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28 Novembro 2012 |

ntre a Alexandre Braga e a Sá da Bandeira, na Fernandes Tomás como quem diz, descobri no outro dia um ex-líbris da cidade do Porto.

Uma proeza da minha autoria, merecedora de uma epopeia ao nível da camoniana que eternizou os achados lusitanos por mares nunca dantes navegados, bem longe da, cada vez menos nossa, ocidental praia lusitana. Aliás, se Camões sentiu a necessidade de glorificar tais feitos, que dizer do crédito que mereço junto dos autarcas portuenses, por ter descoberto um local que nem eles próprios devem conhecer. E acredite: não sabem o que perdem.

Logo na fachada deste reino da Ruritânia, um querubim de língua afiada faz a sua primeira investida. Tenta impingir-nos os seus produtos. Um autêntico Velho do Restelo que nos dá um cheirinho da viagem que temos pela frente.

Entrando, assistimos a um cenário de destruição. A maioria dos espaços estão barricados. Não sei por causa do Tornado de Silves ou se foi Damasco que para aqui se mudou. Apenas é possível avisar alguns veteranos de guerra, trazendo nos rostos as marcas duma vida ao serviço duma cidade que cada vez menos lhe reconhece a sua luta.

Este é o primeiro piso, são as varandas do Muro dos Bacalhoeiros da Ribeira e lá em baixo corre o Douro. Quando descemos os Guindais do mercado, apercebemo-nos como este “Rio” não tem dinheiro. Já o dizem há largos anos. Que malandro este “Rio”. A frota que o navega é composta por pequenos tabernáculos cuja aparência lembra-nos outro ex-líbris, as Casinhas de Santana, na Madeira. A diferença é que na Madeira, o buraco é do Alberto João Jardim, enquanto buracos aqui, só nos colmos destas casinhas. Não vá concertar estes buracos abrir um ainda maior na tesouraria da Câmara do Porto.

Prosseguimos viagem. Passamos por seres mitológicos, metade mulheres, metade peixe, que, cantarolando num dialecto muito próprio, lançam-nos feitiços que nos convencem a mergulhar nos seus

cardumes. Aves de rapina sobrevoam-nos, obrigam-nos a estar atento às cabeças. Quando não pousam nas hortaliças ou não levam junto ao bico lianas de leguminosas, acabam por aterrar nas árvores metálicas, plantadas no chão de forma a assegurarem que não vá à ruína este fardo que é o Bolhão.

Sim, o Bolhão é um fardo e quando o digo, não me dirijo apenas aos autarcas portuenses. Escrever sobre o Bolhão tornou-se um fardo, filmar o Bolhão tornou-se uma reportagem batida, escutar as suas pessoas tornou-se chato. Ainda assim, li, num artigo dum jornal da região, que a Associação de Comerciantes enviou uma carta ao Presidente da República, ao Governo, à diretoria regional da Cultura do Norte e à Câmara do Porto, a pedir que, em colaboração com a União Europeia, encontrassem verbas que

permitissem a restauração do mercado. A ver vamos se o Concílio dos Deuses decide a favor da causa do povo e convence, em última instância, o sempre relutante “Ca’Baco”.

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Este “Rio” não tem dinheiro. Já o dizem há

largos anos. Que malandro este “Rio”.