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ESPAÇO SOCIALISTA Organização Marxista Revolucionária Contribuição: R$ 1,00 N° 73 - Outubro de 2014 O ESTADO ISLÂMICO E AS BOMBAS HUMANITÁRIASDO IMPERILISMO TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA E O TRABALHO DOCENTE A DESAFIANTE JUVENTUDE RETOMAR AS LUTAS CONTRA OS ATAQUES DE DILMA E CONTRA A DIREITA NACIONAL CRISE DA ÁGUA EM SÃO PAULO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO HONG KONG EDUCAÇÃO O CONTROLE SOCIAL COMO SOLUÇÃO DA CRISE DA ÁGUA FERGUSON: É UMA REVOLTA DA POPULAÇÃO NEGRA E DE TODA A CLASSE TRABALHADORA RACISMO NOS ESTADOS UNIDOS

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ESPAÇOSOCIALISTAOrganização Marxista Revolucionária

Contribuição: R$ 1,00N° 73 - Outubro de 2014

O ESTADO ISLÂMICO E AS BOMBAS

“HUMANITÁRIAS” DO IMPERILISMO

TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS PARA AEDUCAÇÃO PÚBLICA E O TRABALHO DOCENTE

A DESAFIANTE JUVENTUDE

RETOMAR AS LUTAS CONTRA OS ATAQUES

DE DILMA E CONTRA A DIREITA

NACIONAL

CRISE DA ÁGUA EM SÃO PAULO

FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

HONG KONG

EDUCAÇÃO

O CONTROLE SOCIAL COMO SOLUÇÃO DA

CRISE DA ÁGUA

FERGUSON: É UMA REVOLTA DA POPULAÇÃO

NEGRA E DE TODA A CLASSE TRABALHADORA

RACISMO NOS ESTADOS UNIDOS

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RETOMAR AS LUTAS CONTRA OS ATAQUES DE

DILMA E CONTRA A DIREITAAs eleições transcorreram no

marco do esgotamento do modeloeconômico implementado pelo PT,que se baseava no crescimento domercado interno de forma artificial,através do endividamento geral dasfamílias e do estado. Isenções deimpostos, empréstimos pelo BNDES,obras de interesse das empresas,concessões (privatizações) de rodovias,portos e aeroportos também ajudarama manter os lucros da burguesia. Masagora não são mais suficientes. Nomarco de novos elementos de crise emnível internacional, e para recompor astaxas de lucro, ocorrerão ajustes nospreços, ataques aos direitos trabalhistas,arrocho salarial, alta de juros, aumentodas tarifas públicas, etc.

No início deste ano, vimos váriaslutas de categorias precarizadas que, seapoiando na correlação de forças abertapelos movimentos de junho/2013,passaram por cima das direções pelegase burocráticas, enfrentaram os tribunaisburgueses e arrancaram vitóriasimportantes como as greves dos garis,rodoviários, e construção civil. Asocupações de terra nas cidades foramparte desse processo, conseguindo semanter e conquistar áreas para moradia.O movimento Contra a Copa tambématingiu várias capitais, trazendo adenúncia dos gastos e dasconsequências com a Copa.

No entanto, a burguesia, osgovernos e a mídia agiam no sentidoisolar, difamar e reprimir osmovimentos e os setores maisradicalizados de esquerda, procurandoao mesmo tempo já ir desviandotoda a insatisfação das ruas paraas urnas, para as eleiçõesburguesas.

Conforme as lutas sepropagavam para setores maisdecisivos - como Metroviários -e a Copa se aproximava, foiimplementada uma ofensiva coma demissão de 42 trabalhadoresna greve dos Metroviários, arepressão aos movimentos

contra a Copa, e outros, através deprocessos e prisões de ativistas. Houvemais endurecimento e derrota degreves como a dos Institutos TécnicosFederais e dos Funcionários dasUniversidades (FASUBRA).

Mesmo não se revertendocompletamente a relação de forçasaberta em junho/2013, houve umamudança para uma conjunturareacionária, da qual a direita seaproveitou para crescer, com apoio damídia. Um amplo espectro reacionáriofoi se formando, dando um salto nosegundo turno com a declaração deapoio a Aécio por parte de Marina,PSB, PV, PHS e família Campos, comapoio de amplos setores da mídia. Essabusca de unidade com os setores maisreacionários fez com que a campanhado PSDB tivesse que ir abraçandoposições mais extremas e complicadas,como a questão da redução damaioridade penal, e assumindo odiscurso raivoso e preconceituoso pelasredes sociais.

Essa polarização PT x PSDB,apesar de falsa em muitos aspectos –pois ambos os programas e projetossão burgueses e muito parecidos entresi, com diferenças apenas de forma eritmos –, mobilizou e polarizou setoressociais distintos social e politicamente.Contribuiu para isso, o fato de que oPT, para fazer frente à forte campanhacontra Dilma por sua vez, teve queadotar um discurso mais à esquerdaao falar de disputa de “2 projetos depaís” e chamar a luta dos “ricos contraos pobres”.

Essa polarização, mesmo parcial,acabou envolvendo muitaspersonalidades e até setores demilitância de movimentos sociais, queforam às ruas em campanha. Umsentimento de não deixar a direita maisvisível ganhar tomou conta de amplossetores de massa e de vanguarda, e fezcom que nas últimas semanas Dilmase consolidasse à frente, embora compequena vantagem.

Nesse sentido, a derrota de Aécioe sua frente é parte de uma mudançade uma conjuntura reacionária para outraconservadora, a partir da visão de que épreciso conservar o emprego, osdireitos, as políticas sociais e secontrapor ao crescimento da direita esua influência reacionária em relação avários temas como: políticas sociais,redução da maioridade penal, cotasraciais, questões LGBT, aborto, drogas,etc.

Essa conjuntura conservadora podeser uma transição para outra conjunturamais favorável à esquerda, à medida queas lutas se desenvolvam e coloquempossibilidades mais ofensivas. Peladureza dos ataques após as eleições, omais provável é que haja o redespertardos movimentos sociais, provocandoenfrentamentos das massas com asuperestrutura política, jurídica (governo,Congresso, Justiça) etc.

UM GOVERNO MAIS INSTÁVEL,PORÉM MAIS DURO COM OS

TRABALHADORESUm quadro bem diferente se

coloca no pós eleições. Dentro de umaconjuntura internacional bemmais desfavorável e com maiorconcorrência, há maisdificuldades econômicas para aburguesia, que não é uma classehomogênea. Seus vários setorespassam a disputar maisferozmente o mercado e oorçamento público, levando arachas e lutas duríssimas entreseus vários partidos – que emúltima instância são

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representantes de setores da burguesia– e que podem levar a crises nogoverno e no Congresso.

A base da política econômica dogoverno é o capital financeiro, comdisputas entre os seus setores, assimcomo do capital financeiro contra ossetores industriais, do agronegócio, dasconstrutoras, e destes entre si.

O segundo governo Dilma deve serainda mais instável que o primeiro, paranão citar os dois de Lula. A relação como PMDB e com os demais partidos serámuito mais conflituosa, no marco deum Congresso ainda mais à direita. Issopode levar a derrotas do governo noCongresso, principalmente naquelasvotações que possam beneficiar osinteresses da burocracia materializada noPT, ou que toquem, ainda queminimamente, nos privilégios dosmaiores partidos (como no caso daReforma Política) ou ainda em temasque a direita se organize para impor.

