16
ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO: AS OBRAS DO PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC) NA BR-101 EM SERGIPE Fabiana dos Santos Pinheiro 1 [email protected] UFS Nelson Fernandes Felipe Junior 2 [email protected] .UFS GT2: ESTADO, TERRITÓRIO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO RESUMO Este artigo analisa a relevância das inversões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no estado de Sergipe e no Brasil, enfatizando que o intervencionismo do Estado na economia consubstancia os pressupostos para o desenvolvimento endógeno, sendo assim, é seguramente esse agente que norteia as respectivas medidas estratégicas para fomentar a dinâmica nacional e regional. Nesse sentido, destaca-se a proposta de mudança do modelo de concessão vigente no Brasil, o carreamento de recursos ociosos aos setores antiociosos da economia, os investimentos em infraestruturas, entre outros. Ademais, evidencia-se como o estado de Sergipe se desenvolveu e expandiu suas atividades econômicas a partir das obras rodoviárias na BR-101, que foram imprescindíveis para o aumento do emprego e da renda. PALAVRAS-CHAVES: Estado, desenvolvimento econômico, transportes, emprego, renda. 1. INTRODUÇÃO O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representa a reativação do planejamento estatal estratégico e o aumento dos investimentos públicos no Brasil, contribuindo com a demanda efetiva e a distribuição de renda no país. A expansão relativa dos fixos permite arrefecer os gargalos da infraestrutura brasileira, sendo fundamental para a 1 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Integrante do Núcleo de Estudos sobre Transportes (NETRANS). 2 Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Professor adjunto do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Coordenador do Núcleo de Estudos sobre Transportes (NETRANS).

ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO: AS OBRAS DO

PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC) NA BR-101 EM

SERGIPE

Fabiana dos Santos Pinheiro1

[email protected] – UFS

Nelson Fernandes Felipe Junior2

[email protected] .– UFS

GT2: ESTADO, TERRITÓRIO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

RESUMO

Este artigo analisa a relevância das inversões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no

estado de Sergipe e no Brasil, enfatizando que o intervencionismo do Estado na economia

consubstancia os pressupostos para o desenvolvimento endógeno, sendo assim, é seguramente esse

agente que norteia as respectivas medidas estratégicas para fomentar a dinâmica nacional e regional.

Nesse sentido, destaca-se a proposta de mudança do modelo de concessão vigente no Brasil, o

carreamento de recursos ociosos aos setores antiociosos da economia, os investimentos em

infraestruturas, entre outros. Ademais, evidencia-se como o estado de Sergipe se desenvolveu e

expandiu suas atividades econômicas a partir das obras rodoviárias na BR-101, que foram

imprescindíveis para o aumento do emprego e da renda.

PALAVRAS-CHAVES: Estado, desenvolvimento econômico, transportes, emprego, renda.

1. INTRODUÇÃO

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representa a reativação do

planejamento estatal estratégico e o aumento dos investimentos públicos no Brasil,

contribuindo com a demanda efetiva e a distribuição de renda no país. A expansão relativa

dos fixos permite arrefecer os gargalos da infraestrutura brasileira, sendo fundamental para a

1 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Integrante do Núcleo de Estudos sobre

Transportes (NETRANS). 2 Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Professor adjunto do Departamento de

Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO) da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Coordenador do Núcleo de Estudos sobre Transportes (NETRANS).

Page 2: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

economia e a sociedade. Os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)

foram imprescindíveis para mitigar os impactos negativos da crise econômica internacional no

Brasil (2008), além de acarretar no aumento do emprego e da renda em diversos setores

(construção civil, indústria, comércio, serviços etc.). Assim, as inversões do PAC na BR-101

em Sergipe nos últimos anos foram uma importante medida anticíclica e contribuíram para

fomentar o desenvolvimento regional, principalmente no que tange à distribuição de renda no

estado.

O objeto desse artigo é analisar os reflexos econômicos e sociais positivos das obras

do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC na BR-101 em Sergipe, nos anos de 2007-

2016. Tendo como hipótese que as obras do PAC na BR-101 em Sergipe são fundamentais

para a geração de empregos e renda e para o desenvolvimento regional, reduzindo, por

conseguinte, o exército industrial de reserva. A questão central que norteia o artigo é verificar

quais são os principais reflexos econômicos, sociais e regionais positivos gerados a partir dos

investimentos em infraestruturas e, em especial, pelas obras do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC) na BR-101 em Sergipe?

O objetivo geral é analisar a relevância das obras do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC) na BR-101 em Sergipe, considerando o efeito multiplicador interno, a

geração de empregos e renda, a circulação de mercadorias e o desenvolvimento regional. Os

objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em

infraestruturas no Brasil, especialmente pelo Governo Federal; discutir sobre os impactos no

emprego, na renda e no transporte rodoviário de cargas em Sergipe a partir das obras na BR-

101; analisar os modelos de concessão realizados (participação de construtoras privadas e da

Engenharia do Exército).

