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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero E77 Espaço Científico : revista do Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém / Universidade Luterana do Brasil. – N. 1 (jan./jun. 2000)- . Canoas : Ed. ULBRA, 2000- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1518-5044 1. Pesquisa científica – periódicos. 2. Ciência e tecnologia – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. II. Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém. CDU 5/6(05) ESPAÇO CIENTÍFICO Revista do CEUL de Santarém Vol. 11 - n.1/2, 2010 ISSN 1518-5044 Correspondência Av. Sérgio Henn, 1787, Bairro Diamantino CEP: 68025-000 – Santarém/Pará – Brasil Fone/Fax: (0xx93) 3524-1055 E-mail: [email protected] Matérias assinadas são de responsabillidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte. Presidente Augusto Ernesto Timm Neto Vice-Presidente Joseida Elizabete Timm Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Comissão Editorial Celso Shiguetoshi Tanabe Maria Sheyla Cruz Gama Pró-Reitor de Administração Levi Schneider Pró-Reitor de Graduação Ricardo Prates Macedo Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio Gonzàlez Hernàndez Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ricardo Willy Rieth Capelão Geral Gerhard Grasel CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉM Diretor Geral Ildo Schlender Direção Acadêmica Celso Shiguetoshi Tanabe Capelão Rev. Maximiliano Wolfgramm Silva Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação Maria Viviani Escher Antero ESPAÇO CIENTÍFICO Maria Viviani Escher Antero Rosângela Maria Lima de Andrade Comissão Científica Albino Luciano Portela de Sousa – IESPES/FIT Carmen Tereza Velanga – UNIR Damião Pedro Meira Filho – IFPA Lidiane Nascimento Leão – UFOPA Luiz Fernando Gouveia e Silva – UEPA Maria Marlene Escher Furtado – UFOPA Paula Chistina Figueira Cardoso – USP Wellinhgton de Araújo Gabler – UFOPA Felipe Schaedler de Almeida – URGS Gilbson Santos Soares – CEULS/IFPA Izabel Alcina Evangelista Soares – CEULS/UEPA José Eduardo Lobato de Siqueira – CEULS/ULBRA José Ricardo Geller – CEULS/OAB Maria Antonia Vidal Ferreira – CEULS/ULBRA Maria Lilia Imbiriba Sousa Colares – UFOPA Marialina Corrêa Sobrinho – CEULS/IESPES Robinson Severo – UFOPA Troy Patrick Beldini – UFOPA EDITORA DA ULBRA Diretor: Astomiro Romais Coord. de Periódicos: Roger Kessler Gomes Capa: Everaldo Manica Ficanha Editoração: Rodrigo de Abreu Solicita-se permuta. We request exchange. On demande l’échange. Wir erbitten Austausch.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero

E77 Espaço Científico : revista do Instituto Luterano de Ensino Superior deSantarém / Universidade Luterana do Brasil. – N. 1 (jan./jun. 2000)-. – Canoas : Ed. ULBRA, 2000- . v. ; 27 cm.

Semestral.ISSN 1518-5044

1. Pesquisa científica – periódicos. 2. Ciência e tecnologia – periódicos.I. Universidade Luterana do Brasil. II. Instituto Luterano de EnsinoSuperior de Santarém.

CDU 5/6(05)

ESPAÇO CIENTÍFICORevista do CEUL de Santarém

Vol. 11 - n.1/2, 2010ISSN 1518-5044

CorrespondênciaAv. Sérgio Henn, 1787, Bairro DiamantinoCEP: 68025-000 – Santarém/Pará – BrasilFone/Fax: (0xx93) 3524-1055E-mail: [email protected]

Matérias assinadas são de responsabillidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte.

PresidenteAugusto Ernesto Timm Neto

Vice-PresidenteJoseida Elizabete Timm

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Rev. Maximiliano Wolfgramm SilvaCoordenação de Pesquisa e Pós-Graduação

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ESPAÇO CIENTÍFICO

Maria Viviani Escher AnteroRosângela Maria Lima de Andrade

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Robinson Severo – UFOPA Troy Patrick Beldini – UFOPA

EDITORA DA ULBRADiretor: Astomiro RomaisCoord. de Periódicos: Roger Kessler GomesCapa: Everaldo Manica FicanhaEditoração: Rodrigo de Abreu

Solicita-se permuta. We request exchange.On demande l’échange. Wir erbitten Austausch.

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Sumário

3 Editorial

4 An introductory overview on quantum dynamics of a nonrelativistic particle under influence of a magnetic field

Alciandra Oliveira de Freitas, Charles da Rocha Silva, Damião Pedro Meira Filho, Fernando Emmi Corrêa, Verônica Solimar Santos

16 A construção da usina hidrelétrica de Curuá-Una e a formação da comunidade de Boa Esperança

André das Chagas Santos 28 Desenvolvimento de protótipo de trocador de calor de superfície raspada – TCSR

(pasteurizador) destinado a pequenas agroindústrias Criz Roecker Franco, Rubens Nobuo Yuki 44 Produção de liteira na Floresta Nacional do Tapajós no ano de 2007 Alessandra Damasceno Silva, Raimundo Cosme de Oliveira Junior

55 Avaliação das classes de capacidade de uso das terras das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeuá e Arimum da Resex Verde para Sempre, município Porto de Moz, PA

Juliano Gallo, Raimundo Cosme de Oliveira Junior

80 Comportamento anual da água no solo sob floresta natural e plantio de grãos em latossolo amarelo na região de Belterra-PA

Raimundo Cosme de Oliveira Junior, Michael Keller, Patrick Michael Crill, Troy Patrick Beldini, Plinio Batista de Camargo

95 Avaliação da aptidão agrícola das terras das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeuá e Arimum da Resex Verde para Sempre, município Porto de Moz, PA

Juliano Gallo, Raimundo Cosme de Oliveira Junior

115 A mulher quilombola e sua participação no processo de re-significação da identidade em Bom Jardim no período de 1996 a 2006

Cláudia Laurido Figueira, Cíntia Régia Rodrigues

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 20102

130 Escola e indisciplina: uma questão de políticas públicas?

Rejane da Silva Sales Bezerra , Maria Irene Escher Boger

143 Os professores no século XXI: a educação multicultural, um desafio a vencer Francisca Canindé Bezerra dos Santos

153 Normas Editoriais

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EditorialInstituições de ensino, associações e entidades de serviço estão cada vez mais

comprometidas com a produção e disseminação do conhecimento. É de sua natureza investir em pesquisa, inovação e competitividade. Porém, para que os resultados aconteçam, a sociedade precisa identificar-se com o projeto/desafio, comprometer-se e investir seus múltiplos talentos nessa empreitada.

Muito já se investigou. Muito já se escreveu e publicou. Muito ainda está por ser estudado, descoberto e implementado. E tudo isso tem uma função social, que é a disseminação do conhecimento, o desenvolvimento e transferência de tecnologia e a produção do desenvolvimento.

Quando se buscam novos modelos de crescimento, respeitando a sustentabilidade, a capacidade de inovação faz diferença. Assim, vê-se que, conforme observações do superintendente do Instituto Euvaldo Lodi, Carlos Cavalcante: “O brasileiro é, sabidamente, criativo, mas pouco inovador: e novas ideias não são, necessariamente, transformadas em Produto Interno Bruto” (Revista Interação, ano 18, n.209, p.3).

No sentido de colaborar com estes desafios de criatividade, inovação e transformação pelo conhecimento, disponibilizamos a presente edição da revista Espaço Científico. Todos os artigos apresentam implicações práticas na trajetória do ser humano. Pode ser que a manifestação tenha ocorrido num reduzido espaço geográfico, porém os reflexos desta atuação/trajetória atingem toda a casa, ou seja, o planeta Terra, casa na qual vivemos, nos movemos e pela qual somos responsáveis.

A concordância ou não com as ideias e propostas apresentadas pelos autores dependerá da interpretação e fundamentação de cada leitor e analista. O que se pode assegurar é que todo pesquisador buscou base científica e filosófica para seus escritos. Nesse ponto concordamos com a afirmação de Leôncio Basbaum: “Se é verdade que a filosofia não pode existir sem uma base científica, não é menos verdade que todo pesquisador da ciência deve ter uma base filosófica”.

A dedicação, a transpiração e a colaboração foram fundamentais para a disponibilização deste exemplar. E tudo isso decorre dos compromissos com o constante desafio: a produção do conhecimento. E é nesse ponto que sublinhamos o reconhecimento de Isaac Newton: “Se eu pude enxergar mais longe, foi porque subi aos ombros de gigantes”. Que os professores, pesquisadores e inovadores de hoje possam ser os gigantes das próximas gerações.

Ildo Schlender

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Espaço Científico v.11, n.1/2 p. 4-15 2010Santarém

An introductory overview on quantum dynamics of a nonrelativistic particle under

influence of a magnetic fieldAlciandra Oliveira de Freitas

Charles da Rocha SilvaDamião Pedro Meira Filho

Fernando Emmi CorrêaVerônica Solimar Santos

ABSTRACTThe aim of the present work is to analyze the problem of a nonrelativistic charged particle

interacting with an external magnetic field. We intend to obtain the expressions which describe the minimal coupling between the referred particle and an external magnetic field. Still, we point out the behavior the Schrodinger equation under gauge transformation. Operators representing the center of the orbit are introduced and their relations with energy, angular momentum and magnetic moment are pointed out.

Keywords: Nonrelativistic Quantum Mechanics. Gauge Invariance. Magnetic Field.

Uma descrição introdutória sobre dinâmica quântica de uma partícula não relativística sob influência de um campo magnético

RESUMOO objetivo do presente trabalho é analisar problema de uma partícula carregada não

relativística interagindo com um campo magnético externo. Nós pretendemos obter as expressões, as quais descrevem o acoplamento mínimo entre a referida partícula e um campo magnético externo. Destacamos ainda o comportamento da equação de Schrodinger sob transformação de gauge. Operadores representando o centro da órbita são introduzidos e suas relações com energia, momento angular e momento magnético são destacadas.

Palavras-chave: Mecânica Quântica não relativística. Invariância de Gauge. Campo Magnético.

Alciandra Oliveira de Freitas é Graduada em Ciências – Habilitação em Química. Professora de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Pará, Campus Santarém, Pará, Brasil. E-mail: [email protected] da Rocha Silva é Graduado em Física. Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Pará, Campus Belém, Pará, Brasil. E-mail: [email protected]ão Pedro Meira Filho é Graduado em Física e Matemática. Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Pará, Campus Santarém, Pará, Brasil. E-mail: [email protected] Emmi Corrêa é Licenciado em Ciências – Habilitação Plena em Matemática. Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Pará, Campus Santarém, Pará, Brasil. E-mail: [email protected]ônica Solimar Santos é Graduada em Matemática. Professora de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Pará, Campus Santarém, Pará, Brasil. E-mail: [email protected]

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 2010 5

1 INTRODUCTIONThe classical and quantum dynamics of a nonrelativistic charged particle which

is interacting with a constant magnetic field has been studied and analyzed by many scientists. The main task of this work is to construct a didactic text on some of the simplest features related to quantum dynamics of a particle in a constant magnetic field, which is intended for students interested in quantum mechanics. This text is organized as follows. In the second section the proceeding of coupling between a charged particle and electromagnetic field. In the third section, a brief study on gauge invariance of the Schrodinger equation. An interesting analyze on equations of motion and their integrals beyond of the construction of operators associated to center of orbit and their connections with energy, angular momentum and magnetic moment are presented in the fourth section. In the last section, the final remarks are presented.

2 COUPLING BETWEEN THE NONRELATIVISTIC CHARGED PARTICLE AND THE ELECTROMAGNETIC FIELD

First, we consider a nonrelativistic charged particle of charge moves in an electromagnetic field. In this case, the particle is undergo to the Lorentz force.

(1)

By the electromagnetic theory ([2]; [4]; [5]; [7]), the electric and magnetic field

strengths can be expressed by the corresponding potentials and according to

, (2)

and

(3)

Here, is the vector potential and the Coulomb potential. In the ambit of the classical mechanics ([6]; [8]), the motion of the referred particle is described by the Hamiltonian function

(4)

The form of the function above indicates the simplest way of coupling the electric

field to the motion of the charged particle. The momentum is replaced by the term

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 20106

.

The substitution and is called the “minimal coupling”. Hamilton’s

canonical momentum is the sum of the kinetic momentum and the term , which is determined by the vector potential. Therefore

(5)

The proceeding of transition from classical theory to quantum mechanics is

obtained by replacing the canonical momentum by , according to the rules of quantization in the coordinate representation ([1]; [10]). Thus we obtain the Hamiltonian

(6)

Calculating the square, it should be noted that, in general, the gradient and vector potentials do not commute. We get

(7)

It is well known that the electromagnetic potentials and are not unique,

but are gauge dependent. Particularly in the Coulomb gauge, it holds that ; thus the third term vanishes. If we change the order of the term and use, for the sake

of clarity, the momentum operator , we obtain

, (8)

where

.

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 2010 7

Here, the operator represents the motion of the charged particle without a magnetic field; the coupling of the motion of the particle to the magnetic field is given

by the product .

The states of the particle in an electromagnetic field are given as solutions of the Schrodinger equation with the Hamiltonian derived above in (6):

(9)

3 GAUGE INVARIANCE OF SCHRODINGERIt is worthy of special attention the subject related to Gauge invariance ([1]). The

one means that the solutions of the Schrodinger equation describe the same physical states if we apply to the potentials the transformations

(10)

and

(11)

with the arbitrary function . Using the four-component relativistic notation by introducing the four-vector , these transformations read

, (12)

with

where = 0, 1, 2, 3 and , , , .

If we denote the Hamiltonian with primed potentials by , the corresponding Schrodinger equation becomes

(13)

It is possible to assert that and differ only by a phase factor. If so, the gauge transformation does not change the physical quantities, due to the fact that, during

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 20108

their calculation, only products of the form or matrix elements ( is an operator related to a certain observable) in which the phase cancels occur. Let us assume

(14)

and insert this in (13), which thus becomes

(15)

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 2010 9

Then, we can observe that

(16)

St i l l , i t i s necessary to apply the operator on

(17)

Considering the expressions (15), (16) and (17), it is possible to write the equation (13) as

(18)

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 201010

4 RELATIONS BETWEEN THE CENTER OF THE ORBIT AND OTHER OBSERVABLES

Let us assume a particle, with charge , under influence of a constant magnetic field ([9]). Thus, the configuration of field is

and

(19)

The vector and scalar potential can be written as

and

(20)

where the following constraint condition is provided

By the classical mechanics, it is possible to derive the nonrelativistic equations from the

Hamiltonian (4). Assuming the configuration of field presented above, the Hamiltonian can be written as

(21)

where

and

It is convenient to define the Hamiltonian associated to transversal motion of particle

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 2010 11

(22)

The following commutation relation between and is given by

(23)

The time derivative of an operator is defined by

(24)

From (24) follow the equations

(25)

(26)

(27)

We knowing that

(28)

The expression (27) leads us to conclude that is a constant of motion. Thus,

the particle behaves as a free one in the axis.

How about the dynamics of the particle in the plane orthogonal to the axis ([3]), we can write

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 201012

(29)

(30)

Still, it is possible rewrite the expressions (29) and (30) as

(31)

(32)

where

(33)

and

(34)

Hence, using the definition of and , we can rewrite the expressions (33) and (34) as

(35)

and

(36)

The operators and are related with the coordinates for center of the orbit ([3]). Therefore the distance between the origin of the coordinate system and center of the orbit is written as

(37)

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 2010 13

It is worth to note that and commute with the Hamiltonian

(38)

(39)

Still, it is necessary to calculate the commutation relation between and

(40)

The radius of the trajectory of the particle is

(41)

Using the expressions (22), (33) and (34), we can rewrite the expression (41) as

(42)

Now, the angular momentum about the axis is defined as

(43)

Doing use of the definition of and , we have

(44)

Still, using the expressions (37) and (41), we can rewrite (44) as

(45)

After some calculations, it is possible to show that the angular momentum operator

is an integral of the motion

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 201014

(46)

It is worth to define the magnetic moment by

(47)

However, using the expressions (33) and (34), the magnetic moment can be written as

(48)

Still, it is possible to show that magnetic moment operator is not an integration of the motion

(49)

5 FINAL REMARKS Therefore, we have presented throughout this work a didactic approach on a

particular problem of nonrelativistic quantum mechanics. We considered some theories such as classical electrodynamics, classical mechanics and quantum mechanics. Still, more specifically, we pointed out some features among which we can cite: minimal coupling, gauge invariance and relations among the operators associated to some observables. We look forward that this didactic text be useful for students to get acquainted with quantum mechanics.

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 2010 15

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Espaço Científico v.11, n.1/2 p. 16-27 2010Santarém

A construção da usina hidrelétrica de Curuá-Una e a formação da comunidade de Boa

EsperançaAndré das Chagas Santos

RESUMOA seguinte pesquisa foi realizada no município de Santarém no segundo semestre do ano

de 2009. Teve como objetivos (a) identificar qual a importância da política do governo militar na Amazônia, mais precisamente em Santarém; (b) compreender o processo de instalação e construção da usina hidrelétrica de Curuá-Una; (c) demonstrar a influencia da construção da UHE de Curuá-Una na formação da comunidade de Boa Esperança, e como ocorreu esse processo. Para a obtenção dos resultados foram realizadas: (a) pesquisas bibliográficas sobre as novas formas de abordagens históricas, dentre as quais se destaca a História Oral; (b) pesquisa bibliográfica sobre o governo militar e sua política de desenvolvimento para a Amazônia; (c) investigação em jornais antigos da cidade, em busca de informações sobre a construção da UHE de Curuá-Una; (d) pesquisa de campo com entrevistas aos moradores antigos da comunidade de Boa Esperança. Dentre os principais resultados, podemos destacar: os governos militares desenvolveram uma política de desenvolvimento para a Amazônia, que acabou causando problemas de ordem social e ambiental; a construção da UHE de Curuá-Una é um projeto muito anterior ao governo militar, embora tenha sido executado nessa época; a comunidade de Boa Esperança foi formada após a abertura da rodovia Santarém-Curuá-Una, o que facilitou o acesso e transporte de mercadorias. Portanto, a construção da Usina Hidrelétrica de Curuá-Una, através da abertura, empiçarramento e a posterior pavimentação da PA 370, possibilitou a formação da comunidade de Boa Esperança.

Palavras-chave: Usina Hidrelétrica de Curuá-Una. Comunidade de Boa Esperança. Governo Militar na Amazônia.

The build of Curuá-Una Dam and the formation of Boa Esperança community

ABSTRACTThe following survey was conducted in the municipality of Santarém in the second half

of the year 2009. Having as objectives (a) identify how important military Government policy in the Amazon region, more precisely in Santarém; (b) understand the process of installation and construction of the hydroelectric plant of Curuá-Una; (c) demonstrate the influences of construction of the UHE of Curuá-Una in forming the community of Boa Esperança, and how this process occurred. To obtain the results were conducted: (a) bibliographic searches on new forms of

André das Chagas Santos é professor da Rede municipal de Ensino de Santarém. Licenciado em História no CEULS/ULBRA. Acadêmico do curso de Especialização em Direitos Humanos e Políticas Públicas Rodovia PA 370, km 43. Fone: (93) 3588.1159. E-mail: [email protected]

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 2010 17

historical approaches, among which stands out the oral history; (b) bibliographic research on the military Government and its development policy for the Amazon; (c) research in old newspapers of the city, searching for information about the construction of the UHE of Curuá-Una; (d) field research with interviews to older residents of the community of Boa Esperança. Among the main results: military governments developed a development policy for Amazon, which ended up causing problems of social and environmental; the construction of the UHE of Curuá-Una is a project very preceding the military Government, although it has been executed at that time; the community of Boa Esperança was formed after the opening of Highway Santarém-Curuá-Una, which facilitated access and transportation of goods. Therefore the construction of the hydroelectric plant of Curuá-Una, through the opening, and subsequent paving of PA 370, led to the formation of the community of Boa Esperança.

Keywords: Hydroelectric Curuá-Una. Boa Esperança Community. Military Government in the Amazon.

1 INTRODUçãO Trabalhar com os temas históricos tornou-se ao longo dos anos muito difícil,

devido principalmente às modificações ocorridas dentro da própria ciência. Hoje há preocupação em se estudar o cotidiano das pessoas e dos grupos sociais, das camadas mais humildes da sociedade, a chamada História vinda de baixo. Essas modificações puderam ser vislumbradas principalmente após 1929, com a Escola dos Annales.

Desde a Escola dos Annales, vários historiadores foram desenvolvendo novas técnicas de pesquisas, novos objetos e novos métodos de abordagens históricas. Uma dessas novas formas de abordagem histórica é a História Oral, baseada nos testemunhos de pessoas que presenciaram, participaram ou tomaram conhecimento de algum fato, situação ou acontecimento.

Os documentos antes unanimidade na Escola Positivista, passaram a ser questionados e interrogados, a fim de se testar sua veracidade, Além dos documentos oficiais, também foram considerados como fontes históricas: cartas, panfletos, cartazes, objetos dentre outros.

Estudar um tema como o da influência da construção da Usina Hidrelétrica de Curuá-Una para a formação da comunidade de Boa Esperança torna-se muito importante, pois não existem muitas fontes escritas sobre o assunto, porém alguns dos personagens da História da comunidade ainda estão vivos, o que possibilita empregar as técnicas de História Oral, sendo esta uma tendência nas pesquisas de temas históricos. Além do que a comunidade de Boa Esperança e a região de planalto de Santarém é carente de estudos acadêmicos ou técnico-científicos.

Um dos objetivos do trabalho é identificar a influência da construção da Usina Hidrelétrica de Curuá-Una para a formação da comunidade de Boa Esperança (é uma das maiores comunidades da região de planalto do município de Santarém). E analisar como os governos militares contribuíram para as transformações sociais vislumbradas tanto na comunidade, quanto no território do município e região, além de desenvolver um trabalho que pode contribuir com pesquisadores interessados em temas regionais

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sem esquecer o contexto histórico nacional.

2 MATERIAL E MÉTODOSO desenvolvimento da pesquisa aconteceu em cinco etapas: (a) revisão

bibliográfica sobre os métodos de pesquisa em história, o que possibilitou o contato com as novas formas e tendências de abordagens históricas; (b) pesquisa sobre a evolução da produção energética na História da humanidade; (c) pesquisa bibliográfica sobre o período do Regime Militar no Brasil, para entendermos como esses governos afetaram, mesmo que de forma indireta, a vida desses colonos; (d) investigação em jornais antigos da cidade, em busca de algumas notícias relacionadas ao tema da construção da Usina Hidrelétrica de Curuá-Una; (e) Aplicação de questionários e entrevistas com moradores que já habitavam a comunidade de Boa Esperança naquela época, porque não existem muitos documentos escritos sobre o tema e a memória dos moradores é um importante instrumento que pode e deve ser utilizado enquanto é tempo, já que a memória tem prazo de validade.

3 A EVOLUçãO DA PRODUçãO ENERGÉTICA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADEO homem é o animal que habita a natureza, e que tem a maior capacidade de

adaptação aos mais variados tipos de ambientes e climas. Devido a sua capacidade de raciocínio, os seres humanos desenvolveram tecnologias que permitem a sua sobrevivência nos ambientes quentes aos mais frios do planeta. O desenvolvimento dessas tecnologias consiste na manipulação das forças da natureza para a produção de energia. A cada fase na cadeia evolutiva do homem acentuou-se o uso de determinado combustível para a obtenção energética. Este processo evoluiu da simples queima de madeira para a iluminação e aquecimento até a produção de energia atômica.

A trajetória do homem na produção energética começa no período da evolução em que os hominídeos eram denominados de homo herectus. Esta espécie habitou a terra por volta de 1,7 milhões de anos até 300 mil anos atrás. Foi nesta etapa que o homem conseguiu manipular o fogo, a principio através da combustão de madeira, com o simples, porém importante, intuito de iluminar e aquecer o ambiente. Porém, a utilização do fogo foi muito mais importante, como no diz o doutor em História Antonio Pedro, “a utilização do fogo para o cozimento de alimentos vegetais e animais proporcionou ao homem o título de animal mais predador do planeta”.

Outras formas de produção energética foram utilizadas no decorrer do tempo, como o óleo de baleia, querosene, gás de carvão mineral utilizados para a iluminação e aquecimento.

No período medieval a água foi utilizada para a produção de energia mecânica,

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movimentando os chamados moinhos d’água. Estes moinhos foram utilizados para a moagem de alimentos de origem vegetal, em substituição à força empregada antes por animais e também pelos próprios seres humanos.

Mais tarde, em meados do século XVIII, teve início na Inglaterra a Primeira Revolução Industrial. Novas tecnologias foram empregadas. A combustão da madeira e carvão foi utilizada para que o vapor pudesse movimentar as novas máquinas, como o tear mecânico e a locomotiva. A princípio, esta revolução se restringiu à Inglaterra, mas em algumas décadas, espalhou-se por outros países europeus, inclusive chegando a outros continentes como a América e Ásia, mais precisamente nos Estados Unidos e Japão. No momento em que a revolução se espalhou pelo mundo se iniciou a Segunda Revolução Industrial. Esta segunda etapa foi caracterizada pela utilização do aço, e, sobretudo, pela utilização da energia elétrica e dos combustíveis fósseis.

No século XX, cientistas brasileiros desenvolveram combustíveis através de fontes renováveis, como foi o caso do etanol, utilizado em automóveis na década de 1970, durante a crise do petróleo. Mais recentemente foi desenvolvido o biodiesel. Este processo consiste na adição de óleos vegetais no diesel. Porém, foram levantados questionamentos do tipo: produzir combustíveis ou comestíveis?

A eletricidade é uma das melhores formas de energia. Uma de suas vantagens é que ela, em si, não polui. Porém a forma como ela é adquirida pode ocasionar vários problemas à natureza, gerando vários impactos negativos à sociedade. Atualmente, podemos adquirir energia elétrica de várias maneiras. A mais tradicional forma de aquisição deste tipo de energia é através de usinas hidrelétricas.

Por causa do grande lago que é formado na barragem das usinas hidrelétricas, muitos ecossistemas são destruídos, animais e vegetais acabam sendo mortos, sem contar que existem registros de pessoas que tiveram que abandonar suas povoações, já que estas foram invadidas e engolidas pela força das águas.

Além das usinas hidrelétricas também são empregadas na produção de eletricidade as usinas de energia atômica, a energia eólica (através de vento), as usinas termoelétricas, a energia solar dentre outras tantas formas.

4 O GOVERNO MILITAR NA AMAZÔNIANo ano de 1964, tem inicio no Brasil, um período da História Política do país

denominado de Regime Militar. Esta foi uma época muito difícil; o governo era autoritário e opressor. Os direitos humanos muitas vezes foram violados. O Congresso Nacional foi fechado em várias oportunidades, a produção artística e cultural foi censurada, vários jornais foram fechados, partidos políticos tiveram que se organizar na clandestinidade, estudantes foram perseguidos, militantes de oposição foram torturados, mortos, sendo que muitos ainda continuam desaparecidos. Além da violação dos direitos humanos, este período da História do Brasil é marcado pela abertura do país

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aos capitais estrangeiros (a exemplo da política adotada por Juscelino Kubitschek), pela crise econômica e pela implantação de projetos de desenvolvimento e integração regional da Amazônia.

A Amazônia é a maior região brasileira, com cerca de 4,8 milhões de km2, ocupa mais da metade do território nacional. Durante um longo período foi uma região esquecida, tanto por portugueses, no período de colonização e posteriormente pelas autoridades brasileiras, no período do império e parte da República. Sua economia esteve sempre ligada ao extrativismo vegetal, exportando para a Europa produtos como o cacau, castanha-do-pará e etc. A atividade extrativista amazônica alcançou grande repercussão no mercado nacional e internacional no final do século XIX, com a exploração da borracha, extraída da seringueira (Hevea brasiliensis). Esse período trouxe bastante riqueza para a região, porém não resolveu os problemas de desigualdade social e de baixa densidade demográfica que caracterizam a região. Após a fase de bons preços da borracha no mercado internacional, a região amazônica foi mais uma vez esquecida pelo governo federal.

Na década de 1960, o governo brasileiro, temeroso de perder a soberania territorial na região norte do país, implantou um projeto de desenvolvimento para a região. Este projeto de desenvolvimento previa a construção de rodovias e instalação de projetos agropecuários e de mineração na Amazônia.

A intenção do governo era povoar as terras da região e fazer a Integração Nacional. Para a viabilização do projeto, o governou criou órgãos como a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). Outra medida adotada foi a instalação de grandes empresas na região. Também foram concedidos incentivos fiscais às empresas que aqui se instalassem. Esta medida causou sérios problemas como diz Vesentini (1998, p.326):

O atual processo de ocupação da Amazônia brasileira, em síntese, é predatório: em busca de lucros fáceis, grandes projetos agropecuários, subsidiados pelos incentivos fiscais do governo federal, depredam a floresta, exterminam nações indígenas, destroem a fauna, exploram intensamente a força de trabalho que utilizam e desencadeiam conflitos violentos como os pequenos proprietários de terra e posseiros (p.326) [problemas ambientais].

A atividade de mineração foi uma das que mais se beneficiaram. Nesta época foram encontradas jazidas de ouro, ferro, manganês, além do que havia a possibilidade de se encontrar bauxita, cobre, e até petróleo e gás natural. Foram instalados projetos de extração mineral como o projeto Grande Carajás, onde são extraídos vários tipos de minérios, sobretudo o ferro. Uma região que ficou muito conhecida foi serra pelada, onde foi extraído ouro desde o fim da década de 1970. No estado do Amapá se desenvolve a extração do manganês, sendo quase que a totalidade das exportações é destinada aos Estados Unidos da América.

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O governo militar também incentivou a migração de pequenos trabalhadores do sul do país para a região Amazônica. Foi marcante a influência de uma campanha de propaganda chantagista, com o seguinte lema: Terra sem homens para homens sem terra. Além do slogan, havia promessa de terras, financiamentos, estrutura, como água, energia elétrica, serviço de saúde, educação, estradas para o escoamento da produção etc. Estes imigrantes chegaram à região para formarem as agrovilas. Tal modelo de povoação em sua maioria não prosperou, pois a maior parte das promessas do governo não foi cumprida. Os imigrantes que não conseguiram prosperar voltaram para o sul do país, ou mudaram para cidades como Belém e Manaus, engrossando as periferias e a criminalidade [problemas sociais].

Rodovias como a Santarém-Cuiabá, Belém-Brasília, Transamazônica foram abertas nessa época. Segundo as propagandas do governo, a abertura dessas rodovias traria progresso e desenvolvimento para a região. Os jornais locais noticiavam de forma romântica as obras e a política do governo federal.

Já pensaste tu meu bisonho patrício que tens o sorriso ingênuo de salustio, na riqueza que trará para nós a fimbria desse manto real de asfalto que será a estrada de rodagem Santarém- Cuiabá? (SANTOS, 1967)

Os meios de comunicação locais participavam dos eventos do governo. Até os dias atuais a população espera esse manto real de asfalto, visto a rodovia Santarém-Cuiabá ainda não ter sido completamente asfaltada.

Para atender toda essa estrutura de desenvolvimento proposto pelos militares para a região amazônica, seria necessário a construção de usinas geradoras de energia elétrica. Neste período foram construídas usinas hidrelétricas como é o caso da usina de Balbina no Amazonas e de Tucuruí e Curuá-Una no Pará. É importante ressaltar que o principal objetivo da construção dessas usinas foi fornecer estrutura para abrigar os grandes projetos, e não para beneficiar a população.

5 A CONSTRUçãO DA USINA HIDRELÉTRICA DE CURUÁ-UNAA Usina Hidrelétrica de Curuá-Una foi a primeira construída na floresta amazônica

(SARÉ et al., 2004). Desde o ano de 1998 a UHE de Curuá-Una é propriedade da CELPA – Centrais Elétricas do Pará S/A (Grupo Rede). Foi adquirida em leilão público realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, de acordo com a Lei Estadual (Estado do Pará) nº 5.979, de 19 de julho de 1996, que instituiu o Programa Estadual de Desestatização – PED. O Decreto nº 1.811, exarado pelo Governador do Estado do Pará em 14 de novembro de 1996, incluiu a Celpa no PED e regulamentou as condições de sua desestatização.

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A Usina Hidrelétrica de Curuá-Una está localizada a 70 km de Santarém, no rio Curuá-Una, sendo este um afluente do Rio Amazonas. Curuá-Una é uma palavra originada do língua tupi e quer dizer Rio Escuro (curuá: rio e una: escuro). Segundo Ligocki (2003, p.93):

A UHE Curuá-Una dista cerca de 850 km, em linha reta a oeste, da capital do Estado. Suas coordenadas geográficas são: 2º 24’ 52’’ S e 54º 42’ 36’’ W e está localizado na margem direita do Rio Tapajós, na sua confluência com o rio Amazonas.

No local do aproveitamento existem duas cachoeiras, a Cachoeira do Palhão e a Cachoeira do Portão, formadas por blocos e camadas de arenito ferruginoso (LIGOCKI, 2003). Haberlehner (apud LIGOCKI, 2003) descreve o local da seguinte maneira.

A Cachoeira do Palhão, formando queda natural de apenas 4 a 5 metros, situa-se em uma volta do rio Curuá-Una que naquele local contorna uma plataforma elevada, que durante muito tempo foi habitada por uma tribo de índios.

“Até a década de 1970, a energia na maior parte da região amazônica era fornecida por pequenas usinas térmicas, destinadas ao consumo de cidades isoladas” (TAVARES; COELHO; MACHADO, 2006,). “Mesmo os maiores centros urbanos, como Manaus e Belém, utilizavam usinas térmicas movidas a óleo combustível enquanto os centros urbanos menores dispunham de motores a diesel.” (TAVARES; COELHO; MACHADO, 2006). Segundo Figuereido, (1953, p.46).

As nossas entidades oficiais e particulares, ante os pruridos progressistas que estão alvoroçando os meios locais, temerosas e impressionadas por essa contingência deprimente imposta pelo nosso pauperismo debilitante em matéria de fôrça motriz, estão cuidando de organizar em Santarém uma Usina de Fôrça e Luz, acionada por motores cuja potência não excederá de 1200 K.W.

Havia a esperança, entre políticos, empresários e a imprensa, de que Santarém crescesse muito neste período, devido ao programa do governo federal que buscava o desenvolvimento da Amazônia. Porém as fontes energéticas disponíveis na cidade não supririam as necessidades para tal. Somente a Companhia de Fiação e Tecelagem de Juta de Santarém consumiria 750 KW, o que corresponde a mais da metade da energia produzida pela usina que seria instalada em Santarém. Então, o progresso não chegaria a Santarém somente com a instalação de uma usina de produção de energia elétrica movida por motores. Além da baixa produção energética, ainda existia a questão orçamentária. A energia produzida por esta usina seria de custo financeiro muito elevado.

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No ano de 1952, foram realizados os primeiros estudos sobre o aproveitamento do potencial energético da cachoeira do Palhão, pela Servix Engenharia Ltda, do Rio de janeiro. O projeto previa a construção de uma usina com um rendimento de 4MW de potência. Este estudo fez uma análise visual do campo e foi constatada a presença de quartzo, na área onde seria construída a usina. Dez anos depois foram realizados estudos mais precisos com sondagem e perfuração, pela “Grubina Engenheiros Consultores”. O solo arenoso lhe deu uma característica ainda mais peculiar, sendo a primeira usina construída no Brasil nessas condições. Outra característica da usina é que “Os engenheiros da Grubina descobriram grandes jazidas de minério de ferro compacto nas rochas do Palhão, o que constitui sem dúvida mais uma fonte de riqueza em pleno coração de Santarém” (PEREIRA, 1961).

