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Estatísticas do Século XX

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  • Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Planejamento, Oramento e GestoPaulo Bernardo Silva

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE

    PresidenteEduardo Pereira Nunes

    Diretor ExecutivoSrgio da Costa Crtes

    rgos Especficos Singulares

    Diretoria de PesquisasWasmlia Bivar

    Diretoria de GeocinciasGuido Gelli

    Diretoria de InformticaLuiz Fernando Pinto Mariano

    Centro de Documentao e Disseminao de InformaesDavid Wu Tai

    Escola Nacional de Cincias EstatsticasPedro Luis Nascimento Silva

    Unidade Responsvel

    Centro de Documentao e Disseminao de Informaes

    AssistenteMagda Prates Coelho

  • Ministrio do Planejamento, Oramento e GestoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGECentro de Documentao e Disseminao de Informaes

    Rio de Janeiro2006

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  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGEAv. Franklin Roosevelt, 166 . Centro . 20021-120 . Rio de Janeiro . RJ . Brasil

    ISBN 85-240-3894-2 (DVD) IBGE . 2006

    Elaborao do arquivo PDFRoberto Cavararo

    Produo da multimdiaMarisa Sigolo MendonaMrcia do Rosrio Brauns

    CapaGerncia de Editorao/CDDIMnica Pimentel Cinelli Ribeiro

    Ana Bia Andrade

    Folhas de GuardaOperrios, 1933

    Tarsila do Amaralleo sobre tela 150 x 205cm

    Palcio Boa Vista, Campos do Jordo, SP.

    Criana Morta, 1944Cndido Portinari

    Painel a leo/tela 180 x 190 cm Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand MASP

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    SUMRIOSUMRIOAPRESENTAO

    INTRODUO

    O BRASIL DO SCULO XXENTREVISTA COM CELSO FURTADO

    ESTATSTICAS POPULACIONAIS,SOCIAIS, POLTICAS E CULTURAIS

    O BRASIL SOCIAL CONTADO PELO IBGE NO SCULO XXWANDERLEY GUILHERME DOS SANTOS

    POPULAO E ESTATSTICAS VITAISNELSON DO VALLE SILVA E MARIA LIGIA DE O. BARBOSA

    ASSOCIATIVISMO E ORGANIZAES VOLUNTRIASLEILAH LANDIM

    ESTATSTICAS DO SCULO XX: EDUCAOCARLOS HASENBALG

    HABITAO E INFRA-ESTRUTURA URBANANSIA TRINDADE LIMA

    JUSTIAMARIA TEREZA SADEK

    PREVIDNCIA E ASSISTNCIA SOCIAL NOS ANURIOS ESTATSTICOS DO BRASILGILBERTO HOCHMAN

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    IBGE

    SADE NOS ANURIOS ESTATSTICOS DO BRASILNSIA TRINDADE LIMA E FRANCISCO VIACAVA

    SINDICALISMO, TRABALHO E EMPREGOADALBERTO MOREIRA CARDOSO

    ESTATSTICAS DO SCULO XX SOBREREPRESENTAO POLTICA E PARTICIPAO ELEITORAL NO BRASILFABIANO SANTOS

    ENTRE O PALCO E A TELEVISOSERGIO MICELI

    ESTATSTICAS ECONMICAS

    O BRASIL NO SCULO XX: A ECONOMIAMARCELO DE PAIVA ABREU

    FINANAS PBLICAS BRASILEIRAS NO SCULO XXANTONIO CLAUDIO SOCHACZEWSKI.

    NVEL DE ATIVIDADE E MUDANA ESTRUTURALREGIS BONELLI

    O SETOR EXTERNO BRASILEIRO NO SCULO XX JORGE CHAMI BATISTA

    RENDIMENTOS E PREOSGUSTAVO GONZAGA E DANIELLE CARUSI MACHADO

    SCULO XX NAS CONTAS NACIONAISEUSTQUIO REIS, FERNANDO BLANCO, LUCILENE MORANDI,MRIDA MEDINA, MARCELO DE PAIVA ABREU

    TENDNCIAS DE LONGO PRAZO DAMOEDA E DO CRDITO NO BRASIL NO SCULO XXANTONIO CLAUDIO SOCHACZEWSKI

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    APRESENTAOAPRESENTAO

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, orgulhosamente, publica as Estatsticas doSculo XX com dados histricos sobre a realidade socioeconmica brasileira que se consolidou aolongo do ltimo sculo.

    Reunidas numa obra composta por um volume impresso acompanhado de um CD-ROM, que contmmais de 16 000 arquivos com tabelas e sries histricas, essas informaes so provenientes do prprio IBGE ede outros rgos do Governo Federal e foram selecionadas dos Anurios Estatsticos e das EstatsticasHistricas do Brasil. So informaes estatsticas que retratam as transformaes ocorridas na demografia,educao, cultura, sade, habitao, sindicalismo, trabalho, rendimento, preos e contas nacionais do Pas.

    Os pesquisadores envolvidos no projeto foram unnimes em constatar que trata-se de um retrato amplomas descontnuo e, por isso mesmo, coerente com as marchas e contramarchas de um sculo em que aindustrializao e a democracia se consolidaram no Brasil.

    Convidados pelo o IBGE, os professores Wanderley Guilherme dos Santos e Marcelo de PaivaAbreu coordenaram os trabalhos de anlise da enormidade de estatsticas sociais e econmicas existentes,analisadas e comentadas tematicamente por um grupo de renomados especialistas responsveis pelosensaios contidos na publicao.

    Com esta iniciativa, pretendemos homenagear aqueles que ajudam a instituio a cumprir a sua misso deretratar o Brasil com as informaes necessrias ao conhecimento da sua realidade e ao exerccio da cidadania. Entre estes,queremos especialmente destacar o Professor Celso Furtado, pelos importantes trabalhos dedicados investigao dos problemas brasileiros e seu subdesenvolvimento. Sua obra contribui permanentemente paraque a sociedade brasileira preste ateno ao estudo da nossa realidade, passada e presente, e assuma o propsitode construir um futuro com menos desigualdades sociais. Tudo isso, inegavelmente, aproxima o economista,professor, ministro e cidado brasileiro Celso Monteiro Furtado do IBGE.

    Hoje, passados 67 anos desde a criao do IBGE, acreditamos que a produo de estatsticas no Brasilsitua-se num patamar equivalente ao dos pases mais desenvolvidos. No entanto, sabemos que ainda precisamosavanar muito. E este o desafio para o Sculo XXI.

    EDUARDO PEREIRA NUNESPRESIDENTE DO IBGE

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    INTRODUOINTRODUO

    Oprojeto que deu origem publicao Estatsticas do Sculo XX teve como objetivo recuperar, organizare colocar disposio do pblico o acervo de estatsticas referentes a reas temticas previamenteselecionadas, de modo que permitisse a reconstituio da histria do Brasil atravs dos dados estatsticos produzidosnum sculo.

    Para isso, o IBGE reuniu especialistas em populao, economia, poltica, cultura e na rea social paraselecionarem e analisarem as estatsticas de cada um desses temas. Os dados foram recuperados do acervo doIBGE na coleo dos Anurios Estatsticos e atravs de levantamentos feitos a partir das Estatsticas Hist-ricas do Brasil; os textos representam a viso dos especialistas enquanto usurios externos das informaesproduzidas pelo IBGE.

    Esta obra composta de um livro e de um CD-ROM. Em ambos o contedo est dividido em duas partes:a das estatsticas sociais, culturais, polticas e populacionais e a das estatsticas econmicas.

    O CD-ROM contm mais de 16 000 arquivos de tabelas, contemplando as duas partes. Essas tabelaspassaram por um complexo processo de converso para o meio digital, incluindo as etapas de escaneamentoe de reconhecimento ptico de caracteres (OCR). Durante esse processo manteve-se uma constante orientaoe superviso dessas atividades para assegurar a transformao na ntegra do material original para os arquivosque viriam a compor o CD-ROM.

    O livro apresenta um conjunto de textos para cada uma das partes, que alm de variarem na temticatambm possuem abordagens diferentes.

    Os textos sobre populao e panorama sociopoltico e cultural do Brasil no Sculo XX se detiveram nadescrio do conjunto de dados e na avaliao de sua comparabilidade e do seu potencial de utilizao, visto queas estatsticas no apresentavam qualquer organizao. Elas se distribuam desigualmente pelos 60 AnuriosEstatsticos publicados no sculo, com quase total ausncia de sries histricas ou fator que mostrasse algumtipo de aglutinao entre elas.

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    IBGE

    Os textos sobre as estatsticas econmicas tm como referncia as estatsticas do IBGE e de outros rgospblicos, que atualizam as sries histricas j publicadas pelo Instituto. Diferentemente dos textos da parte ante-rior, no se detiveram na avaliao das estatsticas publicadas, mas na anlise da evoluo dos diferentes aspectosda economia brasileira luz de sries histricas atualizadas dos respectivos temas.

    A publicao apresenta tambm uma entrevista com o Professor Celso Furtado, que introduz o leitor sestatsticas presentes nesta obra e antecipa a percepo crtica da evoluo do Pas em todas as suas dimenses econmica, social, poltica, cultural e populacional atravs das estatsticas do Sculo XX.

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    Eduardo Pereira Nunes Presidente do IBGE As Estatsticas do Sculo XX, publicadas pelo IBGE, mostramque o Brasil iniciou o sculo com uma economia agrrio-exportadora, recm-sada de um regime escravista detrabalho, e se transformou em uma economia industrial apoiada no trabalho assalariado e com um alto grau deurbanizao. Como o senhor sintetizaria essa evoluo da economia brasileira?

    Celso Furtado Em primeiro lugar, eu diria que uma iluso imaginar que o Brasil provavelmente sedesenvolveu nessa escala. A verdade que o Brasil continua sendo uma constelao de regies de distintosnveis de desenvolvimento, com uma grande heterogeneidade social, e graves problemas sociais que preocupama todos os brasileiros.

    No comeo do Sculo XX, a ocupao das terras no Brasil no formava propriamente um sistema econmico,pois as conexes comerciais entre as regies eram precrias. As ligaes entre o Norte e o Nordeste com oCentro-Sul dependiam de uma frgil navegao de cabotagem. Tratava-se de uma realidade poltica decorrentedo centralismo do imprio portugus. A nica regio que dependia do mercado interno era o extremo-sulpecurio. Esse quadro se modificaria com a forte expanso do caf no altiplano paulista e a extrao deborracha na regio amaznica. Nestes dois casos, houve importantes deslocaes de populaes. Mas aestruturao de um sistema econmico nacional s viria a ocorrer nos primeiros decnios do Sculo XX, com oavano da industrializao.

