3
Além da Estrada de Borboletas Azuis Em um reencontro de muitas eras que voavam como os pássaros atravessando o sul, o eco se escreve sobre a ribanceira de um lago, em um vale tão distante que nem mesmo os ferreiros ousam entregar suas espadas recém-fabricadas aos guerreiros d’outro mundo que lá residem. Para atravessar o véu é necessário morrer simbolicamente por um longe tempo, e para os corajosos viajantes a viagem parecia estar vivendo na longínqua caminhada pela manhã, porém a dama das flores sentia que aquela caminhada vinha sendo trilhada por ela em eras tão longínquas que remontaram o arder do fogo solar em sua pele sob as cicatrizes do tempo. Na estrada das borboletas azuis, depois de longas caravanas e caminhadas sem olhar para trás e sendo educada com cada ser físico e imaterial, há uma gruta de rocha viva que restaura e absorve o peso das bagagens muito mais pesadas que as malas dos peregrinos. Borboletas azuis copulam e voam pelos ares fertilizando a chegada do viajante, rodopiam em espirais puras que no azul de suas asas demonstram o mais puro brilho de luz transformado em cor. Após o banho de luzes azuis, doado pelas criaturas da mata, os peregrinos de longa caminhada compreenderam que já pisavam sobre um solo puro e isolado da praga humana que se espalhava pela nova era. Em busca de cura e de encontro ao universo, seguem através da estrada das borboletas até avistarem a beirada um lago. Deitados sobre o feno depois de uma longa jornada é dada hora de dar as cartas, seis peregrinos e o sol como o sétimo elemento jorrando em dourado. Primeira Carta – A Torre Duas damas e três homens dançam sobre o luar, enquanto um menino perdido é ludibriado pelos elementais zombeteiros, as fadas invisíveis que estragam alimentos e perturbam os viajantes para atraí-los ao outro lado do véu. É construído um caminho em subida e subida, em busca dos sagrados elementos, subindo ladeiras intermináveis, seus corpos já sujos, cheios e pesados de memórias ruins e profanas não estão preparados para a jornada. Próximos ao alto, após todos os sinais do Universo em seis partes, deixando a sétima invisível aos olhos, eles se dividem em duas partes. A dama da montanha acompanhada de um sátiro caminha em busca de novos peregrinos, enquanto os outros permanecem no vale sagrado. E por uns instantes algo é perturbado na divisão dos elos, no abandono temporário das hastes invisíveis que ligavam os seis peregrinos. A torre divina cai em chuva, derrubando e empoçando todo o caminho ao horizonte, causando turbulências aos viajantes, derrubando cada um em pensamentos longínquos naquele tempo. A jornada do sátiro e da dama da montanha se estende, pois ambos precisavam se afundar em água, pois nela o ar radiava a diversos ventos, e nele uma chama interminável queimava afastando a fluidez aquática. De tal forma somente os três peregrinos detentores das três características aquáticas permaneceram, junto da criança terrena que sem saber cegamente ia escalando os patamares do mundo. A chuva caiu derrubando torres e pesos, para purificar o mundo interior de cada um, para abrir uma nova passagem no véu.

Estrada das Borboletas Azuis.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • Alm da Estrada de Borboletas Azuis

    Em um reencontro de muitas eras que voavam como os pssaros atravessando o sul, o eco se

    escreve sobre a ribanceira de um lago, em um vale to distante que nem mesmo os ferreiros

    ousam entregar suas espadas recm-fabricadas aos guerreiros doutro mundo que l residem.

    Para atravessar o vu necessrio morrer simbolicamente por um longe tempo, e para os

    corajosos viajantes a viagem parecia estar vivendo na longnqua caminhada pela manh,

    porm a dama das flores sentia que aquela caminhada vinha sendo trilhada por ela em eras

    to longnquas que remontaram o arder do fogo solar em sua pele sob as cicatrizes do tempo.

    Na estrada das borboletas azuis, depois de longas caravanas e caminhadas sem olhar para trs

    e sendo educada com cada ser fsico e imaterial, h uma gruta de rocha viva que restaura e

    absorve o peso das bagagens muito mais pesadas que as malas dos peregrinos. Borboletas

    azuis copulam e voam pelos ares fertilizando a chegada do viajante, rodopiam em espirais

    puras que no azul de suas asas demonstram o mais puro brilho de luz transformado em cor.

