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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MICHEL ALFREDO ABRAS ESTRATÉGIA E FINANÇAS CORPORATIVAS: UM TESTE EMPÍRICO SOBRE ELOS DE LIGAÇÃO ORIENTADOR: Prof. Dr. Luiz Alberto Bertucci BELO HORIZONTE 2002

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

MICHEL ALFREDO ABRAS

ESTRATÉGIA E FINANÇAS CORPORATIVAS: UM TESTE EMPÍRICO SOBRE ELOS DE LIGAÇÃO

ORIENTADOR: Prof. Dr. Luiz Alberto Bertucci

BELO HORIZONTE

2002

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

MICHEL ALFREDO ABRAS

ESTRATÉGIA E FINANÇAS CORPORATIVAS: UM TESTE EMPÍRICO SOBRE ELOS DE LIGAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Administração da PUC-Minas, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Luiz Alberto Bertucci

BELO HORIZONTE

2002

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Dissertação defendida e aprovada, em 19 de dezembro de 2002, pela banca

examinadora constituída pelos professores:

_______________________________________________

Prof. Dr. Luiz Alberto Bertucci - Orientador

_______________________________________________

Prof. Dr. Francisco Vidal Barbosa

_______________________________________________

Prof. Dr. Paulo Tarso Vilela Resende

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À Rosa, Letícia e Ana Luísa

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AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos ao Prof. Dr. Luiz Alberto Bertucci, meu orientador, pela

dedicação técnica ao trabalho, incentivo e motivação ao vasto e, talvez, pretensioso

caminho por mim escolhido.

Meus agradecimentos à Economista Ana Luísa Gouvêa Abras, minha filha,

mestranda em Economia pela USP, pelo suporte técnico ao tratamento estatístico

dos dados da pesquisa

Meus agradecimentos a todos os professores e colegas de turma, que, através de

nossas intensas discussões e digressões, contribuíram para a realização deste

estudo.

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RESUMO

Este estudo buscou verificar o relacionamento entre ambiência de mercado,

estratégia e finanças quanto à influência que exercem conjuntamente na

performance de empresas brasileiras, de modo a aferir se por conta disto pode-se

inferir que modelos comuns de gestão se estabelecem no interior de determinados

setores da economia brasileira, a saber: têxtil, petroquímico, comércio, papel e

celulose, telecomunicações e siderúrgico. Ainda dentro deste objetivo maior, buscou-

se levantar a existência de nexos causais individuais entre cada uma daquelas três

dimensões e a performance de empresas e dos setores apontados. O pressuposto

básico era de que as variáveis proxies relativas a cada uma das dimensões

analisadas apresentam elos de ligação entre si, os quais são passíveis de ser

identificados e testados por meio de ferramentas estatísticas. Os resultados obtidos

apresentaram evidências estatísticas da existência de tais elos, delineando e

confirmando a ocorrência de padrões na condução geral dos negócios, ou seja, que

modelos de gestão parecem se estabelecer de acordo com as especificidades de

cada setor. Assim é que, quando consideradas em conjunto, as variáveis relativas ao

ambiente, à estratégia e à estrutura de capital revelaram força explicativa da

performance das empresas. Entretanto, observou-se o fato perturbador de que os

testes de Granger não confirmaram haver relação causal entre cada uma das

variáveis tomadas isoladamente e a performance. De fato, a consideração conjunta

destes dois resultados implica na necessidade de ampliação do escopo deste

estudo, talvez com a consideração de novas variáveis proxies das dimensões

levantadas.

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ABSTRACT

The aim of this work is to present a model of articulation between brazilian business

environment, strategy and capital structure of the firm in order to verify whether

commom models of management can be found in brazilian firms. The model was

specified considering the textile, oil-producing, trade, paper and cellulose,

telecommunications and steelworks sectors of the economy. In that context, we

looked for causality relations between three dimensions of the "firm- environment",

"strategy" and "structure of capital"- and its performance. We admitted that the

variables related to each dimension analysed have mutual links that can be

statistically tested.We have seeked formal statistical models that could explain a

social science fenomena - the firm - instead of using a pure descriptive analysis that

is usual in this area of research. The empirical results were in favour of the existence

of this links - we cannot reject their models of management, considering the mains

features of each sector of the economy. The proxies variables for "enviroment",

“strategy" and "structure of capital" were highly correlated with the "performance of

the firm" but we were not able to find evidence of strong relation between them or

either confirm all the directions of causality expected in theory.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 13 2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................... 15 2.1 Definição do problema .................................................................................................. 16 2.2 Objetivos ........................................................................................................................ 19 2.3 Justificativa .................................................................................................................... 20 2.4 Hipóteses ....................................................................................................................... 21 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................... 22 3.1 Aspectos iniciais ........................................................................................................... 23 3.2 O foco da estratégia ...................................................................................................... 28 3.3 O foco das finanças ....................................................................................................... 39 3.4 As pesquisas empíricas ................................................................................................ 46 4 METODOLOGIA .............................................................................................................. 55 4.1 Aspectos gerais ............................................................................................................ 56 4.2 Métodos e objetivos ...................................................................................................... 57 4.3 Processo de modelagem ............................................................................................... 59 4.4 Variáveis da pesquisa .................................................................................................. 62 4.5 Métodos estatísticos ...................................................................................................... 65 4.5.1 Motivações descritivas – regressões lineares múltiplas ............................................ 66 4.5.2 Motivações exploratórias - teste de causalidade de Granger ................................... 69 4.6 Unidade de análise ........................................................................................................ 72 4.7 Amostra ......................................................................................................................... 72 5 RESULTADOS ................................................................................................................. 75 5.1 Aspectos iniciais ............................................................................................................ 76 5.2 Testes preliminares ....................................................................................................... 77 5.3 Análise descritiva .......................................................................................................... 83 5.4 Análise exploratória ....................................................................................................... 94 5.5 Comentários .................................................................................................................. 99 6 CONCLUSÕES ............................................................................................................... 102 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 107

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Primeiro esboço do trabalho ............................................................................ 60

FIGURA 2 - Esboço do modelo qualitativo .......................................................................... 61

FIGURA 3 - Variáveis explicativas da variável performance (repetida na p. 84) ................ 62

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LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Diagrama de métodos e tipos de pesquisa ................................................... 57 QUADRO 2 - Empresas por setores amostrados ................................................................ 73 QUADRO 3 - Participação % dos setores amostrados no faturamento total de setor e das 500 maiores empresas ........................................................................... 74

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LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Modelo de regressão do setor têxtil ................................................................. 79 TABELA 2 - Modelo de regressão do setor petroquímico ................................................... 79 TABELA 3 - Modelo de regressão do setor de comércio .................................................... 80 TABELA 4 - Modelo de regressão do setor de telecomunicações ...................................... 80 TABELA 5 - Modelo de regressão do setor de papel e celulose ......................................... 80 TABELA 6 - Modelo de regressão do setor siderúrgico ...................................................... 80 TABELA 7 - Teste de raiz unitária para os modelos de regressão ..................................... 82 TABELA 8 - Modelo de regressão restrito para o setor têxtil .............................................. 85 TABELA 9 - Modelo de regressão restrito para o setor petroquímico ................................ 87 TABELA 10 - Modelo de regressão restrito para o setor de comércio ................................ 88 TABELA 11 - Modelo de regressão restrito para o setor de telecomunicações ................. 89 TABELA 12 - Modelo de regressão restrito para o setor de papel e celulose .................... 90 TABELA 13 - Modelo de regressão restrito para o setor siderúrgico .................................. 91 TABELA 14 - Resultados do teste de causalidade de Granger ......................................... 95 TABELA 15 - Os p-values da regressão, análise descritiva, e os p-values de Granger ....................................................................................................100

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADF Augment Dickey-Fuller

ALAV Alavancagem

CAPM Capital Asset Pricing Model

CPV Custo de Produtos Vendidos

DCP Dívidas de Curto Prazo

DEPREC Depreciação

DLP Dívidas de Longo Prazo

DW Durbin-Watson

JB Jarque-Bera

LAJIRDA Lucros antes dos Juros do Imposto de Renda, da Depreciação e Amortização

LBO Leverage by out

PL Patrimônio Líquido

VPL Valor Presente Líquido

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1 INTRODUÇÃO

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O objetivo desta pesquisa é estudar a articulação entre estratégia e finanças

corporativas, no ambiente brasileiro de negócios. Para tanto, serão mapeadas na

literatura técnica existente as variáveis que permitam mensurar a turbulência e o

crescimento desse ambiente de negócios, a estratégia e a estrutura de capital da

firma, avaliando o impacto conjunto dessas dimensões sobre a performance das

organizações.

A importância deste estudo está ligada, pelo lado prático, às suposições, levantadas

nas constantes afirmações do empresariado nacional, de que a turbulência do

ambiente de negócios brasileiro é prejudicial às suas organizações. Essas

afirmações, quase sempre, procuram mostrar ao governo e alertá-lo sobre as

precárias condições operacionais que esse ambiente de negócios apresenta. A

ausência de regras claras e estáveis promovidas pelo governo, aliada às constantes

modificações das políticas macroeconômicas, são exemplos sempre citados da falta

de parâmetros operacionais que orientem o ambiente de negócios do País. Acresce

isto o fato da concentração única nas questões monetárias de sua economia.

Inexistem, por exemplo, iniciativas claras, consistentes e contínuas em prol de uma

política industrial para o País, e a última data dos planos econômicos tomando como

base a substituição de importações do final dos anos 80. Os pontos aqui abordados,

e outros nessa mesma direção, estão apresentados nas críticas que se transformam

em lugares comuns na imprensa brasileira, e que motivam o lado prático deste

estudo.

Pelo lado teórico, além da atualidade do tema nos campos da estratégia e das

finanças corporativas, principalmente no que tange às questões relativas à

articulação entre o ambiente, a estratégia, as estruturas de financiamento e a

performance das organizações, a importância do estudo se dá pela quase ausência

deste tipo de estudo no País. Acredita-se, portanto, que o estudo dessas questões

aplicadas sobre os dados empíricos das organizações do Brasil, poderá trazer

algumas contribuições para seu melhor entendimento e compreensão no País. Além

disso, avaliar a direção e a amplitude dessa turbulência e desse crescimento, bem

como seu real impacto sobre as atividades empresariais, é de uma conseqüência

prática importante para o melhor esclarecimento das práticas de gestão empresarial.

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2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

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2.1 Definição do problema

A avaliação conjunta da influência das três dimensões − ambiente, estratégia e

finanças corporativas −, com vistas a explicar comportamentos e a avaliar resultados

empresariais, embora gradativamente ocupe espaço cada vez maior na literatura

estrangeira, é nova no Brasil. Em termos práticos, a motivação desta pesquisa é

comprovar que a turbulência e o crescimento do ambiente em que as empresas

atuam exercem influência definitiva sobre estratégias e estruturas de financiamento

estabelecidas visando ao sucesso dessas organizações.

Em termos mais estritos, a dimensão de finanças é assimilada pela consideração da

estrutura de financiamento das empresas, ao passo que a estratégia é abordada via

aspectos que se atenham a posicionamentos de custos para as organizações. Por

último, a análise da dimensão do ambiente de negócios no qual a empresa se insere

se dá a partir de sua decomposição nas variáveis de turbulência e de crescimento.

Enfim, essa avaliação do impacto conjunto do ambiente, da estratégia e das

finanças sobre performances corporativas busca levantar características inerentes a

diferentes setores da economia nacional quanto a modelos de gestão.

Uma limitação que se enfrenta no campo do conhecimento teórico é ver, de forma

bastante ampla, as questões de estratégia e de finanças serem tratadas como

disciplinas separadas. Quando muito, categorias de análise financeira, como retorno

sobre capital, são usadas como parâmetros para avaliação de desenhos

estratégicos formulados. Especificamente sob a perspectiva da estratégia, as teorias

desse campo de conhecimento não consideram as questões financeiras relevantes o

suficiente para incluí-las em seu processo de formulação, focando aspectos de

posicionamento no mercado ou de criação de recursos únicos e exclusivos que

gerem valor para a empresa.

Nesse sentido, uma classificação possível das teorias sobre estratégia empresarial é

dada por Vasconcelos e Cyrino (2000, p. 15), que distinguem dois corpos teóricos

distintos, a saber: "...teorias que consideram a vantagem competitiva como um

atributo de posicionamento... derivado da estrutura da indústria ... ", e "...as que

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consideram a performance superior como um fenômeno decorrente primariamente

de características internas da organização". Complementarmente, características

internas da organização têm a ver com o equilíbrio entre demandas dos diferentes

stakeholders envolvidos com a firma, conforme modelo de racionalidade restrita

proposto por Simon (1958), em que a busca de otimização da organização como um

todo se dá à custa de subotimizar parcelas específicas desta.

Especificamente quanto à segunda corrente teórica citada acima, denominada teoria

de recursos, constata-se que estudos como os de Wernerfelt (1984) representam um

padrão de análise em que o capital financeiro, embora reverenciado como

importante, é abordado de maneira ligeira e superficial. De qualquer forma, uma

exceção interessante a tal comportamento está presente em Teece, Pisano e Shuen

(1997), que afirmam que o fluxo de caixa e o grau de endividamento das

organizações exercem influência marcante sobre os seus investimentos, revestindo-

se, portanto, de características estratégicas importantes. Nesse aspecto, estratégias

e finanças, segundo os autores, caminham juntas.

Por outro lado, a moderna teoria de finanças se alicerça sobre as teorias de portfólio

de Markowitz, o modelo Capital Asset Pricing Model – CAPM - de Sharpe, Lintner e

Mossim, as hipóteses de eficiência dos mercados de Fama e French, bem como o

teorema de Modigliani e Miller acerca da irrelevância de estruturas de capital das

empresas. Para Miller (1999), o ponto comum a todos eles é o da busca de modelos

delineados em termos basicamente quantitativos, em que os decisores buscam

otimizar funções-objetivo precisas, definidas em torno de variáveis como custo de

capital, retorno de ativos e de geração de valor para o acionista.

Entretanto, em que pese a importância conferida a modelos que se apegam ao

paradigma da racionalidade perfeita, justificando atitudes de teóricos da área de

organizações em desconsiderar a dimensão financeira na formulação de modelos de

gestão, a síntese de Harris e Raviv (1991), acerca de determinantes da estrutura de

capital de empresas, aponta a importância crescente de correntes teóricas dentro do

campo de finanças que se direcionam pelo paradigma da racionalidade restrita. A

este propósito, a contribuição de Jensen e Meckling (1976) para a formulação da

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teoria da agência e a de Myers e Majluf (1984) na consideração de posse

assimétrica de informações entre agentes internos e externos às organizações

surgem como exemplos definitivos de rejeição do princípio da racionalidade perfeita

em prol da racionalidade restrita. Ainda a propósito desta atitude, Grinblatt e Titman

(1998) assinalam que uma confirmação da teoria da agência ocorre exatamente pelo

fato de que gerentes nas organizações freqüentemente pautam suas atitudes pelos

interesses dos diversos stakeholders destas e não apenas os de seus acionistas.

Entretanto, ao procurar estudar o relacionamento conjunto entre dimensões tão

diversas como ambiência de negócios, estratégia e estrutura de capital de empresas

no Brasil, constatam-se dificuldades marcantes quando se compara a economia

daqui à americana, na qual a turbulência é ditada pelo ritmo da modernização, ao

passo que o ambiente socioeconômico-político brasileiro impõe que a turbulência de

sua economia se dê em meio à instabilidade institucional, em que a edição

sucessiva de planos econômicos de estabilização e outras formas de intervenção

governamental são antes a regra do que a exceção.

Outras expressões de uma ambiência instável são dadas por níveis ainda

inquietantes de inflação, de déficit nas contas externas e internas do País, além de

uma inserção na economia global feita de forma algo inapropriada em termos de

velocidade. Enfim, o Brasil está no meio do processo de internacionalização de sua

economia. Buscando definir o papel do governo na regulação do mercado,

reconstruir e consolidar suas instituições, ao mesmo tempo em que se requer níveis

superiores de performances das empresas brasileiras.

Em função dessa instabilidade intrínseca ao ambiente de negócios no Brasil, o

problema que se coloca é o de buscar entender o seu impacto sobre a performance

da firma e de como esta reage ao ambiente por meio de decisões estratégicas e de

escolhas de estruturas de financiamento de capital.

Tudo isto leva a formular a seguinte pergunta:

Como se articula no Brasil o ambiente de negócios, tomado em suas

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dimensões de turbulência e de crescimento, com a estratégia e estrutura de capital, e qual o impacto exercido conjuntamente por essas três variáveis sobre a performance das empresas no Brasil? Uma segunda questão que se procura responder diz respeito ao grau de importância

atribuído à escolha da estrutura de capital no processo decisório das firmas. De

forma objetiva, deseja-se saber se a composição entre capitais de terceiros e

próprios no financiamento das empresas brasileiras envolve questões de natureza

estratégica, com essas se envolvendo de forma ativa para determinação de níveis

ótimos ou se, pelo contrário, esta decisão é de natureza passiva, envolvendo tão-

somente atitudes que mantenham essas composições nos mesmos patamares de

empresas atuantes nos mesmos setores.

Enfim, estas preocupações podem se apresentar, mais uma vez sob forma da

seguinte pergunta:

O papel atribuído às finanças corporativas nos modelos de gestão adotados por empresas no Brasil é de natureza estratégica ou operacional?

2.2 Objetivos

O objetivo global estabelecido para esta pesquisa foi o de compreender a articulação

existente entre o ambiente, a estratégia e estrutura de financiamento, quanto aos

impactos sobre as performances de empresas brasileiras. Em termos específicos,

pretende-se avaliar a real dimensão da turbulência e do crescimento do ambiente

brasileiro de negócios, sua direção e impacto sobre suas empresas.

Para consecução deste objetivo, é forçoso que, diante da turbulência e crescimento

do ambiente, se aprofunde em questões relativas às estratégias, buscando revelar

sua importância na formulação de modelos de gestão. Além disso, insere-se a

dimensão financeira na análise, procurando confirmar se ela é importante no

processo de, conjuntamente com as outras duas dimensões, influenciar as

performances de empresas brasileiras.

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2.3 Justificativa

A importância desta investigação prende-se, pelo lado teórico, à sua proposição de

abrangência em relação às duas áreas de estudos envolvidas: estratégia e finanças

corporativas. No decorrer do desenvolvimento de suas extensas literaturas, essas

disciplinas sempre se tangenciaram por meio de várias colocações de diferentes

autores, mas nunca foram abordadas, prioritariamente, em conjunto, a não ser nas

iniciativas que ora vêm surgindo, mapeadas e sintetizadas, por exemplo, no trabalho

de Harris e Haviv (1991) dentre outros. Seguindo esta linha de pesquisa, este estudo

apresenta, portanto, proposições que se julgam importantes, nesse sentido, para o

melhor conhecimento dessas organizações.

Do ponto de vista prático, ele se propõe aprofundar sobre a natureza e os

mecanismos de funcionamento da turbulência do ambiente brasileiro de negócios,

podendo trazer à luz contribuições importantes para o empresariado nacional, no

que diz respeito ao seu melhor entendimento e compreensão.

Além disso, como essa pesquisa visa estudar e determinar os pontos de articulação

entre o ambiente de negócios e as estratégias e estruturas de capital das firmas no

Brasil, ela poderá contribuir ainda mais para solucionar as questões relativas à

gestão empresarial, como as de crescimento, por exemplo. De fato, a recente e cada

vez mais consolidada integração do País à economia mundial coloca essas

empresas em uma situação de fragilidade diante dos novos concorrentes que se

apresentam. A expansão do parque empresarial brasileiro torna-se, portanto, uma

necessidade premente, pondo as questões de investimento e financiamento no topo

das prioridades das empresas e do país. Investimento e financiamento ou estratégia

e finanças são o ponto central deste estudo, levando-o, portanto, a contribuir para o

melhor entendimento desses assuntos.

Assim que essas contribuições forem validadas e bem formuladas, estender-se-ão

muito além, colaborando para as mais diferentes ações em nosso ambiente de

negócios, ligadas aos mais diferentes interlocutores, tais como governo, bancos

comerciais, bancos de desenvolvimento, agências de fomento, instituições de ensino

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e pesquisa, sindicatos e instituições empresariais e de empregados, entre outros.

Sob essa perspectiva, este estudo pode ser considerado na linha de pesquisa útil,

conforme diversas manifestações correntes no meio acadêmico.

2.4 Hipóteses

1a Hipótese: Turbulência e crescimento do ambiente, estratégias voltadas para

custos e estrutura de financiamento guardam relação com as performances das

empresas brasileiras, até mesmo, delineando modelos de gestão.

2a Hipótese: Cada uma das dimensões a serem analisadas, a saber, ambiente,

estratégia e alavancagem financeiras relaciona-se isoladamente com as

performances das empresas brasileiras.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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3.1 Aspectos iniciais

Diversos autores têm tratado dos aspectos relativos à interdependência entre

estratégia e finanças. Em seu modelo acerca de forças competitivas, Porter (1986)

estabelece uma relação entre as duas disciplinas no horizonte de longo prazo,

afirmando que diferenças de rentabilidade observadas entre as indústrias ocorrem "à

medida que o conjunto das forças difere" (PORTER, 1986, p. 22), e que tendem a se

reduzir a longo prazo.

