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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ELISA COSTALONGA E GANDOUR ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO: Um estudo sobre a priorização de critérios RIO DE JANEIRO 2011

ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO: Um … · Provérbio chinês . 3 Elisa Costalonga e Gandour ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO: Um estudo sobre a priorização

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ELISA COSTALONGA E GANDOUR

ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO:

Um estudo sobre a priorização de critérios

RIO DE JANEIRO

2011

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“Diga-me, esquecerei Mostre-me, talvez lembrarei

Faça-me participar e compreenderei.”

Provérbio chinês

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Elisa Costalonga e Gandour

ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO:

Um estudo sobre a priorização de critérios

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Administração, do Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D.

RIO DE JANEIRO

2011

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G196 Gandour, Elisa Costalonga e. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento: Um estudo sobre a

priorização de critérios / Elisa Costalonga e Gandour – 2011 158 f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Instituto Coppead de Administração, Rio de Janeiro, 2011.

Orientador: César Gonçalves Neto 1. Análise de decisão. 2. Tecnologia-Saneamento. 3. Administração

– Teses. I. Gonçalves Neto, César (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pós-Graduação em Administração. III. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento: Um estudo sobre a priorização de critérios.

CDD 658.4035

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer...

Aos meus pais, Stela e Fábio, por me mostrarem o valor da educação e

acompanharem minhas conquistas acadêmicas ao longo dos anos.

À Clarissa, por ser uma aluna e irmã exemplar.

Ao Renato, pelas contribuições, sábias e sinceras.

Ao Miguel, pelo carinho, compreensão e apoio.

Ao Vinicius, pelas ideias construtivas e paciência sem fim.

Aos colegas da Turma 2009, sem os quais essa experiência não seria tão rica.

Aos professores do COPPEAD, pela dedicação ao ensino e pelo exemplo.

Ao Prof. César, pela orientação.

Ao Prof. Otávio, pelos conselhos.

À equipe COPPEAD, pela atenção, prestatividade e, acima de tudo, pela

oportunidade.

Ao CNPq, pelo investimento em educação e pesquisa.

Aos profissionais e acadêmicos que participaram desta pesquisa e que, espero,

sejam os maiores beneficiados pelos resultados.

Muito Obrigada!

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Resumo

GANDOUR, Elisa Costalonga e. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento:

Um estudo sobre a priorização de critérios. Dissertação (Mestrado em

Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

Até a metade do século passado, os poucos estudos sobre escolha tecnológica

eram voltados para o setor industrial, focando em aspectos econômicos. Mais

recentemente, no entanto, a sustentabilidade dos processos tornou-se central para

profissionais e acadêmicos. O objetivo deste estudo é traçar perfis de decisão,

baseado na inclusão de critérios de decisão e em características pessoais dos

entrevistados. Escolheu-se o setor de saneamento por lidar com a qualidade da

água fornecida enquanto procura minimizar os impactos ambientais do processo de

tratamento. Os dados foram obtidos através de survey e analisados descritivamente,

assim como por aglomeração estatística. Os resultados mostram que alguns critérios

utilizados no setor industrial também o são na área de saneamento. Percebe-se que

o setor público prioriza critérios relacionados ao impacto ambiental, ainda que

demande mais informações para suas decisões, enquanto no setor privado

prevalecem critérios referentes à eficácia do processo. No entanto, há

desalinhamento intra-setor sobre objetivos de uma estação de tratamento: o setor

público defende o objetivo de alcançar a eficácia no tratamento da água, enquanto o

setor privado aponta para um processo que deve, acima de tudo, prezar pelo

ambiente. Identificam-se critérios referentes aos aspectos sociais do processo, que

devem ser priorizados. No geral, os resultados mostram que decisores e não-

decisores estão alinhados em suas preferências e que existe necessidade de prover

informações de qualidade para a escolha tecnológica.

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Abstract

GANDOUR, Elisa Costalonga e. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento:

Um estudo sobre a priorização de critérios. Dissertação (Mestrado em

Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

Until the middle of the last century, the few studies made on technological choice

were intended for the industrial sector, focusing on economic aspects. More recently,

however, the sustainability of processes has gained importance for professionals and

academics. The objective of this study is to identify decision profiles, based on the

inclusion of decision criteria and personal characteristics of respondents. The

sanitation sector was chosen because it deals with the quality of water supplied while

seeking to minimize the environmental impacts of the treatment process. Data were

obtained through survey and analyzed descriptively, as well as with statistical

clustering. The results show that some criteria used in the industrial sector are also

used in the sanitation area. It was noticed that the public sector prioritizes

environmental impact criteria, even though it requires more information for making

decisions, while in the private sector, criteria regarding the effectiveness of the

process prevail. However, there is an intra-industry misalignment concerning a

treatment plant’s objectives: the public sector supports the goal of achieving

efficiency in water treatment, while the private sector indicates a process that should,

above all, care for the environment. Criteria concerning social aspects of the process

are identified and should be prioritized. Overall, the results show that non-decision

makers and decision makers are aligned in their preferences and that there is need

to provide quality information for technological choice.

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Lista de tabelas

Tabela 1 Definições de termos técnicos .................................................................... 11

Tabela 2 Características observadas para o tratamento da água residual ............... 40

Tabela 3 Etapas para o tratamento da água ............................................................. 42

Tabela 4 Casos de reaproveitamento da água de esgoto ......................................... 45

Tabela 5 Resumo das tecnologias para tratamento de esgotos................................ 54

Tabela 6 Resumo de características das tecnologias citadas ................................... 55

Tabela 7 Resumo das vantagens e desvantagens das tecnologias citadas ............. 55

Tabela 8 Metodologias de avaliação da sustentabilidade ......................................... 60

Tabela 9 Indicadores de sustentabilidade ................................................................. 62

Tabela 10 Etapas do método multiobjetivo e multicritério ......................................... 65

Tabela 11 Critérios para avaliação tecnológica ......................................................... 66

Tabela 12 Respostas coletadas ................................................................................ 82

Tabela 13 Caracterização pessoal ............................................................................ 83

Tabela 14 Caracterização por região ........................................................................ 83

Tabela 15 Agrupamento por inclusão de critérios: percentual da amostra ................ 83

Tabela 16 Agrupamento por inclusão de critérios: quantidade de pessoas .............. 84

Tabela 17 Categorização dos objetivos de uma ETE ................................................ 84

Tabela 18 Categorização dos novos critérios propostos ........................................... 85

Tabela 19 Contatos realizados .................................................................................. 85

Tabela 20 Respostas inválidas .................................................................................. 86

Tabela 21 Critérios por categoria .............................................................................. 89

Tabela 22 Alocação por inclusão de critérios: setor .................................................. 89

Tabela 23 Alocação por inclusão de critérios: ramo .................................................. 89

Tabela 24 Alocação por inclusão de critérios: hierarquia .......................................... 90

Tabela 25 Categorização dos objetivos de uma ETE ................................................ 93

Tabela 26 Categorização dos objetivos por setor ..................................................... 94

Tabela 27 Categorização dos objetivos por ramo de atuação .................................. 95

Tabela 28 Critérios com maior percentual de inclusão .............................................. 97

Tabela 29 Critérios com maior percentual de não-inclusão ...................................... 97

Tabela 30 Critérios com maior percentual de indecisão ............................................ 98

Tabela 31 Grupo com alta taxa de indecisão ............................................................ 99

Tabela 32 Critérios do setor industrial: julgamentos ................................................ 100

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Tabela 33 Critérios do setor industrial: julgamentos por decisores ......................... 100

Tabela 34 Aglomeração não-hierárquica da amostra (percentual do total) ............. 102

Tabela 35 Valor absoluto de componentes em cada aglomerado........................... 102

Tabela 36 Aglomeração: percentuais por coluna .................................................... 103

Tabela 37 Aglomeração: percentuais por linha ....................................................... 103

Tabela 38 Coordenadas dos centros de massa ...................................................... 104

Tabela 39 Prioridades em cada aglomerado: critérios adicionados a mais ............. 106

Tabela 40 Classificação dos centros de massa calculados .................................... 107

Tabela 41 Aglomeração por ramo ........................................................................... 108

Tabela 42 Aglomeração por hierarquia ................................................................... 108

Tabela 43 Aglomeração por setor ........................................................................... 108

Tabela 44 Distribuição de propostas por novos critérios ......................................... 112

Tabela 45 Percentual de inclusão para todos os critérios ....................................... 134

Tabela 46 Relação de palavras e expressões-chave para categorização dos

objetivos .................................................................................................................. 136

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Lista de figuras

Figura 1 Isoquanta .................................................................................................... 24

Figura 2 Distribuição mundial dos recursos hídricos ................................................. 35

Figura 3 Tripé para a sustentabilidade ...................................................................... 59

Figura 4 Exemplo do gráfico em R3 .......................................................................... 74

Figura 5 Distribuição de contatos por região ............................................................. 86

Figura 6 Distribuição de mercado .............................................................................. 88

Figura 7 Distribuição de mercado ajustado para proporção de respostas ................ 88

Figura 8 Distribuição de setor.................................................................................... 88

Figura 9 Distribuição de hierarquia ............................................................................ 88

Figura 10 Distribuição dos pontos em R3 ................................................................. 91

Figura 11 Dendrograma: Método de Ward ................................................................ 91

Figura 12 Aglomeração com 3 centroides ................................................................. 92

Figura 13 Localização dos centros de massa no espaço ........................................ 106

Figura 14 Disposição tridimensional: ângulo Eficácia vs. Impacto Ambiental ......... 107

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Termos técnicos

Os termos definidos na Tabela 1 serão úteis para a melhor compreensão do

texto. As definições foram obtidas principalmente do Dicionário Eletrônico Houaiss.

Tabela 1 Definições de termos técnicos (INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS, 2002)

Termo técnico Definição

Aeróbio Que ou o que é capaz de utilizar o oxigênio em seu metabolismo (diz-se

de organismo)

Anaeróbio 1. Diz-se de ou organismo capaz de anaerobiose; 2. Diz-se de ou

metabolismo que ocorre em ausência de oxigênio; 3. Diz-se de ou

composição atmosférica incapaz de sustentar vida em aerobiose

Anaerobiose Tipo de vida que ocorre na ausência de ar ou de oxigênio; anoxibiose

Biodigestor Relativo a ou equipamento instalado para a produção de biogás

Biogás Gás combustível (metano) gerado pela fermentação anaeróbica de

matéria orgânica de origem vegetal ou animal (p.ex., biomassa, esterco,

lixo orgânico)

Biomassa 1. Massa de matéria viva; 2. Massa de matéria orgânica de um

organismo; 3. Massa de matéria orgânica presente em um nível trófico

ou em outra delimitação dos ecossistemas

Decantador Que ou o que sedimenta (mesmo que sedimentador)

Detenção

hidráulica

Tempo de permanência da massa líquida dentro do tanque ou lagoa de

tratamento1

Efluente Referente à corrente de fluido que sai de um motor, equipamento etc.

Gás sulfídrico Diz-se de ou ácido (H2S) usado como intermediário químico, em

metalurgia, como reagente analítico etc. É um gás incolor, mais pesado

que o ar e altamente tóxico; possui cheiro de ovo podre em baixas

concentrações e inibe o olfato em concentrações elevadas

Nitrificação Transformação de nitrogênio amoniacal em nitratos

Patogênico Que provoca ou pode provocar, direta ou indiretamente, uma doença

Reator Tanque; unidade de processamento de substâncias onde se produzem

reações de transformação molecular (p.ex., reator de polimerização etc.)

Séptico 1. Que causa putrefação; putrefativo; 2. Que causa infecção; 3. Que

contém germes patogênicos

1 Definição livre, considerando o contexto da pesquisa.

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Lista de abreviações

ANA – Agência Nacional das Águas

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

DBO – Demanda bioquímica de oxigênio

DQO – Demanda química de oxigênio

ETE – Estação de Tratamento de Esgotos

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

SS – Sólidos em suspensão

UNDPCSD – The United Nations Department of Policy Coordination and Sustainable

Development

UNEP – United Nations Environment Programme

VMP – Valores máximos permitidos

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Sumário

1 Introdução .......................................................................................................... 16

1.1 Relevância .................................................................................................. 18

1.2 Delimitações ............................................................................................... 19

2 Revisão de literatura .......................................................................................... 21

2.1 Tecnologia .................................................................................................. 21

2.1.1 Escolha de tecnologia .......................................................................... 23

2.1.2 “Tecnologia apropriada” ....................................................................... 27

2.1.2.1 Tecnologia social .............................................................................. 28

2.1.3 Modelo multiobjetivo e multicritério ...................................................... 28

2.1.3.1 Histórico ........................................................................................... 29

2.1.3.2 Etapas do método multiobjetivo e multicritério ................................. 30

2.1.3.3 Elementos da formulação do problema multiobjetivo e multicritério . 31

2.1.4 Análise tecnológica para tratamento de esgotos ................................. 32

2.2 A água ......................................................................................................... 34

2.2.1 Sobre a água ....................................................................................... 34

2.2.2 Considerações sobre a água para uso humano .................................. 36

2.2.3 O conceito de reuso e reciclagem ........................................................ 38

2.2.4 Tratamento da água ............................................................................. 39

2.2.4.1 Etapas do processo de tratamento da água ..................................... 41

2.2.4.2 Padrões para definição da qualidade da água tratada ..................... 43

2.2.4.3 Tratamento de esgotos .................................................................... 44

2.2.4.4 Tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos ................... 46

2.2.5 Resumo das tecnologias ...................................................................... 54

2.3 Sustentabilidade ......................................................................................... 56

2.3.1 Algumas definições .............................................................................. 56

2.3.1.1 Sustentabilidade ............................................................................... 56

2.3.1.2 Sustentabilidade ambiental .............................................................. 58

2.3.1.3 Desenvolvimento sustentável ........................................................... 58

2.3.2 Sustentabilidade do tratamento de água ............................................. 59

2.3.2.1 Metodologias para determinação da sustentabilidade ..................... 60

2.3.2.2 Indicadores de sustentabilidade ....................................................... 61

2.4 Resumo da revisão de literatura ................................................................. 64

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2.4.1 Elementos-chave ................................................................................. 64

2.4.2 Critérios de decisão ............................................................................. 65

3 Metodologia ........................................................................................................ 68

3.1 Coleta de dados .......................................................................................... 68

3.1.1 A metodologia survey .......................................................................... 68

3.1.1.1 Amostragem ..................................................................................... 69

3.1.2 A pesquisa atual .................................................................................. 71

3.1.3 Conteúdo do questionário usado na e-survey ..................................... 72

3.2 Análise de dados......................................................................................... 72

3.2.1 Percentual de inclusão ......................................................................... 73

3.2.2 Análise de aglomerados ...................................................................... 73

3.2.2.1 Método hierárquico de aglomeração ................................................ 75

3.2.2.2 Método de Ward ............................................................................... 75

3.2.2.3 Método não hierárquico de aglomeração ......................................... 76

3.2.2.4 K-means: algoritmo de aglomeração ................................................ 77

3.2.3 Outras análises: objetivos e critérios ................................................... 78

3.2.3.1 Análise dos objetivos ........................................................................ 79

3.2.3.2 Outros critérios propostos ................................................................ 80

3.2.3.3 Critérios mais frequentes ................................................................. 80

4 Resultados ......................................................................................................... 82

4.1 Análise descritiva ........................................................................................ 82

4.2 Apresentação da amostra ........................................................................... 85

4.3 Apresentação dos dados coletados ............................................................ 88

4.4 Outros dados coletados .............................................................................. 93

4.4.1 Objetivos da ETE ................................................................................. 93

4.4.2 Outros critérios ..................................................................................... 95

4.4.3 Critérios mais frequentes ..................................................................... 96

4.4.4 Critérios do Setor Industrial ................................................................. 99

5 Análise e sugestões ......................................................................................... 101

5.1 Análise dos dados ..................................................................................... 101

5.2 Outras análises propostas ........................................................................ 109

5.2.1 Análise dos objetivos categorizados .................................................. 109

5.2.2 Novos critérios: Análise ..................................................................... 111

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5.2.3 Análise de critérios mais frequentes .................................................. 113

5.2.4 Análise de critérios do setor industrial ............................................... 114

6 Considerações finais ........................................................................................ 116

6.1 Sugestões para estudo futuro ................................................................... 120

6.1.1 Aglomeração ...................................................................................... 120

6.1.2 Outras análises .................................................................................. 123

Referências ............................................................................................................. 125

Apêndice A – Estrutura da Survey .......................................................................... 132

Apêndice B – Percentuais de inclusão .................................................................... 134

Apêndice C – Classificação de objetivos ................................................................. 136

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1 Introdução

Nos últimos anos, tem-se testemunhado a crescente conscientização sobre

questões ambientais e de recursos naturais, tanto por parte de pessoas físicas

quanto de instituições e empresas, que dependem do meio ambiente para produzir e

sobreviver. Com isso, cresceu também a preocupação coletiva com o risco de

escassez desses recursos em um futuro próximo. De fato, segundo De Koning, et al.

(2008), além do crescimento da conscientização ambiental, a população vem

apresentando uma tendência a defender a sustentabilidade. Esse conceito abrange

várias perspectivas, uma das quais é o impacto ambiental, e pode ser entendido do

ponto de vista da perpetuidade dos recursos naturais, consumidos pela população

global e renovados com o passar do tempo.

A água, um dos recursos naturais mais abundantes, é também parte essencial

do ciclo de vida do ser humano, considerando-se tanto o consumo como nutriente,

para manutenção do metabolismo e funções vitais, quanto o consumo como parte

essencial de outras funções diárias, como higiene e lazer. Sendo assim, e tendo em

vista a distribuição naturalmente desigual desse recurso entre os povos, torna-se

importante praticar o uso consciente, a fim de evitar o desperdício. Além disso, deve-

se praticar a reciclagem e o reuso, que adiam seu esgotamento. No final da década

de 90, um estudo publicado pela UNEP (1997) mostrou que, infelizmente, os

governos e a iniciativa privada de diversos países da América Latina não

reconheciam a necessidade de estações de tratamento de água, nem a importância

da qualidade da água para melhorar a qualidade de vida das gerações futuras. Esse

cenário, porém, mudou e, recentemente, é crescente a importância dada à

preservação de recursos hídricos (DE KONING, BIXIO, et al., 2008).

Devido ao intenso uso da água em funções de limpeza, como um meio para

transportar impurezas, o efluente do sistema de esgoto é rico em água. Apesar de

essa água ser suja e imprópria para consumo, ou até mesmo para manuseio, esse

material oferece enorme potencial como fonte de água para tratamento e, portanto,

reciclagem e reuso. Dependendo do método de descarte e do reuso que se pretende

dar ao efluente, aplicam-se diferentes níveis de exigência com a qualidade da água

tratada, isto é, sua pureza. Por exemplo, água de esgoto nunca se tornará potável,

por mais que seja tratada, mas pode ser usada para lavagem de calçadas ou

resfriamento de máquinas.

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Como visto, água tratada pode ser considerada um produto, com diferentes

especificações e propósitos. É de se esperar, portanto, que existam diversas

maneiras de “produzi-lo”, dependendo dos requerimentos considerados. De fato, o

universo de tratamento de água e esgotos oferece opções, variando os custos

envolvidos, o tempo de operação e a qualidade do produto final, para citar apenas

alguns exemplos. Essa variedade se deve às diversas tecnologias de tratamento

disponíveis, com requisitos diferentes. Com isso, torna-se imprescindível orientar

corretamente a escolha de tecnologia para implementar uma estação de tratamento

de esgotos. Tal decisão impactará diretamente a saúde da empresa que se propõe a

lidar com água e esgotos tratados, a fim de atender à demanda dentro das restrições

impostas pela escolha tecnológica.

Nesse contexto, encontrou-se motivação para investigar a dinâmica entre o

setor de saneamento e o meio ambiente, interdependentes entre si. O interesse era

entender como os processos do setor de saneamento são impactados pela

crescente conscientização ambiental. Devido à importância da escolha de tecnologia

para a construção de uma estação, escolheu-se focar nesta parte do processo para

orientar o estudo. Portanto, esta dissertação se propõe a estudar o processo de

escolha de tecnologia no setor de saneamento, com o intuito de compreender

melhor alguns fatores que influenciam essa decisão.

A escolha de tecnologia se baseia em objetivos a alcançar e critérios a

atender, ambos variando de acordo com a situação e os agentes envolvidos. Neste

trabalho propôs-se uma observação crítica dos critérios utilizados no setor de

saneamento, categorizando-os e comparando-se a prioridade a eles atribuída.

Dentre essas categorias havia: eficácia do tratamento de esgoto, referente à

qualidade da água produzida pelo tratamento; impacto ambiental da construção da

estação; e outros critérios a ser considerados, como custos e aceitação pública, por

exemplo. Desejava-se entender se haveria preferência observável por alguma

dessas categorias e, caso houvesse, se isso poderia ser explicado em termos das

características pessoais de quem as priorizava, isto é, seu ramo de trabalho

(academia ou mercado), nível hierárquico e setor de atuação (público ou privado).

Anteriormente à coleta de dados, imaginava-se que não seria possível escolher uma

tecnologia que fosse eficaz e, ao mesmo tempo, tivesse baixo impacto ambiental.

Isto é, a hipótese trabalhada é que seria necessário priorizar um desses aspectos

processuais ao definir qual tipo de tratamento aplicar ao esgoto. Vale lembrar que a

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intenção não era indicar formas corretas ou incorretas de abordar a escolha

tecnológica, mas sim entender a motivação por trás da mesma.

A coleta de dados foi realizada através de uma e-survey, cujo questionário

continha critérios de escolha tecnológica, encontrados na literatura. A amostra foi

composta por profissionais e acadêmicos do setor de saneamento, de diferentes

níveis hierárquicos e de ambos os setores, público e privado. Os resultados foram

então analisados sob a ótica de aglomerados, que objetiva agrupar os indivíduos da

amostra com base em suas respostas. A aglomeração levaria à identificação de

perfis de decisão, relacionando características pessoais do entrevistado e suas

preferências para escolha tecnológica.

1.1 Relevância

O objetivo desta pesquisa é identificar perfis de decisão, resultantes da

aglomeração estatística, acrescentando, assim, para os estudos sobre escolha

tecnológica. Porém, deseja-se contribuir também para o conjunto de estudos da

interação entre o Homem e o meio ambiente. Ao usar critérios para medição de

impacto ambiental, deseja-se colocar em evidência a importância de tais variáveis

na busca por processos ambientalmente menos daninhos, retardando sua

degradação. Entende-se que esse tipo de pesquisa seja do interesse de:

instituições comerciais, públicas ou privadas, que desejam demonstrar

responsabilidade social;

cidadãos, cujo bem-estar e qualidade de vida dependem da boa

conservação do ambiente, especialmente em se tratando de áreas

densamente habitadas, como grandes cidades e megalópoles;

entidades do governo, cujo objetivo deveria ser prezar pela qualidade

de vida dos cidadãos, contemplando ainda a perpetuidade dos

recursos disponíveis para gerações futuras (e governos futuros),

através da regulamentação e punição de poluidores.

Na busca por soluções para o meio ambiente, entende-se que a existência de

empresas de tratamento de esgoto é por si só uma importante contribuição, uma vez

que o lançamento de esgotos in natura pode levar à contaminação irreversível de

corpos hídricos. No entanto, em vez de observar o efeito macro, do ponto de vista

institucional, deseja-se abordar nesta pesquisa a perspectiva micro, no nível

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gerencial, considerando as opiniões individuais dos atores que lidam diretamente

com estações de tratamento de esgoto (ETEs). Busca-se explorar a opção por um

ou outro tipo de tratamento: como é feita, sob quais restrições e com quais objetivos.

Tais resultados podem revelar diferenças na forma de pensar de pessoas e

empresas que atuam no mesmo setor, mas que estão geograficamente distantes,

além de identificar possíveis lacunas entre o que é idealizado e aquilo que é, de fato,

praticado. Nesse sentido, a contribuição será na forma de consolidação, análise

crítica e divulgação da informação coletada.

1.2 Delimitações

A pesquisa foi realizada ao longo de um período de 20 meses, iniciando-se

em janeiro de 2010. A revisão de literatura foi composta por artigos científicos, livros

publicados, trabalhos acadêmicos e publicações em websites, relacionados a

tecnologia, saneamento e sustentabilidade. Buscou-se utilizar material produzido a

partir do ano 2000, porém, algumas publicações de décadas anteriores também

foram aproveitadas. A coleta de dados foi realizada através do portal

surveymonkey.com, de junho a outubro de 2010, e visava abranger o território

nacional brasileiro. Os entrevistados foram contatados principalmente por telefone e

e-mail para identificação daqueles que tinham interesse em participar da pesquisa.

Constatado o interesse, enviava-se um documento digital, para ser preenchido e

devolvido por e-mail, ou um link, para que respondessem à pesquisa pelo portal

mencionado. No geral, o acesso aos respondentes não foi trivial, sendo necessários,

em média, dois a três contatos para que enviassem retorno.

É importante observar alguns pontos que este estudo não abordou,

principalmente, por não ser parte do escopo objetivado originalmente.

1. Não se pretendeu identificar a melhor tecnologia para ETEs, mas sim

estudar elementos do processo que levaria a essa decisão;

2. Não se desejou elaborar uma lista definitiva de critérios de decisão, mas

sim se trabalhou com um grupo de critérios encontrados na literatura

relacionada, que pode ser enriquecido com inúmeros outros critérios;

3. Ao traçar perfis de decisão, não se desejou determinar quais critérios

devem ser usados por cada grupo de entrevistados (por característica),

mas sim identificar as tendências percebidas em cada grupo;

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4. Do grupo de critérios utilizado, não se pretendeu investigar os critérios

excluídos da decisão ou aqueles que geraram indecisão, mas sim aqueles

que eram considerados (incluídos) na decisão.

Sendo assim, a pesquisa se destina a oferecer uma análise introdutória da

criação de perfis de decisão, testando a receptividade de critérios encontrados na

literatura e outras pesquisas relacionadas, mas deixando amplo campo para futuras

investigações.

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2 Revisão de literatura

2.1 Tecnologia

O termo “tecnologia” se refere à teoria geral e/ou estudo sistemático sobre

técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou

domínios da atividade humana, como, por exemplo, a indústria ou a ciência

(INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS, 2002). Outra definição abrangente de tecnologia

aponta que é a aplicação prática da ciência ao comércio ou à indústria (MILLER,

2009). Nesse contexto, portanto, usamos o termo para identificar as ferramentas,

resultantes de estudos científicos, que auxiliam em um processo.

Observando alguns fatos históricos do último milênio, vê-se que a tecnologia

teve papel fundamental para a economia mundial. Um dos grandes marcos dessa

história foi a Revolução Industrial, durante a qual se apresentou o motor a vapor. Na

época, 1776, a potência oferecida por essa nova tecnologia significou a conquista de

longas distâncias, a mobilidade real, especialmente quando conjugada com a

introdução das ferrovias em 1829. Cerca de cem anos mais tarde, a Revolução da

Informação viria mostrar que essas distâncias poderiam ser eliminadas de vez. Com

isso, diversos processos tradicionais foram facilitados e tornaram-se rotineiros em

áreas que abrangiam desde a afinação de pianos ao controle de folha de

pagamento, estoques, cronogramas e processos industriais (DRUCKER, 2000).

Na década de 90, a globalização trouxe um novo conceito de concorrência e

produção, eliminando as fronteiras no mercado. Esse fenômeno econômico do

mundo moderno provavelmente não teria ocorrido sem o desenvolvimento da

tecnologia da informação, que Nakano (1994) considera como a fusão das

tecnologias de computação e telecomunicações. De fato, esse autor afirma:

“A revolução tecnológica/organizacional e a globalização são as duas principais forças motoras que estruturam as transformações e definem as tendências marcantes do novo cenário de desenvolvimento econômico das nações na próxima década. Essas duas forças exercerão pressão, no nível microeconômico, sobre as estruturas produtivas e organizacionais, sem respeitar as fronteiras nacionais.” (NAKANO, 1994)

Naquele cenário, era imprescindível que as empresas fossem competitivas

globalmente, ainda que atuassem apenas em mercados locais (DRUCKER, 2000).

Marconi (1994) resume os efeitos da nova dinâmica da globalização:

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“A globalização da economia mundial é uma tendência irreversível, associada à revolução da informação e da tecnologia e, por mais paradoxal que possa parecer, à configuração de grandes blocos econômicos. As nações buscam expandir suas atividades comerciais com o restante do mundo e internacionalizar sua produção, ao mesmo tempo em que o protecionismo derivado da formação desses blocos cria preferências comerciais, garante o fluxo intrarregional de mercadorias, serviços e capital, e contribui para estimular a produtividade através do maior acesso às chamadas vantagens comparativas dos países associados.” (MARCONI, 1994)

Tornava-se cada vez mais evidente que as mudanças tecnológicas e

organizacionais criavam novos padrões de comércio mundial, deslocando os

determinantes da localização da produção e a direção das exportações da vantagem

comparativa tradicional e dos fatores sistêmicos para características organizacionais

e estratégicas das empresas multinacionais (NAKANO, 1994).

Ainda segundo Nakano (1994), com a disseminação das informações, o

aumento da pesquisa e o rápido desenvolvimento em diversas áreas científicas,

deu-se a “revolução microeletrônica”, que, ao juntar novas tecnologias de

computadores e telecomunicações com a mecânica de precisão, acarretou

mudanças consideráveis na estrutura produtiva. Sucessivas gerações de

mecanismos microeletrônicos, crescentemente potentes, permitiram a oferta de

equipamentos de processamento de informações e de comunicações a custos

significativamente menores. Isso possibilitou a rápida difusão da utilização de

computadores, em uma crescente variedade de atividades de manipulação de

informações com novas redes integradas nos diferentes estágios da produção, no

desenho e desenvolvimento e em produtos e processos.

Um dos principais impactos do novo cenário tecnológico foi a mudança na

perspectiva gerencial, pois a utilização de computadores e de novos equipamentos

de comunicação nas indústrias e em serviços tornou possível a introdução de

inovações organizacionais e de gestão, baseadas em cooperação, autodisciplina,

auto-aperfeiçoamento contínuo e coordenação horizontal, que substituíam as

antigas estruturas hierárquico-funcionais. Nesse processo, os fatores críticos da

vantagem competitiva das empresas foram se deslocando dos custos de produção

para os custos de transação e coordenação (NAKANO, 1994).