É o caso da emenda que disciplinavao funcionamento dos Conselhos derepresentantes que, apesar derepresentarem muito mais espaços decooptação das lideranças e legitimaçãodas metas e limites da gestão,supostamente trariam algum espaço depressão e fiscalização de demandassociais junto aos municípios, estados eunião. Esse decreto foi derrubado logono dia seguinte à eleição de Dilma, parademonstrar a não aceitação àspropostas da burocracia que visam aogerenciamento do estado comenvolvimento – totalmentesubordinado, relembre-se – por partede representantes dos setores emovimentos sociais, contando com ovoto do PMDB que, dessa forma,também enviou um recado ao governode que quer mais espaço no governo emaior fatia do orçamento. Da mesmaforma, o PT corre sérios riscos de sofrer

verdadeiro vexame na questão daReforma Política.

Por outro lado, refletindo asnecessidades gerais do capital, deve serum governo muito mais duro contraos trabalhadores, já que agora há umconsenso muito maior entre os váriossetores da burguesia e também do PTem torno de um receituário maisclássico do neoliberalismo, em que osuperávit primário (para pagar o 1,35trilhão de juros e amortizações daDívida Pública previstos noOrçamento de 2015), o aumento dosjuros, o ajuste de preços e tarifas, asreformas em prol do capital comoReforma Tributária, Reforma daPrevidência e Reforma da LegislaçãoTrabalhista, estão no centro.

Mas o que talvez unifique aindamais a todos esses setores é a posturade endurecimento frente a cadareivindicação e luta dos trabalhadorese setores populares. Uma frentenacional contra as lutas e contra osativistas se constitui, envolvendo todosos partidos do bloco do PSDB, mastambém os do bloco ligado ao PT.

O PT pretende fazer frente à criseatendendo à agenda do capital, masagora com menores margens paraadotar novas políticas sociais decompensação que controlem/impeçam os movimentos. Os ataquesaos trabalhadores terão que ser maisdiretos, o que tende a tensionar todasas relações do governo e do PT comos movimentos e com setores daprópria burocracia mais ligados à base.

Rebeliões sindicais em assembleiase greves – mesmo contra a vontade, einclusive passando por cima dasburocracias sindicais – estarãocolocadas mesmo em categoriastradicionalmente mais controladas. Seessas rebeliões e processos deorganização de base avançarem,

podem levar a rupturas econstrução de novasdireções.

A DIREITA FINCA SUABANDEIRA, AFINA O

DISCURSO E SAI ÀS RUASEm três mandatos (12

anos) à frente do governo, oPT não atacou as causas de

nenhum dos grandes problemas sociais.Não rompeu com o pagamento daDívida, não realizou a Reforma Agrária,não enfrentou a especulação imobiliárianas cidades. Sua política de colaboraçãode classes fez com que restringisse eencaminhasse toda e qualquerdemanda social dentro dos limites ede modo a beneficiar os lucros e asegurança para o capital. Assim, sematacar a burguesia, as mínimas políticassociais destinadas aos setores maispauperizados tiveram comocontrapartida a piora das condições detrabalho e de vida dos setores maisqualificados da classe trabalhadora e aclasse média (micro e pequenosempresários). Isso criou a base a paraa disseminação pela mídia do ódio aoPT, à esquerda e às políticas sociais ede reparação racial.

Além disso, sua prática deconvivência, elogio e concessões paraa burguesia e setores reacionários(agronegócio, militares, igrejas, mídia,etc) deixaram a burguesia livre etranquila para articular uma reação nosentido de retomar o controle políticopara seus representantes preferenciais,os partidos burgueses clássicos.

A polarização política entre PT ePSDB foi muito mais tensa no Sudestee no Sul do que no restante do país. Osetor de direita e reacionário que haviasurgido nos movimentos de junhoreapareceu. Não podemos ignorar umsentimento de separação e polarizaçãoque é real. O preconceito contra ospobres, nordestinos, negros, cubanos,etc é disseminado hoje de formamuito mais aberta e encontra respaldoem setores de massa.

Esses setores de direita se sentemà vontade até para sair às ruas, pedindoo impeachment de Dilma e aintervenção militar – um Golpe diga-se de passagem –, denunciando acorrupção do governo federal, mas secalando sobre a corrupção e a seca nosestados dirigidos pelo PSDB e seusaliados, ofendendo e acirrando aviolência contra os setores de esquerda.O nome do Aécio sai comorepresentante dessa unidadereacionária.

Por outro lado, podem havermanifestações e campanhas

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governistas e de apoio à Dilma emnome do combate a essa direita, massem enfrentá-la de fato e a fundo. Umadisputa apenas aparente, enquantoencobre-se o essencial: que o PT seconfronta, mas ao mesmo temposustenta e em grande medida se alia àdireita.

A DIVISÃO E REBAIXAMENTO DOPROGRAMA IMPEDEM

DESENVOLVIMENTO DA ESQUERDA

A atuação da esquerda éfundamental para disputar com adireita as ideias e iniciativas políticas.Assim, não podemos deixar de citar afalta de iniciativa política da esquerda(PSTU e PSOL), independente dossetores hegemônicos, que não tiveramnenhuma política maior para buscar aunidade da esquerda e pela base naslutas. O racha do CONCLAT(Congresso Nacional da ClasseTrabalhadora, que se propunha aunificar a CSP-Conlutas e aIntersindical, fundando uma NovaCentral unitária) trouxe o acirramentoda disputa entre as correntescentralmente pelo controle dosaparatos, contrariando os interesses domovimento.

Nos últimos quatro anos, o PSTUapostou suas forças na unidadesuperestrutural (por cima) com asdireções das centrais governistas, e embusca de unidades com setorescutistas como a Cut Pode Mais e outrasforças do campo governista. Paraviabilizar essa política, o PSTU acabourebaixando seu programa e o da CSP-Conlutas, deixando de secontrapor diretamente àscentrais governistas, e não secolocou como alternativasocialista consequente nosprincipais enfrentamentos,nem mesmo quandoaconteceram nas suas bases,como em São José dosCampos e outras.

Nas eleições, tanto PSTU,como PSOL, PCB e PCO nãofizeram nenhum esforço real

(não retórico) no sentido daconstituição pela base de uma Frentede Esquerda que se colocasse comoalternativa unitária de esquerda naseleições. Cada qual privilegiou suaprópria construção, em detrimento dasnecessidades do movimento.

Essa divisão e concepção deunidade somente quando está sob ocontrole e direção da sua corrente temsido nefasta, aprofundando afragmentação e contribuindo para ocrescimento da direita.

QUAIS AS PERSPECTIVAS DA LUTA DE

CLASSES?Um novo processo de

reestruturação produtiva já vemocorrendo, e deve se acirrar com odesemprego, sobrecarga de trabalhoainda maior, precarização das relaçõesde contratação, etc.

Assim, as lutas deverão se retomara partir das demandas mais imediatase às vezes mínimas por locais detrabalho. Também estarão colocadaslutas maiores envolvendo setoresorganizados da classe trabalhadora quetendem a ter seus direitos e empregosatacados. A partir daí, e combinando-se com esse quadro, as lutas podemganhar contornos maiores e maispolíticos à medida que os projetos dogoverno se tornem mais visíveis, comono caso das Contrarreformas previstas.