Para o desenvolvimento desse artigo foi necessário uma revisão bibliográfica a

respeito de planejamento estatal; inversões públicas; efeito multiplicador interno; carreamento

de recursos ociosos aos setores antiociosos; demanda efetiva; obras do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC) no Brasil, no Nordeste e em Sergipe. Esses trabalhos

foram analisados, discutidos e sistematizados através de fichamentos, resenhas, entre outros.

Em seguida, ocorreu o levantamento de dados da Superintendência do Desenvolvimento do

Nordeste (SUDENE); Ministério do Planejamento; Secretária do Estado de Planejamento,

Orçamento e Gestão (SEPLAG); Secretária do Estado de Infraestrutura e do Desenvolvimento

Urbano (SEINFRA); Governo do Estado de Sergipe; etc., para serem estruturadas tabelas,

gráficos, fluxograma, entre outros.

Page 3: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

Para tanto, é importante ressaltar que protecionismo do Estado na economia

consubstancia os pressupostos para desenvolver uma nação, assim, é seguramente esse agente

que norteia as respectivas medidas estratégicas para fomentar a dinamicidade nacional e

regional. Diante disso, a referida economia sergipana sofreu grandes oscilações a partir da

introdução de políticas neoliberais no Brasil, entretanto, com o Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC) o efeito multiplicador interno foi intensificado, pois os investimentos

foram progressivos, apesar de limitados, mas contribuíram para o aumento do emprego e da

renda.

Os segmentos dos transportes são historicamente setores antiociosos no Brasil, para

isso, é imprescindível que as inversões nesses setores visem melhorar as condições

infraestruturais, ampliando o escoamento de mercadorias e passageiros, assim como, o Estado

deve incentivar que a iniciativa privada realize investimentos (Parcerias Público-Privado) no

âmbito dos segmentos antiociosos, via concessões. A lógica é utilizada para o setor

rodoviário, que nos últimos anos sofreu expansão no estado de Sergipe, principalmente a

partir das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), melhorando,

relativamente, às condições das vias, permitindo maior acessibilidade e fluidez.

2. A década de 1990 e o modelo neoliberal de concessão do sistema de transportes no

Brasil

Nos anos de 1990, a política econômica brasileira se caracterizou pelo neoliberalismo,

com destaque ao Estado-mínimo, arrochos salariais, incentivo aos setores rentistas da

economia, diminuição da reserva de mercado, entre outros. O contexto político, econômico e

social do país foi sendo modelado de acordo com a política de austeridade que estava se

instalando no Brasil.

A economia brasileira deixava de lado as políticas setoriais, impactando ainda mais

nas inversões em infraestruturas básicas, principalmente no setor de transporte, como o modal

rodoviário que nesse instante carecia de muitos investimentos em vias precárias. Nesse

momento, era gritante a necessidade de se discutir um novo modelo de concessão, além de

diagnosticar os pontos de estrangulamentos na economia, para condicionar pressupostos que

mitigassem tal situação, como o desenvolvimento de mudanças institucionais (subsídios,

financiamentos, crédito, diminuição da taxa de juros etc.) que permitissem financiar um

conjunto de investimentos.

Page 4: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

Anterior a esse momento, a economia sergipana conquistou certas dinâmicas

industriais, através das indústrias de extração mineral (como as de petróleo e de cimento), que

correspondiam a cerca de 11% do PIB. A posteriori, as descabidas ações governamentais,

redimensionadas por uma política que manteve medidas de repolarização do

desenvolvimento, possibilitaram que a taxa de crescimento do PIB de Sergipe caísse de 5,7%

em 1985 para 1,7% em 1989 (SUDENE, 1999). Abalando a dinamização do Departamento I

(indústria pesada) na economia do estado.

Assim, a forte política neoclássica, que tinha o intuito de desnacionalizar o patrimônio

público, diminuir a participação do Estado no setor produtivo, eliminar os monopólios estatais

e abrir indiscriminadamente as fronteiras econômicas, acarretando no aumento do

desemprego, além de entregar empresas nacionais ao capital estrangeiro (Companhia

Siderúrgica Nacional – CSN, Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST, Companhia

Siderúrgica Paulista – Cosipa, Companhia Vale do Rio Doce, Nitriflex Fosfértil, entre outras)

foi intensificada no Brasil.

O governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) continuou e potencializou as

políticas ortodoxas. Os baixos índices de crescimento econômico influenciaram na produção

industrial, que cresceu apenas 1,2% ano (1995-1999). Já em Sergipe, o setor terciário estava

se expandindo devido aos reflexos contidos na introdução de algumas indústrias de base no

estado, chegando a corresponder a 54,2% do PIB (IBGE, 2002). Em contrapartida, a

economia brasileira estava em recessão, isso por conta da falta de planejamento e de

investimentos nas áreas antiociosas.