    Eduardo Pereira Nunes O ltimo Censo Demogrfico revelou que a populao brasileira cresceu quase dezvezes neste sculo: passou de 17 milhes em 1900 para quase 170 milhes em 2000. No incio do sculo, cercade 52% da populao ocupada trabalhava no campo. Em 2000, essa proporo caiu para 17%, e 80% dapopulao vivia na rea urbana.

    Em 1900, a agropecuria contribua com 45% do PIB; a indstria com 11%, e os servios, com 44%. J em2000, essa distribuio passou a ser de 11% para a agropecuria, 28% da indstria e 61% para os servios.

    Qual o impacto do avano da industrializao, combinado com o xodo rural, sobre a organizao das cidades edo mercado de trabalho no Brasil?

    ENTREVISTA COM CELSO FURTADO

    O BRASIL DO SCULO XXO BRASIL DO SCULO XX

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    O BRASIL DO SCULO XXENTREVISTA COM CELSO FURTADOIBGE

    Celso Furtado Esses dados so muito importantes, mas so um pouco ilusrios quando se pretendeesclarecer o que aconteceu no Brasil. A estrutura ocupacional da populao ativa um dado que deve serutilizado com muito cuidado. O mundo rural abrigava um considervel excedente de populao submetida aformas extremas de explorao. Por motivos diversos, essa populao deslocou-se para as zonas urbanas. Apartir dos anos 70 do sculo passado, o vis tecnolgico assumido pelo setor industrial, submetido a crescenteconcorrncia internacional, traduziu-se em forte declnio na criao de emprego. Este um dos motivos pelosquais o Brasil enfrenta atualmente um problema social de gravidade excepcional.

    Mas o processo de urbanizao da sociedade brasileira no semelhante ao que se verifica na Europa e emoutras partes do mundo. Na Europa, a urbanizao decorreu da criao de um mercado de trabalho muitointenso nas cidades, que absorveu o excedente de populao rural, transformando o continente ao longo dosanos. No Brasil, o processo migratrio do campo para a cidade ocorreu de forma distinta: houve uma fase, nametade do Sculo XX, em que se criou muito emprego no setor industrial, mas nos ltimos 30 anos o empregoindustrial j no cresceu. O crescimento da populao urbana inchou as cidades, mas nelas no se criouemprego suficiente para absorver toda essa gente, da as taxas de desemprego crescentes, a marginalidade.

    Eduardo Pereira Nunes E esse processo tem repercusso na distribuio de renda e na formao demercado?

    Celso Furtado Tem srias repercusses negativas, especialmente no perfil social, porque o Brasil cresceumuito mas, no essencial, no se transformou. Por exemplo, crescente, em nmeros absolutos, a massa depopulao subempregada ou desempregada. No se pode admitir que um pas possa se urbanizar torapidamente criando apenas subemprego urbano.

    Eduardo Pereira Nunes Isto , necessrio que o emprego tenha qualidade, cuja renda permita aoempregado se transformar em um consumidor dos bens produzidos, criando um mercado de massa.

    Celso Furtado Sim. necessrio criar empregos que permitam uma insero social plena. O queocorreu no Brasil foi a criao de uma enorme massa de subempregados. Este o fenmeno das cidadesbrasileiras de hoje, sendo a cidade de So Paulo o exemplo conspcuo, com quase vinte por cento de suapopulao sem emprego. Os trabalhadores tm de ficar pedinchando empregos, porque as grandesempresas no querem cri-los. Estranhamente, elas no criam empregos, mas enfrentam problemas de faltade mercado para seus produtos.

    Eduardo Pereira Nunes Essa massa de subempregados explica o fato de, no Brasil, a taxa de desempregono ser to elevada? Estudos mais abrangentes sobre as estatsticas de emprego deveriam contemplar oemprego, o desemprego, o subemprego, ou emprego de qualidade e renda precrias.

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    Celso Furtado Exato, mas estamos falando apenas do quadro urbano. No setor rural tambm houve umatransformao muito especial. Assistimos a uma forte presso para desempregar no campo,particularmente no Centro-sul do Brasil, onde a mecanizao da agricultura tem sido muito intensa nosltimos tempos. O desemprego no mundo rural no decorreu apenas do crescimento da produtividade,mas tambm da impressionante concentrao das terras em todo o Brasil, isto , do crescimento doslatifndios.

    A massa de populao que perdeu seu emprego no campo contribuiu para a forte reduo da populaorural, como mostra o livro do IBGE sobre as Estatsticas do Sculo XX. O declnio da populao rural e doemprego no campo no teve como contrapartida a criao de empregos urbanos. O resultado foi que oBrasil terminou o Sculo XX com esse bolso enorme de desempregados e subempregados urbanos.

    Eduardo Pereira Nunes Podemos ento dizer que o modelo brasileiro de desenvolvimento do setorurbano e do setor rural no exatamente igual quele que os modelos clssicos da economia sugerem?

    Celso Furtado O Brasil um caso parte e os problemas sociais se agravam a cada dia. Quem observao Pas se impressiona com esse quadro. O Brasil cresceu. Hoje em dia, uma das dez maiores economiasdo mundo e tem um sistema industrial complexo. Mas, ao mesmo tempo, este Pas tem uma massa enormede subempregados. A parte da populao que no participa dos benefcios do desenvolvimento togrande que este passa a ser um dos principais problemas, seno o prioritrio, de quem governa o Brasil.

    Qual ser o futuro deste Pas, se continuarmos a expelir a populao do campo, a reduzir o emprego no campocomo se fez intensamente nos ltimos 20 anos? Vamos expulsar a populao rural para a beira das estradas?

    impressionante ver esses desempregados e subempregados querendo invadir as terras no prprio campo e nascidades. Este um problema social cada vez mais difcil de resolver, enquanto no se atacar o fundo da questo.Para superar a situao atual, urgente pensarmos na criao de empregos.

    Veja os dados que vocs publicaram sobre o setor industrial: a indstria brasileira se modernizouconsideravelmente, aumentou a produtividade e outro lado dessa moeda causou o declnio do empregoindustrial. A indstria automobilstica, por exemplo, hoje emprega um tero do contingente que empregou h dez,vinte anos atrs, em virtude do forte aumento da modernizao da produo e dos sistemas, da terceirizao, etc.

    Paralelamente, precisamos pensar numa poltica rural de outro tipo, a fim de atrair gente para trabalhar nocampo, mas com base em um modelo novo. O desafio ser criar emprego no campo sem inviabilizar a produonas grandes propriedades. preciso criar uma agricultura variada: produo comercial e familiar. Muita gente jest debatendo isso. O Movimento dos Sem-Terra pensa nessa direo, est consciente disso.

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    Eduardo Pereira Nunes O senhor sugere ento que o Brasil precisa conciliar o agronegcio, de grandeprodutividade, com tecnologia avanada intensiva em capital, voltado para exportao, com uma agriculturafamiliar intensiva em mo-de-obra, voltada para o mercado interno, levando em conta a imensa extensoterritorial, as terras disponveis e a necessidade de preservao do meio ambiente?

    Celso Furtado Quando debato esse problema internacionalmente, todos partem do seguinte raciocnio: oBrasil um Pas inexplicvel, pois com essa abundncia extraordinria de terras, o que hoje em dia rarssimo,tem uma massa enorme de desempregados! Por que no utilizar as terras disponveis para criar emprego? inexplicvel! Como defender esse modelo de desenvolvimento que cria desemprego e subemprego num Pas deterras abundantes e ociosas? Por que a invaso de terras preocupa mais do que a constatao do imensonmero de desempregados e subempregados?

    Eduardo Pereira Nunes Ns temos que nos preocupar com o impacto do nosso modelo atual dedesenvolvimento sobre o meio ambiente, sobre a estrutura agrria e sobre o mercado de trabalho. Este modelo,para ser sustentvel, tem de associar a poltica de ocupao de terras voltadas tanto para o agronegciocapitalista desenvolvido quanto para uma agricultura familiar geradora de emprego e abastecedora do nossomercado interno, sempre preservando os recursos naturais.

    Celso Furtado Exato. Esse o problema a ser enfrentado, a ser discutido pelos governantes. O governo queno enfrent-lo de verdade ter falhado na poltica de desenvolvimento. Desenvolvimento no Brasil, hoje emdia, essencialmente solucionar o problema social. Este o desenvolvimento sustentvel. No basta apenasaumentar o produto. Depois de ter assistido a tantos anos de transformaes, creio que esse o problema maisgrave do Brasil atual. Um pas que no tem uma populao rural e uma agricultura forte uma economia muitofrgil. Como manter o equilbrio interno entre os setores?

    Na primeira metade do Sculo XX, o Estado ainda absorvia mo-de-obra dos imigrantes que vieram da Europa.Como era um Pas de terras abundantes e virgens, nessa poca o Brasil conciliava o setor rural com o setorurbano. At os anos 50, no havia preocupao com a gerao de emprego, mas sim com a produtividade, a fimde se ganhar competitividade internacional. Ou seja, o Estado precisava fomentar a criao de indstriasmodernas, ou no teramos desenvolvimento. Isso era aceito como sendo uma lei da natureza. Mais adiante, oresultado dessa poltica foi uma situao crescente de desemprego estrutural, que atualmente prevalece.

    O Brasil tem terras abundantes e baratas, tem mo-de-obra disponvel. Por que enfrenta tantasdificuldades? Por que tem crescentes problemas sociais? Por que o desenvolvimento s para servir umaminoria? Eu no consigo explicar.

    Ainda num passado recente, nem mesmo os economistas queriam debater esse problema, que agora imperativo.

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    Eduardo Pereira Nunes Eu gostaria de voltar aos anos 50, quando o senhor comeou a discutir comRostow e outros economistas as teorias do desenvolvimento prevalecentes. Na poca, o senhor j contestava asteorias de que o subdesenvolvimento era uma etapa histrica do processo de desenvolvimento. De acordo comaquela teoria, todas as economias passavam por uma etapa de subdesenvolvimento, para, depois, alcanar umestgio superior de desenvolvimento. Dessa forma, podia-se concluir que o planejamento econmicorepresentava uma interferncia desnecessria e indesejvel do Estado nas trajetrias das economias nacionais.Podemos dizer que o debate atual sobre o papel do Estado na formulao de polticas ativas dedesenvolvimento, tecnolgicas e de comrcio exterior representa uma volta quele antigo debate e quelapostura que o senhor j contestava nos anos 40 e 50?

    Celso Furtado Vamos responder por etapas. Primeiramente, a questo do desenvolvimento esubdesenvolvimento. Em meu primeiro livro de teoria econmica, escrito no final dos anos 50, defendi a tese deque o subdesenvolvimento no era uma fase pela qual tiveram de passar todas as economias, e sim a situao dedependncia que decorria de como as economias se inseriram nas correntes de expanso do comrciointernacional, a partir da Revoluo Industrial.