Da mesma forma, Donaldson (1998) estabelece uma relação dinâmica entre a

rentabilidade da firma e o amadurecimento do mercado, pontuando que em um mercado de novos produtos, as empresas com uma posição proprietária quando de sua entrada no mercado podem demandar maiores retornos como condição de investimento. À medida que a competição destrói essa posição, contudo, as empresas conseguem obter sucesso apenas se continuam a poder arcar com os investimentos necessários para manter uma participação saudável no mercado, mesmo quando isso for acompanhado de ROI em declínio (DONALDSON, 1998, p. 124).

As proposições desse autor apóiam-se sobre a lógica da alavancagem financeira e

das diferenças entre a rentabilidade dos ativos e os custos para financiá-los,

propondo a busca de equilíbrio entre as diferentes metas estabelecidas no processo

de planejamento de uma firma, com o objetivo de crescimento e o de endividamento,

claramente concorrentes entre si, precisando ser contidos em um processo de

tradeoffs contínuos.

Já no aspecto do envolvimento entre finanças e estratégia, Rappaport (1998, p. 397)

acrescenta a restrição de que "um dos objetivos principais do planejamento

estratégico corporativo é criar valor para o acionista". Ademais, a maneira pela qual

as empresas devem buscar esse objetivo começa pelo abandono de relações

contábeis do tipo lucro/ação, retorno/investimento, retorno/patrimônio líquido, dentre

outras, em favor de análises sobre fluxos de caixa descontados, pois "o valor

econômico de qualquer investimento é simplesmente o fluxo de caixa previsto

descontado pelo custo de capital" (RAPPAPORT, 1998, p. 398). Outra afirmação

elucidativa do autor é que estratégias de negócios podem ser vistas como conjunto

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de produtos ou investimentos ligados ao mercado, sendo a própria empresa vista

como um conjunto dessas estratégias.

Mudanças radicais na forma de financiamento de organizações que operam em

ambientes com baixas taxas de crescimento a longo prazo e com geração de fluxos

de caixa livre maiores que suas oportunidades de novos investimentos é o tema de

Jensen (1998). Para esse tipo de firma, sua proposição é de que elas não mais se

financiem como empresas de capital aberto, negociadas em bolsas de valores, mas

como organizações do tipo Leverage by out – LBO -, com uma superalavancagem.

Dessa forma, os fundos gerados em suas operações não mais se destinarão a

ampliar o caixa das corporações, gerando conflitos de agência entre acionistas e

administradores. Pelo contrário, os recursos serão destinados ao pagamento de

encargos aos financiadores da LBO, que decidirão quais devem ser suas aplicações.

O endividamento nesse tipo de firma, para ele, é benéfico na medida em que "a

superalavancagem cria a atmosfera de crise que os gerentes precisam para cortar

programas de investimentos ruins, para enxugar custos indiretos, e dispor de ativos

que sejam mais valiosos se fora da empresa" (JENSEN, 1998, p. 481).

Partindo de sua clássica visão do processo estratégico empresarial, que se expressa

pela proposição de que "a inovação e o aprimoramento decorrem de investimentos

constantes em ativos fixos e intangíveis", Porter (1998, p. 451) aborda o lado do

financiamento da firma, analisando todo o sistema americano de alocação de

capitais, o qual considera como fonte de instabilidade nas relações entre acionistas,

corporações e gerentes, impedindo a alocação dos recursos nos melhores projetos e

não os alinhando com os interesses do país. Para ele, é forçoso que se reformule o

sistema, atuando sobre os determinantes dos investimentos, os quais podem ser

agrupados em três categorias distintas: ambiente macroeconômico, mercado de

capitais externos e mercado de capitais internos.

O ambiente macroeconômico é o contexto no qual operam as empresas como um

todo, ao passo que o segundo envolve os mecanismos de alocação de capital aos

projetos, enquanto o terceiro diz respeito aos mecanismos de análise e de decisão.

Os mecanismos de alocação de recursos aos projetos englobam os acionistas e

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seus agentes, os financiadores de capitais de empréstimos e as próprias diretorias

corporativas, funcionando em um processo conjunto, obedecendo aos ditames

clássicos de análise e decisão de investimentos de capital.

Segundo o autor, a ampla reformulação do sistema se faz necessária na medida em

que agentes extremamente importantes como os investidores institucionais visam ao

curto prazo em suas aplicações, concentrando-se sobre atributos mais fáceis de

mensurar, em substituição à análise do valor da empresa. As técnicas de orçamento

de capital utilizadas pelas empresas em seus processos internos de alocação de

recursos, via análises de projetos de investimentos, por sua vez, consistem

basicamente em exercícios numéricos, que tão-somente os justificam.

Vimos, portanto, por meio dos textos citados, que tanto nas escolhas de fontes de

financiamento quanto nas estratégias de investimentos, a dinâmica do mercado é

sempre considerada como um processo mediador entre elas e a performance da

firma e que um alinhamento entre estratégia e finanças ocorre naturalmente. Em

outros termos, investimento, financiamento e mercado caminham juntos ao longo do

processo decisório da firma.

Em um sentido mais amplo, essa questão já tinha sido suscitada por Coase (1937, p.

388), quando de sua clássica indagação: "Por que existem empresas?", questão

esta que confrontava a teoria econômica neoclássica que então defendia o

mecanismo de preços como único ordenador do processo de alocação de recursos

na economia. A seu ver, a firma exercia um papel importante nesse processo de

alocação de recursos, e sua simples existência funciona como indicador dessa

importância, até porque elas proliferam devido a ambientes propícios ao seu

surgimento. Indo mais além, a empresa se distinguia por sua capacidade de

substituir o mecanismo de preços, por promover com vantagens a redução de seus

custos relativamente à situação na qual tivesse de transacionar com todos os

fornecedores de fatores de produção por um lado, e com todos os compradores dos

produtos ou serviços, por outro. A este propósito, seu resumo da situação se dá

conforme citação a seguir:

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Do lado da empresa, os movimentos de preços direcionam a produção, a qual é coordenada através de uma série de transações de troca com o mercado. Dentro da empresa, estas transações do mercado são eliminadas e no lugar da estrutura complicada do mercado com transações de troca aparece o empreendedor coordenador, o qual dirige a produção (COASE, 1937, p. 387).

A firma surge, portanto, sempre que o custo de se organizar um determinado

número de transações sob coordenação única é menor que o custo de se

transacionar diretamente no mercado. Nesses casos, a organização do processo de

produção via mecanismo de preços é substituída pela firma sob o comando de um

empreendedor a quem cabe trazer para dentro dela aquelas transações cujos custos

de realização sob seu comando sejam menores que o custo de realizá-las sob o

mecanismo de preços do mercado. A firma cresce e se desenvolve, segundo Coase

(1937), via esse mecanismo e tendo em conta que a questão é, sempre, "se vale a

pena trazer uma operação externa para o comando de uma autoridade

organizadora". Esta última questão, por sua vez, coloca todo o problema estratégico

da firma, na medida em que as decisões de crescimento se colocam no centro da

discussão para formulação da estratégia, que, segundo Porter (1986), se expressa

por questões sobre até quanto crescer e como crescer.

Assim é que, para Coase (1937), o empreendedor decide com o olhar sobre o

mecanismo de preços do mercado, escolhendo o que trazer para dentro da firma e o

que deixar por conta do próprio mercado. Portanto, tem sentido afirmar que decisões

estratégicas são tomadas nessa fronteira entre o interno e o externo à firma, tendo

em conta o mecanismo de preços do mercado.

A questão de Coase (1937) − por que existem empresas? − abriu e definiu o campo

da chamada economia institucional. Até então, o ponto de vista hegemônico da

teoria neoclássica considerava a firma como um dado, submetida à mão invisível do

mercado. Para Rumelt, Schendel e Teece (1994), ao questionar esse saber

estabelecido, Coase (1937) abriu toda uma perspectiva de pesquisa da firma

enquanto sujeito ou ator econômico e não apenas como um ente submetido às

forças do mercado.

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O argumento de Coase (1937), que acabamos de desenvolver, deixa pistas

importantes para os propósitos de alinhamento entre estratégia e finanças desta

pesquisa. Afinal, se no processo de decisão sobre estrutura de capital da firma, o

empreendedor deve optar pela absorção de recursos de capital via mecanismo de

preços, este fato poderá caracterizá-la como decisão estratégica, o que alinha

automaticamente os campos de estratégia e de finanças. Entretanto, cabe a

advertência de Bromiley (1990) sobre a dificuldade efetiva de integração entre esses

dois campos do conhecimento, visto que cada um se sustenta sobre paradigmas

diferentes.

Nesse sentido, a área de finanças admite que a firma age racionalmente com o claro

objetivo de maximizar o valor para o acionista. Para a obra Strategor (1993, p. 297),

nessa visão do mundo a organização confunde-se com um ator único, homogêneo,

racional, consciente de si próprio e do seu contexto, e dotado de objetivos e/ou de

preferências relativamente estáveis. A ação deriva dos objetivos formulados ou das

preferências manifestas, claramente definidas, confrontados contra um dado

contexto. No entanto, sua ação é executada como se fosse um só homem em busca

de seus objetivos, com a tomada de decisão seguindo um processo já definido,

cujos passos são a definição do problema, o levantamento de alternativas de ação,

a avaliação de cada uma delas e a escolha daquela que maximiza o resultado,

segundo critérios de preferências do tomador de decisão.

Por outro lado, a área de estratégia admite que a firma dispõe de vários

constituintes, com objetivos diferentes e, às vezes, conflitantes, sendo impossível

maximizá-los em conjunto. A conseqüência desse estado de coisas para Bromiley

(1990) é a adoção de um modelo da firma diferente e mais complexo daquele de

finanças .

O campo da estratégia, ao desenhar um modelo mais complexo, fruto de sua visão

multifacetada do macroambiente e dos múltiplos constituintes da firma, aproxima-se

mais do modelo proposto por Simon (1958), o qual implicava em um reconhecimento

dos limites da cognição humana na busca de soluções maximizadoras, sob os

critérios da racionalidade limitada (STRATEGOR, 1993).

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No modelo de Simon (1958), a firma é vista como uma organização coordenada por

uma diretoria única, que dirige um conjunto de subunidades responsáveis por partes

da decisão total. O objetivo global da decisão é dividido por ela em subobjetivos

atribuídos que são a cada uma das partes da organização. Esta, em seus processos

normais de trabalho, busca suas soluções parciais atendendo suas práticas de

decisão e critérios de preferência, que são aceitos pela direção se entendidos como

motivadores de desempenhos corporativos satisfatórios (STRATEGOR, 1993).

Voltando à área de finanças, esta adota um modelo simplificado, concedendo ênfase

maior às questões de eficiência do mercado, o qual, naturalmente, deriva de seu

viés microeconômico no qual está implícita a presunção da racionalidade perfeita.

Entretanto, unificar os campos de conhecimentos de finanças e de estratégia

conforme crença de Simerly e Li (2000), é uma questão de método, já indicado pela

prática das organizações. Para eles, a escolha de uma estrutura de capital para a

firma é mais a expressão de uma busca de alternativas em um macroambiente

complexo e incerto do que o cálculo de alternativas pré-definidas segundo um dado

modelo.

3.2 O foco da estratégia

Do lado da estratégia, acredita-se que a integração entre as duas disciplinas

encontra campo fértil e vários pontos a partir dos quais é possível iniciar este

processo, até porque a articulação com as demais áreas da firma tem sido um

objetivo perseguido por diferentes autores. Por exemplo, quando Chandler (1986)

lança sua máxima de que a estrutura segue a estratégia, isto representou um

rompimento com a tradição clássica de se buscar a máxima eficiência da

organização olhando só para os seus elementos internos de uma maneira estática.

Pelo contrário, o autor buscava nova maneira de se olhar a organização, em que a

análise da interdependência entre ela e outras variáveis do ambiente passa a ser o

ponto central.

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De fato, o desenvolvimento do campo de estudos da estratégia pode ser mapeado

desde os textos de economia da década de 30 do século passado. As dificuldades

econômicas do mundo naquela época fizeram surgir teorias de concorrência

imperfeita, assim Joseph Alois Schumpeter lançava sua concepção de

empreendedor e de destruição criativa, que marca importantes contribuições

contrárias à concepção estática da eficiência competitiva dos demais economistas.

Mas a linha principal de argumento da teoria econômica sempre ignorou a atividade

executiva intra-organizacional, com ênfase mínima sobre a atividade de gestão da

firma, e como pontuam Rumelt, Schendel e Teece (1994, p. 14), na concepção

tradicional da economia, "todas as empresas são essencialmente parecidas, tendo o

mesmo acesso a informações e tecnologia, e suas decisões são essencialmente

racionais e previsíveis, virtualmente compelidas por condições de custos e

demanda".

De qualquer forma, já houve estudos nos anos 30 sobre o trabalho e a eficiência,

que forneceram bases para a concepção do papel do gerente e de suas escolhas

estratégicas. Por exemplo, Barnard (1938) foca seu estudo nas funções do

executivo, estabelecendo a diferença entre eficiência e efetividade da firma,

fundamental para o conceito de estratégia, elevando o estudo do trabalho das

atividades operacionais para aquelas próprias do gestor.

Diversos estudos elaborados na década de 60 sobre o campo da teoria

organizacional delinearam o conceito de contingência, o qual, por sua vez, propiciou

o surgimento do conceito de estratégia. Dentre eles, sobressaem os estudos de

March e Simon (1958), caracterizando a cibernética como metáfora para o trabalho

do gestor; Cyert e March (1963) e o comportamento da firma; Burns e Stalker (1961)

contrastando organizações mecânicas e orgânicas; Woodward (1965) assinalando a

influência da tecnologia sobre a organização; Lawrence e Lorsch (1967) propondo

que a organização era contingente à incerteza do ambiente. Além destes, Chandler

(1962), Ansoff (1977) e Andrews (1965) estabeleceram com seus trabalhos a linha

do campo de estudo da estratégia (RUMELT, SCHENDEL e TEECE, 1994, p. 14).

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De fato, Chandler (1986, p. 385) delimita o campo de trabalho do

administrador/gestor, que "inclui ação executiva e ordens, bem como decisões

tomadas por meio de coordenação, análise e planejamento do trabalho da empresa

e alocação de seus recursos". Além disso, o autor se ocupou em separar as ações

desse agente em dois componentes, sendo o primeiro denominado de estratégia, o

qual é definido como "a determinação das metas e objetivos de longo prazo da

empresa, e a adoção de cursos de ação e alocação de recursos...", enquanto que o

segundo é direcionado à estrutura da firma, definida como o "desenho da

organização, através do qual a empresa é administrada" (CHANDLER, 1986, p. 8).

Ainda segundo Chandler (1986), as estruturas administrativas das firmas analisadas

seguiam uma trajetória de conseqüência na seguinte ordem: primeiro, o

entendimento da nova forma alcançada pela organização remetia a sua estrutura

anterior e a toda a sua história administrativa; segundo, as mudanças das estruturas

de organização estavam intimamente relacionadas às diferentes maneiras que elas

utilizaram para se expandir; terceiro, os padrões de crescimento refletiam todas as

mudanças por que passava a economia americana, notadamente aquelas

relacionadas aos mercados dos produtos das empresas; quarto, a reorganização era

influenciada pelo estado da arte da administração no país.

A dinâmica do processo descrito pelo autor mostrava-lhe que à medida que a

gerência de topo tomava decisões quanto à fixação dos objetivos e metas a serem

perseguidos pela organização – o que denominou estratégia –, seguia-se a

necessidade de rearranjos em todo o processo administrativo essencial ao

cumprimento do fixado – o que chamou estrutura. Mais especificamente, a

concatenação das diferentes estratégias de crescimento adotadas pelas

organizações – expansão do volume, dispersão geográfica, novas linhas de

produtos – e suas diferentes combinações geravam diferentes arranjos

organizacionais ou diferentes estruturas. Essa nova forma de analisar a organização,

que hoje é denominada raciocínio estratégico, passou a conduzir os estudos da

disciplina, e o fundamental que ficou de Chandler (1986) é que as diferentes formas

organizacionais das firmas derivam das diferentes estratégias de crescimento que

elas adotaram, em um processo que culmina em sua conhecida proposição de que

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"a estrutura segue a estratégia e o tipo mais complexo de estrutura é o resultado da

concatenação de diversas estratégias básicas" (CHANDLER, 1986, p. 14).

Ansoff (1977) articulou o conceito de estratégia em torno da proposição de "elos

comuns", no lugar de conceitos vindos da economia, como "setor de transporte" ou

"setor energético", os quais ele considerava pobres e deficientes para definir o

campo de atuação e a orientação de crescimento da firma.

Para Ansoff (1977), o que especificava o elo comum de uma dada organização

podia ser enquadrado em um conjunto de quatro componentes: 1. o escopo de

atuação da firma, ou o seu "conjunto de produtos e mercados"; 2. o "vetor de

crescimento" escolhido para o seu conjunto de "produtos e mercados"; 3. a

"vantagem competitiva" da firma, ou as "propriedades específicas e combinações

individuais de produtos e mercados que dão à empresa uma forte posição

concorrencial"; 4. a "sinergia", ou a "medida da capacidade da empresa para tirar

proveito de sua entrada numa nova área de produtos e mercados" (ANSOFF, 1977,

p. 88).

Por sua vez, Andrews (1965) define estratégia como "o padrão de objetivos,

propósitos ou metas bem como as mais importantes políticas e planos para se

alcançarem tais metas – tudo isso enunciado de forma tal a definir o negócio atual

ou futuro da empresa e o tipo de empresa que ela é ou almeja ser" (Andrews, 1965,

p. 3). Esssa definição implica que a firma deverá ser capaz de identificar os quatro componentes da estratégia, a saber: (1) a oportunidade mercadológica, (2) a competência e os recursos corporativos, (3) os valores e aspirações pessoais, e (4) o reconhecimento de obrigações para com outros segmentos da sociedade que não os acionistas (ANDREWS, 1965, p. 5).

Além disso, havia a considerar que todo esse processo envolve dois aspectos da

estratégia da firma, a formulação e a sua implementação.

Chandler (1986), Ansoff (1977) e Andrews (1965) deram forma ao conceito de

estratégia no campo teórico, ao passo que a dimensão prática empresarial se

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estabeleceu com firmas de consultoria, dentre as quais a Boston Consulting Group,

com seus instrumentos e conceitos como a growth-share matrix e a curva de

experiência.

Enquanto esses três primeiros autores adotaram uma linha mais descritiva das

proposições sobre estratégia, os estudos a partir da década de 70 buscaram colocar

à prova este conjunto de construtos e proposições sobre como as estratégias eram

formuladas e como elas afetavam a performance dos negócios. De um enfoque com

ênfase descritiva sobre como a estratégia era formada e implementada, ou seja, o

seu processo, eles evoluíram para uma observação sistemática, análise dedutiva e

modelagem, buscando compreender o eixo estratégia – performance, ou seja, o seu

conteúdo.

Esses estudos de cunho mais sistemático e científico tomaram três diferentes

ramificações. A primeira, seguindo a linha de Chandler (1986), buscou testar as

proposições acerca de crescimento e estratégias de diversificação. A segunda foi à

cata de relacionamentos entre estratégias e performances, ao passo que a terceira,

usando a perspectiva da economia industrial, culminou nos trabalhos de Michael

Porter, com suas análises sobre estratégia e vantagem competitiva.

Os trabalhos empíricos dos seguidores de Chandler (1986) culminaram em

demonstrações da inter-relação entre a estratégia de crescimento, forma da

organização e expectativa de performance da firma. Rumelt (1974) contribuiu nessa

linha de pesquisa apontando medidas de diversificação e testando o seu impacto

sobre a estrutura de organização e a performance (RUMELT, SCHENDEL e TEECE,

1994, p. 16)

O Strategor (1993) segue também essa linha de pesquisa, integrando à estratégia,

além da estrutura, mais dois elementos determinantes da política da empresa, a

decisão e a identidade, propugnando que a articulação entre eles se dá por

influência recíproca, ou seja, não apenas a estratégia determina a estrutura como é

também por ela influenciada. Nesse sentido, a integração entre todos os elementos

do modelo pode-se dar por meio da figura do tetraedro, onde cada uma de suas

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faces, correspondentes a cada um dos elementos propostos (estratégia, estrutura,

decisão e identidade), apresenta uma interface contígua com os outros três,

influenciando-se reciprocamente.

Retornando a Michael Porter, Rumelt, Schendel e Teece (1994) assinalam que o

modelo de interação das forças competitivas, que tem como base os conceitos da

economia industrial, deu forma e conteúdo ao amplo e vago constructo denominado

ambiente econômico competitivo. Em seguida a isso, Michael Porter propõe a cadeia

de valores em complementação às questões centrais em estratégia relacionadas à

atratividade da indústria e à posição competitiva da firma. Com este modelo, ele se

propõe a criar uma ponte entre a formulação e implementação da estratégia da

firma, indo além do tratamento destas enquanto questões separadas. De fato, Porter

(1989), com a descrição das atividades da firma, alcança explicar o processo de

formulação e implementação de sua metodologia.

