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Espaços Da História

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  • Diviso de Servios Tcnicos

    Catalogao da Publicao na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

    Espaos da histria, espaos de identidades [CD-ROM]: ensino, memria e patrimnio / organizadoras Margarida Maria Dias de Oliveira, Almir Flix Batista de Oliveira. Natal, RN: EDUFRN, 2009.

    1 CD-ROM : color. ; 4 3/4 pol.

    ISBN

    1. Histria Ensino. 2. Memria. 3. Patrimnio. 4. Espaos da histria. 5. Espaos de identidades. I. Oliveira, Margarida Maria Dias de. II. Borges, Oliveira, Almir Flix Batista. III. Ttulo. IV. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    CDD 907 RN/UF/BCZM 2009/94 CDU 93(07)

  • Sumrio

    Apresentao

    Projeto Espaos da Histria, espaos de identidades: ensino, patrimnio, memria Margarida Maria Dias de Oliveira

    Arquivos e construo de memrias:

    Sujeitos da histria, sobrevivncias da memria Almir Flix Batista de Oliveira

    A contribuio do Arquivo da SEMURB para a Histria de Natal Felipe Tavares De Arajo

    Acervo Documental da Arquidiocese de Natal: um espao da memria norte-rio-grandense Fabiano Marques da Costa

    Em torno da memria: arquivo e memorial na construo das referncias temporais e identitrias institucionais Ana Carolina Marinho e Larissa Karen Ribeiro Gomes

    Entre a tica e o ofcio: uma reflexo sobre a atuao dos profissionais de Histria nos memoriais de Natal Khalil Jobim, Samuel Jord da Costa Carvalho e Thaisa Mara Silva de Mendona

    Patrimnio:

    A ponte e a fronteira: o potiguar e a seduo ao outro Joo Maurcio Gomes Neto

    Cidade:

    A popularizao do futebol na cidade do Natal: futebol, identidade e crescimento urbano (1940-1972) Victor Gabriel Camplo Assuno

    Ensino:

    Apropriaes dos Livros Didticos pela prtica pedaggica dos professores de Histria e Geografia da educao no campo Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha, Mariama Cecilia Pereira Osrio e Francisco Gildevan Holanda do Carmo

    Ensino de histria e a formao da identidade local Sadraque Micael Alves de Carvalho

    Estratgias argumentativas em narrativas histricas escolares: implicaes do uso ou ausncia dos materiais didticos nas salas de aula Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha, Ana Gabriela de Souza Seal, Gislayne Cinara da Silva e Solange de Lima Sousa da Silva.

    Histria ensinada e relaes tnico-raciais: reflexes sobre memria e a Lei 10.639/03 Ana Maria do Nascimento Moura

  • Mdia, memria e memorizao: anlise da Revista Nova Escola e sua relao com o Construtivismo (1992-1999) Mnica Fagundes de Sousa e Silva

    Implicaes da Educao Patrimonial no processo de formao educacional e acadmico Magna Rafaela Gomes de Arajo

    Msica nos livros didticos de Histria Jnatas Ferreira de Lima

    Representaes e prticas pedaggicas de professores de Histria recm formados: um estudo de caso dos egressos da UERN Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha, tala Raiane Trajano Alves e Francisco Ramon de Matos Maciel

    Historiografia:

    A abolio da escravatura em Mossor-RN: um dilogo entre a memria e a historiografia Bruno Balbino Aires da Costa

    Viagem Esparta: consideraes sobre o cotidiano em Esparta a partir de Xenofonte Cleyton Tavares da Silveira Silva

  • Apresentao

    Margarida Maria Dias de Oliveira Almir Flix Batista de Oliveira

    Os textos que compem essa publicao so parte da produo da linha de pesquisa Espaos da histria, espaos de identidades: ensino, patrimnio e memria, que integra o Grupo de Pesquisa Memria e Narrativas: Espaos da Histria, do qual tambm fazem parte as linhas Memria, Narrativa e Histria: Atores e Espaos da Poltica, e Religio, Cultura e Memria, e tem por preocupao central as discusses em torno das questes que envolvem a questo da memria.

    A Linha de Pesquisa Espaos da histria, espaos de identidades: ensino, memria e patrimnio se prope a estudar como se d o processo de seleo daquilo que deve ser lembrado e esquecido pela sociedade; que identidades so produzidas quando se selecionam e significam as imagens do passado.

    Desse modo, o Projeto cadastrado na Pr-Reitoria de Pesquisa PROPESQ da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN e no CNPq congrega vrios sub-projetos de pesquisadores e estudantes de graduao da UFRN e de pesquisadores e estudantes de graduao de outras instituies na condio de colaboradores externos.

    O que une todos esses planos de trabalho a questo das identidades. Por isso, consideramos importante publicar o projeto j referenciado, pois com sua

    divulgao pretendemos estabelecer sua discusso pelos componentes da Linha e do Grupo, bem como possibilitar o dilogo com outros Grupos e/ou pesquisadores.

    Outra caracterstica fundamental desses textos que eles so frutos de atividades integradas de ensino, pesquisa e extenso.

    Vejamos: o primeiro bloco formado pelos textos que discutem os arquivos e construo de memrias. O bloco inicia-se com o texto Sujeitos da histria, sobrevivncias da memria de Almir Flix Batista de Oliveira, onde o autor procura levantar algumas questes verificadas a partir da relao entre a histria e a memria em fins do sculo XX e inicio do sculo XXI. O texto A contribuio do Arquivo da SEMURB para a Histria de Natal de Felipe Tavares de Arajo se originou das discusses que estamos travando sobre a organizao de arquivos na construo de memrias, mas tambm a partir da experincia do autor no Projeto de extenso efetivado inicialmente com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo SEMURB e aps o seu desmembramento com a Secretaria Municipal de Habitao, Regularizao Fundiria e Projetos Estruturantes SEHARPE.

    Da mesma forma o trabalho Acervo Documental da Arquidiocese de Natal: um espao da memria norte-rio-grandense de Fabiano Marques da Costa se originou da integrao das discusses da Linha de Pesquisa com o Projeto de Extenso de Organizao do Acervo Documental da Arquidiocese de Natal.

    Os trabalhos Em torno da memria: arquivo e memorial na construo das referncias temporais e identitrias institucionais de Ana Carolina Marinho e Larissa Karen Ribeiro Gomes e Entre a tica e o ofcio: uma reflexo sobre a atuao dos profissionais de Histria nos memoriais de Natal de Khalil Jobim, Samuel Jord da Costa Carvalho e Thaisa Mara Silva de Mendona so derivados do Projeto de Pesquisa para implantao do Memorial do Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do Norte.

    O texto A ponte e a fronteira: o potiguar e a seduo ao outro de autoria de Joo Maurcio Gomes Neto faz parte da integrao dos pesquisadores, no caso, mestrando do Programa de Ps-graduao em Histria/UFRN com os iniciantes na pesquisa.

  • O trabalho A popularizao do futebol na cidade do Natal: futebol, identidade e crescimento urbano (1940-1972) de Victor Gabriel Camplo Assuno fruto da pesquisa de iniciao cientfica que o aluno vem desenvolvendo esse ano letivo.

    H o bloco Ensino que comporta trabalhos de pesquisadores e iniciantes na pesquisa que esto presentes nessa Linha de Pesquisa na condio de colaboradores externos, colegas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN, campus central Mossor publicados como Apropriaes dos Livros Didticos pela prtica pedaggica dos professores de Histria e Geografia da educao no campo de Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha, Mariama Cecilia Pereira Osrio e Francisco Gildevan Holanda do Carmo e Estratgias argumentativas em narrativas histricas escolares: implicaes do uso ou ausncia dos materiais didticos nas salas de aula de Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha, Ana Gabriela de Souza Seal, Gislayne Cinara da Silva e Solange de Lima Sousa da Silva e ainda Representaes e prticas pedaggicas de professores de Histria recm formados: um estudo de caso dos egressos da UERN Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha, tala Raiane Trajano Alves e Francisco Ramon de Matos Maciel.

    O texto Ensino de histria e a formao da identidade local de Sadraque Micael Alves de Carvalho, ex-aluno da UERN e aluno-especial do PPGH/UFRN traz tambm a marca dos trabalhos desenvolvidos pelo Professor Andr Victor Cavalcanti Seal da Cunha naquela instituio.

    O trabalho Histria ensinada e relaes tnico-raciais: reflexes sobre memria e a Lei 10.639/03 de Ana Maria do Nascimento Moura foi fruto de um dos Planos de Trabalho registrados nessa linha de pesquisa, desenvolvido com financiamento no ano de 2008 e que a autora utilizou como base da sua monografia de final de Curso. Um trabalho maduro, profundo e que envaidece a UFRN.

