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Escritos Lençoenses 2014 Organização: Diretoria de Cultura de Lençóis Paulista Espaço Cultural “Cidade do Livro” Biblioteca Municipal Orígenes Lessa

Escritos Lençoenses 2014

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Uma mostra da produção literária dos escritores que integram o GEL - Grupo de Escritores Lençoenses, reunidos no livro que representa o ano de 2014.

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EscritosLençoenses

2014

Organização:Diretoria de Cultura de Lençóis PaulistaEspaço Cultural “Cidade do Livro” Biblioteca Municipal Orígenes Lessa

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Lençóis Paulista-SP

EscritosLençoenses

2014

Organização:Diretoria de Cultura de Lençóis PaulistaEspaço Cultural “Cidade do Livro” Biblioteca Municipal Orígenes Lessa

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Lugares, momentos, sonhos, sentimentos, a cidade...Tudo isso transparece nessas páginas escritas por lençoenses. Lençóis, a “Cidade do Livro” vai, cada dia mais, fazendo jus ao seu título. Valorizando e incentivando a leitura, dando oportunidade para novos talentos e apoiando seus escritores, a cidade colhe os bons frutos do seu trabalho. Parabéns aos escritores lençoenses!

Prefeita Bel Lorenzetti

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Esta edição de “Escritos Lençoenses” é um marco na forma-ção do GEL - Grupo de Escritores Lençoenses. Grupo este, que com reuniões sistemáticas no ano de 2013, definiram várias ações em prol da escrita, dos escritores e da cultura desta nossa querida Lençóis Paulista - “Cidade do Livro”, que através de seus leitores, tornaram a Biblioteca Orígenes Lessa uma das melhores e mais atualizadas do país, pois com a procura de novos títulos, livros em lançamento, a atualização com doações e novas aquisições se faz quase que automaticamente, contrário seria se não tivéssemos a procura dos leitores. Entre esses leitores, nossos escritores, que se inspiram tanto na leitura como na vivência diária desta comuni-dade, deste cotidiano, e em forma de poesias, crônicas, contos,... mostram com sensibilidade, sentimentos, emoções, fatos e críticas à nossa vivência, seja ela social, cultural, amorosa... As reticências é mostra de que aqui muito se diz, mas muito ainda há que se dizer através desta arte da escrita, nesta cidade em que pulula o desejo de criação e desenvolvimento em todos os sentidos e aqui em nos-so caso, a literária. Apesar do miolo do livro em preto e branco, muitas cores são apresentadas na produção destes lençoenses!!! Parabéns a esses artistas, e a todos boa leitura!

Nilceu BernardoDiretor de Cultura

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Sumário

Alfa Silva de Medeiros Gotas... 14 Aos Poetas 15 Saudade 16

Alvaro Antonio Valvassore Imagem Esculpida 18 Propagar 20

Anderson Prado de Lima A Pessoa Mais Bonita que Conheço 22 Quando eu Partir 24

Aparecida Fátima Máximo dos Santos Por Onde For Quero Ser Seu Par 28 Órion Eu Te Amo! 30

Ariane Harbekon Nogueira Sonhos Baldios 34 Horizonte 36 Morada Pulsante 37

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Benedito Antonio Carlos Blanco Devaneio 40 A Feia e o Sonambulismo 42

Camila Simões Saudade 46 Violino e Violoncelo 47 Espírito 49

César Antônio Nelli Faillace Amor Suicida 52 Saudade 53 Encontros 55

Conceição Carlis Arruda Pai João e Seu Fiel Amigo 58 Pensamento 60 Ventania 61

Diusaléia Oliver A Dona da Casa e o Dono do Mundo 64

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Edinei Barbosa Alves Bidimensional 68 Inevitável Traição 69 Mundo Celeste 71

Elaine Cristina Bacili Ramos de Oliveira Rosas Brancas no Jardim 74 Abelhinha 74 Grande Amiga 75

Enio Romani Bem-Te-Vi 78 Escritores Lençoenses 81

Fanny Christine de Medeiros Hora de Rodeio 84 A Cultura Pocotó 86 Poetando 88

Florindo Paccola Tempos de Estiagem 90 Transformação Pessoal 92 À Serviço do Senhor 94

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Larissa de Souza Chorar Sem Derramar Nenhuma Lágrima 96 A Estrada da Vida 97

Marcos Norabele O Agressor 100 O Bicho Orgulhoso 103

Mariana Prado Zillo Chega 106 Preocupe-se em Sorrir 107

Michel Ramalho da Silva 25 de Setembro 110 O Preço do Erro 112 Sem Razão 113

Milton Moretto Uma Luz no Fim do Túnel 116 Saudades da Roça 117 Nossa Cidade 118

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Nelson Faillace Reflexos Sobre “A Saga de Lençóis” 120

Paulo Jacon Guiné 126

Usana Buranelli A Abelha e o Tubarão 130 O Gato 131 O Girassol 133

Wanderley Pires de Camargo Meio Ambiente 142

Valentina do Carmo Bonalume Te Amei 136 É Difícil 137 Nostalgia 138

Índice de Imagens 143

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Alfa Silva de Medeiros

Assina suas obras com pseudônimo de Clara Elis.

Nasceu em 28/07/1946.

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GOTAS...

Manchas que ficaram

Na parede branca,

Foi de uma chuva que passou.

No decurso desta vida

O último pensamento vem

Talvez é uma gota

Como força de expressão

Talvez pedindo perdão

Gotas: que formam um todo

Para alguém sobreviver

E lágrimas para agradecer

São tantas nesta vida

Cheia de caminhos difíceis

De muitos e muitos anos

De chuva e lembranças quantas

Ao que guardamos em nós

As gotas também formaram

Como o orvalho quase caindo

Das folhas pela manhã

Quando abro a janela

E faço comparação

Que doem como espinhos

Pisados secos no chão

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De Vinícius eu gosto

E de Drumond também

De Cora e de Raquel

Cecília ... os tamanquinhos

Da minha infãncia lidos... relidos

Foram ficando nos meus caminhos

Gosto de versos e poesias

Longe de mim a pretensão

Procuro tempo... arranjo espaço

Tenho tão pouco... mas faço

Entre meu tanque e o fogão

Gosto de flores e passarinhos

Que vêm voando no meu quintal

Onde já teve tantos

Hoje são poucos

Pousando no muro ou no varal

AOS POETAS

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Na praça vazia Os pássaros dormem A noite já vem Na praça vazia Silêncio... só sombras Os risos se foram De dia... só pombos E transeuntes também E lá no passado Crianças brincavam Na praça vazia Ficou só a fonte De água fresquinha Alguns passam e tomam Depois vão-se embora Deixando de novo A praça vazia Na solidão das flores Que por todo lado Dá-se um triste cenário De folhas secas no chão O inverno acabando Primavera chegando Na praça vazia O vento soprando No rosto... sentido O peito apertar Saudade... tocar Da praça de outrora Lembrança somente Eu tenho agora.

SAUDADE(Uma homenagem à Praça da Biquinha)

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Alvaro Antonio Valvassore

Participou de diversas antologias na região.

Nasceu em 24/02/1965.

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Significante foi meu sonho

Que em detalhes vou relatar.

Caminhava numa floresta

Com suavidade peculiar

Na vibração de paz

Que a natureza emitia

Provocava curiosidade

Que algo fascinante havia

Entre a mata um leve barulho

Qual o vento sopra a cortina,

Procurei e encontrei...

Uma cascata cristalina.

Vez por outra um jato d’agua

Que ao se olhar sob medida

Esguichava numa pedra

Que parecia esculpida

IMAGEM ESCULPIDA

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E lentamente escorria

Figurando com perfeição

A imagem de uma face:

A do Cristo, nosso irmão!

Fiquei ali horas a fio

Magnetizado com a emoção

Num súbito, esposa e filho,

Seguiram em minha direção!

E admiramos aquele encanto

A se formar e dissolver...

A mente registrou, no entanto,

A repetição nos esclarecer

Quando a linguagem Divina

Envolver-te na visão do amor

Inicie partilhar essa alegria

Por quem te tem mais valor!

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Vai...Raio veloz!Desbrava esse caminho intricado.Com a força que teu coração entoa.Com a serenidade que teu olhar contempla.Com o encanto que teu sorriso reluz.Com o carinho que tua amizade propaga.Com o respeito que tua atenção traduz!

Vai...Sol escaldante!Ilumina o teu sonho de vida.Com a pureza que tua bondade aclara.Com a certeza de que buscando, acharás.Com a vontade que você sempre faz.Com a humildade na sua conduta,Agregando valores a cada luta.Da paz tornando um mensageiro,Eficaz e leal companheiro!

Vai...Espalha teu brilho,Meu amado filho.Que o Pai Maior te iluminePor onde passar,Onde por ventura estar,Contagie teu amorCom quem se comunicar.

PROPAGAR

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Anderson Prado de Lima

Colunista do Jornal Tribuna, Diretor da Revista O Comércio, formado em Letras e Marketing de Varejo.

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A pessoa mais bonita que conheço não é gorda e nem magra! É alguém

que cuida do próprio corpo em busca de uma vida mais saudável, sem neuras,

sem máscaras, sem mágoas por não ter sido eleita a mais bela do planeta, tam-

pouco, chateada por não ter passado mil vezes pela fila da beleza. É feliz por-

que acorda, diz bom dia e estampa na face um sorriso gratuito. Veste a calça

jeans, uma camisa lisa ou um vestido florido. Bota um chinelo, um salto alto

ou um sapato fino e desfila – cheia de amor próprio – pelas ruas e avenidas.

A pessoa mais bonita que conheço não é velha e nem nova! Tem idade

suficiente para ser educada, dócil e gentil com quem cruza o seu caminho, seja

um mero desconhecido, um colega lá de longe ou um amigo de outros tempos.

É alguém que não tem rabugice pela vasta experiência que o tempo trouxe ou

é insolente pela imaturidade que a juventude insiste em carregar nos ombros.

É uma alma que gosta de ensinar, porém, também sempre está ávida pelo

conhecimento e disposta a compartilhar um bom papo ou uma boa história.

A pessoa mais bonita que eu conheço não é pobre e nem rica! Ela

tem entendimento capaz de distinguir entre o que é esmola e o que é do-

ação. É alguém que sabe dividir o pouco que tem ou retribuir o muito

que conquistou. Está disposta a estender a mão, ofertar o pão, dar um

ombro para chorar ou para fazer sorrir. Também sabe que, muitas ve-

zes, só os ouvidos bastam para aliviar uma dor, uma angústia, um so-

frimento. Está além da pobreza e da riqueza por causa dos seus olhos do-

ces e do seu coração quente que, por vezes, até derrete de emoção.

A PESSOA MAIS BONITA QUE CONHEÇO

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A pessoa mais bonita que conheço não é negra, nem branca ou amare-la! É alguém que sabe que tudo o quanto se vê da raça humana é resultado da mistura entre os povos e que também é fruto de amores etéreos e de danações transcendentais. Sabe que ninguém é melhor que ninguém porque temos o mesmo valor perante a vilã e salvadora da humanidade que iguala a todos: a dona morte. Não dá valor ao homem ou à mulher pela moeda que carrega no bolso ou pela cor que está na pele, mas pelo caráter e pela vergonha que tem na cara.

A pessoa mais bonita que conheço não é gay e nem heterossexual! É al-guém que respeita as pessoas como elas são ou como elas querem ser, porque sabe que cada um leva a vida do seu jeito: repleta de amores possíveis e imper-feitos, perfeitos e impossíveis. Ela também abriga no peito um coração livre de fobias fúteis que só alimentam a discórdia, promovem o rancor, geram o re-morso. Não é incorrigível e nem tem a pretensão de ser, todavia, não aponta, tampouco, julga com seu dedo em riste ou com a navalha que tem na língua.

A pessoa mais bonita que conheço não é evangélica, nem católica ou de religião alguma! É alguém que tem fé e acredita, que ora para elevar o pensamen-to e não futrica entre véus, bocas, dentes, ouvidos e joelhos. Está tão interessada nas questões do céu que não amaldiçoa seus desafetos, pelo contrário, vai pe-dindo a Deus em favor deles. É alguém a quem interessa tão somente fazer o bem e que, por isso, salva um bocado de gente mesquinha e, outro tanto, compensa.

Pensamento da semana: A pessoa mais bonita que conheço está bem longe de ser perfeita! Entretanto, não fala mal dos outros pelos cantos e não se esforça para transformar mentiras em verdades. É alguém que não está acima do bem ou do mal, está apenas vivendo sem queixas e humilhações, com respeito e dignidade.

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Quando eu partir dessa para a outra vida, não espero por lágrimas

correntes, tampouco, por infindáveis soluçares. Depois do lampejo da última

quimera que acender meu derradeiro pensamento – seja lá para onde a minha

alma for – talvez não me seja permitido olhar nos olhos mais uma vez ou dizer

adeus como gostaria. Por isso, quero apenas que poucos ou muitos guardem

no coração uma daquelas gargalhadas quase sem fim, aquele sorriso que só se

entende através da cumplicidade que há entre amigos verdadeiros, os beijos

doces que meus lábios encerraram na face ou na boca de quem amei na vida.

Quando eu partir dessa para a outra vida, não pretendo ser merece-

dor de aplausos estrondosos ou desoláveis críticas. Quero tão somente ter

conquistado amizades inestimáveis e inesquecíveis que transcenderão o es-

paço e o tempo para – quem sabe um dia? – um reencontro inusitado em

outro plano. Que nas lutas que travei não tenha conquistado inimigos, mas

sim, adversários que respeitam o meu nome porque combati o bom combate

como um homem justo que batalhou, que foi derrotado e que também ven-

ceu. Desejo não ter feito mal a quem quer que seja e que, se por falta de cui-

dado ou zelo, tenha o feito, que tal alguém possa me perdoar sinceramente.