    Eu pretendi rebater as idias de Rostow, que eram amplamente dominantes na poca.

    Estvamos ambos em Cambridge, eu e Rostow, o famoso economista que formulou a teoria dos cinco estgiosdo desenvolvimento. Ao ouvir o debate sobre essa teoria, pensei: um absurdo; no pode haver isso; a nossasituao no uma fase, pois nela estamos h 100 anos; nada mudou; somos sempre subdesenvolvidos, e osoutros esto cada vez mais frente. Ento, havia que repensar tudo isso. Foi quando formulei a teoria dosubdesenvolvimento.

    Comparando pases de distintos nveis de renda per capita, percebi que o que fazia a diferena era a forma comocada pas incorporava a tecnologia moderna. A simples modernizao dos hbitos de consumo, mediante aimportao de veculos de luxo e artigos do gnero, podia significar o enriquecimento de uma elite local, masestava longe de ser um autntico desenvolvimento.

    Se comparamos as economias da Argentina e do Japo no primeiro quartel do Sculo XX, comprovamos que arenda per capita do pas latino-americano era muito superior do asitico, apesar de a economia deste ltimoser bem mais desenvolvida.

    A verdade que os pases que comearam pelo caminho certo tenderam a uma diversificao na economia foio chamado progresso enquanto outros se especializaram na produo de matrias-primas, absorvendo muitopouco progresso tcnico. Portanto, constituram um quadro diferente, que chamei de estgio desubdesenvolvimento. Dele no se sai sem srias transformaes estruturais. No h um avano automtico para

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    o estgio do desenvolvimento. preciso fazer um grande esforo de transformao e enfrentar osproblemas estruturais. Portanto, esse era um quadro novo. Reuni essas idias em meu livroDesenvolvimento e Subdesenvolvimento, de 1961 . Na poca, poucos aceitaram a teoria dosubdesenvolvimento. Hoje em dia, ela est evidente: todos percebemos que um pas pode crescer muito,como o Brasil cresceu, e continuar subdesenvolvido. Por que o Brasil no reduziu osubdesenvolvimento, se o seu PIB cresceu 100 vezes no Sculo XX?

    Durante muitos anos trabalhei nesse tema, e s cheguei a perceber o mago da questo quando introduzi oaspecto cultural. Alguns pases podem ter crescimento econmico, a partir dos produtos primrios. Teroaumento de renda, o qual poder ser apropriado por uma minoria, por uma elite que adota, ento, padres deconsumo e formas de viver tpicas dos pases mais ricos, e totalmente incompatveis com o nvel de renda doprprio pas. Esse pas crescer economicamente, mas no se transformar, ao contrrio, se deformar.

    Eduardo Pereira Nunes Moderniza-se o padro de consumo, mas no se absorve a tecnologia moderna deproduo.

    Celso Furtado Absorve-se a tecnologia moderna, mas num setor, ou noutro. No setor de exportao, aproduo de soja tem a tecnologia mais moderna, mas o conjunto da economia nacional no se transforma.Crescem a produtividade e a renda per capita, mas, se no houver distribuio dessa renda, apenas sereproduzem os padres de consumo dos pases mais ricos. As elites do Brasil vivem to bem, ou melhor, do queas do chamado Primeiro Mundo. O subdesenvolvimento cria um sistema de distribuio de renda perverso, quesacrifica os grupos de renda baixa. Pois inerente economia capitalista a tendncia concentrao social darenda. O processo competitivo da economia de mercado exige a seleo dos mais fortes, e os que vo passandona frente concentram a renda. Essa tendncia pode ser corrigida pela ao das foras sociais organizadas, quelevam o Estado capitalista a adotar uma poltica social. Na Europa, onde se criaram grandes sindicatos, asociedade civil se modificou, evoluiu, e a prpria luta social passou a ser um elemento dinmico. Se a Europaavanou tanto no foi s porque cresceu economicamente, mas porque redistribuiu a renda, o que foi possvelgraas s presses dos poderosos sindicatos. O problema que nas economias subdesenvolvidas a ao dessasforas sociais de muito menor eficcia. Aqui, a tendncia agravao das desigualdades somente se reduz emfases de forte crescimento do intercmbio internacional. Da o fator poltico ser to relevante nos pases doTerceiro Mundo.

    Eduardo Pereira Nunes Qual deve ser o papel do planejamento econmico?

    Celso Furtado Em relao ao planejamento econmico, digo o seguinte: se um pas acumulou tamanhoatraso, como o caso do Brasil, no pode sair dessa situao pelo mercado. Este no suficiente, pois no far

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    as transformaes estruturais necessrias. O mercado concentra renda e preciso desconcentrar. O passubmetido por longo tempo a um processo de concentrao de renda, como est acontecendo no Brasil,adquire uma rigidez estrutural muito grande. difcil impor as reformas. Veja o debate atual sobre as reformassociais. A classe dominante quer defender de todas as maneiras os seus privilgios. H uma resistncia enormepara ceder. A concentrao de renda , no fundo, uma contrapartida das lutas sociais. A lgica do capitalismo a de concentrar renda, mas ele prprio engendra foras sociais que vo pression-lo para desconcentrar. E seudesenvolvimento surgiu da interao dessas foras, de um lado o progresso tecnolgico criando desemprego, deoutro os movimentos sociais pressionando para criar emprego. Foi assim nos pases onde o capitalismo sedesenvolveu em sua plenitude: as lutas sociais permitiram a desconcentrao da renda. Em cada cicloeconmico, em cada movimento social, os salrios se corrigiam, os salrios mdios cresciam cresciam tantoquanto a produtividade. Concentra, desconcentra: so as crises cclicas, que redistribuem a renda, permitem aretomada do crescimento; o capitalismo andando, navegando, indo de crise em crise, mas, em geral, crescendo.

    Porm, num Pas subdesenvolvido, que acumula o atraso, isso no ocorre: a sociedade no capaz de reagirsuficientemente para modificar o quadro. No Brasil no se tem esse dinamismo do sistema capitalista, porque osmovimentos sociais so fracos. A elevao dos salrios o o que h de mais difcil num pas como o Brasil. Isso uma deformao social, que no fundo o espelho do subdesenvolvimento.

    Eduardo Pereira Nunes Por isso o subdesenvolvimento no uma etapa do desenvolvimento, mas umadeformao. Os pases mais desenvolvidos Estados Unidos, Europa ocidental e Japo so aqueles que aolongo do seu processo de desenvolvimento sempre realizaram polticas ativas de desenvolvimento cientfico,tecnolgico, procurando promover o crescimento e a distribuio da renda nacional.

    Olhando os pases menos desenvolvidos o senhor tem destacado a enorme desigualdade social. Como explicarque o Brasil, que procura elimin-la, enfrente tanta dificuldade no cenrio internacional, por exemplo, no mbitoda Organizao Mundial do Comrcio, para executar as suas polticas ativas? E os pases que um dia aspraticaram so os que hoje se opem a prticas semelhantes adotadas pelo Brasil?

    Celso Furtado Essa a realidade. muito difcil enfrent-la porque as foras organizadas so, na verdade,contra os pases pobres. Na OMC todos os debates so para preservar os privilgios dos pases ricos. Apoltica americana nesse quesito muito clara. Na Unio Europia, passa-se o mesmo. No existeglobalizao quando se trata da necessidade de repensar o mundo. Hoje em dia proibido subsidiar asexportaes, como antigamente o Brasil tanto fez. O poder est se concentrando em todos os planos e issovai criar dificuldades novas. Evidentemente, o que esperamos que pases como o Brasil se unam para lutarpor novas formas de desenvolvimento.

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    Por outro lado, eu me pergunto se o Brasil precisa tanto desse apoio externo para se desenvolver. H umaabundncia to grande de recursos naturais, de mo-de-obra subempregada, de capacidade tcnica, e mesmocientfica! Ento, por que no buscar um caminho prprio para se desenvolver? Entre a dcada de 30 e a de 70o Brasil se desenvolveu fortemente, foi um dos pases que mais cresceram no mundo. Pode-se argumentar quetnhamos a faca e o queijo na mo. Hoje diferente, sem dvida. Mas fico pensando se nas condies atuais oBrasil pode voltar a crescer, quando seu setor externo enfrenta srias limitaes e a participao de seu comrcioexterior na renda nacional se reduziu de cerca de 20% para 8%.

    No passado, quando o Brasil sofreu as conseqncias de uma poltica internacional de reduo de espao, voltou-se para o mercado interno, deixou de crescer segundo a linha tradicional das exportaes de produtos primrios edas importaes de manufaturas, e investiu na criao de um mercado interno. A descobriu o enorme potencialde seu mercado interno, graas tambm poltica de incentivos. Nessa poca, ainda se podia ter protecionismo,poltica cambial, etc. Alis, a poltica cambial brasileira foi muito inventiva, adotando a taxa mltipla de cmbio. Issopermitiu que o Brasil encontrasse uma maneira de financiar um desenvolvimento expressivo de seu produtonacional, com crescimento para dentro. Mas tudo se perdeu nos ltimos 10 ou 20 anos, quando se passou aafirmar que mercado interno era coisa secundria, que no favorecia o avano tecnolgico; ou seja, o jeito era seacomodar e ficar com uma tecnologia de segunda classe. O resultado dessa mudana a situao atual. O Brasilter de voltar a pensar no seu mercado interno e abrir, assim, espao para crescer.

    Eduardo Pereira Nunes Falemos um pouco mais sobre o mercado interno, que sempre foi umapreocupao sua. Em 1961, o senhor apresentou no seu livro Desenvolvimento e subdesenvolvimento as idias sobre osubdesenvolvimento brasileiro, e destacou a importncia da distribuio de renda para o fortalecimento domercado interno brasileiro e a superao do atraso econmico e social do Pas. Hoje, continua afirmando que ofortalecimento do mercado interno fundamental para a sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro.

    Tambm no seu livro de 1968, Um projeto para o Brasil, preparado para debater no Congresso Nacional asperspectivas do desenvolvimento brasileiro, o senhor afirmava que o crescimento apoiado no mercado internodependia, necessariamente, da prvia distribuio da renda. Caso contrrio, o Pas correria o risco de cair emuma estagnao econmica.

    Vou ler aqui alguns dados do livro do IBGE sobre as Estatsticas do Sculo XX. Em 1960, a parcela da rendanacional apropriada pelos 10% mais ricos do Pas era 34 vezes maior que a renda dos 10% mais pobres. Em1990, essa proporo passou para 78 vezes! As Estatsticas do Sculo XX revelam portanto que, ao longo desseperodo, a desigualdade social no Brasil cresceu e, com ela, cresce a dificuldade de se promover odesenvolvimento e a justia social numa economia voltada para o mercado interno, em virtude da exclusosocial. E esse j era o motivo da sua preocupao na obra de 1968, Um projeto para o Brasil.

