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1 UFSM / CESNORS / PAISAGISMO E FLORICULTURA Profa. Adriana Graciela Desiré Zecca UNIDADE 2 – ESTILOS DE JARDINS 2.1 – Estilos da Antigüidade e Idade Média. 2.2 – Estilo Renascentista e Pós-renascentista. 2.3 – Estilo Paisagista. 2.4 - Estilos Orientais. HISTÓRIA DO PAISAGISMO Para nos reportarmos às origens históricas do paisagismo, vamos regredir no tempo até a Pré História, onde os estudos arqueológicos encontram nas pinturas primitivas das paredes das cavernas, o desenho de espécies de plantas representadas pelos seus habitantes há milhões de anos passados. Tais espécies foram exaustivamente estudadas por renomados botânicos de nossa época, os quais chegaram à conclusão que algumas das espécies enquadravam-se entre famílias do reino vegetal cujas propriedades podem ser consideradas comestíveis, outras, porém, para surpresa geral, não teriam outra serventia que não fosse a figurativa, para não terem que admitir o qualificativo de decorativa. Na realidade, nenhum antropólogo, conseguiu ainda, até nossos dias, determinar com clareza os tipos de raciocínios ou instintos que moveram os primórdios da evolução comunitária dos nossos distantes antepassados primitivos, entretanto, podemos levantar a tese de que, ao se deslocar das matas para as cavernas em busca de abrigo mais seguro contra os animais predadores e da ação das violentas intempéries, o homem primitivo, sentindo falta do elemento vegetal das matas onde nasceu, tenha levado consigo alguns exemplares de espécies das plantas representativas do seu anterior habitat. Podemos, portanto, seguindo a lógica dessa linha de raciocínio, chegar à conclusão que aqueles nossos longínquos ancestrais, poderiam ter levado consigo para as proximidades das cavernas, os tipos de vegetação que mais lhes agradavam, iniciando assim os primórdios do paisagismo pré-histórico. Fica perfeitamente entendido que tais seres humanos não conheciam ainda sequer os rudimentos da mais primitiva agricultura, não sabendo, pois, como transplantar ou mesmo cultivar uma planta, por isso passaram a expressarem sua figura na tela natural das paredes das cavernas através de pinturas rudimentares. Como ocorreu na codificação das mais expressivas religiões dos vários povos do mundo, através do Jardim do Éden, onde habitavam Adão e Eva em meio à paisagem paradisíaca formada por vegetações que lhes proporcionavam cenário de prazer e deleite. Além dos conceitos religiosos e filosóficos, vários outros fatores formadores da cultura das civilizações ao longo do tempo, imprimiram no homem os diferentes estilos da expressão artística em suas obras de pintura e escultura, devidamente documentadas pela história da evolução das artes humanas. Como não poderia deixar de acontecer, a jardinagem surgiu como uma forma artística do homem modificar a paisagem natural, dispondo a vegetação como melhor lhe aprouvesse, condicionado a cada época de sua evolução. Assim foram surgindo os estilos de jardinagem, hoje denominada mais corretamente como paisagismo, conforme passaremos a descrever a seguir, na ordem cronológica do período histórico de cada estilo:

Estilos de Jardins

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UFSM / CESNORS / PAISAGISMO E FLORICULTURA Profa. Adriana Graciela Desiré Zecca UNIDADE 2 – ESTILOS DE JARDINS 2.1 – Estilos da Antigüidade e Idade Média. 2.2 – Estilo Renascentista e Pós-renascentista. 2.3 – Estilo Paisagista. 2.4 - Estilos Orientais. HISTÓRIA DO PAISAGISMO Para nos reportarmos às origens históricas do paisagismo, vamos regredir no tempo até a Pré História, onde os estudos arqueológicos encontram nas pinturas primitivas das paredes das cavernas, o desenho de espécies de plantas representadas pelos seus habitantes há milhões de anos passados. Tais espécies foram exaustivamente estudadas por renomados botânicos de nossa época, os quais chegaram à conclusão que algumas das espécies enquadravam-se entre famílias do reino vegetal cujas propriedades podem ser consideradas comestíveis, outras, porém, para surpresa geral, não teriam outra serventia que não fosse a figurativa, para não terem que admitir o qualificativo de decorativa. Na realidade, nenhum antropólogo, conseguiu ainda, até nossos dias, determinar com clareza os tipos de raciocínios ou instintos que moveram os primórdios da evolução comunitária dos nossos distantes antepassados primitivos, entretanto, podemos levantar a tese de que, ao se deslocar das matas para as cavernas em busca de abrigo mais seguro contra os animais predadores e da ação das violentas intempéries, o homem primitivo, sentindo falta do elemento vegetal das matas onde nasceu, tenha levado consigo alguns exemplares de espécies das plantas representativas do seu anterior habitat. Podemos, portanto, seguindo a lógica dessa linha de raciocínio, chegar à conclusão que aqueles nossos longínquos ancestrais, poderiam ter levado consigo para as proximidades das cavernas, os tipos de vegetação que mais lhes agradavam, iniciando assim os primórdios do paisagismo pré-histórico. Fica perfeitamente entendido que tais seres humanos não conheciam ainda sequer os rudimentos da mais primitiva agricultura, não sabendo, pois, como transplantar ou mesmo cultivar uma planta, por isso passaram a expressarem sua figura na tela natural das paredes das cavernas através de pinturas rudimentares. Como ocorreu na codificação das mais expressivas religiões dos vários povos do mundo, através do Jardim do Éden, onde habitavam Adão e Eva em meio à paisagem paradisíaca formada por vegetações que lhes proporcionavam cenário de prazer e deleite. Além dos conceitos religiosos e filosóficos, vários outros fatores formadores da cultura das civilizações ao longo do tempo, imprimiram no homem os diferentes estilos da expressão artística em suas obras de pintura e escultura, devidamente documentadas pela história da evolução das artes humanas. Como não poderia deixar de acontecer, a jardinagem surgiu como uma forma artística do homem modificar a paisagem natural, dispondo a vegetação como melhor lhe aprouvesse, condicionado a cada época de sua evolução. Assim foram surgindo os estilos de jardinagem, hoje denominada mais corretamente como paisagismo, conforme passaremos a descrever a seguir, na ordem cronológica do período histórico de cada estilo:

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JARDINS DA MESOPOTÂMIA – Há mais de 2000 anos antes de Cristo, todos os reis da Mesopotâmia - situada entre os rios Tigre e Eufrates - possuíam seus jardins reais, onde sempre aconteciam banquetes e cerimônias.

Nos jardins dos templos se plantavam frutas e legumes para se oferecer aos deuses, além de servirem como alimento aos serviçais. Os jardins eram plantados sobre os terraços dos prédios de vários pavimentos onde se celebravam os rituais.

Com o trabalho de manutenção e irrigação, realizados manualmente, esses asilos de fecundidade e frescor tornaram-se ainda mais maravilhosos. Assim, os príncipes babilônicos puderam conhecer o prazer de aclimatar espécies, entre elas, destacam-se as palmeiras. Cada planta era disposta dentro de uma espécie de vaso preparado com antecedência para recebê-la, isoladamente, e onde se mantinha o grau de umidade necessário através de uma irrigação constante. A história das civilizações relata que os assírios foram os mestres das técnicas de irrigação e drenagem, criando vários pomares e hortas formados pelos canais que se cruzavam.

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Pouco a pouco, à medida que o mundo babilônico crescia, os jardins ganhavam uma maior importância, com a formação de verdadeiros ‘parques de aclimatação’ e de ‘jardins botânicos’. Os jardins mais famosos da Antiguidade foram os Jardins Suspensos da Babilônia, considerados uma das Sete Maravilhas do mundo antigo. Segundo os historiadores, esses jardins foram construídos pelo Rei Nabucodonosor II (605-562 a.C) e dedicados à sua esposa, Rainha Semiramis. A Rainha era de origem persa, tinha saudades das montanhas e colinas cobertas dos bosques do seu país (região noroeste do atual Irã) e essa construção tinha a intenção de amenizar esse sentimento.

De acordo com os resultados de pesquisas e descrições de historiadores, os Jardins Suspensos eram seis montanhas artificiais (terraços). Os terraços eram feitos de tijolos e foram construídos um encima do outro, sendo que os inferiores desbordavam bastante sua área em relação aos superiores, a superfície no alto chegava a 120 m2. Apoiados em colunas de 25 a 100 m de altura, ficavam ao sul do rio Eufrates. Eram impermeabilizados por camadas de junco, betume e chumbo. Seus construtores evitavam assim as infiltrações da rega. Assim, eles formavam verdadeiros patamares onde eram plantadas diversas espécies de árvores e outras plantas de menor porte, que eram protegidas pela sombra das árvores. Inspirados nesses jardins suspensos, os romanos passaram a cultivar plantas nas partes altas das casas.