Com a descoberta de minérios e a possibilidade de instalação de indústrias nas proximidades de Santarém, a população da região cresceu consideravelmente. Em 1966, com uma demanda maior de energia, o projeto teve que ser reformulado passando de 4 MW para 40 MW, e supriria as necessidades energéticas de Santarém e Aveiro.

A notícia da construção de um empreendimento deste porte na região causou um sentimento de euforia na população. Os jornais da cidade apresentavam a Usina Hidrelétrica de Curuá-Una como a emancipação de energia elétrica do município. A sociedade santarena enfrentava dificuldades com o fornecimento de energia elétrica, o que explica toda esta ansiedade. A hidrelétrica de Curuá-Una, que é a primeira do gênero de construção, representa a emancipação econômica da região (PEREIRA, A, 1968). “Há no senso comum a visão que disponibilidade de energia está associada a crescimento econômico, ou mesmo, com desenvolvimento local/regional” (TAVARES; COELHO; MACHADO, 2006).

Após os trabalhos preliminares, tais sejam, a construção de ponte metálica, ensecadeiras, campo de pouso para aviões, usina térmica, posto médico, levantamentos topográficos, sondagens geológicas, etc.,foram iniciadas, em 1968, as obras civis da construção e montagem da usina propriamente dita: barragem de concreto, com vertedor e descarregador de fundo, casa de máquinas com canal de descarga, instalações eletrônicas e subestação elevadora, barragem de enrocamento e terra, linha de transmissão para a cidade e subestação abaixadora em Santarém. (FONSECA, 1996, p.141)

O projeto foi elaborado pela Eletroprojetos S.A. – Estudos de Projetos de Engenharia S.A. e a construção esteve a cargo do Consórcio C.R. ALMEIDA e CONTERPA (LIGOCK, 2004, p.96-97). No dia 19 de agosto de 1977, foi inaugurada a Usina Hidrelétrica de Curuá-Una, “quando a primeira turbina entrou em operação” (SARÉ, 2004, p.2). A solenidade de abertura da usina contou com a presença do presidente da República General Ernesto Geisel, do governador do Estado Professor Aloysio da Costa Chaves e do senador Jarbas Gonçalves Passarinho, do Prefeito de Santarém Paulo Imbiriba Lisboa, além de outras autoridades.

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6 A FORMAçãO DA COMUNIDADE DE BOA ESPERANçANa década de 1920, teve inicio na região do planalto santareno o ciclo de

exploração de pau-rosa. Na época foi aberto um ramal, que chegou a atual comunidade de Pachiúba. Com a extinção do pau-rosa da região, o ramal foi abandonado. Em 1953, a Prefeitura Municipal de Santarém, abriu uma picada de cerca de 15 km, do ponto terminal da antiga estrada de Pachiúba, até a cachoeira do palhão. Alguns anos depois, na década de 1960, começaram a se instalar, às margens da estrada de Pachiúba, um punhado de trabalhadores rurais. Devido às dificuldades de acesso, foram poucos os que se aventuraram nesta empreitada. Segundo Raimundo Alberto dos Santos, autor do livro “Boa Esperança como tudo começou”, no dia 21 de agosto de 1961, chegou às margens da estrada de Pachiúba (no local que mais tarde se tornaria a PA 370), e a comunidade de Boa Esperança, o Senhor Raimundo Pereira Silva. Na época, o seu vizinho mais próximo morava a cerca de 10 km de distância.

A construção da UHE de Curuá-Una necessitava de fontes de acesso, para isso foi utilizada a estrada de Pachiúba, que já alcançava o local onde seria realizada a construção da UHE. As condições de trafego não eram muito favoráveis, então foi construída uma rodovia que deveria ligar Santarém até as áreas onde seria construída a UHE de Curuá-Una. Os topógrafos da época enfrentavam muitas dificuldades para a execução do trabalho, por isso aproveitaram a estrada de Pachiúba para a construção da rodovia PA 370.

Sem demora iniciaram-se os trabalhos de abertura, desmatamento, terraplenagem e empiçarramento da rodovia, cuja abertura proporcionou a chegada de mais pessoas para morarem e tirar terrenos nesta comunidade e ao longo de toda a estrada. (SANTOS, 2005, p.02)

“No ano de 1966, chegavam nesta comunidade Manoel Barbosa, Raimundo Barbosa, Ademir Pereira de Sousa, Dino Araujo Galvão, Chico do Vovô, Gonzaga Belim” (SANTOS, 2005,). Esses moradores, até o que se sabe no momento, são oriundos de comunidade da própria região de Santarém, como as comunidades de Planalto São José e Poço Branco. Só mais tarde é que chegaram os primeiros moradores vindos do nordeste e sul do país, em 1977 e 1979, respectivamente. Foi nesta época que a Secretaria de Agricultura do Estado do Pará dividiu os terrenos da comunidade. Inicialmente, os terrenos mediam 50x70 metros. Em 1971, a comunidade se reuniu e pediu que o senhor Manoel Modesto fizesse lotes de 10x30 metros para dividir para pessoas que quisessem morar em Boa Esperança.

A região onde hoje está localizada a comunidade de Boa Esperança, até 1969, era conhecida como Cabeceira de Cima do Igarapé Açu, pois na comunidade fica localizada a nascente do Igarapé Açu, um grande lago que deságua no Rio Maicá. Nesta nascente, os colonos pegavam água para o consumo, para higiene e também para o lazer, além disso, alguns anos mais tarde, em 1979, foi construída uma pequena

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barragem e instalada uma bomba do tipo carneiro hidráulico, para o abastecimento de água nos primeiros anos de existência da comunidade. Foi no ano de 1969 que a comunidade resolveu se autodenominar de Boa Esperança, já que foi este o nome dado pelo primeiro morador ao seu sitio.

A vida dentro da comunidade era simples. A maior parte da população trabalhava na agricultura, porém havia alguns pequenos comércios dentro da vila. Estes vendiam produtos alimentícios, munição para as armas dos caçadores, pilhas etc. Os principais produtos agrícolas cultivados eram o arroz, milho, feijão. Uma parte da produção era destinada ao consumo familiar e o excedente era comercializado na cidade. Havia na região muita caça, as terras produziam muito, então a comunidade prosperou rápido. Não somente por esses motivos, mas, sobretudo pelo instinto empreendedor dos moradores da comunidade. A maior parte dos cargos de liderança em associações de trabalhadores da região do planalto Curuá-Una era ocupada por comunitários de Boa Esperança.

Logo nos primeiros anos da existência da comunidade foram se formando vários grupos como igrejas, clube de futebol, associações de trabalhadores etc. Estes trabalharam juntos em várias ocasiões, como na construção da escola José de Alencar, na limpeza do igarapé da bica e em outros tantos momentos, possibilitando o crescimento comunitário e regional.

A sessão “a formação da comunidade de Boa Esperança” foi basicamente baseada nas entrevistas com os moradores mais antigos da comunidade, inclusive com o senhor Raimundo Alberto dos Santos, autor do livro citado na bibliografia.

7 CONCLUSÕESA construção da UHE de Curuá-Una foi um empreendimento que possibilitou

a formação de algumas comunidades no planalto santareno, dentre as quais podemos destacar a comunidade de Boa Esperança.

Os governos militares, ao implantar o plano de desenvolvimento da Amazônia, acabaram por instalar na região norte uma série de problemas. Apesar de a construção ter sido iniciada no neste período, a UHE de Curuá-Una é um projeto muito anterior, desde a época do presidente Vargas.

O potencial de geração energética da UHE de Curuá-Una, em sua maior parte foi destinada ao emprego e instalação dos grandes projetos de mineração na região oeste do Pará. O que mesmo assim não promoveu o desenvolvimento esperado pelos políticos e empresários locais.

A imprensa escrita de Santarém, representada pelo “O Jornal de Santarém”, participou do processo de construção da UHE de Curuá-Una e da propaganda do governo, vinculando notícias exaltando as obras e as ações praticadas pelas autoridades, tanto locais quanto de outras esferas.

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Desenvolvimento de protótipo de trocador de calor de superfície raspada – TCSR (pasteurizador) destinado a pequenas

agroindústriasCriz Roecker FrancoRubens Nobuo Yuki

RESUMOMuito do potencial de produção de frutas no Brasil não é aproveitado devido à falta de

investimentos em pesquisas e ao precário sistema de conservação de alimentos existentes, baseado quase que exclusivamente na conservação pelo resfriamento e/o congelamento das frutas. O objetivo desse trabalho foi desenvolver um protótipo de trocador de calor de superfície raspada – TCSR destinado à pasteurização de polpas. O módulo aquecedor do TCRS foi desenvolvido parcialmente nas dependências dos laboratórios do CEULS/ULBRA; os materiais utilizados para sua construção foram madeira, gesso e aço inox. O TCRS é dividido em dois módulos: (a) bancada, constituída de madeira, e (b) câmara de aquecimento de formato de cubo retangular, com superfície superior formada por chapa de aço inox destinada à condução de energia para a matéria-prima pasteurizada. A parte interna contém oito lâmpadas incandescentes de 100 w fixadas em soquetes de porcelana localizados na sua parte inferior, ligadas em circuito paralelo, acionadas por dois interruptores, cada um responsável pelo acionamento de quatro lâmpadas, colocadas alternadamente em relação aos seus receptores. As lâmpadas são responsáveis pelo aquecimento da câmara, graças ao efeito Joule. O interior da Câmara é revestido por papel alumínio, possibilitando um maior aproveitamento do calor e dos raios de luz. As dimensões do protótipo do TCRS permitem pasteurizar 1500 ml de polpa em 6 minutos a 90oC.

Palavras-chave: Processamento agroindustrial. Trocador de calor. Pasteurização.

Development of archetype of exchanger of heat of scraped surface (pasteurizer) destined the small agricultural industries

ABSTRACTMuch of the potential of production of fruits in Brazil is not used to advantage had the lack

of investments in research and to the precarious system of existing food conservation, based almost that exclusively in the conservation for the cooling e/o freezing of the fruits. The objective of this work was to develop an archetype of exchanger of heat of scraped surface used as pulp pasteurizer. The warming module of the exchanger of heat of scraped surface was developed partially in the

Criz Roecker Franco é Bacharel em Engenharia Agrícola pelo CEULS/ULBRA. E-mail: [email protected]. Fone: (93) 35881205.Rubens Nobuo Yuki é Orientador da Pesquisa e Professor do Curso de Engenharia Agrícola do CEULS/ULBRA.

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dependences of the laboratories of the CEULS/ULBRA; the materials used for its construction had been wood, plaster and steel inox. The exchanger of heat of scraped surface is divided in two modules: (a) group of benches, consisting wooden, and (b) chamber of heating of format of rectangular cube, with superior surface formed by steel plate inox destined the conduction of energy for the material (pulp). The internal part contains eight 100 incandescent light bulbs of W settled in located porcelain sockets in its inferior part, on in parallel circuit, set in motion for two interruptors, each one responsible one for the drive of four light bulbs, placed alternatingly in relation to its receivers. The light bulbs are responsible for the heating of the chamber by Joule effect. The interior of the Chamber is coated by paper aluminum, making possible a bigger exploitation of the heat and the rays of light. The dimensions of the archetype of the exchanger of heat of scraped surface allow to prepare 1500 mL of pulp in 6 minutes 90oC.

Keyword: Agro-industrial processing. Exchanger of heat. Thermal food treatment.

1 INTRODUçãONa cadeia produtiva de alimentos, o processamento agroindustrial é uma alternativa

para a comercialização de produtos que não são aproveitados na forma in natura.

A maior parte da produção de frutas é destinada ao consumo humano, seja na forma in natura ou em produtos processados. Estes produtos processados normalmente são comercializados como polpas ou sucos. A maneira mais comum de se realizar a conservação destes materiais é o processo de congelamento.

O congelamento de polpas de frutas acaba se tornando uma tarefa de difícil execução, pois requer suporte logístico de alto custo financeiro, como câmaras e caminhões frigoríficos, frízeres, etc. Além do mais, o congelamento da polpa pode causar danos às propriedades nutricionais, e não elimina os micro-organismos causadores da fermentação e a putrefação da polpa. Estes mesmos micro-organismos podem ser nocivos ao ser humano, causando doenças.

Muito do potencial produtivo de alimentos de países em desenvolvimento como o Brasil acaba se perdendo por falta de um manejo adequado, pois como já dito o congelamento é uma alternativa de conservação de alimentos que apresenta alguns problemas operacionais, devido à falta de investimentos por parte do Estado em pesquisas na área do Processamento Agroindustrial; carência de equipamentos que possam conservar as polpas, sem que haja a necessidade do congelamento.

Um procedimento que pode substituir o congelamento das polpas, de acordo com Vicenzi (2007), é a pasteurização, uma forma de conservação de alimentos que age por meio da inativação enzimática. Apresenta varias vantagens em relação ao processo de conservação tradicional (congelamento), podendo-se citar: é uma forma de sanitização; produtos pasteurizados não requerem equipamentos para a sua armazenagem e transporte; destrói as enzimas da matéria-prima; não há gasto com energia elétrica na conservação.

A criação de um Trocador de Calor de Superfície Raspada (TCSR) para pasteurização de polpas de frutas, adequado às necessidades de pequenos e médios produtores, poderá melhorar a fisionomia da cadeia produtiva de polpas de frutas, a

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exemplo de outros alimentos, como a polpa de tomate pasteurizada.

Propõe-se construir e testar protótipo de TCSR de baixo custo de construção, com inovação tecnológica em um dos módulos do TCSR, o aquecedor.

O principal objetivo do trabalho é contribuir com o fortalecimento da pesquisa tecnológica da agroindústria de alimentos através de novo equipamento que poderá fortalecer as atividades de pequenos produtores de frutas. Além disso, objetiva-se também: (a) testar a utilização de lâmpadas incandescentes como dispositivo de transformação de energia elétrica em térmica, em substituição a resistências elétricas específicas usuais; (b) testar a utilização de gesso como constituinte das paredes de câmara térmica (aquecedor de TCSR); (c) construir aquecedor elétrico destinado a pasteurização de polpas de frutas; (d) determinar valores de temperaturas e tempo de exposição necessárias para a pasteurização de polpas de frutas; (e) testar eficiência produtiva de protótipo de TCSR (pasteurizador) destinado a pasteurização lenta de polpas de frutas; (f) descrever tecnicamente o TCSR (pasteurizador) destinado à pasteurização lenta de polpas de frutas, incluindo memorial descritivo do equipamento e procedimentos de utilização.

2 MATERIAL E MÉTODOSO protótipo foi montado nos Laboratórios de Ciência e Tecnologia (LABTEC)

do Centro Universitário Luterano de Santarém (CEULS/ULBRA). Antes, porém foi realizada uma pesquisa bibliográfica relacionado ao tema, dentre os quais podemos citar a definição de polpa de fruta, trocadores de calor e pasteurização.

O projeto arquitetônico do TCSR consta de módulos (Figuras 1 e 2), sendo um aquecedor elétrico e uma bancada. Todo o material que estará em contado com a matéria prima foi próprio para contato com alimentos (aço inoxidável), evitando-se o contato manual e com o ar do ambiente, atendendo as recomendações de Brasil (1997 e 2005).

FIGURA 1 – Bancada.

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FIGURA 2 – Aquecedor Elétrico.

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O projeto foi executado no segundo semestre de 2009, constando das seguintes etapas:

I Aquisição de material de consumo no mercado de Santarém, PA;

II Construção do módulo Aquecedor do Trocador de Calor de Superfície Raspada (TCSR).

O módulo do TCSR foi parcialmente construído nas dependências dos LABTEC (Laboratório de Ciência e Tecnologia) do Centro Universitário Luterano de Santarém (CEULS/ULBRA) com a construção dos suportes de madeira realizada nas dependências do galpão do Sitio São José, Santarém, PA, sendo realizada pela autora do presente trabalho.

-O corte de chapas metálicas e respectivos serviços de solda (aço inoxidável) foi realizado externamente ao CEULS/ULBRA, em oficina especializada.

-O corpo principal do aquecedor do TCSR foi moldado em gesso, sendo revestido por chapas de aço inox.

III Testes de funcionamento:

-Após a construção do suporte de madeira e conexão do aquecedor, foram realizadas três baterias de testes de funcionamento, com o objetivo de testar se as lâmpadas conseguiriam elevar a temperatura até o ponto desejável. Além disso, era necessário que a polpa chegasse à temperatura de 90 oC e se mantivesse nestas condições por cinco minutos.

IV Testes de eficiência:

-Após a pasteurização das amostras de polpa, porções de 500 mL foram envasadas sem ar em sacos plásticos apropriados, resfriadas em água com gelo fundente, rotulados com informações inerentes (tipo de polpa e data de pasteurização), sendo mantidas a temperatura ambiente.

A qualidade da operação de pasteurização foi avaliada pela observação das amostras pasteurizadas, sendo consideradas pasteurizadas aquelas amostras que não apresentaram indícios de fermentação (gases) nos dois primeiros dias de armazenamento.

Os custos com a construção, adequação e testes de funcionamento encontram-se detalhados na Tabela 1.

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TABELA 1 – Orçamento destinado a construção, adequação e testes de funcionamento de protótipo de “Troca-dor de Calor de Superfície Raspada – TCSR (pasteurizador) destinado a pequenas agroindústrias”, realizado

em 2009, sob responsabilidade técnica de Criz Roecker Franco.

Especificação Unidade Qtde R$ unitário R$ Total

Chapa de aço inoxidável (3 x 1 m) metro linear 2 40,00 80,00Sacos plásticos cento 1 17,00 17,00Polpa de frutas pacote 30 3,50 105,00Gelo pacote 3 3,00 9,00Balde plástico unid 1 12,00 12,00Espátula unid 2 3,20 6,40Chapa de isopor (10 mm de espesura) unid 2 4,30 8,60

Papel alumínio rolo 1 4,20 4,20Eletrodos unid 15 3,00 45,00Fio elétrico metro 4 2,20 8,80Fita isolante elétrica rolo 1 2,30 2,30Gesso saco 1 23,00 23,00Lâmpadas incandescentes unidade 8 1,25 10,00Madeira (caibro) 5 cm x 5 cm x 6 m unidade 1 6,00 6,00Madeira (tábua) unidade 1 12,00 12,00Mão de obra especializada (marcenaria) serviço 1 20,00 20,00Mão de obra especializada (solda elétrica) serviço 2 40,00 80,00Plug unidade 2 4,50 9,00Porcas para parafuso unidade 4 0,20 0,80Pregos kg 1 7,00 7,00Transporte de parte do TCSR unid 2 17,00 34,00Soquete porcelana unidade 8 2,10 16,80Vara de ferro = Parafuso (rosca sem fim) vara 1 15,00 15,00

Total R$

531,90

3 RESULTADO E DISCUSSãO

3.1 Polpa de frutaA definição do conceito de polpa de frutas parece bem simples, mas como

poderemos ver a seguir torna-se um conceito bem mais amplo e complexo do que o dado pelos dicionários.

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Polpa, segundo o dicionário da língua portuguesa de Silveira Bueno, é uma substancia carnuda dos frutos, raízes e etc.

Em se tratando de produto destinado à alimentação humana, a definição torna-se mais complexa, havendo um Regulamento Técnico Geral para fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para polpa de fruta (BRASIL, 2000).

De acordo com Brasil (2000),

polpa de fruta é um produto não fermentado, não concentrado, não diluído e obtido de frutos polposos. É obtido de frutas frescas, sadias e maduras com características físicas, químicas e organolépticas do fruto. A polpa de fruta não deverá conter terra, sujidade, parasitas, fragmentos de insetos e pedaços das partes não comestíveis da fruta e da planta. Não devera ter suas características físicas, químicas e organolépticas alteradas pelos equipamentos, utensílios, recipientes e embalagens utilizadas no seu processamento e comercialização.

3.2 Processamento de polpas de frutasGrande parte das frutas não é consumida no seu estado in natura, o excedente

deve ser processado, para evitar maiores desperdícios. Uma das primeiras etapas desse processamento é transformar a fruta em polpa. Para se obter a polpa, pode-se utilizar tanto os frutos inteiros, macios, de coloração e aroma agradáveis, quanto frutos descartados de outros processamentos, e aí está o que podemos chamar de reaproveitamento de matéria-prima.

O processamento de polpas de frutas pode ser feito de várias maneiras e estão estreitamente relacionados aos processos finais de conservação do produto.

De acordo com Vicenzi (2007) as principais etapas do processamento agroindustrial de polpas de frutas são:

Lavagem, seleção e descascamento•

Desintegração•

Despolpamento •

Acabamento•

Desaeração•

Pasteurização•

Conservação•

Para fazer a lavagem das frutas, pode-se utilizar água tratada com cloro, na dosagem de 10 a 15 ppm de cloro livre (VICENZI, 2007). É necessário fazer a seleção das frutas, evitando misturar frutos amassados ou que contenham características, fora

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dos padrões definidos para cada tipo de processamento. Algumas frutas necessitam ser descascadas, este procedimento pode ser mecânico ou aproveitar-se de produtos químicos como é o caso da goiaba.

A desintegração consiste em triturar a matéria-prima, utilizando-se de moinhos do tipo de facas e de martelos. A próxima etapa é o despolpamento, ou seja, a eliminação de fibras, sementes, restos florais, e é feito com peneiras acopladas num equipamento denominado despolpador. As etapas finais da fabricação da polpa são o acabamento, uma das fases mais importantes, pois retira as ultimas impurezas existentes na polpa, e a desaeração que consiste na eliminação de gases presentes no produto.

Depois de fabricadas as polpas, começa a etapa de conservação. O primeiro passo é eliminar os agentes patogênicos, como bactérias, fungos e outros micro-organismos que podem estar presentes na polpa, através do processo de pasteurização. E por ultimo, a conservação, que pode ocorrer de várias formas: congelamento, concentração, embalagem asséptica e etc.

Dentre estas etapas acima citadas, daremos mais ênfase ao processo de pasteurização.

3.3 PasteurizaçãoUm dos principais desafios da indústria de alimentos é, sem duvida, garantir uma

melhor qualidade do produto, reduzindo o numero de agentes patogênicos e aumentando seu tempo de vida, tornando-o menos perecível. Um dos processos capazes de solucionar esses problemas pode ser a pasteurização.

A pasteurização é um tratamento térmico capaz de conservar polpas de frutas por inativação enzimática e destruição de micro-organismos termosensíveis, provocando alterações mínimas sobre o valor nutritivo e características sensoriais dos produtos (BASTOS et al., 2008)

A pasteurização é uma técnica de conservação capaz de substituir o congelamento, classicamente utilizado na conservação de polpas de frutas na região Norte possibilitando uma economia de energia, visto que “o congelamento é uma técnica cara; e favorecendo o armazenamento e a distribuição do produto a partir da Região Norte” (BASTOS et al., 2008).

Em termos de tempo de aquecimento do produto a ser pasteurizado, pode-se classificar o processo de pasteurização como Pasteurização Lenta, quando o alimento é aquecido a uma determinada temperatura, por um prolongado tempo (ex: 30 minutos ou mais) e Pasteurização Rápida, quando o tempo de aquecimento é de apenas alguns segundos.

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A Pasteurização de Polpas de Frutas, segundo Vicenzi (2007), é geralmente feita em trocadores de calor. Em trocadores de calor de superfície raspada (TCSR) a temperatura de 90ºC por 60 segundos é suficiente. Para a pasteurização lenta do produto recomenda-se 90ºC por 5 minutos para polpas de frutas ácidas.

3.4 Trocadores de calorSegundo Bejan (1996), Trocador de Calor é um equipamento desenvolvido para

promover a transferência de calor entre duas ou mais substâncias que apresentam diferentes temperaturas, e que na maioria dos casos a transferência ocorre entre dois fluidos.

Já Kreith (1998) afirma que Trocador de Calor é um dispositivo que efetua a transmissão de calor de um fluido para outro. Dessuperaquecedores, condensadores de jato e aquecedores de água de alimentação abertos são alguns exemplos de equipamentos de troca de calor que emprega a mistura de dois fluidos.

3.4.1 Tipos de trocadores de calorO tipo mais simples de Trocador de Calor é o de carcaça-e-tubo, consiste em

um tubo dentro do outro tubo; também temos outros tipos, que são: os de correntes paralelas, correntes opostas e correntes cruzadas (KREITH, 1998).

Bejan (1996) nos da outros tipos de trocadores de calor, que são: Trocadores de Calor multitubular (casco-tubo), do tipo placa, aletado, placa com aletas interrompidas, banco de tubos aletados com escoamento cruzado, aletas tipo pino e tubos com aletas internas.

3.4.2 Projeto de um trocador de calorSegundo Kreith (1998) para se projetar um Trocador de Calor devemos seguir

três fases: Análise Térmica; Projeto Mecânico Preliminar e por último o Projeto de Fabricação.

A analise térmica visa primeiramente a determinação da área de troca de calor, numa determinada quantidade por unidade de tempo, dada a velocidade de escoamento e a temperatura dos fluidos.

O projeto mecânico envolve considerações sobre as pressões e temperaturas de operação, as expansões térmicas relativas e as consequentes tensões térmicas, as características corrosivas dos fluidos e a relação do trocador de calor com demais equipamentos.

O projeto de fabricação necessita da tradução das características e dimensões físicas em uma unidade que possa ser construída com um baixo custo. A seleção dos

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materiais, revestimentos, vedações e arranjo mecânico devem ser feitos e os processos de fabricação devem ser especificados.

3.5 Descrição técnica do protótipoO módulo aquecedor do Protótipo de Trocador de Calor de Superfície Raspada

(TCRS), proposto neste trabalho, é capaz de pasteurizar 1500 ml de polpas de frutas em uma batelada de 6 minutos a uma temperatura de 90 oC. É constituído basicamente de dois módulos: (a) Bancada; (b) Aquecedor.

3.5.1 Bancada A bancada ou suporte é confeccionado em madeira e tem como função dar

sustentabilidade ao aquecedor. É composto de uma tábua colocada na posição horizontal sobre três suportes de madeira (que lembram o popular tamburete) (Figura 3).

FIGURA 3 – Suporte de Trocador de Calor (aquecedor) de Superfície Raspada destinado a pasteurização de polpas de fruta.

3.5.2 AquecedorO aquecedor é o mais importante módulo que compõe o TCSR, constituído

de uma câmara de aquecimento, confeccionada em gesso; chapa de aço inox, onde é depositada a polpa a ser pasteurizada e reveste a câmara de gesso. Apresenta as seguintes características.

Câmara de aquecimento tem o formato de uma caixa retangular aberta. A chapa de aço inox é colocada na parte superior da caixa de gesso, para que receba calor proveniente da fonte geradora de energia térmica e reveste as laterais da caixa. Em uma das laterais menores está presente uma tampa removível, utilizada para ajustes e consertos, quando estes forem necessários.

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A parte interna da câmara de aquecimento contém oito lâmpadas incandescentes de 100 w (ajustadas em soquetes de porcelana fixados na parte inferior da câmara), ligadas em circuito paralelo, sendo que há dois interruptores, cada um é responsável pelo acionamento de quatro lâmpadas, colocadas alternadamente em relação aos seus receptores. As lâmpadas são responsáveis pelo aquecimento da câmara, graças ao efeito Joule. O interior da Câmara também é revestido por papel alumínio, possibilitando um maior aproveitamento do calor e dos raios de luz.

A chapa de aço inox reveste externamente a parte superior e as laterais maiores da câmara de aquecimento, por motivos estéticos e de sanitização.

FIGURA 4 – Aspectos do módulo aquecedor de protótipo de Trocador de Calor de Superfície Raspada destinado à pasteurização de polpas de fruta.

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3.5.3 DimensionamentoO TCRS (aquecedor) apresenta as seguintes dimensões.

Bancada

Altura 73,0 cm

Comprimento 158,0 cm

Largura 30,0 cm

Área da tábua 4740 cm2

Câmara de aquecimento

Altura 33,0 cm. 29 x 33 x 93,5 cm

Comprimento 93,5 cm

Largura 29,0 cm

Área da aresta 3.085,5 cm2

Volume 89.479,5 cm3

3.5.4 Orçamento para construçãoOs custos com à construção do módulo aquecedor do TCRS encontra-se na

Tabela 2.

TABELA 2 – Orçamento destinado a construção de aquecedor de protótipo “Trocador de Calor de Superfície Raspada – TCSR (pasteurizador) destinado a pequenas agroindústrias”, realizado em 2009, sob responsabili-

dade técnica de Criz Roecker Franco.

Especificação Unidade Qtde R$ unitário

R$ Total

Chapa de aço inoxidável (3 x 1 m)metro linear 2 40,00 80,00

Eletrodos unidade 15 3,00 45,00Fio elétrico metro 4 2,20 8,80Fita isolante elétrica rolo 1 2,30 2,30Gesso saco 1 23,00 23,00Lâmpadas incandescentes unidade 8 1,25 10,00Madeira (caibro) 5 cm x 5 cm x 6 m unidade 1 6,00 6,00Madeira (tábua) unidade 1 12,00 12,00Mão de obra especializada (marcenaria) serviço 1 20,00 20,00Mão de obra especializada (solda elétrica) serviço 1 40,00 40,00

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Especificação Unidade Qtde R$ unitário

R$ Total

Plug unidade 2 4,50 9,00Porcas para parafuso unidade 4 0,20 0,80Pregos kg 1 7,00 7,00Soquete porcelana unidade 8 2,10 16,80Vara de ferro = Parafuso (rosca sem fim) vara 1 15,00 15,00

Total R$ 295,70

3.6 Testes de eficiênciaOs testes do trocador de calor de superfície raspada (TCSR) realizados no

CEULS/ULBRA foram muito importantes para o desempenho e aprimoramento do equipamento. Foi possível perceber o grau de eficiência do TCSR e quais as melhores condições para o seu funcionamento.

Na primeira bateria de testes constatou-se que o ambiente onde é realizado o processo de pasteurização deve estar numa temperatura ambiente girando em torno dos 29 ºC. Uma temperatura muito abaixo dessa faixa acarreta uma perda de calor para ambiente muito significativa, por esse motivo as primeiras amostras usadas nos testes não corresponderam às expectativas. A chapa de aço inox não chegou à temperatura ideal (calculada em 90 ºC). Outro fator que pode ter sido decisivo nesta primeira amostra foram as lâmpadas utilizadas (60 W).

Na segunda bateria de amostras testada, realizada com lâmpadas de 100 W, obteve-se resultados mais satisfatórios, pois a chapa alcançou os 90 ºC, porém quando havia a troca de calor entre chapa e polpa a temperatura caía demasiadamente, não elevando a temperatura aos desejados 90 ºC, devido à perda de calor para o ambiente.

Uma hipótese levantada para que a chapa não tivesse aumentado sua temperatura, foi que não havia calor suficiente para isso. Uma das soluções encontradas foi de envolver a camada interna do aquecedor do pasteurizador com papel alumínio, para que os reflexos deste contribuíssem para o aumento da temperatura dentro do aquecedor. Tal modificação teve resultados, considerados bons, pois a temperatura, nas mesmas condições, aumentou bastante em um intervalo de tempo curto. Este incremento possibilitou um aumento na temperatura, sem nenhum ônus, já que não foi preciso trocar as lâmpadas por outras mais potentes, assim não houve aumento nos gastos com energia elétrica.

Na terceira bateria de testes também não se conseguiu pasteurizar a polpa, por causa da troca do calor com o ambiente, apesar do aumento de temperatura proporcionado pelo incremento do papel alumínio.

A solução para o problema foi encontrada. Ao colocarmos uma tampa de aço inox revestida com isopor em cima da chapa do aquecedor, também foram revestidas

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com isopor as laterais do aquecedor, evitando com isso a perda demasiada de calor para o ambiente.

A chapa de aço inox do aquecedor chegou a uma temperatura de 100ºC em 15 minutos, no entanto esta temperatura é alta demais para o inicio do processo, então é jogada dentro da chapa uma porção de água deionizada para que haja a troca de calor e a temperatura baixe para aproximadamente 90ºC, além de higienizar a chapa. Depois disto, foram colocados na chapa 1000 mL de polpa de acerola. Assim acontece mais uma troca de calor, a temperatura fica em torno dos 65ºC. Em 12 minutos esta temperatura chegou aos 90 graus, passando cinco minutos nessas condições. A próxima etapa do processo foi a raspagem do material e o seu resfriamento em um saco plástico dentro de um balde com água com gelo fundente.

O TCSR alcançou os resultados esperados, pois atendeu aos requisitos necessários para que haja a pasteurização de polpa de acerola, ou outro tipo de fruta ácida (90 ºC por cerca de cinco minutos). Com a polpa nessas condições, os agentes patogênicos nela presentes são eliminados por meio de inativação enzimática. Os agentes patogênicos e outros micro-organismos são os responsáveis pela fermentação e extravio da polpa além de alguns deles serem causadores de doenças graves. A polpa pasteurizada e embalada a vácuo consegue resistir por um longo período em temperatura ambiente, sem a necessidade do congelamento, uma das mais tradicionais formas conservação de alimentos in natura, principalmente em regiões com pouco desenvolvimento tecnológico como é o caso da região norte do Brasil.

Resumindo: obteve-se a pasteurização adequada das polpas com tratamento térmico constando de aquecimento brusco (29 ºC para 65 ºC), aquecimento lento por 12 minutos (de 65 ºC a 90 ºC), manutenção em 90 ºC por 5 minutos e resfriamento sequencial da polpa através da imersão em água com gelo fundente (Figura 5).

FIGURA 5 – Amostras de polpas de acerola, pasteurizadas em trocador de calor de superfície raspada.

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4 CONCLUSãOÉ possível utilizar lâmpadas incandescentes como dispositivo de transformação

de energia elétrica em térmica, em substituição a resistências elétricas específicas para esse fim.

O gesso, apesar de apresentar baixa condutividade térmica, não é isolante térmico suficiente em uma câmara aquecedora elétrica, ou seja, há necessidade de outros dispositivos para se minimizar a perda de carga;

O revestimento de uma câmara aquecedora elétrica com papel alumínio favorece o efeito estufa da câmara;

Oito lâmpadas de 100 W é suficiente para, em 15 minutos, aquecer a tampa de aço inox (33 x 93,5 cm) de uma câmara térmica aquecedora de gesso (29 x 33 x 93,5 cm) a temperaturas acima de 100 ºC, com ambiente com 29 ºC, sem ventilação.

O tratamento térmico de polpas de frutas cítricas, constando de aquecimento brusco (29ºC para 65ºC), aquecimento lento por 12 minutos (de 65 ºC a 90 ºC), manutenção em 90 ºC por 5 minutos e resfriamento, é um novo processo de pasteurização eficiente para frutas cítricas.

É possível a construção de protótipo Trocador de Calor (aquecedor) de Superfície Raspada eficiente para a pasteurização lenta de polpas de frutas cítricas.

REFERÊNCIASBASTOS, Camila Travassos da Rosa Moreira et al. Estudo da eficiência da pasteurização da polpa de taperebá (Spondias mombin). Alim. Nutr., Araraquara, v.19, n.2, p.123-131, abr.-jun.2008. BEJAN, Adrian. Transferência de calor. São Paulo: Edgard Blucher LTDA, 1996.BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Dispõe sobre o regulamento técnico de procedimentos higiênico-sanitários para manipulação de alimentos e bebidas preparados com vegetais. Resolução RDC nº 218, de 29 de julho de 2005. D.O.U. – Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 01 de agosto de 2005.BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento. Aprova o regulamento técnico geral para fixação dos padrões de identidade e qualidade para polpa de fruta. Instrução Normativa N.º 01, de 7 de janeiro de 2000. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 7 jan. 2000.______. SVS/MS – Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Aprova o regulamento técnico sobre “condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos”. Portaria SVS/MS Nº 326, de 30 de junho de 1997. D.O.U. – Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 01 de agosto de 1997.KREITH, Frank. Princípios da transmissão de calor. 9ª reimpressão. São Paulo: Edgard Blucher LTDA, 1998.