Considerando a nova realidade mundial que tomava corpo na década de 90,

vemos que o desenvolvimento tecnológico contribuiu positivamente para o

desenvolvimento da própria produção. De fato, as empresas tiveram que aprender a

competir em um novo ambiente, o que fatalmente levou algumas à extinção. A

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renovação dos bens tecnológicos trouxe conflitos, como a necessidade de

treinamento da mão de obra e de redesenho da linha de produção, por exemplo.

Mais tarde, com o crescimento da conscientização ambiental, a poluição causada

por uma ou outra tecnologia e a quantidade de recursos consumidos durante sua

operação também se tornaram fatores preocupantes. Paralelo a essas mudanças,

existia a necessidade de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), cuja

importância para o desenvolvimento da economia e do setor foi ressaltada por

Rosenberg (1990).

Em 2000, Drucker ressaltou o crescimento explosivo do comércio eletrônico e

da internet, vislumbrando o surgimento daquele que acreditava ser o mais

importante canal de distribuição de bens, serviços e até mesmo empregos na área

administrativa e gerencial. Em retrospecto, observa-se que essa previsão foi

realizada e, talvez, não se aplique apenas àquele momento, pois:

“É provável que outras tecnologias surjam de repente, levando à criação de novas indústrias. [...] E é quase certo que poucas – e só algumas das indústrias baseadas nelas – virão dos computadores e da informática. Como a biotecnologia e a criação de peixes, cada uma surgirá a partir de tecnologia própria e inesperada.” (DRUCKER, 2000)

Considerando a evolução constante da tecnologia, cada vez mais ao alcance

de todos os tipos de consumidores, é de se esperar que ocorram mudanças notáveis

nos mercados. Com isso, é razoável assumir que a escolha tecnológica é cada vez

mais decisiva para o desenvolvimento de um empreendimento.

2.1.1 Escolha de tecnologia

Ao fazer uma escolha, uma empresa tem de lidar com restrições que podem

ser impostas por seus clientes, sua concorrência ou pela natureza. Essa última

determina as maneiras viáveis de produzir outputs a partir de inputs, isto é, existem

apenas algumas opções tecnológicas passíveis de escolha (VARIAN, 2003). De fato,

a escolha de tecnologia tem sido alvo de intensas pesquisas, focando tanto a

transferência internacional entre países desenvolvidos e em desenvolvimento quanto

aquela entre empresas de um mesmo país e seus processos (WEISS, 2002).

De acordo com Stobaugh e Wells, Jr. (1984), a importação de tecnologia atua

como fonte de conhecimento para vários países, gerando receitas a nível

organizacional e federal. Portanto, se existe alguém atuando na venda, deve haver

uma contrapartida que atue na compra de dita tecnologia. As empresas que

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adquirem tecnologia fazem-no para usá-la em seus processos, que, até certo

momento, acreditava-se ocorressem em um ambiente economicamente competitivo.

Porém, os autores compilados na obra citada mostram que, diferentemente dessa

teoria simplista, as organizações variam na maneira que competem, lidando com

aspectos de mercado distintos, como leis trabalhistas e custo de capital. Sendo

assim, a escolha por tecnologia seria impactada pelo mercado em si, o

posicionamento da empresa e o ambiente externo.

Yeoman (1968) lembra que a teoria econômica tradicional sugere que

empresas buscam otimizar seus objetivos financeiros, ou seja, aumentar o lucro.

Considerando um mercado perfeitamente homogêneo, onde não há diferença de

preços, por tratar-se de produtos iguais, essa teoria leva à busca do menor custo de

produção. Isto é, a minimização dos custos de capital e trabalho.

Nesse cenário praticamente perfeito, é válido assumir que países com os

mesmos custos de capital e salários são levados a escolher as mesmas tecnologias.

Porém, como mostra Yeoman (1968), devem-se fazer alguns questionamentos a

respeito desse modelo. Por exemplo, existiria uma gama de tecnologias

suficientemente ampla para permitir ao gerente a utilização de várias combinações

de capital e mão de obra? Na Figura 1, a curva isoquanta representa a mesma

produção (output), com requerimentos diferentes de capital e mão de obra (inputs).

Porém, ainda que exista uma combinação de recursos (A1,B1), não é certo que

exista a combinação (A2,B2), pois pode se referir a uma quantidade inacessível de

mão de obra ou capital. O gerente seria obrigado então a escolher outra

combinação, como (A3,B3), por exemplo.

Figura 1 Isoquanta (YEOMAN, 1984)

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Durante a avaliação das combinações dos recursos, seria necessário

considerar também a taxa marginal de substituição técnica (TMST), isto é, a

quantidade em que se pode reduzir o insumo capital quando se utiliza uma unidade

extra de insumo trabalho, mantendo a produção da isoquanta. A característica

decrescente da TMST representa a produtividade limitada dos recursos. Isto é, à

medida que se adiciona quantidade cada vez maior de trabalho, produz-se menos

por unidade acrescentada. O resultado seria o mesmo para quantidades maiores de

capital. Ou seja, dentro das opções reais e alcançáveis pelo decisor, a produção

requer uma combinação equilibrada de insumos (PYNDICK e RUBINFELD, 2002),

(VARIAN, 2003).

Outra questão proposta refere-se à comparação de fatores de produção em

países diferentes. Por exemplo, salários discrepantes podem refletir diferentes

qualidades de mão de obra em cada país, o que afetaria a escolha de tecnologia

usada em cada um. A realidade em cada país poderia levar a diferentes conclusões

dessa escolha. Tomando os países menos desenvolvidos como exemplo, poder-se-

ia esperar que investissem em tecnologias intensivas em trabalho, devido aos baixos

salários pagos no país inteiro. Consequentemente, haveria uma contribuição para a

diminuição da taxa de desemprego (STOBAUGH e WELLS JR., 1984).

A partir dos anos 60, começa a ficar evidente que empresas de um mesmo

país usavam tecnologias diferentes para obter resultados praticamente idênticos e,

contrário ao que havia sido previsto, setores em crescimento não registravam

aumento significativo nas vagas oferecidas. Foi então que começaram as

investigações acerca da existência de outros fatores de peso no processo de

escolha de tecnologia. Dentre vários, na obra de Stobaugh e Wells, Jr. (1984),

destacam-se:

a elasticidade dos preços dos produtos da empresa, isto é, quanto uma

empresa consegue forçar o mercado a acolher um preço que ela mesma

estabelece;

a relação entre os custos de produção e os custos totais da empresa, o

que pode fazer com que a minimização dos custos de produção não seja

prioridade quando comparados a outros custos, como marketing, por

exemplo;

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os objetivos dos gerentes, que incluem mais que simplesmente

minimizar os custos de produção. Isto é, o gerente pode preferir

tecnologias intensivas em trabalho ou em capital para cumprir objetivos

de engenharia ou trabalhistas, respectivamente;

a preferência pela automatização do processo, ou seja, fábricas

intensivas em capital, que permitem a negociação de dívidas geradas

durante o investimento inicial, além de serem mais flexíveis, uma vez

que não operam sob leis trabalhistas e não demonstram oscilações

humanas na produtividade;

o risco de erro humano, que está diretamente relacionado à qualidade

da produção para tecnologias intensivas em trabalho;

o risco de falta de sobressalentes e/ou assistência técnica quando se

usa uma tecnologia intensiva em capital;

o risco de dificuldades na adaptação da mão de obra e/ou das matérias

primas locais a uma tecnologia intensiva em capital;

o risco de escolher uma tecnologia diferente daquela usada pela

empresa líder na indústria e, com isso, não poder garantir paridade em

termos de qualidade e assistência técnica confiável;

a influência governamental, como, por exemplo, a existência de

incentivos fiscais, que pode levar a empresa a escolhas

economicamente sub-ótimas;

a indisponibilidade e o alto custo da informação sobre as tecnologias

disponíveis, dificultando, assim, a aproximação entre gerente e

tecnologia e impedindo que essa entre para a lista de opções da

empresa.

Uma última consideração a respeito dos fatores que influenciam a escolha de

tecnologia está citada na obra de Keddie (1975), onde o autor trabalha com a

hipótese de que a diferenciação do produto levaria a empresa a escolher uma

tecnologia que oferecesse melhor qualidade. Ainda que o autor tenha constatado

que a qualidade do produto final não necessariamente levasse a resultados

financeiros melhores, é interessante saber que esse resultado pode, de alguma

forma, ser impactante na decisão tecnológica.

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2.1.2 “Tecnologia apropriada”

Durante algumas décadas, pensou-se que a tecnologia era a solução para

amenizar a pobreza ao redor do mundo. Diversos estudos foram realizados focando

particularmente em países em desenvolvimento, onde a decisão tendia para o que

se chamava de “tecnologia apropriada”. O termo foi definido de maneiras diferentes,

todas com seu conjunto particular de critérios. Inclusive, durante os primeiros anos

de uso, tal termo era semelhante à expressão “tecnologia intermediária”, que se

referia a um meio-termo entre técnicas tradicionais de vilarejos e tecnologia

avançada, intensiva em capital, característica do Mundo Ocidental. Porém, de

maneira geral, tratava-se de técnicas usadas para abordar pobreza, igualdade social

e desemprego, além de serem aplicáveis em operações de pequena escala, serem

intensivas em mão de obra, consumirem energia de maneira eficiente e serem

controladas e gerenciadas pela comunidade local (MURPHY, MCBEAN e

FARAHBAKHSH, 2009).

Estudos como os de Morley e Smith (1977) e Lecraw (1979) analisaram o

cenário competitivo de algumas empresas de países em desenvolvimento e

constataram, como mencionado acima, que havia outros fatores além de custos de

capital e mão de obra influenciando a escolha de tecnologia. Um deles poderia ser a

falta de opções disponíveis durante tal escolha. Além disso, risco, custo da

informação, experiência e educação da gerência, pressão competitiva e lucros

projetados eram variáveis que levavam a duas medidas: buscar uma maior oferta de

tecnologia e mudar os custos de capital e mão de obra para que refletissem a

realidade da escassez naquela economia (LECRAW, 1979).

No mesmo estudo, Lecraw (1979) propôs que o cenário competitivo nos

países em desenvolvimento oferecia margem a comportamentos não ótimos na

escolha de tecnologia, de maneira que as medidas propostas não teriam o impacto

previsto ou esperado. Com isso, seria melhor que gerentes, engenheiros e

investidores tivessem mais informação sobre tecnologia apropriada e que o cenário

competitivo fosse melhorado através da redução de tarifas ou incentivos à

exportação, por exemplo.

Já fazem mais de 50 anos que o termo “tecnologia apropriada” foi cunhado,

mas ainda existe controvérsia sobre seu significado e se, de fato, representou algum

tipo de impacto significativo para países em desenvolvimento. Hoje em dia,

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representa uma filosofia mais do que uma regra ou definição rígida (MURPHY,

MCBEAN e FARAHBAKHSH, 2009).

2.1.2.1 Tecnologia social

Durante a globalização, o conceito de “tecnologia apropriada” perdeu força,

porém, devido à consequente exclusão social e degradação ambiental, foi trazido

novamente à cena de pesquisa com o nome de “tecnologia social” (RODRIGUES e

BARBIERI, 2008). Um aspecto importante que talvez não tenha sido considerado

para a tecnologia apropriada é que inovação não deve ser desenvolvida em um

lugar e aplicada em outro, mas sim no mesmo local onde a tecnologia será

implementada e pelos próprios atores que irão utilizá-la(DAGNINO, BRANDÃO e

NOVAES, 2004).

Posto isso, pode-se dizer que a tecnologia social não é distinta da tecnologia

convencional produzida pela empresa, intensiva em conhecimentos gerados em

unidades de P&D, mas difere em resultados a serem alcançados em termos de

geração de postos de trabalho, redução do consumo de recursos naturais e

promoção de autossuficiência regional e local. Difere ainda pela maneira como é

produzida, pois ressalta a participação efetiva dos que serão os seus pretensos

beneficiados, tendo como elemento central a emancipação dos atores envolvidos.

Desse modo, a tecnologia social é um instrumento do desenvolvimento sustentável

de modo autêntico, pois além da erradicação da pobreza e cuidado com o meio

ambiente, promove a cidadania deliberativa, aquela na qual a “pessoa toma

consciência da sua função como sujeito social, e não adjunto, e como tal passa a ter

uma presença ativa e solidária nos destinos da sua comunidade” (TENÓRIO, 1998).

2.1.3 Modelo multiobjetivo e multicritério

Ao longo dos anos, o estudo de escolha tecnológica mostrou que algumas

tecnologias podem ser inadequadas em certas condições, mas não

necessariamente devido a aspectos técnicos. Na verdade, existem outras

dimensões do contexto no qual uma tecnologia é inserida, como, por exemplo, as

dimensões ambiental, econômica, social e cultural (CORDEIRO NETTO, SOUZA e

LOPES JR, 2001). Os autores definem que as teorias multicritério de auxílio à

decisão propõem abordagens que permitem tratar de problemas decisórios que

apresentam mais de um objetivo e são caracterizados por tipos e níveis de incerteza

que aumentam a complexidade da escolha como um todo.

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A análise multicritério pode também ser empregada em casos nos quais não

se tem apenas um tomador de decisão, mas um grupo deles, cada um com objetivos

e critérios próprios, frequentemente conflitantes. O agente que decide pode ser

composto por grupos maiores da sociedade, organizações, agências de meio

ambiente, bancos de fomento, etc.

2.1.3.1 Histórico

Segundo Souza et al. (2009), o método multiobjetivo e multicritério é um

estágio avançado, porém não final, da evolução dos métodos de escolha

tecnológica. Os autores ressaltam que fatores econômicos, sociais, culturais,

cognitivos e educacionais podem e devem ser considerados na escolha da “melhor”

tecnologia. Consequentemente, não se trata apenas de selecionar a alternativa mais

barata ou a mais simples, mas aquela que atenda concomitantemente a alguns

padrões de preferência e que satisfaça aos múltiplos atores do processo de decisão.

Em um exemplo simples, é possível ilustrar os principais elementos da

metodologia. Considerando a compra de comida para a semana, deve-se atender ao

apetite variado de toda a família (multiobjetivo), pelo menor preço e maior prazo de

validade (multicritério). Nesse cenário, a metodologia multiobjetivo e multicritério é

capaz de fornecer os instrumentos para sistematizar a informação e captar as

preferências de todos os atores, além de fornecer uma solução que, teoricamente, é

a mais próxima do ponto de satisfação comum a todos os atores. Historicamente, um

processo de decisão dessa natureza vinha sendo pautado em métodos econômicos

e financeiros. Foi assim que o mundo evoluiu para métodos econômicos mais

racionais, chamados “custo-benefício” e “custo-efetividade”, em que não se escolhia

mais a alternativa de menor custo, mas a alternativa que oferecesse o máximo de

benefícios com o mínimo de custos (SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009).

Entretanto, nas últimas décadas, alguns movimentos sociais introduziram

novas variáveis ao problema, como é o caso dos conceitos de tecnologia apropriada

e, mais recentemente, de desenvolvimento sustentável. O conceito de tecnologia

apropriada introduziu a concepção de “ajuste tecnológico”, que significa que um

determinado elemento deve atender justamente às necessidades, nem mais, nem

menos. O segundo conceito – desenvolvimento sustentável – insere de maneira

incisiva no processo decisório a variável ambiental, a preservação e a conservação

da natureza (SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009).

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É nesse contexto que o método multiobjetivo e multicritério aparece como um

avanço na maneira de decidir, introduzindo vários gestores no processo e tornando

a decisão mais “social” e democrática. A partir da definição dos atores, eles podem

ser consultados para escolherem os objetivos da decisão em questão. Esses

objetivos devem ser convertidos em atributos ou critérios, que podem ser de ordem

educacional, jurídica, social, econômica, ambiental ou técnica. Os atores podem

optar pelas alternativas que devem ser consideradas no processo de decisão e a

maneira de criar essas alternativas (SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009). Além

disso, com a análise multiobjetivo, pode-se inserir o fator humano na decisão,

administrando-se conflitos de interesses e de preferências (CORDEIRO NETTO,

SOUZA e LOPES JR, 2001).

2.1.3.2 Etapas do método multiobjetivo e multicritério

As técnicas de análise de decisão com múltiplos objetivos e múltiplos critérios

baseiam-se no conceito de que é impossível encontrar uma única solução ótima

para um problema do mundo real, já que esse é suficientemente complexo,

admitindo mais de um objetivo a ser atingido. O conceito comum é o do “Ótimo de

Pareto”, de acordo com o qual existe um ponto no sistema que atinge a “satisfação”

máxima dos atores envolvidos naquela decisão (SOUZA, CORDEIRO e SILVA,

2009).

Souza et al. (2009) definem cinco passos sequenciais para a resolução

completa de um problema, envolvendo múltiplos objetivos e múltiplos critérios:

1. Início: o processo começa quando o agente decisor identifica a necessidade

de alteração no sistema (conjunto de partes e suas interrelações para

alcançar um conjunto de metas), diagnosticando a situação e estabelecendo

objetivos gerais e necessidades globais.

2. Formulação do problema: consiste na tradução dos objetivos globais em

um conjunto de objetivos múltiplos mais específicos e na discriminação dos

elementos essenciais do sistema.

3. Modelagem do problema: constrói-se um modelo por meio de um conjunto

de variáveis-chave e suas relações lógicas ou físicas, de modo a facilitar a

análise efetiva dos aspectos pertinentes ao sistema e gerar cursos de ação

alternativos. Podem-se empregar diversos tipos de modelo, tais como

modelos mentais, gráficos, físicos e matemáticos.

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4. Análise e avaliação: busca-se traduzir os objetivos particulares em atributos

que são medidos em escala apropriada para uma dada alternativa e servem

como unidades de comparação. Os valores dos atributos medidos para cada

alternativa podem ser obtidos tanto por meio de um modelo como por meio

de julgamentos subjetivos. Essa etapa é concluída com a avaliação de cada

alternativa em relação às outras em termos de uma regra de decisão pré-

estabelecida ou de um conjunto de regras usado para classificar as

alternativas disponíveis. A alternativa que tiver a melhor classificação, de

acordo com a regra de decisão, é escolhida para implementação.

5. Implementação: compreende a tomada de decisão, por parte do agente

decisor, na qual a alternativa escolhida é implementada, encerrando-se o

processo, ou é considerada insatisfatória. Nesse último caso, pode-se

retornar ao passo de formulação do problema, reavaliando todas as

definições feitas e repetindo-se todo o processo até que se alcance uma

decisão satisfatória.

No processo de análise de um problema com múltiplos objetivos e critérios,

destacam-se dois grupos distintos que influenciam o resultado final (SOUZA,

CORDEIRO e SILVA, 2009):

o grupo de decisores, devido à sua avaliação numérica dos critérios e

pesos;

o grupo de analistas (engenheiros ou indivíduos que dominam as

técnicas de análise de auxílio à decisão), que fazem várias escolhas

subjetivas durante a configuração do sistema de análise.

A próxima seção introduz a definição de critérios, uma vez que este elemento

será o foco principal desta pesquisa.

2.1.3.3 Elementos da formulação do problema multiobjetivo e multicritério

Retomando a segunda das cinco etapas propostas por Souza et al. (2009)

para resolução de um problema (seção 2.1.3.2), a aplicação do método multiobjetivo

e multicritério requer a identificação de alguns elementos-chave no sistema, mais

especificamente, os atores e seus objetivos, que levam à definição de critérios de

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decisão na quarta etapa. A respeito da determinação desses elementos, Souza et al.

(2009) observam:

1. Atores são pessoas ou grupos de pessoas envolvidos de maneira direta

ou indireta na escolha das alternativas de solução do problema ou no

processo de decisão da solução para esse problema. Os atores

geralmente têm interesses ou objetivos distintos na escolha de

alternativas para a solução do problema.

2. Os objetivos constituem as condições nas quais, idealmente, os atores

desejam que o sistema esteja. Podem ser factíveis ou não, e auxiliam na

comparação entre o estado atual do sistema com o estado que se

deseja atingir. Existem várias maneiras de se fixarem os objetivos para

um dado problema, sendo indicada, quando possível, a consulta direta

aos atores. Em caso de dificuldade, a definição dos objetivos pode ser

feita, por exemplo, através de consulta a trabalhos prévios, nos quais

tenham sido considerados os mesmos atores.

3. Os objetivos delineados para o caso estudado deverão ser traduzidos

em metas claras e quantificáveis, por meio da especificação de escalas

muito bem definidas (SOUZA, 1997). Tais escalas são, então,

denominadas critérios de decisão, que podem ser tangíveis ou

intangíveis. Critérios tangíveis são assim denominados por serem

avaliados com base em variáveis quantificáveis, enquanto os intangíveis

se identificam por não possuírem essa característica, ou seja, sua

mensuração se faz através de julgamento de valor.

A seção a seguir introduz a área de saneamento e inicia a argumentação

acerca da escolha de tecnologia para tais processos, considerando sempre os

critérios de decisão.

2.1.4 Análise tecnológica para tratamento de esgotos

No âmbito do tratamento de esgotos, o método multiobjetivo e multicritério é

bastante reconhecido, inclusive devido à crescente presença dessa ferramenta

como apoio de decisão em problemas ambientais. Outros exemplos de emprego da

ferramenta citados por Brostel et al. (2001) incluem: processos decisórios em

planejamento e gestão de recursos hídricos; metodologias de seleção de

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alternativas para tratamento de esgotos; gestão e disposição de resíduos sólidos;

planejamento e uso do solo; gestão de recursos naturais; e auditorias ambientais.

Cordeiro Netto et al. (2001) reforçam a aplicabilidade do método multiobjetivo

e multicritério no caso específico de avaliação do desempenho de unidades de

tratamento de efluentes, ressaltando algumas características do processo. São elas:

os vários objetivos a serem atingidos (sanitários, ambientais, econômicos e

financeiros); os vários agentes decisores (o prestador de serviços de saneamento, o

órgão ambiental, etc.); e o caráter holístico e multidimensional da escolha

tecnológica.

Em um estudo sobre indicadores para processos de tratamento de efluentes,

Brostel et al. (2001) sugerem que seus achados, ainda que referentes àquele caso

específico, podem ser extrapolados para outros processos de tratamento, já que se

referem às condições gerais das estações de tratamento de esgotos (ETE’s). Sendo

assim, a presente dissertação aproveitará alguns dos indicadores utilizados por

Brostel et al. (2001).

Por ter impacto direto na qualidade de vida e na saúde pública, o tratamento

de esgotos está fortemente ligado à atuação do governo na região atendida. Ao

mesmo tempo, a oferta de água de alta qualidade utilizando fontes de baixa

qualidade apresenta alto custo. Consequentemente, existe o desafio de combinar

operações eficazes, cujo custo total por unidade de volume de água tratada seja

menor que o valor percebido da água oferecida ao público (WEBER, 2006). Caso

contrário, não haverá incentivos do ponto de vista da população atendida para

consumir água tratada, o que impedirá o desenvolvimento das ETE’s e o pagamento

do investimento inicial.

No campo de tecnologias para o tratamento de esgotos sanitários, existem

diversas alternativas disponíveis, explicitadas na seção 2.2.4.4. Os fatores vistos na

seção 2.1.1, para escolha de tecnologia no setor industrial, podem então ser

adaptados para o setor de saneamento, traduzindo-se em (UNICAMP, 2005):

área disponível para implantação da ETE;

topografia dos possíveis locais de implantação e das bacias de

drenagem e esgotamento sanitário;

volumes diários a serem tratados e variações horárias e sazonais da

vazão de esgotos;

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características do corpo receptor (rios e mares) de esgotos tratados;

disponibilidade e grau de instrução da equipe operacional responsável

pelo sistema;

disponibilidade e custos operacionais dos insumos (ex. energia elétrica);

clima e variações de temperatura da região;

disponibilidade de locais e/ou sistemas de reaproveitamento e/ou

disposição adequados dos resíduos gerados pela ETE.

Além desses critérios técnicos e legais, é de interesse da atual pesquisa

compreender a forma com que a tecnologia se insere e se relaciona com o meio

ambiente, isto é, o impacto ambiental do processo, considerando especialmente o

consumo de recursos para seu funcionamento. Tal impacto inclui, principalmente, a

poluição gerada e o consumo de energia, mas considera também outros fatores, que

serão explicitados no devido momento.

2.2 A água

Esta seção apresenta um pouco da situação da água no mundo atual. Isso

inclui uma revisão sobre as fontes de água, seus usos e descarte, além das

tecnologias utilizadas para o tratamento e reciclagem da água.

2.2.1 Sobre a água

A água, um mineral abundante no planeta Terra, é rara no sistema solar e no

universo conhecido. É também condição essencial para a existência da vida, assim

como um importante insumo de diversos processos produtivos (MIRANDA, 2004).

Existe água em praticamente toda parte do planeta, sendo de particular importância

o seu papel para a existência dos seres vivos. Alguns chegam a considerá-la o

recurso mais precioso disponível para a humanidade (GOMES, 2009), o que eleva o

grau de relevância de estudos que objetivam sua preservação.

Quase toda a água do planeta está concentrada nos oceanos. Menos de 3%

estão em terra e a maior parte desta fração está sob a forma de gelo e neve ou

abaixo da superfície (água subterrânea). Estima-se que haja 34,6 milhões de km3 de

água doce no mundo, mas somente 30,2% podem ser utilizados para a vida vegetal

e animal nas terras emersas (água doce subterrânea, rios, lagos, pântanos, umidade

do solo e vapor na atmosfera). O restante encontra-se nas calotas polares, geleiras

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35

e solos gelados. Dos 10,5 milhões de km3 de água doce, apenas 0,9% é água doce

superficial (rios e lagos) diretamente disponível para o consumo humano, estando o

restante no subterrâneo. Esse volume é suficiente para atender de seis a sete vezes

o mínimo anual exigido por pessoa, considerando-se uma população global de 6,4

bilhões de habitantes (GOMES, 2009).

Apesar da aparente abundância de água doce em escala global, sua

distribuição é irregular, conforme mostra a Figura 2. Os fluxos estão concentrados

nas regiões intertropicais, que possuem 50% do escoamento das águas, enquanto

as zonas temperadas contêm 48% e as zonas áridas e semi-áridas contêm apenas

2%. Além disso, as demandas também são diferentes entre populações, sendo

maiores nos países desenvolvidos.

Figura 2 Distribuição mundial dos recursos hídricos (GOMES, 2009)

Ainda segundo Gomes (2009), o Brasil detém aproximadamente 12% da

reserva hídrica do planeta, além de possuir os maiores recursos mundiais, tanto

superficiais (bacias hidrográficas do Amazonas e Paraná), quanto subterrâneos

(bacias sedimentares do Paraná, Piauí e Maranhão). Todo esse potencial tem o

reforço de chuvas abundantes em mais de 90% do território que, aliadas a

formações geológicas, favoreceram a gênese de imensas reservas subterrâneas,

assim como possibilitaram a instalação de extensas redes de drenagem, gerando

cursos d’água de grandes expressões.

No entanto, esse potencial hídrico é distribuído de forma irregular pelo país. A

Amazônia, por exemplo, que apresenta a segunda menor densidade demográfica

(IBGE, 2003), possui 78% da água superficial, enquanto o sudeste, que detém a

América do norte; 17%

América central; 2%

América do sul; 27%

Europa; 15%

África; 9%

Ásia; 26%

Oceania; 4%

Distribuição dos recursos hídricos

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maior concentração populacional do país, possui somente 6% do total da água

disponível.

2.2.2 Considerações sobre a água para uso humano

A água está presente em praticamente todos os aspectos da vida animal e

vegetal, sendo usada tanto na nutrição quanto para outros fins, como higiene e

recreação. De acordo com a Carta Europeia da Água, proclamada pelo Conselho da

Europa em maio de 1968, “não há vida sem água. A água é um bem precioso,

indispensável a todas as atividades humanas”.

O corpo humano contém de 70% a 75% de água, adquirida principalmente

através da alimentação e expelida através de transpiração, respiração ou

excrementos (MIRANDA, 2004). Para suprir a necessidade de hidratação, estima-se

que o consumo ideal médio seja de três litros diários por pessoa. No entanto,

quando se leva em consideração outros usos da água, este valor pode chegar a 50

litros por pessoa (ANDERSON, 2007). Mesmo assim, segundo relatório da

Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o desenvolvimento dos recursos

hídricos no mundo, atualmente, 1,3 bilhão de pessoas não possuem acesso à água

potável e cerca de 40% da população mundial não dispõem de condições sanitárias

básicas (GOMES, 2009). Além disso, a cifra mencionada não considera os gastos

decorrentes do mau uso da água ou mesmo da falta de informação de seus

usuários. Finalmente, acredita-se que a água poluída seja responsável por mais

mortes do que a violência, incluindo guerras (REUTERS/BRASIL ONLINE, 2010).

O crescimento da população mundial tem seguido um ritmo acelerado nos

últimos anos, com taxas que levam à previsão de nove bilhões de pessoas até 2050,

comparados aos seis bilhões de habitantes em 2009 (WMO, 2009). Como

consequência, cresceu também a demanda por água (RICHARDS e SCHÄFER,

2010). Porém, a capacidade da natureza de repor suas fontes está bem abaixo da

nova demanda (WEBER, 2006). Além, disso, vivemos o fenômeno do aquecimento

global, que altera o nível dos oceanos, causando extremos meteorológicos como

enchentes e secas, o que altera diretamente a disponibilidade da água para

consumo (WMO, 2009).

Para melhor ilustrar esse cenário, existe uma estimativa da ONU de que, em

2025, os prováveis oito bilhões de habitantes devem partilhar da mesma quantidade

de água doce disponível hoje. Desse modo, as reservas em 2025 serão, em média,

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de 4.800 m3 por habitante/ano, contra 7.300 m3 disponíveis em 2000 e 16.800 m3

em 1950. No Brasil, esse valor era de 34.000 m3 por habitante/ano em 2000, não

diferindo muito em relação a 2009, o que caracteriza o país como privilegiado em

disponibilidade hídrica em comparação à média mundial (GOMES, 2009).

