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Estrutura e
Dinâmica Social (EDS)
Prof. Diego Araujo Azzi
2019.1
Clássicos da Teoria Social
Karl Marx & Friedrich Engels
Manifesto Comunista (1848)
• Texto teórico-político
• Destinado a ser lido por operários (20 págs)
• Manifesto não acadêmico, originalmente publicado sem o nome dos autores
• Capta grandes tendências materialistas históricas de longa duração
• Texto sobre o capitalismo, não sobre o comunismo
• Diálogo com outras correntes políticas da época, mais moderadas
• Marx tinha 29 anos. Engels tinha 27 anos.
• Para falar de Marx, deve-se começar por Hegel
• Georg Hegel (1770-1831)
• Mas... para falar de Hegel é preciso falar de Kant
• Immanuel Kant (1724-1804)
• A razão está no sujeito. O justo existe na cabeça de cada um
– fundamenta filosoficamente a racionalidade individualista burguesa (Lutero na religião: a fé está no sujeito)
– se alinha com a oposição da burguesia ao absolutismo e ao direito divino de governar
– Rejeição ao Estado Absolutista (1º, 2º, 3º estados)
– Kant como filósofo de uma Burguesia ainda fora do Estado
• Georg Hegel (1770-1831)
• “Princípios da Filosofia do Direito”
– defesa da racionalidade expressa pelo Estado (burocracia) e pelas leis. Objetivações da evolução do Espírito (Deus).
• Contexto Hegeliano: Hegel como principal influência filosófica
• Marx foi aluno dos alunos de Hegel na Faculdade de Direito. Jovens Hegelianos (grupo heterogêneo)
• Hegel como filósofo de uma Burguesia já dentro do Estado. Último dos filósofos do Idealismo alemão
Racionalidade de Estado burguesa
• Princípios universais
– defesa da propriedade privada
– liberdade de contrato
– autonomia da vontade (liberdades individuais)
– igualdade entre todos, em todo o mundo
• no entanto, somente jurídica, não econômica ou social
• Karl Marx (1818-1883)
Crítica à Filosofia do Direito de Hegel
– uma crítica do pensamento jurídico do seu tempo, e à razão de Estado
– Hegel: O Estado é a razão em si e para si
– Marx: O Estado não é “A” razão, mas a expressão da razão da burguesia dominante
– Idealismo em Hegel: As ideias (razão) movem a história
– Materialismo em Marx: A verdade do mundo é a verdade das classes sociais.
Mas por que existem classes?
• Friedrich Engels (1820-1895)
• Filho de industriais alemães vai para a Inglaterra e conhece operários em Manchester
• A situação da classe trabalhadora inglesa
• Esboço de uma crítica da economia política
• O Esboço de Engels apresenta a Marx a Economia Política
• Political Economy / Economics
• Colaboradores durante toda a vida
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895)
– Marx nunca se autonomeou um sociólogo, mas elaborou uma compreensão científica da realidade e da mudança social de longo prazo
– Crítica à Filosofia idealista: “os filósofos apenas interpretam o mundo de maneiras várias, a questão, porém, é transformá-lo”
– Em registro diferente de Comte e de Dukheim, Marx enfatiza a análise das relações econômicas para buscar entender as transformações que estavam ocorrendo durante a Rev. Industrial, na irrupção da Modernidade
• Em lugar da coesão social e da ordem, Marx enfatiza o conflito social, a dominação e a exploração do trabalho
• A partir da análise das relações de produção na esfera econômica, Marx faz considerações sobre a história, a filosofia, a cultura, a religião, o direito e o Estado (superestrutura simbólica)
• Mesmo contexto histórico que Durkheim. Preocupações diferentes, métodos diferentes
Concepção materialista da história
– Oposição ao idealismo filosófico segundo o qual o desenvolvimento histórico é motivado por ideias ou ideais abstratos, como liberdade e democracia
– Mantém a visão hegeliana da dialética da história com inevitáveis contradições, transformações e estágios de desenvolvimento, que incluem os resultados utópicos
– Materialismo histórico: a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes.