    O texto Mdia, memria e memorizao: anlise da Revista Nova Escola e sua relao com o Construtivismo (1992-1999) de Mnica Fagundes de Sousa e Silva fruto de um longo trajeto de discusses e pesquisas efetivadas desde 2005, primeiro em conjunto e depois individualmente. Tambm um dos Planos de Trabalho registrados na PROPESQ/UFRN.

    O texto Implicaes da Educao Patrimonial no processo de formao educacional e acadmico de Magna Rafaela Gomes de Arajo contm reflexes oriundas das atividades desenvolvidas na disciplina Seminrio de Metodologia da Historia I cujo objetivo era compreender e trabalhar com a Metodologia da Educao Patrimonial.

    O trabalho intitulado Msica nos livros didticos de Histria de Jnatas Ferreira de Lima foi orientado pelo Professor Dr. Raimundo Nonato Arajo da Rocha e realizado pelo aluno como um dos bolsistas do Projeto de Pesquisa de Avaliao dos Livros Didticos de 1ao 5 ano. Portanto, no fruto dessa Linha de Pesquisa propriamente, mas faz a interseco por meio da participao do autor em nossas reunies de discusso.

    Essa a mesma situao do texto Viagem Esparta: consideraes sobre o cotidiano em Esparta a partir de Xenofonte de Cleyton Tavares da Silveira Silva do bloco Historiografia

    Nesse ltimo bloco apresenta-se tambm o texto A abolio da escravatura em Mossor-RN: um dilogo entre a memria e a historiografia de Bruno Balbino Aires da Costa, aluno do Mestrado em Histria e que busca a discusso historiogrfica para compreender a construo de identidades.

    Concluindo. Exemplos da diversidade e vigor universitrios. Esperamos que sirvam de motivao para novos debates e novas produes.

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    Espaos da Histria, espaos de identidades: ensino, patrimnio, memriai

    Margarida Maria Dias de Oliveiraii

    Resumo

    O presente projeto de pesquisa tem por objetivo fundamental articular e problematizar trs objetos de anlise do profissional de histria: o ensino, o patrimnio e a memria. Estes se colocam como elementos privilegiados no processo de construo das identidades coletivas, bem como na produo das ideias, discursos, representaes e imaginrios espaciais; que no obstante, tambm atuam em um movimento dialtico, produzindo efeitos junto ao prprio ensino, patrimnio, e memrias; num sentido de circularidade, de construo de prticas, apropriaes e (re)significaes scio-culturais.

    Palavras-chave: Ensino de Historia, patrimnio, memria, espaos, identidades.

    Abstract

    This research project aims to articulate and discuss key three objects of analysis of occupational history: education, heritage and memory. These arise as privileged elements in the construction of collective identities and in the production of ideas, discourses, representations and imaginary space, which however, also operate in a dialectical movement, producing effects with the teaching itself, heritage, and memories ; in a sense of circularity, construction practices, appropriation and socio-cultural new meanings.

    Keywords: History teaching, heritage, memory, spaces, identities.

    O princpio bsico desta proposta vai ao encontro da necessidade de buscar uma articulao de anlises que versam sobre a formao do profissional de histria, o ensino de histria nos nveis fundamental e mdio; a institucionalizao e preservao do patrimnio cultural; e as construes e disputas em torno da memria social. Portanto, destacam-se aqui duas dimenses: no apenas os trs objetos mencionados como problemtica de estudos, mas

    i Esse texto o Projeto cadastrado na Pr-Reitoria de Pesquisa PROPESQ - como norteador dos trabalhos da Linha de Pesquisa: Espaos da Histria, espaos de identidades: ensino, patrimnio, memria do Grupo: Memria e narrativas: espaos da Histria (Cadastrado na PROPESQ e CNPq). Como projeto foi cadastrado pela primeira vez no ano de 2008 e recebeu 5 (cinco) quotas de Iniciao Cientfica, sendo 1 (uma) remunerada e 4 (quatro) voluntrias. No ano de 2009 renovamos seu cadastramento e recebemos 4 (quatro) quotas de Iniciao Cientfica, sendo 1 (uma) remunerada e 3 (trs) voluntrias. Dado que h sempre renovao de componentes em um Projeto que se prope a ser guarda-chuva(abarca planos de trabalho da iniciao cientfica e de pesquisadores a eles vinculados), tendo a categoria identidades como o ponto de unio entre todos, consideramos fundamental a sua publicao tanto para estudo e discusso dos seus componentes quanto para o dilogo com outros grupos e/ou pesquisadores. ii Professora do Departamento de Histria do Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes da Universidade

    Federal do Rio Grande do Norte. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Memria e narrativas: espaos da Histria.

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    tambm, uma reflexo sobre a atuao do profissional de histria em relao a tais mecanismos (em relao produo e disseminao do conhecimento histrico; constituio do patrimnio; e dos processos de memria e esquecimento), convergindo para compreenso das estratgias que (con)formam as identidades.

    Essa perspectiva j vinha sendo trilhada e se consolidou nos ltimos quatro anos a partir dos trabalhos de pesquisa desenvolvidos1 como membro do Departamento de Histria da UFRN. Embora, metodologicamente, seja possvel aos projetos enfocar um determinado aspecto do objeto estudado, o que asseveramos a absoluta necessidade de estudar a conexo entre eles, resultando numa problemtica ao mesmo tempo particular e geral, tendo em vista a complexidade em torno da construo das identidades.

    Portanto, a proposta central desse projeto efetivar uma pesquisa sobre as estratgias, mecanismos e aes implicados na elaborao das identidades, tomando por base o estudo dos processos de construes identitrias vivenciados pela sociedade potiguar (em termos daquilo que foi disputado e determinado do que se deve ensinar; do que se deve preservar; do que se deve lembrar e esquecer); bem como, pensar a atuao do profissional de histria nestas estratgias, a utilizao de seus saberes, o papel do conhecimento histrico produzido e disseminado na construo de imagens e discursos sobre essas identidades, no apenas influenciando, mas tambm sendo influenciado por tais. Portanto, uma anlise de um saber/ poder em relao construo das identidades espaciais.

    Assim, prope-se constituir uma pesquisa histrica buscando a compreenso de uma totalidade. Ou seja, torna-se imperiosa a necessidade de verticalizar o conhecimento por meio de um estudo que utiliza a interconexo dos temas ensino-aprendizagem, memria e patrimnio, refletindo e compreendendo esses espaos2 como de prticas e disputas3 de concepes de Histria, Educao e Sociedade mltiplas; espaos de produo e apropriao, que servem de registro e suporte para construo das identidades espaciais.

    INTRODUO

    O percurso deste projeto segue trs linhas: problematiza o ensino, o patrimnio e a memria. Trs objetos distintos que, porm, se influenciam reciprocamente no processo de construo das identidades scio-espaciais. Os trs objetos so praticados estrategicamente, apropriados tacitamente, como mecanismos para constituio identitria. Da a importncia de

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    analis-los imbricados, efetivando um estudo que parte do particular ao geral, destacando a complexidade que o envolve.

    objetivo tambm ressaltar as disputas que envolvem tal processo. Aquilo que (e por que/ como) se ensina, que (e por que/ como) se preserva, e que (e por que/ como) se (re)lembra e se esquece se inserem em jogos, embates, disputas de poder: de demarcar, instituir espaos do Eu e do Outro. Esta tenso que envolve a produo destes objetos denota suas mutabilidades, suas metamorfoses em que se ligam permanncias e mudanas. Portanto, o ensino, o patrimnio, a memria, as identidades, as espacialidades so produo histricas, da a inscrio desta anlise no mbito da durao, da temporalidade, no domnio da disciplina histrica. Este projeto pretende assim, desenvolver estudos de histria cultural e do poder4 acerca das identidades scio-espaciais, tomando os objetos enquanto prticas culturais, que expressam redes de solidariedade, resistncias e lutas sociais.

    Os objetos motivos de anlise deste projeto esto historicamente ligados no sentido da produo de identidades. Alm de que, h vrios debates contemporneos acerca dos espaos de atuao do profissional de histria:

    O ensino de Historia caracterizou-se, desde o momento de sua instalao no sistema educacional brasileiro (em 1838 no Colgio Pedro II), como construtor de identidade. Naquele momento dominava a idia de uma formao identitria articulada com a consolidao do Estado Imperial, portanto, nica e homognea. A instalao do regime republicano e, com ele, a federao cria condies para disputas mais acirradas, embora ainda no campo das elites e intelectuais a elas ligados, por novas concepes de identidade e nao. A alternncia de regimes ditatoriais e democrticos na repblica brasileira so todos eles prenhes de exemplos dessas disputas pela escrita da histria, pelo seu ensino e, por meio desses processos, de construo de identidades. A confeco de currculos, projetos polticos-pedagogicos, criao de disciplinas etc., sejam na educao bsica, sejam nas instituies de ensino superior so demonstrativos das controvrsias e prticas diferenciadas para instalao de uma memria histrica a ser conservada.

