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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso 1 TRAÇADO DE BASE DA CALÇA F EMININA COM ELASTANO (Basic pattern’s tracing of women’s pant with elastane) Ester Koch 1 Renata Lodi 2 RESUMO O presente artigo aborda a adaptação do traçado básico da calça feminina de tecido plano para tecido com elastano, para posteriormente elaborar a modelagem de uma calça modelo jeans ajustada ao corpo. Para tanto, foi realizada uma pesquisa em livros e artigos científicos sobre o contexto histórico do jeans, bem como dos conceitos de modelagem, graduação e processo de pilotagem. Além disso, foi desenvolvida uma pesquisa experimental, onde o traçado da base da calça de tecido plano ajustada foi testada em três tecidos, com maior e menor índice de elasticidade para verificar o comportamento dos mesmos. Com os resultados da pesquisa, espera-se contribuir para o aprendizado dos estudantes de moda e trabalho dos modelista com um traçado de calça específico para tecidos planos com elastano, bem como trazer dados sobre graduação das partes/detalhes da calça feminina. PALAVRAS-CHAVE: Modelagem de calça feminina. Tecido com elastano. Graduação de calça. Calça jeans. ABSTRACT This article deals with the adaptation of the basic pattern´s tracing of women´s pant with flat fabric to fabric with elastane, to later elaborate the modeling of a jeans model pants adjusted to the body. Therefore, it was made a bibliographic research in specialized books and scientific articles about the historical context of jeans, as well as the concepts of modeling, graduation and piloting. Besides that, it was developed an experimental research, where the basic tracing of adjusted flat fabric pant was tested on three elastane tissues, with more and less elasticity index to verify their behavior. With the research results, it is hoped to contribute to the learning of fashion students and modellers work with a specific pant tracing to flat fabric with elastane in order, as well as bring data about graduation of parts/details of female pants. KEYWORDS: Modeling of women’s pant. Fabric with elastane. Graduation of pant. Jeans pants. 1 Ester Koch: Bacharel em Moda pela Universidade Feevale, acadêmica do curso de Pós-graduação em Modelagem do Vestuário 2ª Edição e modelista free lancer. 2 Renata Lodi: Tecnóloga Têxtil formada pela Universidade de Passo Fundo - UPF no ano de 2000. Experiência em processos de produção, modelagem, costura e supervisão de qualidade. Pós-graduada em Engenharia de Produção e mestre em Design pela UFRGS. Docente no curso de Moda da Universidade Feevale/RS.

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

1

TRAÇADO DE BASE DA CALÇA F EMININA COM ELASTANO

(Basic pattern’s tracing of women’s pant with elastane)

Ester Koch1

Renata Lodi2

RESUMO

O presente artigo aborda a adaptação do traçado básico da calça feminina de tecido plano para

tecido com elastano, para posteriormente elaborar a modelagem de uma calça modelo jeans

ajustada ao corpo. Para tanto, foi realizada uma pesquisa em livros e artigos científicos sobre

o contexto histórico do jeans, bem como dos conceitos de modelagem, graduação e processo

de pilotagem. Além disso, foi desenvolvida uma pesquisa experimental, onde o traçado da

base da calça de tecido plano ajustada foi testada em três tecidos, com maior e menor índice

de elasticidade para verificar o comportamento dos mesmos. Com os resultados da pesquisa,

espera-se contribuir para o aprendizado dos estudantes de moda e trabalho dos modelista com

um traçado de calça específico para tecidos planos com elastano, bem como trazer dados

sobre graduação das partes/detalhes da calça feminina.

PALAVRAS-CHAVE: Modelagem de calça feminina. Tecido com elastano. Graduação de

calça. Calça jeans.

ABSTRACT

This article deals with the adaptation of the basic pattern´s tracing of women´s pant with flat

fabric to fabric with elastane, to later elaborate the modeling of a jeans model pants adjusted

to the body. Therefore, it was made a bibliographic research in specialized books and

scientific articles about the historical context of jeans, as well as the concepts of modeling,

graduation and piloting. Besides that, it was developed an experimental research, where the

basic tracing of adjusted flat fabric pant was tested on three elastane tissues, with more and

less elasticity index to verify their behavior. With the research results, it is hoped to

contribute to the learning of fashion students and modellers work with a specific pant tracing

to flat fabric with elastane in order, as well as bring data about graduation of parts/details of

female pants.

KEYWORDS: Modeling of women’s pant. Fabric with elastane. Graduation of pant. Jeans

pants.

1 Ester Koch: Bacharel em Moda pela Universidade Feevale, acadêmica do curso de Pós-graduação em

Modelagem do Vestuário – 2ª Edição e modelista free lancer. 2 Renata Lodi: Tecnóloga Têxtil formada pela Universidade de Passo Fundo - UPF no ano de 2000. Experiência

em processos de produção, modelagem, costura e supervisão de qualidade. Pós-graduada em Engenharia de

Produção e mestre em Design pela UFRGS. Docente no curso de Moda da Universidade Feevale/RS.

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INTRODUÇÃO

Conforme Flügel (1966) desde o seu surgimento, a roupa possui três principais

finalidades: pudor, proteção e enfeite. Embora essas funções sejam muito importantes, elas

deixaram de ser únicas, visto que as roupas “não cumprem mais apenas a função histórica de

cobrir, proteger e embelezar o corpo, mas também a de desenvolver embalagens e sistemas de

embalagens vestíveis para acondicionar o corpo e, ao mesmo tempo, preservar a saúde do

corpo, sua segurança e bem-estar”. (MARTINS 2007, p. 1). Portanto, o conforto é

indispensável em qualquer artigo de vestuário, já que desde a Revolução Industrial3 as

pessoas passaram a trabalhar cada vez mais, em funções diferentes e, portanto, a vestimenta

deve proporcionar-lhes conforto e bem-estar independente do período de tempo que

permanecerão com ela ou do movimento executado.

Assim, desde o surgimento da calça jeans como roupa de trabalho, ela tornou-se uma

peça muito usada, sendo inserida no cotidiano de grande parte da população tornando-se um

artigo de moda. Além disso, passou por transformações ao longo do tempo até chegar ao

produto que encontramos nas lojas atualmente, o qual se apresenta, em sua maioria, produzido

em tecidos com elasticidade, um fator relacionado ao conforto do vestuário por propiciar

maior mobilidade e melhor vestibilidade, moldando melhor o corpo.

Em virtude disso, o presente artigo aborda o traçado da base de calça com elastano,

através da adaptação da modelagem básica da calça feminina de tecido plano para este tipo de

tecido. Percebe-se a falta de estudos acerca desse assunto, uma vez que os livros mais

utilizados em cursos de graduação e pós-graduação em modelagem ensinam o traçado básico

para tecido plano, sem fazer menção ao tecido plano com elastano. Portanto, busca-se

desenvolver um traçado de base de calça ajustada para tecido com elastano a fim de facilitar o

aprendizado dos estudantes de moda, bem como, o trabalho dos futuros modelistas, pois a

experiência na área da modelagem revela que a base de tecido plano, quando confeccionada

em tecido com elastano, necessita de ajustes. Assim, questiona-se: Como trabalhar a redução

da base de tecido plano para tecidos com elastano? Diante disso, apresenta-se como hipótese

3A Revolução Industrial iniciou no século XVIII com a invenção da máquina a vapor por James Watt e

caracterizou-se pela passagem da manufatura à produção industrial, ou seja, substituiu as ferramentas manuais

pela máquina, a energia humana pela motriz e a produção doméstica pelo sistema fabril. Estendendo-se de 1760

a 1850, causou uma grande transformação na estrutura da sociedade acompanhada de evolução tecnológica e

encerrou a transição entre o feudalismo e o capitalismo (SCHMID, 2004).

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que em virtude da elasticidade, o molde com elastano não necessita de curvas acentuadas

como a base sem elastano e, possivelmente a diminuição será maior na parte do quadril.

A pesquisa possui como objetivo geral, verificar as alterações de modelagem

necessárias para se confeccionar uma base de calça em tecido com elastano, partindo de uma

base de tecido plano. Como objetivos específicos, são propostos: descrever brevemente o

surgimento da calça jeans e os tipos de modelagens; conceituar a modelagem plana e explicar

o processo de prototipagem; pesquisar as regras de graduação das modelagens (calças) e as

medidas utilizadas pelas empresas bem como realizar uma pesquisa de campo para ver o

sistema de gradação de bolsos e braguilha adotado por algumas marcas; elaborar, a partir de

um traçado básico de calça feminina de tecido plano, uma base para tecidos com elastano,

verificando se a alteração deve ser proporcional ou se há locais com maior ajuste; desenvolver

uma calça modelo jeans utilizando a base proposta.