• as ideias dominantes de uma era são reflexos das ideias das classes dominantes e, especificamente, do modo de produção de uma sociedade
• Ideal da monarquia absoluta: direito divino de governar, são escolhidos por Deus
• Capitalismo moderno: indivíduos são soberanos sobre si e fazem escolhas livres
• Modo de produção como conceito chave – modo de produzir relações sociais e de reproduzir a vida humana em sociedade
• Capitalismo: modo específico de produção da vida. Sistema social inerentemente classista; novas condições de opressão; novas formas de luta
• As classes são definidas por um tipo específico de relação social que articula vários aspectos da sociedade: a relação de propriedade: o direito legal, garantido pelo Estado, sobre algum bem material ou imaterial.
• Capital: qualquer recurso, incluindo o dinheiro, máquinas ou até fábricas que possa ser usado ou investido na produção de recursos futuros. Os que possuem esses recursos são capitalistas
• A acumulação do capital vai de par com um segundo elemento, a mão de obra assalariada, que não possui os meios para sua sobrevivência, apenas pode vender a sua força de
trabalho
• Grandes massas de camponeses que antes viviam do cultivo da terra migram para as cidades industriais em expansão
• Essa massa de trabalhadores assalariados dependentes do regime de produção capitalista para sobreviver, é o proletariado (prole)
• Relação de exploração: os trabalhadores não tem controle sobre o seu trabalho (alienação), ao passo que os empregadores (burguesia) obtém lucro com o produto do trabalho dos outros, pois são donos dos meios de produção
• Tese do Manifesto: a sociedade se divide cada vez mais em duas grandes classes opostas: a burguesia e o proletariado (se confirma hoje?)
• Lumpemproletariado: indigentes, ladrões, trabalhadores itinerantes, artistas de rua, apostadores, libertinos, prostitutas e todos aqueles que faziam parte da boemia.
• Estágios históricos: contradições nos modos de produção e luta de classes
– sociedades comunistas primitivas de caçadores e coletores
– antigos sistemas escravagistas e feudais baseados na divisão entre proprietários de terras e servos
– surgimento de artesãos e mercadores dá origem à classe capitalista, que deslocou a nobreza proprietária de terras
– assim como os capitalistas suplantaram a ordem feudal, eles também seriam suplantados pelo proletariado, que inevitavelmente instauraria então o comunismo, a sociedade sem classes
– ou a luta de classes resulta em revolução ou ela resulta no aniquilamento das classes em luta
• Proletariado: aquele que depende da venda da sua força de trabalho para sobreviver
– produtivo (cria mais-valia)
– “improdutivo, porém indispensável (serviços de limpeza; artistas; serviços públicos em geral; professores; médicos, etc)
• Não cria mais-valia (?)
• Mais-valia
– absoluta: maior tempo de trabalho
– relativa: produtividade; maquinário; bens de capital
• Força de Trabalho > Meios de Produção > Mercadoria > Salário
• Valor do salário tem que ser diferente do preço da mercadoria
• Se salário = preço da mercadoria, lucro = 0
• salário = tempo de trabalho (ex. hora-aula)
• lucro = tempo de trabalho a mais, não pago
• Relações de produção capitalistas: diferença entre o tempo real trabalhado (salário ideal) e o tempo correspondente ao salário real é o que constitui basicamente a taxa de mais-valia, o lucro advindo desse modo de produção específico
• Salário mínimo: o mínimo necessário para reproduzir (manter) as condições de existência da força de trabalho operária. Modo de produção da vida
• Desigualdade de renda por gênero, raça, idade. Mulher no Manifesto?
