amor, a escuta ativa, a relação dialógica, “o dar voz às crianças”, partindo do que elas trazem consigo de casa, de si mesmas e das relações com seus pares e com os adultos para dentro da escola, constituindo assim a “peda- gogia da interculturalidade”, como nos diz Sarmento (2002). Com isso, disseminarmos uma educação que desenvolva nos pequenos o senso crítico, reflexivo, considerando-os sujeitos de suas ações e, por conseguinte, capazes de promoverem “cultura de paz”.

Defendemos que, seguindo os pensamentos “otimistas” descritos anteriormente, alcançaremos uma resposta ao seguinte questionamento: “Como cotejar, de maneira viva e atualizada, as múltiplas vias que se abrem a partir dos avanços tecnológicos, sem abrir mão de determinados fundamentos imprescindíveis para um desenvolvimento humano amplo?” (MOLINA, 2012, p.7). Molina (2012, p.7) discorre sobre este pertinente assunto:

Se no contexto da sociedade presente colocam-se – como temas urgentes – a consolidação de um desenvolvimento sustentável e um maior compro- metimento solidário nas relações, a transformação desse cenário global passa necessariamente pelo fortalecimento da formação de cada indivíduo e, consequentemente e para tanto, pelo fortalecimento da educação como um todo. Nesse sentido, a educação musical, agora oficialmente reincorporada ao ensino básico em nosso País, mostra-se como uma das ferramentas preciosas para a real efetivação desses anseios.

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Molina (2012) enxerga na música um caminho para alcançar elementos formadores para uma cultura de paz no mundo contemporâneo. Motivadas por esta visão, propomos a reali- zação de um projeto que envolva a musicalidade vinculada à literatura do nosso folclore e às cantigas populares (poesias cantadas), utilizando como recurso chave a contação de histórias para promovermos a Paz junto aos pequenos da Educação Infantil, integrando familiares, junto a outras crianças dos Anos Iniciais, adolescentes e adultos presentes no contexto da escola.

A música e a criança

Agregando, então, a música nesta proposta, se parte de dois princípios: o primeiro está relacionado com a concepção de que “não é preciso ser um especialista em música para fomentar o desenvolvimento musical dos educandos” (CUERVO, 2014). O segundo é fundamentado na ideia de que o desenvolvimento musical se dá de muitas maneiras, como pelo canto ou por tocar algum instrumento, ou, ainda, através de movimentos corporais, brincadeiras, atividades lúdicas, além da apreciação de músicas (MAFFIOLETTI, 2008). Seguindo esses princípios, “cai por terra” o mito de que é necessário ter “dom ou talento” para trabalhar e expressar a musicalidade. Estudos científicos comprovam que mesmo pessoas comprometidas em sua plasticidade neural conseguem desenvolver sua musicalidade e, com isto, ter maior qualidade de vida e desenvolvimento físico, cognitivo e emocional. Pode-se concluir, então, que a música, assim como outras linguagens são práticas lúdicas e inclusivas, que envolvem desempenho cognitivo e criativo.

Apesar de a música estar cotidianamente presente em nossas vidas, nos diferentes meios de comunicação e a musicali- dade humana existir desde os tempos mais remotos (CUERVO, 2015), a prática musical em família não é mais tão comum nos lares do século XXI. Especificamente sobre a prática do canto

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no contexto contemporâneo, a educadora musical Ilari (2009) descreve:

Cantar para crianças tem sido ao longo dos séculos algo muito natural; uma espécie de comportamento espontâneo do ser humano. No entanto, diversas pesquisas realizadas em todo o mundo sugerem que os pais e as mães de hoje em dia cantam muito menos para seus filhos que seus antepassados (ILARI, 2009,p. 29).

Segundo a autora, isso ocorre devido à preferência dos pais em escolher um CD ao invés de cantarem para seus filhos. A autora lembra que estar na escola significa para a criança entrar no mundo do adulto, pensar como adulto, e a alfabetização simboliza um grande ritual de passagem para este novo mundo. A criança passa a observar o mundo com outros olhos e outros ouvidos, sua imaginação não tem fronteiras (ILARI, 2009, p. 42). Nada mais coerente que aproveitar este período criativo da criança para desenvolver atividades musicais relacionadas com a cultura de paz na escola.

OBJETIVOSObjetivo geral

Estabelecer um vínculo entre o passado e o presente, família e escola, crianças e adultos, mostrando às crianças e familiares diferentes formas de interação, por meio da oralidade dos contos e da musicalidade das cantigas do folclore brasileiro associados à cultura de paz.

Objetivos específicos

• Identificar e construir a concepção de paz das crianças;

• Conhecer cantigas e brincadeiras de roda do tempo da vovó e da mamãe e de outras regiões do nosso país, associando- as às histórias do folclore;

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• Abordar, através das atividades reflexivas, valores sociais tais como: respeito, responsabilidade e solidariedade, esti- mulando a afetividade e sensibilidade entre os pequenos;• Proporcionar às crianças e familiares que sejam protago- nistas da sua história.

PÚBLICO

Crianças de 4 a 10 anos.

CRONOGRAMA

Uma hora/aula semanal durante o período de um semestre letivo, totalizando 15h.

METODOLOGIA

A metodologia a ser utilizada é baseada na pedagogia de projetos associada à pedagogia da interculturalidade. A proposta abrange diferentes atividades, envolvendo a família e a comunidade escolar. Durante todo o período da oficina serão recolhidas imagens em áudio e vídeo para posterior edição e apresentação aos envolvidos como um mosaico de ideias que ocorrerem durante as aulas. Para que seja possível garantir a organização, o planejamento e a fluidez do projeto, este foi dividido nas etapas a seguir.

Figura 2 – Ilustração de atividade de roda de conversas.

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ETAPA 1: Roda de conversa sobre concepções das crianças e suas famílias sobre Paz

Momento 1

Inicialmente será realizada uma roda de conversa com as crianças sobre a concepção do que é paz, com o registro das ideias em forma de escrita ou desenho. Em seguida, será iniciada a apreciação e canto das cantigas do folclore escolhidas pela professora e as que as crianças conhecerem e lembrarem. Ao final da aula, ocorrerá uma proposta de pesquisa com os familiares acerca da concepção sobre o que é paz. Convite aos pais para participarem da próxima oficina.

Momento 2

Oficina especial sobre cultura de paz com crianças e familiares iniciando com audição de mensagens de Gandhii e de Jesus Cristoii.

“Você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim.”

Mahatma Gandhi

“Amai-vos uns aos outros.”

João 15:17

Audição, reflexão e discussão sobre as canções “Paciência” de Lenineiii e “Paz” de Gabriel, O Pensadoriv”.

Com base nas letras das canções e nas reflexões sobre as mensagens de Gandhi e Jesus Cristo realizar uma construção de ideias em forma de mosaico com desenhos e frases utilizando materiais diversos para a produção.

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Paciência Compositores: Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Até quando o corpo pede Um pouco mais de alma A vida não pára… Enquanto o tempo Acelera e pede pressa Eu me recuso faço hora Vou na valsa A vida é tão rara… Enquanto todo mundo Espera a cura do mal E a loucura finge Que isso tudo é normal Eu finjo ter paciência… O mundo vai girando Cada vez mais veloz A gente espera do mundo E o mundo espera de nós Um pouco mais de paciência… Será que é tempo Que lhe falta prá perceber? Será que temos esse tempo Prá perder?

E quem quer saber? A vida é tão rara Tão rara…Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Mesmo quando o corpo pede Um pouco mais de alma Eu sei, a vida não pára A vida não pára não… Será que é tempo Que lhe falta prá perceber? Será que temos esse tempo Prá perder? E quem quer saber? A vida é tão rara Tão rara… Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calmaAté quando o corpo pede um pouco mais de almaEu sei a vida não para....A vida não para não...A vida não para!A vida é tão rara!

Letra integral da canção Paciência (Lenine e Dudu Falcão)

Paciência Compositores: Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Até quando o corpo pede Um pouco mais de alma A vida não pára… Enquanto o tempo Acelera e pede pressa Eu me recuso faço hora Vou na valsa A vida é tão rara… Enquanto todo mundo Espera a cura do mal E a loucura finge Que isso tudo é normal Eu finjo ter paciência… O mundo vai girando Cada vez mais veloz A gente espera do mundo E o mundo espera de nós Um pouco mais de paciência… Será que é tempo Que lhe falta prá perceber? Será que temos esse tempo Prá perder?

E quem quer saber? A vida é tão rara Tão rara…Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calma Mesmo quando o corpo pede Um pouco mais de alma Eu sei, a vida não pára A vida não pára não… Será que é tempo Que lhe falta prá perceber? Será que temos esse tempo Prá perder? E quem quer saber? A vida é tão rara Tão rara… Mesmo quando tudo pede Um pouco mais de calmaAté quando o corpo pede um pouco mais de almaEu sei a vida não para....A vida não para não...A vida não para!A vida é tão rara!

Letra integral da canção Paciência (Lenine e Dudu Falcão)

Figura 3 – Ilustração de atividade com interação com familiares.

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PazCompositores: Gabriel, O Pensador,

Thiago Mocotó e Lenine

Aqui se planta, aqui se colhe, mas pra flor nascer é preciso que se molhe

É preciso que se regue pra nascer a flor da paz É preciso que se entregue com amor e muito mais.

É preciso muita coisa, e que muita coisa mude Muita força de vontade e atitude

Pra poder colher a paz tem que correr atrás.E tem que ser ligeiro!

Pra poder colher a fruta é preciso ir à luta.E tem que ser guerreiro!

Refrão:

Pela paz a gente canta, a gente berra. Pela paz eu faço mais. Eu faço guerra.

Eu vou a luta, eu vou armado de coragem e consciência

Amor e esperança A injustiça é a pior das violências Eu quero paz, eu quero mudança.

Letra parcial contendo apenas trechos selecionados do rap Paz (Gabriel, o Pensador, Thiago Mocotó e Lenine).

ETAPA 2: Sarau de cantigas folclóricas e contação de históriasMomento 1

Iniciar com roda de conversa com as crianças sobre cantigas do folclore. Em seguida, realizar contação de histórias do folclore escolhidas pelas crianças. Identificação das posturas dos personagens e discussão sobre bem e o mal com construção de gráfico da estória e da cantiga que mais gostaram.

Momento 2

Organização de oficina para as crianças realizada pelos familiares sobre as cantigas de roda das suas infâncias e apresentação em forma de sarau sobre cantigas, poesias e contação de histórias.

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Dicas de materiais

PALAVRA CANTADA. Cantigas de roda: canções folclóricas do Brasil [CD]. Brasil: MCD, 1998.

CIA CABELO DE MARIA. Cantos de Trabalho. [CD] São Paulo: Sesc São Paulo, 2007.

LOMONACO, Marco Aurélio. Folclore. Mitos e lendas do folclore brasileiro. Ed. IBRASA, 2009.

ETAPA 3: Mostra cultural do recontoMomento1

Iniciar com apreciação de diferentes ritmos e sons (sons corporais, sons dos ambientes e das diferentes regiões do Brasil). Construir instrumentos com sucata e materiais alternativos. Criação de arranjos para as cantigas envolvendo o tema Paz.

Momento 2

Reconto das histórias escolhidas pelas crianças, tendo em vista a cultura de não violência, ou seja, recontar histórias da literatura contextualizando o tema.

Construção do livro virtual da turma com os arranjos das cantigas e falas sobre o tema Paz.

Momento 3

Mostra cultural do reconto: exposições das adaptações das cantigas com a participação de familiares e apresentação do vídeo mosaico com imagens das crianças, pais, escola, professores, funcionários, familiares respondendo a pergunta: “Como promover a PAZ?”.

RECURSOS

Humanos: professores, familiares e crianças.

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As cantigas e os contos brasileiros Iaraci de Souza Silva, Aline Lucas Guterres

Tecnológicos: datashow, computador, câmera de vídeo, máquina fotográfica, celular, aparelho de som.

Materiais: jogos, brinquedos, sucata, lixa, areia, plásticos, cola glitter; Tesouras, colas (EVA, glitter, comum, colorida), folhas (A3, A4, coloridas, cartolina, papel cartão), tinta guache, retalhos, TNT, EVA, lantejoulas, entre outros materiais disponíveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta tem por finalidade dar voz às crianças da Educação Infantil por meio da interação com a família e a escola através de cantos e contos do folclore brasileiro. Mostrando que as mesmas são capazes de produzir cultura, bem como são atores sociais em diferentes contextos, entre eles, o da escola, modificando assim, a percepção de muitos adultos sobre elas. Além do objetivo proposto, espera-se sensibilizar grande parte da comunidade escolar para a questão acima mencionada, assim como promover a Paz no ambiente escolar e nas famílias das crianças participantes das atividades. Almeja-se que a ideia seja uma semente na escola e na vida das crianças, que dela se desenvolvam continuidades promotoras da cultura de paz.

REFERÊNCIASCUERVO, Luciane (org). Módulo 2: práticas musicais para a paz. Curso de Extensão Educação Integral: docência na escola em tempo integral – Escolas da Paz. [on-line] Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/course/view.php?id=27040:>. Porto Alegre, 2014. Acesso em 24 fev. 2015.

GABRIEL O PENSADOR. Paz. Rio de Janeiro: Estúdio Toca do Bandido. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9IfFyH7VIb4>. Acesso em 21 abr. 2014.

GARDNER, Howard. Cinco mentes para o futuro. Tradução Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2007.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: A teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Tradução: Marcos Santarrita. Editora Objetiva. Rio de Janeiro, 2012.

ILARI, Beatriz. Música na infância e na adolescência: um livro para pais, professores e aficionados. Curitiba: Ibpx, 2009.

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e práticas de Professores da Educação Básica

As cantigas e os contos brasileiros Iaraci de Souza Silva, Aline Lucas Guterres

LENINE. Paciência. In: LENINE. Na Pressão. [CD] Rio de Janeiro: BMG Brasil Ltda, 1999.

MAFFIOLETTI, Leda A. A dimensão lúdica da música na infância. In: XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2008, Porto Alegre, RS. Trajetórias e processos de ensinar e aprender: sujeitos, currículos e cultura. Porto Alegre, RS: EDIPUCRS, 2008.

MILANI, Feizi M.; JESUS, Rita de C. D. P. (org.). Cultura de paz: estratégias, mapas e bússolas. Salvador: INPAZ, 2003.

MOLINA, Sergio. Vozes e ouvidos para a música na escola. In: JORDÃO, Gisele; ALLUCCI, Renata R.; MOLINA, Sergio; TERAHATA, Adriana Miritello (Coord.). A música na Escola. São Paulo: Allucci & Associados Comunicações, 2012.

SARMENTO, M. J.; DORNELLES, Leni V. (org). Produzindo pedagogias interculturais na infância. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

UNESCO. Manifesto mundial da não violência. Disponível em: <http://www.unesco.org.br/eventos/index.html>. Acesso em 24 set. 2014.

NOTASi Mohandas Karamchand Gandhi ou Mahatma Gandhi indiano defensor de ideias da

não-violência e busca da verdade, grande inspirador de movimentos contra o racismo e igualdade das mulheres.

ii Jesus Cristo é a figura central do cristianismo, considerado por acadêmicos como um líder e reformista igualitário. Pregava os ensinamentos cristãos como o amor ao próximo.

iii Lenini é cantor e compositor brasileiro.iv Gabriel, o Pensador é um rapper brasileiro e compositor de rap, algumas de suas letras

possuem reflexões críticas sobre a sociedade.

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África: um nome e um lugar distante?Raquel Verginia Rodrigues Orio1 Jair Felipe Bonatto Umann2

1 PLANEJAMENTO DE OFICINA

A cultura molda nossas idéias e atitudes. Para construir uma Cultura de Paz necessitamos, portanto, de uma nova coreografia: uma mudança em nossos padrões mentais e ações. (DISKIN, 2012. p.10)

O título e a citação têm a intenção de iniciar estes escritos de maneira a introduzir ideias que temos para realização da oficina: “O continente Africano, o bairro Restinga e a geração de uma Cultura de Paz”.

A intenção de trabalhar com o bairro parte da escrita do Trabalho de Conclusão da Graduação: A Arte-Educação na Comunidade Restinga: Andanças e Mudanças, no qual foram abordadas as questões: como ser morador do bairro é ver/ser visto como maloqueiro, marginal e vileiro. Como coloca Diskin, precisamos mudar padrões mentais e ações para assim gerar a Paz. Para que tal ocorra, se faz necessário conhecer e respeitar outros pontos de vista.

O bairro Restinga está localizado na periferia de Porto Alegre, a 26 quilômetros do centro. Hoje possui certa estrutura para se

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Pós-graduanda lato sensu em Os Estudos Culturais e os currículos escolares contemporâneos da Educação Básica. Licenciada em Artes Visuais. Professora de artes visuais na EMEF Lidovino Fanton. e-mail: [email protected]

2 Professor do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação pela PUCRS. Professor Assistente nos cursos de Educação Física e Dança da UFRGS. e-mail: [email protected]

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Raquel Verginia Rodrigues Orio, Jair Felipe Bonatto Umann

viver, porém é considerado um bairro dormitório uma vez que não possui ofertas de emprego para maioria da população, sujeitando grande parte dos moradores a realizarem uma viagem de mais de uma hora para chegar ao trabalho.

A história de formação da Restinga é semelhante à de muitas outras comunidades. Famílias inteiras saíam do interior do Estado devido à mecanização do campo para começarem uma nova vida na cidade, acreditando que ao chegarem as condições seriam melhores. Porém, o mercado de trabalho pedia mão de obra qualificada, a qual os pequenos produtores rurais não possuíam, ficando assim marginalizados. Estes fatos deram origem a vilas em Porto Alegre por volta da década de 50 (ORIO, 2013). Locadas junto ao centro da cidade, acabaram por causar problemas como mal-estar junto aos outros moradores mais antigos da região, além da questão visual por moraram em malocas, pequenas casas construídas com restos de materiais de demolição, madeiras e telhas velhas e quebradas.

Com o crescimento de Porto Alegre, seu planejamento e organização, o destino dos pequenos agricultores e biscateiros, expulsos do campo, foi tentar a vida num lugar afastado do centro, a então Vila Restinga.

Atualmente a Restinga é um dos territórios da paz3 da cidade de Porto Alegre apesar dos altos índices de violência, principalmente para com jovens negros. De acordo com os dados do site Observa POA (2015), na Restinga 84,72% das mortes de jovens negros ocorreram por homicídio no ano de 2012, ficando a região como a última colocada em relação às outras regiões de Porto Alegre. Os dados ainda apresentam um aumento desse número desde o ano de 2009. Com esta análise podemos perceber o quanto é necessário um debate acerca de uma cultura de paz nessa comunidade.

3 São áreas da cidade que se propõe a realizar ações para redução dos altos índices de violência letal, envolvendo jovens entre 15 e 29 anos.

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Raquel Verginia Rodrigues Orio, Jair Felipe Bonatto Umann

O grupo com o qual desenvolveremos a atividade é composto por jovens, adultos e idosos da EJA4 de uma escola da Rede Municipal de Porto Alegre, localizada no bairro Restinga. A variação de idades nesse trabalho será um ponto a favor, uma vez que a história do bairro se mistura com a própria história dos moradores mais antigos, fato que os mais jovens pouco ouviram falar ou nada sabem.

Ao elaborarmos este plano, pensamos em buscar uma das origens da população restinguense, neste caminho de resgate, chegamos, dentre outros lugares, à África, esse continente que muitas vezes é reduzido na sua compreensão, sem considerar a diversidade presente em seus distintos países como apresenta Lima:

É muito importante pensar a África em sua totalidade, não apenas ao sul do Saara, nem tampouco apenas a África atlântica, e tentar nos aproximar ao máximo das perspectivas que os africanos imprimiram à sua própria história. No tempo e no espaço, ir ao encontro das muitas áfricas – por elas mesmas, não apenas para uma busca da nossa história -, pois esses caminhos podem nos revelar mais sobre nós e sobre a humanidade do que imaginamos. (LIMA, 2015)

Assim, temos como objetivo deste trabalho, proporcionar aos alunos uma aproximação com o continente africano, relacionando aspectos culturais, de alimentação, religião e vestimenta com os aspectos culturais do bairro Restinga. As temáticas relacionadas aos estudos da história e da cultura afro-brasileira estão amparadas pela Lei de Diretrizes e Bases de forma bem especifica no artigo 26-a:

Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório

4 Educação de Jovens e adultos.

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Raquel Verginia Rodrigues Orio, Jair Felipe Bonatto Umann

o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. (BRASIL, 2015)

Como objetivos específicos, buscaremos:– Através das artes visuais, proporcionar aos alunos uma percepção sobre as identidades e a história de formação da Restinga e a partir disso que possam criar outros conceitos com relação ao bairro;– Discutir história da arte, conceitos, arte e artistas contemporâneos;– Estabelecer novas relações com a escola e com a comunidade; – Conhecer manifestações culturais afro-brasileiras como crenças, religiões; artes, culinária e o que representou a escravidão para o povo africano;– Problematizar a relação entre o negro e o preconceito;– Conhecer como vivem e o que são comunidades quilombolas, através de visita ou documentário;– Verificar quais influências da cultura africana estão presentes no Brasil, no Rio Grande do Sul em Porto Alegre e na Restinga.

As aulas acontecerão de maneira prática e teórica, com discussões, trabalhos individuais e em grupo, produção plástica e apreciação do grupo. Na sequência segue a intenção de programação dos encontros que ocorrerão semanalmente com duração de 1h30min.

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Raquel Verginia Rodrigues Orio, Jair Felipe Bonatto Umann

Encontro 01

África é um?- Debate disparador relacionado ao que os alunos já conhecem sobre a África. Questionário de apoio: - O que você conhece sobre a África? Como você imagina que sejam as pessoas que lá vivem? O que elas comem? Como elas se vestem?- Análise e revisão do Mapa Político do continente africano.- Assistir vídeo Angola 10 anos (ANGOLA, 2015)

Encontro 02

- Leitura de imagem impressas de máscaras africanas (FRENDA, Perla; GUSMÃO, Tatiane; BOZZANO, Hugo, 2013. p. 65) - Questionário de apoio:- Quais as características de cada máscara? Que significado você atribui a cada uma? Qual a função você acha que ela tem?- Partilhar ideias em duplas, debate.- Instigar o olhar dos alunos para percepção dos traços, formato do nariz, boca, etc.- Produção de modelos desenhados de máscaras inspirados nos modelos africanos.

Encontro 03

- Será que a Restinga tem a ver com a com a África?- Construir história de formação do bairro partindo de imagens e relatos dos colegas idosos da turma. (ORIO, 2013)- Música Testando - Elen Oléria. (OLÉRIA,2015)- Discussão temática: discriminação, preconceito, cotas, extermínio de jovens negros de periferia.

Encontro 04

- Visitando artistas do continente africano através de imagens da coleção Africana de Arte Contemporânea. (FUNDAÇÃO SINDIKA DOKOLO, 2015)- Religião, comida, roupa estampa: influências de um continente em um bairro.

Encontro 05

- Projeto e início da produção Afritinga. (Proposta de produção de esculturas ou máscaras)- Partindo dos modelos das máscaras desenhadas no encontro 02, iniciar a modelagem com jornal de máscara ou escultura.

Encontro 06 - Acabamento da produção do encontro 05 em papel machê.

Encontro 07 Montando painel – Afritinga

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EXTRAS

- Musica Zumbi – Jorge Benjor- Debate sobre imigração e tráfico de pessoas.- Contos africanos- Quilombos- Capoeira- Samba enredo Escola Estado Maior da Restinga de 2011 A Restinga Multirracial Celebra a África de Mandela na Festa do Carnaval” (ESTADO MAIOR DA RESTINGA)

Com estas práticas esperamos que os participantes possam expressar suas opiniões sobre estas temáticas e, a partir disso, possibilitar diálogos entre as histórias que cada um traz consigo. Ao final das ações, temos a intenção de organizar um sarau, ou roda de conversa para registro de impressões sobre os encontros, se possível com instrumentos e, se for adequado ao andamento do projeto, reunidos em torno de uma pequena fogueira.

Sabemos que o projeto está suscetível a modificações de acordo com o desenvolvimento, há probabilidade de que o rumo seja diferente do pensado inicialmente. Estaremos atentos aos sinais que o grupo demonstrará ao longo do processo podendo acrescentar ou retirar algumas ações.

Acreditamos que trabalhar com um fragmento da história de um povo é movimentar ações que promovam paz. Paz esta que nasce do respeito à diferença pelo conhecimento dessa história e a geração de outros olhares para essa realidade. Temos o desejo que as reflexões possam despertar questões, e assim fomentar inquietações e proposições com relação à Restinga e também ao lugar que ela ocupa em Porto Alegre.

REFERÊNCIASANGOLA. 10 anos de paz e estabilidade: o que mudou e o que vai mudar em Angola. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=zouZpbZonW0>. Acesso em 18 abr. 2015. Documentário

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Raquel Verginia Rodrigues Orio, Jair Felipe Bonatto Umann

BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 18 abr. 2015.

BRASIL. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS. Mapa da Violência: mortes matadas por armas de fogo. [S.l.]; 2013. Disponível em: <http://mapadaviolencia.org.br>. Acesso em: 30 set. 2013.

DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura Gorresio. Paz, como se faz?: semeando cultura de paz nas escolas. Brasília: Governo do Estado de Sergipe, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.

ESTADO MAIOR DA RESTINGA. Samba enredo 2011. Porto Alegre, 2011. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/estado-maior-da-restinga/samba-enredo-2011.html>. Acesso em: 18 abr. 2015.

FRENDA, Perla; GUSMÃO, Tatiane; BOZZANO, Hugo. Arte em interação. São Paulo: IBEP, 2013

FUNDAÇÃO SINDIKA DOKOLO. Coleção Africana de Arte Contemporânea. Disponível em: <http://www.fondation-sindikadokolo.com>. Acesso em: 18 abr. 2015.

GAMALHO, Nola. A produção da periferia: das representações do espaço ao espaço de representações no Bairro Restinga Porto Alegre RS. Porto Alegre: UFRGS, 2009.

HEIDRICH, Rosanne Lipp João. Projeto e Realidade na Consolidação de uma Área Urbana: Bairro Restinga. Porto Alegre: UFRGS, 2000.

LIMA, Mônica. História da África e dos africanos no Brasil: cuidados no aprender e no ensinar. Disponível em: <https://africaempalavras.wordpress.com/2012/10/14/historia-da-africa-e-dos-africanos-no-brasil-cuidados-no-aprender-e-no-ensinar/comment-page-1/>. Acesso em: 18 abr. 2015

MEDEIROS, Laudelino. Vilas de Malocas: ensaio de sociologia urbana. Porto Alegre: UFRGS, 1951. 92 p.

MOREIRA, Antonio; CÂMARA, Michele. Reflexões sobre currículo e identidade: implicações para prática pedagógica. In: MOREIRA, Antonio; CANDAU, Vera (org.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2008.

NUNES, Marion Kruse (org.). Memórias dos Bairros Restinga. Porto Alegre: SMC/PMPA, 1990.

OLÉRIA, Ellen. Testando. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v= mYA43VTpxIA>. Acesso em 18 abr. 2015. Vídeo

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Raquel Verginia Rodrigues Orio, Jair Felipe Bonatto Umann

ORIO, Raquel. A Arte-Educação na Comunidade Restinga: Andanças e Mudanças. Trabalho de Conclusão de Graduação. UFRGS: Porto Alegre, 2013

ROSA, Manoela Cristina Sfalcin da. “Queriam conhecer novas tribos, em busca de comida eles encontraram o Brasil”: o ensino da história da África e dos afrodescendestes nos anos iniciais do ensino fundamental. Trabalho de Conclusão de Graduação. UFRGS: Porto Alegre, 2014

PORTO ALEGRE. Prefeitura Municipal. História do bairro Restinga. Porto Alegre. Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/observatorio/default.php?p_ bairro=153&hist=1&p_sistema=S>. Acesso em: 22 mai. 2013.

_____. Observa POA: Região Restinga. Porto Alegre: [s.n.], 2015. Disponível em: <http://portoalegreemanalise.procempa.com.br>. Acesso em: 14 abr. 2015.

SANTOS, Renata Ap. Felinto. Arte Africana e Afro-Brasileira em sala de aula. Grupo de Pesquisa “Barroco Memória Viva”. São Paulo: Biblioteca do Instituto de Artes UNESP, 2006.

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Oficina “Musicando na Restinga” Debora Fagundes1 Simone Rasslan2

1 MAPEAMENTO DO LOCAL DE ATUAÇÃO

A escola Dom Luiz de Nadal está inserida na comunidade Restinga, bairro criado em 1967, na zona sul de Porto Alegre. Seu surgimento foi oriundo do remanejo de moradores pelo plano administrativo de urbanização da capital para a retirada das chamadas “vilas” do centro da cidade. Desta forma as famílias foram desterritorializadas e enviadas para um terreno adquirido pela prefeitura, reconhecida depois como Restinga Velha.

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Psicomotricidade Relacional na Educação Infantil Graduada em Pedagogia Educação Infantil pela UFRGS Professor de Educação Infantil na escola EMEI Dom Luiz de Nadal.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da UFRGS. Bacharel em Regência Coral pela UFRGS e em Pedagogia – Orientação Educacional - pela UFMS. Tem carreira como artista (cantora e pianista) há mais de 25 anos. E-mail: <[email protected]>.

Figura 1 – Foto da turma no pátio da escola tirada no segundo semestre

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Oficina “Musicando na Restinga” Debora Fagundes, Simone Rasslan

A Restinga Nova teve seu surgimento após a implementação pelo governo de novas moradias para algumas famílias do território, diferenciando-se da Restinga Velha e constituindo um novo espaço, porém, atrelada ao mesmo conceito de distanciar o que se considerava ruim e feio para a cidade. Se- gundo Gamalho:

O espaço Restinga foi artificialmente criado a partir da ordem tecnocrática de uma corrente de pensamento que se colocava como racional e modernizante, reprojetando a conjuntura social, cuja manifestação teve materialidade na segregação socioespacial. Oculta na ideo-logia da higienização, havia a contradição do programa de urbanização, que incluía e excluía os sujeitos, definindo quem partilharia dos benefícios da cidade moderna (GAMALHO, 2009, p.76).

A EMEI localiza-se na Restinga Nova há mais de vinte e três anos e pertence à Rede de Escolas Municipais de Porto Alegre atendendo atualmente, no horário entre 7 e 19 horas, em torno de cento e vinte crianças matriculadas. Entre os funcionários que trabalham nesta instituição estão: a equipe diretiva, contando com diretora e vice-diretora, oito professores, apenas um deles de música, doze monitores, cinco estagiários, uma secretária, cinco funcionários na equipe de limpeza, cinco na equipe de cozinha e um ocupando a função de técnica em nutrição. A escola possui as seguintes turmas no ano de 2015: Berçário 1, que atende crianças até um ano de idade, Berçário 2A e Berçário 2B que atende crianças de 1 a 2 anos de idade, Maternal 1 com crianças de 2 a 3 anos de idade, Maternal 2A e Maternal 2B com crianças de 3 a 4 anos de idade, Jardim 1A e Jardim 1B com crianças de 4 a 5 anos de idade.

Duas vezes por semana as turmas têm aula de música com um professor especialista que a pouco tempo chegou na escola para compor a equipe.

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Oficina “Musicando na Restinga” Debora Fagundes, Simone Rasslan

Há pouco tempo a instituição reestruturou seu Projeto Político Pedagógico de forma cooperativa entre a equipe de funcionários e a comunidade. A instituição realiza reuniões de formação mensalmente, que envolve os educadores durante dois turnos, além de periodicamente, receber a supervisão da Secretaria Municipal de Educação – SMED.

2 MAPEAMENTO DA TURMA

A turma do Maternal 1, foco deste planejamento, possui dezenove crianças de dois a três anos, uma professora titular, duas monitoras e uma estagiária, que organizam-se da seguinte forma: pela manhã atuam uma das monitoras e uma estagiária que ficam até o meio dia. A professora chega no meio da manhã e acompanha o grupo até o fim do dia, junto com a outra monitora que chega somente à tarde. As crianças, em sua maioria já completaram três anos e se mostram comunicativas, demonstram curiosidade ao descobrir o mundo em seu cotidiano. Interessam-se por músicas, jogos simbólicos, histórias das mais variadas e desafios que convocam à pesquisa, fundamental na construção das aprendizagens em grupo e individuais. Os conflitos, muito comuns nesta faixa etária, são mediados pelas educadoras que precisam estar presentes a todo o momento, auxiliando nas relações.

Figura 2 – Foto da turma no pátio da escola tirada no segundo semestre

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Oficina “Musicando na Restinga” Debora Fagundes, Simone Rasslan

3 OFICINA “ MUSICANDO NA RESTINGA”

3.1 Objetivo

Vivenciar situações de aprendizagem na linguagem da música valorizando o conhecimento da comunidade da Restinga para a ampliação de repertórios musicais, da oralidade, da leitura de mundo e das relações interpessoais no exercício de vivência da cultura da paz.

3.2 Justificativa

A música apresenta-se como uma linguagem essencial nas práticas diárias da escola, tendo, na Educação Infantil, fundamental relevância na constituição dos sujeitos. Nas vivências com os sons, com as melodias e canções a criança se conecta com a cultura, não tendo o papel somente de reprodutora do que lhe chega aos ouvidos, mas também de produtora e investigadora de novas formas de manifestações, ampliando o conhecimento de si e do mundo. A valorização da música e não somente dela, mas de todas as diferentes expressões culturais, além de serem fontes ricas para o conhecimento da comunidade, também carregam o sentido de pertencimento a um grupo, memórias e histórias que narram culturas. Segundo Maffioletti (2001, p.2), “Enquanto educadores musicais, precisamos mapear as habilidades musicais, para tornar mais próximo o contato com as manifestações da nossa cultura”.

A comunidade da Restinga, bairro onde a instituição está inserida, possui grande afinidade com a escola de samba “Estado Maior da Restinga” que se organiza todo o ano para o desfile de Carnaval. A maioria dos moradores frequenta os ensaios, sendo comum levarem as crianças para participar.

A Estado Maior da Restinga foi fundada em 20 de março de 1977, tendo como cores o verde, o vermelho e o branco e como símbolo um cisne branco. Desfilou pela primeira vez em 1979 e teve seu primeiro título em 1982. Sua quadra que é local dos

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ensaios se localiza no bairro Restinga, tendo como boa parte dos frequentadores os moradores da Restinga Velha, Restinga Nova e Vila Nova. Para Santos (2011, p. 21):

a valorização da cultura popular, em especial o carnaval, passa pela compreensão de que discussão compreende contradições, hibridismo, transmissão e herança cultural, “condições diaspóricas locais”, onde prioritariamente luta-se para se dar sustentação material e simbólica a uma comunidade, cujos membros chegaram com a sua cultura como o seu capital simbólico.

A oficina proposta busca oportunizar às crianças, no âmbito escolar, a experiência com sua cultura, através de vivências musicais, como a apreciação e a composição realizadas pelas crianças que já estão envoltas num universo riquíssimo. Dessa forma, é possível que o processo de empoderamento, territorialização e pertencimento a esta comunidade seja potencializado e valorizado. Na sala as educadoras percebem o quanto esta realidade faz parte do cotidiano para a turma, sendo inclusive, tema de conversa na roda. Além disto, durante as brincadeiras espontâneas, as crianças usam latas, potes e outras sucatas como instrumentos de percussão, batendo para produzir sons e cantando.

As propostas com instrumentos musicais já eram realizadas ao longo do ano, mas ainda era preciso dar voz a tanto interesse pela escola de samba, portanto entendo que é essencial

Alternativas que ofereçam condições a crianças e jovens de tomarem contato prazeroso e efetivo com sua própria musicalidade, desenvolvê-la e vivenciá-la, mediante experiências criativas, a música em seu fazer humanamente integrador e transformador; o que significa desenvolverem seus potenciais, conhecerem-se melhor e qualificarem sua existência no mundo. (KATER, 2012, p.42)

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Nosso papel na oficina é de mediar experiências enri- quecedoras e desafiadoras com materiais já construídos, mas também, incentivar a criatividade e imaginação com liberdade para a criação. Como professora de Educação Infantil, penso que, na medida em que proponho situações de aprendizagem nas e para as infâncias partindo do repertório do que as crian- ças já possuem, me afasto da ideia de um currículo conteudista da escola voltado ao que socialmente se considera legítimo em nossa cultura (neste caso para o ensino da música). Os conteúdos passam a ser a própria vida dos sujeitos com suas incertezas e imprevisibilidades, de forma a transcender uma única linguagem. Sendo assim, o professor não é o detentor do saber e sim um investigador para melhor planejar suas formas de intervenção, reestruturando a cada dia o seu percurso com o grupo.

O contato desde cedo com as sonoridades presentes no ambiente, nos objetos, no próprio corpo, são ações próprias da ação do brincar infantil que está latente no cotidiano e que muitas vezes não é visto como uma manifestação repleta de significados. Desta forma, queremos propor situações em que as crianças possam explorar os sons dos materiais, criar ritmos, melodias, letras de canções de autoria com as famílias, entre outros, promovendo um ambiente rico em possibilidades e investigação.