Diante disso, em fevereiro de 1995, o governo cria a lei nº 8.987, pertinente ao art. 175

da Constituição Federal de 1988, que subsidia o regime de concessão e prestação de serviços

públicos, onde prevê que a União, o Estado, o Distrito Federal e Municípios atuem enquanto

“poder concedente” e a concessão estará sujeitada à pessoa jurídica ou consórcio de empresas

que demonstrem capacidade para desempenhar a execução de uma obra ou de prestação de

serviços públicos (mediante processo licitatório). Entretanto, as concessões e permissões de

operação estarão submetidas a uma simples “fiscalização” pelo responsável de delegação,

com a cooperação dos usuários (órgãos competentes), ou seja, o poder concedente não

apresenta, a partir dessa lei, um controle propriamente dito do sistema de concessões. Onde,

com o aparecimento de possíveis gargalos, haverá posteriormente um novo processo

licitatório para que a demonstração de interesses por outras pessoas jurídicas seja evidenciada,

prejudicando o caminhar das práticas operacionais, destinadas à população, e fornecendo

Page 5: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

maiores aberturas para que algumas partes desviem recursos ou até mesmo façam uso de

materiais inadequados no desenvolvimento da obra.

O modelo de concessão brasileiro contribui para que os investimentos em

infraestruturas e a geração de emprego e renda não sejam realizados devidamente, assim, fica

evidente que a lei de concessão brasileira é falha (equivocada). A referida situação não é

diferente no estado de Sergipe, onde na prestação de serviços públicos de mobilidade urbana

em Aracaju/SE e na Região Metropolitana é verificado um oligopólio histórico entre as

empresas que obtém a concessão dos serviços e, posteriormente, diminuem as frotas de

ônibus, aumentam os valores das tarifas e, em alguns casos, liberam que ônibus sucateados

executem o serviço. Além disso, há um grande embate entre o Estado e iniciativa privada

referente à utilização dos terminais de integração.

Verificando tais problemáticas estruturais, Ignácio Rangel (2005), propôs um modelo

de concessão mais coerente, que dá sustentação para que o Estado exerça sua função

reguladora. Trata-se de um padrão que obriga o cumprimento das obras, estabelecidas em

contrato, por parte da iniciativa privada. Sendo assim, o poder público será o poder

concedente e, ao mesmo tempo, o credor hipotecário. Esse projeto de lei criado por Ignácio

Rangel se contrapõe ao sistema de concessão atual (lei 8.987/95).

Há diversos setores no Brasil que historicamente apresentam gargalos infraestruturais

(transportes, saneamento, etc.), ou seja, são áreas subcapitalizadas, que tornam-se um entrave

no desenvolvimento econômico regional e nacional. Nesse sentido, as ideias de Rangel (2005)

discutem um planejamento que vincule a iniciativa privada com a pública, porém também é

essencial identificar as áreas de estrangulamento para que sejam remanejados os recursos

ociosos. Ademais, é necessário que haja uma mudança jurídica para que essas parcerias sejam

pensadas de forma efetiva, ou seja, o Estado continua mantendo sua posição de agente

regulador, planejador, fiscalizador e poder concedente desses serviços e as empresas terão

papel de financiadoras de investimentos nos setores antiociosos.

3. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o efeito multiplicador

interno em Sergipe

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), iniciado em 2007, no governo

Lula, foi um instrumento essencial para a geração de emprego e renda no Brasil, no Nordeste

e em Sergipe. O princípio básico desse programa esteve atrelado aos investimentos em

infraestruturas para desencadear o efeito multiplicador interno e a demanda efetiva

(KEYNES, 1988). Essa condição foi importante para criar reserva de mercado, pois o governo

Page 6: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

deu ênfase ao capital nacional, contribuindo para ampliar o consumo por produtos endógenos,

assim como, agregou mão de obra brasileira, atrelado aos investimentos na infraestruturas.

Apesar de não ocorrer grandes rompimentos nos governos de Luiz Inácio Lula da

Silva3 e Dilma Rousseff (coexistência de aspectos liberais e keynesianos), tem-se uma

retomada importante do desenvolvimento econômico e social, pautado na geração de

empregos e renda, com destaque aos investimentos em infraestruturas (Programa de

Aceleração do Crescimento – PAC e Programa Minha Casa, Minha Vida), à expansão do

crédito e à diversificação das parcerias comerciais brasileiras (fluxos Sul-Sul). O

fortalecimento do planejamento e das inversões foi essencial para a distribuição de renda no

país, com participação dos principais bancos de fomento públicos (Banco do Brasil, Caixa

Econômica Federal – CEF e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –

BNDES).