    Aps o banho de luzes azuis, doado pelas criaturas da mata, os peregrinos de longa caminhada

    compreenderam que j pisavam sobre um solo puro e isolado da praga humana que se

    espalhava pela nova era. Em busca de cura e de encontro ao universo, seguem atravs da

    estrada das borboletas at avistarem a beirada um lago. Deitados sobre o feno depois de uma

    longa jornada dada hora de dar as cartas, seis peregrinos e o sol como o stimo elemento

    jorrando em dourado.

    Primeira Carta A Torre

    Duas damas e trs homens danam sobre o luar, enquanto um menino perdido ludibriado

    pelos elementais zombeteiros, as fadas invisveis que estragam alimentos e perturbam os

    viajantes para atra-los ao outro lado do vu. construdo um caminho em subida e subida, em

    busca dos sagrados elementos, subindo ladeiras interminveis, seus corpos j sujos, cheios e

    pesados de memrias ruins e profanas no esto preparados para a jornada.

    Prximos ao alto, aps todos os sinais do Universo em seis partes, deixando a stima invisvel

    aos olhos, eles se dividem em duas partes. A dama da montanha acompanhada de um stiro

    caminha em busca de novos peregrinos, enquanto os outros permanecem no vale sagrado. E

    por uns instantes algo perturbado na diviso dos elos, no abandono temporrio das hastes

    invisveis que ligavam os seis peregrinos.

    A torre divina cai em chuva, derrubando e empoando todo o caminho ao horizonte, causando

    turbulncias aos viajantes, derrubando cada um em pensamentos longnquos naquele tempo.

    A jornada do stiro e da dama da montanha se estende, pois ambos precisavam se afundar em

    gua, pois nela o ar radiava a diversos ventos, e nele uma chama interminvel queimava

    afastando a fluidez aqutica. De tal forma somente os trs peregrinos detentores das trs

    caractersticas aquticas permaneceram, junto da criana terrena que sem saber cegamente ia

    escalando os patamares do mundo. A chuva caiu derrubando torres e pesos, para purificar o

    mundo interior de cada um, para abrir uma nova passagem no vu.

  • Segunda Carta - Os Amantes

    Divididos e reunidos, trs em cada morada, duas polaridades divididas em duas partes de trs.

    O stimo elemento surge para se apresentar aos peregrinos, caminhando ao redor de suas

    tendas a noite, tentando tocar o mago de seus desejos. Mos espectrais que assustam e

    tombam. A embriaguez bacante do vinho misturada a sutis tragos doma seus medos que

    desvanecem em risadas e de pronto podem ouvir a msica dos sapos. Hipnotizados pelo frio e

    pela msica dos sapos, aos pouco um a um dos peregrinos, j sem temer os caminhantes

    espectrais, se envolvem no embalo dos sonhos e na embriaguez do sono.

    J to breve o lenhador que outrora tomara a dama das flores assume sua verdadeira forma

    satrica no escuro, e prontamente dedos se tornam corpos e zelos so desbravados ao tocarem

    suas almas sem poder desfrutar do corpo como uma penitncia cruel demais. Tal penitncia

    curada ao olharem as estrelas fulgentes que surgem no cair da madrugada glida. O brilho das

    estrelas que carregam a verdade e despertam logo na noite das almas a lembrana do desejo

    de outras eras que era tambm desta e ali se reafirmava. E na magia dos sapos que

    embalavam todas as canes que o universo poderia compor, suas razes e galhos, corpos e

    almas, novamente se entrelaavam de maneira que perduraria por todas as eras deste mundo

    e do outro, fincando suas sementes em um mesmo solo.

    Terceira Carta O Mundo

    O sol desperta recuando a neblina da noite dos antepassados, o mundo e seus quatro aliados

    se apresentam no nascer do novo dia. Os pssaros carniceiros rodeiam o cheiro mrbido dos

    cadveres que na noite caminharam pela terra, pois naquela madrugada a passagem entre

    este e o outro mundo se torna uma mera iluso. No raiar da manh a dama da montanha

    sobre o feno inicia a beno do universo, e sobre ela mugidos de vacas fertilizam e

    potencializam a essncia da vida.