Por outro lado, as diferenças entre as firmas, quando olhadas pelo lado do mercado,

são explicadas por outros fatores, tais como os grupos estratégicos que seriam

agrupamentos de empresas produzindo as mesmas linhas de produtos e que foram

constituídos a partir das barreiras de entrada geradas pelas próprias firmas

competidoras, que, inclusive, geram barreiras à mobilidade entre os grupos de

empresas. Ainda mais, essas mesmas barreiras à mobilidade criam as condições

para surgir diferenças entre as constituintes desses grupos estratégicos em face de

possíveis candidatos. A sustentabilidade dessas diferenças, por sua vez, depende

das barreiras à imitação que são geradas mediante investimentos contínuos para

melhorar posições e mantê-las a salvo de concorrentes (PORTER,1986 e 1989).

Ainda segundo Michael Porter, evidências empíricas sugerem que as diferenças de

rentabilidade encontradas entre as firmas dependem da indústria. Em uma amostra

de 38 indústrias, em 15 delas as firmas com estratégias consideradas seguidoras

apresentaram taxas de retorno maiores que as líderes da indústria, naqueles casos

em que elas não apresentavam economias de escala significativas ou que eram

altamente segmentadas. Nas indústrias em que o líder de mercado apresentava as

mais altas taxas de retorno, as economias de escala estavam presentes, assim

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como maiores gastos em publicidade e pesquisa. Em outros termos, essas indústrias

revelam barreiras atuantes e efetivas à mobilidade.

Ghemawat (1998) relata que os investimentos irreversíveis e duráveis em economias

de escala e de escopo, assim como os efeitos da experiência, tornam as vantagens

do tamanho em elementos de convencimento sobre pequenos concorrentes para

que assim se mantenham. O acesso superior aos mercados de insumos, clientes e

know-how proporciona aos detentores uma assimetria de investimentos que mantém

os concorrentes afastados. E, finalmente, as opções dos concorrentes podem estar

afetadas em sua livre concorrência ou por investimentos passados, ou mesmo pela

falta de agilidade de realizar novos movimentos estratégicos.

Outra afirmação do autor é que o conceito de economia de escopo abriu novas

perspectivas para a utilização da tradicional visão de recursos da microeconomia,

onde as análises são conduzidas por meio de categorias muito amplas como terra,

trabalho e capital. Na teoria de recursos, por sua vez, eles são melhor analisados e

detalhados, ampliando seu entendimento e possibilidades de aplicação prática, via

utilização em múltiplos produtos, mesmo quando não compartilham os custos

comuns.

A questão relativa ao posicionamento competitivo da firma, uma outra perspectiva

para a formulação de sua estratégia, foi também analisada por Ghemawat (1998),

com vista a responder ao difícil desafio de criar e sustentar suas vantagens

competitivas. Em seu estudo, ele defende que uma vantagem sustentável decorre

do porte no mercado-alvo, do acesso superior a recursos e/ou de restrições

impostas às opções do concorrente. Para ele, esse conjunto de fatores afeta a

sustentação da vantagem competitiva, mas a distância entre uma situação

sustentável e outra contestável é uma questão de grau. Além disso, "nem todos os

setores oferecem oportunidades iguais para sustentar uma vantagem competitiva", e

a firma deverá buscar um equilíbrio entre o "comprometimento para competir de uma

certa maneira e reter flexibilidade para competir com eficácia de outras maneiras"

(GHEMAWAT, 1998, p. 40).

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Os trabalhos de Porter abriram, também, um importante caminho além do paradigma

da "structure-conduct-performance" e cabe a observação de RUMELT, SCHENDEL

e TEECE (1994) de que a crítica de Chicago sobre a teoria tradicional de barreiras à entrada, a qual sustenta a visão alternativa de que altos lucros são retornos para capacidades ou recursos especializados de alta qualidade, tornou-se uma inspiração importante para a teoria da firma baseada em recursos. (RUMELT, SCHENDEL e TEECE, 1994, p. 18).

Por sua vez, a teoria de recursos, tomando eco na questão de Coase (1937, p. 388)

"Por que existem em empresas?", coloca de forma ampla a indagação "Por que as

empresas são diferentes?" como o questionamento básico em sua perspectiva de

estudos. De fato, esse questionamento chama a atenção para as características

intrínsecas das firmas frente ao conceito de mercado, tão caro à teoria econômica

clássica, e coloca foco nos fenômenos que produzem e sustentam a

heterogeneidade entre as firmas.

Observações empíricas mostram que às vezes as firmas se diferenciam umas das

outras, mesmo quando atuantes na mesma indústria. Rumelt (1994) demonstra que

as variâncias nos retornos sobre o capital das firmas em uma mesma linha de

negócios podem ser distribuídas nas seguintes parcelas: 0,8% devido aos efeitos

derivados da corporação, 8,3%, à estabilidade da indústria e 46,4%, à unidade de

negócios, revelando que os maiores fatores de heterogeneidade derivam das

próprias firmas, a despeito da intensa imitação entre elas, fruto do ambiente

competitivo em que operam. Por sinal, este é entendido como homogeneizador

delas, reforçando a indagação acerca do que sustenta a heterogeneidade em

recursos e performances entre empresas competidoras a despeito de tentativas de

competição e de imitação (RUMELT, SCHENDEL e TEECE, 1994, p. 16).

Na teoria de recursos, estes são vistos como quaisquer fatores que impliquem força

ou fraqueza de uma dada firma, podendo conferir vantagens competitivas

duradouras a esta face sua concorrência. De fato, Wernerfelt (1984), tomando o

modelo das forças competitivas como base para suas análises, propõe uma nova

visão da firma baseada em recursos a qual revitaliza a tradicional análise

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microeconômica dos fatores de produção ao agregar o conceito de economia de

escopo. Sua afirmação de que "para a empresa, recursos e produtos são dois lados

da mesma moeda" (WERNERFELT, 1984, p. 171), pode levar ao entendimento de

que o posicionamento da firma pode ser visto tanto do ponto de vista do mercado,

da forma como tradicionalmente o assunto é tratado nas abordagens de estratégia,

como pelo lado dos recursos.

Com a perspectiva aberta pelo conceito de economia de escopo ou de recursos

compartilhados em mercados distintos, novas questões se abrem para a formulação

de estratégias de diversificação, como: 1. em quais recursos se basear a

diversificação; 2. como desenvolvê-los mediante a diversificação; 3. qual a

seqüência de entrada em novos mercados; 4. qual o tipo de negócio a adquirir.

Essas questões colocadas por Wernerfelt (1984) suscitam novas proposições para

as firmas, como a existência de barreiras de recursos análogas às barreiras de

entrada, com as quais elas podem construir o seu posicionamento. Em

conseqüência, seu desenvolvimento passa a ser uma questão de equilíbrio entre

recursos existentes e outros a desenvolver, podendo-se ainda pensar em termos de

uma matriz de produtos/recursos à semelhança daqueles de produtos/mercados.

Esse conjunto de proposições de Wernerfelt (1984), em conseqüência, motiva a

entender o gestor como alguém que olha a empresa como um portfólio de recursos e

não apenas como um de produtos. Outrossim, a gestão de recursos passa a ser a

escolha de caminhos de desenvolvimento desses mesmos recursos, tendo em vista

a seqüência de entradas em novos mercados definida pela estratégia de

diversificação buscada pela firma. Em síntese, tem-se a migração do conceito de

gestão estratégica da firma a partir de um foco em mercados para outro baseado em

recursos.

Entretanto, cabe a observação de Barney (1991) de que os recursos que criam e

sustentam vantagens competitivas devem apresentar certas especificidades como

barreiras à mobilidade, visto que eles são distribuídos de forma heterogênea entre

as firmas. Outro ponto importante é que os recursos não são homogêneos entre

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empresas diferentes, pois se o fossem, nenhuma vantagem seria obtida pela

primeira ao exibir determinada característica, já que rapidamente outras firmas a

imitariam. Enfim, para serem fontes de criação e sustentação de vantagens

competitivas da firma, os recursos sob o controle desta devem apresentar

características que sejam entendidas como valiosas, únicas, inimitáveis e

insubstituíveis.

De acordo com Collins e Montgomery (1995), recursos são valiosos para as

empresas quando considerados em seu contexto de mercado, tanto setorial como

temporalmente. Um recurso inimitável, ou único, difícil de copiar, durável e

reconhecido pelo cliente, confere uma vantagem sustentável à firma que o detém.

Hamel e Prahalad (1995) reforçam as exigências, apontando que os recursos devem

ser competitivamente únicos e proporcionar capacidade de expansão, ou seja,

"podendo ser aplicados em novas arenas de produtos". Em suma, os recursos da

firma, quer como ativos tangíveis, quer como ativos intangíveis ou como

capacidades, estão no âmago da questão de criar e sustentar sua vantagem

competitiva.

Quanto à forma, Collins e Montgomery (1995) apontam que os recursos podem assumir uma variedade de formas... Às vezes ... são tangíveis, como a fiação da casa... também são intangíveis, como nomes de marcas ou know how tecnológico ... também é possível que os recursos valiosos sejam capacidades organizacionais, impregnadas nas rotinas, processos e cultura da empresa (COLLINS e MONTGOMERY, 2001, p. 40).

Mas, qualquer que seja a forma, eles devem ser avaliados em sua interação com o

mercado, nunca de forma isolada, pois, "ao ignorar o mercado, os gerentes correm o

rico de efetuar investimentos vultosos em recursos que não gerarão retornos"

(COLLINS E MONTGOMERY, 2001, p. 41).

Embora já esteja alinhada entre os paradigmas da teoria da estratégia, como

posicionamento, teoria dos jogos, capacidades dinâmicas, a teoria de recursos deita

suas raízes nos primeiros textos da área. O modelo SWOT, proposto por Andrews

(1965), sugeria a criação da estratégia da firma por meio da exploração das forças

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internas da organização, do aproveitamento das oportunidades de mercado,

superação das fraquezas internas e em evitar as ameaças do ambiente de negócios.

Pode-se dizer que, sob a perspectiva interna da organização, o modelo SWOT já

propunha uma abordagem de recursos para a firma, ao passo que externamente à

firma, ele antecipava modelos orientados para o mercado.

Teece, Pisano e Shuen (1997) notam que o modelo de forças competitivas seguiu

exatamente essa linha de pensamento de Andrews (1965), tratando a estratégia em

termos da estrutura da indústria e do posicionamento da firma. Complementarmente,

o modelo que desenvolvem, de capacidades dinâmicas, está em linha com estas

análises na medida em que se propõe a integrar essas duas perspectivas, por meio

da "capacidade de renovar competências", no front interno, e de "atender as

exigências de um ambiente em mutação" no externo (TEECE, PISANO e SHUEN,

1997, p. 515).

Ainda segundo os autores, essa proposição encontra-se em linha com a visão de

Coase (1937), de que a essência da firma é que ela substitui algumas funções

externas e organizativas próprias do mercado, dentro da própria organização. Esta

característica a distingue, portanto, pois ela modela domínios internos de atividades

com seus recursos, competências e capacidades, em uma lógica própria e diferente

do mercado. Dessa maneira, os processos organizacionais modelados pelo

posicionamento de ativos da firma e desenvolvidos em sua trajetória de evolução

configuram e definem suas capacidades dinâmicas e a sua vantagem competitiva.

Aliás, esses processos organizacionais são as diferentes maneiras que a empresa

assume na execução de suas atividades, ou seja, suas rotinas, práticas correntes e

de aprendizagem. Por sua vez, posicionamentos são os seus ativos específicos,

como tecnologias, patentes, ativos complementares, sua base de clientes e suas

relações externas com os fornecedores e firmas complementares. Sua trajetória

repousa sobre o grau de dependência a seus padrões de evolução, que resultaram

em suas alternativas de estratégias disponíveis e nos retornos alcançados.

No que interessa mais de perto ao campo das finanças, Teece, Pisano e Shuen

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(1997) afirmam que os ativos financeiros alinham-se entre aqueles que definem

posicionamento, e o fluxo de caixa e o grau de alavancagem da empresa

apresentam importantes implicações estratégicas, pois levantar fundos

externamente implica difundir e disseminar informações internas importantes a seus

investidores. No longo prazo, portanto, o fluxo de caixa e a alavancagem da firma

podem ser determinantes em suas escolhas estratégicas.

3.3 O foco de finanças

Muito embora a pesquisa em finanças nos últimos 40 anos possa ser enquadrada

em duas grandes linhas, com sua tradicional divisão em asset pricing e corporate

financing, há de se atentar para a afirmação de Miller (1999) de que as abordagens

originadas das escolas de negócios acerca das funções e objetivos das empresas

são, por excelência, micronormativas, entendendo que estas buscam melhores

decisões. Dessa forma, seus modelos de decisão se estabelecem visando à

maximização de uma função-objetivo qualquer, seja o retorno esperado ou o valor

para acionista, tendo-se os preços dos títulos no mercado como um dado que

referenda desempenhos.

Ainda quanto a isso, é interessante notar que as abordagens das escolas de

economia seguem a máxima de Marshall, de que "não é da conta dos economistas

ensinar o mestre cervejeiro a fazer cerveja", sendo, portanto, macronormativas. As

empresas são vistas como unidades microotimizadoras e participantes de algo maior

chamado mercado, que é dirigido via mecanismo geral de preços.

Exemplos da natureza macronormativa de finanças podem ainda ser buscados na

teoria de portfólio de Markowitz, com seu modelo baseado na média e variância dos

dados, o qual vê o investidor como um decisor que se baseia em dados e

estatísticas passadas de médias e variâncias de retornos de ativos, assim como de

covariâncias entre estes. Na mesma linha macronormativa, o modelo Capital Asset

Pricing Model – CAPM - mensura riscos de ativos como função de sua covariância

com os retornos do portfólio de mercado.

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A hipótese de eficiência dos mercados, conforme enunciada por Fama (1970),

estipula que "nenhuma regra simples baseada em dados e informações já

publicados e disponibilizados pode gerar taxas de retornos acima do normal", o que

implica a afirmação de nova abordagem de natureza macronormativa de finanças

(MILLER, 1999).

Entretanto, as proposições de Modigliani e Miller (1958 e 1961) ilustram a tensão

entre as abordagens macro e micronormativas no campo das finanças, embutindo-

as, pelo lado micro, com sua busca do custo de capital, que sirva como taxa de

retorno para análise dos projetos de investimentos da firma; pelo lado macro, com a

expressão da demanda por investimentos se estabelecendo em função do custo de

capital das firmas no lugar da taxa dos títulos de longo prazo do governo. Em

especial, a abordagem micronormativa de que o custo de capital da empresa

depende apenas da classe de risco dos projetos sob análise, portanto independendo

de seus instrumentos de financiamento, colocou uma enorme dificuldade para o

entendimento das teorias de finanças corporativas, o que é apontado pelo próprio

Miller (1999). Aliás, um trabalho seminal desse autor (Miller, 1977), deixa clara a

posição de que o equilíbrio no mercado de capitais se dá em nível agregado,

embora cada empresa tenha sua preferência acerca da estrutura de financiamento

que agrada a seu público investidor-alvo. Para tanto, o autor se expressa

exatamente na última linha desse texto, dizendo: "... afinal, cada clientela é tão boa

quanto outra qualquer" (MILLER, 1977).

O trabalho de Jensen e Meckling (1984) expressa muito bem a tensão entre as

abordagens micro e macronormativas, com sua argumentação de que o

balanceamento tradeoff entre custos de falência e subsídios tributários invalida a

proposição de irrelevância de estrutura de capital de MM, na medida em que

probabilidades de ocorrência de falência guardam relação direta com índices de

alavancagem financeira (capital de terceiros/capital próprio), o que afeta a

distribuição futura dos prováveis fluxos de caixa da firma.

Na proposição dos autores, os custos de agência fundam-se no mesmo pressuposto

de maximização de uma função utilidade das finanças, amplo senso: "De nossa

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parte, mantemos a noção de um comportamento maximizador por parte de todos os

indivíduos na análise a seguir" e que "se ambas as partes na relação são

maximizadores de utilidade, há boa razão para acreditar que o agente (gerentes)

nem sempre agirá nos melhores interesses do principal (acionistas)" (JENSEN e

MECKLING, 1984, p. 191).

Esse conflito de caráter permanente no processo decisório da firma, no qual os

protagonistas são os acionistas (os principais) e seus agentes (os gerentes), leva à

questão básica: a quem os gestores realmente servem? Naturalmente que essa

pergunta sintetiza uma negativa definitiva à pretensão de se ater exclusivamente ao

caráter micronormativo das finanças, até porque as respostas vão desde posições

críticas que apontam os próprios gerentes como beneficiários a outras que colocam

os gerentes como protagonistas de processos que atendem aos interesses de

diversos stakeholders como acionistas, clientes, fornecedores e empregados

(GRINBLATT e TITMAN, 1998).

Por certo a importância da abordagem normativa emerge na análise e a raiz desse

comportamento dos gestores encontra explicação no trabalho clássico de Berle e

Means (1932), os quais tratam do fenômeno da separação entre propriedade e

controle nas grandes corporações americanas. Por sua vez, Donaldson e Lorsch

(1983) sugerem que os gestores entendem a si próprios como representantes dos

mesmos stakeholders citados no parágrafo acima (acionistas, credores, clientes,

fornecedores e os próprios empregados).

Do ponto de vista do acionista, a grande questão posta é como exercer controle

sobre os atos dos gestores da firma, e uma influência direta pode ser exercida

quando seu bloco de ações é proporcionalmente grande o suficiente para se fazer

ouvido e obedecido. Entretanto, nas grandes corporações americanas, o controle é

essencialmente exercido por gestores que possuem uma parcela mínima das ações

da firma. Além disso, seus interesses não estão sempre e necessariamente

alinhados aos dos acionistas.

Do lado da escolha dos novos projetos da firma, os gestores preferem investimentos

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ligados a sua expertise pessoal e que aumentem seu poder e influência na firma e

diminuam o risco futuro de serem descartados. Ademais, eles revelam preferências

por investimentos que aumentem o tamanho da firma, que a diversifiquem, que

retornem mais rapidamente, bem como almejam redução de níveis de

endividamento, mesmo à custa da perda de possibilidade de dedução dos juros do

imposto de renda a pagar (GRINBLATT e TITMAN, 1998).

Enfim, esse conjunto de preferências dos gestores representa conflitos de agência

na firma e influencia fortemente sua estrutura de governança, impactando a escolha

de projetos de investimentos e afetando seu processo de criação de valor. De forma

definitiva, não tem sentido a aplicação exclusiva da lógica inerente à abordagem

micronormativa de buscar entender a empresa apenas como a geradora de

benefícios a seus proprietários.

Por essa visão, esses custos de agência estendem-se também para as dívidas

contraídas pela firma. Os custos de falência induzem os credores a incorrer em

custos de monitoramento de seus recursos aplicados nas empresas, os quais

derivam dos incentivos associados à alavancagem. Como sistematizam Grinblatt e

Titman (1998), o acionista pode assumir estratégias que transfiram riqueza do credor

para si mesmo, que se manifestariam de diferentes formas, como:

• adoção de estratégias de subinvestimentos, com a recusa de projetos com alto

Valor Presente Líquido – VPL - porque seus benefícios serão capturados em sua

maior parte por financiamentos anteriores, com cláusulas de precedência. Por

sua vez, essas cláusulas desincentivam novos credores a colocar mais dinheiro

na firma, reduzindo seu funding para novos projetos;

• orientação de curto prazo, o que significa que as empresas escolhem projetos

geradores de caixa a curto prazo, mesmo que seu VPL não seja atrativo;

• escolha de projetos com maiores taxas de risco, desde que a expectativa de

retorno para o acionista seja maior do que de projetos com menor risco,

aumentando a probabilidade de perda total para o credor, no caso de insucesso

do projeto;

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• postergação de liquidação da firma no caso de falência, porque o fluxo de caixa

poderá remunerar de alguma forma o acionista e manterá, certamente, os

salários dos gestores. Cabe ainda lembrar que, no caso de liquidação, os

acionistas são os últimos a receber valores no processo legal, o que os incentiva

ainda mais a comportamentos espúrios.

Como enfatizam Grinblatt e Titman (1998), custos de falência, subsídios tributários e

custos de agência são manifestações típicas do mundo real do mercado, e as inter-

relações entre elas influenciam decisivamente as escolhas de estruturas de capital,

as formas e a extensão da distribuição de resultados aos acionistas, além de

interferir nas relações entre os stakeholders da organização.