Houve avanços com o PAC, todavia, alguns fatores prejudicaram/prejudicam o

programa, caso do modelo de concessão neoliberal (Estado não-regulador), dificuldade no

carreamento de recursos ociosos aos setores antiociosos (serviços públicos e infraestruturas),

concentração da terra urbana e rural (especulação e reserva de valor), burocracia, corrupção,

morosidade na liberação dos recursos e nas obras, falta de interesse político, escassez de mão

de obra qualificada (principalmente em municípios de pequeno porte), profissionais que

ocupam cargos por indicação política e não por capacidade e conhecimento teórico e técnico,

divergências político-partidárias que impedem a criação de um projeto nacional de

desenvolvimento, predomínio do capital rentista e financeiro no país, ajuste fiscal severo

desde 2014, paralisações frequentes das obras devido às ações judiciais propostas, sobretudo,

pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),

por latifundiários e pelo Ministério Público do Meio Ambiente, limitação/restrição dos gastos

públicos, entre outros.

As obras do PAC no estado de Sergipe merecem destaque por arrefecer gargalos

infraestruturais e por dinamizar áreas antiociosas. Durante o trâmite das obras, Sergipe

recebeu investimentos de R$ 9,0 bilhões (Nove bilhões de reais) entre os anos de 2007 e

2010, além de R$ 8,45 bilhões (Oito bilhões e quarenta e cinco milhões de reais) entre os anos

de 2011 e 2014, e a previsão para os investimentos até 2018 são de R$ 5,43 bilhões (Cinco

bilhões e quarenta e três milhões de reais) (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, 2010/

2014/2016) (gráfico 1).

3 Na segunda metade do primeiro mandato presidencial de Lula houve fortalecimento das bases nacionalistas dentro do

governo, com destaque à retomada do planejamento, às políticas de Estado-indutor e aos planos de desenvolvimento.

Page 7: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

Gráfico 1: Obras do PAC no estado de Sergipe (setorial).

Fonte: Relatórios do PAC, 2010, 2014, 2016.

As inversões estatais destinadas às obras do PAC no estado de Sergipe emanaram de

políticas econômicas preocupadas com a dinâmica regional (gráfico 1). Ademais, outros

setores ganharam maior destaque, como os segmentos da infraestrutura energética, com

investimentos na geração e transmissão de energia elétrica e, principalmente no petróleo, gás

natural e combustíveis renováveis, através das inversões na Fábrica de Fertilizantes de

Sergipe (FAFEN).

O PAC transportes se efetiva a partir de 2008, com as obras de duplicação e ampliação

da BR-101 (figura 1). Isso condicionou que o efeito multiplicador interno refletisse na

dinâmica econômica do estado, onde segundo Keynes (1988) está condicionado pelo aumento

do investimento. Sendo assim, as evoluções das inversões governamentais sustentaram a

demanda agregada.

Figura 1: Duplicação da BR-101 sobre o trecho que liga as cidades de Itaporanga d´Ajuda e

Estância, em Sergipe.

2007-2010 (R$ 9,0 bilhões)

2011-2014 (R$ 8,45 bilhões)

2015-2018 (R$ 5,43 bilhões)

434

914,68

572,73

3.211,20

5.278,68

3.995,47

3.536,10

1.607,60

1.030,64

Social e urbana Energética Logística

Page 8: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

Fonte: Governo do Estado de Sergipe, 2012.

Atualmente, o contorno de Aracaju até as proximidades da cidade de Estância (sentido

sul) (figura 1) e até a cidade de Nossa Senhora do Socorro (sentido norte) encontram-se

duplicadas, além disso, as vias receberam asfalto reforçado, barras de proteção lateral,

sinalização, barreiras de concreto, retornos e rotatórias, acessos conjuntos, terraplenagens,

encabeçamento de pontes, entre outros serviços, matérias-primas essas de cunho nacional,

fortalecendo a produção endógena. Já os trechos entre os municípios de Estância, Umbaúba e

Cristinápolis ainda não foram duplicados, assim como nos municípios de Laranjeiras,

Maruim, Rosário do Catete, Carmopólis, Japaratuba, Capela, Muribeca, São Francisco, Cedro

de São João e Propriá, presentes no percurso da rodovia, sentido norte.

É preciso ressaltar que a BR-101 no estado de Sergipe é uma das poucas no Nordeste

que possui pavimentação em todo o seu trajeto, sendo um considerável avanço para melhorar

as condições das vias e facilitar a fluidez. Mas é importante salientar que a sua duplicação é

fundamental, entre outras coisas, para arrefecer os gargalos infraestruturais.

