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1 Estresse ocupacional e qualidade de vida de profissionais de saúde da formação à práxis. Débora Mendonça 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia 2 Pós-graduação em Ergonomia FAIPE Resumo O objetivo deste trabalho é identificar a correlação do estresse ocupacional com a qualidade de vida de profissionais da área de saúde, desde sua formação até sua atuação profissional e docência. A área de saúde é um grupo de profissionais de diversas especialidades que apresentam características em comum, tais como: o atendimento ao público, dupla jornada, cobrança excessiva dos pacientes. Esses fatores podem influenciar no aparecimento do estresse ocupacional, também conhecido como Burnout. Trata-se de uma doença ocupacional que causa exaustão emocional e baixa realização pessoal, afetando o desempenho profissional. A carga de trabalho adotada pelos profissionais de saúde é extenuante, com trabalhos realizados em mais de uma instituição de saúde, às vezes, que associado a outros fatores, pode desencadear a Síndrome de Burnout, levando um comprometimento de sua qualidade de vida. A qualidade de vida do trabalhador tornou-se um assunto relevante, pois o processo de industrialização trouxe mudanças na rotina e na organização do trabalho. O profissional de saúde também se preocupa com questões relacionadas à demanda e produtividade. O ritmo de trabalho, a sobrecarga cognitiva, a gestão de pessoas enfermas que precisam constante assistência, a satisfação profissional e as dificuldades sociodemográficas podem influenciar na percepção da qualidade de vida. Palavras Chaves: Qualidade de Vida do Trabalhador, Trabalhadores da Saúde, Estresse Ocupacional. 1. Introdução A preocupação com assuntos referentes à qualidade de vida faz-se presente no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida. Assim, a qualidade de vida é abordada, por muitos autores, como sinônimo de saúde, e por outros como um conceito mais abrangente, em que as condições de saúde seriam um dos aspectos a serem considerados (FLECK et. al., 1999). De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida pode ser definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Para Albuquerque e França (1998), qualidade de vida no trabalhado é um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas, estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, e visa propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para o trabalho e durante a sua realização. __________________________ 1 Pós-graduando em Ergonomia. 2 Orientadora: Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestre em Bioética e Direito em Saúde. Doutorando em saúde pública.

Estresse ocupacional e qualidade de vida de profissionais ... · (De-mand-Control-Support - DCS), com versão resumida da job stress scale adaptada para a língua portuguesa, apresenta

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Estresse ocupacional e qualidade de vida de profissionais de saúde da

formação à práxis.

Débora Mendonça

1

[email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia2

Pós-graduação em Ergonomia – FAIPE

Resumo

O objetivo deste trabalho é identificar a correlação do estresse ocupacional com a qualidade

de vida de profissionais da área de saúde, desde sua formação até sua atuação profissional e

docência. A área de saúde é um grupo de profissionais de diversas especialidades que

apresentam características em comum, tais como: o atendimento ao público, dupla jornada,

cobrança excessiva dos pacientes. Esses fatores podem influenciar no aparecimento do

estresse ocupacional, também conhecido como Burnout. Trata-se de uma doença ocupacional

que causa exaustão emocional e baixa realização pessoal, afetando o desempenho

profissional. A carga de trabalho adotada pelos profissionais de saúde é extenuante, com

trabalhos realizados em mais de uma instituição de saúde, às vezes, que associado a outros

fatores, pode desencadear a Síndrome de Burnout, levando um comprometimento de sua

qualidade de vida. A qualidade de vida do trabalhador tornou-se um assunto relevante, pois o

processo de industrialização trouxe mudanças na rotina e na organização do trabalho. O

profissional de saúde também se preocupa com questões relacionadas à demanda e

produtividade. O ritmo de trabalho, a sobrecarga cognitiva, a gestão de pessoas enfermas

que precisam constante assistência, a satisfação profissional e as dificuldades

sociodemográficas podem influenciar na percepção da qualidade de vida.

Palavras Chaves: Qualidade de Vida do Trabalhador, Trabalhadores da Saúde, Estresse

Ocupacional.

1. Introdução

A preocupação com assuntos referentes à qualidade de vida faz-se presente no sentido de

valorizar parâmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou

o aumento da expectativa de vida. Assim, a qualidade de vida é abordada, por muitos autores,

como sinônimo de saúde, e por outros como um conceito mais abrangente, em que as

condições de saúde seriam um dos aspectos a serem considerados (FLECK et. al., 1999).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida pode ser definida como

a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores

nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

Para Albuquerque e França (1998), qualidade de vida no trabalhado é um conjunto de ações

de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais,

tecnológicas, estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, e visa propiciar condições

plenas de desenvolvimento humano para o trabalho e durante a sua realização. __________________________ 1 Pós-graduando em Ergonomia. 2 Orientadora: Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestre em Bioética e Direito em Saúde. Doutorando em saúde pública.

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A Política em Saúde do Trabalhador tem o intuito de promover a melhoria da qualidade de

vida e da saúde do trabalhador e, entre outras estratégias, estimular estudos e pesquisas sobre

o tema. Para isso, conhecer situações ocupacionais para avaliar determinantes de saúde que

permitam aperfeiçoar a atenção integral ao trabalhador, pode agregar valor ao humano

(ESPINDOLA et. al., 2012).