Quando eu partir dessa para a outra vida, não quero que cei-

fem flores graciosas e registrem presença nas páginas de um livro pós-

tumo que jamais poderei ler. Tenho o sonho de me transformar em cin-

zas para renascer como a mitológica Fênix em um campo florido, sob a

proteção divina, ‘em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu pro-

fundo’ como canta o hino glorioso que cresci ouvindo. Que minha mor-

talha não seja de madeira nobre ou tecido fino, quero somente que es-

QUANDO EU PARTIR...

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teja estampando no meu rosto sereno a lembrança da trajetória de um

pecador confesso que fez o melhor que pôde com as ferramentas que havia.

Quando eu partir dessa para a outra vida, não serão as velas que irão

iluminar a passagem que irei realizar. Entretanto, espero ter conquistado a

dignidade para receber orações e pensamentos bons de pessoas que deixei

para trás com saudade, alegria e amor. Se não conseguir ter guardado ne-

nhum dinheiro, que meu testamento seja uma história que meus familiares

sintam honra em preservar ou, pelo menos, que não se envergonhem em di-

zer que fui seu irmão, seu tio, seu sobrinho, seu primo, seu amigo. Peço a Deus

que me leve lúcido e bem velhinho para ter comigo infinitas venturas e des-

venturas desse mundo e dessa gente que tanto amo e que nem sempre digo.

Quando eu partir dessa para a outra vida, – nesse trajeto inevitável que

iremos todos percorrer – não será preciso homenagens e discursos que não

poderei ouvir, mas, que a minha família ouça com orgulho se vier a acontecer.

Quando o último arfar do meu peito chegar e obrigar que meus olhos já não con-

templem a luz do sol ou o reluzir das estrelas na escuridão da noite, pretendo ter

vivido bem, amado muito, sofrido demais, escrito um livro e mil poesias, cons-

truído castelos e não ruínas e pontes sobre os abismos. Quero antes da minha

hora final, ter a consciência que meus acertos foram maiores que os erros que

cometi e que, se errei, muitas vezes, foi na tentativa de acertar, de fazer o bem.

Pensamento da semana: Quando eu partir dessa para outra vida,

não espero ter vivido duzentos anos, mas sim, sentido por cem vidas.

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Aparecida Fátima Máximo dos Santos

Assina suas obras com psudônimo de Cidinha Máximo, participou da primeira edição do Escritos Lençoenses.

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A felicidade fazia com que meu coração batesse rápido e descompassado.

No céu, o sol brilhava radiante.

As árvores balançavam delicadamente suas folhas.

Os cabelos voavam junto do vento invisível,

que tantas vezes me acompanhavam nas caminhadas...

Mas este dia era demasiadamente especial...

Mesmo no azul do céu limpo, podiam-se ver ao fundo as estrelas brilhando.

Nem me lembro exatamente quanto tempo andei, nem por onde andei...

Impossível não me lembrar da linda música:

“por onde for quero ser seu par...”.

E fui... Correndo até onde você estava.

Porque a felicidade não é clandestina.

A felicidade não bate a porta uma única vez.

Basta abrir o coração, que a felicidade chega.

Mas para isso, o passado tem que ser apagado.

O futuro, só planejado por alto,

Mas o que vale mesmo é o presente.

O dia de hoje!

No dia de hoje, quero ser seu par...

Sem guerras, sem discussões, sem nada.

Melhor... com tudo!

Com muito amor!

Sem amor nada podemos nada fazemos, e nada somos...

POR ONDE FOR QUERO SER SEU PAR

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“Não fiz a guerra por não saber”

Na verdade não fiz a guerra por não querer...

Devaneios se foram ao te ver do outro lado da rua,

sem entender o que acontecia você sorria.

Bastou um gesto...

“coloquei a mão na barriga”

Você entendeu...

Porque a felicidade fazia com que meu coração batesse rápido e descompas-

sado, por um ainda ‘minúsculo’ motivo...

Por onde for quero ser seu par.

Mas agora seremos três!

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Para quem visse, olhava o nada.

Para quem conhecesse, pensava em algo especial.

Mas para mim, apenas procurava respostas.

Respostas que as estrelas podiam dar sempre.

Cada uma delas dizia uma coisa.

A constelação de Órion era ainda mais destacada,

naquela noite em que o céu estava sem uma única nuvem.

“As Três Marias”, sempre foram as minhas preferidas.

Lembrei-me da história mitológica da constelação.

Órion era um grande caçador, apaixonado e correspondido por Ártemis.

Mas o irmão dela, Apolo, não aprovava o romance de maneira alguma.

Então, por vingança, manda um escorpião para matá-lo.

No mesmo instante Apolo desafia Ártemis, excelente caçadora.

Porém Ártemis atinge seu amado que fugia do escorpião.

Quando percebeu o ocorrido, em meio às lágrimas,

Ártemis pede a Zeus, para que coloque Órion e o escorpião entre as estrelas...”

Órion, uma maravilhosa constelação que pode ser perfeitamente visualizada a

olho nu, nos dois hemisférios da Terra.

Estrelas, estrelas e mais estrelas...

Como pode uma luzinha a milhões de anos luz daqui, me dar tanta paz...

ÓRION EU TE AMO!

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Mas é olhando as estrelas, no silêncio do meu coração que encontro paz.

Lá no infinito, encontro paz, pois sei que tudo aquilo,

que mal posso visualizar,

tem uma força muito mais forte que tudo que já vi e senti...

Essa força tem um nome: “DEUS”.

E olhando as estrelas, vejo Deus e nas estrelas encontro a paz...

Mas nunca, ninguém saberá exatamente o que estou pensando.

Pois é muito fácil pensar em algo,

e por um motivo que só cabe a mim,

não conto pra ninguém,

a resposta?

A resposta vem das estrelas no céu...

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Ariane Harbekon Nogueira

Cursando Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) na UFMG, também atua como redatora na empresa Cria

UFMG Jr.

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Encadernei algumas ideias, botei-as debaixo do braço e fui pra

rua brincar de sonhar. Sai caminhando pelos quarteirões da vida e an-

corei em uma rua distante. Nela encontrei repouso e por lá releio mi-

nhas ideias, e permaneço a tentar libertá-las do papel. Algumas vivem

alheias a mim, em escritas apagadas. Outras se personificaram e toma-

ram conta do eu, e hoje me constroem de forma a me moldar a todo ins-

tante. Sou agora construído por minhas construções que desconstro-

em o que me impede de evoluir. Assim, reinventando-me a todo instante

aprendo que não é glória afirmar que jamais mudarei quem sou. Inverto

a óptica: sou quem mudarei. Desvios de rota nos abrem os olhos pra ca-

minhos livres do peso do planejar. Afinal, estou brincando de sonhar.

Perdi a hora nesse desvio de rota que me trouxe até o presente e hoje

o desvio é que me aponta a direção, e me permito ser guiada pelo incerto.

Talvez o incerto seja o certo pra corrigir meu incorreto. Movida pelo que

é sentido, busco menos tempo equacionando o que está cá dentro estacan-

do e mais tempo permitindo só sentir. E nesse movimento de lutar contra

o que está estacado aqui dentro, resolvi doar meu desacostume ao vento.

Aprendi que sentir é acalento dos que não se guiam unicamente pela razão

e veem razão em emoção. Agora busco o desacostume do sentir, fugir da

rotina que generaliza e engessa as emoções. Estaca aqui. Esta cá. Estou cá

seguindo. Seguindo sentindo o desvio de rota imperar caminhos que me

SONHOS BALDIOS

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modificam. Hoje, ao ver mudado meu reflexo nas frestas de espelho dos

olhos alheios, percebo que brincar de sonhar me trouxe até a rua certa. E

por ela sigo com as ideias encadernadas que se libertam a desencaderna-

rem novos eus. Enquanto isso, continuo a brincar de sonhar na rua distante

dos medos, na esquina entre o fui e o serei, onde me permito diariamente

amanhecer ideia, entardecer ação e anoitecer em sonho. Realizado ou idea-

lizado, mesmo que não haja sucesso, houve tentativas. E nisso consiste meu

sonho: sonhar. Sigo encadernando ideias, a me criar. Debaixo do braço, as

ideias e a vontade formam o processo criativo do meu caminho. Fui pra rua

brincar de sonhar. Fui pros sonhos brincar de viver. Fui pelo caminho brin-

car de sentir. Parei. Ancorei no sentir. Sigo sentindo, mudo seguindo, sinto

mudando. Fui pra rua brincar de sonhar, volto pra casa antes do anoitecer.

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Confesso ser-me difícil encontrar definição para a palavra até então

vivida em outra língua. Ausente de meu vocabulário, distante de letrar meus

caminhos. Hoje a repito com frequência e ela, escreve por onde devo seguir.

Derruba suas letras por onde passa, deixando indícios do que busca significar.

Talvez sejam Asas. Asas que me decolam, que me descolam de onde não devo

permanecer. Asas que degolam minha vontade de ficar. Asas que me movem,

guiadas por onde os ventos dizem que devo viajar. Voam, abençoam o maldi-

to desejo de estagnar. Me levam por onde os ventos desejam soprar e, assim,

sopram caminhos que me guiam ao que a nuvem seguinte me impede de ver.

Nessas Asas vou. Voo. Voo por onde a sombra de asas alheias me faz querer ir:

seu bater de asas causam o vento que sopra meu destino, as asas que me fazem

partir e me indicam a hora do pouso. O momento exato de pousar no amar.

Pousar a mar, velejando pelo que derrubei enquanto voava. Aí em repouso

ouso olhar para baixo. Abaixo, no azul mar que ama o reflexo das nuvens

existentes em mim. Minha própria turbulência: o que sinto quanto te percebo

em ausência. Balança, descansa em mim o desejo de voltar. A mar. Amando

o caminho de volta. Mas, a palavra, essa continua alada, ao lado da determi-

nação. Terminação verbal não exata do sujeito meu. Mas sigo em voo e hoje,

voo longe pelo Horizonte chamado Belo. E várias outras asas me mantém no

caminho quando acredito não ser possível permanecer no ar. Chorando pelo

distante que voa em direção ao passado, chorando a alegria por realizar o

voo sonhado. Horizonte distante onde me espero e que hoje, chamo por Belo.

HORIZONTE

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Coração grande não pode ser preso. O meu talvez não tenha a riqueza

da coragem para ser nomeado grande, mas tem a fragilidade do desejo de ser

livre. E dessa forma é também indomável, inapreensível. E livre. Livre do

peso das certezas, livre das imposições alheias. Ele caminha por si próprio,

rumando sem rumo, remando sem prumo num mar baldio de sentimentos.

Caminha livre procurando livrar-se de quem se prendeu a ele, deixando pra

trás os débitos dos antigos habitantes que nele, um dia, encontraram mora-

da. Moraram. Marejaram pelas águas vermelhas que por ele correm. Hoje,

deságuam pelas quedas que despencam do olhar. Quedas d’água. Quedas má-

goas. Quedas tréguas que permitem escorrer quem não mais mareja aqui. E

aí, deságuam. Desabam dos olhos o que minha morada pulsante não permite

mais habitar. Fechou-se. Estancou-se dos sangramentos. Saturou-se dos cor-

tes e hoje busca a sutura capaz de fechar os portões de casa. Venderemos a

propriedade, vamos morar de aluguel. E quando algo impedir-me de pagar a

estadia em suas águas, seguirá também eu sem morada, até que sua maré me

leve pra longe encontrar a praia. Sairei por olhos marejados. Seguirei tam-

bém desabando pelos olhos alheios, ou caindo de sorrisos felizes por me ve-

rem partindo. Não importa. Essa morada em hipertensão só quer se ver leve

pra seguir, e segue com a fragilidade do desejo de ser livre, reformando a casa

em que muitos não souberam habitar. Dele saem marcas em barcas carrega-

das dos que sairão pelo olhar em deságue. Partem dos olhos marejados que os

vê marejar oceano a fora encontrando outras marés. Que a brisa o leve para

onde deseja. Eu? Eu sigo remando por um coração amando ser livre. Não mais

farei dele morada. A cura foi demorada, fizemos a escolha errada e agora é

preciso ir. Segue pulsando e livrando, remando seu amado para longe daqui.

MORADA PULSANTE

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Benedito Antonio Carlos Blanco

Jornalista, há mais de 50 anos em atividade, trabalhou em todos os jornais de Lençóis Paulista, Folha de São Paulo,

entre outros.

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Perambulando pelas alamedas da saudade, numa esquina do passa-

do deparei-me com um dilema. Nele eu vislumbrei o futuro. Vi que pela es-

trada que eu teria de trafegar havia uma bifurcação, e apenas uma trilha

deveria ser escolhida. A terrível indecisão fez com que eu me embrenhasse

no âmago da incerteza e depois de muito meditar, naveguei pelo oceano

da esperança, ancorando o meu barco em um porto seguro de uma terra

paradisíaca, onde o amor impera, ódio não prospera e todo mundo é feliz.