Para construção da via, é importante elencar a participação da mão de obra do 4º

Batalhão de Engenharia e Construção do Exército (BEC), por meio de convênio com o DNIT,

na execução de obras do PAC (trecho entre Estância e Cristinápolis), em âmbito regional e

nacional. Essa condição favoreceu a economia brasileira, pois os trabalhadores do exército

garantiram que o país fizesse uso de uma engenharia de procedência endógena, assim como

barateou os custos com a mão de obra.

A partir dos investimentos na BR-101 houve grande estímulo e dinamização das

atividades industriais e produtivas nos últimos anos, em Sergipe, refletidas sob o fenômeno do

efeito multiplicador interno (RANGEL, 2005), pois quando o governo destinou recursos para

Page 9: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

duplicação da rodovia, automaticamente houve a necessidade de compra de materiais como

derivados do petróleo, cimento, ferragens, máquinas, equipamentos, entre outros, o que

provocou uma dinâmica econômica de vários setores da economia, assim como da utilização

de mão de obra para realizar os serviços.

Com os investimentos do PAC, o estado passou a atrair empresas nacionais (Petrobrás,

Indústria de Móveis Cequipel Paraná, Adubos Sudoeste, Calçados Vulcabrás Azaleia, Leite

de Rosas, Sabe Alimentos, Ambev, Dalon Alimentos, Vale, Votorantim, entre outras) e essa

condição foi importante para a geração de emprego em âmbito regional e nacional. Em

Sergipe foram criados 2.500 empregos diretos só nas obras de duplicação da BR-101 do

estado (GOVERNO DE SERGIPE, 2012). Além disso, as obras fomentaram a abertura de

novos postos de trabalho (tabela 1), arrefecendo as taxas de desemprego e potencializando a

economia a longo prazo.

Tabela 1: Evolução do saldo de empregos formais no Brasil e em Sergipe entre 2003-2015

Anos Brasil Sergipe

2003 861.014 5.806

2004 1.862.649 10.945

2005 1.831.041 21.732

2006 1.916.632 24.706

2007 2.452.181 18.182

2008 1.834136 1.430

2009 1.765.980 24.806

2010 2.860.809 25.527

2011 2.242.276 16.258

2012 1.148.081 2.670

2013 1.489.721 17.268

2014 623.077 11.248

2015 -1.510.703 -12.055 Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 2016.

É possível indagar que as evolutivas taxas de empregos formais (tabela 1) a partir de

2003 estão relacionadas com os progressivos investimentos do governo federal, dinamizando

diversos setores da economia. Destarte, é importante salientar que a queda de admissões em

2008 e 2009 se refere à crise econômica mundial, que logo sofreram modificações nos anos

posteriores. A economia sergipana também sofreu oscilação e a queda na criação de empregos

formais em 2011 se deu por conta da perda de competitividade das indústrias de

transformação, devido à valorização do câmbio, tornando a produção nacional mais cara

(IPEA, 2011).

Page 10: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

Outra característica pertinente a esse dado momento foi o desenvolvimento regional,

da região Nordeste. Assim, no estado de Sergipe a recepção dos grandes centros de

distribuição (Atacadão, G Barbosa, entre outros) foi ampliada. Esse fenômeno dinamizou os

segmentos do setor secundário e terciário na área de abrangência da BR-101 em Sergipe

(Monteiro Auto Center, Rildon Eletropeças, Log Mix, Mabel, Fabise, Maratá, Topfruit,

Movesa, Leite de Rosas, etc.), por isso a necessidade dos constantes investimentos (tabela 2).

Tabela 2: Inversões do PAC nas rodovias do Brasil, do Nordeste e em Sergipe

Programas Brasil

(valores em bilhões)

Nordeste

(valores em milhões)

Sergipe

(valores em milhões)

PAC 1 R$ 42,9 R$ 7.344,4 R$ 395,4

PAC 2 R$ 66,9 R$ 11.610,8 R$ 909,6

PAC 3 R$ 66,1 R$ 10.936,9 R$ 427,2 Fonte: Relatórios do PAC 1, 2 e 3.

Os destinos das inversões na economia brasileira e sergipana estiveram relacionados

ao planejamento estatal, que nos últimos anos manteve constante os investimentos, entretanto

de forma insuficiente para o setor rodoviário, se comparado aos investimentos totais do PAC

(tabela 2). Todavia, desde 2014, houve retrocessos significativos devido ao ajuste fiscal, às

paralisações em obras com a Operação Lava Jato e ao golpe/impeachment de Dilma Rousseff.

A pesar disso, as obras do PAC contribuiu com o escoamento de mercadorias, a

geração de emprego e renda, o fortalecimento de políticas setoriais etc. O efeito multiplicador

emana dos investimentos estatais e privados, fomentando o desenvolvimento regional e

nacional (RANGEL, 2005).