Além disso, movimentos e atérevoltas populares pela questão da águaou da moradia despontam nohorizonte, podendo levar a um ascensode massas, com novosdesdobramentos na consciência e

organização da classe

trabalhadora. Temos que acompanhare intervir nesse processo para queavance no sentido da esquerda e darevolução, caso contrário, a direita éque irá capitalizá-lo.

IMPULSIONAR E UNIFICAR AS LUTAS

CONTRA OS ATAQUES QUE VIRÃO!O desafio de participar, apoiar e

ajudar a desenvolver osenfrentamentos mínimos nos locais detrabalho, estudo e moradia; por ondedevem se iniciar as lutas contra osefeitos dos ataques do governo e daburguesia; a superexploração nos locaisde trabalho; e já se preparando paraunificar essas lutas para enfrentar osgrandes ataques previstos, deveapontar para a construção de fórunsde luta unitários e pela base.

É responsabil idade da CSP-Conlutas, Intersindical e demais forçasde esquerda realizar os esforços para aunidade das lutas e movimentos. Nessesentido, defendemos a formaçãoimediata de um Fórum nacional delutas, com caráter antigovernista eantiburocrático, para unificar asmobilizações que ocorram e apontarum Programa Mínimo, anticapitalistae socialista.

Com grandes ataques a partir dogoverno Dilma colocados já nohorizonte, será preciso retomar asformas organizativas, mas desta vez apartir da base, de modo que oprincipais interessados, ostrabalhadores, estudantes e membrosdos movimentos populares, sejamquem determine os rumos domovimento, e não apenas as direções,pela cúpula.

Para o próximo ano, defendemosa realização de um Encontro

Nacional de Movimentos eAtivistas para chamar ostrabalhadores a se porem emmobilização, em defesa doemprego e de seus direitos,contra os ataques que já estãocomeçando, contra as

Contrarreformas da burguesiae do governo Dilma, e ao mesmotempo para construirmos juntosuma alternativa unificada deesquerda e socialista para asociedade.

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O CONTROLE SOCIAL COMO SOLUÇÃO PARA ACRISE DA ÁGUA

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Durante as últimas décadas esteveem vigor a concepção de que a gestãoestatal dos serviços públicos éintrinsecamente ineficiente e corrupta,portanto, devem ser privatizados.Afinal, a iniciativa privada e a busca pelolucro supostamente levam à eficiência.A atual crise da água em São Paulomostra o quanto essa concepção estáerrada. Afinal a SABESP, uma empresasemi privatizada, com ações negociadasna bolsa de valores, está dando provasde uma catastrófica ineficiência, aodeixar a população da Grande São Pauloameaçada pela falta d’água.

No que se refere ao objetivo dolucro, porém, a SABESP foi bastanteeficiente, já que nos últimos 10 anosdistribuiu mais de R$ 4,3 bilhões aosseus acionistas (http://jornalggn.com.br/noticia/sabesp-distribui-ate-60-dos-lucros-aos-acionistas-durante-governo-alckmin),entre os quais há inclusive investidoresestrangeiros. Os proprietários privadosficam com o lucro e a população ficacom o prejuízo e a falta d’água, esse éo resultado da privatização.

O DESASTRE DA GESTÃO PRIVATISTAA SABESP é uma empresa de

economia mista com maioria acionárianas mãos do governo estadual e orestante nas mãos de investidoresprivados. Mas, a lógica da sua gestão éinteiramente privada, voltada paraaumentar os lucros a qualquer custo,mesmo que isso signifique sucatear oserviço prestado à população.

Na última ocasião em que aconcessão da SABESP foi renovada,exatamente em 2004, o compromissoassumido com os órgãos reguladoresfederais foi de que a empresa investissena ampliação dos reservatórios,, dasestações de tratamento, na interligaçãoe manutenção das tubulações. Se essasmedidas tivessem sido tomadas naépoca, quando já era previsível o riscode falta d’água devido ao aumento deconsumo na área urbana e àpossibilidade de uma estação depoucas chuvas, não estaríamos

passando pela atualsituação.

A empresa, porém,não cumpriu com as suasobrigações contratuaispara com a população. Aoinvés disso, preferiu pagarlucros milionários aos seusacionistas. Esses lucros,portanto, não são apenasinjustos, são também criminosos, deacordo com a própria letra da lei. Éum assalto aos trabalhadores.

Ao invés de assumir suasresponsabilidades, o governo doestado, que é o acionista majoritárioda SABESP, pediu agora ajuda aogoverno federal na forma de isençõesde impostos e ajuda com as obrasemergenciais de interligação das redes.O governo do estado é comandadohá 20 anos pelo PSDB e em sua gestão“eficiente” usou a SABESP entreoutras coisas para fazer doações parao Instituto que leva o nome do ex-presidente Fernando HenriqueCardoso, o iFHC, em 2006 (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1352138-EI6578,00.html). Omaior autor de privatizações na históriado país recebeu doações públicas paradefender suas idéias privatistas!

As privatizações feitas pelo PSDBou pelo PT (que as faz com o nomede “concessões”) devem ser chamadaspelo seu nome: são crimes contra apopulação, assalto ao patrimôniopúblico, transformado em fonte delucros fáceis para uma minoria deaproveitadores.

A LÓGICA DO CONTROLE SOCIALPara contornar a situação de crise

no abastecimento da água é precisoimpor uma outra concepção na gestãodos serviços públicos. Ao invés daprivatização, defendemos a gestão sobcontrole social, que não é a mesmacoisa que estatal. Afinal, enquantoestivermos no capitalismo, o Estadoestará sob controle da classedominante, a classe dos grandesempresários, e estará sujeito à

ineficiência e corrupção.O Estado existe precisamente para

disfarçar a existência da divisão dasociedade em classes, ao aparecer comorepresentante de “todos” (quandorepresenta na verdade apenas umaminoria), e o ritual periódico das eleiçõesexiste exatamente para reforçar essacrença e fazer com que todos acreditemque tiveram escolha (quando naverdade, o Estado continua sempre sobcontrole da classe dominante, qualquerque seja o partido eleito).

A concepção de controle social éo oposto da privatização (e tambémda simples estatização), pois significaque a classe trabalhadora, que é a classeque produz toda a riqueza existente nasociedade, exerceria o controle sobreessa riqueza. Os serviços públicosdevem estar sob controle dostrabalhadores e usuários. Vejamoscomo isso se aplicaria no caso daSABESP e do abastecimento de água.

1) Defendemos, como umaprimeira parte da solução, a totalestatização da SABESP, ou seja, aexpropriação das ações que estão emmãos de aproveitadores privados, esem indenização. Na verdade, são osatuais proprietários da SABESP quedevem indenizar os usuários pelosprejuízos causados pela falta d’água.

Essa regra da indenização por falhanos serviços já existe no caso dofornecimento de luz elétrica outelefonia, e deve ser aplicada tambémno caso da água. Além de indenizar osconsumidores, os proprietários daSABESP devem também arcar com oscustos das obras emergenciais queterão que ser feitas para contornar aatual crise no abastecimento. Afinal, só

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estamos nessa situação de emergênciaporque as obras não foram feitas nomomento devido, conforme previstonos acordos de concessão.