Figura 3 – Bandeira da Escola de Samba Estado Maior da Restinga

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Oficina “Musicando na Restinga” Debora Fagundes, Simone Rasslan

O que constatamos é que o repertório possui papel estruturante no planejamento pedagógico-musical, e que precisamos construir uma relação equilibrada entre as preferências musicais dos alunos e a ampliação dessas preferências através da ludicidade e do estudo dinâmico, potencializado pelas possibilidades que a música contemporânea também oferece. (CUERVO & PEDRINI, 2010, p.56)

Vemos a necessidade de estudar para conhecer mais sobre este contexto cultural a fim de criarmos maior vínculo e apropriação do modo de ser desta comunidade, onde a música está latente durante todo o ano. Esta é uma das maneiras pelas quais o trabalho com as crianças pode ser potencializado, o entendimento do que significa esse contexto na vida das crianças, a necessidade de um olhar sensível e investigador. Queiroz e Marinho (2009, p.66), discutem o patrimônio cultural imaterial como base para o ensino da música, salientando

No que se refere especificamente ao trabalho de educação musical, lidar com diferentes expressões culturais permite contemplar uma série de objetivos fundamentais para o ensino de música nas escolas, como: desenvolver práticas integradas com os temas transversais, contemplando a “pluralidade cultural” de múltiplos contextos sociais; compreender diferentes expressões culturais (do bairro, da cidade, do estado, da região, do país e do mundo), conforme enfati- zado na proposta para a área de música dos Parâ- metros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997, 1998); pesquisar e descobrir diversificados aspectos musicais de distintas culturas (instrumentos, ritmos, melodias, estéticas vocais etc.); conhecer e vivenciar a diversidade do patrimônio cultural imaterial do mundo, caracterizado pela música de diferentes etnias; entre outros.

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Oficina “Musicando na Restinga” Debora Fagundes, Simone Rasslan

Acreditamos que é preciso estar atento às práticas musicais para utilizá-las como base para as aprendizagens, realizando uma leitura crítica para fomentar as mais profundas e significativas descobertas do grupo. Apenas reproduzir as canções da comunidade certamente não fará com que as crianças adquiram novos conhecimentos. Para isto são necessárias práticas que caminhem levando em conta a formação integral dos sujeitos e o papel social da escola. Serão precisas ações que promovam a construção da criticidade, percebendo a música como fenômeno artístico e cultural em nosso meio capaz de promover o diálogo no percurso de busca pela “liberdade”, como já nos indicava Paulo Freire. Para tanto é necessário que o professor se sinta parte desta jornada, que queira caminhar assumindo este papel de mediador e investigador com seu grupo.

Pois quando, num processo educativo o professor se transforma em educador, inverte-se a preponderância de uma formação para a música por uma formação pela música, tornando possível aos alunos inscreverem-se num espaço de construção do sujeito, no qual estratégias dinâmicas de aprendizado (as lúdicas, por exemplo) permitem um “desaprisionamento” individual que favorece a apreensão da questão da identidade e da alteridade (fundamento do desenvolvimento humano). Espaço dentro do qual, os saberes pessoais dialogam com os saberes consagrados, onde os “saberes induzidos” fazem contraponto com os “saberes construídos”. (KATER 2012, p.43)

Esta ideia de criarmos juntos espaços de vivências e aprendizagens tem grande relação com a escola da paz que buscamos. Viver a paz é descentralizar papéis e também desierarquizar elementos culturais para a não criação de juízo de valor, mas tomando como manifestações que possuem uma história, um olhar e uma importância na trajetória dos sujeitos no âmbito coletivo e individual. Segundo KATER (2012, p.45):

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Ao promover a diversificação de experiências musicais, a criação de músicas originais e suas apresentações, daremos então condições para a construção de novos olhares e ouvidos, tanto por parte da comunidade escolar e seu entorno, quanto dos próprios alunos; novas percepções inclusivas, que possibilitarão recriar, com valor positivo, as leituras atualmente vigentes nas relações entre “eu & outro”, “aluno & professor”, “criação & educação”, “exclusão & participação”.

Assim, articulamos estas ideias apresentadas a objetivos maiores que vão ao encontro de uma educação voltada para a valorização da diversidade, da pluralidade, da busca por uma sociedade que almeja vivenciar a paz em todos os âmbitos e que anseia por um olhar mais humano, mais amoroso e soli- dário.

Figura 4 – Escolha de sucatas para confecção de instrumentos musicais

Figura 5 – Audição de Cd com músicas de escolas de samba e uso de violões pelas crianças

3.3 Duração da Oficina

Esta oficina foi pensada como um Projeto de Trabalho a ser desenvolvido com as crianças ao longo de um mês, tendo a participação das famílias também como objetivo. Durante as propostas talvez seja necessário mais tempo, ficando a critério dos educadores ampliar este período se achar necessário.

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3.4 Estratégias

• Roda de conversa com as crianças sobre a escola de samba “Estado Maior da Restinga” - verificação do que o grupo sabe – coleta de informações;

• Visualização da turma de imagens (fotos, gravuras) da escola de Samba e vídeos de algumas apresentações com uso da televisão e/ou Datashow;

• Audição de CDs com músicas da escola de samba da Restinga e outros grupos;

• Pesquisa sobre os instrumentos musicais da bateria da escola de samba – uso de computador, imagens, informações da comunidade, entre outros;

• Identificação de instrumentos musicais utilizados na bateria da escola de samba através de imagens e sons de cada um;

• Manuseio de alguns instrumentos musicais emprestados pelas famílias e a comunidade;

• Construção de instrumentos musicais com sucatas diversas – enfoque nos instrumentos de percussão junto com as crianças e as famílias;

• Oficina de percussão com a turma com uso dos instrumentos construídos e gravação;

• Confecção de uma pista de carrinhos / mapa com lona e identificação do barracão da escola de samba;

• Palestra para as famílias sobre a Escola de Samba estado Maior da Restinga e os Projetos sociais desenvolvidos, vinculando com a Cultura da Paz (Mestre Guto da Bateria e monitora Francelle que faz parte da Escola):

• Gravação de um filme das crianças falando sobre as aprendizagens da Oficina;

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• Produção de letras de música de carnaval com o tema da Cultura da Paz pelas famílias e educadores da escola. Utilização desse material para exposição;

• Visita do Mestre de bateria da escola de Samba Estado Maior da Restinga e seus alunos de percussão de uma escola do bairro. Mostra do trabalho realizado pelo Mestre.

Figuras 6 e 7 – Visita do Mestre Guto, responsável pela bateria da escola de samba da Restinga, e dos alunos de percussão

3.5 Recursos

• Televisão, Datashow e rádio reprodutor de CD;

• Máquina fotográfica para registrar e gravar vídeos;

• Computador para pesquisa;

• Imagens impressas do computador e de revistas;

• Sucatas diversas, papeis, durex colorido, cola, cola quente, retalhos e outros materiais para confecção de instrumentos;

• Lona grande e contact colorido;

• CDs com músicas de carnaval adquiridas com a comunidade;

• Instrumentos de percussão emprestados pela famílias e comunidade;

• Cartolina e canetas coloridas para os cartazes de letras de carnaval;

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4 AVALIAÇÃO

A avaliação será realizada diariamente ao longo de toda a oficina, sendo os registros da professora uma forma de sistematizar e refletir sobre as próximas etapas e continuidade das atividades. Também haverá conversas com a equipe diretiva e as outras educadoras a fim de pensar sobre o trabalho que está sendo realizado em consonância com a Cultura da Paz.

Além do grupo, é essencial o olhar sobre cada criança, seu envolvimento com o tema, o interesse em construir e manipular os instrumentos, a oralidade nas narrativas e conversas realizadas, bem como a construção de novas possibilidades criativas. Também será observada a participação das famílias e da comunidade nas propostas ao longo do período da oficina, pois esta será mais uma oportunidade de aproximação com a escola, das muitas que procuramos realizar ao longo do ano.

O tema da paz, que parece muito pertinente nesta comunidade, precisa ser discutido no cotidiano da escola por adultos e crianças, precisa estar vivo e ser redescoberto nas práticas diárias, nos sentimentos, falas e ações de cada sujeito. E mais, precisa estar inserido dentro do currículo da Educação infantil como um tema que atravessa as diferentes linguagens e que transborda na própria vida de todos.

Figura 8 – Pista de carrinhos feita com lona do bairro Restinga

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REFERÊNCIASCUERVO, Luciane & PEDRINI, Juliana. Flauteando e criando: experiências e reflexões sobre criatividade na aula de música. Revista Música na Educação Básica. Porto Alegre, V. 2, N. 2, setembro, 2010.

GAMALHO, Nola Patrícia. Remover para Promover: espaço concebido e representações do espaço no bairro Restinga – Porto Alegre/ RS. In: A Produção da Periferia: das representações do espaço ao espaço de representações no Bairro Restinga – Porto alegre / RS. 2009. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Geociências. Programa de Pós-Graduação em Geografia. Porto Alegre, 2009. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/16658>. Acesso em: 03 abr. 2015.

KATER, Carlos. Por que Música na Escola? - Algumas reflexões. In: A Música na Escola. Ministério da Cultura e Vale. Allucci e Associados Comunicações. São Paulo: 2012. Disponível em: <www.amusicanaescola.com.br> Acesso em: 20 mar. 2015.

MAFFIOLETTI, Leda de A. Musicalidade humana: Aquela que todos podem ter. In: Anais do IV Encontro Regional da ABEM Sul, I Encontro do Laboratório de Ensino de Música/LEM-CE-UFSM. Educação Musical hoje: Múltiplos Espaços. Novas demandas profissionais. UFSM/RS, 23 a 25 de maio de 2001. p.53-63.

QUEIROZ, Luis Ricardo Silva; MARINHO, Vanildo Mousinho. Práticas para o ensino da música nas escolas de educação básica. Música na educação básica. Porto Alegre, v. 1, n. 1, outubro de 2009. ISSN 2175 3172.

SANTOS, Tavana Nunes. A trajetória da S.R.B. Estado Maior da Restinga e seu papel na constituição da identidade e visibilidade do bairro Restinga (Porto Alegre 1977 a 2002). Dissertação de Mestrado – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Porto Alegre, 2011. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10923/3927>. Acesso em: 03 abr. 2015.

Figura 9 – Brincadeira de fazer barulho com latas e gravetos no pátio

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Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da pazAngela Maciel Maki1 Elisiane Perufo Alles2 Soraia Santana3

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta proposta de oficina pautado na cultura da paz e tem sua origem nas experiências vividas no curso Escolas da Paz. O curso Educação Integral: Escola da Paz é uma realização do Centro de Formação de Professores (FORPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) financiado pelo Ministério da Educação (MEC) do Governo Federal através da Rede Nacional de Formação de Professores (RENAFOR) sendo destinado aos professores do Rio Grande do Sul (rede pública e particular) tendo como objetivo proporcionar a paz como uma cultura educacional propiciando aos cursistas alternativas para o seu autoconhecimento, conhecimento de seus alunos, educação integradora e subsídios para a qualificação docente visando a abordagem curricular de acordo com a cultura da paz.

Ao longo das atividades desenvolvidas nesta proposta e baseadas em nossas experiências como educadoras na Educação Infantil, percebemos que as vivências e práticas com a música

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Pós-graduanda lato sensu em Psicopedagogia. Graduada em Pedagogia. Professora do Ensino Médio no Colégio São Marco – Santa Maria/RS. E-mail: <[email protected]>.

2 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Educação Ambiental e Psicopedagogia Clínica e Institucional. Graduada em Pedagogia. Professora da Educação Infantil na EMEI Vila Vitória – Santa Maria/RS. E-mail: <[email protected]>.

3 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Pedagoga. Mestranda em Educação – UFRGS. E-mail: <[email protected]>.

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Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da paz Angela Maciel Maki, Elisiane Perufo Alles, Soraia Santana

e o brincar em sala de aula são recursos que integram e fazem com que o aluno interaja nas atividades propostas de uma forma lúdica e recreativa, uma vez que eles evoluem por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções das brincadeiras feitas pelos colegas ou outras crianças e adultos. Nesse processo, ampliam gradualmente sua capacidade de visualizar a riqueza do mundo externamente real, e, no plano simbólico, procuram entender o mundo dos adultos, pois ainda com conteúdos diferentes, estas brincadeiras, possuem características comuns: a atividade do homem e suas relações sociais e de trabalho.

Segundo Finck (2007), a brincadeira:

é algo muito sério e fundamental quando falamos de criança e aprendizagem. O ato de brincar contribui para um melhor desenvolvimento da criança em todos os aspectos: físico, afetivo, intelectual e social. Brincando, a criança organiza e constrói seu próprio conhecimento e conceitos, relaciona ideias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral e corporal, reforça as habilidades sociais e reduz a agressividade. (FINCK, 2007, p.84)

Partindo deste pressuposto, decidimos realizar uma oficina de cantigas antigas e brincadeiras cantadas, uma vez que a criança aprende de forma muito mais significativa através do lúdico. Para Finck (2007),

A ludicidade deve ser um dos principais eixos norteadores do processo ensino-aprendizagem, pois possibilita a organização dos diferentes conhecimentos numa abordagem metodológica com a utilização de estratégias desafiadoras. Assim, a criança fica mais motivada para aprender, pois tem mais prazer em descobrir e o aprendizado é permeado por um desafio constante. (FINCK, 2007, p.84)

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Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da paz Angela Maciel Maki, Elisiane Perufo Alles, Soraia Santana

Considerando que a ludicidade é um dos principais eixos norteadores do processo ensino-aprendizagem optamos, através deste projeto/oficina, por proporcionar o resgate de cantigas conhecidas por pais, tios, avós e demais familiares dos alunos da Educação Infantil - Infantil II4 do Colégio Marco Polo, no município de Santa Maria/RS. Acreditamos que ao tornar o aprendizado mais significativo, será possível potencializá-lo com a presença efetiva da família na construção dos conhecimentos, valores e habilidades, pois no momento em que a família está presente na escola o aluno sente-se amparado, acolhido e amado.

Desta forma, justifica-se a importância deste projeto pela interação entre gerações e pelo resgate das cantigas e brincadeiras cantadas, já tão esquecidas por muitos na atualidade e substituídas pelos brinquedos eletrônicos e recursos tecnológicos (celulares, tabletes, computadores, dentre outros).

Assim buscamos resgatar os vínculos afetivos, o convívio com os familiares interagindo e trocando conhecimentos, uma vez que é através do convívio com as pessoas e com o meio social em que vive que a criança vai ampliando sua produção sonora, tanto em qualidade quanto em quantidade. Desta forma, buscamos com este projeto/oficina trabalhar com a música, proporcionando um resgate das cantigas e brincadeiras cantadas pelos pais e avós em suas infâncias, integrando família e escola.

1.1 A música e a brincadeira cantada na escola

A música pode adquirir um papel relevante no cotidiano escolar e para isso se faz necessário estudo, prática, diversidade e reflexão, sendo inserida de forma significativa no planejamento escolar, que em parceria com as demais áreas do conhecimento integra o conjunto de saberes fundamentais para o desenvolvimento pleno do educando. Logo, o ensino da música na escola, além do exposto, é importante por nos colocar em relação com o

4 Nomenclatura utilizada pela instituição para identificar o grupo de crianças de 3 a 4 anos.

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Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da paz Angela Maciel Maki, Elisiane Perufo Alles, Soraia Santana

mundo, tanto dos sons quanto do silêncio; proporcionando o desenvolvimento de relações artísticas e estéticas com nós mesmos e com o outro.

De acordo com os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil – (2006, p.16) todas as crianças podem aprender, mesmo antes de se expressarem através da lin- guagem verbal, sendo capazes de interagir a partir de outras linguagens (corporal, gestual, musical, plástica, teatral, entre outras) desde que acompanhadas e mediadas por parceiros mais experientes.

De uma forma ou de outra, todos os seres humanos lidam com música em diferentes momentos de sua vida, em atividades cotidianas. Todos nós reconhecemos e respondemos à música de maneiras distintas, de acordo com o momento e as funções que a música assume em nossa vida, nas atividades mais simples ou mais complexas. (BELLOCHIO; FIGUEIREDO, 2009, p.37)

Logo, vivenciar a música é captar, experimentar, viver, cantar, dançar, tocar instrumentos, sentir em profundidade os elementos existentes e sintetizá-los. Assim é possível aguçar os canais de percepção, incentivando a interação ativa do aluno com a música, experimentando e experienciando as descobertas sonoras em um ambiente lúdico-musical, proporcionando aos alunos momentos de intensas explorações, percepções e experimentações individuais e coletivas, necessárias ao seu desenvolvimento.

O resgate das cantigas e brincadeiras, a interação da família com a escola, as atividades musicais incluídas no planejamento didático-pedagógico e os conhecimentos adquiridos ao longo do curso nos remetem às considerações e contribuições das colegas e professoras do Curso de Educação Integral Escolas da Paz, principalmente no módulo de musicalidade no qual nos relatam a importância destas cantigas e brincadeiras. A professora Luciane Cuervo nos traz que

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Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da paz Angela Maciel Maki, Elisiane Perufo Alles, Soraia Santana

As brincadeiras cantadas, bem como as cantigas de roda, são um excelente recurso para o ambiente escolar, trabalhando direta e indiretamente inúmeros elementos, como integração, comunicação, expressão, desenvolvimento motor e de linguagem, dentre tantos outros que desenvolvem a nossa musicalidade. Hoje em dia é necessário que o professor fomente um resgate dessas canções de tradição oral, já que elas vêm perdendo espaço para a música comercial e pop, além de não vermos mais crianças brincando nas ruas. (CUERVO, 2014)

Baseadas pela experiência em sala de aula e por estas escritas é que decidimos optar pela oficina de cantigas antigas e brincadeiras cantadas. Sabe-se que a criança aprende de forma muito mais significativa através do lúdico e que esta aprendizagem pode se potencializar ainda mais se contar com a presença efetiva da família na construção deste conhecimento. Por isso a importância do resgate de cantigas que foram cantadas anteriormente por seus pais, tios, avós e demais familiares.

Pode-se perceber em vários momentos em sala de aula a resposta imediata da criança à música, basta tocar uma música no rádio que as crianças já começam a cantar e dançar. A música está presente na rotina das crianças, muito embora isso venha sendo discutido, é uma prática dentro de salas de aula de Educação Infantil. Mas os momentos de rodas cantadas e as brincadeiras com música são muito frequentes também, muito se usa com as crianças na hora do pátio, nas aulas de música com o professor especializado da área.

A brincadeira e as rodas cantadas podem ajudar a criança a se soltar mais, a se sentir mais confiante. Como ensina Celeiro (2010),

As “Rodas Cantadas” são uma brincadeira que envolve a música, o corpo, o ritmo, e por vezes um desafio, uma piada, um tema que envolve e diverte. É uma

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Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da paz Angela Maciel Maki, Elisiane Perufo Alles, Soraia Santana

manifestação da recreação, atividade lúdica, que produz prazer e alegria. Também é amplamente utilizada em ambiente educacional para estimular, sensibilizar, “quebrar o gelo”, integrar, alegrar. As rodas cantadas são capazes de estimular a memória, desenvolver o ritmo, melhorar as capacidades físicas, a coordenação motora, também por não se basear em movimentos corretos ou errados, nem em performance do canto ou do gesto, são capazes de melhorar a autoestima, possibilitar o prazer de fazer parte de algo, ser parte de um grupo, realizar coletivamente. (CELEIRO, 2010)

Através das cantigas e rodas cantadas é possível reviver e vivenciar a cultura do nosso e de outros povos de forma lúdica e prazerosa. Assim são os dias na Educação Infantil do Colégio Marco Polo. Constatamos uma grande harmonia nas brincadeiras que são regidas pela música, se instalando de maneira muito natural um ambiente de paz. E é através deste ambiente prazeroso que procuramos este resgate de brincadeiras cantadas e cantigas antigas, que podem desempenhar um papel fundamental no momento de inserir a criança ao ambiente escolar, no conhecimento do seu eu e no conhecimento do outro.

2 OBJETIVOS

A finalidade deste projeto/oficina é propiciar o resgate das cantigas e brincadeiras de roda junto aos alunos da Educação Infantil - Infantil II e seus familiares, integrando família e escola no processo de ensino-aprendizagem na perspectiva da cultura da paz.

2.1 Os objetivos específicos

• Interação dos alunos com a família e seus colegas;

• Conhecer e reproduzir cantigas e brincadeiras cantadas antigas;

• Proporcionar momentos de ludicidade em sala de aula.

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3 PÚBLICO

Alunos da Educação Infantil - Infantil II do Colégio Marco Polo, no município de Santa Maria/RS.

4 METODOLOGIA

Para o alcance dos objetivos apresentados, este projeto utiliza como procedimento metodológico a pesquisa qualitativa, na qual não se busca enumerar ou medir eventos, procura-se, isto sim, entendimento dos fenômenos baseando-se na perspectiva dos participantes da situação estudada. Segundo Minayo (2003), pesquisa qualitativa é uma atividade da ciência, que visa a construção da realidade, mas que se preocupa com as ciências sociais em um nível de realidade que não pode ser qualificado, trabalhando com um universo de crenças, valores, significados das relações que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

A pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados, envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo (GODOY, 1995, p.58).

A modalidade escolhida para coletar os dados necessários para a execução da pesquisa será a entrevista semiestruturada. Para Lüdke e André (1986), a técnica de entrevista que mais se adapta aos estudos que propomos é a que apresenta um esquema mais livre. Ao término da investigação os alunos executarão as cantigas e brincadeiras cantadas em sala de aula.

O tempo para aplicação do referido projeto será de 15 horas, em dias alternados, de acordo com o andamento das atividades

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da turma. A oficina será aplicada na forma de encontros semanais, juntamente com o professor de música do Colégio Marco Polo, onde serão trabalhadas as cantigas de roda sugeridas pelas famílias dos alunos do Infantil II, além de brincadeiras cantadas realizadas na hora do pátio - que se dá uma hora-aula por dia.

5 MATERIAL NECESSÁRIO

Para o desenvolvimento do projeto/oficina os recursos utilizados serão papel, caderno de anotações, lápis, caneta, violão e outros instrumentos musicais, CD’s, questionário de entrevistas, computador, telefone celular, impressora e folhas de papel modelo e tamanho A4, além dos demais materiais que considerarem significativo para a reprodução das cantigas e brincadeiras de roda.

6 PASSO A PASSO

O projeto/oficina será realizado nos momentos de brincadeiras no pátio, sugerindo aos alunos que brinquem de roda. Nesse momento, perguntaremos quais brincadeiras de roda eles conhecem, quem as ensinou e se eles brincam em casa e com qual frequência. Após, a coleta dos dados e durante as brincadeiras vamos falando de maneira descontraída da importância de vivermos e preservarmos estas culturas.

Para que a família seja consultada e possa dar sua contribuição construímos um questionário que será enviado através do aluno para sua casa. Consideramos que esta foi a melhor forma de coletarmos dados sem interferir na rotina e compromissos diários de seus familiares. O questionário traz as seguintes perguntas:

1) Qual o seu nome, idade e grau de parentesco com o(a) aluno(a)?

2) Quais as brincadeiras cantadas que brincava na infância?

3) Quais cantigas eram entoadas na infância?

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4) Como se brincava?

5) Quantas crianças participavam?

6) Qual a importância destas lembranças para você?

A devolutiva do questionário será na seguinte aula de Música, com duração de cinquenta minutos, na qual os alunos apresentarão para o grande grupo, com auxílio das professoras, as cantigas e brincadeiras que seus familiares faziam durante suas infâncias. Havendo possibilidade, as professoras e os alunos compartilharão as descobertas e o resultado do projeto com todos os níveis de ensino do Colégio.

Ao término das apresentações será realizado um feedback com os alunos da Educação Infantil do nível Infantil II.

7 CRONOGRAMA

O prazo previsto para aplicação do projeto é de 15 horas, em dias alternados de acordo com o andamento das atividades da turma. A oficina pode ser aplicada na forma de encontros semanais, com o professor de música, nos quais serão trabalhadas as cantigas de roda sugeridas pelas famílias dos alunos do Infantil II, além de brincadeiras cantadas realizadas na hora do pátio.

8 AVALIAÇÃO

Percebemos que a prática de jogos, brinquedos e brincadeiras está ligada ao processo de ensino-aprendizagem. Neste ponto, ressaltamos a importância de nós professores propiciarmos situações desafiadoras que levem o aluno a refletir e interagir num processo educativo que o considere como um ser diferenciado e global, em que os aspectos emocionais, afetivos e sociais têm papel fundamental na sua formação.

Neste sentido, o lúdico tem uma significativa importância no processo pedagógico, pois tem grande valor educativo e pode ser utilizado na escola como um dos recursos didáticos na relação ensino-aprendizagem. No presente projeto/oficina

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partimos da ideia de que a construção do conhecimento ocorre sempre num contexto social, ao mesmo tempo que contribui com o desenvolvimento de atividades didático-pedagógicas, desta forma a avaliação será formativa, o aluno será avaliado a partir do envolvimento nas atividades propostas e do desenvolvimento da percepção que se tem em relação ao que está sendo realizado pelo grupo.

REFERÊNCIASAssociação Brasileira de Educação Musical. ABEM. Música na Educação Básica. Associação Brasileira de Educação Musical. v.1, n.1. Porto Alegre, 2009.

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro; FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. Cai, cai balão… Entre a formação e as práticas musicais em sala de aula: discutindo algumas questões com professoras não especialistas em música. Música na Educação Básica. Porto Alegre, v. 1, n. 1, outubro de 2009.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil/Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília. DF v.l; il.

CELEIRO, Projeto. Brincadeiras cantadas: Entendendo a diferença entre rodas cantadas, cantigas de rodas, brincadeira cantada e cirandinhas. Disponível em: <http://brincadeirascantadas.blogspot.com.br/2010/03/entendendo-diferenca -entre-rodas.html>. Acesso em: 04 abr. 2015.

______. Diferença entre rodas cantadas, cantigas de rodas, brincadeira cantada e cirandinhas. Disponível em: <http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=476>. Acesso em: 04 de abr. 2015.

CUERVO, Luciane. Fórum Turma A SM Musicalidade. Curso de Extensão Educação Integral Escolas da Paz. UAB/UFRGS. Fórum Moodle, Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/mod/forum/discuss.php?d=106741>. Acesso em: 20 mar. 2015.

FINCK, S. C.M. et al. Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade. 2 ed. Curitiba: IBPEX, 2007.

GODOY A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, 1995, v. 3, n. 2, mar./abr.

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Cantigas e brincadeiras de roda: um resgate na perspectiva da cultura da paz Angela Maciel Maki, Elisiane Perufo Alles, Soraia Santana

LÜDKE, M.; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MINAYO, M. C. de S. (Org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 22. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003

Núcleo de Educação pela Paz. Educação para Paz. Disponível em: <http://www.nep.org.br/educacao-para-paz.php>. Acesso em: 20 mar. 2015.

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A paz que habita em vocêFátima Aparecida Militz de Oliveira1 Silviani Monteiro Sathres2 Maribel Susane Selli3

A família hoje pode ser entendida como um núcleo que se forma por um grupo de pessoas, não seguindo uma estrutura padrão (pai, mãe e filhos), como se acreditou há até pouco tempo, e sim por pessoas que se congregam formando esse núcleo, independentemente de seus membros, desde que se viva com respeito, cuidado, união e paz.

Segundo Wagner (2002), é na família que vivemos as mais fortes emoções da vida humana, ou seja, é neste núcleo que enfrentamos as maiores vivências e sentimentos. Para tanto, é um desafio para a família e para a sociedade lidar com as situações cotidianas, oriundas dessa nova estrutura, pois a diversidade precisa ser reconhecida e respeitada.

Como nosso foco não é discutir a estrutura familiar, e sim pensarmos como podemos contribuir, enquanto escola, para que todas as famílias tenham os mesmos direitos, independentemente de sua organização numa relação ética entre si e pela/na sociedade, propomo-nos, buscando referências a partir das atividades realizadas nos diferentes módulos do Curso Escolas

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Licenciada em Letras Português/Francês e Literaturas com Especialização em Educação e Psicanálise. Formação em Justiça Restaurativa e Círculo de Construção de Paz pela AJURIS.

2 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Pedagoga com Especialização em Gestão Educacional e Mestrado em Educação.

3 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Pedagoga com Especialização em Educação Infantil, Orientação Educacional e Supervisão Escolar, Mestre em Educação, Doutoranda em Informática na Educação.

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A paz que habita em você Fátima Aparecida Militz de Oliveira, Silviani Monteiro Sathres, Maribel Susane Selli

da Paz, a realizar encontros na escola propiciando às famílias espaços para fazermos essa reflexão, reforçando os laços de respeito, amor e paz nas relações sociais.

Nossa proposta, através da oferta dessas oficinas, é olhar para todas as famílias e para quem faz parte delas. A partir do que estamos vivenciando nos dias atuais, urge que tenhamos um olhar para nossas crianças e jovens que convivem nesses contextos familiares diversos, no sentido de desenvolver ati- vidades que possam contribuir para o desenvolvimento de uma cultura da paz possibilitando-lhes, através dessas vivências, reflexões que contribuam para que compreendam a importância da valorização e do acolhimento da diversidade, respeitando e sendo respeitados.

Acreditamos, a partir de Diskin e Roizman (2002), que a

Educação para a Paz é um processo que dura toda nossa vida, permeia todas as idades, seu campo de atuação é por essência complexo e multifacetado. Além de acontecer nas escolas, tem que estar pre- sente em nosso cotidiano: nos meios de comunicação, nas relações pessoais, na organização das institui- ções, no meio da família. (DISKIN & ROIZMAN, 2002, p.11)

Para que possamos construir essa cultura de paz, primeira- mente, temos que buscar a nossa paz interior, estar conectados conosco, vivenciando o nosso próprio eu através do nosso equilíbrio e do entendimento de que, para termos paz, preci- samos vivenciá-la em todas as nossas atitudes cotidianas.

Quando estamos em harmonia conosco, conseguimos es- tendê-la ao contexto a nossa volta e às pessoas com quem nos relacionamos. A partir desse entendimento, propomos a oficina “A paz que habita em você”, pois é fundamental es- tarmos conectados com o outro, compartilhando a paz habita em nós.

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A paz, afirma João Paulo II, é um bem indivisível: ou é bem de todos, ou não o é de ninguém. Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum. (MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA A CELEBRAÇÃO DO XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ 1º DE JANEIRO DE 2014)

Nesse contexto, queremos propor que todas as pessoas possam se desafiar e deixar fluir essa paz que habita em cada um, como um canal para si mesmo e para quem faz parte de sua vida e para a humanidade.

Diante dessa ideia, entendemos que esse ambiente que é de cada um de nós e, ao mesmo tempo, de todos, precisa ser cuidado, porque todos somos responsáveis por ele, e somente nós podemos transformá-lo. A educação, enquanto propulsora de mudanças, contribui decisivamente para isto.

Delors (1996), quando fala sobre os quatro pilares da educação, destaca o “Aprender a ser”, enquanto desenvolvimento da capacidade de reconhecer valores e agir de forma coerente, podendo ser relacionado a um dos quatro grandes objetivos para as atividades científicas no mundo reconhecidas pela UNESCO4 em 2003, que é a “Ciência para a Paz e para o desenvolvimento”, que tem como finalidade a formação de uma sociedade com mais respeito e pluralismo de ideias, além de reconhecer a necessidade dos princípios básicos de paz e coexistência fazerem parte da educação em todos os níveis.

Paulo Freire também traz em seus estudos definições sobre a paz, as quais são delineadas por Ana Maria Freire (2006, p. 389):

A Paz é singular por natureza, atinge o mais autêntico e mais radical do ser humano, para concretizar o Ser-

4 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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Mais, como queria Paulo, e por isso lutou toda a sua vida. A Paz nos faz rir e sentirmo-nos mais gente. A Paz vem embrenhada da capacidade de dar vivência à vida democrática, socialmente a ser vivida por todos e todas sob a égide da tolerância. A Paz tem como objetivo a existência plena dos seres em geral, e mais especialmente dos seres humanos, mesmo com seus sentimentos e ações contraditórias, nutridas em nós, humanos, pelos nossos mais ancestrais traços de agressividade puramente animal. É branca como a tranqüilidade, é biófila. É a expressão maior da tolerância, da colaboração da cumplicidade entre os seres vivos, daqueles que querem viver melhor.

Ao desenvolvermos atividades que promovam essa paz que habita em nós, nossa intenção, como disseminadores da cultura de paz, é que ela possa fazer parte de nossa vida e de nosso viver, compartilhando-a no ambiente educacional e nos diferentes ambientes nos que convivemos em nosso dia a dia.

Assim, temos como objetivo deste projeto vivenciar com as famílias momentos que possam desencadear reflexões sobre a Paz que habita em cada um, a fim de promover ações voltadas para uma cultura de Paz no seu cotidiano e nos ambientes onde estiverem inseridos.

Pretendemos desenvolver este projeto com as famílias dos alunos da Rede Municipal de Ensino (RME), tendo como proposta metodológica a realização de três oficinas. A primeira oficina, “Vivência musical: a escuta de si e do mundo”. A segunda oficina, “Corporeidade: expressando a Paz que habita em cada um de nós”, e a terceira oficina, “Construindo momentos lúdicos com as famílias na escola”.

As atividades das oficinas, tendo conexão entre si, estão organizadas em forma de rodas de conversa, pelo diálogo entre os participantes, envolvendo o brincar, a música, a dança e a construção com materiais recicláveis e ou alternativos. Materiais de uso diário em casa (que produzam som), papéis coloridos,

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cola, grampeador, caneta hidrocor, som, CD ou pendrive, barbante, lenços, balões, fitas e panos coloridos. No intuito de termos uma continuidade e de alcançarmos o objetivo proposto, finalizaremos as oficinas realizando uma atividade de reflexão com todos os participantes.

A execução das atividades acontecerá em turnos previamente combinados, com a presença da família na escola, em horário estabelecido para contemplar o maior número de participantes. As atividades serão divididas em três oficinas:

1º oficina – Vivência Musical: a escuta de si e do mundo

Inicialmente, iremos dispor quadrados de papel colorido, canetas hidrocor e barbantes para confecção de crachás, para que o grupo de familiares possa se identificar e começar as vivências visualizando o nome de cada um. O nome próprio é especial e faz parte do objetivo da oficina, dando início a primeira escuta de si mesmo, que é ouvir e falar o seu nome com carinho e amorosidade. Assim, cada um irá pronunciar o seu nome ao início da oficina.

Em um círculo, sentados, os participantes deverão ficar de olhos fechados concentrados na sua respiração e no seu corpo, ouvindo uma música instrumental ou uma música com sons da natureza. Passado o tempo previsto para essa reflexão, solicitaremos que cada um abra os olhos lentamente, e nesse momento iniciaremos um diálogo sobre essa vivência, a partir das seguintes questões:

– Como você se percebeu?

– O que você costuma ouvir habitualmente?

– No seu dia a dia, em casa, no trabalho, que sons você está ouvindo?

Esse diálogo tem o objetivo de promover uma reflexão sobre o que ouvimos no cotidiano, que pode estar nos tirando esse estado de paz ou promovendo nossa paz.

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2ª oficina – Corporeidade: expressando a Paz que habita em cada um de nós

Será solicitado que os participantes levantem-se, formando um círculo em pé. Após, colocaremos uma música que relembre a infância, uma cantiga de roda e convidaremos a todos para dançar, gesticular, enfim, movimentar-se ao ritmo da música.

Distribuiremos materiais, tais como: lenços, balões, fitas, panos coloridos, para que a dança se torne mais lúdica e envolva os participantes. Convidaremos alguns participantes para cantarem junto ao grupo uma música de sua infância.

Essa atividade propõe a expressão do “ser criança” que existe no interior de cada um.

3ª oficina – Construindo momentos lúdicos com as famílias na escola

A proposta é desenvolver atividades que promovam a união e o resgate de momentos lúdicos com a família, as quais podem ser desenvolvidas posteriormente por elas com seus filhos, tanto no meio escolar quanto familiar.

Iremos construir instrumentos que produzam sons, em conjunto com as famílias, a partir do uso de diferentes materiais reutilizáveis e alternativos, além de materiais de uso diário em casa que produzam som. Após, o grupo deve se unir e construir um conjunto de sons coletivamente.

O conjunto de sons, construído por eles, fará com que haja a percepção de si e do outro, numa reflexão a partir de como cada um se sentiu nessa atividade. Assim, abriremos o debate questionando-os sobre como se sentiram durante a vivência.

Assim, propomos que haja algumas vivências nas quais possam ser construídos esses instrumentos e momentos lúdicos no ambiente familiar com filhos, netos, avós. Destacamos a importância de se promover momentos nos quais possam ser resgatadas algumas brincadeiras entre pais e filhos, e também, a construção de brinquedos, no sentido de desenvolver uma cultura

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de paz no ambiente familiar. Além disso, o uso dos materiais reutilizáveis e recicláveis pode promover algumas reflexões sobre o cuidado com o meio ambiente e a ética planetária.

Por fim, os participantes serão convidados a refletir e dialogar, com o grupo, sobre as vivências realizadas durante a oficina. A questão norteadora será:

– Diante desses momentos vividos, como você vai transformar essa experiência para promover uma cultura de paz nos ambientes onde você estiver inserido?

No encerramento das atividades, ouviremos e cantaremos com os participantes a música “A Paz”, do grupo Roupa Nova.

Após a realização das atividades propostas nas oficinas, faremos uma avaliação e análise das vivências desta oficina, no ambiente escolar, por meio de diferentes registros que podem ser: fotos, vídeos, relatos escritos e, também, através do relato oral dos participantes.

REFERÊNCIASDELORS, Jacques (org.). Educação um tesouro a descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Editora Cortez, 1996.

DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura Gorresio. Paz, como se faz: semeando cultura de paz nas escolas. Brasília: Governo do Estado de Sergipe, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.

FREIRE, Ana Maria Araújo Freire. Educação para a paz segundo Paulo Freire. Porto Alegre – RS, ano XXIX, n. 2 (59), p. 387-393, Maio/Ago. 2006.

WAGNER, A. Possibilidades e potencialidades da família: A construção de novos arranjos a partir do recasamento. In: WAGNER, A. (Org.). Família em cena: tramas, dramas e transformações. Petrópolis: Vozes, 2002.