Historicamente, o setor terciário é predominante na economia sergipana, sendo que, o

desenvolvimento dos outros setores econômicos também ganhou dinamicidade nos últimos

anos. Nessa perspectiva, é possível indagar que algumas indústrias que se fixaram no estado

(indústria de transformação, extrativa, construção civil etc.), atraídas pelos investimentos

estatais na BR-101, possibilitaram o impulso de outros setores da economia, como os de

transportes, comércio e serviços. É o caso das indústrias de alimentos e bebidas (Maratá e

Mabel alimentos), têxteis e vestuários (Sergipe Industrial- SISA e Nortista Ltda.), couro e

calçados (Vulcabrás Azaleia), papel e celulose (Companhia Industrial de Celulose e Papel -

CICP), entre outras, que apresentaram entre os anos de 2007 a 2012 um crescimento médio de

7,7% (SEDETEC, 2015).

Page 11: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

O reflexo dessa dinâmica econômica foi evidenciado também no volume de

exportações das empresas do estado que cresceram significativamente, sobretudo a partir de

2007 (tabela 3), quando receberam incremento dos produtos cítricos (sucos de laranja),

têxteis, vestuário, alimentícios, bebidas, minerais não metálicos, componentes eletrônicos,

petróleo, gás, cimentos, entre outros. Esses condicionantes influenciaram no aumento dos

empregos nos setores de comércio e serviços, que refletiram na dinâmica regional.

Tabela 3: Exportações do estado de Sergipe no período de 2003-2016 (valores em milhões).

Anos Total

2003 US$ 38,8

2004 US$ 47,8

2005 US$ 66,5

2006 US$ 79,0

2007 US$ 144, 8

2008 US$ 111, 7

2009 US$ 60, 7

2010 US$ 78, 9

2011 US$ 137, 5

2012 US$ 149,1

2013 US$ 84,5

2014 US$ 77,9

2015 US$ 95,6

2016 US$ 113,4 Fonte: Secretária do Comércio Exterior (SECEX), 2016.

As taxas de exportações em Sergipe foram influenciadas pelas inversões do PAC,

introduzidas no estado. Assim, o efeito multiplicador interno foi verificado quando os

investimentos nos fixos geraram maior circulação e fluxos no espaço (SANTOS, 2006). Ou

seja, as construções infraestruturais nos sistemas modais (rodoviário, portuário e aeroviário),

nos setores elétricos e hidráulicos (hidrelétricas e empreendimentos de saneamento), além dos

programas de incentivo à produção de ciência e tecnologia (expansão das universidades e

institutos federais e das escolas técnicas), os incentivos fiscais e a relativa diminuição da taxa

de juros auxiliaram para que o setor privado investisse na construção e ampliação de

indústrias, compra de máquinas e contratação de trabalhadores.

Os principais produtos que refletiram nesse crescimento foram provenientes das

indústrias de bens não duráveis (sucos de laranja não fermentados sem adição de álcool, sucos

de abacaxi, recipientes tubulares de alumínio, óleos de laranja essenciais, calçados cobrindo o

tornozelo, açúcares de cana, calçados de sola exterior de borracha, frutas secas, etc.),

Page 12: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

contribuindo para a geração de empregos e favorecendo a dinamicidade econômica desse

setor. Nessa perspectiva, a produção foi dinamizada, o que impactou na ampliação das taxas

de exportação (tabela 3). Apesar da repercussão da crise de 2008, percebida no contexto

regional, as medidas estatais anticíclicas conseguiram postergar a recessão, sendo esta última

agravada a partir do ajuste fiscal severo de 2014.

4. O carreamento de recursos ociosos aos setores antiociosos como estratégia de

desenvolvimento regional

Um dos maiores problemas estruturais da economia é a falta de investimentos em

setores subcapitalizados. Por isso, é essencial que o Estado identifique esses pontos de

estrangulamento e priorize o remanejamento de recursos ociosos para os setores antiociosos

da economia (RANGEL, 2005). Assim, é possível constatar que os moldais de transporte e

alguns serviços públicos são os principais setores antiociosos, onde verifica-se uma carência

de inversões. Para tanto, o Estado precisa desestimular os investimentos em setores rentistas,

pois esses não garantem a geração de empregos e renda.

Dessa forma, carecem de investimentos públicos (tabela 4) e privados o setor portuário

(Terminal Marítimo Inácio Barbosa - TMIB), aéreo (Aeroporto Santa Maria), ferroviário

(linhas férreas de Sergipe) e a intermodalidade para desconcentrar a utilização de um único

meio de transporte (FROMM, 1968), prejudicando o efeito multiplicador interno, a

dinamicidade da balança comercial, as interações espaciais, etc. Esses modais são de extrema

importância para fortalecer a fluidez de mercadorias e pessoas, além de ampliar a oferta de

emprego e renda no estado. No entanto, o setor de transportes de Sergipe, historicamente,

pouco esteve incluído em um planejamento eficiente de Estado, agravando ainda mais os

gargalos existentes e prejudicando o desenvolvimento regional.