No caso específico dos stakeholders, verifica-se que estratégias de investimentos da

firma têm relação com graus de dificuldades financeiras, o que pode levar clientes e

fornecedores, por exemplo, a evitar fazer negócios com essa firma, por medo das

conseqüências de uma possível falência. Esta situação pode levar também a perda

de qualidade dos produtos ou redução dos serviços de assistência técnica pós-

venda para os clientes, afastando-os da empresa. Essa mesma situação pode levar

à postergação dos pagamentos a fornecedores e, ainda, no caso dos empregados, a

perda de emprego ou privação de oportunidades de crescimento profissional

(GRINBLATT e TITMAN, 1998).

Ainda mais, os investimentos em imagem e credibilidade da sua reputação e

produtos seguem nessa mesma trilha, e Grinblatt e Titman (1998) apontam que "sob

dificuldades financeiras, o valor a longo prazo de uma boa reputação pode ser

menos importante para gerentes que a necessidade de geração de caixa a curto

prazo com o intuito de evitar a falência" (GRINBLATT e TITMAN, 1998, p. 582).

Muito embora os custos de falência impostos por uma firma a seus stakeholders

retornem na forma de restrições sobre sua capacidade de elaborar estratégias, essa

mesma situação gera alguns benefícios como, por exemplo, o de dissuadir

sindicatos de empregados de demandas diversas e o de sensibilizar governos

quanto a disponibilizar concessões para evitar situações falimentares de empresas.

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Os custos de falência de uma grande firma incidentes sobre uma comunidade na

forma de baixa da atividade econômica reduzem, também, a capacidade de recolher

impostos dessa mesma comunidade. É claro que esse efeito representa um

catalisador da boa vontade governamental para este tipo de negociações.

Myers e Majluf (1984) desenvolvem um modelo de equilíbrio para a decisão de

emitir-investir baseado nas seguintes suposições: a empresa tem uma oportunidade

valiosa de investimento e existem informações assimétricas entre gerentes e

investidores. Concordam, ainda, que a firma opera em um mercado de capitais

eficiente onde o VPL dos títulos emitidos é zero visto que é compensado pelo VPL

dos investimentos pretendidos.

Isto é de fato um equilíbrio complexo que envolve muitas variáveis e demonstra a

interligação entre a estrutura de capital e decisões de escolha dos projetos de

investimento da firma. Ao contrário da irrelevância da estrutura de capital sobre o

valor dos ativos, conforme proposto por MM, o modelo mostra sua conexões.

Eles propõem nas conclusões de seu estudo que a firma deve evitar financiar seus

investimentos via emissão de capital. Ela deve, também, fixar uma meta de

dividendos compatível com possíveis investimentos de capital e com a geração

interna de recursos.

De qualquer forma, o poder discricionário dos gestores é reduzido pela alavancagem

financeira, na medida em que exerce pressão sobre o fluxo de caixa da empresa,

deixando pouca margem de manobra decisória. Neste quadro, o gestor dispõe-se a

investir menos, pois se veria com poucos recursos para novos projetos. Além disso,

uma estrutura de capital alavancada introduz outro stakeholder no sistema de

governança da firma, qual seja, a instituição financeira. O aumento de sua

participação na estrutura de capital dá-lhe poderes de monitorar as decisões dos

gestores, via controle de suas linhas de crédito adicionais.

Assim é que, como afirmam Myers e Majluf (1984), a estrutura de governança,

desenhada pela estrutura de capital da firma é, portanto, um dado da realidade que

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afeta a geração de valor para ela. Dito de outra forma, as decisões de finanças

afetam a estratégia da firma, e a formulação desta deve levar em conta as finanças

corporativas, representando, ambas, os dois lados de um mesmo processo

decisório.

Por outro lado, esses mesmos conflitos entre acionistas e credores suscitam a busca

de sua superação e uma das maneiras encontradas é a de financiar a firma somente

com capitais próprios. No entanto, essa forma radical de eliminar os conflitos

desaparece também com os benefícios decorrentes do endividamento como as

economias de impostos. Desta maneira, os gestores buscam formas de minimizar

esses conflitos lançando mão de artifícios como cláusulas restritivas nos contratos

de financiamento ou a busca de instituições privadas – companhias de seguro ou

fundos de pensão – como provedores de crédito, no lugar de emitirem títulos

públicos de dívidas. Essas instituições privadas de crédito podem monitorar mais de

perto os novos créditos da firma, protegendo os contratos com cláusulas restritivas,

reduzindo os conflitos de interesse entre credores e acionistas.

Vimos, portanto, que a escolha da estrutura de capital não é uma questão de

indiferença para o valor da firma, conforme proposto por Modigliani e Miller (1958),

até porque, nas questões relacionadas às decisões de financiamento desta, o gestor

se vê envolvido com toda uma gama de variáveis imbricadas entre si, exercendo

impactos fortes e contraditórios sobre o processo decisório. Naturalmente, quando a

isso somamos as dificuldades inerentes às decisões de pagamento de dividendos, a

própria natureza das finanças corporativas muda vivamente de contorno, e as

pretensões de se ater apenas à abordagem micro ou macronormativa, no sentido de

entender o processo de decisões das organizações, perdem sentido. Enfim, todo

esse processo acaba por tornar mais próximas as decisões de gestão financeira da

formulação de estratégias da firma.

Dessa forma, as proposições sobre a inter-relação entre estratégia e finanças vêm

hoje ganhando contornos cada vez mais nítidos e precisos com trabalhos e

pesquisas sobre o tema. Na síntese que empreenderam sobre o estado da arte na

área denominada teoria da estrutura de capital, Harris e Raviv (1991) apontaram um

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conjunto de cerca de 150 papers sobre o assunto, justificando os quatro

agrupamentos adotados com base em determinantes de estruturas de capital, os

quais seriam para eles:

1. conflitos de agência da firma;

2. assimetria de informações entre agentes internos e externos às organizações, no

contexto da seleção adversa de ativos;

3. características dos mercados de produtos e insumos das empresas;

4. disputa pelo controle corporativo.

Em outro trabalho de síntese do estado da arte sobre estrutura de financiamento de

empresas, Balakrishnan e Fox (1993, p. 14) adotam agrupamentos sobre os títulos

de "níveis de deduções tributárias financeiras", "níveis de deduções tributárias não

financeiras", "teoria de agência e endividamento", "fluxo de caixa livre,

endividamento e falência", "estrutura de capital por indústria". Além disso, os autores

adotam as perspectivas da transaction costs economics de Coase (1937) e da

resource based view da economia industrial, como base para pesquisas acerca dos

elos entre estratégia de negócios e estrutura de capital.

Encerrando, os trabalhos assinalados nesta seção revelam o grande potencial de

estudo que deriva desta busca de elos entre finanças e estratégia, o que significa

trabalhar em campos teóricos fundados sobre paradigmas diferentes e que se

expressa na frase de Harris e Raviv (1991, p. 300) de que modelos de estrutura de

financiamentos baseados nas interações dos mercados de produtos e de insumos

estão ainda em sua infância.

3.4 As pesquisas empíricas

Os primeiros estudos empíricos no campo da estratégia, dentre os quais se

sobressaem os de Andrews (1965), Ansoff (1977) e Chandler (1986), tinham um

caráter mais normativo, fruto de observações não sistematizadas da realidade. No

entanto, a partir da década de 70, os estudos tomaram um rumo mais pragmático,

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em que se buscavam por meio de observações empíricas as comprovações acerca

de conclusões retiradas de modelos teóricos. Por exemplo, estudos sobre as

cervejarias americanas propiciaram comprovar os elos entre estratégia e

performance da firma.

O estudo da arte estratégica recebeu em Child (1972) uma síntese das questões

empíricas envolvidas à época nas pesquisas, ao mesmo tempo em que fazia sua

proposição de abordagem ao ambiente da firma sistematizada segundo três grandes

dimensões de análise: variability, complexity e illiberality. A seu ver, essas

dimensões propostas poderiam suprir uma lacuna conceitual no estudo da disciplina,

que se tinha até então, e que ele expressava nos termos seguintes: Até o momento presente, alguns dos modelos mais influentes de organizações explicam pouco mais do que associações positivas entre dimensões de estrutura organizacional e fatores "contextuais", tais como ambiente, tecnologia e escala de operação (CHILD, 1972, p. 2).

Seguindo esta mesma linha, a integração das variáveis de estratégia e ambiente foi

proposta por Bourgeois (1981), a qual se daria por meio de uma estrutura que

articulava proposições da literatura de Business Policy e Organization Theory. Da

primeira é retirado o conceito de estratégia e sua subdivisão em duas partes:

estratégia corporativa, relativa à escolha dos domínios de atividades da corporação

como um todo, e estratégia do negócio, com foco na competição em mercados-

produtos de uma indústria específica. Da segunda, é retirado o conceito de ambiente

e sua subdivisão também em duas partes: ambiente geral e ambiente da tarefa. No

geral, identificam-se as oportunidades de negócios com o ambiente geral, ao passo

que a navegação estratégica da firma é associada à tarefa. Prosseguindo, o autor se

propõe a integrar as estratégias corporativas ao ambiente geral e as estratégias do

negócio ao ambiente da tarefa.

Essa abordagem permanece na literatura técnica da área e pode-se mapeá-la em

diferentes autores da disciplina. Em 1984, Dess e Beard apresentaram em seu

estudo "uma abordagem para mensurar o ambiente de tarefa das organizações..."

utilizando dados objetivos. Segundo os autores, o principal objetivo de sua análise

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era a mensuração das variações das transações entre organização e ambiente,

especificando o que se denominava ambiente da tarefa.

As dimensões elencadas do ambiente foram denominadas munificence, dynamism e

complexity. Por munificence definiram a capacidade de o ambiente sustentar o

crescimento das vendas de suas organizações; dynamism respondia pela

turbulência do ambiente de negócios, pela ausência de padrões, pela sua

imprevisibilidade e estabilidade-instabilidade; complexity era o termo para expressar

a heterogeneidade e abrangência das atividades das firmas.

Em termos práticos, os autores utilizaram um conjunto de 17 variáveis como proxies,

destacando-se as Vendas, Margem Bruta, Total de Empregados, Valor Adicionado e

Total de Estabelecimentos como as mais representativas, tendo essas variáveis sido

agrupadas segundo as dimensões de abordagem propostas.

Já no campo da pesquisa quantitativa sobre dados objetivos disponíveis,

Venkatraman e Ramanujam (1986) trazem uma abordagem para mensurar a

performance da firma no campo da estratégia. A classificação que apresentam dos

dados se dá de acordo com sua natureza, financeira e operacional, e suas fontes de

coleta, tanto primárias como secundárias. Em seguida, o fato de agrupar esses

dados em uma matriz de ordem dois, os leva a dez maneiras diferentes de

classificação das variáveis proxies utilizadas: se financeiros de fontes secundárias,

se operacionais de fontes primárias, e outras combinações possíveis.

De acordo com essa classificação proposta, os autores consideram os dados

financeiros de fontes secundárias como os mais restritos quanto a sua abrangência.

No entanto, paradoxalmente, observam os autores, esses dados são os mais

utilizados nas pesquisas no campo da estratégia, não apenas pela sua maior

disponibilidade, mas ainda por sua perfeita aplicabilidade quando de estudos de

indústrias pouco diversificadas.

Seguindo a linha do estudo de Venkatraman e Ramanujam (1986), Perin e Sampaio

(2001) realizaram uma pesquisa junto às empresas do Rio Grande do Sul testando a

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correlação entre os dados financeiros publicados pela Gazeta Mercantil, em 1997, e

os coletados por meio de questionários enviados aos executivos das firmas

amostradas. Eles buscavam avaliar a convergência entre os dados de fontes

secundárias publicados e os de fontes primárias do tipo self-report e, segundo os

autores, "as análises realizadas indicaram uma correlação positiva e significativa em

todos os casos, à exceção da medida objetiva de taxa de crescimento de vendas em

relação à performance geral" (PERIN e SAMPAIO, 2001, p. 11).

Do lado das finanças corporativas, os estudos empíricos sustentam-se obviamente

sobre dados quantitativos, o que já se observa desde as primeiras décadas do

século passado, quando de estudos estatísticos sobre o mercado de ações,

conforme Miller (1999). Ainda segundo este autor, os estudos no campo das

finanças corporativas tiveram incremento substancial após a década de 50 abrindo-

se para outras áreas de investigação.

O teorema de MM contribuiu substancialmente para esse estado de coisa, pois a

busca de provas acerca da relevância ou da irrelevância da estrutura de capital para

a criação de valor para a empresa ocupa ainda hoje diversos autores ao redor do

mundo. Em outros termos, busca-se fundamentalmente definir se haveria estruturas

ótimas de capital e, em especial, Titman e Wessels (1988) apresentaram uma

síntese na qual listaram determinantes para essa finalidade: 1. presença de

colaterais ou garantias com ativos reais, mensurados pelos índices de ativos

tangíveis e intangíveis mais inventários sobre ativo total; 2. participação de custos

dedutíveis e não desembolsáveis, como depreciação, amortização e créditos de

impostos sobre investimentos sobre o total de ativos; 3. taxa de crescimento da

indústria, investimentos sobre ativos totais, variações percentuais de ativos totais ou,

ainda, gastos com pesquisa e desenvolvimento; 4. uniqueness ou singularidade dos

produtos, mensurada pelas despesas com vendas sobre vendas; 5. tamanho,

medido pelo logaritmo natural das vendas; 6. lucratividade, ou retorno sobre vendas

e sobre os ativos.

Seguindo a tendência apresentada, vários estudos na década de 90 acumularam

uma série de evidências empíricas a respeito dos elos que unem estratégia e

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finanças corporativas. Assim é que em Balakrishnan e Fox (1993), a argumentação

de que a busca da vantagem competitiva sustentável tem levado as firmas a

investirem cada vez mais em ativos com características únicas, o que aumenta a

singularidade destas, diminuindo o risco de serem imitadas pela concorrência, foi

desenvolvida. Esses ativos ou recursos desenvolvidos pela firma são, por definição,

difíceis de ser replicados ou mesmo de ser realocados para outros usos. Em muitos

casos, eles são intangíveis, de difícil mensuração e avaliação pelos analistas, sendo

quase sempre afetados pela assimetria de informações internas e externas às

empresas em tela. Quando liquidadas, seus valores caem dramaticamente, o que os

torna quase sempre inadequados para serem oferecidos como garantias (colaterais)

em financiamentos bancários. Devido a esses fatores, nas diversificações

relacionadas (em setores com características similares ou complementares), a forma

de entrada preferida pelas firmas se dá por meio de aquisições, com a captação em

fontes públicas de recursos de capital. Oposto a isso, nas diversificações não

relacionadas (ou conglomerais), a entrada se dá pelo desenvolvimento interno, com

a captação de recursos via endividamento em fontes privadas.

Dessa maneira, afirmam os autores, as decisões estratégicas de investimentos

nesses ativos acabam por constituir um importante vetor de determinação das

estruturas de capital de suas firmas, apresentando fortes evidências de interligação

entre estratégia e finanças.

Além disso, os autores utilizam em seu estudo os seguintes indicadores como

proxies das variáveis envolvidas: 1. estrutura de capital: índice de débitos de curto e

longo prazo sobre os valores contábeis e de mercado do patrimônio líquido; 2. risco

(volatilidade): desvio padrão das variações do fluxo de caixa (Lucro Antes dos Juros,

do Imposto de Renda, da Depreciação e Amortização - LAJIRDA) e lucro

operacional sobre vendas; 3. índice de proteção aos impostos: somatório da

depreciação, amortização e créditos de impostos sobre investimentos sobre o

LAJIRDA; 4. oportunidades de crescimento: investimentos em ativos fixos sobre o

LAJIRDA.

Kotha e Nair (1995) analisaram o papel desempenhado pelo ambiente de negócios e

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as estratégias desenvolvidas pela firma sobre a performance, em uma amostra de

25 empresas japonesas do setor de máquinas-ferramentas, encontrando evidências

entre rentabilidade e crescimento destas, concomitantemente a estratégias e

ambiente de negócios. Ainda mais, a mudança tecnológica, tomada como variável

ambiental específica, permitiu explicar e predizer o crescimento dessas empresas.

... determinamos que ao mesmo tempo em que as variáveis de estratégia e ambiente são significativamente relacionadas ao nível de rentabilidade da empresa (por exemplo, o ROA), apenas variáveis de ambiente como a munificência e mudança tecnológica, prevêem o crescimento. Em outras palavras, variáveis de ambiente são melhores preditores do crescimento das empresas do que as estratégias desenvolvidas pelas empresas no interior de suas indústrias (KOTHA e NAIR, 1995, p. 497).

Neste estudo, lucratividade e crescimento são medidos, respectivamente, pelo índice

de lucro operacional sobre vendas e pela variação percentual das vendas, os quais,

em conjunto, servem como indicadores da performance da firma.

Complementarmente a isto, a variável proxy do grau de munificência do ambiente

utiliza tanto o índice de crescimento da indústria, conforme sugerido por Dess e

Beard (1984), como a variação no Produto Interno Bruto - PIB. No que tange a

proxies para a estratégia da firma, tem-se: 1. eficiência: custo dos produtos vendidos

sobre vendas; 2. intensidade de capital (asset parsimony): investimento líquido em

ativos fixos; 3. diferenciação: gastos com publicidade sobre vendas; dimensões de

escopo e escala: exportações sobre vendas e vendas da firma sobre vendas da

indústria.

Grinblatt e Titman (1998) mostram a importância de se considerar as expectativas

dos diferentes stakeholders da organização quanto ao seu desempenho, assim

como os reflexos desse envolvimento sobre a estratégia corporativa e suas escolhas

de estrutura de financiamento. A interação entre como a empresa é financiada e como ela é vista pelos seus stakeholders sugere que a estrutura de capital deve ser incorporada na estratégia global da empresa. Por exemplo, uma empresa que deseje projetar sua reputação de estabilidade e que produza produtos de qualidade não deseja revelar-se muito alavancada. De modo similar, a maneira como a empresa interage com seus fornecedores e empregados e como ela compete no interior da indústria determina sua estrutura de capital (GRINBLATT E TITMAN, 1998, p. 579).

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A relação entre turbulência do ambiente de negócios e alavancagem da firma é outro

aspecto que remete à questão da inter-relação entre estratégia e finanças. Simerly e

Li (2000), utilizando uma ampla amostra de empresas americanas (700 grandes

corporações de vários setores listadas no Stern Steward Market Performance 1000),

buscaram demonstrar a influência da turbulência do ambiente de negócios sobre a

estrutura de capital, logrando demonstrar que o ajuste entre ambos, turbulência e

estrutura de capital, se associa à performance da firma. No específico dos resultados

levantados, os autores encontraram correlação positiva entre alavancagem e

performance das firmas que operam em ambientes com baixo grau de turbulência.

Entretanto, os resultados foram outros em ambientes com médio ou alto grau de

turbulência nos quais alavancagem e performance apresentaram relação inversa. À

par disso, os autores afirmaram que "... nossa pesquisa sugere que turbulência do

ambiente modera a relação entre alavancagem e performance" (SIMERLY e LI,

2000, p. 45). Em outros termos, ambientes com alto grau de turbulência fazem com

que empresas reduzam graus de alavancagem com vista a performances

superiores. Contrariamente, ambientes menos turbulentos apresentam alto grau de

alavancagem.

Os mesmos autores citam Modigliani e Miller (1958) para argumentar que, devido à

articulação entre estrutura de capital da firma e capacidade de atendimento às

demandas de seus diversos stakeholders, sua escolha e definição apresentam-se

como uma importante questão do ponto de vista das finanças. Além disso, como a

montagem de estruturas de financiamento se conecta com fatores externos à firma,

isto pode influenciar inclusive sua própria estrutura de governança, de acordo com

Balakrishnan e Fox (1993); De Long e Summers (1991); Kester e Luehrman (1992);

Kochhar e Hitt (1998); Porter (1999); Scherer e Ross (1990). Nessa mesma linha de

argumento, Jensen (1986) já afirmava que a criação de uma estrutura de capital

pode influenciar sua estrutura de governança, e que esta, por sua vez, pode

influenciar a habilidade da firma em fazer escolhas estratégicas.

Reforçando seu argumento da conexão entre estratégia e finanças corporativas,

Simerly e Li (2000) levantam elos importantes entre essas variáveis na literatura, tais

como:

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• a natureza das estratégias de diversificação está relacionada com a estrutura de

capital (KOCHHAR e HITT, 1998);

• a intensidade da pesquisa e o desenvolvimento da firma guardam relação inversa

com sua estrutura de capital (BALAKRISHNAM e FOX, 1993);

• estratégias de desenvolvimento de produtos únicos relacionam-se de forma

inversa com a estrutura de capital (TITMAN e WESSELS, 1988).

Continuando sua linha de argumentação, os autores citam Hill, Hitt e Hoskisson

(1988) e Porter (1998) para mostrar que a busca de recuperação da competitividade

global das empresas americanas tem levado ao desenvolvimento de teorias de

gestão contraditórias entre si, confundindo a ação gerencial adequada a cada caso.