No eixo dos dois terraços superiores, havia uma grande escada entre duas series

de planos levemente inclinados, onde corria a água da irrigação. A água era levada até o terraço superior através de baldes presos a uma corrente. Depois, essa água era distribuída entre os vasos de plantação e o excesso era drenado dentro de um sistema

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complexo de canais subterrâneos. Os escravos trabalhavam em turmas, movimentando engrenagens que funcionavam continuamente para captar a água do rio para irrigação.

As espécies utilizadas eram as tamareiras (com a finalidade de fornecer um

microclima favorável a outras espécies), o jasmim, as rosas, as malva-rosa, as tulipas e também álamos e pinos que não suportariam viver num clima tão árido e quente, mas só foi possível devido ao complexo sistema de irrigação desenvolvido. O sentimento

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religioso estava presente na arte dos jardins, onde se acreditava que os jardins dependiam da vontade dos deuses.

Com a decadência do império, a Babilônia provocou o afastamento da Mesopotâmia da cultura ocidental, o que fez que os jardins suspensos da Babilônia se tornassem uma lenda.

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ESTILO EGÍPCIO – Surgido há mais de 2.000 a.C., originou-se na agricultura, passando a figurar nas casas mais abastadas como ornamentação. As características dos jardins egípcios seguiram os mesmos princípios utilizados na arquitetura deste povo.

Eles só surgiram quando as condições de prosperidade no antigo império permitiram às artes (arquitetura e escultura) um notável desenvolvimento.

De um modo geral, o jardim egípcio desenvolvido de acordo com a topografia do Rio Nilo era constituído de grandes planos horizontais, sem acidentes naturais ou artificiais. As características dos monumentos egípcios – com a rigidez retilínea e a geometria – fizeram com que os jardins tivessem uma simetrização rigorosa. Tudo de acordo com os quatro pontos cardeais, sendo a vegetação sempre contida intramuros. O traçado obedecia rigidamente às motivações astrológicas determinadas pelos sacerdotes, configurando as normas religiosas daquela época. O critério de plantio seguiu as tradições de suas atividades agrícolas na planície do Nilo.

Os jardins não eram construídos unicamente para o lazer, assim como os jardins da Mesopotâmia, mas produziam também vinho, frutas, legumes e papiros, produtos destinados ao consumo da população.

Fig.: Pintura egípcia 18a dinastia (representa um jardim do antigo Egito).

Nos jardins egípcios eram cavadas bacias nas beiradas do rio onde a água era captada por infiltração. Essas bacias eram transformadas em tanques retangulares, repletos de plantas aquáticas e pássaros, com árvores dispostas em traçado regular. O jardim regular era símbolo da fertilidade, sintetizava as forças da natureza e era a imagem de um sistema racional e arquitetural baseado no monoteísmo. Osíris para os egípcios era o deus da vegetação.

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Nos jardins criavam-se íbis, flamingos e pombos, todos em liberdade. No meio das folhagens via-se o cimo dos pavilhões, torres denteadas, em formas maciças, características da arquitetura egípcia, e que mais tarde apareceriam como fabriques (pequenas construções que criavam cenários nos jardins) nos jardins romanos. Assim, alguns dos temas do jardim egípcio foram modelos diretos do jardim ocidental antigo. Seu destaque foi, sobretudo, por causa do desenvolvimento de canais e da presença de água. Esses jardins se caracterizavam por serem planos, fechados por muros e subordinados a uma propriedade, com seus pavilhões dispersos em vários locais para aproximar o visitante da natureza. Muitas dessas formas reaparecem no sul da Itália onde exerceram por muitos séculos sua influência.

ESTILO PERSA – Os persas não criaram no mundo das artes monumentos originais. A sua arquitetura foi, nas suas grandes manifestações, obra de gregos. Os jardins dos antigos persas estavam, como as demais produções artísticas, condicionados à influências estranhas e revelavam, nos caracteres essenciais da composição, elementos retirados dos jardins gregos e egípcios, uma espécie de estilo "misto". Jardins estritamente formais, uma versão modificada do plano egípcio; bastante elaborados no seu aspecto cênico e utilitário, servindo não só para a contemplação como também para o deleite daquele povo. Espelhos de água figuravam em meio às alamedas onde foram introduzidas espécies perfumadas; árvores frutíferas compunham na paisagem compartilhando a presença de roseiras, jasmins, ciprestes ou murtas no mesmo espaço, tendo como forração espécies exóticas e floríferas. São introduzidas as espécies floríferas tais como tulipas, lírios, prímulas, narciso, jasmins. A introdução destas espécies floríferas no jardim criou um novo conceito na arte de construí-los, passando a vegetação a ser estimada pelo valor decorativo das flores, sempre perfumadas, do que pelo aspecto de utilidade que possuíam anteriormente.

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Os jardins persas procuravam recriar uma imagem do universo, constituindo-se de bosques povoados por animais em liberdade, canteiros, canais e elementos monumentais, formando os "jardins-paraísos" que se encontravam próximos aos palácios do rei. A associação dos reinos animal e vegetal completava a idéia do paraíso. Era característica a presença de dois canais principais em cruz dividindo o jardim em quatro zonas (quatro moradas do Universo: terra, fogo, água e ar); ao centro: tanques com fontes, revestidos de azulejos azuis para acentuar o frescor da água. Não havia estátuas, pois o islamismo não permitia a reprodução de imagens humanas.

O jardim persa cercado de altos muros feitos de tijolos, estritamente formal, era um lugar de retiro privado, destinado ao prazer, ao amor, à saúde e ao luxo.

Nestes jardins havia: Construções (tipo quiosques) dispersas entre as árvores; Postos de tiro para os caçadores; Áreas para descanso, onde se realizavam recepções ou simplesmente serviam

como locais de frescor para o verão. Eles exerceram grande influencia sobre a historia ulterior dos jardins. Agiram

diretamente sobre a estética dos jardins muçulmanos, que por sua vez transportaram certos temas até o extremo ocidente.

Fig.:Jardim da Praça Naghshi Jahan em Isfahan, Irão.

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Fig. Taj Mahal, Índia – estilo Persa.

Fig. Taj Mahal (Mapa), Índia.

ESTILO GREGO – As raízes fundamentais da cultura ocidental se encontram, não há dúvida alguma, na civilização desenvolvida na Grécia Antiga. O cuidado com as plantas provavelmente foi fruto do amor à vida em pleno ar livre, obrigando a uma constante aproximação com a natureza. Os jardins gregos, apesar de fortemente influenciados pelos jardins egípcios, apresentaram diferenças notáveis em razão da topografia acidentada da região e o tipo de clima. De solo rochoso e montanhoso, clima quente e seco, a Grécia nunca foi uma região ideal para uma jardinagem organizada. Os jardins possuíam características próximas das naturais, fugindo da simetria dos egípcios.

Na realidade, os jardins gregos eram, sobretudo até a época clássica, um jardim sagrado, cultivado próximo a algum santuário e consagrado a uma das divindades da fecundidade. Os gregos criaram o conceito de Bosque Sagrado, um lugar natural,

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abençoado e dedicado aos deuses, com vegetação virgem e sem intervenção humana. Eles não procuravam a beleza nos jardins.

Os gregos se mostraram contra a moda dos jardins importados do oriente e o que eles fizeram foi seguir uma tradição bem estabelecida, da cidade democrática. Os sábios se expressavam da seguinte forma sobre os pavões e rouxinóis: “Existem pessoas que embelezam as culturas com vinhas, trepadeiras, e arbustos de mirto; eles criam pavões, pombos, perdizes e rouxinóis para cantarem para eles! Em tal situação, não tardará para estarmos a pintar um monte de lixo!”.

Era este o aspecto do espírito grego, racional, ponderado e, determinantemente intelectual. Eles repugnavam os jardins e tudo aquilo que estava ligado ao prazer em torno dos objetos da natureza. Nos jardins gregos, então, se cultivavam legumes para consumo, trigo para confeccionar pão, mas as flores eram destinadas aos deuses. Cultivavam também peras, romãs, maças, figos, uvas e azeitonas.

Foram ainda os gregos que criaram as praças públicas e os primórdios da urbanização, proporcionando através do plantio ordenado da vegetação nos prédios públicos e ruas, um maior conforto à população. Os ginásios, inicialmente devassados, foram então completados com bosques e passeios. Árvores também foram plantadas próximo aos mercados e aos locais de reuniões como a Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles.