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LARA, A.B.W.H.; NAZÁRIO, G.; ALMEIDA, M.E.W.; PREGNOLATO, W. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz: métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1976. 371p.SOUSA, Maria Assunção da Costa; YUYAMA, Lucia Kiyoko Ozaki; AGUIAR, Jaime Paiva Lopes; PANTOJA, Lílian. Suco de açaí (Euterpe oleracea Mart.): avaliação microbiológica, tratamento térmico e vida de prateleira. Acta Amazônica. Manaus, vol.36, n.4, p.483 – 496. 2006.VICENZI, Raul. Tecnologia de frutas e hortaliças. 73p. Disponível em http://www.sinprors.org.br/raul.vicenzi. Acesso: junho de 2007. [não publicado].YUKI, Rubens Nobuo. Processamento Agroindustrial: Roteiro prático para análises bromatológicas de frutas, hortaliças e seus derivados. [não publicado], Santarém. 2008.

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Espaço Científico v.11, n.1/2 p. 44-54 2010Santarém

Produção de liteira na Floresta Nacional do Tapajós no ano de 2007

Alessandra Damasceno SilvaRaimundo Cosme de Oliveira Junior

RESUMOA produção de liteira representa uma importante via de transferência de nutrientes e energia

da vegetação para o solo, independente do tipo de floresta. Assim, o objetivo desse estudo foi quantificar a produção de liteira, no ano de 2007, em área localizada no Km 67 da Floresta Nacional do Tapajós. Para quantificar a produção foram utilizados 40 coletores circulares de 1,5 m2, divididos em quatro transectos de 5 ha cada. A disposição dos 10 coletores em cada transecto foi aleatória. Sendo as coletas realizadas quinzenalmente, de janeiro a dezembro de 2007 e o material colhido encaminhado ao Laboratório do Programa LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera Atmosfera na Amazônia), onde foi realizado secagem em estufa a 65 oC e segregação do mesmo nas frações: folhas, madeira, flores/frutos e miscelânea. Em seguida, ele foi novamente seco em estufa até peso constante e cada fração foi pesada em balança de precisão (0,01g), desprezando as embalagens recipientes, determinando-se assim o peso seco das amostras. A produção total no período foi estimada em 400,05 kg/ha, representados pela fração folhas, com 285,75kg/ha (71,43%); a fração madeira com 66,58 kg/ha (16,64%); e as frações flores/frutos e miscelânea com 18,93 kg/ha (4,73%) e 28,79 kg/ha (7,20%), respectivamente. A análise de correlação não foi significativa entre as frações e a precipitação. Desta maneira, verificou-se que a precipitação não influenciou a deposição da liteira, sendo que o aporte total do material apresentou a seguinte magnitude: folhas > madeira > miscelânea > flores/frutos.

Palavras-chave: Produção de liteira. Flona do Tapajós. Precipitação.

Litter production in the National Forest Tapajós in 2007

ABSTRACTThe litter production represents an important route for transfer of nutrients and energy from

vegetation to soil, regardless of forest type. Thus, the purpose of this study was to quantify the litter production, in 2007, in an area located at Km 67 of the Tapajós National Forest. To quantify the production we used 40 circular collectors of 1.5 m2, divided into four transects of 5 ha each. The provision of 10 collectors at each transect was random. Since the samples collected fortnightly from January to December 2007 and collected material sent to the Laboratory Program LBA (Large-Scale Biosphere Atmosphere Experiment in Amazônia), which was conducted dried at 65 oC and segregation even in portions of leaves , wood, flowers/fruits, and miscellaneous. Then it was again dried in an oven until constant weight and each fraction was weighed in a precision balance (0.01g) and discard the packaging containers, thereby determining the dry weight of the samples. Total production for the period was estimated at 400.05 kg/ha, represented by the fraction

Alessandra Damasceno da Silva é Engenheira Agrícola. Raimundo Cosme de Oliveira Junior é Engenheiro Agrônomo, Doutor em Geoquímica Ambiental.

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of leaves with 285.75 kg/ha (71.43%), the fraction of wood with 66.58 kg/ha (16.64%); fractions and flowers/fruits and miscellany with 18.93 kg/ha (4.73%) and 28.79 kg/ha (7.20%), respectively. The correlation was not significant between fractions and precipitation. Thus, it was found that precipitation did not influence the deposition of litter, and the total contribution of the material presented the following magnitude: leaves > wood > Miscellaneous > flowers/fruit.

Keywords: Production of litter. The forest. Rainfall.

1 INTRODUçãOA Floresta Nacional do Tapajós (Flona) foi criada em 1974 (Decreto Federal

73.684) com área aproximada de 600.000 ha (RUSCHEL, 2008), localizada nos municípios de Belterra, Aveiro, Placas e Rurópolis, sendo administrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Está inserida no Bioma Amazônia e sua tipologia florestal é denominada floresta ombrófila densa de terra firme (VELOSO et al., 1991 apud RUSCHEL, 2008). De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Floresta Nacional é definida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) como uma área com predominância de espécies nativas e que tem por objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável.

A liteira ou serrapilheira (WHITE et al., 2007), de acordo com Souza (2009) compreende a camada mais superficial depositada sob os solos florestados, sendo composta por folhas, galhos, órgãos reprodutivos e miscelânea, exercendo inúmeras funções para o equilíbrio e dinâmica desses ecossistemas. Ramos (2006) a define como um dos compartimentos de um ecossistema e por isso seus componentes podem ser quantificados. Souza (2009) afirma ainda que, esse compartimento, além de proteger o solo contra as elevadas temperaturas, armazena, também, grande quantidade de sementes e abriga uma abundante diversidade de microrganismos que atuam diretamente nos processos de decomposição e incorporação do material fornecendo nutrientes ao solo.

De acordo com Luizão (2007) a produção anual de liteira pode variar de um ano para outro, dependendo, dentre outros fatores, dos padrões de precipitação pluviométrica e da fenologia das espécies de árvores, como, por exemplo, os ecossistemas florestais tropicais, destacados por Wernek et al. (2001 apud SOUZA, 2009), que apresentam produção contínua de serapilheira no decorrer do ano, porém a quantidade produzida nas diferentes épocas depende do tipo de vegetação estudada. Diante desses fatos, Souza (2009) destaca que a cada dia fica mais perceptível à necessidade de se realizarem pesquisas a curto, médio e longo prazo, que possam dar subsídios ao maior entendimento sobre esses fatores.

A presente pesquisa teve por objetivo quantificar a produção de liteira em Floresta Ombrófila Densa na Floresta Nacional do Tapajós, durante o ano de 2007, estabelecendo relações de correlação entre seus componentes e a precipitação.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Localização e descrição da área de estudoA área de estudo está localizada na Floresta Nacional do Tapajós, no km 67

da Rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163), Município de Belterra, no Pará. Sendo sua tipologia florestal, denominada, segundo Veloso et al. (1991 apud RUSCHEL, 2008), como floresta ombrófila densa de terra firme. E de acordo com Ruschel (2008) o clima é caracterizado como tropical úmido, com temperatura média anual de 25,5 ºC e variação térmica anual inferior a 5 ºC, classificado como Ami no sistema Köppen.

A precipitação média anual gira em torno de 1.900-2110 mm, apresentando grande variação no regime de chuvas durante o ano, com as maiores precipitações ocorrendo nos meses de janeiro a maio (RUSCHEL, 2008). Na região, há predominância de Latossolo Amarelo Distrófico, com baixa capacidade de troca catiônica e relevo levemente ondulado, segundo Silva et al.(1995 apud RUSCHEL, 2008).

2.2 Coleta de materialAs coletas foram realizadas no Km 67 da Flona do Tapajós e os dados da produção

de liteira foram obtidos por meio da delimitação de quatro transectos com 1000 m de comprimento e 50 m de largura cada, somando 20 ha. Em cada transecto foram distribuídos 10 (dez) coletores circulares de plástico, com fundo de nylon em malha de 4 mm2, totalizando 40 coletores.

As coletas, para realização desta pesquisa, iniciaram em janeiro de 2007 e foram finalizadas em dezembro desse mesmo ano. Quinzenalmente todo o material presente em cada coletor foi recolhido, acondicionado em embalagem de papel devidamente identificado com a numeração do coletor e a data da coleta submetendo-o, sequencialmente, à secagem em estufa de circulação de ar forçada a 65°C, até peso constante.

O material coletado nos trabalhos de campo foi separado manualmente nas frações: folhas (incluindo folíolos e pecíolo), madeira (partes lenhosas arbóreas de todas as dimensões e as cascas), flores/frutos (estruturas reprodutivas) e miscelânea (material vegetal que não pode ser identificado em função do processo de decomposição e material de origem animal como excrementos, por exemplo).

Após a triagem, as frações foram acondicionadas em embalagens de papel e posteriormente identificadas com o nome da fração correspondente seguindo, novamente, para secagem em estufa a 65°C até peso constante. A partir daí obteve-se o peso de cada fração por meio de sua pesagem em balança analítica (precisão de 0,01 g), desconsiderando as embalagens.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 ClimaOs dados de precipitação pluviométrica (Figura 1) demonstram a distribuição

mensal da pluviosidade durante o período da pesquisa, sendo a precipitação total de 2090,2 mm. Muitos autores descrevem, para esta região, o período seco como aquele que vai de agosto a outubro e o chuvoso de janeiro a maio, contudo, no período do presente estudo se observou os meses de fevereiro a maio com os maiores índices de pluviosidade e os de menor precipitação foram os meses de janeiro, agosto e setembro. Desse modo à pluviosidade observada nesse estudo mostrou-se atípica.

FIGURA 1 – Dados pluviométricos do ano de 2007.

3.2 Produção de liteiraA produção total de liteira na Flona do Tapajós foi estimada em 400,05 kg.ha-1.

ano-1. Os valores mensais de deposição de cada uma das frações do material estão expressos em kg/ha (Tabela 1).

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TABELA 1 – Produção mensal de Liteira (kg/ha) na FLONA do Tapajós.

Mês/Ano Folhas (kg/ha)

Madeira (kg/ha)

Flores e Frutos (kg/ha)

Miscelânea (kg/ha) Total (kg/ha)

Janeiro/07 12,03 2,98 0,23 0,76 16,00

Fevereiro/07 28,78 5,75 1,56 2,23 38,33

Março/07 26,09 8,75 2,79 1,67 39,30

Abril/07 13,79 5,01 0,64 2,19 21,62

Maio/07 27,06 6,10 0,93 1,27 35,37

Junho/07 10,41 6,59 0,53 0,83 18,35

Julho/07 11,28 2,64 0,46 0,64 15,02

Agosto/07 29,50 5,03 3,51 3,67 41,72

Setembro/07 37,77 6,38 2,68 6,96 53,79

Outubro/07 43,07 7,31 3,26 4,69 58,35

Novembro/07 17,58 2,32 1,19 0,75 21,84

Dezembro/07 28,37 7,72 1,15 3,12 40,36

Total (Ano) 285,75 66,58 18,93 28,79 400,05

A produção total de liteira estimada para a Flona do Tapajós foi semelhante à produção encontrada por Nascimento e Almeida (2007), em estudo conduzido próximo a Estação Científica Ferreira Penna, no interior da Floresta Nacional de Caxiuanã, localizado no Pará e com predomínio de floresta densa. Sendo a produção observada, no estudo desses autores, em 2005 e 2006 de 390 kg/ha a 440 kg/ha e 320 kg/ha a 330 kg/ha, respectivamente. De acordo com Caldeira et al. (2008) o acúmulo desse material varia devido inúmeros fatores, quer seja em função da idade, do tipo de floresta, do local e das espécies predominantes.

Na Figura 2 verifica-se o comportamento entre a produção total de liteira e a precipitação pluviométrica durante o período, sendo possível observar que a menor taxa de deposição ocorreu no mês de julho com 15,02 kg/ha, enquanto que a maior deposição foi em outubro com 58,35 kg/ha. Nesse estudo não foi observada a influência da pluviosidade na quantidade de liteira produzida, pois a deposição do material mostrou-se constante ao longo do ano.

Na análise de correlação entre as frações de liteira e precipitação não foi observada diferença estatística significativa, sendo que a fração folhas x precipitação apresentou valor de correlação r= -0,0808; a fração madeira x precipitação com r= 0,3206; a fração flores/frutos x precipitação obtiveram r= -0,1352 e miscelânea x precipitação com r= -0,3088.

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FIGURA 2 – Variação mensal do aporte de liteira e da precipitação em 2007.

A ausência de correlação significativa entre a produção de serapilheira e as variáveis climáticas (precipitação e temperatura), de modo geral, também foi constatada por outros estudiosos (CUSTÓDIO-FILHO et al., 1996; SANTOS e VÁLIO, 2002; FIGUEIREDO FILHO et al., 2003; VOGEL et al., 2007; LONGHI, 2009).

O percentual correspondente à contribuição de cada fração (folhas, madeira, flores e frutos e miscelânea) para a formação da liteira na Flona do Tapajós se encontra relacionado abaixo (Figura 3).

FIGURA 3 – Percentual de deposição anual das frações de Liteira.

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Do total de liteira, as folhas foram à fração predominante, contribuindo com 285,75 kg/ha (71,43%); a fração madeira contribui com 66,58 kg/ha (16,64%); a fração flores e frutos com 18,93 kg/ha (4,73%) e à fração miscelânea com 28,79 kg/ha (7,20%) do total de liteira produzido no período. De acordo com Backes; Prates e Viola (2005) o fato das folhas representarem mais de 70% do total de serapilheira, representa um processo de substituição gradativo de estruturas adultas total ou parcialmente envelhecidas, menos eficientes, por folhas novas como consequência do crescimento.

Quanto à deposição das frações, observou-se que a Flona do Tapajós apresentou aporte desse material na seguinte ordem decrescente: Folha > Madeira > Miscelânea > Flores e Frutos. Sendo este comportamento o mesmo encontrado por outros autores em áreas de floresta como, por exemplo, Machado et al. (2003) em área de Floresta Secundária no Rio de Janeiro e Longhi (2009) em Floresta Ombrófila Mista na Paraíba.

3.3 Produção da fração folhas No período de estudo, verificou-se que a fração folhas constituiu a maior proporção

das frações aportadas ao solo. A produção total da fração durante o estudo foi de 285,75 kg/ha, correspondendo a 71,43% da produção total que foi 400,05 kg/ha. Na Figura 4 constata-se o comportamento da deposição das folhas no decorrer do ano.

FIGURA 4 – Variação de produção da fração folhas no período da pesquisa.

Nascimento e Almeida (2007), na avaliação da queda de liteira no interior da Floresta Nacional de Caxiuanã, também verificou que a fração folhas teve maior participação na produção total das duas parcelas estudadas, sendo que sua maior

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produção ocorreu na parcela Terra Preta, com valor de 310 kg/ha ocorrendo no ano de 2005, que é superior ao desta pesquisa com 285,75 kg/ha.

3.4 Produção da fração madeiraA deposição da fração madeira, que inclui material lenhoso de todas as dimensões

mais cascas, foi a segunda maior contribuição para a formação da liteira, com os menores picos de produção nos meses janeiro, julho e novembro (Figura 5).

FIGURA 5 – Variação de produção da fração madeira no período da pesquisa.

A produção dessa fração foi de 66,58 kg/ha e de acordo com Souza (2009) sua produção na estação chuvosa pode estar relacionada ao efeito mecânico da chuva no processo de deciduidade dos ramos ressequidos durante a época seca anterior.

Silva et al. (2009) desenvolvendo trabalho em floresta com tipologia semelhante a da Flona do Tapajós, durante março de 2001 a fevereiro de 2002 e março de 2002 a fevereiro de 2003, encontrou valores superiores para a produção da fração madeira, sendo em média 133,36 ± 65,29 kg/ha e 120,85 ± 49,23 kg/ha, respectivamente em uma mesma parcela da floresta.

3.5 Produção da fração flores e frutos A deposição da fração flores e frutos incluem flores, frutos e sementes que

totalizaram 18,93 kg/ha durante o período da pesquisa, representando 4,73% do total de liteira produzida (Figura 6).

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FIGURA 6 – Variação de produção da fração Flores/Frutos no período da pesquisa.

Os meses que ocorreram à maior deposição foram de agosto a outubro de 2007, ocorrendo também um pico em março com 2,79 kg/ha.

3.6 Produção da fração miscelâneaA fração miscelânea, composta de fragmentos menores, de difícil identificação

e com a presença de fezes de pássaros, contribuiu com 7,20% do total da produção no período de estudo (Figura 7). Sendo a produção total obtida, de 28,79 kg/ha, superior ao valor encontrado por Nascimento e Almeida (2007), que foi de 20,00 kg/ha em 2006.

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FIGURA 7 – Variação de produção da fração miscelânea no período da pesquisa.

4 CONCLUSÕESA produção total de liteira na Flona do Tapajós, no ano de 2007, foi de 400,05

kg/ha.

A fração folhas apresentou-se como predominante na liteira produzida.

A deposição de liteira apresentou, de forma geral, a seguinte magnitude: folhas > madeira > miscelânea > flores e frutos.

Não foi observada correlação significativa entre as frações de liteira e a precipitação.

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Espaço Científico v.11, n.1/2 p. 55-79 2010Santarém

Avaliação das classes de capacidade de uso das terras das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeuá e Arimum da Resex Verde para Sempre, município Porto de

Moz, PAJuliano Gallo

Raimundo Cosme de Oliveira Junior

RESUMOO sistema brasileiro de capacidade de uso das terras consiste em uma metodologia adaptada

do sistema americano, sendo recomendado primordialmente para fins de planejamento de práticas de conservação do solo na agricultura, principalmente quanto a métodos de controle da erosão e indicado no planejamento de práticas de conservação do solo em áreas não muito grande como propriedades e pequenas bacias hidrográficas. Este trabalho tem como objetivo avaliar meio físico das terras nas comuidade Cuieiras, Carmelino, Itapeua e Arimum situadas no interior da unidade de conservação Resex Verde Para Sempre, localizada no município de Porto de Moz, PA e fora realizado com a finalidade de fornecer orientação à população que habita a unidade sobre quais são as aptidões de suas terras e quais são a melhores áreas para exercício das atividades agrícolas de modo a garantir maior sustentabilidade da atividade e previnir a degradação do solo. Para confecção dos mapas semidetalhados das classes de capacidade de uso das terras, foram utilizadas imagens de satélite Landsat-5, na composição colorida 5R4G3B, imagens de Radar com Modelo Digital de Elevação – MDE (SRTM, 2000), juntamente com informações levantadas a campo durante o trabalho de levantamento de solos. Os resultados mostraram que a comunidade Cuieiras não apresenta terras com capacidade para atividade agrícola ou pecuária, a classe VIII ocupa maior parte da área estuda das quatro comunidades com 39,44% da área total. A comunidade Itapeua destaca-se por apresentar maior proporção de área com a classe IIIs com 40,12% de sua área, os principais fatores limitantes à utilização das terras foram a deficiência de oxigênio causada pela inundação muito frequente nas regiões mais baixas e pela e a restrição legal de uso por se tratarem de APP.

Palavras-chave: Capacidade de Uso. Reserva Extrativista. Várzea. Amazônia.

Juliano Gallo é Eng. Agr. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Recursos Naturais da Amazônia da UFOPA, Campus de Santarém.Raimundo Cosme de Oliveira Junior é Eng. Agr., D.Sc. Pesquisador Embrapa Amazônia Oriental e Professor CEULS, CEP 68035-110, Santarém-PA.

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 201056

Evaluation of class of capability of the land use Cuieiras, Carmelino, Itapeuá and Arimum the Forever Green Resex,

city of Port Moz, PA

ABSTRACTThe Brazilian system of land use capability consists of a methodology adapted from the

American system and is recommended primarily for planning purposes of soil conservation practices in agriculture, mainly for erosion control methods and practices specified in the planning soil conservation in areas not so great as properties and small watersheds. This study aims to evaluate the physical environment of the lands in comuidade Cuieiras Carmelina Itapeua Arimum and facilities inside the protected area Forever Green Resex, located in the municipality of Porto de Moz, PA and was completed with the purpose of providing guidance to population living in the unit on what are the skills of their land and what are the best areas to carry out agricultural activities to ensure the sustainability of this activity and prevent soil degradation. To make maps of semidetailed capability classes of land use, we used images from Landsat-5, 5R4G3B colored composition, Radar images with Digital Elevation Model – DEM (SRTM, 2000), together with information gathered in the field during the soil survey work. The results showed that the community has no land Cuieiras capacity for agriculture or livestock, the class VIII occupies most of the area studies of four communities with 39.44% of total area, the community Itapeua distinguished by higher proportions of area with the class IIIs with 40.12% of its area, the main factors limiting the use of land were oxygen deficiency caused by very frequent flooding in the lower regions and the legal restriction of use and they are related to APP.

Keywords: Usability. Extractive Reserve. Meadow. Amazon.

1 INTRODUçãONa ciência do solo existem várias classificações que são reunidas em duas

categorias distintas: classificação taxonômica e classificação técnica-interpretativa (LEPSCH, 1991). Onde na primeira, os solos são agrupados a partir de uma quantidade muito grande de propriedades e características em comum, tendo como base os processos pedogenéticos e os fatores de formação do solo onde o objetivo principal é do levantamento de solos é o conhecimento da natureza e distribuição das unidades pedológicas. Segundo Lepsch (1991) na classificação técnica-interpretativa as unidades são agrupadas em funções de determinadas características de interesse prático e específico: em função da necessidade de irrigação e/ou drenagem; aptidão agrícola para determinadas culturas; susceptibilidade à erosão; fertilidade; capacidade de uso entre outras. Dando ênfase no comportamento agrícola dos solos.

O Sistema Brasileiro de Capacidade de Uso das Terras (LEPSCH et al., 1983) é uma versão modificada da classificação americana (KLINGEBIEL; MONTGOMERY, 1961). De acordo com Lepsch (1991), este método é recomendado primordialmente para fins de planejamento de práticas de conservação do solo na agricultura, principalmente quanto a métodos de controle da erosão. Indicado primordialmente para o planejamento de práticas de conservação do solo em áreas não muito grandes como propriedades e pequenas bacias hidrográficas adequando-se perfeitamente para ás áreas objeto de estudo das

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comunidades com aproximadamente 14.400ha cada. Segundo Collins (1981), o uso deste método é baseado na suposição de que o mesmo pode ser utilizado para interpretar estudos simplificados, denominados levantamentos utilitários, que podem ser realizados tanto por especialistas em ciência do solo, quanto por agrônomos treinados em conservação de solos. No Brasil, a existência de levantamentos detalhados convencionais de solos, em termos de projetos agrícolas é pouca, portanto favorece-se a aplicação desta classificação.

Praticamente, não existe diferença de estruturação entre o sistema de capacidade de uso da terra adaptado para as condições brasileiras (LEPSCH et al., 1983) e o original (KLINGEBIEL; MONTGOMERY, 1961). A inovação é a incorporação da unidade ou grupo de manejo, que representa grupamentos de terras, recebendo as mesmas práticas, devido a respostas similares ao tratamento. Segundo Ramalho (1999), o uso de unidades de manejo não é factível no caso de se estudar uma área onde as unidades são descontínuas e os sistemas de produção compreendem diferentes tipos de utilização da terra e culturas. O Sistema de capacidade de uso leva em consideração não apenas o solo, mas também outros atributos físicos, como relevo, aspectos fisionômicos da vegetação, tipos e grau de erosão, disponibilidade de água, riscos de inundação e impedimentos a mecanização.

Os aspectos favoráveis do sistema de capacidade de uso constituem principalmente na proposta de metodologia generalizada, que facilmente pode ser entendida, pois, o sistema esta relacionado principalmente com variáveis físicas, sendo pouco afetado pelas mudanças social, econômica e tecnológica.

Como aspectos desfavoráveis do sistema de capacidade de uso, o próprio Lepsch (1991) destaca a dificuldade na separação das classes de declividade que não são encontradas em mapas de reconhecimento de solos de escalas menores que 1:100.000 decorrente do nível de generalização deste levantamento. No entanto, com o grande avanço ocorrido nas ferramentas e técnicas de Geoprocessamento, bem como, a geração de imagens de radar com Modelo Numérico de Terreno – MNT, a determinação da declividade do relevo pode ser facilmente gerada na escala de 1:50.000. Outra limitação do sistema está relacionada às disparidades regionais de emprego de tecnologia agrícola e capital, não considerando diferentes níveis de manejo, pois a metodologia pressupõe basicamente manejo com alto uso de tecnologia.

O presente trabalho tem como objetivo realizar o levantamento utilitário do meio físico e identificação das classes de capacidade de uso das terras (LEPSCH, 1991) das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeua e Arimum.

2 METODOLOGIA

2.1 Caracterização e localizaçãoA Unidade de Conservação Reserva Extrativista (RESEX) Verde Para Sempre foi

criada através do Decreto de 8 de novembro de 2004 e está localizada no Município de

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Porto de Moz, situado na Mesorregião do Baixo Amazonas e Microrregião de Almerim. Com uma área de aproximadamente 1.288.717ha, o objetivo de sua criação é assegurar o uso sustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis, protegendo o meio de vida e a cultura das populações extrativistas que vivem no local. Dentre as muitas comunidades existentes dentro do perímetro da unidade de conservação, quatro delas destacam-se, sendo elas: Cuieiras, Carmelino, Itapeuá e Arimum. De acordo com Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade – ICMBIO, as principais atividades desenvolvidas pela população local é a extração de plantas, caça, pesca e agricultura de subsistência e, os que vivem nas áreas de várzea, exercem ainda as atividades de bovino e bubalinocultura.

As áreas levantadas de cada uma das quatro comunidades correspondem a aproximadamente 14.400ha, o que equivale a um polígono quadrado de 12 km de lado onde a sede de cada comunidade está situada exatamente no centro do referido polígono, formando assim uma área total estudada de 57.600ha.

FIGURA 1 – Mapa de localização das comunidades.

A comunidade Cuieiras está localizada na porção noroeste da unidade de conservação, sua sede esta sob as coordenadas geográficas latitude -01 47’10” e longitude -52 56’ 17”, toda área da comunidade caracteriza-se como ambiente de várzea do rio Amazonas, sendo o rio Uiuí o principal cuso d’ água para a comunidade. A comunidade Carmelino esta localizada na porção nordeste da Resex, sua área esta caracterizada por ambiente de várzea e terra firma, a sede possui coordenadas geográficas latitude -01 53’ 01” e longitude -52 32’ 12”, sendo o rio Jarauçú seu principal recurso hidrico. A comunidade Itapeua por sua vez esta toda situada em terra firme estando localizada na porção sudoeste da unidade, sob coordenadas geográficas latitude -02 20’ 10’’e longitude -52 55’ 06’’, seu principal curso d’água é o rio Jarauçú. Por ultimo, a comunidade Arimum esta localizada ao leste da reserva tendo como principal curso

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d’água o rio de águas escuras Acarai, afluente do rio Xingú. Toda área da comunidade Arimum corresponde a terra firme, a sede da comunidade esta sob as coordenadas geográficas latitude -02 03’ 05’’ e longitude -52 22’ 27’’.

2.2 ClimaSegundo o Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará

(SECTAM, 2004) a região das comunidades apresenta clima quente e úmido. Com classificação climática sob o tipo climático Am da classificação de Köppen e subtipo Am3 que pertence ao domínio de clima tropical, apresenta caracteristica de clima de monção com moderada estação seca e ocorrência de precipitação média mensal inferior a 60mm no período de menor precipitação com moderado período de estiagem.

Segundo dados da estação meteorológica de Porto de Moz (AGRITEMPO), as temperaturas médias, máximas e mínimas anuais oscilam, respectivamente, entre 25,2 e 27,5ºC, 30,1 e 32,5ºC e 20,3 e 22,5ºC, enquanto que a precipitação pluviométrica apresenta valores anuais oscilantes entre 2.000mm a 2.500mm, com distribuição irregular durante os meses, mostrando a ocorrência de um períodos nítidos de chuvas, abrangendo o período de janeiro a julho.

Analisando o balanço hídrico climatológico do município de Porto de Moz (Figuras 2), verifica-se que a estação seca compreende os meses de agosto a dezembro. O déficit hídrico se intensifica entre os meses de outubro e dezembro, sendo novembro o mês mais seco onde a disponibilidade média de água no solo é de 29mm (INMET).

FIGURA 2 – Balanço hídrico climatológico do Município de Porto de Moz – PA, Série 1961 – 1990.Fonte: INMET.

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2.3 GeologiaConforme o RADAMBRASIL (1974) e CPRM (2008) em toda área de estudo

estão situadas três unidades geológicas ou litoestratigráficas. O perímetro da comunidade Cuieiras esta todo inserido na unidade geológica denominada Depósitos Aluvionares. As comunidades Carmelino e Arimum estão situadas sobre as unidades geológicas denominadas Depósitos Aluvionares e Formação Alter do Chão. A região da comunidade Itapeua compreende além das duas unidades (Depósitos Aluvionares e Formação Alter do Chão), a unidade geológica Cobertura Laterítica Matura.

2.4 GeomorfologiaNa área de estudo das comunidades de acordo com RADAMBRASIL (1974)

e ZEE BR-163 (2005) estão inseridas três unidades geomorfológicas pertencentes a dois Domínios Morfoestruturais sendo: a unidade geomorfológica Planície Amazônica pertencente ao Domínio Morfoestrutural Depósitos Sedimentares Quaternários e as unidades geomorfológicas Planalto Tapajós-Xingu e Tabuleiros do Xingu – Tocantins, ambas pertencem ao Domínio Morfoestrutural Bacias e Coberturas Sedimentares Fanerozoicas.

A área da comunidade Cuieiras esta toda inserida na unidade geomorfológica Planície Amazônica. As comunidades Carmelino e Itapeua estão situadas sobre as unidades geomorfológicas Planalto Tapajós-Xingu e Planície Amazônica. A área da comunidade Arimum compreende as unidades geomorfológicas Tabuleiros do Xingu – Tocantins e Planície Amazônica.

2.5 Prospecção e cartografia das classes de capacidade de uso das terrasInicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica de modo que todas as

informações preliminares necessárias sobre o ambiente onde fora realizado o estudo puderam ser levantadas, destacando-se: trabalhos de levantamento e mapeamento de solos já realizados na região, informações sobre a geologia, geomorfologia, vegetação, uso do solo (RADAMBRASIL, 1974), IBGE (2001) e ZEE BR-163 (2007) juntamente com cartas de hidrologia planialtimétricas geradas pela Diretoria de Serviços Geográficos – DSG. Também foram utilizadas imagens de satélite e imagens de radar para complementar o planejamento inicial para o levantamento de campo.

Através de ferramentas de geoprocessamento do software IDRISI Andes (Clark Labs versão 15.1), foram geradas peças temáticas com variáveis geomorfométricas de elevação, declividade, orientação e curvas de nível referentes às áreas de estudo das quatro comunidades estudadas da RESEX Verde Para Sempre.

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Para classificação e elaboração dos mapas de altitude, declividade e curvatura vertical realizou-se o processamento do Modelo Digital de Elevação – MDE, gerado através da missão espacial “Shutle Radar Topography Mission – SRTM” que ocorreu no período de 11 a 22 de fevereiro de 2000. As imagens de radar foram lideradas pela National Aeronautics and Space Administration – NASA, com resolução espacial de 90m e com posterior tratamento gerou-se com resolução espacial de 30m. A elevação foi classificada e agrupado em níveis de altitude de 10 em 10 metros e 20 em 20 metros, gerando assim as faixas de altitude. Com as imagens de radar também se realizou a classificação do relevo em porcentagens e fases de declividade, que após a classificação foram agrupadas de acordo com a classificação de declividade estabelecida pelo Manual Para Levantamento Utilitário do Meio Físico e Classificação de Terras no Sistema de Capacidade de Uso (LEPSCH, 1991).

As imagens de satélites utilizadas foram obtidas do site oficial do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. O satélite selecionado foi o Land Remote Sensing Satellite 5 – Landsat5, no sensor Thematic Mapper – TM, com resolução espacial de 30m. As imagens são correspondentes a órbita e ponto 226/61 com passagem em 02 de julho de 2008 e 09 de setembro de 1998 e a órbita ponto 226/62 com passagem em 02 de julho de 2008 as bandas utilizadas foram: banda 3 (espectro vermelho), banda 4 (espectro infravermelho próximo) e banda 5 (espectro infravermelho médio). A composição utilizada foi em falsa cor com a banda 5 na cor vermelha (red), banda 4 na cor verde (green) e banda 3 na cor azul (blue). As bandas foram inicialmente georreferenciadas através da base hidrográfica na escala 1:250.000 do estado do Pará, desenvolvido pela Diretoria de Serviço Geográfico – DSG, após o levantamento de campo refez-se o georreferenciamento das imagens com base nos dados coletados propiciando assim maior precisão das imagens.

Na avaliação da potencialidade dos solos, foi utilizada a interpretação dos resultados, propriedades e qualidades obtidas e determinadas pelo levantamento semidetalhado dos solos, na escala 1:50.000 das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeua e Arimum realizado em outubro de 2009.

A classificação das fases de relevo através da qualificação da declividade, comprimento de encostas e configurações superficiais dos terrenos possuem uma forte correlação com ocorrência das unidades de solo (EMBRAPA, 2006). As distribuições das fases de relevo são empregadas para promover informações sobre praticabilidade de emprego de equipamentos agrícolas e facilitar a inferências sobre suscetibilidade dos solos à erosão, indicando o grau de limitação que é fundamental para identificação das classes de capacidade de uso.

As classes de relevo são reconhecidas segundo o Manual Para Levantamento Utilitário do Meio Físico e Classificação de Terras no Sistema de Capacidade de Uso (LEPSCH, 1991) de acordo com a Tabela 1.

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TABELA 1 – Classificação do relevo em função dos níveis de declive.

Nível de declive Graus de inclinação Classes de declividade

0 a 2% 0º a 1º 8’ 45” Plano

2 a 5% 1º8’45” a 2º51’45” Suave ondulado

5 a 10% 2º51’45” a 5º42’38” Moderadamente ondulado

10 a 15% 5º42’38” a 8º31’51” Ondulado

15 a 45% 8º31’51” a 24º13’40” Forte ondulado

45 a 70% 24º13’40” a 34º59’31” Montanhoso

Acima de 70% > 34º59’31” Escarpado

O sistema de capacidade de uso é hierarquizado em: Grupos de capacidade de uso (A, B e C) estabelecido com base nos tipos de intensidade de uso das terras; Classes de capacidade de uso (I a VIII) baseadas no grau de limitação de uso e; subclasses de capacidade de uso (IIe, IIIe, IIIs...) baseadas em condições específicas que afetam o uso ou manejo da terra.

As unidades de capacidade permitem um agrupamento específico de solos similares, dentro de cada subclasse de capacidade. Elas se referem, principalmente, ao tratamento dado ao solo, de modo a superar as limitações de uso e permitir uma produção sustentável. No trabalho realizado nas comunidades da Resex, com o nível de detalhamento semidetalhado na escala 1:50.000, foi possível identificar cartograficamente até o nível hierárquico das subclasses de capacidade de uso.