Para Mascarenhas et. al. (2013), a realização da construção de um sistema de saúde exige uma

prática ampliada, juntamente com a inserção de novos saberes e fazeres no âmbito da saúde

coletiva, e em decorrência desse processo vem também o debate sobre “à saúde de quem

produz saúde”, ou seja, a mudança do sistema de saúde e de suas práticas também promove,

de certa forma, uma preocupação com a qualidade do trabalho em saúde.

Para Ribeiro (2012), o processo saúde-doença dinâmico pode estar estruturado e articulado

com os modos de desenvolvimento produtivo. Estando nós interligados a esse processo, sem

restrições: saúde, doença e o trabalho. Por diversos motivos, essa ligação se dá, seja quando

não trabalhamos, seja quando trabalhamos muitos, ou quando realizamos certo tipo de

trabalho que não nos dá prazer ou quando somos obrigados a trabalhar. Os trabalhadores

quando inseridos em processos de produção estão, quase sempre, expostos a uma diversidade

de cargas físicas e emocionais que podem favorecer o desencadeamento de fenômenos

provocadores de estresse e que geram desgaste, trazendo impactos diretos sobre a qualidade

de vida.

Segundo Souza et. al. (2012), são considerados profissionais de saúde, aqueles que estão

diretamente associados à promoção de qualidade de vida para a população, mas, como todo

trabalhador, também sofrem consequências advindas da rotina laboral em sua qualidade de

vida. Para que desenvolvam um trabalho de qualidade, estimulando a comunidade na busca de

melhores condições de saúde, o profissional de saúde precisa de qualidade de vida, já que os

fatores que nela interferem podem comprometer a qualidade do cuidado prestado. A qualidade

de vida de profissionais da área de saúde é um tema que vem despertando crescente interesse

nos últimos anos, tendo em vista a importância dos fatores envolvidos no contexto do trabalho

e sua relação com a qualidade da assistência prestada.

2. História da qualidade de vida do trabalhador

Com o surgimento da revolução industrial e surgimento de novas tecnologias, houve a

migração dos trabalhadores da área rural para as cidades em busca de uma melhor qualidade

de vida e sustento. A qualificação da mão de obra era precária no setor fabril, bem como as

cidades também não tinham suporte para aglomerar grande quantidade de pessoas, o que

acarretava uma vida comprometida e exposta a sujeiras e bactérias, sem lugares adequados

para morarem, pondo em risco assim a saúde de todos que se sujeitavam a essa situação, tendo

em vista que os ambientes de trabalho não ofereciam condições favoráveis capazes de

proporcionar aos trabalhadores uma melhor maneira para execução de suas tarefas. Naquela

época não existia representação de classe, os trabalhadores eram submetidos a grandes

jornadas de trabalho, tendo em vista que o único objetivo da fábrica era o lucro

(RODRIGUES, 2004).

Aproximadamente em 1950, um grupo de pesquisadores desenvolveu estudos relacionados à

qualidade de vida do trabalhador (QVT), ganhando força aproximadamente em 1960. A

preocupação com a valorização da mão de obra e com a QVT tem se tornado um assunto

relevante em todo mundo, tendo em vista que o trabalho tem o poder de garantia de uma

identidade social e um possível crescimento humano, que é importante para o

desenvolvimento e crescimento de toda e qualquer organização, pois sem as pessoas nada

funciona, elas devem ser reconhecidas como diferencial competitivo, capazes de estabelecer

alto grau de conhecimento e inovação. É importante perceber que é ao trabalho que as pessoas

dedicam a maior parte do seu tempo (SCHMIDT & DANTAS, 2006).

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Segundo Chiavenato (2010), qualidade de vida do trabalhador refere-se à preocupação com o

bem-estar e a saúde dos trabalhadores no desempenho de suas tarefas. É importante perceber

que as pessoas dedicam a maior parte de seu tempo ao trabalho e que os possíveis problemas

pessoais dificilmente serão desligados ou separados do seu âmbito de atividades, podendo

assim refletir assim diante dos seus resultados organizacionais. Os reflexos advindos de

problemas podem ser prejudicais tanto para o colaborador, impedindo que este seja

reconhecido por seus resultados e adiando um possível crescimento profissional e pessoal,

quanto para a organização em termo de desenvolvimento e resultados. Como forma de

diminuir esses reflexos as organizações buscam maneiras relacionadas aos conceitos de QVT,

com o propósito de dar suporte aos seus colaboradores para que suas atividades sejam

desempenhadas com mais eficiência.

Os conceitos de QVT abrangem os aspectos físicos, ambientais e psicológicos relacionados ao

local de trabalho, que de um lado os colaboradores devem estar bem e satisfeitos quanto às

atividades exercidas, e do outro a organização interessa-se nos efeitos que o bem-estar e a

satisfação refletem sobre seus resultados. A falta de QVT abre um imenso precedente para o

adoecimento físico, mental e emocional dos trabalhadores, sendo importante a introdução de

políticas que visem à QVT, sensibilizando os empregados e as instituições para o impacto

econômico dos problemas decorrentes da sua falta ou de sua pouca valorização, influenciando

na redução da performace, nos altos índices de absenteísmo, na rotatividade no trabalho, nos

acidentes e, em um contexto geral, no adoecimento do trabalhador (WACHOWICZ, 2007).

Moraes & Kilimnik (1994) compreendem a QVT como “uma resultante direta da combinação

de dimensões básicas de tarefa, capazes de gerar estados psicológicos que, por sua vez,

resultam em motivação e satisfação em diferentes níveis, e em diferentes tipos de atitudes e

condutas”.

3. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida e estresse ocupacional

3.1. WHOQOL –Bref

O Questionário WHOQOL-Bref, foi idealizado pela Organização Mundial de Saúde, é

composto por 26 afirmações respondidas em escala Likert. Este questionário abrange os

domínios: físico, psicológico, de relações sociais e ambiental, que resultam em escores que

variam de 0 a 100. Quanto mais próximo de 100, maior é a percepção da qualidade de vida. A

versão para língua portuguesa foi desenvolvida no Centro WHOQOL para o Brasil no

Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, em Porto Alegre (RS), coordenado pelo Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck (MEYER et.

al, 2012).

3.2. Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36)

O SF-36 é um questionário genérico e semiaberto de qualidade de vida, validado

internacionalmente e traduzido no Brasil para a língua portuguesa por Ciconelli et. al. (1999).

Consiste em um questionário multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8 escalas

ou domínios, que são: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde,

vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Apresenta um escore final de

0 (zero) á 100 (obtido por meio de cálculo do Raw Scale), onde o zero corresponde ao pior

estado geral de saúde e o 100 corresponde ao melhor estado de saúde (PARO &

BITTENCOURT, 2013).

3.3. Escala de estresse no trabalho

A Escala de Estresse no Trabalho e seus itens foram analisados e elaborados de acordo com a

percepção sobre os estressores organizacionais de natureza psicossocial e sobre reações

psicológicas ao estresse ocupacional e análise de instrumentos existentes sobre o assunto.

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Nesta escala foi utilizado o protocolo designado como Modelo de Exigência-Controle-Suporte

(De-mand-Control-Support - DCS), com versão resumida da job stress scale adaptada para a

língua portuguesa, apresenta 17 questões que avaliam as dimensões demanda psicológica,

controle (discernimento intelectual e autoridade) e apoio social. As questões de 1 a 5 avaliam

as demandas psicológicas, indicando pouca ou muita demanda. As questões de 6 a 11 estão

relacionadas ao controle (discernimento intelectual e autoridade sobre decisões) e indicam

muito ou pouco discernimento. De 12 a 17, é determinado o apoio social, de maior ou menor

intensidade (MEYER et. al., 2012).

3.4. Modelo teórico para explicar o estresse em gerentes – MTEG

O modelo teórico para explicar o estresse ocupacional em gerentes (MTEG) foi desenvolvido

e validado por Zille (2005). É estruturado em cinco dimensões: fontes de tensão no trabalho

(FTT); fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial (FTIPG); mecanismos de regulação

(MECREGUL); sintomas de estresse (SINTOMAS) e indicadores de impactos na

produtividade (IMPACTOS). De maneira geral, o instrumento utilizado na etapa quantitativa

permite verificar a existência e os níveis de estresse, identificar as principais fontes de tensão

excessivas no trabalho e as estratégias de defesa e combate ao estado de estresse (METZKER

et. al., 2012).

3.6. Escala Visual Analógica - EVA

Escala Visual Analógica (EVA) de zero a dez, com uma questão global para QVT e a versão

validada e adaptada para a língua portuguesa do Maslach Burnout Inventory – Human Service

Survey (MBI-HSS). Consiste em auxiliar na aferição da intensidade da dor no paciente. A

EVA é de fácil e rápida aplicação. Tem fácil entendimento pelo indivíduo, sendo uma forma

adequada para estimar a intensidade da dor presente (OLIVEIRA, 2013).

4. Metodologia

Baseado nas informações citadas sobre a saúde do trabalhador da área de saúde, este trabalho

teve como objetivo identificar a correlação do estresse ocupacional com a qualidade de vida

de profissionais da área de saúde, desde sua formação até sua atuação profissional e docente.

Tendo em vista que a qualidade de vida de profissionais de saúde é um assunto de grande

importância, pois se trata da qualidade de vida dos promotores de saúde, este trabalho foi

realizado através da procura de artigos científicos relacionados à qualidade de vida de

profissionais de saúde e o impacto do estresse sobre ela. A pesquisa foi no período de abril de

2014 a maio de 2015. As referências foram pesquisadas em bancos de dados como Scielo,

Bireme, Medline, Pubmed, através dos seguintes descritores: trabalhador da saúde, estresse

ocupacional e qualidade de vida do trabalhador. Foram selecionadas referências do ano de

1998 a 2015 referentes ao tema. O este trabalho foi divido em duas fases: levantamento

teórico sobre qualidade de vida do trabalhador; estresse ocupacional e principais ferramentas

de análise de qualidade de vida (fase 1) e a discussão dos resultados encontrados nos artigos

selecionados, sobre QVT e a correlação com o estresse ocupacional (fase 2). Foram incluídos

no trabalho artigos que faziam referência à qualidade de vida do trabalhador de saúde e

estresse ocupacional. Foram excluídos do trabalho os artigos que não havia correlação com a

qualidade de vida do trabalhador. Durante a realização desse trabalho, foi levado em

consideração se além da presença do estresse, havia outros fatores que possam contribuir para

uma percepção negativa de qualidade de vida.

5. Resultados e discussão A preocupação com o estresse está presente no dia a dia, pois este pode causar alterações

fisiológicas, como doenças cardiovasculares e desequilíbrio na atuação do sistema nervoso. O

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estresse, termo derivado do latim com conotação de adversidade, aflição, força, pressão ou

esforço, pode ser considerado um estado de tensão que causa uma ruptura no equilíbrio

interno do organismo (CAMELO & ANGERAMI, 2004).