Analisando a classificação da pesquisa abordada por Prodanov e Freitas (2013, p. 51),

este projeto caracteriza-se como sendo de natureza aplicada, pois “objetiva gerar

conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos”. Quanto

aos objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratória, já que se encontra em fase preliminar

buscando mais informações acerca do assunto investigado. Quanto aos procedimentos

técnicos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica elaborada a partir de material já publicado

sobre o assunto principalmente em livros, artigos e dissertações; experimental porque serão

feitas amostras para a experimentação (neste caso, protótipos em tecido com elastano para o

ajuste da modelagem) e os resultados são considerados aplicáveis para o universo da pesquisa.

Outro procedimento é a pesquisa de campo, utilizada a fim de adquirir informações sobre

determinado problema para o qual se busca uma resposta, ou a comprovação de uma hipótese.

Nesse caso, o objetivo é coletar informações sobre a graduação dos detalhes das calças jeans

(bolsos e braguilha) através da medição de produtos de algumas marcas, uma vez que há

carência de material bibliográfico sobre o assunto. Já quanto à abordagem na análise dos

dados, a pesquisa é definida como qualitativa, pois não utiliza dados estatísticos como centro

da pesquisa (como é o caso da quantitativa), mas sim, a descrição dos dados coletados

retratando elementos existentes na realidade estudada.

1 SURGIMENTO DA CALÇA JEANS E TIPOS DE MODELAGENS

Como já citado anteriormente, esta pesquisa busca a adaptação da modelagem básica

da calça feminina em tecido plano para tecido com elastano e o resultado final será a

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confecção de uma calça modelo jeans. Assim, para a melhor compreensão dos fatos é

importante partir de um breve histórico referente ao surgimento da calça jeans e os tipos de

modelagens disponíveis no mercado.

Lv (2007, tradução nossa) revela que a primeira calça jeans foi desenvolvida por Levi

Strauss que ficou universalmente conhecido como o inventor do jeans. No auge da febre do

ouro, em 1853, Levi Strauss abriu sua primeira empresa em São Francisco, pois os

mineradores reclamavam que as calças de algodão rasgavam com muita facilidade e o ouro

guardado nos bolsos se espalhava quando estes “se desmanchavam totalmente”. Diante disso,

Strauss decidiu desenvolver calças mais resistentes da lona que havia trazido para vender

como lona de barraca, o que deixou os mineradores muito satisfeitos, já que as calças eram

mais resistentes. Embora alguns digam que Strauss inovou as calças para dar utilidade à lona

que não estava vendendo, estas tiveram êxito (Lv, 2007, p. 15, tradução nossa). A Figura 1

mostra os mineradores vestindo as calças de lona desenvolvidas por Strauss.

Figura 1 – Mineradores vestindo calças desenvolvidas por Levi Strauss

Fonte: LV (2007, p. 22).

Além disso, Lv (2007, tradução nossa) comenta que um alfaiate, chamado Jacob

Davis, de uma pequena loja em Nevada para o qual Levi Strauss fornecia tecidos, teve uma

grande colaboração no surgimento do jeans. Barros (1998 apud GUERREZI, 2008) confirma

esse fato ao afirmar que a ideia de desenvolver uma calça resistente para os mineradores

americanos partiu de Jacob Davis, que ao reforçá-la com rebites e botões de metal fez surgir a

calça jeans.

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Segundo Lv (2007, tradução nossa), há duas versões dessa história. Uma delas conta

que em 1860, um mineiro do acampamento de Comstock em Nevada comentou com Davis

(seu alfaiate) que as calças que usava para trabalhar nas minas de ouro sempre rasgavam. Já a

outra relata que em 1870, uma vizinha de Davis encomendou para seu marido lenhador, uma

calça mais durável. Assim, em ambas as histórias “Davis teve a ideia de reforçar os cantos dos

bolsos com rebites de cobre, que muitas vezes eram usados para fazer selas, para torná-los

mais resistentes”. (LV, 2007, p.16, tradução nossa). O autor acrescenta que em 5 de julho de

1872, Davis enviou a Strauss juntamente com uma carta, duas amostras de calças sendo uma

confeccionada em algodão branco e a outra em denim azul. Na carta ele revelava ser o

inventor das calças rebitadas, além de recomendar que a empresa dividisse a patente com ele,

fato que é também mencionado por Guerrezi (2008), afirmando que com o crescimento do

negócio surgiu a necessidade de patenteá-lo. No entanto, o fato de Davis não possuir capital,

fez com que Levi Strauss patenteasse o modelo e fornecesse os tecidos em troca de 50% dos

lucros, surgindo assim, a marca Levi´s.

Porém, o fato de se ter como prova somente “a carta de Davis e o registro de patente

para as calças rebitadas que foi concedido em 1873” (LV, 2007, p. 25, tradução nossa), deixa

dúvidas quanto a real história do nascimento do jeans, mas sabe-se que esta inicia em 1876

juntamente com o início da produção das calças rebitadas.

Acredita-se que o nome “jeans” vem de um tipo de calças reistentes chamadas de

genovês ou genes, que eram uniformes dos marinheiros da cidade portuária italiana

de Gênova. De um ponto de vista etimológico, “jean” vem da palavra italiana, “ da

genova”. Outros especialistas que realizaram estudos adicionais da palavra,

declararam que se trata da ortografia americana da palavra Genois, que se refere a

um tipo de lona. Desde o final do século XIX tem sido usado como sinônimo de

roupa de trabalho (LV, 2007, p. 26, tradução nossa).

O autor conta que Strauss se incomodava com o fato de inicialmente as calças

rebitadas serem produzidas com uma lona muito grossa, dura e desconfortável. Portanto, mais

tarde passou a confeccioná-las em sarja, um tecido azul resistente e suave vendido no

mercado europeu e fabricado em Nimes na França. Guerrezi (2008) corrobora ao afirmar que

por isso, o tecido é chamado de Sarja de Nimes, nome que foi abreviado para “denim” por ser

de difícil pronúncia para os ingleses. Lv (2007, p. 30, tradução nossa) conta que:

O brim ou jeans é um tecido de denim de algodão que é tingido em índigo com um

corante natural de origem vegetal. A tela tecida é composta por fios de urdidura

tecidos, os fios longitudinais, e fios de trama simples, os fios horizontais. Como o

índigo só podia ser tingido na superfície do fio, com o tempo e o uso, a cor ia

perdendo a intensidade. Isso fez com que aparecesse uma descoloração e uma

abrasão irregulares, dando ao tecido um estilo único.

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Já o zíper foi inventado por Whitcomb Judson em 1893 e somente em 1926 a Lee

criou a primeira calça com zíper. “As calças jeans dos homens eram abotoadas na frente

enquanto as das mulheres tinham zíper de um lado, pois era o único lugar que se considerava

aceitável” (LV, 2007, p. 40, tradução nossa). No entanto, 50 anos depois, a Lee Cooper

passou a colocar o zíper da calça feminina na parte da frente como é colocado atualmente. A

Figura 2 mostra algumas calças da época.

Figura 2– Primeiras calças com zíper

Fonte: LV (2007, p. 44)

O autor complementa que o governo federal americano escolheu a calça jeans (União

Lee) como uniforme dos soldados durante a Primeira Guerra Mundial, inclusive para as

mulheres do exército, o que tornou as calças jeans (principalmente as femininas) mais

populares após a Guerra.

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Durante a década de 1930, por causa da Grande Depressão4 os americanos passavam

as férias no Oeste Americano, já que não tinham mais condições de desfrutar das férias de

luxo na Europa. Assim diz Lv (2007, p. 42, tradução nossa):

Pouco a pouco as belas planícies do oeste Americano e os belos cowboys de jeans

que viam nos filmes foram virando atração. Os turistas também usavam calças jeans

como lembrança de sua estadia no Oeste Americano. Ao mesmo tempo, as populares

competições de equitação, também contribuiram para sua aceitação. Os

consumidores de toda a América passaram a utilizar as calças jeans como roupa

casual.

O jeans feminino foi anunciado pela primeira vez na revista americana Vogue em

maio de 1935 pela marca Levi´s com o objetivo de priorizar a estética. A partir desse

momento, a calça jeans passou a ser vista não somente como uma roupa de trabalho

resistente, mas também como uma peça “moderna e encantadora”, que passou a ser integrada

no cotidiano dos americanos como um artigo de moda (LV, 2007, p. 42, tradução nossa).

Nesse sentido, Martins (2009) destaca que, embora tenha sido tratada primeiramente

como uma peça para o trabalho, o jeans se tornou uma peça acessível e popularizada por

ícones da juventude como Marlon Brando e Elvis Presley. Catoira (2006) afirma que o jeans

não é uma peça que foi imposta à sociedade, mas sim escolhida pelos jovens, tendo um

significado próprio. Ou seja, afirma que para Valerie Steele e Ana Martinez, o jeans é o

“dispositivo da sedução-expressão” por ter se transformado “numa manifestação da cultura

individualista fundamentada no culto ao corpo e a busca de uma sensualidade teatralizada,

com ressonâncias de aspectos sexuais” (CATOIRA, 2006, p. 53). Assim, da contracultura a

peça passou a ser um produto de sucesso de grandes marcas. Hoje em dia, as calças jeans

podem ser uma peça básica, de moda, ou uma afirmação de status em dependendo da

necessidade e ocasião de uso da peça.