O autor aponta que o cenário de escassez não se deve apenas à

irregularidade na distribuição da água e ao aumento das demandas, mas também ao

fato de que, nos últimos 50 anos, a degradação da qualidade da água aumentou em

níveis alarmantes. Atualmente, grandes centros urbanos, industriais e áreas de

desenvolvimento agrícola com grande uso de adubos químicos e agrotóxicos já

enfrentam a falta de qualidade da água, o que pode gerar graves problemas de

saúde pública.

No cenário brasileiro, a realidade observada é que a água limpa está cada

vez mais rara na região litorânea e a água potável cada vez mais cara, devido ao

uso sem consciência. O desperdício fica entre 50% e 70% nas cidades, onde

também se questiona a qualidade da água. Assim, parte da água no país já perdeu a

característica de recurso natural renovável, principalmente nas áreas densamente

povoadas, em razão de processos de urbanização, industrialização e produção

agrícola, que são incentivados, mas pouco estruturados em termos de preservação

ambiental, sobretudo em relação aos recursos hídricos.

Gomes (2009) mostra que, nas cidades, de um modo geral, os problemas de

abastecimento estão diretamente relacionados ao crescimento da demanda, ao

desperdício e à urbanização descontrolada, que atinge as áreas de mananciais. A

baixa eficiência das empresas de abastecimento associa-se ao quadro de poluição:

as perdas na rede de distribuição por roubos e vazamentos atingem entre 40% e

60%, além de 64% das empresas não coletarem o esgoto gerado. O saneamento

básico não é implantado de forma adequada, já que 90% dos esgotos domésticos e

70% dos efluentes industriais são jogados sem tratamento nos rios, açudes e águas

litorâneas, gerando um nível de degradação sem precedentes.

Na zona rural nota-se com frequência que os recursos hídricos são também

explorados de forma irregular, muitas vezes com retirada excessiva de água dos

mananciais, um problema agravado ainda pela escassez de mata ciliar e de

cobertura vegetal nas nascentes, fundamental na proteção dos cursos d’água. Não

raramente, os agrotóxicos e dejetos utilizados nessas atividades também alteram a

qualidade da água.

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Como indicado na Carta Europeia da Água, “os recursos de águas doces não

são inesgotáveis. É indispensável preservá-los, administrá-los e, se possível,

aumentá-los.” Fica claro, portanto, que a água, apesar de abundante e disponível

por direito à humanidade (UN, 2002), não deve ser tratada de forma banal. Pelo

contrário, é importante que esse recurso seja valorizado de maneira a garantir sua

sustentabilidade, ou seja, que esteja também disponível para as gerações futuras. É

necessário haver conscientização da população mundial, sem exceções, para que

sejamos capazes de preservar um recurso vital.

Como mencionado anteriormente, a água existe de maneira natural no

planeta, obedecendo a um ciclo de evaporação, condensação e precipitação.

Porém, esse ciclo não aumenta a quantidade de água consumível, tornando então

imprescindíveis a pesquisa e o desenvolvimento de reuso e reciclagem hídricos.

2.2.3 O conceito de reuso e reciclagem

Apesar da degradação, a água disponível no território brasileiro é suficiente

para as necessidades do país. Torna-se necessário, então, maior conscientização

da população sobre o uso da água e maior cuidado com a questão do saneamento e

abastecimento por parte do governo. Estima-se que 90% das atividades modernas

poderiam ser realizadas com água de reuso, diminuindo a demanda por água

tratada e o custo para o usuário, já que essa água chega a ser 50% mais barata que

aquela fornecida pelas companhias de saneamento (GOMES, 2009).

O reaproveitamento ou reuso da água é o processo pelo qual a água, que

pode ser tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro fim. Tal reutilização

pode ser direta ou indireta, conforme vemos a seguir (UNIVERSIDADE DA ÁGUA,

2003).

Reuso indireto não planejado: ocorre quando a água é descarregada

no meio ambiente e novamente utilizada a jusante do ponto de

descarga, de maneira não intencional e não controlada. Durante o trajeto

até o ponto de captação do novo usuário, a água está sujeita às ações

naturais do ciclo hidrológico (diluição, autodepuração).

Reuso indireto planejado: ocorre quando os efluentes, depois de

tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas

superficiais ou subterrâneas, e utilizados a jusante, de maneira

controlada. O reuso indireto planejado pressupõe que exista também um

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controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho,

garantindo assim que o efluente tratado esteja sujeito apenas à mistura

com outros efluentes que também atendam aos requisitos de qualidade

do reuso objetivado.

Reuso direto planejado: ocorre quando os efluentes, depois de

tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até

o local do reuso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso

com maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria ou irrigação.

Reciclagem: é o reuso interno da água, antes de sua descarga em um

sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, servindo como

fonte suplementar de abastecimento do uso original. Este é um caso

particular do reuso direto planejado.

Apesar de a água de reuso ser inadequada para consumo humano, pode ser

utilizada nas indústrias, para resfriamento de máquinas, na lavagem de áreas

públicas e nas descargas sanitárias de condomínios. Além disso, novas construções

residenciais ou comerciais podem incorporar sistemas de aproveitamento da água

da chuva para usos gerais que não o consumo humano.

2.2.4 Tratamento da água

Tendo entendido o valor da água na rotina dos seres vivos e a escassez que

podemos experimentar em um futuro não muito distante, é necessário buscar formas

de reciclar o recurso existente. Como grande parte do consumo hídrico requer água

limpa, ou seja, livre de organismos e substâncias que não são naturais a ela, a

reciclagem da água representa a limpeza do próprio recurso, a fim de retirar tais

impurezas.

A água que alimenta o processo de tratamento é conhecida como água

residual e se caracteriza por ser a combinação dos resíduos líquidos, ou contidos

em água, que são descartados por residências, instituições e estabelecimentos

comerciais e industriais. Além disso, a água residual contém tambémágua de lençóis

subterrâneos, água de superfície e precipitação. Águas residuais geralmente contêm

grande carga de resíduos consumidores de oxigênio, agentes patogênicos ou

causadores de doenças, material orgânico, nutrientes que estimulam o crescimento

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de plantas, químicos inorgânicos, minerais e sedimentos (SONUNE e GHATE,

2004).

A água residual pode ser controlada em três momentos do ciclo de uso:

quando é gerada; em estações de tratamento municipais, antes de ser descartada; e

onde será reutilizada ou descartada diretamente em outros cursos d’água (SONUNE

e GHATE, 2004). Existem, portanto, diferentes tipos de tratamento para cada tipo de

água residual, dependendo de suas características químicas, físicas e biológicas. A

Tabela 2 resume quais tipos de características podem ser observadas na análise da

água residual.

Tabela 2 Características observadas para o tratamento da água residual (CRUZ, 1997)

Característica Observação

Caracterização Física

Temperatura A temperatura é um indicador da facilidade de sedimentação, além de

influenciar na velocidade das reações químicas, na solubilidade dos

gases e na taxa de crescimento dos microrganismos.

Cor A cor é um indicador da origem da água: natural inorgânica (ex.:

metais), orgânica (animal ou vegetal) e industrial (ex.: pasta de papel e

refinarias).

Turvação Constata a presença de partículas coloidais não sedimentáveis e de

sólidos suspensos, interferindo na passagem da luz através da água.

Sabores e odores Propriedade que está diretamente associada à existência de impurezas

orgânicas.

Sólidos totais Matéria que permanece como resíduo após evaporação de 103 a

105ºC. É o critério mais simples de medição da carga poluente de uma

água residual, incluindo os sólidos dissolvidos e os sólidos suspensos.

Caracterização Química

pH Ácido, neutro ou alcalino.

Alcalinidade Determina o número de equivalentes de ácido forte para neutralizar a

amostra até o ponto de equivalência.

Condutividade É uma medida da capacidade de uma solução aquosa para transportar

uma corrente elétrica.

Dureza Afeta a quantidade de sabão necessária para produzir espuma e dá

origem a incrustações em tubulações de água quente, panelas e outros

equipamentos nos quais a temperatura da água é elevada.

Oxigênio

dissolvido

Permite a determinação da quantidade de carga de poluentes

orgânicos existentes na amostra. Geralmente, utiliza-se o método de

Winkler.

Demanda

bioquímica de

oxigênio (DBO)

Determina o oxigênio consumido na oxidação da matéria orgânica em

condições aeróbicas. O método mais utilizado é também o de Winkler.

Demanda química

de oxigênio (DQO)

Permite a determinação das substâncias orgânicas e inorgânicas

suscetíveis à oxidação por ação de agentes oxidantes fortes.

(Cont.)

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41

Tabela 2 (Cont.)

Caracterização Biológica

Coliformes A determinação dos coliformes totais e fecais é um indicador da

quantidade de matéria orgânica.

Streptococcus

faecalis

Bactéria existente no trato digestivo de mamíferos que pode causar

infecções em humanos.

Colesterídeos Moléculas de gordura, também chamadas de ésteres de colesterol.

2.2.4.1 Etapas do processo de tratamento da água

O processo de tratamento da água envolve sua descontaminação, evitando a

transmissão de doenças e tornando-a potável, ou seja, própria para o consumo

humano. A água pode ser potável já em sua fonte natural, desde que não haja

nenhum tipo de contaminação na nascente ou no percurso até a fonte.

De acordo com Cruz (1997), existem quatro tipos de tratamento de águas,

mas a necessidade de utilizá-los depende da origem do efluente. São eles:

o tratamento preliminar, constituído unicamente por processos físico-

químicos, compreende a remoção de sólidos grandes, que flutuam,

através da utilização de grelhas e filtros grossos, além da separação da

água residual por canais de areia;

o tratamento primário é também constituído unicamente por processos

físico-químicos, que visam separar as fases sólida e líquida presentes

no efluente através de processos de floculação e sedimentação. Os

lodos resultantes desse tratamento estão sujeitos a um processo de

digestão anaeróbico num digestor anaeróbico ou tanque séptico;

o tratamento secundário é constituído por processos biológicos

seguidos de processos físico-químicos. No processo biológico, o

efluente pode ser tratado de forma aeróbica ou anaeróbica. Já o

processo físico-químico é constituído por um ou mais sedimentadores

secundários, onde acontece a sedimentação de sólidos ou flocos

biológicos. As lamas resultantes desse tratamento são secas em leitos

de secagem, sacos filtrantes ou filtros de prensa;

o tratamento terciário, ou avançado, é também constituído unicamente

por processos físico-químicos. Nessa fase, procede-se à remoção de

microrganismos patogênicos e a água resultante é sujeita a

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desinfecção através da adsorção (com a utilização de carvão ativado),

e, se necessário, tratamento com cloro e ozônio.

A Tabela 3 consolida os processos descritos acima em um macroprocesso de

tratamento, tal como seria necessário para tornar a água potável (uso que requer

água o mais limpa possível).

Tabela 3 Etapas para o tratamento da água (UFPR, 2007)

Processo Descrição

Pri

mári

o

Aeração Troca de gases entre a água e o ar. O objetivo principal é a

remoção de gases dissolvidos, compostos orgânicos voláteis

e bactérias que oxidam facilmente.

Coagulação Através da adição de um agente coagulante, transforma as

impurezas que se encontram como suspensões finas em

coloides e em partículas que sejam removíveis por

sedimentação ou filtração.

Floculação Aglomeração dos coloides e partículas em suspensão, após

a coagulação por agitação lenta.

Se

cu

nd

ári

o

Sedimentação ou

Decantação

Processo pelo qual se verifica a deposição de materiais em

suspensão, pela ação da gravidade.

Filtração A filtração da água consiste em fazê-la passar através de

substâncias porosas, capazes de reter ou remover algumas

de suas impurezas. O material geralmente empregado é a

areia.

Terc

iári

o Desinfecção ou

Esterilização

Consiste na eliminação dos germes patogênicos da água,

particularmente as bactérias, tornando-a própria para

consumo humano. A clarificação é o meio mais eficaz e de

maior aplicação nas estações de tratamento de água.

Os processos descritos acima são considerados tratamentos convencionais.

Porém, a etapa terciária subdivide-se de acordo com a tecnologia empregada.

Nessa etapa avançada de tratamento, a água será purificada com o uso de

membranas ou mudança de fase. Na primeira categoria, encontram-se as técnicas

de troca de íons, eletrodiálise, nanofiltração e osmose reversa. Já a segunda

engloba técnicas de destilação, congelamento e vaporização para separar a água

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das impurezas nela dissolvidas (RAMALHO, 2004). Essa etapa é essencial para

evitar a proliferação de doenças.

2.2.4.2 Padrões para definição da qualidade da água tratada

Até o final do século XIX, a qualidade da água para consumo humano era, em

geral, aferida por sua aparência física. A partir do século XX, depois da ocorrência

de diversos surtos de doenças de veiculação hídrica e com o avanço do

conhecimento científico, tornou-se necessário o desenvolvimento de recursos

técnicos, e mais tarde legais, que, de modo objetivo, traduzissem as características

que a água deveria apresentar para ser considerada potável. Assim, a qualidade da

água para consumo humano passou a ser estabelecida com base em valores

máximos permitidos (VMP) para diversos contaminantes, ou indicadores da

qualidade da água, reunidos em normas e critérios de qualidade da água, ou

padrões de potabilidade (CEBALLOS, DANIEL e BASTOS, 2009).

Um dos principais estágios na instauração de padrões é a conversão da

filosofia, da orientação e dos valores numéricos dos parâmetros gerais,

estabelecidos por agências internacionais, tais como a Organização Mundial da

Saúde (OMS) e o Banco Mundial, em padrões de qualidade, definidos por país. Os

parâmetros internacionais são genéricos por natureza e têm por objetivo preservar a

saúde pública e o meio ambiente em escala global. Já os padrões nacionais são

definidos por cada país, têm status legal e baseiam-se nas condições do país.

Dependendo da estrutura política, pode haver padrões regionais, que são iguais a

ou mais rigorosos e detalhados do que os padrões nacionais. A conversão dos

parâmetros e orientações gerais é crucial, pois exerce papel significativo no

desenvolvimento da saúde e do meio ambiente em um país. Se feita de maneira

inadequada, pode levar ao descrédito, à frustração, a gastos desnecessários de

dinheiro e a sistemas insustentáveis, dentre outros problemas (VON SPERLING e

CHERNICHARO, 2002).

No Brasil, em 1977, por meio do Decreto Federal nº 79.367, ficou

estabelecida como competência do Ministério da Saúde regulamentar matérias

referentes à qualidade da água para consumo humano no país. Nesse mesmo ano,

foi editada a primeira legislação sobre potabilidade da água válida em todo o

território nacional – a Portaria nº 56/BSB (CEBALLOS, DANIEL e BASTOS, 2009).

Hoje em dia, os órgãos responsáveis por dita conversão são a Agência Nacional de

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Vigilância Sanitária (ANVISA), vinculada ao Ministério da Saúde, o Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a Agência Nacional das Águas (ANA),

vinculados ao Ministério do Meio Ambiente. Os padrões e condições de qualidade

das águas, assim como os padrões para lançamento de efluentes em corpos

receptores estão estabelecidos na Resolução CONAMA nº 357 (CONAMA, 2005).

Conforme observado por Von Sperling e Chernicharo (2002), os padrões não

são necessariamente os mesmos em regiões geográficas diferentes. Caso o uso

pretendido para a água afete os padrões da sua qualidade , ocorre também que a

tecnologia disponível para tratamento de águas residuais também afetará tais

padrões. Caso isso não seja considerado, os padrões de qualidade não serão

efetivamente praticados, ou seja, não cumprirão seu papel no desenvolvimento

ambiental do país, ficando restritos a leis e papeis oficiais, sem afetar a realidade.

Para a pesquisa atual, as características escolhidas para classificar a

qualidade do efluente seguirão o estudo de Von Sperling e Chernicharo (2002). São

elas as concentrações de DBO, DQO, sólidos em suspensão (SS), amônia,

nitrogênio total, fósforo total, coliformes fecais e ovas de vermes. Duas importantes

motivações para a escolha destes padrões são a preservação da qualidade da água

no corpo receptor e a manutenção sanitária de espaços públicos.

2.2.4.3 Tratamento de esgotos

Os esgotos domésticos representam uma parcela significativa dos esgotos

sanitários, provenientes de residências, edificações públicas e comerciais, que

concentram aparelhos sanitários, lavanderias e cozinhas. Apesar de variarem em

função dos costumes e condições socioeconômicos das populações, os esgotos

domésticos costumam ter características bem definidas, resultado do uso feito pelo

homem em função dos seus hábitos higiênicos e de suas necessidades fisiológicas.

Como visto na seção 2.2.4.1, sobre as etapas do tratamento de água, o

efluente tratado é composto basicamente por água, sólidos e microrganismos. O

esgoto tem composição semelhante, sendo 99,9% água e 0,1% sólidos, dos quais

70% são sólidos orgânicos (proteínas, carboidratos, gorduras) e 30% são sólidos

inorgânicos (areia, sais e metais). Com essa proporção de componentes, a água em

si atua principalmente como um meio de transporte para as substâncias orgânicas e

inorgânicas e os microrganismos (JENKINS, 1999).

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45

Nesse cenário, é razoável pensar que o tratamento de esgotos seria uma

maneira eficaz de reaproveitar grande parte da água usada na rotina humana. Ainda

que a água proveniente do tratamento de esgotos não seja adequada para beber,

pode ser utilizada para outros fins, como resfriamento de equipamentos, limpeza de

ruas, rega de jardins, geração de energia e outros processos industriais (SABESP,

2009).

A fim de tornar tangível o benefício do reaproveitamento da água no esgoto, a

Tabela 4 agrupa alguns exemplos de sucesso.

Tabela 4 Casos de reaproveitamento da água de esgoto

Caso Benefício Local

Tratamento de esgoto e reuso da

água para diversos fins urbanos

(ARCHIBOLD, 2007)

- Barreira contra a intrusão de

água do mar no lençol freático

- Abastecimento de aquíferos que

fornecem para 2,3 milhões de

pessoas

Califórnia, EUA

3M do Brasil Ltda. (NIETO, 2009) Redução na captação de água da

empresa em aproximadamente

97.600 m3/ano

Sumaré, SP

Votorantim Celulose e Papel

(NIETO, 2009)

Redução nas vazões específicas

de captação (34%) e de efluentes

(45%)

Jacareí, SP

Kodak Brasileira Com. e Ind. Ltda.

(NIETO, 2009)

Redução de 65% no consumo de

água e ganho de76 horas/mês na

produtividade. A redução

representa 13% da captação

anual.

São José dos

Campos, SP

Companhia Brasileira de Bebidas

(NIETO, 2009)

Economia de 650.000 m3 na água

usada na produção anual

Jaguariúna, SP

Estudo de viabilidade econômica

para indústria hoteleira (DIAS,

2002)

Economia de R$2.000 mensais

com água e esgoto; ETE se paga

em menos de dois anos

Não se aplica

Irrigação com efluente de

tratamento secundário

(RODRIGUES, 2010)

Economia de 30% de fertilizante

nitrogenado mineral em um ano e

80% no ano seguinte

Lins, SP

Redução e economia de água no

setor industrial de curtume com o

reuso do seu efluente tratado

(VIEIRA, COSTA e RAMOS,

2005)

Economia de 28%, 26% e 5% nos

anos de 2002, 2003 e 2004,

respectivamente

Campina Grande,

PB

Reuso em processo industrial da

água tratada em ETE própria

(FATOR AMBIENTAL, 2008)

Redução de 45% (18.000 m3/ano)

no volume da água captada e

economia de mais de R$ 1 milhão

ao longo de cinco anos

Região

metropolitana, SP

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46

Fica claro, portanto, que a água presente no esgoto pode e deve ser

reutilizada por diversos setores, oferecendo benefícios econômicos, mas, ainda mais

importante, poupando um recurso natural importantíssimo para a vida. A seguir,

serão apresentadas algumas tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos.

2.2.4.4 Tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos

As tecnologias apropriadas para o tratamento de esgoto são apresentadas de

acordo com suas características técnicas, com foco na qualidade da água produzida

e no consumo de recursos, conforme pesquisa pela UNICAMP (2005).

2.2.4.4.1 Lagoas

As lagoas de estabilização, isto é, de transformação da matéria orgânica em

gás carbônico e metano, são consideradas uma das técnicas mais simples de

tratamento de esgotos. Dependendo da área disponível, topografia do terreno e grau

de eficiência desejado, os seguintes tipos de sistemas de lagoas podem ser

empregados.

Lagoas facultativas

Essas lagoas, que têm de 1,5 a 3 metros de profundidade, apresentam uma

mistura de condições aeróbias e anaeróbias. As condições aeróbias são mantidas

nas camadas superiores, próximas à superfície das águas, enquanto as condições

anaeróbias predominam em camadas próximas ao fundo da lagoa. Durante a noite,

apenas os processos anaeróbicos continuam ocorrendo, dando origem à zona

facultativa. Nela, a estabilização de matéria orgânica ocorre por meio de bactérias

facultativas, que podem sobreviver tanto na ausência quanto na presença de

oxigênio. Essas lagoas têm volumes elevados, de forma a permitir a manutenção de

grandes períodos de detenção hidráulica, em geral de 15 a 20 dias.

O efluente entra por uma extremidade da lagoa e sai pela outra, um processo

que pode demorar vários dias. Após a entrada do efluente na lagoa, a matéria

orgânica em suspensão (DBO particulada) começa a sedimentar, formando o lodo

de fundo, que sofre tratamento anaeróbico. Já a matéria orgânica dissolvida (DBO

solúvel) e a matéria em suspensão de pequenas dimensões (DBO finamente

particulada) permanecem dispersas na massa líquida e sofrem tratamento aeróbico.

O oxigênio é fornecido por trocas gasosas da superfície líquida com a atmosfera e

pela fotossíntese realizada pelas algas presentes, fundamentais para o processo.

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47

Para isso, é necessária suficiente iluminação solar e, portanto, essas lagoas devem

ser implantadas em lugares de baixa nebulosidade e grande radiação solar.

Embora parte do oxigênio necessário para manter as camadas aeróbias

superiores seja fornecida pela re-aeração atmosférica através da superfície, a maior

parte é suprida pela atividade fotossintética das algas, que crescem naturalmente

nas águas, onde estão disponíveis grandes quantidades de nutrientes e energia da

luz solar incidente. Com isso, as bactérias existentes nas lagoas utilizam o oxigênio

produzido pelas algas para oxidar a matéria orgânica. Um dos produtos finais do

metabolismo bacteriano é o gás carbônico, que é imediatamente utilizado pelas

algas na sua fotossíntese, estabelecendo-se, assim, um ciclo. Assim, a eficiência

desse tipo de sistema de tratamento depende da disponibilidade de grandes áreas

para que a exposição à luz solar seja adequada, podendo atingir de 70% a 90 % de

remoção de DBO (VON SPERLING, 1996).

Lagoas anaeróbias seguidas de lagoas facultativas (Sistema australiano)

As lagoas anaeróbias são, normalmente, profundas, variando entre quatro e

cinco metros, a fim de impedir que o oxigênio da camada superficial passe para as

camadas inferiores. Para garantir as condições de anaerobiose, lança-se uma

grande quantidade de efluente por unidade de volume da lagoa, o que leva o

consumo de oxigênio a ser superior àquele reposto pelas camadas superficiais.

Como a superfície da lagoa é pequena comparada com sua profundidade, o

oxigênio produzido pelas algas e aquele proveniente da re-aeração atmosférica são

considerados desprezíveis, garantindo um ambiente anaeróbico.

No processo anaeróbico, a decomposição da matéria orgânica gera

subprodutos de alto poder energético (biogás) e, dessa forma, a disponibilidade de

energia para a reprodução e o metabolismo das bactérias é menor que no processo

aeróbico.

A eficiência da remoção de DBO por uma lagoa anaeróbica é da ordem de

50% a 60%. Como a DBO efluente é elevada, existe a necessidade de outra unidade

de tratamento, sendo, nesse caso, uma lagoa facultativa. Porém, essa segunda

lagoa necessitará de uma área menor, devido ao pré-tratamento do esgoto na lagoa

anaeróbica.

O sistema composto por lagoa anaeróbica e lagoa facultativa representa uma

economia de cerca de um terço da área ocupada por uma lagoa facultativa,

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trabalhando como unidade para tratar a mesma quantidade de esgoto. Devido à

presença da lagoa anaeróbica, maus odores, provenientes da liberação de gás

sulfídrico, podem ocorrer como consequência de problemas operacionais. Portanto,

esse sistema deve ser localizado em áreas afastadas, longe de bairros residenciais

(VON SPERLING, 1996).

Lagoas aeradas facultativas

A principal diferença entre esse tipo de sistema e uma lagoa facultativa

convencional é que o oxigênio é fornecido por aeradores mecânicos, e não pela

fotossíntese realizada por algas. O equipamento é provido de turbinas rotativas de

eixo vertical, que agitam a água através de rotação em grande velocidade,

facilitando a penetração e dissolução de oxigênio. Tendo em vista a maior

introdução de oxigênio na massa líquida do que é possível numa lagoa facultativa

convencional, há uma redução significativa no volume necessário para esse tipo de

sistema, sendo suficiente um tempo de detenção hidráulica variando entre cinco e

dez dias. A área total necessária é, portanto, menor.

O grau de energia introduzido na lagoa através dos aeradores é suficiente

para a obtenção de oxigênio, porém, não é suficiente para a manutenção dos sólidos

em suspensão e bactérias dispersos na massa líquida. Portanto, ocorre

sedimentação da matéria orgânica, formando o lodo de fundo, que será estabilizado

anaerobiamente como em uma lagoa facultativa convencional.

A lagoa aerada pode ser utilizada quando se deseja um sistema

predominantemente aeróbico e a disponibilidade de área é insuficiente para a

instalação de uma lagoa facultativa convencional. Devido à introdução de

equipamentos eletromecânicos, a complexidade e manutenção operacional do

sistema são aumentadas, além da necessidade de consumo de energia elétrica. A

lagoa aerada pode também ser uma solução para lagoas facultativas que operam de

forma saturada e não possuem área suficiente para expansão (VON SPERLING,

1996).

Lagoas aeradas de mistura completa , seguidas por lagoas de decantação

É semelhante à lagoa aerada, porém, nesse caso, o grau de energia

introduzido é suficiente para manter os sólidos em suspensão e a biomassa

dispersos na massa líquida, além de garantir a oxigenação da lagoa. Devido à

grande quantidade de sólidos suspensos, o efluente desse sistema não é adequado

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para o lançamento diretamente no corpo receptor (rios e mares). Para que ocorra a

sedimentação e estabilização desses sólidos, é necessária a inclusão de unidades

de tratamento complementar, isto é, lagoas de decantação.

O tempo de detenção nas lagoas aeradas é da ordem de dois a quatro dias e

nas lagoas de decantação, dois dias. O acúmulo de lodo nas lagoas de decantação

é baixo e sua remoção é feita, geralmente, com intervalos de um a cinco anos. Esse

sistema ocupa uma área menor que os outros sistemas compostos por lagoas, mas

os requisitos energéticos são maiores que os exigidos por outros sistemas (VON

SPERLING, 1996).

Lagoa de maturação

Outro tipo de lagoa empregada no tratamento dos esgotos é a lagoa de

maturação, que tem como objetivo a remoção de agentes patogênicos,

diferenciando-se das demais citadas, que são destinadas à remoção de matéria

orgânica. Sua função principal é, portanto, a desinfecção da água, sendo uma

alternativa mais barata a outros métodos como, por exemplo, a cloração (VON

SPERLING, 1996).

2.2.4.4.2 Lodos ativados

O sistema de lodos ativados não exige grandes requisitos de área, como é o

caso das lagoas. No entanto, há um alto grau de mecanização e elevado consumo

de energia elétrica para o sistema composto por tanques de aeração, ou reatores,

tanques de decantação e recirculação de lodo.

O processo se inicia com a passagem do efluente pelo reator, onde ocorre a

remoção da matéria orgânica, e, em seguida, pelo decantador, de onde sai

clarificado após a sedimentação dos sólidos (biomassa), que formam o lodo de

fundo. Esse lodo é formado por bactérias ainda ávidas por matéria orgânica, que são

enviadas novamente para o reator através da recirculação do lodo. Com isso, há um

aumento na concentração de bactérias em suspensão no tanque de aeração,

podendo chegar a mais de dez vezes a de uma lagoa aerada de mistura completa

sem recirculação. Devem-se retirar as bactérias da lagoa a uma taxa equivalente ao

seu crescimento (lodo biológico excedente), pois, ao permitir que as bactérias se

reproduzam continuamente, alguns problemas podem ocorrer. Por exemplo, pode

haver biomassa no efluente final, devido à dificuldade de sedimentar em um

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decantador secundário sobrecarregado, ou pode ser difícil a transferência de

oxigênio para todas as células no reator.

A alta eficiência desse sistema deve-se em grande parte à recirculação de

lodo, que permite que o tempo de detenção hidráulica seja pequeno e,

consequentemente, que o reator possua pequenas dimensões. A recirculação de

sólidos também faz com que permaneçam no sistema por mais tempo que a massa

líquida. Esse tempo de permanência da biomassa no sistema é chamado de “idade

do lodo”.

Além da matéria orgânica carbonácea, o sistema de lodos ativados pode

remover também nitrogênio e fósforo. Porém, a remoção de coliformes é geralmente

baixa, devido ao pequeno tempo de detenção hidráulica. Portanto, esse processo é

normalmente insuficiente para lançamento no corpo receptor.

O sistema de lodos ativados possui algumas variantes, explicitadas a seguir

(UNICAMP, 2005).

Convencional (Fluxo contínuo)

O sistema de lodos ativados convencional é constituído por reator e

decantadores primário e secundário. No decantador primário, a matéria orgânica em

suspensão sedimentável é retirada antes de entrar no tanque de aeração, gerando

assim uma economia no consumo de energia. O tempo de detenção hidráulica é

baixo, da ordem de seis a oito horas, e a idade do lodo em torno de quatro a dez

dias. Como o lodo retirado ainda é jovem e possui grande quantidade de matéria

orgânica em suas células, há necessidade de uma etapa de estabilização do lodo

(VON SPERLING, 1997).