Em média, 90% da população mundial é afetada pelo estresse. No Brasil, 30% da população

economicamente ativa já atingiu algum estado de estresse causado por pressão excessiva. Este

percentual de profissionais com um conjunto de perturbações orgânicas e psíquicas (estresse)

fica atrás somente do Japão (70%) e ultrapassa os Estados Unidos (20%), sendo que este

estado está associado ao desenvolvimento de doenças que afetam a vida de milhões de

pessoas no mundo todo (BATISTA & BIANCHI, 2006). Entre 70% e 80% de todas as

doenças, tais como cardíacas, alguns tipos de câncer, infertilidade feminina, úlceras, insônia e

hipertensão, estão relacionadas ao desenvolvimento do estresse. Paralelamente, fatores como

excesso de peso, sedentarismo, alto consumo de bebidas alcoólicas e ingestão excessiva de

sódio têm sido apontados como predisponentes a estes tipos de doenças estressoras

(MALAGRIS & FIORITO, 2006).

Os profissionais da saúde parecem estar mais predispostos a serem afetados e expostos

frequentemente a situações estressantes. Isto se deve principalmente à herança genética de

cada pessoa, à carga horária de trabalho exaustiva, ao não reconhecimento da profissão, à

cobrança excessiva do paciente, de familiares e do próprio profissional. Porém, o estresse não

é a causa direta de dores musculares, pressão arterial alta, fadiga, taquicardia, ansiedade e

angústia. Apenas propicia o desencadeamento destas doenças, para as quais a pessoa já tinha

predisposição (CAMELO & ANGERAMI, 2004).

Para Asaiag et. al. (2010), o estresse profissional, também denominado burnout, é considerado

uma doença ocupacional que se apresenta com despersonalização, exaustão emocional e baixa

realização pessoal que afetam o desempenho profissional. Atualmente, observa-se que os

profissionais de saúde têm suportado uma carga de trabalho cada vez mais extenuante, com

mais fatores que favorecem o desencadeamento do estresse, levando a um comprometimento

de sua qualidade de vida.

A exaustão emocional está relacionada à redução dos recursos emocionais internos, causada

por demandas interpessoais. A despersonalização reflete o desenvolvimento de atitudes frias,

negativas e insensíveis direcionadas aos receptores de um serviço prestado. A sensação de

baixa realização profissional evidencia que pessoas que sofrem com estresse ocupacional

tendem a acreditar que seus objetivos profissionais não foram atingidos e vivenciam uma

sensação de insuficiência e baixa autoestima profissional (PEREREIRA, 2002).

A preocupação com o estresse e a relação com a qualidade de vida é vista tanto em indivíduos

que estão no período de formação como profissionais, durante sua fase de atuação como

profissional formado, e até mesmo como docente na área de saúde.

Santos et. al., (2014) em seu estudo transversal analítico teve com objetivo determinar a

relação entre percepção do nível de qualidade de vida (QV) com estresse e trabalho entre

estudantes de fisioterapia. As coleta dos dados foi feita através do WHOQOL-Bref, Inventário

de Sintomas de Stressde Lipp, protocolo de avaliação de atividade física preconizada pela

Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde do Brasil, Critério de Classificação

Econômica Brasil e Questionário demográfico-socioeconômico, condições laborais e

discentes. Para análise foi considerada variável dependente, a percepção do nível de qualidade

de vida, avaliada pelo WHOQOL-bref e variável independente foram classificadas em

individuais (demográficas e socioeconômicas); condições de saúde, discentes e de trabalho. A

pesquisa foi desenvolvida com 310 estudantes que estavam matriculados primeiro semestre

letivo de 2013 no curso de graduação de fisioterapia. Foram excluídos 10 protocolos de

pesquisa respondidos por apresentarem respostas incoerentes ou incompletas.

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Foram identificados altos níveis de percepção de qualidade de vida (WHOQOL-Bref), perante

a avaliação da qualidade de vida geral e nos domínios físicos (64,7%), psicológico (81,7%),

social (84,0%) e ambiental (73,0%).

De acordo com achados sobre as variáveis independentes que se relacionam com a percepção

negativa de qualidade vida e foram incluídas nas análises de regressão logística múltipla,

observa-se que 7,0% apresentaram sinais de estresse na fase alerta; 45,0% na fase de

resistência e 12,0% na fase de exaustão. Da amostra, 10,7% têm filho; 67,0% (n=201)

estudam no turno noturno; 50,0% trabalham.

Os indivíduos estudados que apresentaram sinais de estresse nas fases de resistência e

exaustão obtiveram baixa percepção de qualidade de vida no domínio físico, quando

comparado àqueles que não apresentaram sinais de estresse; maior chance de baixa percepção

no nível de qualidade de vida entre estudantes com sinais de estresse na fase de resistência

quando comparados aos estudantes sem sinais de estresse nesta fase; Maior chance de baixa

percepção no nível de qualidade de vida no domínio psicológico em estudantes que têm filho

quando comprados com aqueles que não têm. Maior chance de baixa percepção de qualidade

de vida no domínio ambiental entre estudantes que trabalhavam quando comprados aos que

não trabalhavam; e maior chance entre estudantes com sinais de estresse nas fases de alerta e

resistência quando comparados aos estudantes sem sinais de estresse nestas fases.