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    Celso Furtado O problema j estava todo colocado. Naquela poca, ficou muito claro para ns que omercado interno representava um trunfo para o Brasil crescer. Logo, era importante mostrar como uma polticaque o privilegiasse poderia contribuir para a promoo do desenvolvimento econmico e social do Pas. o queexponho em Um projeto para o Brasil. A meu ver, a poltica de distribuio de renda era a nica forma de fazercom que esse mercado interno se traduzisse em poder de compra para a populao.

    Eduardo Pereira Nunes Mercado interno, distribuio de renda, incluso social, poder de compra,consumo de massa e desenvolvimento econmico e social caminham passo a passo.

    Celso Furtado Veja como a coisa perversa: ao concentrar a renda, voc cria uma minoria de alto nvel devida, que tem acesso a um mercado privilegiado. Esse mercado privilegiado de objetos de luxo, mas pequeno,e no leva muito longe. Portanto, o mercado interno que tem de se transformar em mercado de massa. E parahaver um mercado de massa, preciso que a renda seja redistribuda. uma luta que integra, por um lado, aquesto de privilegiar o mercado interno e, por outro, a de privilegiar a desconcentrao da renda.

    Qualquer poltica econmica, para ser eficaz, tem de levar em conta o consumo de massa, essencialmente,popular. Pode parecer demagogia, mas a verdade essa: o Brasil tem todos os meios para sair rapidamente dasituao em que est e avanar por muitos anos.

    Veja os dados da distribuio de renda na ndia, que publiquei em meu livro mais recente. O povo na ndia temmais ou menos o nvel de vida do povo no Brasil, mas a classe rica na ndia pesa muito menos, sendo dez vezesmenos rica do que a brasileira. O Brasil poderia ter uma forma de distribuio de renda distinta, sem deixar deser capitalista. Tenho a impresso de que hoje em dia dispomos dos meios para resolver esse problema.

    Os dados estatsticos disponveis atualmente confirmam a tese que havamos formulado desde os anos de 1950,segundo a qual a dinmica da economia brasileira leva inexoravelmente concentrao da renda. A raiz desseproblema, conforme j expliquei, est no comportamento das elites que se empenham em reproduzir ospadres de consumo dos grupos de altas rendas dos pases mais ricos. Nos perodos de fraco crescimento, esseproblema se agrava muito e cresce a responsabilidade do poder pblico. Ento, o primeiro objetivo deveria sero de recuperar o nvel da taxa de poupana de meio sculo atrs.

    Eduardo Pereira Nunes De que forma a concentrao de renda afeta o desenvolvimento social eeconmico do Pas a longo prazo?

    Celso Furtado A concentrao de renda representa um custo em divisas para a economia brasileira, poispode agravar essa tendncia ao desequilbrio externo, que, por sua vez, leva a um permanente endividamento.

    A concentrao de renda corresponde, digamos, necessidade de se fabricarem automveis de luxo. Estes, porsua vez, tm um custo em divisas muito elevado, pois vrios de seus componentes so importados. Assim, boa

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    parte do setor industrial se deforma para produzir artigos de luxo e essa transformao duplamente perversa,pois os produtos de alto contedo de divisas agravam a tendncia do Pas escassez de divisas. De um lado,piora a concentrao da renda, de outro, piora o desequilbrio externo.

    Eduardo Pereira Nunes E, depois, torna-se necessrio adotar polticas especficas para o seu pagamento, ourenegociao...

    Celso Furtado A tendncia a se endividar parece, de fato, uma condenao, mas est ligada concentraoda renda. Quando a renda cresce, cresce mais que proporcionalmente a demanda de importaes; os grupos dealta renda exigem produtos mais nobres, importados, querem as ltimas novidades.

    Analisando as estatsticas do IBGE sobre o Sculo XX, vemos que, hoje, o Pas produz grande parte dessesprodutos nobres, mas so as firmas estrangeiras que os vendem. Isso custa divisas ao Pas, pois preciso pagarroyalties e dividendos, ou importar. Quando o custo em divisas aumenta mais do que a prpria renda nacional,cria-se o desequilbrio externo, que torna o pas vulnervel. Este o fulcro da questo.

    Eduardo Pereira Nunes Os captulos do livro do IBGE sobre as Estatsticas do Sculo XX mostram esteproblema nas contas nacionais do Brasil. Essas estatsticas mostram que, hoje em dia, a economia brasileiratende a pagar ao exterior um volume de divisas com a importao de mercadorias e servios, com rendas dejuros da dvida externa e com dividendos, muito maior do que recebe com as exportaes e rendas.

    Celso Furtado Este um problema difcil de resolver porque a populao deseja gastar em divisas, desejaviajar para a Europa, os Estados Unidos, deseja consumir produtos modernos. So gastos nobres. Mas quantosbrasileiros podem realizar esses desejos?

    O gasto em divisas representa uma sangria do fator mais escasso no Brasil: os dlares. Se no tivermos divisaspara pagar, teremos de pedir emprestado, aumentando a dvida ainda mais. Por isso eu digo que precisamos deuma poltica de equilbrio da balana de pagamento distinta da atual.

    Quando fui Ministro do Planejamento, classificamos as importaes brasileiras em cinco categorias. De acordocom essa classificao, os produtos pouco essenciais, suprfluos para a economia do Pas, eram negociados auma taxa de cmbio muito mais alta que a dos produtos essenciais. Assim, o Brasil tinha o dlar de 40 mil ris eo dlar de 200 mil ris, de acordo com o produto. E assim voc tinha uma discriminao e desencorajava asimportaes de produtos no essenciais. Hoje o FMI no permite polticas discriminatrias. O Pas no temautonomia, tem de se subordinar s regras do FMI, no pode discriminar as importaes de luxo. Da a situaode grande fragilidade externa na economia brasileira.

    Foi ao aprofundar o estudo desse problema que percebi seu forte componente cultural. O brasileiro tende areproduzir padres de consumo que vm de fora, baseando-se na noo de que o produto importado melhor.

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    A classe de renda alta tem poder aquisitivo para comprar os produtos mais caros do mundo. Mas so poucos osque esto nessa situao. Assim, se voc permite que a economia opere sozinha, isto , de acordo com as regrasdo livre-mercado e sem polticas discriminatrias, ela engendra uma demanda por importaes de bens eservios muito maior do que a capacidade de exportar do pas. Da o desequilbrio permanente da balana depagamentos, que culmina na dvida externa, nas privatizaes, na atrao de capitais de curto prazo.

    Em condies adversas, um pas dependente do endividamento externo apela para a importao do capital decurto prazo para fechar o seu balano de pagamentos. Mas essa iniciativa faz com que a dvida do governocresa. Da a necessidade de termos uma poltica permanente para evitar a sangria de divisas, fator to caro noBrasil. Hoje, essas polticas s so adotadas quando ocorre uma crise no balano de pagamentos que afete aconfiana dos investidores.

    Eduardo Pereira Nunes Os dados das contas nacionais do Brasil, includos nas Estatsticas do Sculo XX,revelam que a nossa taxa de investimento era de cerca de do PIB nos anos 70 e agora se encontra no patamarde 20%. Nos ltimos 30 anos do sculo passado, tivemos uma dcada de crescimento, os anos 70, e duas outrasde estagnao econmica, os anos 80 e 90. A pergunta que eu fao a seguinte: at que ponto essas duas ltimasdcadas refletem aquela sua preocupao com a estagnao econmica e social do Pas que o senhor j haviaapontado no seu livro Um projeto para o Brasil?

    Celso Furtado Os problemas fundamentais so os mesmos. O Brasil avanou em muitos setores, mas perdeuem capacidade de autogoverno. Hoje tem dificuldade para se defender da grande vulnerabilidade do setorexterno. Antes do golpe militar de 1964 participei de trs governos, e naquela poca tnhamos a possibilidade decondicionar as importaes poltica de cmbio mltiplo e ao controle de cmbio.

    O Brasil renunciou a tudo isso, renunciou alavanca de poder. Hoje, o governo receia uma corrida contra o real.A qualquer instante, como ocorreu em 1998, 1999 e 2002, pode haver uma sada de 20, 30 bilhes de dlares,deixando o Pas completamente vulnervel.

    O Brasil tem recursos externos limitados. So poucos os seus meios de autodefesa.

    Ao mesmo tempo, vive aterrorizado com a ameaa da retomada da inflao. uma ameaa, no h dvida. Maisgrave, contudo, a perda das alavancas de poder. Precisamos voltar a ter uma poltica cambial ativa. O FMI umfantasma usado por naes poderosas para que as indefesas no tenham uma poltica prpria.

    Governar o Brasil uma tarefa difcil, porque os meios de controlar a situao econmica e seguir umadeterminada poltica so limitados. O Pas tem grandes possibilidades, mas vulnervel no curto prazo. Bastamdois ou trs boatos em Londres dizendo que o Ministro da Fazenda vai cair para o cmbio flutuar seriamente eabalar a taxa de juros.

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    Eduardo Pereira Nunes Podemos dizer que o rpido crescimento dos anos 70 criou uma iluso de queseria possvel crescer sem promover a distribuio de renda, ou isso seria um mito, como o senhor escreveu, em1974, no seu livro O Mito do desenvolvimento econmico?

    Celso Furtado Quando escrevi esse ensaio era muito mais limitado o conhecimento que tnhamos darealidade do subdesenvolvimento. Hoje vemos com clareza que o crescimento no condio suficiente parasuperar o subdesenvolvimento. S se consegue isso mediante reformas estruturais importantes. Naquela pocatampouco se tinha conscincia da gravidade do problema da concentrao de renda. O Brasil optou porfinanciar grandes projetos nos anos 70 com financiamento externo privado, numa poca de inundao derecursos lquidos. Isso mudou rapidamente quando teve incio a crise americana, em 1979. Foi ento que oBrasil teve de enfrentar uma situao nova, de endividamento de curto prazo.

    No incio dos anos 90, comeou uma nova fase de abundante liquidez. Mas, de novo, foi seguida por outra fasede retrao de recursos, aps as crises do Mxico, da sia e da Rssia, iniciadas em 1994. Agora, ningum maisconfia em financiamento internacional, seno em condies muito bem estudadas, pois como j no hcontrole de cmbio e das taxas de juros, tudo mais incerto, e no se sabe quem responder pelasconseqncias.