Aeração prolongada (Fluxo contínuo)

A diferença entre o sistema de aeração prolongada e o convencional é que a

biomassa permanece mais tempo no reator (18 a 30 dias), porém, continua

recebendo a mesma carga de DBO. Com isso, o reator possui maiores dimensões e,

consequentemente, existirá menor concentração de matéria orgânica por unidade de

volume, assim como menor disponibilidade de alimento, levando as bactérias a

metabolizar a matéria orgânica existente. Assim, o lodo já sai estabilizado do tanque

de aeração, não havendo necessidade de um biodigestor. Esse sistema também

não possui decantador primário, para evitar a necessidade de uma unidade de

estabilização do lodo dele resultante.

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Como a estabilização do lodo ocorre de forma aeróbica no reator, há um

maior consumo de energia elétrica. Porém, trata-se de um sistema de maior

eficiência de remoção de DBO dentre os que funcionam com lodos ativados (VON

SPERLING, 1997).

Fluxo intermitente ou Batelada

Nesse sistema, há apenas uma unidade (tanque) e todas as etapas de

tratamento, que passam a ser sequências no tempo e não mais unidades distintas

de tratamento, ocorrem dentro do mesmo reator. A biomassa permanece no tanque

e não há necessidade de sistema de recirculação de lodo.

Um sistema de lodos ativados de fluxo intermitente possui ciclos bem

definidos de operação: enchimento, reação, sedimentação, esvaziamento e repouso.

Em sistemas que recebem esgotos de forma contínua, como as estações de esgotos

domésticos, por exemplo, é necessário mais de um tanque de aeração trabalhando

em paralelo. Por exemplo, um tanque no ciclo de decantação não pode receber

esgotos, ou seja, deve haver outro tanque que esteja no ciclo de enchimento. Esse

sistema é intercambiável, podendo funcionar também como um sistema de lodo

ativado convencional e de aeração prolongada (VON SPERLING, 1997).

2.2.4.4.3 Filtros biológicos

O filtro biológico é constituído por um leito que pode ser de pedras, madeira

ou material sintético. O efluente é lançado sobre o filtro por meio de braços rotativos

e passa através daquele, formando uma película de bactérias em sua superfície. O

esgoto passa rapidamente pelo leito em direção ao dreno de fundo, porém, a

película de bactérias absorve uma quantidade de matéria orgânica e faz sua

digestão mais lentamente. Esse processo é considerado aeróbico, uma vez que o ar

pode circular entre os vazios do material que constitui o leito, fornecendo oxigênio às

bactérias. Quando a película de bactérias fica muito espessa, os vazios diminuem de

dimensão e aumenta a velocidade com que o efluente passa, levando ao surgimento

de forças cisalhantes, que fazem com que a película se desgarre do material.

Os filtros podem ser de dois tipos, como visto a seguir (UNICAMP, 2005).

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Filtros biológicos de baixa carga

Como a carga de DBO aplicada no sistema é baixa, o lodo sai parcialmente

estabilizado, devido ao consumo da matéria orgânica das próprias bactérias em

seus processos metabólicos, por causa da escassez de alimento.

A eficiência nesse caso é comparável à do sistema de lodos ativados

convencional. No entanto, ocupa uma área maior e possui menor capacidade de

adaptação às variações do efluente, ainda que consuma menos energia e seja mais

simples operacionalmente (VON SPERLING, 1995).

Filtros biológicos de alta carga

Comparado aos sistemas de baixa carga, esse sistema é menos eficiente e o

lodo não sai estabilizado. Já a área ocupada é menor e a carga de DBO aplicada é

maior. Há recirculação do efluente, de forma a manter os braços distribuidores

funcionando durante a noite, quando a vazão é menor, evitando assim que o leito

seque. Com isso, há também um novo contato das bactérias com a matéria

orgânica, melhorando a eficiência original do processo. Além disso, os filtros

biológicos podem ser usados em série, aumentando o contato da carga com as

bactérias digestivas. O sistema permite que diversas combinações de filtros e

recirculação sejam testadas, a fim de obter melhores resultados (VON SPERLING,

1995).

2.2.4.4.4 Biodiscos

O processo biológico com discos de película fixa é uma das tecnologias mais

eficientes e robustas para tratamento de águas residuais. Por utilizar-se de película

fixa, recupera-se mais rapidamente de choques provocados por efluentes tóxicos,

quando comparado a outros processos biológicos. Como tal, é indicado como

tratamento secundário ou primário em sistemas municipais ou industriais. Vale

lembrar, no entanto, que esse sistema destina-se ao tratamento de pequenas

vazões, pois o diâmetro máximo dos discos é reduzido, sendo necessário um grande

número de discos para vazões maiores (VON SPERLING, 1995).

Esse processo aeróbico consiste em um tanque, onde discos de plástico

rugoso giram em torno de um eixo horizontal com baixa velocidade, estando 40% da

sua área submersa no efluente. Os organismos existentes na matéria líquida

agregam-se à superfície do disco e multiplicam-se, até formarem uma película

uniforme de biomassa. Essa película fixa representa uma população grande e ativa

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de microrganismos que neutralizam os poluentes orgânicos. Durante a rotação,

parte da película fica exposta ao ar, permitindo o contato com oxigênio, que auxilia

na digestão da matéria orgânica do efluente. Ranhuras radiais e concêntricas

existentes nos biodiscos maximizam a área disponível para formação da película,

assim como o acesso do efluente e do ar.

À medida que a película de biomassa torna-se mais espessa, o excesso

destaca-se em forma de flocos, que seguem no efluente sendo posteriormente

removidos num decantador convencional. A espessura do filme de biomassa

costuma variar entre 0,75 e 3 mm, dependendo da concentração de nutrientes,

temperatura e outras variáveis do processo (OH2, 2006).

2.2.4.4.5 Fossa séptica (Filtro anaeróbico)

As fossas sépticas consistem de cavidades na terra (poços ou fossas), onde o

esgoto é lançado in natura para que, com o menor fluxo da água, a parte sólida se

deposite, liberando a parte líquida. Devido à possível presença de organismos

patogênicos, a parte sólida deve ser retirada, através de um caminhão limpa-fossas,

e transportada para um aterro sanitário nas zonas urbanas ou enterrada nas zonas

rurais.

Esse sistema, que possui menores dimensões devido à sua condição

anaeróbica, é menos eficiente que os sistemas aeróbicos, havendo, porém, uma

baixa produção de lodo, que já sai estabilizado. Por ser um processo anaeróbico, há

a possibilidade de gerar maus odores, o que pode ser evitado por planejamento e

manutenção adequados.

O tratamento de esgoto consiste em passar o efluente através da fossa, onde

a matéria orgânica sedimentável formará um lodo de fundo, que sofrerá digestão

anaeróbica. O filtro anaeróbico é constituído por um leito, normalmente de pedras,

onde se forma uma película de bactérias. O efluente entra na parte inferior do filtro e

atravessa o leito em um fluxo ascendente. Por isso, o leito é afogado, ou seja, os

vazios são preenchidos com o efluente, o que, aliado à alta concentração de matéria

orgânica por unidade de volume, faz com que as bactérias envolvidas nesse

processo sejam anaeróbicas.

Apesar de já estar estabilizado, esse lodo apresenta grande quantidade de

agentes patogênicos, o que leva a fossa séptica a ser uma etapa complementar no

tratamento do esgoto (VON SPERLING, 1995).

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54

2.2.4.4.6 Reator anaeróbico de fluxo ascendente (RAFA)

Trata-se de um reator fechado, onde o tratamento biológico ocorre por

processo anaeróbico e a decomposição da matéria orgânica é feita por

microrganismos presentes num manto de lodo, que atua como um filtro.

No reator, a biomassa cresce dispersa no meio líquido, formando pequenos

grânulos, enquanto a concentração de bactérias é elevada, criando uma manta de

lodo. O efluente entra pela parte inferior do reator e segue um fluxo ascendente. No

topo do reator, há uma estrutura cônica ou piramidal, que possibilita a separação

dos gases resultantes do processo anaeróbico (gás carbônico e metano) do efluente

e da biomassa, que sedimenta no cone, sendo devolvida ao reator.

Por ser um processo anaeróbico, pode ocorrer formação de maus odores, que

podem ser evitados com um projeto adequado. Além disso, o mecanismo do RAFA é

compacto e de fácil operação. A área requerida para esse sistema é reduzida devido

à alta concentração das bactérias, e a produção de lodo, que já sai estabilizado, é

baixa. A eficiência atinge de 65% a 75% e, por isso, o efluente necessita de um

tratamento complementar, que pode ser feito através da lagoa facultativa (VON

SPERLING, 1995) e (SABESP, 2009).

2.2.5 Resumo das tecnologias

A fim de melhorar a compreensão da informação apresentada até então, as

tecnologias disponíveis para o tratamento de água foram agrupadas de acordo com

três categorias: lagoas, mecânicas e terrestres. Além disso, a Tabela 5 indica em

qual etapa do tratamento da água elas podem ser usadas.

Tabela 5 Resumo das tecnologias para tratamento de esgotos

Lagoas Mecânicas Terrestres

Preliminar (Etapa realizada antes da entrada na estação de tratamento)

Primária Lagoa aerada

Lagoa facultativa

Lodos ativados

Biodiscos

Filtros biológicos

Secundária Lagoa aerada

Lagoa facultativa

Lagoa anaeróbia

Lodos ativados

Biodiscos

RAFA

Filtros biológicos

Fossa séptica

Terciária Lagoa de maturação

(Etapa desnecessária para o tratamento de esgotos)

Já a Tabela 6 resume algumas características das tecnologias citadas para

tratamento de esgotos.

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55

Tabela 6 Resumo de características das tecnologias citadas (UNEP, 1997)

Processo Fonte de

oxigênio

Volume

do reator

Tempo de

retenção

Eficiência de remoção

Lodo ativado Ar

pressurizado

10 m3 4-6 hs Matéria orgânica: 90%-95%

Sólidos em suspensão: 90%-

95%

Biodisco Ar 1 m3 1-3 hs Matéria orgânica: 90%-95%

RAFA Anaeróbico 2 m3 24 hs Matéria orgânica: 50%-60%

Sólidos em suspensão: 57%

Filtração

anaeróbia

Anaeróbico 2 m3 36 hs Matéria orgânica: 40%-50%

Sólidos em suspensão: 52%

Tanque séptico Anaeróbico 2 m3 36 hs Matéria orgânica: 25%

Finalmente, a Tabela 7 resume as vantagens e desvantagens apresentadas

por cada tecnologia, conforme o relatório da UNEP (1997).

Tabela 7 Resumo das vantagens e desvantagens das tecnologias citadas (UNEP, 1997)

Tecnologia Vantagens Desvantagens

Lagoas

Lagoa de

estabilização

Baixo custo de capital

Baixo custo de operação e manutenção

Requer pouca mão de obra

Requer muita área terrestre

Pode produzir odores indesejáveis

Lagoa aerada Requer pouca área terrestre

Produz poucos odores indesejáveis

Requer aparelhos mecânicos para aerar

as bacias

Produz efluente com alta concentração

de sólidos em suspensão

Sistemas terrestres

Tanque

séptico

Pode ser usado em residências (fora de

um sistema comunitário)

Fácil de operar e prover manutenção

Pode ser construído em áreas rurais

Baixa eficiência de tratamento

Deve ser bombeada periodicamente

Requer um aterro para descarte

periódico do lodo

Sistemas mecânicos

Filtração Requerimento mínimo de área terrestre;

pode ser usado em residências

Baixo custo

Fácil de operar

Requer aparelhos mecânicos

Reatores

biológicos

verticais

Método muito eficiente

Requer pouca área terrestre

Aplicável em pequenas comunidades,

para tratamento em escala local, ou em

grandes cidades, para tratamento em

escala regional

Alto custo

Tecnologia complexa

Requer mão de obra qualificada para

operação e manutenção

Requer disponibilidade de peças

Alto consumo de energia

Lodo ativado Método muito eficiente

Requer pouca área terrestre

Aplicável em pequenas comunidades,

para tratamento em escala local, ou em

grandes cidades, para tratamento em

escala regional

Alto custo

Requer área para descarte do lodo

Requer mão de obra qualificada para

operação e manutenção

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56

2.3 Sustentabilidade

O tratamento de esgotos pode ser visto como um processo de transformação,

onde entram águas residuais e saem águas tratadas. Porém, na seção 2.2, observa-

se que o processo de tratamento também gera lodo e outros produtos secundários,

como sólidos filtrados. Além disso, as entradas para esse processo incluem energia

elétrica, alguns produtos químicos e as partes móveis das máquinas, caso sejam

usadas. Considerando uma visão ainda mais abrangente, pode-se dizer que um dos

inputs do processo é também espaço físico, enquanto um dos outputs é o forte odor

que sai da planta de tratamento. Sendo assim, a continuidade desse processo

depende não somente de quanto esgoto entra e quanta água tratada sai do sistema,

mas também de suas consequências ambientais. Este estudo foca o impacto

ambiental do processo, uma das dimensões que definem sua sustentabilidade.

Na seção 2.2, comentou-se a escassez hídrica prevista em um futuro próximo.

De fato, a condição de recurso raro está atingindo não somente a água, mas

praticamente tudo que o ser humano consome do meio ambiente. Os níveis de

poluição da terra, da água e do ar são altos a ponto de, em alguns países, os

habitantes de certas regiões sofrerem com deformidades e problemas de saúde

causados por contaminação de poluentes (ABREU, 2008).

Considerando, portanto, que a água é um produto do processo de tratamento,

que é um bem escasso e deve ser economizada e reutilizada, e que o próprio

tratamento de água pode ter impactos ambientais, faz-se necessário estabelecer um

ciclo que possa ser mantido, de preferência, indefinidamente. É nesse cenário que

podemos entender a proposta da sustentabilidade.

2.3.1 Algumas definições

Esta seção se propõe a introduzir conceitos básicos, porém importantes, para

o entendimento da causa sustentável.

2.3.1.1 Sustentabilidade

Segundo Capra (2005), o conceito foi introduzido por Lester Brown, fundador

do Wordwatch Institute, no início da década de 80, ao definir a comunidade

sustentável como aquela que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem

reduzir as oportunidades das gerações futuras. Generalizando essa ideia, pode-se

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57

dizer que é a propriedade de um processo que, além de continuar a existir no tempo,

revela-se capaz de (INSTITUTO ARAYARA DE EDUCAÇÃO, 2006):

manter um padrão positivo de qualidade;

apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de

manutenção, ou seja, contar com suas próprias forças;

pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também

sustentáveis;

promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de

qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a

harmonia das relações entre sociedade e natureza.

A definição apresentada acima é abrangente, pois sustentabilidade não se

refere apenas à preservação do meio ambiente, mas sim a tudo que é necessário

para prolongar a existência de uma geração. Podemos abordar, portanto, as

seguintes dimensões (MMA, 2000):

Sustentabilidade social – ancorada no princípio da equidade na

distribuição de renda e bens, no princípio da igualdade de direitos à

dignidade humana e no princípio da solidariedade dos laços sociais;

Sustentabilidade ecológica – ancorada no princípio da solidariedade

com o planeta e suas riquezas e com a biosfera que o envolve;

Sustentabilidade econômica – avaliada a partir da sustentabilidade

social propiciada pela organização da vida material;

Sustentabilidade espacial – norteada pelo alcance de uma

equanimidade nas relações interregionais e na distribuição populacional

entre o rural/urbano e o urbano;

Sustentabilidade político-institucional – representa um pré-requisito

para a continuidade de qualquer curso de ação no longo prazo;

Sustentabilidade cultural – modulada pelo respeito à afirmação do

local, do regional e do nacional, no contexto da padronização imposta

pela globalização.

No contexto de processos e tecnologia, outra dimensão de sustentabilidade a

ser considerada é a qualidade do produto ou do processo como um todo, uma vez

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58

que parte da excelência do processo é definida pelo seu resultado. Em outras

palavras, trata-se de sustentabilidade funcional, como proposto por Muga e Mihelcic

(2008).

2.3.1.2 Sustentabilidade ambiental

Na definição de sustentabilidade apresentada acima, deseja-se reforçar a

importância da dimensão ecológica, ou ambiental, que se refere ao relacionamento

entre seres humanos e os recursos naturais do planeta. Esse caso é tão particular,

pois envolve a perpetuação da raça humana na Terra, que é, até onde se sabe, o

único ambiente não classificado como inóspito.

2.3.1.3 Desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável baseia-se no fato de que

economia, meio ambiente e bem-estar estão relacionados e não podem ser

avaliados separadamente. A definição mais aceita e citada de desenvolvimento

sustentável data de 1987, quando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento estabeleceu que se tratava de “desenvolvimento que procura

satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das

gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Isso significa que

todos os seres humanos têm os mesmos direitos, seja vivendo no presente ou no

futuro (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002). Em outras palavras, o desenvolvimento

sustentável enfatiza a evolução da sociedade de maneira responsável do ponto de

vista econômico, de acordo com processos ambientais e naturais (GLAVIč e

LUKMAN, 2007).

Como apontado por Balkema, et al. (2002), essa definição oferece um

conceito abrangente, em vez de estabelecer uma regra fixa. Surge, então, a

necessidade de entender como a sustentabilidade se apoia no tripé composto por

economia, meio ambiente e sociedade, como sugerido pela Figura 3.

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59

Figura 3 Tripé para a sustentabilidade

Conforme proposta de Balkema, et al. (2002), sustentabilidade econômica

refere-se a algo que se paga, ou seja, custos menores que benefícios, realizado

através da alocação e distribuição ótima dos recursos escassos, visando a melhorar

o bem-estar e a satisfação das necessidades humanas. Com relação ao aspecto

ambiental, busca-se a capacidade do ambiente de sustentar os modos de vida

humana. Para tal, é necessário usar os recursos de maneira eficiente, a fim de

perpetuar o ciclo de oferta de recursos e absorção de emissões. Finalmente, a

dimensão sociocultural visa atender às necessidades humanas socioculturais e

espirituais de maneira igualitária, tendo em conta o papel da moral, dos

relacionamentos e das instituições na vida do ser humano.

2.3.2 Sustentabilidade do tratamento de água

Como visto na discussão do tripé da Figura 3, a sustentabilidade de um

processo pode ser abordada por diferentes ângulos. Entretanto, devido à inegável

correlação entre sustentabilidade e passagem do tempo, mais especificamente,

longevidade, um processo só pode ser caracterizado como sustentável se analisado

em retrospectiva (COSTANZA e PATTEN, 1995). Portanto, é necessário estabelecer

critérios que permitam analisar um processo durante seu funcionamento, a fim de

gerar previsões a respeito da sustentabilidade do mesmo. Isto é, todas as

observações serão apenas hipóteses sobre a perpetuidade do sistema, ainda que

bem fundamentadas.

Vale apontar que um sistema ou processo sustentável é aquele que alcança a

expectativa de vida estabelecida no início de seu funcionamento. A imortalidade do

Econômico

Ambiental Socio- cultural Suportável

Viável Equitativo

Sustentável

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sistema impede que ele evolua, uma adaptação natural às mudanças trazidas pelo

tempo. A análise de sustentabilidade deve, portanto, diferenciar entre mudanças que

ocorrem naturalmente e mudanças que diminuem o tempo de vida de um processo.

São essas últimas que, ao encurtar a longevidade do sistema, reduzem também sua

sustentabilidade (COSTANZA e PATTEN, 1995).

Balkema, et al. (2002) apontam que, durante o processo de escolha de

tecnologia, é desejável que exista mais de uma opção de tecnologia sustentável e

que sejam flexíveis às mudanças trazidas pelo tempo. Além disso, parte da

sustentabilidade da tecnologia escolhida é definida pelo impacto que ela tem no

ambiente do qual retira seus recursos. Isto é, o processo não será sustentável se

ameaçar a quantidade e qualidade, incluindo diversidade, dos recursos disponíveis.

Em outras palavras, a tecnologia escolhida não deve agredir o meio ambiente a

ponto de seus efeitos colaterais causarem mais dano do que seu produto gera

benefícios.

2.3.2.1 Metodologias para determinação da sustentabilidade

Algumas metodologias usadas para a determinação da sustentabilidade de

um processo são mostradas na Tabela 8, juntamente com as vantagens e

desvantagens percebidas (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002), (MUGA e MIHELCIC,

2008).

Tabela 8 Metodologias de avaliação da sustentabilidade (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002)

Metodologia Vantagens Desvantagens

Análise

econômica

Mede custos e benefícios em

termos de custo no ciclo de vida e

custo total

A maioria dos custos e benefícios

ambientais é difícil de quantificar

(Cont.)

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61

Tabela 8 (Cont.)

Metodologia Vantagens Desvantagens

Avaliação do

ciclo de vida

Ampla aplicação e metodologia

bem definida

Avalia impactos ambientais

referentes, entre outras, às

categorias de:

danos aos recursos

potencial para contribuir para o

aquecimento global

danos à camada de ozônio

acidificação

ecotoxicidade

eutrofização

degradação do terreno

Requer volume alto de dados

Classificação dos dados nas

categorias leva à perda de foco no

que é relevante ao tratamento da

água

Requer outros indicadores para

medir a sustentabilidade, já que se

limita a um conjunto de aspectos

técnicos e ambientais

Análise do

sistema geral

Usa um conjunto multidimensional

de aspectos para avaliar o sistema

como um todo

Pode ser usado para analisar uma

grande quantidade de sistemas

Difícil comparar sistemas que

foram avaliados com objetivos,

escopos e premissas diferentes

Pela Tabela 8, vê-se que as metodologias envolvem diferentes tipos de

indicadores, que estão relacionados a variados aspectos do processo em estudo.

Sendo assim, para a análise de um processo de saneamento, devem-se usar

indicadores apropriados. A seção 2.3.2.2 abaixo apresenta algumas características

sobre indicadores de sustentabilidade.

2.3.2.2 Indicadores de sustentabilidade

Como sugerido pela definição de sustentabilidade de 1987, os indicadores

pertencem às categorias econômica, ambiental e sociocultural, que determinam a

eficiência de um processo (MUGA e MIHELCIC, 2008). Além dessas, sugere-se

ainda a inclusão da categoria funcional, que aponta a eficácia do processo (ver

Tabela 9). De fato, não é útil escolher uma solução que funcione eficientemente se,

da perspectiva do usuário final, o resultado não é satisfatório (BALKEMA, PREISIG,

et al., 2002).

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Uma boa orientação para a escolha dos indicadores de um estudo é dada

pelo UNDPCSD, em Muga e Mihelcic (2008). Os indicadores, de forma geral, devem:

i. ter embasamento científico sólido e reconhecimento amplo da

comunidade científica;

ii. ser transparentes, isto é, sua seleção, cálculo e significado devem ser

compreensíveis mesmo para leigos;

iii. ser relevantes, isto é, devem cobrir aspectos essenciais do

desenvolvimento sustentável;

iv. ser quantificáveis, isto é, ser baseados em dados já existentes e/ou

dados que são de fácil acesso e atualizáveis;

v. ter sua quantidade limitada de acordo com o propósito ao qual servem.

Balkema et al. (2002) sugere os indicadores identificados na Tabela 9.

Tabela 9 Indicadores de sustentabilidade (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002)

Descrição Quantificação Exemplos de indicadores

Fu

ncio

na

l Definem requerimentos

técnicos mínimos do

sistema ou processo

Medição Durabilidade, robustez, adaptabilidade,

necessidade de manutenção,

segurança, sensibilidade a falhas

Ec

on

ôm

ica Aspectos monetários da

solução. Geralmente

decisivos em uma

escolha prática

Medição;

cálculos

Custos de investimento, operação e

manutenção, acessibilidade financeira,

custos com mão de obra

Am

bie

nta

l

Impacto do processo no

meio ambiente

Medição Utilização ótima dos recursos (ex. água

e energia), área necessária, fertilidade

do terreno, biodiversidade da região,

emissões (ex. efluentes, lodo e gases),

DBO/DQO, concentração de agentes

patogênicos

So

cio

cu

ltu

ral

Impacto na sociedade,

especialmente se existe

um usuário final

Difícil de quantificar

Medição; cálculo

de custo;

questionários e

pesquisas de

opinião

Requerimentos institucionais (do país ou

região), aceitação, expertise local,

estímulo ao comportamento sustentável

(conscientização, participação e

responsabilidade)

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É importante mencionar que, na avaliação de sustentabilidade de uma

tecnologia, as dimensões citadas acima não podem ser avaliadas separadamente,

mas sim como um conjunto de fatores que deve ser otimizado. Sendo assim, essa

escolha torna-se um problema multidimensional de otimização, que pode incluir os

seguintes objetivos (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002):

minimizar custos;

minimizar consumo de energia;

minimizar área necessária;

minimizar perda de nutrientes;

minimizar produção de resíduos;

maximizar produtos: água limpa, biogás, biomassa, composto orgânico,

fertilizantes;

maximizar a pontuação de indicadores qualitativos, por exemplo,

aceitação social e requerimentos institucionais.

Alguns dos objetivos competem entre si, como redução do custo e área,

enquanto se maximiza o desempenho, de maneira que alguns objetivos só podem

ser atingidos à custa de outros. Dessa forma, pode-se atribuir um peso para cada

indicador, buscando minimizar a soma normalizada dos resultados (BALKEMA,

PREISIG, et al., 2002).

Deve-se fazer uma ressalva com relação à escolha dos indicadores. Devido à

diversidade geográfica e demográfica das áreas urbanas, rurais e peri-urbanas, nem

todos os indicadores de sustentabilidade serão apropriados para qualquer localidade

que se deseja avaliar. Sendo assim, é importante que o indicador escolhido refira-se

a objetivos específicos, seja capaz de indicar sucesso ou falha na busca desse

objetivo e seja sensível e robusto.

Durante esta pesquisa, percebeu-se que o estudo de um processo de

saneamento poderia envolver inúmeros indicadores de sustentabilidade, alguns,

inclusive, de difícil medição, como os socioculturais. Porém, considerando os

conceitos vistos na seção 2.2 e devido à natureza dos processos de tratamento de

esgoto, entende-se que as dimensões funcional e ambiental têm papel

particularmente relevante para este estudo. A primeira, por englobar os resultados

práticos do tratamento, isto é, se a água está, de fato, limpa; a segunda, por refletir a

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inevitável interação entre a estação de tratamento e o meio ambiente, isto é, o

impacto de uma estação de grande porte, consumindo energia, com fluxo constante

de material orgânico e despejo em corpos hídricos. Além disso, viu-se na seção

2.2.4.4, sobre tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos, que aquelas

duas dimensões não são independentes. Ou seja, pode-se buscar um equilíbrio

entre variáveis de eficácia e impacto ambiental de acordo com o objetivo do

tratamento e a realidade do local que abrigará a estação. Sendo assim, os capítulos

a seguir darão ênfase aos indicadores funcionais e ambientais. Demais indicadores,

como custos, por exemplo, serão agrupados na categoria “outros”.

2.4 Resumo da revisão de literatura

Esta seção destina-se a resumir os conceitos apresentados durante a revisão

de literatura. Além disso, são identificados os elementos-chave da análise

multiobjetivo e multicritério, assim como os critérios encontrados na literatura, que

serão usados no questionário da pesquisa de campo.

2.4.1 Elementos-chave

Na seção 2.1.3.2, viu-se a necessidade de especificar alguns elementos-

chave de um sistema para a elaboração do problema na análise multicritério e

multiobjetivo. Seguindo essa orientação e a fim de contextualizá-la para a pesquisa

atual, a Tabela 10 abaixo identifica os elementos pertinentes à realidade da

pesquisa sobre escolha tecnológica para estações de tratamento de esgotos.

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Tabela 10 Etapas do método multiobjetivo e multicritério

Etapa Contextualização na pesquisa

Definição de

atores

Empresas de tratamento de esgotos

Governo

Especialistas (técnicos)

Órgãos ambientais

Consumidor final (no caso de reuso)

Identificação dos

objetivos de cada

ator

A pesquisa agrupará os entrevistados de acordo com as

características de ramo abaixo, o que pode afetar o agrupamento dos

objetivos. Acredita-se que os seguintes elementos serão

identificados:

Setor Público: interesses da sociedade, como nível de emprego, e

crescimento econômico

Setor Privado: interesses dos investidores, como lucro, e adequação

às leis

Decisores: alinhamento com as diretrizes da empresa

Não-decisores: alinhamento com as diretrizes da empresa e com

decisores

Profissionais: alinhamento com as diretrizes da empresa

Acadêmicos: pesquisa para desenvolvimento tecnológico

Agrupamento dos

objetivos

Eficácia do processo

Impacto ambiental do processo

Outros objetivos (ex. otimização de custos)

Critérios de

decisão

Descritos na Tabela 11

Para esta pesquisa, optou-se por focar nas opiniões de especialistas,

representados por acadêmicos e profissionais do setor de saneamento. Porém,

entende-se que existem inúmeras oportunidades para estudos futuros com os

demais atores do processo.

2.4.2 Critérios de decisão

De acordo com a literatura consultada, podem-se considerar os critérios da

Tabela 11 para a avaliação de processos de tratamento de esgotos. Nessa listagem,

foram incluídas as categorias de cada critério, de maneira a identificar aqueles

referentes à eficácia e ao impacto ambiental do processo de tratamento.