2) A estatização total da SABESPseria apenas a primeira parte dasolução, já que deixaria a empresa sobcontrole do governo estadual deplantão, no caso o de GeraldoAlckmin. A segunda parte, que seria ocontrole social propriamente dito,exigiria que a empresa fosse controladanão por diretores indicados pelogoverno do estado, mas por umComitê de Representantes dosUsuários e Trabalhadores. Em cadabairro ou região seriam eleitosmoradores representantes paraatuarem juntamente na fiscalização

com os funcionários da SABESP paragarantir que a água existente sejadistribuída igualmente para todos.

Comitês populares nos bairros eOrganizações Sindicais e de base dosTrabalhadores na luta pela água!

Evidentemente, tanto a estatizaçãoquanto o controle social exigiriam quea população em geral e ostrabalhadores se colocassem em lutacontra o governo do estado e tambémcontra o governo federal, que existempara garantir os interesses dosproprietários privados da SABESP,que são parte da classe dominante àqual o Estado obedece. Entretanto,diante da situação de risco decalamidade em que estamos nãohaverá outra solução a não ser a luta. 

Como primeiro passo dessa luta,defendemos a formação de ComitêsPopulares de bairros e Comitês de LutaPela Água organizados pelostrabalhadores e por suas organizaçõesde luta (sindicatos, centrais sindicaiscomo CSP-Conlutas e Intersindical,etc.).

Esses comitês teriam como tarefas:

Unificar a luta pela água em umComitê Geral!

Estatização da SABESP, semindenização e sob controle dostrabalhadores!

Confisco dos lucros indevidosdos proprietários para indenizar osconsumidores e custear as obrasemergenciais!

Prioridade para o consumohumano e a sobrevivência, mesmo queisso signifique interromper asatividades de milhares de empresas.

Transparência na divulgação daquantidade de água existente, para quetoda a população possa decidir sobreo seu uso.

Cotas de água para consumodiário por habitante, para que apopulação que mora nos bairrospobres receba proporcionalmente amesma quantidade que a dos bairrosricos.

Estatização sob controle dostrabalhadores de todas as fontes, minas, poços e reservas, para que a águanão se torne um privilégio dos quepodem pagar.

Estamos diante de uma trama bemarticulada entre governos e agenteseconômicos que, a partir de umademanda necessária, procuram inserirna Educação Pública brasileira umprojeto educacional que busca atenderaos interesses capitalistas de váriasmaneiras.

Pra isso, usa-se com intensidade agrande mídia, numa campanhamaçante no sentido de viabilizar aaplicação desse projeto, a partir deresultados imediatos em avaliaçõesexternas. Com isso, alinha-se oprocesso educativo e o funcionamentodas redes de ensino público com osinteresses capitalistas inseridos nessesexames externos.

A reestruturação econômica, comsuas políticas de ajustes estruturaisvisando à redução dos gastos públicos

nos serviços sociais em prol dosincentivos e isenções ao empresariado,avança procurando convencer que:

“A noção de privado (e as privatizações)são glorificados como parte de um mercadolivre, com total confiança na eficiência dacompetição, onde as atividades do setor públicoou estatal são vistas como ineficientes,improdutivas, antieconômicas e como umdesperdício social, enquanto o setor privado évisto como eficiente, efetivo, produtivo,podendo responder, por sua natureza menosburocrática, com maior rapidez e prestezaàs transformações que ocorrem no mundomoderno.” (Torres, 2007, p. 115-116)

Essa constatação é importante,pois toda mudança, toda propostapara a Educação Pública partem dessapremissa.

Portanto, é necessário analisarmos,pensarmos e refletirmos bem como

isto se dá no dia a dia das escolas.

CONTROLE E MONITORAMENTOPOLÍTICO/IDEOLÓGICO DOS

PROFESSORESAcreditamos que no período

vindouro, além das inadequadascondições de trabalho, não valorizaçãoe perda de direitos sociais, osprofessores enfrentarão de modo maisperverso o monitoramento e ocontrole de seu trabalho.

Trata-se de uma necessidade doponto de vista dos interessescapitalistas, ajustar a Educação Públicaaos interesses do mercado. Isso tantoem relação à adequação do currículoescolar com vistas à formação de mãode obra necessitada por estes e aosconteúdos cobrados nas avaliaçõesexternas – SARESP, PISA, IDEB... –

TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO

PÚBLICA BRASILEIRA E SEUS REFLEXOS NO

TRABALHO DOCENTE

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quanto em relação ao controlepolítico/ideológico do trabalho doprofessor.

É com base nisso que os governosavançam na criação de sistemas decontrole e monitoramento do processoeducativo. Destacamos três: aSecretaria Escolar Digital (SED), narede estadual de São Paulo; o Sistemade Gestão Pedagógica (SGP), nomunicípio de São Paulo; e o do Sistemade Monitoramento de Conteúdo(SMC), na rede estadual dePernambuco.

Quando os governos – sejam quaisforem suas legendas partidárias – falamem capacitação dos professores, trata-se de enquadrá-los para se sujeitarema esse controle, a esse monitoramento.Para aprofundar o projeto do capitalna Educação Pública, os governosviabilizam a criação desses sistemas eexpandem as Escolas de TempoIntegral.

EXPANSÃO DAS ESCOLAS DE TEMPOINTEGRAL E PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO

PÚBLICOA Educação Pública tornou-se

mais um espaço de lucratividade paraos capitalistas que já lucravam com avenda de apostilas, livros didáticos eprestação de consultorias, e que agoraprocuram ampliar seus lucros com aexpansão das Escolas de TempoIntegral.

Não nos colocamos contra aampliação do tempo de permanênciados alunos nas escolas. Inclusive,defendemos uma Educação Integral.

No entanto, discordamos do modelode Escola de Tempo Integral que estásendo implantado pelos governos, poisestá combinado com o avanço dasparcerias público-privadas, ou seja,trata-se da privatização do EnsinoPúblico. É por isso que o grupo Gerdal,Itaú Social, Fundação Bradesco,Instituto Natura, dentre outros, sãotão interessados pela EducaçãoPública.

Trata-se de uma privatização queestreita o currículo escolar, não leva emconsideração outras dimensões doprocesso educativo, e se atém apenasao mérito individual dos alunos,pautando-se no empreendedorismo,leitura e realização de operaçõesmatemáticas básicas. E vai além, já queobjetiva tornar o aluno submisso, queaceite tudo, sem perspectiva de umoutro mundo.

No que se refere ao trabalhodocente, o empobrece, pois oprofessor fica impossibilitado derealizar qualquer proposta curricularalternativa que não seja o currículooficial. Além disso, a infraestruturadessas escolas em nada são alteradas– com algumas poucas exceções, parapropagandear que dá certo –, além dese aprofundar a política de bônus/mérito. Portanto, não muda em nadaa condição de trabalho dosprofessores: é mais do mesmo.

POLÍTICA DE BÔNUS/MERITOCRACIA,ÍNDICES, METAS E ASSÉDIO MORAL

Em um país que compromete coma rolagem da Dívida Pública cerca deR$ 1,002 trilhão – 42% do PIB –, oque corresponde 10 vezes o valorprevisto para a Saúde e 12 vezes oinvestido na Educação, e comgovernos – relembrando mais um vezde todas as legendas – que priorizamobras e interesses de empresas,bancos, empreiteiras e agronegócio,os serviços públicos só funcionarão,é claro, de modo precário, comcobranças abusivas, assédio moral eautoritarismo.