Atualmente existem diversos modelos de calças jeans, e para exemplificá-los, optou-se

por utilizar a marca Damyller como referência em função de apresentar, no seu site,

informações sobre os modelos que produz e ilustra com imagens. Os modelos de calça jeans

produzidos pela marca Damyller (2017) são apresentados no Quadro 1 juntamente com a

descrição.

4 Quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929.

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Quadro 1– Modelagens de calças Jeans femininas Damyller

Flare: inspirada nos

anos 1970 tem a boca

larga abrindo a partir

do joelho.

Boot cut: muito

semelhante à calça flare,

no entanto, com uma

barra menor. E segundo

Use Fashion (2017),

recebe esse nome

porque pode comportar

uma bota por baixo da

barra.

Cropped: calça mais

curta (acima do

tornozelo).

Cigarrete: calça bem

ajustada ao corpo com

comprimento até o

tornozelo, levemente

mais curta que a skinny.

Skinny: calça ajustada

ao corpo, semelhante à

cigarrete, no entanto

mais longa.

Jegging: calça muito

colada ao corpo,

vestindo como uma

legging e por isso possui

um percentual maior de

elastano.

Capri: modelo justo

que vai até a altura da

panturrilha.

Reta: calça reta a partir

do joelho, que não marca

o tornozelo.

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Jogger: calça modelo

esportivo, mais solta no

quadril sendo regulada

com amarração e mais

ajustada na barra.

Boyfriend: modelagem

solta, semelhante à calça

masculina.

Pantacourt: trata-se de uma pantalona curta, na

altura da panturrilha.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

O Quadro 1 mostra as variações nas modelagens, a partir dela verifica-se que alguns

modelos são muito parecidos diferenciando-se apenas em um pequeno detalhe. A Damyller

apresenta os modelos de calças que produz atualmente seguindo as tendências de moda, sendo

estes, os principais modelos em jeans, no entanto, no site Use Fashion (2017) além destes, o

glossário de moda apresenta outras denominações de calças tais como: bag, cargo, cenoura,

cullote, five pockets (jeans tradicional de cinco bolsos, criado por Levi Strauss), fuso,

montaria, odalisca e pantalona. Essa pesquisa será útil para a escolha do modelo a ser

produzido como resultado final deste trabalho, que será uma calça reta. Assim apresentados os

fatos históricos e os principais tipos de modelagens de calças jeans femininas disponíveis no

mercado atual, parte-se para o estudo das etapas do processo produtivo que envolve a

modelagem, prototipagem e graduação.

2 MODELAGEM E PROTOTIPAGEM DE VESTUÁRIO

O desenvolvimento do vestuário envolve diversas etapas desde a criação do produto

até a produção do mesmo, seja em pequena ou grande escala e, dentre elas, está a modelagem.

Jones (2005 apud MENEZES; SPAINE, 2010, p. 2) define a modelagem como uma técnica

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que atende às “necessidades de conforto, durabilidade e funcionalidade do produto”, a qual

resulta em moldes com as “formas e medidas do corpo humano” de acordo com o modelo

criado e proposto pelo designer. Saltzman (2004, p. 85 apud MARIANO, 2010, p. 8)

complementa essa definição salientando que:

O design da vestimenta compreende uma série de passos de natureza construtiva. O

usual é que o desenho seja traduzido ao plano (processo que conhecemos como

modelagem), para logo riscar o tecido, cortá-lo e unir as partes que configuram o

volume. A modelagem é um processo de abstração que implica traduzir as formas do

corpo aos termos de uma superfície têxtil. Esta instância requer colocar em relação

um esquema tridimensional, como o corpo, com um bidimensional, como o tecido.

Para Heinrich (2005), a modelagem consiste na compreensão do funcionamento do

corpo humano, sua anatomia e biomecânica, além da movimentação dos músculos e

articulações. Menezes e Spaine (2010, p. 2) destacam que “a modelagem consiste numa

atividade voltada para a planificação da roupa a fim de viabilizar a produção em escala

industrial”. De acordo com Osório (2007, p. 17) “a arte de modelar roupas femininas faz parte

do processo de construção de blocos geométricos anatômicos que têm como objetivo

reproduzir, no tecido, a forma do corpo considerando a estrutura do tipo físico feminino”.

Já para Borbas e Bruscagim (2007, p. 156) “a modelagem é uma arte de medidas

proporcionais”. As autoras comentam que para a modelagem atender às necessidades dos

consumidores, não basta que o modelista conheça apenas as medidas corporais, são

necessárias noções de ergonomia, que segundo Couto (1995 apud SILVEIRA; SILVA, 2008,

p. 4) é “um conjunto de ciências e tecnologias que procura a adaptação confortável e

produtiva entre o ser humano e seu trabalho, basicamente procurando adaptar as condições de

trabalho às características do ser humano”. Para Silveira (2008, p. 25) “a ergonomia num

sentido mais amplo estuda os critérios necessários para adaptar o ambiente e os produtos às

características humanas”.

Nesse sentido, Martins (2006 apud MENEZES; SPAINE, 2010, p.2) afirma que:

[...] assim como a pele está geneticamente adaptada ao corpo cumprindo as suas

funções básicas e fundamentais; da mesma forma, o vestuário deve ser uma segunda

pele que cobre o corpo, mas que precisa ser reconhecida e adaptada para os

diferentes usuários em suas diferentes acepções.

Borbas e Bruscagim (2007) comentam que para obter uma modelagem mais

qualificada, é importante considerar os movimentos realizados pelos indivíduos, conhecer e

valorizar a simetria, a forma e postura, ou seja, saber valorizar os diferentes biótipos do

público-alvo, a fim de que a roupa seja adequada a cada um deles. As autoras salientam ainda

que o modelista deve ter conhecimento prático para que seja capaz de visualizar o efeito na

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roupa. Além disso, o tipo de material e a qualidade do mesmo devem ser considerados no

desenvolvimento da modelagem (SALTZMAN, 2004 apud BORBAS; BRUSCAGIM, 2007),

uma vez que de acordo com Silveira (2008), o caimento e a forma de um modelo variam de

acordo com o tipo de tecido, por isso, diversas vezes não proporcionam o efeito visual e o

caimento desejado.

Segundo Osório (2007), a técnica de modelagem conhecida como drafting consiste na

modelagem bidimensional, a qual é denominada por Heinrich (2005) de modelagem plana.

Marinho e Rocha (2009, p. 2) destacam que “a modelagem plana é um trabalho que envolve

precisão, uso de proporção e habilidade de desenho, no qual se representa de forma

bidimensional um efeito de três dimensões, ajudado por princípios de geometria”. Essa ideia é

reforçada por Heinrich (2005, p. 17) ao salientar que:

A modelagem plana é uma técnica utilizada para reproduzir, em segunda dimensão,

no papel, algo que será usado sobre o corpo humano, em tecido ou similar, de forma

tridimensional. Esta modelagem pode ser utilizada para confeccionar uma peça de

roupa apenas, ou para produção em grande escala, como acontece na confecção

industrial de pequeno, médio ou grande porte.

A tabela de medidas deve ser adaptada de acordo com as medidas antropométricas5 do

público-alvo da empresa, no entanto, conforme Silveira (2008), muitas empresas utilizam

tabelas prontas cujas medidas não coincidem com o seu público, o que pode tornar o projeto

inviável.

Já Duarte e Saggese (2008) enfatizam que as bases da modelagem plana são traçadas a

partir da tabela de medidas, a qual varia de acordo com cada empresa, assim como as folgas e

os efeitos desejados na peça. Além disso, a tomada de medidas é feita rente ao corpo, sem

considerar folgas ou margem de costura, ou seja, estas devem ser acrescentadas no momento

da interpretação do modelo. Heinrich (2005, p. 17) reforça essa ideia destacando que:

A anatomia e os padrões corporais variam de uma região para a outra, sendo

necessário fazer pesquisas para conhecer o público alvo consumidor de cada

empresa e adaptar as tabelas de medidas utilizadas na construção dos moldes, a fim

de satisfazer a clientela e obter sucesso nas vendas.

Assim, como relatam Fulco e Silva (2003, p. 12), as bases de modelagem possuem as

medidas do corpo, para que se tenha uma noção das formas corporais, “o que nos facilitará a

eleger o valor das folgas e acréscimos necessários à modelagem de acordo com o modelo

apresentado”. Os autores salientam que os traçados básicos de modelagem são utilizados

5 A antropometria é “uma ciência que estuda as medidas do corpo humano, os volumes, as formas, seus

movimentos e articulações” (SILVEIRA, 2008, p. 27).

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como base para a interpretação de qualquer modelo, ou seja, é possível acrescentar folgas,

transferir pences, criar recortes, enfim, dar a aparência desejada à peça.