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66

Tabela 11 Critérios para avaliação tecnológica

Fonte Critério Categoria

(STOBAUGH e WELLS JR., 1984)

Relação entre custos de operação e custos totais Outros

Preferência por automatização Outros

Erro humano durante a produção Eficácia

Falta de assistência técnica para uma tecnologia Outros

Adaptabilidade da tecnologia à mão de obra Outros

Escolha de tecnologia diferente daquela da empresa líder na indústria

Outros

Influência governamental (ex. incentivos fiscais) Outros

(UNICAMP, 2005)

Área disponível para construção Impacto ambiental

Topografia da região e bacias de drenagem Eficácia

Volume diário tratado e variação sazonal da vazão Eficácia

Características do corpo receptor Impacto ambiental

Grau de instrução necessário para a mão de obra Impacto ambiental

Custo dos insumos (ex. energia elétrica, terra) Outros

Clima e variações de temperatura Eficácia

Possibilidade de reaproveitamento dos resíduos gerados

Impacto ambiental

(MUGA e MIHELCIC, 2008)

Investimento inicial Outros

Custo de operação e manutenção Outros

Tamanho da comunidade atendida Impacto ambiental

Estética (odor) Impacto ambiental

Tamanho da equipe necessária para operar Impacto ambiental

Consumo de energia Impacto ambiental

(VON SPERLING e CHERNICHARO,

2002) (OLIVEIRA e VON SPERLING, 2008)

Eficiência na remoção de DBO Eficácia

Eficiência na remoção de DQO Eficácia

Eficiência na remoção de sólidos em suspensão Eficácia

Eficiência na remoção de amônia Eficácia

Eficiência na remoção de nitrogênio total Eficácia

Eficiência na remoção de fósforo total Eficácia

Eficiência na remoção de coliformes fecais Eficácia

Eficiência na remoção de metais pesados Eficácia

Eficiência na remoção de químicos dissolvidos Eficácia

(NEDER, CARNEIRO, et al., 2001)

Resistência a variações de carga Outros

(CARNEIRO, BARBOSA e SOUZA,

2001)

Produção de resíduos sólidos (ex. lodo) Impacto ambiental

Confiabilidade no sistema (riscos de falha) Outros

Grau de simplicidade de operação e manutenção Outros

Grau de simplicidade de implantação e ampliação Outros

Aceitação/rejeição pública Impacto ambiental

(SOUZA, CORDEIRO NETTO e LOPES JR,

2001)

Confiabilidade no fornecimento de energia Outros

Utilização de recursos materiais locais Outros

(BROSTEL, NEDER e SOUZA, 2001)

Custo de operação/m3 tratado Outros

Custo de operação/kg de DQO removida Outros

(Cont.)

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67

Tabela 11 (Cont.)

Fonte Critério Categoria

(BROSTEL, NEDER e SOUZA, 2001)

(cont.)

Custo de implantação/habitante (projeto) Outros

Custo de operação/habitante (atual) Outros

Custo de manutenção/habitante (atual) Outros

Consumo de energia/kg DQO removida Impacto ambiental

Número de motores elétricos/1000 habitantes (projeto) Outros

Número de intervenções de manutenção/ 1000 habitantes (projeto)

Outros

Área da ETE/1000 habitantes (projeto) Impacto ambiental

Geração de CO2 Impacto ambiental

Efeitos para a biodiversidade do local de implantação da ETE

Impacto ambiental

(SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009)

Geração de renda pelo aproveitamento dos resíduos sólidos

Outros

Impactos sociais (melhorias na qualidade de vida, criação de empregos, etc.)

Outros

O capítulo a seguir detalha a metodologia adotada para coleta de dados,

assim como para análise das informações adquiridas.

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3 Metodologia

A fim de entender melhor o processo de tomada de decisão por profissionais

e acadêmicos do setor de saneamento, mais especificamente aqueles voltados para

tecnologia de ETEs, buscou-se uma forma de coletar essas opiniões de maneira que

possibilitasse a comparação e análise estatística das mesmas. O foco das análises

seria a prioridade atribuída aos critérios que influenciam a decisão e se isso é

impactado também por características de ramo, como nível hierárquico em termos

de poder de decisão, setor onde trabalha e participação no mercado ou na

academia. Sendo assim, utilizou-se uma survey, conduzida eletronicamente, com

posterior análise de dados pelo método de aglomerados.

3.1 Coleta de dados

Nesta seção, apresentam-se a metodologia survey e algumas de suas

características, pertinentes à pesquisa em questão.

3.1.1 A metodologia survey

A pesquisa survey pode ser descrita como a obtenção de dados ou

informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de

pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um

instrumento de pesquisa, normalmente um questionário (TANUR, 1982). Além disso,

é comumente do interesse do pesquisador produzir descrições quantitativas de uma

população (FREITAS, OLIVEIRA, et al., 2000).

Como indicado por Freitas et al. (2000), a survey é apropriada como método

de pesquisa quando:

se deseja responder questões do tipo “o quê?”, “por quê?”, “como?” e

“quanto?”, ou seja, quando o foco de interesse é sobre “o que está

acontecendo” ou “como e por que isso está acontecendo”;

o ambiente natural é a melhor situação para estudar o fenômeno de

interesse;

o objeto de interesse ocorre no presente ou no passado recente.

Pinsonneault e Kraemer (1993) classificam uma survey quanto ao seu

propósito em três tipos:

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explanatória, que tem como objetivo testar uma teoria e as relações

causais, estabelecendo a existência de relações causais, mas também

questionando por que a relação existe;

exploratória, cujo objetivo é familiarizar-se com o tópico ou identificar

os conceitos iniciais sobre um tópico; dar ênfase na determinação de

quais conceitos devem ser medidos e como devem ser medidos; e

buscar descobrir novas possibilidades e dimensões da população de

interesse;

descritiva, que busca identificar quais situações, eventos, atitudes ou

opiniões estão manifestos em uma população; descreve a distribuição

de algum fenômeno na população ou entre os subgrupos da população

ou, ainda, faz uma comparação entre essas distribuições. Neste tipo de

survey, a hipótese não é causal, mas tem o propósito de verificar se a

percepção dos fatos está ou não de acordo com a realidade.

De acordo com Sampieri et al. (1991), a coleta de dados pode ser:

longitudinal, quando realizada ao longo do tempo em períodos ou pontos

especificados, buscando estudar a evolução ou as mudanças de determinadas

variáveis ou, ainda, as relações entre elas; ou transversal, quando a coleta dos

dados ocorre em um só momento, pretendendo descrever e analisar o estado de

uma ou várias variáveis em um dado momento.

3.1.1.1 Amostragem

Ao selecionar-se uma amostra, busca-se representar a população sendo

pesquisada, porém, nenhuma amostra é perfeita e geralmente apresenta algum grau

de viés. O processo de amostragem é composto pela definição da população-alvo,

pelo contexto de amostragem, pela unidade de amostragem, pelo método de

amostragem, pelo tamanho da amostra e pela seleção da amostra ou execução do

processo de amostragem (FREITAS, OLIVEIRA, et al., 2000).

Uma amostra probabilística oferece a todos os elementos da população a

mesma chance de serem escolhidos, resultando em uma amostra representativa da

população. Isso implica em utilizar a seleção randômica ou aleatória dos

respondentes, eliminando a subjetividade da amostra. Já a amostra não

probabilística é obtida a partir de algum tipo de critério, fazendo com que os

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elementos da população não tenham a mesma chance de ser selecionados. Elas

podem ser subdivididas em seis tipos:

por conveniência – os participantes são escolhidos por estarem

disponíveis;

mais similares ou mais diferentes – os participantes são escolhidos por

julgar-se que representam uma situação similar ou, o inverso, uma

situação muito diferente;

por quotas – os participantes são escolhidos proporcionalmente a

determinado critério e a amostra é composta por subgrupos;

bola de neve – os participantes iniciais indicam novos participantes;

casos críticos – os participantes são escolhidos em virtude de

representarem casos essenciais ou chave para o foco da pesquisa;

casos típicos – os participantes são escolhidos por representarem a

situação típica, não incluindo extremos.

Quanto ao tamanho da amostra, Freitas et al. (2000) afirma que é o número

de respondentes necessário para que os resultados obtidos sejam precisos e

confiáveis e que seu aumento diminui o erro. Na mesma publicação, Moscarola

menciona a lei dos grandes números, sugerindo que uma amostra menor que 30

observações pode levar tanto a resultados errôneos e defasados quanto àqueles

que se aproximam da realidade.

Um dos instrumentos que podem ser utilizados para a realização da survey é

o questionário, tendo como estratégia de aplicação a entrevista pessoal e o envio

pelo correio, por exemplo. Na escolha da estratégia de aplicação deve-se atentar

para o custo, o tempo e, também, para a forma que venha a garantir uma taxa de

resposta aceitável para o estudo (FREITAS, OLIVEIRA, et al., 2000).

Atualmente, a internet é uma forma prática de realizar a survey, seja por

correio eletrônico ou questionários eletrônicos, disponibilizados inclusive em sites

especializados para coleta e análise de dados. Porém, apesar de já ser usada para

pesquisas desse gênero e de oferecer inúmeras oportunidades para pesquisadores,

a abordagem em si, isto é, a coleta de dados pela internet, foi pouco estudada. Com

isso, permanecem em aberto questões referentes à validade e adequação do

método, às melhores condições para uso da internet, às possíveis melhorias na

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técnica, e à reação dos respondentes ao uso da internet para uma survey. Um dos

principais problemas com o uso dessa ferramenta é o viés gerado na amostra e nas

respostas uma vez que a coleta de dados fica restrita aos entrevistados que têm

acesso a computadores, sabem usar a ferramenta de respostas e sentem-se

confortáveis com pesquisas pela internet (ZHANG, 2000).

3.1.2 A pesquisa atual

Considerando as classificações citadas anteriormente, a atual pesquisa tem

um propósito de caráter descritivo, com coleta de dados corte-transversal, pois foi

realizada de uma só vez, ao longo de três meses.

Devido à abrangência e ao tamanho da população de profissionais e

acadêmicos do setor de saneamento e à falta de seu mapeamento completo, seria

difícil realizar a amostragem probabilística. Portanto, optou-se pela amostra não

probabilística, o que acarreta resultados não generalizáveis, fato que deve ser

mantido em mente durante todo o processo de análise. Dos tipos de amostras não

probabilísticas mencionados, considera-se que a da atual pesquisa seja uma

amostra por conveniência com algum efeito bola de neve, pois se pediu a cada

entrevistado que divulgasse o questionário para colegas e conhecidos do setor.

Devido à quantidade de entrevistados potenciais, buscou-se entrar em

contato com alguns indivíduos que seriam as “sementes” dos grupos de acadêmicos

e profissionais. A partir desses indivíduos, criar-se-ia um efeito cascata para os

demais entrevistados. Os primeiros contatos realizados foram com autores de

artigos usados durante a pesquisa, alguns dos quais permaneciam na academia e

outros que atuavam como profissionais de saneamento. Acredita-se que o fato

desses contatos serem autores ativos recentemente pôde conferir maior

credibilidade às opiniões sobre escolha de tecnologia, isto é, era provável que esses

entrevistados estivessem em contato com tecnologias e desafios atuais no setor,

podendo opinar de maneira realista. Foram contatados também representantes de

empresas privadas e públicas, cujos contatos estavam disponíveis na internet, pela

página eletrônica da empresa. O público-alvo foram engenheiros ambientais,

químicos e de saneamento, sanitaristas e professores da área de processos hídricos

e engenharia civil.

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72

3.1.3 Conteúdo do questionário usado na e-survey

O questionário utilizado na entrevista continha quatro blocos, conforme

abaixo:

Dados pessoais, para mapeamento demográfico das respostas recebidas.

Questão 1: A seu ver, qual é o principal objetivo de uma estação de

tratamento de esgotos (ETE)?

Questão 2: Quais dos critérios apresentados são importantes no processo de

escolha de tecnologia para tratamento de esgoto? (marcar no quadro)

Questão 3: Existem outros critérios que deveriam influenciar o processo de

escolha de tecnologia para ETEs?

A primeira e terceira questões aceitavam respostas de texto livre, enquanto a

segunda pedia que o entrevistado optasse por incluir, não incluir ou permanecer

indeciso sobre cada critério. Os critérios encontrados na literatura e selecionados

para compor o quadro apresentado aos entrevistados foram aqueles da Tabela 11,

na seção 2.4.2.

Além de possibilitar o mapeamento demográfico, os dados pessoais

possibilitaram a eliminação de duplicatas, uma vez que os entrevistados poderiam

acessar o questionário mais de uma vez. Além disso, caso houvesse erros ou

problemas técnicos, seria possível contatar o respondente, oferecendo outra

oportunidade para participar da pesquisa.

3.2 Análise de dados

A etapa de análise dos dados pretendia traçar um perfil de escolha

tecnológica. Inicialmente, poder-se-ia observar o percentual de inclusão de critérios

de cada categoria, organizados em tabelas descritivas. Porém, como visto na seção

3.1.3 e detalhado no Apêndice A, o questionário utilizado propunha-se à coleta de

uma quantidade razoável de informações pessoais e variáveis pertinentes à decisão

tecnológica. Sendo assim, a fim de utilizar tais dados de maneira científica, optou-se

por agrupar os entrevistados de acordo com suas respostas referentes à escolha de

tecnologia e, em paralelo, identificar as características pessoais comuns a um grupo

com escolhas semelhantes. Para esse refinamento da análise, propôs-se então a

aplicação do método de aglomeração não hierárquica, isto é, alocação das

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73

observações da amostra em um número pré-determinado de grupos. À continuação,

explicam-se as premissas e métodos utilizados para trabalhar os dados.

3.2.1 Percentual de inclusão

A primeira premissa que se aplica ao estudo é que um entrevistado dá mais

importância a uma ou outra categoria caso inclua em sua decisão mais critérios

daquela categoria. Como o número de critérios não é igual entre as três categorias

(Tabela 11), optou-se por comparar o percentual de inclusão em vez de o número

absoluto. Dessa forma, padroniza-se a base de comparação.

Calcula-se o percentual de critérios incluídos em cada categoria por

entrevistado. Ou seja:

Esse tipo de tratamento das observações é relativamente simples,

considerando apenas os critérios que, de fato, afetam a decisão e excluindo as não

inclusões e indecisões da avaliação. Assume-se que, para o entrevistado, são os

critérios incluídos que devem estar claros e ser conhecidos e pesquisados pelo

profissional ou acadêmico, enquanto outros critérios não teriam impacto na escolha

de tecnologia.

3.2.2 Análise de aglomerados

Como foi mencionado, o agrupamento dos entrevistados em categorias

baseado no percentual de inclusão de critérios poderia requerer aprofundamento.

Para isso, usou-se a aglomeração estatística.

Segundo Sharma (1996), a análise de aglomerados é uma técnica usada para

combinar observações em grupos de maneira que:

1. Cada aglomerado é homogêneo ou compacto com respeito a certas

características. Ou seja, as observações em cada aglomerado são

parecidas entre si.

2. Cada aglomerado deve ser diferente dos outros aglomerados com

respeito às mesmas características. Ou seja, as observações de um

aglomerado devem ser diferentes das observações de outros

aglomerados.

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Nas palavras de Jain e Dubes (1988), a questão de aglomeração pode ser

descrita como, dadas n observações em um espaço d-dimensional, a determinação

de partições das observações em K grupos, de maneira que as observações de um

grupo são mais semelhantes entre si do que às observações de outro aglomerado.

A definição de semelhança ou homogeneidade varia de análise para análise e

depende dos objetivos do estudo (SHARMA, 1996). Como sugerido pelo mesmo

autor, assim como por Jain e Dubes (1988), as observações de uma análise de

aglomerados podem ser distribuídas por um espaço d-dimensional, onde d é o

número de variáveis ou características usadas para descrever os elementos.

Pode-se estabelecer, portanto, que as categorias de critérios são equivalentes

a três eixos, formando um espaço tridimensional, enquanto a inclusão de seus

critérios resulta em coordenadas nesse espaço, isto é, quanto mais critérios

incluídos em uma categoria, mais alto o valor da coordenada. A Figura 4 exibe um

exemplo da distribuição espacial de uma coleta hipotética de dados. (Todas as

imagens em 3D foram obtidas com o software Graphis2.)

Figura 4 Exemplo do gráfico em R3

Sendo assim, para a pesquisa em questão, sugere-se estabelecer

semelhança com base nas opiniões referentes aos critérios de decisão, assim como

nas características pessoais de ramo, setor e hierarquia. Ou seja, entrevistados que

tenham considerado o mesmo número de critérios de uma categoria são

semelhantes entre si. Vale lembrar que, nesse momento, não se considera quais

critérios foram incluídos, mas sim o total de critérios para a categoria.

2 http://www.kylebank.com/

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75

Nesse cenário, a semelhança entre observações é medida pela distância

euclidiana quadrada entre os pontos, que, no caso de um espaço bidimensional, é

dada por:

Tendo estabelecido o parâmetro de comparação, aplicou-se um método

hierárquico de aglomeração dos dados, seguido de um método não hierárquico,

conforme sugerido na literatura relacionada.

3.2.2.1 Método hierárquico de aglomeração

A distância euclidiana, conforme apresentada anteriormente, permite

identificar similaridade entre os pontos da amostra e agrupá-los, baseado nas

menores distâncias. Torna-se necessário então determinar a distância entre grupos,

a fim de juntá-los novamente, formando aglomerados. Porém, alguns grupos terão

mais de um componente, de maneira que surge a necessidade de determinar regras

ou métodos para calcular a distância entre tais aglomerados. (SHARMA, 1996)

Através da aplicação do método hierárquico, obtém-se um dendrograma

resultante, que mostra o agrupamento de componentes passo a passo, indicando a

distância entre aglomerados no momento da junção. Este resultado atua então como

semente para o método não hierárquico, sugerindo a quantidade de aglomerados

existentes na amostra.

Para esta pesquisa, escolheu-se o método hierárquico de Ward, que trabalha

com a maximização da homogeneidade intra-aglomerado.

3.2.2.2 Método de Ward

Na busca pelo agrupamento de componentes com maior similaridade, o

método de Ward usa a soma de quadrados intra-aglomerado (within-cluster sum of

squares) como medida de homogeneidade(SHARMA, 1996). Ou seja, o método

busca minimizar o total da soma de quadrados intra-aglomerado. O valor final obtido

é chamado de error sum of squares (ESS) e reflete a perda de informação ao

agrupar indivíduos em um aglomerado. Portanto, o ideal da função objetivo do

método em questão é um ESS igual a ou mais próximo possível de zero (WARD,

1963).

O ESS de um aglomerado é calculado conforme a expressão abaixo:

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76

onde xi é o valor do i-ésimo indivíduo da amostra e n é o tamanho da amostra.

Além disso, o valor do ESS para k grupos é dado pela soma dos ESS de cada

um dos k aglomerados(WARD, 1963). Com isso, é possível identificar a solução com

a quantidade de aglomerados que fornece o menor ESS total para a amostra em

questão.

3.2.2.3 Método não hierárquico de aglomeração

Como pode ser visto em Sharma (1996) e Jain e Dubes (1988), a

aglomeração não hierárquica consiste em dividir a amostra em k partes, onde cada

parte representa um aglomerado. Sendo assim, o número de aglomerados deve ser

pré-determinado. Em seguida, procede-se à alocação de indivíduos aos respectivos

aglomerados, conforme a rotina abaixo:

1. Selecionar k centroides ou sementes iniciais, onde k é o número de

aglomerados desejado;

2. Designar cada observação ao aglomerado mais próximo (distância

euclidiana quadrada);

3. Redesignar ou realocar cada observação para um dos k aglomerados

de acordo com uma regra de parada pré-determinada;

4. Parar caso não haja realocação das observações ou se a

redesignação satisfaz os critérios da regra de parada. Caso contrário,

voltar para o passo 2;

5. Ajustar o número de aglomerados fundindo ou separando

aglomerados existentes ou removendo outliers.

A maioria dos algoritmos não hierárquicos difere com relação ao método

usado para obter os centroides ou sementes iniciais de cada aglomerado e/ou à

regra para redesignação das observações. Dentre os métodos possíveis está, por

exemplo, selecionar a primeira observação não nula como centroide do primeiro

aglomerado e, para o segundo aglomerado, selecionar a observação que está

distante da primeira seleção por uma distância maior que um valor pré-determinado.

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Alternativamente, pode-se também usar sementes fornecidas pelo pesquisador.

(SHARMA, 1996)

A próxima etapa do método é a alocação das observações a seus respectivos

centroides, isto é, àquele que está mais próximo. Novamente, existem várias regras

para alocação das observações, diferindo principalmente no momento em que o

cálculo do centroide é atualizado, isto é, após o término da alocação de todas as

observações ou após a alocação de cada observação. Essa atualização de

centroides é feita até que um critério de convergência seja alcançado. (SHARMA,

1996)

Para este estudo, selecionou-se o algoritmo K-means, ou K-médias, que

atualiza os centroides após toda a alocação ter sido completada. Mais detalhes

desse método são mostrados a seguir.

3.2.2.4 K-means: algoritmo de aglomeração

O algoritmo de aglomeração K-means foi introduzido por MacQueen em 1967,

destacando-se pela facilidade de programação e economia computacional, de

maneira que era possível processar grandes amostras em um computador

(guardadas as devidas proporções da tecnologia computacional disponível na

época).

O procedimento K-means consiste em começar com k grupos, cada qual

contendo apenas um ponto aleatório da amostra, e, em seguida, adicionar cada

novo ponto ao grupo cujo centro (média) estiver mais próximo. Quando um ponto é

adicionado a um grupo, sua média (centroide) é recalculada para ajustar-se a todos

os componentes do grupo. Dessa maneira, tem-se sempre uma quantidade k de

médias (centroides) e, com isso, o termo K-médias (MACQUEEN, 1967). Na próxima

iteração, os centroides serão recalculados, tanto do aglomerado que recebe novos

componentes quanto daquele ao qual pertenciam anteriormente, caracterizando uma

novidade no método de MacQueen. Mas também, o algoritmo não permite que o

número inicial de aglomerados mude, como proposto no passo 5 de Jain e Dubes

(1988). Isso se deve ao fato de que, caso um aglomerado haja apenas dois

componentes e um deles seja realocado, o restante se torna o único componente e,

com isso, coincide com o centro de massa. A partir daí, sua distância ao centro é

zero e ele não será mais realocado a outro aglomerado. (KAUFMAN e

ROUSSEEUW, 2005)

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A aplicação mais óbvia da rotina K-means é o agrupamento por semelhança,

ou aglomeração. Porém, o objetivo do método não é encontrar um agrupamento

definitivo e único, mas sim auxiliar o pesquisador a compreender qualitativa e

quantitativamente uma amostra grande de dados d-dimensionais através de bom

agrupamento por semelhança. O método deve então ser usado conjuntamente com

teoria e intuição. (MACQUEEN, 1967)

Como visto anteriormente, o método segue uma rotina de passos iterativos

que buscam otimizar a distância entre o centro de massa do aglomerado e seus

componentes. Para tal, necessita-se de uma semente para os primeiros centros de

massa da amostra, que é fornecida pelo resultado da aglomeração hierárquica. Isto

é, uma vez que a aglomeração hierárquica agrupa os indivíduos em k aglomerados,

o método Kmeans calcula a média das coordenadas e define o centro de massa

original. O método então recalcula as distâncias entre indivíduos e centros de

massa, a fim de realocar aqueles cuja distância ao centro de massa pode diminuir.

Uma vez completadas as realocações, o método calcula novamente os centros de

massa e repete o procedimento.Ou seja, a atualização dos centroides se dá a cada

iteração e o resultado final é obtido quando todos os indivíduos permanecem no

mesmo aglomerado. Para evitar loops infinitos, usa-se um número máximo de

iterações igual a dez mil.

Como mencionado por Sharma (1996), este algoritmo é sensível à escolha

das sementes, que sempre dependem das observações que compõem a amostra.

Por isso, sua aplicação pode resultar em otimização local, uma vez que várias

partições (sementes) iniciais podem ser usadas. Segundo o autor, os resultados são

melhores quando se usa um método hierárquico para definição dos centroides

iniciais.

Com relação ao número de iterações, este é um fator crucial para o resultado

final e pode ser definido como um número fixo, mas poderia ser também uma função

do percentual de alteração das distâncias entre uma iteração e outra, por exemplo.

Finalmente, é necessário ter um número máximo de iterações, a fim de evitar loops

de soluções.

3.2.3 Outras análises: objetivos e critérios

A última parte da metodologia é dedicada ao estudo das respostas de texto

livre, isto é, os objetivos de uma estação de tratamento e os critérios que deveriam

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ser incluídos no quadro de referência. Além disso, propõe-se olhar brevemente para

os critérios mais incluídos, menos incluídos e maiores causadores de indecisão, a

fim de buscar algum tipo de relação entre eles. Propõem-se, portanto, três análises,

esclarecidas a seguir.

Para a análise dos textos de campo livre, adotou-se a abordagem de análise

de conteúdo, como descrita por Amado (2000). Pelas colocações do autor, o estudo

em questão se caracteriza como estrutural, pois busca responder à questão: com

que frequência ocorrem determinados objetos? Isto é, analisam-se as ocorrências

de palavras ou expressões-chave, mais especificamente de substantivos e adjetivos,

que se julga serem os principais representantes dos temas representados pelas

categorias de critérios, i.e., eficácia do tratamento, impacto ambiental da estação e

outros aspectos (custo, empregabilidade, critérios do setor industrial, etc.) Cada

palavra seria registrada como uma ocorrência dentro do texto do entrevistado,

contando-lhe um ponto para a categoria da palavra.

As seções abaixo mostram mais detalhe de cada análise complementar ao

estudo de critérios.

3.2.3.1 Análise dos objetivos

O principal papel da pergunta no questionário referente aos objetivos de uma

ETE era identificar elementos que os alinhassem aos critérios de decisão priorizados

pelo entrevistado. Isto é, confirmar que os critérios de decisão sustentam e orientam

o suposto objetivo de quem os usa. Entende-se que o objetivo da ETE seja amplo e

complexo, porém, acredita-se também que a escolha da tecnologia é uma parte

significativa dessa complexidade e merece ser pesquisada.

Investigou-se então se seria possível, através dos elementos encontrados nas

respostas referentes aos objetivos, categorizá-los também e, assim, apresentar

coerência direta com os critérios priorizados pelo entrevistado. Compararam-se os

resultados gerais com aqueles de decisores apenas, buscando padrões específicos

ou hegemonia. Para estudo futuro, levanta-se a possibilidade de procurar

alinhamento entre o objetivo percebido pelo entrevistado e aquele apresentado pela

instituição onde trabalha.

Para categorizar os objetivos, cada resposta em forma de texto livre foi

analisada em busca de palavras ou expressões-chave, que foram então

categorizadas dentre as três opções possíveis – eficácia, impacto ambiental ou

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“outros”. No Apêndice C, encontra-se a relação de palavras-chave usadas durante a

análise. Fez-se um somatório das palavras ou expressões de cada categoria e

atribuiu-se ao objetivo a categoria com maior contagem de palavras. Vale lembrar

que esse tipo de pontuação permite empates, já que pode haver expressões

referentes a todas as categorias em uma mesma resposta.

3.2.3.2 Outros critérios propostos

O espaço para sugestão de novos critérios de decisão pretende identificar

lacunas no quadro referencial, ou mesmo itens específicos à realidade de alguns

entrevistados, o que poderia ser extrapolado em nova pesquisa para traçar um perfil

de decisão. Semelhante ao campo de objetivos, cada resposta que continha

sugestões teve seu texto analisado, a fim de identificar novos critérios. Além disso,

pretendia-se categorizá-los, identificando:

a necessidade de incluir mais critérios de uma dada categoria, a fim de

aumentar sua prioridade;

uma falta de informação disponível aos tomadores de decisão acerca

de uma categoria específica, dificultando sua priorização durante a

decisão.

a possibilidade de existirem novas categorias de critérios, que não

foram enfatizadas durante a pesquisa, mas que tem igual ou maior

importância durante a escolha de tecnologia.

Deve-se ressaltar a importância do último item, que representaria possíveis

novas dimensões na tomada de decisão. Isto é, a descoberta, através da

investigação da realidade de vários profissionais e acadêmicos, que a escolha de

tecnologia para um sistema do porte de uma estação de tratamento pode ser mais

complexa do que se imagina a princípio.

3.2.3.3 Critérios mais frequentes

Essa análise envolve percentuais absolutos dos julgamentos dos critérios. Por

exemplo, o cálculo percentual de quantas vezes um dado critério foi incluído se dá

pela soma absoluta de suas inclusões dividida pelo total de vezes possíveis de ser

incluído, ou seja, o total de entrevistados que poderiam julgar aquele critério. Sendo

assim:

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O mesmo cálculo se repete para o caso de não-inclusões e indecisões,

possibilitando identificar os critérios que receberiam menos prioridade, assim como

aqueles que poderiam gerar polêmica ou requerer mais estudo, respectivamente.

A fim de aprofundar a análise dos três tipos de percentuais encontrados,

realizou-se o cálculo novamente considerando apenas as respostas de decisores,

com o intuito de encontrar alinhamento das decisões dos entrevistados,

independente de suas posições hierárquicas, ou identificar uma particularidade de

gerentes e outros tomadores de decisão.

Havendo compreendido as ferramentas e métodos empregados na análise e

disposição dos resultados, pode-se passar à apresentação dos mesmos.

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4 Resultados

Neste capítulo, apresentam-se os resultados obtidos através da coleta de

dados. O questionário utilizado (Apêndice A) pediu ao entrevistado que julgasse

alguns critérios para tomada de decisão tecnológica. As opções de julgamento foram

“incluir”, “não incluir” e “indeciso”, significando que um dado critério foi considerado,

desconsiderado ou causou dúvida durante a decisão. A opção “indeciso” foi

disponibilizada para evitar que os entrevistados tomassem decisões sobre as quais

não estivessem seguros ou não se sentissem confortáveis. Por exemplo, se um

entrevistado fosse especializado em ETE’s com lagoas, poderia não estar

acostumado a usar o critério “Consumo de energia” e sentir-se-ia inseguro sobre a

decisão binária de incluir ou ignorar esse critério durante a decisão. Sendo assim, a

opção pela indecisão permitiu acomodar esses casos, evitando abandonos do

questionário ou respostas incompletas.

A próxima seção apresenta a análise descritiva e resumida dos dados.

4.1 Análise descritiva

A Tabela 12 resume as respostas coletadas pela survey. Como pode ser

visto, nem todos os contatos foram bem sucedidos (apenas 41%) e nem todos os

retornos foram aproveitados (apenas 34% deles).

Tabela 12 Respostas coletadas

Contagem Taxa de resposta

Contatos válidos realizados 193 -

Respostas totais 79 41% de 193

Respostas válidas 66 84% de 79

Incompletas 13 16% de 79

No questionário, que pode ser visto no Apêndice A, os critérios se distribuíram

em três categorias – Eficácia, Impacto ambiental e “Outros critérios” –, conforme

abaixo, sendo a terceira categoria composta principalmente por critérios de custo e

critérios do setor industrial.