Na época da conquista romana, os gregos apresentavam a arte de jardins em sua fase inicial, mas foram esses conquistadores que a terminaram, unindo todas as tendências e criando uma nova estética, na qual, absorveram parte do estilo dos jardins egípcios quanto ao traçado das formas simétricas e rígidas, com a funcionalidade dos jardins persas. Como diferenciação dos estilos anteriores, surgem os jardins em ambientes internos. A introdução de colunas e pórticos fazia uma transição harmoniosa entre o exterior e interior e o jardim era um prolongamento das partes da casa, às quais ele se ligava. A sua principal característica era a simplicidade. Os jardins também ficaram marcados por possuir esculturas humanas e de animais mais próximas da realidade, instaladas em nichos e fontes. As plantas mais utilizadas nos jardins privados eram as rosas, íris, lírios, cravos, bulbosas floridas e as ervas. Encontravam-se também pequenas frutas.

Fig.: Acrópole, Atenas – Grécia.

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ESTILO ROMANO – O império romano se estendia da Espanha (oeste) até a Mesopotâmia (leste) e do Egito (sul) até a Inglaterra (norte). Compreendia variedade de paisagens, climas e raças. Os romanos não podiam ser incluídos no grupo dos povos que tiveram a arte como forma de expressão. Eles se encaminharam para a história, o Estado e o Direito.

O nascimento da arte dos jardins na civilização romana, teve diversas causas, sendo que uma das mais profundas está associada a certas tradições e características deste povo, como por exemplo, o fato de que os romanos, mesmo após tantas conquistas, jamais se esqueceram de suas propriedades familiares. Após vencerem suas batalhas, eram para esses lugares que os generais retornavam. A vida política os obrigava a permanecerem nas cidades, então eles começaram a adquirir suas casas de campo nos arredores de Roma. As mais tradicionais famílias da aristocracia possuíam grandes propriedades rústicas próximas a Roma. Estas terras foram se dividindo e aos poucos se transformando em Villas onde surgiram os Jardins dos Prazeres.

A casa romana repetiu basicamente o modelo grego, sendo construída no nível da rua, com as habitações voltadas para dentro, possuíam um pátio interno rodeado por colunas que eram adornadas por espécies como rosas trepadeiras ou outras de caráter expressivamente ornamental, servindo para o desfrute dos visitantes e dos habitantes, e abertas a uma praça anterior. Os jardins foram objetos de atenção, mas apesar disso, são falhos quanto à originalidade. O jardim romano é uma mistura da criatividade dos romanos com as artes gregas (eles quando saquearam Grécia carregaram consigo também seus monumentos e estátuas, e como não sabiam o que fazer com a grande quantidade de estátuas distribuíram-nas pelos seus jardins, de tal forma, que a ornamentação se generalizou nos jardins romanos da época).

Os jardins eram metódicos e ordenados, integrando-se às residências, características visualizadas nas Villas romanas onde havia a interpenetração casa-jardim: as paredes eram pintadas como paisagens e os muros revestidos com trepadeiras. Os romanos também prezavam as composições de paisagens. As plantas, a água e o solo se tornaram suporte para pesquisas de composições plásticas.

Como características de tais jardins podem-se ressaltar a grandiosidade e a magnificência da composição, as perspectivas vastas, que empregaram como prioridade, a decoração pomposa, a valorização para fins exclusivamente recreativos. Os jardins eram principalmente santuários sociais, onde se desfrutava de proteção frente às moléstias do sol, vento, poeira e ruído das ruas. A sombra projetada pelas galerias com arcos reduzia necessidade de arvoredo. As plantas, quando existiam, eram colocadas em maciços elevados e os pátios se ornamentavam com tanques de pedra para água, mesas de mármore e estátuas. Como exemplos, temos as cidades de Pompéia e Herculano.

Naqueles jardins figurava ainda um espelho de água alimentado pela captação das águas de chuvas, servindo como elemento decorativo e funcionando como uma reserva hídrica e para a refrigeração ambiental. A maioria dos jardins romanos também possuía uma pequena horta. Talvez por isso, a irrigação era planejada.

Nos primeiros textos em latim, o jardineiro era chamado de topiarus, ou seja, paisagista. Sua arte era chamada arte topiária, palavra que os historiadores modernos sempre restringem o sentido, afirmando que ela designava apenas a poda pitoresca de arbustos. Na verdade, a poda pitoresca foi inventada e praticada pelos jardineiros romanos, mas era somente um dos procedimentos da arte topiária da época e que só apareceu 50 anos após o inicio do jardim paisagista romano. Para essa arte, os romanos utilizavam ciprestes, buxos e loro-anão, as mesmas plantas dos jardins gregos e persas.

Na parte externa, os jardins eram grandiosos, geralmente em terrenos de nível irregular, compostos por vegetação suntuosa, as plantas utilizadas eram: coníferas,

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plátanos, frutíferas como amendoeira, pessegueiro, macieira, videira e outras. A maioria possuía horta. Os canteiros eram plantados como bordaduras.

Os elementos decorativos como esculturas, estátuas, pérgulas e espelhos de água (lagos que possuíam o fundo escuro para causar efeito de espelho), também eram incluídos no paisagismo. Existiam ainda jardins privativos no interior das residências, dedicados aos deuses familiares.

Os jardins romanos eram obras de arquitetos e estavam, portanto, subordinados à arquitetura. Eles completavam a casa romana com passeios e pórticos dispostos em todas as orientações para gozar do sol, da sombra e da natureza em todas as horas do dia. Construíam-se também varandas que serviam como locais de lazer.

O esplendor romano de suas Villas pode ser registrado na Villa do imperador Adriano (117-138 d.C.), a "Villa Adriana", construída em Tívoli, que perdurou até antes da guerra de 1939, onde se tem o exemplo máximo de Topia, jardim concebido como um lugar imaginário. Esse jardim era uma reconstrução de monumentos e construções admirados pelo Imperador nas viagens que realizava pelo seu império. Assim como em diversos outros jardins romanos, na "Villa Adriana" se exploraram as perspectivas naturais da paisagem como os vales que eram vistos dos terraços e as construções que eram abrigadas em pequenas grutas.

Fig: Villa de Adriano, Tiboli – Itália.

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Estas vilas darão um impulso definitivo para o grande estilo italiano. O jardim romano pode ser considerado uma síntese original destinada a exercer uma influencia durável sobre a arte e a civilização ocidentais. ESTILO MEDIEVAL (SÉC. XIII A XV) – Após a invasão e domínio dos povos bárbaros orientais, o mundo ocidental teve sua cultura totalmente arrasada e fadada ao desaparecimento, salvando-se apenas os textos do Evangelho Cristão dentre os documentos culturais. A concepção de jardins foi bastante modificada na Idade Média. A cultura pagã foi renegada, e todos os povos eram considerados pagãos: egípcios, persas, etc. As guerras devastaram grandes áreas e cidades e, somava-se a isso, a crença de que as florestas e jardins densos eram habitados por demônios.

Um retorno à economia rural e a simplicidade de hábitos concretizou-se neste período. O luxo e o requinte foram abandonados e criou-se uma nova hierarquia de valores. As construções feitas neste período eram rudes e pesadas. O verde foi praticamente banido na vida urbana. Devido à segurança das comunidades, a vida passou a se desenvolver sempre cercada pelas fortificações nos castelos e ou mosteiros, O jardim medieval tinha como característica marcante a simplicidade, reflexo do retraimento que se seguiu à decadência de Roma. Havia, na Idade Média, três tipos de jardins: o jardim dos prazeres fechado, a horta utilitária e o jardim de plantas medicinais, explorado pelas ordens monásticas. Os jardins eram cultivados nos mosteiros e castelos, em pequenos espaços planos, quadrados e fechados por muros revestidos de trepadeiras. Os passeios eram retos, cobertos de pérgolas e se cortavam em ângulos retos, em alusão à cruz, contando sempre com a presença de símbolos religiosos colocados em nichos, além de uma fonte central em forma de pia batismal no eixo central. Os assentos eram rústicos, feitos com troncos. As cercas mais baixas eram recobertas de rosas e as mais altas por romãs. Neles se cultivavam plantas úteis para alimentação, medicinais e flores, que eram utilizadas para ornamentação dos altares. As plantas medicinais eram a base para fabricação de perfumes, cosméticos e remédios.

Os mosteiros e as igrejas tornaram-se centros difusores das artes e ciências. Eram os próprios religiosos que cultivavam os jardins e estes monges tinham um real senso da natureza, incentivado pelo paraíso bíblico. Pelo trabalho com a terra, purificava-se a alma. Nos jardins dos monges se cultivavam apenas ervas medicinais. Nos jardins dos padres e nos pequenos jardins domésticos (cultivados pelas mulheres), se cultivavam flores, legumes, plantas medicinais e árvores frutíferas.