Tragédia do Trabalho
• É específico do modo de produção capitalista a perda de autonomia do trabalhador (controle, vigilância, repetição, alienação, estranhamento)
• Ao mesmo tempo, se vê a total autonomização dos produtos do trabalho frente ao próprio trabalhador
• Anulação da criatividade humana em favor do capital. O Homem como apêndice da máquina
• Trabalhar para viver > Viver para trabalhar (oposição a Durkheim, similaridade com Weber)
O Capital crítica da economia política
capítulo 1 – a mercadoria
• “A riqueza das sociedades onde reina o modo de produção capitalista aparece como uma enorme coleção de mercadorias” (p. 113)
• Economia política – Inglaterra, séc. XVII-XVIII
–economia – oikonomia: administração da casa (oikos)
–política – economia da pólis, da cidade, do país. A economia do espaço público, não do privado
–novo campo de estudos, autonomizado do Direito, da História e da Política
Adam Smith, final do séc. XVIII
• Filósofo e economista liberal
• “A riqueza das nações” (1776): riqueza como resultado da busca dos indivíduos por seus interesses egoístas
• Defesa do livre comércio e do Estado mínimo
• Criador da expressão “mão invisível do mercado”
• A competição no mercado determina o valor e os preços
David Ricardo, virada do sec. XVIII-XIX
economista liberal, sucessor de Smith
• Teoria do valor-trabalho
• Teoria da distribuição
• Teoria das vantagens comparativas
• 1817 – “Princípios de economia política e taxação”
• Pressupõe a igualdade entre aqueles que realizam trocas mercantis
Karl Marx – o percurso do projeto da Crítica
• Esboço da crítica de Engels – 1844
• Manifesto Comunista – 1848
• Trabalho Assalariado e Capital – 1849
• Grundrisse – 1857-1858
• Para a Crítica da Economia Política – 1859
• Salário, Preço e Lucro – 1865
• O Capital: crítica da economia política (Livro I: O processo de produção do capital) – 1867
Karl Marx
• Após a crítica da Filosofia do Direito de Hegel...
• Projeto de crítica da Economia Política
– conceito de valor
– conceito de capital
– análise do modo de produção capitalista
– Marx não estuda os antigos modos de produção nesta obra, em outras sim
• David Ricardo:
– o valor é criado apenas pelo tempo de trabalho. Somente o trabalho cria valor
– capital como o conjunto de bens, maquinário e riqueza
Pré-história: o Trabalho diferencia os Homens dos animais
– arquiteto-abelha
– criatividade
– exteriorização da subjetividade
– Controle de quem trabalha sobre a produção e sobre o produto
Capitalismo
• Trabalho vivo (k variável)
• Trabalho morto (k constante) – produto do trabalho
– mercadorias
– bens de capital
– fora do controle de quem os produziu (alienação)
– fora do alcance de quem os produziu (estranhamento)
• Força de Trabalho (mercadoria especial, criadora de mercadorias)
Conceitos base resultantes da Revolução Industrial
• Trabalho alienado:
– despojado dos meios de produção
– trabalhador não se reconhece no objeto do seu trabalho (estranhamento)
– sem controle sobre o que e como trabalha/produz
– assalariado
• Propriedade privada burguesa:
– da terra
– dos meios de produção
– do produto do trabalho
A propriedade privada burguesa
• Cercamentos – Inglaterra, séc. XVII-XVIII
– Feudalismo: terra como bem comum para a produção dos camponeses
– Revolução Industrial: terra como um bem de produção
– Gentry (nobreza rural aburguesada) e Yeomen (peq. e médios prop.) passam a cercar suas terras e expulsar os camponeses, com o consentimento de Elizabeth I
– Terras passam a ser arrendadas para o pastoreio de ovelhas, o que demandava pouca mão de obra
Lã das ovelhas abastecia as indústrias têxteis nas cidades
• Ao mesmo tempo e devido a isso, camponeses migravam em massa para as cidades em busca de trabalho nas fábricas
• Com um grande contingente de mão de obra disponível, os salários permaneciam baixos
• Classe operária aglomerada em cortiços nos novos subúrbios
• A situação da classe operária inglesa (Engels)
• Capitalismo industrial nascente
• Capital comercial e Capital usureiro (Marx)
– Formas que existem desde o séc. V a.C.
