estado_sao_paulo_pag_4

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  • 8/14/2019 estado_sao_paulo_pag_4

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    A 200 m do rio, adolescentes vivem sozinhas, temem at a me e pem bonecas na geladeira que no funciona

    Umavez papai saiue ela (amedeumadasmeninasencontradassozinhaspelareportagem)trouxeum homem.Fecheiajanelanacara dele. Papaidiziaqueera para nodeixar nenhummachoentrar,masmameficou comraiva

    Ela malvada. Saa para a festa,deixavaasminhasirmscomigo.Com14 anos, comecei a beber.Mamenosustenta a gente.Dizqueno sustentafilhocommaisde10 anosde idade

    Agentenasceuno interior.Quandocrescemosum

    pouquinho,mametrouxeagentepara c.Depoissaiudecasa, levouo fogo.Mamebebee ficadescontrolada

    Sada escolaporquemeu bebadoeceue tivede passarmuitotempono hospital

    No prostbulo, crachs e polcia de canto

    Empresas listamprogramas sociais, incluindo alguns depreveno exploraosexual, mas negamque funcionriosseenvolvamemabusos

    BRASLIA

    A Alcoa, a Petrobrs e a Valedizemquenohenvolvimentodiretodeseusfuncionrioscoma prtica da explorao sexualde crianas em Juruti, Coari e

    Parauapebas.Eafirmamquefi-zeram estudos prvios de im-pacto social nas cidades ondeoperam e gastam milhes emprogramas desenvolvidos emparceria com prefeituras e co-munidades.

    Pormeiodenota,aAlcoadizque o programa de combate explorao sexual de crianasfeitoemparceriacomoInstitu-toWCF-Brasil,oTecendoaRe-de, comeou em maio com acapacitao de agentes sociais.A empresa ainda destinou R$50milhesparaumaagendapo-sitiva definida pela comunida-de.Partedessedinheirovaiser-

    virparareforaraestruturadoConselho Tutelar e construiruma sede para o rgo.Todosos funcionrios admitidos naminafazemumtreinamentodeintegrao,ondesotransmiti-dos procedimentos e informa-esrelacionadosasade,segu-rana,meioambienteelinhadeconduta, informa a empresa.Quantoviolnciasexualprati-cada por funcionrios contracrianas, a nota oficial destacaque no h nenhum registronesse sentido.

    A Petrobrs, tambm pormeio de nota oficial, ressaltouque, desde 1986, aperfeioouum modelo de desenvolvimen-to sustentvel na Amaznia,queculminoucomumPlanoDi-retor de Sustentabilidade,com67diretrizes.A orientao era

    fazeraocupaocomrespeitoregio e sem alterar a vida dascomunidades nativas, afirma.Com 20 anos de experincia

    bem-sucedidano local, a Petro-brstrabalhaparatornarapro-duo de petrleo em Urucu

    umparmetrointernacionaldedesenvolvimento sustentvel.

    Oficinas de preveno ex-plorao sexual de crianas eaotrabalhoinfantil,almdecur-sos de planejamento familiar,gravidez precoce, higiene bu-cal,combatemalriaeaotaba-gismo esto na lista de ativida-des da estatal. Outro progra-ma, o Transpetro Comunida-des,beneficiacomaessociais610reasporondepassaogaso-

    duto.HaindaoprojetoResga-tando a Cidadania, que atende250 adolescentes em Coari,com oficinas de marcenaria epinturadetecidos.Aobratematualmente 8.393 trabalhado-res. Desse total, a maioria(8.163) de trabalhadores dasconsorciadas.Somente 230soempregados da Petrobrs.Nessa obra atuam homens deAndradeGutierrez,CariocaEn-genharia, Camargo Correia eSkanka.De2007parac,aesta-tal teria investido R$ 3,4 mi-lhes em programas sociais noEstado do Amazonas.

    A Vale informou que vai in-vestir R$ 98 milhes no Par,nesteano,emaessociais.Sl-

    vio Vaz, diretor da FundaoVale, destaca a construo deuma escola profissionalizantenaApadoGelado,regiodeCa-rajs, alm de plos de atendi-mento tcnico a agricultores.Cita tambm um programa es-portivo que atender 17 milcrianas em nove cidades do

    Maranho e oito do Par se-ro beneficiados inicialmente500meninose meninas.

    OdiretorlistatambmoVa-leJuventude,programadetrei-namento de agentes que traba-lham, em cinco cidades, temas

    como gravidez precoce, abusosexual e explorao infantil.Ocrescimentoeconmiconode-

    ve ficar descolado do cresci-mento social,afirma Vaz.

    Segundoele,aValeprestaas-sessoriaaprefeitosnodesenvol-

    vimentode projetospara obterrecursosfederais do Programade Acelerao do Crescimento(PAC). Nstambm temosin-teresse na construo de esco-las,redesdeguaeesgotoemo-radias, pois o nosso funcion-rio ou um terceirizado que mo-ranessascidades,afirma.Es-tamos comprometidos paraqueelestenhamtodosessesbe-nefcios.

    Vaz destaca que a empresatrabalhaemparceriasparaten-tarresolverosproblemasdein-fra-estrutura dos lugares ondeopera, mas admite que a situa-o ainda precria. No te-nho medo de falar que aindano temos (a infra-estrutura).Mas a nossa meta contribuirparaque essas cidades tenhamresolvido 100% de seus proble-masem quatro anos.

    O Conselho Tutelar de Pa-rauapebasj considerauma vi-tria sobrea Valeter consegui-doacabarcomoestacionamen-tode caminhesna portaria deCarajs,oprincipalpontodeex-plorao de crianas. Os cami-nhoneirosqueesperavamavezpara entrare carregarna mina

    violentavammeninas. L.N.

