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Escrivaninha do poeta Olavo Bilac, conservada na Biblioteca da Academia Brasileira de Letras.

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Escrivaninha do poeta Olavo Bilac,conservada na Biblioteca daAcademia Brasileira de Letras.

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A morte deEça de Queirós

Machado de Ass i s

23 de agosto de 1900.

Meu caro H. Chaves. – Que hei de eu dizer que valha esta ca-lamidade? Para os romancistas é como se perdêssemos o melhorda família, o mais esbelto e o mais válido. E tal família não secompõe só dos que entraram com ele na vida do espírito, mastambém das relíquias da outra geração e, finalmente, da flor danova. Tal que começou pela estranheza acabou pela admiração.Os mesmos que ele haverá ferido, quando exercia a crítica diretae quotidiana, perdoaram-lhe o mal da dor pelo mel da língua,pelas novas graças que lhe deu, pelas tradições velhas que con-servou, e mais a força que as uniu umas e outras, como só as unea grande arte. A arte existia, a língua existia, nem podíamos osdois povos, sem elas, guardar o patrimônio de Vieira e de Ca-mões; mas cada passo do século renova o anterior e a cada gera-ção cabem os seus profetas.

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Machado deAssis, querecusava osdireitos autorais,legados ousupostamentelegados – quemtrata da questãoé Josué Montello– por Eça deQueirós,admirou-o.Quando lhechegou a notíciade seufalecimento,escreveu estapágina sobre ogranderomancista.(N. da Redação)

Guardados da Memória

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A antiguidade consolava-se dos que morriam cedo considerando que eraa sorte daqueles a quem os deuses amavam. Quando a morte encontra umGoethe ou um Voltaire, parece que esses grandes homens, na idade extrema aque chegaram, precisam de entrar na eternidade e no infinito, sem nada maisdever à terra que os ouviu e admirou. Onde ela é sem compensação é no pontoda vida em que o engenho subido ao grau sumo, como aquele Eça de Queirós,– e como o nosso querido Ferreira de Araújo, que ontem fomos levar ao cemi-tério – tem ainda muito que dar e perfazer. Em plena força da idade, o mal ostoma e lhes tira da mão a pena que trabalha e evoca, pinta, canta, faz todos osofícios da criação espiritual.

Por mais esperado que fosse este óbito, veio como repentino. Domício daGama, ao transmitir-me há poucos meses um abraço de Eça, já o cria agoni-zante. Não sei se chegou a tempo de lhe dar o meu. Nem ele, nem EduardoPrado, seus amigos, terão visto apagar-se de todo aquele rijo e fino espírito,mas um e outro devem contá-lo aos que deste lado falam a mesma língua, ad-miram os mesmos livros e estimavam o mesmo homem.

(Outras relíquias, 1910, pp. 91-92.)

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Machado de Ass i s

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Pobreza digna

João de Scantimburgo

O Jornal do Brasil publica, diariamente, efemérides de 1893 edatas posteriores. Na última sexta-feira publicou sobre

Hermes da Fonseca: presidente da República, como sucessor deNilo Peçanha, morto havia poucos dias, não teve que fazer testa-mento. O único bem que possuía fora um presente de amigo, que eledoara ao filho enfermo. Exemplo edificante de dignidade, o mare-chal, o último da primeira República, que ocupara o mais alto cargodo regime, a Presidência.

Mas esses exemplos não são únicos. Campos Sales deixou a Re-pública sem recursos. Quando veio morar em São Paulo, em casamodesta, ia ele mesmo, de manhã, buscar o leite para o seu café. Sãoexemplos de patriotismo, de espírito cívico. Autor, com JoaquimMurtinho, de uma solução do problema inflacionário, depois daavalanche destruidora do encilhamento.

Deodoro da Fonseca, proclamador, sem querer fazê-lo, da Repú-blica, naquele 15 de novembro, também nada de valioso deixou, as-sim como Rodrigues Alves, Afonso Pena, Wenceslau Brás, ArthurBernardes; Washington Luís, o do jequitibá, símbolo do PRP, seu

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Diretor daRevista Brasileira.

Guardados da Memória

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partido, caiu como essa árvore que cresce soberanamente na mata, e nada se lheacusou como nada foi feito contra seus correligionários.

Outros tempos, outros homens temos tido, mas, com raras exceções, sãoquase todos comprometidos com a moralidade. Nada se diria contra Fernan-do Henrique Cardoso nem contra Luís Inácio Lula da Silva, pessoas de mãoslimpas; o primeiro durante oito anos no governo não deixou um sinal, por me-nor que fosse, de incompatibilidade com a decência. Ao contrário. Foi decenteem sua vida presidencial. Lula também deverá sê-lo, embora em seu partidohaja membros suspeitos. É isso, sobre moralidade política.

Hermes da Fonseca não está só nesse modelo de pobreza. Leia-se no testa-mento de Olavo Bilac o que ele legou:

“Saibam quantos este público testamento virem que, no Ano do Nascimen-to de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil novecentos e dezesseis, aos dezesseisdias do mês de maio, nesta cidade do Rio de Janeiro, em meu cartório, perantemim, Tabelião interino, compareceu Olavo Bilac, solteiro, maior, inspetor es-colar aposentado da Prefeitura do Distrito Federal residente nesta cidade, emestado de saúde, e em seu perfeito juízo, do que dou fé: bem, como de ser pelopróprio conhecido das mesmas testemunhas, por ele testador me foi dito que,de sua própria e livre vontade faz este seu testamento do modo seguinte: Dissechamar-se Olavo Bilac, ser cidadão brasileiro, filho legítimo do dr. Braz Mar-tins dos Guimarães Bilac e de d. Delfina dos Guimarães Bilac, ambos já faleci-dos, e ter nascido nesta cidade; que, da sua pensão no Monte-Pio Municipalna forma do regulamento em vigor, por não ter herdeiros necessários, deixa asua irmã d. Cora Bilac Guimarães, casada com Alexandre Lambert de SouzaGuimarães, a metade da referida pensão. Nomeia seus testamenteiros, em pri-meiro lugar Alexandre Lambert de Souza Guimarães, em segundo lugar o ca-pitão Gregório da Fonseca e em terceiro lugar Alcides Maya, a todos os quaispede o favor de aceitarem a incumbência de sua execução, dispensando-os comsua idoneidade de quaisquer finanças ou caução para o exercício das respecti-vas funções. Disse por este modo ele testador fazer as disposições de sua últi-ma vontade e que quer que valham como seu testamento, o qual, tem por bom,