Por exemplo, Lubatkin e Chatterjee (1994) fazem a assertiva de que a dedutibilidade

dos juros para efeito de cálculo do imposto de renda significa o repasse de parte do

custo de capital dos acionistas para o governo. Entretanto, a conseqüente

introdução do credor na estrutura de governança, com sua marcante orientação para

o curto prazo, reduz a liberdade de escolha da firma em favor de estratégias

inovativas frente a riscos e oportunidades do mercado. No que interessa vivamente

aos propósitos deste estudo, essa contradição, introduzida por uma estratégia

puramente financeira na gestão da firma, tem seus aspectos positivos de estimular o

entendimento da articulação entre finanças e estratégia.

Outros estudos que articulam estrutura de capital e estratégia têm se detido sobre

aspectos de risco não-sistemático (do negócio) e do risco sistemático (do mercado),

relacionando-os ao uso da alavancagem e a escolhas estratégicas da firma. Dentre

esses estudos, Allen (1993) e Balakrishnan e Fox (1993) mostram que estruturas de

financiamento escolhidas pelas firmas atuantes em mercados diferentes também

diferem entre si, ou seja, o financiamento das firmas operando em mercados

tradicionais é diferente do financiamento daquelas atuando em mercados dinâmicos.

Vicente-Lorente (2001) faz outra observação importante acerca de recursos com alta

especificidade ou especialização, que, por esse motivo, não são comercializáveis

livremente no mercado. Assim é que duas conseqüências se defrontam a partir

deste fato: por serem difíceis de copiar, eles garantem um maior grau de

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sustentabilidade a vantagens competitivas criadas, enquanto, por outro lado, sua

opacidade para o mercado, acrescida à sua comercialização mais difícil, aumenta

níveis de percepção de riscos pelos credores. A conseqüência disto é a limitação à

capacidade de alavancagem da firma, impedindo a redução de níveis de custo de

capital.

Enfim, são diversos os aspectos que conectam finanças a estratégia e, de fato, seria

presunção desta pesquisa querer esgotar explicações acerca de todas elas. De

qualquer forma, é certo que a turbulência do ambiente estabelece um processo

mediador da performance da firma, o qual só será entendido em cada caso

específico com a interligação entre esses dois campos de conhecimentos e em que

pesem suas diferenças paradigmáticas.

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4 METODOLOGIA

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4.1 Aspectos gerais

O objetivo global desta pesquisa é levantar como as variáveis do ambiente de

negócios do País se articulam com a estratégia e a alavancagem financeira das

empresas e quais são os impactos decorrentes dessas interações sobre a

performance da firma.

Em especial, o foco principal de trabalho foi especificar um modelo que descrevesse

as relações entre as diferentes dimensões assinaladas acima, com o objetivo de

melhor compreendê-las. A partir desse melhor entendimento, buscar-se-á descrever

com maior clareza o comportamento típico de empresas nacionais, assim como

avaliar graus de importância relativa de cada uma delas no seu processo de gestão.

Além de descrever e avaliar o relacionamento entre as diferentes dimensões da

ambiência de negócios, estratégia e finanças corporativas em cada setor amostrado,

a própria comparação entre os modelos elaborados para cada um deles deverá

fornecer pistas para uma avaliação ao menos preliminar das diferenças e

similaridades que se notam entre empresas locadas em diferentes espaços da

economia brasileira.

Em uma primeira abordagem ao problema, optar-se-á pela especificação de um

modelo teórico expresso em linguagem matemática, em que as variáveis de cada

uma das dimensões envolvidas estejam contempladas. Naturalmente, deve-se

atentar para a necessidade de compatibilização e de coerência desses modelos com

os grandes marcos teóricos e conceituais da área de estratégia.

De qualquer forma, o empenho em atingir os objetivos por meio de modelos formais,

com o uso de linguagem matemática, representa uma tentativa de fuga da prática de

se explicar fenômenos sociais, como a empresa em si, via uso exclusivo de

linguagem qualitativa, própria das ciências sociais. Far-se-á isso com a

especificação de modelos econométricos, calcados na análise de regressão múltipla

e em testes de causalidade de Granger, nos quais as relações entre as variáveis se

expressam por meio de coeficientes que sejam estatisticamente significativos,

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retirados de modelos que atendam às especificidades de cada setor.

Dessa maneira, o presente estudo pode ser classificado como de pesquisa

exploratória e descritiva, utilizando modelos estatísticos como ferramentas analíticas.

A ilustração da sua concepção geral é apresentada no diagrama abaixo:

QUADRO 1 Diagrama de métodos e tipos de pesquisa

TIPOS DE PESQUISA MÉTODOS DE PESQUISA EXPLORATÓRIA DESCRITIVA

Modelo de regressão múltipla

Desenhar o modelo de cada setor amostrado, descrever as relações entre suas variáveis e comparar a importância relativa de cada dimensão analisada

Teste de causalidade de Granger

Levantar as relações de causa e efeito entre as variáveis analisadas

FONTE - Elaborado pelo autor da dissertação.

4.2 Métodos e objetivos

Desde o início do desenvolvimento deste, intencionou-se conferir-lhe um sentido

prático para que as conclusões eventualmente alcançadas possam servir de base

tanto para acrescer conhecimentos a serem transferidos para a sala de aula, como

para ampliar bases técnicas na consultoria empresarial. Assim, quanto à finalidade

pode-se classificá-lo como de natureza aplicada, em linha com o apontado por Gil

(1991, p. 43) que conceitua pesquisa aplicada como aquela que "tem como

característica fundamental o interesse na aplicação, utilização e conseqüências

práticas dos conhecimentos". Dessa forma, pensou-se este estudo como algo a ser

utilizado no ensino e na orientação de desenhos de modelos de gestão das

empresas.

Em termos restritos, seu objetivo específico pode ser classificado segundo dois

grandes agrupamentos propostos por Gil (1991), a saber: pesquisa exploratória e

pesquisa descritiva. Quanto a estes níveis de pesquisas, adotou-se a proposição de

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pesquisa exploratória, pois, conforme declara o autor:

as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato (GIL, 1991, p. 43).

O nível de profundidade deste estudo, portanto, situa-se, primeiramente, dentro do

proposto pelo autor como pesquisa exploratória. No entanto, por incorporar

elementos estatísticos de análise das relações entre as variáveis estudadas, por

meio da formulação matemática de modelos, associou-se outro tipo de pesquisa ao

nível exploratório, também proposto por Gil (1991), a pesquisa descritiva, cuja

finalidade assim descreve: "também são pesquisas descritivas aquelas que visam

descobrir a existência de associações entre as variáveis" (GIL, 1991, p. 44).

Além disso, essa busca de relações entre as variáveis estudadas objetiva a melhor

compreensão dos elos de ligação entre estratégia e finanças, correspondendo

claramente ao que Gil (1991) afirma complementarmente nos seguintes termos: "...

embora definidas como descritivas a partir de seus objetivos, acabam servindo mais

para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas

exploratórias" (GIL, 1991, p. 44).

Naturalmente, a conjunção dessas postulações coloca o objetivo da pesquisa

adotado neste estudo como de natureza exploratória-descritiva.

Da mesma maneira, Mattar (1997) acrescenta que as pesquisas exploratórias

ajudam o pesquisador a aumentar seu grau de conhecimento sobre o problema

proposto. Esse fato dá-se durante o processo de coleta e agrupamento de todas as

diferentes visões e perspectivas já desenvolvidas sobre o assunto em foco. Dessa

maneira, o nível de profundidade implícito nas dimensões exploratória e descritiva

atende ao proposto neste estudo.

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Quanto aos métodos aqui adotados, seguiu-se a proposição de Gil (1991), que os

considera como os meios técnicos da investigação. Assim, no desenvolvimento

deste estudo optou-se por adotar a conceituação de método proposta por esse

autor, a qual é expressa pelos termos abaixo:

A postura aqui adotada deve-se à conceituação de método, enquanto conjunto de procedimentos suficientemente gerais, para possibilitar o desenvolvimento de uma investigação científica ou de significativa parte dela (GIL, 1991, p. 33).

Dentre os diferentes métodos propostos pelo autor, preferiu-se por utilizar os

métodos denominados comparativo e estatístico, pois, como ensina o mesmo autor, O método comparativo procede pela investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. Algumas vezes, o método comparativo é visto como mais superficial em relação a outros. No entanto, há situações em que seus procedimentos são desenvolvidos mediante rigoroso controle e seus resultados proporcionam elevado grau de generalização (GIL, 1991, p. 34).

Dessa maneira, e seguindo esta última ponderação de Gil (1991), buscou-se neste

estudo associar o método estatístico ao método comparativo, a fim de obter maior

precisão nas análises. Esta opção foi derivada da seguinte proposição desse autor: Mediante a utilização de testes estatísticos, torna-se possível determinar, em termos numéricos, a probabilidade de acerto de determinada conclusão, bem como a margem de erro de um valor obtido. Portanto, o método estatístico passa a caracterizar-se por razoável grau de precisão, o que torna bastante aceito por parte dos pesquisadores com preocupações de ordem quantitativa (GIL, 1991, p. 35).

4.3 Processo de modelagem

Tendo em vista o objetivo global desta pesquisa, qual seja, descrever a integração

do ambiente-estratégia-finanças corporativas no ambiente de negócios do País, foi

especificado um modelo teórico que abrangesse as dimensões envolvidas. Para

tanto, sua modelagem teve como guia de elaboração as diferentes etapas de

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evolução do assunto no campo de estudo da estratégia.

De fato, desde os primeiros estudos que demarcaram as bases conceituais deste

campo de conhecimento, os modelos qualitativos para descrição, tanto do processo

de formulação estratégica como da integração da estratégia a outras macrofunções

da empresa, foram suas ferramentas básicas e, talvez, as preferidas por seus

diferentes autores. Tanto em Chandler (1986) como em Ansoff (1977) foram

encontrados os primeiros esboços de modelos qualitativos, sendo que esse último

ilustra o conceito de estratégia, ao passo que o primeiro mostra sua interligação com

a estrutura organizacional. Por sua vez, tem-se em Andrews (1965) o até hoje

famoso e muito utilizado modelo SWOT, pelo qual o autor modela o processo de

formulação da estratégia com sua clássica proposição de análise das ameaças e

oportunidades do ambiente e das forças e fraquezas da organização. Em

decorrência, a formulação da estratégia é um processo de elaboração e escolha de

um conjunto de ações com vistas a superar as fraquezas e a potencializar as forças

da organização, aliadas à exploração das oportunidades e neutralização das

ameaças do ambiente.

Esses modelos, portanto, já sinalizavam a pertinência da proposição deste estudo,

que, em seu primeiro esboço, tomou a forma ilustrada na FIG. 1.

FIGURA 1 - Primeiro esboço do trabalho FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação. Na etapa seguinte, quando da definição das dimensões específicas do ambiente,

foram tomadas as propostas conceituais de ambiente de tarefa de Bourgeois (1981),

em tudo idênticas às de indústria utilizadas no modelo das cinco forças de Porter

AMBIENTE

ESTRATÉGIA FINANÇAS

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(1986). No desenho específico das dimensões do ambiente de tarefa a serem

abordadas, buscou-se a linha apontada por Child (1972), aprofundada no estudo de

Dess e Beard (1984), de dynamism e munificence, quando, então, o modelo

qualitativo tomou a forma que se vê na FIG. 2.

FIGURA 2 - Esboço do modelo qualitativo FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação. Nesse ponto, tornou-se claro que as dimensões contempladas no modelo diziam

respeito às variáveis causadoras da performance da firma. Não por outro motivo,

tomou-se a performance como a variável de controle do modelo.

De fato, muito embora a performance seja um construto complexo no que diz

respeito a sua mensuração, existe um amplo consenso quanto a sua importância.

Quer seja abordado sob a ótica da eficiência, quer da eficácia, são inúmeros os

estudos, tanto em estratégia quanto em finanças, que validaram seus diferentes

conceitos.

Neste estudo, a performance foi considerada como elemento-chave dos modelos

que buscavam descrever as interações entre as dimensões de ambiente-estratégia-

finanças. Em outros termos, essas últimas dimensões passaram a se constituir em

variáveis explicativas da variável performance de cada setor, conforme é mostrado

na FIG. 3.

TURBULÊNCIA CRESCIMENTO

ESTRATÉGIA FINANÇAS

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FIGURA 3 - Variáveis explicativas da variável performance FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação Este esquema encontra expressão matemática nos termos seguintes:

( )ALAVESTRCRTURBfPERF ,,,=

em que: PERF = performance

TURB = turbulência

CR = crescimento

ESTR = estratégia

ALAV = alavancagem financeira

4.4 Variáveis da pesquisa

Um problema crítico neste estudo é o da definição de variáveis que venham a

atender ao objetivo de levantar os elos entre estratégia e finanças, pois não se lida

aqui com variáveis que possam ser diretamente empregadas, constituindo-se, antes,

em construtos da realidade. Em outros termos, teve-se que empregar proxies, as

PERFORMANCE

TURBULÊNCIA

CRESCIMENTO

FINANÇAS ESTRATÉGIA

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que são representação do que se pretende analisar. Assim é que, por exemplo, a

variável turbulência é definida abaixo como dispersão em relação a valores

esperados de margens brutas de vendas ou de faturamento, conforme definidos por

um modelo particular. Isso posto, deve-se relembrar que as variáveis explicativas

dos modelos são a turbulência, o crescimento, a estratégia e a alavancagem

financeira, ao passo que a variável explicada ou dependente é a performance.

Todas elas são detalhadas a seguir e estão presentes tanto na parte descritiva da

pesquisa, com o uso de regressões múltiplas, como na exploratória, em que se

empregam testes de causalidade de Granger.

Variável turbulência (TURB)

Esta variável foi gerada a partir das séries de vendas e de margens brutas

operacionais, as quais foram regredidas contra o tempo para obtenção dos resíduos

de cada modelo, os quais, então, passaram a se constituir nos valores da variável.

Desta forma, do modelo:

ttt tmpcV εβ +⋅+= � ( )tmpcV ttt ⋅+−= βε

sendo tV os valores das vendas ou das margens operacionais, tmp o tempo dado

em trimestres e tε o resíduo ou erro aleatório, cuja série de valores assim gerados passa a se constituir em proxy de turbulência.

Um detalhe bastante específico nessas duas séries diz respeito à característica de

estacionaridade destas, a qual, se não prevalecer, implica a impossibilidade de

aplicação de procedimentos estatísticos centrados nos parâmetros de média e de

desvio padrão. Em termos mais diretos, a ocorrência desse tipo de problema nos

leva a excluir essas variáveis da análise, ao menos na sua forma corrente (ou no

nível, como se diz tecnicamente). Complementarmente, sua identificação se dá por

meio de teste de raiz unitária de Dickey-Fuller e as referências a esse método

podem ser encontradas em manuais como o de Gujarati (2000).

Entretanto, caso o problema seja identificado e, ainda assim, se pretenda empregar

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essas séries, uma saída possível é dada pelo filtro de Hodrick-Prescott, com o qual

se obtém uma estimativa suavizada da tendência de longo prazo de uma série. Após

isso, a simples diferença entre as séries no nível e suavizada capta os movimentos

cíclicos da mesma e, portanto, ajustam-se ao conceito de turbulência que se

encontra em Dess e Beard (1984).

Variável crescimento (CR)

Da mesma forma que na variável de turbulência, a composição dessa variável se faz

sobre as séries de vendas e de margens operacionais brutas. Outro ponto de

contato no tratamento das variáveis de turbulência e de crescimento é que

novamente Dess e Beard (1984) foram consultados para montagem da proxy de

crescimento, a qual se dá com os dois passos apresentados a seguir:

1. logaritmização da série original (no nível);

2. obtenção da primeira diferença da série logaritmizada, gerando a série de

crescimento.

Variável estratégia (ESTR)

A proxy escolhida para a variável de estratégia foi o Custo dos Produtos Vendidos –

CPV - menos a parcela relativa à Depreciação – DEPREC - dividido pelas Vendas –

V -, a qual foi também empregada por Kotha e Nair (1995) e por Porter (1986),

sendo que esse último a empregou como proxy de estratégia de custos no seu

modelo das cinco forças. Formalmente:

VDEPRECCPVESTR −=

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Variável alavancagem financeira (ALAV)

O procedimento empregado para composição dessa variável foi o recomendado por

Balakrishnan e Fox (1993), de simplesmente dividir o endividamento oneroso de

curto prazo ou as Dívidas de Curto Prazo − DCP − mais o endividamento de longo

prazo ou as Dívidas de Longo Prazo – DLP −, pelo não exigível ou Patrimônio

Líquido − PL. Em termos formais:

PLDLPDCPALAV +=

Variável performance

Cabe lembrar que esta variável é dependente ou explicada, além do que sua

presença neste trabalho é referendada por Titman e Wessels (1988). Sua

especificação é apontada abaixo, nos seguintes termos:

V

LAJIRDAPERF =

onde LAJIRDA responde pelo lucro antes dos juros, impostos, depreciação e

amortização.

4.5 Métodos estatísticos

Deve-se relembrar que a busca de suporte estatístico nesta pesquisa tem

motivações de natureza descritiva e exploratória, sendo a primeira atendida por meio

da técnica de regressão linear múltipla e a segunda com os testes de causalidade de

Granger. Assim é que os dois subitens a seguir se preocupam em relatar

sucintamente as características inerentes aos dois métodos empregados, ao mesmo

tempo que revelam como se dá sua aplicação às variáveis intervenientes com vistas

a atender ao objetivo geral de análise dos elos de ligação entre estratégia e finanças

no ambiente brasileiro de negócios.

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4.5.1 Motivações descritivas – regressões lineares múltiplas

O objeto da análise de regressão múltipla é o de avaliar as relações de dependência

de uma variável, chamada dependente, com outras variáveis, chamadas

independentes ou explicativas. Como resultado desse processo, pode-se tanto

prever comportamentos futuros daquela variável dependente como aferir forças

relativas exercidas por cada variável independente sobre ela.

Aliás, a segunda possibilidade citada acima, de aferição de forças relativas de

variáveis, serve perfeitamente aos propósitos deste estudo de avaliação de

performances de empresas a partir das influências exercidas pela turbulência,

estratégia e alavancagem financeira no interior da economia brasileira. Assim é que,

tendo em conta o modelo geral definido na seção anterior de que

( )ALAVESTRCRTURBfPERF ,,,=

a formulação explícita dessa relação conjunta, no contexto do método de regressão

múltipla, é dada por:

tii

ic XY εββ +⋅+= �=

4

10

em que ( )4,3,2,1=iiβ representa o conjunto de coeficientes de regressão parcial

relativamente às variáveis de turbulência, crescimento, estratégia e alavancagem.

Por sua vez, tε é representação do erro aleatório do modelo em cada período ""t de

tempo, com a sua premissa clássica de ( ),,0 2σN ou seja, média zero e variância

constante e igual a .2σ

Já foi feita a assertiva de se tratar os métodos estatísticos de forma sucinta, até

porque sua explicitação técnica já se encontra suficientemente bem atendida em

manuais como o da Gujarati (2000). Ainda mais, para atendimento desse objetivo de

apresentação resumida é que lançou-se mão a seguir da linguagem matricial,

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começando pela representação do modelo geral por:

[ ]εβ +⋅= XY

em que Y é a variável dependente, β é um vetor de parâmetros desconhecidos

(os coeficientes das variáveis independentes ou explícitas, ),iX X é a matriz de

dados das variáveis (dependentes e independentes) e ε é o termo do erro.

Por sua vez, os coeficientes de regressão parcial, ou seja, os coeficientes das

variáveis independentes, são estimados por:

( ) YXXX ⋅′⋅′= −1β̂

lembrando que X e Y são, respectivamente, matrizes de dados das variáveis

independentes e dependentes. Já no que concerne à significância estatística de

cada regressor em particular, esta é aferida por testes de hipóteses calcados em

testes-t, obtidos de:

( )iiit

βσββ

ˆ

ˆ −=

com ( )kn − graus de liberdade, sendo n o número de observações emparelhadas

obtidas para o estudo e k o número de variáveis presentes em cada modelo.

Quanto a ( ),ˆiβσ desvio-padrão para a estimativa do coeficiente ,ˆ

iβ este é obtido de:

( ) ���

����

−⋅=

�22

22

1

1ˆii

i Rxσβσ

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sendo 2σ a variância geral de cada modelo; ix , os valores amostrais de cada

variável ""i inserida e; ,2iR o quadrado da soma das correlações parciais entre

apenas as variáveis independentes. Por sua vez, 2σ é dado por:

knt

−= �

22 ε

σ � �−

=

⋅−−=1

10

k

iiict XY ββε

e, por fim, os valores dos testes-t se associam a p-values, os quais dizem

diretamente quais as margens de erro admitidas para se concluir acerca da

significância estatística dos coeficientes parciais das variáveis explicativas.

E, para atender à hipótese de normalidade implícita na utilização da regressão linear

múltipla e se garantir a utilização dos testes-t, aplicou-se o teste de normalidade de

Jarque-Bera, conforme Gujarati (2000).