O jardim medieval se destacava por suas formas mais artificiais e pelas ambições paisagísticas e simbolistas dos grandes jardins à moda italiana da época clássica, e nos parques pitorescos, muito empregados pelos paisagistas ingleses, na segunda metade do século XVIII.

Há ainda o testemunho das miniaturas dos séculos XIV e XV, onde se podia ver um pátio fechado com uma dama assentada e do outro lado do muro, a imensidão do campo. Do lado de dentro ficavam alguns canteiros de flores, plantados em jardineiras formadas por quatro muretas acima do nível do solo, quase na altura do joelho da dama. Outros canteiros pareciam contornar a muralha, sem, no entanto, escondê-la. O restante do piso era pavimentado, com exceção de alguns quadrados, e contornados com bordaduras. Encontrava-se sempre uma fonte ou um pote sobre o pavilhão, ornamentado e cuja arquitetura foi ficando cada vez mais complexa, à medida que o tempo avançava. Às vezes, podia-se encontrar, ao longo de um dos lados da horta ou de do pequeno jardim, uma longa treliça. Nessa época, a arte de dobrar os galhos como da tília para

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formar alamedas cobertas ou passeios ornamentados de verde ainda era desconhecida. As roseiras-trepadeiras eram colocadas sobre armações em forma de roda. Estes motivos eram frequentemente encontrados nas pinturas de mestres franceses e flamengos. As pinturas, no entanto, não testemunharam grande desenvolvimento na arte dos jardins. Essa pobreza da imagem por atribuída à falta de técnica dos pintores, pois eles ainda não dominavam a técnica da perspectiva, não lhe permitindo reproduzir jardins mais complexos que, provavelmente, já existiam naquela época.

A horta ou o pequeno jardim que havia no interior dos castelos era sempre complementado por um pomar e um bosque de árvores sempre verdes, que se estendia livremente para o exterior das muralhas e onde viviam os animais selvagens.

Fig.: Jardim Medieval. Claustro de Alcobaça – Portugal.

Fig. Anônimo, Idade Média – Romance of the Rose Garden.

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ESTILO RENASCENTISTA (SÉC. XV- XIX) – Passada a fase de domínio dos povos bárbaros sobre o ocidente, inicia-se o ressurgimento da mentalidade clássica na Europa. O início do Renascimento data de meados do século XV e tal época ficou assim conhecida devido ao ressurgimento da cultura de um modo em geral. Houve uma renovação do pensamento no que diz respeito às artes, às ciências, à literatura e a filosofia. Dos descobrimentos veio a nova concepção da Terra, da Humanidade e do Universo. O caráter conquistador e imperialista toma conta da Europa. Houve o renascimento também dos jardins e os países que mais expressaram esta renovação foram Itália, França e Inglaterra.

Os muros que antes cercavam as comunidades deixam de terem sua função protetora e com isso ocorre uma natural expansão das artes e seu aperfeiçoamento. Os estilos rebuscados com o uso de rendilhados, filigranas e adereços multitrabalhados em arabescos.

Naquela fase da evolução humana, os jardins passam a assumir a importância de complementação da arquitetura monumental, figurando sempre, em meio à vegetação dominada pela topiária – poda escultural das vegetações, fontes, lagos, chafarizes, estatuas e pérgolas ou caramanchões. Isso ocorreu após o ano de 1.500, principiando na Itália e depois se espalhando por toda a Europa. ESTILO CLÁSSICO A criação do jardim clássico começa com o renascimento italiano. Foi na Itália que surgiram os primeiros exemplos deste novo estilo. Florença foi, desde os meados do século XIV, a capital dos jardins, assim como era também a capital da pintura. Os arredores de Florença se encheram de Villas e castelos onde banqueiros e comerciantes ricos se retiravam durante o verão. Retomaram-se ainda os motivos dos mitos da Antiguidade. Assim, as divindades pagãs ressurgiram nos jardins, simbolizadas em estatuas. As fontes foram outro elemento desta continuidade medieval, na época do renascimento. JARDIM ITALIANO

No período renascentista, os italianos começaram a se retirarem para o campo, procurando locais mais frescos e de vista agradável, sobretudo no verão e, para tanto, construíram diversas Villas. Os sítios se encontravam nas colinas e nas encostas, em razão das vistas panorâmicas e também do clima. Essas propriedades pertenciam a homens prósperos e cultos que apreciavam a natureza. Iniciou-se neste período, a intervenção dos arquitetos na arte dos jardins.

Os jardins italianos desta época se inspiraram nos jardins da Roma Antiga que possuíam muitas estátuas e fontes monumentais. Para o aproveitamento das irregularidades do terreno se fez uso de escadarias e terraços acompanhados de corredeiras de água. O jardim se caracterizava pelos seus passeios retos, coincidindo a avenida principal com o eixo central da residência, que servia de marco da Villa e se situava na parte mais alta do terreno. Chegava-se à residência através de uma sucessão de escadarias, rampas, terraços, grutas e fontes. Os jardins eram exuberantes e mostravam opulência. Deixaram de ser canteiros para cultivar e colecionar plantas e passaram a serem construídos em áreas externas para realização de atividades diversas de lazer. Os jardins eram tidos como centros de retiro intelectual, onde sábios e artistas podiam trabalhar e discutir no campo, longe do calor e das moléstias da cidade.

Em terrenos acidentados formavam-se platôs, interligados por escadarias monumentais de pedra com corredeiras de água. Nos terraços haviam fontes, estatuas, pórticos, belvederes (mirantes), balaustradas (gradeado com pequenos pilares), arcadas,

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pérgolas com trepadeiras, aléias sombreadas. A alvenaria dominava e por isso os jardins não eram demasiado grandes.

As casas eram construídas em locais com vistas panorâmicas, geralmente no alto do terreno e circundadas com os terraços bastante formais, onde haviam canteiros baixos cultivados com ervas e arbustos podados; a vegetação era considerada secundaria e recebia cortes adquirindo formas determinadas, conhecidas anteriormente nos jardins romanos por topiárias. À medida que o jardim se distanciava da casa, se tornava mais verde e sombreado. A variedade de plantas utilizada era pequena: ciprestes, tuias, buxinho (topiarias), louros, azinheiros, oliveiras.

Nas cascatas, a água descia pelos muros e caía em bacias amplas onde haviam esculturas. Nos terraços existiam escadarias de pedras e os patamares eram decorados com fontes. Em alguns jardins, haviam grutas que marcavam as nascentes de água. A água não era utilizada apenas como adorno, mas também para realçar as mudanças de nível, os cruzamentos dos caminhos.

Os muros de alvenaria foram substituídos por sebes podadas e estatuas livres e eretas, denominadas “termos” e eram colocadas nas extremidades dos corredores, arrematando a vista do jardim.

Nestes jardins a paisagem era desenhada com régua e compasso, caracterizando a simetria de linhas geométricas. Havia também muito contraste entre as formas naturais e as criadas pelo homem.

Na Itália iniciou-se a restauração dos mais belos parques e dos jardins das “vilas romanas”, como Villa Médici (Roma, 1417); Villa D’Este (Tivoli, 1549) e Villa Borghese (Roma, 1606).

Fig.: Villa D’Este, Tivoli, Itália.

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JARDIM FRANCES Os países da Europa seguiram à França no século XVII, período no qual teve sua

maior riqueza e poder. A principio, o estilo francês se baseou nos jardins medievais, que utilizavam canteiros com flores e ervas medicinais, sendo que havia também a horta que lhes concedia o abastecimento. Mas, com o passar do tempo, novas idéias foram sendo introduzidas por arquitetos italianos que trabalhavam na corte francesa.

Na França, os reis e os grandes senhores do Renascimento quiseram também possuir seus próprios jardins. Todos os jardins apresentavam as principais características dos jardins italianos, apesar da tradição nacional francesa ter passado a se impor com o tempo. De maneira geral, a parte descoberta dos jardins era ocupada por canteiros em broderie (bordado) e no centro encontrava-se uma fonte, que era dominada por um pavilhão em forma de cúpula, geralmente em estilo gótico. Pode-se citar a rígida distribuição axial, a perspectiva, a sensação de grandiosidade. As formas geométricas podiam ser percebidas tanto nos caminho e passeios quanto na vegetação, admitindo-se poucos desníveis. Havia ainda as plantas podadas em topiarias. O jardim clássico francês era caracterizado por plantações baixas, permitindo uma maior visão das construções.A maior parte desse plano podia ser visto em um único golpe de vista, com intuito de provocar admiração e expressar respeito.