– não criam valor novo, apenas redistribuem o existente
– no mundo moderno, são incorporados, tomados pela forma nova de capital
– o capital na esfera da produção, antes inexistente, propriamente “capital industrial”
– Capitalismo como força avassaladora, que torna tudo seu vassalo, tudo seu dependente
• Solidariedade orgânica (Durkheim)
Capital industrial
– Trabalho assalariado
– Excedente econômico
– Salário: suficiente para repor a força de trabalho e manter sua família (prole)
– Salário não tem relação direta com o valor do produto do trabalho, é sempre menor (mais-valia)
– Viabilidade econômica do lucro
– Criação de valor novo
• Capital
– não é uma coisa (Ricardo), é uma relação social
– é um movimento histórico abrangente e inclusivo
– muda o sentido das coisas
– cria abstrações generalizáveis a todxs
• O capitalismo gera mais riqueza do que o feudalismo
– como essa riqueza é distribuída, é outra questão
– caráter privado da propriedade: que priva o outro
– trabalho morto privando o trabalho vivo
– mediante contrato, exploração consentida
• Quem cria valor é a força de trabalho
– mercadoria capaz de gerar valor novo
– valor apropriado pelo capitalista em troca de salário
– capital que não se valoriza deixa de ser capital, passa a ser um bem (passivo); figura do entesourador
• Marx tenta analisar o capital a partir do trabalho, do salário, e do dinheiro...
• Mas finalmente decide começar pela Mercadoria
– é uma criação social específica do modo de produção capitalista
– é a forma elementar da riqueza: a própria força de trabalho é uma mercadoria
– mercadoria como a forma elementar das relações sociais no capitalismo
– forma genérica, geral
– tudo pode ser mercadoria
Mas o que é a mercadoria?
• valor de uso
• valor
• valor de troca
Mas o que é a mercadoria?
– Tipo de trabalho humano objetivado: abstrato, indiferenciado. Não o trabalho concreto
– Valor: trabalho abstrato socialmente necessário para a produção; imaterial porém objetivo. Diferente de riqueza (p.117)
– Valor de uso: utilidade; qualidade; substância; demanda
– Valor de troca: a mercadoria é suporte para ele; não está nela mesma. Ex. diferentes preços de uma mesma mercadoria e vice-versa
– Apenas no modo de produção capitalista todos (ou quase) todos os produtos do trabalho assumem a forma de mercadoria
• Conceitos interdependentes que formam uma totalidade e se articulam de diversas formas
–os valores não podem existir sem os valores de troca. Sem o preço, não sei quanto algo vale, mas sei que tem valor
–a troca não pode existir sem os valores de uso, sem uma demanda pelo consumo daquela mercadoria
• Valor de troca
– só se revela na hora do intercâmbio de mercadorias (impossível encontrar a gravidade olhando uma pedra)
– o modo de expressão objetiva do valor socialmente necessário
– possibilita a comensurabilidade de todas as mercadorias; relações somente de quantidade; grandeza
– Forma relativa (minha mercadoria) e forma equivalente (mercadoria de outro) do valor
– é deste jogo que surge o dinheiro como equivalente universal
• O dinheiro
– a complexidade e ampliação das trocas leva ao surgimento da mercadoria-dinheiro
– é a forma equivalente universal em que o valor de todas as mercadorias se apresenta como preço
– notas; cheques; passe de ônibus; selos; cartão de débito; cartão de crédito; internet... Nem todo dinheiro é capital
• São as mercadorias que dão valor ao dinheiro, não o contrário, como geralmente pensamos
• O dinheiro oculta o caráter social dos trabalhos e as relações sociais entre trabalhadores e capitalistas
– Supermercados/lojas como coleções de trabalho morto
• Tudo o que o dinheiro toca passa a ter um preço
• O valor de uso do dinheiro é o seu valor de troca. É ser o equivalente universal
• Mas onde estão as pessoas?
– há apenas trocadores de mercadorias
– suas ações estão pautadas, orientadas pelas próprias mercadorias (Fetiche da mercadoria)
– em lugar de pessoas, a dinâmica se dá entre “a mercadoria”; “o dinheiro”; “a força de trabalho”; “o valor”, etc.
• Alienação
- relações socais se dão a partir de um “pecado original”
- perda da possibilidade do trabalhador ser dono do produto e dos meios do seu trabalho.
