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Escritor Criativo

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Ensaio sobre a criatividade aplicada no ofício da escrita. Escritor Criativo

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O ESCRITOR CRIATIVO

7 Exercícios para trabalhar sua criatividade

Giselle Jacques

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O Escritor Criativo7 Exercícios para

trabalhar sua criatividade

Introdução

Seja muito bem-vindo, escritor!

Venho compartilhar com você alguns exercícios bastante simples, mas extremamente eficazes quando o assunto é melhorar a criatividade.

Um dos jeitos mais eficientes de trabalhar nossa porção criativa, para nós escritores, é “brincar” com a nossa principal ferramenta: a palavra.

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Eu espero que você aproveite esse conteúdo e di-virta-se enquanto trabalha. Tanto quanto eu gostei de produzi-lo para você!

A Palavra

Palavra, segundo o dicionário, é um termo, um vocábulo, uma expressão. É a manifestação, verbal ou escrita, formada por um grupo de fonemas com um significado. Fonema é a menor unidade sonora de uma língua.

Palavra também é definida como um conjunto de letras e sons articulados que expressam ideias e são representados por uma grafia. Palavras agrupadas for-mam as frases.

Palavra vem do latim “Parabola”, que deriva do gre-go “Parabolé”. A palavra é ainda uma unidade linguística com a função de representar partes do pensamento.

Existem ainda diversas definições e especifica-ções linguísticas, morfológicas, semânticas... Para nós, escritores, entretanto, o significado da Palavra é mui-to mais romântico. A Palavra é nosso instrumento de

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arte, nosso objeto de adoração e culto, nossa maneira de criar e tocar o mundo.

Somos palavra escrita desde que nascemos e ga-nhamos um nome que nos define e identifica. A pri-meira palavra do bebê é motivo de comemoração.

Expressar-nos em palavras é primordial. Seja essa pa-lavra dita, grafada, desenhada, em braile ou libras. Tudo ao nosso redor tem nome e esses nomes são palavras.

Somos, da mesma maneira, construídos e referen-ciados através da nossa compreensão das palavras em torno. A linguagem humana é o dom evolutivo mais utilizado, aprofundado e modificado. Criamos pala-vras todos os dias. E as possibilidades de criação nesse campo são infinitas.

Usamos e abusamos dos referenciais mentais que acompanham cada palavra que proferimos ou es-crevemos. Se eu disser MESA, você pensa automati-camente em uma mesa.

Se eu disser BRILHANTE, você pode entender como um diamante, uma superfície lustrada, a luz refletindo no metal, etc. Mas, ainda pode entender BRILHANTE como maravilhoso, estupendo, inte-ligente.

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É nessa ressignificação que apoiamos nossa criatividade. Juntamos letras e palavras para dar sen-tido, para modificar sentido, para estruturar e deses-truturar frases, ideias, conceitos. A palavra é nossa ferramenta!

Uma ferramenta tão maleável, que nos permite brincar com sua composição. Permite que retiremos palavras de outras palavras, que troquemos uma letra e tenhamos nova definição.

A seguir, sete maneiras de brincar com as pala-vras e liberar sua inventividade.

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Desmanchando palavras

Esse exercício foi mostrado amplamente no ro-mance/filme O Código Da Vinci, de Dan Brown.

O personagem Robert Langdon descobre as pri-meiras mensagens codificadas através de palavras es-condidas em textos aparentemente sem significado para a trama.

Como o personagem do famoso livro faz isso? Desmanchando palavras e reorganizando as letras até obter a mensagem secreta.

Você já tentou extrair palavras de “dentro” de ou-tra? Esse exercício pode ser divertido e é um ótimo treino de vocabulário.

Por exemplo, a palavra PERGAMINHO pode es-conder nela as palavras: Pega, Grêmio, Gamo, Pago, Goma, Gênio, Perna, Pano, etc.

Quanto mais palavras você encontra, melhor é seu vocabulário de base.

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Anagrama

O termo vem do grego “ana” (repetir, voltar) + “graphein” (escrever). Ou seja, reescrever! Anagrama é rearranjar as letras de uma palavra (ou várias) para ob-ter palavras novas. Aqui não escolhemos as letras que formam a nova palavra. Usamos todas as letras!

O mais famoso Anagrama da literatura brasileira surgiu quando José de Alencar lançou mão da palavra AMÉRICA para criar IRACEMA (que, além de bati-zar o romance, acabou por converter-se em referencial de prenome real).

Na verdade, Iracema nunca foi um nome indígena, muito menos significa “a virgem dos lábios de mel”.

Três exemplos de anagramas: Do nome OMAR, temos: ROMA = AMOR = MORA

Do nome SELMA, temos: LESMA = MALES = SELAM

Da palavra SELVA, temos: VELAS = SALVE = VALES

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Pangrama

Outra forma de treinar vocabulário e alcance de síntese é o Pangrama. O prefixo “pan” vem do grego pan, que quer dizer todo, toda, tudo.

Trata-se de uma frase elaborada na qual se utili-zam todas as letras do alfabeto. Quanto menos letras na frase, mais “perfeito” é considerado o Pangrama.

Essa forma de desconstrução ainda oferece possi-bilidades criativas, já que a frase final precisa fazer sen-tido a quem lê.

Alguns exemplo são:

“Um pequeno jabuti xereta viu dez cegonhas felizes.”

“Gazeta publica hoje no jornal uma breve nota de faxina na quermesse.”

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Acróstico

Acróstico vem do grego akróstichon (akros = pon-ta + stíchos = verso). São formações, poéticas ou não, nas quais a primeira letra de cada linha forma (ou parte de) uma palavra distinta na vertical.