Além dos testes de significância relativos a cada coeficiente específico, tem-se ainda

o teste-F que propicia a aferição da significância global dos modelos. Por meio

deste, tem-se o seguinte teste de hipóteses:

Hipótese 0 � 043210 ===== ββββH

Hipótese 1 � =1H ao menos um 0≠iβ

Este teste tem seus valores críticos estabelecidos em função de n e de k , ou seja:

críticoF � ( )knkF −− ,1α

sendo possíveis:

a) Se ( )knkFF −−> ,1α � rejeita-se .0H No caso, poder-se-ia afirmar haver

relacionamento da variável dependente com pelo menos uma das variáveis

independentes, nos termos propostos pelo modelo.

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b) Se ( )knkFF −−< ,1α � aceita-se .0H Isto ocorrendo, poder-se-ia concluir

que nenhuma das variáveis independentes inseridas teria poder de

explicação estatisticamente significativa sobre o comportamento da variável

dependente.

4.5.2 Motivações exploratórias – teste de causalidade de Granger

Esta etapa de aplicação de métodos estatísticos visa esclarecer o relacionamento

entre a variável dependente, a performance, e as seis variáveis selecionadas como

explicativas, fazendo-o em termos de causa e efeito. Assim é que, por exemplo,

pôde-se aferir a turbulência causa performance ou se é a performance que causa

turbulência. Dentro dos propósitos desta pesquisa, a obtenção dessas respostas é

crítica, na medida em que busca-se embasar conhecimentos acerca de elos de

ligação entre estratégia e finanças.

Entretanto, a plena consecução do citado teste exige o atendimento de etapas

preliminares, a saber: 1. aferição da estacionaridade das séries; 2. aferição de

estabilidade do relacionamento a longo prazo entre variáveis, ainda que uma ou

todas sejam não estacionárias.

A pesquisa ocupou-se desses testes antes de operar com os testes de causalidade

de Granger, os quais, eles sim, respondem à questão de haver ou não relação de

causa e de efeito entre performance e as seis variáveis alinhadas como explicativas

neste estudo.

1. Estacionariedade das séries

Com vistas à aferição da estacionaridade das séries, é empregado o teste de raízes

unitárias, feito por meio do teste de Dickey-Fuller. Basicamente, isso se faz sobre o

modelo:

ttt XX ε+= −1

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pelo qual o comportamento da variável X em t é avaliada a partir de seu valor em

"t-1". Ademais, o erro aleatório, ,tε obedece às premissas clássicas de média zero e

variância constante e igual a .2σ Ainda mais, se incluirmos o coeficiente ρ na

equação, fazendo

ttt XX ερ +⋅= −1

segue-se daí que se ,1+=ρ depara-se com uma série não estacionária, sem retorno

a uma média histórica. Em termos mais estritos, ter-se-ia a presença de raiz unitária,

impondo um "caminho aleatório", não estacionário, à série.

2. Estabilidade do relacionamento a longo prazo entre variáveis

Uma conseqüência da intenção desta pesquisa de explorar ao máximo a ocorrência

de elos de ligação entre estratégia e finanças é a de que não se pode desprezar

quaisquer das séries levantadas com o argumento de não estacionariedade que elas

eventualmente venham a revelar, sob pena de limitar as análises e restringir as

conclusões acerca dos objetivos do estudo. Nesse sentido, é bastante apropriada a

aplicação do teste de Durbin-Watson para regressões co-integrantes, que se dá

sobre seu conhecido valor "."d Para tanto, as hipóteses nula e alternativa são de

que:

0:0 =dH � as séries não são co-integradas;

0:1 >dH � as séries são co-integradas.

Mais especificamente, o fato de séries serem co-integradas implica dizer que ainda

que estas sigam trilhas aleatórias, ainda assim observa-se uma relação estável a

longo prazo entre elas. Em outros termos, as séries se relacionam no tempo!

Por fim, tem-se o teste de Granger que possibilita tanto confirmar a existência de

relacionamento entre pares de variáveis, como revelar o sentido dessas relações, ou

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seja, qual precede e qual é precedida. Sua formalização é dada a seguir, devendo-

se desde logo observar que o número de períodos defasados, n e ,m (ou lags) é

crítico neste teste. Aliás, a nota de cautela de Gujarati (2000) é de que sejam

simulados testes com vários lags, de forma a se ter certeza maior acerca da direção

de relacionamentos, como no exemplo deste estudo, entre performance e

crescimento. Enfim, o modelo de teste é apresentado abaixo, ainda que se corra o

risco de ser redundante com o exposto na obra assinalada de Gujarati (2000).

tjt

n

jjit

n

iit uXYY 1

11

+⋅+⋅= −=

−=

�� βα

e

tjt

m

jjit

m

iit uXXX 2

11

+⋅+⋅= −=

−=

�� δλ

em que pode-se distinguir quatro casos possíveis:

a) causalidade unidirecional de Y para X , caso 0≠� iα (na equação para tY ) e

0=� jδ (na equação para tX );

b) causalidade unidirecional de X para Y , caso 0=� iα e 0=� jδ ;

c) causalidade bilateral caso � iα e � jδ sejam estatisticamente diferentes de

zero;

d) independência entre variáveis, caso � iα e � jδ sejam estatisticamente iguais a

zero.

Por fim, a averiguação sobre iα e jδ se dá por meio de testes-F, os quais são

comparados a valores críticos já presentes em pacotes estatísticos como o Eviews

4.0, empregado neste trabalho.

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72

4.6 Unidade de análise

A unidade de análise aqui adotada foi a indústria, ou setores econômicos, segundo

abordagem de Dess and Beard (1984, p. 56), que são definidos como "…aquele

conjunto de organizações com as quais os membros de determinada indústria

(incluindo a organização focada) tinham transações na entrada e saída de

recursos...". Dessa maneira, todos os atores que transacionam com a empresa, a

saber, fornecedores, clientes e competidores dentre outros, são incluídos nas

dimensões da unidade de análise e, conseqüentemente, busca-se captar as

influências que eles exercem na performance das empresas.

Além disso, no mesmo estudo de Dess e Beard (1984), as categorias de análise

consideradas, como crescimento e dinamismo, foram posteriormente adotadas em

vários outros estudos, sendo exemplos os trabalhos de Goll e Rasheed (1997),

Simerly e Li (2000), Titman e Wessels (1988). Naturalmente, isto consolida sua

aplicabilidade e a forma de agregação dos dados disponíveis a este tipo de

pesquisa. De fato, no estudo de Venkatraman e Ramanujam (1986), os dados

financeiros de fontes secundárias são considerados adequados a análises no campo

da estratégia, desde que a maioria das firmas atuem em negócios pouco

diversificados.

4.7 Amostra

A amostra para este estudo foi constituída por 81 empresas mostradas no QUADRO

2, e que no seu conjunto reflete uma alta diversificação que garante e permite que

se façam ilações a respeito de toda a economia do país. Elas foram organizadas por

setor econômico de acordo com a relação das 500 maiores empresas do Brasil,

publicada pela revista Exame – "Maiores e Melhores no mês de agosto de 2002", e

com o banco de dados da LAFIS Consultoria.

Os dados financeiros de balanço foram pesquisados no banco de dados da LAFIS.

Eles são anuais, acumulados por trimestre e corrigidos a valor presente pelo IGP-DI

da Fundação Getúlio Vargas.

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Para efeito de comparação da participação relativa de cada setor amostrado no seu

faturamento total, publicado na lista das 500 maiores empresas da revista Exame, o

faturamento anual acumulado de cada um deles foi convertido em dólar equivalente

à taxa média de câmbio anual. Os dados estão relacionados no QUADRO 3, no qual

pode-se atestar a representatividade das empresas amostradas em seus respectivos

setores. Quanto ao setor comércio, o percentual de 19,54% não deve ser entendido

como baixo, considerando a ampla diversificação de formas de negócios que ele

contém.

QUADRO 2 Empresas por setores amostrados

TÊXTIL TELECOMU-

NICAÇÕES QUIÍMICA PETRO- QUÍMICA

PAPEL CELULOSE

SIDERUR- GIA COMÉRCIO

Coteminas Telemar Eluma Votorantin Celulose Papel

CSN Bompreço

Alpargatas Embratel Copene Aracruz Celulose

Gerdau Para Napanema

Dimed

Santista Brasil Telecom Copesil Suzano Usiminas Drogasil Teka Telesp Cel. Petroq. União Ripasa Cosipa Globex Kuala Telemig Cel. Ciquini Petroq. Klabin CST Grazziotin Santanense Telebrasil Cel. Petrobras Celulose Irani Belgo Mineira Guararapes Tec.S.José Telebahia Cel. Elekeiroz Klabin ªS. Acesita Lj. Americanas Cia Hering Telesp Fixo Celpe Aços Villares Lojas Renner F.Cataguases Telemig Part. Gerdau Metal Makro

Atacadista Braspérola Telemig não

consolidado Gerdau Nível I Pão de Açucar

Buettner Telemar não concolidado

Eluma Saraiva Livrarias

Cambuci Telebras Ferbasa Dohler Telesudeste Ferroligas Renner Tele Norte Cel. Karsten Tele Nordeste

Cel.

Marisol Tele Leste Cel. Petenatti Tele Centro

Oeste

Scholser Tele Cel.Sul Staroup CRT Cel. T.Renault CRT não

consolidado

Wemblei Vicunha FONTE - Elaborado pelo autor da dissertação.

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QUADRO 3 Participação % dos setores amostrados no faturamento

total do setor e das 500 maiores empresas SETORES VALOR EM US$

MILHÕES PARTICIP. % NO

SETOR PARTICIP. % NO TOTAL DAS 500

Têxtil 2.418 99.00 0.98 Siderúrgico 10.220 59.20 3.67 Papel Celulose 2.650 63.72 0.95 Telecomunicações 11.399 41.71 4.09 Comércio 5.523 19.54 1.98 Químico Petroquímico

10.677 47.90 3.83

Total 42.887 42.16 15.40 FONTE - Elaborado pelo autor da dissertação.

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5 RESULTADOS

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76

5.1 Aspectos iniciais

O objetivo estabelecido para este estudo foi identificar elos de ligação entre

ambiente, estratégia e finanças corporativas, bem como aferir as forças e direções

dos relacionamentos que eventualmente se estabelecem entre elas. Para tanto,

trabalhou-se sobre duas hipóteses básicas, que são:

Hipótese 1: a turbulência e o crescimento do ambiente, a estratégia de custos e a

alavancagem financeira relacionam-se, positiva ou negativamente, com a

performance da firma; por força disso, são delineados modelos de gestão entre

empresas de um mesmo setor da economia.

Hipótese 2: tomadas isoladamente, as variáveis relativas ao ambiente, à estratégia

e à alavancagem financeira apresentam um nexo causal com a performance da

firma.

Conforme se recorda do capítulo de metodologia, cada uma das duas hipóteses tem

caráter metodológico distinto da outra. Assim é que a primeira delas é de natureza

descritiva e, por conta disso, julgou-se apropriado o uso da análise de regressão

linear múltipla para levantar a força dos relacionamentos eventualmente identificados

entre as variáveis delineadas.

Por sua vez, a segunda hipótese é de natureza exploratória na medida em que

buscou-se estabelecer tanto a existência de nexos causais entre as variáveis como a

direção em que se dão esses elos de ligação. Por exemplo, buscou-se responder se

a alavancagem determina a performance ou se esta é por aquela determinada. Por

fim, o atendimento dessa hipótese de trabalho se deu por meio de testes de

causalidade de Granger, técnica esta bastante apropriada para os objetivos aqui

propostos, já que não se dispunha de uma base de dados expandida o suficiente

para retirar estatísticas mais robustas, as quais permitissem conclusões mais

definitivas neste estudo.

Entretanto, a consecução das duas etapas de testes relacionadas acima depende de

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testes estatísticos preliminares que informem acerca da possibilidade de aplicação

das técnicas mencionadas. Em termos técnicos, buscou-se levantar tanto se há

obediência à restrição de estacionariedade dos erros nos modelos produzidos, como

também se as séries revelam obediência aos ditames da distribuição normal quanto

à média zero e variância constante desses erros. À guisa de esclarecimento, a não

observância dessas restrições leva à insignificância dos testes, tornando os

resultados inconclusivos.

5.2 Testes preliminares

Antes de se iniciar a apresentação e análise dos modelos e estatísticas produzidos,

julgou-se necessário relembrar as variáveis proxies, definidas no capítulo

Metodologia, para as dimensões de ambiente, estratégia e finanças, que são:

Ambiente

Esta dimensão foi tratada por meio de quatro variáveis, sendo duas relacionadas à

turbulência do ambiente e mais duas ao crescimento. Quanto às duas primeiras, as

variáveis aqui usadas resultam de regressão contra o tempo das vendas e das

margens operacionais, sendo que os resíduos, ,tε de ambos os modelos, foram

estabelecidos como variáveis de turbulência do ambiente. Assim,

ttt tmpcV εβ +⋅+= � ( )tmpcV ttt ⋅+−= βε

em que tV representou os valores de vendas ou margens operacionais, tmp o

tempo (em trimestres) e ,tε os resíduos ou erros aleatórios, que passaram a se

constituir em proxy de turbulência do ambiente.

Já no que se referiu às duas últimas, elas foram obtidas de valores de vendas e de

margens operacionais, pelos seguintes procedimentos:

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1. logaritmização das duas séries originais (no nível);

2. obtenção da primeira diferença das duas séries logaritmizadas, gerando as duas

variáveis de crescimento do ambiente.

Estratégia

A proxy dessa variável é o Custo dos Produtos Vendidos – CPV - menos a

Depreciação –DEPREC - dividido por vendas - V. Em termos formais:

VDEPRECCPVESTR −=

Finanças

A alavancagem financeira responde por esta dimensão neste estudo sendo definida

formalmente como a relação entre a Dívida de Curto Prazo – DCP - mais a de Longo

Prazo – DLP - para o capital não exigível ou Patrimônio Líquido - PL. Formalmente:

PLDLPDCPALAV +=

Performance

Definida por:

V

LAJIRDAPERF =

sendo LAJIRDA o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Por

sua vez, V responde pelas vendas.

Enfim, iniciou-se a análise acerca das restrições econométricas de estacionariedade

e de normalidade. Para a primeira aplicou-se o teste de Augment Dickey-Fuller –

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ADF - sobre as variáveis dos modelos para os seis setores analisados. Os

resultados do teste ADF permitiram constatar que as variáveis de ambiente

apresentavam tendência estocástica, ou não estacionariedade. Por este motivo,

aplicou-se o filtro de Hodrick-Prescot especificamente sobre elas, para criar as séries

de turbulência e de crescimento. Para a segunda, aferiu-se a normalidade das séries

através do teste de Jarque-Bera.

Em seguida, procedeu-se à estimação dos modelos de regressão linear múltipla

específicos aos seis setores, tendo a variável de performance como dependente e

as demais como explicativas. Esse procedimento permitiu a este estudo tanto

continuar com a análise sobre resíduos (erros dos modelos), como também eliminar

variáveis redundantes para a dimensão do ambiente. Quanto a essa última

possibilidade, deve-se lembrar que foram definidas duas variáveis para a turbulência

e mais duas para o crescimento do ambiente. Dessa forma, os modelos são

apresentados nas TAB. 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e os comentários são expostos na

seqüência.

TABELA 1 Modelo de regressão do setor têxtil

Constante TURB1 TURB2 CR1 CR2 ESTR ALAV

( )1717,03156,29

( )0151,00074,0−

( )0001,00340,0

( )2526,02486,8

( )4709,00993,4−

( )2318,03642,0−

( )0605,00115,0−

N = 30 r2 = 0,73 F = 17,7072 Significância de F = 0,0000 DW = 1,5030 JB = 0,6174

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

TABELA 2 Modelo de regressão do setor petroquímico

Constante TURB1 TURB2 CR1 CR2 ESTR ALAV

( )0215,07808,50

( )0073,00008,0

( )0099,00052,0

( )8939,03297,0

( )6597,09273,0−

( )0287,05430,0−

( )1690,00218,0

N = 30 r2 = 0,73 F = 17,6030 Significância de F = 0,0000 DW = 0,5345 JB = 0,7921

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

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TABELA 3 Modelo de regressão do setor de comércio

Constante TURB1 TURB2 CR1 CR2 ESTR ALAV

( )1763,09562,17

( )0136,00012,0−

( )0146,00047,0

( )2881,08463,3−

( )1835,05772,4

( )2876,01816,0−

( )3666,00065,0−

N = 30 r2 = 0,50 F = 7,2213 Significância de F = 0,0000 DW = 0,9410 JB = 0,0109

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

TABELA 4 Modelo de regressão do setor de telecomunicações

Constante TURB1 TURB2 CR1 CR2 ESTR ALAV

( )0019,00572,54

( )0074,00060,0−

( )0001,00064,0

( )0027,04092,87

( )3419,02118,6

( )0041,08336,0−

( )1836,03811,0

N = 30 r2 = 0,71 F = 16,0944 Significância de F = 0,0000 DW = 1,3858 JB = 0,7182

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

TABELA 5 Modelo de regressão do setor de papel e celulose

Constante TURB1 TURB2 CR1 CR2 ESTR ALAV

( )0011,01530,127

( )6235,00783,2

( )2905,00105,0−

( )7123,05763,6

( )1738,02817,1−

( )0019,03876,1−

( )0787,02953,0−

N = 30 r2 = 0,58 F = 9,6907 Significância de F = 0,0000 DW = 1,3771 JB = 0,8371

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

TABELA 6 Modelo de regressão do setor siderúrgico

Constante TURB1 TURB2 CR1 CR2 ESTR ALAV

( )0505,00144,76

( )0005,02900,2

( )8839,00018,0

( )3547,02320,5

( )1586,02975,2

( )0832,08257,0−

( )3477,00499,0−

N = 30 r2 = 0,35 F = 4,3950 Significância de F = 0,0025 DW = 0,9545 JB = 0,4538

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

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81

Aspectos principais dos modelos com seis variáveis regressivas

• O nível de significância do teste-F aponta que todos os modelos são adequados

para a explicação da variável Performance. Como se recorda, este teste tem

como hipótese alternativa:

0:1 ≠iH β ao menos para um dos coeficientes regressores.

• De fato, a estatística Durbin-Watson – DW - apresentou valores abaixo de dois

em todos os seis modelos levantados, o que indicaria a presença de auto-

correlação dos resíduos. Entretanto, como o coeficiente de determinação R2

ajustado superou a estatística DW, à exceção do setor petroquímico, tem-se,

que, na verdade, esses cinco setores restantes revelaram indícios de ausência

de autocorrelação nos resíduos das regressões, indicando um grau adequado de

especificação do modelo.

• Além disso, a estatística Jarque-Bera − JB − apresentou altos índices de

probabilidade aceitando a hipótese de normalidade dos resíduos, exceto para o

setor comércio.

• No tocante à retirada de variáveis redundantes e lançando mão das estatísticas

de p-values, vê-se que, dentre as variáveis de turbulência do ambiente, TURB1

manteve-se nos modelos para os setores petroquímico, comércio e siderúrgico,

sendo eliminada nos demais. Naturalmente, a variável TURB2 foi hegemônica

nos outros três setores.

• Quanto às variáveis relativas ao crescimento do ambiente, CR1 revelou-se mais

pertinente que CR2 apenas para os setores petroquímico e de telecomunicações,

sendo que seu p-value no primeiro setor foi alto o suficiente para ser sancionado

como estatisticamente insignificante.

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82

• A variável proxy de estratégia mostrou-se estatisticamente significativa em todos

os seis modelos levantados, até a margem máxima de erro de 3,08% (setor

siderúrgico) na explicação de performance dos setores.

• Por sua vez, as estatísticas do p-value para a variável representativa da

dimensão de finanças (alavancagem financeira) portaram-se razoavelmente bem

nos modelos para os setores têxtil e papel e celulose, com margem máxima de

erro de 7,87% para esse último. Entretanto, essas margens de erro para os

demais quatro setores superaram 16,90% (caso do setor petroquímico), o que

impede de afirmar categoricamente acerca de relacionamento entre essa variável

e a performance média dos setores.

• É interessante notar que, à exceção do setor petroquímico, todos os demais

apresentaram sinal negativo para o coeficiente da variável de alavancagem,

indicando haver relação inversa entre o endividamento e a performance. Em

termos objetivos, quanto maiores as dívidas em relação ao patrimônio líquido,

menores as performances das empresas.

Os resíduos dos modelos foram em seguida analisados por meio de teste de raiz

unitária, feito via estatística ADF, cujos resultados são comparados a valores críticos

para diferentes níveis de significância. Assim é que, pela comparação entre a

estatística ADF e os valores críticos, foram obtidas as bases para se afirmar acerca

da estacionariedade dos resíduos, conforme TAB. 7.

