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Edição 167 - Mai de 05 Plantão Sumário Edições anteriores Edições especiais Quem foi Galileu Por dentro Os 10+ Cartas Sem dúvida Eureca Agenda Lab Cosmos Eco Vida Religião Máquina do tempo Tech Cult Bizarro Anuncie Home >> Reportagens ESPAÇO Tem alguém aí embaixo? Fotos: Nasa/divulgação; reprodução Pablo Nogueira A descoberta de metano em Marte foi anunciada no começo do ano passado pelo físico russo radicado nos EUA Vladimir Krasnopolsky. Usando dados colhidos pelo espectrômetro do observatório CFHT, que fica no Havaí, ele estimou a quantidade do gás em 10.5 partes por bilhão, valor considerado bem baixo. Em março, as observações tiveram uma importante confirmação direta: a sonda européia Mars Express, que desde dezembro orbita o planeta vermelho, encontrou traços de metano na proporção exata prevista por Krasnopolsky. Logo depois, uma equipe de pesquisadores da Nasa liderados pelo cientista Michael Mumma anunciou ter encontrado também vestígios de metano na atmosfera marciana, a partir de observações feitas em telescópios no Havaí e no Chile. De onde vem o metano? Uma possibilidade é que originalmente fosse parte de um cometa que tenha eventualmente colidido com Marte no passado. A hipótese surge do fato de que o metano leva entre 300 e 400 anos para se desfazer na atmosfera marciana. Não parece provável. Estudos geológicos sugerem que colisões com tais proporções não ocorrem há milhões de anos. Portanto, qualquer metano que pudesse ter sido trazido de fora do planeta já teria desaparecido. Além disso, para explicar os índices detectados pelos cientistas, é necessário um processo que gere, por ano, 270 toneladas do gás. "Nossos cálculos sugerem que a queda de um cometa poderia responder por apenas 5% do total de metano observado", diz Krasnopolsky. Veja abaixo principais etapas da exploração de Marte A Mariner 4 foi a primeira sonda a chegar a Marte. Suas imagens mostraram uma superfície árida e esburacada, com crateras semelhantes às da Lua As fotos de alta qualidade tiradas pela Mariner 9 motraram extintos vulcões gigantes, cânions com 4.000 km e os leitos secos de antigos rios As Vikings 1 e 2 pousam no planeta. Seus instrumentos não encontram organismos vivos, embora detectem uma enigmática atividade química em solo marciano 1964 1971 1976 Portal Ed.Globo Época Quem Marie Claire Criativa Casa e Jardim Crescer Galileu Autoesporte Globo Rural Peq. Empresas & Grandes Negócios 7/14/05 4:24 PM Tem alguém aí embaixo? Page 1 of 3 http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT967378-1719-2,00.html

ESPAÇO Tem alguém aí embaixo?aoss-research.engin.umich.edu/psl/PRESS/Mars/Galileu...Fotos: Nasa/divulgação; reprodução Pablo Nogueira A descoberta de metano em Marte foi anunciada

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    ESPAÇO

    Tem alguém aí embaixo?

    Fotos: Nasa/divulgação; reproduçãoPablo Nogueira

    A descoberta de metano em Marte foi anunciada no começo do ano passado pelo físico russo radicado nos EUA Vladimir Krasnopolsky. Usando dados colhidos pelo espectrômetro do observatório CFHT, que fica no Havaí, ele estimou a quantidade do gás em 10.5 partes por bilhão, valor considerado bem baixo. Em março, as observações tiveram uma importante confirmação direta: a sonda européia Mars Express, que desde dezembro orbita o planeta vermelho, encontrou traços de metano na proporção exata prevista por Krasnopolsky. Logo depois, uma equipe de pesquisadores da Nasa liderados pelo cientista Michael Mumma anunciou ter encontrado também vestígios de metano na atmosfera marciana, a partir de observações feitas em telescópios no Havaí e no Chile.