    Marc Ferro refere-se disputa para caracterizar a Histria em todos os tempos e, sobretudo, hoje. Entende-se que a Histria (nas suas duas dimenses vivida e escrita) consiste em espaos, por excelncia, de movimento, mobilidade, trajetrias e percursos construdos por seres humanos. Portanto, espaos do indeterminado. Aqui, partimos da premissa segundo a qual se ensina Histria como se produz Histria5, concebendo assim que o ensino desta disciplina, em todos os nveis, d-se pelo

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    aprendizado e compreenso da forma de produo do conhecimento histrico, ou seja, de como as disputas pelo registro de determindas memrias em detrimento de outras vo construindo identidades e institucionalizando espaos de memria, dos quais os bens culturais patrimonializados constituem-se em exemplos fortuitos.

    Portanto, se assim feito, dissipam-se as possibilidades de entendimento da produo do conhecimento histrico nas duas verses equivocadas e igualmente perniciosas para a construo do pensamento histrico: como verdade absoluta e imutvel ou como uma verdade pessoal, desvelando para um relativismo total.

    A diferenciao nos nveis de ensino da educao bsica dar-se-ia pelas adequaes necessrias aos objetivos de cada nvel de aprendizagem.

    No ensino-aprendizagem na graduao, espao de iniciao cientfica e profissionalizao, esse princpio torna-se a prpria razo de ser do Curso. Compreende-se que h um ofcio a ser apreendido, embora nessa frase anterior no se embuta nenhuma idia de tcnica a ser introjetada pelo educando, mas um metier, assim como tentou defini-lo Marc Bloch no seu Apologia da Histria, enquanto discutia categorias, teorias, metodologias, pautava problemas e perspectivas concernentes produo do conhecimento histrico.

    O que se pretende reafirmar que o debate sobre o ensino-aprendizagem de Histria faz-se a partir da discusso da teoria da Histria, das reflexes sobre a forma de produo do conhecimento histrico. Tendo isso definido que dialogamos e dizemos sobre escolha de contedos, estratgias, metodologias na busca da interdisciplinaridade com as cincias da educao - norteadoras de outros conhecimentos e aes para efetivar a construo do conhecimento histrico nos diversos nveis do sistema educacional.

    Ora, no ofcio do profissional de Histria, o dilogo que ele estabelece com os outros tempos e outras sociedades por meio dos vestgios deixados. O passado nosso banco de dados6, contudo, como nos lembra BENJAMIN, articular historicamente o passado no significa conhec-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscncia, tal como ela relampeja no momento de um perigo (1994, p. 224).

    Os arquivos so, com certeza, os espaos mais antigos relacionados ao ofcio do profissional de Histria. H, inclusive, no senso comum, uma imagem da associao inevitvel dos ltimos aos primeiros.

    Essa imagem no gratuita. No sculo XIX, com a Escola Metdica dominando a forma de escrita da Histria, de fato, essa associao condizia com as preocupaes dos historiadores. A escrita da Histria estava indissoluvelmente ligada s disposies nos arquivos e, portanto, de quais materiais estariam disponveis ao profissional de Histria para

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    com o objetivo bastante restrito (considerando nossas definies atuais): ir procura dessa fonte, buscando e comprovando a verdade.

    H uma impresso equivocada por parte dos alunos de graduao em Histria no Brasil que as escolas construtoras de uma escrita inovadora do conhecimento histrico, sobretudo porque ampliadoras do conceito de fonte, tenham renegado os arquivos e, neles, os documentos escritos, ou, ainda, que nos arquivos s interessariam a descoberta de documentos ainda no trabalhados ou com informaes totalmente destoantes de outros analisados em pesquisas anteriores7.

    necessrio um debate sobre as polticas de preservao: quem preserva, por que preserva, qual a responsabilidade estatal, qual a responsabilidade de outras instituies, como fica a questo no s da preservao, mas tambm da acessibilidade a arquivos privados, mas de interesse social. Isso inclui pensarmos tambm a respeito do papel das Universidades nessas polticas: seriam prestadoras de servio ou h uma responsabilidade na disputa da escrita da Histria relacionada a essa questo?

    Para preservar, precisamos definir a natureza histrica de um acervo. Tudo pode se tornar fonte histrica. Ento, quais parmetros sero usados para a definio do que ser preservado? Os profissionais de Histria continuaro restringindo-se aos acervos histricos? E, para garantir sua organizao, como faremos? Continuaremos lamentando o estado em que encontramos os acervos quando eles nos interessam?

    Na formao do profissional de Histria, preciso compreender as ligaes do que preservado com a memria social. Afinal, em sntese, o documento histrico qualquer fonte sobre o passado, conservado por acidente ou deliberadamente, analisado a partir do presente e estabelecendo dilogos entre a subjetividade atual e a subjetividade pretrita (KARNAL; TASTCH, 2004, p. 59). Portanto, analisar os caminhos percorridos que resultaram na conservao de uma unidade ou conjunto de fontes, fundamental para que se compreendam as intenes das imagens que ficaram para a posteridade de uma dada sociedade e os motivos das problemticas equacionadas pela sociedade presente.

    Ao mesmo tempo, embora se reconhea que no s a academia produz conhecimento histrico, premente a necessidade de se discutir o comprometimento (ou no) do saber acadmico na crtica e desconstruo das mitificaes organizadas pela memria. Portanto, compreender esse espao como de disputa, nunca numa relao unilateral de lugar onde se exerce uma atividade solitria de leitura e interpretao do documento, mas compreendendo a complexidade de atores e prticas que esto a inclusos.

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    Desse modo, chama-se a ateno, para o que h, nessas reflexes, de conhecimentos e debates necessrios sobre a produo do conhecimento historiogrfico e histrico, do papel das agncias formadoras, da finalidade da educao bsica, das relaes da memria social e histrica e do que se torna patrimnio.

    Reafirma-se, portanto, o posicionamento da inter-relao de todos os problemas formulados: a escrita da Histria, a educao histrica, a formao do profissional de Histria e a interveno social e acadmica na definio e preservao das fontes histricas.

    Na feliz expresso cunhada por Pierre Nora, os lugares de memria criados pelas sociedades se justificam pela necessidade de lembrar o que j no memria. Esta, por sua vez, precisa ser objeto da Histria e, portanto, campo dos historiadores.

    Os arquivos existem, produzidos todos os dias pela necessidade de as instituies sociais funcionarem e de os indivduos se relacionarem. Clssicos espaos dos historiadores h muito no so vistos como repositrios da verdade, meios de resgate dos fatos passados ou comprovaes indiscutveis de um passado perdido. No entanto, como j apontado anteriormente, novos mitos foram criados sobre esse espao e, portanto, novas relaes precisam ser estabelecidas.

    As colees organizadas pelos centros de documentao traduzem interesses sociais e tambm acadmicos. Na tentativa de criar alternativas s informaes alocadas nos arquivos tradicionais (principalmente os pblicos, que guardam a documentao dos poderes executivos e rgos a ele ligados, seja da esfera federal, estadual e municipal), no foi incomum a criao de centros de documentao ligados a novas temticas da historiografia8. No entanto, porque provenientes da academia, no podem deixar de ser problematizados tambm. Ainda na trilha aberta por Nora9, preciso discutir a memria histrica, para no sermos vencidos pelos marcos, periodizaes, estabelecimentos de novas verdades absolutas. A crtica historiogrfica, assim, no pode abdicar de perceber tambm o que a produo do conhecimento histrico efetivou como histria e pensar sobre o que essa poderia ter sido. Compreender o que ficou de vestgio e tambm o que foi esquecido10.

    Os objetos preservados nos museus e as novas propostas museolgicas precisam ser compreendidos nas suas relaes com a discusso sobre o conceito de Histria, a prtica historiogrfica, concepes sobre o que deve se tornar patrimnio cultural de uma sociedade. Iniciados como espaos, por excelncia, de pesquisa, os museus, atualmente, extrapolam em muito a dimenso da pesquisa. Incorporaram uma dimenso pedaggica institucionalizada com as equipes que preparam as visitas orientadas, mas principalmente se voltam tambm a outros pblicos, como turistas, e, nesse nicho, h uma gama de atores sociais de faixas etrias, poder aquisitivo e formao cultural bastante

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    diferenciados. O profissional de Histria tem, nesse novo espao, uma gama possvel de atividades e desenvolvimento de reflexes, exigindo uma formao que possa fazer dele um verdadeiro produtor de conhecimento.