TABELA 7 Teste de raiz unitária para os modelos de regressão

TESTE ADF TÊXTIL QUÍMICO

PETROQUÍMICOCOMÉRCIO

TELECOMU-NICAÇÕES

PAPEL CELULOSE

SIDERÚR-GICO

10% -3,03 -3,03 -2,91 -2,91 -3,03 -3,03

5% -3,57 -3,37 -3,17 -3,17 -3,37 -3,37

VALORES CRÍTICOS

1% -4,07 -4,07 -3,73 -3,73 -4,07 -4,07

ESTATÍSTICA ADF -4,86 -2,43 -5,86 -3,58 -4,26 -2,98

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

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Aspectos principais dos resultados do teste ADF

• Os resultados indicaram que os resíduos dos modelos para os setores têxtil,

comércio e papel e celulose têm média próxima a zero, o que indica a presença

de ruído branco em um nível de significância (ou nível de certeza) acima de 99%.

Naturalmente, isso é indício de uma boa especificação de seus modelos.

• O setor de telecomunicações apresentou resultado que poderia ser

razoavelmente aceito como boa indicação de estacionariedade dos resíduos,

embora não ao mesmo nível dos três setores citados acima. De qualquer forma,

seu nível de significância esteve entre 95 e 99%.

• Por sua vez, os setores petroquímico e siderúrgico apresentaram resultados

indicativos da presença de ruídos não estacionários, o que seria indicação de

necessidade de inclusão de variáveis relevantes a seus respectivos modelos.

5.3 Análise descritiva

Conforme definição metodológica acatada neste estudo, sua natureza descritiva é

atendida por meio de regressões lineares múltiplas. Ainda mais, foi apontado na

seção anterior que se evitariam variáveis redundantes, as quais foram identificadas e

indicadas. Dessa forma, os modelos produzidos e apresentados a seguir já estão

sem essas variáveis e enfatiza-se que as definições dos modelos se deram por meio

de observação das estatísticas-F relativamente a cada um destes. Este critério foi

adotado pressupondo-se a existência de elevada correlação (ou multicolinearidade)

entre as variáveis proxies do ambiente TURB1 e TURB2 e de CR1 e CR2, na

medida em que, tendo sido construídas a partir das séries de vendas e margem

bruta de cada setor, elas estariam correlacionadas entre si. De fato, os resultados

apresentados nas estatísticas F de cada modelo são maiores e, portanto,

estatisticamente mais significantes que os modelos anteriormente especificados com

seis variáveis explicativas.

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À exceção do setor siderúrgico, os coeficientes R2 ajustados de cada modelo foram

um pouco menores que os dos modelos anteriores, o que pode se explicar pela

influência que as variáveis correlacionadas entre si exerciam no modelo como um

todo. De qualquer modo e ainda à exceção do setor siderúrgico, os modelos

apresentaram esses coeficientes acima de 60%, o que mostra uma força explicativa

razoável das variáveis especificadas na performance dos setores analisados, até

porque o número de observações de trinta e nove prejudicou a obtenção de

regressores estatisticamente robustos, que permitiriam conclusões mais definitivas

acerca do relacionamento entre as variáveis explicativas e a performance dos

setores.

A estatística Durbin-Watson dos modelos com a nova especificação ainda

apresentou seus coeficientes abaixo de dois, mas todos menores que o R2 ajustado.

Naturalmente, tem-se aí indícios de ausência de autocorrelação nos resíduos das

regressões, indicando um grau adequado de especificação dos modelos.

Após essas observações preliminares, destacam-se análises acerca de cada um dos

setores em particular.

Destaca-se ainda que, nesta fase da análise, cada um dos setores obedece à exata

configuração do modelo apresentado no capítulo Metodologia, na FIG. 3, e que aqui

se repete para facilitar sua compreensão.

FIGURA 3 - Variáveis explicativas da variável performance FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

PERFORMANCE

TURBULÊNCIA

CRESCIMENTO

FINANÇAS ESTRATÉGIA

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Setor Têxtil

O modelo desenvolvido para o setor têxtil é apresentado na TAB. 8, podendo-se

verificar que a série de margem bruta, da qual foram construídas as variáveis

TURB2 e CR2, possui maior poder explicativo do que a série de vendas, base para a

elaboração das variáveis proxies de TURB1 e CR1.

TABELA 8 Modelo de regressão restrito para o setor têxtil

εββββα +⋅+⋅+⋅+⋅+= ALAVESTRCRTURBPerf 4321 22

α 1β 2β 3β 4β

( )0033,02314,58

( )0000,00167,0

( )3039,03756,2

( )0055,07765,0−

( )0590,00123,0−

N = 30 r2 = 0,69 F = 21,8454 Significância de F = 0,0000

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

Aspectos principais do modelo de regressão restrito para o setor têxtil

• O coeficiente r2 mostrou que, em conjunto, as variáveis explicativas do modelo

elucidam 69% da variância dos valores da variável performance, ao passo que o

nível de significância da estatística F atestou sua correta especificação.

• Os sinais dos coeficientes para as variáveis CR2 e ESTR mostraram-se

coerentes e, em especial, o sinal positivo de 2β fez ver que a variável CR2, que

representa a dimensão de crescimento do ambiente, tem relação direta com a

performance, o que está de acordo com Goll e Rasheed (1997).

• Na variável ESTR, seu sinal negativo indicou relação inversa com a performance,

pois, como foi definida a partir da série VCPV / como proxy para eficiência de

custos, seu crescimento impactou negativamente a performance do setor. Aliás,

deve-se relembrar que este conceito está presente em Porter (1986) e

confirmado no estudo empírico de Kotha e Nair (1995).

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• Os sinais determinados para os coeficientes 1β e ,4β das variáveis TURB2 e

ALAV, foram o oposto do esperado. Especificamente para a variável de

turbulência do ambiente, era esperado um impacto inverso sobre a performance,

ou seja, que quanto mais instável a ambiência dos negócios no setor, tanto

menor seria a performance média do setor.

• Quanto à variável de alavancagem financeira, esta deve ser analisada em

confronto com a de turbulência. Assim é que, como apontado no item anterior,

seria de se esperar um impacto inverso da turbulência do ambiente em face da

performance; segue-se daí que quanto menor a turbulência, maior a performance

e, portanto, maior a pertinência de elevação da alavancagem vis-à-vis dos

menores riscos ambientais. Por outro lado, o sinal negativo da variável ALAV

mostrou que quanto maiores seus níveis, menores serão as performances

alcançadas pelo setor. Tomadas em seu conjunto, as variáveis de turbulência e

alavancagem vão ao encontro do proposto na teoria expressa por Simerly e Li

(2000), que ALAV e PERF correlacionam-se inversamente em ambientes

turbulentos.

• O resultado conjunto das variáveis de estratégia e de financiamento (ESTR e

ALAV) atenderam plenamente à primeira hipótese formulada neste estudo:l

turbulência e crescimento do ambiente, estratégias voltadas para custos e

estrutura de financiamento guardam relação com as performances das empresas

brasileiras, até mesmo delineando modelos de gestão. Nesse sentido, os p-

values apontaram alto grau de significância estatística, apesar do relativamente

pequeno número de observações levantadas.

Setor Petroquímico

O modelo apresentado na TAB. 9 para este setor apontou que as séries de vendas

propiciaram melhor explicação para análise deste, visto que as variáveis TURB1 e

CR1 prevaleceram sobre aquelas derivadas de margens brutas. Além disso, a

estatística-F apontou para a correta especificação do modelo.

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TABELA 9 Modelo de regressão restrito para o setor petroquímico

εββββα +⋅+⋅+⋅+⋅+= ALAVESTRCRTURBPerf 4321 11

α 1β 2β 3β 4β

( )0001,09319,84

( )0000,00015,0

( )4797,06533,0−

( )0001,09281,0−

( )2775,00185,0

N = 30 r2 = 0,68 F = 20,7009 Significância de F = 0,0000

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação. Aspectos principais do modelo de regressão restrito para o setor petroquímico

• As variáveis CR1 e ALAV não se mostraram estatisticamente significativas,

embora o sinal positivo dessa última tenha se mostrado coerente, à medida em

que os altos níveis de investimentos requeridos no setor exijiram a participação

mais substancial de capital de terceiros.

• A variável proxy de estratégia apresentou alto grau de significância, mostrando

coerentemente que movimentos na direção da redução de custos levam a

performances superiores.

• De fato, o p-value da variável de turbulência do ambiente, TURB1, apontou grau

de certeza quase total de que esta mantém relação direta com a performance.

Entretanto, exatamente o contrário seria de esperar para um setor com os

apontados níveis elevados de investimentos requeridos. Desta forma, maior

turbulência do ambiente deveria significar níveis inferiores de performances e não

o contrário, como deixou explicado pelo modelo acima.

Setor de Comércio

O modelo apresentado na TAB. 10 para este setor apontou que as séries de vendas

propiciaram melhor explicação para análise deste, visto que as variáveis TURB1 e

CR1 prevaleceram sobre aquelas derivadas de margens brutas. Além disso, a

estatística-F indica a correta especificação do modelo.

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TABELA 10

Modelo de regressão restrito para o setor de comércio

εββββα +⋅+⋅+⋅+⋅+= ALAVESTRCRTURBPerf 4321 21

α 1β 2β 3β 4β

( )0015,07491,42

( )6901,00000,0−

( )0179,04058,1

( )0035,05028,0−

( )0970,00134,0−

N = 30 r2 = 0,35 F = 5,9513 Significância de F = 0,0010

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

Aspectos principais do modelo de regressão restrito para o setor de comércio

• O grau de certeza de apenas 30,99% (= 1 – 0,6901) acerca da variável de

turbulência do ambiente, TURB1 anulou interpretações favoráveis quanto ao sinal

negativo e correto de seu coeficiente. Além disso, claro, deve-se realçar que o

valor absoluto desse último foi próximo de zero, o que novamente relata o baixo

nível de influência dessa variável sobre as performances de empresas do setor.

• É importante realçar o grau de significância que a variável ALAV deteve nesse

setor, o qual é o de maior diversidade dentre os seis analisados neste estudo.

Assim é que este fato, em conjunto com o p-value de 0,0970 e com o sinal do

coeficiente, parece indicar uma rejeição por endividamento na composição de

estruturas de financiamento do setor. É claro que o detalhamento das razões

para esse fato depende de análises que extrapolam os limites estabelecidos para

este estudo, mas fica como sugestão de pesquisas futuras.

• O sinal do coeficiente CR1 apontou para a influência positiva do crescimento

sobre performances empresariais, e o p-value de 0,0179 atestou-se essel

comportamento com alto nível de certeza (98,21% = 1 – 0,0179).

• O sinal do coeficiente da variável proxy de estratégia indicam comportamento

coerente desta, mostrando que movimentos para a redução de custos atua no

sentido de ampliar desempenhos empresariais das firmas do setor.

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Setor de Telecomunicações

A se realçar inicialmente a pertinência do modelo do setor expressa em sua

estatística-F, que apontou sua relevância global, tem-se, ainda, a relação direta

entre a variável de turbulência e a performance, a qual é referendada pelo p-value

da variável TURB2, como se vê na TAB. 11.

TABELA 11 Modelo de regressão restrito para o setor de telecomunicações

εββββα +⋅+⋅+⋅+⋅+= ALAVESTRCRTURBPerf 4321 12

α 1β 2β 3β 4β

( )0001,08493,71

( )0000,00054,0

( )0000,00930,105

( )0074,08624,0−

( )2119,02637,0−

N = 30 r2 = 0,63 F = 16,8670 Significância de F = 0,0000

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

Aspectos principais do modelo de regressão restrito par o setor de telecomunicações

• É interessante notar que a variável CR1 no modelo, a qual expressa a dimensão

do ambiente pelo lado de seu crescimento, guardou relação direta e coerente

com a performance. Em outros termos, o ambiente em crescimento foi propício a

performances empresariais superiores.

• No tocante à variável ALAV, pode-se objetar que o sinal positivo deveria

prevalecer, para indicar que o endividamento seria um suporte da performance

em um ambiente de crescimento, como assinalado no item anterior para a

variável CR1. De qualquer forma, o comportamento divergente revelado pelo

sinal negativo do coeficiente apresentou-se com alta margem de erro (= 21,19%).

• Também observou-se nesse setor um comportamento coerente para a variável

de estratégia, com seu regressor apresentando sinal negativo e, além disso,

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acompanhado de alto grau de significância estatística. Isto implica em dizer que

estratégias de custo são implementadas correntemente com vistas a

performances empresariais ampliadas.

Setor de Papel e Celulose

Da mesma forma que para o setor têxtil, novamente constatou-se comportamento de

um setor que atende às proposições deste estudo quanto à interligação entre

ambiente, estratégia e finanças corporativas. Ainda mais, soma-se a esse resultado

a estatística-F com nível de significância que possibilitou grau elevado de certeza

quanto à adequação do modelo aos dados amostrais.

TABELA 12 Modelo de regressão restrito para o setor de papel e celulose

εββββα +⋅+⋅+⋅+⋅+= ALAVESTRCRTURBPerf 4321 22

α 1β 2β 3β 4β

( )0000,05500,139

( )2271,00116,0−

( )0964,04350,1−

( )0000,05334,1−

( )0098,03331,0−

N = 30 r2 = 0,60 F = 14,8551 Significância de F = 0,0000

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação. Aspectos principais do modelo de regressão restrito para o setor de papel e celulose

• A variável proxy de ambiente TURB 2 apresentou sinal coerente, indicando que

ambiência turbulenta foi prejudicial à performance. Entretanto, a estatística do p-

value indicou uma margem de erro de 22,71%, a partir da qual se aceita que

esse valor seja significativamente diferente de zero e que, portanto, a turbulência

do ambiente influi sobre performances.

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• A variável de estratégia revelou comportamento coerente e em linha com os

setores já analisados neste capítulo, ou seja, que movimentos em direção à

redução de custos impactam performances de forma positiva. Além disso, esta

conclusão se fez acompanhar de elevado grau de certeza de acordo com o p-

value próximo a zero.

• Dois pontos destoantes no modelo, que demandariam esforços além do

intentado para este estudo, dizem respeito aos sinais negativos dos coeficientes

das variáveis CR2 e ALAV. De fato, crescimento em si no mínimo facilitaria a

ampliação de níveis de performances, e a alavancagem financeira serviria como

suporte disto.

Setor Siderúrgico

A exemplo do setor petroquímico, a estatística deste setor apresentou resultados

positivos acerca da qualidade do modelo, muito embora os p-values calculados

revelaram que apenas as variáveis TURB1 (turbulência do ambiente) e ESTR

(estratégia) foram operantes sobre a variável dependente. Isso nos mostra a TAB.

13.

TABELA 13

Modelo de regressão restrito para o setor siderúrgico

εββββα +⋅+⋅+⋅+⋅+= ALAVESTRCRTURBPerf 4321 21

α 1β 2β 3β 4β

( )0166,06929,85

( )0000,04985,2

( )1966,04477,1

( )0308,09460,0−

( )2484,00581,0−

N = 30 r2 = 0,38 F = 6,5842 Significância de F = 0,0005

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

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Aspectos principais do modelo de regressão restrito para o setor siderúrgico

• Como indicado acima, apenas as variáveis TURB1 e ESTR puderam ser

apontadas como influentes sobre a performance em níveis satisfatórios.

Entretanto, o sinal positivo da variável ambiental vai de encontro à teoria,

indicando haver resultados empresariais superiores na presença de elevada

turbulência do mercado.

• O sinal positivo da segunda variável ambiental, representada por CR2, a que se

atém a dimensão do crescimento, está de acordo com a intuição de que se

esperam performances superiores em mercados em expansão. No entanto, esta

conclusão somente pode ser aceita ao grau de certeza de 80,34% (=1 – 0,1966).

Por outro lado, deve-se recordar que se trabalhou com relativamente poucas

observações para levantamento dos modelos em virtude de limitações da base

desse tipo de dados no País. Assim sendo, e dado o caráter também exploratório

desta pesquisa, a influência exercida pela variável CR2 já pode ser admitida

como significativa sobre a performance.

• Nossas observações sobre a variável ALAV vão na mesma direção da apontada

para CR2, com o agravamento de que a alavancagem financeira é de natureza

mais complexa, dadas as forças conflitantes que motiva, tanto em termos de

dedução de juros para fins de imposto de renda, como em níveis de risco de

falência que enseja. Assim é que o grau de certeza de 75,16% (= 1 – 0,2484)

deve ser entendido de maneira mais favorável acerca da influência exercida pela

variável sobre performances neste setor.

Resumo de aspectos críticos dos testes de regressões múltiplas

Os resultados apresentados para os seis setores têm pontos em comum que deixam

antever a aceitação da primeira hipótese formulada para este estudo: turbulência e

crescimento do ambiente, assim como estratégias voltadas para custos e a estrutura

de financiamento guardam relação com performances das empresas brasileiras, até

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mesmo delineando modelos de gestão. Assim é que os setores têxtil, de comércio e

de papel e celulose claramente a atenderam, com níveis de significância estatística

aceitáveis para as variáveis proxies de ambiente TURB e CR, estratégia ESTR e

finanças ALAV. Ainda mais, se os três setores restantes não atenderam plenamente

à citada hipótese, vê-se por outro lado que se abrir mão do grau de certeza maior

sobre a variável ALAV, também para eles poder-se-ia aceitar a hipótese como

válida.

Outrossim, alguns outros aspectos merecem ser mencionados e, em primeiro lugar,

tem-se que a variável ESTR mostrou-se significativa em todos os seis modelos,

além de apresentar sempre o sinal coerente para os coeficientes. Nesse sentido,

constatam-se nas TAB. 8 a 13 os sinais negativos dos regressores, indicando que

de forma generalizada as atitudes empresariais de redução de custo estiveram

presentes para garantir níveis superiores de performances.

No que tange à alavancagem financeira, houve fortes evidências quanto à

preferência por menores níveis de capitais de terceiros na estrutura de

financiamento das empresas, na medida em que apenas para o setor petroquímico

pôde-se notar relação positiva entre endividamento e performance. Para todos os

demais cinco setores a constatação foi outra, ou seja, de que as performances

aumentam com a redução de níveis de endividamento. Ainda quanto a isso, é

verdade que nem sempre pôde-se obter p-values francamente reveladores de

padrões de comportamento. Entretanto, caso se adote posição liberal para aceitação

de margens de erro próximas a 20% e tendo em conta a pequena base de dados

levantada para este estudo (próxima de 40 observações emparelhadas por setor), já

se pode considerar as evidências desse relacionamento como muito forte.

Já a dimensão do ambiente apresentou resultados destoantes, como coeficientes

positivos de variáveis de turbulência do ambiente TURB1 e TURB2, indicando que

setores mais afeitos à volatilidade de vendas e de margens brutas teriam

performances alavancadas. Por sua vez, foram constatados coeficientes negativos

para as variáveis de crescimento do ambiente CR1 e CR2, o que indicaria a

possibilidade de quedas de performances mesmo na presença de expansão dos setores.

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Enfim, tem-se que deixar claros os limites colocados para a execução deste estudo,

o qual é de natureza descritiva e exploratória. Dessa forma, o esclarecimento pleno,

ou seja, a obtenção de evidências estatísticas mais robustas quanto as interações

de forças do ambiente, de estratégias e de finanças sobre a performance de

empresas brasileiras, depende de aprofundamento maior a ser alcançado em

pesquisas futuras.

5.4 Análise exploratória

A TAB. 14 apresenta os níveis de significância das estatísticas-F dos testes de

Granger, aplicados a todos os pares possíveis das seis variáveis explicativas

selecionadas e a variável explicada, de performance. Conforme se recorda do

capítulo Metodologia, os modelos foram obtidos de regressões na primeira diferença,

bem como testou-se previamente a estacionariedade das séries em atendimento à

exigência do citado teste.

Assim é que se iniciou a análise de cada um dos modelos especificados com a

aplicação do teste Augment Dickey-Fuller (ADF) a todas as variáveis, tendo sido

adotada a especificação dos lags das variáveis independentes, de acordo com o

procedimento de minimização do critério de Schwarz. A partir disso, constatou-se

que, à exceção das variáveis de alavancagem do setor têxtil, estratégia da siderurgia

e performance do comércio, todas as demais revelaram tendência estocástica, ou

não estacionariedade. Em conseqüência, este estudo foi remetido às citadas

regressões na primeira diferença.

A consideração básica do teste é o da hipótese nula de que a variável explicativa

"não Granger-causa" a variável explicada ou, em termos mais diretos, que a variável

independente não causa a variável dependente. O teste-F foi empregado para

aferição desta causalidade, com a interpretação se dando através do p-value do

mesmo, sendo que a hipótese alternativa de haver a "causalidade de Granger"

transpareceu por meio de baixos valores para esta última estatística. Enfim, os

resultados alcançados estão presentes no TAB. 14.