Esse quadro de pressão tende ase acirrar no próximo período, poisos investimentos continuarão sendoescassos e com o processo educativovoltado para o atendimento dos índices

e metas exigidos nas avaliaçõesexternas, o que levará o professor aduros embates com as gestõesescolares.

Também continuaremos a lidarcom os males da política de bônus/mérito, dando a dinâmica de premiare punir, reconhecer ou não o trabalhodo professor. Tratamos como um malessa política, por se tratar de algo quenos divide, nos fragmenta, quebrandoos vínculos coletivos, tirando a nossaisonomia salaria l e colocando oindividual sobreposto ao coletivo.

A NECESSIDADE DE ENTENDER ESSECENÁRIO E BUSCAR SAÍDAS DO

PONTO DE VISTA ANTIGOVERNISTA,ANTICAPITALISTA E SOCIALISTAPreocupado com o cenário e a

necessidade de rearmar os professoresno enfrentamento à ofensiva capitalistana Educação Pública, o EspaçoSocialista realizou dois seminários:Educação e Luta de Classes e Divisão Socialdo Trabalho e Educação, e estará lançandoainda este ano o 4º número da RevistaPrimavera Vermelha , destinada àEducação.

A proposta é de uma revista quetenha um equilíbrio entre teoria e eixosgerais de campanha e orientação paraos movimentos, servindo não apenasde instrumento de debate, mastambém de apoio para os ativistas nacompreensão de sua realidade eformulação de políticas concretas paraos seus setores de intervenção. Essenúmero da Revista Primavera Vermelhaprocurou refletir os debates queocorreram nos seminários querealizamos.

Desde já, conclamamos a todos ostrabalhadores e seus filhos a seincorporarem nessa tarefa de grandeimportância. Temos que reagircoletivamente contra a ingerência docapital na Educação.

Essa reação se passa pela atuaçãoconjunta de pais, alunos e professoresno interior das escolas, devendo serrespaldada pelas entidades, oposiçõesantigovernistas e anticapitalistas, eorganizações consequentes.

Também é necessário o controlepolítico por parte dos trabalhadores eseus filhos sobre a Educação Pública.

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O ESTADO ISLÂMICO E AS BOMBAS

“HUMANITÁRIAS” DO IMPERIALISMOO mais novo pretexto para as

potências imperialistas intervirem,bombardearem e saquearem o povoárabe chama-se: Estado Islâmico. Ascenas de decapitação de jornalistas erelatos de enterrar “YAZIDIS” (minoriareligiosa com elementos pré-cristãos,cristãos e islâmicos) são consideradosfatos suficientes para justificar novosbombardeios “cirúrgicos” e a presençade tropas ocidentais aliadas aos EstadosUnidos e Grã Bretanha na região. Masquem são, como se organizam, o quequerem e principalmente contra quemluta o movimento conhecido porEstado Islâmico?

A ORIGEM

O fenômeno político e socialexpresso pelos jihadistas do EstadoIslâmico não começou com a violênciaperpetrada contra jornalistasocidentais, minorias religiosas e nemcom o anúncio da criação de umCalifado(1) entre a Síria e o Iraque.Qualquer compreensão menossuperficial do conflito deve considerara longa história de disputas ocorridasna Ásia, norte da África e sua relaçãocom o conjunto da Europa, bemcomo o desenvolvimento e acombinação dessas regiões nomercado mundial pré-capitalista, a atualfase de crise global do capitalismo, osacordos entre as potências imperialistase sua influência na região. Mas, devidoaos limites do presente texto, iremosnos concentrar no atual fenômeno da Jihad(2) como ferramenta daspotências imperialistas para impor seusinteresses sobre os trabalhadoresárabes e saquear suas riquezas.

Podemos iniciar a reflexão sobrea estreita relação entre a família Bush,as corporações de petróleo, asmonarquias árabes e o próprioOsama Bin Laden com o filmeFAHRENHEIT 9/11 (https://w w w . y o u t u b e . c o m /watch?v=3VP39M3F03YO) e porRAMBO III; eles demonstram oempenho do governo estadunidense

em criar, treinar e financiar osfundamentalistas afegãos contra aocupação soviética. Iniciava-se entãoa 1ª Jihad, com a proposta de expulsardo Afeganistão as tropas soviéticas eseu estado laico, educação universal edemais costumes consideradosocidentais e infiéis.

A 1ª Jihad terminou em vitóriacontras as tropas soviéticas,significando a consolidação de umalógica de combate de guerrilhauniformizada por uma interpretaçãodo islamismo (Wahhabismo(3)) aparelhada da moderna tecnologiamilitar estadunidense. Significoutambém o fortalecimento do milionárioárabe-saudita Osama Bin Laden comoprincipal líder de uma rede derecrutamento de combatentes erecursos financeiros em prol daconstrução de estados islâmicos queadotem a Sharia (4) e costumeslegalmente homofóbicos e machistas.

O recrutamento de jovens pelacausa jihadista se nutre dascontradições da atual fase de criseglobal do capitalismo. Nesta etapa, oavanço tecnológico aplicado à industriaarmamentista, a comunicação e aconectividade mundial, a globalizaçãode mercados, somados ao vazioexistencial provocado peloconsumismo enquanto sentido de vidae único estímulo de convivência socialencontram terreno fértil entre ajuventude (inclusive a não árabe)superexplorada.

Se atualmente testemunhamos adecadência das condições de vida naEuropa e EUA e os ataques contra as

conquistas dos trabalhadores dessespaíses para sustentar o lucro dascorporações transnacionais, podemosperceber que no horizonte de amplascamadas da juventude só existetrabalho precarizado e violência e ondenão cabe qualquer perspectiva de vidadigna. Podemos entender tambémcomo o vazio existencial encontra namensagem rel igiosa e nofinanciamento árabe alento e sentidopara se dispor a pegar em armas e serútil à causa que pensam ter escolhido.

OS TALEBÃS E A EXPERIÊNCIA

AFEGÃO funcionamento em rede

experimentado durante a 1ª Jihad foiaperfeiçoado e a vitória contra o famosoexército soviético serviu de poderosaarma de propaganda sobre a visão demundo fundamentalista, do estadoteocrático, do ressurgimento daimposição dos costumes religiosossobre as mulheres e homossexuais. Adisponibilidade de território seguro parainstalação de campos de treinamento edoutrinação de recrutas encontrou noAfeganistão, durante cinco anos nogoverno Talebã, terreno fértil para sedesenvolver. De célula políticaorganizada em rede, a Al-Qaedatransformou-se em fonte de inspiraçãode um movimentointernacional jihadista. Sob a doutrinareligiosa fundamentalista e conectadosà rede mundial de computadores,difundiu-se a concepção de que qualquerfiel, em qualquer parte do mundo, podeser um combatente independente aserviço da visão de mundo islâmica

construída pelas monarquias daArábia Saudita, Emirados ÁrabesUnidos, Qatar e Kuait (aliados dosEUA e financiadores de redesterroristas, segundo site wikileaks).