Tabela 4: Distribuição dos recursos nos transportes em Sergipe no contexto do PAC.

PAC Rodovias Outros modais

2007-2010 91% 9% (Marinha Mercante)

2011-2014 100% 0%

2015-2018 90% 10% (Aeroportos) Fonte: Relatórios do PAC 1, 2 e 3.

Desde a década de 1950, as inversões no modal rodoviário são amplas, se comparadas

com os outros segmentos de transporte. No estado de Sergipe não é distinto, pois há uma

Page 13: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

monopolização das inversões para esse setor (tabela 4), que fornece a médio prazo condições

de manutenções contínuas, o que prejudica os outros modais (que ficam antiociosos). É

fundamental haver um planejamento estratégico no Brasil, a fim de fomentar a

intermodalidade/multimodalidade. Dessa forma:

Como já constatado, o Brasil é um país com capacidade produtiva ociosa

instalada, com plantas industriais, máquinas, equipamentos e mão-de-obra

disponível. É clara a existência de setores necessitando de investimentos,

como os serviços públicos. O Estado precisa, então, carrear esses recursos

dos setores superavitários para os subinvestidos, criando expectativas de

lucros futuros para os empresários e/ou aumentando os investimentos na

produção através de endividamentos no mercado financeiro. Para isso, é

responsabilidade do Estado proporcionar às inversões uma taxa de retorno

superior à taxa de juros (eficiência marginal o capital), caso contrário os

empresários aplicarão seu dinheiro no mercado financeiro e/ou não buscarão

financiamentos, inibindo os investimentos (SILVEIRA, 2002, p. 72).

Assim, o remanejamento desses recursos para os setores antiociosos da economia

atrairia a atenção da iniciativa privada, que via modelo de concessão rangeliano, empregaria

mais pessoas e fomentaria a economia regional e nacional (fluxograma 1). O desenvolvimento

dos transportes no Brasil e no Nordeste depende das inversões em fixos para estimular a

distribuição de renda e o efeito multiplicador interno, impulsionando mudanças na divisão

territorial do trabalho bem como nas repercussões espaciais intra e inter-regionais (JULIO,

2012).

Fluxograma 1: O carreamento de recursos ociosos aos setores antiociosos como estratégia de

desenvolvimento regional, segundo a obra de Rangel (2005).

Fonte: RANGEL, 2005.

Org.: PINHEIRO, 2017.

Incentivos estatais

Remanejamento de recursos para

os setores antiociosos

Reações econômicas e

sociais

Dinâmica econômica

Page 14: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

Reduzir os investimentos nos setores subcapitalizados e no mercado

financeiro/especulativo é uma maneira de fomentar a geração de empregos e renda e a

dinâmica macroeconômica (fluxograma 1). Inversões em regiões periféricas e em setores

estrangulados desconcentram o desenvolvimento econômico. O Estado deve transferir os

estímulos para os segmentos produtivos, assim, o poder público deve apresentar algumas

medidas, como a diminuição da taxa de juros (eficiência marginal do capital), para ampliar a

demanda efetiva.

Alguns setores subinvestidos da economia sergipana foram influenciados pelas obras

do PAC, que por sua vez manifestaram-se no crescimento do emprego e da renda e no

aumento da demanda nos outros setores da economia. Assim, a produção industrial de Sergipe

aqueceu os segmentos de extração química-mineral (petrolífera, cimenteira e sulfato de

amônia), transformação (produção de bebidas, vestuário etc.), entre outros. Esse

comportamento da indústria consubstancia o fenômeno da demanda efetiva no estado,

dinamizando a economia e pode ser materializado pela criação de novos postos de trabalho,

refletindo na ampliação de empregos formais, principalmente entre 2003 e 2013.

A recessão econômica nacional e o ajuste fiscal severo acabaram influenciando na

queda dos investimentos no PAC em Sergipe e no país. Atualmente, estão ocorrendo grandes

retrocessos, que prejudicam o panorama econômico, político e, principalmente, social. Essa

dinâmica de redução atinge, sobretudo, o setor secundário e terciário, onde os segmentos de

serviços apresentaram uma queda de 11,9%, no estado (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS

DO ESTADO DE SERGIPE, 2016). Assim fica clara a emergência de uma política que

privilegie a retomada dos investimentos para mitigar a crise econômica interna e invista na

base industrial para gerar emprego e renda.

5. Considerações Finais

O referido artigo buscou fazer um apanhado geral das mudanças que ocorreram

durante as obras do PAC na BR-101 em Sergipe, e como se deu o efeito multiplicador interno.