    Eduardo Pereira Nunes O senhor est enfatizando bastante o problema da vulnerabilidade externa depases como o Brasil. So vulnerveis e tm muita dificuldade para fortalecer a prpria moeda. Os governoslocais tendem a adotar medidas de poltica econmica condicionadas por esses fatores. Esses choques externoss ocorrem em economias que no tm capacidade de gerao prpria da sua poupana, a qual poderia financiaros seus projetos de investimento. Desde os seus tempos de trabalho na CEPAL o senhor j destacava osproblemas provenientes da escassez de poupana interna do Brasil.

    At que ponto o apelo ao capital estrangeiro, seja sob forma de capital de emprstimo, de investimentodireto e de capital de curto prazo, representa poupana externa efetiva para o desenvolvimento deeconomias como a do Brasil?

    Celso Furtado O que sabemos sobre a histria das economias que o endividamento externo til eoperacional deve atuar no curto prazo para resolver problemas de calamidade pblica. Fora disso, todoendividamento deve ser feito em funo da capacidade de pagamento desse capital, que o servio da dvidaexterna. Ao tomar dinheiro emprestado, voc deve saber que tem que pag-lo com moeda estrangeira, ou seja,com as suas escassas divisas. Ento preciso muito cuidado.

    Eduardo Pereira Nunes Ns estamos analisando o Sculo XX, no qual o PIB do Brasil cresceu 100 vezes.Essa uma contradio da sociedade brasileira: o Pas cresceu 100 vezes em um sculo e estamos aqui falando

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    de todos os seus problemas. Um Pas que cresceu cem vezes no poderia ter tantos problemas. Mas o senhor aquideu uma aula de quantas alternativas a sociedade brasileira tem para ser mais desenvolvida. Ao longo de sua obra osenhor fala desse dilema: no basta crescer; preciso repartir os seus frutos por toda a sociedade brasileira.

    Se olharmos agora para o Sculo XXI, quais seriam os conselhos que o senhor poderia dar para os novoscientistas sociais? Como devem trabalhar para dar um sentido mais igualitrio a toda a sociedade brasileira?

    Celso Furtado Esta a pergunta que cada brasileiro deve fazer a si mesmo: por que o desenvolvimentobrasileiro foi to desigual? Por que existe essa injustia to profunda? O Brasil um Pas com tantos recursos ecom uma massa enorme de gente excluda. uma profunda injustia. O fenmeno da excluso social aquesto que ns todos nos colocamos. J ningum se satisfaz com meias medidas. H uma enorme preocupaocom o problema da fome e da excluso social. O Brasil criou uma elite capaz, investiu na classe mdia alta, masinvestiu muito pouco no povo. Temos ento essa massa desvalida, sem o mnimo necessrio para exercer a suacidadania. Um pas como o Brasil tem sempre problemas novos, pois est em formao. Em meu livro Brasil, aconstruo interrompida, publicado h pouco mais de dez anos, mostrei que a edificao do nosso desenvolvimentovinha perdendo flego, reduzindo o seu lan criativo. Agora a situao est se invertendo, o fato de termoseleito um presidente progressista pode ajudar retomada dos debates. J um grande avano estarmosinteressados nesse problema. O que antes era tachado de pessimismo, derrotismo, hoje revela umamadurecimento, uma conscincia de que devemos transformar este Pas, e de que a gerao nova vai cumprirsua misso. Que papel caber ao Brasil na cena internacional? E na Amrica Latina, que posio teremos? Ecomo conquistar novos espaos, como o mercado da China? Ainda h muito o que pensar. S espero que agerao nova encontre um contexto internacional favorvel. Hoje, pensar uma poltica para o Brasil reconhecer que, tendo em conta os compromissos j assumidos internacionalmente, limitada a nossacapacidade de ao.

    Para os novos cientistas sociais, eu digo, primeiramente: pacincia. Pacincia para completar a construo destePas. J cheguei a uma fase da vida em que propriamente no me preocupo com o futuro. Mas meu otimismono desapareceu, embora reconhecendo que a responsabilidade dos que vo assumir o comando na prximagerao muito grande. Por isso, a mensagem que deixo para os novos cientistas sociais a seguinte: em seustrabalhos como pesquisadores no hesitem em formular hipteses arrojadas. Assumam riscos. Sem isso, oconservadorismo que nos cerca por todos os lados deglutir a todos.

    Eduardo Pereira Nunes Professor Celso Furtado, antes de encerrar, gostaria de uma explicao sua. OIBGE produziu as Estatsticas do Sculo XX, mas parte das nossas estatsticas sobre esses 100 anos foi construdaa partir de informaes criadas pelos prprios usurios, j que o IBGE tem apenas 67 anos de idade. Sabemosque o senhor foi um grande pesquisador e, diversas vezes, muito criativo na utilizao de fontes alternativas de

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    informao para construir os seus modelos de interpretao da realidade. Sua obra sobre a Formao econmica doBrasil um exemplo da sua capacidade de investigao. O que o pesquisador, professor, cientista social CelsoFurtado poderia nos dizer a respeito desse perodo em que construiu suas prprias estatsticas para, nummomento posterior, ser um grande usurio das estatsticas do IBGE?

    Celso Furtado Essa uma pergunta que nunca ningum me fez. Estudei a economia brasileira sculo asculo, a partir do Sculo XVI. Fiz isso com um pouco de engenho e arte porque s dispunha das informaesque estavam nos documentos histricos brasileiros. Aprendi desde cedo com meus professores da escolaaustraca que os dados estatsticos so to importantes que, no existindo, indispensvel invent-los.Estimativas aproximativas do processo de formao de capital e de renda nacional nos anos 40 do sculopassado nos permitiram formular muitas hipteses teis para penetrar na realidade da economia brasileira. Oimportante era manter-se na vanguarda nesse esforo de descobrir novas fontes de informao. Como vocsabe, para medir o fluxo de renda naquela poca era preciso ser engenhoso. Na verdade, atrevi-me a imaginar ascontas nacionais do Brasil antes que elas tivessem sido estimadas por rgos oficiais.

    Mas o fato que os trabalhos do IBGE, nesse meio sculo em que venho estudando o Brasil, ajudaram-me aentender o Pas. A primeira vez que vi estatsticas histricas, abrangendo o Sculo XIX, por exemplo, foi numapublicao do IBGE. A partir da, fiquei pensando se no seria possvel sistematizar aqueles dados e abrir umdebate sobre a natureza do atraso da economia brasileira. O que me impressionou, nos primeiros anos em quetrabalhei na CEPAL, quando eu era muito jovem e cheio de idias, foi o atraso acumulado da Amrica Latina.Mxico, Chile e Argentina j tinham at clculo de renda nacional, ao passo que o Brasil tinha umas estimativascuriosssimas, feitas a partir de tcnicas muito primitivas. Mais tarde, o trabalho feito pelo IBGE paraaperfeioar as estatsticas brasileiras foi fantstico. Eu no tenho nenhuma dvida de que foi esse avano quepermitiu formar uma conscincia nacional do nosso atraso, da gravidade dos problemas sociais.

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    SOCIAIS,POLTICAS ECULTURAIS

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    Vila da Felicidade, Manaus, AM.Foto: Jos Caldas - BrazilPhotos.

  • * Graduado em Filosofia e Ph.D. em Cincia Poltica (Universidade de Stanford), professor titular (aposentado) de Teoria Poltica daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, Diretor do Laboratrio de Estudos Experimentais e Pr-Reitor de Anlise e Prospectiva daUniversidade Cndido Mendes. Distinguido pela Guggenheim Foundation, Comendador da Ordem do Baro do Rio Branco, daOrdem Nacional do Mrito Cientfico e da Ordem da Cultura Nacional e Prmio Moinho Santista, membro titular da AcademiaBrasileira de Cincias. Publicou, entre outros, Razes da Desordem 3a edio, Rio de Janeiro: Rocco, 1994, Dcadas de Espanto e umaapologia democrtica, Rio de Janeiro: Rocco, 1998, Roteiro Bibliogrfico do Pensamento Poltico-Social Brasileiro (1870-1965): Belo Horizonte:Editora UFMG; Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 2002 e O Clculo do Conflito Estabilidade e Crise na Poltica Brasileira, BeloHorizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003.

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    A As estatsticas brasileiras aqui consolidadas no dispensam os esforos de redefinio,reclassificao e mensurao. Em uma palavra, no desobrigam o usurio profissional, maisexigente do que algum ocasional curioso, de pesquisar. Variando os interesses do pesquisador, iro sealterar igualmente os motivos para satisfao ou circunstancial desnimo. Naturalmente, no estarodispostas nestes arquivos todas as sries desejadas, nos perodos pretendidos, e possivelmente nem mesmose encontraro informaes que, no obstante existentes, e aqui recolhidas, no tenham sido designadasno passado conforme a nomenclatura atualmente consagrada. Reiterada observao dos colaboradoresinforma justamente que o sistema classificatrio oficial modifica-se ao longo dos anos, talvez decnios.Com freqncia, as mudanas, em si prprias, indicam a complexidade crescente da sociedade, exigindo adesagregao de rubricas e a redefinio de outras. Aperfeioamento inegvel, ao preo, contudo, dedificultar a comparabilidade dos dados sem prvio investimento de reclassificao. Sirvam, como exemplo,as informaes sobre o que contemporaneamente entendemos por associativismo, que compreendia,sobretudo na metade do sculo passado, as organizaes filantrpicas privadas e os asilos pblicos, e que,dispensando os asilos, passou a distinguir, mais recentemente, as associaes voluntrias e de interesse.

    Ocorre, tambm, o surgimento de sries consistentes de informaes sobre temas inexistentesanteriormente ou de registro altamente fragmentrio e, outra vez, testemunhando importantes mudanassociais. o caso, sem dvida, das estatsticas eleitorais, de presena constante e relevante depois daredemocratizao de 1945. Faz parte da anlise poltica a considerao de que, de fato, as eleies sadquiriram o atributo de imprevisibilidade, caracterstica dos processos competitivos ps-oligrquicos,com o fim do Estado Novo.

    Estudiosos interessados no que correntemente se inclui no conceito de capital social, cultura cvica oucultura poltica no deixaro de anotar as lentes com que os estratos intelectuais do passado examinavamcertos fenmenos tais como desquites, suicdios ou taxas de criminalidade. Em particular informaes sobreraa, gnero e educao de encarcerados e apenados reclamaro o cuidado dos investigadores.