Osório (2007) define o processo de interpretação de modelagem como a viabilização

do desenho de moda (criado pelo designer) transformando blocos de moldes, ou seja,

modificando os blocos básicos através da construção de partes de molde de acordo com as

características de um desenho específico, o que resultará na confecção de uma peça de

vestuário. Duarte e Saggese (2008) destacam a responsabilidade do modelista, portanto,

consideram a montagem da peça-piloto (ou protótipo) extremamente importante a fim de

validar a modelagem.

Para Fulco e Silva (2003), a primeira peça produzida de determinado modelo é

chamada de peça-piloto, cuja modelagem é executada conforme as medidas do tamanho base

da tabela de medidas da empresa, e uma pessoa com tais medidas, chamada de modelo de

prova, experimenta a peça a fim de verificar se o caimento, a forma e o tamanho estão

corretos. Aldrich (2014, p. 10) aponta que “as peças-pilotos são os protótipos produzidos das

roupas para que o designer possa conferir e refinar tanto o molde quanto a construção da

peça”.

Heinrich (2005) comenta que existe uma sequência de etapas a serem seguidas durante

a aplicação das técnicas de modelagem que resultarão no molde final, ou seja, na peça de

vestuário. A sequência inicia com o traçado dos moldes básicos – ou caixas de modelagem, ou

ainda blocos geométricos, como são chamados por Osório (2007) –, conforme as medidas da

tabela elaborada pela empresa de acordo com o seu público alvo, seguido das interpretações,

isto é, as alterações realizadas no molde básico. Depois confecciona-se o protótipo, a fim de

testar a modelagem, que caso esteja correta, será graduada de acordo com a tabela de

medidas. Já Duarte e Saggese (2008) relatam que a pilotagem é necessária, pois somente

depois da aprovação é realizada a graduação6 dos demais tamanhos a serem confeccionados.

Fulco e Silva (2003) acrescentam que caso algum ajuste seja necessário, as marcações

devem ser feitas na própria peça durante a prova para que depois as correções sejam feitas na

modelagem. Para conferir se os ajustes da modelagem estão corretos, os autores sugerem a

confecção de um novo protótipo, o qual após ser aprovado, será graduado. Portanto, a

prototipagem serve para verificar a vestibilidade e o caimento da peça no corpo, bem como, se

6 Graduação: termo utilizado pelos livros para ampliação e redução de moldes. Segundo o dicionário Priberam

(2017), graduação significa escala, mas também se refere à colação de grau, portanto, alguns autores estão

passando a usar o termo gradação para se referir a ampliação de moldes.

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

13

esta atingiu o efeito esperado pelo criador, o qual Osório (2007, p. 19) chama de

“performance da roupa”.

Diante disso, percebe-se a importância da prototipagem para verificar e validar a

modelagem, uma vez que descobrir o erro durante a produção após um lote já cortado, seria

um enorme prejuízo para a empresa, pois dependendo dos ajustes necessários, as peças

cortadas não poderão ser aproveitadas necessitando de um novo corte. Além disso, nesse caso,

não somente um único molde precisará de ajustes, mas toda a grade de tamanhos, o que

também resultará em prejuízos em função do tempo e da mão-de-obra gastos para fazer os

ajustes em todas as peças graduadas.

2.1 GRADUAÇÃO DE MOLDES

Heinrich (2005, p. 153) define a graduação ou escala de tamanhos como “o processo

de aumento ou diminuição de moldes, partindo-se do molde do protótipo ou da peça-piloto já

aprovado”. Aldrich (2014, p. 208) menciona que para graduar as modelagens, são necessárias

informações para determinar os tamanhos, tais como tabela de medidas e ficha técnica. A

tabela de medidas, como já mencionado anteriormente, é própria de cada empresa de acordo

com as medidas corporais de seu público-alvo.

Segundo Aldrich (2014), as regras de graduação podem ser em milímetros (mm) ou

em centímetros (cm), as quais geralmente são calculadas a partir da tabela de medidas. A

maioria das grandes empresas utiliza sistemas computadorizados (CAD)7 para realizar a

graduação, em função da agilidade em relação ao método manual. Mesmo com essa

tecnologia, ainda há empresas que desenvolvem a modelagem manualmente, em seguida,

digitalizam seu contorno para então fazer a graduação no sistema. Embora os métodos sejam

diferentes, ambos, manual e computadorizado, adotam uma tabela de medidas como guia. A

graduação manual requer mais tempo, porém a graduação em sistemas de computador,

embora seja muito mais rápida requer investimentos com softwares especializados e

geralmente as pequenas empresas (iniciantes no mercado) não dispõem de capital financeiro

para isso. A Figura 3 mostra a graduação calculada a partir de uma tabela de medidas.

7 CAD é a sigla da expressão inglesa Computer Aided Design (projeto assistido pelo computador). Trata-se de

um software para facilitar a realização de projetos e desenhos.

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

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Figura 3– Graduação da calça

Fonte: Elaborado pela autora (2017) a partir de Heinrich (2005).

A Figura 3 (apresentada acima) mostra como as medidas das tabelas são aplicadas no

molde para a realização da graduação. A diferença de medida de um tamanho para o outro é

aplicada no local a ser graduado. Durante a pesquisa bibliográfica notou-se que há diferenças

entre os pontos de medidas de cada autor, uns apresentam mais pontos que outros, sendo

assim, algumas tabelas são mais completas. Faltam por exemplo, medidas de altura de joelho,

bem como circunferência de joelho e de tornozelo, sendo que as duas últimas são

fundamentais para realizar a graduação. O Quadro 2 apresenta um comparativo realizado com

as tabelas de medidas dos autores Heinrich (2005), Duarte e Saggese (2008), Fulco e Silva

(2003), Cavalheiro e Silva (2004) e Senai (Apostila, 2000). Foram selecionados estes autores

como bibliografia, visto que são os mais utilizados pelos cursos de moda na região da Grande

Porto Alegre.

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

15

Quadro 2 – Comparativo de tabelas de medidas para calças

MEDIDAS PARA MODELAGEM PLANA FEMININA

HEINRICH (2005)

DUARTE E SAGGESE (2008)

TAMANHOS 36 38 40 42 44 46 ≠ 36 38 40 42 44 46 ≠

MEDIDAS

Cintura 62 66 70 74 78 82 4 60 64 68 72 76 80 4

Quadril 86 90 94 98 102 106 4 88 92 96 100 104 108 4

Altura do quadril 18 18 18 20 20 20 2 20 20 20 20 20 20 0

Altura do gancho 22,4 23,2 24 24,8 25,6 26,4 0,8 25 25,5 26 26,6 27 27,5 0,5

Altura do joelho 59 59,5 60 60,5 61 61,5 0,5 - - - - - - -

Circunf. joelho - - - - - - - - - - - - - -

Circunf.

Tornozelo - - - - - -

- 34 35 36 37 38 39 1

Comp.calça 99 100 101 102 103 104 1 100 101 102 103 104 105 1

FULCO E SILVA (2003)

CAVALHEIRO E SILVA (2004)

TAMANHOS 36 38 40 42 44 46 ≠ 36 38 40 42 44 46 ≠

MEDIDAS

Cintura 60 64 68 72 76 80 4 62 66 70 74 78 82 4

Quadril 88 92 96 100 104 108 4 88 92 96 100 104 108 4

Altura do quadril 20 20 20 20 20 20 0 - - - - - - -

Altura do gancho 24,5 25,25 26 26,75 27,5 28,25 0,75 24 24 25 25 27 27 1 - 2

Altura do joelho - - 58 - - - - 56 56 58 58 60 60 2

Circunf. joelho - - 44 - - - - - - - - - - -

Circunf.

Tornozelo - - 40 - - - - - - - - - - -

Comp.calça 98 99 100 101 102 103 1 100 100 105 105 110 110 5

SENAI (Apostila, 2000)

ABNT - NBR 13377 (1995)

TAMANHOS 36 38 40 42 44 46 ≠ 36 38 40 42 44 46 ≠

MEDIDAS

Cintura 60 64 68 72 76 80 4 60 64 68 72 76 80 4

Quadril 88 92 96 100 104 108 4 - - - - - - -

Altura do quadril 19 20 21 22 23 24 1 - - - - - - -

Altura do gancho 21 22 23 24 25 26 1 - - - - - - -

Altura do joelho - - - - - - - - - - - - - -

Circunf. joelho 36 38 40 42 44 46 2 - - - - - - -

Circunf.

Tornozelo 28 30 32 34 36 38 2 - - - - - - -

Comp.calça 103 104 105 106 107 108 1 - - - - - - -

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

16

O Quadro 2 mostra que as medidas de cintura e quadril variam de 4 em 4 cm para

todos os autores pesquisados. Porém, Heinrich (2005) apresenta uma medida de cintura igual

a de Cavalheiro e Silva (2004) e 2 cm maior do que a dos demais autores, enquanto o quadril

é 2 cm menor do que a medida dos outros autores. Já a altura do quadril, de acordo com a

maioria dos autores, se mantém a mesma para todos os tamanhos, Heinrich (2005) mostra

variação de 2 cm a cada três tamanhos, Cavalheiro e Silva (2004) não apresentam esta medida

e o Senai (Apostila, 2000), varia 1 cm para cada tamanho.