    De onde vem o metano? Uma possibilidade é que originalmente fosse parte de um cometa que tenha eventualmente colidido com Marte no passado. A hipótese surge do fato de que o metano leva entre 300 e 400 anos para se desfazer na atmosfera marciana. Não parece provável. Estudos geológicos sugerem que colisões com tais proporções não ocorrem há milhões de anos. Portanto, qualquer metano que pudesse ter sido trazido de fora do planeta já teria desaparecido. Além disso, para explicar os índices detectados pelos cientistas, é necessário um processo que gere, por ano, 270 toneladas do gás. "Nossos cálculos sugerem que a queda de um cometa poderia responder por apenas 5% do total de metano observado", diz Krasnopolsky.

    Veja abaixo principais etapas da exploração de Marte

    A Mariner 4 foi a primeira sonda a chegar a Marte. Suas imagens mostraram uma superfície árida e esburacada, com crateras semelhantes às da Lua

    As fotos de alta qualidade tiradas pela Mariner 9 motraram extintos vulcões gigantes, cânions com 4.000 km e os leitos secos de antigos rios

    As Vikings 1 e 2 pousam no planeta. Seus instrumentos não encontram organismos vivos, embora detectem uma enigmática atividade química em solo marciano

    1964

    1971

    1976

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    Expediente

    A missão Mars Pathfinder usa um jipe robô para explorar o planeta. Descobre sinais de que no passado Marte pode ter sido mais quente e

    úmido, e possuído água líquida. Também mostra a viabilidade de se explorar o planeta por via remota. Serão necessários sete anos até que a Nasa volte à superfície do planeta vermelho

    Desta vez são dois jipes robôs que chegam ao planeta. A missão Mars Rover confirma a existência, no passado, de um oceano em Marte

    1996

    2003

    Os cientistas passaram os últimos 12 meses refinando seus dados, em busca de uma explicação "local" para o metano. Os grupos da Nasa e da Mars Express analisaram a distribuição do gás pela atmosfera marciana e identificaram várias regiões onde ele se mostra mais concentrado (veja mapa à direita). Os americanos encontraram sinais de que a concentração aumentaria muito nas proximidades do equador marciano. Também parecem existir variações sazonais: no sistema de cânions conhecido como Valles Marineris, por exemplo, a concentração de metano aumentaria durante o equinócio de outono.

    Já o time da Mars Express fez outra descoberta ainda mais significativa: as regiões onde a densidade de metano é mais elevada abrigam também maiores quantidades de vapor de água. Em locais como Arabia Terra ou Elysium Planum, o aumento na concentração passa a ser 100% e até 200% maior. Isso aponta para uma possível origem comum, certamente subterrânea, tanto para o metano quanto para o vapor de água.

    Quebra-cabeçaDados da atmosfera ajudam a entender o que acontece na superfície do planeta

    Análises feitas na região de Syrtis Planitia mostram que mais próximo do equador, maior a variação na concentração de metano. A diferença pode chegar a 400%

    VARIAÇÕESPara explicar essa variação, os cientistas supõem que as fontes de metano, sejam quais forem, ficam bem separadas entre si

    AS FONTES

    As regiões de Arabia Terra, Elysium Planitia e Arcadia Planitia mostram, além do metano, alta concentração de vapor de água. Acredita-se que exista gelo no subsolo desses locais. É possível que ambos os gases tenham uma origem comum

    ÁGUA

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  • A questão, então, é determinar o que está acontecendo no subsolo marciano. Uma possibilidade, defendida pelo indiano Sushil Atreya, é que o metano seja produzido por um processo geológico chamado de serpentinização. Atreya, que faz parte da equipe de pesquisadores que utiliza a Mars Express e é diretor do Laboratório de Ciências Planetárias da Universidade de Michigan, explica que esse processo ocorre na Terra. Rochas ricas em ferro e magnésio, quando submetidas a um processo de hidratação a certas temperaturas, liberam hidrogênio. Este reage com dióxido de carbono que também está presente nas rochas e produz metano e outros hidrocarbonetos. O processo ocorre no fundo dos oceanos, às vezes em temperaturas não muito elevadas, entre 40º e 90º. "Temperaturas assim são encontráveis em Marte", diz Atreya. "A serpentinização poderia ocorrer lá."