Apesar de no inicio ter sido bastante influenciado pelo estilo italiano, no século XVII o jardim clássico em estilo francês se tornou uma “febre”. Os jardins desse estilo foram construídos com bastante arrogância e empregando um grande numero de trabalhadores, como por exemplo, para a construção do palácio e jardim de Vaux-le-Vicomte, se arrasaram três aldeias e nele trabalharam 18.000 pessoas. Nos jardins de Versailles trabalharam 22.000 homens e 6.000 cavalos, que drenaram pântanos, construíram terraços e canais. Em Marly, um local de retiro de Luis XIV, remodelou-se as colinas, plantaram-se e replantaram-se árvores adultas e construiu-se um jogo com rodas de água.

Os principais jardins foram construídos pelo famoso arquiteto/paisagista de Luis XIV, André Le Nôtre, que trabalhava com simplicidade, elegância e requinte, no entanto, sem excessos. Seu primeiro trabalho importante como paisagista foram os jardins do castelo Vaux-le-Vicomte, pertencente ao Ministro das Finanças de Luis XIV, Nicolas Forquet. Nele haviam parterres padronizados com o gramado, sebes perenes de porte baixo e espelhos d’água. O uso de alvenaria era mínimo: Le Nôtre utilizava as plantas para criar estruturas, como teixos podados em forma de cone. Nos bosques que circundavam o jardim, foram criadas pequenas áreas para alivio do calor e para descanso da vasta extensão dos parterres. Este se tornou um dos modelos do jardim em estilo francês.

Ao visitar os jardins de Vaux-le-Vicomte, Luis XIV, ficou enciumado com tanto bom gosto e grandiosidade. Mandou então prender o seu proprietário sob alegação de desvio de dinheiro publico e contratou Le Nôtre para construir um jardim ainda mais magnífico, próximo a uma antiga cabana de caça, em Versailles, com dimensões espetaculares, a qual foi sua obra mais marcante. A área total era de 732 hectares, com 3 km de comprimento e 1.400 fontes.

O jardim ficava em torno de um eixo central de grande comprimento (2 km), proporcionando uma aparência infinita. Os parterres foram dispostos simetricamente ao eixo e separados dos bosques por cercas vivas. Havia estatuas de mármore branco, fontes, canteiros floridos, gramados. Os jardins foram estruturados em uma serie de terraços planos e abertos. Nesses terraços foram construídos parterres (broderie parterre), onde o chão era todo bordado com buxinhos podados. Os espaços eram

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completados com pedras trituradas ou pó de tijolo, além de possuírem vasos plantados com flores.

No jardim francês as plantas faziam parte da arquitetura, sendo elementos fixos da paisagem para proporcionar grandiosidade e isso era conseguido através da poda. O gramado era impecável e por isso denominado ‘tapete verde’.

Fig: Castelo Vaux-le-Vicomte, França.

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ESTILO PITORESCO - PAISAGISTICO O termo Pitoresco (=Pinturesco) se refere a um jardim construído de maneira

idêntica a uma pintura. Os jardins ingleses, também denominados de pitorescos, eram construídos dessa forma, reproduzindo pinturas de artistas famosos. Esses jardins se voltaram para as concepções do império chinês: imitação da natureza, com traçado livre e sinuoso, com água correndo livremente, enfim, a simplicidade.

JARDIM INGLÊS (1700) – No reinado de Luiz XV, o estilo francês entrou em decadência devido à busca exagerada da forma e simetria. Após a revolução francesa, com inicio da Era da Razão, começou a ser extinto o estilo anterior e os artistas que antes se voltavam exclusivamente à observação dos nobres, passaram a notar melhor o homem comum e seu estilo de vida popular, revolucionando completamente o estilo das artes e abandonando as expressões artísticas adotadas no estilo renascentista, ou seja, simplificando as formas antes mantidas sob domínio irracional. Na Inglaterra isso ocorreu com o protestantismo.

Os jardins passaram a receber uma concepção mais liberada em suas formas sob a influencia dos ideais protestantes, os ingleses passaram a inovar nas disposições das vegetações que passaram a figurar em estilo mais romântico, com as espécies desenvolvendo-se nas suas formas livres e naturalmente, sem a interferência das podas.

Os jardins são concebidos com formas mais leves em coloridos maciços florais e grupos de árvores e ou arbustos, figurando em maciços ou isolados, compondo sempre um retorno à natureza. Havia uma grande diversidade de plantas como arbustos floridos, plantas herbáceas e anuais, bulbosas, flores silvestres e forrações. Em razão da pequena diversidade de plantas do período da Idade Média, no Renascimento houve um crescimento no interesse de se ter diversidade, assim, havia excursões, viagens para todo o mundo com o objetivo de trazer espécies exóticas.

A principio, o jardim inglês parecia ser informal, pelo cultivo livre e de grande número de variedades de flores. Ao contrário, tinha um esquema bem detalhado e planejado. Possuía muros, sebes, canteiros, bordaduras e caminhos pavimentados. São esses elementos que proporcionam escala, forma e coerência. No jardim inglês era fundamental a presença de muros e sebes, que delimitavam os espaços, protegiam as plantas e serviam de fundo.

Grupos de árvores e arbustos de espécies variadas eram utilizados para limitar os espaços abertos irregulares. Cada espaço deveria ser projetado a partir de um ponto especifico a ser destacado: podia ser uma árvore, um lago ou uma vista panorâmica.

O movimento e a imaginação eram estimulados por caminhos curvos, que desapareciam por linhas de vista encobertas por galhos. A ordenação assimétrica da paisagem provocava uma complexidade visual enquanto que nos jardins formais com traçados rígidos, todo ele poderia ser observado em um só lance visual. Os desenhos assimétricos eram mais difíceis de compor, devendo-se sempre buscar o equilíbrio.

Nos espaços abertos se utilizava a água e a grama. A água era sempre atrativa e estava presente disposta em lagos e riachos.

A característica mais marcante do jardim paisagístico eram os gramados extensos e bem cuidados, não havendo canteiros de flores, parterres com balaustradas ou outras plantações. Este cenário simples influenciou diversos outros paisagistas e jardineiros, principalmente nos Estados Unidos.

O projeto global era definido pelos grupos de árvores, onde se fazia inclusão ou exclusão de espécies de acordo com o traçado ou a vista desejada.

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Os elementos arquitetônicos impunham ao jardim uma característica da época e ainda indicavam que o jardim constituía uma característica projetada, trabalhada. No século XVIII, templos e ruínas, em homenagem à Antiguidade eram utilizados. Com o tempo, essas estruturas foram substituídas por formas mais exóticas, como os Pagodes Chineses, pontes indianas, abrigos rústicos, ruínas e arcos góticos. Destacava-se ainda o que se denominava “natureza sublime”, onde se valorizavam árvores com formas irregulares, cenários com características selvagens (penhascos, cachoeiras) e até troncos de árvores mortas.

Os jardineiros ingleses tentaram imitar as sinuosidades e as irregularidades das alamedas do modelo chinês, adaptando-os aos conceitos ocidentais, criando o jardim anglo-chinês.

Nos jardins ingleses a geometria das curvas substituiu a geometria das linhas retas. Esse tipo de traçado não se adaptou à concepção pura de um jardim chinês, pois ele não era projetado num plano por ser absurdo para o chinês.

A Inglaterra também teve seus mestres paisagistas como William Kent e William Chambers, este último foi quem introduziu a idéia chinesa nos jardins de seu país.

Os ingleses acabaram dando origem aos parques e jardins públicos que tiveram por finalidade refrescar as áreas urbanas. Os jardins eram caracterizados pela presença de bosques, gramados extensos, rochas, árvores secas, lagos, ruínas, plantas nativas e plantas isoladas. Sempre havendo a presença de algo florido durante todo o ano. Um dos objetivos deste estilo descrito era que as pessoas percebessem como jardim, toda a natureza que estava ao seu redor. Este estilo foi utilizado na Inglaterra e em alguns locais da Europa, por quase dois séculos.

Fig.: Jardim inglês – Estilo paisagístico.