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA A CELEBRAÇÃO DO XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ 1º DE JANEIRO DE 2014. Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/peace/documents/papa-francesco_20131208_messaggio-xlvii-giornata-mondiale-pace-014.html#_ftn7>. Acesso em: 10 mar. 2015.

UNESCO. A ciência para o século XXI: uma nova visão e uma base de ação – Brasília: UNESCO, ABIPTI, 2003.

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ANEXO

Música para a atividade de encerramento:

A PazRoupa Nova

Compositor: Nando (versão original: Healthe World – Michael Jackson)

É preciso pensar um pouco nas pessoas que ainda vêm... nas crianças. A gente tem que arrumar um jeito de deixar pra eles um lugar melhor. Para os nossos filhos e para os filhos de nossos filhos. Pense bem! Deve haver um lugar dentro do seu coração Onde a paz brilhe mais que uma lembrança Sem a luz que ela traz já nem se consegue mais encontrar o caminho da esperança Sinta, chega o tempo de enxugar o pranto dos homens Se fazendo irmão e estendendo a mão Só o amor, muda o que já se fez E a força da paz junta todos outra vez Venha, já é hora de acender a

chama da vida E fazer a Terra inteira feliz Se você for capaz de soltar a sua voz Pelo ar, como prece de criança Deve então começar outros vão te acompanhar E cantar com harmonia e esperança

Deixe que esse canto lave o pranto do mundo Pra trazer perdão e dividir o pão. Só o amor, muda o que já se fez E a força da paz junta todos outra vez Venha, já é hora de acender a chama da vida E fazer a Terra inteira feliz Quanta dor e sofrimento em volta a gente ainda tem, pra manter a fé e o sonho dos que ainda vêm.

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A lição pro futuro vem da alma e do coração, pra buscar a paz, não olhar pra trás com amor. Se você começar outros vão te acompanhar e cantar com harmonia e esperança Deixe, que esse canto

lave o pranto do mundo prá trazer perdão e dividir o pão. Só o amor, muda o que já se fez E a força da paz junta todos outra vez Venha, já é hora de acender a chama da vida E fazer a Terra inteira feliz

Link: <http://www.vagalume.com.br/roupa-nova/a-paz.html#ixzz3UZPQnMQ9>

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101ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e Práticas de Professores da Educação Básica

Semeando uma cultura da pazPatricia Zavarese1 Soraia Santana2

1 INTRODUÇÃO

O presente relato3 surge a partir da participação no Curso de Educação Integral: Escolas da Paz, realizado no Centro de Formação de Professores (FORPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) financiado pelo Ministério da Educação (MEC) do Governo Federal através da Rede Nacional de Formação de Professores (RENAFOR). Tem como proposta propiciar a paz como uma cultura educacional na Educação Integral, com implicações para uma sociabilidade na escola e comunidade, oportunizando experiência de auto conhecimento para educadores e educandos através de uma comunidade fortalecida.

Acreditando numa educação humanizadora busco formações que envolvam a temática da cultura da paz, a fim de resignificar as práticas como educadora e como humanas. Nessa busca, senti necessidade de me desafiar e desafiar as pessoas do meu convívio a sensibilizarem-se para vivência de um mundo não violento. Assim, o curso Escolas da Paz veio ratificar minha prática e o

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Supervisão Escolar e Gestão Escolar. Graduada em Pedagogia. Professora do Ensino Fundamental na Escola São Francisco – Júlio de Castilhos/RS. E-mail: <[email protected]>.

2 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Pedagoga. Mestranda em Educação – UFRGS. E-mail: <[email protected]>.

3 O presente texto, elaborado em co-autoria, inicia com o relato de Patrícia Zavarese, a partir das reflexões geradas nas orientações e segue em escrita colaborativa com Soraia Santana, orientadora do trabalho.

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caminho no qual acredito, pois no decorrer dos anos o educador se transforma, se descobre, aprendendo a caminhar ao lado de “gente”. Aprende que é necessário caminhar de mãos dadas, aprende a oferecer-lhe um sorriso, a defendê-las quando necessário, sendo que muitas das pessoas que encontramos não acreditam mais na sua capacidade, não acreditam mais no seu potencial, e suas esperanças de um dia melhor está fragilizada, com isso a forma violenta de se defender é muito frequente.

Muito se fala sobre uma “Cultura da Paz”, durante a prática docente na escola, percebo que pouco ela é pouco concretizada, tudo fica no “papel”, muitas vezes na simples resolução de conflitos a decisão é dada por responsáveis e a reflexão não é oportunizada aos alunos. Todos somos responsáveis por uma cultura de paz, principalmente no ambiente escolar e demais lugares educativos frequentados por crianças, adolescentes e adultos. E é necessário promover a discussão sobre o respeito pela vida e uma prática da não violência por meio do estímulo ao diálogo, formação da consciência e interação com realidades diferentes.

Nós educadores precisamos fazer a diferença! Somos capazes de constuir um novo paradigma de resolução de conflitos e cultivá-los de forma coerente entre a escola e a vida diária de cada aluno, pois o ser humano é capaz de criar e cultivar uma cultura de paz na medida em que se integra nas condições de vida de seu contexto, quando engajar-se ativamente para a transformação social.

Como ensinou Paulo Freire (1988), a educação é um instrumento humanizador, é um processo que vai ao encontro da necessidade da humanidade de “ser mais”. Freire afirma que ensinar exige compreender que a educação é um processo de intervenção no mundo. Desse modo, quando conseguimos fazer na escola um trabalho significativo e contextualizado, os alunos vão transformando o mundo e transformando-se. É preciso entender que o ser humano não deve viver isolado do mundo

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nem tampouco o mundo isolado dele, então o professor pode lançar uma sementinha de paz a cada dia em que entrar em sala de aula. Esse é um grande desafio frente a uma sociedade competitiva e que muitas vezes não enfatiza ideias de uma cultura da paz.

Cada professor precisa estabelecer um caminho, em que a reflexão e a tomada de consciência faça o educando se sentir parte integrante dessa mudança, discutir com o significado dos valores e a importância para o bem viver de toda a sociedade. Pois na correria da vida contemporânea esses valores passam despercebidos pela familia e até mesmo pelas escolas, pois tem-se objetivos diferenciados que atendem a vida acadêmica. Com esta realidade precisamos refletir e inserir de forma eficaz em sala de aula valores como paz, compreensão, entre outros, e consequentemente toda a comunidade escolar será atingida.

Nós educadores não podemos aceitar as propostas de educação que buscam aprovações e valorização do ter, do consumismo, do capitalismo, precisamos lutar e ter consciência de que indivíduo queremos para a nossa sociedade. Segundo Behrens (2006, p.16), “a educação tem papel relevante nesse movimento de processo de injustiça, a visão individualista e competitiva, a violência e o desrespeito aos direitos humanos”.

Assim, a partir da temática estudada e debatida durante os módulos do curso Escolas da Paz e da vivência profissional em ambientes com diferentes e difíceis realidades, elaborou-se de forma colaborativa, o projeto Semeando uma cultura de paz, que encontra-se em andamento.

2 PROJETO: SEMEANDO UMA CULTURA DA PAZ2.1 Objetivo

Buscamos com o projeto Semeando uma cultura da paz sensibilizar os educandos, educadores e comunidade para uma Cultura de Paz e amor ao próximo em busca de construir novas relações, permeadas pela cultura da Paz.

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O projeto nasceu pela necessidade de um ambiente de paz, tanto na escola como na comunidade. Ambos apresentam a mesma preocupação em relação à Cultura da Paz, pois é comum conflitos entre as pessoas da comunidade tanto no ambiente escolar, como nos diferentes locais da comunidade, sendo que a prática comum não era a reflexão e sim a tomada de decisões, muitas vezes arbitrárias.

Considerando as dificuldades em encontar alternativas para sanar os conflitos e o importante papel da escola no processo de humanização, sentimos necessidade de que a escola criar e assegurar condições favoráveis de sociabilidade, articulando adequadamente as relações e apostando em atitudes diárias e não em fatos isolados ou ainda em simples registros de ocorrências sem um processo de diálogo e reflexão.

3 PÚBLICO

O projeto será desenvolvido com alunos de turmas multiseriadas – da Educação Infantil ao quarto ano do Ensino Fundamental, de uma escola rural no município de Júlio de Castilhos.

4 METODOLOGIA

A metodologia prevê a realização de oficinas e atividades de interação, discussão e reflexão a serem desenvolvidas no decorrer do ano letivo. Com o mote “todo dia é dia de projeto”, trabalharemos brincadeiras cooperativas, confecção de presentes com materiais reciclavéis, plantio de flores, trabalho na estufa, criação de um alfabeto da paz e da árvore dos valores, visitas a pessoas da comunidade e envolvimento dos familiares nas atividades do projeto.

5 MATERIAL NECESSÁRIO

Para encaminhamento do projeto serão necessários: lápis, cola, papéis diversos, caixas de papelão, tinta, terra, água,

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sementes máquina fotográfica, vídeos, filmes, músicas e máquina fotográfica.

6 PASSO A PASSO

Assim estão sendo desenvolvidas as seguintes oficinas:

• Alfabeto da Paz, onde foram elencadas palavras que nos trazem paz, trabalhamos com desenhos e recortes.

Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese

• Plantio de flores com todos os alunos, enfatizando o cuidado com o meio ambiente. O uso adequado da água e o trabalho coletivo.

Fonte: Acervo de Patrícia ZavareseFonte: Acervo de Patrícia Zavarese

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• O contínuo cuidado com o meio ambiente.

Fonte: Acervo de Patrícia ZavareseFonte: Acervo de Patrícia Zavarese

• Olimpíadas da Paz. Nesta atividade todos os alunos foram convidados a participar, demostrando cooperação e ajuda mútua. Todos foram premiados.

Fonte: Acervo de Patrícia ZavareseFonte: Acervo de Patrícia Zavarese

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• Visita à comunidade e à casa de alguns colegas. Com o objetivo de aproximar escola e comunidade, elencando propostas para melhorar o lugar onde moramos.

Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese

• Visita à pessoa idosa na comunidade. Aproximação e cuidado com as pessoas.

Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese

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• Oficina de cestas de Páscoa com a família. Aproximação e participação da família na escola, demostrando amor e preocupação com os demais.

Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese

• O Segredo da Lagartixa. Contação de história e reflexão sobre o amor, que precisa ser distribuído para todas as pessoas.

Fonte: Acervo de Patrícia ZavareseFonte: http://ftd.com.br/detalhes/?id=3119

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• Árvore dos Valores. Construção coletiva da Árvore dos Valores.

Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese Fonte: Acervo de Patrícia Zavarese

7 CRONOGRAMA

Grupo participante Oficinas/Atividades/Recursos Tempo de Aplicação

Alunos Alfabeto da paz 2 aulas

Alunos Plantio de flores 2 aulas

Alunos Manutenção do jardim 1 aula

Alunos Olimpíadas da paz 3 aulas

Alunos e comunidade Visita à comunidade (acampamento de “sem terras”)

2 aulas

Alunos e comunidade Visita a pessoa idosa na comunidade 1 aula

Alunos e comunidade Oficina de cestas de Páscoa com a família

3 aulas

Alunos História – o segredo da Lagartixa 1 hora

Alunos A árvore dos valores 2 horas

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Semeando uma cultura da paz Patricia Zavarese, Soraia Santana

8 AVALIAÇÃO

No decorrer do projeto procuraremos avaliar as situações oferecidas às crianças, dando-lhes espaço para manifestarem suas preferências, seus desejos, desagrados e entendimento das situações propostas, tornando-os cientes de que suas colocações serão consideradas, nem sempre sendo atendidas, mas sim ouvidas e respondidas. Ofereceremos situações concretas, onde terão oportunidade de agir sem ajuda e receberão estímulos quando necessário. Entre as atividades proporcionadas observaremos a participação e o entusiamo nos trabalhos coletivos, no empenho e no cuidado com o jardim plantado por todos, nas propostas sugeridas por eles, no interesse pelas ações na comunidade, bem como o prestigio por todo trabalho realizado por qualquer pessoa da comunidade. Esperamos receber também retorno da comunidade com a participação mais efetiva nas oficinas e reuniões da escola. Em novembro de 2015, durante a Mostra de Trabalhos apresentaremos um painel com fotos e trabalhos realizados em cima da temática abordada, refletindo com os pais nesta data os resultados alcançados e não alcançados com o projeto.

REFERÊNCIAS BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade: Metodologia de Projetos, contratos didáticos e Portifólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Trad. Moacir Gadotti e Lílian Lopes Martin. 31ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

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111ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e Práticas de Professores da Educação Básica

Cultura de paz como abordagem pedagógica na formação para a preservação do planetaViviane de Oliveira Correa1 Daniela Rocha Marins2 Luciana Kraemer3

RESUMO

Este artigo apresenta fragmentos dos estudos teóricos sobre as temáticas “educação ambiental” e “cultura de paz”, que serviram de inspiração à autora na criação e no planejamento de uma oficina pedagógica. A oficina será aplicada na turma de oitavo ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual de Ensino Médio Visconde do Rio Branco, em Canoas - RS. O cumprimento desta atividade integra o conjunto de avaliações propostas pelo Curso de Extensão – Educação Integral – Escolas da Paz (FORPROF/UFRGS), realizado pela autora em 2014/2015. Intenta-se realizar este relato para partilhar o exercício reflexivo e criador docente, como alternativa ao desenvolvimento de novas práticas, que atendam adequadamente às demandas sociais do século XXI.

Palavras-chave: Cultura de paz; Educação ambiental; Oficina Meio Ambiente; Oficina Lixo.

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Graduado em Letras, Português e Inglês. Professora de Inglês e Literatura na escola Estadual de Ensino Médio Visconde do Rio Branco, Canoas.

2 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Atendimento Educacional Especializado pela UFC. Professora das Redes Municipais de Canoas e Sapucaia do Sul. E-mail: <[email protected]>.

3 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Jornalista, Mestre em Ciências Sociais. E-mail: <[email protected]>.

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Cultura de paz como abordagem pedagógica na formação para a preservação do planeta Viviane de Oliveira Correa, Daniela Rocha Marins, Luciana Kraemer

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Curioso e insatisfeito por natureza, o ser humano vive em constante transformação, tanto do ponto de vista físico como espiritual. As revoluções que se sucederam ao longo da história agrícola, industrial e tecnológica são a prova de que a busca pelo aprimoramento individual e coletivo tem feito a humanidade caminhar em busca da evolução. É bem verdade que civilização trouxe consigo problemas complexos e de várias ordens, mas, de maneira geral, a humanidade tem experimentado aumento nos índices de desenvolvimento, como revela o último Informe sobre Desenvolvimento Humano4 (PNUD, 2015).

O investimento em educação e tecnologia tem trazido incontestáveis benefícios às sociedades, e um dos indicadores é o aumento da taxa de longevidade em grande parte do planeta. O incremento na qualidade de vida de muitos países como o Brasil, por exemplo, deve-se muito à Ciência, que tem descoberto cada vez mais fórmulas para curar o que já foi incurável, apenas para dar um exemplo. Mas é certo que o desenvolvimento também está relacionado ao conforto proporcionado pela produção e acesso ao consumo de bens e serviços. Para satisfazer as demandas de necessidades (reais ou fabricadas), as sociedades, de maneira mais descontrolada do que consciente, têm retirado recursos do meio ambiente para atender às exigências de um mercado que só cresce e que hoje está representado por uma população de mais de sete bilhões de pessoa, segundo cálculo das Nações Unidas. Produzir, independentemente do potencial sustentável do recurso que se utiliza, é tão preocupante quanto a finitude destes recursos. Por isso, o mesmo informe do PNUD também alerta para os indícios claros de que esta qualidade de

4 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) passou a ser medido nos anos 90 pela ONU. É uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. (PNUD, 2015)

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Cultura de paz como abordagem pedagógica na formação para a preservação do planeta Viviane de Oliveira Correa, Daniela Rocha Marins, Luciana Kraemer

vida tem crescido de maneira cada vez mais branda em todos os grupos de desenvolvimento humano. O relatório alerta para o fato de que se estão perdendo vidas e se minando os meios de subsistência e desenvolvimento por causa de catástrofes e crises naturais ou induzidas pelos seres humanos (PNUD, 2015).

O ano de 2011 é lembrado ainda hoje como um ano de perdas ambientais significativas: a irresponsabilidade do homem e sua falta de consciência com o lixo, a não preocupação com o aquecimento global, com o desperdício em geral, a exploração indevida de recursos naturais, o consumo exagerado de bens e produtos, os grandes vazamentos de petróleo e também a diminuição de áreas de preservação. Medidas políticas governamentais para contribuir com a preservação do meio ambiente existem, o que falta é mais comprometimento das pessoas em relação a como tratar o meio em que vivem.

É importante salientar que desastres ambientais também são provocados por fenômenos da natureza: as enchentes, os deslizamentos de terra provocados por chuva, as tempestades, a escassez ou falta de água que compromete plantações inteiras, os terremotos, os tsunamis. Compreender o que é meio ambiente parece ser também um fator importante para a reflexão sobre o impacto do homem no meio, pois o conceito não se centra apenas no sentido mais associado à natureza (conjunto de seres vivos - humanos, animais, plantas) ou de fenômenos que não têm a interferência do homem. O ecossistema é formado também por aspectos sociais e políticos que formam a vida em sociedade. Lima e Silva (2000, p.96) destaca que meio ambiente é o “conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage, influenciando e sendo influenciado por eles”. Por isso, a Política Nacional do Meio Ambiente, aprovada pelo Congresso Nacional há mais de 30 anos, garante que é direito de todos viver em um ambiente equilibrado, e é dever de todos também protegê-lo:

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Cultura de paz como abordagem pedagógica na formação para a preservação do planeta Viviane de Oliveira Correa, Daniela Rocha Marins, Luciana Kraemer

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (BRASIL, 1981)

A Política Nacional do Meio Ambiente prevê a educação ambiental, que também ganhou espaço em legislação específica sobre o tema. A educação ambiental é entendida como um componente permanente da educação nacional e deve estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja em caráter formal como não formal. O artigo primeiro da Lei de Educação Ambiental aponta:

Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1981)

A escola é parceira nesta tarefa de dotar os sujeitos, desde a mais tenra idade, de condições para pensar no seu entorno e nos seus direitos e deveres para o equilíbrio da Terra. O acesso ao ensino formal tem oportunizado a milhares de crianças e jovens novas descobertas e aprendizagens.5

Bueno (2010) lembra que o processo de Educação Ambiental deve seguir as normas da Política Nacional de Educação Ambiental

5 Segundo dados do Censo Escolar de 2013, nos 190.706 estabelecimentos de educação básica do País, estão matriculados 50.042.448 alunos, sendo 41.432.416 (82,8%) em escolas públicas e 8.610.032 (17,2%) em escolas da rede privada. As redes municipais são responsáveis por quase metade das matrículas (46,4%), o equivalente a 23.215.052 alunos, seguida pela rede estadual, que atende a 35,8% do total, 17.926.568 alunos. A rede federal, com 290.796 matrículas, participa com 0,6% do total. (Censo, 2013).

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(BRASIL, 2009), sendo componente permanente da educação nacional, com prática educativa integrada, presentes em todos os níveis e modalidades do ensino formal. E esta prática vem crescendo:

[...] entre 2001 e 2004, o número de matrículas nas escolas que oferecem educação ambiental passou de 25,3 milhões para 32,3 milhões. Em 2001, o número de escolas que ofereciam educação ambiental era de aproximadamente 115 mil, 61,2% do universo escolar, ao passo que, em 2004, esse número praticamente alcançou 152 mil escolas, ou seja, 94% do conjunto. O fenômeno de expansão da educação ambiental foi de tamanha magnitude que provocou, de modo geral, a diminuição de diversos tipos de desequilíbrios regionais. Para ilustrar, é relevante dizer que em 2001 a região Norte tinha 54,84% das escolas declarando realizar educação ambiental, em 2004, o percentual sobe para 92,94%. No Nordeste, em 2001, o percentual era de 64,10%, tendo chegado a 92,49% em 2004. No Centro-Oeste subimos de 71,60% para 95,80%; no Sudeste, de 80,17% para 96,93%; e no Sul, de 81,58% para 96,93%.” (LOUREIRO E COSSIO, 2007)

2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA CULTURA DA PAZ

Nesse contexto, a educação ambiental presente nas escolas é uma forma de trabalhar para uma Cultura da Paz. O Programa Cultura da Paz é um projeto de educação continuada, na qual o professor que atua na Educação Básica potencializa suas ações para a Educação Integral sob perspectiva da Cultura da Paz. São através dos valores disseminados por meio do Escolas da Paz que vidas são transformadas. Segundo as autoras Diskin e Roizman (2002, pg. 36), são as práticas concretas da vida cotidiana do indivíduo que o permite ser capaz de:

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Redescobrir a solidariedade e perceber que não somos indivíduos sem vínculos. [...] Somos amor, sonho, alegria. [...] Somos cidadãos do planeta Terra.

Pensar na Cultura da Paz é lembrar-se de Paulo Freire, de sua esperança e de sua busca contínua pelo diálogo construtivo. A verdadeira aprendizagem, de acordo com o pedagogo que chegou a ganhar o título da Unesco de Educador para a Paz, está baseada num processo mútuo, entre educador e educando, na qual ambos ensinam e aprendem: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1981, p.79).

A Cultura de Paz se insere em um marco de respeito aos direitos humanos e constitui terreno fértil para que se possa assegurar os valores fundamentais da vida democrática, como a igualdade e a justiça social. Captar a complexidade de Paulo Freire é um desafio para os educadores do ensino formal e popular, que precisam ser formados para a Educação para a Paz e para a Educação Ambiental, inserida no contexto da Cultura da Paz: “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.23). Portanto, quem ensina a paz aprende a paz ao ensinar, e quem aprende a paz ensina a paz ao aprender.

Assim, compartilhar experiências, dividir ideias e questionar o ambiente de vida dos educandos, frente às mudanças para as futuras gerações, foi o início da abordagem do tema “Preservar o Planeta”, juntamente com a proposta de conscientização e educação ambiental, ferramenta fundamental para a construção de uma sociedade mais igualitária e comprometida com o todo. Entende-se que aprofundar a discussão sobre a Educação para a Paz em si e na sua relação com a reflexão sobre Cultura de Paz nas escolas, na formação de professores e na educação em geral, faz-se urgente neste momento histórico de violência física e especialmente simbólica.

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Os processos que aproximam a educação ambiental das escolas à vida dos educandos são de extrema importância para a sobrevivência equilibrada da humanidade e do nosso planeta. A Paz pode ser vista como um processo-meio, a fim de que haja educação e compreensão para sociedades mais sustentáveis e colaborativas.

É preciso trabalhar com questões que instiguem a capa- cidade do educando de refletir frente a tantas mudanças decorrentes no clima, na vegetação, no ecossistema em geral. Se pegarmos como exemplo a falta d’água, tão comum em cidades do Sudeste brasileiro, tem-se primeiramente que discutir que a água é um recurso natural que por muitos anos as pessoas acreditavam que não se esgotaria, que é essencial a qualquer tipo de vida no planeta e as consequências negativas que o consumo exacerbado deixou nesta geração e para as gerações subsequentes.

O aluno deve, independente da série que esteja matriculado, pensar junto com colegas e com seus professores sobre as mudanças e os desafios da população do século XXI, que lida diariamente com a escassez e exploração indevida de recursos, morte sem justificativa de animais, devastação de florestas que se tornam campos para grandes rebanhos bovinos. É preciso que o aluno reflita novas possibilidades frente ao novo cenário que lhe é apresentado diariamente. O uso de recursos tecnológicos pode ser um grande aliado nessa caminhada. Finger (2012, p.1) salienta:

[...] é imprescindível o desenvolvimento do homem, porque este está em constante dinâmica com o mundo ao seu redor, e pra que esse desenvolvimento possa continuar acontecendo ele deve se utilizar de toda a tecnologia, usadas até então para a destruição, como forma de contornar e reformular uma nova forma de viver em harmonia com a natureza.

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3 PROJETO DE OFICINA: PRESERVAR O PLANETA

Assim surgiu a ideia de trabalhar o tema “Preservar o Planeta” em forma de Oficina, permeada pela Cultura da Paz, para os alunos do oitavo ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual de Ensino Médio Visconde do Rio Branco de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre - RS.

O objetivo geral do trabalho é de desenvolver a Oficina com os alunos. Para atingir o objetivo geral, foram traçados os seguintes objetivos específicos:

• fazer o levantamento teórico defendido por autores sobre o meio ambiente, recursos ambientais e educação ambiental;• analisar se ambas as escolas trabalham o conceito de educação ambiental, em quais as áreas do conhecimento ou em quais disciplinas;• conversar com os professores e funcionários da escola sobre o atual panorama encontrado nas escolas;• preparar o aluno para desenvolver trabalhos relacionados ao meio ambiente;• planejar, aplicar e avaliar atividades desenvolvidas junto aos alunos;• desenvolver nos estudantes o sentimento de pertencer à escola de que faz parte;• promover a consciência da sustentabilidade com o estudante.É através de uma oficina que o tema será abordado junto

aos alunos. Corroborando as ideias de Cuberes (apud Vieira e Volquind, 2002, p. 11), a oficina é “um tempo e um espaço para aprendizagem; um processo ativo de transformação recíproca entre sujeito e objeto; um caminho com alternativas, com equilibrações que nos aproximam progressivamente do objeto a conhecer”. É o momento para construir e compartilhar conhecimentos, com atividades práticas e também com uma metodologia teórica sobre o tema. Paviani e Fontana (2009,

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p.79) afirmam que “uma oficina é, pois, uma oportunidade de vivenciar situações concretas e significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir, com objetivos pedagógicos [...] numa oficina ocorrem apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos, de forma ativa e reflexiva.”

Segundo as autoras, o trabalho do educador:

[...] não ensina o que sabe, mas vai oportunizar o que os participantes necessitam saber, sendo, portanto, uma abordagem centrada no aprendiz e na aprendizagem e não no professor. Desse modo, a construção de saberes e as ações relacionadas decorrem, principalmente, do conhecimento prévio, das habilidades, dos interesses, das necessidades, dos valores e julgamentos dos participantes. (p.80)

A oficina aqui apresentada, “Preservar o Planeta” terá mo- mentos distintos, conforme a programação planejada para as 15 horas da mesma. As técnicas e os procedimentos são variados e flexíveis e estão de acordo com a realidade dos educandos. Os trabalhos foram divididos em duplas e grupos de alunos. Foram propostas 2 oficinas, oferecidas no mês de março de 2015, com duração de 3 horas cada uma.

4 OFICINA PRESERVAR O PLANETA

Primeira aula: Tema: “O Meio Ambiente”

Duração: 3 períodos de 50 minutos;

Espaço: Sala de Recursos Audiovisuais da Escola VRB;

Em foco: Debate entre os participantes – relato de experiência;

Procedimentos:

Apresentação de slides com levantamentos teóricos dos autores do meio ambiente;O que é Educação Ambiental;Conceituação de Educação Ambiental;Vídeos para exibição: “The Animals Save The Planet”, produzido pelo canal a cabo Animal Planet, “Money” da WWF Brasil e uma propaganda da Volkswagen Brasil;

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Atividade: Criação de um Painel com as reflexões dos alunos e seus grupos;

Solicitar materiais que possam ser reciclados que tenham em casa, na escola, no trabalho;Material que será entregue e discutido no próximo encontro.

Recursos: computador, televisão, cartaz, canetas, revistas, tesoura e cola.

Segunda aula: Tema: “O que é Lixo?”

Duração: 3 períodos de 50 minutos;

Espaço: Sala de Recursos Audiovisuais da Escola VRB e Sala de Atividades;

Em foco: Entrevista

Procedimentos:

Introdução e apresentação sobre o que será trabalhado, objetivos e justificativa;Apresentação de slides com recortes de jornal com circulação regional e nacional sobre o lixo nas cidades;O destino do lixo na região metropolitana de Porto Alegre;O trabalho dos “Amigos da Cidade”, projeto da Prefeitura Municipal de Canoas com os coletadores de material reciclável em residências e empresas, gerando emprego e renda;Vídeos para exibição: “Lixo Extraordinário”, um documentário do artista plástico brasileiro Vik Muniz;

Atividade:

Atividade 1: Elaborar perguntas para uma entrevista com dois colaboradores do “Amigos da Cidade” – em suporte papel, gravação de áudio ou imagem;

Atividade 2: O que pode-se fazer com material reciclável?

Recursos: computador, televisão, jornal, material individual – caderno, lápis.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a Oficina na Escola Visconde do Rio Branco, os alunos foram incentivados a fazer a sua parte, a reconhecer a sua importância em colaborar com o mundo: evitar a desperdício, aproveitar o que é descartado, fazer a coleta seletiva em casa,

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proteger áreas naturais. Preservar o planeta é preservar a vida. Conforme as autoras Diskin e Roizman (2006), progredir em termos éticos e sociais, e preservar o planeta é um dos grandes desafios da humanidade no século XXI. As autoras salientam, através de reflexões e pensamentos, o que é essencial em tempos de transformação ambiental, como :

• despertar os sentidos para a realidade,

• evitar a o poluição no próprio organismo com substâncias • nocivas

• participar de organizações voltadas à saúde pública, à inclusão social e à ecologia

• Estar atento às situações prejudiciais ao meio ambiente: ações destruidoras em áreas de conservação, desmatamentos ilegais, rios que recebem dejetos tóxicos, contaminação por agrotóxicos, poluição de todo o tipo

• Consumir moderadamente, dando preferência a produtos não tóxicos, biodegradáveis, recicláveis, com menos em- balagem.

Quando existem leis de proteção ambiental, grandes investimentos em pesquisas e conscientização do ser humano, a transformação da realidade acontece. O posicionamento e o modo de agir de cada cidadão refletem em hábitos que poderão tornar o meio em que vivemos melhor e mais harmonioso. Infelizmente, em nosso país ainda não há uma ação política efetiva nessa área, embora a consciência ecológica esteja mais presente e as leis mais rígidas (GIONDA, 2002).

A proposta de preservar o planeta, no seu sentido mais amplo de zelar pela sobrevivência, de conviver em harmonia, de respeitar a vida em cada pequeno organismo, está pautada neste projeto. Por isso, trabalhar com o tema do meio ambiente no meio escolar sempre é válido. Os educadores, as empresas, o governo e todas as pessoas têm um papel importante de preservar o meio ambiente.

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REFERÊNCIASBRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial da União, DF, ano 144, n. 93, mar. 2015. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providencias. Brasília, 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938compilada.htm>. Acesso em: 21 abr. 2015.

BRASIL. Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente 306:200 de 5 de julho de 2002. Publicada no Diário Oficial da União no 138, de 19 de julho de 2002, Seção 1, páginas 75-76. Estabelece os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais. Brasília, 2002. Dispo- nível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=306>. Acesso em: 21 abr. 2015.

DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura Gorresio. Paz, como se faz?: Semeando cultura de paz nas escolas. Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002. 95p.

FINGER, Bruna. A Conscientização da Relação Homem-Natureza nas Socie- dades Complexas. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/conscientiza%C3%A7%C3%A3o-da-rela%C3%A7%C3%A3o-homem-natureza-nas-sociedades-complexas>. Acesso em: 17 mar. 2015.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 47ª Ed Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.

GIONDA, Adriana. Problemas ambientais: temos consciência da influencia dos mesmos em nossa vida? Disponível em: <http://www.terrabrasil.org.br/noticias/materias/pnt_problemasamb.htm>. Acesso em: 21 abr. 2015.

LIMA E SILVA, 2000. Disponível em www.ibg-cean.org.br/...ambiental/o-que-e-omeio-ambiente.html.

PAVIANI, Neires Maria Soltadelli; FONTANA, Niura Maria. Oficinas pedagógicas: relato de uma experiência. Conjectura, Caxias do Sul, v. 14, n. 2, p. 77-88, maio/ago. 2009.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. O que é o IDH. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indice Accordion=0&li=li_IDH>. Acesso em: 21 abr. 2015.

SALLES FILHO, Nei Alberto. A educação para paz nas entrelinhas do pensamento educacional de Paulo Freire. Disponível em: <http://www.pitangui.uepg.br/nep/artigos/Prof[1].Nei.Livro.PAZ.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2015.

VIEIRA, Elaine; VOLQUIND, Lea. Oficinas de ensino: O quê? Por quê? Como? 4. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.

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Valores e a construção de uma cultura de paz na escolaClaudia Adriana Dornelles de Araujo dos Santos1 Daniela Rocha Marins2

INTRODUÇÃO

Ao definir valores, morais e éticos, na escola, o professor toma como base os valores de sua classe ou grupo social, ou os valores instituídos como universais, e busca, na prática de sala de aula, incutir ou exigir dos alunos estes valores, colocando-os como ideais e necessários para a existência da harmonia e do respeito na sociedade. Desta forma enxerga e lida com todos os indivíduos como semelhantes, desprovidos de diferenças psicológicas, sociais, econômicas, culturais, etc.

Esta forma de ver e agir tem origem na pedagogia chamada tradicional, a qual bem atendia a um público que provinha da classe média ou das classes mais favorecidas economicamente. Os alunos tinham os mesmos valores da escola, e os que eram rebeldes e\ou diferentes deveriam ser “moldados” e “adaptados”, ou eram excluídos da escola.

Com os estudos da psicologia e da neurociência e a incorporação de um pensamento progressista na educação, houve mudanças significativas na maneira de conceber o comportamento das crianças e dos adolescentes, e de como este se reflete na escola. As políticas sociais de acesso ao ensino

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz– FORPROF/UFRGS.2 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Atendimento Educacional

Especializado pela UFC. Professora das Redes Municipais de Canoas e Sapucaia do Sul. E-mail: <[email protected]>.

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e a obrigatoriedade da frequência à escola dos 6 aos 14 anos incluíram nas escolas crianças e adolescentes de classes mais desfavorecidas, ou menores em situação de risco, trazendo valores diferentes, e muitas vezes opostos aos veiculados na escola pelos professores e pela sociedade denominada “politicamente correta”.

Testemunhamos, então, um professor, acostumado a uma prática tradicional, sentindo-se despreparado para trabalhar com este público e, sem maior conhecimento de como agir, muitas vezes, perdendo o interesse pela profissão, sofrendo de doenças psicossomáticas e desejando, quando possível, distanciar-se da sala de aula. Sua formação profissional não o habilitou a compreender comportamentos, linguagens e formas de agir tão diferentes aos do seu meio social. Prevalecia o dilema: como vivenciar e trabalhar a partir de valores diferentes aos instituídos pela sociedade dominante?

É preciso considerar que os indivíduos se apropriam de valores nos espaços sociais nos quais vivenciaram situações e experiências diversas, sejam eles em família, em grupos sociais, entre amigos, nas ruas ou em instituições que frequentam. Influenciam as crianças e os adolescentes, também, valores que põem em relevo as diferenças provenientes das classes sociais: situação econômica, nível cultural, acesso (ou não) aos meios de comunicação e às redes sociais.

Conforme esclarece Piaget (1994), a formação moral inicia na infância e está relacionada às interações do sujeito com o meio. Que valores pode ter um aluno que vivencia, no seu meio social, situações de violência, negligência, preconceito, exclusão e\ou miséria, e cuja família não reconhece a escola e a educação como necessárias para formar um cidadão e para qualificar para o trabalho? A escola passou a ser considerada como um lugar em que a criança recebe assistência básica, como alimentação; ou ainda, significa para o (a) aluno (a) uma forma de “sair de casa” e de “estar com amigos”; já no caso dos pais/responsáveis, significa

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uma obrigação legal cumprida, tendo em vista a obrigatoriedade do (a/s) filho (a/s) de frequentar (em) o Ensino Fundamental, dos 6 aos 14 anos.

Por outro lado, temos os alunos de famílias mais favorecidas economicamente, cujos pais não têm tempo ou interesse em orientar os filhos, dar afeto, por priorizarem os valores materiais à educação dos filhos. Neste caso, recebe a escola outras obrigações: garantir êxito da primeira etapa escolar que bem prepare para o ensino superior ou para um emprego mais qualificado.

Percebe-se, nesse contexto atual da sociedade, a urgência de uma educação inclusiva voltada para uma cultura de paz na escola, pois esta se constitui um dos principais espaços públicos de inserção do adolescente, tornando-se uma referência de conhecimento e valores nela propagados. (GROSSI, 2006, p. 419)

A escola vê a sua dimensão de formadora da pessoa humana e do cidadão sendo cumprida de forma difusa, vindo a tornar-se apenas um local de transmissão ou construção de conhecimentos, não cumprindo dois princípios da LDB/96: o pleno desenvolvimento do educando e seu preparo para o exercício da cidadania.

Em locais de maior concentração de violência devido ao tráfico de drogas, à miséria e, principalmente, à negligência do poder público diante dos contextos vividos nas periferias e favelas, o professor encontra um público com valores bem distantes dos seus, e dos considerados adequados pela sociedade atual. Assim, o aluno entra em contato com gostos musicais, leituras, linguagens, maneiras de se vestir provenientes de valores diferentes aos seus, o que o distancia da escola.

A violência se veicula nos meios de comunicação e entre a própria população sob diferentes aspectos e expressões. Ouve-se falar da violência referente ao

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crime, à miséria, à corrupção do Estado, de lideranças políticas que usam do poder público para negligenciar o povo, entre outras, de forma que ela ganha diferentes faces e olhares de pessoas, grupos e sociedades diferenciadas. (GROSSI, 2006, p.420)

As mídias e as redes sociais disseminam valores impostos pela sociedade burguesa, alienando seus usuários do contexto que vivem. Crianças, adolescentes e jovens seguem comportamentos, utilizam linguagens, adotam formas de vestir conforme os veiculados em programas de TV, comerciais e modismos, sem ter noção ou consciência do significado destes. Os valores propagados pelas mídias comerciais promovem o consumo, garantindo a manutenção de um sistema capitalista, no qual os vencedores são os mais privilegiados, excluindo-se desses, a maioria da população.