Nos meus devaneios, observei gente sorrindo, dançando, saltitando.... Vi

pássaros voando, anjos cítaras tocando e arroios mansos e límpidos entre

as colinas floridas deslizado. Vi gestos carinhosos, afagos, ternura, vê gen-

te amando. Estarreci-me com cenário tão esplendoroso. Embriaguei-me de

tanto júbilo que a cada instante saciava a minha sede de ver um mundo mais

feliz. Centenas de milhares de flores, cada qual com seu perfume, impreg-

navam o ar. O sol, com seus raios cintilantes, derretiam as gotas de orvalho

que à noite pousavam no tapete de relva verde dos amplos prados. Um so-

nho... um verdadeiro sonho, que lamentavelmente despareceu da minha a

mente assim que eu retornei à realidade. Volto para a minha vidinha paca-

ta e vejo noticiários mostrando crianças morrendo de fome, pais definhan-

do por falta de tratamento adequando para seus males, muitas vezes abso-

lutamente curáveis. Rios secando, peixes morrendo em virtude do descaso

dos humanos. Matas desaparecendo do planeta por causa da ganância, da

agricultura predatória e da irresponsabilidade dos poderes constituídos.

Vejo nos jornais a corrupção que assola o mundo, sobretudo em países

onde a educação fica em segundo plano. Noto que nem mesmo Deus está

DEVANEIO

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sendo levado a sério. Em nome da fé, espertalhões acumulam fortunas,

explorando a ingenuidade de pessoas simples, de pouca ou quase nenhuma

instrução. Também em nome da religião, comunidades fundamentalistas

matam, saqueiam, estupram e aniquilam seus povos. Tudo em nome da fé.

O mundo que eu vi no meu sonho não era esse, com certeza. Gostaria de ter

continuado no meu devaneio, pois lá naquela terra, todo mundo era feliz.

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Page 42: Escritos Lençoenses 2014

A calmaria chega a incomodar os ouvidos. Tira o sono a falta de um

ruidinho, por insignificante que seja. A noite alta e fria, o silêncio ensurdece-

dor faz com que a penumbra fique com um ar fantasmagórico. Apenas o ruído

das sopradas de vento, próprias do mês de agosto, se faz ouvir quando bate

na cumeeira do sombrio casarão. O cenário que se vislumbra é assustador.

Entremeio às rajadas brandas de vento, os ouvidos mais aguçados identifi-

cam o som do canto de uma corujinha preta, aquela que quando canta é pre-

núncio de maus agouros. A cerração que embaça a vidraça, forma desenhos

abstratos que ora têm jeito de santo, ora se parecem com demônios. Na altura

do décimo terceiro degrau da cinzenta escadaria, dorme alguém que vez ou

outra tem crise de sonambulismo. Deve ter pouco mais de dezessete anos,

um metro e sessenta de altura e deve pesar uns 55 quilos, bem distribuídos.

Seria de extrema beleza física não fossem os maltratados cabelos ouriçados,

roupas puídas e esfarrapadas e dentes escuros por causa do indiscriminado

uso de tabaco e drogas mais fortes. Nunca, em nenhum momento, alguém

reparou nela, o olhar insinuante e travesso, a inteligência e principalmente

a voz encantadora que possui. Nas noites quentes de verão, quando o per-

fume das Damas da Noite impregna o ar, é comum ouvir-se uma voz macia

que se faz acompanhar por um piano que ninguém sabe onde está. Pouca

gente sabe que a dona daquela voz é a pequena feinha que mora no andar

de cima do casarão em ruínas. Ninguém imagina que aquele rascunho de

mulher seja tão talentoso. O velho relógio que fica no alto da porta principal

do salão mor da residência, marca meia noite e meia. No topo da escadaria

surge ela – a menina - com uma lamparina à altura do rosto e com passos

lentos porém decididos, desce lentamente e vai até a cozinha onde enche

A FEIA E O SONAMBULISMO

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Page 43: Escritos Lençoenses 2014

uma travessa de fubá, adiciona duas ou três colheres de açúcar, fermento e

leite, despeja tudo em uma assadeira já devidamente untada e leva ao forno.

Senta-se na única cadeira que há próxima à grande mesa de centro, tira do

sutiã um cigarro de cor escura, estica o braço para alcançar uma caixa de

fósforos e ali dá tremendas baforadas. Êxtase, prazer, viagem.... Parece que

está em outro mundo. Pouco mais tarde, lá fora tudo volta ao normal. Já se

escuta o barulho das sirenes, buzinas, ronco de motores e frenagens de ve-

ículos mais apressados. O alarme do fogão agora apita, sinal que o bolo de

fubá está pronto. É hora de saborear aquela delícia. O bule de café fumega.

Os bolinhos de mandioca, douradinhos pela gema de ovo mexido, espera por

bocas ávidas por uma alimentação saudável e original. A pequena feia, po-

rém, não participa dessa ceia. Ela volta para o seu quarto, deita-se e, como

se nada estivesse acontecido, continua dormindo. Fizera tudo sob o efeito

do sonambulismo e das drogas consumidas no dia anterior à sua internação.

A rotina naquele hospital para recuperação de drogados volta ao normal.

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Page 44: Escritos Lençoenses 2014
Page 45: Escritos Lençoenses 2014

Camila Simões

Artista plástica, artesã, criadora e escritora do blog Melo-dias Noturnas e co-criadora da série Estranha Melodia.

Page 46: Escritos Lençoenses 2014

Ó dor que me mata

Sua presença é tão marcante

Que meus braços em deleito esmaecem no chão em meu peito

Sua voz ainda ecoa em meus sonhos noturnos

Já a sinto como parte de mim que se foi

Estou dançando com sua curva nos braços do vento

Sinto que eles o levam pra longe

Sinto que minhas mãos acariciam seu doce rosto no nevoeiro

É somente a dor que me consome

É somente lembranças que somem

Sinto-a nos trilhos sob meus pés

E o pássaro em abandono bate suas asas pela ultima vez em desespero

No fim todos se vão

No fim nunca estão

Posso sentir a prova de sua presença, que escorre em forma rubra por minha alma

E a nova luz do dia ilumina o filme de nossos sorrisos

O filme sempre acaba

E a estrada que reside no bico do corvo o leva pra longe

Tão longe que as linguas do vento sussurram em tempestade

Saudade...

Saudade.

SAUDADE

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Page 47: Escritos Lençoenses 2014

Ó meu belo amante

Deslize em meus lábios

Cante em minha alma dançante

Tuas notas soam como palavras dos sábios

Ó sim deslize

Por favor toque

Sou a fada má que de mim bem dizem

Mas não quero que em mim se foque

Posso vê-lo deitado em chão coberto de penas

Seu reflexo se faz em meio a luzes

Suas mãos flutuam em teatro de cenas

Posso ver o chão repleto de cruzes

Ó sim você caminha

Por meu corpo

Por minha terra

Sobre minhas asas, minha espinha

Deite-se comigo

A eletricidade é contagiante

Sou seu abrigo

O som hipnotizante

VIOLINO E VIOLONCELO

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Page 48: Escritos Lençoenses 2014

O vento rege tua orquestra

É mais que a lua em ritual

É corpo que plana em festa

Olhe para mim, não estou em pele usual

Sim deslize

Posso ver-me sobre tua alma

Corte-me antes que minhas mãos enraízem

Em seu doce sorriso, em sua alegria calma

Você ilumina meu sombrio castelo

Então deite-se meu amor

Serás hoje meu violino

E eu seu violoncelo.

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Page 49: Escritos Lençoenses 2014

Por dias e noites a mão amputada tentou escrever

Seu fantasma delineava cada palavra com tinta inexistente

Sua alma chorava, mas seus olhos nada refletiam

Seu ectoplasma escorria pela mesa de cirurgia e nada ninguém via

A dança das mãos os envolviam

Sobre as costas dos pássaros revolviam

Ao desprovido do som gritou

Para o nada seu mudo desespero deitou

Que chacina de sina distinta

Ouvidos deleitam-se ao som do piano

E mãos imaginárias a envolvem

É a suave pele da noite a tocando

Mas o degrado é insistente em deixá-lo manchado

Tão pobre alma nobre, desprovida de sentidos

Abraça com os lábios

E ama pelo sopro

Ao fim somos fios

Ao fim somos grãos

Criança maldita que habita

Tão grande e pequeno coração

Dilacerada carcaça doentia

Seu corpo jogado aos céus

Acompanhada pela água da guia

Grande corpo branco embalado

ESPÍRITO

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Page 50: Escritos Lençoenses 2014

Bela dama de sangue sentia

Sua flor a minha boca atrai

Desabrocha minha ínfima alegria

Que aos poucos se fecha e contrai

Mas alma que liberta é

Não necessita de corpo para compor

És pura por si só, sei que é

Seus olhos brilham o estupor

A fim de que mais será tido

Antes sangrar em desarmonia

De forma que tenha vivido

Do que caminhar apenas pela cova fria.

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Page 51: Escritos Lençoenses 2014

César Antônio Nelli Faillace

Escreve poesias em jornais locais e participou da primeira edição do Escritos Lençoenses.

Page 52: Escritos Lençoenses 2014

Na pele o coração de tinta

Uma gota de lágrima com meu nome

Na casa só se ouvia ódio gritando em mim

“De que vale o par se não o amor pára dar

De que vale o amor se não há par para dar

Melhor um só!

Um ser só

Na lágrima minha própria figura

O amor sufoca se não há para quem dar

Uma dor doente

Um inferno no jardim

Nas pétalas nasceu o espinho

Na rosa que não me toca rasguei meu peito

Meu sangue que jorra em punhos e dentes

Chorei sobre as feridas do amor

Marquei seu corpo com meu ódio

Melhor um só

Chorei sobre as cicatrizes

Do amor que me sufoca por perder o meu amor

Na lágrima minha própria mágoa

Com lágrimas feri o pulso

Esvaziei-me da tristeza em sangue

AMOR SUICIDA

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Page 53: Escritos Lençoenses 2014

Seu olhar de rosa

Seu ser de flor

Pétalas sedentas

Pingando orvalho

Vestindo-me em anjo

A beijarei

Como a beijei em sonhos

Estranho os sons

Desejos de meus lábios

Haste faminta

Abraçando nua

Por suas pétalas

Por sua flor

Sua flor

Do amor

Não está protegida

Na beleza

SAUDADE

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Page 54: Escritos Lençoenses 2014

Pede o vencer da dor

Seus espinhos

Evitam o toque

Seu olhar de rosa

Seu ser em flor

Pétalas sedentas

Pingando orvalho

Haste faminta

Abraçando nua

O ar

Em suas folhas

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Page 55: Escritos Lençoenses 2014

Encontro você

E em meu corpo

A mim

Um lar

Uma mansão

Um porto

Uma pequena você

Um pequeno eu

Um beijo e Deus

Usando meus pés de novo

Matando o tempo

Esperando o riso

Risco

Rabisco

Liberdade em vôo

ENCONTROS

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Page 56: Escritos Lençoenses 2014

Um mundo

Um ser lindo

Esta noite sinto

Um corpo

Um sangue

Um ser bonito

O riso

A palavra

O pedido

O gozo

O gemido

O grito

Obriga-me

A briga

Ou abriga-me

No albergue

Da tua vida

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Page 57: Escritos Lençoenses 2014

Conceição Carlis Arruda

Autora do livro Ternura, contendo poesias de Lençóis Pau-lista. Participou de antologias e concursos literários por todo o estado de São Paulo, inclusive na capital. Assina

suas obras com o psudônimo de Liscar.

Page 58: Escritos Lençoenses 2014

Lençóis Paulista, “Cidade do Livro”, há muito vem recheando seu acervo

com histórias interessantes. Lembro-me em 1962, quando fui matriculada na

escola Esperança de Oliveira, eu residia na Vila Contente ao lado da Destilaria

Central, que na época estava em atividade.

A entrada de Lençóis Paulista era onde hoje está localizada a Avenida

José Antônio Lorenzetti, quando então não passava de uma estrada empoeirada

ou lamacenta.

Em minha primeira semana de aula, papai me acompanhou para me en-

sinar a atravessar as ruas e a linha férrea, os trens da Sorocabana transitavam

dia e noite tanto que o Senhor Antonio, guarda ferroviário fechava a porteira a

cada trem que cruzava a Rua Coronel Joaquim Anselmo Martins.

Hoje sinto saudade do Senhor Antonio, uma pessoa preocupada com

seus semelhantes, principalmente as crianças. Quando o trem resolvia fazer

suas manobras formava uma fila de carros de ambos os lados e as buzinas eram

de ensurdecer. Sem contar quando coincidia em horários que a criançada saia

da escola. As meninas aguardavam pacientes, mas os meninos atravessavam

entre os vagões para o desespero do Senhor Antonio.

A partir da segunda semana de aula, eu ia para a escola com os colegas

da vila, ora brincando, ora brigando, coisas de criança. Certo dia ao passarmos

em frente à Estação Ferroviária, para então seguirmos pela Rua Floriano Pei-

xoto, hoje Dr. Antonio Tedesco, a qual nos levava à Escola, um dos colegas do

quarto ano nos avisou que íamos passar por Pai João e, apesar de sua aparência,

era uma ótima pessoa.

“Pai João” já de longe gritou. “Bom dia meus fio, vai estudá pra se dotô”?

Foi assim que conheci “Pai João”, lembro-me perfeitamente dele, era um Se-

nhor já mostrando idade avançada, usava roupas desbotadas, pés descalços e

um enorme chapéu.