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ESTILO ORIENTAL: CHINÊS E JAPONÊS – A arte do jardim na China e Japão, sempre foi independente da arte ocidental. Os jardins criados neste meio completamente diferente, com outras crenças, foram destinados pelos habitantes à obtenção de uma possessão e uma compreensão mais intima da natureza. O ponto comum entre eles era presença de uma montanha ou um lago. JARDIM CHINÊS – O inicio da jardinagem da China não é muito preciso, provavelmente data de 2.000 a.C. Tem sua origem numa paisagem de rara beleza e flora riquíssima. Os parques das casas dos antigos imperadores não eram mais do que uma porção da paisagem cercada, onde a tarefa do jardineiro limitava-se a ordenar o já existente. Claro que este tipo de jardim do éden terminou quando a população cresceu e os bosques foram talhados. Para o verdadeiro jardim chinês não havia uma distinção muito clara da residência, sendo um incorporado ao outro. A delimitação entre a casa e jardim era às vezes feita por apenas uma cortina de bambu. O jardim chinês era antes de tudo um jardim de contemplação, de imobilidade e de silencio. Acreditava-se que no norte da China havia um lugar para os imortais. Como na realidade não existia, o Imperador Wu, da dinastia Han, contemporâneo de César Augusto de Roma, decidiu cria-lo na fantasia na forma de um jardim. Dessa maneira surgiu o Jardim “Lago-Ilha”, que por diversas vezes foi copiado, tanto na China como no Japão. No mito, algumas ilhas só poderiam ser atingidas se transportado por um pássaro, a cegonha gigante. Nos jardins, essas cegonhas eram representadas por rochas. No extremo oriente, o jardim era concebido baseado na lei dos detalhes. Para elaborar um jardim devia-se entregar à meditação daqueles detalhes que não se destacavam para o visitante ocidental, como a forma de uma flor, de uma rocha, o reflexo de um riacho ou de um ramo que cedia ao vento. Os caminhos nunca eram retilíneos, não tinham vias de comunicação, nem perspectivas praticáveis. Os jardins eram construídos em função da topografia, clima e vegetação existentes, sem se prenderem a formas rígidas ou simétricas. Essa concepção acabou por influenciar os jardins ingleses do século XVIII. No final do século VI, com o surgimento de um novo imperador, um novo jardim "lago-ilha" foi criado: o Parque Ocidental, com perímetro de 113 km e contendo quatro imensos lagos cobertos de lótus e rodeados de chorões. Trabalharam na sua construção um milhão de pessoas. Monumentais palácios de cor vermelha se ergueram no meio da vegetação e das rochas. Elementos característicos: Pedras e montanhas – todo jardim chinês possuía uma montanha; para isto procuravam-se rochas calcarias que foram formadas em lagos ou córregos e acabaram adquirindo formas estranhas. Essas rochas eram utilizadas para contornar bacias, margear canais, ou quando agrupadas se construíam montanhas. As pedras eram consideradas elementos de grande beleza no jardim, por isso muitas vezes eram colocadas sobre um pedestal, como uma estatua ou um objeto a ser cultuado. Água – estava presente em todos os cantos do jardim chinês, constituía um espelho onde as sombras eram refletidas. Com a montanha e lago, o jardim chinês representava uma imagem de paraíso. Edificações – o jardim chinês compreendia também os pavilhões, pórticos, pontes, quiosques, que contribuíam para dar o aspecto tão característico. A primeira razão dessa interpenetração entre o jardim e a arquitetura expressava o desejo de unir a vida

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quotidiana à natureza. Apesar disso, foram dispostas no jardim, de maneira excessiva, edificações puramente ornamentais. Os telhados tinham seus desenhos típicos, cobertos de telhas de barro de cores vivas. Pontes – muito pitorescas e normalmente em arco, eram numerosas sobre os canais dos jardins. Podiam ser de mármore ou mesmo de pedra, mas o material mais comum era a madeira. Lanternas – á noite, o jardim era iluminado, e por essa razão as lanternas se tornaram motivo ornamental. A forma delas imitava as lanternas sagradas dos templos. Normalmente eram de pedra. A localização era calculada para que clareassem o caminho e ressaltassem as belezas dos ornamentos de uma ponte ou de um embarcadouro sobre o lago. Vegetação – os jardins orientais apresentavam uma ornamentação arquitetural e paisagística muito rica. Neles, as árvores, plantas e flores não eram tão fundamentais como a montanha e a água. Entre as flores mais frequentemente representadas citam-se as flores da cerejeira do Japão, que são consideradas o “primeiro sorriso da primavera”, pois se abrem quando ainda se tem neve sobre o solo. Cultivavam ainda pessegueiros, romãzeiras, hibiscos, macieiras, crisântemos, camélias, rosas silvestres, papoulas, lírios, limoeiro e muitas outras espécies. Em todos os riachos ou lagos se cultivava o lótus. As árvores preferidas eram as coníferas, e principalmente o cipreste. Sempre se encontravam bambus e bananeiras. Nos jardins, tanto as flores como as árvores não eram utilizadas em maciços nem em canteiros. Elas formavam massas integradas na paisagem. Algumas eram cultivadas de maneira que seu desenvolvimento normal fosse conduzido e/ou restringido, e os jardineiros criavam formas contorcidas e anãs para ficarem na mesma escala das montanhas rochosas e dos lagos em miniaturas.

Fig.: Jardim chinês.

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JARDIM JAPONÊS – A origem do jardim japonês data do século VIII a.C. Era um lugar para descanso, convidativo à meditação religiosa. Nos seus jardins, os japoneses colocavam princípios filosóficos e doutrinas religiosas através de seus símbolos. Sempre se representavam suas leis, a harmonia, os cinco elementos, princípios de causa e efeito, ativo e passivo, luz e sombra, masculino e feminino. Havia ainda um agrupamento de pedras, regido por regras bastante complicadas. O jardim japonês procurava ser natural, sem artifícios. Era um ambiente de paz e repouso, onde a alma podia descansar. No Japão também foram construídos jardins lago-ilha (séc. VII). O principio da arte nos jardins japoneses consistia em concentrar a atenção no essencial, seja nas formas precisas ou na sutileza dos matizes, valorizando sempre todas as plantas do jardim. Somente se utilizavam plantas perenes para se ter uma estabilidade na paisagem o ano todo. Os elementos do jardim tinham distribuição muito elaborada, em formas simples, com aparência de casualidade. Havia água, vegetação, símbolos, pedra, cascalho. As flores anuais eram vistosas e proporcionavam movimento, renovação. O movimento podia ser proporcionado também por efeito de cor, som e luz-sombra. Possuíam um grande tanque, com cascata, um riacho, uma ilha, grupos de pedras e árvores colocados para embelezar a casa. As portas de entrada tinham grande importância nos jardins japoneses e eram bem características. Assim como as pontes, essas portas podiam ser de pedras ou madeira. Na estrutura dos jardins, encontravam-se ainda as valas, as pias de água, os pagodes e principalmente as lanternas de pedra. Os japoneses não admitiam os parterres nem os maciços de flores. Dentre as árvores a preferência era o ácer, com suas variações de folhas e cores e o pinus com as folhas sempre verdes. Entre as fruteiras cultivavam cerejeira e amendoeira. A forma e a disposição de seus elementos eram minuciosamente escolhidas e geralmente determinadas por razoes religiosas. O rio de um jardim deveria correr de leste para oeste, simbolizando o sentido do lado puro do mundo para o impuro. As pedras dispostas em pequenos caminhos traçavam itinerários calculados. No centro, sempre havia uma pedra para adorar os deuses. Outros elementos também possuíam simbologia característica, como as carpas caracterizavam a fecundidade, o fluxo de água que, quando lento simbolizava os momentos calmos da vida e quando em corredeira, momentos de agitação. A areia era utilizada para representar a água nos jardins que não a possuíam. Em 1894, para comemorar os 1.100 anos da capital de Kyoto, foi construído um desses jardins, ficando conhecido como Santuário Heian. Trata-se de um dos jardins mais alegres e de melhor traçado do mundo. Os jardins dos palácios imperiais do Sento, no coração de Kyoto, a Vila Imperial de Katsura e a vila Shugakuoin, nos arredores de Kyoto, são, ainda hoje, exemplos vivos.

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Fig. Jardim Japonês. JARDINS CONTEMPORÂNEOS (SÉCULOS XIX E XX) – Nos séculos XIX e XX, praticamente não se criou nenhum estilo novo de jardim. Na verdade, os jardins se caracterizavam por serem uma fusão ou mescla dos grandes estilos já criados. No século XIX, muito se usou dos quiosques, das passarelas e pavilhões de estilos exóticos, adaptando-os aos jardins da época, formando um estilo que consistia na mistura dos grandes estilos do passado. Este estilo consistia em rodear a casa com um jardim regular e este por sua vez, era rodeado por um parque em estilo inglês. No século XX houve uma decadência na arte dos jardins. O que se observou foi que os jardins deixaram de ser luxo de alguns para se transformarem em necessidade de todos. Passaram a ser parte das novas exigências da população, da saúde publica. A praticidade moderna era refletida também na arte dos jardins, onde se utilizava com maior freqüência o estilo paisagista em detrimento dos estilos francês ou italiano, por serem mais baratos de se implantar. Nos jardins públicos contemporâneos, geralmente de estilo paisagista, não há construções exóticas como tumbas, ruínas, castelos, etc. Ao contrario, existem obras mais práticas como estufas, cafés, restaurantes, salões de chá ou espetáculos, etc. Nos parques públicos que existem na maioria das grandes cidades, há um maior destaque para as flores, em comparação ao que se utilizava nos jardins históricos, que são continuamente renovadas.