“O domínio físico da qualidade de vida compreende aspectos como energia e

fadiga, dor e desconforto, sono e repouso. Acredita-se que sua relação à fase

de resistência de estresse possa ser justificada pela grande quantidade de

energia despendida na elaboração de estratégias de enfrentamento dos

agentes estressores, de forma a evitar maior enfraquecimento físico e

posterior desenvolvimento de doenças. Nesta fase, predominam indicadores

de estresse de natureza física e a pessoa pode desenvolver quadros de

cefaleia, tensão muscular e desgaste físico constante dentre outros (SANTOS

et. al., 2014:871).”

Paro & Bittencourt (2013), realizou uma pesquisa com intuito de avaliar e comparar a

qualidade de vida (QV) de graduandos da área da saúde. O estudo foi feito de modo

exploratório transversal, com abordagem quanti-qualitativa, e todos os estudantes dos cursos

de graduação (enfermagem, farmácia, fonoaudiologia e medicina) foram convidados a

participar de forma voluntária. A qualidade de vida foi analisada através do questionário

genérico Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36), versão já

traduzida e validada para a língua portuguesa, composto de 36 questões. A análise dos dados

foi realizada conforme normas do próprio instrumento, com escores de 0 a 100 para cada uma

das oito dimensões avaliadas: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de

saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Além do questionário

de qualidade de vida, foi feita uma pergunta aberta relacionada à percepção do aluno sobre a

influência da universidade em sua qualidade de vida. De acordo com os resultados, o domínio

com maior escore foi o relacionado à capacidade funcional, entretanto o pior domínio está

relacionado com a vitalidade. Dos cursos analisados, o de farmácia foi o curso que obteve o

pior índice de qualidade de vida nas séries iniciais do curso, melhorando com avanço do

curso. Já os demais cursos obtiveram o resultados inverso, o piores resultados de qualidade de

vida estavam nos anos finais e melhor resultado nas séries iniciais, sendo que este resultado

pode ser em virtude ao aumento das atividades no fim do curso. A redução do tempo para

lazer e o cansaço são citados como os principais fatores qualitativos que influenciam na

qualidade de vida e corroboram os achados do SF-36, com relação ao domínio vitalidade.

No estudo realizado por Meyer et. al. (2012), que teve como objetivo analisar a qualidade de

vida e o estresse ocupacional em estudantes de Medicina matriculados no último ano de

internato médico, foi desenvolvida uma pesquisa com uma amostra por conveniência de 302

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estudantes, sendo 55,6% do gênero masculino e 44,4% do gênero feminino, com média de

idade de 25,3 ± 2,4 anos. A pesquisa foi realizada através de um questionário previamente

validado e se dividiu em cinco partes: Informações particulares, com também

sociodemográficas; Questionamento relacionados a prática de atividade física; características

do internado; Qualidade de vida, através do WHOQOL (abreviado), que abrange os domínios

físico (sete questões), psicológico (seis questões), social (três questões) e ambiental (oito

questões), resultando em escores que variam de 0 a 100, sendo que, quanto mais próximo de

100, melhor a qualidade de vida; e a escala de estresse no trabalho.

Perante os resultados, observou-se que a pontuação média da qualidade de vida foi maior que

a pontuação média do estresse ocupacional. As mulheres (80%) obtiveram escores altos

(80,7%) no domínio social da qualidade de vida. Os homens apresentaram um nível maior

(43,7%) na análise de estresse ocupacional, porém não houve diferença significativa nos

escores de qualidade de vida e estresse ocupacional entre os sexos. Os estudantes

apresentaram uma boa qualidade de vida. No entanto, são submetidos a alto nível de estresse.

Arronqui e seus colaboradores (2011) tinham como objetivo Conhecer a percepção de

graduandos de Enfermagem sobre sua qualidade de vida. Para isso foi realizado um estudo

descritivo, com desenho transversal e abordagem quantitativa com acadêmicos de

enfermagem. Dos 345 acadêmicos, apenas 178 aceitaram participar voluntariamente da

pesquisa. A análise da qualidade de vida foi realizada através do WHOQOL-bref. Os dados

coletados foram colocados em uma planilha de dados do programa Excel for Windows XP e

após isso foi feita a análise estatística com auxílio do programa Statistical Package for the

Social Sciences for Windows , em sua versão 17.0. Foram aplicados os testes de normalidade

de Kolmogorov-Smirnov e o t de Students para amostras não pareadas com nível de confiança

em 95%.

Os acadêmicos do curso de enfermagem que participaram da pesquisa consideraram sua

qualidade de vida boa e estavam satisfeitos com sua saúde. Nos resultados obtidos nos escores

do questionário de qualidade de vida, observou-se que o domínio relações sociais obteve

maior resultados que o domínio físico. Ao relacionar os alunos por série obteve-se que os

alunos da primeira série, demonstraram qualidade de vida inferior aos alunos da segunda

série, em todos os domínios. Já os alunos da segunda série obteve escore maior do que os da

terceira série no domínio físico e em relação maior a quarta série obteve maior escore no

domínio meio ambiente.

De forma geral, foi atribuído um escore médio aos domínios, no qual foi observado que o

maior escore era do domínio social e o pior escore estava relacionado ao domínio físico. A

pontuação do escore do domínio social deve-se pelo fortalecimento das relações pessoais e do

suporte social. Já o escore mínimo percebido no domínio físico, pode ser resultado da carga

horária do curso, exigências extracurriculares, esforços físicos na atuação prática, atividades

da vida cotidiana, o estresse e ansiedade.