A exclusão, por sua vez, gera movimentos de resistência e negação de uma situação de opressão. Muitos adolescentes e jovens de periferia constroem sua linguagem, criam formas de vestir, buscam na música, na dança e no comportamento uma forma diferente de viver, e, ao mesmo tempo, reagem com agressividade ao que é imposto pela sociedade, protestam contra o preconceito e o racismo, além de viverem no fenômeno da exclusão deles às oportunidades.

Eduardo Lobo, no artigo “Exclusão social e cultura da vio- lência”, que faz parte do livro “Cultura de Paz: Estratégias, Mapas e Bússolas” (2003, p.297), discorre sobre como o capitalismo globalizado, a dominação do modelo da transnacionalização e a flexibilização do trabalho provocou crescimento da exclusão social e da pobreza, principalmente nos países em desenvol- vimento e, em consequência disso, o aumento da violência. Esse processo, ainda segundo Lobo, exige organização dos movimentos sociais para lutar contra a opressão, exploração econômica, preconceito racial e de gênero, promover a solidariedade, estabelecer programas de proteção às crianças,

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adolescentes e idosos, rediscutir os valores que definem estilos de vida, valorizar a vida e respeitar os seres humanos, os animais e o meio ambiente, como alternativas na luta contra a violência e a exclusão social.

Diante de tal cenário definido pelo mundo capitalista, cuja sociedade prega a competição, a individualidade e o egoísmo, é que se faz imprescindível a educadores e educandos que fortaleçam a consciência de que, apesar de toda dificuldade em conseguir alcançar os objetivos, por causa da competitividade, há como conseguir, sendo honesto, generoso, justo, solidário agindo com ética (SOUZA, 2015, p.3).

Para muitas crianças, adolescentes e jovens de periferia, ou que vivem em situação de vulnerabilidade social, a escola não se configura como espaço de construção de identidades, de emancipação humana, de cidadania e humanidade, e um dos espaços onde se adquire conhecimento e conscientização para superar a cultura de violência, mas sim, é vista como mera obrigação legal, pouco atrativa e sem sentido para a vida.

Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de serem educados pelos educandos; só eles separam o ato de ensinar do de aprender, de tal modo que ensina quem se supõe sabendo e aprende quem é tido como quem nada sabe. (FREIRE, 1989, p.17).

Atingir um público marcado por violência, preconceito, drogas, agressividade, abusos e desinteresse vai exigir da escola um trabalho voltado para essa realidade. Neste processo, é importante conquistar a confiança dos alunos e, para isso, é necessário conhecer sua realidade, maneiras de conceber o mundo, interesses e objetivos de vida. Paulo Freire acreditava que a educação podia mudar a realidade, sendo necessária para as transformações sociais. Denominou esta educação, a Pedagogia da Esperança.

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(...) que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos (...), abertura à justiça, não é possível a prática pedagógico-progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica (FREIRE, 1997, p.136).

Para Freire, a educação problematizadora da realidade em que estão inseridos aluno e professor, possibilita a conscientização e a consciência crítica, necessária para a busca do ser mais no mundo. Os valores que servem para, manter os privilégios de poucos e o status quo de uma sociedade podem ser superados, surgindo uma fase de transição, que levará a mudanças sócias, em busca de uma sociedade mais justa, humana e de paz.

Construir em nossa sociedade uma cultura de paz exige respeito aos direitos humanos e principalmente assegurar valores da vida democrática como a igualdade e a justiça social, garantindo espaços de pluralidade para que a vida seja vivida em seu cotidiano sem violência. (GROSSI, 2005, p.14)

Pode-se afirmar que o trabalho na escola vai além da transmissão e da produção de conhecimentos, caracterizando-se um processo de ensinar e aprender que envolve afetividade, interação e valores. Por isso, a formação do professor precisa considerar todos os aspectos que envolvem o processo educativo, considerando a importância de definirem adequadamente que valores haverão de ser ensinados na escola, tendo em vista a vida dos alunos e a sociedade.

Apresentamos, a seguir, uma oficina para trabalhar com o tema “valores” e sua importância na construção de uma cultura de paz com alunas e alunos do Curso Normal – modalidade Aproveitamentos de Estudos, numa escola estadual do Rio

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Grande do Sul. Esta instituição há bastante tempo, trabalha com a formação de professores em nível de Ensino Médio.

A oficina, tal como foi concebida nesta proposta, compreende as seguintes etapas:

1º dia Apresentação de slides e reflexão sobre o conceito de valores, sua importância na vida e na escola.

2º dia Filme “Escritores da Liberdade” e reflexões das alunas e alunos, e professora.

3ºdiaLeitura e discussão sobre violência e valores na escola, práxis do professor e da escola, a partir do texto e filme “Escritores da Liberdade”.

4º dia Organização do trabalho em grupo com música.

5º diaApresentação dos trabalhos, em que cada grupo apresenta uma coreografia com uma música, cujo tema seja a cons-trução da paz e valores.

6º dia Culminância: Produção de reflexão individual sobre o tema da oficina.

A oficina foi realizada nas disciplinas de Filosofia e Sociologia da Educação. Iniciamos com uma introdução ao conceito de valores, o que são valores universais, que valores os alunos trazem consigo para escola, especialmente os alunos das escolas públicas. A discussão que se estendeu um pouco mais foi sobre as diferenças de concepção de valores vivenciados pelos professores e por alunos.

Faz-se necessário, neste ponto, comentar algumas observações nossas, enquanto docentes, acerca de elementos que consideramos sumamente relevantes nas falas de grande parte das alunas, no que tange o processo formativo destas futuras educadoras, tendo em vista uma reavaliação e a necessidade de um redirecionamento do ensino.

Dentre as manifestações das opiniões, feitas oralmente, um expressivo número remeteu-se às concepções tradicionais da

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escola, como sendo atualmente, adequada à formação de valores; demonstraram não ter conhecimento e\ou entendimento da relação “apropriação de valores X meio social”, tendo repetido discursos veiculados pelas mídias comerciais, ou carregadas de senso comum. Percebemos, claramente, na fala de uma das alunas que relatou a situação de vida de alunos de uma escola situada no bairro Restinga, localizado na periferia de Porto Alegre, o sentimento de distanciamento diante da realidade com que convive. Notamos, ainda, que a maioria das alunas aparenta não perceber que, nesta modalidade do ensino médio, está se preparando para, futuramente, prestar concurso público (o municipal constitui o principal objetivo da maioria das alunas e dos alunos) e que, sendo aprovada, será nomeada para trabalhar em escola de periferia.

O grupo se emocionou ao assistir o filme “Escritores da Liberdade”, filme norte-americano baseado em fatos reais, que narra a história de uma professora de literatura inglesa que decide ser professora numa escola pública de integração (onde estudam juntos alunos imigrantes de várias etnias), no Estado da Califórnia, EUAi. Mostra o trabalho desta professora, num ambiente marcado por “rixas”, ódio racial, violência e completo desinteresse pela escola, visto como algo sem significado para a vida dos alunos que, partindo da realidade dos seus alunos e os valorizando como pessoas, acaba por inseri-los na escola, novamente.

O filme suscitou reflexões por grande parte das alunas, que destacaram a força e dedicação da professora, o fato de ela valorizar seus alunos, independentemente de cor ou de classe social. Ressaltaram a metodologia utilizada pela professora para estimular o interesse dos alunos em participar nas atividades propostas pela mesma.

Ainda a respeito do filme, foi comentado que, guardadas as diferenças de realidades Brasil/EUA, situações semelhantes de miséria, violência e abandono da escola, ocorrem em escolas

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públicas do Brasil, do RS e de Porto Alegre, assim como se assemelham as dificuldades semelhantes vividas por muitos professores que trabalham com realidades como esta. A partir das discussões suscitadas pelo filme e posteriormente pelo texto “A construção da cultura de paz como uma estratégia de superação da violência no meio escolar: impasses e desafios” (Grossi, 2005), o grupo considerou que os professores, tendo os meios necessários para realizar o seu trabalho, bem como responsabilidade e interesse pela profissão, têm a possibilidade de realizar um trabalho significativo com seus alunos, embora não possam ter a dedicação exclusiva que teve a professora do filme, dentro de suas possibilidades, acreditam poder, sim, realizar uma prática educativa de construção de valores para a busca da paz.

Por fim, foi comentado que se faz necessário, no contexto atual das nossas escolas, tornar a construção de uma cultura de paz uma ação constante. Por isso, é crescente a importância de haver cursos de formação de professores mais específicos, que tratem de como propiciar a construção de valores pelos alunos reconhecendo a cultura de paz como sendo o aspecto primordial no desenvolvimento do currículo escolar, preparando os professores para enfrentarem mais este desafio, o que viria a beneficiar a relação dos alunos e professores, bem como o ambiente escolar como um todo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a realização da oficina proposta pelo curso Educação Integral – Escolas da Paz, afirmamos que a criação de oficina apresentada proporcionou a nós, docentes, um trabalho de reflexão importante e, aos alunos e alunas do Curso Normal – aproveitamento de Estudos - modalidade Ensino Médio, uma abertura à conscientização do que constitui o ser professor (a) assim como propiciou o aprofundamento de assuntos como sustentabilidade, violência urbana, vulnerabilidade social, valores, prática do professor e construção de uma cultura de paz.

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Consideramos que este trabalho colaborou significativamente para consolidar o ensino que recebem nesta escola, pois a maioria do público que a frequenta será professor (a) em escolas municipais ou estaduais das redes públicas, em contextos sociais diversificados e encontrará como já dissemos situações de violência e conflitos de relações, a serem superados também por meio de práticas pedagógico-educativas estratégicas.

Durante esse período do curso Educação para Paz e da oficina, pudemos refletir sobre as causas da violência, relacionadas à cultura escolar e à estrutura econômica e social das famílias e sobre suas consequências que resultam no aumento da violência e na incompreensão de como discutir e vivenciar práticas pedagógicas e lúdicas para superação de muitas situações de conflitos, que pelas dificuldades apresentadas parecem difíceis para o professor superar.

No próximo semestre, pretendemos continuar a organizar outras oficinas, que abordem valores e construção de uma cultura de paz, considerando que o trabalho despertou o interesse e obteve participação engajada da maioria das alunas e alunos, possibilitando a estes refletir sobre as situações de conflito e violência nos espaços escolares onde poderão atuar, e pensar em uma prática que possibilite construir uma cultura de paz na escola.

Ressaltamos a importância de que os cursos de formação de futuros professores tomem por missão institucional propor- cionar a reflexão sobre a realidade dos alunos e suas famílias, situações de violência, valores, e oportunize refletir como as práticas educativas podem criar um espaço de respeito e participação nas escolas, necessário para a construção de uma cultura de paz.

REFERÊNCIAS FEIZI M. Milani, Ritade Cássia Dias Pereira de Jesus (organizadores). Cultura de paz: estratégias, mapas e bússolas / – Salvador: INPAZ, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.

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Valores e a construção de uma cultura de paz na escola Claudia Adriana Dornelles de Araujo dos Santos, Daniela Rocha Marins

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez Editora, 1989.

GROSSI, Patrícia Krieger, e Beatriz Gerhenson Aguinsky. A construção da cultura de paz como uma estratégia de superação da violência no meio escolar: impasses e desafios. Porto Alegre – RS, ano XXIX, n. 2 (59), p. 415-433, Maio/Ago. 2006.

GROSSI, Patrícia Krieger, Beatriz Gerhenson Aguinsky, Leoberto Brancher, Simone Barros de Oliveira e Gisiane Schneider. Violência no meio escolar: a inclusão social através da educação para a paz. Revista Virtual Textos & Contextos. Nº 4, ano IV, dez. 2005.

LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional [recurso eletrônico]: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 9. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2014.

PIAGET, Jean. O juízo moral na criança (1932). São Paulo: Summus Editorial, 1994.

SOUZA, José Francisco de. Importância dos valores humanos na educação. Curso Escolas da Paz – Módulo 4 – A Paz e os valores Humanos. Artigo consultado em https://moodle. ufrgs.br no dia 04/01/2015.

NOTAi O Filme Escritores da Liberdade foi escolhido por abordar o trabalho de uma professora em uma escola pública, de integração étnica (latinos, negros, cambojanos, etc.), e região de vulnerabilidade social, marcado por violência e tráfico de drogas. A maioria dos alunos de integração não concluía o Ensino Médio.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata de uma proposta de oficina com ênfase na cultura de paz. Para tanto, foi realizado um planejamento designado a alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, alicerçado nas Artes como fonte de expressão de sentimentos e reflexão. A proposta consiste em realizar atividades coletivas com duração média de 11 horas/aula, enfocando o tema “Fé na vida”. Tais atividades englobam as diferentes linguagens artísticas, como a Música, as Artes Plásticas e a Dança enquanto meios de criação e reflexão.

Sabe-se que a expressão artística contribui para a formação do ser humano, sua personalidade e capacidade criativa. Na escola, a Arte pode e deve ser utilizada no sentido de oportunizar o desenvolvimento do aluno, em uma abordagem reflexiva, visando ao crescimento pessoal. Além disso, a necessidade de promover atividades pedagógicas que despertem no aluno sua consciência de estar no mundo e dele fazer parte, por certo colaboram para a reflexão sobre a importância da convivência

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Especialista em Pedagogia Gestora: Ênfase em Gestão, Supervisão e Orientação Educacional pela FACVEST. Graduada em Pedagogia: Anos Iniciais do Ensino Fundamental - Crianças, Jovens e Adultos pela UERGS. Professora dos Anos Iniciais na Escola Estadual de Ensino Fundamental Miguel Nunes Rebello: Av. Getúlio Vargas, 1644 - Balneário Rebello - Tapes/RS. E-mail: <[email protected]>.

2 Tutora do Projeto Escolas da Paz - FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação pela UFRGS. Professora de Música da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. E-mail: <[email protected]>.

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pacífica e solidária, com vistas à construção de uma sociedade mais humana e cooperativa.

Mais do que o saber técnico e conteudista, a escola de hoje precisa assumir o compromisso de formar seres humanos. Estes são dotados de razão e emoção, motivo pelo qual necessitam de espaço para demonstrar seus sentimentos e expectativas em relação ao mundo que desejam, não só para o presente, como também para o futuro.

É a escola o ambiente onde a diversidade cultural se manifesta, precisando assim ser entendida como elemento proporcionador de interações e, com isso, aceitação, respeito e cooperação. Igualmente, no contexto escolar brasileiro contemporâneo, a escola pública abraça uma demanda que vai além da alfabetização e dos conteúdos específicos; nossos alunos chegam com sede de afetividade e conhecimento moral e ético sobre a vida, os valores humanos, que nem sempre estão presentes de forma consistente em seus lares. Identifica-se no campo das artes um caminho possível para preencher essa lacuna.

Diante do exposto, o trabalho com a música, as artes plásticas e a dança se torna um excelente meio de oportunizar na escola a reflexão e a possibilidade de apreciar a beleza de um mundo que pode ser construído, tendo em seus alicerces a cultura de paz.

O referencial teórico deste trabalho aborda conceitos de paz e propõe a reflexão sobre sua importância na construção de um mundo mais humano. Também aborda a inegável importância da formação escolar em uma visão humanista. Além disso, tece considerações especialmente sobre a musica, bem como dança e artes plásticas, dado o planejamento ser todo alicerçado em atividades artísticas, convergindo para o diálogo.

A posteriori, são especificadas durante o texto as atividades planejadas, a metodologia empregada, bem como um breve comentário a respeito da prática avaliativa. Considerações a respeito do planejamento e seus desdobramentos para a visão de uma escola pautada na cultura de paz são tecidos ao final do trabalho a guisa de conclusão.

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Pretende-se aqui colaborar com a infinita rede de ideias que vem se construindo ao longo dos anos sobre a necessidade de firmarmos uma consciência de que estamos em um mundo que pode ser transformado através de ações que visem ao bem-estar de todos, independente de origem, classe social ou concepção cultural. Ou seja, propor uma alternativa possível e real do que pode colaborar para isso no contexto escolar, através de atividades embasadas na expressão artística e na sensibilidade humana.

CONCEPÇÕES DE PAZ NA ESCOLA

A priori costumamos definir paz como uma simples ausência de conflitos e/ou guerras. Não obstante, a paz é algo bem mais abrangente do que essa definição. Em sua Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz, a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) reconhece que a paz “requer um processo positivo, dinâmico e participativo em que se promova o diálogo e se solucionem os conflitos dentro de um espírito de entendimento e cooperação mútuos” (ONU,1999, p.2). Por sua vez, Diskin e Roizman (2002) consideram que a paz precisa ser construída a partir de uma mudança de padrões mentais e atitudinais que nos levarão a uma nova maneira de ser e compreender o mundo. Já Weil (1993) propõe uma visão holística, em que “a paz é ao mesmo tempo felicidade interior, harmonia social e relação equilibrada com o meio ambiente” (WEIL, 1993, p.37).

Definições à parte, percebemos que todas convergem para um mesmo fim, qual seja, o da convivência conciliadora e dialógica. Tal princípio requer o desenvolvimento de valores de solidariedade, cooperação, respeito à diversidade e, principalmente, tolerância ante, possíveis e inevitáveis, divergências. Esses valores prescindem do espaço escolar para que sejam fomentados em nossos alunos, autores da construção social futura.

De acordo com Delors (2010), em vista dos desafios suscitados pelo futuro, a educação surge como um trunfo imprescindível

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para que a humanidade tenha a possibilidade de avançar na concretização dos princípios da paz, da liberdade a da justiça social. O autor sinaliza que a educação ao longo da vida precisa estar baseada em quatro pilares, quais sejam: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Aprender a conhecer, a fim de estudar para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida; aprender a fazer, para tornar-se capaz de enfrentar situações e trabalhar em equipe; aprender a conviver, com vistas a desenvolver a compreensão do outro e a percepção das interdependências, respeitando os valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz; e aprender a ser, no sentido de desenvolver a personalidade e agir com autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Delors ainda enfatiza que aprender a conviver é um dos mais relevantes pilares, haja vista que, a partir deste, será possível:

[...] criar um novo espírito que, graças precisamente a essa percepção de nossa crescente interdependência, graças a uma análise compartilhada dos riscos e desafios do futuro, conduza à realização de projetos comuns ou, então, a uma gestão inteligente e apaziguadora dos inevitáveis conflitos. (DELORS, 2010, p.13).

Trata-se de uma educação pautada na compreensão mútua, através da convivência pacífica e harmoniosa. Assim sendo, não podemos ignorar mais que a formação humana do aluno faz parte do currículo escolar, estando introjetada nas interações proporcionadas pelo cotidiano da sala de aula, do recreio, dos corredores, enfim, da dinâmica em que a trajetória dos mesmos se desenvolve. Cabe à escola utilizar essas interações de maneira a oportunizar o diálogo e a reflexão, com vistas ao fortalecimento da cultura de paz, esta, essencial para a construção do sonhado mundo melhor.

O mundo melhor referido, tão decantado em prosa e verso, é possível de ser construído. Para isso, é necessário que a sociedade

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assuma o compromisso com a transformação da realidade. Freire (1987) já alertava para a necessidade de problematizar a educação, no sentido de estabelecer o diálogo. De acordo com este autor, “ninguém educa ninguém, como também ninguém educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p.39). Nessa perspectiva, enquanto espaço de manifestação cultural, a escola se configura no ambiente ideal para o estabelecimento do ambiente dialógico proposto por Freire (1987), dada estar nela presente a diversidade. Por essa razão, há que se desenvolver atividades pautadas na reflexão acerca do mundo em que vivemos e do mundo que podemos construir. Entra em cena a utilização da música como recurso auxiliar nesse processo.

CONCEPÇÕES DE MÚSICA NA ESCOLA

Diz-nos Dalcroze apud Madureira (2008, p.28) “Como é magnífico o poder da música em nos apaziguar quando estamos superexcitados, de nos despertar quando estamos adormecidos e de nos iluminar quando erramos por campos tenebrosos”. É com este poder que podemos contar para que sensibilizemos nossos alunos para a musicalidade presente em todos nós; é a música o veículo que nos conecta com tempos e espaços vividos e por viver; é com a música que podemos sonhar com um novo mundo, permeado pela paz; e é na música que encontramos um dos caminhos para a construção dessa paz.

Não se pretende que os alunos se tornem músicos exímios apenas com experiências musicais em sala de aula. Contudo, não se pode negar a esses alunos a chance de abrir seus olhos para enxergar a si, ao outro e ao mundo. Participar, ouvir, interpretar, improvisar, compor músicas, explorar movimentos corporais e representar simbolicamente suas ideias e concepções no espaço escolar é a estratégia para construir cidadãos críticos e fraternos. Muitas canções trazem conteúdo reflexivo, sendo bastante auxiliares no processo de formação humana em uma cultura de paz.

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Nessa perspectiva, encorajar experiências e atividades sonoras criadoras é enriquecer a vida do aluno, abrir-lhe espaço para sua expressão musical, bem como outras formas de expressão, as quais oportunizam o diálogo e a reflexão. Também Molina (2012) acredita que a exploração musical traz benefícios para a formação geral da criança, desenvolvendo qualidades mais humanas nos aprendizes. Conforme o autor:

Dependendo de como é vivenciada, a prática musical apresenta-se como laboratório privilegiado para o exercício de determinadas qualidades transversais a toda educação, como a cooperação, a paciência, a gentileza, a relativização da competição, a escuta de si e do outro. O desenvolvimento de tais qualidades é, paradoxalmente e ao mesmo tempo, responsabi- lidade pertinente a todas as disciplinas e a nenhuma delas exclusivamente. Mesmo sabendo que podem (e devem) ser trabalhadas em todos os campos, na música essas qualidades são quase sempre pré-requisitos, engrenagens, encaixes para um movimento conjunto. Além disso, a prática musical é também especialmente propícia para o fluir da criatividade, e pode trabalhar, sem grandes obstáculos, o exercício da liberdade com responsabilidade. (MOLINA, 2012, p.7).

Caminhando nessa direção, o aluno terá na escola um espaço onde a sua habilidade musical será incentivada e valorizada. Essa habilidade irá ser construída através de atividades que exercitem a audição, interpretação, improvisação, e até mesmo a composição de manifestações musicais. Todas essas atividades musicais proporcionam experiências de convivências com colegas, trabalhando em grupo e desenvolvendo as qualidades citadas por Molina, como a escuta de si e do outro, o que possibilita aprendizagens de respeito mútuo. Robatto (2012) ressalta a importância de se trabalhar com a música devido à

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possibilidade dessa prática desenvolver o pensamento crítico nos alunos. Segundo o autor:

Fica patente que o interesse pela música é proporcional às oportunidades que cada indivíduo tem de ter contato com abordagens mais estruturadas e contínuas com a música. Fica também claro que, uma vez em contato com uma tal abordagem, ocorre um enriquecimento da capacidade de percepção e de elaboração crítica. A ampliação dos horizontes musicais do indivíduo (seja no âmbito da percepção pessoal, seja no âmbito da riqueza e variedade de repertórios) serve de auxílio para o alargamento dos horizontes de percepção da realidade como um todo. (ROBATTO, 2012, p.51).

De acordo com Diskin e Roizman (2002), a música é um tesouro que se dirige à sensibilidade do ser. Para as autoras, “talvez essa, que é a mais nobre faculdade humana, a faculdade de sentir, seja a melhor ponte de comunicação com nosso semelhante” (DISKIN e ROIZMAN, 2002, p. 56).

Assim sendo, é importante para as crianças o contato com a música na escola, haja vista que o desenvolvimento da musicalidade contribui para a formação do aluno como um ser dotado de razão e emoção. Levitin acrescenta que a música pode mobilizar emoções. Conforme o neurocientista “a música recorre a estruturas cerebrais primitivas envolvidas com a motivação, a gratificação e a emoção” (LEVITIN, 2010, p.215).

BREVES CONCEPÇÕES SOBRE DANÇA E ARTES PLÁSTICAS NA ESCOLA

O movimento corporal, a dança, se faz uma unidade com a música ao se integrarem. Com vistas ao trabalho escolar direcionado para uma cultura de paz, a música e a dança se entrelaçam como ferramentas que podem contribuir intensamente para o diálogo entre sons e movimentos. A autora

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Fonterrada (2008) ao explicar a proposta de educação musical baseada na interação entre o escutar e movimento corporal de Émile-Jaques Dalcroze, descreve as ideias do educador:

A música não é um objeto externo, mas pertence, ao mesmo tempo, ao fora e ao dentro do corpo. O corpo expressa a música, mas também transforma-se em ouvido, transmutando-se na própria música. No momento em que isso ocorre, música e movimento deixam de ser entidades diversas e separadas, passando a constituir, em sua integração com o homem, uma unidade (FONTERRADA, 2008, p.133).

A dança trabalhada conjuntamente com a música contribui para o desenvolvimento de potencialidades e, principalmente, da sensibilidade no aluno. Desse modo, tais atividades são maneiras de oportunizar a livre expressão do aluno, com vistas promover a interação entre o grupo.

Enfim, vejo que a Dança pode ser mais do que uma ferramenta pedagógica “para” o desenvolvimento de habilidades musicais, pois neste contexto, quase sempre é uma forma de possibilitar a experiência musical de forma integrada com o meio, com o outro, com si mesmo. Partindo do princípio de que estar no corpo é a nossa forma de estar no mundo, a Dança deve estar em diálogo “com” a Música e, só assim, contribuirá efetivamente para o desenvolvimento artístico-humano de quem as vivencia. (SANCHEZ, 2012, p.192). [grifos da autora]

As artes plásticas têm um papel bastante importante no que diz respeito ao desenvolvimento dos valores humanos. Através da expressão do aluno em seus desenhos, pinturas e demais criações, o professor poderá mediar o diálogo com vistas à reflexão acerca do entendimento do aluno sobre aspectos que ele tenha expressado em seus trabalhos.

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Em relação à criação plástica por parte do aluno é respon- sabilidade da escola possibilitar experiências nas quais, apren- dendo e criando, este exercite sua percepção, imaginação, sen- sibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal. Trata-se de centralizar a forma como o aluno aprende, cria e cresce na construção do conhecimento artístico. Na proposta de trabalhar o desenho, o aluno cria, relacionando seu fazer com sua leitura de mundo, além de apreciar e refletir sobre outras pro- duções, no sentido de compreendê-las como manifestação cultural.

É em busca desta compreensão que o professor precisa guiar seu aluno. Assim, ele saberá apreciar e respeitar as manifestações artísticas, independente de seu gosto pessoal, estabelecendo o convívio harmonioso com as diferenças.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

• Promover momentos que possibilitem o exercício de expressão e reflexão sobre o futuro apoiado na cultura de paz dos alunos através das diferentes linguagens artísticas.

Objetivos específicos

• Exercitar a percepção auditiva e a sensibilidade musical, buscando refletir sobre a mensagem que a canção lhe passar.

• Expressar através de desenho e/ou criação artística, suas impressões sobre a canção ouvida.

• Criar movimento de dança espontâneo, exprimindo seu sentimento em relação à música.

• Participar de atividade de autoavaliação de forma individual e coletiva.

PÚBLICO ALVO

Alunos do 5º Ano do ensino fundamental, com idades variando entre 10 e 12 anos. São crianças e adolescentes das

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classes populares que, via de regra, veem na escola sua única oportunidade de conquistar a cidadania plena. Muitos desses alunos têm histórias de vida marcadas pela exclusão social, o que faz das atividades escolares maneiras de oportunizar a reflexão crítica e, principalmente, humana sobre a sociedade que se deseja. Considerando o final de um ciclo, a partir dos anos finais, é importante que estes reflitam acerca do futuro e da importância da escola em suas vidas para a construção de um mundo mais humano e solidário.

METODOLOGIA

Atividades coletivas, envolvendo apreciação de uma canção, diálogo reflexivo, criação artística e livre expressão corporal ao som da canção. Em razão das temáticas a serem abordadas, privilegia-se a atividade grupal, com vistas a incentivar a cooperação entre os alunos. Além disso, o diálogo reflexivo também se configura em um grande aliado à expressão de ideias, bem como ao respeito das opiniões, de forma pacífica. As atividades de criação artística e livre expressão corporal se explicam pelo fato de nelas estar presente a subjetividade do aluno e, através delas, mais uma vez, estabelecido o diálogo reflexivo e a troca de experiências.

Material necessário

Aparelho de som, gravação da canção a ser trabalhada, papel, lápis de cor, giz de cera, tintas, pincéis, colas, materiais de recorte e sucata, papel pardo para construção de mural.

Passo a passo

1. Apreciação e análise da cançãoSerá trabalhado com a canção “Sementes do Amanhã”

composta por Gonzaguinha, filho de Gonzaga. Esta obra possui diferentes gravações e interpretações, uma delas é realizada por Erasmo Carlos. É possível escolher a versão que preferir, ou até mesmo ouvir as diferentes versões. Não será aprofundado

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o histórico da canção, pois não seria coerente com a proposta desta oficina. Abaixo a letra da canção:

SEMENTES DO AMANHÃ

Compositor:Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior

Ontem um menino que brincava me falou

Que hoje é semente do amanhã

Para não ter medo que este tempo vai passar

Não se desespere, não, não pare de sonhar.

Nunca se entregue, nasça sempre com a manhã

Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar

Fé na vida, fé no homem

Fé no que virá

Nós podemos tudo

Nós podemos mais

Vamos lá fazer o que será.

Será apreciada a canção inicialmente e, após, realizada uma análise focada especialmente no conteúdo da canção, na qual os alunos serão questionados sobre as impressões acerca da melodia e letra, buscando uma reflexão:

Que mensagem esta música trouxe?

A mensagem recebida foi a mesma para todo o grupo?

Qual a parte da música os alunos mais se identificaram?

A partir dos relatos dos alunos, o diálogo se estabelecerá, direcionado para os interesses dos mesmos, numa ênfase ao futuro:

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Que futuro nós esperamos?O que podemos fazer na busca de um mundo mais humano e menos

violento?Quem são as sementes do amanhã?

Por que “sementes”?Como semear a paz?

Os alunos serão convidados a entoar a canção, no primeiro momento, com o acompanhamento da mídia e posteriormente, dependendo do interesse, essa atividade pode ser realizada em forma de canto coral e/ou instrumental.

2. Representação visualOs alunos serão convidados a expressar, por meio de uma

produção artística ou desenho, seus sentimentos em relação à música. Serão oferecidos materiais diversos, como tintas, materiais para recorte e colagem, lápis de cor, giz de cera, cola, tesoura e sucatas. A criação poderá ser em grupos, conforme o interesse dos alunos. Após, construiremos um mural com as representações dos alunos, sob o título “Fé na vida”.

3. Expressão corporal Ao som da música, os alunos serão convidados a dançar

livremente. Nesta atividade, prioriza-se a percepção individual (sensações, emoções) de forma que o aluno expresse sua subjetividade, relacionando-a com o ambiente, bem como criando e executando livres movimentos, sozinhos, depois, em duplas e, por fim, em conjunto, a fim de manter contato com o colega, através da dança.

4. AvaliaçãoSerá realizada uma atividade de autoavaliação com os

alunos, em que os mesmos irão relatar suas impressões sobre as atividades realizadas, bem como suas expectativas em relação ao futuro, tema enfocado na letra da música. Esta atividade tem

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ênfase na avaliação participativa, através da qual o diálogo é estabelecido, propiciando a reflexão.

Inicialmente, a autoavaliação será individualizada, momento no qual cada aluno terá oportunidade de expor suas ideias pessoais acerca das atividades das quais participou, qual delas foi mais significativa, bem como se houve alguma com a qual não se identificou. Tendo o diálogo como base, as intervenções dos colegas serão livres, possibilitando assim a comunicação com base nas opiniões, podendo estas ser modificadas, conforme o debate for se estabelecendo.

A posteriori, uma autoavaliação coletiva será realizada. Nesse tipo de atividade, o trabalho do grupo é analisado, com vistas a refletir sobre aspectos que foram gratificantes, bem como que precisam ser melhor praticados, com vistas a ir ao encontro do que a turma deseja em novos trabalhos cooperativos e/ou em grupos. Também aqui o diálogo é a tônica, haja vista que somente assim todos poderão explanar e rever seus conceitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Propor o desenvolvimento de uma oficina para a cultura de paz com base nas artes abre um amplo leque de reflexões acerca da necessidade de construir essa cultura nas escolas, com vistas a expandi-la para além dos muros escolares. Nossos alunos anseiam por atividades reflexivas e dialógicas, eles precisam se expressar, expor suas opiniões, revelar seus sonhos, manifestar sua leitura de mundo. E a escola precisa oferecer seu espaço para que tal anseio seja atendido.

Através do trabalho pedagógico envolvendo a música, as artes plásticas e a dança, pode-se suprir muitas carências dos discentes, no que diz respeito ao seu desejo de entender-se como ser humano que está em processo constante de ressignificação. Para tanto, há que se privilegiar atividades envolvendo a reflexão dialógica, pois dessa forma será desenvolvida a capacidade humana de conviver e compreender

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“Fé na vida”: reflexão e diálogo para a construção da paz através das artes na escola Kátia Rosita Cardoso dos Santos, Aline Lucas Guterres

a diversidade enquanto aspecto formador de cultura e também da sociedade.

Cabe ao professor buscar maneiras de desenvolver em seus alunos o gosto pela música, a reflexão sobre letras de canções, bem como a criatividade, quando dos movimentos de canto e dança. Tais atividades, direcionadas para o fortalecimento do espírito solidário e cooperativo, por certo despertam no aluno a consciência de si, bem como a necessidade da convivência pacífica entre as pessoas. Na visão Freireana, “Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros” (FREIRE, 1989, p.26), razão pela qual precisamos praticar esse entendimento com base no respeito ao próximo, parte do mundo, como todos nós.

A cultura de paz nas escolas tem nas atividades envolvendo a musicalidade, movimentos corporais e no desenho um campo fértil para o desenvolvimento de habilidades que levem ao convívio harmonioso. Tolerância, autoconhecimento, solidariedade, cooperação e respeito à diversidade são al- gumas dessas habilidades, hoje tão importantes, a fim de que no futuro deixemos a nossas crianças o mundo melhor que sonhamos. Para tanto, há que se ter “fé na vida, fé no homem”, como diz a canção de Gonzaguinha que inspirou o planejamento da oficina.

REFERÊNCIASDELORS, Jacques. A educação ou a utopia necessária. In: UNESCO. Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Brasília: UNESCO, 2010. Disponível em: <http://gajop.org.br/justicacidada/?p=1783>. Acesso em: 28 fev. 2015.

DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura Gorresio. Paz, como se faz?: semeando cultura de paz nas escolas. Brasília: Governo do Estado de Sergipe, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Funarte, 2008.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 27. ed. São Paulo: Autores Associados; Cortez, 1989.

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“Fé na vida”: reflexão e diálogo para a construção da paz através das artes na escola Kátia Rosita Cardoso dos Santos, Aline Lucas Guterres

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GONZAGUINHA. Sementes do amanhã. Interpretação de Erasmo Carlos. In: Buraco negro. Rio de Janeiro: Polydor, 1984. Disponível em: <http://www.4shared.com/mp3/anKVNs9G/SEMENTES_DO_AMANHA_ERASMO_CARL.htm?locale=pt-BR&sop=true>. Acesso em: 28 dez. 2014.

LEVITIN, Daniel J. A música no seu cérebro: a ciência de uma obsessão humana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

MADUREIRA, José Rafael. Émile Jaques-Dalcroze: sobre a experiência poética da rítmica: uma exposição em 9 quadros inacabados. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas; Faculdade de educação. Campinas: [s.n.], 2008.

MOLINA, Sergio. Vozes e ouvidos para a música na escola. In: JORDÃO, Gisele; ALLUCCI, Renata R.; MOLINA, Sergio; TERAHATA, Adriana Miritello (Coord.). A música na Escola. São Paulo: Allucci & Associados Comunicações, 2012.

ONU. Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz. Disponível em: <www.comitepaz.org.br/dec_prog_1.htm>. Acesso em: 10 fev. 2015.

ROBATTO, Lucas. Por que música na escola? In: JORDÃO, Gisele; ALLUCCI, Renata R.; MOLINA, Sergio; TERAHATA, Adriana Miritello (Coord.). A música na Escola. São Paulo: Allucci & Associados Comunicações, 2012.

SANCHEZ, Melina Fernandes. Corpo e dança na educação musical: recurso pedagógico somente?!. In: JORDÃO, Gisele; ALLUCCI, Renata R.; MOLINA, Sergio; TERAHATA, Adriana Miritello (Coord.). A música na Escola. São Paulo: Allucci & Associados Comunicações, 2012.

WEIL, Pierre. A arte de viver em paz: por uma nova consciência, por uma nova educação. (Anexos). Tradutores: Helena Roriz Taveira, Hélio Macedo da Silva. 1. ed. São Paulo: Editora Gente, 1993.

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Africanidades em sala de aulaPriscila Vieira Bastos1 Simone Rasslan2

1 JUSTIFICATIVA

Ao iniciar o Curso Educação Integral: Escolas da Paz, realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, já no Módulo I - Mundo Interconectado, realizei com meus alunos o passeio nos Territórios Negros: Afro-brasileiros de Porto Alegre, no quais são apresentados aos educandos pontos de referência da população negra. Este passeio teve o intuito de ampliar a compreensão dos alunos sobre a história e cultura dos afro-brasileiros em nossa cidade. Assim esta atividade foi de suma importância para as crianças, já que, aprenderam histórias desconhecidas sobre a cultura e modo de vida dos afro-descendente do Brasil e se divertiram durante o percurso. Um dos territórios visitados foi o Quilombo do Areal da Baronesa local no qual ocorrem diferentes manifestações culturais, assim como rodas de samba, carnaval de rua, sarau poético, capoeira, estudos sobre as religiões de matriz africana, oficinas com materiais reciclados, entre outras atividades de natureza cultural.

