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Estrutura socioeconmica, vantagens competitivas e padro regional: avaliando as disparidades da
Zona da Mata de Minas Gerais em 20101
Weslem Rodrigues Faria2; Admir Antnio Betarelli Jnior2; Flaviane Souza Santiago2 ; Rosa Lvia
Gonalves Montenegro3; Filipe Santiago dos Reis2
Resumo: O trabalho teve o objetivo de caracterizar os municpios da Zona da Mata de Minas Gerais
considerando aspectos econmicos e sociais em relao ao desenvolvimento, para o ano de 2010. Foram
encontradas trs dimenses do desenvolvimento denominadas Desenvolvimento tpico, Qualidade de
vida e Mercado e Servios. Como foi verificada a presena de efeitos espaciais nas trs dimenses,
inclusive de forma bivariada, tal resultado indica que os efeitos da dimenso Desenvolvimento tpico
conseguem ser transbordados para os municpios polarizados, o que no ocorre com a dimenso Mercado
e Servios. Tal resultado aponta para a existncia de disparidades regionais e de uma estrutura de
dependncia entre municpios polarizadores e polarizados, principalmente com relao aos servios.
Palavras-chave: Dimenses do desenvolvimento, Disparidades regionais, Zona da Mata de Minas Gerais.
Abstract: The objective of this work was to characterize the municipalities of the Zona da Mata of Minas
Gerais considering economic and social aspects related to development. The characterization was carried
out for the year of 2010. Three dimensions of the development denominated "Typical development",
"Quality of life" and "Market and Services" were found. As it was verified the presence of spatial effects
in the three dimensions, including in a bivariate form, this result indicates that the effects of the dimension
"Typical development" can be overspread to the polarized municipalities, which does not occur with the
dimension "Market and Services". This result points to the existence of regional disparities and a
dependency structure between polarizing and polarized municipalities, especially in relation to services.
Keywords: Dimensions of development, Regional disparities, Zona da Mata of Minas Gerais.
Classificao JEL: O10, R58
1 Os autores agradecem Fapemig, CAPES e CNPq pelo apoio financeiro. 2 Faculdade de Economia, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Rua Jos Loureno Kelmer, s/n - Campus
Universitrio, Bairro So Pedro - CEP: 36036-330 - Juiz de Fora MG. Tel.: (32)3229-3533 - (ramal - 217) 3 Departamento de Economia, Universidade Federal de So Joo Del Rei (UFSJ).
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1 Introduo
A preocupao sobre a disparidade das vantagens competitivas e das distribuies dos recursos
produtivos entre regies uma preocupao recorrente da Economia Regional. Alm de definir grau de
interaes competitivas e complementares entre os espaos econmicos, os desequilbrios da distribuio
espacial de recursos e das atividades econmicas provocam diferentes remuneraes de fator de produo,
nveis de preos diferenciados regionalmente4, disparidades dos nveis de produtividade, assimetria dos
nveis de riqueza e bem-estar, transformaes sociais desiguais, relaes sociais especficas e diferentes
graus de desenvolvimento local (CAPELLO, 2009; CAPELLO e NIJKAMP, 2009; COMBES et al., 2008;
LEMOS, 2008). As reas urbanas se expandem de modo a acomodar as necessidades de produo e a lgica
das suas indstrias, seus provedores e trabalhadores, gerando amplas regies urbanizadas no seu entorno
(MONTE-MR, 2006). Muitas vantagens econmicas so geradas s atividades produtivas que ali se
localizam, elas representam foras atrativas para a mobilidade de novas atividades e de novos trabalhadores,
levando para um processo cumulativo de crescimento local5, a ampliao da espacialidade urbana e o
aumento da dependncia espacial (MCCANN, 2013). O tamanho relativo de um centro urbano ocorre pela
sua capacidade de gerar economias lquidas de aglomerao e de urbanizao6, segundo a concentrao e
diversificao de setores econmicos que conformam a sua base econmica (BRUECKNER, 2011;
JACOBS, 1960; MARSHALL, 1948).
Nesse sentido, composta por fatores aglomerativos e desaglomerativos, a estrutura socioeconmica
de um centro urbano reproduz o tamanho, funes de oferta de bens e servios e a posio relativa desta
centralidade em uma regio econmica. Em um sistema urbano tpico, centralidades maiores polarizam
sucessivas cidades menores, que dominam reas hinterlndias de menor populao (MCCANN, 2002). Em
razo da polarizao regional, a dependncia espacial ou os fluxos de bens e servios (encadeamentos
produtivos) comumente privilegiam as tendncias competitivas dos centros de hierarquia superior em
detrimento s outras, absorvendo, por conseguinte, os vazamentos de efeitos econmicos de cidades
menores (centros complementares), acentuando, assim, o problema da desigualdade regional. No obstante,
a exceo dessa assertiva ocorre se o efeito de complementaridade entre os centros urbanos forem maiores
que os competitivos, de maneira que o mesmo seja capaz de induzir uma realocao das atividades
produtivas nos locais at ento inacessveis (ou desfavorecidos), melhorando a posio relativa de certas
centralidades com o crescimento do nvel de emprego e do Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo.