    De onde vem o metano?Veja abaixo as três hipóteses

    Ele pode ter sido trazido por cometas ou asteróides que atingiram Marte no passado

    Ele pode ser produzido como resultado de reações químicas que ocorreriam em rochas marcianas

    Ele pode ser o subproduto da atividade de bactérias que eventualmente existiriam no planeta

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    Tem alguém aí embaixo?

    Fotos: Nasa/divulgação; reproduçãoPablo Nogueira

    A última hipótese: vidaEle acredita que algo semelhante ocorra também em Titã. O satélite de Saturno possui uma atmosfera com grandes quantidades de metano, detectado em janeiro pela sonda européia Huygens. Mas ele esclarece que isso não significa que exista vida por lá. "Existem dois tipos de carbono. O carbono-12, chamado de carbono leve, e o carbono-13, chamado de pesado. A química da vida prefere o carbono leve, e na Terra ele é abundante. Já em Titã, é muito raro", diz. Para Marte, o porcentual de carbono-12 ainda é uma incógnita.

    À direita, mapa do séc. 19 mostrando os supostos canais; à esquerda, ilustração de "Guerra dos Mundos", de H. G. Wells

    VISÕES DE MARTE

    Michael Mumma, pesquisador do Centro de Astrobiologia do Centro Espacial Goddard, da Nasa, e líder de uma das equipes de pesquisadores, evita ser categórico. Numa palestra dada em abril durante um encontro do Centro de Astrobiologia, foi diplomático: disse que Marte não é mais visto como um planeta "morto" (morto nesse caso significa sem atividade biológica ou geológica). "Mas pode ser que esteja 'geologicamente' vivo, e não biologicamente vivo", especulou. "Ou talvez sejam as duas coisas. Mas mesmo que seja apenas um processo geológico, já é algo muito interessante", analisou.

    Krasnopolsky discorda, afirmando que "a maior parte das explicações geológicas para o metano exigem altas temperaturas que não existem em Marte". Ele diz que sua equipe analisou a atmosfera marciana em busca de traços de dióxido de enxofre, cuja presença indicaria a existência de vulcanismo. "Mas a quantidade de dióxido de carbono é menor ainda que a de metano. Isso enfraquece a hipótese geológica." Ele acha que o metano é produzido pela ação de bactérias, as quais viveriam em regiões especificas. "Na Terra as bactérias formam colônias e se concentram em certos lugares. Talvez em Marte elas estejam nos locais mais úmidos e mais quentes."

    Veja abaixo principais etapas da exploração de MarteA idéia de que Marte pode abrigar vida

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    é antiga, e chegou a ser tida como fato por alguns sábios. Em 1755, o filósofo alemão Emmanuel Kant (1724-1804) escreveu: "nosso planeta e Marte constituem os laços intermediários do sistema planetário e podemos assegurar, com boa chance de acerto, que seus habitantes constituem um meio-termo entre os extremos no que diz respeito à moral". No século 19 o astrônomo Giovanni Schiaparelli (1835-1910) disse ter observado um vasto sistema de canais no planeta. Ele registrou suas observações em desenhos. Estes se popularizaram e espalharam a crenca de que o planeta era habitado por uma raça diligente e avançada. O maior defensor dessa visão foi o americano Percival Lowell (1855-1916), famoso pela descoberta de Plutão. Marcianos foram protagonistas de várias obras de ficção científica. A mais famosa é "A Guerra dos Mundos", livro do inglês H. G. Wells escrito no fim do século 19 e adaptado para rádio e cinema . Nela os alienígenas são cabeças gigantes com tentáculos, que invadem a Terra para fazer a humanidade de alimento. Muito diferente das pacíficas bactérias vislumbradas nos estudos dos cientistas de hoje.

    A busca por vida em Marte fascina a humanidade há séculos (veja abaixo). Nos anos 1970, a sonda Viking falhou em detectar compostos orgânicos em solo marciano. Mesmo assim, a idéia nunca foi deixada de lado, e agora está forte outra vez. Em 2010 pousará na superfície marciana a Mars Science Laboratory. Irá realizar análises do solo e de rochas para detectar, de forma mais efetiva, a possível existência de vida, no passado ou no presente. Até lá, a possível existência de bactérias metanogênicas no planeta deve permanecer em aberto.

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