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Esquizofrenia Sintomas positivos – Excessos patológicos, delírios, desorganização do pensamento e discurso, alucinações, afectos inapropriados Sintomas negativos – Pobreza de discurso, apatia, anhedonia, indiferença afectiva, retirada social Modelo cognitivo Existem alterações cognitivas diversas além das perturbações do conteúdo do pensamento. Processamento da informação – o modo como o sujeito recolhe dados sensoriais está alterado, há uma integração deficiente no processo da informação e no armazenamento da memória O sujeito não consegue retirar dos estímulos visuais e auditivos (perceptivos) toda a informação necessária para a processar – dificuldade em recolher informação perceptiva. Lentificação do processamento de informação com aumento de tempo de latência de recolher informação, é como se o sujeito que por um lado já tem dificuldade em extrair toda a informação, e por outro lado não consegue escolher bem a informação perceptiva que é necessária. Não há aqui nenhum défice intelectual. Deficiente controlo dos conteúdos da consciência - as experiências conscientes do sujeito relativamente ao que está a acontecer não são vividas como próprio mas como alheio, é atribuído ao exterior (pode-se estabelecer aqui o paralelo com os delírios de influência da psicose esquizofrénica em que o indivíduo acredita que está a ser influenciado pelo exterior, por forças externas que teriam a capacidade de controlar o seu pensamento e as suas acções). Do ponto de vista da atenção, o défice da atenção selectiva. A atenção selectiva é a atenção que beneficia do efeito de filtro, ou seja, diz respeito à capacidade que nós temos de focalizar a atenção naquilo que é mais importante numa determinada situação. Se a atenção selectiva funciona de forma deficitária, complica-se este aspecto adaptativo.

Esquizofrenia

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esquizo

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  • Esquizofrenia

    Sintomas positivos Excessos patolgicos, delrios, desorganizao do pensamento e

    discurso, alucinaes, afectos inapropriados

    Sintomas negativos Pobreza de discurso, apatia, anhedonia, indiferena afectiva,

    retirada social

    Modelo cognitivo

    Existem alteraes cognitivas diversas alm das perturbaes do contedo do

    pensamento.

    Processamento da informao o modo como o sujeito recolhe dados sensoriais est

    alterado, h uma integrao deficiente no processo da informao e no

    armazenamento da memria

    O sujeito no consegue retirar dos estmulos visuais e auditivos (perceptivos) toda a

    informao necessria para a processar dificuldade em recolher informao

    perceptiva.

    Lentificao do processamento de informao com aumento de tempo de latncia

    de recolher informao, como se o sujeito que por um lado j tem dificuldade em

    extrair toda a informao, e por outro lado no consegue escolher bem a informao

    perceptiva que necessria. No h aqui nenhum dfice intelectual.

    Deficiente controlo dos contedos da conscincia - as experincias conscientes do

    sujeito relativamente ao que est a acontecer no so vividas como prprio mas como

    alheio, atribudo ao exterior (pode-se estabelecer aqui o paralelo com os delrios de

    influncia da psicose esquizofrnica em que o indivduo acredita que est a ser

    influenciado pelo exterior, por foras externas que teriam a capacidade de controlar o

    seu pensamento e as suas aces).

    Do ponto de vista da ateno, o dfice da ateno selectiva. A ateno selectiva a

    ateno que beneficia do efeito de filtro, ou seja, diz respeito capacidade que ns

    temos de focalizar a ateno naquilo que mais importante numa determinada

    situao. Se a ateno selectiva funciona de forma deficitria, complica-se este

    aspecto adaptativo.

  • Ao nvel da memria de curto prazo, detectaram-se dificuldades em reter informao

    complexa e em fix-la. A memria a longo prazo tambm est afectada, sobretudo nas

    recordaes explcita, na memria explcita. difcil recuperar informao para

    interpretar estmulos. Dificuldades na prpria codificao, ou seja na memria

    semntica. Estamos aqui perante um funcionamento deficitrio mnsico.