Os grupos de capacidade de uso constituem o nível mais elevado, mais generalizado, estabelecidos com base na maior ou menor intensidade de uso das terras onde: Grupo A as terras são passíveis de utilização com culturas anuais, perenes, pastagens e/ou reflorestamento e vida silvestre comportando as classes I, II, III, e IV; Grupo B compreende as terras impróprias para cultivos intensivos, mas ainda adaptadas para pastagens e/ou reflorestamento e/ou vida silvestre compreendendo as classes V, VI e VII e; Grupo C onde estão as terras não adequadas para cultivos anuais, perenes, pastagens ou reflorestamento, porém apropriadas para proteção da flora e fauna silvestre, recreação ou armazenamento de água, esta classe comporta apenas a classe VIII.

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FIGURA 3 – Resumo da variação do tipo e da intensidade máxima de utilização da terra sem risco de erosão acelerada em função da capacidade de uso. Adaptado de Lepsch (1991).

As Classes de Capacidade de uso são caracterizadas segundo Lepsch (1991) levando em conta principalmente a maior ou menor complexidade das práticas conservacionistas, em especial as de controle à erosão. De uma forma sintética as classes de capacidade de uso são caracterizadas nos grupos A, B e C como:

Grupo A

Classe I: terras cultiváveis, aparentemente sem problemas especiais de conservação;

Classe II: terras cultiváveis com problemas simples de conservação e/ou de manutenção de melhoramentos;

Classe III: terras cultiváveis com problemas complexos de conservação e/ou de manutenção de melhoramentos;

Classe IV: terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada, com sérios problemas de conservação.

Grupo B

Classe V: terras adaptadas em geral para pastagens e, em alguns casos, para reflorestamento, sem necessidades de práticas especiais de conservação, são cultiváveis apenas em casos muito especiais;

Classe VI: terras adaptadas em geral para pastagens e/ou reflorestamentos, com problemas simples de conservação. São cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes protetoras do solo;

Classe VII: terras adaptadas em geral somente para pastagens ou reflorestamento, com problemas complexos de conservação.

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Grupo C

Classe VIII: terras impróprias para cultura, pastagem ou reflorestamento, podendo servir apenas como abrigo e proteção da fauna e flora silvestre, como ambiente para recreação, ou para fins de armazenamento de água. Nesta classe também estão inclusas as áreas com restrições legais para uso, como é o caso das Áreas de Preservação Permanente – APP estabelecidas pelo Código Florestal Brasileiro (Lei n.4.771/65).

No terceiro nível hierárquico do Sistema de Capacidade de Uso das Terras adaptado por Lepsch (1991), situam as subclasses que representam a natureza da limitação das terras, tornando, assim, mais explicitas, as práticas ou grupos de práticas conservacionistas a serem adotados. As subclasses dão representadas por letras minúsculas onde, convencionalmente podem ser de quatro naturezas sendo:

e: limitações pela erosão presente e/ou risco de erosão;

s: limitações relativas ao solo;

a: limitações por excesso de água;

c: limitações climáticas.

Uma determinada classe de capacidade de uso pode apresentar mais de uma subclasse, pois um mesmo solo pode apresentar limitações de natureza diferente em um mesmo grau de limitação. Nestes casos, as unidades cartográficas são representadas no mapa com duas subclasses.

No quarto e ultimo nível hierárquico do sistema de capacidade de uso adaptado por Lepsch (1991), estão as unidades de capacidade de uso que demonstram de maneira mais explícita a natureza das limitações das terras, facilitando o estabelecimento das práticas de manejo. As unidades de capacidade de uso procuram complementas as subclasses indicando o fator limitante. O estudo realizado na área das comunidades foi executado no nível de detalhamento semidetalhado na escala 1:50.000, portanto não é possível realizar a representação cartográficas até o quarto nível hierárquico do sistema de capacidade de uso. Sendo possível somente a representação até o terceiro nível hierárquico.

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FIGURA 4 – Esquema dos grupos, classes, subclasses e unidades de capacidade de uso. Adaptado de Peralta (1963), citado por Lepsch (1991).

Na avaliação da potencialidade dos solos foi utilizada a interpretação dos resultados, propriedades e qualidades obtidas e determinadas pelo levantamento semidetalhado dos solos, na escala 1:50.000 das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeua e Arimum realizado em outubro de 2009.

A classificação das fases de relevo através da qualificação da declividade, comprimento de encostas e configurações superficiais dos terrenos possuem uma forte correlação com ocorrência das unidades de solo (EMBRAPA, 2006). As distribuições das fases de relevo são empregadas para promover informações sobre praticabilidade de emprego de equipamentos agrícolas e facilitar a inferências sobre suscetibilidade dos solos à erosão, indicando o grau de limitação que é fundamental para identificação das classes de capacidade de uso.

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As pesquisas bibliográficas, documentais, cartográficas, as imagens de satélite e de radar e o trabalho de campo permitiram uma melhor abordagem da metodologia, considerando os aspectos geoambientais em conjunto (solos, clima, geologia, geomorfologia, utilização da terra e hidrologia) em acordo com as restrições legais de utilização do solo (Lei 4.771/65), juntamente com o levantamento de campo, possibilitou identificar as classes e desenvolver os mapas das classes de capacidade de uso das quatro comunidades. Para facilitar a identificação das classes de capacidade de uso as informações são comparadas em uma chave paramétrica (Quadro 1) adaptada de Lepsch (1991).

A avaliação da capacidade de uso das terras das comunidades Arimun, Carmelino, Cuieiras e Itapeua foi executada com a finalidade de fornecer subsídios circustanciais para embasar os planos de ação que visem um desenvolvimento sustentável do ponto de vista agrícola, socioeconômico e ambiental.

FATORES LIMITANTES CARACTERÍSTICAS

CLASSESI II III IV V VI VII VIII

1. Fertilidade Natural

a. Muito alta Xb. Alta Xc. Média Xd. Baixa Xe. Muito baixa X

2. Profundidade Efetiva

a. Muito profunda Xb. Profunda Xc. Moderada Xd. Rasa Xe. Muita rasa X

3. Drenagem Interna

a. Excessiva Xb. Forte Xc. Acentuada Xd. Bem drenado Xe. Moderada Xf. Imperfeita Xg. Mal drenado Xh.Muito mal drenado X

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4. Deflúvio Superficial

a. Muito rápido Xb. Rápido Xc. Moderado Xd. Lento Xe. Muito Lento X

5. Pedregosidade

a. Sem pedras Xb. Ligeiram. pedregoso Xc. Moderad. pedregoso Xd. Pedregoso Xe. Muito pedregoso Xf. Extrem. pedregoso X

6. Risco de Inundação

a. Ocasional Xb. Frequente Xc. Muito frequente X

7. Classe de Declividade

a. Plano Xb. Suave ondulado Xc. Moderad. Ondulado Xd. Ondulado Xe. Forte ondulado Xf. Montanhoso Xg. Escarpado X

8. Grau de Erosão Laminar

a. Não aparente Xb. Ligeira Xc. Moderada Xd. Severa Xf. Muito severa Xe. Extrem. Severa X

9. Sulcos Rasos

a. Ocasional Xb. Frequente Xc. Muito frequente X

10. Sulcos Médios

a. Ocasional Xb. Frequente X

c. Muito frequente X

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11. Sulcos Profundos

a. Ocasional Xb. Frequente Xc. Muito frequente X

12. Seca Edafológica

a. Ligeira Xb. Curta Xc. Média Xd. Longa Xe. Muito Longa X

QUADRO 1 – Chave paramétrica dos fatores determinantes das classes de capacidade de uso as Terras. Fonte: Adaptado de Lepsch (1991), citado por Ribeiro e Campos (1999).

3 RESULTADOS

3.1 Classificação e descrição do relevo Após a classificação do relevo, foram calculadas as respectivas áreas de cada

unidade em hectares (ha) com a porcentagem abrangida na área de cada uma das comunidades. Conforme pode observar-se nas tabelas a seguir.

TABELA 2 – Classes de relevo e declividade da área abrangida pela comunidade Cuieiras

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 – 2 0º a 1º 8’ 45” 9.997,44 69,43

Suave ondulado 2 – 5 1º8’45” a 2º51’45” 4.252,18 29,53

Moderadamente ondulado 5 – 10 2º51’45” a 5º42’38” 141,31 0,98

Ondulado 10 – 15 5º42’38” a 8º31’51” 9,07 0,06

TOTAL 14.400 100,00

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Por ser um ambiente de várzea e fazendo parte da unidade geomorfológica Planície Amazônica observa-se grande proporção do relevo plano (69,43%) e suave ondulado (29,53%) dando um caráter bastante homogêneo à área da comunidade Cuieiras.

TABELA 3 – Classes de relevo e declividade da área abrangida pela comunidade Carmelino

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 – 2 0º a 1º 8’ 45” 7.764,51 53.92

Suave ondulado 2 – 5 1º8’45” a 2º51’45” 3.227,43 22,41

Moderadamente ondulado 5 – 10 2º51’45” a 5º42’38” 1.746,67 12,13

Ondulado 10 – 15 5º42’38” a 8º31’51” 577,80 4.01

Forte ondulado 15 – 45 8º31’51” a 24º13’40” 1.083,59 7,53

TOTAL 14.400 100,00

Apesar de uma boa porção da área da comunidade Carmelino apresentar relevo plano (53,92%), a comunidade apresenta considerável ocorrência de relevo forte ondulado (7,53%) tornando essas áreas altamente suscetíveis á processos erosivos.

TABELA 4 – Classes de relevo e declividade da área abrangida pela comunidade Itapeua.

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 – 2 0º a 1º 8’ 45” 1.690,39 11,74

Suave ondulado 2 – 5 1º8’45” a 2º51’45” 6.106,98 42,41

Moderadamente ondulado 5 – 10 2º51’45” a 5º42’38” 4.252,22 29,53

Ondulado 10 – 15 5º42’38” a 8º31’51” 1.298,78 9,02

Forte ondulado 15 – 45 8º31’51” a 24º13’40” 1.051,63 7,30

TOTAL 14.400 100,00

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Verifica-se uma distribuição homogênea das classes de relevo na comunidade Itapeua sendo a classe suave ondulado (42,41%) a unidade predominante na área estudada seguido da classe moderadamente ondulado (29,53%).

TABELA 5 – Classes de Relevo e de declividade da área abrangida pela Comunidade Arimum.

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 – 2 0º a 1º 8’ 45” 1.414,97 9,83

Suave ondulado 2 – 5 1º8’45” a 2º51’45” 4.644,36 32,25

Moderadamente ondulado 5 – 10 2º51’45” a 5º42’38” 4.958,75 34,44

Ondulado 10 – 15 5º42’38” a 8º31’51” 1.998,06 13,87

Forte ondulado 15 – 45 8º31’51” a 24º13’40” 1.383,86 9,61

TOTAL 14.400 100,00

Observa-se uma proporção considerável de relevo ondulado e forte ondulado (13,87% e 9,61%) na área da comunidade Arimum o que significa que essas porções são áreas suscetíveis aos processos erosivos e a movimentos de massa o que exige maiores cuidados quanto ao uso e ocupação dessas áreas.

3.2 Classificação e descrição das classes de capacidade de uso das terrasO resultado final do estudo, fora a geração dos mapas de cada comunidade,

indicando a localização e a proporção de cada uma das classes de capacidade de uso das Terras servindo assim de subsídio para qualquer atividade agrícola que venha a ser desenvolvida pela população tradicional que vive dentro da Unidade de Conservação. De modo a utilizar a terra da melhor maneira, garantindo melhores safras e principalmente a conservação desses solos.

3.2.1 Comunidade CuieirasDevido suas caracteristias geomorfológicas, onde toda a área da comunidade está

abrangida pela unidade geomorfológica Planície Amazônica (RADAMBRASIL,1974) e possuir praticamente todo o relevo plano e suave, toda região da comunidade sofre com inundação muito frequente, pois anualmente os solos da comunidades ficam submensos no período das cheias, o que enquadra suas terras na classe de capacidade de uso VIII considerando terras impróprias para qualquer tipo de atividade agrícola.

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TABELA 6 – Classes de capacidade de uso das terras da comunidade Cuieiras.

Classe de Capacidade de Uso Área (ha) %VIII 12.429,65 86,32Corpos d’ Água 1.970,35 13,68

TOTAL 14.400,00 100,00

3.2.2 Comunidade CarmelinoDa mesma forma como a comunidade Cuieiras, na comunidade Carmelino uma

grande porção da área estudada pertence a unidade gomorfológica Planície Amazônica que fica submersa anualmento durante o período das cheias, fazendo com que a classe VIII compreenda 59,19% da área. No entanto, 20,98% das terras da comunidade estão na classes IIIs e IIIs,e podendo estas serem utilizadas com cultivos mais intensivos.

TABELA 7 – Classes de capacidade de uso das terras da comunidade Carmelino.

Classe de Capacidade de Uso Área (ha) %IIIs 1.346,72 9,35IIIs,e 1.674,83 11,63IVe 741,64 5,15Va 175,80 1,22VIe 1.257,70 8,73VIII 8.522,50 59,19Corpos d’ Água 680,81 4,73

TOTAL 14.400,00 100,00

3.2.3 Comunidade ItapeuaObserva-se que grande porção da área da comunidade esta compreendida pelas

classes IIIs e IIIs,e (40,12% e 31,39%).

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TABELA 8 – Classes de capacidade de uso das terras da comunidade Itapeua.

Classe de Capacidade de Uso Área (ha) %IIIs 5.776,99 40,12IIIs,e 4.520,50 31,39IVe 1.918,95 13,33Va 367,61 2,55VIe 1.155,16 8,02VIII 498,50 3,46Corpos d’ Água 162,29 1,13

TOTAL 14.400,00 100,00

3.2.4 Comunidade ArimumA classe IIIs com 30,58% compreende maior porção da área da comunidade

seguido da classe IIIs,e com 23,79% da área. Todas as áreas enquadradas na classe VIII (8,78%) da comunidade possuem restrição legal de utilização por serem APP do rio Acarí e de seus afluentes.

TABELA 9 – Classes de capacidade de uso das terras da comunidade Arimum.

Classe de Capacidade de Uso Área (ha) %IIIs 4.403,16 30,58IIIs,e 3.425,74 23,79IVs,e 2.633,71 18,29Va 577,52 4,01Vie 1.237,90 8,60VIII 1.264,57 8,78Corpos d’ Água 857,40 5,95

TOTAL 14.400,00 100,00

3.2.5 Área das quatro comunidadesEm toda área estudada, compreendendo as quatro comunidades, a classe VIII

apresenta maior porção com 22.715,22ha (39,44%), que ocorrem principalmente em função do excesso de água nas regiões de várzea e nas regiões mais baixas com inundações muito frequentes das comunidades Cuieiras e Carmelino, nesta classe também situam as áreas com restrição legal (APP). A segunda classe mais abundante foi a IIIs com 11.526,87ha (20,01%) sendo as principais limitações por deficiência na fertilidade que apresenta-se naturalmente como baixa.

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TABELA 10 – Classes de capacidade de uso das terras das quatro comunidade (Cuieiras, Carmelino, Iapeua e Arimum).

Classe de Capacidade de Uso Área (ha) %IIIs 11.526,87 20,01IIIs,e 9.621,07 16,70IVe 2.660,59 4,62IVs,e 2.633,71 4,57Va 1.120,93 1,95VIe 3.650,76 6,34VIII 22.715,22 39,44Corpos d’ Água 3.670,85 6,37

TOTAL 57.600,00 100,00

3.3 Legenda e identificação das classes de capacidade de uso das terras

3.3.1 Comunidade CuieirasClasse VIII – Terras impróprias para cultivos, pastagem ou reflorestamento,

recomendadas com áreas de preservação na fauna e flora – limitação por inundação muito frequente. Essa classe abrange uma superfície de 12.429,65 ha, correspondendo a 86,32% da área estudada da comunidade.

3.3.2 Comunidade CarmelinoClasse IIIs – Terras cultiváveis com problemas complexos de conservação e

manutenção de melhorametos – limitações relativas, baixa fertilidade. Essa classe abrange uma superfície de 1.346,72ha, correspondendo a 9,35% da área estudada da comunidade.

Classe IIIs,e – Terras cultiváveis com que problemas complexos de conservação e manutenção de melhorametos – limitações relativas baixa fertilidade e suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 1.674,83ha, correspondendo a 11,63% da área estudada da comunidade.

Classe IVe – Terras passíveis de utilização apenas com culturas perenes, pastagens ou reflorestamento, com problemas complexos de conservação do solo – limitações relativas a suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 741,64ha, correspondendo a 5,15% da área estudada da comunidade.

Classe Va – Terras adaptadas para pastagem sem necessidade de práticas especiais de conservação – com limitção pelo excesso de água e pelo risco de inundação. Essa

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classe abrange uma superfície de 175,80ha, correspondendo a 1,22% da área estudada da comunidade.

Classe VIe – Terras adaptadas para pastagens ou reflorestamento com problemas simples de conservação do solo – limitação mais severa relativa suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 1.257,70ha, correspondendo a 8,73% da área estudada da comunidade.

Classe VIII – Terras impróprias para cultivos, pastagem ou reflorestamento, recomendadas com áreas de preservação na fauna e flora – limitação por inundação muito frequente. Essa classe abrange uma superfície de 8.522,50ha, correspondendo a 59,19% da área estudada da comunidade.

3.3.3 Comunidade ItapeuaClasse IIIs – Terras cultiváveis com problemas complexos de conservação e

manutenção de melhorametos – limitações relativas baixa fertilidade. Essa classe abrange uma superfície de 5.776,99ha, correspondendo a 40,12% da área estudada da comunidade.

Classe IIIs,e – Terras cultiváveis com problemas complexos de conservação e manutenção de melhorametos – limitações relativas baixa fertilidade e suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 4.520ha, correspondendo a 31,39% da área estudada da comunidade.

Classe IVe – Terras passíveis de utilização apenas com culturas perenes, pastagens ou reflorestamento, com problemas complexos de conservação do solo – limitações relativas a suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 1.918,95ha, correspondendo a 13,33% da área estudada da comunidade.

Classe Va – Terras adaptadas para pastagem sem necessidade de práticas especiais de conservação – com limitção pelo excesso de água e pelo risco de inundação. Essa classe abrange uma superfície de 367,61ha, correspondendo a 2,55% da área estudada da comunidade.

Classe VIe – Terras adaptadas para pastagens ou reflorestamento com problemas simples de conservação do solo – limitação mais severa relativa suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 1.155,16ha, correspondendo a 8,02% da área estudada da comunidade.

Classe VIII – Terras impróprias para cultivos, pastagem ou reflorestamento, recomendadas com áreas de preservação na fauna e flora – limitação por restrição legal de uso (APP). Essa classe abrange uma superfície de 498,50ha, correspondendo a 3,46% da área estudada da comunidade.

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3.3.4 Comunidade ArimumClasse IIIs – Terras cultiváveis com que problemas complexos de conservação

e manutenção de melhorametos – limitações relativas baixa fertilidade. Essa classe abrange uma superfície de 4.403,16ha, correspondendo a 30,58% da área estudada da comunidade.

Classe IIIs,e – Terras cultiváveis com que problemas complexos de conservação e manutenção de melhorametos – limitações relativas baixa fertilidade e suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 3.425,74ha, correspondendo a 23,79% da área estudada da comunidade.

Classe IVs, e – Terras passíveis de utilização apenas com culturas perenes, pastagens ou reflorestamento, com problemas complexos de conservação do solo – limitações relativas a suscetibilidade de erosão, pedregosidade e profundidade efetiva rasa. Essa classe abrange uma superfície de 2.633,71ha, correspondendo a 18,29% da área estudada da comunidade.

Classe Va – Terras adaptadas para pastagem sem necessidade de práticas especiais de conservação – com limitção pelo excesso de água e pelo risco de inundação. Essa classe abrange uma superfície de 577,52ha, correspondendo a 4,01% da área estudada da comunidade.

Classe VIe – Terras adaptadas para pastagens ou reflorestamento com problemas simples de conservação do solo – limitação mais severa relativa suscetibilidade de erosão. Essa classe abrange uma superfície de 1.237,90ha, correspondendo a 8,60% da área estudada da comunidade.

Classe VIII – Terras impróprias para cultivos, pastagem ou reflorestamento, recomendadas com áreas de preservação na fauna e flora – limitação por restrição legal de uso (APP). Essa classe abrange uma superfície de 1.264,57ha, correspondendo a 8,78% da área estudada da comunidade.

4 CONCLUSÕES E SUGESTÕESA partir dos resultados obtidos sobre as características físicas, químicas e

morfológicas dos solos, aliadas aos dados e observações de campo, foi possível chegar às seguintes conclusões:

- a comunidade Cuieiras não apresenta terras com capacidade para atividade agrícola ou pecuária, sendo toda área indicada para manutenção da fauna e flora e recreação;

- dentre toda área de estudo, compreendendo as quatro comunidades, 22.715,22ha das terras não são adequadas para cultivos anuais, perenes, pastagens ou reflorestamento o que equivale a 39,44% da área total, sendo estas, apropriadas apenas para proteção da flora e fauna silvestre, recreação ou armazenamento de água.

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- exceto a comunidade Cuieiras, as outras comunidades possuem área onde as terras são passíveis de utilização com culturas anuais, perenes ou pastagens, sendo estas as áreas comportadas pelas classes I, II, III, e IV.

- a melhor classe de capacidade de uso da terra identificada entre todas as áreas estudas foi a classe IIIs, sendo a comunidade Itapeua a que apresenta maior porção com 5.776,99ha (40,12%).

- os principais fatores limitantes à utilização das terras pertencentes a classe VIII, fora a risco de inundação muito frequênte regiões mais baixas que estão frequentemente sujeitas a inundação e a restrição legal de uso por se tratarem de APP.

- apesar das terras classificadas nas classes Ve e IVs,e serem cultiváveis em situações ocasionais, as mesmas apresentam sérios problemas de conservação, portanto não se recomenda o uso dessas áreas com cultivo de lavouras.

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ANEXOS

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Comportamento anual da água no solo sob floresta natural e plantio de grãos em

latossolo amarelo na região de Belterra-PARaimundo Cosme de Oliveira Junior

Michael KellerPatrick Michael CrillTroy Patrick Beldini

Plinio Batista de Camargo

RESUMONa região do Baixo Amazonas, Estado do Pará, as atividades antrópicas têm alterado uma

parte significante dos seus ecossistemas e, ao mesmo tempo, vêm causando um impacto ambiental crescente. Dada a sua importância no ecossistema, o solo ocupa papel de destaque no controle da qualidade do ambiente. Se esse controle vai ser de boa ou de má qualidade dependerá muito da maneira como serão manejadas as reservas edáficas. Com o objetivo de caracterizar a umidade do solo e a variação sazonal, em dois Latossolos de diferentes texturas, este estudo foi realizado em duas áreas, distanciadas por 18km, localizadas na região de Belterra, Estado do Pará, em Latossolo Amarelo muito argiloso na Floresta Nacional de Tapajós (Flona), e Latossolo Amarelo argilosos numa fazenda de grãos (77km). Os teores de umidade foram monitorados através de sensores de FDR (reflexão no domínio da frequência), inseridos em seis profundidades (5, 15, 30, 50, 100 e 200cm), durante 3anos (Flona) e 2 anos (77km). Os resultados mostraram grande variação entre os solos, nas profundidades superficiais, evidenciadas principalmente, pelo teor de argila. Também, a variação sazonal foi marcante nos dois locais estudados, ate a profundidade de 100cm, não diferindo entre esta profundidade e aquela de 200cm. Os resultados permitem aos produtores utilizarem as informações para melhor adequarem a época de plantio e colheita das culturas implantadas e, também, ajudarem pesquisadores a melhor entender o comportamento das florestas nativas diante de mudanças climáticas previstas para a região Amazônica.

Palavras-chave: Solos tropicais. Água no solo. Latossolo Amarelo.

Annual behavior of soil water under Forest and cropland in Yellow Latossol in Belterra region, Para State

ABSTRACTIn the lower Amazon region of the State of Pará, Brazil, human activities have altered a

significant part of the territory and are having an increasing impact on the ecosystem. Given its importance to proper ecosystem function, the soil has a fundamental role in maintaining the integrity

Raimundo Cosme de Oliveira Junior é Pesquisador Embrapa Amazônia Oriental, Cx. Postal 261, CEP 68035-110 – E-mail: [email protected] Michael Keller é Pesquisador New Hampshire University, USForest Service, Professor CENA-USPPatrick Michael Crill é Professor Pesquisador – Stockholm UniversityTroy Patrick Beldini é Bolsista Projeto LBA SantarémPlinio Batista de Camargo é Professor Pesquisador CENA/USP

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and quality of the environment. Whether the soil contributes to the maintenance or degradation of this ecosystem will depend on how the soil resource is managed. The objective of this study was to describe soil moisture characteristics in two deeply weathered oxisols (Hapludox) differing in texture. The study sites were localized near Belterra, Pará, with one site in the Tapajós National Forest (FLONA), and the other site was on a field planted with soybeans (77km). The FLONA soil has a high clay content and the 77km soil has a lower clay content. Soil moisture was monitored using frequency domain reflectometers (FDR) at depths of 5-, 15-, 30-, 50-, 100-, and 200 cm. Measurements were taken during 3 years in the FLONA and for 2 years at 77km. The results demonstrate a large variation between the soils, especially in the superficial depths, probably due to the different clay contents. There was a strong seasonal variation in soil moisture to 100 cm in the profile, and between 100- and 200 cm no differences were found. These results will allow farmers to improve their planting and harvesting schedules, and will also help researchers to better understand the behavior of native forests during climate changes that are predicted for this region of the Amazon basin.

Keywords: Tropical soil. Soil water. Yellow Latossol.

1 INTRODUçãONa região do Baixo Amazonas, Estado do Pará, as atividades antrópicas têm

alterado uma parte significante dos seus ecossistemas e, ao mesmo tempo, vêm causando um impacto ambiental crescente. O processo desordenado de ocupação das terras, que contribui para uma intensa alteração ambiental em algumas áreas, tem como consequência inevitável o desmatamento irracional bastante prejudicial à biodiversidade.

Dada a sua importância no ecossistema, o solo ocupa papel de destaque no controle da qualidade do ambiente. Se esse controle vai ser de boa ou de má qualidade dependerá muito da maneira como serão manejadas as reservas edáficas.

Em vista disso, o manejo das propriedades físicas do solo tem sido, no geral, considerado de menor importância do que as propriedades químicas nos sistemas agrícolas. Por outro lado, conforme os sistemas de manejo se tornam mais intensivos e mecanizados, os problemas de fertilidade são solucionados economicamente, por meio de aplicação de fertilizantes e corretivos, enquanto que as propriedades físicas do solo, num manejo adequado, passam a ser mais importante (OLIVEIRA JUNIOR et al., 1998).

Na região ainda faltam estudos básicos para uma agricultura sustentável e o papel da água ocupa destaque, haja vista a ocorrência de períodos secos bem definidos. Neste aspecto, Cruz et al. (2005) dizem que a produtividade das culturas depende da disponibilidade de água e nutrientes no solo em época e quantidades apropriadas. Paiva et al. (1998) estudaram a variação da disponibilidade hídrica e encontraram razões para mostrar a influencia da textura sobre a característica hídrica dos solos, concordando com resultados já relatados na literatura (BAVER et al., 1972; HILLEL, 1971; OLIVEIRA JUNIOR et al., 1998).

Silva et al. (2005) relatam a influencia do tipo de preparo de área nas propriedades físicas do solo e seus efeitos no armazenamento e disponibilidade de água para os

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vegetais, encontrando que o plantio direto favoreceu o uso de água pela vegetação na fase inicial do estabelecimento das culturas.

O objetivo deste estudo foi caracterizar a umidade do solo e a variação sazonal, em dois Latossolos de diferentes texturas na região de Santarém, Estado do Pará.

2 METODOLOGIAA Flona Tapajós está situada na região oeste do Estado do Pará, abrangendo parte

dos municípios de Belterra, Aveiro e Rurópolis. O estudo foi conduzido na Floresta Nacional do Tapajós, km 67 da Rodovia Santarem-Cuiabá, ao sul da cidade de Santarém, fazendo parte do município de Belterra, estado do Pará, Brasil, com coordenadas geográficas de 02º 25’ e 03º 00’ de latitude sul e 54º 00’ e 55º 00’ de longitude oeste.

A precipitação média anual de aproximadamente 2500 mm, sendo altamente sazonal, com mais de 70% acontecendo entre janeiro-junho e o restante de julho a dezembro e umidade relativa média anual de 80% (SUDAM, 1984). A região encontra-se sob características gerais de clima quente úmido. As temperaturas médias, máximas e mínimas anuais oscilam, respectivamente, entre 25 e 26ºC, 30 e 31ºC e 21 e 23ºC, enquanto que a precipitação pluviométrica apresenta valores anuais oscilantes em torno de 2.000 mm, com distribuição irregular durante os meses, mostrando a ocorrência de dois períodos nítidos de chuvas, com o mais chuvoso abrangendo o período de dezembro a junho, concentrando mais de 70% a precipitação anual. A precipitação pluviométrica é o elemento climático que proporciona maior variabilidade durante os anos e meses, sendo que dentro de cada mês, as maiores flutuações verificam-se, em geral, no início e final dos períodos mais e menos chuvosos (BASTOS, 1972; EMBRAPA, 1983). Possui clima do tipo Awi da classificação de Koppen.

Os solos são altamente intemperizados e profundos, bem drenados, caoliníticos, classificados pela Embrapa (1999) como Latossolo Amarelo e, pela classificação americana, como Oxisol (Haplustox). A profundidade do lençol freático é de aproximadamente 120m. Oliveira Junior e Rodrigues (2002) estudando os solos de uma gleba de 600ha, em nível detalhado, encontraram 13 variações de Latossolo Amarelo, sendo estas variações separadas pelo teor de carbono e espessura do horizonte A.

Foram tomadas, em seis profundidades (0.05m, 0.15m, 0.30m, 0.50m, 1m e 2m), medidas de Densidade Global (DG), em triplicata. Também, foram feitas, para cada uma das profundidades, curvas de retenção, incubando o solo em câmara de pressão. Para este procedimento, foram coletadas amostras indeformadas de solo, nas paredes laterais dos perfis, nas profundidades de 0.05m, 0.15m, 0.30m, 0.50m, 1m e 2m.

O espaço de poros preenchidos por ar no solo (ε) foi estimado pela diferença entre a Porosidade Total e o Conteúdo Volumétrico de Água no solo. A porosidade total foi calculada a partir de medidas de Densidade Global (DG), utilizando-se a equação 1:

PT= 1-(DG/DP) (Eq. 1),

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onde PT é a porosidade total e DP é a densidade de partículas (2,65_Mg.m-3).

As determinações de densidade global, macro e microporosidade, curva de retenção de água e porosidade total seguiram a metodologia preconizada por Embrapa (EMBRAPA, 1999).

No que concerne à umidade do solo (volumétrico, m3.m-3), foram utilizados sensores comercialmente disponíveis de FDR (Modelo CS615, Campbell Scientific Inc., Logan, UT). Estes sensores, em número de 16 (no perfil B somente foram amostrados quatro profundidades), foram instalados em três perfis, localizados aleatoriamente dentro de uma área de 100m x 100m, sendo inseridos em seis profundidades: 5cm, 15cm, 30cm, 50cm, 100cm e 200cm. Semanalmente os dados foram coletados, tabulados e analisados. Os valores da constante dielétrica foram medidas e armazenadas em datalogger (Modelo CR10, Campbell Scientific Inc., Logan, UT) a cada 30 minutos, e a umidade volumétrica foi estimada através de equação e calibração desenvolvida para o solo da região (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2003). Os valores médios de umidade volumétrica foram calculados em triplicata para cada profundidade analisada.

A capacidade de água disponível foi calculada pela diferença entre a umidade obtida a 33kPa e a umidade a 1500kPa para todas as profundidades estudadas dos perfis, e a sua classificação obedeceu à escala utilizada por (BRADY; WEIL, 1999) para fins de irrigação: baixa < 0,69mm/cm; média de 0,70 a 1,29mm/cm; alta >1,30mm/cm.

A partir da equação do balanço hídrico (LIBARDI, 1995) a evapotranspiração real foi obtida entre duas datas, por

ETR = P + I ± D ± R - DA, (Eq. 2)

em que P e DA representam a precipitação pluviométrica e a variação de armazenamento no perfil de solo (0 – 2 m). Considerou-se que não houve escoamento superficial de água, R, dada a topografia plana da área, e que as perdas em água além do sistema radicular, ou drenagem profunda, D, foram nulas.

3 RESULTADOS E DISCUSSãOA caracterização hídrica do solo, representada através das curvas de retenção de

água, é de fundamental importância no relacionamento entre a umidade existente no solo e a tensão na qual a água está retida. A Figura 1 mostra essa relação, na forma de curvas características de umidade, podendo-se observar, com maior clareza, as variações das características físicas e hídricas, por camada do perfil estudado.

Jipp et al., (1998) estudando num Latossolo com 70% de argila em Paragominas acharam valores semelhantes para o conteúdo d’água para as tensões entre – 33 e -1500 kPa, embora os conteúdos volumétricos tenham sido maiores para cada tensão nas camadas que estudaram (0-, 50-, 100-, e 200 cm).

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Nestes solos (Latossolos), de textura muito argilosa (Flona) e argilosa (km 77), as curvas de retenção de água (Figura 1) da camada até 30cm destes solos, apresentam tendência à horizontalidade a partir da tensão de 100kPa, resultados esses que se diferem dos encontrados por Correa (1984), que observou esta tendência à horizontalidade em solos muito argilosos e argilosos do Estado do Amazonas a partir da tensão de 200kPa. A interpretação quanto à horizontalidade da curva indica que, para estes solos, é mínima a quantidade de água disponível para as plantas sob tensões superiores àquela considerada (FONTES; OLIVEIRA, 1982). Também, Rodrigues et al. (1992) e Oliveira Junior et al. (1997, 1998) encontraram valores de água retida acima de 550KPa em solos do nordeste e sudeste paraense.

A diferença entre 100 kPa e 200kPa é muita pequena. Realmente, é interessante nessa Figura 1 é de que entre 1. a -33 kPa tem 0.42 m3.m-3 d’água na Flona, mas, só 0.38 no km 77, e a umidade neste local, a qualquer tensão, é sempre menor do que na Flona. Isso pode ser devido a um teor muito menor de argila e a menor porosidade na camada de 5 cm no km 77, além do valor de densidade global bem maior. Também, os valores de água disponível em ambos os lugares estudados são bastante elevados, embora Hodnett et al. (1995) tenham achado, a 0.8 m de profundidade, valores entre 0,39 e 0,41 m3.m-3 d’água entre -33 e -100 kPa.

Convém ressaltar que a grande variação na retenção de água, nas várias tensões efetuadas entre os solos de textura muito argilosa e argilosa evidencia o papel fundamental das frações mais finas nesta importante característica dos solos, fato este, também, observado por vários pesquisadores (HILLEL, 1971; OLIVEIRA JUNIOR et al., 1997, 1998).

A capacidade de água disponível, calculada pela diferença entre os teores de água contidos nas tensões de 33 kPa e 1.500 kPa, apresentou valores onde se deduz que os solos estudados possuem armazenamento superior a 80,0 mm.m-1 de água, considerando-se a profundidade de 2,0 m. Hodnett et al. (1995) mediram entre 800 e 950 mm de água armazenada em 2 m e água disponível em torno de 115 mm.m-1. Na prática, na ausência de chuvas, as culturas instaladas nos solos de textura muito argilosa poderão dispor de umidade suficiente por 14 dias, se a evapotranspiração for ao redor de 5mm/dia (WOLF; SOARES, 1976; Rocha et al., 2004; Sakai et al., 2004;). Considerando-se os dados médios das profundidades dos solos estudados, verifica-se que os mesmos apresentam valores médios de disponibilidade de água (ESTADOS UNIDOS, 1953).