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João de Scantimburgo

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firme e valioso. E depois de ser este por mim lido ao testador e as testemunhaspresente a todo este ato e por ele testador confirmada a sua vontade, o assinoucom as testemunhas Belmiro Braga, Carlos Maul, Theófilo de Albuquerque,Manfredo Abreu e Alfredo Barreto Pereira Pinto, todos hábeis, perante mimTabelião interino Fausto Werneck Furquim de Almeida, o escrevi, subscrevoe assino em público e raso. Em testemunho da verdade. (Estava o sinal em pú-blico.) Fausto Werneck Furquim de Almeida. Disse F.R. vinte mil réis. OlavoBilac, Belmiro Braga, Theófilo de Albuquerque, M. Abreu. Alfredo B.P Pinto.Transladado hoje 19 de maio de 1916. E eu, Tabelião interino, a subscrevo eassino em público e raso. Em testemunho da verdade, Fausto Wernek Furkimde Almeida, Rio de Janeiro, 19 de maio de 1916.

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P A T R O N O S , F U N D A D O R E S E M E M B R O S E F E T I V O SD A A C A D E M I A B R A S I L E I R A D E L E T R A S

(Fundada em 20 de julho de 1897)

As sessões preparatórias para a criação da Academia Brasileira de Letras realizaram-se na sala de redação da Revista Brasileira, fase III(1895-1899), sob a direção de José Veríssimo. Na primeira sessão, em 15 de dezembro de 1896, foi aclamado presidente Machado de Assis. Ou-tras sessões realizaram-se na redação da Revista, na Travessa do Ouvidor, n. 31, Rio de Janeiro. A primeira sessão plenária da Instituição reali-zou-se numa sala do Pedagogium, na Rua do Passeio, em 20 de julho de 1897.

Cadeira Patronos Fundadores Membros Efetivos01 Adelino Fontoura Luís Murat Ana Maria Machado02 Álvares de Azevedo Coelho Neto Tarcísio Padilha03 Artur de Oliveira Filinto de Almeida Carlos Heitor Cony04 Basílio da Gama Aluísio Azevedo Carlos Nejar05 Bernardo Guimarães Raimundo Correia José Murilo de Carvalho06 Casimiro de Abreu Teixeira de Melo Cícero Sandroni07 Castro Alves Valentim Magalhães Sergio Corrêa da Costa08 Cláudio Manuel da Costa Alberto de Oliveira Antonio Olinto09 Domingos Gonçalves de Magalhães Magalhães de Azeredo Alberto da Costa e Silva10 Evaristo da Veiga Rui Barbosa Lêdo Ivo11 Fagundes Varela Lúcio de Mendonça Celso Furtado12 França Júnior Urbano Duarte Alfredo Bosi13 Francisco Otaviano Visconde de Taunay Sergio Paulo Rouanet14 Franklin Távora Clóvis Beviláqua Miguel Reale15 Gonçalves Dias Olavo Bilac Pe. Fernando Bastos de Ávila16 Gregório de Matos Araripe Júnior Lygia Fagundes Telles17 Hipólito da Costa Sílvio Romero Affonso Arinos de Mello Franco18 João Francisco Lisboa José Veríssimo Arnaldo Niskier19 Joaquim Caetano Alcindo Guanabara Marcos Almir Madeira20 Joaquim Manuel de Macedo Salvador de Mendonça Murilo Melo Filho21 Joaquim Serra José do Patrocínio Paulo Coelho22 José Bonifácio, o Moço Medeiros e Albuquerque Ivo Pitanguy23 José de Alencar Machado de Assis Zélia Gattai24 Júlio Ribeiro Garcia Redondo Sábato Magaldi25 Junqueira Freire Barão de Loreto Alberto Venancio Filho26 Laurindo Rabelo Guimarães Passos Marcos Vinicios Vilaça27 Maciel Monteiro Joaquim Nabuco Eduardo Portella28 Manuel Antônio de Almeida Inglês de Sousa Oscar Dias Corrêa29 Martins Pena Artur Azevedo Josué Montello30 Pardal Mallet Pedro Rabelo Nélida Piñon31 Pedro Luís Luís Guimarães Júnior Moacyr Scliar32 Porto-Alegre Carlos de Laet Ariano Suassuna33 Raul Pompéia Domício da Gama Evanildo Bechara34 Sousa Caldas J.M. Pereira da Silva João Ubaldo Ribeiro35 Tavares Bastos Rodrigo Octavio Candido Mendes de Almeida36 Teófilo Dias Afonso Celso João de Scantimburgo37 Tomás Antônio Gonzaga Silva Ramos Ivan Junqueira38 Tobias Barreto Graça Aranha José Sarney39 F.A. de Varnhagen Oliveira Lima Marco Maciel40 Visconde do Rio Branco Eduardo Prado Evaristo de Moraes Filho

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Composto em Monotype Centaur 12/16 pt; citações, 10.5/16 pt.

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