Ursine et. al., (2010) preocupou-se intimamente com a saúde do agente comunitário de saúde

e realizou um estudo descritivo, transversal e com abordagem quantitativa, com objetivo de

investigar as condições de trabalho e a qualidade de vida dos Agentes Comunitários de Saúde

(ACS) que atuam na região sul do município de Londrina. Foram selecionados 73 agentes

comunitários de saúde através de critério de aceitação voluntária. Para a coleta de dados foram

utilizados questionários, sendo um de qualidade de vida (WHOQOL-Bref); outro questionário

para caracterização do perfil desses trabalhadores, abordando questionamento sobre condições

sociodemográficas, de saúde e de trabalho; e questionamentos com perguntas fechadas e

abertas sobre a prática de exercício físico. De acordo com a pesquisa, entre os agentes

comunitários de saúde, o gênero feminino era prevalente (63 mulheres – 86,3%), observou-se

uma média de idade de 33,5 ±9,2 anos, a escolaridade preeminente era o ensino médio, sendo

a maioria casados. Consoante o questionário, verificou-se positivas as condições gerais de

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qualidade de vida, assim como os domínios: físico, psicológico, relações sociais. No entanto,

o domínio meio ambiente obteve um menor escore, sendo esse resultado interligado as

condições de trabalho dos agentes comunitários de saúde.

Mascarenhas e seus colaboradores (2013) realizaram um estudo transversal com a finalidade

de analisar a associação dos fatores ocupacionais, sociodemográficos, comportamentos de

risco e de saúde com o comprometimento da qualidade de vida dos agentes comunitários de

saúde do município de Jequiê na Bahia. Antes de realizar a pesquisa foi feito um estudo piloto

com 14 agentes comunitários de saúde da circunscrição vizinha para adaptação dos

questionários aplicados.

O estudo foi realizado com 316 indivíduos que aceitaram, de forma voluntária, participar da

pesquisa. Foi utilizado um questionário com perguntas divididas em bloco, sendo blocos

relacionados a questões sociodemográficas, variáveis ocupacionais, comportamentos de risco,

variáveis relacionadas à saúde e a qualidade de vida, sendo o ultimo item avalizado através do

WHOQOL-Berf. Dos agentes comunitários de saúde avaliados, a maioria (84,5) era do sexo

feminino, com média de idade de 39,02 ± 9,19 anos. Entre os entrevistados, predominava a

existência de união estável (69,0%), era prevalente entre os ACS o nível médio completo ou

incompleto (79,1%) e média de renda familiar mensal de 1.358,40 ± 915,88 reais.

Dos avaliados, 29,1% pertenciam ao grupo de baixa exigência ocupacional, em seguida,

encontrávamos o grupo de alta exigência (27,8%). Com relação ao comportamento de risco

83,5% dos indivíduos não eram tabagista, 61,4% não consumiam nenhum tipo de bebida

alcoólica e 62,3% praticavam atividade física. Dos entrevistados 84,8% apresentam dores

musculoesqueléticas e apresentaram satisfação negativa (58,9%) com sua própria saúde. Nos

domínios de qualidade de vida observou-se a média de escores, sendo que o mais alto está

associada às relações sociais (76,90), psicológico (74,33), físico (64,04) e meio ambiente

(47,45).

As variáveis foram associadas aos domínios: o domínio físico tinha associação predominante

as variáveis: sexo, idade, dor e satisfação com saúde; o domínio psicológico associava-se com

escolaridade, aspectos psciossociais, tabagismo, dor e satisfação com a saúde; no domínio

relações sociais foi relacionado com o sexo, situação conjugal, escolaridade, aspectos

psicossociais e satisfação com a saúde; já no domínio meio ambiente observa-se a relação

com sexo, renda familiar, local de trabalho, aspectos psicossociais e satisfação com a saúde.

Assim como no trabalho de Ursine et. al., (2010), nesse realizado por Mascarenas e

colaboradores (2013), observou-se o menor escore relacionado ao domínio meio ambiente. De

acordo com os achados relacionados às variáveis estudadas, o que pode ter colaborado para o

resultado do domínio esta relacionado à dupla jornada, com elevada carga de tarefas

ocupacionais. A suscetibilidade a violência urbana também pode influência no resultado,

tendo em vista que o trabalho dos ACS é feito na comunidade através de visitas domiciliares.

a baixa renda familiar é um dos itens mais importante para o resultado desse domínio, pelo

fato da renda não suprir necessidade básica para viver em sociedade como lazer, informação,

entre outras, que influenciam na qualidade de vida.