As linhas ou versos podem ser frases, parágrafos, palavras. O interessante é partir da sentença vertical e usá-la como proposta oculta, por vezes, como título.

O texto em si pode ter os elementos da poesia (rima e métrica), pode ser composto de frases soltas, ou mesmo de palavras sem significado conjunto. To-davia, a maioria dos acrósticos traz em si um sentido mais lírico.

Vou usar meu próprio nome para um exemplo simples de acróstico:

Giram as folhas Instáveis ao ventoSem rumo certo.ElementaisLeves como a brisa Levam essas folhas àEternidade

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Vogal oculta

Na língua portuguesa, a letra mais facilmente re-petida é a vogal E. Repetimos essa letra sem nos dar-mos conta dela. Pequenos elementos de ligação dentro das frases nos passam despercebidos.

Atentar para cada letra escrita em cada palavra do texto exige mais do que paciência. O exercício treina atenção, percepção e contexto.

A seguir, temos dois exemplos de miniconto ocul-tando a vogal E:

“João não foi à aula. Havia ficado gripado, coita-do. Ana Maria faltou no dito dia, pois fora visitar sua tia. Rita não foi vista no ginásio. Jonas cabulou a aula por causa da bola. Dona Mirta, usando o guarda-pó tal normalista, optou por ignorar a chamada. Largou o giz, dando por finalizada a labuta.”

“Angustiado, andava nas ruas paulistanas. O rosto não ocultava a dor ali fincada há anos, a amada partira dando lugar à assombração noturna da solidão. Assim, caminhava, vagava por labirintos, mas só via humanos apinhados. Um vazio!”

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Consoante oculta

Da mesma forma que acontece com a vogal ocul-ta, não ficamos contando quantas vezes repetimos uma letra ao escrevermos um texto.

Facilmente deixamos de lado letras pouco usa-das, como o X ou o J. Mas, é muito difícil que nos livremos deliberadamente de consoantes como, por exemplo, o D.

A dinâmica da escrita – e mais ainda da percep-ção fragmentada da leitura – faz com que não perce-bamos letra por letra do texto, e sim o sentido geral da palavra ou frase. Por isso, elementos de ligação de frases (como de, do, e, as, em) são escritos sem inten-ção pelo autor.

Por isso, esse exercício trabalha criatividade e atenção ao texto. Requer esforço dobrado do autor para não cometer deslizes e acrescentar um “de” se es-tiver ocultando a consoante D.

A seguir, um exemplo de miniconto suprimindo a consoante B:

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“Desde muito jovens viviam grudados, um ao ou-tro. Era amorzinho para lá, queridinha para cá e inúme-ras promessas de amor. Cartinhas apaixonadas eram trocados, às quantas, na sala de aula às escondidas do professor. O cinema aos domingos era certo, e não se furtavam a toques inocentes no coreto da pracinha, ou amassos quentes atrás do muro da casa dela. A moci-dade era vivida com intensa paixão.

Os pais, numa mistura de aprovação e preocupa-ção, afligiam-se pelo mesmo motivo: casamento. O ve-lho falava em desfecho rápido, já a mãe do rapaz, viúva, queixava-se da amarração precoce do filho.

– Esse menino vive encangado com aquela sirigai-ta. Ainda cheira a mijo e já arrota compromisso sério. De-e-e-us... me livre!!! – alardeava a senhora.

Os jovens pouco se importavam e iam tocando o namoro entre juras eternas e idas secretas ao vestiário do campinho.

Anos depois, ela casou-se com o atual prefeito da cidadezinha e tem vida noturna como socialite. Ele? Ah! Ele continua indo ao campinho, matar saudades.”

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Palavras aleatórias

Uma ótima técnica de criação é escolher pala-vras aleatórias de títulos ou manchetes de periódicos (jornais ou revistas) e reorganizá-las até que adqui-ram um conceito novo. É um exercício tão proveitoso para a criatividade que muitas histórias podem nas-cer dele.

As palavras aleatórias organizadas em um novo contexto são mesmo capazes de gerar o mote ideal para aquele conto ou até para o romance que você es-tava procurando. Pode parecer brincadeira de crian-ça, mas lembre-se que as crianças são os seres huma-nos mais imaginativos de todos!

Um exemplo de reorganização de palavras soltas:

Palavras:

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“Dia sim, dia não, pensava em matar a família toda. Durante anos cultivou a ideia fixa. Vezes por atropelamento, vezes por corda ou tiro. Até no dia do casamento do irmão mais velho quis despejar arsênico no bolo. Seria uma morte sensual aquela, cheia de fraques e meias de seda. A noiva apaixo-nada choraria enquanto a feliz farsa familiar acaba-va em vômitos e contorções. E ele riria com gosto, numa espécie sarcástica de desabafo antes da volta pra casa. Mas, o momento passara e ele nem tinha levado veneno...”

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Concluindo

Essas sete formas de “brincar com as palavras” são poderosas ferramentas para se trabalhar com a criativi-dade. Não as subestime. Utilize esses recursos sempre que quiser expandir horizontes, aprimorar ideias.

Toda vez que damos trabalho “extra” a nossa men-te, ela nos corresponde. Exercitando o cérebro, nos tor-namos mais dinâmicos, mais eloquentes, mais inventi-vos. E o melhor de tudo, cada vez mais aptos a criar!

Lembre-se: Criatividade é a capacidade mental de resolver problemas de forma rápida e original.

Meu beijo pra você!

Giselle Jacques