    H dfices tambm nas funes executivas (funes de planeamento de aco, de

    acompanhamento de resultados de aces, etc) dificuldades de planeamento.

    Sujeitos muito vulnerveis a eventos indutores de stress e muitas vezes agravam as

    suas manifestaes psicopatolgicas.

    Dificuldade em usar linguagem do contexto verbal

    H uma situao de fragilidade cognitiva na troca de informao entre o sujeito e o

    meio o que se reflecte num comportamento muito desadaptado e muito desviado do

    que normal.

    Modelo centrado no sistema de ateno (defeito do filtro da ateno selectiva)

    Se a ateno selectiva no funciona, quando o sujeito presta ateno , tudo igual a

    tudo e portanto no afasta informao irrelevante. inundado por um grande fluxo de

    informao. Este defeito de filtro excede a capacidade de processamento da

    informao, o sujeito no consegue tratar a informao porque a certa altura capta

    tanta informao ao mesmo tempo que j no percebe nada (qual relevante e qual

    no ).

    Modelo das funes executivas

    Nos sujeitos esquizofrnicos, h uma alterao significativa da vivncia do tempo, h

    uma fragmentao da sucesso do tempo (no h fio condutor) = descontinuidade do

    tempo vivido. Esta descontinuidade perturba muito a experincia actual, o sujeito

    acaba por no saber se esta actual, do passado ou se at do futuro (compromete

    muito o desenvolvimento pessoal, pois inviabiliza a capacidade do sujeito de se

    projectar para o futuro interrupo do projecto existencial).

    Modelo de vulnerabilidade ao stress

  • O sujeito fica com muito menos recursos para responder a uma situao indutora de

    stress.

    Perspectiva psicanaltica

    2 processos psicolgicos:

    - regresso a um estdio pr-ego

    - esforos para restabelecer controlo do ego

    Freud props que quando os pais so frios e no amam a criana suficientemente, esta

    regressa para os primrdios do seu desenvolvimento, para o estado de narcisismo

    primrio no qual elas reconhecem e satisfazem apenas as suas necessidades. Uma

    vez que regressam a este estdio, tentam restabelecer o controlo do seu ego e

    contactar com a realidade, o que resulta em sintomas psicticos.

    - Conceito de me esquizofrenizante de Frieda Fromm-Reichmann: uma me com

    caractersticas de frieza e distanciao face ao seu filho, tendncia para proteger mas

    tambm para manipular , com dificuldade marcada em expressar afectividade e oscila

    permanentemente entre hiper-proteco e rejeio. Tem tendncia a fazer com que as

    crianas desconfiem das outras pessoas. Maior parte das mes no se encaixa nesta

    descrio, algumas tm outras no, um valor relativo.

    Modelo scio-familiar

    Pe nfase em aspectos comunicacionais e emocionais que ocorrem em grupo (grupo

    familiar) e que havendo a alteraes a nvel emocional e a nvel comunicacional

    (double-bind). A psicopatologia individual, o sujeito individual que se perturba no

    seu funcionamento mental, mas ele no se perturba sozinho, ou melhor, quando se

    perturba no est sozinho, est acompanhado. A nossa existncia relacional e uma

    parte significativa do contexto social no qual o sujeito est inserido o grupo familiar.

  • Esquizofrenia num rapaz ou homem, normalmente fruto desta combinao de

    figuras parentais:

    Pai autoritrio controlador e com perturbao paranide + me submissa, passiva,

    dependente e que aceita a autoridade do pai e no a enfrenta -- este casal muitas

    vezes cai dentro da pseudo-mutualidade , uma vez que a autoridade paterna

    exercida duma forma muitas vezes subtil mas no posta em causa

    J numa rapariga ou mulher esquizofrnica...