PAI JOÃO E SEU FIEL AMIGO

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Page 59: Escritos Lençoenses 2014

Os lugares preferidos de Pai João eram a Estação Ferroviária e o Bar Gua-

rany, que ficava na esquina da rua: XV DE Novembro com a hoje Dr. Antonio

Tedesco, onde era parada de ônibus. A Rodoviária estava no futuro. Eu entrava

no Bar para comprar balas Toffe e Pipper e várias vezes eu via Pai João pedindo

humildemente uma xícara de café ao proprietário: “Meu fio serve um cafezinho

pro preto veio”! E gentilmente o café chegava acompanhado de pão com man-

teiga e um alegre sorriso. Algo que deixava “Pai João” à vontade entre amigos,

lá no canto do Bar ele dividia seu pão com seu fiel amigo cão chamado Trovão.

Em uma tarde de Domingo fui com meu avô Miguel tomar sorvete no

Bar do Natal, o mesmo ficava na esquina da Rua Sete de Setembro ao lado da

Matriz Nossa Senhora da Piedade e, “Pai João” lhe perguntou. “Quando a gente

compra um carro ele já vem com as rodas”? Eu com apenas sete anos de idade

compreendi tamanha simplicidade daquele bondoso Senhor.

De certa forma, “Pai João” fez parte de minha vida. Por um bom tempo

eu o encontrava todos os dias no caminho da escola, até que em 1965, minha

família resolveu se aventurar no estado do Paraná e retornando a Lençóis em

1971. Eu nunca mais vi “Pai João”. O que teria acontecido com ele?

Passado muitos anos me surpreendi lendo o jornal O Eco de 12/01/2002,

onde encontrei dados importantes sobre “Pai João”. Eu que sempre achei que

ele morava na rua, soube que o mesmo havia falecido em seu pobre casebre

situado onde hoje é o jardim Itamaraty e, tendo como única companhia seu

cachorro Trovão, “Pai João” não deixou nada a não ser sua própria história. A

prefeitura providenciou um lugar no cemitério para que seu corpo repousas-

se em paz. Porém, deixou seu fiel amigo cão, ele tinha a certeza que a vida do

amigo continuava e, sobre a cova permaneceu vigilante aguardando seu dono

se levantar para buscar comida para ambos.

Exemplo de amor, amizade sincera, fidelidade de cão.

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Page 60: Escritos Lençoenses 2014

Pássaro que vive a voar

Voa alto tentando alcançar

Seu sonho, no entanto

Ele se desfaz

Pássaro, eu tento te imitar

Sem voar vivo aguardar

Quando dela me aproximo

Vejo o sonho desmoronar

Amor que chega feito furacão

Vem com força e alegra o coração

Quando vai é só desilusão

Assim vivo na solidão

Pássaro que do alto me espia

Fiel amigo me vigia

Eu do chão lhe aprecio

Sonhando vencer este vazio.

PENSAMENTO

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Page 61: Escritos Lençoenses 2014

Vento que vai e vem

Balança as árvores

E meu coração também

Vivo sonhando contigo meu bem

Ventania brisa fulgurante

Age imitando o amor desolado

Varre o que vê na frente

Não deixa nada ao seu lado

Vento em dia de calmaria

Transmite alegria

Estou apaixonado por você guria

Cobrir-te de beijos eu queria

Vento bondoso trabalha sem cessar

Assim sou eu não me canso de te amar

Meu coração repete venha comigo ficar

Em teus braços desejo viver e sonhar

Vento sopre ao meu favor

Diga ao meu bem que morro de amor

Traga a pertinho de mim

Para que eu viva feliz enfim.

VENTANIA

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Page 62: Escritos Lençoenses 2014
Page 63: Escritos Lençoenses 2014

Diusaléia Oliver

Membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de Cabo Frio-RJ, publicação do livro Contos de Qualquer Canto, em

2008, participação em concursos literários na região.

Page 64: Escritos Lençoenses 2014

Essa vida de mulher prendada é mesmo muito difícil: lavar, passar, cozi-nhar, arrumar, ariar, criar, educar, lustrar, comprar, varrer, desencardir... Ufa! Hoje é assim, amanhã tudo de novo, ninguém para me dar uma mão, e pagamento que é bom...nem um tostão! Atéquemeucaçulaapareceu,mefalandoummontão,fiqueiacabrunhadaescutando seu sermão. -Mãe, sabe que Deus parece contigo? -Sei sim, oh se sei, tanto eu como Ele temos paciência de caldeirão! -Não, não é isso não, você e Deus não recebem um vintém, mas também não devem a ninguém. “Deus lhe pague” é o que mais lhe convém. -Sabequevocêtemrazão!Masprefirofazerparaosoutrosdoqueterqueaturar humilhação. Meu serviço é duro demais, menino... -Minha mãe, não ligue não! Enquanto você faz uma panela de comida, Deus cuida de toda a plantação. Faz semente virar árvore e adubo alimentar o chão. -Pois nunca tinha pensado nisso. Vivo só a trabalhar, faço tudo direitinho para o seu pai não reclamar. -Saiba que Deus também passa por isso, nossa enorme ingratidão, Ele pôs tudo na natureza, e a gente o que fez? Essa grande destruição! -Ora, não pense que me engane, me pegando pela emoção, depois dessa nossa conversinha, você vai varrer o chão!!! (É serviço seu, menino, não me en-role não!) -Deixa comigo, mamãe querida, eu não me importo não, porque enquanto eu varro o quintal, Deus tem que limpar esse mundão! -Então me ensina, como Deus faz essa faxina?-Faz o ar se agitar, rapidinho vira vento, Ele é capaz de transformar aquilo que era lento. -Nossa, que poder fenomenal! E eu aqui achando ruim de tirar a roupa do varal! Descongelar a geladeira também é a maior chateação, eu detesto esse ser-

A DONA DE CASA E O DONO DO MUNDO

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Page 65: Escritos Lençoenses 2014

viço, queria acabar logo com isso! -A geladeira de Deus é muito maior que a sua, e Ele não quer descongelar, está até com medo que a geleira vire mar. -Esse Deus é mesmo esperto, sabe tudo que faz, mas duvido que Ele con-siga, trocar botijão de gás? -Vou provar que Deus é um gênio, pois Ele troca dia e noite gás carbônico por oxigênio. -Eu tenho tanto serviço, tem dia que eu acho que morro, além de tudo que faço ainda tenho que tratar o cachorro! -Esse trabalho Deus também faz, Ele cuida dos bichinhos do céu, da terra e do mar, ou você sabe como vivem a andorinha, o urubu e o tubarão...o tatu, a joa-ninha e o camarão? Eles nunca serão adotados, nunca terão quem lhes dê ração. -Moleque,assimficadifícil!Hojevocêtáafiadodemais,ficafalandodeDeus, mas esquece do que a gente faz! -Sei que você trabalha muito, seu dia é todo tomado, mas já imaginou se Deusresolvessetambémficardeferiado? -É nunca tinha pensado nisso, comparado com o meu, Deus tem muito mais serviço! -Agora gostei de ver, agora vamos nos entender, quero que você acredi-te... cada um faz o que quer merecer. Nunca reclame do seu trabalho, porque igual a você ninguém mais vai fazer. -Masqueinteligênciameufilho!Nãosabiaqueerasassim;enquantoeutrabalho tanto, Deus ainda cuida de mim! -Agora minha mãe falou tudo, parece que entendeu a lição, você e Deus são parecidos, não pelo trabalho, mas sim pela missão... -Essa não compreendi, trate logo de me explicar... -Nãoficabravaqueeuvoutecontar,assimcomoEle,asmãestêmano-bre tarefa de cuidar. Enquanto Deus toma conta do Universo, cada mãe organiza o seu lar.

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Page 66: Escritos Lençoenses 2014
Page 67: Escritos Lençoenses 2014

Edinei Barbosa Alves

Escreve poesias com temas diversos, tem como inspiração poetas como Vinícius de Moraes, Luiz Vaz de Camões, Car-

los Drummond de Andrade e Mário Quintana.

Page 68: Escritos Lençoenses 2014

Eu não vivo de certezas confusas

Ou de retratos mal pintados

Da minha forma de ser

Eu vivo a beleza da emoção.

Sou conduzido por vontades intrusas

Pelos sonhos que vivem em mim atrelados

Pela forma que moldo meu saber

E pelo belo enigma da paixão

Sou feito d’um otimismo que dúvida

D’uma crença incrédula de mudança

Que envolta vive sobre resquícios de esperança

Porém em mim vive um espírito gladiador

Que não se abate ou se isola, desta vida.

Luta, briga e vive sem pudor.

BIDIMENSIONAL

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Page 69: Escritos Lençoenses 2014

Um dia te conheci

Mesmo sem querer

Mas logo percebi

Que isto ia render

Você me levou a lugares

Que eu nunca sonhava chegar

Me fez respirar novos ares

Como foi bom te encontrar

Hoje sou melhor, que admiração...

Eu devo isso a ti

Por tudo que aprendi

Nesta bela relação

Relação que durou muitos anos

Que me transformou,

Que me trouxe sonhos

E que tanto me marcou

Agora vou embora, que incrível...

Quem mandou me ensinar

Que um sonho é possível

Que um rio forma um mar

INEVITÁVEL TRAIÇÃO

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Page 70: Escritos Lençoenses 2014

Que interessante, E sempre ir adiante

Que a escolha do caminho

E que te faz pequenino

Ou te faz ser um gigante

Eu estou te traindo

Quem mandou me apresentar

Aquela tua amiga, rindo,

Louca a me chamar

Mas foi inevitável

Contigo não posso mais ficar

Um amor inegável

Veio a me extasiar

Minha amada escola, Isto me degola

Mas tua amiga faculdade

Deu-me aquela bola

E nem o medo da saudade

Me fez livrar dessa paixão

Porém, por onde eu for

Levar-te-ei meu querido amor

No ponto mais fundo deste meu coração...

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Page 71: Escritos Lençoenses 2014

Um dia me vi á voar

Por um mundo de maravilhas

Nele vi pessoas a cantar

Músicas em redondinhas

E a voar por esse mundo

Vi muro feito de rubi

E tantas estrelas brilhando

Que quase me perdi

Nesse mundo vi castelos

Todos feitos de cristal

Que atavam todos os elos

E baniam todo o mal

Vi muitas crianças brincando

Com os raios de luz

Uma me chamando

E mostrou-me uma cruz

Disse essa cruz marca um destino

Que mudou a realidade

Pra uns pode ser desatino

Mas isto é a mais pura verdade

MUNDO CELESTE

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Page 72: Escritos Lençoenses 2014

E logo ela me mostrou

Sem sombra de erro

Que esta Cruz era de um negro

E disse que ele nos salvou

E logo este negro eu vendo

Envolto por muita luz

Acabei compreendendo

Que ele era Jesus

E a luz que nos olhos meus

Formava um belo véu

Era a luz de Deus

E eu estava no céu.

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Page 73: Escritos Lençoenses 2014

Elaine Cristina Bacili Ramos de Oliveira

Assina suas obras com psudônimo de ECBJ, escreve desde os 10 anos, participou das antologias lençoenses, além de

escrever para jornais e participação de eventos em escolas.

Page 74: Escritos Lençoenses 2014

Rosas Brancas são assim...

Balançam no ar

Saltam em alturas

Rosas Brancas são assim...

Brincam de amarelinha

Pulam cordas

Rosas Brancas são assim...

Graciosas, Risonhas

Rosas Brancas no jardim

ROSAS BRANCAS NO JARDIM

ABELHINHA

A bela rainha

Meiga e afável

De flor em flor

Seu voo chega

Ao céu.

Operária faceira

De colmeia em colmeia

Seu zumbido num

Luppeng caracol

Traz alegria ao amigo

Girassol... zzz ...zzz...zzz...

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Page 75: Escritos Lençoenses 2014

Às vezes penso que você é uma flor...

Violeta, Rosa, Margarida.

Às vezes penso que você é o tempo...

Amanhecer, Entardecer, Anoitecer.

Às vezes penso que você é o sentimento...

Amor, Alegria, Amizade.

Às vezes penso que nome dar a você?

Você é, e sempre será minha

Grande amiga!

GRANDE AMIGA

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Page 76: Escritos Lençoenses 2014
Page 77: Escritos Lençoenses 2014

Enio Romani

Poeta, escritor, escultor, radialista, autor do livro Coisas do Meu Setão (2005), participou de oito antologias, tem tra-

balhos divulgados em revistas, jornais, rádios, televisão e vários festivais.

Page 78: Escritos Lençoenses 2014

De manhã logo cedinho

Da minha cama ouvi

o canto de um passarinho

Bem-te-vi, Bem-te-vi

Abri devagar a janela

Para poder espreitar

O lindo pássaro amarelo

E seu alegre cantar

Seu canto eram notas

Repletas de alegria

Enquanto eu o espreitava

Pareceu-me que assim dizia

Derrubaram minha floresta

Vim na cidade morá

A vida aqui não é festa

Mas continuo a cantá

Canto bem de manhãzinha

Para saudar o sol nascente

E rogo a DEUS para que seu dia

Seja feliz, contente,

BEM-TE-VI

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Page 79: Escritos Lençoenses 2014

Meu canto também leva

Minha eterna gratidão

Ao nosso Sinhô Poderoso

Pai de toda criação

Por me dá esse trabaio,

Num pense você qui é bom!