    Por fim, h o interesse de rgos, empresas, entidades, instituies e indivduos na construo de memoriais. Sobretudo em momentos de comemoraes, mas no s neles, essa demanda precisa ser refletida a partir da escrita da Histria, das relaes com a memria social e da funo do historiador.

    Perceber os sujeitos e prticas nesses espaos, as disputas, as concepes de Histria, de memria, do que se deseja preservar e tornar patrimnio e, portanto, referncia para uma comunidade, relacionar com a produo do conhecimento histrico, com a educao histrica, como o que se tornou memria histrica e o que poderia ter se tornado.

    OBJETIVOS

    Compreender a construo de identidades e suas relaes com o ensino-aprendizagem de Histria, com a preservao da memria e com a instituio do patrimnio cultural;

    Analisar estratgias e mecanismos que viabilizam a construo das identidades, no que diz respeito produo e disseminao do conhecimento histrico; constituio do patrimnio; e dos processos de (re)lembrar e esquecer;

    Analisar a produo das identidades espaciais no Rio Grande do Norte, tomando os trs objetos aqui contemplados colocados privilegiadamente em tal produo, efetuando estudos sobre a histria cultural e do poder das espacialidades;

    Problematizar a memria e o patrimnio cultural como objetos de estudo da Histria e como espaos de atuao do profissional de Histria;

    Buscar a integrao de anlises que tratam sobre a formao do profissional de histria, a memria e a institucionalizao do patrimnio cultural, esses ltimos no que concerne a duas dimenses: como objeto de estudo e como campo de atuao;

    Buscar a integrao de anlises sobre processos de construes identitrias vivenciados pela sociedade potiguar, em termos daquilo que foi disputado e determinado do que se deve ensinar; do que se deve preservar; e do que se deve lembrar e esquecer, problematizando como nesse processo as mesmas atuam no sentido da produo e representao espaos diversos, criando novos ou consolidando valores simblicos j existentes tradicionais nesses campos;

    Relacionar tais anlises tambm com a atuao do profissional de histria em tais estratgias e mecanismos a utilizao de seus saberes, o papel do conhecimento histrico

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    produzido e disseminado na construo de imagens e discursos sobre essas identidades, no apenas influenciando, mas tambm sendo influenciado por tais. Portanto, uma anlise de um saber/ poder em relao construo das identidades espaciais;

    JUSTIFICATIVA

    A construo do conhecimento pelas universidades pblicas deve estar, tambm, relacionada a questes candentes da nossa sociedade. Compreender os elementos ou parte deles, construtores das identidades uma necessidade enquanto profissionais e cidados.

    Nos ltimos anos tem se notado uma crescente demanda pela construo de identidades no Estado, e isto motivo de reclamaes e disputas em vrias esferas cidados, artistas, intelectuais, etc que tm cobrado uma atuao mais enftica do Estado em torno das polticas culturais, por exemplo.

    Assim, seja no mbito das polticas pblicas, seja por meio das aes de instituies e grupos independentes tem se notado no Estado vrias iniciativas que se revestem desse propsito. Podemos citar, como alguns exemplos a instituio do feriado dos mrtires de Cunha no dia 03 de outubro, a catalogao do patrimonial cultural do estado; a definio de uma disciplina na estrutura curricular do ensino fundamental do estado para abordar a cultura do RN, a histria contada em espetculos os autos, as casas de cultura, o boom da memria que tem fomentado a criao de centros de documentao, memoriais, etc.

    No mesmo sentido, ressaltamos a importncia de pensar os arquivos no apenas como depsito de documentos ou at mesmo como mero lugar de pesquisas. necessrio tom-lo como elemento fundamental na produo do conhecimento, possuindo inclusive uma dimenso histrica na maneira como foram reunindo seus acervos; refletir as configuraes que eles assumem na contemporaneidade (tcnica, poltica, tica e jurdica num mesmo movimento), encarando-os enquanto estratgia componente das relaes de fora que se insurge na construo de identidades.

    Como se v, mesmo em campos aparentemente distintos, h a demanda da sociedade e iniciativas do Estado e de outras instituies visando instituir identidades. claro que tanto a demanda quando as respostas dadas pelo Estado so entrecortadas por vises e interesses de grupos identitrios diversos, e englobam desde o ensino, passando pelos arquivos, at a definio do que seja patrimnio cultural. Isso evidencia tanto a necessidade de problematizar como essas disputas identitrias so levadas a cabo em cada um desses campos, bem como uma anlise mais geral, que no os tome como elementos isolados, mas que se entrecortam

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    dentro de um contexto especfico, como a proposta de pesquisa desse projeto. Discutir a atuao e a pesquisa nesse espao significa estar capacitado a lidar com os

    embates identitrios, mas no buscar apenas desconstruir essas identidades elaboradas. preciso pensar tambm alternativas para os desafios que nos so colocados pela sociedade contempornea. E discutir, problematizar esses embates, consideramos que funo de uma universidade pblica.

    Em termos acadmicos este projeto se alia, tambm, na proposio do Programa de Ps-graduao em Histria, cuja rea de concentrao Histria e Espaos, sendo uma de suas linhas de pesquisa, Cultura, Poder e Representaes Espaciais, faz com este projeto se insira conveniente na produo acadmica, contribuindo para maturao de trabalhos junto graduao e posteriormente na ps-graduao.

    METODOLOGIA

    Um dos principais procedimentos metodolgicos deste projeto diz respeito anlise de discursos, que de alguma maneira, situada nos mbitos do ensino, do patrimnio e da memria, produziram algum efeitos no sentido das identidades scio-espaciais presentes em grandes parte nas meta-narrativas sobre a Histria, a memria e o patrimnio cultural presente no Estado. Aqui, trabalharemos sobretudo com os discursos de historiadores e folcloristas sobre o Estado.

    A literatura terica no que diz respeito aos trs objetos, contribuiro para dar suporte ao olhar dos pesquisadores envolvidos neste projeto no sentido de identificar estratgias e mecanismos de constituio de identidades.

    Montagem de um banco de dados com artigos coletados de peridicos [jornais, revistas, internet, etc] que abordam as temticas problematizadas pelo projeto.

    Trabalho com documentos (Projeto Politico-pedaggico do Curso de Historia da UFRN; lei dos 10.639, que versa sobre o ensino de Histria da frica nas escolas pblicas; cartas patrimoniais, cujas discusses tem embasado e orientado as definies do que seja patrimnio cultural desde as decdas iniciais do sculo XX; diretrizes curriculares da disciplina Cultura do RN; publicaes [metas-narrativas, sobretudo livros e revistas] sobre a Histria, o patrimnio cultural e as e identidade locais [atentar para a bibliografia]).

    Tomaremos os materiais de anlise enquanto representaes, produes e apropriaes na construo de identidades espaciais.

    A discusso peridica do andamento dos trabalhos e a apresentao da pesquisa em

  • 16

    eventos so partes constitutivas da pesquisa e includas aqui na metodologia porque entendidas como momentos de apreciao pelos nossos pares das concluses parciais a que chegamos.

    Os resultados desse trabalho sero disponibilizados por meio da produo de relatrios de pesquisa, artigos e textos acadmicos que componham uma publicao com os resultados da pesquisa, compreendidos aqui, tambm, como parte desse processo de avaliao e validao do trabalho acadmico.

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    BENEFCIOS AOS DISCENTES

    Formao coerente com um curso de graduao, ou seja, de iniciao cientfica; Formao especializada de um ofcio: do profissional de Histria nas suas dimenses

    de ensino e pesquisa, tendo esta ltima como base para formao embora no exclusiva da primeira, a partir dos referenciais da rea de conhecimento;

    Formao especializada, mas plural e abrangente, que proporcione acesso ao conhecimento ampliado de teorias, metodologias;

    Estudo aprofundado dos temas pesquisados, tendo como princpio a interligao desses espaos (ensino, patrimnio, memria) na construo de identidades;

    Formao de quadros para a pesquisa no que concerne s reflexes relativas formao do profissional de Histria para muito alm da dicotomia ensino-pesquisa que tem entravado o avano das discusses nessa rea.

    Construo de conhecimentos ligados a rea de concentrao do Programa de Ps-graduao em Histria (Histria e Espaos) contribuindo, dessa formao, na formao de quadros de pesquisa.