O Curso Escolas da Paz propõe aos seus cursistas a elaboração de uma oficina que deverá ser aplicada em etapa posterior do

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Serviço Social e Educação Popular. Graduada em Filosofia. Professor de Filosofia na E.E.E.F Vila Jardim Renascença. E-mail: <[email protected]>.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da UFRGS. Bacharel em Regência Coral pela UFRGS e em Peda- gogia – Orientação Educacional – pela UFMS. Tem carreira como artista ( cantora e pianista) há mais de 25 anos. E-mail: <[email protected]>.

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Africanidades em sala de aula Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

curso. Foi pensando em utilizar o material riquíssimo que o passeio, realizado no primeiro módulo, nos proporcionou, que surgiu inicialmente o desejo de propor um resgate cultural através de uma oficina realizada de forma coletiva com os educandos: uma oficina de criação de máscaras africanas. Por que as “máscaras”? Elas são as formas mais conhecidas da plástica africana. Constituem síntese de elementos simbólicos mais variados se convertendo em expressões da vontade criadora do africano. Foram os objetos que mais impressionaram os povos europeus desde as primeiras exposições em museus do Velho Mundo, através de milhares de peças saqueadas do patrimônio cultural da África, embora sem reconhecimento de seu significado simbólico. A máscara transforma o corpo do bailarino que conserva sua individualidade e, servindo-se dele como se fosse um suporte vivo e animado, encarna outro ser: gênio, animal mítico que é representado assim momentaneamente. Uma máscara é um ser que protege quem a carrega. Está destinada a captar a força vital que escapa de um ser humano ou de um animal, no momento de sua morte. A energia captada na máscara é controlada e posteriormente redistribuída em benefício da coletividade. Nesse sentido, a proposta da oficina é a confecção de máscaras, artefato que faz parte até os dias atuais de diferentes ritos africanistas. Sem jamais esquecer que as máscaras fazem parte da cultura da humanidade e são usadas de forma cultural, religiosa, cerimonial, espiritual ou como um símbolo que transmite por si histórias e crenças. Idealizar uma oficina de criação de máscaras é a possibilidade de nos remeter a todo esse produto cultural da humanidade provocando novos questionamentos sobre as raízes da espécie humana.

Esta oficina busca também apresentar uma reflexão acerca de ações educacionais realizadas com o intuito de promover uma cultura de paz no ambiente escolar, pautada em valores sociais realmente significativos e na Lei nº 10.639/03 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para introduzir nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais

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Africanidades em sala de aula Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

e particulares, com caráter obrigatório, o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. O militante e intelectual negro Abdias do Nascimento pondera que:

O sistema educacional [brasileiro] é usado como aparelhamento de controle nesta estrutura de discriminação cultural. Em todos os níveis do ensino brasileiro – elementar, secundário, universitário – o elenco das matérias ensinadas, como se se executasse o que havia predito a frase de Silvio Romero3 constitui um ritual da formalidade e da ostentação da Europa, e, mais recentemente, dos Estados Unidos. Se consciência é memória e futuro, quando e onde está a memória africana, parte inalienável da consciência brasileira? Onde e quando a história da África, o desenvolvimento de suas culturas e civilizações, as características, do seu povo, foram ou são ensinadas nas escolas brasileiras? Quando há alguma referência ao africano ou negro, é no sentido do afastamento e da alienação da identidade negra. Tampouco na universidade brasileira o mundo negro-africano tem acesso. O modelo europeu ou norte-americano se repete, e as populações afro-bra- sileiras são tangidas para longe do chão universitário como gado leproso. Falar em identidade negra numa universidade do país é o mesmo que provocar todas as iras do inferno, e constitui um difícil desafio aos raros universitários afro-brasileiros. (NASCIMENTO, 1978, p.95)

Todavia, discutir a herança africana no Brasil é ir além do fol- clore, é mergulhar nas muitas Áfricas que para cá foram trazidas e ir além da escravatura ou da abolição. Por este motivo nós educadores devemos trabalhar africanidades em sala de aula visando assim construir uma cultura de paz que ultrapasse os

3 A frase de Silvio Romero é: ``Nós temos a África em nossas cozinhas, América em nossas selvas, e Europa em nossas salas de visita´´ (NASCIMENTO, 1978, p.94).

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Africanidades em sala de aula Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

muros da escola, os saberes pelos alunos investidos devem ser semeados por toda comunidade a qual pertencem. Desse modo, partindo de uma pesquisa bibliográfica visando conhecer novas práxis pedagógicas que apontam para uma cultura de paz dentro da educação básica que resultou esta proposta de atividade prática envolvendo materiais reciclados e artes manuais.

Contudo, o importante desta ação é o desenvolvimento da convivência harmônica entre os educandos, culminando em mudanças significativas no cotidiano dos alunos por conta dos valores éticos e morais que serão incorporados a suas vivências no espaço escolar. Assegurar uma cultura de paz entre adolescentes do 5º ANO não é nada fácil. Entretanto, através do diálogo, da reflexão, do pensamento crítico, tendo como base a tolerância e a diversidade cultural, entendemos que temos algumas ferramentas na busca pela construção de uma cultura de paz.

A oficina de máscaras africanas visa primordialmente a trabalhar a valorização dos relacionamentos e da consciência dos estudantes com a diversidade étnica e cultural que se apresenta em sua realidade empírica. Através do processo de construção de uma cultura de paz, pretendemos fazer com que os alunos percebam que é possível, sim, construir novos relacionamentos através da consolidação de valores fundamentais, ou seja, vivemos numa sociedade pós-moderna multi-cultural na qual os cidadãos devem saber conviver e respeitar as diferenças de cada grupo social, compreendendo dessa forma que:

A desconstrução da ideologia abre a possibilidade do reconhecimento e aceitação dos valores culturais próprios, bem como a sua aceitação por indivíduos e grupos sociais pertencentes a outras raças/ etnias, facilitando as trocas interculturais na escola e na sociedade. (MUNANGA, 2005, p.33)

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Africanidades em sala de aula Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

Nós educadores devemos contribuir na construção da identidade do sujeito, visando assim a formar uma geração mais consciente. Valores como generosidade, honestidade e temperança, devem ser incorporados às práticas pedagógicas diárias de cada professor a fim de construir uma cultura de paz. Desse modo, explorar a arte é de suma importância para a formação do jovem , visto que, ela provoca o aluno a projetar nesta ação seus sentimentos.

As máscaras sempre tiveram uma grande importância para o ser humano, utilizadas para fins diversos ao longo da história. Uma das características para o seu uso está na ocultação da identidade de quem a usa. Outra característica é que as máscaras representam tradições culturais de vários povos. Tanto que no Brasil, de um modo geral, todos os grupos indígenas ainda possuem o costume de praticar rituais e danças usando máscaras. No século XVII o uso de máscaras se popularizou pelo carnaval. Sendo assim, busca-se trabalhar também o conceito de permanência e mudança, já que, o aprofundamento do reconhecimento daquilo que muda e daquilo que permanece possibilita a introdução de algumas noções de representação espacial e organizacional das vivencias e relações no modo de vida dos grupos humanos, assim como as manifestações culturais e movimentos sociais.

2 OBJETIVOS

• Estabelecer relações com a diversidade sociocultural de nossa comunidade escolar. Trabalhando assim a consciência política e histórica da diversidade;

• Explorar a compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história;

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• Resgatar a cultura afro-brasileira no sentido de reintegrar os educandos nos valores étnicos e sociais da ancestrali- dade nacional;

3 PÚBLICO

Escolhi realizar esta oficina com os alunos do 5º ANO-A, com faixa etária entre 12 e 14 anos de idade, por conta de serem adolescentes que estão com a sua identidade em formação, portanto, nada mais justo do que apresentar e discutir a respeito da diversidade com este grupo.

4 METODOLOGIA

Primeiramente irei apresentar as fotos do passeio do ano de 2014 e depois farei uma breve explanação a respeito da atividade que será desenvolvida individualmente por cada aluno, que posteriormente será exposta para que os demais colegas da escola apreciem.

5 MATERIAL NECESSÁRIO

Jornais, papel sulfite A4, lápis de cor, um balão nº7, tesoura, cola, tintas de diversas cores, pinceis variados, recipientes plásticos ou caixa de ovos para fazer a misturas de tinta, cola branca a base de água, cordão, botão, sementes, folhas secas entre outros pequenos objetos para colagem.

6 PASSO A PASSO

Primeiramente o aluno irá desenhar numa folha qual máscara irá confeccionar. Após seguirá os seguintes passos para confeccionar a estrutura da máscara:

• Encha o balão de ar e amarre bem firme;

• Rasgue o jornal em pequenos pedaços, sem o uso de tesoura para melhor junção das fibras;

• Despeje a cola em um pote vazio e misture com pedaços de jornal até obter uma substancia pastosa.

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Africanidades em sala de aula Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

• Com o auxílio de um pincel macio, esparrame de leve e com cuidado apenas a cola sobre a superfície do balão;

• Fixe um pedaço de jornal, esparramando bem a cola;

• Faça isso sucessivamente até preencher uma camada de jornal cobrindo todo o balão;

• Repita o procedimento até completar 4 a 6 camadas no mínimo;

• Depois de seco, utilize um lápis (ou caneta) para riscar ao meio. Com tesoura corte o balão ao meio para obter duas metades;

• Desenhe os traços principais da máscara que fez no projeto inicial;

• Obs: os orifícios (olhos, boca, nariz) eu irei cortar para os alunos com estilete;

• Depois de seca, os alunos irão fazer as pinturas e colagens devidas;

7 CRONOGRAMA

1ª Parte: Desenho do projeto da máscara e papietagem.

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2ª Parte: Recorte e modelagem.

3ª Parte: Pintura e caracterização.

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Africanidades em sala de aula Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

4ª Parte: Exposição dos trabalhos

8 AVALIAÇÃO E ANALISE DO QUE SE PRETENDE ALCANÇAR

Através desta oficina busca-se estabelecer uma conexão entre os objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência de vida dos alunos e professora, valorizando aprendizagens vinculadas às suas relações com pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas às relações entre negros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade.

REFERÊNCIAS BRANDÃO, Heliana. Fantástica Fábrica de Brinquedos com Sucata. Belo Horizonte: O Sol, 2002.

BRASIL. Educação Anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº 10639/03. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

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Africanidades em sala de aula Priscila Vieira Bastos, Simone Rasslan

BRODBECK, Marta de Souza Lima. O ensino de história: um processo de construção permanente. Curitiba: Módulo Editora, 2009.

GALLO, Silvio. SOUZA, Regina Maria de. Educação do preconceito: ensaios sobre poder e resistência. Campinas, SP: Editora Alínea, 2004.

MENEZES, Neliana Schirmer Antunes e al. Orientações para elaboração de trabalhos acadêmicos: dissertações, teses, TCG de pedagogia, TCE de Especialização. Biblioteca Setorial de Educação Faculdade de Educação (FACED). Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, 2011.

MUNANGA, Kabengele, organizador. Superando o Racismo na escola. 2ª edição. [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantilPatrícia de Andrade de Oliveira Vicente1 Maribel Susane Selli2

Este projeto tem o objetivo de apresentar uma proposta de oficina a ser realizada com uma turma de crianças da Educação Infantil - Educação Infantil, Nível III (alunos de 5 anos) - pensada a partir do curso de extensão de formação de professores de Educação para a Paz.

O projeto surge a partir de nossa experiência profissional com a Educação Infantil, período em que podemos contribuir significativamente para a formação das crianças que estão em pleno desenvolvimento, e das nossas inquietações a partir dessa prática e dos acontecimentos cotidianos nesse contexto.

Tais inquietações acabaram nos direcionando para a elaboração desta proposta, a partir de pequenas ações, que são possíveis em nosso cotidiano de sala de aula e com muito significado para nossos alunos em sua formação enquanto sujeitos inseridos em uma sociedade cada vez mais inconstante.

Considerando as transformações contemporâneas, incluindo os modos de ver, viver e perceber a globalização, cabe propor uma reflexão sobre os modos de compreender a infância.

Para Barbosa (2012)

1 Pedagoga com Especialização em Ensino da Ciências na Educação Infantil e Ensino Fundamental e Estudos Culturais nos Currículos Escolares Contemporâneos da Educação Básica.

2 Pedagoga com Especialização em Educação Infantil, Orientação Educacional e Supervisão Escolar, Mestre em Educação, Doutoranda em Informática na Educação.

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

[...] esta visão ampliada de identidades sociais e pessoais, permanentemente construídas, vem sendo aceita por muitos autores que procuram compreender a infância não como uma noção unitária, mas como uma experiência social e pessoal, ativamente construída e permanentemente ressignificada. As crianças não são e não existem como seres abstratos e generalizáveis. E frases como: “Todas as crianças são imaturas, dependentes, alegres...” foram tão fortemente ensinadas e repetidas que, até hoje, naturalizamos estas características nas pessoas de pouca idade. Ao contrário, crianças, em variados tempos e espaços, viveram a sua experiência de infância de modos muito diferenciados, portanto a infância é uma experiência heterogênea. (BARBOSA, 2007, p.1065)

Mesmo considerando as transformações que ocorreram, as questões de desigualdades sociais ainda são muito presentes e são reproduzidas na escola. Como consequências dessa postura percebemos vários reflexos no desenvolvimento infantil, pois a criança já não é vista em seu contexto, mas sim pelo que se espera dela numa perspectiva de adultização da infância.

Frente a esse contexto, as políticas públicas propostas e as estratégias de ensino precisam constantemente ser avaliadas para que as necessidades dessas crianças sejam de fato contempladas e que realmente se efetive um espaço democrático e de construção para uma cultura de paz.

Nessas condições, o comportamento democrático e as interações e vivências para uma cultura de paz serão construídas com participação consciente e tendo conhecimento não somente dos seus direitos, mas também de seus deveres.

Em função disso, os estudos que dialogam com a vida sempre nos chamaram muita a atenção, pois ficávamos nos perguntando se esta não seria a forma em que as crianças poderiam ir descobrindo de forma gradativa seus interesses e tendo a consciência de suas ações para com o próximo. Como iniciamos

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

nossa docência na Educação Infantil, acreditamos na necessidade de demonstrar a importância desse processo desde a base da educação escolar.

Dentre as muitas situações interessantes ocorridas nesse espaço de vivências, destacamos a importância de proporcionar oportunidades de pensar sobre os laços humanos que vamos construindo em nossa vida. Essa importância ancora-se na perspectiva da construção de uma educação baseada na cultura da paz, em um fazer ativo, dinâmico e reflexivo, conectando seu corpo e mente através de estratégias que busquem a atenta observação, a formulação de hipóteses e a vivência de valores através de ações em nosso cotidiano escolar. Isso nos faz reportar a Barboza e Horn (2008, p.75): “esse espaço deve incentivar e estruturar as experiências corporais, afetivas, sociais e as expressões das diferentes linguagens da criança”.

A educação em uma perspectiva problematizadora - que respeite os diferentes saberes e promova a aprendizagem pela interação com o outro e com vivências que tenham sentido para as crianças, pois dialogam com a vida - tem sido cada vez mais um desafio para os educadores e pensadores da área. Quando se trata deste tema, o desafio proposto é de um rompimento com as práticas da transmissão do conhecimento, na lógica da educação bancária de (FREIRE, 1970) em que o professor detém o saber e o “deposita” nos alunos que deverão devolvê-lo assim como receberam. Mais do que nunca é preciso repensarmos este modelo, criando em nossas escolas possibilidades de aprendizagem pela experimentação valorização do outro e de sua história, além de respeito pelos seus saberes e vivências.

Na educação infantil, o professor dispõe de todos os recursos necessários à realização de uma proposta pedagógica, que considere os diferentes protagonistas da aprendizagem na perspectiva da construção coletiva do conhecimento. Assim, deve elaborar seu planejamento respeitando a realidade das crianças e da comunidade escolar, em uma perspectiva que valoriza

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

o sujeito em suas individualidades e promove a resolução de problemas com base em uma cultura de paz e respeito, critérios que deveriam, também, ser observados nos outros anos da escola.

Acreditamos ser muito importante o trabalho desenvolvido a partir de uma cultura de paz, pois esta é uma forma de proporcionar aos nossos alunos momentos de reflexão e autoconhecimento, até mesmo do professor, o que irá contribuir até mesmo na resolução de conflitos que possam ocorrer. Essa metodologia de trabalho irá oferecer ao professor condições de adequar o conteúdo de acordo com a realidade e necessidades do grupo.

Através da elaboração desta oficina de trabalho, temos ideia de proporcionar um ambiente estimulante e prazeroso em que as crianças possam vivenciar a cultura da paz, tão importante na formação humana. Isto nos faz lembrar Zabalza (1998), quando diz que

[...] uma das tarefas fundamentais de um professor de educação infantil é saber organizar um ambiente estimulante e possibilitar às crianças que assistem a essa aula terem inúmeras possibilidades de ação, ampliando assim, as suas vivências de descobrimento e consolidação de experiências”. (ZABALZA, 1998, p.53)

Após algumas leituras, realizadas no decorrer do curso, per- cebemos o quanto naturalizamos a falta de problematizações de determinados temas que, muitas vezes, não são tão valorizados por não serem considerados conteúdos escolares.

Realmente, nesses novos tempos, estamos em um ritmo de mudanças muito rápido e, em contrapartida, algumas aborda- gens ainda são deixadas de lado, o que acaba por ser algo histórico. É nesse sentido que acabamos por refletir acerca dos saberes que nos foram proporcionados na escola e o quanto ainda precisamos vivenciar em relação as interações e vi-

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vências para uma cultura da paz e para a construção do respeito ao outro.

Logo, evidencia-se a importância de a escola proporcionar momentos de análise e reflexões em relação ao tema para que, assim, sejam promovidos aos alunos saberes de forma contextualizada, pois é de nosso conhecimento que as aprendizagens ocorrem nas diferentes instâncias sociais e é por isso que na atualidade se faz ainda mais necessário que a escola esteja se remodelando para levar o aluno a problematizar o que estão vendo acontecer em nossa sociedade e os valores que muitas vezes nos são impostos pelos diferentes artefatos midiáticos.

Estamos diante do desafio de promover aos alunos um espaço onde a diferença não deva ser julgada, mas sim um espaço em que seja possível aprofundar os conhecimentos sobre a diferença, os valores humanos e sociais, deixando de lado as marcas de singularidade a que fomos expostos por muito tempo. As mudanças não podem parar e, assim, aumenta cada vez mais a necessidade dos indivíduos terem experiências e conhecimentos diversos.

A possibilidade de termos exercícios diários de práticas, em que somos os próprios artistas, é muito importante em uma perspectiva de educação voltada para a paz, pois iremos construir sujeitos humanos, com suas potências trabalhadas desde a sua base escolar, voltado para um desenvolvimetno constante de cuidado de si e sobre si, o que, consequentemente, possibilitará a esse indivíduo ser “melhor” para o outro.

É nessa direção que reforçamos nossos diálogos frente à necessidade de a escola abordar e focar na discussão sobre valores humanos, o que possibilitará uma formação de indivíduos éticos e responsáveis por suas ações no mundo. Este projeto pretende, pois, ser um trabalho que favorecerá tanto o aluno quanto o professor. Para tal, tem-se como objetivo propor às crianças que se percebam enquanto sujeito de relações,

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capaz de contribuir para a transformação do contexto na perspectiva da construção de uma escola da paz.

Buscando atingir este propósito, pensamos como metodologia realizar experimentações e vivências com as crianças da educação infantil - nível III, que pudessem instiga-las a pensar sobre a importância que nossas atitudes têm nos grupos em que convivemos, compreendendo seus reflexos nessa convivência.

Para tanto, pretende-se realizar algumas atividades lúdicas, que promovam espaços de reflexão e a construção de uma cultura da paz na escola, sendo para isso pensadas em quatro oficinas, em que cada uma compreende quatro horas, perfazendo um total de dezesseis horas organizadas a partir da seguinte proposta:

1º dia:• Roda inicial com os alunos para “Dança circular- Abraço da paz” “Levantar um braço; Levantar o outro; Fazer bamboleio e mexer o pescoço. Olho para o céu, Olho para o sapato, escolher um amigo e dar um abraço”.

• “Hora da história, através do livro: Ula- Brincar de pensar, Sérgio A. Sardi. “A pergunta de Ula” p.7 a 12.

• Dinâmica da “caixa surpresa”. Os alunos estarão organizados em roda. Para dar início à dinâmica, a professora começará a conversar com os alunos, dizendo que dentro da caixa encontra-se a imagem de algo muito especial e que cada um deles poderá dar uma “espiada” na caixa sem abrir muito, olhando rapidamente o que há na caixa, mas com a condição de não contar o que viu. Após todos terem olhado na caixa, os alunos serão provocados

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a refletirem sobre a importância dessa imagem que eles visualizaram para o grupo. Assim, será perguntado aos alunos quem gostaria de dizer o que viu na caixa para que, desta forma, seja possível iniciar um diálogo sobre a importância de cada aluno para uma vivência harmoniosa em nosso grupo. A partir daí, dar-se-á início a uma maior articulação com a história de trabalho.

• Roda de conversa direcionada sobre a história;

• Tecendo ideias para um plano em uma escola de paz;

• A professora perguntará aos alunos o que cada um pensa que seria importante para a construção de um tapete com ideias para uma escola de paz.

• Confecção, com TNT, de um tapete da paz.

• Finalização da aula com o trem da massagem: alunos dispostos em roda para que, desta forma, possam virar-se de modo que cada um fique vendo as costas do colega e assim seja dado o início ao momento de massagem nas costas do colega da frente.

2º dia:• Corrente do abraço: alunos dispostos em roda e assim a professora começa a dar um abraço no aluno que está à sua direita para que este possa assim ir passando esse abraço ao seu colega do lado até que se tenha completado a roda.

• Roda de conversa sobre o trabalho iniciado na aula anterior para dar início à unificação das partes do tapete da paz.

• “Canção da paz”. Logo serão convidados a criarem a melodia do grupo para essa música;

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

“ A paz no mundo começa no meu coração, Dá um abraço pela paz...” Desta forma todos os participantes vão caminhando pelo espaço da sala de aula. Para que desta forma todos os participantes sejam abraçados.

• Finalização da aula: massagem dos elementos da natureza. Em duplas, um dos alunos deita no chão e o outro começa a aquecer suas mãos esfregando uma na outra e mentalizando pensamentos positivos para que estes sejam transmitidos através da massagem que fará no seu colega. Em seguida, começa-se a massagem através do elemento Terra, em que o executor da massagem vai batendo de forma leve nas costas do seu colega com as mãos em concha. Após isso, troca-se para o elemento fogo, de forma a subir e descer as mãos nas costas do colega. Logo vem o elemento ar, em que o executor vai abaixar-se com as mãos em concha para poder assoprar nas costas de seu colega. Para finalizar este momento, é realizado o “chuveirinho de energia”, no qual é reproduzido o som da água, sendo iniciado o toque na cabeça e descendo por toda a extensão do corpo de seu colega para retirar todas as energias mais pesadas. Para incrementar esse momento, será posto no meio da roda os seguintes itens: incenso, vela, uma flor plantada em um vaso e um copo de água. Para poder representar o ar, o fogo, a terra e a água.

3º dia:• Meditação, dança com música de relaxamento para uma exploração dos movimentos variados do corpo, integrando este com a mente.

• Hora do conto: “Os porquês do coração”

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

• Roda de conversa dirigida em relação à história;

• Casa dos sentimentos;

• Relaxamento através de alongamento.

4ª dia:• “Roda dos sentimentos”: cada aluno pensa em um sentimento para desejar ao seu colega da esquerda. E, assim, o próximo pensa em outro para dar sequência à atividade.

• Grupos de trabalhos para a construção de um boneco feito por partes de montagem;

• Apresentação do mascote da turma; peixe Beta que irá fazer parte do cotidiano da turma;

• Escolha do nome do mascote, através de ideias dadas pelos alunos para que se possa efetivar uma votação para a definição desse nome;

• Massagem realizada com pincel. Os alunos serão organizados em duplas, de forma que um colega irá iniciar o processo de realização da massagem. O colega que irá iniciar a massagem receberá um pincel. Primeiramente este aluno precisará trabalhar sua respiração de forma a deixá-la mais tranquila e serena. Assim que conseguir ir tranquilizando sua respiração, irá deslizar o pincel em movimentos leves nas costas do colega que está deitado. Em seguida, será trocado de executor para que, desta forma, aquele que fez a massagem possa também receber.

Para viabilização dessas oficinas vamos utilizar os seguintes materiais: aparelho de som com MP3; Laboratório de informá-

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

tica; Data show; Incenso; Peixe; Aquário; Espelho; Caixa de sa- pato; Livros de literatura; TNT; Cola colorida; Vela aromática e Pincéis.

Descrição das atividades para cada encontro.

Primeiro encontro: 4 horasDança circular: “abraço da paz”;Hora do conto com a história “Ula brincando de pensar “, de Sérgio Sardi;Dinâmica da caixa surpresa;Tapete da paz: pintura com tinta têmpera no TNT; Trem da massagem.

Segundo encontro: 4 horasCorrente do abraço;Unificação das partes do tapete da paz;Canção da paz: criação de uma melodia para a canção da paz, através de objetos recolhidos da sala;Massagem dos elementos da natureza.

Terceiro encontro: 4horasCorrente do beijo;Hora do conto “Os porquês do coração”;Casa dos sentimentos, registro gráfico de seus sentimentos;Relaxamento.

Quarto encontro: 4 horasRoda dos sentimentos;Boneco de partes: atividade em grupos de trabalhos para a estruturação do boneco de partes;Mascote da turma;Escolha do nome para o mascote;Massagem do pincel.

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Interações e vivências para uma cultura da paz na educação infantil Patrícia de Andrade de Oliveira Vicente, Maribel Susane Selli

Cronograma das atividades:

Ações/período Março Abril Maio Junho

Elaboração do Projeto X

Apresentação do projeto para a coor-denação da escola X

Realização das oficinas X

Avaliação das oficinas X

Publicação do e-book X

A partir da propositura das oficinas, faremos uma avaliação que será realizada ao final de cada oficina a partir de roda de conversas com as crianças. Ao final do projeto, como recurso de avaliação, pediremos que construam um texto coletivo, registrado pela professora, contando sobre a experimentação.

REFERÊNCIASBARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto alegre: Artmed, 2006

______. Culturas escolares, culturas de infância e culturas familiares: as socializações e a escolarização no entretecer destas culturas. Educação & Sociedade, vol. 28, núm. 100, outubro, 2007, p. 1059-1083. Centro de Estudos Educação e Sociedade Campinas, Brasil. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br

______; HORN, Maria da Graça Souza. Projetos pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.

PANIAGUA, Gema. Educação Infantil: resposta educativa à diversidade, 2007.

ZABALZA, Miguel A. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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Refúgio de paz: projeto de oficinasRosiara Pereira Costa1 Rosa Maria Rigo2

“A paz não pode ser mantida à força. Somente pode ser atingida pelo entendimento.” (Albert Einstein)

O mundo, hoje, enfrenta uma crise na qual o desenvolvimento tecnológico avança a passos largos, enquanto a solidão humana, a intolerância e a violência crescem. Percebe-se que escolas públicas, de um modo geral, e a escola descrita neste trabalho em particular, apresentam situações de conflito, de violência física e psicológica, com alguma frequência. Preocupadas com essa situação, estamos constantemente buscando meios de levar os alunos a compreenderem e vivenciarem a prática de valores como compreensão, colaboração, amizade e paz.

Para trabalhar com esses valores e, predominantemente, com a paz, optamos por desenvolver oficinas com técnicas artísticas, incluindo recorte, colagem e desenho. Optamos por levar um grupo de adolescentes do nono ano a refletir sobre a paz, criando pequenos cenários; seus refúgios de paz. Acreditamos que o fazer artístico conecta o indivíduo com o seu interior, levando-o, por meio da criação, a deparar-se com sentimentos ou motivações até então desconhecidos. A possibilidade de criar pode ampliar

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Graduada em Pedagogia, Mestre em Educação. Professora, atualmente vice-diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Anísio Teixeira, situada à rua Francisco Mattos Terres, 40 – Bairro Hípica/Aberta dos Morros, Porto Alegre/RS. E-mail: <[email protected]>.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação, Pedagoga Multimeios e Informática Educativa. E-mail: <[email protected]>.

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Refúgio de paz: projeto de oficinas Rosiara Pereira Costa, Rosa Maria Rigo

o conhecimento de si. O objeto criado é uma forma de ir além de si. É algo que extrapola o eu-criador.

Escolhemos utilizar materiais recicláveis, pois, em nosso entendimento, o uso desses materiais evidencia uma preocu- pação com a preservação e o bem estar do/no nosso planeta, relacionando-se intimamente a uma cultura de paz e pela paz. Acreditamos que, ao criarem um lugar imaginário, no qual se sintam em paz, os alunos terão a oportunidade de lidar com seus sentimentos, às vezes ocultos ou sufocados; e, através da fantasia, descobrir novas formas de lidar com suas emoções, for- talecendo a sua autoestima.

Para fundamentar nosso projeto, buscamos, a princípio, de- finir o que é a paz. Para Callado (2004, p.19), a paz, como a compreendemos, é derivada dos conceitos grego e romano, eirene e pax, respectivamente. O conceito grego eirene rela- ciona-se à ausência de guerra, e associa-se a um estado de tranquilidade, serenidade e ausência de hostilidades.

Já a pax romana relaciona-se ao estabelecimento da lei e da ordem, prioritariamente em Roma, sede central do poder. Privilegiava, assim, grupos específicos, ao passo que eirene, buscava o equilíbrio nas relações entre os diferentes centros da atividade, estendia-se a todos os grupos. Na concepção romana, de paz como garantia da ordem, estava implícita a preparação para a defesa em tempos de guerra. Daí o surgimento do lema si vis pacem, para bellum – se queres a paz, prepara-te para a guerra.

Ambos os conceitos, eirene e pax, compartilham uma concepção de paz como ausência de problemas interiores ou conflitos exteriores. Outras características da paz, como nós, ocidentais, a compreendemos, são apresentadas a seguir:

1. Paz é um conceito predominantemente negativo, quando entendido como ausência de conflito bélico.

2. Conforme a visão ocidental, paz corresponde à manutenção da unidade e da ordem de um determinado grupo social, ou

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Refúgio de paz: projeto de oficinas Rosiara Pereira Costa, Rosa Maria Rigo

sociedade, em benefício de interesses dominantes. Por outro lado, entende-se paz como um período de preparação para a defesa de ameaças exteriores. Nos dois casos, a manutenção da paz é considerada competência do Estado. Para cumprir sua tarefa, ele utilizará a força, se necessário.

3. O estudo da História tem destacado a visão do conceito de paz com uma visão dos fatos, muitas vezes questionáveis. Entretanto também se percebe, o papel dinâmico de diversas tentativas objetivando processos de transformação social. Todavia, em muitos casos a paz se apresenta vinculada a processos estáticos e de pouca importância nos períodos onde as disputas e os interesses de poucos são privilegiados, não apresentando resultados pontuais e efetivos.

4. A concepção ocidental da paz limita-se ao estabelecimento de pactos para manter a ordem estabelecida.

5. A concepção intimista de paz, referente a estados de espírito de harmonia e tranquilidade, somada à concepção negativa da mesma tem originado uma imagem da paz como ideal utópico e inatingível, dependente de fatores externos a ela para adquirir significado.

Uma concepção positiva da paz, conforme Adam Curle, (apud CALLADO, p.22) se caracterizaria por “um nível reduzido de violência e um elevado nível de justiça”.1 Essa concepção implica em um processo dinâmico, que, ao atribuir à paz um grau de prioridade dentre os valores humanos, afeta todas as dimensões da vida humana, desde a interpessoal até a mundial. A paz torna-se um fato social, com o qual todos podem contribuir, do qual todos podem participar.

Pierre Weill aponta a visão reduzida e negativa de paz incorporada em nossa sociedade. Ele acrescenta que a paz é um estado de consciência que precisa ser enraizado no interior de cada ser humano, comunidade ou nação. À ação humana de poluir e destruir o meio ambiente sem preocupar-se com o futuro, ele denomina cultura da irresponsabilidade, expressão

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ESCOLAS DA PAZ – Reflexões e práticas de Professores da Educação Básica

Refúgio de paz: projeto de oficinas Rosiara Pereira Costa, Rosa Maria Rigo

que se estende à prática de ferir outros seres humanos pelo simples fato de serem diferentes. Ainda o mesmo autor propõe uma ecologia social: um trabalho de conscientização voltado às relações entre os homens, baseadas em sentimentos de harmonia e fraternidade, cooperação e desenvolvimento mútuo, sem uso de violência. (WEILL, 1993, p.28).

Weill afirma que não se pode mais pensar separadamente em vida e civilização humana separadas da natureza, e que paz e guerra estão surgem, inicialmente, dentro do espírito humano, e não fora dele. Propõe, assim, uma visão holística da paz, com “uma perspectiva que leve em conta o homem, a sociedade e a natureza, ou seja, a ecologia interior, a ecologia social e a ecologia planetária.” (WEILL, 1993, p.37).

Uma proposta holística busca integrar a razão e a intuição, a sensação e o sentimento, e harmonizar essas funções psíquicas, promovendo um desenvolvimento equilibrado entre o lado direito e o lado esquerdo do cérebro. Weill apresenta uma arte de viver em paz, organizando-a em três planos: homem, sociedade e natureza:

• O primeiro plano, o humano, refere-se a uma ecologia inteira, ou arte de viver em paz consigo mesmo; corpo, coração e espírito em estado de equilíbrio.

• O segundo plano refere-se à ecologia social, ou à arte de viver em paz com os outros. Esse plano afeta os domínios da economia, da vida social e política e da cultura.

• O terceiro plano refere-se à ecologia planetária, ou arte de viver em paz com a natureza. (WEILL, 1993, p.45-46)

A educação holística baseia-se na cooperação, nos valores humanos, e privilegia a formação geral precedendo a especialização. Além disso, encara o dinheiro como um meio a serviço de valores fundamentais, e não como um fim em si mesmo.

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Refúgio de paz: projeto de oficinas Rosiara Pereira Costa, Rosa Maria Rigo

Temos pleno conhecimento de que transmitir ou transformar valores não é tarefa fácil, pois conceitos, opiniões e sentimentos vão se forjando de forma inconsciente desde a primeira infância. Apesar disso, sentimo-nos encorajadas a empreender essa tarefa, tão bem amparada em termos institucionais. Prova disso são os vários documentos anexados ao livro de Weill, que abordam o tema: a Declaração de Veneza (p.107), a Carta da Transdisciplinaridade (p.111); a Declaração das Responsabi- lidades Humanas para a Paz e o Desenvolvimento Sustentável (p.117); Os quatro pilares da Educação (Jacques Dellors) (p.123); a Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz (p.143); o manifesto Direitos Humanos por um Novo Começo – Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-violência (p.163).

Os quatro pilares da educação são: Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e viver com os outros e aprender a ser. Fundamentadas e amparadas por todos esses documentos, apresentaremos detalhadamente nosso projeto de oficinas, cujos objetivos são:

• Oportunizar aos alunos a reflexão sobre o significado do valor paz, e circunstâncias em que ele pode ser experimentado, por meio dos questionamentos: O que é paz? Você sente paz? Quando? Onde? Na companhia de quem? Que outros sentimentos acompanham o sentimento de paz?

• Experimentar técnicas e dinâmicas de socialização, em que os alunos participem e avaliem, posteriormente, a sua participação e a participação do grupo.

• Avaliar o que ocorre quando não se sentem em paz: como se comportam, o que fazem para melhorar ou piorar a situação. Poderiam fazer diferente? O quê? Como?

• Pensar conjuntamente sobre o que pode ser feito para evitar situações de conflito, e promoção da paz na escola.

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Refúgio de paz: projeto de oficinas Rosiara Pereira Costa, Rosa Maria Rigo

Que estratégias podem ser criadas para resolver situações de briga? Como prevenir, para que não aconteçam? De que outras formas podem se resolver?

• Pesquisar símbolos referentes à paz, e músicas que tratem do assunto.

• Discutir o significado de refúgio.

• Criar, individual ou coletivamente, um cenário que represente um refúgio de paz.

As oficinas se destinam a alunos do último ano do terceiro ciclo, pois eles devem ter de 13 a 16 anos de idade e apresentar um nível de pensamento que lhes permita compreender conceitos e estruturas com algum grau de abstração. Além disso, são capazes de argumentar e defender seus pontos de vista, o que nos interessa no decorrer deste trabalho. Por outro lado, provavelmente já acumularam em suas vidas uma determinada quantidade de problemas e de frustrações que lhes possibilitarão discernir situações de paz de situações não pacíficas. Cada encontro terá a duração de 1 hora e meia, aproximadamente.

As oficinas envolverão trabalhos de observação, análise e comparação, sendo desenvolvidos individual e coletivamente; e atividades de autoria e criação individuais ou em grupo. Tais atividades serão propostas na sequência assim descritas:

Em um primeiro encontro, serão apresentados três cartazes para observação e reflexão, seguidos de discussão. Os cartazes apresentarão imagens e as seguintes perguntas:

• Paz – o que é? Você sente? Onde está?

Após os comentários gerados pelas imagens dos cartazes, vamos solicitar aos alunos expressarem, por meio da fala, escrita ou desenhos, o que entendem por paz ou pela ausência dela; se sentem paz ou não; onde se encontra a paz. Acreditamos que outras perguntas poderão surgir a partir do diálogo, como: “Com quem você fica em paz?”, “Que tipo de situações te trazem paz,

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ou seu contrário?”, “Onde você vai, ou gostaria de ir, para ficar em paz?”; “O que faz quando não está paz?”.