Pois as vezes canto

Com um ispinho no coração

Canto mesmo no dia,

Que o gato astuto, esguiu,

Com modos bem sorrateiro

Deixa meu ninho vaziu

Canto quando um veio careca

Enrrugado e cara de mal

Bota meu ninho fora

Pra limpá o seu beiral

Mesmo que um vento do sul

O meu ninho levá

Eu me mantenho acordado

Pró seu dia alegrá

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Page 80: Escritos Lençoenses 2014

É assim que um passarinho

Vive aqui na cidade

Cantando prá disfarçá

a sua grande saudade

Saudade da linda mata

Que o homem derubô

Saudades dos meus amigos

Que prisioneiro acabô

Preso em uma gaiola

Em imenso sofrimento

Mal sabe o homem que seu canto

Não é canto, é um lamento

Agora peço licença

Amanhã estarei aqui

Para alegrá o seu dia

Bem-te-vi, Bem-te-vi, Te-vi, Te-vi.

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Page 81: Escritos Lençoenses 2014

A nossa mente nos conduz a viagens maravilhosas

Basta para isso fecharmos os olhos,

Darmos asas à imaginação, viajar, e ver.

Em um belo dia, fechei os olhos imaginei e ví.

Ví o Origenes Lessa, a São Pedro dizer,

Viajei por terras distantes, terras de São Saruê,

Lá tudo se dá em árvores, só quem foi lá para crer,

Doce, sorvete, lanche, bolo, é só apanhar e comer!

Você que é amigão de DEUS, interceda junto dele por mim,

Veja se ele faz a minha Lençois, ser uma terra assim.

Ví o Horacio Moretto, bem próximo da lua dizer,

“Ho lua que eu tanto queria”! Quando eu ia visita-la,

Esperava fizesses sala, só quartos você fazia.

Sua presença é um tesouro, sua ausência que me mata,

Você faz luar de prata, e no entanto... Vale ouro”

Faço-lhe agora um pedido, atenda-me por caridade,

Continue prateando, minha querida cidade.

Ví a Arleia a DEUS orar

“DEUS é o sol que aquece, a lua quando anoitece,

É o poente é a vida, é o caminho de volta,

O guia de nossa ida, DEUS é a candura,

A ternura do dia, a poesia constante,

ESCRITORES LENÇOENSES

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Page 82: Escritos Lençoenses 2014

A natureza, beleza, o cântico arpante,

De grande alma, nobreza,

É o “sorriso criança, do futuro esperança”

“Ho DEUS espero, me atenda em que quero,

Pois bondoso tu é, desperte nos Lençoenses,

A força da fé.

Ao Alexandre Chitto, ví São Pedro falar,

Eu vou lhe premiar, com mil anos de gloria,

Pois lutastes sem cessar, para poder resgatar,

Da sua Lençois a historia.

Ví muitos escritores Lençoenses,

Que viveram no anonimato,

Por tudo de belo que escreveram,

Somos-lhes eternamente gratos,

A todos os escritores Lençoenses,

Que junto de DEUS estão,

Lembro-vos que a suas presenças,

Por aqui não foram em vão,

Dá-lhes a grande certeza,

Esta frase bela e rica,

Passam por essa terra os escritores,

Mas... Seus escritos aqui ficam.

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Page 83: Escritos Lençoenses 2014

Fanny Christine de Medeiros

Possui publicações nos jornais Tribuna Lençoense, Gazeta Paulista e Jornal UNESP, concorreu ao Mapa Cultural Paulista (2002-2003). Assina suas obras com pseudônimo de Yara

Moraes.

Page 84: Escritos Lençoenses 2014

É

Vinte e oito

Aniversário

Clima de festa

Entra no ar

Adrenalina

E lá na arena

O locutor

A narrativa

Deixa rodar

Já entra em cena

Provas em touro

Cowboys e cavalos

Desafiam o tambor

Então vamos nós...

Sai do armário

Chapéus e botas

Da country-moda

O cheiro é ocre

Churrasco à vista

Cachorro quente

Que num repente

De muita gente

HORA DE RODEIO(Homenagem ao aniversário da cidade)

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Page 85: Escritos Lençoenses 2014

Na madrugada

Eles

Encontram elas

E vice e versa

Do som caipira

Canto da gente

Velha viola

Paqueras muitas

Uma semana

Histórias tantas

Fica a saudade

Outra FACILPA

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Page 86: Escritos Lençoenses 2014

“A tua piscina está cheia de ratos

Tuas idéias não corresponde aos fatos...

O tempo não pára.”

(Cazuza)

Filosofia, arte, literatura é para um grupo seleto? Talvez! Hoje, com a

globalização, resultado da indústria cultural, é assim.

Há alguns anos, quando ouvíamos falar nessa palavrinha, o assunto

nos era apresentado da seguinte maneira, como atrativo: informação, inter-

câmbio cultural com outras nações em rápido alcance, política, religião e eco-

nomia sempre seriam atualizados pelos meios de comunicação, pois através

das TVs, rádios com o advento da internet estaríamos sempre “antenados”

com o mundo, sempre com a oportunidade de escrever uma página na histó-

ria. Pois, bem sempre numa transformação imediata de conceitos culturais

pois qualquer assalariado dispõe do minúsculo... Éh! Aquela coisinha que pa-

rece tão insignificante... carregada nas mãos e que tem um poder de distorção

enoooooooooorme! O famigerado celular! HI-FI, HI-POD... é tanto HI que... HI!

Esqueci.. Bom esquecemos então de nossa formação... nossa identidade cul-

tural. Alegando que todos poderia ter esse poder aquisitivo, o celular passa

de um minúsculo objeto à protagonista de nossa realidade, pois todos podiam

ter sem se constranger perante os outros. A tecnologia “de ponta” não seria

de alcance de uma elite apenas, pois estaria à disposição, em suaves presta-

ções. Rápidez e eficiencia na comunicação.Uau!!!

A CULTURA POCOTÓ

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Page 87: Escritos Lençoenses 2014

Porém, nos dias atuais, esta tão almejada globalização se transformou

numa industria marqueteira, que dispensa valores, gerando desumanização,

poistransmiteaoreceptorumaculturapobre...coisificaçãomesmo;vejaare-

forma da língua portuguesa, de passagem, e.... comercial, na qual a informa-

ção perde a essência de seu papel por competições de quem alcança o maior

“IBOPE”, com um palavreado o qual se tornou hilário... aliás? O Hilário já

perdeu o acento ou não? Depende do quanto ficou sentado digitando... kkkk!

Bom! Voltando ao Hilário, esse é que faz com que as pessoas memo-

rizem uma cultura descartável, obsoleta, que chamamos de “Pocotó”, sendo

substituída por constantes vícios linguísticos – “ninguém merece!” “toda tra-

balhada na desordem gramatical!”

O quadro que hoje nos é apresentado, engloba por exemplo, músicas

eletrasrepetitivas,nasquaiso“mano”érei;aMPBétrocadapor“eguinhas

pocotós”;Numalistadosmaisvendidos,o“DiáriodaTati”torna-seumclás-

sico e .... “Prepara! Que agora é o show das poderosas... pois meu amigo, um

grande número de alucinados se dedica em aplicar a mais uma edição do “BIG

BROTHER BRASIL”

Se joga... se joga.... joga.

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Page 88: Escritos Lençoenses 2014

Escrevo

Garatujas e garranchos

Risco e modifico

Palavras e rimas

Às vezes,

Por vezes,

Vem o dom

Inteiro

Muito raro

Do avesso

Que eu encaixo

Instrumento de escrita

Que precisa de musa

Do objeto

À inspiração

Para dar sentido

Vida!

Procuro detalhes

Jogo em palavras

Brincando com as letras

Faço do lúdico

Minha fantasia

Pesco nos sonhos

A poesia.

POETANDO

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Page 89: Escritos Lençoenses 2014

93

Florindo Paccola

Possui publicações em diversos jornais, além de já ter pu-blicado 15 livros.

Page 90: Escritos Lençoenses 2014

Na TV fomos vendo, assistindo,

Acompanhamos o cenário.

Ouvindo, o assunto chama atenção,

Falam em calendário.

Como foco principal o nordeste.

É longa a estiagem.

São cenas que impressionam

A cada lance da filmagem.

Assim é o drama do sertanejo,

Forte e corajoso.

Não desanima, espera valente,

Roga a Deus pelo chuvoso.

As imagens agora estão na cozinha,

Maria ao pé do fogão,

Desolada, mostra a panela,

Vazia, sem o feijão.

TEMPOS DE ESTIAGEM

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Page 91: Escritos Lençoenses 2014

Mas “quá, ta muito difícil,

Hoje nada tenho,

A seca acabou co´a lavoura,

Nem a cabra eu ordenho.

Temos falta de comida,

O barreiro ta secando.

A falta d água é pior,

“Até sede tamo passando”.

Não bastassem estas palavras,

Maria, sofrida, enfatizou.

Emocionada, disse mais essa frase

Que tanto nos sensibilizou.

“A coisa que mais entristece

Nossa gente da região,

É o pote estar seco

“E apagado o fogão”.

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Page 92: Escritos Lençoenses 2014

Chegaram os cabelos brancos,

Os primeiros desapareceram.

O tempo de vida, (a idade)

É a causa dessa transformação.

Brilhe como brilhe

Não importa a loção,

Em qualquer via que trilhe

Chega-se a tal situação.

A panturrilha sente fisgada,

Os músculos vão se enfraquecendo.

O tempo de vida, (a idade)

É a causa dessa transformação.

Calma, nada de pressa,

Observar toda orientação,

A ruga facial aparece

Espelhando a emoção.

TRANSFORMAÇÃO PESSOAL

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Page 93: Escritos Lençoenses 2014

Vez está presente a amnésia,

A fala fica mais lenta.

O tempo de vida, (a idade)

É a causa dessa transformação.

Agir com carinho, tolerar,

Paciência e dedicação.

Quem entende e sabe amar

Compartilha com o coração.

O desfecho? É sempre expectativa,

Muitas vezes até angustiada.

O tempo de vida, (a idade)

É a causa dessa transformação.

Numa série de pensamentos

Que só a pessoa assim imagina,

É crer nos ensinamentos

De uma eternidade divina.

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Page 94: Escritos Lençoenses 2014

O que mais sei fazer?

Ensinar a religião!

Sou um missionário,

Estudei em seminário,

Para isso tenho vocação.

Fã de São Francisco,

Da natureza o padroeiro,

Prego paz e amor,

Como ensina o Senhor,

Abdico ganhar dinheiro.

Momentos de solidão?

Nossa opinião é forte!

Pelos caminhos do mundo

Levo fé ao moribundo,

Ensino o sentido da morte.

Tal como o Franciscano

Falando à humanidade:

Faça sempre o bem,

Não importa a quem

Para se chegar à eternidade.

À SERVIÇO DO SENHOR

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Page 95: Escritos Lençoenses 2014

Larissa de Souza

Orientadora, criadora e escritora do blog Escritora de Gaveta e membro do Grupo de Escritores Lençoenses.

Page 96: Escritos Lençoenses 2014

Escrever é uma forma, que eu encontrei de chorar, sem derramar ne-

nhuma lágrima. Coloco uma música alta no fone e começo digitando tudo

que se passa em minha cabeça e no meu coração. Aprendi a ouvir cada batida

silenciosa de um coração jovem, que é confuso e não gosta de tomar decisões.

Aprendi que erros são necessários quando se trata de viver. Aprendi que os

caminhos possuem uma estrada longa e que vamos nos perder ao longo deles.

Aprendi que nem sempre um sorriso é sincero, e não é sempre que as pessoas

dizem a verdade para você. Aprendi, que escrevendo consigo ver uma parte

de mim que ninguém consegue. Aprendi, que escrevendo posso ir muito mais

além, de tudo que imaginei. Posso sorrir chorando e ninguém saberá, que

meu coração não está bem. Não preciso fingir um sorriso, não preciso for-

çar uma conversa. Sou eu e eu, somente nós. Meu coração e minha vontade

de digitar tudo rapidamente, para não perder nenhuma palavra, que passar

despercebida por meus pensamentos. Penso tudo muito rápido e qualquer

detalhe é resposta, quando se trata de um coração confuso. Escrevo para eter-

nizar esses momentos e pensamentos que são detalhadamente importantes.

Escrever é uma forma, que encontrei para realizar todos os meus medos em

um mundo, que eu sei que não serei julgada, onde não serei só mais uma pes-

soa no meio de um bilhão delas.

CHORAR SEM DERRAMAR NENHUMA LÁGRIMA

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Page 97: Escritos Lençoenses 2014

Por mais que as pessoas tenham medo, elas devem se arriscar, pois

aprendemos que é errando, que vamos tirar algum aprendizado desta nossa

vida. Se nunca tentarmos, como saberíamos que daria certo? A vida nos pre-

para grandes surpresas, algumas boas e outras ruins. Guarde o bom e se livre

do ruim. Acredito, que tudo acontece por uma razão. A estrada segue com

caminhos diferentes e névoas que nos atrapalham. As árvores estão ali para

nos dar uma sombra de proteção. Os pássaros cantam para nos distrair, mas

a estrada está ali, imóvel. Temos que seguir um caminho, uma direção. Olhar

as placas nos ajuda se soubermos o destino para onde estamos indo. Não

adianta de nada uma placa sem a informação que queremos. A placa da vida

só nos apresenta as informações que buscamos. Se escolhermos a direção, as

placas irão nos guiar. E os pássaros? Sempre estarão cantando. Eles não se

calam, este é o som do coração, que nos distrai quando não precisamos. E a

mente? Essa é a névoa que nos atrapalha. E agora? Seguir os pássaros ou a

névoa? Só um conselho: a névoa nos faz parar e esperar que tudo fique mais

limpo para seguir em frente. Pense nisso. Enquanto os pássaros ainda estão

cantando. As árvores chamamos de família, amigos e pessoas que nos amam.