    RETORNO AOS CURSOS E DOCENTES

    Produo de conhecimento sobre a construo de identidades e sobre a relao mutuamente influenciadora entre os processos histricos e a produo de conhecimento sobre

  • 25

    esses processos na definio das identidades; Produo de conhecimento sobre o ofcio do profissional de Histria nas suas

    dimenses de ensino e pesquisa que podem reverter em aes concretas no Curso de graduao e Ps-graduao tanto em prticas docentes inovadoras quanto em produo de artigos, relatrios, fontes e material bibliogrfico de uma forma geral. Estas inicitivas assumem importncia destacada depois que o Curso de Graduao em Histria implantou uma nova reforma curricular em 2004 (estando em processo de avaliao, depois de formada a primeira turma com o novo Projeto Poltico-Pedaggico) e que o Programa de Ps-graduao em Histria foi instalado em 2004, tendo iniciado o curso em 2005 e que est em fase de consolidao da sua proposta; haja vista que potenciliaz a atuao do docente como agente formador de quadros para pesquisas nas aras abrangidas por este projeto;

    Produo de conhecimento no que diz respeito a articulao de pesquisas histricas com teorias e metodologias de outras reas de conhecimento que se relaciona a pesquisa como historia oral, por exemplo.

    Estudo aprofundado tomando como princpio a interligao desses espaos (identidades, ensino, patrimnio, memria) para a produo de conhecimento histrico.

    Notas

    1 Livros de Termos de Vereao do Senado da Cmara de Natal (sc. XVII-XIX): Catlogo para pesquisa

    histrica (colaboradora); Preservao e Organizao do Acervo Documental do Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do Norte (coordenadora); Ensino de histria na educao bsica: mdia, memria e memorizao (coordenadora); Avaliao do livro didtico de Histria de 5 a 8 sries do Ensino Fundamental (colaboradora); Livros didticos de Histria: imagens e representaes (coordenadora). 2 Nesse projeto, prticas de espao, esto sendo compreendidas como explicitado em CERTEAU,1994.

    3 Essa proposta se baseia em: FERRO (1989).

    4 Sem, contudo, demarcar uma viso exclusiva de corrente terico-metodolgica, podendo trabalhar, a partir dos

    diferentes modelos daquilo que se pode chamar de A Nova Histria Cultural, como est exemplificado em HUNT, 1995. Alm de privilegiar um dilogo com as diversas disciplinas afins. 5 Essa afirmao comum nos documentos da Associao Nacional de Historia (doravante referenciada como

    ANPUH) e corrente tambm entre os profissionais de Histria, embora considere que carece de uma publicao onde seja historiada, sistematizada e, aprofundada essa assertiva que envolve toda uma concepo de profissional, de escrita da histria e de educao histrica que se deseja. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduao em Histria (que foram feitas pela ANPUH e incorporadas pelo Ministrio da Educao na sua quase integralidade), l-se: o princpio da formao integral do historiador, entendendo que a articulao do eixo ensino-pesquisa-extenso fundamental neste processo, o que, por sua vez, incide diretamente na necessria indissociabilidade entre licenciatura e bacharelado. Esta proposta tem como pressuposto a idia de que o historiador deve ser um profissional que atua integralmente no seu campo de especialidade o ensino, a pesquisa e outras atividades que incidem diretamente neste campo -, atendendo tambm, atravs da autonomia na organizao curricular, s diversidades regionais existentes no Brasil. Desse modo, a pesquisa (no sentido amplo do termo) deve ser considerado como o fundamento de qualquer atividade

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    profissional do historiador: a docncia nos trs nveis de ensino, a qualificao profissional atravs da ps-graduao, a atuao em conselhos patrimoniais, nos arquivos, etc. (ANPUH, 2004). 6 Vemos essa idia em BLOCH, 2001, CARR, 1982 e GADDIS, 2003 e aqui estamos nos referindo s discusses

    sistematizadas por este ltimo. 7 Em relao aos arquivos, h uma imagem romantizada, j evidenciada por BACELLAR, 2005. Esse equvoco,

    de certa forma, tem sido incentivado por estudos inovadores que no tinham essa inteno - mas que, pelo sucesso e reconhecimento que ganharam e pela novidade, no da fonte mas do contedo, cria expectativa em jovens pesquisadores de estarem em busca de algo to surpreendente quanto, para s assim, segundo essa crena, executar um bom trabalho. 8 A ttulo de exemplos: o Arquivo Edgard Leuenroth, criado na UNICAMP por pesquisadores ligados histria

    social do trabalho, ver http://www.ifch.unicamp.br/ael/; na UFRN, a proposta diferenciada e efetivao do Ncleo Temtico da Seca NUT-SECA, ver http://www.nutseca.ufrn.br/. 9 NORA, 1997.

    10 Essa proposta se baseia na adio das idias de dois autores absolutamente fundamentais para esse debate:

    FERRO (1989), no que diz respeito aos silncios da Histria e BENJAMIN (1994) no que concerne as idias sobre a necessidade de histria a contrapelo.

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    Sujeitos da histria, sobrevivncias da memria

    Almir Flix Batista de Oliveira*

    Resumo

    O presente artigo busca levantar algumas questes verificadas a partir da relao entre a histria e a memria em fins do sculo XX e inicio do sculo XXI. Constitui-se em tentativa de compreender por que pessoas tm uma preocupao e uma compreenso da necessidade de organizar e preservar suas memrias, de transmiti-las e de tambm lutar contra o esquecimento, possibilita-nos entender, principalmente aps memria e histria terem se distanciado tanto e pelo fato de a primeira ter se transformado em objeto da histria, a necessidade de uma proposta que problematize o porqu, apesar dessa separao, "homens-memria" continuam existindo, ou seja, por que a necessidade de uma nova aliana entre a memria e a histria, mesmo que a primeira no seja mais a vivncia, a tradio, mas uma submisso ao modelo, sistemtica da histria.

    Palavras-chave: Histria; memria; homens-memria.

    Abstract

    This article seeks to raise some issues that occur from the relationship between history and memory in the late twentieth and early twenty-first century. It constitutes an attempt to understand why people have a concern and an understanding of the need to organize and preserve your memories, send them and also to fight against forgetting, enables us to understand, especially after memory and history, they have distanced themselves so much and because the first have become an object of history, the need for a proposal that questions why, despite this separation, "men-memory" remain, namely, why the need for a new alliance between the memory and history, even if the first is no longer the experience, the tradition, but a submission to the model, the scheme of history.

    Keywords: History, memory, men-memory.

    Em fins da primeira dcada do sculo XXI, parece que ns vivenciamos a fbula imaginada por Michael Ende no seu livro A Histria sem fim, cujo personagem principal Bastian visita uma cidade na qual seus moradores no so capazes de contar histrias, porque perderam a memria e, portanto, no tm idia do que lhes aconteceu no passado. Somos incapazes de contar histrias, contudo, estamos vivendo um boom de memria que, por sua vez, paradoxalmente, no nos torna bons narradores. Apesar de inflacionados de memria como os personagens da fbula, no sabemos de contar histrias.

    Em contraponto s chamadas snteses histricas ou metanarrativas, multiplicaram-se as formas do contar, e neste sentido, acontecimentos como o Festival A Arte de Contar Histrias ou o Encontro Nordestino de Contadores de Histria transformaram-

    * Mestre em Histria pelo Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal de Pernambuco.

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    se em fatos inusitados e, no mnimo, curiosos, se ainda tivermos em mente uma perspectiva de um projeto de modernidade, iniciado em fins do sculo XVIII (para no retornarmos a, pelo menos, dois sculos anteriores) e no incio do sculo XIX, que criou/elevou o papel/profisso do historiador como senhor do passado e da memria.

    Nessa proliferao de memrias e na tentativa de compreender essa relao estabelecida pelas novas maneiras de se escrever a histria, surgiu-nos a preocupao de entender por que determinados atores sociais, seja de forma individual ou coletiva, que no tm nenhuma relao com a profisso de historiador, propem-se a organizar memrias e enquadr-las/preserv-las dentro de uma perspectiva de memria/histria a partir modelo institucionalizado pela historiografia.

    Por que em fins do sculo XX, sculo em que a histria realmente se institucionalizou enquanto disciplina e forma de ler/construir o passado e, no descortinar de um novo sculo de um novo milnio, observamos a necessidade de retomada da presena dos chamados homens-memria, prtica verificada principalmente em sociedades grafas ou anteriores ao j mencionado projeto de modernizao?