Em um segundo encontro, vamos retomar o trabalho feito na oficina anterior, e lançar a proposta: construção de um refúgio de paz. Esse refúgio será feito com papelão, pode ser uma caixa de sapatos. Dentro dela, deverão estar os elementos que transmitem um sentimento de paz. Para entender um pouco mais sobre o assunto, vamos ao laboratório de Informática para os alunos pesquisarem sobre a cultura da paz, símbolos e eventos relativos à promoção da paz. Como tarefa extra, vamos propor que pesquisem e apresentem, por meio de gravação ou cópia digitada, letras de canções que abordem o tema.

No terceiro encontro, vamos escutar as canções que os alunos tiverem trazido. Em contrapartida também apresentaremos algumas canções para eles ouvirem, como “A paz”, de Gilberto Gil, e “Sossego”, do grupo Rappa. Vamos ouvir música, cantar e dançar. Sabemos que alguns alunos são muito tímidos, têm vergonha de dançar na frente de seus colegas e professores. Por isso, a proposta será dançar de olhos vendados. Depois de alguns minutos, faremos uma roda para conversar sobre a experiência. Posteriormente, pediremos que comecem a organizar um esboço do que será o seu refúgio: O que farão, quais materiais vão necessitar, se farão sozinhos, em duplas ou trios. Permitiremos a união de, no máximo, três alunos.

No quarto encontro, disponibilizaremos os materiais para o trabalho, e eles começarão a produzir os seus refúgios. No quinto, sexto e sétimo encontro, eles finalizarão os trabalhos, apresentarão para os colegas, e escreverão um pequeno texto como apresentação de seu refúgio, para posterior exposição na escola.

O material utilizado para o trabalho será composto por retalhos de papelão, caixas de sapato, revistas para recortar, tesoura, cola, canetões coloridos, barbante e fita adesiva.

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Refúgio de paz: projeto de oficinas Rosiara Pereira Costa, Rosa Maria Rigo

REFERÊNCIASABRAMOVAY, Miriam et al. Escolas de paz. Brasília: UNESCO. Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria de Estado de Educação. Universidade do Rio de Janeiro, 2001

CALLADO, Carlos Velázquez. Educação para a paz: promovendo Valores Humanos na escola através da Educação Física e dos Jogos Cooperativos. Santos: Projeto Cooperação, 2004

DISKIN, Lia. Paz, como se faz?: Semeando cultura de paz nas escolas/ Lia Diskin e Laura Gorresio Roizman – Brasília: Governo do Estado de Sergipe, UNESCO, Associação Palas Atena, 2002.

DUARTE Jr. O sentido dos sentidos. Curitiba: Criar Edições, 2004.

SOUZA, José Francisco de. Importância dos valores humanos na educação, Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/importancia-dos-valores-humanos-na-educacao/26221/>. Acesso em: 08 maio 2015.

WEILL, Pierre. A arte de viver em Paz: por uma nova consciência e educação. Tradutores Helena Roriz Taveira e Hélio Macedo da Silva. – São Paulo: Editora Gente, 1993.

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Pistas sobre o legado da africanidade na escolaGiovana Soares da Silva1 Jair Felipe Umann2

1 REFLEXÕES BASILARES

O presente trabalho foi planejado com a intenção de apresentar um panorama e valorizar a cultura afrodescendente em nosso país. Isso foi motivado pelas leis 10.639/03 e 11.645/08, que propõem o trabalho com a cultura de matriz africana na escola. Porém, acreditamos que seja importante irmos além, e desenvolvermos propostas que ultrapassem as datas comemorativas, exemplo do dia 20 de novembro, como muitas vezes acontece. Partindo da utilização de um instrumento musical, o tambor, será ouvida a história de vida das crianças e narrada a história do livro Batidas de Okàn, de Rosane Castro. O livro é ilustrado a partir do tambor, instrumento utilizado em várias culturas e bastante presente na percussão afro-brasileira, tendo várias funções, como se comunicar com espíritos, investir poder místico para quem toca e complementar a palavra. Quando explorarmos a capa do livro, daremos atenção inicial ao mar, propondo uma reflexão de como o negro chegou em nosso país. Ouvindo as vivências das crianças estaremos valorizando o que conhecem, pois: “Isto significa, em última análise, que não é possível ao (a) educador (a) desconhecer, subestimar ou negar os “ saberes de

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS.2 Professor do Projeto Escolas da Paz- FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação pela PUCRS. Professor

Assistente nos cursos de Educação Física e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Giovana Soares da Silva, Jair Felipe Umann

experiências feitos” com que os educandos chegam à escola.” (FREIRE,1992, p.59).

Com o livro de Sodré, serão apreciadas algumas canções, relacionando um pouco da história afro-brasileira com canções de países africanos e de vivências que trazemos de nossas famílias, de nossos amigos, de nossas comunidades. Sugerimos a utilização deste livro, pois o mesmo traz um repertório de diversos países africanos, com jogos, canções tradicionais com canto e instrumentação, coreografias, letras e partituras das músicas. Com ele é possível trabalhar de maneira lúdica temas da cultura afro em nosso cotidiano escolar, oportunizando, através do brinquedo, uma aprendizagem concreta, que enriquece a construção do conhecimento e trabalha questões físicas, emocionais e intelectuais das crianças. Na sequência da oficina, vamos mostrar, através de obras de arte de Candido Portinari, imagens do trabalho escravo do negro no Brasil, e algumas brincadeiras que as crianças praticavam antigamente, com o objetivo de que os educandos possam considerar outras possibilidades de atividades, para além das encontradas a partir de jogos eletrônicos.

Através da música, de maneira lúdica e prazerosa, serão desenvolvidas atividades de sala de aula, estimulando o processo de aprendizagem, das quais as crianças participam, criam seus trabalhos e, ao mesmo tempo, podem contar e socializar suas histórias de vidas, suas vivências, seus dramas, suas alegrias, etc.

Assim, é possível entender o porquê da afirmação: “Uma de nossas tarefas como educadores e educadoras, é descobrir o que historicamente pode ser feito no sentido de contribuir para a transformação do mundo, de que resulte um mundo mais redondo, menos arestoso, mais humano, e em que se prepare a materialização da grande Utopia. Unidade na diversidade.” (FREIRE,2003, p.36). Oliveira (1993, p.62) corrobora as ideias de Freire ao afirmar ser o norte a direcionar a prática do professor: “O professor tem um papel explícito de interferir na zona de

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desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao desenvolvimento”, pois, quando interagimos ludicamente com a criança, ela tem a oportunidade de experimentar e construir seu conhecimento com prazer, e o professor pode estabelecer relações entre uma aprendizagem e outra.

Pretendemos indicar com este trabalho a conclusão de que, através de atividades lúdicas, como canções, danças, ritmos, instrumentos musicais e as experiências das crianças, é possível trabalhar nas escolas aspectos da cultura de matriz africana articulados com reflexões acerca da sociedade em que estamos inseridos, contribuindo com a aprendizagem e socialização, em busca de uma sociedade mais harmônica, que conhece e valoriza sua cultura e sua história.

2 OBJETIVOS DO TRABALHO

• Conhecer a história afro-brasileira;

• Propor vivências na temática estudada;

• Criar uma coreografia e uma cena teatral;

• Dançar e cantar músicas da cultura afrodescendente;

• Conhecer brincadeiras antigas;

• Conhecer obras de Candido Portinari;

• Destacar o valor das relações de afeto nos grupos.

3 PÚBLICO

Turma de 1º ano do Ensino fundamental

4 METODOLOGIA

Rotina da turma:

• Entrada e conversa com a turma

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Giovana Soares da Silva, Jair Felipe Umann

• Hora do brinquedo

• Atividade I

• Hora do banheiro, refeitório e lanche

• Recreio

• Atividade II

• Arrumando a sala e saída

Aula 1Os alunos entram na sala, sentam em grupos de quatro

integrantes e a professora conversa com eles sobre a rotina do dia. Cada grupo pega um jogo para brincar. Alunos guardam os jogos e inicia a atividade 1.

A professora mostra um tambor e deixa os alunos experimentarem e tocarem, ouvindo, consecutivamente, as vivências que seus alunos já tiveram com o instrumento. Gera-se a possibilidade de poderem tocar e cantar com a turma.

Volta-se a conversar como foi tocar o instrumento, sobre as músicas que cantaram enquanto tocaram.

Com letras em EVA espalhadas pelo chão, as crianças devem escrever a palavra “tambor”, verificando quem possui as letras de tambor como inicial de seu nome.

Depois que todos tocam, é narrada a história do livro de Rosane de Castro, que mostra a história de um menino quando tocou o tambor. Serão apresentados outros modelos de tambor ilustrados no livro e os alunos serão convidados a desenhar o tambor de que mais gostaram.

Após intervalo rotineiro, retoma-se a história para verem o que lembram, conversa-se sobre o desenho que os alunos fizeram e sobre o tambor de que mais gostaram. Aprecia-se, a seguir, o globo terrestre, indicando onde fica o Brasil e onde fica o terceiro continente mais populoso do mundo, o continente africano; também se indica de onde são as músicas a serem ouvidas. Em

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seguida, escutam-se algumas músicas da cultura afro de diversos países com origem na África portuguesa, como GuineBissau, São Tomé, Cabo verde, Angola e Moçambique. São vistas, ainda, fotos de pessoas de alguns países da África, africanos do sul. Cada grupo ganha uma figura (imagens dos países), músicas que escutamos e faz um desenho.

Aula 2Alunos entram e sentam em semicírculo, enquanto as crianças

estão brincando, toca uma música de fundo - em que se destaca a Kalimbao –o rádio está ligado baixinho nas faixas 1 e 2, com a kalimba, outro instrumento comum na cultura afro, para depois da hora do brinquedo retomar-se a atividade anterior, ilustrando com a música, a história, o globo terrestre, onde fica a África e o Brasil.

Aprender-se-á um pouco sobre os “Griôs”: quem eram, o que faziam, seu papel na tribo ou na etnia, o que acontecia quando eram capturados por outras tribos, o respeito que tinham pelos seus antepassados. A seguir, ouve-se a música “ Taa taa tee”, de Gana, e se conversa sobre seu significado: uma canção de ninar, que diz que a vovó vai voltar logo, que não precisa chorar mais. Ouve-se, ainda, um pouco da historia de vida dos alunos, das suas avós, das canções de ninar que conhecem, o que faz uma criança chorar e querer a vovó.

Após, lozaliza-se onde fica o país de Gana no globo terrestre, depois, passa-se ao aprendizado da letra da música “Taa taa tee”, para qual são propostas variações musicais e os alunos respondem em coro, junto a isto, marca-se o pulso com a mão e inicia-se o canto, seguindo-se a retomada do significado sobre o griô, escrita da palavra “vovó” para que se desenhe uma das histórias que foram vivenciadas pelas crianças. Enquanto as crianças fazem atividade, escutam a música trabalhada na aula.

Após o intervalo do recreio, é feito um exercício de respiração como volta à calma e retoma-se o que foi visto. Sentados em

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círculo no centro da sala, são vistas fotos de famílias africanas, ilustrações de como as mães carregam as crianças para se locomoverem e trabalharem. Há uma conversa sobre como se pode criar uma encenação de teatro, na qual se tem um bebê chorando para cantar a canção. Conforme a criação, cada grupo de criança faz a encenação, um grupo marca o pulso enquanto o outro grupo canta a canção.

Aula 3Alunos entram na sala, sentam em grupos de quatro

integrantes e fazem a hora do brinquedo enquanto escutam as músicas africanas.

A professora, então, mostra a música “ Chai, chai”, uma tra- dicional canção sobre trabalho do sul da África, cujo tema é “trabalhar mais rápido que logo o sol irá se pôr”. A seguir, os alunos veem a gravura “O lavrador de Café”, de autoria de Candido Portinari – artista que retratou em suas obas questões sociais –, que mostra um negro trabalhando na lavoura. Após a análise da obra, é apresentado aos alunos um pilão, um utensílio da cozinha africana em que os grãos de café eram moídos após a colheita. Neste momento, fala-se sobre a escravidão do negro no Brasil e são vistas outras imagens de obras de arte de Candido, como “ O mestiço” e “Colhedores de café”.

Após o intervalo do recreio, retoma-se o assunto mostrando as gravuras, a partir das quais as crianças expõem as lembranças de cada imagem e do pilão.

Após isto, fala-se um pouco sobre como se deve respeitar cada cidadão brasileiro, com suas diferenças e particularidades. Cada criança escolhe, então, uma obra de arte da qual fará uma releitura na forma de desenho. Ao terminarem suas ilustrações, os alunos falam sobre seus trabalhos.

Aula 4Alunos entram na sala, sentam em semicírculo e, enquanto

brincam, ouvem a música “Funga alafia”, uma música com origem

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Giovana Soares da Silva, Jair Felipe Umann

na Libéria, que dá boas vindas a um amigo, fala de como pensa na pessoa, como gosta dela e como são amigos. É uma canção que, geralmente, as crianças gostam de cantar.

A seguir, professora senta em círculo no chão com os alunos e fala sobre o significado da música que eles acabaram de ouvir enquanto brincavam, mostrando gravuras das obras de Candido Portinari como “O flautista” , “Futebol”, “Pipas”, “Roundelay”. Conta-se como eram as brincadeiras antigamente, mostrando uma flauta e tocando a música na flauta. Com a professora, os alunos aprendem a letra da música e cantam. Após a atividade de canto, são ouvidas algumas histórias de vida dos alunos, momento em que cada um fala sobre as brincadeiras e sobre as cantigas que sabem.

Após o intervalo do recreio, cada aluno sentado no seu lugar faz exercícios de respiração para a volta à calma, e retoma-se o assunto das músicas e brincadeiras. Cada aluno escolhe, então, uma brincadeira ou uma música para desenhar e pintar com tinta guache. Enquanto desenham, escutam as músicas trabalhadas na semana.

Depois que todos terminam seus desenhos, levantam-se para cantar uma das músicas, fazendo movimentos para a direita e, com o pé, marcando o pulso. Quando todos pegam o pulso da música a partir do movimento, estalam os dedos para cantar “Funga Alafia” e batem palmas em partes determinadas da música, movimentando-se em círculo e andando para a direita. Ao se conseguir fazer o movimento, é dada a oportunidade para os alunos criarem outro movimento, outra coreografia, com essa música.

Ao concluirmos esta oficina, esperamos ter colaborado e demonstrado conhecimento da cultura afro-brasileira em nosso país e sobre a África, com músicas, alguns instrumentos, obras de arte e atividades lúdicas voltadas para este contexto, valorizando e aprendendo nossa história e nossa cultura.

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Pistas sobre o legado da africanidade na escola Giovana Soares da Silva, Jair Felipe Umann

5 MATERIAL NECESSÁRIO

Rádio, cd, pendrive, flauta doce barroca, pincel, tinta guache, gravuras, fotos das obras de arte, celular, folhas A3 e A4, lápis de escrever, lápis de cor,

6 AVALIAÇÃO E ANÁLISE DO QUE FOI ALCANÇADO

A avaliação será realizada conforme for se desenvolvendo o planejamento, verificando o andamento e desenvolvimento das crianças e das atividades.

REFERÊNCIASBRASIL. Ministério da Educação. Lei n.º 10.639, de 098 de janeiro de 2003. Brasília: MEC, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei n.º 11.769, de 18 de agosto de 2008. Bra- sília: MEC, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato 2007-2010/2008/lei/l11769.htm>.

CARVALHO, Lilian Rocha de Abreu Sodré. Música africana na sala de aula: Cantando, tocando e dançando nossas raízes negras. São Paulo: Duna Dueto, 2010.

FREIRE, Paulo: Pedagogia da esperança: Um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

______. Política e Educação: Ensaios. São Paulo: Cortez, 2003.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento um processo sócio histórico. São Paulo: Spcione, 1993.

PORTINARI. Disponível em: <http://museucasadeportinari.org.br/>.

ROSA, Nereide. SCHILARO, Santa. Candido Portinari: Coleção Mestres das Artes no Brasil – Editora Moderna.

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Cada um tem sua históriaKátia Rosita Cardoso Dos Santos1 Rosa Maria Rigo2

INTRODUÇÃO

Receber um aluno para com ele conviver durante um ano letivo e com ele trabalhar conteúdos educacionais tem se constituído um desafio há cada dia mais presente no cotidiano escolar. Tal demanda requer do professor uma postura permeada pelo novo, pelo inusitado, pela busca constante de aperfeiçoamento. A presença das tecnologias na vida de nossos alunos exige do professor uma atitude inovadora, um compromisso consigo mesmo e com o futuro de seus educandos. Neste sentido, conhecer a bagagem que o aluno traz de casa, a sua história, a sua realidade fora do ambiente escolar se torna elemento basilar com vistas ao sucesso da tarefa educativa.

Diante dessa realidade, o presente trabalho propõe a realização de atividades que oportunizem uma reflexão acerca das histórias de vida dos alunos e do próprio professor. Na qualidade de agente mediador do processo educativo, o professor também constrói sua história de vida, e, junto com seus alunos, novas construções e reconstruções acontecem. Assim, nossa trajetória vai se constituindo ao longo de nossas vidas, antes mesmo

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Pedagogia Gestora: Ênfase em Gestão, Supervisão e Orientação Educacional, pela FACVEST; Graduada em Pedagogia – Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Crianças, Jovens e Adultos, pela UERGS. Professora na Escola Estadual de Ensino Fundamental Miguel Nunes Rebello, Av. Getúlio Vargas, 1644 – Balneário Rebello – Tapes/RS. E-mail: <[email protected]>.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação, Pedagoga Multimeios e Informática Educativa. E-mail: <[email protected]>.

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do nascimento, e vai se estabelecendo gradativamente. Neste sentido, é fundamental que o professor conheça a trajetória de vida de cada aluno, criando laços afetivos no sentido de compreendê-los como indivíduos dotados de razão e de emoção e capazes de coexistir com os outros enquanto seres humanos.

Para que possamos viver em um ambiente pacífico e harmonioso, habilidades como tolerância, cooperação e solidariedade são essenciais. E para que tais habilidades sejam desenvolvidas, é preciso constituir-se como ser humano, dia após dia, através das interações que fazem parte do nosso cotidiano. As relações humanas são, sem dúvida, elementos formadores de valores e convicções.

A partir desse contexto, o curso Educação Integral: Escolas da Paz oportunizou-nos avistar horizontes, provavelmente encobertos pela acomodação, muitas vezes rotineira da prática educativa. Tais horizontes estão intrinsecamente relacionados a uma nova postura do professor em relação aos seus alunos, entrelaçando experiências entre todos os envolvidos, tornando o processo de ensino e aprendizagem muito mais enriquecido.

Nessa ótica, apresentaremos a seguir uma proposta alicerçada nos princípios freireanos da leitura de mundo, como base para a construção do conhecimento, bem como do diálogo como fonte de compartilhamento de experiências para a construção de um mundo mais humano e igualitário, através dos vínculos criados por meio do conhecimento do outro e de si próprio. As atividades realizadas ao longo da primeira etapa do Curso foram preparatórias para a escrita do que segue. Em todos os módulos do Curso, foram proporcionadas oportunidades de refletir sobre nossa própria leitura de mundo, de maneira a compreender a necessidade de respeitar a realidade de nossos alunos, razão do fazer pedagógico em uma cultura de paz. Constituímo-nos e reconstituímo-nos como seres humanos incompletos que somos e, portanto, capazes de ressignificar nossas ações para uma prática de convívio solidário.

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Embalados por leituras reflexivas, passamos a perceber a necessidade urgente de construir com nossos alunos tal cultura, de modo a estender essa construção para além dos muros escolares. A escola precisa assumir seu compromisso com a transformação social, através da concepção de seus alunos como seres humanos, no sentido mais digno dessa expressão.

Nesse sentido, conhecer a trajetória de vida de cada aluno antes de sua entrada na escola é a base para a construção de um ambiente em que a paz se faça presente. Para tanto, precisamos investigar o que este aluno traz em sua mochila, não aquela que contém os materiais escolares, mas sim as que são abertas a partir das ações e reações da criança perante todas as situações vivenciadas no convívio com seus colegas e demais componentes do sistema escolar. Freire (1988, p. 13) nos diz que “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.

Assim sendo, nossa oficina tem a proposta de enfocar atividades nas quais o aluno terá oportunidade de contar sua história de vida. Trata-se da elaboração de um autorretrato, através do qual o professor o conhecerá, com vistas a proporcionar melhores condições de contribuir para que o mesmo entenda-se como sujeito no mundo e com o mundo.

A priori, serão apresentadas as razões da escolha do tema “histórias de vida”. Essas razões estão embasadas em leituras trabalhadas no Curso, bem como de outros autores que tratam do tema. Perceberemos ao longo do texto que muitos teóricos consideram que trabalhar com um aluno sem conhecer sua trajetória é como negar ao mesmo a construção de sua iden- tidade.

Em seguida, passaremos ao detalhamento da oficina planejada. São especificadas atividades que envolvem principalmente o diálogo e a reflexão, haja vista a necessidade daquele para propiciar esta. Mediar atividades nas quais o aluno precisa contar suas vivências, para montar o quebra-cabeça de sua

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vida, por certo se constituirá em um desafio bastante promissor, e possibilitará gerar frutos para o trabalho docente por longo tempo.

Por fim, um breve comentário sobre as expectativas em relação ao planejamento e a sua execução, bem como uma reflexão a respeito da necessidade de fomentar nas escolas a cultura de paz, com base no respeito às histórias de vida dos alunos completam este relato. Sem dúvida, a reflexão precisa permear sempre a prática educativa, do contrário, também nós educadores, negaríamos a nós mesmos nossa incompletude.

JUSTIFICATIVA

Construímos uma história ao longo de nossa vida, cujo início já começa no ventre materno. De acordo com Elage (2010, p. 13), “essa história se constitui como memória inscrita, mesmo que em ‘letras invisíveis’, no seu modo de ser, de pensar e sentir que, com frequência, nos parece enigmático, difícil de compreender” [grifos da autora].

Assim, nossas ações são permeadas pela noção que temos do mundo em que estamos inseridos. Nessa perspectiva, o ser humano, desde que nasce, entra em um processo constante de construção e transformação. Ao longo dos anos, sua aparência física vai se modificando, ganhando formas conforme o tempo vai passando. Além disso, o indivíduo vai se constituindo em sua personalidade e também se modificando a partir das experiências e situações vivenciadas. Conforme Peter Sengue & Gols apud Deparis (2013, p. 75), “nosso comportamento e nossas atitudes são moldados pelas imagens, suposições e histórias que carregamos em nossas mentes sobre nós mesmos, outras pessoas, instituições e todos os aspectos do mundo”.

Por essa razão, há que se considerar a ideia de que cada pessoa é única e tem uma história. E cada história tem suas peculiaridades, todas alicerçadas no modo pelo qual as experiências vão ocorrendo e “moldando” o ser, a partir das estruturas com as

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quais se convive. É, pois, impossível conhecer bem uma pessoa sem saber de sua história.

Segundo Bolívar, Domingo e Fernandez (2001), toda história e toda narrativa biográfica de vida é o presente projetado sobre o passado. Nessa ótica, entende-se que é impossível falar quem você é sem considerar o que você viveu. Assim sendo, para que possamos compreender uma pessoa, precisamos, a priori, conhecer o modo pelo qual sua história foi sendo construída, do contrário corremos o risco de estabelecer julgamentos equivocados acerca de determinadas condutas.

Como elemento revelador da bagagem que o aluno traz para a escola, o diálogo precisa fazer parte do cotidiano da sala de aula, do contrário, muitos gritos ensurdecedores de nossos alunos ecoarão sem serem ouvidos, ou ainda, serão ignorados. Ouvir nossas crianças fará com possamos perceber em suas ações e reações os motivos pelos quais essas acontecem. Na visão de Lechner (2009), o olhar biográfico é sempre um exercício reflexivo sobre si próprio. Também Souza (2007, p. 4/5) questiona:

O que é a educação senão a construção sócio-histórica e cotidiana das narrativas pessoal e social? O cotidiano humano é, sobremaneira, marcado pela troca de experiências, pelas narrativas que ouvimos e que falamos, pelas formas como contamos as histórias vividas.

Para que a troca de experiências se estabeleça, habilidades e relações humanas precisam ser desenvolvidas na escola. Segundo Abramovay et al. (2001, p. 74), “a escola, em conjunto com a família, constitui-se, por excelência, como espaço de socialização”. Também enfatizam que é inquestionável a importância do papel da família na formação dos sujeitos. Nessa ótica, percebemos que a criança, ao ingressar no sistema escolar, não deixa fora dos bancos escolares sua história. Nas palavras de Deparis (2013, p. 80), a criança, “traz consigo todo um contexto construído e

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influenciado pelo ambiente no qual faz parte: cada família com sua forma de socialização, com suas crenças e hábitos”.

Assim sendo, conhecer a ideia que os alunos têm do mundo onde vivem é o caminho inicial para contribuir com eles na construção de saberes que tornem suas realidades mais pacíficas e solidárias. Considerando a constante transformação do ser humano em sua existência, pode-se afirmar que uma criança não só traz de sua casa noções experimentadas, como também leva da escola noções que podem transformar a realidade do seu lar, de maneira positiva. Para Deparis (2013, p.77),

Pode-se dizer que o ato de relacionar-se bem acontece quando a pessoa consegue se colocar no lugar do outro, sabendo ouvir, estando receptivo, respeitando os limites entre seus desejos e do outro, tendo capacidade de elogiar e reconhecer o outro nas suas potencialidades e nos seus talentos.

Em sua obra A arte de viver em paz, Weil (1993) preconiza a necessidade de se viver em paz consigo mesmo, com os outros e com a natureza, bem como a importância de um educador vivenciar o amor e a sabedoria, e dedicar seu tempo ao cultivo desses valores. De acordo com o autor:

Para que um professor possa transmitir a arte de viver em paz a outras pessoas, sejam crianças, adolescentes ou adultos, é necessário que preencha uma condição essencial: ser ele mesmo um exemplo de tudo o que transmite. (WEIL, 1993, p. 49).

Com efeito, é preciso que o professor conduza suas ações no sentido de inovar e buscar sempre novas maneiras de atuar, com vistas à construção de uma cultura de paz. Na concepção de Diskin e Roizman (2002, p.12), “para gerar atitudes inovadoras devemos ter a coragem de romper padrões e criar novas formas de Ser, Conviver, Conhecer e Fazer. Ensinar a criatividade e fazê-

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lo criativamente são caminhos fundamentais da Educação para a Paz”.

Outrossim, Abramovay et al. (2001) enfatizam como diretrizes a uma cultura de paz a conscientização, a mobilização, a educação, a informação e a participação, considerando os contextos histórico, político, econômico, social e cultural dos sujeitos:

[...] a Cultura de Paz está intrinsecamente relacionada à busca de estratégias que possibilitem a resolução não-violenta dos conflitos, priorizando o diálogo, a negociação e a mediação, de forma a criar uma consciência de que a guerra e a violência são inaceitáveis. É uma Cultura baseada na tolerância, na solidariedade e no respeito aos direitos individuais e coletivos (ABRAMOVAY et al., 2001, p. 19).

Diante do exposto, a proposta de atividades com base nas histórias de vida dos alunos pode constituir os elos que unam a realidade vivida com a realidade sonhada. Construir uma nova realidade requer consciência da necessidade de um ambiente onde a paz seja a base das relações humanas.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

• Analisar a trajetória de vida do grupo, e propor alternativas mediadas pela cultura da paz.

Objetivos específicos

• Propor espaços de reflexão a partir das experiências de vida do grupo;

• Proporcionar práticas solidárias que permitam transformar o cotidiano;

• Desenvolver atividades que permitam expressar sentimentos, emoções e formas de ler o mundo;

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• Expressar ideias e emoções através de praticas artísticas e corporais;

• Propiciar práticas de convivência pacíficas;

• Criar espaço para narrativas orais e escritas das experiências de vida da turma;

• Construir uma linha do tempo e posteriormente um livro contando experiências de vida.

PÚBLICO

Alunos do 4º Ano do ensino Fundamental. Tendo em vista o final da primeira fase de alfabetização composta pelos três primeiros anos, nessa fase as crianças começam a ter maior compreensão de seu papel na realidade onde estão inse- ridas, razão pela qual a reflexão sobre suas histórias pode contribuir para a tomada de consciência de si no mundo e com o mundo.

METODOLOGIA

Atividades dialógicas e reflexivas, com base em vivências dos alunos.

PASSO A PASSO

Primeiro encontro – As coisas que eu gosto

Diálogo sobre as diferenças entre si. Cada pessoa é uma só, tendo seus gostos, suas qualidades, seus defeitos, sua his- tória.

Convite aos alunos para ilustrar as coisas que cada um gosta:

Lugar Amigos Música CorBichinhos Livro Comida Outros

Após as ilustrações, compartilhar com o grupo e convidá-los a refletir/justificar suas escolhas.

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Reflexão: Todos gostamos das mesmas coisas? É ruim não gostar das mesmas coisas? Como seria o mundo se todos fôssemos iguais? Por que as pessoas são diferentes?

De acordo com as respostas às reflexões, o diálogo será mediado para que os alunos percebam que as pessoas trazem consigo uma história, por isso não são iguais, ainda que tenham semelhanças.

Construção de um mural coletivo “AS COISAS QUE EU GOSTO” com as ilustrações realizadas.

Segundo encontro – Minha família

Apresentação da música “Família”3, interpretada pelo Grupo Titãs:

Família, famíliaPapai, mamãe, titia,

Família, família Almoça junto todo dia,

Nunca perde essa mania Mas quando a filha quer fugir de casa

Precisa descolar um ganha-pão Filha de família se não casa

Papai, mamãe, não dão nenhum tostão Família ê ,família á, família

Família, família Vovô, vovó, sobrinha

Família, família Janta junto todo dia,

Nunca perde essa mania

Mas quando o nenê fica doente Procura uma farmácia de plantão

O choro do nenê é estridente Assim não dá pra ver televisão

Família ê, família á, família Família, família,

Cachorro, gato, galinha Família, família,

Vive junto todo dia, Nunca perde essa mania

A mãe morre de medo de barata O pai vive com medo de ladrão

Jogaram inseticida pela casa Botaram um cadeado no portão

Família ê, família á, família

Na sequência, propor uma roda de conversa: Quem são meus familiares? Como é minha família? O que eu mais gosto na minha família? E o que eu não gosto? Como seria uma família ideal? Por que preciso dos meus familiares?

3 ANTUNES, Arnaldo. BELOTTO, Tony. Família (interpretação do Grupo Titãs). In: TITÃS. Cabeça dinossauro. Rio de Janeiro: WEA, 1986.

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Reflexão coletiva, a partir do trecho a ser lido para os alunos: “Minha família faz parte da minha história. As primeiras coisas que aprendemos são com nossos familiares, por isso eles são tão importantes em nossa vida. Preciso prestar mais atenção em minha família, pois ela é um presente para mim”.

Confecção de dobradura em formato de casa. Após, escrever os nomes dos familiares e compor em grupo uma frase para intitular o painel coletivo com as dobraduras.

Terceiro encontro – Meus amigos

Realizaremos a leitura do trecho que segue:

A amizade é muito importante entre as pessoas. Ninguém vive sozinho. É o amigo que nos ajuda nas horas tristes. É o amigo quem sorri com a gente, quando estamos felizes. É o amigo quem nos dá a mão, quando precisamos. É muito bonito ter uma amizade verdadeira. [...] Quando existe amizade entre as pessoas, é muito mais gostoso viver.4

Após a leitura, convidar o grupo a fazer uma reflexão: a amizade é como uma planta, precisa ser regada.

Convite para que os alunos citem seus amigos, dentro e fora da escola.

Construção da árvore dos amigos: colagem de papel picado na árvore, sendo que nas frutas estarão escritos os nomes dos alunos.

Confecção de cartões para serem presenteados na atividade de amigo-secreto.

Quarto encontro – Perdoando e aprendendo a pedir perdão

Será passada uma caixinha para que os alunos depositem fichas com a resposta à seguinte pergunta: “A quem eu quero pedir perdão? Por quê?” As fichas não precisam ser identificadas.

4 DONIZETTI, José. ALMEIDA, Margarida Regina. Fé na vida. 3ª Série. Belo Horizonte: Editora do Brasil, 1992.

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Após, as respostas serão lidas e o aluno que desejar poderá se identificar.

Em um segundo momento, a caixinha será passada novamente para que os alunos escrevam a quem querem perdoar e por quê. Novamente as respostas serão lidas e poderão ser identificadas, se assim os alunos desejarem.

Reflexão: Por que é difícil perdoar? E por que é mais difícil pedir perdão? O que acontece quando ficamos guardando mágoas por coisas que nos feriram? Como nos sentimos quando não perdoamos e quando não somos perdoados? Que marcas as desavenças deixam em nós?

Ao final da atividade, os alunos serão convidados a dar o abraço da paz, momento em que todos se confraternizarão, num gesto de desapego às mágoas.

Quinto encontro – Receita da vida

Texto interpretativo:

RECEITA DA VIDA5

Ingredientes:Família, é aqui que tudo começa;Amigos, nunca deixe faltar;Sorrisos, os mais variados;Raiva e desespero, pra quê?Lágrimas, enxugue todas;Paz, em grande quantidade;Perdão, à vontade;Desafetos, deixe de lado;Carinho, essencial;Esperança, indispensável;Coração, quanto maior, melhor;Amor, pode usar bastante.

Modo de preparar:Reúna a sua família e os seus amigos, sem esquecer de acrescentar um belo sorriso. Jogue fora a raiva e o desespero. Use somente lágrimas de alegria. Junte a paz e o perdão e ofereça a todos os seus desafetos, com carinho. Deixe a esperança e o amor crescerem em seu coração e espalhe sobre os amigos e a família.Nem sempre os ingredientes da vida são gostosos, portanto, é preciso saber misturar todos os temperos que ela oferece, para fazer dela um prato de raro sabor! Experimente esta receita, que vai valer a pena.

5 QUEIROZ, Tânia dias; JORDANO, Ivo. Atividades práticas de dinâmicas de grupo e sensibilizações – Educação Infantil e Ensino Fundamental. 2. ed. São Paulo: Rideel, 2006.

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Sequencialmente ao texto, será feito um convite para que os alunos realizem a interpretação do texto lido, oralmente:

a) Quais são os principais ingredientes dessa receita, aqueles que são positivos?

b) Quem se deve reunir e o que se deve acrescentar?

c) O que é preciso juntar e oferecer a todos, com carinho?

d) Que ingredientes se devem deixar crescer no coração?

e) O que é preciso saber misturar, nessa receita? Por quê?

f) Tu achas essa uma boa receita? Justifica.

Reflexão: Será que somos capazes de seguir essa receita? Se conseguirmos fazer o que a receita diz, como serão nossas vidas? Vamos nos comprometer a colocar em prática essa receita?

Posteriormente, será proposto um desafio: Vamos construir uma receita para a paz, com base na receita da vida? Atividade em grupos.

Construção de cartazes com as receitas elaboradas.

Sexto encontro – Minha história

Audição e canto da música “Tocando em frente” (Almir Satter e Renato Teixeira)6

6 SATER, Almir. TEIXEIRA, Renato. Tocando em frente (interpretação de Almir Sater). In: Almir Sater ao vivo. São Paulo: Columbia; Sony Music, 1992.

Ando devagar porque já tive pressa E levo esse sorriso porque já chorei

demaisHoje me sinto mais forte,

mais feliz, quem sabe Só levo a certeza de que muito pouco

sei Ou nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs O sabor das massas e das maçãsÉ preciso amor pra poder pulsar

É preciso paz pra poder sorrir É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente

Compreender a marchae ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro levando a boiada

Eu vou tocando os diaspela longa estrada, eu vou

Estrada eu sou

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Conhecer as manhas e as manhãs O sabor das massas e das maçãsÉ preciso amor pra poder pulsar

É preciso paz pra poder sorrir É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora

Um dia a gente chegae no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história Cada ser em si carrega

o dom de ser capaz E ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs O sabor das massas e das maçãsÉ preciso amor pra poder pulsar

É preciso paz pra poder sorrir É preciso a chuva para florirAndo devagar porque já tive

pressa E levo esse sorriso porque já

chorei demaisCada um de nós compõe a sua

história Cada ser em si carrega

o dom de ser capaz E ser feliz

Reflexão sobre a letra da música e marcação dos versos mais significativos. Exposição aos colegas, com justificativas das escolhas.

Construção de uma linha do tempo contando as histórias de cada um. Essa linha pode ser feita com datas, ou com etapas da vida (bebê, com 2 anos, 3 anos, 4 anos, e assim por diante). Após, os alunos serão convidados a, se assim desejarem, compor um texto com as lembranças registradas na linha do tempo.

Leitura das histórias para os colegas. Nesse momento, podem ser feitas intervenções acerca dos fatos narrados.

Retorno à letra da música: “Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz”, para refletirmos como nossa história nos constrói como seres humanos.

Sétimo encontro – Pensando no futuro

Audição e entonação da música “Marcas do que se foi”7 (Os Incríveis)

7 ZURANA. Marcas do que foi. (interpretação do conjunto Os Incríveis). In: Canções de paz. Rio de Janeiro: Sony Music; RCA, 2011.

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Este ano quero paz no meu coração Quem quiser ter um amigo que me dê a mão

O tempo passa e com ele caminhamos todos juntos Sem parar

Nossos passos pelo chão vão ficarMarcas do que se foi,sonhos que vamos ter

Como todo dia nasce novo em cada amanhecer

Reflexão: O que eu espero para o meu futuro? Explanação das ideias pelos alunos, com comentários dos colegas. Relacionaremos os planos para o futuro com as histórias de vida.