Sempre estarão conosco, para nos dar a sombra necessária para nossa prote-

ção. A árvore mãe é a raiz de nossas vidas. Cuida bem de nós, para que o sol

não fique tão brilhante e nos faça perder o caminho da estrada. A árvore ami-

ga, que nos serve de apoio quando estamos cansados e precisamos descansar

antes de seguir em frente. E vamos assim dirigindo nesta estrada sem fim,

levando nosso coração e nossa mente para longe. E se o caminho acabar? Um

caminho nunca se acaba, ele sempre vai nos dar uma alternativa diferente,

A ESTRADA DA VIDA

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Page 98: Escritos Lençoenses 2014

uma nova rota. Tente seguir em frente, não importa o caminho, só tome cui-

dado, eu tomarei também. Se precisar pare um pouco e se encoste às árvores,

tome um ar, um pouco da brisa leve tocando o rosto faz bem. Não fique muito

tempo encostado, talvez você se acostume com a sombra, busque o sol. Sem

medo, siga em frente, vá seguindo, até onde você quiser parar e quando pa-

rar, pare por pouco tempo. Ainda irá ter muito caminho pela frente e quanto

mais você perde tempo parado, menos tempo você terá de aproveitar todo

o caminho. Vá seguindo. Por mais que as pessoas tenham medo, elas devem

se arriscar, aliás, se nunca seguirmos em frente, como saberemos o nosso

caminho? Como saberemos onde vamos parar? É o seguinte: vá seguindo, até

onde a estrada da vida te levar.

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Page 99: Escritos Lençoenses 2014

Marcos Norabele

Servidor público, psicólogo e escritor, autor do livro O Mistério das Asas de Ápis e outras histórias, é colaborador da imprensa local e responsável pelo jornal Servidor em Ação,

da Prefeitura de Lençóis Paulista.

Page 100: Escritos Lençoenses 2014

O fato mais inesperado e terrível da minha vida aconteceu hoje. Eu me

tornei um agressor. O dia traz surpresas amargas até mesmo para aqueles

de natureza pacífica que, infelizmente, num momento, podem ser arrastados

pela agressividade. Uma prova que sou da paz é que tenho um irmão gêmeo,

mas não somos idênticos, apesar de muito parecidos. Nossa grande diferença

é que eu sou destro e ele é canhoto. Quem tem irmãos há de concordar que

digo a verdade sobre a minha natureza pacata. Quem nunca brigou com um

irmão? Pois então, eu e ele nunca brigamos.

Mas o que está doendo bem aqui dentro é culpa ou remorso, eu sei.

Fui forçado a agredir meu grande amigo, o Pedro. Que isto fique bem claro:

fui forçado a agredi-lo e talvez, para minha desgraça, ele não entenda e não

me perdoe. Vi isso nos olhos dele. Agora estou aqui, aflito, com isso me cor-

roendo por dentro. Ele é um amigo de verdade e fazemos quase tudo juntos.

Quando nos conhecemos, gostei tanto dele que até à Missa eu fui com ele, e

eu nem batizado sou. Olha só como somos grandes amigos. Naquele dia, fui

avisado que isto podia acontecer, mas não acreditei.

Espero que o leitor entenda meu alerta do perigo de nos tornarmos

agressivos mesmo sem querermos. Isso é muito verdadeiro no meu caso. Eu

jamais quis bater no meu amigo. Sempre que estivemos juntos fiz de tudo

para ser um bom e prestativo companheiro. Aliás, sempre o protegi. Sou as-

sim, meio protetor. Mas isso não impediu que em questão de segundos eu o

agredisse. Não por minha vontade, que fique claro outra vez, mas usado por

outra pessoa eu fiz isso. Eu fiz...

Essa culpa agora não me deixa. E se ele não me perdoar? E se ele não

quiser mais ser meu amigo? O que farei? Devo entendê-lo. No lugar dele eu

O AGRESSOR

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Page 101: Escritos Lençoenses 2014

também talvez não perdoasse. Meu irmão, o gêmeo, viu tudo. Ele fica calado.

Por certo está também me condenando. Melhor mesmo que ele não diga nada,

não preciso de mais ninguém para me acusar. Já estou fazendo isso comigo.

Talvez, meu irmão, que viu tudo, esteja pensando que o agressor poderia ter

sido ele e por isso esteja calado, após perceber como podemos nos tornar

violentos em questão de segundos. Ele também viu como Pedro, o meu amigo,

chorou aos berros depois da agressão inesperada. Eu também vi. Nunca vou

esquecer a imagem. E como isso dói em mim. Eu não queria que nada disso ti-

vesse acontecido. Juro! Eu até estava quieto no meu canto, pacífico como sou.

Foi tudo culpa daquela mulher. Ela me usou contra o Pedro. Foi ela.

Estou com medo. O que poderá acontecer comigo agora? E se depois des-

ta primeira vez eu me tornar um agressor contumaz? Se minha natureza pacífi-

ca se desvirtuar e eu me tornar o oposto do que sou? Violento? Não posso! Devo

lutar contra isso, porque, confesso, senti uma pitadinha de prazer enquanto

batia no Pedro. Estou com vergonha de admitir, mas sei que senti, não posso

esconder de mim mesmo, e isso é o que mais me dói. Jamais deveria ter desco-

berto isso em mim. Essa parte escura e vergonhosa do meu ser nunca deveria

ter sido revelada. Eu não a quero. Olhe o que aquela mulher fez comigo. Quando

fui a Missa com Pedro, o Padre disse que uma mulher fez um tal Adão cometer

um crime terrível. Naquele dia não acreditei. Ainda não havia descoberto como

elas são de verdade. Agora eu acredito, porque uma mulher também me fez

agredir meu amigo Pedro e meu irmão viu tudo sem poder me impedir. Ele é

testemunha que falo a verdade. Foi ela que me usou. Pobre de mim...

Não aguento mais, vou contar como foi. Isto está me destruindo desde

que aconteceu. Foi tão rápido. Eu estava no meu canto, pacífico como sou. De

repente, ouviu-se um barulho e algo se despedaçou no chão com frutas rolan-

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Page 102: Escritos Lençoenses 2014

do para todo lado. Foi ai que ela, a mulher furiosa, apareceu e me pegou com

violência e, usando-me, sem que eu pudesse resistir, aplicou três ou quatro

golpes na..., no bumbum do Pedro, enquanto gritava:

- Já falei mil vezes para você não subir na mesa, Pedro! Já falei! Tei-

moso! Agora vai pro seu quarto até eu te chamar para almoçar! E não ande

descalço porque tem pedaços de louça no chão! Teimoso!

Ele me olhou, antes de ir pro quarto, daquele jeito, com a carinha cheia

de lágrimas escorrendo dos olhinhos tristes, e não me colocou em seu pezi-

nho direito como sempre faz. Deixou-me no chão onde a mulher me atirou,

após me desvirtuar daquele jeito. Neste momento eu soube que ele não me

perdoaria.

Sei o que está pensando, leitor. Que ele mereceu por ser teimoso. Con-

cordo. Quer dizer não concordo. Tem coisa muito errada aqui. Meu irmão, o

Esquerdo, pensa do mesmo jeito. E de toda essa tragédia decidimos produzir

algo de bom. Vou iniciar um movimento para que seja aprovada uma lei proi-

bindo, em qualquer circunstância, que pacatos chinelinhos com estampa do

Ursinho Pooh, sejam desvirtuados, contra a vontade, em agressores de náde-

gas infantis.

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Page 103: Escritos Lençoenses 2014

Todos os bichos viviam em harmonia na floresta, mas entre eles havia

um que sempre causava problemas. Ele era inteligente e determinado, porém

muito orgulhoso. Gabava-se de sua inteligência e se dizia professor disso e

daquilo, não suportava que alguém soubesse mais do que ele. Sempre queria

ter a última palavra e se alguém discordava, era briga na certa. E os bichos

diziam entre si: “Com tanta inteligência ele poderia fazer muito bem para

todos, mas o orgulho estraga tudo, ele só pensa em si próprio.”

Ignorando a opinião dos outros a seu respeito o bicho orgulhoso con-

tava vantagem de tudo e suas coisas tinham que ser melhores que dos outros.

Gabava-se de sua toca, que segundo ele era a melhor da floresta. Seus pelos

eram os mais sedosos, sua comida era melhor.

Porém os bichos não suportavam mais a convivência com alguém as-

sim, e Mãe Natureza, que tudo vê, decidiu intervir. Queria de algum modo que

o bicho mudasse sua maneira de ser. Mandou-lhe então, um aviso: “Deixe de

ser orgulhoso, ou poderá sofrer muito.” Mas o bicho nem se importou, porque

ele tão bonito, inteligente, bem sucedido deveria ouvir a Mãe Natureza. Ela

que cuidasse dos pobres coitados que ele estava muito bem

O bicho não deixou alternativa e Mãe Natureza, ditou a sentença: “Seu

orgulho é imenso. Pois bem, tão grande quanto seu orgulho será o fedor que

exalará.” A partir daquele dia, o bicho se tornou fedorento, e nenhum outro

animal podia se aproximar dele sem vomitar. Mas nem isso o fez mudar. Ele

andavapelaflorestadizendoaosoutros;“Omeufedorémaiorqueoseu.”ou

“eu sou mais fedido que você.” A partir daí ele ficou ainda mais só, afinal o

orgulho fede e espanta os outros. Foi assim, que surgiu o Gambá.

O BICHO ORGULHOSO

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Page 104: Escritos Lençoenses 2014
Page 105: Escritos Lençoenses 2014

Mariana Prado Zillo

Criadora e escritora do blog Primeiros Espaços, ainda não possui livros publicadas.

Page 106: Escritos Lençoenses 2014

Sei de um homem que desaprendeu a viver.Tudo culpa dessa vida,Aperta tanto nosso tempo Que passa pela fechadura.Vida estranha essa,Amargura.

Sei de um homem que pagaria [ para ser de novo criança,Voar mais alto como aquela pipaE deixar de ser pião.Gira sem sair do lugar,Decepção.

Sei de um homem que estava cego,Cego de tanto ver.Sem enxergar um palmo diante dos olhos,Cego e morto também.Preso na rotina,Refém.

O homem que eu seiDecidiu: chega!Quis voar alto como a pipaE foi saindo dessa vida.SaindoIndoFoi-se. Poetizou-se.

CHEGA

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Page 107: Escritos Lençoenses 2014

Heloísa tem o cabelo curto, usa óculos grandes e vai para a faculdade

usando galochas. Sabe como é, sempre chove em São Paulo. Ela sacode a água da

sua maleta cheia de livros e um estojo e sobe as escadas para a primeira aula.

Como sempre, as meninas de Moda olham dos pés à cabeça. Principal-

mente os pés. Galochas amarelas? Heloísa finge que não vê e nem ouve os sus-

surros. Sorridente, continua andando. É a única da faculdade que fala “boa

noite” ao faxineiro, que esboça o único sorriso do dia exclusivamente para ela.

Andando pelo corredor gelado da faculdade, Heloísa percebeu que a

maioria dos alunos usava fones de ouvido e não conversava com ninguém. Cla-

ro que ela mesma gostava de música, mas preferia cantar com seus amigos da

sua cidade natal. De dia, enquanto enfrentava o trânsito até o estágio na biblio-

teca, tentava ouvir se, no meio de tantos carros, existia algum passarinho.

Faltavam alguns minutos para a aula começar, então Heloísa sentou-se

na carteira de sempre: a segunda da terceira fileira. Tirou da sua maleta seu

livro favorito e começou a ler, sentindo que as palavras a protegiam a cada

frase lida. Aquele livro era o seu favorito de sempre, tipo aquele sapato que

você quer usar sempre e de qualquer jeito, que já foi com você para todos os

cantos. O livro estava um pouquinho amassado na capa, mas Heloísa sempre

cuidava dele com muito carinho.

Seus colegas de sala foram entrando. Alguns a viam e diziam “boa noi-

te” (alguns, tipo, quatro em uma sala de quarenta), alguns passavam reto e

alguns olhavam para o livro dela e riam.

- De novo esse livro, Menina da Galocha? Cresce logo! Vai ler alguma

coisa diferente, alguma coisa mais culta!

Não é que Heloísa não lia outros livros. Na verdade, ela tinha uma infi-

nidade deles espalhados pelo seu apartamento. Mas ela gostava mais daquele.

PREOCUPE-SE EM SORRIR

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Page 108: Escritos Lençoenses 2014

Gostava tanto que queria lê-lo todo dia.

- Você já leu esse livro? - Heloísa sorriu e perguntou, ignorando a fra-

se dita - É ótimo, acho que você ia adorar.

- Esse seu livro babaca? Qual é, nunca perdi meu tempo nem lendo a

sinopse! O dia que você ler um dos que leio, merecerá algum respeito.

Enquanto a pessoa ia embora rindo, Heloísa se sentiu confusa. Para

ela, ler era como trocar figurinhas: um indica um livro para o outro e troca

ideias. Mas não se faz troca com uma só pessoa. Preferiu se calar. Mais tarde,

naquela quarta feira, metade da faculdade seguiu para a balada que tinha por

ali, mas Heloísa preferiu ir para casa, dormir cedo para ir de bicicleta ao tra-

balho no dia seguinte. Quem sabe não ouvia um pássaro cantar...

O tempo voa. Heloísa terminou sua faculdade de Biblioteconomia na

Inglaterra e ficou morando por lá. Enquanto isso, outros ficaram para trás,

mais preocupados em cuidar da vida dos outros do que sorrir.