    O divino se apresenta de muitas formas, e assim que a beno concluda do alto da

    ribanceira daquele vale surgem vacas e bois que salteiam e executam uma dana proibida e

    incompreensvel aos olhos humanos. Um jovem cavaleiro entre os peregrinos encontra a

    leveza no olhar de um bezerro, e compreende que ali reside o verdadeiro segredo do mundo.

    O gado que por ali danava era ao mesmo tempo sagrado e amaldioado, pois a medida que

    iluminavam e espalhavam luz pelo mundo, seus corpos eram marcados pela maldio humana

    do sangue, seus corpos eram torturados diante do peso daquela marca e ainda assim

    iluminados rodopiavam e danavam a dana proibida, jorrando alegria, fertilizando cada

    campo e criatura, pois mesmo marcados pelas maldades do homem em essncia eram

    verdadeiramente livres pela essncia e leis do mundo.

  • Quarta Carta O Louco

    Alimentaram-se e aps tantos sinais e provas do Universo os peregrinos se encontravam

    envolvidos com as essncias instintivas e primais da natureza, com as crenas da terra e com a

    sua loucura. Saltaram sobre um lago de risadas e meditaes, dentro do lago lavaram suas

    mscaras cotidianas e banhados em sua insanidade primordial abraavam e molhavam uns aos

    outros, sem julgamentos, sem lamentos, sem sanidades, mas principalmente sem cascas.

    No fundo do lago o jovem cavaleiro lavado do peso de sua armadura humana e abraando sua

    essncia mais pura e infantil encontra no fundo do lago areia mgica da qual podem ser

    confeccionados qualquer tipo de amuletos que agora alheios a sanidade os peregrinos podem

    construir. O stiro sem mscara desperta em si a figura do arteso e presenteia a dama das

    flores com dois amuletos poderosos que s no outro mundo podero ser realmente

    compreendidos. O pequeno peregrino alheio demais aos perigos do universo, no faz uma

    reverncia devida ao grandioso Sol que joga sua clera queimante sobre ele. Por instantes a

    dama da montanha comunga com as vacas e bois e s ento se banha no lago. Quando todos

    lavam suas mscaras e cascos esto prontos finalmente para a iniciao do proibido, pois s

    aqueles lavados pela loucura podem enxergar as verdades do universo.

    Quinta Carta A Lua

    A dama das flores chorou e rogou a sua me lua um simples vislumbrar de seu manto prateado

    que jorrasse todas as suas confuses embora, e a lua vem como a stima arcana da noite,

    atenuando o passivo, expandindo seus instintos e trazendo a sensibilidade aos peregrinos.

    Eis que surgem espectros diante da fogueira, espectros com laos mais antigos aos peregrinos

    do que suas mentes humanas ousariam lembrar, lavados pela loucura e abraados pela

    sensibilidade lunar soltam o choro e encontram suas razes passadas. O perdo materno

    alcanado, o abrao espectral encontrado. Cavaleiros de outro mundo fazem reverncia

    brandindo suas espadas que protegem os peregrinos das criaturas densas que habitam e se

    alimentam no escuro. A iniciao ao proibido principiada, sendo guiada pela dama da

    montanha que veste o negro manto da noite e acompanhada pelo stiro que lidera os

    guerreiros e as foras misteriosas do fogo, e pela dama das flores ora drade da lua ao brandir

    a flauta doutro mundo ferindo canes que nenhum mortal ousaria compreender. O menino

    criana traz a pureza e o medo primordial, embalado pelo cheiro do fogo, enquanto o cavaleiro

    e o bardo se misturam ao fogo proibido.

    Sexta Carta O Diabo

    E o fim se perpetua em seis, e ao dormir sabem que partiro no dia seguinte a sua realidade

    banal, mas o que revelado ao fim danoite, a cada um dos peregrinos a presena eternado

    stimo elemento primal, o animal, o instinto, o ser emrico que grita e acompanha at o fim de

    nossa jornada, alm das estrada das borboletas azuis podemos v-lo mais perto, mas mesmo

    que no desperto, cada peregrino tem perto de si a verdadeira fora que reside no Universo.