    Um dos progenitores (tanto faz ser o pai ou a me) constantemente rejeitador em

    relao ao outro, registo permanente de rejeio e hostilidade pseudo-hostilidade

    * Double-bind (duplo vnculo vnculo comunicacional, no a vinculao afectiva)

    estudo de natureza fenomenolgica. Os processos de comunicao intra-familiar

    mais ajustados/normais fazem uso a vrias estratgias de comunicao . O que se

    verifica nas famlias onde aparecem pessoas com perturbao esquizofrnica que h

    s um padro de comunicao : o padro de duplo vnculo (comunicao paradoxal

    diz que sim e que no ao mesmo tempo; exemplo, um pai que quando perguntado

    pelo filho se este pode ir sair responde Podes ir mas fico chateado se fores, uma

    afirmao que se anula). Envolve a comunicao verbal como tambm a congruncia

    ou no congruncia entre a comunicao verbal e a no-verbal. Para uma

    comunicao ser adaptada, necessrio que haja congruncia em que o que se diz e o

    que se mostra.

    Os pais comunicam mensagens contraditrias que colocam as crianas em situaes

    de duplo vnculo nesta teoria; a esquizofrenia representa a tentativa da criana de lidar

    com estes duplos vnculos.

    O papel do stress familiar

    Algumas famlias tm elevada emoo expressa (expressed emotion), ou seja so

    famlias que constantemente expressam crticas, desaprovo e hostilidade uns contra os

    outros e invadem a sua privacidade, este funcionamento familiar vai agravar o estado

    do sujeito.

  • Perspectiva fenomenolgico-existencial

    Perturbao geradora Minkowski

    Ronald D.Laing

    - Como que nos podemos , do ponto de vista fenomenolgico, perceber que o

    indivduo vai desenvolver esquizofrenia?

    Perturbao geradora (o que estaria na gnese da esquizofrenia)

    Posio insustentvel:

    Significado existencial do comportamento esquizofrnico - A experincia e o

    comportamento qualificados de esquizofrnicos representavam uma estratgia

    particular que uma pessoa inventava para suportar uma situao insustentvel.

    Situao para qual o sujeito conduzido pelas presses, exigncias e represses

    familiares. A psicose a tentativa de libertao possvel face opresso e ao

    desespero, para superar a manipulao comunicacional e relacional.

    *Quando o sujeito no encontra significado nos seus processos de comunicao ele

    vai procura de outros significados, constri significados refugiando-se no

    imaginrio , estes significados imaginrios (ideias delirantes e delrios) afastam-no da

    realidade

    * Resultado dos padres de comunicao e de emoo perturbados

    * Este conceito de Ronald Laing tenta compreender o processo de psicotizao , a

    partir deste no conseguir mais lidar com a situao comunicacional e emocional

    que insustentvel e qual o sujeito no consegue dar resposta, e por isso perturba-se

    ao tentar encontrar significados noutra coisa que seja compreensvel para esse sujeito

    (esta outra coisa que o sujeito v como compreensvel o pensamento delirante, o

    imaginrio patolgico que est presente no delrio esquizofrnico). uma tentativa

    por parte do indivduo de superar a manipulao comunicacional e emocional intra-

    familiar construindo uma nova realidade.

    * Este conceito explica bem a esquizofrenia paranide.

    Binswanger Esvaziamento existencial

  • Dasein ser em alemo

    Dasein esquizofrnico

    * Perda da continuidade histrica Aquilo que quase intrnseco ao ser humano, o

    seu fio condutor da narrativa histrica , esta narrativa tem continuidade mas nesta

    perturbao esta continuidade perde-se o que resulta perda da possibilidade de ser e

    de vir-a-ser. Interrupo do projecto de ser ( o sujeito no consegue projectar-se mais,

    como sujeito ele est inviabilizado).

    * Fracasso da conscincia da constituio de si e do Mundo

    * Presena tematizada pela angstia

    Crise existencial Binswanger

    Paragem no desenvolvimento do eu:

    O sujeito deixa de conseguir encadear as experincias vividas actuais com a sua

    biografia interior

    Diminuio existencial:

    Perda do Eu na existncia

    Abandono de projecto no mundo

    Encerramento no mundo autista delirante

    Insegurana ontolgica

    A tese de Laing nesta fase era que os pacientes psicticos tm medo de uma auto-

    revelao autntica, devido ao que chamou insegurana ontolgica.