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Page 109: Escritos Lençoenses 2014

Michel Ramalho da Silva

Ilustrador, designer, diagramador, escritor, co-criador das obras do Estranha Melodia, criador das tiras do Estranha Noite,

escritor da obra Pergaminho dos Sonhos e ilustrador desta obra.

Page 110: Escritos Lençoenses 2014

De repente

O mundo adormeceuE era belo.Era o som da morte que trazia a vida.Nostálgica é hoje, a terraE feliz, teu interior.

Tempo...Não houve tempo.Tiveram uma vida todaMas de repente percebeu-se que não houve tempo

É o ultimo dia de folego e vida,Mas de repente não se pode mais cansar-se dela.Não há mais tempo de abraçar,De beijar,De amar,De odiarOu matar.

Logo não haverá carne para sangrar.Logo não haverão olhos para chorar.Logo não haverá mãos para alcançar e nem corações para magoar.Logo o homem não será nada,E o nada será tudo,Como se esses velhos ou novos temposJamais tivessem existido.

Deus morreu,E, para sua maior tristeza,Não haverá inferno ou paraíso.

25 DE SETEMBRO

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Page 111: Escritos Lençoenses 2014

Para sua rápida insanidade,Depois não haverá nada,E agora tudo o que você pode fazer é nada.Arrepender-se do que não fez será o mesmo que atirar para o espaço,Provavelmente menos.Chorar pelas lembranças que você jamais teveÉ todo o sentimento que poderá tomar conta por completo de ti,Pois nesse momento, pode ser o único sentimento capaz de preenche-lo.

A vida passouE você realmente fez muitas coisas:,Brigou demaisGritou demais, mas de ódio,Matou demais,Trabalhou demais,Se irritou demaisE entende agoraQue sorriu de menos,Que abraçou menos,Que amou menosE que tem pouquíssimas lembranças que se fazem valer a pena agora,No fim.

Agora você vê uma luz,E não haverá som, cor, sabor ou cheiro.Não haverá grande ou pequeno,Forte ou fraco.Não haverá bem ou mau,Não haverá mais tristezas,Não haverá mais alegrias,Não haverá mais nada para lamentarEm 3, 2, 1...

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Page 112: Escritos Lençoenses 2014

Há horas em que não se pensa,

O proibido de fato é um encanto.

Melhor um momento ou uma vida?

O preço do erro é o pranto.

Talvez alguém julgue covarde,

Mas partir não é desistir.

Apenas fugir da tristeza,

Somente voltar a sorrir.

Não sou hoje a sobra do ontem,

Tão pouco a visão do depois.

Sou desejo de um hoje divino,

Sedento que seja a dois.

Então venha a mim bela musa!

Já provamos o amargo do fel!

Provemos de novo da vida,

Sem roupas, sem pelos, sem véu!

Sejamos agora amantes,

Do tipo que sabe o quer.

Que eu seja hoje o teu homem,

E tu senhorita, minha mulher.

O PREÇO DO ERRO

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Page 113: Escritos Lençoenses 2014

Onde estão as mãos

Que ao final de cada dia permanecem estendidas?

A parte do tempo onde mora o momento

Em que pode chamar-se o leito e encontrar o paraíso?

É realmente preciso chegar e partir,

E encontrar a saudade logo depois de sorrir?

Nostálgico é o cheiro das flores invisíveis,

Do abraço solitário,

Das noites em que não se fazia necessário

O “sim” ou o “não”.

É a maldição do poeta

Que alimenta sua triste alegria

Com ilusões,

Insistente em crer no que não existe no aqui.

O pranto se torna em ponta,

Daquelas de felicidade,

Um dia sonhada, não solitária,

E logo mais vivida.

SEM RAZÃO

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Page 114: Escritos Lençoenses 2014

A estrada viu o brilho de cada lágrima.

E doeu no corpo o batismo noturno da chuva,

Dessas de verão,

Em que o fim se fez inicio,

E logo um eterno adeus.

Enfim.

Ditamos um preço,

E de fato pagamos.

Proclamávamos o certo,

Mas ao todo erramos.

Falamos de morte,

Mas terminarmos por ter nossas próprias vidas.

Ao menos nos restam belas palavras.

Obrigado tempo,

Por fazer de cada um,

Um escravo da intuição irracional,

E razão que, infelizmente, não é nada emocional.

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Page 115: Escritos Lençoenses 2014

Milton Moretto

Possui publicações em jornais de Lençóis Paulista e Bauru, participou da coletânea Poemas da Minha Terra (2002) e do

concurso em comemoração aos 150 anos da cidade.

Page 116: Escritos Lençoenses 2014

Olhar perdido

no espaço vazio,

Escuro da noite,

aquele arrepio.

No fim do túnel,

uma pequena luz

mostrando o caminho

que a vida conduz.

É a luz do farol

do trem que carrega

problemas, angústias,

que vem e atropela,

Ou tudo não passa

de uma miragem,

Ou é um vaga-lume

só de passagem?

Será uma visão?

Ou é mesmo a saída

Pra minha salvação,

A luz da minha vida.

UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

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Page 117: Escritos Lençoenses 2014

Vejo aquela paineira na beira da estrada,Embaixo, uma velha carroça toda empoeirada,Que serve de abrigo pros bichos e pra passarada,Que se desfaz com o tempo, é o fim da jornada.

Logo me vem as lembranças dos tempos de outrora,Quando o papai, sorridente, me levava à escola,Ia me dando conselhos, contando histórias,É como um filme gravado em minha memória.

Ao abrir a porteira, ouço o barulho do rio,Bem ao longe, o latido de um cão vadio.Naquela velha palhoça de barro e de sapé,Uma velha senhora fazendo café.

Vejo um forno de lenha pra fazer o pão,O chiqueiro com porcos e o mangueirão,Um bem formado canteiro, verduras fresquinhas,Ciscando todo o chão, se reúnem as galinhas.

Eu me vejo correndo, descalço, com o estilingue na mão,Fazendo mil travessuras, chamando atenção.Passagens de uma infância, que vivi por aqui,Onde papai e mamãe foram muito felizes.

Só penso agora em comprar estas terras de novo.Quero fugir da cidade, daquele alvoroço.Quero curtir a natureza, quero a paz para mim,Quero viver com a família neste recanto feliz.

Saudades da roça, da vida singela,Suor do caboclo lavrando a terra.O sol tem mais brilho, a lua é mais bela,Océuémaislindo;Nãovivosemela.

SAUDADES DA ROÇA

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Page 118: Escritos Lençoenses 2014

Quem não a conhece, não imaginaComo ela é rica e hospitaleira,Em cada quadra, em cada esquina,Ela mostra a sua grandeza.

Tem um progresso tão grandioso,É uma cidade que tem um povoTão incansável e otimista,De seu passado, é orgulhoso.

Futuro risonho com seu crescimento,Há gente chegando a todo momento,E ela os acolhe com todo carinho,Como se fossem seus filhos queridos.

Lavoura, indústria e comércio crescentes,Garantem o emprego de tanta gente,“Cidade do Livro” com sua biblioteca,Acervo famoso de Origenes Lessa.

A cana de açúcar, o aguardente afamado,A videira, o vinho, o café e o gado.Na cultura, as artes e também os esportes,Sua orquestra sinfônica dita os acordes.

Esse é o dia-a-dia de uma grande cidade,Cidade importante que a todos cativa,Onde se encontra a felicidade,Essa cidade é Lençóis Paulista.

NOSSA CIDADE

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Nelson Faillace

Jornalista da Tribuna Lençoense com a coluna de crônicas e a coluna Recordando, com fotos antigas, publicação de três livros (A Saga de Lençóis, Santuário Arquidiocesano Nossa Se-nhora da Piedade: 150 anos e Crônicas e Histórias Lençoenses).

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TEMPOS PRIMEIROS

“Os primitivos exploradores ao alcançarem esta regiãoFaziam dos rios sua via de penetração”!

Assim Alexandre Chitto inicia seus estupendos relatos,Da conquista desta amplidão desenhando autênticos retratos.

Acampavam às margens dos rios, entradas dos campos e das matas,Realizando incursões primeiras àquelas regiões intactas.

Companheirosarranchadosnaretaguardaoapoionecessáriofixando,Arriscados a embates com os índios, sabedores de suas vidas perigando!Jamaispossuíramessesselvagensdessasterrasescriturascartoriais;

Partindo dos remotos tempos primeiros eram suas dês os primos ancestrais!A eles solenemente outorgadas as escrituras reais e mais sagradas,Desde os primórdios solenemente pelas Mãos Divinas abençoadas!

Após séculos ultrapassados o civilizado reconheceria,Que melhor e mais digno destino aquela simplória gente merecia!

Conta-nos com detalhes o historiador:“Em campo aberto aos brancos eles temiam

E os silvícolas somente na certeza da plena superioridade é que agiam”,Mormente quando amanhando o solo lidavam os novos colonizadores:“O silvícola teria sido sempre um grave problema aos exploradores”.

De Felíssimo Antônio de Souza, um fato conhecido, bem relatado,No ano oitocentos e cinquenta e oito, por um forte grupo de índios atacado,Na sua fazenda, ele junto à sua família, por milagre verdadeiro escapando!

Terras essas distantes de Lençóis na região Bauru hoje se localizando.

Nos idos de oitocentos e sessenta e sete um pesadelo em vasta região,Em desespero combatiam para conter de suas terras a inexorável invasão!

Mas contra trabucos e possantes carabinas, de pouco valeriam seus tacapes,Suasflechas,suaslançasebordunaseasingênuastáticasdecombates!

REFLEXÕES SOBRE “A SAGA DE LENÇÓIS”

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Pela civilização um destino já traçado: a conquista, a vitória a qualquer preço,O índio fatalmente dominado não importando serem deles dês o berço!

Seu espaço conquistado, suas terras ocupadasE sua gente, suas tribos implacavelmente dizimadas!

BOCA DO SERTÃO

“Deinícioaquilotudoerasertão,“Aosíndiososconfinsdaimensidão”!Entre eles, raro confronto constante, na disputa à caça mais abundante,

Ou, no “romantismo civilizado”, arrebatando a bela donzelaDesnuda na mata, lépida gazela!

E o homem branco do nada surgindo, tudo conquistando, Como entender o índio esse processo, como saber o sentido do progresso?

Se há mil anos tranqüilos ali vivendo, a caça e a pesca seu próprio sustento.Como entender o senso da ambição? Jamais em tempo algum tal sentimento,

Brotou em suas almas junto aos seus, seres feitos à imagem de Deus!O espírito aventureiro ao derredor, a busca de riquezas, quinhão maior.

Estender caminhos alargar fronteiras, ponto de partida empunhando bandeiras!Último reduto da civilização justamente chamado “Boca do Sertão”,

Dali zarpando novas expedições conquista dos rios, serras e banhadosRasgando o serrado, a foices e machados!

Dos silvícolas inúteis as reações, como impedir à força as invasões?Morada secular dês o primo albor, sucumbiam ao indômito invasor

E a obsedante vontade de conquista marcava a história do desbravador.

A CONQUISTA

Todos cantam a sua terra, o poeta recitava,Assim também cantarei, mesmo sendo alienígena!Nossa terra tem histórias o passado uma legenda.

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Tem labuta, muita luta, vitórias e traição,É história verdadeira e não uma simples lenda,

Tem bravatas e conquistas, glórias e muita ação!Cantemos loas a esses bravos, desvendando sertões maravilhosos,

Aventureiros em uma saga verdadeira, investida de pioneirosDesbravando matas, buscando riquezas nesses anos primeiros.

Idos de setecentos quão ingentes sacrifícios vencendo corredeiras,Serras vales e veredas: à frente a selva inóspita, para trás seus amores,

Barcos singrando as águas ou terrenos pantanosos,Adentravam o continente, sem receio, sem temores

Em busca das terras ricas ou tesouros fabulosos!Da virgem mata segredos desvendados frente a própria natureza.

Dois séculos passados após mil e quinhentos, daqueles herdaram as valentiasEm odisséia de embates violentos, vera epopéia demarcando as sesmarias.D. João VI imperava e sua a decisão, a quem seriam dadas as “sesmarias”.Foi Antônio Alves Cardia na região, o felizardo a um pedaço desse chão:

“Uma légua de testada com duas léguas de Sertão”,

E SURGE O NOME – LENÇÓIS !

Mas a história não para e logo um aventureiroVindodedistantesterrasaonossorincãoaportou;

Francisco Alves Pereira pelo Tietê navegandoEm busca de novas terras, a sua caravana largouLevadopelaambição,atodosatormentando;Umgrupodecompanheirosaoseuladoficou,Deixando o rio maior em busca de paradeiro,

Pelo rio menor se aventurou: “Capricho de um momento”.

Assim se fazia a história, sangue de aventureiro,Arrojo, muita coragem, grande desprendimento!

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Lutando contra intempéries, abrindo novas picadas,Subiam o pequeno rio e suas cem corredeiras.

Francisco Alves Pereira lidando contra barreirasNa dura lida com a mata, jornadas extenuantes,

Corriam por entre as pedras as águas sempre espumantes.Mas dentro dessa rudeza, dias e dias lutando,Sobraraalgumapoesiaumsentimentoficara;

Olhando atentamente as águas nas pedras rolantes,Teveprofundainspiraçãonasespumasflutuantes:“Companheiros para nós este é o rio dos lençóis”!

Fazendo de tais “lençóis” permanente discussão:Seriado“favorito”suaorigemfinalmente,

Aquele mato abundante balouçando sob o ventoOcupando o chapadão, verde vivo, reluzente,Um formidável tapete, inquieto, imanente?