- sentimento de impotência do indivíduo diante do mundo (Durkheim, Anomia; Freud, Mal-estar na Cultura). Marx, Tragédia do T.
- apenas em grupo ele pode tentar se organizar para mudar algo (Manifesto Comunista)
• Ideologia
- espelhamento da relação social alienada no campo da ideias e representações simbólicas
- ideias e representações que legitimarão o estado de coisas vigente (status quo)
- mecanismos inconscientes de legitimação da alienação
- mascaram a desigualdade profunda e o caráter contraditório do capital
Fetiche da mercadoria (alienação e ideologia)
– Feitiço
– Poderes mágicos
– Vida própria
– Signo e Símbolo
• Venda da mercadoria força de trabalho > alienação do produto > salário > compra de mercadorias > produzidas por outros > em troca de salário > para comprar mercadorias...
• Um mundo de relações materiais entre as pessoas e relações sociais entre as coisas
• noção de Forma: modo abstrato de estruturar relações sociais concretas.
– vazio de conteúdo concreto
– forma flexível que incorpora todos os conteúdos (ex. calça jeans)
• A mercadoria é forma de uma relação social
– foi produzida pressupondo determinadas relações sociais
– é a forma primordial de relação social no capitalismo; a forma-mercadoria
– o dinheiro também é uma forma de relação social; a forma-dinheiro
– a força de trabalho também é uma forma; a forma-trabalho assalariado abstrato
Capítulo 4
Transformação do dinheiro em capital
M-D-M
&
D-M-D`
• Marx quer entender como as relações sociais são dadas, formatadas pela forma social da mercadoria e pela forma dinheiro
• Como “um fato social” durkheimeano, o capital não admite outras formas. Coerção social; Taxa.
– penas para o crime de se roubar mercadorias ou consumir mercadorias e tentar pagar sem dinheiro
• A forma capital emerge da relação entre a forma mercadoria, a forma dinheiro, a força de trabalho e os meios privados de produção
• O capital, que é trabalho morto, tem que voltar à vida sugando novamente o trabalho vivo, como um vampiro
• O capital não é uma coisa, é um processo social que coloca o valor em movimento
• Diferença com relação
– à economia política clássica de David Ricardo: capital como estoque de recursos (máquinas, dinheiro, etc)
• O dinheiro é o ponto de partida e de chegada de todo processo de valorização
• Capital industrial e capital comercial
– Mesma fórmula geral: D-M-D + ΔD (tese)
– No fundo se resume a: D-ΔD
• Capital a juros:
– D-M-D`
– No fundo se resume a: D-D`
• Contradições da fórmula geral (antítese)
– De onde vem o incremento?
• A transformação do dinheiro em capital tem que ser explicada com base nas leis imanentes das trocas de mercadorias, de modo que a troca de equivalentes seja o ponto de partida
• Se é preciso haver uma relação de equivalência nas transações de D para M e de M para D, não pode haver valorização entre equivalentes
• Se capital comercial e a juros não criam valor novo, mas apenas mudam a sua distribuição...
• “Devemos admitir uma troca de não equivalentes” (síntese)
• Mudança fundamental do registro analítico
– Da esfera da circulação de mercadorias (“esfera rumorosa, onde tudo se passa à luz do dia, ante os olhos de todos”)
• Trocadores de mercadorias (igualdade)
– Para a esfera da produção de mercadorias (“o terreno oculto da produção, em cuja entrada se lê: entrada permitida apenas para tratar de negócios”)
• Capitalistas e proletários (desigualdade)
• Compra e venda da força de trabalho
– Trabalhador livre (vs. escravo; servo) como mercadoria
– Liberdade burguesa: proletário tem direito de se vender e de comprar mercadorias com seu salário
– Liberdade burguesa: capitalista tem direito de explorar o trabalho dos outros
– Não vende a sua pessoa, vende a sua capacidade de trabalho
• Compra e venda da força de trabalho
– Por não ser um escravo, vende sua força de trabalho por um determinado período de tempo (jornada de trabalho)
– Está privado dos meios de produção (ex. cercamentos)
– Repressão pode se justificar para manter essa ordem
– A mercadoria força de trabalho é a única que realiza o seu valor de uso, ou seja, é consumida, antes de realizar o seu valor de troca, ou seja, ser vendida
...E assim sucessivamente com relação a cada trabalhador/a individual
• Apesar de ser uma mercadoria especial que cria valor, a força de trabalho está sempre presa ao circuito de troca da mercadoria: M-D-M
• O capitalista, ao contrário, está sempre ligado ao circuito de valorização do dinheiro: D-M-D`
• Qual é o valor da mercadoria força de trabalho?