Convite: vamos construir um livro contando nossas histórias e projetos de vida?

Em um momento posterior, a ser definido de acordo com as possibilidades das famílias, apresentar aos familiares os livros e trabalhos realizados ao longo das oficinas.

MATERIAL NECESSÁRIO

Folhas para desenho, lápis de cor, CDs com canções a serem reproduzidas, aparelho de CD, tesoura, cola, papel colorido, caixa com fichas a serem preenchidas, cópias do texto “Receita da Vida”, canetinhas hidrocor, pincéis atômicos, cartolina, papel pardo, materiais de uso diário (caderno, lápis, borracha, caneta).

CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

DATA (PREVISÃO)

DURAÇÃO HORAS/AULA TEMÁTICA

23/03/2015 2 h/a As coisas que eu gosto

24/03/2015 1 h/a Minha família

25/03/2015 2 h/a Meus amigos

26/03/2015 2 h/a Perdoando a aprendendo a pedir perdão

27/03/2015 3 h/a Receita da vida

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DATA (PREVISÃO)

DURAÇÃO HORAS/AULA TEMÁTICA

30/03/2015 3 h/a Minha história

31/03/2015 3 h/a Pensando no futuro

AVALIAÇÃO

Entendida como parte do processo de ensino e aprendizagem, a prática avaliativa se dará ao longo dos encontros, através das reflexões proporcionadas pelas atividades realizadas. Pretendemos assim valorizar a autoavaliação como uma forma de levar o aluno a tornar-se sujeito do seu processo de aprendizagem, além de exercitar o enfrentamento de suas limitações e também o aperfeiçoamento de suas potencialidades, com vistas a tornar-se um ser mais humano e solidário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em sua obra Pedagogia da autonomia, Paulo Freire reforça a ideia de que ensinar exige respeito aos saberes do educando (FREIRE, 1996). Os chamados saberes de vida vivida, ou, nas palavras do autor, a “leitura de mundo” são fundamentais para o professor que se diga comprometido com sua práxis.

Nesse sentido, através de atividades que oportunizem ao aluno refletir sobre sua existência, relembrar tempos idos e relacioná-los com a atualidade, o professor, não só reflete sobre sua própria caminhada, como também oferece ao aluno condições para que ele se entenda e passe a entender os outros. Na obra intitulada À sombra desta mangueira, Freire nos diz que “rever o antes visto quase sempre implica ver ângulos não percebidos” (FREIRE, 2001, p. 24). São estes ângulos não percebidos que nos explicam, daí a necessidade de revisitarmos nossas vivências; assim, seremos capazes de nos compreendermos e de nos transformarmos como seres humanos, com base no convívio pacífico e harmonioso.

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Cada um tem sua história Kátia Rosita Cardoso Dos Santos, Rosa Maria Rigo

O planejamento das atividades que compuseram a oficina relatada propiciou também uma profunda reflexão acerca da importância da prática educativa como construtora de seres humanos. Enquanto as atividades eram planejadas, memórias de infância e adolescência vinham à mente: a primeira professora, a família, os amigos e amores, as mágoas e desavenças, a formação profissional, o futuro, enfim, a constituição de uma história que ainda não chegou ao fim, podendo então ser ressignificada a cada segundo de nossa existência, sempre com vistas ao desenvolvimento humano.

Em uma cultura de paz, é imprescindível praticar a tolerância, a cooperação, a solidariedade, dentre outros valores, todos pautados no respeito à diversidade. O desenvolvimento dessas habilidades é também tarefa da escola de hoje. Não podemos mais esperar que somente a família tenha essa responsabilidade; precisamos também nós, educadores, assumir o compromisso com a formação humana de nossos alunos, formação esta que precisa considerar as histórias por eles vividas fora do ambiente escolar, e reveladas em suas ações e reações dentro da escola.

Portanto, há que se acreditar em uma educação voltada para a paz e alicerçada nas histórias de vida de alunos e professores: destes, porque são agentes mediadores do processo de ensino e aprendizagem; daqueles, pois precisam ser ouvidos e compreendidos em seu contexto; e dos dois, porque, como todos, são seres em constante construção, portanto, capazes de transformar o mundo onde vivem em um lugar onde a paz prevaleça.

REFERÊNCIASABRAMOVAY, Miriam [et al.]. Escolas da Paz. Brasília: UNESCO; Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria do Estado da Educação; Universidade do Rio de Janeiro, 2001.

BOLIVAR, A. DOMINGO, J. FERNANDEZ, M. La investigación biográficonarrativa en educación. Madrid: Editorial La Muralla, 2001.

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Cada um tem sua história Kátia Rosita Cardoso Dos Santos, Rosa Maria Rigo

DEPARIS, Daguimar. Relações humanas como ponto de partida – educação como ponto de chegada. In: APPIO, Alexandre; RAMOS, João; ZIEGER, Lilian (Orgs.). Dilemas da educação: luzes e cores possíveis. Porto Alegre: ANSEB, 2013.

DISKIN, Lia. Roizman, Laura Gorresio. Paz, como se faz?: semeando cultura de paz nas escolas. Brasília: Governo do Estado de Sergipe; UNESCO; Associação Palas Athena, 2002.

ELAGE, Bruna (Coord.). História de vida: identidade e proteção: a história de Martim e seus irmãos. Coleção abrigos em movimento. 1. ed. São Paulo: Associação Fazendo História: NECA - Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente, 2010.

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______. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho D’Água, 2001.

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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Oficinas e vivências: fomentar a educação pela pazDaiane de Abreu Bitencourt Delavechia1 Daniela Rocha Marins2 Débora Luciene Porto3

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de oficina criada pela autora, a fim de vincular as temáticas bullying, cultura de paz e o respeito ao próximo. Assim, pretende-se que seja criada uma abordagem pedagógica diferenciada, que contribua para a construção de uma cultura de paz a fim de propiciar aos alunos do ensino fundamental de uma escola municipal pública da cidade de Alvorada/RS ações contra o Bullying e de criar uma prática de reflexão, com o intuito de inibir a agressividade dentro do âmbito escolar e nas demais esferas sociais.

JUSTIFICATIVA

A realidade do grupo observado para elaboração da presente oficina era marcada pelo desrespeito (bullying) devido à necessidade de autoafirmação de uns sobreporem-se a de outros, utilizando como recurso a sexualidade exacerbada e a

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz– FORPROF/UFRGS. ¹Pós Graduanda em Psicomotricidade Escolar. Graduada em Pedagogia Educação Infantil e Séries Iniciais Professora nos anos iniciais na escola EMEF Dom Pedro II no Município de Alvorada/RS. E-mail: <[email protected]>.

2 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Atendimento Educacional Especializado pela UFC. Professora das Redes Municipais de Canoas e Sapucaia do Sul. E-mail: <[email protected]>.

3 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Produção e Revisão Textual pela UniRitter. Educadora Social do Munício de Gravataí. E-mail: <[email protected]>.

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agressividade proveniente de um contexto familiar característico. Estamos convictos de que, diante de tal cenário, o que fez a diferença na convivência em sala de aula e na própria forma de atuação da professora foi a consciência de que sua postura comprometida contribuiu para a formação integral desses jovens. Nesse sentido, nosso intuito foi proporcionar a eles não só alcance dos objetivos das disciplinas, mas também o desenvolvimento de aprendizagens interdisciplinares, exercitando valores e otimizando as relações.

Objetivo Geral

Promover momentos de convivência a fim de fomentar a paz e o respeito ao próximo, assim como o bem-estar no ambiente escolar e também fora dele.

Objetivos Específicos

• Identificar a problemática do bullying e discutir recursos para combatê-la;

• Promover, por meio de oficinas, situações de reflexão sobre atitudes geradoras de conflitos;

• Aplicar estratégias relevantes para a prevenção e o controle desse tipo de violência;

• Utilizar materiais impressos, como livros infantis, infanto- juvenis, que discutam criticamente o bullying;

• Propiciar momentos com dinâmicas que viabilizem a interação, a socialização, e a reflexão sobre cooperação e empatia.

REFERENCIAL TEÓRICO

Com a abordagem definida, o intuito foi promover momen- tos que contribuíssem para a convivência através da paz e res- peito ao próximo e bem estar no ambiente escolar e também fora dele.

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Do convívio em sala de aula, surge a interação social que, segundo Vigotsky (1988), é a fonte de modelos para o desenvolvimento do indivíduo; sem ela não há aprendizagem. No entanto, essas relações sendo conflituosas podem gerar um tipo de violência que denominamos bullying, que ocorre quando há desequilíbrio de poder entre os indivíduos envolvidos, acarretando agressões físicas e/ou psicológicas diretas e indiretas entre agressor e vítima.

Martins (2005 apud ANTUNES e ZUIN, 2008) identifica o bullying em três grandes tipos, dividindo em:

diretos e físicos, que inclui agressões físicas, roubar ou estragar objetos dos colegas, extorsão de di- nheiro, forçar comportamentos sexuais, obrigar a realização de atividades servis, ou a ameaça desses itens; diretos e verbais, que incluem insultar, apelidar, “tirar sarro”, fazer comentários racistas ou que digam respeito a qualquer diferença no outro; e indiretos que incluem a exclusão sistemática de uma pessoa, realização de fofocas e boatos, ameaçar de exclusão do grupo com o objetivo de obter algum favore- cimento, ou, de forma geral, manipular a vida social do colega. Lopes Neto (2005) alerta para um novo modo de intimidação, chamada cyberbullying, que na verdade é a utilização da tecnologia da comunicação (celulares e internet, por exemplo) para a realização desta violência.

A realidade do grupo era de desrespeito por bullying, auto-afirmação de colegas que menosprezavam e tentavam se sobrepor aos outros indivíduos, usando como recurso a sexualidade exacerbada e a agressividade imbuída de informações provenientes do contexto familiar do qual têm origem. Como é possível imaginar, houve a necessidade de intervenções pedagógicas que oportunizaram às crianças canalizarem positivamente as suas pulsões.

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A sala de aula, bem como a atuação do professor nos dias atuais, requer uma postura consciente e significativa, pois é ele que tem o poder de ressignificar e reestruturar nossa realidade “socioeducacional”. Afirmando sua identidade profissional como formador de opinião e instigador da produção do conhecimento, teremos aprendizagens mais qualitativas e atrativas, propiciando uma prática reflexiva e eficaz.

Pensando a partir deste referencial, ao assumir uma conduta de reflexão e constante pesquisa, o professor se mantém protagonista em seu aporte no contexto social, comprometendo-se com a sua prática docente.

A proposta, então, foi de mediar e oportunizar momentos, em que eles pudessem se expressar, externar anseios e angústias, tanto ocorridos na escola como em outros ambientes que frequentam. Pretendemos também influenciar as relações com seus cuidadores, com o propósito de torná-los próximos, compreensivos e mais tolerantes. Nesse contexto, foi necessário traçar alguns acordos de convivência, pois alguns se mostraram opositores e indisciplinados.

Infelizmente, esse público é muito suscetível a corroborar com a Teoria da Aprendizagem Social, na qual, segundo Bandura (1976), citado por Ferraz e Neves (2011), os padrões aprendidos servem como modelo em interações sociais, podendo o aluno ser protagonista da ação que experienciou ainda muito pequeno. O seu desenvolvimento físico e mental também pode ser afetado, bem como apresentar distúrbios de atenção, baixo rendimento escolar, ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático, problemas somáticos, entre outros. Algumas dessas crianças já apresentam vulnerabilidade emocional, pois estão inseridas em um ambiente de negligência, que reproduz a ridicularização do outro, possui histórico de violência física, sexual ou psicológica na infância, abuso de álcool e/ ou drogas, e muito do seu comportamento e até mesmo comprometimento físico e orgânico é reflexo do meio conflitante em que vive.

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Para Barbosa e Horn (2008), ao abordarmos a discussão acerca da influência do meio no desenvolvimento humano, é imprescindível destacarmos os aportes de Wallon (1989) e de Vygotsky (1984). Ambos relacionam afetividade, linguagem e cognição com as práticas sociais, eles consideram que o meio é um fator preponderante no desenvolvimento dos indivíduos. De acordo com Barbosa e Horn (2008, p. 49), “ao interagirem nesse meio e com outros parceiros, as crianças aprendem pela própria interação e imitação”.

Tendo em vista essas considerações, é importante abordar a cultura de paz no ambiente escolar, mantendo propostas que corroborem com uma prática acolhedora e otimizando o tempo dedicado a essas crianças de maneira a respeitar suas particularidades e, por fim, “plantar” estes princípios vitais, junto a elas, que as tornem sementes que se transformarão em seres humanos mais amáveis, sociáveis. Enfim, pessoas mais tolerantes que, por meio do seu exemplo, sejam multiplicadores da cultura de paz, em diversos ambientes.

METODOLOGIA

Foram propostas atividades desenvolvidas por meio de oficinas, instigando a interação da turma a fim de se obter uma riqueza nas abordagens, das quais os estudantes participaram comentando suas experiências de vida. Também foi oportunizado a todos que fossem agentes ativos de suas aprendizagens, podendo contribuir com o grupo e socializar suas expectativas pessoais.

No transcorrer das atividades, foi abordada a temática bullying e ações para fomentar a paz e o respeito ao próximo. Foram utilizados recursos como: livros, rodas de discussões e reflexões, dinâmicas para integração e valorização da identidade de cada indivíduo, desenvolvendo atividades que possibilitassem a criatividade, a imaginação, a exposição de sentimentos e a reflexão. A seguir, apresentamos alguns exemplos:

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Acordo de convivência: redigir alguns apontamentos que possibilitem exercer maior autonomia de paz e que visem a inibição de conflitos.

Dinâmica Identidade: Escrever em uma folha de papel seu nome ou como prefere ser chamado e fazer um desenho que lhe represente ou que apresente alguma característica particular sua. Finalidade: Autoconhecimento, socialização, exercer o respeito mútuo, saber ouvir e respeitar opiniões. Eles apresentaram-se para turma, compartilhando o seu desenho e relatando suas características. Ao final, nos organizamos para que todos socializassem e expressassem seus comentários quanto à atividade e postura.

Leitura do livro Pinote, o Fracote e Janjão, o Fortão, de Fernanda Lopes de Almeida, que versa sobre essa relação de poder por meio da força. Também com intuito de fazê-los refletir e de promover ações que lhes permitiram construir novas relações, de cuidados responsivos com o próximo.

Dinâmica Bola de Papel: Transformamos duas folhas de papel reutilizadas em bola de papel, em círculo todos contribuíram, amassando-as, ressaltando o espírito de coletividade, a importância individual para a turma. Em seguida, um colega arremessou a bola para outro e disse seu nome. A partir das reflexões já abordadas pelo livro sobre o comportamento de Janjão, seus amigos e Pinote, desejou-se para um colega uma palavra, frase de amizade. O importante foi que todos se manifestaram e também receberam a bola uma única vez. Resgatamos as ideias explanadas, acolhemos as sugestões e fizemos um fechamento com atitudes que podemos melhorar para uma boa convivência.

Arte e exploratória: com o uso do quadro na sala de aula, em pequenos grupos, os alunos se organizaram para utilizar o desenho com giz para expressar-se livremente.

As execuções das atividades descritas foram desenvolvidas de acordo com a carga horária de 15h, bem como o planejamento e documentação dos momentos vivenciados.

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A avaliação ocorreu em todo o processo, e todos tiveram voz para se expressar e sugerir novas perspectivas.

AVALIAÇÃO

“O primeiro princípio da ação não-violenta é a não-cooperação com tudo que é humilhante”.

Mahatma Gandhi

Embora algumas situações de agressões verbais ainda sejam interpretadas como brincadeiras, percebemos que as crianças passaram a assumir responsabilidades, participar ativamente nas atividades, demonstrar-se menos inibidas, com mais esforço e motivação, os diálogos se tornaram mais interessantes e tornou-se possível a exposição de opiniões e sentimentos. O mais desafiador é mostrar que:

Se dirigimos nossa indignação ao alvo errado, isto é, se combatemos o agressor, em vez de combater a agressão, perdemos a oportunidade de estabelecer uma nova relação com o outro. Além de, em grande parte dos casos, alimentarmos o ciclo vicioso da violência, quando a vítima reage, se tornando um novo agressor. (UNESCO, 2002)

Segundo Rego (1996, p. 87),

o modo como interpretamos a indisciplina (ou a disciplina), sem dúvida, acarreta uma série de implicações à prática pedagógica, já que fornece elementos estabelecidos com os alunos e na definição de critérios para avaliar seus desempenhos na escola, como também no estabelecimento dos objetos que se quer alcançar.

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O papel do professor também é de observar e tentar compreender o contexto e os atores envolvidos na violência, pois ele é quem vai conduzir e apaziguar muitos desses conflitos.

Durante a realização dessas oficinas, atingimos o objetivo que era oportunizar maior contato entre todos nós. O enfoque passou a ser o reforço positivo e a compreensão, antes eles se repeliam e reagiam agredindo-se, tornando o ambiente caótico, sem possibilidade de haver aulas compreensíveis, deixando a professora frustrada e sem energia. Entretanto, com as oficinas, tornaram-se mais atentos, abertos à proposta e mais respeitosos. Acreditamos numa educação pautada na reflexão, em que se aprenda e se compreenda valores. Inseri-los no nosso cotidiano é uma tarefa de todos que convivem com crianças. Enfim, com este trabalho, seguimos acreditando e trabalhando para um mundo em que os seres humanos vivam em harmonia.

Corroboram decisivamente para a qualidade da educação esta prática de promover a reflexão e instigar a interação por meio do respeito mútuo e utilizando-se da forma lúdica. A escola e seus atores devem desenvolver instrumentos que ajudem a aperfeiçoar as relações sociais do cotidiano e que sirvam para aumentar o sentimento de pertencimento dos estudantes à escola e ao meio em que está inserido. Assim, acreditamos ser necessário contemplar propostas pedagógicas específicas que contribuam para educação escolar incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades e às demandas que o grupo expressa, a fim de promover a cidadania e possibilitar o conhecimento para a vida.

REFERÊNCIASALMEIDA, Fernanda Lopes. Pinote, o Fracote e Janjão, o Fortão. Porto Alegre: Editora Ática, 2008.

ARROYO, Miguel González. Quando a violência infanto-juvenil indaga a pedagogia. Educação e sociedade, Campinas, vol. 28, n.100, p. 787-807, out. 2007.

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BARBOSA, Maria C. S.; HORN, Maria da Graça S. Projetos pedagógicos na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

CARVALHO, Mercedes (org.). Ensino Fundamental – práticas docentes nas séries iniciais. In: Escola, espaço de formação de professores, cap.1. Petrópolis, RJ: vozes, 2006

DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura Gorresio. Paz, como se faz?: semeando cultura de paz nas escolas. Brasília: Governo do Estado de Sergipe, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.

FERRAZ, TR; NEVES, ET. Fatores de risco para baixo peso ao nascer em maternidades públicas: um estudo transversal. Revista Gaúcha Enfermagem, 2011 mar; 32(1):86-92.

NÓVOA, Antônio. (Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997.

REGO, Teresa C. R. A. indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva vygotskiana. In.: AQUINO. Julio Groppa (Org.). Indisciplina na escola: Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

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ANEXO I

Acordos de convivência: a forma escrita foi proposta pelos alunos, bem como a elaboração.

ANEXO II

FOTOS

Dinâmica Identidade: nome, apelido ou os dois?

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Representação corporal da letra “M”, simbolizando as mudanças pessoais/grupais

Representação corporal das letras “P” e “I”, simbolizando paz e igualdade, respectivamente.

Arte exploratória: livre expressão com desenhos realizados no quadro.

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Projeto de oficinas: “rodas de conversa”Leticia Missel de Souza1 Rosa Maria Rigo2

1 SITUANDO O PROJETO

Em 2012, o bairro São José, localizado na cidade de Esteio, foi denominado como “Território de Paz”, eleito através do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI). Na ocasião, o Governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, apresentou algumas ações sociais e políticas para a redução da criminalidade envolvendo a população. No mesmo ano em que a escola foi inserida neste processo, iniciamos o atendimento das crianças do bairro em tempo integral, dada a vulnerabilidade dos infantes. Para isso, estamos em constante parceria com o Programa Mais Educação.

Nossa escola, “Centro Municipal de Educação Básica ALBERTO PASQUALINI”, está localizada no bairro São José, em Esteio/RS, e se torna o único espaço de convivência da comunidade inclusive nos finais de semana. As situações de violência vivenciadas pelos alunos fora da escola acabam sendo trazidas por eles para o espaço escolar, prejudicando a convivência diária entre os alunos, professores e funcionários.

A escola atende crianças, da Educação Infantil ao 5° ano, e funciona das 7 horas e 30 minutos às 17 horas. A escola oferece

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Graduada em Pedagogia Séries Iniciais/UFRGS Especialista em Educação Infantil: Gestão e Currículo/FAPA. Professora no Centro de Educação Básica Alberto Pasqualini, Localizada à Rua Arthur da Costa e Silva, 55. Esteio/RS. E-mail: <[email protected]>.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação, Pedagoga Multimeios e Informática Educativa. E-mail: <[email protected]>.

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aos alunos café da manhã, aulas regulares e projetos, tais como: Educação Ambiental, Recreação, Cultura da Paz, Inglês, Acompanhamento Pedagógico, Diversidade, Hora do Conto, Judô e Música. Nos sábados, a escola funciona com o Projeto Escola Aberta, oferecendo oficinas de artesanato, informática, esportes, etc.

Atualmente, ainda estamos estudando e adequando espaços e práticas pedagógicas para assegurar a qualidade da educação para as crianças que frequentam nossa escola. Acreditamos que, atendendo as crianças em tempo integral, poderemos fazer a diferença para esta comunidade.

2 JUSTIFICATIVA

Diante da realidade apresentada em nossa escola, em que os alunos demonstram baixa autoestima, praticam bullying, demonstram excesso de agressividade entre si, com os professores e com os funcionários, se faz necessário criar alternativas e práticas que promovam o autoconhecimento, o desenvolvimento da autoestima, o cuidado consigo e com o outro e o respeito às suas diferenças.

Entendemos que, desde a Educação Infantil, as crianças compartilham um conjunto de situações. Diariamente são desenvolvidas ações para um bom convívio interpessoal e a progressiva construção de valores significativos na interação social, como a construção da sua autoestima, o perdão, a responsabilidade, a cooperação, o respeito mútuo, a amizade, a honestidade, a tolerância, a perseverança, entre outros.

A educação básica é uma etapa importante, na qual as crianças virão a conhecer um novo espaço e conviver com pessoas diversas, em espaços também diferentes. Sendo assim, precisamos estimular a autonomia de pensamento capacitando-as a construir sua autonomia, relacionando à capacidade de assumir pequenas responsabilidades, considerando as necessidades pessoais e do outro, dentro dos limites valorizados

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para uma convivência saudável. As crianças cuidam dos próprios pertences, dos materiais de uso comum e reconhecem aos poucos a importância do diálogo como forma de expor seu ponto de vista e compreender as diferentes situações, respeitando as diferenças.

Diante desta realidade, tencionamos promover um momento em que professores, funcionários e alunos possam refletir sobre si mesmos, suas qualidades e limitações, desenvolvendo práticas de valorização da vida e proporcionar o diálogo entre gerações para a promoção da paz na escola.

O desenvolvimento dessa visão e ações voltadas para a promoção da paz podem se constituir através do interesse e participação de cada indivíduo, de políticas, programas e projetos, ou no apoio e incentivo às ações educativas do cotidiano, ricas e criativas, que contribuam para a reflexão e o desenvolvimento de práticas sociais voltadas para a construção e o fortalecimento da paz entre os homens e mulheres na sociedade contemporânea. (DISKIN &ROIZMAN, 2006, p. 9)

Para a realização deste projeto, contamos com o apoio da Supervisão Pedagógica e da Equipe Diretiva da escola, no que diz respeito ao planejamento desses momentos de reflexão com os integrantes da escola.

3 OBJETIVOS DO PROJETO

• Promover situações para que os integrantes desenvolvam o autoconhecimento.• Refletir e dialogar acerca de sua realidade escolar, familiar.• Criar alternativas para solucionar possíveis conflitos para as diferentes situações vivenciadas na escola.• Promover a paz entre as pessoas, melhorando a sua convivência e a aprendizagem dos alunos.

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4 FUNCIONAMENTO DO PROJETO

O projeto “Rodas de Conversa” integra a grade de horários da escola e vem acontecendo às sextas-feiras, das 10h às 11 horas. É um momento em que toda a escola interrompe as atividades cotidianas para refletir sobre assuntos de interesse dos alunos, dos professores, dos funcionários, da equipe diretiva, ou sobre situações que aconteceram na semana e que não permitiram a boa convivência interpessoal, para viabilizar possíveis soluções.

Cada turma será acompanhada pelo seu professor referência e um funcionário ou membro da equipe diretiva. Além de dialogar com os alunos sobre situações reais vivenciadas por eles, os adultos deverão aplicar algumas dinâmicas relacionadas a seguir, que promovem o conhecimento de cada integrante do grupo e o respeito às diferenças. Com os professores, “a roda de conversa” será realizada uma vez por mês, durante a reunião pedagógica, a fim de trocarmos ideias sobre o que podemos fazer para a promoção da paz e para nos reconhecermos enquanto grupo.

Em 2015, com a comunidade, o projeto será proposto trimestralmente, durante a reunião de entrega de avaliações. Neste momento, os professores deverão conversar com os pais, seguindo as dinâmicas apresentas a seguir.

5 CRONOGRAMA

A) DINÂMICAS COM OS PROFESSORES

1) A teiaObjetivo: importância de cada um refletir e assumir a sua parte na vida escolar, mantendo o grupo unido.Material: Um rolo (novelo) de fio ou lã. Descrição: Dispor os participantes em círculo. O professor coordenador toma nas mãos um novelo (rolo, bola) de cordão ou lã. Em seguida prende a ponta do mesmo em um dos dedos de sua mão. Este falará sobre a sua função no espaço escolar e sobre os fatos que lhe incomodam ou atrapalham o seu trabalho no

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dia-a-dia da escola. Após, jogará o novelo para uma das pessoas à sua frente. Está pessoa apanha o novelo e, após enrolar a linha em um dos dedos, irá refletir sobre seu papel na escola e o que também lhe incomoda e atrapalha para desenvolver sua função. Assim se dará sucessivamente, até que todos do grupo digam suas funções e o que lhe afligem. Como cada um atirou o novelo adiante, no final haverá no interior do círculo uma verdadeira teia de fios que os unirá uns aos outros.Pedir para as pessoas dizerem:- O que observaram;- O que sentem;- O que significa a teia;- O que aconteceria se um deles soltasse seu fio, etc.Mensagem: Todos são importantes para a melhoria da vida escolar. Neste sentido devemos ter confiança uns nos outros, festejar os momentos bons e amparar nosso colega nos momentos ruins. A função que cada um desempenha é muito importante para nosso objetivo comum: a educação dos nossos alunos.

2) Relembrando a infânciaObjetivo: Lembrar de brinquedos e brincadeiras de sua infância relacionando com a infância atual dos alunos.Materiais utilizados: brinquedos ou figuras de brinquedos de acordo com a faixa etária dos participantes, uma caixa.Descrição: cada professor escolhe um brinquedo ou figura da caixa e relata como foi sua infância com aquele brinquedo ou brincadeira. Depois disso, os professores passam a refletir sobre a infância atual, os espaços destinados ao brincar, os jogos e brincadeiras atuais.Mensagem: É preciso nos conectar com nossa infância para entender a infância de nossos alunos trazendo o lúdico e a emoção para a sala de aula, veículos importantes para a aprendizagem efetiva.

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B) DINÂMICA COM PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS

1) Um presente para a educaçãoObjetivo: integrar o grupo, evidenciando as suas potencialidades.Material: fitas, caixas e papel de presente.Descrição: dividir os participantes em grupos (preferencialmente de 5 pessoas). Um participante amarrará sua fita na mão direita, o outro na mão esquerda, o terceiro no tornozelo direito, o quarto no tornozelo esquerdo e o último ficará sem fita.Os participantes receberão uma caixa e um papel de presente e deverão embrulhá-la para presente, somente usando as partes do corpo que estão amarradas com fita e seguindo as orientações da pessoa que não tem fita, a única que poderá falar durante a dinâmica. Por fim, o grupo pensará em um presente que possa ser dado à educação.Mensagem: Podemos acreditar, confiar, cooperar e trabalhar juntos para qualificar a educação e as relações entre os colegas, melhorando a convivência entre todos os segmentos da escola.

C) DINÂMICAS COM OS ALUNOS

1) Um grande presenteObjetivo: Perceber a importância de cada um na sala de aula.Materiais utilizados: uma caixa de papelão, papel de presente e um espelho.Descrição: Colar um espelho no fundo de uma caixa de papelão bem decorada, como se fosse um presente.Com os alunos sentados em círculo, a professora irá relatar que dentro da caixa há algo muito importante e especial para a escola e para a professora. Um por um, os alunos olharão o que há dentro da caixa e passará para o colega do lado, sem falar o que ele viu.Depois que todos abrirem a caixa, será solicitado que cada um fale o que viu, sentiu, suas reflexões e conclusões sobre esta pessoa tão especial.

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Projeto de oficinas: “rodas de conversa” Leticia Missel de Souza, Rosa Maria Rigo

2) Dinâmica do pirulitoObjetivo: cooperar para atingir um objetivo.Material: 1 pirulito para cada participante.Descrição: Cada criança deve pegar um pirulito com o braço direito esticado e tentar abri-lo sozinha, sem dobrar o braço. Percebendo que não é possível o coordenador pergunta “como é possível resolver este problema?”. Após ouvir os alunos, o coordenador solicita para que um participante ajude o outro a abrir mantendo os braços esticados.Mensagem: É possível confiar no colega; pedir/ganhar ajuda;

3) O feitiço que virou contra o feiticeiroObjetivo: Colocar-se no lugar do outro.Materiais: pedaços de papel, lápis ou caneta.Descrição: Cada aluno escreve uma ação que gostaria que seu colega fizesse em um pedaço de papel. Assim que todos fizerem isso, o coordenador pede para um participante ler a ação que escreveu, como se fosse para um colega, mas na verdade, quem deverá executá-la é a pessoa que escreveu.Mensagem: não faça ao outro aquilo que você não quer que ele faça a ti.

4) Anjo da guardaObjetivo: Confiar no colega.Material: nenhumDescrição: Em duplas. Um integrante da dupla terá seus olhos vendados. O outro será seu “anjo da guarda” e deverá guiá-lo falando em seu ouvido a direção em que ele precisa andar, até um lugar previamente combinado com o anjo.Mensagem: como cada um sentiu na atividade que foi anjo, quem foi o abençoado? Mostrar que ajudar alguém é impor- tante.

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Projeto de oficinas: “rodas de conversa” Leticia Missel de Souza, Rosa Maria Rigo

D) DINÂMICA COM OS PAIS

1) Árvore de sabedoriaObjetivo: valorizar a sua história.Material: uma árvore de papel ou TNTDescrição: cada participante recebe um papel para escrever uma palavra que represente o amor materno. Em seguida, cada um se apresenta e fala um pouco de como é a rotina com seu filho, falando sua palavra para o grupo e colando na árvore. Mensagem: Aproximar sua história da história do outro.

REFERÊNCIASDISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura G. A paz como se faz? Semeando cultura de paz nas escolas. UNESCO, 2006. Brasilia - DF

RIBEIRO, Isabel. Valores Humanos. A revolução necessária. Um manual de vida. Editorax, 2007. Minas Gerais - MG

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Promovendo alegria e disseminando paz; um relato de experiência com adolescentesNara Rosana Godfried Nachtigall1 Daniela Rocha Marins2

INTRODUÇÃO

O presente artigo descreve uma oficina em andamento que busca compartilhar estudos e reflexões teóricas acerca da educação para a paz que colaboraram para a criação de um planejamento didático de uma oficina sobre a referida temática. Esta atividade está sendo realizada com uma turma de adolescentes que estudam no contraturno, e planejada de forma a integrar-se às demais atividades de ensino oferecidas pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul.

A atividade do SCFV é promovida por uma Organização Não Governamental (ONG) que tem como objetivos promover a cidadania, a convivência pacífica, a cultura, o protagonismo, a dialogicidade, sempre oportunizando aos participantes agirem e refletirem sobre a ação pedagógica realizada, incentivando a permanência, o ingresso ou o reingresso do adolescente na escola. A comunidade que atende está localizada em uma região de vulnerabilidade social da periferia de Porto Alegre. Existe lá um alto índice de tráfico; a repetência e a evasão escolar constituem

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS.2 Tutora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Atendimento Educacional

Especializado pela UFC. Professora das Redes Municipais de Canoas e Sapucaia do Sul. E-mail: <[email protected]>.

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um desafio histórico e relevante, enfrentado pela comunidade e pelas instituições próximas. Os adolescentes provêm de famílias com baixíssimo ou nenhum poder aquisitivo.

Com base nessa vivência realizada junto a esses adolescentes, foram identificados alguns fatores que dificultam a convivência em harmonia, muitos desses fatores estão relacionados à falta de escolarização, de cuidados e de entendimento da cultura da paz, da socialização e práticas de cultura da paz com alegria.

A continuidade do presente artigo apresenta, primeiramente, os fundamentos teóricos, a oficina e o breve relato da oficina realizada. Os relatos avaliativos foram coletados por meio de diálogos informais com os participantes. O artigo encerra trazendo algumas percepções da autora como considerações finais.

OBJETIVO GERAL

Promover vivências favoráveis à cultura paz através de atividades de reflexão e diálogo.

DESAFIOS DA ADOLESCÊNCIA

Inicialmente, perguntamo-nos: como criar uma oficina que trate de paz ao público adolescente? Para nos auxiliar na procura de compreendermos o que é “adolescente”, “adolescer” e “adolescência”, partimos do conceito do dicionário etimológico Larousse (PECHON, 1964), no qual o significado do termo “adolescência”, cuja origem vem do latim adulescens ou adolescens (particípio passado do verbo adolescere), é crescer.

Sabemos que este “crescer” do adolescente se desenrola e se dá em um período de vida denominado puberdade, a qual compreende, segundo autores como Macedo, Fensterseifer e Werlang (2012, p. 55-71) a uma etapa da vida em que ocorrem muitas mudanças.

Algumas dessas transformações do adolescente são de caracter biológicas, fisiológicas, fisicas e emocionais, variações

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essas que não tem uma idade pré-estabelecida, mas que comumente acontecem entre os 12 e 18 anos. É nesta fase que o corpo desenvolve integralmente o físico (fase em que há crescimento de pelos, testículos, seios entre outras mudanças) o sujeito se torna apto a gerar filhos.

Importante frisar que puberdade não deve ser confundida com adolescência, sendo, tão somente, uma parte dessa.

Bossa (1998,p.215) esclarece que “a adolescência terminal do crescimento biológico tem início aos 12 anos e segue com mudanças psicossociais até aproximadamente os 19 anos”; e Shaffer (2005,p.159) afirma que, nessa fase, o sujeito evolui de descrições físicas, comportamentais e de muitas outras características, também a puberdade se torna visível.

A adolescência é uma fase de difícil aceitação o que é, muitas vezes, motivo de vergonha devido às mudanças ocorridas nesta fase e, ainda, por ser uma fase em que o adolescente está confuso, oscila entre muito confiante de si e outras vezes, apresenta baixa auto-estima.

Alguns adolescentes desenvolvem comportamentos que, de alguma forma, sofrem com as influências do meio, que podem ser positivas ou não, sobretudo, se considerarmos a vulnerabilidade de realidades mais periféricas.

Recorrendo à nossa experiência, pessoal e profissional, observamos que, aos adultos, que são provenientes de outra geração, a fase da adolescência é, muitas vezes, um tanto quanto difícil de lidar. Possivelmente porque o período da adolescência, apesar de apresentar características comuns entre adolescentes, diferencia-se para cada sujeito: cada adolescente vivenciará e poderá vir a compartilhar emoções e atitudes diversificadas, influenciado(a) por motivações diversas, efêmeras, na maioria das vezes. Há, no entanto, o que o(a) torne bastante parecido(a) quanto às transições de humor e às peculiaridades, comuns nesta fase, como as transformações hormonais, físicas e emocionais.

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Pensar, portanto, atividades em forma de oficina dirigida aos adolescentes, tendo como objetivo “educar para a paz”, é um tanto desafiador. Consideraremos a seguinte definição:

A Educação para a Paz é um “processo pelo qual se promovem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para induzir mudanças de comportamento que possibilitam às crianças, aos jovens e aos adultos a prevenir a violência (tanto em sua manifestação direta, como em sua forma estrutural); resolver conflitos de forma pacífica e criar condições que conduzam à paz (na sua dimensão intrapessoal; interpessoal; ambiental; intergrupal; nacional e/ou internacional)”. Referenciais interessantes emergem desta definição. A Educação para a Paz é um processo que dura toda nossa vida, permeia todas as idades, seu campo de atuação é por essência complexo e multifacetado. Além de acontecer nas escolas, tem que estar presente em nosso cotidiano: nos meios de comunicação, nas relações pessoais, na organização das instituições, no meio da família (DISKIN; ROIZMAN, 2002, p. 11).

A convivência com o grupo de adolescentes do SCFV traz como informação relevante a considerar: as atividades a serem incluídas na oficina precisarão agradar, suplantando a característica “resistência inicial” que boa parte dos adolescentes expressa, sobretudo, perante propostas novas (alternativas) de trabalho. Talvez seja próprio da fase do desenvolvimento em que se encontram, a saber, o processo de transição entre a fase da infância e a entrada na vida adulta.