A 2ª INVASÃO DO IRAQUE E A 2ªJIIHAD

Embora Sadam Hussein fosseconsiderado inimigopelos jihadistas, devido a sua defesa

Área entre Síria e Iraque controlada pelo Estado Islâmico

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do estado laico e adoção de costumesocidentais, a preparação da 2ª Guerrado Iraque significou a invasão da terrasagrada islâmica por infiéis ocidentais emarcou os EUA como principal inimigodo Islã, justificando o “ataquepreventivo” jihadista sobre territórioestadunidense em 2001. Começava a2ª Jihad e toda a geração nascida nadécada de noventa sofreu a influênciada espetacular ação militar em territórioestadunidense, a 2ª desde aindependência (a 1ª foi infligida porPancho Villa no início do século XX).O culto ao terrorismo fundamentalistacomo vertente política e a visão demundo islâmica fomentada pelasmonarquias árabes ganhou novo alento.

As intervenções militaresintercontinentais impulsionadas pelaGuerra Antiterror e a Doutrina do Eixodo Mal causaram, por um lado, perdasentre os quadros da Al-Qaeda, mas poroutro espalhou sementes de suas célulaspor todo o norte da África. Para imporseus interesses contra Kadhaffi, os EUApermitiram o armamento de gruposjihadistas na Líbia, e para ter influênciasobre o petróleo sírio e derrotar BasharAl Assad armaram diretamente forçasrebeldes que na prática faziam parte doantigo Exército Sírio Livre do Iraque eSíria, atualmente Estado Islâmico.

A PRIMAVERA ÁRABE, O ESTADO

ISLÂMICO E A 3ª JIHAD

Os interesses dos EUA no OrienteMédio e no norte da África semprecontaram com apoio das monarquiassunitas (5) do Golfo Pérsico, mas apartir da derrota de Saddam Husein(líder sunita, mas que não impunha oestado teocrático) e decomposição dosgovernos de coalizão que o sucederam,as monarquias sunitas intensificarama colaboração com as correntesfundamentalistas e as células herdeiras

árabes e coloquem o petróleo a serviçodas necessidades dos povos árabes; 2)aumentar a área de influência dasmonarquias sunitas, destruir toda ainfluência liberal na política e costumesárabes, impondo a Sharia. Enquantoisso, as potências imperialistas seutilizam desse pretexto para intervir naregião (ora de um lado, ora de outro),saquear as riquezas árabes, desenvolvero complexo industrial militar edisseminar o ódio entre ostrabalhadores do mundo, estimulandorivalidades religiosas.

Só a unidade entre os trabalhadoresárabes e a superação da crise dealternativa socialista promoverá oprojeto político capaz de utilizar ariqueza que brota do solo árabe paraatender às reais necessidades de seupovo, e poderá combater a miséria, odesemprego e a ignorância quealimentam o fanatismo de todas asvertentes, inclusive a religiosa. O petróleo árabe pertence ao

seu povo! Contra a barbárie

fundamentalista religiosa! Nenhuma unidade com o

imperialismo! Pela unidade da juventude

trabalhadora árabe!

Notas:(1)Forma islâmica de governo que

representaria a unidade e liderança políticado mundo islâmico, onde o Califa ocupa aposição de chefe de Estado e representa  acontinuidade da autoridade política doprofeta islâmico Maomé.

(2)Termo propagandeado pela grandemídia ocidental como “guerra santa”, masque em sua concepção original refere-se a“empenho, esforço, mediante vontadepessoal para alcançar a verdadeira fé.

(3)Movimento revivalista iniciado peloárabe saudita Muhammad Ibn Abd al-Wahhab (1703-1792); prega a purificaçãodo islamismo para devolvê-lo às suas raízesdo século VII, através de purga de práticasinovadoras.

(4)Sistema de leis religiosas islâmicaspara regular todos os aspectos da vidasocial, supostamente revelada de Deus,portanto perfeita, eterna e obrigatória paraos indivíduos e para o estado.

(5)Facção islâmica fundadana sunna, as práticas do profeta Maomé.Defende que o sucessor do profeta deve serescolhido  entre os fieis.

da rede Al-Qaeda.A crise capitalista que

estourou em 2008 na Europamandou de volta para casadezenas de milhares deimigrantes de diversos paísesnorte africanos. Essesimigrantes, que passaramtempos trabalhandoprecariamente e enviando

recursos para suas famílias, encontraramseus países como o deixaram paraemigrar. No Egito, a ditadura seguia emmais de 30 anos, desemprego, miséria,ausência de mínimas liberdadesdemocráticas e brutal repressão policialera a marca de que o petróleocontinuava enriquecendo as mesmasclasses.

O jovem tunisiano, MohamedBouazizi, que ateou fogo ao própriocorpo para protestar contra ascondições de vida, acendeu também orastilho de pólvora sob o qual estavaacomodado velhas e rígidas estruturaseconômicas, sociais e políticas domundo árabe.

Para contornar as reivindicações pormelhores condições de vida, trabalho,educação, igualdade de gêneros eliberdades democráticas,ao mesmotempo que mantêm controle sobre asriquezas petrolíferas, as monarquiasárabes se utilizaram dos sentimentosreligiosos das massas para canalizarinsatisfações e esperanças seculares.Aproveitando-se da miséria a quesubmetem a juventude árabe e do vazioexistencial provocado pelo capitalismoocidental, o jihadismo conseguecanalizar toda a insatisfação popular emnome da construção de um pretensoEstado Islâmico de fronteiras móveis,regido pela Sharia, homofóbico,machista e que utiliza a linguagem daviolência para se comunicar.

Financiado pela tributação doterritório com 8 milhões de habitantes,com a exploração do petróleo quecontrolam e com a colaboração dosreis e emires árabes, o Estado Islâmicosegue cumprindo sua dupla missão: 1)impedir que as reivindicações einstrumentos de luta dos trabalhadoressurgidos na Primavera Árabe seconsolidem, destruam o aparatorepressivo e privilégios das monarquias

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A DESAFIANTE JUVENTUDE DE HONG KONG

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Desde julho milhares de estudantesparticipam de manifestações eboicotam as aulas (não a aprendizagem)em Hong Kong para participaremativamente das decisões políticas do país.

São jovens universitários esecundaristas, a partir de 13 anos, queamargam a dura violência policial –como a que temos vivido no Brasil coma repressão às manifestações epresenciado em várias partes domundo nesses últimos tempos – masestão protagonizando a jornada delutas chamada de “Revolta do GuardaChuva” (usado pelos ativistas para seprotegerem do gás de pimenta).

Lutam contra a decisão doparlamento chinês que aprovou umamedida limitando o número decandidatos a chefe de Estado para aeleição de 2017 em Hong Kong. Nopleito poderá ter apenas dois ou trêscandidatos que, para concorrerem,deverão ter sido aprovadosanteriormente por um ComitêConsultivo, de 800 representantes desetores econômicos e sociais, instituídopelo governo da China, possivelmentecontrolados politicamente pelo governochinês.

E exigem, dentre outras pautas, ademocratização das eleições, o votodireto, o fim da corrupção nos serviçospúblicos e a renúncia do chefe deEstado de Hong Kong.