Historicamente, a polticas territoriais (concentradora e integradora) dos governos militares at as
aes de interiorizao do desenvolvimento do perodo Juscelinista a partir de 1940 contriburam para a
integrao de diversas regies brasileiras, mas tambm beneficiaram as capitais e os principais centros
urbanos na regio Sudeste (MONTE-MR, 2006; SANTOS, 1993). Estabeleciam-se, assim, estruturas
hierrquicas em diversos espaos localizados com centros urbanos polarizadores. Periferias metropolitanas,
capitais estaduais e cidades mdias exibem grande crescimento entre os anos 60 e 70, ratificado tambm
pela estratgia do Segundo Plano de Desenvolvimento Nacional (II PND), lanado pelo governo Geisel
(1974-1979) na busca da reduo das desigualdades regionais (MONTE-MR, 2005).
Os efeitos positivos dessa relativa desconcentrao econmica foram observados no Estado de Minas
Gerais. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), entre 1970 a 2000, a participao
desse Estado na composio do Valor Adicionado da Indstria brasileira, aumentou de 6,8% para 8,4%,
enquanto do Pas, a mesma composio passou de 2% para 4%. Em suma, considerando que a
industrializao e a urbanizao sempre estiveram articuladas, a expanso e integrao da rede mineira
4 Embora a alta qualidade da comunicao e da infraestrutura de transporte permita uma maior flexibilidade na localizao de
muitos servios e firmas, isso no leva necessariamente na perda da importncia do papel da distncia e da localizao das
atividades econmicas em geral (BANISTER; BERECHMAN, 2001; CAIRNCROOS, 1997). 5 Conforme Fujita e Thisse (2002), as foras cumulativas so as combinaes entre economias externas de aglomerao,
economias de escala em certas atividades e a preferncia por diversidade. 6 O termo lquido denota a diferena entre as economias e deseconomias oriundas do crescimento urbano, como por exemplo, o
aumento da renda fundiria, da poluio, do trnsito, da criminalidade e dos congestionamentos (GLAESER, 1998; PEREIRA;
LEMOS, 2003; QUINET; VICKERMAN, 2004).
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acompanhou o prprio processo de formao da indstria brasileira. Alm de uma notria mudana na
estrutura hierrquica da regio metropolitana de Belo Horizonte, com expanso dos setores de servios de
intermediao financeira, de sade e de educao, entre outros (MONTE-MR, 2005), as centralidades de
outras regies mineiras tornaram-se maiores e integradas (LEMOS et al., 2003). Todavia, o padro regional
ainda sinaliza uma discrepncia do entre os centros polarizadores e as demais cidades, com estrutura
socioeconmica e vantagens competitivas diferenciadas. Por exemplo, na estrutura hierrquica da
microrregio da Zona da Mata Mineira, o municpio de Juiz de Fora representa o principal centro urbano,
classificado como Capital Regional (2B), a quarta na hierarquia das centralidades no territrio brasileiro,
conforme a pesquisa sobre as regies de influncia das Cidades (REGIC), elaborada pelo IBGE. De acordo
com a pesquisa, Juiz de Fora foi a primeira opo de preferncia de deslocamento para compras em 22
municpios circunvizinhos7. Segundo Castro e Soares (2010), a Zona da Mata possui localizao
privilegiada no Estado e no Brasil, e apresenta infraestrutura e localizao geogrfica que favorece o acesso
s principais metrpoles do Pas como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e So Paulo, ligadas regio por
importantes rodovias federais e estaduais (e.g., BR-040).
Uma anlise da estrutura socioeconmica dos municpios contribui para averiguar a posio relativa
dessas centralidades e como se configura o padro desigual na regio da Zona da Mata, cuja caracterizao
econmica-espacial pode auxiliar nas fases iniciais de planejamento de polticas pblicas e na definio de
estratgias de desenvolvimento econmico de longo prazo. Ou melhor, os resultados de eventual poltica
regional localizada com a estratgia de amenizar a desigualdade regional presente dependem inicialmente
de uma caracterizao da estrutura socioeconmica e dependncia espacial dos centros urbanos. Pode-se,
por exemplo, traar estratgias de polticas regionais priorizando o desenvolvimento econmico dos
municpios perifricos e pouco industrializados, onde os fatores locacionais de desaglomerao
predominam.