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95

TABELA 14 Resultados do teste de causalidade de Granger

DIREÇÃO DA

CAUSALIDADE QUÍMICO

PETROQUÍMICO TÊXTIL COMÉRCIO TELECO-

MUNICAÇÕES PAPEL

CELULOSE SIDERÚRGICO

TURB1 � PERF PERF � TURB1

0,4012 0,9959

0,0739 0,1247

0,2725 0,2070

0,0229 0,0670

0,3329 0,2154

0,7781 0,9617

TURB2 � PERF

PERF � TURB2

0,0041

0,0189

0,1255

0,0583

0,1719

0,0840

0,1535

0,0816

0,1219

0,3262

0,8450

0,6989

CR1 � PERF

PERF � CR1

0,0414

0,6042

0,3129

0,5620

0,0019

0,0081

0,5411

0,0019

0,3261

0,3019

0,5098

0,8397

CR2 � PERF

PERF � CR2

0,0005

0,0018

0,1088

0,9633

0,0252

0,0359

0,7442

0,0038

0,2510

0,4943

0,8450

0,0552

ESTR� PERF PERF� ESTR

0,1304 0,0289

0,2023 0,8381

0,1448 0,1957

0,6731 0,9233

0,0392 0,1720

0,7403 0,7775

ALAV �PERF PERF �ALAV

0,9900 0,1779

0,7101 0,2428

0,2197 0,6261

0,8931 0,5299

0,3900 0,2673

0,2599 0,0500

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação. De maneira geral, os valores alcançados mostraram que todos os setores

apresentaram ao menos uma direção de causalidade, com o p-value abaixo do nível

de 10%, o que representa grau de certeza de no mínimo 90% de haver

relacionamento entre os pares de variáveis. Entretanto, o mesmo não aconteceu

quando a análise se deu especificamente sobre as variáveis, podendo-se observar,

por exemplo, que a alavancagem financeira não apresentou qualquer p-value com

relevância estatística acima de 90% (ou p-value < 0,10). No entanto, as demais

variáveis mostraram pelo menos um p-value com significado estatístico. Assim é

que optou-se por focar cada uma das variáveis, e exibir seus resultados em

separado.

Turbulência do ambiente – TURB1

Esta variável apresentou p-values relevantes no sentido de causalidade de TURB1

para PERF, nos setores têxtil e de telecomunicações. Entretanto, esse último setor

trouxe relevância estatística também no sentido inverso de causalidade, ou seja, de

PERF para TURB1, o que não faz sentido lógico. Aliás, como previsto em Gujarati

(2000), esses resultados algo espúrios alertam sobre a sensibilidade do teste ao

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96

número de períodos defasados dos lags selecionados.

PETROQUÍMICO

TÊXTIL

COMÉRCIO

TELECO- Õ

PAPEL

SIDERÚRGICO

TURB1 � PERF

PERF � DIN1

0,4012

0,9959

0,0739*

0,1247

0,2725

0,2070

0,0229*

0,0670*

0,3329

0,2154

0,7781

0,9617

Turbulência do ambiente – TURB 2

A variável apresentou um único p-value relevante no setor petroquímico, quando se

atentou no sentido TURB2 para PERF. Por sua vez, o sentido PERF para TURB2

apresentou p-values relevantes nos setores petroquímico, têxtil, comércio e

telecomunicações. Esses resultados são perturbadores posto que contra-intuitivos,

levando este estudo a questionar a pertinência das proxies montadas para expressar

as variáveis. Mas, deve-se sempre lembrar dos ensinamentos de Gujarati (2000) a

respeito do teste de causalidade de Granger, quais sejam: em primeiro lugar, a sua

extrema sensibilidade ao número de defasagens, ou lags utilizados na análise; em

segundo lugar, seu pressuposto de que todas as informações relevantes, relativas à

variável em estudo, estejam contidas nas séries utilizadas. De qualquer modo,

sempre realçou-se o caráter exploratório desta pesquisa e foi sugerida a

necessidade de pesquisas futuras com o objetivo de aclarar relacionamentos entre

as variáveis.

PETROQUÍMICO

TÊXTIL

COMÉRCIO

TELECO- MUNICAÇÕES

PAPEL CELULOSE

SIDERÚRGICO

TURB2 � PERF PERF � DIN2

0,0041 0,0189

0,1255 0,0583

0,1719 0,0840

0,1535 0,0816

0,1219 0,3262

0,8450 0,6989

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97

Crescimento do ambiente – CR1

Foram obtidos p-values relevantes no sentido CR1 para PERF nos setores

petroquímico e de comércio, ao passo que no sentido PERF para CR1, os valores

relevantes ocorreram nos setores de telecomunicações e de comércio. Novamente

foram alcançados resultados contrários à expectativa desta pesquisa, inclusive com

graus de certeza acima de 99% (ou p-values < 0,01). De qualquer forma, pode-se

pensar que crescimento afeta realmente a performance no setor químico, o que foi

confirmado no teste. Quanto ao setor de comércio, a já assinalada diversidade deste

aponta para a necessidade de pesquisas adicionais para melhor elucidação de

relacionamentos entre variáveis.

QUÍMICO

PETROQUÍMICO

TÊXTIL

COMÉRCIO

TELECO-

MUNICAÇÕES

PAPEL

CELULOSE

SIDERÚRGICO

CR1 � PERF

PERF � CR1

0,0414*

0,6042

0,3129

0,5620

0,0019*

0,0081*

0,5411

0,0019*

0,3261

0,3019

0,5098

0,8397

Crescimento do ambiente – CR2

Também aqui foram alcançados resultados conflitantes com a direção do

relacionamento entre a variável e a performance. No entanto, o setor petroquímico, a

exemplo do observado para CR1, apresentou resultado condizente com sua

estrutura de ativos, em que o crescimento é fator decisivo de sucesso. Quanto ao

setor de comércio, as mesmas observações acerca da necessidade de pesquisas

são mantidas aqui.

QUÍMICO

PETROQUÍMICO

TÊXTIL

COMÉRCIO

TELECO-

MUNICAÇÕES

PAPEL

CELULOSE

SIDERÚRGICO

CR2 � PERF PERF � CR2

0,0005* 0,0018*

0,1088 0,9633

0,0252* 0,0359*

0,7442 0,0038*

0,2510 0,4943

0,8450 0,0552*

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98

Estratégia – ESTR

Esta variável é particularmente interessante para análises sobre testes de

causalidade de Granger, em face dos resultados alcançados na etapa descritiva

sobre regressões múltiplas. Conforme se recorda, aqueles testes revelaram-se

pertinentes para todos os setores, tanto no que se referia aos sinais dos coeficientes

quanto no referente aos níveis de significância estatística medidos pelos p-values.

No entanto, a coerência esperada em termos de causalidade de ESTR para PERF

foi constatada apenas no setor de papel e celulose. Mas, deve-se sempre relembrar

os ensinamentos de Gujarati (2000), esclarecedores sobre a sensibilidade e, por que

não, a fragilidade dos resultados desse teste, diante daqueles apresentados em um

modelo de regressão linear múltipla.

QUÍMICO

PETROQUÍMICO

TÊXTIL

COMÉRCIO

TELECO-

MUNICAÇÕES

PAPEL

CELULOSE

SIDERÚRGICO

ESTR� PERF

PERF� ESTR

0,1304

0,0289*

0,2023

0,8381

0,1448

0,1957

0,6731

0,9233

0,0392*

0,1720

0,7403

0,7775

Alavancagem financeira – ALAV

A exemplo dos testes da etapa anterior sobre regressões múltiplas, quando somente

os setores têxtil, de comércio e papel e celulose, apresentaram resultados

estatisticamente significativos, esta variável mostrou-se a pior em termos de

resultados conclusivos acerca de causalidades com performances empresariais.

Assim é que não se alcançou qualquer resultado significativo no sentido ALAV para

PERF, tendo-se, pelo contrário, levantado um resultado significativo no sentido

PERF para ALAV, no setor petroquímico. De maneira mais forte que na etapa de

regressões múltiplas, o baixo nível de expressão estatística pode ser explicado pelo

caráter difuso da alavancagem, a qual tanto acresce níveis de resultados financeiros

das empresas devido à dedutibilidade dos juros, como eleva níveis de riscos de

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99

falência. Em face disso, a composição da estrutura de financiamento é algo que

varia entre setores e entre empresas dentro dos mesmos setores, confundindo e

dificultando interpretações gerais.

QUÍMICO PETROQUÍMICO

TÊXTIL

COMÉRCIO

TELECO- MUNICAÇÕES

PAPEL CELULOSE

SIDERÚRGICO

ALAV �PERF PERF �ALAV

0,9900 0,1779

0,7101 0,2428

0,2197 0,6261

0,8931 0,5299

0,3900 0,2673

0,2599 0,0500*

Resumo de aspectos críticos dos testes de causalidade de Granger

O fato marcante nesta etapa da análise exploratória é de não se ter encontrado

evidências estatísticas por meio de testes de causalidade de Granger que

confirmassem a segunda hipótese colocada neste estudo: a de que cada uma das

dimensões a serem analisadas, a saber, ambiente, estratégia e alavancagem

financeira, relaciona-se isoladamente com as performances das empresas

brasileiras.

De fato, os resultados alcançados são algo decepcionantes, um pouco menos

quanto à calibragem de modelos estatísticos, pois os especificados mostraram

resultados estatísticos das análises de regressão algo satisfatórios, e um pouco mais

quanto às relações causais entre as variáveis proxies que melhor representem as

dimensões de ambiente, estratégia e finanças, o que leva este estudo a sugerir a

existência de um longo caminho de pesquisa ainda a ser trilhado.

5.5 Comentários

Até agora viu-se, portanto, que a análise descritiva dos modelos apresentou

evidências estatísticas do relacionamento entre as variáveis escolhidas como

proxies das dimensões de ambiente, estratégia e finanças corporativas, conforme o

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100

propósito deste estudo. Essas evidências do inter-relacionamento dessas variáveis

sugerem, portanto, comprovações empíricas da existência de modelos de gestão da

firma contemplando cada uma das dimensões estudadas, específicos para cada um

dos setores analisados.

Entretanto, na análise exploratória as evidências estatísticas da existência de

relações causais entre as variáveis estudadas mostraram-se mais tênues. De fato,

os p-values das relações de causalidade de Granger avaliados não apresentaram

um número de resultados tão abrangente quanto na fase descritiva. E, para melhor

se avaliar os resultados em sua totalidade, optou-se neste estudo por mostrar um

cruzamento de todos os dados já avaliados na TAB. 15. Em sua elaboração foram

adotados os seguintes critérios: primeiro, eliminaram-se aquelas variáveis relativas

às dimensões do ambiente, conforme os modelos redefinidos com somente quatro

variáveis regressoras; segundo, intercalou-se abaixo do p-value de Granger da

variável, no sentido dela para PERF, o p-value da estatística-t da avaliação da

regressão linear múltipla. A TAB. 15 apresenta, portanto, os p-values da regressão,

análise descritiva, e os p-values de Granger das variáveis regressoras, dando uma

visão de conjunto de toda a análise até agora empreendida.

TABELA 15 Os p-values da regressão, análise descritiva, e os p-values de Granger

DIREÇÃO DA

CAUSALIDADE QUÍMICO

PETROQUÍMICO TÊXTIL COMÉRCIO TELECO-

MUNICAÇÕES PAPEL

CELULOSE SIDERÚRGICO

TURB1 p/PERF

PERF p/TURB1

0,4012 (0.0000) 0,9959

0.2725 (0.0015) 0,2070

0.7781 (0.0000) 0,9617

TURB2 p/ PERF

PERF p/TURB2

0.1255 (0.0033) 0,0583

0.1535 (0.0000) 0,0816

0.1219 (0.2271) 0,3262

CR1 p/ PERF

PERF p/ CR1

0,0414 (0.4797) 0,6042

0.5411 (0.0000) 0,0019

CR2 p/PERF

PERF p/CR2

0.1088 (0.3039) 0,9633

0.0252 (0.0179) 0,0359

0.2510 (0.0964) 0,4943

0.8450 (0.1966) 0,0552

ESTR p/PERF

PERF p/ESTR

0,1304 (0.0001) 0,0289

0.2023 (0.0055) 0,8381

0.1448 (0.0035) 0,1957

0.6731 (0.0074) 0,9233

0.0392 (0.0000) 0,1720

0.7403 (0.0308) 0,7775

ALAV p/PERF

PERF p/ALAV

0,9900 (0.2775) 0,1779

0,7101 (0.0590) 0,2428

0.2197 (0.0970) 0,6261

0.8931 (0.2119) 0,5299

0.3900 (0.0098) 0,2673

0.2599 (0.2484) 0,0500

FONTE - Elaborada pelo autor da dissertação.

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101

E, finalmente, os dados mostraram, em síntese, que: primeiro, os modelos de

regressão linear apresentaram evidências estatísticas da existência de elos de

ligação entre ambiente, estratégia e finanças corporativas, delineando, efetivamente,

os modelos de gestão de cada setor analisado, comprovando a primeira hipótese do

estudo; segundo, cada setor trouxe um modelo com especificidades que o

diferenciaram dos demais, mostrando evidências que não são tão genéricas

conforme os modelos qualitativos o sugerem; terceiro, a pouca evidência estatística

vista pelos p-values do teste de causalidade Granger da análise exploratória, além

de não ter comprovado de forma inequívoca a segunda hipótese do estudo, indica

um longo caminho de pesquisa ainda a ser seguido nessa direção.

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102

6 CONCLUSÕES

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103

O objetivo deste estudo foi o de demonstrar como a articulação entre as variáveis do

ambiente de negócios brasileiro, as decisões estratégicas e de financiamento de

seus investimentos influenciam a performance das firmas no Brasil.

Do lado aplicado, ele buscou encontrar uma síntese conceitual e prática para as

questões relativas a estratégia e finanças corporativas, normalmente, envolvidas nas

decisões empresariais e no ensino da disciplina de administração. A questão de

fundo que se colocava, inicialmente, era que, muito embora, no dia a dia empresarial

as decisões de investimento e financiamento, ou estratégia e finanças, sejam

tratadas em paralelo, o mesmo não ocorre quando são abordadas na prática do

ensino das escolas de administração. Nestas, em nome da boa didática, os dois

campos de estudos são tratados de forma estanque e separados.

Além disso, esta prática de ensino esta respaldada no próprio campo de

conhecimento teórico de cada uma das disciplinas. De fato, de forma bastante

ampla, as questões de estratégia e finanças são tratadas como estruturas

conceituais distintas, separadas e amparadas em cada um de seus paradigmas.

Mas, tendências recentes no desenvolvimento dos estudos nas áreas envolvidas,

notadamente na literatura técnica estrangeira, têm procurado demonstrar que a

articulação entre as variáveis de estratégia e finanças corporativas explicam

performances empresariais. Esta abordagem, no entanto, é nova no Brasil.

Assim é que diante dessas questões, quer de natureza teórica quer de natureza

prática, optou-se, neste estudo, por integrar as dimensões de ambiência, estratégia

e finanças em um modelo único, que permitisse: 1. trabalhar com dados empíricos

do ambiente brasileiro de negócios; 2. avaliar os impactos de cada dimensão

estudada – o ambiente, a estratégia e as finanças corporativas – sobre a

performance da firma; 3. avaliar a própria integração dessas variáveis em um

modelo de gestão da organização; 4. avaliar a importância relativa da dimensão das

finanças no próprio modelo; 5. comparar os modelos de cada um dos setores

econômicos analisados e verificar se são possíveis generalizações, como fazem crer

os modelos de gestão de cunho qualitativo descritos na literatura técnica.

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104

Em uma primeira abordagem do problema, optou-se pela especificação de um

modelo teórico, expresso em linguagem matemática, em que as variáveis de cada

uma das dimensões envolvidas estivessem contempladas. Naturalmente, procurou-

se ficar atento à necessidade de compatibilização e de coerência desses modelos

com os grandes marcos teóricos e conceituais da área de estratégia.

De qualquer forma, o empenho em atingir objetivos por meio de modelos formais,

com o uso de linguagem matemática, representou uma tentativa de fuga da prática

de se explicar fenômenos sociais, como a empresa em si, via uso exclusivo de

linguagem qualitativa, própria das ciências sociais. Logrou-se obter esse resultado

via especificação de modelos econométricos, calcados na análise de regressão

múltipla e em testes de causalidade de Granger, nos quais as relações entre as

variáveis se expressaram por meio de coeficientes, estatisticamente significativos,

retirados de modelos que atendiam às especificidades de cada setor. Neste sentido,

portanto, o presente estudo pode ser classificado como de pesquisa exploratória e

descritiva, utilizando modelos estatísticos como ferramentas analíticas.

Além deste aspecto de utilização da linguagem matemática para explicar fenômenos

sociais, a firma em si, procurou-se vencer outra dificuldade, a ausência de

estatísticas sobre firmas no Brasil, com os dados aqui empregados. Trabalhou-se

com dados secundários, balanços publicados, readequando-os tecnicamente aos

propósitos do estudo. Os resultados alcançados levam a concluir positivamente

quanto a este uso, abrindo perspectivas de continuidade desta linha de pesquisa,

que sempre é refutada com argumentos quanto à ausência de estatísticas

adequadas. É de se ressaltar, que neste ponto específico, ou seja, a utilização de

dados de fácil manuseio e alcance, abre-se a perspectiva de utilização deste estudo

em sala de aula.

Os resultados apresentados para os seis setores tiveram pontos em comum que

deixam antever a aceitação da primeira hipótese formulada, a de que a turbulência e

o crescimento do ambiente, assim como as estratégias voltadas para os custos e a

estrutura de financiamento, guardam relação com as performances das empresas

brasileiras, até mesmo delineando modelos de gestão. Assim é que os setores têxtil,

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105

comércio e papel e celulose claramente a atenderam, com níveis de significância

estatística aceitáveis para as variáveis proxies de ambiente - TURB e CR -,

estratégia – ESTR - e finanças – ALAV-. Ainda mais, se os três setores restantes

não atenderam plenamente a citada hipótese, pode-se concluir por outro lado que

abrirndo-se mão de grau de certeza maior sobre a variável ALAV, também para eles

poderia aceitar-se a hipótese como válida.

Constatou-se, portanto, que a análise descritiva dos modelos apresentou evidências

estatísticas do relacionamento entre as variáveis escolhidas como proxies das

dimensões de ambiente, estratégia e finanças corporativas, conforme o propósito

deste estudo.

Além disso, os modelos de cada um dos setores analisados apresentaram

resultados diferentes entre si e, neste sentido, as evidências de inter-relacionamento

dessas variáveis em graus de significância estatística diferentes sugerem

comprovações empíricas da existência de modelos específicos de gestão para cada

um deles, contemplando cada uma das dimensões estudadas. Enfim, obtivemos

evidências da impossibilidade de generalização de procedimentos de gestão

presentes nos modelos qualitativos. Contrariamente a isto, constatamos que cada

setor tem suas especificidades, as quais parecem promover modelos de gestão

próprios às suas razões e necessidades.

A variável proxie utilizada para a dimensão de finanças no modelo de regressão

múltipla é a que melhor comprova nossa hipótese e especificidade de cada setor.

Como vimos, nos setores têxtil, comércio e papel e celulose, os seus p-values

situaram-se em níveis estatisticamente relevantes. Nos demais setores, embora

pouco relevantes estatisticamente, mas ainda aceitáveis, visto seus maiores graus

de probabilidades de erro, situaram-se em outros níveis. Isto demonstra a

necessidade de cada setor buscar um modelo de gestão que melhor atenda suas

peculiaridades, não apegando-se aos modelos genéricos propostos

qualitativamente, sem adequá-los convenientemente.

Ou seja, naqueles setores com menor relevância estatística da variável ALAV, a

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106

própria finança em si, como área macrofuncional da firma, pode ser considerada

como de caráter mais operacional e menos estratégico, quanto ao peso relativo de

suas decisões na formação da performance da organização. O mesmo não vale para

os demais setores, onde a finança é, inequivocamente, estratégica.

Entretanto, é forçoso reconhecer que as evidências estatísticas da existência de

relações causais entre as variáveis estudadas mostraram-se mais tênues na análise

exploratória. De fato, os p-values das relações de causalidade de Granger avaliadas

não possibilitaram conclusões tão contundentes e abrangentes quanto na fase

descritiva. De fato, esta etapa de análise exploratória não propiciou evidências

estatísticas que confirmassem a segunda hipótese colocada no estudo de que: cada

uma das dimensões a serem analisadas, a saber: ambiente, estratégia e

alavancagem financeira, relacionam-se isoladamente com performances das

empresas brasileiras.

De fato, os resultados alcançados são algo decepcionantes, um pouco menos

quanto à calibragem de modelos estatísticos, pois os que especificamos mostraram

resultados estatísticos algo satisfatórios, e um pouco mais quanto a construção de

proxies que melhor representem as dimensões de ambiente, estratégia e finanças, o

que indica a existência de um longo caminho de pesquisa a ser trilhado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Abras, Michel Alfredo

A161e Estratégia e finanças corporativas: um teste empírico sobre elos de ligação / Michel Alfredo Abras. – Belo Horizonte, 2002.

111 p. Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Bertucci.

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas -Gerais, Programa de Pós-Graduação em Administração.

Bibliografia.

1. Administração de empresas. 2. Alavancagem (Finanças). 3. Turbulência. 4. Estratégia empresarial. 5. Eficiência organizacional. I. Bertucci, Luiz Alberto. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 658

Bibliotecária: Maria Auxiliadora de Castilho Oliveira – CRB 6/641

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