Nunes & Freire (2006) realizaram uma pesquisa observacional transversal com a intenção de

interar-se sobre a qualidade de vida e fatores associados entre os cirurgiões-dentistas de

serviço público municipal. A amostra consistiu em 290 cirurgiões-dentistas do quadro

permanente da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. Para Análise de qualidade de vida,

foi utilizado o questionário WHOQOL-Bref e os dados encontrados foram analisados

utilizando-se o programa SPSS 10. Para fazer a relação entre os domínios encontrados no

questionário de qualidade de vida (variáveis dependentes) e as demais variáveis investigadas

(variáveis independentes) foi realizada análise de regressão logística, sendo realizada em cada

domínio e cada variável independente para verificar se havia associação entre elas. Os

resultados encontrados mostra que o tempo de conclusão de curso era em média 16,8 anos e

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60,4% tinha curso de pós graduação. Trabalhavam na média de 7,9 horas por dia e 69,1%

eram funcionários do serviço público e privado, com média de 12,1 anos de serviço público,

exercendo com prevalência as atividades clínicas (85,2%). Suas qualidade de vida, de forma

geral, obteve um bom resultado (73,8%), obtendo também bom resultado na auto-percepção

de estado de saúde (67,8%). Apesar de bons resultados sobre a condição de vida, 73,9%

mencionaram que condição ou problema de saúde, sendo os principais relacionados à:

problemas de coluna (17,8%), hipertensão (8,9%) e alergias (7,3%). De acordo com o

questionário de qualidade de vida, a maioria dos cirurgiões-dentistas apresentaram redução da

qualidade de vida nos domínios físico (51,0%) e psicológico (52,3%) e alta nos domínios

relações sociais (50,3%) e meio ambiente (59,1%). Através da análise de regressão logística

múltipla, a satisfação com saúde e o relato de problemas com saúde estão associados ao

domínio físico e a auto-avaliação de qualidade de vida associados, tanto com o domínio,

quanto com o psicológico e meio ambiente. Tais relatos relacionam-se com a rotina desses

profissionais, ou seja, a idade, dupla jornada, o deslocamento de um trabalho no serviço

público para o privado, entre outros. Apenas 36,2% afirmaram trabalhar mais de 9 horas por

dia e apesar de não ser a maioria dos profissionais participantes da pesquisa, deve-se levar em

conta que a sobrecarga de trabalho é considerada um fator que pode interferir na percepção da

qualidade de vida.

Neto & Abrahão (2014) realizaram um estudo quantitativo, de caráter exploratório, descritivo

e indutivo, com objetivo de analisar a qualidade de vida do professor na área de saúde, no

ensino superior do sul do Espírito Santo e comparar a qualidade de vida com professores de

outras áreas. Foram entrevistados 50 professores, sendo 25 professores da área da saúde

oriundos dos cursos educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia e nutrição. Os outros

25 participantes, considerados amostra controle, eram oriundos dos cursos de administração,

direito, história, pedagogia e sistemas de Informação. Para realizar a pesquisa sobre qualidade

de vida foi utilizado o questionário SF-36. De acordo com os resultados, tanto no grupo de

docentes da saúde quanto no grupo controle o número de mulheres era maior, totalizando um

percentual de 68% de mulheres e 32% de homens. Com relação à idade e ao tempo de atuação

profissional o ensino superior, foi observado que os professores apresentam uma média

congênere, sendo a média dos docentes da área de saúde (33,92 ± 6,05) e grupo controle

(35,96 ± 6,57). O tempo de profissão na docência é maior para os profissionais do grupo

controle (9,16 ± 5,72) e menor no grupo de docentes da área da saúde (5,82 ± 3,38).

Na análise da qualidade de vida, somente nos domínios 3 (dor) e 4 (estado geral de saúde)

obtiveram resultados significativos, mantendo correlação com a idade e tempo de atuação

como professor de ensino superior. Os resultados obtidos são significativos e podem estar

associados a carga horária maior, ou tempo de serviço prolongado. O estado geral de saúde

pode ser identificado com um domínio positivo para os docentes de saúde com relação a sua

qualidade de vida, tendo em vista que eles visualizam essa condição de modo mais técnico.

No entanto, os pesquisadores concluíram que tanto os doentes da área de saúde, quanto os

participantes do grupo controle necessitam de atenção igualitária, relacionados à qualidade de

vida, sugerindo a implementação de um programa de qualidade de vida nas instituições de

ensino superior.

O estudo descritivo, exploratório, transversal e quantitativo realizado por Almeida e

colaboradores (2013), teve o intuito de avalia à qualidade de vida relacionada à saúde dos

profissionais de enfermagem que trabalhavam no centro cirúrgico. Para realizar a pesquisa foi

utilizado instrumento de avaliação - SF 36, validado para a língua portuguesa. A amostra da

pesquisa foi composta por 14 técnicos de enfermagem, com sexo feminino predominante

(70,58%), casado/união estável (58,82%), com 3 ou mais filhos (41,17%) e com renda mensal

pessoal maior que 4 salários mínimos (52,94%). Em uma perspectiva geral, os trabalhadores

de enfermagem apresentam uma percepção positiva de qualidade de vida. De acordo com os

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escores obtidos através dos domínios do questionário SF-36, os domínios “aspectos físicos”

(escore médio: 61,8 pontos); “aspectos emocionais” (escore médio: 62,74 pontos) e domínio

“dor” escore médio: 63,24 pontos) são os domínios que apresentaram pontuações negativas

com relação a percepção do estado de saúde. Enquanto que os domínios - capacidade

funcional, saúde mental, estado geral de saúde, vitalidade e aspectos sociais obtiveram uma

maior percepção positiva do estrado de saúde.