    O BRASIL SOCIALCONTADO PELO IBGE NO SCULO XX

    WANDERLEY GUILHERME DOS SANTOS*

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    Sem surpresa, as estatsticas populacionais so, se no me equvoco, as que melhor atendero sexpectativas do pesquisador moderno. Pela quantidade e pela qualidade, as sries demogrficas disponveispropiciam enorme economia de tempo e de investimento na preparao de dados - o que poder serobservado, inclusive, nas listas de observaes negativas e favorveis dos ensaios introdutrios, menosenfticas, as negativas, em relao s estatsticas demogrficas.

    minha impresso, alis, espero que sem impropriedade, que parte da sensao de frustrao,sublinhada por praticamente todos os colaboradores, se deve, precisamente, descoberta, surpreendente, dariqueza de informaes acumuladas durante o Sculo XX. Juzo ponderado sobre os trabalhos de coleta eregistro dessas informaes, quando a absoro do instrumental estatstico ainda se encontrava em estgioinicial, refiro-me, particularmente, primeira metade do sculo passado, deve levar em considerao asestatsticas de outros pases - e no s latino-americanos - e o empreendimento de recuperao e restauraodelas que, em algum momento, todos esses pases realizaram. So recentes, por exemplo, as publicaes sobreas elites polticas inglesas, membros do parlamento e dos gabinetes. Vale a pena observar, em relao a estetpico, que as estatsticas polticas do II Imprio brasileiro so inesperadamente completas e relativamenteconfiveis. Mas este tpico ultrapassa os limites da presente publicao.

    Cada um dos ensaios introdutrios traz a descrio do que, em geral, os estudiosos encontraro derelevante nas estatsticas. Ademais, os atuais comentadores no resistiram e aceitaram o atraente convite,insistentemente emitido pelos dados, a que sugerissem pistas de anlise e, tambm, sugestes no sentidode tornar as estatsticas mais ajustadas s demandas do presente. Com o sentimento de segurana que acontemporaneidade estimula, supe-se que, finalmente, seria possvel elaborar um sistema classificatrioque viesse a servir aos interesses de todos os pesquisadores futuros. Se verdade que, sem tal pretenso,dificilmente se produziria o nimo para o aperfeioamento do presente, em qualquer de seus aspectos, bastante provvel tambm que, no futuro, talvez mais breve, talvez mais remoto, o resultado do tempo edas aes que o presente favorece venham exigir novo esforo de atualizao. Reclamaro os jovenscolegas de ento, com toda certeza, de nossa falta de discernimento e previso. Creio que isso ser umbom sinal.

    Estou seguro de que no violarei gravemente o formalismo de apresentaes semelhantes se deixarassinalados meus agradecimentos pelo convite do Dr. David Wu Tai para coordenar a rea de temas sociaisdesta publicao. Aos colegas que concordaram em cooperar com esta iniciativa e que, superandoobstculos por todos imprevisveis, conduziram a tarefa ao seu final, meu profundo reconhecimento.

    IBGE

  • Cinco moas de Guaratinguet, 1930Di Cavalcantileo sobre tela 92 x 70 cmMuseu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand - MASP.

    POPULAO EESTATSTICAS

    VITAIS

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  • *Ph.D. (1978) em Sociologia pela Universidade de Michigan, EUA; Pesquisador Titular (aposentado) do Laboratrio Nacional de ComputaoCientfica e Professor Titular do Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro - IUPERJ/UCAM. Autor de Cor e Estratificao Social no Brasil,Rio: Contra Capa, 1999 (em colaborao com Carlos Hasenbalg e Mrcia Lima) e de Mobilidade Social no Brasil, So Paulo: Makron Books, 1999 (emcolaborao com Jos Pastore).

    ** Doutora em Sociologia pela UNICAMP. Professora do Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal doRio de Janeiro. Publicou Um Toque de Clssicos - (co-autoras: Marcia Gardnia M. Oliveira e Tania B. Quintaneiro), Editora da UFMG, 1995 e 2002;Combater a Pobreza Estimulando a Freqncia Escolar : O Estudo de Caso do Programa Bolsa-Escola do Recife - Dados, vol. 43, n. 3, 2000. pp. 447-477. (co-autora: Lena Lavinas); Eficincia e eqidade: os impasses de uma Poltica Educacional, revista Brasileira de Poltica e Administrao da Educao, Porto Alegre, v.14, n. 2, pp. 211-242, 2001. (Co-autora: Laura da Veiga); Para onde vai a classe mdia: um novo profissionalismo no Brasil? Revista Tempo Social/USP:volume 10, n. 1- maio de 1998, pgs. 129-142.

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    D e acordo com os resultados do Censo Demogrfico2000, a populao brasileira atingiu em 1 de agostodaquele ano um total de 169 590 693 habitantespresentes1. Comparando com o ltimo dia do ltimo ano do sculoanterior, quando a populao recenseada havia indicado um contin-gente de apenas 17 438 434 residentes, podemos dizer que a popula-o brasileira praticamente decuplicou durante o Sculo XX. Seconsiderarmos o no to longnquo ano de 1970 o ano da Copa doMxico os 90 milhes em ao de ento (mais precisamente,93 139 037 habitantes) cresceriam em 82% nos 30 anos seguintes. Emqualquer contabilidade que se faa, trata-se de um crescimentoimpressionante: a populao que j havia quase triplicado durante aprimeira metade do sculo, atingindo 51 941 767 de pessoas em 1950,mais que triplica novamente na sua segunda metade2. Alm disso,devemos esperar um crescimento ainda vigoroso no futuro. As

    1 Cf. SINOPSE PRELIMINAR DO CENSO DEMOGRFICO 2000 (v. 7,2001, Tabela 1).2 A principal fonte de informaes populacionais no Brasil so os CensosDemogrficos. Estes, em princpio, deveriam ser decenais. Mas, na verdade,apresentam uma histria atribulada. Os dados relativos cidade do Rio de Janeirono Censo de 1900 foram considerados deficientes e os resultados referentes aoDistrito Federal cancelados. Um novo recenseamento do Estado do Rio de Janeirofoi ento feito em 1906. Por razes de ordem poltica o recenseamento de 1910 foisuspenso. O mesmo ocorreu com o Censo de 1930. O Censo de 1920 foi conside-rado deficiente, com uma aparente superestimao de cerca de 10%. Por outrolado, os Censos de 1940,1950 e 1970 so considerados exemplares. Um escndaloadministrativo suspendeu o processamento do Censo de 1960, o qual s foicompletado, ainda de forma precria, quase 20 anos depois. Os censos posterioresenfrentaram crescentes problemas operacionais no levantamento de campo. Ocenso previsto para 1990 foi adiado para o ano seguinte, novamente por problemaspoltico-administrativos, sem que esse adiamento, no entanto, resultasse em ganhosde qualidade em relao aos censos anteriores.

    POPULAO E ESTATSTICAS VITAISPOPULAO E ESTATSTICAS VITAIS

    NELSON DO VALLE SILVA* E MARIA LIGIA DE OLIVEIRA BARBOSA**

    Mulher no interior do Piau , 1998. Foto Jos Caldas - BrazilPhotos.

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    projees mais recentes feitas pelo IBGE3, que certamen-te devero sofrer algumas revises menores dada arecente disponibilidade dos resultados do Censo 2000,indicam-nos que devemos esperar que pelo menos mais40 milhes de pessoas devero ser acrescentadas ao totalda populao do Pas (Grfico 1).

    No entanto, o crescimento extraordinrio dapopulao no apenas uma peculiaridade brasileira. Orpido alguns diriam, explosivo crescimentopopulacional um importantssimo aspecto de nossapoca e a caracteriza como um perodo sem precedentesna histria da Humanidade. Na verdade, nunca estapassou por uma fase de igual crescimento populacional,tanto globalmente como em suas diversas regies.Segundo estimativas de J. Durand, do ano 1 da era cristat 1750 a populao do mundo cresceu de cerca de 500milhes para um total de aproximadamente 800 milhesde pessoas. O meio do Sculo XVIII marca uma mudan-a extraordinria no padro de crescimento populacional,verificando-se uma acentuada acelerao na taxa de

    crescimento que, de resto, acompanha de perto a chama-da revoluo industrial, centrada particularmente naEuropa Ocidental e nos Estados Unidos da Amrica. Ataxa anual de crescimento populacional, que foi de cercade 0,56 por mil habitantes por ano durante o perodo 1d.C. 1750 d.C., elevou a 4,4 por mil entre 1750 e 1800,resultando desse crescimento uma populao mundial decerca de 1 bilho de pessoas.

    Por volta de 1850, a populao do mundo era decerca de 1,3 bilho de pessoas, e em 1900 atingiu aproxi-madamente 1,7 bilho, o que representa taxas de 5,2 e 5,4por mil ao ano para cada metade do Sculo XIX, respecti-vamente. Segundo estimativas da ONU, a populaomundial em torno de 1950 compreendia cerca de 2,5bilhes de pessoas, o que, se for comparado com o 1,7bilho para 1900, implica uma taxa anual mdia de 7,9 pormil para a primeira metade do Sculo XX. As estatsticaspara perodos mais recentes so ainda mais impressionan-tes. No terceiro quartel do sculo passado, a taxa decrescimento mais que duplicou, atingindo a marca anual de

    3 Veja dados em: Anurio Estatstico do Brasil 1998, Tabelas 2.6-2.8.

    Grfico 1- Populao residente - Brasil - 1900/2000

    Fonte: Sinopse preliminar do censo demogrfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, v. 7, 2001.

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    17,1 por mil, da qual resultou uma populao em torno de1980 estimada em cerca de 4 bilhes de pessoas.

    Assim, o Brasil foi parte desse quadro de crescimen-to historicamente sem precedentes, marcado no apenaspelas elevadas taxas com que nossa populao cresceu noltimo sculo como tambm pelo crescimento muitosubstancial que ainda temos garantido para o futuroprximo. Fica, no entanto, a questo: quais causas e quaisos mecanismos que deram origem a esse crescimentoextraordinrio da populao mundial em geral, e dapopulao brasileira em particular? Como se comportou apopulao brasileira no ltimo sculo ?

    Examinando-se as taxas mdias de crescimento dapopulao brasileira durante o Sculo XX4, observamosque estas se encontravam num patamar muito elevadonos dois primeiros decnios (uma taxa de 2,91% ao ano),decaindo imediatamente nas duas dcadas seguintes paraum nvel que se revelou como o mais baixo de todo osculo (1,49% anual). A partir dos anos de 1940, no

    entanto, o ritmo de crescimento populacional rapidamen-te volta a se intensificar, subindo at atingir um picohistrico de 2,99% ao ano entre 1950 e 1960. A trajetriadescendente ento retomada, inicialmente de formalenta durante a dcada seguinte e de forma bem maisacentuada da em diante. A taxa de crescimento estimadapara a ltima dcada do sculo, embora maior do que oseu valor mnimo durante o perodo, atingiu o nvel de1,63% anual em mdia (Grfico 2). Ao que tudo indica,esta trajetria descendente dever permanecer no futuro,projetando-se para o ano de 2020 um crescimentopopulacional em torno de 0,71%.