Outros critérios 24 47%

Eficácia 13 25%

Impacto Ambiental 14 27%

Total 51 100%

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A amostra alcançada se caracteriza conforme as tabelas abaixo, que contêm

características demográficas.

Tabela 13 Caracterização pessoal Tabela 14 Caracterização por região

Características Quantidade Percentual Região Entrevistados

Profissionais 55 83% Sudeste 68%

Acadêmicos 11 17% Sul 13%

Setor Público 29 44% Centro-Oeste 8%

Setor Privado 37 56% Nordeste 7%

Decisores 38 58% Norte 4%

Não-decisores 28 42% Nacional 1%

Os resultados dos julgamentos dos critérios estão resumidos na Tabela 15,

onde se vê a distribuição de preferências por grupo de características. Nessa tabela,

considera-se apenas o percentual de inclusões de critérios em cada categoria. No

caso de empate, criou-se uma categoria “mesclada”3, como Eficácia/Impacto

Ambiental, por exemplo. Vale lembrar que os percentuais equivalem ao tamanho

total da amostra, porém, a distribuição entre grupos de características não foi

homogênea. Por exemplo, a amostra contém mais profissionais que acadêmicos.

Por isso, para efeitos de comparação, deve-se fazer referência também à Tabela 16,

que mostra a quantidade de pessoas alocadas a cada categoria.

Tabela 15 Agrupamento por inclusão de critérios: percentual da amostra

Ramo Setor Hierarquia Efic. IA Outros Efic./

IA

IA/

Outros Todos Total

Acad

ê-

mic

os

Público

Não-

decisor 0% 3% 5% 0% 0% 0% 8%

Decisor 3% 5% 0% 0% 2% 0% 9%

Pro

fis

sio

nais

Privado

Não-

decisor 6% 3% 2% 0% 0% 3% 14%

Decisor 11% 12% 3% 2% 0% 3% 30%

Público

Não-

decisor 9% 11% 0% 0% 0% 2% 21%

Decisor 6% 11% 2% 0% 0% 0% 18%

Total 35% 44% 11% 2% 2% 8% 100%

Efic. = Eficácia

IA = Impacto Ambiental

3 A categoria mesclada Eficácia/Outros não é mostrada na tabela por não conter integrantes.

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Tabela 16 Agrupamento por inclusão de critérios: quantidade de pessoas

Ramo Setor Hierarquia Efic. IA Outros Efic./

IA

IA/

Outros Todos Total

Acad

ê-

mic

os

Público

Não-

decisor 2 3

5

Decisor 2 3

1

6

Pro

fis

sio

nais

Privado

Não-

decisor 4 2 1 2 9

Decisor 7 8 2 1 2 20

Público

Não-

decisor 6 7

1 14

Decisor 4 7 1

12

Total 23 29 7 1 1 5 66

Efic. = Eficácia

IA = Impacto Ambiental

A Tabela 17 exibe a categorização dos objetivos de uma ETE, segundo

opiniões coletadas. Assim como na Tabela 15, os percentuais representam o

número de respondentes dentro do total da amostra.

Tabela 17 Categorização dos objetivos de uma ETE

Ramo Setor Hierarquia Efic. IA Out. Efic./

IA

Efic./

Out.

IA/

Out. Nenhum Todos Total

Aca

-

mic

os

Público

Não-

decisor 2% 5% 2% 0% 0% 0% 0% 0% 8%

Decisor 3% 0% 0% 2% 0% 5% 0% 0% 9%

Pro

fis

sio

na

is

Privado

Não-

decisor 5% 3% 3% 3% 0% 5% 2% 2% 21%

Decisor 6% 6% 0% 2% 2% 3% 0% 0% 18%

Público

Não-

decisor 3% 6% 0% 0% 2% 3% 0% 0% 14%

Decisor 8% 9% 3% 5% 0% 5% 0% 2% 30%

Total 26% 29% 8% 11% 3% 20% 2% 3% 100%

Efic. = Eficácia

IA = Impacto Ambiental

Out. = Outros

Referente à questão que abordou outros critérios a serem incluídos na

pesquisa, houve um total de 72 propostas (Tabela 18), sendo 44 distintas. Ou seja,

alguns entrevistados propuseram a inclusão dos mesmos novos critérios.

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Tabela 18 Categorização dos novos critérios propostos

Ramo Setor Hierarquia Efic. Efic./

IA IA Outros Todos Total

Acad

ê-

mic

os

Público

Não-decisor

1

1

Decisor 2

10 14

26

Pro

fis

sio

nais

Privado Não-decisor

4 4 2 10

Decisor 3

2 8 1 14

Público Não-decisor 3

2

5

Decisor 3 1 2 8 2 16

Total 11 1 19 36 5 72

Efic. = Eficácia

IA = Impacto Ambiental

A seguir, passa-se à apresentação dos resultados com mais detalhe, o qual

suscitou o levantamento de hipóteses e questionamentos que são analisados no

próximo capítulo.

4.2 Apresentação da amostra

Ao todo, realizaram-se 219 contatos, incluindo 31 acadêmicos e 188

profissionais. Desse total, 26 retornos foram negativos, informando que não

participariam da pesquisa ou que o contato estava incorreto. Com isso, a base foi de

193 possíveis retornos válidos (88% da amostra inicial). A Tabela 19 resume esse

mapeamento.

Tabela 19 Contatos realizados

Contatos Retornos

negativos

Possíveis

retornos válidos

Acadêmicos 31 3 20

Profissionais 188 23 173

Total 219 26 193

A intenção era ter abrangência nacional na coleta de dados. Dos 193

possíveis contatos válidos, a maioria se encontra na região Sudeste, especialmente

nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A Figura 5 mostra a distribuição geral

dos contatos por região, incluindo dois contatos com empresas de abrangência

nacional.

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86

Figura 5 Distribuição de contatos por região

Dos 193 contatos mencionados, houve um total de 79 retornos (41%), sendo

que 66 foram respostas válidas (34%), isto é, continham todas as perguntas

respondidas e os dados pessoais utilizáveis na análise. Dentre as respostas

inválidas houve 12 respostas incompletas (15%), isto é, questionários abandonados,

e seis respostas que incluíram todos os critérios (8%). No segundo caso, houve

também uma resposta sem os dados pessoais, impossibilitando seu uso para

análise, enquanto as cinco outras respostas foram consideradas. É importante

lembrar que, apesar desse tipo de resposta aparentar erro, sugerindo que o

entrevistado não respondeu com atenção, isso não é detectável pela e-survey.

Inclusive, duas dessas respostas contêm o texto da última questão, sobre outros

critérios, o que sugere que, de fato, esses entrevistados responderam como

desejavam. A Tabela 20 resume as respostas inválidas por grupo de entrevistado.

Tabela 20 Respostas inválidas

Ramo Setor Hierarquia Inclui tudo Incompleta Total

Acad

ê-

mic

os

Público Não-decisor 0% 6% 6%

Decisor 0% 11% 11%

Não identificado Não identificado 0% 11% 11%

Pro

fis

sio

nais

Privado Não-decisor 11% 6% 17%

Decisor 11% 6% 17%

Público Não-decisor 6% 6% 11%

Decisor 0% 11% 11%

Não identificado Decisor 0% 6% 6%

Não identificado 6% 6% 11%

Total 33% 67% 100%

Sudeste 68%

Sul 13%

Centro-Oeste 8%

Nordeste 7%

Norte 3% Nacional 1%

Distribuição de contatos

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87

Com relação às perguntas sobre objetivos e outros critérios propostos, o

retorno foi praticamente todo aproveitado. Apenas um entrevistado não preencheu o

campo de “objetivos da estação”, mas suas respostas de julgamento de critérios

foram aproveitadas. Já no caso da proposta de novos critérios, houve 33 respostas

submetidas e nenhuma foi descartada. Para essa pergunta em particular, era

possível deixar o campo em branco, sugerindo que não há novos critérios a serem

considerados. A análise desse material é discutida no capítulo 5.

Como mencionado na Metodologia, o tamanho da amostra é importante para

a representatividade dos dados coletados, por isso, buscou-se maximizar a

quantidade total de contatos realizados. Percebeu-se, ao longo da coleta, que a taxa

de respostas válidas seria menor que 100% por diversos motivos, dos quais os

principais foram:

contatos em cidades pequenas, especialmente nas regiões Norte e

Nordeste, sem acesso à internet;

contatos que não trabalhavam diretamente com esgotos e, portanto,

não se sentiam à vontade para opinar;

contatos que simplesmente não deram retorno para a solicitação de

entrevista, independentemente da forma de abordagem (e-mail ou

telefone);

respostas inválidas registradas pela e-survey, isto é, respostas em

branco, duplicadas ou incompletas.

A fim de aumentar a abrangência da pesquisa, buscou-se a participação de

entrevistados de todo o país, especialmente das empresas estatais, que detêm a

maior fração do mercado de ETEs. Porém, devido à dificuldade de obter retorno de

alguns contatos e da característica “bola de neve” da amostra, a maioria das

respostas obtidas originou-se na região Sudeste. Para melhorar a taxa de resposta

de entrevistados mais distantes geograficamente, tentou-se usar inclusive o canal

oficial para comunicação com algumas empresas, como a ouvidoria ou o serviço de

atendimento ao cliente (SAC). Porém, grande parte dessas solicitações não foi

respondida.

Mesmo com a notável heterogenia dos contatos relativa às suas regiões

geográficas, obteve-se leve hegemonia na distribuição dos retornos de decisores e

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88

não-decisores, assim como de representantes do setor público e privado. Já a

divisão entre profissionais e acadêmicos foi bem diferente, com a maioria das

respostas recebida de profissionais ou representantes de empresas. Porém,

considerando a quantidade de contatos realizados com acadêmicos e profissionais,

a taxa de resposta dos acadêmicos (55%) foi consideravelmente mais alta que a de

profissionais (32%).

Os gráficos abaixo ilustram a divisão das características do grupo com

respostas válidas (Figura 6 a Figura 9). A Figura 7 deve ser comparada à Figura 6, a

fim de perceber a diferença de representação entre acadêmicos e profissionais, uma

vez que suas taxas de resposta foram tão diferentes.

Figura 6 Distribuição de mercado

Figura 7 Distribuição de mercado ajustado para proporção de

respostas

Figura 8 Distribuição de setor

Figura 9 Distribuição de hierarquia

Tendo, portanto, uma imagem das principais características dos

entrevistados, passa-se à apresentação do conteúdo coletado.

4.3 Apresentação dos dados coletados

Esta seção apresenta os dados coletados referentes aos critérios julgados

pelos entrevistados, isto é, os 51 critérios incluídos no questionário. Investigou-se a

83%

17%

Profissionais Acadêmicos

9 118

11 55

0%

50%

100%

Acadêmicos Profissionais

Ausências Respostas

44%

56%

Setor Público Setor Privado

58%

42%

Decisores Não-decisores

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89

distribuição dos indivíduos considerando-se o percentual de inclusão dos critérios

em cada categoria.

A fim de se ter uma visão geral das respostas ao questionário, faz-se

referência à Tabela 21, que apresenta um percentual médio dos julgamentos dos

critérios em cada categoria, isto é, inclusão, não inclusão ou indecisão.

Tabela 21 Critérios por categoria

Categoria Inclusão Não inclusão Indecisão

Impacto ambiental 82% 13% 5%

Eficácia 81% 17% 7%

Outro 77% 16% 5%

Já na Tabela 22, vê-se a alocação dos entrevistados de cada setor por

categoria proposta, de acordo com o percentual de inclusão dos critérios em cada

uma. Algumas categorias “mescladas” foram criadas, como mencionado

anteriormente, para acomodar casos de empate no julgamento das categorias. Isto

é, um entrevistado que tenha incluído o mesmo percentual de critérios de Eficácia e

Impacto Ambiental será alocado à categoria Eficácia/Impacto Ambiental, em vez de

Eficácia ou Impacto Ambiental.

Tabela 22 Alocação por inclusão de critérios: setor

Aglomerado Privado Público

Impacto Ambiental 34% 51%

Eficácia 38% 32%

Outros 10% 11%

Todos 14% 3%

IA/Outros 0% 3%

Eficácia/IA 3% 0%

Total 100% 100%

Semelhantemente, a Tabela 23 mostra a mesma alocação, porém, por ramo

de atuação do entrevistado e, em seguida, a Tabela 24 contém a divisão por

hierarquia dos respondentes.

Tabela 23 Alocação por inclusão de critérios: ramo

Aglomerado Acadêmicos Profissionais

Impacto Ambiental 45% 44%

Eficácia 18% 38%

Todos 0% 9%

Outros 27% 7%

Eficácia/IA 0% 2%

IA/Outros 9% 0%

Total 100% 100%

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90

Tabela 24 Alocação por inclusão de critérios: hierarquia

Aglomerado Não-decisores Decisores

Impacto Ambiental 39% 47%

Eficácia 36% 34%

Outros 14% 8%

Todos 11% 5%

Eficácia/IA 0% 3%

IA/Outros 0% 3%

Total 100% 100%

Vê-se que, da perspectiva das características pessoais, não existe diferença

entre as prioridades dos entrevistados, com exceção da divisão por setor. Nesse

caso, fica claro que o setor público tende a priorizar o impacto ambiental, enquanto o

setor privado demonstra apenas leve tendência para eficácia. Nas outras

perspectivas, apesar da amostra conter cerca de 40% de acadêmicos e profissionais

que priorizam impacto ambiental, a segunda opção de cada um deles é diferente:

acadêmicos valorizam outros critérios (principalmente custo) e profissionais optam

pela eficácia.

Como mencionado na Metodologia, os componentes de uma amostra para

análise de aglomerados costumam ser enquadráveis em um espaço d-dimensional.

Esse aspecto se aplica à presente pesquisa, que lida com três categorias e,

portanto, três eixos no espaço. Acredita-se que essa visão contribua para a

identificação de aglomerados e, portanto, deve ser considerada na análise dos

resultados. Na Figura 10, vê-se a distribuição de toda a amostra coletada (66

respostas), onde os pontos maiores são do setor privado, enquanto os menores são

do setor público; os vermelhos são decisores e os azuis são não-decisores. A

diferenciação por tamanho e cor facilita a identificação visual de aglomerados, caso

haja, porém, podem existir pontos sobrepostos, uma vez que algumas respostas

foram muito parecidas ou mesmo iguais.

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91

Figura 10 Distribuição dos pontos em R3

Percebe-se maior densidade de pontos ao longo da reta que liga a origem ao

ponto (1,1,1). Porém, parece haver mais não-decisores (esferas azuis) perto do

ponto (1,1,1) do que mais afastado dele.

O resultado da aglomeração hierárquica pode ser conferido no dendrograma

da Figura 11.

Figura 11 Dendrograma: Método de Ward

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92

A linha pontilhada indica o passo no método iterativo onde existem três

aglomerados com pouca dessemelhança. Isto é, acima da linha de corte, a

dessemelhança é alta e, com isso, existe maior perda de informação no

agrupamento. Por isso, entende-se que uma solução ideal exista para três

aglomerados.

Esse resultado foi então usado para rodar a aglomeração não hierárquica,

com o número de aglomerados indicados, isto é, três. Além disso, a organização dos

grupos proposta pelo método hierárquico serviu como semente para o método não

hierárquico, que se incumbiu de reagrupar os indivíduos, caso necessário. Na

aglomeração tridimensional da Figura 12, veem-se os três aglomerados formados

pelo algoritmo K-means (centros de massa em vermelho) e seus respectivos

componentes.

Figura 12 Aglomeração com 3 centroides

Os resultados aqui apresentados são analisados no próximo capítulo, a fim de

alcançar-se, caso exista, uma conclusão construtiva e significativa a respeito dos

aglomerados formados.

CM2

CM0

CM1

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93

4.4 Outros dados coletados

Além de investigar o julgamento de critérios, a pesquisa permitiu observar

outras relações entre os dados. A seguir, tais informações são apresentadas e, no

próximo capítulo, analisadas.

4.4.1 Objetivos da ETE

Como visto na seção 3.2.3.1, a questão referente aos objetivos de uma ETE

se propunha a coletar as visões particulares do entrevistado e, através da

observação de palavras e expressões-chave, categorizar cada objetivo em termos

da tendência pela eficácia, impacto ambiental ou outra categoria. Ou seja, o

resultado dessa observação também permite alinhar o objetivo da ETE proposto

pelo entrevistado com os critérios de decisão que ele prioriza.

A categorização dos objetivos revelou que 29% dos entrevistados vê na ETE

uma forma de preservar o meio ambiente. Porém, apesar de ser o maior percentual,

esse valor está muito próximo da quantidade de entrevistados que enxerga a ETE

como um processo para limpeza da água (26%). A relação completa da

categorização pode ser conferida na Tabela 25. A coluna dedicada aos decisores

pretende enfatizar a distribuição de opiniões apenas nesse grupo, a fim de compará-

lo com a amostra como um todo, como previsto na Metodologia (seção 3.2.3.1).

Tabela 25 Categorização dos objetivos de uma ETE

Categoria do objetivo Amostra Decisores

Impacto ambiental 29% 26%

Eficácia 26% 29%

Impacto ambiental/Outros 20% 21%

Eficácia/Impacto ambiental 11% 13%

Outros 8% 5%

Eficácia/Outros 3% 3%

Todos 3% 3%

Nenhum (erro?) 2% 0%

Observa-se a existência de categorias “mescladas”, isto é, compostas por

duas categorias, como “Eficácia/Impacto ambiental”, por exemplo. Isso se deve ao

fato de o processo de pontuação por palavras-chave permitir empate, caso exista

uma palavra de cada categoria no texto do objetivo. Vale ressaltar que as

categorias, inclusive as novas, são mutuamente excludentes, isto é, caso um

objetivo pontue com empate, ele é alocado a apenas uma categoria mesclada e não

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94

conta para a população das categorias “puras”, originalmente propostas no trabalho.

Dessa forma, não existem entrevistados duplicados entre as categorias.

Existem dois casos que diferem dos demais, sendo classificados como

“Todos” e “Nenhum”. O primeiro caso decorre da possibilidade de empate durante a

categorização. Já o segundo pode ter sido um erro do entrevistado ao responder o

questionário, pois o campo de objetivo foi preenchido com apenas um caractere

alfanumérico. Por exemplo, o entrevistado passou para a próxima página do

questionário por engano, o que não descarta a possibilidade de desatenção com o

campo.

Com relação aos decisores, vê-se que existe uma possível inversão de

tendências, uma vez que, nesse caso, 29% têm objetivos de eficácia com a ETE,

seguidos de perto por aqueles que dão foco ao impacto ambiental (26%).

Os resultados podem ser observados com outra distribuição, pela perspectiva

dos setores, sob a qual se percebe leve alternância das preferências (Tabela 26).

Tabela 26 Categorização dos objetivos por setor

Categoria do objetivo Privado Público

Impacto ambiental 34% 24%

Eficácia 24% 27%

Impacto ambiental/Outros 17% 22%

Eficácia/Impacto ambiental 10% 11%

Outros 7% 8%

Eficácia/Outros 3% 3%

Todos 3% 3%

Nenhum (erro?) 0% 3%

No setor público, a maioria (27%) se concentra na categoria de Eficácia,

apesar da pequena diferença para a categoria de Impacto Ambiental, com 24% do

foco dos entrevistados. Já no setor privado, a preferência pelo impacto ambiental

parece mais consolidada (34%), se comparada à segunda mais escolhida, eficácia

(24%).

A mesma organização foi feita para opiniões de acadêmicos e profissionais,

levando aos resultados da Tabela 27.

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95

Tabela 27 Categorização dos objetivos por ramo de atuação

Categoria do objetivo Acadêmicos Profissionais

Impacto ambiental 27% 29%

Eficácia 27% 25%

Impacto ambiental/Outros 27% 18%

Eficácia/Impacto ambiental 9% 11%

Outros 9% 7%

Eficácia/Outros 0% 4%

Todos 0% 4%

Nenhum (erro?) 0% 2%

Nota-se uma distribuição quase perfeita entre as três primeiras categorias,

com três respostas em cada, equivalendo a 27% da amostra de acadêmicos. Já

para profissionais, a diferença é mais acentuada na tendência ao Impacto Ambiental,

seguido pela Eficácia.

Esse resultado é usado mais à frente, juntamente com os resultados de

priorização de critérios, a fim de buscar alinhamento entre os critérios de decisão e o

objetivo dessa decisão.

4.4.2 Outros critérios

No total, 37 entrevistados sugeriram a inclusão de um ou mais critérios de

escolha tecnológica, totalizando 72 critérios propostos. As respostas de texto livre

foram analisadas uma a uma, a fim de categorizar os critérios. Percebeu-se então

que havia quatro propostas já incluídas na lista do questionário, ou seja, os

entrevistados propuseram critérios que já estavam entre os 51 critérios originais.

Além disso, alguns entrevistados propuseram os mesmos critérios entre si, gerando

propostas repetidas. Após eliminação desses itens, obteve-se 44 novos e distintos

critérios.

Quanto à categorização dos novos critérios, apesar de haver menção de

inclusão nas categorias já propostas, percebeu-se que muitos critérios podem ser

classificados como “Outros”, mas não tratam de custos especificamente. A

observação mais cautelosa apontou o surgimento de uma nova categoria,

relacionada ao aspecto social da construção de uma ETE. Ao total, foram propostos

dez critérios de impacto social.

Alguns critérios propostos pareceram amplos ou abrangentes demais para se

enquadrarem em apenas uma categoria, especialmente considerando-se a

especificidade das categorias de eficácia e impacto ambiental. Por isso, e levando

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96

em conta também que a categoria “Outros” inclui critérios que se classificam de

diversas maneiras, e não apenas como custos, as propostas inclassificáveis foram

alocadas à categoria “outros” para fins de análise. Esses casos incluem:

“Adequabilidade do processo à realidade local”, que pode incluir

aspectos de área ocupada (impacto ambiental) e volume diário tratado

(eficácia);

“Características arquitetônicas da ETE”, que podem estar relacionadas

à infraestrutura que abriga a ETE (impacto ambiental), assim como à

complexidade do projeto, impactando o custo;

“Eficiência observada da estação”, que, diferente de eficácia, pode

representar um grupo de variáveis, incluindo critérios de impacto

ambiental, custo e da própria eficácia. Isto é, a eficiência é o “sucesso”

do processo como um todo.

Além desses, mencionou-se a necessidade de hierarquia de critérios ou

pesos para cada critério. Isso, de fato, é necessário para a tomada de decisão real e

foi ignorado no caso dessa pesquisa a fim de não aumentar a complexidade do

questionário, já bastante extenso. Ainda assim, atribuir pesos aos critérios não

representa um novo critério em si, tanto quanto uma nova metodologia para coleta

de dados.

4.4.3 Critérios mais frequentes

A observação dos critérios mais frequentes consistiu em selecionar os cinco

critérios com julgamentos mais homogêneos entre todos os entrevistados. Ou seja,

critérios que foram incluídos em quase todas as respostas, ou mesmo que não

foram incluídos por todos ou quase todos na pesquisa. Essa abordagem é oportuna

para procurar certezas e consensos na escolha de tecnologia. Ou seja, identificar os

critérios que, independentemente da área de atuação, da localização geográfica ou

do nível hierárquico do entrevistado, terão a mesma importância durante a decisão.

Nas tabelas a seguir, esse resultado é exibido em termos dos percentuais

calculados para toda a amostra e, em coluna destacada, para efeitos de

comparação e análise, para decisores apenas. Esse realce foi inserido com o intuito

de balizar o estudo sobre tomada de decisão, isto é, esses dados permitem

comparar a decisão em uma amostra, que contém diversos perfis de entrevistados,

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97

com o subgrupo de decisores, que são oficialmente delegados com a

responsabilidade de escolher e tomar decisões.

No caso das inclusões, não houve predominância de categoria, sendo três

critérios de impacto ambiental, dois de eficácia e um da categoria “Outros”, como

visto na Tabela 28.

Tabela 28 Critérios com maior percentual de inclusão

Critério Categoria % Incluir Decisores

incluem

Concentração de DBO Eficácia 100% 100%

Concentração de sólidos em suspensão Eficácia 98% 100%

Características do corpo receptor Impacto ambiental 97% 95%

Estética (ex. odor) Impacto ambiental 97% 95%

Área disponível para construção Impacto ambiental 97% 100%

Custo de operação e manutenção Outros 97% 97%

Já na avaliação dos cinco maiores percentuais de não-inclusões, vemos que

aparecem quatro critérios da categoria “Outros” e apenas um da categoria Eficácia,

como visto na Tabela 29.

Tabela 29 Critérios com maior percentual de não-inclusão

Critério Categoria % Não

incluir

Decisores

não incluem

Escolha de tecnologia diferente da

empresa líder na indústria

Outros 59% 63%

Erro humano durante a produção Eficácia 42% 45%

Número de motores elétricos/1000

habitantes (projeto)

Outros 41% 45%

Geração de renda pelo aproveitamento

dos resíduos sólidos

Outros 38% 42%

Número de intervenções de

manutenção/1000 habitantes (projeto)

Outros 35% 39%

Por fim, observando as indecisões, vê-se que é um conjunto composto por

critérios de todas as categorias, como mostra a Tabela 30.

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98

Tabela 30 Critérios com maior percentual de indecisão

Critério Categoria % Indeciso Decisores

indecisos

Geração de CO2 Impacto

ambiental

19% 21%

Erro humano durante a produção Eficácia 18% 18%

Impactos sociais (melhorias na qualidade

de vida, criação de empregos, etc.)

Outros 15% 18%

Escolha de tecnologia diferente da empresa

líder na indústria

Outros 13% 11%

Concentração de químicos dissolvidos Eficácia 12% 11%

Influência governamental (ex. incentivos

fiscais)

Outros 12% 13%

Efeitos para a biodiversidade do local de

implantação da ETE

Impacto

ambiental

12% 11%

Nota-se que alguns critérios que compõem o grupo de menos inclusões

(Tabela 29) também aparecem nos critérios que mais geraram indecisão, como “Erro

humano durante a produção” e “Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na

indústria”, ambos advindos da lista de critérios do setor industrial.

Durante o cálculo dos percentuais acima, observaram-se os critérios em si,

porém, com o objetivo de compreender melhor o motivo das indecisões, procurou-se

outra forma de investigar o julgamento indeciso e optou-se por observar as

respostas no nível do entrevistado, buscando a indecisão individualmente em vez de

como um grupo. Elaborou-se, portanto, a taxa de indecisão, visando encontrar

alguma semelhança entre os entrevistados que apresentavam altas taxas de

indecisão. A grandeza é definida por:

Observou-se que 14 entrevistados, ou 21% da amostra, apresentaram taxa de

indecisão superior a 10%, isto é, ficaram indecisos a respeito de cinco ou mais

critérios. Dentre esses, a taxa média foi de 18%, enquanto a taxa média de

indecisão para a amostra inteira foi de 6%.

Dentre os 14 mais indecisos, esse resultado parece independer de hierarquia,

setor ou ramo de trabalho, como é visto na Tabela 31. Especialmente no caso de

profissionais e acadêmicos, apesar de os números absolutos serem distintos, esses

indivíduos representam praticamente a mesma fração em seus grupos. Aliás, no

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99

geral, tem-se cerca de 20% de indecisos em qualquer subgrupo da amostra

(considerando taxa de indecisão acima de 10%).

Tabela 31 Grupo com alta taxa de indecisão

Característica Quantidade

absoluta

Percentual

da amostra

Profissional 12 22%

Acadêmico 2 18%

Decisor 7 18%

Não-decisor 7 25%

Setor público 8 22%

Setor privado 6 21%

Os valores percentuais apresentados permitiram o levantamento de algumas

hipóteses e inferências sobre o comportamento da amostra, que são explicitadas e

desenvolvidas no capítulo analítico.

4.4.4 Critérios do Setor Industrial

Os critérios para escolha de tecnologia, vistos na seção 2.1.1, foram

introduzidos por Stobaugh e Wells, Jr. (1984) no contexto do setor industrial, como

explicado. Com a inserção de ditos critérios na tabela da survey, um dos objetivos

da pesquisa foi investigar sua aceitação pelo setor de saneamento. Durante a coleta

de dados, não se ressaltou o fato que alguns critérios eram particulares do setor

industrial, justamente para entender sua adaptabilidade em outro setor. Esperava-se

encontrar padrões nos julgamentos (inclusão, não-inclusão e indecisão) que

indicassem uma tendência da amostra entrevistada para com aqueles critérios.

Na Tabela 32, veem-se os critérios propostos para o setor industrial e seus

respectivos julgamentos pelos entrevistados. Os itens estão listados em ordem

alfabética.

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100

Tabela 32 Critérios do setor industrial: julgamentos

Categoria Critério Incluem Não

incluem Indecisos Outro Adaptabilidade da tecnologia à mão de

obra

74% 20% 6%

Eficácia Erro humano durante a produção 39% 42% 18%

Outro Escolha de tecnologia diferente da

empresa líder na indústria

27% 59% 14%

Outro Falta de assistência técnica para uma

tecnologia

85% 14% 2%

Outro Influência governamental (ex. incentivos

fiscais)

64% 24% 12%

Outro Preferência por automatização 65% 26% 9%

Outro Relação entre custos de operação e

custos totais

89% 6% 5%

Assim como para objetivos e outros critérios propostos, observou-se com

mais minúcia o comportamento dos decisores, a fim de compará-lo com o da

amostra como um todo. Pelos percentuais da Tabela 33, os julgamentos da amostra

coincidem com aqueles de decisores.

Tabela 33 Critérios do setor industrial: julgamentos por decisores

Categoria Critério Incluem

Não

incluem Indecisos

Outro Adaptabilidade da tecnologia à mão de

obra

66% 26% 8%

Eficácia Erro humano durante a produção 37% 45% 18%

Outro Escolha de tecnologia diferente da

empresa líder na indústria

26% 63% 11%

Outro Falta de assistência técnica para uma

tecnologia

87% 13% 0%

Outro Influência governamental (ex. incentivos

fiscais)

53% 34% 13%

Outro Preferência por automatização 71% 18% 11%

Outro Relação entre custos de operação e

custos totais

87% 11% 3%

A comparação entre as tabelas, assim como algumas reflexões propostas,

são encontradas no próximo capítulo, juntamente com outras análises e sugestões

de investigação.