    Localizados espacial e temporalmente no perodo em que o culto ao efmero e ao transitrio chega ao seu pice, em que imposto a todos viver o aqui e o agora, o momentneo, estes homens-memria podero representar, a partir de seus relatos, de suas memrias e da escrita de histrias, o resgate daquilo que a chamada histria oficial no se ocupou, no soube o que fazer, no quis guardar, afinal, como nos lembra Walter Benjamin, em seu famoso texto Sobre o conceito da histria articular historicamente o passado no significa conhec-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscncia, tal como ela relampeja no momento de um perigo. (BENJAMIN, 1994, p. 224)

    As ltimas dcadas do sculo XX e o princpio deste presenciaram um debate a respeito de um tema e de uma temtica no to novos assim, porm com uma dimenso inimaginvel. O tema: a memria; a temtica: como essa se relaciona com a histria. Produziram-se textos nas mais variadas lnguas e oriundos das mais variadas nacionalidades. Debate que continua muito presente, e, para confirmarmos isso, basta que observemos a quantidade de material publicado nos ltimos dez anos sobre o tema, que, inclusive, ganhou novos espaos ou at mesmo produziu novos espaos, novos lugares. Espaos, como o encontrado no instante em que se fala do patrimnio e da sua produo, para ficarmos em um s exemplo quando falamos dos j conhecidos lugares de memria1.

    Acontecimentos gestados principalmente nas dcadas de 60 e 70 do sculo XX e que alteraram as produes histricas a partir da dcada de 80. Entre esses acontecimentos,

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    podemos enumerar alguns de fundamental importncia, tais como: o surgimento de novas bases tericas a ancorar a pesquisa histrica, e aqui fao referncia, primeiramente, chamada nouvelle histoire francesa e, em conseqncia, o deslocamento da chamada Histria Social para a Histria Cultural; a prpria ampliao do conceito de cultura, iniciado com os processos de descolonizao ps-guerra e que suscitaram a necessidade de reescrita das histrias desses povos no mais numa perspectiva centrada no eurocentrismo, levando isso ampliao, principalmente, do conceito de fonte histrica e da definio de novas temporalidades, o que colocou em xeque a concepo de verdade absoluta e do privilgio, anteriormente garantido ao documento escrito; como conseqncia disso e em consonncia com isso, a utilizao e apropriao dos mtodos da etnometodologia (FONTANA, 1998, p. 10), so algumas das inmeras mudanas observadas e que, ao longo desse perodo, alteraram o campo e a forma de ao dos historiadores.

    Esses acontecimentos proporcionaram mudanas na historiografia, na forma de se escrever a histria. Ocorreram redefinies de espaos e de fronteiras, e esse movimento proporcionou cooperao entre as vrias disciplinas, promovendo a interdisciplinaridade. Novos problemas, novas abordagens e novos objetos foram propostos, conclamando, exigindo a ampliao dos velhos ou construo novos conceitos para dar resposta a esses novos questionamentos.

    O historiador, anteriormente em papel de destaque e ungido pela sociedade como o responsvel pelo contar da histria, viu esse seu mundo ser tomado de assalto por outros profissionais das cincias humanas e sociais, como tambm o multiplicar das necessidades do falar, do lembrar, do contar, numa pluralizao das memrias contidas, caladas, silenciadas, reprimidas, esquecidas. Viu, ainda, a necessidade de mudanas em suas prticas, de abrir-se a essas novas possibilidades e refazer a sua forma de produzir histria.

    Esse retomar da memria ou das vrias memrias possibilita-nos o discutir de novas temporalidades de, paralelamente, como nos dizia Benjamin, podemos ver o encontro do passado, do presente e da construo do futuro em um mesmo tempo, e no em uma seqncia contnua de acontecimentos encadeados e sucessivos. Possibilita-nos discutir as vrias identidades e suas construes, a construo de novos sujeitos histricos e de novas percepes de mundo e de vida cotidiana. Possibilita-nos, enfim, fazer histria.

    Os desafios colocados ao historiador em fins do sculo passado e o incio deste, em relao construo de suas narrativas e perspectiva de escrita da histria, devem ser encarados muito mais como oportunidades do que obstculos a serem vencidos. Afinal, como nos lembra bem Benjamin, o dom de despertar no passado as centelhas da esperana

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    privilgio exclusivo do historiador convencido de que tambm os mortos no estaro em segurana se o inimigo vencer. E esse inimigo no tem cessado de encer. (BENJAMIN, 1994, p. 224-225)

    Neste sentido e observando a perspectiva de utilizao dos relatos de memria, que tem se constitudo em mais uma fonte, necessrio ao historiador compreender essas vozes, essas falas, no s como confirmao ou contraponto em relao s chamadas histrias oficiais, mas tambm uma busca pela no homogeinizao, pela diferena, pelo direito fala, pela construo de uma contra-histria desafiadora das falsas generalizaes de um tipo de histria, que se quer nica e verdadeira.

    Em seu texto Memria e Identidade Social, Michael Pollak nos demonstra, a partir de seus trabalhos de Histria Oral, com judeus, sobreviventes de campos de concentrao nazistas, que uma das principais caractersticas da memria esta ser um elemento constituinte do sentido de identidade e, neste sentido, definir uma imagem e uma ao, a imagem que tem para si, quem tem de si e para os outros. Isso define, de maneira superficial, porm eficaz, um sentido de identidade, um sentido de continuidade e unidade. Algo que faz com que passemos a nos sentir parte integrante de um determinado grupo social e, portanto, possamos inscrever as nossas memrias individuais nas chamadas memrias coletivas, sendo capazes de continuar a nos movimentar nos escorregadios ou movedios caminhos do devir histrico.

    Mostra-nos tambm, a partir deste texto e do texto Memria, Esquecimento e Silncio, mesmo para aqueles que tm a necessidade, a vontade de falar, organizar, articular um discurso sobre si prprio e sobre outros, o quanto difcil discorrer sobre lembranas, sobre memrias subterrneas, escondidas, guardadas, silenciadas por determinados grupos durante longos perodos:

    [...] reconhecer que contar a prpria vida nada tem de natural. Se voc no estiver numa situao social de justificao ou de construo de voc prprio, como o caso de um artista ou de um poltico, estranho. Uma pessoa a quem nunca ningum perguntou quem ela , de repente ser solicitada a relatar como foi a sua vida, tem muita dificuldade para entender esse sbito interesse. J difcil faz-la falar, quanto mais falar de si. (POLLAK: 1992, p. 12)

    Nessa perspectiva, dar voz, ouvir, desenvolver sensibilidades, buscar novos atores, ver novos espaos, seguir novos caminhos, ouvir outras vozes, no em busca de uma verdade, conceituada a partir de um ideal de absoluto, numa perspectiva que Benjamin j alertava de uma suposta cientificidade que serve a uma finalidade obscura, ou encoberta, que objetiva estabelecer uma verdade do passado, que acreditamos serem necessrios estudos,

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    trabalhos acadmicos que possam tematizar a discusso sobre a memria, fazendo com que possamos nos perguntar por que algumas pessoas sem relao institucional ou profissional

    com a histria tm uma preocupao e uma compreenso da necessidade de organizar e preservar suas memrias? Por que algumas pessoas tm a necessidade de fixar suas memrias em memrias ditas oficiais? Por que algumas pessoas tm a necessidade de organizar suas memrias em um perodo de tempo inscrito em sua juventude? Ou, ainda, por que algumas pessoas tm a necessidade de, a partir de suas memrias, elaborarem histrias, narrando-as posteriormente?

    Seria a necessidade de incluir suas marcas pessoais ou at mesmo suas marcas familiares em narrativas mais amplas? Seria a possibilidade de ligao entre o velho e o novo na tentativa/busca de transmisso/intercambiao de experincias no to presentes em nossa sociedade e j assinalada por Benjamin no incio do sculo passado? Seria a tentativa de, atravs dessa transmisso/intercambiao de experincias, uma possibilidade de fugir ao efmero, ao passageiro, na luta contra o consumo fast-food das relaes humanas e sociais?

    Importa-nos tomar, como exemplo, depoentes, do tipo de Jos Dias Belo, 82 anos, funcionrio pblico aposentado, ex-agricultor, ex-pedreiro, que migrou do interior da Paraba, especificamente da cidade de Pirpirituba para a capital Joo Pessoa, em 1956. Este presenciou o crescimento da cidade de Joo Pessoa, a sua modernizao, o incio de funcionamento da Faculdade de Medicina e sua federalizao, entre outros fatos ocorridos, e, apesar do baixo nvel de escolaridade, organizou exemplarmente memrias desses acontecimentos vividos e fixou-os em datas/momentos importantes.

    Como afirmado anteriormente, esses homens-memria so os sujeitos-objeto desta anlise, so problematizados porque destoam do que concebido nessa sociedade globalizada como o predominante, mas so tambm as fontes do seu estudo.