Schmidti et. al. (2013) buscou avaliar a qualidade de vida no trabalho e a presença da

Síndrome de Burnout entre profissionais de enfermagem de Unidade de Terapia Intensiva,

através de um estudo descritivo, correlacional, de corte transversal. A amostra foi composta

por 53 trabalhadores de enfermagem, sendo auxiliares de enfermagem (52,8%); técnico de

enfermagem (30,2%) e enfermeiro (17,0%) com predomínio do sexo feminino (66,0%). A

análise da qualidade de vida no trabalho foi realizada através da Escala Visual Analógica, com

variância de intervalo de 0 a 100. Durante a Análise obteve-se média de 71,1 (D.P.=15,5) e

mediana 73 para os 49 profissionais de enfermagem que responderam a essa questão,

resultando em satisfação com a qualidade de vida no trabalho. Contudo, estatisticamente os

resultados relacionados à qualidade de vida no trabalho associados às variáveis

sociodemográficas avaliadas não apresentaram grande significância nos resultados

encontrados.

Foi observado na pesquisa de qualidade de vida do trabalho que a população pesquisada

apresentou grande satisfação no trabalho, não obstante, o ambiente no qual esses

trabalhadores prestam assistência é considerado um lugar onde pode levar a insatisfação de

comprometimento da qualidade de vida, tendo em vista que a unidade de terapia intensiva é

um ambiemte que proporciona contato contínuo com o sofrimento e morte, uso abundante de

tecnologias sofisticadas e a complexidade do cuidado, entre outros.

A pesquisa de Fogaça e seus colaboradores (2010) tiveram como objetivo, comparar a

qualidade de vida (QV) de médicos e enfermeiros que trabalham em UTI pediátrica (PED) e

neonatal (NEO) e, também, avaliar se há diferença entre a QV na mesma categoria

profissional, mas diferindo de acordo com a unidade de trabalho. Foram avaliados 25 médicos

e 10 enfermeiros da UTI pediátrica e 12 médicos e 10 enfermeiros da UTI neonatal. A

avaliação de qualidade de vida foi feita através do questionário WHOQOL-100, validado para

a língua portuguesa. Após a aplicação do instrumento de qualidade de vida, foi realizada a

comparação entre as duas unidades de terapia intensiva e categoria profissional (médicos e

enfermeiros), por meio do teste Mann-Whitney U.

A quantidade de médicos (76 %) e enfermeiros (95%) do gênero feminino foi predominante.

Ao realizar a comparação entre os dois grupos de enfermeiros, observa-se que foram

encontrados escores maiores nos domínios: físico (13,8 e 12,8), psicológico (14,5 e 14,2),

relação social (15,8 e 14,8), meio ambiente (13,4 e 12,7) e aspectos

espirituais/religiosidade/crenças pessoais (16,5 e 16,0) em enfermeiros que trabalham na UTI

neonatal. No entanto, essa diferença estatística não apresenta valores significantes na

diferença em ambos os grupos. Ao comparar a classe médica e de enfermeiros que trabalham

na UTI pediátrica, encontrou-se variação significativa no domínio meio ambiente e na

comparação das classes profissionais (médicos e enfermeiros) na UTI neonatal, encontrou-se

diferença estatística significante nos aspectos espirituais, religiosidade e crenças pessoais.

Metzker e seus colaboradores (2012), através de um estudo descritivo, buscaram investigar os

aspectos relacionados ao estresse no trabalho de fisioterapeutas de um hospital filantrópico de

Belo Horizonte-MG. A amostra consistiu em 38 fisioterapeutas e a análise de dados foi

realizada. Os dados foram coletados em duas etapas: etapa quantitativa - aplicação de

questionário pesquisa adaptado do MTEG (modelo teórico para explicar o estresse em

gerentes) e etapa qualitativa, com entrevistas semiestruturadas com cerca de 30% dos

respondentes do questionário. Após a coleta do dados, houve a tabulação e pode concluir que

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a presença de estresse ocupacional era evidente, 76,3% dos indivíduos pesquisados

apresentaram quadro de estresse ocupacional, sendo 60,5% com estresse leve a moderado e

15,8% com estresse intenso. Foram identificados os principais sintomas do estresse: dor

muscular no pescoço e ombros, ansiedade e fadiga. Fatores identificados como estressantes

considerados fontes de tensão excessiva vivenciadas no trabalho foram a necessidade

constante de acertos nas atividades realizadas; a realização de diversas atividades

simultaneamente; e a divisão da autonomia com outro profissional de saúde.

5. Conclusão

De modo geral, durante a análise dos artigos sobre qualidade de vida e estresse ocupacional,

observou-se que a prevalência do gênero feminino é maior, a percepção da qualidade de vida

é boa, porém, fatores econômicos, a dupla jornada (mais de um trabalho associadas a

atividades domésticas) e o trabalho noturno podem influenciar em uma futura percepção

negativa de qualidade de vida. Durante o estudado realizado por Fogaça et. al., (2010),

evidenciou-se que daqueles participantes que apresentavam comprometimento na qualidade

de vida, estes também tinham características que sinalizavam para a presença de estresse

ocupacional. Corroborando a afirmativa que o estresse laboral é um importante fator para uma

percepção de qualidade de vida inadequada.

Durante a busca sobre trabalhos científicos referentes ao assunto, observou a escassez de

estudo sobre qualidade de vida em algumas profissões da área da saúde. Considera-se a

qualidade de vida no trabalho uma temática importante para todos os profissionais que

trabalham na área de saúde. Tendo em vista que se o profissional encontra-se satisfeito com

sua saúde e seu bem estar, também irá ofertar aos seus pacientes um serviço pleno.

São necessários mais estudos relacionados à qualidade de vida em profissionais da

fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia, dentista, assistentes sociais para que possamos

identificar e conhecer os fatores e a repercussão do estresse ocupacional na qualidade de vida

desses profissionais.

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