    O primeiro fato a ser compreendido sobre ocrescimento da populao brasileira diz respeito s causasdas elevadas taxas de crescimento no incio do sculo e doabrupto declnio destas no perodo subseqente. Para istodevemos examinar a evoluo dos componentes docrescimento populacional ao longo do sculo (Grfico 3).Neste caso, fica evidente que a migrao internacional

    4 Cf. SINOPSE PRELIMINAR DO CENSO DEMOGRFICO 2000 (v. 7, 2001, Tabela 1).

    Grfico 2 - Taxa mdia geomtrica de crescimento anual - Brasil - 1900/2000

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    Fonte: Sinopse preliminar do censo demogrfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, v. 7, 2001.

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    contribua de forma muito significativa para o crescimentoda populao desde o final do sculo anterior at asprimeiras dcadas do Sculo XX. Enquanto que o cresci-mento natural (isto , o saldo entre nascimentos e mortes)pode ser estimado em cerca de 19 por mil habitantesdurante as quatro primeiras dcadas do sculo, a contribui-o da imigrao pode similarmente ser estimada em 2 pormil durante este mesmo perodo, ou seja, a migraoexterna respondia por cerca de 10% do crescimentopopulacional no perodo.

    Na verdade, o forte impacto da imigrao estrangei-ra j datava do final do sculo anterior. Com a abolioformal da escravatura em 1888 e a carncia decorrente demo-de-obra agrcola, um esforo de recrutamento detrabalhadores estrangeiros foi desenvolvido no s pelainiciativa privada como pelos governos federal e estadual,atravs do subsdio dos custos de transporte para o Brasil.Dessa forma, estima-se que um total de quase 5 milhes

    de pessoas emigraram para o Pas entre 1887 e 1957, sendoeste contingente formado em cerca de 32% por italianos,31% por portugueses, 14% por espanhis e 4% porjaponeses. O pico deste influxo imigratrio se deu naltima dcada do Sculo XIX, quando mais de 1 milho deimigrantes ( majoritariamente italianos, com destino a SoPaulo) aportaram aqui, estimando-se que isto representouquase um quarto do crescimento populacional total noperodo5.

    O influxo de imigrantes resultou no agravamentodo conflito no mercado de trabalho, opondo os trabalha-dores nacionais aos estrangeiros, tendo constitudo focode agitao popular em vrias regies durante as primeirasdcadas da Repblica, especialmente no Rio de Janeiro,onde foi forte o movimento dito jacobino e freqentesos episdios chamados de mata galegos, opondoviolentamente trabalhadores brasileiros e portugueses6.Assim, tendo em vista a proteo ao trabalhador nacional,

    5 Cf. SMITH (1972).6 Veja, por exemplo, Ribeiro (1990).

    Grfico 3 - Componentes do crescimento da populao brasileira - 1900/2000

    Fonte: Anurio estatstico do Brasil 1990. Rio de Janeiro: IBGE, v. 50, 1990; Anurio estatstico do Brasil 1997-1998. Rio de Janeiro: IBGE, v. 57-58, 1998-1999.

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    em 1934 o governo federal estabeleceu um sistema dequotas para controlar a entrada de imigrantes. Estasquotas se aplicavam ao total de imigrantes oriundos decada pas fornecedor, sendo fixadas no valor de 2% dototal da imigrao proveniente de cada um destes pasesno perodo de 1884 a 1934. Adicionalmente, restringia-se o fluxo de imigrao total a 77 mil pessoas por ano.Este sistema, embora fortemente restritivo, caracteri-zou-se por beneficiar relativamente mais a imigrao deorigem europia, que correspondia a um estoque prvio

    bem maior de imigrantes, em detrimento daquela deorigem asitica.

    A partir da dcada de 1930 a imigrao perde suarelevncia na determinao da taxa de crescimento dapopulao brasileira, no s pelo decrscimo do nmerode imigrantes em termos absolutos, mas tambm e sobre-tudo pelo aumento muito forte do crescimento naturaldesta populao, especialmente em meados do sculo. Nadcada de 1960 a contribuio da imigrao externa aocrescimento populacional brasileiro j havia se tornadoirrelevante. De qualquer forma, mesmo sendo relativamen-te modesto, cabe se observar que as ltimas dcadas doSculo XX presenciaram o nascimento de um fato supos-tamente sem precedentes histricos. Neste perodo,resultante das seguidas crises econmicas que comeam ase manifestar no Brasil a partir da primeira crise dopetrleo em 1973, e que se agravam no incio dos anos de1980, assistimos inaugurao de sensveis movimentosemigratrios por parte de brasileiros em busca de melhoresoportunidades em outros pases7.

    Embora a imigrao tenha sido fundamental para aformao da populao em diversas regies brasileiras(destacando-se os italianos e espanhis em So Paulo e osalemes no Sul), algumas anlises indicam que esta noteve a mesma importncia no Brasil como um todo do quea observada para outros pases da Amrica. Assim,Mortara8, estudando a contribuio da imigrao nocrescimento da populao de alguns destes pases entre1840 e 1940 , concluiu que a imigrao contribuiu deforma direta (os prprios imigrantes) e de forma indireta(seus descendentes) com 19% do aumento populacionalbrasileiro, comparado com uma contribuio de 58% nocaso da Argentina, 44% no caso dos Estados Unidos, e22% no caso do Canad, o que vale dizer, que a populaode origem imigrante correspondia a 16%, 54%, 36% e19% das populaes totais daqueles pases, na mesma

    7 Estimativas recentes dos saldos migratrios internacionais so feitas em Carvalho (1996) e Oliveira e outros (1996).8 MORTARA (1947 apud CLEVELARIO JNIOR, 1997).

    Filha de colonos alemes. Londrina, PR. Acervo IBGE.

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    ordem. Mortara9 ainda refez seus clculos, baseado namesma metodologia para o perodo entre 1890 e 1940,concluindo que a imigrao foi responsvel por cerca de15% do crescimento populacional no perodo, o queindicaria que cerca de 10% da populao brasileira em1940 tinha origem nos imigrantes aportados no perodo eem seus descendentes. Mesmo sendo as estimativas deMortara baseadas no pressuposto irrealista de que ocrescimento vegetativo das populaes nativas e imigranteseram idnticas e, portanto, sendo provavelmentesubestimativas (dado um suposto maior dinamismoreprodutivo da populao imigrante), como o pressupostofoi aplicado a todos os pases igualmente, parece serindiscutvel ser bem menor a relevncia da imigrao naconstituio da populao brasileira, especialmente quandocomparada com os casos da Argentina e dos EstadosUnidos10. De qualquer forma, a importncia da imigraona dinmica populacional uma caracterstica histrica dospases do Novo Mundo e da Oceania, sendo ainda hojemuito substancial no crescimento da populao dosEstados Unidos.

    Do ponto de vista histrico, um fator que contribuipara dar verdadeiramente um carter de unicidade nossapoca o fato de ter a mortalidade declinado a nveis

    nunca antes experimentados, especialmente nos pasesdesenvolvidos. No entanto, declnios tambm espetacula-res ocorreram mais recentemente, na segunda metade doSculo XX, em muitos pases em desenvolvimento, como,por exemplo, nos pases da Amrica Latina. De fato, oextraordinrio crescimento da populao mundial, a que jnos referimos, pode ser atribudo ao declnio da mortalida-de e no, como poderia se pensar, num suposto aumentoda natalidade. Embora tal aumento possa ter sido observa-do em algumas regies de mudana recente (em particularem alguns pases da frica tropical), este aumento respon-de parcialmente a uma melhora nas prprias condies desobrevivncia das mes e no desempenha qualquer papelmais significativo em relao ao crescimento populacional.O vertiginoso crescimento experimentado pela populaomundial durante o Sculo XX basicamente resultante daqueda espetacular da mortalidade aliada relativa manuten-o dos tradicionais e elevados nveis da fecundidade nassociedades em desenvolvimento por longo espao detempo durante este perodo.

    O debate em torno das causas do declnio damortalidade na Europa tem sido intenso, alguns apontan-do para os avanos mdicos alcanados j no SculoXVIII, como, por exemplo, a inoculao e, posteriormen-te, a vacinao antivarilica; outros sustentando comocausa provvel as mudanas em saneamento e higienepblica que teriam tido um significativo impacto sobrecertas causas de morte, como o tifo e o clera. No entanto,o que a experincia dos pases em que a queda da mortali-dade se deu mais recentemente (como os pases latino-americanos) nos ensina que provavelmente as duascausas esto presentes na reduo da mortalidade. O que

    9 MORTARA (1951 apud CLEVELARIO JNIOR, 1997).10 Um quadro evolutivo da imigrao anual para o Brasil no perodo de1900 a 1968 foi publicado em: Sries estatsticas retrospectivas (1986, v. 1, p.71, Tabela 2.2.4.1). Similarmente, um quadro para todo o perodo de1884 a 1951, segundo a nacionalidade do imigrante, encontra-se em:Anurio Estatstico do Brasil 1953, apndice, p. 489.

    Coefficiente de Mortalidade- Anno 1907 -Fonte: Exposio Nacional de 1908, IBGE.

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    tambm essa experincia recente deixa claro que ganhosimportantes na mortalidade podem ser obtidos semnenhuma modificao significativa na situao socialdas populaes. Na verdade, muitas vezes a evoluotemporal da mortalidade caminha em sentido contra-ditrio com esta situao social. Os avanos namedicina social, com todo um arsenal farmacutico ede conhecimentos de higiene elementar, resultam emsucessos extraordinrios a custos muito reduzidos.De forma semelhante, melhoramentos relativamentemenores no saneamento, particularmente em reasurbanas, resultam geralmente em ganhos substanciaisna sade das populaes. Assim, a histria recenteregistra casos de pases em desenvolvimento combaixssima renda per capita que apresentam reduesmarcantes em seus nveis de mortalidade, de talforma que as diferenas entre pases pobres e ricosnessa questo muito menor hoje que em algumasdcadas passadas. Esta narrativa descreve em grandemedida a evoluo da mortalidade no Brasil duranteo Sculo XX.

    O nvel de mortalidade no Brasil no final dosculo pode ser estimado em pouco menos de setemortes por mil habitantes por ano11, o que o tornacomparvel mdia dos pases desenvolvidos. Histori-camente tambm experimentamoso mesmo processo de espetaculardeclnio da mortalidade: de umataxa bruta superior a 30 por mil aoano durante a maior parte doSculo XIX, atingimos no final dosculo passado uma taxa corres-pondente a menos de um quarto daregistrada 100 anos antes.