    Um outro exemplo so os trabalhos produzidos e a importncia dos acervos documentais e fotogrficos constitudos por alguns indivduos na tentativa de construrem/preservarem uma memria de si e de um determinado grupo social e de escrever um determinado tipo de histria.

    Tomemos como exemplo o Dr. Humberto Nbrega (1912-1988), mdico, ex-reitor da Universidade Federal da Paraba, fundador da Faculdade de Medicina, escritor, autor do livro Uma Histria da Faculdade de Medicina e responsvel por uma coleo de aproximadamente 12000 fotografias (com temticas bastante diversificadas), inclusive, da cidade de Joo Pessoa.

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    CONSIDERAES FINAIS

    Sabemos do carter legitimador que tem a memria nos processos de disputas e de construo do passado. Estudos que tematizem sua relao com a histria construda e, conseqentemente, a sua utilizao por parte desta, j seriam, por si s, de extrema importncia e justificvel nos debates atuais realizados pela sociedade.

    Como nos afirma Le Goff:

    Tornarem-se senhores da memria e do esquecimento uma das grandes preocupaes das classes, dos grupos, dos indivduos que dominaram e dominam as sociedades histricas. Os esquecimentos e os silncios da histria so reveladores desses mecanismos de manipulao da memria coletiva. (LE GOFF, 1996, p.426)

    Ou ainda Marc Ferro:

    [...] hoje mais do que nunca, a histria uma disputa. Certamente, controlar o passado sempre ajudou a dominar o presente; em nossos dias, contudo, essa disputa assumiu uma considervel amplitude.(FERRO, 1989, p. 1)

    Esse papel desempenhado pela memria, bem como a possibilidade de garantir identidade aos grupos pertencentes sociedade, tem sido por demais explorado ao longo do sculo XX e de forma mais acentuada ainda no final daquele e incio deste sculo. O controle/conhecimento do passado , por excelncia, o controle do presente. O passado dignifica. O passado instala uma aura sobre o presente, garantindo o sentido de continuidade. Temos a, inclusive, a legitimao do presente pelo passado na busca pela hegemonia do presente.

    Porm, para alm do debate sobre a utilizao da memria como legitimadora e de apenas o papel denunciador desses estudos (bastantes legtimos, por sinal), acreditamos ser possvel, como afirmava Benjamin, irmos alm disso e, efetivamente, colocarmos em pauta uma nova forma de encararmos a relao existente entre o passado, o presente e a construo do futuro.

    Ao possibilitarmos que novas vozes sejam ouvidas, que pessoas se disponham a falar de si e instalem suas memrias na coletividade, estaremos no s denunciando as disputas de memria e, nesse sentido, o esquecimento provocado pelas disputas de poder e de processos de homogeinizao. Lutar contra o esquecimento, eis uma tarefa que se anuncia para o historiador desde Herdoto, no somente o esquecimento dos grandes feitos entre

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    gregos e brbaros, ou que aqui nos parea que somos capazes de tudo lembrar e guardar, como agia a personagem do romance de Jorge Luis Borges, Furnes, o memorioso, que, por se lembrar de tudo, terminou por perder o sentido da vida.

    Dar voz e compreender por que pessoas como Jos Dias Belo que, apesar do baixo nvel de escolaridade, tm uma preocupao e uma compreenso da necessidade de organizar e preservar suas memrias, de transmiti-las e de tambm lutar contra o esquecimento, possibilita-nos entender, principalmente aps memria e histria terem se distanciado tanto e pelo fato de a primeira ter se transformado em objeto da histria, a necessidade de uma proposta que problematize o porqu, apesar dessa separao, "homens-memria" continuam existindo, ou seja, por que a necessidade de uma nova aliana entre a memria e a histria, mesmo que a primeira no seja mais a vivncia, a tradio, mas uma submisso ao modelo, sistemtica da histria.

    NOTA

    1Lugares de memria foi uma expresso cunhada por Pierre Nora quando da apresentao da obra, hoje clssica, por ele dirigida, Les Lieux de Mmoire, que pode ser concebido com um ponto em torno do qual se cristaliza uma parte da memria nacional, um tipo ideal, incluindo-se a os patrimnios histricos, arquitetnicos, artsticos, etc.

    BIBLIOGRAFIA

    BENJAMIN, Walter. Magia e tcnica, arte e poltica: ensaios sobre literatura e histria da cultura. 7. ed. So Paulo: Brasiliense, 1994.

    BENJAMIN, Walter. Rua de mo nica. 2. ed. So Paulo: Brasiliense, 1987.

    BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: e um lrico no auge do capitalismo. So Paulo: Brasiliense, 1989.

    FERRO, Marc. A Histria Vigiada. So Paulo: Martins Fontes, 1989.

    GAGNEBIN, Jeanne Marie. Histria e Narrativa em Walter Benjamin. So Paulo: Editora Perspectiva, 2004.

    HOBSBAWM, Eric. Sobre Histria. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.

    HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (org.). A inveno das tradies. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

    LE GOFF, Jacques. Histria e Memria. 4 ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.

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    NORA, Pierre (Direo). Les Lieux de Mmoire. La Rpublique, La Nation, Les France. 03 Vol. Paris: Gallimard, 1997.

    POLLACK, Michel. Memria, Esquecimento, Silncio. In: Estudos Histricos. V. 02, n. 03. Rio de Janeiro: FGV, 1989.

    POLLACK, Michel. Memria e identidade social. In: Estudos Histricos. V. 05, n. 10. Rio de Janeiro: FGV, 1992.

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    A Contribuio do Arquivo da Semurb Para a Histria De Natal

    Felipe Tavares de Arajo* (UFRN)

    Resumo

    Desde que foi iniciado o trabalho de digitalizao das cartas de aforamento do arquivo da Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo pelo projeto "Criando acessibilidade para as informaes" percebeu-se que o referido arquivo apresentava grande potencial para pesquisa sobre a Cidade do Natal. Assim, procurando seguir a linha da Histria Urbana, visa-se a construo de um trabalho que buscar as idias, discursos, o contexto scio-cultural e econmico que justifiquem os nmeros que sero encontrados em quadros (tabelas) a serem confeccionados a partir das cartas de aforamento. Esse o ponto de partida, mas sero feitos cruzamentos com as informaes de outras fontes (jornais, fotografias) para encontrar falas sobre as diversas regies da cidade bairros cujas fronteiras no so estanques e entre os quais h uma inter-relao- e sobre os processos de valorizao e desvalorizao de terrenos; da pode-se depreender a relao da populao com suas instituies e com o espao onde habitam, compreendendo-se os conflitos e disputas que tm a cidade como palco influenciador e influenciado. Ser buscado o dilogo com as disciplinas necessrias ao melhor esclarecimento possvel das questes que surgirem, como com a medicina, a geografia, a antropologia, a arquitetura, a filosofia.

    Palavras-Chave: Histria Urbana; Arquivo; Cartas de aforamento.

    Abstract

    Since the digitalization work of the charter letters of the Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo was started by the project "Criando acessibilidade para as informaes" it was noted that this file had a great power for the research about the city of Natal. This way, trying to follow the line of Urban History we aim the production of a work that will search the ideas, addresses, the socio-cultural context that justify the numbers that will be found on the tables to be prepared from the charter letters. This is the starting point, but information from other sources (newspapers, photos) will be crossed to find talks about the distinct regions of the city areas of the city where the boundaries are not steady and where theres an inter-relationship and about valorization and losing the value of the lands; and this way realize the relation of the population and institutions with the space they are located, understanding the conflicts and disputes that have the city as influencing and influenced location. It will be searched the dialog with the courses necessary to the better possible understanding of the appearing questions, as the medicine, geography, the anthropology, the architecture, the philosophy.

    Key- words: Urban History; Archives; Charter Letters.

    INTRODUO

    A cidade um lugar de vida coletiva, de diversidade, de possibilidade de ascenso social. um espao de trocas, de mercadorias, de consumo. A cidade tambm um palco de conflitos, de segregao de classes, de espaos, e onde, ao contrrio do que ocorria na Idade Mdia, separa-se o trabalho da moradia. No bastasse isso:

    * Graduando do Curso de Histria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. Bolsista do

    Projeto de Extenso intitulado: Criando Acessibilidade Para as Informaes: Banco de Dados e Digitalizao do Acervo do Setor Fundirio da SEMURB.