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101

5 Análise e sugestões

Neste capítulo, realiza-se a análise dos dados, buscando seu significado

representativo para a pesquisa, de acordo com a ordem dos resultados

apresentados no capítulo 4. Isto é, primeiro, observa-se de maneira crítica o

resultado da aglomeração, apontando possíveis tendências e padrões. Em seguida,

analisa-se o resultado da categorização dos objetivos, a fim de alinhá-lo com o

resultado encontrado pelo julgamento de critérios. Logo após, passa-se à análise

dos outros critérios propostos, que também foram categorizados. Finalmente,

encontra-se a análise dos julgamentos dos critérios do setor industrial e possíveis

motivos para tal resultado.

5.1 Análise dos dados

Esta seção oferece uma análise das aglomerações resultantes da alocação

de integrantes a centroides calculados. O principal objetivo é entender melhor a

alocação apresentada na análise descritiva, baseada somente no percentual de

inclusão dos critérios de cada categoria. Além disso, a análise de aglomerados se

propõe a permitir a caracterização dos grupos de entrevistados que demonstram

tendência a escolher cada categoria de critérios em uma decisão. Em seguida, o

foco passa a ser os centroides em si e o significado de suas coordenadas.

Na imagem de dispersão tridimensional da Figura 10 (pg. 91), no capítulo

anterior, parece haver mais pontos azuis – representando não-decisores – próximos

ao vértice (1,1,1). Uma possível interpretação para essa organização seria o

idealismo desses entrevistados, por exemplo, por sua inexperiência , ao buscarem

priorizar as três categorias de critérios. Porém, a distribuição ao longo da diagonal

indica que todos os entrevistados podem ter seguido o caminho de priorização de

todas as categorias, uma vez que não se ofereceu nenhum tipo de restrição para a

tomada de decisão. Esse aspecto da pesquisa é comentado na seção de melhorias

propostas e estudos futuros.

Para uma análise dos componentes de cada aglomerado, recorre-se às

tabelas a seguir. Nelas, veem-se: o percentual de entrevistados, por característica

pessoal, alocado a cada aglomerado, denominados CM0, CM1 e CM2 (Tabela 34); e

o valor absoluto de componentes de cada aglomerado (Tabela 35).

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102

Tabela 34 Aglomeração não-hierárquica da amostra (percentual do total)

Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total

Aca

mic

os

Privado Não-decisor 0% 0% 0% 0%

Decisor 0% 0% 0% 0%

Público Não-decisor 2% 3% 3% 8%

Decisor 2% 5% 3% 9%

Pro

fissio

na

is

Privado Não-decisor 2% 5% 8% 14%

Decisor 11% 9% 11% 30%

Público Não-decisor 5% 6% 11% 21%

Decisor 5% 11% 3% 18%

Total 24% 38% 38% 100%

Tabela 35 Valor absoluto de componentes em cada aglomerado

Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total

Aca

mic

os

Privado Não-decisor 0 0 0 0

Decisor 0 0 0 0

Público Não-decisor 1 2 2 5

Decisor 1 3 2 6

Pro

fissio

na

is

Privado Não-decisor 1 3 5 9

Decisor 7 6 7 20

Público Não-decisor 3 4 7 14

Decisor 3 7 2 12

Total 16 25 25 66

Como não foi possível obter uma amostra heterogênea, os percentuais acima

podem ser ilusórios. Isto é, cada percentual equivale ao número total de

entrevistados com aquelas características sobre o total da amostra. Porém, o grupo

de acadêmicos, por exemplo, é consideravelmente menor que aquele de

profissionais e, com isso, seu percentual no total da amostra será sempre muito

inferior. A fim de auxiliar nas análises, apresentam-se, portanto, as tabelas a seguir,

com os mesmos dados da tabela anterior, porém, com percentuais relativos à coluna

(Tabela 36) ou linha (Tabela 37) as quais pertencem.

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103

Tabela 36 Aglomeração: percentuais por coluna

Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total

Acadêmicos Público Não-decisor 6% 8% 8% 8%

Decisor 6% 12% 8% 9%

Profissionais

Privado Não-decisor 6% 12% 20% 14%

Decisor 44% 24% 28% 30%

Público Não-decisor 19% 16% 28% 21%

Decisor 19% 28% 8% 18%

Total 100% 100% 100% 100%

Tabela 37 Aglomeração: percentuais por linha

Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total

Acadêmicos Público Não-decisor 20% 40% 40% 100%

Decisor 17% 50% 33% 100%

Profissionais

Privado Não-decisor 11% 33% 56% 100%

Decisor 35% 30% 35% 100%

Público Não-decisor 21% 29% 50% 100%

Decisor 25% 58% 17% 100%

Total 24% 38% 38% 100%

O resultado da aglomeração mostra uma distribuição equilibrada entre

aglomerados em termos da quantidade de componentes em cada grupo. Porém,

nota-se também que os decisores do setor público se concentram em CM1,

enquanto os não-decisores (em ambos setores) se alocam principalmente em CM2.

Considerando que CM2 está mais próximo do ponto (1,1,1), ou seja, o cenário ideal,

livre de restrições, uma possível interpretação para este resultado é que os

decisores já têm experiência tanto para escolher critérios de decisão quanto para

tomar decisões com menos informações. Enquanto isso, os não-decisores, por seu

momento de carreira e aprendizado, ainda buscam muitas informações, talvez até

mais do que seja necessário ou esteja disponível.

Pela Tabela 34 (pg. 102), percebe-se também que os componentes de CM1

são principalmente do setor público. Lembrando que esse aglomerado representa

um cenário onde menos informação é utilizada para a tomada de decisão, pode-se

inferir que a alocação reflete a realidade desse setor. Ou seja, uma disponibilidade

menor de informações, que faz com que seus representantes se adaptem à tomada

de decisão utilizando menos critérios.

A fim de aprofundar a análise dos números e identificar características e

situações reais do mercado estudado, é necessário investigar as coordenadas de

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104

cada centro de massa. Como cada eixo equivale a uma categoria, as coordenadas

(1,0,0), por exemplo, referem-se à priorização pura da eficácia (eixo x). Então, para

os aglomerados identificados na pesquisa, é necessário determinar o nível de

importância atribuído por seus integrantes às categorias, representado pelos centros

de massa (Tabela 38).

Tabela 38 Coordenadas dos centros de massa

Eficácia Impacto Ambiental Outros

CM0 0,687 0,612 0,565

CM1 0,735 0,843 0,753

CM2 0,954 0,926 0,907

Observando-se CM0, percebe-se que se trata de um grupo com priorização

relativamente equilibrada para todas as categorias, porém, demonstrando tendência

a dar mais importância para critérios de eficácia. A diferença de 0,075 entre as

coordenadas de eficácia e impacto ambiental representa a inclusão de pelo menos

três critérios a mais de eficácia. Observando-se os componentes desse aglomerado

(Tabela 36, pg. 103), conclui-se que a maioria dos integrantes são decisores e,

alinhado ao que foi visto anteriormente, provavelmente representam agentes

acostumados a tomar decisões em um cenário com poucas informações. Afinal,

pelas coordenadas de CM0, este centroide representa um grupo que inclui ainda

menos critérios que aquele encontrado em CM1. Ou seja, esse aglomerado poderia

representar um grupo que busca equilibrar a decisão, mas permite que ela seja

norteada pela qualidade da água sendo tratada.

Já no caso de CM1, percebe-se tendência forte para a inclusão de mais

critérios de impacto ambiental. A diferença de 0,108 entre as coordenadas

representa a inclusão de pelo menos cinco critérios a mais dessa categoria, se

comparada à eficácia. Os componentes desse aglomerado são principalmente

decisores, como visto anteriormente, porém, existe presença marcante do setor

público também. Esse resultado sugere, portanto, um perfil de decisão, no qual

decisores do setor público favorecem aspectos de impacto ambiental durante a

escolha tecnológica. Esse resultado apoia o agrupamento mostrado na Tabela 22

(pg. 89), que considera apenas o percentual de inclusão dos critérios de cada

categoria e indica preferência do setor público por critérios de impacto ambiental.

Apesar disso, vale lembrar que o centro de massa representa uma média das

opiniões de seus componentes, que também inclui representantes do setor privado.

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105

No caso de CM2, as coordenadas representam pontuações altas em todos os

eixos, ou seja, altos percentuais de inclusão dos critérios das três categorias. Em

outras palavras, para os componentes desse aglomerado, as decisões tecnológicas

são tomadas levando-se em conta critérios de todas as categorias e, de preferência,

a maior quantidade possível deles. Porém, semelhante a CM0, esse centro de

massa apresenta leve priorização dos critérios de eficácia. A diferença de 0,028

representa a inclusão de pelo menos um critério a mais na categoria de eficácia,

quando comparada à categoria de impacto ambiental. Essa tendência é, no entanto,

menos forte que no caso de CM0.

Para analisar os componentes desse aglomerado (CM2), faz-se referência às

tabelas Tabela 36 e Tabela 37 (pg. 103). Nelas, vê-se que o grupo é composto

principalmente por não-decisores de ambos os setores e alguns decisores do setor

privado. No caso dos não-decisores, supõe-se que sua alocação em um aglomerado

tão próximo do cenário ideal, onde não há restrições para a disponibilidade dos

recursos de informação, reflita sua inexperiência e insegurança para tomar decisões

com consequente necessidade de muita informação. Isso é razoável e aceitável,

uma vez que estão em posições que provavelmente não requerem que exerçam

esse papel. Por outro lado, a alocação de decisores do setor privado nesse

aglomerado sugere que há maior disponibilidade de informações nesse setor, que

então provê mais para seus decisores. É válido reparar, porém, que existe o mesmo

percentual de decisores do setor privado em CM0 e CM2, ou seja, enquanto existem

agentes acostumados a decidir com poucas informações e cientes disso, existe

também o oposto – agentes cuja realidade é mais generosa em termos de recursos

e que, igualmente, se acostumaram a atuar e decidir nesse cenário.

É interessante observar que, apesar da maior quantidade de critérios da

categoria “Outros”, esta categoria teve pontuação menor que as outras categorias

tanto em CM0 quanto em CM2, sugerindo que, no caso de saneamento, a qualidade

da água e o impacto no meio ambiente são, de fato, mais importantes que o custo

ou outros aspectos do processo. A exceção foi CM1, cuja diferença de 0,018 nas

coordenadas de eficácia e da categoria "outros" indica inclusão de mais critérios da

segunda categoria. Porém, essa diferença não equivale a um critério inteiro, o que

indica tendência fraca. Ainda assim, é interessante lembrar que este aglomerado era

composto principalmente por decisores e representantes do setor público, o que

aponta a importância de custos (principal componente da categoria "outros") para

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106

esses agentes. Esse aglomerado concentra, portanto, agentes cuja prioridade é o

impacto ambiental, mas com controle dos gastos para implementar a estação.

Um resumo das prioridades em cada centro de massa é visto na Tabela 39,

que indica quantos critérios a mais de uma categoria são incluídos se comparada às

outras duas. Por exemplo, tomando CM0, há pelo menos três critérios a mais de

eficácia se comparado a impacto ambiental; pelo menos seis critérios a mais de

eficácia se comparado a outros critérios; e pelo menos dois critérios a mais de

impacto ambiental se comparado a outros critérios.

Tabela 39 Prioridades em cada aglomerado: critérios adicionados a mais

Eficácia vs.

Impacto Ambiental

Eficácia vs.

Outros

Impacto ambiental vs.

Outros

CM0 3,9 Efic. 6,2 Efic. 2,4 IA

CM1 5,5 IA 0,9 Outros 4,6 IA

CM2 1,4 Efic. 2,4 Efic. 1,0 IA

Viu-se então que, apesar de não existir priorização evidente de nenhuma das

categorias em nenhum dos aglomerados, existem tendências à inclusão de mais

critérios de uma ou outra categoria, dependendo do aglomerado. A visualização

desse resultado é facilitada pela disposição tridimensional dos centros de massa,

como mostra a Figura 13.

Figura 13 Localização dos centros de massa no espaço

Essa figura é complementada pelo ângulo da Figura 14, que realça a

diferença entre as pontuações de eficácia e impacto ambiental nos três

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107

aglomerados. Com isso, é possível visualizar as diferenças entre coordenadas

apresentadas anteriormente.

Figura 14 Disposição tridimensional: ângulo Eficácia vs. Impacto Ambiental

Além das análises numéricas intra-centroide, sugere-se classificar os

aglomerados com referência à diferença entre suas coordenadas, ou seja, uma

análise entre centroides. Isto é, em vez de comparar os eixos de eficácia e impacto

ambiental de um centro de massa, compara-se o eixo de eficácia de dois centros de

massa. Nesse cenário, tem-se prioridade decrescente para todas as categorias

quando se passa de um aglomerado para o outro. Sendo assim, não é necessário

dizer que um aglomerado tende à eficácia ou ao impacto ambiental especificamente,

mas pode-se dizer que atribui importância alta, média ou baixa para cada categoria.

Tem-se, então, a classificação da Tabela 40.

Tabela 40 Classificação dos centros de massa calculados

Impacto ambiental Alta

>0,75

Média

>0,5

Baixa

<0,50 Eficácia Outros

Alta Alta CM2

Média

Baixa

Média Alta CM1

Média CM0

Baixa

Baixa Alta

Média

Baixa

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108

Os resultados analisados até o momento aparentam sustentar a hipótese que,

apesar de alguns entrevistados darem prioridade a critérios de todas as categorias,

quando possível, outros preferem utilizar menos informações em suas decisões. Isso

pôde ser visto particularmente nas distribuições do espaço tridimensional (Figura 10

e Figura 12, pg. 91 e 92), que mostram a dispersão dos pontos ao longo da diagonal

entre a origem e o ponto (1,1,1), representativo da decisão que inclui todos os

critérios apresentados.

Para a análise das coordenadas dos centroides, sugere-se também uma

comparação com o resultado esperado da aglomeração. Por exemplo, observando-

se a Tabela 40 novamente, um dos resultados esperados era uma maioria de não-

decisores no aglomerado CM2 (Alto-Alto-Alto), pois provavelmente são entrevistados

com menos experiência e, portanto, maior necessidade de informação durante a

escolha tecnológica. Paralelamente, esperavam-se mais representantes do setor

privado nesse mesmo aglomerado, uma vez que esse setor poderia ser mais rico em

recursos e informações que o setor público e, com isso, forneceria mais dados para

a decisão tecnológica. Pelas tabelas abaixo, ambas as hipóteses foram confirmadas.

Nelas, veem-se as aglomerações de cada centro de massa, separada por

característica dos entrevistados, a fim de possibilitar uma análise pontual das

alocações da perspectiva de cada característica.

Tabela 41 Aglomeração por ramo

Ramo CM0 CM1 CM2 Total

Acadêmicos 18% 45% 36% 100%

Profissionais 25% 36% 38% 100%

Tabela 42 Aglomeração por hierarquia

Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total

Não-decisor 18% 32% 50% 100%

Decisor 29% 42% 29% 100%

Tabela 43 Aglomeração por setor

Setor CM0 CM1 CM2 Total

Privado 28% 31% 41% 100%

Público 22% 43% 35% 100%

Pelas tabelas, percebe-se que existe polarização entre cada par de

características em termos de alocação nos aglomerados. Isto é, em nenhum dos

casos é possível encontrar a maioria de ambos os itens no mesmo aglomerado. Por

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109

exemplo, analisando a distribuição das hierarquias (Tabela 42), identifica-se que os

não-decisores se concentram em CM2, enquanto os profissionais preferem CM1. A

mesma análise pode ser aplicada aos outros pares de características (Tabela 41 e

Tabela 43) para identificar divisão entre preferências.

Apesar da consistência dos resultados, devido ao tamanho da amostra,

acredita-se que seria interessante coletar mais dados, a fim de permitir a criação de

mais hipóteses e sua confirmação ou rejeição com números mais representativos do

mercado estudado.

Nas próximas seções, observam-se os resultados obtidos ao analisar os

demais dados coletados pela survey.

5.2 Outras análises propostas

Havendo comentado os resultados referentes à escolha de critérios para

tomada de decisão, esta seção se dedica a analisar os demais dados coletados pelo

questionário. As propostas incluem análise dos textos de objetivos da ETE,

propostos pelos entrevistados; análise de outros critérios propostos para a decisão;

observação dos critérios mais frequentes nas três avaliações (inclusões, não-

inclusões e indecisões); e comparação da avaliação dos critérios em saneamento

com aqueles geralmente encontrados no setor industrial.

5.2.1 Análise dos objetivos categorizados

Como mencionado anteriormente, a principal função da questão sobre

objetivos da ETE é fornecer informações que são comparadas com a análise de

critérios, de maneira que se complementem. Porém, além disso, acredita-se que

essa união funcione como semente para estudos futuros ou aprofundamentos da

pesquisa.

Pelas tabelas de categorização de objetivos (Tabela 25 a Tabela 27, pg. 93 a

95), nota-se a importância dada à eficácia, o que era esperado, devido à própria

natureza do processo, isto é, tratar afluentes ao remover impurezas. Porém,

percebe-se também a presença recorrente do impacto ambiental, tanto como

categoria “pura” quanto em categorias mescladas. Isso sugere que, de fato, a

existência de uma ETE esteja relacionada ao impacto no meio ambiente, ainda que

seu objetivo primário seja outro – limpar esgoto, reutilizar água, etc.

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110

Propõe-se observar a Tabela 22 (pg. 89), da alocação em categorias baseado

no percentual de inclusão de critérios, em comparação com a Tabela 17 (pg. 84), da

categorização dos objetivos fornecidos por setor. Recapitulando, a primeira tabela

mostra que o setor público demonstra forte preferência por critérios de impacto

ambiental, incluindo 51% desses critérios em suas decisões. Já o setor privado

prefere incluir mais critérios de eficácia (38%). Porém, a segunda tabela

referenciada indica que o setor privado acredita que o objetivo de uma ETE esteja

voltado principalmente para o impacto ambiental da estação. Enquanto isso, o setor

público demonstra tendência, ainda que leve, para atender objetivos de eficácia na

estação. Ou seja, da perspectiva de setores, existe desalinhamento entre os

objetivos do processo e os critérios para escolha tecnológica desse mesmo

processo. Esse resultado levanta questões a respeito:

da autenticidade das respostas sobre objetivos;

da verdadeira consciência do entrevistado a respeito de quais critérios

utilizar;

do impacto que um ideal corporativo pode ter, ou seja, acredita-se que

o processo atenda um objetivo, quando, na realidade, tudo é orientado

para que atenda outro.

As observações a respeito dos objetivos propostos pelos entrevistados, assim

como os resultados da inclusão de critérios em cada categoria, mostraram que o

conceito do impacto ambiental está presente nas decisões dos respondentes.

Mesmo não tendo sido mencionado, esse aspecto é significativo na área de

saneamento. Porém, pode-se também levantar uma hipótese polêmica: dada a

natureza acadêmica desta pesquisa, estariam os entrevistados, especialmente os

decisores (Tabela 24, pg. 90), inclinados a passar uma imagem “correta” de suas

instituições ao não darem aparente valor para critérios de custo, principal

componente da categoria “outros”? Enquanto isso, não-decisores, por terem menos

exposição, refletem a realidade da operação e de qualquer processo, que de fato

sempre depende de custos, assim como outros critérios. Na realidade, a alocação

de não-decisores pode ser reflexo do movimento recente pela conscientização

ambiental. Isto é, existe preocupação ambiental no subconsciente coletivo ainda

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111

que, em paralelo, as pessoas tenham consciência da importância tanto do custo

quanto da eficácia desse processo.

Viu-se que as categorias mescladas são consideradas categorias

independentes, de maneira que cada resposta fornecida só está presente em uma

atribuição de categoria: “pura” ou “mesclada”. Porém, com o sistema de

categorização proposto, que permite empate, uma das respostas ao questionário

usado abrangeu as três categorias. A princípio, esse resultado não parece prático ou

útil, porém, a aglomeração de respostas sobre priorização de critérios também

contém alguns indivíduos muito próximos do ponto (1,1,1) na distribuição

tridimensional, sugerindo que esses entrevistados priorizavam todas as categorias

de critérios durante uma decisão. Novamente, esse resultado deve-se, em grande

parte, à falta de restrições ou cenários no questionário. Sendo assim, para

aprofundamento da pesquisa, sugere-se uma comparação mais minuciosa entre

categorias de objetivos e aglomeração de critérios, verificando se os candidatos com

empate nas palavras-chave do objetivo da ETE também foram alocados ao

aglomerado próximo ao ponto (1,1,1).

De maneira geral, o estudo dos objetivos da estação deve ser mais refinado e

aprofundado. O método de categorização, através de palavras-chave, é bastante

relativo, uma vez que se baseou somente no julgamento da autora desta pesquisa.

Em abordagens futuras, pode-se construir um quadro de palavras-chave e suas

categorias com base na opinião de outros pesquisadores ou profissionais do

mercado de saneamento. A participação desses é importante especialmente quando

a análise das respostas envolve o uso de jargão. Sendo esse o caso, uma palavra

usada para responder a questão tem um significado específico, bem compreendido

por quem é dessa área do conhecimento, mas desconhecido por quem é de fora. Ou

seja, é válido consultar os autores das respostas de texto livre ao realizar análises

que se baseiam em suas palavras, ou ainda formular questões que não deem

margem a interpretação pessoal.

5.2.2 Novos critérios: Análise

A análise dos novos critérios propostos permitiu a observação de decisores e

subordinados, resultando em uma interessante distribuição, apresentada na Tabela

44. Vale lembrar que essa distribuição se refere a um total de 37 entrevistados que

opinaram sobre novos critérios.

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112

Tabela 44 Distribuição de propostas por novos critérios

Privado Público Total

Decisores 8% 41% 49%

Não-decisores 27% 24% 51%

Total 35% 65% 100%

Parece existir necessidade de mais informação tanto para decisores (49%)

quanto para não-decisores (51%). No entanto, a distribuição é bem diferente quando

se trata de setores. O setor público representa 65% dos entrevistados que desejam

incluir mais critérios em suas decisões, especialmente seus decisores (41%). Ou

seja, a maior parte da carência por informações se concentra justamente com

aqueles que precisam decidir. Esse cenário é preocupante no sentido de apontar

melhorias urgentes nas condições de trabalho e recursos disponíveis para os

gestores do setor público.

Uma das conclusões obtidas na análise dos novos critérios foi o surgimento

de uma nova categoria, o impacto social. Vale notar que, dos dez critérios que

poderiam compor essa categoria, seis foram propostos por entrevistados do setor

público, o que parece coerente, uma vez que esse setor deveria ser voltado para

atender as necessidades da sociedade em termos de serviços e qualidade de vida.

Porém, além disso, identificou-se que todas as propostas de critérios de impacto

social foram feitas por decisores. Esse resultado é importante, pois mostra a

preocupação inegável dos tomadores de decisão com o bem-estar não só de quem

é atendido pela ETE, mas também da sociedade no qual a estação é instalada.

Acredita-se que não-decisores virão a compartilhar dessa opinião em momentos

futuros de suas carreiras, quando tiverem mais experiência e familiaridade com o

cenário da tomada de decisão.

No setor privado, existem 35% dos entrevistados em busca de mais

informações na hora de decidir. Dentre esses, não-decisores (27%) sentem maior

necessidade de informação, o que poderia ser um reflexo natural do momento de

carreira dessas pessoas. Por exemplo, suas posições hierárquicas mais baixas

impedem o acesso a algumas informações que podem ser confidenciais ou ainda

desnecessárias ao exercício das funções de não-decisores. Nesse caso, a própria

maturidade e evolução no cargo poderão mostrar que informação em excesso não

contribui para a decisão. Além disso, ao tornarem-se decisores, já serão capazes de

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113

fazer uma escolha com a informação disponível, como sugere a pequena fração de

decisores nesta pesquisa que propuseram novos critérios (8%).

5.2.3 Análise de critérios mais frequentes

Como visto, chamaram-se de critérios mais frequentes aqueles que obtiveram

julgamento o mais homogêneo possível na amostra entrevistada. Consensos para

incluir o critério na decisão podem não ser novidade, porém, o consenso pela não-

inclusão pode identificar critérios que, de fato, não agregam valor na hora de optar

por tecnologias e podem até atrapalhar. Esses são critérios que os estudos futuros

podem eliminar ou mesmo definir como opcionais para a decisão.

No caso das inclusões (Tabela 28, pg. 97), percebe-se que o grupo como um

todo está alinhado com a opinião dos reconhecidos tomadores de decisão. Existe,

inclusive, verdadeiro consenso a respeito da concentração de DBO, fator importante

na definição da quantidade de impurezas na água. Entre decisores, houve consenso

também a respeito da concentração dos sólidos em suspensão e da área disponível

para construção. Esses dois critérios pertencem, respectivamente, às categorias de

eficácia e impacto ambiental, o que sugere que, independente do objetivo da ETE ou

da instituição, a decisão deve ser norteada por ambas as categorias ainda que

considere apenas alguns de seus critérios.

Para as não-inclusões (Tabela 29, pg. 97), a diferença entre os percentuais

em si é maior do que no caso das inclusões, indicando menor nível de acordo entre

os julgamentos desses critérios. Isto é, enquanto a diferença entre os critérios mais

incluídos é de apenas 3% na taxa de inclusão, esse caso apresenta diferença de

24% na taxa de não-inclusão, um sinal da variedade de opiniões sobre esses

critérios.

No entanto, parece haver, novamente, alinhamento entre os entrevistados

como um todo e o grupo de decisores. Os decisores, porém, aparentam mais

certeza na exclusão desses critérios, uma vez que seus percentuais são maiores

que os do grupo. Isso pode ser um reflexo da experiência dos decisores

entrevistados, que já sabem quais informações são realmente desnecessárias e

podem ser descartadas no momento de uma decisão.

Com relação às indecisões (Tabela 30, pg. 98), uma possível característica

comum aos critérios desse conjunto é a dificuldade de medi-los, tanto precisamente

quanto de forma aproximada, o que pode ter sido o motivo responsável pela dúvida

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114

nos entrevistados. Para o desenvolvimento da pesquisa, pode-se dar mais atenção a

esse grupo de critérios, coletando respostas de maneira presencial, em entrevistas.

Dessa forma, seria possível entender o que cada entrevistado compreende pelo

nome do critério e o que ele representa em sua realidade.

Na análise da taxa de indecisão, para o grupo de 14 entrevistados com taxa

superior a 10%, investigaram-se as respostas individualmente, procurando-se

semelhança entre os critérios geradores de indecisão. Observou-se, no entanto, que

não é possível identificar unanimidade quanto a esses critérios.

5.2.4 Análise de critérios do setor industrial

Os julgamentos referentes aos sete critérios levantados pelo estudo do setor

industrial foram diversos. A análise a seguir sugere uma explicação para esses

resultados.

Houve boa aceitação de três critérios, com mais de 70% de inclusão cada

(Tabela 32, pg. 100). São eles:

“Relação entre custos de operação e custos totais”, por apresentar uma

abordagem significativa da questão dos custos do projeto,

considerando tanto os custos totais quanto um dos principais custos de

processos em geral, o de operação;

“Falta de assistência técnica para uma tecnologia”, está relacionada à

confiabilidade de um processo, especialmente em se tratando de

processos contínuos, com demanda e desgaste diários da tecnologia

empregada;

“Adaptabilidade da tecnologia à mão de obra”, pode ser referente à

quantidade de pessoas necessárias para operar a ETE, assim como o

custo de treinar a mão de obra, caso necessário.

Dois critérios, porém, apresentaram altas taxas de não-inclusão e indecisão

no conjunto de critérios do setor industrial, figurando inclusive na lista de não-

inclusões e indecisões frequentes. São eles:

“Erro humano durante a produção”, pode referir-se à dificuldade de

medir ou mesmo identificar esse tipo de erro durante a operação da

ETE;

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“Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na indústria”, válido

especialmente no caso das respostas do setor público, que costuma

ser o líder no setor de saneamento. Porém, é possível que existam

empresas no setor privado querendo introduzir novas tecnologias no

mercado, motivo pelo qual o líder não seria seguido e esse critério

tornar-se-ia desnecessário.

É interessante perceber que, apesar de a falta de assistência técnica ser uma

preocupação na decisão, o fato de a tecnologia não ser igual à do líder do mercado

não influi nesse critério, como sugerido por Stobaugh e Wells, Jr. (1984). Isso pode

se dever ao fato de o mercado de serviços para tratamento de esgotos ser dominado

pelas estatais ou concessões, ou seja, não existe a concorrência entre empresas tal

como vista no setor de produção de bens de consumo, por exemplo.

Com exceção do critério de “Preferência por automatização”, os decisores são

mais conservadores do que o grupo como um todo, apresentando graus de não-

inclusão maiores do que os da amostra (Tabela 33, pg. 100). Já com relação às

indecisões, é interessante ver que não houve dúvida entre os decisores referente à

falta de assistência técnica para uma tecnologia, o que sugere que esse critério se

aplica ao setor de saneamento e sua contribuição para a decisão pode ser medida e

avaliada.

Considerando-se a maior experiência dos decisores nos processos de uma

ETE e os resultados dessa análise, pode-se sugerir que pelo menos três critérios do

setor industrial têm espaço no setor de saneamento, requerendo talvez maior

detalhamento sobre seu significado e medição, ou alguma adaptação para a

realidade do setor. Ou seja, a inclusão desses critérios é uma maneira de enriquecer

a escolha tecnológica em saneamento com o conhecimento desenvolvido e testado

em outras áreas.

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6 Considerações finais

Ao longo desta pesquisa, foram investigados alguns aspectos da tomada de

decisão no setor de saneamento, mais especificamente, o papel dos critérios de

decisão. Como visto na revisão de literatura, decisões são compostas por aspectos

diferentes – funcional, econômico, ambiental e sociocultural, cada qual definido por

um conjunto de critérios. Sendo assim, definiu-se a categorização dos critérios de

decisão e levantou-se a hipótese de que seria impraticável fazer uma escolha que

priorizasse e otimizasse as três categorias. Ou seja, o objetivo da pesquisa era

compreender melhor o processo de escolha tecnológica ao traçar perfis de decisão

que considerassem a valorização dos critérios de decisão, assim como as

características pessoais do agente decisor. Para tal, buscou-se a opinião de alguns

atores da tomada de decisão no setor de saneamento, área escolhida para motivar a

pesquisa. Esses entrevistados se dividiam principalmente em acadêmicos e

profissionais, decisores e não-decisores e atuantes do setor público e privado. Com

esses dados de características pessoais, buscaram-se semelhanças e diferenças de

opiniões, que levariam à criação de aglomerados de entrevistados, definindo um

perfil de decisão.