A altura do gancho possui grande variação entre os autores, tanto nas medidas como

na gradação. Essa diferença pode variar de 0,5 cm a 1 cm para cada tamanho dependendo do

autor e Cavalheiro e Silva (2004) sugerem um aumento de 1 cm a cada dois tamanhos até o

tamanho 42 e 2 cm a partir deste tamanho. Heinrich (2005) utiliza uma medida de gancho de

22,4 cm para o tamanho 36 aumentando 0,8 cm para cada tamanho, enquanto Senai (Apostila,

2000) utiliza 21 cm e amplia de 1 em 1 cm. Assim, enquanto nas tabelas destes dois autores o

tamanho 36 possui uma diferença de medida de gancho de 1,4 cm, o tamanho 46 possui

apenas uma diferença de 0,4 cm.

A altura do joelho não consta nas tabelas de todos os autores. Dos que apresentam,

enquanto Heinrich (2005) aumenta 0,5 cm a cada tamanho Cavalheiro e Silva (2004)

aumentam 2 cm a cada dois tamanhos, porém, uma pessoa vestir um tamanho maior não

significa que ela seja mais alta do que aquela que veste tamanhos menores. Fulco e Silva

(2003) apresentam apenas a medida de altura de joelho do tamanho 40 – tamanho do traçado

do molde básico –, não demonstrando como se dá a variação para os demais tamanhos, o que

dificulta a gradação seguindo as orientações deste livro. Em relação à medida de joelho,

apenas Senai (Apostila, 2000) apresenta a variação de medidas da circunferência do joelho

que é de 2 cm. Fulco e Silva (2003) mencionam apenas a medida do tamanho 40 para

circunferência de joelho e tornozelo, não demonstrando como se dá a variação para os outros

tamanhos.

Sobre a medida do tornozelo, Duarte e Saggese (2008) apresentam a circunferência do

mesmo sugerindo um aumento de 1 cm para cada tamanho e Senai (Apostila, 2000), sugere

que se aumente 2 cm. Salienta-se que essa região não possui um aumento de tamanho

proporcional ao restante da perna, já que o maior aumento de volume se dá nas regiões de

abdômen, quadril e coxas.

Quanto as medidas de comprimento de calça para a maioria dos autores este varia 1

cm de um tamanho para o outro, ao passo que Cavalheiro e Silva (2004) sugerem um aumento

de 5 cm a cada dois tamanhos, o que destoa demais já que para este autor a variação de

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17

comprimento foi de 10 cm em cinco tamanhos e para os demais é de apenas 5 cm. Sabe-se

que existem pessoas baixas que vestem tamanhos grandes e altas que vestem tamanhos

pequenos, ou seja, vestir um tamanho maior de calça não significa um comprimento de pernas

10 cm maior. Portanto, falta uma tabela de padronização de medidas ou consenso entre os

autores para que não ocorram diferenças tão grandes de um autor para o outro.

Através desta pesquisa bibliográfica sobre tabelas de medidas, foi possível verificar a

falta de material acerca da graduação de detalhes, como bolsos e braguilha de calças, já que os

livros apresentam apenas as medidas para ampliação e redução do corpo/da base. Foram

encontradas anotações em uma apostila do Senai, utilizada nos cursos no ano de 2000, mas

que não possui referência de ano nem referência bibliográfica, portanto, não se sabe com base

em que ela foi elaborada. A Figura 4 mostra estas anotações.

Figura 4 – Medidas de bolsos traseiros de calça

Fonte: Apostila Senai, 2000.

Nestas anotações é sugerida uma largura de bolso de 13,5 cm para os tamanhos 36, 38

e 40; de 14 cm para 42 e 44; de 14,5 cm para os tamanhos 46 ao 52 e 15,5 cm para o 54 ao 66.

Assim, a gradação do bolso traseiro é a cada três, dois, quatro e sete tamanhos

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

18

consecutivamente, aumentando 0,5 cm nos três primeiros tamanhos e 1 cm para o último

tamanho. Ou seja, no intervalo de 16 tamanhos de calças há quatro tamanhos de bolsos, no

entanto, faltam as medidas de altura dos bolsos, além das medidas dos bolsos da frente.

Diante disso, foi realizada uma pesquisa de campo para verificar a forma como

algumas marcas graduam a braguilha e os bolsos das calças e quais medidas de largura e

altura utilizam. As medidas foram coletadas conforme a Figura 5.

Figura 5 – Coleta de medidas dos bolsos das calças Jeans

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A pesquisa foi realizada em Novo Hamburgo no Outlet I Fashion no dia 21 de

fevereiro de 2017, nas lojas Levi’s, Diesel e Tok, através da medição de altura e largura de

bolsos e altura de braguilha de um modelo de calça de cada marca que possuía uma grade de

tamanhos disponível na loja. A marca Levi’s possui uma grade de tamanhos do 36 ao 46, a

Tok, do 34 ao 44 e a Diesel do 34 ao 42. A pesquisa das marcas Voox, com grade de

tamanhos do 36 ao 44 e Miss Blue, do 34 ao 48, foi realizada no dia 22 de março de 2017 nas

lojas Movimento Fashion e Miss Blue de Ivoti. As medidas são apresentadas no Quadro 3.

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

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Quadro 3 – Pesquisa de campo para gradação de bolsos e braguilha de calças

MARCA 1: LEVI’S MARCA 2: DIESEL MARCA 3: TOK

Bolso

frente

Bolso

costas Braguilha

Bolso

frente

Bolso

costas Braguilha

Bolso

frente

Bolso

costas Braguilha

34 - - - 9 x 6 14 x 13 10 7,5 x 6,5 13 x 14 10

36 11 x 6 14 x 13 7 10,5 x 6 15 x 13 10,5 8 x 6,5 13 x 14,5 10

38 11 x 6 14 x 13 8 10,5 x 7 16 x 14 10,5 9 x 6,5 13,5 x 14,5 11,5

40 11 x 6 15 x 14 9 11 x 7 16 x 15 11 9,5 x 6,5 14 x 14,5 11,5

42 12 x 6 16 x 15 10 11 x 7,5 16 x 15 11 10 x 6,5 14 x 15,5 12

44 12 x 6 15 x 15 11 - - - 10 x 6,5 14 x 15,5 12,5

46 12 x 6 16 x 15 12 - - - - - -

MARCA 4: VOOX MARCA 5: MISS BLUE

Bolso

frente

Bolso

costas Braguilha

Bolso

frente

Bolso

costas Braguilha

34 - - - 10,6 x 7,1 12,6 x 14 9

36 11 x 7,5 13 x 13,5 12 10,8 x 7,3 12,6 x 14 10

38 11 x 7,5 13 x 13,5 13 11 x 7,5 14 x 15 11

40 11,5 x 8 13,5 x 14 14 11,2 x 7,7 14 x 15 11

42 11,5 x 8 14 x 14 14,5 11,4 x 7,9 14 x 15 12

44 12 x 8 14 x 14 16 11,6 x 8,1 15,4 x 16 12

46 - - - 11,8 x 8,3 15,4 x 16 13

48 - - -- 12 x 8,5 15,4 x 16 15

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Analisando o quadro elaborado a partir das informações coletadas durante a pesquisa

de campo, verificou-se que as medidas de bolsos e braguilha utilizadas pelas marcas

selecionadas são diferentes, assim como, o método de ampliação e redução, o que demonstra

que não é seguido um padrão. O tamanho dos bolsos é uma questão estética/visual, que cada

marca realiza conforme proposta da peça e, quanto à gradação, faz a ampliação ou redução da

forma que achar mais coerente. No entanto, percebe-se que a ampliação do bolso traseiro

geralmente é feita a cada dois ou três tamanhos a fim de otimizar a produção, pois fazendo a

gradação para cada tamanho a diferença de medidas seria muito pequena, não compensando

para a produção, trabalhar com tantos gabaritos. Pelo fato do bolso da frente ser apenas

costurado, este não exige tanta mão-de-obra, portanto, uma das marcas pesquisadas faz a

ampliação para todos os tamanhos. Deve-se considerar que algumas das medidas podem estar

com variação devido à margem de erro de costura. Vale ressaltar que todas as calças têm um

cós de 4 cm de largura, exceto a marca 4 (Voox) que o cós tem 4,5 cm; a braguilha foi medida

a partir da primeira linha do pesponto até o início do cós; e os ganchos das calças da marca 4

(Voox) são altos atingindo a cintura e das demais marcas são médios.