Todos nós somos únicos como indivíduos. Não exis- tem duas pessoas no mundo que sejam exatamente iguais. Esse é um dos aspectos mais mágicos de quem nós somos como seres humanos. Ao mesmo tempo, também é verdade que compartilhamos caracterís-

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ticas com grupos de pessoas com quem comparti- lhamos cultura, história e antecedentes. Pode ser que escutemos o mesmo tipo de música, gostemos das mesmas comidas, usemos tipos de roupa seme- lhantes e falemos a mesma língua. O que também é verdade é que, como seres humanos, alguns aspectos de nós são universais – são verdadeiros para todos os seres humanos (BOYES-WATSON, PRANIS, 2011, p.147).

O desafio, então, encontra-se na definição de estratégias a utilizar para atingir os adolescentes desta geração que compartilham de cultura distinta a das autoras deste artigo? Aqui nos cabe fazer uma reflexão e uma tomada de decisão, pois independentemente da situação vulnerável e de miserabilidade na qual esses adolescentes se encontrem, sua manifestação cultural precisa ser valorizada e considerada. Além disso, ainda que a vulnerabilidade social exista historicamente em nosso país, propostas pedagógicas, como a desta oficina, se adequadamente planejadas, possuem força e impacto substancial na formação dos adolescentes. Desta forma, a proposta de oficina respeitará as particularidades de cada participante e, mais além, para que essa fase seja prazerosa e adequada, as vivências oportunizarão que se sintam protagonistas de suas vidas.

Como forma de concretizar nosso intento, dentro de uma perspectiva de cultura de paz, remeteremo-nos aos estudos vivenciais feitos no curso Escolas da Paz e convidaremos os adolescentes a brincarem juntos. Sobre o brincar no espaço de sala de aula, Tânia Fortuna (2000, p.9) adverte que é preciso questionar e analisar a proposta do(a) educador(a), uma vez que “sala de aula é lugar de brincar, sim, porém, se o professor conseguir conciliar os objetivos pedagógicos com os desejos do aluno”.

Consideramos acertada o princípio de cultivar a Paz e as ações afirmativas por meio da formanção dos adolescentes para os

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enfrentamentos não-violentos, contribuindo para que percebam suas ações e reações; porém, para que professores/educadores atuaem nessa perspectiva, será preciso perceber, trabalhar e desenvolver essas atitudes, com uma comunicação não violenta e com atividades engendradas em ações de Paz, envolvendo os educandos em atividades lúdicas, prazerosas e de valorização do sujeito.

Ao levar os adolescentes a experimentarem novas culturas, acessando diversos materiais e estimulando o aprendizado a discussão, inseri-los na cibercultura, promovendo diálogos, apreciando músicas, desenvolveremos o gosto por aprender e ensinar com alegria. Consideramos estas vivências fundamentais para estimular a criticidade, formando-os para que realizem, com propriedade, suas próprias escolhas.

CULTIVANDO A PAZ COM CRIATIVIDADE

Para assegurar a equanimidade, a turma estabeleceu que todos os envolvidos conviveriam no grupo respeitando as diversidades, colaborando com o crescimento do outro e resolvendo conflitos (se ocorrerem) de maneira pacífica e coerente, de maneira a agirem e interagirem, buscando se reconhecer, compreendendo o mundo, enfim, participando integralmente de todo o processo. Esta ética, estabelecida pelo grupo, servirá para garantir uma ambiência positiva, favorável para o entendimento e a prática da cultura de paz. A necessária promoção da ingenuidade e da criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética. (Freire, 2013, p. 34). E é nesse sentido que se pode advertir sobre o equívoco de se separar a teoria da prática (Freire, 2000, p. 141).

Considerando a criatividade e a curiosidade algo muito importante em todas as fases da vida, e que o despertar dessas podem inserir a cultura da Paz no cotidiano desses adolescentes com muita alegria, foram realizadas atividades nas quais

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pudessem ser desenvolvidas e proporcionadas flexibilidades corporais, emocionais, criticas, e de autonomia, responsabilidade social, cultivando a cultura da PAZ, com medicação de conflitos e com atividades desafiadoras e reflexivas.

Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impaciente diante do mundo que não fazemos, acrescentando a ele algo que fazemos. (FREIRE, 2000, p. 35).

As atividades produzidas foram diversificadas, com propostas pedagógicas coerentes, e atividades didáticas inspiradas pelas escolas da PAZ, ampliando as discussões e os métodos, de modo a que os sujeitos possam dialogar entre si, e em sua comunidade, contando com profissional que acredita da educação pela Paz e na cultura da PAZ.

Foram utilizadas diversas ações, e com música, pois, concordamos com a professora do módulo “Musicalidade” do curso, Luciane Cuervo, a qual afirma que “o treinamento musical melhora a habilidade do cérebro para discernir componentes do som”. Foi com a influência musical que as atividades se fizeram mais atrativas e divertidas, atingindo melhores resultados junto ao público adolescente. As atividades corporais, nas quais sentiram a si e ao outro de maneira lúdica, na perspectiva cultivo da Paz, favoreceram a aproximação das pessoas. Já na estética como arte, expressão que se encontrou em todos e com todos, e com o meio interconectado, os adolescentes estavam ligados aos meios de comunicação, às redes sociais para disseminar a Paz, por meio de fotos e filmagens.

É neste sentido que uma pedagogia de autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade. (FREIRE, 2000, p.121).

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Com diálogo constante, com criatividade, criticidade e harmonia uns para com os outros, os participantes da oficina começaram a entender que por meio do diálogo se pode chegar ao entendimento e à democracia, para entender a paz necessária ao povo.

METODOLOGIA

Os adolescentes participaram de diversos momentos onde puderam perceber a importância da educação e formação para a paz. A seguir, o planejamento das atividades da oficina:

Etapa 1: reflexões sobre concepções de paz, apreciação musical e corporeidade Apreciação musical: Escutar atentamente a canção “Eu só peço a Deus”, na voz de Mercedes Sosa.Reflexão: analisar e discutir a respeito da letra da música. Fazer links com os acontecimentos atuais.Pesquisa: buscar dados sobre a canção nos meios eletrônicos e apresentar ao grupo.Debate: baseado no que foi pesquisado, fazer a reflexão sobre “o que é PAZ?”.Corporeidade: usar o corpo para representar uma dança circular em um espaço amplo, apropriado para a dança. Propor uma dança na qual o grupo necessite formar dois grupos e ambos se complementem na coreografia, ajudando um ao outro.Letra da canção “Eu só peço a Deus” versão em Português interpretada por Beth Carvalho.

Eu só peço a Deus Que a dor não me seja indiferente

Que a morte não me encontre um dia Solitário sem ter feito o que eu queria

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Eu só peço a Deus Que a injustiça não me seja indiferente

Pois não posso dar a outra face Se já fui machucada brutalmente

Eu só peço a Deus Que a guerra não me seja indiferente

É um monstro grande e pisa forte Toda fome e inocência dessa gente

Eu só peço a Deus

Que a mentira não me seja indiferente Se um só traidor tem mais poder que um povo

Que este povo não esqueça facilmente

Eu só peço a Deus Que o futuro não me seja indiferente

Sem ter que fugir desenganando Pra viver uma cultura diferente

Etapa 2: promover a pazArte visual: escrever uma palavra que simbolize uma qualidade própria de si mesmo. Representar visualmente, através de desenho, pintura, colagem, entre outras formas essa qualidade. Cada adolescente mostra seu trabalho e o grupo tenta interpretar o desenho de cada colega.Debate: refletir sobre as questões as seguintes questões:• Como podemos manter a paz?• Por que a paz necessita estar presente em todos os ambientes?• Por que às vezes é tão difícil entender o outro e se fazer entender?Refletindo sobre o que eu sou e o que o outro é, somos diferentes, por isso, somos iguais e ressaltando a importância da tolerância e da conversa.Etapa 3: produção a partir das reflexõesDiálogo: discutir sobre a autonomia da pessoa, as suas escolhas e o que é melhor para si.

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Reflexão em grupo: “qual o caminho a ser traçado?”. Cada grupo expõe suas reflexões.Produção musical: Criar em grupo uma letra de canção sobre o tema PAZ e ou sobre sua opinião sobre o projeto. Os adolescentes podem escolher entre diferentes gêneros e estilos musicais como o rap, funk, pagode, rock, entre outros, presentes em seu cotidiano. Apresentar a música para outra turma, ou para outra escola, ou projeto.

Etapa 4: avaliaçãoApresentação: seminário de avaliação. O que eu faço para ter Paz? Enfatizar o exercício de todos do direito a avaliar o processo.

A ALEGRIA DA ATIVIDADE

Relato parcial da aplicação da oficina.

Até o momento da escrita do artigo, a oficina estava em andamento. Por este motivo, apenas as duas primeiras propostas de atividade serão relatadas em duas etapas: concepções sobre paz e exploração musical.

Concepções sobre Paz, reflexões e vivências.

As atividades elaboradas tiveram como centro da ação a escuta e o diálogo, bem como pesquisas sobre o tema em redes sociais. Aos adolescentes, em princípio, foi lançado o seguinte questionamento: “O que é PAZ para você?”. Houve diversas respostas, porém, em tom consensual, a “paz” apareceu relacionada ao diálogo, à compreensão, à busca por soluções pacíficas. Em um segundo momento, a proposta foi de apreciação da canção de Mercedes Sosa3 intitulada Eu só Peço a Deus, seguida de discussão, argumentação e reflexão. Momento que se

3 A canção “Eu só peço a Deus”, composta por León Gieco foi interpretada por diversos cantores. Mercedes Sosa gravou a canção em 1982 no LP duplo titulado Mercedes Sosa en Argentina pela Philips.

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mostrou bastante produtivo, pois os adolescentes interagiram no intuito de refletir sobre a mensagem contida na letra da canção e se expressaram, com naturalidade. Este momento teve seu desfecho com a exposição das reflexões e uma dança circular, na qual todos se envolveram, trocando olhares e se divertindo. Talvez, sem perceberem, na sutileza da vivência compartilhada, apropriaram-se da prática de cultura da Paz, deixando fluir a atividade entre eles.

Figura 1 – Registro da atividade de dança circular.

A alegria de participar, vivenciar momentos de Paz, compreender, dialogar, aprofundar o conhecimento, colocar-se no lugar do outro e acreditar na transformação pela Paz fez com que os adolescentes se envolvessem de maneira a sentirem-se responsáveis pelas mudanças que objetivaram, desenvolverem a construção de habilidades e competências com autonomia, liberdade e respeito.

Ao término das atividades deste encontro, recordamos e assimilamos o sentido profundo e verdadeiro das palavras de Paulo Freire, quando nos dizia que:

É neste sentido que uma pedagogia de autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade (FREIRE, 2000, p. 121).

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A ampliação das possibilidades de desenvolvimento do humano nos seres teve seu início, neste grupo, através da aproximação – de corpos, de sentimentos, de pensamentos, de iniciativas – tendo como combustível a diversão, a alegria de viver esse inédito. Contudo, sem desprivilegiar os momentos de reflexão, de escuta, de opinião e de cobrança, pelo contrário, devido a tais partilhas de questionamentos, e pontos de vista, deu-se o encontro e favoreceu o estar com, ou seja, a convivência com o outro.

Exploração musical

Nesta abordagem, há o cuidado em manter os adolescentes estimulados e envolvidos em atividades culturais, e colocados a desenvolverem, cada qual, o seu protagonismo, de maneira a agirem conforme suas vontades, valorizando suas habilidades e conhecimentos. Sendo assim, nos dias seguintes, os adolescentes foram provocados a participar de uma atividade de música, explorando o contato com instrumentos de percussão. Estes momentos contaram com a prestimosa ajuda de um educador musical. Tocaram em diversos ambientes, diante de diversos públicos; mostraram suas habilidades, superaram a vergonha, a timidez, ajudaram-se uns aos outros, unidos como membros integrantes de uma equipe. Tal é a necessidade intrínseca do ser humano de viver em comunidade, respeitando as limitações que surgem “durante a caminhada”.

Figura 2 – Atividade de prárica e exploração musical.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As propostas e atividades realizadas foram pensadas dentro de uma proposta de exposição de ideias e produções, valorizando as realizações dos adolescentes, promovendo alegria, interação e disseminando a Paz, na perspectiva de uma sociedade harmoniosa, compreensiva e inclusiva. Segundo Freire, ensinar e aprender são momentos de um processo maior, o de conhecer, que implica reconhecer. Quando os adolescentes têm a oportunidade de serem ouvidos e de ouvirem outros adolescentes, de serem respeitados, de contarem e recontarem suas histórias, eles vivenciam suas próprias escolhas, de maneira saudável, amigável, se reconhecendo no outro e se autoconhecendo. Neste processo de aprendizagem, ocorre a construção do caráter, a construção de uma visão global de sociedade, de mundo, transformador do sujeito que busca mudar, ousar agir para exercer os seus direitos e para, além disso, estender a garantia destes direitos aos seus semelhantes.

A aplicação das atividades da pesquisa, como forma de aprofundar os conhecimentos adquiridos nos estudos do curso de extensão escolas da Paz, fundamentou-se na definição do entendimento de “proposta de uma educação para a paz”: favorecer o entrosamento das diversas vontades dos indivíduos e a aplicação de uma cultura de paz entre as pessoas e os sujeitos

Figura 3 – Atividade em equipe

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protagonistas desta pesquisa, sanando as inquietudes das escolas e da comunidade para uma solução de problemas e de atitudes violentas. Assim, foi tomada como princípio de atuação, a assertiva proferida por Mahatma Gandhi (p.16), rejeitar a violência é “o primeiro princípio da ação não-violenta é a não-cooperação com tudo que é humilhante”.

Vislumbramos que, a partir da realização das atividades feitas na oficina, a convivência futura seja transformada, visto que hostilidades e conflitos foram refletidos e a paz foi protagonizada pelos adolescentes que frequentam o SCFV da ONG. Apesar de nascer de uma realidade e lugar específico, surge uma prática no campo socioeducacional, não formal, que contribui para a disseminação de uma pratica e cultura que transforma os sujeitos e a sociedade em processo de cultura de Paz. Sendo assim, não se obtivemos respostas finalizadas, mas, sim, uma construção coletiva, a qual possibilitou reflexões e diálogos sobre o mundo, por meio de música, de conexão digital, pessoal, entre outros, tudo para facilitar o enfrentamento dessas questões.

REFERÊNCIASCUERVO, Luciane (org). Módulo 2: práticas musicais para a paz. Curso de Extensão Educação Integral: docência na escola em tempo integral – Escolas da Paz. [on-line] Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/course/view.php?id=27040:>. Porto Alegre, 2014. Acesso em: 24 abr. 2015.

BOYES-WATSON, Carolyn; PRANIS, Kay. No coração da esperança: guia de práticas circulares. [Porto Alegre]: AJURIS/Escola Superior da Magistratura, 2011.

ELAGE, Bruna (org). História de vida: identidade e proteção: a história de Martim e seus irmãos. 1. ed. São Paulo: Associação Fazendo História: NECA - Associação dos Pesquisadores de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente, 2010.

DISKIN, Lia; ROIZMAN, Laura Gorresio. Paz, como se faz?: Semeando cultura de paz nas escolas. Brasília: Governo do Estado de Sergipe, UNESCO, Associação Palas Athena, 2002.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Coleção Leitura; 15. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Tolerância. (Org.) Ana Maria Araújo Freire. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 1995, 3. ed. 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: Um reencontro com a pedagogia do oprimido, ª ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. edição 2014

FREIRE, Paulo. Política e Educação. Rio de Janeiro/ São Paulo: Paz e Terra 1. ed., 2014

GADOTTI, Moacir. Freire, Paulo e Guimarães, Sérgio. Pedagogia: Diálogo e conflito. 4. ed. – São Paulo: Cortez, 1995.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2009

MACEDO, M. M. K. FENSTERSEIFER, L. WERLANG, B. S. G. Ressignificações no Processo Adolescente. In. MACEDO, M. M. K. (org.) Adolescência e Psicanálise: intersecções possíveis. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012.

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PECHON, D. (Org.). Larouse 1964 – Dictionnaire Etymologique et Historique du Français. Paris, 1993

SOSA, Mercedes. Sólo le pido a Dios. In: Mercedes Sosa en Argentina. [LP duplo] Argentina: Philips, 1982

SHAFFER, David R. Psicologia do desenvolvimento: infância e adolescência. Tradução da 6ª edição norte-americana Cíntia Regina Pemberton Cancissu. São Paulo: Pioneira, 2005.

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O uso das TIC’s como ferramenta diferenciada na prática educativa cotidianaChristian Silva Castro1 Simone Rasslan2

Para esta abordagem o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) na educação foi uma escolha que poderia ser dada como “natural”, mas que, sabemos, emerge num momento em que políticas públicas para a educação facilitam a introdução tecnológica associada ao plano pedagógico das instituições da rede pública. Hoje, associar tecnologia à peda- gogia é um ganho político. Cabe a nós educadores aprofundar nossos estudos para que esta associação seja potente na produção de novos conhecimentos. A escola onde a proposta foi desenvolvida, localizada na região metropolitana da capital gaúcha pertencente à rede pública estadual de ensino, foi contemplada com o projeto Província de São Pedro3 (PSP) que tem dentre suas principais características a disponibilização de um computador portátil por aluno. O PSP foi um desdobramen- to de outra iniciativa governamental, uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Colégio de Aplicação de Porto Alegre e os governos estadual e federal, que visava à correção da distorção de idade/série em alunos

1 Cursista do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FAPA), Educação Integral (UFRGS) Graduado em História Licenciatura Plena (FAPA) Professor de História na Escola Estadual de Ensino Fundamental Brigadeiro Antônio Sampaio no município de Alvorada. E-mail: <[email protected]>.

2 Professora do Projeto Escolas da Paz – FORPROF/UFRGS. Mestre em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação da UFRGS. Bacharel em Regência Coral pela UFRGS e em Peda- gogia – Orientação Educacional - pela UFMS. Tem carreira como artista (cantora e pianista) há mais de 25 anos. E-mail: <[email protected]>.

3 Informações disponíveis em: <http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/proj_provincia.jsp>. Acesso em: 08 fev. 2015.

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O uso das TIC’s como ferramenta diferenciada na prática educativa cotidiana Christian Silva Castro, Simone Rasslan

com idade entre 15 e 17 anos ainda no ensino fundamental, denominada Trajetórias Criativas.

Ao longo do ano de 2014, os alunos desenvolveram diversas atividades utilizando os computadores e os vários recursos disponibilizados por eles. Uma percepção interessante ao longo deste ano que exerceu grande influência na organização desta proposta foi a maneira como os jovens receberam os computadores e a forma como passaram a registrar eventos cotidianos através da câmera embutida no pequeno computador, característica que ficou mais evidente nos alunos com poder aquisitivo menor. Da mesma forma que foi extremamente curioso perceber que a maioria dos alunos não dominava as ferramentas básicas do computador como o editor de texto ou uma pesquisa mais refinada na internet, limitando-se ao uso das redes sociais e programas voltados à recreação.

Esta dualidade torna evidente uma lacuna preenchida por uma ação pedagógica concreta. Segundo Pierre Levy, as tecnologias possuem duas faces. A primeira do ponto de vista dos jovens usuários que utilizam estes meios como possibilidades de comunicação, criação de laços, etc. Do outro lado da moeda estão os educadores que buscam formas positivas de potencializar este espaço nos planos culturais, humanos, políticos e econômicos (LEVY, 1999). Necessitávamos, então, de uma abordagem que utilizasse os recursos da comunicação, de novas tecnologias que ocupassem a lacuna técnica demonstrada pelos alunos, além, obviamente, de elementos pertinentes ao âmbito escolar como a cooperação, a solidariedade e a compreensão das diferenças tão necessários em nosso cotidiano.

Para a construção desses conceitos, ficou claro que não poderíamos realizar uma abordagem direta, sob a pena de cairmos em um trabalho com um fim em si mesmo. Ainda faltava um elemento que amalgamasse de forma clara todos os conceitos os quais nossos alunos demonstravam carência.

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Através das reuniões de planejamento4 surgiu a ideia do “Lip Dub”: um vídeo que combina a dublagem de sons e uso de músicas disseminadas de forma “viral” entre os jovens usuários das redes sociais. Esta modalidade de vídeo clipe revelou ter um alto potencial pedagógico por desenvolver habilidades essenciais como a expressão corporal, a música e a coletividade em todas as etapas de sua produção. Tornar a aprendizagem efetiva e prazerosa é o “Eldorado” de todo educador. A ludicidade como plano de fundo para o planejamento das abordagens acaba se tornando o “mapa” para o Eldorado. Dar para esta proposta um cunho lúdico mostra-se uma possibilidade de catalisar os efeitos positivos.

O desejo de uma abordagem utilizando os preceitos da educomunicação consiste em abrir um leque de possibilidades para a formação de indivíduos mais críticos e ativos na sociedade. Utilizar o espaço escolar é perfeitamente plausível do ponto de vista das relações e a forma como estas ditam o andamento dos processos de aprendizagem. A ideia da educomunicação é convergente à noção de planejamento conjunto realizado de forma cooperativa e democrática ( já estabelecendo um parâmetro ao modelo de comunicação vigente na sociedade) esta modalidade de planejamento, permite a mudança na autoestima e o sentimento de pertencimento5, pouco discutido no cenário escolar contemporâneo.

Ao trabalhar na perspectiva da educomunicação compreende-se a existência de três eixos:

• A vulnerabilidade dos jovens diante das mídias e da quantidade de informação que esta despeja em seus usuários todos os dias.

4 Uma das peculiaridades do Projeto Trajetórias Criativas é a remodelagem do currículo escolar, dentre as modificações estão presentes a abertura de um espaço de 4h semanais dedicadas exclusivamente ao planejamento das atividades. Isto permite o conhecimento quase que exclusivo das demandas apresentadas pelos alunos.

5 O Brasil apresenta números elevados de evasão escolar. Estes índices justificam iniciativas como o Trajetórias Criativas. Permito-me a reflexão de que os alunos deixam a escola em função das diferenças entre o mundo dentro e fora da escola que acabam por desmotivar o aluno que tem seus interesses sanados fora do ambiente escolar. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/03/14/brasil-tem-3-maior-taxa-de-evasao-escolar-entre-100-paises-diz-pnud.htm>. Acesso em: 08 fev. 2015.

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• O contexto em que os jovens estão inseridos, sua influência e legitimação do cenário de inserção desses sujeitos, destes atores.

• Os grandes difusores de informação e o seus efeitos na sociedade.

Ao compreender esta tríade, a percepção se abre para a relação entre os mundos real e digital e principalmente em como intervir em ambos os mundos. Esta é uma das tarefas dos educadores, identificar elementos no mundo dos alunos (atraentes e compreensíveis aos seus olhos) e utilizá-los em favor da construção de novos processos de aprendizagem mais efetivos, assim como o crescimento e, principalmente, a permanência dos alunos dentro da instituição escolar.

Para formar indivíduos capazes deste movimento reflexivo é necessário o trabalho de educomunicadores. Segundo Citelli este é um profissional atento aos problemas da educação, tendo ciência das necessidades didático-pedagógicas e dos propó- sitos formadores que não perdem de vista as possibilidades permitidas pela comunicação e seus dispositivos, bem como, pelas novas tecnologias (Citelli, 2004). Soares também define o perfil do professor educomunicador em que nos detemos para a realização desta proposta. Então, pensando com Soares, entendemos que

o educomunicador seria o profissional preocupado com o uso de tecnologias nos espaços educativos, assessorando e coordenando processos de gestão de comunicação e da informação, no sentido de proporcionar o surgimento da manutenção e o crescimento de ecossistemas de comunicação em processos educativos [...] Além disso, o educomunicador é aquele profissional que implementa programas voltados para o uso das mídias realizando pesquisas e experiências práticas. (SOARES, 2000, p.16)

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Para o desenvolvimento de uma abordagem efetiva em nosso cenário seria necessário que todos os professores assumissem o papel de educomunicador, ou seja, que sanássemos primeiramente as nossas lacunas no que se refere ao uso das TIC’s na educação para que somente depois nós as utilizássemos em conjunto com os alunos. Desta forma, esta abordagem permitiria o cultivo de habilidades primordiais para a vida em sociedade que devem preferencialmente ser desenvolvidas dentro do espaço escolar. A percepção da educomunicação como um catalizador de diversas habilidades necessárias à formação crítica de futuros agentes sociais é o primeiro passo da construção de uma abordagem para realmente unir o universo dos alunos ao universo escolar afinando interesses e de fato transformando o cenário em que vivemos. Todavia, outros elementos devem ser apontados como partes integrantes deste processo.

A diferença nos marca como seres humanos. Temos histórias, experiências e trajetórias únicas que ao longo de nossa vida nos transformam em seres únicos. Cabe então o questionamento: o que nos compõe como seres humanos? A resposta parece simples e pode ser resumida em uma única palavra: heterogeneidade. Sendo assim, é no mínimo contraditório que o espaço escolar busque em suas ações justamente o oposto de nossa essência enquanto seres humanos, a homogeneidade. É extremamente natural que as diferenças se manifestem dentro do espaço escolar e é igualmente esperado que estas diferenças sirvam de combustível para a construção de aprendizagens significativas tanto para alunos quanto para professores compreendendo a escola como espaço de percepção das diferenças e combate às desigualdades. Voltamos ao conceito de educomunicação como sendo um agente articulador nesse complexo cenário e associando-o ao preceitos trazidos por Perrenaud:

As pedagogias diferenciadas enraízam-se em instituições muito antigas, desenvolvidas pelos

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primeiros movimentos da educação nova. Edouard Cleparéde, Célestin Freinet, Robert Dottrens e alguns outros precursores retomaram essa caminhada. A ideia, portanto, não é nova. Contudo, ela não se destaca nas teses e nas práticas de alguns pedagogos excepcionais senão no decorrer da década de 1970 para tornar-se uma noção que não pertence mais a uma corrente específica e parece agora banal. Resta realiza-la agora em larga escala [...] As pedagogias diferenciadas inspiram-se, em geral, em uma revolta contra o fracasso escolar e contra as desigualdades. (PERRENAUD, 2000 p.17).

A escola enquanto espaço de aglutinação de inúmeras diferenças é notoriamente heterogênea, sendo assim, nada mais compreensível que o emprego de pedagogias diferenciadas6. Ao compreender o ambiente escolar nas suas diferenças, torna-se essencial que a prática educativa seja pensada e concebida de forma a atender e a tornar as diferenças pontos de força e não de vulnerabilidade.

Nesta perspectiva, torna-se necessário então compreender as formas como o aluno enxerga o mundo que o cerca, lida com as diferenças diante de tudo isso e consegue mover-se de outro modo, constituindo novas formas de aprendizagens com os outros, dentro e fora da escola. Contudo, nem sempre esse processo extremamente complexo é perceptível para os alunos e é nesse momento que os educomunicadores munidos de um conjunto de práticas diferenciadas entram em cena. Provocar que os jovens visualizem e reflitam sobre o meio que os cerca acabou se tornando o foco principal desta abordagem. Segundo Foucault, nenhuma técnica, ou mudança real pode ocorrer sem prática, neste sentido compreendemos a escola como um grande laboratório que permite que os jovens se arrisquem e ensaiem

6 Por “pedagogias diferenciadas” entendo algumas práticas pedagógicas que não fazem parte do currículo tradicional da instituição escolar.

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todas as suas potencialidades. Podemos, assim, potencializar um ambiente em que valores como a solidariedade, a colaboração e a cooperação, por exemplo, contaminem os sujeitos da educação – professores e alunos – através de uma mesma linguagem.

O QUE É E PARA QUEM FOI A PROPOSTA

A presente abordagem se propõe a afinar o diálogo e a aprimorar a construção dos processos de aprendizagem no cotidiano escolar através do uso das novas TIC’s na educação. Ao desenvolver atividades de forma diferenciada pretende-se também um movimento de impulso e provocação para a elaboração de si, da autoestima, da autonomia, de dobrar o pensamento sobre si, da criticidade, ao mesmo tempo que, através de recursos presentes nos computadores portáteis disponibilizados pelo PSP, os professores e alunos são instrumentalizados com essa ferramenta. Estes elementos só poderão ser desenvolvidos através do planejamento divido em dois momentos, com os docentes e com os educandos. No primeiro momento, o planejamento dos professores tecerá os conceitos e habilidades a serem construídos e no segundo momento os alunos em conjunto com os professores decidirão os meios como esses conceitos e habilidades serão construídos.

A oficina de criação do Lip Dub teve como público alvo alunos da turma de Trajetórias Criativas de nossa escola, justamente pela vulnerabilidade e necessidade de uma abordagem diferenciada que devolvesse a esses alunos o encantamento com o ambiente escolar e ao mesmo tempo desenvolvesse habilidades necessárias para suas vidas fora do ambiente escolar. O grupo de docentes decidiu escolher o público em função da maior familiaridade com o ambiente virtual e justamente por serem estes os que demonstram uma maior fragilidade no uso dos recursos básicos do computador portátil. Por serem alunos com idade entre 15 e 17 anos, as reuniões de planejamento ocorreram com maior tranquilidade e elementos como a autonomia puderam ser

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desenvolvidos com maior facilidade, justamente pela maior maturidade e facilidade na aquisição das habilidades necessárias para a realização da proposta.

COMO FIZEMOS E O QUE PRECISAMOS

A primeira etapa consistiu em apresentar as tecnologias para os alunos, neste caso, a utilização de recursos presentes no computador. De forma conjunta os alunos realizaram pesquisas na internet para decidir qual o programa mais adequado ao nosso objetivo de criar e editar um vídeo ao estilo do Lip Dup. Estabelecidos quatro grupos, cada um deles deveria apresentar sua pesquisa verificando, em sintonia com os parâmetros do seminário, os prós e contras de cada programa pesquisado sendo, ao final, por meio de votação de todos – alunos e professores – realizada a escolha do programa a ser utilizado. A dinâmica dos seminários e pesquisa em grupo serviu para o desenvolvimento de elementos pertinentes a esta proposta como a escolha dos cenários para a realização do vídeo, a escolha da música, de elementos presentes no vídeo, etc. Tudo era dividido, pesquisado e apresentado de forma que todos tomassem conhecimento. Desta forma desenvolvemos noções de pesquisa indo de elementos mais complexos como a obtenção e quantificação de dados até os elementos mais básicos do cenário escolar como a leitura e escrita.

O segundo momento, de gravação das cenas, foi realizado com o uso dos computadores e celulares dos alunos. Os grupos decidiram que todos os alunos deveriam participar do filme, sendo as funções de filmagem distribuídas entre diversos alunos de forma que todos participassem. Da mesma maneira, os alunos com auxilio dos professores criaram equipes para que diversas finalidades como maquiagem, figurino, som (a música deveria ficar tocando o tempo todo para que as marcações não fossem perdidas de forma que os professores e alunos que estavam em aula, nas salas, deveriam ser avisados da movimentação nas

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dependências da escola) fossem distribuídas sempre respei- tando a premissa de que todos deveriam participar das filma- gens. Os ensaios foram coordenados por alunos e professores. O último momento da oficina foi a edição dos vídeos feitos pelos alunos. Com auxílio do projetor multimídia centralizamos os dados em um computador e a partir dele de forma coletiva realizamos edições, adicionando efeitos, cortando e adicionando cenas.

Para a realização deste trabalho, necessitamos dos diversos materiais. Os computadores e a internet que representariam uma barreira física considerável em outras escolas não significou um grande problema para nós, pois, devido ao PSP, cada aluno contava com um computador portátil e a escola com uma rede de internet wi-fi operando plenamente. Podemos dividir os materiais utilizados em dois blocos, os tangíveis e intangíveis. O primeiro bloco são os computadores, projetor, aparelho de som, peças de figurino, celulares, e todos os elementos que permitiram a caracterização dos alunos e do ambiente e registro da experiência por parte dos alunos e professores. O segundo bloco são momentos de planejamento, os programas7 de computador utilizados durante o trabalho, planilhas de cálculos, apresentação de slides e o programa de gravação de vídeo presente nos computadores e celulares. Vale salientar que todos os programas utilizados são softwares livres que não envolveram nenhum custo para os envolvidos e estão disponíveis para download gratuito na internet.

Depois de feita a edição foi realizado o lançamento do vídeo, para isso os alunos confeccionaram convites para colegas e familiares. No quarto dia, os alunos da turma de Trajetórias Criativas receberam os pais e os colegas para a apresentação do seu Lip Dub.

7 Basicamente os programas utilizados para a realização desta proposta foram o OpenShot para edição de vídeos e o BrOffice para criação e edição de textos e apresentação de slides utilizados nos seminários.

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VAMOS POR PARTESOs momentos que antecederam a ação devem ser

mencionados pois foram de vital importância. O planejamento conjunto e interdisciplinar por parte dos professores permitiu a implementação do desenvolvimento democrático das ações em conjunto com os alunos. Esta proposta foi criada para um conjunto de alunos com um histórico de defasagens e repetências que os colocava em uma situação em que sua tolerância para as abordagens tradicionais da escola atingia níveis criticamente baixos. Sendo assim, as atividades foram concentradas em três dias de atividades intensas abarcando o projeto em três momentos distintos:

1. Planejamento com os alunos, escolha dos materiais (tangíveis e intangíveis) e criação de roteiro;2. Preparação dos alunos e gravação do clipe;3. Edição coletiva do vídeo;4. Exposição do vídeo para a escola e familiares;Cada bloco de atividades ocupou em média uma manhã, ou

seja, 4h/aula de duração.

E O QUE CONSEGUIMOS COM TUDO ISSO?

Desenvolver uma atividade diferenciada e utilizar uma linguagem diversificada por uma parcela dos professores e a maioria dos alunos é, sem dúvida, um desafio. Por parte do grupo de professores envolvidos o fato de utilizar elementos presentes em nosso dia a dia de forma completamente diferente foi no mínimo estressante. Foram momentos tensos durante as reuniões de planejamento para conseguir identificar uma demanda, neste caso a falta de domínio dos alunos com os recursos digitais e, a partir disso, uma série de passos para sanar estas lacunas e desenvolver uma série de outros elementos. Para que esta proposta “desse certo” se abdicou de uma ordem de produção já cristalizados no cotidiano escolar como, por exemplo, a grade de

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horários e as abordagens com conteúdos relativos unicamente às disciplinas escolares. Era consenso no grupo de professores de que as habilidades necessárias a estes alunos transcendiam ao que as disciplinas poderiam ofertar sozinhas.

Trabalhar com alunos marcados por um histórico de fracassos escolares que os colocaram em uma situação de vulnerabilidade dentro da escola, onde estão deslocados dos seus, é algo extremamente complexo. Houve a preocupação contínua em atrelar as atividades desenvolvidas a um sentimento de pertencimento à escola e que durante todo o momento os alunos percebessem que a escola os acolhia, juntamente com seus familiares. Permitir que os alunos escolhessem o ritmo de trabalho e que suas opiniões fossem transformadas em práticas foi algo sensacional. Testemunhar o crescimento de alunos que antes mal se pronunciavam nas aulas e vê-los posicionarem-se defendendo suas ideias junto aos colegas é extremamente gratificante.

Ao fim deste trabalho podemos dizer que uma série de elementos que eram considerados frágeis no início, foram fortalecidos. Diversos alunos não conheciam o programa de edição de textos e só escreviam num computador para enviar mensagens em redes sociais ou em aplicativos de comunicação. Mesmo utilizando o prisma das disciplinas, diversos elementos foram desenvolvidos com o planejamento e todos os alunos compreendiam os passos que deveriam ser dados, justamente por eles terem realizado este plano de curso. Um dos elementos desenvolvidos foi a noção de tempo e fração na matemática representada por quanto tempo deveria durar cada cena do clipe, quanto cada um deveria se deslocar em metros e como encaixar isso na parte exata da música. Foi possível neste trabalho observar que a experiência da ação coletiva em que a noção de co-operação, o operar junto em atividades distintas que formavam um todo orgânico, levando a um resultado que já não era mais de um só, mas do grupo, potencializam o empoderamento que é

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proporcionado pela possibilidade de autoria. Autoria produzida pelo e para o grupo e por e para cada um dos alunos. Sem dúvida foi uma atividade extremamente proveitosa pois gerou um conhecimento útil, “[...] o conhecimento em que a existência humana está em questão, é um modo de conhecimento relacional, a um tempo assertivo e prescritivo, e capaz de produzir uma mudança no modo de ser do sujeito”(FOUCAULT, 2011, p.212).

Fica, no fim, a certeza de que os moldes da educação nacional devem ser repensados em caráter de urgência. Deve-se ter a relação de construção de conhecimentos existentes entre professor e aluno como sendo o início, o meio e fim de nossas práticas. Perceber que a formação desses indivíduos aprendentes deve ser plena e sobretudo ser desenvolvida através de um idioma comum entre educandos e educadores. Entretanto aprender a se comunicar utilizando recursos familiares aos alunos e construir um processo de aprendizagem a partir disso nem sempre é fácil, mas é também o que necessitamos.

REFERÊNCIASCANDAU, Vera Maria Ferrão. Sociedade, Cotidiano Escolar e Cultura(s): uma aproximação. Revista Educação & Sociedade, ano XXIII, no 79, Agosto/2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v23n79/10852> Acesso em: 17 fev. .2015

CITELLI, A. Comunicação e Educação: reflexão sobre uma pesquisa envolvendo a formação de professores. XVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Intercom, Porto Alegre. 2004

FOUCAULT, M. A Escrita de Si. Lisboa: Passagens. 1992.

FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito. Trad. Marcio Alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2011.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 1999.

PERRENAUD, F. Pedagogia Diferenciada: das intenções a ação. Porto Alegre. Artmed, 2000.

SOARES, I. de O. Gestão comunicativa e educação: caminhos da educomunicação. In: Revista Comunicação & Educação. Salesiana: São Paulo, n. 23, jan./abr. 2002b, p. 16-25.

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