    Essa taxa relativamente baixapara a populao brasileira no

    pode, entretanto, ser tomada com exagerado otimismo.Deve-se observar que comparaes internacionais utilizan-do-se a taxa bruta de mortalidade devem ser feitas comextrema cautela, uma vez que esse tipo de taxa refleteparcialmente a estrutura por idade da populao. Assim,dada uma mesma situao geral de mortalidade, umasociedade que tenha uma populao mais velha (ou seja,com uma maior freqncia relativa de pessoas nos gruposde idade mais avanados) apresentar uma taxa bruta demortalidade maior que aquela obtida para uma sociedadecom estrutura etria mais jovem, uma vez que ter ummaior nmero relativo de pessoas nas faixas de idadeonde a mortalidade maior. O Brasil, como veremosposteriormente, possui uma populao ainda relativamen-te jovem, o que o favorece quando comparamos suataxa de mortalidade com as dos pases desenvolvidos,sociedades que, tipicamente, tm populaes velhas.De fato, o Brasil se tivesse uma estrutura etria similar predominante na Europa, sua taxa bruta de mortalidadeseria bem mais elevada, algo provavelmente em torno de12 por mil habitantes ao ano. Nesse sentido, maisindicada para comparaes internacionais (e mesmo entreregies de um mesmo pas) a utilizao da expectativa devida ao nascer, ou vida mdia, medida que independeda estrutura etria da populao.

    11 Cf. Anurio Estatstico do Brasil 1998,Tabela 2.13.

    Quatro homens em Belo Horizonte, MG, 1925. Museu Histrico Ablio Barreto.

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    Adicionalmente, embora tenha havido ganhosespetaculares nas ltimas dcadas12, a situao da mortali-dade infantil em nosso Pas ainda relativamentepreocupante: se, por um lado, observou-se um aumentomuito significativo na expectativa de vida ao nascer13 ,quase que dobrando ao longo do sculo (a expectativa devida ao nascer para homens era de 33,4 anos em 1910 eestimada em torno de 62,3 anos em 1990; para mulheresos valores correspondentes eram 34,6 e 69,1 anos, respecti-vamente), a mortalidade das crianas menores de 1 ano ainda bastante significativa, constituindo ainda um fatorrelevante para ganhos futuros na expectativa de vida aonascer. Para se ter uma idia da extenso do problema,recorramos a uma comparao internacional, cotejando-sea expectativa de vida restante a 1 ano de idade com aquelaque se tem ao nascer. Como vimos, uma criana do sexomasculino nascida em 1990 tinha uma expectativa de vidaestimada em 62,3 anos; o valor correspondente paracrianas do sexo feminino estimado em 69,1 anos. J as

    crianas afortunadas o suficiente para sobreviverem aoprimeiro ano de vida podiam esperar viver em mdia mais65,0 anos no caso dos homens (isto , viverem at os 66anos de idade) e mais 71,1 anos adicionais no caso demulheres. Isso evidencia os tremendos riscos aindaenfrentados pelas crianas brasileiras no primeiro ano devida. A situao em pases desenvolvidos bastantediversa. Por exemplo, na Sucia dos anos de 1970, umacriana do sexo feminino tinha uma expectativa de vida aonascer de 77,7 anos. Ao completar 5 anos sua expectativade vida adicional era de 73,5 anos, ou seja, deveria sobrevi-ver em mdia at os 78,5 anos, o que mostra que jnaquele perodo praticamente nenhuma criana suecamorria antes dos 5 anos de idade.

    Observe-se que, comparada com a mortalidadeinfantil, a mortalidade adulta apresentou ganhos relativa-mente modestos. De fato, associado sobretudo ao aumen-to da violncia nas cidades brasileiras, tem-se verificadomesmo o aumento da mortalidade em algumas reas,

    12 Sobre os ganhos na mortalidade infantil, veja Simes (1997). Uma importante contribuio ao tema a de Ferreira e Flores (1987).13 Cf. Anurio Estatstico do Brasil 1990, Tabelas 7-9.

    Grfico Evoluo da esperana de vida ao nascer - Brasil - 1940/20004 -

    Fonte: Anurio estatstico do Brasil 1990. Rio de Janeiro: IBGE, v. 50, 1990; Anurio estatstico do Brasil 1998. Rio de Janeiro: IBGE, v. 58, 1999.

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    concentrada em jovens do sexo masculino de 15 a 29 anos.Esta , sem dvida, uma tendncia preocupante e que temcontrariado as expectativas mais otimistas propiciadaspelos outros indicadores14.

    Quanto evoluo temporal da expectativa de vidano Brasil ao longo das ltimas dcadas (Grfico 4), pode-sedizer que, aps um perodo de ganhos muito substanciaisentre 1940 e 1960, quando aumentou em quase 10 anos (indode 42,7 em 1940 para 52,4 em 1960), os ganhos em sobrevidapraticamente se estagnaram na dcada de 1960, para retomarum vigoroso crescimento na dcada seguinte, atingindo 61,7anos em 1980. A partir da continuam os ganhos, embora emritmo mais lento, atingindo um nvel estimado em 67,1 anosde vida no ltimo ano do Sculo XX.

    Um fato importante a se observar quanto expectati-va de vida ao nascer que os diferenciais entre grupossociais e entre regies no Brasil eram historicamenteelevados15 (Grfico 5). Em 1940 a maior esperana de vidaencontrava-se na Regio Sul (50,1 anos) enquanto a regio

    com menor valor era o Nordeste (38,2 anos), com umadiferena de quase 12 anos entre elas. As demais regies sediferenciavam mais ou menos uniformemente dentro desteintervalo. No final do sculo, todavia, havia-se registradouma substancial convergncia na expectativa de vida entre asregies: embora o maior valor continuasse a ser observadona Regio Sul, com 68,7 anos em 1990 e, similarmente, a demenor valor no Nordeste, com 64,3 anos naquele mesmoano, a diferena havia se reduzido a 4,4 anos. Ademais, asdiferenas entre as outras regies quase desapareceram,oscilando entre 67,8 anos no Centro-Oeste e 67,4 anos naRegio Norte. Observe-se ainda que as diferenas entre oNordeste e as demais regies de fato se ampliaram entre1950 e 1970, a convergncia s ocorrendo aps esta ltimadata. A evoluo temporal da mortalidade infantil ao longodo Sculo XX compatvel com esta descrio feita para aexpectativa de vida ao nascer, conforme esperado, dadoserem os ganhos na sobrevida durante a primeira infncia oprincipal componente no prolongamento da vida mdia empases como o Brasil (Grficos 6 e 7).

    14 Veja a este respeito, por exemplo, Albuquerque e Oliveira (1996) e Ferreira e Castieras (1996).15 Veja, por exemplo, Curtis e McDonald (1991), Wood e Lovell (1992) e Sastry (1996).

    Grfico Evoluo da esperana de vida ao nascer, por Grandes Regies - Brasil - 1940/19905 -

    Fonte: Anurio estatstico do Brasil 1990. Rio de Janeiro: IBGE, v. 50, 1990.

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    Uma conseqncia interessante da evoluo tempo-ral dos ganhos na sobrevida no Brasil reside no fato de que,na segunda metade do sculo, os maiores ganhos relativosno que diz respeito mortalidade adulta tenham se dadoligeiramente mais na populao feminina, que j possua umnvel inicial mais favorvel16. Com isso, a razo de sexos,isto , o nmero de homens para cada 100 mulheres, caicom a idade. Estima-se que em 1991 a razo de sexos entrejovens era de 102,4, indicando um maior nmero de jovenshomens do que de mulheres. Esta razo cai sistematicamen-te conforme se passa para grupos etrios superiores,alcanando o valor de 85 homens para cada 100 mulheresentre pessoas com 60 anos e mais. Conforme indicado, estadiferena tem tendido a aumentar. Assim, por exemplo, arazo de sexos entre estas mesmas pessoas de 60anos e mais em 1960 ainda era estimada em 98,817.

    Talvez a caracterstica mais marcante da nossapoca, mais ainda do que a queda da mortalidade,

    seja o fato de que pela primeira vez a fecundidade (isto , onmero mdio de filhos tidos por mulher ao final de seuperodo reprodutivo) tornou-se o elemento responsvelpela dinmica populacional. Nos pases desenvolvidos, onvel de mortalidade atingiu nveis to baixos que seu efeitosobre a dinmica demogrfica hoje muito reduzido.Como quase toda a populao feminina nesses pasessobrevive at o fim do perodo reprodutivo, tendo portan-to todos os filhos que deseja ter, o efeito da mortalidadesobre o tamanho (ou seja, o nmero de pessoas) da popula-o mnimo, se comparado ao efeito das mudanas nastaxas de fecundidade. Numa demonstrao pitoresca dessefato, Coale mostrou que o efeito de se obter a completaimortalidade para todos os americanos sobre a taxa decrescimento da populao dos Estados Unidos nos anos de1970 seria inferior ao efeito produzido por um acrscimode apenas 15% na taxa de fecundidade das mulheresamericanas.

    Nos pases em desenvolvimento, o crescimentopopulacional ainda depende em larga medida de futurosdeclnios da mortalidade. Mas, no caso do Brasil, emboraainda haja ganhos muitos importantes a serem feitos emrelao mortalidade, historicamente o componente maisforte no que diz respeito ao crescimento populacional foia manuteno em nveis elevados da fecundidade dasmulheres durante a maior parte do sculo. Como indicadoacima, a mortalidade declinou acentuadamente no Brasilnos ltimos 100 anos. Entretanto, a natalidade ( ou seja, onmero de nascimentos anuais para cada mil indivduos na

    16 Aparentemente, um elemento importante nestes diferenciais a maior exposio ao risco por morte violenta na populaojovem masculina, conforme indicado acima.17 Cf. Anurio Estatstico do Brasil 1993, ver CD-ROM dapublicao Estatsticas do Sculo XX (2003).

    Ncleo colonial de imigrantes, entre 1930 e 1937. CPDOC/FGV.

    Grfico publicado na Exposio Nacional de 1908. Acervo IBGE.

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    populao) manteve-se bastante estvel durante boaparte do mesmo perodo: a taxa bruta de natalidade, queoscilou em torno de 46,5 por mil habitantes durantetodo o Sculo XIX, comeou a declinar desde o incio

    do sculo seguinte, mas a um ritmo to suave que a mdiapara a dcada de 1960-1970 ainda era de 40 por mil, ou seja,houve apenas uma reduo de 6,5 nascimentos por milhabitantes em mais de 100 anos. Aliada ao declnio

    Fonte: Anurio estatstico do Brasil 1990. Rio de Janeiro: IBGE, v. 50, 1990.

    Grfico 6 - Evoluo da mortalidade infantil - Brasil - 1930/1990

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    Grfico Evoluo da mortalidade infantil, por Grandes Regies - Brasil - 1930/19807 -

    Fonte: Anurio estatstico do Brasil 1990. Rio de Janeiro: IBGE, v. 50, 1990.

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