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

20

A marca 5 (Miss Blue) faz a gradação da braguilha de 1 em 1 cm, porém a braguilha

dos tamanhos 38 e 40 têm a mesma medida (como mostra o Quadro 3), assim como dos

tamanhos 44 e 46. A braguilha do tamanho 48 aumenta 2 cm p ara se enquadrar nos tamanhos

de zíper de metal disponíveis no mercado. Conforme o Quadro 3, as braguilhas aumentam 0,5

cm; 0,8 cm ou 1 cm a cada tamanho ou então 1 cm a cada dois ou três tamanhos.

Diante disso, percebe-se que enquanto a graduação dos bolsos varia apenas de 1 cm a

2,5 cm no intervalo de 6 tamanhos, o quadril aumenta 20 cm. Isto explica o fato das calças de

tamanhos menores serem esteticamente mais atrativas, já que o tamanho dos bolsos deve ser

proporcional ao tamanho da calça a fim de harmonizar a estética da peça.

Diante destas informações abordadas, percebe-se a importância de cada empresa

possuir uma tabela de medidas específica de acordo com as medidas de seu público-alvo para

o traçado do molde, bem como uma modelo de prova que se enquadre nessas medidas para

experimentar o protótipo e validá-lo, a fim de que a graduação seja feita após os ajustes da

peça e a correção do molde. A seguir será realizado o experimento partindo do traçado básico

da calça anatômica para modelagem plana proposto por Koch (2016), a qual será traçada no

tamanho 38 e adaptada para tecido plano com elastano para no final, ser confeccionada uma

calça modelo jeans.

3 TRAÇADO DA BASE DE CALÇA FEMININA PARA TECIDO COM

ELASTANO

Na parte experimental da pesquisa são desenvolvidas as modelagens e protótipos que

visam uma proposta de base de calça anatômica8 para tecido plano com elastano. O método

utilizado para realizar o experimento partiu do passo a passo da base de calça anatômica

desenvolvido por Koch (2016).

Antes de iniciar o traçado da base da calça anatômica tamanho 38, foi necessário

coletar as medidas da modelo de prova, as quais foram obtidas seguindo os métodos de

medição sugeridos por Fulco e Silva (2003) para obtenção de medidas de cintura e quadril e

Duarte e Saggese (2008), para as demais medidas. As medidas da modelo de prova – a própria

pesquisadora – são apresentadas no Quadro 4 juntamente com as medidas das tabelas dos

livros e do artigo utilizado, apenas para fins de comparação.

8 Anatômico: Segundo o Dicionário Criativo (2017) é relativo à anatomia, que se adapta as forma do corpo

humano.

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

21

Quadro 4- Comparação de medidas

PONTO DE

MEDIDA MEDIDAS

MODELO

Fulco e Silva

T. 38

Cavalheiro

e Silva

T. 38

Saggese e

Duarte

T. 38

Koch

T. 38

Cintura 64 64 66 64 64

Quadril 92 92 92 92 92

Altura do quadril 20 20 - - 20

Altura do gancho 28 24,5 24 25 28

Coxa alta 52 - - - 50

Coxa média 44 - - - 40,5

Altura do joelho 56 - 56 - 67

Circinf. Joelho 38 - - - 36

Comp. Calça 95 99 100 101 108

Circinf. tornozelo 29 - - 34 32

Fonte: Elaborado pela autora (2017)

O Quadro acima apresenta as medidas da modelo de prova, bem como as medidas do

tamanho 38 apresentadas nos livros e no artigo. As medidas utilizadas no traçado da

modelagem estão destacadas em negrito. Verificou-se que os três livros utilizados assim como

o artigo, apresentam a mesma medida de quadril da modelo de prova (92 cm), já a medida da

cintura também se iguala á da modelo (64 cm), exceto no livro de Cavalheiro e Silva (2004)

onde a medida é maior. A altura do quadril é apresentada apenas nas tabelas de Fulco e Silva

(2003) e no artigo de Koch (2016), mas também confere com a medida da modelo (20 cm). A

altura de gancho que consta nos livros é muito baixa para a modelo, ou seja, não atingiria a

cintura, portanto, foi utilizada a medida do artigo (KOCH, 2016) por coincidir com a da

modelo (28 cm), além da circunferência de tornozelo (32 cm) por ser a mais próxima.

O comprimento da calça foi retirado do livro Cavalheiro e Silva (2004), por ser a

medida intermediária dos livros (100 cm) além de não interferir no resultado deste estudo e a

altura de joelho por ser idêntica a da modelo (56 cm). Já as demais medidas referentes a coxa

alta (52 cm), coxa média (44 cm) e circunferência de joelho (38 cm) foram utilizadas as

medidas da própria modelo pelo fato de não constarem nos livros e não se encaixarem nas

medidas que constam no artigo.

Utilizando estas medidas e seguindo o passo a passo da calça anatômica (KOCH,

2016), mostrado na Figura 6, foi traçada a base de tamanho 38.

Page 22: ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de

ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

22

Figura 6 – Diagrama do traçado da base anatômica

Fonte: Koch, 2016, p. 18.

Após o traçado da base, os moldes foram recortados e iniciou-se o processo de risco,

corte e costura dos protótipos, para posterior prova na modelo.

3.1 EXPERIMENTOS, DISCUSSÕES E RESULTADOS

Ao desenvolver uma modelagem para tecido com elastano é necessário verificar o

índice de elasticidade do tecido, ou seja, ver o quanto ele aumenta de tamanho ao ser

tracionado a fim de calcular o percentual de redução que deve ser aplicado às medidas do

molde. Porém, das bibliografias consultada a maioria aborda tecidos de malharia circular que

são de alta elasticidade e não realizam os testes ou comentam sobre tecidos planos. As

bibliografias consultadas são os sites MIB – Modelagem Industrial Brasileira (2008), Santana

(2014) e Textile Industry (2015).

Segundo MIB (2008), Santana (2014) e Textile Industry (2015) para calcular o

percentual de elasticidade do tecido deve-se fazer uma marcação de 10 cm em um papel,

dobrar um pedaço da malha ao meio (no sentido horizontal), marcar os 10 cm no tecido com o

Page 23: ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de

ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

23

auxílio de alfinetes e esticar a malha “de forma moderada” – o que pode variar de pessoa para

pessoa que realizar o teste – a fim de verificar quantos centímetros ultrapassa da medida

indicada. Se ultrapassar 2 cm, ou seja, se atingir a medida de 12 cm, o percentual será 20%,

como mostra a Figura 7.

Figura 7 – Índice de elasticidade do tecido

Fonte: MIB – Modelagem Industrial Brasileira (2008).

Santana (2014) e Textile Industry (2015) sugerem que se a medida atingir 12 cm, o

tecido possui baixa elasticidade, nesse caso, deve ser utilizada a tabela de medidas para tecido

plano. Caso a medida atinja de 13 a 18 cm, deve ser utilizada a tabela de medidas para malha

de média elasticidade e acima de 18 cm a tabela para malha de alta elasticidade. O site da

Textile Industry (2015) apresenta tabelas de medidas para malha de média e alta elasticidade,

assim como tabelas de medidas de redução para malha feminino adulto e infantil.

Outra técnica encontrada para modelagem de tecidos com elasticidade sugerida por

Santana (2014) é a multiplicação da medida – do corpo ou do molde de tecido plano – por 0,8

para tecidos com muita elasticidade; 0,9 no caso de tecidos com média elasticidade e por 0,95

quando o tecido tiver pouca elasticidade.

Pelo fato de não haver nenhum trabalho abordando tecidos planos com elastano,

optou-se pelo processo inverso, ou seja, descobrir o percentual de redução após o ajuste da

peça no corpo. Normalmente se calcula o percentual de redução e se desenvolve a modelagem

com as medidas já reduzidas, no entanto, neste caso, optou-se por desenvolver a modelagem

com as medidas que seriam utilizadas para tecido plano e, ajustar o protótipo no corpo da

modelo para depois passar os ajustes para a modelagem. A partir do molde ajustado,

Page 24: ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de

ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

24

verificou-se o índice de redução e realizou-se a comparação com o indicado na literatura. Este

processo será explicado com detalhes na sequência.

Portanto, finalizado o molde básico tamanho 38, o mesmo foi riscado em um tecido

com composição 80% algodão, 17% poliéster e 3% elastano, utilizando uma caneta

esferográfica preta de ponta fina para evitar que a marcação interfira nas medidas. As linhas

de gancho, coxa alta, coxa média, joelho e fio do tecido, foram traçadas na peça a fim de

facilitar o ajuste no corpo. Após o corte, o protótipo foi costurado e experimentado na modelo

de prova. A peça foi analisada, fotografada e ajustada no corpo da modelo.

Optou-se por fazer uma calça modelo reta, já que pelo fato de ser reta a partir da linha

do joelho proporciona melhor vestibilidade adaptando-se inclusive a corpos que possuem uma

medida maior de circunferência de joelho e tornozelo. A modelo de prova está com a cintura

marcada por uma fita, a fim de verificar se calça atingiu a linha da cintura, o que ocorreu,

visto que a fita não aparece na imagem. O resultado é apresentado na Figura 8, juntamente

com os ajustes necessários.