A apresentação e análise dos dados deram-se através de tabelas descritivas

e de um gráfico representando o espaço tridimensional, que auxiliava na

visualização do agrupamento das respostas do questionário. Nesse gráfico, cada

eixo representa uma categoria de critérios, enquanto as coordenadas de cada ponto

indicam o nível de importância dada a cada categoria. Ou seja, quanto maior o valor

da coordenada em um eixo, mais prioridade é dada aos critérios daquela categoria

por aquele entrevistado.

Os resultados mostraram que, em uma situação hipotética de escolha

tecnológica, tal como apresentada pelo questionário usado, existe tendência a

considerar o maior número possível de critérios. Isso foi visto pela organização

tridimensional das respostas dos entrevistados, que acompanha a reta ligando a

origem do gráfico ao ponto (1,1,1), representativo da priorização simultânea de todas

as categorias de critérios. Acredita-se, porém, que isso resulte da falta de

contextualização do questionário, que apresentou uma situação ideal e irreal de

escolha tecnológica. Como foi visto na seção 2.2.5, contendo um resumo das

tecnologias disponíveis para tratamento de água e esgotos, e especialmente na

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Tabela 7 (pg. 55), existem vantagens e desvantagens para qualquer tecnologia e,

com isso, torna-se praticamente impossível otimizar todos os aspectos de uma

decisão. Isto é, apesar da vontade expressa por alguns entrevistados de considerar

muitos critérios de decisão de todas as categorias, seria irreal achar que essa

decisão de fato alcançaria uma solução ideal para atender a todos eles. Além disso,

a disponibilidade e a qualidade das informações nem sempre é garantida, de

maneira que um entrevistado que considere muitos critérios pode se deparar, em

algum momento, com informações fragmentadas ou mesmo inexistentes, o que

prejudica sua decisão. Para o nível gerencial do mercado pesquisado, esse

resultado mostra o quanto é importante incluir restrições não opcionais que têm

impacto nos critérios de decisão. Por exemplo, recursos humanos disponíveis e

localização geográfica da estação podem alterar consideravelmente o conjunto de

critérios usados na escolha, uma vez que essas restrições impactam o julgamento

dos critérios “adaptabilidade da tecnologia à mão de obra” e “área disponível para a

estação”, respectivamente. Mas, além disso, é também primordial que se tente

melhorar a qualidade das informações disponíveis, permitindo que as escolhas

tecnológicas sejam feitas com base em medições confiáveis e, talvez, requerendo a

consideração de cada vez menos critérios.

Apesar disso, identificaram-se algumas tendências, como, por exemplo, o

alinhamento de opiniões entre decisores e não-decisores, sugerindo que os últimos

já têm alguma experiência para saber quais critérios descartar em uma decisão.

Esse achado contribui positivamente para conclusões acerca da formação de futuros

decisores, uma vez que se percebe que estão trilhando os caminhos de seus

predecessores. Ao mesmo tempo, é interessante descobrir se, ainda que estejam

bem treinados e orientados, esses futuros decisores são capazes de questionar o

status quo e propor inovações e melhorias para o processo de decisão. Esse estudo

pode ser realizado através de uma dinâmica ou simulação de decisão com não-

decisores, oferecendo-lhes os mesmos recursos disponíveis para decisores e

observando a linha de raciocínio seguida pelos indivíduos sendo testados. Ao

mesmo tempo, o acompanhamento de alguns indivíduos ao longo do tempo,

enquanto evoluem em suas carreiras e como tomadores de decisão, fornece dados

do processo de amadurecimento sem perder o registro histórico das opiniões de

quem fosse estudado. Com isso, pode-se comparar as opiniões da mesma pessoa

em diversas fases e em diversas condições de trabalho e mercado. Além disso,

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haveria registro de dados de interação com outros agentes da decisão, que

sabidamente influenciam o resultado final.

Encontraram-se resultados que sugerem diferença entre práticas do setor

público e do setor privado. Mais especificamente, o primeiro grupo tende a priorizar

critérios de impacto ambiental, enquanto o segundo valoriza critérios de eficácia.

Isso não significa que ambos os setores levariam em consideração todo tipo de

critério, mas sim que sua prática requer foco nas categorias mencionadas.

Considerados os produtos e a natureza de cada setor, esse resultado faz sentido, já

que o setor público é voltado para a prestação de serviços públicos, enquanto o

setor privado opera buscando lucros próprios. Nesse cenário, portanto, o impacto

ambiental se destaca como interesse público e coletivo, mas a eficácia para limpar

água e esgotos representa mais qualidade em um produto, que pode então ser

vendido por um preço mais alto e gerar mais lucros.

No caso dos critérios da categoria “outros”, por serem principalmente

referentes a custos, as respostas podem ter sofrido um viés “politicamente correto”.

Isto é, para não fornecer uma resposta extremamente tendenciosa para custos,

alguns entrevistados podem ter preferido não incluir todos os critérios dessa

categoria.

Viu-se também que, apesar do estudo ter sido conduzido no setor de

saneamento, existe interseção considerável com o setor industrial em termos de

critérios de decisão aplicáveis a ambos. Alguns desses critérios geram indecisão

para quem atua no setor de saneamento, mas isso mostra que podem ser foco de

um estudo específico, que os detalhe e adapte para outros setores.

Um dos achados mais valiosos da pesquisa é a necessidade de considerar

aspectos sociais durante uma decisão. Assim como o impacto ambiental, essa

categoria de critérios é relativamente nova e ainda requer estudo e análise. Como

mostraram os entrevistados, porém, o conceito já permeia as escolhas de muitos

profissionais e acadêmicos, especialmente dos tomadores de decisão em prática

atualmente. Para consideração futura, pode-se incluir a quarta categoria, “impacto

social”, na qual seriam medidas questões como empregos gerados e aceitação

pública, por exemplo.

Na seção 4.4.2, os entrevistados demonstraram preocupação com os pesos

atribuídos a cada critério, além de outras variáveis, como prazos durante uma

decisão, disponibilidade das informações e outras particularidades da localização da

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ETE. Como mencionado naquela seção, esses não são critérios em si, mas

restrições de um problema de otimização. Entende-se que esse tipo de melhoria na

pesquisa seja importantíssimo para a compreensão real do processo de escolha

tecnológica.

Finalmente, uma das observações mais marcantes da pesquisa é a

correlação curiosa entre os objetivos de uma estação, segundo os entrevistados, e

os critérios de decisão usados para escolher a tecnologia dessa estação. Na análise

por tipo de setor, viu-se que, enquanto o setor público prioriza critérios de impacto

ambiental, seus objetivos estão voltados para a eficácia do processo. Já no caso do

setor privado, os resultados são o oposto, com critérios de eficácia sustentando um

objetivo de impacto ambiental.

Ainda que esse último achado desperte questionamentos e polêmica, é

justamente por essas características que deve ser objeto de estudos futuros. A fim

de relacionar as respostas no nível de detalhe do entrevistado e, possivelmente,

encontrar um aspecto que distinga aquelas sem sincronia, é necessário realizar uma

observação mais específica e minuciosa.

Esse resultado pode ainda apoiar outras questões, algumas já mencionadas

neste estudo. São elas:

Existe alinhamento entre instituição e executor?

o Pode-se investigar os objetivos das organizações e instituições

onde atuam os entrevistados.

Existe paralelo entre percepção da prática e orientação técnica?

o Procura-se estudar a opinião pessoal de cada entrevistado e

confrontá-la com os métodos de trabalho praticados na empresa.

Existe alinhamento entre a aparência e a realidade?

o Busca-se entender como a empresa deseja ser percebida pelo

consumidor e o que de fato alcança com seus esforços. Nesse

caso, seria necessário o envolvimento de consumidores com um

questionário específico.

O método de categorização dos objetivos e critérios é o melhor

possível?

o Pretende-se elaborar e testar novas formas de categorizar os

objetivos, inclusive perguntando diretamente ao entrevistado a

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categoria de seu objetivo. Os métodos de pontuação, por serem

flexíveis e, por vezes, subjetivos, influenciam diretamente nos

resultados finais.

O estudo mostrou, acima de tudo, que a tomada de decisão,

independentemente do setor, é complexa e influenciada por diversos elementos,

alguns dos quais não se pode controlar. Sendo assim, decisores e não-decisores, de

ambos os ramos de atuação, buscam exercer o melhor julgamento, de maneira a

otimizar o resultado para todos os agentes envolvidos. Empresas e instituições de

pesquisa e ensino agem conforme valores bem estabelecidos e atemporais, mas

também levam em conta as investigações e descobertas mais recentes, que, sem

dúvida, terão seus impactos reais em um futuro próximo.

6.1 Sugestões para estudo futuro

Como visto anteriormente, esta pesquisa utilizou a metodologia survey para

coleta de dados. Considerando as variáveis envolvidas nesse processo, é possível

afirmar que as respostas recebidas são passíveis de interpretação e viés humano,

tanto do pesquisador quanto do próprio entrevistado. Por exemplo, a quantidade de

critérios apresentados, assim como sua distribuição no questionário, pode ter

influenciado a disposição do entrevistado para enviar respostas. Além disso, as

diversas metodologias de análise de texto e aglomeração mostraram que existem

vários ângulos pelos quais analisar o conteúdo coletado. Essas e outras

considerações, reveladas a seguir, mostram o potencial para estudo futuro relevante

na compreensão de critérios de escolha de tecnologia para ETEs.

6.1.1 Aglomeração

A análise das alocações baseadas em percentual de critérios incluídos de

cada categoria possibilita uma primeira tentativa de estudar os grupos de

entrevistados com base em suas prioridades. Porém, como sugerido anteriormente,

uma conclusão mais elaborada depende da investigação das coordenadas dos

centros de massa calculados, conforme realizado na seção 5.1. Apesar de algumas

conclusões terem sido propostas, receia-se que, infelizmente, restrições como o

tamanho da amostra e a duração da pesquisa limitem o aprofundamento deste

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estudo, impedindo o maior refinamento das coordenadas e a afirmação do que elas

significam exatamente em termos de importância dada a cada categoria.

Em cenário mais propício, verificar-se-ia que, assim como as coordenadas

dos indivíduos da amostra, a localização dos centros de massa também representa

uma pontuação referente aos critérios de decisão. Ou seja, é possível transformar as

coordenadas, que variam de zero a um em pontuações para cada categoria,

variando de zero ao número de critérios na categoria, isto é, o caminho inverso do

procedimento feito para analisar as respostas da survey. No entanto, seria

impossível reproduzir a combinação exata de pontos para cada critério.

O sistema de pontuação, que considera apenas os critérios incluídos, ignora a

representatividade dos critérios que geraram indecisão, por exemplo. Ou seja, aloca-

se um indivíduo em um aglomerado, com base nas suas escolhas de inclusão de

critérios em cada categoria, mas desconsidera-se o que ele não sabe das mesmas

categorias. Isto é, caso houvesse investigação dos critérios que geraram dúvida,

esse indivíduo poderia inclusive ter sua alocação alterada.

Ainda tratando de não inclusões e indecisões, verifica-se que um centro de

massa com classificação Baixa-Alta-Alta, por exemplo, reflete poucos critérios

incluídos da categoria “Eficácia”. Porém, devido ao método de percentual de

inclusão utilizado, não se sabe se esse resultado é devido a muitas não-inclusões ou

a várias indecisões. No primeiro caso, os integrantes do aglomerado de fato não

priorizam a categoria “Eficácia”, porém, no segundo, é provável que o julgamento

dos critérios mude, dependendo do que gera a indecisão nos entrevistados. Caso

isso ocorra, sua alocação seria alterada, assim como a caracterização dos

aglomerados que passariam a conter esses integrantes. Com essa discussão,

deseja-se mostrar que, apesar de não ter sido desenvolvido nesta pesquisa, a

escolha não aparenta ser binária – incluir ou não incluir – e que muito ainda pode ser

coletado através de entrevistas pessoais ou interação dos entrevistados, em uma

mesa redonda ou através do método Delphi, por exemplo.

Vale ressaltar que se escolheu incluir as opções de não inclusão e indecisão

a fim de evitar que os entrevistados respondessem ao questionário simplesmente

marcando todos os critérios, como aconteceu em alguns casos. Ou seja, com as

alternativas oferecidas tentou-se fazer com que a resposta fosse pensada de fato,

ainda que na ausência de restrições e cenários.

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Existem algumas opções para melhorar o sistema de “pontuação” e a

qualidade das respostas, elencadas abaixo:

1. pré-determinar um cenário para contextualizar a resposta, ou seja,

definir um ambiente mais próximo da realidade, com restrições

orçamentárias, de tempo ou localização, por exemplo, que são fatores

limitantes e significativos para a escolha de critérios;

2. pedir que julguem o critério da mesma maneira, porém, atribuindo

pesos aos critérios, conforme praticado no mercado, a fim de obter

maior aderência com a realidade do entrevistado e representar mais

fielmente a importância de cada inclusão ou não inclusão na categoria;

3. pedir que o entrevistado distribua uma quantidade fechada de pontos

entre critérios, ou seja, o próprio entrevistado poderia julgar o critério

(alocando-lhe pontos) e atribuir peso (com mais ou menos pontos);

4. usar um ranking de importância de critérios em conjunto com um peso

específico por julgamento. Por exemplo, critérios como odor ou

remoção de DBO são muito importantes e estão em posição alta no

ranking, enquanto emissão de CO2 ainda é difícil de medir e pode ser

discutido. Paralelamente, uma indecisão é mais séria do que uma não

inclusão, que se assume ser um julgamento confiante. Portanto, uma

dúvida sobre o critério de odor pesa mais do que sua não inclusão,

além de também pesar mais que uma dúvida sobre a emissão de CO2

na ETE.

Referente ao desalinhamento entre objetivos e critérios priorizados,

considera-se que seria interessante:

padronizar e validar o sistema de categorização das palavras-chave

dos objetivos;

realizar uma entrevista presencial com alguns respondentes, a fim de

alinhar a compreensão do pesquisador e a intenção do entrevistado

para respostas de texto livre;

realizar uma pesquisa sobre os objetivos da instituição, no intuito de

descobrir se o questionário foi respondido de maneira a refletir parte da

opinião própria do entrevistado e parte da cultura organizacional, que

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pode estar refletida em sua maneira de pensar e se expressar, ainda

que inconscientemente;

utilizar um cenário contextualizado no questionário, menos abrangente

ou ideal do que o da atual pesquisa, a fim de orientar os entrevistados

minimamente, diminuindo os efeitos negativos da interpretação

pessoal. Ou seja, em se tratando de um campo de pesquisa tão vasto

como tomada de decisão, é mais seguro fixar o máximo de variáveis

possível, a fim de estudar apenas o efeito da variável desejada. Caso

contrário, os resultados serão contaminados por variáveis que estão

fora do controle ou compreensão da pesquisa.

Além dos casos de aglomeração, identificou-se espaço para melhorias nas

outras análises propostas, visto a seguir.

6.1.2 Outras análises

Como não era sabido de antemão as palavras que seriam usadas para

descrever os objetivos da ETE, não se fez uma lista para servir de referência

durante a análise das respostas de texto livre. Entende-se que este aspecto possa

ter prejudicado ou causado viés à avaliação dos textos, uma vez que a

categorização das palavras se deu somente pelo julgamento da autora desta

pesquisa. Isto é, a exclusividade das unidades de registro não foi garantida durante

o andamento da pesquisa, uma vez que não ficou pré-determinado quais palavras

seriam categorizadas como eficácia, quais como impacto ambiental e quais seriam

da categoria “Outros”. Além disso, a atribuição de um ponto por palavra ou

expressão-chave permitiu empates, o que causou a categorização dos objetivos em

categorias “mescladas”.

Ainda em relação à observação das respostas sobre objetivos da ETE,

deseja-se sugerir duas comparações em um estudo futuro:

1. Análise do alinhamento entre a categoria do objetivo proposto por

cada entrevistado e o resultado da aglomeração referente à

priorização de critérios. Isto é, definir se o objetivo da decisão é

sustentado por critérios da mesma categoria. Como já foi observado

acima, existem melhorias a realizar na própria metodologia de

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pesquisa, porém, a análise apenas de objetivos e critérios é uma

ramificação para a nova pesquisa.

2. Comparação entre os objetivos propostos por cada entrevistado e

aquele utilizado pela instituição onde atua para definir o funcionamento

da ETE. Nesse caso, além de se tratar de melhoria nesta pesquisa,

esse estudo visa compreender melhor a comunicação entre gestores e

funcionários, assim como motivar a discussão sobre como a instituição

quer ser representada por seu corpo de trabalho.

Ambas as comparações abordam desalinhamentos entre o ideal e a prática

no setor de saneamento. Entende-se que esse tema é relevante para gerentes, uma

vez que se torna complicada a gestão de equipes fora de sintonia, tanto

internamente quanto com a instituição onde atuam.

Com relação à observação dos critérios mais frequentes, acredita-se que o

estudo da indecisão pode ser feito com mais profundidade, a fim de encontrar os

motivos pelos quais aqueles critérios geram dúvidas e até fomentar a discussão

entre os entrevistados. No cenário desta pesquisa, isso seria pouco prático, uma vez

que vários entrevistados não estavam na mesma região ou mesmo disponíveis para

uma sessão de entrevista ou mesa-redonda. Porém, uma ideia para conduzir esse

desenvolvimento é a utilização do método Delphi, que pode começar com pequenos

grupos regionais e evoluir para painéis interestaduais, dependendo da aceitação e

resultados.

Na realidade, entende-se que o método Delphi seria ideal para toda a coleta

de dados desta pesquisa e considerou-se fazê-lo através de e-mail ou e-survey.

Porém, novamente, por restrições de duração do estudo, optou-se por coletar as

respostas uma única vez. Acredita-se, no entanto, que essa seria uma maneira de

coletar informações ricas para nova avaliação, além de divulgar a pesquisa para os

participantes do painel de forma mais marcante.

Por fim, vale lembrar que a questão do impacto ambiental é ainda recente nos

estudos de escolha tecnológica, de maneira que alguns desses critérios e seus

impactos podem ser pouco conhecidos por alguns entrevistados. Nesse caso, seria

ainda mais válido optar por uma discussão presencial, onde cada entrevistado pode

compartilhar seu conhecimento e argumentos sobre os critérios.

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Apêndice A – Estrutura da Survey

Os blocos de informações solicitadas no questionário foram:

Por favor, forneça alguns dados que nos ajudarão a mapear o universo de

entrevistados.

Cargo

Instituição/Empresa

Cidade

Estado

Endereço de correio eletrônico

A seu ver, qual é o principal objetivo de uma estação de tratamento de

esgotos?

Para cada critério a seguir, indique se deveria ser necessariamente incluído

na análise de escolha de tecnologia para uma estação de tratamento de

esgotos.

Incluir Não incluir Indeciso

Critérios referentes à operação

Adaptabilidade da tecnologia à mão-de-obra

Área da ETE/1000 habitantes (projeto)

Confiabilidade no sistema (riscos de falha)

Consumo de energia

Consumo de energia/kg DQO removida

Erro humano durante a produção

Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na indústria

Estética (ex. odor)

Falta de assistência técnica para uma tecnologia

Geração de CO2

Geração de renda pelo aproveitamento dos resíduos sólidos

Grau de instrução necessário para a mão-de-obra

Grau de simplicidade de implantação e ampliação

Grau de simplicidade de operação e manutenção

Número de intervenções de manutenção/1000 habitantes (projeto)

Número de motores elétricos/1000 habitantes (projeto)

Possibilidade de reaproveitamento dos resíduos gerados

Preferência por automatização

Produção de resíduos sólidos (ex. lodo)

Resistência da ETE a variações de carga

Tamanho da equipe necessária para operar

Critérios referentes ao efluente

Concentração de amônia

Concentração de coliformes fecais

Concentração de DBO

Concentração de DQO

Concentração de fósforo total

Concentração de metais pesados

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Incluir Não incluir Indeciso

Concentração de nitrogênio total

Concentração de químicos dissolvidos

Concentração de sólidos em suspensão

Critérios referentes à localização da estação de tratamento

Aceitação/rejeição pública

Área disponível para construção

Características do corpo receptor

Clima e variações de temperatura

Confiabilidade no fornecimento de energia

Efeitos para a biodiversidade do local de implantação da ETE

Tamanho da comunidade atendida

Topografia da região e bacias de drenagem

Impactos sociais (melhorias na qualidade de vida, criação de empregos, etc.)

Utilização de recursos materiais locais

Volume diário tratado e variação sazonal da vazão

Critérios referentes aos custos do processo

Custo de implantação/habitante (projeto)

Custo de manutenção/habitante (atual)

Custo de operação e manutenção

Custo de operação/habitante (atual)

Custo de operação/kg de DQO removida

Custo de operação/m3 tratado

Custo dos insumos (ex. energia elétrica, terra)

Influência governamental (ex. incentivos fiscais)

Investimento inicial

Relação entre custos de operação e custos totais

Existem outros critérios que deveriam influenciar o processo de escolha de

tecnologia para estações de tratamento de esgotos? Quais?

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Apêndice B – Percentuais de inclusão

A Tabela 45 mostra o percentual de inclusão para todos os critérios da

pesquisa. Estes poderiam ser vistos como percentuais de “aceitação” do critério.

Tabela 45 Percentual de inclusão para todos os critérios Categoria Critério %Aceitação

Eficácia Concentração de DBO 100%

Eficácia Concentração de sólidos em suspensão 98%

Impacto ambiental Área disponível para construção 97%

Impacto ambiental Características do corpo receptor 97%

Outro Custo de operação e manutenção 97%

Impacto ambiental Estética (ex. odor) 97%

Eficácia Concentração de DQO 94%

Eficácia Concentração de fósforo total 94%

Outro Custo de implantação/habitante (projeto) 94%

Outro Custo dos insumos (ex. energia elétrica, terra) 92%

Outro Investimento inicial 91%

Impacto ambiental Tamanho da comunidade atendida 91%

Eficácia Concentração de coliformes fecais 89%

Outro Confiabilidade no sistema (riscos de falha) 89%

Outro Grau de simplicidade de operação e manutenção 89%

Outro Relação entre custos de operação e custos totais 89%

Outro Resistência da ETE a variações de carga 89%

Impacto ambiental Aceitação/rejeição pública 88%

Outro Confiabilidade no fornecimento de energia 88%

Outro Custo de manutenção/habitante (atual) 88%

Outro Custo de operação/m3 tratado 88%

Impacto ambiental Possibilidade de reaproveitamento dos resíduos gerados 88%

Eficácia Concentração de nitrogênio total 86%

Impacto ambiental Consumo de energia 86%

Impacto ambiental Produção de resíduos sólidos (ex. lodo) 86%

Eficácia Topografia da região e bacias de drenagem 86%

Eficácia Volume diário tratado e variação sazonal da vazão 86%

Outro Falta de assistência técnica para uma tecnologia 85%

Outro Grau de simplicidade de implantação e ampliação 85%

Outro Custo de operação/habitante (atual) 83%

Impacto ambiental Consumo de energia/kg DQO removida 82%

Eficácia Concentração de amônia 80%

Impacto ambiental Tamanho da equipe necessária para operar 77%

Outro Adaptabilidade da tecnologia à mão-de-obra 74%

Outro Impactos sociais (melhorias na qualidade de vida, criação de empregos, etc.) 74%

Eficácia Clima e variações de temperatura 73%

Impacto ambiental Efeitos para a biodiversidade do local de implantação da ETE 70%

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Categoria Critério %Aceitação

Impacto ambiental Área da ETE/1000 habitantes (projeto) 67%

Eficácia Concentração de metais pesados 67%

Outro Custo de operação/kg de DQO removida 65%

Outro Preferência por automatização 65%

Outro Influência governamental (ex. incentivos fiscais) 64%

Outro Utilização de recursos materiais locais 64%

Impacto ambiental Grau de instrução necessário para a mão-de-obra 61%

Impacto ambiental Geração de CO2 59%

Eficácia Concentração de químicos dissolvidos 55%

Outro Número de intervenções de manutenção/1000 habitantes (projeto) 55%

Outro Geração de renda pelo aproveitamento dos resíduos sólidos 52%

Outro Número de motores elétricos/1000 habitantes (projeto) 50%

Eficácia Erro humano durante a produção 39%

Outro Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na indústria 27%

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Apêndice C – Classificação de objetivos

A Tabela 46 abaixo contém as palavras e expressões identificadas nos textos

de objetivos para categorização dos mesmos. O exemplo mostra como essas

expressões foram identificadas e classificadas.

Objetivo: “reduzir os contaminantes a níveis aceitáveis e dispor os

efluentes (fases sólida e líquida) no meio ambiente para reuso, sem

ocasionar impacto negativo”.

Expressões marcadas: contaminantes (eficácia); meio ambiente e

impacto negativo (impacto ambiental); e reuso (outros).

Na tabela, cada linha representa a resposta de um entrevistado. Na quarta

coluna (Objetivo-máx), o resultado da categoria do objetivo, baseado no saldo de

pontos das expressões (uma expressão equivalia a um ponto para a categoria).

Alguns casos resultaram em empates.

Tabela 46 Relação de palavras e expressões-chave para categorização dos objetivos Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx

contaminantes meio ambiente

impacto negativo

reuso Impacto ambiental

depurar

própria para lançamento

(apropriada)

Eficácia

correto tratamento agressivo

meio ambiente

reaproveitamento Impacto ambiental

qualidade águas receptoras

vida aquática

animais

usos pré-estabelecidos

usos mais nobres

abastecimento público

irrigação

Outros

cargas orgânicas Eficácia

cursos d'água

bacia hidrográfica

saúde da população Impacto ambiental

preservação ambiental saúde pública Impacto ambiental/Outros

cargas orgânicas

fósforo

nitrogênio

Eficácia

qualidade melhor corpo receptor Eficácia/Impacto ambiental

não-contaminação meio ambiente Eficácia/Impacto ambiental

grau de tratamento ambiente Eficácia/Impacto ambiental

condições sanitárias Eficácia

decomposição de

contaminantes

matéria orgânica

concentrações

otimiza os processos

ecossistema

corpo d'água

proteção

Eficácia

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Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx

adequação de carga

condições apropriadas

lodo e gases impactos

corpos receptores

fertilizante (reuso)

fonte de energia

reaproveitados

Outros

corpo receptor

características originais

Impacto ambiental

parâmetros físico-químicos

e biológicos

meio ambiente

efeitos poluidores

saúde pública Impacto ambiental

natureza

preservar

meio ambiente

Impacto ambiental

qualidade

legislação vigente

Eficácia

corpos hídricos

poluição

autodepuração Impacto ambiental

qualidade corpos hídricos

melhoria ambiental

saneamento básico

qualidade de vida

Impacto ambiental/Outros

eficiente

padrões de potabilidade

menor custo Eficácia

legislação ambiental menor custo Impacto ambiental/Outros

legislação Eficácia

meio ambiente qualidade de vida Impacto ambiental/Outros

carga orgânica

legislação

menor impacto

corpos hídricos

corpo receptor

outorga Impacto ambiental

meio ambiente

agressão ambiental

Impacto ambiental

tratar Eficácia

eficientemente

matéria orgânica

elementos eutrofizantes

legislação

ecossistema saneamento básico

bem estar

condições de vida

Eficácia

contaminem meio ambiente

preservando

qualidade de vida

doenças

Impacto ambiental/Outros

degradação e poluição

meio ambiente

Impacto ambiental

ambiental sanitária Impacto ambiental/Outros

carga orgânica

padrões de lançamento

ecossistema patogênica Eficácia

não poluir saúde da população Impacto ambiental/Outros

matéria orgânica meio ambiente Eficácia/Impacto ambiental

meio ambiente saúde das pessoas Impacto ambiental/Outros

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Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx

corpo de água

degradação

Impacto ambiental

impurezas classe do rio

degradação ambiental

condições econômicas Impacto ambiental

corpos receptores qualidade de vida Impacto ambiental/Outros

carga orgânica

parâmetros fixados

Eficácia

características físico-

químicas e bactereológicas

exigências legais

corpo receptor Eficácia

drenar redes coletoras Outros

padrões legais normas internas Eficácia

corpo receptor Impacto ambiental

meio ambiente saúde

bem estar

doença

Outros

remoção de sólidos em

suspensão

carga orgânica

organismos patogênicos

Eficácia

matéria orgânica água reutilizável Eficácia/Outros

depurar corpos receptores reutilizadas Todos

prejudicar o meio Impacto ambiental

poluição

corpos receptores

manaciais

Impacto ambiental

Poluentes Impacto ambiental

padrão de lançamento corpo receptor Eficácia/Impacto ambiental

padrões de qualidade qualidade ambiental saúde da população Todos

Objetivo deixado em branco

Nenhum (erro ao

preencher)

potencial poluidor

órgão ambiental

meio ambiente

Impacto ambiental

meio ambiente desenvolvimento

sustentável

Impacto ambiental/Outros

corpos receptores

descarte adequado

aproveitamento do material

orgânico

fertilização (reuso)

Impacto ambiental/Outros

saúde pública Outros

carga orgânica meio ambiente Eficácia/Impacto ambiental

impacto ambiental saúde pública Impacto ambiental/Outros

impacto ambiental Impacto ambiental

matéria orgânica

organismos patogênicos

usos preponderantes Eficácia

Page 139: ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO: Um … · Provérbio chinês . 3 Elisa Costalonga e Gandour ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO: Um estudo sobre a priorização

139

Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx

"saúde ambiental" saúde coletiva Impacto ambiental/Outros

recursos naturais

poluição

saúde Impacto ambiental

qualidade corpo receptor Eficácia/Impacto ambiental

matéria orgânica autodepuração Eficácia/Outros

Tratar Eficácia