Convém salientar que a palavra disponibilidade tem um sentido dinâmico, significando que é a faixa de água na qual se espera não haver um efeito negativo na produção de determinada cultura por deficiência de água.

O conteúdo de água disponível na Flona, em duas profundidades (0-100cm e 100-200cm), é mostrado na Figura 2. Na profundidade de 0-100cm, observa-se nítida variação entre as estações seca e úmida, evidenciando, mais uma vez, o dinamismo da água ate esta profundidade. Esta variação é menos evidente na profundidade de 100-200cm, onde a curva apresenta-se mais retilínea; isto pode ser devido à menor presença de raízes que absorvem a água para o consumo dos vegetais.

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FIGURA 1 – Curva de retenção de água em Latossolo Amarelo muito argiloso na Flona Tapajós e km 77. Média de três repetições.

Jipp et al. (1998), estudando em Paragominas, demonstraram que a floresta nativa acessou água na profundidade de 4 – 8 metros. Hodnett et. al (1995) mostraram que, em duas estações secas seguidas, a floresta nativa na região de Manaus utilizou toda a água disponível na camada de 1 – 2 m, e que acessou água a 3,6 m. O fato que a Flona tinha mais água disponível na camada de 100 até 200 cm do que a de 0 até 100 cm durante o período seco é muito importante, porque durante este período a evaporação da floresta está maior do que a precipitação, e isso pode ajudar a evitar grandes déficits d’água no solo neste período de seca. De fato, os processos de fotossínteses e evaporação na Flona não sofreram uma diminuição grande nos períodos de seca nos estudos de Bruno et al. (2006), Rocha et al. (2004), e Goulden et al. (2004). Isto implica que os teores de evaporação e crescimento da floresta não foram limitados pela umidade de solo até o final do período de seca.

Na Tabela 1 são apresentados os valores da porosidade total, densidade global e teor de argila. Verifica-se que todas as profundidades em solo de floresta apresentaram valores da porosidade total considerados por Fontes e Oliveira (1982) como de alta porosidade, enquanto todas as profundidades do solo do 77km apresentaram valores classificados como médios (entre 0.52 e 0.56 m3.m-3). Esses valores de WFPS são bem semelhantes aos obtidos na camada de 0-5 cm por Passionato et al. (2003) estudando numa pastagem em Rondônia.

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FIGURA 2 – Água disponível no solo, em duas profundidades, na Flona Tapajós. Observe variação temporal entre as duas profundidades.

TABELA 1 – Algumas características físicas do Latossolo Amarelo na Flona e no km 77.

Os valores médios da porosidade total, compreendidos entre 52 e 71%, estão dentro da faixa normal encontrada em solos minerais, que é de 30 a 60% (HILLEL, 1970) e concordando com os resultados de outros autores (CORREA, 1985; MEDINA; LEITE, 1986; OLIVEIRA JUNIOR et al., 1997; ANJOS et al., 1994; JORGE; PRADO, 1988; RODRIGUES et al., 1992). Como exceção verifica-se a camada superficial do solo sob floresta, onde o valor da porosidade total alcança 0.71m3.m-3, devido, principalmente, ao papel agregante da matéria orgânica nesta profundidade, fato também relatado pelos autores citados acima.

Analisando-se o comportamento físico-volumétrico do solo estudado, observa-se que há dominância de microporos, decorrente, principalmente, dos teores elevados de argila, o que induz a formação de poros pequenos, os quais retêm bastante água e

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limitam o movimento de fluidos (MEDINA; LEITE, 1985; BRADY; WEIL, 1999). Pela Tabela 1, comparando a Flona com km 77 na camada de 5 cm, verifica-se um decréscimo da porosidade total no perfil em virtude do aumento da densidade global, de 0,76 Mg.m-3 para 1,16 Mg.m-3, evidenciando a relação desta propriedade física com o espaço poroso do solo.

A densidade do solo permite avaliar certas propriedades do solo, tais como drenagem, porosidade, permeabilidade à água e ao ar, capacidade de armazenamento de água, trabalhabilidade pelos implementos agrícolas, penetração e desenvolvimento do sistema radicular das plantas, etc. Quanto mais elevada for a densidade do solo, menor é a porosidade e, consequentemente, menor será a circulação de água ao longo do perfil. O solo tende a oferecer maior resistência ao trabalho dos implementos agrícolas e ao desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

Os valores de densidade global (Dg) das camadas estudadas na Flona (Tabela 1), apresentam valores médios iguais ou abaixo de 1,16 Mg.m-3, o que, segundo Donahue et al. (1983), não prejudica o bom desenvolvimento das culturas. Conforme mostrado na Tabela 1, verifica-se que as profundidades 50, 100 e 200cm apresentaram maiores valores para a densidade global, situando-se entre 1.05_(±0,04) e 1.16_(±0,02) Mg.m-3, sugerindo indício de adensamento.

Considerando a importância da cobertura vegetal para esta característica física do solo, observa-se que nos solos onde a vegetação é mais densa e de maior porte, isto é, recobre o solo com maior intensidade, a densidade global é menor. Neste aspecto, o valor da Dg do solo sob floresta natural é mais baixo em relação aquele sob cultivo de grãos, devido, principalmente, à ação agregante e descompactadora da floresta sobre os solos do que naqueles que estão sob cultivo, concordando com os resultados obtidos por Correa (1985), Oliveira Junior et al. (1997, 1998), Silva et al. (2005).

Na área de floresta, foi efetuada a transformação da umidade volumétrica para espaço poroso cheio de água – WFPS (LINN; DORAN, 1984), através da equação WFPS=(UV/PT)*100 (UV=umidade volumétrica; PT= porosidade total), onde encontramos valores entre 48 e 84% (média anual). Estes são números bastante elevados, sugerindo que mais água está armazenada nos poros e unidas às partículas do solo, podendo promover, durante algum período do ano, situações de excesso de água, o qual pode levar à produção de gases em condições anaeróbicas, principalmente metano, que é um gás de efeito estufa e que pesquisadores estão tentando esclarecer o porquê de sua emissão na região estar acima da média (OLIVEIRA JUNIOR, 2006; CARMO et al., 2006). Na área do 77km, onde pastagem e grãos são semeados desde 2002, os valores de WFPS variam de 44.5 a 56.6%, valores parecidos como os obtido por Passianoto et al. (2003), trabalhando numa área de pastagem e arroz num solo argiloso em Rondônia, evidenciando a menor capacidade desse solo em armazenar água. Isto, para os agricultores, é de fundamental importância, pois podem programar melhor suas atividades de plantio e colheita, assim como, escolher a época de preparo do solo e o tipo de maquinário a usar.

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Na Figura 3 apresentamos o comportamento da umidade durante todo o transcorrer dos estudos, em solo sob vegetação de floresta e da área do 77km. Observa-se que durante o período de estiagem (floresta), a maior profundidade que experimenta a seca é ate 30cm, com o restante do perfil apresentando-se com umidade acima de 0.30 m3.m-3. Também, durante o período chuvoso, esta camada rapidamente drena água para as camadas mais profundas, como também, cede água para a evapotranspiração dos vegetais. Na área do 77km, o curto período de umidade, em relação ao solo da floresta, sugere que a melhor época de plantio seja compreendida entre meados de janeiro ao final de fevereiro, com o objetivo de aproveitar a maior quantidade de água no solo. Assim, por exemplo, a cultura de arroz pode ser plantada tão logo se iniciam as chuvas na região, aproveitando este período de janeiro e fevereiro como de enchimento dos grãos, que utiliza maior volume de água pelas plantas.

A Figura 4 mostra o perfil da umidade média do mês mais seco e do mês mais úmido na Flona Tapajós (67km) e na área do 77km (grãos). As formas das curvas são bastante parecidas, sugerindo que as propriedades hídricas dos solos, nos dois locais, são similares, concordando com os resultados de Hodnett et al. (1995) e Correa (1985), na região de Manaus. Apresenta-se como exceção a profundidade de 15cm na Flona, durante o mês de outubro, onde ocorreu uma diminuição mais acentuada do teor de água. Isto pode ser devido a uma biomassa de raízes finas muita elevada nesse solo da Flona que retiram a água do solo para manter os processos de crescimento e evaporação. Trumbore et al. (2006) mostraram que, estudando em floresta nativa madura em Paragominas, que a camada de 0-10 cm tem 47,8% da biomassa de raízes finas em 1 metro de perfil. Nessa mesma floresta e solo, o mesmo estudo achou uma biomassa maior na camada de 0-10 cm, que indicaria que a porcentagem de raízes finas no perfil de 1 m é ainda maior nessa camada. Nepstad et al. (2002) e Silver et al. (2005) reportaram dados semelhantes para a biomassa de raízes finas (0-10 cm) num solo argiloso na Flona.

FIGURA 3 – Umidade do solo, até a profundidade de 200cm, na área do 77km (A) e na Flona Tapajós (B). Referentes a media anual, por profundidade (3 anos).

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FIGURA 4 – Umidade volumétrica do solo (m3.m-3), em seis profundidades, durante o período úmido e o período seco, na Flona Tapajós e em área de plantio de grãos (barras são o erro padrão da média dos valores

considerados, com n=48 semanas).

A evaporação nesta floresta aumenta durante o período de estiagem (ROCHA et al., 2004; GOULDEN et al., 2004; BRUNO et al., 2006) e, assim, déficits de água no solo podem desenvolver porque a evaporação pode exceder a precipitação, exatamente como relatado por Rocha et al., (2004) para esta floresta. Na área de grãos, a evaporação nunca ultrapassou a precipitação durante a cultura de arroz no período de chuva, e era ligeiramente maior do que a precipitação só durante agosto-outubro quando não tinha cultura e o solo estava exposto (SAKAI et al., 2004). Por isso, não se observa a mesma diminuição na curva a 15cm na Figura 4 para a área de grãos na época de estiagem. A camada de 5cm, como era esperado, apresentou menor umidade do solo do que a mesma profundidade na floresta, indicando o papel da vegetação como cobertura do solo em evitar a evaporação desta água nas camadas superficiais (RODRIGUES et al., 1992; OLIVEIRA JUNIOR et al., 1997, 1999; BRUNO et al., 2006). Também, a grande variação de textura nesta profundidade (esta camada possui maior conteúdo de areia do que na Flona), explica o menor conteúdo de água (Tabela 1) neste solo da área de grãos, o que permite uma drenagem mais rápida e menor retenção pelas partículas do solo.

Abaixo da profundidade de 50cm, em ambos os locais, o comportamento é praticamente o mesmo, com ligeira diferenciação no mês mais úmido, onde o solo da floresta apresenta-se com maior umidade, em virtude, provavelmente, da não incidência dos raios solares diretos sobre o solo, mantendo, assim, a temperatura do mesmo sem variações. Também, o teor de argila dos solos diferem levemente, com a Flona sendo mais argiloso o suficiente para permitir uma maior retenção de água no solo sob floresta. Esta diferença pode ser devido ao escoamento superficial na área de grãos que tem uma cobertura vegetal reduzida em comparação com a floresta, onde este fenômeno praticamente é nulo. Assim, menos água penetraria na superfície do solo para drenar as camadas mais profundas, como reportado pelo Hodnett et al. (1995).

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A grande variação de umidade do solo entre os períodos seco e úmido, no solo da Flona, é visualizada na Figura 4. A diferença é elevada, encontrando-se entre 0,12_ m3.m-3 na camada de 5_cm e 0,08 m3.m-3 na profundidade de 200cm. Comparando-se com os dados do 77km, verifica-se que estes são mais elevados do que aqueles e, também, sua variação em profundidade é menor, indicando que os vegetais podem dispor de mais umidade.

Na área do 77km, esta variação entre o mês mais úmido e o mais seco, apresenta-se elevando da superfície ate a profundidade de 30cm (0.05 – 0.10 m3.m-3), decrescendo em seguida para as outras profundidades. Isto pode estar relacionado com os crescentes valores da densidade global até a profundidade de 30cm, decrescendo em seguida, o que propicia aumento dos microporos e consequente retenção de água. Para a agricultura, isto se prende de grande valia, pois esta camada é o limite inferior onde as raízes das plantas ai cultivadas (arroz e soja) exploram o solo em busca de água e nutrientes.

Na floresta, a máxima mudança entre o período seco e úmido no conteúdo de água do solo foi medida na profundidade de 30cm (0,10m3.m-3), decrescendo até 0,05m3.m-3 na profundidade de 5cm. Abaixo de 30cm, esta variação foi quase uniforme (entre 0,8 e 0,7 m3.m-3). Estes resultados concordam com os de Bruno et al. (2006) que encontraram o mesmo padrão com a profundidade. Além disso, Bruno et al. (2006), trabalhando também na Flona, mostraram que a máxima mudança entre o período seco e úmido no conteúdo de água do solo foi medida na profundidade de 2 até 3 m, indicando que a floresta estava acessando água em profundidades mais profundas do que as estudadas neste estudo. Estes resultados concordam com aqueles encontrados por Correa (1984) estudando solos semelhantes no Amazonas. Neste sítio na Flona Tapajós, o armazenamento médio de água no solo, da superfície até a camada de 30cm, foi de aproximadamente 10% do total, variando de 90,9mm (setembro) a 148mm (maio).

Conforme relatado por Hodnet et al. (1995), Chauvel et al. (1991) publicaram curvas de volume de poros para solos de mesma classe, curvas essas determinadas por injeção de mercúrio que são equivalentes para aquelas medidas por panela de pressão. Os dados confirmam que grande quantidade de água permanece retida pelo solo no ponto de murcha (Tabela 2), aproximadamente 0,29 m3.m-3 em todo o perfil (0-200cm). A distribuição dos poros explica a baixa disponibilidade de água neste solo e seu alto conteúdo desta água na faixa de água disponível.

A Figura 5 mostra a precipitação e a evaporação média na Flona Tapajós e no site do 77km (pastagem + grãos), para o período 2003-2005. Os valores médios mensais de evaporação, nos meses de julho a novembro, sugerem a ocorrência de déficits hídricos no solo neste período, na camada de 0-100cm, confirmado pelos valores apresentados na Figura 2.

Sakai et al. (2004) mediram evaporação em Latossolo Amarelo argiloso do 77km (área de grãos) e encontraram valores, sob pastagem, entre 2.2+-0.91mm.dia-1 (período úmido) e 1,9+-0.6mm.dia-1 (período seco). Utilizando estes valores, verifica-se que

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nos meses de julho a outubro ocorre, também, provável déficit, o que torna importante esta informação para a agricultura mecanizada ora em curso na região, principalmente, época de plantio e colheita.

Comparando-se os resultados de evaporação entre os dois locais estudados, verifica-se que na área do km 77, durante o período em que lá estava a pastagem, durante o período úmido há maior perda de água do que no período seco, o contrário acontece na floresta (usando-se dados de ROCHA et al., 2004). Quando se analisa floresta x pastagem, verifica-se que, na pastagem, esta menor evaporação (em relação à floresta), durante o período seco, é, provavelmente, reflexo do menor volume de solo que é explorado pelas raízes das gramíneas do que pela floresta, concordando com os dados de Hodnett et al., (1995). Por este motivo, durante o período seco a floresta evapora maior quantidade de água (Figura 5).

FIGURA 5 – Precipitação e evaporação média mensal na Flona Tapajós e na área do km 77 (pastagem e grãos). Evaporação utilizando dados de Sakai et al. (2004), para pastagem e arroz, e Rocha et al. (1988), para

floresta.

Nesta Figura 5 observamos que a variação anual da evaporação da pastagem mantém-se quase constante, com pequena variação mensal entre o período seco e o período úmido. Valores diferentes são visualizados para a floresta, onde o período seco apresenta-se como mais evaporativo, justificando sua maior área foliar e o acesso a mais água no solo, o que é correto em solos muito argilosos, com teores de umidade, no período seco, acima de 20% (RODRIGUES et al., 1992; OLIVEIRA JUNIOR et al.,, 1997, 1999; HODNETT et al., 1995).

A cultura do arroz, normalmente semeada durante o período úmido, apresenta maior evaporacao do que a pastagem, enquanto o solo somente com a resteva do arroz apresenta-se abaixo 50_mm mensais durante o período seco, que é uma taxa de evaporação menor do que a pastagem na mesma época.

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Quando se comparam os valores encontrados por Rocha et al. (2004) com aqueles de Shuttleworth (1988), verificamos que na área de Santarém apresenta-se uma situação de maior evaporação, tanto ao nível de floresta, como ao nível de pastagem / grãos (HODNETT et al., 1995).

4 CONCLUSãO O solo Flona e na área de grãos apresenta déficit de água disponível durante •

o período seco, considerando-se a profundidade de 0-100cm. Na camada de 100-200cm, não foi observado déficit;

Há elevada variação sazonal na umidade do solo, entre o período seco e • úmido;

O volume de precipitação tem influência marcante no conteúdo de água no • solo;

Os solos estudados possuem umidade suficiente para suportar dois cultivos, • dependendo da época de plantio escolhida.

A evaporação é sempre maior na Flona do que na área de grãos•

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Avaliação da aptidão agrícola das terras das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeuá

e Arimum da Resex Verde para Sempre, município Porto de Moz, PA

Juliano GalloRaimundo Cosme de Oliveira Junior

RESUMOA avaliação das terras por intermédio de um sistema agrícola sob diferentes níveis

tecnológicos é bastante adequada para as características do Brasil, que apresenta em seu território situações muito distintas no tocante a aspectos tecnológicos, científicos e culturais. A avaliação da aptidão agrícola das terras nas comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeua e Arimum situadas no interior da unidade de conservação Resex Verde. Para Sempre, localizada no município de Porto de Moz, PA, foi realizada com a finalidade de fornecer orientação à população que habita a unidade sobre quais são as aptidões de suas terras e quais são a melhores áreas para exercício das atividades agrícolas de modo a garantir maior sustentabilidade da atividade e previnir a degradação do solo. Para confecção dos mapas semidetalhados das classes de aptidão agricola das terras, foram utilizadas imagens de satélite Landsat-5, na composição colorida 5R4G3B, imagens de Radar com Modelo Digital de Elevação – MDE (SRTM, 2000), juntamente com informações levantadas a campo, durante o trabalho de levantamento de solos. Os resultados mostraram que a comunidade Cuieiras não possui terras com aptidão para lavouras, a classe 6 (inapta) ocupa maior parte da área estuda das quatro comunidades com 43,11% da área total, a comunidade Arimum destaca-se por apresentar maior proporção de área com a classe 2a(bc) com 45,58% de sua área, os principais fatores limitantes à utilização das terras foram a suscetibilidade à erosão em função do relevos ondulado e forte ondulado nas porções de terra firme e a deficiência de oxigênio causada pela inundação frequente nas regiões mais baixas.

Palavras-chave: Aptidão Agrícola. Reserva Extrativista. Várzea. Amazônia.

Juliano Gallo é Eng. Agr. Mestrando do Programa de Pós-Graduação Recursos Naturais da Amazônia da UFOPA, Campus de Santarém.Raimundo Cosme de Oliveira Junior é Eng. Agr., D.Sc. Pesquisador Embrapa Amazônia Oriental e Professor CEULS, CEP 68035-110, Santarém-PA.

Espaço Científico v.11, n.1/2 p. 95-114 2010Santarém

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Espaço Científico v.11, n.1/2, 201096

Evaluation of agricultural land suitability of the Cuieiras, Carmelino, Itapeua and Arimum the Resex Forever Green,

City of Port Moz, PA

ABSTRACTThe assessment of land through an agricultural system under different levels of technology

is very suitable for the characteristics of Brazil, which has its territory in very different situations regarding the technological, scientific and cultural. The assessment of agricultural land suitability in community Cuieiras, Carmelino, Itapeua and Arimum facilities inside the protected area Resex Forever Green, located in the municipality of Porto de Moz, PA was held with the purpose of providing guidance to the population inhabiting the unit on what are the skills of their land and what are the best areas to carry out agricultural activities to ensure the sustainability of this activity and prevent soil degradation. To make maps semidetailed class of agricultural land suitability, we used images from Landsat-5, 5R4G3B colored composition, Radar images with Digital Elevation Model – DEM (SRTM, 2000), together with information gathered during the field the work of soil survey. The results showed that the community has not Cuieiras lands with suitability for crops, to class 6 (inept) occupies most of the area studies of four communities with 43.11% of total area, the community Arimum distinguished by higher proportions of area with the second class (bc) with 45.58% of its area, the main factors limiting the use of land has been susceptibility to erosion due to the wavy relief and strong corrugated portions of the land and the deficiency of oxygen caused by flood frequent in the lower regions.

Keywords: Aptitude Agricultural. Extractive Reserve. Meadow. Amazon.

1 INTRODUçãOO Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO;

BEEK, 1995) consiste em um modelo de classificação da aptidão de terras desenvolvido nos anos 1960, como uma tentativa de indicar a potencialidade agrícola das terras abrangidas pelas unidades de mapeamento de solos para a agricultura tropical. Este sistema foi desenvolvido para a interpretação dos dados obtidos em levantamentos de reconhecimento e exploratório de solos (SCHNEIDER, 2007). O método resultou do trabalho de pesquisadores brasileiros, juntamente com especialistas da Food and Agriculture Organization of the United Nations – FAO, como uma reação à classificação da capacidade de uso das terras, que se demonstrou inadequada para classificar o potencial de terras em um país como o Brasil, onde segundo Beek (1978), níveis de tecnologia muito diferentes convivem lado a lado. A primeira aproximação continha muitos conceitos e procedimentos que serviram de base à atual estrutura de avaliação das terras da FAO. Desde então, ela sofreu várias modificações e desdobramentos durante sua aplicação na interpretação de levantamentos de recursos naturais (IBGE, 2007).

A avaliação das terras por intermédio de um sistema agrícola sob diferentes níveis tecnológicos é bastante adequada para as características do Brasil, que apresenta em seu território situações muito distintas no tocante a aspectos tecnológicos, científicos e culturais. A caracterização das diversas classes de terras, não se baseia prioritariamente

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em um aspecto limitante apenas. Todos os fatores de limitação são considerados de maneira igual (IBGE, 2007).

Na região do Baixo Amazonas, Estado do Pará, as atividades antrópicas têm alterado uma parte significante dos seus ecossistemas e, ao mesmo tempo, vêm causando um impacto ambiental crescente. O processo desordenado de ocupação das terras, que contribui para uma intensa alteração ambiental em algumas áreas, tem como consequências inevitáveis o desmatamento irracional bastante prejudicial à biodiversidade.

No entanto, para utilização racional das terras nas atividades agrossilvipastoris, a aquisição de dados socioeconômicos e das condições e potencialidades dos recursos naturais da área, possuem uma importância fundamental, uma vez que permite a seleção de melhores áreas e das atividades mais apropriadas, além de possibilitar um melhor controle ambiental, como fonte básica de informações indispensáveis ao planejamento municipal e regional.

Nessa acertiva, vale destacar que os estudos dos solos em maiores níveis de detalhes, além de proporcionar uma visão global do recurso solo, evidenciando suas qualidades, características e distribuição espacial, permite prever seu comportamento físico-químico para os mais variados tipos de uso e manejo, principalmente, com atividades agrossilvipastoris, assim como, elementos para estudos de viabilidade econômica de planos de ocupação e de infraestrutura.

A avaliação da potencialidade das terras das comunidades Arimun, Carmelino, Cuieiras e Itapeua foi executada com a finalidade de fornecer subsídios indispensáveis para embasar os planos de ação que visem um desenvolvimento sustentável do ponto de vista agrícola, socioeconômico e ambiental.

2 METODOLOGIA

2.1 Caracterização e localizaçãoA Unidade de Conservação Reserva Extrativista (RESEX) Verde Para Sempre foi

criada através do Decreto de 8 de novembro de 2004 e está localizada no Município de Porto de Moz, situado na Mesorregião do Baixo Amazonas e Microrregião de Almerim. Com uma área de aproximadamente 1.288.717ha, o objetivo de sua criação é assegurar o uso sustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis, protegendo o meio de vida e a cultura das populações extrativistas que vivem no local. Dentre as muitas comunidades existentes dentro do perímetro da unidade de conservação, quatro delas destacam-se: Cuieiras, Carmelino, Itapeuá e Arimum. De acordo com Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade – ICMBIO, as principais atividades desenvolvidas pela população local é a extração de plantas, caça, pesca e agricultura de subsistência e, os que vivem nas áreas de várzea, exercem ainda as atividades de bovino e bubalinocultura.

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As áreas levantadas de cada uma das quatro comunidades correspondem a aproximadamente 14.400ha, o que equivale a um polígono quadrado de 12 km de lado, onde a sede de cada comunidade está situada exatamente no centro do referido polígono, formando assim, uma área total estudada de 57.600ha.

FIGURA 1 – Mapa de localização das comunidades.

A comunidade Cuieiras está localizada na porção noroeste da unidade de conservação, sua sede esta sob as coordenadas geográficas latitude -01 47’10” e longitude -52 56’ 17”, toda área da comunidade caracteriza-se como ambiente de várzea do rio Amazonas, sendo o rio Uiuí o principal cuso d’ água para a comunidade. A comunidade Carmelino está localizada na porção nordeste da Resex, sua área esta caracterizada por ambiente de várzea e terra firma, a sede possui coordenadas geográficas latitude -01 53’ 01” e longitude -52 32’ 12”, sendo o rio Jarauçú seu principal recurso hidrico. A comunidade Itapeua, por sua vez, esta toda situada em terra firme estando localizada na porção sudoeste da unidade, sob coordenadas geográficas latitude -02 20’ 10’’e longitude -52 55’ 06’’, seu principal curso d’água é o rio Jarauçú. Por ultimo, a comunidade Arimum está localizada ao leste da reserva tendo como principal curso d’água, o rio de águas escuras Acarai, afluente do rio Xingú. Toda área da comunidade Arimum corresponde a terra firme, a sede da comunidade está sob as coordenadas geográficas latitude -02 03’ 05’’ e longitude -52 22’ 27’’.

2.2 ClimaSegundo o Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Pará

(SECTAM, 2004) a região das comunidades apresenta clima quente e úmido. Com classificação climática sob o tipo climático Am da classificação de Köppen e subtipo Am3 que pertence ao domínio de clima tropical, apresenta caracteristica de clima de

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monção com moderada estação seca e ocorrência de precipitação média mensal inferior a 60mm no período de menor precipitação com moderado período de estiagem.

Segundo dados da estação meteorológica de Porto de Moz (AGRITEMPO), as temperaturas médias, máximas e mínimas anuais oscilam, respectivamente, entre 25,2 e 27,5ºC, 30,1 e 32,5ºC e 20,3 e 22,5ºC, enquanto que a precipitação pluviométrica apresenta valores anuais oscilantes entre 2.000mm a 2.500mm, com distribuição irregular durante os meses, mostrando a ocorrência de um período nítido de chuvas, entre janeiro e fevereiro.

Analisando o balanço hídrico climatológico do município de Porto de Moz (Figuras 2), verifica-se que a estação seca compreende os meses de agosto a dezembro. O déficit hídrico se intensifica entre os meses de outubro e dezembro, sendo novembro o mês mais seco onde a disponibilidade média de água no solo é de 29mm (INMET).

FIGURA 2 – Balanço hídrico climatológico do Município de Porto de Moz – PA, Série 1961 – 1990.Fonte: INMET.

2.3 GeologiaConforme o RADAMBRASIL (1974) e CPRM (2008) em toda área de estudo

estão situadas três unidades geológicas ou litoestratigráficas. O perímetro da comunidade Cuieiras esta todo inserido na unidade geológica denominada Depósitos Aluvionares. As comunidades Carmelino e Arimum estão situadas sobre as unidades geológicas denominadas Depósitos Aluvionares e Formação Alter do Chão. A região da comunidade Itapeua compreende além das duas unidades (Depósitos Aluvionares e Formação Alter do Chão), a unidade geológica Cobertura Laterítica Matura.

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2.4 GeomorfologiaNa área de estudo das comunidades, de acordo com RADAMBRASIL (1974)

e ZEE BR-163 (2005) estão inseridas três unidades geomorfológicas pertencentes a dois Domínios Morfoestruturais sendo: a unidade geomorfológica Planície Amazônica pertencente ao Domínio Morfoestrutural Depósitos Sedimentares Quaternários e as unidades geomorfológicas Planalto Tapajós-Xingu e Tabuleiros do Xingu – Tocantins, ambas pertencem ao Domínio Morfoestrutural Bacias e Coberturas Sedimentares Fanerozoicas.

A área da comunidade Cuieiras esta toda inserida na unidade geomorfológica Planície Amazônica. As comunidades Carmelino e Itapeua estão situadas sobre as unidades geomorfológicas Planalto Tapajós-Xingu e Planície Amazônica. A área da comunidade Arimum compreende as unidades geomorfológicas Tabuleiros do Xingu – Tocantins e Planície Amazônica.

2.5 Prospecção e cartografia das classes de aptidão agrícolaInicialmente foi realizada a pesquisa bibliográfica de modo que todas as

informações preliminares necessárias sobre o ambiente onde fora realizado o estudo puderam ser levantadas, destacando-se: trabalhos de levantamento e mapeamento de solos já realizados na região, informações sobre a geologia, geomorfologia, vegetação, uso do solo (RADAMBRASIL, 1974), IBGE (2001) e ZEE BR-163 (2007) juntamente com cartas de hidrologia planialtimétricas geradas pela Diretoria de Serviços Geográficos – DSG. Também foram utilizadas imagens de satélite e imagens de radar para complementar o planejamento inicial para o levantamento de campo.

Através de ferramentas de geoprocessamento do software IDRISI Andes (Clark Labs versão 15.1), foram geradas peças temáticas com variáveis geomorfométricas de elevação, declividade, orientação e curvas de nível referentes às áreas de estudo das quatro comunidades estudadas da RESEX Verde Para Sempre.

Para classificação e elaboração dos mapas de altitude, declividade e curvatura vertical realizo-se o processamento do Modelo Digital de Elevação – MDE, gerado através da missão espacial “Shutle Radar Topography Mission – SRTM” que ocorreu no período de 11 a 22 de fevereiro de 2000. As imagens de radar foram lideradas pela National Aeronautics and Space Administration – NASA, com resolução espacial de 90m e com posterior tratamento gerou-se com resolução espacial de 30m. A elevação foi classificada e agrupando em níveis de altitude de 10 em 10 metros e 20 em 20 metros, gerando assim as faixas de altitude. Com as imagens de radar também se realizou a classificação do relevo em porcentagens e fases de declividade, que após a classificação foram agrupadas de acordo com a classificação de declividade estabelecida pelo Sistema de Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995).

As imagens de satélites utilizadas foram obtidas do site oficial do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. O satélite selecionado foi o Land Remote

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Sensing Satellite 5 – Landsat5, no sensor Thematic Mapper – TM, com resolução espacial de 30m. As imagens são correspondentes a órbita e ponto 226/61 com passagem em 02 de julho de 2008 e 09 de setembro de 1998 e a órbita ponto 226/62 com passagem em 02 de julho de 2008 as bandas utilizadas foram: banda 3 (espectro vermelho), banda 4 (espectro infravermelho próximo) e banda 5 (espectro infravermelho médio). A composição utilizada foi em falsa cor, com a banda 5 na cor vermelha (red), banda 4 na cor verde (green) e banda 3 na cor azul (blue). As bandas foram inicialmente georreferenciadas através da base hidrográfica na escala 1:250.000 do estado do Pará, desenvolvido pela Diretoria de Serviço Geográfico – DSG, após o levantamento de campo refez-se o georreferenciamento das imagens com base nos dados coletados propiciando assim maior precisão das imagens.

Na avaliação da potencialidade dos solos foi utilizada a interpretação dos resultados, propriedades e qualidades obtidas e determinadas pelo levantamento semidetalhado dos solos, na escala 1:50.000 das comunidades Cuieiras, Carmelino, Itapeua e Arimum realizado em outubro de 2009.

A classificação das fases de relevo através da qualificação da declividade, comprimento de encostas e configurações superficiais dos terrenos possuem uma forte correlação com ocorrência das unidades de solo (EMBRAPA, 2006). As distribuições das fases de relevo são empregadas para promover informações sobre praticabilidade de emprego de equipamentos agrícolas e facilitar a inferências sobre suscetibilidade dos solos à erosão, indicando o grau de limitação que é fundamental para identificação da aptidão das terras.

As classes de relevo são reconhecidas, segundo o Sistema de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995) de acordo com a Quadro 1.

Nível de declive Graus de inclinação Classes de declividade

0 a 3% 0º a 1º 43’ 06” Plano/paticamente plano

3 a 8% 1º43’06” a 4º34’26” Suave ondulado

8 a 13% 4º 34’ 26” a 7º24’25” Moderadamente ondulado

13 a 20% 7º24’25” a 11º18’36” Ondulado

20 a 45% 11º18’36” a 24º13’40” Forte ondulado

45 a 100% 24º13’40” a 45º Montanhoso

Acima de 100% > 45º Escarpado

QUADRO 1 – Classificação do relevo em função dos níveis de declive.

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A metodologia empregada para a avaliação da potencialidade dos solos consta do estabelecimento dos fatores limitantes, dos níveis (sistemas) de manejo, das classes se aptidão agrícola e viabilidade de melhoramento dos fatores limitantes ao uso agricola conforme (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995).

As pesquisas bibliográficas, documentais, cartográficas, as imagens de satélite e de radar o trabalho de campo permitiram uma melhor abordagem da metodologia, considerando os aspectos geoambientais em conjunto (solos, clima, geologia, geomorfologia, utilização da terra e hidrologia). Após todo o trabalho de escritório, juntamente como levantamento de campo, possibilitou desenvolver os mapas de Aptidão Agrícola das Terras das quatro comunidades.

Baseados nos dados do levantamento dos solos, juntamente com observações realizadas em campo, associado a informações do ambiente, são geradas as classes de aptidão agrícola empregadas pelo Sistema de Avaliação de Aptidão Agrícolas das Terras proposto por Ramalho Filho e Beek (1995). As classes de aptidão são determinadas em função das condições agrícolas dos solos em relação ao solo ideal, quanto o grau de deficiência de nutriente (f), deficiência de água (h), deficiência de oxigênio (o), susceptibilidade à erosão (e) e impedimentos à mecanização (m). Os fatores são quantificados em grau: nulo (0); ligeiro (1); moderado (2); forte (3) e muito forte (4).

Com base em práticas agrícolas ao alcance da maioria dos agricultores, num contexto específico, técnico, social e econômico, o Sistema de Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995) leva em consideração três níveis de manejo (A, B e C), visando a diagnosticar o comportamento das terras em diferentes níveis tecnológicos que são classificados como:

Nível de manejo A (Primitivo) baseia-se em práticas agrícolas que refletem um baixo nível tecnológico dependente principalmente do trabalho braçal. Praticamente não há aplicação de capital no melhoramento e conservação do solo e das lavouras, os cultivos são alternados por pousios sucessivos;

Nível de manejo B (Pouco desenvolvido) é caracterizado pela adoção de práticas agrícolas que refletem um nível tecnológico intermediário. Aplicação modesta de capital para melhoramento e conservação do solo e das lavouras podendo fazer uso de corretivos, fertilizantes e tratamentos fitossanitários simples. O trabalho é, principalmente, o braçal e tração animal ou na tração motorizada, mas apenas no preparo inicial do solo;

Nível de manejo C (Desenvolvido) é baseado em práticas agrícolas que refletem um alto nível tecnológico, com aplicação intensiva de capital para manutenção, melhoramento e conservação do solo e das lavouras. As práticas de manejo empregadas são capazes de elevar a capacidade produtiva da terra. O trabalho utiliza mecanização em quase todas as fases da operação agrícola. Incluem práticas intensivas de drenagem, de controle à erosão, rotação de culturas com sementes e mudas selecionadas e aplicação de fertilizantes, corretivos e defensivos agrícolas.