Figura 8 – Primeiro protótipo da calça (Frente e Costas)

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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ESPECIALIZAÇÃO EM MODELAGEM DO VESTUÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso

25

Verifica-se a partir da imagem que a calça ficou folgada, principalmente na região do

quadril, já que este apresenta uma curvatura maior na modelagem para tecido plano e o tecido

utilizado possui 3% de elastano. A calça ficou larga do joelho para baixo em função da

medida para tecido plano ser coletada com o joelho dobrado para permitir o movimento, uma

vez o tecido plano necessita de folga, o que não ocorre no tecido com elastano já que este

permite movimento mesmo sendo ajustado. Na parte do tornozelo acontece o mesmo, pois a

medida para tecido plano deve ser obtida passando a fita métrica pelo calcanhar para que o pé

passe na boca da calça e no tecido com elastano não há necessidade disso. A cintura ficou

larga em função da diferença de medida de cintura e quadril da modelo de prova ser de 28 cm,

o que acaba gerando uma curva muito acentuada.

A calça foi ajustada no corpo da modelo e verificou-se, conforme apresenta a Figura 8,

que ela necessitou de 1 cm de ajuste em cada lateral na região da cintura e 1 cm no centro das

costas, totalizando 6 cm e 1,5 cm na região do quadril (lateral), também totalizando 6 cm de

ajuste. Da coxa média para baixo o ajuste em cada lateral foi de 1 cm até a barra (tornozelo),

totalizando um ajuste de 2 cm na circunferência das pernas.

O comprimento da pence foi aumentado em 2 cm passando de 13 cm para 15 cm.

Como é perceptível uma sobra muito grande de tecido na parte da frente (entrepernas), foi

necessário também um ajuste na região do gancho, diminuindo os ganchos da frente e das

costas em 1,5 cm em função da elasticidade do tecido. Assim, a curva do gancho da frente

ficou com 2,5 cm, exatamente a medida sugerida por Niepceron (2016) para tecidos com

elastano. Armstrong (2010) também sugere uma curva de gancho menor (semelhante à de

legging) para tecidos com elastano, como mostra a Figura 9.

Figura 9 – Gancho da calça feminina com elastano

Fonte: Niepceron (2016, p. 2) e Armstrong (2010, p. 581).

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As imagens acima apresentam o traçado de base de calça para tecido plano sugeridos

por Niepceron (2016) e Armstrong (2010), deixando evidente uma curva de gancho menor

para tecidos com elastano. Após a realização dos ajustes necessários, o primeiro protótipo

vestiu de forma anatômica, conforme a Figura 10.

Figura 10 – Primeiro protótipo ajustado (Frente e Costas)

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Os ajustes do primeiro protótipo tornaram a peça anatômica, conforme imagem acima,

além de proporcionarem liberdade de movimentos devido ao percentual de elastano que

compõe o tecido. O segundo protótipo foi cortado a partir do molde já ajustado resultante da

primeira prototipagem. O método utilizado para riscar a peça no tecido, cortar e costurar foi

idêntico ao primeiro, porém, notou-se que não foram necessárias as marcações de quadril,

coxa alta, coxa média, joelho e fio do tecido na peça para o ajuste, já que este foi feito apenas

pela lateral mantendo o fio reto, assim, estas marcações permanecem apenas no molde.

Foi utilizado outro tecido, chamado de brim squash, de composição e estrutura

diferente, porém com o mesmo percentual de elastano (65% algodão, 32% poliéster e 3%

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elastano). Verificou-se que este tecido, assim como o primeiro possui baixa elasticidade e o

resultado do protótipo é apresentado na Figura 11.

Figura 11 – Segundo protótipo (Frente e Costas)

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A figura mostra que o segundo protótipo não necessita de ajustes, o que comprova a

eficiência dos ajustes da primeira prototipagem transferidos para a modelagem. O terceiro

protótipo foi realizado em tecido summerflex (98% algodão e 2% elastano) a fim de verificar

como os ajustes da modelagem se comportariam em um tecido com outro percentual de

elasticidade. Apesar do percentual de elastano da composição do tecido ser menor (2%) do

que o dos tecidos utilizados anteriormente (3%), aparentemente possui maior elasticidade. A

Figura 12 apresenta o resultado do terceiro protótipo e os ajustes necessários.

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Figura 12 – Terceiro protótipo (Frente e Costas)

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Ao experimentar a peça na modelo de prova, verificou-se que embora a calça tenha

ficado aparentemente ajustada ao corpo, houve necessidade de reduzir a curva do quadril para

que a costura lateral não ficasse ondulada. Dessa forma, houve um pequeno ajuste no molde

na região do quadril. Como mostra a Figura 12, o ajuste inicia em 0 cm na linha da cintura,

atingindo 0,8 cm na metade entre a linha da cintura e do quadril e 0,5 cm na linha do quadril,

terminando em 0 cm na linha da coxa alta. Ou seja, o ajuste total na linha do quadril foi de 2

cm e acima desta, de 3,2 cm, o que diminuiu a curva do quadril, deixando-a mais reta. Além

disso, o molde necessitou de um pequeno ajuste na linha da cintura para alinhar a lateral com

o centro das costas. Esse ajuste aparece marcado em vermelho na Figura 12. A Figura 13

mostra a diferença entre o molde inicial para tecido plano e o molde final ajustado para tecido

com elastano.

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Figura 13 – Diferença entre o molde inicial e o molde final ajustado

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A sobreposição dos moldes permite a visualização dos ajustes realizados após a

finalização dos protótipos. Analisando a imagem acima, percebe-se que a curva do quadril foi

reduzida com o ajuste, tornando-se menos acentuada na parte da frente e resultando

praticamente em uma reta na parte das costas.

O Quadro 5 mostra a comparação de medidas das calças prontas. A primeira

modelagem foi traçada para tecido plano, a partir da qual foi confeccionado o primeiro

protótipo no tecido 1 e ajustado no corpo da modelo; a partir do molde já ajustado para tecido

com elastano foi confeccionado o segundo protótipo no tecido 2 e o terceiro protótipo no

tecido 3 que também foi ajustado no corpo da modelo para que ficasse anatômico, já que os

tecidos possuem composições e elasticidades distintas.

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Quadro 5 – Comparação medidas calças prontas

Ponto de medida

Tecido sem

elastano

Tecido 1 =

3 % de elastano

Tecido 2=

3 % de elastano

Tecido 3 =

2 % de elastano

Cintura 64 58 58 58

Quadril 92 86 86 84

Coxa alta 57 52 52 52

Coxa média 44 42 42 42

Circinf. Joelho 38 36 36 36

Circinf. Tornozelo 32 30 30 30

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Analisando as medidas do Quadro 5, nota-se que a coxa alta da base de tecido plano

ficou maior no molde (57 cm) do que a medida da modelo (52 cm), resultando numa enorme

folga nessa região. No entanto, após o ajuste na região do gancho, verificou-se que a medida

da coxa alta ficou exatamente igual a da modelo. Além disso, o Quadro 5 mostra que do

tecido sem elastano para o tecido 1 com 3% de elastano a redução de medidas não é

proporcional, visto que na cintura e no quadril a redução foi de 6 cm e nas demais partes a

redução foi menor. O tecido 2 comprovou ter a mesma elasticidade do tecido 1 e o tecido 3,

embora tenha um percentual menor de elastano, possui maior elasticidade necessitando de um

ajuste maior na região entre cintura e quadril.

Para exemplificar o ocorrido acima, ou seja, que um tecido com menor percentual de

elastano pode ter mais elasticidade que aquele que possui um percentual maior, apresenta-se a

Figura 14, que traz alguns tecidos produzidos pela empresa Santista e informações de

percentual de elastano e o máximo de elasticidade.

Figura 14 – Jeans Santista High-Comfort

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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A Figura 14, que apresenta imagens disponíveis no site da Santista, mostra que tecidos

com o mesmo percentual de elastano (2%), possuem índices de elasticidade diferentes (Strech

máximo = 39% e 31%). Já os que possuem menos elastano em sua composição (1%)

possuem índice de elasticidade maior (Strech máximo = 35%). Isto comprova que a

elasticidade do tecido não depende apenas do percentual de elastano de sua composição, mas

principalmente da estrutura do tecido, já que tecidos de menor percentual de elastano podem

ter um índice de elasticidade maior. Os tecidos de maior gramatura permitem maior

elasticidade.