A REALIDADE QUE PRESSIONAHong Kong é uma região

administrativa da China e possui ostatus de “país com dois sistemas”. Foicolônia do Reino Unido até 1997 edevolvida para a China. A partir doacordo, a China, mantém seus órgãosde defesa e as políticas externas, masgarante a preservação em Hong Kongdo sistema econômico e do modo devida até 2047.

É considerado um dos maiorescentros financeiros internacionais epela localização geográfica é por ondepassa a maior parte das exportaçõeschinesas. No entanto, enfrenta adesaceleração da economia. De 2012para cá o crescimento do PIB vemcaindo com projeção negativa para

2014. Mais de 1 milhão de pessoasvivem na linha de pobreza, que éigual a metade dos rendimentosmédios. Os trabalhadores estãocom os salários estagnados háanos (não acompanham oaumento da inflação e nem docusto de vida). Não existem leisque regulem a jornada de trabalho,hoje de 49 horas semanais.

A maioria dos sindicatos écontrolada por forças políticas ligadasao governo chinês, mas a partir das lutasdos últimos anos têm surgido novossindicatos independentes, que sãofinanceiramente pequenos e nãoconseguem ainda a adesão suficiente detrabalhadores. Mesmo assim, aConfederação dos Sindicatos de HongKong (HKCTU), independente e comraízes no movimento operário, chamouuma greve em apoio aos protestos.

Por outro lado, na China, que nãoé comunista coisa nenhuma – onde aestatização favorece um pequeno setorda sociedade (burocracia e burguesia),a classe trabalhadora é mantida sobintensa exploração e sob controle àcusta de medidas antidemocráticas, queretiram o direito de livre organização emanifestação, também não controla osmeios de produção e de distribuição dariqueza produzida no país – o governocondena os protestos e busca fortalecero governo de Hong Kong, sobretudopara evitar que se estendam pela China,por Taiwan, Macau e Tibete. Embora,em Macau, cerca de 500 ativistas játenham se manifestado emsolidariedade aos estudantes.

A partir da repercussãointernacional e do apoio popular àsmobilizações, o governo chinês recuouna intensidade da repressão, muitoforte nas primeiras manifestações, paraevitar comparação com da violênciapolicial atual à do episódio do massacreda Praça da Paz Celestial, em 1989, masacionou a repressão “extra-oficial” dasmilícias pró-Pequim.

AS DIFICULDADES NA LUTAAlguns desses manifestantes já

haviam participado dos protestos de2012, quando mais de 100 mil

tomaram as ruas contra uma reformana Educação que alteraria o currículo,estimularia o patriotismo e implantariaum programa de Educação Moral.Ocuparam a sede do governo até aderrubada do projeto de Reforma.

Esse ano, além do enfrentamentodireto dos manifestantes com arepressão, com o governo chinês ecom o governo de Hong Kong osativistas enfrentam também problemasentre os ativistas.

Como no Brasil e em várias outrasmanifestações pelo mundo o rumopolítico, os métodos de luta, contraquem e contra o que lutar são questõesfundamentais para não corrermos orisco de seguir à direita. No caso deHong Kong parte dos ativistas nãoassume a pauta da transformação socialdo ponto de vista daqueles queproduzem a riqueza do país e quecompõem a classe trabalhadora. Algunsestão à direita e o discurso favorece adivisão e não a unidade da luta. Isso éimportante para a burguesia, que precisados estudantes e trabalhadores divididospara continuar explorando.

A Federação dos Estudantes deHong Kong (HKFS), a OccupyCentral with Love and Peace”(OCLP), Paixão Cívica e Nativists sãoorganizações que estão nos protestos.Estas duas últimas pregam o racismocontra China. A segunda é dirigida porprofessores.                E a HKFS esteveà frente e construiu o protesto – commeio milhão de pessoas e a organizaçãoda ocupação de Julho – em que 511pessoas foram presas, e  em setembrochamou uma semana de grevesestudantis em que teve apoio massivocom mais de 200 mil pessoas nas ruas.

Embora tenham organizações deesquerda anticapitalistas eantigovernistas à frente das

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manifestações, não possuem forçasuficiente para ampliar a luta para alémdas demandas eleitorais, mas agitam anecessidade de expandir e unir omovimento com greves operárias e aluta por democracia para o restante daChina e Tibete. Esse período demanifestações estudantis expressa umprocesso de lutas que inclui setoresoperários, como a greve portuária, em2013, que durou seis semanas. E se aluta se alastra as já muitas lutas dostrabalhadores chineses podem ganhamum novo impulso.

A FALTA DA ALTERNATIVA SOCIALISTANOS MASSACRA

Os estudantes universitáriosadotaram o lema “boicote às aulas, nãoà aprendizagem” e organizamconferências públicas em frente à sededo governo com professores e outrossimpatizantes fazendo as intervenções.Os que não participam ativamente dosprotestos se identificam através de fitas(amarelos apóiam o movimento, azuisapóiam a polícia e verdes são neutrosdizem amar todas as pessoas de HongKong) e organizam ações de apoio para

arrecadação de água, remédio,serviço médico, etc.

 A luta tem sido longa eárdua. E verdadeiramente serepete nas várias partes domundo com a juventude.Diferem as pautas, igualam asnecessidades.

Não consideramos a Chinacomo socialista e nemcomunista, pelo contrário, é um

país capitalista e com a burocracia estatalse apropriando, junto com a burguesia,do que é produzido pelos trabalhadorescom uma brutal exploração e controledo poder com mão de ferro.

E Hong Kong é o bom exemploda necessidade de superação docapitalista, da burocracia e danecessidade dos trabalhadoresassumirem o poder e o controle dasdecisões que dizem respeito a nossasvidas.

A luta por conquistas imediatas oudemocráticas, com toda a importância,possibilitam-nos avanços, nãotransformam as nossas vidas. Issopudemos observar, por exemplo, naexperiência da “Primavera Árabe” emque o  movimento se limitou à lutademocrática enquanto que setoresburgueses (e até do imperialismo) seapropriaram dessa bandeira econquistaram a direção política domovimento.

Com o avanço das ideias e dasorganizações de direita e fascistas –que buscam retroceder em qualquerconquista da classe trabalhadora,incentivam o racismo e a xenofobia

entre trabalhadores, dentre outrasquestões, para manter a sociedadecontrolada de cima a baixobeneficiando a burguesia – em HongKong pode-se dar algo parecido.

Em todos os momentos das últimaslutas e manifestações da juventude, emvárias partes do mundo, temos nosdeparado com as mesmas questões: Aausência da consciência de classe e deesquerda, a ausência da classe operáriacomo sujeito político desses processos,a não unidade nas lutas dasorganizações anticapitalistas,antigovernistas e antiburocráticas e aausência da alternativa socialista facilitamo trabalho para que as correntesburguesas se apresentem como direçãopara derrotar a mobilização.

Mesmo com as contradições e oslimites das lutas, a juventude no mundotem dado um novo impulso a todasessas manifestações. Somente com aslutas xs filhxs da classe trabalhadora irãoaprendendo com os seus erros e acertos,fazendo experiências com as direçõesdos movimentos para se construíremcomo vanguarda classista eindependente para dar saltos pelaconstrução de uma alternativa socialista.