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ESTILO IDEAL – É o que hoje desponta com o surgimento do paisagismo como arte e ciência, voltado à reconstrução lógica e funcional da paisagem através da reimplantação ordenada e natural das vegetações, visando acima de tudo recompor a indispensável presença do elemento vegetal nos ambientes devastados pelo progresso, principalmente nas grandes cidades do mundo onde as populações sentem o peso avassalador das grandes massas de concreto e vidro sobre negro manto asfáltico. Está acontecendo o nascimento do mais importante de todos os estilos de paisagismo, jamais imaginado, pois, o ser humano sente e entende que para uma melhor qualidade de vida, terá que voltar sua atenção para a reconstrução da natureza se quiser sobreviver. Por isso, o paisagismo passa agora a representar seu importante e fundamental papel de construir um caminho de ligação entre os homens e a natureza nos vastos domínios impostos pelo progresso metropolitano das cidades.

PAISAGISMO NO BRASIL

Os primeiros sinais do paisagismo no Brasil tiveram inicio com a dominação holandesa. Na primeira metade do século XVII, em Pernambuco, por obra de Maurício de Nassau, quem introduziu laranjeiras, tangerinas e limoeiros, para urbanizar as cidades de Olinda e Recife. Também nas caravelas que faziam rotas da Europa e das Índias vieram outras espécies: Chapéu-de-sol (Terminalia catappa), coco-da-Bahia (Cocus nucifera), nogueira-de-iguape (Aleurites moluccana) e a tiririca (Cyperus communis), cujas sementes eram liberadas quando se trocava a madeira dos navios. Nas residências do período inicial de colonização havia predomínio de plantas aromáticas, medicinais ou destinadas à alimentação. No período colonial, as casas ocupavam totalmente os lotes, não havendo recuo do passeio, nem divisas laterais, ficando apenas algumas áreas no fundo. É o casario típico das cidades históricas. Não havia um estilo ou uma tendência paisagística marcante. A vegetação, sobretudo as árvores eram utilizadas como forma de amenizar o calor. Há evidencias de jardins ligados à cultura religiosa. Nos mosteiros e conventos cultivavam-se plantas para ornamentação das igrejas. No final do período colonial foram criados os primeiros passeios públicos: Passeio público do Rio de Janeiro (criado pelo Mestre Valentim - 1773); Passeios públicos de Belém, Olinda, Ouro Preto e São Paulo. No século XIX, D. João VI iniciou um processo de mudança nas características da colônia, procurando se adequar ao progresso do mundo europeu. Esse processo foi mais intensificado com a vinda da família real ao Brasil. A história documentada do paisagismo iniciou-se com a chegada de Dom João VI em 1807, quando criou o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, que constituía um horto para aclimatação de plantas onde se cultivavam espécies para chá, produção de carvão e matéria-prima para fabricação de pólvora – Albizzi lebeck (Coração-de-negro), Eucaliptus gigantea (eucalipto), Melia azedarach (Cinamomo), Anadenanthera pavonia (Carolina); cultivo em geral de plantas e ainda produção de especiarias (cravo, canela).

Mais tarde, com a transformação do Jardim Botânico em Horto Real pelo próprio Dom João VI, outras espécies foram introduzidas: Cinnamomum ceylanicum - Caneleira do Ceilão; C. canphora – Canfoeira; Murraya

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exotica - Falsa murta, utilizada como aroma para chá; Gardenia jasminoide – Gardênia; Aglaia odorata – Aglaia; Michelia champaca – Magnólia; Osmanthus fragans - Jasmim-do-imperador; Carludovica palmata- palmeirinha anã do Panamá, fornecerora da fibra para chapéu Panamá; Calamus rotang – palha para assentos em cadeiras.

Em 1809, Dom João VI invadiu a Guiana Francesa, revidando a ocupação de Portugal. Como despojos dessa guerra, chegaram ao Brasil espécies frutíferas como: abacateiro, lichieiro, caramboleira, jamboeiro, jaqueira, tamarindeiro, noz-moscada, fruta-pão, dilênia e flor-de-abril.

Imigrantes portugueses vindos da Ilha de Madeira, introduziram nos jardins plantas exóticas como alamandas, amarílis, begônias, biris, primavera, brunfelsias, tinhorões, petúnias, onze-horas e sálvias. Portugueses libertados da Ilha Mauritius troxeram a palmeira imperial (Roystonia regia) que Dom Pedro plantou no Horto Real (esse exemplar viveu 163 anos atingindo 40 m). já a palmeira real (Roystonia oleraceae), nativa de Cuba e Porto Rico, de porte mais baixo e tronco mais grosso, foi introduzida quase um século depois.

Contratado por Dom João VI, o agrônomo francês Paul German introduziu inúmeras espécies entre elas: Acalifas, Crotons, Datura, Dombeia, Furcraea, Ixora, Resedá, Jasmim-manga, Bico-de-papagaio, Flamboyant, Árvore-do-viajante. Muitas espécies floríferas foram trazidas pelos cônsules e embaixadores, alguns exemplos: Agapantos, copos-de-leite, dálias, dracenas, hibiscos, jasmins, lírios, margaridas, cravos, rosas.

Mesmo tendo sido construído em 1808, somente em 1822, o Jardim Botânico foi aberto à visitação. Antes disso, este era o local onde Dom João e Carlota Joaquina passeavam nos fins de semana.

O paisagismo ganhou forças com os preparativos para o casamento de D. Pedro I com a arquiduquesa da Áustria. O arquiteto paisagista alemão Ludwig Riedel foi contratado para arborizar as ruas de Rio de Janeiro. A dificuldade encontrada para este trabalho que ocupou o período de 1836 a1860, foi que o povo acreditava que a sombra formada pelas árvores era a responsável por doenças como maleita, febre amarela, sarampo e até a sarna dos escravos.

Em 1858, Dom Pedro II contratou Auguste Marie François Glaziou, formado em engenharia civil, estudou botânica no Museu de Historia Natural de Paris, aprofundando seus conhecimentos em agricultura e horticultura, e participou da reforma do Jardim Público de Bordeaux, na França. Glaziou ocupou durante longo periodo o cargo de Diretor Geral de Matas e Jardins da Casa Imperial e Inspetor dos Jardins Municipais, além de integrar a Associação Brasileira de Aclimatação. Foi o principal paisagista do Império. Aqui projetou os parques da Corte, entre eles o da Quinta da Boa Vista, o de São Cristóvão, o do Palácio de Verão de Petrópolis, o do Barão de Nova Friburgo em Nova Friburgo, o Parque São Clemente e muitos outros, e ainda a requalificação do Passeio Público.

Sua obra, de alta qualidade, incorporou a tradição anglo-saxônica do tratamento da paisagem à tropicalidade da vegetação local, criando uma simbiose perfeita entre a rica flora existente e os cânones românticos de seu modo de projetar. Entre suas obras se destacam o Campo de Santana e a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, cujo estilo era inspirado no jardim paisagístico inglês do século VIII. Havia grandes gramados, lagos sinuosos, caramanchões em estilo de templo grego, e a preocupação de situar o jardim dentro da paisagem, não havendo cercas ou outras estruturas que limitassem a visão.

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Com sua relevante atuação em projetos de jardins, praças e parques, Glaziou transformou a paisagem brasileira na segunda metade do século XIX. Devemos a ele também a descoberta de diversas espécies que receberam o seu nome, como a Glaziovia bauhinioides, da família das Bignoniáceas, descrita na Flora Brasiliensis, e a Manihot glaziovii (maniçoba), bem como a adoção de plantas brasileiras em praças e ruas do país. Pela primeira vez, usou árvores floríferas no paisagismo. Começava o uso de: sibipiruna, pau-ferro, cássias, paineira, jacarandá, suinã, cedro, embaúva, oiti, mirindiba, quaresmeira e ipês. O efeito urbanístico do Rio de Janeiro espalhou-se por outros estados porém, pela falta de técnicos especializados, nem sempre com um estilo coerente e bom gosto. Assim, até hoje sobrevivem alguns arbustos tosados de diversas formas. Outros erros foram cometidos, como o plantio de jaqueiras, coqueiros e figueiras em praças públicas; sem contar o uso de flamboyants na arborização de ruas.