Comparando os resultados com as informações que a literatura traz sobre cálculo de

redução, concluiu-se que o tecido 1 utilizado para a primeira prototipagem, assim como o

tecido 2 (segundo protótipo), possuem um percentual de redução de 20%, que descontado das

medidas do molde, ficaria muito menor do que o molde ajustado no corpo da modelo de prova

(como mostra o Quadro 6), não se aplicando a esta modelagem. Considerando que no método

de medição sugerido por Santana (2014) e Textile Industry (2015), a medida atingiu 12 cm, o

tecido possui baixa elasticidade, nesse caso, é sugerido utilizar a tabela de medidas para

tecido plano, porém foi comprovado pelo primeiro protótipo que a peça necessita de ajustes

para se tornar anatômica.

Utilizando a outra técnica de Santana (2014) que sugere a multiplicação da medida por

0,9 no caso de tecidos com média elasticidade e por 0,95 quando o tecido tiver pouca

elasticidade, chegou-se bem próximo às medidas da peça ajustada. O Quadro 6 apresenta a

comparação entre as medidas do molde inicial, da calça ajustada no corpo, aplicando a

redução de 20% bem como as medidas utilizadas para tecido de baixa e média elasticidade

aplicando os fatores de multiplicação (0,95 e 0,9) às medidas do molde original.

Quadro 6 – Comparação de medidas

PONTO

DE

MEDIDA

Medidas dos

protótipos (cm) Medidas segundo cálculo de redução (cm)

Calça

inicial

Calça

ajustada

Redução de

20 %

Baixa elasticidade

(medida corpo x 0,95) Média elasticidade

(medida corpo x 0,9)

Cintura 64 58 51,2 60,8 57,6

Quadril 92 84 73,6 87,4 82,8

Coxa alta 57 52 45,6 54,15 51,3

Coxa

média 44 42 35,2 41,8 39,6

Circinf.

Joelho 38 36 30,4 36,1 34,2

Circinf.

Tornozelo 32 30 25,6 30,4 28,8

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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Percebe-se que multiplicando as medidas do molde inicial por 0,95 que é o fator de

multiplicação para o tecido de baixa elasticidade, as medidas de cintura, quadril e coxa alta

ainda necessitariam de ajustes, por isso, realizou-se o cálculo multiplicando por 0,9 para

tecidos com média elasticidade (que é o caso do tecido 3 utilizado no terceiro protótipo) e

verificou-se que a maioria das medidas ficariam pequenas demais, ou seja, o fator de

multiplicação 0,9 não se aplica neste caso.

Portanto, mesmo o tecido sendo de elasticidade média, sugere-se a multiplicação das

medidas por 0,95 (baixa elasticidade) para o traçado da modelagem, já que, o Quadro 6

apresentado anteriormente, mostra que o resultado chegaria muito próximo às medidas da

peça já ajustada, necessitando apenas de pequenos ajustes na cintura, quadril e coxa alta para

que a peça seja realmente anatômica. Assim, caso seja necessário algum ajuste, que

provavelmente será mínimo, que este seja feito no corpo da modelo.

Após a realização dos experimentos, chegou-se ao molde base de calça para tecido

com baixa/média elasticidade, a partir do qual, foi desenvolvida a modelagem de uma calça

modelo jeans reta. Em seguida, a calça jeans foi confeccionada a partir desta modelagem

utilizando o mesmo tecido do terceiro protótipo (summerflex: 98% algodão e 2% elastano) em

função deste, possuir maior elasticidade. A calça foi cortada e costurada e a vestibilidade é

apresentada na Figura 15, juntamente com a modelagem.

Figura 15 – Calça modelo Jeans

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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Como resultado obteve-se uma calça modelo jeans, que não necessitou de ajustes no

momento da prova, o que comprovou que a base traçada estava correta. Portanto, espera-se

com este estudo, contribuir para o processo de aprendizagem dos alunos dos cursos de moda e

demais interessados por modelagem e costura, bem como, dos futuros modelistas e os que já

atuam na profissão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do vestuário envolve diversas etapas desde a criação até a

confecção do modelo. Uma destas etapas é a modelagem da roupa, que para ser aprovada

necessita da confecção de uma peça-piloto ou protótipo e da prova pela modelo da empresa, a

fim de verificar se a modelagem ficou de acordo com o desenho proposto e se possui o

caimento adequado. Se a peça for aprovada, é realizada a graduação, que é feita a partir de

uma tabela de medidas que serve como guia para determinar as medidas de cada tamanho.

No entanto, percebeu-se ao longo da pesquisa que há carência de bibliografias sobre

graduação, principalmente de detalhes como bolsos e braguilha de calças. Por isso, optou-se

por realizar uma pesquisa de campo para verificar como as empresas realizam este processo.

A pesquisa de campo foi realizada em pouco tempo, pois as vendedoras das lojas foram muito

receptivas e deixaram as calças em ordem de tamanho para facilitar e agilizar a medição. Em

uma delas (Miss Blue) o próprio modelista explicou o processo de graduação de bolsos

adotado pela marca, o que mostra que as empresas valorizam a pesquisa, já que os resultados

desta podem ser úteis no seu processo produtivo. Com isso, concluiu-se que cada empresa

possui um método próprio de acordo com o que considerada adequado visualmente. Além

disso, nota-se que as tabelas de medidas dos livros de modelagem deveriam ser mais

completas e detalhadas, já que algumas medidas fundamentais para a graduação não constam

nos livros, deixando dúvidas de como esta deve ser realizada e, consequentemente

dificultando o aprendizado de estudantes e o trabalho de modelistas.

Referente à pesquisa experimental, a base de tecido plano confeccionada em tecido

com elastano foi construída com facilidade, porém o fato da própria pesquisadora ser a

modelo de prova acabou sendo um empecilho para o ajuste da calça no corpo, necessitando,

portanto, do auxilio de outra pessoa. No entanto, os ajustes foram facilmente realizados e

transferidos para a modelagem por ficarem bem visíveis durante a prova. Com os testes

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realizados em três tecidos com maior e menor percentual de elastano, percebeu-se que tecidos

de composições distintas com o mesmo percentual de elastano podem ter elasticidades

diferentes, assim como os que possuem menos elastano podem possuir maior elasticidade

devido a sua estrutura, portanto, necessitando de maiores ajustes. Assim, para executar base

de calça em tecidos com elastano confirma-se a hipótese de que o ajuste deve ser maior na

região do quadril. Ou seja, a modelagem para tecidos com elastano não necessita de curvas

tão acentuadas quanto a modelagem plana. Diante disso, o objetivo geral deste estudo, ou

seja, verificar as alterações de modelagem necessárias para se confeccionar uma base de calça

em tecido com elastano, partindo de uma base de tecido plano foi contemplado.

Portanto, fica como sugestão para futuros estudos a realização de mais testes com

maior percentual de redução, já que muitas empresas utilizam o jeans com maior elasticidade

a fim de que seja possível atingir uma maior variedade de biótipos. Dos quatro autores

utilizados, três deles sugerem as mesmas medidas de cintura, quadril e altura de quadril,

variando as demais medidas como comprimento de calça e altura de gancho justamente em

função da variedade de corpos. Com base nos experimentos constatou-se a importância dos

protótipos e da prova na modelo para a visualização de vestibilidade e caimento da peça, bem

como a identificação de ajustes e alterações que forem necessárias.

De acordo com as bibliografias encontradas sobre modelagem para tecidos com

elasticidade, o percentual de redução de cada tecido deve ser identificado e descontado das

medidas do molde para que a peça fique anatômica, porém a maioria menciona tecidos com

alta elasticidade. Em função de não haver nenhum trabalho desenvolvido para tecidos de

média e baixa elasticidade, optou-se por realizar esta modelagem através de um processo

inverso, ou seja, ao invés de descontar o percentual de elasticidade do tecido das medidas do

molde para traçar a base, traçá-la com as medidas do corpo, ajustar o protótipo no corpo da

modelo e calcular a elasticidade para chegar próximo às medidas da modelagem já ajustada.

Analisando estas medidas, verificou-se que para tecidos de baixa e média elasticidade, ao

multiplicar as medidas de largura por 0,95 chega-se próximo às medidas obtidas com o ajuste.

Tendo em vista tudo o que foi mencionado, conclui-se que para traçar uma base de

calça anatômica para tecido com elastano são possíveis as duas formas, tanto traçar a base

anatômica para tecido plano e confeccioná-la em tecido com elastano fazendo os ajustes no

corpo da modelo quanto multiplicar as medidas de circunferência do corpo ou do molde

anatômico de tecido plano por 0,95 para tecidos de baixa e média elasticidade. Esta segunda

opção resulta em menos ajustes na peça final, conforme mostraram os experimentos.

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Diante do resultado desta pesquisa espera-se contribuir com um novo método de

traçado básico de calça feminina anatômica para tecidos com elastano que possa ser útil tanto

para o universo acadêmico quanto para a indústria de Moda. Com isto, ficam sugestões para

futuros estudos como: realizar mais experimentos de calças femininas em tecidos com maior

elasticidade bem como para outros públicos como masculino e infantil; estudar esta adaptação

para a parte superior (blusas); fazer pesquisa de campo com as indústrias para verificar

métodos de graduação e encolhimento de peças jeans após lavagem.

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