Ouseriaagabirobanumgrandelençoldeflores,Sob a brisa das manhãs um quadro resplandecente?

Esclareçam esses fatos futuros historiadores!

Francisco Alves Pereira destemido Cortando a mata, do vento um suave aulido,

Do rio pequeno às margens vicejantes,Embeveceu-osuasondasespumantes;Enamoradoaocursod’águarutilante;

“Poéticos lençóis do rio”, eternos em sua menteEsplêndida visão de Francisco Alves Pereira!

Como olvidaria a sua impressão primeira:“Rio dos lençóis”, poesia verdadeira!

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Paulo Jacon

Jornalista, sócio proprietário do Jornal Opinião, que circulou em Lençóis Paulista e região entre 2007 e 2009, publicou

seu livro Alguns Contos e Outras Crônica em 2012.

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Aquela caixinha estava lá desde sempre. Vermelha, pequena, com uma pe-queninapedra colorida coladanaparte superior eumafita , tambémcolorida,mantendo a caixinha fechada com um lacinho. Provavelmente ninguém se lembrava de onde e nem quando ela apareceu. Primeiroficounomóveldatelevisão.Depois,naprateleiradevidroqueguardavaospratosetalheresmaisfinosdacasa,depoisfoipararnaestantedelivros no fundo do corredor que dava para os quartos. De vez em quando alguém passava um pano nela para tirar a poeira, mas nunca tiveram a curiosidade de abri-la. Houve duas mudanças de casa e a caixinha continuava sendo levada para láeparacáeacomodadaemalgumcanto.Porvezesnemàvistaficava. DonaRosa,viúva,játinhaseus82anosemoravacomafilhaAméliaeseugenro Rubens. Os netos já tinham casado e moravam em cidades vizinhas. A rotina da Dona Rosa era sempre a mesma : arrumar a casa, fazer comida (embora só ela almoçasse em casa), lavar a louça e as roupas e ainda preparar o jantarparaafilhaeogenro. Embora limpasse cuidadosamente os móveis da casa nunca prestou muita atenção àquela caixa. Mas,umbelodia,semnenhumarazãoespecífica,DonaRosaquaseabriuacaixinha ao fazer a limpeza. Sabe-se lá porque uma inesperada curiosidade foi despertada nela. Mas no momento em que ela decidia se abriria ou não a caixinha, o telefo-ne tocou. ErasuaamigaClaricequegostavadeumaconversaeasduasficaramali,papeando ao telefone, por quase uma hora. Claro que Dona Rosa se esqueceu de sua repentina curiosidade.... Novamenteacaixinhaficoualisemsernotadapormuitotempo. Eassimosanossepassaram,DonaRosaveioafalecer,bemcomosuafilhaMaria Eugenia. Desta vez a casa foi vendida e a caixinha não foi com a mudança. O genro Rubens estava apressado em se desfazer da casa para pagar as dí-vidas acumuladas e nem se preocupou em resgatar todos os móveis e utensílios da

GUINÉ

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velha residência. Levou apenas o que achou que usaria com mais urgência. Aliás somos todos assim. Vivemos da urgência. Quando os novos proprietários assumiram a casa também não cuidaram de verificardetalhesdoquesobrounacasa. Só um cuidadoso observador poderia se incomodar com a velha caixinha vermelha e sua pedra colorida que desta vez estava perdida no meio de velhos porta-retratos vazios espalhados pela sala da casa. Portanto ela foi encaminhada ao sótão junto com as coisas que os novos proprietários haviam trazido e que também não se sabe por que tinham trazidos. Não usavam mais e nem usariam. Velha mania de guardar coisas que não usamos mais... Acaixinhaficoualiaoladodeumvelhopianinhodebrinquedoquedeve-ria ter servido de presente para alguma criança e que depois de usado também foi abandonado. O sótão era pequeno e o teto mais baixo, o que fazia com que pessoas mais altas tivessem que se abaixar para entrar nele. Tinha ainda uma gaiola grande que deve ter sido abrigo de alguma ave faceira e alguns colchões, rasgados e maltratados pelo tempo, além de um velho guarda-roupa de pinho. Coisas esquecidas. O mesmo com a vida. Pessoas usadas e esquecidas na longa jornada desta nossa existência. Um belo dia um garotinho de 6 ou 7 anos, neto da nova proprietária da casa, entrou naquele sótão a procura de algum brinquedo e acabou derrubando a velha caixinha vermelha. Não se sabeomotivo,maso fato éque ele aopegá-laficouobservandocurioso e resolveu abri-la. Desfezolacinhodafitacoloridaeabriudelicadamenteacaixinha. Dentro dela encontrou uma chave pequena e bem trabalhada e também um bilhete. Como ele ainda não sabia ler resolveu mostrar à sua avó.Leticia era uma mulher jovem, perto dos 50 anos. Casada com o Paulo havia quase

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30anosequelherendeuumafilha,Marina,eseuneto. Ela leu o bilhete que dizia : “Cuidem bem do Guiné”. Leticiaintrigadavoltouaolharachaveeficouimaginandodoquesetratava. Claro que aquela caixinha não pertencia à eles, deduziu ela, portanto de-veria ser dos antigos proprietários da casa. De qualquer forma, como sempre fazemos, ela não deu muita atenção ao detalhe e nem se interessou pelo assunto. Deixou a chave e o bilhete num canto qualquer, que provavelmente teria comodestinofinalalgumlixodacasa,evoltouaosseusafazeres. Por causa disso nunca saberemos quem ou o quê era o Guiné. Poderia ser um livro, ou um quadro, quem sabe um animal de estimação! Quem sabe....

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Page 129: Escritos Lençoenses 2014

Usana Buranelli

Gosta de escrever por hobbie, principalmente após sua aposentadoria como professora. Já publicou dois livros:

Diana, uma história que a vida escreveu e Caracol.

Page 130: Escritos Lençoenses 2014

A abelha laboriosa, atraída pelo perfume,

Voa em busca do néctar de flor em flor.

O tubarão faminto, para dominar o cardume,

Emite ondas eletromagnéticas, causando pavor.

A abelha amiga usa os seus talentos

Para oferecer para toda a população,

O mais precioso dos alimentos

E contribui para as flores na sua fecundação.

O tubarão inimigo usa a força de sua natureza,

Exclusivamente para conseguir a sua alimentação.

Com a ferocidade assombrosa, domina a presa,

Devorando a cria, ameaça a sua própria extinção.

O homem atraído por Deus de amor,

Oferece seus dons a favor da humanidade.

O homem dominado pelo maligno é pecador

Carrega na sua alma o preço das suas maldades.

“Ninguém procura por Deus se

Deus já não o tenha procurado.

Deus que atrai.”

A ABELHA E O TUBARÃO

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Page 131: Escritos Lençoenses 2014

Thomas é um gato

Não gato gato

Gato que vai à escola

Gato que bebe coca-cola.

Thomas é um gato

Não fica como gato

Dormindo na poltrona

Ele é fã da Madonna.

Thomas é um gato

Não gato-do-mato

Gato que masca chiclete

Gato via internet.

Thomas é um gato

Não tem focinho de gato

Quando beija na boca

Deixa a gata meio louca.

O GATO

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Page 132: Escritos Lençoenses 2014

Thomas é um gato

Não faz como gato

Serenata no telhado

Quando está apaixonado.

Thomas é um gato

Não arranha como gato

Gato que sabe o que faz

Ele não pula para trás

Thomas é um gato

Mais gato dos gatos

Gato sem preguiça

Gato que vai à MISSA.

Miau...

“A missa é a oração mais poderosa da terra, uma missa bem rezada pode salvar o

mundo”

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Page 133: Escritos Lençoenses 2014

De manhã

Abro a janela para ver o sol.

Ele simboliza Jesus

Com o calor de seu amor

Ele me aquece.

Com brilho de sua luz

Ele me conduz.

Quero ser um girassol humano,

Tendo Jesus sempre em minha direção.

Outros caminhos são meros enganos

Que só atrapalham a nossa razão.

As sementes do girassol têm valor.

Servem de alimentos aos passarinhos.

As sementes de Jesus são palavras de amor,

Mostrando que Ele é o verdadeiro caminho.

“Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida.”

O GIRASSOL

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Page 135: Escritos Lençoenses 2014

Valentina do Carmo Bonalume

Participou de várias Antologias, entre elas, a primeira edi-ção do livro Escritos Lençoenses, além de concursos literário

por toda a região.

Page 136: Escritos Lençoenses 2014

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Te amei...

Como o sol ama com intensidade

A beleza do amanhecer

A cada novo dia!

Como a lua ama com liberdade

A escuridão da noite vazia

Como a brisa ama a natureza

Que as vezes toca com rebeldia

Como a flor ama o caule

Que a sustenta trazendo energia

Como as águas amam o oceano

E tua maresia

Como o arco-íris ama o prisma

Que lhe serve de guia

Como as chuvas amam as nuvens

E toda a sua magia

Como a natureza ama a terra

Que lhe doa a vida com sabedoria

Como o amante ama aquele,

que lhe transforma

E todo o teu ser logo irradia

Mas esse meu amor

Vasto, imenso

Que só me envolvia

Não aguentou a dor

E a covardia desta tua alma vazia...

TE AMEI

Page 137: Escritos Lençoenses 2014

Como é difícil... Desviar meu olhar

Deste teu olhar Encarar o vazio Pra não te notar Sufocando a dor

Que só quer me matar Como é difícil...

Te ver sorrir Sem me encontrar

Olhar teu semblante Tão séria ficar

Te sentir bem pertinho E me controlar Como é difícil...

Desejar teus lábios Sem me maltratar

Cobiçar o teu corpo Sem por dentro chorar

Te amar por inteiro E me enganar

Como é difícil... Me fechar no silêncio

Pra te alegrar Corroendo o meu ser

Por tanto te amarDestruindo o meu mundo

Onde é o teu lugar!!!

Ah! Como é difícil!!!

É DIFÍCIL

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Page 138: Escritos Lençoenses 2014

Fez-se então a noite

E a escuridão

Sentei na janela

E vi surgi a bela

A lua divina

Com o teu clarão

Viajei pelo tempo

Naquele momento

Só sentindo a brisa

Suave a tocar-me

Com as tuas mãos

Sobre este meu corpo

Que veloz flutuava

Sem destino e sem pressa

Pela vasta imensidão

Ganhando cosmos

Vencendo a galáxia

Em meio as luzes

Que ofuscava a escuridão

Estava distante

Porém ansiava

Teu sembrante divino

Me fazendo um menino

A vencer a imensidão

De repente então,

NOSTALGIA

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Page 139: Escritos Lençoenses 2014

Algo eu senti

Um perfume suave

Que real e marcante

Ganhou toda dimensão

Me levando a vagar

Sem destino e sem pressa

Pela vasta imensidão

Cheguei até

A sentir os céus então

Quando duas mãos

Tocou minha face

E teus lábios divinos

Saciou minha sede

De amor e ilusão

Acordei aos prantos

Em frente a janela

Com uma luz tão bela

Da lua suprema

Que invadia a noite

Com o teu clarão!!!

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Wanderley Pires de Andrade

Possui publicações nos jornais Tribuna Lençoense e Jornal dos Aposentados e na Rádio Difusora.

Page 142: Escritos Lençoenses 2014

Olho e vejo coisas acontecendo

que jamais imaginaria, um dia

mas está acontecendo frequentemente...

Chuvas fortes e ventos, levando destruição

a todas os lugares no passado.

O homem está mais preocupado com a economia mundial

Esquecendo, que se não existir um meio ambiente, não haverá progresso.

Com a destruição do meio ambiente não tem como progredir.

Só restará miséria e destruição.

Está na hora de alguma coisa ser feita, enquanto há tempo.

Vamos lutar contra esta situação,

progredir com o crescimento sustentável.

Em plena harmonia, só assim deixaremos para

nossos dependentes, um meio ambiente favorável à vida,

Sem danificar o meio de se viver.

MEIO AMBIENTE

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Índice de Imagens

Página

4(sup)

4(inf)

12

26

32

38

44

Descrição

Escritores amigos pessoais de Orígenes

Lessa, em frente à BMOL, durante a Ca-

ravana de Escritores de 1986.

Escritores lençoenses durante encon-

tro realizado dia 24/09/2013, na Biblio-

teca Ramal II, na Cecap.

Orígenes Lessa em sua residência, no

Rio de Janeiro.

Orígenes Lessa em uma de suas visitas à

BMOL.

Fachada da BMOL, antes da ampliação

realizada entre os anos de 2013 e 2014.

Espaço Cultural “Cidade do Livro”.

José Antônio Marise e Ézio Paccola na

posse de Orígenes Lessa na Academia

Brasileira de Letras, em 1981.

Imagens do acervo da Biblioteca Municipal Orígenes Lessa

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Índice de Imagens

Página

62/66

76

104

124

134

140

Descrição

Estantes de livros na BMOL.

Estantes de livros na Biblioteca Infan-

til Monteiro Lobato.

Estantes de livros na Biblioteca Ramal III,

no distrito de Alfredo Guedes.

Estante de livros em Braille, na BMOL.

Inauguração da BMOL em 1961, em uma

sala no UTC (Ubirama Tênis Clube).

Os escritores Pedro Bloch (e esposa),

Guimarães Rosa (representado pela vi-

úva), Rachel de Queiroz e Francisco de

Assis Barbosa, em visita às ruas com seus

respectivos nomes na Cecap, Bairro dos

Escritores.

Imagens do acervo da Biblioteca Municipal Orígenes Lessa

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