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Com base nas técnicas utilizadas pelos moradores das comuidades estudadas, onde toda atividade agrícola está baseda em roça manual com corte e queima, além do uso do pousio, esses agricultores estão enquadrados no Nível de Manejo A.

Os Grupos de Aptidão Agrícola tratam-se de um artifício cartográfico, que identifica no mapa o tipo de utilização mais intensivo das terras, ou seja, sua melhor aptidão, onde seis grupos são identificados. Os Grupos 1, 2 e 3, além da identificação de lavouras como tipo de utilização, desempenham a função de representar, no subgrupo, as melhores classes de aptidão das terras indicadas para lavouras, conforme os níveis de manejo. Os Grupos 4, 5 e 6 apenas identificam tipos de utilização (pastagem plantada, silvicultura e/ou pastagem natural e preservação da flora e da fauna, respectivamente), independente da classe de aptidão.

Grupo de aptidão agrícola

Aumento da intensidade de uso

Preservação da flora e da

fauna

Silvicultura e/ou pastagem

natural

Pastagem plantada

Lavoura

Aptidão restrita

Aptidão regular

Aptidão boa

Aum

ento

da

inte

nsid

ade

de li

mita

ções

Dim

inui

ção

das a

ltern

ativ

as d

e us

o

1

2

3

4

5

6

FIGURA 3 – Alternativas de utilização das terras de acordo com os grupos de aptidão agrícola.

As Classes de Aptidão Agrícola expressam a aptidão agrícola das terras para um determinado tipo de utilização, com um nível de manejo definido, dentro do subgrupo de aptidão. Refletem o grau de intensidade com que as limitações afetam as terras. Segundo boletim da FAO (1976) são definidas quatro classes de aptidão: Boa, Regular, Restrita e Inapta. Na classe Boa estão as terras sem limitações significativas para produção sustentada de um determinado tipo de utilização, considerando as condições de manejo. A classe Regular compreende as terras com limitações moderadas para a produção sustentada de determinado tipo de utilização, considerando as condições de manejo, tais limitações promovem a adoção necessária de insumos. Na classe Restrita estão às terras com limitações fortes para a produção sustentada de determinado tipo

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de utilização, considerando as condições de manejo, onde as limitações mais fortes exigem uma concentração maior de insumo. Quanto à classe Inapta, são terras que apresentam condições que parecem excluir a produção sustentada do tipo de utilização em questão, pois os solos são impróprios para a utilização de insumos e mecanização para a utilização com lavouras, no entanto, são indicadas para a preservação da flora e da fauna, recreação ou outro tipo de uso que não seja agrícola.

Tipo de utilização

Grupo de aptidão agrícola

Lavoura Pastagem platada Silvicultura Pastagem

naturalNível de manejo Nível de

manejo BNível de manejo B

Nível de manejo AA B C

Boa A B C P S NRegular a b c p s nRestrita (a) (b) (c) (p) (s) (n)Inápta -- -- -- -- -- --

QUADRO 2 – Representação cartográfica das classes de aptidão das terras.

3 RESULTADOS

3.1 Classificação e descrição do relevo Após a classificação do relevo, foram calculadas as respectivas áreas de cada

unidade em hectares (ha) com a porcentagem abrangida na área de cada uma das comunidades. Conforme pode observar-se nas tabelas a seguir.

TABELA 1 – Classes de relevo e declividade da área abrangida pela comunidade Cuieiras.

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 - 3 0º a 1º 43’ 06” 13.188,49 91,60

Suave ondulado 3 - 8 1º43’06” a 4º34’26” 1.211,51 8,40

TOTAL 14.400 100,00

Por ser um ambiente de várzea e fazendo parte da unidade geomorfológica Planície Amazônica observa-se grande proporção do relevo plano (91,60%) dando um caráter bastante homogêneo à área da comunidade Cuieiras.

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TABELA 2 – Classes de relevo e declividade da área abrangida pela comunidade Carmelino.

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 - 3 0º a 1º 43’ 06” 9.379,58 65,14

Suave ondulado 3 - 8 1º43’06” a 4º34’26” 2.831,61 19,66

Moderadamente ondulado 8 – 13 4º 34’ 26” a 7º24’25” 983,76 6,83

Ondulado 1 3 – 20 7º24’25” a 11º18’36” 632,10 4,39

Forte ondulado 20 - 45 11º18’36” a 24º13’40” 572,95 3,98

TOTAL 14.400 100,00

Apesar de uma boa porção da área da comunidade Carmelino apresentar relevo plano (65,14%), esta é a comunidade que apresenta maior ocorrência de relevo forte ondulado (3,98%) tornando essas áreas altamente suscetíveis á processos erosivos.

TABELA 3 – Classes de relevo e declividade da área abrangida pela comunidade Itapeua.

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 - 3 0º a 1º 43’ 06” 3.976,52 27,61

Suave ondulado 3 - 8 1º43’06” a 4º34’26” 6.814,42 47,32

Moderadamente ondulado 8 – 13 4º 34’ 26” a 7º24’25” 2.146,71 14,91

Ondulado 13 – 20 7º24’25” a 11º18’36” 1.042,02 7,24

Forte ondulado 20 - 45 11º18’36” a 24º13’40” 420,33 2,92

TOTAL 14.400 100,00

Verifica-se uma distribuição homogênea das classes de relevo na comunidade Itapeua sendo a classe suave ondulado (47,32%) a unidade predominante na área estudada.

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TABELA 4 – Classes de Relevo e de declividade da área abrangida pela Comunidade Arimum.

Classe de relevoClasses de declividade

Área (ha) (%)% Graus

Plano 0 - 3 0º a 1º 43’ 06” 3.298,72 22,91

Suave ondulado 3 - 8 1º43’06” a 4º34’26” 6.200,49 43,06

Moderadamente ondulado 8 – 13 4º 34’ 26” a 7º24’25” 2.919,09 20,27

Ondulado 1 3 – 20 7º24’25” a 11º18’36” 1.638,16 11,38

Forte ondulado 2 0 - 45 11º18’36” a 24º13’40” 343,54 2,38

TOTAL 14.400 100,00

Observa-se uma proporção considerável de relevo ondulado e forte ondulado (11,38% e 2,38%) na área da comunidade Arimum o que significa que essas porções são áreas suscetíveis aos processos erosivos e a movimentos de massa o que exige maiores cuidados quanto ao uso e ocupação dessas áreas.

3.2 Classificação e descrição da aptidão agrícola das terrasO resultado final do estudo, fora a geração dos mapas de cada comunidade,

indicando a localização e a proporção de cada uma das classes de Aptidão Agrícola das Terras servindo assim de subsídio para qualquer atividade agrícola que venha a ser desenvolvida pela população tradicional que vive dentro da Unidade de Conservação de modo a utilizar a terra da melhor maneira, garantindo melhores safras e, principalmente, a conservação desses solos.

3.2.1 Comunidade CuieirasDevido suas caracteristias geomorfológicas, onde toda a área da comunidade esta

abrangida pela unidade geomorfológica Planície Amazônica (RADAMBRASIL,1974) e possuir praticamente todo o relevo plano (91,6%), toda região da comunidade sofre com inundação anual durante o período das cheias, o que toras suas terras ianaptas para atividade agrícola.

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TABELA 5 – Classes de aptidão agrícola das terras da comunidade Cuieiras.

Classe de Aptidão Área (ha) % 6 12.429,65 86,32Corpos d’ Água 1.970,35 13,68

TOTAL 14.400,00 100,00

3.2.2 Comunidade CarmelinoDa mesma forma como a comunidade Cuieiras, na comunidade Carmelino, uma

grande porção da área estudada pertence à unidade gomorfológica Planície Amazônica sofrendo anualmento no período das cheias, fazendo com que a classe 6 compreenda 65,30% da área. No entanto, 15,24% das terras da comunidade estão na classe 2a(bc) podendo estas serem utilizadas com lavouras.

TABELA 6 – Classes de aptidão agrícola das terras da comunidade Carmelino

Classe de Aptidão Área (ha) %2a(bc) 2.194,56 15,243(a) 1.555,69 10,806 9.402,64 65,306 566,30 3,93Corpos d’ Água 680,81 4,73

TOTAL 14.400,00 100,00

3.2.3 Comunidade ItapeuaObserva-se uma boa proporção da classe 2a(bc) para comunidade com 32,90%

da área.

TABELA 7 – Classes de aptidão agrícola das terras da comunidade Itapeua.

Classe de Aptidão Área (ha) %2a(bc) 4.737,90 32,903(a) 3.921,68 27,236 1.367,13 9,506 162,29 29,24Corpos d’ Água 4.211,00 1,13

TOTAL 14.400,00 100,00

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3.2.4 Comunidade ArimumDentre as classes de terras da comunidade Arimum, a classe 2a(bc) compreende

maior porção, com 45,58% da área estudada.

TABELA 8 – Classes de aptidão agrícola das terras da comunidade Arimum.

Classe de Aptidão Área (ha) %2a(bc) 6.562,61 45,583(a) 5.349,30 37,156 1.630,69 11,32Corpos d’ Água 1.055,82 7,33

TOTAL 14.400,00 100,00

3.2.5 Área das quatro comunidadesEm toda área estudada, compreendendo as quatro comunidades, a classe inapta

apresenta maior porção com 24.830,11ha (43,11%), que ocorrem em função dos fatores limitantes por susceptibilidade à erosão nas porções da paisagem com relevo ondulado e forte ondulado e devido ao excesso de água nas regiões de várzea e nas regiões mais baixas com inundações frequentes.

TABELA 9 – Classes de aptidão agrícola das terras das quatro comunidade (Cuieiras, Carmelino, Iapeua e Arimum).

Classe de Aptidão Área (ha) %2a(bc) 13.495,07 23,433(a) 10.826,67 18,806 24.830,11 43,116 4.777,30 8,29Corpos d’ Água 3.670,85 6,37

TOTAL 57.600,00 100,00

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3.3 Legenda e identificação das classes de aptidão agrícola das terras

3.3.1 Comunidade Cuieiras6 - Terras sem aptidão agrícola para uso em lavouras, recomendadas para

preservação ambiental. Essa classe abrange uma superfície de 12.429,65ha, correspondendo a 86,32% da área estudada da comunidade.

3.3.2 Comunidade Carmelino2a(bc) - Terras que apresentam classe de aptidão agrícola Regular para lavoura

no sistema de manejo A, Restrita nos sistemas de manejo B e C. Essa classe abrange uma superfície de 2.194,56ha, correspondendo a 15,24% da área estudada da comunidade.

3(a) - Terras que apresentam classe de aptidão agrícola restrita para lavoura no sistema de manejo A. Essa classe abrange uma superfície de 1.555,69ha, correspondendo a 10,80% da área estudada da comunidade.

6 - Terras sem aptidão agrícola para uso em lavouras, no entanto algumas porções poderão ser utilizadas com cultivos perenes em pequena escala. Essa classe abrange uma superfície de 566,30ha, correspondendo a 3,93% da área estudada da comunidade.

6 - Terras sem aptidão agrícola para uso em lavouras, recomendadas para preservação ambiental. Essa classe abrange uma superfície de 9.402,64ha, correspondendo a 65,30% da área estudada da comunidade.

3.3.3 Comunidade Itapeua2a(bc) - Terras que apresentam classe de aptidão agrícola regular para lavoura

no sistema de manejo A, Restrita nos sistemas de manejo B e C. Essa classe abrange uma superfície de 4.737,90ha, correspondendo a 32,90% da área estudada da comunidade.

3(a) - Terras que apresentam classe de aptidão agrícola restrita para lavoura no sistema de manejo A. Essa classe abrange uma superfície de 3.921,68ha, correspondendo a 27,23% da área estudada da comunidade.

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6 - Terras sem aptidão agrícola para uso em lavouras, no entanto algumas porções poderão ser utilizadas com cultivos perenes em pequena escala. Essa classe abrange uma superfície de 162,29ha, correspondendo a 29,24% da área estudada da comunidade.

6 - Terras sem aptidão agrícola para uso em lavouras, recomendadas para preservação ambiental. Essa classe abrange uma superfície de 1.367,13ha, correspondendo a 9,50% da área estudada da comunidade.

3.3.4 Comunidade Arimum2a(bc) - Terras que apresentam classe de aptidão agrícola regular para lavoura

no sistema de manejo A, Restrita nos sistemas de manejo B e C. Essa classe abrange uma superfície de 6.562,61ha, correspondendo a 45,58% da área estudada da comunidade

3(a) - Terras que apresentam classe de aptidão agrícola restrita para lavoura no sistema de manejo A. Essa classe abrange uma superfície de 5.349,30ha, correspondendo a 37,15% da área estudada da comunidade

6 - Terras sem aptidão agrícola para uso em lavouras, recomendadas para preservação ambiental. Essa classe abrange uma superfície de 1.630,69ha, correspondendo a 11,32% da área estudada da comunidade

4 CONCLUSÕES E SUGESTÕESA partir dos resultados obtidos sobre as características físicas, químicas e

morfológicas dos solos, aliadas aos dados e observações de campo, foi possível chegar às seguintes conclusões:

a comunidade Cuieiras não apresenta terras aptas para atividade agrícola ou -pecuária;

dentre toda área de estudo, compreendendo as quatro comunidades, -24.830,11ha das terras são inapatas para atividade agrícola o que equivale a 43,11% da área total;

exceto a comunidade Cuieiras, as outras comunidades possuem área com -aptidão regular para lavoura, destacando a comunidade Arimum com 6.562,61ha com a classe 2a(bc) que equivale a 45,58% da área estudada;

os principais fatores limitantes à utilização das terras nas áreas inaptas foram -a suscetibilidade à erosão devido aos relevos ondulado e forte ondulado na porções de terra firme e a deficiência de oxigênio causada pela inundação frequente nas regiões mais baixas que estão frequentemente sujeitas a inundação;

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apesar da classe 3(a) possibilitar o manejo com lavouras pelos comunitários, -não haverá necessidade de utilizar essas áreas, pois as áreas 2a(bc) são suficientes para a população das comunidades exercer suas atividades agrícolas.

REFERÊNCIASBEEK, K. J. Land evaluation for agricultural development: some explorations of land-use systems analysis with particular reference to Latin America. Wageningen: International Institute for Land Reclamation andImprovement, 1978. 333p.BRASIL. Decreto de 8 de novembro de 2004. Dispôe sobre a criação da Reserva Extrativista Verde para Sempre, no Município de Porto de Moz, Estado do Pará. Diário Oficial da União, Brasília, n.215, 9 nov. 2004. Seção 1, p.9. ______. Ministério das Minas e Energia. Departamento Nacional da Produção Mineral. Projeto RADAMBRASIL: Folha SA. 22 Belém: geologia, geomorfologia, solos vegetação, uso potencial da terra. Rio de Janeiro, 1974. Paginação irregular. (Projeto RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais, v.5). EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA/CNPS, 2006. 306p. ______. Mapa de solos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE: Embrapa Solos, 2001. Mapa. Escala 1:5.000.000. ______. Embrapa Amazônia Oriental. Zoneamento ecológico–econômico da área de influência da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém). Belém, PA, 2005. Volume I.______. EMBRAPA Informática Agropecuária. Centro Pesquisa Meteorológicas e Climáticas aplicadas à Agricultura. Agritempo – Sistema de Monitoramento Agrometeorológico. Dados Meteorológicos - PA. Porto de Moz (INMET). Disponível em: <http://www.agritempo.gov.br/agroclima/sumario?uf=PA>. Acesso em: Jan. 2011.FAO (Roma, Italia). A framework for land evalutions. Rome, 1976. 72p. (FAO. Soil Bulletin, 32).IDRISI Andes. Version 15.01 [SI]: Clark Labs, Clark University.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Manual técnico de pedologia. 2.ed. Rio de Janeiro, 2007. 316p. (Manuais técnicos em geociências, n.4).INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA – INMET. Balanço hídrico climatológico – Normal 61-90, Estação 82184 – Porto de Moz, PA. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/agrometeorologia/balanco_hidrico_climatico/mostrar_balclima2.php?cmb_localidade=82184>. Acesso em: jan. 2011.NATIONAL AERONAUTICS AND SPACE ADMINISTRATION (NASA). United States Geological Survey (USGS). Shuttle radar topography mission data (SRTM). Sioux Falls: USGS, 2000.

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ANEXOS

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A mulher quilombola e sua participação no processo de re-significação da identidade em

Bom Jardim no período de 1996 a 2006

Cláudia Laurido FigueiraCíntia Régia Rodrigues

RESUMOO presente estudo discute o movimento de quilombagem em Bom Jardim, comunidade que

se autodeterminou quilombola em 1996. Através da metodologia da história oral e pesquisa em jornais objetivou-se discutir como saberes das mulheres justificam a luta quilombola.

Palavras-chave: Quilombo. Memória. Identidade. Poder.

Quilombola women and their participation in the process of identity of reinterpretation in Bom Jardim in the period from 1996 to 2006

ABSTRACTThis study discusses the movement of quilombagem in Bom Jardim, maroon community that

determines itself in 1996. Through the methodology of oral history and research papers aimed to discuss how knowledge of women struggle to justify maroon. Thus, it was noted that the discourse of leadership is grounded in the stories told by the ancients.

Keywords: Quilombo. Memory. Identity. Power.

1 INTRODUçãOAutodeterminação dos moradores de Bom Jardim, comunidade localizada no

município de Santarém, no estado do Pará, em quilombola projetou-se no contexto das lutas das comunidades negras da região de trombetas na década de 1980, no momento da implantação dos projetos de mineração na região. A primeira comunidade a receber o título de quilombola foi Boa Vista. Esse processo foi possível devido o trabalho de articulação das comunidades de Oriximiná, Óbidos, Alenquer que instituíram uma Comissão de Articulação das Comunidades de Remanescente de Quilombos – ARQMO

Cláudia Laurido Figueira é Graduada em História e Especialista em Ensino de História e da Cultura Afro-Brasileira. É professora e coordenadora do Curso de Historia do CEULS/ ULBRA. Rua Bartolomeu de Gusmão, 1621 – Bairro Jardim Santarém. CEP: 68030-350. Fone: 91318285. E-mail: [email protected]íntia Régia Rodrigues é Doutora em Estudos Históricos Latino-Americanos pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS em

Espaço Científico v.11, n.1/2 p. 115-129 2010Santarém

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que mobilizou as comunidades numa frente de luta contra a expropriação.

Essa mobilização não se restringiu à região de Trombetas, os rumores chegaram até as comunidades negras de Santarém que fizeram-se presente na luta pela titulação das terras. Nesse sentido, debates e estudos foram articulados em Saracura, Bom Jardim, Arapemã, Tinigu, Murumuru e Murumurutuba – comunidades que compreenderam o sentido político da luta quilombola e reelaboraram o passado e sua identidade.

Assim, este estudo objetiva, dentre outras questões, analisar como os saberes das mulheres foram articulados ao discurso quilombola e respaldaram as instituições criadas para negociar os direitos sociais. A análise se concentrará no ano de 1996, quando as comunidades negras em Santarém iniciaram o processo de autoidentificação quilombola e o ano de 2006, momento em que foi instituída a Federação dos Quilombos de Santarém/PA. Dessa forma para discutir a categoria memória e metodologia da história oral foi relevante o dialogo com Amado, Cruikskhank, Le Goff, Benjamin e Pinto. Quanto a categoria identidade a analise se baseou em Hall, Ortiz, Muranga e Silva. Para discutir as relações de poder foi significativo o dialogo com Foucault. A discussão sobre a categoria quilombo autores como Mattos, Lugão, Gomes, Almeida e Funes foram fundamentais para analise.

Nesse sentido, foram entrevistados (as) moradores antigos e lideranças. As entrevistas seguiram roteiro aberto, considerando três eixos – Lembranças das histórias contadas, a gênese do movimento quilombola e o significado de quilombo e quilombola para os (as) entrevistados (as). Outros documentos foram analisados como a cartilha utilizada pelas lideranças quilombolas e jornais da cidade. Através da analise dos documentos procurou-se pensar a trajetória dos comunitários de Bom Jardim no processo de autoderterminação.

Discutir o papel da mulher quilombola no movimento não significa polarizar o debate, mas compreender como esta articulou seu saber no contexto da luta, pois percebe-se que parte das histórias contadas no contexto das famílias são narradas pelas mulheres, portanto, são “salvadoras” da memória (BENJAMIN, 1986, p.221).

Nessa perspectiva, este trabalho inicia o debate em torno do eixo – identidade vinculada ao conceito quilombo. Dessa forma, é fundamental a analise dos discursos dos sujeitos sociais envolvidos no processo de quilombagem em Bom Jardim para compreender o significado de quilombo e quilombola no contexto do movimento na década de 1990. No segundo momento, será discutida a gênese do movimento e articulação das comunidades em Santarém, em específico Bom Jardim.

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2 REPENSANDO A IDENTIDADE E A LUTA QUILOMBOLA EM BOM JARDIM

No Brasil tiveram tantos quilombos que a gente não viu. As pesquisas, estudos apontam aonde existiu. Foram mais de trezentos anos que esse povo existiu, parece que pras autoridades esse povo sumiu. No Tiningu, Murumuru, Arapemã, negro sofrido destemido que não abera pra carapanã. Murumurutuba, Saracura, Bom Jardim dos nossos sonhos. Somos comunidades remanescentes de quilombos. (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pelo senhor Aldo Santos. 19 de setembro de 2009)

Discutir o movimento de quilombagem em Santarém do Pará requer uma análise sobre o processo de articulação de comunidades negras que em meados da década de 1990 iniciaram a luta pela titulação da terra. Nesse contexto, emergem questões relacionadas a identidade, memória e poder vinculados ao conceito quilombo.

A luta pelo território possibilitou a articulação de comunidades - Saracura, Bom Jardim, Murumuru, Murumurutuba e Arapemã - que repensaram a própria identidade e através das histórias contadas pelos antepassados estabeleceram ligação entre passado e presente, justificando o sentido político da luta.

Considerando a letra da música acima composta por liderança do movimento de quilombo de Santarém, observa-se que durante muito tempo comunidades negras passaram despercebidas, invisíveis, principalmente às autoridades, portanto, descendentes de ex-escravos não foram inseridos na história do Brasil e “muito se produziu nesses campos sobre o “negro no Brasil”, especialmente desde a década de 1930, mas pouco sobre os últimos escravos e a experiência da escravidão e da libertação” (MATTOS; RIOS, 2005, p.30).

Nessa perspectiva, percebe-se nos discursos das lideranças a relação entre o processo de identificação e a garantia dos direitos básicos, assim, o processo de re-significação do passado está vinculado a necessidade de conquistar bens sociais, portanto, compreendem que a Constituição indica “caminho” esse processo de identificação como negros e remanescentes de quilombo, como expressa a entrevistada:

Através da minha avó eu já sabia que eu era negra. Mas a comunidade não se identificou desde o principio, então através das leis que a gente conhece que dá esse direito pra gente ter nossas terras e nos reconhecer como negro e isso foi mais um caminho pra gente se identificar e se reconhecer. Porque hoje a gente já conhece, já sabe quais os orgãos que apoiam esse movimento negro. Tem a Fundação Cultural Palmares que hoje dá esse reconhecimento. (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pela senhora Lucia dos Santos. 19 de setembro de 2009)

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De acordo com o discurso da entrevistada, o conhecimento da lei possibilitou a articulação da comunidade em direção a luta pela terra, assim, moradores de Bom Jardim percebem-se “sujeitos de direito”, portanto, identificar-se como quilombola produz sentido político, conduz um sentimento de “identidade coletiva”. Nesse sentido, ser sujeito de direito requer assumir a identidade quilombola e desembaraçar as imagens depreciativas imposta na sociedade. “Trata-se assim, de transformar o sentimento negativo vinculado ao negro e descendente de escravizado, uma conotação positiva, que tenha força política para questionar e propor transformações na estrutura social” (MUNANGA, 2006, p.20 a 28).

A história de Bom Jardim está marcada pela memória da escravidão e relacionada às “pessoas antigas que tinham ligação com pessoas negras” na expressão da entrevistada, pois “pessoas negras” correspondem aos antigos moradores descendentes dos escravizados. Reconhecer essa ancestralidade é percebe-se parte desse passado expresso pela compreensão de ser “uma pessoa de sangue”, vinculada a um passado comum, porém esse reconhecimento torna-se um desafio, pois os moradores de Bom Jardim precisam enfrentar cotidianamente o preconceito como expressa a entrevistada:

Eu tenho orgulho da minha cor e a comunidade não é somente uma comunidade de recursos, mas também porque moraram aquelas pessoas antigas que tinham ligação como pessoas negras mesmo. Então, eu fico contente de ser uma pessoa de sangue, de pessoa negra mesmo. E logicamente não são fáceis as coisa que a gente passa, é um desafio muito grande porque ainda há o preconceito. (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pela senhora Lucia dos Santos. 19 de setembro de 2009)

Dessa forma as identidades:

[...] são as posições que o sujeito é obrigado a assumir, embora “sabendo”... sempre, que elas são representações, que a representação é sempre construída ao longo de uma “falta”, ao longo de uma divisão, a partir do lugar do Outro e que, assim, elas não podem, nunca, ser ajustadas – idênticas – aos processos de sujeito que são nelas investidos. (HALL, 2005, p.112)

A projeção da identidade quilombola está relacionada a imagem dos antigos e representam o elo entre o passado e o presente, são testemunhos que evidenciam a existência dos escravizados em tempos anteriores em Bom Jardim, portanto, são percebidos como “raízes” como relata entrevistada, “[...] é a questão de ter existido aqui escravos, né?, que foi as primeiras famílias que formaram aqui na comunidade. Nós somos os filhos deles e eles são as nossas raízes.” (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pela senhora Deuzarina Guimarães. 23 maio de 2009).

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Esse processo de re-significação da identidade possibilitou a comunidade rever seu passado, suas “origens” o que levou os moradores a se perceberem “descendente de escravos”, evidenciado nos sobrenomes a relação com antigos donos de escravos em Santarém como os “Guimarães”. Dessa forma, a entrevistada compreende que quilombola é “ser descendente de escravos. Nossos pais eram, porque antes ninguém sabia, depois que eu vi esse documento e a gente tem tudo haver com aquele pessoal é: Guimarães, é dos Santos, é Ferreira, é Oliveira” (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pela senhora Deuzarina Guimarães. 23 maio de 2009).

Nessa perspectiva, a identidade é “[...] elemento de unificação das partes, assim como fundamento para uma ação política e [...] que se propõe é uma interpretação do passado e da cultura negra orientando-os no sentido de um movimento social” (ORTIZ, 2006, p.141). Os moradores de Bom Jardim de posse do conhecimento do seu passado interpretaram o artigo 226 da Constituição, identificando-se descendentes dos antigos escravos, portadores de uma memória em comum, percebem-se “herdeiros” dos antigos donos da terra.

Nessa perspectiva estão compreendendo que o conceito de quilombo foge o esquema explicativo da ideia de “fuga”, pois a sua permanência na terra se deu de forma diferente, visto que, a fazenda Bom Jardim foi doada por seus donos a antigos escravos como informa Funes em sua pesquisa1, portanto, Bom Jardim se constitui em “terra de herança” é um quilombo na compreensão dos entrevistados. De acordo com Almeida:

[...] conceito de remanescente das comunidades dos quilombos não deve ser restringido a casos de fuga, mas precisa incorporar o amplo leque de situações no qual, em vez de grandes deslocamentos por parte dos escravos, houve apropriação efetiva das grandes propriedades que entraram em decadência ou faliram, assim “aquilombando a casa grande”. (ALMEIDA, 2000, p.173)

O movimento quilombola em Bom Jardim está vinculado a memória da escravidão e na “terra de herança”. Dessa forma, essa memória fragmentada e re-significada instigou a mobilização e articulação dos comunitários que imbuídos de poder reivindicam direitos sociais.

Diante disso, pode-se considerar que a identidade não é algo fixo, imutável, mas é um processo dinâmico que está vinculado as experiências dos sujeitos sociais que dão significados as suas vivencias. Além disso, “[...] o processo de identificação está relacionado ao discurso produzido no contexto específico e só pode ser interpretado e estudado no contexto para entender o sentido que os sujeitos sociais atribuem as suas experiências” (HALL, 2000, p.109).

1 Para mais detalhes sobre os nomes dos escravos herdeiros de Bom Jardim, consultar o relatório elaborado por Euripes Funes em 1995.

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Nessa perspectiva, é relevante analisar como os moradores de Bom Jardim entendem e explicam o significado de quilombo na contemporaneidade.

2.1 O significado de quilombo na compreensão dos moradores de Bom JardimO termo quilombo esteve durante muito tempo vinculado a ideia de fuga de

escravos, de esconderijo de negro. No entanto, diante das pesquisas realizadas sobre essa estratégia de luta dos negros na América, observou-se que o significado de quilombo estava para além da simples noção de esconderijo, pois se tratava de sociedades forjadas por diversos grupos étnicos e não agregava apenas negros escravizados, mais também indígenas, brancos pobres, enfim, todos que não aceitavam o modelo de sociedade escravista.

No entanto, os quilombos existiram em todo território brasileiro. Na Amazônia, durante muito tempo a historiografia negligenciou a presença africana na região, mas autores como Vicente Salles, Acevedo, Bezerra Neto, dentre outros, discutem a temática do negro no Pará. De acordo com Gomes,

[...] os primeiros africanos que chagaram ao Grão-Pará foram para a região do Amapá, entre o século XVI e as primeiras do século XVII. E chagaram pelas mãos dos ingleses que montaram feitorias entre a costa de Macapá e a zona dos estreitos. (GOMES, 2005, p.44)

No entanto, a introdução do negro na Amazônia se deu de forma mais sistemática com a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará, divido a necessidade que os colonos tinham de mão de obra para trabalhar em diversas atividades, desde construção de obras públicas, cultivo de cacau, extrativismo a serviços domésticos, assim, em regiões como Santarém e outras vilas localizadas na região amazônica [...] fazendeiros e lavradores tentaram desenvolver uma pequena agricultura e a economia extrativista utilizando ao mesmo tempo trabalhadores indígenas e escravos africanos (GOMES, 2005, p.46).

Desse modo, o escravo africano aliando-se muitas vezes aos indígenas embrenharam-se nas matas, a própria geografia da região contribuiu para as fugas dos escravizados que sabotavam a estrutura de poder escravista da época, assim “[...] a floresta podia proteger os quilombolas, mas não isolá-los, pois eram comum estes visitarem vilas e povoados para negociarem produção, saquearem ou mesmo praticar sequestros” (GOMES, 2005, p.51). As articulações estabelecidas indicavam a mobilidade dos mocambos no momento em que as diligencias eram acionadas para capturar os fugitivos.

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Os estudos de Gomes, Sales, Acevedo enfocam o negro como sujeito articulador que organizou espaços sociais e políticos alternativos na Amazônia assim, o quilombo está entre esses espaços. Em todo território amazônico diversas comunidades negras permaneceram invisíveis. Atualmente, mediante o movimento de quilombagem, muitas comunidades negras se posicionam, colocando em evidência as lacunas da história e a necessidade de repensá-la considerando o negro como sujeito social e político.

Na compreensão das lideranças hoje, o sentido de quilombola está vinculado a fuga dos antepassados que almejavam viver a liberdade, mais também está relacionado a condição de muitos ex-escravos, que mesmo diante da abolição permaneceram com os senhores e acabaram herdando a terra, são compreendidos como remanescentes de quilombo. Essa ideia e bem expressiva no discurso do entrevistado:

Então ser quilombola pra nós é essa fuga dos nossos negros remanescentes de quilombos que não aceitaram a opressão do patrão e tentaram viver uma liberdade sozinha, sabe. Então, hoje o que mais nos motiva a trabalhar é nós ter liberdade. Isso dá um prazer muito grande quando a gente vê, por exemplo, as nossas autoridades que fizeram o artigo 68 da Constituição, os nossos senadores que assinaram o decreto do presidente Lula... (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pelo senhor Aldo Santos. 19 de setembro de 2009)

Nos discursos dos comunitários, Bom Jardim é considerado quilombo porque seus antigos moradores foram escravizados, dessa forma, a identidade quilombola está relacionada aos bisavós e avós que viveram a escravidão em tempos anteriores. Portanto, se identificar com esses descendentes vinculados a história de escravidão é significativo nesse contexto da luta pela terra. Dessa forma, são relevantes os discursos abaixo:

É porque são raízes de negros que vieram, talvez, África, né?, mas que vieram de outro lugar e vieram como escravos pra cá, mesmo que eles trabalharam aqui, mas eles são remanescente de quilombo.È as raízes porque o quilombola, o negro o que identifica não é a cor são as suas raízes. (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pela senhora Dileudo Guimarães. Maio de 2009)

Eu sou quilombola por duas partes não posso com negar. Meu pai foi escravo, ele, o avô e meu pai, e a minha mãe lá da Saracura o outro avô da Saracura era escravo e lá também houve a escravidão. Então meu pai e mãe se juntaram, meu pai e minha mãe todos os dois filhos de escravos e aí, posso negar? Como? (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pelo senhor Raimundo Ribeiro. junho de 2009)

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O (re)pensar a identidade quilombola no Bom Jardim foi um processo tenso e que está inserido no contexto das articulações de comunidades situadas na região de Trombetas, Oriximiná, Óbidos e Alenquer que iniciaram toda a discussão na década de 80 em virtude dos projetos de mineração instalados na região que atingiram o território de várias comunidades negras. Diante de tal ameaça, essas comunidades se mobilizaram e articularam o movimento de luta pela titulação das terras e de outros direito sociais.

2.2 A articulação do movimento quilombola em Bom JardimO movimento quilombola em Santarém do Pará foi inspirado na mobilização das

comunidades de Trombetas que na década de 80 articularam os encontros de Raízes Negras que resultou dentre outras coisas, na titulação de Boa Vista2. Os encontros de Raízes Negras ocorriam nos municípios de Oriximiná, Óbidos e Alenquer e se constituiu num espaço de articulação de estratégias de luta quilombola. Representantes do movimento negro urbano de Santarém participavam desses encontros.

Em meados da década de 90, representantes do movimento negro de Santarém, embasados nos encontros de Raízes Negras, visitaram as comunidades de Arapemã e Bom Jardim para discutir o artigo 68 da Constituição. O contato inicial com essas comunidades não foi tarefa fácil. Muitos encontros e reuniões foram necessárias para discutir a história dos antepassados escravizados e a importância do autorreconhecimento como negros, pois a mobilização dessas comunidades em torno da luta pela terra e de outros direitos só seria possível diante da autodeterminação em quanto negros e descendentes de antigos escravos, como lembra o entrevistado:

A gente chegou na comunidade conversando:- Olha nós somos negros, a gente vem de uma historia sofrida. Nossos avós e bisavós foram escravos. Então, precisamos rever essa história, que existe nossos direitos e vamos ter que correr atrás desses direitos. Pra isso nos temos que nos reconhecer como negros, embora o sistema condene o negro. Porque eu não posso chegar na comunidade e ver que eles são negros se eles não se aceitam, então se a comunidade não se aceita, nós não vamos poder exigir que eles se aceitem. Eles próprios que vão ter que definir (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pelo senhor Raimundo Vasconcelos. julho de 2009)

Diante de tantos encontros e reuniões com as lideranças das comunidades em Santarém, foi possível em 1996 a participação de representantes de seis comunidades – Tiningu, Murumuru, Murumurutuba, Bom Jardim, Arapemã e Saracura3 no Encontro

2 Boa Vista foi a primeira a receber a titulação da terra em 1995. Está comunidade está localizada no Município de Oriximá, no oeste do Pará.3 Comunidades localizadas no município de Santarém que se autodeterminaram quilombola na década de 1990.