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    As cidades so (...) uma experincia visual. Traado de ruas, essas vias de circulao ladeadas de construes, os vazios das praas, cercadas por igrejas e edifcios pblicos, o movimento de pessoas e a agitao das atividades concentradas num mesmo espao. E mais, um lugar saturado de significaes acumuladas atravs do tempo, uma produo social sempre referida a alguma de suas formas de insero topogrfica ou particularidades arquitetnicas. (BRESCIANNI, 2003, p. 1)

    Histria Urbana significa, portanto, compreender historicamente o processo de formao das cidades sob os mais variados vieses (poltico, econmico, social, cultural) e admitindo uma pluralidade de temas, como Fustel de Coulanges (1830-1889) elegeu a origem da propriedade privada; Max Weber, em Conceitos e Categorias de Cidade procurou estabelecer relaes entre a origem da cidade e suas funes econmicas; Henri Pirenne, em As cidades da Idade Mdia admitiu que o fenmeno urbano uma aglomerao humana com personalidade jurdica que vive do comrcio e da indstria e, assim, defendeu o seu declnio.

    Contudo, as novas abordagens vm caminhando principalmente em trs direes: [...] as funes da cidade e seu vnculo com o fomento da urbanizao; os efeitos da vida urbana sobre os ciclos vitais dos indivduos, sobre o trabalho e na famlia; as mudanas espaciais e ecolgicas na cidade, provocadas pelo desenvolvimento econmico e social. (RAMINELLI, 1997. p. 189)

    Dentro dessas perspectivas, o pesquisador pode selecionar diversos temas para lanar-se ao exame, tais como festividades, religiosidades, trabalho, habitao, sociabilidades, espao pblico, dentre outros, que ocorram no espao urbano. A escolha do tema est ligada subjetividade do, no caso, historiador e ao grupo, ou grupos, ao qual ele pertence. necessrio falar em escolha, pois, ao contrrio do que defendiam os metdicos, o passado em sua integralidade no pode ser resgatado pelas fontes. Isso ocorre porque estas no falam sobre todos os fatos, uma vez que so constitudas por indivduos que necessitavam defender interesses particulares ou coletivos e, ento, privilegiavam o que iriam registrar ou mesmo de que maneira iriam registrar. nesse enquadramento que esto os conflitos entre memria e esquecimento que esto sendo encontrados nesse processo de confeco do presente estudo.

    Alm dessas problemticas envolvendo as fontes, encontramos tambm a produo de significados de alguns documentos de acordo com a mudana de contexto histrico, como o caso da prpria carta de Pero Vaz de Caminha. Anteriormente tentativa de construo de uma identidade nacional no Brasil independente, a carta era um documento esquecido e havia ficado guardado na Torre do Tomo em Portugal at 1773 sem sequer haver uma cpia dela, correndo o risco de deteriorar-se e perder-se. Hoje, tal documento exposto em condies

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    esplendidas de acondicionamento e exposio guardas, luzes baixas, msica de fundo e fila organizada de observadores. (KARNAL; TATSCH, 2004. p. 43) Qual a importncia disso? Percebermos que apesar das fontes terem sido produzidas para cumprir determinados objetivos, seus sentidos podem mudar e ir alm do que o seu produtor esperava. Ser que Caminha contava com a possibilidade de que seus escritos passassem a ser considerados como a certido de nascimento do Brasil? Isso nos inibe de pensar que todos os documentos cumprem apenas suas funes inicialmente pensadas e nos livra de uma histria maniquesta e de teorias da conspirao extremamente bem articuladas que conseguiram cumprir tudo o que foi premeditado.

    Assim, percebemos que as fontes, em sua constituio, foi um caminho de escolhas e de acasos. Logo, pomo-nos diante da seguinte questo: se a Histria Urbana oferece tantos vieses e os documentos so representaes, qual ser o tema privilegiado pelo presente trabalho e como ser feito o dilogo com os vestgios do passado?

    RELAO ENTRE PESQUISA E PROJETO

    As observaes que motivaram a elaborao desta pesquisa, em seus primeiros contatos, esto ligadas participao no projeto Criando acessibilidade para as informaes: banco de dados e digitalizao do acervo do Setor Fundirio da SEMURB, desenvolvido em sistema de parceria com a UFRN desde a segunda metade de 2005. Seu incio deu-se quando o Prof. Ms. Francisco Carlos Oliveira de Souza procurou a Chefia do Departamento de Histria com objetivo de restaurar a documentao do Setor Fundirio da referida secretaria (ARAJO; LINHARES, 2008. p. 3), ligada ao municpio. Esse arquivo constitui-se de plantas de loteamento, cartas de aforamento, microfilmes das cartas e cadastros imobilirios. Tal acervo ainda encontra-se em sua primeira idade arquivstica segundo a perspectiva de que essa fase:

    [...] corresponde produo do documento, sua tramitao, a finalizao de seu objetivo, conforme o caso, e a sua primeira guarda. O contedo desse documento, o chamado valor primrio, coincide com as razes de sua criao. Os documentos, nessa idade, esto nos arquivos administrativos, correntes ou de gesto. A informao contida de valor primrio, isto , vigente, em uso, e o documento valer pela razo estrita de seu contedo. As funes ou tarefas arquivsticas dessa fase so apoio produo e tramitao, a classificao, o servir consulta administrativa (que freqente), a primeira guarda, a conexo do documento com seus prazos de destinao, estabelecidas pelas tabelas de temporalidade. (BELLOTO, 2002. p. 26)

    O projeto passou pelas fases de

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    [...] organizao interna dos livros contendo cartas de aforamento; higienizao do acervo; conferncia, catalogao e organizao em ordem alfabtica das plantas de loteamento e ordenao dos microfilmes, alm de elaborar estratgias de atuao que possibilitassem a adoo de uma poltica de arquivos na instituio. (ARAJO; LINHARES, 2008. p. 3)

    Contudo, como o arquivo corrente, ou seja, por questes de atendimento ao pblico, a documentao requisitada diariamente, havia o perigo de desgaste do suporte papel que constitui as cartas de aforamento. Paralelamente, o curso de Histria da UFRN, percebendo o potencial daquele material para pesquisa que produziria conhecimentos que retornariam sociedade de forma til e percebendo os gastos que ocorreriam com a at ento pretensa restaurao, decidiu, juntamente SEMURB, que o acervo referente exclusivamente s cartas seria digitalizado pelo NEHAD - Ncleo de Estudos Histricos, Arqueolgicos e de Documentao. Essa transformao do material em digital, essa modificao do suporte facilitou em muito o presente trabalho por proporcionar o acesso s informaes do governo pelos cidados, enquadrando o projeto no principal objetivo da arquivstica, que :

    [...] dar acesso informao. No informao em geral, mas informao arquivstica, de cunho jurdico e/ou administrativo, que indispensvel ao processo decisrio e para o funcionamento das atividades governamentais ou empresas privadas e pessoas fsicas, assim como a que atua como testemunha dos direitos dos cidados, at esta mesma informao, quando utilizada pelos historiadores para a crtica e explicao das sociedades passadas e que, inclusive, independentemente destes usos, permanece como componente de um corpus informacional que permita a transmisso cultural de gerao a gerao. (BELLOTO, 2002. p. 6)

    Isso nos leva a pensar que essa iniciativa de disponibilizao das informaes inspirar outras pesquisas que venham a ser realizadas no intuito de repensar a historiografia produzida sobre o estado do Rio Grande do Norte e/ou acerca da cidade do Natal.

    INQUIETAES, REFLEXES E INVESTIGAO

    Atravs da interao com o arquivo da Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo que surgiram os primeiros questionamentos e, dentre eles, a inquietao sobre a fixao de grandes empresas (supermercado, indstria de rao, Banco do Brasil) e tambm sobre a obteno de terrenos por um mesmo comprador na rea de Tirol, Petrpolis e da atual Cidade Alta, bairros da regio central da cidade do Natal que, neste trabalho, tem importncia principalmente durante a dcada de 1970.

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    Outro dado interessante observado a comercializao inferior de terrenos em relao dcada de 1950, embora em 1970 seja verificada a compra por construtoras de vrios lotes de terra divididos de forma regular e sistemtica e, a julgar pelo nmero de aquisies, provavelmente essas empresas construiriam para posterior revenda, denotando especulao imobiliria naquela regio. Disso, tambm podemos apreender que, como defende Raquel Rolnik, conforme a infra-estrutura, comrcios, indstrias, banco vo sendo erigidos, as reas valorizam-se e, diante do menor ndice de comercializao de terras verificado em relao dcada de 1950, apenas alguns empresrios e elite poderiam manter-se naquela localidade, formulando uma especializao do espao. A respeito da lgica apresentada, possvel dizer que:

    [...] o prprio espao urbano uma mercadoria cujo preo