É urgente que filhxs da classetrabalhadora se reconheçam comoparte da classe para que em cada açãoconsciente a dosagem de coragem,criatividade e força espalhadas pelomundo possa fazer ruir esse sistemade exploração que nos obriga adespender de toda a nossa energiacom sua barbárie.

FERGUSON: É UMA REVOLTA DA POPULAÇÃO

NEGRA E DE TODA CLASSE TRABALHADORANo dia 9 de Agosto desse ano, James

Brown – jovem negro de 18 anos –caminhava com um amigo pelas ruas dacidade de Ferguson (em Missouri,Estados Unidos), quando uma viatura dapolícia interrompeu o seu percurso.Mesmo estando o jovem desarmado esem ter reagido, o policial branco DarrenWilson o confrontou e perseguiu atécausar a sua morte, descarregando seistiros. Era dia e várias pessoastestemunharam o assassinato.

O cruel evento desembocou numa

série de manifestações em denúncia doocorrido, que se estenderam pelosúltimos meses. A polícia local, com oapoio da Guarda Nacional, vemreprimindo as mobilizações da populaçãocom gás lacrimogêneo, balas de borrachae prisões – qualquer semelhança com ademocracia brasileira não é meracoincidência.

O homicídio desse jovem não é umepisódio acidental, muito menos um casoisolado de racismo: faz parte da rotina dosEstados Unidos. Assim como acontece

no Brasil, o racismo da sociedade norte-americana se expressa de várias formas.Para trazer alguns exemplos: a cidade deFerguson tem 21 mil habitantes - a cada 3pessoas, 2 são negras. O desempregoatinge metade da juventude negra,enquanto apenas 2 a cada 10 jovensbrancos estão nessa condição. Outro dadointeressante diz respeito à composição docontingente policial: em Ferguson, éformado quase na totalidade por policiaisbrancos. Passar por baculejos fazem partedo dia a dia da juventude negra na cidade.

Trabalhadores do porto de Hong King em greve

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No ano passado, a cada 10 carros queforam parados pela abordagem policial, 9eram dirigidos por negros.

Sabemos que é preciso ir além dasaparências para entender esses fenômenos.Se nos contentarmos em enxergar aideologia e violência racistas como merosimpulsos desumanos e autoritários, sembuscar alcançar suas raízes, não saberemoscomo enfrentá-las, uma vez que o alvodo problema deixará de ser o que causa oracismo, para se tornar os indivíduos quesustentam e disseminam essescomportamentos atrozes.

A condição da população negranorte-americana possui elementos emcomum em relação à brasileira: menorformação educacional (seja no ensinofundamental ou superior), reduzidoacesso aos serviços de saúde e lazer,maiores taxas de desemprego, menoressalários e assim por diante. A ideologiaracista, por hábito, explica esses númerosatravés do que supõe ser a “maneira negrade se viver” – abstrai todos osdeterminantes sociais que rondam etorturam a população negra na atualidade.

Tal como se deu no Brasi l , apopulação negra estadunidense foicomposta por povos que foramsequestrados de suas terras natais (de1500 ao século 18), durante o processocolonizador, para realizar trabalhoforçado (fatigante, sob vigília e ameaçados senhores de escravos) e garantir odesenvolvimento econômico dasmetrópoles europeias – berço dasociedade capitalista. Não há um só paísdeste grande continente (que engloba aAmérica do Norte e a América Latina)que tenha se desenvolvido semdepender do trabalho escravo – seja deafricanos ou indígenas: essa é a históriada sociedade moderna.

Esses 11 milhões de indivíduos,arrancados da África, cumpriram papelfundamental na história de nossocontinente: sob o peso das correntes, dafome, do encarceramento, da violênciafísica e espiritual, garantiram o plenoflorescer do comércio e da indústria daEuropa. Com o trabalho nos latifúndiose nas minas, alimentavam o insaciávelestômago do capitalismo com matérias-primas, o que se traduzia numa semprecrescente produção de mercadorias pelaindústria europeia.

A população negra atravessouséculos de resistência perante os mandos

e truculências exercidas pela classebranca dominante. O fim do tráficonegreiro para os Estados Unidos se deupor volta da abolição da escravatura, queaconteceu em 1863. Como no Brasil, aomesmo tempo em que representou oimenso avanço de libertação dostrabalhadores negros das correntes dossenhores de escravos, não os livrou dodomínio da lógica que mercantiliza o serhumano, nem das piores condições devida com que podiam deparar-se naquelepaís, uma vez que seguiam sendo ossetores que enfrentavam as situaçõesmais precarizadas, de privação de direitossociais e políticos fundamentais.

A sociedade norte-americana, desdeentão, passou por uma série detransformações. Especialmente a partirde 1950, sob as bandeiras dosmovimentos feministas e antirracista, aclasse trabalhadora reuniu uma série deconquistas, como a lei que proíbe adiscriminação étnica, de gênero ereligiosa em escolas, no trabalho e emlocais públicos (antes, alguns desses eramacessíveis apenas à população branca); aaprovação da lei que garantia o direitoao voto pela população negra; e o direitoao salário igual pelas mulheres.

Todas essas vitórias devem seratribuídas às lutas coletivas dosmovimentos sociais do país – e não, comonos ensinam os livros de História, àsgrandes mentes pensantes, depersonagens políticos que sacaram ideaishumanitários da cabeça. Foram direitosconquistados a partir de necessidadescotidianas básicas dostrabalhadores, frente a umasociedade que, além de estardividida entre dominantes(que desfrutam da riquezasocialmente produzida) edominados (que disputam opão socialmente amassado),sustenta disparidadessocioeconômicas entre as

categorias que compõem estes.O ideário e comportamento racistas

– estejam eles alojados na polícia, noEstado, na classe trabalhadora oureproduzidos pela própria populaçãonegra – não podem ser entendidos comouma brutalidade que as pessoas decidem,espontaneamente, perpetrar contra umaminoria. Ele é uma expressão de umprocesso sócio-histórico – de grupos,gêneros, raças/etnias, nacionalidades etc.que enfrentam condições desiguais navida social.

Isso também nos serve pra entender,por exemplo, porque a polícia – apesarde ser apresentada como a “força públicaresponsável segurança e bem-estar dapopulação” (coisa que vemos serdesmentida a cada dia; pois cumpre opapel direto de manutenção do modo deprodução capitalista) – torna-se fonte demedo pelos setores mais desfavorecidose marginalizados da sociedade (70% dosamericanos negros sentem-seinjustiçados, quando comparam otratamento que a força policial dá aosamericanos brancos; no Brasil, umapesquisa recente revelou que 80% dapopulação teme ser torturada, se detidapela polícia).

Os trabalhadores não devem baixarsuas cabeças frente à repressão policial:quando um trabalhador negro éhumilhado, torturado e assassinado, somosderrotados, pois perdemos mais um denós. Destruir essa tirania, certamente,passa pelo germinar de uma sociedadeonde o bem-estar das pessoas não maisesteja sujeito às suas características étnicas,de orientação sexual, de gênero, nem declasse; a sociedade socialista representao projeto político que pode pôr fim aessas opressões. Hoje, no entanto, temoso imperativo de lutar contra o extermíniodos negros, LGBTs, das mulheres e deoutras minorias – as bandeiras das minoriassão bandeiras de toda a classetrabalhadora!

Protestos contra o assassinato, pela polícia, deMichael Brown, jovem negro desarmado