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de Raízes Negras em Belém. Nesse encontro foram discutidos, dentre outras coisas, o artigo 68 da Constituição Federal e como as comunidades deveriam organizar as associações quilombolas.

FIGURA 1 – Primeira reunião de articulação quilombola em Arapemã.Fonte: Arquivo particular de Raimundo Vasconcelos (1992).

De posse das orientações as lideranças retornaram às suas comunidades para explicarem como deveria ser organizado o processo para requerer a titulação da terra. Em Bom Jardim as notícias não agradaram parte dos moradores e logo se estabeleceu conflitos e mal estar na comunidade e diante das pressões, o movimento logo se esvaziou, como explica o entrevistado:

Na volta eu reunir aqui na comunidade, mas ai o pouco conhecimento não soube muito bem explicar pro pessoal. Eu também fui muito direto ao dizer: – olha esse pessoal não são quilombolas e a lei diz que tem que sair né, (risos). Ai com isso, algumas famílias não quilombolas achavam ruim e começaram articular também o povo que não entenderam e vieram contra mim. Daí eu parei né, também me quietei. (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pelo senhor Dileudo Guimarães. Maio de 2009)

De acordo com o entrevistado, a primeira reunião na comunidade foi marcada por tensões que se estabeleceram diante da noticia da titulação da terra, assim, o movimento não recebeu apoio dos comunitários. No entanto, o movimento ganhou impulso em 1999 quando ocorreu o primeiro encontro de Raízes negras em Saracura. Lideranças de Bom Jardim perceberam a força do movimento e reiniciaram o processo de articulação na comunidade.

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FIGURA 2 – Primeiro Encontro de Raízes Negras em Saracura (1999).Fonte: Arquivo particular de Raimundo Vasconcelos 1999.

FIGURA 3 – Cartilha do primeiro Encontro de Raízes Negra em Saracura (1999).

Fonte: Arquivo particular de Raimundo Vasconcelos 1999.

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O oitavo Encontro de Raízes Negras do Baixo Amazonas, articulado pelo movimento negro urbano de Santarém, contou com a colaboração e parceria de várias entidades do movimento social. O tema do encontro é bastante sugestivo, “Da Mãe África a Mãe Amazônia: Nossa terra, Nossa gente, Nossa luta”. Dessa forma, o fio condutor do movimento articula um discurso relacionando a região Amazônica e o continente africano, enfatizando a ideia da ancestralidade africana. Então, para forjar a identidade quilombola foi preciso construir uma narrativa relacionando escravidão, terra, ancestralidade e quilombo. Assim, o termo quilombo emerge nesse cenário de luta como um termo político. As comunidades compreenderam que movimento quilombola dava visibilidade e poder, visto que nesse processo, instituições foram criadas para atuarem junto ao poder público no sentido de requerer a posse legal da terra e outros direitos sociais.

Nesse sentido, em Bom Jardim, a criação da Associação quilombola foi fundamental para o processo de autodeterminação, sendo necessário os estudos das cartilhas que orientavam sobre os procedimentos de formação da Associação. Assim, é expressivo o discurso da professora da comunidade que atuou ativamente nesse momento: “Pra formar a associação foi preciso fazer uma assembleia com as comunidades quilombolas. Eu não me lembro o dia e nem o ano, mas teve essa assembleia. Foi lá no barracão.” (Entrevista concedida a Cláudia Laurido pela dona Deuzarina Guimarães. Maio de 2009). As cartilhas utilizadas nos encontros eram fornecidas pelo Pro-Índio e destacavam em seu conteúdo questões relacionadas a terra coletiva; o artigo 68 da Constituição; como organizar as associações e orientava sobre os procedimentos para a titulação da terra. Abaixo a imagem da capa de uma das cartilhas utilizadas nas reuniões em Bom Jardim.

FIGURA 4 – Cartilha utilizada nas reuniões quilombolas.Fonte: Arquivo particular de Raimundo Vasconcelos.

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É relevante perceber que esse momento foi bastante significativo, visto que, o papel de articulação na comunidade contou com a participação das mulheres, como narra entrevistada:

E veio as cartilhas pra gente lê, como era pra fazer a associação, como reivindicar a documentação. E o Dileudo se envolveu e ficou participando do encontro. E a minha parte já foi aqui mesmo na comunidade. Nesse tempo a gente convidava pra reunião, pra explicar aquela cartilha. A gente fazia grupos pra eles estudarem para poder entenderem, porque eles não entendiam, eles só diziam que era para tomar a terra dos outros (riso). E teve muitas reuniões, não foi só uma. E vinham outros de fora, de Palmares, de Belém de Brasília, vinha pra explicar pra gente. (Entrevista concedida a Cláudia Laurido Figueira pela dona Deuzarina Guimarães. Maio de 2009)

A articulação do movimento quilombola em Bom Jardim também contou com o apoio de entidades com Palmares e do Movimento de Articulação Quilombola – ARQUIMON participaram dos encontros na comunidade. É interessante perceber a rede de solidariedade que se estabeleceu nesse momento, a experiência das lideranças de Oriximiná, cidade localizada próxima de Trombetas constituiu no ápice do movimento caracterizando-o como um movimento que interligou comunidades negras do Baixo Amazonas que tinham problemas comuns. É expressiva a lembrança do entrevistado:

Era como eu tô falando, esse Silvano que vinha de Oriximiná começou a apoiar essa luta aqui, reuniu a comunidade e começou a repassar que era benefício de nóes receber nossas terras que o governo tinha se preocupado com essa parte e ele achou por bem contribuir devolvendo as terras. Aí o Silvano veio e já morava aqui. Aí deram essas cartilhas e o pessoal se conscientizando e a luta foi fortificando. Aí que houve a necessidade... aqui de primeiro era presidente de comunidade, aí passou a ser presidente de quilombo. Aí o cumpadre Dileudo assumiu a liderança como presidente de quilombo. Quando o movimento tava bem sucedido, bem apoiado que ficou tudo esclarecido, mas isso com muita luta, veio gente de Brasília, de São Paulo, de Santa Catarina, veio gente de vários cantos que apoia esse movimento. Aí foi esclarecendo pra gente, foi tentando abrir a mente, aí fomos vendo, fomos abraçando a causa devagar. Aí mudou a estratégia, o Dileudo foi trabalhar em Santarém apoiando o movimento. Quando nós soubemos realmente qual era o nosso objetivo dessa luta, ai criaram a Federação né, aí sim, se fortaleceu de uma vez a coisa, aí nós soubemos realmente o que significava a luta pra nós ao nosso favor. Mas essa luta vem de muitos anos. (Entrevista concedida a Cláudia Laurido pelo senhor Raimundo Ribeiro. Junho de 2009)

No discurso do entrevistado percebe-se o quanto o processo de identificação foi tenso, as reuniões, os estudos das cartilhas e a presença de outras lideranças do movimento quilombola, principalmente de Oriximiná foi significativo nesse momento.

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Essa articulação das comunidades quilombolas do Baixo Amazonas possibilitou não apenas a criação das associações, mas também da Federação Quilombola, isso demonstra que as comunidades compreenderam o significado da luta. Portanto, com a criação da Federação o movimento de quilombo em Santarém se instucionalizou. O Jornal o Gazeta informa numa nota bastante tímida a criação da Federação:

A Vereadora Odete Costa (PT) articula a criação da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém, a FOQS. Dia 10 de março, no salão paroquial da igreja de São Raimundo, será realizada assembleia geral para a aprovação do estatuto, eleição e posse do conselho diretor e fiscal da entidade. (Carneiro, Jeso. Negros. Gazeta de Santarém, Santarém, 9, 2006)

A criação da FOQS foi um momento significativo para as comunidades que participaram o movimento de quilombagem, assim pode ser interpretado como o amadurecimento da luta e o entendimento de que as reivindicações deveriam ser apresentadas ao poder publico e a outros setores da sociedade de forma institucional.

3 CONSIDERAçÕES FINAIS Tendo em vista os discursos dos entrevistados percebe-se que estes traduzem a

posição de lideranças que participaram da articulação do movimento de quilombagem em Bom Jardim. O discurso quilombola está alicerçado na memória da escravidão expresso principalmente nas narrativas das mulheres que transmitem de geração em geração as histórias fragmentadas que hoje dão suporte ao discurso quilombola articulado pelas lideranças da comunidade.

Assim, percebe-se que os saberes das mulheres são referencias e embasam o movimento, pois interligam o passado ao presente, possibilitando dessa forma, a re-significação da identidade quilombola. A participação das mulheres no movimento quilombola em Bom Jardim foi expressivo também nas reuniões para estudo das cartilhas e na mobilização da comunidade. Dessa forma, o trabalho de mobilização da comunidade não hierarquizou os agentes sociais, mas possibilitou um engajamento político que articulou homens e mulheres numa luta comum.

Os saberes das mulheres ganham visibilidade, principalmente, porque as histórias contadas expressam o sentimento de liberdade que tanto instigou antigos escravizados a forjarem diferentes estratégias de lutas que hoje são traduzidas por seus descendentes como código de poder. Nessa perspectiva, os moradores de Bom Jardim transformaram as lembranças fragmentadas em argumento político em defesa de suas tradições, da terra e dos direitos sociais, portanto, o sentido de liberdade hoje é traduzido, dentre outras coisas, em direito a terra legalizada.

Nessa perspectiva, a identidade forjada no movimento quilombola possibilitou comunidade como Bom Jardim a vislumbrar uma posição política na sociedade,

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fazendo-se perceber por outros grupos sociais e do poder público, visto que, a identidade quilombola nesse contexto do século XXI traz para o cenário social a necessidade de discutir as histórias de sujeitos sociais que foram silenciados e desconsiderados durante muito tempo.

Dessa forma, as mulheres quilombolas ao recontarem as histórias lutaram contra o esquecimento. As lembranças fragmentadas foram articuladas num momento em que lembrar as histórias passadas significam não perder de vista as “raízes” e compreender o sentido político da luta para garantir a terra. Portanto, essa analise concentrou-se em discutir como sujeitos sociais compreenderam e re-significaram conceitos e forjaram estratégias de luta em defesa direitos sociais.

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Escola e indisciplina: uma questão de políticas públicas? 4

Rejane da Silva Sales BezerraMaria Irene Escher Boger

RESUMOAtualmente vive-se em uma sociedade desigual, na qual cidadania, super-cidadania e

subcidadania convivem num mesmo espaço, cotidianamente. As pessoas estão se tornando, cada vez mais individualistas e o convívio harmônico raro. Este novo padrão de comportamento repercute nos ambientes familiares, de trabalho e escolar, levando o ser humano de diferentes idades à ações e reações que exigem um novo olhar sobre os grupos sociais e os processos educativos utilizados no ensino formal. Este artigo faz uma revisão da literatura sobre os conceitos de disciplina e indisciplina sob a ótica da escola, da família e da sociedade. Aborda, também, o modo como são estabelecidas as relações entre os diferentes sujeitos do contexto familiar e social dos alunos, assim como o papel de controle social assumido pelas políticas públicas para a educação.

Palavras-chave: Aluno. Indisciplina. Relacionamento.

School and lack of discipline: A public policy issue?

ABSTRACTAt present life is in an unequal society in which citizenship, super-citizenship and

uncitizenship live in the same space, day after day. People are becoming increasingly individualistic and harmonious coexistence rare. This new pattern of behavior reflected in the family, work and school, leading humans in different ages, the actions and reactions that require a new focus on social groups and educational processes used in formal education. This article reviews the literature on the concepts of discipline and indiscipline from the perspective of school, family and society. Also addresses how relationships are established between the different subjects of family and social context, students, and the role of social control assumed by the public policies for education.

Keywords: Student. Disruptive. Relationship.

4 Artigo apresentado como exigência parcial para a obtenção de conceito na disciplina Psicologia da Educação, do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, no município de Santarém, pelo Consórcio Universitário Cescon e UPE, sob a orientação da Professora Dra. Maria Irene Escher Boger.

Rejane da Silva Sales Bezerra é Mestranda em Ciências da Educação, pelo Consórcio Universitário Cescon e UPE.Maria Irene Escher Boger é Pedagoga, Doutora em Psicologia. Docente da Pós-Graduação do IESPES e da Valor Humano – E-mail: [email protected]

Espaço Científico v.11, n.1/2 p. 130-142 2010Santarém

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1 INTRODUçãOA indisciplina, segundo Barsa (2009) é falta de disciplina, desobediência,

rebelião; e indisciplinado é que ou quem não observa a disciplina, desordeiro. A partir disso, entende-se que a indisciplina é desobediência às regras que foram estabelecidas socialmente para o convívio, e quem não as cumpre é porque, por algum motivo, não as aceita e, por isso, é tido como desordeiro e rebelde. Isso é o que comumente se estabeleceu como indisciplina para a maioria das pessoas.

Silva (2010), ao comentar sobre o medo que as pessoas têm da convivência em sociedade, devido à enorme violência que se agrava nas ruas, diz que elas passam a agir indiferentemente às regras e normas de convívio social, sentem-se inseguras em relação ao que ensinar aos seus filhos, os valores morais e éticos ficam perdidos em meio à configuração da sociedade atual. Assim, os alunos chegam às escolas desacostumados, ou sem saber, respeitar limites, e a escola, principalmente na pessoa do professor, não sabe como agir diante disso.

O tema da indisciplina tem a ver com o poder, uma vez que a disciplina está subordinada às normas sociais estabelecidas e determinadas por quem exerce poder. Para D’Ambrósio (1999) os sistemas de poder nas sociedades modernas são subordinados às leis, através de suas constituições, e as diferentes estruturas e compreensões do poder constituem a mesma ideologia de poder. Dessa forma, a escola pretende exercer poder sobre os alunos, uma espécie de controle, de regulação, o que os adolescentes não estão, na sua maioria, preparados para receber e aceitar, gerando ,assim, a indisciplina.

Na escola, percebe-se que o exercício do poder para manter a disciplina tem uma relação direta com os alunos, quando estes não se adaptam ou não “obedecem” às normas escolares. A clientela que está na fase da adolescência é, muitas vezes, estigmatizada, a escola nem sempre considera que esse é um período de desenvolvimento psicossocial e, portanto, de mudanças. Os adolescentes desejam escolher suas próprias amizades, os ambientes que querem frequentar, isso inclui a escola. Se tal não acontece, podem ocorrer frustrações e as reações nem sempre estão dentro dos padrões sociais que os pais e a escola construíram, os alunos passam a ser considerados como indisciplinados e problemáticos.

Na escola, atitudes que vão de encontro às normas são tidas como de rebeldia e de indisciplina. A opinião dos professores sobre o assunto é quase unânime: o aluno é indisciplinado e merece ser punido. Para os alunos isso é exagero, a escola é que não os compreende. Porém, antes de julgar o “certo” ou o “errado”, em tal situação é necessário saber o que se considera indisciplina, a partir da ótica do próprio aluno, e como alunos e professores agem diante de situações que se acreditam serem atos indisciplinares.

Machado (2008), em seu artigo A Indisciplina na sala de aula, discutindo o assunto diz que a maioria dos educadores está descrente na educação, pois vê o comportamento dos alunos em sala como falta de limites, e ainda percebem que os pais estão pouco se importando com isso, o que, para os professores, é o mais preocupante.

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Segundo Garcia (2010) o professor deve estabelecer na escola os limites que o aluno não tem em casa, mas de forma que eles desenvolvam atitudes e comportamentos com a autoconfiança, porque o choque de gerações traz insegurança tanto no aluno como no professor.

Para Roure (2000) a questão da disciplina e indisciplina escolar representa um desafio dúbio para a escola porque a assimilação dos conteúdos escolares não ocorre sem que haja organização e normatização no ambiente da sala de aula, e porque as regras e respeito coletivos se dão de forma constitutiva da consciência moral. A autora defende também que nem toda disciplina tem um valor moral em si, pois muitas vezes o excesso de regras legitima posturas autoritárias.

Santos e Nunes (2006, p.17), abordando o papel da escola em relação à indisciplina, afirmam que esta não está preparada para administrar novas formas de existência social concreta e, dessa forma, criticam a nova clientela. Por essa visão, a indisciplina não está no aluno e sim na falta de compreensão da escola sobre os adolescentes. As autoras ressaltam ainda que é importante analisar cada caso em particular para se definir e solucionar a indisciplina no espaço escolar.

Para Hübner e Tomazinho (2001, p.64) o professor tipifica o aluno como sendo revoltado e incapaz de perceber que é causador de indisciplina, e isso revela que a escola acaba rotulando o aluno como culpado por seus próprios problemas e por desajustar o grupo em volta, assim a indisciplina acaba sendo como um produto ‘criado’ pelo aluno, justificando-se nele a sua natureza.

Dessa forma, a indisciplina é observada apenas por um único prisma, sem se considerar todos os envolvidos em tal problemática. O aluno não é ouvido, e sua voz, a própria escola, é quem mais o condena, desprezando todo o potencial nele existente.

2 EDUCAçãO E CONTROLE SOCIALO controle social está relacionado a uma determinada forma disciplinar de

conduzir posturas, garantindo a permanência e sobrevivência da sociedade. A educação exerce papel fundamental de reguladora social, porque pretende ajustar o aluno aos padrões culturais vigentes, o que permite ao indivíduo está integrado para a convivência em sociedade; dessa forma ela (a sociedade) garante sua organização (NERY, 2008).

Para Durkheim (1974), a educação é considerada fato social, impondo leis de modo coercitivo e na qual o indivíduo percebe que é necessário agir de determinada forma para garantir a harmonia social. Assim a escola é reprodutora de valores que pretende conduzir o indivíduo à adaptação social.

Almeida et al. (2009) afirma que a escola é responsável pela formação individual e coletiva dos sujeitos:

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A educação escolarizada representou um projeto capaz de fazer da formação dos indivíduos exclusiva responsabilidade da sociedade em seu conjunto e, em especial, dos governantes, pois é direito e dever do Estado formar seus cidadãos e garantir sua conduta correta, vale dizer, o comportamento na direção do projeto racional e, no caminho, introduzir ordem em uma realidade que antes estava despojada de seus próprios dispositivos de organização.

Darsie (1999) considera que a escola constrói ideologias que serão reafirmados socialmente. Toda prática educativa traz em si uma teoria do conhecimento. Esta é uma afirmação incontestável e mais incontestável ainda quando referida à prática educativa escolar.

A escola é um mecanismo básico da constituição dos sistemas sociais e da manutenção desses. O equilíbrio é o fator fundamental do sistema social e para que este sobreviva é necessário que as pessoas que fazem parte dele assimilem e internalizem os valores e normas que regem seu funcionamento.

A criança, nos primeiros anos de vida, aprende que para alguém lhe entender (visto que não fala) será necessário chorar, isso constitui uma norma durante essa fase de sua vida. Aos poucos, ela vai aprendendo a andar e falar, e descobrindo através da família como se comportar com o pai, com a mãe, irmãos (se houver), enfim com toda a família, percebendo quem ocupa determinada função; também descobre que em alguns lugares não pode subir, que precisa tomar banho quando está suja, e muito mais, essas são as leis de sua casa.

À medida que o indivíduo se desenvolve vai tornando-se autônomo. Roure (2000, p.4) argumenta que a autonomia é fundamental para o processo educativo: “as relações espontâneas fornecem a base sobre a qual a criança deve construir as noções de regras, respeito mútuo e justiça e, portanto, sua autonomia moral”. Assim, o indivíduo percebe que está se adaptando ao mundo a sua volta.

Ao ingressar no ambiente escolar a criança já possui muitas regras internalizadas, cabe à escola ampliá-las e ensinar-lhes novas, aos poucos ela controla o que o indivíduo deve ou não fazer, como agir diante das situações cotidianas, estabelecendo qual lugar ocupamos no corpo social, transparecendo de que forma podemos ou não contribuir na formação social e, desse modo, estabelecer a sociedade a qual pertencemos.

A escola, dessa forma, é detentora de poder, pois define (em parte) como os alunos devem agir diante de situações variadas, consigo mesmo e com os outros. A escola repassa ideologias que permanecem ou se modificam diante das exigências sociais.

O indivíduo é, de certa forma, “dominado”, não somente no controle de ideias, mas também e, principalmente, na regulação de suas ações e, de seu corpo. Foucault (1989, p.125) define que o corpo é objeto e alvo de poder, pois “se manipula, se modela,

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se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam”, dessa forma os corpos estão presos no interior de poderes que lhes moldam impondo limitações e obrigações, por isso, no dizer do autor, corpos dóceis, reproduzindo as ideologias do Estado.

Poder pertence às relações sociais entre os indivíduos. Para Arendt (1970) violência e poder têm relação estreita, o que separa ambos é a dimensão política que usa do poder, mas não de forma violenta. Souza (2008, p.17), assim, define essa diferença:

O poder difere da potência e da força na medida em que está intimamente articulado à autoridade e, assim, tem como característica a contenção da potência e da força e sua transferência para fins úteis e controlados A característica básica do poder é a persuasão, o uso da linguagem como meio de convencimento e esclarecimento mútuos. O poder é a essência do governo, há uma relação intrínseca entre poder e governo, entre autoridade e poder (...) que se não pode mais ser considerado símile de repressão, é necessário para a constituição do social e, assim, é justificável e legítimo.

Foucault (1985) considera que a ideia de poder como repressivo é inadequada, ressaltando que há uma totalidade e variedade de exercício de poder, que não se inclui nessa noção. Segundo o teórico, se essa for a única concepção de poder é apenas jurídica, sendo reconhecida por uma lei que estabelece a proibição. E dessa forma não seria aceito e nem obedecido. Poder é uma rede que faz parte do corpo social, na qual se estabelece não simplesmente pela repressão ou por imposição.

As formas como o poder se realiza são ao mesmo tempo internas e externas, visto que depende de quem o aceita e de quem o exerce. Segundo Bourdieu (2009) o poder é simbólico e invisível, e é exercido através da aceitação dos que a ele estão subordinados ou que o exercem, assim a sua representação se dá de formas várias e muitas vezes não é percebida pelos sujeitos.

Para Locke (1997), o poder está relacionado a mudanças de ideias, visto que nenhum poder se efetiva fora da existência da alteração destas. Essas modificações estão sujeitas a uma duplicidade, sendo possível recebê-las ou realizá-las, assim, o poder é ativo e passivo. A produção e a reprodução do poder geram novas formas de poder, estabelecendo novas relações deste que se refletem na sociedade.

O poder só se estabelece porque conduz a toda uma rede social, não é algo isolado, ele está relacionado às configurações sociais, de acordo com sua organização, tem relação direta com verdade, saber, cultura, entre outros. Por isso para Foucault (1985), a relação entre verdade e poder é indissociável, porque a primeira não existe sem o segundo, visto que ela é produtora de poder. Assim, quem detém a verdade exerce o poder, pois os sistemas de poder produzem e apoiam a verdade. Dessa forma, a escola é detentora de poder por deter verdades e saberes.

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Sobre essa relação entre escola e poder Bourdieu (2009, p 148-9) enfatiza que a escola é responsável pela aquisição do poder, que é dado por título profissional, adquirido no espaço escolar, pois quando o poder aquisitivo não é possível os ganhos simbólicos adquiridos através de uma profissão é que faz com que alguém seja conhecido e reconhecido socialmente.

O título profissional ou escolar é uma espécie de regra jurídica de percepção social, um ser-percebido que é garantido como um direito. É um capital simbólico institucionalizado, legal (e não apenas legítimo). Cada vez mais indissociável do título escolar, visto que o sistema escolar tende cada vez mais representar a última e única garantia de todos os títulos profissionais, ele tem em si mesmo um valor e, se bem que se trate de um nome comum, funciona à maneira de um grande nome (nome de grande família ou nome próprio), conferindo todas as espécies de ganhos (e dos bens que não é possível adquirir diretamente (sic) com a moeda).

Essa importância dada à escola na geração de reconhecimento social é fundamental para a compreensão das relações que se estabelecem na sala de aula entre professores e alunos, pois a partir dessa visão as pessoas adquirem o poder que lhes é dado pelo status, não é o trabalho em si que determina isso, mas “o valor institucionalizado do título que serve de instrumento o qual permite que se defenda e se mantenha o valor do trabalho” (BOURDIEU, p.149).

A escola tem valor e função sociais que são indispensáveis para a compreensão de si mesma e da sociedade. Por isso, para Martins (2006, p.10) no espaço educativo

A prática de todo professor, mesmo de forma inconsciente, sempre pressupõe uma concepção de ensino e aprendizagem que determina a compreensão do seu papel e do papel do aluno, da metodologia, da função social da escola e dos conteúdos a serem trabalhados. Tal prática constitui-se a partir das concepções educativas e metodologias de ensino que permearam a formação educacional e o percurso profissional do professor, suas próprias experiências de vida, ideologia compartilhada com seu grupo social e as tendências pedagógicas que lhe são contemporâneas.

A escola é reprodutora de ideologias pré-determinadas pelo Estado legislador, por isso nela as relações de poder existem em graus e formas diferentes. Como afirmou Bourdieu (2009), o poder só é exercido com a cumplicidade de alguém. As forças que movem o poder são inúmeras e, muitas vezes, desconhecidas. O professor que determina algo o faz considerando que se vê como o agente desse poder. O aluno que imprime negação a uma determinação o faz porque acredita que detém esse mesmo poder. Isso é recorrente nas escolas. Então, surge a indisciplina, porque o aluno não vê

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motivos para obedecer às leis ali estabelecidas. Considere-se também que em muitos lares os limites não foram ensinados, e a escola acaba por fortalecer ainda mais o lado negativo do aluno.

A escola é um dos principais responsáveis pelo estabelecimento de normas sociais, valores morais e éticos: “cabe à sociedade formalmente constituída, através das demais instituições, oferecer condições concretas para que as relações entre seus membros sejam regidas pelos princípios da ética, da igualdade e da justiça” (ROURE, 2000, p.12).

Dessa forma, é papel do professor ajudar a assegurar que a geração atual supere a anterior, reforçando que os processos sociais devem ser mais democráticos e justos do que já tenha sido no passado. Por isso a defesa de uma educação crítica e transformadora, representa um desafio para a escola atual, que deve reordenar a relação entre teoria e prática.

A indisciplina relaciona-se com o poder na medida em que este é autoritário e representa uma ameaça aos planos do adolescente, que se vê impulsionado a cumprir regras que nem sabe o que significam e qual sua importância. Muitas vezes, não aprendeu isso em casa, nesse momento é que se vê a importância da função da escola, pois ela é a extensão das relações familiares, por isso é fundamental o fortalecimento diante das problemáticas que se apresentam. O ambiente escolar deve ser harmonioso e que a escola possa reconhecer quando algo foge ao controle. Se professores e alunos têm uma convivência que não interfere negativamente no processo de aprendizagem isso é bom, porém, se o oposto acontece é necessário que a escola saiba lidar com isso.

3 DISCIPLINA E INDISCIPLINAA problemática atual das escolas brasileiras sobre a indisciplina tem sido

analisada cada vez mais de forma aprofundada no sentido de se encontrar meios que conduzam a escola na formação de cidadãos não apenas preparados para o mercado de trabalho, mas com valores éticos e morais que revelem a sociedade a qual pertencem. O reflexo em nossas escolas tem sido de uma sociedade cada vez mais violenta. As causas são várias: desajustes familiares, medo de se expor em público, insegurança, competitividade, entre outros.

A sociedade cria regras de convívio que todos os dias são “quebradas”, e disciplina e indisciplina seguem diferentes caminhos. Está cada vez mais difícil fazer com que as pessoas respeitem os padrões preestabelecidos. As leis são “burladas” por quem pode mais, por quem tem condições de arcar financeiramente com seus próprios erros.

Os padrões éticos e morais são esquecidos e muitas vezes abandonados para sempre. Considere-se que os modelos de valores sociais são meios encontrados para se estabelecer o poder, visto que as leis e regras sociais passam pelo poder. Partindo-se do pressuposto, observe-se que na escola o poder é experenciado por alunos e professores dos quais há sempre alguém que exerce o poder que lhe é conferido (ou que é por ele estabelecido) através das normas escolares e outro a quem o poder é imposto, ou

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simplesmente, aceito, a quem as regras são ditadas. Quem fica fora desse padrão é tido como rebelde, revoltado, problemático, enfim, indisciplinado.

D’Antino e Silva (2001), no artigo Educação Infantil: o primeiro contato com normas institucionais, discutem que é importante estabelecer desde cedo na escola a importância das normas escolares para as crianças, explicando-lhes porque cada uma das regras deve ser obedecida indicando os benefícios para todos, pois assim a escola estará contribuindo para que eles cresçam conscientes de que a formação moral está presente em todos os ambientes, a começar pela própria casa dos alunos.

É preciso reavaliar o papel da escola, quando no início do período letivo destacam-se para os alunos as normas que regem a instituição dizendo-se o que é proibido, sem justificá-las. É preciso não apenas lê-las na sala de aula, mas discuti-las, observando a importância de mantê-las, destacando quem e porque todos se beneficiam com o cumprimento do regimento escolar. Reforçando-se a ideia de que em todos os lugares normas existem, até mesmo na casa do aluno, na rua, no supermercado, enfim, deixando claro que as regras estão presentes no cotidiano da vida em sociedade.

Segundo Santos e Nunes (2006) há quatro fontes que determinam a indisciplina refletida nos jovens no ambiente da escola:

1 O aluno, porque se comporta inadequadamente às normas escolares não fazendo esforço de se adaptar ao meio;

2 O professor, por agir autoritariamente com os alunos, acreditando que ditar regras imporá respeito;

3 A família por estar ausente ao processo educativo do aluno, não demonstrando nenhum interesse como ele se comporta na escola, o que importa são notas boas;

4 A escola porque não se esforça em fazer com que o aluno se adéque a ela, imprimindo regras de forma impositiva, e não dialogada.

Observa-se que todos acabam tendo uma parcela de culpa no processo de inserção do aluno às regras institucionais da escola e da sociedade. O reconhecimento da raiz do problema é fundamental para que ele seja resolvido.

Considere-se também que a escola e os pais são imediatistas, querem os resultados em curto prazo. É preciso dar tempo para que o aluno se perceba não como fonte da indisciplina, mas como parte fundamental para que ela não faça parte do seu dia a dia e de outras pessoas.

Garcia (2010, p.1) defende que a indisciplina na adolescência é a força de resistência e produção de novos significados. Por esse ponto de vista, percebe-se que o aluno adolescente tem dentro de si uma vontade de ressignificar o mundo, construindo seus próprios conceitos, e muitas vezes a escola e os pais não estão preparados para ver e ouvir os jovens porque acreditam que eles ainda não sabem o que querem. Por isso, a importância do diálogo dentro tanto da família como da escola, não para pais e professores ditarem normas, mas para ouvirem a opinião dos jovens, afinal eles têm

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tanta vontade de mostrar a que “vieram ao mundo”, são criativos, curiosos, e isso pode ser aproveitado positivamente em favor de todos.

Para Jacobino e Rodrigues (2008), os alunos estão acostumados a terem suas vontades feitas sem se preocupar a quem afeta e quando se veem contrariados têm reações diversas que configuram, quase sempre, em atos indisciplinares. Por isso, a maioria dos educadores defende a presença da família na escola. Normalmente, pais e responsáveis procuram a escola para observar o rendimento do aluno. Quando se fala em participar da vida escolar dos filhos, não é somente nesse sentido, mas de efetivamente reconhecer sua adaptação em outro ambiente, longe da presença da família. Quando os jovens percebem que são valorizados e não vigiados tendem a se interessarem mais pela vida escolar porque percebem que aquilo lhes trará algum benefício.

Silva (2010, p.113) contesta o fato das pessoas estarem acostumando-se a atos indisciplinares tanto na escola como na sociedade, principalmente porque a indisciplina continua como um problema diário de nossas escolas e passou a ser visto como produto de uma doença de nome pomposo chamada hiperatividade. As pessoas estão tão desacreditadas de que é possível agir racionalmente sem nenhum tipo de agressividade, observando normas de comportamento, que atitudes como apelidos, xingamentos, são tidos como comuns, por isso o bullying está tão presente nas escolas, e o mais inquietante é que tem passado despercebido entre as pessoas, não só ele, mas também outros atos indisciplinares.

É importante ressaltar que a indisciplina não é um ato exclusivo dos adolescentes e do ambiente escolar, mas ela se processa em todos os ambientes nos quais as regras institucionais são transgredidas. Para Roure (2000, p.12),

A transgressão das normas coletivas, a dificuldade em organizar-se frente a determinados objetivos e, enfim, a tendência à indisciplina não são prerrogativas das crianças e adolescentes, ou dos sujeitos enquanto filhos e alunos, mas uma condição que se manifesta nas diversas relações do indivíduo com o outro, com as instituições e com as leis sociais.

Dessa forma, a indisciplina é tida não simplesmente como um problema exclusivo da escola, mas da sociedade em geral. No entanto, a indisciplina escolar é preocupante porque a escola é geradora do conceito de que o aluno é o principal agente da indisciplina, e isso faz com que muitos alunos acreditam-se como produto de rebeldia porque desde muito cedo ouviu dizer isso a seu respeito ou de outrem. Gerando, assim, na escola um ambiente excludente e reforçador de estigmas, dos quais é papel fundamental da escola extingui-los da sociedade.

Além disso, é preciso que a escola, o professor, o aluno e a própria família defina o que seja disciplina e indisciplina, para que os limites não sejam impostos à força, a qual para muitos é necessária.

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4 RELAçãO PROFESSOR/ALUNO NO CONTEXTO DA SALA DE AULAA formação social da atualidade contribui positiva e negativamente para a geração

de relações que se efetivam no dia a dia das pessoas, refletindo-se em casa, no bairro, no trabalho, na escola, enfim, em todos os ambientes dos quais ela participa. Nos grandes centros, as famílias estão cada vez mais isoladas tentando se proteger da enorme violência que as desigualdades sociais têm provocado. Dessa forma, os indivíduos mantêm relacionamentos restritos e distantes do convívio social. Isso afeta diretamente os demais comportamentos do ser humano, que está muitas vezes incompreendido pelo outro, pela sociedade em geral.

Sente-se a fragilização dessas relações na família (na qual pais e filhos têm diálogos escassos), no trabalho (onde as pessoas disputam entre si maior destaque e agem de forma egoísta para ser melhor que o outro, muitas vezes, até mesmo “puxando o tapete” do colega) e na escola (quando professores e alunos se distanciam sempre mais, afetando a aprendizagem). Assim, as relações sociais são afetadas negativamente nas mais diversas áreas.

A escola é prejudicada diante dessa nova configuração social, por isso tem enfrentado crises que vão de questões de aprendizagem dos conteúdos até o desenvolvimento de potencialidades na formação do cidadão. Entre as diversas realidades que a escola presencia estão as relações entre professores e alunos. Considerar essas relações como forma de adequação à própria escola e suas reais necessidades é imprescindível, pois o resultado reflete-se na aprendizagem. Muitas vezes essas relações têm sido conflituosas, dentre suas principais causas está a indisciplina.