    JURUTI (PA)

    De frente para o prostbulo daGilda,o maiorde Juruti, o faroldo carro usado pela reporta-gem aceso. Sem que os fre-qentadores do lugar perce-

    bam so feitas fotos de adultoscom crianas, algumas com 12anos,naportaria.Ldentro,pe-lomenos30menoresde17anosacompanham adultos, muitoscom crachs de empresas queatuam nasobras da exploraoda minade bauxita.

    O crach virou smbolo destatus na cidade. Homens altosparaospadreslocaisedepeleclaradestoam.Soosfuncion-rios graduados das empresas

    que usam camisas e calas so-ciais. Outros funcionrios, me-nos graduados, com roupasmais esportivas, formam amaioriados freqentadores.

    Msicos amadores execu-tamcaneserticas,deincita-o ao sexo. Grande parte dasmenores tem sempre uma latadecerveja na moe vestesaiaseshortsbemcurtos.Napistadedana,umameninade12anosagarradaporumhomemdecra-ch. Depoisporoutro. 1 hora,doispoliciaischegamaoprost-

    bulo. Em seguida, estacionauma caminhonete com outros

    quatro agentes.Os policiais en-trame ficam parados numcan-to. Um adulto segurando umaadolescente pelo brao passaporeles. A meninatem13 anos.Cada programa, que pode serfeitoem cmodos de barraces

    nosfundos do quintal,custaR$50. Traficantes vendem pastadecocanae maconha nolocal.

    Enquantoisso,aAlcoainves-te R$ 1,5 bilho na exploraode bauxita no municpio e, emparceria com a prefeitura, de-senvolve o projeto Juruti Sus-tentvel. No vejo onde est osustentvel do projeto deles,reclamaJooCarlosGonalvesPereira,quenosltimosquatroanosacompanhoucomo conse-lheiro tutelar o problema dascrianas na regio. muitamentira, dizem que desenvol-

    vemumasriedeprojetos,masnovejoresultados.Omedode-lesacontecerumarevoltaeaspessoasfecharemasestradas.

    No culpo s o sistema Al-coa, mas o poder pblico queno investe em polticas pbli-casparacrianas,afirmaJooCarlos, que montou um grupoteatral para encenar a vida deJesus Cristo com crianas po-

    bres,muitastiradasdaexplora-osexual.Nsaindaestamostecendonossaredecontraoses-quemas poderosos,afirma.

    Um exemplo da situao es-ta200metrosdomaiorriodomundo, o Amazonas, onde trsirms vivemsem gua encana-da, energia eltrica e proteocontra adultos agressores. As

    meninas de 16, 14 e 12 anos fo-ram abandonadas pela me prostituta e moram num c-mododemadeiracomopai.Nodiada entrevista, tinham comi-do farinha com um peixe assa-donumfogoalenha.Ageladei-radesligadaservesparaguar-darbonecas.

    Ameninade16anosestgr-vidade2meses.Adomeiopode

    ter sofrido explorao sexual,segundo Varluce Augusta dosSantos, servidora pblica e ex-integrante do conselho tutelar,que acompanha o dilogo. A fi-gura da me causa temor nasmeninas.Umavezpapaisaiueelatrouxeum homem. Fechei a

    janela na cara dele. Papai diziaqueerapara nodeixar machoentrar, mas mame ficou comraiva,contaade14anos,tensa,roendo as unhas. Agitada, vaiat uma bacia onde passa a la-

    varroupasde bonecas.A menina de 16 anosdiz que

    deixou de ir escola por causa

    dame.Elamalvada.Saapa-raafesta,deixavaasminhasir-mscomigo.Com14anos,come-ceiabeber.Mamenosusten-taagente.Dizquenosustentafilhocommaisde10anosdeida-de,afirma.Agentenasceunointerior. Quando crescemosumpouquinho,mametrouxeagente para c. Depois saiu decasa, levou o fogo.Mame be-

    bee ficadescontrolada.Na extensa rua sem cala-

    mento, tomada pela poeira eque acaba no rio, h outros ca-sos de adolescentes explora-das. Uma vizinha das trs ir-ms,de14anos,temumfilhode7meses.Ameninaabandonoua

    escolana5sriedoensinofun-damental. Sa da escola por-quemeubebadoeceuetivedepassar muito tempo no hospi-tal, conta.

    FUTURO

    Quando indagada se tem pla-nos de voltar ao colgio, come-aachorar.Eparadefalar.Emseguida, uma irm de 16 anos,comfilhonocolo,emtomdeinti-midaodizqueoproblemade-la est resolvido porque o paida criana assumiu. Varluce,quetudoacompanha,olhaparauma terceira irm, adolescen-te, e diz que isso no resolve oproblema. LEONENCIONOSSA

    Multinacionais dizem investirmilhes e ser parte da soluo

    Alcoa, Petrobrs eVale garantem queprestam assessorias prefeituras

    CARAJSEstradade ferroatoMaranhofoiconstrudapelaVale

    SEMAMPAROOsconselheirostutelares tentamminimizaros problemaspormeiode visitasconstantesa reasmaispobrese chegama levarasgarotasparasuascasas,paraevitarquese prostituamnasruasFOTOS:CELSO

    JUNIOR/AE

    CELSO JUNIOR/AE

    FRASES

    Cada programacusta R$ 50 e nomesmo local h

    venda de drogas

    RETRATOS DO BRASIL q

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    DOMINGO,7 DESETEMBRO DE 2008 CIDADES/METRPOLE C5O ESTADO DE S. PAULO CIDADES/METRPOLE C5