É discutido também sobre o planejamento estatal que vigorou no âmbito do PAC, refletindo

positivamente no emprego e na distribuição de renda. Na década de 1990 o capitalismo

rentista se fortaleceu, diminuindo os investimentos estatais, o emprego e a renda. Todavia, a

Page 15: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

retomada dos investimentos estatais a partir de um planejamento estratégico (Programa de

Aceleração do Crescimento - PAC) influenciou a dinâmica regional e nacional.

O Estado é basilar para direcionar investimentos no país, sendo que, a logística de

Estado possibilita fomentar setores estratégicos (transportes, energia, urbano e social), o que

proporciona a demanda efetiva, ou seja, os investimentos em obras do PAC influenciaram no

aumento da renda e, assim, no consumo endógeno.

A economia sergipana sofreu oscilações econômicas que foram inerentes às políticas

econômicas nacionais, influenciando a conjuntura regional e local. Apesar dos avanços, estes

foram insuficientes para o desenvolvimento econômico do estado, pois o planejamento ainda

é sistematizado e não articula os modais de transportes (intermodalidade), sendo um grande

entrave para a dinâmica econômica. Em contrapartida, as obras geraram reflexos positivos,

sobretudo, no arrefecimento do desemprego entre 2007 e 2013. Os segmentos rodoviários,

portuários, ferroviários, aeroviários, etc. são imprescindíveis para o país, dessa forma, o

Estado não pode se ausentar de atuar perante os transportes, por tratar-se de um setor

estratégico.

Apesar dessas inversões do governo federal, no do âmbito do PAC, algumas

limitações foram perceptíveis, pois o Estado manteve o equivocado modelo de concessão em

diversos serviços públicos. Além dos gargalos históricos que permeiam o país, a previsão de

futuros investimentos em obras, diante do contexto político e econômico brasileiro, é

negativa. A política econômica liberal que reapareceu fortemente no país, e está alicerçada

pelo golpe/impeachment de Dilma Rousseff, impede a retomada do crescimento econômico e

a queda significativa do desemprego.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério do Planejamento. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC):

relatório do 1º, 2º e 3º balanço (2007-2016). Brasília, 2010;

BRASIL. Secretária Especial de Políticas Regionais. Superintendência do Desenvolvimento

do Nordeste (SUDENE): Desempenho econômico da região Nordeste do Brasil (1960-1997).

Brasília, 1999;

FEDERAL, Constituição. Lei 8.987/95: artigo 175. Brasília, 1995;

FROMM, Gary. Transporte e desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Victor

Publicações, 1968;

JULIO, Alessandra dos S. Desenvolvimento e infraestruturas de transportes: análise sobre

as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Estado de São Paulo.

Dissertação de Mestrado em Geografia. Programa de Pós Graduação em Geografia. FCT-

UNESP, Presidente Prudente, 2012;

Page 16: ESTADO-INDUTOR E EFEITO MULTIPLICADOR INTERNO ......objetivos específicos são analisar a retomada do planejamento e dos investimentos em infraestruturas no Brasil, especialmente

KEYNES, John M. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Nova

Cultural, 1988;

RANGEL, I. Obras reunidas (vol. 1 e 2). Rio de Janeiro: Contraponto, 2005;

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:

Edusp, 2006;

SILVEIRA, Márcio R. Circulação, transportes e logística. São Paulo: Outras Expressões,

2011.

SITES

BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contas regionais.

Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa> Acesso:

01/12/2016;

EXTERIOR, Secretária do Comércio. Variação da balança comercial de Sergipe no

período de 2003-2016. Disponível em: < http://www.comercioexterior.se.gov.br/modules/tinyd0/index> Acesso em: 02/07/2016;

IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O desalinhamento cambial brasileiro

em 2011. Disponível em: < http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=14848>

Acesso em: 01/12/2016;

MTE – CAGED. Variação do emprego formal no Brasil. Disponível em < http://bi.mte.gov.br/bgcaged/caged_isper/index.php> Acesso em: 02/07/2016;

PLANEJAMENTO, Ministério. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Disponível em: <www.planejamento.gov.br/apresentacoes/programa-de-aceleracao-do-

crescimento-pac> Acesso em: 05/03/2017;

SERGIPE, Governo de Sergipe. Ministros realizam visitas às obras da BR-101 em

Sergipe. Disponível em:

<http://www.agencia.se.gov.br/noticias/leitura/materia:27507/jackson_acompanha_ministros_

na_visita_as_obras_da_br> Acesso em: 02/07/2016;

SERGIPE, Federação das Indústrias do estado de. Segmentos da indústria de Sergipe.

Disponível em: < nie.fies.org.br/conteudo/2/2633/boletim-sergipe-economico-outubro-2016>

Acesso em: 10/02/2017;

SERGIPE, Secretária do Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia

de. Economia de Sergipe. Disponível em:

<www.sedetec.se.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=37&Itemid=105>

Acesso em: 02/07/2016.