A Europa sempre fora considerada modelo de civilização e desenvolvimento. Assim sempre serviu de modelo para a arquitetura e para os jardins nacionais. Isto foi ainda mais acentuado com as imigrações, principalmente, italianos, portugueses, franceses, alemães, que trouxeram e implantaram aqui seus modelos de jardim. As espécies mais cultivadas eram as rosas, dálias, crisântemos, avencas e samambaias.

Muitos foram os paisagistas que trabalharam com o paisagismo no século XIX e no século XX. Durante a Primeira República, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, como Paul Villon, Arsene Puttmans e Reynaldo Dierberguer, produzindo tanto para particulares como para o Estado. Houve grande influência dos jardins franceses nas praças brasileiras. A Praça Paris, por exemplo, no Rio de Janeiro, obra do urbanista Alfred Agache, 1929, serviu de modelo para muitas outras. A simetria se tornou um ponto comum e em muitos projetos havia demonstrações da arte topiária, com estranhas esculturas como poltronas, jogadores de futebol, camelos, cavalos esferas.

O século XX é um período de rupturas formais no paisagismo, a primeira delas originando o que denominamos de Escola Modernista, com forte influência do trabalho geometrizado e funcionalista dos paisagistas californianos, como Church, Eckbo e Halprin e dos fortes e pessoais traçados plasticamente rocambólicos ou por vezes também geométrico de Roberto Burle Marx.Este foi o primeiro paisagista a romper os cânones tradicionais do Ecletismo, em obras de porte para o governo do Estado Novo. Sua obra, baseada em um sentimento nacionalista forte e formalmente diferenciada, se tornou ícone da modernidade de então.

O grande marco no paisagismo brasileiro foi devido ao trabalho de Burle-Marx, no século XX. Roberto Burle-Marx nasceu em São Paulo em 1909 e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1913. Estudou na Alemanha entre 1928 e 1929. Ainda era estudante de pintura em Berlim, quando visitou o Jardim Botânico de Dahlem e descobriu a riqueza da flora tropical, com vários exemplos de plantas nativas brasileiras.

De volta ao Brasil, ele foi convidado para fazer os jardins da casa da família Schwartz, projetada em 1932, a primeira do Rio de Janeiro em estilo moderno.

Entre 1934 e 1937 foi Diretor de Parques no Recife, onde projetou e executou os primeiros jardins com plantas que ocorriam naturalmente em diversas formações fitogeográficas do Brasil. Utilizou plantas da caatinga na Praça Euclides da Cunha e da flora amazônica nos jardins da Casa Forte.

Em 1943, com a associação com o botânico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto, a tendência de valorização da flora nativa foi acentuada, observando, sobretudo o comportamento das plantas em seu habitat, como se associavam com pedras, diferentes tipos de solo e outras plantas. Também coletou diversas plantas nas diferentes regiões brasileiras, algumas desconhecidas e as valorizou, utilizando-as em seus projetos. As plantas desconhecidas foram classificadas, recebendo o seu nome:

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Heliconia burle-marxii, Anturium burle-marxii, Begonia burle-marxii, Mandevilla burle-marxii, Vellozia burle-marxii, Philodendron burle-marxii, Pleurostima burle-marxii, Burlemaxia spiralis, são alguns exemplos.

O complexo arquitetônico da Pampulha e o parque da cidade de Araxá são importantes obras paisagísticas realizadas por Burle-Marx. Nessas áreas ele procurou utilizar e valorizar espécies da flora nativa regional.

A definição de um estilo ou uma tendência não depende unicamente das plantas utilizadas, mas da forma de compor a vegetação, criando um movimento inovador. Como um artista moderno, Burle-Marx não poderia aceitar as formas e traçados rígidos impostos por outros estilos importados pelo país. “Detesto a fórmula, adoro princípios”. Assim, Burle-Marx utilizou em seus projetos curvas amplas, traçados sinuosos e livres, com a proporção relacionada com a paisagem do entorno, sem perder a sua relação com a arquitetura no qual o jardim está inserido. Não havia compromisso com regras preestabelecidas. Preocupou-se sim em manter uma coesão entre as peças de suas composições, sempre com uma visão global.

Apesar disto, e como é característico do jardim eclético, aproveitaram-se os conceitos de outros estilos, nos seus pontos mais importantes e marcantes. Burle-Marx utilizou, por exemplo, na residência de Odete Monteiro, os conceitos dos parques ingleses, onde o jardim fazia parte da paisagem local. O uso de volumes justapostos caracterizava a transição entre a arquitetura e a paisagem natural, sem, no entanto, haver limitações físicas visíveis. No Centro Cívico de Santo André, utilizou a geometrização do traçado dos jardins franceses e os parterres.

Burle-Marx projetou inúmeros jardins no Brasil e também no exterior, tendo trabalhado nos Estados Unidos, Chile, Argentina, Venezuela, Uruguai, Equador, Paraguai, Porto Rico e França.

Roberto Burle-Marx faleceu em 04 de junho de 1994, aos 84 anos. O século XX marca a consolidação da atividade paisagística no país, com o

aumento das demandas de espaços tratados paisagisticamente pela população urbana, em constante expansão. Neste século as transformações sociais e urbanas são constantes e o Brasil chega ao século XXI como uma nação totalmente urbana, possibilitando, principalmente após os anos 1950, a ampliação do mercado de trabalho, tanto dentro do âmbito público como privado.

Ao mesmo tempo em que aumentam as opções e a diversidade do lazer para a sociedade em geral, maiores são os segmentos sociais a demandar espaços para atividades ao ar livre e a recreação é um dos motes para a organização do espaço livre, tanto público como privado. Os equipamentos específicos para o lazer se tornam comuns, primeiro os playgrounds e quadras esportivas, depois as piscinas (principalmente nos prédios de classe média e residenciais de classe média-alta) e o banho de mar e o encontro na praia, se tornam hábitos em todas as cidades praianas brasileiras. O tratamento do espaço do pedestre, das calçadas, começa a ser discutido com a implantação de vastas áreas pedestrianas, como um modo mais eficiente de circulação.

Praças e parques já não são mais redutos das elites, que esporadicamente e em locais pré-determinados a eles se dirigem, sendo solicitada sua instalação e gestão nos bairros e subúrbios populares distantes, carentes de qualquer estrutura espacial mínima de lazer.

A segunda ruptura, de caráter estritamente formal, a qual origina o que designamos Linha Projetual Contemporânea, começa embrionariamente nos anos 1980, com a introdução dos conceitos ecológicos no país e com a achegada de informações das novas obras feitas no exterior, em especial Estados Unidos, França,

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Espanha e Japão, e se estrutura em duas correntes básicas. A primeira nitidamente ecologista, na qual se valorizam os cenários rústicos, a conservação e o contato com a natureza e cênica, produzindo verdadeiras colagens, que vão de um radical, chegando a situações de irreverência formal absoluta.

São exemplos desta forma de projeto a maioria das intervenções do projeto Rio-Cidade (anos 1990 na cidade do Rio de Janeiro), a nova orla de Salvador, alguns parques de Curitiba, centenas de jardins particulares e a Praça Itália em Porto Alegre, de autoria de Carlos Fayet e equipe (1992), o marco desta nova geração projetual.

O jardim contemporâneo, como o próprio nome indica, é um retrato da vida moderna. Os elementos arquitetônicos – os pisos por exemplo – normalmente são lisos e confeccionados com materiais nobres e caros, como o mármore. Já os moveis, próprios para áreas externas, são assinados por designers da moda e zelam pelo conforto.

O conceito principal desse estilo é a liberdade no uso de determinadas espécies de plantas. Pode-se, por exemplo, usar plantas topiadas, exclusivas dos jardins clássicos europeus, ao redor de uma palmeira tropical; ou cultivar arbustos de clima frio, como azaléias e hortênsias, oriundas da china e Japão, junto com mini-ixoras, tropicais por excelência.

Outra característica do jardim contemporâneo é o uso de plantas exóticas, conhecidas como esculturais. Elas normalmente são plantadas em local em destaque no jardim, com pouca ou nenhuma interferência de outras espécies ao seu redor.

O jardim contemporâneo tanto pode usar traços geométricos retilíneos quanto traços irregulares ou curvilíneos, os chamados traços orgânicos. Esses conceitos são muito explorados nos caminhos, nos formatos das piscinas e, por fim nos canteiros. Bibliografia consultada ARAUJO, R.[Coord.] Manual natureza de paisagismo: regras básicas para implantar um belo jardim. São Paulo: Editora Europa, 2009.154p. FROTA, L.C. Burle Marx: Paisagismo no Brasil. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 1994. 127p. PAIVA, P.de O.D. PAISAGISMO. Conceitos e Aplicações. Lavras: Editora UFLA, 2008. 608p. WINTERS, G.H.M. Apostila do curso avançado de paisagismo. Holambra, 1992.112p.