– Não é igual ao produto do trabalho
– Não é igual ao tempo de trabalho despendido
– Corresponde aos meios materiais necessários para a reprodução da força de trabalho do operário – como operário – e para a manutenção da sua família (nova geração de trabalhadores)
• Mas quem define o que e quanto é necessário?
– processo histórico
– processo econômico
– processo político
– Quanto o mercado está pagando?
A natureza nao produz possuidores de dinheiro e de
mercadorias, de um lado, e simples possuidores de suas
próprias forcas de trabalho, de outro. Essa não é uma relação
historico-natural, tampouco uma relação social comum a
todos os períodos historicos, mas é claramente o resultado de
um desenvolvimento historico anterior, é o produto de muitas
revolucoes economicas, da destruicao de toda uma serie de
formas anteriores de producao social. (p. 244 livro; 315 pdf)
• Força de Trabalho
– Mercadoria especial que cria valor
– Mercadoria que se usa antes de comprar
– Mercadoria com valor definido fora dela
– Dimensão moral (burguesa) do valor da força de trabalho
– Diferenças de renda entre trabalhadores de diferentes países
(história, civilização, cultura, luta social)
– Força de trabalho como custo de produção que deve ser
reduzido ao mínimo (Brasil, 2019...)
• Substituição do trabalho vivo por trabalho morto
– “Reestruturação produtiva”; downsizing
– Para continuar a se expandir o capital estreita sua base de trabalho vivo
– A qual é responsável pela sua própria reprodução (geração de valor)
• Contradição inerente ao capital
– falta de consumidores (e/ou crescimento dos endividados)
– falta de trabalho vivo (base da produção de valor novo)
– falta de investimento (produtores consomem de produtores)
• Crises: Destruição criadora (J. Schumpeter), para permitir um novo ciclo de valorização e acumulação
• Momentos de crise econômica, forma básica:
– ...não-venda de mercadorias
– baixa-se o preço e mesmo assim não há consumo
– desvalorização do valor de troca das mercadorias
– contradição do capital com ele mesmo
– tendência declinante da taxa de lucro
– demissões; falências
– falta de consumidores; empobrecimento da população
– recomeço do processo de valorização...
• Criação destruidora: momentos de crise econômica
– mesmo gerando riqueza, a destruição capital está sempre latente (bolhas)
– quando há desvalorização, o capital está se autodestruindo, ele ameaça a sua própria existência (crise 2008, bailouts)
• Marx: Criação destruidora
– o capital: extraordinária criação, que honra os homens, porém merecedora de ferozes críticas (F. Oliveira)
– Propósito de Marx: criação de uma teoria que destruísse as bases teóricas do sistema capitalista e ao mesmo tempo desse ferramentas criativas aos proletários
• Contradição inerente ao capital: auto-negação
– O capital não encontra barreiras externas para o seu crescimento (Durkheim)
– A única barreira capaz de impedi-lo é ele mesmo
Fortuna crítica
• Impacto das ideias de Marx e Engels foi brutal e extrapolou em muito o universo acadêmico e científico
– escritos políticos
– escritos econômicos
• Primeira tradução ao português do Brasil apenas em 1967, no centenário do livro
• Até os anos 1990, mais de um terço da população do planeta vivia em sociedades cujos governos afirmavam tirar sua inspiração das ideias e da obra de Marx
• Marx é diferente de marxismo
• Até hoje as noções políticas de esquerda e direita são definidas, em parte, por sua relação com as ideias de Marx
• A cada grande crise do capitalismo o pensamento de Marx ressuscita novamente