Professores e alunos têm enfoques díspares sobre o conceito de indisciplina. Enquanto para aqueles a indisciplina está no aluno, este percebe que a escola não se esforça para se adaptar a eles. Conforme Santos e Nunes (2006)

O aluno elabora o seu conhecimento a partir da atribuição de um sentido próprio e genuíno às situações que vivencia e com as quais aprende, processo no qual exerce papel primordial a capacidade de autonomia, de reflexão e de interação constante com os outros sujeitos e com seu entorno, as separações mente/corpo, cérebro/espírito, homem/natureza não mais se sustentam. Este novo paradigma traz a percepção holística do mundo, a visão de contexto global, a compreensão sistêmica, enfatizando o todo em vez de uma parte.

As diferenças nas opiniões representam formas de ver o mundo de forma diversa entre professores e alunos. O professor percebe-se diferente no mundo da mesma maneira que o aluno. É necessário, porém, que se encontre uma ponto em comum na opinião entre eles. Nem sempre as visões diferentes sobre o mesmo objeto pode representar conflitos, é preciso um meio termo para se perceber como um pode contribuir com o outro.

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Machado (2008) destaca que os professores ficam desgastados com os problemas de indisciplina na sala de aula, depois de ter tentado várias maneiras de fazer com que o aluno com esse tipo de comportamento se interesse, acabam desistindo e em casos extremos solicitam que o aluno saia da sala de aula para conseguir obter rendimento dos demais.

Roure (2000, p.12) ressalta que a visão do professor sobre a concepção de indisciplina depende de sua práxis, da formação que recebeu e de sua postura perante a escola e questões sociais.

Pode-se entender que entre disciplina e ética se estabelece uma relação dialética que envolve um sujeito e a estrutura normativa da coletividade da qual faz parte. Ao mesmo tempo em que o sujeito constitui a sociedade, é, também, por ela constituído. Perder o sentido dessa mútua determinação é incorrer num reducionismo que, se prejudica o debate educativo de modo geral, inviabiliza a apreensão da dimensão concreta da indisciplina.

O problema principal na questão da indisciplina é que nem os pais, nem a escola, e nem o próprio aluno discutiram para terem clareza numa definição posterior, o que seja indisciplina. Outras atitudes como conversar em horário de aula, levantar-se para sair da sala sem autorização do professor, baixo rendimento nas notas e outros que não configuram um ato indisciplinar é tido como tal.

Martins (2006, p.10) afirma que no atual contexto social, propõe-se uma valorização acentuada da capacidade de diálogo, de relação, de comunicação e de convivência. No entanto, vive-se uma inversão de valores, na qual não se mantém mais o bom relacionamento. Ora o professor é o centro, ora o aluno, e isso ocorre de maneira que as relações não se igualam, há inserção do poder na qual um está em função da subordinação ao outro. O professor vê-se como detentor de verdades, vê em si uma figura imponente, em posição superior, e que isso é importante para ajudar o aluno, enquanto este é tido como alguém incapaz de opinar sobre si mesmo e sobre os outros.

As relações entre professor e aluno têm sido historicamente conflituosas e sem a necessária compreensão para que o comportamento do aluno não seja visto como ato indisciplinar. É comum entre professores, já no início do ano, assumir o discurso de que o aluno “X ou Y” são indisciplinados e atrapalharão o rendimento da turma. Dessa forma o aluno já está condenado à repetência ou à possível evasão.

O aluno, por sua vez, percebe-se como figura principal da indisciplina, muitas vezes respeitado pelos demais porque representa coragem, autoridade diante da escola, quanto subverte as regras. O professor, dessa forma, sente-se desrespeitado, humilhado diante disso.

O desrespeito entre professor e aluno, em alguns casos, chega a ser tão grave que agressões físicas acontecem como ponto culminante de atos indisciplinares. A escola,

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por fim, fica fragilizada e vista como uma instituição decadente que não consegue resolver seus próprios problemas.

5 CONCLUSãOQuando a indisciplina é observada apenas por um único prisma, sem se considerar

todos os envolvidos em tal problemática, podem ocorrer distorções sobre conceitos de disciplina/indisciplina e educação, assim como, causas e consequências determinantes para o fortalecimento ou enfraquecimento do controle social exercido no ambiente educativo.

O certo é, que as relações entre educadores e educandos devem ser construídas em bases de confiabilidade, sem que se vejam como adversários, lutando por objetivos diferentes. É preciso que ambos percebam que podem e devem complementar-se, o aluno porque precisa que o professor lhe repasse conteúdos e vivências, e o professor por saber que está contribuindo para uma sociedade com cidadãos críticos, que podem promover a transformação social almejada. Pais, alunos, e professores devem estar integrados e atuando conjuntamente para alcançar os propósitos da escola, somente assim a educação avançará no caminho da mudança verdadeira e atingirá seu objetivo enquanto instituição: contribuir com a sociedade.

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Os professores no século XXI: a educação multicultural, um desafio a vencer

Francisca Canindé Bezerra dos Santos

RESUMOO estudo faz reflexões sobre os desafios que os docentes enfrentam na sala de aula, de uma

sociedade em mutação, com aceleradas pesquisas, inventos e novos objetos lançados no mercado para consumo. Em contrapartida os objetivos se resumem em compreender as teorias, refletir, analisar as dificuldades e facilidades que os professores enfrentam quando optaram por uma educação multicultural. A metodologia está articulada a pesquisas bibliográficas. Para isso, utilizou-se a interpretação e análise das teorias que discutem o Multiculturalismo em Educação, a fim de verificar através das leituras comportamentos preconceituosos, discriminatórios que ferem a dignidade humana. Obteve-se como resultado que a sociedade está recheada desses fenômenos negativos e que os alunos não se respeitam, utilizando de vários apelidos para atingir o outro. Os professores ficam desestimulados diante de comportamentos desumanos que chegam até a violência.

Palavras-chave: Educação Multicultural. Professores. Preconceituosos.

Teachers of the Century XXI: Multicultural education, a challenge to overcome

ABSTRACTThe study reflects on the challenges that teachers face in the classroom of a changing society,

with accelerated research, inventions and new objects introduced in the market for consumption. By contrast the goals, summarized in understanding the theories, reflect, analyze difficulties and skills that teachers face when opting for a multicultural education. The methodology is articulated in literature. For this we used the interpretation and analysis of theories that discuss Multiculturalism in Education, to verify through readings discriminatory behaviors against which violated human dignity. We obtained the result that society is full of these negative phenomena, and that students are not respected by using several aliases to reach the other. Teachers are discouraged in the face of inhuman behaviors that come to violence.

Keywords: Multicultural Education, Teachers, Prejudiced.

Francisca Canindé Bezerra dos Santos é graduada em História e em Geografia pela UFPA, Especialista em Docência ao Ensino Superior e em História da Amazônia pela mesma Universidade. Pós-graduada em Administração e Planejamento para Docentes pela ULBRA. Doutorado em Psicologia pela Universidade de Santiago de Compostela na Espanha. Professora do curso de História no CEULS/ULBRA.

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1 INTRODUçãOA sociedade de consumo está em mutação. A população vive numa hierarquia que

na linguagem gramsciana se identifica os hegemônicos e a categoria de subalternos. Essa divisão de classes mostra que a Escola se diversifica a dos endinheirados e a dos desprivilegiados.

Os professores fazem parte deste sistema. Assim, podem enfrentar inúmeras dificuldades em sala de aula, principalmente na Escola Pública. A Escola é um laboratório de aprendizagens, nem sempre o ambiente físico contribui para isso. Pó conseguinte, têm-se alunos com baixa autoestima pelos problemas que a família enfrenta no dia a dia.

O professor por outro lado vive corre-corre de uma escola para outra, a fim de ter um salário que sustente seus filhos. Este professor que saiu da universidade com a mente cheia de ideias de inovação, de aulas numa concepção multicultural com proposta de incluir, integrar os alunos diante da diversidade cultural e racial, aí pode encontrar dificuldades de executar o seu projeto de trabalho.

Nesta circunstância decidi investigar, interpretar, analisar as dificuldades e facilidade de aplicar uma educação multicultural para verificar se esses professores conseguiram executar a sua proposta.

A concepção multicultural em educação pode apresentar sérios desafios aos professores no momento atual. Num sistema excludente e opressor colocar em prática ações educativas que não se coadunem com o dito sistema pode acarretar problemas sérios nas escolas que justificam comportamentos que servem de modelo social. Porém, as mudanças são necessárias na sociedade onde impera a desigualdade, a discriminação, o racismo, o preconceito.

Nesta situação, os mecanismos construídos dentro de um país imperialista devem proporcionar equilíbrio nas relações sociais e produtivas, evitando todo e qualquer problema grave, que possa afetar a bolsa de valores e assim tranquilizar o mundo econômico dos países do primeiro mundo, a fim de continuarem desenvolvendo-se cada vez mais em todos os aspectos.

Nesses países, a educação como processo civilizatório pode nortear comportamentos e abrir um leque de oportunidades que proporcionem limites, compreensões no convívio humano, onde haja a aceitação do outro como ele é, deverá ser a primeira premissa básica do controle social entre as pessoas.

Os questionamentos que surgem no contexto deste trabalho, procura discutir, refletir e analisar os desafios que um professor que adota o multiculturalismo como concepção de educação e ensino-aprendizagem enfrenta na sua trajetória no exercício da docência, diante da sociedade globalizante e neoliberal de mercado.

Nesta conjuntura, o que pensamos sobre os desafios dos professores diante de um mundo que a cada dia se renova, cria tecnologias e coloca a serviço da sociedade. A internet oferece inúmeras oportunidades de aprender, é uma escola envolvente

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e motivadora para crianças, jovens e adultos navegarem na parafernália eletrônica vivenciando um mundo distante e capaz de amarrá-los diante de tantas novidades positivas e negativas que podem influenciar em várias direções o comportamento humano. Sua imensa biblioteca midiática, iconográfica, além das teorias de todos os saberes. Como fica a situação do professor na sociedade do conhecimento, da comunicação e informatização?

Como viverá o professor do séc. XXI? Libâneo num dos seus livros colocou como temática “Adeus professor, Adeus professora”. Ele não está dizendo que os professores vão ficar desempregados. Isto é um alerta para quem não acompanhar a evolução do mundo, poder ficar num descompasso, sendo marginalizado pelo sistema, que exige “educar cada vez mais e melhor”, para servir o mercado em expansão. Por outro lado, outro grande desafio é saber que os aprendizes podem aprender em qualquer lugar, sem precisar propriamente estar na escola. Como afirmam Libâneo, et al. (2003, p.52) “Na atualidade, as pessoas aprendem na fábrica, na televisão, na rua, nos centros de informação, nos vídeos, e no computador e, cada vez mais, ampliam-se os espaços de aprendizagem”.

Os autores em suas análises dizem que está havendo deslocamento da aprendizagem para outros núcleos, portanto, a escola não está sendo o veículo mais eficiente e centralizador da socialização do conhecimento técnico-científico e do desenvolvimento de habilidades cognitivas e de competências para a vida em sociedade. Porém, ela ainda é a instituição que utiliza as práticas pedagógicas, a fim de facilitar o ensino-aprendizagem.

E aí, como fica a vida do professor, que começa internalizar o multiculturalismo em educação? De acordo com a nova visão de mundo, o neoliberalismo de mercado, num sistema globalizador, precisa criar mecanismos novos e abrir espaços ao capitalismo que busca se manter globalmente no mundo. Para isso, é necessário buscar autores que refletem sobre as raízes do capitalismo e as diferenças humanas, diante de um modelo ideal de homem. A educação nos tempos heroicos da antiga Grécia começava apontar as raízes de um sistema que até hoje vem se aperfeiçoando, com novas estratégias em cada momento histórico, se reafirmando, se renovando.

A Aretê significava o grau maior do ideal nobre e uma refinada conduta palaciana. Toda educação era desenvolvida com vistas a Aretê... Além de formar heróis cavalheiros, a educação pregava o individualismo, a competição, o ideal de ser o primeiro, ser o melhor entre os melhores. Para muitos estudiosos ali estavam as raízes do capitalismo. (FRANCISCO FILHO, 2003; p.68)

Este pequeno embrião consequentemente pode ter se desenvolvido a partir de então, lentamente, criando os acessórios indispensáveis para emergir no curso da história e juntamente com ele as sociedades que assumiram papéis diferenciados, como aquelas

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escravistas de produção, os grandes impérios e reinos que se formaram neste transcurso, embora o sistema dominante imperasse como Feudal na Idade Média.

Neste contexto, pensamos no papel dos professores e os desafios enfrentados diante da sociedade e de seus aprendentes, como o citarista, o petrótriba, o pedagogo, o simples professor, o ludi-magister, o gramático. Como esses profissionais conseguiram desenvolver o seu trabalho como ensinantes? Que tratamento davam a todos os educandos? Havia equidade neste tratamento? Ou simplesmente davam atenção educativa aos modelos ideais e aqueles que não seguiam o paradigma idealizado, o ensino era diferenciado?

Bem, buscamos fazer uma breve análise das sociedades do ocidente a partir da citação de Koltai (2004, p.95):

A sociedade grega constitui-se a partir da exclusão de seus bárbaros e metecos. Neste sentido era, sem dúvida alguma, xenófoba... suas práticas institucionais sempre encontrou um jeito de reintegrar aqueles que parecia excluir. O afastamento na cultura grega não tinha esse caráter de negação apaixonada, ódio fanático que observamos em nossa sociedade.

Apesar de que, os bárbaros eram considerados inferiores por não serem gregos e nem romanos, mesmo assim, foram integrados ao exército romano do ocidente, na época da fragilidade deste império do ocidente. Essa integração permitiu a assimilação da cultura, dos costumes dos povos clássicos e sua posterior dominação. O que nos leva a supor que na Grécia propriamente não havia racismo como se pensa e age hoje. Os gregos eram tolerantes diante da diversidade cultural e racial, embora esse povo pertencesse ao grupo nórdico e alpino – eles eram brancos, possivelmente de olhos azuis.

Em contrapartida, os bárbaros pertenciam a uma diversidade de grupos e de povos. Eram nômades, considerados de cultura rudimentar em relação aos povos que se consideravam desenvolvidos e com nível intelectual elevado. Portanto, não se percebeu demonstração de racismo, de preconceito. Como diz Koltai (2004, p.95) “o racismo é uma invenção moderna, dessas sociedades que sabem fazer coexistir as mais formidáveis conquistas técnicas e científicas com as mais extravagantes formas de rejeição e marginalização”. Portanto, na Grécia não ocorreu arraigadamente esses dois fenômenos. Os gregos eram tolerantes.

Na passagem do Feudalismo ao Capitalismo observa-se um deslanchar de novidades técnicas e o desbravamento do mundo pelos europeus. O mundo ficou europeizado. O comércio tomou conta juntamente com o mercantilismo e o colonialismo – formando o “centro-periferia”. A periferia era obrigada a complementar a economia do centro. Nesse intercâmbio mudou consideravelmente as relações sociais.

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Dentro dessa complexidade, como ficou a educação e o ensino aprendizagem? Como dizem Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p.59) “Boa parte dos autores levam a crer que as mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais e educacionais decorrem, sobretudo da aceleração das transformações técnico-científicas”. Desse modo, a emergência do capitalismo trouxe significativas mudanças e também de mentalidade, despindo a realidade ao seu avesso, desocultando crenças. Os povos vão tendo uma outra visão, desnudando crenças construídas por seus antepassados e que estavam armazenadas no subconsciente do ser humano.

Neste contexto, a educação deve ter contribuído para essa superação. A classe emergente buscava outra educação para seus filhos, que os integrasse ao “mundo dos negócios”, com isto se contrapunha a educação escolar oficial. Nessa trajetória, verificamos um desenvolvimento desigual no mundo, numa hierarquia. Os metropolitanos oriundos da metrópole europeia com seus privilégios. Os colonos também decorrentes do centro vinham fazer fortuna na periferia com aval do poder metropolitano. Os nativos ficavam a mercê dos invasores que, introjetavam valores, costumes e comportamentos exógenos. Neste caso, ocorria a dominação, a subordinação, a escravidão desta categoria minoritária.

Nesta conjuntura, fica claro que os brancos tornam-se poderosos e se consideram superiores em relação aos outros matizes. Mclaren se reporta ao fato dizendo (2001, p.36) “A brancura tornou-se um laboratório onde as etnicidades são categorizadas. As escolas tornaram-se as clínicas onde se tratam esses grupos étnicos e onde são policiados e manipulados seus comportamentos”.

A brancura é uma invenção do séc. XVII, o “século do método”, segundo Aranha (2002, p.104). Esse fenômeno tem muito a ver com as relações sociais, quem não é branco, é inferior e quem é inferior pode ser subalterno, àquele que se considera hegemônico, como se apresenta no gráfico.

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Como afirma Mclaren (2001, p.36),

A brancura miraculosamente se torna a unidade fora da qual o outro não poderá existir. A brancura foi colocada como um pano de fundo, uma espécie de parâmetro para julgar as práticas sociais alternativas ou não convencionais.

Porém, Furnival apud Fleuri (2003, p.19) acreditava que as sociedades plurais eram decorrentes da colonização ocidental, congregando diferentes grupos étnicos. Este estudioso apresenta uma análise coerente e lógica, uma vez que esta política era envolvente. Os brancos, sendo os senhores do poder, os mandões, os amarelos e os negros ficavam na subalternidade à serviço do sistema escravizador, que explorava nas relações sociais e produtivas aqueles que eram considerados inferiores.

Para tanto, este autor acreditava que quando fosse extinta a política colonialista, tudo voltaria ao normal. Todos os povos certamente seriam livres e iguais para viverem sem opressão. Porém, isto não aconteceu. Furnival deve ter ficado decepcionado, suas variáveis foram refutadas pelo tempo e pelas novas políticas internacionais.

Acentuou-se muito mais racismo, preconceito, discriminação. O respeito pelo outro quase não existe ou não existe mais. Os privilégios é de quem tem poder econômico, detentores de grandes propriedades, empresas gigantes, daqueles que tem o poder do conhecimento de uma área do saber. É o momento da sociedade da informatização. Como esclarece Libâneo et al. (2003, p.60):

Tal revolução está assentada em uma tríade revolucionária: a microeletrônica, microbiologia e a energia termonuclear. Essa tríade aponta, em grande parte, os caminhos do conhecimento e as perspectivas do desenvolvimento humano.

O mundo evoluiu dinamicamente, todo esse dinamismo exige que a educação reveja e renove os seus conceitos e concepções. A criação de novos paradigmas é urgente e necessário na sociedade do conhecimento, a fim de evitar transtornos no transcorrer das aprendizagens, tanto em sala de aula, como fora dela. Como Viana e Ridenti afirmam (1998, p.102):

O ambiente escolar pode reproduzir imagens negativas e preconceituosas, quando professores relacionam o rendimento dos seus alunos ao esforço e ao bom comportamento, ou quando as tratam apenas como esforçadas e quase nunca como pontecialmente brilhantes, capazes de ousadia e liderança.

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2 EDUCAçãO MULTICULTURAL E O PROFESSOR DO SÉC. XXIComo fazer, difundir educação numa sociedade preconceituosa, racista, onde os

estigmas estão trilhando os ambientes escolares, e assim, os demais lócus humanos de encontro de homens, mulheres, crianças, adolescentes e idosos?

Evidentemente, o professor para atuar e fazer educação multicultural, ele precisa primeiramente conhecer o que é multiculturalismo, educar-se interior e exteriormente, agindo como um verdadeiro multiculturalista comprometido com uma nova concepção de educação, rompendo os laços do ensino que às vezes não dá condições do educando aprender o b-a-bá, muito menos adquirir bons hábitos comportamentais.

A comunidade escolar precisa começar a educar as crianças, uma vez que, a maioria das famílias estão desestruturadas, embora se saiba que este é o papel da família, educar seus filhos e não da escola. Hoje invertem-se os papéis. Como a instituição escolar fica com os alunos numa pequena parte do tempo, certamente pode colaborar com a educação que a família não conseguiu possibilitar, para que seus filhos aprendam pelo menos respeitar o outro evitando apelidos como Amaral apresenta (1998, p.11):

Se pensássemos nos costumeiros apelidos que circulam nos lábios infantis: rolha de poço, azeitona no palito, pau-de-sebo, nanico, crioulo doido, quatro olho, surdinho, tadinho, cegueta, mula manca...

Que desafios um professor multicultural pode enfrentar diante de uma diversidade de crianças em sala de aula, neste momento neoliberal de mercado? Segundo Amaral, o tratamento que as crianças podem dar para as outras são tantos que ferem a dignidade, baixa a autoestima e até pode provocar violência corporal. Se o professor não conseguir educar essas crianças em relação ao respeito, ao amor pelo outro, a solidariedade..., elas serão elementos nocivos à sociedade. Koltai nas suas análises deixa claro que a raiz de tudo isto está na família. O docente precisa rever sua prática didático-metodológica e agir de forma diferente. Como esclarece Rego (1998, p.50): “... a tarefa inerente e principal de toda estrutura educacional, especialmente a escola, é a de promover o desenvolvimento do ser humano nas diferentes dimensões: sociais, cognitivas, emocionais e motoras”. Portanto, as crianças devem aprender a conviver uma com as outras, respeitando a individualidade de cada uma.

Daí a necessidade de uma educação multicultural e de professores que saibam enfrentar os desafios de uma sociedade que internaliza a desigualdade racial, cultural, de classe social, etc. Esses docentes devem reconhecer que dentro de um mesmo território existem diferentes culturas. Elas devem ser reconhecidas, valorizadas, por se tratar da sala de aula onde se encontram pessoas (alunos) de culturas diferentes e além de outras diversidades. Acrescenta Mclaren (2001, p.30): A educação multicultural recebeu mais

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atenção nos últimos anos, desde que os estudos demográficos indicaram que as pessoas de cor constituirão a maioria da população dos Estados Unidos durante o séc. XXI.

Ora, reconhecer que esse crescimento populacional de outros matizes poderia trazer transtornos na sociedade, uma forma de evitar, era implantar uma educação multicultural que fosse se difundindo pelos estados estadunidenses, criando vínculos satisfatórios e envolventes. Confirma Mclaren (2001, p.29):

A educação multicultural, nos Estados Unidos, multiplicou significativamente a sua visão e as suas plataformas para incluir agora a participação e a liderança de americanos asiáticos, americanos latinos, grupos de gays e lésbicas, movimento feministas e outras comunidades de minorias.

As análises do estudioso deixa transparecer que num país que pertence ao centro do capitalismo, criar estratégias para assegurar a paz interna – culmina com a estabilidade entre os homens, isto é de se pensar. Manter o controle do povo através da educação, que possivelmente era e é um dos aparelhos ideológicos do Estado, esta era e é um dos mecanismos que passou pelo processo de acomodação das pessoas e hoje certamente está atingindo a assimilação de novos comportamentos em relação a mistura de matizes e de outros comportamentos que fogem ao idealizado como o melhor.

Entende-se que abriu uma espécie de guarda-chuva que envolve todas as pessoas, numa integração que possivelmente não atinge a plenitude da igualdade entre os homens. Porém, encontrou soluções nos países por onde se propaga o multiculturalismo.

Retoma-se o papel do professor que se identifica com este tipo de educação. Uma das metas é tornar-se um docente intercultural, acreditando nas possibilidades da sua intervenção na realidade para ensinar a integração entre as culturas diferentes, uma aderir a outra, respeitando a individualidade de cada membro. Se os alunos aprenderem e exercitarem este comportamento de aceitação do outro, a democracia e a cidadania estão evoluindo através do tempo. Acrescentam Souza e Fleuri (2003, p.63): “Todos vivemos ao lado de semelhantes que estão próximos a nós e dos quais diferimos culturalmente”.

O professor do séc. XXI para ser multicultural deve assumir outra postura, ser um ensinante pluricultural capaz de intervir para manter a identidade de cada cultura sem constrangimento, permitindo que cada aprendente se identifique de acordo com a sua cultura e possa valorizá-la e difundi-la. Esclarece Silva (2003, p.30):

O aluno que tem suas tradições culturais próprias reconhecidas e valorizadas no âmbito do processo de ensino encontra possibilidades de inserção mais ágil no cotidiano escolar.

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Sendo assim, uma escola que se programa e que no seu Projeto Político Pedagógico está presente propostas de uma educação multicultural e coloca em ação naquela comunidade, provavelmente, os educandos devem ter mais facilidade de integração e inclusão uns com os outros, para viver e conviver democraticamente. Estes comportamentos podem justificar o pluriculturalismo, em decorrência dos professores dessa unidade escolar contribuir na “manutenção da identidade” de cada aluno, segundo sua cultura.

Valorizar e ensinar a valorização do outro deve ser meta de todas as escolas, certamente por aí vai começar o respeito pelo outro, do jeito que ele é, uma vez que, cada aluno é um ser pensante e que merece atenção e respeito para ser digno no contexto humano e identitário. Como acrescenta Silva (2003, p.30):

A própria autoidentificação do professor enquanto pertencente a uma cultura distinta é importante para, a partir daí, poder estabelecer os vínculos com o aluno, da mesma forma, a crença de que todos os alunos têm potencial cognitivo e podem vir a desenvolvê-lo rompe com a lógica da exclusão a priori.

3 CONCLUSãO Para justificar se existe exclusão ou inclusão nas propostas de educação em

Santarém é necessário levantar dados nas escolas porque comportamentos internalizados durante séculos foram passando de geração a geração ficando arraigados. Para desnudá-los exige conhecimentos, consciência histórica e crítica diante da realidade e boa vontade no sentido de agir de forma educada na conjuntura da sociedade capitalista excludente. Por essas razões, o docente que se diz multicultural deve ter feito a construção de si, se despindo do tradicionalismo que esmaga, oprime e desvaloriza cada um.

Para tanto, o docente multicultural, intercultural e pluricultural deve ter optado por relações sociais saudáveis, integrativas, reconhecendo no outro um irmão, a fraternidade pode permitir processos inclusivos de mudanças profundas na prática educativa, com novas metodologias, instrumentos pedagógicos dinâmicos, relações humanas de respeito entre culturas e etnias diversificadas, proporcionando a inclusão e a integração entre os alunos, possibilitando a formação de um corpo coletivo na comunidade escolar.

O professor que estiver agindo dessa forma está ensinando os aprendentes a pensar, repensar comportamentos, atitudes e o seu próprio pensar, sendo humilde, capaz de pedir desculpas aos colegas quando tratá-los de forma deseducada e excludente. Por outro lado, este professor deve estar contribuindo para a formação de homens críticos, criativos, éticos, capazes de amar o seu semelhante e a própria pátria onde nasceu. Koltai (2004, p.100) nos deixa uma lição quando diz:

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Aqui entra a figura do professor. Ensinar e educar não é uma profissão como as outras, pois se fundamenta na transferência. Cabe ao professor despertar no aluno tanto o amor pelo que aprende, quanto pelo processo de aprendizagem. Só assim, ele pode sair da escola como alguém aberto ao mundo e apaixonado pela dimensão da vida.

As práticas comportamentais com respeito, amor, etc. pelo outro poderá ser a gota que dignifique a vida em todas as dimensões, permitindo que os homens se compreendam e possam viver num processo inclusivo, integrativo, contribuindo na formação de um mundo mais humanizado e de profundas transformações abrangentes, no seio da sociedade.

REFERÊNCIASAMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 5. ed. São Paulo: Summus editorial, 1998.ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2002.FRANCISCO FILHO, Geraldo. História da educação geral. Campinas – São Paulo; Editora Alínea, 2003.KOLTAI, Caterina. O estrangeiro, o racismo e a educação. In: GALLO, Silvio; SOUZA, Regina Maria de (Orgs.). Educação do preconceito: ensaios sobre o poder e resistência. Campinas – São Paulo: Editora Alínea, 2004.LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.MCLAREN, Peter. A pedagogia da utopia. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2001.REGO, Teresa Cristina R. Educação, cultura e desenvolvimento: o que pensam os professores sobre as diferenças individuais. In: AQUINO, Julio Groppa (Org.). Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 5.ed. São Paulo: Summs, 1998.SILVA, Gilberto Ferreira da. Multiculturalismo e educação intercultural: vertentes históricas e repercussões na educação. In: FLEURI, Reinaldo Matias (Org.). Educação intercultural: mediações necessárias. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.SOUZA, Maria Izabel Porto de; FLEURI, Reinaldo Matias. Entre limites e limiares de culturas: educação na perspectiva intercultural. In: FLEURI, Reinaldo Matias (Org.). Educação intercultural: mediações necessárias. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.VIANA, Cláudia e RIDENTI, Sandra. Relações de gênero e escola: das diferenças ao preconceito. In: AQUINO, Júlio Groppa (Org.). Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. 5. ed. São Paulo: Summus editorial, 1998.

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Normas EditoriaisA revista Espaço Científico publica artigos inéditos de natureza empírica e/ou

teórica relacionados às questões atuais das artes e da tecnologia, além de resenhas críticas e informes científicos.

A seleção dos textos para publicação tem como parâmetro a contribuição às áreas envolvidas e à linha editorial da revista, a originalidade do tema ou do tratamento dado ao mesmo, a consistência e o rigor da abordagem teórica.

Os originais recebidos serão examinados pelo Conselho Editorial ou por especialistas ad hoc. Os autores serão comunicados por e-mail da aceitação ou recusa dos trabalhos. Os trabalhos aceitos serão publicados na revista. Qualquer mudança substancial no texto será submetida aos autores.

APRESENTAçãO DOS ORIGINAISOs trabalhos devem ser enviados em dois arquivos, um no formato doc ou

docx (Microsoft Word) e outro no formato PDF (Adobe Acrobat) com as seguintes formatações de acordo com a NBR 14.724/2005 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT:

Letra: Times New Roman

Tamanho da letra: 12

Formato do papel: A4 (21,0 x 29,7 cm)

Margem superior e esquerda: 3 cm

Margem inferior e direita: 2 cm

Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas

Quantidade de páginas: no mínimo 10 e no máximo 20 laudas de elementos textuais (corpo do texto, citações, notas, tabelas, quadros, figuras). Resenhas e informes poderão ter uma extensão máxima de 5 laudas.

As páginas devem ser numeradas a partir da página de rosto, no canto superior direito.

Os manuscritos poderão ser escritos em português, inglês ou espanhol. Trabalhos escritos em inglês e espanhol também deverão se submeter às normas da ABNT.

ESTRUTURA DOS TRABALHOS- Ficha de identificação: devem ser enviadas em um arquivo separado do

restante do artigo, a fim de garantir o anonimato no processo de apreciação dos

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trabalhos pelos avaliadores, contendo as seguintes informações: título do trabalho, nome do autor, instituição principal à qual o autor se vincula, cargo ou função que exerce, título e/ou formação acadêmica, endereço, telefone, e-mail e/ou outras formas de contato.

- Título (com tradução para o inglês). No caso de o trabalho ser redigido em inglês ou em espanhol, deverá constar a tradução do título para o português;

- Resumo do trabalho: no máximo 250 palavras, seguido de palavras-chave (com no máximo cinco palavras ou expressões) padronizados de acordo com a NBR 6028/2003 da ABNT sobre resumos.

- Abstract: no máximo 250 palavras, seguido de keywords.

- Tabelas: devem ser numeradas na ordem de aparecimento no texto, com um título sucinto, porém explicativo, o qual deverá constar sobre a tabela. Todas as explicações devem ser apresentadas em notas de rodapé e não no cabeçalho, indicadas por asterisco (*). A formatação das tabelas deve utilizar apenas comandos de tabulação (“tab”) e nova linha (“enter”). Não usar funções de criação de tabelas, sublinhar ou desenhar linhas dentro das mesmas, usar espaços para separar colunas, comandos de justificação, nem tabulações decimais ou centralizadas;

- Figuras (fotografias, desenhos, gráficos): devem ser enviados no formato JPG, alta resolução gráfica, numeradas de acordo com a ordem que aparecem no texto, sendo que todas as explicações devem ser colocadas nas legendas. O Conselho Editorial se dá o direito de suprimir ilustrações excessivas ou redundantes. A expressão “gráfico” não deve ser utilizada. Gráficos devem ser denominados como “figuras” e apresentados em preto e branco ou coloridos, em duas ou três dimensões.

- Citações: citações literais curtas (até três linhas) são integradas ao texto, entre aspas; citações longas (transcrições com mais de três linhas) vão em parágrafo próprio, sem aspas, com entrelinha simples, fonte Times New Roman, tamanho 10. Toda e qualquer citação, seja formal (transcrição), seja conceptual (paráfrase), deve obedecer ao sistema Autor-Data (conforme NBR 10520/2002 da ABNT), pelo qual as citações são indicadas pelo sobrenome do autor seguido da data de publicação, separados por vírgula e entre parênteses. Quanto for necessário especificar a página da obra consultada, esta deverá seguir a data, separada por vírgula.

- Referências: a lista de referências, por ordem alfabética de sobrenome de autor, deve vir no final do texto, e seguir as orientações da NBR 6023/2002, da ABNT. Nas referências com mais de três autores, cita-se o primeiro seguido da expressão et al., respeitando-se uma só orientação em todo o artigo. Até três autores, citam-se os três. O título do periódico, do livro, da dissertação/tese deve estar em negrito. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com os critérios da norma ISO 4 – List of serial title word abbreviations (Abreviação de títulos de periódicos) – 1984. Todas as referências devem ser alinhas a margem esquerda do texto.

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ALGUNS EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS

LivroCORMEN, Thomas H. Algoritmos: teoria e prática. Traduzido por Vandenberg D. de Souza. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. 916 p.

Capítulo de livroDUTRA, Loreni Bruch. O papel do pedagogo na atualidade In: COLARES, Maria Lília Imbiriba Sousa (Org.). Colóquios temáticos em educação: polêmicas da atualidade. Campinas, SP: Alínea, 2005, p.61-68.

Meio eletrônicoBONENTE, Daniele; COSTA, Rosana Gisele C. P. da; RESQUE JÚNIOR, Felipe. Análise do padrão de desmatamento no município de Rurópolis, na área de influência da BR-163, utilizando o mapeamento participativo. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 13, 2007, Florianópolis. Anais eletrônicos… Florianópolis: INPE, 2007. Disponível em: <http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2006/11.15.22.01.46/doc/3763-3769.pdf>. Acesso em: 20 jun 2007.

Monografia em meio eletrônicoSOARES FILHO, B. S. Modelagem da dinâmica de paisagem de uma região de fronteira de colonização Amazônica. 1998. 299 f. Tese (Doutorado em Engenharia). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Transporte, 1998. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/cursos/tutoriais/modelagem/referencias/tese_britaldo/tese.html>. Acesso em: 20 ago. 2008.

PeriódicoGRINOVER, Ada Pelegrini. A defesa penal e sua relação com a atividade probatória. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, ano 10, n.40, p.91-104, out./dez., 2002.

TeseTANABE, Celso Shiguetoshi. Viabilidade da análise energética na elaboração de tarifas de energia elétrica. 1997. 72 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Curso de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1998.

OBSERVAçÕES- O trabalho recebido passa por um processo de revisão por especialistas. Após

receber os pareceres, o Conselho Editorial avalia-os e decide pela aceitação do artigo

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sem modificações, pela recusa ou pela devolução aos autores com as sugestões de modificações. Conforme a necessidade, um determinado artigo pode retornar várias vezes aos autores para esclarecimentos e, a qualquer momento, pode ter sua recusa determinada. Mas cada versão é sempre analisada pelo Conselho Editorial, que detém o poder da decisão final.

- As opiniões emitidas nos trabalhos são de inteira responsabilidade de seus autores.

- Podem ser aceitos para análise, além do português, artigos em espanhol e inglês.

- Será distribuído um exemplar da revista para cada trabalho publicado.

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ENDEREçO PARA SUBMISSãO/CONTATOOs trabalhos científicos enviados para a publicação por e-mail, bem como

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