    A insegurana ontolgica seria uma experincia de irrealidade, de no se estar vivo, e

    conduziria a uma preocupao central com a auto-preservao, ao invs de com a

    auto-gratificao. A pessoa ontologicamente insegura tem uma percepo

    fragmentada do seu self e questiona-se a trs nveis: sobre a sua existncia, sobre a

    sua essncia e sobre a sua identidade. Com estas inseguranas, as relaes

    interpessoais e intrapessoais podem ser interpretadas como ameaadoras e tendem a

    ser evitadas com uma finalidade de auto-preservao.

  • O indivduo ontologicamente inseguro sente-se divorciado do prprio corpo. Isto

    significa que, como forma de se proteger das eventuais ameaas externas, divide-se

    num self experienciado como verdadeiro e colocado numa cidadela central onde s

    h o que mental, o subjectivo, cindido do corpo.

    * Sentir-se mais irreal do que real

    * Perda da continuidade temporal

    * Escassa diferenciao Eu/Mundo

    * Identidade posta em questo

    * Vivncia do Eu separado do corpo

    * Nova hierarquia de significaes

    Passamos agora a descrever as trs modalidades de ansiedade presentes na

    insegurana ontolgica:

    Engulfment Medo de ser devorado

    Por engulfment Laing referiu-se a uma angstia cujo contedo a perda do seu ser

    por absoro por parte de outros, de perda da identidade. O risco de estar em relao.

    H uma sensao de risco de ser destrudo ou tragado pelo amor. O amor de outrm

    seria mais temido que odiado, ou melhor, todo o amor seria experimentado como uma

    verso do dio, uma vez que o amor capacita o outro de ter poder sobre o prprio, de

    o envolver e de torn-lo seu contedo, retirando-lhe o ser.

    Uma manobra descrita por Laing de preservao da identidade nos indivduos que se

    sentem sob risco de engulfment seria o isolamento. Dessa forma impediriam os outros

    de o entenderem correctamente.

    Ser entendido correctamente seria como que ser engolido, afogado ou comido.

    Imploso Medo de ser invadido pelos outros Para Laing, o indivduo que receia a imploso sente-se como vcuo. Ele ou est

    vazio. Mas este vazio ele mesmo. Deseja preencher o vazio, mas teme a

    possibilidade de tal acontecer uma vez que sente que tudo o que pode ser este vazio.

    O vazio que teme a sua prpria substncia. A sua identidade estabelece-se como

    vazio. Daqui decorreria que qualquer contacto com a realidade seria de temer, uma

  • vez que a realidade seria implosiva, poderia destrui-lo. A realidade funcionaria como

    um gs que tomaria e ocuparia todo o espao vazio da pessoa, destruindo-a como se

    conhecera at ento.

    A realidade seria, em si mesma, uma ameaa identidade que o indivduo pensa ter.

    Petrificao/despersonalizao Medo de ser transformado em pedra

    Por petrificao/despersonalizao Laing referiu o medo de ser transformado em

    pedra, ou de ser tornado coisa, do fim da subjectividade. Seria experimentado quando

    a pessoa se sente como que tomada pelo outro e tratada como se fosse uma coisa,

    negada a sua autonomia, ignorados os seus sentimentos, assassinada a vida dentro de

    si.

    Por vezes, este medo de ser includo, implodido ou petrificado/ despersonalizado

    levaria a que o sujeito, de forma a prevenir a sua realizao, os procure e os viva. Isto

    passa-se atravs de, por exemplo: abandonar a prpria autonomia como forma de a

    preservar secretamente; fingir-se morto como forma de preservar o experienciar-se

    vivo; tornar-se pedra de forma a que mais ningum o possa fazer.

    Os comportamentos esquizofrnicos no seriam sintomas de doena mental, mas sim

    estratgias protectoras contra a insegurana ontolgica. Representariam uma tentativa

    de lutar contra a sua existncia ameaada.

    A esquizofrenia uma reaco razovel a uma sociedade inrazovel Ronald D.

    Laing